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FOTOGRAFIAS ESCOLARES: UMA LEITURA DA HEXIS CORPORAL DA JUVENTUDE NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO SÉCULO XX Luani de Liz Souza 1 [email protected] UDESC/PPGE Juçara Eller Coelho 2 [email protected] IFSC/SC Palavras-Chave: Fotografias escolares; Educação profissional; Hexis corporal; Jovem. INTRODUÇÃO Sou hóspede do tempo Da minha casa Das minhas palavras Das coisas que declaro minhas [...] O que eu tenho é minha atitude O que eu levo é minha atitude O que pesa é minha atitude Minha porção maior. Zélia Duncan A fotografia é um instante do tempo. Para Barthes (1984), inclassificável por si só. Partindo-se dessa consideração, a história não está no objeto, mas no homem que a habita. Nas imagens se faz presença uma atitude, uma perpetuação do corpus fotografado em sua história para a História. Trazer a fotografia para a empiria da história da educação é ir para além da técnica e das proposições químicas do ato de revelar. Barthes (1984, p.16) afirma que “[...] uma foto é sempre invisível: não é ela que vemos”, logo, lemos no invisível a história que se fabrica para aquele instantâneo, ou seja, a história se conta pela metamorfose capitada pelas lentes. Existe no instante da captura um jogo social, ora coincidindo com o “eu” indivíduo, ora trazendo vestígios do momento histórico, social e cultural do indivíduo e das práticas sociais que o circundam. Assim, é preciso, ao analisar a fotografia escolar, destruí-la (Barthes, 1984) em sua primeira aparência, isto é, na institucionalização do objeto histórico representado.

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FOTOGRAFIAS ESCOLARES: UMA LEITURA DA HEXIS CORPORAL DA

JUVENTUDE NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO SÉCULO XX

Luani de Liz Souza1

[email protected]

UDESC/PPGE

Juçara Eller Coelho2

[email protected]

IFSC/SC

Palavras-Chave: Fotografias escolares; Educação profissional; Hexis corporal; Jovem.

INTRODUÇÃO

Sou hóspede do tempo

Da minha casa

Das minhas palavras

Das coisas que declaro minhas [...]

O que eu tenho é minha atitude

O que eu levo é minha atitude

O que pesa é minha atitude

Minha porção maior.

Zélia Duncan

A fotografia é um instante do tempo. Para Barthes (1984), inclassificável por si só.

Partindo-se dessa consideração, a história não está no objeto, mas no homem que a habita.

Nas imagens se faz presença uma atitude, uma perpetuação do corpus fotografado em sua

história para a História.

Trazer a fotografia para a empiria da história da educação é ir para além da técnica e

das proposições químicas do ato de revelar. Barthes (1984, p.16) afirma que “[...] uma foto é

sempre invisível: não é ela que vemos”, logo, lemos no invisível a história que se fabrica para

aquele instantâneo, ou seja, a história se conta pela metamorfose capitada pelas lentes.

Existe no instante da captura um jogo social, ora coincidindo com o “eu” indivíduo,

ora trazendo vestígios do momento histórico, social e cultural do indivíduo e das práticas

sociais que o circundam. Assim, é preciso, ao analisar a fotografia escolar, destruí-la (Barthes,

1984) em sua primeira aparência, isto é, na institucionalização do objeto histórico

representado.

Ao evidenciar para esta pesquisa a fotografia escolar, tem-se, nesse momento, uma

operação de organização daquilo que se espera observar, isto é, não se está diante da foto, mas

da composição do corpus fotografado, composto por hóspedes do “tempo escolar”, indivíduos

de/na instituição. Nesse sentido, há na fotografia uma linguagem, um discurso e um campo

simbólico.

Portanto, a fotografia é uma face da realidade, fabricada em um jogo social ou no

acaso do cotidiano, que por vezes representa uma ideia de um tempo e descreve algo a ser

símbolo para outro instante. Assim, pode-se dizer que não há uma única realidade na

fotografia, portanto, não se está próximo de algo definitivo, mas de evidências históricas

como afirma Burke (2004).

Certamente, ao deixar um testemunho, a imagem quer comunicar algo indicando

existir uma intenção, um sentido da ação humana a ser captada. Para Pesavento (2008, p. 100)

“Imagens, são, sobretudo, ações humanas que, através da história, empenham-se em criar um

mundo paralelo de sinais. São, pois representações da realidade que se colocam no lugar das

coisas, dos seres e dos acontecimentos”. Desse modo, o que se tem por intenção ou sentido

das/nas ações humanas a capturar imagens de jovens durante os percursos de formação, na

história da educação do Brasil? Quais são as propriedades discursivas que se traduzem das

fotografias escolares?

Neste estudo almeja-se uma observação mais detida das fotografias escolares que

retratam jovens em formação na educação profissional do Brasil, durante o século XX, por se

reconhecer essa experiência de captura de imagens como um conhecimento científico de

apreensão do mundo, tal como afirma Pesavento (2008): “[...] o conhecimento proporcionado

pela imagem pode ser tanto estético quanto epistêmico.”

Há, na fotografia, uma cristalização do tempo e espaço que é transmitida pela memória

social. Isso faz com que o testemunho, o hospede daquela imagem, se reatualize no tempo,

tornando-se uma imagética comum, Pesavento (2008). Ao se constituir uma imagética comum

na memória social, não se pode esquecer a fabricação, a metamorfose do indivíduo diante do

click, elementos que passam a identificar os jovens como imagem referência.

Nesse contexto, desafiador e fascinante que este estudo busca reconhecer, entre a

fabricação e a metamorfose diante do click, a composição de uma hexis corporal da juventude

escolar da educação profissional no Brasil, especificamente do Estado de Santa Catarina.

Destaca-se, que entre o click, o jovem e a sua instituição escolar, existe uma intenção de

comunicação. Bourdieu (2008) remete ao sistema escolar a condição de comunicação

pedagógica e de uma ação pedagógica de reprodução social, o que legitima a ideia de que

existe algo reproduzido nas imagens, sejam fabricadas apenas em poses pelos indivíduos, ou

pela inculcação agregada pela instituição em que o jovem está inserido.

Ao assinalar que a armazenagem dessas imagens são narrativas históricas da história

da educação, parte-se em busca das mensagens discursivas que compõem a imagética

conceitual da juventude da Educação profissional no Brasil.

A ALEGORIA

Parece dispensável ressaltar as disparidades sociais encontradas no sistema escolar,

pois são conhecidas na história da educação, as articulações dos projetos culturais a que toda

uma população escolar está condicionada. Todavia, os receptores desse projeto cultural

instalado no sistema escolar são múltiplos e a escola, como uma instituição de composição de

ordem e de produção de sentido informativo, precisa homogeneizar esses múltiplos sujeitos

em sujeitos escolares.

Retomando-se as características históricas da Educação profissional no Brasil

evidenciam-se, ainda mais, as disparidades de repertório cultural dos sujeitos “jovens” que

compõem esse tipo de escolarização.

Por meio desse enfoque já seria possível começar a constituir uma imagética da

juventude da educação profissional, pois a situação da origem dessa modalidade de ensino já

condiciona a um sujeito com carência social, emergência de sustentabilidade e com uma

marca histórica de necessidade de assistência.

Essa relação de condicionamento social à formação para o trabalho fica explícita no

principio da educação profissional instalada no país, uma vez que o processo de construção

social e política dessa modalidade de educação, já no período colonial, foi marcada pela

exploração de povos nativos e pela inserção de mão de obra escrava, caracterizando a

utilização da força física em diferentes ocupações, afastando, assim, os ditos homens livres

das referidas atividades.

Outro ponto histórico que denota a caracterização de um imagético da juventude na

educação profissional associado aos desfavorecidos social e economicamente refere-se à

própria criação da Rede de Escolas de Aprendizes Artífices, pelo Presidente Nilo Peçanha,

ano de 1909. Estas instituições escolares destinavam-se à oferta de ensino profissional

gratuito e de nível primário, considerado suficiente aos alunos egressos, tendo em vista suas

condições socioeconômicas e culturais, com idade entre 10 e 13 anos e “[...] preferidos os

desfavorecidos da fortuna [...]” (BRASIL, 1909).

Expressa-se, desse modo, a condição de aprendizagem de determinados ofícios à

crianças e jovens, órfãos ou desvalidos. Quanto a essa intervenção, não se trata de um mero

ato político visando atender a esses sujeitos, mas da escassez de mão-de-obra necessária a

algumas ocupações, para as quais os sujeitos de outros grupos sociais não aceitavam se

submeter, em função do atrelamento a condições hierárquicas destituídas de poder e de

reconhecimento social e que, anteriormente, eram realizadas por escravos.

Nota-se que a imagem do jovem que participava da educação profissional deveria

coadunar com toda a trajetória já definida entre sua educação e o posterior percurso de vida

para o trabalho após sua formação.

Segundo Santos (2010, p. 211), “[...] o ensino de ofícios, quer por parte do Estado quer

por iniciativa das sociedades civis, foi orientado basicamente por uma ideologia que se

fundamentava, dentre outros aspectos, em conter o desenvolvimento de ordens contrárias à

ordem política”, logo, convém assinalar que a formação profissional era de certo modo, um

controle político da população jovem.

Nessa composição da imagética de uma juventude que incorpora um modelo de

trajetória escolar e de trabalho, observa-se a vinculação direta com um discurso político que,

assumidamente, configura a educação para fundamentar o processo de

industrialização/desenvolvimento do país.

Dessa concepção emanada do conjunto histórico da educação profissional, pode-se

conceber a imagem como narrativa de um processo de incorporação da cultura escolar nos

jovens egressos da educação profissional, assim como é possível atinar o olhar para uma

fotografia escolar da educação profissional, pois, tal como afirma Pesavento (2008, p.109):

“[...] a imagem está para o espaço assim como o discurso está para o tempo, mas que, como

um remete ao outro, pode-se pensar a imagem como um lugar no tempo, e o texto como um

momento no espaço [...]”. Isto é, a fotografia que narra uma face daquela realidade confirma

ou transfigura o que delimita a imagem do jovem na educação profissional, pois se anunciam

entre os termos da legislação3 e da imagem, alguns códigos simbólicos que parecem como

regras e convenções nas imagens desses sujeitos escolares.

Porém, existem discrepâncias entre um imagético de juventude recortado através da

estrutura da instituição escolar e aquele que a memória social incorporou sobre a juventude de

outras décadas no país, por exemplo: a ideia de atitude, movimento, transgressão, liberdade e,

até mesmo, delinquência, em alguns momentos, dependendo do recorte histórico e do lugar

delimitados, muda esse imagético de juventude no Brasil, como nos movimentos políticos e

sociais com participação da juventude.

Nesse sentido, seria possível notar uma diferença de hexis corporal do jovem da

educação profissional e do imagético sobre a juventude da memória social? Seria possível

entender que a Educação profissional em sua ação pedagógica redimensiona uma hexis

corporal? Essas são algumas indagações que no decorrer da leitura das imagens pretende-se

elucidar.

Parece haver uma tendência de se incorporar ao imagético sobre a juventude

produções e atitudes da memória social, ou seja, através dessa memória herdada, passamos a

refletir sobre a identidade da juventude relacionada aos pontos e movimentos históricos e

sociais que destacaram essa categorial social em um determinado período do cotidiano e que

reverbera como expectativa para/sobre as novas gerações dessa categoria social.

Na medida em que fatores importantes e de destaque em sociedade produzem o que

Pollak (1992) diz sobre a identidade no sentido de imagem de si, para si e para os outros,

estruturam-se elementos constituintes de uma memória social da juventude, e de outro modo,

o jovem passa a ser dimensionado e reconstruído constantemente a partir desses elementos.

Pollak (1992, p. 5) afirma que a construção da identidade “[...] é um fenômeno que se

produz em referência aos outros, em referência aos critérios de aceitabilidade, da

admissibilidade, de credibilidade, e que se faz por meio da negociação direta com os outros

[...].” Isto é, na construção e reconstrução da hexis corporal da juventude não há isenção, tanto

por parte daquele que é o sujeito da história, como das instituições e outros sujeitos da

sociedade que produzem e têm por expectativa uma juventude configurada para responder os

anseios sociais.

Ocupa-se a instituição escolar, nesse momento, de constituir, construir e modelar o

jovem - sujeito social - legitimando as propostas e estruturas do projeto cultural de um país,

conforme as definições políticas em concordância com o momento histórico.

As instituições escolares da educação profissional reproduzem em sua cultura escolar

(Frago, 2000) formas, atitudes e pensamentos que os sujeitos ao desempenharem suas tarefas

assumem normativas e discursos, que interiorizados passam a integrar seu cotidiano, ou seja,

ritos e os modos de fazer daqueles que compõem esse tipo de instituição.

Quando o jovem integra-se a uma determinada instituição, como as da educação

profissional, pode-se entender que, como afirma Certeau (1982, p. 9), “[...] o conquistador irá

escrever o corpo do outro e nele traçar a sua própria história [...]”. Nessa escrita corporal

encontram-se similitudes com conceito de habitus que Bourdieu (1983) apud Nogueira (2006,

p. 27) denomina como um “[...] sistema de disposições duráveis estruturadas de acordo com o

meio social dos sujeitos e que seriam predispostas a funcionar como estruturas estruturantes,

isto é, como princípio gerador e estruturador das práticas e das representações.” Assim, a

prática de socialização atribuída à instituição escolar, com suas normas e ordenamentos de um

projeto cultural estabelecido, legitima, além de uma proposta de educação para o jovem,

estruturas que devem ser por eles interiorizadas, bem como práticas sociais a serem

exteriorizadas a partir do campo da educação em que estão inseridos.

Na escrita corporal traçada pela educação no sujeito jovem, busca-se, na disposição da

hexis corporal, isto é, após o habitus incorporado, aquilo que está internalizado da prática

social cotidiana da educação profissional e que passa a estar exteriorizado no imagético da

juventude.

Para efeito de análise da leitura dessa escrita do corpo do jovem no clic da fotografia

escolar, busca-se observar se há uma mesma hexis corporal disposta no decorrer de períodos

históricos da educação profissional de algumas instituições escolares em Santa Catarina e se o

corpus fotografado anuncia gestos, movimentos, linguagens e corporeidades de um habitus

produzido pela educação profissional.

Não se pode esquecer, ao tecer as observações das imagens na leitura da hexis

corporal, de perceber a singularidade e questionar a sistematização do momento da fotografia

escolar, pois, tal como afirma Barthes (1984, p. 22) “[...] a partir do momento que me sinto

olhado pela objetiva, tudo muda: ponho-me a “posar”, fabrico-me instantaneamente um outro

corpo, metamorfoseio-me antecipadamente em imagem.” Nesse sentido, o corpo fotografado

torna-se mecanicamente uma imagem de juventude na memória social, habitada e expressada

numa hexis corporal do habitus da educação profissional.

HOSPEDES DO TEMPO4

A seleção de um objeto histórico – a fotografia - direciona o olhar para aquilo que se

dá a ver e para o que fica na invisibilidade em cada momento da história da educação, através

da fotografia.

Para Aumont (1990) não há imagem pura e, partindo-se do princípio de que a

fotografia, assim como a ação pedagógica, tem uma intencionalidade de comunicação ao se

operacionalizar a seleção das fotografias escolares para este estudo5, não se esqueceu desses

elementos, tendo em vista o expressivo potencial representativo da fotografia em uma

pesquisa no campo da História da Educação. Segundo Bencostta e Meira,

Enquanto documentos, as fotografias escolares consistem em um testemunho

e representação das escolas em determinada época. Elas revelam um modo

de ser e de se conceber a escola, formas determinadas dos sujeitos se

comportarem e representarem seus papeis – professor, aluno, classe. Elas

trazem informações sobre a cultura material escolar, os arranjos espaciais

(arquitetura), as relações sociais, os contextos humanos (professores,

diretores, alunos e suas respectivas posturas) e práticas escolares [...] (2004,

s/p).

Levando-se em conta esse referencial, foram selecionadas cinco fotografias atinentes

às seguintes instituições escolares de educação profissional do Estado de Santa Catarina:

Escola Industrial de Santa Catarina (Pública - Federal), Escola de Aprendizes de Marinheiros

de Santa Catarina (Pública - Federal), Colégio Coração de Jesus Florianópolis (Particular),

Escola Técnica Tupy – Joinville (Particular) e Colégio Industrial de Lages (Pública –

Estadual).

Os evocativos que dimensionaram outro critério de seleção das fotografias escolares

são os desdobramentos da ação pedagógica das instituições escolares selecionadas. Não se

delimitou, aqui, a educação profissional somente à proposta de formação técnica, mas, à

formação para uma profissão, rompendo com a delimitação da educação profissional

diretamente à formação técnico-industrial, dessa forma, propõe-se observar as fotografias

escolares de aprendizes de marinheiros, normalistas, formação industrial e a própria formação

técnica.

Como último e não menos relevante critério, analisa-se os próprios hospedes do tempo

- os jovens, reconhecendo traços individualizantes desses sujeitos no coletivo e na história da

educação.

Essas são, a rigor, as etapas que direcionaram a cinco fotografias escolares que

parecem testemunhar indícios, formas e aparências da hexis corporal da juventude na

educação profissional no século XX. Elas podem estar próximas do imagético da juventude

presente na memória social, quando esse imagético transpõe a relação de jovem transgressor,

de atitude e de mobilização, em alguns movimentos da história, agregando aos jovens, as

características relacionadas a um projeto cultural legitimado pelo progresso social e pelo

desenvolvimento do país.

TESTEMUNHO VISUAL

[...] a imagem fotográfica apresenta-se como um

testemunho visual e como representação que requer,

pois, uma leitura específica. Como fonte de informação,

recordação e emoção, a imagem fotográfica associa-se

à memória e introduz uma nova dimensão no

conhecimento histórica [sic], obtida tradicionalmente,

através da linguagem escrita (BENCOSTTA; MEIRA,

2004, s/p).

O que está na fotografia escolar? Os hóspedes de tempos escolares distantes e

próximos em seu papel. Acerca dos sujeitos escolares, é dado a ver, quase sempre, sua

reprodução imagética segundo o seu papel social na instituição escolar – sujeito em devir.

Pela memória, sempre se busca reconhecer um imediato vestígio do que fomos enquanto

sujeitos escolares ou enquanto jovens nas fotografias.

Projetam-se, nesse hóspede do tempo escolar, elementos que Pollak (1992) afirma

construírem uma identidade social, mas, que conforme o tempo histórico da educação,

solicitam uma atitude por parte da juventude, um engajamento; em outro, busca a vigilância

desses sobre os atos morais e cívicos que deveriam compor sua identidade.

Finalmente, a fotografia escolar representa sempre um imagético sobre o sujeito

escolar, isto é, a repetição incansável do que se dá a ver nesse tipo de fotografia. Porém, ao se

buscar na imagem traços de elementos que constituem uma identidade social do jovem,

extrapola-se o referente universal dessas fotografias e, assim como uma tradução de práticas

sociais e escolares, passa-se a ver os discursos incorporados nesses hóspedes do tempo

escolar.

“Dias sim, dias não

Eu vou sobrevivendo sem um arranhão

Da caridade de quem me detesta [...]

O tempo não para”.

Cazuza

Figura 1 – Aula na oficina de alfaiataria em 1939/Escola Industrial de Florianópolis.

Fonte: Laboratório de Imagem e Oralidade Franklin Cascaes/ IF-SC

A construção visual exposta na Figura 1 é portadora da comunicação pedagógica de

uma instituição, a formação pedagógica para o trabalho. Instiga o olhar a reconhecer na

juventude escolar, o traço de futuros trabalhadores. A vestimenta, que não é uniforme escolar,

mimetiza a função do docente em sujeitos escolares mais velhos, como o suspensório,

representando um diferencial daquele que se apresenta para a produção de roupas – alfaiate,

costureiro. Ao se fitar atenção nos sujeitos escolares à frente das máquinas de costura, nota-se

certa infância ao invés de juventude, nos moldes de definição que se conhece por juventude

na contemporaneidade, sujeitos entre 15 a 29 anos, em conformidade com a Lei Nº 11.129 de

2005, que criou o Conselho Nacional da Juventude e o Programa Nacional de Inclusão de

Jovens (Projovem).

Nesse caso, evidenciam-se questões do período histórico do país, assinalando uma

necessária qualificação profissional em atendimento às transformações e modernização do

setor industrial, como também de integração dos jovens à uma qualidade social útil que,

emanada da educação, passava pela questão da formação para o trabalho, o que é evidenciado

na Lei Orgânica do Ensino Industrial/Decreto Nº 4.073, de 1942:

Art. 4º O ensino industrial, no que respeita à preparação profissional do

trabalhador, tem as finalidades especiais seguintes: 1. Formar profissionais

aptos ao exercício de ofícios e técnicas nas atividades industriais. 2. Dar a

trabalhadores jovens e adultos da indústria, não diplomados ou habilitados,

uma qualificação profissional que lhes aumente a eficiência e a

produtividade. (BRASIL, 1942).

Assim, nas décadas de 50 e 60 do século XX considerava-se como possível

balizamento de juventude, a inserção no mundo do trabalho para maiores de 18 anos, mas,

também, sendo possível a inserção entre 14 a 18 anos como aprendiz, segundo a Consolidação

das Leis Trabalhistas, de 1943. Outro ponto que marca o jovem desse período está relacionado

ao Código Civil Brasileiro (1916), que determina como incapazes os menores de 16 anos.

Todavia, a imagem produzida a partir da legislação, determina um sentido de menor idade nos

sujeitos escolares, e, conforme a lei do ensino industrial poderia ingressar jovens nas

seguintes condições:

Art. 29. O candidato à matrícula na primeira série de qualquer dos cursos

industriais, de mestria ou técnicos, ou na única série dos cursos pedagógicos,

deverá desde logo apresentar prova de não ser portador de doenças

contagiosas e de estar vacinado.

Art. 30 Deverá o candidato satisfazer, além das condições gerais referidas

no artigo anterior, as seguintes condições especiais de admissão:

1. Para os cursos industriais:

a) ter doze anos feitos e ser menor de dezessete anos;

b) ter recebido educação primária completa;

c) possuir capacidade física e aptidão mental para os trabalhos escolares que

devam ser realizados [...] (BRASIL, 1942).

Assim, há certa distorção entre a legislação concernente à formação para o trabalho e a

viabilidade de contratação de sujeitos escolares egressos do ensino industrial, tendo em vista a

legislação trabalhista que determina quem é o trabalhador brasileiro. Outro elemento que se

agrega à conceituação do jovem escolar do período, está relacionado à questão da saúde. Isso

parece evidenciar que para se formar um trabalhador não é necessário somente o

desenvolvimento intelectual, mas, que a força corporal precisa ser demonstrada. Porém, na

imagem apresentada pela Figura 1, os jovens que compõem o quadro de sujeitos escolares à

frente das máquinas, são “miúdos”, aparentando certa fragilidade. Em vista disso, seria

possível dizer que é a característica de uma determinada classe social do país a quem se

destina a formação para o trabalho? Historicamente a educação profissional foi estruturada

visando proporcionar aos menores desfavorecidos social e economicamente o

desenvolvimento de outra formação educacional.

Como desdobramento da questão corpo e saúde6 na educação profissional do país,

duas imagens demonstram a representação da necessidade da incorporação de um corpo

“saudável” ou “forte” para esses jovens, diante de suas atividades pedagógicas em suas

instituições escolares.

“Por seres tão inventivo

E pareceres contínuo. Tempo, tempo, tempo, tempo.”

Caetano Veloso

Figura 2 Escola de Aprendizes de Marinheiros Figura 3 Escola Técnica Federal de SC - 1966

Fonte: Acervo Turma QUEBEC - 1968 Fonte: Acervo Osvaldino Hoffmann - Blog ETEFESC

O impacto das imagens das Figuras 2 e 3 no imagético sobre a juventude, está

associado, diretamente, a uma hexis corporal de um sujeito potencialmente forte, capaz de

desempenhar atividades físicas. A condição apresentada pela Figura 2, de jovens na formação

de aprendizes de marinheiros, indica uma força necessária à defesa da pátria, e, na Figura 3,

está demonstrada a força para a atividade física associada ao desenvolvimento de jovens

capazes de ocupar trabalhos voltados a atividades práticas.

Ainda sobre essas fotografias, é possível observar o cenário da educação profissional

como um reduto do gênero masculino, marcadamente pela ausência feminina nas fotografias,

bem como pelo modelo de educação física proposto, que remonta, em ambas, uma ação

pedagógica indicando a intervenção do militarismo na educação. Tal intervenção, incorpora

no imagético da hexis corporal do jovem o ordenamento, a conduta moral, a postura sadia e a

disposição para o desenvolvimento do país através da força de trabalho ou pela mobilização

do jovem para a defesa da pátria. As duas imagens explicitam a cultura escolar da educação

profissional desenvolvida no país na década de 1960, demonstrando o valor simbólico

incorporado e exteriorizado pelos jovens.

Porém, como tratado anteriormente neste texto, na fotografia não há somente uma

realidade, os sujeitos se metamorfoseiam diante do clic. Desse modo, a fabricação de um

imagético da juventude pode ser reconhecida em outra formulação, traçada pelo rebuscamento

corporal dos jovens nos “topetes”, nos trajes e nas poses.

Demonstra-se, na próxima fotografia (Figura 4), a presença de uma “proposta” de

imagem de juventude moderna, associada a um mimetismo da juventude estadunidense,

indicando um rito de incorporação de postura exterior ao da cultura escolar.

“Eu tenho andado tão só

Quem me olha nem me vê

Silêncio em meu violão

Nem eu mesmo sei por que.

De repente ficou frio

Eu não vim aqui para ser feliz

Cadê o meu sol dourado?

Cadê as coisas do meu país?”

Paulo Diniz

Figura 4 – Estudantes Escola Técnica Federal de Santa Catarina (1964)

Fonte: Acervo Pessoal – Blog ETEFESC

O efeito real dessa composição fotográfica testemunha uma imagem visual de

juventude escolar moderna, mas também compõe registros de incorporação de um modelo de

juventude em destaque no mundo, naquele período.

Entretanto, mesmo composta na paisagem escolar, não se trata de uma fotografia

institucionalizada, correspondendo a uma prática social externa de um grupo de estudantes.

Nesse sentido, os cadernos na mão, o posicionamento em frente a instituição escolar, as pastas

escolares na lateral do corpo, enunciam que são os jovens da fotografia.

Nota-se que os objetos escolares, bem como o espaço escolar simbolizam o ideal

imagético sobre a juventude. Na memória social os sujeitos nessa faixa etária, carregando

esses objetos e diante da instituição devem ser estudantes. A rigor, mesmo na ausência de

uniforme ou mesmo não sendo uma fotografia clicada pela instituição, ela enuncia um sujeito

escolar e incorpora aspectos diferenciados à hexis corporal do imagético sobre a juventude.

“Linha linha de montagem

A cor a coragem

Cora coração

Abecê abecedário

Ópera operário

Pé no pé no chão”

Chico Buarque

Figura 5 – Estudantes Escola Tupy (1970)

Fonte: Acervo SOCIESC – Escola Tupy

Há, nessa fotografia escolar (Figura 5), um sentido peculiar referente ao discurso

pedagógico que anuncia uma educação imbuída de modernização, marcada diretamente pela

presença dos maquinários, revelando o jovem quase como o próprio trabalhador. O que

aponta essa incorporação explicita de trabalhador, por parte do jovem, está vinculado ao uso

do macacão e ao manuseio de máquinas grandes. Mas, o mais interessante está na figura do

possível professor ou orientador da turma, bem mais jovem que o estudante em destaque no

primeiro plano da fotografia, revelando uma diferenciação na faixa etária dos estudantes. Ao

se comparar as Figuras 1 e 5 percebe-se certo distanciamento, mostrando naquela imagem

(Figura 1) o menor na educação profissional, podendo-se constatar, também, uma distinção

referente ao atendimento da educação profissional somente aos desfavorecidos socialmente,

pois esse estabelecimento de ensino era particular e mantido por uma empresa privada da

cidade de Joinville.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalizando este breve estudo da composição da hexis corporal da juventude na

educação profissional, conclui-se que, ao incorporar o habitus pertinente à formação para o

trabalho o jovem passa a configurar-se no espaço da sociedade como um sujeito trabalhador.

Na memória social fica incorporada ao imagético do jovem a própria figura do

trabalhador. Essa imagem contribui para a difusão de que o jovem está, em sua trajetória

escolar, direcionado para o trabalho prático, correspondente à dinâmica industrial do país.

Outras formações podem apresentar uma hexis corporal amenizada de sentido de

trabalho, porém, agregam a cultura escolar a que o sujeito se integrou, ou seja, a boina dos

marinheiros, os shorts, a preocupação com a imagem corporal ou, no caso do ofício de

alfaiate, o traje que exterioriza a formação da qual esses sujeitos escolares são egressos.

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Asterisco, 2008.

POLLAK, M. Memória e Identidade Social. In: Revista Estudos Históricos. Rio de Janeiro,

Vol. 5, Nº 10, 1992. [p. 200-2012].

SANTOS, Jailson A. dos. A trajetória da educação profissional. In: Eliane Teixeira Lopes;

Luciano M. Faria Filho; Cynthia G. Veiga (Orgs.). 500 anos de Educação no Brasil. 4ª ed.

Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

VIÑAO, Frago. El espacio y el tiempo escolares como objecto histórico.

Contemporaneidade e Educação (Temas de História da Educação), Rio de Janeiro, Instituto

de Estudos da Cultura Escolar, ano 5, n. 7, 2000.

FONTES ICONOGRÁFICAS

Figura 1: Aula na oficina de alfaiataria em 1939/Escola Industrial de Florianópolis.

Fonte: Laboratório de Imagem e Oralidade Franklin Cascaes/ IF-SC. In:

http://www.florianopolis.ifsc.edu.br/extras/linha_do_tempo_ifsc_fpolis/1910.html (acesso em 15/10/2012).

Figura 2: Escola de Aprendizes de Marinheiros.

Fonte: Acervo Turma QUEBEC – 1968. In: http://www.turmaquebec68.com.br/outras_fotos.asp?naveg=prox

(acesso em 13/11/2012).

Figura 3: Escola Técnica Federal de SC - 1966

Fonte: Acervo Osvaldino Hoffmann - Blog ETEFESC. In: http://etefesc.blogspot.com.br/ (acesso em

10/11/2012)

Figura 4: Estudantes Escola Técnica Federal de Santa Catarina (1964)

Fonte: Acervo Pessoal – Blog ETEFESC. In: http://etefesc.blogspot.com.br/ (acesso em 10/11/2012)

Figura 5: Estudantes Escola Tupy (1970)

Fonte: Sociesc – Histórico. In: http://www.sociesc.org.br/pt/institucional/conteudo.php?&id=294&lng=2&mnu=307&top=0

(acesso em 15/10/2012)

1 Doutoranda em Educação – Linha de Pesquisa História e Historiografia da Educação na Universidade do

Estado de Santa Catarina, Bolsista Promop/UDESC.

2 Mestre em Educação pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Linha de Pesquisa História e

Historiografia da Educação.

3 Conforme Santos (2010) desde a Constituição promulgada em 1824 que não trata diretamente do ensino

profissional, mas influenciou esse ramo do ensino e posteriormente em 1826 no Projeto de Lei da Instrução

Pública no Império, já se organizava o ensino profissional para atender as necessidades da produção

manufatureira do século XIX e que, posteriormente, a partir do Decreto Nº 7.566 de 1909 incorpora até mesmo

profissionais provenientes das fábricas para lecionar alguns ofícios. Enfim, se apresenta, nesse contexto, uma

vinculação direta da formação do jovem da educação profissional à intervenção do setor produtivo.

4 Para entender, quem é esse hóspede do tempo a que se faz referência, para além da observação entre a

composição da imagética que se tem sobre juventude, foi necessário balizar a análise na legislação que organiza

o ensino da educação profissional, isto é, na contemporaneidade se tem por definição os termos da Lei Nº 11.129

de 2005, que delimita como jovem do país a população entre 15 a 29 anos de idade. No que tange a educação

pela obrigatoriedade de ensino, se encontra como sujeito jovem aquele entre 12 anos incompletos e 18 anos, em

conformidade com o Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei Nº 8.069 de 1990, que coaduna com a

obrigatoriedade do ensino público e gratuito, e que, atualmente, incorpora o Ensino Médio como parte final da

Educação Básica. Em contraponto, a organização atual da juventude, conforme a exposição anterior, estabelece

diferentes faixas etárias para estar na educação profissional e ser parte da população jovem. De acordo com os

princípios estabelecidos nas legislações da educação profissional do início do século XX seria sujeito escolar do

ensino profissional, a população entre 10 e 13 anos; posteriormente, na Constituição Federal de 1937 encontra-se

a palavra “juventude” no capítulo intitulado Educação e Cultura, Art. 129; porém, não há uma conceituação de

faixa etária desses sujeitos, e sim, a afirmativa sobre a responsabilidade do Estado e União de assegurar a

educação para a juventude que não tivesse recursos necessários para ingressar nos diversos níveis de ensino.

Outro ponto que decorre como possibilidade de configuração de um perfil do jovem, está atrelado à Lei Orgânica

do Ensino Industrial, de 194de e a Consolidação das Leis Trabalhistas em 1943, que vinculam o caráter

formativo à uma organização de ensino ritmado pelos anseios das indústrias e a partir da definição do homem

trabalhador no país. Pode-se associar que nesse período, o jovem era aquele vinculado ao ensino industrial,

preparado para o trabalho e que segundo a definição da Lei Nº 2.072, de 1940, que institui a organização

denominada “Juventude Brasileira”, estava entre a faixa etária de 11 a 18 anos de idade (Art. 10). Encontram-se

outras alterações intermediárias da juventude na legislação até o panorama atual que se apresenta, mas, para fins

deste estudo, há ainda que se destacar a Lei Nº 5.692, de 1971, que organiza o ensino público no Brasil em

ensino de 1º e 2º graus. É importante ressaltar que, nessa Lei, a educação profissional não tem um capítulo

destinado à sua organização, mas encontra-se como relevante dado a questão do ensino supletivo, delimitando o

fracasso escolar ou a inacessibilidade do jovem à educação em idade escolar em conformidade com a legislação

em vigente. Assim, jovens, naquele período, eram considerados aqueles que cursavam e concluíam o 2º grau, ou

que estavam aptos a prestar os exames no ensino supletivo, sendo necessário ter 18 anos para concluir o 1º grau e

maiores de 21 para concluir o 2º grau.

5 A escolha das fotografias escolares para a realização deste texto está imbricada na trajetória de pesquisa das

autoras, por se tratar de um desdobramento dos estudos realizados no Programa de Pós-Graduação em Educação

– Mestrado, da Universidade do Estado de Santa Catarina. As pesquisas cotejaram com a perspectiva da

formação nas instituições escolares da educação profissional e da juventude que recebe um determinado tipo de

formação e que parece explicitar tais estruturas nas práticas sociais.

6 Salienta-se que na história da educação, é perceptível essa preocupação com a boa saúde dos sujeitos escolares

e até mesmo com as condições do ambiente escolar; por isso, vale conferir o Projeto Higienista na educação,

como também o discurso médico que se estruturava na intervenção do espaço, corpo e leitura do sujeito escolar e

da instituição. Ver Gondra (2010).