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andré boniatti O Conto-de-Fadas Caipira 2011

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andré boniatti

O Conto-de-Fadas Caipira

2011

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O CONTO-DE-FADAS CAIPIRA por andré boniatti

Sino de escola... Entram Zezinho, Luisinho e Nardinho na

escolinha caipira pulando e brincando com música da Xuxa...

ZEZINHO: Gente!!! Gente!!! Dexa eu contá pucês: Onte eu vi uma coisa que ucs num sabe!!! Eu vi a carcinha da pofessora lá na sala!!!

Os outros dois assustados...

NARDINHO: E comé que uc viu isso, Zezinho??? ZEZINHO: É que ela tava cas perna tudo arreganhada, eu

oiei por baixo da mesa e vi... a carcinha da pofessora... NARDINHO: E comé que era ela, Zezinho???

ZEZINHO: Ah era preta por cima e vermeínha por baixo... mai eu oiei só de passage...

NARDINHO: E a pofessora num viu que uc oiô??? ZEZINHO: Viu nada... LUISINHO: É... Mai eu vô contá tudinho pra ela, porque

minha mãe falô que isso é pecado e num pode fazê!!! ZEZINHO: Ah, Luisinho, uc é um bobão, — a pofessora é

gostosa, e eu quero oiá de novo... LUISINHO: Se uc fizé isso eu vô contá memo, uc vai vê!!!

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ZEZINHO: Conta então, uc é um indiota memo, conta vai!!! LUISINHO: Óia... Se uc me xingá de novo eu vô contá tbm... ZEZINHO: Conta, bestão, uc é um burro dum jegue babaca e

imbecil, e eu vô te batê, seu paiaço!!! LUISINHO: Bate, vamo vê!!! Briga... Entra a professora... PROFESSORA: Meninos! Meninos!! Meninos!!! (Tira debaixo

da mesa um cassetete) Meninooos!!! Ai, minha gente, meus aluninho são tudo comportado, uns amor de pessoa... O nosso relacionamento num podia ser meior... Que que tá aconteceno aqui, seus vagabundinho sem sreventia, que eu vô estorá ucs no pau???

LUISINHO: É o Zezinho, pofessora, ele me chamou de

burro, besta, indiota, e um monte de coisa feia... PROFESSORA: É verdade isso, Zezinho??? NARDINHO: É verdade sim, pofessora, o Zezinho num qué

falá mai é verdade sim, eu vi tudo... PROFESSORA: Venha cá, Zezinho... Óia aqui, eu já te disse:

num importa que a pessoa seja burra, indiota, ingnorante, imbeci, estúpida, mar criada, sem sreventia e que quer que seja — queném o Luisinho é, entendeu??? Mermo pruque o Luisinho num tem curpa

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de sê essa fossa de imbecilidade sem fim... mai na frente dele ucê tem que fazê de conta que num pensa isso, paspaião, tem que falá pelas costa... Escuita tua pofessora, senão que tipo de educação vão pensá que tô te dando aqui na escola??? ... Nardinho, me diga ucê que num tá no meio do furdúncio: por que que começô isso tudo, diz???

NARDINHO: Ai, pofessora, eu tenho vergonha de dizê... PROFESSORA (Mostra o cassetete): Tem mermo, Nardinho???

NARDINHO: É que o Zezinho disse que viu a carcinha da

pofessora, pofessora... PROFESSORA: Ah é, por isso??? LUISINHO: E eu disse que ia contá tudo pa pofessora...

PROFESSORA: É isso mermo, Zezinho??? ZEZINHO: É, pofessora, eu vi a carcinha da senhora sim...

Era pretinha encima e vermeinha por baixo... PROFESSORA: E o que que ucê achô disso, meu fio??? ZEZINHO: Ieu achei gostoso, pofessora...

PROFESSORA: E da pofessora, que que ucê acha??? ZEZINHO: A pofessora é gostosa tumém...

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PROFESSORA: Ai, mai eu sô uma delícia mermo, uc num tem curpa de pensá isso... Mai dexa eu te dizê pa que ucê num se cunfunda mais, menino... Aquilo que ucê viu num foi a carcinha da pofessora, a pofessora num usa carcinha, criança... Que era pretinho por cima era os penteinho que a pofessora tinha tingido no sábado pá ir pa balada... e por baixo... ah, isso era outra coisa que quando ucê crescê a pofessora te mostra o que que era mermo, tá bem, Zezinho??? Criança linda... Mai, meus menino, vamo fazê as paz, vamo!!!

LUISINHO: Ieu num vô pedi descurpa prele não!!! ZEZINHO: Ieu quero que o Luisinho se foda!!! PROFESSORA: Meninos, óia: ieu vi que num tem jeito

mermo... E como ieu tô pouco me importando co’a briga ducês, meus amores, e ucs num são meus fio (pruque se fosse entrava pro cassete agora), intão ieu vô

contá uma historinha pucês, uma historinha que num tem nada a ver, que é só pra eu matá tempo sem percisá apricá conteúdo, tá bem, minhas criança linda??? Brigada... Bem, vai lá: Era uma vez, num reino muito, muito distante chamado Broméia, uma princesa de nome Herjonilda: biscatinha, nojentinha e insuportavi, mai que era princesa, e por isso era o presonage principá de nossa historinha...

Música... No final ela se senta lixando a unha...

PRINCESA: Ai, esse reino de Broméia é uma merda mermo... Se tivesse arguma coisa pra fazê, tipo uma danceteria pra dançá, aí eu dançava, como é que é aquela???

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(Canta dance em inglês)... Ai, que será de meu futuro nesse reino, meu pai... Se é possíve, me dá uma luz...

PROFESSORA: E num foi que de repente surgiu do nada a

luz que a biscatinha esperava... O oráculo das sombra se alevantô do meio dos capimzá da froresta e veio conversá co’a princesa...

Sonoplastia...

PRINCESA: Ó, quem sois vós, criatura do além???

ORÁCULO: Eu sô o oráculo de Delphos da mitologia grega... PRINCESA: Oráculo de Delphos!!! Hummm, que chique!!!

Ieu num sei o que que é isso, mai é chique... Mai e o senhor veio fazê o que aqui mermo, seu oráculo???

ORÁCULO: Eu vim predizê o teu futuro e o futuro do teu

reino, princesa... PRINCESA: Óia... Mai é de graça, seu oráculo??? ORÁCULO: É de graça... PRINCESA: Então prediza, seu oráculo, prediza, é de graça

mermo... ORÁCULO: Deixe-me concentrá pra te dizê toda a verdade... PRINCESA: Seu oráculo, se o senhô tá forçando pra saí das

ribanceira o guardado do meio-dia, num faça isso aqui não, a patente do reino fica logo ali...

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ORÁCULO: Quando as manada de porco se arrevoltá nos

chiqueiro e as estrela do céu virá pastel de padaria, o reino de Bromélia será engolido pelas asa da brabuleta pink da desilusão... (A princesa faz cara de quem não está entendendo nada) Depois: As flores do campo vão virá xixi de papagaio no sertão e os pé do mandiocal da roça vão se torná o esterco das vaca leiteira do brejo... (De novo) E então...

PRINCESA: Óia, seu oráculo, o senhô é um moço muito

comprexo, mai num tem arguma coisa mais direta pra dizê pra mim, fazendo um favor???

ORÁCULO: Sim, princesa, sim: Seus dia no reino de

Bromélia tão contado pelas trama diabólica que os servo da escuridão prepararo procê: Pela banana dourada da maldade, quando a lua encrespá as crina do escorregadô de bronze, a princesa vai padecê pela

maldição eterna... PRINCESA: Tá, seu oráculo, mai que que isso quer dizê na

verdade, por favor??? ORÁCULO: Te cuida co’as banana enfeitiçada do reino que a

bruxa vai te oferecê, senão... tu vai te fudê, desgramada, entendeu???

PRINCESA: Banana enfeitiçada!!! Bruxa!!! O senhô fumô

maconha, seu oráculo, fumô??? ORÁCULO: A banana, princesa, a banana enfeitiçada do

reino, princesa, a banana, a banana, a banana!!!

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Sai...

PRINCESA: Já foi??? Vorte tomá um cafezinho quarqué hora dessa, seu oráculo, vorte!!! Cada coisa louca que acontece que a gente num tem nem expricação...

Princesa volta a lixar as unhas... Risada de bruxa... Entra a

bruxa...

BRUXA: Princesa Herjonilda, enfim te encontrei... PRINCESA: Nossa, que coisa horrorosa, meu Deus!!! BRUXA: Princesa Herjonilda, ieu sô a bruxa marvada, cruel e

diabólica que veio pra acabá co’a tua vida... PRINCESA: Ai ai ai, sim, moça, que interessante, — mai

então uc é mermo uma bruxa??? BRUXA: Sô a bruxa marvada e diabólica que... PRINCESA: Tá bom, tá bom, mai eu acho que uc num

percisa andá tumém desse jeito, toda destrambeiada, mermo sendo bruxa...

BRUXA: Ieu vim te matá!!! PRINCESA: Tá, despois nóis conversa sobre isso, mai me

responde... Uc nunca pensô em fazê umas luzes, um tratamento de pele...???

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BRUXA: Será, princesa??? Uc acha que num tá bão assim??? (Princesa discorda) Mai e que uc acha então, princesa???

PRINCESA: Ieu acho assim: Esse cabelo tá horroroso, e esse

chapéu que uc usa na cabeça tira a beleza dos seus zóio expressivo... Além do mais, essas roupa preta que uc usa tumém desfigura o delineamento de seu corpo... Pra num dizê da maquiage carregada e essas unha mar tratada que uc tem, menina... Que produto uc usa???

BRUXA: Uns produto caseiro que a minha mãe inventô... No

cabelo, ieu uso shampoo de perna de lagarto com condimento de cobras venenosa; já no rosto ieu uso um hidratante à base de mosquito da dengue e folha de mandioca; minhas unha ieu pinto cum esmarte de lodo do pântano cum sangue de macaco quaiado; e assim vai... Uc acha que tem argum probrema cum isso???

PRINCESA: Ai, gente, as coisa hj tão tudo diferente... Óia,

ieu tenho uns produto aqui que são ótimo, dexa te mostrá...

Olham os produtos de limpeza e comentam conforme o marketing,

como duas cocotinhas...

BRUXA: Brigada, princesa, sabe: ieu tinha vindo pra te matá na verdade...

PRINCESA: Magina... BRUXA: É... Mai acho que agora arrumei uma nova amiga...

Brigada por tudo, princesa, ieu vô ir já que tô louca pra exprimentá os produto que uc me deu...

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PRINCESA: Vai sim, querida, mai vorte tomá um cafezinho

cum bolacha, vorte, tá bem??? Sai. As bananas ficaram no chão...

PROFESSORA: Mai a bruxa, sorte de meu Deus, esqueceu as banana que tinha enfeitiçado no chão por ali, ao que a princesa zoiô aquilo e disse...

PRINCESA: Nossa, a bruxa esqueceu sua fruita, probezinha... Mai ieu tô cum tanta fome, acho que vô cumê...

ORÁCULO (Voz ao fundo): Cuidado co’as banana enfeitiçada

do reino... PRINCESA: Ai, banana, magina... Dexa eu ver... Como que

se come isso??? ... Ah, sim, que interessante essas teconologia moderna que inventam!!! (Come) Ó, o que tá aconteceno comigo??? Ó, ó, ó...

PROFESSORA: E assim, a princesa foi enfeitiçada pela magia

da bruxa marvada, mai como eu disse: era uma princesa metida, chata, arrogante, nojenta e... Não, minha gente, num tenho nada contra a moça, mai era... era insuportavi mermo... A putinha vadiazinha, sabendo que tava enfeitiçada de vez, mai sem sabê o efeito do negócio, exigiu pelo telefone que as fada madrinha do reino viesse a seu encontro cheia de arrogância...

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PRINCESA (no telefone): Quero que as fada madrinha venha aqui... Nem cinco minuto, agora, já, ou ucs tá tudo na rua, bando de desocupada...

Música. Entram as fadas madrinhas...

PRINCESA: Pru que demoraro tanto??? FADA 1: Descurpa, princesa, a gente tava ocupada lá no

departamento... FADA 2: Tinha um monte de pepino pra resorvê e num deu

mermo... PRINCESA: Óia, comi umas banana enfeitiçada e... Riem...

FADA 1: Umas banana enfeitiçada!!! FADA 2: Mai é burra mermo, é o gorpe mais antigo do

reino... FADA 1: Iiiii, a princesa tá fudida, eu quero só vê o oco... Riem...

PRINCESA: Óia o respeito co’a princesa ducês!!! FADA 2: Perdão, princesa, mai é que é muita burrice

mermo...

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FADA 1: Agora é que uc vai assumi o trono mermo, princesa, de vez...

FADA 2: Tá na praga!!! (Riem...)

PRINCESA: Óia, a única coisa que vai me acontecê é que eu

vô drumi por uns mil ano, mai eu digo pucês: vô sê a princesa adormecida mais bela que história já teve...

FADAS: Drumi??? (Riem) FADA 1: Vai drumi não, princesa, isso o que faz é a maçã

enfeitiçada... PRINCESA: Mai o que vai acontecê comigo então??? FADA 1: Conta pra ela, vai!!! FADA 2: Conta uc...

FADA 1: Dexa que eu conto a meitade e uc conta a outra

meitade, feito??? Princesa, a banana enfeitiçada é uma receita milenar entre as bruxa feita cum pó de ranço de comida mofada e ranho de narina de dragão, que resurta... Conta pra ela vai!!!

FADA 2: A pessoa que come a banana enfeitiçada, princesa,

sabe... sabe quando se come cebola, pimentão, ovo frito, rabanete e uma gordura que num lhe cai bem???

FADA 1: Sim, princesa, uc vai sortá uma peidoreira tão

fedida, uma desinteria desidratante do buxo, que uc num vai nem consegui sentá direito...

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PRINCESA: E o que que eu faço, pelo amor de Deus!!! FADA 1 (Irônica): Somente o príncipe encantado pode te

sarvá, com sua mágica ternura... Riem.

PRINCESA: E de que forma??? FADA 2: Resgatando da caverna do bruxo Mérvilim a

lingerie de ouro fundido mágica usada pela rainha nas núpcia do primeiro reinado de nosso reino...

FADA 1: E despois uc tem que usá pra ele... FADA 2: Mai daí ele tem que te beija ardentemente por uma

noite de amor inteira até sará tua caganeira... PRINCESA: Hummm, mai isso num é probrema... FADA 1: Num sei não, princesa... FADA 2: Aquele príncipe... FADA 1: Já reparô no jeito dele??? PRINCESA: Num tô entendendo... FADA 1: Vem co’a gente que a gente conversa no caminho... PROFESSORA: Ai, ai, a princesa se fudeu mermo, viro

crianças??? Não que eu deseje o mar pra ninguém, nem

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ucs deve desejá o mar pra ninguém, mai um poquinho de terror psicológico é uma delícia, e eu quero que a princesa se estrepe mermo, entendero???

Zezinho começa a chorar...

PROFESSORA: Ai, meu Deus, que é que foi agora??? Ah, é crise de abstinência, num é, Zezinho??? É que o menino Zezinho num largava de chupá bico, minha gente, sua mãe sufria muito com isso, e nóis da educação, a gente é muito ligado nessas questão de auxílio familiá... Então, como num dava jeito mermo, eu tive uma idéia incrive que fica pros professô tomá como exempro... Psicologicamente, o menino percisava de argo pra substituí seu desejo pela chupeta, ieu troquei então a chupeta pelo cigarro, ensinando-le a fumá... O menino viciô no cigarro e sua mãe ficô super feliz, pois que seus dente num ia mais tê o probrema de ficá torto... só de caí, mai tudo bem... Toma, Zezinho, toma... Toma Nardinho o teu... Luisinho...

LUISINHO: Não, pofessora, minha mãe disse que é errado... PROFESSORA: O quê??? LUISINHO: Fumá... PROFESSORA: Aquela mocréia imbeci da tua mãe falô

isso??? LUISINHO: Falô sim, pofessora...

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PROFESSORA: Óia, Luisinho, quero que uc diga uma coisa pa sua mãe, mai muito educadamente, com toda educação que a escola le oferece: Diga àquela paspaia indiota que ela vá tomá no cu dela, porque aqui na escola se eu mando fumá é pa fumá, e eu é que sô a pofessora...

LUISINHO: Mai ela disse que isso é droga... PROFESSORA: Droga deve sê o que ela faz co teu pai na

cama, aquela bruaca... Diga isso, co’a maior educação, Luisinho, pelo amor de Deus!!! E agora fuma, meu amorzinho, fuma...

LUISINHO: Não... PROFESSORA: Crianças, como eu ensinei ucs vai... ZEZINHO: Iiiii, o Luisinho é bichinha...

NARDINHO: É o maior caretão... ZEZINHO: Baba ovo da mãe dele... NARDINHO: O Luisinho é viadinho, num tem nem corage

de fumá...

ZEZINHO: É um bobão mermo, num sabe as coisa boa da vida...

OS DOIS: Iiiiiiiiiii!!!... LUISINHO: Eles tá me humiando, pofessora...

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PROFESSORA: Ieu sei, ieu que ensinei pa eles... Agora vai

fumá ou num vai??? LUISINHO: Dá aí essa bosta!!! PROFESSORA: Ai, que lindo, agora tá tudo compreto: senso

de partilha, entende??? Mai agora vamo vortá pra nossa historinha... Desse mords, a princesa havendo comido a banana enfeitiçada do reino, o príncipe era sua única sarvação dela, mai tinha um probreminha co príncipe... Bem, oi: aconteceu que o príncipe tava no reino um dia e chegô-lhe a ele a notícia...

Entra o príncipe acompanhado de Sancho...

PRÍNCIPE: Sancho, meu escudeiro fié, ieu vô pro exército, to

decidido... SANCHO: Mai príncipe Marius, uc tem certeza de ficá no

meio daqueles sordado forte e bombado cheio de brutalidade???

PRÍNCIPE: Mai num é por isso só, Sancho, meu escudeiro

fie, é pela carsa da humanindade, de nosso povo sufrido... e por isso mermo que eu acho que um sorvete de morango ia muito bem nessa hora, num é mermo, Sancho???

SANCHO: Uc paga a conta??? PRÍNCIPE: Só se tivé carda de caramelo...

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SANCHO: Então vamo!!! Trompete... Chega a notícia...

ANUNCIANTE: Atenção: Notícia pro príncipe Marius

Quarenta e Quatrus do reino de Broméia: PRÍNCIPE: Príncipe não, princesa, princesa!!! ANUNCIANTE: Perdão, notícia pra Principete Mariete

Quarenta e Quatrus do reino de Broméia, tudo bem???

Então... Princesa Herjonilda come banana enfeitiçada e único a podê sarvá-la da decadença é uc, cum beijo quente e excitante em sua boca!!! Extra, extra, extra, essa ieu quero vê!!!

PRÍNCIPE: Sancho, ieu escuitei o que eu escuitei??? SANCHO: Uc tem sorte, queria eu bejá a princesa... aquela

gostosa!!! PRÍNCIPE: Ai, Sancho, mai esse negócio de bjá muler, que

nojo... SANCHO: Se atipa, príncipe, as pessoa vão pensá coisa!!! PRÍNCIPE: Pois leve ao mundo os informe: A princesa pra

mim que se lasque, num vô beijá aquela mocréia horrorosa não, nem morta, qué dizê: nem morto!!!

PROFESSORA: E assim, desse mords, o príncipe Marius...

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PRÍNCIPE: Princesa!!! Princesa Mariete Quarenta e Quatrus do reino de Broméia...

PROFESSORA: Tudo bem, então... E a princepete muler que

era Marius Quarenta e Quatrus, decidida a enfrentar as questão política do reino pra num percisá bjá a princesa Herjonilda, recebeu a visita urgente de seu pai e sua mãe no hall do castelo...

Entrarão o rei e a rainha, que é uma vassoura...

ANUNCIANTE: Se curvem ao rei de Broméia que ele tá entrando!!!

Música...

SANCHO: Boa tarde, seu rei, queria te preguntá uma coisa...

Vem cá... Óia, seu rei: o senhor num tem por acaso uma foto de sua muié pelada???

REI: Pelada!!! Nunca!!! Pelada!!! Jamais, servo insolente!!! Pru

que pregunta isso???

SANCHO: Não, é que eu tenho umas aqui comigo, num se interessa de comprá uma de mim não???

REI: Insolente!!! Cortem a cabeça dele!!! SANCHO: Mai que que eu fiz, só queria ajudá!!! REI: Cortem a cabeça dele!!!

Levam ele...

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REI: Meu fio amado, seu pai percisa conversá cuntigo... PRÍNCIPE: Fala, Papi!!! Pode dizê... REI: Óia, fio, fiquei sabendo que uc num qué bjá a princesa e

sarvá a vida dela da desgraça... PRÍNCIPE: Jamé, papi, jamé... Que nojo... REI: Mai é uma questão dipromática, fio... PRÍNCIPE: Num tô nem aí co’essas questão... REI: Mai sua mãe tá preocupada, sabe... PRÍNCIPE: Mami??? Com quê, papi??? REI: Faz dias que ela num fala, num se anima...

PRÍNCIPE: É, eu precebi que ela urtimamente anda dum

jeito que só pensa em rastelá a poeira do reino com seus cabelo loiro como uma doida do hispício, e nada mais...

REI: Sim, e por sua causa, fio... PRÍNCIPE: Mai o que que eu fiz???

REI: Fio: ...uc é viado, fio??? PRÍNCIPE: Viado!!! Isso é calúnia, papi!!! Só pruque eu sinto

tesão pelos servo do reino, pelos milico e pelos rapaz bombado do esporte, isso não qué dizê que eu sô viado,

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né papi!!! Meu nome é Marius Quarenta e Quatrus, principete do reino, pare, papi!!!

REI: Então pruque uc num bja a princesa??? PRÍNCIPE: É que eu tenho nojo de muié, papi, mai isso

tumém num tem nada a ver... REI: Mai sua mãe, fio... PRÍNCIPE: Deixe que me entendo co’a mami, papi, perciso

tê uma conversa cum ela mermo... REI: Fale cum ela, fio, fale... Muler... ... Não... ... Num posso

contigo, muler, num posso... ... Se entendam ucs... Mai eu vô fazê o quê??? Se vire viu, se vire... (Sai)

PRÍNCIPE: Mãe!!! Queria... ... Não, mãe, dexa eu falá... ... Uc

que tá dizendo... ... Ah, mami, num tem jeito assim,

nunca pude falá cucê direito, uc... ... O quê??? Num querdito que uc tá dizeno isso???!!! ... Pára, mami, tá me magoando!!! ... Não, jamé, mami, jamé!!! ... Não, mami... O quê??? ... Hã!!! Uc tá ficano pálida, estranha... Que tá aconteceno, mami??? Mami!!! Não, mami, não, não, não!!! A mami tá morta!!! Papiiii!!!

REI: Que que foi, fio???

PRÍNCIPE: A mami, papi, tá morta, morreu de desgosto!!! REI: ... Chame os servo do reino, meu fio, e mande eles

enterrá o corpo com pressa... vai que ela resorve

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alevantá... Uc só me dá orguio, meu fio!!! Iahuuuuuuu!!!

Sai o rei...

PRÍNCIPE: Ó, matei minha própria mami, que será de mim nesse mundo crué, meu pai do céu... Acho que agora só me resta uma coisa a fazê: dá uma vorta na cidade e oiá vitrine... E despois me alistá no exército pra servi a carsa da humanidade no meio daquela imensidade de bofes lindos, ai... Afinar de contas, a vida é assim mermo... (Sai...)

PROFESSORA: Ai... Bem, e assim ‘caba nossa historinha de hj, meus aluninho...

NARDINHO: Mai pofessora, essa história num tem pé nem

cabeça... Num tem finá... LUISINHO: É verdade, e a princesa, e o príncipe??? Como é

que acaba??? PROFESSORA: Ai... A princesa, aquela vadiazinha, ninguém

pôde por mil anos agüentá o cheiro podre dos banheiro do reino que se espalhava por toda a vizinhança, e seus peido foro proibido no reino... Por isso ela foi expursa e confinada numa froresta de escuridão e tristeza, onde foi abandonada, e onde morreu — a vida toda esperando pelo príncipe que se inscreveu no exército e nunca mais vortô pra sua terra natal... Dizem que até hj ela vorta assombrá as pessoa com coisas estranha que

ninguém nunca imaginô de sê possíver...

Page 23: O Conto-de-Fadas Caipirastatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3431115.pdf2 A aquisição desta obra escrita não representa sua liberação para encená-la, teatralizá-la, fragmentá-la

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ZEZINHO: Coisa estranha??? Como o quê, pofessora??? Peido...

PROFESSORA: Zezinho!!! ZEZINHO: Num fui eu não, pofessora... Peido... PROFESSORA: Quem é que foi agora??? (Peido) Óia seus...

Começa a se escutar peido atrás de peido e a professora e os alunos

começam a se afogar até terem de fugir da sala... Palco vazio, a princesa entra peidando e rindo como uma bruxa...

FIM