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Brasília, Brasil – 19-21 Outubro 2015
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O ESTADO DA ARTE DA LINGUÍSTICA APLICADA CRÍTICA NO BRASIL:
Um diagnóstico das pesquisas de LAC publicadas em periódicos
THE STATE OF THE ART OF CRITICAL APPLIED LINGUISTICS IN
BRAZIL: A diagnostic of CAL researches published in journals
Ana Luísa de Castro SOARES
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
Prof.ª Dr.ª Junia Claudia Santana de Mattos ZAIDAN
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
RESUMO
Este artigo é parte de um projeto do Programa Institucional Voluntário de Iniciação Científica
(PIVIC) que se propõe a conhecer o estado da arte nas pesquisas em Linguística Aplicada
Crítica (PENNYCOOK, 2001, MOITA LOPES, 2006) no Brasil, desde 2001. A Linguística
Aplicada Crítica trata de questões relacionadas ao uso da linguagem problematizando o que é
normalmente tido como o centro, e que concentra poder e privilégio; através desses trabalhos, a
Linguística Aplicada Crítica tenta revisar os aspectos linguísticos e políticos que sustentam esse
centro. (PENNYCOOK, 2001). Neste subprojeto, especificamente, nos dedicamos a levantar e
mapear as atividades de pesquisas de Linguística Aplicada Crítica de dois periódicos
especializados em Linguística Aplicada brasileiros, o DELTA (Documentação de estudos em
Linguística Aplicada e Teórica), da PUC-SP, e a RBLA (Revista Brasileira de Linguística
Aplicada), da UFMG, no período compreendido entre os anos de 2001 e 2014. Orientados pelo
conceito de crítico estabelecido por PENNYCOOK (2001), segundo quem a Linguística
Aplicada Crítica é sobre “tornar a linguística aplicada mais responsável politicamente”,
elegemos indicadores que mostrassem um engajamento político dos trabalhos nos periódicos
que analisamos, a fim de encaixá-los no campo da Linguística Aplicada Crítica. O mapeamento
consistiu, então, em um estudo criterioso de todas as edições dos periódicos, desde 2001 até
2014. A partir da listagem dos artigos de cada edição, procuramos, no título, resumo e palavras-
chave, pelos indicadores por nós eleitos, que demonstrariam o alinhamento dos artigos com a
definição de crítico proposta por Pennycook. Os resultados obtidos demonstram que os
trabalhos com a orientação crítica são a minoria, constituindo aproximadamente um décimo de
todos os trabalhos publicados por ambos os periódicos no intervalo de tempo analisado. Estes
resultados sugerem um alheamento no que diz respeito ao envolvimento com questões políticas,
de poder, disparidade e diferença. A proliferação de ensaios, resenhas e livros alegadamente
situados na perspectiva crítica em L.A. parece, de modo geral, não reverberar nos objetos eleitos
para as pesquisas na área.
Palavras-chave: Linguística Aplicada, Linguística Aplicada Crítica, Mapeamento da
Linguística Aplicada Crítica, DELTA, RBLA.
ABSTRACT
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This paper is part of a project of the “Programa Institucional Voluntário de Iniciação Científica”
(PIVIC) that intends to know the state of the art in the researches in Critical Applied Linguistics
(PENNYCOOK, 2001 MOITA LOPES, 2006) in Brazil since 2001. Critical Applied Linguistics
address issues related to the use of language, problematizing what is normally taken as the
center, and that concentrates power and privilege; through these works, Critical Applied
Linguistics attempts to review the linguistic and political aspects that support this center.
(PENNYCOOK, 2001). In this subproject, specifically, we are dedicated to collect and map the
Critical Applied Linguistics research activities of two Brazilian journals specialized in
Linguistics, DELTA Documentação de estudos em Linguística Aplicada e Teórica), of PUC-SP,
and RBLA (Revista Brasileira de Linguística Aplicada), of UFMG, in the period between 2001
and 2014. Guided by the concept of critical established by Pennycook (2001), according to
whom Critical Applied Linguistics is about "making Applied Linguistics more politically
accountable" we have elected indicators that showed a political engagement of the works in the
journals that we analyzed, in order to fit them in the field of Critical Applied Linguistics. The
mapping consisted, then, in a careful study of all the issues of the journals, from 2001 to 2014.
From the listing of articles of each issue, we sought, in the title, abstract and keywords, the
indicators we have elected, which would demonstrate the alignment of articles with the
definition of critical proposed by Pennycook. The results show that the works with critical
orientation are the minority, constituting approximately one-tenth of all works published by
both newspapers in the time lapse by us analyzed. These results suggest a detachment as long as
the engagement with political, power, difference and disparity issues is concerned. The
proliferation of essays, reviews and books allegedly located in the critical perspective in LA
seems, in general, to not reverberate in the elected objects for research in the area.
Keywords: Applied Linguistics, Critical Applied Linguistics, Critical Applied Linguistics
Mapping, DELTA, RBLA
1. INTRODUÇÃO
Este artigo se dedica a analisar os resultados de uma pesquisa do Programa
Institucional Voluntário de Iniciação Científica (PIVIC), que consistiu em um
levantamento e mapeamento das atividades de pesquisas de Linguística Aplicada Crítica
em dois periódicos especializados brasileiros, o DELTA (Documentação de estudos em
Linguística Aplicada e Teórica), da PUC-SP, e a RBLA (Revista Brasileira de
Linguística Aplicada), da UFMG, no período compreendido entre os anos de 2001 e
2014.
A Linguística Aplicada é um campo amplo que se preocupa com questões
relacionadas ao uso da linguagem. A LA não é recente: Cavalcanti a discute ainda em
1986 com a obra “A propósito da linguística aplicada”. Sobre o foco de ação da LA,
Cavalcanti afirma:
Uma vez que a LA se interesse por problemas de uso de linguagem
(em L1, L2 ou LE) dentro ou fora do contexto escolar, vejo seu foco
de ação como sendo a interação face-a-face (conversação) ou ouvido-
a-ouvido (conversação telefônica) e a interação à distância mediada
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pelo texto. Estes dois tipos de interação em sua abrangência incluem o
ensino de línguas. (CAVALCANTI, 1986, p. 4)
Inicialmente, a LA dedica-se, então, a discutir problemas relacionados à
linguagem, mas seus trabalhos demonstram um alheamento no que diz respeito ao
envolvimento com questões políticas. Mesmo que haja uma preocupação com a práxis,
esta se encontra voltada para questões cognitivas, discursivas, pedagógicas ou
puramente linguísticas.
Em 2001, Pennycook publica a obra “Critical Applied Linguistics: A Critical
Introduction”, a pedra fundamental da LAC. Há, então, uma mudança do foco dos
problemas abordados pela LA para uma perspectiva mais crítica, o que faz com que
surja a Linguística Aplicada Crítica (LAC). Esta perspectiva crítica, segundo
Pennycook, não é puramente adição de uma dimensão crítica à LA. O autor afirma que
“Linguística Aplicada Crítica é mais do que apenas uma dimensão crítica adicionada à
Linguística Aplicada: ela envolve um ceticismo constante, um constante
questionamento dos pressupostos normativos da Linguística Aplicada” (PENNYCOOK,
2001, p. 10)1. Moita Lopes (2006) compartilha da visão de Pennycook, e afirma que a
LA deve trazer “para o centro de atenção vidas marginalizadas do ponto de vista dos
atravessamentos identitários de classe social, raça, etnia, gênero, sexualidade,
nacionalidade” (MOITA LOPES, 2006, p. 25)
A LAC trata de questões relacionadas ao uso da linguagem, mas o faz através
de trabalhos que desafiam o que é normalmente tido como o centro, e que concentra
poder e privilégio; através desses trabalhos, a LAC tenta revisar os aspectos linguísticos
e políticos que sustentam esse centro. (PENNYCOOK, 2001). Para tanto, a LAC adota
cada vez mais uma abordagem hermenêutica, ao invés de um empirista, mais presente
na muitas vezes referida como ciência-mãe Linguística.
2. JUSTIFICATIVA
1 “Critical Applied Linguistics is more than just a critical dimension added on to Applied
Linguistics: it involves a constant skepticism, a constant questioning of the normative
assumptions of the givens of applied linguistics” (PENNYCOOK, 2001, p. 10, tradução nossa)
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A necessidade de se mapearem os periódicos especializados em Linguística
Aplicada é decorrente da crescente importância atribuída à publicação científica em
nosso país, tornando assim estas fontes um relevante indicador do estado de arte da
Linguística Aplicada Crítica.
Primeiramente, é necessário discutir a relevância das publicações em
periódicos. Santos (2011) define periódico da seguinte maneira: “Sob esta denominação
foram acolhidas todas as publicações periódicas ou seriadas, direta ou indiretamente
vinculadas a instituições de ensino – a maioria destas com programas de pós-graduação
– ou a centros de pesquisa” (p. 4). Serra, Ferreira e Fiates (2008) afirmam: “Para a
consolidação de uma carreira acadêmica, a pesquisa e posterior divulgação de seus
resultados são fundamentais, por isso a busca por periódicos que publiquem seus artigos
ultrapassa as fronteiras do país.” (2008, p.3).
A tendência de se publicar em periódicos é ainda incentivada por instituições
como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e o
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ), por
exemplo. No Brasil, a Capes utiliza a lista Qualis para indicação da qualidade da
produção intelectual. Cada periódico recebe uma classificação, que pode ser, em ordem
decrescente quanto à importância atribuída a cada categoria, A1, A2, B1, B2, B3, B4,
B5 e C, que é nulo. Estas categorias estão ligadas a fatores de impacto, expressos pelos
seguintes valores:
Categoria Fator de impacto
A1 igual ou superior a 3,800
A2 entre 3,799 e 2,500
B1 entre 2,499 e 1,300
B2 entre 1,299 e 0,001
B3
B4
B5
C
sem fator de impacto
sem fator de impacto
sem fator de impacto
irrelevante, com peso zero
Tabela 1. Fatores de impacto da lista Qualis
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É importante frisar que a publicação em revistas científicas com uma boa
classificação na lista Qualis / com alto fator de impacto contribuem para os programas
de pós graduação (PPGs), que têm um reconhecimento maior e podem ganhar bolsas de
estudos para seus pesquisadores financiadas pela própria Capes. Além da possibilidade
de ganhar bolsas de estudos para pesquisas, muitos concursos para professores também
levam em consideração a publicação em periódicos para a prova de títulos, geralmente
atribuindo certa pontuação para cada publicação – sendo esta pontuação normalmente
mais alta quanto maior o fator de impacto do periódico. Assim, cria-se uma indústria de
publicação científica, que faz com que aqueles que almejem uma carreira de
pesquisador e/ou de professor estejam sempre buscando publicar artigos em periódicos
bem classificados, uma vez que a manutenção e a evolução de suas carreiras pode
depender disto.
3. OBJETIVOS
Devido à crescente importância atribuída à publicação científica em periódicos
em nosso país e orientados pelo conceito de crítico estabelecido por PENNYCOOK
(2001), segundo quem a Linguística Aplicada Crítica precisa “tornar a linguística
aplicada mais responsável politicamente” e pela proposta de Moita Lopes (2006) de
trazer à tona também as narrativas que contemplem aqueles que estão à margem da
sociedade, “do ponto de vista dos atravessamentos identitários de classe social, raça,
etnia, gênero, sexualidade, nacionalidade” (MOITA LOPES, 2006, p. 25), nos
propusemos a levantar e mapear as atividades de pesquisas de LAC da DELTA
(Documentação de estudos em Linguística Aplicada e Teórica), da PUC-SP, e a RBLA
(Revista Brasileira de Linguística Aplicada), da UFMG, no período compreendido entre
os anos de 2001 e 2014, com o objetivo de descobrir o movimento que a LA tem feito
em direção a uma abordagem mais crítica em seus estudos. Portanto, os objetivos
específicos são:
- Explorar os temas presentes nos periódicos de grande circulação na
Linguística Aplicada no Brasil, a saber: A DELTA (Documentação de Estudos em
Linguística Teórica e Aplicada); A RBLA (Revista Brasileira de Linguística Aplicada)e
Trabalhos em Linguística Aplicada;
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- Verificar se os temas voltados para as questões de cognição prevalecem em
relação àqueles relacionados às questões sociais e políticas do uso da língua;
- Comparar os temas e orientações das pesquisas com a proposta de Pennycook
(2001) e de Moita-Lopes (2006).
4. METODOLOGIA
Para conhecer o estado de arte da LAC no país, escolhemos levantar dados de
dois periódicos especializados em Linguística Aplicada brasileiros, a DELTA
(Documentação de estudos em Linguística Aplicada e Teórica), da PUC-SP, e a RBLA
(Revista Brasileira de Linguística Aplicada), da UFMG.
A DELTA: Documentação de estudos em linguística teórica é um periódico
publicado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo / PUC-SP. O periódico foi
inaugurado em 1985 e desde 1992 tem duas edições anuais, em fevereiro e agosto. De
acordo com informações do próprio periódico na SciELO, o jornal é direcionado a todas
as áreas de estudo relativas a língua e fala, sejam teóricas ou aplicadas. Apenas
contribuições inéditas são consideradas para avaliação” . O conteúdo do periódico é
indexado por “Sociological Abstracts” e “Linguistics and Language Behavior Abstracts.
A classificação da DELTA na Qualis é A1.
A RBLA: Revista Brasileira de linguística aplicada é um periódico publicado
pela Universidade Federal de Minas Gerais / UFMG. Foi fundado em 2001,
inicialmente com 2 edições por ano, mas desde 2010 passou a ter 4 edições anuais,
sendo 2 delas sempre focadas em um tema específico. Possui o sistema de revisão por
pares, ou seja, os trabalhos submetidos são examinados por outros especialistas da
mesma área. A RBLA é patrocinada pelo Programa de Estudos Linguísticos (POSLIN)
da UFMG e as agências de pesquisa CNPq e FAPEMIG. O conteúdo do periódico é
indexado por: MLA (Modern Language Association of America), Linguistics Abstracts,
Linguistics and Language Behavior Abstracts, EBSCO, DOAJ (Directory of
Open Access Journals), OCLC WorldCat, Latindex, SIS e Redalyc. A classificação da
RBLA na Qualis é A1.
Realizou-se a leitura e classificação dos títulos e resumos/abstracts nos
periódicos mencionados, considerando-se o período entre o ano de 2001 e 2014. A
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análise compreendeu uma abordagem interpretativa, baseada em indicadores e,
posteriormente, uma análise estatística.
4.1 CLASSIFICAÇÃO DOS ARTIGOS DOS PERIÓDICOS
Como a natureza desta pesquisa é interpretativa, os dados qualitativos a serem
coletados foram analisados através do estabelecimento de indicadores de análise. Um
indicador é a representação de uma ideia, conceito ou construto a fim de torná-los
concretos e mensuráveis. Neste trabalho, a operacionalização do construto “crítico” foi
feita através da eleição de indicadores – termos, expressões – relacionados ao campo
semântico da LAC (Cf. Tabela 2 abaixo). Também foram estabelecidos indicadores para
as ocorrências de trabalhos que não se encaixavam na perspectiva crítica. Portanto, os
artigos por nós analisados foram agrupados nas seguintes categorias: artigos com
orientação crítica, artigos com orientação linguística, artigos com orientação cognitiva,
artigos com orientação discursiva e artigos voltados para a prática pedagógica. A
ocorrência dos indicadores no título ou no resumo/abstract foi levada em consideração
para alocar cada trabalho em uma das categorias mencionadas acima. Descrevemos cada
categoria nas seções que se seguem.
4.1.2. ARTIGOS COM ORIENTAÇÃO CRÍTICA
A definição de crítico que buscamos foi baseada nos trabalhos de teóricos
como Pennycook (2001) e Moita Lopes (2006). Pennycook (2001) estabeleceu um
compromisso da LAC com questões políticas, dizendo que o propósito desta ciência é
justamente tornar a linguística aplicada mais responsável politicamente:
Enquanto o sentido de pensamento crítico que discuti anteriormente –
um conjunto de habilidades de pensamento – tenta quase por definição
permanecer isolado de questões políticas, de questões de poder,
disparidade, diferença, ou desejo, o sentido de crítico que eu quero
tornar central para a lingüística aplicada crítica é um que leva estes
como condição sine qua non do nosso trabalho. Linguística aplicada
crítica não é sobre o desenvolvimento de um conjunto de habilidades
que vai tornar o fazer da lingüística aplicada mais rigoroso ou mais
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objetivo mas sim sobre tornar a lingüística aplicada mais responsável
politicamente (PENNYCOOK, 2001, p.7).2
Orientados por esta definição de crítico e pelos atravessamentos identitários
trazidos por Moita Lopes (2006), elegemos então indicadores que mostrassem um
engajamento político dos trabalhos nos periódicos que analisamos, a fim de encaixá-los
no campo da LAC. Optamos por levantar indicadores com sua respectiva tradução em
inglês, uma vez que a maioria dos trabalhos publicados em ambos os periódicos
analisados possui, além da língua em que o texto foi escrito, resumo (abstract) e
palavras-chave (keywords) redigidos na língua inglesa, o que facilitaria nosso processo
de busca.
A tabela abaixo apresenta os indicadores por nós eleitos:
Indicador Tradução para o inglês
Análise do Discurso Crítica Critical Discourse Analysis
Crítica(o) Critical
Empoderamento Empowerment
Feminismo
Feminista
Gênero
Identidade
Feminism
Feminist
Gender
Identity
Miséria
Poder
Político(a)
Relações de Poder
Sexismo
Sexista
Sofrimento
Misery
Power
Political
Power Relations
Sexism
Sexist
Suffering
Tabela 2. Indicadores eleitos: orientação crítica
2 While the sense of critical thinking I discussed earlier – a set of thinking skills – attempts
almost by definition to remain isolated from political questions, from issues of power, disparity,
difference, or desire, the sense of critical that I want to make central to critical applied
linguistics is one that takes these as the sine qua non of our work. Critical applied linguistics is
not about developing a set of skills that will make the doing of applied linguistics more rigorous
or more objective but is about making applied linguistics more politically accountable
(PENNYCOOK, 2001, p.7, tradução nossa).
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Depois de eleitos os indicadores, utilizando como fonte de pesquisa os sites dos
periódicos na SciELO, www.scielo.br/rbla e www.scielo.br/delta, demos início à
análise dos artigos. O processo consistiu em um estudo criterioso de todas as edições
dos periódicos, desde 2001 até 2014: a partir da listagem dos artigos de cada edição,
procurávamos, no título, abstract/resumo e palavras-chave/keywords, indicadores que
demonstrassem o alinhamento dos artigos com a definição de crítico proposta por
Pennycook. A seguir, apresentamos um exemplo:
Figura 1. Exemplo de artigo com orientação crítica. . Fonte: Fabrício, B. (2004).
Classificamos este artigo como possuindo orientação critica pois indica uma
preocupação com questões de disparidade ao abordar questões de gênero e discutir uma
representação depreciativa do sexo feminino pela mídia. Esta postura demonstra um
alinhamento com o sentido de crítico proposto por Pennycook (2001), pois, ao
denunciar esta prática em sua constituição pela linguagem, apresenta-se como um objeto
de engajamento político, voltado para o questionamento dos pressupostos que trabalham
a favor da opressão sofrida pelo sexo feminino em nossa sociedade.
4.1.3. ARTIGOS COM ORIENTAÇÃO COGNITIVA
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Para a classificação de artigos de orientação cognitiva, nos orientamos pelo
sentido de cognição tal como no Longman Dictionary of Language Teaching and
Applied Linguistics, “The various mental processes used in thinking, remembering,
perceiving, recognizing, classifying, etc.3”(RICHARDS & SCHIMIDT, 2002, p. 82). Os
campos da Psicologia e da Ciência Cognitiva também oferecem conceituações de
cognição que interessam à pesquisa em Linguística Aplicada:Para a Psicologia
Cognitiva, trata-se de “processos tais como atenção, percepção, compreensão, memória
e aprendizagem.” (RICHARDS & SCHIMIDT, op.cit. p. 84) e, na Ciência cognitiva, “o
pensamento, o raciocínio e os processos intelectuais (...) o modo como o conhecimento
é representado na mente, como a língua e as imagens são entendidas (...) os processos
mentais subjacentes de inferência, aprendizagem, resolução de problemas e
planejamento.” (IDEM, p. 84). Estes princípios foram levados em consideração para a
eleição de indicadores que nos ajudassem a fazer a classificação dos artigos como
orientados pela cognição.
A tabela abaixo apresenta os indicadores por nós eleitos:
Indicador Tradução para o inglês
Aquisição Acquisition
Aquisição da
linguagem
Aquisição de LE
Language acquisition
LE acquistion
Aquisição de L2 L2 acquisition
Aprendizagem
Classificação
Cognição
Compreensão
Ciência cognitiva
Memória
Obtenção
Pensamento
Percepção
Processo(s) mental(is)
Reconhecimento
Learning
Classifying
Cognition
Comprehension
Cognitive science
Memory
Obtaining
Thinking
Perceiving
Mental process(es)
Recognizing
Tabela 3. Indicadores eleitos: orientação cognitiva
3“Os vários processos mentais usados no pensamento, memória, percepção, reconhecimento,
classificação, etc.” (RICHARDS & SCHIMIDT, 2002, p. 82, tradução nossa)
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Depois de eleitos os indicadores, repetimos o processo realizado para
classificação dos artigos com orientação crítica: buscamos a presença de nossos
indicadores no título, abstract/resumo e palavras-chave/keywords dos artigos
analisados. A seguir, apresentamos um exemplo:
Figura 2. Exemplo de artigo com orientação cognitiva. Fonte: CONCEIÇÃO, S. (2006).
Classificamos este artigo como possuindo orientação cognitiva pois analisa
aquisição de um aspecto da língua (matrizes infinitivas no português brasileiro) por uma
criança, portanto, está interessado em como se dá a obtenção de um conhecimento
linguístico.
4.1.4. ARTIGOS COM ORIENTAÇÃO LINGUÍSTICA
Para a classificação de artigos como possuindo uma orientação linguística,
consideramos os artigos que apresentam descrições e análise linguísticas (fonologia,
morfossintaxe, semântica, léxico), porém não relacionados à aprendizagem – e, por isso,
diferentes dos artigos com orientação cognitiva. Com base nestes fundamentos,
elencamos os seguintes indicadores:
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Indicador Tradução para o inglês
Análise linguística
Classes de palavra
Linguistic analysis
Word classes
Fonologia
Gramática
Léxico
Linguística
Linguístico
Phonology
Grammar
Lexicon
Linguistics
Linguistic
Morfossintaxe Morphosyntax
Semântica
Sintaxe
Semantics
Syntax
Tabela 4. Indicadores eleitos: orientação linguística.
Depois de eleitos os indicadores, repetimos o processo realizado para
classificação dos artigos com orientação crítica e cognitiva: buscamos a presença de
nossos indicadores no título, abstract/resumo e palavras-chave/keywords dos artigos
analisados. A seguir, apresentamos uma amostra de artigo classificado como possuindo
orientação linguística:
Figura 3. Exemplo de artigo com orientação linguística. Fonte: CAMACHO, R. (2007).
Classificamos este artigo como possuindo orientação linguística pois dedica-se
a discutir o comportamento de uma estrutura da língua (nomes deverbais).
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4.1.5. ARTIGOS COM ORIENTAÇÃO DISCURSIVA
Para a classificação de artigos como tendo orientação discursiva, consideramos
aqueles trabalhos que analisam amostras linguísticas em sua ocorrência na comunicação
social, ou seja, em uso, seja na conversação, no texto ou em outras situações de
enunciação. É importante assinalar que para ser alocado nesta categoria, o artigo não
poderia incluir explicitamente indicações consoantes com a definição de “critico”
apresentada anteriormente, embora reconheçamos que a distinção nem sempre poderá se
manter, caso uma análise longitudinal fosse feita. Orientados por esta definição,
elegemos os seguintes indicadores:
Indicador Tradução para o inglês
Alternância de código Code-switching
Análise do Discurso Discourse analysis
Ato(s) de fala
Comunicação
Speech act(s)
Communication
Comunicação social
Conversação
Dialogismo
Discursiva(o)
Discurso
Enunciação
Evento comunicativo
Fala
Marcadores discursivos
Social communication
Conversation
Dialogism
Discoursive
Discourse
Enunciation
Communicative event
Speech
Discoursive markers
Tabela 5. Indicadores eleitos: orientação discursiv.
Depois de elegermos os indicadores, repetimos o processo realizado para
classificação dos artigos das categorias anteriores: buscamos a presença de nossos
indicadores no título, abstract/resumo e palavras-chave/keywords dos artigos
analisados. A seguir, apresentamos uma amostra de artigo com orientação discursiva:
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Figura 4. Exemplo de artigo com orientação discursiva. Fonte: SILVA, R. (2009).
Nesse exemplo, a pesquisadora se interessa por questões relacionadas à língua
em uso, recorrendo ao Dialogismo e à Análise da Fala, sem aparentemente ter (ou
explicitar) interesse em sua situacionalidade no que tange às questões sociopolíticas.
4.1.6. ARTIGOS VOLTADOS PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICA
Para a classificação de artigos como voltados para a prática pedagógica,
consideramos aqueles que discutem temas e problemas da sala de aula, porém,
diferentemente dos artigos com orientação cognitiva, são especificamente direcionados
à prática pedagógica dos educadores. Norteados por este conceito, elegemos os
seguintes indicadores:
Indicador Tradução em inglês
Crenças do professor Teachers’ beliefs
Ensino reflexivo Ensino reflexivo
Investigação na sala de
aula
Classroom investigation
Prática pedagógica
Problemas da sala de
aula
Professor reflexivo
Pedagogical Practice
Classroom Problems
Reflexive teacher
Reflection
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Reflexão
Tabela 6. Indicadores eleitos: artigos com orientação voltada para a prática pedagógica
Finalmente, realizamos o processo da busca dos indicadores – anteriormente
explicitado – uma vez mais; desta maneira, classificamos os artigos com a orientação
voltada para a prática pedagógica, como o seguinte exemplo:
Figura 5. Exemplo de artigo voltado para a prática pedagógica. Fonte: STREIECHEN, E;
KRAUSE-LEMKE, C. (2014).
Classificamos este artigo como voltado para a prática pedagógica pois discute
implicações para a prática pedagógica a partir de um problema de pesquisa oriundo de
observação dentro da sala de aula.
5. RESULTADOS
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Após a análise interpretativa e a classificação dos artigos analisados dentro das
4 categorias por nós propostas – com orientação linguística, cognitiva, discursiva e
voltada para a prática pedagógica –, procedemos à quantificação de todos os textos
publicados pela RBLA e pela DELTA.
Os resultados obtidos mostraram, para a DELTA, uma porcentagem de
aproximadamente 10% de artigos com o que consideramos uma orientação crítica para
um total de 270 trabalhos. O gráfico abaixo ilustra estes resultados:
Figura 6. Gráfico com os resultados da quantificação da DELTA
Para a RBLA, os resultados foram bem próximos: dos 381 artigos totais, 11%
têm uma orientação crítica. Estes resultados estão ilustrados no gráfico a seguir:
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Figura 7. Gráfico com os resultados da quantificação da RBLA
Somando todas as publicações do período estudado, obtivemos um total de 651
artigos. Destes, consideramos 68 (aproximadamente 10%) como possuindo orientação
crítica, como demonstrado abaixo:
Figura 8. Gráfico com os resultados da quantificação dos dois periódicos
6. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
Esta pesquisa teve como objetivo principal mapear dois dos maiores periódicos
de LA do Brasil, a fim explorar se a LA tem feito algum movimento em direção a uma
abordagem mais crítica (PENNYCOOK, 2001, MOITA-LOPES, 2006) em seus
estudos.
Os resultados obtidos demonstram que os trabalhos com orientação crítica são
a minoria, constituindo aproximadamente um décimo de todos os trabalhos publicados
por ambos os periódicos no intervalo de tempo analisado, a saber, entre os anos de 2001
e 2015. A notável proliferação de ensaios, resenhas e livros alegadamente situados na
perspectiva crítica em LA parece, de modo geral, ainda não exercer grande impacto nos
objetos eleitos para as pesquisas na área. Ressaltamos, porém, que embora a
porcentagem de trabalhos com orientação crítica possa não parecer tão expressiva,
pode-se concluir que, comparativamente às décadas que precederam o ponto de corte da
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pesquisa (2001), há um grande avanço em relação às temáticas comumente abordadas
anteriormente. Zaidan (2013, p.11), em seu trabalho sobre o Inglês Menor no âmbito da
Linguística Aplicada Crítica e da Filosofia Política, sublinha a necessidade de estudos
que problematizem os velhos modelos com vocação dogmática nos estudos da
linguagem (...) [o que] não cessa de apontar para a [necessidade da] transposição
constante dos muros disciplinares – traço constituinte da própria Linguística Aplicada.
Na perspectiva em que este projeto se situa, este diálogo com outros campos do
conhecimento – traço inerente da LA – e o abandono do dogmatismo vão mobilizar os
estudos cada vez mais para o seio social em que as desigualdades, opressões,
sofrimentos, privações – que se constituem sobretudo pela linguagem – acontecem.
REFERÊNCIAS
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