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Nutrição escolar consciente: oficinas de culinária para alunos do ensino fundame ntal das escola s públicas do município de Duque de Caxias/RJ. Silva MX, Almeida DF, Ruiz AS, Soares B, Almeida F, Silva JXS, Pedrosa C, Pierucci APT RESUMO O Brasil passa pela transição nutricional caracterizada pela presença de alimentação inadequada. O padrão alimentar brasileiro tem apresentado mudanças, com maior consumo de alimentos industrializados, em substituição à comida caseira. Estudos recentes demonstram que crianças e adolescentes estão aderindo a esse comportamento alimentar dos adultos com o aumento do consumo de produtos com alto teor energético e redução de frutas, verduras e cereal. Devido à inadequação das práticas alimentares entre crianças, devem ser adotadas estratégias educativas, informativas e motivacionais que enfatizem os benefícios da adoção de uma dieta equilibrada, no ambiente escolar. Esse estudo visa, por meio de atividades lúdico-didáticas para crianças, possibilitar o aprendizado a respeito de alimentação saudável, fornecendo condições para escolhas por alimentos que beneficiem a saúde. Esse trabalho objetivou avaliar o efeito de intervenção educativa a respeito de alimentos e alimentação saudável entre alunos do primeiro ciclo do ensino fundamental de escolas municipais de Duque de Caxias/Rio de Janeiro. Foram selecionadas duas escolas, com amostra de 135 alunos, divididos em: Controle: 79 e Intervenção: 56. Utilizou-se como metodologia a aplicação de oficinas de culinária, aulas informativas e gincanas educativas. A avaliação por meio de jogos possibilitou maior descontração entre os alunos para revelarem seus conceitos. O rendimento da aprendizagem foi de 70% na escola intervenção. As oficinas e as aulas expositivas obtiveram adesão e interesse das turmas, que demonstravam prazer enquanto aprendiam os novos conceitos. O modelo experimentado integrou técnicas construtivistas que resultaram em aprendizado para os alunos envolvidos, podendo ser adotado como prática educativa para promoção da alimentação saudável em outras escolas. Palavras-chave: nutrição, escolas, estudantes, educação nutricional. ABSTRACT Brazil is going through a nutritional transition characterized by inadequate food. The Brazilian food pattern has been changing, with greater consumption of processed foods, instead of homemade food. Recent studies show that children and teens are jumping into the feeding behavior of adults with increased consumption of products with high energy and reduction of fruit, vegetables and cereal. Due to inadequate dietary practices among children, educational strategies should be adopted, informative and motivational to emphasize the benefits of adopting a balanced diet in school. This study aims, through recreational activities for children, enable learning about healthy eating choices by providing conditions for choice of foods that benefit health. This study aimed to evaluate the effect of educational intervention on food and healthy eating among students of the first cycle of basic education in municipal schools in Duque de Caxias / Rio de Janeiro. Two schools were selected with a sample of 135 students, divided into: Control: 79 and Intervention: 56. The methodology used was cooking workshops, informative lectures and educational competitions. The assessment through games allowed greater relaxation among the students to prove their concepts. The efficiency of 

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Nutrição escolar consciente: oficinas de culinária para alunos doensino fundamental das escolas públicas do município de Duquede Caxias/RJ.

Silva MX, Almeida DF, Ruiz AS, Soares B, Almeida F, Silva JXS, Pedrosa C, Pierucci

APTRESUMO

O Brasil passa pela transição nutricional caracterizada pela presença de alimentaçãoinadequada. O padrão alimentar brasileiro tem apresentado mudanças, com maiorconsumo de alimentos industrializados, em substituição à comida caseira. Estudosrecentes demonstram que crianças e adolescentes estão aderindo a esse comportamentoalimentar dos adultos com o aumento do consumo de produtos com alto teor energéticoe redução de frutas, verduras e cereal. Devido à inadequação das práticas alimentaresentre crianças, devem ser adotadas estratégias educativas, informativas e motivacionaisque enfatizem os benefícios da adoção de uma dieta equilibrada, no ambiente escolar.Esse estudo visa, por meio de atividades lúdico-didáticas para crianças, possibilitar oaprendizado a respeito de alimentação saudável, fornecendo condições para escolhaspor alimentos que beneficiem a saúde. Esse trabalho objetivou avaliar o efeito deintervenção educativa a respeito de alimentos e alimentação saudável entre alunos doprimeiro ciclo do ensino fundamental de escolas municipais de Duque de Caxias/Rio deJaneiro. Foram selecionadas duas escolas, com amostra de 135 alunos, divididos em:Controle: 79 e Intervenção: 56. Utilizou-se como metodologia a aplicação de oficinas deculinária, aulas informativas e gincanas educativas. A avaliação por meio de jogospossibilitou maior descontração entre os alunos para revelarem seus conceitos. Orendimento da aprendizagem foi de 70% na escola intervenção. As oficinas e as aulasexpositivas obtiveram adesão e interesse das turmas, que demonstravam prazerenquanto aprendiam os novos conceitos. O modelo experimentado integrou técnicasconstrutivistas que resultaram em aprendizado para os alunos envolvidos, podendo seradotado como prática educativa para promoção da alimentação saudável em outrasescolas.

Palavras-chave: nutrição, escolas, estudantes, educação nutricional.

ABSTRACT

Brazil is going through a nutritional transition characterized by inadequate food. TheBrazilian food pattern has been changing, with greater consumption of processed foods,instead of homemade food. Recent studies show that children and teens are jumpinginto the feeding behavior of adults with increased consumption of products with highenergy and reduction of fruit, vegetables and cereal. Due to inadequate dietary practices

among children, educational strategies should be adopted, informative and motivationalto emphasize the benefits of adopting a balanced diet in school. This study aims,through recreational activities for children, enable learning about healthy eating choicesby providing conditions for choice of foods that benefit health. This study aimed toevaluate the effect of educational intervention on food and healthy eating amongstudents of the first cycle of basic education in municipal schools in Duque de Caxias / Rio de Janeiro. Two schools were selected with a sample of 135 students, divided into:Control: 79 and Intervention: 56. The methodology used was cooking workshops,informative lectures and educational competitions. The assessment through gamesallowed greater relaxation among the students to prove their concepts. The efficiency of 

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learning was 70% in the intervention school. The workshops and lectures gainedmembership and interest groups, which showed pleasure while learning new concepts.The model tested integrated constructivist techniques that resulted in learning for thestudents involved, and may be adopted as an educational practice to promote healthyeating at other schools.

Keywords: nutrition. Schools, students, nutrition education1 - INTRODUÇÃO

O Brasil, como vários países em desenvolvimento, passa pelo fenômeno detransição nutricional que é caracterizada pela presença de alimentação inadequada. Aúltima Pesquisa de Orçamento Familiar revelou que o risco de desnutrição foi reduzidoenquanto houve aumento da obesidade tanto em homens quanto em mulheres (IBGE -2004). O padrão alimentar brasileiro tem apresentado mudanças, decorrentes do maiorconsumo de alimentos industrializados, em substituição às tradicionais comidascaseiras. Estas transformações provocadas pelo estilo de vida moderna levam autilização excessiva de preparações gordurosas, açúcares, doces e bebidas açucaradas(com elevado índice glicêmico) e à diminuição da ingestão de cereais e/ou produtos

integrais, frutas e verduras, os quais são fontes de fibra¹. 

Estudos recentes acerca do consumo alimentar de crianças e adolescentesbrasileiros demonstram que estes refletem o comportamento alimentar dos adultos comoaumento do consumo de produtos com alto teor calórico e redução de frutas, verduras ecereal ². Hábitos alimentares saudáveis desde a infância promovem o crescimento ideale desenvolvimento intelectual e, conseqüentemente, previnem deficiências e doençascrônicas não transmissíveis, tais como obesidade 3,4, cardiopatias, dislipidemias ediabetes tipo II, que refletem a exposição acumulativa a fatores de risco, dentre esses, adieta em diferentes fases da vida5. 

Portanto, devido à inadequação das práticas alimentares entre crianças, devem

ser adotadas estratégias educativas que enfatizem os benefícios da adoção de uma dietaequilibrada6. Porém, as práticas educativas desenvolvidas em educação nutricionalpriorizavam o ensinamento de informações sobre alimentos, alimentação e prevenção deproblemas nutricionais, porém isso não tem mostrado mudança de comportamento, poisnão auxilia a formação para tomada de decisões. O acesso à informação é, sem dúvida,muito importante, mas não parece ter grande efeito para a construção de práticasalimentares saudáveis. É importante capacitar os indivíduos para que tenham condiçõesde decidir sobre escolhas alimentares saudáveis. Nesse aspecto, a educação alimentarassume um papel fundamental para o exercício e fortalecimento de conhecimentos sobreos alimentos. Quando é ensinado ao indivíduo como preparar alimentos saudáveis, essese torna sujeito participativo7 O aprendizado deve envolver assuntos que façam parte docotidiano e se desenvolver em grupo. Assim haverá estímulo à assimilação doconhecimento, que possibilitará a capacitação para escolhas saudáveis8,9.

Foram realizadas diversas atividades voltadas para a promoção de alimentaçãosaudável, nos últimos quinze anos, porém, a avaliação dessas mostrou que se devemotivar de forma prática a construção coletiva do conhecimento, o que é uma técnica deeducação denominada Construtivismo10. Os construtivistas dizem que só se aprende oque tem significado:

“A aprendizagem se dá através do ativo envolvimento do aprendiz na construção do

conhecimento; as idéias prévias dos estudantes desempenham um papel fundamental no

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  processo de aprendizagem, já que essa só é possível a partir do que o aluno já

conhece”.

O ensino a respeito de alimentos e alimentação saudável deve ser aplicado demaneira participativa. Connors e colaboradores (2001) reforçam que o ensinofundamental que usa as experiências concretas antes das abstratas tem melhor

resultado11

. Outro fator que beneficia aprendizado de pessoas sobre a alimentaçãosaudável é a aplicação da mesma em um ambiente social12, portanto a escola constitui oambiente apropriado para ações preventivas na área de educação nutricional, poisrepresenta o mais importante grupo social após a família13. Como “espaço do saber” éideal como local para o desenvolvimento de atividades culinárias voltadas paraeducação nutricional de crianças e adolescentes inseridas no ensino regular. O gosto empreparar seu próprio alimento é aprendizado que se leva para toda a vida7.

Esse estudo visa, por meio de oficinas de culinária para crianças e adolescentes,possibilitar o aprendizado acerca de alimentação saudável, fornecendo condições quepodem privilegiar melhores escolhas por alimentos saudáveis. A atividade culinária fazparte da vida de todos e torna-se interessante, a medida que,envolve vários saberes, não

só se limitando à execução de uma receita, mas, também desenvolvem conceitos ligadosà vários outros assuntos como: higiene pessoal, à Matemática (medidas), Português(verbalização e leitura das receitas) e todas as demais Ciências. Os alunos poderãoverificar que o alimento inicia a preparação com um aspecto visual, olfativo e tátil e setransforma em outro produto. O envolvimento com a execução das preparações,provavelmente, despertará mais interesse para o consumo do produto final7, poismanipular, preparar e provar alimentos pode estimular seu consumo13.

2-METODOLOGIA

Participaram de estudo alunos matriculados no primeiro ciclo, que corresponde de1º ao 5º ano do ensino fundamental de duas escolas municipais de Duque de Caxias/Rio

de Janeiro, sendo um grupo controle com 79 alunos, sendo do sexo masculino 63,29 %e do feminino 36,71% e o outro experimental com 56 alunos, sendo do sexo masculino53,57 % e do feminino 46,43% .

. As escolas participantes foram escolhidas pela Secretaria Municipal de Educaçãode Duque de Caxias, sendo que nenhuma das escolas sofreu intervenção prévia acercade alimentação. Pertencem ao 2º e 4º distritos de Duque de Caxias: Campos Elíseos eXerém, respectivamente e possuem características socioeconômicas semelhantes.Apenas uma escola de cada local participou do estudo. Será denominada a escola doGrupo Experimental como Escola “1” e a do Grupo Controle como Escola “2”.

Foram excluídas do estudo crianças com necessidades especiais e os demaisalunos que não estavam presentes quando foi feita a primeira avaliação com os jogos,embora tenham participado de todas as atividades propostas à amostra, por se trataremde atividades educativas que utilizaram métodos lúdico-didáticos.

Este projeto recebeu o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa doEstado do Rio de Janeiro (FAPERJ), por meio do Programa de apoio à melhoria doEnsino das Escolas Publicas do Estado do RJ – E-26/110.212/2-7, e faz parte de umestudo desenvolvido desde 2004 pelo Grupo de Desenvolvimento de Alimentos paraFins Especiais e Educacionais (Dafee), laboratório do Instituto de Nutrição Josué deCastro da Universidade Federal do Rio de Janeiro, cujas pesquisas envolvem aparticipação de escolas municipais do Rio de Janeiro.

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O objetivo da pesquisa foi o de avaliar o quanto atividades lúdico-didáticas podemcontribuir para a aquisição de conhecimentos a respeito de alimentos e de alimentaçãosaudável em escolares matriculados em duas escolas da rede municipal de Duque deCaxias/Rio de Janeiro. Utilizou-se para estimar o conhecimento dos alunos, jogoslúdico-didáticos, que têm a habilidade de avaliá-los de maneira descontraída,possibilitando veracidade nas suas respostas14. Tanto o Grupo Experimental, Escola “1”

quanto o Grupo Controle, Escola ”2” participaram de duas avaliações com os jogos. Aprimeira no início da pesquisa e a segunda, um mês após o término da intervenção.

No primeiro contato com os alunos foi feita avaliação nutricional, por meio depesagem e mensuração da estatura, para cálculo do IMC. Essa avaliação foi realizadapor equipe composta por três nutricionistas e duas alunas de iniciação científicatreinadas. Procedeu-se a pesagem dos alunos por meio de com balança digital Plenna,graduada de 100 em 100 gramas, peso máximo 150 kg e a mensuração da estatura, emduplicata, com estadiômetro Sunny. Tanto na escola do Grupo Experimental como naescola do Grupo Controle, procedeu-se a avaliação nutricional dos alunos, os quaisforam pesados usando o uniforme de educação física (short e blusa de malha) edescalços, posicionando-se no meio da balança, com os braços soltos ao longo do corpo.

A balança sempre retornou ao marco zero antes de cada pesagem. Para mensuração daaltura os estudantes, de meias ou descalços, mantiveram os calcanhares juntos, coluna e joelhos eretos e cabeça no plano horizontal, utilizando-se o esquadro do estadiômetropara a localização exata da medida no mesmo. Os dados foram anotados em planilhapara cálculo posterior, do estado nutricional. Foi utilizada a metodologia descrita porMahan e Escott-Stump (1998)15.

Após a avaliação antropométrica os alunos seguiram para suas salas e foramconvidados a jogar. Foi-lhes determinado que os jogos fossem executadosindividualmente, reforçando o conceito de que uma das características dos jogos é quehaja regras aceitas em comum acordo entre seus participantes14.

A intervenção foi aplicada na Escola “1”. Foi utilizado como eixo estruturanteoficinas de culinária, completadas por palestras informativas e gincanas educativas. AEscola “2” participou apenas dos jogos avaliativos, no início e no final da pesquisa.

2.1-Material utilizado para avaliar os alunos

Foram selecionados em livros didáticos específicos16, 17, jogos individuais,interessantes para a faixa etária da amostra e de fácil compreensão. As atividadespropostas nos jogos são de ligar figuras, no Jogo da Boquinha e do Carrinho; desenhar eescrever, no Jogo do Prato e colar no Jogo da Pirâmide.

2.2-Critérios para avaliação do conhecimento dos alunos a respeito dealimentos e alimentação saudável

A avaliação global dos conceitos abordados foi realizada com base no cálculo damédia ponderal por grupo, adotando-se os seguintes parâmetros de avaliação: 90-100%de acertos - Excelente (E); 80-89% de acertos - Muito Bom (MB); 70-79% de acertos -Bom (B); 50-69% de acertos - Regular (R); <50% de acertos - Insuficiente (I). Seriaconsiderada efetiva a intervenção, quando o aluno obtivesse um rendimento igual ouacima de 70% de acertos.

Atividades desenvolvidas com a Escola “1” / Grupo Experimental

2.3-Oficinas Culinárias

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O convívio da criança com os demais colegas na escola possibilita suasocialização e trocas de vivências do seu cotidiano. O ambiente escolar é ideal para oensino voltado para saúde e formação de hábitos de vida saudáveis18. O ensino de novosconteúdos deve se apoiar em conhecimentos pré-existentes e com significado,valorizando experiências que o indivíduo traz consigo, para que haja uma continuidadeconduzindo o aluno a experiências novas19. Logo, o aprendizado estrutura-se como

redes de conexão com sentido para o aprendiz:“ Reelaborando associações singulares que se ampliam e ganham novos sentidos à

medida que é capaz de desenvolver novas relações, envolver-se na resolução de

  problemas que esclarecem novas questões abrindo-se para aprendizagens mais

complexas”20.

Segundo Piaget a cooperação no convívio social favorece o crescimento moral dacriança. Estudos demonstraram que a capacidade para controle do comportamento eautoconhecimento surge no “jogo do convívio coletivo” em que diversas situaçõesconduzem a consciência das diversidades e similaridades dos indivíduos, quando seelabora soluções de problemas o que desempenha o papel de desenvolver como forçainterna a capacidade do controle voluntário do comportamento19. O aprendizado em

grupo, também denominado de aprendizagem social, é um processo de aprendizado paramodificação de comportamento indesejado que ocorre por meio de imitação, situaçãoque se observa entre grupos de escolares21.

As oficinas culinárias foram propostas como veículo para estimulação doaprendizado a respeito de alimentos e alimentação saudável nesta pesquisa, porque têma possibilidade de proporcionar atividade desenvolvida em grupo, de maneiracooperativa e divertida, favorecendo troca de idéias e experiências8. Ocorreram comfreqüência semanal na Escola “1”, e contaram quatro eventos, nos quais os alunos,separados por turma, eram encaminhados ao refeitório escolar, procediam à vestimentade um gorro e avental descartáveis e higienização das mãos, com o uso de sabonetelíquido, escova de unhas e, após o enxágüe, a aplicação de álcool gel22. Após esseevento, os estudantes posicionavam-se em torno da uma grande mesa. E era iniciada aoficina: a receita era anunciada e seus ingredientes mostrados para que localizassemcada um em uma grande pirâmide alimentar, confeccionada para esta atividade. Logo osingredientes da receita eram colocados em uma bacia plástica que seria passada porcada aluno para que misturasse todos os produtos. As receitas escolhidas eramcompostas por preparações de forno, de baixo custo e eram adequadas a lanches. Forampreparados: pão recheado com legumes, biscoito de aveia, pizza vegetariana e bolo debanana com casca. Finalizando cada intervenção procedia-se a degustação dapreparação elaborada pelos alunos. 

2.4-Material utilizado em sala de aula

Após cada oficina de culinária, enquanto as preparações assavam e esfriavam aturma seguia para sua sala de aula para desenvolver outras atividades com a utilizaçãodos seguintes materiais:

1º) Palestra informativa

Foi realizada nos dois primeiros encontros com a Escola “1”, do GrupoExperimental, para informar a respeito de conceitos acerca de alimentos e alimentaçãosaudável. O material era exposto à frente da sala de aula para visualização da turma. 

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a) Pôster Ilustrado: “Alimentos, de onde vêm, o que são e o que contém”, cartazque aborda a respeito da origem dos alimentos, medindo 199,5 X 50 cm, e mostrafiguras acerca da origem dos alimentos, como são apresentados para o consumidor equais os nutrientes predominantes. A denominação de cada nutriente é encaixada nocartaz, possibilitando a sua mostra no momento oportuno.

b) Pirâmide dos Alimentos: Apresentada com quatro faces coloridas e medindo 58 (base) X 65 cm (lados do triângulo) dividida em quatro níveis e oito grupos dealimentos, totalmente preenchida por gravuras dos mesmos, plastificada parapossibilitar o livre manuseio pelas estudantes. Esta pirâmide também foi empregada nasoficinas de culinária a fim de correlacionar e localizar os produtos utilizados naspreparações executadas pelos alunos, dentro dos grupos de alimentos.

2º) Gincana Educativa

Foi realizada nos dois últimos encontros com a Escola “1”, do GrupoExperimental, para informar e estimular a assimilação a respeito de conceitos acerca dealimentos e alimentação saudável. Os grupos vencedores foram premiados com osadesivos de frutas e hortaliças. 

a) Cartaz da Pirâmide dos Alimentos, medindo 66 X 50 cm, mostrava a gravurade uma pirâmide com os quatro níveis e oito grupos, porém totalmente em branco.Neste jogo a turma foi dividida em quatro grupos que recebia um envelope com 8gravuras, recortadas de encartes de propaganda de supermercados, para colagem, comcada gravura representando um grupo de alimentos da pirâmide. Cada colagem corretaforneceria um ponto ao grupo. Foi utilizado um cartaz por cada evento com as turmas daEscola “1”, do Grupo Experimental. O evento possibilitou a abordagem da identificaçãoda figura dos alimentos, seus respectivos grupos e as quantidades adequadas deconsumo diário.

b) Cartaz do Prato Saudável. Essa atividade foi realizada após a gincana que

empregou o cartaz da pirâmide dos alimentos, portanto, manteve-se a divisão da turmafeita anteriormente, em quatro grupos. Utilizou-se quatro pôsteres, um para cada grupo,medindo 33 X50 cm que mostrava a gravura de um prato vazio centralizado, intitulado“Prato Saudável”. Cada um dos quatro grupos recebeu um envelope com dez figuras,recortadas de encartes de propaganda de supermercados, com alimentos das quaisdeveriam escolher as que comporiam uma grande refeição saudável. Nesta atividade háa abordagem dos seguintes conceitos: da adequação de quantidades às necessidades doorganismo; de que todos os nutrientes devem ser ingeridos diariamente e que osnutrientes que integram a alimentação devem guardar a proporção entre si.

2.5-Palestra com os pais/responsáveis e professores nas Escolas”1” e “2”

Foi ministrada em cada escola, um mês após a segunda aplicação dos jogos, umapalestra sobre alimentação saudável aos pais/responsáveis dos alunos. Ao final dapalestra, foram transmitidos aos pais presentes os resultados da pesquisa.Disponibilizou-se às escolas esses resultados, para que fossem, posteriormente,transmitidos aos pais que, não estavam presentes à reunião. Ao final do estudo, foi feitauma reunião com os professores, coordenador e diretor de cada escola, onde foramtransmitidos e discutidos os resultados desta pesquisa.

A família e a escola são duas instituições que exercem um papel de grandeimportância para o desenvolvimento do indivíduo. A família vista como 'nichoecológico' que proporciona sobrevivência e socialização às próximas gerações é a

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primeira mediadora entre o homem e a cultura, constituindo, assim, a unidade dinâmicadas relações de cunho afetivo, social e cognitivo de um dado grupo social23. A escola,por outro lado, também é um espaço de socialização e é o ambiente principal detransmissão do conhecimento sistematizado. É de extrema importância, para que umtrabalho desenvolvido com crianças dê certo, a participação dos seus responsáveis.Porém esses só darão continuidade ao que foi ensinado se o assunto abordado tiver

significado pessoal24

. As recomendações do Ministério da Saúde foram abordadas na palestra com

os pais/responsáveis e com os professores. Também foram abordados assuntos como aimportância das recomendações do Guia Alimentar cujas principais mensagens incluem:consumo de alimentos variados, em 4 refeições ao dia; manutenção de um pesosaudável; praticar atividade física diariamente; Utilizar legumes e vegetais folhosos,diariamente; preferir frutas como sobremesa; reduzir o açúcar; ingerir pouco sal; usaróleos e azeite ao invés de outras gorduras; tomar leite e comer produtos lácteos, combaixo teor de gordura, pelo menos três vezes por dia e outras orientações que melhorema qualidade de vida23.

2.6-Análise EstatísticaAnálise estatística dos dados antropométricos utilizou o Programa Excel, 2007 e

para os resultados dos jogos os Testes de Wilcoxon e t de Student (p valor < 0,05) Foiutilizado o programa SPSS, versão 18.

3- RESULTADOS e DISCUSSÃO

3.1-AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA 

Tabela 1-Escola Controle

Escola Controle Desnutridos Eutróficos Obesos Total

Meninos

35

67,31%

16

30,77%

1

1,9% 52

Meninas13

48,15%11

40,74%3

11,1% 27

Total48

60,76%27

34,184

5,06% 79

Tabela 2-Escola Experimental

Escolas Experimental Desnutridos Eutróficos Obesos Total

Meninos23

74,19%6

19,35%2

6,45% 31

Meninas17

70,83%7

29,17%0

0%24

Total40

72,73%13

23,64%2

3,64%55

3.2-Avaliação por meio de jogos

As Escolas “1” e “2” dos grupos experimental e controle obtiveram a participaçãovoluntária de todos os alunos das turmas escolhidas aleatoriamente. Na Escola”1” asturmas pertenciam ao 2º, 3º e 4º anos e na Escola “2”, ao 1º, 4º e 5º anos do primeiro

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ciclo do ensino fundamental. As crianças das turmas de 1º e 2º anos por não estaralfabetizadas, demonstraram dificuldade na compreensão dos enunciados dos jogos, oque foi solucionado pelo grupo da pesquisa. Os demais alunos, de turmas com faixaetária maior, fizeram as atividades sem problemas. Os jogos são indicados paraavaliação do conhecimento dos alunos a acerca do assunto que se deseja estudar, sendorevelador no contexto pedagógico e psico-pedagógico em atividades de diagnóstico e

intervenção, porque promoverão o desenvolvimento e a aprendizagem, sobretudo emcrianças, no início do ensino fundamental25.

As oficinas culinárias foram aplicadas ao grupo experimental (Escola”1”) duranteum mês, com intervalo de uma semana entre cada evento e ocorriam durante uma hora,alcançaram a participação de todos os estudantes, que demonstravam satisfação desde omomento de vestimenta dos uniformes, os quais faziam questão de guardar, após osepisódios, e higiene das mãos para as quais se enfileiravam de maneira cooperativa.Todos faziam questão de manusear os alimentos e correlacioná-los na pirâmidealimentar. A garantia de comportamento emocional satisfatório favorece o engajamentodo estudante à atividade proposta. Esta integração entre a escolha adequada da técnicade ensino de educação nutricional e o ambiente propício para aplicá-la facilita o

aprendizado25

, pois estimula funções cognitivas relacionadas a emoção e ao prazer. Pormeio das oficinas culinárias foi possível proporcionar uma experiência de vivência  ereflexão sobre as relações entre alimentação e saúde, valorizando, assim, conceitosinerentes a cada indivíduo participante do grupo, o que tornou o experimento próximoda realidade de cada sujeito, favorecendo, além do aprendizado, a troca de experiênciase a possibilidade de aplicação dos conceitos desenvolvidos durante as atividades8. 

As atividades em sala de aula também contaram com a participação de todosdurante a abordagem da pirâmide alimentar e do cartaz a respeito da origem dosalimentos. O nível de dificuldade começou a diminuir a partir do segundo encontro, e asprofessoras das turmas dos alunos de 1º e 2º anos confirmaram a satisfação dos alunosem participar dos eventos com o relato de que questionavam quando haveria outrasoficinas culinárias. Nas gincanas educativas as turmas foram divididas em equipes de 4

ou 5 alunos e cada grupo recebeu envelopes com gravuras de alimentos para colagem napirâmide alimentar, em branco (8 figuras, uma de cada grupo) e outro envelope comgravuras para escolha e colagem a fim de compor o cartaz do prato saudável (8 gravuraspara escolha e rejeição para composição do prato). Os cartazes da pirâmide eramafixados a frente da sala de aula. Desde o momento da recepção dos envelopes osgrupos demonstravam interesse e comportamento cooperativo, debatendo a respeito dasescolhas que julgavam acertadas. Durante a colagem, executada por uma equipe porvez, havia a mesma problematização entre os estudantes. O aprendizado dos alunosmostrou-se homogêneo, pois o resultado das gincanas ocorria, sempre, com empate deduas equipes e cuja diferenças das demais foi de, apenas, um ponto no placar. SegundoCortez (1996), atividades lúdicas propostas no ambiente escolar podem: estimular acooperação dentro do grupo, criando vínculos de convivência e de trocas de

experiências entre os alunos, desenvolvendo alegria e auto-estima; favorecem oaprendizado e a interdisciplinaridade de diferentes áreas do conhecimento; socializamos alunos estimulando o sentimento de cooperação, educando-os de maneira integral, oque reforça o conceito da escola como espaço do saber em vários campos dodesenvolvimento humano8. Para o filósofo holandês John Huizinga (1971):

“O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e

determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras livremente consentidas, mas

absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um

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sentimento de tensão e alegria e de primeira consciência de ser diferente da vida

cotidiano” 8.

Ao término das atividades das atividades com o grupo experimental ocorria adegustação. Os resultados foram os seguintes:

Escola “1”/ Séries Pão de legumes Biscoito de aveia Pizza vegetariana Bolo de banana

2º ano

Gostou-100%

Não gostou-0%

Não provou-0%

Gostou-100%

Não gostou-0%

Não provou-0%

Gostou-100%

Não gostou-0%

Não provou-0%

Gostou-100%

Não gostou-0%

Não provou-0%

3º ano

Gostou-100%

Não gostou-0%

Não provou-0%

Gostou-100%

Não gostou-0%

Não provou-0%

Gostou-100%

Não gostou-0%

Não provou-0%

Gostou-100%

Não gostou-0%

Não provou-0%

4º ano

Gostou-100%

Não gostou-0%

Não provou-0%

Gostou-80%

Não gostou-20%

Não provou-0%

Gostou-95%

Não gostou-0%

Não provou-5%

Gostou-100%

Não gostou-0%

Não provou-0%

.

Ao término da degustação os alunos perguntavam qual seria a receita da semanaseguinte, o que seria surpresa, porém precedendo a última oficina culinária, foi-lhesrevelada qual seria a preparação: bolo. Dois alunos do 4º ano discutiram: _ “Será bolode chocolate?” e o outro corrigiu: _” Não pode ser de chocolate porque é bolo saudável.Esse diálogo foi uma amostra de que os alunos estavam construindo o conhecimento deacordo com a proposta de educação nutricional. Segundo Paulo Freire, a construção doconhecimento deve ser feita com a problematização das idéias do grupo27, fatoobservado no diálogo citado.

A última oficina culinária foi a única em que os alunos não prepararammanualmente massa, pois foi utilizado o multiprocessador da marca Wallita e batedeiraplanetária Arno, mas os estudantes puderam adicionar cada ingrediente nos recipientesutilizados, participando, assim da elaboração do produto, fator importante para motivara construção do conhecimento coletivo a respeito de alimentação saudável 8.

A segunda aplicação dos jogos

Um mês após a última oficina a equipe de pesquisa retornou às Escola “1” (GrupoExperimental), para repetir a aplicação dos jogos lúdico-didáticos a fim de avaliar oconhecimento adquirido pelos estudantes. O procedimento foi o mesmo da primeira

aplicação, porém houve um diferencial: no primeiro evento o tempo médio para otérmino dos quatro jogos em cada turma foi de 60 minutos e desta vez, os estudantesdemoraram cerca de 40 minutos. Terminada essa etapa, marcamos com as professoras ea direção uma reunião com os pais para o próximo mês.

Quatro meses após o primeiro evento de jogos na Escola “2” (Grupo Controle), aequipe de pesquisa retornou a este local para aplicação dos jogos lúdico-educativos. Aturma C1 (1º ano) demonstrou as mesmas dificuldades de entendimento do que estavasendo proposto e foi necessário acompanhamento por parte da equipe da pesquisa aosalunos. Os estudantes das turmas C2 e C3 (4º e 5º anos) participaram do evento sem

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dificuldades. Foi marcada com a direção dessa escola uma reunião para os pais dosalunos para o mês seguinte, correspondente ao quinto mês da pesquisa.

a)  A reunião entre a equipe da pesquisa e os responsáveis pelos alunosA reunião na escola que participou da intervenção (Escola “1”) ocorreu no

período da manhã. Compareceram vinte e duas mães de alunos (43%) na Escola “1”, do

primeiro e segundo turno. Foi apresentada palestra, com trinta e oito “slides”, intituladaAlimentação Saudável, ministrada pela mestranda, com o uso de notebook Acer  eprojetor multimídia Sony Foram abordados assuntos como a importância dasrecomendações do Guia Alimentar28 cujas principais mensagens incluem: consumo dealimentos variados, em 4 refeições ao dia; manutenção de um peso saudável; praticaratividade física diariamente; Utilizar legumes e vegetais folhosos, diariamente; preferirfrutas como sobremesa; reduzir o açúcar; ingerir pouco sal; usar óleos e azeite ao invésde outras gorduras; tomar leite e comer produtos lácteos, com baixo teor de gordura,pelo menos três vezes por dia e outras orientações que melhorem a qualidade de vida 22.Após a apresentação dos “slides” foi perguntado ao público se havia dúvidas oucomentários a respeito do assunto abordado e cinco mães comentaram,espontaneamente, que os filhos têm ajudado no preparo de alimentos, uma das mães

perguntou: “Que alimentos são bons para os ossos?” e outra relatou que a filha gostoutanto das oficinas culinárias que guardou o uniforme utilizado nos eventos como“lembrança importante” (termo usado pela mãe da aluna). A demonstração de todas asmães foi de que seus filhos apreciaram as oficinas culinárias. Embora tenha havido umapresença minoritária dos responsáveis nesta escola, todos prestaram atenção no que foiabordado, demonstrando interesse. 

Na escola do Grupo Controle a reunião também ocorreu no período matinal,porém o comparecimento foi de apenas quatro responsáveis (5,06%). A direção sugeriuque os alunos assistissem à palestra. Os estudantes participaram bastante, estimuladospela mestranda que pedia que levantassem o dedo para indicar: se adoçavam sucos ebebidas lácteas com açúcar refinado (85% indicaram que sim), quem faz refeição

assistindo televisão ou jogando (90% indicaram que sim). Os alunos suspiraram quandofoi mostrado o “slide” dos doces, abordando esse grupo da pirâmide, mas foi ressaltadoque uma salada de frutas bem colorida também é muito saborosa, enfatizando que aalimentação saudável não deve ser sinônimo de comida sem sabor e com aparênciadesagradável, que deve ser colorida, saborosa e com visual atraente. Ao término dapalestra todos aplaudiram, demonstrando satisfação pela participação no evento.

Resultado dos jogos apresentado aos pais durante a reunião que finalizou apesquisa nas Escolas “1” e “2”

Escola

“1” PRATO 1 PRATO 2A 9,1% 30,9%

B+ 20,0% 21,8%

B- 0,0% 1,8%

C+ 18,2% 9,1%

C- 3,6% 9,1%

D+ 29,1% 21,8%

D- 20,0% 5,5%

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Escola“1” 

PIRÂMIDE 1 PIRÂMIDE 2 BOCA 1 BOCA 2 CARRO 1 CARRO 2

E 9,1% 54,5% 40,0% 63,6% 49,1% 76,4%

MB 20,0% 21,8% 23,6% 29,1% 16,4% 14,5%

B 14,5% 9,1% 12,7% 3,6% 14,5% 1,8%

R 32,7% 9,1% 14,5% 1,8% 12,7% 5,5%

I 23,6% 5,5% 9,1% 1,8% 7,3% 1,8%

Escola “2” PRATO 1 PRATO 2

A 15% 8%

B+ 32% 15%

B- 0% 3%

C+ 18% 32%

C- 3% 3%

D+ 13% 13%

D- 18% 25%

Escola “2” PIRÂMIDE 1 PIRÂMIDE 2 BOCA 1 BOCA 2 CARRO 1 CARRO 2

E 5% 8% 40% 58% 40% 62%

MB 27% 22% 10% 15% 28% 17%

B 8% 15% 10% 7% 5% 5%

R 20% 32% 23% 5% 7% 7%

I 40% 23% 17% 15% 20% 10%

4- CONCLUSÃO

A avaliação do conhecimento dos estudantes por meio de jogos lúdico-pedagógicos obteve resultados fidedignos, pois segundo Cortez (1996) durante esseseventos os alunos não se sentem avaliados e respondem espontaneamente. A dificuldadede se avaliar a dieta humana tem induzido pesquisadores a utilizar vários tipos deinquérito alimentar para conhecer assuntos relacionados à alimentação29, embora esteestudo não tenha sido direcionado a avaliação do consumo alimentar, mas a avaliaçãodo conhecimento dos alunos a respeito de alimentos e alimentação saudável, poderia tersido utilizado um questionário com perguntas diretas e objetivas, contudo, esse tipo deavaliação implicaria no uso da capacidade de responder conceitos acerca de nutrição,habilidade adquirida por volta de 7 ou 8 anos, e nesta pesquisa trabalhamos com alunosa partir de 6 anos. Crianças mais jovens teriam dificuldades de entender e se expressar,caso houvesse a aplicação de um teste formal para avaliar seus conhecimentos a respeitode nutrição. Como a dieta consiste em assunto pessoal e subjetivo8, poderiam se sentir

obrigadas a fornecer respostas consideradas corretas, não procedendo de maneiranatural, como ocorreu enquanto participavam dos jogos.

Os resultados dos jogos do prato e da pirâmide demonstraram que ambos osgrupos, o controle e o experimental, apresentavam pouco conhecimento a respeito dealimentos e alimentação saudável. Já os jogos da boquinha e do carrinho foramexecutados com facilidade, o que pode ser explicado pelo fato de que os alimentospontuados como saudáveis nestes jogos de ligar (leite, ovos, frutas e hortaliças), sãocomumente ofertados na merenda escolar aos alunos, e que suas gravuras nos impressosforam sugestivas aos estudantes, que, quando as visualizaram, influenciaram-se em suasescolhas, durante a execução. A construção do conhecimento pode ser comprovada

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pelos resultados da segunda aplicação dos jogos, quando o grupo que participou daintervenção obteve grande melhora dos resultados, enquanto o grupo controle manteve-se abaixo da pontuação considerada como efetiva igual ou acima de 70% de acertos,havendo piora nos jogos do prato e pirâmide.

As atividades desenvolvidas com o grupo experimental despertaram muito

interesse dos alunos, que se identificaram com os eventos, demonstrando empenhocrescente em participar ativamente, questionando sempre seus professores a respeito doretorno da equipe da pesquisa e de quais seriam os alimentos para prepararem nopróximo evento, cooperando com a valorização da higiene pessoal (higiene das mãos) euso do uniforme. As oficinas de culinária estimularam a curiosidade dos estudantes pelacomposição dos alimentos preparados, na medida em que conheciam seus ingredientesantes do preparo e os correlacionavam à pirâmide alimentar. A prática desta atividadeem grupo pode incentivar a cooperação entre os alunos, que aceitavam trocar o materialutilizado com o colega. A degustação foi apreciada pelos alunos que puderam testar serpossível o preparo de alimentos saborosos utilizando-se ingredientes saudáveis, além deestimular sua auto-estima, pois puderam provar o que prepararam e, em alguns casos,levar para casa para oferecer para algum familiar, multiplicando, assim, o interesse por

alimentos saudáveis.As atividades desenvolvidas em sala de aula proporcionaram a informação de

forma interativa, a partir do momento em que as crianças foram questionadas a respeitodo que estava sendo exibido no pôster e na pirâmide dos alimentos, situando alimentosconhecidos do seu cotidiano, em ambos os materiais e separando os mesmos por grupos,de acordo com as divisões da pirâmide. Durante as gincanas educativas houvecooperação entre os membros dos grupos, que discutiam quais gravuras deveriamescolher para proceder à colagem, com interesse de demonstrar conhecimento paravencer o jogo e receber o brinde (cartela com adesivos de frutas e legumes),caracterizando o comportamento de integração desenvolvido durante jogos de maneirageral14.

As oficinas culinárias proporcionaram o aprendizado de maneira lúdica, pois foium momento de descontração em que os alunos fizeram abordagens a respeito de suarelação com os alimentos, qual o significado da comida para cada um, utilizandoprodutos conhecidos que os alunos denominavam com facilidade e a possibilidade deconhecerem alimentos novos, como o açúcar mascavo, ricota e a farinha de trigointegral, além de desenvolverem outras atividades durante o evento, como a correlaçãodos ingredientes na pirâmide dos alimentos, a abordagem acerca da composiçãonutricional das preparações, o estímulo sensorial pela manipulação dos produtos e adegustação, quando cada estudante pode comprovar a possibilidade de se prepararalimentos saborosos e nutritivos, em momentos prazerosos. Segundo Castro (2007),práticas educativas em saúde que utilizam conteúdo informativo e motivador, como as

oficinas culinárias desenvolvidas em seu estudo, privilegiam a construção coletiva doconhecimento. O ato culinário é uma prática de integração social, que valoriza o aspectosimbólico da alimentação e relaciona o preparo do próprio alimento como uma atitudedirecionada para a saúde e para a educação alimentar (Castro et al, 2007), valorizandodesde a higiene necessária para essa prática até a escolha dos produtos e da técnica doseu preparo, o que sempre se enfatizou nas oficinas culinárias desenvolvidas nestapesquisa.

A reunião com os responsáveis obteve presença menor nas escolas do grupocontrole (5,06%) do que no grupo experimental (43%), o que demonstrou poucadisponibilidade dos pais em participar de eventos como este, seja por dificuldades no

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seu horário pessoal ou desinteresse pelo assunto, porém isso não foi avaliado nessapesquisa.

A pesquisa demonstrou que atividades lúdicas e didáticas para avaliar e ensinar arespeito de alimentos e alimentação saudável são efetivas, pois obteve rendimentoiguais ou acima de 70% no grupo experimental. Contudo, mais eventos relacionados à

educação nutricional devem ser estimulados no ambiente escolar, na tentativa decontribuir para redução na progressão da transição nutricional que atinge o Brasil,possibilitando o aprendizado a respeito de saúde e alimentação saudável entre crianças eadolescentes, grupo em formação de hábitos de vida, possibilitando suas escolhas poralimentos e estilo de vida saudáveis.

Dentre as limitações deste estudo é preciso considerar o pequeno número departicipantes, abrangendo seis turmas, que totalizaram uma amostra de 135 alunos doprimeiro ciclo do ensino fundamental, contudo os procedimentos utilizados foramsuficientes para enfatizar que a abordagem a respeito de nutrição saudável entreestudantes de 1º ao 5º ano por meio de atividades lúdico didáticas tem efeitosatisfatório, estimulando o conhecimento de maneira construtiva e prazerosa.

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