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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI ISAAC PUIG PRADO O 11 DE SETEMBRO DE 2001: LEITURAS DA MÍDIA, REPRESENTAÇÕES NO CINEMA E UM TESTEMUNHO. São Paulo 2013

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

ISAAC PUIG PRADO

O 11 DE SETEMBRO DE 2001: LEITURAS DA MÍDIA, REPRESENTAÇÕES NO CINEMA E UM TESTEMUNHO.

São Paulo 2013

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Isaac Puig Prado

O 11 DE SETEMBRO DE 2001: LEITURAS DA MÍDIA, REPRESENTAÇÕES NO CINEMA E UM TESTEMUNHO.

Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Comunicação, área de concentração em Comunicação Contemporânea da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação da Profa. Dra. Sheila Schvarzman.

São Paulo 2013

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ISAAC PUIG PRADO

O 11 DE SETEMBRO DE 2001: LEITURAS DA MÍDIA,

REPRESENTAÇÕES NO CINEMA E UM TESTEMUNHO.

Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Comunicação área de concentração em Comunicação Contemporânea da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação da Profa. Dra. Sheila Schvarzman.

Aprovado em ____/____/_____

__________________________________________________

Profa. Dra. Sheila Schvarzman - Universidade Anhembi Morumbi

______________________________________________

Prof. Dr. Gelson Santana - Universidade Anhembi Morumbi

__________________________________________________

Profa. Dra. Senia Bastos - Universidade Anhembi Morumbi

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos familiares e amigos que partilharam os caminhos de viver o cinema intensamente, diante dos filmes que assistimos.

Agradeço minha orientadora Profa. Dra. Sheila Schvarzman, por ter me acolhido orientado e por ter sido para mim, referencia de todas as qualidade do que é ser

mestre, ser humana, e verdadeira professora.

Agradeço à banca examinadora deste trabalho, pela especial contribuição do Prof. Dr. Gelson Santana que desde dos primeiros dias até a qualificação pôde me

apontar caminhos valiosos na construção dessa pesquisa. E rica presença da Profa. Dr. Senia, por ter aceitado o convite e cuja contribuição vem reafirmar a consistência

das experiências e leituras dialogadas nesta banca.

Agradeço ao Dr. Claude Silva Lima, por todo apoio, ajuda e compreensão. A Mestra Mariuza Pelloso Lima, pela paciência e bondade. Agradeço à Ana Carolina, pela

parceria de uma vida. Agradeço ao Joey Prado, pelo eterno companheirismo.

A gradeço a mamãe, que me deu a possibilidade de chegar até aqui e ao papai por todos os conselhos.

Por fim a universidade Anhembi Morumbi por me proporcionar acesso a cidadania e conhecimento.

A todos meus sinceros agradecimentos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO  .................................................................................................................................................  11  

1.   CAPÍTULO I - 11 de setembro de 2001. Diário de bordo.  ..........................................  18  

1.1.   Caminhando em Nova York, diário de bordo  ..........................................................  20  

1.2.   As vozes na mídia impressa  ...............................................................................................  24  

1.3.   Capa do The New York Times, 12/09/2001.  ..........................................................  28  

1.3.1   The New York Times.  ............................................................................................................  29  

1.4.1   Jornal Folha de São Paulo  ................................................................................................  32  

1.5.   Visão geral  ......................................................................................................................................  36  

1.6.   Conceito de Terrorismo  .........................................................................................................  38  

2.   Capítulo II - O 11 de Setembro de 2001 em duas obras.  ..........................................  43  

2.1.   Ficha técnica do documentário 9/11  .............................................................................  45  

2.1.1.   Documentário 9/11  ................................................................................................................  46  

2.1.2   A imagem que o cinema construiu sobre o 11 de Setembro no documentário 9/11  .............................................................................................................................  53  

2.2.   Ficha técnica do filme Torre gêmeas  ............................................................................  57  

2.2.1.   Filme Torres Gêmeas – Resumo  .................................................................................  58  

2.2.2.   O evento 11 de Setembro de 2001 no filme Torres Gêmeas  ...............  62  

2.3.   Visão geral dos filmes  ............................................................................................................  67  

2.3.1.   Pontos de convergências entre os filmes.  .......................................................  71  

2.4.   A influência da indústria Hollywoodiana sob as vozes do 11 de setembro.  ......................................................................................................................................................  72  

3.   CONSIDERAÇÕES FINAIS  ............................................................................................................  77  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS  ...................................................................................................  80  

ANEXOS  .............................................................................................................................................................  87  

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LISTA DE FIGURAS

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RESUMO

O dia 11 de Setembro de 2001 marca uma nova era na sociedade midiática

contemporânea. O ataque terrorista às Torres Gêmeas nos EUA traz à tona uma

velha vertente cinematográfica com uma nova roupagem. Pensando no

conglomerado de imagens geradas por mais de 72 horas de transmissão ininterrupta

das redes de notícias americanas ao atentado às Torres Gêmeas em Nova York,

esta pesquisa desenvolve um estudo sobre as leituras dos acontecimentos do dia 11

de setembro de 2001 na mídia, no cinema e em experiências pessoais nos Estados

Unidos. De que forma esse acontecimento traumático foi representado no cinema,

considerando a importância do audiovisual na sociedade contemporânea, em termos

de comunicação, informação, política e história. A presente pesquisa visa refletir

sobre algumas possibilidades na construção narrativa em duas obras

cinematográficas, tendo como principal estudo as representações empregadas ao

Documentário 9/11 dos irmãos Naudet e o filme de Oliver Stone “ As torres gêmeas”

e as veredas que conduzem os diretores a despertar o imaginário social referente a

situação proposta pelo filme. A pesquisa aqui desenvolvida também observa relatos

de testemunhas do 11 de Setembro veiculados nos jornais Folha de São Paulo e

The Wall Street Jornal.

Palavras-chave: Terrorismo. Cinema. Hollywood. 11 de Setembro.

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ABSTRACT

The day September 11, 2001 marks a new era in contemporary media society. The

terrorist attack on the Twin Towers in the USA brings up an old shed film with a new

look. Thinking of the conglomerate generated imagery for more than 72 hours of

uninterrupted transmission of American news networks to attack on the Twin Towers

in New York, this research develops a study on the readings of the day's events

September 11, 2001 in media, film and personal experiences in the United States.

How this traumatic event was depicted in the film, considering the importance of the

visual in contemporary society, in terms of communication, information, politics and

history. This research aims to reflect on some possibilities in narrative construction in

two films, the main study the representations employed to Documentary 9/11 Naudet

brothers and Oliver Stone film "The Twin Towers" and the paths that lead directors to

awaken the social imaginary situation regarding the proposed film. The research

developed here also notes eyewitness accounts of September 11 served in the Folha

de São Paulo, and The Wall Street Journal.

Key-words: Terrorism. Cinema. Hollywood. September 11.

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa desenvolve um estudo sobre as leituras dos acontecimentos

do dia 11 de setembro de 2001 na mídia, no cinema e em experiências pessoais nos

Estados Unidos. De que forma esse acontecimento traumático foi representado no

cinema, considerando a importância do audiovisual na sociedade contemporânea,

em termos de comunicação, informação, política e história, e tendo em vista o

conglomerado de imagens geradas por mais de 72 horas de transmissão

ininterrupta das redes de notícias americanas ao atentado às Torres Gêmeas em

Nova York.

O dia 11 de Setembro de 2001 marca uma nova era na sociedade midiática

contemporânea. O ataque às Torres Gêmeas nos EUA traz à tona uma velha

vertente cinematográfica, a guerra, com uma nova roupagem, os filmes-catástrofe

tão comuns no circuito de exibição saltam das telas tornando a ficção realidade. A

cobertura jornalistica dos ataques terroristas e suas consequências tornaram o

evento o mais longo a ser noticiado ininterruptamente na história da mídia dos EUA.

Este estudo estabelece como delimitação cronológica os fatos, que vão do 11

de setembro de 2001, data que marca o ataque terrorista ao complexo de prédios

comerciais em Manhattan, a setembro de 2006, data de lançamento do primeiro

filme de ficção que trata diretamente do ataque às Torres Gêmeas em Nova York.

Dessa forma, temos por foco analisar as representações do ataque às Torres do

complexo World Trade Center (WTC) em suas expressões no cinema e na mídia

impressa. Tendo por base esse período, iremos observar recortes da mídia

impressa, veiculados na semana em questão e o cinema hollywoodiano aqui

representado através do documentário dos franceses, Jules e Gedeon Naudet,

intitulado 9/11 (2002), que é rodado no próprio momento do evento e tem sua

exibição em março de 2002, e o filme Torres Gêmeas (2006), de Oliver Stone, que

inicia sua produção em outubro de 2004 e encerra em fevereiro de 2006, tendo

lançamento em agosto do mesmo ano (2006). A escolha dos dois filmes se deu ao

fato de ambos terem por foco um mesmo tema que foi desenvolvido de formas

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distintas e por serem os únicos a fazerem referência direta ao ataque terrorista de

2001.

Combinado a isso, contribuiremos para esta pesquisa como ser social e

depoente em primeira voz, exercendo o papel de memorista neste cenário.

Para justificar o recorte proposto sobre a análise na mídia impressa,

direcionamos nosso pesquisa sobre a intenção de estudar os ataques pelo jornal,

assim como seu posicionamento,

Para tal feito, importa lançar mão de teóricos que contribuem para o

desenvolvimento do estudo, como o historiador francês Marc Ferro (1992), que

teorizou a relação cinema-história em sua obra. Ferro desenvolveu duas leituras

historiográficas do cinema: uma leitura histórica no momento presente em que a

obra foi produzida, e outra, cinematográfica, que utiliza o filme para uma leitura da

história, assim revelando importante inserção em determinado período e sua

ideologia. Dentre as questões que envolvem o próprio contexto desse período e das

principais transformações sociais do início do século, o uso da teoria de Ferro ajuda-

nos a encontrar possíveis caminhos para questões, como: de que forma o 11 de

setembro de 2001 foi para as telas de cinema? Quais aspectos foram expostos?

Qual a sua relação com as experiências descritas através da mídia impressa ? Será

que esses relatos tornam os valores mais atraentes para a composição dos filmes e

por isso a legitimam ?

Queremos, com essas perguntas, compreender quais as possíveis técnicas

discursivas utilizadas para formar o processo de comunicação na mídia escrita e

qual delas predominam na construção estética do cinema.

Insere-se aqui o pensamento de que a distração constitui um processo de

grande constância e assim torna-se um hábito – não é isso que acontece com o

cinema em sua sequência de imagens? E acrescente-se também a ideia de que “o

cinema se revela o objeto atualmente mais importante da ciência da percepção que

os gregos chamavam de estética” (BENJAMIN 1994, p. 194).

Através dessa forma habitual de comunicação, este trabalho objetiva estudar o

ponto de vista do documentário e do filme, ao abordarem o colapso das Torres,

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estabelecido pela ótica dos diretores, e, ainda, propor uma observação sobre as

representações que os filmes privilegiaram.

Procuraremos observar dentro da lógica da construção narrativa do filme, de

que maneira o evento 11 de setembro foi representado. Que aspectos privilegiou,

que recortes deu aos personagens e aos eventos, e, sobretudo, o que omitiu ou

mesmo censurou. Assim fazendo, será possível observar a própria relação das

imagens construídas com a dinâmica histórica desse evento que foi tão fundamental

para uma reconfiguração das imagens sobre os Estados Unidos, e até mesmo, e em

especial, sobre a cidade de Nova York e as várias dinâmicas que daí decorreram

para a própria indústria do audiovisual naquele momento e muitas delas ainda

vigentes.

Este trabalho é centrado, portanto, nas articulações e nas dinâmicas de

construção das vozes do 11 de setembro, tendo por elemento central as

representações audiovisuais.

A pesquisa apresenta a seguinte composição estrutural:

No primeiro capítulo, pretende-se contextualizar os acontecimentos do 11 de

setembro através de uma análise do noticiário do The New York Times, jornal de um

dos locais diretamente atingidos pelos ataques e, comparativamente, do jornal Folha

de São Paulo, lançando luz sobre como cada um deles construiu o atentado. A

essas vozes, acrescentarei a minha em primeira pessoa, pois fui também partícipe

dessa experiência.

No segundo capítulo, apresenta-se o cinema de Oliver Stone, tendo como

referência seu filme Torres Gêmeas(2006), bem como o documentário 9/11(2002),

de Jules e Gideon Naudet. Importante é a identificação dos personagens nos filmes

em relação ao seu cotidiano e às experiências vividas, bem como os comentários a

respeito da imagem que o cinema constrói sobre o 11 de setembro, sob a ótica

desses diretores.

Por fim, ao reunir todos os dados analisados, mídia impressa, e filmes,

entendemos que o ponto de convergência de seus posicionamentos se dá no campo

da construção de uma identidade.

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Uma vez definida a pesquisa, indaga-se quais as razões de sua realização. O

cientista pesquisa para resolver problemas sociais, para formular novas teorias e

criar novos conhecimentos; e também testar teorias existentes em um campo

científico. Contribuindo de forma substancial para o campo da comunicação, o

desenvolvimento desse estudo tem como objetivo analisar os traços socioculturais

de um acontecimento histórico retratado na arte do cinema por meio de

representação parte documental, parte fictícia.

O interesse pelo tema justifica-se pelo fato de o autor deste trabalho ter estado

na ilha de Manhattan na semana seguinte ao atentado. Experienciando o aftershock

e sua divulgação na mídia, o impacto social e o emocional aguçaram-lhe a vontade e

a curiosidade em analisar as vozes do 11 de setembro no conglomerado midiático

formado pelo cinema e pela mídia impressa.

Levando-se em conta que a história faz a arte e a arte faz história, torna-se de

grande valia o estudo dessas construções a um tempo formais, históricas e.

sobretudo, midiáticas para compreender como o acontecimento que veio a demarcar

o início do século XXI foi vivido, transmitido e representado. Vale ressaltar ainda a

existência de estudos já realizados com a temática do atentado terrorista de 11 de

setembro de 2001, porém em distintos campos de estudo e com diferentes cortes

cronológicos e enfoques. Daí então, a intenção de conhecer melhor e desenvolver

um estudo sobre essa configuração contemporânea da comunicação.

Com base nessa concepção, justifica-se um aprofundamento dos estudos na

natureza dos fatos e na reflexão sobre os poderes que o audiovisual com sua arte

imprimem na sociedade atual.

Ao iniciar a proposta de estudo, debruçamo-nos sobre o universo do

audiovisual, que é formado por ricos instrumentos como sua forma, seus signos,

efeitos, técnicas, magia, ideologia, história e forma de comunicar. Estabelece-se aqui

visivelmente a necessidade de compreender melhor esta vasta área e seus

recursos. Ao analisar o cinema após os eventos terroristas do 11 de setembro de

2001, é possível perceber o cruzamento entre dois tipos de cenários, o melodrama e

os cenários de reportagem. Para melhor definir as linhas pelas quais traçaremos

este estudo, fazemos uso de teóricos e especialistas do cinema.

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Nesse sentido é que o posicionamento teórico do historiador Marc Ferro

(1992) contribui de maneira essencial para podermos interagir com a ideia do uso

histórico do cinema e suas possíveis consequências, e, assim, observar o lugar que

o cinema ocupa como fonte histórica, mas não só. Ferro observa que a história pode

ser escrita através do cinema, e, sendo assim, o cinema é uma das formas onde se

observa uma forma de escritura histórica. Ferro também levanta questões essenciais

para este trabalho, como a dúvida se o cinema modifica ou não nosso entendimento

da história e qual sua inter-relação. Através dessas diretrizes de análise, somos

levados também a ver nessa escritura da história pelo cinema, as formas

cinematográficas de representação da história.

Walter Benjamin (1994) contempla este estudo com sua percepção voltada ao

cinema e a comunicação em seu texto A Obra de Arte na Era de sua

Reprodutibilidade Técnica. Nesse trabalho, Benjamin levanta questões sobre a

discussão de cultura de massa na modernidade.

Pensando em estudar o evento que marca o 11 de Setembro de 2001 no

cinema, logo se torna impossível não abordar a indústria cinematográfica

contemporânea hollywoodiana, assim também como sua dinâmica, política e

mercado de distribuição. Para isso, o trabalho da organizadora Alessandra Meleiro

(2007), pesquisadora de cinema, em sua obra O Cinema no Mundo; Indústria,

Política e Mercado, traz grande contribuição para o desenvolvimento deste estudo,

pois sua obra possibilita que se elucide como as práticas econômicas e culturais

moldam o fluxo de filmes, a produção e o consumo no mercado americano.

Uma vez que um dos filmes a ser analisado neste estudo é um documentário,

apoiamo-nos aqui na teoria de alguns estudiosos do gênero para fazer a nossa

compreensão das imagens e de ferramentas utilizadas para a construção desse

gênero. O trabalho de Bill Nichols (2005), nesse sentido, contribui de forma

enriquecedora para o nosso estudo. Nichols estabelece uma visão geral e ampla da

construção e formas de narrativas do documentário. Já Fernão Pessoa Ramos

(2008), contempla-nos de forma positiva com uma análise sobre o documentário

aplicável ao evento do 11 de setembro aqui analisado, estabelecendo uma

diferenciação entre o documentário e o ficcional. Para Ramos, o documentário é

uma narrativa com imagem-câmera que estabelece asserções sobre o mundo, na

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medida em que haja um espectador que receba essa narrativa.

No sentido de melhor compreender o período de luto e latência causados

pelos atentados, importa fazer referência aos textos de Sigmund Freud (2008) sobre

Luto e Melancolia, que nos possibilita compreender suas repercussões na cultura

audiovisual geradas pelos filmes. Freud afirma que o enlutado tem uma satisfação

de se autoexpor e faz uma analogia entre luto e melancolia, na qual destaca que no

luto se perdeu o objeto amado e na melancolia houve uma perda do próprio eu. Com

base em suas teorias, partiremos para uma análise do corte cronológico desse

estudo, em grande parte, justificado pelas questões postas pelo traumatismo do

evento e suas consequências.

Para contextualizar o evento do 11 de setembro de 2001, faremos uso do

relatório da Comissão do Senado norte-americano que reuniu as informações

contidas neste estudo através das agências de segurança: Federal Bureau of

Investigation (FBI) e a Central Intelligence Agency (CIA), com publicação oficial

autorizada em 2004, além do trabalho de alguns pesquisadores como Bill Nichols e

Sergio Dayrell Porto.

Como primeiro passo, o estudo faz uma previa leitura no campo teórico para a

imersão no audiovisual, suas técnicas e sentido, narrativa para, dessa forma,

levantar a estrutura, isto é, o plano lógico a partir do qual será escrito.

O desenvolvimento metodológico consiste em uma pesquisa qualitativa

realizada através da análise de artigos, composição visual e técnicas discursivas dos

cadernos especiais de dois jornais, The New York Times e Folha de São Paulo,

levando-se em conta a forma de abordagem, técnica de construção, posicionamento

de seus autores assim como dos periódicos. Também serão analisados dois filmes,

dividindo-os em segmentos, o ficcional e o documentário, claramente predefinidos

no início de cada capítulo e também por pontos de vistas, como, por exemplo, onde

está a câmera em relação ao objeto a ser filmado, sons que podem ser ouvidos ao

longo do filme e características dos planos para tentar analisar o formato utilizado

para a construção e veiculação de alguns valores; visualizar quais as possíveis

técnicas da comunicação utilizadas pelo filmes e qual delas predomina na maioria

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destes produtos. Também realizada através do sentido narrativo, entendendo-se

aqui por narrativo a junção da história e enredo, assim definindo a história como uma

sucessão de acontecimentos e ações, seguindo padrões de decupagem.

Combinados a isso, a observação e a indicação dos pontos de convergência de

ambos objetos de estudo.

Para tal análise, estabelece-se um corte cronológico que remete à análise de

um documentário (2002) e um filme ficcional (2006). Esse corte ainda leva em

consideração o período estabelecido de seis anos e o evento relacionado a ambos,

que, nesse caso, refere-se ao colapso das Torres Gêmeas do complexo do World

Trade Center.

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1. CAPÍTULO I - 11 de setembro de 2001. Diário de bordo.

É interessante analisar como nossa memória episódica permanece viva

quando somos expostos a um fato ou evento largamente divulgado, como a Guerra

do Golfo, famosa por ter sido televisionada, ou a última Copa do Mundo. Se nos

questionarmos a respeito de qualquer data ou evento há 9 ou 10 anos, dificilmente

saberíamos responder com precisão de detalhes, o que fazíamos ou onde

estávamos. Seria uma tarefa penosa de se executar, e, de forma consciente, a

memória tentaria ligar a data a algum local ou evento marcante.

Quando nosso cérebro faz conexões como essa, tentando ativar a memória e

nos recordar de algo, ativamos um dispositivo que cientistas e psicólogos

denominam memória episódica, que se refere à informação com contexto espacial e

temporal específicos. Ela envolve a consciência dos eventos passados: é a nossa

memória pessoal, autobiográfica (Fuentes et al. 2008).

Sendo assim, eventos de grande expressão são registrados por nossa

memória episódica, e podem ficar registrados com imensa riqueza de detalhes,

como, por exemplo, o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, nos Estados

Unidos.

Passados 11 anos do que ficou conhecido pela mídia como de 11 de

setembro, o impacto da data dos atentados terroristas que atingiram o coração

financeiro de Nova York ainda permanece vivo na memória da população. Dizer que

o 11 de setembro abalou o planeta tornou-se senso comum, que foi um marco

histórico do século XXI, também. Pessoas são capazes de relatar o que faziam,

onde e com quem estavam nessa data.

O dia 11 de setembro de 2001 começou como outro qualquer. Era fim de

inverno, caia uma fina garoa sobre a cidade de Santos, um vento terral varria a

garoa pelas ruas da cidade. A Santa Casa de Santos mantinha suas portas abertas

e recepcionava enfermos, parentes e muitas outras pessoas.

Meu pequeno grupo de colegas e eu estacionamos o carro e rapidamente nos

dirigimos ao balcão de informações na entrada do hospital, encaminhamo-nos ao

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setor de Banco de Sangue. O pai de um de meus colegas havia sofrido um acidente

de carro e necessitava de doadores de sangue.

Os três candidatos, dois amigos e eu, passamos pela triagem e nos dirigimos

a uma pequena sala de espera, equipada com algumas poltronas, um balcão de

atendimento e uma pequena televisão pendurada em um canto da parede. Não nos

atentávamos à programação que era exibida no modo mudo do canal sintonizado.

Algo, porém, chamou-nos a atenção nas imagens que o noticiário exibia. As

cenas que se seguiam nos faziam lembrar filmes de ação com prédios explodindo ou

invasões extraterrestres. A semelhança com cenas de um filme era de tamanha

força que nos fazia duvidar do que víamos. Assemelhava-se a um desses clássicos

hollywoodianos, com ataques a grandes cidades. Sua semelhança era tão grande

que algumas pessoas diziam estar confusas com o choque causado pelas cenas.

Uma torre expelia muita fumaça negra, e num primeiro momento não se podia

identificar a cidade e o país. Em um segundo momento, processando as imagens,

podia-se identificar a ilha de Manhattan, mas a televisão sem som dificultava muito o

entendimento do que estava ocorrendo.

Um burburinho geral começou a pipocar no ambiente. Ouvíamos comentários

diversos sobre um acidente com um avião, o choque dele com um prédio, seguido

de uma forte explosão. Ao desviar o olhar da televisão, sou chamado para o

propósito inicial de nossa estada em Santos, doar sangue.

Entrei na sala, fiz a coleta e voltei para antessala. Nesse instante percebo que

estão todos atônitos e voltados para televisão. Como um gol em final de

campeonato, as imagens não paravam de ser exibidas e repetidas. Um avião que se

chocava com um prédio, causando uma enorme explosão, lançando vidros e

pedaços de parede ao seu redor.

Pensávamos que aquelas imagens eram imagens recuperadas do mesmo

avião; em verdade, porém, não eram. Era uma segunda torre que estava sendo

atacada. Neste exato momento senti um palpitar mais acelerado no coração, o que

me levava a sentir náuseas. Estava com passagem marcada para o mesmo destino,

a Ilha de Manhattan.

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Tentei por várias vezes ligar para uma colega que morava em São Francisco,

no estado da Califórnia, mas foi em vão. Era um ataque às Torres Gêmeas, no

World Trade Center, em Nova York e, também um ataque ao Pentágono. Por isso as

linhas telefônicas no país estavam sobrecarregadas e não suportavam tantas

chamadas que recebiam por segundo.

1.1. Caminhando em Nova York, diário de bordo  

Umas semana depois dos ataques às Torres, caminhava eu pelas ruas da

cidade de Nova York, que ainda respirava com ar de pesar enrustido pelas flâmulas

que teimavam em dançar ao vento. Havia bandeiras norte-americanas por todos os

lados, tentando imprimir talvez uma ideia de união e solidariedade. Porém, ao

contrário disso, a impressão que se tinha era de que havia partes da cidade com

acesso proibido aos seus cidadãos. Todos os caminhos que levavam à Lower

Manhattan eram vigiados por policiais e obstruídos por barricadas.

Após uma semana, a Lower Manhattan ainda tinha um aspecto de cidade

abandonada. As portas dos estabelecimentos estavam fechadas, sem vida, ruas

vazias, como se o tempo tivesse parado naquela área da cidade.

O tradicional tráfego intenso e agitado local desta vez era escasso, as

sirenes, um dos ruídos de fundo da vida da cidade, pareciam muito mais altas e

mais ameaçadoras do que nunca. A cidade parecia sitiada pelo ar pesado da

desconfiança e da dor. Soldados fortemente armados posicionavam-se em pontos

estratégicos, como pontes, túneis, aeroportos e estações de trem. Isso nos fazia

sentir protegidos, mas também nos levava à paranoia da insegurança e à

vulnerabilidade.

O sentimento de perda era latente, parecia que se havia perdido algo ou

alguém que nem mesmo se conhecia. Talvez, pelo fato da comoção geral ou pelo

assédio continuo causado pela mídia impressa, com capas de jornais e revistas, por

todos os lados em que se olhava, o tema era explorado. Havia, também, neste

assédio oferecido pela mídia, algo de bonito, a união, a solidariedade, e relatos de

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sobreviventes que atravessavam o trauma do 11 de setembro, incentivando as

pessoas a superarem o luto.

Os ambulantes nas ruas tentavam vender uma dose de otimismo com

camisetas onde se lia united we stand. Nunca presenciei tantas pessoas vestindo

camisetas com o mesmo velho e famoso slogan I love NY , refletindo um possível

espírito de superação, embalada por discursos do então prefeito Rudolph Giuliani.

As filas de caminhões que circulavam pela cidade carregados de entulho mantinham

viva na memória uma esperança enrustida de que vidas estavam sendo salvas.

A cidade que nunca dorme se tornou uma cidade de contrastes assustadores.

Parte dela, adormecida pelo triste desfecho do que um dia foi parte do sonho

americano. Outra parte tocava a vida habitual que levava. Havia ainda um cheiro de

pó de cimento molhado pairando pelo ar. Em bares e cafés espalhados pela cidade,

sempre se encontrava alguém com algum relato sobre a tragédia, é claro, mas

também havia no ar um sentimento onipresente de compaixão, um desejo de

companheirismo e um desejo de acreditar em que algo redentor poderia sair dessa

tragédia horrível.

Indianos e muçulmanos, em meio à população, recebiam olhares

constrangedores e desconfiados de pessoas de diferentes etnias, como forma de

repulsa, retaliação ou medo. Pessoas evitavam pegar táxis conduzidos por

motoristas com turbantes, entrar no mesmo vagão do metrô ou andar no mesmo

lado da calçada em que houvesse alguém assim.

Nova York estava tentando se recuperar de um golpe que não só levou vidas

e rasgou sua poderosa linha no horizonte, como também eliminou os postos de

trabalho de milhares de trabalhadores de baixa e média rendas. Empregos como os

que eu procurava, garçom, balconista, entregador, estavam escassos, não pela

excedente oferta de mão de obra, que até então sempre houve em Nova York, mas

pela escassez de oferta de emprego. Empresas haviam fechado suas portas,

negócios faliram, não apenas na área afetada pelo ataque, mas também em outras

partes cidade. Arrumar emprego naquela semana não foi fácil para mim. Cabe

lembrar que Nova York aufere grande parte de recursos financeiros oriundos do

turismo. Segundo pesquisa realizada pela agência Associated Press, até o ano de

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2000, 280 milhões de dólares eram injetados na economia, com empregos diretos

ligados ao turismo.

Em uma matéria veiculada pelo jornal The New York Times no dia 21 de

setembro de 2001, sob o título New York Loves América, o prefeito deixa clara sua

preocupação com a demora para uma estabilização da vida na metrópole. Ao ser

indagado sobre o que a nação poderia fazer para ajudar a cidade, ele responde

"Come to New York, go to a play . . . spend some money”.

O discurso que me fazia lembrar a “delicadeza” de como foi conduzida minha

passagem pela imigração ao entrar no país. Entrei por Miami e fui bombardeado por

perguntas como: O que faz aqui? Por que veio estudar aqui? Quanto dinheiro você

tem? Onde vai ficar? Abra suas malas! Quem você conhece em Nova York?

Quando vai embora? Muitos que chegaram aos guichês da Imigração comigo foram

submetidos a interrogatórios mais enérgicos em saletas privadas, longe do olhar das

pessoas. Algumas pessoas foram deportadas por motivos banais, como ter muito

dinheiro ou pouco dinheiro consigo.

Shows, peças de teatro, jogos e o entretenimento de forma geral estavam

tentando voltar ao seu cotidiano normal. Era fácil encontrar ingressos para peças e

atrações mais disputadas da cidade, havia lugares de sobra. Os turistas não mais se

apinhavam nas ruas nem ficavam horas em longas filas para comprar ingressos ou

visitar museus.

Caminhando pelas ruas da cidade, percebia um número bem menor de

transeuntes, comparado ao que se pode ver nos dias de hoje. Na frente de quase

todos os destacamentos do Corpo de Bombeiros viam-se flores, bandeiras e

ursinhos de pelúcia, como se fossem oferendas colocadas em um altar.

Embaladas por um espírito de voluntarismo, algumas lojas criaram painéis

com nomes de pessoas desaparecidas. Viam-se murais em tapumes de construção,

às margens das ruas, com fotos de pessoas procuradas.

A cidade estava solitária, muito diferente de como Baudrillard (1999, p.18)

descreve em seu livro América, " As ruas de Nova York, nada pode ser mais intenso,

eletrificante, turbulento e vital que as ruas de Nova York". Sem alvoroço, as ruas não

estavam cheias de gente, não havia mais milhões de pessoas indo e vindo pelas

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ruas. Alguns mantimentos básicos, como água, enlatados e produtos não perecíveis,

haviam sumido totalmente das prateleiras dos supermercados. Muitas pessoas os

estavam armazenando com medo, e outras compravam e doavam nos postos de

recolhimento para alimentar os voluntários, que vieram de todas as partes do país

para ajudar.

O sentimento de união e de solidariedade estava esparramado por toda a

cidade, carros circulavam com adesivos com dizeres como: vamos reconstruir, nós

nunca esqueceremos. Parecia que a população havia acordado em meio a um

pesadelo, pronta para virar a página e traçar um novo caminho.

O simples fato de ver os funcionários dos correios trabalhando, os serviços

públicos a pleno vapor, a entrega de produtos por companhias privadas, faziam-me

crer que a cidade ainda respirava mesmo coberta por uma recente nuvem de poeira,

além do medo e das lamentações.

Um dos sentimentos mais comumente encontrado nas rodas de conversa e

que pairava sobre o ar nova-iorquino era o de vitimização das circunstâncias,

pessoas comuns se perguntavam como tudo aquilo havia acontecido. Havia um forte

desejo de justiça implacável nos discursos das pessoas.

O governo norte-americano se colocou como vítima da situação, construindo

seu discurso no sentido de que fora apunhalado pelas costas ao ser atacado, sem

ter um “inimigo” abertamente declarado, fazendo crer que não entendia o sentido de

tudo aquilo.

Aquele 11/9 era um marco histórico, um dia que marcaria a história do mundo

e eu sabia que fazia parte desta página da história naquele momento. Mais do que a

vontade de aperfeiçoar o idioma, eu tinha vontade de permanecer lá.

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1.2. As vozes na mídia impressa

 

Preliminarmente, importa deixar claras algumas ideias a respeito da mídia

impressa.

O jornalismo, em sua essência, para Deleuze e Guattari (2007), não é a

expressão de uma ideologia ou um campo de um poder que se exerceria de um

grupo sobre os demais ou de uma classe sobre as outras e, sim, um campo de saber

que é atravessado por diversos fluxos. Seu discurso é marcado pela

descontinuidade mas, sendo um campo de produção de saber e fixação de

verdades, é marcado também pela presença de palavras de ordem. Os termos

empregados pela linguagem jornalística estão em constante transformação em seu

significado político.

Observando os jornais, Folha de São Paulo e The New York Times, um dia

após os ataques terroristas, nota-se, então, que terror e terrorismo passam a ser

sinônimos de mal. Ambas as palavras passam não só a se relacionar aos grupos

islâmicos fundamentalistas como Hamas, Hezbollah e Al-Qaeda, como também para

expressar horror na ausência de um termo mais forte.

Por outro lado, importa aqui considerar as proposições de Michel Foucault

sobre a construção de verdades e procedimentos metodológicos para análise do

discurso. Vejamos:

Certamente, se nos situamos no nível de uma proposição, no interior de um discurso, a separação entre o verdadeiro e o falso não é nem arbitrária, nem modificável, nem institucional, nem violenta. Mas se nos situamos em outra escala, se levantamos a questão de saber qual foi, qual é constantemente, através de nossos discursos, essa vontade de verdade que atravessou tantos séculos de nossa história, ou qual é, em sua forma muito geral, o tipo de separação que rege nossa vontade de saber, então é talvez algo como um sistema de exclusão (sistema histórico, institucionalmente constrangedor) que vemos desenhar-se.(FOUCAULT, 2005. p.14)

E menciona a frente: Ora, eis que um século mais tarde, a verdade a mais elevada já não residia mais no que era o discurso, ou no que ele fazia, mas residia no que ele dizia: chegou um dia em que a verdade se deslocou do ato ritualizado, eficaz e justo, de enunciação, para o próprio enunciado: para seu sentido, sua forma, seu objeto, sua relação a sua referência. (FOUCAULT,2005. p.15)

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Destaque-se, também, o fato de que a maior parte do material sobre o 11 de

Setembro nas editorias internacionais, no Brasil, foram de autoria dos jornalistas da

própria redação ou colaboradores, uma vez que, segundo Reis Souto, carecemos de

uma rede de correspondentes que tenha acesso direto aos fatos que relata. Isso faz

com que a cobertura internacional acabe se tornando, muitas vezes, dependente

das agências internacionais de notícias, mesmo nos grandes veículos de

comunicação.

a existência de um número pequenos de correspondentes faz com que a maior parte da cobertura de política internacional seja feita dentro da redação, por telefone ou Internet, com grande uso dos despachos das agências de notícias. O trabalho do correspondente também encontra limitações, como o controle governamental de informações e a dependência das fontes oficiais. Por outro lado, há um esforço dos profissionais que atuam nessas editorias de interpretação e contextualização dos fatos, que é facilitado pelas ferramentas tecnológicas. Neste caso, o jornalismo de análise, embora prescindindo da observação do repórter como “testemunha ocular da história” é o que acaba fazendo a diferença num cotidiano de mesmice das matérias factuais. (FHOUTINE, 2009)

Ante o que se explicitou anteriormente, cabe aqui, ainda, observar os relatos

das vítimas dos atentados e também as estratégias de produção e de edição dos

relatos das vozes oriundas de algumas pessoas que estavam presentes ao evento

ou simplesmente que viraram capa de jornais. Porém, faz-se necessário esclarecer

que um jornal impresso passa por uma série de análises técnicas bem elaboradas

antes de ter seu editorial finalizado.

Tamanho e corpo da letra, cor, números de chamadas, fotografias e sua

posição na página. Toda pauta é definida, observada e aprovada por editores que

escolhem qual será a notícia a ser veiculada e sua forma de abordagem.

Este planejamento visual gráfico na comunicação impressa pode ser dividido

em partes, e é o que baliza as decisões a serem tomadas na diagramação, como,

por exemplo, as ideias que as palavras vão representar, os elementos gráficos

selecionados, a importância relativa das ideias e os elementos gráficos e a ordem de

apresentação. Uma das principais estratégias de venda de um periódico está na

composição de sua capa, pois funciona como a vitrine de uma loja no Shopping,

seguindo uma padronização gráfica para que seu leitor o reconheça. A forma como

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as notícias chegam ao seu destino final foram amplamente pensadas e

desenvolvidas. Segundo Clóvis de Barros Filho (1995, p. 64-65):

A produção mediática é, antes de tudo, um processo ininterrupto de formalização. A objetividade aparente da informação é consequência dessa "racionalização” faz crer na economia da criação e do improviso. Toda objetivação, ao dar a ver publicamente algo que se sentia de forma confusa, produz o efeito de encobrir não só quem objetivou (com interesses e obedecendo as quais estratégias), mas também as condições sociais que permitem a objetivação.

Sendo assim, a forma enquadra a mensagem e produz efeitos nos leitores.

Para Silva (1985, p.46), essas decisões são claramente influenciadas pelo tipo de

mensagem a ser veiculada, pelo tipo de consumidor dessa mensagem e pelo grau

de interesse que a mensagem pode proporcionar.

Por outro lado, Baudrillard (2006, p.11) destaca a importância dos meios na forma

da comunicação:

Não se trata pois dos objetos definidos segundo sua função, ou segundo as classes em que se poderia subdividi-los para comodidade de análise, mas dos processos pelos quais as pessoas entram em relação com eles e da sistemática das condutas e das relações humanas que disso resulta.

Michael Foucault (2008) em seu livro Arqueologia do saber, fazendo alusões

a obras por ele escritas anteriormente, enuncia uma série de conceitos

determinantes para a abordagem do discurso. Segundo Foucault, o discurso

apresenta-se com uma realidade complexa, tornando-se necessário analisá-lo nas

suas diferentes camadas. Para ele, o discurso aparece como um conjunto regulado,

que, por outro lado, mostra-se polêmico e estratégico.

Essas formas prévias de continuidade, [...] é preciso, pois, mantê-las em suspenso. Não se trata, é claro, de recusá-las definitivamente, mas sacudir a quietude com a qual as aceitamos; mostrar que elas não se justificam por si mesmas, que são sempre o efeito de uma construção cujas regras devem ser conhecidas e cujas justificativas devem ser controladas [...]. Trata-se de reconhecer que elas talvez não sejam, afinal de contas, o que se acreditava que fossem à primeira vistas. Enfim, que exigem uma teoria; e que essa teoria não pode ser elaborada sem que apareça, em sua pureza não-sintética, o campo dos fatos do discurso a partir do qual são construídas.(FOUCAULT, 2008, p.29)

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Através de sua complexidade, pode-se pensar a teoria do discurso abordada

por Foucault em seu livro Arqueologia do saber, nos aspectos de que o discurso é o

espaço em que saber e poder se articulam, ou seja, quem fala está baseado em um

direito reconhecido institucionalmente e de que o discurso é uma prática que provém

da formação dos saberes e que se articula com outras práticas não discursivas.

Partindo desse princípio e pensando na mídia como conjunto de signos,

prática discursiva, e processo histórico, a ideia aqui então é lançar luz às vozes do

11 de setembro na mídia impressa, levando em consideração o calor do momento

em que foram veiculadas, sem descartar seus aspectos técnicos de elaboração

como práticas discursivas e a produção de identidade.

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1.3. Capa do The New York Times, 12/09/2001.

1. Durante várias horas em pânico na manhã de ontem, as pessoas em Lower Manhattan

testemunharam o inexprimível, o incompreensível, o impensável. "Eu não sei com o que

os portões do inferno se parecem, mas tem que ser assim", disse John Maloney, diretor

de segurança de uma empresa de Internet no World Trade Center. "Eu sou um veterano

de combate, Vietnam, e eu nunca vi nada parecido com isso."

2. Foi o povo do lado de fora, na calçada, que viu o começo. Às 08:45, David Blackford

estava caminhando para o trabalho em um prédio no centro. Ele ouviu um motor a jato e

olhou para cima. "Eu vi o avião passando em cima", disse ele. "Eu pensei que estava

muito baixo. Pensei que ia bater na torre”. Dentro de instantes, seus temores foram

confirmados. O avião se chocou contra a face norte do World Trade Center. Enquanto ele

observava, disse: "Você pode ver o abalo subir por todo o edifício."

3. "Foi um grande avião voando baixo", disse Robert Pachino, outra testemunha. "Não

houve nenhum problema no motor. Ele não tentou manobrar. Este avião estava em uma

missão."

4. Manchas escuras caíram dos lados dos edifícios e, a princípio, não estava claro o que

elas eram. Sarah Sampino, que trabalhava do outro lado da rua, percebeu fumaça preta

do lado de fora e foi até a janela. "Vimos corpos voando para fora das janelas", disse ela.

"Foi o 85 º andar. Eu costumava trabalhar no andar."

5. Brianne Madeiras, uma estudante da Universidade Pace, estava indo para a aula, e ao

passar por um Burger King a menos de uma centena de metros do centro comercial,

ouviu uma explosão e sentiu o chão tremer. Ela correu para um banco, onde as pessoas

estavam batendo no vidro, quebrando-o, tentando entrar. "Eu vi um cara sangrando na

cabeça junto ao banco", disse ela. "As pessoas estavam sendo pisoteadas sob a

multidão. Vi uma senhora sem sapatos, os pés dela estavam sangrando. Estava

provavelmente lá por cerca de 10 minutos, e eu fiquei histérica."

6. Marilyn Mulcahy, 31 anos, tinha uma reunião de negócios às nove horas em um escritório

na Broadway, a poucos quarteirões do World Trade Center. Ela saiu do metrô na

Chambers e Rua da Igreja. Ela viu o que ela acreditava que eram peças de um motor de

avião na calçada, policiais colocavam cordões em torno dele. Ela viu os buracos nas

torres e começou a ter cautela para sair da área, mas ela foi superada pelo choque.

Quase inconscientemente, ela caminhou até o escritório onde a seria sua reunião. Todo

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mundo tinha ido embora. Mesmo assim, ela aproveitou o tempo para rabiscar uma nota

que ela tinha estado lá e chamaria mais tarde.

De volta à rua, o medo tomou conta dela. Trocou seus saltos por sapatos baixos que

tinha em sua bolsa e correu em direção a outra parte da cidade.

7. "Esta é a América", disse um homem. "Como isso pode acontecer na América? Como?"

8. "Esses atos de assassinato em massa tinham a intenção de transformar nossa nação em

caos, mas eles não conseguiram", disse o presidente em seu primeiro discurso à nação

do Salão Oval. "Nosso país é forte. Atos terroristas podem abalar os alicerces dos nossos

maiores edifícios, mas eles não podem tocar a fundação da América." ( KLEINFIELD,

2001.)

1.3.1 The New York Times.

Segundo dados fornecidos pelo site da Alliance for Audited Media, (uma das

principais fonte de verificação e distribuição de serviços e informação, e auditoria

para as indústrias de publicidade e publicação), o jornal The New York Times,

fundado há 162 anos, possui uma circulação diária de 1,865,318 exemplares e de

2,322,429 de exemplares dominicais, fazendo do periódico o segundo jornal de

maior circulação nos Estados Unidos.

No dia 12 de setembro de 2001, a capa do jornal The New York Times

apresentava a seguinte mensagem : “Estados Unidos Atacado, jatos sequestrados

destroem Torres Gêmeas e acertam o Pentágono”.

O jornal apresentava na primeira folha como imagem principal fotos que

retratavam uma das Torres já em chamas, com espessa nuvem negra e outra Torre

no momento da explosão. Outras imagens menores mostram os escombros que

restaram da queda das duas torres e do conjunto financeiro, os sobreviventes e um

detalhe do momento em que o segundo avião entra na rota de colisão contra a Torre

Sul do complexo. O jornal traz uma reportagem na página A2 (anexo) com relatos de

vítimas, transeuntes e sobreviventes.

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Pela possível gravidade ao ato, a estratégia de construção linguística na capa

indica ênfase do título e sugere um sujeito vítima (Estados Unidos), prevalecendo

sobre a posição do agente (terroristas). Essa estratégia pode ser o que Foucault

(2008) denominava governamentabilidade, o governo de si e do outro por meio de

técnicas, dispositivos que produzem identidades, neste caso elaborando uma

relação entre jornal e leitor.

Aparentemente humilhado, o país mostra todo seu potencial de reação quase

que instantaneamente. Isso torna-se evidente quando o texto deixa claro que o

presidente George W. Bush promete punição exata para o mal (terroristas).

O que chama a atenção aqui, está ligado ao fato de termos bombeiros

atônitos frente ao escombros dos prédios e uma vítima aparentemente desnorteada

sendo atendida na rua. O leitor de imediato percebe qual o foco da notícia, vítimas

do 11 de setembro. Ao analisarmos os depoimentos das pessoas entrevistadas,

podemos identificar na forma da construção do texto a presença de um efeito básico

do discurso, o distanciamento do enunciador que apresenta o discurso em terceira

pessoa, buscando mostrar uma garantia de sua imparcialidade.

Os depoimentos são carregados de emoção, indicando uma certa

incredulidade nos fatos, calor do momento e vontade de vingança e paz. Nesse

momento, o enunciador tenta uma aproximação com seu leitor quando traz

depoimentos de pessoas que estavam nas ruas, como quando um repórter

entrevista um homem andando pela Lexington Avenue, em Midtown, no início da

manhã, que dizia: "Eu nunca irei para o centro novamente. Trabalho lá há 15 anos.

Eu nunca mais vou lá novamente." Ou então, quando entrevista um ator que morava

a seis quadras do World Trade Center, que moderava seus comentários ao falar do

atentado:

“Eu sou um cara de 47 anos que viu o World Trade Center explodir, e eu não quero que outro inocente também de 47 anos de origem afegã olhe de seu terraço e veja algo explodir. Você me entrevista achando que estou sentindo ódio mas invés disto prego a paz - Quero dizer, nós podemos falar sobre isso?” (KLEINFIELD, 2001)

O jornal New York Times, criou um caderno especial para a cobertura dos

ataques. O jornal dedica tamanha atenção ao assunto que até hoje em sua página

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na internet possui uma área especial com as matérias publicadas nas 10 primeiras

edições do periódico após o evento. Ao relatar as experiências vividas no 11 de

setembro, o jornal faz o uso de matérias que traduzem as preocupações prioritárias

da população como segurança e terrorismo, constatando-se forte apelo emocional

usado pelo jornal, como estes, a seguir, extraídos do periódico.

1.4. Fonte: Jornal Folha de São Paulo, 12 de setembro e Edição Especial.

1. "É estranho", disse Monet Harris, 22, um trabalhador de trânsito “Você sempre olha para os dois edifícios. Você sabe onde você está. E agora eles se foram”.

2. “É como Pearl Harbor, disse um homem de meia-idade em um pequeno parque no Canal Street. É Pearl Harbor. É guerra!!”

3. “Primeira reação foi telefonar para minha família dizendo que estou bem”.

4. “O prédio tremeu. O chão parecia uma geléia. Levantou um metro para lá, um para

cá. As pessoas caiam. As coisas caiam. Foram uns 10 segundos eternos. O andar

era aberto, sem divisórias. Havia mais de 1.500 pessoas nele. De repente, a

explosão. Foi muito forte. As pessoas se agarravam às coisas e se olhavam

desesperadas. Tive certeza de que ia morrer ali. Olhei pela janela e vi coisas caindo.

Pareciam pedaços do prédio, pessoas, sei lá. Sai correndo, procurando a escada.

Deixei tudo para trás. Na mesa, ficaram documentos, chave de casa, mochila,

telefone. Na fuga, mais pânico, pois havia algumas saídas fechadas. Em segundos,

as escadas lotaram. Umas pessoas pediam calma. Choravam. Havia muita fumaça e

era difícil respirar. Foi uma hora até o andar térreo. O térreo estava em pedaços, a

imagem da tragédia. Os policiais gritavam: “ Todo mundo correndo. Mãos na cabeça

e sem olhar para trás”. De repente, um míssil, eu achei que era um míssil, e eu tinha

certeza de que iria cair na minha cabeça. Aí, outra explosão. Era o segundo avião.

Atingiu a segunda torre. Em minutos ela desabaria. Fui a pé para casa, em pânico”.

(Guilherme Castro, operador de uma corretora de mercado financeiro que trabalhava

no vigésimo quinto andar da tore 1 do World Trade Center).

5. “Todos saem para comprar mantimentos, como se estivéssemos no começo de uma

guerra”. (Susan Hauer, moradora da cidade de Nova York)

6. Elizabeth Dern, 35 anos, levou sua única filha Catherine, 10, para ver a

movimentação da praça na rua 14, na Union Square que virou um local de culto e

homenagem aos mortos no atentado na terça, dia 11: “Quero que minha filha entenda

o que aconteceu, pois ontem, vendo TV, tudo o que a gente sentia era medo e raiva.

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Resolvi trazê-la aqui hoje para que ela tenha a lembrança de pessoas querendo

ajudar, para que a imagem de solidariedade também fique arquivada em sua

memória”. (FOLHA, 2001, p.A11)

1.4.1 Jornal Folha de São Paulo

A Folha de São Paulo é um veículo brasileiro editado na cidade de São Paulo.

Considerada atualmente, segundo dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC),

o jornal de maior circulação do Brasil, a Folha é um dos jornais impressos mais

influentes do país, ao lado de O Globo e O Estado de S. Paulo (MOTTER,2008).

Embora faça parte do resultado de um processo histórico de importação do modelo

de jornalismo norte-americano, a Folha não reproduz os atentados de 11 setembro

da mesma forma que o The New York Times, mantendo seu foco no paradigma

factual.

No que diz respeito à cobertura do jornal Folha de S. Paulo, ela objetificou o

processo da ação terrorista ocorrida, endossando a reafirmação dos discursos de

luta contra o terror e posicionando-se pela manutenção e sustentação dos poderes

modernos ocidentais estabelecidos.

A Folha em sua edição de 13 de setembro (vide anexo) destaca o discurso do

presidente George Bush à nação, sob o título “EUA sofrem maior ataque da

História”, colocando a caracterização geral daquilo que considerou “o maior ataque

terrorista da História” ao lado de fotografias das duas torres do World Trade Center

em chamas.

Em seus principais subtítulos (FOLHA,2001,p.A1), – “Torres do World Trade

Center e parte do Pentágono são destruídas”, “Milhares de pessoas morrem em

atentados de autoria desconhecida” e “Bolsas param, petróleo dispara e aumenta

temor de recessão global” – as fotos que mostravam as vítimas cobertas pela poeira

dos escombros, o jornal divulga imagens, já na primeira página evidenciando o

drama humano de civis inocentes, assim como a impotência do país mais poderoso

do mundo frente a um inimigo não identificado. Nos subtítulos encontrados na capa

pode-se observar, uma preocupação com o ataque a grandes símbolos financeiros

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americanos que definem emblemas constituintes daquele país, assim como da

civilização ocidental.

A Folha optou por textos amplos e corridos no que concerne à distribuição

espacial. O jornal também evidencia o discurso do presidente George W. Bush,

enumera grupos terroristas existentes e atuantes e algumas pequenas entrevistas e

depoimentos relacionados ao ocorrido. Os ante-títulos são curtos, em geral de uma

palavra ou duas, evidenciando o tópico do fato principal abordado na respectiva

página, como “Reação” (FOLHA, 2001, p.A-16) e “Os suspeitos” (FOLHA,2001, p.E-

21). A Folha, faz uso recurso de infográficos. Um destes infográficos que mais

chama atenção, talvez por sua sequencia didática de leitura, ocupa duas páginas

(FOLHA,2001, p.A-10-11), traz a simulação do atentado ao reproduzir uma maquete

de Nova York.

O funcionamento do World Trade Center e o que se alojava em seu complexo

é mostrado pelo jornal; a historia das torres do complexo, de sua construção na à

sua queda; os dados que compõem a ficha técnica do World Trade Center; passo a

passo de seu colapso; e a cronologia dos atentados.

Como analisado por Jesus e Fernandes (2011) outros infográficos espalhados

pelo jornal, observa-se também a sequência de acontecimentos, a reconstituição do

trajeto dos voos, a indicação dos locais atacados nos Estados Unidos por meio de

mapas e pequenas fotos. Realmente, o que se pode observar ao longo da cobertura

é um encaminhamento narrativo condutor do olhar dos leitores pela disposição de

quadros em que se percebe a criação de uma ‘história’ das torres: da sua construção

à sua explosão, passando pela vida da cidade.

Ao mostrar/criar o contexto e privilegiar o didatismo da história, a Folha corrobora a visão ocidental excludente acerca dos atentados, em que a notícia veiculada é utilizada como forma de fazer emergir o campo específico no qual tal fato de significação deve se filiar, já dentro de visões incorporadas socialmente. (JESUS e FERNANDES, 2011, p.265)

A folha publicou um caderno especial intitulado “Guerra na América” que

apresentava fotos por meio das quais o que se pode observar é que o sentido

narrativo da tragédia é construído em meio a uma atmosfera espetacularização de

diversos ângulos do choque dos aviões, assim como pelas imagens dos destroços

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do complexo do World Trade Center e do centro de inteligência do Pentágono, bem

como da mobilização da população em Washington, centro militar e político dos

Estados Unidos. O jornal, porém, concentra-se composição de imagens com a

utilização de fotografias que apresentam a angustia humana, imagens que

‘sustentariam’ a imparcialidade e veracidade jornalística, dando destaque as fotos

das vítimas cobertas de poeira e o socorro oferecido pelos bombeiros, bem como à

aflição de pessoas deixando as torres após o choque das duas aeronaves.

Na construção do drama da população, nota-se a escolha por fotos com a bandeira americana sobre os escombros, dando uma dimensão mais dramática à cobertura e evidenciando o signo máximo da soberania destruído pelo terror, assim como as fotos em que se destaca a população árabe comemorando os atentados ao lado de imagens que apresentam Osama bin Laden como principal suspeito do ato. Mais uma vez aqui, temos a reafirmação de um centro interpretativo em que o drama humano dos norte-americanos e, consequentemente, do Ocidente é identificado com os valores expressos pelo jornal, ao mesmo tempo em que se coloca o mundo não ocidental como negação e ameaça a essa identidade. (JESUS e FERNANDES, 2011, p.266)

O posicionamento do periódico caracteriza-se por apresentar um tom não só

impactante e opinativo, como também sentimental e exacerbado, enfatizando a

descrição dos destroços, da montagem do caos urbano pela correria após o

desabamento e dos corpos encontrados beira clichês, como no título “Corpos,

destroços e confusão” (FOLHA, 2001, p.A-9). O relato do fato jornalístico lança mão

de elementos apelativos e persuasivos em direção ao fortalecimento da visão dos

poderes estabelecidos.

Segundo Jesus e Fernandes (2011),

[...] o tom noticioso algumas vezes também se torna presente, evidenciando claramente o viés político do jornal. Observa-se tal situação no uso de certas palavras/ expressões que reproduzem uma postura excludente em relação ao evento, dimensão essa implícita na palavra ‘terror’, bastante utilizada nos títulos, embora o jornal evitasse utilizar com muita frequência palavras como ‘suicidas’ ou ‘bárbaros’ em relação aos autores desconhecidos do atentado[...]

Salta aos olhos a eficiência de títulos e subtítulos na compactação dos

aspectos gerais dos atentados, como no subtítulo “Aviões sequestrados destroem

símbolo de Nova York e derrubam parte do Pentágono; paralisado, país ainda tenta

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35  

contar seus mortos e promete encontrar os responsáveis”(FOLHA, 2001. p.A-1) cujo

impacto é complementado pela primeira frase apos o título: “Os EUA sofreram o

maior ataque terrorista da história, no qual foram atingidos símbolos de sua

hegemonia econômica e militar”.

Enfatiza-se aí o apoio das potências europeias (Inglaterra, França, Alemanha

e Rússia) e de nações periféricas (China, Índia e Brasil) aos Estados Unidos,

enquanto, por outro lado, temos expostas fotos com os festejos palestinos. É de

destaque a solidificação da fronteira entre identidade e diferença por parte dos

países que compartilham valores comuns e ‘civilizados’ em oposição à reação e

posicionamento dos países árabes e palestinos e as suas celebrações contra o

Ocidente.

Ao criar um caderno especial para e relatar o 11 de setembro a Folha se

colocou com uma abordagem que refletia claramente a posição de perplexidade das

nações ocidentais. Não se mencionaram as condições afegãs, país onde

possivelmente estaria Bin Laden, o grande urdidor dos atentados.

O jornal ainda apregoa que num mundo dominado por um só, o

inconformismo “fermentado pela miséria”, exclusão e pelo fanatismo religioso

tendem a se fragmentar em grupos “irresponsáveis, ... sem maiores

comprometimentos a não ser sua própria causa apocalíptica” (FOLHA, 2001, p.A2).

É certo também que a Folha de São Paulo registrou o impacto dos atentados

no Brasil, a reação das autoridades brasileiras que se encontravam em Nova York

no dia 11 de setembro. Na página A-18 do dia 12 de setembro de 2001, a Folha

registrou a reação do presidente brasileiro na época, Fernando Henrique Cardoso(

anexo). A matéria veio no canto esquerdo, e abaixo a Folha também colocou em um

nota a íntegra da carta que FHC enviou a George W. Bush. Por fim, na reportagem,

o presidente brasileiro faz referência não só os atentados como também aventa o

que eles poderiam representar economicamente para o mundo no futuro.

Buscamos evidenciar aqui como a notícia foi apresentada para ser percebida.

Conforme Moura (2003), procuramos identificar na notícia veiculada a posição que

ela ocupa no emaranhado dos discursos dentro de determinado contexto sócio-

histórico de forma a reordená-lo, situá-lo ou redistribuí-lo. Tendo a sua filiação

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discursiva definida, aquilo que se observa é o relato de uma história escolhida como

necessária, excluindo o que não parece se ajustar a ela, e dependente de discursos

que são rememorados ou interditados (MOURA, 2003, p.11).

Finalmente, ressaltamos que, no que concerne aos atentados de 11 de setembro

de 2001, a cobertura do jornal Folha de São Paulo, representando aqui a mídia

brasileira, buscou reproduzir a realidade, apoiando-se nos ensinamentos de Moura

citados acima. (MOURA, 2003, p.11). Na condenação dos atos de terrorismo pela

Folha de São Paulo, percebe-se a defesa de uma ordem internacional que coloca

como bárbaros ou não civilizados aqueles que não compartilham os princípios

simbólicos e discursivos do Estado Moderno.

1.5. Visão geral  

Analisamos aqui os jornais publicados em 12 e 13 de setembro de 2001, até

dois dias após os atentados. Ambos jornais foram analisados devido a grande

circulação e cobertura apresentadas em cadernos especiais, tanto nos Estados

Unidos como no Brasil.

Os periódicos, apesar de desenvolverem elementos técnicos diferenciados,

possuem forte correlação, uma vez que a análise procura elucidar as vozes do

evento. Os dois jornais quando comparados podem possibilitar uma relação do

leitor com o momento de fragilidade sofrido pelos americanos e as estratégias de

persuasão. É interessante observar que ambos os jornais se referem ao evento

como uma guerra, e o uso do termo “terrorismo”, sem ter um inimigo claramente

estabelecido. Havia somente hipóteses, o acontecimento e suas vítimas. A capa de

ambos possui um caráter de acumulação de funções exercidas por uma forma

gramatical em uma única palavra, traduzidas em texto verbal e não verbal (imagens

e tipos gráfico) que formam juntas um texto único, e atribuem-lhe um sentido de algo

nunca visto na história americana.

Por terem suas publicações circulando um dia após os atentados, os jornais

criaram um estratégia especifica de cobertura na qual direcionaram seu foco, a

situação de terror e indignação da sociedade e do mundo. Os jornais não poderiam

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37  

mais dar furos de reportagem, as imagens dos atentados já haviam rodado o mundo

através da televisão e internet, mas os jornais tinham o poder de trazer à tona os

relatos das experiências vividas pelas pessoas que ali estavam, possibilitando uma

possível identificação, um ter estado lá, visto pelos olhos de quem estava lá.

Analisando os artigos no jornal, sentimos a necessidade de voltar às ideias de

Foucault (1996), que afirma que o discurso é bem construído e nos conduz por

caminhos técnicos bem definidos, porém não se pode falar de tudo em qualquer

circunstância, para qualquer um ou de qualquer coisa. A busca pelos depoimentos

vindos dos jornais pode ter acendido um desejo de descobrir a real experiência de

ter vivenciado o 11 de setembro.

Preleciona Foucault (1996,p. 8 e9),

Suponho que em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade.

O mais evidente é que se há uma interdição na elaboração dos discurso

construído no jornal, por pudor ou até mesmo pela intenção de não gerar pânico à

sociedade, ele torna-se visível nos relatos dos entrevistados, como pudemos

verificar nos periódicos. Foucault (1996,p.10 e11) ainda propõe que mesmo assim

esses discursos devem ser ouvidos:

Desde a Alta ldade Média, o louco é aquele cujo discurso não pode circular como o dos outros: pode ocorrer que sua palavra seja considerada nula e não seja acolhida, não tendo verdade nem importância, não podendo testemunhar na justiça, não podendo autenticar um ato ou um contrato, não podendo nem mesmo, no sacrifício da missa, permitir a transubstanciação e fazer do pão um corpo; pode ocorrer também, em contrapartida, que se lhe atribua, por oposição a todas as outras, estranhos poderes, o de dizer uma verdade escondida, o de pronunciar o futuro, o de enxergar com toda ingenuidade aquilo que a sabedoria dos outros não porre perceber.

Essa ideia reforça o caminho que nos leva a buscar um sentido, ou esboço

das experiências intermediadas pelos jornais. Mas não basta saber apenas decifrar

as técnicas de linguagem ou decupagem das experiências relatadas nos periódicos

e sim de relacioná-las a um contexto histórico.

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38  

Vale lembrar que na manhã de 11 de setembro de 2001 os EUA sofreram o

maior ataque terrorista de todos os tempos de sua história. Em termos de

representatividade, nem mesmo o ataque a Pearl Harbor, na manhã de 7 de

dezembro de 1941, quando numa operação aeronaval sem precedentes, a Marinha

Imperial Japonesa atacou a base norte-americana de Pearl Harbor, no Havaí, abalou

tanto a representatividade do poderio militar e econômico da nação americana

quanto a derrubada das Torres Gêmeas, levada a cabo por terroristas. É certo que o

ataque japonês atingiu a América, em meio ao oceano Pacífico, longe de seu

coração pulsante. Já o ataque terrorista de 11 de setembro, além de tragicamente

contabilizar mais de 2900 mortos e outros tantos feridos, atingiu o símbolo material

mais vital do poder econômico capitalista: seu centro nervoso, as Torres Gêmeas do

World Trade Center, erguidas na cidade de Nova York.

O gesto foi interpretado pelo governo americano, e também pela mídia , como

um atentado perpetrado por grupos estrangeiros, num claro desafio à superpotência

mundial. Torna-se claro aí a indignação da sociedade e sua veiculação

representada através do relato de suas experiência pelos jornais, nas formas de

surpresa, revolta, emoção, vitimização e vingança, como pudemos verificar nos

relatos de ambos os jornais.

1.6. Conceito de Terrorismo  

Por citarmos constantemente neste trabalho o termo terrorismo, sentimos a necessidade de conceituar o que se entende por essa palavra. São várias as óticas conceituais sobre o mesmo termo. Antes, porém, importa mencionar o que o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa registra:

Terrorismo. S.m. 1. modo de coagir, ameaçar ou influenciar outras pessoas ou de impor-lhes a vontade pelo uso sistemático do terror. 2. forma de ação política que combate o poder estabelecido mediante o emprego da violência.

Abordaremos, aqui, apenas alguns conceitos para que se tenha em vista a disparidade conceitual.

Segundo Roberto Ramos, em sua dissertação de mestrado, "O

fundamentalismo islâmico e o terrorismo: das origens aos desafios para o século

XXI”, na ótica do Reino Unido, o terrorismo é o uso da ameaça, com o propósito de

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avançar uma causa política, religiosa ou ideológica, de ação que envolve violência

séria contra qualquer pessoa ou propriedade.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos define o terrorismo como

“violência premeditada, politicamente motivada perpetrada contra alvos não-

combatentes por grupos subnacionais ou agentes clandestinos, geralmente com a

intenção de influenciar um público” (US Department of State, 2001, apud WILLIAMS,

2008)

Dentro do mesmo país, o FBI (VISACRO,2009,p.289), departamento que investiga o crime organizado nos Estados Unidos, conceitua-o como “o uso ilegal da força ou violência contra pessoas ou propriedades para intimidar ou coagir um governo, uma população civil, ou qualquer segmento dela, em apoio a objetivos políticos ou sociais.”

O Departamento de Defesa norte-americano (VISACRO,2009,p.289), entende

o terrorismo como “o calculado uso da violência ou da ameaça de sua utilização

para inculcar medo, com a intenção de coagir ou intimidar governos ou sociedades,

a fim de conseguir objetivos, geralmente políticos, religiosos ou ideológicos.”

Percebe-se que o terrorismo, conforme as óticas apresentadas, constitui-se de um estratagema, de uma tática, de um meio de se alcançar um objetivo através do uso da força, com ataques à população civil e as propriedades. Sua natureza pode ser política, social ou religiosa, de acordo com o objetivo e metas que pretende alcançar. Não se desconsideram nele os motivos que levam tais grupos a perpetrar suas incursões: vingança, ódio, sentimento separatista entre outros que configuram não o modo de ação, mas sim, os objetivos. O ponto comum nas conceituações é o emprego da violência contra civis, a intimidação e a coação a um governo, o combate a um poder estabelecido.

Os conceitos apresentados têm características próprias, ressaltam posições políticas e ideológicas em que cada uma delas se envolvem, apontando a ilegalidade das ações de terroristas, cada qual enfatizando sua posição, sem levar em conta as causas, as demandas daqueles que as perpetram contra o país ou a política de que é alvo.

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Vê-se, então, que não há um conceito único, já que cada um, caracterizado por governo, instituição e cultura, tem suas estratégias, táticas e noção de defesa contra o terrorismo.

Não raro leigos e especialistas confundem-se na utilização do termo, aplicando-o para situações de guerra de guerrilha e até mesmo guerra entre Estados soberanos.

Guerra é guerra, terrorismo é terrorismo. Hedley Bull (BULL, 2002, p211) explica que guerra é “a violência organizada promovida por Estados soberanos”, e também, a violência exercida em nome de uma unidade política só é guerra se dirigida contra outra unidade política; a violência empregada pelo Estado para executar criminosos e eliminar piratas não se qualifica como tal, porque tem por alvo indivíduos.

Um ato de violência nem sempre é um ato terrorista, mas todo ato terrorista é um ato de violência. Importa inferir que nem toda força e violência pode ser entendida como terrorismo, todavia a violência aplicada contra o Estado e seus civis é um ato terrorista.

A guerra, então, segundo Bull (2002), só pode existir entre dois Estados soberanos, é sempre entre Estados soberanos. O terrorismo tem como alvo civis, não-combatentes, propriedades estatais, não é violência empregada como instrumento de política externa de um Estado.

O terrorismo funciona através do medo, e a indução do medo a certo público pode ser pretendida para assegurar uma resposta política particular. Rogers (2008) apresenta também dois tipos de terrorismo: terrorismo estatal e terrorismo sub-estatal.

De acordo com Bull, o terrorismo de Estado é um dos mais antigos da Era Moderna e surge na França, em seu período revolucionário, quando premido pelas ações dos insurgentes, o Estado abusou de atos violentos, com o intuito de reprimir os cidadãos, numa tentativa então inútil de proteger a máquina estatal. Importa notar que esses atos de força eram usados contra civis e era o Estado, e não uma facção terrorista, quem os efetuava. Ocorre, também, o terrorismo de Estado

O terrorismo estatal atualmente é mais difundido em seus efeitos, tanto em termos de baixas diretas, tanto na indução do medo. Considerado o ato terrorista

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mais antigo de nossa era moderna, teve início na França revolucionária, quando o Estado, sentindo-se ameaçado pelo movimento dos “ insurgentes”, usou de métodos violentos para coagir os cidadãos com o objetivo de proteger a máquina estatal. Neste contexto, observa-se que os atos por meio da força são voltados contra os civis, mas muda o sentido quando é o Estado que usa dessa força, e não uma facção terrorista.

Modernamente alguns autores denominam Terrorismo Patrocinado pelo

Estado o que aqui se chamou de Terrorismo de Estado.

O terrorismo patrocinado pelo Estado pode alcançar objetivos estratégicos onde o emprego das forças armadas é fraco ou não é conveniente […] O envolvimento estatal com o terrorismo compreende apoio ideológico, assistência financeira, suporte militar (incluindo assessoria técnica, treinamento e provisão de armas e munições) apoio operacional e ações específicas, iniciação de ataques terroristas e, por fim, envolvimento direto nesses ataques. (VISACRO, 2009, p. 288)

Algumas técnicas de terrorismo estatal foram utilizadas por Stalin na União

Soviética e por Mao, na China, como táticas que mantinham o controle das colônias.

Recentemente, os Estados têm utilizado táticas terroristas contra sua própria

população, como tortura, detenção sem julgamento, execução sumária,

desaparecimentos e esquadrões da morte. (ROGERS, 2008, p. 174)

Rogers (2008) exemplifica o terrorismo sub-estatal mencionando as ações do

Exército Revolucionário Irlandês (IRA). Os britânicos viam-no como uma

organização terrorista que procurava conseguir uma Irlanda unida através de uma

campanha sustentada de violência. Essa, porém, não era a ótica dos que o

apoiavam. Para eles, o IRA compunha-se de guerreiros que tentavam libertar a

Irlanda do Norte do governo britânico.

Outro exemplo de terrorismo sub-estatal citado por Rogers (2008, p. 175) é o

caso das facções Palestinas que se desenvolveram em resposta direta à ocupação

do território por Israel, na Guerra dos Seis Dias em 1967.

Bom é mencionar também o terrorismo político, que consiste no uso, ou

ameaça de uso, de violência por um indivíduo ou um grupo, quer agindo por ou

contra a autoridade estabelecida, quando tal ação é designada para criar extrema

ansiedade e/ou induzir o medo em um público-alvo maior que as vítimas imediatas

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com o propósito de coagir tal grupo em aderir às demandas políticas dos

perpetradores. (WARDLAW, 1982. p. 16)

É possível, ainda, classificar um grupo terrorista quanto a amplitude do

espaço em que atuam. Pode ser internacional, desde que os acidentes, a

preparação, o financiamento, suas consequências ou ramificações transcendem as

fronteiras nacionais; será nacional, se os acidentes e os atos de violência forem

praticados por terroristas em seus próprios países e contra seus compatriotas

(VISACRO, 2009, p. 270).

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2. Capítulo II - O 11 de Setembro de 2001 em duas obras.

Seria difícil descrever nossas vidas sem citar a influência exercida pelos

filmes e o cinema, com seus grandes heróis, mocinhos e mocinhas, belas estórias

de amor, contos de fada, sem contar as comédias que fazem da magia do cinema a

sua razão de ser. Por outro lado, não tão menos importante, não podemos também

deixar de falar dos medos, do horror, do leve frio na barriga gerado pelo suspense

que os planos nos propiciam, sensações que são criadas pelo cinema e que

somente o cinema seria capaz de criar. Como, por exemplo, planos elaborados, nos

filmes sobre o atentado de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos.

Segundo Francis Vanoye,(1994.p15) “analisar um filme é também situá-lo

num contexto, numa história. E, se consideramos o cinema como arte, é situar o

filme em uma história das forma fílmicas”. O audiovisual é também contar uma

história em forma fílmica fazendo uso de todas as ferramentas estéticas e da forma

narrativa. Quando se estuda a linguagem cinematográfica de planos e movimentos,

faz-se referência a um conjunto de signos que compõem uma forma de

comunicação. A pertinência de uma analise crítica sobre o cinema revela a

necessidade de perceber que esta forma de comunicação é também uma arte. É

uma arte que distrai, deslumbra e produz eficientes estratégias de comunicação, por

meio da sedução e da persuasão.

Como se pode perceber, estudos sobre o binômio cinema e história não são

tão atuais, essa relação já existia há muito tempo. Quando Griffith realiza O

nascimento de uma nação, em 1915, apresentava a reconstrução de época incluindo

modo de vida, maneira de vestir, assim com a arquitetura local, criando uma

atmosfera de verossimilhança capaz de fazer seu espectador acreditar que esse

passado realmente aconteceu como história. O cinema constrói esse espaço de

mediação com técnicas bem elaboradas e pensadas, e tornou-se um incontestável

veículo midiático na vida contemporânea.

Walter Benjamin (1994) afirma que o cinema nos liberta, possibilitando novas

experiências do inconsciente ótico.

Uma das funções sociais mais importantes do cinema é criar um equilíbrio entre o homem e a aparelho. O cinema não realiza essa

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tarefa apenas pelo modo com que o homem se representa diante do aparelho, mas pelo modo com que ele representa o mundo, graças a esse aparelho. Através dos seus grandes planos, de sua ênfase sobre pormenores ocultos dos objetos que nos são familiares, e de sua investigação dos ambientes mais vulgares sob a direção genial da objetiva, o cinema faz-nos vislumbrar, por um lado, os mil condicionamentos que determinam nossa existência, e por outro assegura-nos um grande e insuspeitado espaço de liberdade. Nossos cafés e nossas ruas, nossos escritórios e nossos quartos alugados, nossas estações e nossas fábricas pareciam aprisionar-nos inapelavelmente. Veio então o cinema, que fez explodir esse universo carcerário com a dinamite dos seus décimos de segundo, permitindo-nos empreender viagens aventurosas entre as ruínas arremessadas à distância. (BENJAMIN,1994, p.172 )

Pensando neste poder de articulação que o cinema constrói com seu público

é que aqui iremos observar o 11 de setembro de 2001 no ecrã e as experiências

vividas, encenadas e criadas pelo audiovisual em duas obras; 9/11 e Torres

Gêmeas. A preocupação nesta parte do trabalho é discutir essas produções e suas

relações entre si, agindo potencialmente em nossas práticas sociais através do

cinema.

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2.1. Ficha técnica do documentário 9/11

Fonte: Imdb.com.br

Gênero: Documentário Direção: Gédéon Naudet, James Hanlon, Jules Naudet, Rob Klug Elenco: Apresentação de Robert De Niro Produção: Bruce Spiegel, Mead Stone, Michael Maloy, Richard Barber Trilha Sonora: Lisa Gerrard, Richard Fiocca Duração: 112 min. Ano: 2002 País: Estados Unidos Estúdio: Silverstar Productions Sinopse: Apresentado por Robert De Niro, o documentário aborda o ataque terrorista as torres do Word Trade Center, em Nova York, em 11 de setembro de 2001. O filme traz imagens feitas antes, durante e depois da tragédia. O material foi registrado pelos irmãos franceses Jules e Gedeon Naudet, que pretendiam registrar o cotidiano de um bombeiro novato, acompanhando o seu dia de treinamento. O filme foi originalmente criado em um format para televisão.  

 

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2.1.1. Documentário 9/11

 

O documentário tem início com um grande plano geral feito da cidade de Nova

Iorque (figura 1), seguido de um plano geral das Torres Gêmeas, e uma panorâmica

vertical onde se pode verificar a altura das torres. Em seguida o plano é realizado

com bombeiros trabalhando a algumas quadras do complexo do WTC(figura 2).

Duas vozes over que pertencem a um dos diretores do documentário e um bombeiro

(James Hanlon) começam a narrar o cotidiano dos bombeiros, as atividades e o grau

de conhecimento na área do complexo do WTC. Planos das Torres e seu interior são

feitos assim como dos bombeiros no saguão delas.

FIGURA 1

FIGURA 2

O documentário realiza uma pequena prévia do que está por vir, o ataque à

primeira torre, bombeiros se dirigindo aos edifícios, o grande número de bombeiros

e chefes de batalhões mais próximos e, por fim, o colapso da Torre 2 (Sul).

A história começa em 9 de Junho de 2001, verão norte- americano. Os irmãos

Naudet começam a procurar um novato na academia para seguir sua trajetória no

Corpo de Bombeiros (figura 3). São feitas entrevistas e escolhido o principal

personagem do documentário até então. Tony Benetatos ( figura 4) é o novo

calouro, segue-se com o cotidiano treinamento no batalhão, o calouro limpa, arruma,

lava o caminhão, cozinha e faz treinamento contra fogo. Tony é denominado “nuvem

branca”, nome atribuído a calouros que não combatem incêndios quando estão

trabalhando. Benetatos recebe não só treinamento próximo ao complexo e dentro

dele, como também instruções de como agir em caso de incêndio nas ruas,

aparecendo o WTC como segundo plano constantemente.

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FIGURA 3

FIGURA 4

Os bombeiros aparecem em momentos de confraternização, cozinhando e

fazendo refeições juntos. Jules dá depoimentos entre um corte e outro, relatando o

cotidiano e a aceitação mútua do novato no batalhão. O plano seguinte mostra a

noite de 10 de setembro com planos gerais das Torres e a cidade. O dia amanhece,

recursos de áudio são inseridos, indicando mais uma manhã de verão, com alta

temperatura. A cidade amanhece com pessoas praticando esportes, outras indo

apressadas para o trabalho, da ponte do Brooklin visualizam-se os raios do sol

matinal e as Torres Gêmeas, seguindo-se um plano de panorâmica geral da cidade.

O batalhão responde a um vazamento de gás às 8h45min da manhã (figura 5).

Jules vai ao local do vazamento com o chefe do batalhão, um som de jato passa

pela cidade, Jules segue o barulho com a câmera e registra o choque da primeira

aeronave com a Torre Norte do WTC (figura 6). A equipe segue para o complexo e

pede apoio pelo rádio, cortes são feitos com depoimentos de bombeiros.

FIGURA 5

FIGURA 6

Pessoas nas ruas parecem atônitas e demonstram não acreditar no que veem,

áudio de chamadas dos noticiários do rádio divulgando o ocorrido mistura-se com o

barulho das sirenes dos carros, planos feitos dentro do carro do chefe dos

bombeiros indo de encontro ao complexo são realizados ( figura 7) . Ao adentrarem

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47  

 

o edifício, o saguão está destruído, com vidros por todos os lados e placas de

mármore que se desprenderam do revestimento das paredes estão no chão ( figura

8).

FIGURA 7

FIGURA 8

Diversos bombeiros estão no saguão, planos de depoimentos de bombeiros

revezam-se com a voz over e imagem do interior do prédio. Bombeiros tentam se

organizar para subir, a voz over traz dados do estado atual e dos problemas que os

bombeiros teriam que enfrentar para subir 68 andares sem elevador. Novos chefes

de bombeiros chegam com seu batalhão, a voz over começa a ser alterada pela do

câmera que relata o que via.

O calouro Tony está no batalhão atendendo chamados pelo telefone, imagens

da Torre em chamas são constantes, a voz over narra a saída de Gedeon Naudet,

que pega sua câmera e vai em direção às Torres. As ruas estão cheias de carros de

polícia , ambulâncias e bombeiros todos indo para o complexo, pessoas começam a

se aglomerar nas ruas (figura 9) para ver a Torre Norte em chamas (figura 10). A

segunda Torre é atingida, pessoas correm pela rua, imagens de arquivo mostram

ambas as Torres em chamas.

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FIGURA 9

FIGURA 10

Dentro da Torre Norte, bombeiros recebem a notícia do ataque à segunda

Torre (figura 11), a população corre em desespero (figura 12), o som de corpos se

chocando com a marquise do prédio é constante, bombeiros olham atordoados ao

redor ao perceberem que pessoas estão pulando. Pessoas correm de dentro do

prédio para deixá-lo, a voz revela que os bombeiros teriam que preparar uma

operação de resgate na segunda Torre.

F

Turistas e residentes de diferentes etnias estão nas ruas, gritando cada qual

em seu idioma, apontando para as Torres e relatando os fatos, bombeiros fazem

depoimentos referentes à posição em que estavam no momento do choque, relatam

a experiência que tiveram e o que pretendiam fazer, mostram-se temerosos. A

operação de resgate continua, pessoas da Torre Norte evacuam o prédio pelo

mezanino, a voz over revela que ninguém poderia sair pelas portas principais devido

aos destroços e às pessoas que estavam pulando da Torre.

 

FIGURA 12 FIGURA 11

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49  

 

Pessoas aparecem nas ruas declarando que o ataque era semelhante a um

filme de Hollywood. Gedeon anda pelas ruas com sua câmera e flagra destroços dos

aviões nas proximidades do complexo. O áudio de estações locais revela que as

notícias estão em toda a mídia, o áudio over relata que o Pentágono está em

chamas, o áudio da declaração do Presidente é inserido em imagens de pessoas

andando sem direção nas ruas.

Gedeon volta ao batalhão, imagens de uma tevê mostram o canal de noticias

CNN cobrindo o ataque , a voz over de Gedeon mostra o batalhão vazio, imagens de

arquivo, canais de notícias ao redor do mundo mostram as Torres e o Pentágono,

planos com depoimentos de Gedeon.

Jules, o cameraman, narra as imagens dentro do saguão da Torre Norte, o

saguão está um completo caos, a voz over narra a sensação de pânico das

pessoas e bombeiros; pessoas aparecem no saguão vindas dos elevadores, sem

saber o que havia ocorrido, por estarem presas. Planos feitos nas ruas mostram

parte das ruas em volta do complexo em chamas, e pessoas pulando das Torres.

No batalhão, bombeiros que estavam de folga voltam, e pegam instrumentos de

trabalho e vão em direção às Torres; a voz over narra que centenas de bombeiros

de todas as regiões da cidade estavam dentro das Torres; no saguão da Torre 1

irrompe um estrondo bem alto, a Torre Sul vem abaixo, bombeiros correm para sair

do prédio, tudo se escurece coberto pelo pó e fuligem (figura13).

Imagens de arquivo mostram uma grande nuvem de poeira sobre a cidade de

Manhattan, a voz over de um canal de notícias relata o colapso da Torre Sul (figura

14), pessoas correm pelas ruas , gritos de desespero, a cidade começa a ser

evacuada, uma grande nuvem de poeira e destroços cobre as ruas, pessoas ferindo-

se ao caminharem sem sentido.

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FIGURA 13

FIGURA 14

Jules e os bombeiros saem da Torre Sul, que está completamente às

escuras coberta de poeira, o áudio revela pessoas em volta que não sabem qual a

direção da saída, depoimentos de bombeiros que estavam na Torre norte relatam

suas experiências

No batalhão familiares começam a chegar e procurar por seu entes, Gedeon relata

que sabia que seu irmão poderia estar morto, consegue uma carona com bombeiros

em direção ao complexo, a câmera de Gedeon faz imagens das proximidades das

Torres, o local está deserto e coberto de poeira branca.

Jules e os bombeiros saem da Torre e se deparam com a cena de destruição

total nas ruas e o sumiço da Torre Sul; imagens mostram o prédio que caiu, ruas

cobertas de papel e escombros ( figura 15 ), nelas bombeiros tentam montar novo

posto de comando e retirar os bombeiros que estavam ainda dentro da Torre Norte.

Gedeon filma pessoas andando pelas ruas próximas à Torre, caminhando como

zumbis.

FIGURA 15

Depoimentos de bombeiros a respeito do que viram quando saíram da Torre,

a Torre Sul desaba, bombeiros e policiais correm pelas ruas cobertas por escombros

da Torre, tudo escurece; Jules apenas geme, Gedeon realiza um plano nervoso, fora

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51  

 

de foco, onde apenas é possível visualizar partículas de poeira; a cidade aparece

deserta e toda branca, coberta por poeira.

Áudio de canais de notícia é utilizado, enquanto pessoas buscam por ajuda

nas ruas; depoimentos de Gedeon, que volta para o batalhão, pessoas caminham

pelas ruas desoladas ao som de música sacra, bombeiros e policiais sentados pelo

caminho todo sujos e atordoados.

No batalhão bombeiros choram e procuram seus companheiros, ficam felizes

por ver alguns do batalhão voltando; Gedeon pergunta sobre seu irmão, em vão,

Jules volta para o batalhão, reencontra o irmão, ambos choram, pessoas cobertas

de sangue e argamassa procuram por ajuda nas ruas, bombeiros relatam o que

ocorreu no prédio.

O presidente Bush aparece em rede nacional e faz uma declaração,

bombeiros se organizam para voltar e resgatar sobreviventes, as ruas estão um

caos, o edifício 7 do complexo desaba. Tony, que até então estava sumido, volta

para o batalhão, pessoas procuram abrigo em lojas, pessoas chorando, pessoas

machucadas, Tony dá um depoimento, parte da cidade aparece em chamas, plano

geral mostra a cidade coberta de poeira, ao anoitecer a cidade fica sem luz.

No batalhão Tony hasteia a bandeira americana a meio-mastro, a cidade segue

em chamas durante a noite (figura 16), bombeiros dão depoimentos sobre suas

famílias. O dia amanhece, o batalhão começa a organizar-se para resgatar

sobreviventes, plano geral dos destroços das Torres, bombeiros recebem instruções

dentro do ônibus a caminho do complexo, imagens de carros empilhados nos

canteiros e parte da cidade destruída e deserta. No ponto zero (WTC), bombeiros e

policiais se reúnem para procurar por sobreviventes, removem entulho, todos pedem

silêncio, querem ouvir algo, Jules registra parte da tentativa de resgate (figura 17).

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52  

 

FIGURA 16

FIGURA 17

Bombeiros voltam para o batalhão, pessoas saúdam bombeiros nas ruas, as

buscam continuam, corpos são retirados dos escombros, Tony dá um depoimento

falando sobre lutar ou salvar vidas, lista de bombeiros mortos é divulgada,

bombeiros são enterrados. Chefe Peter dá depoimento sobre a morte de irmão

também bombeiro, uma grande bandeira americana é estendida em um prédio,

plano geral da destruição.

O documentário se encerra com imagens das torres e imagens de

cartazes de pessoas desaparecidas (figura 18), e depoimentos de Tony (figura 19) e

James Hanlon.

FIGURA 18

 

FIGURA 19

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53  

 

2.1.2 A imagem que o cinema construiu sobre o 11 de Setembro no documentário 9/11

Realizado em forma de documentário, o filme registra vários acontecimentos

do dia 11 de setembro de 2001, desde o acidente inicial até o colapso do edifício e

as tentativas de resgatar sobreviventes dos escombros. A análise aqui realizada nos

leva a observar algumas características que envolvem seu registro pelos cineastas

franceses que, no momento em que faziam tomadas para um documentário já

estabelecido e roteirizado sobre os bombeiros de Nova York, foram como eles, e

junto com eles, tomados pelos acontecimentos do 11 de setembro que,

evidentemente, passam a registrar. Esse filme é, portanto, o resultado desse acaso.

O documentário possui uma estrutura muito parecida com as dos filmes de

ficção convencional, criando uma sensação de que talvez haja uma razão pela qual

os filmes de ficção raramente se desviam dessa fórmula. As primeiras cenas

fornecem o pano de fundo, apresentando-nos aos sujeitos da história, ou seja, os

bombeiros, e os dois camera men, os irmãos Naudet e sua rotina diária. O fato de

apresentar os realizadores e a equipe indica que se trata de um documentário onde

o cineasta dialoga diretamente com o espectador. Essas cenas são interessantes

como fatia de vida, trechos a partir das experiências sem problemas dos bombeiros,

mas também conseguem gerar suspense e inquietação, porque sabemos o que está

em seu futuro muito próximo, enquanto eles não.

André Bazin (1991,p. 142) teórico francês, acredita que, “O cinema é antes de

tudo a arte do real porque registra a espacialidade dos objetos e o espaço por eles

ocupado”.

O documentário 9/11 exibe um problema pessoal, um conflito, o que está

acontecendo e se apresenta através do que a história traz. História que nasceu de

um local e de uma cultura. Essa é a razão para a eficácia das imagens dos ataques .

Isso é confuso, caótico, a realidade é captada em vídeo. Vemos o World Trade

Center em chamas, mas os irmãos Naudet nos levam para as ruas junto com as

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54  

 

testemunhas reais e, em seguida, para um dos prédios, com bombeiros tentando

lidar com uma crise impensável .

Ao observarmos o documentário, percebemos que este cria uma certa tensão

que vem das asserções realizadas no fato histórico ali registrado, em seu verossímil

detalhe, ao mesmo tempo em que usa sons e imagens que carregam a marca

inevitável da singularidade de suas origens. Esses sons e imagens acabam

formando signos que facilmente são interpretados pelo público, como, por exemplo,

o som do corpos ao se chocarem com o solo.

Não existe a necessidade de se mostrar a cena, essa construção é feita de tal

forma que todas as vezes que ouvirmos o mesmo ruído, faremos a ligação do som

ao objeto. Transportam os significados, apesar de os significados não serem

inerente a eles, mas, ao contrário , tenha-lhes sido conferido por sua função dentro

dos planos. Por outro lado é bom observar que o foco do documentário estava na

ação dos bombeiros. Assim , a câmera não enxerga tudo. Ela não está vendo os

corpos caírem, mas o som deles entra na filmagem.

Sabemos, porém, que ao analisar o documentário, leva-se em conta o foco do

diretor, e como temos uma câmera em cena, esta automaticamente interfere nos

acontecimentos, como, por exemplo, a reação de uma pessoa a dado fato. Todos

esse elementos dão voz ao diretor, essa voz que também é inserida nos filmes

determina seu estilo, ficção ou documentário. No documentário busca-se traduzir a

forma como o diretor expressa suas percepções e ponto de vista da história. Essa

voz não está apenas presente no discurso verbal, na construção narrativa, na voz-

over e em aspectos de fácil identificação, mas sim em todos os artifícios de que o

diretor faz uso para a elaboração de seus argumentos.

Segundo Bill Nichols,(2005, p.50) Por voz, refiro-me a algo mais restrito que o estilo: aquilo que, no texto, nos transmite o ponto de vista social, a maneira como ele nos fala ou como organiza o material que nos apresenta. Nesse sentido, “voz” não se restringe a um código ou característica, como o diálogo ou o comentário narrado. Voz talvez seja algo semelhante àquele padrão intangível, formado pela interação de todos os códigos de um filme, e se aplica a todos os tipos de documentário.

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55  

 

Em várias oportunidades a voz do documentário mostra que pode ser

explícita, quando narra um fato ou fala com o espectador através de um comentário.

Em virtude da edição hábil, uma série caótica de eventos desconexos se reúne para

pintar um quadro que faz todo sentido, através da voz utilizada pelos diretores, A

capacidade de explicar os planos dá ainda mais poder à voz que nos conduz e

também tem a capacidade de produzir uma verdade incontestável.

Tão impressionante é a composição das imagens que o papel que nos resta

no documentário é distinguir a realidade da ficção, razão pela qual, talvez, em última

análise, o documentário tenha capturado tudo que precisamos ver e ouvir para

compreender como as pessoas se sentiram naquele dia, qual a escala do desastre,

o colapso das Torres, o som acidental, tipos de planos e a capacidade dos

bombeiros em lidar com o acontecimento Para tal feito, faz-se necessário

entendermos a essência do documentário.

Para Fernão Pessoa Ramos (2008 p. 25), documentário é definido da

seguinte forma:

[...] podemos afirmar que o documentário é uma narrativa basicamente composta por imagens-câmera, acompanhadas muitas vezes de imagens de animação, carregadas de ruídos, música e fala (mas, no início de sua história, mudas), para as quais olhamos (nós, espectadores) em busca de asserções sobre o mundo que nos é exterior, seja esse mundo coisa ou pessoa. Em poucas palavras, documentário é uma narrativa com imagens-câmera que estabelece asserções sobre o mundo, na medida em que haja um espectador que receba essa narrativa como asserção sobre o mundo. A natureza das imagens-câmera e, principalmente, a dimensão da tomada através da qual as imagens são constituídas determinam a singularidade da narrativa documentária em meio a outros enunciados assertivos, escritos ou falados.

Desta forma, o citado autor afirma que documentário são asserções sobre o

mundo, e esse ponto marca a tênue linha entre ficção e documentário, apesar de

ambos poderem fazer uso de artifícios um do outro. Fernão afirma que “A intenção

documentária do autor/cineasta, ou da produção do filme, é indexada através de

mecanismos sociais diversos, direcionando a recepção”(RAMOS, 2008.p27).

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Sendo assim, o documentário carrega nas suas características a indexação

social, ou seja, a recepção da sociedade. No documentário em questão não há

imagens em termos de morte humana individual. Mesmo que o documentário

imprima suas asserções, a verdade histórica é uma racionalização legítima para a

censura, não que os cineastas do documentário deviam isso às vítimas e

sobreviventes, mas pela indexação social e ética.

A história é emocionalmente fechada e ancorada no fato da perda de civis e

dezenas de bombeiros, em consequência do ato de heroísmo. Mostrando os novos

recrutas se apresentando, o documentário imprime em suas cenas finais planos que

sugerem uma reflexão sobre a condição de ser um bombeiro antes do 11 de

setembro, seguido da narração de Hanlon, um dos diretores.

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2.2. Ficha técnica do filme Torre gêmeas

Fonte  :  Imdb.com  

 

 

 

Gênero: Drama Direção: Oliver Stone Roteiro: Andrea Berloff Elenco: Aixa Maldonado, Alexa Gerasimovich, Andre Ward, Anthony Piccininni, Armando Riesco, Arthur J. Nascarella, Brad William Henke, Charles A. Gargano, Cliff Bemis, Connor Paolo, Danny Nucci, Dara Coleman, David H. Ahl, Donna Murphy, Dorothy Lyman, Ed Jewett, Frank Whaley, Gary Stretch, Greg Collins, Gregory Jbara, Howard Samuelsohn, Jay Acovone, Jay Hernandez, Joe Starr, John Kiernan, Jon Bernthal, Jordan Lage, Joseph Esposito, Jossara Jinaro, Jude Ciccolella, Julie Adams, Kevin Feely, Kimberly Scott, Kurt Caceres, Lalanya Masters, Lisa Yuen, Liz A. Randall, Lola Cook, Louis Raimondi, Lucia Brawley, Maggie Gyllenhaal, Marcos Palma, Maria Bello, Maria Helan, Mark Elliot Wilson, Martin Pfefferkorn, Michael Peña, Michael Shannon, Morgan Flynn, Ned Eisenberg, Nelson Peña, Nicholas Turturro, Nick Damici, Nicky Katt, Nicolas Cage, Patti D'Arbanville, Peter McRobbie, Razame de la Crackers, Robert Blanche, Roger R. Cross, Scott Fox, Stephen Dorff, Steve Chappell, Stoney Westmoreland, Tawny Cypress, Terry Quinn, Thom Prin Jr., Thomas F. Duffy, Thomas McHale, Tiffany Romano, Tom Wright, Tommy Asher, Tony Genaro, Tyree Michael Simpson, Victor Spadaro, Viola Davis, Wass Stevens, William Jimeno, William Mapother Produção: Debra Hill, Michael Shamberg, Moritz Borman, Stacey Sher Fotografia: Seamus McGarvey Trilha Sonora: Craig Armstrong Duração: 128 min. Ano: 2006 País: Estados Unidos Cor: Colorido Estreia: 29/09/2006 (Brasil) Estúdio: Double Feature Films / Intermedia Films / Kernos Film produktions gesellschaft & Company / Paramount Pictures Classificação: 12 anos

Sinopse:

O filme tem o roteiro baseadona vida de dois policiais policiais John McLoughlin (Nicolas Cage) e Will Jimeno (Michael Pena) na manhã dos atentados de 11 de setembro. Em serviço, os dois acabam soterrados sob os escombros. Além do drama da dupla, a expectativa dos familiares cujos parentes estão desaparecidos também é trabalhada, especialmente das esposas dos protagonistas, Donna McLoughlin (Maria Bello) e Allison Jimeno (Maggie Gyllenhaal).

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2.2.1. Filme Torres Gêmeas – Resumo

O filme começa com planos de Nicolas Cage se preparando para ir trabalhar.

Ainda é madrugada; ele toma banho, despede-se das crianças e da esposa. No

plano seguinte a cidade de Nova York, que tem seu despertar com seus habitantes

no que parece ser mais uma habitual manhã de verão. A construção dos planos são

montadas indutivamente, indicando que o primeiro avião se choca com a Torre Norte

do complexo, sem que nenhuma imagem mostre efetivamente a colisão. A equipe

de Mcloughlin responde ao chamado e vai até o complexo. Ao chegar lá, a equipe

toda consegue ter uma melhor ideia do tamanho da catástrofe (figura 20 e 21). Os

planos são feitos com técnicas, como as de câmera lenta para mostrar pessoas se

atirando do prédio em chamas, papeis voam por toda parte vindos da Torres, as

ruas estão repletas de pessoas ensanguentadas correndo sem direção.

FIGURA 20

FIGURA 21

Um novo grupo de policiais da equipe de John é formado; alguns do grupo se

voluntariam para auxiliar no resgate das vítimas e começam a juntar equipamentos

necessários. Ao correrem para a entrada do complexo, John avista parte do trem de

pouso do avião. A todo momento se ouve o barulho de corpos chocando-se com o

teto da marquise dos prédios.

Ao entrarem no shopping center do complexo, encontram outro policial que

lhes traz a notícia do ataque à Torre Norte e ao Pentágono. O sargento John

prossegue com sua equipe (figura 22). Em seguida, recebe um chamado pelo

radio, pedindo-lhe que saia do shopping e encontre o resto da equipe (figura 23),

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58  

 

pois a outra torre tinha problemas. A estrutura do prédio não resiste e começa a

desmoronar. O sargento, que havia passado por uma situação parecida no ataque

com o carro-bomba em 1993, então, pede para que todos corram para o vão do

elevador, pois esta é a parte mais forte do edifício.

FIGURA 22

FIGURA 23

O plano se fecha e abre novamente no escuro. Apenas é possível ouvir o

diálogo dos bombeiros, que começam uma contagem dizendo seus nomes em voz

alta. Os policiais vivos são Antônio Rodriguez Chris Amoroso, Dominick Pezzulo,

John (figura 24) e Jimeno. Dominick tenta ajudar os companheiros que estão presos

por ferros retorcidos nos escombros, quando ocorre um novo deslizamento. Ao

perceber que ficou preso e que colegas estão mortos ao seu redor, Pezzulo saca

sua pistola e pede ao sargento para descansar. Então, ouve-se o estampido de um

disparo, Jimino(figura 25) anuncia a morte do então companheiro que estava preso,

agonizando de dor.

FIGURA 24

FIGURA 25

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59  

 

A montagem dos planos seguintes relata a reação das pessoas nas variadas

partes do mundo, no momento em que a notícia era veiculada na mídia. Policiais de

estados vizinhos recebem a notícia através da mídia e reagem com reprovação ao

que aconteceu. A esposa de Jimino, que está grávida, tenta em vão receber notícias

de seu marido. A família recebe a notícia de que ele está desaparecido entre os

escombros, porém, vivo. No plano seguinte, o desespero dos policiais presos

aumenta quando canos com gás começam a pegar fogo. Uma pistola começa a

disparar com o calor.

O Presidente da República faz um pronunciamento pela televisão e diz que o

Exército está em alerta máximo e pronto para evitar um novo ataque. Um soldado da

Marinha americana resolve deslocar-se até Nova York para auxiliar nos resgates

(figura 26 e 27). Os planos começam a relatar o drama das famílias dos policiais e

seus dilemas referentes à possível volta deles para a casa.

FIGURA 26

FIGURA 27

Os dois policiais começam a se conhecer melhor enquanto tentam ajudar um

ao outro a manterem-se acordados. Com o uso de flashback, os policiais começam a

relatar parte de suas vidas. Após horas soterrados, eles começam a se culpar pela

morte dos companheiros, sofrem com novos deslizamentos e o medo de terem

perdido um ao outro. Nas cenas apenas uma luz de fundo compõe o plano para que

se possa ver a silhueta do rosto dos personagens. A cidade parece sitiada num

estado de destruição total. Pessoas começam a ajudar nos resgates.

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60  

 

FIGURA 28

FIGURA 29

As famílias aparecem (figuras 28 e 29) relembrando seus familiares em

momentos felizes. O soldado da Marinha começa a procurar por vítimas . Jimino tem

um sonho onde vê o Redentor de braços abertos, pronto para salvá-lo. O Redentor

se transforma na imagem do soldado. Jimino acorda e começa a bater com um ferro.

As famílias recebem a notícia de que seus entes estão vivos.

O resgate começa. Jimino está 7 metros abaixo deles, e John, a 11 metros.

Ao ser resgatado primeiro, Jimino nega-se a sair sem o amigo, avisa que John está

quase sem forças e pede para cortarem a perna dele para poderem passar e

resgatar John. Ao sair, Jimino, confuso, olha ao redor, pergunta para onde foram as

Torres (figura 30). Os dois são resgatados com sucesso, John é ovacionado ao sair

dos escombros, ambos reencontram suas famílias e passam por muitas dificuldades

juntos. No hospital, Jimino passa por várias cirurgias nas pernas, e John, por

cirurgias no corpo.

FIGURA 30

 

 

 

FIGURA 31

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61    

Os planos mostram a cidade vazia (figura 31), trens e metrôs vazios, paredes

com fotos das vítimas e pessoas desaparecidas. Dois anos depois , uma

comemoração reúne bombeiros, soldados e policiais, que são convidados para uma

cerimônia em homenagem às vítimas do ataque( figura 32). John caminha com a

ajuda de uma muleta e Jimino, mancando muito, segue-o. O último plano relata os

números da tragédia.

 

FIGURA 32

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62  

   

 

2.2.2. O evento 11 de Setembro de 2001 no filme Torres Gêmeas

Dirigido por Oliver Stone (2006), o filme Torres Gêmeas torna-se a primeira

produção cinematográfica hollywoodiana a tratar do colapso das Torres Gêmeas. No

filme, Oliver Stone constrói uma narrativa que deliberadamente ou não caminha para

um universo melodramático (XAVIER: 2003) que comove o espectador. Assim, sua

narrativa é frequentemente estruturada de modo a explorar algumas características

da sociedade americana. A cultura fílmica americana está de certa forma

acostumada com o papel do herói, salvador da pátria e representante do povo, como

no caso do personagem que representa um fuzileiro naval ou até o policial John

Mcloughlin (protagonizado por Nicolas Cage). Porém, essa narrativa com requintes

de “suspense realista” nos envolve com o sentimento de luto ainda fresco na

memória da sociedade americana.

Segundo Freud (2011), o luto, de uma maneira geral, é a reação à perda de

um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente

querido, como o país, a liberdade ou o ideal de alguém, e assim por diante.

E segue dizendo que “o luto normal é um processo longo e doloroso, que

acaba por resolver-se por si só, quando o enlutado encontra objetos de substituição

para o que foi perdido” (FREUD, 2011, p. 47).

Freud ainda indica que para a pessoa se libertar do luto faz-se necessário ter

a prova da realidade. Assim, a pessoa nesta fase conseguirá se desconectar e

canalizar a libido para outro objeto. Em vista dessas observações, talvez possamos

pensar que parte da narrativa fílmica aqui estudada tenha sido construída de forma a

encontrar este novo objeto e aliviar essa tensão pós-traumática, propondo um novo

amanhã para a já tão ”sofrida sociedade” com um nítido e bem estruturado herói-

mocinho americano na figura do bombeiro que sobrevive a enormes percalços num

processo de resgate e identificação com um público já acostumado a ver nas telas o

retrato de sua nação, que tem seu discurso banhado no patriotismo e necessidade

de superar-se, buscando aí objetos de substituição para o que foi perdido.

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No entanto ao observar sua reprodução na tela, sentimos a necessidade de

olhar ao redor de nosso objeto de estudo, procurando contextualizá-lo no tempo,

para melhor compreender suas representações. O filme entra oficialmente nos

circuitos de exibição cinco anos após os eventos terroristas, trazendo de volta

aqueles fatos na primeira “grande ficção” em torno dos eventos ligados ao que

alguns chegaram a considerar tão traumático que nunca poderiam ser encenados na

indústria do entretenimento. Ao fazê-lo, Stone recria tudo aquilo que foi

exaustivamente visto em escala mundial (inclusive imagens reais são apresentadas

em um dos planos do filme numa sequência curiosa filmada e exposta em forma de

arquivo).

O filme de Oliver Stone é feito no que podemos chamar de “calor do

momento” e apresenta um testemunho singular do evento. Através de suas lentes o

diretor cria sua versão das experiências do 11 de setembro para o cinema, utilizando

do olhar dos personagens do filme. Coube a Stone encontrar uma narrativa sobre

tudo aquilo que acompanhamos em tempo real. A ideia não é mostrar o que já havia

sido evidenciado pela mídia como o choque dos aviões e o colapso das Torres.

Trata-se de um representação das experiências vividas pelas pessoas que assistiam

ao que se passava, ou seja experimentar justamente a vida daqueles que viam

menos, porque estavam presente no momento. Esta experiência pode funcionar

como prova de necessidade da realidade citada por Freud, para superação do luto.

Por que buscar, porém, esta necessidade por experiências representadas no

cinema? O historiador Marc Ferro (1992) define o cinema como testemunho singular

de seu tempo, pois está fora do controle de qualquer instância. Para Ferro, a

possibilidade do historiador buscar o que existe de não–visível no filme é a maior

contribuição na analise da investigação histórica. Ferro vai além, indicando que

imagem cinematográfica supera a ideia de ser apenas uma ilustração, e reafirma

não ser somente confirmação ou negação da informação contida no documento

escrito. Sendo assim, o filme trata de uma outra história, o que Ferro chama em sua

obra de contra-história, que possibilita uma contra análise da sociedade contrária às

leituras oficiais.

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64  

   

 

Comenta o autor:

[o cinema] destrói a imagem do duplo que cada instituição, cada indivíduo se tinha constituído diante da sociedade. A câmara revela o funcionamento real daquela, diz mais sobre cada um do que queria mostrar. Ela descobre o segredo, ela ilude os feiticeiros, tira as máscaras, mostra o inverso de uma sociedade, seus “lapsus”. É mais do que preciso para que, após a hora do desprezo venha a da desconfiança, a do temor [...]. A idéia de que um gesto poderia ser uma frase, esse olhar, um longo discurso é totalmente insuportável: significaria que a imagem, as imagens [...] constituem a matéria de uma outra história que não a História, uma contra-análise da sociedade (FERRO, 1992, p.202-203).

Ao discorrer sobre o fato de um filme ser um agente da história e não só um

produto, Ferro demonstra como os filmes podem servir de doutrinação e/ ou

glorificação, criando também um desmascaramento para uma realidade política ou

social.

Apoiados nesta concepção podemos observar que o filme Torres Gêmeas

realiza um paralelo de ficção e “realidade” que tenta retratar a vida cotidiana do

americano, como a luta diária de vida enfrentada pelos nova-iorquinos, o amanhecer

do dia, seus afazeres ante sua longa jornada diária. Num possível processo de

reconhecimento ou identificação de seu público, Stone sugere a ideia que não é

mais possível existir uma rotina resgatada, em planos feitos com ruas, trens e

estações vazias. O filme se esforça para basear-se na verdade, feito a partir de

relatos de sobreviventes, verdades que possuem a visão que eles tinham.

Dois policiais constroem a narrativa estrutural do filme, dois personagens que

são protagonizados como “heróis americanos”. Porém, esses dois heróis também

revelam sua grande incapacidade de agir e salvarem vidas, destoando dos heróis

clássicos do melodrama. Isto se evidencia não apenas no momento em que ficam

soterrados, mas também no momento em que chegam às Torres e não conseguem

agir, por diversos fatores, principalmente pela falta de informação sobre o que

ocorria.

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65  

   

 

Essa construção da narrativa nos faz refletir novamente sobre a ótica das

pessoas que estavam lá no “olho do furacão”, diferentemente das dezenas de

milhares espalhadas pelo mundo, que possuíam mais informação que qualquer

outra pessoa que estivesse no evento, e essa pode ser a resposta para uma

possível necessidade de busca da representação no cinema. Uma identificação do

público como prova de uma realidade da perda ocorrida como indicado por Freud

(2011).

Ainda apoiado nas teorias de Ferro (1992), a reconstituição das imagens

feitas no filme de Stone precisam ser abordadas como objeto de estudo, atribuindo

validade ao produto por aquilo que testemunhou. Assim, percebemos uma narrativa

claustrofóbica, a angústia torna-se parte determinante da sensação do espectador,

que se vê preso junto ao “mocinho”, em planos realizados na escuridão total, onde

apenas se ouve a voz dos interpretes. Nota-se que a construção é feita para que

cada timbre de voz provoque uma reação emocional no espectador, que torce para

que o personagem domine a situação. Como relata Vanoye (1989), “Uma análise

mais apurada mostraria que na realidade, a palavra pronunciada no momento de

angústia no cinema pode acarretar um efeito de maior impacto do que imagens reais

da tragédia.”

Ao acompanharmos os planos podemos verificar que o autor cria uma

atmosfera de superação e desfecho vitorioso sobre as circunstâncias em que se

encontravam os personagens, possibilitando a busca de algo não visível na história,

uma vitória em meio uma tragédia. Essa possibilidade não visível na história escrita,

só e possível pelo testemunho singular retratado no cinema. Voltando as ideias de

Ferro(1992) ao observar o filme de Oliver Stone percebemos que este trata de

outra história, da vitória de um homem que representa sua nação.

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Ao abordar a veracidade dos fatos, o diretor deixa claro o papel da mídia na

sociedade com imagens de arquivo de vários países, relatando o ataque. Fotografias

das vitimas são repetidamente expostas nos planos.

Segundo Andre Gaudreault, (2009, p.09)

Quando se entra numa sala de cinema após o início do filme, nada permite dizer se a cena projetada na tela e uma volta no tempo ou se, ao contrario, se situa na continuidade cronológica dos eventos narrados.

Se a fotografia parece mostrar algo que já aconteceu, um ter-estado-lá, o

cinema nos traz a impressão de estar vivo.

Stone explora a dor, o sofrimento, a revolta e a tentativa de humanizar os

personagens. Isto se torna evidente na construção do personagem “herói” de seu

filme. Uma figura no mínimo estranha, o personagem de um ex-fuzileiro naval, que

vai ao encontro das Torres e descobre os dois bombeiros soterrados. A composição

desse personagem chama a atenção no enredo do filme, um ex-soldado, que vai à

igreja e pressente um “chamado”. Volta a vestir o uniforme e desloca-se para Nova

York. Quando visto por um dos policiais, momentos antes de serem resgatados, sua

imagem é a de “Jesus, o salvador”, porém o ponto mais marcante gira em torno de

sua fala (em que diz que vai “vingar aquilo tudo”). Esse parece ser o mais próximo

que Stone chega de uma mensagem política ligada ao papel do “herói americano”.

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2.3. Visão geral dos filmes De uma maneira geral, o filme de Oliver Stone (2006) e o documentário dos

irmãos Naudet (2002) não partem do mesmo princípio, da concepção de imagens

geradas no ataque de 11 de setembro, visto que o primeiro leva ao cinema de forma

ficcional, uma história verídica, já o segundo, um documentário, não tinha por

objetivo o atentado terrorista que, pelas circunstâncias da própria filmagem e dos

ataques, acaba se convertendo também em importante foco do filme. Assim, o que

une os dois filmes é o atentado terrorista, justapondo as reações das pessoas que

de alguma forma tiveram suas vidas representadas pelas da câmera, em especial,

nos dois filmes, os bombeiros de Nova York.

Sabemos que a presença da câmera altera a realidade proposta pela cena no

documentário como já indicado por Fernão Pessoa Ramos (2008). Sendo assim, é

possível observar que 9/11, segundo a denominação de Bill Nichols (2005) é um

documentário de modo participativo, marcado pela presença em cena dos

documentaristas e sua equipe. Dessa forma, os diretores tornam-se sujeitos ativos

no processo de construção da imagem, aparecendo em conversas com a equipe e

provocando os entrevistados para que falem.

As asserções feitas no documentário são feitas através de diálogos,

depoimentos e entrevista, indicando que seus principais idealizadores também

compõem um quadro de pessoas que experienciaram os atentados. A experiência

vivida pela dupla nos faz recordar depoimentos já vistos nos artigos de jornais aqui

analisados.

O documentário dos irmãos Naudet ganha notoriedade seis meses

depois dos ataques. Em 10 de Março de 2002 ele é transmitido pela a rede de

televisão CBS.

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68  

   

 

Tudo começa em 11 de Setembro de 2001. O cineasta James Hanlon e Jules

e Gedeon Naudet estavam filmando um documentário sobre um bombeiro nova-

iorquino novato, quando notaram um avião que sobrevoava a ilha de Manhattan em

rota de colisão com a torre norte do World Trade Center. Eles dirigem-se

imediatamente para o local. James Hanlon e os Naudets filmaram todo o ataque de

11 de setembro e seus dias subsequentes.

Esse foi o único documentário feito com imagens dentro das Torres Gêmeas,

e o primeiro a divulgar a imagem do voo 11 da American Airlines, realizando o

primeiro ataque. O documentário obteve a maior audiência registrada na televisão

americana, com 39 milhões de espectadores. Em 11 de Setembro de 2002, um ano

após os atentados, estreou nos países europeus.

Ao observamos as experiências retratadas no documentário 9/11, sabemos

que estamos trabalhando com ferramentas analíticas que possuem por trás de si

uma realidade histórica. As vozes ali presentes, em sua grande maioria, respondem

à presença da câmera com plena consciência de sua existência. Esse fato, porém,

não diminui as emoções transmitidas ao espectador quando comparado ao choque

imediato causado pelo evento. Em outras palavras, a reação das pessoas é de

perplexidade, ficam atônitas sem acreditar no que veem. Não podemos deixar de

acompanhar seu movimento ocular sem notar o impacto causado pela incredulidade

do que presenciam.

O documentário 9/11 traz em seu bojo diversos diálogos de pessoas nas ruas

tentando descrever o que viam. Muitos diziam sentir-se no cenário de um filme,

alterando sua consciência sobre percepção espaço-tempo, levando o espectador a

acreditar que aquilo não parecia ser real.

Essas reações ficam também em evidência ao observamos o filme Torres

Gêmeas, cujo autor, ao contrário dos irmãos Naudet, não realiza planos da torres

nem em chamas nem em seu colapso. Quando os policiais chegam ao complexo já

parcialmente destruído, o que se vê são apenas os olhares vítreos dos policiais ao

constatarem o desastre.

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Torres Gêmeas, de Oliver Stone (2006), indicado onze vezes para premiação

do Oscar e ganhador de três (duas vezes por melhor Diretor em “Platoon”(1986) e

“Nascido em 4 de julho”(1989), e melhor roteiro adaptado em “O expresso da meia

noite”(1978)) tem como protagonista o ator Nicolas Cage, que interpreta a história

verídica de John Mcloughlin, um dos vinte sobreviventes do atentando ao World

Trade Center. Mcloughlin era sargento da polícia portuária de Nova Iorque e

respondeu ao chamado do ataque terrorista nas Torres Gêmeas. O sargento foi

soterrado pelos escombros das torres no momento do colapso junto com seu

companheiro de trabalho Will Jimeno. Ambos foram resgatados minutos após as 7

horas da manhã do dia 12 de setembro de 2001.

Ao contrário de muitos de seus filmes de forte conteúdo político, neste filme

Stone foge à regra assim como optou por não incluir as imagens dos aviões

atingindo os edifícios, as Torres em colapso, ou outras demasiado exploradas pelas

mídias como as cenas do fatídico dia. Certamente esse tipo de material não teria

beneficiado a história, e Stone, a seu crédito, consegue mostrar o alcance da

devastação focando apenas um aspecto específico e que teve, em meio a todo o

caos e destruição, um final feliz.

O filme de Stone não é apenas a história dos dois homens presos nas ruínas

das Torres, mas também a história de suas esposas e famílias. Assim, o filme é

obrigado a dedicar tempo longe da operação de resgate dos personagens de Jimeno

e Mcloughlin, o que possibilita mais uma observação no que se refere às

experiências vividas pelas pessoas, que não estavam no epicentro do desastre, mas

que tiveram suas vidas afetadas por ele.

Obviamente, no filme o privilégio é das reações das pessoas ao ataque,

visando fazer do espetáculo, em lugar de reflexão, como se dá o controle dos

sentimentos do espectador, a manipulação discursiva dos elementos, como os

pontos a privilegiar nos enquadramentos, a fotografia, visando a um pretenso

realismo. Demonstra, também, traços de autoralidade nos planos, como no momento

em que se pode observar pedaços das aeronaves espalhados pelas ruas próximas

dos prédios.

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No melodrama de Stone, percebe-se que há um pano de fundo da

narrativa, onde podemos detectar as relações familiares e os conflitos entre pais e

filhos.

Torna-se interessante analisar que Stone se utiliza da estrutura clássica do

melodrama para contar sua história, onde a resolução do drama ocorre em meio à

quase destruição do “mundo” e reforça no espectador o sentimento de que, ao se

redimir perante sua família, o protagonista redime o mundo de seus erros com o

país. Assim, o protagonista (Nicolas Cage) carrega consigo as culpas pessoais e

coletivas simultaneamente e se sente responsável pela morte de sua equipe, e pelo

nada favorável relacionamento que possui com seu filho.

Ao filmar Torres Gêmeas, o mais próximo que Stone chega da visão política

sobre o sentimento de patriotismo e o desejo de uma reação concretiza-se no papel

do “herói americano” tão conhecido por Hollywood, interpretado por um fuzileiro

naval, personagem que aparece como redentor, talvez reconectando a identidade

americana ao seu povo.

Apesar de possuírem gêneros distintos , os filmes retratam de ângulo muito

próximo o 11 de setembro quando se refere as experiências do ataque, gerando

pontos de convergência que nos fazem acreditar que um tenho influenciado o outro.

Por esta proximidade no enredo de ambos, cabe aqui observar seu ponto de

convergência.

 

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2.3.1. Pontos de convergências entre os filmes.

Os dois filmes trabalham com a figura de personagens heroicos, que

representam justiça e autoridade, um é bombeiro (9/11) outro é policial (Torres

Gêmeas).

Os planos iniciais são abertos com panorâmicas da cidade (para melhor situar

o telespectador).

Ambos possuem planos iniciais que recriam o cotidiano do americano, casa,

família, trabalho, relação com a cidade.

O documentário, assim como o filme, discutem dramas pessoais, o

documentário narra um reencontro de dois irmãos separados pelo atentado, o filme

narra o drama pessoal de um policial e a relação com sua família.

Ambos incluem imagens geradas por arquivos (canais de televisão), e o

discurso do presidente a nação.

Ambos espoem as reações de transeuntes frente aos ataques.

O caos na cidade torna-se o ponto alto dos dois filmes, tendo seus

acontecimentos girando entorno disto.

As ruas das cidades servem de cenário em uma comparação de um antes (

cheias de pessoas) e um depois( ruas vazias e sujas).

A comoção da população no sentido de prestar socorro as vitimas.

Autoridades locais( policiais e bombeiros ) são enaltecidas pela bravura e

homenageados.

Fazem uso do recurso de áudio para dramatizar as cenas, no sentido de

envolver e comover o telespectador.

Os pontos de convergência aqui citados, nos leva a crer que a construção

narrativa do filme (Torres Gêmeas) obteve inspiração no documentário, visto que

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este chegou as telas 4 anos antes do filme. Oliver Stone (2006) cria uma atmosfera

muito parecida com a do documentário, porem Stone representa uma determinada

visão dos ataques com a qual talvez nunca tenhamos nos deparado antes, mesmo

que os aspectos nela representados nos sejam familiares. Oliver Stone em sua obra

permite que as pessoas se lembrem do amor das pessoas que perderam, as que

continuam conosco para sempre, e a experiência vivida pela comunidade, e a

poderosa união resultante disto.

A ficção de Stone ultrapassa o campo do documentário e vai além, evitando

uma interpretação simplista da fé, ao invés disso mostrando a religião em toda a

sua complexidade, Stone tenta conduzir o espectador tanto para ações heroicas de

amor como para justificar a necessidade de vingança. Perto do fim do filme, com um

colocado suavemente, quase um jogar fora de linha, Karnes ( ator que interpreta o

fuzileiro naval) diz baixinho com fervor religioso, "Vai ter um monte de bons homens

para vingar a isso."

2.4. A influência da indústria Hollywoodiana sob as vozes do 11 de setembro.

 

É impossível realizar um estudo referente às representações do atentando

terrorista do 11 de setembro sem ressaltar o papel desempenhado pela indústria

cinematográfica em Hollywood, no que refere a sua dinâmica, mercado e política de

distribuição. Desde seu estabelecimento no mercado cinematográfico e a partir da

primeira metade do século XX, os filmes americanos tiveram grande projeção

internacional criando uma distribuição em escala global que culminou com a

dominação das telas globais. Hollywood sempre olhou para fora do mercado

nacional para expandir sua indústria e aumentar o lucro de seus produtos.

Com a chegada de novas tecnologias, a mídia tem a possibilidade da

comercializar seus produtos de maneira global. Hollywood então cria uma série de

segmentos a serem comercializados fora de seu território, como, por exemplo, a

abertura de canais de televisão a cabo, como CNN (Cable News Network), canal

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exclusivo para notícias, que fica 24 horas no ar, ou com canais alternativos de

música e variedades como MTV (Music Television). Com a venda de programas

shows e filmes, Hollywood abre uma segunda linha de venda de seus produtos e

com isso todos os itens agregados a suas marcas. Outro bom exemplo é a criação

de parques temáticos, que levam o nome das grandes produtoras de Hollywood,

como Walt Disney e Universal Pictures.

Segundo Janet Wasko (MELEIRO. 2007), pesquisadora de cinema, o relatório

do grupo ABN AMRO Bank revela que os estúdios americanos controlam 75% do

mercado de distribuição fora dos Estado Unidos. Fundada em 1922, a Motion

Picture Association of America ( MPAA), associação que representa os seis maiores

estúdios de cinema em Hollywood (The Walt Disney Studios, Sony Pictures,

Paramount Pictures, 20th Century Fox, Universal Studios e Warner Bros.) fornece

dados em seu site oficial de que filmes americanos são exibidos em mais de 150

países e que geraram em 2011 uma receita de US$32.6 bilhões de dólares em

bilheteria.

Como podemos perceber, Hollywood possui um amplo mercado mundial.

Embora esta clara supremacia exista, sua explicação é simples, pois envolve

fatores complexos como política, economia, cultura e história (MELEIRO.2007).

Talvez a possibilidade de recriar as cenas do atentado terrorista de 11 de

setembro por Stone (2006) e os irmãos Naudet (2002) tenha sido influenciado pelo

poder do mercado americano e sua distribuição. Tendo em vista que esses primeiros

filmes também serviriam como resposta ao ocorrido. O mercado de filmes em

Hollywood sofre uma grande intervenção do governo após os atentados, como se

pode verificar no jornal Folha de São Paulo, publicado em 13 de Setembro de 2001.

Vejamos:

O efeito das tragédias ocorridas anteontem na Costa Leste dos EUA

chegou ontem ao outro extremo do país, quando estúdios de

Hollywood foram forçados a adiar a estreia de duas superproduções

contendo explosões ou terroristas, incluindo o novo filme estrelado

por Arnold Schwarzenegger. Executivos das maiores redes tiveram

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de alterar suas grades de programação. A NCB, por exemplo, decidiu

adiar as estreias previstas para a temporada de outono (primavera

no Brasil). Isso para abrir espaço para a cobertura jornalística das

consequências dos ataques terroristas, que podem ter causado

dezenas de milhares de mortes. Em seu novo filme Schwarzeneger

desempenha o papel de um bombeiro que vê sua mulher e seu filho

morrerem num atentado a bomba a um imóvel (Folha de São Paulo.

2001,p esp13).

Visto isto, não é de se negar que o conglomerado da indústria cinematografia

hollywoodiana também foi influenciado negativa ou positivamente pelos eventos

terroristas, havendo assim sinais visíveis de um exame de consciência no cinema

americano. Para se ter uma ideia disto, citamos aqui a cronologia estabelecida por

Philip Kemp em seu livro sobre os principais acontecimentos da indústria

hollywoodiana:

2001, terroristas atacam o World Trade Center e o pentágono no dia

11 de setembro. As Torres Gêmeas são retiradas dos cartazes de

Homem-Aranha (2002), Wood Allen faz sua primeira aparição em

uma cerimônia de entrega do Oscar, em sinal de união após o 11 de

setembro de 2003 tem início a Operação liberdade do Iraque, quando

os Estados Unidos e as forças aliadas invadem o Iraque, Casa de

areia e névoa (2003) se torna o primeiro filme a lidar com as

diferenças sob a luz do 11 de setembro, M. Night Shyamalan chama

os Estados Unidos de comunidade protegida no drama histórico A

vila (2004), Michael Moore lança seu mordaz estudo sobre a guerra

ao terror na gestão do presidente George W. Bush em Fahrenheit

9/11 (2006), Oliver Stone lança o primeiro filme a tratar diretamente

do 11 de setembro em Torres Gêmeas ( KEMP, 2011 p.550 - 551).

Como pudemos perceber, até mesmo pela ausência das imagens da Torres

Gêmeas nesse filme, certamente houve intervenção na indústria cinematográfica no

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75  

   

 

sentido de censurar certas imagens, a primeira delas o próprio complexo do WTC,

em alguns filmes

O caminho traçado pelo presidente dos Estado Unidos refletiu na indústria

cinematográfica. George W. Bush e seu governo votaram uma lei denominada “Ato

de unir e fortalecer os Estados Unidos por providenciar ferramentas apropriadas

necessárias para interceptar e obstruir o terrorismo” mais conhecida como “Guerra

ao Terror”. 1

A Guerra ao Terror teve como intuito juntar os fragmentos da tragédia

americana. O vazio de significados causado pela estupefação, pelo espanto, pelo

assombro do inesperado ato precisava ser preenchido por um discurso de

nacionalismo, de americanidade, de pátria ofendida, que mostrasse ao mundo o

desejo de retaliação, de vingança, numa demonstração de superação. Como indica

Marinho (2006) o caminho da nação, porém, é fustigado por fantasmas que se

interpunham entre o povo e seu destino. Vejamos:

No entanto, à medida que as décadas decorriam, deflagravam-se inimigos que ameaçavam esse grande ideal travestido pela veste da liberdade, que, como um surto de esquizofrenia paranoide, insistia em retornar a todo tempo, assumindo, a cada retorno, uma máscara diferente, tais quais os múltiplos disfarces de Satanás que tanto assolam os Estados Unidos; foram os alemães, a ciência, a teoria evolucionista, os comunistas, o modernismo, as inovações tecnológicas, o processo de urbanização e todos seus valores seculares. O antídoto era caçar as bruxas, os negros, os imigrantes, fossem esses católicos ou não, os comunistas e qualquer outro grupo estranho ao espelho narcíseo — no momento atual, os terroristas. (MARINHO, 2006, p.46)

Isto poderia ser resgatado de alguma forma por Hollywood, porém ao

construir um personagem heroico, que sofre, passa por dificuldades familiares e

sobrevive ao impossível, narrados pelo melodrama no cinema, a população

americana mostra uma recepção morna à ideia.

                                                                                                               1    Uniting and Strengthening America by Providing Appropriate Tools Required to Intercept and Obstruct Terrorism Act of 2001- USA Patriot act 2001

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Os dois únicos filmes de ficção que tratam diretamente dos atentados,

segundo pesquisa levantada pelo site da British Broadcasting Corporation (BBC),

Torres Gêmeas (2006), de Oliver Stone e Vôo United 93 (2006), de Paul

Greengrass, tiveram bilheterias consideradas medianas para os padrões

americanos, US$70,236,496 e US$31,471,430 respectivamente. Estes foram os dois

primeiros filmes a chegarem as telas de cinema com um roteiro diretamente ligado

ao atentado de 11 de setembro.

É interessante observar a ausência de público nas salas de cinema para

assistir a filmes sobre o 11 de setembro, o site da BBC revela que no mesmo mês de

julho de 2006, o filme Piratas do Caribe O Baú da Morte, estrelado por Johnny

Depp, arrecadou nos Estados unidos um total de US$ 258,2 milhões, batendo

recorde de bilheteria. Esta observação nos permite avaliar a receptividade do filme

através das bilheterias.

O mercado doméstico de cinema dos Estados Unidos é o maior do mundo, e

70% dos filmes em exibição no circuito mundial derivam deste mercado (MELEIRO.

2007). Mas talvez por pudor, desinteresse, intervenções políticas ou por ter um

memória ainda muito viva sobre os ataques, a população de alguma maneira evitou

essa ida ao cinema.

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, algumas considerações podem ser apresentadas.

Primeiramente podemos notar que os relatos aqui levantados sob o ponto de

vista das diferentes narrativas: depoimento pessoal, mídia impressa e

cinematográfica, conduziram-nos por um caminho reflexivo, montando ou

reconstruindo a história através de experiência vividas no 11 de setembro. Essas

experiências chamam a atenção para a observação de como as diferentes narrativas

se aproximam.

O exemplo da mídia impressa aqui observada, apesar de constituir uma

pequena partícula dentro da complexidade do assunto, segue esta logica: a

construção dos fatos através das vozes é pro-ciente, ou seja as razões pelas quais

ocorrem os ataques não são levadas em conta e sim apenas as reações da vítimas

e sua incredulidade perante o ato. Comparações feitas com outros conflitos

estiveram presentes assim como comparações com cenas já propostas pelo cinema.

A principal referia-se ao ataque executado pelos japoneses em 1941 em Pearl

Harbor. O posicionamento de vítima da situação e guerra contra o terror.

Todavia, ainda falta observar como essas narrativas chegam ao cinema e

retratam algo até então inconcebível por Hollywood, visto a proximidade e frescor

dos fatos, ou seja, como o cinema iria contar esta história e relatar sua experiência.

Essa narrativas apresentadas em forma documental e ficcional, caminham

juntas no sentido da reconstrução da memória popular. Os relatos, entrevistas e

imagens geradas pelos filmes expõem a fragilidade americana, mas também um

processo de reorganização de identidade. Os planos expostos são ligados uns aos

outros de forma a expor através do cinema uma nova história sobre o 11 de

Setembro, não com um final feliz, mas como uma oportunidade de devolver aquilo

que foi perdido.

Para se compreender a complexidade deste evento fez aqui o uso de

observações a mídia impressa e um relato pessoal. Desta forma, fez-se necessária

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78  

   

 

também uma observação cinematográfica para podermos desvendar aquilo que fica

oculto para o espectador comum.

De há muito o cinema deixou de ser apenas divertimento. Como meio de

comunicação de massa, passou a denunciar mazelas de todos os tipos, levando ao

conhecimento do povo tragédias, farsas, dos mais variados modelos. Por uma razão

ou por outra, a indústria cinematográfica, que sempre remete o pensamento para

Hollywood, que engloba grandes conglomerados de mídia, e detém maior parte do

entretenimento audiovisual no mundo. Muitas vezes recorrendo a inspiração

artística, outras recorrendo a influencia midiática e comunicacional, o cinema procura

tornar suas ideologias mais vivas e atraentes.

Observar o 11 de setembro na tela nos faz crer que o cinema não só é uma

arte como também um meio de comunicação. As experiências que vivenciei, levou-

nos a escolha dos filmes e artigos, possibilitando assim uma melhor compreensão

dos fatos para melhor compreender como o 11 de setembro foi representado. Os

filmes observados não são apenas as historias de pessoas presas em ruinas, mas

também a historia de suas famílias e amigos, que de alguma forma vivenciaram isso.

Nas representações do 11 de setembro no cinema percebe-se que sua

reconstrução é uma arte complexa que intenta levar uma mensagem ideológica ao

espectador. Talvez de vitimização, união, superação ou força. É na cabeça do

espectador que se aglutinam os elementos representativos que chegam até ele

separados. Assim, há uma intenção por parte do artista. Havendo uma intenção, há

uma escolha. Se há uma escolha, há uma ideologia.

Essa narrativa impregnada de ideologia se expressa por meio de uma

linguagem, no caso, uma linguagem cinematográfica, isto é, o conjunto das

modalidades de língua e de estilo que caracterizam o discurso cinematográfico.

Por meio dos filmes, observados nesta dissertação é possível representar o

mundo exterior, criar climas favoráveis à expressão de diferentes dimensões do ser

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humano, com o intuito de instigar processos transformadores capazes de produzir

mudanças de atitudes, valores e novas pautas sociais.

Pela cultura da mídia, pode-se dizer que se a história inspira o cinema,

também se pode afirmar que o cinema e a ficção também pautam a sociedade

manifestando-se no comportamento e atitudes das pessoas.

A despeito disso, o 11 de setembro deve ser observado, desmembrado e

melhor entendido. Portanto, a observação de algumas de suas vozes e

representações aliado à compreensão do momento histórico permitem alargar nosso

entendimento sobre esse fato emblemático.

As experiências do 11 de Setembro compõem uma história edificante, apesar

de seu cenário de devastação. É uma homenagem, finalmente, para o bem da

humanidade, o heroísmo do espírito humano, e o triunfo do poder do amor em meio

à fragilidade da vida.

O 11 de setembro aconteceu, e vai estar em nossas mentes para sempre.

Mas igualmente importante é a história do 21 de Setembro, o dia em toquei o solo

americano, e pude presenciar os terríveis atos de violência, os corações cheios de

coragem e compaixão, pessoas buscando resgatar os sobreviventes e, em última

análise, encontrar os restos mortais do mortos

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