O contrário é sempre o mesmo

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O contrário é sempre o mesmo GABRIEL ANDRADE Para Aldir Penha Costa Ferreira e José Tácito de Almeida Andrade, os homens que plantaram a semente que, um dia, viria a ser eu.

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O primeiro livro do poeta Gabriel Andrade. Totalmente repleto de alegria, amor, mistério e fantasia... Vale a pena dar uma olhada na obra deste proeminente autor brasileiro. O LIVRO MAIS VENDIDO NAS LIVRARIAS DE TODO O ESTADO DO MARANHÃO

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O contrário é sempre o mesmo

GABRIEL ANDRADE

Para Aldir Penha Costa Ferreira e

José Tácito de Almeida Andrade,

os homens que plantaram a semente

que, um dia, viria a ser eu.

AGRADECIMENTOS

Muito obrigado a todos que, de alguma forma, contribuíram e tornaram possível a publicação do meu primeiro livro, dentre os quais Euller Andrade, grande apoiador e meu pai; Aldir Penha Costa Ferreira, meu avô e mentor; Reuber Cunha, mestre e amigo; Cidinho Marques e Benedito Buzar, grandes escritores; Márcia Molina, professora e incentivadora.

“E é tão doce sonhar!... A vida, nesta terra, vale apenas, talvez, pelo sonho que encerra. "

MENOTTI DEL PICCHIA

“São todos arquitetos do destino,

Construindo as paredes do tempo:

Alguns imensos feitos e grandezas

Outros com rimas mais pobres.”

LONGFELLOW, THE BUILDERS

ORELHAS

GABRIEL ANDRADE continua surpreendendo. Primeiro o tenista premiado que, no vigor da adolescência, conquistou – e conquista – espaço entre os grandes da sua terra a alhures. Segundo, o poeta. O jovem que sente pulsar, sob o manto da aparência física, - e da disciplina do atleta -, a sensibilidade de quem busca e alcança o sublime, o imponderável, a beleza que existe além dos sentidos físicos.

Percebe-se, nos seus versos, a angústia própria da idade. “Talvez seja fantasia ou apenas nostalgia”, talvez as duas coisas, mas a sua mensagem é clara. A mensagem do jovem que evolui e demonstra – como os grandes mestres – que o ser humano pode habitar, através da arte, os diferentes planos do Universo.

Aldir Penha Costa Ferreira

SOBRAMES, Academia Maranhense de Medicina

PREFÁCIO

O contrário é sempre o mesmo.

Poesias não foram feitas para serem entendidas, medidas e muito menos analisadas. Está na arte do não deixar que as palavras, sempre insuficientes, embacem a beleza da essência que, sublime e sorrateiramente, tenta se esconder para deixar que se complete na percepção dos corações sintonizados. E foi com essa intenção que me deixei levar pela beleza quase ingênua do jovem poeta Gabriel Andrade a quem sempre admirei, desde muito pequeno, pelo seu olhar acompanhado do mais significativo silêncio que alguém pode desfrutar e se deixar levar para o belo e nobre infinito do indizível, mas impregnado dos mais divinos significados.

Durante a leitura atenta e sempre carregada de emoções também intraduzíveis da bela obra “O Contrário é sempre o mesmo”, não poupei tempo e tampouco consegui me manter, por nenhum instante sequer, à honrosa tarefa de prefaciar a coletânea de versos. Fui roubado pelo encantamento de tantas expressões que sempre menores que o léxico, deixavam-se vencer pela essência do sentimento de uma alma inquieta na sua certeza de paz, delirante nos devaneios carregados de sentido e, sobretudo, no amor em ágape que transcende as pessoas e chega até o destino cósmico de cada um de nós.

Não seria prefácio se me desse o direito de pinçar tantos diamantes codificados por letras e temperados pela métrica poética do Gabriel. Com certeza, perder-me-ia na escolha das mais belas passagens, pois elas simplesmente não existem, posto que tudo, absolutamente tudo, é lindo. Todavia, à guisa da tentação que me impede o controle emocional, vou me trair citando pelo menos um pouco daquilo que não só está lindo, mas que me construiu e me fez evoluir. Gabriel foi aluno em nossa escola, mas mais uma vez a profecia se cumpre: O papel do discípulo é superar o mestre! E assim, querido poeta, rendo-me à tua obra em forma de gratidão.

Começo fazendo o que disse quando fizeste a rima: “surge mais uma poesia, para salvar o meu dia”, pois ela, a poesia, prenhe de momentos especiais é “ o segredo do desbravamento”. Humildemente ousas estar acima da dialética quando dizes que “o embalo estático é que faz a história das grandes vitórias” invocando leis universais que insistem em nos pedir confiança na matemática divina. Mas em “Gaveta” me arrebataste de vez ao dizer que “o que o coração sente, a mente desgosta, ... o que todos sentem o poeta desgosta, no desgostar vem o pensar e no pensar o ignorar”. Quanta sabedoria! Estás a trair o paradigma de que os sábios são sempre os mais velhos!

A bendita e irrefutável luta pela vida é apresentada “no inimigo que nunca cansa... e nem me alcança”, e o significado da nossa existência é gritado em “ quero ser lembrado pelo que sou, não pelo que faço”. O nosso sonhar, momento erótico entre Deus e nós, onde a concepção de “sonhos consistentes encontram desejos inconsequentes” é de uma contradição

extremamente harmônica com o sentido de nossas vidas. Aliás, a contradição, não o antagônico, é um recorrente chamamento na maioria dos teus versos. Desmistificas o mal como sendo contrário ao bem e não a sua falta. Está na falta do bem, a existência do mal e daí a necessidade da percepção do mal como sendo necessária à evolução da nossa elevação espiritual. Neste momento dou-me à ousadia de sugerir que este teu trabalho evolua para uma dissertação, mas sempre com o cuidado para que o intelectualismo acadêmico que tudo tenta racionalizar não prostitua a beleza artística do teu belo texto.

Por fim, meu mais novo poeta favorito, na essência de quem diz “não importa o que digam, vou sempre me salvar”, ou “ há muito que aprender, o homem há de crescer” ou ainda na maravilhosa defesa da essência sobrepondo-se à aparência: “ Poesia é sentimento, é o meu espelho ao exterior ... é o retrato do alento ou o que resta no interior” , saúdo-o pela obra que, se não prima ainda, é a pedra fundamental de tantas inspirações, as quais, a partir de agora, tens o dever de continuar, já que a obra não pertence mais à quem a escreve, mas a quem a lê.

Se pudesse (e devesse) dar um conselho aos privilegiados leitores deste teu trabalho, diria que seguissem tua orientação quando clamas que “palavras de confusão, dancem em minha imaginação e, aos poucos, tragam-me inspiração”!

Agradeço a honra a mim dispensada. O universo agradece deixar-te aninhar algumas de suas sementes da reflexão, mola propulsora do autoconhecimento.

Cidinho Marques

COMENTÁRIO

Gabriel, filho de minha sobrinha Cristiane com o paulista Euller Andrade, desde os primeiros tempos de garoto gostava de ler e de estudar, mas, também, tinha um irrefreável pendor para as atividades esportivas, através do exercício do tênis.

Dedicou-se a esse esporte de maneira tão apaixonada e sistemática, que poucos duvidavam que o seu futuro profissional não estivesse atrelado ao tênis.

À medida que crescia, sem deixar de lado os estudos, Gabriel, pelo seu envolvimento com um esporte elitizado, mas competitivo, venceu quase todos os torneios de que participava, fossem em São Luís ou outras cidades do país, onde o tênis conquistara um lugar ao sol e disputado por valorosos profissionais brasileiros ou estrangeiros.

Seu aproveitamento técnico, sua responsabilidade de atleta, e as notáveis apresentações em competições dentro e fora do Brasil, não deixavam margem de que sua projeção nacional seria questão de tempo, e sua presença no ranking mundial, à semelhança dos Gugas, Melligenis e Oncis, também não tardaria a acontecer.

Mas quando tudo levava a crer que isso se materializaria, eis que Gabriel surpreende a todos que o conheciam e apreciavam o seu talento de tenista, aflorado precocemente.

De repente, não mais que de repente, ele começa a afastar-se das atividades do esporte que idolatrava e a mostrar a outra e forte faceta de sua vida, ainda escondida dentro de sua alma: o enlevo pela literatura, tendo a poesia como principal inspiração.

Apreciador dos grandes e renomados poetas nacionais e estrangeiros, Gabriel, com este livro de estreia, inclina-se para a escola dos vates simbolistas, que no Brasil tem como figuras de destaque Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Alphonso Guimarães.

Quem ler este livro, que o autor intitulou de “O contrário é sempre o mesmo”, ficará tão impressionado quanto eu, pois verá nesta obra poética a presença de um jovem promissor do ponto de vista intelectual, que sabe trabalhar com palavras sobejamente imbuídas de inspiração, leveza, lirismo, sensibilidade e beleza.

Para concluir, que me perdoem os aficionados do tênis: o Maranhão pode ter perdido um grande tenista, mas ganhou um poeta que se imporá no mundo cultural pela sua grandeza espiritual e sentimento universal.

BENEDITO BUZAR

Presidente da Academia Maranhense de Letras

BREVE BIOGRAFIA

GABRIEL COSTA FERREIRA ANDRADE é maranhense, nascido em 13 de janeiro de 1998 em São Luís. Desde muito cedo se dedicou à prática do tênis de quadra, tendo participado de importantes torneios dentro e fora do país, obtendo resultados importantes. Foi aluno do colégio Reino Infantil, do Poliedro, em São José dos Campos (SP), e do Cei-COC . Atualmente faz o curso de Engenharia na Universidade Federal do Maranhão e continua se dedicando ao tênis, à poesia e a estudos de Ufologia. É membro da SOBRAMES-MA (Sociedade Brasileira de Médicos Escritores).

INSPIRAÇÃO

Vem uma ideia à cabeça

um meteoro de inspiração

das profundezas do imenso cosmo

esbarra, sacode pelo meu coração

abro a gaveta sem compromisso

e no papel em branco descarrego a inspiração.

Assim surge mais uma poesia

para salvar o meu dia.

MOMENTOS

e momentos.

A vida é feita de momentos

sob medida a cada sentimento.

Momentos

e momentos

deles surgem arrependimentos

ou talvez contentamentos.

Momentos

e momentos

são o segredo do desbravamento.

CRONOLOGIA

O tempo nos esquece

no passar do tempo, envelhece.

Grande Tempo que empobrece

e aos poucos, a alma enriquece.

Tempo como o tempo

como só ele passa

sempre e todo tempo

aos moldes de um tempo que passa.

Só dando tempo ao tempo

um dia teremos tempo.

É tempo de esperar

o próprio tempo passar!

GRANDE VITÓRIA

O último suspiro

a última gota

o último momento

a última escolha.

E lá vem o sentimento

Um vento de sofrimento.

Pessoas importantes

com sonhos impactantes.

No embalo estático

De uma história

de grande vitória!

TEMPOS DE ILUSÃO

Não sei o que sou

Não sei o que me tornei

Só sei que minha essência se dissipa

E tudo se antecipa...

O que eu era antes

O que restou de mim

Não passa de lendas e alucinações

Sonhos e aventuras que em belos dias

Serão contadas a outras gerações

Que um dia lembrarão

De meus tempos de ilusão.

O CASTELO DAS CORES

Explode a rosa essência

das rosas, candelabros e velas

queimando em eterna displicência

no poder das mãos mais velhas...

Sinto no céu uma doce ambrosia

as cores mais fortes se fundem em calma

vagarosamente, invadem minha alma

em uma grande e interminável alegria!

Cheiro um azul do fundo da alma

confusos sonhos, quentes como brasa

tornando cinza e impotente

cada traço de uma realidade latente.

Tudo se altera no giro sinestésico

no mundo dos mortos-vivos

quase sempre ou sempre impreciso

solto um incompreendido grito anestésico!

A VOLTA

Talvez seja fantasia

Ou apenas nostalgia

Quando tudo passa lentamente...

Vejo as curvas do teu corpo nu em mente.

Nada mais me importa

Nesse sentimento reconfortante.

E no frio da noite,

Só lembro do teu semblante .

E me delicio imaginando

Nós dois nos amando

Como fizera outrora,

Em tempos de calmaria,

Bem antes de ir embora.

Nem o inferno ou o doce céu jamais saberá

O que fiz para te amar.

A PERSISTÊNCIA DO LUTADOR

Inspiração

transpiração

Tudo em vão!

Ó Deus!

Não deixe este silêncio estragar

Tudo que tive que passar

Para poder parar

onde não sei chegar!

GAVETA

Deixe sempre um papel à mostra

pois o que o coração sente

a mente desgosta.

Deixe sempre sua vida à mostra

pois o que todos sentem

o poeta desgosta.

No desgostar vem o pensar

e no pensar o ignorar.

À ESPERA DO AMANHÃ

Até quando ficarei preso

Neste mundo confuso

Neste casulo do fracasso

Nesta eterna vergonha

E sede de vingança?

Por um inimigo que nunca cansa?

Um inimigo inconsciente para os outros

Mas que para mim

Bem me alcança!

ENTRE NÓS

Percebi pelas entrelinhas

do teu sádico entreolhar

que entre teu coração e o meu

existe um forte entrelaçar.

ESCORRE MINHA VIDA

A água escorre...

Pela minha cabeça

Meu pescoço

Pelo meu tronco, até chegar aos pés.

A água escorre...

Levando tudo

Levando minha alma

E toda angústia,

Toda tristeza,

Vai se esvaindo.

Descendo ao infinito...

A água escorre...

Relaxo e sinto a água

Levando as impurezas

E todas as incertezas

Desta vida que escorre.

INDAGAÇÕES DE CABECEIRA

Fora, excluído, impedido...

Tudo não digerido

Quem sou eu? O que sou?

Para que sirvo?

Para que vivo?

Será que sou somente mais um?

Mais um na imensidão?

Na morte e na ingratidão?

Não!

Como os gregos,

Só quero ser lembrado.

Mas lembrado pelo que sou,

Não pelo que faço.

Agora não existe mais relevo,

Só um abismo escuro

Onde tudo se confunde.

Amor e amizade,

Gentileza e saudade

E agora?

Onde tudo isso vai dar?

Só nos resta esperar...

Na dúvida e incerteza,

Minha alma fraqueja.

SONHOS TRAIÇOEIROS

Sonhos traiçoeiros

fazem-me acreditar

Que este mundo traiçoeiro,

Não há de me aceitar.

Erros cometidos,

Papéis invertidos,

Fatos decisivos.

Sonhos traiçoeiros

fazem-me acreditar...

Sonhos consistentes

Desejos inconsequentes.

MALDIÇÃO

A Maldição perdura...

influenciando minha vida

e mudando as canções.

Não sou mais o mesmo

não sou mais eu.

E não sou mais teu.

A Maldição perdura...

Rumo ao buraco

rumo ao inferno

ou a algum lugar opaco.

A Maldição perdura...

BEM LONGE

Sendo eu

sendo teu

Sinto me longe do céu

sinto me longe do teu

beijo do mais profundo eu

saudade que escraviza

mas aumenta meu amor

saudade que me guia

por um mar de imenso amor.

EU AMO ELES

Eles dizem que sabem

Mas não sabem!

Eles dizem que são

Mas não são!

Eles dizem que sou

Mas não sou!

Dizem que não quero

Mas quero!

Eles dizem que perco

Mas venço!

Eles dizem

Mas não dizem!

Eles me amam...

E eu amo eles!

OLHOS VERDES

Não olharei

não hesitarei

pois nesses olhos

me perderei.

Olhos confusos

E ao mesmo tempo

Puros!

Olhos intrusos

Me perseguirão até meu túmulo.

Penetram minha alma

Matando como arma.

Olhos verdes

Os mais belos de todos!

NUVEM VOADORA

Ponho meu relógio antigo

para ver se volto no tempo

volto ao tempo antigo

aquele tempo em que eu tinha tempo.

Tique- taque, tique-taque, tique-taque...

Reverbera em minha cabeça

revertendo imediatamente

o tempo em minha mente.

Cada segundo, um beijo

cada minuto, um sopro

cada hora, uma demora...

Lembro-me das ações

dos erros e canções.

Lembro-me dos sonhos

e das promessas feito um tolo!

Aquele tempo simplesmente volta

gira em torno e desbota

numa Nuvem Voadora

que do meu subconsciente brota.

BELA CONTRADIÇÃO

Em total inércia

Longe da realidade

Em uma queda infinita

de choros em vão

E tudo que tenho agora

São as palavras de uma irmandade.

Muita riqueza e tanta pobreza

Mas que tristeza!

Contradição

Eterna contradição.

IRMÃOS DO CÉU

Tento achar uma saída

Para essa vida sentida.

Eu os chamo para virem,

Mas que eles não atirem.

Eles podem vir,

E querem vir!

E um dia virão,

Como vejo em minha visão.

Há muito o que aprender,

Dizem eles.

O homem há de crescer!

UM POUCO DE MOTIVAÇÃO

Desistir não é uma opção

e não chorarei em vão.

Vou lutar com determinação

para recuperar minha posição.

Não importa o quanto eu caia,

vou sempre levantar.

E não importa o que digam,

vou sempre me salvar.

E não me peçam para descansar

pois juro que quando morrer

ninguém irei acordar.

UM PASSEIO ÚNICO

Caminhava tristemente

pelas ruas de meu inconsciente.

Foi quando vi uma figura deprimente,

pálida e impotente,

não havia alma naquele demente.

De súbito

fui agarrado pelo indigente

que fitou-me tristemente.

Compaixão não existia,

e o temor dominava seu olhar.

Implorando como um cachorro faminto,

ele pediu-me para que eu fosse embora,

e bem de longe...

Vi-me morrendo na história.

A RELATIVIDADE DO PENSAMENTO

Não se preocupem

pois amanhã será outro dia

Igual ao de hoje

E igual ao de ontem.

Nada temam

pois tudo será igual.

As mesmas virtudes

as mesmas incertezas,

pois sempre com tudo

nunca saberei se tudo é

realmente igual.

Se vivo um sonho

ou realidade.

Talvez a diferença não seja

o que parece ser.

E os dias...

Serão sempre iguais àqueles

em que pensava

em quem eu era.

POESIA DO DIA A DIA

Poesia é sentimento,

é meu espelho ao exterior,

é o retrato do alento

ou o que resta no interior.

Poesia é pensamento,

é fonte de inspiração

no desabafo do sofrimento.

Poesia é a perdição

encarnada no paraíso,

é a desolação

de minha primeira paixão.

Poesia é empirismo,

de dentro do coração.

UMA NOITE NO AEROPORTO

Atracadouro dos sonhos

sonhos sem sono

um grande matadouro.

Pessoas vão e vem

correm e desandam

entoando seus velhos hinos.

Pessoas com destinos

deveres a cumprir

mas sem rumos a seguir...

Onde as coisas voam

a mente se adapta

e não tão diferente

bem longe viaja.

Flashes de silhuetas

onde tudo se conecta

mais alguns neste Planeta

da viagem fascinante!

Tão triste e bela

bem no alto a Lua minguante

estampa na cara a saudade dela.

Os focos confusos

das mentes enlouquecidas

desaparecem na escuridão

das aeronaves que desafiam

o que propôs o eterno escrivão...

A GUERRA DA PERSISTÊNCIA

Meu talento vai embora,

minha vontade se esvanece.

Sinto meus ombros curvarem

e minha cabeça baixar.

Tudo que penso é desistir,

mas desistir de quem sou?

Vou persistir,

não nasci para isso

e não me abalarei

pois decerto triunfarei!

UM AMARGO NA BOCA

Cultivo um mal

dentro de mim.

Uma bola de fogo

Queima, derrete, suga minha alma...

Um tremendo calor

que invade minha dor

transformando o som em cor.

O violino fúnebre

da discórdia armada.

Mágoas do passado

tristezas do futuro

um presente liquidado

pelas forças do meu ódio.

PORCOS

Fui condenado por pensar

e por vezes acusar.

Nesse ambiente inóspito

ainda ousam chamar

animais de selvagens.

Agir por instinto não é matar,

mas arquitetar é matar.

Acham-se muito superiores aos animais

mas esses imundos

não merecem sequer

ser chamados de porcos.

PERFEITA SINFONIA

Sou apenas um instrumento

de uma imensa sinfonia.

Pequeno e insignificante

dispensável ao todo

de incomparável beleza.

Porém a sinfonia nunca será

a que um dia chegou a ser

pois quando um instrumento para

toda obra desanda.

ATITUDE

Lá vem a palavra proibida

a palavra da plenitude

dilacerando a juventude

como sempre escondida.

A palavra natural

muito difícil de ser interpretada

e muito menos relembrada.

Mas quando fecho os olhos

relembro da minha atitude

na mais obscura profundidade.

O PACTO

No óbvio então fui achar

A mulher que encanta meu olhar

E simplesmente não pude mais ficar

somente a flertar.

Um pacto então a fiz selar

para minha felicidade resgatar

E sem a razão para consolar

acabei por me apaixonar.

Na verdade não sei

de onde vem o doce

pois tudo que sinto

é um amargo destoante

que somado com a frieza

sufoca minha alegria

acorrentada na tristeza.

A ESPERA NÃO É TÃO LONGA

Espero em silêncio

Pela insubmissa e extinta luz

sentado ao lado do mastro

da intensa dor do desgaste.

o universo parece dizer não

e o infinito apreciar

este insubstituível pesar...

Mas uma única e maravilhosa força

me faz levantar

para em mais um dia, amar!

MAIS UM VAGABUNDO

Se a inspiração é contrária

à bendita transpiração

então talvez eu seja

só mais um vagabundo

que tenta inutilmente

sem luta e faca nos dentes

transformar o inacabado.

CONFUSÃO?

O que for pra ser feito

que seja feito agora

e se o agora for defeito

que tenha fim agora.

O que for pra ser desfeito

que deixe como feito

pois o agora sem defeito

não deve ser desfeito.

Só o tempo terá um dia desfeito

o que fizemos por meros defeitos

e tudo será feito

ou desfeito...

MINHA VOCAÇÃO

Olhem para a grande Vocação!

Vocação para a eleição

Vocação para a educação.

Vocação para medicar

Vocação para calcular.

Vocação para defender

Vocação para entreter.

E eu aqui escrevendo poemas...

LETRA

Letra, anuncie

escrita na imensidão

os dias em vão

andante pela noite

sem sentido relevante

meus dias de solidão.

APENAS PALAVRAS

Palavras de confusão

dancem em minha imaginação

e aos poucos, tragam-me inspiração.

PASSAR A LIMPO MINHA VIDA

Preciso de tempo

para passar a limpo

meus sonhos, meus planos

a jornada do destino

passar a limpo minha vida.

Passar a limpo o sujo

que seja!

ESPÍRITO PASSADISTA

Organizado não crio

tampouco produzo.

Na organização sistemática

apenas escorrego em inércia.

Juntam-se os quebra-cabeças

de uma bagunça natural

forçando nossas cabeças

a abandonar um austero ideal.

De tanta lógica mundana

a mágica torna-se estranha

como a antiga cultura indiana

e seus imensos Vimanas.

PENTECOSTES

Línguas de fogo no céu

um sonho na folha de papel

uma ardente chama ao léu

queimando o cegante véu!

Línguas de fogo no céu

esquentam o pensamento

lembrando-nos da certeza

de algo grande no céu.

Em pé, olho para o céu

sentindo a luz rarefeita

em nossos corações refletida

das línguas de fogo no céu...

Estou bem por ali

Entre a Bossa Nova e o Heavy Metal

Entre Deus e o Big Bang

Estou nem

Estou aí

Indeciso, mas sempre conciso.

CHACAL

Lá vem o chacal da discórdia

cantante e saltitante

em seu último madrigal.

Traz consigo todo poder e glória

conquistado pelo mal.

Porém seu reino ruirá

pois nada, nem mesmo nossa terra,

está livre do deteriorar

e os ambiciosos de toda parte

um dia irão pagar.

NEBULOSA

Que nasçam as estrelas

de uma Nova Era.

O berço de tudo

do futuro, do tempo

o grande poder

do berçário das estrelas.

POETA

O poeta é um ser pensante

pensa na vida

pensa na massa

pensa além das fronteiras do pudor.

O poeta pensa no tempo

no espaço e na existência humana.

De tanto pensar

o poeta vive a desgostar

e de tanto odiar

resolve ignorar.

O poeta é embaixador

da verdade e do amor.

De tanto pensar

o poeta para de acreditar

e simplesmente deixa a vida passar.

Naquela menina encontrei

a paz que sempre procurei

a beleza e a sabedoria

no lugar que sempre sonhei.

XANADU

Há muito tempo vinha sonhando

com um lugar distante

que por um disco voador

encontro minha paz.

Era Xanadu!

O santuário de Kublai-Khan

que na imensidão da China

mostrou seu resplendor.

O lugar sagrado

criado pelos próprios

os visitantes cósmicos.

Vou dormir nas cavernas de gelo

junto com minha escolhida

e tudo que sonhei

se tornará realidade.

Em Xanadu não há frio

muito menos calor.

E na imensidão do paraíso

viverei toda a eternidade.

FAMÍLIA MODERNA

Eis a falência da mais antiga instituição

Admirem o divórcio

a briga e a discórdia.

Contemplem os pais

cretinos por natureza

e os filhos

malignos desde cedo.

Os valores e a tradição

foram dilacerados e jogados fora

queimados e esquecidos

e as cinzas corroem a sociedade.

ALMAS MENDIGANTES

Todos os dias, andava pelas ruas

Todos os dias, olhava um mendigo

Todos os dias, pensava na vida

Sem perceber, que eu era o mendigo.

Todos os dias, fitava-me o mendigo

Olhos tristes, cansados e oprimidos

Todos os dias, olhava aquele indigno

Até que um dia, interpelou-me o mendigo:

“O senhor fez a barba?”

De súbito, olhei uma alma

Minha alma que mendigava...

BEM X MAL

Bem é roubar

mal é discordar.

Bem é ignorar

mal é educar.

Bem é empatar

mal é ganhar.

Mas se o bem é do mal

e o mal é do bem

onde estamos?

MALDITA POESIA

Maldita poesia

não passa de fantasia

ou simples filosofia

dos dias escuros.

Maldita poesia

não passa de anestesia

de uma vida que se esvazia.

DÚVIDA

A dúvida aparece

e a certeza desaparece.

A certeza do amanhã some

e quando a poesia empobrece

volto ao tempo que me apetece.

Com a certeza e a dúvida

havia equilíbrio

pois se duvidar da certeza

é duvidar da vida

a vida é uma grande incerteza.

HISTÓRIA DO AMOR

Há muito tempo foi o cupido

já foi um dia o demônio

o dinheiro uniu muito

mas hoje é apenas um distúrbio.

Científico ou não

pagão ou cristão

todos vão repetir em vão.

O amor não tem sentido

muito menos explicação

apenas um grande

aperto no coração.

O amor é, e sempre será,

exclusivo àqueles afetados

pelo vírus da imaginação.

Ou apenas uma energia

que transforma em um só dia

a história do mundo em alegria.

COMO EXPLICAR?

Não existe fórmula

teorema ou cálculo.

Não existe ciência

e nem gráfico

Que consiga expressar

o que sinto por ti.

Nenhuma equação

pode explicar tamanha emoção

de estar ao teu lado.

UM SONHO

Ontem acordei inspirado

e consegui encontrar

o que há muito tinha deixado.

O sol irradiava

e a areia queimava

a água evaporava

e meu coração palpitava.

No balanço do barco à vela

velejava pelas ondas

desta vida tão bela

infinito mar...

E continuava a pensar nela...

NEFELIBATAS

Somos o que não há

somos o que sentimos

somos além da ciência

somos maiores que as galáxias

somos o intangível

somos o impalpável

somos o inexplicável

somos essência.

TEU BEIJO, MINHA ALMA

Só existe um sentimento

que define este momento.

É tudo e nada ao mesmo tempo

a simples conexão entre dois corpos.

Um distante espaço-tempo

simplesmente congela

no abrigo dos braços dela.

Sensações, divisões, excitações

a dádiva de todas as criações.

Entre Sion e o Estige

entre os domínios do corpo e mente

nada mais comporta

nesse momento que importa.

Enquanto teu beijo existir

tudo pode ruir.

GOODBYE TO ROMANCE

Quando tudo parece certo

tento manter um olho aberto

sempre na desconfiança

de um tempo sem confiança.

Alerta como se fosse

acabar com uma simples tosse.

E a canção de despedida

não sai da minha cabeça.

Goodbye to romance...

SONO ESCOLAR

Confinados em cubos

vivem os zumbis

que mesmo sem pensar

vivem a vida escolar.

Aprendem a calcular

aprendem a gravar

mas sempre esquecem de pensar.

E parafraseando os parafraseados

continuam a decorar

confinados no sono escolar.

Numa produção sem fim

são formados em linha escalar

para com muita sorte

um dia cursar!

MARCIANA

Recupero minha força

e só penso nela

Lembro-me dos sonhos

somente eu e ela.

Mulher indecifrável

Nem do céu,

muito menos da Terra.

Fruto do paraíso,

o inferno não quis ela

pois em outro planeta

foi moldado o corpo dela.

ADEUS, VELHO AMIGO...

Não era um homem

muito menos um cachorro

era a sabedoria e a calma

sonhada e por todos almejada

em quatro patas moldada.

Sua incrível personalidade

sempre será lembrada.

Adeus, Tuigo

que rima com amigo!

Um disco

Um prato

Uma nave

Um sonho

Quantos vejo

Quantos nunca vi

Como quero ver!

ERAS

Passam as eras

e os desafios me sugam

como terríveis quimeras.

Acordo no amanhã

pensando no que passou

me procuro pelo passado

querendo achar quem sou

enquanto sigo no presente

segurando no que restou.

NOITES DE CONFUSÃO

Não há volta neste caminho obscuro

o labirinto suga vagarosamente

a alma e a indecifrável sanidade

como delírios de uma pobre mente

ou uma faca girando lentamente.

O estupro mental destrói

tudo gira, deixando tonta a razão.

Interminavelmente dói

arranhando a essência

que em tanto tempo se constrói.

ASTROPOESIA

Estrela de luz

indiscutivelmente bela.

Quasar da minha vida

leve-me para longe

nesse imenso universo.

Supernova de emoções

invada nossos corações

exploda tua radioatividade

livrando-me dessa saudade.

UM DIA TUDO VOLTA

Um dia tudo volta...

A energia transfigura

recriando a ilusão

esta terrível conspiração.

Esmaga toda a história

espreme em uma bola de papel.

Um dia tudo volta...

Ao normal

como deve voltar

como manda a inspiração

ou apenas ilusão.

ACREDITAR, SEMPRE ACREDITAR

Acreditar

No que há de passar

Acreditar

Em algo para amar

Acreditar

Na energia a nos cuidar

Acreditar

E para sempre levantar

PAI

Alguns nascem para ser

estes grandes nos fazem crer

que a vida é muito mais que receber

é um imenso e constante dever.

A CORDA DO DESTINO

Uma incrível e inesgotável corda

atenta minha consciência

ligando o distante ao belo

puxando, adulterando, sugando

ligando meu pensamento ao dela.

Nas portas da inalcançável razão

nasce um nobre sentimento

que repousa como meu alento

nas forças do espaço-tempo.

POSTERGAR

Acho que vou deixar pra depois

Depois, mais tarde

Depois eu estudo

Mais tarde penso

Depois eu trabalho

Mais tarde sinto

Depois eu amo

Depois, mais tarde

Eu vivo...

FORÇA DE VONTADE

Tremenda força imaginária

Da influência do cosmos herdada

E com a benção dos pais guardada.

Fúria, garra, vontade de vencer...

Desejos indestrutíveis

Como um sonhar irredutível.

MALDITO TEMPO

Relativo à minha existência

Inerte fico, mirando a noite

Aproveitando a nefasta penitência

bem de longe, mirando a bela essência.

Passado e presente

Se cruzam lentamente

Arrancando a crosta

De uma imprecisa linha

De colisões e explosões

Escondidas em nossos corações.

BURACOS DE MINHOCA

A roda gira juntando

Por toda parte acumulando

Destroços de universo se conectando.

Tudo se transforma

No mundo intraocular

Onde para a mentira, não há lugar.

Em uma mente particular

Um enorme e imóvel mar

Toda aquela junta escalar

Daquilo que pode machucar.

Meu universo, anônima dimensão

Petulante excentricidade

Corrói, implode meu alter ego

De um ator sem papel

Muitas vezes cego.

DESABAFO

Tornei-me um pobre dependente

Deste amor que ninguém entende

Daquela saudade ardente

Que de vez em quando me desmente.

Essencialmente dependente

Do teu sorriso cativante

Teus olhos de anjo

E o mais belo semblante

O que me faz seguir adiante.

VIDA ILUSÃO

Às vezes me perco por aí

Desconheço-me por ali

Até quando me encontro

E escrevo mais um verso.

Quantas pessoas aqui estão

Quantas são o que são

E quantas pensam que são

Nesta grande ilusão.

MORFOSSINTAXE

Poesia, parte integrante de mim

Sou apenas um sujeito simples

Porém composto por dois núcleos

Meu objeto é direto

De intensa transitividade.

Adjetivado pela dor

Sou complemento do amor

Até achar o substantivo próprio

Que conjunte minha saudade.

UM SONHO

E lá estávamos eu e tu

Naquele frio condicionado

Dois seres entrelaçados.

Aquele infinito amor

Avesso à qualquer pecado.

E lá estávamos eu e tu

Na realidade inanimada

De um sonho real

Em minha mente descontrolada.

E lá estávamos...

Naquele leito da natureza

Ou uma carruagem galáctica

Do imenso poder do cosmo

O abençoado sono

Em uma penumbra estática.

CONVERSA COM UM ANCIÃO

Ele me disse:

“Abre os braços, meu filho,

entra nesse mar.

Sente as ondas

Só não vais te afogar”

O Ancião me aconselhava

E eu lentamente

Pelo mar navegava

Naquela vida...

Que dia a dia acabava.

CERTEZA

Quando se escreve com força

Uma imensa certeza nos invade

E não se preocupa com a pujança

De um ego inchado de saudade.

Afirmo com imensa certeza

A certeza que vem no luar

Onde deitado em tanta moleza

Fico horas em ti a pensar.

Certeza é quando sonho

Um sonho físico de enriquecer

Algo tão belo de estremecer

Quando sinto e vivo o mesmo sonho.

DIAS DIÁRIOS

Das palavras, arranco meu sustento

Dos livros, tiro meu alimento

Da poesia, cresço por dentro

Desta cidade, acumulo sofrimento.

O que não falo com a boca

Escrevo com as mãos

E o que não escrevo

Se aloja no coração.

Das letras, construo meu cimento

E nas dores do momento

Giro pelo pensamento.

2084, O ÚLTIMO HOMEM

Desde a máquina a vapor

a poeira impregna meu cérebro

causando um tremendo ardor

servil, queimando o pensamento.

Sinto os fios como veias

as máquinas, ossadas velhas

substituindo o olhar antigo

do velho homem das janelas.

Cegam os olhos, os fluidos de máquina

mudam as cores da realidade.

O homem, sem mãos, apenas patas

se afunda na ótica da invisibilidade.

No moderno sentimento lógico

o pensamento sistemático

das esteiras se instala

e o olhar para baixo, de repente nos cala

nascendo o duplipensamento!

Nos campos de guerra

no governo e nas favelas

se extingue lentamente

o homem consciente...