o Equador Das Coisas 3 | Jornal de literatura e arte

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  • 7/25/2019 o Equador Das Coisas 3 | Jornal de literatura e arte

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    Chapada Diamantina, Bahia, Brasil | maio de 2013 | nmero 3 | ano 2

    A arte preserva o humano do esquecimento da morte

    o rs plsco Vinicius Figueiredol sobr posi, mmri cdnci d mr conmporn q ind no conidd nrr nos rnds sls lris

    HELENAFRENZEL

    ANA

    LCIASORRENTINO

    KARIMELIMON

    EABHAROSE

    GERMANO

    XAVIER

    NATLIAESCOBAR

    CAROLPIVA

    SETTY

    LEPIDA

    SHARONFRYE

    LETCIA

    PALMEIRA

  • 7/25/2019 o Equador Das Coisas 3 | Jornal de literatura e arte

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    Q e2

    Fundado em maro de 2012

    Impresso

    Tecgraf | Seabra-BA

    Tiragem

    1.000 exemplares

    www.oequadordascoisas.blogspot.com

    idealizao e coordenao editorial

    Germano Xavier (DRT BA 3647)

    projeto grfico e diagramao

    Carolina Piva

    editores-chefes

    Germano Xavier (Bahia, Brasil)

    Carolina Piva (Minas Gerais, Brasil)

    Karime Limon (Califrnia, Estados Unidos)

    editoras-convidadas

    Iara Fernandes (Minas Gerais, Brasil)

    Tatiana Carloi (So Paulo, Brasil)

    textos, crticas, sugestes

    [email protected] | [email protected] |[email protected]

    O Jornal de Literatura e Arte | O Equadordas Coisas uma publicao trimestral, inde-pendente e sem ns lucrativos. Veicula textos eimagens submetidos apreciao dos editoresetambm originais de artistas convidados. Nos-sa inteno epaixo! de alguma formapromover a literatura, a arte! O jornal vai-vementre a Bahia, as Minas Gerais e a Califrnia, ede novo, at o momento de impresso umadelicira! Imagens e textos aqui publicados sode responsabilidade de seus autores.

    editorialUm dos fascinantes e famigerados passos-traados que nosoferta a literatura de um escritor enorme como Ernesto Sbato sua linda, deliciosa inquietude-boa diramos, enm, preocu-pao com a leitura. Do lado de c e de l (porque em Sbatoh entrelaares, e no dicotomias de excepcionices tolas), o leitor

    so mulheres e homens concretos em busca de um-algum senti-do para uma to atarantada existncia, bem sabemos, e tambmaqueles todos-ns (anti-)heris do dia a dia em nossa peque-nez, contida ou esparramada vastido, celeuma, destreza poucaou nenhuma para enfrentar o que quer que.

    De ento que esse leitor, que lleva las insignias de sus tribula-ciones y amarguras e tantos-bocados de crueza e alegria, esseleitor transita entre o possvel e o indissocivel (em)texto(s),diante dos ali (inter)(con)textos, e eis que a ideia de obra aber-ta, retomada por Umberto Eco, transgura com sensibilidade aperspectiva plural e polissmica dela, da leitura esta que nosfaz, em inmeros de ns, rearticular, enternecer, querer, ou pelo

    menos desorientar-desconjuntando quadriculadinhos quais-quer... No? Pois-sim, sim...

    A leitura tem, por enns, uma funo (onto-)gnosiolgicaem S-bato. O que equivale a cismar, dentre outros muitos interstciospossveis, que ela energia a pr giro-movimento em mos eolhos decerto maquinais (tempos nossos!), mas que inicialmentemos e olhos e todo um resto de sentido possvel em ns lem-bremos. Para alm de processo semitico, a leitura um acu-mulado de ir e vir e no poder ir sociais. Est entranhada, nesteportanto, de formas de pedir, dizer e silenciar, dali pracol sefazendo e desfazendo e refazendo... atravs do(s) sentido(s) pos-

    to(s) pele... no outro... nela, neles para deles mesmos, em ns.O Equador das Coisasse inaugura segundo ano redizendo dela,da leitura. Da beleza e da refulgncia e dos embates-conitostambm por certo imbricados para todos os cantos possveis quando lemos. Os entraves em que se esbarra hoje em vaziosnos (in)corpora(tiva)ndo como os nossos (infelizmente ainda!),para que o acesso leitura seja, de fato, enorme e pleonasticamenteirrestrito(por que no?), so lamentosos, claro. H as antas podero-sas, sempre h, que temem os buracos de fechadura se tornandogigantescos moinhos de vento e ento convidando para o con-fronto; sem falar nas titicazinhas e nos papagaios que, com osseus faustosos com o qu, se fazem isso-que-por-certo-pouqus-simo... tais escritores-artistas. Pelo no e pelo sim, ora-ora... Quea leitura, que a arte, que a literatura-enm o nosso desejo-c seja energia-orgnica a construir e desconstruir, ampliar, gerar,titilar, abrindo, sempre abrindo... caminho para to-tanto mais.

    Que mais (pleonsticos) sem-ns de mirades-gentes alcancem aleitura, a literatura, a arte. E se engalnhem com elas. E se lam-buzem delas, se repimpem. Boa comilana a todos, e sigamos!

    Os Editores.

    Colhi o que plantei. Trabalhei duro para pagar quem

    educou meus lhos e ainda lhe zeram mal. Ah, tivesse

    gastado meu dinheiro em outras coisas, prazeres, tantas

    terras para ver... Fui um besta! Casei cedo e fui manso,

    vivi na mesmice at que Ela apareceu. Perfume rosa e

    pele de novia anunciaram cu e provaes. Relaxado e

    feliz, com a paixo me atiando a recomeos, deixei casa,

    famlia, z o que achei melhor. nica vez em que seguimeu corao, e as palpitaes cessaram. No me arrepen-

    do. Tremo ainda todo ao ver nos olhos Dela, meio-ver-

    des, meio-mel, o brilho bobo em meu olhar, ento o breu

    que me arrebatou e a terra que me acolheu.

    Sou um Flores, mas a caca de urubu sobre a lpide dei -

    xou-me singular Flor. Menos pelo que fui do que pelo

    que agora sou: um Flor que no se cheira, reconheo.

    E foram as rosas que partiram, melhor dizendo: dei-xaram-se levar. Dizem que plantas tm escrpulos e dis-

    so nada sei. Desprezei-as, fui hostil, odiei a sua origem e

    seu odor de traio. Melindrosas, deram mos ao vento

    e foram, dissimuladas, rastejando at o porto, onde ca

    o lixo. Uns valorizam o que outros jogam fora, e como

    eram brancas, confesso que lindas, no passaram longo

    tempo l.

    Mas eu devia ter evitado sementes, Flores to semelhan-tes, como o lho que veio me ver. Rosas: durma com elas,

    acorde espetado. No cheire, mande-as embora antes

    que seja tarde demais. Ao deposit-las em meu tmulo

    naquela tarde, ele nada disse, mas pude ver aquele brilho

    vadio em seus olhos, o mesmo brilho bandido que um

    dia cegou os meus.

    DE ROSASE DE FLORES

    por Helena Frenzel

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    POETIZANDO

    as ores do asfalto

    por Germano Xavier VISO2011

    VISO 2011

    VISO 2011

    VISO 2011 VISO 2011

    VISO 2011

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    VISO2011VISO2011

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    VISO 2011VISO 2011

    VISO2011 VISO 2011VISO 2011

    VISO 2011

    VISO 2011

    VISO 2011

    VISO

    2011

    VISO2011

    VISO 2011no exlio onde padeo angstia os muros invadem

    minha memria atirada no Abismo

    e meus olhos meus manuscritos meus amorespulam no Caos (Roberto Piva)

    no exlio onde padeo angstia os muros invadem

    minha memria atirada no Abismo

    e meus olhos meus manuscritos meus amorespulam no Caos (Roberto Piva)

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    A DESELEGNCIADISCRETA

    DAS MENINASDE LYGIA

    por Natlia EscobarFontedaima

    gem:bloguedarevistaVeja!(veja.a

    bril.com.br)

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    SFontedaima

    gem:bloguedarevistaVeja!(veja.a

    bril.com.br)

    Fao filosofia. Ser ou estar. No, no ser ou no ser, essa j existe,no confundir com a minha que acabei de inventar agora. Originals-sima. Se eu sou, no estou porque para que eu seja preciso que euno esteja. Mas no esteja onde? Muito boa pergunta, no esteja onde.Fora de mim, lgico. S nos apaixonamos por Lorena quando a des-cobrimos por inteiro ou quase; quando ela quem segura as rdeasdo duro golpe final...

    Ana Clara, a drogada Ana Turva, inventa todos os mistrios do mun-do s para desvend-los. Com ela a narrativa fica densa, obscura, re-flete o fluxo de inconscincia que a vida. , de todas, a personagemmenos explorada factualmente, o que faz o leitor vomitar perguntasque nunca sero respondidas de forma objetiva. Ana Clara subjetiva,irreal e sedutora, e Lygia a projeta turvando-se na pontuao. Nos en-volvemos de tal forma com essa personagem que tomamos para ns ocorao ardente escondido no casaco. A garrafa boiando na onda temuma mensagem dentro se eu rastejar mais um pouco. Estendo o braoe bebo a mensagem que diz.

    Lia, a subversiva Lio, l Che Guevara, tranca a faculdade e vai lutapelo ideal de liberdade. Oculta dentro de si a criana encantada e co-

    loca para fora a revolucionria Rosa. com ela que chegamos maisperto, e quase podemos tocar a ditadura militar brasileira.

    O tecido assim criado de presenas, ausncias, esperanas, sonhos efrustraes o que encanta e arrebata porque esse o abrasador uni-verso de As meninas. Lygia Fagundes Telles , sem dvida, umas dasmelhores escritoras brasileiras e, nesse livro, traz o retrato apaixonadode meninas em um mundo em transformao.

    Filha de advogado e pianista, Lygia Fagundes Telles nasceu em SoPaulo e passou a infncia no interior do Estado. Quando voltou ca-pital, cursou Direito e Educao Fsica na . Ainda na adolescncia,manifestou vocao para a literatura, encorajada por grandes amigoscomo Carlos Drummond de Andrade e Erico Verssimo. Mais tarde,no entanto, a escritora rejeitaria seus primeiros livros, porque a pou-ca idade no justifica[va] o nascimento de textos prematuros que de-

    veriam continuar no limbo.O primeiro romance foi Ciranda de pedra(1954), marco inicial da es-crita madura de Lygia. A dcada de 1970 foi de intensa movimentaona sua carreira literria e assinalou o incio de sua consagrao. Asmeninas, de 1973, recebeu os prmios Jabuti, Coelho Neto (da ) eFico (da Associao Paulista de Crticos de Arte).

    EmAs meninas, Lygia nos leva para o Brasil da ditadura militar e noscoloca diante das diferentes perspectivas de um pas em transforma-o. Com um foco narrativo observador dos fatos, muitas vezes des-viando o fio condutor da histria, a prosa parece acompanhar somen-te o corao que pulsa em cada personagem, tirando o leitor de umpara coloc-lo em outro sem aviso prvio. Todo o livro estruturado

    no tempo e espao psicolgico de cada uma das meninas.Lorena, Ana Clara e Lia. Trs jovens se abrindo para o mundo no tem-po que foi o menos livre do Brasil contemporneo. Lorena, apaixona-da e sonhadora, mantm os ps no ar e a cabea pregada no cho dainfncia. Escuta Jimi Hendrix dear Jimi! , l Drummond e compa-dece platonicamente de todos os males do mundo. Com ela aprende-mos as impossibilidades de ser e estar ao mesmo tempo.

    desencaixotando | em olhares

    PROCURA-SECOMURGNCIAalgum que saiba amar e consertar encanamento. E que use chapu. preferencial que use chapu,jeans e camisas que combinem com as minhas. Fator primordial. No sou muito exigente. Porm, deixo claro em anncio que procuro

    algum decente. Algum que traga flores. Sem flor, eu no passo. Sem agrado, me distraio. Aceito vagabundo, caso seja esta a minha

    nica opo. E que seja atento o vadio ao meu silncio, ao meu espasmo de orgasmo violento, e que seja cordial, sem exagero clich, e

    me diga amo voc duas vezes por dia. Nada alm da conta. Enfatizo que busco algum que, por questo de convenincia, saiba ganhar

    ninharia para encher a geladeira e conhea olabor da cozinha. Eu adoraria comer especiarias feitas por suas mos. E que leia Dostoivski

    e muita filosofia. Exijo viver de amor, literatura e discusso. Plena da vida. Um belo par de luvas seramos. Ratifico: busco vagabundo

    ou qualquer outro. E que tenha bicicleta. Talvez acrobata, mas nada atleta. No quero competio. H muitas ruas em meu mundo e

    seria bom andarmos juntos a sentir o ventono rosto e engolir das horas o que no se v. E, depois de todo passeio, cairamos na cama

    e dormiramos ou nos engoliramos ou sei l o qu. Deixo este item a critrio de quem l. Em caixa alta, procura-se vagabundo. Ou que

    nem seja vagabundo. Aceito trabalhador. E que nem use chapu. Melhor que eu diga precisa-se de algum que saiba viver. Ou que nem

    saiba. Nem preciso que traga flores. E que nem ame. Ou que nem exista. E j no exijo nada. Que eu viva sedenta esperando que toque

    a campainha, que o carteiro traga correspondncia, que a mquina enxgue bem as roupas, que venha data de aniversrio, que venha

    solido, que me venha deus em orao e que eu receba s o cobertor adequado para o frio. Que eu seja abenoada como aqueles que

    so precrios e quase nada possuem na vida. Que eu seja a incompleta cena do captulo seguinte. Que eu seja, antes de qualquer outro

    triunfo, humana acima de tudo, mulher em estado bruto, e que eu viva maestria de um trem que no se resume ao trilhar das estaes.

    adversa aosclassificados

    porLetcia

    Palmeira

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    Eabha Roseweaves words like the delicate thread of the spider or the silk worm. Her threaded words are soft yet strong and full

    of magical light. When reading Eabha, one might feel as if the turning of the Earth slows down, going back to a childhood wonder-

    ment. In timelessness and beauty, her work is a reverie to folklore and love, and a quest for knowledge of the deep magic within.

    Karime Limon

    VERSING FAR

    versando l

    POETS

    ALSONEAR

    BY

    poetastambmc

    FLAVORING WORDS, POWDERING TEXTURES

    THE ALCHEMY OF EABHA ROSE*

    A poeta irlandesa Eabha Rose tece as palavras de modo a elaborar uma composio-teia delicada, a exemplo do que faz a aranha

    ou o bicho-da-seda. De uma ponta a outra, e dali a outras, os os em-verso tm maciez e fora e reluzem. Ler esses versos sentir

    a Terra acalmando seus giros, e ento se alcana de novo um deslumbramento tpico dos tempos de infncia. Atemporal e repleto

    de beleza, eis um trabalho artstico que beira ao sonho de um folclore transbordando amor e refazendo a magia que se tem dentro.

    temperando palavras, polvilhando texturas | a alquimia de eabha rose

    Q e5

    *trad.

    CarolPiva

    temperando palavras, polvilhando texturas | a alquimia de eabha rose

    Eabha Roseweaves words like the delicate thread of the spider or the silk worm. Her threaded words are soft yet strong and full

    of magical light. When reading Eabha, one might feel as if the turning of the Earth slows down, going back to a childhood wonder-

    ment. In timelessness and beauty, her work is a reverie to folklore and love, and a quest for knowledge of the deep magic within.

    A poeta irlandesa Eabha Rose tece as palavras de modo a elaborar uma composio-teia delicada, a exemplo do que faz a aranha

    ou o bicho-da-seda. De uma ponta a outra, e dali a outras, os os em-verso tm maciez e fora e reluzem. Ler esses versos sentir

    a Terra acalmando seus giros, e ento se alcana de novo um deslumbramento tpico dos tempos de infncia. Atemporal e repleto

    de beleza, eis um trabalho artstico que beira ao sonho de um folclore transbordando amor e refazendo a magia que se tem dentro.

    *traduo:CarolPiva

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    Vinicius figueiredo poesia arte visual memoria

    O EQUADOR:Se pra comearmos, que ento! Fico agraciada com estaentrevista assim-bem ns todos do jornal e por vir acompanhan-do mais de perto o seu trabalho desde a poca da sua dissertao.Palavras e imagens das mais-que-lindezas que tive honra de ler edegustar efautuarcom... Bem-vindo aO Equador, querido artista!

    VINICIUSFIGUEIREDO:Eu que agradeo pela participao no jornal. Vo-cs vm, de forma to sinuosa e brilhante, abrindo caminho para acirculao das artes visuais, da literatura, entre culturas distintas...

    O EQUADOR:O artista torna visvel o mundo invisvel eis palavrassuas em recente entrevista ao prof. Marcio Fonseca, da j. Come-cemos, voil!, com a questo da(s) nossa(s) (in)visibilidade(s)... Eeu j arriscaria te perguntar: da atarantada procura da poesia quepreexiste, ou sobrevive, entre a dor, o silenciamentoe a memria?

    VINICIUSFIGUEIREDO:Quando comecei a investigao sobre memria,em 2007, e usando um suporte to delicado (as fotograas dos meusavs maternos), eu no fazia ideia de como o poetizar dessas imagensafetaria minha vida pessoal. Olhando de longe, o que sobreviveu en-tre a dor, o silenciamento e a memria so as obras. Elas nasceramde uma referncia familiar, de um processo criativo e ritualstico doluto, mas atuam como semente que carrega todas as caractersticasgenticas e cresceram de forma totalmente diferente da sua matriz.As obras me fazem ouvir silncios entupidos mais que silenci-loscomo retrato da dor e da memria. Vejo minhas imagens como org-nicas e em constante transformao a cada novo olhar.

    O EQUADOR: marcante na sua obra um entrelugar: o da poesia, quese entrelaa com a arte visual e a memria. Como este processocriador e como voc diria da sua criao so fotograas retraba -

    lhadas digitalmente,prints, assemblages...?

    VINICIUS FIGUEIREDO:Reconheo meu trabalho como fotograa mani-pulada, e este manipular pode ser digital ou manual, mesmo atu-ando diretamente na fotograa revelada. Gosto de brincar com issode visvel, legvel; coloco a escrita manual do meu processo criativodigitalizada nessas ssuras e entrelugares das fotograas. A propos-ta intensar as relaes entre o fazer manual e a arte digital. Existe,na histria da arte, uma briga antiga sobre a legitimidade dos supor-tes, que mudam com as novas tecnologias. Uns atacam o digital e osmeios tecnolgicos, outros desconsideram o fazer manual. Penso quea questo bem maior que a do uso do suporte; ela est na pesquisa

    e na sinceridade do artista em relao suaposise ao seu tempo. Sepensarmos que os meios de criao e vinculao da obra de arte seencontram em expanso com as novas formas de mdia, ento repen-semos o prprio ato de olhar para o outro, pois a nossa memria e aiminncia do esquecimento tambm estaro sempre alteradas...

    O EQUADOR:E qual o lugar dessa arte hoje? Que pblico ela ainda(ou tanto mais ainda) consegue alcanar?

    VINICIUSFIGUEIREDO: muito relativa a questo do consumo da artecontempornea... Eu pensava, por exemplo, que, por abordar temas

    particulares e melanclicos, meu trabalho pudesse ser consideradoextremamente institucional, voltado pesquisa e extenso no meioacadmico. Mas percebi, recentemente, que h uma procura grandepelas obras desta minha ltima srie, Poticas do luto, por parte de

    galerias que no so necessariamente especializadas em arte con-tempornea. Venho aprendendo, com isso, a no limitar a relaoque o pblico estabelece com o meu trabalho e acho que um grandedesao, depois que a obra est pronta, justamente o desapego...

    O EQUADOR:Ah, esse desapego... No campo da produo literria,por exemplo, eis o que Julio Cortzar chamou a autarquia da obra(conto), essa necessidade de o criador se desprenderda criatura e

    deix-laganhar as ruas, como o elefante de Drummond...VINICIUS FIGUEIREDO:Sim, e justamente no possvel prever o quehaver nesta rua nem como ela receber o elefante... No sepode limitar a obra de arte a um s tipo de pblico; se a arte muda eas relaes com o pblico tambm se encontram em transformao,como restringir/delimitar este alcance?

    O EQUADOR:Sim, e tambm... dana, teatro, msica vejo-os expos-tos e escondidos, sob a luz e a no luz, num trabalho artstico depeso, como o seu. O belo amlgama vivenciar,estoriar erepresen-tartrazido por Pina Bausch, por exemplo, vejo-o titilar em muitasimagens suas. Que linguagens artsticas perpassam sua obra?

    VINICIUSFIGUEIREDO:Tenho sido muito inuenciado pela produo deAgns Varda, cineasta francesa que diluiu a ponte entre o cinemae as artes visuais. Tenho as minhas fases de ouvir apenas NinaSimone, por exemplo. Venho escutando bastante o Die Antwoord,pela musicalidade e pelo conceito de arte e moda exageradamentesosticado e agressivo. Eu adoro a Pina, co sempre na expectativade que cheguem as frias e eu possa visitar meu amigo, fotgrafo eteatrlogo, o Franz Deizer, que vive na Alemanha e vizinho do es-tdio da Pina. Ele conta que h vrios momentos em que possvelacompanhar o processo criativo da Cia. Pina Bausch, atravs dosensaios abertos ao pblico e, enm, co doido para ir...

    O EQUADOR:Para encerrarmos (infelizmente!): como o artista aindapode se que pode escapar ao massacre da produo mercado-lgica em pocas de extremada reprodutibilidade tcnica?

    VINICIUSFIGUEIREDO:Eu no acho que o artista deva escapar, Carol.Penso que ele deve justamente se jogar na reprodutividade tcnica,diluir sua aura em milhes e bilhes de algoritmos, lanar sua artena rede e tentar tocar as estrelas com os dedos. Sinceramente vejoque este o caminho. O mercado sempre existiu, sempre mordeu emudou. As novas esferas de criao e reprodutibilidade da obra dearte apontam para um caminho em que as mdias podem/poderocoexistir, sem que haja necessidade de uma sobrepujar a outra...

    Armarinhos Teixeira,RosAngela RennO,Christian Boltanski,

    Alfredo Nicolaiewsky,JosE Rufino,Sophie Calle,Marcos

    Vasconcelos,Farnese de Andrade,Lucian Freud,Robert

    Rauschenberg,Ydessa Hendeles,Edney Antunes todos

    esses artistas me tocaram pela forma singular com que

    investigaram e virtualizarama memOria nas artes visuais.

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    Imagem n. 2, 2012, srie Poticas do Luto II Imagem n. 1, 2011, srie Poticas do Luto II Imagem n. 7, 2011, srie Poticas do Luto I Vinicius Figueiredo, em foto de Mrio Cavalcante

    Vinicius figueiredo poesia arte visual memoria

    Vinicius Figueiredo, em foto de Mrio CavalcanteImagem n. 7, 2011, srie Poticas do Luto IImagem n. 1, 2011, srie Poticas do Luto IIImagem n. 2, 2012, srie Poticas do Luto II

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    CarolPiva

    BRINCANDO DE FAZER UM QU | PALAVRA EXERCITANDO SENTIDOS Q e

    7poesia-poesia... Sey e Sharon, a casa de vocs...

    poetry-poetry... Sey and Sharon, let us toc-toc-in...

    Desinventar as coisas, os outros, qualquer algum. Ou nenhum. Qual o risco? Talvez

    seja como se a lua estando pros ps. E a invisibilidade, pras palavras. E pro silncio. Epra quer-qual de ns E ento existiria misria fazendo sentido algum? Tortuosidadestais residuando a gente sim, ns sentimos; mas elas tambm desmiolando a gente prano medrar precipcios possvel? Aprender lucidez com a dor Tenebroso pode ser.Frtil eis que tambm, porm. Mas mesmo que tudo isso, toda a desgraa nos precipitecontra um grotesco muito afeito a subterrneos de dor pelos quais ns, em mirades,sejamos-seremos engolidos? Ainda parece irresistvel o abismo? Que comprime eoprime, dia-aps, sem cessar? Sim, no, talvez E ento? E ento os choques todoscontra o muro, o minimalismo, o expressionismo, o surrealismo dos dias muitos; osnossos pretensos quem se importa?, eu que nem, os tudos e nadas, a crueza sem-fim;apropriaes, reticncias, tic-tacs, toda essa miscelnea de choro e riso pra qual ningumde ns foi sequer... convidado? Sequer nos repeliram o nu e o cru e a aspereza Pois-quetampouco se deram ao... trabalho? Ah, mundo-asfalto-mundo, mundo-porrada-mun-do, mundo-monstro-mundo... Ento o que mais? Tudo to assustoso, to intrincado.

    E nefasto. Obscuro. spero, doloridamente spero. Como e por que ento possvelsentir ainda alguma doura onde-em-tudo parece haver uma to-s... nusea? Onde ficaaquela fresta, to-s fresta, mas ainda assim fresta? Ah, entre a gente e todos os impos-sveis espelhos de escorregar pra dentro Entre os pratos principais a que no seremosconvidados e a fome que vem pra exacerbar a nossa invisibilidade... Entre dores e armas,a poesia preciosa ao dizer em favor da nossa atarantada humanidade sem aquelesinsuportveis cartes de crdito a que nos obrigam; ela preciosa em nos ensinar a olharcom ternura pros nossos todos atabalhoamentos quando nos metemos a desinventar ascoisas que simplesmente no conseguimos edificar... ns e os nossos olhos j viciadosde uma necessidade de tal conquista, ou de uma qual derrota por vexar. isso o queh de mais inefvel e de mais intransponvel e inenarrvel na poesia. Penso que elafloresce a gente de lucidez, ainda que em dor, e ainda que tenha sido perdida a luta, e elaento nos rio-afora, rio-adentra dela mesma poesia. Fazendo a gente desconhecertudo pra ento reexistir em tudo, ou quase tudo. Dormindo a nossa lngua, quando sim,mas mantendo a palavra enfim-ali, e enfim delicada, mesmo que muito mais propensaao rasgo, ao calafrio, ao horror. E isso pra que a gente no desmerea a outridade, aim ensido, nem sequer a ninharia. Pra que a gente no ache nem perca, mas desencon-tre. E procure. Insanamente, veladamente, inutilmente que seja sendo. Mas sobretudo,e eis sua espada mais incrvel, pra que a gente no se desespere e se morra da genteApresento-pois, muito honrada, os versos vigorosos de duas artistas da palavra quetransbordam poesia. SettyLepida, que poetiza de Atenas, na Grcia; e SharonFrye,de Newcastle, Estados Unidos. A desinventar tons e tonalidades; romper a linguagempra despertar (n)ela; permitir que algumas-ainda lgrimas permaneam nas nossas per-nas destroadas de um mundo febril e ardil , ou nas atarantadas palavras que aindanos esplendoram... ainda... pois-eis-ento-que... ainda uma vez que seja, mas ainda

    O que senmos apenas vive dentro e atravs daquilo que se importa de ns. Dancem, mos

    maquinais! Coma, chapu de tristeza! E beba a minha esperana, devore a minha alegria,

    zombe do meu horror, querida atarantada misria! Mas pelo menos deixe uma lgrima nas

    minhas pernas quebradas, uma gota de orvalho nos meus dentes cariados e uma palavra

    pra dizer um dia da minha irrenuncivel decrepidez.

    What we feel only dwells in our heart through what cares for

    us Dance, machine-hands! Eat, hat of sorrow! And drink my

    hope, devour my joy, deride my horror, dear dazed disgrace! But

    leave me at least with a tear in my broken legs, a dewdrop in my

    decayed teeth, and a word for my irrevocable decrepitude

    To uninvent things. Most Others. Yourself. Any No-Self. Dan-

    gerously, you wonder? But fearlessly. As the moon is to yourfeet. And invisibility is to your words. And to your silence. Andto yourself There shall be a misery being meaningful. A slog

    through whatever being expressive of such exhilarating walkon the cliff Dire, this may be. Yet fruitful, it is. Even if its

    toward the grotesque touching every single black hole you, andmyriads of you are engorged by? Is itstill tantalizing?D ay by

    late wi th, withlittle reprieve? Yes, no, perhaps So what?Shocks against the wall, minimalism, expressionism, surrealism,your pretentious I dont care, your everythingsand nothings,

    crudeness around, cruelty, the caustic language, plunderings,reticence, tick-tack-tocks, all this mlange of crying and laugh-

    ter you are neitherinvited tonor impervious to, the rudeand the crude, and the acrimony Ah, world-asphalt-world,

    world-punch-world, world-fiend-world So what? It is alltragic(omic)! All intricate! And obnoxious. Obscure. Perverse.Iniquitous, pernicious. Andexcruciating Why and how can

    you [still] see any mellifluence where there should only benausea? Is there any mere window, but still a window? Betweenyou and all the impossible winged looking-glasses to slide into,or between the volition you will never be coming of your own

    and the hunger which exacerbates your invisibility, poetryseems to play the ebullient role of that one who/which teaches

    you, without any (credit-)card-like exigency, at least how touninvent what you cannot build (up). This is, for me, the inef-

    fableand insurmountable, and inexplicableinterstice poetryinvites us to riv er ourselves aroundand our mysterious exis-tence, all our trash that endures beside our own small, transi-

    tory life. For usto (flower-)withstand, wake up our language,and keep our word at leastmellifluent. And not relinquish anyothernessor everythingnessor nothingness. And never or rarelyfind that we simply must find or lose but pursue. And especiallyfor us to not despair Here it is, in gleaming touch-by-touch ofso very enticing rhymes cascading over our senses, the poetry oftwo sensitivedear-talentedones, SettyLepida, from Athens,

    Greece, and SharonFrye, from Newcastle, US. Uninventingtones and tunes, breaking up languages to wake them up, andbringing-opening up hoped-for tears for our broken legs, even

    for our dazed wordsand definitely splendoringus

    smll own wks p o cln o rb bins are you listening?ollowd by

    in snch nd n nin rnnin o wih h old nd in wih h nw, pprs,

    lss plsc nd m, bl jics nd mmoris h don mr ys -

    rdys lnch, ls wks nws on wrs, oods, nd mony yo won r in

    s, tv sr irs wklis nd sd oil wips, cir shs crons, old

    bills, h oo mch b w cn ord o crry orsls, ll msh insid

    h rnin blly nd hn o o hir bril si whr birds nd dcy nr r

    UNTITLED UNTITLED UNTITLED UNTITLED

    SETTY

    LEPIDA

    SETTY

    LEPIDA

    SETTY LEPIDA SETTY LEPIDA SETTY LEPIDA

    m

    l mbor ods s minhs mcls

    dqirids d lnis sob mdid

    m cssos-dnro

    d mor

    cos (m) spiris

    no m rbobin d noo

    m dixndo sm

    m lscidd-no

    dord bijd mcld

    dcim primir hor

    (suspiros)

    EUFORI

    A

    m ciddzinh cord pro m-m sridn ds css d lixo

    ei, voc est ouvindo?

    n cdnci d m chiro horrl d moor qimndopr or com o lho, pr dnro com o noo, ppis, idros

    plsco crn, hor--r--co-ls mmris

    sm impornci

    o lmoo d onm, s nocis d rr d smn pssd, nchns

    o dinhiro q nnc s r d noo, s srls plim-plim d tv

    os smnrios s olhs d ppl sds, cinzs d cirro

    cixs d pplo, cons ns, ql sm-m d bm

    q n s mnm sb-s l pr crrr o q, d n,

    odo ss minzinho dnro, sndo dirido, dli diro pro mlo

    ond dcomposio os pssros smpr sro

    com wsh wy my sins srippd o h d

    shs in sizrs inrior o lo in spirl chos

    spool m bck br srchd ino nos dord

    nd kissd nd oxd o h lnh hor (gasps)

    ALEGRIA ALEGRIA ALEGRIA ALEGRIA

  • 7/25/2019 o Equador Das Coisas 3 | Jornal de literatura e arte

    8/8

    Q e8

    Sh wro wih whi pn,

    sd him ino prrphs,

    dippd minnows o words

    ins br skin nl h

    nibbld pink hrd bi.

    H wlkd ino h srs o

    hr sory, l crscn moon

    smil, linrd bhind bl

    whis o smok nd odk.

    A rs, sh dbd wrin

    n llory whr his nm

    wold h bn Moby

    or Dick wih niq sonr

    or ril sh. Glpd lil

    r dolls, on swllow down

    ino bil o his blly, hn ossd,

    spi hm bck ino h s.

    Or sh cold smmon words

    or pic hro, whos bondry

    ws oolproo, whos rmor ws

    rproo, nr ochd by bnkd

    mbrs o nsn orins.

    In h nd, dsprdo Ms,

    whisprd lismn. His

    oic dncd in drknss,

    sn isions o bl. Grn

    lxis clodd dylih

    momns nl blck Adio

    nos rolld wy sons nd

    nlly... lrd hr pn.

    ANTIHERO

    m scorro diro pr blis

    d brri dl, no

    ln-s do d ol o mr.

    O l sri ss plrs pr

    crir hri pico dsss inlis,

    pro d oo com blindm

    pr o cso d ors ndors

    s insinrm, qm sb...

    No m ds cons, Ms

    prrs, sssrrn lism.

    A oz dl dno n scrido,

    s nrlndo o zl li iso.

    Glxis rds nirm lz

    do di q s nos do

    prorbio irm on nm

    ... rrbrm s scri.

    El scri com m cn brnc,

    oscndo-o nr os prros,

    prndo conr pl dsnd

    s plrs-pixinhos

    q l nm mordss

    isc d pns cor-d-ros.

    Pss l ns rs d hisri dl,

    dixndo crscn l, m sorrisos,

    com mrcs d m odc

    rs do li zl.

    D incio, l coio scrr

    m lori m q o nom dl

    rss como Moby,

    o Dick, com sonr xclsio

    pr corpos ris. D z s,

    bonqinhs d pno nolids

    ANTI-HEROI

    SHARONFRYE SHARONFRYE SHARONFRYE SHARONFRYE

    SHARONFRYE

    SHARONFRYE

    ...Quantos anos voc tem? A constatao de que ele era quinzeanos mais novo que ela a transformou, numa frao de segundos,em pedla. De onde voc ? A origem nordestina projetou, ins-

    tantaneamente, em sua imaginao frtil, o quadro de uma vida desofrimento. Pde v-lo, retirante, chegando a Sampa com a cara e acoragem e, provavelmente, mal alimentado. Perninhas nas e bam-bas... E nalmente: voc ainda tem me viva? Nooossa... saber quecara rfo de me aos dois anos de idade foi o golpe fatal. Chegavaa ser covardia... se pudesse, o adotaria ali, naquele exato instante. Olevaria pra casa, lhe daria um pratinho de sopa quente, e o colocarianuma cama quentinha... Coitadinho... Saiu do carro amarrotada, se

    recomps rapidamente, ajeitou os cabelos desgrenhados e foi pra casa

    pensando. Pensando, no. Sentindo. A pele dele era macia, a bocagostosa, o desespero estimulante. At que isso podia ser bom... O

    segundo encontro comeou estapafrdio. Ele vinha de dois plantesde doze horas, seguidos. Tivera apenas uma hora para descansar. O

    constrangimento dele por ser ela dirigindo no cabia dentro do carro.O lugar que ela escolhera, a dedo, pra que tudo desse certo, foi rejei-

    tado por ele, cuja ansiedade parecia no permitir que se fosse a algumlugar alm da esquina. Quando ela sugeriu recepcionista que lhes

    oferecesse alguma cortesia, a aio dele fez com que se arrependesseimediatamente, pois, a seus olhos, ela devia ter extrapolado todosos limites da ousadia. Depois de uma inspeo prvia em todos os

    cantos do quarto, ela pediu uns minutos e entrou no banheiro. Tudoparecia meio fora de lugar e no to limpo quanto deveria. Resolveupassar por cima e curtir o momento. No era pra isso que estava ali?

    Saiu do banheiro, j enrolada numa toalha, e o encontrou mais doque pronto. E, no primeiro abrao, j querendo mergulhar nela, ele

    soltou uma frase que de to proibida para a ocasio lhe pareceu qua-se pornogrca: eu t morreeendo de medo de gostar demais de voc

    e voc s me querer pra sexo. Ela se liquidicou.

    AMORCASUAL,par

    te2

    NOEQUADORdasc

    oisas3

    Seu estado passou de slido pra gasoso e seu corpo se transformounum instrumento de caridade. Faa, faa o que quiser... Ele deviater uma vida to dura, bem que merecia possuir uma mulher sem

    restries, sem muita frescura... Era to jovem, provavelmente nemdevia ter muita experincia naquilo que estava fazendo... To viril eforte, to desesperado e agressivo... Ela previu que estaria quebradano dia seguinte. Ele dormiu profundamente. Ela o abraou e, emborano tivesse sono, acabou cochilando, embalada pela respirao forteprovocada pela exausto dele. Pela janela se percebia a tarde cair euma chuva gostosa serviu de trilha sonora praquele momento to

    diferente de tudo o que previra em suas malucas fantasias de mulherem abstinncia. Olhou o corpo jovem dele, e viu que, ainda ressonan-

    do, ele estava de novo pronto. Sorriu. Brincou com ele. Ele reagiu deimediato, como se estivesse acordado o tempo todo. Era um garo-to... Que a usasse, como bem quisesse... Havia pouco tempo agora.Logo ele teria que ir pra outro turno de seu trabalho to sacricado.Coitadinho... Na volta, estavam calados e ele se preocupou em lhe

    perguntar se estava tudo bem. Ela assentiu, com um sorriso. Despe-diram-se com beijinhos na boca, como se fossem namorados. E ela odeixou, penalizada por no poder estar mais um pouco ao lado dele,talvez adoando um pouquinho sua vida, que parecia ser to dura...De repente, percebeu que esquecera por completo de si mesma. Nemlembrava de seu prprio prazer, de suas carncias, de seus desejos htanto macerados... Ele no fora nada generoso com ela na cama... masestava se sentindo agradecida. Ele lhe dera, de pronto, a experinciade que tanto precisava para conhecer um pouco mais sobre si mes-ma. O qu, por exemplo? se perguntou, sorrindo. Numa primeira

    anlise, que ainda podia ser muito desejada... E que, provavelmente,nunca saberia fazer sexo casual. Alis, estava tendo a sensao de queacabara de inventar nova modalidade, da qual nunca ouvira falar: o

    amor casual. Casual, sim. Mas no sexo. Amor.

    porAnaLciaSorrentino

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    EABHAROSE irlnds mor lmn m Dblin. Aprci oor scri os nos rmnos d posi -pros pr-l--pr-c m imns q l

    cpr di-ps. S inrss pl iconor rliios irlnds, o q rmon innci com condor d sris. Es lmn rblhndo m lns x-os m prcri com o msico indonsio-holnds Trin Kyh.| artundonebyevie.blogspot.com | eabharose.blogspot.com

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    dior (indpndn) d rios e-books, dnr os qis Perfs Interessantes, Trinta Contos de Euros e Trs de Natal Outros Quinze Contos. | bluemaedel.blogspot.

    com | quinzecontosmais.blogspot.com SETTYLEPIDA, nscid n Grci, s pozndo s coiss (co)xisndo com-m plrs q sm dspm orni -

    cmn o ksmos. | seylepidapoetry.blogspot.com NATLIAESCOBARcrs Jornlismo n Unirsidd d Ubrb scr pr ris O Zebu no Brasil. |

    [email protected] | Facebook: eagoranatalia VINICIUSFIGUEIREDO rs plsco, msr m Ars Visis pl ufg SHARONFRYE po

    i m Oklhom, nos eua. Tm rsos pblicdos m imporns nolois, riss jornis lirrios, xmplo do The First Cut. Prcipr, s no, do Fsl

    Inrncionl d Posi d Frmoy, n Irlnd. | facebook.com/fryewriter LETCIAPALMEIRA or dArtes de Ilusrios(2009) Sinfnica Adulterada(2011),

    scr o bloAfeto Literrio colbor com o jornl Contraponto. |leciapalmeira.blogspot.com | [email protected] GERMANOXAVIER (po-scrior,

    prossor jornlis, Bhi),CAROLPIVA(prossor, risor ccionis, Mins Gris),KARIMELIMON(po, Sn Dio, Clirni, eua), IARAFERNANDES

    (prossor-risor, scrndo d Mins Gris) TATIANACARLOTTI (blzqin conic, mn ds lrs, scrndo d So Plo) so os diors d O

    Eqdor ds Coiss. | oequadordascoisas.blogspot.com | theartbrazil.blogspot.com | karimehologram.blogspot.com | alternavaculturalevirtual.blogspot.com| www.tcarlo.com