O desastre atrás do desastre

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Nível de acidente Local Consequências O JAPÃO FOI CENÁRIO DE DOIS DESASTRES NATURAIS OCORRIDOS A PARTIR DO DIA 11 DE MARÇO DE 2011, UM TERREMOTO SEGUIDO DE TSUNAMI, QUE PRODUZIRAM PROBLEMAS NA USINA NUCLEAR DE FUKUSHIMA. ESSE ACIDENTE PODE AFETAR PROGRAMAS NUCLEARES EM ANDAMENTO EM TODO O MUNDO HORIZONTE À VISTA O desastre ATRÁS DO DESASTRE A invasão da água do mar na usina de Fukushima provocou a interrupção do resfriamento do núcleo e o lançamento de radioatividade na atmosfera Chernobyl: radioatividade 400 vezes maior que a bomba de Hiroshima RIANOVOSTI/SPL DC/LATINSTOCK ITSUO INOUYE/AP/GLOW IMAGES O medo gerado pelos eventos adicionado às dúvidas sobre a real proporção da emergência nuclear em Fukushima trouxeram o fantasma do desastre ocorrido, em 1986, em Chernobyl, na Ucrânia. Esse, que foi o mais grave acidente nuclear da história, produziu uma nuvem de radioatividade que atingiu a União Soviética, a Europa Oriental, a Escandinávia e o Reino Unido, liberando 400 vezes mais contaminação do que a bomba lançada sobre Hiroshima durante a Segunda Guerra Mundial. Classifica- do como acidente máximo, nível 7 na Escala Internacional de Acontecimentos Nucleares e Radiológicos (veja gráfico na pág. ao lado), Chernobyl foi resultado de uma explosão causada pela presença de carbono no núcleo do reator. Francisco Rondinelli, diretor da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), garante que “a situação nas usinas de Fukushima é completamente diferente. A comparação é inevitável, mas infundada”. A diferença entre uma e outra começa pela própria matéria-prima. Rodinelli explica que, desde o acidente em Chernobyl, o uso do carbono no interior dos reatores foi eliminado e todas as usinas passaram a ser construídas dentro de poderosos vasos de contenção, que, no caso de Fukushi- ma, é um cilindro de concreto e aço de 75 centímetros de espessura, cuja função é reter qualquer material radioativo que vaze do núcleo. De acordo com informações das autoridades japonesas, o vaso de contenção está intacto e os gases radioativos que atingiram a atmosfera foram emitidos de forma controlada para evitar o aumento da pressão na estrutura. Sobre o nível do acidente no Japão, há divergências: a Autoridade Francesa de Segurança Nuclear classificou o caso de Fukushima de nível 6; já para as autoridades japonesas está no nível 5. O acidente japonês provocou questionamentos sobre a segurança das usinas nucleares. A premiê alemã, Angela Merkel, ordenou uma verificação de emergência nos 17 reatores do país. Shreyans Kumar Jain, presidente da Corporação de Energia Nuclear da Índia, declarou que vai reconsiderar seus planos de multiplicar por 13 a geração de energia nuclear no país. O vice-presidente da Comissão de Reforma e Desen- volvimento da China, Xie Zhenhua, afirmou que será necessário aumentar o rigor na avaliação da segurança nuclear e no monitoramento das usinas. Resta saber, porém, até que ponto esses questiona- mentos serão capazes de reduzir a participação das usinas nucleares na geração mundial de energia. Só no Japão, dois terços da energia provém dessa fonte. França, Estados Unidos e Alemanha também têm forte dependência da energia nuclear. De acordo com estudo da Global Energy Assesment, acidentes tendem a elevar o custo de construção das usinas, uma vez que as exigências de segurança são ampliadas. Em 1971, o custo da energia nuclear era de US$ 1 mil/kW nos Estados Unidos e, em 1980, após o acidente em Three Mile Island (EUA), o preço dobrou. Em 1996, depois de Chernobyl, já atingia US$ 5 mil/kW. Confira também reportagem “A aposta nuclear brasilei- ra” (HG 119), disponível no site www.edhorizonte.com.br. Acidente máximo Acidente sério Acidente com consequências maiores Acidente com consequências locais Incidente sério Incidente Anomalia Chernobyl (Ucrânia), 1986 Kyshtym (Rússia), 1957 Three Mile Island (EUA), 1979; Winscale Pile (Inglaterra), 1947; Goiânia (Brasil), 1987 Tokaimura (Japão), 1999; Saint Laurent des Eaux (França), 1980; Fleurus (Bélgica), 2006. Vandellos (Espanha), 1989; Sellafield (Inglaterra), 2005; Yanango (Peru), 1999 Cadarache (França), 2009, e Atucha (Argentina), 2005 Uma explosão no reator 4 causou o derretimento de seu núcleo, gerando radioatividade 400 vezes maior que a da bomba de Hiroshima Uma usina de reprocessamento explodiu após falha no resfriamento, atingindo áreas no sul dos Urais O pior acidente nuclear ocorrido no Brasil, com o Césio 137, matou quatro pessoas. Nos EUA, o acidente provocou a fusão parcial do reator Após reação nuclear descontrolada, provocou a morte de dois funcionários no Japão. Na usina espanhola, um incêndio destruiu o sistema de segurança; na inglesa ocorreu um vazamento de urânio; no Peru, um soldador foi contaminado por irídio Diversos funcionários foram expostos a níveis de radiação acima dos limites anuais recomendáveis nas usinas da França e da Argentina. São ocorrências anormais que não provocam nenhum dano à população ou ao meio ambiente 7 6 5 4 3 2 1 Fonte: Agência Internacional de Energia Atômica HORIZONTE GEOGRÁFICO 12 HORIZONTE GEOGRÁFICO 13

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O Japão foi cenário dedois desastres

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Nível de acidente Local Consequências

O JAPÃO FOI CENÁRIO DE DOIS DESASTRES NATURAIS OCORRIDOS A PARTIR DO DIA 11 DE MARÇO DE 2011, UM TERREMOTO SEGUIDO DE TSUNAMI,

QUE PRODUZIRAM PROBLEMAS NA USINA NUCLEAR DE FUKUSHIMA. ESSE ACIDENTE PODE AFETAR PROGRAMAS NUCLEARES EM ANDAMENTO EM TODO O MUNDO

HORIZONTEÀVISTA

O desastre ATRÁS DO DESASTRE

A invasão da água do mar na usina de Fukushima provocou a interrupção do resfriamento do núcleo e o lançamento de radioatividade na atmosfera Chernobyl: radioatividade 400 vezes maior que a bomba de Hiroshima

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O medo gerado pelos eventos adicionado às dúvidas sobre a real proporção da emergência nuclear em

Fukushima trouxeram o fantasma do desastre ocorrido, em 1986, em Chernobyl, na Ucrânia. Esse, que foi o mais grave acidente nuclear da história, produziu uma nuvem de radioatividade que atingiu a União Soviética, a Europa Oriental, a Escandinávia e o Reino Unido, liberando 400 vezes mais contaminação do que a bomba lançada sobre Hiroshima durante a Segunda Guerra Mundial. Classifica-do como acidente máximo, nível 7 na Escala Internacional de Acontecimentos Nucleares e Radiológicos (veja gráfico na pág. ao lado), Chernobyl foi resultado de uma explosão causada pela presença de carbono no núcleo do reator. Francisco Rondinelli, diretor da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), garante que “a situação nas usinas de Fukushima é completamente diferente. A comparação é inevitável, mas infundada”. A diferença entre uma e outra começa pela própria matéria-prima. Rodinelli explica que, desde o acidente em Chernobyl, o uso do carbono no interior dos reatores foi eliminado e todas as usinas passaram a ser construídas dentro de poderosos vasos de contenção, que, no caso de Fukushi-ma, é um cilindro de concreto e aço de 75 centímetros de espessura, cuja função é reter qualquer material radioativo que vaze do núcleo. De acordo com informações das autoridades japonesas, o vaso de contenção está intacto e os gases radioativos que atingiram a atmosfera foram emitidos de forma controlada para evitar o aumento da pressão na estrutura. Sobre o nível do acidente no Japão, há divergências: a Autoridade Francesa de Segurança Nuclear classificou o caso de Fukushima de nível 6; já para as autoridades japonesas está no nível 5.

O acidente japonês provocou questionamentos sobre a segurança das usinas nucleares. A premiê alemã, Angela Merkel, ordenou uma verificação de emergência nos 17 reatores do país. Shreyans Kumar

Jain, presidente da Corporação de Energia Nuclear da Índia, declarou que vai reconsiderar seus planos de multiplicar por 13 a geração de energia nuclear no país. O vice-presidente da Comissão de Reforma e Desen-volvimento da China, Xie Zhenhua, afirmou que será necessário aumentar o rigor na avaliação da segurança nuclear e no monitoramento das usinas.

Resta saber, porém, até que ponto esses questiona-mentos serão capazes de reduzir a participação das usinas nucleares na geração mundial de energia. Só no Japão, dois terços da energia provém dessa fonte. França, Estados Unidos e Alemanha também têm forte dependência da energia nuclear.

De acordo com estudo da Global Energy Assesment, acidentes tendem a elevar o custo de construção das usinas, uma vez que as exigências de segurança são ampliadas. Em 1971, o custo da energia nuclear era de US$ 1 mil/kW nos Estados Unidos e, em 1980, após o acidente em Three Mile Island (EUA), o preço dobrou. Em 1996, depois de Chernobyl, já atingia US$ 5 mil/kW.

Confira também reportagem “A aposta nuclear brasilei-ra” (HG 119), disponível no site www.edhorizonte.com.br.

Acidente máximo

Acidente sério

Acidente com consequências maiores

Acidente com consequências locais

Incidente sério

Incidente

Anomalia

Chernobyl (Ucrânia), 1986

Kyshtym (Rússia), 1957

Three Mile Island (EUA), 1979; Winscale Pile (Inglaterra), 1947; Goiânia (Brasil), 1987

Tokaimura (Japão), 1999; Saint Laurent des Eaux (França), 1980; Fleurus (Bélgica), 2006.

Vandellos (Espanha), 1989; Sellafield (Inglaterra), 2005; Yanango (Peru), 1999

Cadarache (França), 2009, e Atucha (Argentina), 2005

Uma explosão no reator 4 causou o derretimento de seu núcleo, gerando radioatividade 400 vezes maior que a da bomba de Hiroshima

Uma usina de reprocessamento explodiu após falha no resfriamento, atingindo áreas no sul dos Urais

O pior acidente nuclear ocorrido no Brasil, com o Césio 137, matou quatro pessoas. Nos EUA, o acidente provocou a fusão parcial do reator

Após reação nuclear descontrolada, provocou a morte de dois funcionários no Japão.

Na usina espanhola, um incêndio destruiu o sistema de segurança; na inglesa ocorreu um vazamento de urânio; no Peru, um soldador foi contaminado por irídio

Diversos funcionários foram expostos a níveis de radiação acima dos limites anuais recomendáveis nas usinas da França e da Argentina.

São ocorrências anormais que não provocam nenhum dano à população ou ao meio ambiente

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Fonte: Agência Internacional de Energia Atômica

HORIZONTE GEOGRÁFICO12 HORIZONTE GEOGRÁFICO 13