O adolescente e a Pós-Modernidade - análise do filme As Melhores coisas do mundo

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Faculdade Teológica Batista de São Paulo Ana Rita Edmilson Gideon Iara Delphino Manuel Ramires Solange Waina F. Miranda A família brasileira na pós Pós-Modernidade: Os enfrentamentos da adolescência Trabalho apresentado em cumprimento às exigências da disciplina ..... do curso de Pós- graduação Aperfeiçoamento em Aconselhamento. Profª Patrícia Pazinato

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Faculdade Teológica Batista de São Paulo

Ana Rita

Edmilson

Gideon

Iara Delphino

Manuel Ramires

Solange

Waina F. Miranda

A família brasileira na pós Pós-Modernidade: Os enfrentamentos da adolescência

Trabalho apresentado em cumprimento às exigências da disciplina ..... do curso de Pós-graduação Aperfeiçoamento em Aconselhamento.

Profª Patrícia Pazinato

São PauloJunho/2010

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Introdução

O mundo passa por grandes transformações, inclusive na área da família, com

suas dificuldades, inconstância dos vínculos, insegurança, desamparo, fragmentação,

crise de confiabilidade relacional, instabilidade, e outros. O amor tem se tornado num

sentimento que dura enquanto durar a parceria, numa pontualidade afetiva

impressionante, sem compromisso algum.

Como entender as demandas na família, especialmente na adolescência, é um

dos grandes desafios nos tempos pós e hiper modernos, não só para pais e educadores,

como também para os conselheiros, que tem a sua frente um universo muito grande de

problemática, de jovens que nos procuram para descarregar sua carga afetiva,

demandando transformação.

Assim sendo, este trabalho visa analisar a adolescência tomando-se por base o

filme “As Melhores Coisas do Mundo”, que mostra como é difícil ser adolescente, com

todas as dúvidas, medos e o desejo de ser aceito na turma, e ainda, a idéia subjacente de

que quando se é adolescente, ainda não se é ninguém.

Erickson (1976) conceituou a adolescência como uma fase especial no processo

de desenvolvimento, na qual a confusão de papéis, as dificuldades para estabelecer uma

identidade própria a marcavam como um modo de vida entre a infância e a vida adulta"

A segunda parte do trabalho procura enfocar o atendimento a esses adolescentes

de maneira criativa e eficiente...

I – Análise do filme “As Melhores Coisas do Mundo”.

Dirigido por Laís Bodanzky. Com: Francisco Miguez, Fiuk, Gabriela Rocha, Zé Carlos Machado, Denise Fraga, Paulo Vilhena, Caio Blat, Gustavo Machado, Gabriel Illanes.

“Não é impossível ser feliz depois que a gente cresce. Só fica mais complicado”.

Esta frase de Mano resume bem o espírito do filme  As Melhores Coisas do Mundo.

A temática do filme centra-se no universo que cerca a vida de um grupo de

adolescentes parecidos com gente de verdade, com seus conflitos e dilemas típicos

desse ciclo da vida. O cenário principal é um colégio de nível médio na cidade de São

Paulo.

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O personagem principal é o Hermano, apelidado de Mano, um adolescente de 15

anos, ainda cheio de espinhas, sensível, que só quer ser feliz, entender o mundo ao seu

redor, tocar guitarra, pedalar sua bike, ser aceito pela turma e correspondido em sua

paixão. Mano é um garoto comum, irmão mais novo de Pedro, filhos de uma família de

classe média paulistana. Tem aulas de violão, vai a festinhas, ainda se diverte vendo

sites pornôs, tem diversos amigos e se diverte com eles.

Nesta fase das descobertas, de dúvidas eternas e questões que parecem insolúveis,

quando tudo é mais intenso e complicado, Mano enfrenta todos os problemas e conflitos

que costumam vir com a adolescência: a cobrança dos amigos para perder a virgindade,

o relacionamento em casa, a descoberta da sexualidade, inseguranças, anseios,

frustrações e angústias, etc.

Confuso com relação a sua iniciação sexual, tomando atitudes com a intenção de

aceitação de seus amigos, como quando vai se relacionar com uma prostituta tem uma

tendência grupal e ao mesmo tempo esta em busca de sua própria identidade. Não

consegue ultrapassar seus princípios a fim de se relacionar com a prostituta. Aceita o

conselho do irmão que salienta uma satisfação sexual maior quando feita com quem se

ama, já que possui um alvo de desejo. Empenha-se neste amor e acaba por conseguir o

que pensou ser de grande importância, mas se frustra ao perceber a indiferença do ser

amado.

Um acontecimento na família faz com que seu mundo vire de cabeça para baixo e

ele percebe que tornar-se adulto nem sempre é tarefa fácil. Seus pais se separam e seu

pai vai viver com um homem assumindo sua homossexualidade na meia-idade. Atitude

esta que é prontamente rechaçada por ele e seu irmão mais velho, Pedro, um rapaz de 17

anos que após enfrentar uma séria crise existencial disparada pelo término do seu

namoro, pela separação dos pais e pelo preconceito sofrido por ele e pelo irmão na

escola, passa a viver na virtualidade, se entrega à depressão a ponto de tentar suicídio no

final do filme.

As crises familiares enfrentadas pelo protagonista Mano têm um destaque vital ao

desenvolvimento do filme. A questão da homossexualidade do pai é motivo de grande

embaraço para Mano e Pedro, a ponto de impedirem que o pai os busque no colégio

para esconderem tal fato dos colegas, mas que mais tarde ao ser descoberto ocasiona

grande vergonha e motivo de hostilidade por parte dos companheiros do colégio. Até a

garota por quem Mano era apaixonado (que se “ligava” em todos e ao mesmo tempo em

ninguém) afasta-se dele, especialmente, quando fica sabendo da situação atual de seu

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pai, o que denota um comportamento discriminatório. Posturas essas que comprovam

que na prática todos são preconceituosos não obstante o discurso ao contrário. Um

exemplo é a postura de Mano diante da homossexualidade de uma colega. Ele intimida

a colega Bruna ao fazer um desenho jocoso no qual insinua que ela é "sapata",

preferindo meninas a meninos. Sua atitude fere a garota. Ao longo do filme, a situação

se inverte, e Mano passa a ser intimidado e hostilizado por meio de chacotas

relacionadas à ligação afetiva do pai dele com outro homem. Mano acaba se tornando

vítima da mesma atitude de intolerância que teve contra a colega.

A família de Mano é composta de pais professores, de comportamento liberal, a

mãe aparenta um suposto equilíbrio emocional, haja vista não haver nenhuma critica ou

amargura de sua parte pelo fato do marido a ter deixado para juntar-se a um homem,

tudo em nome, talvez, do politicamente correto. Inclusive ela repreendeu Mano quando

ele esboçou uma crítica a este respeito perguntando a ele: “o que você sabe da vida”?

Ela também tentava manter uma relação próxima e aberta com Mano, embora ele

reagisse como todo adolescente se sentindo invadido.

Outros personagens, adultos jovens, desempenham papéis interessantes no

filme. É caso do professor de física, que não exige nada de seus alunos, além do

desenvolvimento do ato de questionar. Ele demonstra a importância de desconfiar e

duvidar de todas as verdades tidas como absolutas. Aparentemente, essa é uma crítica

ao conservadorismo no ensino. E também o professor de violão, conselheiro nos

momentos de inquietações de Mano, como também insiste em não deixá-lo tocar

guitarra, argumentando que o violão é a base de tudo.

Entre os personagens adolescentes destaca-se o papel vivido por Deco, amigo de

Mano, garoto de caráter duvidoso que faz o jogo duplo de amizade, colecionador de

fotos das meninas que ele já "pegou" e sonha com os milhares de garotas que ele ainda

vai pegar. Ele faz apostas com os amigos sobre quem irá seduzir, aparentemente

indiferente aos sentimentos das parceiras ou aos seus próprios sentimentos. E o papel de

Carol, a melhor amiga e confidente de Mano, equilibra romantismo e independência,

acredita estar apaixonada pelo professor de Física, criando uma grande polêmica no

ambiente escolar. Garota sensível e inteligente, Carol compartilha com Mano seu

incômodo com os relacionamentos fugazes, ou seja, os beijos trocados numa noite que

podem não significar nada no dia seguinte.

No universo do colégio, Mano e sua amiga Carol, inicialmente resistentes ao

envolvimento político com grêmios escolares, partem para a ação lançando a chapa

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“Mundo Livre”. A proposta da chapa é defender o direito ao diálogo, denunciando a

intolerância e o conformismo existente naquele ambiente escolar. No entanto a chapa

deles perde para a chapa “Grana”, que talvez alude ao desejo de consumismo dos

adolescentes.

“As Melhores Coisas do Mundo” aborda coisas sérias como a relação entre

gerações. O enredo e a caracterização dos personagens é bem fiel a realidade, falando

gírias normalmente como acontece em rodas de conversa, falando palavrões para se

expressar uma geração constantemente mergulhada em seus iPods, celulares e câmeras

digitais. Contém a verdade dos jovens, que versa sobre a tentativa de ser feliz e arriscar

novos caminhos encontrando sua identidade. É um filme envolvente que analisa uma

época, uma geração e capta de forma inteligente e sensível o comportamento, conflitos,

dilemas e os desejos da juventude dessa primeira década do século 21. A maior

qualidade do filme está em equilibrar uma série de assuntos polêmicos que inclui

homossexualidade, virgindade, invasão de privacidade, relação amorosa entre aluno-

professor, sexo, entorpecentes, as incertezas que surgem depois de "ficar" com alguém,

as dificuldades afetivas e a banalização do afeto e das relações e o delicado

tema bullying1 e cyberbullying2, e o conseqüente sofrimento por ser vítima destes.

O cinema brasileiro cumpre com este filme o papel de registrar e analisar essa

geração da Pós-Modernidade, falando de maneira bastante satisfatória desses tópicos e

de um jeito leve e atraente, sem deixar de lado contradições e sutilezas. Sem usar de

lição de moral o filme transmite uma mensagem positiva e enriquecedora. Depois de

nos apresentar àquele universo e ao seu jovem e imaturo herói, que não hesita em fazer

uma caricatura cruel e preconceituosa de uma colega de sala ou em condenar um

professor sem ter razões para isso, o filme ilustra com talento o amadurecimento

daquele menino ingênuo que ao enfrentar seus problemas, vai amadurecendo, em busca

de seus sonhos e encontrando sua identidade. Enfim, Mano toca seu violão e vai

vivendo as melhores coisas do mundo.

1 A situação vivida por Mano no ambiente escolar quando ele passa a ser alvo de preconceito, provocações, ofensas e até mesmo agressão física por parte de alguns colegas é denominada como Bullying. No filme, a situação é agravada quando o assunto ganha a internet e se transforma em destaque no blog de fofocas mantido por sua colega Dri Novaes. 2 O Cyberbullying ocorre quando ferramentas como twitter, celulares, blogs, redes sociais e outros passam a funcionar como veículos da maledicência, instrumentos de controle que invadem e desrespeitam

a privacidade dos relacionamentos e dos indivíduos.

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2 – Demandas de aconselhamento

O ECA (1990), considera o adolescente uma "condição peculiar de pessoa em

desenvolvimento". Essa condição inclui o direito à educação, à busca de identidade,

crenças e valores, um lugar no social. Isto indica a importância de intervenções que

considerem de fato “as peculiaridades” dessa etapa da vida. O adolescente, esse sujeito

social, ainda não compreendido e mal desenhado na cena, vive um período de transição

da dependência infantil para a auto-suficiência povoada de desordens e contradições que

geram uma grande e importante demanda para o Conselheiro atuar como conciliador

entre essas relações familiares nessa Pós-Modernidade em que vivemos...

Considerações Finais

“As Melhores Coisas do Mundo” sem dúvida tem um pouco de cada família, um

pouco de cada um de nós, nas mais diversas situações nas quais já convivemos ou

estamos convivendo em nossa casa ou em nossas comunidades. Este tem se apresentado

como um filme sobre o universo adolescente e destinado a esse público, mas

observamos que ele serve aos adultos também, principalmente, aqueles que são pais de

adolescentes, ministros, líderes ou conselheiros de jovens. Como citado no filme por

uma mãe na reunião de pais e mestres, “os filhos de quinze anos atrás não são os filhos

de hoje”, eles requerem uma demanda de aconselhamento apropriada para esta pós-

modernidade...

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Bibliografias

Filme: As melhores coisas do mundo. (ver como é a bibliografia para filme