O ASSOCIATIVISMO ÉTNICO E A BUSCA POR AUTONOMIA E … · RESUMO: O associativismo étnico é um...
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O ASSOCIATIVISMO ÉTNICO E A BUSCA POR AUTONOMIA E
DIREITOS
Graziella Reis de Sant’Ana
RESUMO:
O associativismo étnico é um fenômeno bastante recente na história das mobilizações e das
inserções políticas dos povos indígenas. É herdeiro dos processos de luta pela
redemocratização do país que ocorreram nas décadas de 70 e 80 e, principalmente, fruto do
embate/aliança com o poder tutelar e a busca por autonomia e diretos via movimento indígena
no Brasil. É um fenômeno repleto de diferenciações, formas de atuação e impacto,
características e objetivos, representado pelas mais variadas formas associativas dos grupos,
como as associações locais, regionais ou nacionais; associações vinculadas a uma só etnia ou
a várias; associação de mulheres, de acadêmicos; associações com um presidente ou uma
comissão; entre outras. As associações indígenas, hoje, são importantes executoras ou co-
gestoras de políticas que antes eram geridas exclusivamente pelo Estado, e muitas realizam
essas atividades através do gerenciamento de recursos sob a forma de projetos que são
desenvolvidos nas mais diversas áreas. Ainda, atuam como instrumentos nas reivindicações
relacionadas as demarcações territoriais, a aplicação/fiscalização de direitos adquiridos e as
afirmações étnicas, assim como são utilizadas como mecanismos de busca por influência e
prestigio entre os grupos. Para esta comunicação, irei traçar um breve histórico do
associativismo étnico, apontando alguns de seus desdobramentos (políticos, simbólicos,
culturais) dando destaque aos aspectos ligados ‘a busca por autonomia e direitos.
Palavras-chave: associações indígenas; direitos; associativismo étnico; autonomia.
1 INTRODUÇÃO
O associativismo étnico é um fenômeno bastante recente na história das mobilizações
e das inserções políticas dos povos indígenas. É herdeiro dos processos de luta pela
redemocratização do país que ocorreram nas décadas de 70 e 80 e, principalmente, fruto do
embate/aliança com o poder tutelar e a busca por autonomia e diretos via movimento indígena
no Brasil. É um fenômeno repleto de diferenciações, formas de atuação e impacto,
características e objetivos, representado pelas mais variadas formas associativas dos grupos,
como as associações locais, regionais ou nacionais; associações vinculadas a uma só etnia ou
a várias; associação de mulheres, de acadêmicos; associações com um presidente ou uma
comissão; entre outras. As associações indígenas, hoje, são importantes executoras ou co-
gestoras de políticas que antes eram geridas exclusivamente pelo Estado, e muitas realizam
essas atividades através do gerenciamento de recursos sob a forma de projetos que são
desenvolvidos nas mais diversas áreas. Ainda, atuam como instrumentos nas reivindicações
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relacionadas as demarcações territoriais, a aplicação/fiscalização de direitos adquiridos e as
afirmações étnicas, assim como são utilizadas como mecanismos de busca por influência e
prestigio entre os grupos.
Falar de associações indígenas (ou organizações indígenas) é falar das novas
incorporações e ressignificações nativas a partir das especificidades de cada sociedade, ou
seja, da cultura, história, morfologia social, territorialidade e relações com o Estado, assim
como a conexão destas particularidades com os debates sobre, por exemplo, cidadania,
direitos e meio-ambiente. O estudo das associações indígenas, em antropologia, é tratado
como associativismo étnico.
Para esta comunicação irei traçar um breve histórico do associativismo étnico de
forma mais ampla, apontando suas origens a partir do movimento indígena e alguns de seus
desdobramentos, bem como darei destaque aos aspectos ligados a busca por autonomia e
direitos. Entender as associações indígenas numa perspectiva histórica permite compreender o
contexto de relações no qual estão inseridas, o que inclui compreender outros aspectos, como
a política indigenista, os setores de apoio e os oponentes ao movimento indígena.
Destaca-se que apesar da importância crescente que as associações vêm adquirindo e
o que elas representam para a história das inserções políticas dos povos indígenas, ainda
existem poucas pesquisas que aprofundem nessa temática. Carlos Alberto Ricardo (2004, 124)
destaca que apesar da dimensão que o fenômeno vem apresentando e das implicações e
transformações que ele vem determinando, há “pouquíssimos estudos de caso que tomem
como epicentro as etnopolíticas em jogo vis a vis a essas mudanças de contexto”.
O autor propõe, portanto, que:
Além da identificação e eventual exercício de categorização, não se poderá
compreender o significado para os povos indígenas das iniciativas
contemporâneas relacionadas [por exemplo] ao mercado, sem ampliar o
marco de referência para examiná-los considerando as estratégias
etnopolíticas de cada povo em relação aos contextos regional, nacional e
internacional. Isso exige pesquisa de campo demorada e combinada com
análise de fontes secundárias dispersas e pouco disponíveis (RICARDO,
2004, 124).
Dominique Gallois (2000) também aponta a necessidade de um maior número de
pesquisas que tomem como foco as associações indígenas, – que para a autora representam
mais uma dentre as formas de representação apropriada pelos povos indígenas, apropriação
essa que tem, na sua gênese, a influência de alguns setores da Igreja Católica e de
movimentos sociais vinculados às ONGs e sociedade civil. A autora ressalta que devemos
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fugir das explicações simplistas e diretas que tomam as associações indígenas como meras
reprodutoras da “organização tradicional”, para tanto é preciso observar, nesse processo, a
agency indígena no gerenciamento de novas ações e projetos, explicitando que não se trata de
pesquisar a “resistência indígena, mas as produções e ações no campo da etnopolítica que
conecta discursos locais, globais ou de glocalização” (GALLOIS, 2000, 7).
2 REFLEXÕES INICIAIS E PERCURSO HISTÓRICO: O MOVIMENTO INDÍGENA
NO BRASIL
O crescimento de associações indígenas é um processo que vem ocorrendo no país
desde o final da década de 70, ganhando um boom de crescimento nos anos que se seguiram,
principalmente após a promulgação da Constituição Federal de 1988 que abriu a possibilidade
para os povos indígenas se constituírem como pessoas jurídicas; esse crescimento se fez
sentir, sobretudo, na região Norte do país. As mudanças constitucionais de 88 só foram
possíveis com o embate/debate do movimento indígena que ecoou no Brasil (e em toda a
América Latina) nos idos dos anos 70, momento em que outros movimentos sociais se
empenhavam na luta pela redemocratização do país.
As mobilizações indígenas, nesse período, ganharam espaço, legitimidade e
visibilidade, na medida em que se tornavam uma espécie de “válvula de escape” (MATOS,
1997) para os descontentes com o regime de governo. Diante desse quadro, os povos
indígenas foram conquistando apoio de vários setores e categorias como missionários,
antropólogos, jornalistas e artistas, todos empenhados em protestar contra a opressão através
da luta pelos direitos dos povos indígenas à saúde, educação, autodeterminação e território.
Destaca-se que o movimento indígena é um fenômeno que abarca uma
multiplicidade de ações, envolvimentos, articulações, objetivos, direcionamentos e locais,
dados, também, pelas especificidades de cada etnia, pelas relações particulares destas com o
Estado, com as agências de apoio, pela inserção maior ou menor no contexto da sociedade
nacional, entre tantas outras particularidades. Não deve ser pensado como algo uníssono ou
linear, mas sim como movimentos repletos de fluxos e refluxos, cujos contextos vivenciados
influenciam nos impactos e resultados diferenciados.
Os debates e as discussões nacionais e regionais que envolveram o movimento
indígena no Brasil proporcionaram: a ampliação das relações entre indígenas e apoiadores; a
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recuperação do termo “índio” que “passa a ser usado para expressar uma nova categoria,
(positiva), forjada agora pela prática de uma política indígena” (CARDOSO DE OLIVEIRA,
1988, 20); o conhecimento dos problemas comuns enfrentados pelos povos indígenas e a
busca por soluções específicas.
De posse, portanto, de novos conhecimentos e da valorização e auto-afirmação
étnicas, os povos indígenas conquistaram espaços importantes de participação política no
quadro nacional (no que tange às possibilidades de reivindicações, articulações, parcerias e
discussões); o que, de certa forma, ampliou e facilitou a movimentação política, como,
também, abriu novas possibilidades de representação e de vivências étnicas e sociais, como se
pode observar com relação às inúmeras associações indígenas existentes no país e que
surgiram como resultado de todos esses processos.
Antes de tratar sobre a questão do associativismo étnico, como fruto também do
movimento indígena, é importante ressaltar que a década de 70 não foi o único momento de
inserção das mobilizações étnicas na política nacional. Ao longo da história, diferentes
embates políticos – interétnicos, entre Estado e inúmeros segmentos da sociedade nacional –
foram travados diante de situações específicas. E foram desses embates, desenvolvidos no
campo das relações entre diversos grupos e interesses, que proporcionaram as bases históricas
para a criação e consolidação do movimento indígena que despontaria no cenário
nacional/internacional pós 70.
Como aponta Mércio Gomes (1991, 210):
A presença política de índios na história do Brasil não é exatamente uma
novidade. Ela já ocorrera em momentos passados, tanto em conjunto com
outras forças nacionais, como na expulsão dos holandeses do Nordeste, nas
lutas entre franceses e portugueses pela conquista do Rio de Janeiro e do
Maranhão, na Guerra do Paraguai, etc., quanto separadamente, e contra as
forças brasileiras que os oprimiam, como na Cabanagem, na Guerra dos
Barbados, na rebelião de Antonio Conselheiro e em milhares de ocasiões
mais restritas. Porém, a partir do Império e durante a República, foi
estabelecido um modo de relacionamento entre autoridades e índios que
reduziu estes últimos à condição de menoridade, quase crianças. Com essa
forma farsante de paternalismo, os índios só eram ouvidos com
condescendência e arrogância, seu pensamento passou a ser entendido com
pouco caso e a compreensão da realidade passou a ser transferida para
outrem, as autoridades, os indigenistas, os antropólogos. Assim é que o
surgimento atual dos índios no cenário político nacional significou uma
grande vitória para os índios em geral, vitórias pessoais e avanços
conceituais e políticos nas relações interétnicas no país.
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O que esta citação do Mércio aponta é que, primeiro: temos, desde sempre, a
presença indígena em termos políticos, ou seja, no campo do embate e da agência no cenário
nacional. Nos tempos da Colônia, do Império e das Repúblicas temos a participação intensa e
ativa dos povos indígenas em diversos momentos, muitos deles foram registrados pela
historiografia nacional como momentos de alianças, de embates e de atuação nas mais
diversas regiões do país. Segundo, é a partir do século 19 que surge uma nova visão e forma
de atuação do Estado para com os povos indígenas, visão essa que influenciou profundamente
a forma como os grupos passaram a ser tratados e como teriam que agir. A visão que o autor
destaca é a visão, por parte do Estado e da sociedade civil, do indígena enquanto
menor/incapaz, concepção essa advinda das teorias do surgimento do homem, das teorias
darwinistas, do positivismo. Foi a partir desse momento, inclusive, como destaca Manuela
Carneiro da Cunha (1988), que a humanidade física dos índios começou a ser questionada.
Foi nesse momento que surgiu a classificação dos povos indígenas como o berço (inferior) da
humanidade, como aqueles que necessitariam da tutela do Estado para alcançar a maioridade,
ou seja, o “desenvolvimento” rumo à civilização ocidental. E foi com base nessas concepções
que foi construída a política indigenista dos séculos 19 e 20.
Tais concepções, portanto, iriam embasar a criação, em 1910, do SPI, Serviço de
Proteção aos Índios e Localização dos Trabalhadores Nacionais (mais tarde apenas Serviço de
Proteção aos Índios – SPI), coordenado pelo Marechal Candido Rondon. Com a política do
SPI, criam-se os postos indígenas dentro das terras indígenas, os olhos e braços do poder
tutelar. Surge também a orientação de integração dos povos indígenas a sociedade nacional
(liberando os territórios indígenas para o capital).
Em todo o período do SPI houve uma forte atuação de diversos grupos indígenas
questionando a nova política, através de mobilizações e ações contrárias ao poder tutelar; o
que gerou denúncias nacionais e internacionais sobre o órgão, que acabou sendo extinto em
1967. No seu lugar foi criado a FUNAI – Fundação Nacional do Índio.
A FUNAI surge como resposta aos anseios e reclames indígenas, em meio as
denúncias de inúmeras violências praticadas (criação de prisões indígenas, trabalhos forçados,
corrupções, etc.). Ressalto que essas violências só chegaram a ser denunciadas pela
articulação/organização dos povos indígenas com outros setores da sociedade, sobretudo, com
os movimentos internacionais.
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A FUNAI deu continuidade à concepção paternalista da política indigenista anterior.
Além disso, com o novo projeto político e econômico do país, com as novas frentes de
expansão econômica, surge um quadro ainda mais tenso de avanço sobre os territórios
indígenas. Em meio a isso, e dentro da estrutura da FUNAI, havia a figura do indigenista, do
antropólogo, além de funcionários indígenas, o que, de certa forma, proporcionou um campo
maior para o embate e questionamento também por dentro da estrutura do poder tutelar.
Em meio a esse cenário um fato importante ocorreu e foi o estopim para as
mobilizações que culminaram no movimento indígena em 70, e no posterior fenômeno do
associativismo étnico nas décadas que se seguiram, vejamos.
Em 1973, seis anos após a fundação da FUNAI, foi criado o Estatuto do Índio, que
cravava e reafirmava a política de menoridade e a relativa capacidade intelectual dos índios,
além de, entre outras coisas, estabelecer graus de integração do indígena à sociedade nacional.
E em 1978, o presidente General Ernesto Geisel deu uma declaração pública que foi o
estopim. Ele disse, na época, do desejo do Governo em emancipar todos os indígenas,
emancipação aqui entendida como deixar os indígenas à própria sorte (diferente de uma
perspectiva de plena cidadania/autonomia), principalmente frente à especulação cada vez mais
forte sobre os territórios indígenas.
Maria Ortolan Matos menciona que:
A FUNAI indicaria quais índios seriam emancipados, segundo os seguintes
requisitos: a) serviço militar prestado; b) possuir título de eleitor; c)
capacidade de ganhar a vida; d) alfabetizado; e) participar da vida nacional.
O Ministro Rangel Reis citou como exemplo de índios emancipáveis, os
Terena e o Xavante Mário Juruna (MATOS, 1997, 113).
Essa fala do Geisel foi a fagulha que faltava para que o movimento indígena
conquistasse espaço na arena política dos contestadores do regime militar, diante, também, do
apoio de vários segmentos sociais, que viam no suporte à causa indígena uma importante
oportunidade de criticar o regime vigente, haja vista o alcance internacional das denúncias. Só
para citar alguns desses segmentos: a Igreja Católica representada pelos missionários do CIMI
(Conselho Indigenista Missionário); as Comunidades Eclesiais de Base; os antropólogos
ligados à Associação Brasileira de Antropologia; e várias categorias profissionais como
jornalistas, geógrafos, advogados, etc. Esses segmentos passaram a colaborar com as
mobilizações indígenas, tanto através de apoio na logística das ações/debates, quanto no
financiamento para que os indígenas tivessem possibilidade de organizar melhor o
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movimento. Com esse apoio, os grupos indígenas puderam acessar/pressionar nas decisões
governamentais; puderam realizar encontros dentro e fora de suas terras; puderam buscar
caminhos para seus direitos.
Nos encontros do movimento indígena, os povos se relacionavam, também, com
outros movimentos sociais, como: movimento dos campesinos, movimento dos trabalhadores
do campo, movimento das mulheres, movimento dos perseguidos pelo regime militar,
movimento negro, etc. O contato com esses diferentes movimentos foi fundamental, não só
para a compreensão das formas de embate com o Estado (estratégias/ações), mas também
sobre como funcionava um movimento social mais amplo; tudo isso foi moldando de certa
forma o movimento indígena. O movimento tinha a instância mais nacional, onde os povos
indígenas começaram a se reunir/mobilizar e a perceber os problemas que eles tinham em
comum e suas especificidades, bem como, aconteciam as mobilizações regionais/locais, por
estados e aldeias.
Dentre as tantas formas de mobilização pró-índio nesse período, uma das que mais
ganharam destaque nacionalmente foram as chamadas “Assembleias Indígenas”, uma espécie
de Fórum conjunto onde diversas etnias compartilhavam experiências, levantando pontos em
comum ao mesmo tempo em que ressaltavam suas especificidades.
Essas assembleias foram promovidas e coordenadas no início pelo CIMI,
posteriormente, os indígenas assumiram a coordenação das Assembleias, mas sempre com a
participação dos missionários. A primeira Assembleia Indígena aconteceu em 1974 em
Diamantino/MT, na Missão Anchieta, os assuntos mais debatidos na primeira Assembleia
foram:
•Oportunidade dos chefes indígenas se encontrarem e falarem com liberdade
de seus problemas;
•Atrair os índios dispersos as terras que possuem;
•Impedir que o branco venha morar na aldeia;
•Autodeterminação e terra;
•Viver conforme as tradições;
•Possibilidade de melhorar suas técnicas;
•Melhorar o conhecimento;
•Ter capacidade de enfrentar as condições de vida imposta pelo
desenvolvimento.
Participaram dessa assembléia indígena as etnias: Apiaká, Kayabi, Tapirape,
Rikbaktsa, Irantxe, Paresi, Nambiquara, Xavante e Bororo (OSSAMI, 1985,
17).
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Ao total (de 1974 a 1985) foram promovidas 57 assembleias indígenas: 29 na região
Norte, 14 no Centro-Oeste, 6 no Nordeste, 3 no Sudeste, 2 na região Sul e 3 no DF
(possivelmente, mais tantas outras assembleias aconteceram, visto que algumas foram
organizadas localmente e sem aviso prévio ao CIMI (OSSAMI, 1985)). No Mato Grosso do
Sul, foram 6 assembleias registradas pelos arquivos do CIMI, com a primeira acontecendo em
1977 em Dourados, tendo a participação de várias etnias, FUNAI, CIMI, jornalistas, igrejas
evangélicas e representantes da prefeitura. Nas décadas seguintes, de 1980 a 2000, o CIMI
continuou seu trabalho junto aos povos indígenas, mas muito mais como coadjuvante em todo
o processo do que como porta-voz das demandas e reivindicações, principalmente diante do
cenário crescente das associações e da formação técnica e acadêmica de várias lideranças
indígenas.
É importante destacar que todas essas mobilizações se deram num contexto particular
da década de 1970: era um período ainda marcado pelo pós 2ª Guerra Mundial e por
processos de descolonização; pelo fortalecimento dos valores propagados pelos Direitos
Humanos; pelo crescimento de movimentos humanitários; pela internacionalização das
questões nacionais; pelo levante dos povos oprimidos (indígenas, negros, mulheres,
homossexuais); pelo desenvolvimento das teorias processuais sobre cultura e grupos étnicos.
Este contexto propiciou espaço à voz indígena e a luta por direitos específicos - e isso não só
no contexto do Brasil, mas também em outras partes do globo, principalmente nos países onde
também ocorreram processos de descolonização.
3 O SURGIMENTO DO ASSOCIATIVISMO ÉTNICO E A LUTA POR DIREITOS E
AUTONOMIA
Com a abertura política e o apoio proporcionado pelo ativismo pró-índio, as
mobilizações indígenas foram crescendo em todo o país, motivadas, entre outros, pelas
Assembleias Indígenas, pelos encontros com outros movimentos sociais contestadores do
regime, pela presença e participação nos fóruns internacionais, pelo apoio de várias entidades
e pela formação escolar, técnica e acadêmica de muitos jovens e lideranças indígenas. No
Mato Grosso do Sul, a mobilização crescia na medida em que as etnias começaram a
participar das reuniões que ocorriam pelo país e, de certa forma, os Terena protagonizaram
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muitas dessas mobilizações que estavam acontecendo, articulando, em diferentes níveis, o
apoio para as suas reivindicações.
De uma forma geral, os debates e as discussões nacionais e regionais
proporcionaram: a ampliação das relações entre os diferentes grupos étnicos; a visibilidade e
fortalecimento das diversas formas de luta; e o conhecimento dos problemas comuns
enfrentados pelos diversos grupos, e a busca de soluções específicas. Essa experiência
propiciou, segundo Ramos (1997), um novo sentimento de solidariedade indígena, um espírito
de cooperação, unindo as comunidades e reforçando as especificidades, em meio, também, a
contradições e conflitos.
[...] os últimos anos assistiram a um fenômeno novo, e é sobre ele que
devemos meditar: o surgimento de uma política indígena, isto é, não mais,
ou apenas, uma ‘política para os índios’ (o que devemos fazer com nossos
índios?), mas uma política dos índios para nós (o que podemos fazer com os
brancos?) (VIVEIROS DE CASTRO apud TINOCO, 2000, 107).
Conforme foram ganhando experiência dentro das mobilizações, e tendo mais apoio
para suas lutas e demandas, além de adquirir novos conhecimentos das regras impostas pelo
sistema e ganhando mais espaço de ação e voz, os povos passaram para a etapa seguinte que
foi a busca por mais autonomia e empoderamento criando suas próprias associações.
A experiência proporcionada pelas articulações da década de 70, permitiu aos
indígenas assumir e organizar suas próprias mobilizações – ainda que com a colaboração
(direta ou indireta) de setores de apoio –, e a fundar suas próprias associações, locais e
nacionais, através da utilização dos instrumentos (transformados e ressignificados em um
novo contexto) adquiridos da participação no campo dos movimentos sociais. Fundaram
importantes associações no final dos anos 70 e início dos anos 80, como a UNIND (União das
Nações Indígenas) e, posteriormente, a UNI (também União das Nações Indígenas), ambas
como respostas aos anseios de consolidação de uma grande articulação indígena nacional.
A formação da UNI reflete, também, a participação e contribuição efetiva dos Terena
no campo do movimento e associativismo étnico, inaugurando um novo momento na relação
entre indígenas e o Estado nacional, juntamente com os debates nacionais e internacionais. A
UNI é destaque desse período sendo marco inicial do associativismo étnico no país (começo
de 80), que tem sua origem com um grupo de jovens acadêmicos e estudantes indígenas do
ensino médio que estavam em Brasília com bolsa de estudos da FUNAI e moravam em uma
casa de estudantes. Esses jovens – cerca de 15 jovens de diversas etnias/regiões – se
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organizaram, estreitaram laços e montaram um time de futebol. Nesse time, além das partidas
de futebol, começaram a acompanhar as mobilizações indígenas que estavam ocorrendo em
Brasília. Nesse processo resolveram então transformar, em 1980, o time de futebol em uma
organização indígena, que lutaria não só pelos estudantes, mas também abarcaria as outras
bandeiras do movimento indígena.
Em 1981, foi realizada uma reunião em São Paulo com apoio de ongs indigenistas,
CIMI, ABA, dentre outros. Nesse encontro, que reuniu diversas etnias, foi realizada uma
eleição e uma reconfiguração/estruturação da UNI. Nessa eleição, Marcos Terena foi eleito
como presidente e Álvaro Tukano como vice. Foi elaborado um estatuto, com os objetivos, as
bandeiras de luta, as pautas principais, etc. A fundação da UNI foi um marco importante na
história do movimento indígena no Brasil, e foi a partir dela que várias UNIs regionais foram
criadas para dar conta das pautas mais locais.
A UNI também abriu os caminhos para o processo de criação de outras associações
indígenas, mas o boom mesmo só aconteceria após a Constituinte de 88, pois, antes disso, as
associações não tinham o status de serem representantes jurídicas de seus grupos frente ao
Estado brasileiro. Mesmo quando elas tinham algum tipo de registro, ainda valia o Estatuto do
Índio (ou seja, a tutela), e essas associações não tinham autonomia de poder representar
oficialmente os grupos.
É com a promulgação da nova Constituição Federal de 1988 que as associações
indígenas ganhariam status de serem representantes legais de seus grupos, com a possibilidade
de não mais depender da FUNAI para tocar projetos, buscar parcerias e participar de
instâncias decisórias relacionadas à política indigenista. Além disso, a constituição de 88
propiciou várias outras conquistas, como o direito à terra e o reconhecimento do Estado aos
usos, costumes e tradições indígenas. Destaque a dois artigos da constituição federal de 88, os
artigos 231 e 232:
Artigo 231 – São reconhecidos aos índios sua organização social, costume,
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo a União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens.
Artigo 232 – Os índios, suas comunidades e organizações são partes
legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses,
intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo (Capítulo VIII,
Constituição Federal, 1988).
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O capítulo específico dos índios na Constituição, foi sem dúvida uma das grandes
vitórias das mobilizações indígenas de 70 e 80, e é por meio dela que começa, portanto, a
proliferar pelo país os mais diversos tipos de associações fundadas pelos próprios indígenas
como novas formas de representação e organização no processo de reivindicação da
aceleração das demarcações, do acesso à saúde, à educação escolar, entre outros.
É importante frisar que não foram somente as mudanças constitucionais que
contribuíram para o crescimento do associativismo. Teremos diversos outros fatores, como: o
crescimento e a participação de lideranças indígenas no cenário político nacional; o
crescimento do debate sobre as temáticas indígenas em outros cenários; a perda do monopólio
da FUNAI sobre as questões indígenas, que passa a dividir as responsabilidades com órgãos
como MMA (questões ambientais), MEC (educação), SESAI (Secretaria Especial de Saúde
Indígena, antes FUNASA: Fundação Nacional de Saúde), órgãos que passam a contar também
com a participação indígena e suas associações. Também, um aumento da escolarização
indígena e que contribuiu para o conhecimento da estrutura burocrática que se exige das
associações; o acesso à novos parceiros na construção de ações e metas para as organizações;
e o apoio de organismos internacionais.
4 NOVOS TEMAS NO CAMPO DO ASSOCIATIVISMO ÉTNICO
Nos anos que se seguiram após a Constituinte, entre as décadas de 90 e 2000, um
novo componente foi agregado ao campo do associativismo étnico no Brasil, transformando e
potencializando suas ações e dando novos rumos a ele, a saber, a junção entre as temáticas
indígenas e ambientais. Esse novo componente, trazido pelos setores ambientalistas, teve um
campo de ação/impacto maior no cenário da Amazônia Legal. Pontuo que quando digo
ação/impacto na Amazônia, quero destacar que as transformações maiores no campo das
associações – com o aumento de financiamentos, novos projetos, novos atores/segmentos de
apoio, novas políticas públicas –, foram voltadas quase que exclusivamente para essa região;
contudo, esse novo componente, essa nova aliança, seria também sentida em outras regiões, a
partir de impactos mais simbólicos, como nos discursos e nas comparações, ou nos temas para
capacitação e projetos almejados.
A junção entre temas ambientais e étnicos foi fruto de um encadeamento de
acontecimentos que proporcionaram a conexão entre o “local e global”, ou seja, entre as
demandas internas da Amazônia brasileira e os debates internacionais sobre os impactos e
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danos ao meio ambiente. No Brasil, destaco alguns momentos-chave para essa junção, como o
Programa Polonoroeste financiado pelo Banco Mundial (na década de 80) que tinha várias
diretrizes voltadas ao desenvolvimento econômico da Amazônia Legal e que deflagrou, nos
anos seguintes, uma série de impactos danosos à Amazônia. Programas como o Polonoroeste
e outros, nesse período, mobilizaram inúmeras organizações indigenistas, ambientalistas e
indígenas, todas buscando formas de denunciar, dentro e fora do país, os estragos causados
pelas novas ações governamentais, buscando, assim, comover países financiadores desses
programas:
A dizimação de populações indígenas na área de influência do projeto
[Polonoroeste] provocou a mobilização na Escandinávia, sobretudo de
organizações ambientalistas dinamarquesas, que capitanearam a pressão
sobre os representantes escandinavos na diretoria do Banco Mundial,
visando estabelecer medidas de resguardo do meio-ambiente e de proteção
das populações indígenas em seus projetos, implantadas pela primeira vez
dentro do banco em 1982 (BARROSO-HOFFMANN, 2008, 256).
Alguns importantes líderes indígenas e suas associações estiveram em países da
Europa denunciando os impactos de empreendimentos econômicos sobre a Amazônia, como
foi o caso de Paulinho Paiakã, indígena Kaiapó, que no ano de 1988 viajou pela Europa
solicitando às agências financeiras que bloqueassem recursos para projetos que viessem a
prejudicar a Amazônia. Em 1989, também foi divulgada a “Declaração dos Povos da
Floresta”, uma aliança entre o CNS (Conselho Nacional dos Seringueiros), a UNI e os
ribeirinhos, contra o desmatamento, a exploração e as violências que estavam vivenciando;
um marco na luta ambiental, aliada à importância das populações tradicionais no manejo das
florestas e da sobrevivência/reprodução da biodiversidade, em meio, também, à vários
protestos envolvendo à morte do líder seringueiro Chico Mendes.
Em meio aos impactos desses eventos/acontecimentos, com acordos ratificados,
expansão dos movimentos e debates ambientais e a ampliação da cooperação internacional às
problemáticas indígenas e ambientais, a imagem do indígena como o legítimo e “natural
protetor” e conhecedor da natureza foi ganhando espaço, sendo essa concepção, amplamente
utilizada pelos novos e antigos setores de apoio, bem como incorporada nos discursos dos
líderes indígenas e nos projetos de associações:
Com a expansão mundial do campo político e ideológico ambientalista, o “índio” será tratado como defensor por excelência do meio ambiente.
Quando a noção de desenvolvimento sustentável passou para o primeiro
plano na agenda do movimento ecológico, os povos indígenas –
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principalmente aqueles que vivem nas florestas tropicais – ampliaram sua
visibilidade pública como “heróis ecológicos”, “guardiões da
biodiversidade” [...] Mediadores indígenas e indigenistas incorporaram a
agenda e a linguagem ambientalistas e constituíram o elo de ligação entre as
demandas de conservação da natureza e as defesas dos direitos humanos,
conectando lutas locais e globais e fundindo noções de “cultura”, “política” e
natureza no bojo de associações inéditas entre a sociedade civil, estado e
mercado (PERES, 2003, 29-30).
No meio de todos esses processos políticos, simbólicos e conceituais, surgem
importantes associações no cenário amazônico, associações essas que foram protagonistas de
importantes ações, como também foram executoras/parceiras de importantes projetos em
Programas como o PPTAL (Projeto Integrado de Proteção às Populações e Terras Indígenas
da Amazônia) e o PDPI (Programa Demonstrativo dos Povos Indígenas), programas
concebidos e “implementados como componentes do programa piloto para a proteção das
florestas tropicais do Brasil” (GRAMKOW, et al., 2007, 129). Com o PPTAL e PDPI, foram
realizadas várias demarcações de TIs na Amazônia, foram estruturadas importantes
associações indígenas, realizados projetos de etnodesenvolvimento, projetos culturais,
financiadas várias mobilizações, cursos, eventos e capacitações.
Os debates e os estudos que analisam os projetos e as ações engendradas a partir da
aliança entre questões ambientais e indígenas, têm problematizado os impactos, os benefícios,
as novas dependências e as transformações que todo esse processo tem tido sobre as
associações indígenas. Albert (2000), analisando esse processo, vai dizer que com o
crescimento dos parceiros e “mercado de projetos”, as associações indígenas, principalmente
no cenário amazônico, passaram, de reivindicadoras das questões territoriais e assistenciais, a
“etnicidade política”com a diminuição do diálogo/embate com o Estado, devido ao seu
esvaziamento , à “etnicidade de resultados”, com as parcerias com a cooperação
internacional para a viabilização de projetos.
Já Matos (2006, 38) ressalta as transformações advindas com o crescimento das
associações e as novas atividades que elas passaram a desenvolver, tanto na gestão de projetos
quanto na co-gestão de políticas públicas. Para a autora, a gestão de projetos e as novas ações
das associações tiraram o fôlego do movimento indígena nacional.
Se, por um lado, temos uma modificação no cenário do associativismo étnico a partir
da aliança com os temas ambientais, o que proporcionou novas parcerias (ONGs, bancos,
governos, Institutos, etc.) de âmbito nacional e internacional, assim como novas políticas
governamentais focando temáticas envolvendo a gestão ambiental nas TIs, com foco principal
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na Amazônia Legal, por outro lado, temos que problematizar, também, a proliferação de
associações por todo o país e que não foram inseridas de forma ampla nos debates e políticas
etnoambientais e nem no “mercado de projetos”. Ressalto, ainda, que no próprio cenário
amazônico é preciso um número maior de etnografias sobre as ações, histórias e projetos das
associações indígenas, para que possamos observar como tem se dado o acesso e a
participação no campo dos debates ambientais, haja vista que nem todos acessam ou
participam diretamente desses processos.
Essas e outras questões nos levam a problematizar, portanto, os diferentes motivos e
caminhos que levam os povos indígenas pelo país a constituírem suas associações, o que
remete às múltiplas especificidades, no sentido de outros temas, interlocutores, ou a forma
como essas associações recebem e são influenciadas pelos debates que ocorrem em outras
regiões.
Portanto, temos diferentes momentos do associativismo étnico. No início com um
aspecto mais político/contestatório (luta por direitos específicos, a constituinte, a afirmação
étnica, a questão da tutela, etc.). Já nos anos 90 e 2000, teremos uma ampliação dessas ações
para o campo dos projetos, e no caso da Amazônia, o campo dos projetos voltados a temática
ambiental.
Também, nos últimos 10 anos, associações/organizações regionais, como a
APOINME (Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo), a
ARPINSUDESTE (Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste), ARPINSUL (Articulação
dos Povos Indígenas do Sul), COIAB (Coordenação dos Povos Indígenas da Amazônia
Brasileira), Conselho do Povo Terena, resolveram unir forças e criaram a APIB (Articulação
dos Povos Indígenas do Brasil), que é um retomar do aspecto mais político do associativismo
haja vista os ataques constantes aos direitos indígenas. Então, aquilo que a UNI representou
no passado, a APIB, vem assumindo (claro, com novas especificidades, novos tempos,
espaços e ações.).
Por fim, pontuo que as associações, hoje, são importantes proponentes e executoras
de políticas públicas. Estão no Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI), conselho
que está ligado ao Ministério da Justiça e é responsável pela proposição de princípios e
diretrizes para políticas públicas voltadas aos povos indígenas, bem como para o
estabelecimento de prioridades e critérios na condução da política indigenista. As
organizações coordenam grandes movimentos, como o Acampamento Terra Livre. Também
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temos a participação dessas organizações na construção de políticas, como foi o caso da
PNGATI (Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas).
Participam de grandes projetos nacionais, como foi o Projeto GATI (Projeto Gestão
Ambiental e Territorial Indígena), um projeto entre governo, organismos internacionais e
organizações indígenas.
A análise antropológica/histórica do associativismo étnico permite compreender a
agency indígena no gerenciamento de diferentes ações e projetos, permite que possamos
compreender os caminhos e estratégias da participação indígena no cenário da política
nacional e a luta sempre necessária e presente por direitos e autonomia.
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