nutrição e alimentação de caprinos

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NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DE CAPRINOS Márcia Maria Cândido da Silva 1 *; Carla Aparecida Florentino Rodrigues 1 1 Zootecnistas, DS, Universidade Federal de Viçosa * E-mail: [email protected] 1

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NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DE CAPRINOS Márcia Maria Cândido da Silva1*; Carla Aparecida Florentino Rodrigues 1

1 Zootecnistas, DS, Universidade Federal de Viçosa * E-mail: [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Em qualquer atividade pecuária a nutrição é premissa básica para obtenção de um bom

desempenho produtivo e reprodutivo dos animais.

Nutrir adequadamente um caprino significa fornecer todos os nutrientes em quantidade e

proporções adequadas para atender as suas necessidades, através de uma ração sem fatores tóxicos e

ao menor custo possível (Ribeiro, 1997).

Antes da elaboração de um plano nutricional alguns conceitos e princípios devem ser

cuidadosamente estudados e correlacionados para que o animal possa seu potencial genético em

resposta à nutrição. Fatores como hábitos alimentares, utilização de nutrientes, exigências e alimentos

empregados são alguns aspectos básicos da nutrição de caprinos que devem ser levados em

consideração para se obtenha a resposta esperada.

2. CLASSIFICAÇÃO DOS NUTRIENTES

Os nutrientes podem ser classificados em cinco classes principais: carboidratos, proteínas,

lipídios, vitaminas e minerais.

Os carboidratos são as principais fontes energéticas na alimentação dos ruminantes. Este grupo

pode ser subdividido em carboidratos fibrosos e não fibrosos. Os carboidratos fibrosos, obtidos com a

inclusão do volumoso na ração, são essenciais para manter o funcionamento do rúmen. No grupo de

carboidratos não fibrosos, estão incluídos os concentrados energéticos (fubá de milho, farelo de trigo,

farelo de arroz, melaço, etc) que devem ser fornecidos ao animal, porem devem ser cuidadosamente

avaliados, pois seu excesso pode levar a alguns distúrbios metabólicos que podem comprometer o

desempenho animal.

As proteínas são os principais constituintes do corpo do animal e, desta forma, devem ser

supridas continuamente, através da alimentação, para o reparo e formação das células, sínteses de

produtos, manutenção do organismo e outros processos metabólicos. O termo proteína é coletivo,

abrangendo enorme grupo de membros intimamente relacionados, mas fisiologicamente distintos que

vão desde o nitrogênio não protéico - NNP (uréia) às proteínas verdadeiras. Neste último grupo estão

incluídas as proteínas de origem animal (farelo de carne, penas, ossos, etc) e proteínas de origem

vegetal (farelo de soja, farelo de algodão, etc). As proteínas verdadeiras também são fontes energéticas

para o animal. Observação: para animais monogástricos (aves, suínos), o NNP não tem valor nutricional.

Os lipídios são substâncias orgânicas insolúveis em água, fornecedores de energia que também

exerce importantes funções no metabolismo animal. Os lipídios são incluídos na dieta dos animais

quando se deseja elevar a concentração de energia da dieta, já que estes fornecem 2,25 vezes mais

energia que os carboidratos. No entanto, não se recomenda a utilização de mais de 7% de lipídios dieta

de ruminantes (González citado por Vasconcelos et al., 1998) em função da inibição que estes podem

promover na digestão da fibra e, também, porque existe um limite de absorção pelo animal a nível

intestinal.

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As vitaminas são compostos orgânicos necessários em pequenas quantidades e, junto com as

enzimas, participam de muitas reações químicas. Em caso de deficiência, os sintomas bem definidos

aparecem e tornam-se mais severos à medida que a deficiência aumenta. Entretanto, a suplementação

da vitamina deficiente na dieta pode reverter os sintomas rapidamente. As vitaminas são classificadas

em dois grandes grupos: as hidrossolúveis (vitaminas do complexo B e vitamina C) e as lipossolúveis

(vitamina A, D, E e K). As vitaminas lipossolúveis são armazenadas na porção lipídica dos alimentos.

Nos animais elas são estocadas no fígado ou no tecido adiposo. Em contraste, as vitaminas

hidrossolúveis não são estocadas nos tecidos animais e dependem de uma suplementação contínua na

dieta (Wattiaux, 1998).

Os minerais são elementos inorgânicos, encontrados na forma de sais inorgânicos (carbonato de

cálcio) ou ligados a compostos orgânicos (enxofre em alguns aminoácidos). Os minerais são

classificados em macrominerais e microminerais (Tabela 1). A distinção entre eles é baseada na

quantidade de mineral exigida pelo animal, mas ambos são importantes para manter o bom

funcionamento do metabolismo animal (Wattiaux, 1998).

Tabela 1. Classificação dos minerais

Macrominerais Microminerais

Cálcio (Ca) Cloro (Cl) Iodo (I) Molibdênio (Mo)

Fósforo (P) Enxofre (S) Ferro (Fé) Zinco (Zn)

Magnésio (Mg) Cobre (Cu) Selênio (Se)

Sódio (Na) Cobalto (Co)

Potássio (K) Manganês (Mn)

3. ASPECTOS RELACIONADOS À NUTRIÇÃO

Os nutrientes descritos no item anterior são classificados da mesma forma para todos os

animais. No entanto, a utilização destes nutrientes difere entre animais monogástricos e ruminantes.

Esta diferenciação é complexa e está relacionada a modificações no sistema digestivo que, por sua vez,

desencadeia uma série de alterações que irão determinar o uso e o aproveitamento dos nutrientes pelos

animais.

Os ruminantes se diferenciam dos monogástricos pela divisão do seu estômago em quatro

compartimentos e pelo hábito da ruminação.

3.1 Sistema Digestivo dos Caprinos

O aparelho digestivo dos ruminantes tem como principal função digerir e absorver os alimentos,

e excretar os produtos não aproveitados pelo organismo. È constituído por boca, faringe, esôfago,

estômago (rúmen, retículo, omaso e abomaso), intestino delgado (duodeno, jejuno e íleo), intestino

grosso (ceco, colo e reto) e glândulas acessórias que são as glândulas salivares, o pâncreas e o fígado.

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O estômago dos ruminantes é dividido em uma parte aglandular (rúmen, retículo e omaso) e

uma parte glandular (abomaso). Os quatro compartimentos do estômago dos ruminantes são (Figura 1):

Rúmen → Freqüentemente chamado de “câmara de fermentação” é o maior dos

compartimentos, caracteriza-se por abrigar uma população microbiana capaz de digerir e

transformar alimentos de baixa qualidade (fibra e nitrogênio não protéico) em energia na forma de

ácidos graxos voláteis (AGVs) e proteína microbiana, além de sintetizar vitaminas B e K.

Retículo → é o segundo compartimento e possui livre intercâmbio dos seus conteúdos com o

rúmen, daí muitos autores relacionam estes dois compartimentos como rúmen-retículo. O retículo

é recoberto por uma mucosa com muitas cristas que se subdividem em compartimentos cuja

aparência assemelha-se a favos de mel de abelha. Está situado debaixo da entrada do esôfago e

separa-se do rúmen dorsalmente pela cárdia (região do rúmen por onde chega o conteúdo do

esôfago) e do saco ventral, pela prega retículo-ruminal. O deslocamento desta prega possui uma

importante função no deslocamento e seleção das partículas da digesta antes de deixarem o

rúmen (Wattiaux, 1998).

Omaso → Órgão esférico, constituído de um canal omasal e de um corpo formado por muitas

camadas de “folhas musculares” que asseguram a comunicação entre o retículo e o abomaso. A

digesta prensada entre as folhas tende a ficar bastante seca, sugerindo que no omaso ocorre a

absorção de águas e de minerais (sódio e bicarbonato). Como resultado a água não dilui o ácido

secretado pelo abomaso e os minerais podem ser reciclados pela saliva.

Abomaso → é o estômago verdadeiro, possui mucosa secretora, contém ácido clorídrico e

enzimas que degradam os alimentos em compostos que podem ser absorvidos pelas paredes do

estômago e dos intestinos (Cunha, 1999).

4 Figura 1. Compartimento do estômago dos ruminantes

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3.2 Utilização dos Nutrientes

Em função das características peculiares do estômago dos ruminantes, deve-se levar em

consideração quando de um planejamento alimentar que estes animais possuem dois sistemas

metabólicos: o dos microrganismos do rúmen e o dos tecidos. Ambos são interdependentes e a

otimização da produtividade implica que estes dois sistemas estejam adequadamente providos de

nutrientes em um equilíbrio perfeito (Vasconcelos et al., 1998).

Estes metabolismos são simbióticos, ou seja, o atendimento das exigências nutricionais dos

caprinos envolve o fornecimento adequado de substratos para os microrganismos ruminais de forma que

estes possam utiliza-los para seu crescimento fornecendo energia e proteína de alta qualidade para o

animal hospedeiro (ruminante). Além de energia e proteína, a microbiota ruminal produz vitaminas do

complexo B e aminoácidos essenciais (mesmo a partir de nitrogênio não protéico – fornecer fonte de

enxofre), tornando os ruminantes independentes das fontes externas (Van Soest, 1994).

Para uma melhor eficiência da utilização dos nutrientes é necessário que os substratos estejam

em perfeita harmonia (balanceados) de forma que o crescimento microbiano não seja limitado e não

limite, também, o aporte de nutrientes para o ruminante.

Em geral, a população microbiana utiliza amônia, aminoácidos e peptídeos como fonte de

nitrogênio. As bactérias que fermentam celulose e hemicelulose (fermentadoras de carboidratos fibrosos)

se desenvolvem muito lentamente e utilizam amônia como a fonte principal de nitrogênio. As bactérias

que fermentam os carboidratos não fibrosos também podem utilizar amônia, porém se desenvolvem

melhor quando tem peptídeos e aminoácidos disponíveis.

Em animais de alta produção de leite, o sistema ruminal não é capaz de garantir a quantidade

suficiente de nutrientes requeridos e as rações devem ser formuladas com o objetivo de otimizar o aporte

alimentício exigido pelo animal nessas situações. Duas alternativas podem ser usadas para maximizar o

fornecimento de nutrientes dietéticos que alcançam o sítio de absorção no intestino delgado em animais

de alta produção: a) aumentar a quantidade e a qualidade dos produtos finais de fermentação ruminal; b)

fornecer nutrientes na dieta que escapem à fermentação ruminal e possam ser digeridos e absorvidos

pelo intestino delgado para posterior utilização pelos tecidos (Vasconcelos et al., 1998).

Os carboidratos (fibrosos ou não fibrosos) têm efeito importante sobre o equilíbrio das espécies

bacterianas no rúmen, sobre a proporção de ácidos graxos que se produzem e sobre a quantidade de

energia que vai para os tecidos. As rações com proporções elevadas de fibras não fornecem a

quantidade suficiente de energia para cobrir as produções elevadas de leite e, normalmente, os animais

perdem peso e a produção fica abaixo do potencial genético dos animais (Vasconcelos et al., 1998).

A concentração energética da ração pode ser aumentada elevando-se a quantidade de

carboidratos não estruturais, porém corre-se o risco de alterar a fermentação ruminal e ocasionar

transtornos como acidose e diminuição da gordura do leite. O conteúdo ótimo de fibra da dieta pode

variar com o estágio de lactação e o nível de produção (Vasconcelos et al., 1998).

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3.3. Hábitos Alimentares

Alimentar cabras leiteiras com altos níveis de produção, também significa saber que esses

animais apresentam hábitos alimentares característicos, com preferências definidas e grande

capacidade de seleção. O resultado disso é que uma ração composta pelos mesmos alimentos pode ter

consumo (quantidade) diferenciado. Isso pode acontecer, por exemplo, quando se muda a forma de

apresentação do alimento ou a freqüência em que as rações são oferecidas. E consumo é um dos

pontos fundamentais para alimentação de cabras leiteiras (Carvalho, 2002).

Van Soest (1994) classifica os ruminantes em três classes principais, de acordo com os seus

hábitos alimentares: 1) animais que selecionam alimentos concentrados; 2) animais selecionadores

intermediários, e 3) animais utilizadores de volumosos. Os animais selecionadores de alimentos

concentrados não toleram grandes quantidades de fibra em suas dietas e são, conseqüentemente,

limitados a selecionar alimentos concentrados, e ou porções de plantas com baixo teor de fibra (girafa,

veado, alce, etc.). Animais selecionadores intermediários são aqueles capazes de uma utilização limitada

dos constituintes da parede celular e que apresentam uma alta velocidade de passagem, o que os

permite ingerir quantidades suficientes de nutrientes facilmente fermentáveis. Os caprinos e ovinos são

alguns dos animais englobados nesta classificação e, que apresentam uma grande flexibilidade

alimentar e são adaptados tanto para o consumo de gramíneas, quanto para o consumo de

dicotiledôneas herbáceas e brotos e folhas de árvores e de arbustos. A terceira categoria de ruminantes

nessa classificação engloba aqueles adaptados para uma velocidade de passagem mais lenta e,

conseqüentemente, aptos para uma melhor utilização dos constituintes fibrosos da parede celular das

forragens, neste grupo estão os bovinos e búfalos.

Entre os consumidores intermediários existe uma diferença em relação a seletividade, sendo os

caprinos mais seletivos que os ovinos, pois possuem grande mobilidade labial. Estes animais preferem o

ramoneio tanto em pastejo quanto em confinamento, podem consumir grande variedade de plantas e

através da seletividade mudam a dieta de acordo com a disponibilidade de alimentos e da estação do

ano. Os caprinos selecionam as partes que possuem maior valor nutritivo, preferindo folhas a caules.

Assim, uma mesma ração pode ser consumida em quantidades diferentes, devido a forma e a freqüência

com que esta ração é oferecida, ou seja, a qualidade do alimento ingerido pode ser diferente da

qualidade do alimento oferecido (Cunha, 1999; Ribeiro, 1997).

Quando os caprinos são alimentados no cocho, o comportamento alimentar pode ser dividido em

três fases:

Exploração → o animal toma conhecimento da alimentação oferecida;

Consumo intensivo → o animal consome muito e quase satisfaz a sua fome;

Seleção → o animal seleciona determinadas partes do alimento a serem ingeridas.

A duração de cada fase é variável e depende de fatores como competição entre os caprinos,

adaptação à dieta, homogeneidade da ração e intervalo entre as refeições. A primeira fase é reduzida

quando existe maior competição entre as cabras no cocho, quando o volumoso é homogêneo ou quando

as cabras estão acostumadas a ele. Ao contrário, a primeira fase tem maior duração quando são

utilizados cochos individuais e quando o volumoso oferecido é de baixa qualidade e composto por

diferentes espécies vegetais.

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3.4 Eficiência digestiva

Os caprinos apresentam algumas diferenças no comportamento alimentar e na fisiologia

digestiva em relação aos outros ruminantes e por isso podem ser considerados mais eficientes em

alguns aspectos digestivos:

Maior taxa de fermentação no rúmen e conseqüentemente maior produção de ácidos graxos

voláteis;

Remastigação ou ruminação mais demorada, portanto melhor digestão, apesar da ingestão

rápida dos alimentos;

Maior taxa de movimentos do alimento no rúmen, ou seja, maior turnover de alimentos;

Natureza da dieta, adequando sua alimentação conforme a disponibilidade dos alimentos;

Maior atividade microbiana no rúmen devido a menor quantidade de água ingerida e da

utilização mais eficiente da água.

3.5 Nível de Consumo de Alimentos

O consumo de alimentos pode ser influenciado por diversos fatores, tais como, disponibilidade

de forragem, forma física do alimento, idade da forrageira, método de conservação, teor de matéria seca,

quantidade oferecida, tamanho do corte, número de refeições, uso de aditivos, disponibilidade de água,

luminosidade etc.

Na Tabela 2 estão apresentados alguns destes fatores os quais podem ser relacionados ao

animal, ao alimento e ao ambiente.

Tabela 2. Fatores que interferem no consumo de alimentos por caprinos

ANIMAL ALIMENTO AMBIENTE

Raça Gosto Tipo de alimento -verde/conservado

Peso vivo e tamanho Cheiro Hora da alimentação

Estado fisiológico Qualidade da forrageira Freqüência de alimentação

Crescimento Variedade Quantidade distribuída de alimentos

Gestação Conteúdo de umidade Competição entre os animais

Lactação Digestibilidade Temperatura ambiental

Nível de produção Tamanho/forma Umidade relativa do ar

Apetite Forma de distribuição dos alimentos

Preferência

Fonte: Cunha (1999) e Ribeiro (1997).

A freqüência de distribuição dos alimentos ou o número de refeições influencia o consumo dos

caprinos e tem se observado que quanto mais se oferece o alimento, maior é o consumo. Então quando

se pretende maximizar a ingestão de alimentos deve-se dividir a dieta total em várias refeições diárias,

pelo menos manhã e tarde. Esta prática é mais importante quando se alimentam cabras leiteiras

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coletivamente, pois neste caso pode ocorrer competição pelo alimento, principalmente quando o espaço

de cocho para o número de animais da baia é insuficiente para que todas as cabras tenham acesso ao

cocho ao mesmo tempo. Sabe-se que é fundamental que no cocho tenha quantidade de alimento que

permita que as cabras consumam quantidades suficientes de ração para garantir seus níveis de

produção (Cunha, 1999).

4. EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DOS CAPRINOS

A exigência nutricional é a quantidade de um determinado nutriente necessário para cada função

específica realizada pelo animal, expressa de forma adequada. Para se determinar às exigências

nutricionais, o método mais utilizado tem sido o fatorial. Neste, a necessidade do animal corresponde à

soma das necessidades para cada função, como mantença, crescimento ou ganho em peso, gestação,

lactação e trabalho (Ribeiro, 1997).

EE ttoottaall == EE mmaanntteennççaa ++ EE ggaannhhoo ++ EE ggeessttaaççããoo ++ EE llaaccttaaççããoo ++ EE ttrraabbaallhhoo

As exigências de nutrientes são influenciadas por vários fatores, tais como: raça, sexo, animais

castrados ou inteiros, idade, tamanho do corpo, estado fisiológico (crescimento, gestação, lactação),

crescimento de pêlo, atividades voluntárias, atividade física, nível de produção, aspectos ruminais,

composição corporal, relação com outros nutrientes e fatores do ambiente (temperatura, umidade,

luminosidade, velocidade do vento).

As exigências nutricionais apresentadas a seguir são oriundas de informações adaptadas dos

principais materiais de referência, NRC (1981) e AFRC (1993), e de trabalhos brasileiros realizados por

Rezende (1996) e Ribeiro (1997).

4.1. Ingestão de Matéria Seca

A capacidade de ingestão, assim como os requisitos nutricionais, variam ao longo do ciclo

produtivo e são influenciadas por características relacionadas ao animal, raça, idade, nível de produção,

aptidão, estado fisiológico e peso vivo.

Existem dois mecanismos para controle da ingestão de alimento:

1. Controle fisiológico - a necessidade energética do animal é atendida, cessando o estímulo para

consumo de alimentos. Isso ocorre em situações em que o animal apresenta pouca exigência ou está

consumindo rações bem balanceadas.

2. Controle físico ou efeito do “enchimento” (limitação física) – a necessidade do animal ainda não foi

atendida, mas o rúmen apresenta-se repleto, o controle de consumo ocorrerá pela limitação física

provocada por uma restrição de capacidade do trato digestivo de suportar uma maior quantidade de

alimentos. Essa situação ocorre em animais com altas exigências e/ou consumindo alimentos de baixa

qualidade (Ribeiro, 1997; Rodrigues, 1998).

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O cálculo da ingestão de matéria seca é realizado através de equações e de tabelas. A ingestão

varia de 1,5 a 2,0% do PV em animais de baixa exigência e até 5% do PV em animais de alta produção.

Estas equações consideram o PV, o peso metabólico (PV 0,75), a proporção entre concentrado e

volumoso na ração, a qualidade do alimento, o nível de produção e outros, sendo cada equação

adequada a uma situação específica.

O AFRC (1993) citado por Ribeiro (1997) oferece uma equação que é muito utilizada para

cálculo da matéria seca ingerida (MSI) para cabras em lactação. Em condições de mantença considera-

se neste caso a produção de leite (PL) igual a zero.

MMSSII == 00,,006622 ** PPVV 0,75 ++ 00,,330055 ** PPLL,, onde: 0,75

MSI = matéria seca ingerida, em g/dia;

PL = produção de leite, em kg/dia, com 3,5% de gordura;

PV = peso vivo, em kg.

4.2. Exigência para Mantença

A condição fisiológica denominada mantença é descrita como o estado em que o animal não

está em produção e seu peso vivo e suas reservas permanecem constantes, ou seja, é o que o animal

requer para manter-se vivo. Neste caso, as necessidades específicas de água, proteína, energia,

minerais e vitaminas correspondem ao metabolismo de jejum ou energia líquida de mantença, atendendo

as funções vitais do animal (Tabela 3).

Tabela 3. Exigências nutricionais para mantença

Peso Energia Proteína Minerais

ED EM EL UFL NDT PB PD PM ou PDI Ca P

(kg) ----------(Mcal)---------- (“INRA”) (g) ---------------------(g)----------------- -------(g)------

30 1,59 1,30 0,70 0,41 362 51 35 31 2 1,4

40 1,98 1,61 0,86 0,51 448 63 43 38 2 1,4

50 2,34 1,91 1,02 0,60 530 75 51 45 3 2,1

60 2,68 2,19 1,16 0,68 608 86 59 52 3 2,1

70 3,01 2,45 1,30 0,77 682 96 66 58 4 2,8

Adaptado de Ribeiro (1997)

4.3. Exigência para Produção

Está relacionada com as necessidades em água, proteína, energia, minerais e vitaminas para

produção. A relação entre os gastos totais (mantença + produção) e os gastos de mantença determinam

o nível de produção do animal (Tabela 4).

Tabela 4. Nível de produção em relação às exigências de mantença

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Múltiplo da exigência de mantença Situação

1,0 Mantença

1,6 Gestação*

Produção de leite (kg)

2,0 2

2,5 3

3,0 4

3,5 5

4,0 6

4,5 7

* Último mês de gestação, parto duplo.

Fonte: INRA citado por Ribeiro (1997)

5.3.1. Crescimento

Nos animais em crescimento, todos os órgãos e tecidos aumentam de peso de forma

diferenciada devido as diferentes velocidades de crescimento, as quais se traduzem exteriormente na

forma e no estado do animal.

As exigências para animais em crescimento correspondem às exigências para ganho de

peso + mantença (Tabela 5).

Tabela 5. Exigências para 100g de ganho de peso diário

Peso IMS Energia Proteína Minerais

(kg) (kg) ED EM EL UFL NDT PB PD PM Ca P

-------(Mcal)-------- (g) ---------(g)----------- -------(g)------

10 0,10 0,51 0,42 0,24 0,14 116 29 21 25 1,32 0,72

20 0,20 0,70 0,57 0,32 0,19 159 29 21 25 1,43 0,71

30 0,30 0,88 0,72 0,41 0,24 199 28 20 24 1,49 0,70

40 0,40 1,08 0,88 0,50 0,29 245 27 19 23 1,54 0,69

50 0,40 1,26 1,03 0,58 0,34 286 26 18 22 1,58 0,68 Fonte: Adaptado de Ribeiro (1997)

4.3.2. Gestação

Nesta fase, a exigência total do animal corresponde às exigências para gestação

(desenvolvimento do feto, placenta, glândula mamária) + manutenção (Tabela 6).

No início da gestação, o feto requer poucos nutrientes para seu funcionamento e crescimento,

muito lento até a metade da gestação, ou seja, no início o feto representa uma exigência muito pequena

para a cabra. Entretanto, no último terço de gestação o crescimento fetal é rápido e corresponde a 80%

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do desenvolvimento do feto, exigindo do animal grandes quantidades de nutrientes, tornando o custo

nutricional da cabra elevado. Neste momento, deve-se considerar a condição nutricional da cabra, a qual

deve apresentar-se em boas condições, nem sub e nem superalimentada. Em condições de subnutrição,

a cabra irá utilizar suas reservas corporais para suprir as necessidades do feto, principalmente em

energia.

Tabela 6. Exigências nutricionais para cabras secas, gestando dois fetos, em função do peso e da fase

de gestação, incluindo as exigências para mantença e para gestação

Energia Proteína Minerais

ED EM EL UFL NDT PB PM PL Ca P PV

(kg) Período

IMS

(kg)-----(Mcal)------ (g) ---------(g)--------- ------(g)-----

40 início 1,07 3,00 2,45 0,99 0,58 680 77 54 37 3,0 2,0

4o mês 1,07 3,60 2,94 1,14 0,67 816 159 111 57 5,0 2,5

5o mês 0,97 5,03 4,10 1,27 0,75 1.141 215 150 77 7,0 3,0

50 início 1,20 3,48 2,84 1,17 0,69 789 91 63 43 3,5 2,5

4o mês 1,20 4,11 3,35 1,34 0,79 932 173 120 67 6,0 3,1

5o mês 1,09 5,59 4,56 1,50 0,88 1.268 235 163 91 8,5 3,7

60 início 1,33 3,91 3,19 1,34 0,79 887 105 73 50 4,0 3,0

4o mês 1,33 4,53 3,70 1,53 0,90 1.027 187 130 79 7,0 3,8

5o mês 1,21 6,01 4,90 1,72 1,01 1.363 253 176 107 10,0 4,5 Fonte: Adaptado de Ribeiro (1997)

4.3.3. Lactação

A exigência total do animal corresponde às exigências de nutrientes para lactação (produção e

composição do leite, funcionamento da glândula mamária) + manutenção (Tabela 7). No início da

lactação, os requisitos nutricionais aumentam rapidamente, enquanto a capacidade de ingestão o faz

lentamente.

Em cabras especializadas, a glândula mamária tende a alcançar sua produção potencial nas

primeiras semanas de lactação, fazendo com que a fêmea mobilize suas reservas corporais. A secreção

do leite exige maiores proporções de proteínas, P e Ca, e aminoácidos essenciais, que os gastos para

mantença. No início da lactação as cabras perdem peso, pois não conseguem ingerir a quantidade de

alimento que seria necessário para suprir os nutrientes eliminados no leite. E a partir do quarto mês de

lactação as cabras têm que formar reservas corporais para a próxima lactação, apresentando altas

exigências.

Tabela 7. Exigências de energia e de proteína para produção de leite de cabras confinadas, por litro de

leite, durante o período que vai do 2o mês de lactação até a cobertura, sem alteração do peso

vivo

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Energia Proteína Minerais Vitaminas

Exigências

ED EM EL UFL NDT PB PD PM Ca P A D

--------(Mcal)--------- (g) ----------(g)------------ -----(g)----- -------UI------

Exigências por kg de leite com 3,5% de gordura (cabras Alpinas)

1,500 1,219 0,655 0,385 342 68 48 43 4,0 1,5 3,800 760

Exigências para cada 0,1% de variação no teor de gordura do leite

0,241 0,197 0,111 0,065 55 Fonte: Adaptado de Ribeiro (1997)

5. ALIMENTOS

A alimentação é um dos fatores mais importantes em um sistema de produção, pois é através

dela que os animais ingerem os nutrientes necessários para expressarem seus potenciais de produção.

Entretanto, a alimentação representa um dos mais altos custos da produção, podendo representar até

80% do custo total. Assim, torna-se necessário o conhecimento dos alimentos disponíveis para que se

possam escolher os mais adequados para cada situação e para cada região (Ribeiro, 1997).

5.1 Distribuição de concentrados e volumosos

Os volumosos são necessários para o perfeito funcionamento do rúmen e para o fornecimento

de nutrientes de forma mais econômica que os concentrados. Animais não muito exigentes, como cabras

secas e reprodutores, podem ser alimentados exclusivamente com volumosos de boa qualidade.

Enquanto, que cabras de alta produção, necessitam, além do volumoso, do fornecimento de

concentrado.

Os volumosos são as forrageiras, frescas ou conservadas, as palhadas e alguns resíduos da

agroindústria. O volumoso pode ser oferecido aos animais na forma de pastejo, frescos picados ou

conservados, considerando-se a quantidade disponível e a qualidade da forragem. Para a utilização do

volumoso deve-se considerar a disponibilidade e a qualidade do alimento, a região e a estação do ano

(temperatura, umidade, distribuição das chuvas, solo), pois não existe um volumoso ideal.

6. ALIMENTAÇÃO POR CATEGORIA ANIMAL

Para a adequada alimentação dos animais deve-se considerar a categoria animal, estado

fisiológico, nível de produção e o peso vivo; estimar a quantidade de nutrientes provenientes do

volumoso e calcular a ração concentrada em termos qualitativos e quantitativos.

Os caprinos podem ser manejados em sistema de pastejo ou de confinamento, mas a qualidade

e a quantidade de alimento oferecido deve suprir as necessidades de cada categoria animal.

Os animais confinados podem ser alimentados individualmente ou por lotes, dependendo das

condições de manejo de cada capril. Caso a alimentação seja em lotes, este deve ser o mais

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Page 13: nutrição e alimentação de caprinos

homogêneo possível, tornando a alimentação mais eficiente de forma a reduzir a competitividade entre

os animais. As dietas oferecidas aos animais devem permitir a seleção pelas cabras, mas sem sobras

excessivas. Os alimentos, volumosos e concentrados, podem ser oferecidos separadamente ou em

mistura completa. As rações completas apresentam bons resultados desde que as cabras não possam

escolher os diferentes componentes da mistura oferecida.

Os caprinos em pastejo apresentam maior atividade relacionada à alimentação em função do

hábito seletivo desses animais e gastam mais tempo e andam mais que os bovinos e os ovinos,

aumentando os requisitos nutricionais, principalmente em energia.

6.1 Fase de Aleitamento

O objetivo da nutrição na primeira fase da criação é fazer com que os animais sejam

desaleitados no menor tempo possível. Com este objetivo, o fornecimento do colostro é de fundamental

importância para que os animais não tenham seu desenvolvimento comprometido. O colostro ou “leite

sujo” é muito rico em nutrientes e anticorpos e através dele, a cria adquire resistência (imunidade) a

várias doenças, além de ter efeito laxativo, muito importante para a limpeza do intestino.

O colostro deve ser fornecido o mais rápido possível, pois depois de 6 horas a absorção de

imunoglobulinas diminui. Após esse período deve ser adotado um esquema de aleitamento, natural ou

artificial, quando a cria irá receber 1,5 kg de leite/dia.

O aleitamento natural é aquele em que a cria fica com a mãe nos primeiros cinco dias de vida do

animal, sendo depois apartado e levado à mãe em horário controlado; este sistema não tem sido muito

recomendado, apesar do menor custo, em função de o leite de cabra ser um dos vetores da CAE.

No aleitamento artificial o animal é separado da mãe imediatamente após o parto, recebendo o

colostro em mamadeiras que deve ser oferecido durante pelo menos os três primeiros dias de vida do

cabrito. O leite deve ser fornecido aquecido a 37o C, passando gradativamente para a temperatura

ambiente a partir do segundo mês. Pode ser utilizado leite de cabra, de vaca ou substitutos comerciais

(leite em pó + gordura; soro em pó + soja; e outros) com proteína variando de 22 a 27% de PB. Os

animais são alimentados 2 ou 3 vezes ao dia.

De acordo com Ribeiro (1997) as principais vantagens do aleitamento artificial são:

Substituição do leite de cabra por produtos mais baratos; ♦

Melhor controle do consumo do filhote e da produção da cabra;

Antecipação do consumo de alimentos sólidos;

Desmama precoce;

Prevenção da CAE.

Independentemente do tipo de aleitamento, a partir da 1a semana de vida, os animais devem ter

sempre água à disposição, mistura mineral, feno de boa qualidade ou capim verde picado e concentrado.

Isto irá possibilitar um desaleitamento precoce sem que haja prejuízo no desempenho dos animais.

A desmama pode ser realizado a partir da 3a semana (rúmen já funcional), mas na prática é

realizado à partir da 5a semana. O desaleitamento não deve ser brusco, diminuindo-se a quantidade de

leite oferecida aos animais gradativamente, e pode ser realizado quando os animais atingirem 35 dias de

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Page 14: nutrição e alimentação de caprinos

idade ou 2,5 vezes o peso de nascimento ou 10 kg de PV ou estiverem consumindo mais de 125 g de

concentrado/dia.

6.2 Alimentação da Desmama à Puberdade

A alimentação das cabritas de reposição deve ser considerada como uma etapa importante para

garantir o futuro da criação. O que se pretende, na fase que vai do desaleitamento até a entrada na

reprodução, é os animais alcancem 60 a 70% de seu peso adulto, o que deveria estar acontecendo entre

o sexto e o oitavo mês de vida, sendo o desenvolvimento um critério seguro para iniciar a vida

reprodutiva (Carvalho, 2002).

Raças com peso adulto de 50 a 60 kg, desmamados com cerca de 12-14 kg aos 60-70 dias,

devem ganhar cerca de 150 g/dia para chegar aos sete meses com 30-35 kg de peso vivo. Daí, que o

manejo alimentar é a chave para garantir taxas de ganho dessa ordem.

Para tanto, deve-se utilizar uma boa pastagem ou bom volumoso à vontade, considerando-se o

recomendado para sobras permitidas. Em relação à ingestão de concentrado, Ribeiro (1997) recomenda

que ele seja à vontade até os 90 dias e, a partir dos 90 dias, 300 a 500g por cabeça.

Para essas cabritas, ainda em crescimento, os três primeiros meses de gestação não representam

praticamente acréscimo nas suas exigências, mas as taxas de ganho devem permitir que esses animais

chegam ao parto com 80-85% do peso vivo, ou seja, 40-42,5 kg de PV e 48-51 kg de PV, para animais

adultos com 50 e 60 kg de PV, respectivamente.

Como recomendação geral a alimentação deveria considerar bons volumosos e cerca de 500 g/dia

de concentrado. E, muitas vezes, é esse custo com concentrado que muitos criadores procuram evitar

ou atenuar, economizando e retardando a entrada do animal na reprodução, chegando isso acontecer

com 10-12 meses e o primeiro parto, portanto, com 15-17 meses. Veja a Tabela 8 como não se justifica

retardar a entrada na reprodução.

TABELA 8. Simulação de duas situações de entrada na reprodução de cabritas leiteiras

Idade de

entrada na

reprodução

(meses)

Utilização de

concentrado

(kg/dia), no

período até a

cobrição

Utilização total

de concentrado

(kg) até a

cobrição

Gasto com

concentrado até

a cobrição (R$)

Produção de

leite no período

de 12 a 17

meses

Ganho bruto

pela venda de

leite (R$)

7 0,500 75 30,00 300 300,00

12 0,200 60 24,00 0 0,0

Fonte: Carvalho (2002)

A primeira gestação deve ser acompanhada de perto, pois a fêmea ainda está em

desenvolvimento corporal. Os animais devem receber volumosos de boa qualidade e 500g de

concentrado/dia deve ser suficiente (Ribeiro, 1997). Nos três primeiros meses da gestação é possível

manipular a dieta para que as cabritas ganhem ou percam peso, apresentando condição corporal em

torno de 2,75 a 3,50.

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Page 15: nutrição e alimentação de caprinos

A alimentação dos machos segue os mesmos passos, mas deve-se ter cuidado com a relação

Ca:P, para evitar a formação de cálculos urinários. Os machos devem ser separados das fêmeas logo

após o desaleitamento, para evitar coberturas indesejáveis (Ribeiro, 1997; Cunha, 1999).

6.3 Cabras Adultas

A exemplo do que ocorre com vacas leiteiras, as cabras também podem ter seu ciclo produtivo

dividido em fases (Figura 2).

Figura 2. Fases e acontecimentos do ciclo produtivo da cabra leiteira Fonte: Morand-Fehr e Herveu citado por Ribeiro (1997)

Duas dessas fases são as mais críticas: a fase que vai do parto até os dois meses de lactação

(1ª fase) e a 4ª fase, que vai da secagem até o parto, compreendendo o terço final da gestação. As

outras duas fases correspondem a fase que vai do segundo mês de lactação até a cobrição (2ª fase) e a

3ª fase corresponde a fase que vai da cobrição até a secagem. Em cada uma dessas fases existem

indicações para o manejo alimentar (Carvalho, 2002).

Fase 1

Esta é a primeira fase da lactação e certamente a mais delicada. O nível de produção aumenta

rapidamente, atingindo o pico entre a terceira e a quarta semana de lactação, enquanto a capacidade de

ingestão aumenta mais lentamente, atingindo o máximo entre a 5a e 8a semana. Com isso, a cabra perde

peso, pois elimina mais nutrientes pelo leite do que é capaz de ingerir através da alimentação, fenômeno

denominado balanço energético negativo. Em geral, esta mobilização é intensa entre a 4a e 8a semana

de lactação, variando em função dos níveis de produção e capacidade de ingestão. Durante as três

primeiras semanas, o peso diminui de 3 a 6 kg, continuando este processo por mais algum tempo,

embora mascarado pelo aumento de peso do conteúdo digestiva. Essa fase dura cerca de dois meses.

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Page 16: nutrição e alimentação de caprinos

Em função do exposto, a maior preocupação nessa fase é fazer com que o período de balanço

energético negativo seja superado o quanto antes, devendo-se utilizar rações palatáveis e com elevada

densidade energética. Como é freqüente o uso de elevadas quantidades de concentrado, não se deve

descuidar da fibra. O escore logo após o parto deve estar entre 2,75 e 3,50 e após 45 dias de lactação o

escore não deve estar abaixo de 2 e não deve ter diminuído mais do que 1,25 da avaliação feita logo

após o parto.

A produção de leite é influenciada pela saúde e pelo acúmulo de reservas corporais (condição

corporal ao parto). Durante o período de transição, as cabras devem ingerir energia em quantidades

suficientes para suprir sua demanda por nutrientes, em função da redução de consumo apresentada

nesta fase. Dessa maneira, a cabra não deve iniciar a lactação muito magra ou gorda, pois tais

condições podem predispor a problemas metabólicos, reprodutivos e produtivos. A composição do leite

pode também ser influenciada pela dieta, principalmente o teor de gordura, a densidade e o extrato seco

(Rodrigues, 2001).

Fase 2

Esta é uma fase mais simples, pois a capacidade de ingestão está normalizada e a produção de

leite começa a diminuir. No início desta fase o peso da cabra se mantém estável e passa a aumentar

lentamente, cerca de 0,6 a 1,9 kg por mês. A importância desta reconstituição aumenta com a

intensidade da mobilização anterior e com a concentração energética da ração. Esta fase termina com a

fecundação e é a que tem a duração mais variável, em função do intervalo de partos. Portanto, quando o

ciclo é anual, dura cerca de cinco meses, enquanto dura apenas um mês quando o intervalo de partos é

de oito meses (3 partos em 2 anos).

Pelo nível de produção estar diminuindo lentamente e a ingestão de alimentos elevada, é a fase

onde se começa a acertar a condição corporal da cabra, preparando-a para a gestação e para a próxima

lactação. O escore deve estar entre 2,0 e 2,25 no início da fase e alcançar 2,50 a 2,75 no final da fase.

Fase 3 Essa fase se inicia com a concepção e dura 90 a 105 dias, dependendo do período seco que

será aplicado. Durante esse período, que corresponde aos primeiros três a três meses e meio da

gestação, o peso da cabra aumenta lentamente, cerca de 2 a 4 kg, acumulando-se reservas corporais

devido ao balanço energético positivo, permitindo-se o ajuste da condição corporal da cabra. Esta fase

não difere muito da anterior, exceto pelo fato da cabra estar em gestação e pelo nível de produção de

leite inferior, pois o desenvolvimento do feto ainda é pequeno.

É importante fornecer uma mistura mineral completa e bem equilibrada, inclusive nos

microelementos, e evitar mudanças de lotes para que não ocorram abortos por traumatismos causados

por brigas entre os animais. O escore deve estar entre 2,50 e 2,75 no início da fase e alcançar 2,75 a

3,25 no final da fase.

Fase 4

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Page 17: nutrição e alimentação de caprinos

O início desta fase é marcado pela secagem, que deve ocorrer cerca de 45 a 60 dias antes do

parto, que conseqüentemente corresponde à duração média desta fase. Se a cabra não for seca, esta

fase não fica tão evidente, mas em termos de exigência, continua a existir, pois ela corresponde ao terço

final da gestação, quando ocorre o maior crescimento da(s) cria(s), cerca de 85% (Figura 3),

aumentando a demanda por nutrientes, enquanto a capacidade de ingestão da cabra é limitada, tanto

pelo volume ocupado pela gestação como pelas gorduras acumuladas como reserva. O escore deve

estar entre 2,75 e 3,25 no início da fase e alcançar 3,00 a 3,50 próximo ao parto. Convém ressaltar que

no início dessa fase o escore aumenta, mas no último mês de gestação já começa a diminuir, em função

da mobilização provocada pela alta demanda do feto e baixa capacidade de ingestão.

O ganho em peso dessa fase, entre 6 a 9 kg, corresponde principalmente ao crescimento do(s)

feto(s), de tal forma que logo após o parto a cabra retorna praticamente ao peso que estava no início

desta fase, ou até menos, em função da mobilização de reservas para o(s) feto(s), problema exacerbado

no caso de três cabritos médios ou dois grandes. Durante as três últimas semanas de gestação o peso

aumenta, mas de forma menos intensa, podendo inclusive se estabilizar imediatamente antes do parto. A

capacidade de ingestão em kg de matéria seca permanece estável, mas diminui aproximadamente 5 a

10% se expressa em relação ao PV.

Figura 3. Desenvolvimento do embrião durante a gestação.

Utilizar um volumoso de boa qualidade, de preferência feno, permitindo uma sobra compatível

com sua qualidade e de 500 a 800 g de concentrado. Caso se utilizem silagens, estas não devem ser o

único volumoso, pois a ingestão de matéria seca normalmente não é muito elevada, problema agravado

pelo elevado teor de água. Valem aqui os cuidados apresentados para o terço final da primeira gestação,

atenuada pelo fato de não haver mais a preocupação com o desenvolvimento corporal da cabra, que,

mesmo no caso das cabras de segunda cria, que ainda apresentam um pequeno crescimento, as

exigências para esta finalidade já serem bem reduzidas. Por outro lado, é ligeiramente agravado pela

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Page 18: nutrição e alimentação de caprinos

maior freqüência de partos múltiplos e formação de fetos maiores. Tomar cuidado com a ocorrência de

toxemia da gestação, que ocorre tanto com sub como com superalimentação e avaliar a necessidade ou

não de utilizar rações aniônicas. Nesse caso, cuidado com alimentos muito ricos em potássio, como o

feno de alfafa.

No final da gestação e início da lactação, os animais apresentam redução no consumo de

alimentos e mudanças fisiológicas, enquanto ocorre aumento dos requerimentos, dado o crescimento

fetal e a produção de leite. Os últimos 21 dias de gestação e os primeiros 21 dias de lactação são

conhecidos como período de transição (Grummer, 1995). É típico de animais em período de transição

reduzir o consumo em até 30% antes do parto, iniciando o balanço negativo de nutrientes (Rodrigues,

2001).

6.4 Reprodutores Jovens e Adultos

A alimentação adequada dos machos é tão importante quanto das fêmeas. Um volumoso de boa

qualidade é suficiente para a mantença do reprodutor quando não está sendo utilizado. A dieta dos

machos deve ser bem balanceada para manter a relação Ca:P de 2:1, evitando o aparecimento de

cálculo urinário. Os animais devem ter à sua disposição água e mistura mineral e a dieta de conter entre

14 e 16% de PB (Cunha, 1999; Ribeiro, 1997).

Quando se pretende utilizar o reprodutor no próximo período de coberturas, deve-se melhor a

sua dieta alguns dias antes do início desse período. Trinta dias antes e durante o período de coberturas

é necessário oferecer um suplemento protéico diário aos reprodutores (800 a 1000g), depois de

transcorrido esse período à sua alimentação volta ao normal (Cunha, 1999).

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Page 19: nutrição e alimentação de caprinos

7. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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