o Estruturalismo

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Primórdios da Psicologia Os primórdios da Psicologia – evolução como ciência Psicologia e Filosofia A origem da psicologia está ligada à história da filosofia, pelo que esta coloca também questões filosóficas. A psicologia só surgiu como ciência no século XIX, com o contributo de Wundt. Até aí, o que se pode considerar hoje como psicologia estava no âmbito da filosofia. Desde cedo que o Homem interroga acerca do mundo que o rodeia, mas também acerca dele próprio. Questões filosóficas como: “O que é o Homem?”, “Qual o papel do ser humano no mundo?” e “Porque é que existe o bem e o mal?” podem ser consideradas como os primórdios da psicologia. Já em 400 a. C., Hipócrates pretendeu criar uma teoria que relacionava o tipo físico com a personalidade das pessoas. Aristóteles é outro autor conhecido que se dedicou ao pensamento sobre a alma humana, escrevendo até uma obra com o nome De Anima ou Sobre a Alma. O método introspectivo, que foi o utilizado por Wundt (embora com contornos diferentes) e é um dos métodos clássicos da psicologia em geral, foi usado por Santo Agostinho na sua obra As Confissões.

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Primórdios da Psicologia

Os primórdios da Psicologia – evolução como ciência

 

Psicologia e Filosofia

A origem da psicologia está ligada à história da filosofia, pelo que esta coloca também

questões filosóficas.

A psicologia só surgiu como ciência no século XIX, com o contributo de Wundt. Até aí,

o que se pode considerar hoje como psicologia estava no âmbito da filosofia.

Desde cedo que o Homem interroga acerca do mundo que o rodeia, mas também acerca

dele próprio. Questões filosóficas como: “O que é o Homem?”, “Qual o papel do ser

humano no mundo?” e “Porque é que existe o bem e o mal?” podem ser consideradas

como os primórdios da psicologia.

Já em 400 a. C., Hipócrates pretendeu criar uma teoria que relacionava o tipo físico com

a personalidade das pessoas. Aristóteles é outro autor conhecido que se dedicou ao

pensamento sobre a alma humana, escrevendo até uma obra com o nome De Anima ou

Sobre a Alma.

O método introspectivo, que foi o utilizado por Wundt (embora com contornos

diferentes) e é um dos métodos clássicos da psicologia em geral, foi usado por Santo

Agostinho na sua obra As Confissões.

Além destes, muitos outros autores realizaram trabalhos da área da psicologia/filosofia,

como Descartes, Hobbes, Locke e Kant.

Nesta perspetiva, durante séculos, a história da Psicologia e a da Filosofia foram

indissociáveis.

Objeto de Estudo da Psicologia

A etimologia da palavra mostra-nos que psicologia surgiu como o estudo da

alma: psiché (alma) + logos (razão, estudo). No entanto, esta só se constituiu como

saber no século XVI, com Rodolfo Goclénio, tendo adquirido o estatuto de ciência,

muito recentemente, nos finais do século XIX. Foi Watson (1878-1958) que promoveu

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a emancipação definitiva da psicologia relativamente à filosofia, sendo o fundador da

corrente científica designada por behaviorismo. No sentido de conseguir a objetividade

para esta disciplina, propõe como objeto de estudo o comportamento (behaviour) e só o

comportamento.

Genericamente, a psicologia enquanto disciplina científica é definida como a ciência

que estuda os comportamentos e os processos mentais. O comportamento é algo que

fazemos, é uma ação que podemos observar. Os processos mentais são experiências

internas e subjetivas que inferimos do comportamento: sensações, perceções, sonhos,

lembranças, pensamentos, crenças…

São estes os novos objetos de estudo da psicologia que lhe conferem o estatuto de

ciência e possibilitam o aparecimento de uma série de correntes: estruturalismo,

behaviorismo, gestaltismo.

 

Correntes Psicológicas

 

Associacionismo ou Estruturalismo

O Estruturalismo tem como seu máximo representante Wundt, que encara a psicologia,

não como o estudo da alma, mas como o estudo dos processos mentais. Utilizando a

introspeção controlada (ou Introspeção na segunda pessoa) como metodologia, os

fenómenos psíquicos – pensamentos, emoções e sentimentos – começam a ser

intencionalmente estudados em laboratório.

Esta corrente ficou conhecida como Estruturalismo porque se dedicou a descobrir a

“estrutura” ou anatomia dos processos conscientes. Para compreender a fundo a

estrutura da consciência, Wundt adota uma perspetiva analítica, decompondo-a em

fenómenos mais simples e estes noutros mais simples ainda até chegar às sensações

puras. As sensações são consideradas como unidades básicas que constituem todos os

fenómenos. Contudo, a partir de muitas experiências, Wundt e outros psicólogos

concluíram que as sensações se combinam de tal forma que o resultado final pressupõe,

não uma mera soma de elementos, mas algo mais. Assim, conclui que os fenómenos

psicológicos são diferentes da soma das sensações elementares. Estas juntam-se umas às

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outras por associação subordinada a determinadas leis, cuja descoberta será um dos

objetivos principais do Estruturalismo.

 

Behaviorismo

O behaviorismo é uma corrente científica, proposta por J. Watson, psicólogo americano,

que defende que o objeto da psicologia deve ser apenas o comportamento (behaviour),

por isso se chama também comportamentalismo.

Assim, a psicologia para se tornar ciência, de acordo com o paradigma positivista

dominante no século XIX, teria de se abster de estudar qualquer coisa que não fosse

apenas os comportamentos diretamente observáveis, o que exclui, por exemplo um

sentimento ou uma sensação que não se traduza em comportamentos, como aumentar o

ritmo cardíaco ou transpirar.

Para o behaviorismo comportamento define-se como uma relação entre um conjunto de

estímulos S (situação), que provocam um conjunto de respostas R (reação). Este

binómio define o comportamento humano como um conjunto de respostas

objetivamente observáveis que o organismo executa face a estímulos também

diretamente observáveis.

Ao considerar que a sequência situação – reação se processa de modo mecânico,

Watson adota uma interpretação causalista do comportamento, elaborando leis

explicativas do mesmo. Estas leis pretendiam que, perante determinado estímulo, se

pudesse prever a reação subsequente e que, perante dada resposta, se pudesse

determinar o estímulo que a desencadeou. Verifica-se, assim, que este psicólogo

estabelece uma linear relação de causa/efeito entre as nossas respostas e os estímulos

que as determinam.

Watson introduz, aqui, a noção de condicionamento, pois, à semelhança de Pavlov

(psicólogo estudioso do reflexo condicionado), considera que os diferentes

comportamentos são adquiridos segundo processos de condicionamento.

O condicionamento é definido como um processo que consiste em associar um estímulo

condicionado a um estímulo natural, de tal modo que o indivíduo reage ao estímulo

condicionado do mesmo modo que reage ao estímulo natural.

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Vamos apresentar a célebre experiência de Pavlov:

Mostrou-se a um cão um pedaço de carne (estímulo natural) o que fez com que este

começasse a salivar (reação). Repetiu-se várias vezes a experiência, mas fazendo com

que a apresentação da carne se fizesse acompanhar pelo som de uma campainha

(associação do estímulo natural a um estímulo condicionado – som da campainha).

Como resposta a esta nova situação, o cão continuou a salivar.

Por último, tocou-se apenas a campainha e o cão respondeu salivando, pois associara os

estímulos carne e som. Estamos face a um reflexo condicionado.

Em suma, Watson, ao não considerar a personalidade como variável que influencia o

nosso comportamento, cai numa interpretação demasiado simplista e redutora da

conduta humana, encarando o Homem quase como um autómato que só é capaz de agir

de modo reflexo.

Construtivismo

O Construtivismo é um movimento mais atual, de reação ao behaviorismo, em que uma

das figuras principais é J. Piaget, psicólogo e epistemólogo suíço, considerado um dos

génios do século XX.

Piaget propõe que o comportamento é resultado de uma interação entre o Homem e o

meio.

Assim supera a questão de saber o que influencia mais o comportamento se é a genética

ou a influência do meio, uma vez que estão ambos em profunda relação.

Assim, para os construtivistas, o sujeito capta a experiência do meio, organizando-o em

função de estruturas cognitivas, progressivamente construídas em intercâmbio entre

sujeito e meio.

Nesta proposta salienta-se o papel ativo do sujeito no seu processo de desenvolvimento.

O termo comportamento sofreu uma enorme evolução com Jean Piaget e os

construtivistas. Passou a ser preferido o termo conduta, que insere em si a interação

entre os estímulos do meio e a forma como estes foram apreendidos pelo sujeito, em

função da sua personalidade.

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Aqui, o conceito de comportamento, ou conduta, já não é tão linear; tem em conta que

sujeitos diferentes podem reagir ao mesmo estímulo de formas diferentes, pois têm

perspetivas diferentes na forma de encarar esse mesmo estímulo. Agora o

comportamento é tratado de um modo bem mais complexo, a conduta humana inclui as

emoções, sentimentos, desejos (conscientes ou inconscientes), experiências anteriores,

história do sujeito; aspetos que eram ignorados pelos behavioristas.

O comportamento, segundo a perspetiva behaviorista, entendido como variável

dependente exclusivamente da situação, cuja fórmula é R = f (S), desemboca em

interpretações demasiado simplistas e redutoras da conduta humana, identificando o

Homem com um autómato, com um ser que só se comporta de modo reflexo.

Neste sentido, Fraisse e Piaget propõem uma nova fórmula explicativa do

comportamento humano – R = f (S ↔P). Aqui, encontramos a presença de uma nova

variável que é a personalidade (P), responsável, a par da situação (S), pelas ocorrências

comportamentais. Observamos uma dupla seta entre S e P, o que significa a existência

de interação entre ambas.

Por um lado, a personalidade de cada sujeito é reflexo das situações anteriormente

vividas, mas, por outro, a situação é transformada pela personalidade do indivíduo que

projeta nela as suas vivências, impregnando-a com a sua subjetividade.

Diferindo, ainda num outro ponto, do behaviorismo, Piaget considera que as crianças

são participantes ativas no seu próprio desenvolvimento, na construção das suas

estruturas ou esquemas interpretativos do real. Não concorda, assim, que a criança se

assemelha a uma “tábua rasa” que se limita a receber passivamente as informações

provenientes do meio.

Gestaltismo

A corrente gestaltista defende que não se pode estudar algo tão complexo como a

consciência a partir de uma análise fragmentada dos seus elementos constituintes.

Nenhum fenómeno psicológico se pode resumir a uma mera soma das suas partes

integrantes.

O conceito de forma é de tal maneira preponderante que deu o nome a esta corrente da

psicologia (gestalt significa forma), relacionando-se, precisamente, com a teoria de que

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um facto da consciência não pode ser redutível à simples soma ou combinação dos seus

elementos.

Para os psicólogos da gestalt, o ‘todo’ é essencial para a compreensão da atividade

mental. Só a partir de uma visão abrangente da totalidade se compreende a verdadeira

significação dos fenómenos.

Só reconhecemos uma melodia ouvindo-a globalmente; as notas musicais isoladas nada

significam, mas estruturadas revelam o seu verdadeiro sentido. Uma vez organizada a

melodia atendemos à sua forma e não às notas isoladas.

A noção de campo funciona também como pilar do gestaltismo, derivando e

complementando o conceito de forma. Entende-se por campo a configuração global de

um fenómeno, que é completamente desfocada se optarmos por uma abordagem

analítica das suas partes constituintes.

 

Psicanálise

A psicologia pode-se definir, hoje, como a ciência que tem por objeto os

comportamentos e processos mentais conscientes e inconscientes. Para esta definição

foram importantes vários contributos, uma vez que o objeto da psicologia sofreu

flutuações ao longo dos tempos. Sigmund Freud foi um médico, austríaco, que deu um

contributo ímpar à psicologia. Muitos dos seus contributos decorreram da prática de

tratamento de pessoas com neuroses.

Freud trabalhou inicialmente com a hipnose, sob influência de Jean Charcot, mas

considerou-o um método limitado, pois tinha resultados pouco duráveis. Abandonou a

hipnose e falou pela primeira vez em psicanálise, constituindo, posteriormente, os

fundamentos da teoria psicanalítica.

A psicanálise é um corpo teórico de pesquisa psicológica e um processo, método

terapêutico. Como intervenção terapêutica visa “entrar” no inconsciente através de

alguns mecanismos: a associação livre de ideias, a interpretação de sonhos, a análise de

actos falhados e o processo de transferência inerente à relação médico-paciente.

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Classicamente a psicanálise faz-se com o paciente deitado num divã, sem olhar o

médico, olhando em frente.

Pela associação livre de ideias o paciente vai libertando o que lhe vem ao espírito sem

preocupações lógicas. Com a ajuda do paciente, tenta interpretar a sequência que

utilizou; porque se lembrou de umas ideias e não de outras. Acredita-se que essa

sequência foi ditada pelo inconsciente.

Os sonhos têm uma grande importância para Freud. Ele define-os como a manifestação

de um desejo disfarçado. É durante o sono que decorrem os sonhos. O controlo e a

censura que o ego e superego exercem sobre os desejos inconscientes encontram-se

atenuados. O material recalcado liberta-se e o desejo, geralmente de natureza afetivo-

sexual, pode realizar-se, ou seja o inconsciente liberta-se. Contudo a censura não

desaparece completamente, por isso não é fácil interpretar o sonho.

Aos lapsos de linguagem, e não só, que cometemos durante o dia, Freud atribui uma

origem relacionada com o inconsciente. A análise dos atos falhados pode ser também

um acesso ao inconsciente, mais concretamente aos recalcamentos.

Finalmente, pelo transfer, entende-se a transferência de emoções, agressividade, que

estão reprimidas, inconscientemente, as quais eram dirigidas a outras pessoas e são

transferidas para o analista.

Alguns Métodos da Psicologia:

A psicologia enquanto ciência possui uma grande diversidade de métodos. Diferentes

correntes da psicologia adotam diferentes métodos, trazendo, assim, um enorme

problema de comunicação e compreensão dessas correntes. Cada uma, de facto, fala

uma língua própria, não compreendendo a língua que é falada noutras correntes da

psicologia.

Introspeção

A introspeção consiste num voltarmo-nos para nós mesmos e analisarmos aquilo que

está dentro do nosso espírito, seja um ato praticado, um estado de espírito ou um

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sentimento. A introspeção é essa análise interior. Qualquer pessoa pode e deve fazer

introspeção.

No entanto, o método introspectivo ultrapassa um pouco essa introspecção espontânea

do ser humano, pois apresenta um carácter mais sistemático, guiado.

A filosofia, enquanto génese da psicologia, utilizava essencialmente este método, uma

reflexão interior orientada pelo próprio sujeito.

Quando a psicologia deu os primeiros passos, na sua construção enquanto ciência, com

Wundt, o método utilizado foi o introspectivo.

Wundt foi o fundador do primeiro laboratório de psicologia, em Leipzig, pretendendo

uma psicologia mais científica. Por isso criou o método introspectivo controlado (ou

Introspeção na segunda pessoa) em que o sujeito é provocado, através de estímulos, e

analisa e descreve o que sente. Cabe ao psicólogo anotar e interpretar o que é descrito.

O objetivo é analisar a experiência consciente.

Mas este método foi muito criticado, devido a algumas limitações que acarreta:

Neste método, o sujeito é ao mesmo tempo observador e observado. August Comte,

positivista, defende que é impossível ao mesmo tempo sentirmos e analisarmos com

clareza aquilo que sentimos.

Diz ele: “… ninguém pode estar à janela para se ver passar na rua.” Quer dizer, a

tomada de consciência de um fenómeno modifica esse fenómeno. Assim, devido ao uso

do método introspectivo, considerava-se que a psicologia ainda sofria uma grande

influência da sua tradição ligada à filosofia, e, por isso, ainda não era ciência.

Outro problema do método introspectivo é o facto de, nele, o paciente utilizar a

linguagem verbal para explicar sentimentos, emoções e estados de espírito em geral.

Ora, esta é, como todos sabemos, cheia de ambiguidades; por vezes, queremos dizer

uma coisa e dizemos outra, outras nem sequer há palavras para explicar bem o que

sentimos. Por outro lado, quando o paciente explica o que sentiu, já é outro momento,

pode haver distorção.

Assim, diz-se que não é possível a verdadeira introspeção, apenas retrospeção. Há ainda

limites na aplicação deste método. Ele não pode ser aplicado a crianças e doentes

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mentais que não se consigam exprimir. Tem, então, limitações sérias no campo da

psicologia infantil, patológica e animal.

Podemos ainda acrescentar a impossibilidade de aceder, com este método, ao

inconsciente. Analisam-se, apenas, os estados conscientes. Com Freud, ficou bem

provada a importância do inconsciente.

Método Experimental

O método experimental é um método das Ciências Naturais aplicado às Ciências Sociais

e Humanas, que tem quatro etapas: hipótese prévia, controlo e manipulação de

variáveis, técnicas de observação e registo e generalização de resultados.

Em relação à segunda etapa temos alguns conceitos fundamentais:

Variável dependente significa a variável cuja alteração vai ser estudada, como

consequência da manipulação da variável independente. É aquela que flutua e que

permite tirar conclusões dessa flutuação.

Variável independente é a que o investigador manipula para verificar as modificações

provocadas na variável dependente.

Variável externa ou parasita são aspetos alheios à experiência, que, se não forem

controlados pelo investigador, podem interferir e alterar os resultados, pondo, assim, em

causa a fiabilidade da experiência. Estas variáveis devem ser, dentro do possível,

neutralizadas.

O grupo experimental é aquele em que o experimentador manipula a variável

independente. O grupo testemunha é aquele que tem as mesmas características do grupo

experimental exceto no que diz respeito à manipulação da variável independente.

Permite comparar resultados, para verificar quais as alterações efetivamente provocadas

pela manipulação da variável.

O grupo amostra representativa é uma parte, um subgrupo da população (conjunto total

de pessoas acerca das quais se pretende tirar conclusões), que consiste no grupo de

elementos em relação aos quais se recolhem dados e que devem ser o mais

representativos possível da população.

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Entrevista Clínica

A entrevista clínica ocorre entre o médico e o doente e para que ela se dê recolhem-se

dados sociodemográficos, procura-se saber a principal queixa do doente e a fonte de

referência.

No caso das perturbações patológicas, a entrevista estrutura-se da seguinte maneira:

antecedentes familiares; antecedentes pessoais de tipo médico; antecedentes

psicossociais; personalidade prévia; antecedentes psicopatológicos prévios; episódio

atual; estado mental (aparência e atitude; perceção, pensamento e linguagem;

afetividade; atividade motora; comportamentos instintivos; exame cognitivo);

exploração geral, física e neurológica; explorações específicas (psicometria, escalas de

avaliação; impressão diagnóstica; plano de tratamento.

 

Psicometria

As técnicas psicométricas consistem na medição da duração e intensidade das

manifestações psíquicas em qualquer dos seus aspetos. Genericamente, são

investigações que se ocupam da medição do psíquico.

A psicometria desenvolveu-se a partir da psicofísica e ocupa-se das relações funcionais

entre manifestações psíquicas ou entre variáveis psíquicas e não psíquicas. Esta técnica

intervém na construção de escalas e testes que, posteriormente, permitem avaliar a

psique da pessoa.

 

Observação

A observação tem uma longa história no contexto da psicologia, sendo hoje considerada

como um processo imprescindível na investigação, tendo, até, adquirido o estatuto de

método da psicologia.

Fundamentalmente, a observação consiste em olhar atenta e sistematicamente e registar

o que se observa. Ocorre sempre que alguém, diferente do observado, nota, dá conta e

documenta o comportamento.

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É costume falar da observação sistemática por oposição à observação ocasional.

Esta última, típica do senso comum, não obedece a regras e é afetada pela subjetividade

das pessoas, não sendo propriamente considerada científica. No entanto, ela pode levar

à demonstração de factos que inspiram importantes constatações posteriores. Foi no

decorrer de uma observação ocasional, que Pavlov, ao estudar a digestão, descobriu o

reflexo condicionado, verificando a existência de secreções nos animais que não eram

provocadas exclusivamente por processos bioquímicos. Porém, quando se investiga em

psicologia, a observação utilizada é sistemática, sujeita a um projeto previamente

definido e no qual se fixam a condições que delimitam com precisão os aspetos a

considerar.

Há muitas formas de observação em psicologia, que variam em relação ao papel do

observador (observação participante e não participante); quanto ao contexto ambiental

(laboratorial e ecológico); e quanto aos instrumentos de registo (directa e indirecta).

Não obstante, verificamos, hoje, que a psicologia faz uso, simultaneamente, de

diferentes metodologias para chegar a um conhecimento mais amplo e verdadeiro da

realidade que é objeto de estudo.

O ESTRUTURALISMO

Wilhelm WUNDT (1832-1920)  

Nos primeiros anos da evolução da Psicologia como disciplina científica distinta, esta

foi profundamente influenciada por Wilhelm Wundt que determinou o objeto de estudo,

o método de pesquisa, os tópicos a serem estudados e os objetivos da nova ciência. 

Wundt formou-se em medicina e ficou particularmente conhecido pela criação do que

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ficou considerado como o Primeiro Laboratório de Psicologia Experimental, seguindo

os modelos dos laboratórios das ciências naturais. Este laboratório torna-se rapidamente

um centro de investigação, local onde acorrem psicólogos e estudantes de todo o

mundo. Esta foi a forma mais eficaz de Wundt atingir o seu principal objetivo que era

contribuir para o processo de autonomização da psicologia relativamente à filosofia. 

Wundt, influenciado pelas descobertas da química, segundo as quais todas as

substâncias químicas são compostas por átomos, Wundt foi decompor a mente nos seus

elementos mais simples, que são as sensações. 

Tanto para Wundt como para os seguidores do estruturalismo, as operações mentais

resultam da organização de sensações elementares que se relacionam com a estrutura do

sistema nervoso. 

Wundt recorre aos métodos experimentais das ciências naturais, particularmente às

técnicas usadas pelos fisiologistas, e adaptou os seus métodos científicos de

investigação aos objetivos da Psicologia. Desta forma, a fisiologia e a filosofia ajudaram

a moldar tanto o objeto de estudo da nova ciência com os seus métodos de

investigação. 

Wundt define como objeto da psicologia o estudo da mente, da experiência consciente

do Homem - a consciência - e é no seu laboratório, em Leipzig, que Wundt vai procurar

conhecer os elementos constitutivos da consciência, a forma como se relacionam e

associam (conceção associacionista). 

Para atingir estes seus objetivos, Wundt utiliza como método de estudo a introspeção

controlada, que consistia em, no laboratório, observadores treinados descreverem as

suas experiências resultantes de uma situação experimental. Através da introspeção, os

sujeitos descreviam as suas perceções resultantes de estímulos visuais, auditivos e

tácteis. Por exemplo, ouviam um som e em seguida descreviam o que sentiam e só este

método permitiria, segundo Wundt, o acesso à experiência consciente do indivíduo. 

O emprego da introspeção veio da física, onde este método tinha sido utilizado para

estudar a luz e o som e vem também da fisiologia, em que fora aplicado ao estudo dos

órgãos dos sentidos. 

A introspeção ou perceção interior, tal como é praticada no laboratório criado por

Wundt, seguia condições experimentais restritas e obedecia a regras explícitas. Wundt

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raramente usava o tipo de introspeção qualitativa em que o sujeito apenas descreve as

suas experiências interiores, não sendo sujeito a qualquer método objetivo e rigoroso,

introspeção esta adotada por Titchener e Culpe (alunos de Wundt). Wundt tratava,

principalmente, julgamentos conscientes acerca do tamanho, intensidade e duração de

vários estímulos físicos. Só um pequeno número de estudos envolvia o relato de

natureza qualitativa e subjetiva, tal como o carácter agradável ou não de diferentes

estímulos ou a qualidade de determinadas sensações. 

As áreas investigadas por Wundt abrangeram os domínios da sensação, perceção,

atenção, sentimentos, reação e associação. Com todas estas suas contribuições foi

considerado por muitos o "pai da psicologia experimental". 

Edward Bradford TITCHENER (1867-1927)  

Edward B. Titchener alterou o sistema de Wundt, enquanto jurava ser um leal seguidor.

Ele propôs uma nova abordagem que designou estruturalismo e afirmou que esta

apresentava a forma de Psicologia postulada por Wundt, contudo, os dois sistemas são

diferentes e o rótulo de estruturalismo só pode ser aplicado à conceção de Titchener.

Assim, o estruturalismo foi estabelecido por Titchener como a primeira escola de

pensamento no campo da Psicologia. 

    Para Wundt a mente tem o poder de sintetizar espontaneamente elementos, enquanto

Titchener, se centra nos elementos que compõe a estrutura da consciência,

desvalorizando a sua associação. Segundo este, a tarefa fundamental da Psicologia é

descobrir a natureza das experiências conscientes elementares, ou seja, analisar a

consciência nas suas partes constituintes para assim determinar a sua estrutura. Para tal

Titchener modificou o método introspectivo de Wundt, tornando-o mais próximo do de

Culpe, sendo designado introspeção qualitativa e consistia em, observadores

descreverem o seu estado consciente após sujeitos a um dado estímulo. Titchener opôs-

se à abordagem wundtiana no aspeto do uso de equipamentos e a sua concentração em

medidas objetivas. 

De acordo com Titchener, o objeto da Psicologia é, à semelhança de Wundt, a

experiência consciente e afirmou que todas as ciências compartilham deste mesmo

objeto, ocupando-se cada qual de um aspeto diferente. O objeto de estudo é assim a

experiência enquanto dependente das pessoas que passam por ela. Por exemplo, a luz e

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o som são estudados por físicos e psicólogos; os físicos veem esses fenómenos da

perspetiva dos processos físicos envolvidos, não necessitando que as pessoas passem

pela experiência para estudarem os fenómenos, sendo por tal independentes da

experiência das pessoas; pelo contrário, os psicólogos estudam os fenómenos, as

sensações, em termos do modo como são vivenciados pelo indivíduo, dependendo assim

das experiências das pessoas. 

Titchener define a consciência como a soma das nossas experiências num dado

momento de tempo, e a mente como a soma das nossas experiências acumuladas ao

longo da vida. Mente e consciência são realidades semelhantes mas, enquanto a

consciência envolve processos mentais que ocorrem no momento, a mente envolve o

acumulo total destes processos. 

Para Titchener, os problemas ou finalidades da Psicologia seriam: 

1. Reduzir os processos conscientes nos seus componentes mais simples; 

2. Determinar as leis mediante as quais esses elementos se associam, e 

3. Conectar esses elementos às suas condições fisiológicas. 

Logo, os objetivos da Psicologia coincidem com os das ciências naturais. 

Titchener propôs 3 estados elementares de consciência: as sensações, as imagens os

estados afetivos. As sensações são os elementos básicos da perceção e ocorrem nos

sons, nas visões, nos cheiros e em outras experiências evocadas por objetos físicos do

ambiente; as imagens são elementos de ideias e estão no processo que reflete

experiências não concretamente presentes no momento, como a lembrança de uma

experiência passada; os estados afetivos (afeto ou sentimentos) são elementos da

emoção que estão presentes em experiências como o amor, o ódio ou a tristeza. 

A era do estruturalismo acaba quando Titchener morre. 

Contribuições do Estruturalismo 

Titchener e os estruturalistas deram, sem dúvida, contribuições importantes à

Psicologia. Definiram claramente o objeto de estudo - a experiência consciente. Os seus

métodos de pesquisa seguiram a melhor tradição científica, envolvendo a observação,

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experimentação e medição. Como a consciência era melhor percebida pela pessoa que

tinha a experiência consciente, o método de estudo do objeto deveria ser uma

autoanálise (método introspectivo).

Embora o objeto de estudo dos estruturalistas esteja hoje ultrapassado, a introspeção é

ainda usada em muitas áreas da Psicologia. 

Com a ajuda de Titchener e os estruturalistas, a Psicologia avançou além das suas

fronteiras iniciais. 

Críticas ao Estruturalismo 

As críticas mais fortes ao estruturalismo foram dirigidas ao seu método: a introspeção,

especialmente a introspeção praticada nos laboratórios de Titchener e Culpe pois estava

voltada mais para os relatos subjetivos dos elementos da consciência, enquanto a

conceção wundtiana estava voltada mais para respostas objetivas a estímulos externos. 

O movimento estruturalista foi também acusado de artificialismo por causa da sua

tentativa de analisar processos conscientes através da sua decomposição em elementos.

Os críticos alegaram que a totalidade de uma experiência não pode ser recuperada por

nenhuma associação das suas partes elementares. Para estes críticos, a experiência não

ocorre em termos de sensações, imagens ou estados afetivos, mas em totalidades

unificadas. 

Algo da experiência consciente é inevitavelmente perdido em qualquer esforço artificial

de analisá-la e a Gestalt fez uso desta crítica para lançar o seu movimento contra o

estruturalismo. 

Para Titchener, a Psicologia animal e a Psicologia infantil nada tinha de Psicologia,

aspeto que também foi criticado. A Psicologia desenvolvia-se também em áreas que os

estruturalistas excluíam. 

"A mente pode observar todos os fenómenos exceto os seus próprios… O órgão

observador e o órgão observado são idênticos, e a sua ação não pode ser pura e natural.

Para observar, o nosso intelecto deve fazer uma pausa em sua atividade; contudo, o que

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se quer observar é precisamente essa atividade. Se não se puder fazer essa pausa, não se

pode observar; se conseguir fazê-la, nada há a observar. Os resultados desses métodos

são proporcionais ao seu carácter absurdo" (Comte).

O Funcionalismo

A psicologia funcionalista surge nos Estados Unidos em oposição à

psicologia titcheneriana. É representada por autores como J. Dewey, (1859), J. Angel

(1869-1949) e H. A. Carr (1873-1954).

Os princípios funcionalistas se converteram em escolas no final do século XIX, e

justamente em duas das mais novas universidades americanas: Chicago e Columbia.

Nessas escolas marca-se o que se pode designar como orientação funcionalista

propriamente dita. A escola de Chicago com Dewey, Angell e Carr e a de Columbia

com Thorndike e Woodworth.

Angell coloca em chegue qualquer possibilidade de uma psicologia estruturada em

elementos mentais. O aspeto estrutural do psiquismo deve ser buscado não nos seus

supostos elementos, mas nas funções, atos ou processos mentais. A psicologia deve

reconhecer em sua análise estrutural não os elementos como sensações, sentimentos,

mas atos como julgar, perceber, recordar. Para Angell a psicologia se torna mais

funcional do que a biologia, pois não apenas  o funcional precede  e produz o estrutural,

como também ambos representam duas faces de um mesmo fato.

A escola de Columbia toma a adaptação em sentido mais comportamental e ancorado

em aspetos motivacionais. Thorndike, em seus experimentos sobre a inteligência

animal, não supõe mais a solução dos problemas como governada por uma consciência

selecionadora de respostas, mas um conjunto casual de respostas que são selecionadas

por seus efeitos de satisfação. Esta é sua clássica Lei do Efeito. Ao substituir a

consciência pelo acaso, não apenas adequa o seu modelo ao darwinismo, como abre

caminho para o behaviorismo.  “Aqui o ajuste do organismo ao meio se realiza através

de um conjunto de mecanismos casuais, mecânicos e possíveis de controlo, concedendo,

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portanto, plenos poderes aos psicólogos, enquanto engenheiros da conduta.” (Ferreira e

Gutman, 2005, pág. 136).

Os psicólogos funcionalistas definem a psicologia como uma ciência biológica

interessada em estudar os processos, operações e atos psíquicos (mentais) como formas

de interação adaptativa. Partem do pressuposto da biologia evolutiva, segundo o qual os

seres vivos sobrevivem se têm as características orgânicas e comportamentais

adequadas a sua adaptação ao ambiente. 

Consideram as operações e processos mentais (como a capacidade de sentir, pensar,

decidir, etc.) o verdadeiro objeto da psicologia, e o estudo desse objeto exige uma

diversidade de métodos. Não excluem a auto-observação, embora não aprovem a

introspeção experimental no estilo titcheneriano, porque esta seria muito artificial. Não

confiam totalmente na auto-observação, dadas as suas dificuldades científicas: é

impossível conferir publicamente se uma auto-observação foi bem-feita e, por isso, é

difícil chegar a um acordo baseado em observações desse tipo. 

Considerando a adaptação como a função última da consciência, então serão as funções

e não os elementos mentais que devem ser alvo de investigação. Figueiredo e Santi

(2004) destacam que apesar do movimento funcionalista como um movimento à parte e

independente ter se dissolvido, várias das ideias fundamentais dessa escola estão

presentes em muito do que se faz até hoje no campo da pesquisa psicológica. “Na

verdade, a maior parte do que se produziu e se produz no campo da psicologia,

entendida como ciência natural, pode ser interpretada como diferentes versões do

pensamento funcional.” (Figueiredo e Santi, 2004, pág. 65).

Na abordagem funcionalista a adaptação não se refere a um processo filogenético, mas

antes de tudo, ontogenético, ligado à adaptação individual. O conceito de adaptação

deixa de expressar uma relação de sobrevivência em um meio, e passa a significar uma

“melhor vivência neste”, tornando-se, pois, um conceito qualitativo. Essa melhor

vivência, esse equilíbrio, não se refere apenas a um meio físico, mas antes de tudo, a um

meio social. Estar adaptado é antes de tudo estar ajustado às demandas do meio social,

sejam elas quais forem.

Ferreira e Gutman (2005) relatam que a necessidade de estar conforme ao meio social

justifica-se pela extrapolação de um conceito biológico a um significado social. É

Page 18: o Estruturalismo

confiando no valor deste conceito que os psicólogos em sua prática zelarão pelo

“equilíbrio social”. E a psicologia funcional não se interessa apenas pelo estudo da

adaptação. Ela deseja igualmente se transformar em um instrumento de adaptação,

promovendo-a. E isto ocorre graças à postura pragmatista, na qual o valor de um

conhecimento está calcado em suas consequências práticas. 

E desta forma o conhecimento psicológico deve se mostrar vital. Só que a utilidade

buscada não diz respeito ao indivíduo, mas à sociedade como um todo. O meio social

não é apenas regulador, mas também finalidade da adaptação. A adaptação psicológica

visa ajustar a sociedade a si própria, através do manejo dos indivíduos, especialmente os

desadaptados. “O psicólogo entra nesse contexto como um engenheiro social da

utilidade, buscando promover à moda UTILITARISTA, o maior bem possível.

Transforma-se assim a utilidade individual em patrimônio social.” (Ferreira e Gutman,

2004, pág. 137) 

Introdução ao Behaviorismo

A palavra "Behaviorismo" vem de "behavior", em inglês, que se refere ao

comportamento. A teoria também é conhecida por comportamentalismo, teoria

comportamental, análise experimental do comportamento, análise do comportamento,

etc. O behaviorismo surgiu como uma proposta para a Psicologia, para tomar como seu

objeto de estudo o comportamento, pois este é visível e, portanto, passível de

observação por uma ciência positivista. É a parte da psicologia que vai dizer que o meio

determina o sujeito. A sua meta é a previsão e controle do comportamento.

Page 19: o Estruturalismo

John B. Watson

O termo "Behaviorismo" foi utilizado inicialmente em 1913 em um artigo

denominado “Psicologia: como os behavioristas a veem” por John B. Watson. O

Behaviorismo nasceu como uma reação ao mentalismo, ao introspeccionismo e à

Psicanálise, que tentavam lidar com o funcionamento interior e não observável da

mente.

J. B. Watson (1878-1958) é considerado o autor do behaviorismo, mas é necessário

dizer que Watson foi, na verdade, o porta-voz dessa abordagem, devendo ser lembrado

que antes de Watson, dois pesquisadores deram os primeiros passos dessa abordagem: o

americano E. L. Thorndike (1874-1949) e o russo Ivan Pavlov (1849-1936).

Na Idade Média, a igreja explicava a ação e o comportamento do homem pela posse de

uma alma. Depois, os cientistas o faziam pela existência de uma mente. As faculdades

ou capacidades da alma causavam e explicavam o comportamento do homem. Os

Page 20: o Estruturalismo

objetos e eventos criavam ideias em suas mentes e essas ideias geravam seu

comportamento. Veja que ambas são posições essencialmente dualistas: o homem é

concebido como tendo duas naturezas, uma divina e uma material, ou uma mental e uma

física, como preferir. Além disso, note a circularidade do argumento: ao mesmo tempo

em que essa alma ou mente causavam e explicavam o comportamento, esse

comportamento era a única evidência desta alma ou desta mente.

Ao mesmo tempo em que os psicólogos tentavam fazer da psicologia uma ciência

objetiva, a teoria da evolução estava tendo um efeito profundo sobre a psicologia ao

definir os seres humanos não mais como entes separados das outras coisas vivas, dando

a todas as espécies a mesma história evolutiva. Presumia-se assim, que poderia também

se ver a origem de nossos traços mentais em outras espécies, mesmo que de forma mais

simples e rudimentar. Por conta disso, no final do século XIX e início do século XX,

alguns psicólogos passaram a conduzir experimentos com animais.

Watson é conhecido como o pai do Behaviorismo Metodológico ou Clássico, que crê

ser possível prever e controlar toda a conduta humana, com base no estudo do meio em

que o indivíduo vive e nas teorias de Pavlov sobre o condicionamento – a conhecida

experiência com o cachorro, que saliva ao ver comida, mas também ao mínimo sinal,

som ou gesto que lembre a chegada de sua refeição. Mas nem toda conduta individual

pode ser detetada seguindo-se esse modelo teórico, daí a geração de outras teses.

Comportamento é o observável e, por definição, observável pelo outro, isto é,

externamente observável. Comportamento, para ser objeto de estudo do behaviorista,

deve ocorrer afetando os sentidos do outro, deve poder ser contado e medido pelo outro.

O sentido de "Behaviorismo" foi sendo modificado com o correr do tempo e hoje já não

se entende o comportamento como uma ação isolada do sujeito, mas uma interação

entre o ambiente (onde o "fazer" acontece) e o sujeito (aquele que "faz"), passando o

"Behaviorismo" a se dedicar ao estudo das interações entre o sujeito e o ambiente, e as

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ações desse sujeito (suas respostas) e o ambiente (os estímulos). Por exemplo, a

aprendizagem é descrita como uma mudança no comportamento observável, devido à

alteração da força com que a resposta está associada a estímulos externos ou estímulos

internos no corpo. Aprendizagem = Condicionamento. Se queremos que uma pessoa

aprenda um comportamento, devemos condicioná-la a uma aprendizagem.

Ivan Pavlov

A palavra "estímulo" veio de Pavlov (outra influência sofrida por Watson e os

behavioristas da época e da qual também Skinner não conseguiu se livrar) e referia-se à

troca de energia entre o ambiente e o organismo, quanto à operação realizada pelo

experimentador em seu laboratório, uma parte ou mudança em parte do mundo físico

que causava uma mudança no organismo ou parte do organismo, a resposta. Essa

mudança observável no organismo biológico seria o comportamento. Comportamento =

Estímulo + Resposta. A manipulação experimental por excelência seria a reprodução

desse modelo, a operação "S -> R".

S = o estímulo do ambiente (estímulos),

R = resposta ou o comportamento do indivíduo como resultado de uma estimulação.

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Skinner e o Comportamento Operante

Após Watson, o mais importante behaviorista foi B. F. Skinner.

B. F. Skinner

Skinner criou, na década de 40, o Behaviorismo Radical, como uma proposta filosófica

sobre o comportamento do homem. Ele foi radicalmente contra causas internas, ou seja,

mentais, para explicar a conduta humana e negou também a realidade e a atuação dos

elementos cognitivos, opondo-se à conceção de Watson, que só não estendia seus

estudos aos fenômenos mentais pelas limitações da metodologia, não por eles serem

irreais. Em resumo, ele acredita que o indivíduo é um ser único, homogêneo, não um

todo constituído de corpo e mente. Enquanto a principal preocupação dos outros eram

os métodos das ciências naturais, a de Skinner era a explicação científica definindo

como prioridade para a ciência do comportamento, o desenvolvimento de termos e

conceitos que permitissem explicações verdadeiramente científicas. A expressão

utilizada pelo próprio Skinner em 1945 tem como linha de estudo a formulação do

"comportamento operante".

O condicionamento operante explica os comportamentos aprendidos durante a

ontogenia do organismo. A diferença fundamental entre o condicionamento clássico e

condicionamento operante é que o segundo pressupõe um ser ativo no seu ambiente.

Page 23: o Estruturalismo

Crítica e defesa do Behaviorismo

O behaviorismo não ocupa mais um espaço predominante na Psicologia, embora ainda

seja um tanto influente nesta esfera. Os críticos dizem que o behaviorismo simplifica

demasiado o comportamento humano e que vê o ser humano como um autômato ao

invés de uma criatura com vontade e metas. O desenvolvimento das Neurociências, que

ajuda a compreender melhor, hoje, o que ocorre na mente humana em seus processos

internos, aliado à perda de prestígio dos estímulos como causas para a conduta humana,

e somado às críticas de estudiosos renomados como Noam Chomsky, o qual alega que

esta teoria não é suficiente para explicar fenômenos da linguagem e da aprendizagem,

levam o Behaviorismo a perder espaço entre as teorias psicológicas dominantes.

"Quando lidamos com seres humanos dotados de vontade livre, nossa predição e

controle falham. O homem tem liberdade de escolha." (Lundim, 1977)

Independente do que os críticos dizem, a abordagem comportamentalista exerceu uma

forte influência na Psicologia aplicada, principalmente nos Estados Unidos, levando ao

estudo de problemas reais relativos a comportamento. E uma vez que aprendizagem é

uma forma de mudança de comportamento, o procedimento de modificação de

comportamento desenvolvido pelos comportamentalistas foi útil a muitos professores.  

Introdução ao Behaviorismo II: Condicionamento Clássico

Dando continuidade à Introdução ao Behaviorismo, que foi a escola americana mais

influente, que congregou o maior número de adeptos e perdurou por mais tempo, o

Behaviorismo teve origem diversa, e também ramificações e tendências diversas. A

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parte que iremos abordar hoje é a do Condicionamento Clássico  (onde se da o

lançamento das bases do behaviorismo), de Ivan Pavlov  (1849-1936), que foi o

reflexologista que mais se destacou.

Tornou-se famosa a sua pesquisa sobre o reflexo condicionado, onde conseguiu fazer

com que o cão salivasse mediante a ação de um estímulo, a princípio neutro 

(campainha). Esse estímulo passou a ter significado, para o cão, apenas depois que foi

associado, por repetidas vezes, à apresentação do alimento. O processo se dava da

seguinte forma: ao mesmo tempo que se apresentava o alimento, tocava-se a campainha.

Com o tempo, bastava tocar a campainha para que o cão salivasse. Isto é, o estímulo

(campainha), desde que foi incorporado às circunstâncias que produziram a resposta,

passou a produzi-la, sem que o estímulo verdadeiro (alimento) estivesse presente. O

reflexo condicionado foi a grande descoberta de Pavlov. Esta investigação deixou

Pavlov mais conhecido que seu prémio Nobel recebido em 1904.

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À apresentação do alimento é dado o nome de Estímulo Incondicionado (EI), o

som, Estímulo Neutro (EN)  e ao som seguido de alimento Estímulo Condicionado

(EC), por que se condicionou o cão a reagir daquela maneira. Com relação as respostas,

a salivação diante do alimento, Resposta (ou Reflexo) Incondicionada (RI), e a resposta

condicionada é a característica aprendida pelo animal, Resposta (ou Reflexo)

Condicionada (RC).

Este processo é chamado de aquisição, também foi estudado por Pavlov e outros, o

processo de extinção dessa característica adquirida, e o processo de recuperação

instantânea, que seria a recuperação da resposta depois de um tempo de descanso, que

se mostrou eficaz com 70% de recuperação. Esse procedimento que foi descrito não foi

feito apenas oferecendo alimento ao animal, ele também foi realizado com relação ao

medo, dando choque, borrifadas de água, etc. E os seres humanos também podem (e

foram) submetidos a esses tipos de experiências.

É também importante notar que a RI e a RC não são idênticas, medidas de experiências

mais recentes e mais precisas mostraram que existe um pequena diferença e a RC, no

caso da salivação, é ligeiramente menor. Esse tipo de comparação no procedimento de

medo é mais visível. Ao receber um choque o animal normalmente pula e acelera seu

ritmo cardíaco num procedimento de fuga, já no caso da RC ao ver uma luz ou som que

precede o choque ele se encolhe e diminui o ritmo cardíaco, num procedimento de

preparação para a fuga.

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Essa descoberta foi utilizada pelo behaviorismo para o estudo dos processos psíquicos e

revelou-se num meio ou método (condicionamento) objetivo, valioso na análise do

comportamento. Através da técnica do condicionamento, era possível estudar o processo

de elaboração do comportamento. 

Partia-se do estudo das unidades reflexas (emoção, instinto, hábito) e das respectivas

associações S-R, ou conexões, até se chegar ao todo, o comportamento. Para se chegar a

esse todo, que é o comportamento ou atividade global do organismo, o psicólogo

deveria atentar para três categorias de aparelhos: os órgãos dos sentidos - porta de todo

o conhecimento ou órgãos recetores de todos os estímulos; os músculos e as glândulas -

responsáveis pelas respostas, ou seja, os órgãos efetores; e, por fim, o sistema nervoso -

encarregado de conduzir os estímulos, fazendo a ligação entre os recetores e os efetores.

O homem, dessa forma, se enquadraria dentro de um modelo mecanicista, seria uma

máquina orgânica. Por isso, todas as reações humanas deveriam ser analisadas dentro

do padrão estímulo-resposta. As reações que não pudessem ser analisadas por processos

fisiológicos, ou seja, em relação às atividades musculares e glandulares, seriam irreais.

O behaviorismo reduz as atividades humanas ao ato de decretar e contrair e o

comportamento a conexões de estímulos e respostas, formando um painel de reações

mecânicas.

Se o behaviorismo defende: "uma só espécie de substância - a matéria, uma só energia -

a física, uma só forma de ação - a mecânica e um só gênero de ciência - o positivo",

como comenta Madre Cristina, no seu livro Psicologia Científica, só poderia aceitar e

trabalhar com métodos objetivos, adequados ao seu princípio. A observação era

fundamental para o estudo de todos os processos. Poderia ser operacionalizada com ou

sem instrumentos. Aceitava os testes, as medidas do tempo de reação e os métodos da

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psicologia aplicada em educação e indústrias. Todo o método científico experimental,

de modo geral, era aceito. No entanto, foi o método de estudo do reflexo condicionado

que mereceu maior destaque. Em oposição, dever-se-ia eliminar toda a vida subjetiva,

interior, denominada mente, psiquismo ou consciência e, desta forma, também

proscrevia a introspeção.

Em síntese, o behaviorismo ou psicologia aplicada ao comportamento tem, como objeto,

o estudo da conduta humana e animal. Esse estudo compreende uma ação preventiva do

comportamento que leva à busca e elaboração de leis que devem regular a sua formação

e o seu controle. É um sistema elementista e associacionista, pois o comportamento ou a

personalidade completa é constituída a partir de reações ou unidades, a princípio

simples e que se associam através do processo de condicionamento. A totalidade das

reações constitui a personalidade. O homem, neste contexto, é uma máquina orgânica

evoluída, diferindo dos animais, apenas em grau de complexidade.