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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010 O Crime de Gilberto Amado Os Crimes que abalaram Sergipe 15. Gilberto Amado-Aníbal Theófilo. O crime (*) Acrísio Torres No dia 20 de junho de 1915, tarde de sábado, um incidente doloroso causou a mais profunda impressão na população do Rio, então capital federal. O triste caso ocorreu à entrada do Jornal do Comércio, entre o deputado federal Gilberto Amado e o literato Aníbal Theófilo, no instante em que no salão do dito jornal realizava-se uma festa literária. Estava presente grande número de intelectuais. Durante a festa o poeta Aníbal Theófilo repelira o cumprimento de Gilberto Amado, que, no final, por intermédio do advogado Paulo Hasslocker, pedira satisfações pelo ato de incivilidade. Não só negou-se a dá-las, o poeta, mas fez referências desabonadoras ao ofendido. Gilberto Amado

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  • q u a r t a - f e i r a , 8 d e d e z e m b r o d e 2 0 1 0

    O Crime de Gilberto AmadoOs Crimes que abalaram Sergipe

    15. Gilberto Amado-Anbal Thelo. O crime (*)Acrsio Torres

    No dia 20 de junho de 1915, tarde de sbado, um incidente dolorosocausou a mais profunda impresso na populao do Rio, ento capitalfederal. O triste caso ocorreu entrada do Jornal do Comrcio, entre odeputado federal Gilberto Amado e o literato Anbal Thelo, no instanteem que no salo do dito jornal realizava-se uma festa literria.Estava presente grande nmero de intelectuais. Durante a festa o poetaAnbal Thelo repelira o cumprimento de Gilberto Amado, que, no nal,por intermdio do advogado Paulo Hasslocker, pedira satisfaes peloato de incivilidade. No s negou-se a d-las, o poeta, mas fezreferncias desabonadoras ao ofendido.

    Gilberto Amado

  • Ento, Gilberto Amado desfechou trs tiros de pistola contra AnbalThelo, sendo este prostrado ao solo por um dos projteis, que atingiraa nuca da vtima. Tombara morto o poeta gacho. Gilberto foi preso emagrante, e recolhido ao quartel da brigada policial. Nmeroconsidervel de amigos, deputados e senadores, passou a visit-lo,lamentando o infeliz incidente. Por outro lado, o enterro de AnbalThelo, no Cemitrio de So Francisco Xavier, teve numerosoacompanhamento, falando beira do tmulo Alcides Maia, Flexa Ribeiroe Vicente Souza. Logo depois a Sociedade dos Homens de Letrasconstitura o advogado Bernardino Bandeira para, como representanteda famlia do morto, acompanhar o processo. Coelho Netto, na ocasio,fez amargas censuras a Gilberto, censuras injustas, alis, enquantoliteratos e jornalistas dividiram as opinies dos jornais cariocas.

    H tempos havia entre Gilberto e Anbal, umairreconcilivel discrdia. Muitas vezes Gilbertosofrera agresses de Anbal, de quem sempretemera. No seu depoimento diz que, certa vez naredao de Careta, no s o poeta recusouapertar a sua mo, mas disse: Sai, senocuspo-lhe na cara. No chegou a cuspir na carade Gilberto, mas f-lo no solo

    escarnecedoramente. Leal de Souza e Bilac Guimares presenciaram ofato e o rearmaram em juzo. Gilberto confessa haver deixado,envergonhado, a redao de Careta. Nunca antes havia sofridohumilhao tamanha. No pudera, nunca, mesmo, compreender asdesfeitas de Anbal, que sempre admirara. Na opinio geral, nopassavam de coisas de literatos. No entanto, continuaram osescrneos e as humilhaes de Anbal Thelo ao jovem literatosergipano.

    De outra vez, a propsito da derrota de Gilberto Amado para ingressar

    Estncia-SE, cidade onde nasceu Gilberto Amado

    Coelho Netto

  • na Academia Brasileira de Letras,Anbal lhe dissera na face: AAcademia no quer, dentro dela,covardes e bandidos!.Humilhaes assim teriam umtrgico desfecho, no salo da HoraLiterria, realizada no Jornal doComrcio. No salo deconferncias, sentado ao lado deAlberto de Oliveira, Gilberto foiavistado por Anbal, que passou aamea-lo. Terminada a festaliterria, as provocaes de Anbalcontinuaram, enquanto a mulherde Gilberto lhe pedia calma.Gilberto talvez estivesse disposto asuportar passivamente mais um

    insulto, quando Paulo Hasslocker lhe disse: Gilberto, um homem nosuporta isso! Meta a bengala neste bandido. Gilberto respondeu:Paulo, nunca tomarei atitude contra inimigos desta ordem!. Noimportava a Gilberto Amado o juzo que dele zessem, na sua atitude depassividade ante as agresses de Anbal Thelo. Nada tendo feito aAnbal, preferia desprez-lo sempre, a brigar com ele. No h negar queGilberto sentia vergonha de si mesmo, mas sua disposio era deresignao e sacrifcio prprios. Para ele, isso era necessrio suafamlia, mulher e lhos. Nada disso demoveria Anbal de seus intentos,pois este o aguardava no andar trreo, em atitude de agresso. Procurouuma sada pelos fundos, mas Anbal o tolhera. Encaminhando-se para oagressor, Paulo Hasslocker teve de recuar a um golpe de Anbal. Nessaocasio, sentiu Gilberto que sua desonra e desgraa precisavam delimites, e, conforme declarou no depoimento, sentira que, dentro dele,qualquer coisa de estranho, de confuso, lhe tomara a conscincia.Matara Anbal Thelo (**).

    (*) Do Livro Cenas da Vida Sergipana, 2 Acrsio Torres SERGIPE/CRIMES POLTICOS, I, ThesaurusEditora, prefcio de Orlando Dantas, pginas 61/63.

    (**) ... Anbal Thelo, assassinado covardemente pelo deputado Gilberto Amado, que, por isso, foipromovido a senador. Humberto de Campos. Dirio Secreto, I, Quarta-feira, 4 de abril de 1928.

    - Nova postagem sobre Os Crimes que abalaram Sergipe em 14 de dezembro de 2010. Vai falar sobre ojulgamento do crime praticado por Gilberto Amado contra o poeta Anbal Thelo, ocorrido no Rio de Janeirono dia 20 de junho de 1915, tudo de acordo com o autor e obra acima referidos.

    AdendoPoemas do poeta Anbal Thelo

    Alberto de Oliveira

  • Splica

    A provar que hei perdido a seguranaDesde, Senhora, que cheguei a ver-vos,

    Ao juzo recusam-se-me os nervos,E sucede-me inslita mudana.

    Tremo por mim, pesar que a linda e mansaFace vossa me induza a vir dizer-vosEsta innita insnia de querer-vos

    E na alma quanto sinto de esperana.

    Apiedai-vos de mim, cuja loucuraEm toda parte s divisa abrolhos

    Depois de ter o olhar de leve postoEm vosso airoso talhe, em vossa alvura,Nas duas noites que mostrais nos olhos,

    Nas duas rosas que trazeis no rosto.

    CegonhaEm solitria, plcida cegonha

    Imersa num cismar ignoto e vago,Num m de ocaso, beira azul de um lago,Sem tristeza, quem h que os olhos ponha?

    Vendo-a, Senhora, vossa mente sonhaTalvez, que o conde de um palcio mago,

    Loura fada perversa, em tredo afago,Mudou nessa pernalta erma e tristonha.

    Mas eu, que em prol da Luz do ptreo, densoDo Ser ou do No-Ser tento a escalada,

    Qual morosa, tenaz, paciente lesma,Ao v-la assim, mirar-se ngua, penso

    Ver a Dvida humana debruadaSobre a angstia innita de si mesma!

    Biograa de Gilberto Amado

    Gilberto Amado, jornalista, poltico, diplomata, poeta, ensasta, cronista,romancista e memorialista, nasceu em Estncia, SE, em 7 de maio de1887, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 27 de agosto de 1969. Eleitoem 3 de outubro de 1963 para a Cadeira n. 26, na sucesso de Ribeiro

  • Couto, foi recebido em 29 de agosto de 1964, pelo acadmico AlceuAmoroso Lima. Era o primeiro dos 14 lhos do casal MelchisedechAmado e Ana Amado. Fez os estudos primrios em Itaporanga, tambmno interior do Sergipe. Depois estudou Farmcia na Bahia e diplomou-sepela Faculdade de Direito de Recife, da qual se tornou, ainda muitomoo, catedrtico de Direito Penal.

    Em 1910, transferiu-se para o Rio de Janeiro, iniciando a suacolaborao na imprensa, no Jornal do Commercio com um estudo sobreLus Delno. Passou depois a ocupar uma coluna semanal, em O Pas.Em 1912, realizou sua primeira viagem Europa assunto de um de seuslivros de memrias e em 1913, como era ento a moda, pronunciou, nosalo nobre do Jornal do Commercio, a convite da Sociedade dosHomens de Letras, uma conferncia em que fez o elogio do espritocontemplativo A chave de Salomo, que no ano seguinte, juntamentecom outros escritos, seria publicada em livro.

    Em 1915, foi eleito deputado federal por Sergipe. Sua atuao naCmara se fez sentir, sobretudo, atravs de discursos que se tornaramfamosos, como o que pronunciou na sesso de 11 de dezembro de 1916sobre "As instituies polticas e o meio social no Brasil". Nos ltimosanos da Repblica Velha, exerceu mandato no Senado, at encerrar-se asua carreira poltica, com a Revoluo de 1930. Em 1931, chamou aateno do pas, e especialmente dos revolucionrios de 30, vitoriososmas indecisos, para problemas de direito poltico, como os sistemasrepresentativos, a representao proporcional, o sufrgio universal.Depois de um curso de conferncias sobre esses temas, publicou Eleioe representao (1932), de viva atualidade ainda hoje. Por essa poca,voltou ao magistrio superior, na Faculdade de Direito do DistritoFederal, iniciando um novo e fecundo perodo em sua vida, de estudos etrabalhos.

    Em 1934, deu incio ao que foi, desde ento, a sua atividadepermanente: a diplomacia. Foi nomeado consultor jurdico do Ministriodas Relaes Exteriores, sucedendo a Clvis Bevilqua. Desse postopassou ao de embaixador, sendo a sua primeira misso junto ao governodo Chile (1936). De 1939 a 1947, foi ministro na Finlndia. A partir de1948, tornou-se membro da Comisso de Direito Internacional da ONU,sediada em Genebra. Os arquivos do Itamarati guardam os numerososrelatrios, pareceres e teses de Gilberto Amado, documentos da suacontribuio ao estudo do Direito Internacional, durante o perodo de 28anos em que integrou essa Comisso. Foi tambm delegado do Brasil atodas as sesses ordinrias da Assemblia Geral da ONU, desde asprimeiras, realizadas ainda em Lake Success, logo depois da assinaturada Carta de So Francisco, at ltima a que pde comparecer, reunidaem Nova York em 1968. So de sua autoria publicaes que seencontram no Anurio das Naes Unidas, tais como: "Direitos e deveres

  • Clvis Barbosa s 09:22

    dos Estados", "Denio da agresso", "Processo arbitral", "Reservas sConvenes multilaterais", e outras.

    Afastado do Brasil em misses ociais no exterior, Gilberto Amado aospoucos foi se tornando, entre ns, gura mtica. Periodicamente vinhaao Brasil, fazendo quase sempre coincidir sua permanncia no Rio com olanamento de um novo livro. Como toda gura mtica, tornou-seconhecido, sobretudo, pelas lendas e anedotas que circulavam a seurespeito, reproduzindo ditos espirituosos e atitudes inusitadas. Acarreira de escritor seguiu sempre paralela do poltico e do diplomata.Em 1917 publicou os versos de Suave ascenso, lrico intermezzo numafase de intensas preocupaes crticas, loscas, jurdicas esociolgicas, que se exprimem em sucessivos ensaios sobre problemasbrasileiros. Em 1932, publicou Dana sobre o abismo, em que retorna aoensaio literrio, e, no ano seguinte, Dias e horas de vibrao, crnicas deParis. Surgiu como romancista, em 1941, com Inocentes e culpados e,no ano seguinte, com Os interesses da companhia. Em 1954 iniciou apublicao de sua memrias, com Histria da minha infncia, a que seseguiram mais quatro volumes.

    Obras: A chave de Salomo e outros escritos, ensaios (1914); A suaveascenso, poesia (1917); Gro de areia, ensaio (1919); Aparncias erealidades, ensaio (1922); Eleio e representao, conferncias (1932);Dana sobre o abismo, ensaio (1932); Esprito do nosso tempo, ensaio(1933); Dias e horas de vibrao, crnicas (1933); Inocentes eculpados, romance (1941); Os interesses da companhia, romance(1942); Poesias (1954); Assis Chateaubriand, ensaio (1953).

    MEMRIAS: Histria da minha infncia (1954); Minha formao noRecife (1955); Mocidade no Rio e primeira viagem Europa (1956);Presena na poltica (1958); Depois da poltica (1960).

    Biograa feita pela Academia Brasileira de Letras:http://www.academia.org.br/

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    LULART 8 de fevereiro de 2011 16:13Bom Dia Dr. Clovis, meu nome e Lula Torgersen e sou bisneta do PoetaAnibal Teolo, cadeira de numero 28 na Academia Amazonense deLetras em 1915, quando foi assassinado a tiros pelo entao deputadoGilberto Amado. Em primeiro lugar gostaria de agradece-lo por trazer atona o triste episodio do assassinato de meu bisavo em seu blog!Seu blog alem de muito informativo, e completamente verdadeiro noque diz respeito aos fatos ocorridos naquele 19 de junho de 1915. Meurecem falecido pai, Arnaldo Rodrigues, neto de Anibal Teolo, que foipesquisador, poeta, literario e pintor, buscou homenagear seu avoescrevendo um livro robusto A Vida e A Morte de Anibal Teolo que naoteve tempo de publicar. Alem de autor de varios outros livros de poesiase contos, este especicamente, demonstrou seu valor comopesquisador e estudioso do cenario literario brasileiro do inicio doseculo XX.Estamos agora publicando seus trabalhos em um site chamado LivroVirtual (http://www.livrovirtual.com/?a=163F9)e tambem em seu bloghttp://myblogarnaldorodrigues.blogspot.com/ , atualmente organizadoe atualizado por minha mae Elza Rodrigues e irmas Cristina e FatimaRodrigues.Se do seu interesse for, por favor rera-se a estes sites como fonte deinspiracao e pesquisa para futuros artigos ligados ao tema. Se desejar,sinta-se a vontade para divulgar os links para promover os trabalhosdos dois autores.Agradecidamente, Lula TorgersenResponder

    Clvis Barbosa Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe. FoiPresidente da Ordem dos Advogado do Brasil, seo de SergipeOAB-SE), por duas vezes, Conselheiro Federal da Ordem dosAdvogados do Brasil (OAB), Secretrio de Governo e

    Procurador-Geral do Municpio de Aracaju-SE, Procurador-Geral da UniversidadeFederal de Sergipe (UFS) e Secretrio de Estado de Governo do Estado de

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