O Diário no seu bairro - Jardim alvorada

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MARINGÁ, PR www.odiario.com SETEMBRO DE 2015 CIDADE CHAMADA JARDIM O Jardim Alvorada nasceu no início de 1960, a partir do loteamento da Fazenda Santa Lina, de propriedade do topógrafo e engenheiro da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, Alexandre Rasgulaeff, para se transformar numa referência de crescimento urbano, com ruas movimentadas e comércio vigoroso e muito diversificado 6. OÁSIS Sob fios de alta tensão, o desafio de cultivar cactos e outras plantas 12. FAMA Mocotó, prato da culinária gaúcha, é a principal atração do Bar do Rafa 16. HISTÓRIA Campanhas eram aguardadas pelos showmícios na Praça Farroupilha 24. CRIANÇA Odete da Pastoral coleciona histórias e agora enfrenta os ‘gordinhos’ 30. CAPACITAÇÃO Cursos da Acim proporcionam qualificação para tempos de crise ALVORADA

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  • MARING, PR www.odiario.comSETEMBRO DE 2015

    CIDADE CHAMADA JARDIM O Jardim Alvorada nasceu no incio de 1960, a partir do loteamento da Fazenda Santa Lina, de propriedade do topgrafo e engenheiro da Companhia Melhoramentos Norte do Paran, Alexandre Rasgulaeff, para se transformar numa referncia de crescimento urbano, com ruas movimentadas e comrcio vigoroso e muito diversificado

    6. OSIS Sob fios de alta tenso, o desafio de cultivar cactos e outras plantas

    12. FAMA Mocot, prato da culinria gacha, a principal atrao do Bar do Rafa

    16. HISTRIA Campanhas eram aguardadas pelos showmcios na Praa Farroupilha

    24. CRIANA Odete da Pastoral coleciona histrias e agora enfrenta os gordinhos

    30. CAPACITAO Cursos da Acim proporcionam qualificao para tempos de crise

    ALVORADA

  • 2 I JARDIM ALVORADA O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    FUNDADA EM 1974 POR JOAQUIM DUTRA

    IARIOODO NORTE DO PARAND PresidenteFranklin Vieira da Silva

    Vice-presidenteRosey Rachel Vieira da Silva

    Diretor de ContedoMichael Vieira da Silva

    EditoraElaine Utsunomiya

    Diretora de MercadoLucienne Vieira da Silva

    Diretor GeralJosu Tadashi Endo

    Diretor ComercialCsar Luis de Carvalho

    Av. Mau n 1988 - PABX (044) 3221-6055CLASSIFONE - (44) 3221-6000REDAO - (44) 3221-6020ASSINATURAS - (44) 3221-6075FAX Depto. Comercial (044) 3226-2546 (anncios)FAX Redao (44) 3223-4696Visite o site: www.odiario.comE-mail: [email protected] Postal n 1551 CEP - 87050-010 - Maring - PR

    EMPRESA JORNALSTICAEDITORA CENTRAL

    Suplementos: (44) 3221-6049 - [email protected]. - [email protected]

    Edivaldo Magro

    Tel. (44) 9949-9120 Email: [email protected]

    Passei a adolescncia e grande parte da vida adulta no Jardim Alvorada. Durante mais de 30 anos morei no nmero 220 da avenida Luclio de Held, quase esquina com Dr. Alexandre. Chegamos por ali, eu e minha famlia, no incio dos anos de 1970, expulsos da roa pela geada, que dizimou os cafezais. Tempos difceis aqueles. No havia asfalto. Quando chovia, para chegar no ponto de nibus, prximo da

    venda do Gacho, a gente amarrava um saco de plstico em cada p, sobre o calado, para proteg-lo do barro. A circular tinha imensa dificuldade em vencer a subida da Dr. Alexandre e, no raramente, atolava. O asfalto descia apenas pela Mascarenhas de Moraes (a rua do Colgio Duque de Caxias) at esquina com a rua Canad. Depois era tudo barro. Levar bicicletas nas costas at em casa era comum. No rodava na lama grossa da terra

    vermelha. Cresci com o Paulinho, o N, o Israel, o Elias, o Baiano, este um nordestino invocado, que no levava desaforo pra casa. Morreu na ponta da faca de um desafeto. Brigas eram frequentes entre racinhas da Tuiuti, lideradas por Doutor, Nego, Zuza, entre outros, e do Alvorada (Lebro, China, Fumaa...). Mas tambm tinha muita diverso. Uma data vazia virava um campinho e a gente passava a tarde correndo atrs de uma velha bola

    de capoto depois das aulas. Tempo de colecionar tampinhas de refrigerantes com personagens da Disney, jogar burquinhas (mata-mata e cabecinha) e trocar figurinhas. Agosto era tempo de soltar pipa. No vero, a diverso era nos tanquinhos do rio bostinha, origem de tantas febres. Saudade da professora Marilena, da Escola Novo Jardim Alvorada, da qual ganhei, no 4 ano, um jogo de damas. Era o melhor aluno da sala.

    Sou do tempo da venda do Gacho, do barro e das racinhas EDIVALDO MAGRO

    [email protected]

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  • 4 I JARDIM ALVORADA O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    Tudo comeou numa fazenda Loteada no incio de 1960, propriedade com 182 alqueires se transformou no Jardim Alvorada

    O Jardim Alvorada j foi uma enorme fazenda, com mais de 182 alqueires paulistas (um alqueire paulista equivalente a 24,2 mil m2). A ocupao urbana da cidade, segundo livro do jornalista Osvaldo Reis, teria comeado efetivamente em 1939, quando seu primeiro morador, Mitsuzo Taguchi, tomou posse de terras rurais. A Fazenda Santa Lina formou-se a partir de 1943, como relata Cleres do Nascimento Mansano em tese de ps-graduao em Geografia pela UEM, defendida em 2013. Pertencia a Alexandre Rasgulaeff, engenheiro topgrafo da Companhia Melhoramentos Norte do Paran,

    responsvel pelo planejamento da malha urbana de Londrina, elaborado em 1930. Arapongas e Rolndia tambm teriam sado de suas pranchetas.

    Alexandre Razgulaeff adquiriu vrios lotes rurais no comeo da dcada de 1940, com a inteno de usufruir da terra que estava em pleno desenvolvimento econmico por causa da expanso cafeeira. Como j tinha experincia com loteamentos, por causa do trabalho que exercia na CTNP, sabia que em pouco tempo essas terras gerariam lucro se incorporadas rea urbana da cidade. Como funcionrio da CTNP, acompanhou loteamentos e

    Nome do bairro significa a primeira luz da manh. Remete ao novo, ao que vinha

    Cleres do Nascimento Mans

    vendas dos imveis, tendo acesso comercializao de terras em vrios lugares do norte-paranaense, comprando e revendendo terras,

    escreve a professora em sua tese. A Fazenda Santa Lina, com 4,4 milhes de m2, foi adquirida por Razgulaeff em 1943, e loteada no incio da dcada de 1960, mas cinco anos depois a propriedade ainda mantinha sua vocao original, a cafeicultura, em muitas pores de terra, conflitando com a construo de casas no loteamento em fase de expanso . De So Paulo, onde morava, Razgulaeff cordenava o loteamento, entre muito outros empreendimentos imobilirios espalhados pelo Paran e So Paulo, por meio da Companhia de Colonizao e Desenvolvimento Rural (Codal).

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    A comercializao de lotes foi dividida em duas partes, com o incio da primeira em setembro e a segunda em novembro. Dado interessante levantado pela professora Cleres do Nascimento em sua tese diz respeito aos valores dos terrenos: Para ter uma referncia do valor de cada mensalidade, tomamos como referencial o salrio mnimo vigente no pas institudo em 16 de outubro de 1961, que era de Cr$ 13.440,00. As prestaes comprometiam aproximadamente de um salrio mnimo, aproximadamente Cr$ 3.361,00. Comparando com o salrio mnimo vigente (salrio mnimo atual: R$678,00) esse valor corresponderia aproximadamente a R$169,50 mensais e o valor total do lote aproximadamente 17 salrios mnimos, em torno de R$11.526,00.

    Alexandre Rasgulaeff sabia que essas terras gerariam lucros quando incorporadas a cidade

    HISTRIA. Lanamento do Jardim Alvorada, em 1962. Ao fundo (sobre o tablado) Pedro Granado e Ademar Schiavone

  • 6 I JARDIM ALVORADA O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    Cactos cultivado sob tenso Na base de uma torre de alta tenso, Carlos cultiva ampla variedade de cactos; troca, no vende

    A torre de alta tenso da Copel, em frente a subestao da empresa, na avenida Pedro Taques, uma referncia fcil para localizar os cactos e suculentas cultivados com carinho por Carlos Lima h cerca de 15 anos. Antes era seu pai que cuidava do local, mas o plantio era de verduras e legumes. Seu Nelson cuidou da horta por muitos anos at adoecer.

    Carlos logo se deu conta que no teria tempo para dar sequncia ao que o pai fazia. Precisava dedicar seu tempo s necessidades do pai, cada vez mais exigente em cuidados e carinho. Aos poucos, a horta foi dando lugar s cactceas, que se

    Carlos em sua pequena plantao, que se desenvolve sob alta tenso

    apresentam em formatos e tamanhos distintos, representando variedades diferentes de uma mesma famlia de plantas.

    As suculentas, assim chamadas por acumularem lquidos, so parentes muitos prximos das cactceas. (cactus). Plantas rsticas, no exigem tanta dedicao como as verduras e legumes. So resistentes falta dgua e, portanto, no necessitam de irrigao diria. Mas pela aparncia, cactos e suculentas recebem mais do que o manejo bsico: recebem carinho!

    Todos os dias, Carlos passa pelo local para cuidar das plantas e receber visitantes. Importante

    ressaltar que ele no comercializa nada. Diz que troca e fornece mudas, alm de dividir conselhos, dicas e opinio sobre cultivo e manejo. Mas lamenta o descarte de lixo no entorno do alambrado, limpo por ele com a necessria frequncia.

    Sempre retiro todo tipo de sujeiras que as pessoas jogam ali, dentro e fora do alambrado, afirma em tom de pedido para ser ajudado, pelo menos, a manter a rea limpa, sem embalagens usadas, garrafas plsticas, papis, restos de comida e todo tipo de resduos conflitam com a manuteno saudvel das plantas, que se sobressaem no local como uma pequena floresta.

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  • 8 I JARDIM ALVORADA O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    Nas cartas e na boa conversa Na praa Farroupilha, o jogo apenas uma distrao, assim como o converseiro sobre tudo

    O jogo apenas uma das distraes da praa. O local tambm uma boca maldita, com converseiro sobre poltica e outros assuntos mais importantes, como frisa o porteiro Joo Dias. A gente fala mal um do outro, afirma, para em seguida cair na gargalhada e lembrar a histria do amigo que a mulher foi buscar na praa no safano.

    Tinha sado de casa para buscar um medicamento na farmcia e nada de voltar, conta. Levou uma bronca e foi pra casa zoado por todos que estavam por aqui. No voltou mais.

    A gente tambm se ajuda aqui, lembra Odair Nunes, que no gosta de jogar, mas vai com frequncia

    Farroupilha ponto de encontro para boa conversa e jogos de carta

    praa. Conta que j participou de vaquinhas para ajudar colegas que precisavam de certo medicamento e at mesmo de alimentos. A vida no est fcil pra ningum, resume, ajeitando a manga da camisa, impecavelmente passada. Nunes mora no bairro desde que isso tudo aqui ainda era barro, apontando para a Pedro Taques, hoje a principal referncia comercial do Jardim Alvorada.

    Tonho o interrompe para lembrar que o asfalto demorou a chegar. L da Rocha Pombo (praa localizada na Pedro Taques com avenida Brasil) at aqui era barreiro s. Era carro e circular atolados por todo lado. Uma

    tristeza, aponta o ex-caminhoneiro, que por anos dirigiu nibus coletivo, fazendo a clssica linha 177, que liga o bairro ao centro ; Cansei de ser rebocado na subida ali embaixo, afirma, apontando para a avenida dr. Alexandre, engenheiro cuja fazenda deu origem ao bairro.

    Daquele tempo no resta nada, apenas a lembrana das dificuldades comuns numa poca em que tudo parecia bem mais difcil. . A dr. Alexandre hoje uma das principais avenidas do bairro, onde pontuam uma infinidade de atividades comerciais e tambm funciona uma unidade do Corpo de Bombeiros.

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  • 10 I JARDIM ALVORADA O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    Determinao e muito trabalho Essa a receita de sucesso do empresrio Delcdio Constantino, h mais de trs dcadas no bairro

    Nunca tive um fracasso empresarial, diz Delcdio Constantino, h mais de trs dcadas no Jardim Alvorada. No comando de trs lojas varejistas, duas atacadistas e duas marcas de jeans de fabricao prpria, grupo que emprega cerca de 80 pessoas, fala sem nenhuma arrogncia. Sorte?

    No. Trabalho e determinao, afirma o ex-trabalhador rural, filho de pais analfabetos que at os 18 anos capinou roa e abanou caf. Recentemente, recebeu o trofu Guerreiros do Comrcio, concedido pela da Federao do Comrcio de Bens, Servios e Turismo do Paran (Fecomrcio), que destaca

    Delccio Constantino com o trofu de Guerreiros do Comrcio: sucesso

    empresrios de sucesso no Estado. Aos 59 anos, Constantino discorre

    com orgulho do passado na roa, abandonada quando a geada de 1975 decretou o fim do ciclo cafeeiro. Trabalho de ajudante geral em supermercado, trabalhou com mecnica e funilaria e at de cozinheiro. Acabou em So Paulo no incio da dcada de 1980 onde, estimulado pelo irmo vendedor, abriu uma fbrica de cintos e bolsas. Lembra que a viagem, de trem, demorou um dia e duas noites. Fomos espremidos dentro de um vago, lembra. Retornou a Maring alguns anos depois para iniciar bem sucedida carreira empresarial, que

    comeou na avenida Luclio de Held. Constantino no tem dvida sobre

    o segredo do sucesso: alm de trabalho e determinao, preciso muito esforo para superar os obstculos. Diz que o que tira o sono de um empresrio so dvidas. No se pode errar na administrao. Uma m gesto a origem de todos os problemas, afirma , com a certeza de que tem que acertado bem mais que errado. Ensina tambm que preciso ser conciliador. Sempre uma boa conversa a soluo para a maioria dos problemas, ensina, orgulhoso de sua trajetria. Sonho? De trabalhar menos e no as 12 horas dirias de hoje.

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  • 12 I JARDIM ALVORADA O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    Rafa sinnimo de mocot De origem gacha e no nordestina como muitos imaginam, prato fez a fama de bar no Alvorada

    Nada mais Alvorada que o mocot do Rafa, bar que h quase trs dcadas serve caldo e pores da inveno gacha e no nordestina como muitos imaginam. Mas no importa sua origem: a receita saborosa e energtica, para no dizer que no recomendada para quem no tolera a robustez de um prato que pode no encantar os olhos, mas sobra em paladar e aromas. Rafa, especialista no assunto, lamenta que o tempo no est ajudando muito: mocot rima com frio e, no inverno, o bar mais do que triplica o movimento.

    Jos Rafael Pacheco nasceu em Ivatuba mas ancorou sua vida em

    Maring logo depois dos vinte poucos anos. Comeou com um bar na velha rodoviria, o Monte Lbano, onde executava receita do sogro com maestria. O fgado de boi milanesa do seu Joo Pio Ferreira era famoso e o bar logo virou referncia da iguaria. Rafa pensou logo em crescer. Trocou o Monte Lbano pelo Restaurante So Judas Tadeu, em frente rodoviria. O negcio no prosperou como ele pretendia e logo desistiu do empreendimento.

    Ele abriu o primeiro bar no bairro em 1987, em frente a Sanepar. Tentou algumas receitas diferentes no incio, mas seria o mocot sua inveno mais bem sucedida. Logo

    o bar virou ponto de encontro para saborear o prato, servido na forma de caldo e tambm em pedaos. Com um repertrio surpreendente de pimentas e de cachaa com pau

    dentro, o local se tornou parada obrigatria para o consumo do mocot, que ganhou companhia no cardpio: dobradinha e rabada com polenta. O sucesso foi rpido.

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  • 14 I JARDIM ALVORADA O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    Tempo enrolado no carteado Grupo se rene todos os dias na praa Farroupilha para acirradas disputas de cacheta e tranca

    O dia curto para um grupo de aposentados e de pessoas que, sem uma atividade profissional fixa (ou que vivem de renda), enrola o tempo no carteado, jogado em cima de mesas de concreto que pontuam a Farroupilha, praa representativa do bairro pela localizao e histria. Cacheta e tranca so as modalidades preferidas. O truco j foi jogo mais comum por ali, mas foi abolido da roda. Tinha muita gritaria, justifica Joo Felix da Silva, frequentador assduo da praa.

    Joozinho como chamado pelos amigos trabalhou muito tempo na construo civil, evoluindo de meia cui (ajudante geral ou servente)

    Praa ponto de encontro e de acirradas disputas de cartas

    a pedreiro e, finalmente, mestre de obras. Aposentou-se h 3 anos, aos 64, depois de uma queda que causou uma grave fratura no quadril. Destino da gente assim mesmo, afirma resignado, largando a seguir: com qual carta voc bateu!?.

    Desconcentrou e perdeu a mo e R$ 1, o valor da rodada. No d pra jogar sem valer um cascaio (dinheiro) , afirma Natanael de Oliveira, vtima de um recente faco num frigorfico de aves e que ganhou pela quarta vez seguida, todas com um com 4 de paus. Aos 52 anos, diz que no o jogo apenas que o traz a praa. A gente se diverte muito com os amigos, afirma, confiante

    que logo volta a trabalhar. Na minha idade no fcil, mas ainda dou rasteira em muito jovem, referindo-se ao vigor fsico e disposio para pegar no pesado.

    Antonio Sebastio dos Santos no faz nada, como ele prprio diz. Mora no Alvorada h 50 anos e, pela geografia de sua histria, foi incorporado ao bairro. Sitiante, sua propriedade ficava colada cidade e logo passou nos cobres a terra para se tornar urbano. Mesmo atento ao descarte, perde. No parece se importar, ainda que insista em saber a carta que o tirou da rodada. . No entorno, duas ou trs mesas rene quase duas dezenas de jogadores.

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  • 16 I JARDIM ALVORADA O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    Showmcios fizeram fama da FarQuando os showmcios eram

    permitidos, toda campanha poltica tinha obrigao de passar pela praa. Ou comeava ou terminava ali. Uma imensido de pessoas se aglomerava entre a So Vicente e a Farroupilha, com o palanque montado a meio caminho entre as duas praas. Eventualmente o palco ocupava a dr. Alexandre, no sentido da avenida Morangueira. Onde estivesse, era sinal de sucesso num tempo em que duplas sertanejas atraam bem mais gente que o discurso poltico. Era uma festa, lembra a dona de casa Irades Oliveira, que da porta de casa tinha uma viso privilegiada do movimento. Viu e ouviu, entre

    No tempo em que se permitia a apresentao de grandes artistas em comcios, campanhas comeam

    outros artistas, Milionrio e Jos Rico, Matogrosso e Matias e, claro, Chitozinho e Xoror, seus dolos.

    Todos os candidatos a presidente, por exemplo, passaram por ali, entre eles Brizola, Collor de Mello, Lula e Mrio Covas. Postulantes prefeitura e a governador igualmente dividiram palanque com candidatos a vereador e outros cargos proporcionais. Estima-se que um grande comcio na Farroupilha reunia facilmente 20 mil pessoas. Era um mar de gente que se espalhava at l em cima, afirma Juraci Barros, apontando para a extenso da avenida. Mas no via muita festa no evento. Havia muito vandalismo. A multido derrubava

    cerca e no outro dia era pura sujeira, lembra.

    A praa celebrou a democracia em vrios momentos como uma reproduo moderna, mas democrtica, da histria do movimento conhecido como a Revoluo Farroupilha, ocorrida entre 1835/1845. Em tempos modernos, o discurso foi a arma nas disputas, bem diferentes do sculo 19, quando, liderados por Bento Gonalves, os farroupilhas exigiram a renncia do ento presidente da provncia do Rio Grande do Sul, Fernando Braga.

    Os revoltosos chegaram tomar Porto Alegre e fundar a Repblica

    de Piratini ou Repblica Rio-Grandense.O confronto foi provocado como uma reao dos fazendeiros aos impostos cobrados pelo Imprio e a concorrncia cada vez mais acirrada com produtos vindos do Uruguai e Argentina, cuja entrada era facilitada pela reduo das taxas de importao, enquanto a produo gacha, de erva-mate, charque e couros, era sobretaxada. A revoluo alcanou Santa Catarina que tambm se insurgiu contra o Imprio. Os revoltosos, liderados por Guiseppe Garibaldi e David Canabarro, fundaram fundada a Repblica Juliana que deveria confederar-se Repblica Rio-

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    roupilha Em dia de comcio, o movimento comeava cedo. A Pedro Taques era fechada ao trfego ainda pela manh para instalao do palanque. Havia certa expectativa em relao ao incio da campanha exatamente pelas atraes artsticas. A gente sabia quando o comcio ia se grande pelo artistas que se apresentariam. Lembro que estava agendado um grande comcio, com muitas atraes. Falava-se at que Roberto Carlos se apresentaria de surpresa. Ento, o clima de expectativa era enorme. No dia anterior ao evento, que se realizaria numa quarta-feira, comeou a chover forte logo pela manh. Teve gente que fez novena para a chuva parar. De nada adiantou. A quarta amanheceu chuvosa e sem estimativa de tempo bom. O comcio foi cancelado e naquela eleio ningum viu duplas sertanejas e muito menos Roberto Carlos;

    m ou terminavam na praa

    CAMPANHA. Mrio Covas, ao lado de Jos Richa,pai de Beto Richa, em comcio na Praa Farroupilha em 1989, durante a campanha Presidncia

    Grandense. Duque de Caxias encaminhou

    a soluo da revolta, depois de vrias batalhas violentas. Em 1844, depois da derrota farroupilha na batalha de Porongos, um grupo de lderes separatistas foi enviado capital federal para dar incio s negociaes de paz. Aps vrias reunies, estabeleceram os termos do Convnio do Ponche Verde, em maro de 1845. Com a assinatura do acordo foi concedida anistia geral aos revoltosos, o saneamento das dvidas dos governos revolucionrios e a libertao dos escravos que participaram da revoluo, conta o mestre em Histria Rainer Souza.

  • 18 I JARDIM ALVORADA O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    Sanepar e sua caixa diferente O formato de guarda-chuva do reservatrio de gua da empresa smbolo do Jardim Alvorada

    A caixa dgua da Sanepar, no Jardim Alvorada, sem dvida um smbolo do bairro. Sua imensa cpula no formato de um guarda-chuva referncia para novos ou velhos moradores.

    Para que sempre o reservatrio esteve ali, imponente com sua cor azul e seu desenho diferente, como se refere a ele a aposentada Nomia Ferrarini Dias, que no se lembra quando a caixa foi construda. exatamente assim: a impresso que todos tm que o monumento nasceu com o bairro, fazendo parte da paisagem desde sempre.

    No h informaes precisas sobre a autoria do desenho do reservatrio Ponto de referncia no bairro, a caixa dgua comeou a ser construda em 1963

    se foi um ou mais arquitetos. Muitos menos sua origem. Especula-se que tenha sido um engenheiro alemo, radicado em Curitiba. Essa e outras informaes faro parte de um livro que funcionrio da Sanepar escreve,exatamente na tentativa de desvendar aspectos histricos pouco conhecidas da empresa e, especificamente, da unidade do Jardim Alvorada. Mas o ex-funcionrio da Sanepar, Ablio Santos Bragana, aposentado, conta que a construo teve incio em 1963 e a inaugurao ocorreu seis anos depois, em 1969. O reservatrio, com 30 metros de altura, tem capacidade para 600 metros cbicos.

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  • 20 I JARDIM ALVORADA O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    Uso da ciclovia gera conflitos Como pedestres tambm se utilizam do espao, muito comum um reclamar do outro

    A convivncia entre bicicletas e veculos nunca foi harmoniosa. Sempre um reclama do outro e a consequncia, quase sempre, desfavorvel s primeiras. E o que acontece nas ciclovias? Mesmo problema, s que entre bicicletas e pessoas. No Jardim Alvorada, pedestres usam a ciclovia que corta o canteiro central da avenida Pedro Taques em quase toda sua

    Diviso de mesmo espao pr ciclistas e pedestres geram abusos e confrontos

    extenso, criando atritos inevitveis com ciclistas. Eles no respeitam a gente, afirma a domstica Maria Aparecida Soares, que todos os dias, pela manh e tarde, usa a ciclovia para se deslocar at o trabalho, nas proximidades da Igreja Esprito Santo. Mesma reclamao faz o aposentado Juarez Alcntara. Eles tem que entender que tambm temos direito de usar a ciclovia, afirma,

    levantando questo importante do compartilhamento de espao, que pode ser feito sem maiores traumas.

    J aconteceu vrios acidentes aqui entre ciclistas e pedestres, afirma o motorista de txi Leandro Freitas, apontando para um ponto especfico da ciclovia. O casal Juraci e Dimas Silva, que usa o espao todos os dias para caminhadas, prope que um dos lados da ciclovia seja usado exclusivamente para pedestres. Seria uma forma de resolver esse conflito, acredita.

    Mas no parece haver acordo. O ciclista Joo Marcos insiste que o espao exclusivo. Pedestres tm que usar a calada. Andar aqui correr risco. Tem muita gente que desce correndo e no tem como frear. Vai sempre acontecer acidentes,prev. As campanhas de estmulo ao transporte alternativo, como bicicletas, faz supor que o problema vai se agravar. Tenho visto mais bicicletas na ciclovia e tambm mais pedestres, diz o comerciante Jonas Pereira, j antecipando mais problemas.

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  • 22 I JARDIM ALVORADA O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    Passeio lembra velhos tempo Do Joozinho jogador de porrinha ao Dinho, artilheiro do futebol de salo mutilado por acidente

    Manh de sbado. Depois de caminhar da subestao da Copel, passando em frente onde outrora foi a Bicicletaria do Veiga e o Depsito Alvorada, outra referncia histrica do bairro, parei em frente Lojas Alvorada, do empresrio Derclio Constantino. Passei pela Farmcia Andr Luiz e fui parar na Costelaria Alvorada. Sentei a espera do Wanderley Berti, dono do estabelecimento, e do Iti Matias, outro morador antigo do bairro.

    Enquanto esperava, acompanhei a conversa dos amigos Paulo e Sergio, que tomavam a primeira cerveja do dia. A programao da dupla includa um churrasco mais a tarde e uma

    esticada para Porto Rico no domingo. Paulo, de 35 anos, nasceu e cresceu

    no Alvorada, sem nunca ter deixado o bairro. Sergio veio de Londrina, morou aqui por quase duas dcadas e voltou sua cidade natal, mas pelo menos uma vez por ms vem rever amigos. Wanderley e Iti chegaram e se foram, junto com Carlos Graboski. Aproveitei para caminhar um pouco mais no entorno da praa. Falei com dona Isabel, que passeava com Roxinho, cachorro mal humorado que no tolerou minha tentativa de carinho. Ela mora no Alvorada h poucos anos, mas reconhece que o bairro muito tranquilo.

    O Bar Farroupilha estava fechado,

    mas tambm ponto de encontro antigo da praa. Alis, local de dedicados jogadores de sinuca, como o Joozinho de outrora, imbatvel na porrinha, disputa em que quatro jogadores dividem tampinhas com os nmeros das bolas. Ganha quem acabar matar suas quatro bolas primeiro, devidamente identificadas nas tampinhas. A barbearia do Heitor tambm no abre sbado, por opo religiosa. Desci pelo canteiro central da Pedro Taques em direo a praa So Vicente, tentando evitar as bicicletas na ciclovia.Alis, na dcada de 1970 as bicicletas eram tantas na avenida que os carros tinham dificuldade de circular de

    manh e ao final da tarde. Foi quando a Bicicletaria do Veiga se tornou famosa, a ponto de seu proprietrio se tornar uma pessoa muito conhecida.

    Encerrei minha caminhada ao encontrar o Dinho, arrastando a perna direita. Fernando jogou muito futebol de salo, aquele da bola pesada, antes de virar futsal e as regras mudarem para se tornar o esporte menos violento. Sentamos numa mesa do bar do Chico e ele contou sobre o acidente de carro que mutilou sua perna abaixo do joelho. Relembramos os velhos tempos de disputas nas quadras da piscina (centro esportivo), do Corpo de

  • JARDIM ALVORADA I 23O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    de Bombeiros e da Igreja So Francisco de Assis. Lembramos do Guaruj Esporte Clube (GEC). Formado por Ademir, Sergio, Alceu, Ademar, Joozinho (no o da porrinha) e Edivaldo, a equipe tinha at hino, cuja estrofe principal dizia: no importa perder ou ganhar. De fato, o resultado em quadra menos importante do que vinha a seguir: cerveja e mortadela com limo servida num prato sobre uma caixa de madeira na venda do Portugus.

    Dinho ainda trabalha como eletricista para sustentar dois filhos e a esposa, Rose, a mesma com quem namorava h mais de 30 anos. J no mora no bairro desde o final dos anos 90. Naquele sbado estava por ali a passeio, em visita me. Depois de uma longa conversa, trocamos telefones e a promessa de tentar reunir amigos daquela poca. Dinho foi embora arrastando a perna e com certeza relembrando histrias. Bons tempos!

    (Edivaldo Magro) Praa Farroupilha ponto de referncia do Jardim Alvorada, bairro de muitas histrias de quem nele viveu e vive

  • 24 I JARDIM ALVORADA O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    Odete da Pastoral da Criana assim que Odete Stevanato Garcia da Silva conhecida no Alvorada, onde j est h 32 anos

    Moradora do bairro h mais de trs dcadas, Odete Stevanato Garcia da Silva, ou dona Odete, no conhecida somente por ter chegado no Alvorada quando tudo por ali era barro e dificuldade. Desde 1988 ela personagem de referncia da Pastoral da Criana, organismo de ao social da Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil. Ligada Igreja So Francisco Xavier, a parquia que congrega catlicos do Jardim Alvorada, a pastoral j teve mais trabalho em funo da demanda. Melhorou muito, mas tem ainda temos problemas a resolver, reconhece. As aes da pastoral foram decisivas nessa melhoria.

    Fundada em 1983, em Florestpolis (PR), pela mdica sanitarista e pediatra, Zilda Arns Neumann, e pelo ento Arcebispo de Londrina, hoje cardeal emrito, Dom Geraldo Majella Agnelo, a Pastoral da Criana est presente em todos os estados brasileiros e em outros 17 pases da frica, sia, Amrica Latina e Caribe. Segundo o estatuto do organizao, a misso da Pastoral da Criana promover o desenvolvimento das crianas do ventre materno aos seis anos, por meio de orientaes bsicas de sade, nutrio, educao e cidadania, fundamentadas na mstica crist que une f e vida. Nesse contexto, a famlia fundamental.

    Hoje, cerca de 200 famlias so atendidas pela pastoral, nmero que j foi bem maior. O trabalho se concentra em orientao sobre cuidados durante a gestao e prossegue com o acompanhamento do beb, fornecendo me e sua famlia informaes importantes sobre a alimentao e outras exigncias do perodo. O soro caseiro, por exemplo, to til, por exemplo, na preveno da diarreia, causa importante da desidratao. A perda de gua pelo organismo nesse processo pode levar a criana morte. O segredo da eficcia do soro que sua composio simula o lquido existente dentro do organismo.

    Se o soro ainda recorrente nas prescries da Pastoral da Criana, a supermistura, criada dentro da organizao para enfrentar a desnutrio infantil, deixou de ser to importante pelas razes mais diversas, a comear pela reduo na demanda. A farinha. constituda por cereais, farelo de trigo e de arroz, ps de folhas verde-escuras, de sementes e de casca de ovo, era preparada pelas voluntrias da pastoral e fornecida, gratuitamente, s famlias como coadjuvante importante da alimentao. Odete admite que muitas pessoas ainda fazem uso da mistura, por reconhecer nela grande valor nutricional.

  • JARDIM ALVORADA I 25O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    A morte de Zilda Arns, em 2010, uma das milhares de vtimas do terremoto no Haiti, onde ela estava em mais uma de suas muitas misses humanitrias pelo mundo, no reduziu o nimo das voluntrias da organizao, que continuaram sua obra. Na trajetria de todas elas, as histrias se sucedem e se tornam lembranas, como a da criana abandonada pela me e criada pela av com a ajuda da pastoral.

    Foi levado desnutrido para receber os primeiros cuidados que incluem no apenas assistncia nutricional, mas tambm de profissionais da rea mdica. Superou os problemas e cresceu, levando para a vida adulta algumas sequelas dos longos perodos de inanio na infncia. A me nunca mais foi vista. Mas se a desnutrio j no um problema que exija enfrentamento, um outro fantasma ronda as crianas de todas as idades: a obesidade.

    Nosso problema agora so os gordinhos, revela Odete. O crescimento surpreendente da populao de crianas obesas, a

    Odete fez de sua dedicao pastoral um instrumento de transformao de uma gerao, como sempre defendeu Zilda Arns

    ponto do Ministrio da Sade sugerir a existncia de uma epidemia, tem no consumo de alimentos industrializados sua origem mais indigesta. O sedentarismo, de pais e

    filhos, tambm estimula crescimento de uma gerao muito acima do peso, com consequncias futuras previsveis.

    Enquanto isso, Odete e suas

    voluntria seguem cuidando de crianas, gordas ou magras, e realizando uma vez por ms um evento importante, no por acaso chamado de Celebrao da Vida.

  • 26 I JARDIM ALVORADA O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    Ex-prefeito foi homem bom Joo Paulino justifica a defesa dos moradores por ter cumprido a promessa de asfaltar o bairro

    No se arrisque a criticar Joo Paulino Vieira Filho entre moradores mais antigos do bairro. O ex-prefeito, que administrou a cidade por duas vezes (1960/1964 e 1977-1982), reconhecido pela gerao que cresceu em meio ao barro como poltico de palavra, como afirma o ex-pintor Sebastio Moreira, aposentado pelo destino. Conta que foi atingido por um raio quando pintava uma torre. Sobrevivi por graa divina, lembra. Joo Paulino, durante a campanha para a prefeitura em 1976, prometeu que asfaltaria o bairro se vencesse. Venceu e cumpriu a promessa.

    Comeou pelas avenidas Pedro

    Taques e Alexandre Rasgulaeff, valorizando o transporte coletivo. As condies precrias dessas vias dificultavam o trfego dos nibus e, em dias de chuvas mais intensas, os veculos nem circulavam, criando um enorme problema para quem precisava se deslocar at o centro. Nem bicicleta rodava por aqui quando chovia. O barro ficava grosso e emplastava tudo, afirma Onrio Barreto, 78 anos, que chegou ao Alvorada quando tudo isso aqui era mato. Paulista de Araraquara, veio colher caf.

    A geada destruiu tudo em 1975 e muita gente ficou desempregada, sem condies de pagar a casa comprada

    aqui, conta. Mas no conheo ningum que perdeu a propriedade por no pagar, afirma, reiterando o que disse Sebastio Moreira sobre o ex-prefeito. Homem bom. Ele e sua esposa, afirma, referindo-se Branca de Jesus Camargo Vieira. Morava no final da avenida Alexandre Rasgulaeff. No tinha como sair de casa quando chovia. Saa por necessidade mesmo, conta Onrio Barreto, que sobrevive hoje de msera aposentadoria. Nesse ritmo a gente vai morrer de fome antes da velhice, prev.

    O corretor de imveis Carlos Graboski, 82 anos, conta que tentara retirar o nome de Joo Paulino da

    alameda que corre paralela a avenida Pedro Taques. Argumentava-se se que duas vias da cidade no poderiam ter o mesmo nome. Ento, Joo Paulino viraria nome de avenida no Novo Centro. A populao se revoltou. Protestaram junto aos vereadores e ao prefeito. Fizeram abaixo-assinado e defenderam a manuteno do nome da alameda. Ficou Joo Paulino. No Alvorada e no Novo Centro. Orgulhoso dessa histria, Graboski tambm enche o peito para falar do bairro onde mora h mais de 50 anos.

    Aqui as pessoas so simples, humildes. Tem senso de humanidade, afirma. Justifica a definio lembrando que os

  • JARDIM ALVORADA I 27O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    moradores so oriundos da roa e guardam do passado a solidariedade. Na roa a gente divide tudo. Se mata um porco, leva um pedao para o vizinho. Se faz po, faz a mesma coisa, afirma. Graboski figura fcil no entorno da Farroupilha, onde tambm pontua a costelaria do Wanderlei Berti, no Alvorada desde 1977, ano em que o Grmio foi campeo. Alis, ltimo ttulo estadual conquistado pelo time, curiosamente lembrado por um jovem que acompanhava a conversa.

    A costelaria mantida por Wanderlei Berti h mais de duas dcadas no mesmo local uma referncia pela carne, claro, e localizao, numa das esquinas mais movimentadas da Farroupilha. A costela, aps cinco horas de fogo, vai mesa com mandioca, farofa e vinagrete. Como opcional, pode ser escoltada por maionese, arroz e salada. Mensalmente, assa pelo menos 2,5 mil quilos de carne. Wanderley outro entusiasta do bairro, no apenas pelo sucesso do

    seu negcio. um lugar tranquilo, de pessoas trabalhadoras. No troco esse lugar por nenhum outro, resume, fazendo coro com outros moradores, que lembram a existncia

    de trs agncias bancrias no bairro, alm de um vigoroso comrcio e trs colgios. S falta um shopping com cinema, afirma o estudante Vanderley Trindade, que pode no

    esperar muito tempo para usufruir dessa comodidade se depender dos projetos que acenam com a construo do empreendimento no Jardim Alvorada.

    Sabor Wanderlei Berty e sua famosa costela assada na brasa por 5horas; vai mesa bem escoltada por mandioca e farofa

  • 28 I JARDIM ALVORADA O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    Sade faz alerta sobre narguile Uma sesso do cachimbo, que dura em mdia 50 segundos, corresponde a fumar 100 cigarros

    Apesar da liderana do Brasil no combate ao tabagismo ter resultado em conquistas importantes como a reduo de 30,7% no percentual de fumantes nos ltimos nove anos, o consumo do narguil tem aumentado no pas, principalmente entre os jovens. Mais de 212 mil brasileiros admitem usar o cachimbo, de acordo com a Pesquisa Nacional de Sade (PNS). Segundo dados da PNS e da Pesquisa Especial de Tabagismo (PETab), entre os jovens homens fumantes (entre 18 e 24 anos), o percentual de usurios do produto mais que dobrou nos ltimos cinco anos, passando de 2,3% em 2008 para 5,5% em 2013. O uso do tabaco

    continua sendo responsvel por 90% dos casos de cncer no pas.

    Por utilizar um filtro de gua antes de a fumaa ser aspirada pelo fumante, o consumo de narguil visto como menos nocivo sade. No entanto, dados da Organizao Mundial de Sade (OMS) demonstram justamente o contrrio. Uma sesso de narguil, que dura em mdia 20 a 80 minutos, corresponde a fumaa de aproximadamente 100 cigarros. No Brasil, segundo o recorte da PNS, dos cerca de 212 mil usurios de narguil no pas, 112 mil (53%) fumam esporadicamente, enquanto 27,5 mil (13%) fazem uso uma vez por ms,

    57,2 mil (27%) semanalmente e 14,8 mil (7%) afirmam realizar o consumo diariamente.

    Entre aqueles que informaram fumar o narguil diariamente, 63% possuem entre 18 e 29 anos e 37% esto na faixa estaria entre 30 e 39 anos. O que demonstra que os jovens so os maiores usurios do narguil.

    Como um nico cachimbo do narguil pode ser usado por vrias pessoas simultaneamente, a socializao do consumo se torna muito atraente, especialmente para os jovens. Por isso, a iniciao ao cigarro e a outros produtos do tabaco, por meio do narguil, preocupa o Ministrio da Sade.

    A Pesquisa Nacional de Sade do Escolar (PeNSE/2012) revelou que 7,6% dos adolescentes entre 13 a 15 anos entrevistados afirmaram ter fumado cigarro e/ou produto de tabaco nos ltimos 30 dias, sendo que 5,1% admitiram ter fumado apenas cigarro.

    O consumo de narguil pode contribuir para o surgimento de doenas respiratrias, coronarianas e tipos de cncer como de pulmo, boca, bexiga e leucemia. Alm disso, o narguil pode gerar dependncia devido s altas doses de nicotina. Estudos tambm apontam que 45 minutos de sesso acarreta a elevao das concentraes

  • JARDIM ALVORADA I 29O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    concentraes plasmticas de nicotina, de monxido de carbono expirado e dos batimentos cardacos. Outro alerta importante relacionado ao uso diz respeito aos riscos de sade relacionados no apenas ao consumo do tabaco, como tambm ao surgimento de doenas infectocontagiosas em razo do hbito de compartilhamento do bucal entre os usurio.

    Esses e outros alertas fazem parte da campanha Parece Inofensivo, mas fumar narguil como fumar 100 cigarros, lanada pelo Ministrio da Sade e o Instituto Nacional do Cncer (Inca). A ao faz parte da campanha nacional Da Sade se Cuida Todos os Dias, que tem como objetivo incentivar as mudanas individuais e de comportamento, reconhecendo que a sade no fruto apenas da vontade prpria, mas tambm dos contextos social, econmico, poltico e cultural em que esto inseridos. A campanha ser veiculada at o dia 30 de setembro.

    Os narguils esto includos nos produtos proibidos, em 2014, com

    a regulamentao da Lei Antifumo. O consumo de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos e outros produtos fumgenos, derivados ou no do tabaco, em locais de uso coletivo, pblicos ou privados,

    mesmo que o ambiente esteja s parcialmente fechado por uma parede, divisria, teto ou at toldo no permitido.

    O esforo para reduzir o consumo de tabaco de derivados inclui a

    poltica de preo mnimo para cigarro e a proibio da propaganda comercial de cigarros em todo o territrio sendo permitida apenas a exposio dos produtos nos locais de vendas.

  • 30 I JARDIM ALVORADA O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    Capacitao da Acim para tempo de crise Habilidade e conhecimento precisam refletir atitudes e solues prticas para gerar resultados rpidos e eficientes

    Profissionais e gestores que almejam superar o bvio e se destacar no mercado, especialmente em tempos de crise, tm na capacitao uma alternativa que

    agrega diferencial. Toda habilidade e conhecimentos adquiridos, porm, precisam refletir atitudes e solues prticas para gerar resultados. Alis, resultados rpidos.

    Nesse processo, cabe liderana potencializar e canalizar as competncias da equipe e para exercer tal funo preciso preparo.

    Por esse motivo, o Centro de Treinamento da Associao Comercial e Empresarial de Maring (ACIM) promove de 15 a 16 de setembro, das 19h s 23 horas, o curso Lidere para o sucesso em tempos de crise.

    O instrutor ser o consultor Flavio Fagundes, especialista em Treinamento e Desenvolvimento Humano. Segundo ele, o investimento em capacitao para lderes fundamental para que estes profissionais saibam ganhar uma relao de confiana e credibilidade junto aos liderados.

    As dificuldades em conduzir uma equipe ou em lidar com situaes difceis se tornam ainda mais evidentes em tempos de crise.

    A postura e o comportamento do lder determinam resultados, alerta Fagundes, acrescentando que pessoas no deixam empresas, deixam maus gestores.

    O especialista tambm comenta que se o lder focar apenas em produtividade e resultados, esquecendo-se de observar as particularidades de cada indivduo e o contexto da crise, seja interna ou externa, ter dificuldades para obter sucesso. No adianta ter uma equipe qualificada e querer vencer se o lder no est capacitado para conduzir isso, afirma.

    De acordo com Fagundes, atribuio da liderana definir aonde a empresa quer chegar e como estar aps a crise. Se a atitude for apenas esperar a crise passar certamente sair pior do que entrou nela. Muitas empresas crescem durante a crise porque se preparam e determinam o que querem alcanar nesse perodo, argumenta. A inadimplncia outro sinal de alerta em tempos de crise.

    Por esse motivo, a ACIM tambm realizar em 24 de outubro, das 8 s 17 horas, o curso Como cobrar e receber dvidas por telefone. As aulas ficaro a cargo do contador e consultor Braz Ismael Vendramini, que h 20 anos atua rea de crdito

  • JARDIM ALVORADA I 31O DIRIO DO NORTE DO PARAN Setembro de 2015

    cobrana. Um dos itens que tero destaque no curso a importncia de preservar o relacionamento com o cliente, mas sem deixar de receber o valor devido.

    Para isso, Vendramini explica que preciso cuidado na abordagem, na comunicao, na disposio da empresa em fazer negociao e na busca por entender os problemas do cliente a fim de encontrar uma soluo.

    O profissional que atua na cobrana deve avaliar o histrico do cliente, porque da mesma forma que as empresas priorizam o momento de venda preciso estipular o mesmo cuidado na hora da cobrana para no perder o cliente, afirma o instrutor.

    Vendramini diz que tambm vai ensinar como reagir aos casos em que os clientes se recusam a acertar as pendncias mesmo quando a empresa disponibiliza formas de pagamentos. Ele refora ainda que toda empresa tem direito de exercer cobrana desde que use boa f e educao no trato com o consumidor.

    Dono de uma pequena mercearia, o comerciante Jos Antonio Tonielo reconhece que hoje em dia o empresrio precisa ter conhecimento. Sou do tempo que as coisas eram feitas no fio do bigode, afirma, referindo-se s negociaes sem papel assinado, feitas na base da confiana. Seu Tonico, como mais conhecido no bairro, ainda usa a caderneta para marcar as dvidas dos fregueses, mas j perdeu as contas de quanto j perdeu. O filho, Gabriel, que comea a tomar a frente do negcio, j fez dois cursos da rea de seu interesse e reconhece a importncia de se atualizar.

    A gente pesa que sabe tudo, mas quando ouve um profissional descobre que tem muita coisa ainda a aprender, diz sob o olhar desconfiado do pai. Ainda no sabe se vai participar dos cursos da Acim, mas est interessado, por exemplo, em aprender sobre cobrana de dvidas. Sabe que precisa dominar algumas tcnicas para recuperar parte do passivo anotado na velha caderneta, mas reconhece que no

    pode perder fregus. Mas tambm no podemos ficar no prejuzo, pondera. O cartaz na parede claro: Pedir fiado voc pode. Eu que no posso vender. Mesmo assim, inevitvel a relao de compra

    e venda sem o principal elemento dessa transao: o dinheiro. Estamos aqui h mais de 30 anos e a gente acaba tendo uma relao de amizade com as pessoas. Ento, vender fiado j uma tradio, afirma seu Tonico.

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