O Desafio Da Avalicao No Cotidiano Do Educador

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O DESAFIO DA AVALIAÇÃO NO COTIDIANO DO EDUCADOR Patrícia Valéria Bielert do Nascimento [1] . Avaliar é um processo difícil de executar na prática educativa. O professor, muitas vezes, não tem condições de mensurar e nem de qualificar o conhecimento de seus alunos. Procura, através dos instrumentos avaliativos, formas diferenciadas para averiguar se de fato o aluno aprendeu ou não o novo conhecimento. Mas, há momentos que essas averiguações dão certo e há momentos que ficam a desejar, do ponto de vista dos objetivos esperados pelo professor na sala de aula. De acordo com Haydt (2002, p. 10-11): Durante um certo tempo, o termo avaliar foi usado como sinônimo de medir... Mas essa abordagem, que identificava avaliação com medida, logo deixou transparecer sua limitação: é que nem todos os aspectos da avaliação podem ser medidos. (...) Testar significa submeter a um teste ou experiências, isto é, consiste em verificar o desempenho de alguém ou alguma coisa... (...) Medir significa determinar quantidade, a extensão ou o grau de alguma coisa, tendo como base um sistema de unidades convencionais. (...) Avaliar é julgar ou fazer apreciação de alguém ou alguma coisa tendo como base uma escala de valores. Entender a distinção entre testar, medir e avaliar é de fundamental importância para o professor. Verificar o desempenho dos alunos, descrever os fenômenos das descobertas e interpretar os resultados, ora de forma qualitativa, ora quantitativamente é necessário para que o processo ensino-aprendizagem ocorra de forma significativa na vida acadêmica do aluno. Mas, nos preocupamos com a formação do professor que ainda se detém em valores quantitativos e se esquece, que está averiguando aprendizagens significativas de seres humanos complexos e multiculturais. Estaria o professor da graduação, da Pós-Graduação preocupado com o que os seus alunos estão aprendendo? Como estão aprendendo? Hoje com as exigências curriculares, percebe-se que o professor tem tentado ser um professor inovador em se tratando da questão avaliativa, mas ainda tem muito que aprender. Aprender que o universo do conhecimento é amplo e complexo. Compreender que somos seres humanos inacabados e estamos buscando a melhoria da qualidade de ensino, constantemente. O tentar modificar o processo avaliativo nas instituições não é tão

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O DESAFIO DA AVALIAO NO COTIDIANO DO EDUCADOR

O DESAFIO DA AVALIAO NO COTIDIANO DO EDUCADORPatrcia Valria Bielert do Nascimento [1].Avaliar um processo difcil de executar na prtica educativa. O professor, muitas vezes, no tem condies de mensurar e nem de qualificar o conhecimento de seus alunos. Procura, atravs dos instrumentos avaliativos, formas diferenciadas para averiguar se de fato o aluno aprendeu ou no o novo conhecimento. Mas, h momentos que essas averiguaes do certo e h momentos que ficam a desejar, do ponto de vista dos objetivos esperados pelo professor na sala de aula.De acordo com Haydt (2002, p. 10-11):Durante um certo tempo, o termo avaliar foi usado como sinnimo de medir... Mas essa abordagem, que identificava avaliao com medida, logo deixou transparecer sua limitao: que nem todos os aspectos da avaliao podem ser medidos. (...) Testar significa submeter a um teste ou experincias, isto , consiste em verificar o desempenho de algum ou alguma coisa... (...) Medir significa determinar quantidade, a extenso ou o grau de alguma coisa, tendo como base um sistema de unidades convencionais. (...) Avaliar julgar ou fazer apreciao de algum ou alguma coisa tendo como base uma escala de valores.

Entender a distino entre testar, medir e avaliar de fundamental importncia para o professor. Verificar o desempenho dos alunos, descrever os fenmenos das descobertas e interpretar os resultados, ora de forma qualitativa, ora quantitativamente necessrio para que o processo ensino-aprendizagem ocorra de forma significativa na vida acadmica do aluno.Mas, nos preocupamos com a formao do professor que ainda se detm em valores quantitativos e se esquece, que est averiguando aprendizagens significativas de seres humanos complexos e multiculturais. Estaria o professor da graduao, da Ps-Graduao preocupado com o que os seus alunos esto aprendendo? Como esto aprendendo? Hoje com as exigncias curriculares, percebe-se que o professor tem tentado ser um professor inovador em se tratando da questo avaliativa, mas ainda tem muito que aprender.Aprender que o universo do conhecimento amplo e complexo. Compreender que somos seres humanos inacabados e estamos buscando a melhoria da qualidade de ensino, constantemente. O tentar modificar o processo avaliativo nas instituies no to simples quanto parece. Requer dos profissionais da educao uma conduta, uma tica profissional, um diagnstico da realidade na qual est inserido, e mais que isso, compreender o seu aluno em suas dificuldades e possibilidades.A avaliao um processo contnuo e permanente na vida de todos os atores envolvidos na arte de educar. Somos avaliados no decorrer de todo o processo. Precisamos de apoio, ajuda, orientao, e at mesmo de um pouco de solidariedade ao avaliarmos e sermos avaliados. O olhar de si e do outro tem que ser interpretado, conforme os objetivos que se pretende alcanar, no decorrer da construo dos conhecimentos. interessante analisar outros autores como Bloom, Hastings e Madaus (1983) que conceituam o processo avaliativo como sendo: [...] a avaliao um mtodo, um instrumento; portanto ela no tem um fim em si mesma, mas sempre um meio, um recurso e como tal deve ser usada. Fica parecendo que a avaliao, enquanto instrumento de averiguao de aprendizagens, s se torna fidedigna medida que o aluno consegue expor seus pensamentos fundamentados numa escrita convencional, facilitando ao professor quantificar os resultados. Mas, na realidade as coisas no funcionam de forma to precisa, quanto aparentam.Durante muitos anos, o tema avaliao de aprendizagem foi trabalhado em diferentes perspectivas. E se pensarmos um pouco mais...Como estaria sendo trabalhado hoje? A avaliao tradicional vem ainda deixando seus ranos na educao. So poucos profissionais da educao que procuram, pesquisam e tentam modificar suas prticas avaliativas, objetivando a aprendizagem do aluno, procurando mediar seus conhecimentos em prol de sua formao.A avaliao enquanto processo de diagnose e formao torna-se um desafio para os professores que tentam inovar seus instrumentos e estratgias avaliativas. Quando abordamos a avaliao diagnstica, estamos nos referindo quela realizada no inicio do ano letivo, que tem a inteno de verificar o domnio dos contedos dos alunos e o domnio ou no dos pr-requisitos, que so necessrios para dar continuidade ao processo ensino-aprendizagem. No entanto, so poucos os professores que se preocupam com essa avaliao. No incio do ano letivo, j iniciam suas atividades com disciplina nova e vamos adiante... se no viram, j foi. Esse um novo ano. Isso o que mais escutamos dos alunos com relao aos professores, no cotidiano escolar. Ou ento por parte dos alunos: aquele professor no deu isso...; ns vimos, mas no aprendemos nada de nada.... Respostas evasivas, que no so compreendidas pelo professor, que est iniciando suas atividades naquele contexto.A problemtica continua. A avaliao no compreendida pelos professores como um processo dinmico e construtivo. Avaliar para qu? Por qu? mais um servio burocrtico que temos que fazer. A reclamao tamanha no preenchimento de fichas e de dados. Mas, por que tanta reclamao se o prprio professor no sabe nem quem o n 34 da chamada? Ele considera o seu aluno como mais um nmero que tem que ser quantificado, no decorrer de sua histria. No h uma conscincia de que estamos trabalhando com seres humanos que possuem sentimentos, que pensam, que sabem de seus direitos e deveres, pois, so cidados universais.E ainda nos preocupamos com a formao integral do aluno cidado, comprometido com a cidadania. Que cidadania essa que se faz acontecer dentro das instituies escolares, sendo que os alunos ainda no possuem o direito de sugerir alternativas para mudana do processo avaliativo? H momentos que temos que rever nossos paradigmas com relao s nossas aes no pensar e no fazer pedaggico da sala de aula. Somos mediadores do conhecimento e precisamos rever o processo avaliativo que utilizamos no cotidiano.No estamos nos referindo a dizer no s Diretrizes Curriculares Nacionais, mas estamos dizendo que a prpria lei d ao professor e instituio uma flexibilidade para que se desenvolva a pluralidade cultural em nossas escolas e incentiva a formao integral do homem cidado. Isso quer dizer que podemos fazer a diferena na aplicabilidade de nossas avaliaes no decorrer da histria educacional. Podemos ser agentes transformadores e pesquisadores de saberes da prtica docente, que iro proporcionar prazer e alegria ao educando que busca o conhecimento, incansavelmente.De acordo com Freire (1981 p. 52):

O desenvolvimento de uma conscincia crtica, que permite ao homem transformar a realidade, cada vez mais urgente. Na medida em que os homens, dentro de sua sociedade, vo respondendo aos desafios do mundo, vo tambm fazendo histria, por sua prpria atividade criadora. Mudar preciso e necessrio para saber conviver em pleno sculo XXI. Mudar nossos paradigmas com relao ao que fomos e ao que somos; ao que aprendemos no passado e ao que estamos aprendendo no agora; sendo assim, torna-se um desafio "aprender a aprender", "aprender a ser" e "aprender a fazer" (Delours, 2000, p. 89-99) o processo ensino-aprendizagem ocorrer na sala de aula. Reavaliar nossos conceitos, concepes e valores traz para o nosso mundo real uma viso multidimensional do nosso ser. preciso ter sabedoria, coragem, determinao, prudncia, serenidade para atuar na escola de hoje que dinmica, transformadora.As mudanas no ocorrem por um acaso. Elas obedecem evoluo da humanidade e ao desejo de transformao, levando o homem a atuar no universo de forma progressista. O conhecimento tem chegado de forma assustadora no universo escolar. Com o processo de globalizao as informaes esto conectadas em rede, e ns no conseguimos acompanhar esse universo informativo que est chegando a todo o momento. E como avaliaramos tais informaes, sendo professores? muito complexo entender e compreender essas questes que no deixam de ser avaliativas em nossa vida. Quantas vezes, na sala de aula, o aluno traz informaes das quais, ns no estamos preparados para responder? O aprender a ouvir o aluno e estar participando com ele do processo ensino-aprendizagem outro desafio que teremos que enfrentar no cotidiano escolar. Entender o humano, como diz Morin (2000), complexo. A complexidade do pensamento humano liga-se a incertezas e, ao mesmo tempo, busca uma certeza no conhecimento. E o que o conhecimento? um aprender a ser avaliado para saber se aprendeu? Por que tantas exigncias, sem nem ao menos sabemos para que servem?O refletir, o pesquisar, o se informar sobre ns, enquanto sujeitos e objetos do conhecimento se torna necessrio para compreender o humano. O professor de hoje tem conscincia do que o processo avaliativo, mas tem medo da avaliao. Tem medo de ser avaliado, criticado e de no poder argumentar sobre o processo. Tem medo do olhar do outro sobre faa o que eu digo, mas no faa o que eu fao. Ainda existem pessoas que agem dessa forma. Freire (1997) deixa claro em seu livro A Pedagogia da Autonomia, que o professor deve ensinar a corporeificao. Mas como? Se ele nem sabe o que isso?Corporificar buscar ser exemplo ou mesmo referncia para os alunos, hoje importante, pois, muitos se encontram no olhar que tm de um determinado professor que julga ser o melhor (Freire, 1997, p.38). Mesmo essa premissa podendo ser falsa, h aqueles que nela acreditam e se fundamentam para conseguir lutar pelos seus sonhos. O professor tem que procurar levar seus alunos a pesquisarem, a se comprometerem, a se auto-avaliarem e serem avaliados pelo grupo, pois a avaliao um processo natural no desenvolvimento humano. Buscar melhorar seus hbitos e atitudes so essenciais, para que as mudanas ocorram. Somos seres mutveis e necessitamos de nos inter relacionarmos para transformamos nossas vidas.Para Freire (1997, p. 44):

No apenas preciso mudar, o que, porm exige pacincia, uma pacincia que eu chamo de impaciente, que exige tambm conhecimento, humildade e uma pressa no demasiada apressada, quer dizer, voc tem que viver um tempo em que voc corre e anda tambm, anda quando pode, corre quando pode.

O tempo o senhor da sabedoria. Temos que confiar em nossa capacidade de aprender a conhecer o universo cultural em que vivemos. Compreender o ser humano e suas relaes no espao em que vive. Aprender que as mudanas existem e que podemos ser pacientes em diagnostic-las como processo de transformao ou processo de destruio de nossa prpria natureza. Vivemos em um mundo dicotmico, e a partir de suas irreverncias, podemos discernir o que seria melhor para a formao de um homem cidado, poltico e consciente de sua formao.Para Esteban (2003), o processo avaliativo no tem que reprovar, mas dar continuidade aos estudos assimilados pelos alunos no decorrer de formao.Para ela, a avaliao uma prtica de investigao. E cabe, a ns professores, levar os nossos alunos a buscar essa investigao, levando em considerao o erro/acerto, o fazer/refazer para aprendermos a construir nossos conhecimentos fundamentados em dados concretos.Portanto, cabe aos professores pesquisadores, buscarem, em sua prtica educacional, instrumentos avaliativos inovadores; alternativas metodolgicas de desenvolver habilidades e competncias de estar proporcionando aos seus alunos novos desafios, para incentiv-los a buscarem novas descobertas na arte de avaliar. O desafio de descobrir novos caminhos para se avaliar com prazer, pesquisa e descoberta de novos conhecimentos est em nossas mos, professores/educadores. Somente eles podero orientar os alunos na construo de novas aprendizagens, proporcionando um ensino de qualidade, visando sua formao.RefernciasACRCIO, Maria Rodrigues Borges (cood.). Questes urgentes na educao. Porto Alegre/Belo Horizonte: Artmed/Rede Pitgoras, 2002. (Coleo Escola em Ao).

BLOOM, Benjamin S.; HASTINGS, Thomas; e MADAUS, George. Manual de avaliao formativa e somativa do aprendizado escolar. So Paulo, Pioneira, 1983.

DELORS; Jacques (org). Educao; um tesouro a descobrir. 4 ed. So Paulo; Cortez; Braslia, DF: MEC: unesco, 2000.

ESTEBAN, Maria Teresa (org.). Escola, currculo e Avaliao. So Paulo. Cortez, 2003.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessrios prtica educativa. 3ed. So Paulo: Editora Paz e Terra S.A., 1997. (Srie cultura, memria e currculo, v. 5)

FREIRE, Paulo. Educao e Mudana. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

HAYDT, Regina Cazaux. Avaliao do Processo Ensino-Aprendizagem. 6 ed. So Paulo: Editora tica, 2002.

HAYDT, Regina Cazaux . Entrevista com Paulo Freire, Prospectiva. Rio Grande do Sul, n 22, set. 1994.

MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessrios Educao do Futuro. Trad. De Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya; reviso tcnica de Edgard de Assis Carvalho. So Paulo: Cortez; Braslia, DF: UNESCO, 2000.

Mestre em geografia pela Universidade Federal de Uberlndia - UFU [1]Professora naUniversidade de Uberaba, Instituto de Formao de Educadores, Graduao. [email protected]