O Independência e a dependência: análise histórica da ... · problematizando suas posições...
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[REVISTA CONTEMPORÂNEA – DOSSIÊ HISTÓRIA & ESPORTE] Ano 4, n° 4 | 2014, vol.2 ISSN [2236-4846]
O Independência e a dependência: análise histórica da cobertura
jornalística em tempos de preparativos para a IV Copa do Mundo de
futebol (1950) em Belo Horizonte/MG
Euclides de Freitas Couto*
Marcus Vinícius Costa Lage**
Karen dos Santos Lima***
Resumo
A preparação para a Copa do Mundo de futebol no Brasil em 1950 pode ser
problematizada a partir das diretrizes formuladas pelos EUA para o novo concerto
mundial pós-Guerra, pautadas, sobretudo, na liberdade do capital estrangeiro, que
encontravam ressonância nas exigências e ingerências da FIFA. Desejoso de
despontar como nação preeminente no cenário internacional, o Brasil estreitou laços
diplomáticos com os EUA e abriu portas para o capital externo. No sentido de
compreender a realização desse evento no contexto da reordenação política, o
presente artigo, ao tomar a cidade de Belo Horizonte/MG como estudo de caso, se
propõe a analisar historicamente a cobertura do jornal Estado de Minas
problematizando suas posições ideológicas no bojo do novo modelo político adotado
pelo país.
Palavras-chave: Copa do Mundo de futebol; distensão capitalista internacional;
formação da opinião pública.
Abstract
The preparations for the 1950 Football World Cup in Brazil can be problematized
from the guidelines prepared by the US for the new world post-war concert, guided,
above all, by the freedom of foreign capital, which found its resonance in FIFA’s
demands and interference. Eager to emerge as a prominent nation in the international
arena, Brazil narrowed diplomatic ties with the US and opened doors to foreign
capital. In order to understand the significance of this event in the context of political
realignment, the present article, taking the city of Belo Horizonte/MG as a case study,
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proposes to historically analyze the newspaper Estado de Minas’ coverage,
problematizing their ideological positions in the core of the new political model
adopted by the country.
Keywords: Football World Cup; international capitalist strain; shaping public
opinion.
O período demarcado pelo final da década de 1930 e o princípio dos anos
1940 se caracterizou por transformações políticas internacionais que tiveram inúmeras
repercussões no campo esportivo. Nos países em que o esporte, mais precisamente o
futebol, se configurava como um fenômeno cultural de massa, observamos sua
cooptação política, especialmente, por parte de governos ditatoriais, que os utilizavam
para propagar as doutrinas oficiais.
A Alemanha nazista, por exemplo, recebeu os Jogos Olímpicos de 1936,
transformando os resultados obtidos por seus atletas em seu aparato de propaganda
ideológica. O mesmo havia sido feito pela Itália fascista que sediou e venceu a Copa
do Mundo de futebol em 1934. Para essas nações, participar, sediar e vencer uma
competição esportiva passou a servir “[...] como palco para a catalisação e
dramatização das mais variadas formas de nacionalismo.” (COUTO, 2014, p. 40-41)
A Copa do Mundo de futebol de 1938, realizada na França às vésperas do
conflito internacional conhecido como Segunda Guerra Mundial (1939-1945), é
emblemática nesse sentido, já que foi caracterizada por tensões futebolísticas, a se
iniciarem na época da definição do país sede. A escolha por um país europeu ocorreu
em detrimento da candidatura argentina, não respeitando o princípio do rodízio entre
os continentes1 estabelecido pela Fédération Internationale de Football Association
* Doutor em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), professor adjunto da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). ** Mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas) e bolsista de apoio técnico da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). *** Bolsista PIBIC-CNPq/ Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). 1 De acordo com tal princípio, as sedes da Copa do Mundo de futebol deveriam se alternar entre o continente europeu e americano. Respeitando tal princípio, a primeira edição da competição foi realizada no Uruguai em 1930, enquanto a segunda edição ocorreu na Itália em 1934.
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(FIFA) e seus associados. Em função disso, o continente americano foi representado
apenas por Brasil e Cuba, uma vez que “[...] a Argentina liderou a desistência de oito
outros países americanos” (FRANCO JÚNIOR, 2007, p. 51).
Além disso, há poucos meses do início da competição, a Alemanha anexou a
Áustria que, por isso, não participou do evento com sua seleção e viu alguns de seus
jogadores serem convocados a representar o país vizinho. Por fim, o bicampeonato
italiano reforçou a propaganda política realizada pelo governo fascista quatro anos
antes.
Como era (e ainda é) de praxe, concomitantemente à realização do Mundial de
futebol, a FIFA convocou seus associados para seu Congresso a ser sediado em Paris.
A pauta, dentre outros assuntos, era a organização da próxima Copa do Mundo, a ser
realizada no ano de 1942. Duas candidaturas oficiais foram lançadas na ocasião: uma
sustentada por delegados brasileiros (A INAUGURAÇÃO..., 1950, p. 38) membros
da Confederação Brasileira de Futebol (CBD), e outra pela Alemanha nazista
(CALOROSO..., 1947, p. 11) interessada em realizar novamente um evento esportivo
internacional em seu país.
Entretanto, a FIFA não oficializou sua decisão, optando por fazê-la dois anos
depois, em 1940. Segundo Franzini (2010), há divergências na bibliografia que, ora
apresenta que a FIFA havia encaminhado sua escolha pelos alemães, tendo em vista
que este país já possuía a infraestrutura necessária para realizar o evento, ora pela
escolha do Brasil. Com a eclosão da Guerra, a entidade futebolística suspendeu a
realização de seus Congressos, bem como da própria Copa do Mundo, que, assim, não
contou com suas edições previstas para os anos de 1942 e 1946.
A retomada das atividades da entidade supranacional ocorreu em 1946, com a
convocação de um novo Congresso sediado em Luxemburgo, país neutro e pouco
atingido durante o conflito internacional. O principal interesse da FIFA era organizar
e poder realizar novamente a Copa do Mundo de futebol, prevista para julho de 1949,
que, desta vez, contava com a candidatura única do Brasil apoiada pelos demais
países sul-americanos. A Alemanha, que se candidatara como sede no Congresso de
1938, não só encontrava-se devastada, como também sofria uma série de condenações
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nas Conferências de Paz pós-Guerra, que culpavam o país pelo confronto bélico e,
consequentemente, exigiam do Estado alemão o pagamento de indenizações aos
países Aliados2 (MOURA, 1990). A FIFA, imbuída dessa mesma linha de raciocínio,
ameaçou excluir a entidade alemã de seus quadros (FRANZINI, 2010).
A escolha do Brasil para sediar a IV Copa do Mundo de futebol, contudo, não
pode ser justificada apenas por uma possível incapacidade europeia em sediar o
evento em função dos estragos que a Guerra provocou no continente. Tal fator não
impediu, por exemplo, que os Jogos Olímpicos se realizassem na Inglaterra em 1948,
antes mesmo da realização da Copa do Mundo no Brasil. A decisão da FIFA
correspondia, portanto, a uma posição política da própria entidade, que relacionava-se
tanto ao campo esportivo quanto ao rearranjo geopolítico internacional vivenciado
após 1945, destacando-se, nesse último aspecto, o processo de distensão do
capitalismo internacional, cujos principais pressupostos se vinculavam à reprodução
do liberalismo econômico e à consolidação de alianças políticas nas frágeis
democracias sul-americanas.
Nessa perspectiva, a opção de se analisar a cobertura da grande imprensa
mineira sobre o evento deve-se, especialmente, ao seu papel político que,
indubitavelmente, contribuiu para a legitimação das ações do poder público ao longo
do período de preparação para a Copa do Mundo de 1950. Ao figurar como um dos
principais atores sociais nesse cenário, parte-se da hipótese de que a grande imprensa,
em sua maioria, esteve a serviço dos mais proeminentes grupos políticos do país, uma
vez que o teor ideológico dos seus discursos apresentava-se afinado com o projeto
liberal-capitalista encampado pelo governo brasileiro. Outrossim, a formação da
opinião pública em torno da realização do evento internacional no país dependia,
necessariamente, do aval e do apoio dos veículos de imprensa, cuja contribuição se
tornara essencial em virtude dos desdobramentos políticos que eclodiram ao longo do
período de organização.
2 Os principais países considerados Aliados na Segunda Guerra Mundial eram Estados Unidos da América (EUA), Grã-Bretanha e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Opunha-se a eles o Eixo, composto, basicamente, pela Alemanha, Itália e Japão.
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Para os desideratos desse artigo, o corpus documental analisado se resume às
publicações do Estado de Minas entre os anos de 1949 e 1950, um jornal de
periodicidade diária da cidade de Belo Horizonte/MG. Seu conteúdo era diversificado
e ilustrado, com vistas à ampliação e diversificação do público leitor. Em sintonia
com os pressupostos conceituais propostos por Tânia de Luca (2005), o Estado de
Minas pode ser considerado, naquele contexto, um periódico profissionalizado, com
organização empresarial em busca de produtividade e lucro. As tradicionais
reportagens, entrevistas e artigos políticos mesclavam-se com seções especializadas
de esportes, vida social e cultural, e crítica literária, cujo objetivo central era “[...]
atender aos anseios da crescente classe média urbana e dos novos grupos letrados.”
(LUCA, 2005, p. 138)
Por ser parte da cadeia de imprensa denominada Diários Associados, o Estado
de Minas adotava o posicionamento político de seu proprietário, Assis Chateaubriand.
Desde meados da década de 1920, Chateaubriand mostrara-se inclinado a apoiar um
modelo de desenvolvimento econômico baseado no capital externo. O primeiro
periódico que adquiriu em 1924, O Jornal, o serviu como plataforma de ataque ao
então presidente da República, Artur Bernardes (1922-1926). Durante seu mandato
como presidente de Minas Gerais (1918-1922), Bernardes proibiu que uma empresa
norte-americana explorasse jazidas de ferro no Estado, empresa à época defendida
pelo advogado Chateaubriand (LUCA, 2008).
Pode-se dizer, portanto, que, no contexto pós-Guerra, os Diários Associados,
incluindo o Estado de Minas, apoiaram o alinhamento brasileiro ao “bloco capitalista”
e, sobretudo, às propostas norte-americanas de desenvolvimento econômico pautado
na livre circulação do capital externo. Nesse sentido, o Estado de Minas torna-se uma
fonte histórica privilegiada no que diz respeito à análise da posição política adotada
pelo governo federal e também pelo poder público belo-horizontino, ao longo do
período dos preparativos e da realização da IV Copa do Mundo de futebol.
Para tanto, o artigo é apresentado em duas seções: a primeira se dedica a
realizar uma breve digressão histórica com vistas a elucidar o cenário político
internacional, nacional e local no período de organização da IV Copa do Mundo de
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futebol, buscando localizar a posição dos principais atores sociais envolvidos com o
evento, quais sejam a FIFA, o Governo brasileiro e a Prefeitura de Belo Horizonte. A
segunda seção se propõe a analisar propriamente as fontes primárias, ou seja, a
cobertura jornalística, cujo conteúdo fornece o material necessário para compreensão
das particularidades que envolveram as querelas políticas em torno da organização do
evento.
1. FIFA vs. Brasil: a Copa do Mundo e o jogo de interesses no processo de distensão do
capitalismo internacional
No período pós-Guerra, a FIFA havia se consolidado como um organização
privada com grande reconhecimento internacional. Em relação à realização da IV
Copa do Mundo é possível observar que, primeiramente, a entidade objetivava
unificar as principais nações praticantes de futebol no mundo sob suas bases
regulamentares. Frente ao desempenho expressivo das seleções e dos clubes de
futebol da Argentina, do Brasil e do Uruguai, o continente sul-americano tornava-se
um território estratégico para a Federação Internacional. Diante da escolha da França
como sede da III Copa do Mundo de futebol (1938) em detrimento da candidatura
argentina, bem como frente à proibição da realização de amistosos previamente
contratados entre bascos e equipes chilenas e uruguaias (1938-1939), restava à FIFA
um único e leal parceiro futebolístico no Cone-Sul (MÜRRAY, 1999). Sendo assim, é
possível “[...] afirmar que a opção da Fifa pelo Brasil tenha se dado mais pelas
mudanças que vinham ocorrendo na geopolítica da bola já havia algum tempo que
necessariamente em função de vicissitudes materiais da Europa apenas.” (FRANZINI,
2010, p. 247)
Secundariamente, mas não menos importante, o panorama político
internacional indica algumas hipóteses da escolha do Brasil pela FIFA para sediar a
primeira Copa do Mundo de futebol do pós-Guerra. Como apresenta Moura (1990),
ainda em 1944, um ano antes do término da Guerra, os principais países Aliados,
liderados e polarizados entre norte-americanos e soviéticos, iniciaram as negociações
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para um novo concerto mundial, cujo objetivo central era manter a paz mundial e
garantir a cooperação internacional frente a questões econômicas, sociais e políticas a
partir de negociações multilaterais e globalistas. Como forma de esclarecer a nova
orientação capitalista internacional norte-americana, destaca-se que, ainda durante a
Segunda Guerra, os EUA implementaram alguns planos econômicos de emergência,
que consistiam no fornecimento de altos empréstimos aos governos para financiar
projetos de desenvolvimento econômico, angariando assim, apoios diplomáticos e
militares para o conflito. A política econômica de guerra norte-americana possibilitou,
por exemplo, que países sul-americanos ampliassem consideravelmente suas balanças
comerciais, demandando bens de consumo em escala no pós-Guerra. Em função
disso, findado o conflito internacional, os norte-americanos substituíram os planos de
emergência pela criação de condições favoráveis para que estrangeiros investissem
diretamente em setores produtivos locais, removendo barreiras alfandegárias e os
regulamentos nacionais, viabilizando a livre circulação de mercadorias, a expansão do
comércio e a liquidez dos países mais desenvolvidos. Os poucos empréstimos
realizados no pós-Guerra foram destinados ao financiamento de mercados que
importavam produtos norte-americanos. Os países que se alinharam ao “bloco
capitalista” tiveram, portanto, que reorganizar sua política econômica no sentido de
garantir a liberdade de ação ao capital estrangeiro, a partir da defesa de igualdade
entre o capital nacional e o estrangeiro (MOURA, 1990).
Cabe ressaltar que o esporte espetacularizado, cuja modalidade do futebol é
parte destacada, pode ser considerado, nesse contexto, como fenômeno de interesse
do “bloco capitalista”, visto que seu desenvolvimento, desde o princípio, pautou-se na
lógica capitalista moderna, que, dentre outros aspectos, caracteriza-se pela relação
entre oferta e demanda produtiva. No campo esportivo, essa relação encerra uma
divisão social que poderia ser descrita, em linhas gerais, a partir da polarização entre
os produtores do espetáculo, ou atletas e comissão técnica, dirigentes esportivos,
jornalistas, e demais agentes responsáveis por converter financeiramente os
sentimentos dos consumidores, concebidos como espectadores/torcedores que aderem
afetivamente a uma agremiação esportiva ou a uma representação esportiva nacional
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(DAMO, 2009). Como destaca Giglio (2013), a origem da Copa do Mundo de futebol
como competição autônoma e organizada pela FIFA, ensejada desde os Jogos
Olímpicos de Paris (1924) 3, correspondia a essa preocupação em monopolizar o
potencial econômico das emoções vigentes no campo futebolístico, o que, até o ano
de 1930, era divido com o Comitê Olímpico Internacional.
As regulamentações burocráticas para realização do mundial de futebol,
estabelecidas pela FIFA desde a década de 1930 e pactuadas por seus associados,
demonstravam que essa política monopolizadora da entidade supranacional sobre a
organização do evento iam ao encontro da proposta norte-americana de distensão do
capitalismo internacional pós-Guerra, embora não fosse diretamente por ela
influenciada. Exemplo dessa lógica é o regulamento da FIFA que previa, antes
mesmo da realização das partidas de futebol, a divisão das rendas obtidas no término
da competição 4 . Ou ainda a nota publicada pela Agência Meridional do Rio de
Janeiro que denunciava o interesse da FIFA em deter “[...] o direito exclusivo de
explorar os restaurantes, bares, anuncios, irradiações e outras coisas mais no Estadio
Municipal [Maracanã], além [de já possuir o] controle [de comercialização] dos
ingressos.” (A F.I.F.A...., 1949, p. 2) Segundo a Meridional, os dirigentes da FIFA
estavam “Acostumados aos trustes e monopolios [...]” (A F.I.F.A...., 1949, p. 2) e
“[exigia] à CBD, entidade que arcará com os onus do Campeonato do Mundo,
‘exclusivamente para todas as vantagens’.” (A F.I.F.A...., 1949, p. 2) Isso porque,
desde a I Copa do Mundo realizada no Uruguai em 1930, cabia ao anfitrião o
pagamento dos deslocamentos e das hospedagens de todas as delegações participantes
do evento (MÜRRAY, 1999).
Como é perceptível, o associado da FIFA interessado em sediar o evento sabia
de antemão dessas condicionalidades e deveria cumpri-las, correndo o risco de que a
entidade “[concedesse] licença para que a Copa do Mundo se realizasse em qualquer
3 O torneio de futebol olímpico realizado em 1934 em Paris, disputado, pela primeira vez, em quatro estádios, dos quais um (Colombes) fora construído exclusivamente para a competição da modalidade esportiva, atraiu grande atenção do público, permitindo considerável arrecadação de bilheteria para os organizadores do evento. Fenômeno semelhante ocorreria quatro anos depois em Amsterdã (1928), primeiros Jogos Olímpicos a venderem espaços publicitários (GIGLIO, 2013). 4 Segundo Escobar (1949), 15% das rendas obtidas no Mundial era destinado à FIFA, 30% para a entidade organizadora e os outros 55% divididos entre as associações participantes.
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outra parte [...]” (A C.B.D...., 1950a, p. 8) caso não o fizesse. No caso brasileiro, a
candidatura empreendida pela CBD contava, desde o princípio, com o apoio do poder
público, uma vez que a maior propaganda dos próceres cebedenses consistia na
construção de um Estádio Municipal no Rio de Janeiro, o Maracanã, com capacidade
superior a 150 mil espectadores, considerado como “o maior do mundo” (FRANCO
JÚNIOR, 2007). Assim que a FIFA oficializou o Brasil como sede da IV Copa do
Mundo de futebol, João Lyra Filho, presidente do Conselho Nacional de Desportos
(CND)5, além de outros atores políticos brasileiros, cobraram a intervenção do Estado
para viabilizar a realização do evento, construindo não só o Maracanã, como também
as demais obras necessárias para que a competição acontecesse no país (FRANZINI,
2010). Nesse sentido, a escolha da FIFA pelo Brasil levava em consideração duas
questões centrais, a saber: a tradição futebolística brasileira, justificada, dentre outros
motivos, pelo terceiro lugar alcançado pelo selecionado no último mundial realizado
em 1938; e a posição política brasileira que, além de cumprir as exigências da
entidade, se comprometeu em financiar todas as despesas relacionadas ao evento,
permitindo a gerência da entidade supranacional nos lucros obtidos com a sua
realização.
Ao analisar a conjuntura política e econômica brasileira articulada ao contexto
internacional anteriormente esboçado, é possível identificar algumas evidências que
justificariam, primeiramente, a permissividade do governo brasileiro de que agentes
externos, como a FIFA, controlassem parte de suas transações comerciais, no caso,
àquelas oriundas de espetáculos esportivos. Para tanto, faz-se necessário a retomada
de alguns pontos centrais da política brasileira das décadas de 1930 e 1940 como
forma de elucidar tais evidências.
Desde 1937, o Brasil esteve submetido a um projeto político, liderado pelo
ditador Getúlio Vargas, pautado no intervencionismo em várias esferas da vida social,
cuja essência era a busca por uma nação homogênea, orgânica e funcional. O corpo
humano assumiu papel central na construção dessa nacionalidade, devendo ser
disciplinado e militarizado, apto ao trabalho, a partir da tríade higienismo, ginástica e
5 Órgão criado a partir do Decreto-lei nº 3.199 de 1941 durante a ditadura de Getúlio Vargas que se prestou a “estabelecer as bases de organização dos desportos em todo o país” (BRASIL, 1941).
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educação física. A Constituição Federal de 1937, que deu origem ao Estado Novo,
inseriu, assim, o esporte como parte do projeto político, estabelecendo a
obrigatoriedade da Educação Física, e, ao mesmo tempo, regulamentando e
incentivando a prática e as competições de esportes modernos, abrindo caminho para
a consolidação do futebol como “esporte de espetáculo” e sua constituição como um
dos símbolos da identidade nacional (COUTO, 2014).
Com a eclosão da II Guerra Mundial, a concretização de tal projeto político foi
viabilizada pelo estreitamento da aliança política e militar entre Brasil e EUA,
conduzida pela diplomacia varguista que angariou benefícios econômicos ao país a
partir da negociação internacional, como, por exemplo, a obtenção de empréstimos
vantajosos que financiaram projetos desenvolvimentistas nacionais. Em princípios da
década de 1940, o relacionamento diplomático entre Brasil e EUA se estreitou, graças
a entrada oficial dos norte-americanos na Guerra no final de 1941. Devido a sua
importância estratégica no contexto belicista, em função da sua posição geográfica e
da sua supremacia política na América do Sul, o Brasil, por meio de sua diplomacia,
negociou seu apoio aos EUA ao barganhar empréstimos vultosos que, dentre outros
projetos, financiou a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta
Redonda/RJ, conforme sinaliza Vágner Alves:
Quanto maior e mais nítida a necessidade, para os EUA, em trazer o Brasil para o estreito alinhamento político e militar, maiores as possibilidades dos decisores brasileiros em conseguir ganhos substanciais para o país, barganhando seu alinhamento (ALVES, 2002, p.99).
O apoio aos Aliados foi além da formalidade quando, em 1943 o governo
brasileiro criou a Força Expedicionária Brasileira (FEB) para participar ativamente do
conflito internacional em território europeu, enviando-a à Itália no ano seguinte
(1944).
Com o término da Guerra Mundial, a pressão liberalizadora e anti-totalitarista
do principal parceiro internacional do Brasil levou à deposição de Vargas, após este
revogar a lei da censura, restaurar a liberdade de organização política, anunciar
eleições para o fim de 1945 e tentar liderar a nova Assembleia Constituinte. O pleito
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elegeu para a presidência o general Eurico Gaspar Dutra pelo Partido Social
Democrata (PSD), apoiado pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), criado e
presidido pelo ex-ditador Vargas.
O governo Dutra (1946-1951) modificou as características da política
econômica brasileira, orientando-a a partir de princípios liberais, o que se explica, em
grande medida, em função da manutenção e maior aproximação do relacionamento
político externo com os EUA no pós-Guerra que, como apresentado, propunha que as
nações praticassem a “política econômica de portas abertas” (MOURA, 1990).
Entretanto, desta feita, a política externa não estava personalizada em figuras como a
do ex-ditador Getúlio Vargas. Aliado a isso, a conjuntura pós-Guerra fez com que o
poder de negociação do Brasil caísse drasticamente.
O Palácio do Itamaraty, órgão burocraticamente profissionalizado de
influência liberal e jurídica, voltou a ser aquele que definia os rumos diplomáticos
brasileiros, cada vez mais pró-Aliados ocidentais e aos EUA. A partir das orientações
do Itamaraty, a política externa brasileira deveria seguir as orientações dos EUA e,
secundariamente, da Grã-Bretanha, em qualquer questão relacionada a negociações
internacionais; além de se opor às iniciativas e aos regimes políticos comunistas e/ou
soviéticos, e, ao mesmo tempo, apoiar aqueles regimes anticomunistas e
antissoviéticos (MOURA, 1990).
Em sintonia com os pressupostos liberais do “bloco capitalista”, o modelo de
desenvolvimento econômico brasileiro se pautou, portanto, nas diretrizes norte-
americanas que, como destacado alhures, consistia em criar condições favoráveis para
que estrangeiros investissem diretamente em setores produtivos locais, equivalendo o
capital nacional ao externo. Fator que explicaria, em parte, a “boa vontade” do
governo brasileiro em relação às exigências e, sobretudo, ingerências da FIFA nos
negócios nacionais com a realização da Copa do Mundo no país.
A subserviência à política norte-americana também se justificava a partir de
interesses ideológicos do governo brasileiro que, a partir do alinhamento ao “bloco
capitalista” angariaria algumas vantagens políticas, como, por exemplo “[...] a
manutenção de uma posição militar única na América Latina e sua correspondente
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posição política.” (MOURA, 1990, p. 22). E, principalmente, em função de os setores
conservadores que ocupavam o poder julgarem que o alinhamento à política
estadunidense fornecia ao Brasil um status privilegiado no cenário geopolítico
internacional. Tal premissa, assentava-se, especialmente, nos pressupostos
ideológicos da Escola Superior de Guerra (ESG), dos quais o binômio segurança e
desenvolvimento, afinava-se à Doutrina Interamericana de segurança anticomunista
(VIZENTINI, 2008, p.199).
Esses interesses ideológicos brasileiros podem ser simbolicamente
relacionados aos discursos formulados em torno da realização de um evento esportivo
como a Copa do Mundo de futebol, marcado pela associação ao capitalismo
internacional e pelo forte apelo nacionalista. Ao se transformar em um hábito
moderno, o futebol tornara-se digno de ser exposto como símbolo da nação. No caso
brasileiro, a reconfiguração da prática e do consumo do futebol como espetáculo
esportivo a partir de meados da década de 1920 possibilitou a integração e
reconhecimento dos negros e demais grupos subalternos como parte importante da
cultura nacional, mesmo havendo forte cultura racista no país (FRANCO JÚNIOR,
2007).
No período do pós-Guerra, com a hegemonia do discurso de negação do
totalitarismo, o Brasil buscava esquecer seu recente passado autoritário e se
apresentar como uma nação democrática, justificando, assim, sua diplomacia pró-
EUA. A trajetória social do futebol brasileiro seria, portanto, um ótimo discurso a ser
apresentado a favor dessa imagem que pretendia se construir a respeito da nação. A
imprensa esportiva passou a apresenta-lo como um fenômeno social agregador e
democrático, que comungava classes sociais (proprietários e despossuídos, ricos e
pobres) e “raças” (negros, mestiços e brancos). Tal discurso ia ao encontro das
formulações de Gilberto Freyre e Mario Filho, incorporadas pelo Estado Novo, de
elogio à mestiçagem, que enaltecia como símbolo da nação os jogadores com
trajetórias de vida de ascensão social através da prática do futebol (COUTO, 2014).
Em função dessa popularidade, os governantes passaram a se associar com maior
evidência ao campo futebolístico, como demonstrado por Franco Júnior (2007).
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A Copa do Mundo de futebol no Brasil consagrava, portanto, esse discurso
sobre a identidade nacional pretensamente “democrático”. Além disso, a
instrumentalização política do futebol, sobretudo levando em consideração a
participação do governo na promoção do evento em questão, reforçava a tentativa do
país mostrar suas potencialidades humanas e tecnológicas, seu pleno desenvolvimento
capitalista, enfim, sua importância no plano e no novo concerto internacionais. É com
base em tal discurso que os governantes brasileiros legitimaram suas ações na
preparação, durante e após a realização do mundial de futebol no país.
Previamente programada para acontecer entre junho e julho de 1949, a IV
Copa do Mundo de futebol foi realizada no Brasil entre os dias 24 de junho e 16 de
julho de 1950 uma vez que o Comitê Organizador solicitou o adiamento da
competição dada sua proximidade com os Jogos Olímpicos de Londres em 1948
(QUEREM..., 1947). As 32 associações nacionais de futebol inscritas a participarem
das eliminatórias do Mundial de 1950 foi considerado um recorde se comparado às
três edições anteriores (PUNIÇÃO..., 1950). Apesar disso, apenas 13 das 16 vagas
para a “fase final” da competição foram preenchidas, quantidade inferior aos
mundiais de 1934 e 1938, que contaram, respectivamente, com 16 (FIFA, 1994-
2014c) e 15 (FIFA, 1994-2014b) participantes. Isso ocorreu porque, assim como a
diplomacia pós-Guerra, o “mundo da bola” também estava em turbulência.
Brasil e Itália se classificaram automaticamente para a disputa, por se
tratarem, respectivamente, do país sede e do detentor do último título da competição.
Outras quatro associações nacionais de futebol, todas sul-americanas 6 , também
classificaram-se sem precisar disputar partidas eliminatórias, dada as desistências7 da
Argentina (O MUNDIAL..., 1950a; NÃO..., 1950a), Equador (CERTOS..., 1950) e
Peru (INESPERADA..., 1950) para participarem do Mundial da FIFA de 1950. Caso
semelhante ocorreu entre as associações asiáticas de futebol. Diante da desistência da
6 A saber, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai. 7 As desistências de participação da IV Copa do Mundo de Futebol de diversas associações nacionais de futebol possuem especificidades e, portanto, não serão objeto de apreciação no presente artigo. Para uma breve e não detalhada análise dessa questão, ver Franzini (2010). As referências citadas à frente de cada país, daqui em diante, são sugestões de fontes para trabalhar as particularidades de cada um dos casos indicados.
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Birmânia e das Filipinas (SOUSA, 1950), a seleção indiana classificou-se de forma
direta para a Copa do Mundo. Entretanto, por dificuldades financeiras (SÓ..., 1950), a
Índia também se ausentou da competição.
Em função dessas desistências, oficialmente, apenas 19 associações nacionais
de futebol8 disputaram partidas eliminatórias para participar do Mundial da FIFA de
1950, realizadas entre os dias 02 de junho de 1949 e 15 de abril de 1950 (FIFA, 1994-
2014a). Destas, apenas nove9 se classificaram para a “fase final” da competição a ser
realizada no Brasil, apesar de duas delas, a saber, Escócia (VIRIA..., 1950) e Turquia
(CERTOS..., 1950), terem desistido de sua participação, mesmo após vencerem os
jogos classificatórios.
Entre maio e junho de 1950, a CBD negociava junto ao presidente da FIFA,
Jules Rimet, o preenchimento das demais vagas remanescentes (SERÁ..., 1950).
Países derrotados durante as eliminatórias foram convidados e negaram disputar o
Mundial de 1950, como o caso do Eire (atual República da Irlanda) (TAMBÉM...,
1950), da França e de Portugal (A C.B.D...., 1950; RIMET..., 1950). Destaca-se aqui
o caso francês que optou por não participar do evento por discordar da montagem da
tabela dos jogos, que os forçaria a viajar de Porto Alegre/RS à Recife/PE dentro de
poucos dias (A FRANÇA..., 1950; NÃO..., 1950b).
A questão da definição das cidades que sediaram a Copa é, por sinal, relevante
na discussão ora empreendida. As únicas cidades que desde o princípio estavam
confirmadas para receber os jogos eram Rio de Janeiro e São Paulo (PARA..., 1949),
centros urbanos que, desde os primeiros anos do século XX, tentaram monopolizar a
organização/regulamentação do futebol nacional. Em outubro de 1949, representantes
da CBD, entidade desde então sediada na capital federal, percorreram as cidades de
Belo Horizonte, Curitiba/PR, Porto Alegre, Recife e Salvador/BA para estudar a
possibilidade das mesmas sediarem a competição, considerando “[...] problemas de
8 Sendo três da América do Norte e Central (Cuba, EUA e México) um do continente asiático (Síria) e 15 do continente europeu (Escócia, Espanha, Finlândia, França, Inglaterra, Irlanda do Norte, Israel, Iugoslávia – único participante do leste europeu, Luxemburgo, País de Gales, Portugal, República da Irlanda, Suécia, Suíça e Turquia) (FIFA, 1994-2014). 9 EUA e México pela América do Norte e Central; Escócia, Espanha, Inglaterra, Iugoslávia, Suécia, Suíça e Turquia pela Europa.
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localização das delegações, capacidade dos estadios, necessidade de adaptação dos
estadios e possibilidades de renda [...]” (O MUNDIAL..., 1949c, p. 10). A capital
baiana foi a única, dentre as cinco cidades visitadas e estudadas, que não recebeu
jogos do mundial, uma vez que sua praça de esportes, o “[...] Estadio da Graça está
em precaria situação. [e] o tempo é exiguo demais para qualquer providencia que vise
a dotar o estadio de melhoramentos.” (NÃO..., 1950c, p. 10)
Entretanto, a decisão pela escolha das sedes não se restringia apenas às
questões divulgadas pela CBD. Um aspecto central dizia respeito ao envolvimento
dos poderes públicos estaduais e municipais, bem como de seus governantes, com o
evento, tanto no que diz respeito às obras infraestruturais exigidas pelo Comitê
Organizador da Copa, quanto ao pagamento de “quotas” à entidade cebedense.
Nesse cenário, assim que assumiu a Prefeitura de Belo Horizonte, Octacílio
Negrão de Lima, ex-futebolista amador nas décadas de 1910 e 1920 pelo América
Futebol Clube (FC) (PAIVA, 2012), descrito pela imprensa como “esportista cem por
cento” (ULTIMA..., 1948 citado por SANTOS, 2005) e como “o maior centro-médio
do antigo futebol mineiro” (A HISTORIA..., 1948 citado por SANTOS, 2005),
destinou verbas para os principais clubes de futebol da cidade como forma destes se
estruturarem quanto a seus Estádios. Mesmo assim, as reformas das praças esportivas
existentes não foram suficientes para o Comitê Organizador da Copa do Mundo
aprovar a realização dos jogos em Belo Horizonte.
A partir de então, o projeto de construção de um novo Estádio passou a ser
aventado, sendo definitivamente encampado pela diretoria do Sete de Setembro FC,
clube de menor expressividade da cidade, à época presidido pelo vereador Antonio
Lunardi. Batizado de Estádio Independência, em homenagem a agremiação
setembrina, a nova praça de esportes10 começou a ser construída no início de 1949.
10 A nomenclatura “praça de esportes” se justifica, pois o espaço não contava apenas com instalações futebolísticas, mas também previa-se a construção de “apartamentos para hospedagem das delegações, bem como uma esplendida cozinha, banheiros, salas medicas, de massagens, um salão nobre […]. [...] bar, departamentos médicos, secretaria e outros departamentos, como o aquatico, de basquete, volei, etc.” (DOIS..., 1950, p. 2)
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2. O jornal Estado de Minas e a organização da Copa do Mundo de 1950: diálogo entre
fonte e objeto de estudo
No intuito de legitimar seu posicionamento político, o Estado de Minas
buscou convencer a população belo-horizontina da importância internacional do
Mundial de futebol, bem como sua relevância para o país e para a própria capital
mineira. Desde meados de 1949, por exemplo, duas colunas passaram a ser publicadas
especialmente em virtude da realização da Copa do Mundo no país e frente a
possibilidade de Belo Horizonte sediar alguns de seus jogos, habituando o público
leitor da cidade com o evento que seria realizado e convencendo-o de sua
importância.
A coluna “Conhecendo o esporte no Velho Mundo”, publicada quase que
diariamente durante o segundo semestre de 1949, trazia as impressões dos enviados
Fernando Bruce e Mario Provenzano, dos “Diarios [sic] e Emissoras Associados”,
sobre o esporte, sobretudo o futebol, no continente europeu, com destaque para os
países participantes das eliminatórias da IV Copa do Mundo de futebol. Para tanto,
Bruce e Provenzano (1949a) fizeram “[...] longo giro [...] através dos principais
centros esportivos do Velho Mundo, [...] assistindo a pelo menos uma partida [de
futebol] em cada um dos lugares [...] visitado.” (p. 8) Dentre os países percorridos
pelos jornalistas dos Associados, destacam-se a Dinamarca, Escócia, Espanha, França,
Inglaterra, Irlanda, Itália, Iugoslávia, País de Gales, Portugal e Suécia.
Bruce e Provenzano costumavam apresentar a mobilização e o interesse
existentes nesses países em torno da IV Copa do Mundo de futebol e do próprio
Brasil, demonstrando a importância do evento e do país no plano internacional. Da
entrevista que fizeram com Raynar, técnico inglês da seleção sueca, por exemplo,
repercutiam que este era “[...] um grande apreciador do foot-ball [sic] brasileiro, que
[reputava] como um dos melhores do mundo." (BRUCE; PROVENZANO, 1949c, p.
8) E que “Não [tivera] ainda a felicidade de ver de perto o foot-ball brasileiro, mas
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[que] o [via] sempre nos [seus] estudos.” (BRUCE; PROVENZANO, 1949c, p. 8) Ou,
por exemplo, divulgando a mobilização espanhola que, mesmo antes de se classificar
para o Mundial, já tomava "[...] providências para a estada no Brasil, por ocasião do
proximo certame mundial." (BRUCE; PROVENZANO, 1949b, p. 8)
Como uma espécie de diário de viagem, recheado de aventura, estranhamento,
surpresas, a coluna, predominantemente ilustrada, estimulava a compra do Estado de
Minas como forma de se acompanhar a trajetória dos correspondentes brasileiros no
continente europeu. Ao mesmo tempo, os relatos de Bruce e Provenzano aguçava nos
leitores o interesse pela Copa do Mundo como oportunidade única para ver
pessoalmente aqueles jogadores descritos no jornal.
Já a coluna “O Campeonato Mundial em Foco”, ou apenas “O Mundial em
Foco”, publicada praticamente de forma diária entre meados de 1949 até o início da
competição em julho de 1950, apesar de ter tido maior período de veiculação, obteve
menos espaço que a coluna “Conhecendo o esporte no Velho Mundo”.
Diferentemente dos relatos de Bruce e Provenzano, “O Mundial em Foco” era
anônima, de caráter informativo, eventualmente ilustrada. Buscava repercutir opiniões
de diversos atores futebolísticos nacionais e internacionais sobre o evento, além de
questões relacionadas à organização da Copa (jogos eliminatórios, reuniões e
deliberações das entidades responsáveis pela competição, obras e jogos inaugurais dos
estádios), e das associações nacionais de futebol interessadas em participar do evento
(treinos, convocação de jogadores, concentração, hospedagem e deslocamento das
delegações).
A coluna “O Mundial em Foco” buscava evidenciar declarações que
enalteciam o país e suas realizações no campo futebolístico, como o discurso
proferido por Jules Rimet na França assim que retornou do Brasil onde estivera
acompanhando os preparativos locais para o evento. Editava-se, por exemplo, trechos
da fala de Rimet que descreviam o país como “grandioso” e “maravilhoso”, e,
principalmente, de suas expectativas positivas sobre a realização da competição no
Brasil, destacando tanto questões futebolísticas quanto políticas (Cf. O MUNDIAL...,
1949b, p.8).
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Trago do Brasil uma certeza: a Copa do Mundo, em 1950 registrará um sucesso jamais igualado. O futebol que os brasileiros praticam é uma coisa que tem algo de inconcebivel e tudo farão, povo, e autoridades, para que o sucesso do Campeonato do Mundo [...] seja completo. (O MUNDIAL..., 1949b, p.8)
Ao mesmo tempo, “O Mundial em Foco” rechaçava veementemente opiniões
que criticavam o país ou a organização da Copa do Mundo de 1950, acusando-as de
“[...] descredito geral contra o nosso ambiente e jogadores. [...] mentira, com o unico
intuito de desmoralizar o grande certame a ter como palco do Brasil.” (O
MUNDIAL..., 1950c, p. 9)
Afinado ao mesmo padrão discursivo da coluna “Conhecendo o esporte no
Velho Mundo”, “O Mundial em Foco” se propunha a representar a IV Copa do
Mundo de futebol como um evento de extrema relevância no plano internacional,
como pode ser observado por exemplo, na declaração de Irineu Chaves,
superintendente da CBD, que, ao retornar da Europa, onde estivera para participar
“[...] dos debates da Comissão Organizadora da Copa do Mundo [...]” (O
MUNDIAL..., 1949d, p. 9), relatou que havia
[...] intensa propaganda nos países europeus em torno do certame futebolístico que o Brasil patrocinará. [...] representantes da Exprinter em Roma e na Suíça já [estavam] tomando todas as providenciais no sentido de organizar as varias embaixadas de turismo que segundo calculos se elevarão a mais de 10 mil pessoas. (O MUNDIAL..., 1949d, p. 9)
Tais discursos, que identificavam o grande interesse da comunidade
futebolística internacional em torno da Copa do Mundo no Brasil, conjugavam-se
àqueles que buscavam apresentar o evento como promotor de melhorias e
transformações positivas para o povo brasileiro, reforçando esse processo de
convencimento público sobre a importância da realização da competição no país. Isso
fica evidente, por exemplo, quando “O Mundial em Foco” construía algumas
expectativas sobre o impacto da construção e/ou reforma dos Estádios que sediariam
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os jogos da Copa do Mundo no Brasil para a população local, como pode observado
quando a coluna tratava da inauguração do Estádio Municipal do Rio de Janeiro:
[...] no 'Estadio Municipal', o 'Zé torcedor' poderá, finalmente, assistir futebol para se divertir e não sofrer com os empurrões, apertões, falta de conforto e outras coisas mais, graças a tudo isso a coragem do prefeito Mendes de Morais, que tudo fez para cumprir a sua promessa de dar a melhor praça de desportos do mundo aos cariocas. (O MUNDIAL..., 1950b, p. 10)
Assim, os redatores e editores11 da coluna em questão representavam a Copa
do Mundo de futebol como uma espécie de divisor de águas para o espetáculo
esportivo nacional. O Maracanã, construído especialmente para o Mundial de 1950,
era propagandeado como a “melhor praça de desportos do mundo”, capaz de
proporcionar diversão com conforto e sem distúrbios comuns em espetáculos
futebolísticos, como “empurrões” e “apertões”. Segundo “O Mundial em Foco”, o
conforto, entretanto, não descaracterizaria a popularidade do futebol brasileiro, cujo
público poderia ser composto por qualquer “Zé torcedor”12.
Pari passu à publicação das colunas supracitadas, a seção de esportes do
Estado de Minas trazia diariamente ao menos uma pequena nota relacionada a
competição, contribuindo na formação dos leitores como público interessado e
desejoso pela realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil, e que, nesse
sentido, mesmo que de forma indireta, acabava por apoiar também a posição política
inerente ao evento. Além disso, sendo um veículo de comunicação com circulação
predominantemente restrita à capital mineira, a cobertura feita pelo Estado de Minas
buscou incentivar os preparativos de Belo Horizonte para a concretização da
realização da competição na cidade. Uma das principais frentes de atuação do
11 Editores também porque muitas informações publicadas eram redigidas por Agências de Notícias cariocas, sobretudo a Meridional, também de propriedade de Assis Chateaubriand e integrante da cadeia dos Diários Associados. 12 Os acidentes ocorridos nos próprios jogos da Copa de 1950 desmentiriam essa representação idílica dos novos Estádios brasileiros. Faltando ainda a realização da última rodada no dia 16 de julho, publicava-se o registro de 451 feridos dentro dos Estádios desde o início da competição, 259 deles apenas no jogo entre Brasil 6 vs. 1 Espanha, incluindo um falecimento (O LADO..., 1950); confronto esse, aliás, realizado na “confortável” e “melhor praça de esportes mundo”, o Estádio Municipal carioca.
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periódico em questão foi a campanha formulada em defesa da construção de uma
nova praça de esportes belo-horizontina capaz de atender as exigências dos
organizadores do evento. Isso porque, até o final da década de 1940, a cidade possuía
três Estádios cuja capacidade não superava 12 mil espectadores13, muito aquém aos
aproximados 40 mil lugares do Municipal paulista, o Pacaembu, ou dos mais de 150
mil lugares do Maracanã.
No final de 1949, o Estado de Minas “[...] ratificava a [...] promessa [de
Octacílio Negrão de Lima] à C.B.D., relativamente á [sic] conclusão do Estadio
Independencia [sic], do Sete de Setembro.” MARIO..., 1949, p. 9). A partir de então,
o periódico em questão iniciou uma cobertura que ora destacava os progressos da
obra, atribuindo-os aos esforços do prefeito de Belo Horizonte e, eventualmente, do
vereador Antonio Lunardi, ora cobrava mais empenho da Prefeitura e do Sete de
Setembro FC para que o mesmo ficasse pronto a contento dos organizadores do
Mundial e a tempo de realização dos jogos da competição na cidade. Em ambos os
casos, sempre se enfatizava os impactos positivos do novo Estádio, além de
considera-lo uma demanda do público futebolístico belo-horizontino e símbolo de
progresso e desenvolvimento local, reforçando nos leitores o apoio ao evento e,
sobretudo, a intervenção do poder público como sendo de fundamental importância
para a sua realização na cidade.
Os últimos meses de 1949 e janeiro de 1950 serviram, portanto, para
divulgação do desenvolvimento das obras do “monumental estadio" (BELO..., 1949,
p. 8). Na ocasião, eram feitos o plantio e demarcação do gramado, a colocação das
duas traves e a cimentação dos degraus da arquibancada (PRONTO..., 1950), o que
era considerado como “progresso dos serviços” (BELO..., 1949), “[...] transformando
o sonho de ontem na portentosa realidade de hoje.” (ONTEM..., 1949, p. 1)
13 Os três Estádios existentes em Belo Horizonte até o final da década de 1940 eram o Estádio Octacílio Negrão de Lima, ou Alameda, de propriedade do América FC; o Estádio Antônio Carlos, de propriedade do Clube Atlético Mineiro; e o Estádio Juscelino Kubitschek, pertencente ao Cruzeiro Esporte Clube (SANTOS, 2005). Mesmo diante desse cenário, dirigentes do América e do Atlético aventavam a possibilidade de receber alguns jogos do certame mundial, como fica evidenciado nas referências MARIO..., 1949 e O PREFEITO..., 1949, que indicavam a possibilidade de construção de um túnel e a reforma dos alambrados nesses Estádios por meio do financiamento da Prefeitura de Belo Horizonte.
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Permitindo o Estado de Minas afirmar categoricamente: “Belo Horizonte poderá ver
jogos da Copa do Mundo” (BELO..., 1949, p. 8)
Os informes reforçavam ainda que os trabalhos viam sendo executados por
“operários da Prefeitura” (SEIS..., 1949, p. 8) graças a iniciativa do prefeito, que “[...]
não tem poupado esforços para o apressamento dos serviços. ” (SEIS..., 1949, p. 8)
Reforçava-se, assim, o intervencionismo do governo municipal para viabilizar o
evento em Belo Horizonte, criando um discurso de eterna gratidão devida pelo Sete
de Setembro FC ao Octacílio Negrão de Lima, “[...] sem o qual os florestinos14 jamais
poderiam contar com a realidade do Independencia.” (SEIS..., 1949, p. 8); e, mais
ainda, uma espécie de “dívida” (ONTEM..., 1949) por parte da própria população
belo-horizontina com o prefeito.
Os elogios à Negrão de Lima tiveram seu ápice quando o Estado de Minas
publicou o artigo intitulado “Deus lhe pague”, de autoria de Etienne de Castro (1949),
que tecia a trajetória do Independência, desde o momento em que ainda era um
“sonho”, até se tornar definitivamente uma “realidade que brilha como uma manhã do
sol dos dias de verão” (p. 12). O articulista denunciava o ceticismo e a incredulidade
com que foi recebido inicialmente o projeto do novo Estádio, contrapondo-o a “obra
magnífica” que vinha sendo realizada, responsável por tornar o Sete de Setembro FC,
“pequeno garoto das ruas, roto e maltrapilho” em “personagem digno das atenções
gerais”. Para Castro (1949), os impactos positivos da empreitada não se restringiam
ao clube setembrino, mas deveriam ser considerados pelo esporte mineiro em geral,
uma vez que o novo Estádio representaria “[...] a propria independencia do futebol
mineiro.” (p. 12) O artigo de Castro (1949) reforçava, assim, a importância da
intervenção pública para o esporte local e, sobretudo, legitimava a atuação do prefeito
e o modelo de desenvolvimento econômico que se atrelava ao evento que seria
realizado na cidade.
Nesse período, o Estado de Minas chegou a publicar algumas especulações
sobre os preparativos para o Mundial de futebol em Belo Horizonte. Após visita de
Antonio Lunardi ao Rio de Janeiro, a seção de esportes repercutiu dois “furos”
14 Em alusão ao Bairro da Floresta, sede original do Sete de Setembro FC.
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jornalísticos que diziam respeito à definição dos jogos a serem realizados na cidade,
bem como sobre a construção do Estádio Independência. Segundo o vereador e
presidente do Sete de Setembro FC, o presidente da Federação Mineira de Futebol
(FMF), Mário Gomes, “[...] conseguiu convencer os paredros da CBD a aumentar o
numero de jogos do campeonato mundial em Belo Horizonte.” (SEIS..., 1949, p. 8);
de três para seis partidas. Além disso, Lunardi informava que “A capacidade de
lotação do Estádio Independencia será ampliada com 15 mil cadeiras de mármorite.
Destarte, ao invés de ser para 65 mil pessoas, a lotação passará a 80 mil.” (SEIS...,
1949, p. 8)
Desconsiderando as possíveis negociações existentes para concretização de
ambas as informações, fato é que o Independência jamais chegou a ter seus 40 mil
lugares inicialmente projetados (SANTOS, 2005) sequer se aproximando dos
possíveis 80 mil divulgados pelo jornal. Tampouco a cidade receberia mais do que os
três jogos previamente garantidos pela CBD 15 . Mas as declarações de Lunardi
representavam um quadro de otimismo e de propaganda quanto à realização do
Mundial em Belo Horizonte, preparando terreno para que o Estado de Minas
reforçasse a campanha de construção do Independência, convocando a população a
participar ativamente como financiadores diretos do empreendimento, quando então o
Sete de Setembro FC lançou, primeiramente, sua campanha de ampliação do número
de associados (QUARENTA..., 1949; PROPOSTAS..., 1950) e, posteriormente, de
venda das cadeiras cativas do Estádio Independência (O “COCK-TAILL”..., 1950;
113 CADEIRAS..., 1950; COOPERE..., 1950). A divulgação do andamento de ambas
as campanhas objetivava estimular e, sobretudo, representar o apoio público belo-
horizontino à construção do Independência e de realização da Copa do Mundo na
cidade.
15 Ao contrário, conforme noticiado pelo Estado de Minas, Belo Horizonte perdeu a condição de receber todos os jogos da chave da Inglaterra após a realização do sorteio da competição. Constatando-se que Inglaterra e Espanha se enfrentariam ainda na primeira fase, o referido jogo foi confirmado para acontecer no Estádio Municipal do Rio de Janeiro sob justificativa da CBD de que a importância do confronto demandaria um palco com maior capacidade de público, possibilitando maior arrecadação. Questão, aliás, que suscitou controvérsias e descontentamentos em Belo Horizonte, inclusive representando o não pagamento das “quotas” por parte da Prefeitura à CBD. Para essa questão, consultar publicações do Estado de Minas entre final de maio e início de junho de 1950.
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Essas campanhas iniciavam-se em um momento delicado para as obras do
Independência, que poderiam não ser concluídas a tempo da realização da IV Copa do
Mundo de futebol na cidade. De fato, o projeto original do Estádio dos florestinos foi
abandonado, não sendo executado o último conjunto de arquibancadas que fecharia a
“ferradura” (QUASE..., 1950), o que não impediu, contudo, que os três jogos do
Mundial previamente acordados ocorressem em Belo Horizonte 16 . As críticas e
cobranças dirigidas ao prefeito quanto ao término das obras, formuladas pelo Estado
de Minas entre fevereiro (UM TOQUE..., 1950) e março (SEMI-PARALISADAS...,
1950) de 1950, foram rapidamente substituídas pelo apoio incondicional, após a CBD
definir a tabela dos jogos e Belo Horizonte se sentir lesada com os jogos que lhe
foram destinados17.
Um dia após a abertura oficial do campeonato, em 25 de junho, o Estado de
Minas publicava uma foto aérea do Independência, considerando-o como sendo a
colaboração do futebol mineiro “[...] para o sucesso da maior iniciativa de todos os
tempos do futebol brasileiro.” (A NOSSA..., 1950, p. 2) Apesar de constatar que o
“[...] estadio [...] ainda não é o que será, [está] perfeitamente á altura de permitir jogos
de grande vulto em Belo Horizonte.” (A NOSSA..., 1950, p.2) Reconhecia-se, assim,
os problemas de organização do evento ao se indicar que o Estádio não estava
concluído, mas, ao mesmo tempo, enaltecia-se o empreendimento que colocava o
Brasil e, em especial, Belo Horizonte, em evidência internacional.
16 A saber, Iugoslávia vs. Suíça, em 25 de junho; EUA vs. Inglaterra, em 29 de junho; e Bolívia e Uruguai, em 2 de julho de 1950. 17 Sobre essa questão, consultar nota de rodapé 15.
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Considerações finais
O assunto da conclusão do Independência voltou à tona terminado os jogos do
Mundial em território belo-horizontino, mas, desta vez, as críticas e cobranças foram
balizadas pelo sucesso que teria sido a realização do evento na cidade. Pois, como
havia sido constatado, “Os jogos do Mundial no Independencia vieram provar que
Belo Horizonte estava realmente precisando de um estadio á altura de seu progresso
esportivo.” (FALA-SE..., 1950, p. 9); legitimando-se, assim, todos os preparativos
realizados para a promoção da competição na cidade.
O desfecho da cobertura da Copa do Mundo coroava, portanto, o discurso do
Estado de Minas de convencimento público sobre a necessidade de se promover o
Mundial no país e, sobretudo, na cidade de Belo Horizonte, a partir de argumentos
que demonstravam a magnitude internacional da competição, bem como sua
relevância e seus impactos positivos no âmbito nacional e local. Estas argumentações
que, como demonstrado, exigia e, simultaneamente, corroborava a intervenção
governamental no sentido de viabilizar a realização da Copa do Mundo de 1950 no
Brasil.
Por fim, cabe destacar que o conjunto das narrativas publicadas ao longo do
período analisado cumpria o papel de legitimar na opinião pública a suposta
consolidação da posição do país no “bloco capitalista”, no continente sul-americano,
em plena Guerra Fria. Ao defender a realização da Copa do Mundo, especialmente
encampando os interesses locais, a cobertura dos preparativos do evento feita pelo
Estado de Minas mostrava-se extremamente consonante ao novo modelo de distensão
do capitalismo mundial, no qual a reprodução do capital das empresas internacionais,
como o caso da FIFA, assume prioridade na agenda estatal e legitimidade na opinião
pública.
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O MUNDIAL em Foco. Em Montevidéu, um turno das eliminatorias. O
Paraguai com um bom tecnico. Regressou Barassi. Estado de Minas, Belo Horizonte,
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O MUNDIAL em Foco. O inicio do certame foi antecipado para 24 de junho.
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O MUNDIAL em Foco. Os argentinos não virão mesmo. A C.B.D. não fará
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O MUNDIAL em Foco. Será inaugurado a 25 de maio o Estadio Municipal.
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O MUNDIAL em Foco. Viajou Flavio Costa para a Europa. Observará futuros
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