O ENSINO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO CURSO DE PEDAGOGIA DA … · trazem o exemplo da Escola...
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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5825
O ENSINO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO CURSO DE PEDAGOGIA DA UFPB: UMA REFLEXÃO A PARTIR DOS PLANOS DE CURSO
Vívia de Melo Silva1
Introdução
O presente texto é proveniente dos estudos e pesquisas desenvolvidos no âmbito da
experiência como docente da disciplina de História da Educação I (HEI) e História da
Educação II (HEII), ligadas ao curso de Pedagogia presencial, do Centro de Educação (CE) da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Trata-se de uma produção motivada pelas
seguintes inquietações: como vem sendo desenvolvido o ensino de História da Educação
nesse curso de Pedagogia? Que objetivos são elencados para estas disciplinas no referido
curso? Que conteúdos têm sido priorizados nestes componentes curriculares? Qual a carga
horária? Ao longo do tempo houve redução ou ampliação dessa carga horária nas disciplinas?
Que referências têm sido utilizadas nas aulas de História da Educação I e História da
Educação II?
Partindo dessas inquietações e com o intuito de contribuir para o debate acerca do
ensino de História da Educação, este texto objetiva compreender a configuração do
componente curricular História da Educação, no curso de Pedagogia, do Centro de Educação,
da Universidade Federal da Paraíba, Campus I, mediante os planos de curso desta disciplina
e o Projeto Pedagógico do Curso (PPC).
Sobre essa disciplina de História da Educação do curso de Pedagogia da UFPB, cabe um
esclarecimento de que a área de História da Educação neste curso, nem sempre esteve
dividida nos componentes curriculares História da Educação I e História da Educação II
como se encontra atualmente no curso. Em alguns anos, esta disciplina estava subdividida
em História da Educação I, II e III. Em outro momento, tínhamos também História da
Educação Brasileira, explicitando uma variação de nomenclatura e carga horária no âmbito
deste componente curricular.
No que tange ao recorte temporal selecionado neste texto, partimos dos anos de 1990
aos dias atuais (mais precisamente o ano de 2015). A demarcação desse recorte foi definida a
1 Doutora em Educação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professora vinculada ao Departamento de Fundamentação em Educação do Centro de Educação da UFPB, Campus I. E-Mail: <[email protected]>.
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partir dos planos de curso que tivemos acesso no acervo do Departamento de
Fundamentação da Educação (DFE). É importante destacar que acessamos planos de curso
dos períodos letivos dos anos de 1990, 1995, 1998, 2001, 2005, 2007, 2008, 2010, 2012,
2013, 2014, 2015. Ainda é valido evidenciar que não tivemos acesso aos planos de curso das
disciplinas de História da Educação dos primeiros anos de funcionamento do curso de
Pedagogia, bem como, não obtivemos estes planos na sequência cronológica dos períodos
letivos, desde o surgimento do curso até os dias atuais. Muitos planos de curso foram
extraviados.
A respeito dos procedimentos metodológicos para tratamento da nossa fonte de estudo,
é relevante destacar que para a análise dos planos de curso, focalizamos alguns itens de
operacionalização que são elementos constituintes da organização e sistematização das
disciplinas, ou melhor, dos planos de curso, a saber: a ementa, os objetivos, a nomenclatura
do componente curricular, a carga horária, os conteúdos selecionados.
No que se refere ao trabalho com as fontes, a seguinte orientação foi bastante
pertinente: “tal como um mineiro apanha uma pedra, perscrutando-a na busca de ouro,
também o investigador procura identificar a informação importante por entre o material
encontrado durante o processo de investigação”. (BOGDAN & BIKLEN, 1994, p.149).
Chamamos atenção com essa citação para a relevância de cada marca e registro explícitos nos
planos de curso que utilizamos.
Também é oportuno destacar que as fontes, os resquícios materiais e fragmentos que
remetem a uma época, um momento, estão revestidos de sentidos e significados do seu
tempo e são utilizados por nós historiadores para contribuir com a formulação de
conhecimentos sobre um dado objeto, no caso deste texto sobre a história da disciplina de
História da Educação no curso de Pedagogia da UFPB, Campus I.
Como lente teórica nos baseamos no conceito de configuração elaborado por Norbert
Elias (2001; 2006; 2008) no sentido de pensar o indivíduo e a sociedade “[como] dois níveis
diferentes, mas inseparáveis do mundo humano” (ELIAS, 2008, p. 141). Para este sociólogo,
esse conceito serve de instrumento científico para se evitar o constrangimento de pensar o
indivíduo e a sociedade como contrários.
Assim, ante o exposto, organizamos este texto, inicialmente, discutindo a própria
história da disciplina de história da educação para, em seguida, refletir, mediante os planos
de curso, a configuração da/as disciplina/s de História da Educação no âmbito do curso de
Pedagogia da UFPB, Campus I, ao longo do recorte temporal selecionado.
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A história do ensino de História da Educação
A História da Educação surgiu ligada à Ciência da Educação, mais precisamente junto
aos processos de formação de professores, no final do século XIX na Europa, que vinham
alicerçados em uma perspectiva teórica, em detrimento da orientação meramente prática que
predominava anteriormente. Tratando deste surgimento, Nóvoa (1996) destaca que
Ao dar-se um passado, a primeira geração da pedagogia científica procurou consolidar a disciplina [história da educação] no seio da comunidade académica e universitária. O jogo de poderes consagrava não só um novo tipo de conhecimento, mas também os homens que eram supostos produzi-lo e difundi-lo. Até então, a pedagogia era vista, sobretudo, pelo prisma da prática, das técnicas e dos métodos de ensino. A partir de meados do século XIX, no entanto, as perspectivas teóricas adquirem novas dimensões: primeiro, por via de um pensamento histórico e, também, de um esforço de reflexão comparada; mais tarde, através do recurso às ciências psicológicas e sociológicas. (NÓVOA, 1996, p.418)
Este momento trata-se da constituição e consolidação das ciências da educação, ou
como o autor citado chamou da “Pedagogia Científica”. É com este prisma de cientificidade
no âmbito da Pedagogia que a história da educação emerge para compor uma nova
orientação na formação dos professores.
Para Nóvoa (1996, p. 418), “a construção disciplinar da História da Educação deve ser
vista à luz de três processos simultâneos: a estatização do ensino, a institucionalização da
formação de professores e a cientificação da pedagogia”. Sobre a estatização do ensino,
refere-se à constituição dos sistemas de ensino e a relação com os processos de formação dos
novos Estados Nação, que possibilitaram a circulação e comparação de análises históricas
entre estas novas nações, particularmente as especificidades educativas de cada uma. Neste
contexto foi disseminado “a ideia de que o poder dos países se podia medir pelo seu nível de
desenvolvimento escolar” (NÓVOA, 1996, p. 418).
Quanto à institucionalização da formação de professores como elemento integrante da
construção disciplinar da História da Educação, o autor destaca a urgência em formar
modernos professores que estivessem aptos a lidar com os novos desafios educativos da
época. Neste caso, a disciplina de História da Educação “adquire um estatuto ímpar no seio
de muitos [...] programas, sendo a disciplina com maior carga horária” (NÓVOA, 1996, p.
418).
Finalmente o último processo que contribuiu para a construção da disciplina de
História da Educação, segundo Nóvoa (1996), foi a cientificação da pedagogia. Esse processo,
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como já discutimos no início deste item, vai colaborar na (re) construção da historicidade do
processo educativo e nos processos de teorização pedagógica.
É ainda no final do século XIX e durante a primeira metade do século XX que a
disciplina de História da Educação vai perdendo esse caráter de cunho científico, conquistado
há pouco tempo, e assumindo uma configuração mais prática e descritiva, como fora outrora.
Essa modificação na orientação da disciplina acontece concomitantemente à sua
disseminação e consolidação nos cursos de formação de professores. Podemos atestar essa
modificação na história desta disciplina na seguinte citação:
Nas décadas de transição do século XIX para o século XX, a História da Educação vai perder, progressivamente, o seu papel de disciplina que permite reconstruir a historicidade do processo educativo – e do esforço de teorização pedagógica – para se transformar, primeiro, numa evocação descritiva de factos, ideias e práticas para consumo dos futuros professores e, mais tarde, num tempo dominado pelas «ciências da observação», numa disciplina sem qualquer utilidade. Na verdade, o sucesso da História da Educação no início do século XX, com a conquista de um espaço significativo na formação de professores e de uma importante dinâmica editorial, faz-se à custa do esvaziamento das suas dimensões epistemológicas e heurísticas. (NÓVOA, 1996, p.418)
No Brasil, é essa configuração da disciplina de História da Educação, de caráter mais
descritivo e prático, que vai marcar o seu surgimento no país nos cursos de formação
docente, quais sejam: escolas normais, inicialmente, e cursos de Pedagogia, a posteriori.
(SAVIANI, 2005). De acordo com Saviani (2005), foi mais precisamente com a conquista de
um espaço acadêmico para os estudos educativos que a História da Educação vai se
constituindo como componente curricular integrante dos cursos de formação de professores.
Corroborando com essa linha de discussão, Stephanou e Bastos (2005) destacam que a
História da Educação não pode ser tratada, no seu momento de difusão no Brasil, dissociada
da história da implantação e formulação dos currículos das escolas normais. Estas autoras
trazem o exemplo da Escola Normal do Rio de Janeiro de 1928, que já apresentava um
espaço no currículo para esta área. Além disso, as autoras complementam quanto à
materialização desta disciplina nos cursos de formação de professores brasileiros que:
Foram as reformas educacionais, introduzidas a partir de 1930, que incluíram a cadeira nos planos dos cursos de formação de professores. Só na década de 1940, com a criação dos cursos de Pedagogia, nas faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, ampliaram-se os estudos pedagógicos e, como parte deles, o de História da Educação. Em 1946, a Lei Orgânica do Ensino Normal estabelece que no currículo deveria ser ministrada a disciplina de História da Educação. Em nível superior, o curso de Pedagogia (Decreto-lei, n. 1.190 de 04/04/1939) inclui a disciplina denominada História e Filosofia da Educação. (STEPHANOU & BASTOS, 2005, p. 424)
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É importante evidenciar, de acordo com Lopes e Galvão (2001), que a História da
Educação, em sua trajetória, também esteve associada à Filosofia, e mais especificamente à
Filosofia da Educação, como mencionado na citação anterior. Essa associação entre as duas
áreas até hoje é extremamente presente nos cursos de formação docente, tendo suscitado
várias consequências para esse campo do conhecimento. Por muito tempo não havia uma
distinção nítida entre as duas disciplinas que em alguns cursos chegaram a se chamar de
fundamentos da educação. A separação dessas duas disciplinas nos cursos de formação de
professores se deu, institucionalmente, sobretudo, a partir da década de 1970.
Sabe-se que ao longo dos últimos 30 anos, tem-se operado uma profunda
transformação metodológica na pesquisa histórico-educativa, levando a uma radical
mudança de orientação, qual seja: da História da Pedagogia para a História da Educação. A
Pedagogia passou a perder a sua exclusiva ou quase conotação filosófica e revelou-se
constituída pelo encontro de diversas ciências e, portanto, como um saber interdisciplinar
que entrelaçava a sua história com a de outros saberes, sobretudo, as diversas ciências
humanas que são tributárias a síntese. (CAMBI, 1999).
A modificação da História da Pedagogia para uma mais articulada e ampliada História
da Educação tratou-se de uma revolução historiográfica, ressignificando toda sistematização
no âmbito dos estudos histórico-educacionais, passando de um modo fechado para um modo
aberto, valorizando a complexidade e riqueza de seu campo de pesquisa e dos seus múltiplos
métodos que devem ser utilizados para desenvolver o próprio conhecimento da área. Em
outras palavras, surgiram novos objetos, novas fontes e novas abordagens no campo da
história educacional, que repercutiu diretamente no ensino desta área. Além disso, os antigos
objetos de estudos passaram a ser abordados de forma inovadora e problematizadora.
Segundo Cambi (1999), nos anos 60 e 70 uma maneira radical de fazer história se
desenvolveu, rompendo o modelo teoriticista, continuísta e unitária, fortemente ideológico,
dando sentido a uma pesquisa mais problemática, diferenciada e articulada que pode ser
definida como História da Educação. Ademais,
Desde as décadas de 60-70 do século XX, a História da Educação tem estado associada à (re)fundação das Ciências da Educação. Essa (re)fundação inclui a extensão definitiva das Ciências da Educação às universidades, sob a modalidade de disciplinas ligadas à Formação de Professores e, em um plano mais alargado, disciplinas e módulos da formação inicial e da formação contínua de outros profissionais. (MAGALHÃES, 2011, p. 177)
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Explicitando mais claramente o percurso seguido pela disciplina de História da
Educação, Nóvoa (1996) ressalta que foram quatro as principais tradições no âmbito do
ensino dessa disciplina, a saber:
a) De início, a História da Educação organiza-se como uma reflexão essencialmente filosófica, baseada na evocação das ideias dos grandes educadores, desde a Antiguidade ao período contemporâneo (século XIX)[...]; b) [...] mais marcadamente institucional. Numa época de edificação dos sistemas estatais de ensino, tal como os conhecemos nos dias de hoje, é natural que fosse concedida uma atenção privilegiada à génese e ao desenvolvimento das instituições educativas. Através da rememoração legislativa, nomeadamente das principais reformas educativas, produz-se uma história legitimadora das opções presentes de política educativa [...]; c) [...] trouxeram uma perspectiva social para o interior da História da Educação, que conheceu nesta altura uma importante renovação conceptual e metodológica; d) [...] há uma diversificação de perspectivas na forma de ensinar a História da Educação e de justificar a sua inclusão nos programas do ensino superior e universitário: por um lado, há uma espécie de redescoberta da especificidade das temáticas escolares e do papel dos diferentes actores educativos e da sua experiência; por outro lado, há uma tendência para retomar práticas de história intelectual e cultural, a partir de novas concepções teóricas; finalmente, há um regresso às origens da História da Educação através de uma revalorização das abordagens comparadas. (NÓVOA, 1996, p. 420)
É válido destacar neste percurso da disciplina de História da Educação a influência da
institucionalização dos programas de pós-graduação na área e a criação e disseminação dos
grupos de estudos e pesquisas no campo. Esse marcos na área, por volta dos anos de 1970 até
os dias atuais, também redesenharam as novas configurações do componente curricular
História da Educação no âmbito do curso de Pedagogia.
Todavia, como bem observou Saviani (2005) não podemos negar, atualmente, a
diminuição de espaço que vem sofrendo os fundamentos da Educação, portanto, também a
História da Educação no currículo dos cursos de formação de professores. Discussão esta que
cabe em outra pesquisa, ficando aqui, apenas, o registro.
A disciplina de História da Educação no curso de pedagogia da UFPB
O ensino nos cursos de Pedagogia não pode deixar de ser simultaneamente teórico,
prático e histórico (NÓVOA, 1996). A história, neste sentido, possibilita-nos enxergar os
processos educacionais como uma construção social e historicamente, renovando assim o
sentido da ação cotidiana do profissional da educação e auxiliando para o desenvolvimento
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de sua prática docente. Diante da necessidade de se compreender a educação ao longo do
tempo, problematizando suas especificidades, permanências e transformações a disciplina de
História da Educação passou a ser parte fundamental e integrante do programa curricular do
curso de Pedagogia da UFPB.
De acordo com o Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia do Centro de Educação da
UFPB, Campus I, este curso foi criado pela Lei Estadual nº 341 de 01 de setembro de 1949,
autorizado pelo Decreto nº 30.909 de 27 de maio de 1952, vinculado inicialmente a
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Em 1969 passou a ser denominada Faculdade de
Educação. Após sua extinção, em 1976, passou a integrar o Centro de Ciências Sociais
Aplicadas (CCSA) e, desde abril de 1979, acha-se vinculado ao Centro de Educação (CE).
No seu currículo original o curso funcionava em sistema de créditos, com uma carga
horária mínima de 2.355 (duas mil trezentos e cinquenta e cinco) horas-aula, equivalente a
149 (cento e quarenta e nove) créditos. Até hoje o curso funciona em sistema de créditos.
A partir daí, a análise dos planos de curso das disciplinas, associada ao referencial
teórico-metodológico, antes apresentado, representa nosso olhar acerca do processo histórico
da disciplina de História da Educação no curso de Pedagogia da UFPB, Campus I.
Durante o processo de catalogação e análise, nos deparamos com dificuldades
semelhantes às encontradas pela maior parte dos que resolvem se debruçar na pesquisa em
História da Educação, tais como: inexistência de documentos, extravios ou descarte, entre
outros. Todavia, tais dificuldades nos foram tomadas como estímulo para a efetivação deste
estudo.
É fundamental destacar que a análise dos planos da disciplina possibilitou a coleta de
informações, a partir das quais fomos respondendo algumas das questões inicialmente
levantadas. Como apontado na introdução deste texto, nosso foco de problematização incidiu
nos seguintes pontos dos planos de curso da disiciplina: a ementa, os objetivos, a
nomenclatura do componente curricular, a carga horária, os conteúdos selecionados.
Quanto ao trabalho com a disciplina de História da Educação, foi fundamental a
seguinte ponderação:
[...] a disciplina se constitui como uma matéria do campo acadêmico, curricular e da pesquisa. Como disciplina curricular e universitária, que como qualquer outra desse tipo, integra o currículo dos cursos de graduação, pode ser considerada como uma entidade concreta, que produz cultura e institui regras e normas. Faz parte de um ordenamento acadêmico e é instituída por meio do desenvolvimento histórico do campo acadêmico-universitário e escolar e pelas ações dos seus agentes em sua própria existência e constituição. (RODRIGUES, 2011, p. 145-146)
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Baseada nesta observação é fundamental destacar que a disciplina História da
Educação ministrada no curso de Pedagogia do CE/UFPB faz parte do Departamento de
Fundamentação da Educação (DFE), como antecipamos anteriormente. Essa disciplina
possibilita que os alunos tenham uma base teórica sólida no que diz respeito ao processo
histórico da educação, e tenham condições de refletir sobre seus reflexos nos dias atuais. O
componente curricular se apresenta no fluxograma do Projeto Pedagógico do Curso nos
primeiros períodos do curso, juntamente às demais disciplinas da área de Fundamentos da
Educação.
Todavia, vale a pena ressaltar que a disciplina nem sempre esteve estruturada como é
hoje, com duas disciplinas de 60h, o que confirmamos quando acessamos os planos de curso
disponibilizados pelo DFE para este estudo. Infelizmente, como já apontamos na introdução
deste texto, não tivemos acesso a todos, os quais gostaríamos, mas, nos foram
disponibilizados os planos dos períodos letivos 1990, 1995, 1998, 2001, 2005, 2007, 2008,
2010, 2012, 2013, 2014, 2015, os quais foram possíveis para observarmos significativas
mudanças no percurso deste componente curricular no curso de Pedagogia da UFPB,
Campus I. Focalizamos a partir de agora cada um dos pontos dos planos de curso da
disiciplina.
Denominações, ementas e carga horária
Considerando a ementa, a denominação e a carga horária nos planos analisados,
constatamos que a disciplina de História da Educação da UFPB – Campus I, nem sempre
esteve organizada como é apresentada no atual momento, dividida em duas disciplinas de
História da Educação I e II, cada uma com 60h, tendo 4 créditos.
No que se refere a nomenclarua da disciplina, observamos que inicialmente a disciplina
da área de História da Educação era integrada por três componentes curriculares, a saber:
História da Educação I, História da Educação II e História da Educação III. Além dessas
disciplinas, que marcaram os anos de 1990 no programa curricular da área de Fundamentos
da Educação no curso de Pedagogia da UFPB, também existiu a disciplina de História da
Educação Brasileira, mais especificamente em 1998, confrome o plano de curso desta
disciplina do período letivo 1998.1. Portanto, a partir dessa distribuição de disciplinas no
curso de Pedagogia podemos inferir um relevante lugar que ocupava o ensino de história da
educação neste curso, nos anos de 1990.
No tocante às ementas, é válido destacar que nem todos os planos que tivemos acesso
apresentavam a ementa das disciplinas. Os planos que tinham as ementas foram: o de 1990
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da disciplina de História da Educação I; o de 1995 das disciplinas de História da Educação I,
II e III; o de 2005 de História da Educação III; e os de 2007 até 2015 das disciplinas de
História da Educação I e II.
Nos anos de 1990 os planos de curso das disciplinas de História da Educação I, II e III,
apresentavam respectivamente as seguintes ementas:
a) HE I - Educação primitiva. Antiguidade clássica: educação em Esparta, Atenas e Roma. Educação medieval. (PLANO DE CURSO DE HEI, 1995); b) HE II - História das ideias pedagógicas e das instituições educacionais no período moderno(PLANO DE CURSO DE HEI, 1995); c) HE III - História das ideias pedagógicas e das instituições educacionais no Brasil. (PLANO DE CURSO DE HEI, 1995)
A partir destas ementas, obervamos uma orientação na organização da disciplina
pautada na perspectiva tradicional do ensino de história da Educação, já que o foco é
bastante cronológico e baseado na predominância das ideias pedagógicas e nos sistemas
escolares, focando na história das instituições escolares. No entanto, quando voltamos o
olhar para o período 2007.1, tanto para a discisciplina de História da Educação I como para a
II, constatamos que a ementa traz como especificidade conceitos de História e da Educação,
bem como a importância deste componente na formação dos futuros professores. Portanto, a
disciplina já vai apresentando um caráter mais amplo, acompanhando a própria trajetória da
história do ensino desta disciplina, explanado no item anterior.
Já nas ementas dos anos de 2010 até 2015 ficou evidente uma abordagem, para
História da Educação I, sobre os conceitos de História e História da Educação, bem como
conceito de História e História da Educação na Modernidade, no mundo, Brasil e na Paraíba.
Por sua vez, em História da Educação II foi dado ênfase no seguinte: História e produção do
conhecimento, a História da Educação e da Pedagogia após o século XIX no contexto
brasileiro e paraibano. Portanto, ficou claro, nestes anos, uma ruptura com a antiga divisão
de uma história geral e outra local. Em outras palavras, em História da Educação I não se
enfatizava apenas a educação geral e na História da Educação II não somente se via educação
no Brasil.
Ante o exposto sobre as ementas, podemos perceber alterações concernentes à
abordagem da disciplina, à organização e ao próprio sentido da mesma, contemplando assim
o que Cambi (1999, p. 24) ressaltou:
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Passou-se de um modo fechado de fazer história em educação e pedagogia para um modo aberto, consciente da riqueza/complexidade do seu campo de pesquisa e da variedade/articulação de métodos e instrumentos que devem ser usados para desenvolver, de modo adequado, o próprio trabalho.
Quanto à carga horária nos planos de cursos, foi possível observar uma diminuição na
carga horária destes componentes curriculares, deixando de ter 180 h, distribuídas em
História da Educação I, II e III para serem ministradas em 120h, divididas em História da
Educação I e II. Essa redução na carga horária destas disciplinas ratifica o que estudiosos da
área (SAVIANI, 2005; NOVÓA, 1996; MAGALHÃES, 2011) vem apontando, acerca do espaço
secundarizado que vem sendo forçado aos fundamentos da educação na matriz curricular dos
cursos de licenciatura.
Objetivos e conteúdos
Os objetivos das disciplinas apresentaram-se, nos planos de curso analisados,
extremamente vinculados ao que eram explicitados nas ementas. Nas disciplinas dos anos de
1990, notadamente de História da Educação I, II e III, tínhamos respectivamente, de forma
predominante neste período, os seguintes objetivos:
a) HE I - Proporcionar ao futuro pedagogo a apropriação de um certo saber histórico, situando o estudante da área nos diferentes contextos históricos em que se manifestarem as diferentes características e funções da Educação . (PLANO DE CURSO DE HEI, 1998); b) HE II - Alargar a base cultural dos futuros educadores, fazendo-os conhecer e compreender as principais tendências pedagógicas e práticas educacionais do período moderno da história. (PLANO DE CURSO DE HEI, 1995); c) HE III - Alargar a base cultural dos futuros educadores, fazendo-os conhecer e compreender as principais tendências e movimentos pedagógicos, a política, a organização e prática educacional brasileira. (PLANO DE CURSO DE HEI, 1995)
É evidente nestes osbjetivos a necessidade de possibilitar aos estudantes da pedagogia
um amplo e vasto conhecimento histórico da educação, pautado, todavia,
predominantemente nas ideias pedagógicas e nos grandes fatos da história da educação.
Ademais, ainda temos no caso da História da Educação I um foco muito cronológio e linear.
Quando focalizamos os objetivos das disciplinas a partir de 2005, observamos um foco
mais problematizador e crítico na formação do professor a exemplo dos objetivos que
seguem:
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a) HE I - Estimular a reflexão crítica sobre o processo histórico educacional, possibilitando a futuros educadores a apropriação de saberes que promovam a consciência crítica, contemplando uma história da educação que tenha origem nos problemas do presente, e que sugira pontos de vista ancorados no estudo passado, em um trabalho elucidativo, que forneça sentido à prática educativa. (PLANO DE CURSO, 2011); b) HE II - Priorizar o desenvolvimento de uma atitude crítico-reflexiva para compreensão das principais tendências e movimentos pedagógicos, da política educacional, da organização do ensino e da prática educacional brasileira após 1930 (PLANO DE CURSO, 2008);
c) HE I - Alargar a base cultural, cientifica e pedagógica dos futuros educadores na perspectiva de orientar a sua prática na perspectiva tanto da docência quanto da pesquisa historiográfica (PLANO DE CURSO, 2012);
d) HE II - Possibilitar uma visão crítico-reflexiva de momentos do processo histórico educacional após o século XIX, bem como instigar a compreensão das principais tendências e movimentos pedagógicos, da política educacional, da organização do ensino e da prática educacional brasileira neste período, permitindo aos futuros educadores um conhecimento do passado coletivo da profissão, que serve para formar a sua cultura profissional. (PLANO DE CURSO, 2014)
Partindo desses objetivos expostos, é possivel destacar que as disciplinas de História da
Educação I e II, nos períodos letivos a partir de 2005, tiveram como foco maior nos seus
objetivos o estímulo à reflexão crítica sobre os processos histórico-educacionais,
possibilitando aos educadores em formação, no momento, a apropriação de saberes que
promovessem a consciência crítica e suscitassem a efetivação de uma prática educativa com
sentido e tomada de decisão.
No que tange aos conteúdos, temos uma vasta seleção, cuja definição se intercruza com
as ementas e os objetivos. A disciplina de História da Educação I, inicialmente, apresentou
um foco mais ligado ao estudo da educação nas sociedades e civilizações que antecediam à
época moderna. Os conteúdos desta disciplina apenas foram sendo modificados a partir dos
anos de 2000, quando no curso foi suprimida a disciplina de História da Educação III. Com
essa alteração a disciplina de História da Educação I passou a focalizar mais na educação a
partir da época moderna no mundo e no Brasil, por exemplo, foram selecionados os seguintes
conteúdos:
1. Significado de história e história da educação;
2. Características da educação e pedagogia na modernidade;
3. Pensamento pedagógico de Comenius, Rousseau, Pestalozzi,
Herbart e Fröbel;
4. Modelos escolarizados de formação de professores;
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5. Educação escolar no mundo;
6. Pedagogia e educação escolar no Brasil;
7. Instrução pública na Paraíba. (PLANO DE CURSO, HEI, 2012.1)
Nesta seleção de conteúdos, observamos o que tínhamos mencionado anteriormente
sobre o ponto de partida na Idade Moderna. É possível observar ainda um enfoque
transversal de conteúdos que passou a considerar desde assuntos mais gerais como de
delimitação local. Além disso, também vemos uma diversificação na abordagem, já que
contemplaram as ideias pedagógicas, as políticas educacionais, bem como as práticas
educativas.
A respeito de História da Educação II, observamos que, nos anos de 1990, este
componente curricular tinha um viés focado na história da Educação brasileira, priorizando a
educação no Brasil Colônia, no período imperial e na República. Nesta seleção, eram
salientados os grandes marcos de nossa história, bem como a história dos sistemas escolares
e instituições, principalmente das regiões mais desenvolvidas do país. Esta configuração do
componente curricular, paulatinamente, passou a assumir contornos diferenciados a partir
dos anos de 2000, quando também enveredaram pela contemplação dos novos objetos, as
novas fontes e as novas abordagens no campo da História da Educação, como se pode
observar, a seguir, na organização dos conteúdos da disciplina no ano de 2014:
CONTEÚDOS: I Unidade - O estudo da história e o entendimento da realidade educacional: Novos objetos, novas fontes e novas abordagens; - Sociedade e Educação na Primeira República - “O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932)” II Unidade – - Ideias, reformas e práticas educacionais no Estado Novo - As Leis Orgânicas do Ensino - Os movimentos de Educação popular - “Manifesto dos Educadores Mais uma vez convocados (1959)” III Unidade – - Educação e Sociedade na Ditadura Militar - Instituições e práticas educacionais na Paraíba no Período Republicano (PLANO DE CURSO, HEII, 2015)
Neste sentido, a partir de tudo que discutimos neste texto, podemos dizer que a
disciplina de História da Educação, seja ela quando era dividida em três ou em duas como
está distribuída atualmente no curso de Pedagogia da UFPB, Campus I, tem, mesmo que
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lentamente, acompanhado os avanços no campo da pesquisa desta área, possibilitando, dessa
forma, uma renovação na organização e no ensino desta disciplina.
Considerações Finais
Vimos que a história do ensino de História da Educação surge atrelada aos cursos de
formação de professores. Esta vinculação custou um preço muito caro para este componente
curricular, que foi a sua organização com um caráter muito pragmatista e utilitário. Ademais,
não podemos deixar de mencionar na história desta disciplina a grande influência da
abordagem da história tradicional que conferiu uma delimitação deste ensino calcada na
história linear e cronológica dos conteúdos, na valorização dos grandes fatos e heróis da
história. Além disso, com uma valorização excessivamente pela história desarticulada entre o
local e o global.
Todavia, observamos também que tanto no caso da história da disciplina no Brasil,
como especificamente no curso de Pedagogia da UFPB, pelo menos no recorte temporal
contemplado na pesquisa, houve um considerável avanço na organização e no ensino de
História da Educação. Saímos de um modelo fechado para abarcar a própria inovação que
atingiu os últimos anos à pesquisa e ao ensino desta área dos fundamentos da educação.
Finalizamos destacando a relevância desta área na formação docente, particularmente
nos cursos de Pedagogia, visto que, junto às outras áreas de fundamentos da educação,
possibilitam a formação de profissionais que pensam, analisam, ressignificam, criam e
problematizam a educação traçando novos roteiros e queimando velhas receitas nas práticas
educativas. É preciso continuar lutando pelo espaço e inovação desta disciplina nos cursos de
formação de professores, para não corremos o risco de cair no que Saviani (2005) chamou de
ensino precário e pouco constante sob o aspecto da sua fundamentação teórico-científico.
Referências
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