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[REVISTA CONTEMPORÂNEA – DOSSIÊ HISTÓRIA & ESPORTE] Ano 4, n° 4 | 2014, vol.2 ISSN [2236-4846] O Independência e a dependência: análise histórica da cobertura jornalística em tempos de preparativos para a IV Copa do Mundo de futebol (1950) em Belo Horizonte/MG Euclides de Freitas Couto * Marcus Vinícius Costa Lage ** Karen dos Santos Lima *** Resumo A preparação para a Copa do Mundo de futebol no Brasil em 1950 pode ser problematizada a partir das diretrizes formuladas pelos EUA para o novo concerto mundial pós-Guerra, pautadas, sobretudo, na liberdade do capital estrangeiro, que encontravam ressonância nas exigências e ingerências da FIFA. Desejoso de despontar como nação preeminente no cenário internacional, o Brasil estreitou laços diplomáticos com os EUA e abriu portas para o capital externo. No sentido de compreender a realização desse evento no contexto da reordenação política, o presente artigo, ao tomar a cidade de Belo Horizonte/MG como estudo de caso, se propõe a analisar historicamente a cobertura do jornal Estado de Minas problematizando suas posições ideológicas no bojo do novo modelo político adotado pelo país. Palavras-chave: Copa do Mundo de futebol; distensão capitalista internacional; formação da opinião pública. Abstract The preparations for the 1950 Football World Cup in Brazil can be problematized from the guidelines prepared by the US for the new world post-war concert, guided, above all, by the freedom of foreign capital, which found its resonance in FIFA’s demands and interference. Eager to emerge as a prominent nation in the international arena, Brazil narrowed diplomatic ties with the US and opened doors to foreign capital. In order to understand the significance of this event in the context of political realignment, the present article, taking the city of Belo Horizonte/MG as a case study, 1

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[REVISTA CONTEMPORÂNEA – DOSSIÊ HISTÓRIA & ESPORTE] Ano 4, n° 4 | 2014, vol.2 ISSN [2236-4846]

O Independência e a dependência: análise histórica da cobertura

jornalística em tempos de preparativos para a IV Copa do Mundo de

futebol (1950) em Belo Horizonte/MG

Euclides de Freitas Couto*

Marcus Vinícius Costa Lage**

Karen dos Santos Lima***

Resumo

A preparação para a Copa do Mundo de futebol no Brasil em 1950 pode ser

problematizada a partir das diretrizes formuladas pelos EUA para o novo concerto

mundial pós-Guerra, pautadas, sobretudo, na liberdade do capital estrangeiro, que

encontravam ressonância nas exigências e ingerências da FIFA. Desejoso de

despontar como nação preeminente no cenário internacional, o Brasil estreitou laços

diplomáticos com os EUA e abriu portas para o capital externo. No sentido de

compreender a realização desse evento no contexto da reordenação política, o

presente artigo, ao tomar a cidade de Belo Horizonte/MG como estudo de caso, se

propõe a analisar historicamente a cobertura do jornal Estado de Minas

problematizando suas posições ideológicas no bojo do novo modelo político adotado

pelo país.

Palavras-chave: Copa do Mundo de futebol; distensão capitalista internacional;

formação da opinião pública.

Abstract

The preparations for the 1950 Football World Cup in Brazil can be problematized

from the guidelines prepared by the US for the new world post-war concert, guided,

above all, by the freedom of foreign capital, which found its resonance in FIFA’s

demands and interference. Eager to emerge as a prominent nation in the international

arena, Brazil narrowed diplomatic ties with the US and opened doors to foreign

capital. In order to understand the significance of this event in the context of political

realignment, the present article, taking the city of Belo Horizonte/MG as a case study,

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proposes to historically analyze the newspaper Estado de Minas’ coverage,

problematizing their ideological positions in the core of the new political model

adopted by the country.

Keywords: Football World Cup; international capitalist strain; shaping public

opinion.

O período demarcado pelo final da década de 1930 e o princípio dos anos

1940 se caracterizou por transformações políticas internacionais que tiveram inúmeras

repercussões no campo esportivo. Nos países em que o esporte, mais precisamente o

futebol, se configurava como um fenômeno cultural de massa, observamos sua

cooptação política, especialmente, por parte de governos ditatoriais, que os utilizavam

para propagar as doutrinas oficiais.

A Alemanha nazista, por exemplo, recebeu os Jogos Olímpicos de 1936,

transformando os resultados obtidos por seus atletas em seu aparato de propaganda

ideológica. O mesmo havia sido feito pela Itália fascista que sediou e venceu a Copa

do Mundo de futebol em 1934. Para essas nações, participar, sediar e vencer uma

competição esportiva passou a servir “[...] como palco para a catalisação e

dramatização das mais variadas formas de nacionalismo.” (COUTO, 2014, p. 40-41)

A Copa do Mundo de futebol de 1938, realizada na França às vésperas do

conflito internacional conhecido como Segunda Guerra Mundial (1939-1945), é

emblemática nesse sentido, já que foi caracterizada por tensões futebolísticas, a se

iniciarem na época da definição do país sede. A escolha por um país europeu ocorreu

em detrimento da candidatura argentina, não respeitando o princípio do rodízio entre

os continentes1 estabelecido pela Fédération Internationale de Football Association

* Doutor em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), professor adjunto da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). ** Mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas) e bolsista de apoio técnico da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). *** Bolsista PIBIC-CNPq/ Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). 1 De acordo com tal princípio, as sedes da Copa do Mundo de futebol deveriam se alternar entre o continente europeu e americano. Respeitando tal princípio, a primeira edição da competição foi realizada no Uruguai em 1930, enquanto a segunda edição ocorreu na Itália em 1934.

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(FIFA) e seus associados. Em função disso, o continente americano foi representado

apenas por Brasil e Cuba, uma vez que “[...] a Argentina liderou a desistência de oito

outros países americanos” (FRANCO JÚNIOR, 2007, p. 51).

Além disso, há poucos meses do início da competição, a Alemanha anexou a

Áustria que, por isso, não participou do evento com sua seleção e viu alguns de seus

jogadores serem convocados a representar o país vizinho. Por fim, o bicampeonato

italiano reforçou a propaganda política realizada pelo governo fascista quatro anos

antes.

Como era (e ainda é) de praxe, concomitantemente à realização do Mundial de

futebol, a FIFA convocou seus associados para seu Congresso a ser sediado em Paris.

A pauta, dentre outros assuntos, era a organização da próxima Copa do Mundo, a ser

realizada no ano de 1942. Duas candidaturas oficiais foram lançadas na ocasião: uma

sustentada por delegados brasileiros (A INAUGURAÇÃO..., 1950, p. 38) membros

da Confederação Brasileira de Futebol (CBD), e outra pela Alemanha nazista

(CALOROSO..., 1947, p. 11) interessada em realizar novamente um evento esportivo

internacional em seu país.

Entretanto, a FIFA não oficializou sua decisão, optando por fazê-la dois anos

depois, em 1940. Segundo Franzini (2010), há divergências na bibliografia que, ora

apresenta que a FIFA havia encaminhado sua escolha pelos alemães, tendo em vista

que este país já possuía a infraestrutura necessária para realizar o evento, ora pela

escolha do Brasil. Com a eclosão da Guerra, a entidade futebolística suspendeu a

realização de seus Congressos, bem como da própria Copa do Mundo, que, assim, não

contou com suas edições previstas para os anos de 1942 e 1946.

A retomada das atividades da entidade supranacional ocorreu em 1946, com a

convocação de um novo Congresso sediado em Luxemburgo, país neutro e pouco

atingido durante o conflito internacional. O principal interesse da FIFA era organizar

e poder realizar novamente a Copa do Mundo de futebol, prevista para julho de 1949,

que, desta vez, contava com a candidatura única do Brasil apoiada pelos demais

países sul-americanos. A Alemanha, que se candidatara como sede no Congresso de

1938, não só encontrava-se devastada, como também sofria uma série de condenações

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nas Conferências de Paz pós-Guerra, que culpavam o país pelo confronto bélico e,

consequentemente, exigiam do Estado alemão o pagamento de indenizações aos

países Aliados2 (MOURA, 1990). A FIFA, imbuída dessa mesma linha de raciocínio,

ameaçou excluir a entidade alemã de seus quadros (FRANZINI, 2010).

A escolha do Brasil para sediar a IV Copa do Mundo de futebol, contudo, não

pode ser justificada apenas por uma possível incapacidade europeia em sediar o

evento em função dos estragos que a Guerra provocou no continente. Tal fator não

impediu, por exemplo, que os Jogos Olímpicos se realizassem na Inglaterra em 1948,

antes mesmo da realização da Copa do Mundo no Brasil. A decisão da FIFA

correspondia, portanto, a uma posição política da própria entidade, que relacionava-se

tanto ao campo esportivo quanto ao rearranjo geopolítico internacional vivenciado

após 1945, destacando-se, nesse último aspecto, o processo de distensão do

capitalismo internacional, cujos principais pressupostos se vinculavam à reprodução

do liberalismo econômico e à consolidação de alianças políticas nas frágeis

democracias sul-americanas.

Nessa perspectiva, a opção de se analisar a cobertura da grande imprensa

mineira sobre o evento deve-se, especialmente, ao seu papel político que,

indubitavelmente, contribuiu para a legitimação das ações do poder público ao longo

do período de preparação para a Copa do Mundo de 1950. Ao figurar como um dos

principais atores sociais nesse cenário, parte-se da hipótese de que a grande imprensa,

em sua maioria, esteve a serviço dos mais proeminentes grupos políticos do país, uma

vez que o teor ideológico dos seus discursos apresentava-se afinado com o projeto

liberal-capitalista encampado pelo governo brasileiro. Outrossim, a formação da

opinião pública em torno da realização do evento internacional no país dependia,

necessariamente, do aval e do apoio dos veículos de imprensa, cuja contribuição se

tornara essencial em virtude dos desdobramentos políticos que eclodiram ao longo do

período de organização.

2 Os principais países considerados Aliados na Segunda Guerra Mundial eram Estados Unidos da América (EUA), Grã-Bretanha e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Opunha-se a eles o Eixo, composto, basicamente, pela Alemanha, Itália e Japão.

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Para os desideratos desse artigo, o corpus documental analisado se resume às

publicações do Estado de Minas entre os anos de 1949 e 1950, um jornal de

periodicidade diária da cidade de Belo Horizonte/MG. Seu conteúdo era diversificado

e ilustrado, com vistas à ampliação e diversificação do público leitor. Em sintonia

com os pressupostos conceituais propostos por Tânia de Luca (2005), o Estado de

Minas pode ser considerado, naquele contexto, um periódico profissionalizado, com

organização empresarial em busca de produtividade e lucro. As tradicionais

reportagens, entrevistas e artigos políticos mesclavam-se com seções especializadas

de esportes, vida social e cultural, e crítica literária, cujo objetivo central era “[...]

atender aos anseios da crescente classe média urbana e dos novos grupos letrados.”

(LUCA, 2005, p. 138)

Por ser parte da cadeia de imprensa denominada Diários Associados, o Estado

de Minas adotava o posicionamento político de seu proprietário, Assis Chateaubriand.

Desde meados da década de 1920, Chateaubriand mostrara-se inclinado a apoiar um

modelo de desenvolvimento econômico baseado no capital externo. O primeiro

periódico que adquiriu em 1924, O Jornal, o serviu como plataforma de ataque ao

então presidente da República, Artur Bernardes (1922-1926). Durante seu mandato

como presidente de Minas Gerais (1918-1922), Bernardes proibiu que uma empresa

norte-americana explorasse jazidas de ferro no Estado, empresa à época defendida

pelo advogado Chateaubriand (LUCA, 2008).

Pode-se dizer, portanto, que, no contexto pós-Guerra, os Diários Associados,

incluindo o Estado de Minas, apoiaram o alinhamento brasileiro ao “bloco capitalista”

e, sobretudo, às propostas norte-americanas de desenvolvimento econômico pautado

na livre circulação do capital externo. Nesse sentido, o Estado de Minas torna-se uma

fonte histórica privilegiada no que diz respeito à análise da posição política adotada

pelo governo federal e também pelo poder público belo-horizontino, ao longo do

período dos preparativos e da realização da IV Copa do Mundo de futebol.

Para tanto, o artigo é apresentado em duas seções: a primeira se dedica a

realizar uma breve digressão histórica com vistas a elucidar o cenário político

internacional, nacional e local no período de organização da IV Copa do Mundo de

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futebol, buscando localizar a posição dos principais atores sociais envolvidos com o

evento, quais sejam a FIFA, o Governo brasileiro e a Prefeitura de Belo Horizonte. A

segunda seção se propõe a analisar propriamente as fontes primárias, ou seja, a

cobertura jornalística, cujo conteúdo fornece o material necessário para compreensão

das particularidades que envolveram as querelas políticas em torno da organização do

evento.

1. FIFA vs. Brasil: a Copa do Mundo e o jogo de interesses no processo de distensão do

capitalismo internacional

No período pós-Guerra, a FIFA havia se consolidado como um organização

privada com grande reconhecimento internacional. Em relação à realização da IV

Copa do Mundo é possível observar que, primeiramente, a entidade objetivava

unificar as principais nações praticantes de futebol no mundo sob suas bases

regulamentares. Frente ao desempenho expressivo das seleções e dos clubes de

futebol da Argentina, do Brasil e do Uruguai, o continente sul-americano tornava-se

um território estratégico para a Federação Internacional. Diante da escolha da França

como sede da III Copa do Mundo de futebol (1938) em detrimento da candidatura

argentina, bem como frente à proibição da realização de amistosos previamente

contratados entre bascos e equipes chilenas e uruguaias (1938-1939), restava à FIFA

um único e leal parceiro futebolístico no Cone-Sul (MÜRRAY, 1999). Sendo assim, é

possível “[...] afirmar que a opção da Fifa pelo Brasil tenha se dado mais pelas

mudanças que vinham ocorrendo na geopolítica da bola já havia algum tempo que

necessariamente em função de vicissitudes materiais da Europa apenas.” (FRANZINI,

2010, p. 247)

Secundariamente, mas não menos importante, o panorama político

internacional indica algumas hipóteses da escolha do Brasil pela FIFA para sediar a

primeira Copa do Mundo de futebol do pós-Guerra. Como apresenta Moura (1990),

ainda em 1944, um ano antes do término da Guerra, os principais países Aliados,

liderados e polarizados entre norte-americanos e soviéticos, iniciaram as negociações

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para um novo concerto mundial, cujo objetivo central era manter a paz mundial e

garantir a cooperação internacional frente a questões econômicas, sociais e políticas a

partir de negociações multilaterais e globalistas. Como forma de esclarecer a nova

orientação capitalista internacional norte-americana, destaca-se que, ainda durante a

Segunda Guerra, os EUA implementaram alguns planos econômicos de emergência,

que consistiam no fornecimento de altos empréstimos aos governos para financiar

projetos de desenvolvimento econômico, angariando assim, apoios diplomáticos e

militares para o conflito. A política econômica de guerra norte-americana possibilitou,

por exemplo, que países sul-americanos ampliassem consideravelmente suas balanças

comerciais, demandando bens de consumo em escala no pós-Guerra. Em função

disso, findado o conflito internacional, os norte-americanos substituíram os planos de

emergência pela criação de condições favoráveis para que estrangeiros investissem

diretamente em setores produtivos locais, removendo barreiras alfandegárias e os

regulamentos nacionais, viabilizando a livre circulação de mercadorias, a expansão do

comércio e a liquidez dos países mais desenvolvidos. Os poucos empréstimos

realizados no pós-Guerra foram destinados ao financiamento de mercados que

importavam produtos norte-americanos. Os países que se alinharam ao “bloco

capitalista” tiveram, portanto, que reorganizar sua política econômica no sentido de

garantir a liberdade de ação ao capital estrangeiro, a partir da defesa de igualdade

entre o capital nacional e o estrangeiro (MOURA, 1990).

Cabe ressaltar que o esporte espetacularizado, cuja modalidade do futebol é

parte destacada, pode ser considerado, nesse contexto, como fenômeno de interesse

do “bloco capitalista”, visto que seu desenvolvimento, desde o princípio, pautou-se na

lógica capitalista moderna, que, dentre outros aspectos, caracteriza-se pela relação

entre oferta e demanda produtiva. No campo esportivo, essa relação encerra uma

divisão social que poderia ser descrita, em linhas gerais, a partir da polarização entre

os produtores do espetáculo, ou atletas e comissão técnica, dirigentes esportivos,

jornalistas, e demais agentes responsáveis por converter financeiramente os

sentimentos dos consumidores, concebidos como espectadores/torcedores que aderem

afetivamente a uma agremiação esportiva ou a uma representação esportiva nacional

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(DAMO, 2009). Como destaca Giglio (2013), a origem da Copa do Mundo de futebol

como competição autônoma e organizada pela FIFA, ensejada desde os Jogos

Olímpicos de Paris (1924) 3, correspondia a essa preocupação em monopolizar o

potencial econômico das emoções vigentes no campo futebolístico, o que, até o ano

de 1930, era divido com o Comitê Olímpico Internacional.

As regulamentações burocráticas para realização do mundial de futebol,

estabelecidas pela FIFA desde a década de 1930 e pactuadas por seus associados,

demonstravam que essa política monopolizadora da entidade supranacional sobre a

organização do evento iam ao encontro da proposta norte-americana de distensão do

capitalismo internacional pós-Guerra, embora não fosse diretamente por ela

influenciada. Exemplo dessa lógica é o regulamento da FIFA que previa, antes

mesmo da realização das partidas de futebol, a divisão das rendas obtidas no término

da competição 4 . Ou ainda a nota publicada pela Agência Meridional do Rio de

Janeiro que denunciava o interesse da FIFA em deter “[...] o direito exclusivo de

explorar os restaurantes, bares, anuncios, irradiações e outras coisas mais no Estadio

Municipal [Maracanã], além [de já possuir o] controle [de comercialização] dos

ingressos.” (A F.I.F.A...., 1949, p. 2) Segundo a Meridional, os dirigentes da FIFA

estavam “Acostumados aos trustes e monopolios [...]” (A F.I.F.A...., 1949, p. 2) e

“[exigia] à CBD, entidade que arcará com os onus do Campeonato do Mundo,

‘exclusivamente para todas as vantagens’.” (A F.I.F.A...., 1949, p. 2) Isso porque,

desde a I Copa do Mundo realizada no Uruguai em 1930, cabia ao anfitrião o

pagamento dos deslocamentos e das hospedagens de todas as delegações participantes

do evento (MÜRRAY, 1999).

Como é perceptível, o associado da FIFA interessado em sediar o evento sabia

de antemão dessas condicionalidades e deveria cumpri-las, correndo o risco de que a

entidade “[concedesse] licença para que a Copa do Mundo se realizasse em qualquer

3 O torneio de futebol olímpico realizado em 1934 em Paris, disputado, pela primeira vez, em quatro estádios, dos quais um (Colombes) fora construído exclusivamente para a competição da modalidade esportiva, atraiu grande atenção do público, permitindo considerável arrecadação de bilheteria para os organizadores do evento. Fenômeno semelhante ocorreria quatro anos depois em Amsterdã (1928), primeiros Jogos Olímpicos a venderem espaços publicitários (GIGLIO, 2013). 4 Segundo Escobar (1949), 15% das rendas obtidas no Mundial era destinado à FIFA, 30% para a entidade organizadora e os outros 55% divididos entre as associações participantes.

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outra parte [...]” (A C.B.D...., 1950a, p. 8) caso não o fizesse. No caso brasileiro, a

candidatura empreendida pela CBD contava, desde o princípio, com o apoio do poder

público, uma vez que a maior propaganda dos próceres cebedenses consistia na

construção de um Estádio Municipal no Rio de Janeiro, o Maracanã, com capacidade

superior a 150 mil espectadores, considerado como “o maior do mundo” (FRANCO

JÚNIOR, 2007). Assim que a FIFA oficializou o Brasil como sede da IV Copa do

Mundo de futebol, João Lyra Filho, presidente do Conselho Nacional de Desportos

(CND)5, além de outros atores políticos brasileiros, cobraram a intervenção do Estado

para viabilizar a realização do evento, construindo não só o Maracanã, como também

as demais obras necessárias para que a competição acontecesse no país (FRANZINI,

2010). Nesse sentido, a escolha da FIFA pelo Brasil levava em consideração duas

questões centrais, a saber: a tradição futebolística brasileira, justificada, dentre outros

motivos, pelo terceiro lugar alcançado pelo selecionado no último mundial realizado

em 1938; e a posição política brasileira que, além de cumprir as exigências da

entidade, se comprometeu em financiar todas as despesas relacionadas ao evento,

permitindo a gerência da entidade supranacional nos lucros obtidos com a sua

realização.

Ao analisar a conjuntura política e econômica brasileira articulada ao contexto

internacional anteriormente esboçado, é possível identificar algumas evidências que

justificariam, primeiramente, a permissividade do governo brasileiro de que agentes

externos, como a FIFA, controlassem parte de suas transações comerciais, no caso,

àquelas oriundas de espetáculos esportivos. Para tanto, faz-se necessário a retomada

de alguns pontos centrais da política brasileira das décadas de 1930 e 1940 como

forma de elucidar tais evidências.

Desde 1937, o Brasil esteve submetido a um projeto político, liderado pelo

ditador Getúlio Vargas, pautado no intervencionismo em várias esferas da vida social,

cuja essência era a busca por uma nação homogênea, orgânica e funcional. O corpo

humano assumiu papel central na construção dessa nacionalidade, devendo ser

disciplinado e militarizado, apto ao trabalho, a partir da tríade higienismo, ginástica e

5 Órgão criado a partir do Decreto-lei nº 3.199 de 1941 durante a ditadura de Getúlio Vargas que se prestou a “estabelecer as bases de organização dos desportos em todo o país” (BRASIL, 1941).

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educação física. A Constituição Federal de 1937, que deu origem ao Estado Novo,

inseriu, assim, o esporte como parte do projeto político, estabelecendo a

obrigatoriedade da Educação Física, e, ao mesmo tempo, regulamentando e

incentivando a prática e as competições de esportes modernos, abrindo caminho para

a consolidação do futebol como “esporte de espetáculo” e sua constituição como um

dos símbolos da identidade nacional (COUTO, 2014).

Com a eclosão da II Guerra Mundial, a concretização de tal projeto político foi

viabilizada pelo estreitamento da aliança política e militar entre Brasil e EUA,

conduzida pela diplomacia varguista que angariou benefícios econômicos ao país a

partir da negociação internacional, como, por exemplo, a obtenção de empréstimos

vantajosos que financiaram projetos desenvolvimentistas nacionais. Em princípios da

década de 1940, o relacionamento diplomático entre Brasil e EUA se estreitou, graças

a entrada oficial dos norte-americanos na Guerra no final de 1941. Devido a sua

importância estratégica no contexto belicista, em função da sua posição geográfica e

da sua supremacia política na América do Sul, o Brasil, por meio de sua diplomacia,

negociou seu apoio aos EUA ao barganhar empréstimos vultosos que, dentre outros

projetos, financiou a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta

Redonda/RJ, conforme sinaliza Vágner Alves:

Quanto maior e mais nítida a necessidade, para os EUA, em trazer o Brasil para o estreito alinhamento político e militar, maiores as possibilidades dos decisores brasileiros em conseguir ganhos substanciais para o país, barganhando seu alinhamento (ALVES, 2002, p.99).

O apoio aos Aliados foi além da formalidade quando, em 1943 o governo

brasileiro criou a Força Expedicionária Brasileira (FEB) para participar ativamente do

conflito internacional em território europeu, enviando-a à Itália no ano seguinte

(1944).

Com o término da Guerra Mundial, a pressão liberalizadora e anti-totalitarista

do principal parceiro internacional do Brasil levou à deposição de Vargas, após este

revogar a lei da censura, restaurar a liberdade de organização política, anunciar

eleições para o fim de 1945 e tentar liderar a nova Assembleia Constituinte. O pleito

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elegeu para a presidência o general Eurico Gaspar Dutra pelo Partido Social

Democrata (PSD), apoiado pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), criado e

presidido pelo ex-ditador Vargas.

O governo Dutra (1946-1951) modificou as características da política

econômica brasileira, orientando-a a partir de princípios liberais, o que se explica, em

grande medida, em função da manutenção e maior aproximação do relacionamento

político externo com os EUA no pós-Guerra que, como apresentado, propunha que as

nações praticassem a “política econômica de portas abertas” (MOURA, 1990).

Entretanto, desta feita, a política externa não estava personalizada em figuras como a

do ex-ditador Getúlio Vargas. Aliado a isso, a conjuntura pós-Guerra fez com que o

poder de negociação do Brasil caísse drasticamente.

O Palácio do Itamaraty, órgão burocraticamente profissionalizado de

influência liberal e jurídica, voltou a ser aquele que definia os rumos diplomáticos

brasileiros, cada vez mais pró-Aliados ocidentais e aos EUA. A partir das orientações

do Itamaraty, a política externa brasileira deveria seguir as orientações dos EUA e,

secundariamente, da Grã-Bretanha, em qualquer questão relacionada a negociações

internacionais; além de se opor às iniciativas e aos regimes políticos comunistas e/ou

soviéticos, e, ao mesmo tempo, apoiar aqueles regimes anticomunistas e

antissoviéticos (MOURA, 1990).

Em sintonia com os pressupostos liberais do “bloco capitalista”, o modelo de

desenvolvimento econômico brasileiro se pautou, portanto, nas diretrizes norte-

americanas que, como destacado alhures, consistia em criar condições favoráveis para

que estrangeiros investissem diretamente em setores produtivos locais, equivalendo o

capital nacional ao externo. Fator que explicaria, em parte, a “boa vontade” do

governo brasileiro em relação às exigências e, sobretudo, ingerências da FIFA nos

negócios nacionais com a realização da Copa do Mundo no país.

A subserviência à política norte-americana também se justificava a partir de

interesses ideológicos do governo brasileiro que, a partir do alinhamento ao “bloco

capitalista” angariaria algumas vantagens políticas, como, por exemplo “[...] a

manutenção de uma posição militar única na América Latina e sua correspondente

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posição política.” (MOURA, 1990, p. 22). E, principalmente, em função de os setores

conservadores que ocupavam o poder julgarem que o alinhamento à política

estadunidense fornecia ao Brasil um status privilegiado no cenário geopolítico

internacional. Tal premissa, assentava-se, especialmente, nos pressupostos

ideológicos da Escola Superior de Guerra (ESG), dos quais o binômio segurança e

desenvolvimento, afinava-se à Doutrina Interamericana de segurança anticomunista

(VIZENTINI, 2008, p.199).

Esses interesses ideológicos brasileiros podem ser simbolicamente

relacionados aos discursos formulados em torno da realização de um evento esportivo

como a Copa do Mundo de futebol, marcado pela associação ao capitalismo

internacional e pelo forte apelo nacionalista. Ao se transformar em um hábito

moderno, o futebol tornara-se digno de ser exposto como símbolo da nação. No caso

brasileiro, a reconfiguração da prática e do consumo do futebol como espetáculo

esportivo a partir de meados da década de 1920 possibilitou a integração e

reconhecimento dos negros e demais grupos subalternos como parte importante da

cultura nacional, mesmo havendo forte cultura racista no país (FRANCO JÚNIOR,

2007).

No período do pós-Guerra, com a hegemonia do discurso de negação do

totalitarismo, o Brasil buscava esquecer seu recente passado autoritário e se

apresentar como uma nação democrática, justificando, assim, sua diplomacia pró-

EUA. A trajetória social do futebol brasileiro seria, portanto, um ótimo discurso a ser

apresentado a favor dessa imagem que pretendia se construir a respeito da nação. A

imprensa esportiva passou a apresenta-lo como um fenômeno social agregador e

democrático, que comungava classes sociais (proprietários e despossuídos, ricos e

pobres) e “raças” (negros, mestiços e brancos). Tal discurso ia ao encontro das

formulações de Gilberto Freyre e Mario Filho, incorporadas pelo Estado Novo, de

elogio à mestiçagem, que enaltecia como símbolo da nação os jogadores com

trajetórias de vida de ascensão social através da prática do futebol (COUTO, 2014).

Em função dessa popularidade, os governantes passaram a se associar com maior

evidência ao campo futebolístico, como demonstrado por Franco Júnior (2007).

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A Copa do Mundo de futebol no Brasil consagrava, portanto, esse discurso

sobre a identidade nacional pretensamente “democrático”. Além disso, a

instrumentalização política do futebol, sobretudo levando em consideração a

participação do governo na promoção do evento em questão, reforçava a tentativa do

país mostrar suas potencialidades humanas e tecnológicas, seu pleno desenvolvimento

capitalista, enfim, sua importância no plano e no novo concerto internacionais. É com

base em tal discurso que os governantes brasileiros legitimaram suas ações na

preparação, durante e após a realização do mundial de futebol no país.

Previamente programada para acontecer entre junho e julho de 1949, a IV

Copa do Mundo de futebol foi realizada no Brasil entre os dias 24 de junho e 16 de

julho de 1950 uma vez que o Comitê Organizador solicitou o adiamento da

competição dada sua proximidade com os Jogos Olímpicos de Londres em 1948

(QUEREM..., 1947). As 32 associações nacionais de futebol inscritas a participarem

das eliminatórias do Mundial de 1950 foi considerado um recorde se comparado às

três edições anteriores (PUNIÇÃO..., 1950). Apesar disso, apenas 13 das 16 vagas

para a “fase final” da competição foram preenchidas, quantidade inferior aos

mundiais de 1934 e 1938, que contaram, respectivamente, com 16 (FIFA, 1994-

2014c) e 15 (FIFA, 1994-2014b) participantes. Isso ocorreu porque, assim como a

diplomacia pós-Guerra, o “mundo da bola” também estava em turbulência.

Brasil e Itália se classificaram automaticamente para a disputa, por se

tratarem, respectivamente, do país sede e do detentor do último título da competição.

Outras quatro associações nacionais de futebol, todas sul-americanas 6 , também

classificaram-se sem precisar disputar partidas eliminatórias, dada as desistências7 da

Argentina (O MUNDIAL..., 1950a; NÃO..., 1950a), Equador (CERTOS..., 1950) e

Peru (INESPERADA..., 1950) para participarem do Mundial da FIFA de 1950. Caso

semelhante ocorreu entre as associações asiáticas de futebol. Diante da desistência da

6 A saber, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai. 7 As desistências de participação da IV Copa do Mundo de Futebol de diversas associações nacionais de futebol possuem especificidades e, portanto, não serão objeto de apreciação no presente artigo. Para uma breve e não detalhada análise dessa questão, ver Franzini (2010). As referências citadas à frente de cada país, daqui em diante, são sugestões de fontes para trabalhar as particularidades de cada um dos casos indicados.

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Birmânia e das Filipinas (SOUSA, 1950), a seleção indiana classificou-se de forma

direta para a Copa do Mundo. Entretanto, por dificuldades financeiras (SÓ..., 1950), a

Índia também se ausentou da competição.

Em função dessas desistências, oficialmente, apenas 19 associações nacionais

de futebol8 disputaram partidas eliminatórias para participar do Mundial da FIFA de

1950, realizadas entre os dias 02 de junho de 1949 e 15 de abril de 1950 (FIFA, 1994-

2014a). Destas, apenas nove9 se classificaram para a “fase final” da competição a ser

realizada no Brasil, apesar de duas delas, a saber, Escócia (VIRIA..., 1950) e Turquia

(CERTOS..., 1950), terem desistido de sua participação, mesmo após vencerem os

jogos classificatórios.

Entre maio e junho de 1950, a CBD negociava junto ao presidente da FIFA,

Jules Rimet, o preenchimento das demais vagas remanescentes (SERÁ..., 1950).

Países derrotados durante as eliminatórias foram convidados e negaram disputar o

Mundial de 1950, como o caso do Eire (atual República da Irlanda) (TAMBÉM...,

1950), da França e de Portugal (A C.B.D...., 1950; RIMET..., 1950). Destaca-se aqui

o caso francês que optou por não participar do evento por discordar da montagem da

tabela dos jogos, que os forçaria a viajar de Porto Alegre/RS à Recife/PE dentro de

poucos dias (A FRANÇA..., 1950; NÃO..., 1950b).

A questão da definição das cidades que sediaram a Copa é, por sinal, relevante

na discussão ora empreendida. As únicas cidades que desde o princípio estavam

confirmadas para receber os jogos eram Rio de Janeiro e São Paulo (PARA..., 1949),

centros urbanos que, desde os primeiros anos do século XX, tentaram monopolizar a

organização/regulamentação do futebol nacional. Em outubro de 1949, representantes

da CBD, entidade desde então sediada na capital federal, percorreram as cidades de

Belo Horizonte, Curitiba/PR, Porto Alegre, Recife e Salvador/BA para estudar a

possibilidade das mesmas sediarem a competição, considerando “[...] problemas de

8 Sendo três da América do Norte e Central (Cuba, EUA e México) um do continente asiático (Síria) e 15 do continente europeu (Escócia, Espanha, Finlândia, França, Inglaterra, Irlanda do Norte, Israel, Iugoslávia – único participante do leste europeu, Luxemburgo, País de Gales, Portugal, República da Irlanda, Suécia, Suíça e Turquia) (FIFA, 1994-2014). 9 EUA e México pela América do Norte e Central; Escócia, Espanha, Inglaterra, Iugoslávia, Suécia, Suíça e Turquia pela Europa.

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localização das delegações, capacidade dos estadios, necessidade de adaptação dos

estadios e possibilidades de renda [...]” (O MUNDIAL..., 1949c, p. 10). A capital

baiana foi a única, dentre as cinco cidades visitadas e estudadas, que não recebeu

jogos do mundial, uma vez que sua praça de esportes, o “[...] Estadio da Graça está

em precaria situação. [e] o tempo é exiguo demais para qualquer providencia que vise

a dotar o estadio de melhoramentos.” (NÃO..., 1950c, p. 10)

Entretanto, a decisão pela escolha das sedes não se restringia apenas às

questões divulgadas pela CBD. Um aspecto central dizia respeito ao envolvimento

dos poderes públicos estaduais e municipais, bem como de seus governantes, com o

evento, tanto no que diz respeito às obras infraestruturais exigidas pelo Comitê

Organizador da Copa, quanto ao pagamento de “quotas” à entidade cebedense.

Nesse cenário, assim que assumiu a Prefeitura de Belo Horizonte, Octacílio

Negrão de Lima, ex-futebolista amador nas décadas de 1910 e 1920 pelo América

Futebol Clube (FC) (PAIVA, 2012), descrito pela imprensa como “esportista cem por

cento” (ULTIMA..., 1948 citado por SANTOS, 2005) e como “o maior centro-médio

do antigo futebol mineiro” (A HISTORIA..., 1948 citado por SANTOS, 2005),

destinou verbas para os principais clubes de futebol da cidade como forma destes se

estruturarem quanto a seus Estádios. Mesmo assim, as reformas das praças esportivas

existentes não foram suficientes para o Comitê Organizador da Copa do Mundo

aprovar a realização dos jogos em Belo Horizonte.

A partir de então, o projeto de construção de um novo Estádio passou a ser

aventado, sendo definitivamente encampado pela diretoria do Sete de Setembro FC,

clube de menor expressividade da cidade, à época presidido pelo vereador Antonio

Lunardi. Batizado de Estádio Independência, em homenagem a agremiação

setembrina, a nova praça de esportes10 começou a ser construída no início de 1949.

10 A nomenclatura “praça de esportes” se justifica, pois o espaço não contava apenas com instalações futebolísticas, mas também previa-se a construção de “apartamentos para hospedagem das delegações, bem como uma esplendida cozinha, banheiros, salas medicas, de massagens, um salão nobre […]. [...] bar, departamentos médicos, secretaria e outros departamentos, como o aquatico, de basquete, volei, etc.” (DOIS..., 1950, p. 2)

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2. O jornal Estado de Minas e a organização da Copa do Mundo de 1950: diálogo entre

fonte e objeto de estudo

No intuito de legitimar seu posicionamento político, o Estado de Minas

buscou convencer a população belo-horizontina da importância internacional do

Mundial de futebol, bem como sua relevância para o país e para a própria capital

mineira. Desde meados de 1949, por exemplo, duas colunas passaram a ser publicadas

especialmente em virtude da realização da Copa do Mundo no país e frente a

possibilidade de Belo Horizonte sediar alguns de seus jogos, habituando o público

leitor da cidade com o evento que seria realizado e convencendo-o de sua

importância.

A coluna “Conhecendo o esporte no Velho Mundo”, publicada quase que

diariamente durante o segundo semestre de 1949, trazia as impressões dos enviados

Fernando Bruce e Mario Provenzano, dos “Diarios [sic] e Emissoras Associados”,

sobre o esporte, sobretudo o futebol, no continente europeu, com destaque para os

países participantes das eliminatórias da IV Copa do Mundo de futebol. Para tanto,

Bruce e Provenzano (1949a) fizeram “[...] longo giro [...] através dos principais

centros esportivos do Velho Mundo, [...] assistindo a pelo menos uma partida [de

futebol] em cada um dos lugares [...] visitado.” (p. 8) Dentre os países percorridos

pelos jornalistas dos Associados, destacam-se a Dinamarca, Escócia, Espanha, França,

Inglaterra, Irlanda, Itália, Iugoslávia, País de Gales, Portugal e Suécia.

Bruce e Provenzano costumavam apresentar a mobilização e o interesse

existentes nesses países em torno da IV Copa do Mundo de futebol e do próprio

Brasil, demonstrando a importância do evento e do país no plano internacional. Da

entrevista que fizeram com Raynar, técnico inglês da seleção sueca, por exemplo,

repercutiam que este era “[...] um grande apreciador do foot-ball [sic] brasileiro, que

[reputava] como um dos melhores do mundo." (BRUCE; PROVENZANO, 1949c, p.

8) E que “Não [tivera] ainda a felicidade de ver de perto o foot-ball brasileiro, mas

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[que] o [via] sempre nos [seus] estudos.” (BRUCE; PROVENZANO, 1949c, p. 8) Ou,

por exemplo, divulgando a mobilização espanhola que, mesmo antes de se classificar

para o Mundial, já tomava "[...] providências para a estada no Brasil, por ocasião do

proximo certame mundial." (BRUCE; PROVENZANO, 1949b, p. 8)

Como uma espécie de diário de viagem, recheado de aventura, estranhamento,

surpresas, a coluna, predominantemente ilustrada, estimulava a compra do Estado de

Minas como forma de se acompanhar a trajetória dos correspondentes brasileiros no

continente europeu. Ao mesmo tempo, os relatos de Bruce e Provenzano aguçava nos

leitores o interesse pela Copa do Mundo como oportunidade única para ver

pessoalmente aqueles jogadores descritos no jornal.

Já a coluna “O Campeonato Mundial em Foco”, ou apenas “O Mundial em

Foco”, publicada praticamente de forma diária entre meados de 1949 até o início da

competição em julho de 1950, apesar de ter tido maior período de veiculação, obteve

menos espaço que a coluna “Conhecendo o esporte no Velho Mundo”.

Diferentemente dos relatos de Bruce e Provenzano, “O Mundial em Foco” era

anônima, de caráter informativo, eventualmente ilustrada. Buscava repercutir opiniões

de diversos atores futebolísticos nacionais e internacionais sobre o evento, além de

questões relacionadas à organização da Copa (jogos eliminatórios, reuniões e

deliberações das entidades responsáveis pela competição, obras e jogos inaugurais dos

estádios), e das associações nacionais de futebol interessadas em participar do evento

(treinos, convocação de jogadores, concentração, hospedagem e deslocamento das

delegações).

A coluna “O Mundial em Foco” buscava evidenciar declarações que

enalteciam o país e suas realizações no campo futebolístico, como o discurso

proferido por Jules Rimet na França assim que retornou do Brasil onde estivera

acompanhando os preparativos locais para o evento. Editava-se, por exemplo, trechos

da fala de Rimet que descreviam o país como “grandioso” e “maravilhoso”, e,

principalmente, de suas expectativas positivas sobre a realização da competição no

Brasil, destacando tanto questões futebolísticas quanto políticas (Cf. O MUNDIAL...,

1949b, p.8).

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Trago do Brasil uma certeza: a Copa do Mundo, em 1950 registrará um sucesso jamais igualado. O futebol que os brasileiros praticam é uma coisa que tem algo de inconcebivel e tudo farão, povo, e autoridades, para que o sucesso do Campeonato do Mundo [...] seja completo. (O MUNDIAL..., 1949b, p.8)

Ao mesmo tempo, “O Mundial em Foco” rechaçava veementemente opiniões

que criticavam o país ou a organização da Copa do Mundo de 1950, acusando-as de

“[...] descredito geral contra o nosso ambiente e jogadores. [...] mentira, com o unico

intuito de desmoralizar o grande certame a ter como palco do Brasil.” (O

MUNDIAL..., 1950c, p. 9)

Afinado ao mesmo padrão discursivo da coluna “Conhecendo o esporte no

Velho Mundo”, “O Mundial em Foco” se propunha a representar a IV Copa do

Mundo de futebol como um evento de extrema relevância no plano internacional,

como pode ser observado por exemplo, na declaração de Irineu Chaves,

superintendente da CBD, que, ao retornar da Europa, onde estivera para participar

“[...] dos debates da Comissão Organizadora da Copa do Mundo [...]” (O

MUNDIAL..., 1949d, p. 9), relatou que havia

[...] intensa propaganda nos países europeus em torno do certame futebolístico que o Brasil patrocinará. [...] representantes da Exprinter em Roma e na Suíça já [estavam] tomando todas as providenciais no sentido de organizar as varias embaixadas de turismo que segundo calculos se elevarão a mais de 10 mil pessoas. (O MUNDIAL..., 1949d, p. 9)

Tais discursos, que identificavam o grande interesse da comunidade

futebolística internacional em torno da Copa do Mundo no Brasil, conjugavam-se

àqueles que buscavam apresentar o evento como promotor de melhorias e

transformações positivas para o povo brasileiro, reforçando esse processo de

convencimento público sobre a importância da realização da competição no país. Isso

fica evidente, por exemplo, quando “O Mundial em Foco” construía algumas

expectativas sobre o impacto da construção e/ou reforma dos Estádios que sediariam

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os jogos da Copa do Mundo no Brasil para a população local, como pode observado

quando a coluna tratava da inauguração do Estádio Municipal do Rio de Janeiro:

[...] no 'Estadio Municipal', o 'Zé torcedor' poderá, finalmente, assistir futebol para se divertir e não sofrer com os empurrões, apertões, falta de conforto e outras coisas mais, graças a tudo isso a coragem do prefeito Mendes de Morais, que tudo fez para cumprir a sua promessa de dar a melhor praça de desportos do mundo aos cariocas. (O MUNDIAL..., 1950b, p. 10)

Assim, os redatores e editores11 da coluna em questão representavam a Copa

do Mundo de futebol como uma espécie de divisor de águas para o espetáculo

esportivo nacional. O Maracanã, construído especialmente para o Mundial de 1950,

era propagandeado como a “melhor praça de desportos do mundo”, capaz de

proporcionar diversão com conforto e sem distúrbios comuns em espetáculos

futebolísticos, como “empurrões” e “apertões”. Segundo “O Mundial em Foco”, o

conforto, entretanto, não descaracterizaria a popularidade do futebol brasileiro, cujo

público poderia ser composto por qualquer “Zé torcedor”12.

Pari passu à publicação das colunas supracitadas, a seção de esportes do

Estado de Minas trazia diariamente ao menos uma pequena nota relacionada a

competição, contribuindo na formação dos leitores como público interessado e

desejoso pela realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil, e que, nesse

sentido, mesmo que de forma indireta, acabava por apoiar também a posição política

inerente ao evento. Além disso, sendo um veículo de comunicação com circulação

predominantemente restrita à capital mineira, a cobertura feita pelo Estado de Minas

buscou incentivar os preparativos de Belo Horizonte para a concretização da

realização da competição na cidade. Uma das principais frentes de atuação do

11 Editores também porque muitas informações publicadas eram redigidas por Agências de Notícias cariocas, sobretudo a Meridional, também de propriedade de Assis Chateaubriand e integrante da cadeia dos Diários Associados. 12 Os acidentes ocorridos nos próprios jogos da Copa de 1950 desmentiriam essa representação idílica dos novos Estádios brasileiros. Faltando ainda a realização da última rodada no dia 16 de julho, publicava-se o registro de 451 feridos dentro dos Estádios desde o início da competição, 259 deles apenas no jogo entre Brasil 6 vs. 1 Espanha, incluindo um falecimento (O LADO..., 1950); confronto esse, aliás, realizado na “confortável” e “melhor praça de esportes mundo”, o Estádio Municipal carioca.

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periódico em questão foi a campanha formulada em defesa da construção de uma

nova praça de esportes belo-horizontina capaz de atender as exigências dos

organizadores do evento. Isso porque, até o final da década de 1940, a cidade possuía

três Estádios cuja capacidade não superava 12 mil espectadores13, muito aquém aos

aproximados 40 mil lugares do Municipal paulista, o Pacaembu, ou dos mais de 150

mil lugares do Maracanã.

No final de 1949, o Estado de Minas “[...] ratificava a [...] promessa [de

Octacílio Negrão de Lima] à C.B.D., relativamente á [sic] conclusão do Estadio

Independencia [sic], do Sete de Setembro.” MARIO..., 1949, p. 9). A partir de então,

o periódico em questão iniciou uma cobertura que ora destacava os progressos da

obra, atribuindo-os aos esforços do prefeito de Belo Horizonte e, eventualmente, do

vereador Antonio Lunardi, ora cobrava mais empenho da Prefeitura e do Sete de

Setembro FC para que o mesmo ficasse pronto a contento dos organizadores do

Mundial e a tempo de realização dos jogos da competição na cidade. Em ambos os

casos, sempre se enfatizava os impactos positivos do novo Estádio, além de

considera-lo uma demanda do público futebolístico belo-horizontino e símbolo de

progresso e desenvolvimento local, reforçando nos leitores o apoio ao evento e,

sobretudo, a intervenção do poder público como sendo de fundamental importância

para a sua realização na cidade.

Os últimos meses de 1949 e janeiro de 1950 serviram, portanto, para

divulgação do desenvolvimento das obras do “monumental estadio" (BELO..., 1949,

p. 8). Na ocasião, eram feitos o plantio e demarcação do gramado, a colocação das

duas traves e a cimentação dos degraus da arquibancada (PRONTO..., 1950), o que

era considerado como “progresso dos serviços” (BELO..., 1949), “[...] transformando

o sonho de ontem na portentosa realidade de hoje.” (ONTEM..., 1949, p. 1)

13 Os três Estádios existentes em Belo Horizonte até o final da década de 1940 eram o Estádio Octacílio Negrão de Lima, ou Alameda, de propriedade do América FC; o Estádio Antônio Carlos, de propriedade do Clube Atlético Mineiro; e o Estádio Juscelino Kubitschek, pertencente ao Cruzeiro Esporte Clube (SANTOS, 2005). Mesmo diante desse cenário, dirigentes do América e do Atlético aventavam a possibilidade de receber alguns jogos do certame mundial, como fica evidenciado nas referências MARIO..., 1949 e O PREFEITO..., 1949, que indicavam a possibilidade de construção de um túnel e a reforma dos alambrados nesses Estádios por meio do financiamento da Prefeitura de Belo Horizonte.

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Permitindo o Estado de Minas afirmar categoricamente: “Belo Horizonte poderá ver

jogos da Copa do Mundo” (BELO..., 1949, p. 8)

Os informes reforçavam ainda que os trabalhos viam sendo executados por

“operários da Prefeitura” (SEIS..., 1949, p. 8) graças a iniciativa do prefeito, que “[...]

não tem poupado esforços para o apressamento dos serviços. ” (SEIS..., 1949, p. 8)

Reforçava-se, assim, o intervencionismo do governo municipal para viabilizar o

evento em Belo Horizonte, criando um discurso de eterna gratidão devida pelo Sete

de Setembro FC ao Octacílio Negrão de Lima, “[...] sem o qual os florestinos14 jamais

poderiam contar com a realidade do Independencia.” (SEIS..., 1949, p. 8); e, mais

ainda, uma espécie de “dívida” (ONTEM..., 1949) por parte da própria população

belo-horizontina com o prefeito.

Os elogios à Negrão de Lima tiveram seu ápice quando o Estado de Minas

publicou o artigo intitulado “Deus lhe pague”, de autoria de Etienne de Castro (1949),

que tecia a trajetória do Independência, desde o momento em que ainda era um

“sonho”, até se tornar definitivamente uma “realidade que brilha como uma manhã do

sol dos dias de verão” (p. 12). O articulista denunciava o ceticismo e a incredulidade

com que foi recebido inicialmente o projeto do novo Estádio, contrapondo-o a “obra

magnífica” que vinha sendo realizada, responsável por tornar o Sete de Setembro FC,

“pequeno garoto das ruas, roto e maltrapilho” em “personagem digno das atenções

gerais”. Para Castro (1949), os impactos positivos da empreitada não se restringiam

ao clube setembrino, mas deveriam ser considerados pelo esporte mineiro em geral,

uma vez que o novo Estádio representaria “[...] a propria independencia do futebol

mineiro.” (p. 12) O artigo de Castro (1949) reforçava, assim, a importância da

intervenção pública para o esporte local e, sobretudo, legitimava a atuação do prefeito

e o modelo de desenvolvimento econômico que se atrelava ao evento que seria

realizado na cidade.

Nesse período, o Estado de Minas chegou a publicar algumas especulações

sobre os preparativos para o Mundial de futebol em Belo Horizonte. Após visita de

Antonio Lunardi ao Rio de Janeiro, a seção de esportes repercutiu dois “furos”

14 Em alusão ao Bairro da Floresta, sede original do Sete de Setembro FC.

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jornalísticos que diziam respeito à definição dos jogos a serem realizados na cidade,

bem como sobre a construção do Estádio Independência. Segundo o vereador e

presidente do Sete de Setembro FC, o presidente da Federação Mineira de Futebol

(FMF), Mário Gomes, “[...] conseguiu convencer os paredros da CBD a aumentar o

numero de jogos do campeonato mundial em Belo Horizonte.” (SEIS..., 1949, p. 8);

de três para seis partidas. Além disso, Lunardi informava que “A capacidade de

lotação do Estádio Independencia será ampliada com 15 mil cadeiras de mármorite.

Destarte, ao invés de ser para 65 mil pessoas, a lotação passará a 80 mil.” (SEIS...,

1949, p. 8)

Desconsiderando as possíveis negociações existentes para concretização de

ambas as informações, fato é que o Independência jamais chegou a ter seus 40 mil

lugares inicialmente projetados (SANTOS, 2005) sequer se aproximando dos

possíveis 80 mil divulgados pelo jornal. Tampouco a cidade receberia mais do que os

três jogos previamente garantidos pela CBD 15 . Mas as declarações de Lunardi

representavam um quadro de otimismo e de propaganda quanto à realização do

Mundial em Belo Horizonte, preparando terreno para que o Estado de Minas

reforçasse a campanha de construção do Independência, convocando a população a

participar ativamente como financiadores diretos do empreendimento, quando então o

Sete de Setembro FC lançou, primeiramente, sua campanha de ampliação do número

de associados (QUARENTA..., 1949; PROPOSTAS..., 1950) e, posteriormente, de

venda das cadeiras cativas do Estádio Independência (O “COCK-TAILL”..., 1950;

113 CADEIRAS..., 1950; COOPERE..., 1950). A divulgação do andamento de ambas

as campanhas objetivava estimular e, sobretudo, representar o apoio público belo-

horizontino à construção do Independência e de realização da Copa do Mundo na

cidade.

15 Ao contrário, conforme noticiado pelo Estado de Minas, Belo Horizonte perdeu a condição de receber todos os jogos da chave da Inglaterra após a realização do sorteio da competição. Constatando-se que Inglaterra e Espanha se enfrentariam ainda na primeira fase, o referido jogo foi confirmado para acontecer no Estádio Municipal do Rio de Janeiro sob justificativa da CBD de que a importância do confronto demandaria um palco com maior capacidade de público, possibilitando maior arrecadação. Questão, aliás, que suscitou controvérsias e descontentamentos em Belo Horizonte, inclusive representando o não pagamento das “quotas” por parte da Prefeitura à CBD. Para essa questão, consultar publicações do Estado de Minas entre final de maio e início de junho de 1950.

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Essas campanhas iniciavam-se em um momento delicado para as obras do

Independência, que poderiam não ser concluídas a tempo da realização da IV Copa do

Mundo de futebol na cidade. De fato, o projeto original do Estádio dos florestinos foi

abandonado, não sendo executado o último conjunto de arquibancadas que fecharia a

“ferradura” (QUASE..., 1950), o que não impediu, contudo, que os três jogos do

Mundial previamente acordados ocorressem em Belo Horizonte 16 . As críticas e

cobranças dirigidas ao prefeito quanto ao término das obras, formuladas pelo Estado

de Minas entre fevereiro (UM TOQUE..., 1950) e março (SEMI-PARALISADAS...,

1950) de 1950, foram rapidamente substituídas pelo apoio incondicional, após a CBD

definir a tabela dos jogos e Belo Horizonte se sentir lesada com os jogos que lhe

foram destinados17.

Um dia após a abertura oficial do campeonato, em 25 de junho, o Estado de

Minas publicava uma foto aérea do Independência, considerando-o como sendo a

colaboração do futebol mineiro “[...] para o sucesso da maior iniciativa de todos os

tempos do futebol brasileiro.” (A NOSSA..., 1950, p. 2) Apesar de constatar que o

“[...] estadio [...] ainda não é o que será, [está] perfeitamente á altura de permitir jogos

de grande vulto em Belo Horizonte.” (A NOSSA..., 1950, p.2) Reconhecia-se, assim,

os problemas de organização do evento ao se indicar que o Estádio não estava

concluído, mas, ao mesmo tempo, enaltecia-se o empreendimento que colocava o

Brasil e, em especial, Belo Horizonte, em evidência internacional.

16 A saber, Iugoslávia vs. Suíça, em 25 de junho; EUA vs. Inglaterra, em 29 de junho; e Bolívia e Uruguai, em 2 de julho de 1950. 17 Sobre essa questão, consultar nota de rodapé 15.

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Considerações finais

O assunto da conclusão do Independência voltou à tona terminado os jogos do

Mundial em território belo-horizontino, mas, desta vez, as críticas e cobranças foram

balizadas pelo sucesso que teria sido a realização do evento na cidade. Pois, como

havia sido constatado, “Os jogos do Mundial no Independencia vieram provar que

Belo Horizonte estava realmente precisando de um estadio á altura de seu progresso

esportivo.” (FALA-SE..., 1950, p. 9); legitimando-se, assim, todos os preparativos

realizados para a promoção da competição na cidade.

O desfecho da cobertura da Copa do Mundo coroava, portanto, o discurso do

Estado de Minas de convencimento público sobre a necessidade de se promover o

Mundial no país e, sobretudo, na cidade de Belo Horizonte, a partir de argumentos

que demonstravam a magnitude internacional da competição, bem como sua

relevância e seus impactos positivos no âmbito nacional e local. Estas argumentações

que, como demonstrado, exigia e, simultaneamente, corroborava a intervenção

governamental no sentido de viabilizar a realização da Copa do Mundo de 1950 no

Brasil.

Por fim, cabe destacar que o conjunto das narrativas publicadas ao longo do

período analisado cumpria o papel de legitimar na opinião pública a suposta

consolidação da posição do país no “bloco capitalista”, no continente sul-americano,

em plena Guerra Fria. Ao defender a realização da Copa do Mundo, especialmente

encampando os interesses locais, a cobertura dos preparativos do evento feita pelo

Estado de Minas mostrava-se extremamente consonante ao novo modelo de distensão

do capitalismo mundial, no qual a reprodução do capital das empresas internacionais,

como o caso da FIFA, assume prioridade na agenda estatal e legitimidade na opinião

pública.

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O MUNDIAL em Foco. Em Montevidéu, um turno das eliminatorias. O

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O MUNDIAL em Foco. O inicio do certame foi antecipado para 24 de junho.

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O MUNDIAL em Foco. Será inaugurado a 25 de maio o Estadio Municipal.

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O MUNDIAL em Foco. Viajou Flavio Costa para a Europa. Observará futuros

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SERÁ coberta as vagas de Portugal e Índia. Estado de Minas, Belo

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