O ATLAS LINGUÍSTICO DO MARANHÃO: FOTOGRAFIAS DO … · estudos selecionados para compor este...
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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 44 – Geolinguística sem fronteiras, juntando culturas
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O ATLAS LINGUÍSTICO DO MARANHÃO: FOTOGRAFIAS DO LÉXICO Conceição de Maria de Araujo RAMOS1
José de Ribamar Mendes BEZERRA2 Maria de Fátima Sopas ROCHA3
RESUMO: Este trabalho objetiva apresentar um conjunto de estudos, resultante da elaboração do Atlas Linguístico do Maranhão-ALiMA, um projeto que se situa no campo da Dialetologia/Geolinguística atual, que ultrapassa a orientação meramente diatópica em busca de um padrão de informação que contempla outras dimensões da variação, tais como a diastrática e a diafásica, de modo a oferecer um mapeamento linguístico global do Estado por meio da demarcação de espaços geolinguísticos e da caracterização do aspecto multidimensional de que se reveste a língua. Enfoca-se o português brasileiro em sua variante maranhense, no campo semântico-lexical. Dos estudos selecionados para compor este trabalho destaca-se o léxico do arroz, em que se estabelece um paralelo entre as lexias utilizadas no universo laboral do arroz, na Baixada Maranhense e na região do Baixo Mondego; o léxico do caranguejo, compreendendo as lexias concernentes à captura, ao processamento e à venda do crustáceo; o léxico do reggae, manifestação cultural de origem jamaicana, mas fortemente enraizada no universo cultural maranhense. Os estudos foram realizados com base em corpora obtidos a partir da aplicação de questionários específicos semântico-léxico-culturais que têm possibilitado, por um lado, registrar, muitas vezes, a originalidade de elementos de um determinado vocabulário, que ganham sentido ao aparecer unidos à herança cultural popular de uma comunidade; por outro lado, identificar na língua falada no Estado a presença e o vigor de elementos desse vocabulário. O objetivo desses estudos é a elaboração de glossários que consideram as condições de circulação dos termos na língua em funcionamento, na modalidade falada, visando à construção de instrumentos úteis de consulta e de fontes de informação lexical e semântica na área do conhecimento/atividade em que se inserem, seguindo um viés pragmático, que viabilizará uma comunicação mais eficiente e intensa entre os sujeitos interessados pelas atividades estudadas. PALAVRAS-CHAVE: Dialetologia; Geolinguística; Lexicologia; Terminologia; Português Maranhense. 1 Universidade Federal do Maranhão, Centro de Ciências Humanas, Departamento de Letras, Av. dos Portugueses, s/n, Campus do Bacanga, CEP-65085-580, São Luís, Maranhão, Brasil, [email protected] 2 Universidade Federal do Maranhão, Centro de Ciências Humanas, Departamento de Letras, Av. dos Portugueses, s/n, Campus do Bacanga, CEP-65085-580, São Luís, Maranhão, Brasil, [email protected] 3 Universidade Federal do Maranhão, Centro de Ciências Humanas, Departamento de Letras, Av. dos Portugueses, s/n, Campus do Bacanga, CEP-65085-580, São Luís, Maranhão, Brasil, [email protected]
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Buscando participar do trabalho de tessitura no âmbito dos estudos
dialetológicos e geolinguísticos, que ora se vem desenvolvendo no país, para que não
“se percam de vez os fios que se foram soltando ao longo destes 500 anos”
(AGUILLERA, 2002, p. 89), pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão
assumiram o compromisso imprescindível e inadiável de devassar o Estado e recolher
amplos materiais com vista a elaborar o atlas linguístico estadual.
Com esse empreendimento, poderemos, por um lado, preencher as inúmeras
lacunas relativas aos estudos sobre o português falado no Maranhão e dar continuidade
ao caminho traçado, no século passado, no Estado, por estudiosos, contribuindo ora
para desconstruir ideias cristalizadas e equívocos sobre o falar maranhense, ora para
confirmar suposições feitas sobre esse falar, uma vez que a recolha de dados empíricos,
resultado de pesquisa in loco, permitirá fazer afirmações com bases científicas sobre
esse falar. Por outro lado, com a participação do Maranhão na elaboração do Atlas
Linguístico do Brasil - Projeto ALiB, contribuiremos para a macrodescrição do
português brasileiro.
Este projeto que nasceu do desejo de um grupo de pesquisadores motivados não
só pelo empenho do Comitê Nacional do ALiB em concretizar o sonho de Serafim da
Silva Neto, Antenor Nascentes, Celso Cunha e Nelson Rossi e elaborar o atlas do
Brasil, como também pelo anelo de pesquisadores maranhenses de ver fotografada a
língua falada no Maranhão, tem como objetivos: (i) elaborar o atlas linguístico do
Maranhão; (ii) descrever a realidade do português do Maranhão para identificar
fenômenos fonéticos, morfossintáticos, lexicais, semânticos e prosódicos que
caracterizam diferenciações ou definem a unidade linguística no Estado; (iii) registrar
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aspectos da cultura maranhense e (iv) oferecer materiais resultantes da pesquisa para a
elaboração do Atlas Linguístico do Brasil.
Por entender que o contexto sócio-histórico e cultural do país exige o
conhecimento sistemático e geral da realidade linguístico-cultural brasileira e,
sobretudo, o levantamento e a análise de dados que apontem características da
variedade do português falado em cada estado, com suas especificidades locais,
costumes e hábitos linguístico-culturais, e por entender ainda que, dada a extensão do
país e as dificuldades de financiamento para a pesquisa, este deve ser um trabalho
parcelado, realizado por múltiplas mãos, o Projeto ALiMA decidiu ampliar suas áreas
de pesquisa e, para tanto, selecionou vertentes que, projetos dentro de um projeto
maior, somam-se, multiplicam-se, possibilitando a preservação da memória histórica,
do universo cultural e das infinitas possibilidades que a língua oferece.
Desse modo, ao buscar retratar as peculiaridades de usos, traços, formas e
estruturas linguísticas do Maranhão, o Projeto ALiMA tomou como ponto de partida o
léxico considerando-o como a forma mais legítima de registrar e tentar revelar a
história da comunidade maranhense, história essa que se encontra gravada na memória
da língua falada no Estado.
As vertentes selecionadas distribuem-se nos seguintes temas: produtos
extrativistas e agroextrativistas, reggae, manifestações culturais de raízes africanas,
bumba-meu-boi, culinária e línguas indígenas.
Para cada uma dessas vertentes, foi elaborado um questionário específico
semântico-léxico-cultural que nos tem possibilitado, por um lado, registrar, muitas
vezes, a originalidade de elementos de um determinado vocabulário que ganham
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sentido ao aparecerem unidos à herança cultural popular de uma comunidade; por outro
lado, identificar, na língua falada no Estado, a presença e o vigor de elementos desse
vocabulário. Dessas vertentes escolhemos, para efeito deste estudo, duas, que têm em
comum compreenderem atividades de importância econômica e cultural para o Estado –
a vertente Produtos extrativistas e agroextrativistas – em especial o arroz e o
caranguejo – e a vertente Reggae.
No que diz respeito à vertente Produtos extrativistas e agroextrativistas, vale
ressaltar que foi por meio da agricultura que o Maranhão, na segunda metade do século
XVIII, teve, como afirma Prado Júnior (1957, p. 144), “seu lugar no grande cenário da
economia brasileira”. Àquela época, foi o algodão que deu vida ao Estado e o
transformou. Entretanto, o arroz também contribuiu, ainda que em uma posição mais
modesta, para esse lugar de destaque que ocupou o Maranhão no Brasil Colônia.
Hoje, a agricultura, baseada no extrativismo e no cultivo vegetal, continua sendo
uma das principais atividades econômicas do Estado. Extraem-se da natureza vários
produtos; entre eles, o babaçu e o caranguejo, que têm importância relevante na cultura
e no léxico regional. Além desses produtos, cultivam-se o arroz, a mandioca, o milho e
a cana-de-açúcar, igualmente importantes.
Considerando, por um lado, o valor desses produtos para a economia e a cultura
maranhenses e, por outro lado, o entendimento de que o léxico é “um instrumento de
produção da cultura e, ao mesmo tempo, seu reflexo.” (PAIS, 1995, p. 1331), elegemos
também como objeto de nossa investigação o universo lexical desses produtos. No que
diz respeito aos produtos extrativistas, como o babaçu e o caranguejo, selecionamos os
seguintes campos semânticos: colheita (babaçu) e captura (caranguejo),
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processamento, comercialização e aplicação dos produtos. Com relação aos produtos
agroextrativistas – arroz, mandioca, milho e cana-de-açúcar – além dos campos
colheita, processamento, comercialização e aplicação dos produtos, acrescentamos o
campo cultivo, nele incluindo a preparação da terra para o plantio e as pragas e ervas
daninhas que atacam a plantação.
No caso do reggae, selecionamos os seguintes campos: música, equipamentos,
participantes e alucinógenos.
Tendo essas vertentes como foco de nosso estudo, consideramos necessário dar
algumas informações que situem os temas selecionados, no contexto sócio-econômico-
cultural maranhense.
Com relação ao caranguejo, convém ressaltar que o Maranhão apresenta um
grande potencial nas atividades de seu extrativismo, uma vez que possui, de acordo
com o jornal Ambiente Brasil (2006), “[...] quase a metade dos manguezais do Brasil e
é a maior área contínua desse ecossistema no mundo”. Verdadeiras reservas
extrativistas marinhas, os manguezais abrigam variadas espécies de caranguejos, que
neles vivem e se reproduzem, constituindo importante fonte de alimento e geração de
renda para uma considerável parcela da população maranhense. Segundo dados
estatísticos colhidos pelo IBAMA (IGARASHI, 2005, p. 35), o Maranhão está entre os
maiores produtores de caranguejo do país, com uma média de mais de 4.000 toneladas
anuais.
No que diz respeito ao arroz, sua cultura, no Brasil, remonta ao início da
colonização, havendo notícia de sua chegada ao Maranhão em 1745. Sua história no
Maranhão alterna episódios de incentivo à sua produção ou de proibição de cultivo e
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consumo, sempre variando de acordo com os interesses da Corte ou do Governo. Os
primeiros registros da presença do arroz no Estado foram feitos por Simão Estácio da
Silveira que registra: “[...] havendo no Maranhão muito milho zaburro e muito
excelente arroz em quantidade [...] há muito e bom arroz”(SILVEIRA, 2001, p. 48 ).
Mais recentemente, a situação da produção do arroz no Estado pode ser
traduzida em números que revelam sua importância no contexto estadual, apesar da
queda em relação à produção nacional. Dos 217 municípios maranhenses, de acordo
com o censo agropecuário 2001 (IBGE, 2001) e NUGEO/LABGEO (2002), apenas um
– Água Doce do Maranhão – não apresenta resultados quanto à produção do arroz.
Segundo dados do Censo Agropecuário 2007 (IBGE, 2007), o Maranhão é o quarto
produtor nacional de arroz, com 683.095 toneladas produzidas.
O Reggae, por sua vez, não é uma manifestação cultural genuinamente
maranhense, mas é, sem sombra de dúvida, uma manifestação autêntica do Maranhão.
Segundo Silva (1995, p. 116), “[...] tanto na incorporação desse ritmo pela cultura
jamaicana atual, inspirada também em tradições africanas, como na expansão para
outras partes do mundo, inclusive para o Maranhão, foram-lhe acrescidos outros
conteúdos, outra dimensão”.
No Maranhão, em contato com outras manifestações culturais com as quais seu
ritmo se identificou, como por exemplo, o Bumba-meu-boi e o Tambor de Crioula, o
Reggae adquiriu características peculiares que lhe deram uma dimensão marcadamente
maranhense, quer seja no modo de dançar e de vestir do regueiro, quer seja na sua
linguagem.
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No que concerne à língua(gem) do Reggae, vale ressaltar que ela apresenta um
vocabulário próprio e, muitas vezes, bastante específico, espécie de código que
identifica e legitima o regueiro como membro de um grupo que adota o Reggae como
instrumento de lazer e, por meio dele, desenvolve um movimento de construção da
identidade étnica.
Examinar o léxico, como espaço privilegiado do processo de transformação dos
sistemas de valores, visão de mundo e práticas sociais e culturais de um grupo humano,
significa investigar a língua em sua relação com a história e a cultura, levando em conta
que sobre o desenvolvimento da língua atuam fatores extralinguísticos, que nos
oferecem subsídios para uma compreensão mais ampla da realidade da língua.
A língua, como fenômeno social que vive e se desenvolve como uma elaboração
coletiva (cf. LÉVI-STRAUSS, 1975, p.73), não só faz parte da cultura como é o meio
que nos permite a apropriação da própria cultura, seu conhecimento, preservação e
divulgação. “Língua, sociedade e cultura são indissociáveis, interagem continuamente,
constituem, na verdade, um único processo complexo” (BARBOSA, 1981, p. 158).
No âmbito da interrelação língua, cultura e sociedade, segundo Benveniste
(1989, p.100), é no nível lexical que essas relações se tornam mais explícitas e
evidentes, pois:
O vocabulário fornece (...) uma matéria muito abundante, de que se servem historiadores da sociedade e da cultura. O vocabulário conserva testemunhos insubstituíveis sobre as formas e as faces da organização social, sobre os regimes políticos, sobre os modos de produção que foram sucessivamente empregados, etc.
Assim, na teia das relações que se estabelecem entre língua, cultura e sociedade,
o léxico ocupa um lugar privilegiado, dada a sua natureza primeira de nomear, designar,
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apreender o real, sendo entendido como um conjunto composto por vários subconjuntos,
tanto os de conhecimento geral por parte dos falantes da língua, como os subconjuntos
também chamados de léxicos de especialidade, relacionados com os domínios das
ciências, tecnologias, profissões e atividades específicas.
Os léxicos de especialidade são objeto de estudo da Terminologia, entendida por
Biderman (2001, p. 13-22) como “[...] um subconjunto especializado do léxico de uma
língua, a saber, cada área específica do conhecimento humano”. Inicialmente proposta
como interessada estritamente nos vocabulários das ciências e tecnologias, sua
abrangência vem sendo progressivamente ampliada.
Mais recentemente, uma nova abordagem nos estudos terminológicos assume a
vertente social nas línguas de especialidade, por entender que nenhuma língua natural se
apresenta como uma entidade homogênea e uniforme, mas sim como um sistema plural.
Essa abordagem contemporânea da Terminologia, designada Socioterminologia,
adquiriu, segundo Faulstich (1995), fundamentos teóricos, o que lhe possibilita
reivindicar a posição de disciplina e não apenas de método de pesquisa, apresentando
duas abordagens: como prática do trabalho terminológico, quando deve levar em conta
as condições de circulação dos termos no funcionamento da linguagem; e como
disciplina descritiva, em que o termo é considerado sob a perspectiva linguística da
interação social.
A Socioterminologia, assim, ocupa-se “da variação terminológica tendo como
princípio de sua pesquisa o registro e análise de variantes terminológicas, levando em
consideração os contextos social, situacional, espacial e linguístico em que os termos
circulam” (VASCONCELOS, 2003, p. 144).
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Em síntese, a Socioterminologia leva em conta os diversificados discursos
especializados, neles incluídos os contextos orais, admitindo as variações dos termos.
As variações devem estar incluídas na elaboração de produtos terminográficos como,
por exemplo, os glossários.
A amostra do glossário do caranguejo e a dos dados para elaboração dos
glossários do arroz e do reggae, apresentadas neste trabalho, são parte de uma pesquisa
mais ampla que vem sendo desenvolvida no âmbito do ALiMA e que busca investigar o
vocabulário especializado de atividades laborais e de manifestações culturais do
Maranhão.
Os glossários4 estão sendo elaborados com base na proposta teórica da
Socioterminologia que considera as condições de circulação dos termos na língua em
funcionamento, na modalidade falada.
Para este trabalho, foram considerados os dados coletados por meio de
questionários-guia de entrevista específicos para cada um dos produtos objeto deste
estudo. No que diz respeito ao caranguejo, cujo glossário já está concluído, o
questionário-guia foi aplicado na Ilha de São Luís e no Município de Araioses-MA.
Para o arroz consideramos os dados coletados por meio de questionário, em Arari-MA,
que foram comparados aos dados obtidos em pesquisa documental sobre a cultura
tradicional do arroz na região do Baixo Mondego. O glossário do arroz encontra-se
ainda em fase de elaboração. Para o reggae, cujo glossário também está em fase de
elaboração, utilizamos os dados coletados na Ilha de São Luís.
4 Tendo em vista que não há consenso entre os estudiosos sobre a definição de glossário, para efeito das pesquisas do ALiMA, que seguem uma abordagem socioterminológica, optamos por considerar as orientações de Faulstich (2008), para quem o glossário é um “ inventário terminológico, de caráter seletivo que tem como finalidade registrar e definir termos de domínios científicos, técnicos ou culturais, independentemente do suporte material em que se apresenta”.
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Esperamos, pois, que os glossários sejam instrumentos úteis de consulta e fontes
de informação lexical e semântica na área do conhecimento/atividade em que se
inserem, seguindo um viés pragmático, que viabilizará uma comunicação mais eficiente
e intensa entre o técnico, o especialista, o professor pesquisador e aqueles que lidam
com os produtos, estabelecendo, assim, uma ponte entre os diferentes universos
discursivos.
Amostra do glossário do caranguejo
O glossário da terminologia do caranguejo apresenta 114 termos, que englobam
os seguintes campos semânticos: coleta, processamento e comercialização. Os verbetes
estão organizados em ordem alfabética e apresentam a seguinte microestrutura: termo-
entrada; informação de natureza diatópica; variante(s); referências gramaticais;
definição; contexto (em alguns casos); nota(s) e remissivas.
As informações de natureza diatópica, apresentadas entre parênteses simples,
sinalizam a(s) localidade(s) em que o termo é usado. As variantes constituem o campo
destinado ao registro das variações terminológicas, tanto lexicais como ortográficas. A
variante lexical ocorre em dois casos: (i) quando algum item da estrutura lexical do
termo composto foi apagado, mas seu conceito não sofreu alteração, como em
caranguejo de casco novo / caranguejo novo e (ii) quando há diferentes significantes
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que possuem o mesmo significado. A variante ortográfica objetiva registrar a forma
padrão do termo. Neste caso, não há informação de natureza diatópica.
As referências gramaticais remetem a informações concernentes à classe
gramatical à qual o termo–entrada pertence. O glossário apresenta muitos substantivos e
verbos e vários sintagmas terminológicos, tanto nominais como verbais.
As definições, baseadas preferencialmente em contextos definitórios,
representam o conteúdo nocional, ou seja, o significado que é dado a cada termo-
entrada. Contudo, na impossibilidade de lançar mão de tais contextos, consultamos
literatura especializada sobre o caranguejo.
Os contextos, apresentados entre colchetes, representam trechos da fala das
pessoas entrevistadas em que há referência ao termo-entrada. Convém destacar que
optamos por conservar as marcas de oralidade presentes na fala dos informantes, razão
por que transcrevemos grafematicamente essa fala.
As notas comportam informações de natureza linguística e/ou enciclopédica que
ajudam o leitor a compreender melhor a visão de mundo que engloba o universo
terminológico do caranguejo. O maior número de notas é de natureza enciclopédica.
As remissivas têm a função de remeter o leitor para um novo item. Há casos em
que na própria definição do termo-entrada está contido outro termo-entrada. Esse
fenômeno geralmente induz o leitor a buscar, no próprio glossário, esse novo termo
desconhecido. Para indicar a remissiva, usamos o vocábulo Ver. É importante ressaltar
que a cada remissiva há um novo termo a ser definido.
Abreviaturas e sinais gráficos utilizados:
ABREVIATURAS SINAIS GRÁFICOS adj. – adjetivo // interrupção do contexto
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ARA – Araioses f. – feminino m. – masculino s. – substantivo sin. nom. – sintagma nominal sin. verb. – sintagma verbal SL – São Luís Var. – variante v.t. – verbo transitivo
[ ] contexto ( ) informação de natureza diatópica (( )) acréscimo de informação.
Alasar (ARA) – v.t. Var. brincadeira do caranguejo (SL/ARA) – sin. nom. f. Juntar-se ((macho e fêmea)) para procriar. [Incima do carnaval, no mêis de feverêro // ele sai pa brincá do mangal afora. Ele sai de dento do buraco pa se alasá cum as fêmea]. Nota: No período do acasalamento que, geralmente, coincide com a época do carnaval, a extração e a venda do caranguejo são proibidas. Alicate (SL) – s. m. Var. pata (SL/ARA) – s. f. Presas do caranguejo. Andada (SL/ARA) – s. f. Var. saição (ARA) – s. f. Época em que os caranguejos saem dos buracos e caminham pelo manguezal, para acasalar. Essa época corresponde ao período de defeso do caranguejo. Ver defeso Aratum² (SL) – s. m. Var. aristém (SL) – s. m.; chama-maré (SL) – sin. nom. m.; gauçá (ARA) – s. m.; graoçá (ARA) – s. m; grauçá – s. m. Espécie de caranguejo pequeno, com aproximadamente três centímetros de comprimento, de coloração branca, que corre na beira do mar e que é usado como isca para pesca. Banha (SL) – s. f. Var. gordura (SL/ARA) – s. f. Espécie de pasta amarela comestível encontrada próximo do peito do caranguejo. Ver peito Bidongo (ARA) – s. m. Centro da pata do caranguejo que tem, em média, um centímetro e meio de comprimento. Ver pata
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Calão (ARA) – s. m. Pedaço de tronco de mangue, cujo comprimento varia entre um metro e um metro e vinte centímetros, que serve para transportar as cordas de caranguejo. [Digamos: se eles pegarem vinte e seis cordas, eles dividem treze pum lado e treze pro oto. Aí eles pegam um pedaço de pau assim, que chamam de calão e eles amarram treze aqui, treze aqui, né? coloca no ombro, aí sai por cima de raiz, é caindo, é levantando, té chegá na berada do mangue]. Ver cambada Cambada (SL/ARA) – s. f. Var. corda (SL/ARA); penca (SL) – s. f. Conjunto formado, normalmente, por três caranguejos amarrados com embira ou fio de nylon. [Digamos: se eles pegarem vinte e seis cordas, eles dividem treze pum lado e treze pro oto. Nota: Quando os caranguejos são pequenos, a cambada é composta por quatro caranguejos. Ver imbira Caranguejo canhoto¹ (ARA) – sin. nom. m. Caranguejo que tem uma pata grande e outra pequena. Ver pata Caranguejo canhoto² (SL) – sin. nom. m. Var. caranguejo de presa seca (SL) – sin. nom. m.; caranguejo da pata igual (ARA) – sin. nom. m. Caranguejo que tem as patas finas e do mesmo tamanho. Ver pata Condurua (SL/ARA) – s. f. Var. candurua (SL/ARA) – s. f.; carangueja (SL/ARA) – s. f.; carangueja-fêmea (SL/ARA) – sin. nom. f.; conduru – s. f.; conguru (SL/ARA) – s. f. Fêmea do caranguejo. Corda (SL/ARA) – s. f. Var. cambada (SL/ARA); penca (SL) – s. f. Defeso (SL/ARA) – s. m. Período em que são proibidas a extração e a venda do caranguejo, uma vez que o crustáceo encontra-se no período de acasalamento, tornando-se assim presa fácil de capturar. Disunerada (SL) – adj. f. Var. desonerada – adj. f. Relativo ao estado da gordura do caranguejo, no período da muda, quando esta ainda não adquiriu a consistência normal. [O caranguejo do casco novo morre porque ele está
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fraco, não comeu; a gordura dele está dentro, mas está disunerada e ele tá com o casco todo molinho] Ver gordura Gordura (SL/ARA) – s. f. Var. Banha (SL) – s. f. Imbira (ARA) – s. f. Var. embira – s. f. Espécie de corda feita com a palha da folha do olho da carnaubeira, usada para amarrar os caranguejos em cambada. Nota: Além da embira, em São Luís, os catadores de caranguejo usam fio de nylon para amarrar os caranguejos. Ver cambada Mangue¹ (SL/ARA) – s. m. Var. lamaçal (SL) – s. m.; lameiro (SL) – s. m.; mangal (SL/ARA) – s. m.; manguezal¹ (SL) - s. m. Habitat dos caranguejos. Mangue² (SL/ARA) – s. m. Designação comum a diversas árvores de pequeno ou médio porte com folhas ovais e raízes-escoras. São típicas de regiões costeiras lamacentas alcançadas pelas marés. Maré de escuro (SL) – sin. nom. f. Maré de lua nova. Nota: Nessa ocasião, os caranguejos saem dos buracos para andar no mangue. Pata maior (SL/ARA) – sin. nom. f. Var. presa maior (SL/ARA) – sin. nom. f. Maior presa do caranguejo que tem formato de alicate. Peito (SL/ARA) – s. m. Parte inferior do caranguejo à qual se prendem as unhas e as patas e onde fica alojado o filé, que é tirado com a ponta de uma faca pequena ou com um garfo. Ver filé; pata; unha. Riscar a imbira (ARA) – sin. verb. Var. riscar a embira (ARA) – sin. verb. Cortar, ao meio, a palha da folha do olho da carnaubeira, formando duas cordas finas que servem para amarrar os caranguejos. Ver imbira
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Amostra dos dados para elaboração do glossário do arroz
QUADRO 1 – A preparação da terra
BAIXO MONDEGO MARANHÃO
Roçar ou capinar Desmatar ou derrubar Juntar ou fazer coivara Recolha dos gravetos e
tocos Lavrar Preparar a terra Aradar Preparar a terra, arar Gradar Passar a grade para
desmanchar a terra
Corrudas Traçado das grades sobre a terra – ao comprido ou ao cisco (em forma de oito)
Esbordoar ou estorroar Desmanchar os torrões Felga Torrão pequeno Terra rota Terra sem torrões Fazer a terra Deixar a terra em pó Alisar Nivelar a terra Alisar Nivelar a terra
Como podemos observar, no Quadro 1, o universo lexical reflete preocupação
diferenciada com o preparo da terra. Enquanto no Baixo Mondego as dificuldades são
com o endurecimento da terra – em razão de fatores como o longo período sem plantio,
a pressão atmosférica e as cheias, o pisoteio de touros e cavalos e os ventos secos – no
Maranhão é a exuberância da mata que dificulta a preparação do terreno e determina um
universo lexical mais rico.
QUADRO 2 – A demarcação da terra
BAIXO MONDENGO MARANHÃO
Lavra Grandes áreas de plantio
Linha de arroz Área de 25 braças quadradas
Aguilhada Medida agrária de 18 palmos de comprimento
Braça Medida equivalente a 1,70m ou 1,80m
Leivas Divisões da lavra Tabuleiro Espaço onde se planta o arroz, de forma
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retangular Marachas Pequeno muro que
divide peças (da salina) Parcelas Espaço livre entre
linhas de cultivo e outros produtos
Motas Aterro com que se resguarda um campo da inundação
Marinhas de arroz Terreno rodeado de motas e alagado
Com relação à demarcação da terra (Quadro 2), vale registrar, na região do
Baixo Mondego, a utilização do universo lexical das salinas, como é o caso de marinhas
e marachas, o que pode ser compreendido pela semelhança da distribuição dos espaços,
de traçado retangular, limitado por pequenas muretas, em ambos os casos, e pela
proximidade de regiões salineiras, como a Figueira da Foz, por exemplo.
No Maranhão, merece comentário o emprego de linha, para um espaço de duas
dimensões, bem como o emprego de tabuleiros, para designar os espaços de forma
retangular, rodeados de pequenas elevações de terra, onde se planta arroz.
QUADRO 3 – Pragas e ervas daninhas
BAIXO MONDENGO MARANHÃO
Grama Erva daninha Milhã Erva daninha Junça Erva daninha Gafanhotos Insetos que comem o
arroz Chupão Inseto que rói o arroz
quando este está enchendo
Lagartas Insetos que comem o arroz
Lagartas Insetos que comem o arroz
Caracóis Moluscos que comem o arroz
Purgão ou pulgão Inseto que come a folha da planta
Broca Inseto que fura a planta em baixo
Cangapara Animal semelhante a uma pequena tartaruga, que come o arroz
Sanguessugas ou bichas-lameiras ou sambixugas
Animal que provoca danos ao homem
Catafodengos ou Inseto com aparência de
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caralhos lagostim, de 3cm
É interessante observar, com relação aos itens lexicais associados a pragas e
ervas daninhas, que no Maranhão não há referências a ervas daninhas ou a animais que
tragam prejuízo ao homem. Só os insetos que comem a planta, a raiz ou o grão são
citados como problemas para a produção do arroz. Da mesma forma, também não há
referências à associação do cultivo do arroz a doenças como a malária. Já na região do
Baixo Mondego a associação é constante: provocou rebeliões populares contra a
expansão das lavouras; dividiu opiniões e promoveu a criação de organismos como o
Instituto de Malariologia ou o Museu da Malária, em 1938, e a realização de
campanhas para combate do impaludismo ou malária do campo. A presença constante e
ameaçadora da doença se manifesta no recurso à religiosidade, havendo na região, o
culto a Nossa Senhora das Febres.
A lexia catafodengos, de uso na região da Carapineira (cf. MONTEIRO, 2002)
e substituída por caralhos, em região próxima, não foi encontrada em dicionário.
Amostra dos dados para elaboração do glossário do reggae
É por meio da língua, veículo da cultura e reflexo da identificação e da
diferenciação de cada comunidade, que o regueiro se identifica e se reconhece como
membro de um grupo social, pois usa uma linguagem que o caracteriza. Assim, no
universo do reggae maranhense, palavras e expressões se (re)inventam e ganham novos
sentidos que brotam das vivências, da visão de mundo, dos valores e do fazer da gente
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do reggae. Fazem parte desse universo, numerosas palavras e expressões como as
citadas abaixo.
Bater bem Diz-se da radiola que tem um bom grave, um som de qualidade. Bolachão Disco grande de vinil de 33 rpm (rotações por minuto). Bolachinha Disco pequeno de vinil de 33 ou 45 rpm. Caber na (minha) pontuação Expressão usada pelo regueiro para mostrar que está interessado em alguma garota. Carimbar Colocar uma vinheta ou um prefixo em uma música, com o nome de uma dada radiola ou programa de reggae. Cintura dura Diz-se do regueiro que dança mal. Cirurgião Regueiro responsável pelo corte, isto é, pela retirada das vinhetas ou prefixos das músicas carimbadas, para que estas pareçam originais. É, também, conhecido como tesoura. Dar roça Diz-se da festa que é um fracasso, um fiasco: A festa deu roça. Estar(tá) no pano Diz-se de um regueiro muito arrumado. Magnata Diz-se de alguém importante no mundo empresarial do reggae. Massa regueira Diz-se das pessoas que gostam do reggae, que frequentam os espaços do movimento regueiro. Usa-se, também, galera das pedras, nação regueira. Melô Redução da palavra melodia usada para referir-se a um reggae. Paredão
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Conjunto de caixas de som, que contêm numerosos alto-falantes de grande potência. Passar o pano Diz-se quando um regueiro vai a uma festa apenas para sentir o clima, dar uma olhadinha. Pedra, pedrada Diz-se de um reggae bom, envolvente. Pedra do fundo do baú Diz-se de um reggae muito antigo. Radiola Móvel composto pela aparelhagem de som – usada para tocar disco de vinil, fita cassete (década de 1970) e, atualmente, MD ou IPOD – e por numerosos alto-falantes, que formam os paredões ou colunas. Radioleiro Proprietário da radiola. Sequência Diz-se da série de reggaes tocados um após o outro, pelo DJs.
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