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O Encontro Maio de 2011 A Luz no Caminho - Associação Espiritualista - Distribuição gratuita Bhagavan Sri Ramana Maharshi Se há pessoas que se unem em um mesmo objetivo, se creio que o desafio me inclui, se tenho a presença do Mestre em mim, só posso ir em frente. A partir de 3 de maio de 2011, começa uma missão que, sozinho, nunca seria capaz de cumprir. Apesar de ter que tocar tantas frentes ao mes- mo tempo, sinto que é a hora. O que é fácil, não tem sabor. Para o difícil, só a fé e muito amor. Ser presidente nunca foi meu desejo, por isso, sinto-me mais à vontade. A oportunidade de servir nunca foi uma escolha minha, todavia nunca recusei a um convite. Lembro-me de quando me con- vidaram para fazer parte do Con- selho Fiscal da Casa de Ramana, depois, tesoureiro da Casa, diretor Financeiro Adjunto, vice-presidente e presidente de A Luz no Caminho por oito meses. Estas oportunida- des de servir vieram e, na maioria delas, pude contribuir e ser útil. Tudo é aprendizado, seja no campo espiritual, seja no campo terreno. Confesso que usei essas experi- ências na vida profissional, mas não foi fácil. Confesso, ainda, que usei as experiências da vida profissional na Casa. Também não foi fácil. Em qualquer comunidade em que viva- mos, a convivência não é fácil por- que nós não somos fáceis de con- viver em harmonia, em desapego, em sermos felizes com a felicidade de um irmão. E como podemos tocar a vida? Não é de hoje que estou nesta escola do mestre Bha- gavan. Às vezes, sinto-me como um aluno ora relapso, ora aplicado. To- davia, sei que a minha fé faz com que esteja sempre aprendendo. E, ao ensinar o pouco que sei, estou sempre aprendendo mais. Pois tenho certeza de que a vida é uma diária superação. Há dias em que nos sentimos no topo e outros, em que nos sentimos no chão. Se nos deixamos levar pela “tsunami” de pensamentos, nossa mente é in- vadida por preocupações. Se não soubermos frear o ímpeto, a vida fica muito difícil. Nós ignoramos que somos capazes, que pode- mos dominar quem nos domi- na. Afinal, quem somos nós ou o que esperamos de nós mesmos? Sermos eternos e simples domi- nados ou nos dirirgimos para uma constante e crescente me- lhoria interior? Quando - tamos o Mes- tre, deixamos que Ele con- duza nos- sos passos e usamos com determina- ção a sábia pergunta “Quem sou Estou disposto Por Marcos Garcia, presidente de A Luz no Caminho - Associação Espiritualista Editorial eu?”, acalmamos nossos pensamen- tos e dominamos nossa mente. As- sim, a cada amanhã, a cada novo dia, a cada desafio, com o combus- tível da fé, tudo se remove. Enten- demos que tudo acontecerá confor- me a vontade do pai e conforme nosso mérito. A ansiedade diminui porque tudo acontece. Pelos passos do mestre eu sigo adiante, firme e seguro. Sua luz é o bastante. Shiva, di- vindade que simboliza transformação

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O EncontroMaio de 2011A Luz no Caminho - Associação Espiritualista - Distribuição gratuita

Bhagavan Sri Ramana Maharshi

Se há pessoas que se unem em um mesmo objetivo, se creio que o desafio me inclui, se tenho a presença do Mestre em mim, só posso ir em frente. A partir de 3 de maio de 2011, começa uma missão que, sozinho, nunca seria capaz de cumprir. Apesar de ter que tocar tantas frentes ao mes-mo tempo, sinto que é a hora. O que é fácil, não tem sabor. Para o difícil, só a fé e muito amor. Ser presidente nunca foi meu desejo, por isso, sinto-me mais à vontade. A oportunidade de servir nunca foi uma escolha minha, todavia nunca recusei a um convite.

Lembro-me de quando me con-vidaram para fazer parte do Con-selho Fiscal da Casa de Ramana, depois, tesoureiro da Casa, diretor Financeiro Adjunto, vice-presidente e presidente de A Luz no Caminho por oito meses. Estas oportunida-des de servir vieram e, na maioria delas, pude contribuir e ser útil. Tudo é aprendizado, seja no campo espiritual, seja no campo terreno.

Confesso que usei essas experi-ências na vida profissional, mas não foi fácil. Confesso, ainda, que usei as experiências da vida profissional na Casa. Também não foi fácil. Em qualquer comunidade em que viva-mos, a convivência não é fácil por-que nós não somos fáceis de con-viver em harmonia, em desapego, em sermos felizes com a felicidade de um irmão. E como podemos tocar a vida? Não é de hoje que

estou nesta escola do mestre Bha-gavan. Às vezes, sinto-me como um aluno ora relapso, ora aplicado. To-davia, sei que a minha fé faz com que esteja sempre aprendendo. E, ao ensinar o pouco que sei, estou sempre aprendendo mais.

Pois tenho certeza de que a vida é uma diária superação. Há dias em que nos sentimos no topo e outros, em que nos sentimos no chão. Se nos deixamos levar pela “tsunami” de pensamentos, nossa mente é in-vadida por preocupações. Se não soubermos frear o ímpeto, a vida fica muito difícil. Nós ignoramos que somos capazes, que pode-mos dominar quem nos domi-na. Afinal, quem somos nós ou o que esperamos de nós mesmos? Sermos eternos e simples domi-nados ou nos dirirgimos para uma constante e crescente me-lhoria interior?

Quando fi-tamos o Mes-tre, deixamos que Ele con-duza nos-sos passos e usamos com d e t e r m i n a -ção a sábia pergunta “ Q u e m s o u

Estou disposto Por Marcos Garcia, presidente de A Luz no Caminho - Associação Espiritualista

Editorial

eu?”, acalmamos nossos pensamen-tos e dominamos nossa mente. As-sim, a cada amanhã, a cada novo dia, a cada desafio, com o combus-tível da fé, tudo se remove. Enten-demos que tudo acontecerá confor-me a vontade do pai e conforme nosso mérito. A ansiedade diminui porque tudo acontece. Pelos passos do mestre eu sigo adiante, firme e seguro. Sua luz é o bastante.

• Shiva, di-vindade que simboliza transformação

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O Encontro maio, 2011

A filosofia de Bhagavan no BrasilApós seu mahasamadhi, foi

como se a força de Bhagavan se expandisse em muitas direções, to-cando os corações dos que tives-sem condições de, em várias partes do planeta, virem a divulgar seus ensinamentos.

No Rio de Janeiro, Leonides Do-

Por Vera Carolina de Mello

blins, Paulina Van Der Meer e Van-da Bastos costumavam assistir às palestras que Mouni Sadhu, conhe-cido devoto de Bhagavan, ministra-va na Sociedade Teosófica.

Após o regresso de Mouni Sa-dhu a seu país de origem e à medida que se sentiam mais firmes

no ensinamento, as três forma-ram um grupo o qual chama-ram Arunachala, em homenagem à montanha sa-grada na qual Ramana tinha vivido duran-te mais de 50 anos.

No final deste mesmo ano, uniu-se ao grupo Daura Silva França que, tendo perdido a fala em virtude de grave acidente, foi curada por um mestre que desconhecia e que mais tarde identificou como Bhaga-van Sri Ramana Maharshi.

Mas, à medida que o tempo passava e que Daura tomava mais contato com os ensinamentos de Ramana, via surgir dentro de si a necessidade de erguer um templo para divulgar ainda mais aqueles ensinamentos.

Começa, então, seu trabalho para concretizar sua inspiração. Procurou parentes e amigos até conseguir reu-nir as 50 pessoas necessárias para fundar, em 3 de maio de 1972, A Luz no Caminho - Associação Espi-ritualista, nome dado em louvor à luz que surgira em seu caminho e que a curara.

• Daura Silva Fran-ça, fundadora de A Luz no Caminho.

Nossa História

Na Unidade do Ser

Aquele que despertouQuando jovem, a vida de Gauta-

ma, único filho de um rei abastado, fora tão protegida que nada sabia sobre doença, morte ou sofrimento. Ja adulto, deparou-se pela primeira vez com a realidade e viu-se inca-paz de ignorá-la. Isso o assombrou até não poder mais desfrutar dos prazeres passageiros de sua vida de luxo e decidir deixar sua família e a chance de tornar-se rei. Escolheu, em vez disso, dedicar-se a desco-brir um modo de se desembaraçar do desespero universal que parecia formar a própria base da existência.

Durante seis anos, Gautama bus-cou conhecer doutrinas e práticas de grandes mestres religiosos, mas nada descobriu que dissipasse a profunda tristeza que sentia. Assim, seguiu seu próprio caminho e co-nheceu a iluminação. Ele compreen-deu a origem, as ramificações e a solução do problema humano. Dali em diante, passou a ser conheci-do como o Buda, que significa “o que despertou”. Durante os anos seguintes, ensinou o caminho da iluminação a todos, sem distinção. Nunca se considerou diferente ou

reivindicou para si o status de um deus. Mui-tos outros se-res humanos d e s p e r t o s existem e existiram. E todo buda – passado, presente e futuro – é um ser h u m a -no.

Por José Martins

O Encontromaio, 2011

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A mãe reconhece o MaharshiDo livro Ramana Amor Supremo.

Na sua primeira visita a Tiruvan-namalai, em dezembro de 1898, a mãe tinha ido buscar seu filho; em sua última peregrinação à Colina do Farol Sagrado, em abril de 1917, a mãe tinha ido para entregar-se ao Sábio. Neste espaço de tempo, havia se operado nela uma grande transformação: havia compreendido, afinal, que Ele já não era mais só seu filho e sim o pai de todos.

Por puro amor Bhagavan deu-lhe um tratamento mais severo. Fre-quentemente a ignorava, deixava de respondê-la, tudo isso para abater o sentimento de superioridade que ela sentia, a princípio, por ser a mãe do swamy. Gradualmente, a compre-ensão foi se desenvolvendo nela e até mesmo a demasiada vinculação à ortodoxia foi aos poucos desapa-recendo.

Com isso, tornou-se cada vez mais introspectiva e sua mente se purificava, em direção aos degraus da perfeição. Tudo o que Bhagavan dizia ou fazia tinha por finalida-de torná-la devotada e pura em pensamentos, palavras e atos. Ela começou a perceber que a atenção do Sábio aos outros era igual à que lhe dispensava, o que, a princípio, a magoava. Mas, aos poucos, foi entendendo que, se ao servir aos outros, ela não fazia distinções, por que deveria o Sábio fazer distinção entre ela e os demais devotos?

Aos poucos, ela foi gozando da felicidade que é a nossa verdadeira natureza e que está além da men-te. Sentia o Ser e percebia que só aquilo era real.

Pouco depois que a mãe e o irmão mais novo vieram morar com Ele, Sri Bhagavan mudou-se da caver-na Virupaksha para o Skandashram,

pouco mais acima na montanha. Teve início, assim, uma nova época na vida do ashram.

Entretanto, a cada ano, aumen-tava o número de visitantes e ela continuava a servi-los com o mes-mo zelo, até ficar doente, em 1920. Teve todas as atenções que se po-diam dar ao corpo físico, mas, em maio de 1922, com o Sábio ao seu lado, ela deixou o corpo físico. Bha-gavan, à sua cabeceira, colocou sua mão direita sobre o coração de sua mãe e a esquerda sobre a fronte, assim permanecendo até que sua mãe alcançasse o mahasamadhi, em perfeita paz.

Ele sabia perfeitamente que ela havia alcançado a suprema renúncia — a renúncia do ego — e, com isso, não havia necessidade de ritos purificadores.

O corpo da mãe foi enterrado no sopé do monte. Foi construído um túmulo de alvenaria e um “lin-gam” trazido de Benares foi coloca-do sobre ele.

Assim como a chegada da mãe havia marcado uma época na vida do ashram, o mesmo aconteceu com sua partida. Ao invés de ser contido, o desenvolvimento aumentou.

Sri Bhagavan permaneceu em Skandashram, mas descia quase to-dos os dias até o túmulo. Certo dia, quase meio ano mais tarde, Ele saiu e, sentindo um poderoso impulso, desceu até o túmulo, e ali permaneceu. Não voltando, seus devotos o seguiram, dando origem ao ashram atual.

“Não foi por vontade própria que me transferi de Skandashram”, dis-se Bhagavan posteriormente. “Algo me trouxe até aqui e obedeci. Não foi decisão minha, mas vontade de Deus”.

Filosofia

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O Encontro maio, 2011

A Luz no Caminho - Associação Espiritualista | Rua Maxwell, 145 - Vila Isabel - Rio de Janeiro, RJ - CEP 20541-100 | (21) 2208 5196 | Horário de funcionamento (inclusive dias santos e feriados): segundas e quartas, das 14h30 às 20h30 - terças e quintas, das 14h30 às 21h00 - sábados, das 14h00 às 20h00 | Mais informações no site: www.aluznocaminho.org.br | Site da Casa de Ramana: www.casaderamana.org.br | Notícias da Casa: www.casaderamana.blogspot.com

Em abril, a autora do livro “A Índia Ancestral”, Vera Carolina de Mello, participou de uma tarde de autógrafos na Casa de Ramana. An-tes de assinar os exemplares, Vera concedeu uma breve entrevista ao diretor secretário de A Luz no Ca-minho - Associação Espiritualista, Daniel Soares. Os principais trechos desse bate-papo, você confere nas próximas linhas!

Daniel Soares: Um dos questio-namentos do seu texto é sobre a não existência de uma única Ín-dia, no sentido religioso, mas várias possibilidades de interpretação dos dogmas e posturas em relação à vida. O que isto tem de positivo para nós que somos seguidores de um mestre indiano?

Vera Carolina: Isso faz com que todos que queiram seguir a reli-gião da Índia encontrem nela pos-sibilidades de progresso, quer seja o chela que se banha no Ganges recitando o Gayatri, o sadhu que

Casa de Ramana

cobre seu corpo de cinzas, enquan-to recita os Vedas, ou aquele que se dedica seriamente à meditação buscando o Ser.

Daniel Soares: Outra coisa bem in-teressante no seu livro diz respeito aos rituais. “Os rituais são eficazes não por si mesmos, mas por conte-rem um simbolismo que aponta ao homem o caminho do verdadeiro conhecimento.” Num mundo onde tantos buscam rituais e amuletos, achando que isto resolve proble-mas, você poderia falar um pouco mais sobre aquela afirmação?

Vera Carolina: Se você acende um incenso ou deposita uma flor aos pés de seu mestre apenas com as mãos, claro que nada acontece. Mas se você pratica a puja, buscando sincera e profundamente a unida-de com seu mestre, este, vendo sua devoção sincera, faz com que, acima e além do simbolismo, você encontre a união tão procurada.

Daniel Soares: Você afirma que “embora possa parecer panteísta,

em essência, tudo é centralizado na única verdade divina”, ou seja, um só Deus. Mas no seu livro também vemos as referências a vários deu-ses. Como a ideia de um só Deus convive com a de vários deuses no panteão hindu?

Vera Carolina: Para que todos te-nham a mesma oportunidade. As-sim, o hinduísmo oferece aos pes-quisadores abstratos o Brahman, onipotente e onipresente, eterno. Ao pensador realista, a manifesta-ção divina em uma trindade (Tri-murti). E, para os que têm extrema dificuldade na abstração, um céu coalhado de deuses e deusas, es-perando que, mesmo através desta fé simples, o homem consiga pro-gredir em espírito.

Daniel Soares: De tudo que eu li, eu lhe pergunto: somos hinduístas? Se não, o que nos falta?

Vera Carolina: Antes de respon-der, eu preferiria que, a partir do que foi dito, as próprias pessoas julgassem.

Entrevista com autora de “A Índia Ancestral”