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O ESTUDO DA FERROVIA EM APUCARANA COMO UMA FRONTEIRA SOCIOECONÔMICA

Autor: Marlene Aparecida Pavani1

Orientadora: Rosely Maria de Lima2

Resumo:

O presente artigo relata a intervenção pedagógica desenvolvida no Colégio Estadual Padre Jose de Anchieta, em Apucarana/PR, no ano de 2011. Para tanto foi realizado um estudo sobre a ferrovia que divide a cidade e caracteriza-se como uma fronteira socioeconômica de Apucarana. A ferrovia teve um papel importante na fundação da cidade e continuou a exercê-lo, principalmente nos últimos anos, devido à expansão urbana. O objetivo deste estudo foi de proporcionar aos alunos, da 5ª série D do Colégio Estadual Padre Jose de Anchieta, uma reflexão acerca do aparecimento de territórios distintos na cidade através da aplicação das atividades pré-elaboradas no caderno pedagógico a respeito desse tema. Para desenvolver as atividades propostas foi necessária a contribuição das disciplinas de História e Artes. Na primeira etapa buscou-se o conhecimento prévio dos alunos sobre o assunto. A partir dessa investigação, desenvolveu-se o estudo sobre os motivos que levaram a Companhia de Terras Norte do Paraná a construir a linha férrea na região norte-paranaense e, também, foi realizada análise do plano urbanístico original da cidade. A utilização de mapas e tabelas foi importante para os alunos, tanto para situarem a linha férrea e localizarem os bairros de suas moradias, quanto para perceberem a evolução demográfica e física da cidade. Para permitir melhor conhecimento da área em estudo, foram realizadas entrevistas com professores e funcionários do colégio, com moradores dos bairros antigos e dos mais recentes próximos do colégio e com alunos de outras séries sobre o lugar em que residem e o papel que a ferrovia representa no seu cotidiano. Desta forma, foi proposto aos alunos um estudo do meio que propiciasse a análise das alterações ocorridas no plano original da cidade e das diferenças sociais, econômicas e culturais existentes na cidade. Por se tratar de um tema que ressalta o espaço vivido pelos alunos, houve a participação e o envolvimento de todos.

Palavras-chave: Ferrovia, Socioeconômica, Fronteira, Território, Segregação

1 Professora do Colégio Padre José de Anchieta, Apucarana, Paraná.

2 Mestre em Geografia Humana, Professora do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de

Londrina

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Introdução:

Em Apucarana muitos moradores e prestadores de serviços atravessam a

ferrovia todos os dias, indo ou vindo de algum lugar, torna-se comum ouvir o barulho

do trem e a espera deste passar. Todos os moradores concordam que a ferrovia é

de suma importância para o município, mas também afirmam que esse modelo de

transporte causa vários transtornos, principalmente quando utilizado em área

urbana, sem a necessária infra-estrutura que permita o deslocamento da população.

A travessia da ferrovia ocorre por pessoas dos diversos setores da economia.

Dos loteamentos periféricos, ou seja, do outro lado da ferrovia, a maioria dos

trabalhadores que se dirigem para o centro são funcionários de fábricas e de

indústrias, vendedores, balconistas, empregadas domésticas, pedreiros e caixas de

supermercados. Os profissionais da saúde, como enfermeiras, médicos e dentistas e

da educação, como professores e pedagogos, e outros prestadores de serviços

saem do centro ou de regiões próximas a ele e direcionam-se aos loteamentos

periféricos para realizar suas atividades profissionais. Portanto, torna-se visível a

segregação populacional e a desigualdade de valor do espaço geográfico.

Fomentar a discussão sobre o papel da ferrovia como fronteira

socioeconômica no atual território de Apucarana, com os alunos das 5ª séries do

Colégio Estadual Padre José de Anchieta foi o objetivo principal do trabalho de

intervenção pedagógica realizado em sala de aula.

O projeto de intervenção pedagógica também previa como objetivos:

promover o trabalho interdisciplinar, envolvendo atividades de História e Artes;

perceber a ferrovia como uma fronteira artificial, ou seja, qual o papel que a mesma

assume nos dias atuais; localizar os bairros onde os alunos moram; comparar a

localização e os aspectos socioeconômicos e culturais dos loteamentos mais antigos

e mais recentes; conhecer a opinião de alguns professores e funcionários do

colégio, de moradores dos bairros próximos à ferrovia e dos alunos a respeito da

segregação populacional relacionado à linha férrea; e despertar um sentimento de

pertencimento ao lugar de vivência.

Para atender essa temática foi importante buscar informações na história de

ocupação do norte paranaense, em especial da área loteada pela Companhia de

Terras Norte do Paraná (CTNP), que estabeleceu vários núcleos urbanos ao longo

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da ferrovia, um ramal da Estrada de Ferro Sorocabana, que a partir de Ourinhos

(SP) adentra a região.

Neste trabalho deu-se destaque para a cidade de Apucarana, aonde a

construção da ferrovia atendia a economia daquela época e integrava o Plano

Urbanístico elaborado pela CTNP para a cidade. Assim, analisou-se o plano

urbanístico original e a evolução urbana da cidade com o passar dos anos, sendo

que a categoria território foi a mais utilizada durante a execução do trabalho.

A utilização do plano urbanístico original e do mapa da evolução urbana da

cidade, as entrevistas realizadas pelos alunos e o estudo do meio foram

imprescindíveis para realização das atividades propostas no caderno pedagógico.

1 Fronteira socioeconômica em Apucarana

É comum a categoria de território ser trabalhada somente do ponto de vista

político e na escala global. Trazê-la para o âmbito local e analisá-la a partir das

questões sociais e econômicas faz a diferença. De acordo com Santos:

Uma geografia sem território é uma contradição que ajuda a explicar a ausência cada vez maior (sic) dessa categoria de análise e debate aprofundado da nação. Isso constitui para o país um retrocesso, e para a disciplina geográfica pode equivaler a uma espécie de suicídio. Se os geógrafos se ausentam do debate sobre o território, há um empobrecimento paralelo das ciências políticas, da sociologia e da interpretação histórica, e, no plano prático, um empobrecimento também da própria vida política da nação. Felizmente, uma forte reação se esboça nos meios acadêmicos, mas igualmente nos meios políticos, e desse modo podemos esperar que o território, essa realidade esquecida, seja retomado, evitando o enfraquecimento de uma das ópticas sem a qual a visão de mundo, dos países, dos lugares é incompleta e até mesmo irreal. (SANTOS, 2004, p.34; 116-117 apud RÜCKERT, 2005, p.82).

De acordo com Santos (2004), a Geografia para ser concebida e entendida

necessita da análise e do debate da categoria território, senão a mesma corre o

risco de retroceder e muitas outras ciências podem se empobrecer diante dessa

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postura. Para entender o mundo e o lugar onde vivemos não podemos abrir mão

dessa categoria.

Enxergar a linha férrea como uma fronteira artificial, ou seja, construída

pelos seres humanos para atender os interesses do governo e de uma empresa

inglesa, no caso a Companhia de Terras do Norte do Paraná, na década de 1930,

ajudou a esclarecer o aparecimento de territórios diferentes e distantes da área

central na cidade de Apucarana.

Ao iniciar as atividades com a turma a primeira questão a ser tratada foi

justamente essa. Qual o significado da linha férrea no seu cotidiano? O uso de uma

imagem de um dos pontilhões da cidade (Foto 1) auxiliou na exposição do tema do

trabalho e abriu a discussão sobre o mesmo.

Foto 1 – Pontilhão da Ferrovia em Apucarana Autor: PAVANI, 2011

As respostas não foram surpreendentes, alguns comentaram sobre a

importância para o transporte de cargas, alguns encaram a ferrovia como algo

normal e outros responderam que não haviam pensado na questão.

Em momento algum demonstraram perceber a ferrovia como uma fronteira,

nem mesmo a existência de territórios distintos. Percebeu-se, durante a exposição

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do tema, que a segregação populacional não é perceptível aos olhos das pessoas,

principalmente aos olhos de jovens de quinta série do Ensino Fundamental.

Delimitar uma área significa estabelecer fronteiras. Essa reflexão é

necessária, pois o conceito de fronteira contribui no esclarecimento da categoria

território facilitando o entendimento da ocupação e utilização do espaço geográfico.

Há várias concepções de fronteira, cabendo ao autor utilizá-lo conforme o

enfoque dado a cada situação. Assim, segundo Costa:

[...] a concepção de espaço fronteiriço [...] vai além de uma noção de limite territorial. Nesse sentido, uma fronteira passa a ser entendida não apenas como um “limite de um país ou território no extremo onde confina com outro”, o conceito de fronteira “inclui qualquer espaço psíquico, físico ou geográfico, onde diversos elementos entram em contato”. (COSTA, 2006, p.20)

Esta concepção de fronteira, proposta por Costa, que foi utilizada no

desenvolvido das atividades junto aos alunos.

2 A região do Norte do Paraná

Para que os alunos compreendessem a localização de Apucarana foram

desenvolvidas atividades sobre a região Norte do Paraná, delimitação, relevo e

ocupação. O conceito de fronteira foi trabalhado quando da utilização e confecção

de mapas para definição das fronteiras naturais e artificiais do norte-paranaense.

Ao delimitar essa região foi feito o reconhecimento dos principais cursos

d’água (rios Tibagi, Ivaí e Pirapó) e com isso perceber as fronteiras naturais da

região.

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Mapa 1 - Hidrografia do Estado do Paraná Fonte: http://www.ambientebrasil.com.br/estadual/hidrografia/hpr.html

Para os alunos das 5ª séries as concepções de Stier sobre a região norte-

paranaense contribuíram para o entendimento dos conceitos de fronteira e de

região:

A partir de suas condições geográficas podemos caracterizá-la: “localizada na porção mais setentrional do Estado do Paraná, apresentando limites mais precisos ao Norte, onde está separada do estado de São Paulo pelo Rio Paranapanema, a Leste, cuja fronteira com o mesmo estado é marcada pelo Rio Itararé, e o Oeste onde o Rio Paraná serve de divisa com o Mato Grosso. Todavia ao sul, as fronteiras do Norte do Paraná já não se apresentam tão demarcadas em virtude da ausência de limites naturais definidos...” (STIER, apud BARNABÉ, 1990, p.20)

A descrição da região norte-paranaense é complementada por Nakagawara:

Atribui-lhe área de aproximadamente 80.000 km2, abrangendo terras do segundo e do terceiro Planalto que ao norte prolonga-se em direção ao estado de São Paulo, e é de topografia suave, composta de colinas arredondadas e mesetas estruturais. A região pode ser definida como compreendida entre os rios Paraná e Paranapanema, abrangendo as bacias dos rios Tibagi, Pirapó, Ivaí e Piquirí. É de relevo suave, vales não muito profundos, espigões abaulados e de acesso fácil. A distribuição dos rios é

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regular e as altitudes variam de 400 a 700 metros. (NAKAGAWARA, apud BARNABÉ, 1990, p.20)

Para analisar o relevo norte-paranaense foi importante trabalhar com o Mapa

do Relevo do Estado do Paraná (Mapa 2) e a localização do segundo e do terceiro

planalto. Nesta etapa também foi apresentado o tipo e a qualidade do solo existente

da região.

Mapa 2 - Relevo do Estado do Paraná Fonte: http//www.parana.blog/geografia-do-parana/

Org.: PAVANI, 2011

A compreensão destes fatores favoreceu o entendimento dos motivos que

levaram a Companhia de Terras Norte do Paraná a desenvolver o plano de

ocupação da região e implantar a ferrovia para escoar a produção agrícola e permitir

a importação de bens manufaturados, bem como facilitar o translado dos

compradores das terras.

Neste momento, ao comentar sobre as lavouras de café e sobre o trem

como meio de transporte deste produto, os alunos perceberam as fronteiras

artificiais, desenvolvidas para atender os interesses de agricultores, de empresários

e da CTNP.

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Conhecer a história da Ferrovia no Brasil foi imprescindível para ampliar o

conhecimento sobre os fatores que levaram os trilhos chegarem até nosso Estado,

em especial até o Norte do Paraná. Durante o estudo do meio os alunos visitaram a

Praça Mauá, situada em frente à estação ferroviária, e lá fizeram alusão ao Barão de

Mauá, que em 1852 recebeu a concessão do governo Imperial para construir

estradas de ferro.

A observação da pintura ‘A Gare’, de Tarsila do Amaral (Figura 1), mostrou a

importância desse meio de transporte na década de 1930 e permitiu analisar sua

importância na atualidade.

A partir da observação da pintura de Tarsila do Amaral, foi proposta uma

atividade conjunta com a com a disciplina de Artes. Os alunos escolheram alguns

trechos da ferrovia que podem ser vistos e de áreas urbanas para produzirem

desenhos que contemplassem diversas paisagens.

Figura 1 - A Gare (Tarsila do Amaral, 1925) Fonte: http://artesplasticasbrasileiras.arteblog.com.br/

Mas por que a estrada de ferro foi construída justamente aqui? Vários

fatores contribuíram para essa implantação: Apucarana é a cidade mais alta da

região norte paranaense e possuem várias nascentes de rios, elementos favoráveis

à implantação do projeto de colonização da Companhia.

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A análise do Mapa 3, que apresenta o ramal da Estrada de Ferro

Sorocabana, possibilitou aos alunos identificarem as cidades que ela percorre até

chegar à Cianorte, no Paraná. Com essa atividade foi possível entender que a

ferrovia até Cambará foi construída por iniciativa dos cafeicultores paulistas e a partir

daí foi a CTNP que continuou a construção da linha férrea.

Mapa 3 - Ferrovias que demandam aos portos de Santos e Paranaguá Fonte:

Também foi possível verificar que a CTNP previa uma distância entre as

cidades de grande e pequeno porte, com intuito de interligá-las. É o caso de

Londrina, Apucarana, Maringá e Cianorte.

Todas as cidades tinham plano urbanístico previamente definido pela CTNP.

Estes planos eram muito parecidos entre si e tinham o mesmo objetivo, como

Claude Lévi-Strauss observa em “Tristes Trópicos”. “Nesses quadriláteros de

maneira arbitrária cavados no coração da floresta, as ruas em ângulo reto são de

início todas parecidas: traçados geométricos, privados de qualidade própria”. Isso

pode ser constatado no plano urbanístico original da cidade de Apucarana.

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3 Apucarana: do Plano Urbanístico original aos dias atuais

A Companhia de Terras organizou o plano da cidade de Apucarana de forma

as atividades rurais fossem centralizadas pela cidade, com o propósito de garantir o

escoamento da produção.

Figura 2 - Plano Urbanístico de Apucarana Fonte: Plano Diretor Municipal de Apucarana,2008

Org.: PAVANI, 2011

Neste sentido, paralela à ferrovia foi aberta uma estrada primária na área

urbana, hoje a Avenida Minas Gerais. Percebe-se a estratégia da CTNP através da

afirmação de Barnabé:

Com traçado paralelo a ferrovia, sempre percorrendo os divisores de água ao longo do espigão principal, a companhia implanta um eixo rodoviário, que combinada a ferrovia constituíam-se nos elementos referenciais para a definição da rede urbana e para a execução de extensa rede rodoviária que definirá a estrutura fundiária e estabelecerá relações desejadas entre o urbano e o rural. (BARNABÉ, 1990, p. 44).

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De acordo com BARNABÉ (1990), a CTNP constrói estrategicamente

rodovias paralelas à ferrovia para o escoamento da produção, na época a do café.

Sendo assim estas passam a definir o traçado da cidade e a reforçar a implantação

de uma fronteira artificial, pois a rodovia acaba se tornando mais um obstáculo para

a população.

Como já citado, Apucarana é a cidade mais alta do Norte do Paraná. Sua

topografia é bastante acidentada, então a ferrovia foi construída próximo ao seu

contorno mais plano. Com isso o desenho da cidade é fragmentado e a forma

urbana é irregular. É o que afirma Rego e Meneguetti:

Apucarana também se desenvolve rente à ferrovia e as várias curvas no traçado da via férrea junto do perímetro urbano indicam o sítio acidentado, o que significa o desenho fragmentado da cidade e a sua forma urbana irregular. O traçado das vias urbanas é coordenado pelo motivo formal do tridente, posicionando no coração da cidade. Com base nas quatro vias deste arranjo formal, se organizam as 144 quadras da cidade, se definem seus formatos e os seus sentidos. (REGO e MENEGUETTI, 2006, p.98).

Através da análise do plano urbanístico original é possível perceber que o

centro da cidade foi estabelecido na área mais plana, onde se encontram as praças

Mauá, Rui Barbosa e Interventor Manoel Ribas. No estudo do meio realizado em

novembro essas praças foram apreciadas pelos alunos e questionados sobre as

mudanças sociais e econômicas ocorridas nesses espaços.

Como a cidade foi criada para atender 10.000 habitantes já havia uma área

para a escola, para a prática de esportes e para o cemitério. Eram 112 quadras, que

estavam divididas em 1.908 lotes. (Apucarana, 2008, 71). Esse plano urbanístico foi

entregue aos alunos para a localização desses setores. Esta foi uma atividade

complexa, sendo necessário um acompanhamento individual.

Com essa atividade o aluno conseguiu perceber que o centro da cidade está

localizado nesse espaço devido razões de ordem econômica e política. Também

compreendeu que este espaço, com o passar dos anos, tornou-se um território onde

predomina o comércio, o lazer, as instituições governamentais, os bancos, ou seja,

que é um território mais valorizado.

Para compreender a evolução da ocupação urbana de Apucarana, entre

1940 a 2000, os alunos analisaram, com o auxílio da professora, a Tabela 1. Para

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realizar esta análise, primeiro foi importante que o aluno compreendesse os

elementos da tabela: lote e loteamento; população urbana; densidade demográfica.

Década Loteam.

Aprovados

(un.)

Superfície

Criada

(ha)

Superfície

Acumul.

(ha)

Lotes

Criados

(un.)

Lotes

Acumul.

(un.)

População

Urbana

(hab.)

Densidade

Demogr.

(hab./ha)

1941-1950 26 154,4 337,9 2.417 4.325 11.981 35,5

1951-1960 33 79,2 417,1 2.064 6.389 21.203 50,8

1961-1970 53 225,6 642,7 4.625 11.014 41.813 65,1

1971-1980 33 304,0 946,7 3.396 14.410 67.161 70,9

1981-1990 27 340,8 1.287,5 2.920 17.330 86.079 66,9

1991-2000 68 603,4 1.890,9 11.908 29.238 100.249 53,0

Tabela 1 - Evolução da ocupação urbana de Apucarana entre 1940 a 2000

Fonte: ASPLAN e IBGE. Censos Demográficos de 1950, 1960, 1970, 1980, 1991 e 2000. Org.: PAVANI, 2011

Analisando a tabela, percebeu-se que Apucarana em 1950 aparece pela

primeira vez num censo demográfico com população urbana de 11.981 habitantes,

mas na década seguinte (1951-1960), devido a duas fortes geadas, o crescimento

populacional e físico da cidade foi afetado.

Na década de 1961-1970, surgiram novos loteamentos com o parcelamento

das chácaras mais próximas da cidade, as quais eram de tamanho pequeno, o que

gerou arruamentos desconectados entre si e com a malha viária de outros

loteamentos.

Com a criação do Banco Nacional da Habitação (BNH), em 1965, surgiram

1.274 lotes em conjuntos habitacionais populares. A valorização da terra nessa

época provocou o parcelamento de glebas mais afastadas do centro e em

praticamente todas as direções. (Apucarana, 2008, p.72)

Na década de 1971-1980, a substituição da soja pelo café liberou a

população do meio rural e dos pequenos povoados da região, inclusive de

Apucarana para cidades maiores, mantendo assim o crescimento demográfico e a

expansão urbana. (Apucarana, 2008, p.72).

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Na década seguinte (1981-1990), o índice de crescimento da população

urbana caiu e os 27 loteamentos que surgiram nesse período envolvia um número

significativo de chácaras de lazer de grandes dimensões. ( Apucarana, 2008, p.72).

Na década de 1991-2000, houve um intenso movimento de apropriação

territorial, não só por parte dos loteadores, mas da própria Prefeitura e da COHAPAR

(Companhia de Habitação do Paraná). (Apucarana, 2008, p.72)

Nesse período foi criado um número de lotes muito superior ao necessário

para absorver o crescimento da população, o que se traduz em excesso de lotes

vagos e infraestrutura ociosa que penaliza financeiramente o município e a

sociedade. (Apucarana, 2008, p. 74).

Para análise do mapa sobre a evolução urbana de Apucarana foi realizada a

divisão dos alunos em equipes, tendo como critério o bairro onde moram.

Mapa 4 - Evolução Urbana de Apucarana Fonte: Plano Diretor Municipal de Apucarana, 2008.

Nessa atividade, com o auxílio da professora, as equipes localizaram o

bairro onde moram (Vila Nova, Jardim Trabalhista, João Goulart, Tancredo Neves,

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Jardim Marissol e Parque da Raposa I e II). Perceberam que a maioria mora em

bairros recentes como: Jardim Marissol e Parque da Raposa I e II.

Analisaram também que esses bairros e o colégio onde estudam estão

localizados do “outro lado da ferrovia”. Essa atividade permitiu que o aluno

enxergasse a segregação populacional existente.

Possibilitou uma crítica a respeito da carência de infraestrutura nesses

bairros e o papel do poder público nesses espaços. Nesse momento da aula os

mesmos foram induzidos pela professora a enxergarem as qualidades das pessoas

que residem nesses locais, buscando despertar um sentimento de valor ao local

onde vivem.

4 O aluno e seu bairro

Num trabalho interdisciplinar com a disciplina de História foi sugerida uma

pesquisa sobre o bairro de residência dos alunos. A pesquisa teve como base os

seguintes itens:

a) Quem escolheu o nome?

b) Quais os primeiros moradores?

c) Qual a extensão dele? Quantas ruas possue?

d) Seu bairro é comercial, residencial ou industrial? Ele possui áreas verdes?

e) Do tempo em que mora nele, você percebe alguma mudança?

A primeira questão não foi possível responder, pois havia necessidade de

buscar informações na prefeitura e como os alunos têm entre 11 e12 anos e moram

longe do centro, muitos pais não autorizaram a visita para posterior pesquisa.

Com essa atividade os alunos notaram que os bairros em que moram são

residenciais, distantes do centro e com vários problemas como: iluminação precária,

asfalto, ausência de galeria pluvial, carência de áreas verdes.

Quanto à variação demográfica, na sede municipal, a maior parte dos

setores experimentou acréscimos e decréscimos entre 1996 e 2000. Quanto às

áreas com perda moderada de população, observa-se que desenham duas estreitas

faixas paralelas em sentido leste / oeste, sendo uma ao norte e outra ao sul da zona

central. (Apucarana, 2008, p.86)

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No anseio pela casa própria, muitos moradores, que pagavam aluguel em

regiões próximas do centro e na região oeste da cidade, procuraram loteamentos

financiados na região leste, cujo valor da parcela da prestação estivesse condizente

com sua renda. Isso é possível notar ao observar o mapa da evolução urbana, já

trabalhado com os alunos.

A região da cidade que apresentou o maior índice de crescimento foi o

extremo leste, onde se registraram taxas de crescimento superiores a 50,0% em

apenas 4 anos. (Apucarana, 2008, p.86)

Ao localizar o seu bairro na cidade os alunos puderam constatar que os

mesmos localizam-se na região leste da cidade e que encontram pessoas já

conhecidas de bairros anteriores.

Ao norte a retração demográfica se dá pelo fato da mesma conter áreas

segregadas “do outro lado” da ferrovia, como o Núcleo João Paulo I e Vila Regina e

o Bairro 28 de Janeiro. Na área central, a redução de população se deve à

substituição do uso residencial pelo comércio e serviços. Ao sul, entre a Avenida

Minas Gerais e a ferrovia, a diminuição da população provavelmente se deva ao

crescimento do comércio pesado. (Apucarana, 2008, p.86)

Durante a visita à estação ferroviária os alunos puderam visualizar essa

situação, pois saíram da região leste, onde se localiza o colégio, foram para a região

norte e pararam na Praça 28 de Janeiro que fica no centro da cidade.

O pano de fundo na malha urbana, porém, é constituído por áreas que

ganharam população no período 1996/2000. Pode-se observar uma faixa em sentido

leste-oeste, coincidente com o eixo funcional principal da Cidade, que, à exceção da

zona central, experimentou crescimento demográfico moderado. No quadrante sul

observa-se que se destacam áreas com variados ritmos de crescimento

populacional, o mesmo acontecendo com o setor sudoeste do quadro urbano.

Entretanto, a região da Cidade que apresentou o maior índice de crescimento foi o

seu extremo leste, onde se registraram taxas de crescimento superiores a 50,0% em

apenas quatro anos. (Apucarana, 2008, p.86)

Dessa forma, percebe-se que poderia estar em curso um movimento de

translação de população dentro da cidade, com adensamento demográfico ao longo

do seu eixo principal e nos seus setores leste, sul e sudoeste. Cabe destacar que

nos setores oeste, norte e nordeste o crescimento urbano é obstaculizado pelos

trilhos da Ferrovia (atualmente privatizada e pertencente à América Latina Logística -

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ALL), pelos inúmeros cursos d’água que cortam a malha urbana e por impedimentos

de ordem geotécnica. Importante ressaltar as restrições decorrentes do fato desta

área pertencer às bacias dos rios Tibagi e Pirapó que, segundo o IAP, são

contraindicadas à urbanização. (Apucarana, 2008, p.86).

Com todas essas informações ficou claro que a região leste da cidade é que

teve um crescimento populacional significativo a partir de 1996 com a criação de

inúmeros bairros.

5 A segregação populacional em Apucarana

Para entender sobre a segregação populacional que ocorre na cidade, foi

sugerido aos alunos uma entrevista a ser realizada com professores, funcionários e

alunos do colégio. Também com os moradores de bairros antigos e recentes, sobre

o papel da linha férrea na vida dessas pessoas.

Foram sugeridas as seguintes questões:

a) Há quanto tempo é morador desse bairro?

b) Como era esse loteamento na sua chegada? Quais as mudanças que

ocorreram?

c) Você trabalha? Onde? Quanto tempo gasta para chegar ao seu trabalho? Que

transporte você utiliza?

d) O que a linha férrea representa para você? E para o seu bairro?

e) O que mantém você e sua família morando nesse bairro?

f) O que você acha que precisa melhorar nele?

A maioria vê a linha férrea como o progresso. Quanto ao transporte utilizado,

alguns moradores utilizam ônibus coletivo, a maioria dos professores e funcionários

utiliza o carro. Muitos alunos vêm de ônibus, de Van ou a pé para o colégio. Todos

concordam que a linha férrea é um empecilho, principalmente quando se tem que

esperar a passagem do trem.

Todos os entrevistados fora unânimes quanto às mudanças ocorridas no

bairro onde moram. Eram poucas casas, em alguns não havia asfalto, em outros não

tinha creche ou, ainda, não havia posto de saúde e escola. A casa própria é que

mantém a maioria morando nesses bairros. Constatou-se a necessidade de algumas

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melhorias, como a questão da segurança, a manutenção do asfalto, a poda de

árvores e a melhoria na iluminação.

A análise de duas matérias de jornal, sobre a linha férrea, foi outra atividade

que auxiliou no entendimento da separação da população dentro da cidade. Tendo a

linha férrea como referência, os alunos deveriam localizar alguns bairros com mais e

com menos infraestrutura.

Num primeiro momento os alunos citaram o Bairro 28 de Janeiro e em

seguida localizaram Vila Feliz, Vila Formosa, Jardim São Pedro e Flamingos como

bairros nobres. Depois, os alunos comentaram sobre os bairros onde moram, os

quais, apesar das moradias serem novas, carecem de infraestrutura, principalmente

saneamento básico.

A listagem dos bairros com mais ou menos infraestrutura, tendo a linha

férrea como referência, auxiliou na compreensão da ferrovia como uma fronteira

socioeconômica. Nessa atividade também localizaram o colégio onde estudam e

verificaram que o mesmo está situado numa área periférica.

Todas essas atividades levaram os alunos a compreenderem a concepção

de Hissa sobre zonas de fronteiras:

Neste contexto são válidas as preocupações que decorrem da necessidade de compreensão das peculiaridades das zonas de fronteira onde as noções de limite e liberdade gravitam sob as relações entre territórios distintos e, consequentemente, sob distintas relações de poder, que levam o estabelecimento de novas trajetórias – favoráveis ou não, entre esses domínios diferenciados. Como resposta às transformações políticas, econômicas, culturais e sociais da modernização, esses territórios buscam, através da mutação da própria natureza dos limites e das fronteiras, estabelecerem cenários para a crítica de suas próprias dimensões arbitrárias e para a inserção de ambientes integrados. (HISSA, 2006, p.37 apud MAX, 2008, sp.)

De acordo com essa concepção, considerando neste caso a ferrovia em

Apucarana, as fronteiras devem ser observadas, analisadas e questionadas. Ou

seja, é de suma importância buscar como se dão as relações de poder que

estabelecem a distinção entre esses territórios, principalmente em escala local.

Ao analisar as relações de poder em Apucarana são visíveis os desníveis

sociais e econômicos. Aqueles que possuem poder aquisitivo maior moram em

regiões privilegiadas, pois detém maior infraestrutura.

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O zoneamento residencial em Apucarana mostra que o Bairro 28 de Janeiro,

por sua topografia regular e lotes de grande dimensão, é tradicionalmente conhecido

como o de mais alto padrão da cidade. As zonas residenciais de padrão

intermediário, com lotes de tamanho médio, localizam-se na zona central e nos

bairros próximos a ela, enquanto aquelas consideradas de baixo padrão residencial

podem ser encontradas nos bairros da periferia, principalmente nos quadrantes

norte, nordeste e leste da malha urbana. (Apucarana, 2008, p.88)

Percebe-se que os divisores dos padrões habitacionais na cidade de

Apucarana são, no setor leste, a Avenida Minas Gerais que é o acesso rodoviário de

quem procede de Londrina e Curitiba, e no setor o norte, a Ferrovia. As moradias

nos bairros externos à faixa entre a rodovia e a ferrovia são mais recentes e de

padrão construtivo inferior. Deve-se destacar que foi nesses setores que ocorreu a

implantação da maioria dos núcleos habitacionais populares, sendo que os mais

recentes carecem de infraestrutura e abrigam populações de menor poder aquisitivo.

Importante registrar que restam poucas áreas de domínio público na cidade para a

implantação de novos conjuntos habitacionais. (Apucarana, 2008, p.88)

A comparação das propostas de aluguel foi uma atividade realizada pelos

alunos com o intuito de perceber que, em muitos casos, residências com as mesmas

características são mais ou menos valorizadas de acordo com a infraestrutura e a

localização dentro da cidade. Ao constatar essa realidade puderam verificar que a

população é que deve se organizar e buscar, junto ao poder público, melhorias para

esses bairros.

O estudo do meio, realizado com os alunos, proporcionou essa visualização.

Percorrendo um trecho da BR 369, puderam perceber a linha férrea vindo de

Arapongas, onde passaram por vários pontilhões, o que permitiu visualizar as

diferenças sociais e econômicas dentro da cidade.

6 Filme produzido pelos alunos

Uma das atividades previstas no Caderno Pedagógico era que os alunos

realizassem um filme da cidade de Apucarana. Para isso, foram repassadas a eles

dados sobre a colonização do norte-paranaense e evolução urbana de Apucarana.

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Os mesmos estudaram o material repassado para realizar a filmagem, que ocorreu

em vários ambientes da escola como: jardim, biblioteca e laboratório de informática.

Também, foram filmados alguns pontos da cidade como: estação ferroviária, linha

férrea e vários bairros. Numa tarde foi desenvolvida a montagem do filme

envolvendo as imagens da cidade e a gravação dos alunos. Foi uma atividade

interessante, pois os mesmos sentiram-se importantes.

Foi agendada uma noite para o lançamento do filme. Compareceram a

representante do Núcleo Regional de Educação, a Direção da escola, os

professores do dia, alguns pais e alunos.

Com todas essas atividades realizadas cabe aqui refletir sobre o lugar e o

valor do indivíduo, para isso utilizou-se a afirmativa de Santos:

Cada homem vale pelo lugar onde está: o seu valor como produtor, consumidor, cidadão, depende de sua localização no território. Seu valor vai mudando, incessantemente, para melhor ou para pior, em função das diferenças de acessibilidade (tempo, frequência, preço), independentes de sua própria condição. Pessoas, com as mesmas virtualidades, a mesma formação, até mesmo o mesmo salário têm valor diferente segundo o lugar em que vivem: as oportunidades não são as mesmas. Por isso, a possibilidade de ser mais ou menos cidadão depende, em larga proporção, do ponto do território onde está. Enquanto um lugar vem a ser condição de sua pobreza, um outro lugar poderia, no mesmo momento histórico, facilitar o acesso àqueles bens e serviços que lhes são teoricamente devidos, mas que, lhe faltam. (SANTOS, 1987, p.81)

Essa visão de Milton Santos ajuda a esclarecer a questão do preconceito

que existe quanto ao local de vivência do cidadão e que muitas vezes se torna uma

forma de exclusão, até mesmo no ambiente escolar. Esta deve ser debatida e

questionada com o intuito de despertar no aluno um sentimento de valorização das

pessoas e do lugar onde vive.

Ao comparar a origem da cidade e a evolução urbana parece que a ideia dos

ingleses serviu para aquele período. Segundo Howard:

Pode-se dizer que, no século XIX, a busca de formas de se viver comunitariamente dependia, além do progresso econômico, da cooperação dos envolvidos. Vista no início como uma resposta ao excesso da ordem capitalista e, em particular, à desumanização do recente sistema fabril, o comunitarismo era, no final desse século, considerado uma alternativa ao

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rápido crescimento da cidade industrial. (HOWARD apud STEINKE, 2007, p.29)

A ideia de cidades-jardins expressava a vida comunitária, tornando-se uma

alternativa à metrópole, vista pelo autor como lugar distante da natureza, com

problemas físicos e sociais incuráveis que colocavam em risco a realização do

indivíduo e o progresso social (Steinke, 2007).

Talvez tenha sido essa a ideia dos ingleses: uma vida comunitária. Os

acontecimentos, os interesses, a busca pela sobrevivência mudou completamente o

rumo dessa cidade. Criada para atender 10.000 habitantes, hoje são 120.000.

Cada um luta por um espaço, uns adquirem um espaço melhor localizado,

mais seguro e atualmente aparecem os condomínios fechados.

Entretanto, a maioria se encontra na periferia, reivindicando meio-fio, asfalto,

galeria pluvial, iluminação, postos de saúde, creches, área de lazer. Hoje a vida

comunitária acontece nos bairros, onde todos se conhecem e passam na maioria

das vezes pela mesma situação econômica e social. Conquistar esses benefícios é

uma forma de diminuir a segregação populacional que existe.

7 Atividades desenvolvidas através do Grupo de Trabalho em Rede – GTR:

Todas as atividades do caderno pedagógico foram socializadas com um

grupo de 13 professores de Geografia da Rede Pública do Estado do Paraná através

do Grupo de Trabalho em Rede – GTR. O professor participante deveria participar

do fórum e realizar o diário. Na unidade 1 os professores foram levados a analisar o

material didático observando se o tema proposto seria possível ser trabalhado com

alunos das 5ª séries. Outra observação era se as atividades propostas estavam

adequadas a essa série. Na unidade 2 a questão a ser refletida foi com relação à

interdisciplinaridade, pois o caderno contempla as disciplinas de História e Artes. A

primeira com a pesquisa a respeito do bairro onde os alunos moram e a segunda

com o estudo da obra de arte de Tarsila do Amaral – A Gare. Na unidade 3 foram

relatadas as atividades que já haviam sido desenvolvidas com a classe, com

exceção do estudo do meio, pois estava agendado para final de novembro. Os

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professores participantes deram suas contribuições e uma delas sugeriu que no dia

da apresentação do filme, os professores participantes fossem avisados para

poderem prestigiar.

O Grupo de Trabalho em Rede foi uma ótima oportunidade de trocas de

experiências após apresentar o caderno pedagógico, pois foi possível interagir com

os professores participantes que puderam refletir, opinar, questionar e contribuir com

a implantação do mesmo.

Considerações finais:

Ao propor as atividades para os alunos da 5ª série D, a expectativa foi

fazê-los enxergar a linha férrea como uma fronteira que separa bairros com histórias

e situações diferentes. Com isso, buscou-se despertar neles o interesse pelo lugar

onde moram, valorizando as pessoas que aí se encontram.

Em todas as atividades desenvolvidas em sala de aula e em atividade

externa houve uma boa participação dos alunos. Analisaram os pontos negativos e

os positivos que existem no lugar onde moram. Os mesmos ficaram entusiasmados

com a visita à estação ferroviária e durante o estudo do meio foi possível unir a

teoria estudada em sala de aula com a observação e descrição obtida no trajeto

percorrido. O filme mostrou que o lugar onde vivem é muito interessante e que as

pessoas com as quais se relacionam têm muito valor.

As atividades desenvolvidas e os debates com o Grupo de Trabalho em

Rede contribuíram com os professores participantes, principalmente quanto ao

debate sobre a exclusão social.

REREFÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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