O DESAFIO DE TRABALHAR A OBRA ORGULHO E … · é a adaptação através do cinema, e este é o...

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE LETRAS À DISTÂNCIA FERNANDA OLIVEIRA ANDRADE O DESAFIO DE TRABALHAR A OBRA ORGULHO E PRECONCEITO, DE JANE AUSTEN, NAS ADAPTAÇÕES. ITAPICURU/BA 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE LETRAS À DISTÂNCIA

FERNANDA OLIVEIRA ANDRADE

O DESAFIO DE TRABALHAR A OBRA ORGULHO E PRECONCEITO, DE JANE AUSTEN, NAS ADAPTAÇÕES.

ITAPICURU/BA 2013

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FERNANDA OLIVEIRA ANDRADE

O DESAFIO DE TRABALHAR A OBRA ORGULHO E PRECONCEITO, DE JANE AUSTEN, NAS ADAPTAÇÕES

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado na Universidade Federal da Paraíba, como requisito parcial para a obtenção do título Curso de Letras sob a Orientação da professora Ms. Eveline Alvarez dos Santos.

ITAPICURU/BA 2013

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FICHA CATALOGRÁFICA

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FERNANDA OLIVEIRA ANDRADE

O DESAFIO DE TRABALHAR A OBRA ORGULHO E PRECONCEITO, DE JANE AUSTEN, NAS ADAPTAÇÕES

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentado na Universidade Federal da Paraíba – UFPB, como requisito parcial para a obtenção do título Curso de Letras sob a Orientação da Professora Ms. Eveline Alvarez dos Santos.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________ ProfªMs. Eveline Alvarez dos Santos

Orientadora

___________________________________________ 1ª Examinadora

__________________________________________ 2º Examinador

ITAPICURU/BA 2013

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Dedico este Trabalho de Conclusão de Curso a meus pais Lêda Maria Oliveira e Raimundo Fernandes que tanto se empenharam pela minha formação como cidadã consciente e crítica. Também dedico a meu filho Ian Fernandes por ser meu maior incentivador a tornar-me uma educadora comprometida.

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AGRADECIMENTOS

Senhor, agradeço pela Sua presença em minha vida, principalmente nos momentos em

que pensei em desistir. Obrigada por fazer-me entender seus desígnios e a missão que tenho

na formação de homens e mulheres.

Agradeço a minha amada mãe que foi minha maior incentivadora. Sonhava em ser

uma professora amorosa e dedicada, assim como foi em sua vida profissional. A meu pai por

ensinar-me a ser paciente e perseverante em meus propósitos. Aos meus irmãos pelas vezes

em que ouviram os meus lamentos diante das adversidades da vida.

Não poderia deixar de agradecer a minha família, primos, tios e tias que, mesmo

estando tão longe, sempre me incentivou a lutar pelos meus ideais e estiveram orando por

minha vida.

As minhas amigas Lucimária Dantas de Almeida e Valdiselma Barreto da Fonseca que

sempre me fortaleceram quando o desânimo surgia. E, por fim, agradeço a minha orientadora

Eveline Alvarez dos Santos, que sempre foi prestativa e orientou-me com precisão.

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Clássico não é livro antigo e fora de moda. É livro eterno que não sai de moda.

(Ana Maria Machado)

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RESUMO

A Literatura é uma ferramenta transformadora da sociedade e a leitura de obras clássicas é fundamental para o acesso ao conhecimento e exercício da cidadania. Os professores devem assumir a postura de mediadores na formação de leitores, criando alternativas possíveis de mediações que estimulem a leitura de obras clássicas. Partindo desta premissa, este trabalho de conclusão de curso constitui de um relato de experiência com pesquisa qualitativa e aplicada numa turma de 9º ano do ensino fundamental. Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, foi a obra trabalhada no relato e esta se deu através de romance adaptado para o público jovem e adaptação cinematográfica. Ambas constituem de modalidades que permitem diversas “leituras” que não descaracterizam as obras dos grandes escritores e, além disso, serve como motivadoras para posteriores leituras das obras originais. Palavras chave: Literatura, Obras clássicas, cinema, adaptações.

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 10

2. A LITERATURA INFANTOJUVENIL COMO FERRAMENTA DE FORMAÇÃO DO

CIDADÃO CONSCIENTE E CRÍTICO............................................................... 12

3. A LEITURA DE CLÁSSICOS ADAPTADOS: DIÁLOGOS ENTRE A LITERATURA E O CINEMA.......................................................................................................... 14

4. ORGULHO E PRECONCEITO: A OBRA FÍLMICA EM SALA DE AULA ..... 17

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 20

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 21

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1. INTRODUÇÃO

A adaptação constitui uma ferramenta importante para a acessibilidade das leituras

clássicas para o público infanto-juvenil. A escritora Ana Maria Machado defende este tipo de

leitura como primeiro encontro com as belas- letras e que representa “um convite para a

posterior exploração de um território muito rico, já então na fase das leituras por conta

própria” (p.12-13).

A adaptação corresponde à transposição de uma obra literária para outro meio e neste

trabalho acadêmico nosso foco é no gênero que possui relações estreitas em níveis teóricos

que é o cinema. Trataremos dos elos entre ambas as expressões artísticas, o que possibilitará

uma análise comparada enfocando as contribuições que uma traz à outra. Tanto o cinema

quanto a literatura permite ao leitor-espectador esquecer da própria realidade e mergulhar no

mundo simbólico, construído por autores e que nos faz repensar sentimentos e emoções. O ato

de assistir a um filme ou ler uma obra literária representa novas experiências a cada contato.

O elo entre o cinema e a literatura é a estrutura narrativa e conforme Michel do

Espírito Santo (1973, p.49), o filme cinematográfico de longa metragem é quase sempre uma

narração, isto é, uma mensagem complexa apresentando uma série de situações, de

acontecimento e de ações ajustados na unidade de uma história.

Ronald Johnson (1982) também defende a mesma opinião de que o código narrativo

é o elo entre cinema e literatura. Para o teórico, “o romance e o filme são basicamente iguais

em termos de capacidade de significar. Os dois meios usam e distorcem o tempo e o espaço, e

ambos tendem a usar a linguagem figurativa ou metafórica” (Johnson, 1982, p.29). E este tom

de narração que garante a impressão da realidade construída.

Após a compreensão da importância das adaptações de obras clássicas para a

formação de leitores, apresentaremos a obra Orgulho e Preconceito, de Jane Austen a partir

da obra fílmica e posteriormente para a leitura do romance adaptado por Dioníso Jacob.

Analisaremos a obra em sua estrutura narrativa e eixo temático que é sobre família no início

do século XIX, mais precisamente as condições femininas para constituição familiar.

Este Relato de Experiência tem o objetivo de apresentar uma proposta concreta de

ensino sobre práticas de leitura de obras clássicas adaptadas para jovens, bem como propor o

cinema como ferramenta fundamental para quebrar resistência por parte de alunos à leitura

das obras originais. Para tanto, o trabalho será caracterizada por pesquisa qualitativa e

aplicada alicerçada em pesquisa metodológica e bibliográficapertinente ao tema, tais como

Robert Stam, Gualda, Moraes & Varela, Bordwel.

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Por fim, apresentaremos a experiência com uma turma de 9º ano do ensino

fundamental da Escola de Educação Básica Monsenhor José de Souza Santos que assistiu e

leu a obra supracitada, destacando aspectos relevantes ao estudo da obra.

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2. A LITERATURA INFANTO-JUVENIL COMO FERRAMENTA DE FORMAÇÃO DO CIDADÃO CONSCIENTE E CRÍTICO

À escola cabe a responsabilidade de formar cidadãos capacitados, conscientes e

críticos. Sendo assim, a leitura é componente essencial para tal formação. Entretanto,

resultados do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) revelam dados que estudantes

brasileiros concluem o ensino médio com baixo desempenho de leitura. Uma das justificativas

para este resultado se deve ao fato de parte dos alunos serem pouco motivados para a leitura

de textos literários.

As reflexões sobre o desafio de incentivar as práticas de leitura da Literatura Clássica

Universal são fundamentais para tentar encontrar soluções para diminuir a falta de motivação,

tanto de alunos quanto dos docentes, em ler tais livros. De acordo com Varela e Morais:

Desmotivação interfere negativamente no processo de ensino-aprendizagem, e entre as causas da falta de motivação, o planejamento e o desenvolvimento das aulas realizadas pelo professor são fatores determinantes. O professor deve fundamentar seu trabalho conforme as necessidades de seus alunos, considerando sempre o momento emocional e as ansiedades que permeiam a vida do aluno naquele momento (2007, p.2).

Uma das formas de dirimir a desmotivação será abordada neste trabalho que é

trabalhar práticas de leitura de clássicos em sala de aulas, a partir de adaptações, pois constitui

de instrumento que aproxima o adolescente ao texto literário de maneira mais atraente. De

acordo com Formiga:

A leitura do texto adaptado oferece ao indivíduo um horizonte de possibilidades, de significados, graças à maneira como lhe foi oferecido o texto – modificado, remodelado, alterado em sua materialidade-, motivo pelo qual romper determinados monopólios do dizer é permitir confrontar os discursos dos letrados e as práticas de que se revestem os textos ( 2011,p. 35).

Assim, a adaptação de obras literárias pode contribuir significativamente para a

compreensão da leitura, justamente por serem escritas numa época distante da realidade dos

alunos do século XXI. Nesse sentido, as adaptações implicam outras formas de leitura que

estabelecem sentidos entre os textos e leitores, por conta de sua materialidade que contribui

para isso.

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Admite-se a definição de adaptação para transformação de uma obra literária para

diversas artes e mídias, como cinema, teatro, histórias em quadrinhos, TV, entre outros.

De acordo com Formiga (2011, p.31), “a adaptação para jovens leitores não é uma

modalidade nova na história da leitura, pois surgiu muito antes do desenvolvimento da

literatura infantil, quando não havia leituras exclusivas para essa categoria, mas práticas

adotadas por esse público de leitor que revela sua especificidade”. Entre essas práticas,

destaco as histórias folclóricas (contos de fadas), as fábulas e outras narrativas.

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3. A LEITURA DE CLÁSSICOS ADAPTADOS: O DIÁLOGO ENTRE A LITERATURA E O CINEMA.

Uma das formas que mais tem difundido as obras clássicas para os diversos públicos

é a adaptação através do cinema, e este é o maior meio de divulgação cultural da literatura. E

é por esta adaptação que se deterá o Relato de Experiência. Sabemos que há relações estreitas

em níveis teóricos entre o cinema e a literatura e que é fundamental discutir aqui. Segundo

Bordwell (1997,p.50), as relações entre estas duas artes não passaram despercebidos pelos

teóricos da década de 1950, e estes argumentavam que “o cinema não era como a música ou a

pintura abstrata, era uma arte de contar histórias, e sua maior afinidade foi com o romance e o

teatro” (BORDWELL,1997, p. 50).

Pensando nisso, há um elo entre as duas expressões artísticas que é a base para

delimitar a contribuição que uma arte traz a outra, e este elo é a estrutura narrativa. É o que

afirma a teórica a seguir:

Um estudo comparado focando literatura e cinema só se realiza pelo fato de existirem algumas aproximações entre ambas as artes e, talvez, de todos os elementos que mantêm literatura e cinema em estado sincrônico de comparabilidade, a estrutura narrativa se apresenta como principal entre as duas (GUALDA, 2010, p. 205).

A adaptação de obras clássicas também democratiza o acesso a elas. É inegável que a

leitura das adaptações permitam outras formas de se ler e constrói sentidos entre textos e

leitores, além de possibilitar a reescritura.

Sabendo que a leitura é um instrumento de formação de leitores das belas- letras, as

adaptações assumem o papel importante de atrair leitores iniciantes a desde cedo conhecerem

o mundo da literatura. A escritora brasileira, Ana Maria Machado, tratando do como e por que

ler os clássicos universais, afirma:

Não é necessário que essa primeira leitura seja um mergulho nos textos originais. Talvez até desejável que não o seja, dependendo da idade e da maturidade do leitor. Mas creio que o que se deve propiciar é a oportunidade de um primeiro encontro. Na esperança de que possa ser sedutor, atraente, tentador. E que possa redundar na construção de uma lembrança (mesmo vaga) que fique por toda a vida. Mais ainda: na torcida para que, desta forma, possa equivaler a um convite para a posterior exploração de um território muito rico, já então na fase das leituras por conta própria (MACHADO, 2002, p. 12- 13).

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Professores de Literatura vivenciam nas labutas diárias, o desafio de estimular a

leitura aos alunos, pois estes questionam que os textos originais, em maioria, possuem uma

linguagem que dificulta o entendimento. Até iniciam a leitura, mas com o passar dos capítulos

perdem o interesse e abandonam a leitura.

Ao longo dos três anos em que lecionei as disciplinas Redação e Literatura em turmas do 6º ao

9º ano na Escola de Educação Básica Monsenhor José de Souza Santos, na cidade sergipana

Tobias Barreto, pude trabalhar com clássicos literários adaptados para jovens aliados a outros

gêneros textuais, como teatro, filmes, histórias em quadrinhos, etc.

Tais trabalhos funcionaram como motivadores para os alunos adquirirem o prazer

posterior de ler os clássicos. Os alunos puderam apreciar histórias clássicas da literatura

através de adaptações feitas para o público jovem, com uma linguagem adequada a este

público, de modo a facilitar a compreensão da obra e tornar sua leitura mais fluente. Além

disso, pude perceber através de conversas com alunos, que o cinema constitui um atrativo

para eles, tornando a leitura posteriormente da obra de melhor entendimento. O teórico Robert

Stam (2008), afirma que o diálogo do cinema com a literatura abre diversas possibilidades de

“leituras”, da mesma forma que um romance pode motivar diferentes adaptações. A partir da

análise da experiência supracitada, concluí que a proposta dos primeiros contatos com a

Literatura Clássica através de adaptações pode significativamente contribuir para o incentivo

à leitura original das obras.

A adaptação corresponde à transposição de uma obra literária para outro meio e neste

trabalho acadêmico nos especificamos no gênero que possui relações estreitas em níveis

teóricos que é o cinema. Trataremos dos elos entre ambas as expressões artísticas, o que

possibilitará uma análise comparada enfocando as contribuições que uma traz à outra. Tanto o

cinema quanto o romance permite ao leitor-espectador esquecer da própria realidade e

mergulhar no mundo simbólico, construído por autores e que faz repensar sentimentos e

emoções. O ato de assistir um filme ou ler uma obra representa novas experiências a cada

contato.

O elo entre o cinema e a literatura é a estrutura narrativa e conforme Michel do

Espírito Santo (1973, p.49), o filme cinematográfico de longa metragem é quase sempre uma

narração, isto é, uma mensagem complexa apresentando uma série de situações, de

acontecimento e de ações ajustados na unidade de uma história.

Nos filmes há sequências de cenas com saltos ou lapsos, como o uso do flashback, e

as mudanças são percebidas por alguns recursos visuais, como mudança na cor da tela,

imagem envelhecida ou mesmo em preto e branco. O espectador percebe a passagem de

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tempo através das ações e mudanças no espaço. Isso quer dizer que no filme predomina o

espaço e no romance o tempo. Um dos motivos para a diferença é que no cinema não há a

necessidade de um narrador para criar elos entre o que ocorreu e a narração presente. Britto

(2006, p. 146) confirma essa ideia, “em literatura é resultado (a construção da imagem mental,

advinda da decodificação da linha discursiva), no cinema é um ponto de partida (a imagem

concreta)”.

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4. ORGULHO E PRECONCEITO: A OBRA FÍLMICA EM SALA DE AULA

A associação da obra adaptada com a obra fílmica provoca no aluno o interesse pela

leitura da obra original posteriormente. No ano de 2012 pude constatar que os alunos do 8º

ano, após assistirem o filme O Conde de Monte Cristo, leram a obra clássica adaptada com

uma olhar crítico. Em alguns momentos fizeram diversas comparações entre as duas versões,

suscitando debates. Perceberam que no filme há elipses que no romance e que isto não

interferiu de forma negativa para a compreensão da mensagem.

Em 2013 a obra universal explorada pela mesma turma, que agora é 9º ano, foi

Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, adaptada pelo brasileiro Dionísio Jacob. Antes da

leitura da obra impressa, os alunos viram dois filmes: O clube da leitura de Jane Austen e

Orgulho e Preconceito. Esta forma de abordagem da obra foi atraente para todos os alunos,

pois permitiu que os mesmos tivessem contato com um clássico universal, mas com recursos

linguísticos acessíveis ao público jovem. Chartier (1999, p. 92) afirma que, “é a existência de

técnicas ou de modelos de leitura que organizam as práticas de certas comunidades”.

Retomando o diálogo entre o cinema e a literatura, de acordo com Gualda:

a questão da adaptação de um romance para o cinema nunca foi uma atividade pacífica. Os literatos alegam a falta de fidelidade ao original ou a distância semiótica entre as duas linguagens. Os cinéfilos, por sua vez, argumentam que deve existir liberdade em qualquer trabalho de criação (GUALDA, p. 203).

O fato é que o cinema possibilita às camadas sociais menos favorecidas o contato

com a literatura. E de certa forma, democratiza a escola colocando-a em sintonia com a

sociedade. De acordo com Silva (2010. p. 92), desde a década de 1960 que há o esforço em

democratizar a escola, entretanto o que percebemos é que estas possuem aparelho de som,

DVD e televisão, mas poucos são utilizados como suporte de aprendizagem. Um destes

motivos é quanto ao despreparo teórico e prático do professor ao utilizar mídias. Não adianta

utilizar o cinema em sala de aula apenas por quebrar a resistência por parte dos alunos à

leitura das obras originais, é necessário planejar estas aulas e associá-las às sequências

didáticas com finalidades educativas.

Para que o uso do cinema como artefato de práticas de leitura ocorra de maneira

eficaz, o professor de Literatura deve ter um bom domínio sobre a teoria narrativa, pois é este

o elo entre as duas artes. Ultrapassar este elo, analisando a produção fílmica e sua produção

seria complicada demais, já que há poucos estudos comparativos entre o cinema e a literatura.

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O livro Como Usar na Sala de Aula, de Marcos Napolitano, publicado pela Editora Contexto

é interessante, pois enriquece o acervo sobre o cinema na sala de aula. O livro apresenta

conceitos, conta a história do cinema, indica leituras e aborda algumas experiências de outros

professores de forma crítica. Tem como objetivo:

Discutir não apenas com o professor interessado em iniciar-se no uso do cinema na sala de aula, mas também com aquele que deseja incrementar sua didática, incorporando filmes como algo mais do que ilustração de aulas e conteúdos (NAPOLITANO, p.7).

Outro fator que favorece o diálogo entre o cinema e a literatura é que aquele

já faz parte do cotidiano do cotidiano do jovem, assim como a televisão e a internet.

Portanto, o cinema contribui efetivamente na formação de leitores.

Retomando a obra, Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, adaptada para o público

juvenil por Dionísio Jacob, desenvolve o eixo temático sobre famílias, precisamente sobre

relacionamentos amorosos no início do século XIX. As moças inglesas desta época só

conseguiam um bom casamento se tivessem um dote atrativo para os homens, portanto,

mulheres de poucos dotes tinham mínimas possibilidades de ascensão social, mas Elisabeth

Bennet, uma das cinco filhas do Senhor Bennet, não ficava presa a esta verdade universal tão

enraizada nas mentes das famílias inglesas. Esta é uma heroína que encanta o senhor Darcy

com seu senso crítico, representando uma cinderela esclarecida. As personagens de Jane

Austen, muitas vezes, faz críticas às regras da sociedade mostrando que o destino nem sempre

é determinado por essas regras. Já sua mãe, “corre” por cumprir tais regras, com intuito de

casar bem as suas filhas:

Por isso, quando o senhor Bingley, um rapaz rico do norte do país, resolveu alugar uma aprazível propriedade de campo conhecida como Netherfield Park, na vizinhança de Longbourn, o fato ocasionou um inevitável alvoroço na comunidade local. A senhora Bennet, mãe de cinco filhas, foi sem dúvida a pessoa mais entusiasmada com a novidade. (AUSTEN, 2011, p. 77)

A senhora Bennet não foge aos padrões das famílias inglesas, procura

desesperadamente arranjar um casamento para suas filhas, e a chegada do senhor Bingley é

uma oportunidade para isso.

Antes da leitura da obra, solicitei aos alunos do 9º ano que escrevessem um texto

contando suas experiências de leitura de clássicos. Ao ler os relatos, constatei que grande

parte dos alunos lembrava bem do livro lido no anterior e principalmente por que havia

assistido a obra fílmica do livro em questão. A partir destes textos, houve uma discussão em

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grupo a cerca da obra nas duas adaptações, em romance infanto-juvenil e em cinema, e os

alunos foram unânimes em concordar que ambas serviram para analisar de forma comparativa

sem empobrecer os textos.

Portanto, foi após a discussão supracitada que optei por trabalhar Orgulho e

Preconceito estabelecendo diálogo entre o cinema e a literatura. Antes de ler a obra e assistir

ao filme, solicitei uma pesquisa sobre a autora e suas principais obras e perpassando o

contexto histórico em que Jane Austen escrevia. Os alunos trouxeram suas pesquisas e

discutimos sobre a autora e os temas de suas produções literárias.

Após este momento de conhecimento da autora, utilizamos três aulas de cinquenta

minutos para assistirmos dois filmes. Um deles foi O clube da leitura de Jane Austen e

Orgulho e Preconceito, este serviu para comentarmos os elementos da narrativa (enredo,

narrador, personagens, tempo, espaço). Em seguida solicitei a leitura do romance adaptado no

prazo de quinze dias.

Decorrido o prazo, novamente voltamos às discussões sobre as duas expressões

artísticas (cinema e literatura) e pude concluir que os alunos foram mais receptivos a obra

clássica por ter sido utilizado outros gêneros mais atrativos ao público jovem. Além disso,

esta abordagem possibilitou a produção de um trabalho teatral confeccionado pelos próprios

alunos, o que acabou tornando outra forma, também válida, de “reler” os clássicos.

A leitura do romance concomitante com a releitura nas telas proporcionou aos alunos

a diversas interpretações sobre o tema família e matrimônios. Além disso, puderam

contextualizar com o mesmo tema e a geração dos jovens do século XXI. De acordo com

Antonio Candido, (1981, p.23-35), a literatura é “um sistema de obras ligadas por

denominadores comuns”, e assim é com o filme, pois este também faz parte do gênero

narrativo. Portanto, não comparamos aqui os aspectos de produção cinematográfica, mas

justamente suas características em comum com os demais gêneros narrativos (conto, romance,

novela, etc). A ênfase é dada à linguagem e à estrutura narrativa.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho de conclusão de curso foi bastante pensado ao longo do curso e diante da

realidade vivenciada em sala, principalmente nas aulas de literatura e redação do ensino

fundamental, pude perceber o quanto é fundamental trabalhar com clássicos a partir de outros

suportes.

Após a leitura de diversas fontes sobre o tema de adaptação literária para crianças e

jovens, conclui que o gênero adaptado que tem a maior afinidade com o romance é o cinema,

pois é capaz de democratizar seu acesso às camadas sociais menos favorecidas. O trabalho

ainda permitiu compreender os diálogos entre o cinema e a literatura e que o elo de maior

relevância é a estrutura narrativa.

O cinema possibilita ao aluno explorar a obra de uma maneira em que permite jogar

não somente com as palavras, mas também com as imagens, as músicas, efeitos sonoros, ou

seja, intensifica outros sentidos além da visão. Stam (2008) pensa sobre a influência da

literatura nas adaptações cinematográficas que a teoria da intertextualidade, elaborada por

Julia Kristeva, promoveu uma abordagem menos discriminatória da mesma. Esta teoria teve

fundamentação no conceito de “dialogismo” de Bahktin, que aponta uma constituição híbrida

do texto, ao aliar a palavra de uma pessoa com a de outra.

O que Stam sugere com a teoria é que um texto pode ser “lido” de diversas maneiras,

da mesma forma que um romance pode motivar diferentes adaptações.

Outro aspecto relevante em relação ao diálogo entre o cinema e a literatura é a

questão do tempo do filma e da sua continuidade. Isso quer dizer que no cinema há recursos

cinematográficos que ajudam a contar histórias ao entremear temporalidades que são próprias

do cinema. O cinema “segue o modelo do romance do século anterior, contando uma estória

com começo, meio e fim, assumindo ser três coisas ao mesmo tempo: ficcional, narrativo e

representacional” (BRITO, 2006, p 8).

A escola é a instituição encarregada de promover a democratização do acesso ao

clássico pelas adaptações e o uso do cinema como suporte material para os primeiros contatos

com a literatura universal constitui uma possibilidade legitima para a formação educativa

brasileira.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, P. F. De S.. (Org.). Ensinar Literatura através de projetos e de temas caracterizadores. João Pessoa: Editora da UFPB, 2011, v.9. cap.2.

BRITO, J. B. De. Literatura no cinema. São Paulo: Unimarco, 2006.

BORDWELL, D.On the History of Film Style. Cambridge e Londres: Harvard University Press, 1997.

GUALDA, A. C. Literatura e cinema: elo e confronto. Assis. MATRIZes. Ano 3, n. 2, p. 201- 210, jan- jul.2010.

NAPOLITANO, M. Como usar o cinema na sala de aula. EccoS Ver. Cient., UNINOVE, São Paulo, n. 1, v. 5, P. 175- 187, Jun. 2003. ISSN: 1517- 1949.

PERUZZO, A. Aimportância da literatura infantil na formação de leitores. Cadernos do CNLF, vol XV, nº 5, t. 1. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2005. p. 95-104.

PAIVA, F. C. S. e OLIVEIRA, A. A. A literatura infantil no processo de formação do leitor. Cadernos de Pedagogia. São Carlos, Ano 4 v. 4 n. 7, p. 22-36, jan- jun. 2010. ISSN: 1982-4440.

SCHLÖGL, L. O diálogo entre o cinema e a literatura: reflexões sobre adaptações na história do cinema. Guarapava, 2010. ISSN:1580- 1780.

STAM, R. Introdução à Teoria do Cinema. Campinas: Papirus, 2009.

__________. A Literatura Através do cinema: Realismo, magia e arte da adaptação. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.