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O CASO DE CAZA Um estudo exploratório da obra do autor de Histórias em Quadrinhos Phillipe Cazamaiou (CAZA), cujo resultado foi uma classificação da sua obra em quatro fases distintas, das quais duas são analisadas neste trabalho pelo método de Estudo de Caso. por GAZY ANDRAUS Mestrando no curso de Artes Visuais no Instituto de Artes da UNESP para Grupo de Trabalho Humor e Quadrinhos INTERCOM - Londrina/PR 1º semestre/1996

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O CASO DE CAZA

Um estudo exploratório da obra do autor de Histórias em Quadrinhos Phillipe Cazamaiou

(CAZA), cujo resultado foi uma classificação da sua obra em quatro fases distintas, das

quais duas são analisadas neste trabalho pelo método de Estudo de Caso.

por

GAZY ANDRAUS

Mestrando no curso de Artes Visuais no Instituto de Artes da UNESP

para

Grupo de Trabalho Humor e Quadrinhos

INTERCOM - Londrina/PR

1º semestre/1996

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"O trabalho é o amor feito visível,

e se não podeis trabalhar com amor,

mas somente com desgosto,

melhor seria que abandonásseis vosso trabalho

e vos sentásseis à porta do templo

a solicitar esmolas daqueles que trabalham com alegria.

Pois se cozerdes o pão com indiferença,

cozereis um pão amargo,

que satisfaz somente à metade da fome do homem.

E se espremerdes a uva de má vontade,

vossa má vontade se destilará no vinho como veneno."

GIBRAN KHALIL GIBRAN (In: "O Profeta")

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AGRADECIMENTOS A:

Flávio Calazans, pelo impulso;

e a Rosy Feros, pela digitação e pela correção do texto.

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ÍNDICE

Capítulo Nº da página

1. O CASO DE CAZA - OBJETIVO, 05

2. METODOLOGIA, 06

3. HISTÓRICO, 07

3.1. Fase 1, 07

3.2. Fase 2, 08

3.3. Fase 3, 09

4. ANÁLISE DAS HISTÓRIAS: "NOISE FROM

UPSTAIRS", "LA BAITE" E "VENT”, 12

4.1. "Noise from upstairs" ("Barulho de cima", 12

4.2. "La Baite" ("A Besta"), 13

4.3. "Vent" ("O Vento"), 15

5. CAZA, UM AUTOR CRÍTICO, 19

6. O CASO-OCASO DE CAZA, 20

6.1. Fase 4, 20

7. A FRANÇA E SEUS PADRÕES EDI(TA)TORIAIS, 22

8. O CASO DE CAZA (PARTE 2), 24

9. CONCLUSÕES OCASIONAIS FINAIS, 25

10. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA, 26

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O CASO DE CAZA1

1. OBJETIVO

Ressaltar a importância social das Histórias em Quadrinhos (HQs) de Phillipe

Cazamayou (Caza), no que concerne às suas mensagens filosóficas e de cunho crítico-

social, trazendo à luz símbolos e seus significados, utilizados pelo autor francês ao compor

suas artes-seqüenciais2, fazendo-o ser reconhecido no meio cultural-acadêmico brasileiro.

Tais análises restringir-se-ão a três HQs, realizadas nas segunda e terceira fases do

autor:

1) "Noise from upstairs";

2) "La Baite";

3) "Vent".3

1 O trocadilho é proposital, e mesmo que na língua francesa pronuncie-se tônica a última sílaba do nome Caza

(“Cazá”), ao ler-se em português, sem tal conhecimento, incorre-se no erro fônico e conseqüente “acerto”

tonal (“Cáza”). 2Artes-seqüenciais é o termo que Will Eisner (quadrinhista norte-americano) criou para designar as histórias

em quadrinhos de autor, que na França são conhecidas como Bande Dessinees (Bandas Desenhadas). 3 Das três HQs, somente "Noise from upstairs" ("Barulho de cima") está na língua inglesa. As outras duas

estão no original francês: "La Baite" ("A Besta") e "Vent" ("Vento").

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2. METODOLOGIA

O trabalho está exposto através de uma pesquisa situando as três HQs por temática

(as duas primeiras apresentam temática de caráter social e a última, exclusivamente não-

regional e atemporal), atendo-se a um estudo teórico suscinto que se refere à obra do autor e

suas fases distintas, e também à análise do roteiro das três histórias já mencionadas, com o

acompanhamento de diapositivos (slides) das duas primeiras, sendo a terceira apresentada

como anexo, apenas.

Este trabalho pôde situar o artista em quatro fases distintas até o presente, das quais

apenas a segunda e a terceira terão mais importância na pesquisa.

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3. HISTÓRICO

Phillipe Cazamayou, ou simplesmente Caza, nasceu em Paris, França, em 1941 e é

um profissional na área das bandas desenhadas (nome pelo qual são conhecidas as histórias

em quadrinhos na França).

Caza viveu em Haute Savoie (França) dos 7 aos 18 anos. Aos 18, retornou a Paris

com a idéia de fazer Arts Déco. Abandonando depois tal idéia, fez serigrafia, trabalhou para

publicidade, atuando também como maquetista. Depois, atuou profissionalmente como

ilustrador, atendo-se mais profundamente ao estudo das cores e das formas.

3.1. FASE 1

Inicialmente publicitário, passou aos quadrinhos quase involuntariamente. Uma

idéia sua recusada no meio publicitário, que mostrava um terno com boca e dentes, virou

material utilizado em uma HQ sua, publicada na extinta revista Pilote (editada por R.

Goscinny, o criador do personagem de quadrinhos Asterix). A história trazia, em tons

chapados, como na Pop-Art, ternos que eram vivos e tinham só a boca nos colarinhos.

Esta fase foi sucedida pela HQ "Kris Kool" (o primeiro álbum de Caza), um misto

de delírio visual, surrealismo e ficção científica, impresso também em cores vivas e

chapadas. Este seu primeiro álbum teve fortes influências da Arte Pop, da moda da época e

do desenho animado "Yellow Submarine", dos Beatles.

Nesta primeira fase, os textos eram irônicos, humorados e um tanto ingênuos.

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3.2. FASE 2

Nesta fase, assumidamente hippie, ecoava já o que se manifestava no mundo desde

o fim dos anos 60: o underground, a contra-cultura, a liberdade de expressão, drogas e

rock'n'roll.

Mas nesta fase, as HQs de Caza possuíam algo mais do que só tais ingredientes: a

consciência (tanto no aspecto social como no ecológico). Eram histórias urbanas mescladas

com surrealismo, verossímeis ou não, mas que traziam à tona questões como o "aperto" da

vida ao se morar em blocos de concreto, ou o desequilíbrio ecológico causado pelos atos

inconseqüentes do homem dito "civilizado".

Aqui, o autor costumava retratar-se em HQs curtas, e a narrativa era feita em

primeira pessoa. Havia em seus textos um tom crítico voraz e sutil ao mesmo tempo. Era

visível um humor característico do autor.

Nesta fase, ele criou personagens que viviam a seu lado e que passaram por

experiências "apocalípticas" (como, por exemplo, uma reação negativa pelos excessos

cometidos pelo ser humano quando, numa HQ, o lixo jogado fora torna-se um monstro).

Havia, ainda, HQs onde o autor era o personagem principal - pedindo, seqüestrado, num

ambiente similar ao nosso, ajuda a quem quer que fosse. Este pedido vinha numa HQ feita

pelo próprio personagem (metalinguagem), na qual o autor, após ter materializado as HQs,

joga-as do prédio pela janela, esperando que alguém (o leitor?) entenda a mensagem.

Noutra HQ, flores nascem de seus cabelos e depois frutificam em tubérculos, que

passam a alimentá-lo enquanto se encontra desempregado.

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A esta altura, torna-se mister salientar que o estilo do artista começa a se firmar. Os

traços, nesta segunda fase, tornam-se "moebizados"4, com uma qualidade técnica e gráfica

impecável. As cores são utilizadas racionalmente, e o letreiramento tem estilo bastante

pessoal (inclusive com as onomatopéias).

3.3. FASE 3

Quase ao mesmo tempo, surgem HQs que, em contrapartida aos temas de solidão e

abandono, refletem a alma feminina, a beleza, o maternal. São HQs em preto e branco feitas

com técnica altamente refinada (chegando ao cúmulo dos detalhes gráficos de pontilhismos

brancos), por vezes desprovidas de textos.

A temática começa a abandonar as cidades (Paris) e principia a adentrar o espaço

cósmico, ou então a abordar sociedades ficcionais (cidades de arquitetura particular, não-

reconhecíveis, como se fossem de algum outro planeta).

Isto começa a se firmar quando, entre 1980 e 1985, a fase lírico-poética de Caza

vem toda à tona.

São histórias com textos poéticos (narrados agora mais freqüentemente em terceira

pessoa), nas quais o grafismo e a cor se tornam, indiscutivelmente, altamente elaborados.

Caza passa a desprezar os balões e utiliza-se apenas dos textos narrativos, criando um

universo particular onde os 'Oms (trocadilho com "homens") geralmente são seres de uma

raça cuja arquitetura é definida por prédios de geometria cúbica irregular. Esta raça é vista

por ele como inconseqüente e inconsciente.

4 O termo é um neologismo e relaciona-se com o estilo tracejado do quadrinhista Moebius (outro autor francês

contemporâneo de Caza, e mais conhecido que este no Brasil).

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Nos textos, percebe-se uma maior preocupação estética quanto ao arranjo

gramatical, configurando-se os trocadilhos como pontos-chaves de entendimento dos temas

- as palavras são cruzadas, provocando-se uma segunda interpretação (como exemplo,

teríamos l'ove5, cujo primeiro significado, literal, é "o ovo" em francês, mas também pode

ser interpretada como sendo uma brincadeira com a palavra inglesa love, "amor").

As HQs de Caza trazem em seus roteiros várias influências e citações literais de

autores como: Shakespeare, William Blake, E. A. Poe, G. Khalil Gibran, além de muitos

outros. Na arte, ele homenageia e se utiliza de artistas como Gustave Doré, Jack Kirby,

incluindo a referência de fotos da cidade italiana de Pompéia.

A simbologia, nas suas artes-seqüenciais, torna-se mais acentuada nesta terceira

fase (ele, inclusive, menciona ter recorrido muitas vezes a um dicionário de símbolos).

Alguns dos símbolos trabalhados por ele são: o olho, a boca, a baleia, o sangue

(representado pela cor vermelha), a morte (representada pelo esqueleto), a mandrágora, o

processo de transmutação, etc.. Caza fez até uma incursão filosófica a respeito do conto do

flautista de Hamelin e também referência ao cavalo de Tróia, entre outros mitos e histórias.

Na verdade, estas HQs dão a impressão de que foram saindo e se concatenando, sem

uma pré-criação epopéica. Explica-se: os personagens 'Oms aparecem no roteiro de muitas

HQs como elementos secundários. Mas tais roteiros dedicam-se a mostrar que os 'Oms

geralmente provocam uma reação negativa por parte da natureza contra eles mesmos,

devido a seu estilo de vida desregrado.

Na verdade, esta série de HQs seria uma nova incursão, mais poética e universal que

a fase anterior, hippie (urbana), mas com forte teor crítico à civilização (perda de valores

morais e espirituais).

5Tal trocadilho encontra-se na HQ intitulada "La Baite", pág. 4.

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Cita-se ainda a HQ "Arkhé" - uma espécie de poesia ilustrada contando o mito da

criação, a gênese, tomando por símbolo uma gigantesca arca, que passa incólume pelos

séculos e por toda sorte de intempéries, tanto naturais quanto provocadas pelo homem, até

se transformar numa espécie de ovo cósmico. "Arkhé" tem um texto poético, é uma

verdadeira jóia literária, aliada a uma arte belíssimamente elaborada.

"L'oiseau-Poussiére" (o "Pássaro-Poeira"), uma HQ em preto e branco, assemelha-

se a "Arkhé" na narrativa poética. O texto, aliado ao grafismo, dá o toque cósmico a esta

obra-prima.

Ainda podem ser lembradas as HQs "Noise from upstairs" ("Barulho de cima"), "La

Baite" ("A besta") e "Vent" ("O Vento"), às quais reservamos o próximo capítulo para uma

suscinta análise.

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4. ANÁLISE DAS HISTÓRIAS: "NOISE FROM UPSTAIRS",

"LA BAITE" E "VENT"

4.1."NOISE FROM UPSTAIRS" ("BARULHO DE CIMA")

Esta é uma HQ composta de quatro páginas, de cunho crítico-social, urbana.

Na primeira página, vemos uma diagramação com oito enquadramentos. Nela,

temos um casal prestes a dormir, quando repentinamente são molestados por um barulho

(música, como sugerem os signos analógicos onomatopéicos) que vem do andar acima.

Marcel, personagem que configura o marido (nesta fase urbana, Caza batizava seus

personagens com nomes próprios comuns), resolve, encorajado pela esposa, levantar-se e

subir para reclamar silêncio.

Na página seguinte (sete quadros), Marcel principia a subir os degraus das

escadarias. Enquanto sobe, vemos seu rosto desfigurar-se, ao mesmo tempo em que ele se

apercebe de uma irregularidade na ascensão: os degraus parecem intermináveis.

Logo em seguida, como em quadros surrealistas (ou como num sonho), Marcel, já

com o rosto cadavérico, pára em frente a uma grande porta (na verdade, um glorioso

pórtico), onde se lê a placa "Entrada de Serviço". Ao tocar a sineta, vamos para a terceira

página da HQ (com sete enquadramentos), onde, ao se abrirem as portas, surge um

gigantesco homem vestido de batina, apresentando-se como "Senhor São Pedro" à agora

diminuta forma de Marcel.

Inquirido sobre seu nome, Marcel obtém a réplica de São Pedro, que lhe sugere que

desça para seu apartamento novamente, visto que não encontra seu nome em seu "santo"

livro.

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Na última página (6 quadros), o portal se fecha e Marcel, sem fala, acata o conselho

do Santo, voltando a descer as escadarias. Enquanto ele refaz seu percurso, o leitor percebe

que Marcel vai gradativamente retomando sua forma original, até adentrar seu apartamento

novamente.

Quando a porta se fecha, o leitor é a única testemunha do ocorrido, podendo ler por

sobre a porta, numa placa, os seguintes dizeres: "Aqueles que passarem sobre este capacho,

deixem atrás toda sua esperança (e limpem seus pés)".

Numa alusão à "Divina Comédia", de Dante Alighieri, Caza quis sugerir a

semelhança da casa de Marcel (um simples ser humano) e sua vida de homem médio e

comum com o Inferno.

Como se pode observar nesta HQ, Caza se utilizou da literatura universal ("Divina

Comédia") como referência para poder transmitir a mensagem de sua obra.

Apesar de universal, esta HQ apresenta elementos regionalistas (o francês Marcel), o

que difere um pouco da próxima HQ a ser analisada.

4.2. "LA BAITE" ("A BESTA")6

Nesta HQ, composta de cinco páginas, o número de quadros por página diminui,

assim como as HQs feitas na mesma época. Ela é datada como sendo de 1979 (assim como

o "O Flautista", que é de 1980). Ambas, e muitas outras de caráter mais universal, são desta

fase, posterior então a "Barulho de Cima", datada de 1976, juntamente com outras da

mesma época hippie.

6 O título desta HQ poderia ser traduzido literalmente como "A Besta" se o termo estivesse grafado "bête";

porém, a escrita "errada" pode ser vista como um trocadilho proposital, de difícil tradução.

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Esta explanação inicial tem a intenção de esclarecer as distinções de ambas as fases

- a primeira HQ como sendo a de caráter crítico-social, e a segunda, de caráter crítico

universal.

Vamos à primeira página desta HQ: apenas três quadros a compõem, onde no

primeiro vemos um homem calvo nu, simbolizando o homem universal, de todas as raças,

portando um cajado e com ele tentando furar o solo para obter uma fonte de água. Tal

homem encontra-se em meio a uma formação rochosa e, ao que sugerem os outros dois

quadros e o texto, as tentativas de obter água com o cajado despertaram uma fera que estava

adormecida sob o solo.

Tal criatura gigantesca vislumbra a cidade dos 'Oms - e agora já estamos na segunda

página da história, que também se apresenta com apenas três quadros.

Na terceira página, o monstro, já adentrando a cidadela, é violentamente escorraçado

pelo armamento bélico dos 'Oms, os quais, não entendendo seu urro infantil (ela grita

“amour”, “amor” em português), tomam-no por um rugido ameaçador.

Na página seguinte, a fera jaz inerte e sem vida e, em três quadros apenas, Caza

mostra os 'Oms carregando-a para fora do perímetro urbano, deixando-a numa espécie de

lápide, como se fosse um troféu de sua vitória.

A última página tem quatro quadros e diagramação simétrica. Agora, voltamos à

formação geológica do primeiro quadro da página de abertura, onde vemos uma mulher nua

com um cajado.

Mas ela também não encontra água com ele, mas, ao invés disto, um grande ovo. A

mulher o vislumbra e, no último quadro, o cobre com seu ventre, com o claro intuito de

chocá-lo.

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No terceiro quadro desta página, temos mais um sutil trocadilho de Caza: ele

começa uma frase de duas linhas com a palavra l'ove ("o ovo", em francês) e termina-a com

a palavra amour ("amor", em francês). É claríssima a brincadeira com a palavra love

("amor", em inglês), ao escrever l'ove.

Nesta HQ, pode-se teorizar um pouco mais acerca da mensagem que Caza procura

nos passar: a "fera", a "besta", pode não ser o que aparenta, e os seres humanos podem

enganar-se grandemente com suas conclusões apressadas.

Outra possível leitura seria que a esperança (o "ovo") nunca morre, e, embora o mal

tenha sido feito (o assassinato de um ser), uma ordem superior refaz o equilíbrio (que está

na mensagem subjetiva de que no ovo encontra-se uma nova baite).

Enfim, cada leitor é convidado a chegar às suas próprias conclusões, já que é uma

HQ universal, uma obra aberta.

4.3. "VENT" ("O VENTO")

Das três HQs aqui analisadas, esta é a única em preto e branco. É sabido que as

cores usadas por Caza têm uma relevância no contexto temático, porém optou-se por

dispensar a análise das cores pelo simples motivo de que esta tornaria este trabalho bastante

extenso, ocupando muito tempo e muito espaço.

Por esta razão, desculpa-se aqui tal omissão, já que esta foge a nossos objetivos, e

siga-se adiante no desenvolvimento da análise desta HQ.

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A presente HQ é composta de oito páginas, e todas têm uma divisão horizontal

simétrica de quatro quadros/página, excetuando-se a página seis (com nove quadros) e a

última (três quadros). O roteiro é de Philippe Kilian e a arte, de Caza7.

Na primeira página, encontra-se desenhada uma ave de rapina (primeiro quadro) e

um pedaço de uma capa esvoaçante (no segundo quadro), onde se tem o título da HQ:

"Vent".

No terceiro quadro, a câmera mostra uma visão mais ampla, de cima, da ave e do

solo, e no quarto quadro aparece o homem que porta a capa (que, sugere-se, está carcomida

e envelhecida pelo tempo).

Na segunda página, a câmera faz um close no homem. No quadro seguinte, ela

focaliza o vôo por trás da ave, e então no terceiro quadro retorna para o homem (agora, no

canto direito da moldura). No quarto quadro, o foco pega os pés da ave e, ao fundo, uma

árvore ao longe.

Todas estas páginas estão demarcadas por um recurso gráfico linear que "imita" o

vento incessante. O texto nos diz que o "vento sopra neste mundo desde sempre".

Na terceira página, repete-se o close no rosto agonizante do homem, enquanto a ave

pousa num dos galhos da árvore. No terceiro quadro, vemos de novo o rosto do homem,

agora em câmera baixa. E, no último, a cena se abre, mostrando a árvore e a ave. E o texto

nos diz que "lá, nada podia sobreviver, sem que lutasse contra o vento", que continua seu

trabalho incessante...

7 Torna-se necessário fazer uma nova explanação: poucas HQs foram feitas em dupla com Caza e, ao que

parece, ele só se associou a roteiristas que tinham temática similar à sua. Nas HQs "Vent" e "L'Oiseau-

Poussiêre", que são mais "cósmicas", Caza se associou, respectivamente, a Kilian e Bazzoli. Em "Arkhé",

Caza apenas dedicou a HQ a Bazzoli. Conclui-se, assim, que o autor tem seu ponto determinante nestas HQs,

não só como desenhista mas também como uma espécie de co-autor, visto que dificilmente se percebe

diferenças quanto à mensagem, tanto em suas HQs solo como nestas em dueto.

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Na quarta página, a câmera aproxima-se da árvore, pegando apenas uma parte dela e

da ave, para, no quadro seguinte, mostrar novamente o rosto masculino marcado pelas

rachaduras causadas pela sequidão e pelo tempo.

No terceiro quadro, o homem se aproxima da árvore e, no último, abre os olhos

numa expressão de melancolia. E o texto nos conta que "ali é o universo do homem, onde

ele nasceu e sempre viveu, sem nunca cessar sua batalha contra o vento".

Na quinta página, o homem se aproxima da árvore e, no segundo quadro, alimenta-

se de uma folha (das poucas que a árvore contém).

No terceiro quadro desta mesma página, como numa pintura taoísta, vemos o

homem, a árvore e a ave, e o vento soprando, numa mesma cena idílica.

No quarto quadro, só temos o texto, que diz: "Um dia o vento cessa." Na verdade,

neste quadro, desaparecem a reborda e os desenhos para reforçar o momento brusco da

parada do vento.

A sexta página divide-se em nove quadros simétricos e mostra numa seqüência,

alternados, o homem, a árvore e a queda de ambos (na diagonal, para a esquerda), até que

no último quadro nada resta, exceto o sol.

Na página seguinte, mostra-se a cena inteira: a árvore caída, o homem também e a

ave partindo ao céu. No segundo quadro, o homem é mostrado ainda vivo e tentando se

erguer e, no terceiro quadro, a câmera continua seu giro e afasta-se, mostrando a ave

voando e o homem estatelado, no solo, junto com a árvore.

No quarto quadro, a ave parte ao espaço e a câmera se abre mostrando uma espécie

de rocha espacial vagando no cosmo, na qual os únicos habitantes são o homem e a árvore,

caídos. E o texto nos relata que ele (o homem) não mais se levanta...

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Na última página, vemos apenas três quadros: o primeiro mostra uma série de rochas

vagando no espaço, e a ave em primeiro plano; no segundo quadro, temos a ave inteira,

soberana e livre no espaço (a câmera se abre inteira); e, dentro deste imenso quadro, no

centro inferior, temos um círculo focando os olhos e o bico da ave, como se testemunhasse

junto conosco o fatídico destino do ser humano.

Esta HQ situa o homem como uma espécie de elemento que vive pela luta

incessante para poder sobreviver às intempéries da natureza. Mas demonstra também o que

pode ocorrer se o homem não tiver mais obstáculos a superar (sendo que desde o

nascimento ele fora treinado a ser um "guerreiro"). Como se, com o cessar do vento (ou dos

obstáculos), o ser humano não soubesse viver mais. Isto é muito instigante, visto que ao

homem bastaria levantar-se e andar, sem mais o vento para impedí-lo. E é irônico como não

o consegue.

Temos, aqui, outros elementos que poderiam ser estudados: a águia, aqui nesta obra,

poderia ser, de acordo com a mitologia simbólica, o elemento que "personifica ou carrega a

alma do soberano que sobe aos céus após a incineração do cadáver"8.

Poderíamos, ainda, aprofundar-nos no sentido da capa ostentada pelo homem (como

símbolo de proteção, etc.).

Enfim, cabe ao leitor, desvendar, ao nível de seu repertório, os sentidos ocultos

apresentados nesta HQ. Cabe ao leitor julgar o que lhe sugerem as imagens e/ou o texto. Só

ele, o leitor, pode munir-se de referências e tirar suas próprias conclusões - até intuí-las.

Por todas estas razões, esta é uma HQ de autor. Uma arte-seqüencial... uma obra

verdadeiramente aberta. Porque ela nos convida a refletir e a ser.

8 In: LEXIKON, Herder, Dicionário de símbolos, Ed. Cultrix, 1992, São Paulo.

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5. CAZA, UM AUTOR CRÍTICO

Por que Caza pode ser considerado um artista/quadrinhista de autor?

Porque, como mencionado em capítulos anteriores, ele criou um mundo fantástico,

com HQs por vezes narradas como parábolas que aludem à própria vida da humanidade.

Caza, em suas obras, lança uma crítica e um alerta (e ao mesmo tempo uma

liberação cósmica), principiada pelo fato de ter tido a consciência do lastimável estado em

que nós, seres humanos, nos encontramos.

Ele teve a coragem de, a partir dos anos 70, começar a pôr no papel sua agonia a

respeito de toda esta situação, principalmente o consumismo desenfreado e o estado de

abandono em que os homens têm vivido. Queremos lembrar que Caza denunciava o próprio

sistema do qual ele fazia parte, social e profissionalmente.

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6. O CASO-OCASO DE CAZA9

Este título, em forma de trocadilho, homenageia o autor, que muito se utilizava

deste recurso lingüístico (da mesma forma que Goscinny, contemporâneo seu, criador de

Asterix e Iznogud - seria esta uma idiossincrasia peculiar aos autores franceses...?).

O caso-Ocaso significa uma espécie de término, fim. E isto foi assim colocado

porque, ao que parece, a fase três (composta por histórias curtas, sempre protagonizadas

pelos 'Oms) deste artista se foi, dando início a uma nova fase, onde Caza passa a elaborar

histórias épicas, divididas em tomos/álbuns continuados, visando adequar-se às exigências

contemporâneas do mercado de quadrinhos francês.

6.1. FASE 4

Atualmente, Caza vem utilizando retícula (recurso gráfico industrial) e efeitos

computadorizados, ao contrário das fases anteriores, em que ele se esmerava artesanalmente

em suas HQs.

À primeira vista, isto poderia representar um avanço técnico, se seus desenhos não

tivessem perdido tanto detalhamento gráfico. O contraste é grande, comparando-se a

"modernidade" da fase atual com a força expressiva das fases anteriores.

9 "O caso de Caza" mostra-se como um trocadilho, uma brincadeira com a palavra "ocaso", buscando talvez

denunciar a mudança nos rumos da produção do autor, a partir da próxima fase quatro.

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Por outro lado, a evolução de um artista pode culminar numa maior simplicidade

nos traços, buscando um maior abstracionismo, um minimalismo formal. Para se confirmar

isto, melhor seria inquirir o próprio autor a respeito.

Caza também roteirizou e produziu outro álbum, cujos desenhos, porém, ficaram a

cargo de outro desenhista, cuja técnica não surtiu tanta beleza como a do roteirista. Em

suma, ao se folhear seus novos trabalhos, nota-se uma visível diferença em seu estilo atual,

tanto ao nível de roteiro quanto de arte gráfica.

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7. A FRANÇA E SEUS PADRÕES EDI(TA)TORIAIS

Em contrapartida, estes novos álbuns publicados por Caza são mais conhecidos e

mais vendidos na França que os trabalhos anteriores, obscurecidos pelo tempo.

Isto se deve ao fato de tais obras recentes seguirem padrões adequados para a venda:

roteiros épicos, divididos em quatro ou cinco álbuns, com aventuras facilmente digeríveis

pelo público consumidor. Na verdade, o francês, em geral (o público leitor de histórias em

quadrinhos), não difere muito da maioria do público leitor do resto do mundo "consumista",

que prefere obras de fácil entretenimento, com fortes apelos visuais/formais, em detrimento

de uma maior sofisticação dos roteiros/mensagens.

Visto que a arte anterior de Caza era forte, imbuída do mais crítico espírito,

altamente significativa, filosófica e mística, cujos textos poéticos (com citações de vários

autores, de diversas nacionalidades) davam mais força à arte, percebe-se que seu público de

início devia ser bastante restrito e também mais maduro e exigente no que diz respeito às

mensagens propostas pelo autor.

Atualmente, tal público encontra-se cada vez mais restrito, já que a demanda por

obras de fácil apelo comercial, "consumista" - que Caza apregoava como sendo um grande

mal na formação da consciência humana (sentimento bastante exortado em suas HQs da

fase dois - hippie) - tem aumentado consideravelmente.

Esta é mais uma razão de porque Caza alterou seu estilo narrativo em suas obras.

Talvez para poder sobreviver ao mercado editorial francês, tenha precisado submeter-se

melhor aos padrões mercadológicos franceses (e, por isto, mais uma vez homenageamos

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Caza neste sétimo capítulo, brincando com as palavras editoriais/ditatoriais no título

acima, sugerindo um duplo sentido).

As livrarias francesas estão abarrotadas de álbuns (a seção de HQs de uma grande

livraria francesa tem o porte de uma boa livraria brasileira). Mas a maioria dos títulos

guardam sempre o mesmo teor: aventura, sexo, ficção científica.

Sendo assim, mesmo artistas mais criteriosos (como é o caso de Caza) tiveram que

ceder ao mercado, "desmembrando" a mensagem de seus roteiros em vários álbuns,

"pasteurizando" seu estilo para que mais leitores pudessem assimilar didaticamente suas

idéias, que eram herméticas ao leitor médio desavisado (bem caracterizado em sua fase três,

como, por exemplo, na HQ "Cendres" - "Cinzas", onde é utilizada ampla simbologia, como

as cinzas, a morte tocando violino, carregando os 'Oms mortos, representando a civilização

perdida, da qual as cinzas fertilizam um novo começo).

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8. O CASO DE CAZA (PARTE 2)

O fato de Caza ter apresentado mudanças em seu estilo de fazer HQs talvez

demonstre uma necessidade de adequar-se comercialmente ao mercado, visto que, quando

muito, os franceses não tenham valorizado muito seus trabalhos anteriores. Eu mesmo já

ouvi da boca de um francês o seguinte comentário: "Ah, Caza parece Moebius, cuja técnica

gráfica prefiro."

Os leitores (e talvez os críticos da banda desenhada francesa) não perceberam que

Moebius enveredou por um caminho seu, onde o roteiro quase nem existe e o que conta é a

fantasia (seus desenhos prestam-se bem a isto). Moebius não pretende nos alertar; quer

apenas que viajemos de uma vez daqui com ele. Muito válido.

Caza, em suas fases anteriores, ao contrário, queria nos alertar. Queria que

percebêssemos as coisas junto com ele. E o texto poético desse artista, aliado à arte,

também nos levava a um mundo diferente, ao mesmo tempo que dava seu alerta.

Nem um nem outro é melhor. A falha está em não se dar o valor verdadeiro ao estilo

particular de um autor.

Justamente, talvez, pela força existente nos roteiros anteriores de Caza, que pediam

uma coragem e uma bagagem cultural maior, um esforço maior para poderem ser digeridas.

E o público atual, não tendo mais esta verve questionante, acaba relegando seu trabalho a

planos inferiores, obscurecendo-o.

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9. CONCLUSÕES OCASIONAIS FINAIS

De qualquer modo, com este rápido trabalho, quer-se tentar homenagear este artista,

tornando-o um pouco mais conhecido, ainda que seja aqui no Brasil - onde não tem havido

divulgação melhor de seus trabalhos.

Ao mesmo tempo, através da análise das três HQs, ilustra-se a preocupação temática

que havia no autor, quando ainda era mais hermético nas concepções de suas histórias.

Ressalte-se ainda que as quatro fases em que situamos o autor, aqui descritas, têm

apenas caráter ilustrativo e didático, não tendo tal divisão um rigor total. De qualquer

maneira, detivemos a atenção em nossa pesquisa nas fases dois e três, que concluímos

serem as mais expressivas, merecendo assim este pequeno adendo explanativo.

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10. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

CAZA. Arkhé. Les Humanoides Associés, Tournai/Belgique, 1991.

____. Le Monde D'Arkadi. Les Yeux d'or-fé. Les Humanoides Associés,

França.

____. Les habitants du crèpuscule. Dargaud Editeur, França, 1982.

____. Les remparts de la nuit. Dargaud Editeur, França.

____. L'hachélème que j'aime. Dargaud Editeur, França.

CAZA & BAZZOLI. Le caillou rouge et autres contes. Dargaud Editeur, França, 1985.

CAZA & LEJALÉ. Mémoire des écumes. Dargaud Editeur, França.

CAZA & LEMORDAN. Amiante. La cité perdue de Kroshmarch, vol. 1, Les

Humanoides Associés, 1993.

FALATOFF, fanzine. 1 p. n., França. [s.d]

HEAVY METAL. February 1984, Vol. VII, nº 11, p. 85-88.

LEXICON, Herder. Dicionário de símbolos. Ed. Cultrix, São Paulo, 1992.

PILOTE. Nº 101, outubro 1982, p. 82.

SAVAGE World of Fantasy. Nº 12/13, França, juin 1994.

Desenho animado (longa metragem):

Gandahar (1992). Desenho: Phillipe Caza. Direção: René Laloux.