o Desenvolvimento Da Terapia Centrada No Cliente

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O DESENVOLVIMENTO DA TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE Por psicólogo Geofilho Ferreira Moraes CRP-12/10.011 Data: 21 de setembro de 2011 O DESENVOLVIMENTO DA TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE Joseph Hart A Terapia Centrada no Cliente mudou consideravelmente nas últimas décadas. As mudanças são importantes, pois expressam os ganhos oriundos de horas calculáveis de terapia e pesquisa. Infelizmente, muitas dessas mudanças são comparativamente desconhecidas; a orientação centrada no cliente na década de 1940 é bem conhecida, mas o mesmo não acontece com a orientação desenvolvida desde 1960. O terapeuta profissional que conhece apenas as versões recentes da Terapia Centrada no Cliente viu as sementes, mas não viu as abóboras. É compreensível, é claro, desde que tanta coisa tem acontecido no mundo, mesmo no pequeno mundo da psicoterapia, que nós, freqüente e convenientemente aceitamos que terapias que não estudamos recentemente permaneçam as mesmas. Inúmeras vidas profissionais são desse modo facilitadas, mas os estereótipos substituem a informação e sementes de abóbora são confundidas com abóboras. O estereótipo comum do terapeuta centrado no cliente é o de alguém passivo, inócuo e dependente de “hum-hum”. Tal estereótipo nunca foi exato, mas ele conduz, de uma maneira destorcida, a uma das principais características das primeiras abordagens centrada no cliente, a não-diretividade. Como uma

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Joseph Hart

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O DESENVOLVIMENTO DA TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE

Por psicólogo Geofilho Ferreira Moraes

CRP-12/10.011

Data: 21 de setembro de 2011

O DESENVOLVIMENTO DA TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE

Joseph Hart

A Terapia Centrada no Cliente mudou consideravelmente nas últimas décadas. As

mudanças são importantes, pois expressam os ganhos oriundos de horas calculáveis de

terapia e pesquisa. Infelizmente, muitas dessas mudanças são comparativamente

desconhecidas; a orientação centrada no cliente na década de 1940 é bem conhecida,

mas o mesmo não acontece com a orientação desenvolvida desde 1960. O terapeuta

profissional que conhece apenas as versões recentes da Terapia Centrada no Cliente viu

as sementes, mas não viu as abóboras. É compreensível, é claro, desde que tanta coisa

tem acontecido no mundo, mesmo no pequeno mundo da psicoterapia, que nós,

freqüente e convenientemente aceitamos que terapias que não estudamos recentemente

permaneçam as mesmas. Inúmeras vidas profissionais são desse modo facilitadas, mas

os estereótipos substituem a informação e sementes de abóbora são confundidas com

abóboras. O estereótipo comum do terapeuta centrado no cliente é o de alguém passivo,

inócuo e dependente de “hum-hum”. Tal estereótipo nunca foi exato, mas ele conduz, de

uma maneira destorcida, a uma das principais características das primeiras abordagens

centrada no cliente, a não-diretividade. Como uma caricatura da moderna Terapia

Centrada no Cliente, contudo perde a característica. O quanto e o porquê será

demonstrado neste capítulo. Hoje o campo da psicoterapia está num estado de saudável,

senão feliz ecletismo. Poucos terapeutas acreditam que uma única técnica ou única

teoria possa encerrar toda a gama de problemas e aplicações encontráveis. Nem por

isso, apesar desse tolerante ecletismo, há uma tendência em grande parte dos

profissionais em só dar atenção aos mais novos e mais refulgentes desenvolvimentos

nesse campo. Desenvolvemos um faro jornalístico quanto a proclamações de revoluções

e uma correspondente insensibilidade a reformulações de ideias ou técnicas familiares.

Embora as modificações conceituais e técnicas revistas neste capítulo não produzam a

revolução ou a ruptura na psicoterapia que os jornalistas, políticos e secretários

queiram; elas acrescentam novos ingredientes e novas misturas na panela eclética. Essas

mudanças devem contribuir para o eventual desenvolvimento da teoria geral da

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mudança terapêutica. Firme nesse  01  objetivo, deve ser acentuado que não é propósito

deste capítulo (nem deste livro) persuadir a Freudianos, Junguianos, Adierianos,

Skinnerianos ou devotos de outras crenças a se tornarem Rogerianos. (Só existe um

Rogeriano, e às vezes nem estou muito seguro quanto a ele).  Um Resumo da Mudança 

A compreensão de ideias e técnicas da Terapia Centrada no Cliente será facilitada se seu

período de trinta anos de desenvolvimento, de 1940 a 1970, for dividido em três

períodos: o período da Terapia não Diretiva, de 1940 a 1950; o período da Terapia

Reflexiva, de 1950 a 1957; e o período da Terapia Experiencial, de 1957 a 1970. Esses

períodos estão discriminados no quadro 1.1. O quadro e este capítulo estão organizados

em função das respostas oferecidas pela orientação centrada no cliente para as perguntas

gerais: • Que comportamentos e atitudes do terapeuta facilitam o “crescimento” do

cliente? • Que mudanças básicas de personalidade ocorrem no cliente durante uma

psicoterapia bem sucedida? Como indicam essas perguntas, o foco deste capítulo está

nos conceitos de Terapia Centrada no Cliente. Como pode a mudança de personalidade

se efetuar e que mudanças ocorrem? Perguntas sobre por que a personalidade pode

mudar, envolvendo mais conceitos abstratos como a idéia de Rogers (1957) de uma

tendência atualizante inata, não são consideradas detalhadamente aqui. Essa é uma

restrição legítima; muitos terapeutas interessados na orientação centrada no cliente estão

inseguros quanto às suposições Rogerianas referentes à natureza básica do homem - eles

estão simplesmente interessados em qualquer coisa que funcione. Inegavelmente

suposições éticas são significativas desde que influenciem o que se tenta fazer

funcionar, mas elas serão consideradas nas partes 5e6. Cada período será ligado a um

livro principal pelo fundador da psicoterapia não diretiva, Carl R. Rogers. Quando a

terapia não diretiva tomou-se amplamente conhecida na década de 1940, Rogers atraiu

muitos estudantes e colegas. Isso significava que o número de contribuintes para a teoria

e prática da terapia cresceu. Contudo, é razoável representar cada período histórico por

um dos livros de Rogers porque ele é certamente o mais conhecido articulador da

posição centrada no cliente. Usando o quadro 1.1 como guia, podemos agora considerar

as ideias e práticas que surgiram em cada período. A apresentação da Terapia

Experiencial pode ser mais detalhada que as dos períodos não diretivo e reflexivo. Estou

mais 02 

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interessado na apresentação da moderna Terapia Centrada no Cliente, não nas terapias

iniciais que contam com muitas fontes ao alcance do leitor. 

Período 1: Psicoterapia Não Diretiva  Como descrita no livro de Rogers “Psicoterapia e

Consulta Psicológica” (1942), a terapia não diretiva colocou primordial importância na

gradual aquisição pelo cliente do insight sobre si mesmo e de sua situação. O terapeuta

procurava facilitar essa compreensão (insight) criando um ambiente permissivo, não

autoritário, no qual o cliente era livre para prosseguir no seu próprio ritmo e em suas

próprias direções. Aceitando esse modo não interventivo, o terapeuta tentava livrar o

cliente da necessidade de refrear e esconder a capacidade de defesa. O trabalho do

terapeuta era principalmente o de ajudar o cliente a esclarecer seus sentimentos e

percepções. “Uma terapia efetiva consiste em uma relação permissiva, definidamente

estruturada, que permite ao cliente ganhar uma compreensão dele mesmo a um grau que

o capacita dar passos positivos à luz dessa nova orientação. Essa hipótese tem um

corolário natural, que todas as técnicas utilizadas deveriam ir ao encontro do

desenvolvimento dessa relação livre e permissiva, essa compreensão da própria pessoa

na terapia e outras relações, e essa tendência em direção a uma ação positiva auto-

iniciada.” (Rogers, 1942, p. 18). Mesmo nesse estágio inicial, a Psicoterapia Centrada

no Cliente mostrou a característica que distintamente definiu sua posição entre as

abordagens terapêuticas. Um esforço definitivo foi feito por Rogers e seus colegas para

recolher e tornar avaliável para análise científica o material bruto da psicoterapia. O

empirismo permaneceu como parte integrante da orientação centrada no cliente e é, em

grande parte, responsável pela natureza de permanente tentativa, dessa abordagem.

Teorias e construções que não levam a hipóteses prováveis e gerais foram descartadas

em favor daquelas que levam. O livro de Rogers “Psicoterapia e Consulta Psicológica”,

quando publicado em 1942, continha, o que então era a  característica - uma transcrição

completa de um caso de terapia gravado fonografïcamente. Aqui está uma parte extraída

do caso que apresenta diretamente o estilo da psicoterapia não diretiva.  C: Eu não sei

como, embora eu ache que funcionarão bem. Droga, se eu vou me dar bem (olhando

suas anotações). (Pausa) Oh, isso tinha a ver com a garota com quem eu estava falando!

Ela disse que esperava que não houvesse um show de strip-tease e eu estive tentando

analisar por que ela se opôs a isso. Eu acho talvez  03 

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que ela não quisesse nenhuma competição. Ou porque ela sentiria que a garota seria

superior a ela, ou porque ela tenha desejos secretos num sentido que ela condenaria em

qualquer outra, mas não nela própria.  T: Fazendo uma pequena avaliação das razões

dos outros assim como das suas, hmmm?  C: Oh, sim, Eu sempre fiz isso. Bem, eu

sempre analisei as dos outros talvez um  pouco mais do que as minhas. (Pausa). Bem,

então, para resumir tudo isso: Eu acho que eu devia procurar cada uma e todas as

situações saudáveis e penetrar nelas. Eu notei uma coisa curiosa. Quando eu tomei a

decisão de que escolheria o caminho mais difícil, e que até mesmo seria o mais longo

também, apesar de ter decidido em cima de nada, eu senti um alívio (ri), de modo que,

em última análise, uma pessoa só experimenta o seu próprio sistema nervoso, de modo

que parece que é a decisão o que conta, mas ao mesmo tempo aquela decisão deve ser

alimentada pelas situações externas. E eu acho que de vez em quando uma pessoa possa

decidir no vazio quando realmente o quer, mas é muito difícil manter esse significado

no vazio, (nada).  T: E também, como você mostrou antes, talvez sua primeira noção de

fazer alguma coisa no vazio, não era bem um desejo de tomar uma decisão, porém mais

um desejo de se livrar de tomar essa decisão.  C: M-Hm. Bem, há muitos tipos de

máscaras. (Pausa). O que você acha da minha conclusão? Você se importa em

acrescentar alguma coisa a ela?  T: Não, eu acho que - bem, nós poderemos adicionar

detalhes nisso, mas eu acho que é a conclusão que realmente vai valer perante as

satisfações mais duradouras. Eu acho que você tem razão - pode ser um caminho duro,

pode ser um caminho longo. Mas - ao menos é o único caminho.  T: É um caminho que,

você está bem convencida agora, oferece mais satisfações a longo prazo, do que de

outro modo.” (Rogers, 1942, pp. 411-412). As condições nos EUA quando o livro de

Rogers sobre terapia não diretiva foi publicado, eram para sua aceitação. A despeito de

dúvidas da parte dos editores e do autor, “Psicoterapia e Consulta Psicológica” vendeu

muito bem e ainda vende. Psicólogos clínicos e conselheiros achavam que a psicanálise

não estava completamente apropriada às necessidades dos americanos. Além disso, os

analistas nos EUA formaram uma associação médica que efetivamente excluiu os não

médicos. Um terapeuta devia praticar a terapia psicanalítica, mas não poderia ser um

analista - ele continuava um leigo, um paramédico de segunda classe. A Psicoterapia

Diretiva, a outra importante alternativa aberta aos terapeutas, era  04 

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igualmente desinteressante. Dar informação às pessoas sobre como elas deviam e

podiam mudar não pareceu modificá-las. Podemos ver porque os psicólogos americanos

estavam prontos a reagir favoravelmente à uma psicoterapia que enfatizava as relações

de ajuda, uma psicoterapia que rejeitava tanto o modelo médico do analista quanto o

modelo vocacional dos terapeutas diretivos. A terapia não diretiva preencheu essa

lacuna.’ Essa orientação foi entusiasticamente aceita por muitos terapeutas, muito

embora conceitos não diretivos como “permissividade”, “esclarecimento” e

“compreensão de si mesmo (insight)” adquiriram sentido mais por exemplos do que

pela integração sistemática numa estrutura teórica bem desenvolvida ou por pesquisa.

Os terapeutas de orientação não diretiva foram identificados quase que mais claramente

pelo que não fizeram do que pelo que fizeram. Durante esse tempo, as intervenções dos

terapeutas, tais como conselho, expressar opiniões ou sentimentos, interpretações,

oferecimento de planos e outras atividades interventivas, foram evitadas. Foi colocada

muita ênfase em utilizar o impulso auto-iniciado de cada um no sentido do crescimento,

da saúde, do ajustamento. O terapeuta era uma parteira psicológica, cuja função era

ajudar a dar à luz a compreensão de si próprio no cliente e ações positivas.   QUADRO

1.1 05 

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Período II: Psicoterapia Reflexiva  Quando passamos do Período I para o Período II, a

orientação é notadamente mais amadurecida. No Período II descobrimos que muitos dos

conceitos e práticas da Terapia Centrada no Cliente foram sistematizados e apoiados por

extensas investigações. A mudança mais flagrante na atual prática da psicoterapia foi a

ênfase do terapeuta em reagir sensivelmente ao afetivo, mais do que ao significado

semântico das expressões do cliente. Respostas “superficiais” ou “sobre o conteúdo”, às

vezes características da “clarificação” não-diretiva, foram evitadas. Esse período é

melhor representado pelo livro de Rogers “Client-Centerad Therapy”(1952). Como foi

dito antes, desde o início, a Terapia Centrada no Cliente se comprometeu com a

abordagem científica do fenômeno da psicoterapia. Esse compromisso e seus efeitos são

claramente ilustrados na passagem do Período I para o Período II. Considerando apenas

a quantidade, o segundo período é caracterizado pelo aumento decisivo na quantidade

de pesquisas encontráveis nos muitos aspectos da psicoterapia (Ver Hobbs, 1955;

Cartwright, 1957, e Seeman, 1948, 1956). No Período II, o papel do terapeuta foi

reformulado e elaborado com nova ênfase na sua responsividade sensível aos

sentimentos do cliente. A reflexão de sentimentos substitui a clarificação, e as formas

cognitivas de interação foram re enfatizadas. Para implementar a reorganização do

cliente e a reintegração do seu auto-conceito, o trabalho do terapeuta era remover as

fontes de ameaça da relação e espelhar em si o mundo fenomenológico do cliente. A

técnica ao alcance do terapeuta para a realização dessa implementação era a reflexão

dos sentimentos. Raskin descreveu a técnica com essas palavras:  “...a participação do

terapeuta torna-se uma experiência ativa com o cliente dos sentimentos aos quais ele dá

expressão. O terapeuta faz um esforço máximo para se colocar “na pele” da pessoa com

que ele está se comunicando; ele tenta penetrar e viver as atitudes expressas, em vez de

observá-las, captar cada nuance de sua natureza variável; em resumo, absorve-se

completamente nas atitudes do cliente. E, lutando para fazer isso, simplesmente não há

lugar para nenhuma outra atividade ou atitude do terapeuta; se ele está tentando viver as

atitudes do outro, ele não pode estar pensando em fazer o processo ir mais rápido.

Porque ele é um outro, que não o cliente, a compreensão não é espontânea, mas deve ser

adquirida, e isso através da mais intensa, contínua e ativa atenção aos  06 

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sentimentos do outro, excluindo outros tipos de atenção.” (in Rogers, 1951, p.29) A

descrição de Raskin claramente retrata, a resposta de reflexão de sentimento como

instrumento de clarificação mais enfocado e mais intenso. Para conduzir o estilo desse

estágio de terapia, eu novamente cito um pequeno trecho de terapia transcrito: T: Isso

pega um pouco mais do sabor do sentimento, é isso, é quase como se você realmente

estivesse chorando por você mesmo...  C: E então, é claro, eu comecei a ver e sentir

sobre isso, veja, eu escondi isso, (chorando) mas... e... eu escondi isso com tanta

amargura que, em compensação eu tinha que encobrir. (chora). E disso que eu quero me

livrar! Eu quase nem ligo se isso machucar  T: (com carinho) Você sente que isso, no

fundo, como você experimentou isso, é um sentimento de lágrimas reais por você. Mas

isso você gostaria de se livrar. Você quase sente que seria melhor absorver a dor do

que... do que sentir a amargura (pausa). E o que você parece estar dizendo com mais

força é “Eu machuco e eu tentei esconder isso”.  C: Eu não sabia disso.  T: Hum-hum.

Como uma nova descoberta, realmente.  C: (falando ao mesmo tempo). Eu nunca soube

realmente. Mas é... você sabe, é quase uma coisa física. E... como se, embora eu... eu

estivesse procurando em mim todas as espécies de terminações nervosas e - pedaços de,

de... coisas que foram como que esmigalhadas (chorando).  T: Como se alguns dos mais

delicados aspectos de você - quase fisicamente - tivessem sido esmagados ou

machucados.  C: Sim, e você sabe, eu consigo sentir, “oh, coitadinho! (Pausa).  T: Você

não pode senão sentir muito pela pessoa que você é. (Rogers & Diamond, 1954, pp.

326-327).

Passaremos agora para a discussão da Psicoterapia Experiencial, A cobertura dos dois

primeiros períodos foi breve, mas minha intenção era prover um “background”, não

uma história. O leitor que quiser mais informações deve  07

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consultar as fontes originais já citadas ou as subseqüentes. Haal & Lindzey (1957) e

Ford &Urban (1963).

Período III: Psicoterapia Experiencial A Psicoterapia Experiencial, embora claramente

uma conseqüência das Psicoterapias Não-Diretivas e Reflexiva, é mais difícil de ser

caracterizada. Ela ainda está tomando forma; ainda, por causa de sua relativa

maturidade, é um desenvolvimento mais amplo, mais genérico na prática e na teoria da

psicoterapia. Alguns dos pontos de vista das primeiras idéias podem ser encontrados no

livro de Rogers “On Becoming a Person” (1961). Um ímpeto para a evolução da

Psicoterapia Experiencial foi provocado pelas tentativas de um grupo de terapeutas do

tipo Centrado no Cliente, em oferecer psicoterapia aos psicóticos hospitalizados e

normais bem ajustados. Trabalhando com essas pessoas, os terapeutas encontraram

novos problemas e dificuldades e, conseqüentemente, foram forçados a buscar novos

rumos para implementar e entender seus esforços. (Ver Shlien, 1961; Gendlin, 1966; e

Rogers, 1967b) Contudo, mesmo antes da aplicação da Terapia Centrada no Cliente às

novas populações, a ênfase desse grupo começou a mudar das técnicas terapêuticas

específicas (tais como reflexão de sentimentos) para um foco nas habilidades e atitudes

gerais do terapeuta que poderiam ser comunicadas através de uma ampla gama de

comportamentos terapêuticos. Rogers no seu artigo “The necessary and sufficient

conditions of therapeutic personality changes”(1957b), introduziu a idéia de que, dada

certas condições básicas de terapia, entre elas as atitudes terapêuticas de consideração

positiva incondicional, compreensão empática e genuinidade, poderia ocorrer uma

mudança positiva da personalidade. A mudança de personalidade hipotetizada ocorreria

independentemente das técnicas específicas usadas pelos terapeutas ou dos problemas

psicológicos particulares dos clientes. Digna de menção especial é a condição de

genuinidade (autenticidade). Assim que os terapeutas “centrado no cliente” começaram

a se distanciar mais e mais das prescrições do “que fazer” e “quando fazê-lo”, as

ramificações desse conceito para a sua prática diária tornou-se mais aparente. Os

terapeutas se encontraram mais expressivos e ativos, comunicando suas próprias

preocupações e sentimentos aos seus clientes. Essa maior expressividade e extroversão

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foi considerada mais tarde essencial no trabalho com clientes regressos e

esquizofrênicos recalcitrantes. (Gendlin, 1966b). No importante artigo “A Process

conception of Psychotherapy” (1958), que prevê outra tendência na evolução da Terapia

Centrada no Cliente, Rogers discuti as mudanças em clientes durante a terapia, em

termos gerais, encerrando muitos aspectos e níveis da relação inter e intra-pessoais dos

clientes. O significado desse  08 

artigo repousa não só na concepção específica do processo que delineava, mas também

na ênfase global do argumento num processo infiltrador de mudança de personalidade,

abrangendo todos os aspectos significativos da mudança de vida interior do cliente e

seus efeitos nas suas relações pessoais e situações de vida. A psicoterapia pode ser

investigada e conceitualizada em muitos níveis: psicológico, verbal, comportamental e

existencial. Hoje, quando os terapeutas discutem terapia, na maioria das vezes falam em

termos experienciais (existencial, subjetivo, fenomenológico). A Terapia Centrada no

Cliente, em seu esforço de pesquisa abarcou todos os níveis, mas sua teorização tem,

muitas vezes, sido formulada em termos fenomenológicos. Na psicoterapia não-diretiva

a ênfase central foi colocada no fato fenomenológico, o insight. Para a Psicoterapia

Reflexiva, auto-conceito eram centrais. No seu escrito “Process”, Rogers colocou o

fundamento para a mais ampla e potencialmente mais produtiva concepção

fenomenológica, a da experienciação. O conceito da experienciação aplicado à

psicoterapia originou-se com Gendlin e Zimring (1955), e nos recentes escritos de

Gendlin (l961b, 1966a) entendeu a teoria. A palavra “experiencing” refere-se tanto a

teoria da experiência como ao fenômeno da experienciação. Sucintamente descrita,

refere-se à massa aperceptiva da vida subjetiva do indivíduo, ao sentido implicitamente

e conhecido diretamente que é a fonte dos significados pessoais. A experienciação é um

fenômeno diário; por exemplo, a experienciação acontece sempre que tentamos explicar

alguma coisa para outra pessoa e não conseguimos expressar o que queremos dizer.

Dizemos alguma coisa assim como “Não, não é bem isso. Espere aí. Deixe ver se

consigo dizer de outro modo”. A sensação íntima de que nossas palavras nem sempre

encontram nossos significados é um exemplo de experienciação. Se não tivéssemos a

sensação interna da discrepância entre palavras e significados, nós não nos

interromperíamos, nós não teríamos referência para avaliar nossas verbalizações. De

fato, procuramos pelas palavras certas, e finalmente, se bem sucedidos em nossa

focalização interior dizemos (ou sentimos), “sim, é isso o que eu quero dizer.”.

Experienciação é um processo subjetivo de referência interna. A teoria de Gendlin da

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efetividade das atividades “na terapia” entre cliente e terapeuta é formulada nos termos

do fenômeno da experienciação.  “Uma resposta terapêutica efetiva refere-se ao que o

indivíduo está agora consciente. Contudo, não se refere simplesmente a seus

pensamentos e palavras. Antes disso, refere-se a dados sentidos, presentemente, à sua

experiência atual... Uma resposta terapêutica efetiva,  também objetiva fazer três coisas

relacionadas:  09 

1. Referir-se diretamente e ajudar o indivíduo à sua experienciação; 2. Deixá-lo

sentir sua experienciação presente mais intensamente, para agarrar-se com ela,

segurá-la, tolerá-la, trabalhá-la, e 3. Ajudá-lo a colocar seu significado implícito em

conceitos que acuradamente o exprime.”(Gendlin, 1961 b, p 245). Por que a

psicologia por muitos anos anulou as experiências subjetivas do domínio da própria

investigação científica, (a não ser que mascaradas como relatórios verbais sem

conteúdo) deve ser enfatizado que os fenômenos da experienciação não são

inadequados à pesquisa científica (Gendlin and Berlin, 1961; Tomlinson and Hart,

1962; Hart, 1965). Contudo, parece mais que os procedimentos tradicionais de

psicologia de ratos e estatísticos agrícolas não podem ser aplicados com poder à

investigação da experienciação. Uma das mais urgentes necessidades da psicologia

contemporânea é o desenvolvimento de metodologias adequadas e instrumentos

para estudar processos subjetivos (Bergin, 1964). Uma precaução: Os fenômenos da

experienciação não são iguais aos da conscientização ou experiência subjetiva. A

experienciação se refere ao processo (ou processos) demarcadamente subjetivo que

é conhecido, mas nem sempre consciente no sentido de que possa ser posto em

palavras. Uma psicologia completa deve, é claro, tratar com todos os processos

subjetivos significativos, mas, na psicoterapia, muitos dos simples fatos da vida

consciente são comparativamente irrelevantes e insignificantes como objetos para a

atenção do cliente e do terapeuta. O processo de experienciação se refere ao sentido

individual dos significados pessoais; é um processo de sensibilidade interna mais do

que qualquer outra coisa. Os exemplos da aplicação da teoria da experienciação se

refere ao sentido individual dos significados pessoais; é um processo de

sensibilidade interna mais do que qualquer outra coisa. Os exemplos da aplicação da

teoria da experienciação aos fenômenos da psicoterapia serão dados mais tarde.

Deixe-nos primeiro completar esse resumo da transição de psicoterapia reflexiva

para a psicoterapia “experiencial”. Com a aplicação da Psicoterapia Centrada no

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Cliente aos esquizofrênicos internados, a mudança entre os terapeutas (dessa linha),

de reflexão dos sentimentos dos clientes para a ativa comunicação do calor e dos

sentimentos do terapeuta foi acelerada.   10 

A Terapia Centrada no Cliente, depois de mais de uma década de pesquisa prática, se

estabeleceu diretamente como técnica efetiva de ajudar pacientes externos desajustados.

Contando com a atitude de respeito básico pelo cliente individual e suas potencialidades

para se auto-dirigir, os terapeuta “centrado no cliente” empregaram com sucesso a

técnica de reflexão dos sentimentos para comunicar sua compreensão vital e próxima

dos sentimentos passo-a-passo do cliente. As realizações anteriores, confirmadas em

pesquisas, não deveriam ser ignoradas. Contudo, quando defronte de clientes

esquizofrênicos que não falam, não exploram e não são motivados, o terapeuta centrado

no cliente ficava limitado em ver suas tentativas frustradas em responder aos

sentimentos verbalizados dos clientes. Os terapeutas foram impelidos a procurar novas

formas de expressão e preenchimento de seus objetivos terapêuticos. Construindo em

cima de tentativas face-a-face de fazer terapia com clientes recalcitrantes e com os

conceitos de Rogers, Shlien, Gendlin e outros, foram desenvolvidas maneiras de

responder e novas conceituações de psicoterapia. Essa nova terapia, a psicoterapia

experiencial, embora inicialmente moldada sobre o trabalho com pacientes psicóticos

resistentes, também aplica-se a outros clientes e a grupos. Vamos agora mostrar as

mudanças de quadros da psicoterapia experiencial, sem esquecer que eles estão

mudando. Primeiro, alguns trechos de terapias transcritas darão um ponto de partida

para discutir os meios em que a psicoterapia experiencial se parece e se difere dos da

psicoterapia reflexiva. Notem, especialmente, quando lerem esses extratos, como

terapeutas experienciais são mais atuantes em comunicar seus sentimentos aos clientes.

Embora a reflexão do sentimento seja usada, os sentimentos aos quais os terapeutas

respondem são muitas vezes os sentimentos pré-conceituais não expressos ou

vagamente expressos - as respostas são dirigidas à experienciação do cliente. Esses

extratos foram escolhidos dos arquivos de um projeto de pesquisa que investigou os

processos da psicoterapia com pacientes esquizofrênicos (A pesquisa está relatada em

Rogers, 1967 b).

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HUT

C: (falando do emprego do seu marido). E isso é tudo o que eu sei. Esse outro cara

finalmente vai...

T: (interrompe). Você não precisa me contar as novidades.

C: Finalmente vai se meter em  11 

T: (interrompe) Há uma coisa...

C: (interrompe). Negócios para ele mesmo.

T:...Uma coisa que eu sinto que eu... quero dizer (C: mhm) que eu gostei de ter sabido

das notícias, e agora, olhando para trás, eu imagino se eu não devia ter dito mais vezes

que, de certa forma, eu sabia que, de algum modo, era duro para você fazer qualquer

outra coisa... comigo a não ser compartilhar as notícias. Você entende o que eu digo?

GET

(Longa Pausa) T: Estou certo que, de alguma forma, você está no seu tipo - no seu tipo

de “cabana” e não quer ser tirada de lá. (longa pausa)

T: Você parece terrivelmente triste.

C: Mhm (suspira). Eu estava só pensando. Eu às vezes imagino (ri) soa doido isso.

Parece que estou casada com dois caras (ri). Casada com dois caras. (Como se estivesse

pensando auto).

T: (pausa) Você quer dizer que isso é chato porque você não está certa se você está ou

não, ou porque a idéia te chateia?

C: (Murmura mm-m). Não tenho certeza. (longa pausa). Parece mesmo que foi só

durante o verão, mas parece louco. Só no verão (ri).

T: Parece que você sente falta deles.

C: Mm-mm. Um especialmente...(longa pausa).

T: Seria maravilhoso descobrir que você esteve ou está casada, com esse de quem sente

falta, não é?

C: Mm-hm. (baixo e afirmativo) — (longa pausa).

T: Eu espero que você ainda não esteja casada com ambos de uma vez. Isso seria muito

complicado! (diz brincando).

C: Mm-hm (calma, continuando) (longa pausa). Que horas são agora? (suspirando).  12 

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T: Vinte para o meio dia. (longa pausa). Não é de surpreender que você queira ir embora

para a sua “cabana” onde você pode pensar sobre isso sem ser chateada.

C: Mm-hm. (calma, concordando).

T: Mesmo que isso a faça triste... (longa pausa). Eu espero que junto com a tristeza,

talvez haja um toque de (pausa) dele, e esperança de reencontrá-lo, ou alguém tão legal

como ele, e que tudo vai ficar bem com ele. Quer dizer, não é.

C: Mm-hm. (calma concordando).

T: Ou pensando se ele sabe como as coisas foram duras para você. Você pode colocar

toda a espécie de coisas que você quer na sua “cabana” e pensar sobre elas... (pausa e

suspiro).*

*Nota do tradutor: foram suprimidos dois extratos da terapia experiencial.

Eu tenho incluído mais exemplos de Psicoterapia Experiencial do que da psicoterapia

reflexiva e não-diretiva. Poucas fontes destes casos experienciais estão atualmente

disponíveis e são necessários exemplos para ilustrar os estilos de mudança.

Naturalmente os exemplos fornecidos não transmitem a linha completa da conduta de

terapia usada pelos terapeutas experienciais. Isto é, aquelas envolvendo contatos físicos

e comunicação não verbal. Abaixo há uma lista de alguns comentários, feitos por alguns

dos terapeutas associados com pesquisa, investigando o processo de psicoterapias com

esquizofrênicos hospitalizados. Estes comentários se referem a episódios em seus

relacionamentos com os pacientes. Estas descrições são resumos e não apresentação de

caso. O paciente não desejava ser visto após os dois primeiros contatos. Eu lhe disse

“para mim está bem” apenas para descobrir “isso não está bem para mim”. Eu o chamei

de volta e pedi-lhe que viesse mais dez vezes e depois decidiríamos. Anteriormente

havíamos decidido jogar cartas, depois que ele recusou-se a ficar sentado em silêncio.

Ele trouxe um tabuleiro de cartas. Depois de 5 horas ele indica que gostaria de vir e

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demorar tanto quanto ele ficou aqui. Agora eu tenho um parceiro para jogar cartas que

trapaceia ou tenta trapacear. Eu senti tédio e raiva com o Sr. SAF, comigo mesmo e com

o relacionamento. Quando eu finalmente sentia-se capaz de expressar parcialmente estes

sentimentos (mais ou menos na trigésima entrevista), o relacionamento pareceu

melhorar. No presente não estou certo para onde se encaminhará.  13 

Inicialmente a Sra. FIN estava muito resistente à terapia e depois de 4 entrevistas

recusou voltar outra vez. Até este ponto o terapeuta insistiu que a Sra. FIN continuasse,

mas deu-lhe mais liberdade dentro da hora terapêutica, explicando que ela poderia sair

quando estivesse muito desconfortável. Uma reviravolta ocorreu quando soube da

mudança para uma nova enfermaria. A Sra. FIN gritou e expressou seus sentimentos de

solidão e de falta de ajuda terapêutica. Possivelmente elemento mais significativo desse

relacionamento com a Sra. FIN foi, por assim dizer, minha expressão não-verbal de

preocupação e carinho (vendo se enfermeira, emprestando meu casaco, para ela, etc...)

Ele veio (eu senti que por meu pedido implícito, não obstante senti que ele também

necessitava, em algum nível de vir). Ele falou constantemente (eu tinha que interromper

para dar uma resposta). Nas dez primeiras entrevistas ou mais, eu senti que não fazia

diferença para ele se fosse eu ou qualquer outra pessoa que falasse. Eu sinto agora que

ele estava começando a ficar consciente de mim, e o relacionamento começa a

desenvolver-se. Com isto, está aparecendo lentamente algo de embaraço em relação ao

passado e aos sentimentos extra-terapêuticos atuais que ele discutiu, assim como trocas

espontâneas entretanto significativas entre nós. O paciente recusou, desde o início, de se

encontrar comigo. A cada menção de “próxima vez” e a qualquer convite para entrar no

consultório comigo, ele reagia com raiva explícita e exigia que o deixasse sozinho.

Durante algumas semanas aceitei seus sentimentos, sua raiva e desagrado por mim; eu

deixava-o sair; ele era trazido por atendentes. Eu argumentava com ele, eu era tanto

honesto como desonesto; eu poderia não ajudar, mas reagia negativamente a sua

rejeição e eu sentia que ele tirava o chão de mim, do meu direito de estar com ele. Por

causa desses meus sentimentos, eu decidi que ele não poderia mais ser coagido para me

ver, pois ele poderia, com isso, apenas descobrir uma ameaça em mim. Como fazer os

contatos continuarem - e ainda sem nenhuma forma de pressão a qual conduziria à sua

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rejeição e alteraria meu clima interior? Eu não poderia fazer mais nada, então eu visitei

o paciente na enfermaria. Eu fiz meus encontros breves, uma a vez que eu não queria

impor muito do meu sentimento determinado e tenso. Quando eu permaneci mais

tempo, ficando perto de onde o paciente estava, eu logo descobri que ele não ia embora,

nem me pediu para deixá-lo. Eu descobri a dimensão da livre escolha dele e a

comunicação não-verbal do desenvolvimento do relacionamento. Ele reage

globalmente, sorrindo, ficando furioso, move-se subitamente três passos atrás a alguma

coisa que eu fale ou a um movimento que eu tenha feito. Cada vez que eu percebia tais

reações, eu olhava dentro de mim e falava até que tivesse descrito justamente como eu

me sentia no momento. Eu vivencio que, este homem “afastado” é, num certo sentido, o

mais oposto dos afastamentos... tão pálido e sensível que minha presença junto dele era

quase tão intensa, que ele mal podia suportar. E suas várias reações aparentemente

profundas, para mim, quando estávamos em longos silêncios, me deixava incerto,  14 

tenso, aberto e obstinadamente presente, conseguindo dele tal forte, momentâneo e

sensível feedback para mim mesmo, que eu sentia-me completamente descontraído. Um

colega que leu o manuscrito deste capítulo, comenta sobre os resumos terapêuticos:

“Por que esses parecem como todos, desde Albert Ellis a John Roseu e Freida Fromm

— Reichman! Você não pode usar isso como exemplo de Terapia Centrada no Cliente;

as pessoas dirão que estão fazendo exatamente o que outros fazem há muito tempo.” Ele

está certo e errado, pois à diversidade dos problemas que eles encontram e à variedade

dos temperamentos trazidos por estes problemas, a Terapia Experiencial realmente

responde ao silêncio e à resistência de diferentes maneiras. Para algumas questões do

cliente, tenta-se expressar seus próprios sentimentos internos ou tenta-se responder à

comunicação não-verbal ou faz-se tudo isto uma vez ou outra. Seus estilos de

abordagem variam, mas seus alvos e seus pontos básicos são os mesmos. O ponto

básico é a experienciação - o fenômeno central da Psicoterapia Experiencial. E é a teoria

da experienciação que promove o quadro de referência para avaliar a efetividade e

significação das respostas dos terapeutas. A teoria da experienciação fornece uma

estrutura teórica dentro da qual os construtos e atividades centrados no cliente são

elaborados. Por exemplo: uma resposta de reflexão de sentimentos é efetiva quando

focaliza a experiência interna do cliente. A mera repetição das verbalizações do cliente é

inadequada e não terapêutica. Na mesma linha, uma interpretação, para ser uma resposta

útil, precisa ser uma verbalização pelo terapeuta de experienciação do cliente que ainda

não alcançou um nível verbal. Uma interpretação que não seja dirigida para a

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experienciação do cliente não facilita, porém provoca comportamento defensivo.

Respondendo ao que o cliente está experienciando, nós podemos ver que terapeutas

experienciais tem mantido e dado significado mais amplo para uma característica do

Período I e II - um respeito pelo cliente como uma pessoa independente, com

capacidades e potencialidades humanas. Respondendo ao que o paciente está

experienciando o terapeuta reconhece e transmite sua responsividade para o que há de

essencialmente humano no cliente. Apesar da estranheza dos sintomas dos pacientes e o

furor de suas rejeições, é possível responder a eles como pessoas subjetivas e

experienciantes. Da mesma forma, quando um terapeuta responde ao cliente ou

paciente, transmitindo abertamente sua (do terapeuta) experienciação momento-a-

momento, ele respondeu à pessoa como uma pessoa. O paciente ou cliente é livre para

aceitar ou rejeitar as comunicações do terapeuta, mas ele pode eventualmente ser tocado

e modificado por elas. Os parágrafos precedentes devem ter clarificado porque a

avaliação do meu  15  amigo sobre trechos de terapia e comentários estavam, ao mesmo,

tempo, certos e errados. A Terapia Centrada no Cliente não é uma miscelânea, mas tem

expandido suas técnicas e seus conceitos. Conceitos sobre atributos essenciais dos

terapeutas e sobre os processos de experienciação estão propostos para abranger muitos

estilos de terapia. Gendlin comentou acerca da generalidade da nova Abordagem

Centrada no Cliente “...por várias razões, é provável que o processo positivo do paciente

seja o mesmo em todas as orientações. Se for assim, o campo para uma teoria

psicoterápica universal pode ser extrapolado.” (1966 b). Em outro artigo ele amplia

essas pretensões: “Os desenvolvimentos em psicoterapia obscureceram os limites entre

as diferentes orientações. Por exemplo, compare a psicanálise e a terapia centrada no

cliente. Que nítida diferença parece existir entre elas! Hoje, olhando para trás, nós

vemos similaridades: ambas eram recusas altamente formais de um relacionamento real.

Uma desempenhava o papel do relacionamento de transferência, a outra uma aceitação

totalmente neutra. Nós vemos dois tipos de evitação artificial e formalista de uma

interação genuína entre duas pessoas. Os sentimentos reais do paciente eram

considerados inválidos (transferência). Os sentimentos do analista eram também

considerados inválidos (contra-transferência). Do mesmo modo, na terapia centrada no

cliente, era um erro o terapeuta inserir seus próprios sentimentos na situação terapêutica.

Hoje em dia, terapeutas centrados no cliente fazem da autenticidade, a primeira

condição para a terapia e a expressividade e espontaneidade do terapeuta os fatores

terapêuticos essenciais. Os psicanalistas estão também mudando em direção ao

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envolvimento e compromisso reais como pessoas, com menos ênfase na técnica.” (1966

a, p. 210- 211). As “atitudes” do terapeuta que Rogers discutiu no seu artigo

“Considerações Necessárias e Suficientes”, (1957b), podem ser vistos como habilidades

prévias ou capacidades interpessoais que o terapeuta precisa possuir antes que ele possa

estabelecer um relacionamento e responder ao cliente de modo terapêutico. Um

terapeuta não pode facilitar o aprendizado do cliente a referir-se e a confiar em seus

próprios sentimentos (do cliente), a não ser que o terapeuta: • Seja sincero e

expansivamente positivo em relação ao cliente (consideração positiva incondicional); •

Esteja honestamente tentando compartilhar o mundo interno do cliente e comunicar sua

compreensão adequada (compreensão empática) e • Seja capaz de revelar seus próprios

sentimentos internos (congruência ou autenticidade). Alguns terapeutas questionam esta

formulação do papel do terapeuta. Para eles a ênfase na congruência, na consideração

positiva e na empatia, parece não profissional, é simplesmente uma “conversa de

amigos” com pacientes. Num ponto suas objeções estão certamente corretas; a terapia

centrada no cliente não é compatível com o tipo de programa de treinamento

profissional que, depois de uns  16  anos de treinamento irrelevantes, envia seus

profissionais para curar o doente. As pesquisas recentes mostraram claramente que

leigos podem fazer psicoterapia e muito bem. Esses leigos podem “bater papo” com

pessoas e ajudá-las, mas essa atividade não deve ser ridicularizada. Poucas pessoas

encontram companheiros ou amigos que são capazes e desejosos de manifestar

compreensão, simpatia e sinceridade que os ajudarão a conviver com problemas

existenciais e procurar uma identidade significativa. Empatia, consideração positiva e

congruência devem ser vistas como habilidades cognitivas que são usualmente

enfatizadas em nossas escolas de formação de terapeuta.

O Período II enfatizava a integração do cliente em seu auto-conceito. Essa idéia pode

ser englobada no quadro de referência da Psicoterapia Experiencial. A integração

crescente dos auto-conceitos é vista como um aspecto de acesso crescente do cliente à

experienciação. A medida que seu processo de experienciação torna-se mais

diretamente disponível e utilizável, seus auto- conceitos, que são produtos da

experienciação, mudam, porque ele incorpora, novas fontes internas para checar seu

auto-conceito.

É importante reiterar que a Psicoterapia Experiencial está ainda se desenvolvendo;

como uma teoria da terapia, ela precisará de muito mais modificações. Hebb (1958, p.

465) disse: “o que nós precisamos de uma teoria é que ela possa manter-se intacta o

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tempo suficiente para nos dar uma (teoria) melhor.”. Através de pesquisas e aplicações

clínicas, a Psicoterapia Experiencial irá alterar e aperfeiçoar, e irá ela mesma ser

englobada por formulações mais gerais e mais detalhadas. O comentário de Rogers

sobre o significado da pesquisa para o futuro da psicoterapia são pertinentes aqui:

 “Sua significação maior, para mim é que um corpo crescente do conhecimento de

psicoterapia objetivamente verificado, ocasionará uma morte gradual de “escolas” de

psicoterapias, incluindo esta. A medida que cresce o conhecimento sólido, assim como

as condições que facilitam a mudança terapêutica, a natureza do processo terapêutico, as

condições que bloqueiam ou incapacitam a terapia, os resultados característicos da

terapia em termos de mudança de personalidade e de comportamento, haverá menos e

menos ênfase sobre formulações dogmáticas e puramente teóricas. As diferenças de

opiniões, de procedimentos em terapia e diferentes julgamentos em relação aos

resultados, serão colocados, em provas empíricas, ao invés de serem simplesmente uma

questão de debates ou argumento.” (p. 29-30).

Nesta discussão do Período III, eu tentei esquematizar as tendências básicas na

Psicoterapia Experiencial. As idéias básicas serão discutidas, expandidas,

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aplicadas e relacionadas às descobertas das pesquisas nos próximos capítulos. Para

revisão aqui apresento um sumário dos fatores básicos:

• Um amplo campo de comportamentos terapêuticos está englobado. Nisso se inclui

algumas atividades interventivas (como expressão de opiniões e sentimentos ou

colocação de perguntas) que, no Período I e II indesejáveis;

A orientação postula certas atitudes dos terapeutas (congruência, compreensão empática

e consideração positiva incondicional) como necessárias para a iniciação e continuação

de um relacionamento terapêutico efetivo.

• A flexibilidade de comportamento do terapeuta mencionada no primeiro item é

estruturada de acordo com o fenômeno da experienciação. A responsividade do

terapeuta, no relacionamento terapêutico, é baseada na experienciação imediata da

interação e é diretamente voltada para o processo subjetivo do cliente. Esse foco na

experienciação leva o terapeuta a expressar, às vezes, muitos de seus sentimentos

imediatos e momentâneos para o cliente.

• Embora a Psicoterapia Experiencial centralize o material básico com o qual o

terapeuta trabalha (lida) - sua própria experienciação – vê o cliente como uma pessoa

integrada e o biossocial.

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A pesquisa e a construção da teoria Psicoterapia Experiencial tenta identificar e inter-

relacionar os eventos fisiológicos, comportamentais, sociais e fenomenológicos da

psicoterapia. São enfatizados a continuidade dos fenômenos da terapia e outros eventos

inter e intrapessoais.

Este capítulo deu uma visão geral de modificações importantes na terapia Centrada no

Cliente com a concentração no período mais recente, a Psicoterapia Experiencial.

Muitos exemplos foram colocados para que os leitores pudessem julgar por eles

mesmos se a Terapia Centrada no Cliente mudou. Nos capítulos seguintes será dada

menos ênfase nos exemplos e mais na pesquisa e na terapia.

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