O Eldorado tardio: ouro verde e mortes

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    O Eldorado tardio: ouro verde e mortes

    Late Eldorado: green gold and deaths

    Eldorado tardio: oro verde y muertes

    Mrcia Siqueira de Carvalho. GEO/[email protected]

    ResumoO artigo trata dos aspectos das doenas e causas de mortes dos participantes da frente de

    povoamento e da fase de ocupao do Norte do Paran (incio da dcada de 1930). De serto imagem de abundncia fortemente relacionada ao imaginrio agrrio, esta ltima foi reforada na

    propaganda de um projeto de colonizao visando reproduzir uma imagem de fertilidade da regio.Ambas antecederam a construo de uma terceira imagem da regio - a do Eldorado cafeeiro nadcada de 1950. A anlise de documentos histricos e dos livros de inumaes de trs cemitriosentre os anos de 1932 a 1946 mostraram uma mortalidade infantil elevada, muitas mortes semcausas identificadas e sem atendimento mdico, alm da precariedade da sade. A proposta deapresentar um contraponto entre a construo da imagem de um espao agrcola a partir da dcadade 1930, e a questo da insalubridade atravs das doenas e mortes dos participantes dessa

    experincia.Palavraschave: Norte do Paran; doenas; mortes

    Abstract

    The article deals with the aspects of the illnesses and causes of deaths of the participants of thesettlement front and the early phase of occupation of the North of the Paran (beginning of the 1930decade). From hinterland to the image of abundance strong related to the agrarian imaginary, thislast one was strengthened by the announcement of a settling project aiming to reproduce an imageof fertility of the region. Both had preceded the construction of one third image of the region - ofthe coffee Eldorado in the decade of 1950. The analysis of historical documents and books of

    burials of three cemeteries between the years of 1932 the 1946 had shown a high infantile mortality,many deaths without identified causes and medical attendance, beyond the precariousness of thehealth. The proposal is to present a comparison between the construction of the image of anagricultural space from the decade of 1930, and the question of the insalubrity through the illnessesand deaths of the participants of this experience.Keywords: North of Parana, illness; deaths.

    ResumenEl artculo se ocupa de los aspectos de las enfermedades y de las causas de las muertes de los

    participantes del frente del povoamento y de la fase de la ocupacin del norte del Paran (principiode la dcada de 1930). De hinterland a la imagen fuerte de la imaginaria abundancia agraria, esta

    ltima fue consolidada en los folletos de un proyecto que reproducia una imagen de la fertilidad dela regin. Ambos haban precedido la construccin de una otra imagen de la regin - Eldorado delcaf en la dcada de 1950. El anlisis de documentos y de libros histricos de entierros de trescemeterios entre los aos de 1932 y 1946 haba demostrado una alta mortalidad infantil, muchasmuertes sin causas identificadas y sin atencin mdicay la precariedad de la salud. Buscamosincorporar la construccin de la imagen de un espacio agrcola a partir de la dcada de 1930 y lasenfermedades y muertes de los participantes de esta experiencia.Palabras clave: Norte del Parana, enfermidades; muertes.

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    1. Ocupao territorial e doenas: onde o Serto precede Terra daPromisso.

    Serto, j se viu, designava no apenas os espaos interiores da Colnia, mas tambm aquelesespaos desconhecidos, inaccessveis, isolados, perigosos, dominados pela natureza bruta, ehabitados por brbaros, hereges, infiis, onde no haviam chegado as benesses da religio, dacivilizao e da cultura. (...) No incio do sculo XIX, em Portugal a palavra serto esvaziou -sedos significados que tivera para os portugueses (espaos amplos, desconhecidos, longnquos),

    tornando-se sinnimo de interior.(Janaina Amado. Regio, Serto, Nao.Estudos Histricos, Riode Janeiro, vol.8, n.15, 1995, p. 145-151.)

    A histria da expanso territorial pode ser desenhada a partir de vrias combinaes.

    Como uma orquestra que tem vrios conjuntos de instrumentos musicais e em cada trecho da

    sinfonia h destaque e sobreposio sobre os demais, somente a reunio de todos e no final da

    execuo da sinfonia que podemos analisar e reter este conjunto. Antes do concerto h necessidade

    dos ensaios e da afinao dos instrumentos. Esta metfora descreve bem a maneira escolhida de

    tratar o assunto. Temos anlises geogrficas sobre a regio do Norte do Paran e os temas: processode ocupao, agricultura e populao na fase pioneira. A anlise economicista ou a baseada na

    psicologia dos imigrantes, desde que no seja tomada como a determinante sobre as demais, um

    momento da sinfonia, mas no pode ser considerado comospalla. Uma parte da nossa preocupao

    a sade, a vida e a morte dos imigrantes no norte do Paran na sua fase inicial de ocupao foi

    tocada por Monbeig. At que ponto um ambiente insalubre afetou a populao e que preo ela

    pagou em vidas foi o nosso ponto de partida.

    O conceito de salubridade importante para entendermos as doenas no tempo e noespao paranaense:

    no a mesma coisa que sade, e sim o estado das coisas, do meio e seuselementos constitutivos, que permitem a melhor sade possvel. Salubridade abase material e social capaz de assegurar a melhor sade possvel dos indivduos.E correlativamente a ela que aparece a noo de higiene pblica, tcnica decontrole e de modificao dos elementos materiais do meio, que so suscetveis defavorecer ou, ao contrrio, prejudicar a sade. Salubridade e insalubridade so oestado das coisas e do meio enquanto afetam a sade; a higiene pblica nosculo 19, a noo essencial da medicina social francesa o controle poltico-cientfico deste meio. (FOUCAULT, 1986, p. 214)

    Julgamos que necessrio, para entendermos as doenas, recuar bastante no tempo desse

    processo de ocupao da regio (serto), que ocorreu em pocas diferentes e de maneira

    descontnua.

    Em 1610, sob domnio espanhol, existiam 13 redues jesuticas na Provncia del

    Guair, algumas distribudas pelos vales dos rios Paranapanema, Iguau e Tibagi, todas destrudas

    pelos bandeirantes no final do sculo XVII. (STIER, 1980, 48-49). No sculo XVIII a regio norte

    paranaense ento pertencia provncia de So Paulo. Dois documentos importantes, a Carta

    Chorografica dos Dous Sertes do Tibagi e Ivahy datada de 1770 (YAMAKI, 2003, p.6) e Dirio deNavegao de Teotnio Jos Juzarte (JUZARTE, 1999), so subsdios para atestar a parca

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    ocupao, as doenas existentes nos vales e as dificuldades de colonizar o hinterland(serto). O

    Dirio trata da viagem de dois meses, iniciada no ano de 1769 em Porto Feliz (So Paulo) para o

    presdio Nossa Senhora dos Prazeres situado no rio Iguatemi (Mato Grosso do Sul), e da estadia de

    dois anos neste posto avanado na disputa de limites entre Portugal e Espanha. O relato descreve a

    seqncia de febres e sezes durante a viagem feita pelos rios Tiet, Paran e Iguatemi, ora porgua, ora por terra para ultrapassar as cachoeiras. As doenas comearam a aparecer ainda antes da

    partida - uma diarria ("corruo") que atingiu homens, mulheres e crianas (11/4/1769), e

    acompanharam os monoeiros nos relatos de Juzarte. Em 15 de abril, no amanhecer aps uma noite

    de tempestade, revelou-se a morte de uma criana, a penria de alimentos, o cuidados com os

    doentes e "a gente j a este tempo ia fraca" (JUZARTE, 1999, p. 37).

    A juno do rio Tiet com o rio Paran descrita como um lugar assustador: guas

    pestilentas, local sujeito aos vrios tipos de febres, frtil em insetos, imundcies e bichos, o nde asguas represadas congregam a podrido pelo clima doentio (JUZARTE, 1999, p. 60-61). As

    privaes aumentaram pela seqncia de pragas sucessivas: ratos, pulgas, mosquitos, todos eles

    vetores de transmisso de doenas, alm de grilos e gafanhotos. A mortalidade crescente deixou os

    habitantes mais vulnerveis aos "castelhanos e Gentio Cavaleiro". A expedio de Juzarte Cuiab

    foi acompanhada de ataques de mosquitos e mutucas "que deixavam a gente como se tivesse

    bexigas, alm disso, o grande sol que nos abrasava, nos obrigava a beber gua daqueles pntanos a

    qual era muito amargosa" (JUZARTE, 1999, p. 92). Em outubro de 1769 foram contabilizados

    trinta e sete mortos e sessenta doentes. As doenas impediam o trabalhona construo do forte e no

    cultivo das terras, situao que se agravou no ano de 1770. Em abril aconteceu a situao mais

    crtica, acompanhada da interveno para tornar as residncias menos insalubres, o que no alterou

    a situao de decadncia do local:

    "se mandaram defumar todas as casas, com breu, e no se ouvia mais quegemidos, gritos, confisses, e absolvies, sem remdio, nem de Botica, nem desubsistncia alguma, para os doentes que so todos os moradores desta Praa,soldados pagos, e pedestres (JUZARTE, 1999, p. 100).

    ndios, castelhanos e o uso de rios como via de ligao com a provncia de Mato Grosso

    seriam os motivos de uma nova incurso nas terras do norte paranaense. No incio do sculo XIX, e

    mais freqente aps a segunda metade, uma srie de aldeamentos indgenas foram fundados no

    estado do Paran (Quadro 1). O agrupamento dos indgenas, atravs da catequese por padres

    capuchinhos, estava previsto no contexto de tornar os vales dos rios mais seguros para a navegao.

    O projeto atendia aos interesses do Baro de Antonina em criar uma rota comercial at o Mato

    Grosso, via norte do Paran, sendo o primeiro passo para a liberao dos imensos territrios dos

    ndios Kaingang e Kayov nos vales destes rios (MOTTA, 2000, p. 4), ou seja, Tibagi,

    Paranapanema, Paran, Samambaia e Ivinheima. Alm disso, a reunio de indgenas em alguns

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    pontos especficos esvaziou outras reas por eles freqentadas, esvaziando-as para que fazendeiros

    nelas se instalassem.

    Quadro 1. Aldeamentos indgenas e localizao no Estado do Paran

    Aldeamentos Localizao Ano No Instalado

    Santa Teresa rio Paranapanema e Paran 1857 X

    N. S. do Loreto Rio Pirap e Paranapanema 1855-1862

    Santo Incio Rio Santo Incio e Paranapanema 1862-1878

    Santa Isabel (foz) Rio Tibagi e Paranapanema 1857 X

    S. Pedro de Alcntara Rio Tibagi 1855-1895

    S. Jernimo Campos do cacique kaingang Inho 1859-1920

    Catanduvas Na picada de Guarapuava a Foz do Iguau 1891

    Chagu Minkriniar ou Xongu 1859-1861

    Guarapuava Koran-bang-r 1810

    Palmas Kreie-bang-r 1857

    S. Thomas de Papanduva Territrio Xokleng 1875-1878

    Fonte: MOTTA, 2000, p. 42.

    O aldeamento So Pedro de Alcntara1, vizinho da colnia militar de Jata

    (respectivamente situados na margem esquerda e direita no baixo curso do rio Tibagi), comeou a

    tomar corpo a partir do trabalho do frei capuchinho Timteo de Castelnuovo. Fundado em 1854,

    reuniu os ndios na tentativa de evitar os ataques e possibilitar a manuteno de colonos e soldadosna colnia militar. Chuvas, secas e a precria comunicao com o exterior pesavam no

    desenvolvimento dos ncleos, mas a localizao estratgica durante a Guerra do Paraguai

    demandava a fixao definitiva de agricultores. A concesso de lotes de 500 braas de terras

    devolutas (1 braa = 2,20 metros; 500 braas = 24,2 ha) prevista em relatrio de 1865 se

    concretizou em 1866 na distribuio de 36 lotas de uma lgua 2aos colonos e operrios em Jatahy

    (STIER, 1980, p. 66-67). A populao na colnia militar oscilou de 108 (1855) a 401 (1895), e em

    1893 frei Timteo contava 1.315 mil ndios no aldeamento S. Pedro de Alcntara. O abandono e o

    isolamento dos ncleos e o declnio das colnias militares aps a proclamao da Repblica

    atingiram o ncleo do Jata. Nesse perodo, mo-de-obra escrava havia sido substituda por braos

    imigrantes e ncleos coloniais haviam se estabelecido no sul do Brasil, coexistindo com sertes,

    expanso da cafeicultura, ndios e caboclos e ambientes insalubres.

    1 De acordo com Deffontaines (2004. p. 122) em relao s origens das cidades, Jatahy um caso clssico deaglomerao de origem militar em funo da zona de influncia espanhola. A Colnia So Pedro foi um caso dealdeamento sob a responsabilidade de religiosos. Foram estabelecidas a Colnia Militar do Jata, em 1855, e osaldeamentos indgenas de So Pedro de Alcntara (1855) e So Jernimo da Serra (1859). Nos anos de 1844 a 1860,

    destacam-se as exploraes dos rios paranaenses e sertes adjacentes, realizadas pelo sertanista Joaquim FranciscoLopes. (Cardoso, 1986. p. 56).21 lgua de sesmarias corresponde a 3.000 braas, ou seja, 6.600 metros. Encontramos ainda para a medida de umalgua o equivalente a 4.356 hectares.

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    Buscamos informaes a este respeito, sob a tica da necessidade de criar um ambiente

    adequado ao processo de modernizao que consideramos a partir da criao da Lei de Terras e

    Colonizao de 1850. A escolha dessa data fruto da instaurao da terra como mercadoria e do

    trabalho livre imigrante no Brasil para as lavouras de caf. Futuramente, a construo de estradas de

    ferro, a expanso da cafeicultura, a reurbanizao das cidades fariam parte de um conjunto queestava diante de uma populao adoecida e com altas taxas de mortalidade.

    No incio do sculo XX, a expanso territorial em direo s novas frentes necessitava

    da erradicao de ambientes insalubres, porm as cidades tambm estavam dominadas por

    epidemias e endemias. A descoberta da microbiologia e das reais causas de determinadas doenas,

    somada aos esforos do governo brasileiro no seu controle atravs da criao dos institutos Butant

    e Oswaldo Cruz, trouxe resultados efetivos s condies de sade das populaes urbanas. Em

    destaque aquelas das cidades porturias onde o contato e o contgio eram mais freqentes. Tambmdevemos levar em conta as reformas urbanas realizadas sob a tica do higienismo, atravs das quais

    as cidades tiveram os centros re-urbanizados com a demolio de velhos cortios e abertura de

    avenidas. A conjugao do higienismo com o eugenismo, atravs de Belisrio Penna, aponta o seu

    foco para osertoe os problemas de sade. (SILVA. 2004, p. 5) Entre a cidade e o serto, a rea de

    influncia necessria ao fornecimento ou ligao para a modernizao econmica:

    O impacto das endemias na primeira dcada do sculo XX se fazia sentiressencialmente nas cidades. Tanto foi que a malria, doena do serto e de

    pequenas cidades, somente foi alvo de aes sistemticas quando dificultavaprojetos de grande importncia, como a modernizao do porto de Santos, aconstruo de uma estrada de ferro no serto mineiro e a construo da adutora degua para o Rio de Janeiro, em Cachoeiro do Macacu, na serra fluminense. Pascom um vasto, desconhecido e inexplorado serto, o Brasil ainda era umaconstelao linear de cidades ao longo da costa.(SILVA. 2003)

    As endemias e epidemias como obstculo expanso econmica devem ser associadas

    idia de uma misso colonizadora e civilizatria do brao estrangeiro na agricultura brasileira,

    inaugurada com a Lei de Terras e Colonizao de 1850. Da cidade para o campo, pensou-se que a

    marcha das epidemias, que obedeciam ao avano das plantaes de caf, poderia ser detida, pelo

    menos em relao febre amarela. (Ivano, 2002, p. 61 e 62) Pelo retardo na iniciativa de

    erradicao das endemias, o processo de ocupao de estados da regio sul do Brasil dar-se-ia num

    contexto em que o branqueamento3da populao brasileira necessitaria do controle das doenas do

    sertanejo. A relao entre branqueamento e erradicao da insalubridade est presente no relatrio

    da Estatstica Demographo-sanitaria da Capital (1910) e do estado (1909) no qual

    3Na fase inglesa da CTNP - at 1942 - a venda de terras para estrangeiros alcanou 47% do total. Aps esta data(1943-1974) a participao de compradores estrangeiros foi reduzida para 12%. (Obderdiek, 1997, p. 70).

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    O Paran que v na corrente immigratoria toda a sua esperana no futuro no pdedeixar de procurar pela salubridade do solo chamar para si a preferncia doestrangeiro.(LOYOLA. 1910, p. 4).

    2. Doenas e m or tes no Paran

    A sade dos habitantes paranaenses desde a metade do sculo XIX eram afetada de

    sobremaneira pelas condies scio ambientais. Pelo menos desde 1862 e 1867 foram identificadas

    incidncias de febre intermitente na localidade de S. Pedro de Alcntara, com 12 mortes em cada

    um daqueles anos (DALLEDONE, 1989, p. 207). No s nessa regio os problemas sanitrios eram

    graves. Surtos de febre amarela atingiram os habitantes de Paranagu nos anos de 1854, 1857 (361

    casos com 37 bitos), 1870, 1876 (30 casos com 18 bitos), 1877, 1878 (479 casos com 54 bitos),

    1879; de Antonina em 1870 (61 mortes), 1873, 1874, 1875, 1877, 1878; e de Morretes em 1870 e

    1878. (DALLEDONE, 1989, p. 185)Frei Timteo de Castelnouvo, em cartas datadas de 8 e 16 de janeiro de 1877 enviadas

    ao presidente da provncia do Paran, descreveu detalhadamente o incio de uma epidemia de

    bexiga (varola) trazida por um indgena que havia se infectado na vila do Tibagy em outubro de

    1876. Frente doena, alguns fugiram do local pelo Tibagy abaixo ao serto, da o temor do frei:

    ... deve-se ter medo que os ndios Caiguas que se espalharo pelo Paran, e para aProvncia de S. Paulo levem este orrivel flagello (sic) e entre seus ermos doserto e mesmo entre nosso povo de S. Paulo (...) (MOTTA, 2000, p. 91)

    Onde no houve o isolamento dos doentes, as mortes foram mais numerosas, a partir de

    um relatrio feito pelo mesmo frei a respeito do no aparecimento dos ndios kaingang (coroados)

    no aldeamento h um ano: que mais provvel que a epidemia do anno pasado havida em todos

    estes sertes das febres intermitentes e perniciosas tinham quase acabado pela morte seu grande

    numero. (MOTTA, 2000, p. 95).

    Em relatrio de 1895, o inspetor geral de higiene atestava a falta de materiais e de

    funcionrios em Curitiba e cidades litorneas para o controle de doenas como varola (surto entre

    os soldados do 39 Batalho de Infantaria), febre amarela, sarampo, pneumonias, entre outras. Ele

    alertava para a perda dos investimentos feitos pelo estado na imigrao e colonizao porque a

    falta de cuidados hygienicos concorre para que a cifra da mortandade, tanto entre os nacionaes

    como entre os emigrados, seja elevadssima(REIS, 1895, p. 4). Naquele ano s existiam delegados

    de higiene nas cidades da Lapa, Ponta Grossa e Antonina. As influncias climticas e sociais

    contextualizavam as doenas presentes no citado relatrio. As chuvas constantes e o calor em

    Curitiba no ms de janeiro, (a temperatura mdia ficou entre 26 a 29 graus centgrados e a

    temperatura mnima no inferior a 25 graus centgrados) propiciaram a reduo pela metade da

    mortandade que costumava acontecer em anos anteriores. Mas elas foram responsabilizadas pelas

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    enterites produzidas nas creanas pela alimentao artificial; alguns casos de febre typhica e de

    paludismo. O perodo de scca extraordinaria em abril se estendeu at agosto quando secos os

    poos, fontes e vertentes, resultou na pessima qualidade dgua que bebia a populao (o que)

    determinou gastro enterites, algumas mui graves, dysenterias, as diversas manifestaes do

    paludismo e febres typhicas(REIS, 1895, p. 6 a 8).Dados dos Relatrios da Estatstica Demographo-sanitaria do estado do Paran nos

    informam que entre 1902 e 1903 ocorreram 99 mortes no municpio de Jataizinho (nove por ttano,

    oito por vermes intestinais e em trinta e uma delas a causa no foi definida). Em Tibagy, elas

    atingiram trinta e oito bitos dos quais onze no tiveram as causas identificadas. Em 1909, o

    municpio de Jacarezinho apresentou 181 bitos, dos quais 82 no tiveram causas definidas, mas

    foram identificados a bronquite crnica (10 mortes), o ttano (11 mortes) e o sarampo (10 mortes).

    O municpio de Tibagy no mesmo ano apresentou 25 mortes, das quais 20 no tiveram as causasidentificadas. Na mesma poca a malria grassava entre os habitantes Alambari (atual Cambar)

    levando-os morte (MOREIRA, 1935), e Loyola destacou a mortalidade infantil no Relatrio de

    1911:

    desde que comeou o Estado a fazer estatstica de bitos, a mortalidade decrianas de 0 a 5 anos tem conservado uma proporo approximada a 50% doobituario geral. Verdade que as molstias pulmonares so muito comuns nascrianas em clima como o nosso, porem o numero de suas victimas muitoreduzido em relao ao das diversas enfermidades que tem por sede o apparelhodigestivo. As gastrites e enterites diversas so a causa dessa hecatombe infantil. (LOYOLA. 1910, p. 5)

    A malria foi uma das doenas citadas nos relatrios elaborados por mdicos do Instituto

    de Manguinhos em 1916-17, numa visita ao estado do Paran. Vrios surtos foram detectados nos

    anos de 1911, 1914, 1917 e 1924 no Norte do Paran. Em outra fonte as epidemias, iniciadas em

    1908, foram mais freqentes: 1912, 1913, 1914, 1915 e 1917, tendo sido esta ltima a mais grave

    (ARAJO, 1919, p. 250). O impaludismo estava generalizado, endmico na regio e em reas mais

    afastadas, no Paran e fora dele:

    Geograficamente o impaludismo abrange todo o litoral paranaense, a mesopotmiado Itarar, Paranapanema e Tibagi, e toda a baixada do rio Paran (...) Pelasinformaes que obtivemos parece ter sido o municpio do Tibagy, na sua zonafronteira e mais prxima do Paranapanema, primeiro foco do impaludismo dointerior.(Moreira, 1935, p. 265)Do Jathay para baixo at a fronteira com Mato Grosso e Paraguay o clima quente. O estado sanitrio dessa zona sempre mais ou menos precrio. Em abrilde 1917 encontrmos 90% da populao do Jathay soffrendo de impaludismo, malendemo-epidemico neste distrito h mais de 10 anos. (...) Ainda em abril e maiodeste ano tratamos l algumas dezenas de impaludados. (MOREIRA, 1935, p.102)

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    Duas dcadas mais tarde, a malria no interior do Paran ameaava no apenas a

    populao, mas a economia e os esforos da definio da estrutura fundiria, descrita no relatrio

    do 10 Comissariado de Terras datado de 1935 em relao regio de Reserva, no Tibagy:

    bem de ver que a clula mater (...) naquela regio a cultura de milho econseqentemente criao de sunos, ... a falta de sunos para a exportao, devido

    ao desanimo e conseqente abandono criao pela razo dos baixos preosanteriores e o desaparecimento de muitos colonos nacionais victimados pelamaleita que ceifou milhares de vidas at a ltima metade de 1934. (...) A despeitoda crise por que tem passado a populao impaludada do inter-land, as mediesesto sendo feitas, ainda que os interessados no possam satisfazer oscompromissos conforme so obrigados.

    Apesar da doena ser freqente e anterior, a sua generalizao foi atribuda chegada do ramal da

    estrada de ferro Sorocabana cidade de Cerqueira Csar e s vizinhanas do Salto Grande do

    Paranapanema, divisa entre os estados de So Paulo e Paran. Nesta ltima cidade ela teria sido

    detectada vinte e cinco anos antes do registro em livro publicado em 1919. A migrao da doena

    teria ocorrido atravs dos contatos comerciais estabelecidos entre os habitantes de Jatahy e os de

    Salto Grande, por canoeiros e remeiros de bateles que seguiam na direo dos rios Paran e

    Ivinheima, at se internarem nas zonas reconhecidamente paldicas mattogrossenses (Arajo.

    1919, p. 226).Sem tantos detalhes, Arajo confirma a forma espacial da disseminao:

    pelas informaes que obtivemos parece ter sido o municpio do Tibagy, na suazona fronteira e mais prxima do Paranapanema, primeiro, primeiro foco doimpaludismo do interior.(Arajo, 1919, p. 265).

    Como o rio Ivinheima era um foco antigo de malria, porque no pensar na hiptese de queela possa ter vindo de l, atravs dos canoeiros? Devemos levar em conta que a malria, at o final

    do sculo XIX, estava presente em todo o territrio nacional, mais freqentemente nas reas

    litorneas, poupando apenas alguns segmentos dos estados sulinos (Camargo, 2003). Em 1946

    esse quadro ainda permanecia o mesmo, s ausente em regies altas, nos extremos meridionais do

    pas. (FERREIRA e LUZ, 2003 p.134)

    A construo da Terra da Promisso

    Os mapas do Paran nos auxiliam a compreender quais eram as expectativas que as

    estradas de ferro deveriam cumprir na integrao territorial e no crescimento econmico. Num

    deles, datado de 1912, foram traadas vrias concesses feitas no Paran das quais se destaca a

    ligao da cidade de Ponta Grossa ao Paranapanema com ramal nas margens do rio Tibagi e outro

    nas do rio Laranjinha, cortando na direo norte-sul a parte nordeste doserto. Outros dois projetos

    das concesses atravessavam o noroeste paranaense: um deles uniria as cidades de Jacarezinho e

    Sete Quedas (ramal concedido Sorocabana pelo Governo Federal) e o outro partiria da cidade dePonta Grossa at chegar at Guara, atravessando o divisor Piquiri-Ivai. (ITCF, 1990. p. 8) Em

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    em propaganda retratavam imensos mamoeiros e at uma couve-flor tendo como escala um beb.

    Imagens definitivas provavam a qualidade da terra.

    Vendeu-se junto com as terras apromessa de que nelas estavam o rumo para o melhor

    futuro (Arias. 1998, 31). Desde a compra do lote o agricultor seria dono da riqueza representada

    pelas espcies herdadas da natureza sob a forma de toras de madeiras (cavina, pau dalho, perobas,ips) e quando vendidas financiariam a implantao das lavouras. Fase encerrada, as terras estariam

    abertas s lavouras de milho, algodo, feijo e caf, embora este ltimo ainda no tivesse recebido a

    valorizao no mercado internacional do ps-guerra. A idia de prosperidade vinha grafada nas

    propagandas tendo como principal exemplo a cidade de Londrina.

    Outra garantia era a legitimidade do ttulo da terra e o parcelamento de seu pagamento.

    A venda dos lotes passou por diversas fases, ora dando prioridade para estrangeiros, ora voltando-se

    para pequenos agricultores familiares nacionais, em especial, mineiros e paulistas.A estrada de ferro foi parte imprescindvel do projeto de colonizao. Foi a facilitadora

    para a chegada e sada de produtos, tendo sido durante o perodo inicial o fator de valorizao das

    terras. medida que os novos lotes (e mais afastados) eram vendidos as terras, rurais e urbanas, se

    valorizavam ainda mais. As estradas de rodagem e a de ferro ficaram sob a responsabilidade da

    CTNP, na fase do capital ingls (at 1943). As estradas de rodagem dispostas na parte mais altas

    (espiges) seguiam um planejamento ligar os agricultores aos distritos, patrimnios e cidades, e

    garantiriam o escoamento das madeiras e da produo. Entretanto, as chuvas que caam na Terra da

    Promisso transformavam-nas em atoleiros imensos, apesar do trabalho de manuteno. O mesmo

    solo rico transformava-se num lamaal pegajoso para as rodas dos automveis e caminhes.

    A salubridade anunciada no existia, se pudermos traduzir dessa maneira as precrias

    condies enfrentadas numa regio que tinha o seu histrico de doenas e mortes. Na propaganda

    ou em reportagens estava presente a associao entre clima e ambiente saudvel, livre de doenas.

    Porm, tanto era freqente a malria que os stios das cidades ficavam preferencialmente afastados

    das margens dos rios. A temperatura do ar tambm foi um elemento elogiado, parte do clima

    temperado, embora fosse motivo de preocupao para a expanso cafeeira a ocorrncia de geadas.

    A propaganda atendia ao pblico estrangeiro e nacional. Aos alemes que mais tarde

    viriam a se instalar na Colnia Roland (Rolndia), se pedia o trabalho necessrio e pesado da roa,

    mas no encontrariam crises econmicas e acontecimentos polticos, e poderiam viver bem e em

    paz. E mais:

    O terreno seria levemente ondulado, cortado todavia pelos profundos vales dosribeires, de tima terra roxa, tendo em mdia 600 metros de altitude, livre demalria(grifo nosso), e estaria to rendoso que o caf, aqui produzisse mais do

    que poderia dar no estado de So Paulo. (PRSER. 1957, p. 124)

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    Aos nacionais, destacava-se o fato de no existirem formigas No h savas mas

    era pedido aos novos habitantes o seu trabalho incansvel. A leitura mais cuidadosa do texto a

    seguir leva idia da passagem do Caos Ordem (e ao Progresso), da natureza (rude) necessidade

    da rudeza humana para dom-la transformando-a numa Terra da Promisso. O texto traz o ttulo

    sugestivoTrinta e uma nacionalidades:Nesta terra em que no ha savas, os homens trabalham como ellas, num laborcontinuo e organizado.Luctando contra as interminas e rgias florestas, os agricultores aproveitam avitalidade de seus musculos para fazer grandes derribadas de agrestes mattas,semeando em seguida o cho fertil, e de tal modo, preparam o futuro para omerecido descano no inverno da vida.Reza a historia sacra que quando a humanidade em sua maior expresso deambio e vaidade, tentou alanar os cos por meio de elevadissima e engenhosatorre, que tomou a denominao de Babel, Deus para castigar essa peccadorahumanidade, fez com que os sacrilegos constructores no mais se entendessem,

    dando um idioma diferente a cada um, impedindo assim, o proseguimento daquelaobra. Entretanto, no bemdito slo londrinense, nas roxas terras destas paragens,homens de 31 nacionalidades diversas, confraternisados, se comprehendemperfeitamente na collaborao do rude trabalho agricola, cooperando dessa formapara o engrandecimento da terra de promisso que esta regio paranaense, cujocontinuo e formidavel desenvolvimento, no de modo algum tolhido pelo Todo-Poderoso; ao contrario, recebe as benos do Senhor que nos fez a dadiva destaterra fecunda, e que reuniu neste canto da patria brasileira, homens de boavontade, de todas as raas, de todos os credos, e cuja unica ambio a deprogredir pela labuta honesta e aqui se fixar com a nobre finalidade (GOMES.1938, p. 76)

    Mortes na Terra da Promisso

    Trataremos da comparao da causa de mortes a partir de fontes de quatro cemitrios

    localizados no patrimnio londrinense do Heimtal (1931-37), na cidade sede de Londrina (1932-

    43), em Camb (1936-47) e em Rolndia (1932-43). A principal dificuldade foi agrupar causas de

    mortes muitas vezes de difcil classificao. Uma soluo possvel foi a verificao da idade e a

    comparao com a causa da morte. Entretanto surgiram novas dvidas. Como classificar a morte de

    um recm-nascido cujo bito foi dado como morte natural? Nesse caso preferimos classific-lo

    como natimorto.

    Outro recurso foi a verificao do ms do bito. Constatou-se que as mortes

    aumentavam sensivelmente no perodo compreendido entre novembro a fevereiro, geralmente

    envolvendo aquelas causadas por infeces causadas atravs das guas em contato interno ou

    externo ao corpo. Dessa maneira foram agrupadas as diarrias, intoxicaes alimentares, toxicoses

    alimentares e desinterias. Outras correlaes foram feitas a partir de entrevista com mdicos

    tradicionais da cidade, como peritonite e malria, agrupando-as quando possvel.

    A especificidade de alguns dados diz respeito Camb. So relativos somente s mortes

    de crianas com menos de 5 anos de idade, mas que tiveram uma representao expressiva sobre o

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    total de mortes no perodo. Sobre as mortes ocorridas no Heimtal 67,5% delas foram de crianas

    com menos de 5 anos. Para Londrina, os mortos acima acima de 10 anos somados aos raros de

    idade ignorada representaram 32,8% entre 1932 e 1943.

    Heimtal, ou o Vale da Vida, agrupava perto de 120 famlias de alem es e foram de

    grande imprtncia para o abastecimento de alimentos cidade de Londrina. Os dados colhidosapontam para muitas mortes sem assistncia mdica, 61,9% dentro da totalidade de 194 bitos

    ocorridos no perodo. Desse total, 67,5% eram de crianas com menos de 5 anos de idade.

    Em Londrina a anlise foi realizada a partir de determinadas causas especficas em

    funo de o universo ser maior: 3 mil mortes entre 1933 a maio de 1943. Destas, 2.100 foram de

    crianas at 10 anos de idade (70%). A mortalidade infantil sempre foi bastante elevada, sendo que

    em 1935 a mortalidade de crianas com menos de 5 anos atingiu 67,5% do total. medida em que

    os anos passaram ocorreu uma inverso no nmero de causas de mortes no identificadas: antespredominantes, depois em queda. Tambm foi observado que no houve uma relao constante

    entre o entre o ritmo de crescimento da populao e o do nmero de mortes por ano. Este ltimo

    superou o do crescimento populacional nos anos de 1935, 1936 e 1938 (Quadro 2). A ausncia de

    assistncia mdica para identificao da causa da morte sempre superou os casos identificados em

    todos os anos, apesar do pequeno hospital da CTNP e de mdicos particulares na cidade.

    O agrupamento das principais causas de morte em Londrina reduzindo o universo para

    uma amostra de quase 50% do total (de 3.000 para 1.464) revelou o quadro do predomnio de

    doenas como disenterias e diarrias, pneumonias e bronco pneumonias, toxicoses e intoxicaes

    alimentares, colapsos cardacos, malrias, tuberculoses, entre outras. Uma situao parecida com as

    mortes em Camb, onde 26,6% delas foram causadas por doenas infecto parasitrias e em 26,7%

    no houve assistncia mdica. Em Rolndia as causas das mortes alteram o perfil, as gastroenterites

    tiveram a mesma participao dos problemas cardacos e ambos encabeam a lista com 17,8% e

    17,7% respectivamente, seguidos pelos natimortos e pneumonias (Ver Quadro 3). A exceo em

    Rolndia o pequeno nmero de bitos sem assistncia mdica.

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    Quadro 2: Ritmo de crescimento do nmero de mortes e de populao em Londrina 1933 a 1942.

    Londrina 1933-1942Mortesnmero

    PopulaoTotalnmero

    Mortesaumentondice

    Pop Totalaumentondice

    1933 44 ... 100 ...1934 58 7500 132 1001935 107 15000 243 2001936 231 20527 525 2741937 150 29090 341 3881938 249 32000 566 4271939 345 60775 784 8101940 311 75296 707 10041941 347 95000 789 12671942 262 100000 595 1333

    Org. Mrcia Siqueira de Carvalho.

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    Quadro 3. Principais causas de mortes em Londrina, Heimtal, Rolndia e Camb.

    Heimtal 1931/1937 Rolndia 1936/1948

    Camb1936/1947(mortesinfantis) Londrina 1932/43

    causas mortis nmero % nmero % nmero % nmero %aparelho respiratrio 97 6,6anemia 19 1,1 21 1,4caquexia 28 1,9cncer 30 1,7causas externas* 91 5,2 19 1,3 19 1,3

    coqueluche 3 1,5 0 0,0 27 1,8debilidade congnita 170 9,7 34 2,3derrame cerebral 2 1,0epilepsia 2 1,0febre amarela 1 0,1gastrenterites/disenterias/toxicose 34 17,5 311 17,8 313 21,4impaludismo/malria 1 0,5 6 0,3 36 2,5infecto parasitrias 449 30,3insuf.cardaca/cardaco 7 3,6 310 17,7 43 2,9 124 8,5meningite 24 1,6natimorto 285 16,3 329 22,2natural 5 2,6

    perinatal 83 5,6outras ** 0 0,0 34 1,9 52 3,5 21 1,4

    pneumonia 14 7,2 253 14,5 157 10,7sem assist. mdica/sem info 120 61,9 123 7,0 408 27,6 571 39,0

    ttano/gangrena 2 1,0 2 0,1 13 0,9tifo/peritonite 114 6,5 42 2,9tuberculose 4 2,1 34 2,3TOTAL 194 100,0 1749 100,0 1480 100,0 1464 100,0

    Fonte: Almeida, 1997; Andrade, 1998; Livros de Inumaes dos Cemitrios de Rolndia e de Londrina.

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    Concluso

    A regio que seria conhecida na dcada de 1950 como o Eldorado, cuja

    riqueza era formado pelos cafezais (ouro verde), tem uma parte de sua histria

    literalmente enterrada. A propalada Terra da Promisso que atraiu imigrantes nacionais

    e estrangeiros no foi na histria o local da terra sem males, aquela buscada guaranis.

    Desde as primeiras tentativas de estabelecimento as doenas e mortes atingiram os seu

    habitantes ou quem passava por seus caminhos. Nem mesmo a substituio das trilhas

    pelos trilhos transformou imediatamente as condies de salubridade. A partir da dcada

    de 1930 esse amplo espao era uma fronteira a ser ocupada baseada na propriedade

    privada e na pequena produo mercantil, e parte dele a partir de empresas de

    colonizao. Ao lado da fertilidade do solo e da ausncia de pragas agrcolas, muitas

    cruzes foram plantadas por agricultores que cultivavam lavouras temporrias e de

    subsistncia aguardando o crescimento de cafezais. Pelos dados levantados e analisados,

    a Terra da Promisso no foi o bero adequado s primeiras geraes aqui nascidas.

    Basta verificar a elevada mortalidade infantil de causas geralmente desconhecidas ou

    por doenas causadas por contaminao hdrica, resultado da precariedade da infra-

    estruturagua tratada e esgotos- e das condies sociais e culturais.

    BibliografiaALMEIDA, Ana Maria Chiarotti de. A Morada do Vale: sociabilidade e representaes.Um estudo sobre as famlias pioneiras do Heimtal. Londrina: EDUEL. 1997.AMADO , Janaina. Regio, Serto, Nao. Estudos Histricos, Rio de Janeiro, vol.8,n.15, 1995, p. 145-151.)ANDRADE, Ana Paula de Angeli de. A mortalidade infantil em Camb - PR1936/1947. Monografia de especializao em Histria Social e Ensino de Histria.Departamento de Histria. Curso de Especializao em Histria. Universidade estadualde Londrina. 1998. 83p.ARAUJO, Heraclides C. de Souza.A Profilaxia Rural no Estado do Paran: esboo deGeographia Medica. Livraria Economia. Curitiba: 1919.CAMARGO, Erney Plessmann. Malria, Maleita e Paludismo.Cincia e Cultura. V.55.n.1. So Paulo: jan./mar. 2003.CARDOSO, Jayme Antonio. Atlas Histrico do Paran. 2.ed. ver. Ampl. Curitiba:Livraria do Chain, Editora, 1986.CHAGAS, Carlos. Conferncia sobre a nova orientao do servio sanitario brasileirorealizada na Biblioteca Nacional em 04 de fevereiro de 1921.Jornal do Commercio,Rio de Janeiro, 11 fev. 1921. Em:http://www4.prossiga.br/chagas/prodint/sec/pi53-389-01.htmlDALLEDONE, Mrcia Teresinha Siqueira. Sade e Doena na Provncia do Paran(1853 1889).Curitiba, 1989. Tese. CPG em Histria Demogrfica. UFPR.

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