O drama como método de ensino

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O DRAMA COMO METODO DE ENSINO NA SALA DE AULA Aspectos históricos e metodológicos O DRAMA COMO METODO DE ENSINO O fazer teatral denominado drama, desenvolveu-se na Inglaterra através da introdução da atividade teatral no ambiente escolar. A associação de elementos da mídia teatral ao processo de ensino-aprendizagem levou ao desenvolvimento de metodologias que se consolidaram no que hoje é conhecido como drama na educação, process drama ou simplesmente drama. No Brasil, o drama está inserido no campo da pedagogia do teatro como uma sub-área do fazer teatral. O drama é uma atividade criativa que se desenvolve em grupo, através da parceria artística entre o professor de teatro (ou coordenador do processo) e os participantes. A interação entre o professor e os participantes e a utilização de procedimentos e elementos da linguagem teatral, levam à construção de

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O DRAMA COMO METODO DE ENSINO NA SALA DE AULA

Aspectos históricos e metodológicos

O DRAMA COMO METODO DE ENSINO

O fazer teatral denominado drama, desenvolveu-se na Inglaterra

através da introdução da atividade teatral no ambiente escolar. A

associação de elementos da mídia teatral ao processo de ensino-

aprendizagem levou ao desenvolvimento de metodologias que se

consolidaram no que hoje é conhecido como drama na educação,

process drama ou simplesmente drama. No Brasil, o drama está inserido

no campo da pedagogia do teatro como uma sub-área do fazer teatral. O

drama é uma atividade criativa que se desenvolve em grupo, através da

parceria artística entre o professor de teatro (ou coordenador do

processo) e os participantes. A interação entre o professor e os

participantes e a utilização de procedimentos e elementos da linguagem

teatral, levam à construção de uma narrativa cênica dentro de

determinados contextos de ficção.

A delimitação do contexto de ficção permite a criação de situações

e acontecimentos não reais, mas que fazem parte de nossa realidade,

através dos quais temas e questões relativas à vida social e aos

relacionamentos humanos são explorados. Neste sentido, o drama pode

gerar aprendizado, além de apropriação da linguagem cênica. Os

participantes são provocados, pelo professor, a criar e a se expressar

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dentro de diferentes situações imaginárias a partir do conhecimento que

têm de si, de suas experiências e de seus pontos de vista,

experimentando estas situações através do teatro, criando cenas e

narrativas a partir dos materiais introduzidos pelo professor, das

convenções teatrais e de uma série de procedimentos.

Os conteúdos a serem explorados são sugeridos pelo pré-texto. O

pré-texto funciona como um pano de fundo para orientar as opções do

professor. Através dele, o tema é definido e as atividades a serem

realizadas em cada sessão são identificadas. A partir da escolha do pré-

texto (que pode ser literário, extraído de um texto dramático ou não

dramático, imagético, audiovisual etc.), o professor planeja e organiza o

processo em uma estrutura.

A estrutura é composta por uma série de procedimentos que se

diversificam e que formam partes ou eventos da narrativa a ser

construída, os episódios. Cada episódio é pensado para focalizar uma

situação do tema que está sendo explorado ficcionalmente. O

desenvolvimento dos episódios pode ocorrer a partir de atividades

distintas, e a diversidade destas atividades ajuda a surpreender o

participante: narração, utilização de trilha ou paisagem sonora, criação

de assembleias com os personagens, utilização de fragmentos de textos,

teatro-fórum, rituais de canto e dança etc.

O objetivo é envolver o participante, permitir que ele se sinta

mergulhado na ficção que está sendo criada e no tema que está sendo

investigado, como ele mesmo ou como personagem desta situação. Para

promover este envolvimento com o processo, o professor pode optar pelo

estímulo composto o estímulo composto incentiva o participante a fazer

investigações paralelas à história que está sendo criada, esboçando

hipótese e ideias sobre esta história. O estímulo consiste em um conjunto

de diversos artefatos que são disponibilizados em um recipiente

apropriado, que pode ser uma caixa, uma bolsa, uma maleta etc. Os

artefatos a serem utilizados dependem do tema e da investigação, mas

normalmente são objetos de uso pessoal, fotografias, cartas e outros

documentos, imagens, itens de vestuário, fragmentos de texto etc.

Essencialmente o Drama é um fazer teatral no qual os

participantes emergem em uma situação ficcional, sugerida pelo condutor

do processo, e agem como se fossem outras pessoas (ou outros seres

ficcionais), construindo uma narrativa a partir dos estímulos postos para

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serem explorados (textos, imagens, desafios, mistérios, conflitos, entre

outros).

Ao tratar do Drama, Cabral explicita:

[...] a atividade dramática está centrada na interação com contexto

e circunstâncias diversas, em que os participantes assumem papéis e

vivem personagens como se fizessem parte daquele contexto naquelas

circunstâncias. Para o participante isto significa ‘assumir o controle da

situação’, ser o responsável pelos fatos ocorridos. Envolvimento

emocional e responsabilidade pelo desenvolvimento da atividade são

características essenciais do Drama – o aluno é o autor de sua criação.

(CABRAL, 2006, p. 33)

A criação de situações ficcionais é uma ação facilmente realizada

pelas crianças, seus jogos infantis imaginativos (ou jogos de faz de

conta) são nomeados, por Slade (1978), de jogos dramáticos infantis.

Essa ação natural das crianças é apontada por Bowel e Heap como a

base para a estruturação de um processo de Drama: “a inata

predisposição das crianças para aprenderem através do jogo dramático”

(2013, p. 08).

A partir dessa predisposição ao jogo, o condutor de um processo

de Drama poderá incentivar as crianças a desenvolverem novas

experiências dramáticas. Enquanto o jogo de faz de conta é uma

atividade naturalmente desenvolvida pela criança, o Drama, como

método de trabalho pedagógico e prática teatral, busca apropriar-se

desse espaço ficcional para a construção de conhecimento mediante a

inserção dos participantes em situações dramáticas – agindo como se

estivessem realmente em tais situações, fazendo com que os

participantes lidem e experimentem questões do mundo real por meio da

ficção e sejam conduzidos a refletirem sobre a experiência realizada. Os

projetos de Drama podem ter os mais diversos objetivos, desde a

investigação, criação e recriação de questões e temas que transitam

pelos conteúdos curriculares,

através de um procedimento experimental, até a apropriação de

estruturas da linguagem do teatro. Pode-se desenvolver um processo de

Drama direcionado tanto à montagem de um texto teatral, através da

apropriação e recriação desse texto, quanto à construção

coletiva de uma narrativa dramática original. Bowell e Heap (2013, p.1)

afirmam que “[...] todas essas formas de experiência dramática

compartilham os mesmos elementos

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comuns ao teatro: foco, metáfora, tensão, símbolo, contraste, papéis,

tempo, espaço [...]” e, por isso, o Drama pode ser considerado como um

método para o ensino do Teatro. Independente de qual seja o objetivo da

instauração de um processo de Drama, é importante frisar que a

essência desse trabalho encontra-se no ato do participante experimentar

estar em outro tempo e espaço, vivenciando diferentes papéis dentro do

contexto ficcional criado. Nesse sentido, Drama e Teatro possuem a

mesma essência: a experiência dramática de fazer de conta. Assim como

o Teatro, o Drama é uma arte dramática, ainda que não seja uma arte

voltada à comunicação com uma platéia externa ao processo, como

ocorre no Teatro convencional.

O professor é de fundamental importância no processo, não para tomar

decisões, mas para sutilmente conduzir o processo para o resultado

esperado através da introdução de material.

O Drama imerge os alunos numa realidade imaginada fazendo-os viver

aquilo que está sendo criado concomitantemente com o processo de

criação.

A característica investigativa do processo é altamente eficaz para

manter o interesse e estimular a pesquisa acerca de temas desejados.

Por isso, o drama se configura como excelente ferramenta para trabalhos

inter e transdisciplinares. O Drama como método já traz em si o cerne da

avaliação formativa (ou processual). A cada encontro percebe-se o

estágio em que os alunos se encontram em relação ao conhecimento

acerca dos temas pretendidos e verifica-se formas de introduzir novos

conhecimentos, estimular o aprofundamento ou fortalecer pontos que

estão insuficientemente trabalhados.

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REFERÊNCIAS

Artigo: Em Processo: Imagens e memórias como materiais de criação no

contexto do drama – Revista Urdimento – PPGT – CEART – UDESC.

CABRAL, Beatriz. Drama como método de ensino. São Paulo: Hucitec, 2006.