O Geógrafo e o Território no contexto do Ciberespaço
Click here to load reader
-
Upload
filipe-oliveira -
Category
Documents
-
view
218 -
download
2
description
Transcript of O Geógrafo e o Território no contexto do Ciberespaço
d
Opinião Filipe Oliveira
Texto adaptado de:
http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/geografia/0009.html
O Geógrafo e o Território no contexto do Ciberespaço
No ciberespaço entramos numa virtualização da realidade, uma migração do mundo real
para um mundo de interacções virtuais, ou vice-versa, onde existe uma constante
produção, (re)produção das relações sociais do espaço. Uma realidade objectiva muitas
vezes iniciada no ciberespaço, e que traz consigo um propósito de finalizar-se no mundo
real, mais cedo ou mais tarde, directa ou indirectamente, estabelece troca de
informações e até mesmo “dados pessoais”, mesmo não havendo contacto físico.
No ciberespaço, o ambiente é marcado por uma não-espacialidade. Não se pode ensinar
ao cibernauta o percurso que se faz para chegar a um lugar, de forma igual a um mapa, a
um trajecto do mundo real, porém, de alguma forma, os grupos, as pessoas, as tribos
encontram-se num lugar virtual. Reconhecem o território de cada grupo.
Aqui entramos num campo geográfico que podemos denominar os “não lugares” com
isto podem identificar-se por exemplo as salas de chat, as diferentes páginas de
facebook, blogues, onde o cibernauta interage e se identifica, cria e se envolve no
mundo virtual. Um território digital é como se fosse um corredor de movimentação de
informações e imagens que procuram organizar “zonas de fixação”. Para a Geografia, a
procura do lugar para explicar as transformações espaciais tende a perder o rumo das
orientações de localização no ciberespaço. As noções básicas de localização e
desenraizamento ficam confusas. O ciberespaço, mais que um lugar, ou um não-lugar,
ou até mesmo um lugar virtual, afirma-se como um espaço imaterial, um meio operativo
de como nos podemos movimentar, trabalhar, construir, criar, investir. Enfim, relações
sociais!
O ciberespaço ultrapassa todos os paradigmas da representação do real. O território aqui
é apropriado pela subjectividade dos seus utilizadores, que simulam o que apreenderam
da realidade objectiva do mundo. A ideia de trazer para a rede uma percepção de
projecção de um território organizado de representação do que estabelecemos com o que
o real nos faz pensar. Esta ideia de globalidade é a forma como o usuário percebe o
mundo e o reapresenta no ecrã do computador. Por exemplo a Google através da
aplicação Google maps e Google hearth apresentam um aplicativos que ao digitar a
palavra-chave de acesso levará ao site, por exemplo, cuja ideia de representação é a
cidade de Nova York, Paris ou Londres, o usuário/viajante terá a sensação de estar no
local, mesmo que, na compreensão mais lógica, esteja fisicamente fixo. Esta sensação
permite ao usuário estabelecer conexões, mesmo próximas a sua máquina, com um
mundo a ser explorado através de um simples click do mouse. É possível percorrer todos
os museus on-line, conhecer outras culturas, pertencer a grupos tribais de identidade,
fazer compras, ir ao shopping, estudar em universidades. Ainda que todos estes lugares
visitados façam parte de uma máquina. A qualquer momento, a máquina pode ser
desligada ou sair do "ar" por "intempéries cibernéticas", ou para que se possa inserir
mais dados para actualização.
O tempo pode ser instantâneo ou não. A sensação de estar em um determinado lugar é
tão presente que muitas vezes as pessoas não conseguem distinguir o mundo virtual da
realidade. Quantos de vocês já foram tantas vezes a determinado lugar através do
Google maps e sente que é como se tivessem estado la mesmo na realidade?
Já pensaram por exemplo nas redes
sociais? Quantos de vocês já não se
aperceberam daquelas pessoas que
colocam no facebook, Twitter e restantes
redes sociais toda a sua vida pessoal?
Não critico tal acto apenas apresento
estes exemplos para que compreendam a
distorção do espaço virtual e do espaço
físico. E tal como o território físico
também apresenta diversos perigos o
território virtual também os possui.
Algumas pessoas estão desligadas e
viciadas no mundo virtual e não tem
percepção da realidade que nem se
apercebem que podem estar a ser
“controladas” intencionalmente. Uma
simples fotografia pode mudar a vida
pessoal e até mesmo profissional.
Recentemente tive conhecimento que
uma senhora perdeu o emprego pois
estava de baixa médica e pessoas da sua
empresa tinham o seu facebook e
inconscientemente colocou uma foto
dela na praia e ainda por cima com a
data na foto.
Isto trata-se de um acto inconsciente e
um exemplo da distorção da utilização
do espaço virtual.
Por exemplo vou contar-vos um
exercício que por vezes faço de maneira
inconsciente:
No ano de 2009 estive de Erasmus em
Salamanca.
Antes de ir para Salamanca fiz o
exercício de ir ao Google maps e ver
como era a cidade e caminhei pelas ruas
através da aplicação. Fiquei com a
sensação que já sabia por onde ir. Mas
na realidade quando la cheguei o
cenário não tinha sido o esperado,
embora já tivesse la estado virtualmente,
senti que no espaço físico não sabia
andar na cidade de Salamanca. Uns
meses depois de ter voltado fiz o mesmo exercício para mostrar à minha família os
locais onde estive e aí sim para mim já fazia todo o sentido todos os locais que lhes
mostrava embora por outro lado tivesse ficado com a sensação de que eles não
sentissem o mesmo, pelo simples factos de não terem la estado fisicamente.
Para Castells, o poder na Era da Informação é, a um só tempo, identificável e difuso. As
ideias virtualizadas e interactivas provocam acções no espaço concreto.
O geógrafo, mais do que qualquer outro profissional, ao procurar analisar os reflexos
que as novas tecnologias de informação provocam na sociedade e no espaço, estará de
maneira valiosa contribuindo para a compreensão desse novo momento em que caminha
a sociedade. Abre-se, então, uma discussão do papel do geógrafo para os próximos
tempos.
Esta Imagem retirada do Site da Tecmundo pode ser entendida como mera
representação, mas também podem ser apreendidos signos e ícones geográficos.
Reflecte o que em 24 horas se passa no ciberespaço, encontramos os não lugares e a
quantidade de informação que gerada.