Nye e as teorias de conflitos internacionais.doc
-
Upload
ricardo-martins -
Category
Documents
-
view
221 -
download
0
Transcript of Nye e as teorias de conflitos internacionais.doc
-
7/30/2019 Nye e as teorias de conflitos internacionais.doc
1/5
Joseph Nye e as Teorias de Conflitos InternacionaisPor Jos Ricardo Martins (trabalho de graduao, 1. Perodo)
1. Introduo
O captulo 1 Existe uma lgica duradoura de conflito na poltica mundial? faz
parte da importante obra de Joseph Nye Jr., Compreender os Conflitos Internacionais.
Neste captulo, o autor aborda duas perspectivas da poltica internacional: a realista e a
liberal.
A perspectiva realista remonta Tucdides, historiador e general ateniense,
considerado o pai da teoria realista pela forma que narrou a segunda Guerra do
Peloponeso. A teoria realista tambm passa por Maquiavel e tem seu embasamento
terico em Thomas Hobbes. Este defende a idia que numa sociedade sem lei e
ordem, melhor confiar a segurana pessoal um soberano absoluto em troca da
segurana e preservao da vida.
Outros tericos da teoria realista so Carl von Clausewitz, Hans Morgenthau
(considerado o principal sucessor contemporneo de Maquiavel e Hobbes por sua
conceitualizao e sistematizao do pensamento realista clssico), Raymond Arond,
Henry Kissinger e Kenneth Waltz, considerado um neo-realista.
J a teoria liberal, tambm chamada de idealista, tem sua origem em JohnLocke, passando pelo Charles de Montesquieu, Immanuel Kant, Jeremy Bentham, John
Stuart Mill e contemporaneamente por Woodrow Wilson.
2. A teoria realista
Maquiavel, o primeiro terico da poltica, props uma perspectiva realista, em
oposio idealista: olhar os homens como eles so - vidos por natureza, volveis,
ingratos e propensos ao conflito e a realidade como ela e no como gostaramos
que ela fosse.
Hobbes, o grande terico da teoria realista, fala do estado de natureza, um
estado hipottico: o que aconteceria se no houvesse mais governo, polcia ou
nenhuma autoridade constituda. A tendncia seria o conflito, a guerra de todos contra
1
-
7/30/2019 Nye e as teorias de conflitos internacionais.doc
2/5
todos. Segundo Hobbes, as causas que levam a discrdia entre os homens e a guerra
so:
- a competio (pelos bens, pelo lucro, a acumulao);
- a desconfiana, o medo (os homens tm imaginao sobre o que o outro poder fazer
e o que est tramando);
- a glria, a honra (a reputao, a ofensa, falta de reconhecimento).
Saindo do contexto clssico, Nye resume as prerrogativas da teoria realista:
- A poltica internacional composta por estados-soberanos e seus atores so os
estados;
- No h um governo mundial;
- A poltica internacional anrquica;
- Poder poltico e militar (maximizao do poder);
- Dilema de segurana ( o recurso fora inevitvel).
Kenneth Waltz, citado por Nye, corrobora com as prerrogativas acima e afirma
que o princpio ordenador do sistema internacional a anarquia, que definida como a
ausncia de diviso de funes entre os pases (todos fazem a mesma coisa), faltando
relao de subordinao e superioridade, mas com capacidades diferentes. Ou seja, h
Estados mais poderosos que outros.
Waltz tece uma detalhada argumentao de que o mundo existe e funciona em
uma perptua anarquia. Ele distingue a anarquia internacional da anarquia domstica.
No mbito domstico, todos os atores podem apelar uma autoridade central o
Estado ou o Governo. J na esfera internacional, isto no existe. No existe uma
centralizao da ordem internacional. O que existe uma anarquia, que , na verdade,
a falta de um poder coercitivo centralizado. Isto implica que cada pas deve agir de
forma a assegurar sua prpria segurana acima de tudo. Este um fato fundamentalda vida poltica vividos da igualmente por democracias ou ditaduras. E muitos casos
esta insegurana fora os pases a fazerem alianas com outros mais fortes em busca
de uma maior segurana.
Para Waltz, anarquia no significa o uso da violncia ou que a violncia esteja
presente (como no estado de natureza de Hobbes), mas que a violncia uma ameaa
2
-
7/30/2019 Nye e as teorias de conflitos internacionais.doc
3/5
constante no sistema internacional. Anarquia tambm significa que o sistema
internacional de auto-ajuda.
O autor identifica dois modos nos quais o sistema internacional limita a
cooperao. Primeiro, a condio de insegurana profunda, a incerteza de um pas
com relao s intenes do outro e suas aes que trabalham contra a cooperao.
Exemplo disso, so as preocupaes e desconfiana a respeito de possveis ganhos
que podem favorecer mais um pas que outro. Exemplo particular: a reconstruo do
Iraque.
Segundo, um pas teme e tornar-se dependente do outro pelo comrcio ou pela
cooperao. Por isso, limitam a cooperao. Os Estados no querem se colocar em
posio de dependncia crescente, sendo que muitas vezes o ganho econmico
subordinado ao ganho poltico.
A estrutura do sistema fora os Estados a praticar certos comportamentos,
sendo a nica sada proposta por Waltz a mudana da estrutura.
Contudo, a anarquia tem suas vantagens ou virtudes. Waltz dedica a parte 4
deste captulo para falar das virtudes da anarquia. Entre outros, ele argumenta o alto
custo que implica manter uma estrutura de hierarquia internacional. Exemplificando
menciona que grande parte do oramento de uma organizao internacional
destinado para manter a prpria organizao existindo e no direcionado para os fins
da organizao. Alm disso, os meios de controle desses organizaes tornam-se
objetivo de luta entre os participantes e os controladores. J no caso de uma nao
particular, ela usa de instrumentos que lhe so legtimos, como o uso da violncia, para
manter o controle. Na arena internacional isto no possvel, pois no h uma
hierarquia de naes ou uma diviso de funes. Por isso reina a anarquia. Alm desse
argumento, no havendo uma hierarquia, Waltz menciona o fato que o pases podem
manter sua autonomia.
Ainda com relao a balana de poder, Waltz argumenta que os Estados maisfracos escolha aliarem-se com os mais fortes por necessidade de sobrevivncia. Ou
seja, a estrutura internacional que dita este comportamento.
3. A teoria liberal
3
-
7/30/2019 Nye e as teorias de conflitos internacionais.doc
4/5
A teoria liberal defende que os Estados no so os nicos atores das relaes
internacionais. Empresas multinacionais muitas vezes com um faturamento superior a
muitos pases, ONGs, organismos internacionais (ONU), enfim, defende que existem
uma comunidade internacional formada por todos esses organismos internacionais e
que no h apenas Estados interagindo no cenrio internacional, incluindo os cidados,
a democracia, o direito internacional, a cooperao internacional, a interdependncia, o
livre comrcio,
A perspectiva liberal acredita que h outros meios de estabelecer uma relativa
relao de paz e harmonia no estado de natureza, que pela razo e no apenas pelo
poder e pela fora. Esta tese baseado em John Locke. A partir desta idia foram
criados diversos organismos internacionais, tais como a Liga das Naes, mais tarde
as Naes Unidas, o Banco Mundial, FMI, OMC, entre outros.
A viso liberal, segundo Nye (p. 5) v a sociedade internacional funcionando
lado a lado com os Estados. Exemplo disso o comrcio que funciona bem em nvel
global, sustentado por normas que todos os Estados aceitam, pelo seu prprio
interesse.
Concluindo essa seco com um dos autores clssicos, Kant defende a
instaurao de uma sociedade mundial baseada em normas morais universais. Os
cidados so por natureza e por interesse favorveis paz.
4. As teorias realista e liberal aplicada aos conflitos internacionais
No contexto das relaes internacionais, a desconfiana componente da teoria
realista - a caracterstica principal dos conflitos:um Estado no sabe o que o outro
pretende fazer. Isto gera desconfiana e os conflitos eclodem. A desconfiana faz com
que um Estado antecipe um ataque para se proteger. Exemplo disso foi o ataque
japons em Pearl Harbor.Ainda, a teoria realista segundo Maquiavel, o Prncipe nunca deve mostrar suas
reais intenes para no parecer fraco. Assim, importante como os Estados se vem
uns aos outros, como mostram ou procuram mostrar sua reputao, enfim, aparncia e
essncia so componentes da poltica e dos conflitos internacionais hodiernos. Os
Estados disputam poder nas relaes internacionais que acontece com a utilizao de
recursos econmicos (por ex. Embargos) ou pela fora.
4
-
7/30/2019 Nye e as teorias de conflitos internacionais.doc
5/5
Porm, Nye alerta que no sempre o mais forte que vence. Dominar
populaes nacionalisticamente despertas (p. 12) muito difcil,mesmo para o Estado
que tem a hegemonia militar. Exemplos so a Guerra do Vietnam, do Afeganisto e da
atual guerra do Iraque.
A tese da anarquia de Waltz diz que a relao entre os pases perigosa,
justificando a guerra, levando estes a depender e confiar nas balanas de poder que se
formam entre si. Mas, contrariamente Morgenthau, no afirma que as pessoas so
ms. Este afirma que as pessoas e os pases agem por interesses definidos como
poder, j Waltz defende que a estrutura internacional que faz com que as pessoas e
os pases agem de uma determinada maneira (estruturalismo). Eles individualmente
agiriam de forma diferente.
Esta balana de poder em Waltz foi pensada com base no mundo bipolar da
Guerra Fria, onde Estados Unidos e Unio Sovitica mantinham um equilbrio de poder
no cenrio mundial. Cada uma dessas potncias protegia e interferia em sua esfera de
domnio. Com o fim desta era, o mundo tornou-se unipolar e no sabemos como Waltz
construiria sua teoria sob essa nova base. Agora no h um contrapeso efetivo e
altura dos Estados Unidos.
Concluindo, observamos que na viso realista os Estados tendem ao conflito e
guerra. Alis, a guerra uma forma de poltica. J na viso liberal (ou idealista),
possvel encontrar outras formas de superar os conflitos, especialmente atravs do
dilogo, da razo.
5