O Inquisidor

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Revista sensacionalista e investigativa sobre a Universidade de Brasília.

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A VERDADE DÓI

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Índice.

Denúncia6. Copiando os

Políticos:

Entrevista exclusiva

denuncia esquema de

corrupção nas xérox

16. Geração

Derrotada

Entenda a a trajetória

do time da unb que

completa três decadas de

fracassos

10. Paz

Encaçapada

Reportagem especial

sobre a maior tragédia

da história da Faculdade

de Comunicação

14. 1,2, Feijão

com Pombo

Analisamos a ascenção

e queda do maior

restaurante universitário

da América Latina

20. Apocalipse

Universitário

Como o campus Darcy

Ribeiro transformou-se

na Bagdá do Cerrado

Giro de Notícias

Esportes Violência

Capa

Saúde

Economia8. Zona do Tazo

União dos povos latinos

ainda é possível

22.

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Leia se for capaz

A Universidade de Brasília é um dos maiores centros uni-versitários do mundo, motivo de orgulho para toda a humanidade. Desde o seu nascimento em 1962, a UnB inovou na maneira de ensino, proporcionando ao aluno uma formação interdisciplinar, agregando as mais diversas formas de conhecimento já produzi-das pelo homem.

Suas disposições ímpares contam com imensa área ar-borizada, que faz com que as mentes mais brilhantes sintam-se à vontade para produzir e divulgar o saber por todas as partes do mundo. Pelas relvas imortais do centro-oeste brasileiro já passa-ram nomes que engrandeceram a ciência e contribuíram de ma-neira decisiva para moldar as fronteiras científicas tal qual conhe-cemos hoje.

Mesmo sendo baluarte da produção artística brasileira e universidade referência da era moderna, a UnB vem sofrendo constantemente com diversos problemas que afligem a comuni-dade e prejudicam o desenvolvimento das atividades acadêmicas.

Violência, corrupção, estrutura deficiente, transporte pú-blico sucateado e alunos mal educados. Nos últimos anos, diversos fatos confluem para que a Universidade de Brasília apresente uma decadência sem precedentes, que pode arruinar a reputação de uma das instituições de ensino consagradas pela história.

Contudo, o maior problema da universidade não está diante dos olhos dos estudantes. O direito à segurança é funda-mental, mas o acesso à informação é muito mais digno e respeitá-vel. Só é possível exercer a cidadania com plenitude quando se está bem informado sobre os acontecimentos ocorridos ao seu redor.

O Inquisidor vem suprir esses anseios, unindo a difícil re-ceita de jornalismo investigativo com informações bem apuradas sobre os assuntos de maior relevância para a comunidade acadê-mica. A revista não vai medir esforços para trazer a você, todos os meses, os registros mais secretos e obscuros do campus Darcy Ribeiro.

Assim como a Inquisição perseguia os hereges na Idade Média, nós perseguiremos a informação, e colocaremos na foguei-ra qualquer tipo de mentira.

Aconselho a leitura das próximas páginas apenas para aqueles que querem saber da verdade, em sua forma mais crua. Os espíritos frágeis podem se impressionar com os fatos por trás da falsidade.

Lembre-se meu amigo: a verdade dói.

Augusto Berto

Editor-chefe

Violência

Editor-Chefe, Repórter: Augusto Berto

Em relacionamento sério com o humor negro. Acredita que não teria graça se usasse sua criatividade para fazer o bem.

Diagramador: Felipe Cardoso

Araguarino com ascendente em Goiânia. Diz ter 3 missões na vida: beber todas as cervejas, beijar todas as mulheres, e terminar essa revista.

Diretor de Arte: Natan Andrade

Um sertanejo amante da cachaça e do espertinho de carne. Mais conhecido como Rei do CMYK.

Assistente-Geral: Guilherme Vargas

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Corrupção?Impressão sua

Arapuã Guarabira é um dos 3 mil índios que estão na Universidade de Brasília, estudando ou desempenhando fun-

ções administrativas. Todos os dias, caminha da parada de ônibus onde dorme na L2 Norte, até uma das xérox da UnB, onde trabalha há 5 anos. Passaria desperce-bido por todos, se seu corpo não denunciasse algo. Por trás da serenidade de Guarabira, está um passado sof-rido. Suas mãos, que tanto ajudam a propagar o ensino e o conhecimento, carregam marcas de sofrimento e consternação. Guarabira acusa o Centro de Seleção e de Pro-moção de Eventos (CESPE), de realizar um denso es-quema de trabalho escravo e tráfico internacional de pessoas. Muitos índios, ameaçados de morte, ficaram calados por todo esse tempo. Mas Arapuã procurou O Inquisidor para falar tudo que sabe.

O Inquisidor – Onde acontece o recrutamento dos índios? Arapuã - Eu nasci na reserva indígena Mesa do Sol, localizada a 40 km da fronteira do Brasil com a Bolívia. Nos anos 80, fomos um dos maiores produ-tores de maconha do mundo, perdendo apenas para Santa Rita do Arapiraca - PI. No início de 2001, a Polícia Federal acabou com a nossa produção, e a população ficou perdida, pois só sabíamos produzir maconha.

Com a falta de emprego e renda, os traficantes viram a oportunidade perfeita para agir. O Inquisidor – Como eles convenciam vocês a virem para Brasília?

Arapuã - No início eles ofereciam empregos bons, falavam que nós seríamos deputados, senadores, ofereceram até cargo de presidente. Ingênuos, nós aceitávamos. A situação era muito difícil, não tínhamos o luxo de recusar nada. No começo os traficantes vin-ham uma vez por ano, com um caminhão pau-de-arara, levavam 5 índios no máximo. Hoje a reserva já possui aeroporto, e cerca de 60 índios deixam a fronteira por dia, em direção a diversos lugares do mundo.

O Inquisidor – Mas essa é uma quantidade muito grande de índios. Existe tanta gente assim na reserva indígena?

Arapuã - Como toda comunidade indígena, nós respeitávamos o meio-ambiente, mantendo um controle populacional adequado. Mas com o tráfico, as mulheres viram a oportunidade de lucrar com isso também. Hoje, já existe uma “fábrica” de índios. Meni-nas com 14 anos já estão engravidando, tudo para fo-mentar o mercado. É possível até comprar um índio

Em entrevista exclusiva, um dos milhares de índios que trabalham na UnB resolve falar. Acusa o CESPE de tráfico internacional, e diz que logo depois que a revista entrar em circulação, pode ser morto a qualquer momento.

Denúncia

por Augusto Berto

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quando ele ainda está na barriga da mãe. As kéxuxu (como são conhecidas as mulheres que desempenham essa função) chegam a ganhar em dólares. Mas a maio-ria tem um período curto de vida, pois é um trabalho muito desgastante.

O Inquisidor – Quando você desconfiou que o CESPE estava envolvido em tudo isso?

Arapuã - Eu estava trabalhando, quando ouvi dois estudantes comentando que o CESPE abrira um concurso público para “operador de máquina foto-co-piadora”. Achei aquilo muito estranho, pois era justa-mente o cargo que eu desempenhava. Quando entrei no site, a surpresa aumentou: além do concurso públi-co, o CESPE oferecia salários de R$ 12400,00 mensais, com jornada de trabalho de 6 horas por dia. Isso é um sonho, comparado com os R$ 0,70 centavos que eu ganho por mês, trabalhando 22 horas por dia. Eles cobravam o valor das inscrições, embolsavam todo o dinheiro, e no final ninguém era chamado. Só os índios. Pode perceber que só índio passou para esse concurso. Eu mesmo fui o 3º colocado, sem nunca ter feito nen-huma prova.

O Inquisidor – E como o CESPE fazia para es-conder o esquema? Arapuã - Eles possuem olheiros em todas as xérox. Quando percebiam que algum índio estava des-

confiando, sumiam com a pessoa. Além do mais, nós trabalhamos o dia inteiro, não havia tempo para pen-sar em nada. As cicatrizes que trago no corpo provam isso. Já tive o dedo mindinho decepado na máquina de xérox, lesões na coluna, cortes no braço. É um trabalho desumano.

O Inquisidor – Você tem medo de represálias? Arapuã - Medo eu não tenho, mas com certeza eles querem a minha cabeça. Faz duas semanas que eu não apareço no trabalho. Estou escondido, cada dia em um lugar. Tinha que falar tudo que eu sei, pois posso acabar com o sofrimento de muita gente. Posso ser as-sassinado a qualquer momento, mas morrerei como o mártir dessa causa.

Grupo de indígenas fotografados após misterioso processo seletivo do CESPE (2001 - DINHO, Geral)

Arapuã Guarabira resolve botar a cara a tapa. Literalmente.

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Uma decisão inédita e histórica. A tão

sonhada união dos povos latinos vai mesmo sair do papel e se tornar realidade, tudo graças a UnB. Em reunião rea-lizada na sede do Merco-sul em Assunção, no Pa-raguai, foi oficializada a utilização do tazo como moeda única, em todos os países da América do Sul. Assim como o euro já é utilizado na Europa desde 2000, a moeda única vai estimular o co-mércio entre os países, fortalecendo a economia sul-americana. - É uma grande vitória para o continente. Vencemos as barreiras impostas pelo imperia-lismo norte-americano, e caminharemos juntos, de mãos dadas, rumo ao progresso – disse Hugo Chavez, presidente da Venezuela, visivelmente emocionado. Por trás dessa grande vitória política,

está uma das institui-ções de maior prestígio do mundo: a Universida-de de Brasília. Breve Histórico:

Em 1995, a UnB começou a adotar em to-dos os estabelecimentos comerciais do campus a utilização do tazos, pe-ças plásticas que estam-pavam desenhos ani-

mados, para substituir o dinheiro. A medida foi adotada pois era muito comum os assaltos aos estudantes nos ônibus e vias de acesso ao cam-pus. Em pouco tempo, os tazos caíram no gosto dos estudantes, devido à facilidade de transporte e a redução dos índices de violência.

- Cada tazo ti-nha um valor. Era tudo definido na hora. Os co-muns, que apareciam com mais freqüência nos pacotes de salgadinho, equivaliam a 1 ou 2 re-ais. Os brilhantes, mais raros, chegavam a custar 50 reais no mercado ne-gro – relembra Mônica Azevedo, proprietária de

ZONA DO Mercosul adota os Tazos como moeda

única

Economia

TAZO

Estudante da UnB segura exemplares dos tazos usados como moeda no Campus (2011 -LEI, Vander)

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uma lanchonete na Uni-versidade há mais de 20 anos.

Os tazos passa-ram a ser um elemento fundamental na rotina da universidade. Não só para movimentar o comércio, mas aquecen-do também a produção cultural do meio acadê-mico:

Desde 2002 concursos são realiza-dos para estampar os ta-zos, que são fabricados aqui na UnB. O dinheiro arrecadado com as ins-crições é revertido para instituições filantrópicas – disse o presidente do

Banco Central da UnB, Antônios Banderas.

A implanta-ção da “Zona do Tazo”, é um exemplo de como atitudes semeadas no meio acadêmico podem revolucionar o mundo. E as mudanças prome-tem não parar por aí. Com o anúncio da uni-ficação monetária, as bolsas de todo o mundo estão em alta históri-ca. Tóquio fechou com alta de 137%. Nasdaq e Dow Jones em 289%. Fontes revelam que Ba-rack Obama, presiden-te dos Estados Unidos,

pretende fazer uma pro-posta para que a zona do Tazo seja estendida até a América do Norte. Hoje, cada Tazo vale cerca de 4,26 dólares.

“A Universidade de Brasília é

um exemplo a ser seguido por toda a América

Latina”Antônio Banderas, Presidente do

Banco Central da UnB

por Augusto Berto

Diversos tipos de tazos utilizados na universidade. Os “Gigantazos” chegam a valer seis vezes mais que os tazos comuns. (2011 - LEI, Vander)

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Capa

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O desaparecimento das bolas de sinuca do CACOM alterou a vida de toda a comunidade acadêmica. Entenda a importância da mesa de sinuca mais

conhecida do Brasil

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A rotina era sempre a mesma: Cláudio acordava, colocava a sua pior roupa, e partia em direção ao campus Darcy

Ribeiro, com sua mobilete Garelli 1975. Sob o do-mínio dos sete cavalos de potência, Cláudio ia sem pressa. Seu pensamento estava longe, mais especifi-camente na mesa de sinuca do Centro Acadêmico da Comunicação, o CACOM. Era o primeiro a chegar. Tinha a chave do local e contava com a confiança de todos os estudan-tes. Ficava jogando sozinho, até aparecer um adver-sário. Claudinho, como era chamado pelos amigos, amava sinuca mais que a sua própria vida. Mas aque-le dia guardava uma triste surpresa para o garoto. Ao abrir a caixa onde as bolas eram armaze-nadas, Cláudio ficou pasmo: elas não estavam lá. Ele ficou encarando a mesa de sinuca, sem dizer nada. Não houve um grito, lamentação, nada. Parecia en-tender a situação. Ele apenas fechou caixa, e saiu an-dando, sem direção. Cláudio está desaparecido desde então.

A mesa de sinuca do CACOM já foi palco de grandes eventos do esporte durante as décadas de 70 e 80, como o campeonato brasileiro de sinuca em 1978 e o mundial em 83. Embates épicos já foram travados no tapete verde do CACOM, e o mais famoso deles foi o duelo entre Darcy Ribei-ro e Juscelino Kubitschek, atraindo milhares de pessoas para a UnB. Era um pólo turístico de grande importância, e um orgulho para a sociedade acadêmica, que desfru-tava da mesa sem custo algum. - Esse é o nosso diferen-cial. Enquanto que nas mesas de sinuca dos outros cursos você tem que pagar pra jogar, a nossa é de graça. Qualquer um pode chegar e se divertir – disse Sérgio Prado, ex--presidente do Centro Acadêmico da Comunicação. Mas esse mesmo motivo que fez o CACOM ser conhecido por seus ideais democráticos, está acabando com a estrutura do local:

“ Ao abrir a cai-

xa onde as bolas

eram armazena-

das, Cláudio ficou

pasmo:

elas não es-tavam lá.”

- Antes os estudantes tinham consciência e cuidavam da mesa. Agora, todos os meses temos que comprar tacos novos. E são sempre pessoas de fora do curso que estragam as dependências do CA. Por isso é difícil punir alguém, pois não há como saber quem são os infratores. – completou Sérgio Prado. Punir alguém parece ser mesmo uma tare-fa complicada. Cerca de 5 mil pessoas passam pelas dependências do CACOM todos os dias. Sem a devida vigilância, o local virou presa fácil para os assaltan-tes. Mas os roubos se concentravam em pequenas coisas, como comidas e mochilas. Levar as bolas de sinuca é levar também a alma de todos os estudantes de comunicação. É arrancar um pedaço da história do Brasil. As denúncias recaem sobre alunos do cur-so de História, que sabiam da importância e do alto valor de mercado que as bolas tinham no mercado negro. Os alunos da engenharia também são acusa-dos do roubo, pois eram freqüentadores assíduos do CACOM antes do incidente. Nenhum dos acusados quis falar com a im-prensa.

A polícia tem poucas informações sobre o caso. Não sabe o horário do furto, possíveis suspei-tos, ou a motivação. Diz apenas que está investigan-do o caso, deixando a população sem explicações.

Mas existe uma pessoa, que afirma saber tudo sobre o incidente. Esta pessoa é Madame Nádia, que atra-vés dos seus poderes paranormais, revelará em entrevista exclusiva tudo que aconteceu no dia do rou-bo: O Inquisidor: Quem rou-bou as bolas de sinuca do CACOM? Madame Nádia: Para res-ponder essa pergunta, tenho que voltar no tempo: Em 22 de agos-to de 1976, Juscelino Kubitschek visitava as dependências da UnB,

quando passou pelo CACOM. Lá, estava Darcy Ri-beiro, um fanático por sinuca. Ao ver o ilustre per-sonagem passando, Darcy cordialmente convidou o

Bolas Sumidas

Entenda o CasoO Outro Lado

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ex-presidente para uma partida. Como nós sabemos, Juscelino era chamado de “presidente bossa-nova”. Ou seja: era um grande botequeiro e exímio jogador de sinuca. Nas primeiras tacadas o clima foi esquen-tando. Os dois jogavam muito bem, e erravam pouco. A partida começou a ficar apertada, e várias pessoas foram se reunindo ao redor do local. No fim, Jusce-lino errou a última bola, dando a vitória para Darcy Ribeiro. Era a primeira derrota da vida de Juscelino. Ele implorou por revanche, mas Ribeiro recusou. Ku-bitschek estava com a honra manchada. Entrou no seu carro, e saiu vagando, sem destino. Mais tarde, no mesmo dia, veio a notícia: Juscelino sofrera um grave acidente de carro, e mor-rera. No bilhete deixado sobre o porta-luvas estava escrito: “Não posso viver com a dor dessa derrota”. Muitos acreditaram ser um recado político, para a ditadura militar, ou algo do tipo. Mas foi a dor da derrota na sinuca que fez Kubitschek cometer o suicídio. Desde então o CACOM passou a ser assom-brado pelo fantasma de Juscelino. Essa macumba só

será quebrada no dia em que outro estudante, que terá de se chamar Juscelino Kubitschek, vencer uma partida na mesma mesa de sinuca. Caso contrário, coisas terríveis continuarão a acontecer com o Cen-tro Acadêmico da Comunicação.

Os estudantes da Comunicação estão com-pletamente abalados. Perder um símbolo da cultura do curso e um grande amigo na mesma semana é um baque enorme. Há quem diga que Claudinho sabia de toda essa história, e no momento que percebeu a ausência das bolas, saiu à procura de alguma pessoa chamada Juscelino Kubitschek, para que finalmente pudesse realizar a partida que quebraria com a ma-gia negra rogada contra o CACOM. Claudinho deve estar nesse momento em al-gum lugar de Minas Gerais, perguntando o nome de cada pessoa que encontra pelo caminho. Para reviver a grande paixão de uma vida, um homem é capaz de qualquer loucura. Resta esperar.

Juscelino Kubitschek em partida histórica contra Darcy Ribeiro em 1986

por Augusto Berto

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INDIGESTOSaúde e Alimentação

O restaurante universitário que já foi referência gastronômica agora serve a pior comida do mundo. Entenda como o RU entrou na maior crise de sua

história.O Restaurante Universitário - RU iniciou

suas atividades no ano de 1975, para atender a Co-munidade Universitária. Seu principal objetivo era a distribuição de refeições balanceadas e de qualidade a baixo custo, garantindo a permanência e diploma-ção dos estudantes universitários.

O lugar já foi excelência em alimentação de alta qualidade. Em visita ao Brasil na década de 70, o papa Paulo VI almoçou o famoso frango à cabidela, repetindo o prato 2 vezes. Inúmeros deputados já fo-ram freqüentadores assíduos do restaurante, fazen-do o bandejão ser referência gastronômica mundial por muitos anos.

Hoje quem chega ao local não consegue acreditar que alguém já ficou satisfeito comendo nas mesas do RU. Os pratos que atraíram consumidores de várias partes do planeta, agora trazem uma re-ceita simples: comidas sem gosto, ingredientes ven-cidos e funcionários insatisfeitos. Segundo José de Camargo Luciano, diretor do RU, a falta de verbas é um fator decisivo para a péssima qualidade dos ali-mentos:

- Nós temos uma verba de R$ 150,00 reais por ano para comprar 6 toneladas de alimentos. É impossível garantir a qualidade de tudo que servi-mos.

Logo, não é muito difícil imaginar as com-plicações de saúde que já foram causadas pelas más condições de conservação e preparo da comida. Das 5 milhões de pessoas de morreram no campus Darcy Ribeiro em 2011, cerca de 20 mil faleceram na hora ou por complicações após ingerirem algum condi-mento preparado no RU.

Pessoas passando mal ou desmaiando são cenas rotineiras nos arredores do refeitório. Mesmo com todo o perigo que oferece, o restaurante univer-sitário acaba sendo a única opção viável para a gran-de maioria dos estudantes.

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- A comida do RU é a única que eu posso pa-gar. Se eu ficar sem comer, eu morro. Se comer a co-mida do RU, posso morrer. Alimentando-me no RU eu ao menos tenho a possibi-lidade de permanecer vivo – relatou César Menotti Fa-biano, estudante do 6º se-mestre de Geologia.

Vários casos de repercussão internacional abalaram a já escassa hon-ra do refeitório. Em janeiro de 2010, durante o período de greve na UnB, a direção organizou a limpeza quin-quenal das caldeiras usadas para preparar os alimentos. Para surpresa de todos, foi achado um peixe-boi adul-to dentro da imensa panela.

- Nós ficamos des-confiados durante muito tempo, pois conseguíamos servir apenas 10, dos 600 quilos que colocávamos nas caldeiras. Não rendia quase nada. – disse Jorge Matheus, cozinheiro do lo-cal há quase 30 anos.

O peixe-boi Juca, como foi apelidado pelos estudantes, não foi retirado da caldeira.

- Gastamos muito tempo e dinheiro para ali-mentá-lo. Seria um desper-dício devolvê-lo para o mar agora. Criamos um laço afetivo muito grande. Juca é o filho que eu nunca tive

– completou o cozinheiro, emocionado. Outro incidente grave ocorreu em 1998, quando o funcionário res-ponsável pela fabricação dos sucos confundiu açúcar com cloro. Essa simples tro-ca acabou sendo fatal. Qua-se 2 mil estudantes morre-ram, e os que sobreviveram até hoje sofrem com as complicações. Maria Cecília Rodolfo, estudante da pós--graduação, era caloura na época do incidente:- Todos os meus dentes ca-íram e não nasceram mais. Tenho que usar dentadura, e como a carne servida aqui é muito dura, constante-mente passo por humilha-ções públicas. Os estudantes já cansaram de pedir por me-lhoras. Segundo estatística do Instituto Brasileiro de Protestos (IBP), o RU ocu-pou 3º lugar no ranking de passeatas realizadas no Brasil em 2010. Mas segun-do os líderes estudantis, as reclamações não adiantam: - A mídia capitalis-ta burguesa simplesmente não dá conta dos processos alimentícios em vigor na contemporaneidade indus-trial, que atua como ator constituinte das represen-tações políticas governa-mentais – afirmou Édson Luis, presidente do DCE da

por Augusto Berto

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Esporte

Foto histórica da parti da contra a Seleção Brasileira de Defi cientes Visuais (1990 - ALDO, Clodo)

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Crises internas, escândalos de

corrupção, guerras judiciais e atentados

terroristas. Entenda a trajetória do

ti me de futebol da UnB, que acaba

de completar a incrível marca de

30 anos sem vencer uma parti da

O som estridente do apito corta o ar. É o fim de mais uma partida. Os joga-dores não se cumprimentam, não há

troca de camisas, não há nada. Um clima de con-formação paira sobre o campo principal do centro olímpico da UnB. Mais uma derrota, dessa vez para o time do centro de recuperação de usuários de crack “Pedrinha Feliz”.

Apesar da derrota acachapante por 16x1, o time da UnB acabara de entrar para a história do futebol mundial. Mas não havia nada para comemo-rar. Por 900 vezes seguidas, a UnB termina um jogo derrotada, totalizando 30 anos de vexame. Assim, o

esquadrão universitário sai de campo e entra na his-tória, como o time com o maior número de derrotas consecutivas já registradas.

Para acumular um número tão grande de reveses, várias gerações passaram pelo time brasi-liense. O meio-campo Paulinho representa bem esse encontro de gerações. Seu pai, Toni Pipoca, foi go-leiro da UnB na década de 80, considerado um dos piores goleiros do mundo na época.

Hoje Paulinho é o craque do time. Na equipe há 7 anos, veste com muito orgulho a emblemática camisa 10 da UnB. Durante esse tempo, fez 8 gols contra, acumula 28 cartões vermelhos, e apenas 3 gols.

- Eu sempre tento ajudar a equipe, tanto que os meus números são muito bons. Se você pegar os números do Tobias vai entender um pouco da nossa situação.

Tobias, jogador ao qual Paulinho fez refe-rência, foi eleito pela conceituada revista France Football como o pior zagueiro da história, na eleição realizada ano passado em Zurique, na Suíça. O de-fensor conta com um cartel invejável: 923 gols con-tra, 487 cartões vermelhos e nenhum gol.

Além disso, já saiu preso de campo 2 vezes: na primeira, foi acusado de agredir o juiz Rober-

por Augusto Berto

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to Nogueira com uma das traves. O árbitro sofreu traumatismo craniano e ficou em coma por 40 dias. Na segunda vez, Tobias foi acusado de colocar uma bomba no banco de reservas da Unicamp, em parti-da válida pelo InterUniversidades de 2004. Segundo testemunhas, para evitar que a equipe paulista fizes-se substituições, o zagueiro implantou um artefato de fabricação caseira atrás do banco de reservas. A explosão matou 9 pessoas e feriu outras 7. O inci-dente ficou conhecido como “A tragédia de Campi-nas”.

Com a péssima fase vivida nos últimos anos, a média de público do time azul-grená é incrivel-mente baixa: estima-se que 93 pessoas compare-ceram no centro olímpico nos últimos 30 anos para acompanhar as partidas.

- Às vezes, quando falta um jogador, nós co-locamos algum torcedor pra completar o time – disse Paulinho, sobre a importância da torcida nos jogos.

ENTENDA A SITUAÇÃO:

Não é muito difícil entender o porquê da la-mentável situação que vive o time de futebol da UnB. O time nunca recebeu salários, não tem alimentação adequada, não oferece estrutura de treinamento para os jogadores, e pasmem: não tem treinador.

- É complicado. Ninguém quer treinar o time. Todos sabem que estamos numa situação com-plicada. Nenhum técnico quer a missão de vencer um jogo com a gente. É uma responsabilidade muito grande – disse Peruca, atacante da equipe, explican-do o repúdio dos técnicos.

Em 2009, o Centro de Seleção e de Promo-ção de Eventos (CESPE), realizou um concurso pú-blico, na tentativa de recrutar a comissão técnica para integrar a equipe. Foram oferecidas 25 vagas, com salários que variavam de R$ 25,00 a R$ 90,00 reais anuais.

Ninguém se inscreveu.Como se não bastasse a ausência de uma

rotina de treinamentos, os jogadores não tem uma alimentação balanceada para desenvolver suas habi-lidades com plenitude. Antes dos jogos, o Sopão So-lidário, instituto que distribui sopas para indigentes de Brasília, doa os restos para os jogadores:

- É muito gostoso. Eu só estou no time pela comida – confessou Lontrão, goleiro reserva.

O campo que os jogadores têm à disposição é um pasto. Literalmente. Como não possuem cor-tador de grama, o Departamento de Veterinária em-presta 5 vacas, que aparam a grama antes dos jogos.

Diante do quadro calamitoso, a equipe de reportagem de O Inquisidor foi até o reitor José Ge-

raldo Jr, para pedir explicações.- A Reitoria sempre apóia toda e qualquer prá-

tica de esportes dentro do campus. Mas todo apoio que pudéssemos oferecer foi suspenso, quando soubemos do mau uso do dinheiro que enviávamos para a manu-tenção do time.

O reitor fez referência ao escândalo de corrup-ção desbaratado no ano de 1995, quando o então técni-co Vanderlei Luxemburgo, hoje no Flamengo, comprou traves de ouro com o dinheiro enviado pela reitoria.

As traves eram de ouro puro, e cada barra pesa-va cerca de 800 quilos. Corrigindo os valores do ouro 24 quilates para o referido ano, estima-se que Luxemburgo gastou 10 milhões de reais com as traves.

Vanderlei trata o episódio como página virada. Ao ser indagado sobre a exorbitante compra, ele afirma:

- As traves eram bonitas.

Aparentemente, o time da UnB é um caso sem solução. Falta apoio, investimento e estrutura. A torcida não comparece, e o time está totalmente desacreditado. Apesar das dificuldades, eles resistem:

- Eu sempre vou acreditar nesse grupo. En-quanto eu estiver vivo, o time estará em campo, lutando pelas cores da Universidade – disse o emocionado Pau-linho.

Mesmo com tudo contra, há quem acredite que novos ventos possam soprar pelo campus Darcy Ribei-ro. Apesar de todas as complicações, o time vira um exemplo de superação.

Enquanto houver um coração pulsando no cen-tro olímpico, o time de futebol estará em campo.

Enquanto eu

estiver vivo,

o time estará

em campo,

lutando pelas

cores da

Universidade

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Estatísticas30 anos em números

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Em 2011, cerca de 5 milhões de pessoas morreram nos campi da UnB. Saiba como se proteger dessa guerra

Campus SitiadoViolência

ça nacional de segurança para controlar a situação. Nada adiantou. 3 dias depois as tropas foram expulsas, obrigadas a se retirarem de joelhos, até a avenida L2 norte. - É uma guerra de canudos moderna. Só que dessa vez o governo não tem o aparato bélico necessário para de-ter os meliantes. Nós oficialmente desistimos. Entregamos a UnB nas mãos de Deus. – Disse Celso Amorim, ministro da defesa.A influência dos ladrões é tão grande, que eles venceram eleição para o DCE, realizada no mês passado e disputam os JIUNBS – jogos internos da UnB – com uniforme fornecido por uma grande multinacional americana. - Nós conquistamos nosso espaço, já fazemos parte da Universidade – afirmou Marcelo Rangel, líder da FARB, Força Armada Revolucionária de Brasília, um dos grupos mais influentes do campus.Contudo, nem todos os estudantes são contra a presença dos bandidos na universidade. Mesmo com os assaltos, se-qüestros e estupros, algumas pessoas garantem que estão superestimando a situação: - Eles reformaram a sala de informática do meu departamento, aumentaram o salário dos professores. Além disso, pagaram a minha operação de troca de sexo – afir-mou Lucas Alves, estudante de arquitetura.Algumas medidas são adotadas pelos estudantes para lidar da melhor maneira possível com a situação: - Levar lanches que o traficante dono da área onde você estuda não gosta. Assim, ele não pegará o seu alimen-to.- Vestir-se como os ladrões e aprender suas gírias. Você pode se passar por um deles sem ser notado.

A rotina é sempre a mesma: Rafaela toma um pingado morno, preparado horas atrás pela mãe. Come uma fatia de pão, completamente duro, que machuca os poucos dentes que restam da menina. Pega sua mochila surrada pelo tempo e parte para a parada de ônibus, apanhando antes uma laranja no quintal do vizinho. Essa laranja proporcionará à menina o único momento doce do seu dia. Rafaela é um dos 27 mil estudantes da Uni-versidade de Brasília, e enfrenta uma dura rotina para chegar à universidade. Se o transporte precário da capi-tal federal já não bastasse para dificultar os sonhos da menina em obter o diploma de curso superior, Rafaela tem que enfrentar uma verdadeira guerra para transi-tar e voltar sem sofrer nenhum dano. Em 2011, a UnB ultrapassou a UCA – Universidade Congo Armado – e passa a ser o centro universitário mais violento do mun-do. A PMUNB – Polícia Militar da Unb – divulgou as estatísticas das ocorrências criminais ocorridas na universidade, referentes ao ano de 2011, e constatou uma situação alarmante: O número de homicídios em todos os campus da Universidade de Brasília ultra-passou a marca de 5 milhões de pessoas, superando o número de mortos da guerra civil espanhola. A maior reclamação dos estudantes é a falta de policiamento. Poucos policiais ainda conseguiam fazer rondas para garantir o mínimo de segurança. Mas nos últimos meses, os bandidos conseguiram se organizar de tal forma que expulsaram a PM do campus. O governo federal tentou enviar tropas da for-

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Em 2011, cerca de 5 milhões de pessoas morreram nos campi da UnB. Saiba como se proteger dessa guerra

Campus Sitiado

Vista do estacionamento do ICC Norte (Outubro de 2011 - MUNDO, Ed)

por Augusto Berto

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Mutações O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) interditou o anfiteatro nº 13 por acreditar que o local é um viveiro para diversas espécies transmissoras de doenças. Com as tradicionais enchentes anuais, os anfiteatros viram ninhos para a criação de mosquitos, principalmente o aedes aegypti , transmissor do vírus da dengue.Porém, as amostras recém coletadas indicam que novas espécies estão surgindo nas salas da UnB. “Com o ambiente fechado e a umidade atípica do local, espécies já conhecidas estão sofrendo mutações.” – Disse a coorde-nadora do curso de Biologia, Marta Campos. As salas não têm previsão para estarem servindo novamente à comunidade acadêmica.

Banda Lenta A internet disponível para os alunos da UnB ocupa a 100º colocação, no ranking feito pela revista Internet & Universidade. O estudo avaliou a velocidade de download em 100 universidades do Brasil. Em Brasília, para baixar um simples arquivo em mp3, o estudante leva 3 anos aproximadamente.

Vida parada Os estudantes de UnB sofrem com a demora e o péssimo estado de conservação dos ônibus de Bra-sília. Um estudante que mora na Asa Sul, distante 10 quilômetros do campus, leva cerca de 2 horas para che-gar ao destino. Com o tempo gasto esperando os ôni-bus, cada estudante poderia:- Ler a saga “Harry Potter” em uma semana- Assistir 72 filmes- Ouvir a música “Faroeste Caboclo” 1800 vezes- Ir a 80 Happy Hours

Pão (sem) Queijo A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um estudo sobre os lanches servidos em 500 universidades em todo o mundo, e constatou que o pão de queijo servido na Universidade de Brasília está abaixo do recomendado pelos espe-cialistas. Nutricionistas indicam que o nível do queijo deve ficar em torno de 40% da massa total do aperitivo. Na UnB, esse índice fica em torno de 1%.

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