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O CONJUNTO NACIONAL DE DAVID LIBESKIND: MARCO URBANO E PATRIMÔNIO RESILIENTE
BORTOLLI JR, ORESTE
1. . Universidade de São Paulo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (
Rua do Lago,Endereço Postal [email protected]
RESUMO Por consequência do desenvolvimento econômico, após a crise do café de 1929, e à expansão da cidade decorrente da industrialização em São Paulo somada ao surto imobiliário pós II Guerra, foi construído o edifício do Conjunto Nacional, um dos marcos inaugurais da verticalização na Avenida Paulista. O edifício ocupa um terreno de 14.000 metros quadrados, adquirido por um empresário imigrante José Tijurs – a quem também se deve a realização da obra – onde se localizava, à época, a mais bela casa em estilo art-nouveau, de autoria de Victor Dubugras. Realizado em 1955, de acordo com o projeto do arquiteto David Libeskind, o Conjunto Nacional é fortemente alinhado às vanguardas – tanto no âmbito nacional quanto no internacional – lançando mão de uma volumetria pautada na matriz modernista e propondo articular uma plataforma horizontal com volumes sobrepostos, separados por um espaço de transição primorosamente ajardinado, gesto este que visou reproduzir um espaço de praça suspensa majoritariamente pública. Nessa linha projetual, dois edifícios idealizados nas décadas de 1940 e de 1950 serão cotejados junto ao Conjunto Nacional – a obra de Lucio Costa e equipe: o Ministério da Educação Saúde, hoje Palácio Capanema no Rio de Janeiro, de 1947; e a Lever House em Nova Iorque, do escritório Skidmore, Ownings and Merril de 1951, com a participação de Gordon Bunshaft e de Natalie de Blois . Além desse tipo de composição, o programa do Conjunto Nacional se sobressai por seu conteúdo programático inovador, consistindo, portanto, em uma intervenção urbana visando cumprir com as formas que contemplam a cidade: morar, trabalhar, circular e se divertir, cumprindo, desta forma, com as diversas funções existentes na cidade. Desse modo, tornou-se um marco na paisagem urbana paulistana, bem como uma forte referência em vários aspectos, e configura-se como lugar do encontro e fruição no espaço arquitetônico devido à consistência de sua arquitetura, localização e dos diversos equipamentos de comércio, serviços e de entretenimento, ali estabelecidos. Além disso, pode-se dizer que mesmo depois de 59 anos de existência, seus espaços flexíveis possibilitaram a incorporação e inserção de equipamentos comunitários cambiáveis. Desta forma, o Conjunto Nacional preconiza a existência dos conjuntos multifuncionais que recentemente têm sido resgatados na cidade de São Paulo. O trabalho tratará destas questões, aventando, inclusive, a hipótese de que o edifício do Conjunto Nacional se perpetua como um patrimônio arquitetônico resiliente.
Palavras-chave: Modernismo; Arquitetura e Cidade; Patrimônio Moderno
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O processo de verticalização em Paulo : 1920 - 1950
Ainda que com pouca intensidade, a verticalização da cidade de São Paulo inicia nos anos de
1920. Entretanto, já era possível prever a sua vocação de se tornar metrópole, pois de 1929 a
1950, como decorrência do desenvolvimento econômico ocorre o acomodamento da mancha
urbana ao longo das faixas residenciais e industriais da periferia. Foi também período que
houve a compactação desta mancha urbana, decorrendo de tal fenômeno a verticalização na
área central, e em seguida nas áreas ao redor do centro (Meyer, 1991, p.17). Outro fato
relevante para o processo de metropolização foi a crise do café em 1929, pois com o fim da
monocultura cafeeira houve mudanças nos investimentos públicos e nos empreendimentos
privados. Sob o ponto de vista geográfico, Meyer (1991, p.14) aponta o crescimento e a
expansão da cidade sobre a periferia, iniciando, assim, o processo de metropolização,
passando a subdividir a metrópole, em ascensão econômica em dois espaços, um
propriamente urbano e outro suburbano. Tais fatos, portanto, evidenciam que a cidade de São
Paulo tornou-se metrópole não somente pelas dimensões assumidas, como: subúrbio,
estação, bairros jardins, núcleos periurbanos, mas deixando evidente a existência de uma
estrutura metropolitana. Como consequência, para Meyer (1991, p.10), surgem os marcos da
cultura metropolitana que demarcam claramente um compromisso com a forma de construir,
de comprar, de morar, de circular, de divertir, de usufruir e produzir objetos artísticos, de
comunicar-se e, sobretudo, conviver com a forma metropolitana. Era, portanto, necessário
construir para atender novas demandas da população. Citando as contratações de N. L.
Mueller, de 1952, Meyer (1991, p.31), alega que na “nova São Paulo”, das dez funções
urbanas encontradas naquele momento no centro, o comércio era a função predominante,
subdivididas nas seguintes funções e modalidades: comércio varejista, comércio atacadista e
escritórios comerciais, sendo que a função comercial possuía um forte vínculo com a
verticalização.
Segundo Leme (1982, p.55), os terrenos centrais ocupados por indústrias tradicionais
começam a ser disputados por usos que proporcionam maior rendimento por metro quadrado,
como o uso comercial ou de prestação de serviço, ocorrendo uma expansão do comércio
varejista, o qual especializou-se de acordo com o crescimento da cidade, com tendências a
acompanhar a expansão das áreas residenciais, frisando a autora que, de início o comércio e
as residências localizavam-se nos corredores de maior tráfego, passando depois, a ocupar as
ruas paralelas e transversais, principalmente nos bairros de Higienópolis, Cerqueira César,
Pinheiros e Jardim Paulista. Na década de 1960, as agências bancárias e os grandes
escritórios saem do centro e avançam em direção da Avenida Paulista, tendendo, em seguida
para o do Vale do Rio Pinheiros (Leme, 1982, p.55).
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A partir da década de 1950 as edificações buscam constituir uma nova inclusão física com o
lote, estabelecendo uma relação direta com a rua e o espaço urbano livre (LEME, 1982, p.55).
A partir do segundo pós-guerra, decorre intensiva industrialização, e de 1940 a 1960,
acontecendo mudanças na configuração espacial da cidade1, pois devido à intensa migração
do campo para capital há um aumento substancial da população urbana.
Desde de sua inauguração em 1891, já era notória a vocação da Avenida Paulista em ser
endereço dos barões, dos condes, de industriais e da elite cafeeira, onde, devido às
condições geográficas da avenida, situada na cota mais alta da cidade, e também à lei
municipal de 1894, que determinava a proibição da construção de indústrias, designando
também ao loteamento o uso residencial de alto nível.
Mesmo que entremeada por equipamentos tais como o Parque Tenente Siqueira Campos, de
1904 projetado pelo paisagista francês radicado no Brasil Paul Villon, o Grupo Escolar
Rodrigues Alves de 1919,de autoria de Ramos de Azevedo, de um hospital e um sanatório, a
ocupação da avenida era composta majoritariamente de residências unifamiliares aos moldes
europeus, formando um amplo conjunto eclético na cidade (figura 1).
Contudo, devido ao desenvolvimento econômico e a inevitável demanda por habitação e
serviços, a municipalidade decreta em 1952 a nova lei que permite construir prédios com
instalações de comércio e serviços Assim, a implementação da loja de departamentos Sears,
sinaliza a transformação morfológica da Avenida Paulista em que, paulatinamente os
casarões são substituídos pelos edifícios altos.
Foi, portanto, em meio a esta conjuntura que, em 1952, o empresário visionário argentino
José Tijurs encomenda a David Libeskind o projeto do Conjunto Nacional, que se assentará
em uma gleba de 14.600 metros quadrados, o equivalente a uma quadra inteira, onde havia
um palacete em estilo art nouveau.
1 FELDMAN, Sarah. A configuração espacial da metrópole. In: CAMPOS, Candido Malta; GAMA, Lúcia Helena;
SACCHETTA, Vladimir (orgs.). São Paulo, metrópole em trânsito: percursos e culturais. São Paulo: SENAC, 2004,
p.111
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Figura 1 – Cartões postais de residências unifamiliares, do Hospital Santa Catarina e o do Grupo
Escolar Rodrigues Alves.
Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=750374 – acesso em 14 de agosto de 2014
O Conjunto Nacional - projeto e execução Substituindo uma das mais belas casas art nouveau, projetada por Victor Dubugras, no
quarteirão conformado pelas ruas Augusta, Padre João Manoel, Alameda Santos e Avenida
Paulista, Tijurs decide construir um prédio visando, majoritariamente, ampliar sua rede de
hotéis, nomeado como Conjunto Nacional (figura 2).
O primeiro projeto a ele apresentado era de autoria de Gregori Warchavchic, realizado em
1952.
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Depois de um concurso fechado realizado a posteriori, Tijurs elege a proposição de David
Liberskink2 , que para Xavier et al (1983, p. 37) era o mais rentável de todos. Em síntese, a
proposta de Libeskind, consistia no arranjo em duas lâminas – uma horizontal com dois
pavimentos e outra vertical, com vinte e cinco pavimentos, sob pilotis, apoiada em uma laje
que faz a transição entre os dois volumes, ocupando a totalidade do lote. Entre as duas
lâminas, neste espaço de transição se desenvolve um jardim suspenso de uso público, cujo
acesso se dá por meio de uma rampa circular coberta por uma cúpula envidraçada construída
em estrutura espacial metálica. Além disso, dois subsolos foram criados para as garagens de
automóveis.
Entretanto, sem ter perdido a essência do partido inicial de Libeskind , algumas mudanças
formais e funcionais tiveram de ser realizadas para a construção. Com o veto da prefeitura
para se construir um hotel na Avenida Paulista, como descreve Rossi (2011,p. 143), as
alterações no projeto foram: no lugar do centro de convenções passou a funcionar o
restaurante Fasano, e a lâmina vertical prevista para o hotel foi transformado em três
conjuntos de vinte e cinco andares, sendo um residencial e dois comerciais. Tendo em vista a
proibição do hotel, relata Pini (2000, p. 70), o próprio Tijurs alterou o projeto, ainda em
construção, dando-lhe o formato atual.
2 David Libeskind nasceu em Ponta Grossa - PR, em 1928. Ainda criança mudou-se com a família para Belo
Horizonte, onde, além de ter desenvolvido habilidades como designer gráfico, ilustrador e pintor, teve aulas de
desenho com Guignard. Formou-se em arquitetura e urbanismo na Universidade Federal de Minas Gerais, em
1952.
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia_ing&cd_item
=1&cd_verbete=8684&cd_idioma=28556 – acesso em 16 de agosto de 2013.
Libeskind veio para São Paulo em busca de trabalho, trazendo consigo uma carta de recomendação de
Sylvio de Vasconcelos, seu professor. Foi recebido por Luís Saia que o apresentou a vários colegas do
Instituto de Arquitetos – IAB, nesta época frequentado por figuras como Rino Levi, Oswaldo Bratke,
Vilanova Artigas, Salvador Cândia, Abelardo de Souza e Franz Heep, do qual se tornou muito amigo.
Relacionava-se também com os artistas plásticos do Grupo Concretista e do Grupo Santa Helena, que
frequentavam o Clubinho do IAB. Esta convivência tornou foi salutar, pois Libeskind proporcionou a
participação de obras dos artistas em seus projetos. VIEGAS, Fernando Felippe. Conjunto Nacional: A
construção do Espigão Central, Dissertação (Mestrado). São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo – FAUUSP, 2003, p.97.
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Ao pesquisar nos arquivos pessoais de Libeskind, Viégas seleciona alguns conjuntos
completos de desenhos do projeto do Conjunto Nacional, tendo separado os originais, de
1955, as plantas de 1957 e as de 1959, sendo que estas ultimas consistem nos desenhos
atualizados a ele fornecidos pelo condomínio do prédio.
Para Viégas (2003, p. 99) o projeto original de 1955 já afirmava o partido final de Libeskind e,
como observa o autor , já era muito claro que o complexo era composto por duas lâminas
que “parecem não se tocar”. No volume vertical deveria conter as unidades habitacionais do
setor hoteleiro e o horizontal era destinada ao comércio, cuja cobertura seria ajardinada.
Sobre este jardim pousava um volume de planta em forma de losango. As fachadas maiores
dessa lâmina apresentavam peças de proteção solar, com elementos vazados. Nesta versão
projetual, acrescenta Viégas (2003, p. 100) não havia a cúpula que cobria o conjunto de
rampas que conduziam ao terraço-jardim.
A lâmina horizontal, por sua vez, alcançando toda a dimensão do lote, deveria assimilar
funções urbanas, tais como supermercado, lavanderia, agências bancárias, centro telefônico
e correios, entre outras atividades existentes na cidade. Além disso o condomínio deveria
oferecer serviços especializados, como de mensageiros, empregadas domésticas, funções
estas que, enfim pudessem fazer parte de um organismo administrativo. O catálogo
promocional de vendas do empreendimento enfatizava a ideia do grande centro comercial, no
qual se lia : “um só lugar onde se compra de uma agulha a uma avião”, acrescenta Viégas,
(2003, p. 100).
Nos desenhos de 1955, Viégas (2010, p.100) aponta as quatro ruas internas permeando o
térreo para dar acesso às lojas, ligando à esta galeria às ruas circundantes. As galerias se
cruzam em um hall central, onde estão posicionadas as prumadas de circulação vertical
correspondente a um sistema de rampas, elevadores e escadas rolantes. Todas essas ruas
no projeto original assumiram um acesso importante ao edifício, sendo que para as largas
calçadas da Avenida Paulista ficaria o acesso à escada que conduz ao espaço de transição e
à sala de espera do cinema. Na Rua Padre João Manoel, estava posicionada a entrada do
estacionamento e o serviço de carga e descarga ( Viégas, 2003, p.102).
Nesta mesma versão projetual, Viégas (2003, p.102) detecta que na Alameda Santos haveria
um acesso reservado às unidades habitacionais e que Libeskind, a julgar que um único
subsolo que lhe fora encomendado seria insuficiente, acrescentou um nível a mais de
garagem no subsolo, onde foram concentrados os serviços de apoio ao funcionamento do
prédio, como os depósitos, bombas, geradores, cabines de transformadores e entradas de
telefonia.
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Nas plantas originais, Viégas (2003, p.107- 8) investiga que no andar superior , entre o térreo
e o terraço, com pé-direito duplo, foi previsto um centro de exposições destinado à promoção
e venda de produtos industriais, dimensionado para quatrocentos estandes. Além disso, neste
mesmo piso, o autor detecta que o cinema seria voltado para a Rua Padre João Manoel e que
as fachadas desta lâmina horizontal, coberta pelo terraço-jardim3, seria envolta por elementos
de proteção solar, com quebra-sóis de alumínio que, pela meia transparência controlariam a
permeabilidade visual do interior para a o exterior.
Para cobrir a rampa que levava ao teraço-jardim, uma cúpula geodésica em alumínio coberta
com material translúcido foi pensada por Likeskind, sobre a qual Viégas (2033,p.108) comenta
que fora inspirada nos trabalhos de Buckminster Füller nos estados Unidos, acrescentado que
Libekind a inventara a partir de uma pesquisa por ele realizada na Revista Architectural
Record. Este elemento implicou em realizar um cálculo complexo, pois a partir de um módulo
hexagonal foi montada toda a volumetria da esfera, arrematada por uma peça pentagonal de
concreto no topo, apoiada no bloco elíptico, do qual se desprende a rampa e contém a caixa
de elevadores que conduzem ao terraço-jardim. O engenheiro Hans Eger, admirador do
trabalho de Füller viu o projeto de Libeskind publicado e se disponibilizou a realizar o cálculo,
tendo para tanto a anuência de Likeskind , acrescenta Viégas (2003,p.109)
Nos desenhos de 1955, Viégas (2003,p.119) constata que a lâmina vertical tinha as empenas
leste-oeste praticamente cegas, e que o programa era restrito a apartamentos de dois a
quatro dormitórios, posicionados para norte-sul, com os recintos, em sua maioria, voltados
para norte, protegidos com elementos vazados distribuídos em seis prumadas de circulação
vertical.
Toda a organização do programa, a plasticidade e sua correspondência com a volumetria fora
viabilizada graças ao domínio da técnica do concreto que já era uma prática dos engenheiros
calculistas, conclui Viégas, (2003,p.112).
Algumas modificações obsevadas por Viégas nos desenho de 1957 afirmam que a volumetria
se assemelha, em grande parte, à mesma da concepção inicial. Entretanto, com relação à
organização funcional, Viégas (2003, p. 120) verifica que as lojas no térreo se posicionam
3 No momento da compra do terreno foi firmado um acordo entre o proprietário e José Tijurs, de que seria mantido
o jardim que havia na casa Art-Nouveau, cumprindo, assim os 12.000 metros quadrados do terraço-jardim , quase
a totalidade da dimensão do lote. VIEGAS, Fernando Felippe. Conjunto Nacional: A construção do Espigão
Central, Dissertação (Mestrado). São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
– FAUUSP, 2003, p.107.
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alinhadas junto às calçadas circundantes, incluindo uma marquise sobre as calçadas. Outro
aspecto que o autor nota é que o dimensionamento da estrutura é adaptado ao último cálculo
estrutural, assinalando a existência de um novo formato aos pilares. Há também, segundo
Viégas (2003, p.120) uma subdivisão em três níveis do térreo junto à esquina da Rua Augusta
com a Alameda Santos, espaços estes que seriam destinados a escritórios, onde, desde o
início das obras se instalou o consulado americano.
Outras modificações nos desenhos de 1957 são apontadas por Viégas (2003,p.120) e se
referem à lâmina vertical, a qual passou por transformações na organização funcional e na
abordagem construtiva, ou seja, Likeskink conjuga um hotel, escritórios e apartamentos,
optando também por realizar três blocos independentes com juntas de dilatação de modo a
permitir a construções em etapas.
Embora incompleto, o Conjunto Nacional foi Inaugurado em 1958. Contudo, Viégas
(203,p.141) descobre que nas plantas de 1959 alguns aspectos do projeto original são
confirmados, como a presença da marquise cobrindo as calçadas externas, o deslocamento
do cinema com a entradas pela Alameda Santos, cujo acesso se dá por meio de uma rampa
curva, alcançando e nível da plateia.
Com relação à lâmina vertical, mudanças no programa foram realizadas nessa versão,
cabendo mencionar que o bloco de apartamentos mantém-se independente com acesso pela
Rua Augusta, e os blocos do hotel e escritórios teriam acesso pela galeria de lojas, sobre a
qual foram previstos um pequeno teatro e um restaurante. Contudo, com relata Viégas
(2003,p.152) a ideia do hotel fora posta de lado.
Viégas (2003, p. 152) conclui que as maiores mudanças se deram no terraço-jardim, em qua
as configurações espacial e funcional foram enormemente prejudicadas pela inserção de
construções que não faziam parte do projeto original, pois dois galpões paralelos ao
restaurante foram acrescidos e uma parte dos pilotis fora fechada para dar lugar a um
estabelecimentos comercial.
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Figura 2 – Perspectiva e planta do andar tipo do Conjunto nacional em sua configuração original [fonte: VIEGAS,
Fernando Felippe. Conjunto Nacional: A construção do Espigão Central, Dissertação (Mestrado). São Paulo:
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAUUSP, 2003, p. 127. Fotos do Conjunto
Nacional hoje [fonte: VIEGAS, Fernando Felippe. Conjunto Nacional: a dimensão urbana da arquitetura. Revista
Summa+, nº 136, p.57- 59, jul.2014
O Conjunto Nacional e a matriz modernista da tipologia laminar
Marco da arquitetura brasileira, o Ministério da Educação Saúde - MES, de autoria de Lucio
Costa e equipe tem sua gênese marcada pela assessoria por Le Corbusier na ocasião da sua
estadia no Rio de Janeiro em 1936, é composto por duas lâminas retangulares que se cruzam
perpendicularmente. O bloco vertical, com a fachada sul envidraçada e a norte protegida por
quebra-sóis se debruça em pilotis sobre o embasamento horizontal, interseccionados,
também em pilotis, criam um espaço coberto com 10 metros de altura e uma parede revestida
com azulejos de Cândido Portinari , liberando , inclusive, o fluxo permanente de pedestres.
No volume horizontal, onde se situa o auditório, há um terraço jardim projetado por Roberto
Burle Marx, resguardado e restrito, contudo, às salas de exposições existentes no nível
superior desse volume.
A partir do projeto do MES, a tipologia em lâminas e embasamentos materializados neste
período passarão se ser abordadas com maior intensidade tanto no âmbito nacional, quanto
no nacional. A causa do sucesso desta tipologia, relata Segre (2013,p.494) é devido à
funcionalidade que esse tipo permite, tal como a organização de um sistema diferenciado de
acessos e circulações de um grande público, proporcionado também a justa transição entre a
rua e a lâmina.
Ainda para o autor o caráter inovador do MES não se deu somente com o resultado da
aplicação canônica dos cinco pontos corbusianos, mas também para estabelecer o complexo
diálogo com a malha urbana. .
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Projetada por Gordon Bunshaft , com a coordenação de Natalie de Blois e de Skidmore,
Owings and Merrill, concluída em 1952, localizada na Park Avenue, em Midtown Manhattan,
em Nova Iorque, o prédio da Lever House pode ser considerado como um divisor de águas
para a arquitetura norte americana, tendo importância fundamental na formação do repertório
relativo ao International Style. Considerado um modelo paradigmático, o prédio foi tomado
como referência, exibido numa exposição de arte minimalista em 2004 ,no Museu
Gughenhein de Nova Iorque.
Concebido em dois volumes justapostos na mesma ordem do MES,o embasamento do
edifício da Lever House é estruturado em pilotis revestidos com aço inoxidável, contendo
neste nível um pátio interno ajardinado, o acesso ao prédio e uma sala de exposição, cobertos
por um terraço-jardim, o qual, atualmente, encontra-se reservado mais ao usuário do prédio
do que à circulação de pedestres. A lâmina vertical tem as quatro fachadas recobertas por
um grande pano de vidro.
Mesmo antes da existência do Ministério da Educaçao Saúde, comenta Segre (2013, p.494),
o tema da lâmina leve e transparente já havia sido explorada em projetos e obras do
modernismo europeu, enquanto que nos Estados Unidos prevaleciam os arranha-céus
maciços e opacos. Citando outros exemplos, Segre (2013, p.494) ressalta que em 1923 Mies
van der Rohe projetou um edifício de escritórios em Berlim, concebido como um
paralelepípedo simples e baixo , com espaços internos contínuos e janelas em extensão.
Pouco depois, em 1924, Ludwvig Hilbeberseimmer imaginou uma cidade constituída por
lâminas de quinze andares, apoiadas em embasamentos de quatro andares, permitindo
separar veículos de pedestres para os quais criou passarelas aéreas nas travessias.
Precedendo o edifício do ministério Segre aponta outros exemplos no contexto europeu, como
o projeto da Rush City Reformed (1923-1927) de Richard Neutra; o projeto de Walter Gropius
para habitação coletiva de quinze andares com articulação volumétrica; o Pavilhão Suíço
(1929) para a Cidade Universitária de Paris e a Immeuble Clarté (1930-1932), em Genebra
(figura 4).
Seguindo a mesma matriz dos prismas horizontais e verticais, transitando entre o nexo
racionalista corbusiano e com traços do International Style foi assim concebido o Conjunto
Nacional. A lâmina vertical que abriga apartamentos residenciais e escritórios corporativos,
tem a fachada norte recoberta também por um extenso pano de vidro.
A empena sul, por sua vez possui aberturas mais controladas, da qual se desprendem
volumes curvilíneos correspondentes às caixas de escadas. Entretanto, o que caracteriza
fortemente e o diferencia dos exemplos supracitados é a sua diversidade de usos, seus
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espaços cambiáveis, situados majoritariamente no embasamento e sua a diversidade
programática com recintos abertos a todos os tipos de usuários.
Figura 3 – Ministério da Educação e Saúde – Palácio Capanema [Fonte: SEGAWA, Hugo. Arquiteturas
no Brasil:1900-1990. São Paulo:Edusp,1998,p.9];
Fonte: http://www.skyscraper.org/EXHIBITIONS/FAVORITES/fav_lever.htm –acesso em 15 de agosto
de 2014]; Mies van der Rohe e a maquete do Conjunto Nacional [ fonte: BRASIL, Luciana Tombi. A obra
de David Libeskind - Ensaio sobre as residências unifamiliares . São Paulo: Romano
Guerra/Edusp,2008.p.32
Figura 4 – Projeto para cidade de Ludwig Hilberseimer [fonte: Fonte: SEGRE, Roberto. Ministério da
Educação e Saúde.Ícone da Modernidade Brasileira , p.494. São Paulo: Romano Guerra, 2013]; Rush
City Reformed
Fonte: http://en.wikiarquitectura.com/index.php/File:Rush_city_reformed_2.jpg – acesso em 15 de
agosto de 2014; Pavihão Suíço[fonte: CURTIS, William. Le Corbusier: Ideas and Forms. Londres:
Phaidon, 1986, p. 104 ; Immeuble Clarté [fonte: http://www.galinsky.com/buildings/clarte/ - acesso em
15 de agosto de 2014
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Considerações finais
Após um incêndio em setembro de 1978, destruindo parte da lâmina horizontal, o Conjunto
Nacional passou por um período de degradação e abandono. Porém, sob a supervisão da
experiente em recuperação de condomínios, Vilma Peranezza, com a pequena participação
de LIbeskind, o prédio retoma seu vigor.
Como espaço multifuncional tem sido um arquétipo, tanto sob o pnto de vista material quanto
do simbólico. No início do século 21, foi referência crucial para a retomada de conjuntos
desta natureza. Neste contexto, destaca-se a construção do Brascan Century Plaza no bairro
o Itaim Bibi na cidade de São Paulo,empreendimento de grande porte, o qual conjuga os usos
comercial, habitacional e de lazer, enfatizando a ideia dos fluxos a permear o espaço
edificado animado com amenidades ao passante. Atualmente, tendo em vista a carência de
equipamentos de comércio e de entretenimento em determinados pontos no centro e nos
bairros da cidade, nota-se uma busca da profusão deste modelo nos investimentos
imobiliários, tanto nos realizados , quanto naqueles que estão sendo comercializados na
planta .
De acordo com Rossi (2011, p. 142) os números do Conjunto nacional são representativos,
pois nele circulam 30 mil pessoas por dia, 10 mil trabalham no seu interior, 62 lojas e 466
empresas ali se estabelecem; possui 162 funcionários e estacionamento com 800 vagas,
recebendo 46 mil correspondências por mês. Há duas prumadas verticais destinadas ao uso
terciário e uma ao uso habitacional.
Os 5000 metros quadrados de calçadas circundantes ligadas à galeria interna e ao
terraço-jardim,fazem as vezes de plataforma de desembarque e acesso da população
advinda das principais linhas de ônibus e das duas linhas de metrô, fatores estes que
caracterizam, sobremaneira, o alcance da dimensão metropolitana do conjunto.
Ponto de vigoroso movimento na Avenida Paulista, o transeunte permeia o complexo através
dos seus quatro largos acessos ao nível da rua do térreo, podendo subir ao terraço jardim,
criando, assim, um constante fluxo de público que se destina às compras e ao
entretenimento.
Sobre seus espaços cambiáveis, o mais notório deles é o que se dá para esquina da Rua
Augusta com a Alameda Santos , em que, originalmente, era um grande e importante cinema
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arruinado com o advento das salas multiplex e das templos religiosos que se estabeleciam
nesses espaços.
Não obstante, em 2007, a grande área do cinema cedeu lugar a uma livraria projetada pelo
arquiteto Fernando Brandão, a qual, desde 1969 já tinha se estabelecido no conjunto.
Possuindo um diverso e amplo estoque de produtos e de publicações – mais de 2 milhões de
títulos, o projeto de Brandão incluiu uma sala de cinema e teatro, designando espaços
destinados a eventos das mais diversas natureza, contemplando, inclusive, as diversas faixas
etárias.
Comumente, nos espaços das largas galerias, pavimentadas com mosaico português, é
onde as empresas, escritórios comerciais e serviços baseados neste edifício promovem
eventos, como exposições abrangendo os mais diversos temas e concertos musicais
,atraindo, portanto, enorme diversidade de usuários. No tempo das festas de Natal, os
adornos temáticos das fachadas e no interior do prédio, torna o local um lugar de visita
obrigatória.
Tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e
Turístico – CONDEPHAAT, em 2007, o Conjunto Nacional, inspirado em um modelo
moderno, e também numa vanguarda cultural em que era imperativo relacionar artes, ciências
e economia, vem refletindo o sentimento de grandeza da cidade.
Foi, portanto, no cerne de uma perspectiva inovadora, obtida a partir das relações
socioeconômicas que o projeto arquitetônico, respondendo rigorosamente a problemas
complexos, perpetuam esta obra imposta pelo crescimento da cidade e, se por um lado o
Conjunto Nacional fora imposto pelo crescimento econômico e urbanístico, por outro ele se
impõe como um patrimônio cultural resiliente.
3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro
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