O DIA ARVORE- · 2018-01-17 · O DIA DA ARVORE- f-l s're é uma solenidade que celebramos no l-/...

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O DIA DA ARVORE- f-l s're é uma solenidade que celebramos no f-( Canadá como ,ro Brasil. Todos os anos, l-/ os alunos canadenses das cidades e dos campos plantam árvores como pinheiros, "épi- nettes", "mêlêzes", cedros, faias, olmos e bôr- dos, acompanhando um velho costume que foi popularizado. Torna-se assim a árvore uma companheira respeitada pela juventude, após haver sido, em nossos países novos, a inimiga do descobridor e do pioneiro. Lembremo-nos de gue quinhentos anos o Brasil e o Canadá eram apenas uma imensa floresta virgem. Como o disse ConrHo Nnro, ' eÍa a grande, a inex- plorada selva primitiva, a venerável floresta das eras bárbaras, templo augusto das tribos". O primeiro dever do desbravador era aba- t('r as árvores para abrir um caminho, para se proteger contra o índio, para conseguir um pe- daço de terra onde pudesse cultivar milho ou trigo. À floresta começou a recuar; casas, al- deias e cidades foram construídas com o Ínâ- terial gue fornecia a selva augusta. Foi o que cxprimiu o poeta canadense Penaputre Lgvay: "Mais, dans les défrichés tomibe la lumiàre, L'étê Íera m0rir, autour d'une chaumiàre, Le blé de la famille et le foin du troupeau. L'âme de la forêt fait place à l'âme htrmaine, Et I'humble dàfricheur taille ici son domaine" Comme dans une étoffe on taille un fier drapeau." Depois das cidades, surgiram os paÍses; mas, cedo, percebemos que a floresta se despo- java com demasiada rapidez, ameaçando desa- parecer completamente e para sempre. Perce- hemos que Íamos esgotar o que parecia inesgo- tável. O Canacla e o Brasil compreenderam que derrubar: uma árvore é questão de alguns ins- tantes, mas que substituir uma árvore é questão de muitos anos. Era, pois, necessário proteger o domÍnio florestal, organizar a sua exploração ]eeN DÉsv Embaixador do Canadá racional, protegê-lo contra os agentes destrui- dores e praticar o reflorestamento sistemático. Estuclanclo-se ttm mapa do Canaclá, cons- tatar-se-á a importância das superfícies arbori- zadas. Nossas florestas produtivas são de um milhão, trezentas e trinta e três mil milhas gua- dradas. Essas florestas estendem-se do Atlan- tico ao Pacífico, da fronteira americana à baía de l{udson e até às pro.ximidacles do oceano Ártico, numa profundidade gue varia entre seis- centas e mil e trezentas milhas. Para nós, essas imensidades de verdttra são mais importantes gue nossas minas de cobre, de prata e de ouro. As minas esgotam-se; a Íloresta pode tornar- se, se assim o quisermos, inesgotável. Poderá reoovâr-se indeÍinidamente pelos cuidados cien- tíficos gue lhe dispensarmos para preservá-la contra o incêndio, os insetos, os roedores, as doenças e a erosão. Foi por isto que estabele- cemos eni todo o país serviços de botânica flo- restal, de genética, de ecologia e de silviculturer. Uma das missões de maior relêvo dos serviços florestais consiste na proteção da floresta con- tra o incêndio devastador. O Estado Federal e os Estados Provinciais dispõem de considerá- vel pes.soal - engenheiros e técnicos. Patrulhas regulares percorrem os caminhos. Tôrres de observação ou de vigilância são colocadas nos pontos mais elevados. Linhas telefônicas ligarn essas tôrres entre si, e patrulhas aêreas comple- tam a vigilância, dispondo de importante ma- terial para combate ao incênclio. Associações florestais e socieclades cle ex- ploração das florestas secundam os serviços pú- l'rlicos. Enfim, conferências, cartazes, circulares, avisos radiofônicos vêm lembrar ao colono, ao caçador, ao turista, as precauçõgs a serem to- rradas para que sejam evitados os incênclios. Os guardas florestais emitem licenças de cir- culação e licenças para se queimarem os matos, * Oração pronunciada na cerimônia da "Festa da Árvore", no ]ardim Botânico do Rio de Janeiro, em 22 de setembro de 1944 REVISTÀ DO MUSEU NÀCIONÀL

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O DIA DA ARVORE-

f-l s're é uma solenidade que celebramos nof-( Canadá como ,ro Brasil. Todos os anos,l-/ os alunos canadenses das cidades e doscampos plantam árvores como pinheiros, "épi-nettes", "mêlêzes", cedros, faias, olmos e bôr-dos, acompanhando um velho costume que foipopularizado. Torna-se assim a árvore umacompanheira respeitada pela juventude, apóshaver sido, em nossos países novos, a inimigado descobridor e do pioneiro. Lembremo-nos degue há quinhentos anos o Brasil e o Canadáeram apenas uma imensa floresta virgem. Comoo disse ConrHo Nnro, ' eÍa a grande, a inex-plorada selva primitiva, a venerável floresta daseras bárbaras, templo augusto das tribos".

O primeiro dever do desbravador era aba-t('r as árvores para abrir um caminho, para seproteger contra o índio, para conseguir um pe-daço de terra onde pudesse cultivar milho outrigo. À floresta começou a recuar; casas, al-deias e cidades foram construídas com o Ínâ-terial gue fornecia a selva augusta. Foi o quecxprimiu o poeta canadense Penaputre Lgvay:

"Mais, dans les défrichés oü tomibe la lumiàre,L'étê Íera m0rir, autour d'une chaumiàre,Le blé de la famille et le foin du troupeau.L'âme de la forêt fait place à l'âme htrmaine,Et I'humble dàfricheur taille ici son domaine"Comme dans une étoffe on taille un fier drapeau."

Depois das cidades, surgiram os paÍses;mas, cedo, percebemos que a floresta se despo-java com demasiada rapidez, ameaçando desa-parecer completamente e para sempre. Perce-hemos que Íamos esgotar o que parecia inesgo-tável. O Canacla e o Brasil compreenderam quederrubar: uma árvore é questão de alguns ins-tantes, mas que substituir uma árvore é questãode muitos anos. Era, pois, necessário protegero domÍnio florestal, organizar a sua exploração

]eeN DÉsvEmbaixador do Canadá

racional, protegê-lo contra os agentes destrui-dores e praticar o reflorestamento sistemático.

Estuclanclo-se ttm mapa do Canaclá, cons-tatar-se-á a importância das superfícies arbori-zadas. Nossas florestas produtivas são de ummilhão, trezentas e trinta e três mil milhas gua-dradas. Essas florestas estendem-se do Atlan-tico ao Pacífico, da fronteira americana à baíade l{udson e até às pro.ximidacles do oceanoÁrtico, numa profundidade gue varia entre seis-centas e mil e trezentas milhas. Para nós, essasimensidades de verdttra são mais importantesgue nossas minas de cobre, de prata e de ouro.As minas esgotam-se; a Íloresta pode tornar-se, se assim o quisermos, inesgotável. Poderáreoovâr-se indeÍinidamente pelos cuidados cien-tíficos gue lhe dispensarmos para preservá-lacontra o incêndio, os insetos, os roedores, as

doenças e a erosão. Foi por isto que estabele-cemos eni todo o país serviços de botânica flo-restal, de genética, de ecologia e de silviculturer.Uma das missões de maior relêvo dos serviçosflorestais consiste na proteção da floresta con-tra o incêndio devastador. O Estado Federal e

os Estados Provinciais dispõem de considerá-vel pes.soal - engenheiros e técnicos. Patrulhasregulares percorrem os caminhos. Tôrres deobservação ou de vigilância são colocadas nospontos mais elevados. Linhas telefônicas ligarnessas tôrres entre si, e patrulhas aêreas comple-tam a vigilância, dispondo de importante ma-terial para combate ao incênclio.

Associações florestais e socieclades cle ex-ploração das florestas secundam os serviços pú-l'rlicos. Enfim, conferências, cartazes, circulares,avisos radiofônicos vêm lembrar ao colono, aocaçador, ao turista, as precauçõgs a serem to-rradas para que sejam evitados os incênclios.Os guardas florestais emitem licenças de cir-culação e licenças para se queimarem os matos,

* Oração pronunciada na cerimônia da "Festa da Árvore", no ]ardim Botânico do Rio de Janeiro, em 22 de setembro de 1944

REVISTÀ DO MUSEU NÀCIONÀL

Page 2: O DIA ARVORE- · 2018-01-17 · O DIA DA ARVORE- f-l s're é uma solenidade que celebramos no l-/ f-( Canadá como ,ro Brasil.Todos os anos, os alunos canadenses das cidades e dos

os galhos e o remanescente das árvores der-rubadas. As fogueiras autorizadas são fiscali-;adas e cuidadosamente extintas para impedirqualquer propagação. As sociedades ou os in-divíduos que exploram a floresta são submeti-dos a estrita regulamentação que evita o des-

perdício e permite o reflorestamento.Forma-

ram-Seassocia-ções de mo-ças e Íapa-zes paragarantir a

COnSer-vação dosrecursosnaturais.Estas âs-SOCtã-ções sãoconh eci-'das sob onome dos"QuatroAgás", queCOrÍeS-pondemà divisa se-guinte:"Honra nosatos. Ho-nestida-de nosmeios. Ha-bilidadeno traba-lho. Huma-nidade nacondu-ta". Êssesjovens com-pletam otrabalhodos sábios,dos enge-nheirose dos técni-cos. Nossa

dando sombra e consôlo aos gue padecem !"(Fotogra[ia de João da Silva Ferreira)

peixe, o regulador dos lagos e dos rios. É oadôrno vivo e variado da paisagem e o refúgiodos cantores alados. Fui criado no culto e naafeição das árvores do meu país. Lembro-meque meu pai costumava plantar, em volta denossa casa de campo, olmos, plátanos e bôrdos,e que os regava tôdas as manhãs com água e

leite, âsse-gurando oseu desen-volvime n t ode criançasde peito.

Estamosencanta-dos, minhamulher e eu,por pode-rem OS ÍlOS-s o s filhosrepetir n oBrasil ogesto doavô: plan-tar árvore.É com pro-funcla emo-ção que osvemOs Íe'ã-tar uma tra-dição de [a-mília, nestaterra emq u e fomosacolhi-dos comoem nossopróprio lar,e onde des-cobrimostantos e tãocaros laçosd e paren-tesco. Nos-sas criançasplantam ár-vores brasi-leiras, queelas reverão

um dia, assim o esperamos, grandes e fortes,

profundamente arraigadas :

"Na glória da alegria e da bondade,Agasalhando os pássaros nos ramos,

Dando sombra e consôlo aos que padeceml"

juventude [oi, assim, educada no sentimento dorespeito e do amor às árvores, cujo valor ela

conhece e venera, pois a árvore não é apenas

um objeto de beleza. É também o regulador do

clima, o conservador das águas, da caça e do

9ÀBRIL, 1945

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