O impacto da geometria complexa do tecido cortical ósseo...
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O impacto da geometria complexa do tecido cortical ósseo bovino no ensaio de tração: uma abordagem experimental e
computacional
Bianca de Lima Gonçalves
Projeto de Graduação apresentado
ao Curso de Engenharia Mecânica
da Escola Politécnica, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Engenheiro
Mecânico.
Orientador: Fernando Pereira Duda Co-orientadora: Cristiane Evelise
Rio de Janeiro Agosto de 2019
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Departamento de Engenharia Mecânica
DEM/POLI/UFRJ
O impacto da geometria complexa do tecido cortical ósseo bovino no ensaio de tração: uma abordagem experimental e computacional
Bianca de Lima Gonçalves
PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE
ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO MECÂNICO.
Aprovado por:
________________________________________________
Prof. Fernando Pereira Duda
________________________________________________
Prof. Cristiane Evelise Ribeiro da Silva
________________________________________________
Prof. Joan O’Connor
________________________________________________
Prof. Anna Carla Monteiro de Araujo
________________________________________________
Prof. Fabio da Costa Figueiredo
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
AGOSTO DE 2019
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Gonçalves, Bianca de Lima
O impacto da geometria complexa do tecido cortical
ósseo bovino no ensaio de tração: uma abordagem
experimental e computacional/ Bianca de Lima Gonçalves. –
Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2019.
xviii, 55 p.: il; 29,7cm
Orientador: Fernando Pereira Duda
Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/
Curso de Engenharia Mecânica, 2019
Referências Bibliográficas: p 53 - 55
1. Ensaio de tração 2. Simulação numérica por
elementos finitos. 3. Osteoporose 4. Impressão 3D I. Duda,
Fernando Pereira II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Escola Politécnica, Curso de Engenharia Mecânica III. O
impacto da geometria complexa do tecido cortical ósseo
bovino no ensaio de tração: uma abordagem experimental e
computacional.
iv
Agradecimentos
Gostaria de agradecer a Deus pela oportunidade e sustento até aqui, aos meus
orientadores Cristiane Evelise e Duda, ao Joan O’Connor e ao Guido Graça por todo o
apoio ao longo deste projeto e agradeço à minha família, mãe, pai, Brenda, Miceno,
Bruno e Ramiz pelo suporte e compreensão. Agradeço também a todo o pessoal do
laboratório no INT e UFRJ pelo suporte a este projeto final e a todos os meus colegas
de curso e professores que me ajudaram chegar até aqui
v
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.
The impact of the complex geometry of bovine cortical bone tissue in the tensile test: an experimental and computational approach
Bianca de Lima Gonçalves
Agosto/2019
Orientador: Fernando Pereira Duda
Curso: Engenharia Mecânica
Resumo:
A osteoporose, doença osteometabólica caracterizada pela desmineralização
óssea, está associada ao aumento do risco de fratura. As propriedades mecânicas
obtidas em tecidos ósseos com diversos níveis de desmineralização são parâmetros
fundamentais no estudo do desenvolvimento de possíveis métodos de diagnósticos
mais precisos e econômicos dessa doença. Ensaios de tração em tecido ósseo cortical
são muitas vezes invalidados devido à complexa e variável geometria dos ossos e às
características morfológicas desse material. Atualmente, está sendo desenvolvido na
Divisão de Ensaios em Materiais e Produtos (DIEMP) do Instituto Nacional de
Tecnologia e no Laboratório de Mecânica dos Sólidos (LMS) da UFRJ, um trabalho que
busca estudar a influência da geometria de corpos de prova na propriedades mecânicas
obtidas por ensaios de tração, objetivando uma melhor avaliação dos resultados obtidos
por esse ensaio. Para este fim, corpos de prova de tração com variações da geometria
foram projetados a partir da malha originada do escaneamento do osso cortical bovino
usinado utilizando método dos elementos finitos, segundo a norma ASTM-D638 e
posteriormente manufaturados primeiramente por deposição de material fundido (FDM)
em polímero ABS (Acrilonitrila Butadieno Estireno) e depois por sinterização seletiva a
laser (SLS) em polímero Poliamida-12. A propriedade mecânica de resistência à tração
foi avaliada em ensaios laboratoriais utilizando os corpos de prova projetados. Além
disso, um procedimento de simulação numérica utilizando o método de elementos finitos
foi utilizado para avaliar a curva tensão-deformação. Foi concluído pelo ensaio de tração
que a geometria complexa alterou a inclinação da curva tensão-deformação da parte
elástica, diminuindo-as em três vezes e as tensões máximas das amostras 7 e 10 foram
similares a do cp normalizado. Na simulação numérica, o modelo de viscoplasticidade
de Chaboche com endurecimento isotrópico de Hockett-Sherby foi o que representou
melhor os dados encontrados no ensaio experimental do cp normalizado. Para o cp
vi
digitalizado 12 os modelos usados divergiram em vinte segundos de simulação e
somente a parte elástica pode ser bem descrita.
Palavras-chave: Ensaio de tração, simulação numérica por elementos finitos,
osteoporose, impressão 3D.
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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of
the requirements for the degree of Engineer.
Effect of the bone demineralization in the mechanical proprieties of the cortical bone
tissue
Bianca de Lima Gonçalves
July/2019
Advisor: Fernando Pereira Duda
Course: Mechanical Engineering
Abstract:
Osteoporosis, an osteometabolic disease characterized by bone
demineralization, is associated with an increased risk of fracture. The mechanical
properties obtained in bone tissues with different levels of demineralization are
fundamental parameters in the study of the development of possible more accurate and
economical diagnostic methods of this disease. Tensile tests on cortical bone tissue are
often invalidated due to the complex and variable bone geometry and the morphological
characteristics of this material. It is currently being developed at the Materials and
Products Testing Division (DIEMP) of the National Institute of Technology and at the
UFRJ Solid Mechanics Laboratory (LMS), a work that seeks to study the influence of
specimen geometry on mechanical properties obtained by tensile tests, aiming at a better
evaluation of the results obtained by this test. For this purpose, tensile specimens with
geometry variations were designed from the mesh originated from the scanning of the
machined bovine cortical bone using the ASTM-D638 finite element method and later
manufactured by fused deposition modeling (FDM) in ABS (Acrylonitrile Butadiene
Styrene) polymer and then by selective laser sintering (SLS) on Polyamide-12 polymer.
The mechanical property of tensile strength was evaluated in laboratory tests using the
designed specimens. In addition, a numerical simulation procedure using the finite
element method was used to evaluate the stress-strain curve. It was concluded by the
tensile test that the complex geometry altered the slope of the stress-strain curve of the
elastic part, decreasing it by three times and the maximum stresses of samples 7 and 10
were similar to that of normalized test body (cp). In the numerical simulation, the
Chaboche viscoplasticity model with Hockett-Sherby isotropic hardening best
represented the data found in the normalized cp experimental assay. For digitalized cp
12 the models used diverged in twenty seconds of simulation and only the elastic part
can be well described.
viii
Keywords: Tensile Test, Numerical simulation using FEM, osteoporosis, 3D printing.
ix
Índice
1 Introdução .............................................................................................................. 1
1.1 Motivação ............................................................................................................ 1
1.2 Objetivos ........................................................................................................ 2
1.2.1 Objetivo geral ................................................................................................ 2
1.2.2 Objetivos específicos ............................................................................... 3
1.3 Descrição e estrutura do projeto ......................................................................... 3
2 Revisão Bibliográfica ............................................................................................. 5
2.1 Fundamentos teóricos ......................................................................................... 5
2.1.1 Tecido ósseo ........................................................................................... 5
2.1.2 Osteoporose ............................................................................................ 6
2.2 Impressão 3D ...................................................................................................... 7
2.3 Ensaio de tração ............................................................................................... 10
2.5 Modelagem computacional........................................................................ 13
2.5.1 Função escoamento .............................................................................. 13
2.5.2 Lei de encruamento ............................................................................... 14
2.5.3 Regra de fluxo ....................................................................................... 15
3 Métodos experimentais ........................................................................................ 16
3.1 Impressão 3D ............................................................................................... 16
3.1.1 Materiais ................................................................................................ 16
3.1.2 Projeto dos corpos de prova .................................................................. 16
3.1.3 Plataformas de construção .................................................................... 19
3.1.4 Impressora e parâmetros de impressão ................................................. 20
3.1.5 Finalização dos corpos de prova ........................................................... 22
3.2 Ensaio de tração ........................................................................................... 25
3.3 Simulação numérica ..................................................................................... 26
3.3.1 Configurações de simulação do cp normalizado .................................... 29
3.3.2 Configurações de simulação do cp digitalizado ..................................... 33
4 Resultados e discussões ..................................................................................... 36
4.1 Análise dimensional dos cps ......................................................................... 36
4.2 Ensaio de tração ........................................................................................... 37
4.3 Simulação numérica ..................................................................................... 41
4.3.1 Casos de 1 ao 3 .................................................................................... 41
4.3.2 Caso 4 ................................................................................................... 43
4.3.3 Caso 5 ................................................................................................... 45
x
4.3.4 Casos do 6 ao 8 .................................................................................... 46
4.3.5 Caso 9 ................................................................................................... 48
5 Conclusões .......................................................................................................... 50
6 Sugestão para projetos futuros ............................................................................ 52
7 Referências bibliográficas .................................................................................... 53
xi
Lista de Figuras
Figura 2.1 - Diagrama esquemático de uma tíbia; ADAPTADO DE COWIN, 2003. ...... 5
Figura 2.2 - Foto de uma parte da tíbia mostrando o osso cortical (compacto) e o osso
trabecular (esponjoso); ADAPTADO DE COWIN, 2003. ............................................... 6
Figura 2.3 - Desenho de uma configuração FDM; ADAPTADO DE MALIK, 2012. ........ 8
Figura 2.4 - Desenho de uma configuração de SLS; ADAPTADO DE MALIK, 2012. .. 10
Figura 2.5 - Diagrama tensão vs deformação; FONTE: TIMOSHENKO, 1983. ........... 11
Figura 2.6 - Curva tensão-deformação sob tração de náilon 6,6 (seco, isto é, com 0,2%
de umidade). FONTE: CANEVAROLO, 2006.............................................................. 12
Figura 3.1 - Ilustração da amostra de teste tipo IV da norma ASTM-D638. ................. 17
Figura 3.2 - Desenho do cp normalizado no Solidworks. ............................................ 18
Figura 3.3 - Corpo de prova de tecido ósseo usinado. ................................................ 18
Figura 3.4- Modelo STL digitalizado do corpo de prova de tecido ósseo. .................... 19
Figura 3.5- Procedimento de escaneamento do corpo de prova. FONTE: GRAÇA,
2018. .......................................................................................................................... 19
Figura 3.6 - Plataforma de construção virtual dos corpos de prova no software
Meshmixer. ................................................................................................................. 20
Figura 3.7 - Impressora UPbox. .................................................................................. 21
Figura 3.8 - Impressora formiga (EOS). ...................................................................... 22
Figura 3.9 - Corpos de prova de ABS normalizados. .................................................. 23
Figura 3.10 - Corpos de prova de ABS digitalizados. .................................................. 23
Figura 3.11 - Comparação de largura entre os corpos de prova de ABS digitalizados.23
Figura 3.12 - Corpos de prova de PA digitalizados. .................................................... 24
Figura 3.13 - Comparação da largura entre os corpos de prova de PA digitalizados. . 24
Figura 3.14 - Comparação entre os cps em ABS (esquerda) e os cps em Poliamida 12
(direita). O cp da esquerda ainda não usinado e o cp da direita usinado. ................... 25
Figura 3.15 – Fratura dos cps: detalhe do preenchimento do corpo de prova, em cima
o cp em ABS poroso e embaixo o cp em poliamida mais denso. ................................ 25
Figura 3.16 - Máquina de ensaio universal INSTRON 3382 durante o ensaio de tração
e um dos corpos de provas digitalizados. ................................................................... 26
Figura 3.17 - Garra especial para a realização do ensaio de tração dos corpos
digitalizados. ............................................................................................................... 26
Figura 3.18 - Ajuste da curva experimental para determinação dos parâmetros do
modelo de Hockett-Sherby.......................................................................................... 28
Figura 3.19 - Condição de contorno no corpo normalizado. a) uma das faces fixada, de
deslocamento zero; b) e outra face paralela a essa com velocidade prescrita,
simulando o ensaio tração experimental. .................................................................... 29
Figura 3.20 - Curva F(t) usada como condição de contorno do tipo força prescrita. .... 30
Figura 3.21 - Malha 1. ................................................................................................. 31
Figura 3.22 - Malha 2. ................................................................................................. 32
Figura 3.23 - Pontos 18, 20, 22 e 24 de análise de tensão e deformação do cp
normalizado. ............................................................................................................... 33
Figura 3.24 - Condições de contorno no corpo de prova digitalizado. a) uma das faces
com a sua normal paralela ao sentido da tração fixada, de deslocamento zero; b) e a
xii
outra face paralela a esta de velocidade prescrita, simulando o ensaio tração
experimental ............................................................................................................... 34
Figura 3.25- Malha 3. .................................................................................................. 35
Figura 3.26 - Pontos de análise de tensão e deformação do cp digitalizado. .............. 35
Figura 4.1 - Média da tensão máxima e de escoamento dos corpos de prova de PA. 39
Figura 4.2 - Média do módulo de elasticidade dos corpos de prova de PA. ................ 39
Figura 4.3 - Curvas tensão x deformação dos cps de ABS. ........................................ 40
Figura 4.4 - Curvas tensão x deformação dos cps de PA. .......................................... 40
Figura 4.5 - Curva tensão-deformação dos casos 1 ao 3. ........................................... 42
Figura 4.6 - Tensões resultantes da simulação dos casos 1 ao 3. .............................. 43
Figura 4.7 - Curva tensão-deformação do caso 4. ...................................................... 44
Figura 4.8 - Tensões resultantes da simulação do caso 4. ......................................... 44
Figura 4.9 - Curva tensão-deformação do caso 5. ...................................................... 45
Figura 4.10 - Tensões resultantes da simulação do caso 5......................................... 46
Figura 4.11 - Curva tensão-deformação dos casos 6 ao 8. ......................................... 47
Figura 4.12 - Tensões resultantes da simulação dos casos 6 ao 8. ............................ 48
Figura 4.13 - Curva tensão-deformação do caso 9. .................................................... 49
Figura 4.14 - Tensões resultantes da simulação do caso 9......................................... 49
xiii
Lista de tabelas:
Tabela 3.1 - Casos estudados na simulação numérica. .............................................. 27
Tabela 3.2 - Propriedades físicas e mecânicas do material Kapton H - Polyamide tape.
................................................................................................................................... 28
Tabela 3.3 - Elementos da malha 1. ........................................................................... 30
Tabela 3.4 - Elementos da malha 2. ........................................................................... 31
Tabela 3.5 - Elementos da malha 3. ........................................................................... 34
Tabela 4.1 - Análise dimensional dos cps de ABS. ..................................................... 36
Tabela 4.2 - Análise dimensional dos cps de PA. ....................................................... 37
Tabela 4.3 - Média dos valores de tensão máxima, tensão de escoamento e módulo de
elasticidade dos cp de ABS encontradas no ensaio de tração. ................................... 38
Tabela 4.4 - Média dos valores de tensão máxima, tensão de escoamento e módulo de
elasticidade dos cp de PA encontradas no ensaio de tração. ..................................... 38
xiv
Lista de Abreviaturas
ABS Acrilonitrilo Butadieno Estireno
CAD Computer Aided Design
cp Corpo de prova
CT Tomografia Computadorizada
DEXA Absormetria de Dupla Emissão de Raios-X
DIDIN Divisão de Desenho Industrial
DMO Densidade Mineral Óssea
EdT Ensaio de Tração
FAPERJ Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
FDM Deposição de Material Fundido
H-S Hockett-Sherby
INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia
INT Instituto Nacional de Tecnologia
IOF Fundação Internacional da Osteoporose
LabMEMS Laboratório de Nano e Microfluídica e Microssistemas
LACPM Laboratório de Caracterização de Propriedades Mecânicas e
Microestruturais
LMS Laboratório de Mecânica dos Sólidos
LTP Laboratório de Tecnologia de Pós
MEF Método dos Elementos Finitos
PC Policarbonato
PCL Policaprolactona
PEM Programa de Engenharia Mecânica
PEMM Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais
xv
PIPEDO Projeto Interdisciplinar Para o Estudo da Desmineralização Óssea
PLA Ácido Polilático
PUC-RIO Pontífica Universidade Católica do Rio de Janeiro
QUS Ultrassom quantitativo
RM Ressonância Magnética
SLS Sinterização Seletiva a Laser
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
xvi
Lista de Símbolos
𝐴𝑒 Área transversal do elemento
𝐸𝑒 Módulo elástico do elemento
𝐹1𝑒 Força interna nodal 1
𝐹2𝑒 Força interna nodal 2
𝐹𝑦 Função de escoamento
𝐿0 Comprimento inicial
𝑄𝑃 Potencial plástico
𝑆0 Seção transversal original
𝑘𝑒 Rigidez do elemento
𝑙𝑒 Comprimento original do elemento
𝑙𝑛𝑜𝑣𝑜𝑒 Comprimento novo do elemento
𝑝𝑒 Força interna no elemento
𝑢1𝑒 Deslocamento nodal 1
𝑢2𝑒 Deslocamento nodal 2
𝑭𝑒 Matriz de forças nodais
𝑱𝟐 Segundo invariante do tensor desviador
𝑲𝑒 Matriz rigidez de elemento
𝒅𝑒 Matriz de deslocamentos nodais
Δ𝐿 Alongamento
𝐹 Vetor de forças
xvii
𝐾 Matriz de rigidez
𝑃 Carga aplicada
𝑉 Volume
𝑓 Função
𝑚 Expoente de saturação
𝑛 Expoente de tensão
𝑦 Coeficiente de saturação
𝑺 Tensor desviante
�̇�𝒗𝒑 Taxa do tensor de deformação viscoplástica
||�̇�𝒗𝒑|| Norma de �̇�𝒗𝒑
𝛿𝑒 Alongamento do elemento
휀𝑒 Deformação do elemento
휀𝑣𝑝𝑒 Deformação viscoplástica efetiva
𝜎∞ Tensão de fluxo em estado estacionário
𝜎𝑀𝑖𝑠𝑒𝑠 Tensão de Mises efetiva
𝜎𝑐 Tensão convencional
𝜎𝑒 Tensão axial no elemento
𝜎𝑟𝑒𝑓 Nível de tensão de referência
𝜎𝑦𝑠 Tensão de escoamento
𝜎𝑦𝑠0 Tensão de escoamento inicial
𝜖𝑐 Deformação convencional
𝜆 Multiplicador plástico
xviii
𝝈 Tensão
1
1 Introdução
1.1 Motivação
Com o aumento da população idosa, houve uma maior preocupação com uma
doença chamada osteoporose que ocasiona uma baixa densidade óssea (NATIONAL
OSTEOPOROSIS FOUNDATION, 2007). Segundo a Fundação Internacional da
Osteoporose, (IOF em inglês) o número de indivíduos com mais de 50 anos com
osteoporose é de 20 milhões no Estados Unidos da América em 2015 e os incidentes
de fraturas por fragilidade por ano em 2017 nesse mesmo país é de 2,7 milhões
(INTERNATIONAL OSTEOPOROSIS FOUNDATION, 2019). Esta doença
osteometabólica, caracterizada pela desmineralização óssea, está associada, portanto,
ao aumento do risco de fratura. A resistência à fratura dos ossos está relacionada com
o grau de deformação dos elementos existentes nas múltiplas escalas do tecido ósseo,
sendo um importante indicativo da qualidade óssea. Fatores sinérgicos, tais como,
composição do tecido, arranjo de características estruturais e grau de dano são
responsáveis pela qualidade óssea (COWIN, 2003). O tecido ósseo é um composto de
matriz e mineral com cerca de 23 % de fase matriz ou orgânica e 77% fase mineral ou
inorgânica (CARTER ET AL, 1978). No osso maduro, a componente proteína (colágenas
e não colágenas) é uma rede de feixes de fibra de proteína dispostas em camadas,
como madeira compensada, embalada com densas acumulações de cristais minerais.
Cerca de 90 % dos orgânicos é colágeno, o restante é uma mistura de proteínas não
colágenas com pequenas quantidades de lipídios e carboidratos. No osso normal a
maior parte do colágeno é do tipo I, as moléculas estão dispostas de ponta a ponta e
lado a lado, associadas em fibrilas e empacotadas em fibras. A fragilidade óssea
anormal de osteogênese imperfeita está associada a defeitos moleculares na matriz
óssea. A fase mineral do osso é a hidroxiapatita, cálcio com rede cristalina de fosfato
Ca10(PO4)6(OH)2. Cerca da metade da fase mineral do osso é empacotada em espaços
de cerca de 400 Å entre o final de uma fibrila de colágeno e a início da próxima. O resto
do mineral, bem como as proteínas não colágenas, é alojado entre as fibrilas. A
orientação das fibras de colágeno dentro de uma estrutura óssea ajuda a suportar as
forças as quais o osso é regularmente exposto. No osso cortical maduro, a orientação
das fibras de colágeno é transversal ao eixo lamelar nos locais de força compressiva e
paralela ao eixo lamelar nos locais de força de tração (BARBOS ET AL, 1984, ASCENZI
ET AL, 1986).
2
O diagnóstico da osteoporose baseia-se na avaliação quantitativa da densidade
mineral óssea (DMO), normalmente utilizando métodos radiológicos tais como
absormetria de dupla emissão de raios-X (DEXA) e tomografia quantitativa
computadorizada. No entanto, estas técnicas apresentam um alto custo e expõe o
paciente a radiação ionizante, o que tem levado muitos pesquisadores a procurarem
métodos de baixo custo e alternativas livres de radiação, bem como, técnicas que
avaliem a qualidade do tecido ósseo, prevenindo o risco prematuro de fraturas
conjuntamente (YUN-QI JIANG ET AL., 2014). Neste sentido, muito vem sendo
pesquisado sobre o uso de ultrassom quantitativo (QUS, sigla em inglês) para
caracterizar o osso trabecular ou tecidos ósseos, pois além de usar energia não
ionizante, tem um custo operacional mais baixo comparado à DEXA e à tomografia e
também uma melhor aceitação dos pacientes e capacidade para avaliar a qualidade
óssea. O uso clínico do ultrassom quantitativo para diagnosticar osteoporose é ainda
modesto devido às discordâncias em relação às técnicas de Raios-X, sendo, desta
forma, usado como uma técnica indicativa para posterior verificação. No entanto, esta
técnica seria um importante indicativo de risco de fratura. Caso uma validação seja feita,
o ultrassom quantitativo pode fornecer informações adicionais para a elaboração do
diagnóstico. Esta validação pode ser alcançada pela associação de técnicas de
caracterização com métodos destrutivos e está presente num projeto maior denominado
Projeto interdisciplinar para estudo da desmineralização óssea.
Com esta motivação, este projeto pretende utilizar as técnicas de ensaios
mecânicos, simulação numérica por elementos finitos e modelos tridimensionais, que
possuem capacidade de avaliar a resistência à fratura e propriedades mecânicas, para
validar a técnica de ultrassom quantitativo. Como o tecido ósseo cortical bovino
proveniente do fêmur apresenta geometria complexa e irregular, entender o quanto e
como esta geometria impacta nos resultados do ensaio mecânico ajudará a validar os
resultados deste ensaio bem como o diagnóstico por ultrassom.
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
Estudar o comportamento mecânico através de ensaio de tração e simulação
numérica dos corpos de prova originados do tecido ósseo cortical bovino de geometria
complexa e irregular para entender o quanto esta geometria impacta na confiabilidade
dos resultados.
3
1.2.1 Objetivos específicos
• Fabricar corpos de prova em polímero por impressão 3D originados do
escaneamento do tecido ósseo cortical bovino;
• Fazer ensaios tração nos corpos de prova;
• Estudar o efeito da geometria dos corpos de prova nos resultados obtidos nos
ensaios utilizando a ferramenta de simulação numérica (elementos finitos);
• Encontrar um modelo matemático que melhor descreva os resultados do ensaio
de tração através da simulação numérica.
1.3 Descrição e estrutura do projeto
Este trabalho de conclusão de curso é parte de um projeto chamado Projeto
Interdisciplinar para Estudo da Desmineralização Óssea - PIPEDO, coordenado pelo
Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO) e Instituto
Nacional de Tecnologia (INT) que faz parte do programa “Pesquisa em Doenças do
Envelhecimento no Estado do RJ — 2016” contemplado pelo edital da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - FAPERJ 19/2016.
Os laboratórios participantes deste projeto são: Laboratório de Caracterização de
Propriedades Mecânicas e Microestruturais (INT); Laboratório de Tecnologia de Pós
(LTP); Laboratório de Ultrassom (INMETRO); Laboratório de Processamento Digital de
Imagens (PUC-RIO); Laboratório de Nano e Microfluídica e Microssistemas (LabMEMS
- COPPE-UFRJ); Laboratório de Mecânica dos Sólidos (LMS – COPPE UFRJ).
De modo geral, no presente trabalho é iniciada uma avaliação da influência da
geometria complexa do tecido ósseo no resultado dos ensaios de tração. Uma
comparação entre os resultados da curva tensão versus deformação da geometria dos
corpos de prova padrão para ensaios de tração e dos corpos de prova de osso bovino
desmineralizado é feita neste projeto. Isto tem a finalidade de validar a caracterização
do tecido ósseo já que não há uma padronização para ensaios de tração neste material
orgânico. Dessa forma, as propriedades mecânicas concluídas nos ensaios de tração
das amostras de ossos bovinos podem ser validadas. Para ser viável economicamente
e para uma comparação confiável, os corpos de prova deste trabalho foram impressos
pela técnica de manufatura aditiva, tanto o da norma padrão quanto o proveniente do
tecido ósseo. Todo esse procedimento é uma parte de um estudo maior que visa validar
4
os parâmetros de ultrassom quantitativo, usado para diagnosticar a qualidade do tecido
ósseo, utilizando ensaios mecânicos e microscopia para avaliar a resistência à fratura,
durante a desmineralização óssea cortical induzida quimicamente.
Também foi feita uma simulação destes cps em softwares de simulação para
aumentar a confiabilidade. Assim, as comparações podem ser avaliadas por duas vias
diferentes.
Este projeto final está estruturado desta maneira: o segundo capítulo se destina a
revisão bibliográfica onde a teoria é explicada e artigos, normas e livros são citados.
O terceiro capítulo se destina aos métodos experimentais que consiste em
imprimir os corpos de prova poliméricos com geometria originada do tecido ósseo
bovino, ensaiá-los em testes de tração e simulá-los pelo método de elementos finitos.
O quarto capítulo apresenta os resultados e as discussões dos métodos
experimentais.
O quinto capítulo descreve as conclusões deste trabalho.
O sexto capítulo são as referências bibliográficas.
O sétimo capítulo sugere trabalhos futuros.
5
2 Revisão Bibliográfica
Este capítulo apresenta a teoria deste trabalho e mostra normas, livros e artigos
consultados.
2.1 Fundamentos teóricos
2.1.1 Tecido ósseo
O osso é o principal constituinte do sistema ósseo e é responsável por manter o
formato do corpo, proteger os tecidos moles do crânio e tórax e transmitir a força do
músculo de uma parte do corpo para a outra durante movimento (COWIN, 2003).
Um osso adulto típico é formado por uma parte cilíndrica principal, diáfise, as
extremidades mais largas, epífises e uma região intermediária entre estas, a metáfise.
A primeira é composta majoritariamente de osso cortical (denso, uma massa sólida
com canais microscópicos) que compõe 80% da massa do esqueleto, e as últimas de
osso esponjoso (menos denso, formado por trabécula) que compõe os 20% restantes
(COWIN, 2003), como ilustrado na Figura 2.1 e Figura 2.2.
O tecido ósseo é composto por 65% de parte mineral e 35% de parte orgânica,
água e células. A parte mineral é em grande parte hidroxiapatita e a parte orgânica é
formada por 90% de colágeno (COWIN, 2003).
Figura 2.1 - Diagrama esquemático de uma tíbia; ADAPTADO DE COWIN, 2003.
6
Figura 2.2 - Foto de uma parte da tíbia mostrando o osso cortical (compacto) e o osso trabecular (esponjoso); ADAPTADO DE COWIN, 2003.
De acordo com DALMOLIN et al. (2013) a parte orgânica é responsável pela
resistência à fratura, tração e compressão e maleabilidade tecidual, sem que perca sua
dureza. Já a parte inorgânica é responsável pela resistência à deformação. Ainda
segundo DALMOLIN et al. (2013), “tecidos ósseos corticais e esponjosos possuem
composição similar com diferentes configurações estruturais; no osso cortical, os canais
de Harvers estão presentes e o tecido ósseo é depositado em camadas cilíndricas em
torno destes. No osso esponjoso (ou trabecular), não existem canais harvesianos, sendo
o tecido depositado em camadas longitudinais. Essa diferença microestrutural,
combinada ao pequeno tamanho das trabéculas, resulta em menor rigidez e resistência
do osso esponjoso”.
Visto isso, o osso cortical é anisotrópico, as propriedades mecânicas mudam de
acordo com a direção: na orientação longitudinal o tecido ósseo é mais resistente que
nas orientações radial e tangencial (DALMOLIN et al. 2013).
2.1.2 Osteoporose
Segundo Cowin (2003), “A osteoporose é uma doença esquelética caracterizada
por uma diminuição na resistência óssea (uma diminuição na massa óssea e uma
deterioração na microarquitetura óssea), o que leva a uma maior fragilidade do
esqueleto e consequentemente maior risco de fratura. Os locais mais comuns de fratura
são coluna, quadril e punho (Fratura de Colles).”
7
Alguns métodos de diagnóstico da osteoporose são absorciometria por raios X de
dupla energia (DEXA), tomografia computadorizada (CT), ressonância magnética (RM)
e ultrassom quantitativo (QUS).
Segundo Cowin (2003), “a absorciometria por raios X de dupla energia (DEXA) é
baseado em imagens projetivas e fornece o conteúdo mineral ou a densidade de área
do osso examinado. Não é possível diferenciar entre perda óssea cortical e esponjosa,
e é insensível a mudanças estruturais no osso esponjoso, como redução de elementos
ósseos e espessamento compensatório dos elementos remanescentes, transformação
de placas em bastonetes ou alterações na conectividade e anisotropia.”
Também segundo Cowin (2003), “a tomografia computadorizada (CT) por raios X
e a ressonância magnética (RM) têm o potencial de estudar a verdadeira arquitetura
tridimensional (3D) do osso de maneira não destrutiva. O equipamento padrão, no
entanto, é usado principalmente para imagens bidimensionais (2D).”
Por fim, de acordo com Kanis (2002), o ultrassom quantitativo (QUS) faz medições
da velocidade ultrassônica e de coeficientes de atenuação de banda larga e dessa forma
é possível medir a densidade mineral óssea. Este é um método que não emite radiação
ionizante, sendo menos prejudicial ao paciente e também, mais barato que o DEXA.
Porém, é menos consolidado e menos aceito que o DEXA.
2.2 Impressão 3D
A impressão 3D é um processo de fabricação que gera produtos baseado em um
modelo 3D CAD (Computer Aided Design). Esse modelo é processado com um software
que converte o modelo CAD em uma série de instruções que são usadas para comandar
a máquina de impressão 3D. Os materiais mais utilizados são polímeros. Este tipo de
fabricação economiza tempo e dinheiro dentro de certas indústrias e dentro da pesquisa
e desenvolvimento. A manufatura aditiva possibilita a fabricação de formas complexas,
o que permitiu a produção de vários tipos de implantes e dispositivos para aplicações
médicas (MALIK, 2012).
Algumas vantagens da manufatura aditiva para este projeto são:
• Não é necessário ferramenta especializada;
• Lotes pequenos de produção foram viáveis e econômicos;
• Redução de resíduos;
• Prazos de entrega mais curtos (MALIK, 2012).
8
Há uma variedade de técnicas de impressão 3D no mercado, as mais conhecidas
são modelagem por deposição fundida, Sinterização Seletiva a Laser, impressão 3D a
jato de tinta, estereolitografia e plotagem 3D. Além destas, outras tecnologias de
impressão 3D para impressão de metais, cerâmicas e compósitos existem, porém são
mais raras no uso industrial ou ainda estão em desenvolvimento (MALIK, 2012).
Segundo Malik (2012), “a escolha e seleção da técnica de fabricação depende da
seleção de matérias-primas, requisito de velocidades de processamento e resolução,
custo e desempenho necessário para a aplicação pretendida.” As técnicas utilizadas
neste trabalho foram:
• Deposição de material fundido (FDM): As impressoras de modelagem por
deposição fundida (FDM) são as mais usadas para a fabricação de poliméricos.
Os materiais Policarbonato (PC), Acrilonitrilo Butadieno Estireno (ABS) e Ácido
Polilático (PLA) são geralmente utilizados devido às suas baixas temperaturas
de fusão. Estas impressoras funcionam por extrusão de filamento, como
mostrado na Figura 2.3 O polímero é aquecido e forçado a passar por um bico
extrusor, o plástico extrudado é então movido de acordo com o arquivo CAD no
plano x-y para formar a primeira camada. Após isto, a impressora sobre através
eixo z para fazer a segunda camada e assim sucessivamente. Essas camadas
são fundidas umas nas outras formando o produto final. A qualidade do produto
final depende da espessura de camada, largura da varredura, orientação da
impressão e tamanho do bico extrusor (MALIK, 2012).
Figura 2.3 - Desenho de uma configuração FDM; ADAPTADO DE MALIK, 2012.
9
Segundo Malik (2012), “uma grande desvantagem da impressão FDM é que os
materiais compostos precisam estar em uma forma de filamento para permitir o
processo de extrusão. É difícil dispersar homogeneamente as impurezas e remover o
vazio formado em meio à fabricação de filamentos compostos. Outro obstáculo das
impressoras FDM é que o material utilizável é restrito a polímeros termoplásticos com
viscosidade de fusão razoável. A espessura do líquido deve ser suficientemente alta
para fornecer suporte auxiliar e suficientemente baixa para facilitar a extrusão. Apesar
dessas desvantagens, as impressoras FDM também oferecem pontos de interesse,
incluindo esforço mínimo, tempo de impressão rápido e facilidade de aprendizado. Outro
ponto de vista preferido da impressão FDM é a possibilidade de depositar diferentes
materiais. Também, mais de um bocal de extrusão com diferentes materiais pode ser
configurado. Assim, as partes impressas finais podem ser uma mistura de composição
de materiais, se necessário”.
• Sinterização Seletiva a Laser (SLS): A sinterização seletiva a laser (SLS) é
baseada no processamento de pós. Um feixe de laser passa pelos pós para
sinterizá-los por aquecimento e, como o material está sob lasers de alta potência,
os pós vizinhos são fundidos por difusão atômica (Figura 2.4). Depois, a
impressão da próxima camada começa e, no final do processo, o pó solto é
removido para obter o produto final. A resolução dos produtos depende do
tamanho da molécula do pó, espaçamento de varredura, velocidade e controle
do laser. Embora, na prática, qualquer polímero termoplástico em forma de pó
possa ser utilizado na SLS, processo do comportamento e difusão durante esta
técnica é complexo e, portanto, restringe a seleção de materiais. Até o momento,
policaprolactona (PCL) e poliamida (PA) são os materiais mais utilizados
(MALIK, 2012).
10
Figura 2.4 - Desenho de uma configuração de SLS; ADAPTADO DE MALIK, 2012.
Malik (2017) ensaiou quatro polímeros diferentes: PLA, ABS, HDGlass (PETG) e
Nylon e estudou suas propriedades mecânicas. Os dois materiais com maior valor de
tração máxima foi respectivamente o PLA e o ABS, com valores de 45,66 e 35,44 MPa,
respectivamente. Já LEITE et al. (2017) estudou o impacto de diferentes tratamentos de
proteção e vedação na absorção da água e nas propriedades mecânicas de materiais
de ABS impressos por FDM, mostrando que os poros nas peças feitas por esse método
de fabricação são significativos.
As propriedades de peças impressas em 3D ainda são pouco conhecidas. Uma
descrição do material de peças impressas em PA (Nylon 12) pelo método SLS por
Lindberg et al. (2018) foi investigada por simulação pelo método de elementos finitos
(FEM) e uma das conclusões que se chegou foi que este processo de fabricação ainda
precisa ser melhor controlado porque há variações nas propriedades das peças feitas
pelos mesmos método e material que tornam a modelagem dessas peças menos
confiável.
2.3 Ensaio de tração
O objetivo de um teste de tração é obter a relação entre as tensões e deformações
para um determinado material. Esta relação dá informações importantes (Figura 2.5)
como: limite de proporcionalidade, último ponto da curva no qual as tensões são
diretamente proporcionais as deformações (ponto A); tensão de escoamento, tensão na
qual deformações consideráveis começam a aparecer e o material começa a escoar
(ponto B); região de plasticidade, região na qual o material deforma plasticamente
(região BC); tensão máxima (ponto D); tensão de ruptura (ponto E). A linha tracejada da
11
figura representa o diagrama tensão-deformação verdadeiro, que considera a
diminuição de área na seção de estricção. Já a linha inteira não considera essa
diminuição da área e representa o diagrama tensão-deformação de engenharia ou
convencional (TIMOSHENKO, 1983).
Figura 2.5 - Diagrama tensão vs deformação; FONTE: TIMOSHENKO, 1983.
A Figura 2.6 abaixo mostra a curva tensão-deformação de um polímero, foco do
projeto.
12
Figura 2.6 - Curva tensão-deformação sob tração de náilon 6,6 (seco, isto é, com 0,2% de umidade). FONTE: CANEVAROLO, 2006.
A tensão de engenharia é dada por:
𝜎𝑐 =
𝑃
𝑆0
(1)
Em que, 𝜎𝑐 é tensão convencional (Pa), 𝑃 é carga aplicada (N), 𝑆0 é a seção
transversal original (m2).
A deformação de engenharia é definida por:
𝜖𝑐 =
Δ𝐿
𝐿0
(2)
Em que, 𝜖𝑐 é a deformação convencional (adimensional), 𝐿0 é o comprimento inicial
de referência [m] e ∆𝐿 é o alongamento [m].
13
Outro dado importante fornecido pelo diagrama tensão-deformação é o módulo de
elasticidade ou módulo de Young, que é definido por:
𝐸 =𝜎𝑐
𝜖𝑐=
𝑃 𝐿0
𝑆0 Δ𝐿
(3)
(TIMOSHENKO, 1983).
2.4 Modelagem computacional
Visando a simulação numérica dos testes experimentais conduzidos neste
trabalho, foram utilizados modelos constitutivos de plasticidade para dois casos: i)
modelo de comportamento perfeitamente plástico, e ii) modelo de endurecimento
isotrópico não linear de Hockett-Sherby (H-S), e um terceiro caso de viscoplasticidade:
iii) modelo viscoplástico de Chaboche considerando endurecimento isotrópico não
linear de tipo H-S.
O modelo de H-S foi escolhido pelo comportamento de saturação no
encruamento, que coincidem com os gráficos experimentais obtidos experimentalmente
no INT, e o modelo de viscoplasticidade de Chaboche foi utilizado no trabalho porque
mostrou excelente concordância com resultados experimentais para um problema de
simulação de microindentação em polímeros em Pesquisa conduzida pelos programas
PEM-PEMM COPPE.
Assumindo grandes deformações consideradas para modelagem e simulação da
resposta mecânica de polímeros L. Anand (2009) et al., N. M. Ames et al. (2009), M. R.
Gudimetla et al. (2017), o conjunto de equações necessárias para a implementação do
modelo de viscoplasticidade no software de elementos finitos é formado pela função
escoamento, a lei de encruamento e a regra de fluxo, as quais são apresentadas
diretamente a seguir.
2.4.1 Função escoamento
Considerando o critério de von Mises que geralmente é usado para polímeros H.
A. Shirazi et al. (2017), A. A. Abdel-Wahab et al. (2017), S. Iio et al. (2016), a função de
escoamento tem a forma:
y Mises ysF = − (4)
14
Onde 𝜎𝑦𝑠 é a tensão de escoamento e 𝜎𝑀𝑖𝑠𝑒𝑠 , a tensão de Mises efetiva, que é dada
por E. de Souza Neto et al. (2011):
23Mises = J
(5)
onde o segundo invariante do tensor desviador 2J , é escrito em termos dos
componentes do tensor de tensão de Cauchy 11 22, e
33 é determinado, de acordo
com J. Lemaitre e J. Chaboche (1994) como:
( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
2 2 2 2 2 2
2 11 22 22 33 33 11 11 22 33
1
6 = − + − + − + + +
J
(6)
2.4.2 Lei de encruamento
A lei de encruamento, para o caso perfeitamente plástico evolui com um valor
constante da tensão de escoamento inicial 0 ys :
0ys ys = (7)
Para o caso de endurecimento isotrópico não linear a tensão de escoamento aumenta
proporcionalmente à deformação viscoplástica, de acordo com a seguinte lei
exponencial para o modelo de H-S:
0 0 1
mvpe
ys ys ys( )( e )
−
= + − − (8)
sendo 0 ys a tensão de escoamento inicial, vpe a deformação viscoplástica efetiva,
a tensão de fluxo em estado estacionário, o coeficiente de saturação e m o expoente
de saturação.
Onde a deformação viscoplástica efetiva é dada por:
0 =
t
vpe vpedt (9)
e a taxa da deformação viscoplástica efetiva pode ser escrita como:
15
vpe
2
3vp
= (10)
Sendo vp a taxa do tensor de deformação viscoplástica, e
vp é a norma taxa do
tensor de deformação viscoplástica, que é definida por: vp vp vp =
2.4.3 Regra de fluxo
Finalmente, para o modelo constitutivo de Chaboche, a taxa do tensor de
deformação viscoplástica pode ser determinada, segundo J. Lemaitre e J. Chaboche
(1994) como:
vp =
n
y
ref
FA
S
(11)
Sendo A o coeficiente da taxa de viscoplasticidade, yF a função de escoamento (Eq.
7), ref o nível de tensão de referência, n o expoente de tensão e S o tensor desviador.
Finalmente, o potencial plástico é igual a função de escoamento quando a regra ou lei
de fluxo é considerada de tipo associativa:
p y
Q F= (12)
Por outro lado, para os casos i) e ii), perfeitamente plástico e H-S, respectivamente, a
taxa do tensor de deformação plástica seria determinada, segundo J. Lemaitre e J.
Chaboche (1994) e E. de Souza Neto et al. (2011), como:
p=
yF
(13)
onde p é o tensor de deformação plástica, considerando também lei de fluxo de tipo
associativa, e o multiplicador plástico que pode ser determinado através da condição
de Kuhn-Tucker:
0, 0y
F e 0y
F = (14)
16
Vale ressaltar que a formulação do modelo viscoplástico apresentada, forma
parte de uma pesquisa que está sendo conduzida entre os programas de engenharia
mecânica PEM, e de metalúrgica e de materiais PEMM da COPPE. Os resultados dessa
pesquisa encontram-se na fase de publicação (J. O’Connor et al., 2019).
3 Métodos experimentais
Esta seção descreve os métodos experimentais deste trabalho que consistiram na
fabricação dos corpos de prova (cps) por impressão 3D e no ensaio de tração.
Primeiramente foram fabricados cps de Acrilonitrila Butadieno Estireno (ABS) pelo
método de deposição de material fundido (FDM), porém este tipo de fabricação não se
mostrou satisfatório por causa do padrão interno das peças impressas que é de difícil
reprodução na simulação numérica e do grande volume de poros. Após essa
constatação, foram fabricados cps de Poliamida 12 (PA) pelo método de Sinterização
Seletiva a Laser (SLS), que se mostrou um método melhor para as simulações que
foram desenvolvidas em seguida, por causa da maior densidade e maior uniformidade
das peças produzidas por este método. Deste modo, nesta seção há a descrição
experimental dos dois métodos de fabricação.
3.1 Impressão 3D
3.1.1 Materiais
Para a confecção dos corpos de prova por deposição de material fundido (FDM)
foi utilizado filamento Acrilonitrila Butadieno Estireno- ABS e para a sinterização seletiva
a laser (SLS), pó de Poliamida 12, PA 2200® da EOS.
3.1.2 Projeto dos corpos de prova
Os corpos de prova foram projetados utilizando o software SolidWorks para a
produção da malha STL. Dois tipos de corpo de prova foram fabricados: os digitalizados,
provenientes do escaneamento de fêmures bovinos; e os normalizados, desenhados no
SolidWorks de acordo com a norma ASTM-D638 “Standard Test Method for Tensile
Properties of Plastics”. A diferença fundamental entres os dois tipos é a largura na Figura
3.1 encontra-se uma ilustração do cp segundo esta norma e na Figura 3.2, o desenho
no SolidWorks. Portanto, foram estudados dois tipos de corpos de prova, os
normalizados e os digitalizados.
17
Os cps digitalizados originais de tecido ósseo foram usinados (Figura 3.3) e
escaneados anteriormente a este trabalho. Para o escaneamento dos cps digitalizados,
Graça (2019) usou um escâner óptico Spectrum da Range Vision que pode ser visto na
Figura 3.5, que pertence à Divisão de Desenho Industrial (DIDIN) do INT e que funciona
através do princípio de luz estruturada. O bloco ótico é composto por duas câmeras
digitais (1800 pixels) e um projetor de luz branca (1920 x 1080 pixels). A resolução
alcançada com este dispositivo foi de 0,0012 mm. Na Figura 3.4 é possível ver a malha
resultante do escaneamento.
Figura 3.1 - Ilustração da amostra de teste tipo IV da norma ASTM-D638.
18
Figura 3.2 - Desenho do cp normalizado no Solidworks.
Figura 3.3 - Corpo de prova de tecido ósseo usinado.
19
Figura 3.4- Modelo STL digitalizado do corpo de prova de tecido ósseo.
Figura 3.5- Procedimento de escaneamento do corpo de prova. FONTE: GRAÇA, 2018.
3.1.3 Plataformas de construção
Com a malha disponível, foi feito o modelo de plataforma virtual. A plataforma de
construção da impressora é onde os cps serão depositados e é possível organizar a
disposição e orientação deles construindo esse modelo, na Figura 3.6 é possível ver
uma dessas plataformas. Para este fim, foi usado, para os cps de ABS, o software
MeshMixer® 3.4 © 2017Autodesk, Inc. e, para os cps de PA, o Rinoceros®, ambos
20
destinados a distribuir e organizar as malhas dentro da plataforma. Para o sistema de
coordenada, a norma ASTM 52921 foi seguida e para disposição, foi utilizada a Classe
I da norma ASTM F3091/F3091M. Essa é a classe mais rigorosa e requer no mínimo
três espécimes XY ou YX no envelope de construção. Foi utilizada a orientação XY para
todos os cps.
Figura 3.6 - Plataforma de construção virtual dos corpos de prova no software Meshmixer.
3.1.4 Impressora e parâmetros de impressão
Para os cps de ABS a impressora usada foi a UP Box, Figura 3.7, e o software
para a impressão foi o UP V2.18 da própria impressora. Os parâmetros de impressão
foram:
• Espaçamento entre as camadas: 0,20 mm;
• Preenchimento: máximo. Existem quatro opções desse tipo e foi escolhido o
preenchimento máximo, mas não existe no manual um valor numérico para ele;
• Velocidade: turbo. Também existem quatro opções desse tipo: normal, fast, fine
e turbo, porém não existe no manual um valor numérico para ela;
• Bico de extrusão de 0,4 mm. A temperatura de impressão esteve numa média
de 225 ° C;
Foram usados nos CPs YX escaneados uma massa de 28,5g de material e o
tempo de impressão foi de 1h52min.
21
Figura 3.7 - Impressora UPbox.
Para os cps de PA a impressora usada foi a Formiga (EOS), Figura 3.8, da
Divisão de Desenho Industrial (DiDIN-INT) e para criar as camadas a serem impressas
foi utilizado o software dedicado a impressora chamado EOS ParameterEditor, EOS RP
Tools, PSW 3.6. Os parâmetros de impressão foram:
• Volume de construção: 200 x 250 x 70 mm;
• Tipo de Laser: CO2, 30 W;
• Taxa de construção : até 1,2 l/h;
• Espessura da camada: 0,12 mm;
• Velocidade de varredura do processo de construção: 5 m/s.
22
Figura 3.8 - Impressora formiga (EOS).
3.1.5 Finalização dos corpos de prova
No total foram produzidos 4 cps normalizados e 4 cps digitalizados de cada
material. Havia 3 amostras de osso: 7, 10 e 12. Portanto, ao final das impressões foram
fabricados 12 cps digitalizados de ABS e 12 cps digitalizados de PA. Figura 3.9,
encontram-se 3 cps de ABS normalizados; na Figura 3.10 e Figura 3.11, os cps de ABS
digitalizados; na Figura 3.12 e Figura 3.13, 3 cps de PA digitalizados; e por fim, nas
Figura 3.14 e Figura 3.15, a comparação dos corpos de prova de ABS e PA. Após a
impressão, houve uma usinagem extra da parte de cima e da parte de baixo dos cps
digitalizados, a fim de que encaixassem melhor nas garras do ensaio de tração, isto
pode ser visto na Figura 3.14. Nas Figura 3.11 e Figura 3.13 é possível ver a diferença
de largura das 3 amostras.
23
Figura 3.9 - Corpos de prova de ABS normalizados.
Figura 3.10 - Corpos de prova de ABS digitalizados.
Figura 3.11 - Comparação de largura entre os corpos de prova de ABS digitalizados.
24
Figura 3.12 - Corpos de prova de PA digitalizados.
Figura 3.13 - Comparação da largura entre os corpos de prova de PA digitalizados.
25
Figura 3.14 - Comparação entre os cps em ABS (esquerda) e os cps em Poliamida 12 (direita). O cp da esquerda ainda não usinado e o cp da direita usinado.
Figura 3.15 – Fratura dos cps: detalhe do preenchimento do corpo de prova, em cima o cp em ABS poroso e embaixo o cp em poliamida mais denso.
3.2 Ensaio de tração
Os dois tipos de cps foram ensaiados para a comparação das curvas tensão
versus deformação. Foi usada uma taxa de 5 mm/min, que vai de acordo com a norma
ASTM-D638, uma máquina de ensaio universal INSTRON 3382 100 kN (Figura 3.16) e
strain gage. Para os cps digitalizados, devido a geometria não padronizada, foi
necessário usar uma garra especial, Figura 3.17, feita exclusivamente para estes corpos
de prova.
26
Figura 3.16 - Máquina de ensaio universal INSTRON 3382 durante o ensaio de tração e um dos corpos de provas digitalizados.
Figura 3.17 - Garra especial para a realização do ensaio de tração dos corpos digitalizados.
3.3 Simulação numérica
A simulação numérica tem por objetivo a modelagem matemática das curvas
tensão versus deformação encontradas experimentalmente. Foram utilizados modelos
constitutivos de plasticidade e de viscoplasticidade, dois diferentes modelos de
endurecimento isotrópico e mudanças de alguns parâmetros para tentar reproduzir o
27
comportamento visto no experimento. Mudanças no passo foram feitas ao longo do
estudo para que o modelo convergisse ou para melhorar a descrição matemática. Na
Tabela 3.1 estão apresentados todos os casos estudados (capítulo 2, seção 2.5).
Tabela 3.1 - Casos estudados na simulação numérica.
Corpo de prova
Condição de
contorno
Modelo Constitutivo
Modelo de endurecime
nto isotrópico
Parâmetros do
modelo
Módulo de Young
Malha
Passo
1 Normalizado
Velocidade
Prescrita
Plasticidade Perfeitamente Plástico
𝜎𝑦 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 Material 1 0.5
2 Normalizado
Força prescrita
Plasticidade Perfeitamente Plástico
𝜎𝑢𝑙𝑡 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 Material 1 0.5
3 Normalizado
Velocidade
Prescrita
Plasticidade Perfeitamente Plástico
𝜎𝑢𝑙𝑡 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 Material 1 0.5
4 Normalizado
Velocidade
Prescrita
Plasticidade Hockett-Sherby
𝜎𝑦0 , 𝜎∞ ,
𝛽, 𝑛
Material 2 0.25
5 Normalizado
Velocidade
Prescrita
Viscoplasticidade - Chaboche
Hockett-Sherby
𝜎𝑦0 , 𝜎∞ ,
𝛽, 𝑛 e 𝐴𝑐ℎ𝑎𝑏, 𝑛𝑐ℎ𝑎𝑏
𝜎𝑟𝑒𝑓
Material 1 0.25
6 Osso 12 Velocidade
Prescrita
Plasticidade Perfeitamente Plástico
𝜎𝑢𝑙𝑡 𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 Material 3 0.5
7 Osso 12 Velocidade
Prescrita
Plasticidade Perfeitamente Plástico
𝜎𝑦𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 Material 3 0.5
8 Osso 12 Velocidade
Prescrita
Plasticidade Perfeitamente Plástico
𝜎𝑦𝑚𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 Experimental
3 0.5
9 Osso 12 Velocidade
Prescrita
Plasticidade Hockett-Sherby
𝜎𝑦0 , 𝜎∞ ,
𝛽, 𝑛
Experimental
3 0.25
Para a simulação da resposta ou comportamento material dos cps submetidos ao
carregamento aplicado durante os testes experimentais foram utilizados modelos
constitutivos de plasticidade e viscoplasticidade, como comentado anteriormente.
Implementando no COMSOL, primeiramente, o comportamento plástico
considerando: i) modelo de comportamento perfeitamente plástico, e ii) modelo de
endurecimento isotrópico não linear de Hockett-Sherby (H-S), e posteriormente, o
comportamento viscoplástico considerando: iii) modelo viscoplástico de Chaboche com
endurecimento isotrópico não linear de tipo H-S. A escolha destes modelos foi feita a
partir do comportamento de saturação no encruamento para o caso do modelo de H-S
que coincide com o comportamento experimental dos cps padrão mostrado nas curvas
tensão-deformação. O modelo de viscoplasticidade de Chaboche foi utilizado, pela
capacidade desse modelo em capturar o comportamento viscoplástico em polímeros
experimentalmente, a temperatura ambiente.
28
Os parâmetros do modelo de Hockett-Sherby foram determinados a partir de um
ajuste da curva experimental feito no Excel, como mostrado na Figura 3.18. Onde, os
parâmetros foram determinados usando um procedimento de ajuste não linear do
modelo H-S aos dados experimentais. O ajuste foi realizado por meio da minimização
da norma da diferença entre os dados experimentais e as previsões do modelo dado
pela equação 21.
Figura 3.18 - Ajuste da curva experimental para determinação dos parâmetros do modelo de Hockett-Sherby.
Na simulação, somente a amostra 12 foi estudada, já que este estudo é demorado
e seria necessário mais tempo para a análise nas 3 amostras de tecido ósseo.
O material utilizado foi o disponível no software Kapton H-Polymide tape, cujas
propriedades são iguais aos valores nominais da Poliamida 12 em pó utilizada na
manufatura aditiva e podem ser encontradas na Tabela 3.2. A temperatura configurada
foi a mesma do experimento: temperatura ambiente, 293.15k. Para alguns casos do
osso 12 o módulo elástico obtido no experimento foi usado.
Tabela 3.2 - Propriedades físicas e mecânicas do material Kapton H - Polyamide tape.
Nome Valor Unidade
Densidade 1000 kg/m³
Razão de Poisson 0.35 1
Módulo de Elasticidade 1586 MPa
29
3.3.1 Configurações de simulação do cp
normalizado
Para as condições de contorno, uma das faces com sua normal paralela ao
sentido do movimento foi configurada para ter deslocamento zero e a face oposta foi
configurada para ter uma de duas prescrições dependendo do caso, simulando o ensaio
de tração. Na Figura 3.19 é possível ver estas faces destacadas. Os dois tipos de
prescrição foram: força prescrita e velocidade prescrita. A primeira foi feita com dados
da curva força versus tempo F(t) do ensaio, essa curva está mostrada no gráfico Figura
3.20. A segunda configuração utilizada foi a da máquina de ensaio no experimento, que
foi uma taxa de 5mm/min.
Figura 3.19 - Condição de contorno no corpo normalizado. a) uma das faces fixada, de deslocamento
zero; b) e outra face paralela a essa com velocidade prescrita, simulando o ensaio tração experimental.
30
Figura 3.20 - Curva F(t) usada como condição de contorno do tipo força prescrita.
Duas malhas foram usadas na simulação, a primeira foi utilizada para os modelos
iniciais da tabela e a segunda foi usada na tentativa de ganhar mais informações na
região do empescoçamento, já que esta é a que mais se deforma. Ambas as malhas
foram primeiramente feitas a partir de elementos 2D (elementos quadriláteros) na
superfície correspondente ao plano zx e posteriormente esses elementos foram
extrudados gerando os elementos hexaédricos. A malha 1 possui 1006 elementos
quadriláteros e 915 hexaédricos. A Figura 3.21 mostra a malha 1 e a Tabela 3.3 -
Elementos da malha 1. mostra os detalhes dela.
Tabela 3.3 - Elementos da malha 1.
Description Value
Minimum element quality 0.2591
Average element quality 0.7337
Hexahedral elements 915
Quadrilateral elements 1006
Edge elements 323
Vertex elements 42
31
Figura 3.21 - Malha 1.
A malha 2 possui 9856 elementos hexaédricos e 4272 quadriláteros e é mais
refinada (Figura 3.22). A Tabela 3.4 mostra os detalhes da malha 2.
Tabela 3.4 - Elementos da malha 2.
Description Value
Minimum element quality 0.1093
Average element quality 0.6212
Hexahedral elements 9856
Quadrilateral elements 4272
Edge elements 558
Vertex elements 44
32
Figura 3.22 - Malha 2.
Os pontos de análise de tensão foram escolhidos baseados no experimento. Um
ponto no meio do cp e outros espaçados em um lado ao longo da parte mais fina, como
mostrado na figura, só de um lado já que o cp é simétrico. Estes são os pontos 18, 20,
22 e 24, representados na Figura 3.23, da esquerda para a direita, nesta ordem ao longo
do eixo x positivo. Para o resultado final, foram extraídos os dados dos pontos que
melhor representaram o encontrado no experimento real. Espera-se que os valores dos
4 pontos sejam parecidos, já que a seção é constante. A menos que haja uma estricção
perto deles, então o valor neste ponto seria maior que o dos outros pontos, já que a
estricção concentra tensões.
No ensaio de tração experimental é feita a curva tensão-deformação de
engenharia, portanto é esperado que as tensões na simulação sejam um pouco maiores.
33
Figura 3.23 - Pontos 18, 20, 22 e 24 de análise de tensão e deformação do cp normalizado.
3.3.2 Configurações de simulação do cp
digitalizado
As condições de contorno do cp digitalizado foram as mesmas do normalizado:
uma das faces com a normal paralela ao eixo z com deslocamento zero e a oposta a
ela com velocidade prescrita. Como as simulações no osso foram feitas depois de fazer
no cp normalizado, a prescrição de força já havia sido descartada por tornar o arquivo
pesado e a simulação demorada. A Figura 3.24 mostra as faces onde as condições de
contorno foram aplicadas.
34
Figura 3.24 - Condições de contorno no corpo de prova digitalizado. a) uma das faces com a sua normal
paralela ao sentido da tração fixada, de deslocamento zero; b) e a outra face paralela a esta de
velocidade prescrita, simulando o ensaio tração experimental
A malha do cp digitalizado, denominada 3, é composta por 9879 elementos
tetraédricos e 3762 elementos triangulares. Os detalhes podem ser vistos na Tabela
3.1. Na Figura 3.25 é possível ver a malha 3.
Tabela 3.5 - Elementos da malha 3.
Description Value
Minimum element quality 0.2223
Average element quality 0.6228
Tetrahedral elements 9879
Triangular elements 3762
Edge elements 351
Vertex elements 44
35
Figura 3.25- Malha 3.
Os pontos de análise do cp digitalizado foram os mostrados na Figura 3.26.
Quatro pontos espaçados de um dos lados do cp. Os pontos foram escolhidos por
correspondência à posição dos pontos do cp normalizado, porém é esperado que a
irregularidade deste cp torne difícil a modelagem matemática do experimento, porque
no ensaio de tração é considerada uma seção constante pela máquina.
Figura 3.26 - Pontos de análise de tensão e deformação do cp digitalizado.
36
4 Resultados e discussões
Nesta seção serão apresentados os resultados das medições dos cps, do ensaio
de tração e da simulação numérica.
4.1 Análise dimensional dos cps
A análise dimensional é importante porque os resultados do ensaio de tração
dependem de as medidas dos corpos de prova serem verdadeiras. Após a impressão
dos cps estes foram medidos com um paquímetro digital. Na Tabela 4.1 estão
mostradas a espessura e largura dos cps de ABS e na Tabela 4.2, dos cps de PA.
De acordo com os requisitos da norma ASTM D638, a dimensão da espessura
usada no modelo STL do cp normalizado foi 3,2 mm e o erro admissível é ± 0,4 mm,
sendo assim, todos os cps normalizados atenderam este requisito. Os cps digitalizados
tem larguras diferentes e este critério não é aplicável. Os desvios padrão da espessura
para os cps de PA ficaram abaixo de 0,1 mm e estão também estão de acordo com as
especificações da norma ASTM F3091/F3091M-14. Porém, os cps de ABS não
cumpriram este critério.
As dimensões de largura devem estar dentro de 6,00 ± 0,05 mm de acordo com
as especificações da norma ASTM D638, no entanto, todos os cps impressos,
normalizados e digitalizados, ficaram acima deste requisito. A contração após
impressão não é especificada, o que torna difícil obter dimensões tão próximas às
especificações desta norma. No entanto, os desvios padrão atendem às especificações
da norma ASTM F3091/F3091M-14.
Tabela 4.1 - Análise dimensional dos cps de ABS.
Cps ABS Média Espessura (mm)
Desvio padrão (mm)
Média Largura (mm)
Desvio padrão (mm)
Normalizado 3,34 0,03 6,14 0,02
10_04_Digitalizado 12,12 0,32 6,43 0,13
12_03_Digitalizado 11,78 0,26 6,40 0,10
07_02_Digitalizado 10,41 0,35 6,47 0,08
37
Tabela 4.2 - Análise dimensional dos cps de PA.
Cps PA Média Espessura (mm)
Desvio padrão (mm)
Média Largura (mm)
Desvio padrão (mm)
Normalizado 3,53 0,04 6,11 0,12
7_02_Digitalizado 11,34 0,04 6,35 0,04
10_04_Digitalizado 14,05 0,08 6,39 0,05
12_03_Digitalizado 12,53 0,10 6,33 0,08
4.2 Ensaio de tração
Os resultados do ensaio de tração dos corpos de prova normalizados e
digitalizados encontram-se na Tabela 4.3 e na Figura 4.1 para ABS e na Tabela 4.4 e
Figura 4.2 para PA. Nelas dispõem-se os valores de tensão máxima, tensão de
escoamento e módulo de elasticidade e o valor médio e seu respectivo desvio padrão.
Os valores para os cps digitalizados são valores aparentes, apenas para comparação e
entendimento da influência da geometria complexa já que o processo de fabricação e o
material foram os mesmo do cp normalizado e as propriedades mecânicas encontradas
neste são as que realmente correspondem às propriedades do material. Porém para
facilidade de compreensão e comparação os mesmos nomes serão utilizados.
A tensão máxima média foi de 20 MPa, para os cps normalizados de ABS, e foi
de 39,5 Mpa para o de PA. A tensão de escoamento foi de 18 MPa e 20,3 MPa e o
módulo elástico foi de 1275 MPa e 1418 Mpa, para cps de ABS e PA respectivamente.
Os cps digitalizados de ABS apresentaram valores inferiores aos valores
normalizados tanto na tensão máxima como na tensão de escoamento e similares entre
si. Os cps digitalizados de PA apresentaram valores perto dos valores normalizados
tanto na tensão máxima como na tensão de escoamento, porém os Cps 7 e 10 foram
mais similares entre si.
Devido a irregularidade na espessura dos cps digitalizados não foi possível usar
um clip gage, porém a medição só pela máquina foi considerada suficiente. Apesar disto,
houve uma pequena diferença entre os cps digitalizados, que portanto é devido à
geometria do cp. Não foram encontrados resultados na literatura para o ABS impresso
neste preenchimento que foi utilizado neste trabalho. No entanto, o objetivo foi avaliar a
geometria e não a propriedade do material, uma vez que todos os cps foram construidos
com a mesma metodologia e apresentam a mesma estrutura e nível de preenchimento.
38
Tabela 4.3 - Média dos valores de tensão máxima, tensão de escoamento e módulo de
elasticidade dos cp de ABS encontradas no ensaio de tração.
Cps ABS
Media da Tensão
Máxima (MPa)
Desvio padrão
(MPa)
Média da Tensão
de Escoamento
(MPa)
Desvio Padrão
(MPa)
Média do Módulo
de Elasticidade
(MPa)
Desvio Padrão
(MPa)
Normalizado 20 ± 1 18 ± 2 1275 ± 210
10_04_Digitalizado 17 ± 1 16 ± 1 -
12_03_Digitalizado 14 ± 1 9 ± 2 -
07_02_Digitalizado 16 ± 1 14 ± 1 -
Tabela 4.4 - Média dos valores de tensão máxima, tensão de escoamento e módulo de
elasticidade dos cp de PA encontradas no ensaio de tração.
Cps PA
Media da Tensão
Máxima (MPa)
Desvio padrão
(MPa)
Média da Tensão
de Escoamento
(MPa)
Desvio Padrão
(MPa)
Média do Módulo
de Elasticidade
(MPa)
Desvio Padrão
(MPa)
Normalizado 39,5 ± 1,29 20,3 ± 0,96 1418 ± 32,25
7_02_Digitalizado 38,5 ± 0,58 26,0 ± 0,13 396 ± 9,25
10_04_Digitalizado 40,5 ± 0,58 27,5 ± 0,58 440 ± 9,47
12_03_Digitalizado 33,3 ± 1,26 21,8 ± 0,96 358 ± 22,07
39
Figura 4.1 - Média da tensão máxima e de escoamento dos corpos de prova de PA.
Figura 4.2 - Média do módulo de elasticidade dos corpos de prova de PA.
Na Figura 4.3 e Figura 4.4 observam-se as curvas de tensão versus deformação
dos cps de ABS e PA respectivamente. Para os dois materiais todas as curvas
apresentaram comportamentos similares e reprodutíveis para cada cp analisado. Para
o ABS, no entanto, nenhum apresentou comportamento similar aos corpos de prova
normalizados. Já para o PA, o comportamento global dos digitalizados é mais
semelhante entre si do que semelhante com o normalizado.
Na curva da Figura 4.4 é possível notar que no início do experimento houve uma
irregularidade devido ao acomodamento dos corpos de prova na garra especial.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Normalizado 7_02_Digitalizado 10_04_Digitalizado 12_03_Digitalizado
MP
a
Média da tensão máxima e de escoamento PA
Media da Tensão Máxima (MPa) Média da Tensão de Escoamento (MPa)
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
Normalizado 7_02_Digitalizado 10_04_Digitalizado 12_03_Digitalizado
MP
a
Média do Módulo de Elasticidade PA (MPa)
40
Figura 4.3 - Curvas tensão x deformação dos cps de ABS.
Figura 4.4 - Curvas tensão x deformação dos cps de PA.
0 2 4 6 8 10
0
5
10
15
20
25
Tensão (
MP
a)
Deformação (%)
cp Normalizado
cp 12_3 Digitalizado
cp 7_2 Digitalizado
cp 10_4 Digitalizado
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Te
nsã
o (
MP
a)
Deformação (%)
7_1
7_2
7_3
7_4
10_1
10_2
10_3
10_4
12_1
12_2
12_3
12_4
Norm_1
Norm_2
Norm_3
Norm_4
Curva tensão x deformação
41
Da comparação das duas pode-se concluir que, devido aos poros internos dos
cps de ABS gerados pelo processo de impressão por modelagem de material fundido,
a curva gerada no ensaio de tração dificulta o objetivo deste trabalho. Estes poros
também dificultariam a simulação numérica. Portanto, a partir deste ponto somente os
cps de PA foram considerados.
4.3 Simulação numérica
4.3.1 Casos de 1 ao 3
A Figura 4.5 mostra a curva tensão-deformação dos casos de 1 a 3. Para melhor
visualização, foi plotada a curva experimental do cp que mais representou a curva
média. Os 3 modelos representaram bem a parte elástica. O modelo com velocidade
prescrita e tensão máxima de 43MPa foi o que melhor se aproximou da curva
experimental. O modelo configurado para tensão de escoamento igual a 25MPa só
descreveu bem a parte elástica, não alcançando tensões maiores que 23 MPa. É
possível notar que todos os modelos perfeitamente plásticos não conseguiram
descrever bem a suavização da curva (escoamento inicial), após passar a parte elástica
da curva, esta se mantém praticamente constante, o que era esperado para este tipo de
modelo. O caso com força prescrita foi descartado após essa simulação porque era
muito pesado, porém nesta simulação ele cai a tensão rapidamente na deformação de
16%. Isto se deve ao fato de ter sido formado uma estricção em outro ponto durante a
simulação, concentrando as tensões nesta posição e aliviando as tensões no ponto de
análise. Este processo não ocorreu nos outros casos porque a estricção ocorreu em
outra posição. Para fins de comparação, a ideia era analisar pontos onde ocorresse a
42
estricção, já que no experimento a área do cp foi considerada constante, uma média
dos valores medidos pelo paquímetro, como descrito no capítulo 4 seção 4.1.
Figura 4.5 - Curva tensão-deformação dos casos 1 ao 3.
A Figura 4.6 mostra a distribuição de tensão dos 3 casos. É possível observar que
os 3 fazem um empescoçamento, conforme visto no experimento. Os casos 2 e 3
apresentaram máximas tensões de 43 MPa e o caso 1 de 25 Mpa, como esperado.
43
Figura 4.6 - Tensões resultantes da simulação dos casos 1 ao 3.
4.3.2 Caso 4
Para este caso a malha usado foi a malha 2, foi colocada essa malha para que o
campo de tensões fosse melhor descrito, talvez no empescoçamento dos casos
anteriores estivéssemos perdendo alguma informação com a malha menos refinada.
Porém não foi vista melhora alguma com esta nova malha, só aumentou o tempo de
simulação.
Como mostra a Figura 4.7, a curva tensão deformação descreve bem a parte
elástica, como nos modelos anteriores. Após esta seção, a curva diminui o acréscimo
de tensão, porém não se mantém constante como nos anteriores, ela aumenta a tensão
praticamente linearmente. No entanto, a suavização da curva ocorrida
experimentalmente não ocorreu na simulação. O modelo configurado para tensão de
escoamento de 35 MPa foi o que mais se aproximou dos resultados experimentais.
Pode-se dizer que o modelo de endurecimento isotrópico de Hockett-Sherby descreveu
este processo um pouco melhor.
44
Figura 4.7 - Curva tensão-deformação do caso 4.
O campo de tensão do modelo com 𝜎𝑦 = 35 MPa no final da simulação pode ser
visto na Figura 4.8. O maior ponto de tensão obteve 40 MPa ao final da simulação.
Figura 4.8 - Tensões resultantes da simulação do caso 4.
45
4.3.3 Caso 5
O último caso do cp normalizado é o de viscoplasticidade com modelo de
endurecimento isotrópico de Hockett-Sherby, o modelo mais complexo estudado (como
explicado no capítulo 2). Neste foi usada a malha 1 novamente já que a malha 2 não se
mostrou melhor. O caso 5 foi o que mais se aproximou dos resultados experimentais,
houve uma suavização da curva, porém menor do que no experimento. Neste estudo 2
parâmetros do modelo de Chaboche foram variados em 10% cada, e as 4 combinações
deles foram plotadas. Na Figura 4.9, essas curvas são mostradas. As combinações de
parâmetros que pareceram ser melhores foram as representadas pelas curvas
pontilhadas.
Figura 4.9 - Curva tensão-deformação do caso 5.
Na Figura 4.10 está apresentado o campo de tensão. Não houve estricção do
cp, que pode ser explicado pela parte viscosa acrescentada por este modelo. O maior
ponto de tensão alcançou 52MPa,
46
Figura 4.10 - Tensões resultantes da simulação do caso 5.
4.3.4 Casos do 6 ao 8
Os casos do 6 ao 8 correspondem aos modelos perfeitamente plásticos. Pode-se
observar da Figura 4.11 que os modelos com módulo elástico do material se
aproximaram mais da curva experimental do cp normalizado. Isso acontece porque na
parte elástica, o modelo matemático usado “obriga” a malha a seguir uma lei que é
determinada pelo módulo elástico. Porém ao chegar no escoamento a simulação
diverge. O modelo configurado com 𝜎𝑦 tenta escoar a 25 MPa e o configurado com 𝜎𝑢𝑙𝑡
tenta escoar a 43 MPa. Após observar os casos 5 e 6, a simulação foi configurada para
ter o módulo elástico do experimento, caso 8. A curva realmente se aproximou da
experimental na parte elástica, mostrando uma maior similaridade com o experimental.
No entanto, o modelo divergiu ao chegar nos 21 MPa.
47
Figura 4.11 - Curva tensão-deformação dos casos 6 ao 8.
O campo de tensões ao final da simulação está na Figura 4.12. O caso 6 parece
corresponder melhor ao experimental, já que as tensões estão concentradas na seção
mais fina, a seção em que houve a fratura, porém não é possível concluir com certeza
pois o modelo divergiu antes de escoar. É possível notar que os cps de osso têm altas
tensões na parte mais larga do cp, no início da tração, o que não acontece com o cp
normalizado.
Foi observado também que esses cps se deslocaram do eixo z, eixo de tração.
Como ambas as faces onde as condições de contorno foram aplicadas são
perpendiculares, esse deslocamento nos leva a pensar que a geometria complexa fez
com que parte da força de tração gerasse outros tipos de tensão, diferentes da normal.
48
Figura 4.12 - Tensões resultantes da simulação dos casos 6 ao 8.
4.3.5 Caso 9
O último caso estudado é o de endurecimento isotrópico de Hockett-Sherby. A
Figura 4.13 mostra que esse modelo também não conseguiu reproduzir bem as tensões
vistas no experimento. A parte elástica é bem representada, porém a simulação tem um
pico bem alto de tensão, poderia ser um ponto isolado, porém estes gráficos são dos 4
pontos de medição, mostrando que é algo mais global. Após esse pico a curva diminui
bruscamente as tensões e a simulação diverge logo em seguida.
49
Figura 4.13 - Curva tensão-deformação do caso 9.
A Figura 4.14 apresenta as tensões no osso 12. A posição de concentrações é
coincidente com o lugar da fratura e o valor máximo de aproximadamente 26 MPa
também é bem próximo do experimental.
Figura 4.14 - Tensões resultantes da simulação do caso 9.
50
5 Conclusões
Foi possível reproduzir e imprimir geometrias a partir das imagens digitalizadas de
corpos de prova usinados do tecido ósseo cortical, com resolução de 0,0012 mm
alcançada com o dispositivo de escaneamento. A análise dimensional de espessura dos
cps normalizados atendem aos requisitos da ASTM D638. A análise dimensional da
largura não atende ao requisito da D638 para nenhum cp impresso, porém atende às
especificações da norma ASTM F3091/F3091M-14.
Os cps de ABS e de PA foram impressos com dimensões equivalentes por
manufatura aditiva, porém o preenchimento e organização interna da técnica de
deposição de material fundido não foi suficiente para a análise deste trabalho. A técnica
de sinterização seletiva à laser mostrou fabricar cps com uma densidade mais alta e
com menor quantidade de poros, portanto esta técnica foi mais adequada para os
objetivos do projeto.
No ensaio de tração os cps digitalizados tiveram a curva tensão-deformação
diferente da curva dos cps normalizados, como era esperado.
Foi possível concluir que a geometria complexa dos cp 7 e 10 não mudou a curva
tensão-deformação no sentido de tensão máxima em relação ao cp normalizado, já o
cp 12 obteve uma tensão máxima menor que do cp normalizado. Os módulos elásticos
dos cps digitalizados foram bem próximos entre si, porém menores que o do cp
normalizado aproximadamente 3 vezes. Portanto a geometria complexa desses cps
diminuiram a derivada da curva tensão-deformação da parte elástica.
Na simulação numérica o caso que melhor se aproximou das curvas experimentais
para os cps normalizados foi o 9, o caso de viscoplasticidade de Chaboche com
endurecimento isotrópico de Hockett-Sherby.
Porém não se conseguiu modelar bem o início do escoamento e não houve o
empescoçamento conforme visto no ensaio de tração. Os que melhor representaram a
forma de rotura o empescoçamento visto experimentalmente foram os casos
perfeitamente plástico e de Hockett-Sherby em que a viscoplasticidade não foi
considerada.
A simulação numérica do cp digitalizado 12 divergiu na maioria dos casos
estudados em 20s de simulação. O melhor caso, o 9 (modelo de endurecimento
51
isotrópico de Hockett-Sherby), só conseguiu descrever bem a parte elástica. No entanto,
obteve um campo de tensão mais coerente com as fraturas vistas experimentalmente.
Portanto a curva tensão-deformação do cp normalizado pode ser descrito melhor
por um modelo de viscoplasticidade de Chaboche com endurecimento isotrópico de
Hockett-Sherby, quando comparado com outros modelos mais simples como os
modelos de plasticidade perfeitamente plástico e com encruamento isotrópico não linear
de tipo Hockett Sherby. Por outro lado, a curva tensão-deformação do cp digitalizado
não obteve uma modelagem satisfatória.
52
6 Sugestão para projetos futuros
As sugestões para os trabalhos futuros são:
• Fazer uma análise de convergência para uma melhoria na simulação do
corpo de prova da amostra de tecido ósseo 12.
• Fazer as simulações das outras amostras de corpos de prova derivados do
tecido ósseo digitalizados.
• Utilizar outras condições de contorno nas simulações numéricas dos
corpos de prova mais próximas das condições de experimento.
• Comparar os efeitos que a geometria complexa causou na curvas tensão-
deformação do corpo de prova de poliamida (PA) com os resultados
obtidos no ensaio de tração do tecido ósseo real para a validação das
propriedades mecânicas do tecido ósseo.
53
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