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O ENSINO DA DISCIPLINA DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CURSO NORMAL EM PARANAÍBA/MS (1964- 1971). Noely Costa Dias Garcia (PG-UEMS) e-mail: [email protected] Milka Helena Carrilho Slavez - orientadora (UEMS) e-mail: [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Escola Normal. Formação de Professores. História da Disciplina Didática. O interesse pelo tema formação de professores tem me acompanhado desde a graduação no curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS, na Unidade Universitária de Paranaíba, quando realizei uma sobre este tema, que resultou no trabalho de conclusão de curso (TCC) intitulado A FORMAÇÃO CONTINUADA COMO POSSIBILIDADE DE MUDANÇA DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR EM SALA DE AULA. Algumas inquietações que ficaram dessa pesquisa feita como conclusão do curso de Pedagogia, somadas a interesses despertados durante a participação do Grupo de Pesquisa em História da Educação Brasileira, o GEPHEB me levaram a me interessar pelo tema formação de professores, agora numa perspectiva histórica. Desse modo, ao cursar a Pós-graduação em educação da UEMS na unidade universitária de Paranaíba- MS, me envolvi com estudos que possibilitaram a elaboração do presente artigo que é parte do projeto de monografia que se encontra em fase de redação final cujo título provisório é: O ENSINO DE DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM PARANAÍBA/MS (1964- 1971). É desafiador pensar sobre o que induz as instituições de educação a escolherem determinados conteúdos de ensino e por que as escolhas vão se modificando no decorrer do tempo. Desse modo, ao estudar uma disciplina escolar busca-se entender quais são os aspectos políticos, econômicos, sociais que a cercam, pois é fato que nenhuma disciplina é criada do nada. Para sua criação estão agrupados os interesses dos governos, as políticas educacionais, as representações, toda a sua trajetória enquanto disciplina e por último o currículo escolar. Enfim, questiona-se qual é a finalidade das instituições educacionais ensinarem o que ensinam? Nesse sentido, uma das formas para se compreender o campo de estudos históricos é a investigação de como as disciplinas escolares surgiram? Qual

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O ENSINO DA DISCIPLINA DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DE

PROFESSORES NO CURSO NORMAL EM PARANAÍBA/MS (1964-

1971).

Noely Costa Dias Garcia (PG-UEMS)

e-mail: [email protected]

Milka Helena Carrilho Slavez - orientadora (UEMS)

e-mail: [email protected]

PALAVRAS-CHAVE: Escola Normal. Formação de Professores. História da

Disciplina Didática.

O interesse pelo tema formação de professores tem me acompanhado desde a

graduação no curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul -

UEMS, na Unidade Universitária de Paranaíba, quando realizei uma sobre este tema,

que resultou no trabalho de conclusão de curso (TCC) intitulado A FORMAÇÃO

CONTINUADA COMO POSSIBILIDADE DE MUDANÇA DA PRÁTICA

PEDAGÓGICA DO PROFESSOR EM SALA DE AULA.

Algumas inquietações que ficaram dessa pesquisa feita como conclusão do curso

de Pedagogia, somadas a interesses despertados durante a participação do Grupo de

Pesquisa em História da Educação Brasileira, o GEPHEB me levaram a me interessar

pelo tema formação de professores, agora numa perspectiva histórica. Desse modo, ao

cursar a Pós-graduação em educação da UEMS na unidade universitária de Paranaíba-

MS, me envolvi com estudos que possibilitaram a elaboração do presente artigo que é

parte do projeto de monografia que se encontra em fase de redação final cujo título

provisório é: O ENSINO DE DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM

PARANAÍBA/MS (1964- 1971).

É desafiador pensar sobre o que induz as instituições de educação a escolherem

determinados conteúdos de ensino e por que as escolhas vão se modificando no decorrer

do tempo. Desse modo, ao estudar uma disciplina escolar busca-se entender quais são os

aspectos políticos, econômicos, sociais que a cercam, pois é fato que nenhuma

disciplina é criada do nada. Para sua criação estão agrupados os interesses dos governos,

as políticas educacionais, as representações, toda a sua trajetória enquanto disciplina e

por último o currículo escolar.

Enfim, questiona-se qual é a finalidade das instituições educacionais ensinarem

o que ensinam? Nesse sentido, uma das formas para se compreender o campo de

estudos históricos é a investigação de como as disciplinas escolares surgiram? Qual

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eram suas finalidades? Qual é a importância de se estudar a disciplina? Por que uma

disciplina é considerada mais importante que outra? Por que certas disciplinas são

criadas e instaladas no currículo escolar? Por fim como as mesmas foram e estão

inseridas no campo educacional brasileiro?

Diante de questões dessa natureza, na primeira parte deste artigo, buscamos um

estudo com embasamento teórico no campo da pesquisa sobre as disciplinas escolares

envolvendo autores como Bittencourt (2003), Chervel (1990), Galvão & Souza Junior

(2005), Julia (2001), Pessanha; Daniel; Menegazzo (2004), Pessanha (2010).

Nossa investigação tem como objetivo analisar a finalidade da disciplina

didática no curso normal no estado de Mato Grosso do Sul e, em especial em Paranaíba-

MS, uma vez que essa formação vem sofrendo transformações no decorrer da história

da educação.

Partindo do objetivo lançado o presente trabalho pretende apresentar os

resultados preliminares da pesquisa em andamento a partir de documentos coletados na

Escola Estadual Aracilda Cícero Correia da Costa, uma vez que, essa foi a primeira

escola responsável pela a formação dos professores de Paranaíba no período de 1967 a

2000. Também foram obtidos dados a partir de entrevista feita de acordo com as

definições de história oral apresentadas por Meihy e Ribeiro (2011).

Vale ressaltar que a investigação em andamento está vinculada ao projeto de

pesquisa intitulado HISTÓRIA DO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA EM

MATO GROSSO DO SUL (1997-2008) coordenado pela Profª Drª Estela Natalina

Mantovani Bertoletti e que tem como colaboradora a minha orientadora Profª Drª Milka

Helena Carrilho Slavez.

Dessa forma, a problemática do estudo pode ser exposta na questão: Como era

conduzido o ensino da disciplina didática no período de 1964 a 1971 na formação de

professores na cidade de Paranaíba/MS?

1. Apontamentos acerca da noção de disciplinas escolares

As pesquisas desenvolvidas no campo das disciplinas escolares são pouco

estudadas o, uma vez que, o estudo histórico voltado ao conteúdo de ensino tanto

primário como secundário não despertou tanto os interesses dos pesquisadores, logo,

estudos que abarcam pesquisas voltadas as disciplinas escolares ainda são pouco

estudadas no Brasil. No entanto, de acordo com Chervel (1990, p. 177), “Mais

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recentemente, tem-se manifestado uma tendência, entre os docentes, em favor de uma

história de sua própria disciplina”.

No entanto, o conceito a princípio apresentado por Chervel (1990, p. 177) é que

[...] “as definições que dela são dadas de fato não estão de acordo a não ser

sobre a necessidade de encobrir o uso banal do termo, o qual não é

distinguido de seus ‘sinônimos’, como ‘matérias’ ou ‘conteúdos’ de ensino.

A disciplina é aquilo que se ensina e ponto final”.

Em consonância com o autor, os significados atribuídos às disciplinas escolares

acabam por serem confundidos com seus sinônimos, tais como, matérias ou conteúdos a

serem ensinados aos alunos. Porém, ele esclarece que o termo disciplina escolar após a

Primeira Guerra passa a designar a seriedade desse conceito, o qual não se admitia

confundi-lo com os termos resultados de seus sinônimos.

Nos últimos anos, tem se aumentado os estudos voltados a entender como certos

saberes se tornaram propriamente escolares. Em geral, para Galvão & Souza Júnior

(2005), as pesquisas desenvolvidas por professores/pesquisadores que se interessam em

conhecer a história de sua disciplina escolar, possibilita de maneira significativa qual é o

papel da escola e por outros interesses sociais que tem sido fundamentais na formação

de novos indivíduos.

Certamente, para Galvão & Souza Junior (2005, p. 393) uma das razões pelas

quais a história das disciplinas escolares tem se configurado, na atualidade brasileira,

como uma importante

[...] “área de estudos tem sido a sua potencialidade em fornecer um novo

olhar para a escola do passado, permitindo perceber que a história da

educação vai além da história dos ideários e dos discursos pedagógicos.

Estudos nesse campo permitem, ainda, complexificar a noção de tempo, na

medida em que o estudo das transformações de um saber se torna escolar não

obedece a uma linearidade lógica, mas resulta de uma série de injunções que

assumem características específicas em cada espaço social e em cada época”.

Nesse contexto, ao qual foram reportadas pelos autores, as pesquisas voltadas as

disciplinas escolares atualmente no Brasil tem sido importantes, devido ter se mudado o

olhar retrocedido para escola, o qual se busca nesses estabelecimentos escolares do

passado toda a sua história e constituição, para que assim se compreenda de fato o que

foi fundamental na época e contexto social para a elaboração e implantação de uma

disciplina de ensino.

O aumento das pesquisas em história das disciplinas segundo Bittencourt (2003)

deve-se ao processo de transformações curriculares dos anos de 1970 e decorrer de

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1980, período em que se repensava o papel da escola em suas especificidades e espaço

de produção do conhecimento e não lugar apenas de reprodução de conhecimentos.

É instigador pensar os motivos que modificaram as práticas pedagógicas

contribuindo para que se pudesse repensar todo trabalho educacional desenvolvido no

espaço escolar, uma vez que, o Estado e a elite dominante tinham uma postura

determinante em toda a estrutura de funcionamento.

Atualmente, é fato considerar que a maioria das escolas dá mais valor ao ensino

propiciado pelas disciplinas de língua portuguesa e matemática, deixando as demais

matérias como apenas um complemento do conhecimento do indivíduo para que esse

futuramente possa viver em sociedade. Logo, a importância de se entender de fato qual

a finalidade de cada disciplina escolar tem na carreira estudantil de cada pessoa, pois

trata-se de algo que está encoberto.

Para Bittencourt (2003) cada disciplina escolar faz parte de um currículo e

estabelece saberes, caracterizado como sendo naturais que circulam no dia-a-dia das

salas de aula. Dessa forma, questionamentos acerca da existência de disciplinas

escolares no contexto escolar e no currículo escolar de cada instituição são debates entre

muitos estudiosos tanto na atualidade quanto em outros períodos da história da

educação.

Segundo Forquin (1992 apud GALVÃO & SOUZA JÚNIOR, 2005, p. 393-

394), o campo de pesquisas em história das disciplinas escolares “[...] possibilita obter

informações acerca da seleção cultural que faz a escola, identificando o que é, em

determinada época, compreendido como deve ser ensinado [...]”. Desse modo, a escola

dita em cada período o que de fato deve ser lecionado em seu interior escolar.

Até o final do século XIX, o termo disciplina escolar era entendida como

vigilância dos estabelecimentos de ensino, a coerção dos comportamentos danosos que

não propiciava a boa ordem dentro destes e aquela parte da educação dos alunos que

colabora para isso. Nesse sentido, averigua-se que disciplina escolar era entendida como

um meio de manter a ordem dentro das escolas.

Segundo Chervel (1990) os termos equivalentes mais utilizados no século XIX,

são expressões, tais como “objetos”, “partes”, “ramos”, ou ainda “matérias de ensino”.

No entanto, no início do século XX, o termo disciplina coloca em evidência, antes da

banalização da palavra, as novas tendências do ensino, sendo esse primário ou

secundário e de acordo com Chervel (1990, p. 178), “[...] descartemos primeiramente a

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informação falaciosa dos dicionários etimológicos que atribuem a Oresme, no começo

do século XIV a primeira utilização da palavra no sentido de “conteúdo de ensino”.

Dessa forma, questiona-se a palavra disciplina ser cedida do latim, a qual

assinala a ensino que o aluno recebe do mestre. Na realidade, questiona-se que a palavra

disciplina foi originada por uma vasta corrente de pensamento pedagógico da segunda

metade do século XIX, tendo ligação com a inovação das finalidades do ensino primário

e secundário da época.

Para Bittencourt (2003, p. 13) a linha de pesquisa em disciplina escolar tem

contribuído

[...] para o desenvolvimento de análises educacionais visando situar o

conjunto de agentes constituintes do saber escolar, especialmente professores,

alunos e comunidade escolar e, nesse processo, as disciplinas escolares

passaram a ser incluídas como um dos objetos importantes das investigações

sobre as práticas escolares.

Assim sendo, as pesquisas voltadas as disciplinas escolares propiciam um

envolvimento de toda a massa de indivíduos que a compõe e determinam no campo

educacional, sendo alvo decisivo dessa constituição os docentes, discentes e toda

comunidade escolar. No entanto, Bittencourt (2003) esclarece que historiadores

franceses dedicaram seus estudos sobre seus agentes e seus saberes inseridos na

concepção de uma cultura escolar, a qual difere-se das abordagens das décadas

anteriores que se interessava apenas na escola em seus aspectos estruturais.

Nesse sentindo Dominique Julia (2001, p.10-11) estabelece que cultura escolar

pode ser entendida como

Um conjunto de normas que definem os saberes a serem ensinados e de

condutas a serem inculcadas e um conjuntos de práticas que permitem a

transmissão destes saberes e a incorporação desses comportamentos, normas

e práticas ordenadas de acordo com as finalidades que podem variar segundo

as épocas (religiosas, sociopolíticas ou simplesmente de socialização).

Nesta concepção apresentada pelo autor, a cultura escolar de uma instituição de

ensino é determinada por todos os conjuntos de normas e práticas educacionais, onde a

cultura escolar de uma escola não pode ser estudada separadamente de suas relações de

conflito ou pacíficas que ela possui em cada época da história.

A cultura escolar de cada instituição de ensino engloba tudo, desde o conteúdo

até o funcionamento da escola, uma vez que, cada escola tem a sua própria cultura

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escolar, pois cada uma trabalha a seu modo o seu método de ensino, as relações entre

professores e alunos.

Segundo Chervel (1990, p. 178)

[...] É durante a década de 1850, que marca o começo da crise dos estudos

clássicos, que os partidários das línguas antigas começam a defender a ideia

de que, na falta de uma cultura, o latim traz ao menos uma ‘ginástica

intelectual’, indispensável ao homem cultivado.

Assim sendo, começa a repensar a caráter do ensino oferecido ao aluno. Nas

palavras de Chervel (1990, p. 179) “... deseja-se, de agora em diante, disciplinar:

‘Disciplinar a inteligência das crianças, isto constitui o objeto de uma ciência especial

que se chama pedagogia’”.

Para Chervel (1990) a palavra exercício intelectual surge primeiro com o

matemático e filósofo Antoine Cournot, mas, sobretudo é com Félix Pécasut e com os

artesões da renovação pedagógica de 1880 que ela propagou como um dos temas da

nova instrução primária.

A princípio, a disciplina incide do geral para o particular, constituindo-se como

uma matéria de ensino capaz de servir de aprendizado intelectual, a qual careceria

comprometer em resguardar o melhor, diferente das demais disciplinas ocorridas,

criando inovações estabelecidas pelo desenvolvimento da sociedade.

Cabe ressaltar, que a palavra exercício intelectual era designada apenas ao

ensino primário, aparecendo somente mais tarde no ensino secundário, uma vez que, o

ensino secundário nunca ocultou sua capacidade em formar os espíritos pelo exercício

intelectual.

Para Chervel (1990, p. 180) a razão desse atraso é simples

[...] Até 1880, mesmo até 1902, para a Universidade não há senão um modo

de formar os espíritos, não mais do que uma “disciplina”, no sentindo forte

do termo: ai humanidades clássicas. Uma educação que fosse

fundamentalmente matemática ou científica não deveria ser, antes do começo

do século XX, plenamente reconhecida como uma verdadeira formação do

espírito. É somente quando a evolução da sociedade e dos espíritos permite

contrapor. A disciplina literária uma disciplina científica que se faz sentir a

necessidade de um termo genérico.

Assim sendo, averigua-se que antes do século XX não havia uma educação

matemática ou cientifica, isso só veio acontecer por necessidade da sociedade da época,

ou seja, uma disciplina só surgiria caso a sociedade a qual ela estava inserida a

permitisse.

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No entanto, o ensino oferecido no ambiente escolar, uma vez que, esses

estabelecimentos de ensino eram organizados para instruir e ensinar indivíduos das

elites burguesas. Desse modo, esse ensino era incapaz de atender a maioria de sujeitos

dos demais setores sociais, heterogêneos no ponto de vista social, econômico e cultural.

Depois do fim da I Guerra Mundial, o termo disciplina vai sendo

descaracterizado, tornando-se rubrica que nomeia as matérias de ensino, sem ter

referência às exigências da formação do espírito. Logo, com o termo disciplina os

conteúdos de ensino são idealizados como próprios da classe escolar, autônomos da

realidade cultural exterior da escola. Sendo assim, Chervel (1990, p. 180) afima “... uma

‘disciplina’, é igualmente, para nós, em qualquer campo que se a encontre, um modo de

disciplinar o espírito, quer dizer de lhe dar os métodos e as regras para abordar os

diferentes domínios do pensamento, do conhecimento e da arte”.

É interessante verificar, que com passar dos anos o termo disciplina veio se

modificando, sendo apenas um nome que fica para nomear as matérias em estudo, uma

vez que, os conteúdos ministrados em cada escola são próprios de si, não obtendo

intervenção sociedade exterior a escola. No entanto, a disciplina será um meio para

fazer obedecer ao espírito, propiciando formas e regras a serem seguidas e estudadas,

sendo limitadas por um órgão maior, denominado como Estado sendo o principal agente

regulador das práticas educacionais.

Consoante com isso, Bittencourt (2003) caracteriza os termos disciplina e

matéria escolar, pois segundo a autora o emprego dos dois termos estão atrelados a

determinados níveis de ensino e o qual depende da sua utilização no dia-a-dia escolar,

relacionando às especificações das várias práticas docentes, uma vez que difere o tipo

de professor e a forma como o conhecimento a ser transmitido se compartimenta em um

local onde o mesmo será delimitado e preciso.

No entanto, ela afirma que na década de 70 e 80 ocorrem mudanças no contexto

das disciplinas escolares, uma vez que, os currículos escolares passaram por

reelaboração, por serem alvo de mudanças, as disciplinas de ensino tornam-se objeto de

interesse, pois se tenta abranger o seu papel e sua significação nos novos currículos

elaborados.

Segundo Bittencourt (2003, p. 16) a década de 80 representou

[...] um repensar das problemáticas educacionais no momento de

democratização política em que vivia nosso país. A constatação de um

sistema educacional “em crise” levou, entre outras medidas, a reformulações

dos currículos produzidos durante o regime de ditadura militar e, nesse

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contexto, surgiram questionamentos diversos sobre as diferentes disciplinas

escolares que consideravam, entre outros tópicos polêmicos, os objetivos e o

papel social e cultural do saber elaborado para uma escola “para todos”.

Conforme pontuado pela autora, a década de 80 foi determinante para algumas

problemáticas decorrentes do âmbito escolar, mediante a democratização política que

passava o Brasil, a que possibilitou uma mudança nos currículos até então criados com a

visão de membros do regime militar. Nesse sentindo, muitas foram as indagações acerca

das disciplinas de ensino, uma vez que se almejava um ensino voltado a toda a

sociedade brasileira, aonde o ensino teria que ser igual para todo o indivíduo brasileiro.

Nesse mesmo período de 80 Bittencourt (2003, p. 16) assegura

[...] Os desafios dos educadores brasileiros centravam-se sobre as

possibilidades de superar uma série de problemas relativos à marginalização

de parcelas significativas da população, considerando as desigualdades

econômicas e sociais mantidas pelo regime militar e tais problemáticas

caracterizam os debates do período. A volta de exilados, em especial, Paulo

Freire, trouxe novo alento para quem empenhava em reformulações

essenciais das práticas escolares, mas fez surgirem outros problemas.

De acordo com essa afirmação, fica a cargo dos professores resolverem vários

problemas que envolviam a marginalização da maioria dos indivíduos da sociedade

global, os quais eram considerados inferiores a uma parcela da população, e era

detentora de um fator econômico e social baixo sustentado durante o período do regime

militar. Assim sendo, com o fim da ditadura militar, o retorno de Freire do exilo,

possibilitaram-se reformulações nas práticas educacionais, logo, resolvidas essas

questões apareceram outros problemas.

Questões acerca dos conteúdos e os métodos de alfabetização da criança

ressurgiram, e com a volta de Freire buscou-se pensar um conhecimento que atendesse

interesses da classe menos favorecida não ficando apenas a classe dominante.

Sendo assim, o currículo acaba por aumentar o sentido de preparo disciplinar,

num contexto de propiciar regras de conduta entre os indivíduos do âmbito escolar, para

que nesse sentido englobe objetos, partes e disciplinas de ensino. Desse modo, é

importante destacar a relação que se faz presente entre o currículo escolar e a cultura, o

poder, a ideologia, controle social, ou seja, todas as relações de poder que estão por traz

de sua elaboração.

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Bittencourt (2003) pondera que se procura compreender as clivagens entre o

currículo formal, elaborado pelo poder educacional, e o currículo vivenciado na sala de

aula por professores, alunos e outros agentes da comunidade escolar.

Deste modo, nessa linha de pesquisa histórica, teóricos buscam compreender o

currículo em fundamentos em que se baseia o conhecimento escolar, sendo este

produzido cientificamente em pesquisas acadêmicas e o conhecimento derivado do dia-

a-dia do indivíduo denominado ser do senso comum.

Portanto, são poucas as pesquisas desenvolvidas nesse campo da história da

disciplina, porém de acordo com as investigações que já foram feitas, para que um

determinado conteúdo faça parte de uma disciplina de ensino o mesmo necessita ser

aprovado por todos os agentes responsáveis pela sua criação, sendo esses, toda a

comunidade escolar, o Estado, a sociedade e outros indivíduos que estejam relacionados

para a constituição desse conteúdo de ensino. Logo, existe toda uma relação de poder

por traz dessa constituição, a qual procura atender a classe dominante e detentor de um

poder aquisitivo favorável.

Vale ressaltar, que ao falar de disciplina escolar é necessário entender a cultura

escolar, assim sendo, a cultura escolar vai se compondo por meio das normas e práticas

que determinam os valores e comportamentos que seriam traçados e conhecimentos a

serem lecionados por uma determinada escola. Sendo assim, cada escola constitui e dita

a sua própria cultura escolar.

A pesquisa em história das disciplinas escolares, até mesmo para de fato

compreender como se constitui a cultura escolar se faz necessário um estudo voltado a

fontes primárias, logo, um espaço para encontrar tais fontes era os estabelecimentos

escolares.

Para Pessanha; Daniel; Menegazzo (2004) existem documentos na guarda da

escola que se tornaram um registro legal que ilustram práticas escolares, tais como:

livros de atas, cadastro e termo de posse de professores, boletins, diários de classes,

pastas individuais de alunos, registros de provas orais e escritas. Esses documentos

eram obrigados a serem mantidos na escola, embora a partir de 1980 as escolas tiver

passado por um informatização acabou-se alterando as formas de arquivar os

documentos que mantêm registro fundamentais para estudar e compreender a historia

das disciplinas escolares.

Antes das escolas terem um sistema informatizado de guardar arquivos, tais

documentos acima pontuados eram todos armazenados na própria escola, no entanto,

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atualmente, há uma imensa dificuldade de encontrar tais documentos. Ressaltamos isso,

mediante a dificuldade de encontrar documentos escritos para concretização desse

trabalho.

Outra fonte considerada de suma importância nos desenrolar da pesquisa é o

caderno do aluno, pois como faz parte do dia-a-dia do aluno na escola esse pode ser um

depoimento valioso do que tenha permanecido no trabalho do professor na escola com

determinadas matérias de ensino.

Segundo Chervel (1990, p. 208) “[...] as exigências intrínsecas de uma matéria

ensinada nem sempre se acomodam numa evolução gradual e contínua”, uma vez que,

essas reivindicações perpetuadas em uma disciplina escolar acabam ocasionando um

desconforto, pois com as mudanças propicia uma instabilidade, o medo do novo a ser

implantado gera desordens no campo educacional. Mesmo, a forma antiga de ensinar

certo conteúdo esteja saindo de cena e o novo se instaurando, o antigo ainda continua

vivo, possibilitando variações nesse método novo.

Haja vista, para que se consiga ter êxito na disciplina a ser ensinada é

fundamental que a prática do exercício pedagógico do professor tenha qualidade, uma

vez que, faz jus a troca de papéis entre o professor e o seu aluno, há uma necessidade de

diálogo entre ambos nesse processo de construção do conhecimento.

Para Chervel (1990, p. 210)

O estudo da evolução das disciplinas, conteúdos e exercícios, mostra que as

práticas de estimulação do interesse do aluno estão constantemente em ação

nos arranjos mínimos ou importantes que elas sofrem. Toda inovação, todo

novo método chama a atenção dos mestres por uma maior facilidade, um

interesse mais manifesto entre os alunos, o novo gosto que eles via encontrar

ao fazer os exercícios, a maior modernidade dos textos que se lhes submete.

Essa realidade apresentada demonstra que toda trajetória para progresso de uma

disciplina, é necessário que haja um elo desde a constituição do que será trabalhado em

sala à sua aplicação, para que assim consiga possibilitar ao aluno o seu interesse em

aprender o que esta se estudando, uma vez que, toda novidade acerca da prática

pedagógica do professor lhes propicia um interesse, pois ambos buscam encontrar no

novo uma forma melhor de exercer sua prática pedagógica, uma vez que, essa contribui

para melhor compreensão de seu aluno na matéria ministrada.

2. A disciplina didática no curso normal em Paranaíba: algumas respostas e

mais questionamentos

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O levantamento no Banco de Teses e Dissertações da CAPES possibilitou

localizar a partir da leitura dos resumos apenas três trabalhos que abordam o tema com

o mesmo propósito dessa pesquisa. No entanto, ao ler detdamente os resumos dos

trabalhos, observou-se que apenas uma dissertação de mestrado realmente pode oferecer

elementos importantes, a autora é Carla Busato Zandavalli Maluf de Araujo e o título é

“O ENSINO DE DIDÁTICA NA DÉCADA DE TRINTA, NO SUL DE MATO

GROSSO: ORDEM E CONTROLE?” defendida no ano 1997.

Para Araújo (1997, apud PESSANHA; DANIEL; MENEGAZZO, 2004), a

configuração da disciplina didática durante a década de 30 do século XX, e dos manuais

de didática corroborou como uma tentativa de conferir a marca ordem e progresso.

Como verificado pelos autores, tanto a disciplina didática como os manuais de didática

tinham a função nesse período de estabelecer ordem e progresso nas escolas, os quais

propiciavam normas a serem seguidas e metas a serem atingidas.

As informações sobre a disciplina didática no sul de Mato Grosso na década de

trinta encontram-se muito bem apresentadas neste trabalho, porém nosso interesse é a

respeito de um período posterior, mais precisamente três décadas após, a data 1967

deve-se ao início do curso normal na cidade de Paranaíba, de acordo com o diário

oficial

Desse modo, procuramos investigar nos documentos encontrados nos arquivos

da escola onde funcionou por mais tempo os cursos de formação de professores, a

Escola Estadual Aracilda Cícero Corrêa da Costa, indícios que pudessem apontar para

as finalidades da disciplina didática no curso normal a partir de sua implantação naquele

município até a mudança proporcionada pela Lei de Diretrizes e Bases Nº 5672/71, que

transforma o antigo curso normal para o curso Magistério. Assim, o período escolhido

para realizar o presente estudo compreende o período de criação do curso normal em

Paranaíba-MS, no ano de 1967 até a modificação para o Magistério, em 1971.

Conforme afirmado anteriormente, houve uma imensa dificuldade de encontrar

documentos escritos para concretização desse trabalho. Os poucos documentos

encontrados foram atas das provas finais das primeiras, segundas e terceiras séries do

curso normal que funcionava no período noturno. Nestas atas observam-se as notas dos

alunos que cursaram a primeira série do curso normal nas disciplinas de Português,

Matemática, História, Geografia, Francês, Desenho, Metodologia, Ciências, Educação

Física, no ano de 1967; em 1968 observam-se as mesmas disciplinas, porém foi

acrescentada a disciplina escrita com a abreviação Art. Ed., supõe-se tratar de Educação

[m1] Comentário: Colocar a data

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Artística, pois na página referente ao mesmo ano de 1968, porém com as notas dos

alunos da segunda série do curso normal, a abreviação é escrita Ed. Art., nesta página

também se nota a disciplina Psicologia além das mencionadas anteriormente.

No ano de 1969, na página que apresenta as notas da turma da primeira série,

vemos as mesmas disciplinas, entretanto não encontramos mais a disciplina Francês e

sim Inglês. Já na página daquele ano que registra as notas dos alunos do terceiro ano as

disciplinas Sociologia, Filosofia aparecem pela primeira vez, e não se vê mais História e

Geografia.

No documento referente ao ano de 1970, as notas da turma da primeira série do

curso normal apresentadas são das disciplinas Português, Matemática, História,

Geografia, Inglês, Desenho, Educação Artística, Metodologia, Ciências, Educação

Física, e pela primeira vez, aparece a disciplina Educação Cívica. As mesmas

disciplinas aparecem na página que registra as notas dos alunos da segunda série do

curso normal, daquele mesmo ano. Quanto às notas da turma do terceiro ano, também

são substituídas as disciplinas História e Geografia e acrescentada as disciplinas

Sociologia e Filosofia, não aparecem mais o Inglês, nem o Francês e está presente

Educação Cívica. Nas páginas referentes ao ano de 1971, não se observa mudanças

quanto ao oferecimento ou retirada de disciplinas.

Destes documentos encontrados nota-se uma variação nas disciplinas

apresentadas, pois ao que tudo indica, no período em que os registros foram feitos não

teria ocorrido mudança na legislação, o que então teria levado a escola a retirar algumas

disciplinas que foram oferecidas no primeiro ano do curso como o Francês e substituí-

las pelo Inglês? Neste trabalho não pretendemos responder a essa pergunta, pois nosso

interesse é a disciplina Didática, contudo, este é o aspecto mais intrigante que decorre

da observação dos documentos coletados na escola Estadual Aracilda Cícero Corrêa da

Costa. Em nenhumas das páginas das atas encontradas se observa esta palavra, apenas

vemos a disciplina denominada Metodologia.

Diante disso, partimos para uma entrevista realizada no dia 09/02/2013 com a

professora que ministrou a disciplina Metodologia no período em estudo, seu nome é

Joana Darc dos Santos ela nos recebeu em sua residência. Porém ela não pode

esclarecer porque não era oferecida a disciplina Didática e sim Metodologia. Ela apenas

disse: era Metodologia, foi a que eu lecionei, eu não lecionei Didática foi

Metodologia...

Questionada a respeito do que era ensinado nesta disciplina, Joana Darc afirmou:

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como eu lecionava Metodologia então nós confeccionávamos. Para cada

aula que ia dar aquilo, eram umas aulas linda e muito bem motivada, com

muito material, com um material bem pobrinho... Olha o palavreado, mas eu

quero falar de verdade, bem pobrinho porque nós não tínhamos em

Paranaíba papelaria, mas tinha aquilo que chamava atenção do aluno,

muito.

Esta professora não se recordou de nenhum livro em especial, apenas mencionou

alguns materiais e cadernos que foram emprestados e nunca foram devolvidos. Por fim

sua fala apresenta indícios de que a disciplina Metodologia, ministrada por ela tinha

relação com as disciplinas que deveriam ser ensinadas pelas normalistas, como

Português e também se aproximava dos estágios, conforme ela relata:

Por exemplo, eu me esqueci de dizer dentro das possibilidades mínimas do

que a gente não tinha todo mundo também trabalhava muito, nos fazíamos

estágios eu levei grupos, naquela época era os centros rurais Tamandaré,

Alto Santana, nos íamos de madrugada passamos o dia trabalhando com o

professor do campo trabalhando o campo, trabalhando a parte pedagógica e

observando ele a fazer a merenda, ele cuidar da criança... o menino que

tinha que sair mais cedo porque o pai veio buscar porque tinha que ajudar a

plantar, ajudar a colher. São coisas que se viu da vivencia de se ver. ...então

isso bem antes quando eu voltei, fazia estágios com médicos, dava palestra,

trazia tudo, para que você saísse preparada acudir nossos alunos de volta.

Então essas coisas eram as coisas diferenciadas que tinham que hoje não

tem, volto a dizer a você, que os professores são os mesmos. É como eu digo

no Zé Garcia, às vezes chega umas substitutas, eu nunca questionei saber de

ninguém, por que o saber é seu e depois você vai conversar elas realmente

sabem e tem conhecimento, elas não foram preparadas para entrar em uma

sala de aula, principalmente hoje, fala uma coisa para você e amanhã o

menino já esta fazendo outra coisa... nos já tivemos professores de chegar

para dar aula e depois sair, uma moça de fora... acho que Iturama, Santa Fé

ou Santa Clara, ela deu as aulas...5 aulas, agente olhava aquela pessoa

magrinha... quando ela saiu, ela sentou na sala dos professores parecia que

a moça ia morrer, isso já tem uns 8 anos....ela quase deu um trem...falou

assim estou abandonando, nunca mais eu dou uma aula. São essas coisas

que eu acho que faz toda a diferença e que a metodologia você ensinava

como que era... esse bimestre nos vamos trabalhar metodologia de

Português, agente trabalhava só Português, ali se sanava tudo, isso nos

primeiros anos. Ai no outro bimestre, quando você entrava no 2º e 3º você

entrava nos estágios assistir a aula depois ministrar a aula bem por

disciplina, que aquilo que você viu, você voltou e não sanou, falei faz assim e

assim e você não fez, vamos retomar, agora hoje é igual na sala de aula, se

não der tempo de dar a matéria o adeus ao aluno, se o aluno aprendeu ou

não. Então gente, infelizmente se não tiver uma busca... tem que fazer isso ai,

a minha maneira de ver é pegar o que era bom e juntar com o que vem de

novo ai vai virar, senão eu não acredito na educação.

Nossa pesquisa não está concluída, os documentos encontrados e as informações

obtidas por meio da entrevista forneceram poucas respostas e mais questionamentos. O

relato da professora da disciplina Metodologia Joana Darc dos Santos, nos dá elementos

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para acreditarmos que a finalidade desta disciplina era preparar as normalistas para a

realidade da sala de aula, principalmente nas questões que envolvem aspectos

metodológicos e práticos por meio dos estágios. Contudo, seria precipitado chegar a

essa conclusão a partir de um único depoimento. Deste modo, daremos prosseguimento

a esta pesquisa para procuramos respostas as questões que surgiram destes primeiros

fragmentos da história da disciplina Didática no curso Normal em Paranaíba - MS.

Consideramos que ao organizarmos os documentos e principalmente ao

buscarmos resgatar a história da disciplina didática na formação dos professores da

escola primária de nossa cidade ajudamos a desvelar a cultura escolar da formação de

professores levantando, organizando e digitalizando as fontes.

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