O caso Marina: melancolia e relações ancestrais

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PUC – PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS IP – INSTITUTO DE PSICOLOGIA O caso Marina: melancolia e relações ancestrais Ed Wanger Generoso Junior Campinas 2006

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PUC – PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS IP – INSTITUTO DE PSICOLOGIA

O caso Marina: melancolia e relações ancestrais

Ed Wanger Generoso Junior

Campinas

2006

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PUC – PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS IP – INSTITUTO DE PSICOLOGIA

O caso Marina: melancolia e relações ancestrais

Supervisora: Heloísa de Sousa Camargo Pieri Rua Duque de Caxias, 780 Conj. 41 Campinas – SP. Cep 13015-311

Fone: (19) 3234-0956

Campinas 2006

Trabalho de Conclusão de Estágio apresentado como exigência da disciplina Estágio Supervisionado em Psicologia Saúde/Clinica do 10º período do Curso de Graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, sob Supervisão da Profa. Dra. Heloísa de Sousa Camargo Pieri.

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O caso Marina: melancolia e relações ancestrais

Resumo

O objetivo deste trabalho foi discorrer sobre uma compreensão clínica de um caso

atendido na Clínica-escola de uma Universidade no interior do Estado de São Paulo. A

paciente atendida, uma mulher de 27 anos, que procurou a clínica por não estar

conseguindo lidar com a perda de um parente querido. A impossibilidade da elaboração

do luto mobilizou na paciente a repetição de inúmeras angústias, que a impediam de

continuar a trajetória normal de sua vida. A incompreensão e o conflito existencial

tomaram conta, fazendo com que perdesse o interesse pelo mundo e pelas atividades

normais cotidianas. No decorrer dos atendimentos, o contato contínuo com a morte

causava grande sofrimento, e somados com a resistência em momentos mais profundos

e a falta de credibilidade inicial no tratamento, que eram grandes, tornaram um grande

desafio a continuidade da terapia. Não obstante, não conseguia elaborar o luto da morte

de sua avó, mesmo porque, isto significava a possibilidade de olhar para algo que era

muito mais penoso para ela. A compreensão sobre o caso se deu a partir da abordagem

psicanalítica e uma correlação com a mitologia nórdica.

Palavras Chave: Luto; melancolia; psicanálise clínica.

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Parecer do Professor orientador recomendando o Trabalho Campinas, 24 de março de 2007.

Prêmio Sílvia Lane Associação de Ensino da Psicologia - ABEP

Saudações, A psicologia é um ofício apaixonante, pois sua matéria prima é a realização do próprio ser humano. Por isso, o respeito, a verdade e a responsabilidade são inerentes a sua prática. Mas para exercê-la na plenitude de seu objetivo maior: intermediar o crescimento do outro, pela experiência emocional do pensar compartilhado; exige do profissional dedicação, talento, criatividade e muitos anos de formação. E se todas estas exigências, por si só não bastassem, ainda temos que considerar a complexidade e flexibilidade necessária frente ao inusitado da vida de cada um, de cada história. Individualidades que se inter-relacionam na formação da cultura, que por sua vez ressignifica o nosso percurso, nos impondo uma escuta e uma comunicação especial. Portanto, frente à importância desta tarefa, a formação do psicólogo é primordial. E é neste sentido, que como supervisora do Estágio saúde / clínica II, do Instituto de Psicologia da PUC – Campinas, apresento o relatório de estágio de Ed Wanger, graduando de 2006. Pelos seus atendimentos, na clínica desta universidade, revelou sua capacidade, maturidade e dedicação que o capacita a participar desta iniciativa da ABEP. Também aproveito a oportunidade para estender meus cumprimentos a esta instituição pela iniciativa. Dra. Heloisa de Souza Camargo Pieri

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Pequeno memorial sobre a escolha do tema

No decorrer de minha graduação em Psicologia, pude perceber o gosto que foi se

construindo pela Psicologia Clínica, e, com o decorrer de meus estudos, uma nova

paixão foi se destacando, a Psicanálise. Assim optei no último ano realizar o estágio em

Saúde/ Clínica, atendimentos individuais de abordagem Psicanalítica. Escolhi fazer o

estudo e compreensão do presente caso, devido sua complexa relação e temática de

suma importância para todos.

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“A saudade me assalta em tudo o que é passado, Daquele mundo brando e espiritual, tão amado;

Harmonioso, paira ainda no ar um canto, Como som de harpa eólica, as cordas vão vibrando,

Vence-me a emoção, não controlo o pranto; Meu rude coração logo se acalma, enquanto

A atual realidade se torna mais distante, E o passado renasce, vivo, terrificante.”

Goethe (1749 – 1832)

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O caso Marina: melancolia e relações ancestrais

Ed Wanger Generoso Junior Supervisor: Profa. Dra. Heloísa de Sousa Camargo Pieri

Sumário

Prefácio: O moribundo que ri ...........................................................................................7 Introdução .........................................................................................................................8 Local e Condições do Estágio ..........................................................................................9 Descrição do Trabalho ....................................................................................................10

Apreciação Sobre o Caso e Desafios I – Apresentação do caso ....................................................................................11 II – A primeira sessão .........................................................................................13 III – Testando o terapeuta - “Como a psicologia pode me ajudar?”....................15

IV – Oráculo: a cabeça do Deus Mimir ..............................................................17

V – Os Lutos .......................................................................................................20

V.1 – Luto da Avó ...................................................................................20

- Matar o morto ...........................................................................23

- Um dificultador .........................................................................24

- Sobre o significado do sintoma .................................................25

V.2 – Luto da onipotência .......................................................................26

VI – Revelação e abandono ................................................................................28 Considerações finais .......................................................................................................31 Referências bibliográficas ..............................................................................................33

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Prefácio

O moribundo que ri

Na mitologia grega, Hipnos, o sono, é irmão gêmeo de Thanatos, a morte, sendo

esta, a morte, nada mais é do que um sono eterno. É temida, pois como no dormir,

nunca se sabe se seremos gratificados com um belo Sonho ou o mais terrível dos

pesadelos1. Crenças religiosas nos levam a supor que os que foram bons em vida, serão

agraciados com os mais belos e eternos sonhos, é os que alguns chamam de paraíso, e

outros arderão eternamente em chamas. O medo está justamente aí, pois todo o humano

esconde, e quase sempre de si mesmo, o mau que reside em seu coração, mas de uma

forma ou de outra sabe de seu próprio demônio, e teme ser condenado por isso.

O sofrimento dos que ficam pelos que vão, é às vezes aterrorizante, é como os

que se foram mandassem uma mensagem, uma carta, lembrando os vivos de seu

destino. A Morte nos dá um bilhete, uma passagem, assim que nos nascemos, é o único

bilhete que temos certeza que está premiado, premiado com uma viagem certa e

irrevogável.

Às vezes achamos que podemos esconder ou rasgar este bilhete, mas não

podemos, e nem mesmo podemos adiar sua data, isto porque o cobrador, no dia

marcado sempre virá reclamá-lo. Este cobrador não veste um quepe e casaca azul de

botões dourados como os usuais cobradores em viagens de trem, mas veste um pesado

manto negro, e ao invés de vir andando pelos corredores para conferir o bilhete e pegar

o canhoto, já está e sempre esteve sentado ao nosso lado.

É interessante como a única verdade que carregamos desde nossa concepção, por

toda a vida, preferimos transmutá-la em mentira, e, de certa forma todo homem sabe

que esta verdade se apresentará para provar que em nossas mentiras, sempre existirá um

fim. No dia em que a Morte vier cobrar o prometido, só os que estão no último segundo

que separa o limiar do conhecido para o infindável poderá dizer com certeza, porém sei,

e todos sabem, que de nada adiantará argumentar, no grande encontro, sinalizado pelo

suspiro final, tudo o que se pode fazer, é rir e aceitar o Destino2.

1 Na mitologia grega, o principal deus dos sonhos é Morfeu, filho de Hipnos o deus do sono. 2 O destino do homem em seus momentos finais é representado por Ker, também irmã de Hipnos o deus do sono. Sua presença muitas vezes é referida ao suspiro final, o Destino de morte.

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"Vivere noluit qui mori non vult;

vita enim cum exceptione mortis data est;

ad hanc itur."3

Sêneca (aprox. 4 a.C. – 65 d.C.)

Introdução A cada etapa, ideal seria se sucessivamente pudéssemos olhar o caminho

percorrido por nós mesmos e ponderar sobre tudo o que já foi passado, é o que neste

caso perpetro ao aventurar-me antes de adentrar a uma nova etapa da biografia.

Contudo, vejo nesta finalização, e na requisição de um relatório, o de Estágio

Supervisionado em Saúde/Clínica de 10º semestre, a possibilidade de discorrer sobre

toda minha prática deste período.

Este trabalho tem como desígnio de não somente relatar minha experiência

clínica, mas expor os caminhos pelos quais percorreram minhas associações e

pensamentos, de forma que eu possa organizar os fios que teceram minha compreensão

sobre o caso.

3 Tradução do original em latim da obra de Sêneca, Cartas a Lucílio: "Não querer morrer é o mesmo que ter querido não viver: a vida foi-nos dada com a morte como termo para o qual caminhamos".

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Local e Condições do Estágio

A atividade de estágio ocorreu na Clínica de Psicologia da PUC-Campinas, no

prédio de ambulatórios especialmente adaptado para atendimentos psicológicos. Este

complexo funciona desde 2001, num espaço de 770 metros quadrados e atende a

aproximadamente 1500 pacientes ao mês.

O atendimento ocorreu numa sala ampla e ventilada, contendo uma mesa,

cadeiras e um divã. O atendimento era individual de abordagem analítica, sendo que

todas as sessões eram transcritas e levadas a supervisão.

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Descrição do trabalho

As atividades eram como encontros semanais com a morte. Nestes encontros, ao

refletir, tentei fazer uma correlação entre a psicanálise e a mitologia nórdica, numa

tentativa de compreensão do inconsciente individual e universal. No decorrer dos

atendimentos pude notar a dificuldade e o sofrimento que incidi o contato contínuo com

a morte, a incompreensão e como a busca pelo perdido sempre está presente com uma

enorme angústia. Uma das questões que me deparei foi com a grande resistência, em

momentos mais profundos, que fazia até mesmo a paciente faltar ou de fato, desistir do

tratamento, o grande desafio era estar sempre buscando, no sentido de novamente

trazer-la a sessão, quando resolvia desviar-se do que olhar para seu íntimo.

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Apreciação Sobre o Caso e Desafios

I – Apresentação do caso

Marina4 é uma mulher de 27 anos, estudante do primeiro ano do Ensino

Superior. Ela procurou atendimento na Clínica de Psicologia, pois no final do ano

passado, próximo ao natal, ocorreu um fato inesperado em sua família: a sua avó

faleceu. Ela não está conseguindo lidar com esta perda.

Morava desde pequena com os avós e sempre foi muito apegada a eles, a avó

para ela era como se fosse sua mãe, embora tenha mãe e descreve ter um

relacionamento muito bom com ela.

Marina nunca conheceu o pai, foi criada pela mãe, pelos avós e pelas tias que

moravam na mesma casa. Quando ela tinha 12 anos de idade, a mãe se casou novamente

e teve outra filha. Contudo Marina preferiu continuar morando com os avós, onde vive

até hoje. Seu relacionamento com a mãe, continuou sendo bom, elas conversam e se

vêem sempre que possível, e quando ela precisa de algo a mãe sempre a ajuda.

Ela conta com muito pesar sobre o falecimento da avó, e relata que esta morte,

foi a maior perda de sua vida. Para ela a separação da mãe, ainda quando era muito

jovem, não foi uma perda, que embora não tivesse o pai, e apenas a mãe, fala que não

sofreu.

No meio do ano passado seu avô teve um câncer e isso já a mobilizou muito,

como também toda a família, contudo, o avô se curou, e que pouco tempo depois de

vencer a doença, a avó, que até então estava com boa saúde, faleceu de forma repentina.

Diz sentir muita raiva, que reza todos os dias e pergunta a Deus por que Ele levou sua

avó embora. Expõe que sente um vazio no peito, que é como se faltasse um pedaço dela.

Conta que sempre trabalhou e que sempre lutou para ter uma vida boa. Trabalha

como secretária em uma escola de informática e fez cursinho durante dois anos para

conseguir entrar em um determinado curso numa Faculdade da cidade. Este ano a prova

da segunda fase foi logo depois da morte de sua avó, mas mesmo sem vontade, ela fez a

prova e conseguiu passar no vestibular. Ela relata que não sente prazer em nada que faz,

que não tem vontade de ir trabalhar, nem de estudar, mas que continua fazendo essas 4 Todos os nomes e locais são fictícios, foram alterados a fim de preservar o sigilo terapêutico.

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coisas pois não consegue deixar de cumprir suas obrigações, mas que sua vontade é

passar o dia todo na cama dormindo sem ver ou falar com ninguém.

Não acredita que seja verdade que sua avó não existe mais, que ela não consegue

nem pensar nisso, pois não está sabendo como lidar com estes sentimentos de perda.

Foi encaminhada para a Psiquiatria e Psicologia por um médico clínico-geral,

onde ao fazer alguns exames de rotina e, conversando com ela, viu a necessidade de

encaminhá-la. Ela estava tomando remédios, com prescrição médica, durante o dia para

se sentir mais disposta, mas alegou que não estavam fazendo nenhuma diferença no se

estado de espírito.

Relatou também sentir muitas dores no corpo que não sabe da onde vem e que

aparentemente não são de origem fisiológica.

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II – A primeira sessão

Meu primeiro contato com Marina foi em agosto de 2006, ela chegou a clínica

de psicologia 20 minutos adiantada, e ficou aguardando na sala de espera. Logo iniciou

a contar o motivo pela qual viera.

P5 – “Vim por um encaminhamento médico. É que tive uma perda muito grande pra

mim no final do ano passado, fiquei muito mal...”

T – “Como foi isto?”

P – “Minha avó faleceu, foi uma coisa que me tocou muito, foi muito forte. Deste então

eu tento levar uma vida normal, mas como? Como tudo pode continuar sendo

igual? Eu sempre demonstro ter força, não deixo as pessoas perceberem quanto

isso me abalou, para meus amigos, minha família, meu avô, estou bem, demonstro

estar bem, não quero que eles fiquem preocupados com isto, e também, eu sou

uma pessoa muito reservada. Até estranharam quando eu disse que iria procurar

ajuda, falaram ‘Mas por quê? Você não tem nada’. Mas depois que aconteceu isto,

faço as coisas por que tenho que fazer, fico sem vontade.

(...) De início quando fui ao médico, ele me deu um remédio, tomei durante três

meses, mas não senti efeito, se fez não percebi, disse que era para me sentir

melhor, mais disposta, não me lembro o nome...

Então, agora eu vim procurar a psicologia, na verdade não sei bem como isso pode

me ajudar (...)”

Após serem elucidadas algumas questões sobre a terapia, Marina começou e

relembrar sobre alguns bons momentos que passara com a avó, o que fez seus olhos

lacrimejarem. Em seguida discursou sobre como foi o inesperado falecimento da

mesma.

P – “Minha avó estava normal, super bem, até que um dia não se sentiu legal e a

levamos no hospital, assim, de repente, e lá falaram que ela estava com um início

de infarto, não lembro bem o nome técnico, eu espantei por que achei que infarto

5 Legenda: a letra P refere-se a paciente e T, terapeuta.

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fosse algo assim (apertou o peito) que desse para perceber, então falaram que ela

ia ter que ficar internada, e no dia seguinte faleceu...

Minha vida é assim, levanto cedo, vou trabalhar, me ocupo o dia todo,

fico super cansada, às vezes não tenho vontade de levantar mesmo, mas, cumpro

meus compromissos, sempre fiz assim, mas ultimamente tenho pensando, será que

isto está certo? Ficamos nesta vida... tudo esta assim, trabalhamos, lutamos, e de

repente perdemos alguém próximo e tudo deve continuar igual como se aquele

pessoa não tivesse existido? Está certo isto? Sei que não tem como a trazer de

volta, mas deve tudo continuar igual? O que significa tudo isto?”

Marina demonstra uma incompreensão com a vida, um conflito existencial que

acaba por angustiá-la e, relata um medo de que se repita o que aconteceu. Teme que

aconteça agora, com seu avô, que já havia contraído câncer antes mesmo de sua avó

falecer, porém se curou. Este nunca ficou sabendo de sua doença por decisão de sua

própria família, com intuito em poupar-lhe a preocupação por considerarem-no uma

pessoa simples.

P – “(...) eu ainda sinto um vazio. Tem algo faltando. É certo a vida passar e as pessoas

serem esquecidas? Tem algo de estranho nisto. Eu tenho fortes recordações de

minha avó, quando fui ao enterro, foi estranho, era uma coisa esquisita, não

consigo esquecer aquela imagem.”

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III - Testando o terapeuta - “Como a psicologia pode me ajudar?”

Em uma sessão posterior Marina já inicia questionando novamente sobre como a

psicologia poderia ajudá-la. Vai sem demora jogando uma pergunta atrás da outra

fuzilando o terapeuta - pode ele sobreviver? (responder?) - creio que era seu modo de

me testar, de descobrir se este terapeuta e esta psicologia poderiam ser úteis para ela.

P – “Na realidade ainda tenho algumas dúvidas6, coisas sobre a psicologia... coisas que

eu queria saber, por exemplo, como eu vou ter que vir sempre aqui, e por quanto

tempo... quanto tempo dura o tratamento?”

T – “Isto é difícil dizer no início, vai depender do tamanho de nossos passos.”

Marina continuou assim a questionar o tratamento, perguntou como isto iria a

ajudar, sobre o que deveria falar, sobre o que seriam os sonhos e demonstrou ter um

pouco de conhecimento sobre a teoria de Freud, fazendo questão de dizer que estudou

um pouco de psicologia na faculdade. Lançava perguntas e em algumas delas, já sabia

as respostas, ficando evidente, assim, a antes oculta intenção de teste, para descobrir se

realmente este tratamento é bom. Será mesmo que isto pode ajudá-la?

Ao final da sessão, teve uma revelação, demonstrou ter-se deparado com algo

diferente. Algo que estivera antes num estado nebuloso, apenas em forma de

questionamento, ela encontrara, entre muitas: uma resposta.

P – “Realmente, é por isto que não sei como posso ser ajudada, não sei como eu vindo

aqui todas as quintas feiras posso ser ajudada, não sei como a psicologia pode

fazer algo por mim. (olhou no relógio e começou a falar mais rápido).

Eu até esqueci de falar na semana passada, mas também sinto as vezes

umas dores no corpo, é assim um aperto no peito algo assim (pressionou o peito),

é que você estava falando que alguns sintomas são de origem psicológica e

lembrei que fui no médico e quando disse sobre a dor, fiz todos os exames e ele

disse que eu não tinha nada, mas eu disse que doía e ele repetiu que eu estava 6 Dias após ter feito o relato da referida sessão, ao reler, notei que o lugar de “dúvidas” havia escrito “dívidas”, e páginas a frente do mesmo relato troquei “acredito” por “crédito”. Pensei muito sobre este lapso e creio que possa se referir a dívida que estaria com a psicologia ou comigo mesmo se não respondesse satisfatoriamente suas perguntas elucidando seus propósitos, ao fim elucidado seus desígnios, mais a frente, foi restabelecida a confiança, ou, o crédito.

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saudável. É, todos me vêem acham que estou ótima, assim como minha família

também.”

T – “Marina, você está contando pra mim que aí dentro de você tem uma angústia, uma

dor que ninguém consegue perceber.”

(Ela fez um breve silêncio e, juntamente com o insight, veio a exaltação)

P – “Isso... Então é assim?! (sorriu) acho que encontrei uma coisa... acho que descobri

como a psicologia pode me ajudar! É assim?”.

T – “Percebo que descobriu algo.”

P – “Eu fui num médico uma outra vez e falei isto, falei também que eu mal conseguia

dormir, e me sentia indisposta em levantar, e sabe o que ele me respondeu? Disse:

“Então você está igual a mim!” Ele disse que também não estava dormindo! Saí de

lá desamparada, ele não fez nada, ele não viu meu problema, ele não olhou

realmente pra mim.”

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IV - Oráculo: a cabeça do Deus Mimir

O sujeito ao procurar análise pode se dirigir ao analista para se queixar de um

sintoma e até solicitar para que o livre dele. Porém, isto não é o suficiente, é necessário

que a queixa transforme-se numa demanda endereçada para aquele terapeuta, e que o

sintoma decomponha-se de simples caráter de resposta para uma questão ao próprio

sujeito, questão esta, em que ele mesmo esteja incitado a decifrar (Quinet, 2002).

O sujeito, desta forma, se dirige ao terapeuta com perguntas como: “O que isto

quer dizer?” ou “O que isto significa?” Esta ação admite um saber, o de julgar de que o

analista detém a verdade sobre ele e sobre seu sintoma. “Manobra fadada ao insucesso

devido à importância do saber em dar conta da verdade do gozo, constituindo, no

entanto, um laço social pela própria definição de discurso para Lacan”. (Quinet, 2002.

p.18). Deste modo, o enigma é dirigido ao analista, o suposto dono do saber.

P – “(...) Eu acordo todos os dias, me troco, faço meus deveres, mas... porque eu faço

isto, será que estou fazendo a coisa certa? Por exemplo, eu trabalho lá no mesmo

local faz oito anos, eu faço bem meu trabalho, mas é só isto? Todos dizem que

ninguém morre adiantado, sempre morre quando tem que morrer, assim, quando

morre uma pessoa, sempre falam ‘ela se foi, mas cumpriu sua missão’. Como vou

saber que estou cumprindo a minha? Como vou saber minha missão? Será que já

cumpri? São muitas perguntas, não sei se você vai me responder, talvez ninguém,

tem muita gente que tentou mas nunca respondeu...”

T – “Marina, tenho a impressão, que você se sentiria melhor se algum dia chegasse

alguém, e te entregasse um papel, onde estivesse escrito a sua missão, contendo

tudo o que deveria fazer na vida.”

P – “Não sei... é, pensando bem... acho que sim. Aí eu pelo menos saberia que estaria

fazendo a coisa certa, saberia se eu estaria no caminho certo de minha vida ou não.

É, de repente para encontrar respostas seja isto, sabendo meu caminho, seja o

início para o resto.”

T – “Um sentido para sua vida...”

(breve silêncio)

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P – “Realmente, um motivo para a existência, se eu encontrasse este sentido para minha

vida, e tivesse certeza, seria ótimo, mas é difícil, o que fazer da vida, o que fazer?

O que você me diz sobre isto?”

T – “Marina, percebe que você está me pedindo aquele papel? O que contém sua

missão?”

P – “É verdade!” (riu).

T – “Você está procurando esta resposta em todos os lugares externos: no médico, em

mim, na psicologia, num remédio que não encontrou e parou de tomar”.

Posteriormente, ao ler o diálogo acima não pude deixar de notar e compará-lo a

célebre obra de Goethe, no discurso entre Fausto e Wagner:

“Será o pergaminho essa fonte sagrada,

Que a nossa sede de saber eterno aclama?

Alívio não acharás nessa dura empreitada,

Se a fonte não jorrar dentro da própria alma.”

Ao procurar respostas muitas vezes irrespondíveis, Marina, abandona todos os

tratamentos que procurou, o médico não ajudou, o remédio não ajudou (e parou de

tomar quando não se sentiu diferente), agora chegou a vez de avaliar a psicologia. Ela

procura estas respostas por todos os cantos e lugares, menos em si mesma, menos

dentro da própria alma.

Na realidade Marina procura algo ou alguém que possa fornecê-la todas as

respostas, as mais valiosas e secretas. (como o sentido da vida ou para onde vão as

pessoas). Ela quer a cabeça de Mimir7, e fazer como Odin que levou a cabeça do deus

para Asgard com a finalidade de ser consultada como oráculo.

Ela gostaria de se apossar de todo este conhecimento, mostrando em muitos

momentos, em sua maior forma narcísica, como gostaria a algum preço, saber onde se

encontra sua avó e, se pudesse até a traria de volta. Prosseguindo a equivalência com a

mitologia nórdica, Odin acabou também se tornando um deus do conhecimento quando

arrancou um de seus olhos e o atirou no poço de Mimir em troca de beber um gole da

fonte de sabedoria. Ele se matou, pendurando-se durante três dias e três noites na grande

7 Da mitologia nórdica, o mais sábio dos deuses, Mimir teve sua cabeça decepada, mas Odin manteve a cabeça viva e a consultava para saber segredos ocultos. É um dos deuses gigantes antigos. Obteve todo o seu conhecimento ao beber do poço da Grande Sabedoria nas raizes de Yggdrasil.

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árvore que representa o mundo, Yggdrasil, para obter o conhecimendo dos mortos, e em

seguida conseguiu ser resuscitado por meio de magia. Odin, também se mantinha

informado sobre os acontecimentos em toda a parte através de seus dois corvos, Huginn

(Pensamento) e Muninn (Memória), que vigiavam o mundo e contavam tudo o que se

passa e o que já se passou. É dificil dizer a que preço Marina estaria disposta a seguir

caminho semelhante, porém, demostra uma grande e onipotente vontade de tais saberes,

como forma de explicação para o paradeiro de uma avó amada e assim organizando sua

compreenção existencial. Ao observar Fausto de Goethe, podemos perceber que não há

limites a esta ância humana e, sobre os esforços aos quais alguém acataria para

encontrar as respostas.

P – “(...) Eu queria estas respostas, queria saber a verdade, queria ter certeza se estou

fazendo o que deveria, qual é a coisa certa?”

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V - Os Lutos

“O luto, de modo geral, é a reação à perda de um ente querido, à

perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como

o país, a liberdade, ou o ideal de alguém, e assim por diante.” (Freud,

1974. p. 275).

A aceitação da perda não é algo de bom grado entre os homens, se agraciados

com o poder de evitá-las não poupariam esforços para fac eas de morte transire ad

vitam8. Porém, isto não é possível, e a vida é composta por inumeráveis lutos, alguns

mais facilmente elaborados e outros que podem durar anos, isto sem contar nos que

podem estender seu processo até a finitude da vida. Sendo assim, fica evidenciado no

caso de Marina, não um, porém dois principais lutos, aos quais não consegue elaborar: o

processo de luto sobre a morte de sua avó, e o luto de sua própria onipotência.

V.1 - Luto da Avó

P – “(...) não teve nada demais, não aconteceu nada pior do que já houve com minha

avó... Por exemplo, tem dias eu não tenho vontade de fazer nada mesmo, nem

levantar da cama, já tive isto algumas poucas vezes antes da minha avó falecer,

mas isso começou a ficar mais mesmo, depois. Hoje mesmo, eu não queria sair da

cama, foi um esforço para levantar, quando acontece isso fico chata, mais do que

sou (sorriu), e também fico sem vontade de falar com as pessoas, hoje eu queria

ficar em silêncio, não falar nada, queria passar o dia lá deitada, mas eu sei que não

tem como eu me fechar, quer dizer, me isolar.

(...) fico de mau humor, não quero fazer as coisas e até, às vezes, acabo dando

respostas grossas para as pessoas que estão a meu redor, acho que às vezes acabo

ofendendo.

(...) eu acordo cedo, vou para o trabalho, saio de lá, vou estudar, meus dias são

cheios de coisas, faço porque tem que fazer, mas não tenho vontade. Acho que ter

8 Do latim: Fazei-as da morte passarem para a vida.

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um dia cheio de coisas para fazer até ajuda um pouco, aí não tenho tempo para

pensar nestas coisas.”

Marina, durante as sessões, repete várias vezes sobre as atividades que tem que

fazer e sobre a falta de vontade de sair da cama, descreve uma total perda de interesse

pelo mundo e pelas atividades normais cotidianas, este luto profundo segundo Freud

(1974), acontece como reação a perda de alguém que muito se ama, e esta perda de

interesse pelo mundo exterior, ocorre no momento em que este não evoca esta pessoa, e

isto, demonstra a semelhante incapacidade de adquirir um novo objeto para ser amado, e

um distanciamento, se faz, de qualquer atividade que não está conectada diretamente a

ele. “É fácil constatar que essa inibição e circuncisão do ego é expressão de uma

exclusiva devoção ao luto, devoção que nada deixa a outros propósitos ou a outros

interesses” (Freud, 1974; p. 276).

Ao fazer uma correlação entre o Luto e melancolia, Freud (1974) destaca a

última como uma forma patológica e depressiva, a partir de uma condição natural de

luto. Sendo que em sua grande semelhança, esta se diferencia de um luto normal no que

se tange, ao sujeito, a uma perda significativa de sua auto-estima, um empobrecimento

de seu próprio ego. O indivíduo neste caso apresenta um ego desprovido de valor e se

estende em autocríticas, um descuido de si mesmo, e muitas vezes deixa até de dormir

ou de comer, superando assim o instinto que faz com que todo ser vivo se apegue a

vida.

Como se pode notar, a melancolia em sua relação com o objeto apresenta, um

complicador no que se diz respeito ao luto, já que nela, se apresenta um conflito de

ambivalência. Nela o amor e o ódio se confrontam para separar a libido do objeto, e

também, outro, para manter esta posição libidinal.

P – “Eu me pergunto se algum dia isso vai mudar, estar livre disto eu não poss... não,

não é esta palavra, é que eu não sei se é possível... entende? Como vou esquecer

da minha avó como as outras pessoas esqueceram? Aí é como se a vida dela

tivesse sido em vão?”

T – “Às vezes penso que você não se permite ser feliz, que você não pode sorrir ou

comemorar alguma coisa porque vai lembrar de sua avó, vai pensar: como posso

estar comemorando algo se ela morreu, é certo isto?”

P – “É isto, é verdade, eu não posso esquecer dela, mas será que vou esquecer? Se

esquecer, não sei se é certo, eu não vou nunca esquecer ela, sempre que eu estiver

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num momento feliz vou lembrar de quando ela estava aqui e de como isto era bom

pra mim.”

T – “Se preocupa que se deixar de pensar, ela morre...”

P – “É, ela morre! Isso porque ela está viva dentro de mim, e se eu não pensar é como se

ela morresse mesmo. Foi assim com os outros, ninguém quase fala dela, para as

outras pessoas é como se ela nunca estivesse existido, não lembrar, se não faz

diferença, que sentido tem tudo...

Aí fico assim, hoje não queria fazer nada, queria ficar na cama, não levantar, nem

trabalhar, queria ficar longe de tudo mesmo e não fazer nada”.

Até então, Marina tem seu objeto interno ligado a um morto, ela é como um

cemitério, e sofre com isto.

Assim, afirma Green (1988) que, o próprio ego “se toma” pelo objeto perdido,

oprimindo-se em auto-recriminações e se acusando dos mais graves pecados,

solicitando para si um intenso castigo. Todavia isto é uma dissimulação, para apenas

parte do ego se lançar contra a outra, considerada pior inimigo por camuflar o desejo de

maltratar o objeto e realidade, que neste caso da identificação, constituem os desejos

sádicos que foram recalcados no passado. Na melancolia, tudo, até mesmo os suicídios

que foram bem sucedidos podem ser vistos em relação à fase oral (e canibalista) do

desenvolvimento sexual.

Não obstante, o objeto com que havia uma ligação libidinal teve, em sua

ausência, com a catexia extinta, a libido retirada para o próprio ego em vez de

reinvestida em outro objeto (Freud, 1974). De tal modo o ego constitui uma

identificação com o objeto perdido, assim “a sombra do objeto caiu sobre o ego” (p.

281), ou seu fantasma, como se a alma do objeto perdido vivesse agora no sujeito. A

partir disto, o ego pode ser julgado de uma forma especial, como se fosse o objeto

abandonado, transformando assim, a perda objetal na perda do próprio ego e, no

entanto, sujeito a ataques quando se instala o conflito entre a pessoa amada. Está aí uma

das características da melancolia, quando uma parte do ego se põe contra a outra.

De forma semelhante, M. Klein discursa sobre o luto, só que, relacionando este

aos estágios iniciais do desenvolvimento infantil, mais necessariamente com a fase

depressiva. Num bebê, a confiança se estabelece quando são introjetados objetos tidos

como bons, e assim, experiências agradáveis ajudam a minimizar a ambivalência e o

medo destes objetos serem destruídos. Contudo, a ambivalência e a desconfiança podem

Page 24: O caso Marina: melancolia e relações ancestrais

23

aumentar quando se faz presente experiências desagradáveis. A criança, assim, sente

falta do seio e do leite como portadores de momentos agradáveis e de segurança,

acreditando que os perderam devido a suas próprias fantasias agressivas e destrutivas.

A correlação entre a posição depressiva infantil e o luto acontece quando, ao

ocorrer a perda de alguém querido, surge no indivíduo fantasias inconscientes de que

também foi perdido seus objetos internos bons, predominando assim os objetos maus. A

pessoa que está em luto, tenta de alguma forma, reinstalar o objeto que foi perdido

como forma de readquirir também os objetos bons, que até então é sentido como

perdidos.

No luto, se repete, e se supera variados processos infantis em circunstâncias e

manifestações variadas. O indivíduo que está em luto, passa desta forma, por um estado

maníaco-depressivo transitório e modificado. Em algum momento, pode ocorrer com

que o ódio predomine em relação ao objeto, e este se tornar persecutório, afetando até

mesmo a crença nos objetos bons (Kovács, 1992).

Matar o morto

Segundo Freud (1974), a realidade demonstra que o objeto amado deixou de

existir, e assim fica exigido, como já fora dito, que toda a libido empregada naquele

objeto tem que ser retirada. Este ultimato acaba provocando uma oposição passível de

entendimento, de que as pessoas jamais deixam de lado, ou seja, abandonam

simplesmente e com facilidade uma posição libidinal, nem mesmo quando, já se

apresenta um novo substituto. Marina, não se conforma que tal substituto já possa ter

sido encontrado por seus familiares. Não se acomoda com o fato de quase nunca

falarem sobre a avó querida, é como se a família tivesse a ajudando a desaparecer, como

se estivessem matando a avó. De modo análogo, José Saramago expõe em sua obra As

Intermitências da Morte:

“E então como vai o avozinho. Agora tudo seria diferente, haveria uma certidão

de óbito, haveria chapas com nomes e apelidos nos cemitérios, em poucas horas a

invejosa e maledicente vizinhança saberia que o avozinho tinha morrido da única

maneira que se podia morrer, e que significava, simplesmente, que a própria cruel e

ingrata família o havia despachado para a fronteira.”

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Aos olhos daqueles que ainda não conseguiram elaborar o luto, isto soa como

uma enorme crueldade. Como os próprios familiares podem se desfazer assim de um de

seus membros queridos? Segundo Freud, toda a energia do indivíduo, durante o trabalho

de luto, estará dirigida a lembranças penosas causando uma imensa dor. Muitas vezes o

indivíduo até mesmo gostaria de ir junto com o falecido, até o momento em que o ego, é

compelido a decidir se quer trilhar o mesmo caminho que o objeto perdido, e quando

considera todo o conjugado de satisfações narcísicas que existem para continuar em

vida, opta romper a ligação com o objeto perdido (Lanplanche & Pontalis, 1999). Deste

modo, houve os que afirmavam que o trabalho do luto consistia em “matar o morto”. O

que Marina, até então se nega a fazer.

Um dificultador

P – “Eu sou religiosa, desde pequena vou à igreja, fui acostumada a isto, então eu tendo

a acreditar que exista um lugar depois, não porque ficaram falando isso para mim,

mas minha vida foi assim a ponto de ter uma base na religião, como a maioria

católica. Mas ultimamente tenho pensando nestas coisas, minha tia, por exemplo,

às vezes me critica por visitar minha avó no cemitério, gosto de ir lá, colocar

flores, limpar o local, rezo para ela, para que esteja bem... rezo também em casa

por outros motivos, mas também rezo para ela... Gosto de fazer isto, parece que

estou fazendo algo por ela, sabe? Mas minha tia pergunta porque que eu faço isto,

ela diz que não tem mais nada lá... Fala que minha avó foi enterrada e não tem

mais nada lá...”

As dores da perda são conhecidas por todos os homens, e esta faz emergir

intensos sentimentos, o que não é algo fácil de lidar, contudo a importância da

expressão destes sentimentos se torna como algo fundamental para a elaboração do

processo de luto (Kovács, 1992). Pode-se proferir que tanto o luto quando a melancolia,

costumam após algum tempo desaparecerem, e é conhecido que este desaparecimento é

dado ao tempo da elaboração mental, sendo que é verificado que o mesmo se faz com a

ajuda de certos rituais culturalmente estabelecidos, os quais, nos povos primitivos

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podem ser mais facilmente acompanhados (Azoubel, 1991). No que se diz respeito ao

luto, a sabedoria popular já dita que não se deve interromper seu processo, respeitando

sua evolução normal. Rituais estes que é criticado por uma tia desavisada, que acaba,

desta forma, inibindo o curso do processo do luto.

Seria muito melhor segundo Kubler-Ross (1989), para se aceitar a realidade da

morte de uma pessoa próxima, se houvesse alguém para conversar, em especial se este,

tivesse tido algum contado estreito com o falecido, para contar fatos e os bons

momentos antes da morte. Deste modo, ajudaria o indivíduo a superar as dores e o

pesar, dirigindo-se assim a uma aceitação gradual. Porém, quando ocorre a perda,

muitos indivíduos se isolam, se preocupam com memórias ou têm fantasias, chegando

até falar com o morto, no entanto, este é o único modo de aceitar a perda e seria muito

penoso se alguém o censurasse e o colocasse de frente com a inaceitável realidade. Mais

válido seria, entender esta necessidade, e ajudá-los a aos poucos aceitar a realidade

saindo do isolamento e sofrimento.

Sobre o significado do sintoma

“Sintomas são um substituto – uma transcrição, por assim dizer –

de uma série de processos, desejos e aspirações investidos de afeto, aos

quais, mediante um processo psíquico especial (o recalcamento), nega-se

a descarga através de uma atividade psíquica passível de consciência.”

(Freud, 2002. p. 42)

Após o falecimento de sua avó, Marina relatou o aparecimento e dores pelo

corpo, mais especificamente no peito, como destaca em seu dizer: “Sinto às vezes umas

dores no corpo, é assim um aperto no peito, algo assim: (pressionou o peito)”. Contou

que após vários exames, o médico nada diagnosticou, ficando ela desamparada já que

continuou queixando-se da dor.

Pode ocorrer, segundo Azoubel (1991), que a melancolia adquira formas clínicas

de expressão somática. A dor mental pode, nos estágios mais primitivos da mente,

superar a dor física, e pode-se supor que em certos casos, tenta-se sentir a dor mental

num plano físico.

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Também poder-se-ia conjeturar que o morto é identificado com o próprio ego ao

mesmo tempo no plano psíquico quando no corporal, deste modo a vivência da sua

morte se faz, com grande expressão, no plano somático. O ferir-se em sinal de luto, por

exemplo, refere-se assim, como uma morte fragmentária do indivíduo que permanece

vivo.

Tendo em vista as características dos sintomas de Marina, passarei de uma

semântica do signo para uma semiologia metafórica e ousarei fazer, sobre seus sintomas

somáticos representados por dores e apertos em seu peito, uma correlação aos sintomas

decorrentes de um infarto, doença esta que causou o falecimento de sua avó. Neste

sentido, Marina, sente a dor do morto, experimentando em seu próprio corpo a doença e

as dores as quais sua avó amada morrera, assim identificando e ferindo-se como ela.

De tal modo, Cassorla (1991), relata que em estados patológicos de luto

predominam aspectos persecutórios, e que o indivíduo identifica-se com o morto, sendo

que em casos extremos, a identificação é tão intensa que acaba levando ao suicídio, e

não muito incomum os casos em que a morte do suicida imita a forma de morrer do ente

querido, isto sem que ele perceba, e usualmente esta ocorre de uma forma apresentando

certa deformação.

V.2 - Luto da Onipotência P – “Hoje não queria fazer nada, queria ficar na cama, olha, não estava com vontade

nem de vir aqui, não tem a ver nada com aqui, com o local, mas qualquer lugar,

como no trabalho... Por exemplo eu trabalho numa escola, trabalho lá há oito anos,

mais tempo do que todos, até mesmo o diretor que mudou há um ano e meio,

então eu sei de tudo que acontece lá, ninguém sabe como funciona lá melhor do

que eu, eu vou sempre, não gosto de falhar e também não gosto de que os outros

não façam as coisas como devem, acho que todos devem ser perfeitos como eu...

bom, lá sou mais respeitada até que os professores eu sei como conduzir um grupo

de estudantes, e nem posso culpar os professores muito disto, eles não têm uma

teoria, uma visão como a que tenho daquilo, eu sou secretária, mas coordeno os

grupos e consigo controlar melhor do que eles, que são os professores.”

T – “Acho que você gostaria de ter um controle não só sobre você, mas sobre todas as

outras pessoas, semelhante aos alunos, de acordar a hora que quiser, trabalhar a

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hora e o dia que quiser, gostaria que tudo andasse cronometrado conforme a sua

vontade, assim como você fica olhando constantemente no relógio”.

P – “Ah seria mais fácil! Gostaria sim, tem gente que fala que a vida só tem graça

porque tudo é imprevisível, mas eu acho que não, seria melhor que eu tivesse

controle, saber até pensamentos, aí a vida seria melhor. E sobre o relógio, é apenas

que eu fico vendo se o tempo está acabando”.

É extremante penoso para Marina, acreditar que, em sua busca pelo

desconhecido, a procura por respostas, pode ser não apenas infrutífera, mas impossível.

Ela ainda custa a crer que, como Odin, não pode ter corvos os quais noticia sobre tudo o

que ocorre e ocorreu no mundo, de forma que teria contato com todos os segredos. Ela

gostaria, mas não tem como sentar-se em Hlidskjalf9.

Marina ainda precisar elaborar o luto de sua própria onipotência, a de que não é

a melhor, a mais inteligente, a mais perfeita das filhas ou aluna. Processo este

dificílimo, isso porque causam feridas narcísicas. O fato é que, até mesmo muitos dos

antigos pensadores, acreditavam eles mesmos serem os mais sábios e, quando se

empenhou, Sócrates, em uma investigação com o intuído de encontrar o mais sábio, não

se deparou com ninguém. Ele apenas encontrou pessoas que julgavam-se extremamente

sábias (o que não eram), defeito este que apenas deslustrava sua sabedoria. Já

dizia Sócrates que “O verdadeiro saber consiste em saber que não se sabe” (Platão,

1999. p. 73), e com o prosseguir de sua pesquisa, passou a ser odiado e fazer

perigosíssimas inimizades, o que acarretou em sua condenação.

Contudo, não fica difícil de se perceber a grande dificuldade narcísica do homem

em crer nos próprios limites, preferindo até mesmo eliminar aquele ou aquilo que o

opõe, à aceitar a imperfeição da condição humana.

9 Hlidskjlaf: Este era o nome dado ao trono de Odin, que ficava situado no topo do mundo.

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VI - Revelação e abandono

Numa determinada sessão, no início do segundo mês de terapia, Marina entrou

na sala com papéis dizendo que estava estudando na sala de espera. Falou que achava

que estava com estresse, devido à quantidade de coisas que tinha que fazer, tanto do

trabalho como da faculdade. Relatou também ser muito exigente consigo mesma, nunca

deixando de fazer seus compromissos. Porém sempre os faz sem vontade.

Contou sobre um trabalho para a faculdade de muita importância, só que não

conseguiu fazê-lo no fim de semana, sempre ficava adiando, deixou tudo para a última

hora, resolveu até mesmo ir ao shopping domingo dar uma volta só para não fazer o

referido trabalho, sendo que naquele momento, com as coisas acumuladas estava

desesperada para terminá-las.

Com este relato de Marina (possivelmente contendo denotações latentes),

percebi que talvez este fosse o momento oportuno e, senti-me autorizado a falar sobre

coisas que acreditava eu, serem de muita importância, e que ela, estava delongando.

Será que estas coisas também não estariam agora acumuladas (como o trabalho) e ela

desesperada para “terminá-las”? Não obstante, a questionei sobre como ela fica

invariavelmente presa em contar sempre os mesmos aspectos sobre o falecimento de sua

avó, como fica tão presa a este aspecto que nem mesmo, havia me contado o nome de

sua avó, ou falado sobre outras coisas de sua vida, como a respeito dos amigos, tios,

alguma outra pessoa que gostasse ou tivesse afeto.

Após minhas indagações, ela permaneceu em silêncio por algum tempo e, sorriu

ao responder: “Minha avó se chamava Rita”.

Após isto, racionalizou, mudou de assunto, e disse que precisava ir, falou que

teria que sair mais cedo da sessão para fazer seu trabalho. Acrescentou também que na

próxima semana não viria à sessão porque teria que estudar para uma prova de filosofia.

Contudo, se o falar de um único aspecto de sua dor fosse uma defesa para não falar

sobre outras coisas, a defesa agora era a fuga física da sessão! Realmente, na sessão

seguinte ela faltou.

No entanto, na outra semana chegou no horário marcado, foi quando houve uma

revelação.

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P – “Pensei muito na nossa última sessão, pensei sobre o que você me disse, e

realmente, ficava falando sobre o mesmo assunto, o mesmo sofrimento causado

pelo falecimento da minha avó... eu realmente disse pouco sobre mim. E eu acho

que poderiam existir sim, coisas em minha vida, do meu passado que não contei

que talvez influenciam como sou hoje, até mesmo como encaro a perda da minha

avó.

Eu gostaria de falar umas coisas que nunca falei para ninguém, nem para a minha

família nem para meus amigos. (Breve silêncio). É sobre meu pai... é que eu nunca

conheci ele, na realidade eu nunca soube nada sobre ele, nem mesmo seu nome.

Minha mãe ou as outras pessoas da família nunca falaram nada sobre este assunto

comigo, e eu também nunca tive coragem para perguntar. Este é um assunto que

sempre deixei embaixo do tapete.

(...) Desde minha infância, sempre tive vergonha quando meus amigos

perguntavam sobre meus pais, eu apenas falava que morava com meus avós e que

meus pais moravam em outro lugar, e tentava logo desconversar quando era sobre

estes assuntos. Sempre foi assim, e sempre considerei meus avós como se fossem

meus pais, chamo até hoje meu avô de pai e chamava minha avó de mãe. No dia

dos pais, eu fazia presentinhos na escola para meu avô.

Então eu não sei realmente nada sobe meu pai, eu nem sei se ele sabe que tem uma

filha. Nem sei onde ele se encontra, ou se está vivo ou morto. Eu nunca perguntei

sobre ele pra minha família, tenho receio, eu sei que quem poderia responder

melhor estas coisas pra mim, seria minha mãe, ela é a que melhor poderia me dar

estas respostas. Não gostaria de machucar meu avô ou minha avó quando estava

viva... Eu não posso perguntar isso para meu avô, eles cuidaram tão bem de mim,

me deram tudo, vai parecer que eu não dei valor ao que fizeram e que estou indo

procurar outro pai”.

T – “Algumas coisas são deixadas embaixo do tapete, mas mesmo escondidas nos

seguem como uma sombra. Me parece que existe dois receios, dois medos, um

deles é que sua família pense: ‘Mas que filha é esta, por que precisa de outra

família. Não deu valor?’ e a outra é de descobrir que este pai não era uma boa

pessoa, não era quem você gostaria que fosse.”

P – “É, é exatamente isso. (começou a chorar). Apesar de tudo, se minha mãe falasse

onde ele está eu gostaria de conhecer ele. Queria saber da onde eu vim, acho

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importante sabermos isso. Mas eu não sei, às vezes tenho duvidas se fazer isso é

certo.”

Marina, ao proferir a frase: “Queria saber da onde eu vim, acho importante

sabermos isso”, faz-me lembrar de muitos outros questionamentos existenciais que ela

se referia outrora durante as sessões. Estaria aí, o conhecer de onde ela viera (seu pai), o

epicentro, a origem de muitos outros questionamentos como a necessidade de um saber

sobre tudo? Sobre todos os mistérios? Vejo que este, o paradeiro do pai, seria um dos

mais antigos mistérios de sua existência, uma pergunta que ninguém respondeu e que

carrega desde seu nascimento.

Agora, dando alguns passos e distanciando-se um pouco mais da dor intensa, ela

pode observar e perceber melhor, assim como num quadro de Monet10, tornando-a livre

para falar sobre suas questões, como se tivesse naquele momento tirado o dedo da

ferida.

Contudo na vida de Marina, ficou mais evidente agora nesta sessão, o

aparecimento de mais um fantasma além do de sua avó, o fantasma de um pai ausente e

desconhecido. Pai este cercado de mistérios e infindáveis fantasias.

Nitidamente Marina, pulara uma geração inteira de sua família, ela era a filha de

seus avós. A paciente colocou todos os afetos e tudo o que era de bom depositado na

avó, sendo esta contida com o aglomerado dos momentos agradáveis da maternagem,

deixando assim, a mãe biológica de lado. Neste sentido, é possível que sinta um ódio

inconsciente por sua mãe biológica, por ter “matado” ou “sumido” com o pai, o que

pode ter acarretado num prejuízo na elaboração satisfatória do Complexo de Édipo, no

qual como se sabe Freud (1996a) evidencia o amor incestuoso pelo progenitor do sexo

oposto, o que desperta o desejo de destruição do progenitor do mesmo sexo.

Talvez um dificultador para a elaboração do luto da morte da avó seja este ódio

da mãe biológica que, com o luto elaborado, este ficaria evidente quando Marina se

voltasse à verdadeira mãe.

10 No movimento Impressionista, havia como uma das características as manifestações e as impressões que a realidade causava no autor, impressões estas marcadas em sua alma. Somado isto a um problema de vista, as obras de Monet, se apresentavam com mudanças de cores e imagens sem contornos e indefinidas, podendo, assim, serem melhor visualizadas a alguns passos de distância.

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Considerações finais

Ao ter que oferecer o ponto final indispensável a todo trabalho, mais uma

experiência ocupa minha mente, e vejo a necessidade de apresentar alguns fatos. Após a sessão referida anteriormente, a qual ressuscitou alguns fantasmas, a

paciente ligou para a clínica e deixou um recado dizendo que não viria mais ao

tratamento. Não obstante, telefonei para ela, a qual alegou não ter tempo para

comparecer às sessões visto que trabalha no período da manhã e estuda a noite, sendo

que agora, devido ao final próximo do período letivo, estava com muitos trabalhos e

provas para fazer. Contudo, após algumas tentativas, a convenci de comparecer uma

última sessão, com o propósito de conversarmos pessoalmente.

Na sessão, dialogamos sobre os motivos de seu abandono do tratamento. Ela

relatou ter hoje em dia, total consciência que sempre dera mais valor as coisas externas

do que as internas. Ela concordou que este era um passo importante e, acrescentou que

para cada passo que dava era como se mais coisas a segurassem. Fez uma analogia a um

túnel onde tentava caminhar em direção a uma luz, mas era impedida. Propus assim,

um caminho do meio, onde faria suas tarefas diárias, e viesse também para entrar em

contato com si mesma. (Uma interessante observação é que em sua camiseta havia uma

frase: “Levante-se e venha para o caminho do meio”). Ela pediu para ver o calendário, e

após eu informar quais dias do mês seriam os encontros, ela falou que talvez tivesse que

faltar uma ou outra sessão, mas aceitou continuar.

P – “Me sinto às vezes presa a pensamentos externos. Tenho muitas coisas pra fazer.

Sabe, me pego várias vezes durante as sessões olhando para o relógio, e sabe de

uma coisa? Na próxima semana vou vir sem ele, vou tirar o relógio, não tem

porque eu ficar olhando pra ele já que você controla o tempo.

(...) Olha, hoje eu achei que vinha para minha última sessão... Achei que viesse pra

me despedir, mas, para última... está mais com cara de primeira.” (Foi este seus

últimos dizeres ao fim desta sessão.)

Marina aceitou definitivamente o tratamento, percebeu algumas resistências e

resolveu até mesmo retirar o relógio ou, este simbolizado, pelas algemas que a prende

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no mundo exterior, permitindo-se assim a entrar em contato com seus fantasmas, seu eu.

Estaria agora preparando-se para sonhar.

Por fim, gostaria de elucidar que, na elaboração deste trabalho, privilegiei

apenas alguns aspectos do caso, apenas os que considerei mais relevantes para uma

melhor compreensão de seu funcionamento, deixando assim, outros aspectos de lado –

pelo menos os que pude observar – visto que não seria plausível contemplar os

pormenores de uma análise, sendo esta, psicanalisar, mais um dos ofícios inexeqüíveis,

como já dizia Freud sobre o “bon mot que estabelece existirem três profissões

impossíveis – educar, curar e governar” (Freud, 1996b. p. 307).

Assim sendo, percebo que o psicanalista, deve ter consciência de suas próprias

fronteiras, tendo também que elaborar o próprio luto. Contudo, não se deve jamais cair

no conformismo do não poder nada. Entendo eu, que o analista, apresenta-se assim, na

distinta disposição para interpretar e decifrar o que está dado; para, a partir do presente,

abrir novas direções e novos sentidos, mesmo que, permaneça numa constante

infindável de uma economia de dívidas e créditos.

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