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O ESPORTE E SUAS DIFERENTES DIMENSOES COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR POSSIBILITANDO A PARTICIPAÇÃO DE TODOS Rosaine Granado da Cunha 1 Carmem Elisa Henn Brandl 2 RESUMO: O estudo realizado teve como objetivo identificar as possíveis causas da não inclusão dos alunos do Ensino Médio nas aulas de Educação Física, bem como solucionar/minimizar qualquer sentimento de exclusão, buscando estratégias e possibilidades de aplicação do princípio da não exclusão dos alunos, no ensino aprendizagem do conteúdo Esporte, valorizando o movimento humano também através da prática esportiva. Caracterizou-se como um estudo descritivo, tendo como instrumento de coleta de dados um questionário com questões abertas e fechadas, aplicado a 79 alunos, sendo respectivamente turmas de 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio do período matutino do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta. Após levantamento, concluiu-se que o sentimento de exclusão nas aulas de Educação Física existe, embora não atinja a maior parcela dos alunos, e que esse sentimento não é constante, depende sim da atividade que é desenvolvida. O maior fator de exclusão quando o conteúdo trabalhado é o esporte, apontado pelas respostas dos alunos foi a ausência de habilidades para desenvolver certas modalidades esportivas, seguida só que em grau bem menor da exclusão por gênero e por alguma deficiência física. Concluiu-se também que a metodologia do professor e a discriminação dos colegas influênciam na participação dos alunos nas aulas de Educação Física, e como a competição que acontece quando o conteúdo trabalhado é Esporte, é vista pelos alunos nas aulas de Educação Física. Palavras-chave: Esporte, Participação, Inclusão. ABSTRACT: The study maked had how objetive identify the main reasons for exclusion, and the possibilities of inclusion of students in higher learning the sport in physical education classes of High School. Characterized as a descriptive study, with the instrument of data collection a questionnaire with open and closed questions, 79 students answer the questions to the 1º, 2º and 3º years of high school in the mornings on Colégio Estadual Antonio Maximiliano Ceretta. After removal, it was concluded that the feeling of exclusion in physical education classes there, but does not reach the greatest number of students, and that this feeling is not constant, but 1 DEDICATÓRIA: A Nilda de Azeredo Coutinho, do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, meu muito obrigado, pelo tempo que disponibilizou em me auxiliar pacientemente no setor de informática. Professora de Educação Física do Programa de Desenvolvimento Educacional 2 Professora da UNIOESTE – Dra. Em Educação Física/Pedagogia do Movimento – UNICAMP, Líder do GEPEFE

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O ESPORTE E SUAS DIFERENTES DIMENSOES COMO CONTEÚDO DA

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR POSSIBILITANDO A PARTICIPAÇÃO DE

TODOS

Rosaine Granado da Cunha1

Carmem Elisa Henn Brandl2

RESUMO: O estudo realizado teve como objetivo identificar as possíveis causas da não inclusão dos alunos do Ensino Médio nas aulas de Educação Física, bem como solucionar/minimizar qualquer sentimento de exclusão, buscando estratégias e possibilidades de aplicação do princípio da não exclusão dos alunos, no ensino aprendizagem do conteúdo Esporte, valorizando o movimento humano também através da prática esportiva. Caracterizou-se como um estudo descritivo, tendo como instrumento de coleta de dados um questionário com questões abertas e fechadas, aplicado a 79 alunos, sendo respectivamente turmas de 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio do período matutino do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta. Após levantamento, concluiu-se que o sentimento de exclusão nas aulas de Educação Física existe, embora não atinja a maior parcela dos alunos, e que esse sentimento não é constante, depende sim da atividade que é desenvolvida. O maior fator de exclusão quando o conteúdo trabalhado é o esporte, apontado pelas respostas dos alunos foi a ausência de habilidades para desenvolver certas modalidades esportivas, seguida só que em grau bem menor da exclusão por gênero e por alguma deficiência física. Concluiu-se também que a metodologia do professor e a discriminação dos colegas influênciam na participação dos alunos nas aulas de Educação Física, e como a competição que acontece quando o conteúdo trabalhado é Esporte, é vista pelos alunos nas aulas de Educação Física.

Palavras-chave: Esporte, Participação, Inclusão.

ABSTRACT: The study maked had how objetive identify the main reasons for exclusion, and the possibilities of inclusion of students in higher learning the sport in physical education classes of High School. Characterized as a descriptive study, with the instrument of data collection a questionnaire with open and closed questions, 79 students answer the questions to the 1º, 2º and 3º years of high school in the mornings on Colégio Estadual Antonio Maximiliano Ceretta. After removal, it was concluded that the feeling of exclusion in physical education classes there, but does not reach the greatest number of students, and that this feeling is not constant, but 1DEDICATÓRIA: A Nilda de Azeredo Coutinho, do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, meu muito obrigado, pelo tempo que disponibilizou em me auxiliar pacientemente no setor de informática. Professora de Educação Física do Programa de Desenvolvimento Educacional2 Professora da UNIOESTE – Dra. Em Educação Física/Pedagogia do Movimento – UNICAMP, Líder do GEPEFE

depends on the activity that is developed. The biggest factor of exclusion worked when the content is sports, appointed by the responses of the students was the lack of ability to do certain sports, then, only a lesser extent, exclusion, gender and any disability. It was also concluded that the methodology of teacher and peer attitudes influence the participation of students. Another factor identified was that many students feel that the competitive nature of sports to be withdrawn from classes that would be more productive and participation would be greater.

Keywords: Sports, Participation, Inclusion.

1 INTRODUÇÃO

Seguindo a linha do tempo, observamos o surgimento de diversas

concepções filosóficas dentro da área educacional e consequentemente

dentro da educação física, todas buscando o que seria o ideal para o

desenvolvimento do indivíduo.

Para Assis (2005, p.14) nesse percurso, “a Educação Física vem

recebendo influência de outras instituições, assumindo ou incorporando

seus códigos e vinculando-se à construção/formação de diferentes modelos

de corpos.”

Diferentes autores, como Darido e Sanches Neto (2005), Betti (1991),

Bregolatto (2003) quando tratam da história da educação física, descrevem

a seguinte trajetória: por volta dos anos 30 do séc. XX a educação física

adentra o espaço escolar com uma concepção higienista calcada nos

hábitos de higiene e na saúde, voltada para a formação de um indivíduo

forte e saudável, seguida de uma concepção baseada no regime militar,

ficando vinculada a formação de uma geração capaz de atuar na guerra

através de indivíduos fisicamente perfeitos, sendo excluídos dessa seleção

aqueles que não se encaixassem dentro desse padrão, tido como

incapacitados. Assim devido sua vinculação aos ideais militaristas, a

educação física virou sinônimo de instrução física militar.

Na década de 60 surge uma nova concepção, a Escola Nova, que

provoca grandes transformações na área educacional e eleva a educação

física como um meio da Educação com capacidade de promover através de

seus movimentos uma educação integral. Tal proposta acaba ficando

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somente no discurso, porque na prática ainda prevalecia à concepção

militarista. Essa proposta já no final dos anos 60 e começo dos anos 70 é

sufocada pela instalação no Brasil de uma ditadura militar que vê no ensino

público um espaço para promover a propaganda ideológica do regime

militar.

O esporte torna-se em pouco tempo um fenômeno de grande

relevância social e, no Brasil, o sucesso do futebol em níveis internacionais,

contribui para que o esporte de rendimento seja associado à educação

física, assim, o esporte dentro do contexto escolar torna-se uma cultura que

recria valores e princípios de competição, como a concorrência, o

rendimento físico e técnico, a racionalização, o treinamento e o

desempenho. Segundo Betti (1991) observa-se que a ascensão do esporte é

a razão do Estado e a inclusão do binômio educação física/esporte na

planificação estratégica do governo. Ocorrem profundas mudanças na

política educacional e na educação física escolar que se subordinou ao

sistema esportivo. Devido o esporte estar vinculado à propaganda de

governos totalitários, é que muitos educadores e pesquisadores, vêem no

esporte uma sutil forma de alienação.

Caligal (apud GALVÃO, 2005) escreve que o esporte é um dos hábitos

que caracteriza o século XX, tamanha é sua força que invade os espaços da

mídia, revistas, jornais, televisão aberta ou fechada, de importância

nacional ou internacional.

Não há como negar a importância do esporte nem desconsiderá-lo

como conteúdo da educação física, mas sim reconhecê-lo como uma prática

social dentro do contexto escolar como conteúdo curricular, que necessita

de uma nova identidade pedagógica que não seja a visão hegemônica do

esporte seletivo, competitivo e excludente, mas sim um conteúdo com

capacidade de promover a integração e a inclusão dos educando.

Um grande desafio dentro do contexto escolar, além de garantir uma

escola com qualidade, é garantir a permanência daqueles que nela

ingressa. A educação física como disciplina integrante do currículo escolar,

deve, oferecer igualdade de oportunidades. Assim como muitos não

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conseguem permanecer na escola, muitos também não conseguem

participar de uma aula de educação física.

Vários são os motivos que levam os alunos a permanecerem fora das

aulas de educação física. Segundo Rangel et al. (2005), observa-se que

muitos garotos e garotas que por estarem obesos, portanto fora dos

padrões atuais de beleza, se excluem não por não gostarem de esportes ou

das aulas de educação física, mas sim por estarem num ambiente que não

respeita as diferenças.

Quando o professor utiliza alunos num nível de habilidades acima da

maioria do grupo como ponto de referência para os demais, pode inibir a

participação daqueles que não se enquadram no mesmo padrão, e, causar,

se persistir essa atitude, uma exclusão definitiva. O difícil relacionamento

entre meninos e meninas no início da adolescência também pode ser

motivo de exclusão, meninas acabam sendo excluídas do grupo, com

algumas exceções, por serem consideradas menos habilidosas e por não

possuírem a mesma força física masculina e os meninos acabam sendo

excluídos por utilizarem essa mesma força física de forma violenta. Não

podemos esquecer aqueles que tiveram suas habilidades mais

desenvolvidas que os outros, que, por estarem acima da média do grupo

acabam ficando em segundo plano, ou, os que preferem esportes não

tradicionais entre outros motivos, que também podem levar a exclusão.

O caráter competitivo das aulas de educação física também pode se

tornar um fator de exclusão por habilidades, que somada com a exclusão

por gênero, acaba promovendo uma “seleção natural” de alunos, onde

somente os mais aptos é que serão aceitos. Diferenças entre meninos e

meninas são muitas, principalmente em relação a comportamentos,

reconhecer essas diferenças é papel essencial do professor para não deixar

que esse fato se torne uma desvantagem para um dos gêneros.

Garantir aos alunos o acesso às vivências, utilizando na educação

física escolar uma diversificação, não priorizando somente esportes ou

somente uma modalidade, é proporcionar a eles oportunidades de escolhas

com o qual podem se identificar. Essa identificação pode contribuir para que

se compreenda a necessidade tanto da fundamentação teórica como de um

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domínio da técnica através de uma vivência orientada com condições para

que essas aprendizagens sejam fixadas e assim aconteça uma participação

efetiva dentro de um ou de vários esportes trabalhados nas aulas de

educação física.

Quando falo em técnica, penso que ela deva ser assumida como

componente fundamental no processo do aprendizado de uma modalidade

esportiva, qualquer que seja ela e seu aprimoramento construído durante

sua vivência nas aulas, porque assim a falta de habilidades deixará de ser

um aspecto excludente e limitador, sendo o aluno respeitado em suas

características individuais e também em suas limitações, buscando estímulo

para uma prática regular.

A educação física, então cumpriria seu papel, dentro do espaço

escolar remetendo-nos a um campo repleto de conteúdos que privilegiariam

a inclusão através do conhecimento e compreensão prático/teórico, da

diversidade e das vivências significativas que o esporte pode proporcionar.

Para reforçar o enunciado acima Ferraz (2002, p.37) escreve que

o Esporte é um patrimônio cultural da humanidade e um direito do cidadão. Portanto, o conhecimento que permite ao ser humano apreciar e usufruir desse patrimônio é fundamental para a qualidade de vida e deve ser oportunizado.

Diante de tantos contrastes que nos fazem viajar através desse

fenômeno que é o esporte, vem o seguinte questionamento: Quais os

principais motivos de exclusão, e quais as possibilidades de inclusão dos

alunos, no ensino aprendizagem do esporte nas aulas de educação física?

Para tentar solucionar o problema exposto acima, elaborou-se os

seguintes objetivos: I - Identificar e analisar se as facilidades/dificuldades

dos alunos em relação à prática dos esportes influenciam na sua

participação nas aulas de educação física; II - Verificar quais as estratégias

utilizadas na prática dos esportes e se as mesmas influenciam a

participação dos alunos nas aulas de educação física; III - Identificar quais

os esportes e demais conteúdos são trabalhados nas aulas de educação

física; IV - Identificar se atitudes e comportamentos dos colegas de sala

influenciam na participação dos alunos nas aulas de educação física; V -

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Identificar se durante o desenvolvimento das atividades acontece à

exclusão por gênero nas aulas de educação física; VI – Verificar se a

competição interfere na participação dos alunos nas aulas de educação

física.

Após realizar a pesquisa de campo, diagnóstico na Escola, realizou-se

a implementação do Projeto, visando atingir os seguintes objetivos: I -

Utilizar o esporte, dentro do contexto escolar, oportunizando a sua vivência

através das diversas modalidades, de forma a incluir todos nesse processo

educacional, que é a aprendizagem e a formação do homem; II - Resgatar

valores através da compreensão de que o esporte não é apenas a prática de

“um contra o outro”, mas também que se efetiva no “um com o outro”; III -

Propor conhecimentos básicos de fundamentação, para a participação do

aluno, a partir do domínio de elementos técnicos e táticos; IV - Propor aos

alunos, diferentes possibilidades da prática do esporte (cooperativo,

competitivo, recreativo) para que possam refletir sobre as diferentes

dimensões e valores que permeiam este conteúdo; V - Propor além da

prática dos esportes tradicionais, que sejam também contemplados nas

aulas, outras modalidades que não fazem parte do cotidiano dos alunos,

levando em consideração a estrutura física material da escola.

Este estudo justifica-se porque o esporte compreendido como

conteúdo da educação física tem como finalidade o aspecto educacional, a

prática lúdica e informal que desenvolva nos jovens uma tomada de

consciência de princípios de cooperação, iniciativa, liderança, autodisciplina

e espírito de grupo, e essa é a visão com foi enviado originalmente para

todo o mundo.

Bregolato (2003, p.61) diz que “aos poucos os reais significados do

esporte se modificaram quando incorporou características de rendimento

com técnicas aprimoradas”. Formou-se assim, uma visão capitalista onde

educar a juventude era incutir-lhes princípios competitivos para que fossem

inseridos numa sociedade igualmente competitiva.

O Esporte dentro e fora do contexto escolar carrega uma visão

hegemônica de seletividade por excluir todos aqueles que não se encaixam

dentro dos padrões que se tem em relação aos que o praticam.

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Nos últimos anos venho observando que logo no início do Ensino

Médio, muitos alunos se afastam das aulas, ou no mínimo de algumas

práticas que acontecem nas aulas de educação física. Esse afastamento me

levou a questionar, quais eram os reais motivos deste comportamento

justamente na adolescência, que é o público que caracteriza o Ensino

Médio, e, ainda quais as modificações que deverão ocorrer, seja ela

metodológica ou pedagógica, para reverter essa situação, de forma a evitar

que essa seletividade se torne também característica do esporte escolar.

Repensar, compreender e transformar o esporte seletivo dentro do

espaço escolar é um desafio para muitos professores de educação física,

uma vez que ainda muitos foram formados dentro de um contexto

tecnicista, portanto ainda com resquícios desse tecnicismo.

O esporte traz consigo possibilidades contraditórias que dependendo

da prática do professor, pode tanto incluir como excluir, e a partir do

momento em que se propõem mudanças nessa visão de seletividade e na

prática pedagógica aplicada ao esporte na escola, penso ser possível criar

situações que privilegiem a cooperação sobre a rivalidade, o coletivo sobre

o individual, a autonomia sobre o conformismo, o respeito sobre a disputa, a

perseverança sobre a desistência e principalmente a superação pessoal

sobre a competição exacerbada, a partir do momento em que esses

objetivos forem alcançados as possibilidades de um esporte inclusivo na

escola será maior.

2 REVISÃO DE LITERATURA

Ao longo da história a Educação Física como instituição, da mesma

forma que a Educação, representou diferentes papéis, adquiriu diferentes

significados, conforme o momento histórico, sendo utilizada muitas vezes,

como instrumento de poder para veiculação de ideologias dominantes e

preservação de status quo. Segundo Assis (2005, p. 14), “em sua trajetória

observou-se o surgimento das mais diversas concepções e abordagens

pedagógicas, recebendo, assumindo e incorporando seus códigos”.

No Brasil a Educação Física Escolar foi inserida como disciplina nas

matrizes curriculares por volta dos anos 30 do séc. XX, e adentra o espaço

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escolar primeiramente numa concepção higienista através das instituições

médicas, o corpo higiênico-eugênico voltado para indivíduos fortes e

saudáveis, depois surge através da instituição militar, o corpo produtivo,

dócil e disciplinado, onde a educação física se torna sinônimo de instrução

militar.

Por volta dos anos 60 surge a Escola Nova, concepção que provoca

grandes transformações no setor educacional, que coloca a educação física

como um meio da educação, com capacidade de promover, através de seus

movimentos uma educação integral, mas ao final dos anos 60 e início dos

anos 70 se instala no Brasil uma ditadura militar que vê no ensino público

um espaço para promover a propaganda ideológica do regime militar. Na

atualidade a Educação Física é representada pela instituição esportiva (os

corpos produtivo, esportivo, competitivo, apolítico, acrítico, alienado,

mercador, mercadoria e consumidor).

A Educação Física no Brasil percorreu um longo caminho, passando

por uma série de estudos nas diversas abordagens teóricas, sendo

atualmente regida pela Lei de nº 10.793 de 1º/12/2003, art. 26, parágrafo

3º, que diz que a Educação Física, integrada a proposta pedagógica da

escola, é componente curricular obrigatório da educação básica. Hoje o

documento que orienta a Educação Física no Estado do Paraná é um

trabalho resultante de documentos norteadores já existentes anteriormente,

como o Currículo Básico para a Escola Pública do Estado do Paraná

(PARANÁ, 1990) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1996).

As Diretrizes Curriculares de Educação Física (PARANÁ, 2008),

direciona-se para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino

Médio, e tem a Cultura Corporal como objeto de aprendizagem da Educação

Física. A proposta das DCES para a Educação Física conta com conteúdos

estruturantes para o desenvolvimento das aulas de Educação Física

denominados de Danças, Lutas, Jogos e Brincadeiras, Ginástica e Esportes

(PARANÁ, 2008). Seu objetivo principal é direcionar a ação docente dos

professores da rede estadual de Ensino do Estado do Paraná, definindo

rumos e apontando caminhos.

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A visão que se tem da educação física dentro do contexto escolar se

confunde com o próprio esporte, conteúdo da educação física de grande

relevância social tido com seletivo e excludente por estar atrelado ao

rendimento e a performance mas que dentro do espaço escolar deve

assumir uma outra identidade, ou seja, uma identidade pedagógica capaz

de promover a integração e a inclusão dos educandos.

A influência do esporte sobre a educação física teve um grande

crescimento após a Segunda Guerra Mundial, afirmando-se como elemento

hegemônico da cultura corporal. Os governos pós-64 incentivaram esse

crescimento e Betti (1991, p.100) sobre esse período assinala

[...] a ascensão do esporte à razão do Estado e a inclusão do binômio Educação Física/Esporte na planificação estratégica do governo. Ocorrem também profundas mudanças na política educacional e na Educação Física Escolar, que subordinou-se ao sistema esporte do sistema formador de recursos humanos para a Educação Física/Esporte.

O Esporte teve inserção destacada nas sociedades modernas e seu

caráter competitivo ou de rendimento que prevalece dentro do contexto

político-social tende a excluir todos aqueles que não se encaixam dentro de

padrões dos que o praticam, selecionando assim os mais aptos. Com essa

visão de seletividade invadiu o espaço escolar e sua prática prevalece

largamente sobre os outros conteúdos da educação física escolar, e tem

sido o meio mais utilizado para difundir o movimento corporal no âmbito

escolar, tornando-se uma cultura que cria e recria valores.

É necessário desmistificar o esporte dentro do contexto escolar

através de conhecimentos que permitam aos alunos compreender que a

prática desportiva deve ter significado e valores que assegurem a todos o

direito de participar e que cada um deles deve se colocar na situação do

outro participante, principalmente daqueles que não possuem aquelas

“devidas” habilidades ou não possuam a força física esperada.

Segundo Kunz (2004), só assim conseguiremos ensinar o esporte de

tal forma, que nossas crianças possam crescer, desenvolver-se e tornar-se

adulta através dele, e, quando isso acontecer, quando se tornarem adultas

possam praticar o esporte como crianças.

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A partir do momento em que se propõem mudanças nesta visão

seletiva é possível criar situações que levem os alunos a refletirem sobre as

diferenças ensinando-lhes a necessidade da tolerância e aceitação das

características do outro. Essa reflexão deve levar o aluno a compreender

que mesmo havendo aprendizagem e desenvolvimento de habilidades,

ainda o prazer da brincadeira deve ser mantido, sendo assim possível a

prática de um esporte inclusivo dentro da escola, sem a necessidade de

retirar todo o aspecto competitivo do esporte, pois a competição depende

muito de quem a orienta, podendo ser usada apenas como mais um recurso

didático para se atingir um determinado objetivo.

Segundo Kunz (2004), ressignificar o esporte dentro de uma visão

mais crítica seria ensiná-lo não visando apenas o aluno presente, mas o

cidadão futuro que vai partilhar, participar, produzir e transformar as formas

culturais da atividade física. Salienta a importância da competição dentro de

uma sociedade na qual ela está naturalmente inserida, e que excluí-la ou

ignorá-la como parte da formação esportiva dos nossos alunos seria um erro

pedagógico que poderia acentuar desajustamentos, marginalização e

conflitos diante de uma realidade como de fato, vivem.

Assim acredito que o esporte competitivo pode muito bem estar

imbuído dos mesmos valores educacionais que devem permear o esporte

escolar, tudo vai depender do posicionamento de quem o ensina, de quem o

orienta, e principalmente da finalidade com que é desenvolvido sua prática

dentro do contexto escolar.

Betti (apud ASSIS, 2005, p. 112),

o desporto não possui nenhuma virtude mágica. Ele não é em si mesmo nem socializante nem anti-socializante. Ele é conforme aquilo que se fizer dele. A prática do judô ou do râguebi pode formar tanto patifes como homens perfeitos preocupados com o ‘fair-play’.

Na prática do esporte escolar, mesmo com características de

competição, a finalidade da educação física é fazer com que os alunos

desenvolvam valores e princípios de inclusão, cooperação, respeito mútuo,

coletividade, liderança, iniciativa, mas para isso é necessário que o esporte

escolar passe por um trato pedagógico, e que sua prática seja

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fundamentada na prática de valores realmente educacionais , para que o

próprio esporte, seja ele escolar ou não, possa tornar-se um fator de

humanização do homem, evidenciando um ambiente de grande diversidade

mas que respeita as diferenças sejam elas econômicas, políticas ou sociais.

Segundo Assis (2005, p. 128),

um trato diferenciado ao esporte não deve afastar os alunos do esporte criticado, mas dirigir esse contato através de uma ‘transformação’ que garanta a preservação do significado, a vivência de sucesso nas atividades e a alteração de sentidos através da reflexão pedagógica.

A metodologia utilizada no conteúdo Esporte deve buscar meios para

garantir a vivência prática das mais diversas modalidades, adaptar e

modificar atividades de forma a contemplar a heterogeneidade dos grupos,

possibilitar a valorização do aluno, independente de ser mais ou menos

dotado, constituir um ambiente de aprendizagem significativa que faça

sentido para o aluno, no qual ele tenha a possibilidade de fazer escolhas,

trocar informações, estabelecer questões e construir hipóteses na tentativa

de respondê-las, oportunizando a todos para que possam desenvolver suas

potencialidades de forma democrática e não seletiva, considerando sua

realidade social e pessoal, a percepção de si e do outro, suas dúvidas e

necessidades de compreensão dessa mesma realidade.

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Segundo Gil (1999, p.44), “a pesquisa é um processo formal e

sistemático do desenvolvimento do método científico, cujo objetivo principal

é buscar respostas para problemas através de procedimentos também

científicos”. Ainda segundo este autor a pesquisa descritiva tem a finalidade

de relatar as características de determinada população ou fenômeno ou o

estabelecimento de relações entre as variáveis. Para coletar dados utilizam-

se técnicas padronizadas como, por exemplo: o trabalho de tabulação e

elaboração de gráficos, para análises, interpretações e conclusões.

11

Assim, esta pesquisa é caracterizada como descritiva porque se

baseou na própria realidade, ou seja, foi buscar informações dentro do

espaço escolar, através de um questionário organizado e aplicado pela

pesquisadora buscando subsídios no discurso dos alunos, para então

estudar uma forma de intervenção na escola.

Os participantes da pesquisa representam os alunos do Ensino Médio

do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, totalizando 180 alunos,

divididos em 05 turmas, sendo 02 de 1º ano, 2 de 2º ano e 1 de 3º ano, do

período matutino. Fizeram parte da amostra 79 alunos, sendo 15 de cada

turma do 1º e 2º anos e 19 alunos do3º ano. Os alunos participaram de

forma voluntária.

Para a coleta das informações o instrumento utilizado foi um

questionário, elaborado pela pesquisadora com o auxílio da orientadora, e

avaliado por dois professores do curso de educação física da Unioeste e

testado com um grupo de alunos da mesma faixa etária.O questionário

constou de 15 perguntas mistas, ou seja 14 fechadas, sendo que 06 foram

complementadas com questões abertas.

O procedimento de coleta de dados foi realizado após a autorização

da direção do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, e feita durante

as aulas de educação física com alunos da própria professora pesquisadora.

Foi entregue a cada aluno que participou da pesquisa um questionário. A

pesquisadora fez a leitura e deu as devidas explicações ou esclarecimento

de dúvidas que surgiram durante a aplicação do mesmo.

As informações coletadas foram analisadas a partir da frequência e

percentual de respostas das questões fechadas e complementadas com a

análise qualitativa das questões abertas, a partir da elaboração de

categorias, originadas de unidades de significado extraído do discurso dos

alunos.

4 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA

PESQUISA

12

Neste capítulo, será apresentado os resultados da pesquisa realizada

junto aos alunos do Ensino Médio com o objetivo de coletar informações dos

principais motivos que levam alunos a não inclusão nas aulas de educação

física.

Esses dados serviram de referência para implantar uma proposta

metodológica com possibilidades de incluir os alunos, especialmente nas

aulas onde o conteúdo fosse o Esporte.

O Quadro 1, representa as respostas dos alunos em relação à

participação dos mesmos nas aulas de Educação Física.

Quadro 1. Alunos que participam das aulas de Educação Física

Série Alternativas Sempre Quase sempre Às vezes Nunca TOTAL

1º anoFem 13 05 01 0 19Masc 13 03 0 0 16

2º anoFem 14 03 0 0 17Masc 09 01 0 0 10

3º anoFem 04 03 0 0 7Masc 08 02 0 0 10

Total 61 17 01 0 79

Com relação à participação dos alunos nas aulas de Educação Física,

podemos visualizar no quadro 1 que 61 alunos participam sempre, 17 quase

sempre e somente uma aluna às vezes. Esse resultado não surpreende, pois

as aulas de Educação Física, fazem parte da grade curricular e são

obrigatórias, sendo contemplada na nova Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB) em seu artigo 26, no parágrafo 3º, que estabelece

que: “A Educação Física integrada à proposta pedagógica da escola é

componente curricular obrigatório da educação básica...”. E aqueles alunos

que responderam quase sempre, possivelmente não gostam das atividades

desenvolvidas naquele dia, e se sentem no direito de não participar. Já na

opção às vezes somente um aluno assinalou-a e a opção nunca, não foi

assinalada por nenhum aluno. Fica claro que a grande maioria participa das

aulas de educação física frequentemente como em qualquer outra disciplina

do currículo escolar.

Na questão 2, foi questionado aos alunos se alguma vez deixaram de

participar das aulas de Educação Física por sentirem-se excluídos de

alguma forma. Conforme o quadro 2, percebemos que 50 alunos nunca

13

deixaram de participar, 26 às vezes e somente 03 alunos responderam que

quase sempre deixam de participar por sentirem-se excluídos. Essas

respostas podem ser resultado da compreensão, a partir da LDB de 1996,

de que a Educação Física é um componente curricular obrigatório como as

demais disciplinas, portanto o aluno deve participar, havendo assim uma

pequena exclusão.

Quadro 2. Alunos que deixam de participar das aulas por sentirem-se excluídos

Série AlternativasGênero Sempre Quase

Sempre Às vezes Nunca Total

1º Ano

FemMasc

0000

0200

0404

1312

1916

2º Ano

FemMasc

0000

0000

0903

0807

1710

3º Ano

FemMasc

0000

0100

0402

0208

0710

Total 00 03 26 50 79

Ao solicitar aos alunos o porquê de sua resposta, os alunos que

responderam que são excluídos quase sempre e às vezes, na maioria dos

casos, justificam suas respostas que é por falta de habilidade necessária

para praticar determinados conteúdos. Ainda surgiram várias outras

justificativas, como a de que os melhores alunos jogam no mesmo time

ficando assim uma divisão desigual nos grupos que se formam, citou-se

também a exclusão por gênero e a deficiência visual.

A falta de habilidade é um dos principais motivos responsáveis pelo

sentimento de exclusão dos alunos nas aulas de educação física no Ensino

Médio. Nesta fase, a adolescência, o jovem tem muito medo de se expor e

de receber críticas, então se afasta, preferindo nem tentar, usando mil

desculpas para não participar das aulas mesmo que este não seja o seu

desejo. Cabe ao professor o resgate desse aluno minimizando esse

afastamento das atividades nas aulas de Educação Física.

14

Segundo Barni e Schneider (2005), a abordagem pedagógica

Educação Física Plural, é uma abordagem que procura fazer com que as

diferenças entre os alunos sejam percebidas e seus movimentos,

expressões, frutos da sua história de corpo, sejam valorizadas independente

do modelo “certo” ou “errado”. Dentro dessa abordagem considera-se que

os alunos são diferentes e que na aula, para alcançar todos os alunos deve-

se levar em conta estas diferenças. Neste sentido, o professor de Educação

Física deve buscar práticas pedagógicas que não excluam os alunos.

Segundo Rangel et al. (2005, p.39),

buscar uma educação física cujas vivências propiciadas no ambiente escolar permitam ao aluno pensar em alternativas que façam com que ele próprio deixe de se excluir de determinadas atividades por quaisquer que sejam os motivos, deve ser uma preocupação dos educadores, pois muitas vezes os alunos deixam de frequentar as aulas de educação física, não por não gostarem de atividades físicas, mas sim por encontrarem um ambiente que não respeita as diferenças.

Na sequência foi questionado se a participação dos alunos nas aulas

de Educação Física, é influenciada pela facilidade ou dificuldade que o

aluno tem na prática do esporte que o professor trabalha.

Quadro 3. Frequência com as facilidade ou dificuldade dos alunos na prática dos esportes influenciam a sua participação nas aulas

Série Sempre Quase Sempre

Às vezes Nunca Total

1º Ano

FemMasc

0206

0302

1207

0201

1916

2º Ano

FemMasc

0200

0201

0904

0405

1710

3º Ano

FemMasc

0100

0204

0203

0203

0710

Total 11 14 37 17 79

Conforme o quadro 3, 11 alunos responderam que a sua participação

nas aulas de educação física depende sempre da facilidade ou dificuldade

que apresentam na prática do conteúdo a ser desenvolvido pelo professor,

14 responderam quase sempre, 37 às vezes e 17 que nunca sofrem esse

tipo de influência. Esse resultado mostra que a maioria dos alunos mesmo

encontrando algum tipo de dificuldade prefere participar das aulas de

educação física, ao passo que os que responderam sempre e quase sempre,

15

diante de uma dificuldade preferem não arriscar quando o conteúdo é uma

atividade que desconhecem ou que conhecem mas não possuem as

habilidades, que segundo eles, seriam necessárias para participar da

atividade. Mais uma vez aparece a exclusão por falta de habilidades, e na

verdade o próprio aluno se exclui. Fica assim evidente a necessidade de se

trabalhar os conteúdos da educação física de forma sistematizada no ensino

fundamental, dando ao aluno o suporte necessário para que quando o

mesmo estiver no ensino médio, onde supõe-se que eles devam ter esse

conhecimento, os alunos possam participar das atividades em condições de

igualdade ou que, pelo menos as diferenças não sejam um motivo de

exclusão.

Na questão 4 foi colocado sobre as diferenças de habilidades

existentes entre os alunos, e foi pedido se o professor faz distinção entre os

alunos na hora do jogo.

Quadro 4. Percepção dos alunos sobre a distinção entre os mais ou menos habilidosos por parte do professor

Série Sim Às vezes Não Total

1º ano FemMasc

0805

0804

0307

1916

2º ano FemMasc

0001

1206

0503

1710

3º ano FemMasc

0003

0404

0303

0710

Total 17 38 24 79

Observando as respostas do quadro acima, percebe-se que 38 alunos

acham que às vezes ocorre por parte do professor, distinção entre os alunos

mais e menos habilidosos na hora do jogo. 24 alunos afirmaram que essa

distinção não acontece e somente 17 alunos responderam que sim,

acontece.

Foi ainda pedido de que forma isso ocorre. Conforme as respostas

descritivas dos alunos a distinção nem sempre foi vista como negativa, e

16

sim como uma estratégia pedagógica para resolver problemas

momentâneos como por exemplo, separar equiparadamente as equipes.

Para os alunos que responderam sim, que existe distinção entre os mais e

os menos habilidosos a justificativa foi de que isso acontece quando a

professora equilibra as equipes com alunos mais e menos habilidosos,

quando separa os mais fortes dos mais fracos e ainda que a distinção

ocorre, mas é positiva.

Os alunos que responderam que às vezes essa distinção acontece

justificaram essa resposta dizendo que: ocorre quando a professora separa

equipes para que fiquem equilibradas; quando faz a divisão das equipes; a

professora faz distinção para beneficiar a todos; quando ainda não conhece

a turma direito; a divisão para as atividades não ficam equilibradas; o

professor interage com alunos mais habilidosos; quando os alunos mais

habilidosos ficam juntos; quando faz um time que só perde; e, ainda alguns

não justificaram sua resposta.

Os alunos que responderam que o professor não faz distinção entre os

alunos justificam que a professora dá o mesmo tratamento a todos os

alunos, que a professora procura equilibrar com alunos mais fortes e mais

fracos em todas as atividades, que professores não fazem distinção entre

alunos e alguns ainda não justificaram sua resposta.

Levando em consideração as respostas dos alunos, penso que apesar

do professor não ver nessa sua atitude uma forma discriminatória, pois o faz

para o bem do grupo, alguns alunos estão se sentindo discriminados,

mesmo que a intenção do professor seja oportunizar a todos independente

de quem tem mais ou menos habilidade.

Segundo Galvão, Rodrigues e Silva (2005), quando o professor utiliza

alunos num nível de habilidades acima da maioria do grupo como ponto de

referência para os demais, pode inibir a participação daqueles que não se

enquadram no mesmo padrão, causando, se persistir essa atitude, uma

exclusão definitiva.

Na pergunta 5, foi feita a seguinte colocação: o esporte pode ser

ensinado através de educativos como o toque, o saque, o arremesso, o

chute, em colunas, livres na quadra ou através do jogo. Então foi

17

questionado aos alunos com que freqüência acontece à aprendizagem

através do jogo nas aulas de Educação Física.

Quadro 5. Frequência com que o processo de ensino aprendizagem é realizado através do jogo

Série Sempre Quase sempre Às vezes Nunca Total

1º ano FemMasc

1006

0502

0307

0101

1916

2º ano FemMasc

1006

0402

0202

0100

1710

3º ano FemMasc

0305

0203

0202

0000

0710

Total 40 18 18 03 79

As respostas do quadro acima mostram claramente que a prática do

jogo é a estratégia pedagógica mais usada para o desenvolvimento da

aprendizagem dos esportes, no Ensino Médio, pois 40 alunos responderam

que sim, essa é a prática mais usual, e 18 disseram quase sempre e 18

disseram às vezes e apenas 03 disseram que nunca é através do jogo.

Embora o jogo seja a estratégia mais freqüente nas aulas de educação

física, não é a única.

Por outro lado, foi questionado com que freqüência acontece a

aprendizagem através de educativos para cada modalidade desportiva.

Quadro 6. Frequência com que o esporte é desenvolvido a partir de educativos

Série Sempre Quase sempre

Às vezes Nunca Total

1º ano

FemMasc

0102

0303

1107

0404

1916

2º ano

FemMasc

0200

0301

1205

0202

1908

3º ano

FemMasc

0002

0102

0605

0001

0710

Total

07 13 46 13 79

No quadro 6, uma grande maioria, ou seja, 46 alunos, disseram que o

uso de educativos como meio de aprendizagem acontece às vezes, e 13

responderam quase sempre ou nunca e apenas 07 disseram que sempre a

aprendizagem acontece através de educativos. Esses resultados

provavelmente se dá pelo fato de que ao chegar no Ensino Médio os alunos

já passaram muitos anos pela prática de fundamentos no ensino

fundamental, supõe-se então que eles possuam habilidades ou deveriam

18

possuir essas habilidades mais desenvolvidas para que se pudesse utilizar o

jogo como a maior estratégia. Mas esse pensamento não pode ser visto

como regra geral, uma vez que muitas turmas por diversos motivos,

possuem um conhecimento limitado de determinadas modalidades.

Diante da realidade que se apresenta, ou seja, a utilização da prática

do esporte como principal conteúdo das aulas de Educação Física do Ensino

Médio, deve acontecer um embasamento teórico que priorize além das

regras o contexto antropológico, sociológico e filosófico, de forma que os

alunos possam compreender a importância dos movimentos humanos

desenvolvidos durante esta prática, podendo inclusive, auxiliar nas escolhas

das atividades a serem desenvolvidas nas aulas de Educação Física sejam

elas através de jogos ou exercícios educativos, pois essa prática poderá

auxiliar na eliminação/minimização de qualquer sentimento de exclusão que

os alunos possam estar sentindo, evidenciando assim nas aulas de

educação física o princípio da não exclusão e a valorização do movimento

humano também através da prática esportiva.

Bracht (1997), para reforçar o enunciado acima escreve que o aluno

deve construir, demonstrar e compreender, para poder explicar e intervir,

utilizando a cultura corporal do movimento como uma prática pedagógica

em confronto com a sua realidade social, utilizando como conteúdo, os

jogos, a ginástica, as danças e os esportes.

Na questão 6, foi perguntado aos alunos se a forma com que o

professor trabalha interfere em sua participação nas aulas de Educação

Física?

Quadro 7. Interferência da forma de trabalho do professor na participação dos alunos.

Série Sim Ás vezes Não Total1º

AnoFemMasc

0100

1107

0808

1915

2º Ano

FemMasc

0401

0305

1004

1710

3º Ano

FemMasc

0001

0401

0308

0710

Total 07 31 41 79Conforme o quadro acima, 41 alunos disseram que a metodologia de

ensino não interfere na participação das aulas de educação física, 31

responderam que somente às vezes a forma de trabalho do professor

19

interfere, e apenas 7 alunos responderam que a sua participação depende

sim da forma como o professor trabalha.

Aqueles que responderam que a forma de trabalho do professor

interfere na participação dos alunos nas aulas de Educação física

justificaram que não gostam quando as atividades são mistas, no entanto

essa não é uma escolha da professora, mas uma regra geral da Escola.

Outros justificaram que interfere quando não tem habilidades para

determinado tipo de jogo e quando o professor exige demais. Outros vêem

a interferência de forma positiva porque esta forma faz com que todos

participem, mostra que devemos respeitar os colegas para ser respeitado,

outros ainda responderam que gostam de tudo que é feito nas aulas, que

gosta do professor e alguns não justificaram.

Os alunos que responderam às vezes, justificaram que interfere

quando a aula repete conteúdos anteriores; quando os jogos são mistos;

quando faz correções durante o jogo; depende também do humor dela; das

atividades que aplica; das explicações que ela dá no início da aula; como

separa os times; por não possuírem as habilidades necessárias e ainda se a

professora não interferir, alguns colegas excluem os outros.

Os alunos que consideram que a forma de trabalhar não interfere

justificam a resposta dizendo que não há motivos para interferir, porque

fazem sempre as aulas; gostam de todas atividades de educação física; ela

propõe as atividades e não tem porque reclamar; a disciplina de educação

física é igual a todas as outras e precisa participar; as atividades são

diversificadas e acham a professora competente.

Ao professor compete trabalhar tanto os conhecimentos específicos

como também maneiras de pensar e padrões de comportamento para se

viver em sociedade, não podendo descartar ainda o aspecto afetivo. Penso,

assim que, a metodologia de trabalho do professor tende sim a influenciar a

participação dos alunos nas aulas de educação física, se essa metodologia

tende a excluir ou incluir vai depender do posicionamento do professor.

Na questão 7, foi perguntado aos alunos se eles acham importante

trabalhar os fundamentos das diferentes modalidades esportivas, no Ensino

Médio.

20

Quadro 8. Percepção dos alunos sobre a importância do trabalho dos fundamentos dos esportes no Ensino Médio

Série Sim Não Total1º ano Fem

Masc1409

0507

1916

2º ano FemMasc

1309

0401

1710

3º ano FemMasc

0708

0002

0710

Total 60 19 79

As respostas do quadro acima apontam que uma grande maioria dos

alunos, ou seja, 60 num total de 79 dos que responderam o questionário,

consideram importante trabalhar a fundamentação das diferentes

modalidades no Ensino Médio. Apenas 19 alunos disseram que não acham

importante trabalhar os fundamentos.

Os alunos que consideram importante trabalhar a fundamentação

justificaram que isso ajuda a melhorar as habilidades, adquirir novos

conhecimentos sobre os esportes, para retirar as dúvidas que ainda não

foram tiradas, aprender mais e durante o jogo poder atuar melhor, muitos

não aprenderam a executar os movimentos de forma correta.

Os alunos que responderam não achar importante aprender os

fundamentos através dos educativos justificam essa resposta alegando que

todos já aprenderam ou deveriam ter aprendido; porque já foi visto durante

todo ensino fundamental e ver novamente seria muito cansativo; a base já

foi feita no ensino fundamental, agora no Ensino Médio é por em prática

através do jogo; porque através do jogo se aprende mais; e, alguns ainda

não justificaram.

Na questão 8, foi pedido aos alunos que apontassem quais os

Esportes que são trabalhados nas aulas de Educação Física.

Quadro 9. Esportes mais trabalhados nas aulas de Educação Física

Série

Futsal

Handebol

Voleibol

Basquete

Xadrez

Atletismo

Futebol

Tenis de

Mesa

Outros

1º ano

Femm

asc

1915

1915

1915

2015

1107

0902

1103

1112

0000

2º ano

FemM

asc

1710

1710

1710

1710

0905

0302

1106

1710

0000

21

3º ano

FemM

asc

0710

0710

0710

0710

0203

0101

0204

0708

0000

Total

78 78 78 79 47 18 37 64 00

Os resultados da pesquisa acima apontam o Futsal (78), o Handebol

(78), o Voleibol (78) e o Basquetebol (79), como os esportes mais

trabalhados nas aulas de educação física pois foram assinalados por quase

todos os alunos, seguido pelo Tênis de Mesa (64), pelo Xadrez (47) e o

Futebol (37) e por último o Atletismo com uma incidência bem inferior (18).

Pelos resultados obtidos acima fica claro que os esportes mais

trabalhados nas aulas de educação física são aqueles considerados mais

populares em nossa região são esportes coletivos, outra justificativa seria

que quase toda escola possui uma quadra onde é possível desenvolver

esses conteúdos, o que já não se pode dizer do futebol e do atletismo que

precisam de locais mais específicos para a sua prática.

Facco (apud MARZINEK, 2004) assim como Betti (2003), observaram

que as modalidades esportivas, futsal, voleibol, handebol e basquetebol,

além de serem os conteúdos mais desenvolvidos nas escolas, são também

os preferidos dos alunos. Acrescentaria ainda que por serem mais

desenvolvidos ou até únicos nas aulas de Educação Física, são justamente

os preferidos.

Na questão 9, questionou-se aos alunos quais os outros conteúdos

além do Esporte, são trabalhados nas aulas de Educação Física.

Quadro 10. Outros conteúdos trabalhados nas aulas de Educação Física

Série Dança Brincadeiras

Ginástica

Lutas Nenhum

Outros Total

1º ano FemMasc

0303

1206

0000

0000

0507

0000

2016

2º ano FemMasc

0903

1102

0001

0000

0506

0000

2512

3º ano FemMasc

0001

0405

0001

0000

0204

0001

0612

Total 19 40 02 00 39 01 91

As respostas do quadro 10 mostram bem a realidade da educação

física nas nossas escolas, que apesar de se basearem nas Diretrizes

Curriculares Estaduais, para se elaborar um planejamento anual, na

22

realidade se utiliza muito pouco de todos os conteúdos que lá constam. A

prova disso foi a resposta de 39 alunos no item nenhum outro conteúdo

além dos esportes, apenas um aluno a menos do que o desenvolvimento de

brincadeiras (40), e 19 alunos apontarem o conteúdo dança, 02 alunos

ginástica e nenhum aluno apontou o conteúdo lutas.

Segundo Machado (2008), o conteúdo mais presente nas aulas de

educação física sendo efetivamente trabalhado é o Esporte, seguido dos

Jogos, da Ginástica e por último a Dança. O conteúdo lutas, apesar de

contemplado nas diretrizes curriculares como conteúdo obrigatório da

disciplina, não foi mencionado.

Este resultado não surpreende, pois todo o professor dentro de sua

graduação universitária possui uma carga grande que abrange o esporte, os

jogos, a ginástica e um menor que abrange a dança. Algumas instituições

não oferecem nenhuma carga horária em relação ao conteúdo Lutas que

nem foi mencionado como conteúdo trabalhado. Além deste fator altamente

relevante ainda existe a necessidade de um lugar apropriado para o

desenvolvimento das lutas, não só para uma aprendizagem correta, mas até

por questão de segurança tanto dos alunos como do professor. Como isso

não tem sido possível, a maioria dos professores abandona esse conteúdo

que poderia ser levado ao conhecimento dos alunos pelo menos em sua

dimensão conceitual.

Segundo Rangel et al. (2005, p. 38),

o princípio da não-exclusão, segundo o qual nenhum aluno pode ser excluído de qualquer aula, procura garantir o acesso de todos os alunos às atividades propostas e o princípio da diversidade, que propõe uma educação física com conteúdos diversificados, não privilegiando, por exemplo, apenas uma modalidade esportiva. Garantir a diversidade como princípio é propiciar aos alunos vivências corporais nos jogos, esportes, nas danças, na ginástica, nas lutas.

Na questão 10, foi perguntado se comportamentos e atitudes

positivas/negativas por parte dos colegas, interfere na participação dos

alunos nas aulas de educação física.

Quadro 11. Interferência do comportamento e atitudes dos colegas na participação dos alunos nas aulas de Educação Física.

Série Sim Às vezes Não Total1º Ano Fem 01 11 07 19

23

Masc 02 09 05 16

2º Ano FemMasc

0500

0706

0504

1710

3º Ano FemMasc

0402

0204

0104

0710

Total 14 39 26 79

A maioria dos alunos, 39, responderam que às vezes sua participação

é influenciada por atitudes ou comportamentos positivos ou negativos dos

colegas, já 26 alunos disseram que não se deixam influenciar e apenas 14

são influenciados pelas atitudes dos colegas.

Os resultados do quadro acima demonstram que a maioria dos alunos

em algum momento deixou de participar das aulas de educação física

devido a atitudes e comportamentos dos colegas que influenciaram de

forma positiva ou negativa nesta participação.

Penso que este resultado advém da necessidade do adolescente, faixa

etária que praticamente compõe o Ensino Médio, de ser aceito pelo grupo e,

quando por algum motivo, sente-se rejeitado, se isola do grupo. Se esse

quadro persistir, as chances desse aluno não retornar mais para as aulas de

educação física é muito grande.

Segundo Staviski e Da Cruz (2008), a vergonha ou a falta de

compreensão dos demais colegas quando determinados alunos não

conseguem realizar o que lhes é proposto, pode levar, em alguns casos, o

aluno a adotar uma postura de isolamento ou mesmo que o próprio grupo o

exclua das atividades, levando em muitos casos a um afastamento

definitivo de qualquer atividade esportiva.

Na questão 11, foi questionado se os colegas também fazem esse tipo

de distinção.

Quadro 12. Frequência de alunos que percebem distinção dos colegas em relação aos menos habilidosos

Série Sim Às vezes Não Total

1º ano FemMasc

1007

0706

0203

1916

2º ano FemMasc

0805

0905

0000

1710

3º ano FemMasc

0304

0404

0002

0710

Total 37 35 07 79

24

Pelas respostas do quadro acima fica evidente que entre os colegas

ocorre alguma forma de distinção, visto que do total dos alunos, 37

responderam que sim, 35 responderam que às vezes e apenas 07 alunos

responderam que essa distinção por parte dos colegas não acontece.

Foi pedido aos alunos de que forma isso acontece, e os mesmos

justificaram assim:

Os que responderam sim justificam dizendo que geralmente os

colegas com maiores habilidades não querem jogar com alunos com

habilidades pouco desenvolvidas; que existe grupos em sala de aula e que

uns não gostam do outro e na hora do jogo não querem ficar juntos

também; que alguns colegas só querem ganhar e então querem fazer uma

equipe forte deixando os mais fracos de fora; e ainda alguns não

justificaram sua resposta.

Os que responderam que somente às vezes acontece essa distinção

entre colegas justificam que quando é jogo, alguns só querem ganhar,

então quando um colega comete algum erro reclamam em vez de incentivar

ao acerto; que outros querem jogar somente com seus colegas mais

próximos e acabam fazendo “panelinhas” e por isso é melhor quando a

professora separa as equipes; que durante as atividades os alunos mais

habilidosos ignoram os menos habilidosos evitando de passar a bola ou

tomando a frente do colega; e ainda há os que não justificaram.

Os que responderam que não percebem essa distinção justificam

dizendo que participam igualmente de todas as atividades mesmo não

sendo tão habilidoso, gostam de aulas de educação física e fazem todas as

atividades, e ainda os que não justificaram sua resposta.

Na questão 12, foi solicitado aos alunos se nas aulas de Educação

Física, meninos e meninas jogam juntos.

Quadro 13. Frequencia com que meninos e meninas jogam juntosSérie Sim Às vezes Não Total

1º ano FemMasc

0305

1310

0301

1916

2º ano FemMasc

0100

1609

0001

1710

3º ano FemMasc

0209

0500

0001

0710

Total 20 53 06 79

25

Nas respostas da questão acima fica claro que meninos e meninas

jogam juntos somente às vezes, visto que 48 alunos, a maioria,

responderam esse item, 20 alunos responderam sim, e apenas 06 alunos

responderam que não, que meninos e meninas não jogam juntos. As

respostas acima coloca em “xeque”, a proposta de uma educação física

mista em um mesmo espaço e com as mesmas atividades para meninos e

meninas, pois nem sempre é a realidade do cotidiano da educação física

dentro do espaço escolar

Desenvolver as aulas de forma mista acaba esbarrando sempre nas

dificuldades relacionadas a intolerância, as frustrações entre meninos e

meninas que se excluem, se conflitam e criam resistências a participação

junto com o outro, meninas alegam que os meninos são brutos e meninos

alegam que meninas são muito frágeis e não possuem força e habilidades

para acompanhá-los.

Rodrigues e Galvão (2005, p. ), diz que

conviver com as diferenças que existem no mundo o tornam mais interessante e nos permite crescer. Mesmo quando não entendemos ( ou quando nos posicionamos de forma contrária) a diversidade que nos cerca, cabe a nós o respeito pela mesma, assim como o posicionamento a favor de preservação dos direitos e da voz de quem é a favor, de quem defende.

Inconscientemente se cobram coisas diferentes de meninos e

meninas, essa forma diferente de tratar meninos e meninas dentro do

espaço escolar reforçam determinadas posturas frente a sociedade. Assim

no que se refere à questão de gênero é de fundamental importância as

aulas mistas, uma vez que pode favorecer a convivência entre meninos e

meninas, incentivando a tolerância e respeitando as diferenças existentes.

Meninos e meninas apresentam diferentes interesses que na prática

da educação física se materializa em diferentes atitudes e percepções, mas

que não podem ser usados como justificativa para omissões ou exclusões.

Segundo Cruz e Palmeira (2009, p. ),

não se pode negar que há diferenças biológicas entre os sexos, porém este fato não implica na impossibilidade de realização de aulas conjuntas, se por sua vez, estas preconizam a conscientização dos/as alunos/as o que pode a vir a ponderar as diferenças durante as atividades propostas.

26

O professor ao optar por determinada metodologia, deve criar

estratégias que possam intervir, minimizando/atenuando essa realidade e

constantemente estar refletindo sobre sua prática pedagógica que pode

influenciar diretamente de forma positiva ou negativa nas formas de agir e

pensar dos alunos.

Na questão 13, foi questionado se nas aulas de Educação Física,

quando o jogo é misto, se as meninas são tão bem aceitas quanto os

meninos.

Quadro 14. Frequência da aceitação das meninas num jogo mistoSérie Sim Às vezes Não Total

1º ano FemMasc

0202

1307

0407

1916

2º ano FemMasc

0402

1106

0202

1710

3º ano FemMasc

0103

0603

0004

0710

Total 14 46 19 79

O quadro 14, demonstra que 46 deles responderam que somente às

vezes num jogo misto as meninas são tão bem aceitas quanto os meninos,

19 responderam que não e somente 14 alunos acham que as meninas são

tão bem aceitas quanto os meninos quando o jogo é misto.

Essas respostas do quadro acima pode ser resultado de uma

separação por gênero que acaba acontecendo durante as aulas,

principalmente quando o esporte trabalhado é o futsal, esporte que tem a

preferência masculina e que os meninos gostam de jogar com mais

liberdade, o que não acontece quando as meninas jogam juntas, quando

então, segundo eles, é necessário o cuidado em medir a força quando

tocam ou chutam a bola devido as meninas não apresentarem a mesma

força física e por não possuírem as mesmas habilidades que eles, as

meninas preferem o futsal não misto pois dizem que os meninos são brutos

e não respeitam as diferenças entre os dois gêneros. Já em outros esportes

e outros conteúdos a participação das meninas junto com os meninos não

causa tanta polêmica e em alguns conteúdos ou atividades essa

preocupação não ocorre.

Essa diferença de habilidades acontece devido os meninos possuírem

um desenvolvimento motor maior que a maioria das meninas. Segundo

27

Darido e Rangel (2005), quando crianças, meninos são incentivados a

praticar brincadeiras mais agressivas e mais livres: jogar bola na rua, andar

de bicicleta, soltar pipa, rolar no chão em brigas intermináveis, escalar

muros e várias outras atividades que envolvem desafios e certos riscos. As

meninas, ao contrário, são desestimuladas a praticar tais brincadeiras e

atividades.

Essa exclusão por habilidades já acontece antes do período escolar,

onde os meninos são incentivados a participarem de tudo que contenha

riscos, ou seja um incentivo a aventuras, enquanto que às meninas resta

brincadeiras mais calmas, tranqüilas que não as coloque em risco nenhum.

Assim as habilidades motoras masculinas vão sendo mais desenvolvidas, ao

passo que as femininas ficam estabilizadas, essa diferença no

desenvolvimento de habilidades acabam, desde muito cedo, por separar

meninos de meninas principalmente nas atividades que envolvam

habilidades motoras.

Na última questão foi pedido se na opinião deles, se retirássemos o

aspecto competitivo do jogo, a participação nas aulas de Educação Física

seria maior e mais produtiva?

Quadro 15: Competição nas aulas de Educação Física, a participação seria maior e mais produtiva?

Série Sim Não Total

1º ano FemMasc

0708

1208

1916

2º ano FemMasc

0704

1006

1710

3º ano FemMasc

0504

0206

0710

Total 35 44 79

No quadro acima, 44 alunos responderam que a aula de educação

física não seria mais produtiva e que a participação não seria maior se o

aspecto competitivo fosse retirado do jogo e 35 alunos responderam que

28

sim que a aula de educação física seria mais produtiva e a participação

seria maior se a competição não existisse.

Os resultados apontados no quadro 15 mostram que apesar da

maioria responder que o aspecto competitivo do jogo não influencia numa

participação maior e mais produtiva dos alunos nas aulas de educação

física, a diferença em relação a quem respondeu que influencia foi bem

pequena.

A justificativa dada pelos alunos que consideram que a participação

nas aulas seria maior se retirasse o aspecto competitivo foi de que todos

iriam se divertir mais não importando quem ganha ou perde; não haveria

tanta cobrança entre os colegas e sem medo de errar todos iriam produzir

mais; não havendo competição não haveria distinção entre um e outro,

haveria mais respeito entre os colegas, facilitaria o jogo entre meninos e

meninas, não haveria jogadas ríspidas e ninguém sairia machucado.

Os que responderam que, não acham que retirando o aspecto

competitivo do jogo a aula seria melhor e mais produtiva , justificam que a

competição estimula ao acerto, e que sem competição o jogo em si perderia

a graça muitos não iriam se esforçar e então a aula seria menos produtiva,

perder-se-ia o prazer de ganhar sendo esse o fator que mais estimula o

jogo.

Durante as aulas de educação física tem-se buscado estratégias para

que o aluno possa compreender e vivenciar os mais variados tipos de jogos

recreativos seja eles dentro de um contexto participativo ou competitivo.

Como citado anteriormente neste trabalho, a questão não é negar ou

descartar a competição como uma estratégia de ação para o professor de

Educação Física, mas sim tratar a competição como um instrumento de

orientação pedagógica, voltada para uma relação social saudável que

valorize o acerto ou a vitória e, o erro ou a derrota, como partes naturais do

processo.

Para reforçar o comentário acima e confirmar o comentário dos alunos

que consideram que a participação nas aulas seria maior se retirasse o

aspecto competitivo, encontramos em Bracht (1997, p. 19) a seguinte

citação:

29

[...] existe uma forma onde o rendimento e as competições tenham um outro papel, um outro sentido, diverso daquele que possui no âmbito do esporte de rendimento ou alta competição? Entendemos que sim. Portanto, o esporte tratado e privilegiado na escola pode ser aquele que atribui um significado menos central ao rendimento máximo e à competição, e procura permitir aos educandos vivenciar também formas de prática esportiva que privilegiem antes o rendimento possível e a cooperação.

Após realizar a pesquisa, que serviu de diagnóstico para elaborar o

projeto de implementação na Escola, tem-se na sequência, como

aconteceu, e quais as estratégias utilizadas para a aplicação desse projeto.

5 IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA

A partir dos resultados obtidos na pesquisa e das dificuldades

apontadas pelos alunos através do questionário, a proposta de

implementação pedagógica teve como finalidade desenvolver um programa

com o objetivo de proporcionar a participação de todos os alunos do Ensino

Médio, do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, nas aulas de

educação física, por meio de novas estratégias pedagógicas de forma a

eliminar/minimizar os comportamentos geradores de exclusão, tais como:

discriminação por idade, sexo, cor, raça, etnia, classe social, habilidades

motoras, altura, obesidade ou qualquer outro comportamento excludente

que possa surgir no decorrer das aulas, como previsto nas Diretrizes

Curriculares.

A prática do esporte escolar, embora tendo a competição como

característica hegemônica, poderá desenvolver princípios e valores de

cooperação, respeito mútuo, coletividade, liderança, iniciativa, mas para

isso é necessário que o esporte seja vivenciado dentro desses princípios

educacionais, visando à formação de um ambiente que respeita as

diferenças e as limitações de cada um.

A finalidade é tornar a prática do esporte escolar mais acessível aos

próprios alunos, de forma que eles possam vivenciar essa prática como

30

participantes ativos, dando-lhes oportunidades de se identificarem com uma

das modalidades esportivas para uma prática regular e permanente.

Inicialmente foi elaborado um questionário como ponto de partida

para se obter informações no próprio discurso dos alunos, para identificar os

motivos que levam os alunos a permanecerem fora das aulas de Educação

Física, para então dar início a implementação pedagógica na escola.

Participaram alunos de 1º, 2º e 3º ano do Ensino Médio, num total de 79

alunos do turno matutino do Colégio Antônio Maximiliano Ceretta.

A Escola desenvolve um projeto “A Hora da Leitura”, e através deste,

foi levado ao conhecimento dos alunos o conteúdo do Projeto de

Intervenção na Escola, projeto do qual estavam participando.

Com a intenção de sensibilizar os alunos em relação ao conteúdo do

projeto, aconteceu a projeção de um filme e logo após um debate onde os

alunos puderam fazer a relação dos principais aspectos sociais abordados

no filme com o Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola e o cotidiano

dos alunos nas aulas de Educação Física.

Ainda nessa etapa de sensibilização aconteceu a opção pelos

profissionais que vieram para uma palestra, sendo esses, profissionais da

saúde, tais como o fisioterapeuta e o nutricionista. Atletas e ex atletas da

escola ou mesmo do município foram convidados a palestrar aos alunos

sobre a suas trajetórias dentro do Esporte, suas vitórias, seus triunfos, seus

sucessos, bem como suas dificuldades e suas decepções. Tudo isso com o

objetivo de levar o aluno a refletir sobre seu papel na sociedade e também

a necessidade de uma melhoria em sua qualidade de vida, inclusive com a

prática permanente de um esporte.

Terminada a fase de sensibilização, buscou-se estratégias que

poderiam ser utilizadas para que o aluno percebesse a necessidade de

participar das aulas de educação física de uma forma que lhe desse prazer,

buscando principalmente atividades que permitisse a participação de todos

de forma igualitária, independente de maior ou menor habilidade, altura,

obesidade, deficiência visual ou qualquer fator que possa ser motivo de

exclusão.

31

Essa prática poderá auxiliar na eliminação/minimização de qualquer

sentimento de exclusão que os alunos possam estar sentindo evidenciando

assim nas aulas de educação física o princípio da não exclusão e a

valorização do movimento humano também através da prática desportiva..

Procurou-se resgatar as atividades lúdicas, típicas da região e que fazem

parte do universo cultural do alunos, jogos com regras, bem como o

esporte, através de pré desportivos, exercícios educativos, prática esportiva

com grupos misto, masculino e feminino, procurando respeitar a

diversidade existente nas turmas, nas diversas modalidades esportivas

possíveis de serem trabalhadas, ou mesmo adaptadas na escola.

Buscou-se também estratégias de ensino que abordassem conceitos e

princípios teóricos, ressaltando-se a necessidade dessas informações no

sentido de compreender a necessidade de aceitação das diferenças

individuais, e que um esforço coletivo deve ser feito para equiparar as

oportunidades de participação de todos nas aulas de Educação física.

Ainda como estratégia, buscou-se a participação dos alunos na

elaboração de atividades e na atuação como árbitros e auxiliares de árbitros

durante o desenvolvimento da prática esportiva ou torneios, para que

pudessem perceber a necessidade de se inteirar também das regras

vigentes de cada modalidade esportiva desenvolvida nas aulas de Educação

Física.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a apresentação e a discussão dos resultados desse estudo

chegou-se as seguintes conclusões:

Com relação se a participação dos alunos nas aulas de Educação

Física são influenciadas ou não, pela facilidade ou dificuldade que os

mesmos encontram na prática dos esportes, verificou-se que se o aluno não

possuir habilidade motora e conhecimento da prática do esporte trabalhado,

a tendencia é ele não participar da aula, ficando assim excluído das aulas

de Educação Física.

32

As estratégias que o professor utiliza na prática dos esportes não é

um fator tão relevante a ponto de influenciar negativamente na

participação dos alunos nas aulas, penso que depende mais da postura que

o professor vai adotar frente as situações que se apresentam. Mas a

utilização na prática de qualquer esporte de exercícios educativos e jogos

com ênfase na fundamentação são considerados importantes, já que a falta

de habilidades é apontada como o fator que mais gera exclusão, mesmo no

Ensino Médio, onde supõe-se que os mesmos deveriam ter assimilado essa

aprendizagem em anos anteriores. A aprendizagem através de exercícios

educativos da fundamentação das diferentes modalidades, pode ser a

solução para suprir as dificuldades encontradas pelos alunos na prática

esportiva, mesmo que seja um processo cansativo, o professor deve buscar

meios para que isso ocorra.

Na identificação dos conteúdos e dos esportes desenvolvidos nas

aulas de Educação Física, verificamos que embora o esporte seja o

conteúdo mais trabalhado não é o único, sendo o Esporte mais aplicados

até pela questão de estrutura física. Quanto aos esportes desenvolvidos

durante as aulas aparecem os que são considerados básicos e novamente

caimos no mesmo problema, a estrutura física que a Escola oferece, caso

contrário o professor acaba por adaptar o conteúdo ao que tem em mãos

para desenvolvê-lo.

Na busca por fatores que influenciam na não inclusão do aluno nas

aulas de educação física procurou-se identificar se atitudes e

comportamentos dos colegas influenciam na partcipação dos mesmos nas

aulas e verificamos que esse fator é de grande relevância. Essas atitudes

podem ser de caráter positivo ou negativo, devendo ter uma especial

atenção do professor quando de caráter negativo, visto que o aluno quando

incorpora esse sentimento de exclusão, pode adotar uma postura de

isolamento, que leva a um afastamento definitivo das aulas e

consequentemente de qualquer atividade esportiva.

A questão da exclusão por gênero foi levantada, apesar da ausência

de habilidades ser o principal fator de exclusão, a questão por gênero

também em determinadas situações e dependendo das atividades

33

propostas para a aula, aparece com certa relevância. A política adotada

pelas escolas das aulas mistas poderia ser a solução para ameninzar um

pouco esse preconceito, mas a realidade escolar mostra que mesmo as

aulas sendo mistas, os alunos do sexo masculino, quase sempre trabalham

separados do sexo feminino. A exclusão por gênero aponta como fator, a

menor habilidade das meninas em relação à prática dos esportes.

A competição foi outro fator levantado e questionado junto aos

alunos, mas o que percebeu-se foi uma diferença mínima, quanto as

respostas de quem defende a competição como fator que pode ser

excludente de quem defende a competição como fator motivador para a

participação dos alunos.

Penso que a competição em si não exclui ninguém, ela é exatamente aquilo

que fazemos dela, e o Esporte, não o de rendimento, não o espetáculo, mas aquele

que educa, aquele que privilegia ao aluno vivenciar experiências de cooperação,

de iniciativa, de solidariedade, de coletividade, de iniciativa, de respeito mútuo e

do rendimento possível, seja de fato o esporte desenvolvido dentro da escola.

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