O CONCEITO DE LIBERDADE NA ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA ...

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Teocomunicação Porto Alegre v. 40 n. 1 p. 65-89 jan./abr. 2010 O CONCEITO DE LIBERDADE NA ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA DE LIMA VAZ Paulo César Nodari* Gerson Bartelli** Resumo Este artigo apresenta o conceito de liberdade na antropologia filosófica de Henrique Cláudio de Lima Vaz. Ao enfatizar que sua antropologia é personalista, Lima Vaz estabelece, dialeticamente, a forma em que o sujeito, enquanto livre e racional, se autorrealiza como pessoa. Vista a problemática a partir da modernidade acerca da liberdade, a ênfase será dada à liberdade como aspecto essencial à constituição unitária da pessoa. Essa constituição é o ato total e profundo da essência humana. À luz da antropologia filosófica de Lima Vaz, mostrar-se-á, portanto, que a liberdade é o bem que deve conduzir o ser humano em sua tarefa e desafio de se autor-realizar como pessoa. PALAVRAS-CHAVE: Liberdade. Pessoa. Bem. Transcendência. Vida segundo espí- rito. Realização. Abstract This paper presents the concept of liberty in Henrique Cláudio de Lima Vaz’s philosophical anthropology. Affirming that his anthropology is personalistic, Lima Vaz establishes, dialeticly, the manner that the subject, while free and rational being, can realize himself as person. Looking to the problematic from the modern view of liberty, the emphasis will be on the liberty as an essential aspect of the unitary constitution of the person. This constitution is the profound and total act of the human essence. On the light of the Lima Vaz’s philosophical anthropology, this paper will demonstrate that the liberty the goodness that must conduct the human being on the task and challenge of realizing himself as person. KEYWORDS: Liberty. Person. Goodness. Transcendence. Life according to spirit. Realization. **Doutor em Filosofia. Professor na Universidade de Caxias do Sul/RS. E-mail: <[email protected]r>, <[email protected]m>. **Bacharel em Filosofia pela Universidade de Caxias do Sul/RS. Estudante de Teologia na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. E-mail: <gebartelli@yahoo. com.br>.

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O CONCEITO DE LIBERDADE NA ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA DE LImA VAz

Paulo César Nodari* Gerson Bartelli**

ResumoEste artigo apresenta o conceito de liberdade na antropologia filosófica de Henrique Cláudio de Lima Vaz. Ao enfatizar que sua antropologia é personalista, Lima Vaz estabelece, dialeticamente, a forma em que o sujeito, enquanto livre e racional, se autorrealiza como pessoa. Vista a problemática a partir da modernidade acerca da liberdade, a ênfase será dada à liberdade como aspecto essencial à constituição unitária da pessoa. Essa constituição é o ato total e profundo da essência humana. À luz da antropologia filosófica de Lima Vaz, mostrar-se-á, portanto, que a liberdade é o bem que deve conduzir o ser humano em sua tarefa e desafio de se autor-realizar como pessoa.Palavras-chave: Liberdade. Pessoa. Bem. Transcendência. Vida segundo espí- rito. Realização.

AbstractThis paper presents the concept of liberty in Henrique Cláudio de Lima Vaz’s philosophical anthropology. Affirming that his anthropology is personalistic, Lima Vaz establishes, dialeticly, the manner that the subject, while free and rational being, can realize himself as person. Looking to the problematic from the modern view of liberty, the emphasis will be on the liberty as an essential aspect of the unitary constitution of the person. This constitution is the profound and total act of the human essence. On the light of the Lima Vaz’s philosophical anthropology, this paper will demonstrate that the liberty the goodness that must conduct the human being on the task and challenge of realizing himself as person.Keywords: Liberty. Person. Goodness. Transcendence. Life according to spirit. Realization.

**Doutor em Filosofia. Professor na Universidade de Caxias do Sul/RS. E-mail:<[email protected]>, <[email protected]>.

**BacharelemFilosofiapelaUniversidadedeCaxiasdoSul/RS.EstudantedeTeologianaPontifíciaUniversidadeCatólicadoRioGrandedoSul.E-mail:<gebartelli@yahoo. com.br>.

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Aliberdadeéumdostemasmaisatraentes,fascinantesecentraisdasciênciashumanas,situando-seentreasmaisimportantesdafilosofia.Constitui-seemumtema-chavedadiscussãotantodaéticaquantodaantropologia.Namodernidade, a liberdade assumeuma importânciasobressalente,dando-lherelevoeacentoespecial.Seantes,natradiçãoocidental,àluzdainfluênciaaristotélica,sobretudo,afirmava-sequeoserhumanoeraumserdelinguagem,istoé,umserquefalaediscorreargumentativamente,eumserpolítico,istoé,umserquevivecomosoutrosesóserealizanapolis,naecomamodernidade,porsuavez,aoserhumanoé-lheatribuídaumacaracterísticafundamental,asaber:aliberdade.Oserhumano,segundoRousseau,éumagentelivre,eleescolheporumatodeliberdade,enquantoosoutrosanimaisescolhemporinstinto.AfirmaRousseau:

Nãoé,pois,tantooentendimentoquantoaqualidadedeagentelivrepossuídapelohomemqueconstitui,entreosanimais,adistinçãoespecíficadaquele.Anaturezamandaemtodososanimais,eabestaobedece.O homem sofre amesma influência,mas considera-selivreparaconcordarouresistir,eésobretudonaconsciênciadessaliberdadequesemostraaespiritualidadedesuaalma,poisafísicadecertomodoexplicaomecanismodossentidoseaformaçãodasidéias,masnopoderdequerer,ouantes,deescolherenosentimentodessepodersóseencontramatospuramenteespirituaisquedemodoalgumserãoexplicadospelasleisdamecânica1.

O intento desta reflexão não é fazer uma análise exaustiva doconceito de liberdade no período histórico comumente chamado demoderno, nemde autoresde tal período e tampoucodoperíodoquecompreende,sobretudo,oSéculo das Luzes,séculoXVIII,domovimentodenominadoIluminismo.Entretanto,paraqueopropósitodesteartigoalcanceoobjetivoalmejado,aindaqueempoucaslinhas,urgetecerumbrevecomentáriosobreoIluminismo.Eissosecaracterizacomoquedesumaimportância,sobremaneira,porqueoautoremtornodoqualgiraaargumentaçãoprincipaldopresenteartigoteceumacríticaàconcepçãodaassimchamadamodernidade.

No séculoXVIII, consideradooSéculo das Luzes, não só paraafilosofia,mastambémemtodasasáreasdaciência,arazãoassumetarefa primordial na construção da vida humana em todos os seus 1 ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da

desigualdade entre os homens, p. 249.

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aspectoseáreas.Háumacrençamuitofortenarazão.Arazãobuscadesligar-se de todos os jugos da autoridade e do poder da tradição.InerenteaoconceitoeàconcepçãodoIluminismoestámuitopresentea ideia de progresso, a ideia de ummovimento que caminhapara amaioridade.Éoprocessodeemancipação.ParaKant,“oIluminismoéasaídadohomemdasuamenoridadedequeelepróprioéculpado.Amenoridade é a incapacidade de se servir do entendimento semaorientação de outrem”2.Tanto paraKant como também para outrosadeptosdoIluminismo,àrazãodepositava-setodaconfiança.Darazãoesperava-seaconduçãodahumanidadeàlibertaçãodetodososjugosdopassado,dascrenças,dosdogmasedassuperstições.ParaCassirer,oséculoXVIIIestáimpregnadodafénaunidadeenaimutabilidadedarazão.Arazãoéidêntica,unaeuma,paratodaanação,todaaépocaetodaacultura3.Ahistóriaévista,porconseguinte,comoumprocessoevolutivocontínuo.Afirma,nessaperspectiva,Cassirer:

Arazãodesligaoespíritodetodososfatossimples,detodososdadossimples,detodasascrençasbaseadasnotestemunhodarevelação,datradição,daautoridade;sódescansadepoisquedesmontoupeçapor peça, até seus últimosmotivos, a crença e a “verdade pré-fabricada”.Mas,apósessetrabalhodissolvente,impõe-sedenovoumatarefaconstrutiva4.

Àluzdessabreveexplanação,passa-se,agora,àsconsideraçõesdeLimaVazsobreoconceitodeliberdade,apresentando,deinício,omodocomoelecompreendea liberdadenamodernidade.Emseumododepensar,amodernidade,maisdoquerepresentarumperíodohistórico,representaumanovaconcepçãodeserhumano,e,emdecorrênciadisso,umanovacompreensãodoqueviriamaserascaracterísticasdesteserhumanoenquantoserlivreeracional.Aliberdade,segundoLimaVaz,apresenta-senamodernidadecomocaracterísticabasilaràcompreensãodoserhumanocomotal,quebuscacommuitoafincosatisfazerseusdesejos e necessidades, passando, assim, a ser protagonista de suaexperiênciaenquantoserlivreeracional,poiseleécapazdeconstruirseuprojetodevidademodoautônomo.

2 KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: que é o iluminismo? In: _____.A paz perpétua e outros opúsculos, p. 11.

3 Cf.CASSIRER,Ernest.A filosofia do iluminismo, p. 23. 4 Ibid., p. 33.

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Todavia, esse indivíduo moderno na medida em que buscasatisfazersuasnecessidadesecarênciasdemodonãomaisdependentedeinstânciasexternas,mas,lançando-se,emúltimaanálise,naconquistadaautonomia,ocasionaumainversãonaordemdosvaloresatéentãoobservados evigentes.E isso, emprincípio,não está erradoenãoéruim.ParaLimaVaz,abuscadaautonomianãoéruim.Emumapalavra,segundoLimaVaz,serautônomo,sercapazdedecidir, tomaravidaasério,cientedequecadaumanãopossuigarantidadeantemãosuarealizaçãocomopessoa,édeimportânciaprimeiraecentral.Oponto-chaveaoqualoautorsereferenaquestãodaliberdadedizrespeitoaofocoassumidonamodernidadeacercadacompreensãodaliberdadeenquantotal.Paraele,afinalidadedomovimentodialéticoentrerazãoeliberdadenãoémaisoser,maséaimanêncianosujeitoindividual,abrindo-seàpossibilidadedealiberdadesetornarsemlimites,tendendoparafinsdelibertinagemoutão-somenteàsatisfaçãodeprazeres.Tomandoemconsideraçãoojargãopopularqueéditoerepetidoinúmerasvezespormuitosdenós,asaber,“maisimportantedoqueteréser”,LimaVaz,nadécadade90,doséculopassado,séculoXX,fazendoalusãoàcrisecivilizacional,afirmava:“Acrisedacivilizaçãonumfuturoquejáseanuncianonossopresente,nãoseráumacrisedoter,masumacrisedoser.Seráumconflitodramáticonãoapenasnasconsciênciasindividuais,masigualmentenaconsciênciasocialentresentido e não-sentido.”5.Ouseja,sobretudo,apartirdamodernidadetudoestáàlivredisposiçãodoindivíduo,bastaelequerer.Tudoestáaoseuentorno.Tudolheépossívelepossibilitado.

1 Modernidade e liberdade

ParacompreenderoconceitodeliberdadedeLimaVaz,émuitoimportantefazermençãoàsuacompreensãodemodernidade,porque,para ele,modernidade não diz respeito exclusivamente a um tempohistórico chamadode idademoderna, fazendo, porquanto, referênciamuitomaisaumavisãodemundo,aumideáriorelacionadoaoprojetodeummundodenominado“moderno”e,assim,aumsujeitoconcebidoe construído aos moldes desse projeto. Nesse sentido, a partir damodernidade a liberdadepassou a ser pensada e caracterizadamuito 5 LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Éticaerazãomoderna.In:Síntese. v. 22, n. 68,

1995, p. 55.

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maisàluzdavalorizaçãodoindivíduo,dandoespecialecentralatençãoaohomemenquanto ser autônomoe capazdedeliberação.Oacentoé dado ao sujeito, concebido como livre.Nãoobstante ele possa vira receber influências domeio do qual provéme vive, o sujeito temtodasascondiçõesdesuperarquaisquerinfluências,sejamelasquaisforem,tantodafamíliaquantodomeiocomotambémdaIgrejaoudo Estado.

Poisbem,aobuscaraprofundaracompreensãoda liberdadenoprojetodamodernidade,LimaVazdeclaraquea liberdade tornou-secomoqueuma“(...)faculdadedeumEuqueencontra-seoriginalmenteemrelaçãodevirtualoposiçãocomseumundoequeseconsideralivreenquanto indiferente (libertas indifferentiae) ao conteúdo real dosobjetos oferecidos à sua escolha”6. Emoutras palavras, o indivíduodireciona sua vida para a satisfação de suas carências.Alinhado eafinadoaessadireção,esteindivíduoestásituadoemummundoqueseencontranumritmoalucinantenaproduçãodebens.Assiste-senamodernidadeàbuscadesenfreadadeproduçãoeconsumodamesma.Quer-seproduzir.Nãohápreocupaçãoacercadoqueeporqueproduzir,percebendo-se, assim,umaassimetriaentreaesferadaproduçãoeaesferaqueévitaldoserhumano.Cadasujeitoacabasetornandoapenasmaisumindivíduoobjetivadoejogadoàprópriasorteeaodesejodeconsumo.Oimportanteéconsumir,nãoimportandomuitooprodutoqueseconsome.Vaitomandoformaefôlegoasociedadedo“parecer-ser”,istoé,do“espetáculo” 7.

Essacompreensãodavida,voltadamaisparaoinstantâneo,acabafazendocomquealiberdadeapresente-semuitomaiscomoasupressãode necessidades, conduzindo o ser humano a uma difícil tarefa dealcançarsuarealizaçãoenquantopessoa.Nessaperspectiva,aliberdade,compreendidaparaalémdolivre-arbítrio,precisariaestardirecionadaparaumacompreensãobemmaisampla,istoé,elanãopodeserreduzidaaumasimplesfaculdadedeescolha.Portanto:

6 LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Antropologia Filosófica II, p. 89.7 “Oconsumodotempocíclicodassociedadesantigasestavadeacordocomotrabalhorealdassociedades,masoconsumopseudocíclicodaeconomiadesenvolvidaseachaemcontradiçãocomotempoirreversívelabstratodesuaprodução.Otempocíclicoeraotempodailusãoimóvel,vividorealmente:otempoespetacularéotempodarealidadequesetransforma,vividoilusoriamente”.(DEBORD,Guy.A sociedade do espetáculo.Comentáriossobreasociedadedoespetáculo,p.107.)

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Não se trata apenas de escolher entre duas coisas, como possoescolherentreduascoisasouentremuitassituaçõesmaterializadas.Trata-sederesponderounãorespondercomfidelidadeaoapelodatranscendência.Essaresposta,aomesmotempoemquedásentidoàminha existência, dá sentido àminha liberdade, liberaminhaliberdade.Éumaliberdademaiscomorespostadoquecomoescolha8.

Notexto,“DemocraciaeDignidadeHumana”9, LimaVazposiciona-sefavorávelàtesedeque,paraumatentativadesoluçãomaisjustaerazoáveldoproblemadasatisfaçãodasnecessidadesmaiselementaresdo ser humano, faz-se necessário considerar tanto a igualdade comotambém o reconhecimento moral da igualdade política. Em outraspalavras,poder-se-iadizerqueadignidadehumanaexigealiberdade,que,porsuavez,exigeajustiça.Eambasexigemaresponsabilidade.Porém,namodernidade,aliberdadepareceserconcebidamuitomaiscomoumdireito.Éodireitoà liberdade.Éa liberdadedeviver.Éaliberdadedocorpo.Éaliberdadedegozaravidapresente.Éaliberdadedecadaum.Elequerviverintensamenteojáeoagora.Busca-seviverohojeeissobasta10.

Sobreacompreensãodosujeitonamodernidade,Fromm,dopontode vista psicológico, faz uma reflexãomuito interessante a respeito.PonderaFromm:

Osujeitosetornoulivredosvínculosexternosqueoimpediriamdefazerepensaroqueacharadequado.Terialiberdadedeagirsegundosuaprópriavontade,casosoubesseoquequer,pensaesente,porémnãosabe.Conforma-secomautoridadesanônimaseadotaumegoquenãoédele.Quantomaisfazisto,tantomaisimpotentesesenteetantomaisobrigadoficaaconformar-se.Adespeitodeumacascadeotimismoeiniciativa,ohomemmodernoédominadoporumsentimentoestranhodeimpotência,queofazencararascatástrofesqueseaproximamcomseestivesseparalisado.[...]Seavidaperdeosentidopornãoservivida,osujeitosedesespera11.

8 SIDEKUM,Antonio.Ética e alteridade:asubjetividadeferida,p.120.9 LIMAVAZ,HenriqueCláudio.Ética e direito.(Org.eIntr.CláudiaToledoeLuizMoreira).SãoPaulo:Loyola;LandyEditora,2002.

10 Verifica-se uma tendência para a afirmação exasperada de direitos individuais esubjetivos.Essabuscaépragmáticae imediatista,sempreocupaçãocomcritérioséticos.Aafirmaçãodosdireitosindividuaisesubjetivos,semumesforçosemelhanteparagarantirosdireitossociaisculturaisesolidários,resultaemprejuízodadignidadede todos, especialmente daqueles que sãomais pobres e vulneráveis (CELAM.Documento de Aparecida. TextoconclusivodaVConferênciaGeraldoEpiscopadoLatino-AmericanoedoCaribe.§47).

11 FROMM,Erich.O medo à liberdade, p. 203.

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Nessalinhadepensamento,aliberdade,segundoLimaVaz,deveser compreendida como inclinação transcendental do sujeito parao Bem12.O ser humano é aquele que se encontra emumaconstanteinterrogaçãosobresimesmo,buscandocompreenderquemeleé.Ouseja,oserhumano,naaberturaaoVerdadeiroenainclinaçãoaoBem,buscaconhecer-seedarumadireçãoàsuavida,percebendo-secapazdeconheceraVerdadeederumarparaoBem.EsclareceLimaVaz:

Emprimeirolugar,apresenta-se,pois,atensãointerioraoespíritonohomementreaaberturatranscendentalparaoVerdadeiro-em-sieainclinaçãotranscendentalparaoBem-em-sideumladoe,deoutro,alimitaçãocategorialeidética doespíritohumanoquesubmeteaaberturaparaoVerdadeiroeainclinaçãoparaoBemàcontingênciaefinitudedoprópriosujeitoeàmediaçãodeummundoexterior. Portanto,deumaparteaaberturaparaoVerdadeiroeainclinaçãopara oBem referem-se a uma transcendência doVerum-Bonum quenãoéexterior,mas,aocontrário,insere-senamaisprofundaimanênciadoespíritosendoconstitutivasdasuaessência,umavezqueoespíritoécoextensivoaosereoserélogicamenteconvertívelcomoVerdadeiroeoBem.Deoutraparte,essatranscendênciadoVerum-Bonumnãoéalcançadapeloespíritofinitoatravésdeumaintuição ontológica ounumenal ou uma adesão imediata,mas érefratadadoaquémdeummundoexterioraoespírito,ondeaverdadee o bem se relativizamnamultiplicidade e fluidez das coisas13.

Poisentão,paraLimaVaz,aaberturatranscendentalaoVerdadeiroea inclinação transcendentalaoBemsãoaspectos imprescindíveisàcompreensãodaessênciadoserhumanoenquantotal,dando-lhe,porsuavez,condiçõesdeaberturaàTranscendência.AperspectivadeLimaVazsegueumaantropologiadeleiturateleológica,ouseja,osujeitonãotemumfimemsimesmo,mastemoseufimmaiselevadonaTranscendência.EénessaaberturaeinclinaçãotranscendentalàVerdadeeaoBemqueo sujeito adquire a capacidade de autodeterminação.Esses atributosconcebemumsentidoaosujeito,sendoqueaVerdadeéamedidaeoBemé,porsuavez,anorma.“OVerdadeiroeoBemdeverão,finalmente,serpensadoscomoPresençadoserinfinito(Deus)noespíritofinito”14. IssosignificaqueháVerdadeeBemtranscendentesaosujeito,existindo,porém,verdadeebemintrínsecosaoserhumanoqueserelacionam,por 12 LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Antropologia filosófica I, p. 203.13 Ibid., p. 203.14 Ibid., p. 204.

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meiodaanalogiaeparticipação,comoAbsoluto,queéVerdadeeBem.Dessaforma,verdadeebemdevemserentendidosemumadialéticadeprincípioefim.Precisa-se,porém,compreenderessemovimentonãocomoumdualismoentreotranscendenteeoimanente,mas,sim,comoumaprofundadoaçãodoSerinfinitoaoserfinitoemqueoSerAbsolutodáaosujeitofinitoacapacidadedeparticipardesuaVerdadeedoseuBem.Assimsendo,énecessárioqueosujeitoafirmeasuaidentidadeenquantoser-em-si epossaexperienciaraparticipaçãocomoAbsolutonaaberturatranscendentalàVerdadeenainclinaçãotranscendentalaoBem.Pois,oserhumanoseencontraemumasituaçãoprimordialcomoser-para-o-Bem,tendosuavidaafirmadanaliberdadedeconsentiraoBem.

Porquanto,dacapacidadedetranscendênciadaqualosujeitoépor- tador,permite-oumaaberturatranscendenteaoBem.Estelheconcebeumamarcaespiritual,aqualconfereaoserhumanoumapossibilidadedeperguntarporabsolutamentetudo15.Seusatosestãoconcatenadosaumainteligibilidadeinerenteaoseuser.Dessamaneira,LimaVazquerafirmarqueavidaverdadeiramentehumanaéaquelasegundo o espírito.Ouseja,umavidavoltadaàliberdadeeaobemeàrazãoeàverdade,sendo,então,averdadeeobemmarcasperceptíveisda transcendênciadeseuser.

LimaVazpensaaliberdadenãodeumaformaisolada,comoumaautolegislaçãoprópriaeindividual,sustentadaporsimesma,masquerdemonstrá-laemumviésrelacionalcomoBem.Apartirdeentão,nãoé possível conceber a liberdade sem que esteja indicada na direçãoteleológicaparaobem,ondeoriginalmenteresidaaautodeterminaçãodelepróprio,nosentidodeparticiparemsimesmodofundamentoedofimaoqualseencaminha.Serlivreésaberlançar-senodesconhecido,noinfinito,istoé,teracompreensãodebuscarnavidasempremaisoacolhimentodoBem.Assim,oBemdeveseranormarealdaliberdade.DeacordocomLimaVaz:“Bemnãoéumobjetodeescolha,maspolodateleologia universal e princípioabsolutodoser.” 16.Pode-se,nesse 15 “Somente o ser humano como ente corporal-espiritual possui um ‘mundo’ emsentidopróprio;‘ummundo’,nestecaso,querdizer‘(o)mundoirrestrito’.Porqueele temacapacidadede superar todosos limites,maisprecisamente,nãopor serum entematerial-biológico,mas por ser um ente espiritual. Ele pode perguntarporabsolutamentetudo,desenvolver‘theories of everthing [teoriasdetudo]’etc.”(PUNTEL, Lorenz B.Estrutura e ser. Um quadro referencial teórico para umafilosofiasistemática,p.267.)

16 LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Escritos de filosofia II:éticaecultura,p.90.

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sentido, dizer que apraxis humana encontra seus princípios causaisnarazãoenaliberdade,propriedadesessenciaisdaestruturanoético-pneumáticadoserhumano.AfirmaLimaVaz:

Desdeopontodevistadainteligência,ohomem,serespiritual,deveserdefinidoser-para-a-verdade;desdeopontodevistadaliberdadedeveserdefinidoser-para-o-bem.Essasduasintencionalidadesdoespírito(oudohomemcomoespírito)enquantointeligenteelivresecruzamnaunidadedomovimentoespiritual:poisaverdadeéo bemdainteligênciaeobeméaverdadedaliberdade.Éesseoquiasmodo espíritofinito que, noEspírito infinito, é identidadeabsolutadaverdadeedobem.Oespíritoé,assim,comoestrutura de verdade ou noéticaato,unidade,ordem,reflexividade.Valedizerqueoacolhimentodosernoespíritopelainteligência(intellectus in actu est intellectum in actu)sefazsegundooatoouaperfeiçãodainteligênciaedoser;portanto,segundoaunidade e a ordemdoatooudaperfeição,enaimanênciadoespíritoasimesmo(reflexividade).Como estrutura de bondade (pneumática), o espírito é vida,independência,normaefim.Valedizerqueainclinaçãodoespíritoao ser pela liberdadesefazsegundoacomunicaçãodavidaqueémovimentoimanente;portanto,procedesegundoaindependência e a normadoseupróprioser,desorteque,naliberdade,oespíritoéfim a si mesmo17.

Oliveira,tratandodaliberdadehumanacomoumaliberdadequeparticipadeumaliberdadeoriginária,afirmaque“(...)aliberdadedoserhumanoépensadacomorelaçãoaumaliberdadeoriginária.Éumaliberdadequefundamentaaprópriaordem,queestabelecefinsemeios,é,portanto,avontadequefundaoprópriomundo,e,consequentemente,fundaasaçõeshumanas” 18.

1.1 Aspectos antropológicosParaLimaVaz,aantropologiafilosóficasitua-seentreametafísicae

aética.Oserhumanoseexprimeessencialmentecomoportadordeumarazãouniversal (animal rationale):metafísica,edotadodeumaliberdadedeescolha (liberum arbitrium):ética19.Tendoointuitoantropológicodemostraraunidadedoserhumano,fazendocomqueoseupróprioexistirestejacentradonoBemenaVerdade,LimaVazbuscacompreendero 17 LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Antropologia filosófica I, p. 198.18 OLIVEIRA,ManfredoAraújode.Desafios éticos da globalização, p. 14.19 LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Antropologia filosófica I, p. 141.

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serhumanoemsuatotalidade,pormeiodascategoriasdeestrutura,derelaçãoedeunidade.Ascategoriasafirmamapossibilidadedosujeitosetornar,emsuarealização,pessoa,pormeiodoprocessodialéticodesuprassunçãodascategoriasdeestruturaederelaçãonascategoriasdeunidade.Apartirdascategorias,épossívelcompreenderosujeitoemsuaglobal expressão,poiso sujeito é apresentadona suaconstruçãoemsimesmo,nasuacapacidaderelacional,abertoaumhorizontequevaialémdoqueeleconsegueabarcaremsuacontingência,ouseja,nasua capacidadede transcender aomundo emque se situa, ele existecomoabertura transcendentalparaauniversalidadedoser20. Acentua LimaVaz:

Assim,ocorpopróprioésuprassumido(ounegadodialeticamente)nopsiquismoeambossuprassumidosnoespírito.Aregiãocategorialda estrutura é suprassumida na região categorial da relação.Nointeriordesta,arelaçãodeobjetividadeésuprassumidanarelaçãode intersubjetividade e ambas na relação de transcendência.Enfim,aregiãocategorialdarelaçãoésuprassumidapelaunidade,primeiramente como unificação na categoria de realização,finalmente como unidade essencial na categoria de pessoa, naqual convergeepelaqual é suprassumido todoomovimentododiscurso21.

Delimitar conceitos que permitam explicar filosoficamente aexperiência que o sujeito faz de simesmo, investigar as formas deexpressãopresentes em seu existir, demonstrar a integraçãounívocaentre as linhas fundamentais, é o que Lima Vaz busca realizar naantropologiafilosóficaemumaleituracomvistasàunidadedosujeito,enquantoportadorderazãoeliberdade.Osujeitoatualencontra-seemmeioaumturbilhãodecoisas,detarefasedeofertas,desdeasmaissimplesàsquaseinimagináveis,ocasionando-lhe,namaioriadasvezes,muitas dificuldades para chegar à decisão.Esse repertório de coisasdisputa a primazia nomomento da escolha e absorve sempremaisenergiado sujeito,ocasionandoumasériededificuldades, sobretudonoqueserefereàclarezadoquevemaseràconstituiçãodoseuserprioritárioeoqueésecundário.Comoconsequênciahámaisfacilidadedosujeitoseperdernosupérfluoenovaziodesuaexistência.Nesse 20 Cf.Ibid., p. 239.21 LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Antropologia filosófica II,p.238.Conformenotaexplicativanº6.

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contexto,osujeitodeixadeperceberecompreenderoqueéessencialàsuaexistência.Eleacabaperdendoseueixonorteador.Tudopassaanãotermaisnecessariamenteumaligaçãocomabuscadosentidoúltimo,poisoquemaisimportaéomomentâneo,éoqueestáàdisposiçãoaquieagora.E,nessaperspectiva,a liberdadepassa tambémaser regidaporesse imediatismo individual,ficandodesconectadadasua teiaderelação,inclusivecomoseufimúltimo.

O ser humano, para Lima Vaz, caracteriza-se em seu ato deexistir comoum sujeito de reflexividade e expressividade, capaz dedar sentido a simesmo e a tudoo que o cerca.Assim, o sujeito nacondiçãoexpressivadeseuexistir,caracteriza-secomosersituado22 e circunscritopelafinitudedasuasituaçãonomundo.Situaçãoefinitudesãomarcadaspelasuapresençanomundo,enquantoeleéser-no-mundo (natureza),ser-com-os-outros (sociedade)eser-em-si (eunapresençademimmesmo)23.Assim, será enquanto ser finito e situado que osujeito,noseudesafioetarefadeestarsempreemcontínuabusca,e,portanto, inacabadade autorrealização, se autoexpressará livrementecomo pessoa.

Osujeito, situadoefinito enquanto inclinação transcendental, éportadordeumsentidofundamental,asaber,oBem.NaausênciadessefundamentoontológicodoBem,aliberdadecorreoriscodefragmentar-seedescentrar-sedeseunorteeobjetivo.Porisso,osujeito,apartirda modernidade, por voltar quase que exclusiva e unilateralmenteseu olhar à realidade contingente, no afã de tentar esgotar todas aspossibilidades de emoções e aventurasmomentâneas, não conseguemais tomaradistâncianecessáriaedeixa-seenredarem tornode talrealidade,deixando-opresoaumestilodevida,facilmente,denominadodeconsumistaeutilitarista.

LimaVaz,porsuavez,aoconstatartaltendênciadamodernidade,sustenta que tão-só por meio das formas expressivas do sujeito, a

22 Oserhumanoencontra-seprimeiramenteemumasituação metafísicadeterminadapelasuafinitudeontológicadaqualprocedeanecessáriarelaçãocomatranscendência;essa“situação”metafísicareflete-seemumasituação cósmicaresultantedoestar-no-mundo e circunscrita pela incontornável relação com as coisas; e em umasituação histórico-social entretecidapeloestar-com-o-outro eque é, dopontodevistadavida-em-situação,aformacondicionantedapresençadosujeitoemfacedatranscendênciaedomundo.(LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Escritos de filosofia V:introduçãoàéticafilosóficaII,p.159.)

23 Cf.LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Antropologia filosófica I, p. 145.

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saber,dasdimensõesobjetiva, relacionale transcendental, épossívelestabeleceroespaçoparacompreenderoserhumanoemsuaexpressãointegral.Emrelaçãoaesseespaçoexpressivo,afirmaLimaVaz:

Um espaço aberto, pois que as três dimensões se abrem paraa transcendência, que nenhuma experiência ou conceito podecircunscrever. É nessa abertura que se manifesta a presençaausência(presençaquefazsinal,masnãosemanifestacomotal)aoTranscendenteoudoOutroabsoluto,presençavisada,masnãocaptadapelodiscurso24.

A abertura à transcendência25 dá a condição de possibilidadeaosujeitode irparaalémdesiedooutro.Elacapacitao sujeitonaarte de distanciar-se intencionalmente de sua situação e finitude nomundoparamelhorcompreenderoverdadeirosentidodeseuexistir.Natranscendência,aliberdadeencontraascondiçõesnecessáriasparacentrar-senumfundamentoúltimo,asaber,oBem.Oliveiracontribuiparaessareflexão:

(...) a transcendência, na vida humana, significa também efundamentalmente a capacidade de entrar em comunhão e naintimidadedetodasascoisas,semperderaprópriaidentidade,numprocessodeabertura-comunhãoque sóencontra satisfaçãoplenanopróprioabsoluto,comosuaorigemefim.Estandosempre,emcadaconcretizaçãodeseuimpulsodecomunhão,napresença,aindaqueatemática,doabsoluto,oserhumanoéessencialmentelivre,portadordeumaliberdadefundamental,que,paraserplena,precisaefetivar-seemtodasasdimensõesdesuavidahistórica,umavezqueoserhumanoéumser-no-mundo,sempresituadonumcontextohistóricoespecífico26.

24 Ibid., p. 146.25 A Igreja católica, no compêndio de doutrina social, traz uma explicitaçãomuitovalorosaàrespeitodaaberturadapessoahumanaàtranscendência.Segue:“Àpessoahumanapertenceaaberturaàtranscendência:ohomeméabertoaoinfinitoeatodososserescriados.Éabertoantesdetudoaoinfinito,istoé,aDeus,porquecomasuainteligênciaeasuavontadeseelevaacimadetodaacriaçãoedesimesmo,torna-seindependentedascriaturas,élivreperantetodasascoisascriadasetendeàverdadee ao bemabsolutos.É aberto tambémaooutro, aos outros homens e aomundo,porquesomenteenquantosecompreendeemreferênciaaumtupodedizereu.Saidesimdaconservaçãoegoísticadaprópriavida,paraentrarnumarelaçãodediálogoe de comunhão comooutro.Apessoa é aberta à totalidadedo ser; aohorizonteilimitadodoser.Tememsiacapacidadedetranscendercadaobjetoparticularqueconheceefetivamente,graçasaestaaberturaaoser”.(PONTIFÍCIOCONSELHODE“JUSTIÇAEPAZ”.Compêndio da doutrina social da Igreja,§130.)

26 OLIVEIRA,ManfredoAraújode. Diálogos entre razão e fé, p. 155.

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Abertoàtranscendência,osujeitosuprassume,istoé,superasemnegaroqueocerca,integrando,porassimdizer,suasexperiências.Issoacarreta,porconsequência,umaliberdadecapazdeassumirarealidadesemperder-senessamesmarealidade.Issosignificaumaliberdadequenão fogeda realidadedomundo,masconstitui-seemuma liberdadequebuscacompreenderomundo,dandoaosujeitoumsentidoàsuapresençanomundo.Mastalpresençanomundoéordenadasegundoos parâmetros da inclinação transcendental aoBemenãode acordocomoosparâmetroscontingentesdarealidade.Porisso,segundoLimaVaz,aaberturaàtranscendênciaéconstitutivadaestruturacategorialdoserhumanoequestionaradicalmenteomodeloecompreensãodoserhumanodamodernidade,instaurando,porsuavez,umsujeitocapazderelacionar-secomomundo,consigomesmo,comosoutroseabertoaoAbsoluto.NaspalavrasdeOliveira:

éenquantotarefanomundoquealiberdadeemergepropriamentecomo liberdade humana, enquanto liberdade das decisões, queocorremenquanto escolha de umato determinadono espaçodemuitos outros possíveis no seio do mundo [...]. Porém, a açãoescolhidasóélivrequandoportadoradeumsentidofundamentaldaprópriaexistência27.

Desse modo, o sujeito, ao buscar o sentido fundamental parasua existência e exprimindo-se em seu ato supremodo existir comopessoa, buscará as condições para efetivar sua liberdade, visando aoBemcomofimúltimo.Ouseja,namedidaemqueestáemconstantetarefadeautorrealizaçãocomopessoanobem,elevaiqualificandoseuatosupremodeseautodeterminarlivrecomofimqueéopróprioBem.Assim,pode-seafirmar:

a liberdade pensada como processo de efetivação da liberdadefundamentalque,constituiapessoaenquantopessoa,emsituaçõeshistóricas concretas, significa, emprimeiro lugar, independênciaenquantoausênciadedependênciadistooudaquilo,quesópodeserpensadacomorelativa,umavezqueéconstitutivodoserhumanoviveremsituaçãoeistoimplicainúmerasformasdedependência.Positivamente, liberdadeéprocessodeautodeterminação faceàsdeterminaçõesemqueoserhumanosempreseencontra.Daíporquese podedizer que liberdade é poder auto-realizar-se a simesmodentrodesuadeterminaçãoexistencial28.

27 OLIVEIRA,ManfredoAraúdode.Desafios éticos da globalização, p.37.28 OLIVEIRA,ManfredoAraújode. Diálogos entre razão e fé, p. 155.

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A antropologia filosófica de Lima Vaz apresenta a idéia dehumanismo personalista.Ohomemcomo unidade é pessoa.Porsuavez,apessoasurgecomoatototaloperantedasíntesedetodasascategorias,pormeiodeseudesenvolvimentoexistencialnomundo,istoé,desuaautorrealização29.

2 A Liberdade e a unidade do sujeito

Nosegundomomentodesteartigo,trata-sedeabordaraunidadedaantropologiadeLimaVaz,afimdesuperarafragmentaçãodosujeito,apontandopara a unidade de sua vida.Assim, a unidade existencialdo sujeito, edificando-se sobre um fundamento ontológico, tem,necessariamente, umcoroamento ético.Aunificaçãodaprópria vidanãoé,paraosujeito,umprocessoquesedesenrolaapenasnaordemdoser,masqueseperfazsobosignododever-ser,enelatemlugarapassagempermanente da necessidade ontológica para a necessidademoral.Oserhumanoéumserconstitutivamenteético,eessaeticidadeéoudeveseroprimeiropredicadodasuaunidadeexistencialemdeviroudoimperativodasuaautorrealização30.

Instaura-seaquia síntesedoser-em-si edoser-para, ou seja, a sínteseentreaunidadeestruturaleaunidaderelacional.Essasínteseresultanaunidadedosujeitocomounidadeespiritualdesuavida.Énessaunidadepessoalqueseencontraoatototaldoexistirqueéaintegraçãodetodasasexperiênciasqueosujeitofazdesimesmo,enquantosituadoefinito,naunidadeessencialdeseuser.Aunidadetemcomodesafioetarefaexpressarapessoalivre,portadoraderazão.Aliberdade,apartirdaunidade,apresenta-secomomanifestaçãodosatosqueexpressamapessoanamaisprofundaessênciahumana,entendidacomoadequaçãoativacomoSer,queéVerdadeeBem.

2.1 A vida segundo o espíritoComojáreferidoinicialmentenaprimeirapartedesteartigo,avidado

sujeitodevesetornarpropriamenteavida segundo o espírito, justamente porqueoespíritopossibilitaaosujeitoestartranscendentalmenteabertoàuniversalidadedoSer,deacordocomoduplomovimento,acolhimentoedom,razãoeliberdade.Emrelaçãoaestaaberturaqueéacolhimentoe 29 Cf.LIMAVAZ.HenriqueClaúdiode.Antropologia filosófica I, p. 154.30 Cf.LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Antropologia filosófica II, p. 146.

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domaoser,Aquinoexplicita:aaberturacomosaídadesiéacolhimento ao ser e domaoser.Noprimeirocaso,trata-sedaintencionalidadedainteligência,aopassoquenosegundocasotrata-sedaintencionalidadedavontade. A razão e a liberdadesãoosdoisvetoresreferenciaisdosi-mesmo, do outro e do terceiro para com o ser.A abertura comopermanênciajuntodesiéumapresençaasiourelaçãoativadosujeitoconsigo31.Diz-nosopróprioLimaVaz:

Aotermodademonstraçãoqueestabeleceuaunidadeestruturaldohomemcoroadapelacategoriadoespírito,avidasegundo o espírito manifesta-secomoavidapropriamentehumana.Elaoéjustamenteemvirtudedacorrespondênciatranscendentalentreoespírito e o ser.Comefeito,viverparaosseresvivoséoseupróprioexistir.Ecomoohomemexistenasuaadequaçãoativacomoser,ohomemexisteverdadeiramenteenquantoespírito,ouavidapropriamentehumanaéavida segundo o espírito32.

Dessamaneira,osujeitoexiste,emsuaabertura transcendental,para a universalidade do ser ou em sua adequação ativa como ser,enquantoéverdadeiramenteparaoespírito,ouseja,quandoasuavidaéumavidapropriamentesegundooespírito.Portanto,paraLimaVaz,avidasegundooespíritomanifesta-secomovidapropriamentehumanaemvirtudedacorrespondênciatranscendentalentreoespíritoeoser.Navidasegundooespíritoconstata-se,acimadetudo,aimportânciadoatoespiritual.Essesecaracterizapelosatossupremos doexistirdosujeito:“conheceraVerdade,consentir ao Bem, reconhecer no Absoluto deexistênciaafonteprimeiradaVerdadeedoBem” 33.Assim,épormeiodosujeitoqueavidasegundooespíritoéexercidaemanifestada.LimaVaz,arespeitodahumanidadedavidasegundooespírito,afirma:“Vivendosegundooespíritoohomemvivehumanamenteavidacorporaleavidapsíquica.(...)Avidasegundooespíritoserá,portanto,paraohomem,oexercíciodosatosquemanifestamoespíritocomooprincípiomaisprofundoeessencialdavidahumana” 34.

Avidasegundooespíritomanifestadoisaspectosimprescindíveis:a presença e a unidade.Pois,emvirtudedesuareflexividadeessencial, 31 Cf.AQUINO,MarceloFernandesde.Notassobreaescrituradooutronarelaçãodeintersubjetividade.In:CIRNE-LIMA,Carlos;ALMEIDA,Custódio[org.]. Nós e o absoluto, p. 283.

32 Cf.LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Antropologia filosófica I, p. 217.33 LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Antropologia filosófica II, p. 174.34 LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Antropologia filosófica I, p. 218.

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oespíritoépresenteasimesmo.Ora,somenteavidasegundooespíritoé,paraosujeito,umavidadepresençaasimesmo35,istoé,umavidadeconhecimentodesiedeautodeterminação,umavidaracionalelivre.Comisso,napresençaasimesmo,efetiva-seaunidadedosujeitocomounidadeespiritualdesuavida36.

Sendoassim,aestruturaontológicadoatoespiritual,ouseja,corpo-alma-espírito, é a unidadedo ser do sujeito, quepossibilita designara suaplenitude e atestar a infinitudeorigináriado espíritonoqual aessênciaeoatosãoum.EscreveLimaVaz:“Nohomem,comoespíritofinito, o ato espiritual não é, em simesmo,o índicede suafinitude,mas,aocontrário,exprimeasuperabundânciadesuariquezainterioreapermanentesuperaçãodeseuslimites”37.Oatoespiritual,enquantoacolhimentodoserpelarazãoedoaçãodoserpelaliberdade,apresenta-secomofenômenooriginárionosujeito,poisnasceimediatamentedoespírito.Dessaforma,oatoespiritualconfigura-senumadialéticadoespíritoouemumacirculatioessencial:oacolhimentodoseredomaoser;razãoeliberdade38.

Adialéticaentrerazãoeliberdadeconstituionúcleodavidadoespírito. “A vida do espírito enquanto inteligência tem, pois, como sua operação suprema, a contemplação (noésis ou theoría), ou seja,oacolhimentodoser;e,enquanto liberdade tem,comosuaoperaçãosuprema, o amor desinteressado (agápe), ou seja, o dom ao ser” 39. Assim, de acordo comLimaVaz, “(...) razão e liberdadedevem serentendidas,seasforempensadasintegradasnoritmodecrescimentodavidasegundooespírito,àluzdatendênciaprofundaqueapontaparaoatodecontemplaçãocomointeligênciapropriamenteespiritualeparaoatododomdesicomoamorpropriamenteespiritual” 40.

Por fim, “a vida da razão e da liberdade como crescimento dainteligênciaespiritual edoamorespiritual é,noespíritohumano,aomesmotempo,amarcadesuafinitudeeosignodesuaparticipaçãoà

35 Cf.Ibid., p. 217. 36 Cf.Ibid., p. 217.37 Ibid., p. 220.38 Cf.Ibid., p. 222.39 Ibid. p. 223. “Haveria,pois,pararesumirparasimplificar,trêsmaneirasdeamar,outrêstiposdeamor,outrêsgradaçõesnoamor:acarência(eros),oregozijo(philia),acaridade(agapé).”(COMTE-SPONVILLE,André.Pequeno tratado das grandes virtudes,p.310.)

40 LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Antropologia filosófica I, p. 223.

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intelecçãoperfeitaeaoamorperfeitodoEspírito infinito” 41.Vemos,aqui, uma primeira resposta para o problema da liberdade, ou seja,serlivresignificaexercê-lanãoparafinspróprios,masparaumamordesinteressado,enquantodoaçãodaprópriavida.

2.2 A RealizaçãoLimaVaz, ao tratar da categoria da realização, discorre sobre

umapossíveloposiçãoentreaunidadeem-sidosujeito,definidapelascategoriasdeestrutura,eoseuabrir-seàmultiplicidadedosoutrosseresqueformamomundo,tematizadanascategoriasderelação.Issopodeocorrerporque,noabrir-seàrelaçãodealteridade,osujeito,queafirmouestruturalmentesuaidentidadeemsimesmo,correoriscodeperdersuaidentidade,quelheéprópria,tornando-seum“outro”enãomaisum“Eu sou”.Assim,aunidadeafirmadanasestruturascomoser-uno, ou seja, comoumserdevidasegundooespírito,épostaemrisconarelaçãocomomundo,comooutroecomotranscendente,vistoquesuaidentidadepessoalnessa relaçãoéafetadapela realidadeque lhedefronta.Esseconfrontonãoéalgonegativoparaosujeito.É,porsuavez,momentodecrescimentopessoalqueexigeumaposturaativaenãopassivadianteda realidade.Ouseja,umaatitudecríticaenão indiferenteperanteoque lheédadona realidadeemquesesitua.Apartirdessasituação,LimaVazpergunta:“Sendounoestruturalmenteeabrindoessaunidadeaoacolhimentodooutroser nas formasdas relaçõesad extra, como poderáohomempreservarasuaunidadeouserelemesmo(ipse)nessepermanenteafãde ser-outro?”42

Aunidadedo sujeito estrutura-se na suprassunçãoda diferença(o em si)doobjetona sua identidade reflexiva (o para si).Assim,acategoria de realização mostra os caminhos nos quais a unidadeestruturaldosujeitoconcretiza-se,efetivamente,nasformasderelaçãocomomundo, como outro e comoAbsoluto que circunscrevemolugarontológicodesuasituaçãoedesuafinitude.Aconsumaçãodessaunidade“permaneceumconceito-limitequeàfilosofiaédadoapenaspostularcomooalvoenfimalcançadodaidentidade(mediatizadapelavidavivida)entreaestruturaeasrelações” 43.Aautorrealizaçãohumanasurge comoa efetivação existencial doparadoxo, segundoo qual, o 41 Ibid., p. 224. 42 Cf.LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Antropologia filosófica II, p. 143.43 Ibid., p. 144.

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sujeitosetornaelemesmo(ipse)nasuaaberturaconstitutivaaooutrosujeito.Dessaforma,nãohárealizaçãosemqueexistaumaaberturaàgenerosidadenodomdesimesmoquepodeserdenominadaderazãometafísica, pois se trata de uma realização segundo uma abertura àinfinitudedoSer.Mas,paraqueessarealizaçãoseefetive,urgequesecumpramosatosque traçamo itineráriodeumavidaqueserealiza.Taistraçosnãopodemserpensadossenãosegundoumaintegralidadedaestruturadosujeitoqueseconfrontacomumhorizonteinteiramenteabertoàs realizaçõesfundamentaisquesão livrementebuscadaspeloprópriosujeito.Elasnãolhevêmprontas.Assimsendo,oserhumano,porser livree inteligente, torna-seo“plasmadordaprópriaunidade,eque,portanto,seconstituiaquicomomediação integral doqueeleestruturalmente e relacionalmente é”44.

Oser humano, por ser capazde efetivar a realizaçãodaprópriavida, encontra comodesafio e tarefa, nunca acabada, o domíniodo sentido da vida, no qual a sua existência está lançada comoexistênciapropriamentehumana.Ora,seénaestruturadoespíritoqueseencontraavidapropriamentehumana,seránelatambémqueoníveldatarefadeseautorrealizarunificanteapresentaráatarefaedecisãodadireçãodosentidodaprópriaexistência.Rumandoparataldireção,arelaçãodetranscendência,ser-para, apresenta-se como ser-para-a-Verdade, ser-para-o-Bem e ser-para-o-Absoluto.Seránoníveldoespíritoqueomovimentodeautorrealizaçãosubmeter-se-áàmedidadaVerdade,ànormadoBemeàexigênciadoAbsoluto45. Portanto,omovimentodeautorrealizaçãoéapassagemdoserqueéaoserquedeveser46.Essapassagemabreoserhumanoparaumavidaética,poiso“homeméumserconstitutivamenteético”47.Essaeticidadeexigedoserhumanoumaaberturadaliberdadeparaumfim,queéoBem.

Arealizaçãoéaefetivaçãodaexistência,quevemaserasínteseentreasestruturaseasrelaçõesqueoserhumanoopera.Éapassagemdoserqueé identidadeao serque se tornaelemesmopelanegaçãodialéticadooutro,noativorelacionar-se48.Talnegaçãodialéticadeveserentendidanosentidorelacional,istoé,o“eu”queestáemrelação 44 Ibid., p. 145.45 Cf.Ibid., p. 146.46 Cf.Ibid., p. 149.47 Ibid., p. 146.48 Cf.Ibid., p. 165.

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comum“tu”nãosetornaumoutro“tu”,massimum“Eu sou”.Ouseja,nasínteseexperiencialentreoEuestrutural(ser-em-si)eoEurelacional(ser-para)resultaafigurado“Eu sou”emprocessodeautorrealização,oqualéorientado,intrinsecamente,peloalvodavidarealizada49. Assim, oserhumanoéunidadeemsuaessência,masdevesetornaremsuaexistência,paraquepossapassardeumsimplesestar-no-mundo para se constituir em um ser-no-mundocomideaisqueatualizemtodasasvirtualidadesadquiridasnoprocessoderealização.

Essadialéticainternaqueacategoriaderealizaçãopossuivaidaexpressividadeàordemdaexistênciadoserhumano,apontandoparaoAbsolutodoSer.Comefeito,essadialéticaresultanaautoafirmaçãodo“Eu sou”dosujeitoaberta“àinfinitudeintencionaldohomemcomoser-para-a-Verdadeeser-para-o-Bem,lançando-oemdireçãodainfinituderealcomoser-para-o-Absoluto”50.Acategoriaderealizaçãoconduzaumasínteseentreaessênciaeaexistência,afirmandoaigualdadeinteligívelentreosujeito(oEunomovimentodasuaautomanifestação)eoser(manifestadonaordemdascategoriasencadeadaspelodiscurso).

ApontaextremadomovimentoderealizaçãohumananaordemdatheoríaépostapeloAbsoluto, paraoqualosujeitoconstitutivamentese refere na relação de transcendência.Assim, é tão somente nessaigualdadeinteligívelentreosujeitoeoserqueresultanaafirmaçãodo“Eu sou”, podendo-seafirmaracategoriadepessoa,aqual jáestavapresentedesdeoiníciodaconstituiçãodoserdosujeito,masqueaquiseexpressaemsuacompletude51.

Aliberdadeencontra-se,então,comofiocondutorparaarealizaçãodapessoaemseuatodeexistir,tantonavidasegundooespíritoquantona efetivação da existência na realização. Ela se encontra enquantoaberturatranscendentalàuniversalidadedosercomodomperfeitodoEspírito infinito.Por isso,pormeiododom-de-si, ela seconformaàliberdadedoSeremumapresençaquesefazunidade,naformadevidadeconhecimentoeautodeterminaçãodoatoespiritualquesetornaumadoaçãodesi.Porém,aliberdadenecessitaserexpostaparaoconfrontocomooutroemumarelaçãodeintersubjetividade,semhaveraperdadaunidadejágarantidaem-si.Mas,apesardessepossívelconflitooucrisedeunidade,pode-seaindaafirmarumaunidadenosujeito,pois 49 Cf.Ibid., p. 154. 50 Ibid., p. 173.51 Cf.Ibid., p. 174.

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justamentenarelaçãoéqueseencontraocaminhoparaarealizaçãodaunidade.Assim,épormeiodaaberturadodom-de-si, efetivadapelaliberdade,que“seabremasportas”paraarealização.Essaaberturaésempreumexercício livrequeosujeitooperacomodesafioe tarefa,nuncaacabada,rumandoaodomíniodosentidodaprópriaexistência.Deve-selembrarqueaunificaçãodavida,enquantodesafioetarefa,étambémumdever-seréticonaformaimperativadaautorrealização.Serlivre é exatamente ser-para-o-Bem.Nesse sentido, a realização livredo sujeito é a passagemdo ser que éem-si para o ser que deve sercomo ato expressivodo seu existir.É a passagemdobem, que estáafirmadonaessênciadosujeito,paraaafirmaçãodobemexteriormentenaexistência.

2.3 A pessoaAcategoriadepessoaéaexpressãodaunidadefundamental,isto

é,daunidadefinalcomosuprassunçãode todasascategoriasdoser,sejacomoasínteseentreaessênciaeaexistênciaouentreoserqueéeoserquesetorna52.Éaexpressãoacabadado“Eu sou”,naqualelemesmopodedizer-sesobresimesmo.Aliberdadeearazãoapresentam-secomoaexperiênciaintegradoraesintéticanoatodoexistirpessoal.Dessaforma,paraOliveira:

Averdadeiraliberdadesópodeocorrerquandoomotivoúltimodenossocomportamentonãoésimplesmentereagirdiantedoquenosédado,maséagirdeacordocomarazão,istoé,umapessoaéditalivrequandoofundamentodeterminantedesuasdecisõespráticasnãoéalgoexternoàrazão,masaprópriarazão,portanto,sópodehaverliberdadeseépossívelumadeterminaçãoautônomaeracionalde fins últimos, racionalidade consciente, em que os impulsose desejos são incorporados emum sistemade determinações davontade fundadona razão, o que significa dizer que a liberdadepressupõeaautofundamentaçãoúltimadopensamento53.

Anoçãodepessoapermiteserentendidacomoprincípioefim.Comoprincípio,enquantoosujeitosepõeabsolutamentenaraiz inteligíveldaafirmaçãodo“Eu sou”quepercorretodoodiscursoantropológicocomomediaçãopelaqualosujeitosesignificaeseunificasegundoosdiversosaspectosdoseuser.Apresenta-setambémcomofim,enquanto 52 Cf.LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Antropologia filosófica II, p. 190.53 OLIVEIRA,ManfredoAraújode.Desafios éticos da globalização, p. 25.

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o sujeito em seu processo dialéticomostra-se comounidade que serealizaexistencialmenteentreoem-sidaestruturaeopara-o-outrodarelação54.Ouseja,osujeitojáépessoadesdeoiníciodesuaexistênciacomoser,porémestesujeitovaiexpressarpaulatinamentemelhoroquejáéessencialmentenamedidaemqueviveasuavidaexpressandooquerealmenteé,asaber,eleépessoa.

AcategoriadepessoaéopontonodaldodiscursodaantropologiafilosóficadeLimaVaz.Nela entrelaçam-se a inteligibilidadeem-si e ainteligibilidadepara-nós.Nelacumpre-sefinalmenteoprincípiodetotalização,comaadequaçãointeligívelentreosujeitoeoser.Nenhumexcesso ontológico permanece fora da autocompreensão do sujeito-objetododiscursodoserhumanonomomentoemqueeleseafirmacomopessoa55.Oconceitodepessoa irradiasuaplenitudedeinteligibilidadesobretodasasmanifestaçõesdoserhumanoquerecebemseuselomaisprofundodehumanidadequandopodemserditaspropriamentepessoais.ParaLimaVaz:

Comefeito,oato pessoaléaquelequesuprassumeouniversaldosujeito(estruturaserelações)mediatizadopelaparticularidadedasuasituação,napresençaúnicaeincomunicáveldeumsingularquesepõeabsolutamentecomotal.Apessoaé,pois,osujeitoadequadodaatribuiçãodavida segundo o espíritoeénaintimidadeprofundadavidapessoal que se dá o entrelaçamentoda inteligência e daliberdadenaquelequedenominamoso‘quiasmo’doespíritofinito.Noníveldoespírito, a pessoa éconstitutivamente, enquanto serinteligente e livre, presença à infinitude do Ser. Essa infinitudeé, para apessoa finita, uma infinitude intencional, exprimindo aidentidadenadiferençaentrepessoa eatotalidadedoser56.

Apessoa, então, encontra-se totalmente aberta ao horizonte dainfinitudeintencional.Assim,aadequaçãoaointeligíveldosujeitoedosertorna-seaexpressãomaiordoseuser(eidos).Napessoaéconcebido,pormeiodoatopessoal,suprassumirouniversaldosujeito(estruturaserelações),mediatizadopelaparticularidadedasuasituaçãonapresençaúnicaeincomunicáveldeumsingularquesepõeabsolutamentecomotal57.Em relação à ideia de singularidadedo ser humano,LimaVaz

54 Cf.LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Antropologia filosófica II, p. 192.55 Cf.Ibid., p. 192.56 Ibid., p. 193.57 Cf.Ibid., p. 193.

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afirma:“Umconceitoresumeessaideiadasingularidadedoserhumanoatestadapelofatouniversaldaculturaepelasconcepçõesantropológicasaolongodahistóriadafilosofiaocidental:oconceitodedignidade”58.

Àpessoaéatribuídaavidasegundooespírito,poisénaintimidadeprofundadavidapessoalquesedáoentrelaçamentodainteligênciaedaliberdadeedaverdadeedobem,denominadodequiasmodoespíritofinito59.Enquantoserinteligenteelivre,apessoaéconstitutivamentepresença intencional à infinitude doSer, exprimindo-se a identidadenadiferençaentreapessoa(inteligênciaeliberdade)eatotalidadedoser(VerdadeeBem).Essainfinitudeintencionalremontaàidentidadeabsoluta entre a pessoa e atualidade infinita doSer. “OSer, seja nasua infinitude intencional seja na sua infinitude real se desdobra emUnidade,Verdade eBem”60.Apessoa, por sua parte, é protagonistadosatoscorrelatosaosdesdobramentosdoSer,ouseja,atodavisãodeUnidade,atodooconhecimentodaVerdadeeatodoconsentimentoaoBem61.

Nacategoriadepessoaestácontidaumafundamentalexperiênciatranscendentaldoexistirpessoal.Nessaexperiênciaencontram-seduascaracterísticashistóricasfundamentaismarcantesaoexistirpessoal.Aprimeira advémda experiênciade transcendência em Israel, ou seja,deumaexperiênciadoexistirnapresençadeDeus,emqueosujeitoéalçadoàsituaçãoparadigmáticadeprofeta.Traçando,assim,oprimeiroperfildapessoanatradiçãoocidental.Asegundasurgenacivilizaçãogregaemqueosujeitoseanunciacomtraçosoriginais,adquirindoo 58 LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Escritos de filosofia V:introduçãoàéticafilosóficaII,p.202.

59 Paramelhorentender:quiasmodoespíritofinitoque,noEspíritoinfinito,éidentidadeabsolutadaVerdadeedoBem.Oespíritoé,assim,comoestruturadeverdadeounoética, ato, unidade, ordem e reflexividade; enquanto estrutura de bondade oupneumática, o espírito é vida, independência, norma efim.Deoutra forma essequiasmo,podeserassimrepresentado:narelaçãoInteligência–VerdadeeLiberdade–Bem,cruzam-seessasrelaçõesdemodoquesejaaInteligência–Bem(Verdade)eaLiberdade–Verdade(Bem).Oespíritocomoestrutura-de-verdadeéoespíritoteorético, como estrutura-de-bondade é o espírito prático. No espírito teorético oobjeto recebe a formada universalidade e da necessidade (Razão); no espíritoprático,oobjetorecebeaformadaordenaçãoparaofimoudofimemsi(Liberdade).Nasíntesedosdois,aliberdadeéracionalinclinando-separaàbondadedaverdadeearazãoélivreassegurandooverdadeirobem,eisoquiasmodoespírito.Cf.LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Antropologia filosófica I, p. 198.

60 LIMAVAZ,HenriqueCláudiode.Antropologia filosófica II, p. 193.61 Cf.Ibid., p. 193.

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predicadodaracionalidade(zôon lógon échon).Assim,LimaVazlevaemcontaostraçosoriginaishistóricosdaexperiênciadapessoa,istoé,dohomembíblicoedohomemgrego.Essesdoistraçoscaracterizam,deformapeculiararelaçãocomatranscendênciadenominadadevida segundooespírito.Oespírito,enquantonoético-pneumático,comoatodeinteligênciaeliberdade,surge,originariamente,dessacorrespondênciahistórica do indivíduo bíblico e do indivíduo grego. A abertura àtranscendênciapassaasignificarparaoindivíduobíblicooatodeouviraPalavra,e,paraoindivíduogrego,odecontemplaroSer62.

Diantedessaexperiênciadeliberdadeederacionalidade,efetivadapelapessoa,pode-sedizerque“éamarcapessoalquedáacadaumadas expressões do sujeito uma significação propriamente humana,integrando-asnaunidadeontológicadefinidapelaadequaçãointeligívelentresujeitoeser”63.Portanto,apessoaexercenaliberdadeosatospelosquaisexprimeoseuser integral, emsua totalhomologiacomoSer.Essesatostornam-seosatosdavidasegundooespírito.

Tendopresentequeapessoaéasínteseintegradoradaexperiênciado sujeito situado, que se expressa em seu ato de existir, conclui-sequealiberdadeapresenta-senaexpressãoacabadado“Eu sou”.Nelaoprópriosujeitosedizsobresimesmonaformadeautodeterminaçãoedeautodoação.Aliberdadeencontra-seabertaàinfinitudeintencionalparaaadequaçãoaointeligível,doandoaessaadequação,aexpressãomaior de seu ser (eidos).Assim, a vida da pessoa transforma-se emumaintimidadeprofundacomoAbsoluto,quenoentrelaçamentoentreinteligênciaeliberdade,e,verdadeebem,mostra-secomoumatotalrealizaçãocomoSer.Sendoassim,a liberdadedapessoanãoéumaliberdadesemlimites,maséumaliberdadeparaoBem.OBeméafontedaliberdadeeesta,porsuavez,nãoésenãoomododeserdoBemnoespírito.

Considerações finais

Oserhumanonãopodevoltar-separaoBemanãoserlivremente,poisénaliberdadequeoserhumanoseconformaaoapelodofimeàtarefadeseautorrealizarnoBem,normaefimdevida.Esseéoprincípioeofundamentodavidasegundooespírito.

62 Cf.Ibid., pp. 201-5.63 Ibid., p. 216.

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Todoserhumanoamasuavidaebuscaserfeliz.Afelicidadenãoconsisteapenasemfazertudoquedáapenasprazermomentâneo.Nãosignificafazersóoqueeventualmentealguémgoste.Consiste,antes,embuscar,livremente,aprópriarealização,istoé,oqueébomparaaprópriavidaeavidadasdemaispessoas.Obem,naformaimperativa,manifesta-seàpessoacomoalgo integrantedoseuser.Mas issonãosignificaqueobemésomenteseu,e,porisso,devaserreduzidoàsuavontade.Dessaforma,apessoa,emsualiberdade,descobrequenãoédonadomundoedosoutros,maséchamadaaser,enquantoracionalelivre,responsávelpelobemqueaconstituiequeseexpressanoespaçoexperiencialemquevive.Portanto,sónoagirlivre,embuscadesuarealizaçãopessoal,apessoapodeexpressaroqueéprópriodoseuser.Isso lhe garante a dignidade e a condiçãopara conceber um sentidopara a própria vida.Portanto, a liberdade, dentro dos parâmetros doBem,levaapessoaàeleiçãoconsciente,enãosubmissaoualienadaàautorrealizaçãopessoalnoBem.

OpensamentodeLimaVazéatualeconstitui-sede relevância.Seu conceito de liberdade apresenta-se comomeio de superação doindividualismoexacerbado,advindodacompreensãoacercadaliberdadeapartirdamodernidade.Suaantropologiafilosóficaresgataaimportânciadapessoacomoportadoraderazãoeliberdade,abertaparacaminharàautorrealizaçãonoBem.Assim,apessoa,emsuasituaçãonomundo,apresenta-secomoexpressividadedesuavida.Porisso,essaexpressãodeveserumaexpressãooriginalmentelivrecombasesnoBem.EsseBem,livrementeaceito,fazcomqueapessoasejaresponsávelemseuagir.Ora, esse agir é caracterizadocomoatode expressãodo serdapessoa. Por isso, a pessoa tempor tarefa, nunca acabada, expressarlivrementeesteBemqueconstituiseuseredeveconduzirosujeitonasuatarefaedesafiodeseautorrealizarcomopessoahumana.

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