“O Desenho e a Educação do Olhar”

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1 UNIVERSIDADE DE LISBOA RELATÓRIO DA PRÁTICA DE ENSINO SUPERVISIONADA “O Desenho e a Educação do Olhar” Sandra da Silva Bartolomeu MESTRADO EM ENSINO DAS ARTES VISUAIS 2010

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

RELATÓRIO DA PRÁTICA DE ENSINO SUPERVISIONADA

“O Desenho e a Educação do Olhar”

Sandra da Silva Bartolomeu

MESTRADO EM ENSINO DAS ARTES VISUAIS

2010

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

RELATÓRIO DA PRÁTICA DE ENSINO SUPERVISIONADA

“O Desenho e a Educação do Olhar”

Sandra da Silva Bartolomeu

Orientador: Professor Pedro António Santos Saraiva. Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa

MESTRADO EM ENSINO DAS ARTES VISUAIS

2010

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Índice

ÍNDICE 3 

RESUMO 6 

ABSTRACT 7 

AGRADECIMENTOS 8 

1. INTRODUÇÃO 9 

2. ENQUADRAMENTO DA UNIDADE LECCIONADA 11 

2.1. UM OLHAR SOBRE A SOCIEDADE ACTUAL 11 

2.2. A ESCOLA E O CURRÍCULO NACIONAL 12 

2.3. COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS E ORIENTAÇÕES PROGRAMÁTICAS DA DISCIPLINA DE EDUCAÇÃO

VISUAL 15 

2.4. A ADOLESCÊNCIA 18 

2.4.1. Características físicas e afectivas 18 2.4.2. Características cognitivas segundo Piaget 19 2.4.3. Características ao nível do desenho e expressão plástica 20 

2.5. TEORIAS E MODELOS DE APRENDIZAGEM 22 

2.6. O PAPEL DA MOTIVAÇÃO NA APRENDIZAGEM 24 

2.7. A AVALIAÇÃO 26 

3. CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA E DA TURMA 29 

3.1. O COLÉGIO DE S. TOMÁS 29 

3.1.1. História e identidade 29 3.1.2 Localização 29 3.1.3. Proposta Educativa 30 3.1.4. Estrutura e Oferta Educativa 30 3.1.5. A Educação Visual e o Desenho 31 3.1.6. Comunidade escolar 31 3.1.7. Espaço físico e recursos 32 

3.2. A TURMA 8º B: CARACTERIZAÇÃO DOS ALUNOS DA TURMA 33 

4. ESTRATÉGIAS DE ENSINO UTILIZADAS 36 

4.1. O DESENHO DE OBSERVAÇÃO COMO ESTRATÉGIA 36 

4.2. A REFERÊNCIA A OBRAS DE ARTE 39 

4.3 O TEMA 39 

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4.4. A PLANIFICAÇÃO: BREVE DESCRIÇÃO DA UNIDADE 41 

4.5. OBJECTIVOS E COMPETÊNCIAS 42 

4.6. MÉTODOS DE ENSINO ADOPTADOS: A APRENDIZAGEM POR DESCOBERTA 43 

4.6.1. Confronto, aplicação e verificação 45 4.6.2. A construção tridimensional 47 4.6.3. Análise e aplicação 48 

5. MEIOS DIDÁCTICOS 51 

5.1. O DIÁRIO GRÁFICO 51 

5.2. PROCESSOS, MATERIAIS E SUPORTES 52 

5.3. APRESENTAÇÕES EM POWERPOINT 53 

5.4. O TRABALHO DE CAMPO E A VISITA DE ESTUDO 58 

6. DESCRIÇÃO SUMÁRIA DAS AULAS 60 

7. AVALIAÇÃO 64 

8. REFLEXÕES FINAIS 81 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 85 

ANEXO I - COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE EDUCAÇÃO VISUAL NO 2º E 3º CICLO DO

ENSINO BÁSICO 89 

ANEXO II - CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS DO CURRÍCULO ARTÍSTICO NO COLÉGIO

DE S. TOMAS 2009/2010 91 

ANEXO III - CARACTERÍSTICAS DOS ALUNOS DO 8ºB ASSINALADOS COMO

APRESENTANDO NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS 92 

ANEXO IV – PLANIFICAÇÃO DA UNIDADE CURRICULAR 93 

ANEXO V - APRESENTAÇÃO DE APOIO À AULA 2. ESTRUTURA: FRACTAL 97 

ANEXO VI - APRESENTAÇÃO DE APOIO À AULA 7. VER MAIS LONGE 101 

ANEXO VII - TRABALHOS DOS ALUNOS: EXERCÍCIO 1 – ÁRVORE 104 

ANEXO VIII - TRABALHOS DOS ALUNOS: EXERCÍCIO 2 – FOLHAS 110 

ANEXO XIX - TRABALHOS DOS ALUNOS: EXERCÍCIO 3 – ÁRVORE FINAL 113 

ANEXO XX - TRABALHOS DOS ALUNOS: AULA 4 – DESENHO DE RAMOS 116 

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ANEXO XXI – TRABALHOS DOS ALUNOS. EXERCÍCIO 5: REPRESENTAÇÃO

TRIDIMENSIONAL DO RAMO 119 

ANEXO XXII - TRABALHO DOS ALUNOS: EXERCÍCIO 6 -PAISAGEM 121 

ANEXO XXIII – TRABALHOS DOS ALUNOS. EXERCÍCIO 7: 125 

PAISAGEM FINAL 125 

ANEXO XXIV – DIÁRIO GRÁFICO 128 

ANEXO XXV – TABELAS CLASSIFICAÇÕES 2º PERÍODO 134 

ANEXO XXVI – TABELA CLASSIFICAÇÕES 3º PERÍODO 135 

ANEXO XXVII – TABELA - RESPOSTAS DOS ALUNOS AO QUESTIONÁRIO FINAL 136 

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Resumo

Com o estudo apresentado neste relatório pretendeu-se averiguar de que modo é

que o Desenho desenvolve a capacidade cognitiva do adolescente. Sendo o Desenho um

domínio fundamental na área curricular de Educação Visual, procurou-se saber quais as

estratégias indicadas para o seu ensino a alunos do 8º ano de escolaridade e que

capacidades e competências é que a aprendizagem e a prática do desenho de

representação desenvolvem nesses mesmos alunos.

Em ordem a responder a esta questão, fez-se um levantamento das principais

características psicológicas, académicas e motivacionais dos alunos da turma à qual a

unidade curricular foi dirigida, um estudo sobre a escola e sobre as orientações

curriculares de Educação Visual, um levantamento de métodos de ensino de Desenho já

experimentados e de teorias de ensino-aprendizagem. Utilizou-se como metodologia

principal a aprendizagem por descoberta, apostando no desenho de representação como

instrumento de investigação e conhecimento da realidade. Para além do Desenho,

integrou-se na unidade curricular a modelagem tridimensional e um trabalho de corte e

colagem bidimensional. Elegeu-se a vegetação e a paisagem como tema.

Concluiu-se que a prática do desenho desenvolve na pessoa o pensamento

perceptivo, contribuindo para um desenvolvimento integral da sua capacidade cognitiva.

Também se concluiu que a criação plástica contribui para o desenvolvimento afectivo e

emocional do indivíduo e que o exercício do desenho desenvolve atitudes e hábitos

importantes para uma vivência equilibrada da pessoa na sociedade actual. Verificou-se

que, de modo geral, os alunos aprenderam a observar mais profundamente o meio

envolvente, e consequentemente a representarem com mais naturalismo os assuntos que

observavam.

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Abstract

The study presented in this report aimed to investigate how Drawing helps

developing cognitive skills in adolescents. Since Drawing is a key area in the Visual

Education curriculum, this study sought to learn what strategies are recommended for

teaching students attending the 8th grade and precisely what skills and competencies

does the learning and practice of drawing develop in these students.

In order to answer these questions, there was carried out a research about the

main psychological, academic and motivational characteristics of students in the class to

which the curriculum unit was dedicated, about the school they attended, about the

Visual Education curriculum guidelines, and about teaching and learning theories.

Discovery learning was the main methodology used, focusing on the use of

representation drawing as a research tool for knowledge. Beyond Drawing, three-

dimensional modeling and two-dimensional cutting and pasting were joined in this unit.

Trees and landscape were the theme chosen.

It was concluded that the practice of drawing develops perceptive thought,

contributing to increase cognitive capacities. It can also be concluded that creating

through the Plastic Arts favors emotional development and drawing promotes important

attitudes and habits towards healthy living in the contemporary society. It was found

overall that the students learned to look more carefully into their surroundings, and

therefore, represent more realistically the subjects they looked upon.

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Agradecimentos

Os meus sinceros agradecimentos dirigem-se à Professora Sara Velasco, em quem

reconheço a excelência profissional - na concepção e leccionação das Artes Visuais, sobretudo

do Desenho – e grandes qualidades humanas na relação com os seus alunos, ajudando-os a

superarem-se e a crescerem. Sem a sua gratuitidade, o exemplo da sua integridade, da sua

paixão pelo Desenho, da sua orientação firme e da sua amizade, não teria sido possível a

realização deste trabalho

Agradeço também a todo o Colégio de S. Tomás, de modo particular à Professora Ana

Douwens, por todo o seu apoio, amizade verdadeira e solicitude na leccionação desta unidade.

Um último agradecimento à Ir. Mafalda Leitão, pela ajuda, amizade e cuidado discretos

mas atentos, para que todo o trabalho investido chegasse a bom fim.

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1. Introdução

A Educação Visual desempenha um papel singular na formação do indivíduo,

introduzindo-o à cultura da humanidade ao longo dos tempos, e explorando faculdades e

sensibilidades essenciais na pessoa humana, pouco ou nada trabalhados em outras disciplinas.

Através do ensino artístico e da expressão plástica, a Educação Visual desenvolve a

sensibilidade do aluno às formas, cores, espaços e texturas do mundo, e a sua capacidade de

expressão.

Vivemos na era da tecnologia, da informação e da imagem. Actualmente os nossos

sentidos são continuamente convocados. O imediatismo da comunicação visual é amplamente

usado no seio da sociedade consumista para divulgar produtos ou ideias. A quantidade de

ofertas, a qualidade comunicativa e a capacidade de persuasão são grandes. Deste modo, hoje, a

visão tem um papel muito importante na relação do indivíduo com o mundo.

À disciplina de Educação Visual cabe a tarefa de instruir acerca dos mecanismos de

percepção e a literacia visual, de modo a educar o aluno na forma como ele usa a visão.

É necessário hoje que o indivíduo tenha uma visão alargada do mundo, das pessoas e

das suas diferentes manifestações, uma visão atenta aos pormenores, uma visão global capaz de

estabelecer relações entre as partes, uma visão crítica capaz de questionar a realidade envolvente

e inferir sentido, e um olhar estético, capaz de valorizar tudo o que o rodeia. Deste modo, a

Educação Visual colabora no desenvolvimento integral da pessoa.

Consciente desta responsabilidade, na unidade aqui relatada, o âmbito do Desenho foi

escolhido como principal instrumento de ensino-aprendizagem – concretamente, o desenho de

representação por observação directa.

A unidade de ensino-aprendizagem foi leccionada no Colégio de S. Tomás, à turma B

do 8º ano, entre 26 de Fevereiro e 11 de Junho de 2010, sob a supervisão da professora Sara

Velasco.

O trabalho desenvolvido partiu de uma questão: “De que modo é que o Desenho

contribui para o desenvolvimento cognitivo do aluno?”

O conhecimento prévio dos alunos (os seus temperamentos, interesses, desempenho

académico), do seu percurso de aprendizagem na disciplina de Educação Visual, e a perspectiva

de Betty Edwards (2008), Viktor Lowenfeld e W. Lambert Brittain (1977) sobre a

aprendizagem do Desenho ditou a escolha das estratégias de ensino-aprendizagem a

implementar. Optou-se pelo modelo da aprendizagem por descoberta, de modo a que, por meio

da investigação, verificação, análise e aplicação, o aluno realizasse uma aprendizagem

significativa. O conhecimento da planificação anual da disciplina, do espaço do colégio e do

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meio circundante, orientaram a escolha do tema, dos conteúdos, dos materiais e dos

procedimentos. Procurou-se promover a variedade para favorecer a motivação dos alunos.

A planificação pretendeu conduzir o olhar dos alunos do próximo para o longínquo, do

particular para geral, e de uma escala pequena para uma escala grande. A vegetação e a

paisagem enquanto referentes, foram trabalhados em registos feitos na sala de aula, no espaço

do colégio e no espaço exterior ao colégio. Realizam-se abordagens a nível bi e tridimensional,

desenho de representação, trabalhos de corte e colagem, modelagem de papel, uso do lápis de

grafite, aguada e pincéis.

A estrutura deste relatório é composta por três partes. A primeira é introdutória e

pretende enquadrar a unidade a nível teórico. Procurou-se fazer uma caracterização da

sociedade actual, do sistema de ensino em geral e do currículo nacional vigente, de modelos de

aprendizagem, da escola específica onde se leccionou a unidade curricular, da turma e dos

alunos aos quais foi dirigida a unidade.

A segunda parte é dedicada à descrição da unidade curricular propriamente dita: as

estratégias escolhidas e a sua pertinência, a descrição da planificação e dos exercícios, a

enumeração dos meios, o relato das aulas e a avaliação das aprendizagens.

A terceira parte diz respeito à avaliação da unidade, relativamente aos objectivos

alcançados, às aprendizagens feitas pelos alunos e ao contributo que representa relativamente a

um maior conhecimento sobre a adolescência e o ensino do desenho, no âmbito da Educação

Visual.

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2. Enquadramento da unidade leccionada

2.1. Um olhar sobre a sociedade actual

Stephan Bertman (1998) na sua obra Hipercultura – O preço da pressa utiliza a expressão

pressa perversora para designar o tempo em que vivemos. Na actualidade, a sociedade

ocidental, bisneta da Revolução Industrial, vive as consequências de um enorme

desenvolvimento tecnológico e sua distribuição em massa. Esta sociedade sincrónica, apoiada

numa rede electrónica de comunicações instantâneas, vive em função da mudança: acompanhar

a mudança e levar à mudança (tecnológica, científica, filosófica, artística, de tradições, de

hábitos, de paradigma). A velocidade das operações tecnológicas transpôs-se para o ritmo da

vida humana. A pressa perversora é movida pela força do agora, à qual não interessa a

memória e o passado, mas o instante presente, os momentos deslumbrantes que se sucedem uns

aos outros. A tendência é substituir a memória pelas sensações, a reflexão pelos impulsos, a

permanência pela transitoriedade, o longo prazo pelo curto prazo. O excesso de estímulos

emitidos pela superabundância tecnológica e comunicacional torna mais difícil ao indivíduo

distinguir o importante do secundário. Este excesso pode conduzir ao absentismo psicológico,

evitando a responsabilidade de decidir, e alienando-se na satisfação sensual em substituição do

exercício intelectual. A paciência, o auto-domínio, o tempo para a reflexão e o esforço

empregue por outra coisa que não as materiais e a satisfação momentânea do prazer são pouco

populares. O marketing e a publicidade tiram partido desta supremacia dos sentidos, que

favorece a subversão da razão, e reforça uma sociedade consumista irreflexiva. No entanto, é

sobejamente sabido que a humanidade, para desenvolver-se e continuar enquanto civilização,

necessita de capacidade auto-crítica.

A esta sociedade sincrónica, acrescente-se o pluralismo e o relativismo. A grande facilidade

de comunicação possibilitou um aumento nunca antes imaginado de trocas e interacções

humanas, conduzindo ao fenómeno da globalização. A facilidade de deslocação permitiu um

aumento da migração e imigração. Consequentemente, a sociedade tornou-se mais heterogénea.

A nova diversidade acarreta, por um lado, uma maior riqueza cultural, de conhecimentos, de

modos de estar e entender a vida. Por outro, conduz a uma difusão da própria identidade, ligada

ao conhecimento e valorização do património histórico e cultural de origem, e preservação das

suas tradições e hábitos. A coexistência de valores culturais, humanos, éticos, morais, religiosos

e formas de entendimento da vida diferentes e até antagónicos, conduz muitas vezes a um

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relativismo de valores. A oposição entre valor e anti-valor dissolve-se. Tendencialmente, valor e

anti-valor passam a ser considerados com o mesmo nível de validade e importância. A difusão

da memória e a apatia reflexiva gerada pela pressa e pela overdose de estímulos, conduzem

frequentemente a uma crise identitária, dentro da multiculturalidade da sociedade pós-moderna

(Gervilla, 1993).

Segundo Viktor Lowenfeld e W. Lambert Brittain (1977), na sua obra Desenvolvimento

da Capacidade Criadora, o homem contemporâneo, herdeiro da sociedade industrializada,

participa cada vez menos na construção do mundo. Enquanto nas sociedades pré-modernas ou

rurais o homem cultivava os próprios alimentos, construía a própria casa, cosia a própria roupa e

fabricava as próprias ferramentas, e fazia a própria arte, hoje o homem encontra os bens prontos

para consumo. Se por um lado, o desenvolvimento tecnológico proporciona um maior bem-estar

material e o acesso à informação de um maior número de pessoas (como nunca antes visto),

também é verdade que ele transformou o indivíduo num tendencial consumidor passivo e pouco

interveniente. Para Lowenfeld e Brittain (1977) a razão reside no facto de, desde a infância, o

homem actual ter sido privado do contacto e envolvimento com o meio natural. Através do

contacto físico e manual, o indivíduo aprende, interage, escolhe, cria e expressa-se no que

produz. A privação deste contacto cria no indivíduo um desequilíbrio que contribui para esta

difusão identitária.

.

2.2. A Escola e o Currículo Nacional

A escola tal como a concebemos (sistema de educação dirigido a uma colectividade de

alunos) nasce com a Era Moderna. Ela está ligada à racionalidade, aos ideais liberais (liberdade,

igualdade e prosperidade) e, portanto, à emergência do Estado Moderno, e está intimamente

associada à ideia da possibilidade de mudança (transformação do homem e da sociedade). Esta

ideia, por sua vez, assenta no paradigma positivista – fé no poder da razão (Nóvoa, 1994). A

criação de um sistema público e formal de educação visa, desde o séc. XVIII a socialização dos

jovens, isto é, a inculturação das normas culturais vigentes ou desejáveis, para uma manutenção

da ordem social e para a promoção do desenvolvimento (Barroso, 1995). Uma vez à tutela do

Estado, podemos concluir e compreender que a escola é um instrumento não só para a promoção

do indivíduo, mas também para a agregação da nação, pela uniformização dos conteúdos e pela

divulgação da ideologia política (Barroso, 1995).

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Actualmente, a escola confronta-se com uma realidade plural. A democratização do

ensino abrange a maior pluralidade de valores culturais, humanos, éticos, morais, religiosos e

formas de entendimento da vida, desde sempre.

O Estado continua consciente de que a escola é um poderoso veículo para a edificação

da sociedade de amanhã e, deste modo, dita as orientações em ordem à modulação do cidadão

ideal. O Currículo Nacional do Ensino Básico português (DEB, 2001) baseia-se em orientações

decretadas pelos estados membros da União Europeia. O currículo tem em vista a formação do

cidadão europeu, em resposta às circunstâncias sociais e económicas presentes, visando a

prosperidade futura dos países. Segundo a recomendação do Parlamento Europeu e o Conselho

(2006), a prosperidade dos estados depende do desenvolvimento pleno e integral do ser humano.

Neste sentido, de acordo com a Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei nº 49/2005 de

30 de Agosto) e a Proposta Global para a Reforma do Sistema Educativo (1988), o sistema de

ensino português tem como principal finalidade contribuir para o pleno e harmonioso

desenvolvimento pessoal do aluno, o progresso social e a democratização da sociedade.

Podemos dizer, portanto, que tem uma finalidade humanista, social e democrata. O Currículo

Nacional do Ensino Básico (DEB, 2001) tem por referência valores e princípios indicados pela

Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei nº 49/2005 de 30 de Agosto) como bons e

necessários para a dignidade do indivíduo, e para a construção de uma vida pessoal e

comunitária de qualidade:

A construção e tomada de consciência da identidade pessoal e social;

A participação na vida cívica de forma livre, responsável, solidária e crítica;

O respeito e valorização da diversidade dos indivíduos e dos grupos, quanto às suas

pertenças e opções;

A valorização de diferentes formas de conhecimento, comunicação e expressão;

O desenvolvimento do sentido de apreciação estética do mundo;

O desenvolvimento da curiosidade intelectual, do gosto pelo saber, pelo trabalho e pelo

estudo;

A construção de uma consciência ecológica conducente à valorização e preservação do

património natural e cultural;

A valorização das dimensões relacionais da aprendizagem e dos princípios éticos que

regulam o relacionamento com o saber e com os outros.

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A Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei nº 49/2005 de 30 de Agosto) expressa

como objectivo uma educação para a liberdade, para a autonomia, para a democracia, para o

desenvolvimento, para a solidariedade e para a mudança.

Respeitando a diferença e a personalidade individual de cada aluno, o sistema de ensino

deve procurar a formação do carácter, fomentar a cidadania, prepará-lo para uma reflexão

consciente sobre os valores espirituais, morais, cívicos e estéticos, contribuindo assim para a

plena realização da sua personalidade. O projecto educativo e pedagógico global tem como ideal

formar um homem livre, cognitiva e afectivamente autónomo, respeitador da autonomia dos

outros, responsável, solidário, possuidor de um espírito democrático e pluralista, crítico e

criativo, preparado e aberto ao diálogo, ao amor e à colaboração, com capacidade de trabalhar e

inserir-se adequadamente na vida activa, numa ocupação pertinente para a sociedade, e

simultaneamente flexível para adaptar-se a um mundo em constante mudança. Hoje, mais do

que nunca, é valorizada, apoiada e publicitada uma aprendizagem ao longo da vida.

Preocupados com a situação social, económica e científica actual, o Parlamento

Europeu e o Conselho da União Europeia (2006) definiram oito competências essenciais a ter

em conta na educação e a serem trabalhadas a nível interdisciplinar, sempre que possível, de

modo a preparar o aluno para o futuro. As oito competências estabelecidas são as seguintes:

1. Comunicação na língua materna;

2. Comunicação em línguas estrangeiras;

3. Competência matemática e competências básicas em ciências;

4. Competência digital;

5. Aprender a aprender;

6. Competências sociais e cívicas;

7. Espírito de iniciativa e espírito empresarial;

8. Sensibilidade e expressão culturais.

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2.3. Competências Essenciais e orientações programáticas da disciplina de Educação Visual

A Educação Artística é uma componente importante do currículo do Ensino Básico, na

medida em que contribui para o desenvolvimento dos princípios, valores e competências atrás

enunciados. A disciplina de Educação Visual:

proporciona um conhecimento e apreço pelo património cultural da humanidade;

promove o desenvolvimento integral do aluno,;

mobiliza a interacção de múltiplas inteligências, capacidades e conhecimentos;

permite conhecer e afirmar a singularidade de cada um, promovendo a sua

expressão;

proporciona ao indivíduo a oportunidade de desenvolver a personalidade de uma

forma autónoma e crítica, através do processo criativo;

constitui um terreno de partilha individual e colectivo, levando os alunos ao

conhecimento mútuo e ao respeito pela diversidade;

e implica uma constante procura de actualização, uma vez que a literacia em artes é

um processo sempre inacabado (DEB, 2001).

Por sua vez, a literacia em artes implica quatro competências: o desenvolvimento da

criatividade; a apropriação das linguagens elementares das artes; a compreensão das artes no

contexto e o desenvolvimento da capacidade de expressão e comunicação.

As competências a desenvolver em Educação Visual podem agrupar-se em três conjuntos

gerais:

Fruição-contemplação: diz respeito ao conhecimento do património artístico, cultural e

natural e reconhecimento da sua importância e à identificação e relação entre diferentes

manifestações artísticas.

Produção-criação: diz respeito à realização plástica, utilizando diferentes meios

expressivos de representação e elementos formais, recorrendo a tecnologias da imagem.

Pressupõe a interpretação dos significados expressivos e comunicativos das Artes

Visuais.

Reflexão-interpretação: diz respeito ao conhecimento de conceitos e terminologias das

Artes Visuais, à compreensão e análise crítica das mensagens visuais, ao

desenvolvimento do sentido de apreciação estética e ao reconhecimento da permanente

necessidade de desenvolver a criatividade (DEB, 2001).

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Estas competências cruzam-se com outras que têm a ver com a comunicação visual e os

elementos da forma. Existe uma sequencialidade entre as aprendizagens obtidas no 2º ciclo e as

previstas para o 3º ciclo (ver Anexo I). De acordo com a proposta de actualização feita ao

programa da disciplina, os conteúdos a leccionar ao longo do 3º ciclo dizem respeito a cinco

domínios, conforme indicado na tabela seguinte (DEB, 2007):

CONTEÚDOS

GERAIS

CONTEÚDOS ESPECÍFICOS

COMUNICAÇÃO

Elementos visuais na comunicação

Códigos da comunicação visual

Papel da imagem na comunicação

ESPAÇO

Representação do Espaço

- Sobreposição, dimensão, cor, claro-escuro, gradação de

nitidez

- Vistas: cubo envolvente, sistema europeu

- Perspectiva de observação (livre e rigorosa)

- Axonometrias

Relação Homem – Espaço

ESTRUTURA

Estrutura/Forma/Função

- Estruturas naturais

- Estruturas criadas pelo homem

- Ritmo de crescimento

Módulo/ Padrão

FORMA

Percepção Visual da Forma

- Qualidades Formais

- Qualidades Geométricas

- Qualidades Expressivas

Factores que determinam a forma dos objectos

- Fisicos:

- Económicos

- Funcionais

- Estéticos

Representação técnica de objectos

- Dupla projecção ortogonal

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LUZ/ COR

A luz-cor no ambiente

Conhecimentos científicos

- Espectro luminoso

- Absorção e reflexão selectivas. Globo ocular

- Cor-Luz = síntese aditiva

- Cor-Pigmento = síntese subtractiva

- Cores primárias e secundárias da síntese aditiva

- Cores primárias e secundárias da síntese subtractiva

- Cores complementares/contrastantes

- Aplicações das sínteses aditiva e subtractiva

Tabela 1- Conteúdos do Programa de Educação Visual

O currículo contempla a aprendizagem do desenho em diversas facetas, explorações

plásticas bi e tridimensionais e o uso de tecnologias da imagem (DEB, 2001). Uma vez que o

currículo de Educação Visual é bastante vasto e abrangente, cabe ao professor conceber um

programa que permita a aquisição das competências a partir dos meios que a escola e o meio

envolvente possuem. A proposta frisa que o programa de conteúdos é de gestão flexível. A sua

articulação, deixada à responsabilidade do professor, deve obedecer a uma sequência encadeada

que favoreça a aprendizagem dos alunos. Também é indicado pela proposta que o Desenho,

enquanto exercício fundamental de toda a linguagem plástica e ferramenta essencial na

estruturação do pensamento, deve ser desenvolvido de forma sistemática. Uma vez que no plano

curricular nacional vigente para o 3º Ciclo do Ensino Básico, a disciplina de Educação Visual é

obrigatória apenas até ao 8º ano, o Ministério da Educação (2007) propõe que até ao final desse

ano sejam leccionadas as matérias essenciais da disciplina (indicadas no respectivo documento).

No 3º Ciclo do Ensino Básico, entre as várias formas de expressão plástica a serem

desenvolvidas para a aquisição das competências acima referidas, o Currículo Nacional do

Ensino Básico (DEB, 2001) atribui um lugar de destaque ao Desenho. Ele deve ser abordado em

várias vertentes:

O desenho enquanto atitude expressiva, apoiado pela visualização e interpretação

de obras de arte e conhecimento e compreensão dos processos estéticos e físicos

inerentes à sua produção. Neste âmbito dever-se-á promover a experimentação, a

comunicação de sentimentos, emoções, sensações e interpretações através do

emprego de instrumentos e meios que melhor se adeqúem às capacidades

expressivas do aluno.

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O desenho projectual ou de metodologia, que sirva para planear, inventar, prever,

calcular e expressar pensamentos e ideias. Neste âmbito devem ser usados

materiais riscadores (lápis, canetas de vários tipos) sobre diferentes suportes, na

realização de esboços, registos rápidos, guiões visuais e/ ou outras

experimentações ou ensaios. Devem ser visualizados esboços e estudos de

arquitectos, designers e artistas plásticos.

O desenho como instrumento para a construção rigorosa de formas, obedecendo a

códigos convencionados. É um tipo de desenho técnico, rigoroso e preciso,

implicando o cálculo de medidas, escalas e cotas. Com eles os alunos aprenderão a

ler cortes, alçados, a terem noções de ergonomia e antropometria. Devem mostrar-

se projectos de arquitectos, de design e engenharia.

O desenho que sintetiza esquematicamente informação, em gráficos,

organogramas, esquemas e diagramas. Estes devem ser visualizados.

O desenho de registo de observações, implicando descrições gráficas, cromáticas,

texturais e formais. Devem ser mostrados como exemplos ilustrações científicas e

trabalhos de artistas plásticos que recorram a este tipo de registo.

Para aqueles que prosseguem para uma área artística ao nível do Ensino Secundário, a

Educação Visual deve preparar o aluno convenientemente para que ele possa continuar a sua

formação na disciplina de Desenho A. O programa de Desenho A para o 10º ano (Ramos, Paulo,

Barros e Reis, 2001) e 11º e 12º anos de escolaridade (Ramos, Paulo, Barros e Reis, 2002)

propõe três áreas de exploração para que o desenho se torne um exercício consequente e eficaz:

a percepção visual, a expressão gráfica e a comunicação..

2.4. A adolescência

2.4.1. Características físicas e afectivas

Erik Erikson designa adolescência como a fase de desenvolvimento humano

compreendida entre os 13 anos e a idade de entrada no ensino superior (18 anos). É o período de

crescimento humano em que ocorrem mais mudanças fundamentais. Dão-se alterações a nível

fisiológico, glandular, psicológico e cognitivo. O adolescente começa a desenvolver a

importante capacidade de compreender sentimentos e emoções em relação a si próprio e em

relação aos outros. Distingue significado simbólico de significado literal e consegue dar

significado à própria experiência. Há uma procura de sentido das coisas e uma busca da sua

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própria identidade. É de extrema importância que o adolescente construa com solidez os

alicerces da sua personalidade. Caso contrário, o indivíduo pode sofrer para sempre de uma

identidade difusa (Sprinthall e Sprinthall, 1993)

Interessa-nos olhar com mais proximidade a fase entre os 12 e os 14 anos. Esta é a idade

mais inquietante. É a idade da puberdade. A nível físico, começam-se a desenvolver

características de amadurecimento sexual, primeiramente nas raparigas e mais tarde nos rapazes.

Por parte do adolescente, há uma grande preocupação com a opinião que os pares têm a seu

respeito (sobre a sua aparência, o que diz, o que pensa, sobre o que faz, etc.) (Lowenfeld e

Brittain, 1977). Segundo a hierarquia das necessidades de Abraham Maslow (Sprinthall e

Sprinthall, 1993), podemos induzir que o adolescente encontra-se claramente diante da

necessidade de afeição, afiliação do grupo e aceitação pessoal. A sua consciência crítica

aumenta e torna-o muito crítico em relação a si próprio. A busca da identidade pessoal, e do

papel que ocupará na vida, leva-o a procurar uma autonomia dos pais e do adulto. Ele tem a

consciência que já não é criança, mas que ainda não é adulto. O adolescente ainda não tem

domínio completo sobre os seus sentimentos e emoções. Por vezes uma situação insignificante

para um adulto pode ter extrema relevância para o adolescente (Lowenfeld e Brittain, 1977).

2.4.2. Características cognitivas segundo Piaget

Todos os estádios de desenvolvimento cognitivo definidos por Jean Piaget são

qualitativamente diferentes entre si. Cada um representa uma transformação no modo de

processar o pensamento e sequencialmente, cada um significa um avanço em relação ao

conhecimento, comparativamente ao estádio anterior. Os quatro estádios principais

determinados por Piaget são: o Sensório-Motor (entre o nascimento e os 2 anos de idade) é o

mais elementar de todos os estádios, em que dá-se o desabrochar da actividade intelectual

através da interacção e experiência directa e sensível com o meio envolvente; no Pré-

Operatório (dos 2 aos 7 anos) a criança inicia o pensamento simbólico, e tem grande capacidade

imaginativa; o das Operações Concretas (dos 7 aos 11 anos) é marcado por uma capacidade de

compreensão factual, concreta, funcional e lógica das situações, em que as crianças são mais

cautelosas com o rigor verificável empiricamente; o Estádio das Operações Formais é aquele

que mais claramente se diferencia do pensamento infantil. Ocorre entre os 11 e os 17 anos. Em

relação ao estádio anterior, caracteriza-se por um crescimento da capacidade de pensamento

racional e abstracto, das operações lógico-formais e de generalizar conclusões a situações

semelhantes. O jovem faz a descoberta do poder da razão, através da qual passa a relacionar-se

com a realidade. É também através da razão que o jovem descobre o mundo das ideias e, por sua

vez, da possibilidade, ou seja, da hipótese teórica sobre o real. Isto permite-lhe organizar,

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compreender, construir significado sobre o real e escolher. Deseja verificar a correspondência

entre a hipótese e a realidade. Isto significa uma maior capacidade para examinar os dados e

chegar a uma conclusão lógica. Dá-se um alargamento do pensamento (metacognição): o

indivíduo torna-se capaz de pensar sobre o seu próprio modo de pensar, toma consciência da

forma como conhece e aprende, é capaz de uma auto-reflexão e de um alargamento da

imaginação que permite testar ideias mentalmente. Este alargamento estende-se à compreensão

de outros pontos de vista e de formas de pensamento distintas da sua (pensamento

perspectivista) (Sprinthall e Sprinthall, 1993).

Contudo, a correspondência entre as idades referidas e os estádios é meramente

indicativa. Factores culturais podem condicionar o período de duração de um determinado

estádio. Em cada um há características do estádio anterior e do estádio posterior. Num grupo de

adolescentes da mesma idade, pode haver variações quanto ao desenvolvimento cognitivo de

cada um (Sprinthall e Sprinthall, 1993). Assim sendo, uma vez que a unidade curricular destina-

se a alunos no 8º ano do Ensino Básico, há a reter que os alunos estão a iniciar a adolescência, e

portanto, as qualidades e capacidades do Estádio das Operações Formais começam a ganhar

forma, mas ainda não estão dominadas. Simultaneamente, os adolescentes ainda têm algumas

características do estádio das Operações Concretas. Embora tenham uma capacidade de

abstracção e raciocínio lógico maior, eles ainda não são adultos e a sua compreensão precisa

frequentemente de referências e de verificação empíricas1.

2.4.3. Características ao nível do desenho e expressão plástica

Lowenfeld e Brittain (1977) descrevem as fases de evolução do desenho ao longo das várias

etapas de crescimento da criança, definindo também alguns estádios: Estádio das Garatujas (2

aos 4 anos), em que a criança executa traços desordenados; o Estádio Pré-Esquemático (4 aos 7

anos), em que se realizam as primeiras tentativas de representação, mas ainda de forma muito

simples, esquematizada e desordenada; o Estádio Esquemático (7 aos 9 anos) em que a criança

adquire um conceito definido de forma, mas a sua expressão é esquemática e simbólica; o

Estádio do Realismo Nascente (9 aos 12 anos) em que a criança começa a preocupar-se com as

proporções, a noção de profundidade e pormenores que farão os seus desenhos remeterem para

a aparência das coisas no meio envolvente. O início da adolescência corresponde ao Estádio

Pseudonaturalista. O desenvolvimento do raciocínio e o espírito crítico emergente têm como

consequência uma atenção maior aos pormenores e características específicas dos objectos que

1 Conclusão da observação directa do comportamento dos alunos do 8º B do Colégio de S. Tomás, durante o estágio supervisionado, no âmbito da disciplina de Introdução à Prática Profissional III.

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desenham (no caso da figura humana, das características sexuais). Fazem bandas desenhadas e

representações “anedóticas”. Contudo, os desenhos são feitos frequentemente às escondidas. Há

uma resistência em mostrar as suas produções aos outros. A expressão espontânea e desinibida

da infância, normalmente, desaparece. O adolescente agora tem maior consciência de si e das

suas limitações perante os adultos e os seus pares, e isto condiciona em grande parte a sua

expressão. Ele torna-se crítico e severo com as suas próprias produções. Deseja deixar para trás

a expressão infantil e aproximar-se da do adulto. Contudo, como ainda não é adulto, cai na

frustração e esta, por sua vez, pode levá-lo à desilusão e ao desânimo. Muitos abandonam o

desenho nesta fase.

Howard Gardner (1982) defende que, se ao entrar na adolescência, o aluno não estiver na

posse de competências técnicas e artísticas para fazer face a essa consciência crítica, ele poderá

afastar-se e perder toda a ligação com o mundo da expressão plástica e da arte. Gardner (1982)

identifica o início da vida escolar com uma etapa em que as crianças buscam as regras e

convenções e começam a tender para conformarem as suas acções com elas, tanto graficamente,

com uma crescente simbolização e codificação da realidade, como nas suas brincadeiras. O

autor identifica uma altura em que as “crianças” limitam o seu esforço gráfico à cópia fiel das

formas que os envolvem, enquanto outros deixam de desenhar. Constata-se que os adolescentes

revelam uma exigência pelo realismo nas Artes Visuais - o desejo do desenho parecer-se com o

real. Existe, de facto, uma tentativa de naturalismo, isto é, de fixar a aparência fotográfica e

objectiva das situações e um reconhecimento crescente do valor do produto final. Gardner

(1982) define esta fase por literalidade e defende que, embora aparentemente empobrecida ao

nível da criatividade, esta pode ser uma fase crucial de desenvolvimento: o momento de

domínio de leis.

O período que antecede a adolescência propriamente dita é o período sensível durante o

qual o autor refere que as competências devem ser convenientemente adquiridas para, em

seguida, o adolescente poder lançar-se na criatividade de uma forma consciente e segura

(Gardner, 1982).

Segundo Lowenfeld e Brittain (1977), será bom o professor atender às necessidades e

preocupações dos alunos em relação à expressão plástica, ter em conta a importância do aspecto

final, gratificante da produção e, sobretudo, ajudar o aluno a encontrar o seu tipo de expressão

individual através do trabalho.

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2.5. Teorias e modelos de aprendizagem

Existem tantas teorias e métodos de aprendizagem, quantas as perspectivas do

desenvolvimento humano. Caberá ao professor conhecê-las e aplicar as que mais se adequam às

características dos alunos, em cada tempo e lugar.

A visão de Jerome Bruner, David Ausubel, Albert Bandura, Joseph Nuttin e David

McClelland têm aspectos que podemos considerar muito pertinentes para o ensino-

aprendizagem na disciplina de Educação Visual, face à sociedade actual - plural e de fácil

acesso a uma grande quantidade de informação - e face às características psicológicas dos

adolescentes destinatários da unidade curricular apresentada neste trabalho.

Jerome Bruner ficou conhecido pela sua perspectiva cognitivista-gestaltista da

aprendizagem. Ele definiu alguns princípios fundamentais a ter em conta para um ensino e um

processo de aprendizagem eficaz: a motivação, a estrutura, a sequência e a aprendizagem por

descoberta.

Em relação à motivação do aluno, Bruner salienta não só a sua importância para a

aprendizagem como também a importância do papel que o professor tem a desempenhar na sua

activação e orientação. A estrutura diz respeito ao modo de apresentação dos conteúdos, cuja

forma e complexidade devem ser adequadas ao nível de compreensão e capacidade de

concentração dos alunos. Bruner indica como preferível o uso de representações icónicas em

vez de verbais e uma economia de apresentação centrada no essencial. Segundo o autor, os

alunos apreenderão melhor uma apresentação com menos informação e que aparente ser

simples, do que uma apresentação extensa e complexa. A aprendizagem também será mais fácil

e tornar-se-á mais sólida, se o ensino dos conteúdos seguir uma sequência lógica e encadeada,

respeitando aquilo que o autor acredita ser a ordem de desenvolvimento intelectual humano

(baseado na teoria cognitiva piagetiana): representação motora - icónica – simbólica. Por fim, a

aprendizagem por descoberta é aquela que Bruner diz permitir ao aluno fazer aprendizagens

mais sólidas e duradouras, comparativamente à memorização, uma vez que ele percorre, ao seu

ritmo, o caminho entre a pergunta e o discernimento da resposta (insight).

Este modelo implica o uso da própria inteligência e desenvolve o pensamento criativo. No

final promove sentimentos de auto-estima por parte do aluno (Sprinthall e Sprinthall, 1993;

Santrock, 2008).

David Ausubel defende que o aluno também deve ser o construtor principal da sua

aprendizagem, o protagonista da acção educativa. Ausubel define dois tipos de aprendizagem

antagónicos quanto à forma de aquisição de conhecimento: aprendizagem por recepção, em que

o aluno é um actor passivo que apenas recebe a informação facultada pelo professor, e a

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aprendizagem por descoberta, em que o professor não faculta os conteúdos, mas antes incita e

acompanha o aluno num movimento de procura e descoberta do conhecimento.

Neste último caso, o novo saber é uma conquista. Em relação à integração deste novo saber

por parte do aluno, o autor também distingue duas formas. A aprendizagem mecânica designa

um tipo de aprendizagem em que não existe um compromisso para relacionar novos

conhecimentos com outros prévios que o aluno possua e, portanto, a nova informação não

encontra na estrutura cognitiva do aluno conceitos de ligação. A incorporação do novo

conhecimento é arbitrária e literal. A aprendizagem significativa, designa um tipo de

incorporação não-arbitrária e não-literal do novo conhecimento. Acontece quando a nova

informação relaciona-se com algum aspecto relevante na estrutura cognitiva do aluno, dando-se

a assimilação do novo saber.

Uma aprendizagem nunca poderá ser significativa se não houver bases onde ancorar os

novos dados dentro do indivíduo. Portanto, para sê-lo, Ausubel defende que o professor deve

estruturar o ensino de um modo sequencial e construtivo, através de mapas conceptuais

(conceitos, teorias, princípios). Ausubel designa por subsunçor o conceito que o indivíduo já

possui e que serve de âncora a um nova informação. A aprendizagem será tanto mais fácil e

eficaz se o aluno for capaz de estabelecer relação entre algo novo e algo que já possui ou sabe.

Assim a nova aprendizagem ganha sentido.

A aprendizagem por recepção tanto pode ser mecânica como significativa. Do mesmo

modo a aprendizagem por descoberta não é necessariamente significativa. Tudo depende se a

nova aprendizagem estabelece uma relação com conhecimentos anteriores.

Seja qual for a metodologia adoptada, Ausubel refere ser preferível a utilização do

pensamento indutivo (parte dos factos para os conceitos) ao dedutivo (Santrock, 2008).

Albert Bandura é o autor da teoria Cognitivo-Social, baseado num Modelo de

Determinismo Recíproco, segundo o qual comportamento, ambiente e pessoa/cognição

influenciam-se mutuamente na aprendizagem (Santrock, 2008). A pessoa/cognição é o elemento

a que Bandura dá mais importância, estando na base da sua teoria mais recente sobre auto-

eficácia na aprendizagem. O autor salienta a importância da aprendizagem por observação de

um modelo (vicariante), verificada na sua experiência da Bobo Doll2. Assim, também está

comprovada a importância do papel do modelo na aprendizagem. Este tem sobre si a

responsabilidade de desenvolver em aspectos que captem a atenção do aluno (se o modelo for

caloroso, alguém com poder ou liderança e for atípico, mais facilmente captará a atenção do

2 Experiência em que Bandura expôs três grupos de crianças entre os três e os seis anos a um filme que mostrava o comportamento agressivo de adultos em relação a um boneco insuflável (Bobo Doll). Em cada um dos três filmes, o comportamento dos adultos era recompensado, punido ou deixado sem consequência. Após a visualização do filme, as crianças foram colocadas numa sala com diferentes brinquedos, entre os quais, um boneco insuflável. Bandura verificou que as crianças que viram o filme em que o adulto fora recompensado ou deixado impune pelo comportamento agressivo, passaram a agir muito agressivamente relativamente ao boneco insuflável, imitando o comportamento visto.

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aluno), de elaborar estratégias que promovam a retenção da informação (utilizar imagens fortes,

descrição verbal e codificar a informação) e a produção do comportamento observado (treino

para melhorar o desempenho do aluno, e levá-lo a repetir o comportamento), e desenvolver a

motivação do aluno (reforço), incentivando-o à imitação do comportamento desejado. No

entanto, ele aponta quatro possibilidades: premiar o modelo, premiar o aluno, educar o aluno a

fazer afirmações auto-reforcivas, mostrar como um comportamento pode conduzir a um

resultado de reforço.

A motivação para a interiorização e reprodução de um dado comportamento, segundo

Bandura, é de ordem social. O autor acentua assim a importância da aprendizagem em

sociedade (o professor, os colegas, outros adultos, personagens da ficção televisiva são

potenciais modelos de comportamento). O meio em que o indivíduo está inserido, o

comportamento e a sua cognição são factores que influenciam a sua aprendizagem. A

constatação deste facto leva o professor a ser mais responsável em relação às suas próprias

atitudes e ao ambiente que proporciona, uma vez que ele é um modelo educacional. (Sprinthall e

Sprinthall, 1993)

Segundo Bandura, Bruner e Ausubel, o professor deve facultar ao aluno os instrumentos

e os meios, mas deve deixá-lo fazer a aprendizagem por si. Este processo é mais demorado, mas

conduz a uma aprendizagem mais sólida, feita ao ritmo de cada indivíduo e à aquisição de uma

metodologia própria (autonomia). Em última análise, também produz alunos mais satisfeitos,

pois a descoberta do conhecimento e o alcance de um objectivo traçado por si próprio é auto-

reforçante, auto-motivante e leva à auto-realização.

2.6. O papel da motivação na aprendizagem

Quando falamos em motivação, nunca podemos pôr de lado as necessidades e desejos

do ser humano a diversos níveis. Na referida hierarquia de Maslow, o autor e psicólogo ordenou

as necessidades humanas, desde a sobrevivência material à plena realização do indivíduo

(Sprinthall e Sprinthall, 1993). De acordo com o significado etimológico da palavra, a

motivação pressupõe um défice que gera um impulso energético (acção) em direcção à

satisfação da necessidade. A publicidade e os meios de comunicação de massas de que somos

alvo, procuram modelar as nossas necessidades, criando porventura necessidades inexistentes

(falsas), levando-nos a aderir a uma ideia ou a comprar um determinado produto. Portanto, a

motivação não é desligada da percepção e da aprendizagem (Sprinthall e Sprinthall, 1993). Um

adolescente europeu citadino, poderá ter motivações distintas de um adolescente que venha dum

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meio rural em determinado ponto da Europa, África, Ásia, Médio Oriente, etc., e que desde

sempre lidou com a agricultura.

A crítica feita ao condicionamento clássico de Skinner, baseado na concepção do

comportamento e da aprendizagem humana enquanto resposta a um estímulo, aponta para a

exterioridade dos meios. O reforço, que através de um prémio, um reconhecimento gratificante

ou do emprego de qualquer outro meio externo visa estimular a ocorrência de um dado

comportamento, ou o castigo, que através de um meio externo indesejável pretende eliminar um

dado comportamento, podem criar a dependência ou a inibição dos alunos (Sprinthall e

Sprinthall, 1993), em vez de centrá-los numa adesão gratuita aos conteúdos e à aprendizagem

em si.

Contudo, vários autores, como Jerome Bruner, reconhecem a utilidade do reforço e do

castigo enquanto orientadores do comportamento (iniciar ou repetir) e enquanto dados

retroactivos importantes para o sucesso da aprendizagem do aluno. O reforço e o castigo

funcionam como motivação extrínseca. Mas a motivação que conduz a uma maior realização do

aluno e a uma aprendizagem mais autêntica é a motivação intrínseca (Sprinthall e Sprinthall,

1993, p. 507). Nela, o indivíduo, movido por uma razão interior, encontra gozo no próprio

processo de aprendizagem, sem ter em vista qualquer outra finalidade ou recompensa fora dela.

Bruner aponta três fases estratégicas para suscitar a motivação intrínseca no aluno: a activação,

pela criação de um certo grau de incerteza e desafio que active no aluno a vontade e necessidade

de exploração; a manutenção, ou seja, a vigilância da tarefa exploratória por parte do professor

e a direcção do caminho exploratório (Sprinthall e Sprinthall, 1993) .

A Teoria da Motivação para a Realização de David McClelland (Santrock, 2008)

contempla os níveis mais elevados da pirâmide de Maslow sobre as necessidades e motivações,

apresentando razões interiores que movem a aprendizagem do indivíduo: o desejo de alcançar o

sucesso e a auto-realização ou o desejo de evitar o fracasso. O professor deve preocupar-se

sempre mais em promover a auto-realização do aluno do que em evitar o fracasso, pois o

primeiro gera sentimentos positivos e benéficos. Neste sentido, as expectativas do professor em

relação ao aluno influenciam a sua opinião acerca das suas próprias capacidades. A visão

positiva do aluno, tende a estimulá-lo na obtenção de melhores resultados (efeito de Pigmaleão).

O aluno só atinge este estrato da motivação na pirâmide de Maslow – a necessidade de

realização pessoal – uma vez satisfeitas as necessidades fisiológicas e as necessidades de afecto

e pertença. Portanto, o professor deve estar atento às verdadeiras necessidades dos seus alunos,

de modo a poder ajudá-lo a progredir em direcção a uma maior realização. Alunos que sofram

de graves necessidades materiais (fome, falta de condições de habitação, etc.) ou de problemas

afectivos, não sentirão o desejo de sucesso pessoal ou de aprender. Segundo a Teoria Relacional

de Joseph Nuttin (Santrock, 2008), o estudo do comportamento humano não pode ser isolado do

contexto de vida da cada pessoa, pois a forma como ela interage com o meio, são definidas

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pelas suas necessidades. É muito importante tomar em conta e promover relações internas e

externas do indivíduo com o meio.

Uma vez satisfeitas as necessidades de carácter mais básico, Nuttin aponta para um

indivíduo cujo comportamento é influenciado pelo pensamento e motivado, em última instância,

pelo desejo de desenvolvimento e crescimento pessoal. É um indivíduo que estabelece

objectivos para si próprio (em direcção a esse desejo de fundo), e é capaz de elaborar um plano

para alcançá-lo. No final do percurso, ele auto-avalia a eficácia do seu projecto e dos seus

comportamentos. Estamos perante um indivíduo autónomo, no que diz respeito à aprendizagem.

Este é o tipo ideal de aluno que integra as actividades propostas no seu esquema de

desenvolvimento pessoal, e é movido por uma motivação intrínseca.

No sentido de fomentar este tipo de motivação, o professor pode estimular os alunos

procurando que as actividades da aula se relacionem com temas que os interessem. A motivação

é tanto maior, quando mais próxima for a relação entre a actividade instrumental e o objectivo

pessoal. A dificuldade surge quando as turmas são demasiado grandes e heterogéneas para

abarcar os interesses de todos, e nem sempre é possível adequar os conteúdos programáticos aos

focos de interesse dos alunos (Santrock, 2008).

Segundo David MaClelland, um indivíduo com grande desenvolvimento pessoal, é

capaz de projectar os seus objectivos a longo prazo, e manter a sua motivação durante um

grande período de tempo, tendo em vista a concretização de um prémio distante mas, no seu

entender, mais compensador. As pequenas tarefas contingentes que tem entre o momento

presente e o alcance do objectivo, são vistas como etapas de um caminho (Santrock, 2008).

Enquanto professor e educador, aquele que ensina e se relaciona com alunos, deve

sempre promover uma motivação intrínseca da aprendizagem: o aluno deve ser movido pela

alegria da descoberta. É isto que constrói o ser humano e abre o seu entusiasmo para o mundo e

para a vida no presente e no futuro. A descoberta estimula e motiva uma nova aprendizagem.

Ensinar a adiar a satisfação, a desenvolver a paciência e persistência de um

comportamento, tendo em vista o alcance de um objectivo maior e de um prémio mais

duradouro, também é contribuir para a solidificação pessoal do indivíduo (Sandrock, 2008). O

professor pode e deve abrir-lhe os horizontes e levá-lo a acreditar que é possível ir sempre mais

longe, no desenvolvimento e empenho das suas capacidades.

2.7. A avaliação

Na sua obra Educação Hoje, Avaliação da Aprendizagem, Lucie Ribeiro (1991) aborda

a avaliação como uma atitude e um acto que deve ser constante ao longo de todo o processo de

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ensino e aprendizagem: antes da planificação, durante a execução das unidades de ensino

planeadas e posteriormente à execução dessas unidades.

Em ordem à concepção de um plano de ensino ou unidade, há que fazer um levantamento e

avaliação de dados relativos às necessidades de aprendizagem dos alunos. Estas necessidades

podem e devem entender-se de uma forma lata, tendo em conta o vasto universo do saber, as

necessidades da sociedade e o que será pertinente os alunos aprenderem mediante os seus

interesses, potencialidades e características pessoais. Seguidamente poderão formular-se

objectivos gerais e específicos de aprendizagem, e instrumentos de avaliação diagnóstica,

formativa e somativa em acordo com esses objectivos. O professor deve, então, conceber

unidades de ensino e organizá-los numa sequência de objectivos, de modo a facilitar a

aprendizagem. De acordo com esses objectivos, determinam-se métodos de ensino, meios e

materiais didácticos compatíveis com as possibilidades logísticas, económicas, regulamentares

locais e da escola. Neste ponto, a avaliação diagnóstica serve, essencialmente, para averiguar se

os alunos têm as competências e conhecimentos necessários (pré-requisitos) à unidade que vai

iniciar, sendo desnecessária se as unidades anteriores foram leccionadas pelo mesmo professor.

Este conhecerá os alunos e se estes estão em condições de iniciar a nova unidade. (Ribeiro,

1991)

A avaliação formativa tem lugar no decurso das unidades de ensino, com o objectivo de

verificar se a aprendizagem está a ocorrer conforme previsto, especialmente quanto aos

conteúdos e competências. Esta avaliação permite verificar a aprendizagem em pormenor. Ela

deve ser contínua e permanente, realizada com intervalos de tempo relativamente curtos. Os

resultados não necessitam obrigatoriamente de serem classificados quantitativa ou

qualitativamente, desde que permitam ao professor recolher para si e dar aos alunos informações

que lhes proporcionem um feedback sobre a aprendizagem. Mediante as informações, o

professor e/ou os alunos poderão sentir a necessidade de reajustar estratégias para melhorar o

ensino-aprendizagem.

No final de um longo segmento de tempo deve fazer-se a avaliação somativa. Esta pretende

avaliar o progresso de aprendizagem do aluno no final de uma unidade, aferindo resultados de

avaliações formativas. Ela deve incidir um globalmente sobre toda a aprendizagem feita ao

longo da unidade. O resultado desta avaliação permitirá repensar e corrigir o processo de ensino.

Normalmente esta avaliação é classificada de acordo com os objectivos atingidos pelo aluno.

A principal diferença entre avaliação e classificação reside na sua finalidade. A primeira

pretende descrever e informar sobre o andamento do processo. Ela é formativa na sua intenção.

Relativamente à aprendizagem, ela pretende auferir a sua qualidade. A classificação é selectiva

e cataloga os alunos, ao atribuir-lhes uma posição numa escala de valores. Ela nasce da

comparação: o professor atribui uma classificação comparando os resultados do aluno com os

dos outros membros da turma ou do ano escolar, ou comparando-os com um padrão de

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aprendizagem pré-estabelecido. No primeiro caso, o mesmo resultado pode ser classificado de

modos muito diferentes dependendo dos restantes resultados do grupo. Pode ser muito bom se

os outros resultados forem todos inferiores, como pode ser fraco se todos os outros resultados

forem melhores que o seu. A classificação concentra toda a informação do aluno num símbolo,

codificado numa determinada escala. Idealmente, ela deveria conseguir exprimir com justiça a

aprendizagem e o progresso realizado pelo aluno. A comparação deveria proporcionar um

feedback aos professores para fundamentar políticas educativas. Ela constitui um sistema rápido

e prático de informação aos encarregados de educação e facilita decisões de promoção ou não

do aluno ao longo do seu percurso de escolarização. Em suma, a classificação é uma referência,

mas tem limitações e desvantagens. A primeira é que um símbolo não consegue espelhar os

inúmeros factores e especificidades implicados no processo de aprendizagem de um aluno

(dificuldades de várias ordens, nível de esforço, etc.). A segunda é que a classificação pode

gerar um espírito competitivo conflituoso, a ansiedade, a perda de confiança e/ou a adopção de

meios desadequados à aprendizagem apenas para alcançarem uma boa classificação.

Não há classificação sem avaliação, mas a avaliação não necessita de classificação, e poderá

ser proveitosa uma avaliação informativa, mas sem classificação (Ribeiro, 1991).

Podemos ainda distinguir avaliação qualitativa de quantitativa. A avaliação qualitativa

atribui uma informação sobre a qualidade da aprendizagem, expressa em termos que podem

obedecer a uma escala do tipo: Excelente – Muito Bom – Bom – Satisfaz. A avaliação

quantitativa expressa-se através de um valor numérico, de acordo com uma escala de valores

numéricos (ex. 1-5; 0-20; 0 – 100)

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3. Caracterização da escola e da turma

3.1. O Colégio de S. Tomás

3.1.1. História e identidade

O Colégio de S. Tomás (CST) nasceu em Setembro de 2004, com o propósito de

proporcionar a educação integral do ser humano (CST, 2009), seguindo um método educativo

internacional.

O nome do colégio deriva do nome do seu patrono, S. Tomás de Aquino. A consonância

entre as características desta figura e as linhas orientadoras da comunidade educativa, valeram a

sua escolha: a dedicação apaixonada de S. Tomás ao estudo e a relevância que deu à razão como

instrumento eficaz de conhecimento e de aprofundamento da fé cristã (na base da nova

perspectiva teológica que constrói para o seu tempo) (Carvalho, 2009).

A filosofia orientadora da acção do colégio tem um fundamento cristão católico

assumido. A escola assume a missão de intervir na comunidade local, nacional e internacional,

aberta à especificidade da cultura e circunstâncias de vida de todos aqueles que vêm a ser seus

alunos e respectivas famílias, seja qual for o seu meio de origem. Dentro dos limites legislados,

o CST dispõem de autonomia pedagógica e curricular.

Até 2007 a escola abarcava os anos de escolaridade respeitantes ao Pré-escolar (3 - 5

anos), 1º Ciclo e 2º Ciclo. Em 2007, dada a necessidade de um espaço físico maior para dar

continuidade aos anos de escolarização, abriu novas instalações na Quinta das Conchas (Lumiar,

Lisboa). É neste novo espaço que também passou a leccionar o 3º Ciclo e, posteriormente,

Ensino Secundário.

3.1.2 Localização

O Colégio de S. Tomás tem duas localizações: uma na Rua Professor Lima Bastos,

nº133, na localidade de Sete Rios, município de Lisboa e outra na Avenida Maria Helena Vieira

da Silva, no Alto do Lumiar, também no município de Lisboa. Tanto uma como outra têm

acessos muito bons de transportes públicos.

Esta última, sobre a qual nos vamos debruçar, encontra-se a 350m da estação de Metro

mais próxima (“Quinta das Conchas” – Linha Amarela). Tem também bons acessos de

transportes da Carris, automóvel e pedestres. A escola tem nas traseiras (a Norte) o parque da

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Quinta das Conchas e dos Lilases. Do lado Este, é possível avistar o aeroporto de Lisboa. Do

lado Oeste e Sul a escola está virada para uma zona habitacional.

3.1.3. Proposta Educativa

A Proposta Educativa tem o seu fundamento no cristianismo, na certeza da dignidade de

cada pessoa e na realidade como meio e campo da realização humana. É este fundamento que

move de maneira intensa e positiva o âmbito pedagógico e didáctico.

Assumimos como missão favorecer nos nossos alunos o desenvolvimento da

razão e da liberdade, de modo a contribuir para que cada um se torne uma pessoa feliz

e completa, capaz de assumir responsável e criativamente a sua vida.[…] Aprendendo

a usar a razão na multiplicidade das suas formas, cada aluno é desafiado a tornar seu o

património de conhecimento da humanidade (CST, 2006, p.7).

A Proposta Educativa conta necessariamente com o envolvimento de toda a comunidade

adulta para propô-la aos alunos e conta com os alunos para verificá-la. Esta proposta tem quatro

grandes pilares:

A Razão, como a capacidade da pessoa “conhecer a realidade em todos os seus

factores” (CST, 2009, p. 7);

A Experiência enquanto método educativo, pedagógico e didáctico. “Ao conjunto

desta imersão no real, seguida de um juízo pessoal sobre o que se encontra,

chamamos experiência.”(CST, 2009, p.9);

A Relação entre pares e professores, como terreno da Proposta Educativa;

A Liberdade, entendida como “a realização plena da própria vida” (CST, 2009,

p.12), é o fim último do esforço educativo.

3.1.4. Estrutura e Oferta Educativa

Actualmente a escola abarca todos os níveis de ensino do Pré-Escolar até ao 12º ano. O

Pré-escolar tem 9 turmas. No 1º Ciclo, 2º Ciclo, 3º Ciclo e Secundário, regra geral, há 3

turmas por cada ano.

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Quanto à organização curricular, debrucemo-nos mais sobre o 3º Ciclo, que será o ciclo

em foco no presente relatório. A organização curricular do 3º Ciclo de Ensino Básico segue as

orientações curriculares do Ministério da Educação e é enriquecida por uma oferta de escola,

visando uma educação o mais completa possível. As disciplinas de oferta de escola são: Latim,

Alemão, Filosofia (para o 9º ano), Informática (para o 9º ano), Educação Tecnológica (para 7º e

8º ano) e Assembleias semanais dirigidas à formação pessoal e cívica dos alunos.

O colégio disponibiliza-se e realiza vários eventos derivados de propostas livres e da

responsabilidade dos alunos, dentro do âmbito cultural, científico, artístico e desportivo.

3.1.5. A Educação Visual e o Desenho

Uma vez que a educação e o ensino incidem fortemente no confronto, na descoberta, no

espanto e na compreensão da realidade por parte do aluno (CST, 2001), a Educação Visual no

CST tem apostado fortemente no desenho por observação directa e na construção

tridimensional. Estes são tidos como meios excelentes de confronto e aprendizagem (CST,

2001). Pretende-se favorecer o espanto do aluno pela riqueza visual do meio envolvente (CST,

2001). A meta principal do programa de Educação Visual é aprender a observar. Deseja-se que

o desenho seja fruto de um conhecimento novo do objecto. Trabalham-se essencialmente os

componentes da percepção da forma. A importância dada à educação do olhar e à prática do

desenho, assenta na confiança que um trabalho contínuo de observação, torne o aluno mais

interessado e participativo no mundo que o rodeia. “Nesta relação atenta com o real o aluno

reconhece-se também a si próprio, descobre a identidade do seu olhar e desenvolve a sua

imaginação e criatividade.” (CST, 2006, p.11)

No CST o Desenho acompanha o aluno no seu percurso académico do Pré-Escolar ao

11ºano. As etapas, os conteúdos e as competências desenvolvidas nos vários anos de

escolaridade ao longo do ano lectivo 2009/ 2010 encontram-se na tabela do Anexo II

3.1.6. Comunidade escolar

A comunidade escolar é constituída por fundadores, directores, professores,

trabalhadores não docentes, pais, e por todos os alunos que lhe estão vinculados. A todos os

adultos é confiada a responsabilidade da educação dos alunos, através de um trabalho realizado

em conjunto. Ao aluno cabe a responsabilidade de responder às propostas feitas (CST, 2009).

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De um modo geral, vive-se um ambiente familiar, de serenidade, boa disposição e

cooperação entre a comunidade escolar. É enfatizado o respeito, a lealdade e o companheirismo

entre os pares. Fora do contexto das aulas, há companheirismo entre professores e alunos.

Procura-se cultivar em toda a comunidade escolar o desejo por um conhecimento íntegro,

aprofundado.

O corpo de docentes e auxiliares conta com mais de cem membros, dos quais oito são

professores das disciplinas das Artes Visuais: Artes (no Pré-Escolar e 1º Ciclo), Educação

Visual e Tecnológica (2º Ciclo), Educação Visual (3º Ciclo) e Desenho (Secundário).

A maior parte dos alunos que frequentam a escola é de classe média e classe média alta.

O colégio sustenta uma percentagem de bolsas dadas a famílias com poucos recursos

económicos. A maior parte destes alunos são residentes em Lisboa ou na periferia da cidade.

Coexistem alunos de diferentes nacionalidades e raças, sendo na sua maioria portugueses.

Existem vários alunos que apresentam Necessidades Educativas Especiais.

3.1.7. Espaço físico e recursos

O edifício tem um estilo minimal, de linhas rectas e decoração muito sóbria. Todo o

edifício é branco, exceptuando a parede preta da entrada principal, a área das salas de Educação

Visual e Educação Tecnológica, e um gradeamento cinzento que reveste o bloco onde se

encontra o auditório. Ele composto por 4 blocos com dois pisos (rés-do-chão e 1º ou 2º andar)

por onde se distribuem salas de aula e espaços de Pré-escolar e 1º Ciclo, 2º Ciclo, 3º Ciclo, de

Secundário, serviços e vários outros espaços específicos das Ciências, do Desporto ou das

Artes.

O bloco do Pré-escolar e 1º Ciclo circunda um pequeno pátio onde existe um campo de

jogos. Os outros blocos estão voltados para o pátio central onde existe um espaço ajardinado e

mesas com bancos. Nele reúne-se a maior parte da comunidade escolar nos tempos de intervalo

entre as aulas.

A sala de Educação Visual serve os alunos do 3º Ciclo e Secundário. É uma sala branca e

ampla. De um lado tem várias janelas quadradas com persianas que dão acesso visual para a rua.

Do lado oposto há um balcão corrido e uma prateleira para arrumação, dois lavatórios (um em

cada extremo da parede) e janela pequena junto ao tecto para arejamento da sala. Existem dois

quadros – um de giz e um quadro branco, - uma salas para arrumação de material e uma

despensa. Os trabalhos dos alunos, e algum material são guardados na sala de arrumação, em

prateleiras. O material de desenho dos alunos (blocos de papel, réguas, estojos com borracha e

lápis de grafite, etc.) é guardado na caixa da respectiva turma, na prateleira da sala de aula, a

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que os alunos têm acesso. As mesas (secretárias de dois lugares) encontram-se normalmente

dispostas em círculo. Para cada mesa existem dois bancos rotativos,

A parede oposta ao quadro é forrada de cima a baixo com um placar de cortiça destinado a

afixar as classificações dos alunos e reproduções dos seus trabalhos. Há também um pequeno

placar junto à porta onde se encontram indicações para o trabalho no Diário Gráfico e

reproduções de registos dos alunos nesse suporte.

3.2. A turma 8º B: Caracterização dos alunos da turma

A unidade programática foi realizada com a turma B do 8º ano. Esta turma é constituída

por 24 alunos, dos quais 16 são rapazes e 8 são raparigas. A composição da turma sofreu

alterações ao longo do ano. No 3º Período um aluno foi transferido da turma A para esta turma.

Os alunos têm entre 13 e 16 anos de idade. Muitos dos alunos já se conhecem de anos

anteriores, tendo realizado um percurso académico em comum Muitos outros integraram a

turma só no ano anterior ou neste mesmo ano, oriundos de outras escolas. Os alunos têm um

bom sentido de companheirismo entre eles e são respeitadores e cooperadores. De modo geral

os alunos também têm uma boa relação com os professores e directores da escola.

Na turma há uma homogeneidade do meio sócio-económico de origem. Todos têm

acesso fácil a literatura, meios informáticos, internet, museus e outros meios culturais e de

informação. Alguns têm hábito familiar de participar em programas culturais (visitar museus,

visitar exposições de ciência, ir ao cinema, etc.). Todos os alunos moram dentro da cidade de

Lisboa ou na área da Grande Lisboa. Quanto aos interesses de tempos-livres estes adolescentes

têm preferência pelo futebol, rugby, skate, actividades desportivas e de lazer em família e em

conjunto com os colegas, festas, ouvir música, ida a concertos de música pop, rap e metal. 3

Tirando quatro casos pontuais com médias negativas, pode dizer-se que o 8º B é uma

turma boa, em que os alunos reconhecem os seus deveres e aplicam-se com responsabilidade no

que lhes é pedido enquanto estudantes. No entanto, há alunos selectivos no que diz respeito à

escolha das disciplinas em que investem o seu esforço e dedicação.

Existem quatro alunos assinalados como apresentando Necessidades Educativas

Especiais (ver Anexo III). Há dois casos de dislexia, em que os alunos têm ligeiras adaptações

3 Dados recolhidos informalmente ao longo da unidade curricular. No decurso das aulas, em conversas entre alunos ou no comentário às imagens visualizadas em PowerPoint, os alunos falaram sobre si, os seus gostos e preferências, sobre os seus tempos livres, sobre os seus hábitos de cultura: museus que já tinham visitado, jardins próximos das suas casas onde poderiam realizar os trabalhos de casa propostos, ou a dificuldade de acesso a locais onde desenhar os objectos propostos.

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curriculares nas várias disciplinas. Num dos casos, a aluna tem um ritmo de trabalho lento e

apresenta algumas dificuldades em exercícios de desenho de representação com um nível médio

de complexidade em Educação Visual. Contudo, é muito esforçada. A sua dedicação e

empenho, levam-na a concretizar com alguma qualidade os exercícios propostos. O segundo

caso tem associado hiperactividade. O aluno revela um comportamento agitado, dificuldade em

concentrar-se durante muito tempo ou de executar tarefas que exijam muita paciência e atenção.

Os outros dois casos têm um currículo adaptado de acordo com as dificuldades cognitivas dos

alunos. Num destes casos a aluna mostrava muitas dificuldades em compreender e executar as

tarefas pedidas nas aulas de Educação Visual (especialmente visível em exercícios de

representação). No segundo caso, o aluno não mostrava qualquer dificuldade de compreensão

ou execução dos exercícios propostos, exceptuando alguma hostilidade ou inibição pontual.

De um modo geral, exceptuando casos pontuais de alunos muito conversadores e

desconcentrados, a turma revela um comportamento bom e respeitador, e os alunos aderem às

tarefas propostas.

Há um aluno retido do ano anterior. No final do primeiro trimestre do 8º ano (ano

lectivo 2009/ 10) de catorze disciplinas os alunos desta turma tiveram médias entre 9 e 16

valores. As melhores classificações foram nas disciplinas de: Religião, Educação Física,

História, nas disciplinas científicas e em Música. Academicamente, a grande maioria tinha

preferência pela área das Ciências (Matemática, Ciências Naturais e Geografia). Contudo, muito

poucos revelam ainda uma preferência assumida por alguma das disciplinas, como caminho

profissional.

Na disciplina de Educação Visual a maior parte dos alunos manifesta a sua

incompreensão quanto à utilidade das aprendizagens. Frequentemente encontram dificuldade no

Desenho – dificuldade de concentração, na extensão do exercício, dificuldade no rigor, em obter

verosimilhança na representação.

Na turma existem alunos com grandes dificuldades na disciplina e falta de empenho.

Existem outros com grande capacidade técnica e um gosto evidente pelas Artes Plásticas. Dois

alunos da turma, embora com classificações baixas a Educação Visual, afirmam querer seguir

uma área profissional ligada às Artes Visuais.

No ano anterior, em Educação Visual, abordou-se objectos paralelepipédicos, objectos

de design variados, formas anatómicas (mão) e ensaiou-se um projecto de intervenção artística

no espaço do colégio. No início do presente ano lectivo, os alunos aprenderam algumas

estratégias de observação (desenho de espaços negativos, desenho cego, desenho através de

acetato, e desenho de memória), a realização de um projecto de design urbano, e a representação

através da Múltipla Projecção Ortogonal. O projecto consistiu na concepção e construção em

maquete de um conjunto de mesa e bancos para o espaço do pátio maior da escola, a partir da

forma da caixa de fósforos.

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Seguidamente, os alunos realizaram exercícios de desenho de figura humana, a partir da

observação do colega: contorno da silhueta, recorrendo à linha, e contorno e preenchimento da

silhueta com informação do interior da forma.

Verificou-se que existe nos alunos um anseio por projectos sérios e com alguma

complexidade, em que aprendam técnicas para dominar, construir e intervir no mundo.

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4. Estratégias de ensino utilizadas

A unidade curricular foi concebida tendo em conta o conceito de escola e o papel que

ela desempenha na formação da sociedade portuguesa actual e futura, atendendo à importância

do contributo da disciplina de Educação Visual e a especificidade dos seus conteúdos,

programa, currículo e competências que desenvolve. Considerou-se também a identidade do

Colégio de S. Tomás, as características da turma do 8ºB, as particularidades dos seus alunos

(psicológicas, temperamentais, cognitivas, capacidades dentro do âmbito da disciplina,

necessidades, interesses e motivações) e ainda as linhas orientadoras acordadas em conselho de

professores no Departamento de Artes sobre o currículo da disciplina, as unidades e exercícios

precedentes, o espaço físico do colégio e o meio envolvente.

4.1. O desenho de observação como estratégia

Por esta altura do seu crescimento os adolescentes encontram-se na fase da

literalidade (Gardner, 1982) ou pseudonaturalismo (Lowenfeld e Brittain, 1977). Sentem o

desejo de representar o real tal como objectivamente ele aparenta ser. A emergência de uma

maior consciência racional, de um espírito crítico, de uma sede pela objectividade, e uma

capacidade maior de entender relações complexas, levam o adolescente a já não contentar-se

com a expressão simples dos desenhos infantis. Desejam desenhar “como um adulto”

(Lowenfeld e Brittmain, 1977, p. 303). A frustração de não ser capaz de corresponder o seu

desenho a uma aparência pode levar o indivíduo a desistir definitivamente de desenhar

(Gardner,1982).

Posto isto, optou-se por usar, nesta unidade, precisamente a problemática do desenho

para desenvolver nos alunos a capacidade de observação; e através da observação, desenvolver a

capacidade de desenhar e representar.

Por capacidade de observação entenda-se, como adiante será explicado, a capacidade

de análise e de tomada de consciência do processo de percepção visual humano. A educação da

visão está intimamente ligada ao processo de aprendizagem. A Educação Visual proporciona

aprendizagens acerca da própria visão e da prática do desenho, e uma vez educada a visão, a

“nova” maneira de ver pode conduzir a outras aprendizagens, dentro e fora do âmbito das Artes

Visuais.

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Betty Edwards na sua obra Drawing on the Right Side of the Brain (2003), explica de

que modo o desenho contribui para o desenvolvimento da observação e como

consequentemente, ele pode alargar a inteligência criativa do indivíduo. A autora propõe um

processo de aprendizagem de desenho assente na teoria de Roger Sperry. Em 1966 Sperry fora

premiado pela descoberta de dois modos principais de processamento da informação existentes

no cérebro humano: um modo verbal, analítico e sequencial; o outro perceptivo, visual e

simultâneo. A localização que Sperry atribuiu a um e outro modo no cérebro (respectivamente,

um no hemisfério esquerdo e outro no direito) tem sido alvo de controvérsia por parte de muitos

cientistas ao longo dos anos. Para Betty Edwards interessa o modo e não o lugar.

A autora designa por L-mode4 o pensamento verbal, analítico e sequencial (Edwards,

2008) mais favorecido pelo sistema de ensino ocidental, em detrimento do pensamento

perceptivo. Edwards explica a importância de desenvolver ambos os modos de pensamento,

para conseguir um maior rendimento intelectual do indivíduo.

O desenho, segundo ela, e concretamente o desenho de observação, é a ferramenta adequada

para explorar e desenvolver as faculdades que intervêm no modo de pensamento perceptivo. O

método desta autora não se foca no domínio técnico dos materiais, mas antes na aprendizagem

dos mecanismos de percepção visual, sugerindo por isso estratégias de observação baseadas no

modo como apreendemos visualmente o mundo. Todo o seu trabalho baseia-se nesta premissa:

“Drawing well depends on seeing well” (Edwards, 2008, p. XXIV). O desenho parecer-se-á

tanto mais com aquilo que os nossos olhos vêem, quando mais o processo de desenho se

aproximar do funcionamento da nossa visão.

Podemos citar o crítico John Berger (Sale e Betti, 2004, p. 4): “The drawn image contains

the experience of looking…A drawing…encompasses time.” Comparativamente ao registo

instantâneo da fotografia, o desenho implica e desenvolve a observação do indivíduo. O tempo

envolvido no registo leva a uma experiência mais demorada do olhar sobre aquilo que se

observa, o observador olha mais atentamente, maior número de vezes, foca pormenores,

compara, estabelece relações… Em suma, leva a um maior conhecimento do objecto que se

desenha. O produto final espelha a experiência e a aprendizagem feita.

Pretende-se, portanto, que o desenho seja para os alunos este meio mais ou menos

consciente de desenvolvimento da observação cuidada e “diferente” sobre as coisas. O tempo da

observação e de registo proporcionam um espaço de pensamento sobre as coisas que se

desenham, e em última instância, sobre o mundo. “The process of drawing develops a

heightened awareness of the visual world, an awareness that is both subjective (knowing how

4 Na sua teoria Sperry atribuía a localização deste tipo de pensamento ao hemisfério esquerdo do cérebro. Uma vez refutada esta ideia, Betty Edwards não se refere à localização da função mas ao modo de processamento de informação, ou seja modo esquerdo ( L-mode = Left-mode) e modo direito (R-mode = Right-mode).

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you feel about things) and objective (understanding how things actually operate)” (Sale e Betti,

2004, p.32). “Your visual experience is enriched by learning to see trough the practice of

drawing” (Sale e Betti, 2004, p. 38)

As atitudes e comportamentos que a prática do desenho de observação directa implica,

exercitam e desenvolvem a concentração, o uso consciente e focalizado dos sentidos, a

perseguição da verdade formal, o tempo, o silêncio, o treino da memória, a disciplina interior. A

prática do desenho exercita no indivíduo disposições importantes que se opõe à tendência

vigente da pressa perversora da contemporaneidade. Essas atitudes ajudam o indivíduo a ser

reflexivo e crítico perante a realidade. Na sociedade da informação e da imagem, que abusa dos

sentidos, ludibriando a pessoa em prol de um sistema capitalista e consumista, a capacidade

analítica dos elementos visuais é muito importante. A possibilidade de manusear e dominar a

matéria expressando-se, devolve ao indivíduo pós-moderno a sua identidade de ser com poder

para intervir no mundo. (Lowenfeld e Brittain, 1977). Ensinar a adiar a satisfação tendo em vista

um resultado melhor, cultivar a persistência e a paciência, contribui para a solidificação da

personalidade humana (Sandrock, 2008).

Sendo assim, o desenho de observação indica ser um meio adequado para responder à

capacidade cognitiva dos adolescentes, capazes de construir representações abstractas (e

portanto, de compreender o funcionamento perceptivo), capazes de olhar problemas e objectos

de diferentes pontos de vista e desejosos de representar com realismo o que vêem.

O modo de vencer as frustrações que alunos sentem perante o fracasso do seu desenho

não se parecer com o real, é o ensino de métodos eficazes, ou seja, de estratégias que ajudem a

ver e a transpor o que vêm para o suporte – estratégias de observação.

Para além do desenho proporcionar uma consciencialização dos seus mecanismos

perceptivos humanos, ele pode tornar-se um meio de conhecimento formal, compositivo e

semântico da realidade.

No ano anterior e no início do ano lectivo presente, os alunos realizaram exercícios

com várias estratégias de observação. Por isso, a unidade de ensino-aprendizagem foi concebida

de modo que os alunos usassem essas estratégias (esse tipo de olhar) para analisarem,

classificarem, descobrirem a riqueza da particularidade da forma, estabelecerem relações de

semelhança ou diferença de escala. Em última instância, aponta-se para o desenvolvimento da

sensibilidade estética, poética e metafórica do que é observado.

Observar e representar obriga, implicitamente, a uma selecção: a distinção entre o que

é importante e o que é secundário para a caracterização da forma; leva a identificar o que é

estrutural, e o que é supérfluo; desenvolve a capacidade de analisar o todo, sem desprezar os

pormenores; permite compreender os estereótipos como elementos facilitadores e/ou

empobrecedores da realidade (DEB, 2001).

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4.2. A referência a obras de arte

A visualização de obras de arte na disciplina de Educação Visual é de grande importância

para a formação dos alunos a vários níveis. Alarga o horizonte de conhecimentos acerca da

diversidade de pensamento, vivências, tradições e meios de expressão de povos do mundo

inteiro e de várias épocas da História. Esta compreensão que nasce do confronto, permite um

maior conhecimento e aceitação de si próprio e dos outros. A análise de obras desenvolve o

pensamento analítico e a sensibilidade artística; desenvolve uma sensibilidade e conhecimento

visual de formas, cores e meios de expressão; dota os alunos de um vocabulário cultural visual,

e favorece uma literacia global em Artes Plásticas (DEB, 2001).

Posto isto, podemos dizer que ver obras de arte ajuda a ver. “Art presents alternative ways

of making meaning through seeing. (…) It expands the relationship between what we see and

what we know” ( Sale e Betti, 2004, p.26). O confronto com a obra de arte leva o indivíduo a

testar as suas hipóteses de mundo (o que à partida entende sobre o mundo) e o que o mundo é

(de acordo com a representação que dele tem). Observar, identificar e descodificar linguagens e

códigos, desenvolve nos alunos a capacidade de mobilizar os sentidos na percepção e análise do

mundo envolvente (DEB, 2001). Sob este ponto de vista, a obra de arte é ocasião para a

aprendizagem e desenvolvimento cognitivo.

4.3 O tema

Foi escolhido como tema a vegetação e a paisagem para servir vários propósitos: a relação

com o meio envolvente à escola, a interdisciplinaridade com a disciplina de Ciências Naturais, e

o ensino de conteúdos específicos de Educação Visual - a forma, a estrutura, a textura e o

desenvolvimento de novos meios gráficos expressivos baseados em formas orgânicas.

Enquanto referente, a vegetação complementa os assuntos e as qualidades formais já

trabalhadas durante o ano. As formas orgânicas naturais e a representação do espaço

proporcionam diferentes processos de abordagem e o uso de meios até então não explorados

pelos alunos. Tudo isto significa o surgimento de pequenos novos desafios que podem captar a

atenção dos alunos, motivando-os.

Ao facultar aos alunos um leque variado de exercícios, possibilita-se a experiência dos

processos e materiais com que cada um mais se identifica. Ir ao encontro daquilo que o

indivíduo tem de mais particular e ajudá-lo a descobrir gostos e potencialidades desconhecidos,

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é ajudar o aluno a conhecer e desenvolver-se. Deste modo contribui-se para um ensino

inclusivo, permitindo que cada aluno possa ter sucesso de acordo com as suas características.

A interdisciplinaridade é um conceito abordado várias vezes no Currículo Nacional do

Ensino Básico (DEB, 2001) como necessário para uma aquisição sólida e natural das

competências essenciais do Ensino Básico, entre as quais, uma compreensão integrada dos

saberes e uma relação harmoniosa com o corpo, com o espaço e com o mundo envolvente.

A vegetação e a paisagem encontram pontos em comum com a disciplina de Ciências

Naturais, nomeadamente com a Biologia, no que diz respeito às plantas e ao seu

desenvolvimento, e com a Geologia, em relação à formação do relevo que conhecemos hoje. A

interdisciplinaridade auxilia os alunos na transposição dos conhecimentos para situações

diferentes e na adopção de diferentes pontos de vista sobre um mesmo problema. Proporciona

ocasião para realizar um maior número de relações entre os conhecimentos adquiridos e a

estabelecer relações entre o particular com o todo e o concreto e o abstracto.

Para além do tema, uma das estratégias empregues aproxima-se do método da

pesquisa científica: usando um método empírico é proposto aos alunos que identifiquem e

classifiquem a espécie de árvore correspondente a uma dada folha desenhada. No acto da

procura da árvore, o que conduziu a “experiência” é a verificação de uma hipótese de

semelhança formal entre a folha e a sua árvore de origem.

A estrutura orgânica ramificada em estudo é simultaneamente matéria artística e

científica: a identificação enquanto forma visual, a compreensão da sua lógica de

desenvolvimento e crescimento, a verificação da sua presença em várias situações e seres da

Natureza, com diferentes funções (sustentação, via de circulação), e a constatação que é objecto

de transformação pictórica e plástica de vários artistas.

Podemos dizer que o estudo da paisagem é científico na própria análise pictórica. Ao

debruçarmo-nos sobre a paisagem enquanto imagem, e ao “dissecá-la” para constatar as suas

diversas partes, estamos a realizar um estudo pictórico e científico, no que diz respeito ao

funcionamento da visão, e ao método.

Compreender e representar o espaço da paisagem, ver e demonstrar que as

luzes e as cores são índices significativos do aspecto da profundidade é a

mesma atitude que leva a seccionar o corpo humano e a proceder a uma

pontilínea representação das partes que o constituem. […] uma descrição

sistemática e ordenada dos componentes da natureza (Massironi, 1982, p.58).

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4.4. A planificação: breve descrição da unidade

Esta unidade foi concebida para ter a duração de 12 aulas de 110 minutos, ocupando

parte do 2º Período e a totalidade do 3º Período lectivos. Este tempo foi organizado em

diferentes etapas de trabalho e de aprofundamento de conhecimentos (ver Anexo IV).

A unidade foi dividida em dois blocos de acordo com o tema de referência: vegetação

e paisagem. No primeiro bloco os conteúdos específicos foram as estruturas e as formas

orgânicas, partindo de algumas árvores no espaço escolar e no espaço do parque ao lado da

escola. Em estreita relação com este tema, previu-se a abordagem de padrões e ritmos de

crescimento, a exploração de qualidades da forma, de qualidades expressivas (forma, estrutura,

claro-escuro e textura), da linha, da mancha e da tridimensão, enquanto elementos da linguagem

visual. Por sua vez, o primeiro bloco foi dividido em duas partes de acordo com os meios a usar:

o registo bidimensional e a construção tridimensional.

De acordo com a estratégia inicial, a primeira parte compôs-se de três exercícios

sequenciais: uma primeira abordagem em desenho de estruturas de árvores de diferentes

espécies, uma segunda abordagem mais pormenorizada, precedida de uma apresentação em

PowerPoint, e uma terceira abordagem utilizando diferentes materiais (aquosos).

A segunda parte deste bloco destinou-se ao estudo formal de um ramo. O primeiro

momento foi destinado ao desenho de observação e o momento seguinte destinou-se à

representação tridimensional do ramo, à escala natural, com desperdícios de papel, cola de

madeira, arame fino e fita adesiva. A preocupação central nesta tarefa foi o respeito pela forma,

a estrutura e a proporção do referente.

O segundo bloco incidiu sobre o tema da paisagem e sobre conteúdos relacionados com

a representação gráfica do espaço: interposição, dimensão relativa, cor, claro/escuro, gradação

de nitidez e perspectiva. Neste bloco procurou-se o ensino-aprendizagem de noções de

perspectiva aérea e critérios de composição de imagem, com base na análise de obras de arte

(pinturas, desenhos, fotografia e stills). Previu-se que este segundo bloco seria introduzido por

uma apresentação de imagens, contendo pinturas, desenhos e fotografias. Determinou-se um

momento de análise das imagens visando identificar os elementos que sugerem pictoricamente a

profundidade espacial. O primeiro exercício deste bloco procurou dar continuidade a um

desenho de paisagem de Vincent Van Gogh com pincel e aguada preta, aplicando alguns dos

princípios identificados na análise.

Foi previsto uma visita de estudo à Fundação Calouste Gulbenkian para ver in loco

obras em que a perspectiva aérea é utilizada, compreender o tema da paisagem como um género

na História da Pintura trabalhada de diferentes modos em diferentes épocas, e compreenderem a

existência de uma determinada ordem compositiva na pintura.

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Para trabalho final, planeou-se um projecto com base numa paisagem escolhida pelos

alunos. Os passos determinados para a execução do trabalho foram: a escolha de uma paisagem

cujo ponto de vista partisse do interior do colégio e contivesse uma grande área de vegetação; o

registo fotográfico da paisagem escolhida; a determinação de vários planos de profundidade (no

mínimo quatro) com base na paisagem escolhida e a construção de um painel. Para a construção

do painel, cada plano de profundidade devia ser desenhado separadamente numa folha da

cartolina de cor. Por fim todos os planos deviam ser sobrepostos e colados para formar uma

representação da paisagem. A sequência das cores devia obedecer ao fenómeno cromático da

perspectiva aérea falado em aula. Cada plano devia conter um contorno recortado (conforme a

configuração da paisagem escolhida) e o seu preenchimento devia ser sequencialmente menos

pormenorizado quanto maior a distância a que se encontra. Este trabalho de desenho da

vegetação na paisagem culmina a unidade.

De acordo com as circunstâncias, a planificação inicial sofreu alteração em alguns

aspectos que serão referidos mais adiante. A planificação no Anexo IV mostra o plano final.

4.5. Objectivos e competências

Toda a unidade curricular teve como denominadores comuns as formas orgânicas naturais e

o desenho. De um modo geral, em conformidade com as competências essenciais recomendadas

pelo Parlamento Europeu (2006) e a Lei de Bases do Sistema Educativo (2005), ela pretendeu

proporcionar aos alunos uma abordagem nova de espaços e realidades que já conheciam, de

modo a que, através do processo do desenho, desenvolvessem uma maior valorização pelo

património de que usufruem; pretendeu proporcionar oportunidades de convívio e colaboração

entre pares, a realização de dinâmicas de investigação, a realização de um trabalho projectual

que convocasse a responsabilidade do aluno na escolha e execução das várias etapas, o

desenvolvimento da sua expressão individual e a aquisição de um conhecimento mais profundo

e alargado da Natureza, através de uma abordagem interdisciplinar. Estas atitudes e

aprendizagens são estruturantes de um espírito cívico, do indivíduo que ame e deseje construir o

mundo.

Enquanto objectivos específicos da disciplina, esta unidade visou levar os alunos a:

Analisar e representar bi e tridimensionalmente a realidade observada, com a preocupação da semelhança;

Compreender a estrutura como suporte e princípio organizador dos elementos que a constituem;

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43

Compreender e representar padrões de crescimento;

Explorar as qualidades expressivas da linha na sua relação com a Natureza observada;

Identificar a semelhança entre formas e estruturas;

Conhecer qualidades formais e texturais naturais;

Aprender e desenvolver novas formas de registo;

Explorar e manipular os materiais;

Compreender e aplicar noções de perspectiva aérea e estratégias gráficas de representação de profundidade espacial;

Conhecer critérios de composição de imagem com base na pintura, e fotografia;

Criar composições a partir de observações directas e de realidades imaginadas utilizando os elementos e os meios da expressão visual.

As competências específicas foram abordadas pela unidade da seguinte forma:

Fruição-Contemplação: Reconhecer a importância do espaço natural, desenvolver o

sentido de apreciação estética e artística do mundo, através de referências e experiências

no âmbito das Artes Visuais

Produção-Criação: Compreender e utilizar diferentes modos de dar forma baseados na

observação das criações da natureza, compreender a forma através reprodução plástica,

desenvolver a motricidade através da utilização de diferentes técnicas artísticas,

aprender novos modos de representação, ser capaz de analisar e representar, ser capaz

de analisar e representar, aprender novos processos de representação, ser capaz de

utilizar adequadamente tecnologias da imagem, aplicar valores cromáticos, ser capaz de

criar uma composição a partir da observação directa

Reflexão-Interpretação: Reconhecer relações formais, expressivas e funcionais

existentes na Natureza, conhecer e compreender estratégias de composição da imagem

em ordem à comunicação e ao equilíbrio/dinamismo, compreender fenómenos da

percepção visual, tomar contacto com obras significativas da História da Arte.

4.6. Métodos de ensino adoptados: A Aprendizagem por Descoberta

Tanto quanto possível, deseja-se que o aluno faça uma aprendizagem significativa e

que esteja motivado, a fim de que a sua aprendizagem seja efectiva, duradoura, contribua para o

Page 44: “O Desenho e a Educação do Olhar”

44

seu pleno desenvolvimento e lhe proporcione a felicidade da realização. Para isso, procurou-se

conceber uma unidade em que as etapas tivessem uma sequência lógica e encadeada,

sustentadas pelas teorias de Bruner e Ausubel (Sprinthall e Sprinthall, 1993; Santrock, 2008).

O trabalho individual e as dinâmicas de jogo destinam-se a fazer do aluno o construtor

da sua própria aprendizagem, através da descoberta. Procurou-se que os conteúdos e/ou os

procedimentos encontrassem no aluno alguma familiaridade com uma aprendizagem anterior ou

com algum tema de interesse. Uma vez que os alunos já tinham abordado, em unidades

anteriores, a figura humana e a forma geométrica, a introdução do tema vegetalista e os novos

procedimentos técnicos a ele associados pretenderam activar a motivação dos alunos pela

novidade. O desenho linear do contorno foi um método já usado pelos alunos num exercício

anterior.

Momentos breves de exposição de informação e conhecimentos (10min -25min) no

início de cada aula, e a análise de imagens e obras de arte através de perguntas exploratórias,

constituiram o momento de captação da motivação do aluno.

Em todos os exercícios, foi previsto o acompanhamento personalizado do professor ao

trabalho de decisão, execução e resolução do aluno, como forma de manutenção e direcção da

motivação (Sprinthall e Sprinthall, 1993). Nesta unidade foi previsto o professor orientar os

alunos através da exemplificação e do diálogo. De acordo com a teoria da aprendizagem

vicariante de Bandura (Santrock, 2008), a demonstração do exercício pelo professor e a

visualização de imagens de resoluções possíveis, facilita a aprendizagem do aluno. As

indicações dadas, devem procurar sempre valorizar aspectos positivos alcançados pelo aluno, e

apontar para a possibilidade de melhoria; devem conduzir o aluno a uma aprendizagem

significativa e a um resultado gratificante.

A frequência no uso de algumas estratégias de desenho ao longo da unidade, e a

repetição de exercícios no diário gráfico, pretendem desenvolver a produção e a retenção da

informação assimilada, através da aplicação e do treino (Santrock, 2008).

No final de cada bloco de exercícios, determinou-se a afixação de reproduções

fotocopiadas de trabalhos dos alunos no painel da sala. A exposição dos trabalhos teve como

finalidade permitir uma auto-avaliação da aprendizagem (Ribeiro, 1991) e funcionar como

motivação extrínseca (Srinthall e Srinthall, 1993). Pretendeu-se que este feedback contribuisse

para reforçar a confiança do aluno nas suas capacidades, e gratificar o seu empenho, para que

deseje investir nas tarefas de aprendizagem. Os critérios da escolha dos trabalhos a expor foram:

a concretização dos objectivos determinados, a qualidade plástica e a variedade de expressões.

Sendo a adolescência uma fase de desenvolvimento privilegiada de questionamento

sobre o mundo, sobre os outros e sobre si próprio, e tratando-se de uma fase de grande abertura

cognitiva, o método da aprendizagem por descoberta defendido por Ausbel (Santrock, 2008),

surge como o mais adequado.

Page 45: “O Desenho e a Educação do Olhar”

45

Na sua obra Educar é um Risco, Giussani (2006) afirma: “Mas até certo ponto, a

Natureza dá à criança, a quem era criança, o instinto de pegar no saco e pô-lo diante dos olhos

(…) Aquilo que lhe disseram deve, portanto, transformar-se em problema. (…) Uma vez diante

dos olhos, revista-se o interior.” (p.18)

Ao professor cabe a tarefa de ajudar o aluno a “olhar para dentro do saco” e a colocar

as perguntas adequadas para que ele desenvolva um espírito crítico, a vontade de saber sempre

mais e encontre a resposta que procura, através de um método de investigação. Como sujeito

implicado, o aluno usa a própria inteligência e cognição para induzir conclusões que resultam

em aprendizagens. Deixar o aluno realizar a sua aprendizagem do mundo, é respeitá-lo na sua

integridade – o seu ritmo, as suas estruturas prévias, a sua história e o seu modo de aprender.

Uma vez que o desenho de representação por observação directa implica uma

experiência visual individual do objecto (Sale e Betti, 2004; Edwards, 2008), este surge

como meio adequado à aprendizagem por descoberta. Escolheram-se dinâmicas, procedimentos

e meios que favorecessem essa experiência, de modo que o aluno possa construir a sua

aprendizagem.

Procurou-se uma abordagem dos temas do simples para o complexo, do superficial

para o profundo, do pequeno para o grande e do particular para um universo abrangente.

Segundo Bruner (Sprinthall e Sprinthall, 1993), uma sequência encadeada e lógica dos

conteúdos torna mais fácil a aprendizagem.

4.6.1. Confronto, aplicação e verificação

O primeiro exercício do primeiro bloco consistiu numa abordagem simples do

referente. Para tal, foi proposto a utilização do desenho de contorno utilizado na unidade

anterior. Este procedimento adaptado de um exercício da autoria de Kimon Nicolaïdes

(Nicolaïdes, 1997), obriga a fixar a atenção na forma envolvente do objecto, no seu limite, como

se se tratasse de uma sombra ou projecção plana. Deste modo o indivíduo abstrai-se de outros

elementos presentes (como a textura ou partes internas). Ao adoptar este “ponto de vista” sobre

o objecto, ele simplifica o objectivo. A sua atenção recai sobre a linha imaginária que limita a

forma (árvore) do fundo (meio envolvente). Por instantes, o aluno esqueceu-se do que era o

referente, para se concentrar na forma da sua silhueta (Edwards, 2008). A forma desenhada

resultou como consequência de uma observação atenta e de um registo sincronizado. A única

diferença em relação ao exercício original do autor é que nesta proposta de desenho de contorno

proposto é permitido ao aluno confrontar-se com a página de desenho enquanto faz o registo.

Page 46: “O Desenho e a Educação do Olhar”

46

Esta tarefa aproxima-se também do exercício dos espaços negativos descrito por Betty

Edwards (2008), que foca os espaços de fundo por oposição à figura. A figura surge no desenho,

uma vez que a linha que separa figura e fundo é comum. Uma vez que os alunos do 8º B já estão

familiarizados com esse exercício, foi-lhes mais fácil compreender e executar o desenho de

contorno proposto.

Foi previamente determinado que nesta primeira etapa, o desenho de observação seria

realizado no espaço onde crescem as árvores e não haveria senão uma explicação muito

elementar sobre a estrutura ramificada e o processo de desenho a usar.

O objectivo desta etapa foi o confronto. Pretendeu-se que o confronto dos alunos com

o espaço natural, com o ambiente do Parque da Quinta das Conchas onde crescem as árvores,

evocasse memórias ou imagens, suscitasse cheiros e outras sensações físicas ou psicológicas e,

em última instância, que a experiência do espaço, a escala e configuração das árvores gerasse

alguma medida fascínio nos alunos.

O confronto com a dificuldade da representação e compreensão de uma nova estrutura

(em parte devido à falta de um conhecimento prévio), pretendeu gerar nos alunos a necessidade

de um olhar cuidadoso, ou seja, activar a motivação para a observação. A resolução do

problema proposto - a representação de três espécies de árvores diferentes - implicava uma

análise cuidada. Só uma análise cuidada tornaria possível o conhecimento e a compreensão da

forma e da estrutura dos referentes em ordem ao seu registo. Contudo, seria um conhecimento

ainda parcial e superficial, visto tratar-se de um primeiro contacto com os objectos.

Mesmo que os alunos não conseguissem representar as três árvores, o confronto com

os dados e com os problemas levantados durante o processo de observação e representação,

criariam condições para uma descoberta mais aprofundada em etapas futuras.

Com base neste confronto e na visualização de imagens em suporte digital, foi feita

uma análise científica e artística da estrutura ramificada. Pretendeu-se com isto, que os alunos

compreendessem melhor este elemento e pudessem superar algumas das dificuldades

encontradas no primeiro exercício. A sequência das imagens, conduziu os alunos a

estabelecerem uma relação formal de semelhança entre diferentes seres de escalas muito

variadas que possuem esta estrutura, desde a macro à micro escala.

Na planificação inicial, estava previsto que os alunos voltassem ao parque da Quinta

das Conchas para desenhar árvores, tendo na sua posse novos conhecimentos. Contudo,

ponderando os resultados, a planificação foi alterada em função das dificuldades dos alunos e

das necessidades sentidas. Considerou-se que o desenho de um objecto mais simples, feito num

espaço mais recolhido, facilitaria a compreensão da estrutura orgânica em foque.

Em vez do novo desenho de uma árvore, optou-se pela representação detalhada de

uma folha. Ao desenhar os veios da folha, os alunos verificaram se o tipo de estrutura estudado

(fractal) se concretizava nesse objecto e de que forma.

Page 47: “O Desenho e a Educação do Olhar”

47

A Ilustração Científica foi tida como referência no exercício da representação da folha.

Pretendeu-se levar os alunos a colocar no desenho o máximo de informação possível. Para tal,

foi sugerido aos alunos uma metodologia de trabalho e foram explicados os seus passos,

recorrendo a exemplos gráficos executados pela professora:

o apontamento esquemático da forma global,

o seu ajuste do esquema às particularidades reais da folha,

o desenho dos veios principais, secundários e terciários,

a representação da intensidade lumínica da sua cor (claro-escuro),

e o registo da textura (caso exista).

Posteriormente, foi proposto ao aluno que procurasse uma correspondência entre a forma e

a estrutura da folha desenhada, e a sua árvore de origem (ou uma da mesma espécie). A

estratégia utilizada foi mais uma vez um jogo. Os alunos levaram os seus desenhos até ao

espaço onde foram apanhadas as folhas, e com base no registo da estrutura da folha,

encontraram a árvore correspondente. A representação subsequente da árvore permitiu auferir,

por comparação, se de facto, naquela espécie, o esquema estrutural e a forma envolvente eram

semelhantes entre folha e árvore. Também nesta representação final (AF) foi pedido aos alunos

que tomassem em atenção três aspectos, por ordem decrescente de prioridade:

o contorno da estrutura,

a representação da copa através de um ritmo gráfico inventado,

e o registo da textura.

Os alunos interessam-se pouco pela disciplina de Educação Visual porque não vêem

nas suas aprendizagens utilidade prática. Pretendeu-se que esta actividade abrisse o espírito dos

alunos para a compreensão da utilidade do desenho enquanto forma de conhecimento. Procurou-

se gerar uma situação de carácter lúdico, desafiante e motivador.

4.6.2. A construção tridimensional

O objectivo central da unidade é a compreensão e o conhecimento daquilo que se vê.

Uma vez que os temas a tratar são seres que têm existência corpórea, podemos falar de forma.

Passar a forma e o espaço para a superfície plana do desenho, implica naturalmente uma

abstracção e distorção do real (Edwards, 2008).

Decidiu-se, por isso, recorrer à construção tridimensional como meio para um

conhecimento mais completo. O desenho aproxima-se do mecanismo da visão e a escultura

Page 48: “O Desenho e a Educação do Olhar”

48

aproxima-se do tacto. Embora em qualquer dos meios a representação seja sempre limitada, a

representação tridimensional permite-nos compreender aspectos tácteis, espaciais e

volumétricos do objecto. A representação tridimensional obriga o indivíduo a analisar múltiplas

faces do objecto e a compreender o modo como se interligam, enquanto o desenho normalmente

assume apenas um ponto de vista. No exercício da aula, a construção foi precedida por um

registo gráfico que serviu de estudo formal do objecto. A aprendizagem feita durante este passo

introduziu e facilitou a construção escultórica.

O tacto, a modelação da matéria, o movimento, a mudança frequente do ponto de vista

(360º) permitem uma melhor interiorização da forma, uma vez que a experiência do objecto

envolve mais sentidos. Assim, no exercício proposto, os alunos devem realizar uma

representação gráfica do ramo. Nela devem atender à estrutura, forma e sugerir, através da

criação de um ritmo gráfico, a textura da madeira e dos fungos. Em seguida devem realizar uma

representação tridimensional, aglomerando e modelando desperdícios de papel e usando cola e/

ou arame. Nessa construção deverem ter em atenção a estrutura, a semelhança formal e devem

procurar sugerir o ritmo e a delicadeza dos fungos com o recorte do papel. Não foi pedida uma

representação cromática. São intencionalmente assumidas as características plásticas próprias

dos materiais usados.

4.6.3. Análise e aplicação

A exploração do tema da paisagem está intimamente ligada à consciência do fenómeno

perceptivo visual humano. Para introduzir os dois conceitos, são visualizadas algumas imagens -

pinturas, desenhos, fotografia e stills, - nas quais se procuram identificar as estratégias gráficas

usadas para transmitir ao observador o factor da distância e profundidade de campo. A

professora conduz a discussão e a análise com perguntas, para que os alunos descubram as

variáveis que irão aplicar nos exercícios seguintes. O apoio em imagens para a realização desta

exploração teórica, tem a vantagem de estudá-las enquanto concretização gráfica do processo

perceptivo - o que ocorre ao nível retiniano, ou no 1º Estádio de Marr5 (Marr,1982). Na

verdade, a génesis do desenho, da pintura e da fotografia é essa: fixar sobre um plano aquilo que

a luz projecta sobre as nossas retinas – elas próprias um plano, embora curvo (Edwards, 2008;

Marr, 1982; Arnheim, 1974). Portanto, a visão é um fenómeno pictórico. Observando

5 Segundo David Marr, a percepção visual é feita em três estádios sucessivos. No primeiro de todos a retina é afectada pela luz reflectida pelos objectos. A nossa percepção do mundo começa, portanto, por uma percepção bidimensional, em que apenas distinguimos zonas de diferentes intensidades de luz e arestas. Este estádio da percepção assemelha-se a um esboço ou desenho. Não se distingue volumetria nem espaço.

Page 49: “O Desenho e a Educação do Olhar”

49

cuidadosamente estas obras, os alunos tomam consciência daquilo que física e pictoricamente os

olhos vêem.

A variedade de exemplos escolhidos pretende tornar claro para os alunos a

importância destes factores visuais ou “truques” pictóricos. A obra do fotógrafo contemporâneo

Elgar Esser destaca-se de todos os outros exemplos. Consiste numa fotografia de uma paisagem.

Mas como não apresenta nenhuma das variáveis até então identificadas, ela não é identificável.

Esta fotografia em que a paisagem aparece imperceptível, serve para corroborar o que até então

foi descoberto e visto como útil para uma representação e comunicação da profundidade de

campo.

Para uma melhor interiorização, é proposta uma tarefa simples para que os alunos

apliquem as descobertas feitas: dêem livremente continuidade a um desenho previamente

analisado e discutido durante a apresentação (Vincent VanGogh, Paisagem da Ceifa, 1888),

procurando obedecer à estratégia utilizada pelo autor (a escala dos sinais gráficos e a definição

das figuras). Uma vez interiorizadas as variáveis da percepção espacial, pretende-se que o

trabalho final seja ocasião para uma aplicação autónoma e criativa das mesmas - o tamanho

relativo, a nitidez, a interposição, a textura e a cor. De modo a culminar as aprendizagens feitas

e dar sentido a toda a unidade programática, o trabalho final incide sobre a vegetação na

paisagem.

É pedido aos alunos que escolham a paisagem sobre a qual gostariam de trabalhar,

contando que o ponto de vista parta do interior do colégio e a paisagem contenha elementos

naturais. Para tal, é proposto aos alunos que analisem as várias vistas possíveis para espaços

naturais a partir de janelas do edifício escolar, presentes ao longo de caminhos que percorrem

diariamente na escola.

Espera-se que a observação da paisagem, sob a perspectiva composicional e atendendo

a fenómenos perceptivos, levem os alunos a adquirir um novo olhar sobre o espaço que

rotineiramente é o seu palco de trabalho e convívio. O olhar perceptivo sobre as coisas que

normalmente se conhecem pela função, leva o indivíduo a ver coisas que antes não se dava

conta. Proporciona, assim, uma via para a contemplação estética de tudo o que o rodeia

(Edwards, 2008).

A inclusão do factor de escolha é pedagogicamente importante na medida em que

desenvolve a liberdade e a autonomia do indivíduo. A escolha obriga o indivíduo a determinar

para si critérios, a ser selectivo, a tomar uma decisão e a responsabilizar-se por ela. Este aspecto

está implícito na teoria da auto-aprendizagem de Bandura (Santrock, 2008).

Na adolescência é frequente os alunos não saberem determinar critérios, o que os leva

a fazerem escolhas ao acaso ou a estabelecerem como critério a facilidade. Uma vez que o

professor é também um educador, ele deve acompanhar o aluno na gestão da sua liberdade,

Page 50: “O Desenho e a Educação do Olhar”

50

facultando-lhe os critérios que ele poderá usar numa primeira fase e que mais tarde deverá

questionar, verificando a sua veracidade (Giussani, 2001).

Deste modo, no trabalho final foram sugeridos os seguintes critérios para a escolha da

paisagem a trabalhar: inesperado, surpreendente, invulgar e o gosto próprio. A possibilidade da

escolha é importante para a motivação intrínseca do aluno, na medida em que ao trabalhar um

referente mais próximo dos seus interesses, o aluno trabalhará mais convictamente (Santrock,

2008).

A paisagem, a determinação de quatro planos de profundidade e as cores de cada

plano, são deixados à escolha dos alunos, contando que respeitem os princípios verificados em

aula sobre a representação da profundidade. A realização do exercício criará um efeito cénico

em que se percebe o afastamento gradual do espaço.

Page 51: “O Desenho e a Educação do Olhar”

51

5. Meios didácticos

5.1. O Diário Gráfico

A finalidade do Diário Gráfico é ser um “espaço pessoal” facilmente transportável onde

o aluno pode praticar, com alguma frequência, através da observação o desenho de

representação no espaço exterior à sala de aula. Sobre a importância deste instrumento, Sale e

Betti (2004, p.366) afirmam:

Sketchbook practice promotes freshness of vision and intensity of vision – of

seeing sometimes “as if” for the first time […]When several drawings are

made on the same subject, the content level of the drawing increases.

Sketchbooks are a “locus of memories”.

Para os alunos desta turma o Diário Gráfico não se apresentou como uma novidade. A

sua utilização já vinha sendo praticada desde o 6º ano. A opção pelo Diário Gráfico para os

alunos do 8ºB foi uma estratégia que visou servir três propósitos claros e importantes:

1 - Praticar com uma regularidade semanal a observação, fazer o seu registo gráfico

recorrendo ao desenho e dar aos alunos a oportunidade de uma escolha mais individual, uma vez

que a dinâmica de aula obriga, na maior parte das vezes, à realização de exercícios comuns a

todos;

2 - No diário, para além de temas semanalmente sugeridos, os alunos podiam escolher

livremente referentes de acordo com os seus interesses;

3 - Uma vez que o Diário Gráfico é um instrumento de trabalho paralelo à aula, ele serve de

ferramenta de pesquisa, espaço de aplicação das aprendizagens e, em certa medida,

complemento do trabalho realizado na aula.

Antes da leccionação da unidade curricular, para elucidar e motivar os alunos quanto à

utilização do diário, foi visualizada uma apresentação em PowerPoint de vários exemplos de

diários gráficos: diferentes autores, linguagens gráficas diversificadas, utilização de materiais e

técnicas variadas e diferentes enquadramentos.

Todos os exemplos eram de registo de observação directa. Verbalmente, foram descritos

exemplos de diários gráficos que incluíam registos imaginários, pesquisas plásticas e recolha de

objectos.

Ao longo desta unidade foi pedido aos alunos que, no seu Diário Gráfico, repetissem e

aprofundassem exercícios feitos na sala de aula: registo de quatro espécies diferentes de árvore e

Page 52: “O Desenho e a Educação do Olhar”

52

registo pormenorizado da sua folha. Para isso deveriam usar processos experimentados, tais

como desenho de contorno, desenho de estrutura, registo de claro/escuro e utilização de um

grafismo que sugerisse o ritmo e a textura criados pelas folhas na copa. A escolha das árvores

deveria assentar na diferença da sua estrutura ramificada (ou seja, espécies de árvores

diferentes). Esperava-se que a observação e o registo desta variação conduzissem a uma maior

compreensão da forma da árvore, mas também à superação do estereótipo da sua representação.

O registo da particularidade de cada uma, evidencia os aspectos formais semelhantes e distintos

entre elas.

O Diário serviu de suporte de desenho também durante a visita de estudo no âmbito da

disciplina de Ciências Naturais. Nele os alunos fizeram registos de paisagem, aplicando a

matéria dada em aula.

5.2. Processos, materiais e suportes

Todo o primeiro exercício foi executado recorrendo ao uso do lápis de grafite de dureza

média (2B) e papel cavalinho como suporte, em formato A4 ou A3 consoante a escala do

referente.

Uma vez que toda a primeira série de exercícios tem um carácter de representação mais

científico e o objectivo o de conhecer o meio envolvente, optou-se, em detrimento de uma

representação mais livre e expressiva, por propor aos alunos meios riscadores simples e

tradicionais, fáceis de manusear, com os quais já estão familiarizados. Estes meios simples

também são suficientemente rigorosos, práticos para transporte e uso no espaço exterior.

Pretendia-se ainda que a utilização de instrumentos e materiais diferentes motivasse os

alunos para a realização da tarefa proposta. Por essa razão, no primeiro exercício, sobre a

representação da paisagem, propôs-se também a utilização de pincel e aguada preta. O domínio

de um novo meio para estes alunos surge como um desafio e possibilita o contacto com novas

técnicas gráficas gerando novas soluções. Na procura do domínio de novos meios, os alunos

acabam por encontrar uma forma muito própria de fazer com que aquele material sirva o

propósito determinado. Esperava-se no entanto que este meio aquoso permitisse o

desenvolvimento de um traço mais fluido e expressivo.

Quanto à construção tridimensional, foi proposto a utilização de desperdícios de papel,

cola de madeira e arame fino. À excepção do arame, a escolha dos materiais seguiu um critério

de economia, facilidade de modulação e adequação em relação ao referente a representar. O

papel, concretamente a folha de jornal e determinados papéis de embrulho foi também eleito

pelas suas capacidades de manuseamento fácil. A sua dobragem e sobreposição vencem a sua

Page 53: “O Desenho e a Educação do Olhar”

53

fragilidade, tornando-se capaz de dar corpo a formas de maior dimensão. O uso do papel

também teve um sentido ecológico, uma vez que reaproveita o desperdício e evita novo gasto.

Este sentido ecológico ganha uma força maior pelo facto do papel ser um derivado da madeira.

O arame fino, utilizado como estrutura, ajuda a criar firmeza. Aos alunos, com a

orientação do docente, coube a tarefa de encontrar a melhor forma de manusear o material, de

modo a construir uma representação o mais fiel possível à forma.

O último trabalho englobou a utilização da fotografia, de cartolinas de diferentes cores,

de papel esquiço, lápis de carvão, lápis–de-cor, tesoura e cola. A proposta de uma construção

bidimensional visou proporcionar aos alunos um trabalho com uma componente plástica e

cromática maior que os trabalhos anteriores, aplicar conteúdos dados e facultar um maior espaço

de decisão e responsabilidade no trabalho pessoal.

O recurso à fotografia surge no contexto da pesquisa proposta. A objectiva da máquina

fotográfica ou o ecrã LCD da máquina digital, ao limitar o campo visual, efectua uma selecção,

uma escolha – mais ou menos consciente das suas implicações. Essa selecção corresponde ao

enquadramento. É esse enquadramento que faz da fotografia um instrumento de observação e

que leva à transformação da paisagem observada e vivida em quadro, isto é, em imagem que

influenciará o olhar de outros.

O registo fotográfico pretendeu servir apenas como auxiliar de análise sobre a

composição da paisagem escolhida. Sobre a impressão fotográfica torna-se mais fácil identificar

vários planos de profundidade. Depois de assinalá-los e esquematizá-los, é possível proceder-se

à sua representação em papéis de diferentes cores. Esta actividade implica o recorte, o desenho e

a colagem. O resultado plástico traduz-se numa simplificação da realidade, devendo

compreender-se a profundidade de campo.

5.3. Apresentações em PowerPoint

Cada uma das apresentações, Estrutura: fractal e Ver mais longe, visualizadas em aula

por meio de um projector digital, foram recursos de introdução a um conjunto de exercícios

práticos.

As apresentações consistiam numa série de imagens destinadas a serem exploradas em

aula com os alunos por meio de perguntas, provocações e comparações. Elas revelam o tema em

foco. Foram seleccionadas criteriosamente imagens que servissem de referência para os

exercícios e enriquecessem o vocabulário imagético, artístico e visual dos alunos.

Podemos dividir a apresentação Estrutura: fractal (Anexo V) em quatro partes:

Page 54: “O Desenho e a Educação do Olhar”

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Temas Imagens

1. A estrutura ramificada da árvore

e explicação da teoria de

Leonardo da Vinci sobre a

proporção dos seus ramos e o

seu esquema de

desenvolvimento.

Árvore, Leonardo da Vinci

2. Outras estruturas fractais com um esquema de desenvolvimento semelhante, mas de seres diferentes.

Fotografia microscópica de veias humanas

Fotografia aérea do Rio Jordão

Fotografia de relâmpagos

Fotografia de bronquíolos

Esquema vascular de folha

3. Obras de artistas que abordaram esta forma/estrutura

Alberto Carneiro, Árvore, 1999-2000, Bronze; 170 x 85 x 430 cm

Van Gogh,

-Amendoeira em flor, 1890, Óleo s/ tela,

73.5 x 92.0 cm.

-Ciprestes, 1889, Óleo s/ tela,

93.3 x 74.0 cm.

-Ciprestes com duas mulheres, 1890

Piet Mondrian

-Chrysanthemum, 1908–09. Carvão s/ papel. 25.4 x 28.7 cm.

-Árvore vermelha, c.1909. Óleo s/ tela. 27

3/8" x 39".

-A Árvore Cinzenta. / De grijze boom. 1912. Óleo s/ tela. 78.5 x 107.5 cm

-Árvores em flor. / Bloeiende bomen.

1912. Óleo s/ tela.65 x 75 cm

Page 55: “O Desenho e a Educação do Olhar”

55

-Tableau No. 2/Composition No. VII, 1913. Óleo s/ tela 104.4 x 113.6 cm

4. Ilustração científica de flores e folhas

Ilustrações científicas de espécies de flores

Representações de folhas, Ana Oliveira

Tabela 2 - Estrutura: Fractal. Temas e imagens

Os pontos 1 e 4 são os mais expositivos. Quanto aos desenhos de Leonardo da Vinci no primeiro conjunto, fez-se referência ao estudo científico do pintor sobre a proporção de crescimento dos ramos.

All the branches of a tree at every stage of its height when put together are equal in thickness to the trunk below them . All the branches of a water course at every stage of its course, if they are of equal rapidity, are equal to the body of the main stream.

Every year when the boughs of a plant or tree have made an end of maturing their growth, they will have made, when put together, a thickness equal to that of the main stem; and at every stage of its ramification you will find the thickness of the said main stem; as: _i k_, _g h_, _e f_, _c d_, _a b_, will always be equal to each other; unless the tree is pollard--if so the rule does not hold good. (Vinci, 2004, entrada:394 e 395)

Explicou-se que este tipo de desenvolvimento estrutural cuja razão de divisão das suas

partes repete-se infinitamente, chama-se fractal e existe em vários seres e situações da Natureza.

Os alunos foram questionados sobre as imagens dos pontos 2 e 3.

No ponto 2 foi feito um jogo de identificação: O que é que estamos a ver na imagem?

Fotografias de estruturas orgânicas ramificadas, aparentemente semelhantes a uma árvore

estudada por Leonardo da Vinci, levariam a identificá-las como árvores numa primeira leitura.

A sequência do desenho de Leonardo e da fotografia em alto contraste de uma rede de um

conjunto de veias, dificilmente leva a concluir outra coisa. A estratégia implícita conduziria à

surpresa de ver a legenda da imagem Veias. Isto levaria à consciência que este tipo de estrutura

existe em vários elementos da Natureza e em escalas muito diversas, e à constatação que é

necessário olhar atentamente para os objectos e usar as várias faculdades da inteligência para

identificá-los, não nos detendo no óbvio ou naquilo que parece à partida.

Page 56: “O Desenho e a Educação do Olhar”

56

As obras e os processos artísticos foram vistos, questionados e explicados de um modo mais

breve. Esperava-se que desta visualização resultasse a compreensão da existência de diversas

possibilidades artísticas sobre a abordagem da forma e da estrutura da árvore e a consciência

desta ser um tema recorrente na arte ao longo dos tempos.

A visualização do último conjunto de imagens serve de introdução ao exercício a realizar de

imediato: o desenho por observação de uma folha, tendo em atenção a estrutura nos seus veios e

a sua forma envolvente. O cuidado de colocar a maior quantidade de informação possível na

representação seria próximo da atitude do biólogo que estuda plantas procurando descrevê-las e

classificá-las (conforme os exemplos dados na apresentação).

A apresentação Ver mais longe (Anexo VI) dá título ao último conjunto de exercícios que

fazem parte da segunda sub-unidade e que se relacionam com o tema da paisagem. Das 10

imagens que compõem esta apresentação, seis são pinturas ou desenhos e quatro são fotografias

ou stills. As imagens destinam-se a ser problematizadas.

Nas duas primeiras imagens, La condition humain de René Magritte e La Gioconda de

Leonardo da Vinci, os alunos foram levados a interpretarem o que viam. Foram levantadas

questões tais como: o que estão a ver no quadro? O que é que é estranho aqui? Já observaram

este pormenor, o que é? O que é que o artista quererá dizer com isto? Conduziu-se o diálogo

para que despertasse os alunos para a questão da ilusão óptica na pintura, e logo, para as

estratégias de representação da profundidade na e da paisagem.

Nas restantes imagens procurou-se que os alunos, com orientação, identificassem essas

estratégias, isto é, as variáveis pictóricas indicadoras de profundidade: interposição, relações

luz/ sombra, tamanho relativo dos elementos, gradiante textural, posicionamento no campo.

Imagens Itens de análise

René Magritte, La condition humain, 1934, Óleo s/ tela

A pintura enquanto: o representação da realidade o janela para o mundo o ilusão da realidade

Leonardo da Vinci, La Gioconda, Óleo s/ tela

O enigma do sorriso de Gioconda relacionado com a configuração da paisagem

Sfumato

Caspar Friedrich, Árvore Solitária, 1821; Óleo s/ tela; 55 x 71 cm

Tamanho relativo dos elementos

Nitidez e nível de pormenor

Interposição

Cor e contraste

Relações de luz/sombra

Page 57: “O Desenho e a Educação do Olhar”

57

Posicionamento

William Turner, The Lake of Brienz; 1809; Aguarela; 38,8 x 55,6 cm

Tamanho relativo dos elementos

Nitidez e nível de pormenor

Interposição

Cor e contraste

Posicionamento

Peter Jackson, Lord of the Rings (2001); 03:42:37’:83’’

Nitidez e nível de pormenor

Interposição

Cor e contraste

Vincent Van Gogh, Vista de Arles, 1888; Tinta s/ papel

Tamanho relativo dos elementos

Nitidez e nível de pormenor

Interposição

Contraste

Posicionamento

Vincent Van Gogh, Paisagem da ceifa; 1888; Aparo e tinta s/ papel

Tamanho relativo dos elementos

Nitidez e nível de pormenor

Interposição

Textura

Peter Jackson, Lord of the Rings (2001); 03:49:32’:132’’

Tamanho relativo dos elementos

Nitidez e nível de pormenor

Interposição

Cor e contraste

Elgar Esser; Baie de la Somme, France; 2005; Prova por revelação cromogénea, colada sobre Diasec; 181 x 242 cm

A ausência dos itens analisados nas imagens anteriores, tornam imperceptível a identificação da espacialidade e da paisagem.

Peter Jackson, Lord of the Rings (2001); 01:11:11’:83’’

Tamanho relativo dos elementos

Nitidez e nível de pormenor

Interposição

Cor e contraste

Relações de luz/sombra

Tabela 3 - Ver mais longe. Imagens e Itens de análise

Page 58: “O Desenho e a Educação do Olhar”

58

5.4. O trabalho de campo e a visita de estudo

Como já foi referido, levar este grupo de alunos para um espaço exterior à sala de aula

visava proporcionar-lhes o envolvimento e a experiência do lugar. Pretendia-se que a tarefa que

os conduzia ao local, lhes despontasse gradualmente um novo olhar sobre os elementos do

espaço onde se encontrariam – quer seja no pátio do colégio, quer seja no Parque da Quinta das

Conchas.

Embora numa primeira etapa os referentes fossem unitários (uma folha, uma árvore),

seria menos enriquecedor desenhá-los dentro de uma sala de aula, ou seja, fora do seu meio

natural. Enquanto o ambiente laboratorial da sala de aula favorece um nível de concentração

maior, a inserção no ambiente onde as árvores se encontram possibilita uma melhor

compreensão do seu desenvolvimento e, consequentemente, da sua forma. Permite relacionar

uma dada árvore com outras que porventura se encontrem no espaço e/ou com o espaço

arquitectónico.

A vivência destes dois espaços e os pontos de vista que nela estão implicados, são

importantes para o confronto com outro ponto de vista muito distinto a adoptar no final da

unidade: uma vista distante, panorâmica e exterior a partir do interior da escola.

Para melhor compreender a perspectiva aérea e para tomar consciência da questão do

enquadramento e da composição numa paisagem (relação formal de elementos naturais entre si

ou com formas arquitectónicas), foi planeado uma visita de estudo à Fundação Calouste

Gulbenkian, em Lisboa. A visita de estudo à Fundação Calouste Gulbenkian pretendia ser motor

para uma transfiguração do olhar dos alunos perante a paisagem.

A visita estava prevista a três espaços: o Museu Calouste Gulbenkian, o Centro de Arte

Moderna José Azeredo Perdigão (CAMJAP) e o jardim. A passagem pela colecção do Museu

tinha como intenção a análise e reflexão sobre algumas obras em que a paisagem está presente.

Tanto na colecção do Museu como na do CAMJAP a questão de fundo que deveria mover os

alunos e conduziria a nossa visita seria a descoberta da estratégia usada pelos artistas na

abordagem da paisagem. A escolha das obras pretenderia dar uma ideia abrangente dos modos

como os meios artísticos se relacionam com a Natureza. Vendo in loco obras em que a

representação da paisagem recorre a estratégias próprias da pintura, relacionadas com o

funcionamento do sistema perceptivo humano (perspectiva aérea), pretendia-se uma

compreensão mais sólida da matéria previamente discutida em aula. A abordagem de obras

modernas e contemporâneas que vão para além dessas estratégias clássicas, procurando outros

meios para fazer referência ao espaço natural, tinha como intenção expandir o horizonte dos

alunos acerca das possibilidades de relação entre arte e Natureza, podendo ter reflexos no seu

Page 59: “O Desenho e a Educação do Olhar”

59

próprio trabalho em aula. Em ambos os espaços a visita seria acompanhada de uma ficha de

trabalho e incluiria o registo gráfico de dados significativos.

No espaço do jardim, far-se-ia uma introdução acerca da sua origem, autor e conceitos

implícitos à sua criação, e procurar-se-ia despertar os alunos para a disposição dos percursos

possíveis no jardim que levam o observador a ver vários “quadros” ao longo daquele espaço.

Pretendia-se também ajudar os alunos a perceber que a escolha das espécies de árvores, a sua

localização, a localização do anfiteatro, bancos, lagos, obstáculos visuais não é imprevista e que

existe uma articulação cuidada entre a arquitectura e a vegetação.

Após esta introdução, a tarefa principal seria desenhar o jardim a partir de um ponto de

vista cuja escolha tivesse em atenção a relação harmoniosa entre a vegetação e os elementos

arquitectónicos (edifícios, bancos ou escadas). A compreensão desta relação é já um despertar

para uma consciência compositiva a ser utilizada no trabalho final. Esta tarefa deveria ser

executada no Diário Gráfico.

No entanto, devido a vários eventos curriculares imprevistos, por falta de tempo extra e

por motivos disciplinares, não foi possível realizar a referida visita.

No âmbito da disciplina de Ciências Naturais a turma realizou uma visita de campo ao

Parque Natural Sintra-Cascais, sendo o intuito da visita observar a constituição rochosa da zona

e, através dos dados visíveis na paisagem, conhecer a história geológica de Sintra.

Houve nesta visita de estudo, aplicando alguns princípios trabalhados em aula, ocasião

para desenhar a paisagem no Diário Gráfico.

Page 60: “O Desenho e a Educação do Olhar”

60

6. Descrição sumária das aulas

As descrições feitas neste capítulo consistem em relatos da concretização prática da

planificação concebida (ver Anexo IV). Estas descrições incluem ocorrências, as reacções dos

alunos face às propostas, o seu comportamento, o seu desempenho e dificuldades, entre outras

observações.

Aula 1 – Desenho de árvores no espaço exterior

Depois de reunir todos os alunos na sala de aula munidos do material básico com que

habitualmente trabalham (lápis de grafite 2B, borracha e bloco de papel Cavalinho A4), foi

enunciada a actividade a realizar e os parâmetros que os deveriam conduzir.

Os dois tempos de 50 minutos da aula estavam destinados ao desenho de três espécies

distintas de árvores. Deveriam usar o desenho de contorno e registar cuidadosamente a estrutura

ramificada de cada árvore. Tanto quanto possível deveriam escolher árvores cuja estrutura

ramificada se desenvolvesse de forma diferente. Dentro da sala de aula foi sucintamente

demonstrada e explicada, através de um registo gráfico, no quadro da sala de aula, como é que

esta estrutura se desenvolve (referindo a teoria de Leonardo da Vinci sobre a proporção dos seus

ramos de acordo com a sua hierarquia na árvore).

Estava inicialmente planeado que este registo seria feito no parque da Quinta das Conchas,

mas como a visita de estudo não se realizou, pois a turma encontrava-se sob vigilância

disciplinar de comportamento, havendo necessidade do acompanhamento de um terceiro

professor, que por motivos imprevistos não pôde comparecer, optou-se então por realizar a

actividade dentro do espaço do colégio.

Os alunos realizaram a tarefa com um grau razoável de motivação. Muitos empenharam a

sua energia em corresponder ao que lhes foi solicitado, não tendo, no entanto, conseguido

realizar o registo gráfico completo de três árvores. Uma vez que a área da escola é vasta, não foi

possível acompanhar individualmente todos os alunos.

As árvores e plantas dentro do recinto escolar são ainda muito jovens. A simplicidade dos

seus ramos em pequeno número, e dos seus troncos finos e pouco rugosos tornaram o exercício

de mais fácil realização. Contudo também é visualmente menos estimulante do que o espaço e

as espécies seculares do parque. Algumas dessas árvores são visíveis a partir do colégio, e

muitos alunos tentaram desenhá-las. Mas a distância excessiva dificultou a tarefa.

De uma maneira geral, os alunos sentiram alguma aridez e dificuldade na realização do

exercício e na aprendizagem de algo novo.

Page 61: “O Desenho e a Educação do Olhar”

61

Aula 2 – Estrutura ramificada

Em face das dificuldades sentidas pelos alunos, considerou-se que, possivelmente, a

metodologia não foi a mais adequada para o seu nível etário. Sentiu-se que os alunos

necessitavam de mais informação. Uma apresentação prévia do tema, com uma abordagem mais

científica (razão numérica de crescimento, modos de crescimento biológico que condicionam a

forma e estrutura da árvore, etc.) e com a visualização de vários exemplos ao nível das artes

plásticas, mais informação, essencialmente visual, daria mais solidez aos alunos na execução do

exercício proposto. Dada a facilidade de dispersão da atenção, também se considerou que os

alunos necessitavam de uma estratégia que os ajudasse na concentração. Em vez de outra aula

realizada no espaço exterior, decidiu-se reformular o plano e realizar uma actividade de carácter

laboratorial, na sala de aula: a representação de uma folha.

Durante a apresentação em PowerPoint Estrutura: fractal, os alunos participaram

activamente com diversas observações e respondendo às questões levantadas. Permaneceram

atentos ao longo do conjunto de imagens que mostravam as estruturas ramificadas.

Os diapositivos com abordagens de carácter artístico em torno da árvore, gerou uma maior

dificuldade de entendimento nos alunos. A minúcia técnica das ilustrações científicas deixou-os

apreensivos.

Após a análise das referidas ilustrações e a explicação do procedimento a usar para obter um

resultado semelhante (o da parecença com o real) criou novamente motivação. A apresentação,

conforme previsto, demorou 30 minutos.

Seguidamente os alunos escolheram uma folha de entre as diferentes espécies recolhidas no

parque da Quinta das Conchas. Foi-lhes referido que os exercícios que iriam realizar eram uma

breve abordagem à ilustração científica. Foi-lhes ainda explicado o que deveriam representar da

folha e qual o método de desenho que poderiam utilizar, do mais geral para o mais

pormenorizado: forma geométrica geral, contorno, estrutura dos veios, textura e claro-escuro. A

explicação das várias etapas foi acompanhada de exemplos executados pela professora e

expostos no quadro. Os alunos realizaram o exercício com empenho e elevado grau de

concentração. As folhas que suscitaram mais dificuldade foram a folha do cedro e a folha do

eucalipto. Seguidamente a professora procurou orientar os alunos na tentativa da descoberta de

uma estrutura organizativa dessas folhas e o ritmo com que os vários elementos texturais se

encontram dispostos.

No final da aula, os alunos revelaram um nível razoável de satisfação com os resultados

obtidos.

Aula 3 – Visita ao parque da Quinta das Conchas

Uma vez familiarizados com a forma e a estrutura de uma folha de árvore, os alunos

levaram os seus registos gráficos até ao parque da Quinta das Conchas para encontrar a árvore

Page 62: “O Desenho e a Educação do Olhar”

62

correspondente e verificar se a estrutura e a forma envolvente da respectiva árvore tinha alguma

semelhança com a estrutura de veios e contorno da folha. O tempo da aula revelou-se curto para

encontrar e desenhar a árvore, uma vez que o registo em si apresentava algum grau de

dificuldade.

Alguns alunos empenharam-se na tarefa apesar de se confrontarem com problemas que não

conseguiam resolver sozinhos, como por exemplo, o registo de todos os ramos da árvore e das

folhas da copa. Habituados a um desenho pormenorizado, os alunos tiveram dificuldade em

abarcar a complexidade de uma ramificação grande e de inventar um ritmo gráfico e gestual que

representasse sucintamente a disposição das folhas.

Aula 4 – Desenho de um ramo

Relativamente ao exercício anterior, os alunos sentiram maior facilidade no desenho do

ramo. O desenho de observação dentro da sala de aula, o olhar focado sobre um objecto de

pequena escala, tomando em atenção a forma e os pormenores, usando como meio de expressão

a linha, foi uma tarefa mais familiar e decorreu com serenidade.

Aulas 5 e 6 – Representação tridimensional de um ramo

O exercício anterior, da quarta aula, serviu como um estudo prévio do exercício a

desenvolver nesta aula.

O confronto dos alunos com algumas dificuldades sentidas na modulação, veio a

proporcionar um conhecimento mais real da volumetria e da disposição das partes constituintes

deste objecto.

À parte da dificuldade formal, o modo de usar os materiais para conseguir construir a

estrutura desejada também criou algum grau de dificuldade na execução do exercício proposto:

a ligação de várias folhas, o conseguir ligar vários ramos de papel, a maneira como usar o

aglutinante, como dar consistência e solidez à forma, etc.

Cada aluno, com persistência e orientação, fez a sua descoberta em relação a estas questões

– como aplicar cola e/ou arame, como modelar e unir o papel, ou seja como construir a forma.

Todo o material empregue havia sido antecipadamente solicitado aos alunos, contudo nem

todos tiveram a possibilidade de corresponder ao pedido. Em alternativa foi-lhes solicitado a

procura, pela escola, de desperdícios de papel que pudessem ser utilizados.

Após a recolha dos desperdícios de papel, usaram cola e tesouras existentes na sala de aula.

Alguns alunos utilizaram a fita-cola adesiva incolor e fita-cola adesiva castanha, após a

descoberta que a fita castanha não só aglomerava o papel mas também permitia dar a forma que

pretendida, obtendo uma cor final semelhante ao ramo que representavam.

Estes alunos assumiram esta qualidade e revestiram todo o seu trabalho com a referida fita.

Page 63: “O Desenho e a Educação do Olhar”

63

Aula 7- Introdução à paisagem e à perspectiva aérea

Os alunos estiveram menos atentos durante esta apresentação. Foi com alguma dificuldade

que os alunos tiraram conclusões das imagens visualizadas.

Muitos alunos tiveram dificuldade em perceber o que é que Magritte representa na sua obra:

uma tela pintada, sustentada por um cavalete, em frente a uma janela. Dada a coincidência das

imagens, apenas os pés do cavalete serviram de pista. Nas pinturas de Friedrich, Turner e Van

Gogh, os alunos conseguiram apontar as variáveis pelas quais compreendemos que o pintor

representa profundidade. Os stills foram mostrados para comprovar que as variáveis não dizem

respeito à pintura e ao desenho, mas são elementos visuais. Os alunos identificaram

imediatamente de que filme era originário o still e a sua atenção revelou que compreenderam

este facto.

Tendo permanentemente projectado o desenho de Van Gogh, os alunos realizaram o

exercício de desenho de paisagem. A tentativa de desenharem com tinta e de inventarem a

continuação do desenho, foi bem acolhida. Um dos alunos percebendo que salpicando o pincel

molhado e raspando o pincel seco originavam pequenos pontos de tamanho próximo aos usados

por Van Gogh em algumas áreas do desenho. O aluno recorreu então a esta descoberta. Outros,

percebendo que o autor utilizara tinta mais concentrada e outra mais diluída no seu desenho, e

que isto também ajudava a definir o espaço, pediram para usar diferentes saturações da aguada

para obter um melhor efeito de profundidade.

Aulas 8, 9, 10, 11 e 12 – Projecto paisagem

Poucos alunos trouxeram, como foi pedido, o registo fotográfico da paisagem que elegeram,

tendo como ponto de partida o interior do colégio. Aos que não trouxeram, foi-lhes dado o

tempo restante da aula para escolherem a paisagem e registarem-na através do desenho numa

folha A3. Os que trouxeram o registo puderam logo determinar o limite dos planos de

profundidade, com o auxílio de uma folha de papel vegetal. Seguidamente, desenharam

isoladamente cada um dos planos, a partir do real, sobre cartolina de cor, começando pelo

primeiro plano. O processo de produção de cada um dos planos mostrou-se demorado. Apesar

de terem um prazo curto, os alunos dispersaram muito a sua atenção ao trabalhar no espaço

exterior, em locais comuns aos seus recreios. Uma vez que as duas últimas aulas coincidiram

com tolerâncias de ponto, houve muitos alunos que faltaram. Alguns não chegaram a concluir o

trabalho. Por essa razão foi permitido aos alunos terminarem o trabalho no último dia,

inicialmente destinado apenas à avaliação dos trabalhos realizados ao longo da unidade

curricular. No final da aula os alunos responderam por escrito a algumas questões sobre a sua

aprendizagem.

Page 64: “O Desenho e a Educação do Olhar”

64

7. Avaliação

Uma vez que os trabalhos e a aprendizagem são sobretudo práticos, a avaliação recaiu

sobre o empenho do aluno no processo de trabalho e sobre o resultado plástico da actividade

proposta. Ao empenho de cada aluno não foi dada uma cotação própria, mas foi valorizado

qualitativamente na atribuição da classificação final do exercício. O acompanhamento contínuo

dos alunos, a observação do seu comportamento e o conhecimento gradual das suas capacidades

e dificuldades, permitiu avaliar, a partir do trabalho final, o esforço investido, a aprendizagem

feita e as competências adquiridas.

Todos os exercícios foram avaliados quantitativamente numa escala de 0 a 20 valores. A

cotação total do exercício foi dividida com diferentes pesos pelos vários itens de avaliação, de

acordo com a sua importância e segundo os objectivos determinados.

Grande parte dos exercícios tinham como objectivo desenvolver nos alunos a

capacidade de análise e a representação. Esta competência foi avaliada pela quantidade de

informação registada e/ou pela qualidade desse registo. Um aluno pode não ter sido capaz de

registar muita informação, devido ao seu ritmo de trabalho ser lento, mas a qualidade do seu

traço, o tipo de informação que regista e o rigor com que o faz podem indicar uma observação

séria e cuidada sobre o objecto e um conhecimento adquirido sobre o referente. Por isto, a

avaliação procurou valorizar mais a aquisição das principais competências determinadas, visível

na qualidade dos trabalhos, do que a conclusão dos mesmos. Contudo, a quantidade ou extensão

do trabalho requerido, teve como propósito uma prática, um processo e a obtenção de um

resultado que favorecesse uma determinada aprendizagem.

Classificar de modo igual um aluno que não concluiu o exercício e outro que com

esforço chega ao fim, não seria inteiramente justo nem verdadeiro enquanto retorno para os

alunos. Seria negativo do ponto de vista educacional, criando no espírito dos alunos que não é

necessário nem recompensador o esforço e o terminar de projectos começados. Assim,

praticamente todos os exercícios têm uma cotação para o resultado final. Este item premeia os

alunos que acabam a tarefa e valoriza o resultado enquanto mais do que uma mera soma das

etapas realizadas. Valoriza outras aprendizagens e conquistas que o aluno poderá ter efectuado

para além das que foram previstas, tomando em conta as qualidades plásticas do seu trabalho.

Os critérios próprios de cada exercício encontram-se resumidos na tabela seguinte:

Page 65: “O Desenho e a Educação do Olhar”

65

Exercício Critérios de Avaliação

Cot

ação

(val

ores

)

Desenho de árvores

-primeira abordagem

com desenho de

contorno

Escolha da árvore (pertinência da escolha)

Qualidade do registo tendo em atenção:

- A capacidade de análise medida pelo nível de

informação, e capacidade de representação

- O uso do desenho de contorno e a correcção da

informação, quanto à forma e estrutura

Quantidade/Finalização de 3 desenhos

1,5

13

4

1,5

Desenho de

observação de folha

Capacidade de análise e representação:

forma envolvente 7

estrutura dos veios 7

claro/escuro e textura (se significativa) 2

nível de informação registada 3

Resolução final 1

Desenho de

observação de árvore

Identificação da árvore correspondente à espécie da

folha desenhada

1

Capacidade de análise e representação da forma e

estrutura

13

Caracterização da textura 1

Representação das folhas através de um grafismo

adequado

3

Resolução final 2

Desenho de

observação de ramo

Capacidade de análise e representação:

Forma e estrutura

12

Textura, sugerida através de um grafismo 6

Resolução Fina 2

Representação 3D de

ramo

Capacidade de representação da forma e estrutura 13

Solidez e consistência da construção 1

Page 66: “O Desenho e a Educação do Olhar”

66

Domínio dos materiais

- Dar forma

- Qualidade expressiva

2

2

Resolução final 2

Desenho de paisagem Enquadramento e colagem da reprodução da obra de

Van Gogh na página

1

Continuidade e coerência com o desenho de Van Gogh

(conteúdo)

3

Respeito pela dimensão dos elementos gráficos em

relação à profundidade

12

Domínio técnico e expressivo dos materiais 2

Resolução final 2

Paisagem Final Escolha da vista, registo, enquadramento escolhido 2

Determinação dos planos de profundidade 1

Execução:

- Capacidade de representação gráfica 3

- Respeito pela composição da paisagem 2

- Respeito pelo nível de pormenor em relação à

profundidade

2

- Respeito pela dimensão dos elementos em relação à

profundidade

2

- Adequação das cores escolhidas: graduação

cromática dos planos em relação à profundidade

2

- Recorte e colagem 1

Resultado final 3

Tabela 4 - Critérios de Avaliação e Cotação

O Diário Gráfico teve uma avaliação própria com critérios específicos, de acordo com

os objectivos determinados desde o início do ano. Cada desenho foi avaliado numa escala de

Page 67: “O Desenho e a Educação do Olhar”

67

0-5 valores. Deste modo a avaliação tomou em conta a frequência de registos e a qualidade de

cada um.

Por sua vez, o diário teve um peso de 20 % na nota final. Com este valor pretendia-se

levar os alunos a compreender a importância que a prática contínua da observação e do registo

gráfico têm para a aprendizagem na disciplina de Educação Visual. Assim, essa prática teve

expressão directa na avaliação quantitativa final e expressão indirecta pelo desenvolvimento que

proporciona ao aluno ao longo do ano e que se espera que se reflicta sobre os trabalhos da aula.

Ao longo do período o Diário Gráfico foi avaliado duas vezes: uma avaliação intercalar

formativa e uma avaliação final de período somativa.

A classificação quantitativa e uma apreciação qualitativa foram comunicadas

individualmente ao aluno em cada uma dessas vezes.

Diário Gráfico

Critérios Valor por desenho

Capacidade de análise e representação

Enquadramento e registo do contexto

Rigor, apresentação e resultado final

4

0,5

0,5

Tabela 5 - Critérios de avaliação e Cotação do Diário Gráfico

O peso que cada trabalho teve na classificação final do respectivo período foi atribuído

de acordo com o número de aulas despendidas em cada trabalho e com a importância da

actividade para a aprendizagem de determinado conteúdo (ver Anexo XXV e XXVI). Quando

por falta de presença ou doença o aluno não realizou um determinado trabalho (exceptuando o

Diário Gráfico), o valor desse trabalho foi divido por outros trabalhos, de acordo com a sua

importância.

Aos alunos assinalados como apresentando necessidades educativas especiais foi dado

alguma tolerância em relação à quantidade de trabalho considerada, e o nível de exigência foi

ajustado à medida das capacidades e dificuldades verificadas ao longo do ano, em cada aluno

(ver Anexo III). Com os restantes alunos o nível de exigência tomou em consideração as

capacidades e dificuldades de cada um, o facto de serem adolescentes maioritariamente de treze

anos e cujo percurso pela Educação Visual foi muito marcado pelo exercício do desenho. O

desenvolvimento dos trabalhos e a dinâmica da aula foram avaliados qualitativamente. Os

trabalhos executados foram avaliados quantitativamente na avaliação intercalar (a meio de cada

Page 68: “O Desenho e a Educação do Olhar”

68

período) e na classificação final de cada período. Em cada um destes momentos as

classificações de cada trabalho e final foram afixadas no placar da sala de Educação Visual.

Segue-se uma avaliação detalhada dos trabalhos realizados ao longo da unidade

curricular. Os trabalhos referidos podem ser vistos nos Anexos VII, VIII, XIX, XX, XXI, XXII

e XXIII.

Exercício 1 – Árvore (ver Anexo VII)

No primeiro exercício foi mais valorizada a qualidade dos registos que os alunos

conseguiram fazer dentro do tempo dado, do que a quantidade de desenhos realizados. Entre os

resultados, houve alunos que não completaram os três registos – uns por motivo de desleixe,

outros por terem um extremo cuidado no desenho. Outros completaram ou excederam os três

registos, mas sem grande cuidado quanto à compreensão e captação da estrutura e da forma.

Os desenhos em A10, A11 e A12 não têm todos a mesma qualidade. É clara uma

evolução do primeiro desenho – pequeno e esquemático - para o último – com uma escala

maior, desenho de contorno, registo de pormenores da árvore e do seu esquema de ramificação.

Em A1 a A8, o aluno fez muitas tentativas, mas não se concentrou realmente em

nenhuma delas. Nos desenhos A4 a A8, fez registos pequenos e muito elementares da estrutura

da árvore e das formas dos ramos. Isto é visível concretamente em A6, onde representa um

pequeno limoeiro e em A5 onde representa um pinheiro (sem a copa). Ele faz um apontamento

dos principais ramos, mas é notório que não se preocupou em compreender a estrutura

aprofundadamente (não procurou desenhar todos os ramos, nem perceber as relações de

espessura). Mostra uma compreensão simplista. No desenho da figura A2 o aluno conseguiu um

resultado melhor.

Nos desenhos das imagens A16, A17 e A18 a aluna regista árvores que se encontram a

uma grande distância. Este facto dificultou a tarefa. Em A16 é notória uma preocupação pela

forma da árvore (reclinada, cujos ramos são ondulados), mas não está completa. Em A17 e A18

a simplificação cai no estereótipo sem rigor. A aluna também fez várias anotações escritas nas

suas páginas, de grande peso e ruído visual, procurando colmatar a ausência de informação

gráfica. É exemplo de um trabalho fraco.

O caso em A19 a A21 é um exemplo de um trabalho muito bem sucedido. O aluno

registou com linha de contorno a complexidade da estrutura de tronco e ramos de três árvores

distintas, procurando apontar a maior quantidade de informação possível sobre os ramos e

registou inclusivamente a textura do pinheiro (tarefa desnecessária) (A20).

A9 e A15 são os desenhos únicos de duas alunas referenciadas como apresentando

necessidades educativas especiais. O primeiro, apesar de muito esquemático, é bastante

naturalista. A árvore observada era de facto muito simples e tinha ramos muito finos. Em vista a

uma melhor compreensão da forma e estrutura, foi sugerido à aluna que representasse a

Page 69: “O Desenho e a Educação do Olhar”

69

espessura dos ramos com a grossura do traço do seu lápis. No segundo caso, apesar de único e

incompleto, é visível a atenção dada pela aluna à forma. Tendo em conta as capacidades

reveladas por esta aluna noutros trabalhos, este foi considerado um trabalho razoável.

De um modo geral, os alunos foram bem sucedidos no exercício. O desenho de contorno

mostrou-se ser um meio eficaz para observar e registar a forma na sua essencialidade e de modo

reconhecível. O facto de os alunos terem utilizado a técnica com outro referente anteriormente,

facilitou a tarefa. Contudo, a finura dos ramos e o seu grande número, deram alguma dificuldade

a esta tarefa.

Considera-se que o trabalho e a aprendizagem teriam sido mais produtivos se em primeiro

lugar se tivesse começado pela apresentação e análise de imagens, e pelo desenho do elemento

menor, mais simples e passível de ser analisado no ambiente mais íntimo e tradicional da sala de

aula, antes de ir para o espaço exterior desenhar árvores. Verificou-se que a dificuldade sentida

face à novidade (novo referente, novas formas, nova desafio), não veio a suscitar o interesse dos

alunos em ordem à vontade de investigar e descobrir (motivação), mas antes tornou-se hostil,

desmotivando-os. Induz-se que, uma vez que os alunos passam todos os dias pelas árvores

existentes no colégio, elas não se lhes afiguraram como algo verdadeiramente novo. A

familiaridade do objecto dificultou a capacidade de abordá-lo com um olhar novo (perceptivo,

formal). A simplicidade formal de algumas árvores jovens e a familiaridade à sua presença,

também tornou difícil para alguns alunos encontrarem pontos de interesse. Por outro lado,

alguns alunos sentiram dificuldade ou até incapacidade de abarcar a multiplicidade dos ramos

na estrutura das árvores. Quer a familiaridade, quer a complexidade necessitavam de uma outra

etapa que ajudasse a compreender melhor a estrutura, despertando o interesse dos alunos que

viam uma forma banal, e ajudando à organização e simplificação os que se sentiam incapazes da

representação.

Os alunos sentiram falta de um método que lhes permitisse representar capazmente o que

lhes era pedido, sem caírem na frustração. Para isso, uma primeira abordagem de um elemento

mais simples e pequeno e a compreensão científica prévia da estrutura, dariam as bases para

lançarem-se em seguida com confiança na representação das árvores e na descoberta mais

profunda da particularidade da sua forma.

Exercício 2 – Folha (ver Anexo VIII)

A representação gráfica da folha de árvore teve muito bons resultados. Até os alunos que

normalmente apresentam mais dificuldades conseguiram realizar um trabalho de qualidade. Este

facto deveu-se à divisão da actividade em etapas simples, ou seja, a uma metodologia científica.

Um exemplo ilustrativo do trabalho, facultado pelo docente, ajudou a tornar mais claro o que

era pretendido em cada etapa do processo. A tarefa individual, a observação focada sobre um

objecto próximo e de pequenas dimensões, e as etapas de trabalho claras, permitiram aos alunos

Page 70: “O Desenho e a Educação do Olhar”

70

chegar a desenhos completos e cuidados, e à compreensão da forma e estrutura vascular da

folha. Compreenderam que a estrutura dos veios da folha obedece a um esquema que se repete

até ao infinitamente fino e pequeno; contudo, os veios são únicos.

Posto isto, alguns alunos procuraram aplicar a repetição de um módulo encontrado. Foi o

caso dos alunos que desenharam folhas de eucalipto (F11 e F12) em que os veios são pouco

visíveis. Outros, desenharam meticulosamente os veios observados (F1 e F5).

Todos os alunos que completaram o exercício obtiveram um resultado de qualidade. O

desenho em F10 foi o melhor trabalho realizado pela aluna e feito autonomamente na sua

totalidade. Este desenho apenas linear, contem na qualidade da sua linha a delicadeza do ramo

de oliveira muito fino. A sua simplicidade não omite qualquer informação essencial,

inclusivamente o registo do pormenor de algumas saliências no pé.

Exercício 3 – Árvore Final (ver Anexo XIX)

Os bons resultados de representação da folha permitiram aos alunos encontrar com

facilidade a árvore correspondente no Parque da Quinta das Conchas. A dinâmica de

correspondência visual teve sucesso. O desenho completo e rigoroso da árvore, na maioria dos

casos, não foi bem sucedida dada a complexidade do referente e o tempo disponível. Verificou-

se ser uma tarefa difícil e exigente: abarcar com o mínimo de rigor a multiplicidade de ramos de

árvores adultas, e representar a sua copa. AF8, AF13 e AF14, apesar de inacabados, mostram

um bom começo. Alguns alunos, no entanto, conseguiram realizar registos bastante completos,

bem enquadrados e que revelam uma observação cuidada (AF2 e AF3).

Em AF4 e AF9 é visível a dificuldade dos alunos em representar a copa. Em AF1, AF2,

AF3 e AF6 os alunos compreenderam a proposta e conseguiram sugerir o ritmo da folhagem

com mais sucesso. Esta actividade, embora tenha tido uma dinâmica que foi acolhida com

interesse por muitos dos alunos, provou que qualquer actividade no espaço exterior à sala com

adolescentes destas idades, necessita do acompanhamento de mais do que um professor, de

modo a que o trabalho seja mais produtivo e o usufruto do local seja mais proveitoso para a

aprendizagem do que para a distracção. AF16 e AF19 revelam a dispersão de atenção e energia

de alguns alunos.

Uma vez que o desenho de vegetação tinha como um dos objectivos desenvolver a

expressividade do traço, proporcionando a descoberta de diferentes processos, linguagens,

grafismos e possibilidades expressivas do desenho, teria sido oportuno propor a utilização de

um dos métodos ensinado por Nicolaïdes (1974), o desenho gestual. Este método revela-se

adequado para interiorizar a forma, procurando sentir e traduzir os seus movimentos e

direcções, a dureza ou delicadeza dos seus ramos e o ritmo das suas folhas.

Alguns exercícios, meramente instrumentais, poderiam ter sido propostos em aula ou para

trabalho de casa, para dominar esta técnica de desenho, a fim de utilizá-lo adequadamente neste

Page 71: “O Desenho e a Educação do Olhar”

71

exercício em aula, no espaço do parque. Por exemplo, desenhos de representação de poucos

minutos, desenho de modelos que mexem, criação de texturas visuais com linha que captassem

o movimento induzido de diferentes tipos de aglomerados: folhas, tecidos, papel, cabelo, etc.; a

experimentação de diferentes meios: lápis de grafite 8B, meios aquosos, pincel, aparo, etc. O

desenho gestual poderia proporcionar ocasião para os alunos fazerem uma experiência mais

autêntica da forma e textura, registando-os, mas sem grandes constrangimentos quanto à

obtenção de um resultado exímio.

Outra possibilidade poderia ser o uso de uma barra de carvão vegetal para registar a árvore.

Este meio e o seu modo de uso resolveriam o problema da escassez de tempo para a

concretização do registo. O uso da barra, ao cobrir uma maior área de desenho em menor tempo,

permite fazer um desenho mais rapidamente, embora menos pormenorizado do que o uso do

lápis de grafite. Em vez da aposta nas qualidades da linha para a definição da forma e texturas,

desenvolver-se-ia um trabalho assente no uso da mancha, para definir a estrutura da árvore e o

aglomerado das folhas que compõem a sua copa.

Exercício 4 – Desenho de Ramo (ver Anexo XX)

Alternar um trabalho de campo com um trabalho de sala provou ser produtivo. A atenção

novamente orientada sobre um referente imóvel, isolado e de dimensões abarcáveis de uma só

vez pelo olhar (em vez das árvores grandes no ambiente aberto do parque) levou à realização de

registos com mais pormenor e cuidado.

Verificou-se qualidade nos desenhos quanto ao registo da forma, ao traço, à criação de um

grafismo e sua repetição para representar a textura. De um modo geral, a criação da textura

dotou os desenhos de um carácter expressivo, muito próprio de cada aluno. Veja-se o desenho

em R1 e R1a. O aluno usou nitidamente a linha de contorno para desenhar o ramo. As elevações

e depressões da linha, ainda que um pouco exageradas, contêm em si a informação do relevo e

da textura do objecto. Mostra que o aluno debruçou o olhar sobre a linha envolvente da forma.

Para representar a textura, o aluno criou pequenas formas angulares, sugerindo que o ramo fosse

revestido por pequenas lascas. Quer este grafismo quer aquele com que o aluno representa a

folhagem dos fungos em volta da madeira, são feitos por uma linha contínua, mas com

diferentes movimentos. Essa diferença da linha define duas naturezas distintas. Embora não

esteja completo e não seja eximiamente correcto quanto à proporção, o desenho é representativo

do ramo e é dotado de movimento e expressão. R5 e R10 representam o mesmo ramo. Em cada

uma das representações a textura do ramo é retratada de forma diferente. Em R5 o aluno criou

um ritmo muito regular. Embora seja interessante do ponto de vista gráfico, distancia-se um

pouco da realidade. Em R10 nota-se a intenção de copiar a textura em vez de sugeri-la. Tanto

um como o outro têm erros de proporção.

Page 72: “O Desenho e a Educação do Olhar”

72

Os desenhos em R4, R11, R13 e R14 dizem respeito ao mesmo ramo. R14 mostra um

desenho bem conseguido ao nível da forma. Tanto para sugerir a textura da madeira como dos

fungos, o aluno conseguiu um bom resultado recorrendo ao “riscar” do lápis, em diferentes

direcções. R13 e R4 são muito distintos de R14. Neles os alunos procuram a representação

minuciosa do detalhe da textura. Em R11 o aluno consegue com apontamentos ritmados sugerir,

embora com algum excesso, a textura da casca do ramo e dos fungos.

Em R15 representou-se outro ramo. O desenho tem alguns erros de forma e proporção.

Contudo, o traço e o modo como o aluno tentou representar a textura, traduzem bem a sensação

lascada da madeira.

Exercício 5 – Ramo tridimensional (ver Anexo XXI)

A representação tridimensional do ramo foi uma novidade para estes alunos: trabalhar a

três dimensões, modelar, manusear o papel, a cola e o arame para construir uma estrutura.

Houve alunos que conseguiram reproduzir a estrutura, mas de uma forma elementar e sem

solidez. Outros conseguiram modelar solidamente a forma, e outros conseguiram um nível de

acabamento tal que não só se aproximaram da forma do ramo mas, representaram pormenores

nomeadamente os fungos. Uma vez que não foi enunciado, nem era pretendido um revestimento

cromático, os alunos deixaram as esculturas da cor do papel utilizado. Alguns alunos intuíram

as propriedades estéticas dos materiais que utilizaram, e tiraram proveito deles a nível útil da

construção e a nível estético: envolvendo a escultura em arame, ou em fita adesiva castanha para

obter uma semelhança cromática. Outros realizaram todo o trabalho em papel branco ou papel

castanho. Outros ainda, compreendendo a sugestão dada, escolheram para a representação dos

fungos, desperdícios de papel de cor diferente da madeira. Vejam-se os exemplos RT1 a RT5.

Os alunos aprenderam a modelar o papel com cola e/ou arame ou fita adesiva, para conseguir

uma forma tridimensional.

Contudo, atendendo aos objectivos desta actividade (a representação bi e tridimensional

do ramo), se uma das intenções da concretização tridimensional era contribuir para um maior

conhecimento e compreensão da forma, e comprovar que a representação a 3D acresce dados a

este conhecimento, a estratégia mais adequada talvez tivesse sido a execução da representação

tridimensional em primeiro lugar e a representação bidimensional no fim. Deste modo, o

desenho seria resultado de uma experiência não só visual, mas táctica e acresceria em

naturalismo.

Exercício 6 – Paisagem (ver Anexo XII)

Page 73: “O Desenho e a Educação do Olhar”

73

A visualização da apresentação sobre paisagem (Ver mais longe) não teve tanto êxito

como esperado. Os alunos estiveram muito agitados durante a apresentação e foram quase

sempre os mesmos a responder às perguntas. Considera-se que esta falta de atenção poderá

dever-se à utilização do PowerPoint (já habitual), às imagens escolhidas e ao modo como o

discurso e as perguntas foram geridas em função dos alunos, no momento. É visível nos

desenhos que todos os alunos compreenderam a diminuição de tamanho dos elementos com o

aumento da profundidade. Contudo, nem todas as concretizações plásticas foram muito bem

sucedidas.

Em P10 o aluno delimitou com lápis de grafite diferentes planos de profundidade. A

área mais próxima da linha do horizonte segue uma continuidade com o desenho de Van Gogh

em forma e no tamanho dos elementos gráficos. Quer estes registos, quer os restantes ficaram

muito condicionados pelas linhas esboçadas, de tal modo que os elementos não se interligam e

não comunicam profundidade. O aluno optou por criar um lago, preenchendo a área do lago

com uma mancha de aguada escura. Estes factos e o “sol” ao canto originaram um desenho naïf

e planificado. Em P8 o aluno não terminou o desenho. É visível que todas as áreas e objectos

foram delimitados por um contorno (ao contrário do enunciado) em vez de serem definidas por

pontos de diferentes tamanhos, aglomerados com diferente espaçamento. A profundidade é dada

apenas pela diferença de tamanho das árvores em planos diferentes, e pela sobreposição dos

elementos. As montanhas em último plano quebram a continuidade com o desenho de Van

Gogh. O mesmo acontece em P9 e P14, agravado pelo contorno rígido e pelo preenchimento

com aguada escura. Nesse aspecto, em P13 há uma continuidade melhor. A suavidade da

aguada muito diluída e a constância dos pontos pequenos, sugerem a possibilidade de uma

elevação do terreno na paisagem. O aluno teve uma preocupação com o tamanho do elemento

arquitectónico que inseriu na paisagem (maior do que os elementos de Van Gogh em último

plano). Contudo, a tentativa de figurar um lago, o tamanho das ervas que desenhou em volta e

em primeiro plano, quebram a perspectiva aérea. Quanto ao tamanho dos elementos, P1, P6 e

P14 também apresentam alguns erros. P2, P3, P7, P12 e P19 são exemplos de trabalhos

razoáveis ou bons. P4 e P5 são trabalhos muito bem conseguidos.

De um modo geral, os alunos gostaram do desafio de trabalhar com outro material de

desenho e da possibilidade de fazer um trabalho menos rigoroso e mais gestual e expressivo.

Em P4, o aluno conseguiu dar uma noção de profundidade espacial, usando o pincel e a tinta de

um modo diferente dos outros colegas. Obteve um resultado plástico interessante. Utilizando as

mesmas técnicas, mas de modo mais desregrado, outros alunos não conseguiram representar a

profundidade (P11).

Page 74: “O Desenho e a Educação do Olhar”

74

Exercício 7 – Paisagem Final (ver Anexo XVIII)

Do exercício final resultaram alguns trabalhos interessantes do ponto de vista da

simplificação da paisagem (forma e cor). A actividade verificou-se mais demorada e trabalhosa

do que prevista. Muitos não chegaram a acabar. Alguns ficaram apenas pelo registo inicial da

paisagem, a grafite sobre papel A3.

De acordo com os objectivos do exercício, PF1, PF3, PF7, PF8 e PF9, apesar de não

acabados, são trabalhos que se considera terem qualidade. Em PF1 o aluno conseguiu dar a

noção de profundidade de campo através de diferentes planos de cor, que vão aclarando com a

distância. O primeiro tem mais detalhe desenhado com lápis de cor, o segundo tem só

apontamentos e o último, por fim, tem só o contorno já simplificado.

Em PF7 o contraste entre o nível de pormenor das árvores em primeiro plano e o

nivelamento da árvore em último plano, criam profundidade. Recorrendo ao uso do lápis de cor,

o aluno procurou transformar, tanto quanto pôde, as cores da cartolina para aproximá-las do real

observável – escurecendo ou atenuando a cor inicial.

Em PF8 a aluna criou vários planos de profundidade entre o aglomerado de árvores

vistas por uma janela panorâmica. A cada conjunto de árvores destinou uma cor diferente. Ela

caracterizou a textura da folhagem com um ritmo bastante regular. Em vez de um efeito realista

da representação, resultou um padrão gráfico plano. Deste modo, a noção de espaço é dado mais

pela alternância de cores e alguma sobreposição, do que pelo desenho.

Já em PF9, a sobreposição dos planos, o desenho da folhagem, e o recorte simples e

detalhado das árvores em tons de verde mais claro, sugerem profundidade espacial.

Em PF5 a aluna determinou como primeiro plano um jovem carvalho e em segundo

plano os dois arbustos que crescem junto à grade. A grade, muito bem representada pelo papel

vegetal, marca a fronteira entre estes dois planos e um plano muito longínquo e urbanizado. A

sobreposição do papel vegetal dá ao observador essa ideia. Contudo, nos dois planos mais

próximos a aluna não faz grande distinção; arbustos e árvore são caracterizados com o mesmo

nível de pormenor, pouco definido. Estando em primeiro plano, as folhas da copa do plátano

deveriam ter um tratamento mais meticuloso, próximo ao cuidado tido no recorte das folhas na

base do tronco.

Em PF2 e PF4 os alunos escolheram cores muito pouco representativas da realidade.

Contudo, conseguiram sugerir alguma profundidade colocando as cores mais fortes nos planos

mais próximos, e as mais claras nos planos mais distantes. Através do desenho, caracterizaram a

vegetação mais próxima com mais pormenor e com um traço mais marcado. Estes trabalhos e

PF6 são trabalhos de grande simplificação formal que fogem claramente a critérios

determinados para o exercício. Contudo, não deixam de ser plasticamente interessantes. Estes

alunos, operaram, sem querer, uma transformação da visão sobre a paisagem. Em todos os

trabalhos, este aspecto presente no resultado final, foi valorizado na avaliação. Embora muitos

Page 75: “O Desenho e a Educação do Olhar”

75

alunos não tenham aplicado o critério do sfumatto na escolha das cores, e na sequência da sua

disposição, a profundidade espacial é de outro modo intuída pela simples determinação de cores

distintas aos vários planos de profundidade, e pela sobreposição das mesmas.

A elevada taxa de inacabamento dos trabalhos poderá ter sido motivada por diversos

aspectos: desenhar mais uma vez no exterior levou à dispersão da concentração e a menos

produtividade de trabalho; destinou-se pouco tempo de aula para a execução relativamente ao

ritmo de trabalho dos alunos; a coincidência de algumas aulas com ‘pontes’ decretadas pelo

Estado veio quebrar e diminuir o tempo de trabalho; o cansaço de final de ano dos alunos. A

superação deste facto poderia passar por destinar mais tempo à concretização do trabalho e

realizá-lo a partir do registo fotográfico e dos desenhos de árvores realizados ao longo da

unidade, assumindo uma simplificação do real. Levar-se-iam para a aula uma ou várias

fotografias suplentes, para o caso de alguns alunos não trazerem o registo pedido.

Uma vez que nem todos os alunos conseguiram acabar o exercício, a avaliação

valorizou mais a qualidade do trabalho que o aluno conseguiu efectuar e a profundidade de

campo até aí conseguida. Valorizou-se mais a etapa em que o aluno despendeu mais tempo.

Considera-se que no momento da apresentação do tema e do exercício, poderia ter sido

proveitoso a visualização de pinturas do renascimento (Flandres e Itália), cuja representação da

paisagem é fundamental. No Renascimento a pintura enquanto objecto e enquanto imagem da

realidade assume a função de janela para o mundo (Sabino, 2000). Uma exploração mais

aprofundada deste conceito e uma exemplificação mais evidente do objectivo do exercício,

colocando lado a lado pintura renascentista e enquadramento fotográfico a partir do interior do

colégio (servindo-se do caixilho de uma janela, por exemplo), ajudaria os alunos a compreender

melhor a noção de composição e de paisagem, reforçando a sua capacidade analítica e

contemplativa.

Diário Gráfico (ver Anexo XIX)

Quanto ao Diário Gráfico, a frequência do seu uso foi muito variada. Houve alunos que

semanalmente realizaram registos conforme pedido, outros que pouco trabalharam nele e outros

que nunca o usaram. Verifica-se que a prática do desenho, quando realizada ao ritmo próprio de

cada aluno e com o intuito de conhecer e compreender a forma, ajuda o aluno a desenvolver um

hábito de análise formal, a capacidade de representação e o gosto por desenhar. Isto é visível,

por exemplo, quando se verifica a repetição do registo do mesmo objecto. Este facto é revelador

de uma determinada busca. Alunos que desenharam com regularidade no Diário Gráfico,

tiveram um bom desempenho nos trabalhos realizados em aula. Os alunos que sentiram muitas

dificuldades nos trabalhos da aula, são os mesmos que pouco ou nada desenharam no Diário.

Para alguns alunos que realizaram um trabalho mediano na aula, o Diário Gráfico serviu como

espaço para repetirem e melhorarem a sua capacidade de representação do objecto (ver DG8 e

Page 76: “O Desenho e a Educação do Olhar”

76

DG11). Vários alunos, em vez de desenharem regularmente ao longo do período, realizaram

todos os registos propostos apenas na altura das avaliações. Consequentemente, em vez de um

trabalho cuidado, realizado com tempo, que permita um amadurecimento das aprendizagens,

realizaram desenhos que apresentam sucessivamente as mesmas carências, que mostram um

olhar pouco profundo e/ou estereotipado dos referentes. Alguns alunos fizeram desenhos muito

pequenos e sem um apontamento do meio envolvente, deixando grande parte da página vazia.

A representação das árvores e da respectiva folha foi um exercício idêntico ao realizado

em aula. Essencialmente, a tarefa serviu para solidificar e verificar a capacidade de

representação dos referentes através da realização autónoma. Sendo feito num espaço muito

menor, em muitos casos, a síntese formal da árvore foi também maior. De um modo geral os

alunos unificaram a copa e a estrutura (ver DG4 e DG19). Noutros é nítida a separação entre a

estrutura da árvore e a sua copa. Independentemente da estratégia utilizada, foi tido em conta a

qualidade da representação e do resultado plástico final. Nos desenhos DG5, DG14 e DG15 as

alunas realizaram um apontamento interessante. Contudo, a árvore parece seccionada, uma vez

que as folhas nunca deixam a descoberto, deste modo, os ramos de onde nascem. Os desenhos

das figuras DG9 e DG13, embora muitos distintos, são da mesma aluna. No primeiro, a aluna

desenha muitas folhas, uma a uma, esquematicamente dispostas em ramos muito finos que saem

todos do mesmo tronco, com um apontamento de sombra, que lhes confere volume.

Compreende-se que o resultado é algo irrealista, devido à simplificação pelo esquema. Contudo,

comunica-nos a forma geral do referente e aquilo que será a sua estrutura. No outro a aluna

socorreu-se apenas da linha de contorno e desenha apenas o tronco e os ramos. Embora mais

simplificado do que a representação anterior, este registo dá-nos uma ideia mais próxima do que

será a forma desta árvore. Também em DG6 nota-se uma preocupação em marcar bem a

estrutura. Já em DG23, DG24 e DG25 os desenhos não revelam um aprofundamento do

conhecimento da estrutura ou da forma específica daquelas árvores. Foram considerados

trabalhos fracos. Os desenhos DG2, DG6, DG16, DG18 DG19 E DG20 foram avaliados como

sendo muito bons. Há neles um bom equilíbrio entre a definição da forma e estrutura, e a

sugestão da folhagem. Na figura DG3 a aluna consegue com um desenho muito gestual,

transmitir a forma e o movimento das árvores, sem acentuar a estrutura ou definir

demasiadamente pormenores. O gestualismo do traço simplifica a forma. Tanto quanto à árvore,

como quanto à folha, estes elementos necessitavam de um pouco mais de rigor para especificar

e definir as suas formas.

O desenho da folha, na maioria dos casos, teve melhores resultados uma vez que é uma

forma menos complexa que a árvore. Algumas representações são mais simplificadas (DG7) e

outras são mais pormenorizadas. No geral, a facilidade com que realizaram este registo mostra

que os alunos realizaram uma aprendizagem.

Page 77: “O Desenho e a Educação do Olhar”

77

O registo da paisagem, realizado após o desenho a tinta-da-china na aula, foi, na maioria

dos casos ainda muito orientado. De modo geral, a realização deste desenho, usando apenas uma

ou duas variantes, já significou um avanço para estes alunos, em relação à representação da

paisagem.

Em DG36 apenas a intensidade do traço cria a noção de profundidade. Em DG30, o

tamanho relativo dos elementos dispostos pela aluna de uma forma padronizada diferenciam os

planos. De um modo geral, todos os desenhos revelam uma maior acuidade na análise formal

dos elementos da paisagem. O seu desenho correcto, quase por si, define o espaço. E isto é um

ganho relativamente a tentativas anteriores de representar a paisagem. Os desenhos DG 28 e

DG32 foram avaliados como bons. Os desenhos com muito pouca informação, foram avaliados

como fracos.

Ao contrário dos outros registos no Diário Gráfico, destinados a serem realizados num

espaço e tempo individual do aluno, esta tarefa foi feita durante uma visita de estudo. Verificou-

se pouca disposição dos alunos para realizá-la e houve alguns que não a fizeram.

Podemos concluir que o Diário Gráfico foi um instrumento complementar importante

para a aprendizagem nesta unidade curricular.

Questionário Final

Para uma apreciação global da aprendizagem feita ao longo ano, e especificamente ao

longo desta unidade, foi pedido aos alunos que respondessem a um questionário no último dia.

Na tabela do Anexo XXVII encontram-se contabilizadas as respostas dos alunos que estiveram

presentes na aula.

A partir das respostas dadas, poderemos induzir que os gostos e os interesses dos alunos não

se concentraram maioritariamente em uma ou duas das actividades propostas, mas distribuíram-

se por vários trabalhos, isto é, por diferentes abordagens, materiais e técnicas. No entanto,

houve uma predominância no interesse pelo desenho de paisagem a tinta-da-china. Isto poderá

dever-se ao facto de grande parte dos alunos não terem o hábito de trabalhar com meios

aquosos. A fluidez e as possibilidades plásticas expressivas que eles permitem cativaram os

alunos. Ao contrário de outros exercícios de desenho à vista com lápis de grafite, este exercício

não implicava tanto rigor no desenho, nem a objectividade da representação. Estes aspectos

também podem ter agradado mais a alguns alunos. A seguir ao desenho de paisagem, os alunos

mostraram mais preferência pelo desenho de árvores e seguidamente pelo exercício da paisagem

com colagem, do desenho da folha e da modelagem do ramo. Mais uma vez, a preferência pela

modelagem poderá ser motivada pela técnica desusual (escultura e o tipo de materiais). A

preferência pelo desenho de árvores poderá ter a ver, entre outros aspectos, com o facto de as

aulas terem sido realizadas ao ar livre, num ambiente mais descontraído. De facto, este aspecto e

Page 78: “O Desenho e a Educação do Olhar”

78

o acompanhamento da aula com música, foram mencionados positivamente pelos alunos no

inquérito.

Seis dos alunos referiram que o trabalho que mais interesse lhes suscitou foi também aquele

em que sentiram mais dificuldades. Não houve ocasião para questionar os alunos sobre esta

coincidência. Mas gostaríamos de acreditar que foi o trabalho em que se sentiram mais

desafiados, e em que sentiram-se crescer na aprendizagem pela superação da dificuldade. Estes

alunos referiam-se aos exercícios de: desenho de árvores, da modelagem do ramo em papel, do

desenho de paisagem com tinta-da-china e da construção de maquete6.

Entre os aspectos que os alunos apontaram como importantes para o trabalho na aula, foi

referida a agitação, a ordem e o silêncio. Estes alunos, naturalmente agitados, barulhentos e

irreverentes, reclamam e lembram a necessidade de professores que exerçam domínio sobre o

comportamento dos alunos, com uma disciplina adequada, de modo a proporcionar à turma um

ambiente propício de trabalho. Caso contrário, não há aprendizagem.

Três alunos referiram como útil o trabalho do Diário Gráfico. Esta resposta leva a crer que

reconhecem que a prática do registo gráfico semanal (ou diária) ajuda a desenvolver a

observação e consequentemente, a desenhar melhor e a realizar mais facilmente os trabalhos

propostos para a aula.

A maior parte dos alunos declara ter aprendido a fazer uma observação plena de tudo o que

os rodeia. Uma aluna afirmou ter aprendido uma forma diferente de olhar, ou seja, a

aprendizagem de estratégias de observação intimamente relacionadas com os mecanismos de

percepção visual. O uso destas estratégias no desenho permitiu-lhe uma maior facilidade na

representação.

“Aprendi a olhar de forma diferente para os objectos e assim é mais fácil passá-los para o

papel.” (Aluna E)

Outra aluna afirmou que, através da prática do desenho, aprendeu a olhar mais

cuidadosamente, e em consequência, desenvolveu uma atitude de contemplação visual diante de

tudo o que a rodeia. Isto é, a aluna compreendeu que cada ser, objecto, lugar ou situação possui

uma riqueza, singularidade e dimensão estética capaz de ser apreciada.

“[Aprendi] a observar as coisas muito mais a fundo e a descobrir em quase tudo, algo belo.”

(Aluna F)

Ficou expresso o desejo de desenvolver mais trabalhos ao nível da expressão e

transformação plástica, experimentando muitas outras técnicas e materiais. A pintura foi

referida com mais frequência pelas alunas do que pelos alunos.

No decurso das aulas foi feita uma avaliação constante das estratégias, baseada na

observação, no sentido de verificar se elas estavam a ser eficazes em levar os alunos a atingir os

6 Trabalho realizado no início do 2º Período, noutra unidade curricular.

Page 79: “O Desenho e a Educação do Olhar”

79

objectivos desejados e adquire as competências necessárias. Graças a essa avaliação, mediante

as reacções dos alunos, os seus comportamentos e os resultados dos trabalhos produzidos, foi

possível intervir em alguns momentos, efectuando uma mudança de estratégia na planificação

inicial, para um melhor aproveitamento dos alunos (Aula 2 e Aulas 8 a 12).

Para além das conclusões e aperfeiçoamentos possíveis já referidos sobre algumas

estratégias em particular, ao lançar um olhar global sobre a unidade, resta acrescentar três

aspectos de fundo. O primeiro tem a ver com uma percepção global do espaço. O trabalho de

observação atenta, representação e tentativa de introduzir os alunos à contemplação estética,

poderia ter sido enriquecido com um exercício que conduzisse os alunos a uma

consciencialização da sua experiência sensível, emocional e psicológica dos espaços em que se

encontravam as árvores que desenharam, e que mais tarde representaram enquanto paisagem.

Por experiência sensível, entenda-se uma percepção global e completa ao nível dos sentidos: o

que cheiram, o que ouvem, o que vêem, o que sentem através dos seus membros, como é que

sentem os seus membros, como é que o seu corpo percepciona aquele lugar. Este exercício

poderia ser descritivo, verbal, oral, escrito ou de expressão gráfica.

O segundo aspecto tem a ver com a criação. Poderia ter-se complementado o trabalho

de análise e representação com um exercício de aplicação e transformação dos dados

aprendidos, de modo a solidificar e promover mais uma educação do olhar, e proporcionar um

maior desenvolvimento do aluno e uma aprendizagem ainda mais completa. Este trabalho

poderia ser uma actividade projectual em que o aluno não só representasse mas recriasse os

dados representados, segundo uma dada directriz. Este tipo de actividade exercita no aluno a

responsabilidade pelo percurso e pelas escolhas, a gestão da liberdade mediante as hipóteses,

uma maior atenção à existência de variáveis - cores, texturas, qualidades da linha, forma, etc. –

e, portanto, a autonomia, a capacidade crítica e um olhar mais “consciente” sobre o meio

envolvente. Uma actividade criadora consciencializa o adolescente do seu carácter único e da

sua capacidade de intervir no mundo, contribuindo com a produção de algo que tem a sua

marca. Este trabalho culminaria a unidade. Poderia ser individual ou em grupo, ser

interdisciplinar ou só do âmbito das Artes Visuais. Seria oportuno explorar outros materiais,

meios, suportes e técnicas até aí não usadas. A aplicação e transformação dos elementos

aprendidos ao longo da unidade, poderia tornar mais significativa as aprendizagens feitas, caso

se aproximassem dos interesses dos alunos.

O terceiro aspecto tem a ver com o Diário Gráfico. Em atenção ao que foi referido nos

dois pontos anteriores, sendo o Diário Gráfico um espaço mais individual do aluno, poderia ter-

se dado liberdade para a execução de outras formas de registo, que não o desenho de

representação directa no âmbito dos registos livres - desenho de memória, desenho a partir da

imaginação, explorações plásticas, recolha de objectos, como alguns alunos fizeram com a folha

que desenharam. Para além de exercícios de representação semanal, poderia ter-se especificado

Page 80: “O Desenho e a Educação do Olhar”

80

o recurso a uma determinada técnica ou estratégia de desenho utilizada em aula, ou outras

inventivas e propedêuticas que conduzissem o aluno a um gosto pelo desenho e expressão

visual.

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81

8. Reflexões Finais

Relativamente à questão formulada como ponto de partida para a concepção desta

unidade curricular, podemos concluir que a prática do desenho contribui para o

desenvolvimento cognitivo do aluno, das seguintes formas: desenvolve o pensamento

perceptivo, importante para uma potencialização plena do intelecto; permite a realização de

aprendizagens significativas através dos sentidos; desenvolve competências de análise e

fomenta comportamentos e atitudes importantes para a aprendizagem em geral: a disciplina

interior, a concentração, o confronto com a realidade, a persistência, a investigação, o silêncio e

a sensibilidade estética.

Se muitas vezes olhamos sem ver, o desenho desenvolve em nós a capacidade de ver o

que um olhar banal ou desprevenido não vê porque consciencializa-nos do que estamos a ver. O

tempo implicado no acto de desenhar, dada a execução manual e a sincronia pretendida entre

cérebro e mão, permite uma análise que inclui um pensar sobre a forma, uma organização

mental e um processamento da informação. Este tempo do desenho, o tempo de sedimentar e

amadurecer um pensamento ou conhecimento, é inverso à normalidade da pressa perversora em

que vivemos. O silêncio, a análise, a concentração e o confronto com a realidade são aspectos

urgentes e necessários a desenvolver na pessoa hoje, para restituir-lhe o equilíbrio humano,

atendendo às suas necessidades intuitivas, perceptivas e espirituais.

O método de Betty Edwards (2008), e o conjunto de técnicas de desenho e produção

plástica usados baseados na representação, têm de forte carácter racional e científico. Contudo,

nem a mera representação pretende ser o único modelo de trabalho ao longo do ano ou da

escolaridade do aluno, nem o método racional é um fim em si mesmo. O trabalho desenvolvido

pretendeu ser um meio para despertar o aluno para uma apreciação estética do mundo, ou seja,

para a contemplação da beleza, da variedade e da complexidade da Natureza.

Em relação ao trabalho realizado, podemos afirmar que, de modo geral, os alunos

conseguiram realizar uma análise cuidada dos objectos propostos. Os trabalhos de representação

mostram que alunos desta idade são capazes de observar cuidadosamente os referentes, dando

atenção aos pormenores e à especificidade da forma. Os alunos também são capazes de colocar

o conhecimento daí resultante no desenho ou na construção tridimensional, produzindo um

resultado de grande naturalismo e qualidade plástica.

Conclui-se também que a capacidade de olhar em profundidade, ou seja, para além da

forma geral ou simplista, e a capacidade de traduzir essa informação para o desenho, são frutos,

não só da aprendizagem realizada nas actividades propostas nesta unidade, mas de um trabalho

feito ao longo de todo o ano ou de vários anos. Estas competências necessitam de ser educadas e

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82

cultivadas gradualmente nos alunos ao longo da sua formação. A busca da verdade da forma é

um trabalho gradual que precisa de ser cultivado ao longo do tempo, modelando a atitude dos

alunos face às coisas, e contribuindo para gerar dentro de si um espaço de pensamento que

permita questionar.

Nesse campo, a contribuição do professor é muito importante: as indicações e

informações que dá em momentos expositivos, a sua capacidade comunicativa, o seu esforço

por ir ao encontro das motivações mais intrínsecas dos alunos, a concepção e proposta de

exercícios com uma pedagogia adequada e as orientações individuais que dá aos alunos no

decurso da execução do trabalho. A exigência do professor no acompanhamento individual do

trabalho é importantíssimo para levar o aluno ao maior rendimento e desenvolvimento das

capacidades que possui, ajudando-o a ultrapassar dificuldades, a superar-se e a surpreender-se

no alargamento das suas expectativas; desenvolve no aluno uma atitude de persistência,

disciplina interior e de ambição pela qualidade e é importante para ajudar o aluno a realizar um

bom trabalho, cujo resultado seja gratificante. Contudo, se a dificuldade do exercício ou a

exigência forem excessivas para os alunos, eles desanimam e desistem de trabalhar, criando em

si a ideia que o desenho e a criação plástica são apenas para “seres com capacidades especiais”.

Conclui-se que foi alcançada a compreensão da estrutura ramificada. A representação da

textura através da invenção de um grafismo com base no uso da linha, poderia ter sido mais

trabalhado e inclusivé, demonstrado e exercitado previamente.

Os alunos compreenderam razoavelmente as variáveis gráficas que traduzem

profundidade e compreenderam bem a variável do tamanho relativo dos elementos.

Verificou-se uma satisfação no manejo de novos materiais e processos segundo uma

finalidade (naturalismo) – a fluidez da aguada, o modelar papel, arame e cola, e o recorte e

montagem de cartolinas de diferentes cores. De um modo geral, os alunos conseguiram dominar

os novos materiais imprimindo no seu uso um cunho pessoal.

De acordo com a opinião de vários alunos, eles aprenderam a observar melhor, a

desenhar melhor e a encontrar beleza e pontos de interesse em formas aparentemente banais. Os

mesmos relatos indicam como positivas as aulas decorridas no espaço exterior. Esta declaração

poderá ser a indicação da importância das experiências cinestésicas na aprendizagem. De facto,

embora alguns momentos tivessem sido mais uma oportunidade de distracção do que de

trabalho, o facto de os alunos encontrarem-se quer no espaço escolar, quer no espaço do parque

sob o pretexto de um determinado objectivo, levou-os a realizar uma experiência social, física e

perceptiva diferente daqueles espaços já conhecidos. A memória da aula de Educação Visual

realizada naqueles espaços, do tempo despendido a observar uma determinada árvore ou

paisagem, levá-los-á a olhar futuramente para aqueles espaços sob outro ponto de vista, distintos

dos anteriores. Parece-nos que este trabalho terá contribuído para o desenvolvimento da

apreciação estética dos alunos relativamente ao mundo que os envolve.

Page 83: “O Desenho e a Educação do Olhar”

83

Entre os aspectos a melhorar, salientam-se a gestão do tempo e do espaço, em função do

comportamento dos alunos, e a escolha de meios. Conhecendo melhor o ritmo de trabalho dos

alunos, exercícios como o desenho final da árvore e a realização do trabalho final sobre a

paisagem, necessitariam de mais tempo para serem executados. Em alternativa poder-se-ia

procedido a uma alteração dos objectivos e dos procedimentos do exercício em particular, de

modo a serem ocasião de uma aprendizagem efectiva e terem um nível razoável de sucesso

(importante enquanto retorno e reforço do aluno).

Também se conclui que as estratégias adoptadas para aulas realizadas em espaços

exteriores têm de ser muito bem dirigidas e acompanhadas, caso contrário podem tornar-se

improdutivas. O modo como o espaço é organizado dentro da sala de aula também é importante,

podendo ajudar na concentração, na aprendizagem por observação dos colegas (conforme a

disposição das mesas) e na orientação do professor.

Quanto aos meio usados nos momentos introdutórios do tema ou exercício, a escolha de

imagens de qualidade e exemplificativas dos conceitos a comunicar é muito importante, pois

condicionam a compreensão clara do objectivo da actividade e a motivação para a realização. O

momento expositivo deve ser incisivo e curto e, quando possível, convocar o pensamento,

questionamento e participação dos alunos. Relativamente aos materiais e processos, a unidade

cumpriu o objectivo de promover oportunidades para experimentar diferentes materiais e

técnicas. Contudo, poderia ser melhorado com a exploração de outros procedimentos e materiais

como, por exemplo, o desenho gestual com linha ou o desenho com mancha.

O uso de estratégias diferenciadas, a exploração de diferentes materiais, o ensino de

estratégias de observação e representação, objectivos claros e simples, dinâmicas que

impliquem um desafio de confronto e verificação, revelaram-se importantes na motivação dos

alunos e para fazer face à indisciplina. Contudo, permaneceu em muitos a sensação de aridez e

incapacidade em relação à tarefa do desenho de representação. Eventualmente, esta postura

poderá ser solucionada alternando o ensino do desenho de representação com exercícios que não

impliquem a representação gráfica mas antes a criação ou a exploração da tridimensão.

Uma possível extensão desta unidade, complementando-a com uma actividade de

aplicação e transformação das aprendizagens anteriores e aprofundando a capacidade de análise,

seria a concepção de um cartaz. Para isso far-se-ia um estudo sobre processos de comunicação e

design gráfico, nomeadamente com base em exemplos de cartazes e outdoors contemporâneos,

analisando a composição, o lettring, as cores, os tipos de imagem utilizados e os sentidos

veiculados. Esta abordagem, toca inevitavelmente em conteúdos relativos à história da

sociedade moderna e aos mecanismos de marketing, sedução e venda, associados ao

consumismo. Poderá ser ocasião de confronto e discussão sobre hábitos contemporâneos e de

tomada de consciência das consequências dos efeitos da comunicação e marketing hoje, do

rumo que a sociedade está a tomar e da importância de conhecer os modos como os nossos

Page 84: “O Desenho e a Educação do Olhar”

84

sentidos, as nossas emoções e os nossos pensamentos são afectados pela comunicação visual.

Posto isto, fazendo uso dos registos naturalistas realizados, propor-se-ia aos alunos a criação de

um cartaz que chamasse a atenção para o valor do património natural a nível local, nacional ou

mundial, e a urgência de o preservar. Sobre este assunto seria de proveito a visualização do

documentário de Al Gor, An Inconvenient Truth (2006). Estes trabalhos poderiam ser

partilhados com a população escolar, expondo-os nos diversos espaços do colégio.

O tema da Natureza, concretamente a flora, é rica em possibilidades de abordagem. É, por

isso, possível estender uma ponte com uma ou várias áreas de saber, potenciando ainda mais a

aprendizagem dos alunos sobre o tema e o seu alcance.

Na Matemática podem explorar-se relações de medidas e regras de proporção, como seja a

Regra de Oiro ou outras, aplicadas às folhas e aos tipos de ramificação. Por sua vez, este

trabalho poderia ser aplicado na produção de um padrão, introduzindo a noção de módulo,

repetição e padrão.

Os bons resultados de representação mostraram que existem condições para desenvolver um

trabalho de seriedade com a área curricular de Ciências Naturais, por exemplo, na construção de

um herbário de ilustração científica, inventariando e classificando espécies de plantas sob algum

tema, como por exemplo, as espécies existentes no colégio. Neste na área curricular de Ciências

Físico-Químicas poderia investir-se também nos conteúdos sobre a percepção e representação

da luz e da cor (o mecanismo visual humano, circulo cromático, misturas aditivas e subtractivas,

etc.). Poderia ser feito um trabalho de colaboração com esta disciplina, no sentido de verificar as

substâncias químicas que estão na origem de algumas cores (como por exemplo a existência do

ferro no vermelho).

O desenho não é meramente um conteúdo de ensino. É um importante educador da visão,

orientando-a para que não se torne num receptor passivo e vulnerável, mas analítico, consciente,

crítico e fruidor – atitudes essenciais a desenvolver no indivíduo do mundo contemporâneo.

Page 85: “O Desenho e a Educação do Olhar”

85

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Page 89: “O Desenho e a Educação do Olhar”

89

Anexo I - Competências específicas de Educação Visual no 2º e 3º Ciclo do Ensino Básico

Com

petê

ncia

s de

Com

unic

ação

Vis

ual

2º ciclo 3º ciclo

capacidade de conceber sequências

visuais a partir de narrativas

capacidade de ler e interpretar narrativas

em diferentes linguagens

aplicar metodologias do desenho de

ilustração, banda-desenhada ou guionismo

visual

capacidade de aplicar regras

elementares de composição,

relação forma-fundo e módulo-

padrão

capacidade de conceber organizações

espaciais com base em regras de

composição

compreender e interpretar

símbolos e sistemas de sinais

compreender diferentes sistemas

simbólicos nas artes visuais

aplicar regras de lettering, desenho

geométrico, mapas, esquemas e

gráficos

conhecer e dominar algumas formas de

representação normalizada

ter o desenho como meio de representação

expressiva e rigorosa das formas

Page 90: “O Desenho e a Educação do Olhar”

90

Com

petê

ncia

s de

Ele

men

tos

da F

orm

a

2º ciclo 3º ciclo

Reconhecer as proporções e

noções de antropometria na

representação da figura humana

representar expressivamente a figura

humana compreendendo relações básicas

de estrutura e proporção

compreender as posições relativas

observador/objecto percepcionado

compreender a geometria plana e a

geometria de espaço

compreender noções de proporção, escala,

movimento, ergonomia e antropometria

reconhecer processos de

representação bidimensional do

espaço (sobreposição, tamanho

relativo dos objectos, textura,

luz/cor, perspectiva linear)

compreender visualmente a perspectiva

cónica através do desenho de

representação

ter capacidade de organização

visando funcionalidade e equilíbrio

visual

Conceber objectos e organizar com

funcionalidade e equilíbrio visual os

diferentes espaços

utilizar elementos definidores da

forma

compreender estrutura das formas

relacionar forma e função

Compreender, através da representação,

os processos subjacentes à percepção dos

volumes

Compreender estruturas de formas

naturais e objectos artísticos,

relacionando-os com os seus contextos

Compreender relação entre luz e

cor

Perceber mecanismos perceptivos da

luz/cor – síntese aditiva e subtractiva,

contraste e harmonia e suas implicações

funcionais

Aplicar valores cromáticos

Realizar composições

bidimensionais e tridimensionais a

partir da observação e da

imaginação.

Criar composições a partir de observações

directas e de realidades imaginadas,

utilizando os elementos e os meios da

expressão visual

Page 91: “O Desenho e a Educação do Olhar”

91

Anexo II - Conteúdos programáticos do currículo artístico no Colégio de S. Tomas 2009/2010

Geometria e Percepção Simples da Forma Luz

D

esen

ho

line

ar

Est

rutu

ra e

Sup

erfí

cie

1 P

onto

de

Fug

a

2 P

onto

s de

Fug

a

3 P

onto

s de

Fug

a

Axo

nom

etri

a

Múl

tipl

a

Proj

ecçã

o

Ort

ogon

alT

extu

ra

Cla

ro -

Esc

uro

Cor

Objectos de design simples

Objectos de design complexos

Objectos orgânicos

Retrato

Conjunto de objectos

Figura humana Espaço: Interior arquitectónico

Espaço: Exterior arquitectónico/ Paisagem urbana

Espaço: Paisagem Natural

- Pré-Escolar, 1º e 2º ano - 3º e 4º ano - 5º e 6º ano - 7º, 8º e 9º ano - 10º e

11º ano

Page 92: “O Desenho e a Educação do Olhar”

92

Anexo III - Características dos alunos do 8ºB assinalados como apresentando Necessidades

Educativas Especiais Aluno Capacidades/ dificuldades

observadas em aula Elementos de avaliação

Aluno A Alguma dificuldade no 

desenho à vista de formas e 

estruturas complexas 

Pouco assíduo 

Pouco empenhamento nas 

actividades 

Não tem avaliação especial

Aluno B Dificuldade na compreensão 

de estruturas complexas 

Muita dificuldade no desenho 

de representação de formas e 

estruturas 

Falta de confiança na 

execução das propostas 

Maior valorização na aquisição das principais competências, do que a completude ou perfeição dos trabalhos: Capacidade  de  compreensão  da  estrutura 

observada,  expressa  no  desenho  de 

representação  ou  esquemática  de  uma  árvore 

(em vez de três árvores) e de uma folha. 

Capacidade de compreensão e representação bi 

e tridimensional da estrutura de um ramo 

Compreensão  de  que,  com  a  distância,  os 

objectos  parecem  mais  pequenos  e  menos 

definidos 

Tolerância na quantidade de trabalho. Aluno C Dificuldade na compreensão e 

representação de formas e 

estruturas complexas 

Ritmo lento de trabalho 

Muito esforçada 

Maior valorização da aquisição das principais competências: Capacidade  de  observação  expressa  pelo  traço 

cuidado e pela informação que regista 

Capacidade  de  compreensão  da  estrutura 

observada,  expressa  no  desenho  de 

representação  ou  esquemática  de  uma  árvore 

(em vez de três) e uma folha. 

Capacidade de compreensão e representação bi 

e tridimensional da estrutura de um ramo 

Compreensão  de  que,  com  a  distância,  os 

objectos  parecem  mais  pequenos  e  menos 

definidos 

Tolerância da quantidade de trabalho. Aluno D Muito agitado em aula, 

dificuldade em realizar tarefas 

que exijam muita paciência ou 

concentração. 

Maior valorização das competências adquiridas do que o cuidado e a perfeição do acabamento dos trabalhos.

Page 93: “O Desenho e a Educação do Olhar”

93

An

exo

IV –

Pla

nif

icaç

ão d

a u

nid

ade

curr

icu

lar

Data 

Aula nº 

Exercício nº Co

nteú

do/Tem

a Co

mpe

tências  

Objectiv

os  

Activ

idad

e/Estratégias 

Materiais/ 

meios 

actuan

tes 

Tempo

/  Nº 

aulas 

26 Fevereiro 

Aula 1 

Exercício 1 

  Estrutura/Form

a/Função: 

‐Estruturas naturais 

‐Padrões e ritm

os de 

crescim

ento 

          Percepção visual da 

form

a: 

‐Qualidades form

ais 

‐Qualidades expressivas 

Form

Estrutura 

Claro/escuro 

Textura 

               ‐Elemen

tos da linguagem 

visual 

Linha 

Mancha 

 

  Fruição

‐Contemplação: 

‐Reconhecer a im

portância do 

espaço natural 

‐Desen

volver o sentido de  

apreciação

 estética e artística 

do m

undo, através de 

referências e experiências no 

âmbito das Artes Visuais 

  Produção‐Criação: 

‐Compreen

der e utilizar 

diferen

tes modos de dar form

a baseados na observação

 das 

criações da natureza 

‐Compreen

der a form

a através 

reprodução plástica 

‐Desen

volver a m

otricidade 

através da utilização

 de 

diferen

tes técnicas artísticas 

‐Aprender novos modos de 

representação 

‐Ser capaz de analisar e 

representar 

  Reflexão‐Interpretação 

‐Reconhecer relações form

ais, 

expressivas, funcionais e 

matem

áticas existen

tes na 

Natureza  

  ‐Compreen

der a estrutura como 

suporte e princípio organizador dos 

elem

entos que a constituem

   ‐compreen

der e rep

resentar o 

padrão de crescim

ento das árvores 

  ‐analisar e rep

resentar com a 

preocupação

 da semelhança 

  ‐explorar as qualidades expressivas 

da linha na sua relação com a 

Natureza observada 

   

  Ida à Quinta da

s Con

chas.  

Desen

ho de três árvores de 

diferentes espécies (estrutura e 

form

a) usand

o o de

senh

o de

 contorno

.  

  Papel cavalinho 

A4 

Lápis de grafite 

Canetas de 

feltro 

Canetas ball‐

point pretas 

  1 aula  

90 m

in 

 

5 Março 

Aula 2 

Exercício nº2 

  1.Ap

resentação

 sobre de

senh

o de

 árvores. 

  2.Desen

ho à vista de folha: 

‐Forma en

volven

te 

‐ Estrutura de veios 

‐Caracterização

 textural (se 

significativ

a) 

‐Claro‐escuro  

           

  Apresentação 

em Power‐point 

  Papel cavalinho 

A4 

Lápis de grafite 

 

  1 aula 

90 m

in 

Page 94: “O Desenho e a Educação do Olhar”

94

12 Março 

Aula 3 

Exercício nº 3 

            Estrutura/Form

a/Função: 

‐Estruturas naturais 

‐Padrões e ritm

os de 

crescim

ento 

    Percepção visual da 

form

a: 

‐Qualidades form

ais 

‐Qualidades expressivas 

Form

Estrutura 

Claro/escuro 

Textura 

   ‐Elemen

tos da linguagem 

visual 

Linha 

Mancha 

  ‐Tridim

ensão 

 

Fruição

‐Contemplação: 

‐Reconhecer a im

portância do 

espaço natural 

‐Desen

volver o sentido de 

apreciação

 estética e artística 

do m

undo, através de 

referências e experiências no 

âmbito das Artes Visuais 

  Produção‐Criação: 

‐Compreen

der e utilizar 

diferen

tes modos de dar form

a baseados na observação

 das 

criações da natureza 

‐Compreen

der a form

a através 

reprodução plástica 

‐Desen

volver a m

otricidade 

através da utilização

 de 

diferen

tes técnicas artísticas 

‐Aprender novos modos de 

representação 

‐Ser capaz de analisar e 

representar 

  Reflexão‐Interpretação 

‐Reconhecer relações form

ais, 

expressivas, funcionais e 

matem

áticas existen

tes na 

Natureza 

 

  ‐Analisar e rep

resentar com a 

preocupação

 da semelhança 

  ‐Identificar a semelhança de form

a e estrutura entre a folha 

desen

hada na aula anterior e uma 

árvore da mesma espécie. 

  ‐Conhecer as qualidades form

ais e 

texturais da árvore 

  ‐Aprender e desenvolver novas 

form

as de registo. 

  1.Ba

sean

do‐se no

 registo da

 folha, procurar u

ma árvore da 

mesma espé

cie na

 Quinta da

s Co

ncha

s. 

    2.Desen

ho de árvore:  

‐estrutura  

‐textura 

‐registo da copa

, usand

o um

 ritmo gráfico qu

e sugira o 

aglomerad

o de

 folhas. 

 

  Papel Cavalinho 

A4 

Lápis de grafite 

 

  1 aula 

 90 m

in 

19 Março | 9 Abril | 16 Abril 

Aula 4, 5 e 6 

Exercício nº 4 e 5 

    ‐Compreen

der a form

a, estrutura e 

textura  

  ‐Representar bi e 

tridim

ensionalmente a form

a, a 

estrutura e a textura com a 

preocupação

 de semelhança, a 

partir da observação

 directa 

  ‐Explorar e manipular os materiais 

 

  1.Desen

ho de ob

servação

 de 

um fragmen

to de árvore 

(ram

o). 

  2.Re

presen

tação 3D

 de um

 fragmen

to da árvore (ram

o) 

tiran

do partid

o do

s materiais e 

tend

o em

 atenção

: ‐fo

rmal 

‐estrutura 

‐sugestão da

 textura do

s fun

gos

 

  Desperdícios de 

papel 

Arame fino 

Outros 

Cola de m

adeira 

Alicate 

Tesouras  

Tintas 

Pincéis 

  3 aulas 

270 m

in 

Page 95: “O Desenho e a Educação do Olhar”

95

23 Abril 

Aula nº 7 

Exercício nº 6 

    Representação do 

espaço: 

‐Sobreposição 

‐Dim

ensão 

‐Cor 

‐Claro/escuro 

‐Gradação

 de nitidez 

‐perspectiva de 

observação

            

  Fruição

‐Contemplação: 

‐Reconhecer a im

portância do 

espaço natural 

‐Desen

volver o sentido de 

apreciação

 estética e artística 

do m

undo, através de 

experiências e referências no 

âmbito das Artes Visuais 

    Produção‐Criação: 

‐Ser capaz de analisar e 

representar 

‐Aprender novos processos de 

representação 

‐ser capaz de utilizar 

adeq

uadam

ente tecnologias da 

imagem 

‐Aplicar valores cromáticos 

‐Ser capaz de criar uma 

composição a partir da 

observação

 directa 

  Reflexão‐Interpretação: 

‐Conhecer e compreen

der 

estratégias de composição da 

imagem em ordem

 à 

comunicação

 e ao 

equilíbrio/dinam

ismo 

‐Compreen

der fenómen

os da 

percepção visual 

‐Tomar contacto com obras 

significativas da História da 

Arte 

 

    ‐Compreen

der noções de 

perspectiva aérea e estratégias 

gráficas de rep

resentação de 

profundidade 

  ‐conhecer critérios de composição 

de im

agem

 com base na pintura, e 

fotografia 

    ‐aplicar processos de 

representação do espaço 

  1.Ap

resentação

 sobre a 

represen

tação da

 paisagem e 

perspe

ctiva aérea 

  2. Dar con

tinuida

de de um

 de

senh

o de

 paisagem de Va

n Gogh, re

speitand

o princípios da 

perspe

ctiva aérea usad

os pelo 

artista. U

so de pincel e aguad

a preta. 

 

  Apresentação 

em Power‐point 

Papel cavalinho 

A4 

Fotocópia de 

desenho de Van

 Gogh

 Pincéis finos 

Aguada preta 

   

Page 96: “O Desenho e a Educação do Olhar”

96

30 Abril | 7 Maio | 21 Maio | 28 Maio | 4 Junho 

Aula nº 7, 8, 9, 10 e 11 

Exercício nº 7 

  ‐Compreen

der que existem

 vários 

planos de profundidade 

  ‐Representar o espaço utilizando 

variações de cor, dim

ensão dos 

elem

entos, textura, claro/escuro e 

gradações de nitidez 

                                  ‐Compreen

der que existem

 vários 

planos de profundidade 

  ‐Representar o espaço utilizando 

variações de cor, dim

ensão dos 

elem

entos, textura, claro/escuro e 

gradações de nitidez 

  1. Escolha de

 uma vista de

 pa

isagem

 a partir do interio

r do

 colégio 

 2.

Re

gisto fotográfico 

 

3.

Determinação

 de diferentes 

plan

os de profun

dida

de  

 

4.  Escolha

 de diferentes cores 

de cartolin

as, d

e acordo

 com

 a profun

dida

de dos plano

s.  

 5.

 Desen

har e

 recortar o 

“con

torno” de cada

 plano

 de 

profun

dida

de. 

 6.

 Desen

ho de ob

servação

 de 

cada

 plano

 de profun

dida

de, 

tend

o em

 atenção

 o ta

man

ho 

relativ

o do

s elem

entos e

 o 

nível de po

rmen

or, d

e acordo

 com a profund

idad

e.   

  7. Sobrep

osição

 e colagem

 dos 

diversos plano

s. 

 

  Fotografia 

impressa 

Cartolina  

Papel Cavalinho 

A4 

Papel vegetal 

Lápis de grafite 

Lápis de cor 

Tesoura 

Cola 

  4 aulas 

360 m

in 

11 Junho 

Aula  12 

 

       

     Av

aliação 

  Respostas escritas a questões

 

  Papel  

Caneta 

  30 m

in 

  Fruição

‐Contemplação: 

‐Reconhecer a im

portância do 

espaço natural 

‐Desen

volver o sentido de 

apreciação

 estética e artística 

do m

undo, através de 

referências e experiências no 

âmbito das Artes Visuais 

  Produção‐Criação: 

‐Compreen

der e utilizar 

diferen

tes modos de dar 

form

a baseados na 

observação

 das criações da 

natureza 

‐Compreen

der a form

a através 

reprodução plástica 

‐Desen

volver a m

otricidade 

através da utilização

 de 

diferen

tes técnicas artísticas 

‐Aprender novos modos de 

representação 

‐Ser capaz de analisar e 

representar 

  Reflexão‐Interpretação 

‐Reconhecer relações form

ais, 

expressivas, funcionais e 

matem

áticas existen

tes na 

Natureza 

Page 97: “O Desenho e a Educação do Olhar”

97

Anexo V - Apresentação de apoio à Aula 2. Estrutura: Fractal

Page 98: “O Desenho e a Educação do Olhar”

98

Page 99: “O Desenho e a Educação do Olhar”

99

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100

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101

Anexo VI - Apresentação de apoio à Aula 7. Ver mais longe

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102

Page 103: “O Desenho e a Educação do Olhar”

103

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104

Anexo VII - Trabalhos dos alunos: Exercício 1 – Árvore

Figura - A1 Figura - A2

Figura - A3 Figura - A4

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105

Figura – A5 Figura – A6

Figura – A7 Figura - A8

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106

Figura – A9 Figura – A10

Figura – A11 Figura – A12

Page 107: “O Desenho e a Educação do Olhar”

107

Figura – A13 Figura – A14

Figura – A15 Figura – A16

Page 108: “O Desenho e a Educação do Olhar”

108

Figura – A17 Figura – A18

Figura – A19 Figura – A20

Page 109: “O Desenho e a Educação do Olhar”

109

Figura – A21 Figura – A22

Figura – A23 Figura – A24

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110

Anexo VIII - Trabalhos dos alunos: Exercício 2 – Folhas

Figura F1 Figura F2

Figura F3 Figura F4

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111

Figura F5 Figura F6

Figura F7 Figura F8

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112

Figura F9 Figura F10

Figura – F11 Figura – F12

Page 113: “O Desenho e a Educação do Olhar”

113

Anexo XIX - Trabalhos dos alunos: Exercício 3 – Árvore Final

Figura AF1 Figura AF1a

Figura AF2 Figura AF3

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114

Figura – AF4 Figura – AF6

Figura – AF8 Figura – AF9

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115

Figura – AF11 Figura – AF12

Figura – AF13 Figura – AF14

Page 116: “O Desenho e a Educação do Olhar”

116

Anexo XX - Trabalhos dos alunos: Aula 4 – Desenho de Ramos

Figura R1 Figura R1a

Figura R2 Figura R3

Figura R4 Figura R5

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117

Figura R6 Figura R7

Figura R8 Figura R9

Figura R10 Figura R11

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118

Figura R12 Figura R13

Figura R13a Figura R14

Page 119: “O Desenho e a Educação do Olhar”

119

Anexo XXI – Trabalhos dos alunos. Exercício 5: Representação tridimensional do ramo

Figura RT1

Figura RT2

Figura RT3

Page 120: “O Desenho e a Educação do Olhar”

120

Figura RT4

Figura RT5

Page 121: “O Desenho e a Educação do Olhar”

121

Anexo XXII - Trabalho dos alunos: Exercício 6 -Paisagem

Figura P1 Figura P2

Figura P3 Figura P3a

Figura P4 Figura Figura P5

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122

Figura P6 Figura P7

Figura P8 Figura P9a

Figura P10 Figura P11

Page 123: “O Desenho e a Educação do Olhar”

123

Figura P12 Figura P13

Figura P14 Figura P9a

Figura P16 Figura P11

Page 124: “O Desenho e a Educação do Olhar”

124

Figura P18 Figura P19

Page 125: “O Desenho e a Educação do Olhar”

125

Anexo XXIII – Trabalhos dos alunos. Exercício 7:

Paisagem Final

Figura PF1a Figura PF1

Figura PF2 Figura PF3

Figura PF4 Figura PF4a

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126

Figura PF5 Figura PF6

Figura PFb Figura PF7

Figura PF8 Figura PF8a

Page 127: “O Desenho e a Educação do Olhar”

127

Figura PF9c Figura PF9

Figura PF10 Figura PF11

Figura PF12 Figura PF13

Page 128: “O Desenho e a Educação do Olhar”

128

Anexo XXIV – Diário Gráfico

Figura DG1 Figura DG2 Figura DG3

Figura DG4 Figura DG5

Figura DG6 Figura DG7

Page 129: “O Desenho e a Educação do Olhar”

129

Figura DG8 Figura DG9

Figura DG10 Figura DG11

Figura DG12 Figura DG13

Page 130: “O Desenho e a Educação do Olhar”

130

Figura DG14 Figura DG15

Figura DG16 Figura DG17

Figura DG18 Figura DG19

Page 131: “O Desenho e a Educação do Olhar”

131

Figura DG20 Figura DG21 Figura DG22

Figura DG23 Figura DG24 Figura DG25

Figura DG26

Page 132: “O Desenho e a Educação do Olhar”

132

Figura DG27 Figura DG28

Figura DG29 Figura DG30

Figura DG31 Figura DG32

Page 133: “O Desenho e a Educação do Olhar”

133

Figura DG33

Figura DG34 Figura DG35

Figura DG36 Figura DG37

Page 134: “O Desenho e a Educação do Olhar”

134

Anexo XXV – Tabelas Classificações 2º Período

Avaliação 2º Período

1ª In

terc

alar

Fig

ura

H.

Árv

ore

Fol

ha

Árv

ore

Fin

al

DG

2ª In

terc

alar

Cla

ssif

icaç

ão

Fin

al

2º P

Nº 20% 20% 20% 20% 20% 100% 1I + 2I

A 0 14 12 0 B 15,5 17 15 6 C 12,5 13,8 6 3,4 D 10 0 14 0 E 11 18,5 17 15,4 F 0 15 11 1 G 10 14,8 5 7 H 0 16 14,5 4 I 17 18,5 17 4,6 J 12 15 10 0 K 13,5 14,5 10 2,9 L 9 14,7 14,7 0

;M 16 15,8 13 7 N 11 14,8 15 11,6 O 15 15 17 1,9 P 14 14,5 16 11 Q 8 0 10 6,6 R 16 17,5 17,5 13,8 S 7 15 10 9 T 11,5 13,5 5 0 U 10 14,5 9 7,4 V 9,5 13,8 11 7 X 10 13,8 9 0 Y 0 0 0 0

Page 135: “O Desenho e a Educação do Olhar”

135

Anexo XXVI – Tabela Classificações 3º Período

Avaliação 3º Período N

ome

Des

enho

de

Ram

o

Ram

o tr

idim

ensi

onal

Des

enho

de

Pais

agem

Pais

agem

F

inal

DG

Fin

al

16% 16% 30% 18% 20% 100%

A 15,5 0 0 9 0 9 B 13,5 14,5 11 10 0 10 C 17,5 12 9,5 15 4 10 D 0 9 9 9 0 7 E 16 15 19 13 9,5 15 F 16,8 15 10 15 0 11 G 12,5 13,5 13 8 6 11 H 13,5 14 15 18 0 12 I 17,5 14,5 14,5 18 3,3 13 J 14 15 0 0 0 9 K 13 10 9 11 5,5 9 L 0 15 9 0 0 9

;M 17,5 17 13,5 11 7 13 N 15,8 17 13,5 15,5 9 14 O 14 18 17 13 0 13 P 0 15 11 12 12,5 13 Q 12,8 9 10 12 0 8 R 13,8 17,5 19 11 0 13 S 16 9 11 9,5 0 9 T 13 16 12 10 0 11 U 17,5 9,5 13,5 9 0 9 V 15,5 13,5 9 9 1,1 9 X 13,5 11,5 10 10 5 9 Y 17,5 0 12 3 0 7 X 0 9 9,5 8 0 7

Page 136: “O Desenho e a Educação do Olhar”

136

Anexo XXVII – Tabela - Respostas dos alunos ao questionário final

Pergunta

Respostas Frequência

1. Qual  dos  trabalhos  suscitou  mais interesse  ao  longo  do  ano  de trabalho em E.V.?  

Nenhum Modelagem do ramo em papel. Desenho de paisagem a tinta-da-china. Desenho da folha. Figura humana.7 Paisagem com colagem. Desenho de árvores. Desenho à vista Construção de maquete8

1 2 5 2 1 2 3 1 1

2. Em  qual  dos  trabalhos  sentiu  mais dificuldade?  

Não sei. Todos Desenho de paisagem a tinta-da-china. Desenho à vista. Paisagem com colagem. Desenho de árvores. Desenho da folha Modelagem dos ramos em papel. Figura humana Desenho de mesa e banco Desenho à vista Construção de maquete3

2 2 1 1 3 3 1 1 1 1 1 1

3. Qual dos trabalhos achou mais útil? 

Nenhum Todos Não sei Desenho da folha. Modulação de ramo em papel Paisagem com colagem. O Diário Gráfico. Desenho de mesa3. Figura humana. Desenho de paisagem. Construção de maquete3 ---

2 1 1 1 1 3 3 1 2 1 1 1

4. O  que  considera  ter  aprendido  ao longo deste ano?  

Não sei A desenhar melhor. A olhar de forma diferente para os objectos, tornando-se mais fácil passá-los para o papel. A construção de maquetes3 O desenho de várias vistas. Novas técnicas. A desenhar árvores. ---

2 6 5 2 1 1 1 1

5. Qual  dos  aspectos  considera  ter ajudado ao trabalho da aula?  

Não sei. O Diário Gráfico Desenhar ao ar livre. A ajuda dos professores. Fotografia. Música durante a aula. O silêncio. A paciência

4 1 3 1 1 4 2 1

6. O que mudaria nas aulas de E. V.? 

Nada/ Não sei. Desenho livre. Mais visitas de estudo. Menos agitação na aula. Aulas menos exigentes. Outro tipo de aulas. O tipo de materiais

5 2 1 3 1 1 1

7 Trabalho no início do 2º Período. 8 Trabalho do 1º Período

Page 137: “O Desenho e a Educação do Olhar”

137

Outros temas Mais aulas com música e ao ar livre

1 1

7. Que outros temas/ materiais gostaria de tratar em E.V.?  

Construção de maquetes. Figura humana Guaches, lápis de cera, canetas de feltro. Pintura. Escultura. Vídeo. Animação. Banda desenhada Fantoches Trabalhos manuais

1 2 1 4 1 1 1 2 1 3