O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se...

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O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO NO BRASIL 1 Argemiro Luís Brum 2 Patrícia Kettenhuber Müller 3 Endereço: Rua do Comércio, 3000. Campus Universitário Cx. Postal 560 - DECon/UNIJUI - Campus UNIJUI 98700-000 Ijui/RS Área de Concentração: Estudos setoriais, cadeias produtivas, sistemas locais de produção Resumo: O comércio mundial de trigo tem na Argentina um importante exportador e no Brasil um dos principais importadores. Todavia, a Argentina é um tomador de preços no mercado internacional, fato que leva a uma influência indireta dos preços praticados na Bolsa de Chicago sobre os preços praticados no interior do Brasil. Neste contexto, o Brasil desregulamenta a produção de trigo, deixando o setor ao sabor do mercado. Tal realidade encontra a cadeia tritícola brasileira relativamente desestruturada para enfrentar um processo sem a presença do Estado. Essa desestruturação somente se agravou com o passar dos anos, influenciando sobremaneira para a perda de poder negociador e de ganhos junto aos produtores rurais e suas cooperativas. Desta maneira, o Brasil não consegue chegar a auto- suficiência em trigo, considerando mais interessante importar o produto da Argentina. Assim, a produção de trigo no país não se resolve somente pela capacitação em competitividade do setor produtivo. Ela deve ser inserida em um contexto macroeconômico, no qual há de se avaliar a conveniência ou não de proteger a sua produção. Palavras-chave: trigo, comércio, cadeia produtiva 1 Este artigo resulta da pesquisa intitulada A Competitividade do Trigo Brasileiro Diante da Concorrência Argentina , desenvolvida no Departamento de Economia e Contabilidade (DECon), da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI), através do Programa de Mestrado em Desenvolvimento, a qual está em fase final, devendo ser publicada em livro. 2 Professor do DECon/UNIJUI, doutor em Economia Internacional, coordenador da referida pesquisa. argelbrum@unijui.tche.br 3 Aluna do curso de Economia da UNIJUI, bolsista PIBIC/CNPq. patrí[email protected]

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Page 1: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

O COMEacuteRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO NO

BRASIL1

Argemiro Luiacutes Brum2

Patriacutecia Kettenhuber Muumlller3

Endereccedilo Rua do Comeacutercio 3000 Campus Universitaacuterio

Cx Postal 560 - DEConUNIJUI - Campus UNIJUI

98700-000 IjuiRS

Aacuterea de Concentraccedilatildeo Estudos setoriais cadeias produtivas sistemas locais de produccedilatildeo

Resumo

O comeacutercio mundial de trigo tem na Argentina um importante exportador e no Brasil

um dos principais importadores Todavia a Argentina eacute um tomador de preccedilos no mercado

internacional fato que leva a uma influecircncia indireta dos preccedilos praticados na Bolsa de

Chicago sobre os preccedilos praticados no interior do Brasil Neste contexto o Brasil

desregulamenta a produccedilatildeo de trigo deixando o setor ao sabor do mercado Tal realidade

encontra a cadeia tritiacutecola brasileira relativamente desestruturada para enfrentar um processo

sem a presenccedila do Estado Essa desestruturaccedilatildeo somente se agravou com o passar dos anos

influenciando sobremaneira para a perda de poder negociador e de ganhos junto aos

produtores rurais e suas cooperativas Desta maneira o Brasil natildeo consegue chegar a auto-

suficiecircncia em trigo considerando mais interessante importar o produto da Argentina Assim

a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em competitividade do

setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico no qual haacute de se

avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo

Palavras-chave trigo comeacutercio cadeia produtiva

1 Este artigo resulta da pesquisa intitulada A Competitividade do Trigo Brasileiro Diante da Concorrecircncia

Argentina desenvolvida no Departamento de Economia e Contabilidade (DECon) da Universidade Regional

do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI) atraveacutes do Programa de Mestrado em Desenvolvimento

a qual estaacute em fase final devendo ser publicada em livro 2 Professor do DEConUNIJUI doutor em Economia Internacional coordenador da referida pesquisa

argelbrumunijuitchebr 3 Aluna do curso de Economia da UNIJUI bolsista PIBICCNPq patriacuteciamullerunijuitchebr

Introduccedilatildeo

O presente trabalho se preocupa com a economia do trigo no Brasil agrave luz da

concorrecircncia argentina considerando como hipoacutetese de partida que o vizinho paiacutes no quadro

do Mercosul inibe um maior desenvolvimento da triticultura brasileira

O mesmo analisa o comeacutercio internacional do trigo com destaque para a participaccedilatildeo

da Argentina como paiacutes exportador e do Brasil como paiacutes importador Igualmente destaca os

custos de produccedilatildeo especialmente na Argentina e no Brasil Atraveacutes deste estudo se busca

identificar as principais razotildees da preferecircncia brasileira pelo trigo argentino Na sequumlecircncia se

privilegia o estudo das importaccedilotildees de trigo por parte do Brasil e o papel da Argentina como

fornecedor do mesmo Objetiva-se verificar a participaccedilatildeo da Argentina no fornecimento do

cereal ao Brasil e a importacircncia de nossas importaccedilotildees nas vendas do vizinho paiacutes

Uma raacutepida anaacutelise eacute feita sobre o comportamento dos preccedilos tanto no mercado

mundial atraveacutes da evoluccedilatildeo das cotaccedilotildees na Bolsa de Chicago quanto no mercado FOB

argentino e no mercado interno brasileiro a partir de preccedilos pagos aos produtores rurais do

Paranaacute e do Rio Grande do Sul

Enfim o presente artigo destaca a cadeia produtiva do trigo no Brasil a partir

de uma divisatildeo em insumos produccedilatildeo moinhos transformaccedilatildeo e distribuiccedilatildeoconsumo

2 Aspectos do comeacutercio internacional de trigo

A produccedilatildeo mundial de trigo no ano 200304 chegou a 5505 milhotildees de toneladas

conforme o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) Somando-se os estoques

iniciais resultantes do ano anterior a oferta total do produto neste ano foi de 7176 milhotildees

de toneladas Deste total foram comercializadas no mercado externo cerca de 106 milhotildees de

toneladas Desta forma o comeacutercio internacional de trigo em sua totalidade representou

192 da produccedilatildeo mundial e 148 da oferta mundial Em outras palavras estamos diante

de um produto que tem uma forte caracteriacutestica de consumo interno junto aos principais

paiacuteses produtores

Deste total a Argentina participou com exportaccedilotildees de 75 milhotildees de toneladas a

Austraacutelia com 175 milhotildees de toneladas a Uniatildeo Europeacuteia (com 12 paiacuteses) com 98 milhotildees

de toneladas e os EUA com 314 milhotildees de toneladas Dentre os maiores importadores

encontramos o Egito com volumes que variam entre 55 e 60 milhotildees de toneladas anuais e

o Brasil com volumes entre 50 e 55 milhotildees de toneladas A Uniatildeo Europeacuteia igualmente

importa tendo chegado a 60 milhotildees de toneladas em 200304 A Argentina tem uma

pequena participaccedilatildeo no comeacutercio mundial exportador de trigo atingindo a 71 do total

mundial No entanto tais vendas externas representam 55 da produccedilatildeo total do paiacutes Ou

seja a Argentina exporta mais da metade do que produz anualmente

O Brasil como forte paiacutes importador de trigo vem dando preferecircncia ao produto

argentino Isto se acentuou a partir do lanccedilamento do Mercosul (1991) e particularmente a

partir da consolidaccedilatildeo do Mercosul como zona de livre-comeacutercio (1995) Na verdade apenas

os EUA e o Canadaacute rivalizam com a Argentina na oferta de trigo para o Brasil e isto

especialmente entre meados dos anos de 1960 e o iniacutecio dos anos de 1990 Assim em 1965 o

Brasil importou 19 milhatildeo de toneladas de trigo a um preccedilo meacutedio de apenas US$

5964tonelada FOB Deste total a Argentina participou com 68 do total sendo o restante

dividido em 27 dos EUA e 5 do Uruguai Jaacute em 1975 as importaccedilotildees brasileiras totais

em trigo haviam crescido para 307 milhotildees de toneladas sendo que a participaccedilatildeo argentina

chegava a apenas 78 O maior volume era comprado dos EUA (645) e do Canadaacute (26)

O preccedilo meacutedio pago pelo Brasil no conjunto foi de US$ 15535tonelada FOB ou seja quase

o triplo do preccedilo pago 10 anos antes

Em 1980 o Brasil importou 46 milhotildees de toneladas sendo 608 dos EUA e 392

do Canadaacute Naquele ano nada foi importado da Argentina A participaccedilatildeo do vizinho paiacutes em

nossas compras externas de trigo foi melhorar apenas a partir de 1987 Nesta eacutepoca aleacutem do

Brasil ter chegado a uma quase auto-suficiecircncia cai drasticamente as vendas dos EUA para o

Brasil Desta forma das 25 milhotildees de toneladas importadas a um preccedilo meacutedio de US$

9398tonelada FOB 435 vieram da Argentina 305 do Canadaacute e apenas 4 dos EUA

Os restantes 22 foram oriundos de diversos outros mercados Em 1988 o Brasil importou o

seu menor volume de trigo desde 1965 registrando apenas 952580 toneladas em sua

totalidade procedente da Argentina A partir de entatildeo o vizinho paiacutes passou a ser o nosso

fornecedor privilegiado com os volumes em constante crescimento O Canadaacute passa a perder

forccedila nesta corrida especialmente a partir de 1995 exatamente no ano em que a zona de livre-

comeacutercio no Mercosul eacute posta em praacutetica A tal ponto que em 2000 o Brasil alcanccedila o seu

maior volume de importaccedilotildees nestes 39 anos aqui analisados (1965-2003) chegando a 75

milhotildees de toneladas sendo que 958 foram procedentes da Argentina

21 Os sistemas e os custos de produccedilatildeo razatildeo pala opccedilatildeo argentina ()

Os sistemas de produccedilatildeo aplicados tanto na Argentina como no Brasil satildeo de duas

naturezas plantio convencional e plantio direto Este uacuteltimo ganhando espaccedilo significativo a

partir do iniacutecio da deacutecada de 1990 Sabe-se que o plantio direto representa uma reduccedilatildeo de

custos da ordem de 20 em relaccedilatildeo ao convencional conforme a realidade do Noroeste

gauacutecho4 No entanto o mesmo natildeo se verifica na Argentina onde o plantio convencional

apresenta um custo da ordem de 15 a 17 menor do que o direto em funccedilatildeo do menor uso

de herbicidas e fertilizantes quiacutemicos

No entanto de forma geral o custo de produccedilatildeo argentino eacute mais baixo do que o

registrado nos dois principais Estados produtores do Brasil Assim enquanto os custos meacutedios

na Argentina variaram entre US$ 600 e US$ 800saco5 no periacuteodo de 1994 a 2003 o

referido custo no Rio Grande do Sul variou entre US$ 587 e US$ 1338saco Jaacute no Paranaacute o

custo ficou entre US$ 919 e US$ 2220saco

Em outras palavras verificamos que em termos meacutedios o custo do trigo no Rio

Grande do Sul chega a US$ 934saco nos 10 anos aqui considerados contra US$ 1336saco

no Paranaacute e apenas cerca de US$ 700saco na Argentina A diferenccedila de custos entre o

Paranaacute e o Rio Grande do Sul se daacute especialmente pela maior praacutetica do plantio direto no

Estado gauacutecho assim como a menor utilizaccedilatildeo de insumos fato que compromete

seguidamente a produtividade das lavouras

Dados completos obtidos para o ano de 1996 nos mostram que o custo total no Brasil

era de US$ 40921hectare contra US$ 34598 na Argentina e US$ 41177hectare nos EUA

A margem bruta era de respectivamente US$ 1679 US$ 19849 e US$ 4506hectare Nestas

condiccedilotildees a competitividade do trigo argentino eacute muito superior fato que explica o interesse

do Mercosul e particularmente da Argentina na liberalizaccedilatildeo dos mercados agriacutecolas quando

da constituiccedilatildeo dos acordos da ALCA e da Uniatildeo Europeacuteia-Mercosul De tal forma que o

preccedilo de equiliacutebrio para a Argentina chega a US$ 10524tonelada enquanto no Brasil o

mesmo era de US$ 17050 e nos EUA de US$ 23530tonelada Vale destacar ainda que o

custo total na Argentina em 2003 havia recuado para US$ 26502tonelada contra US$

4 Cf estudos de campo realizados pelo Departamento Teacutecnico da Cotrijuiacute 5 Importante se faz destacar que natildeo nos foi possiacutevel obter as informaccedilotildees sobre o custo de produccedilatildeo na

Argentina dentro da seacuterie completa dos 10 anos compreendidos entre 1994 e 2003 Apenas em trecircs anos se

obteve registros a saber US$ 631saco em 1996 US$ 782saco em 2003 e US$ 682saco em 2004 ano que

desconsideramos em nosso trabalho Neste sentido as informaccedilotildees foram complementadas com entrevistas

realizadas junto a organismos teacutecnicos brasileiros e argentinos

35856tonelada no Rio Grande do Sul Ou seja os custos no Estado gauacutecho superavam os da

Argentina em US$ 9354hectare ou 353

Quadro 1 Comparativo entre Brasil Argentina e Estados Unidos Paises Brasil Argentina Estados Unidos

Custo Total (US$ha) 40921 34598 41177

1996 Margem Bruta (US$ha) 1679 19849 4506

Preccedilo Equiliacutebrio (US$ton) 17050 10524 23530 2003 Custo Total (US$ton) 35856 26502 ND

ND = Natildeo disponiacutevel Valor referente ao RS Fonte INTA IAPAR EMBRAPA

Especificamente no que tange ao uso de fertilizantes dados da segunda metade dos

anos de 1990 indicam que o custo meacutedio no Brasil chegava a US$ 10707hectare enquanto

nos EUA o mesmo era de US$ 3839hectare Jaacute na Argentina o uso deste insumo eacute

praticamente nulo existindo gastos com adubaccedilatildeo de cobertura em algumas regiotildees com um

custo de US$ 2430hectare

Nestas condiccedilotildees a Argentina suporta mais facilmente o recuo dos preccedilos

internacionais podendo vender seu trigo bem mais barato levando o Brasil dentro dos

acordos do Mercosul a privilegiar o cereal do vizinho paiacutes em detrimento de investimentos na

produccedilatildeo local Isto natildeo significa que a produccedilatildeo brasileira desapareccedila No entanto significa

que em condiccedilotildees normais de oferta e demanda mundial e particularmente no interior do

Mercosul o produto argentino estaraacute sempre em melhor posiccedilatildeo do que o produto nacional

fato que impede o Brasil de alcanccedilar a auto-suficiecircncia Entre 2000 e 2003 o paiacutes conseguiu

no maacuteximo produzir 50 de suas necessidades e assim mesmo seguidamente com produto

de baixa qualidade muitas vezes proacuteprio apenas para raccedilatildeo animal

Desta forma torna-se evidente que a busca pelo trigo argentino se viabiliza pelo seu

preccedilo competitivo fato que passou a ser realccedilado a partir da conclusatildeo dos acordos que

definiram o Mercosul Esta realidade se comprova com a observaccedilatildeo do fluxo comercial do

Brasil com seus diferentes parceiros comerciais junto ao comeacutercio do trigo

22 As importaccedilotildees de trigo brasileiras e o papel da Argentina como fornecedor

Em 1965 o Brasil importou 19 milhatildeo de toneladas de trigo Deste total 129 milhatildeo

vieram da Argentina o que representa cerca de 68 do total Por sua vez as vendas

argentinas ao exterior naquele ano somaram 666 milhotildees de toneladas Ou seja o mercado

brasileiro representava 194 do total das vendas de trigo por parte do vizinho paiacutes Dez anos

depois mais precisamente em 1975 esta relaccedilatildeo havia se alterado substancialmente Naquele

ano o Brasil importou 307 milhotildees de toneladas poreacutem apenas 240000 toneladas foram

procedentes da Argentina Paralelamente o vizinho paiacutes exportou bem menos volume em

trigo chegando a apenas 176 milhatildeo de toneladas apoacutes problemas em sua produccedilatildeo

Assim grande parte do trigo importado pelo Brasil em 1975 teve origem nos EUA

(198 milhatildeo de toneladas) seguido do Canadaacute (800000 toneladas) O complemento das

compras externas veio do Uruguai (50000 toneladas)

Em 1985 as compras brasileiras de trigo somaram 404 milhotildees de toneladas sendo

que a Argentina contribuiu com apenas 685000 toneladas ou 17 do total Contrariamente haacute

10 anos antes em 1985 as exportaccedilotildees argentinas de trigo somaram 958 milhotildees de

toneladas Novamente EUA e Canadaacute complementaram as compras brasileiras com

respectivamente 168 milhatildeo e 10 milhatildeo de toneladas Efetivamente entre 1975 e 1985 as

compras externas de trigo por parte do Brasil cresceram poreacutem a participaccedilatildeo da Argentina

nas mesmas foi bastante reduzida

Este quadro iraacute se alterar a partir de 1986 na medida em que o Brasil quase alcanccedila a

sua auto-suficiecircncia Assim entre 1986 e 1990 as compras externas brasileiras variaram entre

953000 e 27 milhotildees de toneladas conforme o ano Neste periacuteodo a Argentina chegou a

participar com ateacute 100 do abastecimento brasileiro Tal realidade iraacute se acentuar a partir de

1990 quando o Brasil deixa de efetuar compras estatais colocando a produccedilatildeo nacional

diretamente na dependecircncia do mercado Em 1991 com a formaccedilatildeo do Mercosul a Argentina

se consolida definitivamente como o principal fornecedor brasileiro de trigo

Entre 1990 e 2000 as compras externas de trigo por parte do Brasil foram

multiplicadas por cerca de quatro vezes passando de 19 milhatildeo de toneladas para 76

milhotildees de toneladas Destes totais a Argentina participou com 94 e 95 respectivamente

da oferta destinada ao Brasil Ao mesmo tempo as compras do Brasil junto ao mercado

argentino representaram respectivamente 31 e 67 do total exportado pelo vizinho paiacutes Ou

seja ao mesmo tempo em que o Brasil passou a privilegiar o produto argentino em funccedilatildeo

dos acordos do Mercosul e por encontrar uma oferta abundante de qualidade e mais barata as

importaccedilotildees brasileiras passaram a ocupar um lugar de destaque nas vendas de trigo por parte

da Argentina Este quadro ficou mais evidente entre 1998 e 2001 (cf graacutefico a seguir)

A partir de 2000 com a melhoria paulatina dos preccedilos externos (as cotaccedilotildees meacutedias

em Chicago passaram de US$ 257bushel em 2000 para US$ 334bushel em 2003 ou seja

um aumento de 30 chegando a US$ 358bushel na meacutedia dos primeiros nove meses de

2004) e os efeitos da desvalorizaccedilatildeo cambial realizada pelo Brasil em 1999 quando passou a

adotar um regime cambial flexiacutevel as importaccedilotildees ficaram mais custosas Esta nova realidade

levou a um aumento na produccedilatildeo de trigo no interior do Brasil fato que reduziu o volume

importado Este que foi de 76 milhotildees de toneladas em 2000 recua para 62 milhotildees em

2003 com projeccedilatildeo de chegar a 55 milhotildees de toneladas em 2004 Ou seja o recuo em

quatro anos se consolida em cerca de 28 Neste mesmo periacuteodo o volume importado da

Argentina igualmente recua poreacutem sua participaccedilatildeo no total geral permanece sem grandes

alteraccedilotildees Desta forma as compras realizadas no vizinho paiacutes recuam nos uacuteltimos quatro

anos de 72 milhotildees de toneladas para 48 milhotildees (projeccedilatildeo para 2004) Isto representa uma

queda de 33 no periacuteodo Ou seja as compras feitas na Argentina que representavam 95

do total em 2000 recuam para 87 na projeccedilatildeo para 2004 apoacutes 89 em 2003 Assim

embora a Argentina permaneccedila como o grande fornecedor nacional de trigo o Brasil reduziu

um pouco mais suas compras oriundas deste paiacutes em relaccedilatildeo ao restante do mercado mundial

Paralelamente as vendas para o Brasil que representavam na Argentina 67 de suas

exportaccedilotildees em 2000 caem para 57 em 2002 Diante da frustraccedilatildeo na produccedilatildeo argentina

de 2003 suas exportaccedilotildees totais recuam para 61 milhotildees de toneladas sendo que 90

acabaram se destinando ao Brasil Mas este quadro de recuperaccedilatildeo parece ser esporaacutedico pois

na projeccedilatildeo para o ano de 2004 a participaccedilatildeo do Brasil nas exportaccedilotildees totais argentinas de

trigo recuaram para 60 Na praacutetica os EUA acabaram sendo os beneficiados Suas vendas

ao Brasil passam de 51685 toneladas em 2000 para 677180 toneladas em 2002 e 500014

toneladas em 2003 Neste uacuteltimo ano o Canadaacute exportou 170318 toneladas de trigo ao nosso

paiacutes apoacutes 33820 toneladas em 2001 e 163077 toneladas em 2000 Ou seja haacute uma certa

correlaccedilatildeo direta entre o aumento da produccedilatildeo de trigo no Brasil e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo

relativa da Argentina nas vendas de trigo ao nosso paiacutes

23 A evoluccedilatildeo dos preccedilos internacionais do trigo e os impactos nos preccedilos argentinos e

brasileiros

Os preccedilos meacutedios do trigo na Bolsa de Chicago entre 1985 e 2004 (primeiros nove

meses) evoluiacuteram entre um miacutenimo de US$ 257bushel6 registrado em 2000 e um maacuteximo

de US$ 480bushel registrado em 1996

Na verdade nos 20 anos aqui analisados o periacuteodo de pior preccedilo meacutedio se deu entre

julho de 1998 e setembro de 2001 quando o mercado ficou ao redor de US$ 263bushel Este

6 Um bushel de trigo equivale a 2721 quilos

periacuteodo deu sequumlecircncia a um longo espaccedilo de tempo em que os preccedilos estiveram muito bons

O mesmo iniciou em agosto de 1991 e durou ateacute marccedilo de 1998 Nestes 80 meses a meacutedia

ficou em US$ 372bushel com pico de ateacute US$ 613bushel registrado na meacutedia de maio de

1996 O mais interessante neste contexto eacute que a reaccedilatildeo da produccedilatildeo brasileira se daraacute

exatamente no momento em que os preccedilos internacionais recuam ou seja a partir de 2000

Parte da explicaccedilatildeo estaacute no fato de que particularmente na Argentina a partir de meados de

2002 seus preccedilos internos sobem de forma relativamente importante

De fato a realidade de preccedilos internacionais provocou um movimento de reduccedilatildeo nos

preccedilos FOB da Argentina num primeiro momento Os mesmos que haviam chegado a US$

1067saco de 60 quilos na meacutedia de 1995 e US$ 1311saco em 1996 recuam fortemente nos

anos seguintes A tal ponto que em 1999 a Argentina exportou seu trigo a um preccedilo meacutedio de

US$ 687saco Ou seja em trecircs anos o produto argentino perdeu 476 de seu valor puxado

pelo comportamento negativo de Chicago e pelas boas safras locais Efetivamente o trigo na

Argentina tem seu preccedilo balizado por Chicago na mesma loacutegica que encontramos o

comportamento da soja no Brasil por exemplo Importante se faz lembrar que ateacute esta data a

Argentina natildeo havia desvalorizado sua moeda fato que iraacute ocorrer no final de 2001

A partir de junho de 2002 os preccedilos internos no vizinho paiacutes confirmam seu

movimento de alta o qual iraacute durar dois anos ou seja ateacute junho de 2004 Na oportunidade a

meacutedia de preccedilos FOB portos argentinos ficou em US$ 956saco Assim os preccedilos no Brasil

respondem agrave elevaccedilatildeo dos preccedilos na importaccedilatildeo particularmente do produto oriundo da

Argentina por significar o maior volume Ao mesmo tempo o clima positivo associado a

uma reduccedilatildeo na oferta local estimulam os produtores a semearem o cereal Isto recebe

igualmente um certo apoio do Estado atraveacutes de financiamentos a juros menores do que os

praticados no mercado Um terceiro aspecto que iraacute influenciar tal decisatildeo eacute a retomada da

produccedilatildeo de soja estimulada por menores custos graccedilas a transgenia associada a um periacuteodo

de preccedilos elevados para a oleaginosa em Chicago Por um breve momento o Sul do Brasil viu

se fortalecer novamente o tradicional binocircmio trigo-soja fato que comprometeu novamente os

projetos de diversificaccedilatildeo (leite suiacutenos gado de corte frutas e legumes) existentes

Neste contexto os preccedilos do trigo no Rio Grande do Sul que chegaram a US$

994saco ao produtor na meacutedia de 1996 apoacutes US$ 843 um ano antes recuam para US$ 629

em 1999 Posteriormente ocorre uma paulatina recuperaccedilatildeo (com exceccedilatildeo do ano de 2001)

com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos

de preccedilo meacutedio desde 19967

Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com

valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma

qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e

2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo

pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais

elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o

preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23

3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato

No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas

sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002

conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias

com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081

bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos

R$ 3 milhotildees defensivos

R$ 212 milhotildees

maacutequinas e implementos

R$ 492 milhotildees fertilizantes

R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a

produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra

20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a

comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o

valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural

(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um

niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-

gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto

grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002

as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa

o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por

meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo

rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao

valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor

moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo

7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$

796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)

produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de

farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-

se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo

referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse

ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos

diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao

produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal

fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir

desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e

margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre

devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e

sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas

R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo

R$ 2055 bilhotildees biscoitos

R$ 3480 bilhotildees) O

faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees

(auto-serviccedilo

R$ 542 bilhotildees padarias

R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas

R$ 432

bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-

central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas

(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)

induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634

bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil

movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8

Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de

aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo

Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo

distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os

setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes

US$ 25

milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos

US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos

US$135 milhotildees fertilizantes

85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees

(setor de plaacutesticos flexiacuteveis

US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado

US$ 640 mil accediluacutecar

US$ 17 milhotildees sal

US$ 790 mil fermento

US$ 55 milhotildees oxidantes

US$ 740 mil

Enzimas

US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees

induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas

USS 76 milhotildees

8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP

2004 224 p

panificaccedilatildeo

US$ 665 milhotildees padarias

US$ 665 milhotildees biscoitos

US$ 113 milhotildees

raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)

Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de

inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo

propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-

obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a

utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja

isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9

Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da

agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma

meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura

empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram

gerados em 83000 propriedades rurais10

31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo

A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de

1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo

internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo

internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil

era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista

disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar

um profundo impacto no setor

No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se

encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques

mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991

e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994

o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de

Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$

15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina

Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se

conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o

9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP

2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002

sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas

compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os

preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional

ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees

na importaccedilatildeo

No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis

recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques

mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de

importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos

Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a

opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os

produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado

Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997

com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos

niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e

199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa

25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na

comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual

o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo

(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto

A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de

liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente

acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia

supor

O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse

processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de

trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante

deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos

relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma

da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos

Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos

do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que

prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo

O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando

ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo

nacional

Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola

pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee

condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com

descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas

produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas

foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento

havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na

praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o

governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave

qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a

livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de

triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio

do Mercosul

Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal

levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos

investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em

198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia

entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da

demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal

produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em

relaccedilatildeo ao produto

Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e

condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como

enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras

presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil

com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais

Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que

acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da

comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional

desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso

Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como

atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da

comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou

igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca

da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o

mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura

nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu

ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade

econocircmica rentaacutevel e viaacutevel

Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no

produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos

do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a

concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente

tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado

livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes

ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de

origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o

abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a

situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo

conjunturais

32 Aspectos atuais do trigo no Brasil

Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam

plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se

concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave

cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o

custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura

compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de

culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos

baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos

custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de

solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo

parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a

esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto

agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os

levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos

viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo

No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via

o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo

passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As

cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer

volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de

lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor

intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou

igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as

cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de

moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o

governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos

e raramente exportam o cereal

Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram

para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito

baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em

termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto

A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta

dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na

medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a

qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal

realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em

demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica

existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de

comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais

uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia

Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos

anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o

Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e

portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as

cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do

produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional

devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto

desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem

todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo

Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros

de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia

produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas

proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O

resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores

agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos

moinhos atraveacutes de contratos

33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11

A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo

de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo

governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da

tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram

induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais

elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo

adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos

produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos

A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este

quadro

Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo

quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se

desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um

consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes

passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas

consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas

A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e

produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de

trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o

consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais

oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as

11 FGVIPEA 1998

oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a

partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central

disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa

de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou

como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente

havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal

O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da

concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos

industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de

poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado

Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea

em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os

segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos

agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto

grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70

do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57

Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional

destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados

Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos

produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos

de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande

competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais

favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de

destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade

agriacutecola

Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo

passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte

do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a

produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para

aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina

Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que

incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado

ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais

elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

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Page 2: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

Introduccedilatildeo

O presente trabalho se preocupa com a economia do trigo no Brasil agrave luz da

concorrecircncia argentina considerando como hipoacutetese de partida que o vizinho paiacutes no quadro

do Mercosul inibe um maior desenvolvimento da triticultura brasileira

O mesmo analisa o comeacutercio internacional do trigo com destaque para a participaccedilatildeo

da Argentina como paiacutes exportador e do Brasil como paiacutes importador Igualmente destaca os

custos de produccedilatildeo especialmente na Argentina e no Brasil Atraveacutes deste estudo se busca

identificar as principais razotildees da preferecircncia brasileira pelo trigo argentino Na sequumlecircncia se

privilegia o estudo das importaccedilotildees de trigo por parte do Brasil e o papel da Argentina como

fornecedor do mesmo Objetiva-se verificar a participaccedilatildeo da Argentina no fornecimento do

cereal ao Brasil e a importacircncia de nossas importaccedilotildees nas vendas do vizinho paiacutes

Uma raacutepida anaacutelise eacute feita sobre o comportamento dos preccedilos tanto no mercado

mundial atraveacutes da evoluccedilatildeo das cotaccedilotildees na Bolsa de Chicago quanto no mercado FOB

argentino e no mercado interno brasileiro a partir de preccedilos pagos aos produtores rurais do

Paranaacute e do Rio Grande do Sul

Enfim o presente artigo destaca a cadeia produtiva do trigo no Brasil a partir

de uma divisatildeo em insumos produccedilatildeo moinhos transformaccedilatildeo e distribuiccedilatildeoconsumo

2 Aspectos do comeacutercio internacional de trigo

A produccedilatildeo mundial de trigo no ano 200304 chegou a 5505 milhotildees de toneladas

conforme o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) Somando-se os estoques

iniciais resultantes do ano anterior a oferta total do produto neste ano foi de 7176 milhotildees

de toneladas Deste total foram comercializadas no mercado externo cerca de 106 milhotildees de

toneladas Desta forma o comeacutercio internacional de trigo em sua totalidade representou

192 da produccedilatildeo mundial e 148 da oferta mundial Em outras palavras estamos diante

de um produto que tem uma forte caracteriacutestica de consumo interno junto aos principais

paiacuteses produtores

Deste total a Argentina participou com exportaccedilotildees de 75 milhotildees de toneladas a

Austraacutelia com 175 milhotildees de toneladas a Uniatildeo Europeacuteia (com 12 paiacuteses) com 98 milhotildees

de toneladas e os EUA com 314 milhotildees de toneladas Dentre os maiores importadores

encontramos o Egito com volumes que variam entre 55 e 60 milhotildees de toneladas anuais e

o Brasil com volumes entre 50 e 55 milhotildees de toneladas A Uniatildeo Europeacuteia igualmente

importa tendo chegado a 60 milhotildees de toneladas em 200304 A Argentina tem uma

pequena participaccedilatildeo no comeacutercio mundial exportador de trigo atingindo a 71 do total

mundial No entanto tais vendas externas representam 55 da produccedilatildeo total do paiacutes Ou

seja a Argentina exporta mais da metade do que produz anualmente

O Brasil como forte paiacutes importador de trigo vem dando preferecircncia ao produto

argentino Isto se acentuou a partir do lanccedilamento do Mercosul (1991) e particularmente a

partir da consolidaccedilatildeo do Mercosul como zona de livre-comeacutercio (1995) Na verdade apenas

os EUA e o Canadaacute rivalizam com a Argentina na oferta de trigo para o Brasil e isto

especialmente entre meados dos anos de 1960 e o iniacutecio dos anos de 1990 Assim em 1965 o

Brasil importou 19 milhatildeo de toneladas de trigo a um preccedilo meacutedio de apenas US$

5964tonelada FOB Deste total a Argentina participou com 68 do total sendo o restante

dividido em 27 dos EUA e 5 do Uruguai Jaacute em 1975 as importaccedilotildees brasileiras totais

em trigo haviam crescido para 307 milhotildees de toneladas sendo que a participaccedilatildeo argentina

chegava a apenas 78 O maior volume era comprado dos EUA (645) e do Canadaacute (26)

O preccedilo meacutedio pago pelo Brasil no conjunto foi de US$ 15535tonelada FOB ou seja quase

o triplo do preccedilo pago 10 anos antes

Em 1980 o Brasil importou 46 milhotildees de toneladas sendo 608 dos EUA e 392

do Canadaacute Naquele ano nada foi importado da Argentina A participaccedilatildeo do vizinho paiacutes em

nossas compras externas de trigo foi melhorar apenas a partir de 1987 Nesta eacutepoca aleacutem do

Brasil ter chegado a uma quase auto-suficiecircncia cai drasticamente as vendas dos EUA para o

Brasil Desta forma das 25 milhotildees de toneladas importadas a um preccedilo meacutedio de US$

9398tonelada FOB 435 vieram da Argentina 305 do Canadaacute e apenas 4 dos EUA

Os restantes 22 foram oriundos de diversos outros mercados Em 1988 o Brasil importou o

seu menor volume de trigo desde 1965 registrando apenas 952580 toneladas em sua

totalidade procedente da Argentina A partir de entatildeo o vizinho paiacutes passou a ser o nosso

fornecedor privilegiado com os volumes em constante crescimento O Canadaacute passa a perder

forccedila nesta corrida especialmente a partir de 1995 exatamente no ano em que a zona de livre-

comeacutercio no Mercosul eacute posta em praacutetica A tal ponto que em 2000 o Brasil alcanccedila o seu

maior volume de importaccedilotildees nestes 39 anos aqui analisados (1965-2003) chegando a 75

milhotildees de toneladas sendo que 958 foram procedentes da Argentina

21 Os sistemas e os custos de produccedilatildeo razatildeo pala opccedilatildeo argentina ()

Os sistemas de produccedilatildeo aplicados tanto na Argentina como no Brasil satildeo de duas

naturezas plantio convencional e plantio direto Este uacuteltimo ganhando espaccedilo significativo a

partir do iniacutecio da deacutecada de 1990 Sabe-se que o plantio direto representa uma reduccedilatildeo de

custos da ordem de 20 em relaccedilatildeo ao convencional conforme a realidade do Noroeste

gauacutecho4 No entanto o mesmo natildeo se verifica na Argentina onde o plantio convencional

apresenta um custo da ordem de 15 a 17 menor do que o direto em funccedilatildeo do menor uso

de herbicidas e fertilizantes quiacutemicos

No entanto de forma geral o custo de produccedilatildeo argentino eacute mais baixo do que o

registrado nos dois principais Estados produtores do Brasil Assim enquanto os custos meacutedios

na Argentina variaram entre US$ 600 e US$ 800saco5 no periacuteodo de 1994 a 2003 o

referido custo no Rio Grande do Sul variou entre US$ 587 e US$ 1338saco Jaacute no Paranaacute o

custo ficou entre US$ 919 e US$ 2220saco

Em outras palavras verificamos que em termos meacutedios o custo do trigo no Rio

Grande do Sul chega a US$ 934saco nos 10 anos aqui considerados contra US$ 1336saco

no Paranaacute e apenas cerca de US$ 700saco na Argentina A diferenccedila de custos entre o

Paranaacute e o Rio Grande do Sul se daacute especialmente pela maior praacutetica do plantio direto no

Estado gauacutecho assim como a menor utilizaccedilatildeo de insumos fato que compromete

seguidamente a produtividade das lavouras

Dados completos obtidos para o ano de 1996 nos mostram que o custo total no Brasil

era de US$ 40921hectare contra US$ 34598 na Argentina e US$ 41177hectare nos EUA

A margem bruta era de respectivamente US$ 1679 US$ 19849 e US$ 4506hectare Nestas

condiccedilotildees a competitividade do trigo argentino eacute muito superior fato que explica o interesse

do Mercosul e particularmente da Argentina na liberalizaccedilatildeo dos mercados agriacutecolas quando

da constituiccedilatildeo dos acordos da ALCA e da Uniatildeo Europeacuteia-Mercosul De tal forma que o

preccedilo de equiliacutebrio para a Argentina chega a US$ 10524tonelada enquanto no Brasil o

mesmo era de US$ 17050 e nos EUA de US$ 23530tonelada Vale destacar ainda que o

custo total na Argentina em 2003 havia recuado para US$ 26502tonelada contra US$

4 Cf estudos de campo realizados pelo Departamento Teacutecnico da Cotrijuiacute 5 Importante se faz destacar que natildeo nos foi possiacutevel obter as informaccedilotildees sobre o custo de produccedilatildeo na

Argentina dentro da seacuterie completa dos 10 anos compreendidos entre 1994 e 2003 Apenas em trecircs anos se

obteve registros a saber US$ 631saco em 1996 US$ 782saco em 2003 e US$ 682saco em 2004 ano que

desconsideramos em nosso trabalho Neste sentido as informaccedilotildees foram complementadas com entrevistas

realizadas junto a organismos teacutecnicos brasileiros e argentinos

35856tonelada no Rio Grande do Sul Ou seja os custos no Estado gauacutecho superavam os da

Argentina em US$ 9354hectare ou 353

Quadro 1 Comparativo entre Brasil Argentina e Estados Unidos Paises Brasil Argentina Estados Unidos

Custo Total (US$ha) 40921 34598 41177

1996 Margem Bruta (US$ha) 1679 19849 4506

Preccedilo Equiliacutebrio (US$ton) 17050 10524 23530 2003 Custo Total (US$ton) 35856 26502 ND

ND = Natildeo disponiacutevel Valor referente ao RS Fonte INTA IAPAR EMBRAPA

Especificamente no que tange ao uso de fertilizantes dados da segunda metade dos

anos de 1990 indicam que o custo meacutedio no Brasil chegava a US$ 10707hectare enquanto

nos EUA o mesmo era de US$ 3839hectare Jaacute na Argentina o uso deste insumo eacute

praticamente nulo existindo gastos com adubaccedilatildeo de cobertura em algumas regiotildees com um

custo de US$ 2430hectare

Nestas condiccedilotildees a Argentina suporta mais facilmente o recuo dos preccedilos

internacionais podendo vender seu trigo bem mais barato levando o Brasil dentro dos

acordos do Mercosul a privilegiar o cereal do vizinho paiacutes em detrimento de investimentos na

produccedilatildeo local Isto natildeo significa que a produccedilatildeo brasileira desapareccedila No entanto significa

que em condiccedilotildees normais de oferta e demanda mundial e particularmente no interior do

Mercosul o produto argentino estaraacute sempre em melhor posiccedilatildeo do que o produto nacional

fato que impede o Brasil de alcanccedilar a auto-suficiecircncia Entre 2000 e 2003 o paiacutes conseguiu

no maacuteximo produzir 50 de suas necessidades e assim mesmo seguidamente com produto

de baixa qualidade muitas vezes proacuteprio apenas para raccedilatildeo animal

Desta forma torna-se evidente que a busca pelo trigo argentino se viabiliza pelo seu

preccedilo competitivo fato que passou a ser realccedilado a partir da conclusatildeo dos acordos que

definiram o Mercosul Esta realidade se comprova com a observaccedilatildeo do fluxo comercial do

Brasil com seus diferentes parceiros comerciais junto ao comeacutercio do trigo

22 As importaccedilotildees de trigo brasileiras e o papel da Argentina como fornecedor

Em 1965 o Brasil importou 19 milhatildeo de toneladas de trigo Deste total 129 milhatildeo

vieram da Argentina o que representa cerca de 68 do total Por sua vez as vendas

argentinas ao exterior naquele ano somaram 666 milhotildees de toneladas Ou seja o mercado

brasileiro representava 194 do total das vendas de trigo por parte do vizinho paiacutes Dez anos

depois mais precisamente em 1975 esta relaccedilatildeo havia se alterado substancialmente Naquele

ano o Brasil importou 307 milhotildees de toneladas poreacutem apenas 240000 toneladas foram

procedentes da Argentina Paralelamente o vizinho paiacutes exportou bem menos volume em

trigo chegando a apenas 176 milhatildeo de toneladas apoacutes problemas em sua produccedilatildeo

Assim grande parte do trigo importado pelo Brasil em 1975 teve origem nos EUA

(198 milhatildeo de toneladas) seguido do Canadaacute (800000 toneladas) O complemento das

compras externas veio do Uruguai (50000 toneladas)

Em 1985 as compras brasileiras de trigo somaram 404 milhotildees de toneladas sendo

que a Argentina contribuiu com apenas 685000 toneladas ou 17 do total Contrariamente haacute

10 anos antes em 1985 as exportaccedilotildees argentinas de trigo somaram 958 milhotildees de

toneladas Novamente EUA e Canadaacute complementaram as compras brasileiras com

respectivamente 168 milhatildeo e 10 milhatildeo de toneladas Efetivamente entre 1975 e 1985 as

compras externas de trigo por parte do Brasil cresceram poreacutem a participaccedilatildeo da Argentina

nas mesmas foi bastante reduzida

Este quadro iraacute se alterar a partir de 1986 na medida em que o Brasil quase alcanccedila a

sua auto-suficiecircncia Assim entre 1986 e 1990 as compras externas brasileiras variaram entre

953000 e 27 milhotildees de toneladas conforme o ano Neste periacuteodo a Argentina chegou a

participar com ateacute 100 do abastecimento brasileiro Tal realidade iraacute se acentuar a partir de

1990 quando o Brasil deixa de efetuar compras estatais colocando a produccedilatildeo nacional

diretamente na dependecircncia do mercado Em 1991 com a formaccedilatildeo do Mercosul a Argentina

se consolida definitivamente como o principal fornecedor brasileiro de trigo

Entre 1990 e 2000 as compras externas de trigo por parte do Brasil foram

multiplicadas por cerca de quatro vezes passando de 19 milhatildeo de toneladas para 76

milhotildees de toneladas Destes totais a Argentina participou com 94 e 95 respectivamente

da oferta destinada ao Brasil Ao mesmo tempo as compras do Brasil junto ao mercado

argentino representaram respectivamente 31 e 67 do total exportado pelo vizinho paiacutes Ou

seja ao mesmo tempo em que o Brasil passou a privilegiar o produto argentino em funccedilatildeo

dos acordos do Mercosul e por encontrar uma oferta abundante de qualidade e mais barata as

importaccedilotildees brasileiras passaram a ocupar um lugar de destaque nas vendas de trigo por parte

da Argentina Este quadro ficou mais evidente entre 1998 e 2001 (cf graacutefico a seguir)

A partir de 2000 com a melhoria paulatina dos preccedilos externos (as cotaccedilotildees meacutedias

em Chicago passaram de US$ 257bushel em 2000 para US$ 334bushel em 2003 ou seja

um aumento de 30 chegando a US$ 358bushel na meacutedia dos primeiros nove meses de

2004) e os efeitos da desvalorizaccedilatildeo cambial realizada pelo Brasil em 1999 quando passou a

adotar um regime cambial flexiacutevel as importaccedilotildees ficaram mais custosas Esta nova realidade

levou a um aumento na produccedilatildeo de trigo no interior do Brasil fato que reduziu o volume

importado Este que foi de 76 milhotildees de toneladas em 2000 recua para 62 milhotildees em

2003 com projeccedilatildeo de chegar a 55 milhotildees de toneladas em 2004 Ou seja o recuo em

quatro anos se consolida em cerca de 28 Neste mesmo periacuteodo o volume importado da

Argentina igualmente recua poreacutem sua participaccedilatildeo no total geral permanece sem grandes

alteraccedilotildees Desta forma as compras realizadas no vizinho paiacutes recuam nos uacuteltimos quatro

anos de 72 milhotildees de toneladas para 48 milhotildees (projeccedilatildeo para 2004) Isto representa uma

queda de 33 no periacuteodo Ou seja as compras feitas na Argentina que representavam 95

do total em 2000 recuam para 87 na projeccedilatildeo para 2004 apoacutes 89 em 2003 Assim

embora a Argentina permaneccedila como o grande fornecedor nacional de trigo o Brasil reduziu

um pouco mais suas compras oriundas deste paiacutes em relaccedilatildeo ao restante do mercado mundial

Paralelamente as vendas para o Brasil que representavam na Argentina 67 de suas

exportaccedilotildees em 2000 caem para 57 em 2002 Diante da frustraccedilatildeo na produccedilatildeo argentina

de 2003 suas exportaccedilotildees totais recuam para 61 milhotildees de toneladas sendo que 90

acabaram se destinando ao Brasil Mas este quadro de recuperaccedilatildeo parece ser esporaacutedico pois

na projeccedilatildeo para o ano de 2004 a participaccedilatildeo do Brasil nas exportaccedilotildees totais argentinas de

trigo recuaram para 60 Na praacutetica os EUA acabaram sendo os beneficiados Suas vendas

ao Brasil passam de 51685 toneladas em 2000 para 677180 toneladas em 2002 e 500014

toneladas em 2003 Neste uacuteltimo ano o Canadaacute exportou 170318 toneladas de trigo ao nosso

paiacutes apoacutes 33820 toneladas em 2001 e 163077 toneladas em 2000 Ou seja haacute uma certa

correlaccedilatildeo direta entre o aumento da produccedilatildeo de trigo no Brasil e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo

relativa da Argentina nas vendas de trigo ao nosso paiacutes

23 A evoluccedilatildeo dos preccedilos internacionais do trigo e os impactos nos preccedilos argentinos e

brasileiros

Os preccedilos meacutedios do trigo na Bolsa de Chicago entre 1985 e 2004 (primeiros nove

meses) evoluiacuteram entre um miacutenimo de US$ 257bushel6 registrado em 2000 e um maacuteximo

de US$ 480bushel registrado em 1996

Na verdade nos 20 anos aqui analisados o periacuteodo de pior preccedilo meacutedio se deu entre

julho de 1998 e setembro de 2001 quando o mercado ficou ao redor de US$ 263bushel Este

6 Um bushel de trigo equivale a 2721 quilos

periacuteodo deu sequumlecircncia a um longo espaccedilo de tempo em que os preccedilos estiveram muito bons

O mesmo iniciou em agosto de 1991 e durou ateacute marccedilo de 1998 Nestes 80 meses a meacutedia

ficou em US$ 372bushel com pico de ateacute US$ 613bushel registrado na meacutedia de maio de

1996 O mais interessante neste contexto eacute que a reaccedilatildeo da produccedilatildeo brasileira se daraacute

exatamente no momento em que os preccedilos internacionais recuam ou seja a partir de 2000

Parte da explicaccedilatildeo estaacute no fato de que particularmente na Argentina a partir de meados de

2002 seus preccedilos internos sobem de forma relativamente importante

De fato a realidade de preccedilos internacionais provocou um movimento de reduccedilatildeo nos

preccedilos FOB da Argentina num primeiro momento Os mesmos que haviam chegado a US$

1067saco de 60 quilos na meacutedia de 1995 e US$ 1311saco em 1996 recuam fortemente nos

anos seguintes A tal ponto que em 1999 a Argentina exportou seu trigo a um preccedilo meacutedio de

US$ 687saco Ou seja em trecircs anos o produto argentino perdeu 476 de seu valor puxado

pelo comportamento negativo de Chicago e pelas boas safras locais Efetivamente o trigo na

Argentina tem seu preccedilo balizado por Chicago na mesma loacutegica que encontramos o

comportamento da soja no Brasil por exemplo Importante se faz lembrar que ateacute esta data a

Argentina natildeo havia desvalorizado sua moeda fato que iraacute ocorrer no final de 2001

A partir de junho de 2002 os preccedilos internos no vizinho paiacutes confirmam seu

movimento de alta o qual iraacute durar dois anos ou seja ateacute junho de 2004 Na oportunidade a

meacutedia de preccedilos FOB portos argentinos ficou em US$ 956saco Assim os preccedilos no Brasil

respondem agrave elevaccedilatildeo dos preccedilos na importaccedilatildeo particularmente do produto oriundo da

Argentina por significar o maior volume Ao mesmo tempo o clima positivo associado a

uma reduccedilatildeo na oferta local estimulam os produtores a semearem o cereal Isto recebe

igualmente um certo apoio do Estado atraveacutes de financiamentos a juros menores do que os

praticados no mercado Um terceiro aspecto que iraacute influenciar tal decisatildeo eacute a retomada da

produccedilatildeo de soja estimulada por menores custos graccedilas a transgenia associada a um periacuteodo

de preccedilos elevados para a oleaginosa em Chicago Por um breve momento o Sul do Brasil viu

se fortalecer novamente o tradicional binocircmio trigo-soja fato que comprometeu novamente os

projetos de diversificaccedilatildeo (leite suiacutenos gado de corte frutas e legumes) existentes

Neste contexto os preccedilos do trigo no Rio Grande do Sul que chegaram a US$

994saco ao produtor na meacutedia de 1996 apoacutes US$ 843 um ano antes recuam para US$ 629

em 1999 Posteriormente ocorre uma paulatina recuperaccedilatildeo (com exceccedilatildeo do ano de 2001)

com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos

de preccedilo meacutedio desde 19967

Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com

valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma

qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e

2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo

pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais

elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o

preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23

3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato

No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas

sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002

conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias

com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081

bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos

R$ 3 milhotildees defensivos

R$ 212 milhotildees

maacutequinas e implementos

R$ 492 milhotildees fertilizantes

R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a

produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra

20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a

comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o

valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural

(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um

niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-

gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto

grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002

as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa

o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por

meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo

rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao

valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor

moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo

7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$

796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)

produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de

farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-

se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo

referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse

ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos

diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao

produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal

fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir

desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e

margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre

devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e

sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas

R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo

R$ 2055 bilhotildees biscoitos

R$ 3480 bilhotildees) O

faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees

(auto-serviccedilo

R$ 542 bilhotildees padarias

R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas

R$ 432

bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-

central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas

(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)

induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634

bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil

movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8

Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de

aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo

Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo

distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os

setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes

US$ 25

milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos

US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos

US$135 milhotildees fertilizantes

85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees

(setor de plaacutesticos flexiacuteveis

US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado

US$ 640 mil accediluacutecar

US$ 17 milhotildees sal

US$ 790 mil fermento

US$ 55 milhotildees oxidantes

US$ 740 mil

Enzimas

US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees

induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas

USS 76 milhotildees

8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP

2004 224 p

panificaccedilatildeo

US$ 665 milhotildees padarias

US$ 665 milhotildees biscoitos

US$ 113 milhotildees

raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)

Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de

inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo

propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-

obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a

utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja

isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9

Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da

agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma

meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura

empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram

gerados em 83000 propriedades rurais10

31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo

A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de

1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo

internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo

internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil

era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista

disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar

um profundo impacto no setor

No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se

encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques

mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991

e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994

o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de

Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$

15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina

Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se

conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o

9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP

2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002

sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas

compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os

preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional

ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees

na importaccedilatildeo

No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis

recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques

mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de

importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos

Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a

opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os

produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado

Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997

com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos

niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e

199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa

25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na

comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual

o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo

(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto

A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de

liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente

acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia

supor

O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse

processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de

trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante

deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos

relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma

da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos

Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos

do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que

prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo

O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando

ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo

nacional

Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola

pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee

condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com

descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas

produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas

foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento

havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na

praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o

governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave

qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a

livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de

triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio

do Mercosul

Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal

levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos

investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em

198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia

entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da

demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal

produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em

relaccedilatildeo ao produto

Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e

condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como

enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras

presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil

com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais

Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que

acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da

comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional

desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso

Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como

atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da

comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou

igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca

da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o

mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura

nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu

ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade

econocircmica rentaacutevel e viaacutevel

Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no

produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos

do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a

concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente

tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado

livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes

ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de

origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o

abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a

situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo

conjunturais

32 Aspectos atuais do trigo no Brasil

Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam

plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se

concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave

cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o

custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura

compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de

culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos

baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos

custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de

solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo

parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a

esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto

agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os

levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos

viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo

No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via

o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo

passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As

cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer

volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de

lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor

intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou

igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as

cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de

moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o

governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos

e raramente exportam o cereal

Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram

para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito

baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em

termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto

A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta

dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na

medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a

qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal

realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em

demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica

existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de

comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais

uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia

Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos

anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o

Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e

portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as

cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do

produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional

devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto

desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem

todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo

Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros

de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia

produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas

proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O

resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores

agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos

moinhos atraveacutes de contratos

33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11

A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo

de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo

governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da

tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram

induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais

elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo

adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos

produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos

A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este

quadro

Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo

quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se

desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um

consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes

passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas

consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas

A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e

produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de

trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o

consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais

oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as

11 FGVIPEA 1998

oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a

partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central

disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa

de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou

como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente

havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal

O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da

concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos

industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de

poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado

Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea

em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os

segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos

agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto

grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70

do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57

Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional

destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados

Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos

produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos

de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande

competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais

favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de

destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade

agriacutecola

Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo

passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte

do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a

produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para

aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina

Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que

incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado

ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais

elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

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Page 3: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

importa tendo chegado a 60 milhotildees de toneladas em 200304 A Argentina tem uma

pequena participaccedilatildeo no comeacutercio mundial exportador de trigo atingindo a 71 do total

mundial No entanto tais vendas externas representam 55 da produccedilatildeo total do paiacutes Ou

seja a Argentina exporta mais da metade do que produz anualmente

O Brasil como forte paiacutes importador de trigo vem dando preferecircncia ao produto

argentino Isto se acentuou a partir do lanccedilamento do Mercosul (1991) e particularmente a

partir da consolidaccedilatildeo do Mercosul como zona de livre-comeacutercio (1995) Na verdade apenas

os EUA e o Canadaacute rivalizam com a Argentina na oferta de trigo para o Brasil e isto

especialmente entre meados dos anos de 1960 e o iniacutecio dos anos de 1990 Assim em 1965 o

Brasil importou 19 milhatildeo de toneladas de trigo a um preccedilo meacutedio de apenas US$

5964tonelada FOB Deste total a Argentina participou com 68 do total sendo o restante

dividido em 27 dos EUA e 5 do Uruguai Jaacute em 1975 as importaccedilotildees brasileiras totais

em trigo haviam crescido para 307 milhotildees de toneladas sendo que a participaccedilatildeo argentina

chegava a apenas 78 O maior volume era comprado dos EUA (645) e do Canadaacute (26)

O preccedilo meacutedio pago pelo Brasil no conjunto foi de US$ 15535tonelada FOB ou seja quase

o triplo do preccedilo pago 10 anos antes

Em 1980 o Brasil importou 46 milhotildees de toneladas sendo 608 dos EUA e 392

do Canadaacute Naquele ano nada foi importado da Argentina A participaccedilatildeo do vizinho paiacutes em

nossas compras externas de trigo foi melhorar apenas a partir de 1987 Nesta eacutepoca aleacutem do

Brasil ter chegado a uma quase auto-suficiecircncia cai drasticamente as vendas dos EUA para o

Brasil Desta forma das 25 milhotildees de toneladas importadas a um preccedilo meacutedio de US$

9398tonelada FOB 435 vieram da Argentina 305 do Canadaacute e apenas 4 dos EUA

Os restantes 22 foram oriundos de diversos outros mercados Em 1988 o Brasil importou o

seu menor volume de trigo desde 1965 registrando apenas 952580 toneladas em sua

totalidade procedente da Argentina A partir de entatildeo o vizinho paiacutes passou a ser o nosso

fornecedor privilegiado com os volumes em constante crescimento O Canadaacute passa a perder

forccedila nesta corrida especialmente a partir de 1995 exatamente no ano em que a zona de livre-

comeacutercio no Mercosul eacute posta em praacutetica A tal ponto que em 2000 o Brasil alcanccedila o seu

maior volume de importaccedilotildees nestes 39 anos aqui analisados (1965-2003) chegando a 75

milhotildees de toneladas sendo que 958 foram procedentes da Argentina

21 Os sistemas e os custos de produccedilatildeo razatildeo pala opccedilatildeo argentina ()

Os sistemas de produccedilatildeo aplicados tanto na Argentina como no Brasil satildeo de duas

naturezas plantio convencional e plantio direto Este uacuteltimo ganhando espaccedilo significativo a

partir do iniacutecio da deacutecada de 1990 Sabe-se que o plantio direto representa uma reduccedilatildeo de

custos da ordem de 20 em relaccedilatildeo ao convencional conforme a realidade do Noroeste

gauacutecho4 No entanto o mesmo natildeo se verifica na Argentina onde o plantio convencional

apresenta um custo da ordem de 15 a 17 menor do que o direto em funccedilatildeo do menor uso

de herbicidas e fertilizantes quiacutemicos

No entanto de forma geral o custo de produccedilatildeo argentino eacute mais baixo do que o

registrado nos dois principais Estados produtores do Brasil Assim enquanto os custos meacutedios

na Argentina variaram entre US$ 600 e US$ 800saco5 no periacuteodo de 1994 a 2003 o

referido custo no Rio Grande do Sul variou entre US$ 587 e US$ 1338saco Jaacute no Paranaacute o

custo ficou entre US$ 919 e US$ 2220saco

Em outras palavras verificamos que em termos meacutedios o custo do trigo no Rio

Grande do Sul chega a US$ 934saco nos 10 anos aqui considerados contra US$ 1336saco

no Paranaacute e apenas cerca de US$ 700saco na Argentina A diferenccedila de custos entre o

Paranaacute e o Rio Grande do Sul se daacute especialmente pela maior praacutetica do plantio direto no

Estado gauacutecho assim como a menor utilizaccedilatildeo de insumos fato que compromete

seguidamente a produtividade das lavouras

Dados completos obtidos para o ano de 1996 nos mostram que o custo total no Brasil

era de US$ 40921hectare contra US$ 34598 na Argentina e US$ 41177hectare nos EUA

A margem bruta era de respectivamente US$ 1679 US$ 19849 e US$ 4506hectare Nestas

condiccedilotildees a competitividade do trigo argentino eacute muito superior fato que explica o interesse

do Mercosul e particularmente da Argentina na liberalizaccedilatildeo dos mercados agriacutecolas quando

da constituiccedilatildeo dos acordos da ALCA e da Uniatildeo Europeacuteia-Mercosul De tal forma que o

preccedilo de equiliacutebrio para a Argentina chega a US$ 10524tonelada enquanto no Brasil o

mesmo era de US$ 17050 e nos EUA de US$ 23530tonelada Vale destacar ainda que o

custo total na Argentina em 2003 havia recuado para US$ 26502tonelada contra US$

4 Cf estudos de campo realizados pelo Departamento Teacutecnico da Cotrijuiacute 5 Importante se faz destacar que natildeo nos foi possiacutevel obter as informaccedilotildees sobre o custo de produccedilatildeo na

Argentina dentro da seacuterie completa dos 10 anos compreendidos entre 1994 e 2003 Apenas em trecircs anos se

obteve registros a saber US$ 631saco em 1996 US$ 782saco em 2003 e US$ 682saco em 2004 ano que

desconsideramos em nosso trabalho Neste sentido as informaccedilotildees foram complementadas com entrevistas

realizadas junto a organismos teacutecnicos brasileiros e argentinos

35856tonelada no Rio Grande do Sul Ou seja os custos no Estado gauacutecho superavam os da

Argentina em US$ 9354hectare ou 353

Quadro 1 Comparativo entre Brasil Argentina e Estados Unidos Paises Brasil Argentina Estados Unidos

Custo Total (US$ha) 40921 34598 41177

1996 Margem Bruta (US$ha) 1679 19849 4506

Preccedilo Equiliacutebrio (US$ton) 17050 10524 23530 2003 Custo Total (US$ton) 35856 26502 ND

ND = Natildeo disponiacutevel Valor referente ao RS Fonte INTA IAPAR EMBRAPA

Especificamente no que tange ao uso de fertilizantes dados da segunda metade dos

anos de 1990 indicam que o custo meacutedio no Brasil chegava a US$ 10707hectare enquanto

nos EUA o mesmo era de US$ 3839hectare Jaacute na Argentina o uso deste insumo eacute

praticamente nulo existindo gastos com adubaccedilatildeo de cobertura em algumas regiotildees com um

custo de US$ 2430hectare

Nestas condiccedilotildees a Argentina suporta mais facilmente o recuo dos preccedilos

internacionais podendo vender seu trigo bem mais barato levando o Brasil dentro dos

acordos do Mercosul a privilegiar o cereal do vizinho paiacutes em detrimento de investimentos na

produccedilatildeo local Isto natildeo significa que a produccedilatildeo brasileira desapareccedila No entanto significa

que em condiccedilotildees normais de oferta e demanda mundial e particularmente no interior do

Mercosul o produto argentino estaraacute sempre em melhor posiccedilatildeo do que o produto nacional

fato que impede o Brasil de alcanccedilar a auto-suficiecircncia Entre 2000 e 2003 o paiacutes conseguiu

no maacuteximo produzir 50 de suas necessidades e assim mesmo seguidamente com produto

de baixa qualidade muitas vezes proacuteprio apenas para raccedilatildeo animal

Desta forma torna-se evidente que a busca pelo trigo argentino se viabiliza pelo seu

preccedilo competitivo fato que passou a ser realccedilado a partir da conclusatildeo dos acordos que

definiram o Mercosul Esta realidade se comprova com a observaccedilatildeo do fluxo comercial do

Brasil com seus diferentes parceiros comerciais junto ao comeacutercio do trigo

22 As importaccedilotildees de trigo brasileiras e o papel da Argentina como fornecedor

Em 1965 o Brasil importou 19 milhatildeo de toneladas de trigo Deste total 129 milhatildeo

vieram da Argentina o que representa cerca de 68 do total Por sua vez as vendas

argentinas ao exterior naquele ano somaram 666 milhotildees de toneladas Ou seja o mercado

brasileiro representava 194 do total das vendas de trigo por parte do vizinho paiacutes Dez anos

depois mais precisamente em 1975 esta relaccedilatildeo havia se alterado substancialmente Naquele

ano o Brasil importou 307 milhotildees de toneladas poreacutem apenas 240000 toneladas foram

procedentes da Argentina Paralelamente o vizinho paiacutes exportou bem menos volume em

trigo chegando a apenas 176 milhatildeo de toneladas apoacutes problemas em sua produccedilatildeo

Assim grande parte do trigo importado pelo Brasil em 1975 teve origem nos EUA

(198 milhatildeo de toneladas) seguido do Canadaacute (800000 toneladas) O complemento das

compras externas veio do Uruguai (50000 toneladas)

Em 1985 as compras brasileiras de trigo somaram 404 milhotildees de toneladas sendo

que a Argentina contribuiu com apenas 685000 toneladas ou 17 do total Contrariamente haacute

10 anos antes em 1985 as exportaccedilotildees argentinas de trigo somaram 958 milhotildees de

toneladas Novamente EUA e Canadaacute complementaram as compras brasileiras com

respectivamente 168 milhatildeo e 10 milhatildeo de toneladas Efetivamente entre 1975 e 1985 as

compras externas de trigo por parte do Brasil cresceram poreacutem a participaccedilatildeo da Argentina

nas mesmas foi bastante reduzida

Este quadro iraacute se alterar a partir de 1986 na medida em que o Brasil quase alcanccedila a

sua auto-suficiecircncia Assim entre 1986 e 1990 as compras externas brasileiras variaram entre

953000 e 27 milhotildees de toneladas conforme o ano Neste periacuteodo a Argentina chegou a

participar com ateacute 100 do abastecimento brasileiro Tal realidade iraacute se acentuar a partir de

1990 quando o Brasil deixa de efetuar compras estatais colocando a produccedilatildeo nacional

diretamente na dependecircncia do mercado Em 1991 com a formaccedilatildeo do Mercosul a Argentina

se consolida definitivamente como o principal fornecedor brasileiro de trigo

Entre 1990 e 2000 as compras externas de trigo por parte do Brasil foram

multiplicadas por cerca de quatro vezes passando de 19 milhatildeo de toneladas para 76

milhotildees de toneladas Destes totais a Argentina participou com 94 e 95 respectivamente

da oferta destinada ao Brasil Ao mesmo tempo as compras do Brasil junto ao mercado

argentino representaram respectivamente 31 e 67 do total exportado pelo vizinho paiacutes Ou

seja ao mesmo tempo em que o Brasil passou a privilegiar o produto argentino em funccedilatildeo

dos acordos do Mercosul e por encontrar uma oferta abundante de qualidade e mais barata as

importaccedilotildees brasileiras passaram a ocupar um lugar de destaque nas vendas de trigo por parte

da Argentina Este quadro ficou mais evidente entre 1998 e 2001 (cf graacutefico a seguir)

A partir de 2000 com a melhoria paulatina dos preccedilos externos (as cotaccedilotildees meacutedias

em Chicago passaram de US$ 257bushel em 2000 para US$ 334bushel em 2003 ou seja

um aumento de 30 chegando a US$ 358bushel na meacutedia dos primeiros nove meses de

2004) e os efeitos da desvalorizaccedilatildeo cambial realizada pelo Brasil em 1999 quando passou a

adotar um regime cambial flexiacutevel as importaccedilotildees ficaram mais custosas Esta nova realidade

levou a um aumento na produccedilatildeo de trigo no interior do Brasil fato que reduziu o volume

importado Este que foi de 76 milhotildees de toneladas em 2000 recua para 62 milhotildees em

2003 com projeccedilatildeo de chegar a 55 milhotildees de toneladas em 2004 Ou seja o recuo em

quatro anos se consolida em cerca de 28 Neste mesmo periacuteodo o volume importado da

Argentina igualmente recua poreacutem sua participaccedilatildeo no total geral permanece sem grandes

alteraccedilotildees Desta forma as compras realizadas no vizinho paiacutes recuam nos uacuteltimos quatro

anos de 72 milhotildees de toneladas para 48 milhotildees (projeccedilatildeo para 2004) Isto representa uma

queda de 33 no periacuteodo Ou seja as compras feitas na Argentina que representavam 95

do total em 2000 recuam para 87 na projeccedilatildeo para 2004 apoacutes 89 em 2003 Assim

embora a Argentina permaneccedila como o grande fornecedor nacional de trigo o Brasil reduziu

um pouco mais suas compras oriundas deste paiacutes em relaccedilatildeo ao restante do mercado mundial

Paralelamente as vendas para o Brasil que representavam na Argentina 67 de suas

exportaccedilotildees em 2000 caem para 57 em 2002 Diante da frustraccedilatildeo na produccedilatildeo argentina

de 2003 suas exportaccedilotildees totais recuam para 61 milhotildees de toneladas sendo que 90

acabaram se destinando ao Brasil Mas este quadro de recuperaccedilatildeo parece ser esporaacutedico pois

na projeccedilatildeo para o ano de 2004 a participaccedilatildeo do Brasil nas exportaccedilotildees totais argentinas de

trigo recuaram para 60 Na praacutetica os EUA acabaram sendo os beneficiados Suas vendas

ao Brasil passam de 51685 toneladas em 2000 para 677180 toneladas em 2002 e 500014

toneladas em 2003 Neste uacuteltimo ano o Canadaacute exportou 170318 toneladas de trigo ao nosso

paiacutes apoacutes 33820 toneladas em 2001 e 163077 toneladas em 2000 Ou seja haacute uma certa

correlaccedilatildeo direta entre o aumento da produccedilatildeo de trigo no Brasil e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo

relativa da Argentina nas vendas de trigo ao nosso paiacutes

23 A evoluccedilatildeo dos preccedilos internacionais do trigo e os impactos nos preccedilos argentinos e

brasileiros

Os preccedilos meacutedios do trigo na Bolsa de Chicago entre 1985 e 2004 (primeiros nove

meses) evoluiacuteram entre um miacutenimo de US$ 257bushel6 registrado em 2000 e um maacuteximo

de US$ 480bushel registrado em 1996

Na verdade nos 20 anos aqui analisados o periacuteodo de pior preccedilo meacutedio se deu entre

julho de 1998 e setembro de 2001 quando o mercado ficou ao redor de US$ 263bushel Este

6 Um bushel de trigo equivale a 2721 quilos

periacuteodo deu sequumlecircncia a um longo espaccedilo de tempo em que os preccedilos estiveram muito bons

O mesmo iniciou em agosto de 1991 e durou ateacute marccedilo de 1998 Nestes 80 meses a meacutedia

ficou em US$ 372bushel com pico de ateacute US$ 613bushel registrado na meacutedia de maio de

1996 O mais interessante neste contexto eacute que a reaccedilatildeo da produccedilatildeo brasileira se daraacute

exatamente no momento em que os preccedilos internacionais recuam ou seja a partir de 2000

Parte da explicaccedilatildeo estaacute no fato de que particularmente na Argentina a partir de meados de

2002 seus preccedilos internos sobem de forma relativamente importante

De fato a realidade de preccedilos internacionais provocou um movimento de reduccedilatildeo nos

preccedilos FOB da Argentina num primeiro momento Os mesmos que haviam chegado a US$

1067saco de 60 quilos na meacutedia de 1995 e US$ 1311saco em 1996 recuam fortemente nos

anos seguintes A tal ponto que em 1999 a Argentina exportou seu trigo a um preccedilo meacutedio de

US$ 687saco Ou seja em trecircs anos o produto argentino perdeu 476 de seu valor puxado

pelo comportamento negativo de Chicago e pelas boas safras locais Efetivamente o trigo na

Argentina tem seu preccedilo balizado por Chicago na mesma loacutegica que encontramos o

comportamento da soja no Brasil por exemplo Importante se faz lembrar que ateacute esta data a

Argentina natildeo havia desvalorizado sua moeda fato que iraacute ocorrer no final de 2001

A partir de junho de 2002 os preccedilos internos no vizinho paiacutes confirmam seu

movimento de alta o qual iraacute durar dois anos ou seja ateacute junho de 2004 Na oportunidade a

meacutedia de preccedilos FOB portos argentinos ficou em US$ 956saco Assim os preccedilos no Brasil

respondem agrave elevaccedilatildeo dos preccedilos na importaccedilatildeo particularmente do produto oriundo da

Argentina por significar o maior volume Ao mesmo tempo o clima positivo associado a

uma reduccedilatildeo na oferta local estimulam os produtores a semearem o cereal Isto recebe

igualmente um certo apoio do Estado atraveacutes de financiamentos a juros menores do que os

praticados no mercado Um terceiro aspecto que iraacute influenciar tal decisatildeo eacute a retomada da

produccedilatildeo de soja estimulada por menores custos graccedilas a transgenia associada a um periacuteodo

de preccedilos elevados para a oleaginosa em Chicago Por um breve momento o Sul do Brasil viu

se fortalecer novamente o tradicional binocircmio trigo-soja fato que comprometeu novamente os

projetos de diversificaccedilatildeo (leite suiacutenos gado de corte frutas e legumes) existentes

Neste contexto os preccedilos do trigo no Rio Grande do Sul que chegaram a US$

994saco ao produtor na meacutedia de 1996 apoacutes US$ 843 um ano antes recuam para US$ 629

em 1999 Posteriormente ocorre uma paulatina recuperaccedilatildeo (com exceccedilatildeo do ano de 2001)

com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos

de preccedilo meacutedio desde 19967

Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com

valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma

qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e

2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo

pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais

elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o

preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23

3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato

No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas

sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002

conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias

com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081

bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos

R$ 3 milhotildees defensivos

R$ 212 milhotildees

maacutequinas e implementos

R$ 492 milhotildees fertilizantes

R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a

produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra

20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a

comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o

valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural

(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um

niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-

gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto

grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002

as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa

o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por

meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo

rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao

valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor

moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo

7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$

796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)

produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de

farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-

se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo

referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse

ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos

diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao

produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal

fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir

desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e

margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre

devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e

sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas

R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo

R$ 2055 bilhotildees biscoitos

R$ 3480 bilhotildees) O

faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees

(auto-serviccedilo

R$ 542 bilhotildees padarias

R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas

R$ 432

bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-

central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas

(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)

induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634

bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil

movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8

Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de

aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo

Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo

distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os

setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes

US$ 25

milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos

US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos

US$135 milhotildees fertilizantes

85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees

(setor de plaacutesticos flexiacuteveis

US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado

US$ 640 mil accediluacutecar

US$ 17 milhotildees sal

US$ 790 mil fermento

US$ 55 milhotildees oxidantes

US$ 740 mil

Enzimas

US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees

induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas

USS 76 milhotildees

8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP

2004 224 p

panificaccedilatildeo

US$ 665 milhotildees padarias

US$ 665 milhotildees biscoitos

US$ 113 milhotildees

raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)

Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de

inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo

propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-

obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a

utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja

isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9

Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da

agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma

meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura

empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram

gerados em 83000 propriedades rurais10

31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo

A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de

1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo

internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo

internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil

era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista

disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar

um profundo impacto no setor

No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se

encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques

mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991

e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994

o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de

Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$

15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina

Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se

conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o

9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP

2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002

sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas

compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os

preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional

ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees

na importaccedilatildeo

No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis

recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques

mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de

importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos

Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a

opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os

produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado

Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997

com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos

niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e

199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa

25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na

comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual

o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo

(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto

A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de

liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente

acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia

supor

O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse

processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de

trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante

deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos

relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma

da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos

Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos

do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que

prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo

O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando

ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo

nacional

Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola

pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee

condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com

descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas

produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas

foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento

havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na

praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o

governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave

qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a

livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de

triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio

do Mercosul

Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal

levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos

investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em

198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia

entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da

demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal

produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em

relaccedilatildeo ao produto

Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e

condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como

enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras

presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil

com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais

Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que

acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da

comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional

desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso

Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como

atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da

comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou

igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca

da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o

mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura

nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu

ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade

econocircmica rentaacutevel e viaacutevel

Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no

produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos

do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a

concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente

tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado

livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes

ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de

origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o

abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a

situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo

conjunturais

32 Aspectos atuais do trigo no Brasil

Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam

plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se

concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave

cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o

custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura

compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de

culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos

baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos

custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de

solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo

parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a

esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto

agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os

levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos

viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo

No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via

o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo

passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As

cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer

volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de

lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor

intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou

igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as

cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de

moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o

governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos

e raramente exportam o cereal

Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram

para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito

baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em

termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto

A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta

dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na

medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a

qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal

realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em

demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica

existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de

comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais

uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia

Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos

anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o

Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e

portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as

cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do

produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional

devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto

desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem

todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo

Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros

de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia

produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas

proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O

resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores

agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos

moinhos atraveacutes de contratos

33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11

A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo

de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo

governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da

tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram

induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais

elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo

adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos

produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos

A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este

quadro

Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo

quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se

desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um

consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes

passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas

consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas

A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e

produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de

trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o

consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais

oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as

11 FGVIPEA 1998

oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a

partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central

disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa

de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou

como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente

havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal

O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da

concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos

industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de

poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado

Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea

em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os

segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos

agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto

grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70

do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57

Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional

destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados

Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos

produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos

de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande

competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais

favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de

destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade

agriacutecola

Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo

passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte

do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a

produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para

aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina

Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que

incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado

ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais

elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

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Page 4: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

21 Os sistemas e os custos de produccedilatildeo razatildeo pala opccedilatildeo argentina ()

Os sistemas de produccedilatildeo aplicados tanto na Argentina como no Brasil satildeo de duas

naturezas plantio convencional e plantio direto Este uacuteltimo ganhando espaccedilo significativo a

partir do iniacutecio da deacutecada de 1990 Sabe-se que o plantio direto representa uma reduccedilatildeo de

custos da ordem de 20 em relaccedilatildeo ao convencional conforme a realidade do Noroeste

gauacutecho4 No entanto o mesmo natildeo se verifica na Argentina onde o plantio convencional

apresenta um custo da ordem de 15 a 17 menor do que o direto em funccedilatildeo do menor uso

de herbicidas e fertilizantes quiacutemicos

No entanto de forma geral o custo de produccedilatildeo argentino eacute mais baixo do que o

registrado nos dois principais Estados produtores do Brasil Assim enquanto os custos meacutedios

na Argentina variaram entre US$ 600 e US$ 800saco5 no periacuteodo de 1994 a 2003 o

referido custo no Rio Grande do Sul variou entre US$ 587 e US$ 1338saco Jaacute no Paranaacute o

custo ficou entre US$ 919 e US$ 2220saco

Em outras palavras verificamos que em termos meacutedios o custo do trigo no Rio

Grande do Sul chega a US$ 934saco nos 10 anos aqui considerados contra US$ 1336saco

no Paranaacute e apenas cerca de US$ 700saco na Argentina A diferenccedila de custos entre o

Paranaacute e o Rio Grande do Sul se daacute especialmente pela maior praacutetica do plantio direto no

Estado gauacutecho assim como a menor utilizaccedilatildeo de insumos fato que compromete

seguidamente a produtividade das lavouras

Dados completos obtidos para o ano de 1996 nos mostram que o custo total no Brasil

era de US$ 40921hectare contra US$ 34598 na Argentina e US$ 41177hectare nos EUA

A margem bruta era de respectivamente US$ 1679 US$ 19849 e US$ 4506hectare Nestas

condiccedilotildees a competitividade do trigo argentino eacute muito superior fato que explica o interesse

do Mercosul e particularmente da Argentina na liberalizaccedilatildeo dos mercados agriacutecolas quando

da constituiccedilatildeo dos acordos da ALCA e da Uniatildeo Europeacuteia-Mercosul De tal forma que o

preccedilo de equiliacutebrio para a Argentina chega a US$ 10524tonelada enquanto no Brasil o

mesmo era de US$ 17050 e nos EUA de US$ 23530tonelada Vale destacar ainda que o

custo total na Argentina em 2003 havia recuado para US$ 26502tonelada contra US$

4 Cf estudos de campo realizados pelo Departamento Teacutecnico da Cotrijuiacute 5 Importante se faz destacar que natildeo nos foi possiacutevel obter as informaccedilotildees sobre o custo de produccedilatildeo na

Argentina dentro da seacuterie completa dos 10 anos compreendidos entre 1994 e 2003 Apenas em trecircs anos se

obteve registros a saber US$ 631saco em 1996 US$ 782saco em 2003 e US$ 682saco em 2004 ano que

desconsideramos em nosso trabalho Neste sentido as informaccedilotildees foram complementadas com entrevistas

realizadas junto a organismos teacutecnicos brasileiros e argentinos

35856tonelada no Rio Grande do Sul Ou seja os custos no Estado gauacutecho superavam os da

Argentina em US$ 9354hectare ou 353

Quadro 1 Comparativo entre Brasil Argentina e Estados Unidos Paises Brasil Argentina Estados Unidos

Custo Total (US$ha) 40921 34598 41177

1996 Margem Bruta (US$ha) 1679 19849 4506

Preccedilo Equiliacutebrio (US$ton) 17050 10524 23530 2003 Custo Total (US$ton) 35856 26502 ND

ND = Natildeo disponiacutevel Valor referente ao RS Fonte INTA IAPAR EMBRAPA

Especificamente no que tange ao uso de fertilizantes dados da segunda metade dos

anos de 1990 indicam que o custo meacutedio no Brasil chegava a US$ 10707hectare enquanto

nos EUA o mesmo era de US$ 3839hectare Jaacute na Argentina o uso deste insumo eacute

praticamente nulo existindo gastos com adubaccedilatildeo de cobertura em algumas regiotildees com um

custo de US$ 2430hectare

Nestas condiccedilotildees a Argentina suporta mais facilmente o recuo dos preccedilos

internacionais podendo vender seu trigo bem mais barato levando o Brasil dentro dos

acordos do Mercosul a privilegiar o cereal do vizinho paiacutes em detrimento de investimentos na

produccedilatildeo local Isto natildeo significa que a produccedilatildeo brasileira desapareccedila No entanto significa

que em condiccedilotildees normais de oferta e demanda mundial e particularmente no interior do

Mercosul o produto argentino estaraacute sempre em melhor posiccedilatildeo do que o produto nacional

fato que impede o Brasil de alcanccedilar a auto-suficiecircncia Entre 2000 e 2003 o paiacutes conseguiu

no maacuteximo produzir 50 de suas necessidades e assim mesmo seguidamente com produto

de baixa qualidade muitas vezes proacuteprio apenas para raccedilatildeo animal

Desta forma torna-se evidente que a busca pelo trigo argentino se viabiliza pelo seu

preccedilo competitivo fato que passou a ser realccedilado a partir da conclusatildeo dos acordos que

definiram o Mercosul Esta realidade se comprova com a observaccedilatildeo do fluxo comercial do

Brasil com seus diferentes parceiros comerciais junto ao comeacutercio do trigo

22 As importaccedilotildees de trigo brasileiras e o papel da Argentina como fornecedor

Em 1965 o Brasil importou 19 milhatildeo de toneladas de trigo Deste total 129 milhatildeo

vieram da Argentina o que representa cerca de 68 do total Por sua vez as vendas

argentinas ao exterior naquele ano somaram 666 milhotildees de toneladas Ou seja o mercado

brasileiro representava 194 do total das vendas de trigo por parte do vizinho paiacutes Dez anos

depois mais precisamente em 1975 esta relaccedilatildeo havia se alterado substancialmente Naquele

ano o Brasil importou 307 milhotildees de toneladas poreacutem apenas 240000 toneladas foram

procedentes da Argentina Paralelamente o vizinho paiacutes exportou bem menos volume em

trigo chegando a apenas 176 milhatildeo de toneladas apoacutes problemas em sua produccedilatildeo

Assim grande parte do trigo importado pelo Brasil em 1975 teve origem nos EUA

(198 milhatildeo de toneladas) seguido do Canadaacute (800000 toneladas) O complemento das

compras externas veio do Uruguai (50000 toneladas)

Em 1985 as compras brasileiras de trigo somaram 404 milhotildees de toneladas sendo

que a Argentina contribuiu com apenas 685000 toneladas ou 17 do total Contrariamente haacute

10 anos antes em 1985 as exportaccedilotildees argentinas de trigo somaram 958 milhotildees de

toneladas Novamente EUA e Canadaacute complementaram as compras brasileiras com

respectivamente 168 milhatildeo e 10 milhatildeo de toneladas Efetivamente entre 1975 e 1985 as

compras externas de trigo por parte do Brasil cresceram poreacutem a participaccedilatildeo da Argentina

nas mesmas foi bastante reduzida

Este quadro iraacute se alterar a partir de 1986 na medida em que o Brasil quase alcanccedila a

sua auto-suficiecircncia Assim entre 1986 e 1990 as compras externas brasileiras variaram entre

953000 e 27 milhotildees de toneladas conforme o ano Neste periacuteodo a Argentina chegou a

participar com ateacute 100 do abastecimento brasileiro Tal realidade iraacute se acentuar a partir de

1990 quando o Brasil deixa de efetuar compras estatais colocando a produccedilatildeo nacional

diretamente na dependecircncia do mercado Em 1991 com a formaccedilatildeo do Mercosul a Argentina

se consolida definitivamente como o principal fornecedor brasileiro de trigo

Entre 1990 e 2000 as compras externas de trigo por parte do Brasil foram

multiplicadas por cerca de quatro vezes passando de 19 milhatildeo de toneladas para 76

milhotildees de toneladas Destes totais a Argentina participou com 94 e 95 respectivamente

da oferta destinada ao Brasil Ao mesmo tempo as compras do Brasil junto ao mercado

argentino representaram respectivamente 31 e 67 do total exportado pelo vizinho paiacutes Ou

seja ao mesmo tempo em que o Brasil passou a privilegiar o produto argentino em funccedilatildeo

dos acordos do Mercosul e por encontrar uma oferta abundante de qualidade e mais barata as

importaccedilotildees brasileiras passaram a ocupar um lugar de destaque nas vendas de trigo por parte

da Argentina Este quadro ficou mais evidente entre 1998 e 2001 (cf graacutefico a seguir)

A partir de 2000 com a melhoria paulatina dos preccedilos externos (as cotaccedilotildees meacutedias

em Chicago passaram de US$ 257bushel em 2000 para US$ 334bushel em 2003 ou seja

um aumento de 30 chegando a US$ 358bushel na meacutedia dos primeiros nove meses de

2004) e os efeitos da desvalorizaccedilatildeo cambial realizada pelo Brasil em 1999 quando passou a

adotar um regime cambial flexiacutevel as importaccedilotildees ficaram mais custosas Esta nova realidade

levou a um aumento na produccedilatildeo de trigo no interior do Brasil fato que reduziu o volume

importado Este que foi de 76 milhotildees de toneladas em 2000 recua para 62 milhotildees em

2003 com projeccedilatildeo de chegar a 55 milhotildees de toneladas em 2004 Ou seja o recuo em

quatro anos se consolida em cerca de 28 Neste mesmo periacuteodo o volume importado da

Argentina igualmente recua poreacutem sua participaccedilatildeo no total geral permanece sem grandes

alteraccedilotildees Desta forma as compras realizadas no vizinho paiacutes recuam nos uacuteltimos quatro

anos de 72 milhotildees de toneladas para 48 milhotildees (projeccedilatildeo para 2004) Isto representa uma

queda de 33 no periacuteodo Ou seja as compras feitas na Argentina que representavam 95

do total em 2000 recuam para 87 na projeccedilatildeo para 2004 apoacutes 89 em 2003 Assim

embora a Argentina permaneccedila como o grande fornecedor nacional de trigo o Brasil reduziu

um pouco mais suas compras oriundas deste paiacutes em relaccedilatildeo ao restante do mercado mundial

Paralelamente as vendas para o Brasil que representavam na Argentina 67 de suas

exportaccedilotildees em 2000 caem para 57 em 2002 Diante da frustraccedilatildeo na produccedilatildeo argentina

de 2003 suas exportaccedilotildees totais recuam para 61 milhotildees de toneladas sendo que 90

acabaram se destinando ao Brasil Mas este quadro de recuperaccedilatildeo parece ser esporaacutedico pois

na projeccedilatildeo para o ano de 2004 a participaccedilatildeo do Brasil nas exportaccedilotildees totais argentinas de

trigo recuaram para 60 Na praacutetica os EUA acabaram sendo os beneficiados Suas vendas

ao Brasil passam de 51685 toneladas em 2000 para 677180 toneladas em 2002 e 500014

toneladas em 2003 Neste uacuteltimo ano o Canadaacute exportou 170318 toneladas de trigo ao nosso

paiacutes apoacutes 33820 toneladas em 2001 e 163077 toneladas em 2000 Ou seja haacute uma certa

correlaccedilatildeo direta entre o aumento da produccedilatildeo de trigo no Brasil e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo

relativa da Argentina nas vendas de trigo ao nosso paiacutes

23 A evoluccedilatildeo dos preccedilos internacionais do trigo e os impactos nos preccedilos argentinos e

brasileiros

Os preccedilos meacutedios do trigo na Bolsa de Chicago entre 1985 e 2004 (primeiros nove

meses) evoluiacuteram entre um miacutenimo de US$ 257bushel6 registrado em 2000 e um maacuteximo

de US$ 480bushel registrado em 1996

Na verdade nos 20 anos aqui analisados o periacuteodo de pior preccedilo meacutedio se deu entre

julho de 1998 e setembro de 2001 quando o mercado ficou ao redor de US$ 263bushel Este

6 Um bushel de trigo equivale a 2721 quilos

periacuteodo deu sequumlecircncia a um longo espaccedilo de tempo em que os preccedilos estiveram muito bons

O mesmo iniciou em agosto de 1991 e durou ateacute marccedilo de 1998 Nestes 80 meses a meacutedia

ficou em US$ 372bushel com pico de ateacute US$ 613bushel registrado na meacutedia de maio de

1996 O mais interessante neste contexto eacute que a reaccedilatildeo da produccedilatildeo brasileira se daraacute

exatamente no momento em que os preccedilos internacionais recuam ou seja a partir de 2000

Parte da explicaccedilatildeo estaacute no fato de que particularmente na Argentina a partir de meados de

2002 seus preccedilos internos sobem de forma relativamente importante

De fato a realidade de preccedilos internacionais provocou um movimento de reduccedilatildeo nos

preccedilos FOB da Argentina num primeiro momento Os mesmos que haviam chegado a US$

1067saco de 60 quilos na meacutedia de 1995 e US$ 1311saco em 1996 recuam fortemente nos

anos seguintes A tal ponto que em 1999 a Argentina exportou seu trigo a um preccedilo meacutedio de

US$ 687saco Ou seja em trecircs anos o produto argentino perdeu 476 de seu valor puxado

pelo comportamento negativo de Chicago e pelas boas safras locais Efetivamente o trigo na

Argentina tem seu preccedilo balizado por Chicago na mesma loacutegica que encontramos o

comportamento da soja no Brasil por exemplo Importante se faz lembrar que ateacute esta data a

Argentina natildeo havia desvalorizado sua moeda fato que iraacute ocorrer no final de 2001

A partir de junho de 2002 os preccedilos internos no vizinho paiacutes confirmam seu

movimento de alta o qual iraacute durar dois anos ou seja ateacute junho de 2004 Na oportunidade a

meacutedia de preccedilos FOB portos argentinos ficou em US$ 956saco Assim os preccedilos no Brasil

respondem agrave elevaccedilatildeo dos preccedilos na importaccedilatildeo particularmente do produto oriundo da

Argentina por significar o maior volume Ao mesmo tempo o clima positivo associado a

uma reduccedilatildeo na oferta local estimulam os produtores a semearem o cereal Isto recebe

igualmente um certo apoio do Estado atraveacutes de financiamentos a juros menores do que os

praticados no mercado Um terceiro aspecto que iraacute influenciar tal decisatildeo eacute a retomada da

produccedilatildeo de soja estimulada por menores custos graccedilas a transgenia associada a um periacuteodo

de preccedilos elevados para a oleaginosa em Chicago Por um breve momento o Sul do Brasil viu

se fortalecer novamente o tradicional binocircmio trigo-soja fato que comprometeu novamente os

projetos de diversificaccedilatildeo (leite suiacutenos gado de corte frutas e legumes) existentes

Neste contexto os preccedilos do trigo no Rio Grande do Sul que chegaram a US$

994saco ao produtor na meacutedia de 1996 apoacutes US$ 843 um ano antes recuam para US$ 629

em 1999 Posteriormente ocorre uma paulatina recuperaccedilatildeo (com exceccedilatildeo do ano de 2001)

com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos

de preccedilo meacutedio desde 19967

Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com

valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma

qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e

2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo

pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais

elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o

preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23

3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato

No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas

sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002

conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias

com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081

bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos

R$ 3 milhotildees defensivos

R$ 212 milhotildees

maacutequinas e implementos

R$ 492 milhotildees fertilizantes

R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a

produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra

20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a

comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o

valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural

(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um

niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-

gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto

grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002

as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa

o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por

meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo

rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao

valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor

moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo

7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$

796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)

produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de

farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-

se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo

referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse

ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos

diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao

produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal

fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir

desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e

margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre

devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e

sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas

R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo

R$ 2055 bilhotildees biscoitos

R$ 3480 bilhotildees) O

faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees

(auto-serviccedilo

R$ 542 bilhotildees padarias

R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas

R$ 432

bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-

central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas

(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)

induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634

bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil

movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8

Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de

aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo

Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo

distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os

setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes

US$ 25

milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos

US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos

US$135 milhotildees fertilizantes

85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees

(setor de plaacutesticos flexiacuteveis

US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado

US$ 640 mil accediluacutecar

US$ 17 milhotildees sal

US$ 790 mil fermento

US$ 55 milhotildees oxidantes

US$ 740 mil

Enzimas

US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees

induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas

USS 76 milhotildees

8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP

2004 224 p

panificaccedilatildeo

US$ 665 milhotildees padarias

US$ 665 milhotildees biscoitos

US$ 113 milhotildees

raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)

Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de

inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo

propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-

obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a

utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja

isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9

Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da

agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma

meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura

empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram

gerados em 83000 propriedades rurais10

31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo

A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de

1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo

internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo

internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil

era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista

disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar

um profundo impacto no setor

No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se

encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques

mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991

e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994

o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de

Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$

15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina

Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se

conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o

9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP

2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002

sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas

compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os

preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional

ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees

na importaccedilatildeo

No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis

recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques

mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de

importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos

Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a

opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os

produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado

Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997

com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos

niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e

199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa

25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na

comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual

o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo

(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto

A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de

liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente

acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia

supor

O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse

processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de

trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante

deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos

relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma

da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos

Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos

do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que

prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo

O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando

ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo

nacional

Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola

pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee

condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com

descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas

produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas

foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento

havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na

praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o

governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave

qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a

livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de

triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio

do Mercosul

Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal

levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos

investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em

198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia

entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da

demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal

produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em

relaccedilatildeo ao produto

Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e

condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como

enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras

presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil

com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais

Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que

acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da

comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional

desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso

Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como

atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da

comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou

igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca

da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o

mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura

nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu

ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade

econocircmica rentaacutevel e viaacutevel

Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no

produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos

do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a

concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente

tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado

livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes

ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de

origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o

abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a

situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo

conjunturais

32 Aspectos atuais do trigo no Brasil

Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam

plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se

concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave

cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o

custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura

compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de

culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos

baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos

custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de

solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo

parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a

esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto

agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os

levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos

viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo

No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via

o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo

passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As

cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer

volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de

lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor

intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou

igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as

cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de

moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o

governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos

e raramente exportam o cereal

Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram

para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito

baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em

termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto

A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta

dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na

medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a

qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal

realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em

demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica

existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de

comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais

uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia

Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos

anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o

Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e

portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as

cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do

produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional

devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto

desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem

todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo

Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros

de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia

produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas

proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O

resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores

agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos

moinhos atraveacutes de contratos

33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11

A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo

de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo

governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da

tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram

induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais

elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo

adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos

produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos

A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este

quadro

Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo

quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se

desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um

consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes

passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas

consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas

A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e

produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de

trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o

consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais

oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as

11 FGVIPEA 1998

oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a

partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central

disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa

de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou

como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente

havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal

O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da

concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos

industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de

poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado

Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea

em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os

segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos

agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto

grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70

do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57

Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional

destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados

Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos

produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos

de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande

competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais

favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de

destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade

agriacutecola

Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo

passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte

do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a

produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para

aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina

Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que

incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado

ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais

elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

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Page 5: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

35856tonelada no Rio Grande do Sul Ou seja os custos no Estado gauacutecho superavam os da

Argentina em US$ 9354hectare ou 353

Quadro 1 Comparativo entre Brasil Argentina e Estados Unidos Paises Brasil Argentina Estados Unidos

Custo Total (US$ha) 40921 34598 41177

1996 Margem Bruta (US$ha) 1679 19849 4506

Preccedilo Equiliacutebrio (US$ton) 17050 10524 23530 2003 Custo Total (US$ton) 35856 26502 ND

ND = Natildeo disponiacutevel Valor referente ao RS Fonte INTA IAPAR EMBRAPA

Especificamente no que tange ao uso de fertilizantes dados da segunda metade dos

anos de 1990 indicam que o custo meacutedio no Brasil chegava a US$ 10707hectare enquanto

nos EUA o mesmo era de US$ 3839hectare Jaacute na Argentina o uso deste insumo eacute

praticamente nulo existindo gastos com adubaccedilatildeo de cobertura em algumas regiotildees com um

custo de US$ 2430hectare

Nestas condiccedilotildees a Argentina suporta mais facilmente o recuo dos preccedilos

internacionais podendo vender seu trigo bem mais barato levando o Brasil dentro dos

acordos do Mercosul a privilegiar o cereal do vizinho paiacutes em detrimento de investimentos na

produccedilatildeo local Isto natildeo significa que a produccedilatildeo brasileira desapareccedila No entanto significa

que em condiccedilotildees normais de oferta e demanda mundial e particularmente no interior do

Mercosul o produto argentino estaraacute sempre em melhor posiccedilatildeo do que o produto nacional

fato que impede o Brasil de alcanccedilar a auto-suficiecircncia Entre 2000 e 2003 o paiacutes conseguiu

no maacuteximo produzir 50 de suas necessidades e assim mesmo seguidamente com produto

de baixa qualidade muitas vezes proacuteprio apenas para raccedilatildeo animal

Desta forma torna-se evidente que a busca pelo trigo argentino se viabiliza pelo seu

preccedilo competitivo fato que passou a ser realccedilado a partir da conclusatildeo dos acordos que

definiram o Mercosul Esta realidade se comprova com a observaccedilatildeo do fluxo comercial do

Brasil com seus diferentes parceiros comerciais junto ao comeacutercio do trigo

22 As importaccedilotildees de trigo brasileiras e o papel da Argentina como fornecedor

Em 1965 o Brasil importou 19 milhatildeo de toneladas de trigo Deste total 129 milhatildeo

vieram da Argentina o que representa cerca de 68 do total Por sua vez as vendas

argentinas ao exterior naquele ano somaram 666 milhotildees de toneladas Ou seja o mercado

brasileiro representava 194 do total das vendas de trigo por parte do vizinho paiacutes Dez anos

depois mais precisamente em 1975 esta relaccedilatildeo havia se alterado substancialmente Naquele

ano o Brasil importou 307 milhotildees de toneladas poreacutem apenas 240000 toneladas foram

procedentes da Argentina Paralelamente o vizinho paiacutes exportou bem menos volume em

trigo chegando a apenas 176 milhatildeo de toneladas apoacutes problemas em sua produccedilatildeo

Assim grande parte do trigo importado pelo Brasil em 1975 teve origem nos EUA

(198 milhatildeo de toneladas) seguido do Canadaacute (800000 toneladas) O complemento das

compras externas veio do Uruguai (50000 toneladas)

Em 1985 as compras brasileiras de trigo somaram 404 milhotildees de toneladas sendo

que a Argentina contribuiu com apenas 685000 toneladas ou 17 do total Contrariamente haacute

10 anos antes em 1985 as exportaccedilotildees argentinas de trigo somaram 958 milhotildees de

toneladas Novamente EUA e Canadaacute complementaram as compras brasileiras com

respectivamente 168 milhatildeo e 10 milhatildeo de toneladas Efetivamente entre 1975 e 1985 as

compras externas de trigo por parte do Brasil cresceram poreacutem a participaccedilatildeo da Argentina

nas mesmas foi bastante reduzida

Este quadro iraacute se alterar a partir de 1986 na medida em que o Brasil quase alcanccedila a

sua auto-suficiecircncia Assim entre 1986 e 1990 as compras externas brasileiras variaram entre

953000 e 27 milhotildees de toneladas conforme o ano Neste periacuteodo a Argentina chegou a

participar com ateacute 100 do abastecimento brasileiro Tal realidade iraacute se acentuar a partir de

1990 quando o Brasil deixa de efetuar compras estatais colocando a produccedilatildeo nacional

diretamente na dependecircncia do mercado Em 1991 com a formaccedilatildeo do Mercosul a Argentina

se consolida definitivamente como o principal fornecedor brasileiro de trigo

Entre 1990 e 2000 as compras externas de trigo por parte do Brasil foram

multiplicadas por cerca de quatro vezes passando de 19 milhatildeo de toneladas para 76

milhotildees de toneladas Destes totais a Argentina participou com 94 e 95 respectivamente

da oferta destinada ao Brasil Ao mesmo tempo as compras do Brasil junto ao mercado

argentino representaram respectivamente 31 e 67 do total exportado pelo vizinho paiacutes Ou

seja ao mesmo tempo em que o Brasil passou a privilegiar o produto argentino em funccedilatildeo

dos acordos do Mercosul e por encontrar uma oferta abundante de qualidade e mais barata as

importaccedilotildees brasileiras passaram a ocupar um lugar de destaque nas vendas de trigo por parte

da Argentina Este quadro ficou mais evidente entre 1998 e 2001 (cf graacutefico a seguir)

A partir de 2000 com a melhoria paulatina dos preccedilos externos (as cotaccedilotildees meacutedias

em Chicago passaram de US$ 257bushel em 2000 para US$ 334bushel em 2003 ou seja

um aumento de 30 chegando a US$ 358bushel na meacutedia dos primeiros nove meses de

2004) e os efeitos da desvalorizaccedilatildeo cambial realizada pelo Brasil em 1999 quando passou a

adotar um regime cambial flexiacutevel as importaccedilotildees ficaram mais custosas Esta nova realidade

levou a um aumento na produccedilatildeo de trigo no interior do Brasil fato que reduziu o volume

importado Este que foi de 76 milhotildees de toneladas em 2000 recua para 62 milhotildees em

2003 com projeccedilatildeo de chegar a 55 milhotildees de toneladas em 2004 Ou seja o recuo em

quatro anos se consolida em cerca de 28 Neste mesmo periacuteodo o volume importado da

Argentina igualmente recua poreacutem sua participaccedilatildeo no total geral permanece sem grandes

alteraccedilotildees Desta forma as compras realizadas no vizinho paiacutes recuam nos uacuteltimos quatro

anos de 72 milhotildees de toneladas para 48 milhotildees (projeccedilatildeo para 2004) Isto representa uma

queda de 33 no periacuteodo Ou seja as compras feitas na Argentina que representavam 95

do total em 2000 recuam para 87 na projeccedilatildeo para 2004 apoacutes 89 em 2003 Assim

embora a Argentina permaneccedila como o grande fornecedor nacional de trigo o Brasil reduziu

um pouco mais suas compras oriundas deste paiacutes em relaccedilatildeo ao restante do mercado mundial

Paralelamente as vendas para o Brasil que representavam na Argentina 67 de suas

exportaccedilotildees em 2000 caem para 57 em 2002 Diante da frustraccedilatildeo na produccedilatildeo argentina

de 2003 suas exportaccedilotildees totais recuam para 61 milhotildees de toneladas sendo que 90

acabaram se destinando ao Brasil Mas este quadro de recuperaccedilatildeo parece ser esporaacutedico pois

na projeccedilatildeo para o ano de 2004 a participaccedilatildeo do Brasil nas exportaccedilotildees totais argentinas de

trigo recuaram para 60 Na praacutetica os EUA acabaram sendo os beneficiados Suas vendas

ao Brasil passam de 51685 toneladas em 2000 para 677180 toneladas em 2002 e 500014

toneladas em 2003 Neste uacuteltimo ano o Canadaacute exportou 170318 toneladas de trigo ao nosso

paiacutes apoacutes 33820 toneladas em 2001 e 163077 toneladas em 2000 Ou seja haacute uma certa

correlaccedilatildeo direta entre o aumento da produccedilatildeo de trigo no Brasil e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo

relativa da Argentina nas vendas de trigo ao nosso paiacutes

23 A evoluccedilatildeo dos preccedilos internacionais do trigo e os impactos nos preccedilos argentinos e

brasileiros

Os preccedilos meacutedios do trigo na Bolsa de Chicago entre 1985 e 2004 (primeiros nove

meses) evoluiacuteram entre um miacutenimo de US$ 257bushel6 registrado em 2000 e um maacuteximo

de US$ 480bushel registrado em 1996

Na verdade nos 20 anos aqui analisados o periacuteodo de pior preccedilo meacutedio se deu entre

julho de 1998 e setembro de 2001 quando o mercado ficou ao redor de US$ 263bushel Este

6 Um bushel de trigo equivale a 2721 quilos

periacuteodo deu sequumlecircncia a um longo espaccedilo de tempo em que os preccedilos estiveram muito bons

O mesmo iniciou em agosto de 1991 e durou ateacute marccedilo de 1998 Nestes 80 meses a meacutedia

ficou em US$ 372bushel com pico de ateacute US$ 613bushel registrado na meacutedia de maio de

1996 O mais interessante neste contexto eacute que a reaccedilatildeo da produccedilatildeo brasileira se daraacute

exatamente no momento em que os preccedilos internacionais recuam ou seja a partir de 2000

Parte da explicaccedilatildeo estaacute no fato de que particularmente na Argentina a partir de meados de

2002 seus preccedilos internos sobem de forma relativamente importante

De fato a realidade de preccedilos internacionais provocou um movimento de reduccedilatildeo nos

preccedilos FOB da Argentina num primeiro momento Os mesmos que haviam chegado a US$

1067saco de 60 quilos na meacutedia de 1995 e US$ 1311saco em 1996 recuam fortemente nos

anos seguintes A tal ponto que em 1999 a Argentina exportou seu trigo a um preccedilo meacutedio de

US$ 687saco Ou seja em trecircs anos o produto argentino perdeu 476 de seu valor puxado

pelo comportamento negativo de Chicago e pelas boas safras locais Efetivamente o trigo na

Argentina tem seu preccedilo balizado por Chicago na mesma loacutegica que encontramos o

comportamento da soja no Brasil por exemplo Importante se faz lembrar que ateacute esta data a

Argentina natildeo havia desvalorizado sua moeda fato que iraacute ocorrer no final de 2001

A partir de junho de 2002 os preccedilos internos no vizinho paiacutes confirmam seu

movimento de alta o qual iraacute durar dois anos ou seja ateacute junho de 2004 Na oportunidade a

meacutedia de preccedilos FOB portos argentinos ficou em US$ 956saco Assim os preccedilos no Brasil

respondem agrave elevaccedilatildeo dos preccedilos na importaccedilatildeo particularmente do produto oriundo da

Argentina por significar o maior volume Ao mesmo tempo o clima positivo associado a

uma reduccedilatildeo na oferta local estimulam os produtores a semearem o cereal Isto recebe

igualmente um certo apoio do Estado atraveacutes de financiamentos a juros menores do que os

praticados no mercado Um terceiro aspecto que iraacute influenciar tal decisatildeo eacute a retomada da

produccedilatildeo de soja estimulada por menores custos graccedilas a transgenia associada a um periacuteodo

de preccedilos elevados para a oleaginosa em Chicago Por um breve momento o Sul do Brasil viu

se fortalecer novamente o tradicional binocircmio trigo-soja fato que comprometeu novamente os

projetos de diversificaccedilatildeo (leite suiacutenos gado de corte frutas e legumes) existentes

Neste contexto os preccedilos do trigo no Rio Grande do Sul que chegaram a US$

994saco ao produtor na meacutedia de 1996 apoacutes US$ 843 um ano antes recuam para US$ 629

em 1999 Posteriormente ocorre uma paulatina recuperaccedilatildeo (com exceccedilatildeo do ano de 2001)

com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos

de preccedilo meacutedio desde 19967

Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com

valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma

qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e

2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo

pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais

elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o

preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23

3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato

No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas

sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002

conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias

com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081

bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos

R$ 3 milhotildees defensivos

R$ 212 milhotildees

maacutequinas e implementos

R$ 492 milhotildees fertilizantes

R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a

produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra

20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a

comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o

valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural

(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um

niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-

gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto

grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002

as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa

o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por

meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo

rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao

valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor

moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo

7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$

796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)

produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de

farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-

se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo

referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse

ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos

diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao

produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal

fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir

desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e

margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre

devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e

sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas

R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo

R$ 2055 bilhotildees biscoitos

R$ 3480 bilhotildees) O

faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees

(auto-serviccedilo

R$ 542 bilhotildees padarias

R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas

R$ 432

bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-

central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas

(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)

induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634

bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil

movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8

Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de

aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo

Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo

distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os

setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes

US$ 25

milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos

US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos

US$135 milhotildees fertilizantes

85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees

(setor de plaacutesticos flexiacuteveis

US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado

US$ 640 mil accediluacutecar

US$ 17 milhotildees sal

US$ 790 mil fermento

US$ 55 milhotildees oxidantes

US$ 740 mil

Enzimas

US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees

induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas

USS 76 milhotildees

8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP

2004 224 p

panificaccedilatildeo

US$ 665 milhotildees padarias

US$ 665 milhotildees biscoitos

US$ 113 milhotildees

raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)

Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de

inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo

propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-

obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a

utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja

isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9

Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da

agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma

meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura

empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram

gerados em 83000 propriedades rurais10

31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo

A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de

1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo

internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo

internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil

era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista

disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar

um profundo impacto no setor

No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se

encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques

mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991

e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994

o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de

Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$

15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina

Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se

conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o

9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP

2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002

sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas

compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os

preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional

ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees

na importaccedilatildeo

No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis

recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques

mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de

importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos

Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a

opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os

produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado

Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997

com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos

niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e

199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa

25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na

comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual

o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo

(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto

A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de

liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente

acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia

supor

O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse

processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de

trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante

deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos

relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma

da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos

Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos

do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que

prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo

O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando

ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo

nacional

Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola

pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee

condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com

descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas

produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas

foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento

havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na

praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o

governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave

qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a

livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de

triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio

do Mercosul

Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal

levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos

investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em

198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia

entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da

demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal

produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em

relaccedilatildeo ao produto

Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e

condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como

enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras

presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil

com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais

Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que

acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da

comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional

desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso

Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como

atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da

comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou

igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca

da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o

mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura

nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu

ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade

econocircmica rentaacutevel e viaacutevel

Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no

produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos

do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a

concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente

tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado

livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes

ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de

origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o

abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a

situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo

conjunturais

32 Aspectos atuais do trigo no Brasil

Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam

plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se

concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave

cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o

custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura

compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de

culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos

baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos

custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de

solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo

parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a

esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto

agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os

levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos

viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo

No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via

o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo

passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As

cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer

volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de

lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor

intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou

igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as

cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de

moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o

governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos

e raramente exportam o cereal

Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram

para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito

baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em

termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto

A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta

dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na

medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a

qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal

realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em

demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica

existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de

comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais

uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia

Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos

anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o

Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e

portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as

cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do

produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional

devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto

desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem

todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo

Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros

de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia

produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas

proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O

resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores

agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos

moinhos atraveacutes de contratos

33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11

A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo

de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo

governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da

tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram

induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais

elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo

adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos

produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos

A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este

quadro

Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo

quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se

desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um

consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes

passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas

consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas

A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e

produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de

trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o

consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais

oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as

11 FGVIPEA 1998

oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a

partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central

disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa

de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou

como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente

havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal

O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da

concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos

industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de

poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado

Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea

em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os

segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos

agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto

grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70

do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57

Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional

destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados

Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos

produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos

de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande

competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais

favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de

destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade

agriacutecola

Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo

passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte

do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a

produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para

aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina

Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que

incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado

ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais

elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

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Page 6: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

brasileiro representava 194 do total das vendas de trigo por parte do vizinho paiacutes Dez anos

depois mais precisamente em 1975 esta relaccedilatildeo havia se alterado substancialmente Naquele

ano o Brasil importou 307 milhotildees de toneladas poreacutem apenas 240000 toneladas foram

procedentes da Argentina Paralelamente o vizinho paiacutes exportou bem menos volume em

trigo chegando a apenas 176 milhatildeo de toneladas apoacutes problemas em sua produccedilatildeo

Assim grande parte do trigo importado pelo Brasil em 1975 teve origem nos EUA

(198 milhatildeo de toneladas) seguido do Canadaacute (800000 toneladas) O complemento das

compras externas veio do Uruguai (50000 toneladas)

Em 1985 as compras brasileiras de trigo somaram 404 milhotildees de toneladas sendo

que a Argentina contribuiu com apenas 685000 toneladas ou 17 do total Contrariamente haacute

10 anos antes em 1985 as exportaccedilotildees argentinas de trigo somaram 958 milhotildees de

toneladas Novamente EUA e Canadaacute complementaram as compras brasileiras com

respectivamente 168 milhatildeo e 10 milhatildeo de toneladas Efetivamente entre 1975 e 1985 as

compras externas de trigo por parte do Brasil cresceram poreacutem a participaccedilatildeo da Argentina

nas mesmas foi bastante reduzida

Este quadro iraacute se alterar a partir de 1986 na medida em que o Brasil quase alcanccedila a

sua auto-suficiecircncia Assim entre 1986 e 1990 as compras externas brasileiras variaram entre

953000 e 27 milhotildees de toneladas conforme o ano Neste periacuteodo a Argentina chegou a

participar com ateacute 100 do abastecimento brasileiro Tal realidade iraacute se acentuar a partir de

1990 quando o Brasil deixa de efetuar compras estatais colocando a produccedilatildeo nacional

diretamente na dependecircncia do mercado Em 1991 com a formaccedilatildeo do Mercosul a Argentina

se consolida definitivamente como o principal fornecedor brasileiro de trigo

Entre 1990 e 2000 as compras externas de trigo por parte do Brasil foram

multiplicadas por cerca de quatro vezes passando de 19 milhatildeo de toneladas para 76

milhotildees de toneladas Destes totais a Argentina participou com 94 e 95 respectivamente

da oferta destinada ao Brasil Ao mesmo tempo as compras do Brasil junto ao mercado

argentino representaram respectivamente 31 e 67 do total exportado pelo vizinho paiacutes Ou

seja ao mesmo tempo em que o Brasil passou a privilegiar o produto argentino em funccedilatildeo

dos acordos do Mercosul e por encontrar uma oferta abundante de qualidade e mais barata as

importaccedilotildees brasileiras passaram a ocupar um lugar de destaque nas vendas de trigo por parte

da Argentina Este quadro ficou mais evidente entre 1998 e 2001 (cf graacutefico a seguir)

A partir de 2000 com a melhoria paulatina dos preccedilos externos (as cotaccedilotildees meacutedias

em Chicago passaram de US$ 257bushel em 2000 para US$ 334bushel em 2003 ou seja

um aumento de 30 chegando a US$ 358bushel na meacutedia dos primeiros nove meses de

2004) e os efeitos da desvalorizaccedilatildeo cambial realizada pelo Brasil em 1999 quando passou a

adotar um regime cambial flexiacutevel as importaccedilotildees ficaram mais custosas Esta nova realidade

levou a um aumento na produccedilatildeo de trigo no interior do Brasil fato que reduziu o volume

importado Este que foi de 76 milhotildees de toneladas em 2000 recua para 62 milhotildees em

2003 com projeccedilatildeo de chegar a 55 milhotildees de toneladas em 2004 Ou seja o recuo em

quatro anos se consolida em cerca de 28 Neste mesmo periacuteodo o volume importado da

Argentina igualmente recua poreacutem sua participaccedilatildeo no total geral permanece sem grandes

alteraccedilotildees Desta forma as compras realizadas no vizinho paiacutes recuam nos uacuteltimos quatro

anos de 72 milhotildees de toneladas para 48 milhotildees (projeccedilatildeo para 2004) Isto representa uma

queda de 33 no periacuteodo Ou seja as compras feitas na Argentina que representavam 95

do total em 2000 recuam para 87 na projeccedilatildeo para 2004 apoacutes 89 em 2003 Assim

embora a Argentina permaneccedila como o grande fornecedor nacional de trigo o Brasil reduziu

um pouco mais suas compras oriundas deste paiacutes em relaccedilatildeo ao restante do mercado mundial

Paralelamente as vendas para o Brasil que representavam na Argentina 67 de suas

exportaccedilotildees em 2000 caem para 57 em 2002 Diante da frustraccedilatildeo na produccedilatildeo argentina

de 2003 suas exportaccedilotildees totais recuam para 61 milhotildees de toneladas sendo que 90

acabaram se destinando ao Brasil Mas este quadro de recuperaccedilatildeo parece ser esporaacutedico pois

na projeccedilatildeo para o ano de 2004 a participaccedilatildeo do Brasil nas exportaccedilotildees totais argentinas de

trigo recuaram para 60 Na praacutetica os EUA acabaram sendo os beneficiados Suas vendas

ao Brasil passam de 51685 toneladas em 2000 para 677180 toneladas em 2002 e 500014

toneladas em 2003 Neste uacuteltimo ano o Canadaacute exportou 170318 toneladas de trigo ao nosso

paiacutes apoacutes 33820 toneladas em 2001 e 163077 toneladas em 2000 Ou seja haacute uma certa

correlaccedilatildeo direta entre o aumento da produccedilatildeo de trigo no Brasil e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo

relativa da Argentina nas vendas de trigo ao nosso paiacutes

23 A evoluccedilatildeo dos preccedilos internacionais do trigo e os impactos nos preccedilos argentinos e

brasileiros

Os preccedilos meacutedios do trigo na Bolsa de Chicago entre 1985 e 2004 (primeiros nove

meses) evoluiacuteram entre um miacutenimo de US$ 257bushel6 registrado em 2000 e um maacuteximo

de US$ 480bushel registrado em 1996

Na verdade nos 20 anos aqui analisados o periacuteodo de pior preccedilo meacutedio se deu entre

julho de 1998 e setembro de 2001 quando o mercado ficou ao redor de US$ 263bushel Este

6 Um bushel de trigo equivale a 2721 quilos

periacuteodo deu sequumlecircncia a um longo espaccedilo de tempo em que os preccedilos estiveram muito bons

O mesmo iniciou em agosto de 1991 e durou ateacute marccedilo de 1998 Nestes 80 meses a meacutedia

ficou em US$ 372bushel com pico de ateacute US$ 613bushel registrado na meacutedia de maio de

1996 O mais interessante neste contexto eacute que a reaccedilatildeo da produccedilatildeo brasileira se daraacute

exatamente no momento em que os preccedilos internacionais recuam ou seja a partir de 2000

Parte da explicaccedilatildeo estaacute no fato de que particularmente na Argentina a partir de meados de

2002 seus preccedilos internos sobem de forma relativamente importante

De fato a realidade de preccedilos internacionais provocou um movimento de reduccedilatildeo nos

preccedilos FOB da Argentina num primeiro momento Os mesmos que haviam chegado a US$

1067saco de 60 quilos na meacutedia de 1995 e US$ 1311saco em 1996 recuam fortemente nos

anos seguintes A tal ponto que em 1999 a Argentina exportou seu trigo a um preccedilo meacutedio de

US$ 687saco Ou seja em trecircs anos o produto argentino perdeu 476 de seu valor puxado

pelo comportamento negativo de Chicago e pelas boas safras locais Efetivamente o trigo na

Argentina tem seu preccedilo balizado por Chicago na mesma loacutegica que encontramos o

comportamento da soja no Brasil por exemplo Importante se faz lembrar que ateacute esta data a

Argentina natildeo havia desvalorizado sua moeda fato que iraacute ocorrer no final de 2001

A partir de junho de 2002 os preccedilos internos no vizinho paiacutes confirmam seu

movimento de alta o qual iraacute durar dois anos ou seja ateacute junho de 2004 Na oportunidade a

meacutedia de preccedilos FOB portos argentinos ficou em US$ 956saco Assim os preccedilos no Brasil

respondem agrave elevaccedilatildeo dos preccedilos na importaccedilatildeo particularmente do produto oriundo da

Argentina por significar o maior volume Ao mesmo tempo o clima positivo associado a

uma reduccedilatildeo na oferta local estimulam os produtores a semearem o cereal Isto recebe

igualmente um certo apoio do Estado atraveacutes de financiamentos a juros menores do que os

praticados no mercado Um terceiro aspecto que iraacute influenciar tal decisatildeo eacute a retomada da

produccedilatildeo de soja estimulada por menores custos graccedilas a transgenia associada a um periacuteodo

de preccedilos elevados para a oleaginosa em Chicago Por um breve momento o Sul do Brasil viu

se fortalecer novamente o tradicional binocircmio trigo-soja fato que comprometeu novamente os

projetos de diversificaccedilatildeo (leite suiacutenos gado de corte frutas e legumes) existentes

Neste contexto os preccedilos do trigo no Rio Grande do Sul que chegaram a US$

994saco ao produtor na meacutedia de 1996 apoacutes US$ 843 um ano antes recuam para US$ 629

em 1999 Posteriormente ocorre uma paulatina recuperaccedilatildeo (com exceccedilatildeo do ano de 2001)

com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos

de preccedilo meacutedio desde 19967

Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com

valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma

qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e

2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo

pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais

elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o

preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23

3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato

No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas

sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002

conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias

com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081

bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos

R$ 3 milhotildees defensivos

R$ 212 milhotildees

maacutequinas e implementos

R$ 492 milhotildees fertilizantes

R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a

produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra

20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a

comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o

valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural

(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um

niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-

gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto

grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002

as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa

o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por

meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo

rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao

valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor

moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo

7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$

796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)

produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de

farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-

se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo

referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse

ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos

diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao

produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal

fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir

desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e

margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre

devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e

sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas

R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo

R$ 2055 bilhotildees biscoitos

R$ 3480 bilhotildees) O

faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees

(auto-serviccedilo

R$ 542 bilhotildees padarias

R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas

R$ 432

bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-

central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas

(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)

induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634

bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil

movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8

Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de

aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo

Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo

distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os

setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes

US$ 25

milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos

US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos

US$135 milhotildees fertilizantes

85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees

(setor de plaacutesticos flexiacuteveis

US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado

US$ 640 mil accediluacutecar

US$ 17 milhotildees sal

US$ 790 mil fermento

US$ 55 milhotildees oxidantes

US$ 740 mil

Enzimas

US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees

induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas

USS 76 milhotildees

8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP

2004 224 p

panificaccedilatildeo

US$ 665 milhotildees padarias

US$ 665 milhotildees biscoitos

US$ 113 milhotildees

raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)

Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de

inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo

propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-

obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a

utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja

isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9

Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da

agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma

meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura

empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram

gerados em 83000 propriedades rurais10

31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo

A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de

1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo

internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo

internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil

era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista

disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar

um profundo impacto no setor

No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se

encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques

mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991

e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994

o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de

Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$

15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina

Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se

conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o

9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP

2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002

sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas

compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os

preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional

ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees

na importaccedilatildeo

No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis

recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques

mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de

importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos

Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a

opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os

produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado

Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997

com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos

niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e

199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa

25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na

comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual

o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo

(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto

A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de

liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente

acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia

supor

O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse

processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de

trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante

deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos

relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma

da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos

Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos

do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que

prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo

O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando

ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo

nacional

Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola

pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee

condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com

descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas

produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas

foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento

havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na

praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o

governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave

qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a

livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de

triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio

do Mercosul

Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal

levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos

investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em

198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia

entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da

demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal

produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em

relaccedilatildeo ao produto

Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e

condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como

enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras

presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil

com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais

Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que

acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da

comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional

desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso

Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como

atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da

comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou

igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca

da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o

mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura

nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu

ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade

econocircmica rentaacutevel e viaacutevel

Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no

produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos

do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a

concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente

tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado

livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes

ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de

origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o

abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a

situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo

conjunturais

32 Aspectos atuais do trigo no Brasil

Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam

plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se

concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave

cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o

custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura

compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de

culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos

baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos

custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de

solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo

parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a

esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto

agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os

levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos

viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo

No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via

o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo

passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As

cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer

volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de

lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor

intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou

igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as

cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de

moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o

governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos

e raramente exportam o cereal

Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram

para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito

baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em

termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto

A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta

dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na

medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a

qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal

realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em

demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica

existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de

comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais

uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia

Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos

anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o

Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e

portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as

cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do

produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional

devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto

desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem

todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo

Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros

de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia

produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas

proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O

resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores

agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos

moinhos atraveacutes de contratos

33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11

A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo

de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo

governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da

tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram

induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais

elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo

adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos

produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos

A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este

quadro

Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo

quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se

desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um

consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes

passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas

consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas

A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e

produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de

trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o

consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais

oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as

11 FGVIPEA 1998

oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a

partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central

disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa

de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou

como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente

havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal

O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da

concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos

industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de

poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado

Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea

em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os

segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos

agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto

grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70

do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57

Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional

destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados

Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos

produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos

de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande

competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais

favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de

destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade

agriacutecola

Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo

passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte

do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a

produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para

aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina

Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que

incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado

ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais

elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

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Page 7: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

2004) e os efeitos da desvalorizaccedilatildeo cambial realizada pelo Brasil em 1999 quando passou a

adotar um regime cambial flexiacutevel as importaccedilotildees ficaram mais custosas Esta nova realidade

levou a um aumento na produccedilatildeo de trigo no interior do Brasil fato que reduziu o volume

importado Este que foi de 76 milhotildees de toneladas em 2000 recua para 62 milhotildees em

2003 com projeccedilatildeo de chegar a 55 milhotildees de toneladas em 2004 Ou seja o recuo em

quatro anos se consolida em cerca de 28 Neste mesmo periacuteodo o volume importado da

Argentina igualmente recua poreacutem sua participaccedilatildeo no total geral permanece sem grandes

alteraccedilotildees Desta forma as compras realizadas no vizinho paiacutes recuam nos uacuteltimos quatro

anos de 72 milhotildees de toneladas para 48 milhotildees (projeccedilatildeo para 2004) Isto representa uma

queda de 33 no periacuteodo Ou seja as compras feitas na Argentina que representavam 95

do total em 2000 recuam para 87 na projeccedilatildeo para 2004 apoacutes 89 em 2003 Assim

embora a Argentina permaneccedila como o grande fornecedor nacional de trigo o Brasil reduziu

um pouco mais suas compras oriundas deste paiacutes em relaccedilatildeo ao restante do mercado mundial

Paralelamente as vendas para o Brasil que representavam na Argentina 67 de suas

exportaccedilotildees em 2000 caem para 57 em 2002 Diante da frustraccedilatildeo na produccedilatildeo argentina

de 2003 suas exportaccedilotildees totais recuam para 61 milhotildees de toneladas sendo que 90

acabaram se destinando ao Brasil Mas este quadro de recuperaccedilatildeo parece ser esporaacutedico pois

na projeccedilatildeo para o ano de 2004 a participaccedilatildeo do Brasil nas exportaccedilotildees totais argentinas de

trigo recuaram para 60 Na praacutetica os EUA acabaram sendo os beneficiados Suas vendas

ao Brasil passam de 51685 toneladas em 2000 para 677180 toneladas em 2002 e 500014

toneladas em 2003 Neste uacuteltimo ano o Canadaacute exportou 170318 toneladas de trigo ao nosso

paiacutes apoacutes 33820 toneladas em 2001 e 163077 toneladas em 2000 Ou seja haacute uma certa

correlaccedilatildeo direta entre o aumento da produccedilatildeo de trigo no Brasil e a reduccedilatildeo da participaccedilatildeo

relativa da Argentina nas vendas de trigo ao nosso paiacutes

23 A evoluccedilatildeo dos preccedilos internacionais do trigo e os impactos nos preccedilos argentinos e

brasileiros

Os preccedilos meacutedios do trigo na Bolsa de Chicago entre 1985 e 2004 (primeiros nove

meses) evoluiacuteram entre um miacutenimo de US$ 257bushel6 registrado em 2000 e um maacuteximo

de US$ 480bushel registrado em 1996

Na verdade nos 20 anos aqui analisados o periacuteodo de pior preccedilo meacutedio se deu entre

julho de 1998 e setembro de 2001 quando o mercado ficou ao redor de US$ 263bushel Este

6 Um bushel de trigo equivale a 2721 quilos

periacuteodo deu sequumlecircncia a um longo espaccedilo de tempo em que os preccedilos estiveram muito bons

O mesmo iniciou em agosto de 1991 e durou ateacute marccedilo de 1998 Nestes 80 meses a meacutedia

ficou em US$ 372bushel com pico de ateacute US$ 613bushel registrado na meacutedia de maio de

1996 O mais interessante neste contexto eacute que a reaccedilatildeo da produccedilatildeo brasileira se daraacute

exatamente no momento em que os preccedilos internacionais recuam ou seja a partir de 2000

Parte da explicaccedilatildeo estaacute no fato de que particularmente na Argentina a partir de meados de

2002 seus preccedilos internos sobem de forma relativamente importante

De fato a realidade de preccedilos internacionais provocou um movimento de reduccedilatildeo nos

preccedilos FOB da Argentina num primeiro momento Os mesmos que haviam chegado a US$

1067saco de 60 quilos na meacutedia de 1995 e US$ 1311saco em 1996 recuam fortemente nos

anos seguintes A tal ponto que em 1999 a Argentina exportou seu trigo a um preccedilo meacutedio de

US$ 687saco Ou seja em trecircs anos o produto argentino perdeu 476 de seu valor puxado

pelo comportamento negativo de Chicago e pelas boas safras locais Efetivamente o trigo na

Argentina tem seu preccedilo balizado por Chicago na mesma loacutegica que encontramos o

comportamento da soja no Brasil por exemplo Importante se faz lembrar que ateacute esta data a

Argentina natildeo havia desvalorizado sua moeda fato que iraacute ocorrer no final de 2001

A partir de junho de 2002 os preccedilos internos no vizinho paiacutes confirmam seu

movimento de alta o qual iraacute durar dois anos ou seja ateacute junho de 2004 Na oportunidade a

meacutedia de preccedilos FOB portos argentinos ficou em US$ 956saco Assim os preccedilos no Brasil

respondem agrave elevaccedilatildeo dos preccedilos na importaccedilatildeo particularmente do produto oriundo da

Argentina por significar o maior volume Ao mesmo tempo o clima positivo associado a

uma reduccedilatildeo na oferta local estimulam os produtores a semearem o cereal Isto recebe

igualmente um certo apoio do Estado atraveacutes de financiamentos a juros menores do que os

praticados no mercado Um terceiro aspecto que iraacute influenciar tal decisatildeo eacute a retomada da

produccedilatildeo de soja estimulada por menores custos graccedilas a transgenia associada a um periacuteodo

de preccedilos elevados para a oleaginosa em Chicago Por um breve momento o Sul do Brasil viu

se fortalecer novamente o tradicional binocircmio trigo-soja fato que comprometeu novamente os

projetos de diversificaccedilatildeo (leite suiacutenos gado de corte frutas e legumes) existentes

Neste contexto os preccedilos do trigo no Rio Grande do Sul que chegaram a US$

994saco ao produtor na meacutedia de 1996 apoacutes US$ 843 um ano antes recuam para US$ 629

em 1999 Posteriormente ocorre uma paulatina recuperaccedilatildeo (com exceccedilatildeo do ano de 2001)

com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos

de preccedilo meacutedio desde 19967

Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com

valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma

qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e

2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo

pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais

elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o

preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23

3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato

No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas

sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002

conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias

com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081

bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos

R$ 3 milhotildees defensivos

R$ 212 milhotildees

maacutequinas e implementos

R$ 492 milhotildees fertilizantes

R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a

produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra

20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a

comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o

valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural

(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um

niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-

gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto

grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002

as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa

o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por

meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo

rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao

valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor

moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo

7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$

796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)

produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de

farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-

se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo

referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse

ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos

diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao

produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal

fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir

desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e

margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre

devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e

sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas

R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo

R$ 2055 bilhotildees biscoitos

R$ 3480 bilhotildees) O

faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees

(auto-serviccedilo

R$ 542 bilhotildees padarias

R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas

R$ 432

bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-

central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas

(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)

induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634

bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil

movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8

Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de

aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo

Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo

distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os

setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes

US$ 25

milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos

US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos

US$135 milhotildees fertilizantes

85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees

(setor de plaacutesticos flexiacuteveis

US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado

US$ 640 mil accediluacutecar

US$ 17 milhotildees sal

US$ 790 mil fermento

US$ 55 milhotildees oxidantes

US$ 740 mil

Enzimas

US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees

induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas

USS 76 milhotildees

8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP

2004 224 p

panificaccedilatildeo

US$ 665 milhotildees padarias

US$ 665 milhotildees biscoitos

US$ 113 milhotildees

raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)

Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de

inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo

propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-

obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a

utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja

isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9

Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da

agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma

meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura

empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram

gerados em 83000 propriedades rurais10

31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo

A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de

1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo

internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo

internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil

era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista

disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar

um profundo impacto no setor

No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se

encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques

mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991

e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994

o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de

Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$

15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina

Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se

conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o

9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP

2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002

sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas

compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os

preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional

ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees

na importaccedilatildeo

No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis

recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques

mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de

importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos

Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a

opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os

produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado

Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997

com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos

niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e

199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa

25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na

comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual

o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo

(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto

A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de

liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente

acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia

supor

O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse

processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de

trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante

deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos

relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma

da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos

Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos

do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que

prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo

O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando

ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo

nacional

Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola

pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee

condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com

descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas

produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas

foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento

havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na

praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o

governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave

qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a

livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de

triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio

do Mercosul

Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal

levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos

investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em

198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia

entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da

demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal

produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em

relaccedilatildeo ao produto

Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e

condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como

enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras

presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil

com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais

Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que

acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da

comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional

desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso

Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como

atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da

comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou

igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca

da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o

mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura

nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu

ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade

econocircmica rentaacutevel e viaacutevel

Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no

produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos

do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a

concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente

tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado

livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes

ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de

origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o

abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a

situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo

conjunturais

32 Aspectos atuais do trigo no Brasil

Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam

plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se

concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave

cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o

custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura

compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de

culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos

baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos

custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de

solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo

parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a

esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto

agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os

levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos

viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo

No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via

o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo

passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As

cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer

volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de

lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor

intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou

igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as

cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de

moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o

governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos

e raramente exportam o cereal

Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram

para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito

baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em

termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto

A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta

dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na

medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a

qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal

realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em

demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica

existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de

comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais

uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia

Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos

anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o

Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e

portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as

cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do

produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional

devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto

desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem

todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo

Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros

de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia

produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas

proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O

resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores

agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos

moinhos atraveacutes de contratos

33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11

A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo

de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo

governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da

tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram

induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais

elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo

adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos

produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos

A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este

quadro

Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo

quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se

desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um

consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes

passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas

consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas

A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e

produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de

trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o

consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais

oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as

11 FGVIPEA 1998

oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a

partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central

disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa

de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou

como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente

havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal

O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da

concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos

industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de

poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado

Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea

em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os

segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos

agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto

grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70

do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57

Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional

destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados

Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos

produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos

de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande

competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais

favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de

destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade

agriacutecola

Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo

passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte

do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a

produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para

aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina

Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que

incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado

ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais

elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

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Page 8: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

periacuteodo deu sequumlecircncia a um longo espaccedilo de tempo em que os preccedilos estiveram muito bons

O mesmo iniciou em agosto de 1991 e durou ateacute marccedilo de 1998 Nestes 80 meses a meacutedia

ficou em US$ 372bushel com pico de ateacute US$ 613bushel registrado na meacutedia de maio de

1996 O mais interessante neste contexto eacute que a reaccedilatildeo da produccedilatildeo brasileira se daraacute

exatamente no momento em que os preccedilos internacionais recuam ou seja a partir de 2000

Parte da explicaccedilatildeo estaacute no fato de que particularmente na Argentina a partir de meados de

2002 seus preccedilos internos sobem de forma relativamente importante

De fato a realidade de preccedilos internacionais provocou um movimento de reduccedilatildeo nos

preccedilos FOB da Argentina num primeiro momento Os mesmos que haviam chegado a US$

1067saco de 60 quilos na meacutedia de 1995 e US$ 1311saco em 1996 recuam fortemente nos

anos seguintes A tal ponto que em 1999 a Argentina exportou seu trigo a um preccedilo meacutedio de

US$ 687saco Ou seja em trecircs anos o produto argentino perdeu 476 de seu valor puxado

pelo comportamento negativo de Chicago e pelas boas safras locais Efetivamente o trigo na

Argentina tem seu preccedilo balizado por Chicago na mesma loacutegica que encontramos o

comportamento da soja no Brasil por exemplo Importante se faz lembrar que ateacute esta data a

Argentina natildeo havia desvalorizado sua moeda fato que iraacute ocorrer no final de 2001

A partir de junho de 2002 os preccedilos internos no vizinho paiacutes confirmam seu

movimento de alta o qual iraacute durar dois anos ou seja ateacute junho de 2004 Na oportunidade a

meacutedia de preccedilos FOB portos argentinos ficou em US$ 956saco Assim os preccedilos no Brasil

respondem agrave elevaccedilatildeo dos preccedilos na importaccedilatildeo particularmente do produto oriundo da

Argentina por significar o maior volume Ao mesmo tempo o clima positivo associado a

uma reduccedilatildeo na oferta local estimulam os produtores a semearem o cereal Isto recebe

igualmente um certo apoio do Estado atraveacutes de financiamentos a juros menores do que os

praticados no mercado Um terceiro aspecto que iraacute influenciar tal decisatildeo eacute a retomada da

produccedilatildeo de soja estimulada por menores custos graccedilas a transgenia associada a um periacuteodo

de preccedilos elevados para a oleaginosa em Chicago Por um breve momento o Sul do Brasil viu

se fortalecer novamente o tradicional binocircmio trigo-soja fato que comprometeu novamente os

projetos de diversificaccedilatildeo (leite suiacutenos gado de corte frutas e legumes) existentes

Neste contexto os preccedilos do trigo no Rio Grande do Sul que chegaram a US$

994saco ao produtor na meacutedia de 1996 apoacutes US$ 843 um ano antes recuam para US$ 629

em 1999 Posteriormente ocorre uma paulatina recuperaccedilatildeo (com exceccedilatildeo do ano de 2001)

com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos

de preccedilo meacutedio desde 19967

Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com

valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma

qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e

2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo

pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais

elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o

preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23

3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato

No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas

sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002

conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias

com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081

bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos

R$ 3 milhotildees defensivos

R$ 212 milhotildees

maacutequinas e implementos

R$ 492 milhotildees fertilizantes

R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a

produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra

20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a

comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o

valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural

(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um

niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-

gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto

grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002

as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa

o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por

meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo

rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao

valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor

moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo

7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$

796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)

produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de

farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-

se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo

referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse

ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos

diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao

produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal

fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir

desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e

margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre

devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e

sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas

R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo

R$ 2055 bilhotildees biscoitos

R$ 3480 bilhotildees) O

faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees

(auto-serviccedilo

R$ 542 bilhotildees padarias

R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas

R$ 432

bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-

central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas

(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)

induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634

bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil

movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8

Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de

aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo

Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo

distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os

setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes

US$ 25

milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos

US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos

US$135 milhotildees fertilizantes

85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees

(setor de plaacutesticos flexiacuteveis

US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado

US$ 640 mil accediluacutecar

US$ 17 milhotildees sal

US$ 790 mil fermento

US$ 55 milhotildees oxidantes

US$ 740 mil

Enzimas

US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees

induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas

USS 76 milhotildees

8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP

2004 224 p

panificaccedilatildeo

US$ 665 milhotildees padarias

US$ 665 milhotildees biscoitos

US$ 113 milhotildees

raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)

Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de

inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo

propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-

obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a

utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja

isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9

Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da

agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma

meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura

empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram

gerados em 83000 propriedades rurais10

31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo

A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de

1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo

internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo

internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil

era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista

disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar

um profundo impacto no setor

No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se

encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques

mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991

e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994

o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de

Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$

15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina

Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se

conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o

9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP

2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002

sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas

compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os

preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional

ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees

na importaccedilatildeo

No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis

recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques

mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de

importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos

Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a

opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os

produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado

Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997

com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos

niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e

199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa

25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na

comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual

o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo

(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto

A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de

liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente

acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia

supor

O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse

processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de

trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante

deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos

relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma

da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos

Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos

do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que

prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo

O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando

ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo

nacional

Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola

pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee

condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com

descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas

produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas

foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento

havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na

praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o

governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave

qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a

livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de

triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio

do Mercosul

Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal

levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos

investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em

198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia

entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da

demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal

produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em

relaccedilatildeo ao produto

Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e

condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como

enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras

presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil

com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais

Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que

acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da

comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional

desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso

Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como

atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da

comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou

igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca

da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o

mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura

nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu

ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade

econocircmica rentaacutevel e viaacutevel

Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no

produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos

do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a

concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente

tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado

livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes

ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de

origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o

abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a

situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo

conjunturais

32 Aspectos atuais do trigo no Brasil

Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam

plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se

concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave

cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o

custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura

compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de

culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos

baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos

custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de

solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo

parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a

esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto

agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os

levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos

viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo

No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via

o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo

passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As

cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer

volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de

lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor

intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou

igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as

cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de

moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o

governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos

e raramente exportam o cereal

Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram

para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito

baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em

termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto

A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta

dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na

medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a

qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal

realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em

demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica

existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de

comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais

uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia

Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos

anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o

Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e

portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as

cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do

produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional

devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto

desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem

todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo

Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros

de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia

produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas

proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O

resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores

agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos

moinhos atraveacutes de contratos

33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11

A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo

de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo

governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da

tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram

induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais

elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo

adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos

produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos

A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este

quadro

Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo

quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se

desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um

consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes

passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas

consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas

A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e

produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de

trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o

consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais

oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as

11 FGVIPEA 1998

oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a

partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central

disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa

de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou

como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente

havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal

O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da

concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos

industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de

poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado

Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea

em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os

segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos

agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto

grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70

do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57

Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional

destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados

Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos

produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos

de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande

competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais

favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de

destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade

agriacutecola

Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo

passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte

do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a

produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para

aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina

Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que

incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado

ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais

elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

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Page 9: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

com os mesmos fechando a meacutedia de 2003 em US$ 858saco isto eacute o melhor ano em termos

de preccedilo meacutedio desde 19967

Por sua vez os preccedilos do trigo no Paranaacute seguem a mesma loacutegica poreacutem com

valores mais elevados Isto se daacute pelo fato do produto paranaense normalmente acusar uma

qualidade superior aleacutem de entrar no mercado mais cedo (setembro) De fato entre 1995 e

2004 em apenas um ano (2002) o preccedilo ao produtor gauacutecho foi superior em 10 ao preccedilo

pago ao produtor paranaense Nos demais anos os preccedilos do trigo no Paranaacute foram mais

elevados variando entre 4 e 12 sendo que em 2004 (primeiros nove meses do ano) o

preccedilo meacutedio no Paranaacute superou o gauacutecho em 23

3 A cadeia produtiva do trigo no Brasil um breve relato

No primeiro niacutevel da cadeia temos as induacutestrias de insumos agriacutecolas Satildeo elas

sementes corretivos maacutequinas e implementos defensivos agriacutecolas e fertilizantes Em 2002

conforme quantificaccedilatildeo realizada por meio do levantamento do faturamento dessas induacutestrias

com as vendas para a cadeia do trigo esse segmento representou um faturamento de R$1081

bilhatildeo (sementes - R$ 77 milhotildees corretivos

R$ 3 milhotildees defensivos

R$ 212 milhotildees

maacutequinas e implementos

R$ 492 milhotildees fertilizantes

R$ 297 milhotildees) No mesmo ano a

produccedilatildeo rural foi quantificada por meio da multiplicaccedilatildeo da produccedilatildeo de trigo da safra

20012002 (2913900 toneladas e seu preccedilo meacutedio) Assim o montante obtido com a

comercializaccedilatildeo daquela safra foi de R$ 1152 bilhatildeo A diferenccedila (R$ 71 milhotildees) entre o

valor movimentado pelo segmento de insumos agriacutecolas (R$ 1081 bilhatildeo) e a produccedilatildeo rural

(1152 bilhatildeo) eacute resultado da agregaccedilatildeo de serviccedilos matildeo-de-obra e margem de lucro de um

niacutevel para outro No mesmo niacutevel da produccedilatildeo de trigo encontram-se as importaccedilotildees de trigo-

gratildeo A produccedilatildeo nacional natildeo eacute suficiente para suprir as necessidades internas Portanto

grande parte do trigo utilizado pelos moinhos eacute proveniente de outros paiacuteses No ano de 2002

as importaccedilotildees de trigo somaram R$ 2634 bilhotildees O niacutevel seguinte dos moinhos representa

o primeiro processo de industrializaccedilatildeo (produccedilatildeo de farinha de trigo) e foi quantificado por

meio do levantamento do faturamento dos moinhos em 2002 (R$ 5850 bilhotildees) e a produccedilatildeo

rural juntamente com as importaccedilotildees de trigo gratildeo (R$ 3786 bilhotildees) correspondendo ao

valor agregado pelos serviccedilos matildeo-de-obra energia e margem de lucro realizado pelo setor

moageiro Por sua vez no abastecimento da induacutestria alimentiacutecia aleacutem da farinha de trigo

7 Em 2004 a meacutedia de preccedilos voltou a recuar tendo registrado nos nove primeiros meses o valor de US$

796saco com tendecircncia de um recuo ainda mais expressivo nos quatro meses restantes (outubro a dezembro)

produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de

farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-

se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo

referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse

ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos

diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao

produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal

fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir

desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e

margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre

devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e

sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas

R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo

R$ 2055 bilhotildees biscoitos

R$ 3480 bilhotildees) O

faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees

(auto-serviccedilo

R$ 542 bilhotildees padarias

R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas

R$ 432

bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-

central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas

(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)

induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634

bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil

movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8

Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de

aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo

Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo

distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os

setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes

US$ 25

milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos

US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos

US$135 milhotildees fertilizantes

85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees

(setor de plaacutesticos flexiacuteveis

US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado

US$ 640 mil accediluacutecar

US$ 17 milhotildees sal

US$ 790 mil fermento

US$ 55 milhotildees oxidantes

US$ 740 mil

Enzimas

US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees

induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas

USS 76 milhotildees

8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP

2004 224 p

panificaccedilatildeo

US$ 665 milhotildees padarias

US$ 665 milhotildees biscoitos

US$ 113 milhotildees

raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)

Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de

inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo

propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-

obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a

utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja

isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9

Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da

agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma

meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura

empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram

gerados em 83000 propriedades rurais10

31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo

A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de

1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo

internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo

internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil

era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista

disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar

um profundo impacto no setor

No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se

encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques

mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991

e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994

o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de

Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$

15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina

Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se

conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o

9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP

2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002

sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas

compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os

preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional

ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees

na importaccedilatildeo

No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis

recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques

mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de

importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos

Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a

opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os

produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado

Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997

com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos

niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e

199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa

25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na

comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual

o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo

(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto

A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de

liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente

acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia

supor

O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse

processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de

trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante

deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos

relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma

da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos

Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos

do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que

prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo

O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando

ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo

nacional

Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola

pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee

condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com

descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas

produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas

foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento

havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na

praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o

governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave

qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a

livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de

triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio

do Mercosul

Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal

levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos

investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em

198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia

entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da

demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal

produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em

relaccedilatildeo ao produto

Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e

condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como

enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras

presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil

com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais

Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que

acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da

comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional

desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso

Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como

atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da

comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou

igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca

da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o

mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura

nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu

ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade

econocircmica rentaacutevel e viaacutevel

Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no

produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos

do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a

concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente

tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado

livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes

ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de

origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o

abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a

situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo

conjunturais

32 Aspectos atuais do trigo no Brasil

Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam

plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se

concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave

cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o

custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura

compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de

culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos

baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos

custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de

solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo

parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a

esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto

agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os

levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos

viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo

No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via

o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo

passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As

cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer

volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de

lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor

intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou

igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as

cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de

moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o

governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos

e raramente exportam o cereal

Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram

para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito

baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em

termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto

A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta

dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na

medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a

qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal

realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em

demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica

existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de

comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais

uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia

Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos

anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o

Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e

portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as

cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do

produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional

devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto

desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem

todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo

Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros

de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia

produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas

proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O

resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores

agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos

moinhos atraveacutes de contratos

33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11

A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo

de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo

governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da

tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram

induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais

elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo

adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos

produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos

A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este

quadro

Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo

quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se

desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um

consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes

passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas

consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas

A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e

produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de

trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o

consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais

oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as

11 FGVIPEA 1998

oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a

partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central

disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa

de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou

como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente

havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal

O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da

concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos

industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de

poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado

Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea

em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os

segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos

agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto

grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70

do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57

Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional

destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados

Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos

produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos

de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande

competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais

favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de

destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade

agriacutecola

Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo

passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte

do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a

produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para

aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina

Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que

incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado

ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais

elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

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Page 10: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

produzida pelos moinhos tambeacutem ocorre a importaccedilatildeo de uma pequena quantidade de

farinha farelo e misturas representando um montante de R$ 120 milhotildees em 2002 Ressalta-

se que ateacute esse ponto de cadeia os valores obtidos para quantificaccedilatildeo do sistema satildeo

referentes aos montantes movimentados diretamente com o produto trigo A partir desse

ponto da cadeia a quantificaccedilatildeo foi realizada por meio do levantamento do faturamento dos

diferentes setores presentes no sistema No entanto esse faturamento natildeo eacute limitado ao

produto trigo pois existem outros componentes agregados aos produtos (accediluacutecar sal

fermento aditivos embalagens entre outros) Tambeacutem eacute importante salientar que a partir

desse ponto natildeo eacute mais possiacutevel inferir o valor agregado com serviccedilos matildeo-de-obra e

margem de lucro por meio da diferenccedila de faturamento de um niacutevel para outro Isso ocorre

devido ao fato de a distribuiccedilatildeo dos produtos natildeo se dar linearmente de um niacutevel para outro e

sim de diversas formas Em 2002 a induacutestria de alimentos faturou R$ 7896 bilhotildees (massas

R$ 2361 bilhotildees panificaccedilatildeo

R$ 2055 bilhotildees biscoitos

R$ 3480 bilhotildees) O

faturamento do setor atacadista foi de R$ 21 bilhotildees e o do setor varejista R$ 1634 bilhotildees

(auto-serviccedilo

R$ 542 bilhotildees padarias

R$ 66 bilhotildees refeiccedilotildees coletivas

R$ 432

bilhotildees) Assim com o intuito de quantificar o valor movimentado internamente pelo eixo-

central da cadeia somou-se o faturamento dos seus niacuteveis principais insumos agriacutecolas

(1086 bilhatildeo) produccedilatildeo rural e importaccedilotildees (R$ 3786 bilhotildees) moagem (R$ 597 bilhotildees)

induacutestria de alimentos (R$ 7896 bilhotildees) atacado (R$ 21 bilhatildeo) e varejo (R$ 1634

bilhotildees) O resultado final indicou que em 2002 o eixo-central da cadeia do trigo no Brasil

movimentou aproximadamente R$ 37 bilhotildees8

Paralelamente em 2002 o governo federal recolheu um montante de

aproximadamente R$ 18 bilhatildeo com a tributaccedilatildeo dos agentes participantes da cadeia do trigo

Esses tributos (PISPasep Cofins e CPMF em cascata) recolhidos em 2002 estatildeo

distribuiacutedos na seguinte forma entre os elos produtivos da cadeia (natildeo estatildeo inclusos aqui os

setores de distribuiccedilatildeo) insumos Agriacutecolas US$ 306 milhotildees (setor de sementes

US$ 25

milhotildees corretivos - US$ 70 mil defensivos

US$ 6 milhotildees maacutequinas e implementos

US$135 milhotildees fertilizantes

85 milhotildees) insumos para moinhos US$ 472 milhotildees

(setor de plaacutesticos flexiacuteveis

US$ 21 milhotildees papelatildeo ondulado

US$ 640 mil accediluacutecar

US$ 17 milhotildees sal

US$ 790 mil fermento

US$ 55 milhotildees oxidantes

US$ 740 mil

Enzimas

US$ 15 milhatildeo) produccedilatildeo rural US$ 11 milhotildees moinhos US$ 181 milhotildees

induacutestria de Alimentos e Raccedilotildees US$ 15 bilhatildeo (setor de massas

USS 76 milhotildees

8 ROSSI RM amp NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no Brasil Ed AtlasPENSA-UNIEMP Satildeo Paulo-SP

2004 224 p

panificaccedilatildeo

US$ 665 milhotildees padarias

US$ 665 milhotildees biscoitos

US$ 113 milhotildees

raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)

Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de

inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo

propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-

obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a

utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja

isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9

Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da

agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma

meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura

empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram

gerados em 83000 propriedades rurais10

31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo

A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de

1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo

internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo

internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil

era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista

disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar

um profundo impacto no setor

No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se

encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques

mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991

e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994

o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de

Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$

15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina

Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se

conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o

9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP

2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002

sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas

compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os

preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional

ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees

na importaccedilatildeo

No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis

recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques

mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de

importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos

Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a

opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os

produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado

Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997

com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos

niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e

199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa

25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na

comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual

o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo

(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto

A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de

liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente

acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia

supor

O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse

processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de

trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante

deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos

relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma

da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos

Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos

do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que

prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo

O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando

ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo

nacional

Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola

pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee

condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com

descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas

produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas

foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento

havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na

praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o

governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave

qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a

livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de

triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio

do Mercosul

Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal

levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos

investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em

198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia

entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da

demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal

produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em

relaccedilatildeo ao produto

Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e

condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como

enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras

presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil

com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais

Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que

acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da

comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional

desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso

Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como

atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da

comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou

igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca

da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o

mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura

nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu

ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade

econocircmica rentaacutevel e viaacutevel

Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no

produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos

do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a

concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente

tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado

livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes

ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de

origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o

abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a

situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo

conjunturais

32 Aspectos atuais do trigo no Brasil

Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam

plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se

concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave

cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o

custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura

compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de

culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos

baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos

custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de

solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo

parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a

esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto

agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os

levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos

viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo

No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via

o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo

passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As

cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer

volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de

lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor

intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou

igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as

cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de

moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o

governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos

e raramente exportam o cereal

Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram

para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito

baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em

termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto

A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta

dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na

medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a

qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal

realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em

demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica

existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de

comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais

uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia

Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos

anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o

Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e

portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as

cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do

produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional

devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto

desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem

todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo

Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros

de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia

produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas

proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O

resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores

agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos

moinhos atraveacutes de contratos

33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11

A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo

de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo

governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da

tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram

induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais

elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo

adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos

produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos

A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este

quadro

Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo

quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se

desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um

consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes

passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas

consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas

A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e

produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de

trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o

consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais

oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as

11 FGVIPEA 1998

oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a

partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central

disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa

de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou

como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente

havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal

O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da

concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos

industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de

poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado

Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea

em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os

segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos

agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto

grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70

do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57

Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional

destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados

Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos

produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos

de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande

competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais

favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de

destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade

agriacutecola

Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo

passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte

do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a

produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para

aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina

Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que

incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado

ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais

elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

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Page 11: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

panificaccedilatildeo

US$ 665 milhotildees padarias

US$ 665 milhotildees biscoitos

US$ 113 milhotildees

raccedilatildeo animal US$ 553 milhotildees)

Para a produccedilatildeo rural o trigo apresenta significativa importacircncia Como cultura de

inverno fica evidente que o cereal reduz a ociosidade do investimento terra podendo

propiciar duas culturas aos produtores e mais do que isto dar melhor uso para sua matildeo-de-

obra maacutequinas infra-estrutura de armazenagem e outros investimentos Soacute como exemplo a

utilizaccedilatildeo do trigo em rotaccedilatildeo de culturas pode reduzir em 15 o custo de produccedilatildeo da soja

isso devido ao aumento da fertilidade do solo diminuiccedilatildeo de invasoras entre outros fatores 9

Outro ponto importante a ser destacado eacute a oportunidade de emprego no ramo da

agricultura Entre 2001 e 2002 a oportunidade de emprego no trigo cresceu 148 contra uma

meacutedia de 47 nas culturas do agronegoacutecio brasileiro Estimava-se que a agricultura

empregava 108000 famiacutelias de produtores e mais de 200000 empregos indiretos foram

gerados em 83000 propriedades rurais10

31 Desregulamentaccedilatildeo da produccedilatildeo

A intervenccedilatildeo do governo no mercado do trigo consolidada no Decreto-Lei ndeg 210 de

1967 resultou em uma total desvinculaccedilatildeo do mercado brasileiro em relaccedilatildeo ao preccedilo

internacional Para se ter uma ideacuteia do descaso com a paridade internacional em 1986 o preccedilo

internacional era de US$ 13000tonelada e o preccedilo interno em niacutevel do produtor no Brasil

era de US$ 24100tonelada passando a US$ 18500tonelada em 1987 e 1988 Em vista

disso a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura da economia natildeo poderiam deixar de causar

um profundo impacto no setor

No momento da extinccedilatildeo da poliacutetica oficial para o trigo o preccedilo CIF de importaccedilatildeo se

encontrava em niacutevel bastante deprimido pressionado pelos elevados volumes dos estoques

mundiais e pelo amplo programa de subsiacutedio agraves exportaccedilotildees do trigo estadunidense Em 1991

e 1992 as cotaccedilotildees FOB Argentina chegaram a atingir US$ 9000tonelada A partir de 1994

o Brasil deixou de adquirir o trigo estadunidense pelo programa de EEP (Programa de

Incentivo agraves Exportaccedilotildees) e a sua referecircncia internacional voltou a se situar aos niacuteveis de US$

15900tonelada FOB Golfo e US$ 12000 a US$ 13500 FOB Argentina

Mesmo com a extinccedilatildeo da intervenccedilatildeo estatal os preccedilos miacutenimos ainda se

conservaram elevados em relaccedilatildeo aos preccedilos de mercado passando o governo a adotar o

9 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final Instituto UNIEMP

2002 10 NEVES M F ROSSI RM amp CASTRO L T e Ibidem 2002

sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas

compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os

preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional

ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees

na importaccedilatildeo

No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis

recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques

mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de

importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos

Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a

opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os

produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado

Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997

com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos

niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e

199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa

25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na

comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual

o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo

(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto

A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de

liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente

acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia

supor

O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse

processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de

trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante

deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos

relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma

da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos

Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos

do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que

prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo

O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando

ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo

nacional

Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola

pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee

condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com

descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas

produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas

foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento

havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na

praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o

governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave

qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a

livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de

triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio

do Mercosul

Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal

levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos

investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em

198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia

entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da

demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal

produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em

relaccedilatildeo ao produto

Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e

condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como

enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras

presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil

com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais

Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que

acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da

comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional

desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso

Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como

atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da

comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou

igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca

da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o

mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura

nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu

ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade

econocircmica rentaacutevel e viaacutevel

Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no

produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos

do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a

concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente

tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado

livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes

ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de

origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o

abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a

situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo

conjunturais

32 Aspectos atuais do trigo no Brasil

Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam

plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se

concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave

cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o

custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura

compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de

culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos

baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos

custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de

solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo

parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a

esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto

agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os

levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos

viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo

No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via

o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo

passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As

cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer

volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de

lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor

intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou

igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as

cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de

moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o

governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos

e raramente exportam o cereal

Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram

para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito

baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em

termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto

A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta

dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na

medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a

qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal

realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em

demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica

existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de

comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais

uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia

Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos

anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o

Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e

portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as

cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do

produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional

devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto

desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem

todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo

Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros

de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia

produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas

proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O

resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores

agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos

moinhos atraveacutes de contratos

33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11

A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo

de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo

governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da

tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram

induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais

elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo

adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos

produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos

A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este

quadro

Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo

quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se

desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um

consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes

passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas

consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas

A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e

produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de

trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o

consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais

oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as

11 FGVIPEA 1998

oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a

partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central

disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa

de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou

como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente

havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal

O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da

concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos

industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de

poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado

Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea

em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os

segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos

agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto

grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70

do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57

Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional

destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados

Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos

produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos

de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande

competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais

favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de

destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade

agriacutecola

Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo

passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte

do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a

produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para

aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina

Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que

incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado

ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais

elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

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Page 12: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

sistema de Precircmio de Escoamento de Produto (PEP) e a Conab ainda permaneceu ativa nas

compras do cereal com os niacuteveis de sustentaccedilatildeo fixados em R$ 17300tonelada enquanto os

preccedilos internacionais mantinham-se ao redor de US$ 14000tonelada O produto nacional

ainda se direcionava para as matildeos do governo pois os moinhos tinham melhores condiccedilotildees

na importaccedilatildeo

No periacuteodo de 1995 ateacute final de 1996 os preccedilos internacionais se elevaram a niacuteveis

recordes devido ao desequiliacutebrio entre oferta e demanda e queda no niacutevel dos estoques

mundiais atingindo patamares de US$ 19000 a US$ 22000tonelada elevando os preccedilos de

importaccedilatildeo e produzindo uma situaccedilatildeo de convergecircncia entre os preccedilos externos e internos

Pela primeira vez desde a extinccedilatildeo do monopoacutelio estatal de compra a Conab deixou de ser a

opccedilatildeo de mercado do trigo processando-se negociaccedilotildees diretas entre os moinhos e os

produtores como conveacutem a um mercado desregulamentado

Os preccedilos miacutenimos foram reduzidos para US$ 15700toneladas mas a partir de 1997

com a reversatildeo no cenaacuterio mundial e queda das cotaccedilotildees voltaram a se situar acima dos

niacuteveis de paridade de importaccedilatildeo Os estoques de passagem da Conab nas safras 199697 e

199798 ficaram em 692000 toneladas e 507000 toneladas respectivamente o que significa

25 e 30 da produccedilatildeo nacional do gratildeo indicando ainda uma forte intervenccedilatildeo estatal na

comercializaccedilatildeo do produto operacionalizada atraveacutes do mecanismo do PEP atraveacutes do qual

o governo subvenciona a diferenccedila entre o preccedilo de mercado (mais baixo) e o preccedilo miacutenimo

(mais elevado) nos leilotildees de venda do produto

A queda da produccedilatildeo apoacutes a reforma era esperada porquanto antes da poliacutetica de

liberalizaccedilatildeo do mercado do trigo o governo adquiria o produto a preccedilos artificialmente

acima da paridade Entretanto a intensidade da queda foi muito maior do que se poderia

supor

O setor produtor de gratildeo principal elo da cadeia do trigo deu logo sinais de que esse

processo de desregulamentaccedilatildeo havia se constituiacutedo em um over shooting A primeira safra de

trigo nacional comercializada apoacutes a desestatizaccedilatildeo foi feita em um cenaacuterio de preccedilos bastante

deprimidos Os moinhos passaram a se abastecer do trigo importado em razatildeo dos preccedilos

relativamente mais baixos da melhor qualidade e das facilidades de financiamento A reforma

da poliacutetica extinguiu os preccedilos de aquisiccedilatildeo e introduziu o trigo na pauta de preccedilos miacutenimos

Devido agrave defasagem de preccedilos as primeiras safras apoacutes a desestatizaccedilatildeo foram parar nas matildeos

do governo ou foram vendidas aos moinhos a preccedilos substancialmente mais baixos do que

prevaleciam no passado As consequumlecircncias foram as sucessivas quedas de aacuterea e de produccedilatildeo

O governo reagiu com uma poliacutetica de apoio atraveacutes dos mecanismos tradicionais criando

ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo

nacional

Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola

pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee

condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com

descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas

produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas

foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento

havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na

praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o

governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave

qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a

livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de

triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio

do Mercosul

Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal

levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos

investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em

198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia

entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da

demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal

produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em

relaccedilatildeo ao produto

Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e

condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como

enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras

presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil

com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais

Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que

acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da

comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional

desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso

Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como

atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da

comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou

igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca

da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o

mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura

nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu

ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade

econocircmica rentaacutevel e viaacutevel

Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no

produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos

do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a

concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente

tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado

livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes

ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de

origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o

abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a

situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo

conjunturais

32 Aspectos atuais do trigo no Brasil

Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam

plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se

concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave

cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o

custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura

compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de

culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos

baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos

custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de

solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo

parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a

esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto

agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os

levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos

viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo

No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via

o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo

passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As

cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer

volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de

lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor

intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou

igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as

cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de

moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o

governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos

e raramente exportam o cereal

Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram

para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito

baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em

termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto

A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta

dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na

medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a

qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal

realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em

demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica

existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de

comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais

uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia

Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos

anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o

Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e

portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as

cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do

produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional

devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto

desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem

todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo

Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros

de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia

produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas

proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O

resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores

agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos

moinhos atraveacutes de contratos

33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11

A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo

de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo

governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da

tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram

induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais

elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo

adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos

produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos

A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este

quadro

Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo

quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se

desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um

consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes

passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas

consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas

A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e

produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de

trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o

consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais

oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as

11 FGVIPEA 1998

oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a

partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central

disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa

de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou

como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente

havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal

O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da

concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos

industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de

poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado

Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea

em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os

segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos

agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto

grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70

do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57

Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional

destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados

Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos

produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos

de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande

competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais

favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de

destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade

agriacutecola

Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo

passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte

do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a

produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para

aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina

Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que

incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado

ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais

elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

5 Referecircncias Bibliograacuteficas

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Page 13: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

ainda novos mecanismos mas natildeo foi capaz de deter a substancial reduccedilatildeo da produccedilatildeo

nacional

Um princiacutepio estava sendo questionado liberdade de mercado para o setor agriacutecola

pressupotildee a natildeo internaccedilatildeo de praacuteticas desleais de comeacutercio e a competitividade pressupotildee

condiccedilotildees equumlitativas de concorrecircncia entre os parceiros Ora o governo brasileiro reagiu com

descaso em relaccedilatildeo agrave internalizaccedilatildeo de produto proveniente de paiacuteses que subsidiavam suas

produccedilotildees e exportaccedilotildees O argumento utilizado para se evitar uma aplicaccedilatildeo de salvaguardas

foi o de que a elevaccedilatildeo dos preccedilos do trigo traria impacto sobre a inflaccedilatildeo Este argumento

havia sido utilizado pelo interesse organizado dos moinhos reiteradas vezes no passado Na

praacutetica para favorecer a uma reduccedilatildeo dos preccedilos do trigo e derivados no mercado interno o

governo brasileiro apoiou fortemente a desregulamentaccedilatildeo do setor e a abertura do mercado agrave

qualquer produto importado Esta medida aleacutem de favorecer o trigo argentino permitiu a

livre entrada do trigo subsidiado diretamente dos EUA e da Uniatildeo Europeacuteia ou atraveacutes de

triangulaccedilatildeo via o Uruguai e outros paiacuteses mesmo havendo a Tarifa Externa Comum no seio

do Mercosul

Tal estrateacutegia colocou em xeque de forma mais aguda a produccedilatildeo nacional do cereal

levando a uma forte reduccedilatildeo na oferta local pela reduccedilatildeo na aacuterea plantada e diminuiccedilatildeo dos

investimentos em tecnologia por parte do produtor Assim de uma quase auto-suficiecircncia em

198687 (65 milhotildees de toneladas) o paiacutes retrocedeu para uma produccedilatildeo meacutedia que varia

entre 4 e 6 milhotildees de toneladas 20 anos depois respondendo por cerca de apenas 50 da

demanda interna E para os anos futuros natildeo se percebe condiccedilotildees de recuperaccedilatildeo em tal

produccedilatildeo em natildeo havendo alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de mercado e na postura do Estado em

relaccedilatildeo ao produto

Neste contexto sob o acircngulo do produtor pode-se dizer que o mesmo sem tempo e

condiccedilotildees de estruturar-se para competir com o produto importado passou a enfrentar (como

enfrenta ateacute hoje) a total falta de perspectiva de comercializaccedilatildeo dos estoques de safras

presentes e passadas que se acumulam nos armazeacutens A comercializaccedilatildeo era e eacute muito difiacutecil

com a presenccedila de produto importado em condiccedilotildees de juros e prazos concessionais

Natildeo foi tentada nenhuma medida para sustar o processo do surto de importaccedilotildees que

acarretou a reduccedilatildeo de aacuterea e produccedilatildeo natildeo esperadas Com a desregulamentaccedilatildeo da

comercializaccedilatildeo e da industrializaccedilatildeo do trigo no paiacutes o mercado do trigo nacional

desorganizou-se e natildeo foi adotada medida de salvaguarda de acordo com o que o Congresso

Nacional havia determinado (preocupado com o que poderia acontecer com o trigo) como

atividade econocircmica devido agraves grandes mudanccedilas que estavam ocorrendo nas normas da

comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou

igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca

da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o

mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura

nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu

ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade

econocircmica rentaacutevel e viaacutevel

Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no

produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos

do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a

concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente

tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado

livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes

ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de

origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o

abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a

situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo

conjunturais

32 Aspectos atuais do trigo no Brasil

Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam

plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se

concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave

cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o

custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura

compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de

culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos

baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos

custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de

solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo

parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a

esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto

agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os

levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos

viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo

No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via

o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo

passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As

cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer

volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de

lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor

intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou

igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as

cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de

moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o

governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos

e raramente exportam o cereal

Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram

para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito

baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em

termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto

A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta

dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na

medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a

qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal

realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em

demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica

existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de

comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais

uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia

Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos

anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o

Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e

portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as

cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do

produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional

devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto

desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem

todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo

Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros

de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia

produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas

proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O

resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores

agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos

moinhos atraveacutes de contratos

33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11

A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo

de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo

governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da

tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram

induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais

elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo

adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos

produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos

A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este

quadro

Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo

quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se

desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um

consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes

passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas

consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas

A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e

produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de

trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o

consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais

oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as

11 FGVIPEA 1998

oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a

partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central

disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa

de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou

como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente

havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal

O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da

concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos

industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de

poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado

Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea

em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os

segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos

agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto

grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70

do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57

Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional

destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados

Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos

produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos

de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande

competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais

favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de

destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade

agriacutecola

Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo

passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte

do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a

produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para

aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina

Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que

incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado

ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais

elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

5 Referecircncias Bibliograacuteficas

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Page 14: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

comercializaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo do mercado interno dentro da lei Tal realidade evidenciou

igualmente a total fragilidade da cadeia do trigo brasileira que jamais agiu como tal em busca

da defesa da atividade Constantes diferenccedilas internas entre os membros da cadeia onde o

mais forte constantemente tira proveito do mais fraco auxiliaram na estagnaccedilatildeo da triticultura

nacional a partir da retirada do Estado no processo Esta realidade praticamente natildeo evoluiu

ateacute hoje (2006) fato que continua comprometendo a triticultura nacional como uma atividade

econocircmica rentaacutevel e viaacutevel

Em suma a excessiva regulamentaccedilatildeo do setor criou distorccedilotildees no mercado tanto no

produtor quanto na induacutestria Quando foi retirada causou efeitos de reduccedilatildeo de aacuterea e cultivos

do cereal Natildeo se levou agrave praacutetica a intenccedilatildeo do governo de promover a abertura prevenindo a

concorrecircncia desleal do produto importado que no caso do trigo era ainda mais procedente

tendo em vista o processo de transiccedilatildeo do setor de um mercado estatizado para um mercado

livre Assim na praacutetica o paiacutes retornou logo aos percentuais de auto-abastecimento existentes

ateacute 1967 quando o Decreto-Lei nordm 210 estatizou a comercializaccedilatildeo 25 de produto de

origem nacional frente a 75 de importado Em meados dos anos de 1990 se detectava o

abandono de 18 milhatildeo de hectares antes ocupados com trigo Dez anos apoacutes (200506) a

situaccedilatildeo pouco evoluiu salvo em momentos esporaacutedicos motivados por elevaccedilotildees de preccedilo

conjunturais

32 Aspectos atuais do trigo no Brasil

Apesar da realidade natildeo tatildeo propiacutecia ao trigo 95 dos produtores continuam

plantando trigo Atraveacutes de pesquisa de campo realizada com produtores rurais pode-se

concluir que o plantio nos anos 80 se deu basicamente em funccedilatildeo do apoio do governo agrave

cultura atraveacutes do preccedilo miacutenimo de creacutedito facilitado e da compra estatal Aleacutem disso o

custo de produccedilatildeo ainda era reduzido e diante da falta de opccedilatildeo para o inverno a cultura

compensava Paralelamente se aproveitava o plantio do trigo para exercer uma rotaccedilatildeo de

culturas diluindo os custos fixos da safra de veratildeo Quanto aos dias de hoje apesar dos

baixos preccedilos da concorrecircncia Argentina da falta de apoio do governo federal e dos altos

custos a principal motivaccedilatildeo vem da necessidade de rotaccedilatildeo de culturas e da cobertura de

solo durante o inverno Aleacutem disso pesa ainda o fato da atividade continuar diluindo

parcialmente os custos fixos para a safra de veratildeo Raros foram os produtores que indicaram a

esperanccedila de obter uma boa safra para conseguir um complemento de renda no ano Quanto

agravequeles que pararam de plantar ou diminuiacuteram a aacuterea plantada os motivos principais que os

levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos

viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo

No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via

o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo

passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As

cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer

volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de

lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor

intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou

igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as

cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de

moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o

governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos

e raramente exportam o cereal

Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram

para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito

baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em

termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto

A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta

dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na

medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a

qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal

realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em

demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica

existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de

comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais

uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia

Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos

anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o

Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e

portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as

cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do

produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional

devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto

desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem

todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo

Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros

de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia

produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas

proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O

resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores

agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos

moinhos atraveacutes de contratos

33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11

A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo

de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo

governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da

tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram

induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais

elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo

adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos

produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos

A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este

quadro

Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo

quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se

desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um

consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes

passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas

consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas

A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e

produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de

trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o

consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais

oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as

11 FGVIPEA 1998

oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a

partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central

disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa

de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou

como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente

havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal

O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da

concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos

industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de

poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado

Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea

em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os

segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos

agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto

grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70

do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57

Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional

destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados

Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos

produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos

de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande

competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais

favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de

destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade

agriacutecola

Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo

passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte

do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a

produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para

aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina

Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que

incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado

ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais

elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

5 Referecircncias Bibliograacuteficas

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Consultorias e

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demandas atuais no Paranaacute Documento 21 Londrina IAPAR 1999

BRUM A L (Coord) Mercosul as dificuldades de uma integraccedilatildeo e os impactos

econocircmicos sobre as cadeias de produccedilatildeo de trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v1 1993

BRUM AL JANK MS LOPES MR A Competitividade das Cadeias Agroindustriais no

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2004

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JACOBSEN L A Trigo Serie realidade rural

Volume 32 EmaterRS

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ASCAR 2003

MINETTO T J FecoAgro

Federaccedilatildeo das Cooperativas Agropecuaacuterias do Rio Grande do

Sul Custo de Produccedilatildeo Estudo nordm 62 2003 Porto AlegreRS

NEVES M F ROSSI RM CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final

Instituto UNIEMP

ROSSI RM NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no BrasilPENSAUNIEMP Satildeo Paulo

Editora Atlas 2004 224 p

SAFRAS amp MERCADO Soja e gratildeos

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SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades

Embrapa Trigo Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt

Acesso em 22 de outubro de 2004

TOMASINI R G A AMBROSI I Aspectos Econocircmicos da Cultura de Trigo Brasiacutelia

Cadernos de Ciecircncia amp Tecnologia v 15 n 2 p 59 - 84 maioago 1998 Disponiacutevel em

lthttpwwwatlassctembrapabrpdfcctv15cc15n204pdfgt Acesso em 10 jun 2003

VILLWOCK L H M A inserccedilatildeo do Trigo no Contexto Internacional um estudo de

mercado Porto Alegre 1993 Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Formaccedilatildeo de Especialistas

em Comeacutercio Exterior

______ Anaacutelise da Competitividade das Principais Cadeias Agroindustriais do Mercosul

trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v3 1994

_____ As poliacuteticas do trigo A dificuldade estaacute na comercializaccedilatildeo As grandes vantagens

que teriacuteamos ao sermos produtores de trigo Mudanccedilas de rumos econocircmicos Disponiacuteveis em

lt httpwwwbanetcombrgt Acesso em 1 de novembro de 2004

_____Mapeamento da cadeia do trigo identifica potencial da produccedilatildeo brasileira Instituto

UNIEMP Satildeo Paulo

USP Disponiacutevel em

httphomeuniemporgbrimprensaimp_rwtrigo060503_brhtml Acesso em 16 de fevereiro

de 2005

_____ Os novos instrumentos do creacutedito rural Revista Agroanaacutelysis FGV outubro2004

Vol 24 ndeg 10 pg 45

_____ Trigo no Brasil UFSM Disponiacutevel em lthttpwwwigeouerjbrVICBG-

2004Eixo1E1_128htmgt Acesso em 17 de novembro de 2004

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Page 15: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

levaram a esta atitude satildeo dois a falta de uma poliacutetica oficial apoiada em preccedilos miacutenimos

viaacuteveis e os baixos preccedilos de mercado associados aos altos custos de produccedilatildeo

No que diz respeito a comercializaccedilatildeo de trigo nos anos 80 a mesma era realizada via

o Banco do Brasil atraveacutes de compras estatais A partir de 1990 a comercializaccedilatildeo de trigo

passou a ser livre e as cooperativas passaram a comercializaacute-lo no mercado diretamente As

cooperativas comprando dos produtores no sistema balcatildeo (compra direta de qualquer

volume com o preccedilo sendo estabelecido em funccedilatildeo da qualidade do produto) e no sistema de

lotes Os mecanismos de EGF e AGF igualmente satildeo utilizados embora em menor

intensidade apoacutes a retirada do Estado das compras de trigo O produto entre induacutestrias passou

igualmente a ser vendido no mercado livre sobretudo atraveacutes de lotes Atualmente as

cooperativas destinam parte de seu trigo a seus moinhos (aquelas que possuem parque de

moagem) parte para as induacutestrias moageiras privadas agraves vezes uma certa quantidade para o

governo graccedilas aos leilotildees PEP (Programa de Escoamento de Produto) e outros mecanismos

e raramente exportam o cereal

Segundo as cooperativas as trecircs maiores dificuldades que seus associados encontram

para comercializar o trigo satildeo forte instabilidade do mercado com preccedilos geralmente muito

baixos dificuldades de enquadrar o produto ofertado aos padrotildees exigidos pela induacutestria em

termos qualitativos importaccedilotildees constantes sem uma poliacutetica oficial definida para o produto

A comercializaccedilatildeo do trigo entre as cooperativas e moinhos igualmente enfrenta

dificuldades A primeira delas estaacute na instabilidade do mercado com baixa liquidez na

medida em que os moinhos priorizam pouco a compra do trigo nacional Isto se deve a

qualidade e padronizaccedilatildeo do produto nacional aos prazos de pagamento e ao cacircmbio Tal

realidade gera uma baixa rentabilidade pois os custos de estocagem e de frete penalizam em

demasia as cooperativas diante de preccedilos geralmente baixos pagos pelos moinhos Na praacutetica

existe um oligopoacutelio dos grandes moinhos no Brasil os quais ditam as condiccedilotildees de

comercializaccedilatildeo a cada safra Os moinhos menores em muitos casos acabam natildeo sendo mais

uma soluccedilatildeo comercial pois enfrentam uma situaccedilatildeo de inadimplecircncia

Enfim as cooperativas destacam as principais diferenccedilas entre a comercializaccedilatildeo dos

anos 80 e a realizada atualmente Nos anos 80 o processo era faacutecil e tranquumlilo porque o

Estado comprava todo o produto com subsiacutedios Os preccedilos eram definidos antecipadamente e

portanto o mercado era garantido Hoje o mercado eacute livre a competiccedilatildeo eacute acirrada e as

cooperativas brasileiras enfrentam uma forte concorrecircncia do trigo externo principalmente do

produto oriundo da Argentina Aleacutem disso haacute problemas com a qualidade do trigo nacional

devido ao clima muito instaacutevel e agrave proacutepria exigecircncia dos moinhos em relaccedilatildeo ao produto

desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem

todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo

Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros

de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia

produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas

proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O

resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores

agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos

moinhos atraveacutes de contratos

33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11

A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo

de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo

governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da

tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram

induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais

elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo

adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos

produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos

A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este

quadro

Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo

quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se

desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um

consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes

passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas

consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas

A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e

produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de

trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o

consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais

oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as

11 FGVIPEA 1998

oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a

partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central

disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa

de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou

como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente

havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal

O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da

concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos

industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de

poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado

Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea

em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os

segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos

agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto

grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70

do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57

Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional

destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados

Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos

produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos

de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande

competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais

favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de

destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade

agriacutecola

Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo

passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte

do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a

produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para

aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina

Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que

incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado

ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais

elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

5 Referecircncias Bibliograacuteficas

AGRIANUAL Anuaacuterio da Agricultura Brasileira 2004 FNP

Consultorias e

AgroInformativos

AGROANALYSIS A Revista de Agronegoacutecios da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas

Rio de

JaneiroRJ 2004

BRUNS C DIGIOVANI M S C et al Cadeia Produtiva do Trigo diagnoacutestico e

demandas atuais no Paranaacute Documento 21 Londrina IAPAR 1999

BRUM A L (Coord) Mercosul as dificuldades de uma integraccedilatildeo e os impactos

econocircmicos sobre as cadeias de produccedilatildeo de trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v1 1993

BRUM AL JANK MS LOPES MR A Competitividade das Cadeias Agroindustriais no

Mercosul CEEMA (Central Internacional de Anaacutelises Econocircmicas e de Estudos de Mercado

Agropecuaacuterio) DEConUNIJUI Ijui 1997 308 p

COLLE Ceacutelio Alberto A Cadeia Produtiva do Trigo no Brasil contribuiccedilatildeo para a geraccedilatildeo

de emprego e renda Porto AlegreRS IEPEUFRGS 1998 Disponiacutevel em lt

httpwwwufrgsbrpgdrdissertacoesecorural mecorural_colle_n204pdf

gt

CONJUNTURA ECONOcircMICA Fundaccedilatildeo Getulio Vargas

Rio de JaneiroRJ Setembro de

2004

CUNHA BAYMA Trigo Rio de Janeiro Ministeacuterio da Agricultura

Serviccedilo de Informaccedilatildeo

Agriacutecola 1960 v1 361 p

CUNHA Gilberto R Trigo Gauacutecho e Moinhos Disponiacutevel em

httpwwwerechimcombrespphpid=48 Acesso em 17 de Novembro de 2004

CUNHA G R TROMBINI M F (Org) Trigo no Mercosul

Coletacircnea de Artigos

Embrapa Comunicaccedilatildeo para Transferecircncia de Tecnologia Passo Fundo Embrapa Trigo

1999

FGVIPEA Fatores que Afetam a Competitividade da Cadeia do Trigo FGV (Centro de

Estudos Agriacutecolas) Pesquisa financiada pelo IPEA 1998 39 p

JACOBSEN LA Diagnoacutestico Raacutepido da Cadeia de Trigo no Rio Grande do Sul EMATER

Passo FundoRS

JACOBSEN L A Trigo Serie realidade rural

Volume 32 EmaterRS

Porto AlegreRS

ASCAR 2003

MINETTO T J FecoAgro

Federaccedilatildeo das Cooperativas Agropecuaacuterias do Rio Grande do

Sul Custo de Produccedilatildeo Estudo nordm 62 2003 Porto AlegreRS

NEVES M F ROSSI RM CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final

Instituto UNIEMP

ROSSI RM NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no BrasilPENSAUNIEMP Satildeo Paulo

Editora Atlas 2004 224 p

SAFRAS amp MERCADO Soja e gratildeos

Publicaccedilatildeo Semanal sobre Tendecircncias de Mercados

2003 e 2004

SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades

Embrapa Trigo Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt

Acesso em 22 de outubro de 2004

TOMASINI R G A AMBROSI I Aspectos Econocircmicos da Cultura de Trigo Brasiacutelia

Cadernos de Ciecircncia amp Tecnologia v 15 n 2 p 59 - 84 maioago 1998 Disponiacutevel em

lthttpwwwatlassctembrapabrpdfcctv15cc15n204pdfgt Acesso em 10 jun 2003

VILLWOCK L H M A inserccedilatildeo do Trigo no Contexto Internacional um estudo de

mercado Porto Alegre 1993 Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Formaccedilatildeo de Especialistas

em Comeacutercio Exterior

______ Anaacutelise da Competitividade das Principais Cadeias Agroindustriais do Mercosul

trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v3 1994

_____ As poliacuteticas do trigo A dificuldade estaacute na comercializaccedilatildeo As grandes vantagens

que teriacuteamos ao sermos produtores de trigo Mudanccedilas de rumos econocircmicos Disponiacuteveis em

lt httpwwwbanetcombrgt Acesso em 1 de novembro de 2004

_____Mapeamento da cadeia do trigo identifica potencial da produccedilatildeo brasileira Instituto

UNIEMP Satildeo Paulo

USP Disponiacutevel em

httphomeuniemporgbrimprensaimp_rwtrigo060503_brhtml Acesso em 16 de fevereiro

de 2005

_____ Os novos instrumentos do creacutedito rural Revista Agroanaacutelysis FGV outubro2004

Vol 24 ndeg 10 pg 45

_____ Trigo no Brasil UFSM Disponiacutevel em lthttpwwwigeouerjbrVICBG-

2004Eixo1E1_128htmgt Acesso em 17 de novembro de 2004

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Page 16: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

desejado Em siacutentese as exigecircncias de competitividade cresceram significativamente e nem

todas as cooperativas conseguem acompanhar o processo

Outro aspecto a ser considerado eacute a aquisiccedilatildeo por parte de alguns grupos moageiros

de induacutestrias de transformaccedilatildeo caracterizando assim uma coordenaccedilatildeo vertical da cadeia

produtiva para frente A unidade moageira produziraacute farinhas especiacuteficas para atender suas

proacuteprias exigecircncias e consequumlentemente ampliaraacute suas margens de comercializaccedilatildeo O

resultado desta coordenaccedilatildeo e integraccedilatildeo vertical poderaacute ser repassado para os produtores

agriacutecolas agrave medida que os mesmos poderatildeo produzir parte da mateacuteria-prima destinada aos

moinhos atraveacutes de contratos

33 Alguns fatores que afetam a competitividade da cadeia 11

A expansatildeo da produccedilatildeo de trigo que chegou a beirar a auto-suficiecircncia no periacuteodo

de 1986 a 1990 se deveu em grande parte a uma poliacutetica de preccedilos elevados de aquisiccedilatildeo pelo

governo combinada com uma poliacutetica de creacutedito destinada a viabilizar a adoccedilatildeo da

tecnologia recomendada pela pesquisa agropecuaacuteria Pela nova poliacutetica os produtores eram

induzidos a abandonar a tecnologia usual e adotar o pacote recomendado de custo mais

elevado poreacutem associado a maiores rendimentos fiacutesicos Mais uma vez o mecanismo

adotado isolava os preccedilos do mercado interno da paridade internacional A resposta dos

produtores natildeo podia deixar de ser a expansatildeo dos cultivos a preccedilos garantidos

A liberalizaccedilatildeo do comeacutercio tritiacutecola decidida em 1990 altera profundamente este

quadro

Cinco anos apoacutes a mesma o Brasil estava plantando 990000 hectares de trigo

quando em 1966 havia plantado 4 milhotildees de hectares Havia caiacutedo a aacuterea havia se

desorganizado a comercializaccedilatildeo e o Brasil importava 53 milhotildees de toneladas de um

consumo total de 88 milhotildees Dos 61 milhotildees de tonelada produzidas em 1987 o paiacutes

passou em 1995 a 15 milhatildeo produzidas Em 2005 dos 105 milhotildees de toneladas

consumidas o paiacutes produziu 44 milhotildees de toneladas

A anaacutelise do principal elo da cadeia mostra que o trigo brasileiro perdeu aacuterea e

produccedilatildeo em niacuteveis muito elevados O Brasil passou de quinto a segundo maior importador de

trigo nos uacuteltimos anos as vezes chegando a primeiro importador Ao mesmo tempo o

consumo assinalou crescimento acentuado Como o setor produtor nacional pocircde perder tais

oportunidades de mercado perdendo um precioso market share e perdendo mais ainda as

11 FGVIPEA 1998

oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a

partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central

disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa

de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou

como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente

havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal

O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da

concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos

industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de

poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado

Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea

em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os

segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos

agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto

grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70

do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57

Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional

destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados

Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos

produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos

de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande

competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais

favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de

destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade

agriacutecola

Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo

passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte

do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a

produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para

aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina

Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que

incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado

ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais

elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

5 Referecircncias Bibliograacuteficas

AGRIANUAL Anuaacuterio da Agricultura Brasileira 2004 FNP

Consultorias e

AgroInformativos

AGROANALYSIS A Revista de Agronegoacutecios da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas

Rio de

JaneiroRJ 2004

BRUNS C DIGIOVANI M S C et al Cadeia Produtiva do Trigo diagnoacutestico e

demandas atuais no Paranaacute Documento 21 Londrina IAPAR 1999

BRUM A L (Coord) Mercosul as dificuldades de uma integraccedilatildeo e os impactos

econocircmicos sobre as cadeias de produccedilatildeo de trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v1 1993

BRUM AL JANK MS LOPES MR A Competitividade das Cadeias Agroindustriais no

Mercosul CEEMA (Central Internacional de Anaacutelises Econocircmicas e de Estudos de Mercado

Agropecuaacuterio) DEConUNIJUI Ijui 1997 308 p

COLLE Ceacutelio Alberto A Cadeia Produtiva do Trigo no Brasil contribuiccedilatildeo para a geraccedilatildeo

de emprego e renda Porto AlegreRS IEPEUFRGS 1998 Disponiacutevel em lt

httpwwwufrgsbrpgdrdissertacoesecorural mecorural_colle_n204pdf

gt

CONJUNTURA ECONOcircMICA Fundaccedilatildeo Getulio Vargas

Rio de JaneiroRJ Setembro de

2004

CUNHA BAYMA Trigo Rio de Janeiro Ministeacuterio da Agricultura

Serviccedilo de Informaccedilatildeo

Agriacutecola 1960 v1 361 p

CUNHA Gilberto R Trigo Gauacutecho e Moinhos Disponiacutevel em

httpwwwerechimcombrespphpid=48 Acesso em 17 de Novembro de 2004

CUNHA G R TROMBINI M F (Org) Trigo no Mercosul

Coletacircnea de Artigos

Embrapa Comunicaccedilatildeo para Transferecircncia de Tecnologia Passo Fundo Embrapa Trigo

1999

FGVIPEA Fatores que Afetam a Competitividade da Cadeia do Trigo FGV (Centro de

Estudos Agriacutecolas) Pesquisa financiada pelo IPEA 1998 39 p

JACOBSEN LA Diagnoacutestico Raacutepido da Cadeia de Trigo no Rio Grande do Sul EMATER

Passo FundoRS

JACOBSEN L A Trigo Serie realidade rural

Volume 32 EmaterRS

Porto AlegreRS

ASCAR 2003

MINETTO T J FecoAgro

Federaccedilatildeo das Cooperativas Agropecuaacuterias do Rio Grande do

Sul Custo de Produccedilatildeo Estudo nordm 62 2003 Porto AlegreRS

NEVES M F ROSSI RM CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final

Instituto UNIEMP

ROSSI RM NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no BrasilPENSAUNIEMP Satildeo Paulo

Editora Atlas 2004 224 p

SAFRAS amp MERCADO Soja e gratildeos

Publicaccedilatildeo Semanal sobre Tendecircncias de Mercados

2003 e 2004

SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades

Embrapa Trigo Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt

Acesso em 22 de outubro de 2004

TOMASINI R G A AMBROSI I Aspectos Econocircmicos da Cultura de Trigo Brasiacutelia

Cadernos de Ciecircncia amp Tecnologia v 15 n 2 p 59 - 84 maioago 1998 Disponiacutevel em

lthttpwwwatlassctembrapabrpdfcctv15cc15n204pdfgt Acesso em 10 jun 2003

VILLWOCK L H M A inserccedilatildeo do Trigo no Contexto Internacional um estudo de

mercado Porto Alegre 1993 Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Formaccedilatildeo de Especialistas

em Comeacutercio Exterior

______ Anaacutelise da Competitividade das Principais Cadeias Agroindustriais do Mercosul

trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v3 1994

_____ As poliacuteticas do trigo A dificuldade estaacute na comercializaccedilatildeo As grandes vantagens

que teriacuteamos ao sermos produtores de trigo Mudanccedilas de rumos econocircmicos Disponiacuteveis em

lt httpwwwbanetcombrgt Acesso em 1 de novembro de 2004

_____Mapeamento da cadeia do trigo identifica potencial da produccedilatildeo brasileira Instituto

UNIEMP Satildeo Paulo

USP Disponiacutevel em

httphomeuniemporgbrimprensaimp_rwtrigo060503_brhtml Acesso em 16 de fevereiro

de 2005

_____ Os novos instrumentos do creacutedito rural Revista Agroanaacutelysis FGV outubro2004

Vol 24 ndeg 10 pg 45

_____ Trigo no Brasil UFSM Disponiacutevel em lthttpwwwigeouerjbrVICBG-

2004Eixo1E1_128htmgt Acesso em 17 de novembro de 2004

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Page 17: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

oportunidades de crescimento da demanda Simplesmente porque com a nova poliacutetica a

partir de 1990 o trigo nacional foi largamente substituiacutedo pelo importado O motivo central

disto estaacute na postura dos produtores que raramente trataram o produto como uma alternativa

de renda direta via comeacutercio no interior de uma cadeia de produccedilatildeo que jamais funcionou

como tal (em defesa da triticultura onde todos os elos se beneficiam) e que historicamente

havia se acomodado no seio da intervenccedilatildeo estatal

O Brasil natildeo dispunha de fato de uma estrutura capaz de promover a defesa da

concorrecircncia na medida do que exigia um comeacutercio livre e desgravado de produtos

industriais A eliminaccedilatildeo dos produtores menos eficientes era esperada pelos formuladores de

poliacutetica Entretanto a reduccedilatildeo no plantio e na produccedilatildeo foi muito superior ao esperado

Havia uma concorrecircncia muito forte com o produto importado Com a queda da aacuterea

em niacuteveis bem superiores ao esperado perdia o setor produtor mas tambeacutem perdiam todos os

segmentos agroindustriais da porteira da fazenda para dentro principalmente de insumos

agriacutecolas muito embora a induacutestria moageira natildeo enfrentasse os mesmos problemas O alto

grau de dependecircncia com relaccedilatildeo ao suprimento externo atingiu um patamar superior a 70

do consumo anual em 1998 Hoje (2005) o mesmo atinge ao redor de 57

Entre os fatores que influenciam na competitividade do setor tritiacutecola nacional

destaca-se a pesquisa feita por oacutergatildeos puacuteblicos como a EMBRAPA e oacutergatildeos privados

Destaca-se ainda o creacutedito rural o seguro agriacutecola (PROAGRO) a capacitaccedilatildeo dos

produtores o avanccedilo tecnoloacutegico a facilidade de logiacutestica e transporte e os preccedilos miacutenimos

de comercializaccedilatildeo A abertura comercial prejudica os produtores nacionais devido a grande

competitividade da atividade tritiacutecola em outros paiacuteses onde as condiccedilotildees naturais satildeo mais

favoraacuteveis e os incentivos e subsiacutedios satildeo altos jaacute que o governo brasileiro natildeo eacute capaz de

destinar recursos puacuteblicos para a preservaccedilatildeo da rentabilidade de certos setores da atividade

agriacutecola

Tem-se ainda a poliacutetica tarifaacuteria do Brasil para a importaccedilatildeo de trigo que no gratildeo

passou a ser de 10 a contar de 01012003 se tiver origem em paiacuteses que natildeo fazem parte

do Mercosul jaacute que para estes existe uma isenccedilatildeo Fato este que novamente prejudica a

produccedilatildeo nacional jaacute que o governo argentino contribui com benefiacutecios indiretos para

aumentar a renda e consequumlentemente a competitividade da produccedilatildeo tritiacutecola da Argentina

Outro fato que prejudica a produccedilatildeo tritiacutecola do Brasil eacute a cadeia de tributaccedilatildeo que

incide sobre o trigo nacional que estaacute entre as mais elevadas do mundo O Brasil comparado

ao Mercosul e Comunidade Econocircmica Europeacuteia apresenta paracircmetros tributaacuterios mais

elevados Enquanto as aliacutequotas modais do IVA na Comunidade Econocircmica Europeacuteia situam-

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

5 Referecircncias Bibliograacuteficas

AGRIANUAL Anuaacuterio da Agricultura Brasileira 2004 FNP

Consultorias e

AgroInformativos

AGROANALYSIS A Revista de Agronegoacutecios da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas

Rio de

JaneiroRJ 2004

BRUNS C DIGIOVANI M S C et al Cadeia Produtiva do Trigo diagnoacutestico e

demandas atuais no Paranaacute Documento 21 Londrina IAPAR 1999

BRUM A L (Coord) Mercosul as dificuldades de uma integraccedilatildeo e os impactos

econocircmicos sobre as cadeias de produccedilatildeo de trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v1 1993

BRUM AL JANK MS LOPES MR A Competitividade das Cadeias Agroindustriais no

Mercosul CEEMA (Central Internacional de Anaacutelises Econocircmicas e de Estudos de Mercado

Agropecuaacuterio) DEConUNIJUI Ijui 1997 308 p

COLLE Ceacutelio Alberto A Cadeia Produtiva do Trigo no Brasil contribuiccedilatildeo para a geraccedilatildeo

de emprego e renda Porto AlegreRS IEPEUFRGS 1998 Disponiacutevel em lt

httpwwwufrgsbrpgdrdissertacoesecorural mecorural_colle_n204pdf

gt

CONJUNTURA ECONOcircMICA Fundaccedilatildeo Getulio Vargas

Rio de JaneiroRJ Setembro de

2004

CUNHA BAYMA Trigo Rio de Janeiro Ministeacuterio da Agricultura

Serviccedilo de Informaccedilatildeo

Agriacutecola 1960 v1 361 p

CUNHA Gilberto R Trigo Gauacutecho e Moinhos Disponiacutevel em

httpwwwerechimcombrespphpid=48 Acesso em 17 de Novembro de 2004

CUNHA G R TROMBINI M F (Org) Trigo no Mercosul

Coletacircnea de Artigos

Embrapa Comunicaccedilatildeo para Transferecircncia de Tecnologia Passo Fundo Embrapa Trigo

1999

FGVIPEA Fatores que Afetam a Competitividade da Cadeia do Trigo FGV (Centro de

Estudos Agriacutecolas) Pesquisa financiada pelo IPEA 1998 39 p

JACOBSEN LA Diagnoacutestico Raacutepido da Cadeia de Trigo no Rio Grande do Sul EMATER

Passo FundoRS

JACOBSEN L A Trigo Serie realidade rural

Volume 32 EmaterRS

Porto AlegreRS

ASCAR 2003

MINETTO T J FecoAgro

Federaccedilatildeo das Cooperativas Agropecuaacuterias do Rio Grande do

Sul Custo de Produccedilatildeo Estudo nordm 62 2003 Porto AlegreRS

NEVES M F ROSSI RM CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final

Instituto UNIEMP

ROSSI RM NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no BrasilPENSAUNIEMP Satildeo Paulo

Editora Atlas 2004 224 p

SAFRAS amp MERCADO Soja e gratildeos

Publicaccedilatildeo Semanal sobre Tendecircncias de Mercados

2003 e 2004

SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades

Embrapa Trigo Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt

Acesso em 22 de outubro de 2004

TOMASINI R G A AMBROSI I Aspectos Econocircmicos da Cultura de Trigo Brasiacutelia

Cadernos de Ciecircncia amp Tecnologia v 15 n 2 p 59 - 84 maioago 1998 Disponiacutevel em

lthttpwwwatlassctembrapabrpdfcctv15cc15n204pdfgt Acesso em 10 jun 2003

VILLWOCK L H M A inserccedilatildeo do Trigo no Contexto Internacional um estudo de

mercado Porto Alegre 1993 Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Formaccedilatildeo de Especialistas

em Comeacutercio Exterior

______ Anaacutelise da Competitividade das Principais Cadeias Agroindustriais do Mercosul

trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v3 1994

_____ As poliacuteticas do trigo A dificuldade estaacute na comercializaccedilatildeo As grandes vantagens

que teriacuteamos ao sermos produtores de trigo Mudanccedilas de rumos econocircmicos Disponiacuteveis em

lt httpwwwbanetcombrgt Acesso em 1 de novembro de 2004

_____Mapeamento da cadeia do trigo identifica potencial da produccedilatildeo brasileira Instituto

UNIEMP Satildeo Paulo

USP Disponiacutevel em

httphomeuniemporgbrimprensaimp_rwtrigo060503_brhtml Acesso em 16 de fevereiro

de 2005

_____ Os novos instrumentos do creacutedito rural Revista Agroanaacutelysis FGV outubro2004

Vol 24 ndeg 10 pg 45

_____ Trigo no Brasil UFSM Disponiacutevel em lthttpwwwigeouerjbrVICBG-

2004Eixo1E1_128htmgt Acesso em 17 de novembro de 2004

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Page 18: O COMÉRCIO INTERNACIONAL E A CADEIA PRODUTIVA DO TRIGO … · Introdução O presente trabalho, se preocupa com a economia do trigo no Brasil à luz da concorrência argentina, considerando

se entre 1 e 6 na Argentina em 11 no Brasil a carga pode chegar a 20 Na Argentina

os insumos agriacutecolas e os combustiacuteveis satildeo isentos de impostos gerais sobre venda Tambeacutem

eacute permitido ao exportador recuperar o Imposto Sobre Valor Agregado (IVA) na ordem de

18 aumentando a competitividade dos produtos agriacutecolas em relaccedilatildeo ao Brasil12

Assim um aspecto que pode aumentar a competitividade do trigo nacional estaacute na

accedilatildeo do governo em reduzir impostos A reduccedilatildeo de impostos funciona exatamente como

estiacutemulo agrave produccedilatildeo pois a tributaccedilatildeo elevada de um produto muitas vezes retira o valor

agregado que um produto poderia ter no mercado Haacute paiacuteses onde os impostos sobre

alimentos tendem a desaparecer como na Inglaterra e grande parte da Europa Ocorre que o

Estado brasileiro e a maioria dos Estados da Federaccedilatildeo caso do Rio Grande do Sul estatildeo em

situaccedilatildeo financeira precaacuteria Neste sentido dificilmente haveraacute interesse regional em reduzir

impostos mesmo de produtos alimentiacutecios salvo encontrar-se um sistema de compensaccedilatildeo

via outros setores da economia Na praacutetica enquanto a Uniatildeo e os Estados natildeo enxugarem e

adequarem suas maacutequinas administrativas tornando-as mais eficientes e menos custosas a

opccedilatildeo pela reduccedilatildeo de impostos eacute praticamente impossiacutevel Todavia esta seria a parte do

governo Ele precisa atuar de forma catalisadora no segmento trigo equilibrando a renda da

agricultura com a da induacutestria13

4 Consideraccedilotildees finais

No momento em que nasce o Mercosul pelo qual o Brasil abre sua economia para as

importaccedilotildees de bens primaacuterios junto aos demais paiacuteses membros um dos produtos mais

favorecidos passa a ser o trigo argentino o qual se torna um elemento de troca essencial no

contexto da nova zona comercial Atraveacutes do Mercosul o trigo argentino praticamente cativa o

mercado brasileiro infringindo enormes dificuldades de competitividade ao produto entatildeo

produzido no Paranaacute e no Rio Grande do Sul

O volume de produccedilatildeo argentino apesar de sua posiccedilatildeo histoacuterica na economia

mundial do trigo natildeo lhe eacute suficiente para que a Argentina seja mais do que um tomador de

preccedilos no mercado internacional Em outras palavras com exceccedilatildeo dos paiacuteses limiacutetrofes

como o Brasil em relaccedilatildeo aos demais a Argentina natildeo consegue fazer sua produccedilatildeo influir

sobre os preccedilos

12 COLLE 1998 13 SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades Embrapa Trigo

Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt Acesso em 22 de outubro de 2004

Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

5 Referecircncias Bibliograacuteficas

AGRIANUAL Anuaacuterio da Agricultura Brasileira 2004 FNP

Consultorias e

AgroInformativos

AGROANALYSIS A Revista de Agronegoacutecios da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas

Rio de

JaneiroRJ 2004

BRUNS C DIGIOVANI M S C et al Cadeia Produtiva do Trigo diagnoacutestico e

demandas atuais no Paranaacute Documento 21 Londrina IAPAR 1999

BRUM A L (Coord) Mercosul as dificuldades de uma integraccedilatildeo e os impactos

econocircmicos sobre as cadeias de produccedilatildeo de trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v1 1993

BRUM AL JANK MS LOPES MR A Competitividade das Cadeias Agroindustriais no

Mercosul CEEMA (Central Internacional de Anaacutelises Econocircmicas e de Estudos de Mercado

Agropecuaacuterio) DEConUNIJUI Ijui 1997 308 p

COLLE Ceacutelio Alberto A Cadeia Produtiva do Trigo no Brasil contribuiccedilatildeo para a geraccedilatildeo

de emprego e renda Porto AlegreRS IEPEUFRGS 1998 Disponiacutevel em lt

httpwwwufrgsbrpgdrdissertacoesecorural mecorural_colle_n204pdf

gt

CONJUNTURA ECONOcircMICA Fundaccedilatildeo Getulio Vargas

Rio de JaneiroRJ Setembro de

2004

CUNHA BAYMA Trigo Rio de Janeiro Ministeacuterio da Agricultura

Serviccedilo de Informaccedilatildeo

Agriacutecola 1960 v1 361 p

CUNHA Gilberto R Trigo Gauacutecho e Moinhos Disponiacutevel em

httpwwwerechimcombrespphpid=48 Acesso em 17 de Novembro de 2004

CUNHA G R TROMBINI M F (Org) Trigo no Mercosul

Coletacircnea de Artigos

Embrapa Comunicaccedilatildeo para Transferecircncia de Tecnologia Passo Fundo Embrapa Trigo

1999

FGVIPEA Fatores que Afetam a Competitividade da Cadeia do Trigo FGV (Centro de

Estudos Agriacutecolas) Pesquisa financiada pelo IPEA 1998 39 p

JACOBSEN LA Diagnoacutestico Raacutepido da Cadeia de Trigo no Rio Grande do Sul EMATER

Passo FundoRS

JACOBSEN L A Trigo Serie realidade rural

Volume 32 EmaterRS

Porto AlegreRS

ASCAR 2003

MINETTO T J FecoAgro

Federaccedilatildeo das Cooperativas Agropecuaacuterias do Rio Grande do

Sul Custo de Produccedilatildeo Estudo nordm 62 2003 Porto AlegreRS

NEVES M F ROSSI RM CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final

Instituto UNIEMP

ROSSI RM NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no BrasilPENSAUNIEMP Satildeo Paulo

Editora Atlas 2004 224 p

SAFRAS amp MERCADO Soja e gratildeos

Publicaccedilatildeo Semanal sobre Tendecircncias de Mercados

2003 e 2004

SILVA Marcio Soacute A Triticultura Gauacutecha na Virada do Seacuteculo ameaccedilas e oportunidades

Embrapa Trigo Passo FundoRS Disponiacutevel em lthttpwwwcnptembrapabragrometbogt

Acesso em 22 de outubro de 2004

TOMASINI R G A AMBROSI I Aspectos Econocircmicos da Cultura de Trigo Brasiacutelia

Cadernos de Ciecircncia amp Tecnologia v 15 n 2 p 59 - 84 maioago 1998 Disponiacutevel em

lthttpwwwatlassctembrapabrpdfcctv15cc15n204pdfgt Acesso em 10 jun 2003

VILLWOCK L H M A inserccedilatildeo do Trigo no Contexto Internacional um estudo de

mercado Porto Alegre 1993 Trabalho de Conclusatildeo de Curso de Formaccedilatildeo de Especialistas

em Comeacutercio Exterior

______ Anaacutelise da Competitividade das Principais Cadeias Agroindustriais do Mercosul

trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v3 1994

_____ As poliacuteticas do trigo A dificuldade estaacute na comercializaccedilatildeo As grandes vantagens

que teriacuteamos ao sermos produtores de trigo Mudanccedilas de rumos econocircmicos Disponiacuteveis em

lt httpwwwbanetcombrgt Acesso em 1 de novembro de 2004

_____Mapeamento da cadeia do trigo identifica potencial da produccedilatildeo brasileira Instituto

UNIEMP Satildeo Paulo

USP Disponiacutevel em

httphomeuniemporgbrimprensaimp_rwtrigo060503_brhtml Acesso em 16 de fevereiro

de 2005

_____ Os novos instrumentos do creacutedito rural Revista Agroanaacutelysis FGV outubro2004

Vol 24 ndeg 10 pg 45

_____ Trigo no Brasil UFSM Disponiacutevel em lthttpwwwigeouerjbrVICBG-

2004Eixo1E1_128htmgt Acesso em 17 de novembro de 2004

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Neste contexto o comportamento dos preccedilos mundiais passa a influir o mercado

brasileiro a partir de 1990 Ora os preccedilos do trigo no mundo entram num patamar mais baixo

no final do seacuteculo XX passando a US$ 12317tonelada contra US$ 21080 ainda entre 1992 e

1996 O preccedilo meacutedio na regiatildeo do Mercosul se estabelece em US$ 12500tonelada enquanto

no Brasil houve um recuo importante com o mesmo caindo de US$ 15100tonelada entre

1980 e 1991 para US$ 11980tonelada entre 1992 e 2002 Neste contexto destaca-se que o

Paranaacute sempre (ou quase sempre) paga melhor os seus produtores Em 36 anos a meacutedia

naquele Estado ficou em US$ 13300tonelada contra US$ 12932 no Rio Grande do Sul A

explicaccedilatildeo encontrada estaacute no fato do produto paranaense entrar primeiro no mercado

nacional (em setembro geralmente) ao mesmo tempo em que sua qualidade por motivos

climaacuteticos e de solo tem sido superior em termos meacutedios

A participaccedilatildeo da Argentina na oferta externa de trigo ao Brasil se daacute especialmente

pelos seus ganhos em competitividade Ou seja o cereal argentino eacute mais barato na produccedilatildeo

Aleacutem disso com uma certa constacircncia tem apresentado muito boa qualidade Isto significa

dizer que a Argentina suporta preccedilos mais baixos para o trigo no mercado internacional Este

fato fragiliza o Brasil pois seu custo de produccedilatildeo e produtividade embora esta em ascensatildeo

natildeo conseguem competir a partir de preccedilos abaixo de US$ 14000 a US$ 15000tonelada

salvo exceccedilotildees Foi o caso no final de 2004 quando se assistiu a protestos dos produtores de

trigo em funccedilatildeo do baixo preccedilo interno praticado (US$ 11500tonelada) puxado para baixo

pelo forte recuo nos preccedilos do produto na Argentina Estes que chegaram a superar US$

17000tonelada FOB no primeiro semestre de 2004 recuaram para algo entre US$ 12000 e

US$ 13000tonelada FOB em outubro daquele ano

Como consequumlecircncia confirma-se que existe uma correlaccedilatildeo direta entre o aumento

dos preccedilos na Bolsa de Chicago e a melhoria dos preccedilos internos aos produtores brasileiros

mesmo o cereal natildeo sendo um produto de exportaccedilatildeo por parte do Brasil14 Ou seja o

aumento das cotaccedilotildees do trigo em Chicago eleva os preccedilos do trigo no interior da Argentina e

nos seus portos Esta elevaccedilatildeo dependendo do momento cambial brasileiro torna cara as

importaccedilotildees brasileiras Quando as mesmas ultrapassam o limite dos US$ 14000tonelada

aproximadamente o produtor brasileiro se vecirc estimulado a plantar mais do cereal

14 Esta caracteriacutestica de paiacutes essencialmente importador de trigo (um dos maiores do mundo) foi rompida em

200304 pelo Brasil pela primeira vez apoacutes 200 anos quando exportou mais de um milhatildeo de toneladas do

cereal O mercado tende a forccedilar o Brasil contraditoriamente a ser exportador toda a vez que a produccedilatildeo interna

for importante e os preccedilos mundiais na importaccedilatildeo forem baixos Esta sistemaacutetica tende a parar a partir do

momento em que os produtores reduzem novamente sua produccedilatildeo visando um equiliacutebrio entre os custos de

produccedilatildeo e a receita recebida em funccedilatildeo da produtividade e os preccedilos oferecidos ao seu produto

Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

mercado mundial e regional o Brasil seraacute sempre um importador liacutequido de trigo com

tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

5 Referecircncias Bibliograacuteficas

AGRIANUAL Anuaacuterio da Agricultura Brasileira 2004 FNP

Consultorias e

AgroInformativos

AGROANALYSIS A Revista de Agronegoacutecios da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas

Rio de

JaneiroRJ 2004

BRUNS C DIGIOVANI M S C et al Cadeia Produtiva do Trigo diagnoacutestico e

demandas atuais no Paranaacute Documento 21 Londrina IAPAR 1999

BRUM A L (Coord) Mercosul as dificuldades de uma integraccedilatildeo e os impactos

econocircmicos sobre as cadeias de produccedilatildeo de trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v1 1993

BRUM AL JANK MS LOPES MR A Competitividade das Cadeias Agroindustriais no

Mercosul CEEMA (Central Internacional de Anaacutelises Econocircmicas e de Estudos de Mercado

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de emprego e renda Porto AlegreRS IEPEUFRGS 1998 Disponiacutevel em lt

httpwwwufrgsbrpgdrdissertacoesecorural mecorural_colle_n204pdf

gt

CONJUNTURA ECONOcircMICA Fundaccedilatildeo Getulio Vargas

Rio de JaneiroRJ Setembro de

2004

CUNHA BAYMA Trigo Rio de Janeiro Ministeacuterio da Agricultura

Serviccedilo de Informaccedilatildeo

Agriacutecola 1960 v1 361 p

CUNHA Gilberto R Trigo Gauacutecho e Moinhos Disponiacutevel em

httpwwwerechimcombrespphpid=48 Acesso em 17 de Novembro de 2004

CUNHA G R TROMBINI M F (Org) Trigo no Mercosul

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Acesso em 22 de outubro de 2004

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trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v3 1994

_____ As poliacuteticas do trigo A dificuldade estaacute na comercializaccedilatildeo As grandes vantagens

que teriacuteamos ao sermos produtores de trigo Mudanccedilas de rumos econocircmicos Disponiacuteveis em

lt httpwwwbanetcombrgt Acesso em 1 de novembro de 2004

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_____ Os novos instrumentos do creacutedito rural Revista Agroanaacutelysis FGV outubro2004

Vol 24 ndeg 10 pg 45

_____ Trigo no Brasil UFSM Disponiacutevel em lthttpwwwigeouerjbrVICBG-

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Diante desta realidade comercial verifica-se que a cadeia produtiva do trigo no Brasil

tem seacuterios problemas de funcionamento De imediato dois questionamentos satildeo postos em

jogo deve-se deixar os paiacuteses que apresentam (aparentemente) vantagens competitivas

produzir o cereal ou entatildeo deve-se incentivar a adoccedilatildeo de tecnologias e adotar um modelo de

profissionalizaccedilatildeo da agricultura brasileira com o objetivo da eficiecircncia teacutecnica e econocircmica

visando a auto-suficiecircncia em trigo

Por enquanto o paiacutes tem se voltado particularmente para a primeira opccedilatildeo justificada

por questotildees econocircmicas diretas em geral custa mais barato importar trigo do que estimular a

sua produccedilatildeo local No entanto a segunda opccedilatildeo pode ser viaacutevel Todavia tal viabilidade

somente se cristalizaraacute se um conjunto de medidas for implementado Em primeiro lugar a

cadeia produtiva deveraacute se reestruturar de maneira a buscar interesses comuns para aumentar

a participaccedilatildeo do produto nacional e reduzir as importaccedilotildees Ou seja a cadeia deve operar em

favor do trigo nacional e natildeo ser utilizada por alguns elos mais aacutegeis para a conquista de

benefiacutecios exclusivos Aliaacutes este eacute o grande gargalo da cadeia tritiacutecola brasileira pois a

mesma natildeo funciona na praacutetica como uma verdadeira cadeia produtiva

Paralelamente pode-se desenvolver uma produccedilatildeo oriunda de agricultores com

produto destinado a nichos de mercado mediante contratos de integraccedilatildeo Eacute necessaacuterio um

mecanismo que garanta ao produtor uma remuneraccedilatildeo adequada ao produto induzindo-o a

utilizar tecnologias que resultaratildeo no aumento da produtividade e com isso na reduccedilatildeo dos

custos de produccedilatildeo Na praacutetica os produtores brasileiros geralmente natildeo produzem a

qualidade que agrega mais valor e possui a maior demanda

Enfim a produccedilatildeo de trigo no paiacutes natildeo se resolve somente pela capacitaccedilatildeo em

competitividade do setor produtivo Ela deve ser inserida em um contexto macroeconocircmico

no qual haacute de se avaliar a conveniecircncia ou natildeo de proteger a sua produccedilatildeo Ou seja sem uma

certa proteccedilatildeo agrave produccedilatildeo tritiacutecola nacional dificilmente a mesma se manteacutem de maneira a

chegarmos a ofertar metade de nossas necessidades Isto revela que no atual quadro de

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tendecircncia a aumentar sua dependecircncia na medida em que o consumo interno crescer puxado

pelo aumento da populaccedilatildeo e de seu poder aquisitivo

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MINETTO T J FecoAgro

Federaccedilatildeo das Cooperativas Agropecuaacuterias do Rio Grande do

Sul Custo de Produccedilatildeo Estudo nordm 62 2003 Porto AlegreRS

NEVES M F ROSSI RM CASTRO L T e Projeto Trigo PENSA Relatoacuterio Final

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ROSSI RM NEVES MF Estrateacutegias para o trigo no BrasilPENSAUNIEMP Satildeo Paulo

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AGROANALYSIS A Revista de Agronegoacutecios da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas

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CONJUNTURA ECONOcircMICA Fundaccedilatildeo Getulio Vargas

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2004

CUNHA BAYMA Trigo Rio de Janeiro Ministeacuterio da Agricultura

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CUNHA G R TROMBINI M F (Org) Trigo no Mercosul

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1999

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Federaccedilatildeo das Cooperativas Agropecuaacuterias do Rio Grande do

Sul Custo de Produccedilatildeo Estudo nordm 62 2003 Porto AlegreRS

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VILLWOCK L H M A inserccedilatildeo do Trigo no Contexto Internacional um estudo de

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trigo soja milho suiacuteno e aves Ijuiacute v3 1994

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UNIEMP Satildeo Paulo

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de 2005

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Publicaccedilatildeo Semanal sobre Tendecircncias de Mercados

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VILLWOCK L H M A inserccedilatildeo do Trigo no Contexto Internacional um estudo de

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_____Mapeamento da cadeia do trigo identifica potencial da produccedilatildeo brasileira Instituto

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