Novas Tendências da TV_FRC_2007

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    Novas Tendncias no Sector Televisivo*

    Francisco Rui Cdima**

    "O consumidor v o que quer, quando quiser eonde quiser, na TV, no PC ou no telemvelJulie Cruyt (Belgacom)

    Esta reflexo procura fazer um ponto de situao relativamente s principais

    tendncias de evoluo recente, prxima e futura no sector televisivo,

    designadamente no domnio das novas tecnologias, centrando essa evoluo

    mais em particular no domnio da DVB-T/TDT, da Web TV e da Mobile TV.

    A Televiso, de facto, tal como a conhecemos ao longo do Sculo XX, tem osdias contados. Quanto tempo mais durar a predominncia do modelo de

    televiso generalista e as suas lgicas mass mediticas, estruturadas segundo

    um modelo de pirmide, pouco dialgicas e nada interactivas e fortemente

    dependentes dos ritos e mitos das instituies e interesses do tempo, uma

    questo que , por assim dizer, cada vez menos relevante. Isto, pensando em

    termos de grandes mercados mundiais, no sendo exactamente esse o caso

    portugus que um caso muito especfico dada a acentuada tendnciaterceiro-mundista, de ciclos monotemticos e monoculturais, das estratgias

    de programao da televiso generalista portuguesa submetidas

    genericamente s lgicas telenovelsticas.

    *

    Joo Paulo Faustino (ed.) Tendncias e Prospectiva no sector dos Media, Lisboa: Media XXI/IEFP,2007.** Departamento de Cincias da Comunicao FCSH-UNL.

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    Mas esse timing para o switch-off da televiso generalista, no sendo

    propriamente um tema de primeira pgina, no permite esconder que existe

    um cada vez maior cerco a esse modelo, o qual emerge justamente nas

    esferas auto-emancipadas da sociedade civil tecnolgica e politicamente

    falando. O fenmeno da cibercidadania, dos bloggers, dos videobloggers, os

    home-channels, os videocast, as Web TVs, mostram claramente que o

    Sculo XXI ser o sculo que ver a televiso perecer enquanto meio de

    comunicao tradicional, face imagem da sua criao nos anos 30 do sculo

    passado. O que significa que o centenrio da Televiso, em 2036 (BBC),

    dever ser qualquer coisa mais parecida com o regresso a um passado

    longnquo e definitivamente enterrado. A bem dos cidados do mundo, dir-se-

    ia. Isto porque o balano que se possa fazer da histria da televiso,

    nomeadamente na segunda metade do sculo XX, o de um meio de

    comunicao que levou mais longe que qualquer outro uma viso do mundo

    subordinada s estratgias de dominao da sociedade do tempo e no aos

    interesses profundos da Cidadania, dos cidados do mundo do Norte ao Sul,

    do mundo desenvolvido ao Terceiro Mundo - justamente. Uma viso do mundo

    pouco consequente com a imperiosa defesa da integridade da natureza

    humana face lgica da eficcia e s lgicas da(s) poltica(s) de vistas curtas.

    Fala-se agora, neste princpio de milnio, de ciber-cidados e isso faz,

    naturalmente, toda a diferena. pois nesta nova lgica que vamos pensar o

    desenvolvimento da televiso nos tempos que correm. Numa lgica de media

    participativos, biunvoca, P2P, ponto-a-ponto e ponto-multiponto, matricial,

    diagramtica e j no segundo o velho modelo de fluxo unvoco de

    comunicao, que no era mais seno um fluxo unvoco de dominao.

    O retorno DVB-T/TDT

    A 17 de Agosto de 2001 o ento ministro do Equipamento Social, Eduardo

    Ferro Rodrigues, homologava a proposta de atribuio de uma licena de TDT

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    PTDP - Plataforma de Televiso Digital Portuguesa, S.A., consrcio

    constitudo pela RTP, pela SIC e pelo grupo SGC.

    A arranque da explorao da TDT em Portugal pela PTDP deveria ter tido

    incio at 31 de Agosto de 2002 mas foi adiado, a pedido da operadora

    licenciada, tendo obtido parecer favorvel do ministro da Economia que

    autorizou a prorrogao at nova data: 1 de Maro de 2003.1 De pouco serviu

    o despacho dado que a 25 de Maro de 2003 a licena definitivamente

    retirada ao consrcio pblico/privado.2 Importa relembrar as razes ento

    expostas pelo ministro da Economia, Carlos Tavares da Silva, assentes,

    partida, segundo o despacho, no facto de no estar assegurada, em regime

    de oferta massificada, a disponibilidade no mercado nacional e internacional

    de equipamentos indispensveis ao lanamento e entrada em funcionamento

    da plataforma de televiso digital terrestre, situao determinante da

    impossibilidade objectiva do lanamento da plataforma nos prazos

    estabelecidos3:

    a) Se evidencia no estarem reunidas todas as condies necessrias para a execuo

    do objecto da licena, no sendo possvel perspectivar, com um mnimo de segurana,uma data para o efeito;b) Se releva que um novo adiamento do prazo para o incio da explorao comercialda plataforma de televiso digital terrestre apenas teria como efeito o prolongamentoda situao para termo incerto e, em consequncia, um atraso no determinvelquanto introduo da televiso digital terrestre em Portugal;c) Se conclui pela inoportunidade e inadequao de uma eventual medida queimponha a continuidade da PTDP no mercado actual e se releva que o interessepblico no fica prejudicado pela cessao dos efeitos da licena;d) Se considera que a situao emergente da cessao da licena, com aconsequente extino dos direitos e obrigaes que a mesma confere e vincula,propicia a definio de um novo modelo num quadro jurdico mais apropriado, numcontexto econmico diferente, bem como num ambiente tecnolgico de maior

    certeza;e) Se prope equacionar, em momento posterior, o relanamento da explorao daplataforma de televiso digital terrestre, atentos os actuais pressupostos econdicionantes e mercado e de acordo com um modelo que tenha em conta aexperincia internacional entretanto adquirida neste domnio e enformada j pelonovo quadro regulamentar das comunicaes electrnicas cuja vigncia se aguarda abreve prazo.

    1

    Cf. Despacho n. 20 095/2002 (2. srie), de 22 de Agosto.2 Cf. Despacho publicado no "Dirio da Repblica", II Srie, n. 84, de 9 de Abril de 2003, p. 5491.3 Idem.

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    Desde a cassao da licena de TDT ao consrcio RTP/SIC/SGC, em 2003, at

    2006, quando se volta a falar da segunda oportunidade a dar TDT em

    Portugal, algo mudou, no tanto no plano da capacidade dos operadores para

    apostarem na TDT, mas sobretudo na evoluo da experincia a nvel mais

    global. Aqui mais perto de ns, em Espanha e Frana, por exemplo, o

    arranque da TDT deu-se agora, de forma mais consolidada (caso espanhol) nos

    anos de 2005/6 e, como ento escrevemos, face a estas experincias mais

    prximas, Portugal poderia beneficiar genericamente se se posicionasse numa

    atitude de expectativa atenta e sbia dado que a TDT tem de facto uma

    dimenso de grande complexidade na sua montagem financeira, nos custos e

    na rentabilidade e o facto de existir um playercomo a TV Cabo em Portugal,

    que j ocupou o mercado nesta rea de negcio, deve fazer pensar

    maduramente todos os possveis incautos.

    Justamente sobre este tema, a AdC vinha, em Junho de 2006, levantar o tema

    do monoplio' da PT e das 'prticas restritivas da concorrncia' da SIC e da TV

    Cabo, o Publico online de 14.06.06 publicava uma pea intitulada Autoridade

    da Concorrncia prepara multa parceria entre a SIC e a TV Cabo4,

    lembrando que o regulador analisava um processo que vinha desde 2001 por

    "prticas restritivas da concorrncia", e sendo adiantado que SIC e TV Cabo se

    sujeitavam a uma multa at 10 por cento do volume de negcios por

    restringirem a concorrncia no mercado da TV por cabo.5

    Entretanto, um estudo do BCP defendia que Portugal devia investir "o mais

    rpido possvel" nesta rea, embora reconhecesse que os custos da TDT vo

    ser maiores do que o esperado e que se o grupo PT se mantivesse como

    estava ento, poder-se-ia manter um 'quase monoplio' da PT Multimdia no

    sector da televiso paga.6 Ainda no Dirio Econmico, reconhecia-se um novo

    4 Cf. http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=12608765 Na altura as administraes da Media Capital e da PT continuavam ainda, ao fim de vrios anos, devido

    alegadamente a um acordo de exclusividade entre a SIC e a PT, a negociar a entrada de novos canais na

    rede por cabo. A aposta da TVI seria na Informao e o objectivo era concorrer com a SIC Notcias e a

    RTPN (cf. TVI Notcias avana, Correio da Manh, 15.06.06).6

    Dirio Econmico online (12.06.06): Custos da TDT vo ser maiores do que o esperado.http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diario_economico/edicion_impresa/media_x_publicidade/pt/desarr

    ollo/658367.html

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    audiovisual e da banda larga em Portugal, no eram, de todo, motivos

    tranquilizadores no final de 2006. Mantinha-se, apesar de tudo, a questo

    fundamental: a futura TDT portuguesa no pode ser vista luz de

    experincias estrangeiras dada a especificidade do mercado portugus e dada

    a precariedade dos players decisivos nesta rea os operadores de televiso

    pblicos e privados.

    Como referimos, a TDT poder ser ainda (provavelmente no por muito

    tempo) o suporte natural para a evoluo da actual televiso analgica,

    sobretudo porque nela que coincidem os dados de cobertura e de

    penetrao. Mas h que ter ateno TV sobre IP

    Em Portugal, se, por um lado, a TDT vem permitir ultrapassar restries

    prprias dos sistemas analgicos, designadamente a escassez de espectro, ela

    vem proporcionar sobretudo uma plataforma de evoluo tecnolgica para

    sistemas interactivos, com um forte potencial de criao de emprego e de

    contedos, de criao de identidades e de construo de solidariedades.

    Nomeadamente, quanto produo de contedos, esta deve assentar numa

    lgica essencialmente de qualidade, salvaguardando a diversidade do

    contexto europeu e nomeadamente a proteco de autores e obras. As

    acessibilidades devem ser pensadas em funo do interesse pblico e em

    funo dos contedos de elevado valor da indstria audiovisual.11 E,

    tambm, como ento referimos, certo que enquanto plataforma privilegiada

    a TDT constitui a principal porta de entrada nos lares do comrcio

    electrnico e da maioria dos contedos on-line12, o que remete para a

    importncia estratgica a assumir pelo Estado nesta matria de modo a fazer

    da TDT um acesso privilegiado dos cidados Sociedade de Informao e do

    Conhecimento. E, em particular no caso portugus, que se aposte nas

    complementaridades com satlite e cabo, mais do que na concorrncia, de

    forma a no desestabilizar a economia dos diferentes suportes, na sua fase de

    11

    Veja-se o nosso livroA Televiso Light Rumo ao Digital, Media XXI, Lisboa, 2006.12 Princpios e Orientaes para a Poltica Audiovisual da Comunidade na Era Digital, CCE, Bruxelas,

    14.12.1999, COM (1999) 657 final, p. 6

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    consolidao.13 Mas sem dvida que esta uma viso formada em meados

    dos anos 90 e da para c muita coisa mudou, embora no parea.

    H ainda que ver as prioridades da Comisso Europeia em matria de

    interoperabilidade da TDT como a questo de promover normas abertas no

    contexto da transio para a televiso digital.14 Neste mbito, a CE pretende

    trabalhar com os Estados-Membros para garantir o xito da transio para a

    televiso digital factor de implantao dos servios digitais interactivos,

    promovendo justamente normas abertas de DVB-T elaboradas pelos

    organismos europeus de normalizao de modo que possa haver troca de

    contedos escala planetria, e a interoperabilidade. Fundamental

    entender que a televiso digital estar na base da incluso digital e da

    coeso social.

    Web TVs

    Pensando a velha oposio local vs. global, as televises generalistasnacionais, por sistema, no do uma imagem das diferenas das regies e o

    que acabam por fazer anul-las em vez de as valorizar. No reverso, as redes

    locais/regionais reproduzem, em regra, em pequena escala, os modelos de

    programao das grandes redes nacionais

    Em termos de audiovisual regional/local, segundo Bernat Lpez, o discurso e

    a poltica comunitria sobre a comunicao e a sua filosofia de sociedade deinformao chocam com um projecto europesta, democrtico, plural e

    tolerante.15Para aquele investigador espanhol, referindo-se, por exemplo,

    13 Cf. F. Rui Cdima,A Televiso Light Rumo ao Digital, Media XXI, Lisboa, 2006.14 Cf. Comunicao da Comisso ao Conselho, ao Parlamento Europeu, ao Comit Econmico e Social

    Europeu e ao Comit das Regies relativa anlise da interoperabilidade dos servios de televiso digital

    interactiva nos termos da Comunicao COM(2004) 541 de 30 de Julho de 2004 - Bruxelas, 02.02.2006,

    COM(2006) 37 final.15

    Bernat Lpez, Espacios cultural-comunicativos minoritarios ante la poltica audiovisual europea - Porum proyecto democratico, plural y tolerante, TELOS, n 45, Madrid, Fundesco, Marzo-Mayo de 1996.

    Ver tambm sobre este ponto o texto The regions: An unsolved problem in European audio-visual

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    Directiva Televiso sem Fronteiras, os perigos de homogeneizao e

    sincronizao cultural que comporta a Directiva afectam tambm as

    comunidades culturais e lingusticas de mbito geogrfico infraestatal, e de

    maneira mais ameaadora ainda, dada a precariedade generalizada dos

    mecanismos de defesa e promoo dos seus espaos de comunicao. () O

    esquecimento de que padecem estes espaos, especialmente o das regies e

    nacionalidades, por parte das polticas europeias de comunicao e cultura,

    incompatvel com um projecto europesta democrtico.16

    Certo que em Portugal s TVs locais nunca foi dada a possibilidade de

    emergirem enquanto tal, apesar das muitas iniciativas, dos projectos

    privados, etc.

    Mas eis que no ano de 2006 chegam, talvez mais nossa medida, as televises

    locais/regionais portuguesas na Internet (algumas mesmo de mbito dito

    nacional, comeando desde logo a multiplicar-se por todo o Pas. Ao longo

    de 2006 surgiram mais de duas dezenas de televises na rede17, entre outras:

    TvViana, FamalicoTV, AveiroTV, MaltaTV (Guarda), Vale do SousaTV,

    EspinhoTV, OesteTV, TVBeja, TVAlentejo, PortiTV (Portimo) e ZipTV (Castelo

    Branco). Na maior parte dos casos adoptam uma designao regional

    associada ao acrnimo TV, muita embora as suas emisses, segundo a ERC,

    no integram o conceito de televiso previsto na lei, pelo que no esto

    sujeitas Lei da Televiso18. Uma situao que desagradava ento, de acordo

    com a notcia, a uma das responsveis por televises regionais, Anabela S, da

    OesteTV: Estamos a tentar pr no ar um projecto de qualidade e por isso

    achamos que deveria haver fiscalizao, disse, lamentando ainda a falta de

    legislao que leva a que qualquer curioso que produza vdeo possa ter uma

    televiso digital regional.

    policy, de Moragas Sp e Bernat Lpez,Decentralization in the Global Era, London, John Libbey,

    1995.16

    Lpez, op. cit., p. 66.17Cf. www.portalwebtv.info18 Correio da Manh, 11.9.06, Televises regionais na Internet.

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    Curioso ver que quando arrancaram as emisses experimentais da

    Famalicao.tv19 o seu responsvel, Paulo Couto, dizia que as reaces estavam

    a ser muito positivas: "Ainda no temos uma semana e j somos considerados

    como um novo meio de comunicao social importante para Famalico. E o

    facto que dada a proibio em Portugal relativamente TV Local hertziana,

    a Web TV era seguramente uma alternativa medida da realidade nacional.

    Outra rea a ter em considerao prende-se com a difuso de vdeos em

    diversos portais na rede. Veja-se, por exemplo, o Google Video, em 2006 j

    em fase de testes para a difuso de vdeos gratuitos. O motor de busca da

    Web lanou-se na difuso gratuita de contedos de vdeo na Internet. Entre os

    ttulos disponveis contavam-se desenhos animados, vdeos de msica,

    programas televisivos diversos e filmes clssicos, onde se destacavam

    realizadores como Alfred Hitchcock e Charlie Chaplin. Os motores de busca

    tambm procuravam marcar desde logo a sua posio nestas reas

    emergentes. Simultaneamente o Yahoo desenvolvia tambm a sua rea de

    vdeo com sistema de pesquisa de vdeos e a Microsoft e outros actores destes

    mercados como a Intel procuravam apostar numa estratgia de inflexo da

    velha relao unvoca com o televisor, preparando-se para criar sistemas de

    vasos comunicantes entre a Web e a TV. Empresas de hardware como a Intel

    apresentavam no incio de 2006 plataformas com capacidade de envio de

    vdeos da Internet para os aparelhos de TV em casa e a Microsoft procurava

    que o seu software viesse a dominar tambm as prprias salas de estar

    Tambm a AOL apostava na Web TV investindo na distribuio da televiso

    online. A empresa, do grupo Time Warner, definiu a Web TV como

    estratgica no seu desenvolvimento prximo e apresentou uma start-up, a

    Brightcove, que aposta na inovao e tecnologia para a TV online. Uma das

    primeiras propostas centrava-se no aparecimento de um pequeno anncio

    publicitrio no canto superior do ecr do computador durante a emisso de

    um vdeo.

    19 Dirio de Notcias, 16.12.2005: Aores lanam televiso nacional atravs da Net .

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    Os movimentos nesta rea de grande importncia so diversssimos e todos

    apontam para uma convergncia de contedos para o televisor e o ecr de

    computador. Por outro lado, um estudo da Screen Digest anunciava que um

    total de 8,7 milhes de europeus iria subscrever o servio de televiso atravs

    da Internet at 2009, representando j 9,4 por cento de um mercado

    dominado pelo cabo e satlite: Segundo Daniel Schmitt, autor do estudo, as

    operadoras esperam que a televiso atravs da Internet lhes traga lucros

    adicionais, sendo que a cobertura IPTV (protocolo de televiso por Internet)

    emergir mais rapidamente na Europa e na sia do que nos Estados Unidos,

    cujo mercado ainda se encontra em desenvolvimento. A previso da Screen

    Digest aponta para que Frana, Espanha e Itlia sejam os pases com maior

    adeso, com 20 por cento, 17 por cento e 16 por cento, respectivamente, dos

    seus mercados de televiso paga nos prximos quatro anos.20

    De uma coisa no h dvida: a Internet ir dominar o mundo da TV. Isso

    mesmo avanava o The New York Times no incio de 2006, numa pea de John

    Markoff. No futuro, os espectadores podero obter na rede exactamente o

    que pretendem. Para Paul Otellini, da Intel, era ento bvio que havia uma

    inevitvel migrao rumo internet como meio de distribuio e isso no vai

    parar. E William Randolph Hearst III, com o peso do seu prprio nome,

    subscrevia a morte do electrodomstico21: A TV com programao pr-

    definida est morta. Nesta batalha pela sala da TV, a vantagem vai para os

    fornecedores de servios online que desafiam claramente o velho poder das

    empresas de cabo, telefone e de satlites: na verdade, a disponibilidade de

    contedo on-demand na internet certamente ir aumentar a certeza dos

    consumidores de que eles tero acesso e controle a mais contedo de vdeo

    digital, tanto para assistir aos programas quando quiserem, como para

    enviarem programas de vdeo para diferentes tipos de crs.

    20 Cf. Utilizao de televiso atravs da Internet vai generalizar-se na Europa em 2009, TeK,

    25.11.2005, http://tek.sapo.pt/4Q0/623900.html.21

    NYT (7.01.06): Internet ir dominar o mundo da TV, por John Markoff,http://ultimosegundo.ig.com.br/materias/nytimes/2233501-2234000/2233809/2233809_1.xml

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    TV Mvel

    Ao princpio foi o UMTS a terceira gerao mvel que iria revolucionar as

    comunicaes tradicionais. A partir de 2002, um pouco por toda a Europaforam feitos leiles das licenas 3G a preos proibitivos esperando-se

    crescimentos rpidos, mas a verdade que a procura nunca esteve ao nvel

    das expectativas ento criadas e os operadores foram aguardando por

    melhores dias. Na Alemanha, por exemplo, em 2005 a Vodafone no tinha

    conseguido conquistar mais de que 500 mil (dos seus 27 milhes de clientes)

    para o 3G.

    Os anos de 2005/06 ficam sem dvida para a histria como os anos-charneira

    para a TV mvel. Foi em 2005 que se realizaram os primeiros testes de

    utilizao da nova tecnologia nas principais capitais e cidades europeias

    Helsnquia, Oxford, Berlim, Paris e pouco depois os principais operadores

    lanavam o novo servio um pouco por todo o lado.

    A inovao e a melhoria progressiva quer nos crs dos mveis, quer nos

    dbitos de informao com uma aproximao performance do DSL, ainda

    que inicialmente a 384 kbits/s, vinha permitir que a imagem vdeo e a msica

    pudessem ser descarregados com uma qualidade j interessante para o

    consumo. Estava assim encontrado o princpio do fim para uma travessia do

    deserto, nomeadamente em matria de vdeo nos mveis.

    Apareceram logo os primeiros estudos de crescimento dos novos mercados. Em

    2005 a Informa Telecoms & Media, do Reino Unido, previa que at 2010 a TV

    mvel podia conquistar 124,8 milhes de utilizadores em todo o mundo e a

    Frost & Sullivan considerava que at 2011 o mercado de DVB-H valeria 6,8 mil

    milhes de euros. E na rea dos jogos mveis, segundo a Jupiter Research, o

    mercado mundial deveria crescer at 2010, s nos Estados Unidos, para um

    valor estimado em 4,1 mil milhes de dlares um valor que multiplica por dez

    os valores de 2005.

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    fundamentalmente com a distribuio de televiso nos mveis que se

    verifica um renovado interesse pelos novos gadgets. A Vodafone alem foi um

    dos primeiros operadores a avanar em 2005 com um significativo pacote de

    programas de TV para mveis, onde se incluam canais de notcias (N24),

    msica (MTV), futebol (Eurosport) e at telenovelas (Sat.1). Durante o ano de

    lanamento o servio foi inclusivamente gratuito para os assinantes 3G.

    Entretanto, chegava a vez do mercado nacional. No Vero de 2006 todos os

    operadores tinham j a nova oferta de TV para equipamentos mveis: TMN,

    Vodafone e Optimus disponibilizam cerca de duas dezenas de canais na rede

    mvel, que no so muito diferentes. Em comum transmitem canais como a

    RTP Mobile, CNN, Euronews, MTV Music, Sol Msica, Eurosport, UEFA Champ

    League, Panda, Cartoon, Hollywood, entre outros, havendo tambm

    transmisso de canais premium (pelos quais se tem de pagar um valor

    adicional).22 Em Portugal, no Congresso de 2006 da APDC, surgiam

    entretanto notcias, atravs de Paulo Campos, secretrio de Estado com a

    tutela das Comunicaes, relativas ao interesse do governo portugus em

    dinamizar um grupo de trabalho para o desenvolvimento da televiso mvel

    que incluiria multinacionais estrangeiras no contexto de um projecto

    internacional de grande relevncia para o sector. Refira-se que, no nosso pas,

    a Siemens portuguesa prepara um centro de inovao em Mobile TV que

    empregar na sua fase mais avanada cerca de 150 engenheiros, devendo o

    laboratrio arrancar no incio de 2007. Segundo a Siemens, o centro vai

    dedicar-se no s aos mveis, mas tambm s plataformas de rede pelo que

    este projecto requer parcerias com operadores, e fabricantes e produtores de

    contedos.

    As potencialidades dos novos terminais tm de ser vistas sobretudo como se

    tratando de plataformas de recepo de servios mveis Web,

    independentemente de se tratar de vdeo, de Internet propriamente dita ou

    de e-mail, chats, etc., ou mesmo de sistemas complementares como, por

    exemplo, o Skype. Veja-se o caso do acordo entre a Skype e a iSkoot para

    22 Alexandra Machado, Televiso mvel est a arrancar Dirio de Notcias, 14.08.06.

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    distribuio de servios de telecomunicaes atravs do acordo com a

    empresa que desenvolveu um software para telemveis que permite aos

    utilizadores realizarem e receberem chamadas atravs do servio Skype:

    Depois de instalado os utilizadores podem aceder sua lista de contactos

    Skype e efectuar a chamada atravs do telemvel, tal como faziam quando

    utilizavam o PC, podendo tambm fazer chamadas utilizando o SkypeOut e

    receber telefonemas Skype-to-Skype de outros utilizadores.23

    Mas as mltiplas potencialidades dos mveis e das suas imagens tm

    sobretudo que ser pensadas num contexto sociolgico, no plano dos seus

    impactos sociais, culturais e, no futuro, certamente polticos tambm. Um

    relatrio encomendado pela Nokia London School of Economics, intitulado

    This Box Was Made for Walking,24 procura justamente pensar prticas e

    efeitos da ps-televiso no contexto das indstrias de contedos e na

    publicidade, designadamente para estes novos crs de reduzidas dimenses.

    Da que doravante, nesta rea, nada venha a ser como dantes. Naturalmente

    que os gestores e produtores de contedos, publicitrios e anunciantes tero

    que formatar as suas ofertas e servios a uma nova lgica de recepo, o que

    significa que os contedos tero um tempo cada vez mais delimitado, sero

    mais incisivos e objectivos, em acordo com um destinatrio em mobilidade,

    nmada e de tempo curto. Segundo os autores do estudo, a nova tendncia

    de produo de contedos produzidos pelos chamados cidados-reprteres ou

    por simples utilizadores, com forte tendncia de crescimento sobretudo

    atravs de servios como o YouTube, dever criar redes de forte potencial

    interactivo e de troca de dados e vdeos, fundamentais para a nova cultura

    emergente.

    Na rea da publicidade, procura-se atingir os pblicos-alvo de forma mais

    objectiva, sendo que, por exemplo, esto a ser produzidos e testados

    23 Skype alarga oferta VoIP a terminais mveis, http://tek.sapo.pt/, 10.08.2006.24

    ORGAD, Shani, This Box Was Made for Walking- How will mobile television transform viewersexperience and change advertising?, Nokia/London School of Economics and Political Science,

    November 2006.

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    anncios de pequena durao, entre os cinco e os sete segundos e

    devidamente pensados para o novo suporte de forma a que haja uma maior

    adequao aos destinatrios e naturalmente uma melhor visualizao. Mas

    tambm um facto que apesar dos passos dados e j conhecidos, muitas

    incertezas existem ainda, sobretudo no campo da regulao.25

    Curiosamente, a recepo mvel obrigar ao repensar de prticas algo

    nefastas na actual forma de produzir informao (veja-se o tempo de durao

    dos telejornais portugueses), uma vez que na televiso mvel os contedos

    informativos devero ser extremamente concisos e objectivos, bem como

    interactivos, sob pena de soobrarem ao novo zapping mvel, que ser

    tambm uma certeza nas novas prticas da ps-televiso.

    Do ponto de vista tecnolgico, as redes DVB-H esto tambm a j a aparecer.

    A Finlndia o segundo pas europeu a lanar uma rede DVB-H comercial com

    arranque em 2007 e uma expanso de rede que dever cobrir 40 por cento da

    populao at final de 2007. Refira-se que em meados de 2005 a Finlndia fez

    os seus testes de DVB-H com 500 clientes com resultados interessantes, alis

    idnticos a outros feitos noutros pases europeus, que referiam que os

    consumidores finlandeses tinham disponibilidade para contedos e servios de

    TV mvel e estavam dispostos a pagar, em mdia, 10 euros por ms para

    receb-los.

    O princpio do fim da Televiso, enquanto plataforma exclusiva de

    distribuio de programas, pode comear tambm por situar-se, de uma

    forma objectiva, no ano de 2005. No primeiro semestre desse ano surgia alis

    um estudo da Deloitte Technology, Media & Telecommunications, intitulado

    Television Networks in the 21st Century - Growing Critical Mass in a

    Fragmenting World, que conclua que a TV tinha de alterar fatalmente o seu

    modelo de negcio tradicional na medida em que emergia um modelo

    25

    Cf. Tlvision mobile : quelle offre, quels usages, quel march ?, Dominique Baudis, colloque l'Assemble nationale, le 20 octobre 2005.

    http://www.csa.fr/actualite/interventions/interventions_detail.php?id=32249&chap=2695

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    multidimensional apostado em multiplataformas de enorme flexibilidade,

    portabilidade e mobilidade.

    Este novo modelo centra-se nas verdadeiras necessidades do consumo dos

    novos contedos multimdia, o que significativamente diferente de

    programar para o grande pblico, numa lgica de televiso generalista

    reciclada no circuito fechado da audimetria. Desde logo, este comea por ser

    um enorme obstculo para os tradicionais programadores e produtores de

    contedos, cristalizados na paleo-TV e nos sistemas de comunicao e de

    medio de audincias unvocos e no biunvocos. E no somente pelo facto

    de passarem a ter pblicos autonomizados e hipersegmentados,

    indubitavelmente gestores da sua prpria experincia audiovisual, como pelo

    facto dessa segmentao se efectuar sobre diversssimas redes, suportes e

    terminais.

    Um leque complexo de redes e terminais est portanto a vista,

    explicitando uma evidente marginalizao do velho televisor face s redes e

    aos gadgets emergentes: Internet, DirecTV, Cabo digital, DVRs, iPods,

    Telemveis, Consolas, Leitores multimdia, etc. Entre as vantagens de

    descarregar contedos, para alm da autonomia, mobilidade, arquivo, etc.,

    colocam-se questes novas, no somente no plano da antecipao temporal

    face anunciada estreia de uma srie, por exemplo, como o acesso a

    contedos habitualmente no disponibilizados em aberto, lgicas

    hyperserial, informao complementar multimdia, etc.

    A verdade que a resposta dos mercados s expectativas da Deloitte estavam

    j em marcha. No segundo semestre desse ano, a Apple/iTunes, a ABC, a NBC

    e a MTV, entre outras, abrem as hostilidades oferecendo contedos diversos e

    nomeadamente as melhores sries televisivas norte-americanas, como

    Desperate Housewives, Commander in Chief e The Office, por valores na

    ordem dos dois dlares. The Office, inclusive, seria salva de um fim

    antecipado na NBC justamente porque teve um enorme sucesso,

    designadamente na Internet e nos iPods, o que motivou o relanamento de

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    uma terceira srie de episdios. Mas o confronto com as novas plataformas,

    de pacfico, tinha pouco. Por exemplo, a CBS a certo momento retira a srie

    CSI e Survivor do Google Video e do iTunes, para os reintroduzir em exclusivo

    no seu website Mas houve quem fosse ainda mais longe: a FremantleMedia e

    a Mobliss lanavam o Thumbdance, um canal de vdeo com entretenimento

    para plataformas mveis.

    Chegava o ano de 2006 e entrava um outro protagonista na contenda, Bill

    Gates de sua graa. A mensagem das suas Keynote Remarks no International

    Consumer Electronics Show de Las Vegas, em Janeiro de 2006, era bem

    simples e clara. E foi passada, justamente, FCC, no sentido de que o

    regulador norte-americano deveria, de certo modo, comear a esquecer os

    modelos de TV digital conhecidos para assumir a inevitabilidade da TV over

    IP A pergunta a fazer, deste cantinho beira-mar, mesmo esta: ser que

    algum ter ouvido Gates do lado de c do Atlntico?

    Se o dispositivo comunicacional analgico vinha sendo marcado pelas questes

    da instrumentalidade e univocidade, pela especificidade tcnica mass-

    meditica, pela performatividade, o novo dispositivo digital emergente

    passar a assentar numa lgica sobretudo biunvoca e participativa. Mas, sem

    dvida que a televiso mvel originar algo de muito especfico, que ter a

    ver com uma cada vez maior individualizao, dir-se-ia mesmo uma

    (hiper)personalizao da experincia de aceder aos novos contedos, ela

    prpria influenciada cada vez mais pela relao mvel com os novos

    terminais, que sobretudo uma experincia ps-televisiva de acesso a esses

    mesmo contedos nos mveis cujos nomadismos se verificam no somente

    no acto como tambm no modo de recepo, que j, finalmente, um modo

    de navegao.

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