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Novo Ambiente Estratégico de Negócios Agosto 2014

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Novo Ambiente Estratégico de Negócios

Agosto 2014

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Sumário

1. Introdução ............................................................................................................................................... 4

2. Transição para o Novo Ambiente Estratégico de Negócios .................................................................... 4

3. Forças que estão criando um Novo Ambiente Estratégico de Negócios................................................. 6

3.1 Maior poder para o cliente ............................................................................................................. 7

3.2 Direcionamento para a sustentabilidade ..................................................................................... 13

3.3 Tecnologias disruptivas ............................................................................................................... 17

3.3.1 Redes Inteligentes ....................................................................................................... 17

3.3.2 Geração Distribuída..................................................................................................... 20

3.3.3 Armazenagem ............................................................................................................. 22

4. Nova dinâmica do ambiente estratégico de negócios ........................................................................... 23

4.1 Novo ambiente competitivo do setor ........................................................................................... 23

4.1.1 Pequenos players ........................................................................................................ 23

4.1.2 Virtual System Operators ............................................................................................ 24

4.1.3 Demand Side Manager ................................................................................................ 25

4.1.4 Prosumers ................................................................................................................... 26

4.2 Mudança no papel do regulador .................................................................................................. 27

4.3 Novos modelos de negócios para as utilities .............................................................................. 28

5. Implicações do Novo Ambiente Estratégico de Negócios ..................................................................... 31

5.1 Possíveis posicionamentos das utilities no novo ambiente de negócios ..................................... 31

5.2 Competências requeridas pelos possíveis posicionamentos ...................................................... 38

6. Conclusões ........................................................................................................................................... 43

7. Referências bibliográficas ..................................................................................................................... 45

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Lista de figuras

Figura 1 – Transição para um novo ambiente de negócios ........................................................................ 4

Figura 2 - Forças que estão influenciando o setor elétrico ......................................................................... 6

Figura 3 - Evolução dos índices de qualidade e satisfação dos consumidores de energia elétrica ............ 8

Figura 4 - Evolução do número de consumidores de energia elétrica ........................................................ 8

Figura 5 - Parcela de domicílios particulares permanentes atendidos no Brasil ......................................... 9

Figura 6 – Ranking dos 10 maiores consumidores de energia elétrica mundiais em 2007(tep) ............... 10

Figura 7 – Disposição dos consumidores a punir práticas não-éticas ...................................................... 11

Figura 8 - Nova dinâmica de interação entre agentes do setor elétrico .................................................... 12

Figura 9 - Economia de energia por aparelhos eletrônicos ....................................................................... 13

Figura 10 - Crescimento econômico alemão vs. emissões de gases estufa ............................................. 15

Figura 11 - Funcionalidades das Redes Inteligentes ................................................................................ 17

Figura 12 - Projeção de instalação de medidores inteligentes .................................................................. 19

Figura 13 – Principais oportunidades de negócios viabilizadas pelas redes inteligentes.......................... 20

Figura 14 - Resultado dos últimos leilões de energia eólica ..................................................................... 24

Figura 15 – Principais oportunidades de novos negócios viabilizadas pelas inovações tecnológicas ...... 30

Figura 16 - Possíveis posicionamentos das utilities e seus racionais ....................................................... 32

Figura 17 - Exemplos de utilities e empresas por posicionamento ........................................................... 35

Figura 18 - Alternativas para obtenção de competências ......................................................................... 40

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1. Introdução

Um conjunto de forças está atuando no setor elétrico de forma a transformá-lo em um sistema cada vez mais

distribuído, porém conectado. A geração, antes realizada por grandes usinas centralizadas, passa a ser cada vez

mais dispersa regionalmente. A transmissão e a distribuição, por sua vez, passam a conviver cada vez mais com

os fluxos bidirecionais e maior automação e inteligência na rede. Através do surgimento de novas tecnologias de

geração distribuída e redes inteligentes, o consumidor pode deixar de ser um agente passivo, podendo até se

tornar um prosumer e compartilhar sua energia gerada com outros usuários da rede.

As mudanças no ambiente estratégico de negócios das utilities, as forças que estão implicando nesta

transformação e suas implicações serão analisadas nas seções que seguem.

2. Transição para o Novo Ambiente Estratégico de Negócios

As mudanças no ambiente de negócios do setor elétrico podem não ser tão dinâmicas e rapidamente perceptíveis

como as transformações em outros setores, como o de bens-de-consumo ou de informática, por exemplo. Porém,

desde seus primórdios, o setor foi sendo influenciado por uma série de forças e passou por transições notáveis

em sua estrutura e ambiente competitivo.

A Figura 1 procura ilustrar, de forma esquemática, uma maneira possível de segmentar as grandes ondas de

transformação do setor elétrico.

Figura 1 – Transição para um novo ambiente de negócios

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Fonte: Roland Berger Strategy Consultants

A primeira onda do setor elétrico, identificada na Figura 1 por "Sistemas isolados", era caracterizada por uma

cadeia de valor com geração sendo realizada por pequenas usinas, transmissão através de municipalidades e

redes de distribuição dispersas e escassas. Nesta onda, o consumo era basicamente restrito ao segmento

produtivo.

Na segunda onda, identificada por "Sistemas interligados", a geração passou a ser feita por grandes usinas

centralizadas, suportada por redes de transmissão nacionais. A expansão da rede de distribuição e o maior

número de interligações possibilitou o processo de universalização do consumo da energia elétrica.

Finalmente, a terceira e mais recente onda seria a dos "Sistemas distribuídos e conectados", sobre a qual está

sendo construído o Novo Ambiente de Negócios. Através do desenvolvimento de novas tecnologias, a matriz

energética pôde se diversificar e contar com maior presença de fontes renováveis. Além da maior diversificação,

a geração passa a ser cada vez mais distribuída regionalmente. No âmbito da transmissão e da distribuição, as

principais transformações do Novo Ambiente de Negócios são a introdução dos fluxos bidirecionais na rede e sua

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maior automação e monitoração (através das redes inteligentes). Do ponto de vista do consumo, o Novo

Ambiente de Negócios contará com a presença de um novo perfil de consumidor: o prosumer. Prosumer é um

termo formulado por Alvin Toffler em seu livro "A Terceira Onda" e significa, no contexto de uma rede elétrica, um

consumidor que também tem a capacidade de produzir energia e que poderia disponibilizá-la a outros

consumidores através da rede. (FALCÃO, 2012). Essa nova modalidade de consumo pode impactar na forma

com que as utilities realizam seus negócios, especialmente no âmbito da distribuição, pois a relação que o cliente

irá ter com a rede elétrica poderá ser alterada e a introdução das redes inteligentes poderão alavancar novos

modelos de negócios,

3. Forças que estão criando um Novo Ambiente Estratégico de Negócios

Uma série de forças está alterando a dinâmica dos mercados de energia elétrica no mundo e impondo um Novo

Ambiente Estratégico de Negócios.

Como ilustrado na Figura 2, dentre essas forças as mais notáveis seriam o maior poder para o cliente, o maior

foco em sustentabilidade e a introdução de tecnologias disruptivas na rede elétrica. Em especial no caso

brasileiro, a regulação surge como uma importante componente que pode tanto acelerar o impacto dessas forças

quanto inibi-lo.

Figura 2 - Forças que estão influenciando o setor elétrico

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Fonte: Roland Berger Strategy Consultants

3.1 Maior poder para o cliente

O maior acesso dos consumidores à energia elétrica, em especial nos países mais desenvolvidos, pode implicar

em maior exigência por elevação nos padrões de qualidade do fornecimento e por preços mais baixos. Por

exemplo, no Reino Unido, onde o preço da eletricidade para as residências tem passado por significativos

aumentos nos últimos 10 anos, as tarifas se tornaram um assunto delicado. Desde outubro de 2013, uma revisão

do modelo concorrencial está sendo analisada após uma série de acusações de que as utilities britânicas

estariam obtendo lucros demasiadamente altos. Manifestações populares incentivaram investigações das seis

maiores empresas do setor. Já foi levantada a possibilidade de que a CMA (Competition and Market Authority)

obrigue as maiores empresas do setor a separarem seus negócios de geração e suprimento de energia

(CHAZAN e PICKARD, 2014).

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No Brasil, nos últimos 20 anos o setor elétrico conseguiu universalizar o atendimento e garantir padrões de

qualidade mais altos. Como ilustrado na Figura 3, a distribuição alcançou patamares significativos de qualidade,

com redução dos índices DEC e FEC1 e aumento da satisfação dos clientes2 desde a década de 1990.

Figura 3 - Evolução dos índices de qualidade e satisfação dos consumidores de energia elétrica

Fonte: ANEEL, ABRADEE

Entre 1970 e 2010, quase 50 milhões de consumidores brasileiros ganharam acesso ao fornecimento de energia

elétrica (Figura 4). O setor é destaque no país em relação à universalização. O setor elétrico atingiu índice de

universalização próximo a 100% sendo o único setor de utilidade pública em tal patamar no Brasil (Figura 5).

Figura 4 - Evolução do número de consumidores de energia elétrica

1 Índices de qualidade do suprimento de energia elétrica: DEC - Duração Equivalente por Consumidor; FEC - Freqüência Equivalente

por Consumidor

2 Medida pelo ISQP: Índice da Satisfação da Qualidade Percebida: % de clientes satisfeitos ou muito satisfeitos

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Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010

Figura 5 - Parcela de domicílios particulares permanentes atendidos no Brasil

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Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010

Além do processo de universalização previamente ilustrado, o Brasil passará também por um aumento no

consumo3 de energia elétrica até 2030, passando de 11º país no ranking de maiores consumidores do insumo no

mundo em 2007 para o 7º lugar em 2030 (ERNST&YOUNG, 2008).

Figura 6 – Ranking dos 10 maiores consumidores de energia elétrica mundiais em 2007(tep)

Fonte: ERNST&YOUNG , 2008

Além de terem cada vez mais acesso à energia elétrica, os consumidores brasileiros estão aumentando sua

exigência em relação aos serviços de utilidade pública e estão mais atentos aos seus direitos. A pesquisa

publicada pelo Instituto Akatu em 2013, conhecida como "Rumo à Sociedade do Bem-Estar", mostrou que os

consumidores brasileiros estão dispostos a punir empresas que assumem determinadas posturas não éticas.

Como ilustrado na Figura 7, mais de 90% dos consumidores deixariam de realizar uma compra se fossem

3 Oferta primária de energia

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deparados com propagandas enganosas. Em torno de 80% faria o mesmo se identificasse que a empresa

fabricante de um determinado produto pratica discriminação contra funcionários ou causa impactos sócio-

ambientais negativos à sociedade.

Figura 7 – Disposição dos consumidores a punir práticas não-éticas

Fonte: Instituto Akatu, 2013

*Elaboração Roland Berger Strategy Consultants

O consumidor mais exigente terá um papel cada vez mais relevante ao influenciar a definição de regras e

políticas para o setor. Além de influenciar o mercado através de suas decisões de compra, o consumidor irá

também influenciar o regulador através da participação em audiências e consultas públicas e também realizar

pressão política através de associações e processo eleitoral. A Figura 8 esquematiza essa nova dinâmica de

interação entre os agentes do setor elétrico.

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Figura 8 - Nova dinâmica de interação entre agentes do setor elétrico

Fonte: Roland Berger Strategy Consultants

Com o maior poder do consumidor e maior disseminação das informações, torna-se cada vez mais essencial para

as utilities monitorarem as reações da população e suas demandas. Torna-se necessário não só garantir o

suprimento constante de energia elétrica, mas também alinhar a estratégia e os modelos de negócio das utilities

com os interesses da sociedade.

Oportunidades podem surgir na aproximação do consumidor com as empresas e a empresa que for pioneira na

oferta de produtos inovadores terá grande diferencial perante as outras.

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3.2 Direcionamento para a sustentabilidade

O maior compromisso ambiental está transformando a forma de consumir energia no mundo. Os agentes estão

cada vez mais preocupados com a sustentabilidade do consumo e do crescimento econômico, buscando formas

mais conscientes de conviver com o meio ambiente. Em especial, é preciso destacar que a preocupação

crescente da sociedade com a questão ambiental está transformando, de forma inexorável, a forma de consumir

energia.

Um dos resultados dessa nova forma de ver o consumo é o aumento na demanda por produtos que contemplem

eficiência energética. Como ilustrado na Figura 9, o estudo Assessment of Achievable Potential from Energy

Efficiency and Demand Response Programs in the U.S. (2010–2030) mostra que a economia de energia entre

2008 e 2030 pode chegar a 20%, como no caso dos eletrônicos e de equipamento de refrigeração.

Figura 9 - Economia de energia por aparelhos eletrônicos

Fonte: EPRI

*Elaboração: Roland Berger Strategy Consultants

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Esse cenário de preocupação com o consumo poderá gerar oportunidades para as ESCOs (Energy Service

Company). ESCOs são empresas que visam a redução de energia via melhora na eficiência energética ou no

consumo de outros insumos, como a água. Embora nos anos 80, algumas empresas brasileiras já prestavam

serviços especializados de racionalização e eficiência no uso de energia no país, o setor de ESCOs somente

emergiu na década de 90. A partir da década de 90, aspectos como o fortalecimento do PROCEL, o aumento do

preço da eletricidade, a criação da taxa ANEEL e o racionamento de energia impulsionaram o mercado de

Eficiência Energética. (ABESCO, 2006). Desde então, no Brasil, surgiram uma série de ESCOs. Grandes grupos

integrados, como a CPFL e a Cemig criaram suas próprias ESCOs para oferecer serviços especializados para

grandes consumidores de energia elétrica.

A sociedade, os governos e os agentes produtivos estão cada vez mais preocupados com a sustentabilidade do

consumo e do próprio crescimento econômico, buscando formas menos destrutivas de conviver com o meio

ambiente. A nível internacional, o direcionamento à sustentabilidade tende a estar mais relacionado, sobretudo à

mitigação do aquecimento global, com a adoção de políticas capazes de levar a uma menor intensidade de

carbono da economia.

Diversos exemplos recentes de políticas públicas voltadas à sustentabilidade e combate às mudanças climáticas

ilustram a preocupação mundial em relação ao tema. A "Europe 20-20-20", lançada em 2007, é uma política que

tem como objetivos atingir as seguintes metas ambientais até 2020 (EUROPEAN COMISSION, 2014):

Reduzir a emissão de gases estufa em 20% em relação a 1990;

Atingir 20% de fontes renováveis na matriz;

Aumentar em 20% a eficiência energética.

Em decorrência da "Europe 20-20-20", a sustentabilidade entrou na pauta de discussões de outras políticas como

o UK EMR (UK Energy Martek Reform). A UK EMR visa não só reduzir o custo da energia aos consumidores e

manter a segurança energética, mas também descarbonizar a economia através do fortalecimento do mercado de

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carbono e criação de um mercado de capacidade (UK DEPARTMENT ENERGY AND CLIMATE CHANGES,

2012).

Um exemplo de que o maior foco em sustentabilidade e a maior atuação dos consumidores possuem o poder de

mudar o ambiente estratégico de negócios é o fenômeno conhecido como "Energiewende" (ou "Transformação

Energética", em uma tradução livre). O termo "Energiewende" surgiu na Alemanha em 1970, resultado de uma

série de manifestações contra a expansão das usinas nucleares no país. (MORRIS e PEHNT, 2014). Foi em

1984, com a publicação de um artigo homônimo do German Institute for Applied Ecology que o termo ganhou

enfoque formal e ultrapassou o âmbito da geração nuclear. Pesquisadores queriam provar que a equação

"crescimento com menos emissões" é possível de ser solucionada se a política energética tiver como suporte as

energias renováveis e a eficiência do consumo. (AGORA ENERGIEWENDE, 2013)

A Figura 10, do estudo "Energy Transition - The Germany Energiewende", compara as taxas de crescimento

econômico da Alemanha com as taxas de crescimento da emissão de gases estufa. O estudo concluiu que, entre

1991 e 2012, o PIB per capita aumentou 28% e emissão de gases estufa foi reduzida em 22% no mesmo

período.

Figura 10 - Crescimento econômico alemão vs. emissões de gases estufa

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Fonte: MORRIS e PEHNT, 2014

Além do aumento da participação das fontes renováveis na matriz energética alemã, o EnergieWende levou a

uma forte pressão para o fim das usinas nucleares no país. Embora a sociedade demandasse políticas para

redução do uso dessa fonte energética, foi apenas com o acidente na usina nuclear de Fukushina Daiichi em

2011 que uma regulamentação definitiva foi publicada. Após o acidente, Ângela Merkel anunciou um programa

que tinha como meta desligar os 17 reatores nucleares do país até 2022. Para estabelecer um patamar de

comparação, em 2011 a energia nuclear representava em torno de 23% da capacidade de geração do país.

Através de metas progressivas, a Alemanha está a caminho de uma matriz energética mais limpa e com menor

participação de usinas nucleares. Em 2013, 25% da geração de energia na Alemanha foi proveniente de fontes

renováveis, um grande salto comparado com os 5% de 20 anos antes (IEEE, 2013).

Inclusive em grandes potências, como os EUA e a China, onde a preocupação com mudanças climáticas iniciou-

se posteriormente do que na Europa, políticas rigorosas estão surgindo para combater às mudanças climáticas.

Nos EUA, foi lançado em 2014 o EPA Clean Power Plan, que pretende reduzir em 30% as emissões de gases

por geradoras de energia nos EUA até 2030, em comparação com o ano de 2005 (EPA, 2014). Embora ainda não

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tenha detalhado seus planos de combate à mudanças climáticas, a China já acena estabelecimento de possíveis

limites para suas emissões a partir de 2016. Posicionamentos como estes reforçam o maior direcionamento para

a sustentabilidade que deve ganhar força nas próximas décadas e podem impactar principalmente o setor

elétrico.

3.3 Tecnologias disruptivas

Até 2030, tecnologias como Redes Inteligentes (smart grids), Geração Distribuída, e Armazenagem estarão ainda

mais desenvolvidas e difundidas na rede elétrica. Todas essas tecnologias disruptivas irão impactar em certo

grau o negócio tradicional das distribuidoras de energia elétrica.

3.3.1 Redes Inteligentes

Um dos resultados do desenvolvimento tecnológico no setor elétrico é a transformação das redes tradicionais

para redes inteligentes. Tal mudança representará ma mudança de paradigma para as utilities. As redes

inteligentes são redes de energia elétrica que utilizam tecnologias de informação e comunicação para gerenciar e

monitorar o transporte de eletricidade. Embora o conceito de smart grids seja muitas vezes correlacionado com o

conceito de smart meter, as funcionalidades das redes inteligentes vão além da telemedição. A Figura 11 elenca

os principais aspectos correlatos à tecnologia de Redes Inteligentes.

Figura 11 - Funcionalidades das Redes Inteligentes

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Fonte: Roland Berger Strategy Consultants

A introdução de maior inteligência na rede irá transformar o modelo atual de operação da distribuição e

transformará a rede elétrica tradicional. Dentre as principais mudanças de paradigmas, é possível elencar:

• Papel do consumidor – passará a ser mais ativo e informado, com possibilidade de monitorar o consumo

em tempo real e com maior detalhamento;

• Mercados de energia – serão cada vez mais integrados e multi-direcionais;

• Foco do sistema – maior foco na análise dos dados disponibilizados pela rede;

• Fluxo padrão – a carga será capaz de seguir a geração, via sinais de preço.

Como ilustrado pela Figura 12, em estudo realizado em 2011, a ABRADEE estima que, até 2030, mais da metade

das unidades consumidoras do Brasil terão medidores inteligente (sendo o medidor inteligente aquele capaz de

se comunicar com a distribuidora para cobrança da tarifa dinâmica, não necessariamente equipado com corte-

religa).

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Figura 12 - Projeção de instalação de medidores inteligentes

Fonte: ABRADEE (2011)

*Elaboração: Roland Berger Strategy Consultants

No Brasil, uma das iniciativas do governo para incentivar a implementação massificada de smart grids é o

Programa Brasileiro de Redes Inteligentes (PBREI). O programa executado em atendimento à Chamada nº

011/2010 da ANEEL foi proposto pela CEMIG Distribuição e apoiado por 36 concessionárias. O PBREI visa

padronizar tecnologias, adequar a regulamentação e elaborar um programa de capacitação de mão de obra,

tendo resultado em nove planos piloto. Além das empresas que iniciaram seus pilotos através do PBREI (ex:

Light, AES Eletropaulo, EDP Bandeirante e Ampla) outras utilities, como a CPFL, já estão desenvolvendo e

implementando iniciativas próprias de smart grids.

As transformações que as Redes Inteligentes proporcionam trarão implicações para os modelos de negócios

tradicionais. Em especial para as distribuidoras, a automação da rede permitirá um maior monitoramento e a

possibilidade de operações remotas para outras utilities. O aumento no volume de informações disponíveis para

as distribuidoras irá permitir que uma série de novos produtos e serviços sejam oferecidos aos consumidores,

tanto residenciais quanto industriais e comerciais. Serviços como diagnósticos do consumo e automação

residencial podem passar a ter maior importância no portfólio de serviços das utilities. Ainda alavancando o big

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data, as distribuidoras podem gerar valor através dos dados coletados da rede para identificar perfis de consumo

e personalizar sua oferta aos clientes (ex: oferecer solução de micro-geração distribuída para clientes residenciais

com altos níveis de consumo).

A Figura 13 resume as principais oportunidades de negócios viabilizadas pelas redes inteligentes.

Figura 13 – Principais oportunidades de negócios viabilizadas pelas redes inteligentes

Fonte: Roland Berger

3.3.2 Geração Distribuída

Também impulsionada pelo desenvolvimento tecnológico no setor elétrico, a Geração Distribuída faz cada vez

mais parte da matriz de geração de países preocupados com a mitigação de impactos ambientais. Até setembro

de 2012, mais de 1,2 milhões de unidades de geração solar fotovoltaicas foram instaladas na Alemanha,

representando uma capacidade de geração de pico de 31 GWp. No país, a participação da energia solar já é

equivalente a de outras fontes renováveis e, em 2012, a geração solar distribuída chegou a representar 40% da

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demanda de pico em alguns dias do ano. O desenvolvimento da tecnologia do país foi resultado principalmente

da política de feed-in-tariffs e queda nos preços da tecnologia. (IEEE, 2013).

Embora seja uma tecnologia ainda pouco disseminada no Brasil, já existem pequenas iniciativas de micro-

geração distribuída no país. Até março de 2014, já estavam instalados 66 projetos de geração solar distribuída

sob o Registro (RN482), totalizando 1,4 MW de potência. De acordo com estudo encomendado pelo Instituto

Abrade de Energia para a DNV Kema, a geração e microgeração distribuída podem atrair investimentos de até

R$ 49 bilhões até 2030, tendo potencial para representar 8% da matriz (ABEEÓLICA, 2013).

Apesar dos altos níveis de insolação no território brasileiro, alguns fatores de desaceleração se colocam como

inibidores de um desenvolvimento mais rápido desta tecnologia no país. Entre esses fatores, é possível elencar:

• Cobrança do ICMS sobre a energia bruta;

• Alta carga tributária sobre os equipamentos (ex: inversores);

• Falta de linhas de financiamento específicas para a modalidade;

• Implementação de medidas governamentais para redução das tarifas;

• Ausência de definições regulatórias quanto à remuneração dos ativos de distribuição sob um cenário com

a introdução da tecnologia.

No Brasil, há espaço para desenvolvimento de políticas públicas de incentivo à micro geração distribuída. No

caso da cobrança do ICMS sobre a energia bruta, uma recente decisão do Confaz (Conselho Nacional de Política

Fazendária) aprovou o Convênio 6 de 5 de abril de 2013, o qual estabelece que o ICMS apurado deve ter como

base de cálculo toda a energia que chega à distribuidora (sem considerar compensações produzidas pelo

microgerador). O gargalo tributário da cobrança do ICMS sobre toda a energia injetada é um dos principais

desafios para o desenvolvimento da geração distribuída no país.

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3.3.3 Armazenagem

A armazenagem de energia é uma das tecnologias disruptivas do setor elétrico que tem o maior potencial de

impactar o modelo de negócios atual das utilities. A principal ameaça da tecnologia é a de que os consumidores

se desconectem da rede se obtiverem fácil acesso a soluções de armazenagens combinadas a sistemas de

micro-geração distribuída.

Embora ainda sejam tecnologias em desenvolvimento, a disseminação da armazenagem conectada à rede tende

a crescer nos próximos anos ("Grid-Connected Energy Storage Solutions" - GCESS). Impulsionadas pela maior

participação de fontes renováveis na matriz energética mundial, as tecnologias GCESS podem passar de 340MW

conectados em 2013 para 40GW em 2020 (IHS, 2013).

As baterias, especialmente as de lítio que representarão a maior parte da armazenagem, ainda são soluções

caras e pouco flexíveis (IHS, 2013). Entretanto a descoberta de novos insumos para as baterias e o

desenvolvimento de novas tecnologias podem reduzir o preço da unidade de armazenamento e alavancar sua

disseminação.

A redução nos preços das baterias poderá também auxiliar no desenvolvimento da Mobilidade Elétrica, sendo

também os próprios veículos elétricos um potencial banco de armazenagem móvel de energia.

Os sistemas de armazenagem podem ser uma ameaça ao modelo tradicional para as utilities, porém também

apresentam potenciais benefícios para o setor. Entre eles, é possível citar a possibilidade de aprimorar a gestão

da demanda de pico e a maior facilidade para administrar a presença de fontes intermitentes no sistema.

Embora a tecnologia possa apresentar uma potencial ameaça ao modelo de negócio das utilities, a RWE, por sua

vez, explora os sistemas de armazenagem como uma oportunidade comercial. A empresa oferece aos seus

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clientes na Alemanha a possibilidade de combinar a instalação de painéis solares com sistemas de

armazenagem. Dessa forma, a empresa alavanca o cross-selling e maximiza a receita potencial por cliente.

4. Nova dinâmica do ambiente estratégico de negócios

A combinação das novas forças de mercado que estão surgindo no setor elétrico mundial e brasileiro,

nomeadamente o maior poder para o cliente, o maior foco em sustentabilidade e a introdução de tecnologias

disruptivas na rede elétrica levam a uma nova dinâmica do ambiente estratégico de negócios. Esta nova dinâmica

implicará na mudança do ambiente competitivo, com novos players atuando no setor e também em um possível

novo papel para o regulador. Novas oportunidades de modelos de negócios também serão abertas para atuação

das utilities, principalmente decorrente das tecnologias disruptivas, que ampliam o escopo de atuação dessas

empresas.

4.1 Novo ambiente competitivo do setor

As forças que estão atuando para criar um Novo Ambiente Estratégico de Negócios (maior poder para o cliente,

foco em sustentabilidade e a introdução de tecnologias disruptivas na rede elétrica) irão permitir a entrada de

novos player no setor elétrico.. Dentre eles destacam-se os pequenos players, os Virtual System Operators, a

figura do Demand Side Manager e os Prosumers.

4.1.1 Pequenos players

Os novos players estão entrando no setor elétrico principalmente através de investimentos em geração por fontes

alternativas. Especialmente em relação às eólicas, a presença de players de pequeno porte nos leilões de

geração está cada vez mais notável. A Casa dos Ventos, por exemplo, liderou os leilões de 2013 (como ilustrado

na Figura 14).

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Figura 14 - Resultado dos últimos leilões de energia eólica

Fonte: Relatórios das empresas

Elaboração: Roland Berger

Por serem menores e possuírem estruturas organizacionais mais enxutas, esses novos players são mais

dinâmicos e podem apresentar ameaça ao modelo de negócios atual das utilities tradicionais. Em um ambiente

de negócios no qual as novas tecnologias que estão surgindo são menos capital intensivas, os players pequenos

podem ter vantagem em relação aos grandes grupos tradicionais por conseguirem prospectar mais agilmente

novos modelos de negócios.

A questão se coloca com o desenvolvimento da atuação dos pequenos players no mercado é a possível

consolidação desses agentes por grandes grupos tradicionais. Os ganhos de escala proporcionados pela

consolidação podem levar a fusões e aquisições no setor e reduzir o número de players no futuro.

4.1.2 Virtual System Operators

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Outro novo entrante do setor que tem potencial de impactar a dinâmica do ambiente estratégico de negócios é o

Virtual System Operator. Impulsionado pela disseminação da geração distribuída, esse agente seria responsável

pela integração de pequenas fontes de geração intermitente. Ao gerenciar um portfólio de pequenos geradores, o

Virtual System Operator consegue operá-los como um recurso único e pode até vender essa energia no mercado

como se fossem advindas propriamente de uma usina de geração (essas usinas virtuais são denominadas Virtual

Power Plants – VPPs)

Embora o Virtual System Operator possa ser um agente independente, as utilities também poderiam assumir o

papel de Virtual System Operator. Uma das vantagens para as utilities da implementação de várias VPPs é a

possibilidade de segmentar regiões e poder oferecer modelos de negócios customizados para cada grupo de

clientes (ZURBORG, 2010). A utility alemã RWE atua nesse mercado e atualmente conta com 80 MW de

capacidade instalada em VPPs. A empresa iniciou pilotos em 2010 e, desde 2012, negocia a eletricidade

produzida por VPPs na Bolsa de Energia EEX. A flexibilidade das VPPs traz muito valor agregado às utilities,

sendo também uma alternativa de manter a rentabilidade das distribuidoras em um cenário com cada vez maior

presença da autoprodução. (Mantz, 2013). Para os auto-produtores, participar de uma VPP traz benefícios, pois

estes ganham acesso ao mercado de bolsas de energia e tem sua energia gerida por uma utility.

4.1.3 Demand Side Manager

Um novo modelo de negócio, que vem ganhando maior relevância nos mercados de energia elétrica mais

desenvolvidos, é o de "resposta à demanda". Empresas de Demand Response Management, como a européia

REstore, são contratadas por geradoras, transmissoras e consumidores finais para cortar o suprimento de

eletricidade e aliviar o excesso de demanda em situações críticas.

Empresas de Demand Response Management promovem maior eficiência energética no sistema e permitem

redução das emissões de gases estufa, dado que na maioria dos casos as utilities utilizam fontes térmicas para

despachos rápidos.

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Os grandes consumidores de energia elétrica buscam empresas de Demand Response Management, pois

através delas recebem pagamentos no caso de corte do suprimento e porque este serviço também viabiliza a

redução de emissão de gases estufa (até 1.600 ton/ MW/ ano de CO2). Na outra ponta da cadeia, as utilities

contratam os serviços de empresas como a Restore de forma a balancear melhor sua carga, reduzir emissões e

até postergar a necessidade de construção de novas plantas.

4.1.4 Prosumers

Os prosumers implicam em uma grande mudança operativa no sistema elétrico por introduzirem fluxos

bidirecionais na rede. Em algumas regiões da Alemanha, por exemplo, a energia injetada pelos prosumers na

rede elétrica já chegou a ser maior do que a energia consumida. Tais eventos causam uma série de interferências

na rede elétrica e podem causar até danos físicos à infraestrutura.

Outra questão se coloca com a disseminação dos prosumers no setor é a questão da remuneração dos ativos.

Os modelos de remuneração que tem como base o volume consumido de energia poderão não ser mais

aplicáveis em regiões com "zero net energy" (ZNE). Em regiões no regime ZNE, o consumo volumétrico de

energia é praticamente zero, em decorrência da disseminação da geração distribuída (e dos prosumers) e

também de tecnologias mais eficientes. Embora o consumo dessas regiões possa ser muito baixo, elas

permanecerão dependentes da rede de distribuição de energia elétrica (THE ELECTRICITY JOURNAL, 2012).

Dessa forma, não só os modelos operativos deverão ser revistos com a inserção dos prosumers na rede, mas

também os modelos regulatórios vigentes.

Além das mudanças operativas e de remuneração, os prosumers irão impactar no modelo de negócio das utilities

por terem uma dependência diferenciada da rede de distribuição convencional. A regulação brasileira está se

adaptando gradativamente para incorporar a presença da figura do prosumer. No Brasil, a Resolução nº

482/2012 atualmente estabelece que no caso de ocorrer excedente de consumo, o pagamento é realizado pela

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diferença entre a energia consumida e gerada. Porém, se a geração superar o consumo, o crédito de energia

passaria para os meses seguintes (até 36 meses) e pode ser utilizado apenas em outra unidade consumidora do

mesmo titular.

4.2 Mudança no papel do regulador

Além de garantir a concorrência e fiscalizar a atuação dos agentes de mercado, faz parte das atribuições do

regulador do setor elétrico a defesa do interesse público. No Brasil, a agência reguladora do setor é a Agência

Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), cujas atribuições são (ANEEL, 2002):

• Promover condições para a competição;

• Zelar pela qualidade dos serviços;

• Garantir a modicidade tarifária;

• Diminuir divergências entre agentes e entre estes e os consumidores;

• Assegurar a universalização dos serviços

Sob a ótica regulatória, uma postura mais ativa do consumidor, a introdução de inovações tecnológicas, a entrada

de novos atores e a alteração da dinâmica concorrencial tendem a exigir diversas inovações e adaptações no

marco regulatório, que irão, necessariamente, impactar a forma de atuação das Agências Reguladoras. Esta

assertiva baseia-se no pressuposto de que as alterações no ambiente regulatório são cruciais para estimular a

evolução do setor, em função do papel estratégico que a regulação detém ao viabilizar ou não os novos

investimentos, ditando assim o ritmo de introdução das inovações que, em última instância circunscrevem as

novas possibilidades de atividades empresariais.

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Um exemplo de como as forças do Ambiente Estratégico de Negócios podem impactar a forma de atuação das

Agências Reguladoras é o modelo RIIO do Reino Unido. Este modelo tem como principais objetivos criar um

framework transparente e mais previsível, privilegiando a sustentabilidade e os clientes, com definição de

recompensas apropriadas para gestão eficiente. Com este modelo, é esperado que ocorra uma maior

colaboração setorial para facilitar a transformação para uma economia de baixo carbono, uma oferta de serviços

com base em investimento e gestão de redes eficiente e, também, conexão de nova capacidade e demanda de

modo eficiente para acomodar novas tecnologias.

Tendo em vista o exemplo das agências reguladoras européias e o novo ambiente de negócios, pode-se supor

que a atuação do regulador de energia elétrica brasileiro possa se transformar. Tanto pela novidade dos novos

serviços e produtos como pela natureza dos novos players envolvidos, que não são monopolistas como

empresas de rede tradicionais, a tendência é a adoção de uma postura menos determinativa por parte do

regulador.

4.3 Novos modelos de negócios para as utilities

Grande parte dos novos modelos de negócio para as utilities serão viabilizados pelas tecnologias disruptivas, as

quais ampliarão o escopo de atuação potencial das empresas.

Em relação às Redes Inteligentes, o maior volume de dados proporcionados pela tecnologia será um dos

principais drivers do desenvolvimento de novos modelos de negócios. Com o uso do big data, as utilities poderão

desenvolver aprimorar seus serviços ao consumidor, como as consultorias em eficiência energética. Também

alavancando a instalação de medidores inteligentes, as utilities terão muito mais clareza do perfil de consumo de

seus clientes e poderão passar a comercializar produtos e serviços customizados ou, ainda, vender essas

informações para terceiros (ex: empresas de varejo ou do setor financeiro), sujeito à devida regulamentação.

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Por fim, as Redes Inteligentes também irão demandar que as distribuidoras desenvolvam suas redes de

telecomunicações e que passem a geri-las como atividade core. O know-how adquirido com a operação dessas

redes de telecomunicações poderá viabilizar novos modelos de negócios como os serviços de instalação e

operação de redes para utilities de outros setores, como gás, água, etc.

Ao mesmo tempo em que as Redes Inteligentes trazem uma série de alternativas de novos modelos de negócios

para as utilities, a tecnologia viabiliza também a entrada de novos entrantes de diversos setores. Especialmente

em modelos de negócios que envolvem contato direto com os consumidores, como a automação residencial,

empresas de telecomunicações (ex: At&T) e de informática (ex: Google) podem competir agressivamente,

alavancando na expertise comercial. Um exemplo concreto de que as empresas de outros setores estão entrando

neste mercado é a aquisição da Nest4 pelo Google em 2014 por US$3,2 bi. Com a compra da Nest, a Google deu

um passo adiante no mercado de automação residencial.

No caso da geração distribuída, por exemplo, além da possibilidade de se tornarem Virtual System Operator, as

utilities poderão atuar também com serviços de instalação, manutenção e gestão de painéis solares e mini-

eólicas. A utility alemã E.ON, por exemplo, já atua amplamente neste mercado de produtos e serviços para

Geração Distribuída (solar residencial, no caso). Antes mesmo da efetivação da venda dos painéis solares, a

empresa oferece uma análise de viabilidade gratuita para seus potenciais clientes. A E.ON realiza estimativas

sobre o rendimento esperado dos painéis solares com base na arquitetura e localização dos telhados. Sendo

efetivada a compra, a utility instala (com apoio de parceiros) os painéis e inversores nas residências, realizando

também testes de qualidade e performance. Além de oferecer garantias, a empresa e seus parceiros

providenciam os clientes com as manutenções necessárias.

Já no âmbito da armazenagem, as utilities podem se espelhar em empresas como a DZ4, que estão aproveitando

as novas tecnologias para inovar na oferta de modelos de negócios. A DZ4 é uma empresa alemã que oferece

4 A Nest produz monitores de termostato, detectores de fumaça e monóxido de carbono que podem ser controlados remotamente

através de smartphones.

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serviço de aluguel de placas solares fotovoltaicas combinadas com sistemas de armazenagem. Dessa forma, a

empresa possibilita o ingresso de consumidores residenciais na micro geração sem a necessidade de altos

investimentos. Através de uma solução combinada, o cliente aluga um sistema combinado de placas solares com

armazenagem, e se torna um candidato a ser auto-suficiente em relação à rede.

Figura 15 – Principais oportunidades de novos negócios viabilizadas pelas inovações tecnológicas

Fonte: Website das empresas

Elaboração: Roland Berger

Além dos modelos de negócios viabilizados pelas tecnologias disruptivas, as utilities poderão oferecer novos

produtos e serviços dependendo do grau de liberalização dos mercados de energia. O maior foco em

sustentabilidade, por exemplo, poderá aumentar o mercado para a "eletricidade vinda de fontes limpas". Na

Alemanha, desde 1998 o GrünerStrom Label certifica que a energia recebida por um consumidor é proveniente

de fontes limpas e, portanto, custa mais caro para consumidores que a adquirem. No Brasil, iniciativas como o

selo verde dão seus primeiros passos. Em outubro de 2012, foi publicada a primeira versão do Regulamento

Técnico do “Certificado de Energia Renovável” pela ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica) e pela

Abragel (Associação Brasileira de Energia Limpa).

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5. Implicações do Novo Ambiente Estratégico de Negócios

Um novo ambiente de negócio do setor elétrico pode ser construído com base nas tendências previamente

identificadas: introdução de tecnologias disruptivas, maior poder ao consumidor e foco em sustentabilidade. As

inovações tecnológicas, por sua vez, irão abrir oportunidades de novos modelos de negócios para as utilities,

muitas vezes fora de seus ramos de atuação de tradicionais. As mudanças nos paradigmas de consumo de

energia elétrica e o maior foco em sustentabilidade obrigarão as empresas a alinharem suas estratégias com as

demandas da sociedade.

Neste novo ambiente de negócios, as utilities irão se deparar com novas oportunidades de posicionamento e

diversas alternativas de modelos de negócios para atuar. Para que essa definição seja feita de forma assertiva,

cada utility idealmente deveria comparar suas competências atuais com as requeridas em cada posicionamento.

5.1 Possíveis posicionamentos das utilities no novo ambiente de negócios

No Novo Ambiente Estratégico de Negócios, as utilities poderão assumir pelo menos três posicionamentos

estratégicos:

I. Focar em uma plataforma física de fornecimento de energia;

II. Alavancar sua plataforma física para operar outras redes fora do segmento de energia (ex: redes de

água, esgoto, telecomunicações, etc...) e/ ou oferecer serviços de energia (ex: instalação de placas

solares, instalação de postos de carregamento de veículos elétricos, etc...);

III. Alavancar sua plataforma comercial para oferecer serviços além do negócio de energia (ex:

telecomunicações, TV a cabo, internet, etc...).

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Cada um dos possíveis posicionamentos e seus racionais são sumarizados na Figura 16.

Figura 16 - Possíveis posicionamentos das utilities e seus racionais

Fonte: Elaboração Roland Berger Strategy Consultants

A utility do tipo 1, hipoteticamente localizada no quadrante esquerdo inferior da matriz da Figura 16, seria uma

empresa que atua somente na operação de redes de energia (energia elétrica e/ ou gás). Os racionais para uma

utility decidir pelo posicionamento do tipo 1, seriam, basicamente:

• Alavancar sua expertise em operação de redes (ex: através de implementação de maior inteligência na

sua rede);

• Usufruir dos benefícios do mercado regulado (ex: previsibilidade de receitas);

• Maximizar ganhos de escala.

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Embora sob uma primeira avaliação o posicionamento do tipo 1 pareça restringir o potencial de crescimento

futuro da utility, esta conclusão torna-se um equívoco se consideradas as possibilidades de internacionalização

ou de crescimento no mercado de energia através de Fusões e Aquisições. Além dessas possibilidades, abrir

mão de atuar em modelos de negócios além da operação de rede de energia pode fazer sentido estratégico para

empresas que, por exemplo, operem em mercados não liberalizados ou para aquelas que acreditem que o custo

de desenvolver competências comerciais ou de operação de outras redes seja muito elevado. As competências

necessárias para sair do modelo de negócios tradicional são inúmeras e demandam mudanças organizacionais e

culturais nas utilities.

A utility do tipo 2 pode estar localizada tanto no quadrante esquerdo superior quanto no quadrante direito inferior

da matriz ilustrativa. Estando no quadrante esquerdo superior, a utility do tipo 2 seria aquela que atua somente na

operação de redes de energia (energia elétrica e/ ou gás) e que oferece somente serviços de energia. Serviços

de energia seriam aqueles que se baseiam na rede elétrica, como por exemplo: instalação e manutenção de

painéis solares, instalação e operação de postos de carregamento de veículos elétricos, consultoria em eficiência

energética, etc. Os racionais para uma empresa oferecer serviços de energia seriam, principalmente:

• Reduzir a dependência do mercado de energia;

• Melhorar a experiência do seu cliente;

• Atingir sinergias comerciais;

• Realizar cross-selling de produtos de energia (ex: oferta de instalação de painéis solares combinada com

postos de carregamento residenciais).

A utility do tipo 2, que hipoteticamente se localiza no quadrante direito inferior, seria uma empresa que ultrapassa

a atuação no mercado de energia e passa a operar outras redes como telecomunicações, TV a cabo e internet.

Empresas deste quadrante não ofertam serviços, mantendo como atividade core a operação de redes. Os

racionais para este posicionamento também seriam reduzir a dependência do mercado de energia e melhorar a

experiência do cliente. Porém, os principais motivadores para uma utility expandir sua atuação para outras redes

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seriam as sinergias operacionais. Além de alavancar sua expertise na operação de redes, as utilities podem

atingir sinergias na instalação, operação e manutenção das redes. Na instalação, as sinergias seriam

principalmente no caso de enterramento dos fios. Na manutenção e operação, além do compartilhamento do

centro de operações, seria possível compartilhar a mão-de-obra que trata das diferentes redes.

Por fim, a utility do tipo 3, localizada no quadrante direito superior, seria o que é conhecido por multi-utility. Seriam

elas empresas que oferecem serviços além do negócio de energia. Na Europa o conceito de multi-utiliy veio

ganhando força com a liberalização do mercado de energia elétrica. Empresas holandesas, como a Delta,

passaram a desenvolver a partir dos anos 90, novos modelo de negócios e iniciaram a atuação em novos

segmentos. A Delta, por exemplo, atua na geração e distribuição de eletricidade, gerenciamento de resíduos,

distribuição de gás e água, multimídia e telecomunicação móvel da província de Zeeland (Holanda). Os racionais

para uma utility diversificar radicalmente sua atuação e explorar novos mercados fora da energia seriam,

principalmente, a busca por receitas em segmentos competitivos e a redução da dependência do mercado de

energia.

Existem diversas alternativas de caminhos para uma utility expandir sua atuação além do negócio tradicional de

"poste-e-fio”. Como também ilustrado na Figura 16, uma utility pode passar do posicionamento 1 para o

posicionamento 2 alavancando sua plataforma física de energia já existente. Sendo uma empresa do tipo 2, a

utility pode escolher manter este posicionamento ou ainda explorar a plataforma comercial que desenvolveu para

se tornar uma empresa do tipo 3. Outro caminho possível para a utility do tipo 1 que queira diversificar sua

atuação é alavancar sua expertise na operação de redes e passar a operar em segmentos como

telecomunicações. Da mesma forma, a utility pode escolher manter este posicionamento ou alavancar a

plataforma física que desenvolveu em outras redes para passar a oferecer serviços para seus consumidores e

passar a se caracterizar como uma multi-utility (posicionamento tipo 3).

Para assumir um posicionamento do tipo 3, uma utility poderia ainda realizar um percurso diagonal e procurar

estender sua atuação para outros segmentos de redes operando-os e também oferecendo serviços correlatos.

No ambiente de negócios atual, é possível identificar utilities que atuam sob esses 4 posicionamentos. A Figura

16 procura ilustrar essa alocação das utilities na matriz de posicionamentos.

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Figura 17 - Exemplos de utilities e empresas por posicionamento

Fonte: Elaboração Roland Berger Strategy Consultants

Empresas como a ERDF e National Grid no Reino Unido são exemplos de utilities que têm sucesso focando sua

atuação na operação de redes de energia. Empresas como essas focam seus esforços em operar a rede com

excelência e atingir ganhos de escala. A CenterPoint Energy, por sua vez, é uma utility do tipo 1 que surgiu como

resultado de uma reconcentração de esforços na operação de redes da antiga Houston Gas Light Company. Em

1866, a Houston Gas Light Company foi criada nos EUA para fornecer gás para iluminação pública. Após uma

série de Fusões e Aquisições, a empresa passou por um processo de verticalização e se transformou em NorAm

Energy Services em 1995. Através destes movimentos de mercado, a NorAm passou ser uma geradora,

distribuidora e também comercializadora de energia no atacado para todo o território nacional. Em 1997, através

da fusão com a Houston Industries Inc., a empresa passou a ser uma das maiores utilities integradas do país

(tendo seu nome alterado para Reliant Energy Inc em 1999). Alavancada pela liberalização do mercado de

energia elétrica em diversos estados norte-americanos, (especialmente no Texas) a empresa começou a

desenvolver e ofertar uma série de serviços não-regulados no país. Porém, após a reestruturação do mercado

texano, a Reliant Energy Inc vendeu não só seus ativos de geração, mas também sua divisão de varejo e

serviços não regulados. Surgiram então, em 2002, duas empresas distintas: a CenterPoint Energy, empresa de

transmissão e distribuição de energia para o estado do Texas e a Reliant Resources, que manteve atividades de

geração, comercialização e serviços.

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Empresas como a espanhola Iberdrola e a portuguesa EDP, expandiram sua atuação e alavancam sua rede para

oferecer serviços de energia diretamente a seus consumidores (ex: instalação de postos de carregamento de

veículos elétricos). Um exemplo de empresa com posicionamento 2 e que opera diversas redes seria a AEP

Indiana Michigan Power, que opera redes de energia elétrica nos EUA mas também opera redes de

telecomunicações.

A Delta, como descrito anteriormente, é um exemplo de multi-utility. A empresa comercializa o que ela chama de

ofertas double-triple, sendo elas compostas por "dois trios":

• Trio de utilidades: gás, eletricidade e água;

• Trio de telecomunicações: serviços de TV, telefone e internet.

Empresas como British Gas e RWE também podem se caracterizar como empresas com posicionamento do tipo

3, pois atuam com serviços além do segmento de energia. As duas empresas ampliaram o escopo de atuação

após a intensificação do processo de liberalização do mercado de energia europeu nos anos 90. Embora ainda

classificadas como empresas do tipo 3 por atuarem em diversos serviços, tanto a Centrica (British Gas) quanto a

RWE experimentaram no passado uma gama muito mais ampla de serviços do que possuem atualmente.

Nos anos 1990, a Centrica diversificou sua atuação a ponto de desenvolver uma divisão de cartões de crédito

(sob o nome "Goldfish"), adquirir uma empresa de serviços automotivos ("The Automobile Association") e uma

empresa de telecomunicações ("OneTel"). A partir dos anos 2000, com uma mudança de estratégia, a Centrica

vendeu gradativamente as divisões previamente citadas (2003, 2004 e 2005 respectivamente). A venda das

divisões foi motivada principalmente pela nova estratégia da empresa de focar na expansão de sua presença

internacional através do fortalecimento de atividades core. As divisões de cartões de crédito, serviços

automotivos e telecomunicações não apresentavam potencial de agregação de valor em mercados internacionais

e não proviam retorno suficiente para justificar as complexidades inerentes às suas operações. Atualmente, a

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Centrica oferece através da British Gas serviços de manutenção doméstica (ex: reparos de eletrodomésticos,

limpeza de esgoto, etc) e também seguros residenciais.

De forma similar à Centrica, a E.On também reduziu seu portfólio de serviços após um movimento de

diversificação entre 1990 e o início dos anos 2000. Após o fim do monopólio no setor de telecomunicações na

Alemanha em 1998, a RWE adquiriu participação majoritária na empresa de telefonia móvel "e-plus" e formou

uma joint-venture com a utility Veba para criar a empresa de TV a cabo "Telecolumbus". Entretanto, tanto a Veba

quanto a RWE redirecionaram suas estratégias para o setor de energia e os negócios de telecomunicações foram

vendidos. Um processo similar ocorreu no setor de água e saneamento. No início dos anos 2000, a RWE também

adquiriu a "Thames Water" (líder no Reino Unido) e a "American Water Works Company" (líder nos EUA). Em

linha com a estratégia de diversificação da época, o objetivo das aquisições era passar a atuar de forma relevante

em novos segmentos além da energia. Porém, a partir de 2006 a empresa iniciou um processo de

reconcentração de sua atuação para o mercado de energia europeu, durante o qual as duas empresas foram

vendidas e deixaram de fazer parte do portfólio da RWE.

Fora da matriz de possíveis posicionamentos colocam-se empresas que não possuem ativos de rede, mas que

ainda sim atuam no mercado de energia e podem se tornar potenciais concorrentes diretas das utilities no Novo

Ambiente de Negócios. Empresas que atuam com solução em micro geração distribuída como a DZ4 e a Solar

City são exemplos de empresas que não possuem redes, mas podem conquistar participação no mercado de

serviços de energia. A norte-america Solar City oferece avaliação do potencial de geração por painéis solares

para grandes e pequenos consumidores e ainda instala e dá suporte aos equipamentos. A empresa opera com

sistema de leasing das placas solares, sendo um modelo de negócios atrativo para clientes que não procuram

investir grandes quantias na tecnologia. A instalação é realizada sem custos e o cliente paga apenas uma tarifa

mais barata do que a convencional pela energia consumida.

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5.2 Competências requeridas pelos possíveis posicionamentos

Cada passo em direção a um posicionamento mais distante do modelo de negócios tradicional traz maior

complexidade e riscos à utility, além de demandar o desenvolvimento de determinadas competências. A escolha

do posicionamento deveria ser idealmente realizada levando-se em conta não só os ambientes competitivos e

regulatórios, mas especialmente o gap entre as competências atuais da empresa e as requeridas para garantir

êxito com o novo posicionamento ambicionado.

As principais competências que uma utility do tipo 1 precisa desenvolver para ter êxito em seu âmbito de atuação

seriam:

• Negociar financiamentos a baixo custo (baixo custo de capital);

• Obter ganhos de escala na operação de redes;

• Operar bem a rede elétrica e/ ou de gás;

• Proteger sua área de atuação de novos entrantes;

• Otimizar base de ativos, constantemente modernizando e automatizando-a.

Para as utility que assumem posicionamento do tipo 2 no quadrante esquerdo superior, é necessário que as

seguintes competências sejam desenvolvidas:

• Inovar na oferta de produtos e serviços de energia;

• Desenvolver plataforma comercial;

• Maximizar cross-selling de serviços de energia;

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• Desenvolver e ter conhecimento da base de clientes;

• Alavancar big data, extraindo valor das informações dos clientes.

A RWE é um exemplo de empresa que procura maximizar o cross-selling de serviços de energia. A utility alemã

oferece pacotes que combinam a instalação de painéis solares com a venda de sistemas de armazenagem.

Adicionalmente, a RWE oferece o serviço de automação residencial para os clientes que adquirem sistemas de

armazenagem. Dessa maneira, a empresa maximiza sua receita por cliente.

Ainda no posicionamento do tipo 2, mas no quadrante direito inferior, as competências necessárias para garantir

uma atuação exitosa no mercado seriam:

• Alavancar sinergias na operação de redes;

• Desenvolver conhecimento da regulamentação dos mercados atingidos pelas novas redes;

• Desenvolver e ter conhecimento da base de clientes.

Por fim, para o posicionamento do tipo 3, uma série de competências precisam ser desenvolvidas. Dentre todas

as outras exemplificadas anteriormente, é possível elencar:

• Desenvolver time comercial robusto;

• Formatar produtos adequados ao mercado competitivo;

• Desenvolver gestão de riscos;

• Desenvolver inteligência de mercado em novos segmentos;

• Adequar estrutura organizacional, de forma a incorporar novos processos.

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O desenvolvimento das competências para mudanças no modelo de negócios podem ser tanto desenvolvidas

internamente à empresa quanto adquiridas no mercado. A Figura 18 ilustra que as opções para desenvolvimento

de competência diferem entre si pelo custo e pelo tempo necessário para sua implementação.

Figura 18 - Alternativas para obtenção de competências

Fonte: Elaboração Roland Berger Strategy Consultants

Como forma de desenvolver suas competências internas, uma utility pode treinar seu time existente ou investir

em seus departamentos de P&D. Para além da pesquisa tradicional, uma forma de desenvolver novos modelos

de negócios internamente à empresa seria a incorporação de incubadoras de negócios (venture capital

corporativo). Um fundo de venture capital corporativo pode ser uma alternativa para gerar valor a partir de

oportunidades inovadoras. Inovar dentro de uma empresa com uma estrutura organizacional tradicional pode

trazer diversos desafios, entre eles:

• Dificuldade em manter equipe de especialistas focados em projetos de longo prazo;

• Pouca atualização sobre o desenvolvimento de tecnologias;

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• Dificuldade em combinar competências técnicas e financeiras.

Por outro lado, fundos de investimento também enfrentam determinadas dificuldades no desenvolvimento de

negócios em energias. Por exemplo, fundos de investimento possuem dificuldade em combinar restrições de

caixa com as demandas de P&D e possuem também incertezas em relação ao desenvolvimento de tecnologias

de energia.

Dessa forma, compartilhar a responsabilidade dos projetos através de venture capital corporativo pode ser uma

solução "ganha-ganha". A utility pode assumir o papel de avaliar a viabilidade técnica e aplicabilidade de novos

modelos de negócios, garantir caixa e fornecer espaço para testes. O fundo de investimento, por sua vez, pode

cuidar de atividades contínuas e de longo prazo do projeto e monitorar indicadores técnicos e financeiros. Através

deste modelo de parceria, cada player pode focar em seu core business e agregar mais valor ao projeto de

inovação como um todo.

Um exemplo concreto de que o venture capital corporativo pode ser uma solução viável para as utilities é o caso

da EDP. A utility portuguesa criou a EDP Starter como forma de coletar e filtrar idéias inovadoras para posterior

investimento. Desta iniciativa, empresas de soluções relacionadas à smart grid e eficiência energética foram

desenvolvidas.

Para adquirir competências externas, a utility pode optar por realizar aquisições de empresas nos mercados em

que pretende atuar. Embora a decisão da compra possa ser um processo relativamente rápido, o tempo

necessário para que a fusão seja finalizada e as sinergias sejam absorvidas pode ser demasiadamente longo.

Além dos desafios operacionais que o processo de aquisição proporciona, essa alternativa é cara e requer que a

utility esteja em situação financeira adequada. As parcerias estratégicas se colocam, portanto, como uma

alternativa mais rápida e segura comparativamente às fusões e aquisições. Através de parcerias, as utilities

podem adquirir o know-how necessário para atuar em um novo mercado sem a necessidade de grandes

montantes de investimento. Além de um processo mais rápido e menos burocrático que uma aquisição, o

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estabelecimento de uma parceria estratégica é um processo mais fácil de ser desfeito caso se mostre pouco

vantajoso para a utility.

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6. Conclusões

No Brasil e no mundo, uma série de forças está alterando a dinâmica do Ambiente Estratégico de Negócios, cada

vez mais caracterizado por sistemas distribuídos e conectados. Essa transformação será resultado de forças que

vieram se desenvolvendo nos últimos anos e que trarão novos desafios e oportunidades para as utilities. Entre

essas forças destacam-se o maior poder e atuação dos consumidores, o maior foco para a sustentabilidade e o

desenvolvimento de tecnologias disruptivas. Especificamente no Brasil, os consumidores brasileiros estão se

tornando cada vez mais exigentes quanto aos serviços públicos e terão influência decisiva na evolução dos

serviços regulados. O compromisso ambiental e as novas tecnologias transformarão a forma de consumir energia

e as tecnologias disruptivas como as Redes Inteligentes, a Geração Distribuída o Armazenamento irão impactar o

negócio tradicional das utilities. Mais especificamente no Brasil, a regulação se coloca como um fator de

aceleração ou inibição do impacto dessas forças.

A influência desses componentes irá se traduzir em um novo ambiente competitivo. As forças que estão atuando

no setor irão permitir a entrada de novos players, com destaque para os pequenos players em geração, os Virtual

System Operators, a figura do Demand Side Manager e os Prosumers. Em um Ambiente de Negócios com maior

número de players e consumidores mais atuantes, o regulador do setor elétrico poderá assumir diferentes

responsabilidades, e talvez, necessitará ser menos interveniente na defesa dos interesses públicos.

Neste novo ambiente de negócios, surgem novas possibilidades de posicionamento para as utilities. Com as

mudanças no setor, as empresas de energia elétrica poderão alavancar sua plataforma física e/ou comercial para

oferecer serviços diferenciados dentro e fora do mercado de energia. Porém, a cada passo em direção a um

posicionamento mais distante do modelo de negócios tradicional, a utility enfrentará maior complexidade e riscos.

Dessa forma, as empresas precisam se preparar e desenvolver competências para assumir um novo

posicionamento. Essas competências podem ser adquiridas tanto no mercado (ex: contratações, M&A) quanto

desenvolvidas internamente à empresa (ex: treinando times, incorporando incubadoras de negócios).

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As utilities idealmente deveriam comparar suas competências atuais com as competências demandadas pelo

posicionamento ambicionado e avaliar se faz sentido estratégico assumir os riscos e desafios de ultrapassar sua

atuação para fora do modelo de negócios tradicional de operação da rede elétrica.

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