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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE BIOCINCIAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS BIOLGICAS
O antagonismo do receptor de serotonina do tipo
7 da substncia cinzenta periaquedutal dorsal
reduz a ansiedade experimental basal, mas no
aquela gerada pela retirada do etanol em ratos
Marana Ali Silveira
Natal 2014
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE BIOCINCIAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS BIOLGICAS
O antagonismo do receptor de serotonina do tipo 7 da substncia
cinzenta periaquedutal dorsal reduz a ansiedade experimental
basal, mas no aquela gerada pela retirada do etanol em ratos
Dissertao de Mestrado apresentada ao
Programa de Ps Graduao em Cincias
Biolgicas da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte para a obteno do ttulo
de Mestre em Cincias.
Aluna: Marana Ali Silveira
Orientadora: Prof. Dra. Vanessa de Paula Soares-Rachetti
Natal 2014
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UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede Catalogao da Publicao na Fonte
Silveira, Marana Ali.
O antagonismo do receptor de serotonina do tipo 7 da substncia cinzenta periaquedutal dorsal reduz a ansiedade experimental basal, mas no aquela gerada pela retirada do etanol em ratos / Marana Ali Silveira . Natal, 2014. 81 f. : il.
Orientadora: Prof. Dr. Vanessa de Paula Soares-Rachetti.
Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biocincias. Programa de Ps-Graduao em Cincias Biolgicas.
1. Ansiedade Dissertao. 2. Etanol - Dissertao. 3. Abstinncia - Dissertao. 4.
Serotonina - Dissertao. 5. Labirinto em cruz elevado - Dissertao. I. Soares-Rachetti, Vanessa de Paula. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Ttulo.
RN/UF/BCZM CDU 616.89-008.441
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Por vezes sentimos que aquilo que fazemos no seno uma gota de
gua no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.
Madre Teresa de Calcut
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DEDICATRIA
minha querida me que nunca desiste do meu
sucesso apesar dos vrios tropeos pelo caminho.
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AGRADECIMENTOS
Aos meus pais por todo apoio, ensinamento, amparo e pacincia durante a
minha existncia, por me fornecerem todas as condies para escolher o meu
futuro, trabalhando e me amparando financeiramente em todo o meu caminho,
por todo amor e carinho dedicados a mim durante a minha vida e pela certeza
que eu sempre terei a qualquer momento duas pessoas para me apoiar e me
dar foras para seguir em frente.
minha irm querida, pelas boas risadas que partilhamos todos esses anos, e
tambm pelas brigas, irritaes, pentelhaes... ou seja, pelo pacote todo.
Todo amor do mundo para ns, por muitos e muitos anos.
Nelinha e sua famlia por todo acolhimento, cuidado e amor durante esses
anos de amizade e companheirismo.
Aos meus amigos por me fazerem sentir especial em todos os momentos.
Luara Musse, pela sua irmandade, pela amizade em todos os momentos,
pela pacincia com meus sumios e pelo amor nos reencontros, por oferecer o
seu lar como uma segunda casa e a sua famlia como se fosse a minha. Por
todos os momentos compartilhados e pelas alegrias vividas e que ainda viro.
Andressa Noronha, pelo exemplo de luta e determinao, pelo carinho,
conversas e caronas, pela acolhida calorosa em todos os encontros, pelos
sorrisos sinceros e por toda a diverso nesses muitos anos de convvio.
Aos colegas do Programa de Ps-Graduao em Cincias Biolgicas, por
todos os momentos compartilhados, pelas boas conversas e discusses
cientficas que certamente abriram os meus horizontes como mestranda.
Aos colegas do Farmacolab, pela companhia agradvel a todo momento e por
todo aprendizado, especialmente Rebecca, Camila, Jarmilla, Aldo e Anthony.
Raliny Santos, companheira de mestrado e de laboratrio, pela sua
agradvel companhia desde o primeiro momento, pela certeza de que tudo
daria certo a qualquer momento do dia, pela conversas indignadas e papos
furados, por todo carinho, ateno, apoio e sorrisos.
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minha querida orientadora Vanessa de Paula Soares-Rachetti, pela
dedicao, pacincia e carinho a todos os momentos. Por acreditar em mim
quando nem mesmo eu acreditava. Por me ajudar a enxergar atravs de
palavras doces e sbias o quanto eu era capaz, sem nunca desanimar apesar
do meu desnimo. Pelo apoio em todos os momentos, no importando o
motivo. Pela presena sempre segura e afetuosa por todo o caminho da minha
vida acadmica contribuindo no s para minha formao cientfica, mas
tambm para a minha formao como pessoa e cidad. Que esses cinco anos
se tornem uma vida inteira de amizade e carinho tanto na vida profissional
quanto pessoal. Todo meu amor e a minha gratido para a pessoa que mais
me marcou durante essa jornada na universidade, parte do meu sucesso
tambm seu.
Aos professores Elaine Gavioli e Judney Cavalcante pelas valiosas
contribuies durante a qualificao.
banca examinadora, pela ateno dispensada leitura desse trabalho e pela
disponibilidade para contribuir para a finalizao dessa etapa da minha
formao.
Aos funcionrios da secretria do PPGCB, principalmente a Louise, por todo o
auxlio nesses anos de mestrado.
Aos sujeitos utilizados na pesquisa, sem vocs nada disso seria possvel, deixo
aqui o meu profundo respeito e gratido.
A CAPES pela concesso da bolsa que me permitiu dedicao total a
realizao desse projeto.
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NDICE
RESUMO............................................................................................................9
ABSTRACT.......................................................................................................10
INTRODUO...................................................................................................11
1.1. O etanol e sua problemtica.................................................................11
1.2. Farmacologia do etanol........................................................................15
1.3. Etanol e o sistema serotoninrgico......................................................18
1.4. Papel dos receptores do tipo 5-HT7 na modulao de comportamentos
relacionados ansiedade...........................................................................25
1.5. A substncia cinzenta periaquedutal, etanol e ansiedade...................27
OBJETIVOS......................................................................................................33
2.1. Objetivo geral.....................................................................................33
2.2. Objetivos especficos........................................................................33
MATERIAIS E MTODOS................................................................................34
3.1. Animais................................................................................................34
3.2. Drogas.................................................................................................34
3.3. Exposio ao Etanol............................................................................35
3.4. Cirurgia Estereotxica..........................................................................36
3.5. Habituao...........................................................................................37
3.6. Aparatos, Injeo intra-DPAG e Testes comportamentais...................37
3.6.1. Labirinto em Cruz Elevado................................................................38
3.6.2. Campo Aberto...................................................................................39
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3.6.3. Desenho experimental.......................................................................41
3.7. Perfuso...............................................................................................43
3.8. Histologia..............................................................................................43
3.9. Anlise estatstica.................................................................................43
RESULTADOS..................................................................................................44
Experimento 1.............................................................................................44
Experimento 2.............................................................................................49
DISCUSSO.....................................................................................................55
CONCLUSO...................................................................................................65
REFERNCIAS.................................................................................................67
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RESUMO
Indivduos dependentes de etanol que diminuem ou interrompem a sua utilizao
podem apresentar a Sndrome de Abstinncia do lcool, caracterizada por sinais e
sintomas desagradveis que favorecem a recada, dentre eles, a ansiedade. Por ser
uma droga psicotrpica, o etanol capaz de promover mudanas comportamentais
e neurofisiolgicas, atuando sobre diversos sistemas de neurotransmisso, dentre
outros o sistema serotonrgico, que vem sendo diretamente relacionado aos estados
aversivos, como o caso da ansiedade. O presente estudo teve por objetivo
investigar a participao do receptor de serotonina do tipo 7 (5-HT7) da substncia
cinzenta periaquedutal dorsal (DPAG) na ansiedade experimental basal e naquela
gerada pela retirada de etanol. Para isso, ratos Wistar com 75-100 dias foram
submetidos a dois experimentos. No primeiro, os animais receberam as doses de
2,5; 5,0 e 10 nmoles do antagonista de receptor 5-HT7 SB269970(SB) ou veculo
intra-DPAG e, dez minutos aps, foram expostos ao labirinto em cruz elevado (LCE).
No dia seguinte, os animais foram submetidos aos mesmos tratamentos e testados
no campo aberto (CA). No segundo experimento, os animais receberam
concentraes crescentes (2%, 4%, 6%) de etanol como nica fonte de dieta lquida
ou gua (grupo controle), ambos com acesso livre rao. Setenta e duas e noventa
e seis horas aps a retirada do etanol, os animais receberam SB (2,5 e 5,0 nmoles)
intra-DPAG dez minutos anteriores ao teste no LCE e no CA, respectivamente. No
experimento 1, a dose do antagonista de 10 nmoles foi capaz de reverter a
ansiedade gerada pela exposio ao LCE. No experimento 2, as doses ineficazes no
LCE de SB (2,5 e 5,0 nmoles) no foram capazes de reverter a ansiedade gerada
pela retirada de etanol no LCE, embora a dose de 2,5 nmoles de SB tenha revertido
o seu efeito hipolocomotor neste teste. Esses resultados sugerem que o receptor 5-
HT7 participa modulando a ansiedade experimental basal de ratos, mas no a
ansiedade gerada pela retirada do etanol na DPAG.
Palavras-chave: Etanol, abstinncia, ansiedade, labirinto em cruz elevado,
serotonina, 5-HT7, SB269970.
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ABSTRACT
Ethanol-dependent individuals who reduce or discontinue its use may present
Alcohol Withdrawal Syndrome, which is characterized by unpleasant signs and
symptoms, such as anxiety, that may trigger relapses. Ethanol, a psychotropic drug,
is able to promote behavioral and neurophysiological changes, acting on different
neurotransmitter systems, including the serotonergic, which has also been directly
associated with aversive states, including anxiety. This study aimed to investigate the
participation of type 7 serotonin receptor (5-HT7) of the dorsal periaqueductal gray
(DPAG) on basal experimental anxiety and that caused by ethanol withdrawal. For
this, 75-100 days old Wistar rats were subjected to two experiments. On the first one,
animals underwent stereotactic surgery for implantation of guide cannulas used for
administration of the drug directly into the DPAG. After seven days, the animals
received doses of 2.5; 5 and 10 nmols of type 7 receptor antagonist SB269970 (SB)
or vehicle intra-DPAG and, ten minutes after, they were exposed to elevated plus
maze (EPM). In the following day, the animals were submitted to the same treatment
and tested in the open field (OF). In the second experiment, animals received
increasing concentrations (2%, 4%, 6%) of ethanol as the only source of liquid diet or
water (control group), both with free access to chow. Seventy two hours and ninety
six hours after the ethanol withdrawal, animals received SB (2.5 and 5.0 nmols) intra-
DPAG ten minutes before the test in the LCE and OF, respectively. In experiment 1,
the dose of antagonist 10 nmols was able of reversing the anxiety generated by
EPM. In the experiment 2, ineffective SB doses on the LCE (2.5 and 5.0 nmol) were
not able to reverse the anxiety caused by the ethanol withdrawal in the EPM,
although the dose of 2.5 nmols of SB has reversed its hipolocomotor effect in this
test. This result suggests that the 5-HT7 receptor is involved in the modulation of the
basal experimental anxiety in rats, but not in the anxiety caused by ethanol
withdrawal in the DPAG.
Keywords: Ethanol, withdrawal, anxiety, elevated plus maze, serotonin, 5-HT7,
SB269970.
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1. O ETANOL E SUA PROBLEMTICA
O consumo de drogas pela humanidade no um fato recente: o etanol,
uma droga que pode ser utilizada de forma recreativa, tem os seus primeiros
registros de uso h 6.000 anos (CEBRID, 2014), talvez devido a sua fcil
obteno a partir da fermentao de vrios aucares. Dentre as drogas de
abuso existentes na atualidade, o etanol uma das mais frequentemente
utilizadas; por ser lcita na maioria dos pases, alcana um grande nmero de
pessoas em todo o planeta. A prevalncia anual do uso mundial de lcool
chega a ser oito vezes maior que a do abuso de drogas ilcitas, chegando a
42% da populao mundial (World Health Organization, 2004; World Health
Organization, 2011).
Seu consumo indiscriminado pode impactar diversos setores da
sociedade, dentre eles os servios de sade, visto que o abuso de etanol pode
levar a mais de sessenta tipos de doenas ou agravos diversos, incluindo altas
taxas de mortalidade (aproximadamente 2,5 milhes de pessoas perdem a vida
todo ano devido ao abuso do etanol). Tambm causa impactos nos servios
judicirios e criminais, e est diretamente relacionado com problemas sociais
(Rehm, et al., 2003; World Health Organization, 2007; Laranjeira, 2007; Gallasi,
et al; 2008).
Existem dois tipos de transtornos mentais resultantes do uso
indiscriminado do etanol segundo o Manual Diagnstico Estatstico de
Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders,
DSM-IV-RT, 2000), da Associao Americana de Psiquiatria (APA), o abuso e
a dependncia. Na sua verso atualizada, o DSM-V de 2013, no existe tal
distino, e ambos diagnsticos de abuso e dependncia constituem os
transtornos relacionados ao uso de lcool, com classificao de gravidade em
trs nveis (leve, moderada e grave). Apesar disso, a verso anterior do
manual, DSM-IV, permanece como referncia e ainda amplamente utilizada.
As principais mudanas da nova edio foram, alm da unio dos diagnsticos
de abuso e dependncia em um nico transtorno, a excluso do critrio de
problemas legais recorrentes relacionados ao uso da substncia,
anteriormente utilizado para o diagnstico de abuso, e a incluso do critrio de
fissura (craving), que o forte desejo ou urgncia em consumir a substncia
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(CISA, 2014). Essas mudanas so demonstradas no quadro comparativo
abaixo.
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Quadro 1: Comparao dos critrios diagnsticos: DMS-IV e DSM-5 (CISA, 2014)
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Independente dessas diferenas no material utilizado para diagnstico
de transtornos mentais pelo uso de etanol, ambos destacam a abstinncia
como um dos fatores participantes dessa patologia. A abstinncia ocorre
quando indivduos dependentes interrompem, total ou parcialmente, a
utilizao do etanol. Como resultado, pode ocorrer a Sndrome de Abstinncia
do lcool SAA, que caracterizada por sinais e sintomas desagradveis que
podem atuar favorecendo a recada, ou seja, a volta do consumo da substncia
(Laranjeira et al., 2000). Tremores, insnia, nuseas, inquietao e ansiedade
surgem aproximadamente 6 horas aps a interrupo do uso. Com o passar
das horas ocorre uma progresso na severidade dos sintomas, com o
surgimento de sudorese profunda, febre baixa, alucinaes e taquipnia, que
podem evoluir para convulso. Em casos extremos, essas crises convulsivas
podem ser fatais. Se o paciente no for tratado adequadamente o quadro de
delirium tremens pode ocorrer. Apesar de atingir menos de 5% da populao
em abstinncia, ele responsvel por grande morbidade e mortalidade
associadas SAA (Trevisan et al., 1998; Laranjeira et al., 2000, Maciel; Kerr-
Corra, 2004).
O transtorno relacionado ao uso do etanol uma condio crnica e
multifatorial, ou seja, no seu processo de ocorrncia diversos fatores iro
influenciar. Apesar disso, historicamente, a manuteno do seu uso vem sendo
atribuda aos sinais fsicos da sndrome de abstinncia. Porm, atualmente se
sabe que componentes emocionais negativos, como queda no humor, elevada
ansiedade e atenuao na habilidade de experimentar prazeres reforadores
naturais, tambm esto envolvidos na manuteno desse ciclo abuso-
abstinncia, sendo correlacionados com recadas aps perodos prolongados
de retirada (Zhang et al., 2007; Heilig et al., 2010). Por exemplo, um estudo
mostra que indivduos dependentes relataram como a razo mais comum de
recadas esses estados emocionais negativos, da retirada do etanol (Annis et
al., 1998). Ainda, esses estados emocionais apresentam 3 vezes mais chances
de resultar em recadas quando comparados com os sinais de abstinncia
fsica (Hershon, 1977 apud Zhang et al., 2007). A ansiedade, em particular,
uma caracterstica central da abstinncia alcolica (Becker, 2008).
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Por causa da capacidade de atingir diferentes locais em todo o globo
terrestre e diversas classes sociais, o potencial prejudicial do etanol ilimitado,
e um entendimento mais aprofundado sobre essa substncia necessrio.
Para isso diversos estudos visam entender a sua ao aguda e crnica no
organismo, assim como os transtornos e doenas resultantes da sua utilizao
e da sua retirada.
1.2. FARMACOLOGIA DO ETANOL
O etanol, comumente chamado de lcool etlico, um solvente orgnico
constitudo por uma molcula extremamente simples de dois carbonos e uma
funo alcolica (CH3CH2OH). Apresenta baixo peso molecular (46,06844
g/mol) e tem a capacidade de atingir todas as partes do corpo por causa do seu
carter hidroflico e lipoflico, atuando em diferentes tecidos, e
consequentemente, afetando funes vitais (Lieber, 1997).
Quando ingerido, o etanol rapidamente absorvido por difuso no
estmago (20%) e no intestino (80%) e ir atingir sua concentrao plasmtica
mxima entre 30 e 90 minutos. O seu metabolismo pode variar
consideravelmente entre indivduos e entre diferentes etnias (Ramchandani et
al., 2001). Aproximadamente 2 a 10% so expelidos sem sofrer transformaes
pela respirao, pelo suor ou pela urina e aproximadamente 90% do etanol ir
sofrer biotransformao no fgado. Inicialmente ele oxidado gerando
acetaldedo, um composto reativo e txico que pode promover hepatotoxidade;
isso ocorre pela ao da enzima lcool desidrogenase e pelas enzimas do
sistema microssmico P450. Em seguida, h uma nova metabolizao e todo
acetaldedo convertido em acetato pela enzima aldedo desidrogenase
(Goodman; Gilman, 2010).
Por ser uma droga psicotrpica, ou seja, uma droga que age no sistema
nervoso central (SNC), o etanol capaz de promover mudanas
comportamentais, gerando, inicialmente, excitao comportamental, seguida de
uma inibio comportamental. Afeta tambm as funes emocionais, sensorial,
de memria e aprendizagem e a coordenao motora. Uma grande ingesto
aguda dessa droga pode levar ao coma e a morte (Dubowski, 1985). Para
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tanto, o etanol atua sobre diversos sistemas de neurotransmisso em
diferentes reas enceflicas (Rang; Dale, 2001), tanto no consumo agudo,
quanto no crnico, e sua ao resulta na diminuio da atividade de neurnios
do SNC e, por isso, classificado como droga depressora (Mukherjee, 2013).
Estudos moleculares e farmacolgicos demonstram que o etanol tem
alguns alvos primrios (Vengeliene et al., 2008). Os dois principais sistemas de
neurotransmissores atingidos pelo etanol so os sistemas do ligante endgeno
cido gama-aminobutrico (GABA), o sistema GABArgico, maior sistema de
neurotansmisso inibitrio, que favorecido com a utilizao da substncia, e o
glutamatrgico, maior sistema de neurotransmisso excitatrio do SNC, que
inibido pela mesma (Gass; Olive, 2008; Lobo; Harris, 2008).
A ao do etanol no sistema GABArgico se d, principalmente, pela
modulao de receptores ionotrpicos do tipo GABAA. Quando ativados, esses
receptores permitem o influxo de cloreto (Cl-) gerando uma hiperpolarizao
celular, o que produz um potencial ps-sinptico inibitrio. O etanol favorece
um maior influxo de Cl-, potencializando a atuao do neurotransmissor
endgeno GABA nesses canais e favorecendo a inibio celular (Lobo; Harris,
2008; Golan et al, 2009). J no sistema glutamatrgico essa substncia atua
sobre os receptores ionotrpicos NMDA (N-metil-D-aspartato) e AMPA (alfa-
amino-3-hydroxi-5-metilisoxazole-4-propionic acid) sendo os do primeiro tipo
inibidos por concentraes mais baixas de etanol do que as necessrias para
afetar os do segundo tipo (Rang; Dale, 2011). Essa ao do etanol nesses dois
sistemas causa uma perda da homeostase no funcionamento enceflico. Com
a continuao do uso da substncia, o organismo tenta restaurar o equilbrio
diminuindo a neurotransmisso inibitria e aumentando a neurotransmisso
excitatria. Atualmente sabe-se que a utilizao prolongada de etanol resulta
numa diminuio funcional dos receptores GABAA, provavelmente pela
diminuio no nmero desses receptores ou por uma alterao das
subunidades que o compem, o que resulta em uma sensibilidade menor ao
ligante endgeno GABA (Vengeliene et al., 2008). Com relao
neurotransmisso glutamatrgica, o consumo crnico de etanol parece gerar
uma adaptao dos receptores desse sistema, aumentando a atividade
excitatria. Aps exposio crnica h um aumento na expresso de
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receptores NMDA e alguns sintomas comuns da abstinncia vm sendo
relacionados a esse fator (Vengeliene et al., 2008; McCool et al., 2010).
Alm de seus efeitos sobre os receptores de GABA e glutamato, o etanol
tambm atua em receptores de glicina, de serotonina, de acetilcolina
(nicotnico) (Xiao et al., 2013). Outros sistemas de neurotransmisso que
podem ser influenciados pelo etanol so os sistemas opiide (Gianoulakis,
1993), endocanabinide (Hungund et al., 2002; Erdozain; Callado, 2011),
noradrenrgico (Zaleski et al; 2004), neuropeptidrgico (Bison; Crews, 2003),
do fator liberador de corticotrofina (Wills et al., 2009) e o dopaminrgico
(Banerjee, 2014).
A atuao do etanol sobre o sistema dopaminrgico vem sendo
amplamente relacionada com o efeito reforador desta droga. Sua ao ocorre
direta e indiretamente sobre a via de recompensa do SNC, que tem como
principais componentes as estruturas do sistema mesolmbico, cuja ativao
envolve a liberao de dopamina no ncleo accumbens atravs da estimulao
de neurnios que partem da rea tegmental ventral do mesencfalo (Boileau et
al., 2003). Dessa forma, o poder reforador das drogas de abuso, entre elas, o
etanol, se d via ativao do sistema dopaminrgico de recompensa, que
contribui para a maior procura da substncia, podendo levar ao abuso e a
dependncia (Baler; Volkow, 2006; Sulzer, 2011).
Alm da sua atuao sobre sistemas de neurotransmisso distintos, a
modulao direta da atividade de canais inicos ou receptores pode,
posteriormente, conduzir a uma cascata de eventos sinpticos envolvendo
vrios outros neurotransmissores. Um bom exemplo disso a sua atuao
sobre receptores de serotonina do tipo 3 (5-HT3). Presentes em interneurnios
GABArgicos, esses receptores de serotonina, quando modulados pelo etanol,
podem contribuir para a ao inibitria desse sistema atravs do aumento de
liberao de GABA (Vengeliene et al., 2008). Curiosamente, alm disso, a
ativao dos receptores 5-HT3 tambm conhecida por aumentar a liberao
de glutamato e dopamina, o que ilustra a complexidade na modulao de
sistemas de neurotransmisso pelo etanol (Lovinger, 1999). Tal complexidade
aumentada, quando considerado o sistema serotoninrgico.
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1.3. A SUBSTNCIA CINZENTA PERIAQUEDUTAL, ETANOL E
ANSIEDADE
A PAG uma estrutura que tem uma organizao longitudinal e est
localizada no mesencfalo circundando o Aqueduto mesenceflico. O aqueduto
serve de referncia para a subdiviso da PAG em quatro colunas ao longo do
seu eixo rostro-caudal (iniciando prximo a comissura posterior at o locus
coeruleus): so elas as pores dorsomedial, dorsolateral, lateral e
ventrolateral. Essa organizao baseada na anatomia e nas caractersticas
imunoistoqumicas, densidade de receptores, conexes e detalhes funcionais
(Bandler; Shipley, 1994; Carrive, 1993). Nesse estudo ser utilizada a diviso
anatmica proposta por Bandler (2000) onde a denominao substncia
cinzenta periaquedutal dorsal se refere s colunas dorsomedial e dorsolateral.
Figura 2: Ilustrao esquemtica das colunas dorsomedial (dm), dorsolateral (dl), lateral (l) e ventrolateral (vl) da substncia cinzenta periaquedutal (PAG) nas suas pores rostrais, intermediria e caudal. (Adaptado de Linnman et al, 2011).
Sabe-se que essa estrutura est envolvida em diversas funes
fundamentais para a sobrevivncia do organismo, entre elas a regulao
autonmica, comportamento maternal, processamento e informao
nociceptiva ascendente, medo e ansiedade, comportamento predatrio e
vocalizao (Behbehani, 1995). Todas as funes da PAG parecem
desempenhar um papel homeosttico das respostas de defesa dos animais
integrando informaes aferentes provenientes da periferia e informaes
provenientes de outras estruturas do SNC, como o hipotlamo, a amgdala e os
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ncleos da rafe. Alm disso, as respostas evocadas pela ativao da PAG
podem estar segregadas dentro das suas subdivises anatmicas, ou seja, no
uma estrutura funcionalmente homognea (Carrive, 1993; Linnman et al.,
2011).
A observao de que PAG participa da mediao de respostas
defensivas associadas ansiedade vem de estudos com humanos e animais.
H relatos de que a estimulao eltrica da PAG em seres humanos capaz
de induzir medo extremo, desconforto, angstia, ansiedade e choro (Linnman
et al., 2011). Em concordncia com esses estudos, as investigaes da
atuao da PAG em modelos animais mostraram que a estimulao eltrica da
DPAG, em gatos e em ratos, evoca respostas de luta e fuga (Bandler;
DePaulis, 1991). Alm disso, tem sido demonstrado que estimulao dessa
rea favorece a expresso de respostas relacionadas a ansiedade, como a
esquiva inibitria no labirinto em T elevado (Camplesi et al., 2012; Silva; Nobre,
2014).
Alm dessas evidncias, outros estudos reforam a importncia da PAG
na circuitaria cerebral que processa medo e ansiedade (para reviso ver
Behbehani, 1995; de Paula Soares, 2004). Essa descoberta valorosa para o
entendimento desses estados aversivos e suas bases farmacolgicas. Estudos
que visam elucidar a farmacologia da ansiedade, do medo e da fuga gerados
pela estimulao da PAG mostram o envolvimento de vrios
neuromoduladores, como a colecistoquinina (CCK), o GABA, o xido ntrico, os
peptdeos opiides, a noradrenalina e a serotonina (Graeff, 1994; de Paula
Soares, 2004; Netto; Guimares, 2004; Lovick, 2008a; Lovick, 2008b; Bonassoli
et al., 2011 ).
Ainda que diversos estudos venham investigando a atuao do sistema
serotoninrgico da PAG nos comportamentos defensivos, inclusive na
ansiedade (de Paula Soares; Zangrossi, 2004; Moraes et al., 2008; Nunes-de-
Souza et al., 2008; de Paula Soares; Zangrossi, 2009), poucos trabalhos na
literatura trazem informaes sobre a ao da retirada do etanol nessa
estrutura. Apesar disso, evidncias apontam para o envolvimento da PAG na
abstinncia (Cabral et al., 2006).
Nesse sentido, Cabral e colaboradores (2006) avaliaram se a DPAG
poderia estar envolvida no estado de medo induzido pela retirada aps
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ingesto crnica de etanol. Os resultados mostram que animais submetidos
retirada de 48 horas apresentaram comportamento do tipo ansiognico no LCE.
Alm disso, a avaliao dos comportamentos de congelamento e fuga eliciados
pela estimulao eltrica da DPAG mostrou um resultado significativo, j que
houve uma diminuio no limiar de fuga e congelamento dos animais que
passaram pela retirada do etanol, em comparao com os animais controle.
Esses dados sugerem que a retirada do etanol sensibiliza o substrato do medo
na DPAG.
Outros estudos que evidenciam a atuao da PAG nos sinais e sintomas
da retirada aps tratamento crnico com etanol tinham entre os seus objetivos
identificar reas que eram ativadas aps a retirada. Essa abordagem envolve a
marcao de atividade neuronal e tem sido bastante utilizada para estudos da
relao estrutura-funo no SNC (Kovacs, 1998). O proto-oncogene c-fos vem
sendo amplamente empregado, nesse sentido. Ele codifica a protena Fos que
est envolvida na transduo de sinal da cascata intracelular responsvel por
mudanas provocadas por eventos extracelulares (Herrera; Robertson, 1996).
Dessa forma, a expresso dessa protena fornece um ndice da ativao
neuronal de animais expostos a vrios tipos de situaes experimentais
(Herrera; Robertson, 1996; Kovacs, 1998).
Knapp e colaboradores (1998) utilizaram a imunoreatividade a Fos para
associar regies especficas do encfalo de ratos com a ansiedade gerada pela
retirada do etanol. Para isso eles utilizaram dois protocolos de administrao
do etanol, um de 4 dias por via intragstrica, e outro de 14 dias na dieta lquida.
Durante a retirada dos dois protocolos de tratamento, a protena Fos foi
induzida com maior destaque em reas frontais do encfalo, embora o
mesencfalo e o rombencfalo tambm tenham sido representados. Dentre as
regies que foram marcadas, estavam diversas reas do crtex, septo, ncleo
accumbens, amgdala, ncleo paraventricular do tlamo e hipotlamo,
hipocampo, locus coeruleus, e a PAG. Estes resultados sugerem que
determinadas regies do encfalo, como a PAG, mas no outras, so afetadas
por e/ou medeiam retirada do etanol.
J Borlikova e colaboradores (2006), investigaram se mltiplas retiradas,
aps o consumo crnico de etanol, eram capazes de aumentar a ansiedade
-
22
induzida pela abstinncia e modificariam a ativao de regies enceflicas
relacionadas com esse estmulo. Para isso, eles trataram os animais com
etanol por 24 dias e fizeram uma nica retirada para um grupo e mltiplas
retiradas de - 2 a 3 dias - para o outro grupo, alm do grupo controle, que no
recebeu etanol. Com oito horas de abstinncia, os animais foram testados no
LCE e, posteriormente, a atividade neuronal e a plasticidade foram avaliadas
com a utilizao de marcao de c-fos e zif268. O zif268 codifica uma protena
nuclear que funciona como regulador da transcrio e a sua induo tem sido
associada com a plasticidade neuronal (Knapska; Kaczmarek, 2004). Como
resultado, eles encontraram que a retirada de oito horas, para ambos os
protocolos, aumentou a ansiedade avaliada no LCE, em comparao com os
animais controle. Ainda, houve ativao neuronal na amgdala, ncleo
accumbens, hipocampo e PAG. Dentre essas estruturas a nica com resultado
positivo na anlise do zif268 foi a amgdala.
Ainda nessa linha de investigao que sugere a ativao da PAG nos
sinais e sintomas da retirada do etanol, Bertotto e colaboradores (2010)
objetivaram identificar substratos neurais potencialmente envolvidos no
aumento da resposta de medo contextual em animais abstmios. Alm disso,
eles estudaram as marcaes de c-Fos em diferentes reas do encfalo
relacionadas com o estresse, medo e ansiedade. Os resultados mostraram que
a retirada da administrao crnica de lcool facilitou a formao de memria
de medo contextual com um aumento da expresso de c-Fos na amgdala
basolateral, giro denteado, PAG ventrolateral e PAG dorsomedial.
De maneira interessante, Bonassoli e colaboradores (2011) investigaram
a ativao de neurnios produtores de xido ntrico (NO) localizados em reas
do encfalo relacionadas com a ansiedade depois da retirada do etanol;
concomitantemente, foi utilizada a marcao de protena Fos para identificao
de possvel atividade neuronal. Para isso, os animais foram submetidos a um
protocolo de consumo de etanol por 21 dias, seguido pela interrupo abrupta
do tratamento. Vinte e quatro ou 48 horas depois, os animais passaram pelo
teste do campo aberto por 10 minutos e, duas horas mais tarde, os encfalos
foram retirados para anlise imunoistoqumica. No resultado comportamental
os autores encontraram uma diminuio da explorao do aparato pelos
-
23
animais que passaram por 24 horas de retirada, o que os autores consideraram
como uma expresso do estado ansioso gerado pela retirada. O aumento da
expresso de Fos foi detectado nos crtices cingulado e piriforme, em vrios
ncleos do hipotlamo, amgdala, no NDR e na maioria das subdivises da
PAG. A retirada de etanol ativou neurnios produtores de NO no ncleo
paraventricular do hipotlamo, PAG dorsolateral e no NDR. Dessa forma os
autores confirmaram a hiptese de que a retirada do etanol ativa neurnios
produtores de NO em reas do encfalo implicadas na modulao de
comportamentos emocional, autnomo e da expresso motora da ansiedade e
apontaram a PAG como uma possvel rea na modulao da ansiedade
favorecida pela retirada.
1.4. ETANOL E O SISTEMA SEROTONINRGICO
Para entender melhor esse sistema necessrio conhecer os seus
componentes. A maioria dos neurnios serotoninrgicos est concentrada na
linha mdia da regio da rafe no tronco enceflico formando um complexo
conhecido por ncleos da rafe (Abrams et al., 2004, Reis, 2007; Rang; Dale,
2011). Este complexo formado pelos corpos celulares de neurnios
serotoninrgicos emite uma rede de terminais que se projetam para quase todo
o SNC, incluindo muitas partes do crtex, o hipotlamo, o hipocampo, os
ncleos da base, a amgdala e a substncia cinzenta periaquedutal (PAG);
algumas dessas reas esto diretamente relacionadas com a emoo (Abrams
et al., 2004, Reis, 2007; Rang; Dale, 2011). Nessas reas, diferentes tipos de
receptores de serotonina foram descritos (Celada et al., 2013).
Os receptores de serotonina, amplamente distribudos pelo SNC so
bastante variados possuindo diferentes perfis farmacolgicos e papis
fisiolgicos. Isso explica as diferentes funes atribudas ao neurotransmissor.
Atualmente so conhecidos 16 subtipos de receptores divididos em 7 famlias.
Dependendo do subtipo eles podem estar localizados tanto pr, quanto ps
sinapticamente (Kitson, 2007, Rang; Dale, 2011; Celada et al., 2013).
Inicialmente, a classificao desses receptores continha apenas as famlias 5-
HT1 (subdivido em A, B, D, E e F), 5-HT2 (subdivido em A, B e C) e 5-HT3.
Posteriormente, foram identificados os receptores das famlias 5-HT4, 5-HT5 (A
e B), 5-HT6 e 5-HT7 (A, B e D) como demonstrado na figura 1 (Pauwels, 2003;
-
24
Celada et al., 2013). Funcionalmente, os receptores serotoninrgicos
subdividem-se em duas classes, o receptor ionotrpico e os receptores
metabotrpicos; o primeiro grupo tem como nico representante o subtipo 5-
HT3, que acoplado a um canal inico permevel a sdio (Na+), potssio (K+) e
clcio (Ca++). J o segundo grupo, que abrange os outros subtipos de
receptores de serotonina, esta acoplado a uma protena G e quando
estimulados, atuam em vrios sistemas enzimticos, incluindo aquele da
adenililato ciclase, da fosfolipases A e C, e canais de ctions, especialmente
canais de K+ e Ca++ (Lee et al., 2004).
Figura 1: Receptores serotoninrgicos e respectivas aes intracelulares (Lam; Hesler, 2007).
As influncias do etanol sobre o sistema serotoninrgico no esto
completamente elucidadas, mas diversos estudos vm sendo realizados com o
objetivo de melhor compreend-las (L; Funk, 2005; Kirby et al., 2011).
Evidncias do envolvimento do sistema serotoninrgico com a dependncia
surgiram em 1968, quando Myer e Veale demonstraram que a depleo de
serotonina no encfalo produzia uma supresso forte e duradoura do consumo
de etanol em ratos (Myer; Veale, 1968 apud L; Funk, 2005).
Sabe-se que o sistema serotoninrgico est envolvido desde a etapa
inicial de ingesto aguda do etanol, na manuteno do consumo, na retirada e
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25
na recada (L; Funk, 2005; Vengeliene et al., 2008; Kirby et al., 2011). Sugere-
se que uma disfuno inata no sistema dopaminrgico e/ou serotoninrgico
pode ser importante para a preferncia inicial pelo lcool, j que baixos nveis
de ambos neurotransmissores foram observados em diferentes linhagens de
ratos que preferem lcool (Vengeliene et al., 2008). Ainda com relao
aquisio do consumo de etanol, o receptor de serotonina do tipo 3 parece
exercer um papel importante. Foi demonstrado que o etanol potencializa a ao
da serotonina atravs da ativao desse subtipo de receptor e a utilizao de
antagonistas especficos de receptores 5-HT3 foi capaz de suprimir a aquisio
do consumo de etanol voluntrio em ratos que preferem lcool (Vengeliene et
al., 2008).
De maneira aguda, o etanol parece atuar aumentando a liberao desse
neurotransmissor de forma consistente em vrias regies do encfalo, incluindo
ncleo accumbens, rea tegmental ventral, amgdala e hipocampo. Este efeito
parece ser potencializado em linhagens de animais que preferem etanol, em
comparao com a sua contraparte que no prefere (Kirby et al., 2011).
Com relao ao consumo voluntrio, estudos conduzidos em animais
com deleo gnica (animais knockout) e com manipulaes farmacolgicas
dos vrios componentes do sistema serotoninrgico indicam um papel
modulador da serotonina neste processo (Vengeliene et al., 2008). Em geral,
pode ser dito que, apesar de algumas inconsistncias na literatura, os dados
pr-clnicos gerados nas ltimas 3 dcadas sugerem fortemente que esse
sistema atue significativamente no consumo de etanol (L; Funk, 2005). A
deleo de transportadores de serotonina nos animais resulta em uma reduo
na auto-administrao de etanol, em comparao com animais controle. Alm
disso, a administrao de inibidores de recaptao de serotonina foi capaz de
reduzir o consumo de lcool em animais de linhagens selvagens e tambm em
sua contraparte que preferem etanol (Vengeliene et al., 2008). Por conseguinte,
bem conhecido que o consumo de etanol pode ser reduzido pelo uso de
drogas que aumentam a disponibilidade central de serotonina, podendo ser
pela induo da liberao ou pelo bloqueio da recaptao desse
neurotransmissor (Casu et al., 2003; L; Funk, 2005; Vengeliene et al., 2008).
J a deleo de receptores 5-HT1B mostrou aumentar a ingesto de etanol
-
26
(Vengeliene et al., 2008). Curiosamente, bloqueadores seletivos de receptores
5-HT2, 5-HT3, e 5-HT4 parecem reduzir o seu consumo (Casu et al., 2003).
Quando o consumo do etanol se torna crnico, o seu efeito sobre os
nveis de serotonina contrrio, quando comparado com a ingesto aguda,
causando uma diminuio da sua disponibilidade no ncleo accumbens e no
hipocampo (Kirby et al., 2011). Estudos tambm sugerem que o consumo
crnico de grandes quantidades de etanol resulta em reduo no nmero de
neurnios de serotonina (Heinz et al., 1998; Berggren et al., 2002).
Adicionalmente ao seu efeito sobre os nveis de serotonina, a
administrao crnica de etanol tambm capaz de modificar a expresso de
subtipos de receptores serotoninrgicos. Ulrichsen (1991) investigou a
presena de receptores 5-HT1A, atravs da tcnica de binding, aps uma dieta
com administrao de etanol intragastricamente durante 4 dias em ratos. Seus
resultados mostraram uma reduo de receptores 5-HT1A no hipocampo, sendo
de 25% durante a intoxicao e de 17% durante a retirada. Em outro estudo,
Nevo e colaboradores (1995), aps tratamento crnico de etanol por 2
semanas, seguido de retirada de 18 horas em ratos, encontraram uma reduo
de 20% na marcao do mesmo receptor no hipocampo, e tambm uma
reduo de 30% no crtex anterior e 32% no posterior. Alm disso, os autores
tambm encontraram um aumento da marcao de receptores 5-HT1A de
aproximadamente 30% no ncleo dorsal da rafe (NDR). Os receptores 5-HT1B
tambm respondem utilizao crnica do etanol, aumentando a sua
marcao em aproximadamente 55% no globo plido de ratos (Nevo et
al.,1995).
Outro receptor de serotonina que vem sendo bastante citado na
literatura como um alvo promissor para o tratamento dos transtornos
relacionados ao etanol o 5-HT3. Diversos trabalhos indicam que estes
receptores esto envolvidos em efeitos comportamentais e neuroqumicos
importantes do etanol, e que isso pode ocorrer pela capacidade da droga atuar
diretamente sobre o receptor, potencializando a ao da serotonina endgena
(Grant, 1995; Ye et al., 2001). Alm disso, sugere-se que o receptor 5-HT3 esta
envolvido no efeito recompensador do etanol e a utilizao de antagonistas
desse receptor so eficazes na diminuio do consumo de etanol,
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27
provavelmente mediando a liberao de dopamina no SNC (Grant, 1995; Ye et
al., 2001). Neste sentido, a ondansetrona, um antagonista de receptores 5-HT3,
vem sendo utilizada em pesquisas pr-clinicas e proposta na clnica para tratar
indivduos dependentes. Resultados pr-clnicos indicam que o antagonismo do
receptor 5-HT3 na rea tegmental ventral, no ncleo accumbens ou na
amgdala reduz a auto-administrao de etanol e/ou os efeitos associados ao
etanol. As manifestaes clnicas esto em paralelo aos resultados pr-clnicos
de tal forma que o antagonismo do receptor 5-HT3, reduz o consumo de lcool
e de alguns dos seus efeitos subjetivos (Grant, 1995; Ye et al., 2001; Engleman
et al., 2008).
Alm da ao do etanol aps utilizao aguda e crnica sobre o sistema
serotoninrgico, estudos recentes vm investigando sua importncia tambm
na retirada (Knapp et al., 2004; Overstreet et al., 2003; Uzbay, 2008). H uma
crescente evidncia de que um desequilbrio do sistema serotoninrgico pela
exposio em longo prazo a drogas de abuso pode ser a base da alta taxa de
comorbidade de transtornos afetivos (por exemplo, ansiedade e depresso)
com a dependncia (Kirby et al., 2011). Esses estados de humor so relatados
como parte da sndrome de retirada e podem desencadear a procura pela
droga e a vulnerabilidade recada como um meio de automedicao e
restaurao de homeostasia no mbito desse sistema (Kirby et al., 2011).
Estudos iniciais que visavam propor a participao de receptores
serotoninrgicos na ansiedade gerada pela retirada do etanol utilizaram a
buspirona, um agonista parcial de receptores serotoninrgicos do tipo 5-HT1A.
Esse agente foi capaz de reverter o comportamento ansiognico de animais
testados no labirinto em cruz elevado (LCE), um teste de ansiedade, aps a
retirada aguda de 20 horas e tambm aps 7 dias de abstinncia (Lal et al.,
1991). Os autores sugeriram que a atividade ansioltica da buspirona
observada no experimento poderia ser devido a uma diminuio na
neurotransmisso serotoninrgica atravs da ativao dos auto-receptores pr-
sinpticos do tipo 5-HT1A. Eles ainda sugeriram que a farmacoterapia com
agonistas seletivos de 5-HT1A poderia ser benfica na reduo da ansiedade
durante a retirada do etanol.
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Outro receptor de serotonina que foi investigado para um melhor
entendimento do sistema serotoninrgico nos efeitos da retirada do etanol foi o
do tipo 5-HT1B. Pandey e colaboradores (1996) administraram etanol na
concentrao de 9% em uma dieta lquida com a durao de 1 dia ou de 15
dias em ratos machos Sprague-Dawley at a interrupo do tratamento. Os
pesquisadores ento avaliaram um dos grupos de animais que receberam
etanol por 15 dias quanto s alteraes comportamentais relacionadas
abstinncia aps 24 horas da retirada do etanol. Posteriormente, os encfalos
foram retirados para quantificao de receptores 5-HT1B atravs da tcnica de
binding por saturao no crtex, cerebelo, estriado e hipocampo utilizando
como ligante o 125I-cyanopindolol. O tratamento crnico com etanol produziu
um aumento significativo na ligao do reagente aos receptores 5-HT1B no
crtex e no hipocampo dos animais que passaram pelo consumo crnico de
etanol, e este efeito permaneceu aps 24 horas de retirada do etanol. Em
contraste, no estriado e no cerebelo, a taxa de ligao se manteve inalterada.
Estes resultados sugerem um aumento dos receptores 5-HT1B disponveis
nestas regies, levando os autores a sugerirem uma possvel atuao desses
receptores na dependncia, representando uma diminuio da atividade
serotoninrgica durante o consumo crnico de etanol.
Alm dos receptores supracitados, Gatch e colaboradores (2000)
investigaram a capacidade da ritanserina, um antagonista de receptores do tipo
5-HT2A, de modificar comportamentos causados pela retirada do etanol no
LCE. Ratos Long-Evans receberam uma dieta lquida de etanol a 4,5% durante
10 dias. Doze horas aps a remoo do etanol, os animais foram testados no
LCE. Observou-se uma reduo significativa na atividade dos animais nos
braos abertos, sugestivo de efeito ansiognico. A ritanserina administrada por
5 dias aumentou o tempo gasto nos braos abertos e reverteu a reduo
induzida pela retirada sobre o total de entradas nos braos abertos do aparato.
No teste de interao social, utilizado para avaliao da ansiedade, um
antagonista seletivo do receptor 5-HT2C bloqueou a reduo da interao social
causada pela retirada do etanol, mas o mesmo no aconteceu com
antagonistas de receptores 5-HT1A e 5-HT3 (Knapp et al., 2000 apud Overstreet
et al., 2003). Posteriormente, Overstreet e colaboradores (2003) investigaram o
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papel de alguns receptores de serotonina em ratos que passaram por mltiplas
retiradas. Para isso, foi utilizado um protocolo de consumo de etanol com 15
dias de durao, e no 5 e no 10 dia, o etanol era substitudo por gua por dois
dias, at a reintroduo do etanol. Os autores utilizaram a buspirona, o WAY-
100635, um antagonista de receptor 5-HT1A, o SB242084, um antagonista de
receptor 5-HT2C, a ketanserina, um antagonista de receptor 5-HT2A, a
ritanserina, um antagonista misto de receptores 5-HT2A/2C e o Ro-601075, um
agonista de receptor 5-HT2C, administrados perifericamente 30 minutos antes
do teste comportamental, ou administrados no quinto e dcimo dia do protocolo
de consumo, quatro horas aps as retiradas. As nicas drogas que foram
capazes de reduzir os dficits na interao social causada pela retirada do
etanol em ambos os protocolos de administrao foram a buspirona e o
SB242084. J o Ro-601075 acentuou o dficit comportamental no teste da
interao social causado pela retirada do etanol. Assim, pde ser sugerido que
tanto a modulao de receptores 5-HT1A, quanto o bloqueio dos receptores 5-
HT2C podem melhorar os sintomas de ansiedade associados retirada do
etanol (Overstreet et al., 2003). Ainda segundo Overstreet e colaboradores
(2003), o fato de nenhuma das duas drogas (buspirona e SB242084) terem
alterado o comportamento da interao social em animais controle sugere que
os seus efeitos resultam de uma ao contrria das possveis anormalidades
serotonrgicas resultantes da abstinncia.
Em um estudo visando verificar possveis reas enceflicas envolvidas
na ansiedade gerada por mltiplas retiradas de etanol, Overstreet e
colaboradores (2006) administraram a buspirona, o agonista inverso de 5-HT2C
SB-243213 e o agonista de receptor 5-HT2C Ro-601075 na amgdala, no NDR,
no ncleo accumbens e no ncleo paraventricular do hipotlamo. Seguindo um
protocolo de consumo de etanol com a durao de quinze dias, dividido em 3
ciclos com 5 dias de consumo forado de etanol e dois ciclos de retirada com 2
dias de durao, os autores observaram que a administrao de SB-243213 na
amgdala reverteu os dficits apresentados no teste de interao social
causados pela retirada, enquanto a buspirona reduziu dficits somente quando
administrada no NDR. Em contraste, o agonista do receptor 5-HT2C, Ro
601075, acentuou o dficit comportamental aps as administraes na
-
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amgdala. Todas as drogas foram administradas uma vez em cada ciclo de
retirada.
Tabela 1: Resumo dos estudos cientficos que avaliaram a participao de receptores de serotonina na ansiedade gerada pela retirada de etanol.
Os resultados dos estudos da relao do sistema serotoninrgico e o
etanol sugerem o possvel envolvimento de receptores 5-HT1B, 5-HT1A, 5-HT2c
e 5-HT3 em reas enceflicas como a amgdala, o crtex e no hipocampo na
retirada do etanol. Alm disso, como demonstrado na tabela 1, a atuao de
alguns desses receptores tambm esto relacionadas a ansiedade gerada na
abstinncia. O papel de outros subtipos de receptores de serotonina, como o 5-
HT7, na dependncia do etanol menos compreendido.
1.5. PAPEL DOS RECEPTORES DO TIPO 5-HT7 NA MODULAO DE
COMPORTAMENTOS RELACIONADOS ANSIEDADE
O receptor de serotonina do subtipo 7 (5-HT7) foi o ltimo a ser
descoberto (Leopoldo et al., 2012). Por esse motivo, o conhecimento da
atuao desse receptor no funcionamento fisiolgico e em processos
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31
patolgicos do organismo considerado pequeno, quando comparado com
outros receptores de serotonina. Esse atraso se deu principalmente pela falta
de agentes seletivos que pudessem ajudar na investigao do papel desse
receptor.
Com o advento da sntese de antagonistas e agonistas desse receptor e
do desenvolvimento de animais modificados geneticamente, o entendimento da
sua atuao em processos fisiolgicos e patolgicos est avanando. Como
resultado, estudos pr-clnicos avaliando seu envolvimento em transtornos
psiquitricos vm sendo realizados (Hedlund, 2009; Leopoldo et al., 2012).
A maioria dos estudos encontrados na literatura utilizam como
ferramentas para a investigao desse receptor antagonistas considerados
relativamente seletivos, como o (2R)-1-[(3-hydroxyphenyl)sulfonyl]-2-[2-(4-
methyl-1-piperidinyl)ethyl]-pyrrolidine (SB-269970) e o 2a-[4-(4-phenyl-1,2,3,6-
tetrahydropyridyl)butyl]-2a,3,4,5-tetrahydrobenzo(c,d)indol-2-(1H)-one (DR
4004). Com o mesmo interesse, tambm foram desenvolvidos em diferentes
laboratrios animais knockout (5-HT7-/-
), que no expressam os receptores 5-
HT7 (Leopoldo et al, 2012).
Existe uma correlao consistente entre distribuio e funo do 5-HT7
no encfalo: sua presena no hipotlamo sugere um envolvimento no ritmo
circadiano, na termoregulao e na regulao endcrina; sua presena no
hipocampo relevante para o seu papel na memria e na aprendizagem. No
crtex e no tlamo, a importncia desses receptores correlacionada com o
sono, a epilepsia e a regulao do humor (Leopoldo et al., 2012). O interesse
no possvel envolvimento desse receptor em distrbios emocionais surgiu a
partir de achados experimentais de que frmacos antipsicticos (Roth et al.,
1999) e antidepressivos (Monsma et al., 1993; Mullins et al., 1999) tm
afinidade por 5-HT7, e foi reforado pela sua presena em regies relevantes do
SNC modulao das emoes, tais como a amgdala, o hipocampo, o
hipotlamo e a poro dorsal da substncia cinzenta periaquedutal (DPAG)
(Bonaventure et al., 2002; Rang; Dale, 2011; Leopoldo et al., 2012).
Estudos que tiveram como objetivo avaliar o papel do receptor 5-HT7 na
ansiedade encontraram resultados variados (Leopoldo et al., 2012). A utilizao
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32
de animais knockout para esse receptor submetidos a testes de ansiedade,
como a resposta ao alarme sonoro, o LCE e o teste da caixa claro/escuro, so
inconclusivos (Guscott et al., 2005; Leopoldo et al., 2012). J, estudos com o
bloqueio dos receptores 5-HT7 pela administrao de antagonista sugerem um
efeito ansioltico deste bloqueio (Wesolowska et al., 2006a; 2006b).
A participao do receptor 5-HT7 foi avaliada em trs testes de
ansiedade, o Teste de conflito de Vogel e o LCE para ratos e o Four Plate test
para camundongos. Em todos os trs testes a administrao intraperitoneal do
SB 269970 favoreceu um efeito ansioltico, em relao aos animais controle
(Wesolowska et al., 2006a). Porm, substratos neurais crticos para a atividade
ansioltica desse antagonista ainda so desconhecidos. Apesar disso existem
algumas hipteses baseadas na localizao neuroanatmica do receptor 5-HT7
e as consequncias da sua manipulao no funcionamento do SNC. Uma
elevada densidade desses receptores foi encontrada em estruturas como, por
exemplo, o hipocampo, a amgdala e a PAG (Gustafson et al., 1996;
Bonaventure et al., 2002). Essa distribuio enceflica de receptores 5-HT7 no
sistema lmbico indica um potencial papel destes receptores em processos
afetivos. Vale a pena ressaltar que a transmisso serotonrgica em reas como
amgdala, hipocampo e PAG vm sendo associadas modulao da
ansiedade (de Paula Soares; Zangrossi 2004; Wesolowska et al., 2006b;
Strauss et al., 2013).
Para um maior entendimento da ao do antagonista SB 269970 na
ansiedade, Wesolowska e colaboradores (2006b) aprofundaram a sua
investigao escolhendo uma rea enceflica de interesse para os
comportamentos aversivos, o hipocampo. Para tal, os autores administraram o
antagonista de 5-HT7 SB269970 diretamente nessa regio e avaliaram o
comportamento dos animais no teste de conflito de Vogel. Os resultados
obtidos mostraram que o SB 269970 produziu um efeito ansioltico, ao
aumentar o beber punido durante a sesso experimental.
Por ser um transtorno complexo, a dependncia ao etanol no fcil de
ser modelada e as bases neurais envolvidas tanto no uso prolongado do
etanol, como na sua retirada no esto completamente elucidadas. Estudos
que visam compreender tais bases mostram que o consumo crnico de etanol
-
33
induz alteraes morfolgicas no sistema nervoso central e a retirada no
capaz de reverter estas mudanas (Garca-Moreno et al., 2000).
Ainda que tais estudos envolvam diferentes protocolos e tempos de
retirada, algumas reas enceflicas so frequentemente associadas
modulao de alguns efeitos da retirada do etanol. So elas: hipocampo,
hipotlamo, crtex, bulbo olfatrio, colculos inferior e superior, cerebelo, septo,
ncleo accumbens, ncleo paraventricular do tlamo, locus coeruleus, ncleos
da rafe, ncleos central e basolateral da amgdala e PAG (pores dorsal e
ventrolateral) (Pistis et al., 1997; Knapp et al., 1998; Yang et al., 2003;
Stephens et al., 2005; Borlikova et al., 2006; Cabral et al., 2006; Smith e Aston-
Jones, 2008; Ikemoto, 2010; Bonassoli et al., 2010).
A PAG uma rea candidata aos estudos da ansiedade gerada pela
retirada do etanol j que ela esta relacionada com a ansiedade natural e
patolgica (Deakin; Graeff, 1991) e parece estar associada com a retirada de
etanol (Cabral et al., 2006). Apesar disso, ainda so escassos os estudos do
envolvimento dessa estrutura na retirada do etanol.
Com base nos resultados de diversos estudos clnicos e pr-clnicos
sabe-se que a retirada de etanol capaz de gerar ansiedade e que essa tem
relao direta com diversos sistemas de neurotransmisso, dentre eles o
sistema serotoninrgico. Tambm a partir da literatura cientfica, existe a
proposta de que a PAG ativada durante a ansiedade e durante a abstinncia.
Dessa forma, torna-se interessante investigar o papel dos componentes do
sistema serotoninrgico presentes na PAG, em particular dos receptores 5-HT7
da regio dorsal, na ansiedade resultante da retirada do etanol aps consumo
crnico.
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34
2. OBJETIVOS
2.1. OBJETIVO GERAL
Investigar se os receptores do tipo 5-HT7 da DPAG podem mediar a
ansiedade experimental basal e a ansiedade gerada pela retirada de etanol no
labirinto em cruz elevado e no campo aberto em ratos.
2.2. OBJETIVOS ESPECFICOS
Observar o efeito da administrao intra-DPAG das doses de 2,5; 5 e 10
nmoles de SB-269970, um antagonista de receptores do tipo 5-HT7, sobre as
respostas comportamentais de ratos naive no labirinto em cruz elevado e no
teste do campo aberto.
Verificar se a administrao intra-DPAG da doses de 2,5 e 5 nmoles de
SB-269970 seria capaz de reverter as alteraes comportamentais no LCE e
no teste do campo aberto promovidas pela retirada de etanol por 72 e 96 horas,
respectivamente, aps consumo por 21 dias em ratos.
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35
3. MATERIAIS E MTODOS
3.1. Animais
Foram utilizados ratos machos Wistar, entre 75 e 100 dias, provenientes
do Biotrio do Departamento de Biofsica e Farmacologia da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte. Os animais foram alojados em grupos de 5
durante todo o experimento em gaiolas plsticas de 41x34x16 cm, com
serragem no assoalho. Os animais eram mantidos em condies controladas
com ciclo de luz claro/escuro de 12x12 horas, com incio do perodo claro s 6
horas, temperatura mantida em 221C. Os animais receberam gua e comida
ad libitum at o incio do experimento; aps isso os animais foram divididos
para o incio do tratamento. Todos os procedimentos experimentais foram
realizados sob aprovao da Comisso de tica no Uso de Animais da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Protocolo N019/2010).
3.2. Drogas
Foi utilizado o seguinte antagonista serotoninrgico: SB 269970
hydrocloride (2R)-1-[(3-Hydroxyphenyl)sulfonyl]-2-[2-(4-methyl-1-
piperidinyl)ethyl]pyrrolidine hydrochloride, Tocris Bioscience) nas doses de 2,5;
5,0 e 10 nmoles, dissolvido em salina estril 0,9% e Tween 80 a 2%. Os
animais do grupo controle receberam salina 0,9% e Tween 80 a 2%. Para o
tratamento com etanol crnico foi utilizado lcool etlico 70% (Alcoolabor
Segementa) dissolvido em gua a fim de se obter as concentraes de 2, 4 e
6% da droga. Para o procedimento cirrgico foram utilizados os anestsicos
Quetamina (80 mg/Kg/ml), Xilazina (10 mg/Kg/ml) e de cloridrato de lidocana
(2%, 0,2 mL/animal, subcutnea), alm do analgsico com atividade
antiinflamatria e antipirtica (Banamine) (2,5 mg, 0,2 mL/animal, subcutnea)
-
36
e uma associao antibitica de largo espectro (Pentabitico, 10 mg, 0,2
mL/animal, intra muscular). Para a perfuso transcardaca, os animais foram
anestesiados com tiopental (100 mg/kg/mL, intraperitoneal), e perfundidos com
salina (NaCl 0,9%) e posteriormente com formol (10%).
3.3. Exposio ao Etanol
Os animais do grupo etanol consumiram gua ad libitum durante o
crescimento at atingir 75 dias, quando foi iniciado o tratamento com o etanol
como nica fonte de dieta lquida. O protocolo de exposio ao etanol foi
montado com base em estudos prvios (Tirapelli et al., 2008; Ali, 2011) da
seguinte forma: etanol na concentrao de 2% por trs dias, seguido de etanol
na concentrao de 4% por trs dias e etanol na concentrao de 6% por
quinze dias totalizando 21 dias de tratamento. Ao final da exposio, foi
realizada a retirada de etanol da dieta, voltando a oferecer gua livremente
para os animais. O grupo controle recebeu gua ad libitum e ambos receberam
dieta slida sem nenhum tipo de restrio durante todo o experimento. A
exposio ao etanol foi feita somente no experimento 2.
Quadro 2: Esquema do protocolo de consumo de etanol.
-
37
3.4. Cirurgia Estereotxica para Implantao de Cnula Intra-DPAG
Os animais foram anestesiados com Quetamina (80 mg/Kg/ml) e
Xilazina (10 mg/Kg/ml). Confirmada a induo anestsica, estes foram
colocados em um aparelho estereotxico, com a barra dos incisivos fixas em
2,5 mm abaixo da linha interaural para dar incio aos procedimentos cirrgicos.
Foi realizada a limpeza do campo cirrgico previamente raspado com uma
soluo de iodo onde foi administrado por via subcutnea o anestsico local
cloridrato de lidocana (0,2 mL/animal, subcutnea) associado a um
vasoconstritor. Alguns minutos depois foi feita a inciso longitudinal para a
exposio da calota craniana e foi realizada a remoo do peristeo por
raspagem.
O prximo passo foi a fixao de um parafuso de ao inoxidvel para a
ancoragem da prtese de acrlico a ser colocada no crnio do animal; para
isso, foi feito um orifcio perfurado com broca dental a fim de facilitar o
procedimento. Para a introduo da cnula-guia, tambm foi feito um orifcio
com a localizao demarcada a uma distncia de 1,9 mm lateralmente ao
lambda. A profundidade foi demarcada a partir da superfcie craniana a uma
distncia de 3,2 mm com uma inclinao de 22 em relao ao plano sagital. A
confeco da cnula-guia de 12 mm foi feita manualmente a partir de uma
agulha hipodrmica descartvel (25x6 mm). Para a fixao da cnula-guia na
calota craniana, foi utilizada resina acrlica autopolimerizvel. Para finalizar, foi
introduzido pela cnula guia um mandril de ao inoxidvel de mesmo
comprimento, para evitar possveis entupimentos da cnula.
Finalizada a cirurgia, os animais foram assistidos no retorno da
anestesia e, posteriormente, foram levados ao biotrio do laboratrio, onde
permaneceram at a realizao dos testes comportamentais. Durante o
procedimento cirrgico foi administrado um potente analgsico com atividade
antiinflamatria e antipirtica (Banamine) (0,2 mL/animal, subcutneo) e uma
associao antibitica de largo espectro (Pentabitico, 0,2 mL/animal, intra
muscular), a fim de prevenir possveis situaes patolgicas.
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38
3.5. Habituao
No quinto e sexto dia aps a cirurgia, cada animal foi retirado do biotrio
e levado para sala de teste a fim de ser habituado ao experimentador e s
condies experimentais. Para isso, o experimentador manuseou o animal por
5 minutos e, em seguida, o rato foi colocado em uma gaiola com serragem no
assoalho, onde permaneceu por 10 minutos. A mesma gaiola foi utilizada,
posteriormente, na execuo dos testes comportamentais.
3.6. Aparatos, Injeo intra-DPAG e Testes comportamentais
No stimo dia aps a cirurgia, os animais foram submetidos injeo
intra-DPAG de SB269970 ou veculo dez minutos anteriores ao teste do
labirinto em cruz elevado. No oitavo dia ps-cirgico, os mesmo animais foram
submetidos injeo intra-DPAG com o mesmo tratamento e, dez minutos
aps, ao teste do campo aberto.
As injees foram feitas com uma agulha odontolgica (14 mm) inserida
pela cnula guia, at atingir o alvo 2 mm abaixo da extremidade da cnula. A
agulha odontolgica estava conectada atravs de um sistema de tubo de
polietileno a uma microsseringa (Hamilton 701-RN, EUA) de 5 L. Todo o
sistema estava preenchido por gua destilada. Para verificar se a droga estava
sendo injetada foi verificado o deslocamento de uma bolha de ar no polietileno
antes e durante a injeo. O volume e o tempo de injeo foram controlados
por uma bomba de microinjeo digital (Insight, Brasil), sendo o volume de 0,2
L da droga injetado durante 2 minutos.
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39
3.6.1. Labirinto em Cruz Elevado (LCE)
O teste foi realizado em um aparelho de frmica branca elevado do cho
40 cm, com dois braos laterais elevados (fechados), com paredes medindo 40
cm de altura e dois braos (abertos), com moldura de acrlico de 1 cm de
altura, unidos por uma plataforma central comum de 10x10 cm (Pellow et al.,
1985).
Figura 3: Imagem do Labirinto em Cruz Elevado (Pires et al., 2012)
Antes do incio do teste, os animais eram realocados nas gaiolas
utilizadas na habituao e transportados para uma sala adjacente sala de
experimento para ambientao e injeo da droga. Dez minutos aps o
tratamento, os ratos foram transportados at a sala experimental e expostos ao
LCE. Cada animal era colocado na plataforma central com a cabea voltada
para um dos braos fechados e explorava o labirinto por 5 minutos. Todos os
testes foram conduzidos durante a fase clara do ciclo de luz, sempre no mesmo
horrio (13h-18h), em uma sala com baixa iluminao (luz vermelha) e
temperatura controlada. Aps o teste de cada animal, a limpeza do labirinto era
realizada com gua. O teste foi gravado para anlise posterior. Foram
considerados os seguintes parmetros: nmero de entradas nos braos
fechados, porcentagem de entradas nos braos abertos (entradas nos
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40
fechados+ centro+ abertos como total de entradas) e porcentagem de tempo
gasto nos braos abertos (tempo total de 300 segundos).
3.6.2. Campo Aberto
Esse teste foi realizado em uma caixa quadrada de frmica branca com
o fundo negro medindo 60cm x 60cm, com paredes laterais de 60cm de altura.
Inicialmente proposto por Calvin Hall em 1934, utilizado para avaliao de
atividade locomotora e ansiedade.
Figura 4: Representao esquemtica do Campo Aberto. Fonte: http://www.scienlabor.com.br/
A durao do teste foi de 15 minutos, ao longo dos quais foi observada a
distncia percorrida pelo animal, em metros, como ndice de atividade
locomotora. Os parmetros distncia percorrida, tempo e nmero de entradas
no centro do aparato ao longo dos primeiros cinco minutos foram utilizados,
tambm, para avaliao da ansiedade (Ramos, 2008). Toda a movimentao
dos animais foi registrada e a anlise foi realizada com o uso do software ANY-
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41
Maze (Stoelting, EUA) para quantificao dos parmetros de interesse. O
ambiente para realizao do teste era controlado com temperatura constante
de 221C, com luz vermelha indireta e silncio. Aps o teste de cada animal a
limpeza do campo aberto era realizada com gua.
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42
3.6.3. Desenho experimental
No experimento 1, os animais receberam a injeo intra-DPAG do
antagonista SB-269970 nas doses 2,5 nmoles (n=9), 5 nmoles (n= 9 - 10) e 10
nmoles (n= 12) ou veculo (n= 9 - 10) dez minutos antes do teste no labirinto
em cruz elevado e do teste do campo aberto.
Quadro 3: Esquema do desenho experimental do Experimento 1.
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43
No experimento 2 foi introduzido o protocolo de consumo de etanol a um
dos grupos e, trs dias aps a retirada, os animais receberam administrao
intra-DPAG do antagonista SB-269970 nas doses 2,5 e 5 nmoles ou veculo e,
aps dez minutos, os animais foram submetidos ao teste do LCE. No dia
seguinte, os mesmos animais passaram pela injeo intra-DPAG com os
mesmos tratamentos e foram submetidos ao teste do campo aberto. Ao final,
foram formados os seguintes grupos: gua/veculo (n=7), gua/antagonista 2,5
(n=9), gua/antagonista 5,0 (n=5), etanol/veculo (n=11), etanol/antagonista 2,5
(n=8) e etanol/antagonista 5,0 (n=5).
Quadro 4: Esquema do desenho experimental do Experimento 2.
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44
3.7. Perfuso
Para preparar os encfalos para anlise histolgica aps o termino dos
testes comportamentais, os animais foram anestesiados com tiopental (100
mg/kg/mL) e perfundidos com salina 0,9% e formol 10%. Terminada a
perfuso, foi injetado 0,2 L de corante fast green atravs de uma microagulha
(14 mm) inserida pela cnula-guia. Os encfalos corados foram retirados e
ento fixados em formol 10% para posterior anlise histolgica.
3.8. Histologia
Os encfalos foram cortados em seces coronais a mo para
verificao macroscpica do stio de microinjeo, segundo as fotomicrografias
do atlas de encfalo de rato de Paxinos e Watson (1986). Foram includos na
anlise estatstica somente os animais que tiveram a ponta da agulha de
microinjeo localizada na DPAG.
3.9. Anlise estatstica
Todos os dados so apresentados como mdiaerro padro da mdia e
os resultados experimentais foram submetidos ao teste estatstico ANOVA de
uma via (Experimento 1) e duas vias (Experimento 2). O teste post-hoc de
Duncan foi utilizado, quando apropriado. O programa utilizado para anlise foi o
SPSS, verso 6.0.
-
45
4. RESULTADOS
EXPERIMENTO 1: EFEITOS DA ADMINISTRAO INTRA-DPAG
DO ANTAGONISTA DE RECEPTORES 5-HT7 SB-269970 SOBRE
O COMPORTAMENTO DE RATOS NO LCE E TESTE DO CAMPO
ABERTO.
-
46
A figura 5 ilustra os stios de microinjeo de SB 269970 e veculo na
DPAG de ratos submetidos aos testes do LCE e do campo aberto.
Figura 5: Representao da localizao dos stios de microinjeo de SB 269970 ou veculo na DPAG.
Os nmeros fora dos grficos representam o nmero de animais cujo stio de microinjeo estava situado naquela determinada poro da DPAG (n=41, Experimento 1).
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47
A figura 6 ilustra a frequncia de entradas nos braos fechados do LCE
durante os 5 minutos de teste realizado com os animais que receberam
microinjees de veculo ou de SB 269970 em diferentes doses. De acordo
com a ANOVA, no foram observadas diferenas entre os grupos 2,5 nmoles
(5,780,62), 5,0 nmoles (6,801,00) e 10 nmoles (6,330,78) [F(3,40)=0,22;
p=0,87].
Figura 6: MdiaEPM da freqncia de entradas nos braos fechados de animais submetidos ao LCE
aps a injeo intra-DPAG de SB-269970 ou veculo (n= 9 - 12).
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48
Na figura 7 pode ser observado o efeito da injeo intra-DPAG de SB-
269970 ou de veculo sobre a porcentagem de entrada nos braos abertos do
LCE. A ANOVA mostrou que no houve efeito do tratamento com SB 269970
nas doses de 2,5 nmoles (15,852,26), 5,0 nmoles (17,553,15) e 10 nmoles
(27,334,35), em relao ao grupo controle (18,812,89) [F(3,40)=2,37;
p=0,08].
Figura 7: MdiaEPM da % das entradas nos braos abertos de animais submetidos ao LCE aps a
injeo intra-DPAG de SB-269970 ou veculo (n = 9 12).
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49
A figura 8 mostra o efeito da injeo intra-DPAG de SB-269970 (2,5; 5 e
10 nmoles) ou da injeo de veculo sobre a porcentagem de tempo nos braos
abertos no LCE. A ANOVA mostrou que houve efeito do tratamento sobre esse
parmetro [F(3,40)=3,19; p=0,03]. O teste post-hoc de Duncan mostrou que a
dose de 10 nmoles (34,526,32) aumentou a porcentagem de tempo nos
braos abertos em relao ao grupo veculo (17,933,95).
Figura 8: MdiaEPM da % do tempo nos braos abertos, de animais submetidos ao LCE aps a injeo
intra-DPAG de SB-269970 ou veculo (n = 9 12). * p
-
50
A tabela 2 mostra parmetros comportamentais relacionados
ansiedade analisados nos primeiros cinco minutos do teste do campo aberto. A
ANOVA mostrou que no houve efeito dos tratamentos nos parmetros:
distncia percorrida no centro da arena [F(3,38)=0,54; p=0,65], tempo gasto no
centro [F(3,38)=0,91; p=0,44] e nmero de entradas no centro do aparato
[F(3,38)=1,20; p=0,32] aps injeo intra-DPAG de SB-269970. Em relao
atividade locomotora dos animais, podemos observar tambm (na tabela 2)
que o tratamento com SB-269970 no alterou a distncia percorrida pelos
animais [F(3,38)=0,28; p=0,83] no teste do campo aberto ao longo de 15
minutos.
Tabela 2: MdiaEPM dos resultados do teste do campo aberto para avaliao da atividade locomotora
(distncia total percorrida durante os 15 minutos) e dos parmetros de ansiedade (distncia percorrida no centro do aparato, tempo gasto no centro e nmero de entradas no centro durante os primeiros 5 minutos) pelos animais que receberam veculo e os que receberam o antagonista nas concentraes 2,5; 5 e 10 nmoles intra-DPAG (n= 9 12).
Distncia
Percorrida (m)
Distncia
percorrida no centro (m)
Tempo gasto no centro (s)
N de
entradas no centro
Veculo 22,732,84
1,050,21
8,801,92
5,560,77
SB 269970 2,5 nmoles
19,902,86
1,080,13
12,762,41
6,221,28
SB 269970 5 nmoles
22,712,56
1,180,13
8,162,39
4,330,67
SB 269970 10 nmoles
21,281,64
0,910,15
8,142,23
3,921,02
-
51
EXPERIMENTO 2: EFEITOS DA ADMINISTRAO INTRA-DPAG
DO ANTAGONISTA DE RECEPTORES 5-HT7 SB-269970 EM
RATOS SUBMETIDOS A RETIRADA DE 72 E 96 HORAS DE
ETANOL APS CONSUMO CRNICO TESTADOS NO LCE E NO
TESTE DO CAMPO ABERTO.
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52
A figura 9 ilustra os stios de microinjeo de SB-269970 e veculo na
DPAG de ratos submetidos retirada de etanol e seus controles testados no
LCE e no teste do campo aberto.
Figura 9: Representao grfica da localizao dos stios de microinjeo de SB 269970 ou veculo na
DPAG. Os nmeros fora dos grficos representam o nmero de animais cujo stio de microinjeo estava situado naquela determinada poro da DPAG (n=45, Experimento 2).
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53
Na figura 10 est ilustrada a frequncia de entradas nos braos
fechados dos animais controle (que receberam gua durante todo o
experimento) e dos animais etanol (que foram tratados cronicamente e
sofreram a retirada do etanol 72 horas antes do teste), aps microinjees de
veculo ou de SB 269970. A ANOVA mostrou uma diferena significativa nos
resultados do LCE, esse efeito no foi da retirada por [F(1,44)=0,68, p=0,41], e
tambm no foi do antagonismo do receptor 5-HT7 [F(2,44)=0,73, p=0,48];
porm, houve interao entre a retirada e o antagonismo [F(2,44)=6,22,
p=0,00]. O post-hoc de Duncan evidenciou uma diferena significativa entre o
grupo etanol/veculo (5,180,48) e o grupo gua/veculo (7,710,45),
mostrando que a retirada do etanol de 72 horas reduziu a locomoo dos
animais. O SB na dose 2,5 nmoles foi capaz de reverter esse efeito, j que
houve diferena entre os grupos etanol/ SB 2,5 nmoles (8,250,29) e
etanol/veculo.
Figura 10: MdiaEPM da freqncia total de entradas nos braos fechados do LCE durante os 5
minutos de teste. Os grupos, cujos nomes esto identificados na legenda, indicam os tratamentos intra-DPAG recebidos previamente s exposies ao LCE (n= 5 - 11). *p
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54
A figura 11 mostra o efeito da injeo intra-DPAG de SB-269970 (2,5 e
5 nmoles) ou da injeo de veculo sobre porcentagem de entrada nos braos
abertos no LCE de animais submetidos retirada de etanol aps consumo
crnico e seus controles. A ANOVA mostrou um efeito significativo na anlise
desse parmetro do LCE, esse efeito no foi do antagonismo [F(2,44)=0,28;
p=0,75], assim como, no houve interao entre o antagonismo e a retirada de
etanol [F(2,44)=0,97; p=0,38]. J a retirada apresentou um efeito significativo
[F(1,44)=17,71; p=0,00]. Apesar desse efeito da retirada, o teste post-hoc de
Duncan mostrou que no houve diferena entre os grupos etanol/veculo
(12,463,71) e gua/veculo (26,011,08).
Figura 11: MdiaEPM da % das entradas nos braos abertos de animais submetidos ao LCE aps a
injeo intra-DPAG de SB-269970 em diferentes doses ou veculo (n = 5 11).
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55
A figura 12 mostra o efeito da injeo intra-DPAG de SB-269970 (2,5 e
5 nmoles) ou da injeo de veculo sobre porcentagem de tempo nos braos
abertos do LCE de animais submetidos a retirada de etanol aps consumo
crnico. A ANOVA mostrou que no houve efeito do antagonismo
[F(2,44)=0,33; p=0,72], assim como no houve interao entre os fatores
antagonismo e a retirada de etanol [F(2,44)=0,28; p=0,75]. J a retirada
apresentou um efeito significativo [F(1,44)=16,05; p=0,00], e o post-hoc de
Duncan demonstrou a diferena significativa entre os grupos etanol/veculo
(14,605,09), etanol/SB 2,5 nmoles (10,412,33) e etanol/SB 5,0 nmoles
(9,406,91), em relao ao grupo gua/veculo (34,714,30).
Figura 12: MdiaEPM da % do tempo nos braos abertos de animais submetidos ao LCE aps a injeo
intra-DPAG de SB-269970 em diferentes doses ou veculo (n = 5 11). *p
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56
A tabela 3 mostra parmetros comportamentais relacionados
ansiedade analisados nos primeiros cinco minutos do teste do campo aberto. A
ANOVA mostrou que houve efeito da retirada na distncia percorrida no centro
[F(1,43)=13,86; p=0,00], mas no com relao ao antagonismo [F(2,43)=0,54;
p=0,58] e a interao retirada/antagonismo [F(2,43)=0,07; p=0,93]. O teste
post-hoc de Duncan mostrou que houve diferena entre os grupos
etanol/veculo e gua/veculo, de forma que a retirada do etanol por 96 horas
reduzia a distncia percorrida no centro do aparato. Com relao ao tempo
gasto no centro, a ANOVA mostrou que houve efeito da retirada
[F(1,43)=12,00; p=0,00] e no houve efeito do antagonismo [F(2,43)=0,92;
p=0,40] e da interao retirada/antagonismo [F(2,43)=0,63; p=0,53]. Apesar do
efeito da retirada detectado pela ANOVA, o post-hoc de Duncan mostrou que
no houve diferena entre os grupos etanol/veculo e gua/veculo. Por ltimo,
foi analisado o nmero de entradas no centro do campo aberto e a ANOVA
mostrou que houve efeito da retirada [F(1,43)=9,01; p=0,00] mas no do
antagonismo [F(2,43)=0,34; p=0,71] e interao retirada/antagonista
[F(2,43)=0,23; p=0,79]. O post-hoc de Duncan mostrou que, apesar da retirada
ter efeito significativo na ANOVA, no houve diferena entre os grupos
etanol/veculo e gua/veculo.
Em relao atividade locomotora dos animais, a ANOVA mostrou que
no houve diferena entre os grupos em relao retirada [F(1,43)=2,24;
p=0,14], ao antagonismo [F(2,43)=0,03; p=0,96], e interao
retirada/antagonismo [F(2,43)=0,11; p=0,89]. Pode ser observado na tabela 3
que o tratamento com SB-269970 no grupo gua ou no grupo etanol no
alterou a distncia percorrida pelos animais no teste do campo aberto ao longo
de 15 minutos.
-
57
Tabela 3: MdiaEPM dos resultados do teste do campo aberto para avaliao da atividade locomotora
(distncia total percorrida durante os 15 minutos) e dos parmetros de ansiedade (distncia percorrida no centro do aparato, tempo gasto no centro e nmero de entradas no centro durante os primeiros 5 minutos) pelos animais que receberam veculo e os que receberam o antagonista nas concentraes 2,5 e 5 nmoles intra-DPAG (n= 5 11). *p
-
58
5. DISCUSSO
Neste trabalho investigamos a participao dos receptores 5-HT7 da
DPAG na ansiedade experimental basal e na ansiedade gerada pela retirada
do etanol aps o consumo crnico. Para isso fizemos, inicialmente, a anlise
dos efeitos das doses de 2,5; 5 e 10 nmoles do antagonista seletivo de
receptores do tipo 5-HT7 SB269970 administrado intra-DPAG sobre
comportamentos relacionados ansiedade gerados pela exposio ao LCE e
ao CA. Em seguida, utilizando as doses ineficazes por si s do antagonista SB
de 2,5 e 5 nmoles, para com isso tentar ao mximo excluir os efeitos da ao
do prprio antagonista e realizar a investigao do papel dos receptores 5-HT7
da DPAG na ansiedade gerada pela retirada do etanol.
No primeiro experimento realizado, verificamos que a administrao
intra-DPAG do antagonista SB269970 no alterou comportamentos
relacionados ansiedade em animais testados no LCE nas doses de 2,5
nmoles e 5 nmoles. J a dose de 10 nmoles promoveu um efeito do tipo
ansioltico neste teste.
Existem poucos dados disponveis sobre a avaliao do efeito da
manipulao do receptor 5-HT7 na ansiedade; apesar disso, a literatura sugere
uma provvel relao entre este receptor e alguns transtornos afetivos. Robert
e colaboradores (2004) avaliaram camundongos 5-HT7-/-
na caixa claro/escuro,
um teste de ansiedade. Nesse experimento no houve diferena significativa
entre a linhagem geneticamente modificada e os animais selvagens: os animais
knockout gastaram o mesmo tempo no compartimento claro que os animais
controle. O mesmo se repetiu para o nmero de transies entre os
compartimentos claro e escuro, sugerindo que este receptor no esteja
envolvido na ansiedade analisada neste teste. Utilizando a mesma linhagem,
Hedlund e Sutcliffe (2007) investigaram a participao do receptor 5-HT7 no
teste de esconder esferas (marble burying test), um modelo experimental para
a avaliao comportamental da ansiedade e do transtorno obsessivo
compulsivo. Nesse estudo, os animais 5-HT7-/-
tiveram um comportamento
considerado ansioltico, j que eles esconderam significativamente menos
-
59
esferas que os animais selvagens. No mesmo trabalho, os autores tambm
investigaram a ao do antagonista de 5-HT7, SB-269960, em animais
selvagens. Os resultados estavam de acordo com o encontrado no teste com
os animais geneticamente modificados, tendo os animais tratados com o
antagonista uma reduo significativa no parmetro de esconder esferas, com
relao aos animais controle. Os autores demonstraram que tanto a deleo
gnica, quanto o bloqueio do receptor 5-HT7, reduziu o comportamento de
esconder esferas em um modelo comportamental capaz de gerar respostas
relacionadas ansiedade, sugerindo a participao deste receptor neste
estado afetivo.
Alm dos supracitados, outros testes tambm foram utilizados no estudo
do papel dos receptores 5-HT7 na ansiedade. No estudo de Guscott e
colaboradores (2005), no houve diferena significativa entre os camundongos
5-HT7-/- e os animais selvagens nos parmetros tempo de explorao e nmero
de entradas nos braos abertos do LCE.
Tambm utilizando o LCE, Wesolowska e colaboradores (2006a) fizeram
o bloqueio desses receptores com a administrao intraperitoneal do
antagonista SB269970 em ratos. O resultado desse estudo contradiz o estudo
anterior com animais knockout, j que os pesquisadores visualizaram um efeito
ansioltico significativo. Os animais tratados com o antagonista tiveram um
nmero de entradas e de tempo gasto nos braos abertos do aparato maior,
quando comparado com os animais controle. Ainda nesse trabalho, o teste de
conflito de Vogel, conhecido tambm por teste do beber punido, foi utilizado
para avaliar a ansiedade. Assim como no LCE, o antagonista teve um efeito do
tipo ansioltico, aumentando a expresso do beber punido. O grupo ainda
avaliou a ao do SB269970 na ansiedade em camundongos usando o Four-
Plate test. O antagonista foi capaz de aumentar o nmero de cruzamentos
punidos no teste, sugerindo, tambm, um efeito ansioltico (Wesolowska et al.,
2006a).
Os efeitos ansiolticos do antagonista de 5-HT7 acima mencionados tm
sido obtidos, em sua maioria, aps a administrao perifrica da droga, no
existindo muitos dados que possam indicar o seu local de ao no SNC.
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Visando um maior conhecimento das reas enceflicas que poderiam
estar envolvidas na atuao do receptor 5-HT7, Wesolowska e colaboradores
(2006b) investigaram o efeito da administrao intra-hipocampal do SB-269970
na ansiedade experimental. Sugere-se que o hipocampo desempenha um
papel importante nos estados emocionais e possa estar envolvido no efeito de
antidepressivos e ansiolticos, assim como do antagonista 5-HT7,
principalmente pelo fato desses receptores estarem presentes nessa estrutura
(Bonaventure et al., 2002; Wesolowska et al., 2006b). Para a anlise da
ansiedade, os pesquisadores utilizaram o teste de conflito de Vogel em ratos.
Os animais que receberam o antagonista nas doses de 0,3, 1 e 3g tiveram
aumento significativo no comportamento do beber punido, em comparao com
os animais controle, mostrando que o SB-269970 tambm capaz de produzir
um efeito ansioltico quando administrado no hipocampo. Alm do hipocampo,
a presena do receptor 5-HT7 no sistema olfatrio, septo, tlamo, hipotlamo,
amgdala, crtex e na PAG (Gustafson et al., 1996; Bonaventure et al., 2002;
Leopoldo et al., 2012) torna essas reas atrativas para o estudo da atuao
desse receptor principalmente nos estados aversivos, na ansiedade e na
dependncia do etanol.
Os dados da literatura, principalmente os do grupo de Wesolowska e
colaboradores (2006a, 2006b) embasam e reforam os achados do
experimento 1 do presente estudo, corroborando a partici