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O ESPÍRITO CIENTÍFICO: CONHECIMENTO CONDITIO SINE QUA NON PARA A ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA POR INTERMÉDIO DA CHC Sandra Oliveira de Almeida - [email protected] UEA – Universidade do Estado do Amazonas Manaus-AM Luana Monteiro da Costa [email protected] José Vicente de Souza Aguiar [email protected] “O conhecimento do real é luz que sempre projeta algumas sombras. Nunca é imediato e pleno.” (Bachelard) Resumo: Este artigo é resultado de pesquisa bibliográfica que tem como objetivo utilizar a revista Ciência Hoje das Crianças como instrumento para estimular o espírito científico do ser em formação, cujas temáticas são desenvolvidas para um público jovem, e que permitem a prática da pesquisa, leitura e experimentos, pois acredita-se que tal espírito científico não surja espontaneamente, a partir de algo sem razão, contudo, pode ser adquirido uma vez que ao ser seja apresentado, de variadas formas, o que vem a ser Ciência. O trabalho apresentará tópicos sobre conhecimento científico, Alfabetização Científica (AC) por meio da pesquisa e imagens que o periódico em questão pode oferecer. Quanto à elaboração da metodologia empregada, optou-se pela abordagem qualitativa devido à apresentação de tópicos da CHC para o processo de aprendizagem. Também buscou-se para embasamento variados autores como Bachelard (1996), Demo (2013), Chassot (2007), Luckesi (2011), os quais, de maneira significativa, ressaltam a importância do conhecimento e da AC. Palavras-chave: Espírito científico, Conhecimento científico, Ciência hoje para criança, Alfabetização científica. 1 INTRODUÇÃO A motivação e o desenvolvimento de visão sobre a realidade científica e tecnológica tem-se mostrado iminente quando se pensa em um estudante com capacidades para

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O ESPÍRITO CIENTÍFICO:

CONHECIMENTO CONDITIO SINE QUA NON PARA A ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA POR INTERMÉDIO DA CHC

Sandra Oliveira de Almeida - [email protected] UEA – Universidade do Estado do Amazonas Manaus-AM Luana Monteiro da Costa – [email protected] José Vicente de Souza Aguiar – [email protected]

“O conhecimento do real é luz 

  que sempre projeta  

algumas sombras.  

Nunca é imediato e pleno.” 

(Bachelard) 

 

 

Resumo: Este artigo é resultado de pesquisa bibliográfica que tem como objetivo utilizar a revista Ciência Hoje das Crianças como instrumento para estimular o espírito científico do ser em formação, cujas temáticas são desenvolvidas para um público jovem, e que permitem a prática da pesquisa, leitura e experimentos, pois acredita-se que tal espírito científico não surja espontaneamente, a partir de algo sem razão, contudo, pode ser adquirido uma vez que ao ser seja apresentado, de variadas formas, o que vem a ser Ciência. O trabalho apresentará tópicos sobre conhecimento científico, Alfabetização Científica (AC) por meio da pesquisa e imagens que o periódico em questão pode oferecer. Quanto à elaboração da metodologia empregada, optou-se pela abordagem qualitativa devido à apresentação de tópicos da CHC para o processo de aprendizagem. Também buscou-se para embasamento variados autores como Bachelard (1996), Demo (2013), Chassot (2007), Luckesi (2011), os quais, de maneira significativa, ressaltam a importância do conhecimento e da AC. Palavras-chave: Espírito científico, Conhecimento científico, Ciência hoje para criança, Alfabetização científica.  

1 INTRODUÇÃO

A motivação e o desenvolvimento de visão sobre a realidade científica e tecnológica tem-se mostrado iminente quando se pensa em um estudante com capacidades para

participar de forma coerente na sociedade e perante o meio ambiente, mas para isso, recursos se fazem necessários. Este artigo propõe a utilização da CHC (Ciência Hoje das Crianças) como uma ferramenta a mais para uso do professor, não sendo um único meio de obtenção de saber, mas uma possibilidade, de modo que o conhecimento científico possa ser apresentado às crianças do ensino básico, despertando o espírito científico e o gosto pela pesquisa. Acredita-se que a utilização de um periódico científico em sala de aula ou como fonte de pesquisa, tende a ampliar o conhecimento, tornando-o mais atraente. A constância do ato de leitura, experimentos bem orientados, pode estimular a criança de forma que passe a buscar novas informações e que posteriormente questione aquilo que a ela está sendo apresentado, afinal, não estará apenas absorvendo informações prontas do professor, contudo, poderá se posicionar como estudante crítico, que está em constante desenvolvimento intelectual. O intuito deste trabalho não é descartar de forma alguma os conhecimentos adquiridos pelos livros didáticos utilizados na escola, mas entende-se que o processo de aprendizagem é vasto, com constantes transformações e para tanto, outros recursos vêm a somar na educação dos alunos e também dos docentes. Buscou-se por meio do sumário e de trechos com imagens da revista CHC, exemplificar possibilidades de utilização deste periódico, pois há temáticas que permitem interdisciplinaridade, não desprezando a Ciência como parte fundamental, mas mostrando que este meio de divulgação científica oferece certa ligação com outras disciplinas possibilitando um saber coeso, não fragmentado.

2 CONHECIMENTO CIENTÍFICO O homem no decorrer de sua história, de alguma maneira, caminhou em busca de conhecimento e variados são os autores que nos relatam que a Ciência é o meio pelo qual, o indivíduo tende a progredir no que tange ao pensar e ao agir; o conhecimento, por conseguinte, é histórico, pois é fruto de constantes renovações. Segundo Bachelard (1996, p.10) “Quer queiramos, quer não, tudo se duplica, mediante o conhecimento. Só ele, o conhecimento, é o pleno do ser, é o pleno da potencialidade do ser, potencialidade que aumenta e se renova exatamente na medida em que o conhecimento aumenta”. Para Demo (2013, p.30) o “conhecimento científico não pode ser visto como porto seguro, lugar de chegada e permanência, mas como um turbilhão sempre em chamas”. A necessidade de renovação é uma constante quanto o assunto é Ciência, o indivíduo que alcança o instinto formativo e não continua a busca por novas questões, tende a ceder lugar ao conservadorismo como afirma Bachelard (1996 p.18) “[...] a atividade espiritual se inverte e se bloqueia. Um obstáculo epistemológico se incrusta no conhecimento não questionado”. Isso tende a ser um grande perigo, a obtenção dessa resistência, pode obstaculizar o progresso do conhecimento científico. Entende-se que o perigo surge quando na área de educação o conhecimento passe de uma geração a outra sem que haja mudanças, cujas informações científicas se perpetuem e tornem os seres em formação meros detentores de assuntos ultrapassados. Luckesi (2011, p.154) não utiliza o termo conhecimento científico, somente conhecimento, no entanto, sua colocação parece ser interessante, visto que o entendimento amplia horizontes, desperta a busca pelo novo, rompendo com as cadeias do não saber para o saber nitidamente:

O conhecimento é a compreensão inteligível da realidade, que o sujeito humano adquire através de sua confrontação com essa mesma realidade. Ou seja, a realidade exterior adquire, no interior do ser humano, uma forma abstrata pensada, que lhe permite saber e dizer o que essa realidade é. A realidade, por meio do conhecimento, deixa de ser uma incógnita, uma coisa opaca, para se tornar algo compreendido, translúcido.

Para se alcançar o conhecimento científico, acredita-se ser fundamental primeiramente à aquisição da alfabetização científica (AC), termo bastante difundido na área de educação não somente no Brasil como internacionalmente, por mostrar-se como um caminho facilitador, mas o que vem a ser a AC? Na visão de Chassot (2007) é uma das dimensões potencializadoras alternativas que tendem a educação mais comprometida, é quando o indivíduo pode ler a linguagem em que está escrita a natureza por ser capaz de compreendê-la. Partindo deste ponto, indubitavelmente o conhecimento científico colabora para a formação de um ser questionador, crítico e consciente dos acontecimentos ao seu redor, entende-se que o tal conhecimento não nasce sozinho, sem orientação. Quando a sua aquisição ocorre desde a tenra idade, aumenta a possibilidade do sujeito se envolver com ele. Demo (2012) chama de espírito científico ou educação científica, o ato de pesquisa que segundo ele, precisa ser fomentado, desde criança, ou seja, estimulado tanto em casa como na escola, e vai mais além, afirmando que a Ciência em nossa cultura é considerada como experiência árida e inóspita, na qual a valorização das belas artes e humanidades são mais destacadas pala atual sociedade. Para Bachelard a respeito do espírito científico (1996, p.18) “[...] todo conhecimento é resposta a uma pergunta. Se não há uma pergunta, não pode haver conhecimento. Nada é evidente. Nada é gratuito, tudo é construído”. O saber surge através de uma organização de pensamentos que não vem do nada e tendem a mudar o indivíduo como firma Ghedin e Franco (2011 p.140) “O conhecimento, como resultado de uma reflexão sistemática, rigorosa e de conjunto a cerca da própria prática, de sua construção atinge o sujeito, diretamente, no mais íntimo de seu ser”. Segundo Morin (2012) todo conhecimento se constitui concomitantemente por tradução e reconstrução de sinais, símbolos, signos, sob forma de ideias, discursos, teorias, tendo um processo circular de análise e síntese, ou seja, de separação a ligação e de ligação a separação novamente. Sendo assim, nota-se então que o conhecimento é um ad continuum por não ter limites, mas cortes o tempo inteiro, uma vez que informações são pesquisadas e novos estudos rompem com os anteriores, reformulando conhecimentos, novos problemas. Severino (2003) apresenta o conhecimento como forma de elaborar as propostas de solução dos problemas que serão resolvidas pela prática e ações concretas. Cabe ressaltar que constantemente surgirão outros problemas, porque o conhecimento nunca é algo pronto e acabado, para Bachelard (1996, p 17) “No fundo, o ato de conhecer dá-se contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal estabelecidos, superando o que, no próprio espírito, é obstáculo à espiritualização”.

3 ESPÍRITO CIENTÍFICO SEM COERÇÃO E A PESQUISA Piaget propôs uma escola sem coerção, cujo aluno é levado a experimentar e reconstruir o que aprendeu, e não simplesmente ver o professor lançar atividades, por isso à importância da pesquisa como fonte de informação. Atualmente, diversos autores

tem defendido esta mesma visão, instruir o aluno a buscar e pensar sobre o conhecimento adquirido. De acordo com Bachelard (1996 p.18) “O espírito científico proíbe que tenhamos uma opinião sobre questões que não compreendemos, sobre questões que não sabemos formular com clareza.” Se o educando não tem noções prévias de determinado assunto, entende-se que a possibilidade de crescimento intelectual torna-se prejudicada, visto que não há como questionar, por tanto, a ideia de que o aluno uma vez estimulado, ensinado a buscar conhecimento e questioná-lo, tenderá a se desenvolver de maneira crítica, não passiva ao que o cerca, como se a verdade fosse única, inalterada e absoluta. Segundo Chassot (2011) a cidadania só pode ser plenamente realizada uma vez que o cidadão tenha aquisição do conhecimento que como explicita bem, não se resume a meras informações, mas ao acesso a alfabetização científica. Quando o assunto é alfabetizar cientificamente, é de suma importância entender que esta é uma ação que pode mudar transformar alunos e cabe ao professor ser o facilitador. Segundo Chassot (2007, p.67) “A responsabilidade no educar com o ensino das Ciências é procurar que nossos alunos e alunas, com a Educação que fazemos se transformem em homens e mulheres mais críticos”. Para Luckesi (2011, p.148) “O educando é um sujeito que necessita da mediação do educador para reformular sua cultura, para tomar em suas próprias mãos a cultura espontânea que possui, para reorganizá-la. Demo (2005) argumenta que a pesquisa estimula no aluno o ato de investigação, habitua-o a ter iniciativa para procurar e selecionar livros, textos, fontes e informações de maneira que se torne um ser que não receba somente matérias prontas do professor. Tais situações mostram que o aluno de ser passivo, torna-se ativo, por ir à busca de conhecimento para ser apresentado, isso ajuda na formação social do estudante de sorte que venha a ser participativo opinativo nas aulas conforme expõe Ghedin et al (2013, p. 45)

É importante prepararmos o aluno para que tenha consciência ao tomar decisões na vida cotidiana, desta maneira mostrando a eles que, ao agirem dessa forma estarão participando ativamente das ações sociais, conhecer e usar os conhecimentos científicos nesse processo direciona os alunos a uma participação mais ativa no social em que está inserido.

Não se descarta a aula tradicional ou mesmo os materiais didáticos utilizados na escola, todavia faz necessário ensinar não somente por meio das exposições feitas pelos professores, mas ensinar formas de se conquistar conhecimentos. Lorenzetti e Delizoicov (2001) reforçam que os docentes precisam elaborar meios, estratégias para aplicação de conceitos científicos no dia a dia, desenvolvendo assim hábitos de pessoas cientificamente instruídas, pois os alunos não são ensinados a fazer ligações de conhecimentos apreendidos na escola com as suas vidas. O trabalho de ensinar de modo a educar cientificamente, não se mostra como tarefa fácil, mas certamente alcança grandes proporções que de início parecem não dar resultados, porém, com o tempo, as pessoas em formação, tornam-se mais conscientes em relação ao mundo e suas transformações, e assim, podem tornar-se agentes ativos na sociedade. O estudante é convidado, motivado, orientado, no sentido de ser exposto à obtenção do saber. Isso ocorre de maneira que haja um quadro de trabalho com acréscimo de dados a dados; organizando essas informações num contexto planejado e coeso, encaminhado pelo docente. A aquisição do conhecimento, portanto, é vislumbrada de modo mais amplo e mais significativo. Ele se fixa mais firmemente na mente do

participante desse processo, pelo procedimento diferenciado adotado no novo contexto escolar escolhido:

Como o aluno poderá dar sentido à visualidade em que está imerso?Por que o conceito de alfabetização se restringe aos significados que as palavras proporcionam? A compreensão das imagens não é constituída da alfabetização no sentido pleno? O que pode fazer o ensino da arte nesta cultura visual em que vivemos? (Rossi 2009, p. 10)

Quando determinado assunto sai da visão, sai o acesso mais fácil da memória ao conteúdo. O que se aprendeu na escola cai em desuso e não se consegue saber usar o mesmo item em novo momento oportuno, justamente, quando deveria ter sido útil. Teste e provas deveriam encorajar o aluno a adquirir, saber empregar e utilizar um assunto. Sem entender assim, fica para quem mais precisa, somente e em geral, vaga lembrança de ter prestado um exame sobre algo que estudou, mas não sabe dizer o que era como expõe Bachelard (1996, p.22):

(...) a educação científica elementar costuma, em nossa época, interpor entre a natureza e o observar livros muito corretos, muito bem apresentados. Os livros de física, que há meio século são cuidadosamente copiados uns dos outros, fornecem aos alunos uma ciência socializada, imóvel que graças à estranha persistência do programa dos exames universitário, chega a passar como natural; mas não é; já não é natural.

Reproduzir o pensamento de outros e nem saber como chegaram àquele resultado, faz o aluno se encaminhar para postura desestruturante e inválida, o que corresponde ao retrocesso.

4 ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA POR MEIO DA CHC

Como outrora já mencionado, a AC não é algo que pode acontecer somente por intermédio de livros didáticos adotados pelas escolas, há variados meios que podem ser associados e que funcionam como auxiliares para a aquisição e aprimoramento da alfabetização científica, como no caso da revista CHC (Ciência Hoje para crianças) que é considerada no país uma divulgação científica voltada a um público específico, mas que alcança o objetivo de desenvolver o conhecimento científico aos alunos, uma vez que os professores a utilizarem de maneira adequada conforme afirma Trivelato e Silva (2011, p.99)

Há uma enorme possibilidade de utilização de textos de divulgação científica em sala de aula; seja qual for à opção para essa utilização, é importante que o professor dedique uma atenção para a mediação entre o conteúdo e o sentido do texto e o aluno. Nessa mediação, o professor participa da escolha do texto, faz os recortes necessários para o nível de aprendizagem dos alunos e o tempo da aula, organiza as atividades de leitura e comparação com outros textos, como os do livro didático e propõem outras atividades que auxiliem a compreensão, discussão e reflexão sobre o assunto.

O papel do educador se torna relevante quando a criança aprende e vai à busca do saber que não ocorre somente por meio de livros didáticos pré-selecionados pelas escolas e por professores que apenas explicam assuntos concernentes a sua disciplina, mas que existem meios de captar conhecimento por variados instrumentos como periódicos impressos (revistas), cuja busca de temas tendem a ser curiosos e atuais,

certamente que isso pode ser uma possibilidade de ensinar a pesquisar, experimentar por meio da busca, da observação, não colocando todo o material sem que o aluno não sondasse, lesse assuntos que posteriormente serão ministrados em sala de aula, despertando assim o senso de curiosidade. Munari (2010) em seus estudos sobre Piaget afirmou que para ele, a maior parte das escolas não educa o espírito experimental, expõe também que o uso de livros e manuais não deveriam ser obrigatórios, mas obras de referências, pois aulas bem planejadas pelo professor conduzem de modo espontâneo a redescoberta e reconstrução de verdades ao invés de recebê-las prontas. Como no decorrer do presente artigo tem-se mencionado a utilização de periódicos, há no mercado brasileiro desde 1986 a revista CHC, criada para o público infanto-juvenil, ela tem servindo como um instrumento poderoso nas mãos dos professores, podendo ser ferramenta auxiliar dos conteúdos escolares, apresenta experimentos, leituras variadas, imagens diversas que tende a interdisciplinaridade, despertando no ser a imaginação, curiosidade e criticidade; Segundo Gomes (2000, p.19) “ A revista Ciência Hoje (...) além de aprofundar os temas, prima pela precisão, pelo rigor”. Bueno (2012) também expõe que apesar da ciência estar presente em vários periódicos voltados ao público infantil, no Brasil apenas um periódico é voltado exclusivamente para divulgar ciência para crianças: a revista Ciência Hoje das Crianças. Por ser vista como uma ferramenta com subsídios que auxiliam por meio de informações interessantes entende-se que há variadas possibilidades de utilizá-la em sala de aula.

Ilustração 1: Sumário.

Ao observar o sumário da CHC na ilustração 1, o professor, que não necessariamente precisa ser da disciplina de Ciências, obtém o panorama dos assuntos abordados neste periódico, tais como: experimentos, galerias, contos, poemas, quadrinhos, bate-papo, curiosidades e outras informações que permitem diversificada aquisição de conhecimento que em grande parte está relacionado ao ensino de Ciências.

Um planejamento adequado tende a proporcionar aulas interessantes, abrindo espaço inclusive à interdisciplinaridade, uma vez que os assuntos envolvem temáticas diferenciadas, mas para isso, o planejamento em grupo torna-se iminente. Acredita-se que um passo importante para a formação do espírito científico na criança comece pelo ato da leitura e posteriormente a pesquisa; é instigando, ensinando como buscar informações que uma criança pode ser levada a novas buscas e novos posicionamentos, de acordo com Bachelard (1996) o saber científico deve ser construído a cada momento, para Demo (2005, p.1) “O critério diferencial da pesquisa é o questionamento reconstrutivo que engloba teoria e prática, qualidade formal e política, inovação e ética”. A CHC por ser de fato considerada uma revista de cunho científico no país, voltada a um público muito jovem, trás informações e curiosidades que o aluno de ensino básico talvez não tivesse se somente obtivesse como única fonte de consulta seu livro didático. O intuito não é colocar este periódico em questão como obtentor de todas as verdades científicas, mas como exemplo de fonte para aquisição de saberes. Ao utilizar a CHC em sala de aula, entende-se que é necessário sumariamente apresentar a revista, perguntar se algum aluno já teve acesso a ela, fazer levantamento prévio a respeito do conhecimento que os alunos tem do periódico, e posteriormente, apresentá-la como revista de divulgação científica, explicando o que vem a ser isso, quanto tempo está no mercado, o porquê de sua utilidade para os educandos, mostrando assim, a capa, o sumário, orientar quanto as temáticas presentes e deixar que o aluno possa ler e por conseguinte através de uma roda de conversas a respeito dos assuntos lidos, captar a forma como os alunos adquiriram o conhecimento, o que acharam curioso ou diferente e na sequência solicitar pesquisa do que foi aprendido em outras fontes científicas como forma de desafio a novos questionamentos, para Demo (2011, p.47) “Aprender é a maior prova da maleabilidade do ser humano, porque, mais que adaptar-se à realidade, passa a nela intervir”. Uma vez que a criança tenha contato com outras informações científicas à possibilidade de torna-se um ser politizado é grande e a busca e o entendimento pela pesquisa segundo Demo (2005, p.28) “A pesquisa é tomada como um princípio científico e educativo, maneira de saber fazer e de refazer conhecimento, bem como educar”. A Revista CHC não apresenta somente informações de Ciências, mas também relacionada a outras disciplinas como história, na ilustração 1 sobre o sumário de uma revista da CHC, há a temática que relata a respeito do diário da princesa Leopoldina, observa-se em seguida um conto cujo título é Tartaruga voadora, entende-se que são informações importantes para o conhecimento geral, afinal, as separações de disciplinas não auxiliam o desenvolvimento da aprendizagem, de acordo com Gerhard e Rocha Filho (2012) a fragmentação do conhecimento científico a ser ensinado por meio de separação de disciplinas tem sido danosa para a educação. Um tópico que pode ser relevante nos periódico da CHC são os de experimentos. Nesta seção da ilustração acima, cujo tema é “fóssil de mentirinha”, há a possibilidade, por exemplo, de unir aulas de História com as de Ciências, cujas informações e pesquisas estejam relacionadas aos fósseis, a pré-história e animais extintos cujos fósseis foram encontrados, após o estudo prévio, os alunos por meio de materiais sugeridos pela revista: barro, café, trigo, sal, colher de madeira e pequenos objetos como conchas, animais de plástico e folhas, montem fósseis não reais, mas que instiguem a curiosidade pelo assunto e posteriormente possam expor na escola ou para a comunidade o que por meio de uma brincadeira aprenderam, estimulando assim, cada vez mais o espírito científico neles.

5 CONHECIMENTOS CIENTÍFICOS ATRAVÉS DE IMAGENS A aquisição de conhecimento científico ocorre não somente pela leitura de palavras, mas as imagens funcionam como ferramenta valiosa para pessoas das mais variadas idades e culturas adquirirem saber. De acordo com Manguel (2001, p.21) “As imagens, assim como as histórias, nos informam”. Transmitem mensagens, por meio das cores, das formas, do imaginário, até mesmo da nossa vontade. Almeida (2012, p.12) descreve que “é preciso salientar a importância dessa prática, pois é ela que leva às crianças à reflexão de elementos que provavelmente não seriam percebidos em situações que não fossem de ensino”. A leitura de imagens conduz o ser a ter conhecimento mais abrangente, pois se unem as partes: palavras e imagens, de modo que mexe com o imaginário, utilizando o conhecimento prévio do indivíduo, bem como o conhecimento que está sendo absorto no ato da leitura. É uma explosão de acontecimento que por meio do concreto, tem-se um fio condutor ao abstrato, cuja informação detectada pela visão é facilmente interpretada. Segundo Costa (2013, p.33).

Sem desmerecer os demais sentidos humanos, biólogos, psicólogos e neurologistas são unânimes em reconhecer a importância da visão e da linguagem visual para grande parte das situações que devemos enfrentar ao longo da vida. A rapidez com a qual processamos informações visuais e a facilidade com que arquivamos são argumentos fortes em favor do uso das imagens na comunicação humana.

Ao observar imagens da revista CHC, percebe-se que a disposição delas não se dá por acaso, como no caso do rato-do-cacau; esta imagem está alocada na seção de galeria “Bichos ameaçados em extinção” da revista 246 de junho de 2013. Nela, aparece primeiramente a imagem por desenho, em seguida há um pôster do animal em seu habitat, textos de auxílio ao professor e convite a preservação do bicho ameaçado; antes de ler a matéria, tem-se primeiramente o contato com a imagem:

Ilustração 2: Desenho infantil do rato-do-cacau.

A ilustração 2 indica o rato de hábito noturno pelos elementos (céu escuro e estrelado) próximos ao caule do cacaueiro. O animal e a cauda, lembrando o formato do mouse da informática, estão perto de uma planta com um dos frutos visivelmente

mordido, sob cujo topo, há o nome científico dela; em contraste com os dele, sob o desenho. “As imagens que formam nosso mundo são símbolos, sinais, mensagens e alegorias. Ou talvez, sejam apenas presenças vazias que completamos como o nosso próprio desejo, experiência, questionamento e remorso. Qualquer que seja o caso, as imagens, assim como as palavras, são a matéria de que somos feitos”. Manguel (2001, p.21). Em analogia com a imagem memorizada, ou diante da novidade para a criança que nunca viu um rato, mas recebeu esclarecimento; constrói-se um arquivo de dados sobre a espécie em perigo. Se não há explanação, os olhares serão mais diversos e quem o desconhece não saberá identificar a que a imagem se refere. Chalmers (1993) entende que a pessoa compreende um objeto a partir de experiência visual passada, a saber, dos seus conhecimentos prévios.

Ilustração 3: Pôster da espécie ameaçada.

Na ilustração 3, a maneira de ver um rato é trocada pelo recebimento de uma nova imagem, uma foto em formato de pôster da espécie, retratando seu habitat natural, há a visão de uma criatura em risco e precisando de auxílio.

(...) os estudos sobre imagens mostram que elas têm, na cultura humana, uma função muito mais complexa do que na vida de outras espécies de animais. Além de reconhecer amigos e inimigos, de diferenciar presas de predadores, de situar os seres num espaço de onde podem entrar e sair, as imagens mentais que obtemos de nossa relação com o mundo podem ser armazenadas, constituindo nossa memória, podem ser analisadas pela reflexão e podem se transformar numa bagagem de conhecimento, experiência e afetividade”. Costa (2013, p.29)

O banco de dados da memória respectiva do ser é revisado e atualizado. Conhecer pressupõe compreender diversos ângulos da realidade manifesta. Pode-se aprender a partir de todo assunto lido e de diferentes pensamentos relacionados à leitura. Aprende-se mais, vivenciando, absorvendo pelos sentidos. Pela visão, obtém-se e organiza-se cada item.

O lúdico pode ser uma boa forma para captação de conhecimento principalmente quando o público ainda é infantil.

Ilustração 4: Apelo.

Na ilustração 4, há também a apresentação de um convite à preservação do ser ameaçado; as informações a respeito do rato-do -cacau, estimulam o jovem leitor a refletir, buscar saber o porquê de ter que preservá-lo, despertando a curiosidade por meio da informação, como afirma Bachelard (1996), faz-se necessário que o ser seja estimulado, desenvolvendo assim o espírito científico; a fim de que ocorra o questionamento, a problematização, a vontade de saber e participar da construção e da realidade.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Acredita-se que o conhecimento científico pode ser bastante desenvolvido na escola quando bem articulado e que uma criança alfabetizada cientificamente necessite ter um espírito científico em constante busca, para não aceitar qualquer verdade que lhes seja imposta, assim tenderá a participar, se informar e não será um agente perpetuador de informações tradicionais, mas alguém que entende que a Ciência vive em constantes transformações. Constatou-se por meio de breve análise de sumário da revista CHC, cujas temáticas são diversas, assim como as das imagens a possibilidade de desenvolvimento do saber

científico que uma vez desenvolvido com os alunos podem tornar as aulas mais interessante, se a elas forem apresentados periódicos de divulgação científica que mostrem fatos curiosos, fatos em transformação, cuja Ciência necessite ser vista como algo circular e que de certo modo não deve trazer coerção, por não ter uma única verdade, e nem ter um único meio de informação. Vale ressaltar também, o papel do professor como facilitador no processo de formação do espírito científico da criança, o agente transformador, aquele que faz o planejamento e a execução, o processo depende dele, a forma como transmitirá também é fator importante para o Ensino de Ciências significativo. O desafio parece ser grande, mas possível, pois o fato de ter indivíduos críticos e atuantes na sociedade que busquem o conhecimento, não sendo seres alienados e passivos aos acontecimentos, faz com que se acredite que a alfabetização científica necessite ser conquistada e desenvolvida o quanto antes na vida das pessoas. Agradecimentos

Ficamos agradecidos pelo financiamento das passagens aéreas a FAPEAM (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas) para que pudéssemos apresentar este artigo.

7 REFERÊNCIAS

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BUENO, Cristiane Cardoso. Imagens de crianças, ciências e cientistas na divulgação científica para o público infantil. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas, 2012.

CHASSOT, Attico. Educação consciência. 2 ed. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2007. __________. Alfabetização Científica: questão e desafios para a educação. 5. ed., rev. Ijuí: Editora UNIJUÍ, 2011. CHALMERS, Alan F. O que é ciência afinal?. Tradução: Raul Fiker. 1 ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. COSTA, Cristina. Educação, imagens e mídias. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2013. DEMO, Pedro. Metodologia da investigação em educação. Editora intersaberes. Curitiba 2013. __________. Habilidades e competências no século XXI. 3 ed. Porto Alegre. Editora Mediação, 2012. __________.Educar pela pesquisa. 7 ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2005. EVANGELISTA, Francisco; GOMES, Paulo de Tarso. Educação para o pensar.Campinas SP: editora Alínea, 2003. __________.Saber pensar. 7 ed. Campinas, SP: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2011. EVANGELISTA, Francisco; GOMES, Paulo de Tarso. Educação para o pensar.Campinas SP: editora Alínea, 2003.

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THE SCIENTIFIC SPIRIT: KNOWLEDGE CONDITIO SINE QUA NON FOR SCIENTIFIC

LITERACY THROUGH THE MAGAZINE CIÊNCIA HOJE DAS CRIANÇAS – CHC

Abstract: This article is the result of bibliographical research, that aims to use the magazine Ciência Hoje das Crianças, as an instrument to stimulate the scientific spirit of being in formation, whose themes are designed for a young audience, through the practice of research, reading and experiments; because it is believed that such scientific spirit does not arise spontaneously, not from something for no reason; however that can be acquired once to being be presented, in different ways, what comes to be Science. The work will feature topics about scientific knowledge, Scientific Literacy (AC), through the search and images that the periodic studied can exhibit. As As for the elaboration of the methodology employed, It opted for a qualitative approach due to the presentation of topics of the CHC for the learning process.

Also, sought, to support, varied authors, as Bachelard (1996), Demo (2013), Chassot (2007), Luckesi (2011), which, significantly, underscore the importance of knowledge and AC. Keywords: Scientific spirit. Scientific knowledge. Ciência Hoje das Crianças. Scientific Literacy.