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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE LINGUAGENS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ESTUDOS DE CULTURA CONTEMPORÂNEA
MARTA MARTINES FERREIRA
O CANTO COLETIVO DE CUIABÁ NO UNIVERSO VIRTUAL
Cuiabá
2013
MARTA MARTINES FERREIRA
O CANTO COLETIVO DE CUIABÁ NO UNIVERSO VIRTUAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea
da Universidade Federal de Mato Grosso como
requisito para a obtenção do título de Mestre em
Estudos de Cultura Contemporânea na Área de
Concentração Estudos Interdisciplinares de Cultura,
Linha de Pesquisa: Comunicação e Mediações
Culturais.
Orientadora: Dra. Cássia Virgínia Coelho de
Souza.
Cuiabá
2013
AGRADECIMENTOS
Para a realização dessa pesquisa pude contar com
diversas pessoas as quais presto em poucas palavras
meus mais sinceros agradecimentos.
À professora Drª Cássia Virgínia, orientadora desse
trabalho, pelo seu conhecimento, paciência e valiosas
orientações.
A todos os colegas regentes que se dispuseram em
participar da pesquisa com suas importantes
informações, sem as quais essa pesquisa não teria sido
possível.
Aos professores da banca examinadora Drº. Yuji
Gushiken e Dr. Sergio Figueiredo pelas importantes e
pontuais contribuições para o desenvolvimento dessa
pesquisa.
A todos os professores desse programa de pós-
graduação por seus preciosos ensinamentos, aos
colegas de mestrado pelos momentos de alegrias e
angustias compartilhadas nesses dois anos.
RESUMO
Esta dissertação resulta de uma pesquisa de mestrado desenvolvida junto ao Programa de Pós
– Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea – Mestrado – (ECCO) da Universidade
Federal de Mato Grosso. O objetivo principal da pesquisa foi investigar o processo de
adaptação dos grupos de canto coletivo, na cidade de Cuiabá - Mato Grosso no cenário da
cibercultura. A pesquisa põe em debate as transformações culturais provindas da
acessibilidade virtual da internet, o avanço das tecnologias e sua influência no cenário musical
contemporâneo. Considera que o canto coletivo, apesar de se manifestar muito comumente no
meio musical, é ainda um tema pouco explorado na vertente da cibercultura. Com foco em
analisar as implicações da utilização das tecnologias digitais nas possíveis modificações
acerca das mediações e difusão musical, propôs-se a pesquisa de base qualitativa com
pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. Foram consultados autores que discutem o
universo da cibercultura, a utilização das redes sociais para divulgação de si e de seus
trabalhos e também do canto coletivo. A pesquisa de campo aconteceu junto às instituições
que promovem eventos culturais e também com os regentes de grupos de canto coletivo;
buscou conhecer o cenário da música na modalidade do canto coletivo em Cuiabá, os espaços
oferecidos aos grupos e as formas de divulgação. Houve ainda pesquisa na internet em busca
de websites dos grupos que frequentemente se apresentam nesses eventos e como os seus
regentes ou instituição representada pelos grupos entendem as articulações da mediação
cultural no ciberespaço, assim como as implicações no cenário da cultura musical na cidade
de Cuiabá. Os resultados apontam que poucos líderes demonstraram compreensão do
potencial da Internet em seu trabalho, não a utilizando em benefício do canto coletivo da
região. O ciberespaço parece não se apresentar para os regentes como um espaço que na sua
abrangência pode fortalecer a prática, através de uma abordagem inovadora ao seu trabalho
como difusor e mediador da cultura no campo da música.
Palavras-chave: canto coletivo, cibercultura, mediação cultural, produção e difusão musical
ABSTRACT
This essay is the result of a mastering research developed along with the Graduation Program
in Contemporary Culture Studies - Mastering degree– from the Federal University of Mato
Grosso. The aim of this research was to investigate the process of adaptation from collective
singing groups, in the city Cuiabá, state of Mato Grosso in the cyberculture scenario. This
research debates cultural changes that come from virtual accessibility over the internet, the
advancement of technologies and its influence in the contemporary musical panorama,
considering that collective singing remains an unexplored theme in cyberculture, despite its
appearance in the musical environment. Focused on analyzing implications of the uses of
digital technologies in feasible modification about practices and musical diffusion, a
qualitative search was proposed supported by bibliographic and field search. Authors who
discuss the cyberculture universe, the uses of social network to disclose themselves and their
works as well as collective singing were consulted. The field search happened along with
institutions that promote cultural events and also with the collective singing groups regents; it
aims to know the scenario of music in collective singing mode in Cuiabá, the places offered to
groups and ways of disclosure. Furthermore, there was a research over the internet in order to
seek websites from groups that frequently have presentations in these events and how their
regents or representative institution understand the couplings of cultural practices in
cyberspace, besides the implications in the scenario of musical culture in the city of Cuiabá.
The results show that few leaders have demonstrated understanding of the potential of the
Internet in their work, not using it properly for the benefit of the chanting of the region.
Cyberspace does not seem to present to the regents as a space in its scope can strengthen the
practice through an innovative approach to his work as a diffuser and mediator of culture in
the field of music
Keywords: collective singing; cultural practices; production and musical diffusion
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Evento promovido pela Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso ........................... 48
Tabela 2: Evento promovido pela Secretaria Municipal de Cultura. .................................................... 49
Tabela 3: Evento promovido pelo Shopping Center Goiabeiras. .......................................................... 49
Tabela 4: Evento promovido pelo Teatro Universitário. ...................................................................... 49
Tabela 5: Grupos que se apresentaram no Evento promovido pela Secretaria de Estado de Cultura
em 2009................................................................................................................................................. 50
Tabela 6: Grupos que se apresentaram no Evento promovido pela Secretaria de Estado de Cultura
em 2010................................................................................................................................................. 51
Tabela 7: Grupos que se apresentaram no Evento promovido pela Secretaria de Estado de Cultura
em 2011................................................................................................................................................. 52
Tabela 8: Grupos que se apresentaram no Evento promovido pela Secretaria Municipal de Cultura
em 2010................................................................................................................................................. 53
Tabela 9: Grupos que se apresentaram no Evento promovido pela Secretaria Municipal de Cultura
em 2011................................................................................................................................................. 55
Tabela 10: Grupos que se apresentaram no Shopping em 2010. ......................................................... 56
Tabela 11: Grupos que se apresentaram em evento promovido pelo Teatro Universitário. ............... 57
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Distribuição dos grupos musicais por instituição. ................................................................ 59
Gráfico 2: Proporção dos grupos que possuem páginas na internet. ................................................... 64
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................11
1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ......................................................................................................15
1.1. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................................... 16
1.2. PESQUISA DE CAMPO ........................................................................................................................... 17
2. A MÚSICA E AS TECNOLOGIAS DIGITAIS .................................................................................................21
2.1. MÚSICA E SOCIEDADE: BREVES PALAVRAS........................................................................................... 21
2.2. O UNIVERSO VIRTUAL .......................................................................................................................... 22
2.3. MÚSICA NA CIBERCULTURA ................................................................................................................. 24
2.4. A CULTURA MUSICAL E AS MUDANÇAS TECNOLÓGICAS ...................................................................... 27
3. GRUPO CORAL: UM ESPAÇO DE MÚLTIPLOS ENFOQUES ........................................................................31
3.1. DO CANTO COLETIVO ........................................................................................................................... 31
3.2. O CANTO COLETIVO, A SOCIALIZAÇÃO E A INTERNET ........................................................................... 33
3.3. O CANTO COLETIVO E A “CENA” ........................................................................................................... 36
4. A LÓGICA DAS MEDIAÇÕES .....................................................................................................................40
4.1. DIFUSÃO E MEDIAÇÃO ......................................................................................................................... 40
4.2. COOPERAÇÃO E CONFLITO ................................................................................................................... 44
5. PANORAMA DO CANTO COLETIVO EM CUIABÁ ......................................................................................48
5.1. OS GRUPOS DE CANTO COLETIVO NA INTERNET .................................................................................. 48
5.2. DIVULGAÇÃO DOS GRUPOS NA INTERNET ........................................................................................... 58
5.2.1. Da origem dos grupos ................................................................................................................. 60
5.2.2. Do investimento e comprometimento ......................................................................................... 61
5.2.3. Do repertório ............................................................................................................................... 61
5.2.4. Das apresentações ...................................................................................................................... 61
5.2.5. Da divulgação .............................................................................................................................. 62
5.2.6. Dos Espaços ................................................................................................................................. 63
5.2.7. Tecnologias nos Ensaios .............................................................................................................. 63
5.2.8. Participação nas Redes Sociais .................................................................................................... 64
6. O CANTO COLETIVO A PARTIR DA COLETA DOS DADOS ..........................................................................68
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................................72
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................................74
APÊNDICE .......................................................................................................................................................78
11
INTRODUÇÃO
A presença da música na vida dos seres humanos é incontestável, acompanha a sua
história ao longo dos tempos. É possível observar a música nas culturas, em todas as épocas,
ultrapassando as barreiras do tempo e do espaço. A música em suas variadas manifestações é
responsável pela elaboração e transmissão de vários saberes culturais, tornando-se
indispensável nas relações coletivas com o meio “sempre mobilizando, quando vivenciado
coletivamente” e “desse modo qualquer que seja o propósito, a música sempre se relaciona
com o indivíduo como um todo” (SEKEFF, 2007, p. 84, 115). Observamos a presença da
música nos mais variados ambientes e situações.
O canto, como recurso de expansão da linguagem humana e instrumento de
socialização, cumpre um papel importante na vida das pessoas. Na história da humanidade, o
canto em grupo é uma prática social comum. No Brasil a prática do canto coletivo foi trazida
pelos padres jesuítas, mas nas atividades vocais em grupo dos índios brasileiros e dos
africanos trazidos para o Brasil, já era possível constatar o canto enquanto prática social-
cultural. Em meados de século XIX, em 1854, através de um Decreto Federal, determina-se a
presença de “noções de música” e “exercícios de canto” nas escolas, entretanto foi durante a
Segunda República, nas décadas de 1910 e 1920, que puderam ser notadas as primeiras
manifestações organizadas de canto, cujo objetivo era popularizar o saber musical. Essas
iniciativas de certa forma introduziram na sociedade o chamado canto orfeônico,
Termo que foi utilizado pela primeira vez em 1833, por Bouquillon-Wilhem,
orientador do ensino de canto nas escolas de Paris, que fazia referência ao
deus Orfeu que era um músico talentoso, segundo a mitologia grega. É um
canto coletivo, de características próprias, no qual se organizam conjuntos
heterogêneos de vozes. A prática do canto orfeônico não exige conhecimento
musical ou treinamento vocal prévio (ALLUCCI; JORDÃO; MOLINA;
TERAHATA, 2012, p. 20).
Desse período até os dias atuais, no Brasil, muitas iniciativas e programas de sucesso
contribuíram para o desenvolvimento, formação e crescimento da prática de canto coletivo,
através de grupos corais. A grande maioria desses grupos é formada por amadores,
pertencendo a organizações com fins diversos, que não exigem conhecimento musical ou
treinamento vocal prévio, visando desde a busca por motivação pessoal, educação musical e
oportunidades de lazer até a apresentação de uma mensagem ou de um repertório e a
divulgação de uma instituição.
12
Trata-se de uma prática da coletividade em que se organizam conjuntos heterogêneos de
vozes e tamanho muito variável. Segundo Junker (1999), os grupos corais
São movimentos de natureza comunitária que conseguem reunir pessoas de
vários segmentos da sociedade para alcançar um fim comum, bem como a
realização cultural pessoal que será manifesta através de experiência ou
vivência da sensibilidade estética (JUNKER, 1999, p. 1).
As relações sociais no contexto dos grupos que realizam a prática coral, que neste
trabalho são, também, denominados de grupos de canto coletivo, apresentam formas variadas,
tanto que um determinado grupo pode utilizar diversos sistemas para promover interação com
o público. Um deles é o processo de interação mediada pelas tecnologias digitais, midiáticas e
sociais consideradas como cibercultura por Lemos (2002) e Levy (1999). Conforme Castells
(2001/2005) e Lemos e Cunha (2003), esses processos de interação ganham contornos
planetários e atingem seu apogeu com as novas mídias, alterando os processos de
comunicação, de produção, de criação e de circulação de informações. Potencializando o que
é próprio de toda dinâmica cultural, a saber: o compartilhamento, a distribuição, a cooperação
e a apropriação dos bens simbólicos.
Entre as manifestações que ganharam novas dimensões com as transformações
tecnológicas dos últimos tempos, as expressões musicais estão entre as que foram mais
afetadas em seus processos de circulação, consumo e produção. Entender a Internet como um
espaço comunicacional e como ferramenta midiática introduz reflexões acerca do alcance e
das transformações ocorridas no campo do canto coral. Portanto, é importante refletir sobre as
configurações e reconfigurações de usos e vivências neste âmbito. Discutir música hoje
significa pensar nas novas experiências ligadas às transformações ocorridas nos sistemas de
reprodução e armazenamento, aumentando significativamente o consumo de música.
Considerando as transformações tidas como avanços tecnológicos, deparo com a
necessidade de conhecer a mediação, divulgação cultural musical contemporânea e os
conflitos, no âmbito da cultura cibernética, dos grupos de canto coletivo, e entender ao mesmo
tempo como são construídos os processos de cooperação e mediações culturais. Mesmo que o
contato com a música aconteça de forma individual, a influência do grupo é fator
preponderante nas escolhas musicais. Esse fato nos alerta para o papel do canto coral
enquanto ação coletiva. E ao se pensar em coletividade o canto coral emerge como ponto de
partida, levando-nos à necessidade de refletir sobre a influência do grupo, não só no processo
de socialização como também nos processos de produção e divulgação musical. Nesse
13
sentido nos reportamos a Janotti Junior, Tatiana Lima e Victor Pires que afirmam que
“compreender esse laço afetivo entre indivíduos e a música é um importante passo para
entender as práticas musicais inseridas nas relações sociais atuais” (JANOTTI Jr.; LIMA;
PIRES, 2011, p. 10). A virtualização, por sua vez reinventa uma cultura nômade por fazer
surgir um meio de interação social onde as relações sociais se reconfiguram. Entender a
construção desses espaços dentro dos grupos de canto coletivo é também entender como essas
interações acontecem. Recuero (2009) contribui quando aponta que
Entender como os atores constroem esses espaços de expressão é também
essencial para compreender como as conexões são estabelecidas. É através
dessas percepções que são construídas pelos atores que padrões de conexões
são gerados (RECUERO, 2009, p. 27).
Esses processos colaborativos de produção e compartilhamentos de informação
são os meios encontrados pelos indivíduos e grupos para criarem uma consciência de si e
sobre si, na contemporaneidade. As tecnologias ocupam um papel central nas profundas
mudanças experimentadas em todos os aspectos da vida social. “O computador, então, não é
apenas uma ferramenta a mais para a produção de textos, sons e imagens, é antes de mais
nada um operador de virtualidade da informação” (LEVY, 1999, p, 55).
Os grupos de canto coletivo estão inseridos nesse contexto virtual e tiram proveito do
uso das novas tecnologias para aperfeiçoamento dos trabalhos no dia a dia e do alcance social
que estes processos possuem?
Nos últimos anos o número de investigações sobre o ambiente virtual cresceu
exponencialmente. Apesar disso é ainda pouco explorado na vertente canto coletivo e
possíveis modificações acerca das mediações e divulgação musical. Partindo dessas
considerações e da minha trajetória profissional como regente de coro, senti necessidade de
entender em que medida os grupos de canto coletivo fazem parte desses fenômenos de
mediação e divulgação, estudando os padrões de conexões expressos no ciberespaço,
explorando essa estrutura midiática para compreender os elementos e a dinâmica da
composição dos grupos de canto coletivo.
O fato de ser regente de coro e vivenciar por sete anos o cenário do canto coletivo em
Cuiabá, somado as necessidades de trabalho, atrelado ao avanço das tecnologias digitais e
suas possibilidades, me levou a uma busca aleatória na internet, onde percebi uma série de
situações, dentre as quais, publicações variadas que me impulsionaram a refletir em que
medida os grupos de canto coletivo se encaixam nos fenômenos midiáticos, no mundo virtual
e como utilizam os suportes tecnológicos digitais.
14
Dessa forma encaminhei a pesquisa para investigar quatro questionamentos: 1) estão
os grupos de canto coletivo de Cuiabá, Mato Grosso inseridos no mundo virtual? 2) quais
tipos de mídias utilizam para a divulgação de seus trabalhos? 3) quais os benefícios que as
mídias digitais proporcionam a esses grupos? 4) essas mídias modificam os processos de
produção e divulgação musical desses grupos, na atualidade?
A dissertação está dividida em seis capítulos. O primeiro capítulo descreve o desenho
metodológico adotado para a realização desta pesquisa a partir dos pressupostos de Moreira e
Caleffe (2008), Triviños (1987), Selltiz (1967). O segundo capítulo é a construção do debate
construído pela revisão bibliográfica, contando com a contribuição das mais recentes
pesquisas concernentes ao espaço virtual como, Iazzetta (1993), Castells (2001/2005), Levy
(1999) e Lemos (2004). No terceiro capítulo continuo a pesquisa bibliográfica abordando a
relação de música e as novas tecnologias digitais com enfoque na música e sua articulação na
sociedade, com bases nos autores citados no segundo capítulo e ainda os autores Fucci
Amato, e Amato Neto (2009) e Janotti Jr (2011). Descreve o objeto de pesquisa abordando o
canto coral como atividade musical no contexto da sua prática no ciberespaço. O quarto
capítulo discute a relação de cooperação, conflito e adaptação na lógica das mediações
utilizando, principalmente, as reflexões de Thompson (1998), Barbero (1997), Castells
(2001/2005) e Pierre Levy (1999). O quinto capítulo apresenta os dados da pesquisa de
campo, bem como alguns apontamentos da situação do contexto mediante a pesquisa
bibliográfica. No sexto capitulo faço uma análise do cenário encontrado tendo observado os
estudos empreendidos, apontando reflexões com suporte na pesquisa bibliográfica e de
campo, sobre as formas de produção, circulação e recepção de produtos simbólicos dos
grupos de canto coletivo que foram investigados.
Nas considerações finais baseando nos dados da pesquisa de campo aponto as formas
de produção e circulação e a cena contemporânea do canto coletivo de Cuiabá. Espero que
esta pesquisa tenha uma contribuição significativa no sentido de apontar possíveis caminhos
para o desenvolvimento da atividade de canto coletivo em Cuiabá, de forma efetiva e
significativa.
15
1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A constituição e desenvolvimento de uma ciência exigem dos seus pesquisadores e
profissionais, observação, reflexão e crítica das metodologias e padrões científicos vigentes,
sem o que a produção científica de campo, bem como as propostas teóricas e práticas nela
contidas, poderão redundar em discursos de grande proximidade com o senso comum. É
possível afirmar que, para que uma pesquisa atinja um padrão de cientificidade, o pesquisador
precisa estar atento à formulação dos conceitos e reflita sobre a construção conceitual, que
possibilita a ruptura epistemológica com o senso comum.
Os caminhos a serem percorridos no planejamento e desenvolvimento de uma
pesquisa começam a ser traçados muito antes da delimitação do tema, da elaboração da
questão de pesquisa ou da escolha dos métodos de coleta de dados. Eles são o resultado de
uma forma de ver, pensar e conceber o mundo intrínseco ao pesquisador antes mesmo que
este decida exercer tal atividade. Moreira e Caleffe (2008) concordam que toda pesquisa
contém pressupostos filosóficos, que norteiam desde a escolha do tema até a forma como os
dados são analisados e compartilhados por um grupo de pesquisadores. Importa acima de tudo
que o investigador seja capaz de conceber e de pôr em prática um dispositivo para a
elucidação do real.
Esta pesquisa integra o âmbito da Cibercultura e Mediações Culturais. Nestes
campos foi delineada a proposta de efetuar uma análise sobre as implicações desses dois
conceitos com o trabalho de difusão do canto coletivo em Cuiabá, Mato Grosso. Procurei
colaborar na análise das implicações sociais resultantes da ligação às novas tecnologias,
atendendo as seguintes expectativas: canto coletivo/tecnologias – tecnologias/mediação
cultural – canto coletivo/difusão musical. Para compor este trabalho na pesquisa qualitativa
foi realizado um levantamento bibliográfico e pesquisa de campo empregando metodologia de
caráter exploratório, com finalidade de fundamentar e verificar as hipóteses levantadas.
Considerando a natureza e a especificidade do objeto de estudo desta pesquisa, optei
pelo desenvolvimento de um delineamento exploratório, que na visão de Triviños justifica-se
por “permitir ao investigador aumentar sua experiência em torno de determinado problema”
(TRIVIÑOS, 1987, p.109). Na especificidade do objeto de estudo a pesquisa exploratória
permite um conhecimento mais completo e mais adequado da realidade, pois o objeto é
verificado mais eficientemente. No entender de Selltiz, a pesquisa exploratória tem como
escopo:
(...) proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo
mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas
têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de
intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que
16
possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato
estudado. Na maioria dos casos, essas pesquisas envolvem: (a) levantamento
bibliográfico; (b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas
com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que “estimulem a
compreensão” (SELLTIZ, 1967, p. 63).
1.1. PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
Neste percurso investigativo, as escolhas metodológicas são determinantes, dão
sentido e embasamento ao estudo. O trabalho exploratório aponta pistas do que pode ser
analisado sobre o objeto de estudo proposto. A começar pela bibliografia, tendo em vista a
escassez de estudos que adotam uma perspectiva interacionista para o estudo da internet e sua
relação com o objeto proposto nesta pesquisa, o canto coletivo. Quando se trata de pesquisar
objetos de pesquisa que têm a circulação na internet, sem desmerecer outras mídias, torna-se
intrigante o encontro com o objeto empírico, principalmente ao considerar a metodologia
como um processo de conhecimento e não apenas como momento de coleta de dados. Ou seja,
as descobertas realizadas neste itinerário, levam a outras e outras, assim como a outros
questionamentos que até o momento da escolha do objeto ainda não tinham sido consideradas.
É importante que entendimentos sobre qualquer fenômeno não tenham pretensão de serem
conclusivos, permitindo a existência de aberturas para outros entendimentos a seu respeito a
fim de que o processo de investigação tenha continuidade.
Para o desenvolvimento desta pesquisa considerei as propostas de mediação,
conceituadas por Barbero (1997), a saber, a socialidade, a ritualidade e a tecnicidade. A
perspectiva da pesquisa na internet contempla a possibilidade de realizar, de apropriar-se e
inserir-se numa rede situada no tempo e no espaço sem uma localização concreta, física.
Lembrando Santaella (2007) que defende que os espaços são líquidos porque as informações
estão em constantes mudanças e que são essas novas paisagens que estruturam as nossas
relações sociais.
O ciberespaço ou internet, mais que a infraestrutura material da comunicação digital
caracteriza-se, principalmente pelo universo de informações que a rede abriga, assim como, os
seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Em outras palavras o ciberespaço não
é a única infraestrutura técnica de telecomunicação, mas se distingue nos modos de utilizar
essas infraestruturas já existentes, por mais imperfeitas que sejam ele visa criar um tipo
distinto de relação pessoal como aponta Levy (1999). Pode-se dizer que então hoje o
17
ciberespaço se tornou um espaço relacional, o qual coloca em contato pessoas de todo o
mundo que utilizam o seu potencial para se reunirem por interesses comuns como sugere
Lemos (2008).
O resultado da busca de informações na internet, a respeito dos grupos de canto
coletivo, resultou como característica fundamental para a realização das entrevistas, na mesma
perspectiva em que a internet se configurou como instrumento e análise de pesquisa. Essa
estratégia metodológica de encontro com os entrevistados será descrita em seguida. Assim as
questões tratadas na pesquisa fazem parte de um processo de construção entre os elementos;
canto coletivo, tecnologias, mediação cultural e difusão musical.
1.2. PESQUISA DE CAMPO
A pesquisa de campo se justifica pela necessidade de identificar no panorama
musical da cidade de Cuiabá, nos anos de 2009 a 2011, os espaços para apresentações
ofertados aos grupos de canto coral, as instituições responsáveis por esses espaços/eventos, as
formas de divulgação e a importância desses eventos no cenário musical da cidade, assim
como para o conhecimento dos próprios grupos.
Para a coleta de dados era preciso um ponto de partida que se configurasse como um
critério para chegar aos grupos de canto coletivo. Por esta razão, decidi fazer um
levantamento dos locais públicos, abertos à comunidade, de Cuiabá, MT, onde todo ano
ocorrem manifestações artísticas promovidas, tanto por instituições públicas como privadas
que envolvessem o canto coral. A partir desse levantamento de espaços obtive a relação dos
coros que orientariam os encaminhamentos do trabalho. No levantamento inicial das
apresentações de coros em Cuiabá pude identificar seis tipos de instituições promotoras dos
eventos no período de 2009 a 2011. São elas: Secretaria de Estado de Cultura, Secretaria
Municipal de Cultura, Serviço Social do Comércio - SESC, Cine Teatro de Cuiabá, Shopping
Centers e Teatro (TU) da Universidade Federal de Mato Grosso- UFMT. Essas instituições
promovem todo ano, por ocasião do Natal, um evento com várias apresentações em locais
públicos na cidade de Cuiabá. O mesmo evento ocorre nos Shoppings Centers da cidade.
Esses espaços e períodos foram priorizados para que pudesse ser atendida a dimensão da
proposta de pesquisa de mestrado em seus limites, também pela necessidade de fazer um
recorte mais delimitado, onde se pudesse realizar uma análise mais densa do objeto de
pesquisa.
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O primeiro contato com essas instituições e seus respectivos representantes, se deu
no ano de 2011, através de postagens de mensagens de texto em uma rede social e
posteriormente o contato por telefone. Todos os representantes das instituições foram
receptivos, manifestando interesse em ajudar, entretanto, tive dificuldades em recolher as
informações, pois nem todos possuíam os dados solicitados. A Secretaria de Estado de
Cultura tinha apenas uma lista de telefones de contatos dos regentes. Foi feita então uma
busca junto aos regentes, para o levantamento dos grupos que haviam participado dos
encontros. A Secretaria Municipal de Cultura forneceu dados dos anos de 2010 e 2011.
Os outros contatos demandaram maior persistência para coletar essas informações.
Foram realizadas várias visitas ao SESC- Serviço Social do Comércio - sendo que no primeiro
contato apresentei um documento explicando o objetivo e justificativa da pesquisa e a
importância das informações, o que foi providenciado e protocolado junto à instituição.
Passados quatro meses de insistentes visitas e pedidos de retorno, finalmente na última visita,
em busca do resultado do pedido, em conversa com a Analista de Programas Sociais do
SESC, em 2012, recebi resposta ao ofício, que foi negativa. Fui informada que a gerência
geral da instituição não havia permitido me passar as informações solicitadas.
O Cine Teatro de Cuiabá, apesar da agenda movimentada, não recebeu nenhum
grupo de canto coletivo em seus eventos. Quanto ao teatro da UFMT, o material recebido do
coordenador foi do ano de 2011, pois, pelo fato do TU estar em reformas, alegou não ter
acesso aos arquivos dos anos anteriores. O contato com o Shopping aconteceu em uma visita
até o local onde foi feito contato com o gerente de eventos para a solicitação desses dados e
posteriormente, recebi os dados em arquivo, por e-mail.
A partir das informações obtidas junto às instituições citadas, foi feita uma coleta na
internet em busca de sites e publicações pessoais dos grupos que configuram nas listas de
apresentações nos diversos eventos levantados. Essa verificação se justifica por identificar
quais grupos e em que medida estão inseridos no universo virtual, com a finalidade de
fundamentar as hipóteses levantadas. Embora eu tenha encontrado alguns sites/páginas onde
determinados grupos foram frequentemente noticiados nos anos de levantamento da pesquisa,
priorizei, para não fugir dos procedimentos da pesquisa, ou seja, interessava saber dos sites
onde as informações e a manutenção dessas páginas a princípio, fossem mantidas/alimentadas
pelos próprios participantes dos grupos, ou pelo regente/diretor, onde os administradores
participassem do grupo de alguma forma.
De posse das informações colhidas na pesquisa exploratória, delimitei também dois
procedimentos de pesquisa distintos para a coleta de informações dos sujeitos representantes
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dos grupos encontrados, entrevistas e um roteiro com perguntas objetivas de múltipla escolha
contendo, também questões abertas.
Para Triviños (1987, p.152), a entrevista semiestruturada “mantém a presença
consciente e atuante do pesquisador e, ao mesmo tempo, permite a relevância na situação do
ator”. Ainda de acordo com Ludke e André (1998, p. 28), “as entrevistas têm a finalidade de
aprofundar as questões e esclarecer os problemas observados” e a análise de documentos a
função auxiliar na contextualização do fenômeno. Contudo, em Novembro de 2012, ao iniciar
os contatos com os regentes para as possíveis entrevistas, surgiram impedimentos. Foi um
momento da pesquisa que se manifestaram as dificuldades enfrentadas por um pesquisador
em campo, em busca de informações imprescindíveis para a análise do seu objeto de estudo,
talvez, devido a proximidade das festas de final de ano. No primeiro contato todos se
mostraram receptivos e afirmaram que gostariam de participar da entrevista, entretanto depois
de marcar dia e hora com vários regentes, ao comparecer ao encontro para as entrevistas não
os encontrava e as justificativas eram: “desculpe, esqueci a entrevista. Vamos marcar para
outro dia”, “desculpe, dei uma saída rápida do prédio e pensei que pudesse voltar a tempo
para a entrevista”, “desculpe, esqueci que já tinha uma apresentação do coral nesse dia”,
“você me liga daqui a dois dias para eu confirmar minha agenda”. E assim aconteceu em
muitas ocasiões. Inclusive retornei as ligações e alguns não me atenderam. Ao me deparar
com essa situação e no anseio de dar continuidade à pesquisa considerando os prazos da
universidade, mudei a forma de abordagem e sugeri então, que essas pessoas enviassem as
respostas de um questionário por e-mail para que respondessem em um momento que mais
lhes aprouvessem.
Busquei apoio nas considerações de Chagas (2000) sobre a importância das
perguntas abertas no questionário estruturado. O autor afirma que, as questões abertas dão
liberdade para que o sujeito que responde ao questionário discorra sobre o assunto com suas
próprias palavras e que, uma pergunta geral pode abrir possibilidades de insights na
interpretação de perguntas e ainda nas respostas subsequentes. Com a aplicação desse método
seria possível colher informações para a pesquisa que continham em si, algum desenho do
cotidiano dos regentes e das atividades dos seus respectivos grupos musicais.
Dos 26 grupos elencados a partir do levantamento com as instituições promotoras de
eventos, 16 regentes responderam ao questionário e enviaram as respostas num prazo de
quinze dias os 10 representantes de grupos restantes não responderam dentro do tempo
previsto para constarem na presente dissertação. Sem dúvida foi possível perceber que a
pesquisa de campo com pessoas é um momento delicado para o pesquisador, pois depende da
20
compreensão dos sujeitos no sentido do entendimento da importância da sua participação
como coautores no processo de pesquisa, que poderá possibilitar novos questionamentos,
como ainda apontar caminhos que possam contribuir com as práticas de seus grupos.
Foi possível, através do questionário, verificar a agenda de cada grupo; o
envolvimento dos membros das instituições às quais pertencem os grupos; se os grupos
pesquisados possuem um local específico para ensaios; se possuem páginas na internet ou
participam de redes sociais. Foi também importante para conhecer quais são os locais onde se
apresentam, além dos que serviram para iniciar a pesquisa.
A estruturação das questões enviadas por e-mail foi montada de forma que, as quatro
primeiras perguntas fossem diretas e buscassem informações básicas como: o nome do
regente e grupo, o tempo de existência, quanto tempo rege o grupo e quantos integrantes
possuem. A quinta pergunta foi sobre a criação do grupo permitindo que o
regente/entrevistado discorresse livremente sobre a questão. As questões 6 até a 9, são de
múltipla escolha e versavam sobre o investimento da instituição e o comprometimento dos
membros com o grupo, até o repertório cantado.
As questões 10 até 17 foram constituídas de perguntas abertas onde o regente teve
oportunidade de falar livremente sobre a escolha de repertorio, agenda de apresentações,
público, divulgação das apresentações, utilização de tecnologias, incentivo para a agenda de
apresentações e estrutura dos espaços. A questão 13 foi de múltipla escolha e investigou sobre
o itinerário de apresentações. As questões 18 até 25investigam sobre o uso das tecnologias no
dia a dia dos ensaios até a participação nas redes sociais. As questões 26 e 27 buscam
informações sobre o envolvimento do regente com seu trabalho e a música. O roteiro do
questionário enviado aos regentes por e-mail está no Apêndice.
21
2. A MÚSICA E AS TECNOLOGIAS DIGITAIS
No campo artístico e cultural, a industrialização que se estendeu mundialmente no
começo do século XX trouxe grandes mudanças, especialmente com a invenção do fonógrafo
e cinematógrafo. Com o advento da gravação onde se pode repetir uma mesma interpretação
inúmeras vezes, aparentemente o problema se torna minimizado, uma vez que o acesso à
interpretação aumenta e pode ser veiculada quantas vezes for possível. Conforme acrescenta
Iazzetta (1997)
Até o advento dos sistemas de gravação neste século, o contato com músicas
e dava primordialmente através da performance. O ouvinte, mesmo que não
envolvido diretamente com a produção sonora, participava da realização
musical ao reconstruir internamente, não apenas sequências de notas
produzidas pelos instrumentos musicais ou as estruturas formais da
composição, mas todo o universo gestual que os acompanha, pois a música
era fruto dos corpos que a produzem e era impossível, para o ouvinte, ficar
alheio à presença desses corpos (IAZZETTA, 1997, p. 2).
Assim, o invento destas tecnologias pode ser considerado, conforme Castro (1988), o
correspondente da revolução industrial na atividade musical. É certo que houve um
condicionamento da “revolução industrial” na produção musical que atingiu as novas formas
de circulação e consumo musical. A música se tornou, pela primeira vez, tal como o livro, o
filme ou o automóvel, uma mercadoria fabricada industrialmente e vendida comercialmente
por meio de um novo suporte físico, que é o disco. Seguindo a história, acontece também uma
“terceira revolução”, a qual se processou no final do século XX, com as tecnologias digitais
que reconfiguraram mais uma vez todo o âmbito da atividade musical, desde a produção até
os modos de recepção.
2.1. MÚSICA E SOCIEDADE: BREVES PALAVRAS
Ao observarmos a realidade neste século, nos defrontamos com os mais variados
suportes em que a música está presente. Ela está nos meios de comunicação, nos consultórios,
nas lojas, bares, em quase todos os locais em que estamos. A música também apresenta
atualmente grande mobilidade como, por exemplo, enquanto faz-se exercício ou vai-se para o
trabalho, ouve-se música. O papel da música na sociedade atual segundo Hargreaves e North
(1999), é promover alterações de humor, auto identificação e relacionamento interpessoal. Há
22
de se procurar entender o papel da música nessa sociedade, imersa num mundo cada vez mais
sonoro. Conforme afirmam Santini e Lima,
A música é um produto social e simbólico de grande importância nas
diferentes formações culturais, principalmente se considerarmos a sua
capacidade de criar vínculos afetivos entre as pessoas. A música pode usar
diferentes formas de linguagem e expressão, sendo produto cultural de
características muito especiais: nenhum produto cultural tem mostrado
tamanha capacidade de adaptação aos diferentes meios de comunicação
(SANTINI; LIMA, 2005, p. 1).
A complexidade da diversidade musical tem sido amplamente discutida e analisada
por estudiosos no que se refere à música e suas relações com o homem e o seu contexto
cultural. Numa perspectiva etnomusicológica é possível perceber que a música é ao mesmo
tempo determinada pela cultura e determinante desta. A partir da variedade das abordagens da
música, percebemos que os estudos dessa área se apresentam como uma alternativa
fundamental para a compreensão de comportamentos que a música estabelece dentro de cada
cultura. Buscar entender o canto coletivo como objeto de representação social
desempenhando funções diversas, nos permite analisar as criações musicais numa perspectiva
complexa na qual é possível integrar elementos históricos, culturais, sociológicos,
psicológicos, e até físicos na explanação do gênero. Citando Zampronha (2007) “a música
faculta-nos uma saída mediante uma experiência que, integrando a nossa totalidade,
apresenta-nos aspectos e maneiras de sentirmo-nos no mundo. É assim que a música dá o seu
recado” (ZAMPRONHA, 2007, p. 11).
2.2. O UNIVERSO VIRTUAL
Ao discutir a ideia da existência de uma Cibercultura ou de uma Cultura de internet,
no entendimento de Castells (2001/2005) é necessário entender, que essa cultura se constitui
por quatro estratos superpostos/sobrepostos que se articulam: a cultura tecno meritocrática, a
cultura hacker, a comunitária virtual e a comunidade empreendedora. Considerando a análise
do auto entende-se que os dois primeiros se relacionam à cultura dos produtores da internet,
isto é, aqueles que contribuíram diretamente na sua criação e no seu desenvolvimento
tecnológico, os quais foram os seus primeiros usuários. As duas culturas são descritas
conforme as características de cada uma, no que cada uma delas dá ênfase.
A cultura tecno meritocrática está ligada ao meio acadêmico e científico, e está na
origem da criação da internet. Nela existe um investimento no mérito que “é medido pelo grau
23
de contribuição ao desenvolvimento de um sistema tecnológico que proporciona um bem
comum a comunidade de descobridores” (CASTELLS, 2001, 2005, p. 54). A cultura hacker
surgiu desempenhando um papel crucial para o desenvolvimento tecnológico; sua
participação mais efetiva pode ser exemplificada pela criação de softwares de caráter aberto.
Essa cultura “inclui o conjunto de valores e crenças que surgiram das redes de programadores
informáticos interagindo online em torno da sua colaboração em projetos auto definidos de
programação criativa” (CASTELLS, 2001, 2005, p. 57).
Do mesmo modo, as outras duas culturas, a cultura comunitária virtual e a
empreendedora, contribuíram decisivamente para a evolução da internet, adicionando a esta
uma dimensão social e comercial, como afirma Castells,
Quando a World Wide Web explodiu nos anos noventa, milhões de usuários
puseram na rede suas próprias inovações sociais com ajuda de uns
conhecimentos técnicos limitados. Não obstante, sua contribuição à forma e
à evolução da Internet, incluindo muitas de suas manifestações comerciais,
foi decisiva (CASTELLS, 2001,2005, p. 52).
Segundo Lévy (1999) a cibercultura nasceu entre a última metade da década de 1980
e início da década de 1990, tendo como marco desse nascimento o movimento sociocultural
Computers for The People que aconteceu no estado da Califórnia (EUA). Foi um momento
importante, onde novas possibilidades e técnicas se mostraram possíveis e que até então
haviam sido monopolizadas por grandes instituições burocráticas. Uma dessas possibilidades
foi a invenção do computador pessoal. Foram os atores desse movimento que inventaram o
verdadeiro uso social dessas tecnologias.
Tendo como palavras de ordem a interconexão, comunidades virtuais e inteligência
coletiva, esses atores exploraram e construíram um espaço de encontro, de compartilhamento
e de criação coletiva que é chamado por Levy (1999) de ciberespaço. Partindo do exposto é
que se pode entender que a noção de Cibercultura, como propõe Levy (1999) não remete
somente ao conjunto de técnicas material e intelectual, mas de práticas, de atitudes e de
modos de pensamento e de valores. O autor explica que ela é
A expressão da aspiração de construção de um laço social que não seria
fundado nem sobre links territoriais, nem sobre relações institucionais, nem
relações de poder, mas sobre a reunião em torno de centros de interesses
comuns, sobre o jogo, sobre o compartilhamento do saber, sobre a
aprendizagem cooperativa, sobre processos abertos de cooperação (LEVY,
1999, p. 130).
24
O ciberespaço ou internet, mais que a infraestrutura material da comunicação digital
caracteriza-se, principalmente, pelo universo de informações que a rede abriga, assim como os
seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Em outras palavras, o ciberespaço
não é a infraestrutura técnica de telecomunicação, mas se distingue nos modos de utilizar
essas infraestruturas já existentes, por mais imperfeitas e disparatadas que sejam; ele visa criar
um tipo distinto de relação pessoal, como aponta Levy (1999). Pode-se dizer que hoje, como
sugere Lemos (2008), o ciberespaço se tornou um espaço relacional, o qual coloca em contato
pessoas de todo o mundo que utilizam o potencial da telemática para se reunirem por
interesses comuns, para bater papo, bem como trocar arquivos de fotos, música,
correspondência.
Nessa discussão, percebe-se que um dos argumentos mais frequentes no discurso dos
pesquisadores quando abordam as transformações na cultura da informação é que essa nova
configuração, da comunicação em rede tem construído um espaço mais livre e democrático,
assim como participativo e interativo. Esse processo propõe um novo modelo de produção e
de distribuição e conforme Sá (2006) tem uma ênfase na relação direta entre produtores e
consumidores. Contudo para a autora esses argumentos parecem expressar certo fascínio
tecnológico e tendem a ver esse novo modelo mais democrático e participativo como estando
em oposição ao modelo mais centralizador, massivo e totalizador característico da mídia de
massa.
2.3. MÚSICA NA CIBERCULTURA
Uma das características mais marcantes da música na cibercultura é a participação nas
obras por aqueles que as provam, interpretam, exploram ou leem. A cibercultura cria uma
relação que se estabelece pela emergência de novas formações sociais tecnológicas digitais;
trata-se de um fenômeno social que possui potencialidades e negatividades a partir das
tecnologias contemporâneas. Para Castells (2001, 2005, p. 73), “as fontes culturais da internet
não se reduzem, contudo, aos valores dos inovadores tecnológicos” devido à culturalização
das ações cibernéticas. Esse tipo de comunicação em rede constrói um novo modelo de
produção, distribuição e consumo cultural cuja ênfase está na relação direta entre produtores e
consumidores através da liberação do polo da emissão. A obra virtual é aberta por construção.
Levy (1999) afirma que “o evento da criação não se encontra mais limitado ao momento da
concepção ou da realização da obra: o dispositivo virtual propõe uma máquina de fazer surgir
eventos” (LEVY, 1999, p.136). A comunicação um-todos típica do modelo de um centro
25
emissor em direção a vários receptores, implantado pela cultura de massa, deu lugar ao
modelo todos-todos, onde todos se tornam ao mesmo tempo emissores e receptores. Este
processo é resultado da conexão generalizada em rede, ou, no caso da produção artística,
artista e público se confundem ou alternam papéis. Esse modelo faz surgir uma forma de
relação social intrínseca e potencialmente mais democrática e participativa, ou seja, o
ciberespaço reconfigura e otimiza as interações sociais. A conexão generalizada traz uma
configuração comunicacional onde o fator principal é a inédita liberação do polo da emissão – chats, fóruns, e-
mail, listas, blogs, páginas pessoais. Entramos assim em uma sociedade onde a nova economia dos
cliques passa a ser vital para os destinos da cibercultura: até onde devemos clicar participar, opinar,
e até quando devemos contemplar, ouvir, ou simplesmente absorver?
Quando tratamos das questões relacionadas aos grupos de canto coletivo e a
cibercultura, podemos pensar no grau de penetração da internet no mundo, devemos reconhecer
que não há mídia totalmente democrática e universal, apesar do crescimento de 16% no número de
pessoas conectadas no Brasil1. No entanto, podemos dizer que a busca incessante da humanidade pela
informação está associada à disponibilidade de cada vez mais escolhas informativas. Esta característica
será responsável por instaurar uma modalidade de escuta não convencional, pois a internet se
tornou o veículo favorito para escutar música. Novos gêneros, novos estilos, novos sons
surgem, recriando as diferenças de potencial que agitam o espaço musical planetário. Assim
como o fizeram em sua época a notação e a gravação, a digitalização instaura uma nova
pragmática da criação e da audição musicais.
De acordo com Iazzetta (1993) o computador, enquanto ferramenta genérica infiltrou-
se nos diferentes estágios da produção musical recente. No que corrobora Santini (2005)
quando afirma que o uso do computador como ferramenta musical introduziu significativas
mudanças em todos os âmbitos do fazer musical.
A distribuição de música através da web e permite ao computador funcionar como
uma estação de rádio pessoal, selecionando e tocando as sequências desejadas. Este tipo de
apropriação social das novas tecnologias de informação deve ser ressaltado, embora Iazzetta
(1993) recorda que técnica e tecnologia são dois aspectos da cultura que sempre estiveram
profundamente envolvidos com a música, não apenas no que diz respeito à sua produção, mas
também em relação ao desenvolvimento de sua teoria e ao estabelecimento de seu papel
cultural.
1Informação retirada de http://info.abril.com.br/noticias/internet/brasil-tem-83-4-mi-de-pessoas-conectadas-a-
internet--acesso em 08-11-2012.
26
A sociedade da informação se desenvolve através da operação de conteúdos sobre a
infraestrutura de conectividade. Uma das contribuições mais relevantes da internet é permitir
que qualquer pessoa venha a ser produtor, intermediário e usuário de conteúdos. Podemos
considerar os grupos de canto coletivo participativos nesse processo considerando as suas
publicações em vídeo, ampliando o alcance desses conteúdos musicais. Dessa forma há uma
mudança no uso e na disseminação da linguagem musical, é por meio da operação de redes de
conteúdos de forma generalizada que a sociedade atual vai se mover para a sociedade da
informação.
A internet inclui as pessoas como receptores passivos, mas também como agentes
ativos e determinantes livres para escolherem o conteúdo, interagirem com ele,
independentemente do espaço e do tempo em que se localizam o usuário e os conteúdos
(MIRANDA, 2000). Isto significa que qualquer obra musical é passível de produção,
compactação e difusão à maneira de um arquivo de texto ou imagem digital, permitindo que a
música se dissemine na internet.
Ao se discutir essa relação entre a música e as tecnologias, destacamos que ao longo
da história sempre houve uma íntima relação entre tecnologia e música, considerando a
invenção de todo e qualquer instrumento musical como forma de tecnologia. Dentro da
discussão entre tecnologia e música uma noção importante que se destaca é a de gênero, cuja
orientação é fundamental para nos guiar uma vez que avaliamos a partir das expectativas e
convenções de gênero, levando-se em conta as expressões comunicacionais de texto musical e
as regras técnicas e formais. Lembrando Janotti Jr. (2003) o caráter mediador presente nessa
noção de fragmentação no que diz respeito ao gênero, envolvem relações de consumo,
convenções de execução e habilidades que cada gênero possui.
Essas apropriações genéricas na visão de Barbero (1997) acontecem sempre no
interior das cenas, ou seja, com contextos locais, definindo as reações dos usuários com as
tecnologias e orientado as escolhas na internet. Nas cenas musicais são vivenciadas
identidades que transitam entre afirmações e conexões com expressões musicais que circulam
em lugares distintos e através da internet. Para Levy “o virtual não substitui o real ele
multiplica as oportunidades para atualizá-lo” (LEVY, 1999, p. 81). Adverte-nos ainda a falta
recursos para avaliar de forma plena todas as consequências das mutações tecnológicas sobre
a produção, as práticas musicais, aparição de novos gêneros e a economia da música atual.
Apesar disso fica claro que se deve investigar a forma como as escolhas são feitas e discutir o
peso maior ou menor das comunidades de gosto, da noção de gênero e da crítica cultural, que
parece estar vivendo um momento de intenso florescimento na internet, sobretudo quando
27
aplicados aos grupos de canto coletivo. O usuário atual quer as facilidades proporcionadas
pelas novas tecnologias e poder carregar as canções preferidas tornou-se viável e cômodo.
Forma-se uma cultura de uso da música muito particular na cibercultura. A internet articula
virtualmente uma musicoteca, potencialmente sem limites. Nas redes sociais no ciberespaço
frequentemente, não mais importa quem é o autor da canção ou a que álbum pertença, mas
sim seu consumo. Pierre Levy (1993) defende que a participação nessas comunidades virtuais
cria-se um estímulo à formação de inteligências coletivas, as quais os indivíduos podem
recorrer para trocar informações e conhecimento.
Uma rede de pessoas interessadas pelos mesmos temas é não só mais
eficiente do que qualquer outro mecanismo de busca, mas, sobretudo, do que
a intermediação cultural tradicional, que sempre filtra demais, sem conhecer
no detalhe as situações e necessidades de cada um (LEVY, 1993, p. 101).
A cultura comunitária virtual acrescenta dimensão social ao compartilhamento de
conteúdo, fazendo da internet um meio de integração social simbólica. Na internet o papel
mediador das grandes gravadoras é posto em xeque, encurtando o caminho entre o artista e o
público. Assim conforme apontam Santini e Lima, “o alcance da música passa a se relacionar
como alcance dos seus meios de registro e de reprodução” (2001, p. 6). O barateamento e a
descentralização da produção, estúdios, editoras, gráficas e distribuidoras menores surgem em
grandes quantidades para atender a demanda dos artistas independentes e possibilitam a
músicos e intérpretes maior autonomia para produção e distribuição de suas obras. Conforme
aponta Levy (1999) as inovações tecnológicas modificam as formas de uso da música. O
usuário de música se coloca numa posição privilegiada com a internet, navegando na rede
pode escolher e experimentar dentre os mais variados gostos, as canções que quer ouvir, na
hora que melhor lhe convier. Os computadores oferecem ferramentas que possibilitam ao
usuário maior controle sobre as informações disponíveis, que possuem recursos de busca,
seleção, edição ou classificação, que são inviáveis em outros meios. A intervenção digital
modifica a forma de usufruir a cultura; a experimentação digital da música pode resultar na
própria transformação estética dos produtos oferecidos na cibercultura.
2.4. A CULTURA MUSICAL E AS MUDANÇAS TECNOLÓGICAS
Há um momento na história da civilização ocidental em que a música assim como a
cultura em geral, se desenvolveu num plano essencialmente fechado sobre si mesmo. Nesse
momento nitidamente relacionado com a cultura medieval, a produção e a difusão musical se
28
davam pela participação mais ou menos ativa de toda comunidade, ou seja, sem uma
separação explícita entre aqueles que ouviam e aqueles que realizavam a música, uma vez que
a música era provavelmente parte de uma atividade comunitária (IAZZETTA, 1993). A
transmissão do conhecimento musical era oral e pressupunha a participação ativa e constante
de todos os membros de um grupo de modo a tornar a música uma atividade a ser vivenciada
dentro do cotidiano. Na cultura oral, a projeção da música era circular e o centro desse círculo
era o tempo e o espaço em que vivem os indivíduos. A partir do suporte material, conforme
afirmam Santini e Lima (2001) a difusão da música fica garantida “fora do espaço em que foi
gerada, através do movimento de trocas e comercialização de bens culturais entre as
diferentes comunidades” (2001, p. 6).
As mudanças nos regulamentos econômicos e sociais reestruturam as formas
organizacionais, permitindo que os processos de produção da informação e do conhecimento
também mudem. Assim como a passagem da cultura oral para a cultura reprodutiva implicou
no surgimento de tecnologias de natureza específica, o mesmo ocorreu em relação à cultura de
redes. A convergência de mudanças sociais e tecnológicas produz mudança nas relações de
produção e de conhecimento (IAZZETTA, 1993). Segundo Frith (2006) O processo social de
desenvolvimento científico e tecnológico tem implicações culturais e políticas cumulativas,
que mudam as formas de discutir, produzir e organizar informações, enfim, de agir e
representar a sociedade. Com a invenção do fonógrafo, por Tomas Edson, e do telefone, por
Alexander Grahan Bell, por volta de 1875, houve mudanças radicais na relação do homem
com o som, um por possibilitar que o som fosse gravado e utilizado na ausência do
músico/intérprete e o outro por transformar som em vibrações elétricas podendo ser
transportadas por fios e convertidas em som novamente. Conforme aborda Santini,
Devido a sua grande capacidade de gravação e reprodução de som, o
fonógrafo, um meio fonomecânico, e mais tarde o gramofone, este elétrico,
passaram a serem utilizados na gravação e reprodução de música. Em alguns
anos, os ouvintes passaram a poder escutar música, pela primeira vez, sem
que esta estivesse sendo executada naquele momento (SANTINI, 2005, p.
30).
Os desenvolvimentos tecnológicos e comerciais que se inscreveram a partir dessas
invenções, foram modificando radicalmente os processos musicais e as formas de criação,
produção e registro de música. Iazzetta (1997) sugere que o fonógrafo vem suprimir de certa
forma o papel do músico amador e do instrumento musical doméstico, tornando-se aos poucos
parte da cultura musical e modificando hábitos de produção, difusão e consumo da música.
29
Além de dissociar a ideia da experiência estética da música com a
performance, os primeiros fonógrafos mecânicos ofereciam mais do que a
possibilidade de reproduzir música pré gravada: eles funcionavam também
como gravadores e com eles as pessoas podiam registrar suas próprias
vozes em disco virgem (IAZZETTA, 1997, p. 50).
Com esses dispositivos os compositores puderam registrar diversos sons e transformá-
los e editá-los. Isso permitiu que a cena musical da sociedade da informação ficasse
profundamente vinculada às novas tecnologias. Conforme aponta Lemos (2004) uma das
principais características dessa cibercultura planetária é o compartilhamento de arquivos,
música, fotos, filmes, etc. construindo processos coletivos. A criação da interface MIDI, que
permitia a transferência de informações entre os diversos equipamentos externos
(sintetizadores, sequenciadores, e instrumentos musicais) com o computador, impulsionou
ainda mais a apropriação desse recurso como ferramenta para a criação musical. A partir do
protocolo MIDI e da tecnologia de chip (circuitos integrados baseados em silício) o home
estúdio tornou-se uma realidade para qualquer músico profissional ou amador. Segundo
Santini (2005) estas duas tecnologias foram “as alavancas para a reformulação dos estúdios e
dos próprios conceitos de produção musical” (SANTINI, 2005, p. 47).
A transmissão de arquivos musicais na internet muda as relações entre produtores e
usuários de música. Por um lado, os produtores de música podem disseminar com facilidade a
sua obra, tornando-a virtualmente acessível a milhões de pessoas sem grandes custos de
distribuição. Por outro lado, os usuários podem recuperar e usar arquivos musicais sem
depender da mediação da indústria fonográfica. As máquinas e seus mecanismos de busca
ampliam as possibilidades de encontro entre público, obras e autores (SANTINI, 2005). Com
isto a música se dissemina na internet; pois nesta há bancos de música de todos os tempos.
A Internet passou a ser um meio de acesso fácil de difusão da música que passou a ter
maior portabilidade e mobilidade promovendo experiências musicais individualizadas. Na
visão de Levy (1996) a cibercultura, isto é, a sinergia entre a esfera tecnológica das redes de
comunicação e a sociocultural, imprimiu um redimensionamento ao mundo da música
advindo das técnicas de compressão em arquivos de áudio. A necessidade de simplificar o uso
dos arquivos digitais recuperados através da internet faz surgir dispositivos para sua
reprodução. A facilidade de recuperar os arquivos da internet (download) e produzir unidades
personalizadas de armazenamento trouxe importantes mudanças na relação dos usuários com
o mundo da música.
A unidade conceitual do álbum ou CD com menos de uma hora de música é
substituída pela possibilidade de arquivar milhares de músicas, escolhidas aleatoriamente, em
30
um pequeno tocador portátil de MP3. O usuário atual quer as facilidades proporcionadas pelas
novas tecnologias. Essa realidade possibilitou trocas de informações entre os indivíduos e
participações nas aprendizagens uns dos outros, incluindo a indicação de novos repertórios
para apreciação. Atualmente existem na Internet vários programas que permitem troca de
arquivos MP3 entre usuários que estejam conectados. Pierre Levy (1999) afirma que “cada
um é, portanto, ao mesmo tempo produtor de matéria prima, transformador, autor, intérprete e
ouvinte em um circuito instável e auto organizado de criação cooperativa, e de apreciação
concorrente” (LEVY, 1999, p. 142).
As facilidades das novas tecnologias permitem ao consumidor de música se colocar
numa posição realmente privilegiada diante da internet: navegando na rede, o usuário pode
escolher experimentar, dentre os mais variados gostos, as canções que quer consumir, na hora
que melhor lhe convier, dispensando, dentro de alguns limites, a intermediação do mercado.
Num sentido mais específico, essas inovações tecnológicas ampliaram as formas de os
indivíduos interagirem e comunicarem nesse novo espaço, como também as possibilidades de
produção e circulação de música, reconfigurando essas atividades de um modo nunca antes
pensado. Para Levy (1996) a difusão das gravações provocou na música popular o fenômeno
de padronização comparável ao que a impressão teve sobre as línguas.
Graças à facilitação do acesso aos diversos softwares de gravação e manipulação
sonora, um número maior de usuários sem uma formação musical tradicional precisa apenas
de um pouco de conhecimento tecnológico, curiosidade e criatividade para fazer suas próprias
gravações. Santini e Lima (2001) ressaltam que as tecnologias digitais trouxeram
possibilidades inéditas, no sentido em que tanto o processo de produção quanto o de consumo
musical, acontecem cada vez mais.
31
3. GRUPO CORAL: UM ESPAÇO DE MÚLTIPLOS ENFOQUES
3.1. DO CANTO COLETIVO
Na história da humanidade o canto em grupo comumente foi uma prática constante e
engendrada de socialização. Em seu livro Choral Music in The TwentiethCentury, Strimple
(2002), comenta que ao longo do século XX, a atividade coral adquiriu novas funções e
características além daquelas que já se conhecia. A natureza social e amadora que norteou a
prática coral do século XIX foi mantida e ao seu lado duas outras importantes características
foram acrescentadas: uma noção aprimorada de grupo coral como instituição organizada e
uma maior preocupação estética vocal. Nas culturas em que a oralidade é a forma principal de
armazenamento e transmissão de informações, ou seja, onde os recursos da inteligência são
compostos principalmente de formas sonoras imagéticas, observamos que o universo musical
torna-se indispensável nas relações coletivas com o meio, sendo trabalhado em diversas
situações. Uma prática cada vez mais presente no cenário musical como uma atividade de
grande relevância, não só por ter a voz humana como o instrumento de emissão sonora,
portanto de fácil acesso, o canto coletivo se firma, também, por ser uma prática coletiva de
baixo custo. Para Soares,
O canto coral é uma significativa ferramenta de integração social e vem se
tornando cada vez mais um meio de desenvolver percepções e sensibilidades
individuais que caminham em direção ao outro, valorizando sobremaneira as
relações humanas. Tanto no aspecto musical quanto no relacionamento do
conjunto, os fluxos individuais convergem para a construção do sentido
coletivo da atividade, atuando diretamente nos resultados do grupo
(SOARES, 2003, p. 60).
Fucci Amato e Amato Neto (2009) ressaltam como é comum a todas as vertentes do
canto coral o fato de o coro constituir uma organização, formal ou informal, ou grupo social
que se funda em recursos materiais e principalmente em recursos humanos. Conforme os
autores afirmam,
Há diversos tipos de coros, com objetivos diferentes, como a inclusão social,
o laser e a difusão de repertórios musicais específicos. Nota-se a existência
de grupos profissionais e amadores e, nesse sentido, que os coralistas desses
dois tipos de coro são motivados por diferentes fatores. Enquanto para
alguns o canto coral é uma atividade que demanda maiores exigências e
profissionalismo, para outros consiste em um lazer (FUCCI AMATO;
AMATO NETO, 2009, p. 88).
32
Não pretendo tratar das ambiguidades relativas aos termos: canto coletivo e canto
coral, por entender ser uma questão técnica e ao que parece ser inerente às próprias condições
culturais e ao papel que exercem em cada contexto. Portanto uso os dois termos por acreditar
que são sinônimos. Têm-se este espaço onde as pessoas constroem socialmente significados,
normas, leis que regem o grupo e que muitas vezes nem são explícitas, mas que todos
reconhecem e aceitam ser regidos pelas mesmas. Nesse sentido, supõe-se a ideia de que o
canto coletivo desenvolva, a partir de sua dimensão social e musical, potencialidades nos
sujeitos atores de seu cenário social específico. Conforme aponta Durrant,
O canto coral é uma atividade social. A própria estrutura e a natureza da
atividade de cantar em grupo a torna um fenômeno social. Assim como uma
atividade desportiva em equipe, o cantor habilita as pessoas para trabalharem
em conjunto para alcançar um objetivo comum. As pessoas se reúnem em
torno do mesmo interesse que é cantar, e ainda que haja diferenças entre si,
unem-se através da participação no coro (DURRANT, 2003 p.45).
A dimensão sonora abre caminhos para a troca e a internalização de conceitos e
comportamento em muitos casos mais harmonizados com a humanização nas relações. De
acordo com Villa Lobos,
O canto coletivo, com seu poder de socialização, predispõe o indivíduo a
perder no momento necessário a noção egoística da individualização
excessiva, integrando-o na comunidade, valorizando no seu espírito a ideia
da necessidade de renúncia e da disciplina ante os imperativos da
coletividade social, favorecendo, em suma, essa noção de solidariedade
humana, que requer da criatura uma participação anônima na construção das
grandes nacionalidades (VILLA-LOBOS, 1987, p. 87,88).
O canto coletivo se transforma numa representação social se os seus integrantes
compartilharem desde objetivos, normas, regras de condutas estabelecidas pelos mesmos.
Ainda que sejam informais, a representação social se estrutura desta forma, a partir do
entrelaçamento de relações de seus sujeitos. A música é o que os une. Segundo Madeira
(2001) o homem se faz e se expressa em relação ao outro a partir dessa racionalidade que se
estabelece da articulação do sujeito no concreto e das relações que acontecem. É o sujeito
completo na relação do concreto em construção, dando sentido ao objeto. Isto leva a
articulação do universo de cada um e com isso vai se concretizando a realidade.
33
Este desenvolvimento é propiciado pelas relações travadas entre as pessoas, tendo
como canal e vínculo o elemento principal; a música, que propicia novas formas de agir,
pensar e sentir. A troca constante entre os sujeitos com a cultura ambiente e a criação de
expectativas e motivações relativas à música ocorre de maneira implícita automática e
involuntária, dentro dos grupos de canto coletivo. Fucci Amato (2007) considera que o canto
coletivo desvela-se uma extraordinária ferramenta para estabelecer uma densa rede de
configurações socioculturais com os elos da valorização da própria individualidade, da
individualidade do outro e do respeito das relações interpessoais, em um comprometimento de
solidariedade e cooperação. Figueiredo (2006) acrescenta que o crescimento da prática coral
se dá especificamente pelo fato de que cantar em coro é uma experiência afetiva marcante que
oportuniza o desenvolvimento individual e coletivo, ampliando a musicalidade e a capacidade
de se expressar através da voz bem como a possibilidade de vir a executar obras que tocam o
cognitivo, ensejando o crescimento intelectual e afetivo do cantor e de outros agentes
envolvidos; o desenvolvimento da socialidade e da capacidade de exercer uma atividade em
conjunto, onde existem os momentos certos para se projetar e se recolher, para dar e receber.
(FIGUEIREDO, 2006, p. 8, 9).
3.2. O CANTO COLETIVO, A SOCIALIZAÇÃO E A INTERNET
Para Georg Simmel (1997) a sociedade existe como um dos modos pelos quais toda
experiência humana pode ser potencialmente organizada, ou seja, a realização do conceito
residiria nos processos de interação micros sociológicos através dos quais se constituem
associações. Heitor Frúgoli corrobora que “um complexo de indivíduos socializados, uma
rede empírica de relações humanas, operativa num dado tempo e espaço, denota a totalidade
dessas formas relacionais através das quais os indivíduos tornam-se parte de tal rede”
(FRÚGOLI, 2007, p. 09). No âmbito destas relações, os sujeitos procuram agir socialmente
uns com os outros. Baechler (1995) define o conceito de sociabilidade como:
A capacidade humana de estabelecer redes através das quais as unidades de
atividades, individuais ou coletivas, fazem circular as informações que
exprimem os seus interesses, gostos, paixões, opiniões, vizinhos públicos,
salões, círculos, cortes reais, mercados, classes sociais, civilizações
(BAECHLER, 1995, p. 57).
A vida em sociedade desenvolve-se dentro de um espaço reticular no qual, segundo
Baechler os diversos agentes sociais estabelecem entre si, de uma forma deliberada, um
34
conjunto de “laços mais ou menos sólidos e exclusivos” (1995, p. 65). Os elementos
componentes mais elementares da realidade social são constituídos pelas múltiplas maneiras
de estar ligado pelo todo ou no todo, ou por manifestações da sociabilidade. É importante
referir que não se pode estabelecer uma classificação rígida das manifestações de
sociabilidade, na medida em que cada agrupamento social surge muitas vezes em
combinações diversas. Para Frúgolli (2007) uma forma de aprofundar a compreensão do
modo como se organiza a sociedade, através de associações básicas é justamente o de
sociabilidade, entendido como o social puro, ou seja, sem quaisquer propósitos, interesses ou
objetivos que a interação em si mesma proporciona, típico da socialização humana. Uma
modalidade básica da sociabilidade é a conversação, sem se ater ao conteúdo, mas o meio
pelo qual o vínculo social se mantém. Em suas diversas modalidades possíveis, uma
característica marcante do social, como forma de sociabilidade típica de forma bastante
evidente, temos as ações de reciprocidade entre os indivíduos que emergem através da
interação com outras coisas e eventos. A sociedade em rede constrói sua estrutura social em
torno de redes de informação.
A partir do desenvolvimento de tecnologias microeletrônicas que resultaram no
aperfeiçoamento de sistemas computacionais que, por sua vez estruturaram redes que
conectam o mundo, com destaque para a internet, pensar o imaginário tecnológico implica
considerar a questão do desenvolvimento das técnicas de comunicação e informação e a sua
relação com os fenômenos societais. Nesse sentido, Castells (2001/2005) argumenta que
internet é muito mais que uma simples tecnologia, é o meio de comunicação que constitui a
forma organizativa de nossas sociedades. O ciberespaço se torna um laboratório de criações
coletivas, cujo principal objetivo é oferecer a comunidade um local virtual onde possam se
encontrar e interagir, trocando experiências, motivações, ideias e informações sobre temas de
mútuo interesse. A internet é o coração de um novo paradigma sociotécnico, que constitui na
realidade a base material de nossas vidas e de nossas formas de relação, de trabalho e de
comunicação. Para Castells, “o que a internet faz é processar a virtualidade e transformá-la
em nossa realidade, constituindo a sociedade em rede, que é a sociedade em que vivemos”
(CASTELLS, 2001, 2005, p. 287).
As novas tecnologias transformam a organização do espaço temporal da vida social,
criando novas formas de ação e interação, novos modos de relação social e novas formas de
relacionamento. O reordenamento social aponta para o reconhecimento do outro a partir de
uma identificação de afetos e interesses compartilhados. Os atores são o primeiro elemento da
rede social, trata-se de pessoas envolvidas, como parte do sistema e que atuam de forma a
35
moldar as estruturas sociais, através da interação e da constituição de laços sociais. Um ator
pode ser representado por um weblogger, facebook, youtube, por exemplo, mantido por um ou
vários atores. Esse imperativo da visibilidade é característico da sociedade atual, uma
necessidade de exposição pessoal. Recuero (2009) reforça que “é preciso ser visto para existir
no ciberespaço” e ainda, “mais do que ser visto, essa visibilidade seja um imperativo para a
sociabilidade mediada pelo computador” (RECUERO, p. 27).
A internet faz-se mais importante, devido ao seu aspecto simbólico, através de um
espaço de circulação de signos e atividades interpessoais, do que em relação a sua concepção
racional e utilitarista. Para Levy (1999) “a revolução contemporânea das comunicações, da
qual a emergência do ciberespaço é a manifestação mais marcante, é apenas uma das
dimensões de uma mutação antropológica de grande amplitude” (LEVY, 1999, p. 195). As
tecnologias constituem uma extensão dos sentidos humanos, os quais refletem o predomínio
de outro tipo de percepção de realidade. Lemos (2002) contribui afirmando que, “ao invés de
inibir as situações lúdicas, comunitárias e imaginárias da vida social, as novas tecnologias vão
agir como vetores potencializadores dessas situações da sociabilidade” (LEMOS 2002, p. 90).
O ciberespaço nada mais é do que o desejo de conexão se realizando planetariamente. Levy
(1999) defende a internet como um meio capaz de promover o encontro dos homens. “A
humanidade reconecta-se consigo mesma” (LEVY, 1999, p. 195). Seguindo essa mesma linha
de pensamento, Lemos (2002b), enfatiza que o ponto de partida para compreendermos o
comportamento social que marca uma determinada época é ter consciência que existe uma
relação entre o homem, a natureza e a sociedade, sendo que em cada período prevalece uma
cultura particular. Nesse aspecto, a tecnologia empregada funciona como força
impulsionadora da criatividade humana, da imaginação, devido à visibilidade e a
disponibilidade de material que circula na rede, permitindo que a comunicação se
intensifique, ou seja, as ferramentas promovam o convívio, o contato e maior aproximação
entre as pessoas.
O compartilhamento, no ponto de vista social, papel muito bem exercido pelos grupos
de canto coral, expressa o livre fluxo de ideias por meio da socialização de material que
representa parte do conteúdo cultural subjetivo, manifesto diante da coletividade. Apesar da
possibilidade latente da efetivação do diálogo, sob forma diferente de interação, a
comunicação entre os usuários virtuais demonstra a existência, na visão de Castells
(2001/2005), de diferentes formas de comunicação, baseadas na interação e interlocução.
Segundo Levy (1993), as novas tecnologias precipitam o homem num novo universo
comunicacional, onde se processa a circulação do saber, que o autor designa como
36
“inteligência coletiva”, com implicações no reforço das competências e dos laços
comunitários estabelecidos entre os agentes sociais. A vivência do homem nas comunidades
virtuais que se configuram no final deste século, inaugura novas formas de sociabilidade e
novas formas de interação entre os agentes sociais que partilham entre si um novo espaço de
contornos muito especiais, o ciberespaço. Embora ainda haja diversas tentativas de
compreender as mudanças que estão acontecendo na sociedade e que diferentes
nomenclaturas foram empregadas por vários teóricos de diversas áreas do conhecimento,
estamos apenas no início de um processo de mudanças ainda maiores na organização da
sociedade.
Conforme aponta Castells, “as redes interativas de computadores estão crescendo
exponencialmente, criando novas formas e canais de comunicação, moldando a vida e, ao
mesmo tempo, sendo moldados por ela” (CASTELLS, 2001, 2005, p. 40). Santaella (2007)
corrobora esta afirmação quando defende que o ciberespaço constrói novas paisagens, novas
atmosferas e novas cartografias que estão estruturando nossas relações sociais. Entretanto,
antes de atestarmos o novo em detrimento do antigo, é preciso estar atento para o que se
solidifica nas culturas musicais e o que se transforma nas práticas da chamada cibercultura.
Somadas as dificuldades de analisar concretamente as implicações sociais e culturais da
informática pela ausência de estabilidade nesse campo.Conforme aponta Santaella “já não há
lugar, nenhum ponto de gravidade de antemão garantido para qualquer linguagem, pois todas
entram na dança das instabilidades” (SANTAELLA, 2007, p. 24). Não se trata aqui de
identificar pessimistas, otimistas ou realistas, até porque ser otimista ou pessimista é uma
prerrogativa individual. O que importa para a pesquisa é nos concentrarmos na fenomenologia
das diversas potencialidades ou negatividades do canto coral junto às tecnologias digitais.
3.3. O CANTO COLETIVO E A “CENA”
O desenvolvimento do sistema de produção de bens simbólicos é paralelo a um
processo de diferenciação cujo princípio reside na diversidade dos públicos. Pensar o cenário
do consumo da música do canto coletivo, como parte de uma cultura inserida em uma imensa
e poderosa rede de comunicação que se assemelha a uma rede social, com experiências
mediadas por blogs, sites, vídeos, concertos, festivais, é pensar que esses elementos
possibilitam uma sociabilidade entre produção, circulação e audiência.
A rede é social por natureza, seja porque experimentamos a sociabilidade
material ou física, dançando com pessoas em um baile ou um concerto, ou
virtualmente, quando escutamos a uma pessoa que canta para nós, nos
37
elevando e nos integrando a uma comunidade imaginada (FRITSCH, 2006,
p. 55,56).
O sujeito vive então um interagir e agir e as representações sociais regem o viver e
organizam as comunicações e as condutas no e com o mundo. A intermediação cultural parece
configurar-se cada vez mais como um espaço de atuação transversal, onde se torna muitas
vezes indistinto o lugar específico a partir do qual os intermediários, sejam eles individuais ou
institucionais, exercem as suas atividades, onde tanto o sujeito como as representações sociais
expressam-se e se constroem. Consumir música nos dias de hoje é estar conectado a uma rede
cultural que une o usuário, o fã, o músico e os produtores musicais. Elementos esses que
podem ser relacionados com grupos de canto coletivo, que colaboram para que o gênero se
afirme como um produto de forte presença em diferentes espaços no mundo atual. Nas cenas
musicais são vivenciadas identidades que transitam entre afirmações cosmopolitas e a forma
como essas mesmas expressões musicais, em versões locais ou gêneros regionalizados se
afirmam através de apropriações culturais em diferentes espaços urbanos.
Da mesma forma que a música faz parte do processo de afirmações
identitárias individualizadas, ela reflete diretamente sobre o local onde é
produzida (ou consumida) gerando implicações sobre o desenvolvimento
regional, bem como sobre identidades coletivas (JANOTTI Jr., 2011, p. 10).
Compreender esse laço afetivo entre o indivíduo e a música e como isso está atrelado
aos modos como são construídas as relações culturais nos espaços urbanos é um importante
passo para entender as práticas musicais inseridas nas relações sociais atuais. Esses espaços
considerados como “cena ou campo” foram pensados para tentar dar conta de uma série de
práticas sociais, econômicas, tecnológicas e estéticas ligadas aos modos como a música se faz
presente nos espaços urbanos. Isso inclui processos de criação, distribuição e circulação, além
das relações sociais, afetivas e econômicas decorrentes desses fenômenos. O primeiro uso do
termo cena nos remete a década de 40 do século XX2 e se popularizou nas décadas de 80 e 90,
para conceituar as práticas musicais presentes em determinados espaços urbanos e seus
desdobramentos sociais, afetivos econômicos e culturais. Em outras palavras, a cena é uma
maneira das práticas musicais ocuparem o espaço urbano e ser foco dos processos sociais dos
atores envolvidos na produção, consumo e circulação da música nas cidades. Segundo Jeder
Janotti Jr., as cenas musicais, enquanto redes de consumo atuam na formação de uma
2 O termo foi criado por jornalistas norte-americanos para caracterizar o meio cultural do Jazz, de modo a abranger a
movimentação em torno do gênero musical. Bandas, público, locais de shows, produtores culturais, críticos, gravadoras, entre
outros atores sociais, todos estavam sendo englobados dentro do universo denominado cena musical.
38
identidade em comum partilhada pelos participantes, “ao mesmo tempo em que pretendem
atingir um público cada vez maior, os produtos midiáticos têm que se render a tendência
crescente de segmentação de mercado” (2003, p. 09). Por isso, ainda segundo o autor, as
cenas musicais trazem em seu núcleo uma relação afetiva entre os atores sociais do mundo da
música, a atividade cultural e o local onde ela é desenvolvida. A formação de uma cena local,
no caso do canto coletivo, é possível reconhecer a participação de atores sociais envolvidos na
cadeia produtiva desde a sua preparação com o grupo, até o seu consumo final, no caso uma
apresentação e publicação de vídeo na internet. Mas conforme aponta Janotti Jr. a principal
delas é o desenvolvimento social e econômico do espaço urbano, através da formação de um
público que se identifica com a cena e atua na disseminação da informação forjando redes
sociais afetivas ao redor dessas práticas musicais.
Ainda com relação à circulação de bens simbólicos e os grupos de canto coral,
verifiquei na pesquisa que estes se mantêm e se revezam em apresentações em espaços
urbanos, a fim de se afirmarem e legitimarem o gênero nesses espaços. Isto porque conforme
afirma Bourdieu (2002) “todo ato de produção cultural implica na afirmação de sua pretensão,
a legitimidade cultural” (BOURDIEU, 2002, p.108). As cenas locais apresentam práticas
musicais restritas a determinadas localidades e práticas específicas ligadas à tradição cultural.
As cenas seriam a materialização das expressões musicais no tecido urbano,
a partir da criação de um mercado segmentado, onde as lógicas produtivas e
criativas atuam na formação de um circuito cultural próprio – envolvendo
bandas, público, jornalistas, produtores culturais e outros atores sociais que
fazem parte do processo – e disputam espaço com outras práticas musicais
(JANOTTI Jr., 2011, p. 17).
As relações espaciais fazem referências ao modo como as expressões musicais são
consumidas nos territórios urbanos e como negociam com os mapas musicais locais, daí a
ideia de que as cenas são hoje, uma importante forma de materialização das sonoridades que
circulam no mundo digital. Por sua vez podemos considerar as publicações na internet, destes
grupos, como cenas virtuais que permitem que os indivíduos se identifiquem com
determinados grupos e criem uma única cena através da internet.
A estrutura e a função do campo de produção e do campo de divulgação só podem ser
inteiramente compreendidas se levarmos em conta sua função específica. Em seu conjunto, o
sistema das relações constitutivas do campo de produção, de reprodução e de circulação dos
bens simbólicos, se deve a especificidade dos seus produtos. É possível observar que, por
exemplo, as cenas de canto coral estão conectadas aos aspectos virtuais de sua circulação nos
meios digitais. Assim pode-se imaginar que as apresentações são parte de uma rede cultural
39
que se afirma tanto nos tecidos locais, bem como nos nacionais. Até porque as apresentações
em festivais estão atreladas às cidades em que ocorrem. Não por acaso, qualquer cena possui
em seus mitos fundantes apresentações de música ao vivo. De acordo com Freire Filho e
Fernandes (2006) “lançar mão do conceito de cenas musicais – como moldura analítica para o
estudo da lógica de formação das alianças no campo da experiência musical independente da
cidade pode ajudar a capturar, mais integralmente, a gama de forças que afetam a prática
musical urbana” (p. 33). Parece claro que a noção de cena abarca duas grandes redes do
mercado musical: circuito cultural e cadeia produtiva. A primeira diz respeito aos espaços
urbanos fixos, ou móveis, enquanto a segunda, aos personagens e atores sociais envolvidos
nas práticas do processo de criação, circulação e consumo através de suas características
midiáticas. Encontramos essas práticas dentro dos grupos de canto coral, que materializam
suas práticas musicais nos espaços urbanos locais, encorajando a interconectividade entre os
atores sociais e os espaços culturais das cidades – suas indústrias, suas instituições e suas
mídias. Seriam as cenas a materialização das expressões musicais no tecido urbano a partir da
criação de um mercado segmentado, onde as lógicas produtivas e criativas atuam na formação
de um circuito cultural próprio. Janotti Jr. colabora afirmando que,
As relações espaciais fazem referências ao modo como as expressões
musicais são consumidas nos territórios urbanos e como negociam com os
mapas musicais locais, daí a ideia de que a cena soa, hoje, uma importante
forma de materialização das sonoridades que circulam no mundo digital.
(JANOTI Jr., 2011, p. 17).
A ideia de que as cenas possibilitam a materialização da música nos espaços urbanos
está alicerçada na afirmação de um processo de midiatização que não pressupõe mais uma
separação entre atores sociais e meios. Pode-se dizer que o que caracteriza uma cena musical
certamente aplicada aos grupos de canto coral, são as interações entre música, dispositivos
midiáticos, atores sociais e o tecido urbano em que esses grupos estão inseridos.
40
4. A LÓGICA DAS MEDIAÇÕES
4.1. DIFUSÃO E MEDIAÇÃO
A interconexão generalizada entre as pessoas na atualidade tem chamado a atenção de
muitos pesquisadores sobre seus efeitos no quadro das relações entre indivíduos e igualmente
na forma como os coletivos se comportam quando se constituem em conexões em rede. Essas
relações tanto individuais como coletivas, têm despertado o interesse de vários ramos das
ciências sociais ou mesmo de outros que pressintam que há algo de novo a ser estudado,
investigado. As tecnologias da informação têm incidência, ainda difícil de definir, sobre a
nossa percepção e as novas representações do mundo, não só por se prestarem a uma grande
variedade de aplicações nos mais diversos domínios da experiência, mas, sobretudo, porque
criam um mundo virtual e autônomo em relação ao mundo real que se transforma em
relações. Essas podem ser mediadas pelo computador, na visão de Soares (2003), da mesma
forma que a interação, partindo da premissa de que o computador é o mais poderoso elemento
de manipulação simbólica.
Através de novos dispositivos, o homem sente-se livre e aventura-se na criação de
novos mundos virtuais. Esse impacto suscitado pelos novos dispositivos comunicacionais na
sociedade traduziu-se na maneira dos indivíduos utilizarem, cada vez mais, outras fontes para
adquirirem conhecimento/informação, em detrimento das fontes tradicionais com as quais os
indivíduos se relacionavam no dia a dia. Esta situação resultou no nascimento de novas
formas de interação social, definidas por Thompson (1998), como interação mediada. A
análise destas formas de interação adquire uma maior complexidade, comparativamente com
a análise da forma de interação face a face, visto que os agentes sociais podem estar situados
em contextos de espaço e de tempo muito diferentes. Há uma multiplicidade de tempos e
histórias coexistindo com ritmos e lógicas próprias e a tecnologia, mais que um aparato
tecnológico é um organizador perceptivo, atua organizando os espaços públicos e privados,
permitindo uma alteração das funções e significados de ambos e das relações que se
estabelecem com eles. Nesse caso, a relação poderá ser diferente da relação que aconteceria
em um quadro de interação face a face devido às limitações contextuais da mediação. Logo,
Recuero (2009) argumenta que a mediação pelo computador traz aspectos importantes para as
relações sociais e que a mediação é uma ação social permanente, nem sempre óbvia, que está
presente nos mais variados níveis e processos interativos. A partir disso, torna-se necessário
entender melhor a atividade desses coletivos, a forma como comportamentos e ideias se
41
propagam, o modo como notícias afluem mundo afora, a partir da emissão e recepção
mediada pelo computador.
Essa organização obedece a arranjos extremamente particulares, pois esse processo só
existe porque a produção sempre terá como pressuposto a existência do outro, de um
interlocutor, ouvinte, que interfere desde o começo, nos processos de produção e chega-se
finalmente à razão de ser de qualquer bem cultural; o consumo, a fruição, a recepção e seus
usos sociais. Todos esses processos foram, de certo modo, resumidos pelos pesquisadores
como mediação cultural, pois funcionam justamente como mediadores no processo de
produção dos bens culturais.
Para Barbosa e Coutinho (2009), o mediador, seja ele um dispositivo, uma máquina ou
o próprio indivíduo; como um intérprete, insinua-se no processo elementar para lhe inserir os
interpretantes, destinados a facilitar, desenvolver, efetivar, enriquecer, ampliar, ou até
questionar o processo interpretativo. As autoras ainda discorrem que a mediação da cultura
ganha existência no cruzamento de quatro situações: o objeto mediado, as representações, as
representações e experiências do mediador e o mundo cultural de referência.
Barbero propõe “em lugar de partir da análise das lógicas de produção, partir das
mediações de onde se originam as construções que delimitam e configuram a materialidade
social” (BARBERO, 1997, p.292). Segundo o autor a primeira questão a ser estudada deve ser
a temporalidade, que deve ser vista como um lugar e não como uma etapa. Para Barbero
(1997) há diferentes tipos de histórias coexistindo, com ritmos e lógicas próprias.
Se esta interlocução efetivamente constitui o elemento característico da comunicação
virtual, na visão de Barbero (1997) a necessidade de considerar formas diferentes de
mediação no processo de mediação dos meios eletrônicos, se apoia no discurso da
apropriação, finalidade específica de fomentar diálogos e debates de determinados grupos da
sociedade. O uso da internet através das novas tecnologias permite ao consumidor cultural
exercer e acumular simultaneamente o papel de fã, crítico, e ainda produtor. Autores como
Castells (2001, 2005) e Pierre Levy (1999), referem-se à disseminação de um volume cada
vez maior de informação pelas tecnologias digitais e as formas de construção coletiva de
conhecimento e de organização da sociedade em redes. Barbero (1997) estabelece a recepção
midiática como um processo de interação, em que entre o emissor e o receptor há um espaço
de natureza representativa ou simbólica que é preenchido pela mensagem. Como explica o
próprio autor:
A verdadeira proposta do processo de comunicação e do meio não está nas
mensagens, mas nos modos de interação que o próprio meio, como muitos
42
dos aparatos que compramos e que trazem consigo seu manual de uso,
transmite ao receptor (BARBERO, 1997, p. 55).
Essa proposta centra-se exatamente no espaço simbólico que media a recepção entre
emissor e receptor. Assim, “o eixo do debate deve se deslocar dos meios para as mediações,
isto é, para as articulações entre práticas de comunicação e movimentos sociais, para as
diferentes temporalidades e para a pluralidade de matrizes culturais” (BARBERO, 1997, p.
55). O ciberespaço e as ferramentas de comunicação possuem particularidades a respeito dos
processos de interação, é tudo construído pela mediação do computador. Para Recuero no
âmbito da internet,
As relações tendem a ser mais variadas, pois há troca de diferentes tipos de
informação em diferentes sistemas, como, por exemplo, trocas relacionadas
ao trabalho, a esfera pessoal e mesmo a outros assuntos (RECUERO, 2009,
p. 36).
Ainda no nível das mediações, Barbero (1997) aponta para um novo conjunto de
fragmentação, a dos públicos, que cada vez mais são públicos distintos, que se definem por
idade, sexo, profissão, interesses e todos os cruzamentos daí decorrentes e cada um com uma
sensibilidade específica, um imaginário próprio e representações sociais particulares. As
noções de mediação cultural, recepção e usos sociais dos bens simbólicos passam a circular
como a indicação de um novo modo de pensar a indústria cultural. Ora, se podemos
considerar a mediação como um processo semiótico e de fabricação de signos, a música,
como expõe Zampronha (2007),
Tendo em conta seu modo peculiar de organizar experiências, atendendo a
diferentes aspectos do desenvolvimento humano infere-se ser possível
recortar seu papel como agente mediador cultural que acaba por conduzir aos
jogos do simbólico e do imaginário (ZAMPRONHA, 2007, p. 18).
Essa apropriação simbólica da música produz um deslocamento importante do meio à
mediação, pressupondo reconhecer importantes contribuições ao processo de trocas culturais.
43
A própria existência dos meios tecnológicos depende de complexas mediações, caso
contrário seria possível imaginar uma tecnologia se desenvolvendo autonomamente. Mas
estas estão inseridas nas relações de produção de sentido e acabam produzindo novas
possibilidades de produção. De certa forma a própria atualidade pode ser relacionada a uma
forma de mediação, pois é capaz de organizar as relações sociais nas sociedades complexas. O
que se percebe, é que a concepção de mediações, não se apresenta para substituir os meios,
estes fazem parte das mediações sociais, que nos envolvem no tempo presente, estão presentes
no tempo-espaço, na produção e reconhecimento da atualidade.
Conceito fundamental em Barbero (1997) é que a mediação deve ser entendida como
um conjunto de influências que estrutura, organiza e reorganiza a percepção da realidade em
que está inserido o receptor tendo poder também para valorizar implícita ou explicitamente
esta realidade. As mediações produzem e reproduzem os significados sociais, sendo o espaço
que possibilita compreender as interações entre a produção e a recepção. Por isso “a
investigação dos usos nos obriga então a movermos do espaço dos meios ao lugar em que se
produz o sentido” (BARBERO, 1997, p. 213).3
A mediação cultural é fundamental, pois é por onde se configuram e se originam as
informações, o consumo se efetiva, o sentido é produzido e a identidade se constrói. Na visão
de Barbosa e Coutinho (2009) as mediações contribuem para o desenvolvimento da
capacidade de pensar sobre o meio na sua complexidade, explorando as contradições das
representações e crenças, como também as contradições de seu público. Esta convivência só é
possível após o homem se apropriar da técnica e do conjunto de dispositivos tecnológicos que
lhe permitiu aceder a este universo. A técnica interfere, inevitavelmente, no cotidiano, assim
como o cotidiano se apropria da própria técnica. O crescimento da oferta cultural, que vai
consolidando e complexificando o mercado da cultura, promove naturalmente o
desenvolvimento de atividades mais específicas nos domínios da organização, difusão e
promoção da cultura, atribuindo aos agentes que desempenham estas funções a exemplo dos
grupos de canto coletivo, um papel decisivo e também relativamente autônomo, na
estruturação da esfera cultural. considerando que Barbosa e Coutinho (2009) distinguem aqui
difusão como o transporte de informações pelas mídias e a mediação como a operação
semiótica. Nesse sentido, segundo as autoras há sempre mediação nos processos de difusão,
quer seja de experiências, usos, hábitos, comportamentos, valores e conhecimentos. A
importância que estes agentes assumem, no entanto, está longe de se esgotar nas funções,
3“la investigación de los usos nos obliga entonces a desplazarmos del espacio de los médios al lugar em que se
produce su sentido”. Tradução minha.
44
mais ou menos especializadas, que desempenham no interiror dos mundos da arte e da cultura
em que operam.
Quando a cultura é concebida como mercado, os objetos culturais são considerados
produtos de consumo, bens ou serviços culturais. Para Barbosa e Coutinho (2009), “desse
ponto e vista, os signos e os valores do capital simbólico são tão comercializáveis e
consumíveis quanto os objetos e os bens materiais” (BARBOSA; COUTINHO, 2009, p. 41).
O principio de difusão desses signos e produtos dependem do desejo social que governa o
consumo. Para Barbero (1997) nos gêneros, ou seja na fragmentação dos públicos cada vez
mais distintos definindo-se por idade, sexo, profissão e interesses, estão as regras que
configuram os formatos dos vários produtos e suas relaçoes de consumo. E são esses formatos
que tornam possível seu reconhecimento pelos grupos receptores. Ou seja, os gêneros são
uma mediação fundamental entre a lógica do sistema produtivo e as dos sistemas de consumo
e entre as do formato e as do modo de ler, dos usos.
Essa mediação cultural deve ser pensada a partir de um conjunto de posições e de
funções localizadas nas fases que, no processo cultural, mediam entre a criação e o consumo,
assegurando a difusão das criações culturais, delimitada em níveis, diferenciados pelo seu
grau de abrangência. O tipo específico de transformação que se pretende que eles
condicionem é a passagem a novos costumes e novas práticas e, em alguns casos, a novas
relações sociais (GUSHIKEN 2005).
Estas atividades são orientadas por um princípio de socialização da cultura, pois
visam levar produções culturais ao conhecimento, consumo ou fruição de um público amplo.
Neste sentido, os intermediários culturais são aqui entendidos, tal como aponta Ferreira, como
promotores da difusão da cultura, ou seja, da circulação das obras (criando condições de
acesso público) e da divulgação e promoção das obras, criando condições de (re)
conhecimento público (FERREIRA, 2001).
4.2. COOPERAÇÃO E CONFLITO
Um novo tipo de sociedade condiciona um novo tipo de comportamento. O mundo
da internet é um mundo virtual, que no ambiente da cibercultura se transformou num novo
espaço que está além da materialidade e que se realiza enquanto virtual num paralelo à
realidade real na qual nos movemos. Este mundo virtual é tão real quanto qualquer outro,
apesar de menos palpável; é um esboço de relações e de trocas, decorrentes da evolução
tecnológica aplicada ao nosso cotidiano.
45
As conexões em uma rede social são constituídas dos laços sociais que por sua vez
são formados através da interação social entre os atores. Para Recuero “são as conexões o
principal foco do estudo das redes sociais, pois é sua variação que altera as estruturas desses
grupos” (2009, p. 30). Os processos de interação no que dizem respeito às relações, contidos
no canto coral são facilmente aplicados a cibercultura. A relação social contida no
ciberespaço é independente do seu conteúdo, diferentemente do canto coletivo, que tem a
música como o fator que une as pessoas dentro do grupo. As várias interações auxiliam a
definir o tipo de relação social que existe entre emissor e receptor. Estas interações possuem
conteúdo, este conteúdo constitui-se naquilo que é trocado através das trocas de mensagens
auxiliando a definir as relações. Na visão de Recuero:
A mediação pelo computador traz aspectos importantes para a relação social,
como distanciamento entre as pessoas envolvidas na construção dessa
relação que pode alterar a forma através da qual ela é estabelecida. Esse
distanciamento proporciona, por exemplo, anonimato sob muitas formas, já
que a relação entre o corpo físico e a personalidade do ator já não é
imediatamente dada a conhecer. Logo, é mais fácil iniciar e terminar
relações, pois muitas vezes, elas não envolvem o “eu” físico do ator.
(RECUERO, 2009, p. 37).
Além de conduzir a uma nova estética muito particular, diretamente relacionada à
cibercultura, as especificidades da rede contribuem para a definição de um novo tipo de
comportamento através de suas características de interação, o acesso em qualquer lugar desde
que haja uma conexão em rede, o dinamismo. Pois a rede está sempre num contínuo processo
de construção e reconstrução e a comunicação acontece em tempo real e está baseada em
interesses comuns por parte dos usuários. Lemos (2002) recomenda mais uma vez, evitar
determinismos que estão presentes, tanto nos que enxergam as mazelas, quanto nos que
constatam as maravilhas das novas tecnologias. Recuero (2009) considera este processo de
construção e reconstrução como a constituição da formação dos laços relacionais em que se
destacam alguns,
A interconexão destes laços canaliza recursos para localizações específicas
na estrutura dos sistemas sociais. Os padrões destas relações, a estrutura da
rede social, organizam os sistemas de troca, controle, dependência,
cooperação e conflito. (RECUERO, 2009, p. 38).
A gama de recursos de produção de linguagens e processos comunicacionais
converge para um mesmo objetivo, a percepção. Na visão de Lemos (2008) o recombinar e
recriar são próprios da cultura, que ele considera como híbrida: na formação de hábitos,
46
costumes e processos sociais e semióticos que se dão sempre a partir do acolhimento de
diferenças e no trato com outras culturas. Assim a grande novidade não é o recombinar, mas a
forma, a velocidade e o alcance global desse movimento, que encontra nas novas tecnologias
os vetores sob os mais diversos formatos. Essa estrutura midiática ímpar instaurada pelo
ciberespaço permite a qualquer indivíduo produzir e publicar informação, sob os diversos
formatos e modulações, reconfigurando a indústria cultural de massa. Lucia Santaella afirma
que “o poder definidor da hipermídia está na sua capacidade de armazenar informações”
(SANTAELLA, 2007, p. 30).
Essa interação é compreendida como geradora de processos sociais a partir de
padrões, classificados em competição, cooperação e conflito e que na visão de Recuero, é
parte integrante do “processo formador das estruturas sociais” (2009, p. 81). Essa cooperação
se torna responsável por organizar a sociedade gerada pelos interesses individuais, pelo
capital social e pelas finalidades do grupo, tornando-se essencial para a compreensão das
ações coletivas dos atores que compõem a cibercultura. Os grupos de canto coletivo se
encaixam nesse modelo, pois conforme afirma Recuero (2009, p. 91) “sem cooperação não há
grupo”. Os fenômenos naturais emergentes das redes sociais têm impacto diferenciado na
estrutura social midiática, agindo na manutenção no equilíbrio e fortalecimento das estruturas
sociais. Entretanto, a diferenciação torna-se importante na medida em que auxilia a
compreender os efeitos dessas interações sobre a estrutura de determinadas redes sociais.
A construção de novas estruturas pelo sistema social passa pela questão da adaptação
e permite o aumento da capacidade adaptativa, que está diretamente relacionado ao conceito
de auto-organização, permitindo aos sistemas sociais e as redes sociais, constantes mudanças
implicando no aparecimento de novos padrões estruturais. As pessoas adaptaram-se aos novos
tempos utilizando a rede para formar novos padrões de interação criando novas formas de
sociabilidade e novas organizações sociais, baseadas na interação e comunicação é preciso
que exista um movimento circular nessas informações para que os processos sociais coletivos
possam manter as estruturas sociais e as interações possam continuar acontecendo. Recuero
aponta que:
A comunicação mediada por computador proporciona que essas interações
sejam transportadas a um novo espaço, que é o ciberespaço, novas estruturas
sociais e grupos que não poderiam interagir livremente tendem a surgir
(RECUERO, 2009, p. 89).
47
A mediação pelo computador gerou outras formas de estabelecimento de relações
sociais. As pessoas adaptaram-se aos novos tempos utilizando a rede para formar novos
padrões de interação criando novas formas de sociabilidade e novas organizações sociais.
48
5. PANORAMA DO CANTO COLETIVO EM CUIABÁ
5.1. OS GRUPOS DE CANTO COLETIVO NA INTERNET
Para a coleta de dados era preciso um ponto de partida que se configurasse como um
critério para chegar aos grupos de canto coletivo. Por esta razão, decidi fazer um
levantamento dos locais públicos, abertos à comunidade, de Cuiabá, MT, onde todo ano
ocorrem manifestações artísticas promovidas, tanto por instituições públicas como privadas
que envolvem o canto coral. A partir desse levantamento de espaços obtive a relação dos
coros que orientariam os encaminhamentos do trabalho. Apesar de não ter tido acesso a todos
os grupos que se apresentaram na pesquisa, neste capítulo apresento os dados que foram
possíveis de registro.
Faço primeiramente uma apresentação das instituições que promoveram eventos
envolvendo o canto coral em seguida, nas próximas tabelas, os grupos identificados nessas
apresentações com os respectivos números de publicações na Internet até o final do ano de
2012.
Secretaria de Estado de Cultura
Ano Evento Local
2009 Natal Cultural Palácio da Instrução
2010 Natal Cultural Palácio da Instrução
Praça Ipiranga
Praça Alencastro
Bairro Pedra 90
2011 Natal Cultural Centro de Eventos Pantanal
Tabela 1: Evento promovido pela Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso
49
Secretaria Municipal de Cultura
Ano Evento Local
2010 1ª Cantata de Natal Criança
Feliz
Praça Alencastro
2011 2ª Cantata de Natal Criança
Feliz
Museu de Arte Sacra
Igreja Bom Despacho
Tabela 2: Evento promovido pela Secretaria Municipal de Cultura.
Shopping Centers Goiabeiras
Ano Evento Local
2010 Natal no Shopping Shopping
Tabela 3: Evento promovido pelo Shopping Center Goiabeiras.
Teatro Universitário - UFMT
Ano Evento Local
2011 Coro e Orquestra Teatro
Tabela 4: Evento promovido pelo Teatro Universitário.
Nas tabelas seguintes apresento os nomes dos grupos e ano que se apresentaram nos
eventos promovidos pelas instituições pesquisadas conforme eventos apresentados nas
Tabelas 1, 2, 3 e 4. A partir do conhecimento dos grupos que participaram dos eventos nas
Instituições pesquisadas, comecei em Dezembro de 2012, as pesquisas na internet em busca
de publicações sobre cada um dos grupos Os nomes dos grupos eram escritos na barra de
busca e em seguida copiados os endereços dos sites onde apareciam os dados dos mesmos.
Vale ressaltar que foram consideradas apenas as publicações e ou sites especificamente pelo
nome do grupo.
50
Natal Cultural
Ano 2009 Local
GRUPOS
Palácio da Instrução
Coral do Tribunal de Justiça
Coral Magnificat
Coral SEDUC
Coral Adoração - Igreja Batista
Coral Igreja Batista Pedra 90
Coral Igreja Batista Boas Novas
Coral IBP-Igreja Batista da Paz
Coral Igreja Assembleia de Deus
Tabela 5: Grupos que se apresentaram no Evento promovido pela Secretaria de Estado de Cultura em 2009.
O Coral do Tribunal de Justiça não tinha publicado nenhum vídeo até a data da
realização da busca na internet. O Coral Magnificat possuía dezenove vídeos no You Tube de
apresentações do grupo e o repertório registrado é litúrgico. Este grupo foi extinto. O Coral da
SEDUC, coral que representa a Secretaria de Estado de Educação, possui quatro vídeos no
You Tube, com repertório popular. O Coral Adoração Igreja Batista possui um vídeo
publicado no You Tube. O Coral da Igreja Batista Pedra 90 possui um vídeo publicado no You
Tube. O Coral Igreja Batista Boas Novas possui um vídeo publicado no You Tube. O Coral
IBP-Igreja Batista da Paz, possui quatro vídeos publicados no You Tube. O Coral da Igreja
Assembleia de Deus possui cinco vídeos publicados no You Tube com repertório litúrgico. Os
grupos que representam de Instituições Evangélicas mantém repertório especialmente
litúrgico. Grupos de outras religiões mantém repertório misto, diferentemente dos grupos que
estão ligados a Instituições não religiosas que apresentam repertório variado.
51
Natal Cultural
Ano 2010 Local
GRUPOS
Palácio da Instrução
Praça Ipiranga
Praça Alencastro
Bairro Pedra 90
Coral SEFAZ
Coral Adoração - Igreja Batista
Coral Igreja Presbiteriana
Coral Advocal
Coral Magnificat
Coral DETRAN
Coral TCO
Tabela 6: Grupos que se apresentaram no Evento promovido pela Secretaria de Estado de Cultura em 2010.
Dos grupos que se apresentaram na Tabela 6 o Coral SEFAZ, que representa a
Secretaria de Estado de Fazenda, possui quatro vídeos publicados no You Tube com repertório
popular e uma página do grupo no Orkut, que não é atualizado desde 2009. O Coral
Adoração – Igreja Batista já havia sido comentado. Não encontrei nenhuma publicação do
Coral da Igreja Presbiteriana de Cuiabá. O Coral Advocal possui oito vídeos publicados no
You Tube todos de repertório litúrgico. O Coral Magnificat foi extinto. O Coral do DETRAN
possui um vídeo publicado no You Tube, com repertório popular. O Coral do TCO, que
representa o Tribunal de Contas do Estado, possui um vídeo publicado no 4shared e um vídeo
publicado no Takemp3, ambos com repertório popular.
52
Natal Cultural
Ano 2011 Local
GRUPOS
Centro de Eventos Pantanal
Coral Flauta Mágica
Coral Juvenil Kyrius
Coral Voz da Verdade
Tabela 7: Grupos que se apresentaram no Evento promovido pela Secretaria de Estado de Cultura em 2011.
.
Os grupos que se apresentaram em 2011, segundo a Tabela 7 foram: o Coral Flauta
Mágica que possui um vídeo publicado no You Tube, entretanto o grupo mantém um site4 do
Instituto que abriga o Coral onde as informações, à época, estavam atualizadas, inclusive com
vídeos das apresentações do grupo. O Coral Kyrius, da Igreja Assembleia de Deus do Bairro
Alvorada possui um blog que não é atualizado desde o dia 15 de agosto de 20125. Não
encontrei publicação on-line sobre o Coral Voz da Verdade.
4http://www.flautamagica.org.br/ 5http://kyrioscoral.blogspot.com.br/
53
A tabela 8, a seguir apresenta os grupos que participarem do evento promovido pela
Secretaria Municipal de Cultura em 2010.
1ª Cantata de Natal Criança Feliz
Ano 2010 Local
GRUPOS
Praça Alencastro
Coral IFMT
Coral IBPAZ-Igreja Batista da Paz
Coral Melhor Idade Mestre Albertino
Coral SEDUC
Coral Viva Voz
Coral Juvenil Kyrius
Coral Adoração 1ª Igreja Batista – PIB
Coral Igreja Adventista
Coral DETRAN e Coral dos Correios
Coral Santa Cecília
Coral Mus’Art
Tabela 8: Grupos que se apresentaram no Evento promovido pela Secretaria Municipal de Cultura em 2010.
O Coral IFMT, que representa o Instituto Federal de Mato Grosso, possui doze
vídeos publicados no You Tube e tem repertório variado. O coral IBPAZ-Igreja Batista da Paz
já foi citado anteriormente. O coral Melhor Idade Mestre Albertino ligado ao Instituto
Programa de Ação Social da Pessoa Idosa, se autodenomina um grupo independente que
trabalha especificamente com pessoas da terceira idade. Possui seis vídeos publicados no You
Tube, com repertório popular, um Blog 6que é mantido pela diretora artística e regente do coro
que não é atualizado desde 06/06/2001 e ainda uma página no Facebook7. O Coral SEDUC
também já foi citado neste texto. O Coral Viva Voz não possui vídeos publicados. O Coral
Kyrios tem vídeos publicados, mas mantém um Blog com informações atualizadas sobre o
6http://coralmestrealbertino.blogspot.com.br 7https://pt-br.facebook.com/coraldamelhoridade.mestrealbertino
54
grupo8. O Coral Adoração Igreja Batista e o Coral Adventista já se apresentaram em eventos
anteriores. Nessa lista O Coral dos Correios que possui um vídeo no You Tube, aparece junto
com o Coral do DETRAN, que representa o Departamento Estadual de Trânsito, pois segundo
a regente ela uniu os integrantes dos dois grupos para essa apresentação. Sobre o Coral Santa
Cecília, que representa a Associação Coral Santa Cecília, apesar de aparecer em inúmeros
sites de notícias, não encontrei nenhuma publicação na internet. O Coral Mus’art possui um
vídeo publicado no You Tube, com repertório popular.
8http://kyrioscoral.blogspot.com.br
55
2ª Cantata de Natal Criança Feliz
Ano 2011 Local
GRUPOS
Museu de Arte Sacra
Igreja Bom Despacho
Coral Municipal Criança Feliz
Coral Juvenil Kyrius
Coral Igreja Adventista
Coral Melhor Idade Mestre Albertino
Coral IFMT
Coral SEPLAN
Coral Vozes em Trânsito
Coral IBP-Igreja Batista da Paz
Coral SEDUC
Coral Adoração-Igreja Batista
Coral Mato Grosso
Coral Cantorum
Coral APAE
Tabela 9: Grupos que se apresentaram no Evento promovido pela Secretaria Municipal de Cultura em 2011.
O Coral Municipal Criança Feliz foi desfeito por mudanças na gestão municipal,
segundo a regente. Observamos que o Coral Kyrios e o Coral Igreja Adventista, já se
apresentaram em outros anos. O coral Melhor Idade Mestre Albertino já foi citado
anteriormente. O Coral IFMT já se apresentou em anos anteriores. O Coral SEPLAN, que
representa a Secretaria de Planejamento do Estado, não possui publicações em vídeos, mas
encontrei uma página no Orkut. O Coral Vozes em Trânsito não possui publicações. Os
grupos: Coral IBPAZ-Igreja Batista da Paz, o Coral SEDUC e o Coral Adoração-Igreja
Batista, já se apresentaram em anos anteriores. O Coral Mato Grosso não possui páginas ou
publicações de vídeos na internet. O Coral Cantorum possui um vídeo no You Tube com
repertório litúrgico. O Coral APAE que representa a Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais possui dois vídeos publicados no You Tube com repertório popular.
56
A tabela 10, a seguir apresenta a relação dos grupos que se apresentaram no
Shopping Center Goiabeiras.
Natal no Shopping
Ano 2010
Local
GRUPOS
Shopping
Coral da SES
Coral SEDUC
Coral Igreja Batista Boas Novas
Tabela 10: Grupos que se apresentaram no Shopping em 2010.
Há um novo grupo que apareceu pela primeira vez dentre os anos pesquisados, o
Coral da SES, que representa a Secretaria de Estado de Saúde, que possui quatro vídeos
publicados no You Tube com repertório popular. O Coral SEDUC e Coral da Igreja Batista
Boas Novas, também se apresentaram em outros anos.
Na tabela 11, a seguir apresento os grupos que se apresentaram em evento
promovido pelo Teatro da Universidade Federal e Mato Grosso, em 2011.
57
Coro e Orquestra
Ano 2011
Local
GRUPOS
Teatro-UFMT
Coral UFMT
Alma de Gato
Tabela 11: Grupos que se apresentaram em evento promovido pelo Teatro Universitário.
A pesquisa revelou que o Coral de UFMT que representa a Universidade Federal de
Mato Grosso, possui um Blogger com última atualização constando em março de 20129
possui um Twitter10, uma página no Facebook11 tem cerca de mil e quinhentos vídeos
publicados no YouTube, com repertório variado. O grupo Alma de Gato possui um Site12 e
uma média de duzentos e oitenta e dois vídeos publicados no You Tube, com repertório
variado.
Conforme apontam os dados das instituições, os eventos ocorreram na maioria das
vezes no centro da cidade e por ocasião do Natal. Pela concentração e pouca expansão
territorial dos eventos, é possível considerar que apesar das publicações de vídeos na internet
pelos grupos de canto coral, ainda há pouca repercussão no campo da divulgação e mediação
cultural. Bourdieu afirma que “todo ato de produção cultural implica na afirmação de sua
pretensão e legitimidade cultural” (BOURDIEU, 2002, p. 108). Para o autor quanto mais o
campo estiver em condições para funcionar como um campo pela legitimidade cultural, mais
a produção pode e deve orientar-se para a distinção cultural, capazes de fazer existir
culturalmente grupos que os produzem.
9www.coralufmt.blogspot.com.br 10https://twitter.com/coralUFMT, 11https://pt-br.facebook.com/ufmtcoral 12 http://www.almadegato.com/
58
5.2. DIVULGAÇÃO DOS GRUPOS NA INTERNET
Conforme proposto no desenho metodológico deste trabalho, com o auxílio da
pesquisa exploratória e bibliográfica, elaborei um roteiro de questões para serem respondidas
pelos regentes dos grupos de canto coletivo identificados nos eventos. O critério para a
escolha dos grupos foi o resultado do levantamento realizado junto às Instituições Públicas e
Privadas que organizaram eventos no período de 2009 a 2011, onde se apresentaram 26
grupos de canto coletivo no município de Cuiabá. Conforme apontado no item 5.1 foram
identificados para a pesquisa, 26 grupos, sendo que foram levados em conta para a descrição e
análise 2 grupos pertencentes a Instituições Federais, 4 de Instituições Estaduais, 5
Evangélicos, 2 de outras religiões, 1 de Organização Não Governamental e ainda 2 que
realizam trabalho como Grupos Independentes.
Com relação aos procedimentos éticos, todos os informantes assinaram uma
autorização para o uso das informações coletadas somente para fins científicos. Um guia de
perguntas (Apêndice) foi elaborado de forma que me fosse permitido conhecer os grupos de
canto coletivo desde a sua criação até o tempo de atuação no cenário regional, o investimento
recebido pelas instituições representadas, a inserção no universo das tecnologias digitais e a
formação dos regentes.
O repertório dos grupos é diversificado. Há coros que se dedicam à música popular, os
que cantam música erudita, os que cantam música sacra e também os que desenvolvem
repertório eclético. Encontrei um grupo infanto-juvenil, quatorze adultos e ainda um de
terceira idade. Na sua maioria, não são profissionais da música, mas pessoas apreciadoras do
canto coral que emprestam sua voz e tempo e com dedicação e prazer realizam a atividade.
Nesta pesquisa foi registrado o total de 29 grupos de canto coletivo. Desses 29 grupos, 3 já
não estão em atividade. Portanto inicialmente, foram considerados os 26 grupos em atividade,
cujos regentes foram procurados para fornecerem as informações. Dos 26 grupos somente 16
regentes responderam ao questionário e estão representados no gráfico abaixo.
59
Gráfico 1: Distribuição dos grupos musicais por instituição.
Os 16 grupos e seu tempo de existência são distribuídos nas categorias da seguinte
forma:
• 2 grupos de Instituições Federais
• Coral da UFMT – 33 anos
• Coral IFMT – 53 anos
• 4 grupos de Instituições Estaduais
• Coral SEDUC – 9 anos
• Coral SEPLAN – 6 anos
• Coral SES - 9 anos
• Coral SEFAZ – 15 anos
• 5 grupos Evangélicos
• Coral IBP - Igreja Batista da Paz – 9 anos
• Coral Adoração Igreja Batista – 20 anos
• Coral Igreja Adventista – 19 anos
• Coral Advocal – 15 anos
• Coral Juvenil Kyrius – 10 anos
• 2 grupos de Outras Religiões
Coral Cantorum – 5 anos
Coral Santa Cecília – 22 anos
Grupos por Instituição
60
• 1 grupo de Organização Não Governamental (OnG)
• Coral Flauta Mágica – 14 anos
• 2 grupos Independentes
• Coral Melhor Idade Mestre Albertino - 6 anos
• Coral Mato Grosso – 19 anos
5.2.1. Da origem dos grupos
A questão 5, que buscava informações sobre a criação dos grupos teve respostas que variam
por Instituição. Os de Instituição Federal e Estadual foram criados como ação de qualidade de
vida e para atender as demandas de eventos de cada instituição. Os corais Evangélicos foram
criados com o propósito de envolver o máximo de pessoas com as ações de evangelização das
igrejas. O grupo que pertence a ONG foi criado com o objetivo de atender a demanda de
musicalização do Instituto. Dos Corais independentes, o Mato Grosso foi criado com o
objetivo específico de divulgar a cultura musical mato-grossense e o Coral Melhor Idade foi
criado a partir de um trabalho da regente com idosos. Tal como afirma Baechler a vida em
sociedade desenvolve-se dentro de um espaço reticular no qual os diversos agentes sociais
estabelecem entre si, de uma forma deliberada, um conjunto de “laços mais ou menos sólidos
e exclusivos” (1995, p. 65). Para exemplificar transcrevo algumas respostas dos regentes que
estão denominados por letras do alfabeto brasileiro para resguardar suas identidades
[O coro] surgiu em 1994 sob a regência do maestro Y, com uma proposta de envolver o
máximo de pessoas. Naquele momento o coral iniciou-se com cerca de 100 pessoas
aproximadamente, 60% vozes femininas e 40% vozes masculinas. Sua filosofia era fazer parte
direta da doxologia da igreja, bem como apresentar louvores especiais nos cultos e
programações especiais dentro e fora dela. Não houve desclassificação para os que
apresentaram dificuldade em cantar, portanto, desde o seu início também tinha a função de
coral formador (Regente K).
Foi a primeira ação do então projeto Qualidade de Vida implantado pela Superintendência
de Recursos Humanos da Instituição para promover uma melhor qualidade de vida aos seus
servidores (Regente O).
Foi criado com a finalidade de divulgar a cultura mato-grossense, cantando o linguajar da
terra, os hábitos do povo e as festas de Santo (Regente E).
61
5.2.2. Do investimento e comprometimento
Nas respostas às questões, que perguntavam sobre investimento e comprometimento, todos
consideram bom, pois, responderam que as instituições investem ou investiram no grupo em
algum momento. Os regentes consideram os cantores muito comprometidos com o grupo.
Essa troca constante entre os sujeitos com a cultura ambiente e a criação de expectativas e
motivações relativas à música ocorre de maneira implícita automática e involuntária, dentro
dos grupos de canto coletivo. Fucci Amato (2007) considera que o canto coletivo desvela-se
uma extraordinária ferramenta para estabelecer uma densa rede de configurações
socioculturais com os elos da valorização da própria individualidade, da individualidade do
outro e do respeito das relações interpessoais, em um comprometimento de solidariedade e
cooperação.
5.2.3. Do repertório
Com relação aos repertórios dos grupos, segundo os regentes são escolhidos buscando aliar
aos objetivos do grupo/instituição e nível vocal dos cantores. Os coros Evangélicos cantam
especificamente repertório litúrgico e ou erudito, já todos os outros grupos mantém repertório
variado passando pela MPB, o Pop, música Regional, Litúrgica e Clássica. Conforme os
regentes A e B:
O repertório é escolhido pelo regente, levando em consideração o nível de desempenho
musical do coro, e sempre tentando apresentar novos elementos, para que haja crescimento
nesse desempenho. Também leva-se em consideração as apresentações as quais o coral
precisa atender (Regente B).
Por tipo de Cantata (Litúrgica, de Natal, Social, Folclorística etc.) a escolha é negociada
entre o grupo e a solicitante. (Regente A).
5.2.4. Das apresentações
As questões 11, 12, 13 e 14 foram sobre a organização da agenda de apresentações, locais e
público. Segundo os regentes, os grupos priorizam sempre a agenda de eventos das
instituições às quais representam, em seus locais de origem e eventualmente em apresentações
externas, quando não há choque de agendas e existe autorização. Os regentes explicaram que
o público está diretamente associado ao evento de cada instituição, ou seja, quando o evento é
interno o público é composto pelos colegas do trabalho e convidados, nas instituições
62
religiosas são os membros da igreja. O público dos grupos independentes também é específico
de um segmento, pois de acordo com os regentes eles têm que atender os objetivos das
instituições que patrocinam os eventos. Tal como informam os regentes,
O público apesar de variado gira em torno do núcleo onde acontece a apresentação (Regente
I).
É um público diversificado, das diversas camadas sociais e depende do local e ação onde
iremos nos apresentar, a família é bem atuante nas apresentações (Regente G).
O público varia entre familiares e convidados que sempre se renovam constatação a partir
dos comentários na Internet (Regente D).
Por se tratar de música regional o público é bastante variado, sempre com boa aceitação
(Regente E).
O público presente normalmente são os convidados pela promotora do evento (Regente A).
5.2.5. Da divulgação
As questões 15, 16, 17 e 18, buscaram informações sobre as formas de divulgação das
apresentações, incentivo. Os grupos Evangélicos têm na instituição que representam toda a
divulgação da agenda em seus cultos, os grupos Estaduais e Federais contam com o apoio das
assessorias das instituições e dos próprios integrantes dos grupos em suas redes sociais. Com
relação à divulgação segundo os regentes é realizada:
Pela mídia da igreja e pelos coralistas (Regente C).
Geralmente a partir dos próprios componentes (Regente K).
Através de cartazes nas igrejas na página da igreja a internet, no informativo de vídeo da
igreja aos domingos a noite e através das redes sociais (Regente F).
Através de entrevistas em jornais, TVs, pela boca boca em apresentação. (Regente G).
Geralmente a partir dos próprios componentes. (Regente K).
63
Através de cartazes na instituição, na página do órgão na internet, e através das redes
sociais. (Regente B).
5.2.6. Dos Espaços
Com relação aos locais de ensaio dos 16 grupos, três não possuem local especifico para os
ensaios. Sobre a estrutura dos locais para as apresentações alguns regentes afirmam:
Quase sempre muito precário. Sem espaço grande e sonorização ruim, etc, etc...(Regente A).
Os espaços nem sempre são favoráveis ao grupo, mas na medida do possível pela
credibilidade do grupo isso sempre é negociável (Regente D).
Geralmente os locais de apresentações não oferecem nenhuma estrutura técnica, seja de
sonorização ou de logística. (Regente O).
Sempre ruins, na própria Igreja sempre precisa levar microfones e dificuldades nos locais
devido a falta de som compatível para o grupo. (Regente C).
Dependendo do tipo da apresentação, temos conseguido uma boa estrutura para a realização
satisfatória do objetivo traçado para cada apresentação realizada. (Regente N).
Extremamente precários, os espaços não são pensados para as apresentações. (Regente I).
Na grande maioria das vezes, o espaço das apresentações não é apropriado. Falta suporte
técnico, acústica favorável e organização por parte dos anfitriões. (Regente B).
5.2.7. Tecnologias nos Ensaios
No que diz respeito às tecnologias no dia a dia dos ensaios 1 regente respondeu que não
utiliza nenhuma, 4 grupos utilizam teclado e play backs, 1 utiliza apenas teclado, 1 utiliza
teclado e violão, 8 utilizam teclado, destes além do teclado 1 utiliza data show, 1 utiliza
programa de computador para transcrição das partituras e divisão de vozes e MP3, 1 recorre
aos arquivos musicais MIDI e 1 regente respondeu que utiliza a tradicional, mas não
especificou qual é a tecnologia Pierre Levy (1999) aposta nessas novas formas de organização
de trabalho e caso seja bem sucedida por redes de computadores é também uma ferramenta de
“aprendizagem cooperativa” (LEVY, 1999, p. 101).
64
5.2.8. Participação nas Redes Sociais
Embora eu já tivesse verificado no levantamento dos grupos, perguntei aos regentes, na
questão 19 se possuíam páginas do grupo na internet ou a participação em redes sociais. Dos
16 regentes que responderam ao questionário 6 afirmaram que seus grupos não possuem
páginas na internet ou não participam de redes sociais. Desses 6, 1 regente afirmou
disponibilizar site do Facebook pessoal para os integrantes publicarem vídeos das
apresentações e compartilhar informações. Apenas o grupo que pertence a OnG mantém uma
web site com as informações atualizadas. Segundo a regente, graças a essa divulgação e a
captação de recursos junto às Instituições parceiras, o grupo já recebeu convites para se
apresentar até fora do País. O coro também compartilha informações na página pessoal da
regente no Facebook. 1 grupo possui um Blog, outro possui o Blog, um Twiter e Facebook.
Outros 6 corais possuem páginas no Facebook através do perfil pessoal de seus regentes, onde
as informações são sociabilizadas e vídeos das apresentações são publicados. Desses 6 grupos
um deles possui um Blog, que na perspectiva da regente,
Não é destinado às atividades vocais em específico, mas sim às atividades espirituais que o
grupo desenvolve, pois, em se tratando de uma missão que vai além do canto, cada corista
necessita estar espiritualmente equilibrado para transmitir as boas novas da palavra de Deus
(Regente N).
Gráfico 2: Proporção dos grupos que possuem páginas na internet.
3
13
Possuem Blog do Grupo Divulgam nas páginas
pessoais do Regente
Sobre páginas na Internet
65
As questões 20, 21, 22, 23, 24 e 25, buscaram esclarecer os motivos da criação de páginas na
internet, quais os critérios para publicação das informações, se essas informações eram
conhecidas dos integrantes do grupo como se manifestam a respeito das mesmas e quais os
critérios éticos envolvidos na questão tecnologia e seus usos pelos grupos de canto coral.
Sobre as razões que levaram o grupo a criar páginas na Internet segundo a regente I:
Para a socialização do trabalho desenvolvido pelo grupo, bem como para que tivéssemos o
material (filmagens e fotos) das apresentações disponíveis a todos os membros do grupo.
(Regente B).
Ainda sobre os critérios para publicação foi informado pelo regente B que publica-se fotos e
vídeos de apresentações que ocorreram a um nível de desempenho satisfatório para o grupo.
Sobre as vantagens desse procedimento a mesma regente afirma que torna o grupo conhecido,
e também acaba gerando outras apresentações.
O Regente B, quando falou das publicações afirmou que é para dar visibilidade aos trabalhos
do grupo e que eles se sentem valorizados e ficam contentes em saber que suas apresentações
foram divulgadas na internet. Sobre a vantagem ela afirma que é que numa pesquisa pode ser
facilmente encontrado.
Sobre a criação de páginas na internet a regente L afirma: divulgação artística dos trabalhos
desenvolvidos... muitos pais, familiares e amigos ficam isentos de observar as
apresentações... e como forma de registro (Regente L).
Sobre as vantagens o regente I afirma que dá visibilidade inclusive para instituições fora da
cidade e até do estado. Já fomos convidados para apresentações externas, inclusive na
Bolívia e Chile. Participamos de pesquisas com mestrandos e doutorandos de diversas
instituições do País (Regente I). Observa-se que esse grupo não possui uma página especifica
do grupo na internet, entretanto possui um blog da OnG que ele representa. Além da
divulgação no site da instituição a regente usa sua página pessoal no Face book para
divulgação dos trabalhos do grupo.
Ao observar as respostas sobre essas questões parece haver certa confusão por parte
dos regentes com relação ao que eles consideram ser divulgação dos seus grupos.
considerando que as publicações são posteriores as apresentações e conforme eles afirmam
66
essa divulgação é para dar visibilidade ao grupo. Com relação a esse entendimento de
visibilidade, característico da sociedade atual, há uma necessidade de exposição visual.
Recorro a Recuero para compreender a situação. Ela reforça quando afirma que “é preciso ser
visto para existir no cibespaço” e ainda “mais do que ser visto, essa visibilidade seja um
imperativo para a sociabilidade mediada pelo computador”. (RECUERO, 2009, p. 27).
Com relação às questões éticas 6 regentes não responderam. Dos grupos que responderam
transcrevo:
Parto do princípio que o ponto máximo ou cume de um coral é a sua linguagem à capella. A
estética mostra a essência de um coral. Desde que a tecnologia não comprometa esta
essência em seu resultado final, em sua estética, vejo que o uso da tecnologia é um meio que
ajuda ou pode ajudar estes aspectos éticos (Regente J).
A tecnologia é inevitável. Temos que nos adequar. Porém quanto mais promovermos a
“mão” e a “voz” contribuiremos com a produção mais genuína da arte (Regente K).
Acredito piamente que antes de tudo o canto coral deve cantar a capella. A tecnologia deve
ajudar os grupos de canto coral, ser meio e não fim. A ética se dá nesta hierarquia: a
capella, acompanhamento escrito e com raríssimas exceções improvisados (Regente M).
Na minha concepção, tudo o que venha a acrescentar para tornar ainda mais bela a
apresentação, é válido e bem vindo (Regente N).
Utilizo o teclado eletrônico como instrumento de apoio durante os ensaios e nas
apresentações, primeiramente por ser um instrumento de fácil transporte e manuseio e por
possuir afinação correta (Regente O).
Se utilizados para fim sócio-educativos, com o objetivo do crescimento do projeto, sem
agredir aspectos psicológicos, físicos e socioculturais do grupo, da obra e de seus receptores
servirão como mecanismo agregador (Regente L).
Imagino que o uso das tecnologias deve ter limites. A partir do momento que dedico criar
uma página na web, ou perfil numa rede social para o grupo coral, que eles sejam para a
difusão da cultura do canto coral unicamente (Regente B).
Além do aspecto tecnológico é necessário um mínimo de conhecimento técnico na área da
música (Regente I).
O coral possui um termo de autorização de imagem e som assinado por eles para que
futuramente não tenhamos nenhum problema. Existe também um termo de voluntariado
assinado, permitindo que o trabalho exerça sua função principal: a sociocultural (Regente
G).
67
Considerando que o ciberespaço possui particularidades a respeito dos processos de
interação e disseminação de um volume cada vez maior de informação, percebe-se pelo
número de regentes que não responderam a essa questão e as respostas aqui expostas que eles
ainda não perceberam que essas formas de mediações tecnológicas acabam produzindo novas
possibilidades de produção. Elas podem ampliar, não só os limites geográficos das
apresentações e contribuir com a formação de novos públicos, mas, também, beneficiarem
com arquivos de programas de música a facilitação dos trabalhos no dia a dia. O ciberespaço
mediado pelo computador permite que as informações se originem e o consumo cultural se
efetive. (RECUERO 2009). Na visão de Barbero (1992) o ciberespaço deve ser entendido
como um lugar onde as interações acontecem e não como um fim, como se percebe no
entendimento dos regentes que contribuíram com a pesquisa.
68
6. O CANTO COLETIVO A PARTIR DA COLETA DOS DADOS
Para analisar os resultados da pesquisa de campo sobre a concepção de cultura e
espaço cibernético busquei em Levy (1999) o conceito de cibercultura que o autor considera
que é uma prática fundamentada acima de tudo, como um espaço de reunião em torno de
centros de interesse comuns, compartilhamento do saber, enfim, sobre processos abertos de
cooperação. Nesse sentido, verifiquei que os regentes que participaram da pesquisa não
apresentaram uma visão ampla sobre as articulações da música, ou da atividade musical em
que atuam como profissionais no contexto da cibercultura. Essa situação analisada sob o
enfoque de Barbosa e Coutinho (2009) suscita uma avaliação da participação dos regentes
como agentes mediadores da cultura, pois segundo as autoras, a mediação cultural tem como
papel inserir os interpretantes, facilitando, efetivando e enriquecendo o processo
interpretativo. Um ponto importante nesse contexto, e que merece atenção, é a resistência por
parte das pessoas envolvidas no processo da difusão do canto coral em desempenhar o seu
papel de maneira a incorporar as tecnologias do presente.
O processo em que se articula o objeto mediado organiza e reorganiza a percepção da
realidade em que está inserido o receptor. O que fica muito evidente na pesquisa é que o
receptor, ou seja, o público na cidade de Cuiabá está sendo moldado conforme o panorama
verificado, pois se encontra uma representação daquilo que circula na cibercultura apenas
como meio de ser visto, apenas como um mural.Portanto, as referencias culturais e
experiencias com relação ao objeto mediado, a música em grupo, não estáse movimentando
em conformidade com as possibilidades presentes no espaço virtual.As respostas às perguntas
feitas sobre o assunto demonstram pouco interesse da maioria dos regentes em estar ligada de
forma mais efetiva na cultura da comunicação. Mesmo fora do espaço geográfico foi
perceptível que a circulação da atividade dos grupos pesquisados é restrita em termos
territoriais com apresentações internas nas instituições as quais representam ou em
programações preparadas pelas secretarias de cultura do Estado e do Município, que
aconteceram apenas no centro comercial da cidade, somente no período de comemoração do
natal nos anos pesquisados.
Quanto ao público que privilegia as apresentações dos grupos, segundo as respostas
dos regentes, os que representam instituições públicas têm como público geralmente os
colegas de trabalho e autoridades. Apenas os grupos que representam instituições públicas
educacionais participam de eventos científicos, culturais, e sócio educativos. Os grupos
independentes têm como público, na maioria das vezes familiares dos coristas, assim como os
69
grupos que representam instituições religiosas tem como público frequentemente, as pessoas
que participam da religião a qual o grupo representa. Portanto, nas respostas dos regentes se
tem a indicação que na prática, não acontece um trabalho de expansão da atividade enquanto
manifestação artística de forma geral. Isso reflete na forma de utilização do espaço cibernético
como ferramenta de intermediação cultural e compartilhamento do saber, uma vez que o foco
do trabalho de muitos grupos está restrito, em sua maioria a um determinado público.
As atitudes dos sujeitos da pesquisa sugerem, reflexão sobre a formação desses
profissionais, principalmente os que atuam nas instituições públicas federais e estaduais, pois,
nessas instituições teriam esses profissionais, a oportunidade de fortalecer a atividade coral
como prática cultural artística visando um objetivo social de formação de plateia. As
produções musicais nas instituições públicas não têm como ênfase o fazer em arte. Isso faz
com que a música se efetive com a mesma característica das demais instituições, de ser
funcional, onde a instituição demonstra algum interesse interno de investidor na qualidade de
vida dos seus funcionários, com entretenimento por meio do canto coral, mais que por
questões propriamente sociais como prática de formação. O que fica muito evidente neste
ponto da pesquisa é que cada grupo tem o seu trabalho voltado para o seu fim – os que
pertencem a igrejas, a função litúrgica, os que são de instituições públicas, o entretenimento,
em sua maioria. Mesmo os grupos ditos independentes terminam seguindo a tendência de
reforçar mais a função social interna do que da sociedade num amplo sentido.
As afirmações dos regentes, sobre a utilização da internet como meio evidenciou
uma realidade, do campo da atividade do canto coletivo, pois esta importante ferramenta de
comunicação ainda não foi entendida como espaço de mediação cultural. Nesse sentido é
importante ressaltar que na pesquisa exploratória na internet, percebi que muitas informações
sobre as apresentações da maioria dos grupos apareciam nas redes sociais já depois de
acontecida, ou seja, sem objetivo de veicular previamente o seu trabalho para a cidade. Se
para Barbero (1997) a temporalidade deve ser entendida como um lugar e não como uma
etapa. Neste sentido posso entender então, que os regentes, assim como as instituições as
quais representam, concebem o ciberespaço como uma etapa. Isso, a partir das informações
postadas, da atualização das informações, enfim da divulgação e difusão no contexto da
mediação cultural, pois há uma linearidade muito presente não configurando esse espaço a
coexistência de interações diversas.
Arrisco a levantar a hipótese que a maneira pela qual se caracterizaram as
divulgações de eventos, posteriores aos acontecimentos, seja uma preocupação com o tipo da
performance e ao próprio trabalho nesse campo. Assim, só se divulga o que deu certo.
70
Está posto então, que a veiculação das atividades desenvolvidas não está ao alcance
de outras pessoas que não fazem parte do círculo do grupo, limita-se no espaço virtual, a
servir de mural para a apreciação dos próprios componentes e de seus familiares.
Ainda na pesquisa exploratória, não foi possível perceber uma forma de
comunicação mais interativa entre os regentes no ciberespaço. Cada um está muito voltado
para o seu próprio trabalho, não sendo encontrado banco de dados com repertório, arranjos e
adaptações disponíveis, enfim diálogo entre esses profissionais no âmbito do espaço virtual.
O espaço virtual não está configurado como um lugar de reunião, de interação dos
sujeitos agentes da cultura deixando mostras de que, as formas de troca de saberes dos
participantes e líderes dos grupos estudados ainda têm sido limitadas pelos territórios
espaciais. Este fato impede a retroalimentação no que diz respeito à renovação e
reinterpretação no contexto da sociedade mais ampla. Analisando pela ótica de Barbero
(1992), quando expõe que as mediações são lugares que compreendem a interação entre o
espaço de produção e o de recepção, verifica-se que no contexto desta investigação, a
mediação que segundo Barbero seria como uma estrutura incrustada nas práticas sociais,
ainda não se configurou, ao menos no campo da prática do canto coral, dos grupos
pesquisados.
Estar presente de forma efetiva no espaço virtual faz a diferença na projeção dos
grupos e do trabalho desenvolvido pelos regentes. Nesta pesquisa a maneira como cada grupo
se articula no ciberespaço parece refletir-se diretamente na prática. O grupo que possui um
site onde se podem encontrar informações atualizadas foi um dos poucos que já se apresentou
fora do país, na Europa, é reconhecido nacional e internacionalmente ao que mostra a situação
da pesquisa conta com o apoio da classe empresarial e dá maior atenção a atualização das
informações sobre a organização não governamental a qual faz parte. Além desse, mais um
dos grupos pesquisados já recebeu convites para se apresentar em países da América do Sul.
Foi verificado também, que não existe um fórum, ou qualquer outra forma de debate que
contemple a atividade coral e/ou de canto coletivo onde os regentes de Cuiabá e região
possam se encontrar no espaço virtual para debater as atividades, promover mais
apresentações durante o ano, interagir e fomentar a difusão dessa cultura musical.
O que se percebe, a cibercultura como um território de interação mediada como
conceituam Lemos (2002) e Levy (1999), e que conforme Castells (2001) tomam dimensões
planetárias, o universo pesquisado nesta investigação ainda não reconhece na prática como
podem se utilizar os diversos sistemas distribuídos no mundo virtual.
71
As relações entre os grupos mundiais de canto coletivo e a mediação através das
tecnologias digitais, midiáticas e sociais, consideradas como cibercultura por Lemos (2002) e
Levy (1999), apresentam formas variadas, tanto que um determinado grupo pode utilizar
diversos sistemas, que alteram os processos de comunicação, de produção, de criação e de
circulação de informações, promovendo um novo paradigma cultural. Isso pressupõe que no
contexto investigado os antigos paradigmas ainda não se moveram de forma significativa,
pois há uma utilização primária dos novos sistemas de comunicação e mediação em se
tratando da maioria dos grupos pesquisados.
Nas informações apresentadas na coleta de dados da pesquisa fica claro que existe
uma falta de interesse pelo trabalho acadêmico, por parte de um número significativo de
regentes que não deram importância para a temática deste trabalho, uma vez que ao serem
procurados para participar da pesquisa não deram retorno. Com essa atitude é possível
entender que existe uma contradição na prática desses profissionais no que diz respeito a sua
função, assim como a compreensão da sua inserção no âmbito da cultura. Ainda que existam
informações sobre seus trabalhos junto aos grupos, estas não são tratadas pelos regentes como
práticas sujeitas ao interesse de um público específico e maior disperso nos diferentes
espaços, que pode fazer avaliação, possivelmente, benéfica para a movimentação da cultura
musical na modalidade de canto coletivo, tanto no espaço geográfico como no ciberespaço.
72
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho averiguou a circulação e a divulgação do canto coletivo/canto coral na
cidade de Cuiabá-MT no contexto da Internet. Foram utilizados como procedimentos
metodológicos o levantamento de dados dos grupos pesquisados no período de 2009 a 2011,
em Instituições que promoveram apresentações de grupos vocais na cidade, como, também,
nos diversos tipos de sítios disponíveis na Internet, que tivessem como responsáveis pessoas
ligadas aos grupos. As entrevistas que foram possíveis de serem realizadas, no total de
dezesseis, apontaram as concepções e formas de utilização da Cibercultura na visão dos
regentes.
Posso considerar que os objetivos foram alcançados, pois, a pesquisa bibliográfica,
juntamente com a pesquisa de campo ofereceram materiais suficientes para a identificação de
uma realidade que se mostra ainda bastante distante de uma articulação significativa do
processo de mediação e difusão cultural na internet, no que se refere ao trabalho desenvolvido
pelos grupos pesquisados.
Percebi que o espaço geográfico de atuação dos grupos ainda é muito restrito,
acontecendo à circulação do trabalho muito concentrado no centro da cidade. Os grupos
existentes na cidade em sua maioria pertencem a instituições públicas federais e estaduais,
religiosas e um número muito pequeno de grupos independentes. Com isso considero que o
canto coletivo tem sido uma prática com fim institucional, onde os grupos pesquisados se
restringem a se apresentar em eventos das instituições as quais representam, ou seja, eventos
internos. Mesmo os grupos independentes, dependem de patrocínio tanto de instituições
privadas como das instituições públicas. Isso leva a uma prática da música condicionada aos
interesses dos seus patrocinadores, colocando-os numa posição semelhante aos que estão
dentro da própria instituição. Ao mesmo tempo em que abrem um espaço para a participação
dos grupos, as instituições os limitam aos seus eventos internos. Essa dependência gera, no
meu ponto de vista, uma acomodação por parte dos regentes em relação à ampliação de novos
públicos ou uma efetiva e real divulgação do trabalho do canto coletivo em Cuiabá, conforme
aponta a pesquisa.
Por outro lado, as instituições públicas responsáveis pela difusão da cultura local,
como indicam as informações da pesquisa de campo, não têm promovido ou priorizado o
canto coletivo como uma perspectiva de valorização e expansão da cultura artística vocal,
pois os eventos em que foi possível reunir os grupos corais da cidade ficaram restritos ao
período do natal. Não existiu nos anos de 2009 a 2011, nenhum outro evento que reunisse os
73
grupos pesquisados em apresentações de natureza diferente da temática que apareceu nesse
período. Como consequência acontece a pouca expansão do repertório diversificado, que,
como informaram os regentes, vão construindo no seu cotidiano.
Sobre o repertório vale ressaltar que este também atende aos requisitos básicos de
interpretar músicas com temas regionais e músicas temáticas para atenderem os eventos
específicos das Instituições, com poucos grupos que desenvolvem um repertório elaborado
para concertos. Os grupos representantes de instituições religiosas, apesar de se apresentarem
em espaços fora do contexto de suas igrejas, como informaram os regentes, mantêm o
repertório litúrgico e poucos são os grupos dessas instituições que cantam músicas que saem
do contexto religioso. Isto faz com que a música se efetive com a característica funcional.
Um ponto muito importante também para se destacar sobre o canto coletivo é que os
grupos musicais foram criados para atender objetivos específicos de instituições que se
utilizam do canto coral como forma de oferecer prática de qualidade de vida aos seus
servidores e não, necessariamente, fomentar a cultura da música através do canto coletivo.
Sobre a presença na internet e o uso dessa ferramenta pelos regentes, constatei que o
espaço virtual ainda não tem sido explorado como instrumento de divulgação dos grupos, pois
muitos deles postam na rede suas apresentações depois que estas aconteceram. Isso sugere
que para a maioria dos corais, a internet foi utilizada apenas como meio de visibilidade, de
mostrar a existência do grupo.
Ao que indica as afirmações dos regentes, percebi pelos que responderam que a
maioria dos pesquisados não entenderam exatamente o sentido de utilizar a internet como um
meio de divulgação das apresentações e do trabalho do grupo, poucos mostraram
compreensão do potencial da rede de computadores em seu trabalho e os que se furtaram de
responder deixam ainda mais clara a pouca intimidade com o assunto. O ciberespaço parece
não se apresentar para os regentes entrevistados como um espaço que na sua abrangência
pode fortalecer a prática, criar uma abordagem inovadora para o trabalho como difusor e
mediador da cultura no campo da música.
A interatividade com o universo virtual abre espaço para o conhecimento global,
regional e mesmo particular, cabe somente ao próprio homem a decisão de qual caminho
seguir. O desconhecido, o novo, por seu caráter inédito costuma intimidar o homem,
especialmente quando esse não têm domínio sobre a técnica. Diante dessa realidade espero
que o trabalho desenvolvido, além de atender a comunidade acadêmica em futuras pesquisas,
seja importante na promoção de reflexões, servindo como base ao diálogo entre a academia e
o público envolvido para o enfrentamento das dificuldades suscitadas nas práticas.
74
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Paulo, Editora UNESP, 2007.
78
APÊNDICE
AUTORIZAÇÃO
Eu ................................................................, concordo em participar, como informante, da
pesquisa do Mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea, da Universidade Federal de
Mato Grosso, de autoria de Marta Martines Ferreira, com o título: “O CANTO COLETIVO
DE CUIABÁ NO UNIVERSO VIRTUAL”. Aceito responder questões de interesse para o
referido trabalho, fornecendo informações sobre mim e sobre o grupo que represento, assim
como, autorizo a mestranda a fazer registros escritos e com gravação de áudio, que sejam
pertinentes ao estudo. Autorizo a autora a fazer uso dessas informações em sua dissertação e
em todos os eventos acadêmicos científicos que envolvam o trabalho em questão.
Cuiabá,.....de.... de 2012.
Questionário
Nome do Regente:
Nome do Grupo:
1. Qual instituição o grupo representa?
2. Há quanto tempo o grupo existe?
3. Há quanto tempo você rege esse grupo?
4. Quantos integrantes o grupo possui?
5. Fale sobre a criação do grupo
6. Em sua opinião, qual o envolvimento dos membros da instituição com o grupo?
( ) Alto ( ) Médio ( ) Baixo
7. Como considera o investimento da instituição no grupo?
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
8. O grupo possui um local específico para os ensaios?
( ) Sim ( ) Não
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9. Qual o repertório que o grupo canta?
( ) MPB ( ) Clássico ( ) Erudito ( ) Regional
( ) Pop ( ) Litúrgico ( ) Outros
10. Quem escolhe o repertório e como isso é feito?
11. O grupo mantém uma agenda de apresentações? Como funciona?
12. Quantas apresentações o grupo faz por ano?
13. Quais os locais que o grupo se apresenta?
( ) Instituição de origem ( ) Espaços Públicos
( ) Eventos Específicos de Apresentações de Canto Coral
( ) Outras Instituições ( ) Outras Cidades
( ) Outros Estados ( ) Outros Quais?
14. Fale sobre o público presente nessas apresentações
15. Como é feita a divulgação dessas apresentações?
16. Qual o incentivo recebido para garantir essas apresentações?
17. Fale da estrutura dos espaços dessas apresentações.
18. Utiliza-se de quais tecnologias no dia a dia dos ensaios?
19. O grupo possui páginas na internet ou participa de rede social?
( ) Sim ( ) Não Quais?
20. Se positivo, quais razões levaram à criação de páginas sobre o seu grupo na internet?
21. Que critérios ou prioridades são considerados ao publicar as informações?
22. Os integrantes do grupo conhecem essas informações?
( ) Sim ( ) Não
23. Como se manifestam a respeito delas?
24. Quais as vantagens em divulgar seu grupo na internet?
25. Em sua opinião quais os aspectos éticos envolvidos na questão da tecnologia e seus usos
por grupos de canto coral?
26. De quais atividades musicais você participa além de reger?
( ) Coral ( ) Grupos Vocais