O livro de Josué

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O LIVRO DE JOSUÉ

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O LIVRO DE

JOSUÉ

TÍTULO

O livro é universalmente designado pelo nome do seu herói maior, que domina o cenário do começo ao fim do conteúdo. Tanto na Bíblia Hebraica como na Septuaginta o nome do livro é o mesmo, Josué. O nome “Josué”, no hebraico, quer dizer “Deus é salvação”; e no grego, Josué, toma a forma de “Iesous” ou Jesus.

AUTORIABasicamente o livro foi composto pelo próprio Josué. É claro que

algumas partes – tais como (15:13-17), (Jz 1:9-13) e (24:29-31) – não poderiam ter sido escritas por ele. Tais passagens poderiam ter sido escritas por Eleazar, o sumo sacerdote, ou por Finéias.

Josué, todavia, é especificado como o autor de (24: 1-26), e o autor do livro claramente foi testemunha ocular da maioria dos eventos registrados – veja, por exemplo, (5:1 - em alguns manuscritos há o pronome “nós” em lugar de “os filhos de Israel”) e (5:6 – “nos” aparece no original).

Também é evidente que o livro foi escrito pouco tempo depois de seus eventos terem acontecido (6:25). A tradição judaica difere um pouco de opinião, afirmando que Josué escreveu todo o livro, com exceção dos últimos versículos, atribuídos à Finéias, neto de Arão (Js 24:26, 33 e Nm 25:7).

O personagem principal do livro é obviamente Josué filho de Num, um israelita da tribo de José (a “meia-tribo” de Efraim). Josué nasceu no Egito era jovem na época do êxodo (Ex 33:11). Seu nome era Oséias (“salvação” Nm 13:8), mas Moisés o chamou Jesua ou Josué (“Javé é salvação”, v.16). Josué foi escolhido por Moisés para ser seu “ministro” – provavelmente seu “auxiliar” – e estava presente na montanha quando Moisés recebeu a lei (Ex 24:13).

Também era guardião da tenda da congregação quando Moisés se encontrava com Javé (33:11). Fato ou não, ele já estava militarmente qualificado para comandar as forças israelitas contra os amalequitas em Refidim (Ex 17:8-16). Como representante da tribo de Efraim, percorreu a terra de Canaã com os outros 11 espias (Nm 14:6-9).

DATA

A data pode ser calculada como sendo de 1405 a 1370 a.C.

OBJETIVO DO LIVROO objetivo do livro de Josué é preservar a história da

conquista de Canaã e a divisão da terra entre as tribos. A história revela a fidelidade do Senhor como um Deus observador da aliança (Js 1:2-6). Mostra como Deus cumpriu fielmente sua promessa de dar aos patriarcas uma terra e descanso.

Aqueles dias eram dias de cumprimento das promessas relatadas em (Dt 1.3; 11.23; 22.4,9; 23.5; 23.10,15). Demonstra também à posteridade de Israel a grande vitória que o povo pode alcançar se tão-somente seguir a liderança teocrática do Senhor, em vez de recorrer à força humana.

ESBOÇO

O livro de Josué pode didaticamente ser dividido em:

1. A conquista da terra prometida – caps. 1-12.a) A preparação para a entrada na terra (caps. 1-5).b) A conquista da terra (caps. 6-12).

2. A ocupação da terra prometida – caps. 13-24.a) A divisão da terra (caps. 13-22).b) A despedida de Josué (caps. 23-24)

CONTEÚDO

A morte de Moisés marca a transição de Deuteronômio para Josué. No final de Deuteronômio, os israelitas estavam acampados nas planícies de Moabe, esperando Deus ordenar que avançassem e tomassem posse de Canaã. Moisés, que os havia liderado até ali, não entraria na terra (Dt 3:23-27; 32:48-52). Deus havia instruído Moisés a transferir a liderança para Josué (3:28; 32:23).

Pouco depois destes fatos Moisés morreu (34:5). Após a morte de Moisés, Josué assume a liderança do povo. O livro de Josué nos conta como foi o cumprimento das promessas de Deus (Js 21:45). Enfim o povo liberto do Egito chegara à terra de Canaã, agora tomava posse e instalava-se.

Tal como no caso da narrativa sobre as peregrinações no deserto, o registro das atividades de Josué é incompleto. O livro precisa ser considerado como relato apenas parcial dos empreendimentos de Josué. O período de tempo determinado para a conquista e a divisão da terra de Canaã não é declarado.

Uma inferência, com base em (Js 14:6-12), é que a conquista de Canaã foi realizada em um período de cerca de sete anos. Supondo-se que Josué fosse da idade de Calebe, os eventos registrados no livro de Josué ocorreram durante um período de vinte e cinco a trinta anos.

Certamente que tomaram posse, e entraram em Canaã. Contudo, tomaram posse através de muitas lutas. Muitos povos pagãos já viviam naquela região. Os habitantes de Canaã são inimigos hostis, idólatras pervertidos, os quais ocuparam a terra enquanto o povo esteve no Egito e no deserto. A terra lhes fora dada por Deus, mas, os inimigos deviam ser desalojados e destruídos.

Quanto à raça, a terra era ocupada por um grupo misto que parecia serem descendentes de Canaã, filho de Cão, filho de Noé (Gn 10:15-20). Há na Bíblia várias listas desses grupos (Gn 10; Dt 7:1; Js 3:10). Além disso, podem ser identificados pelas suas localidades:

a) Heteus – dos filhos de Hete, que se estabeleceram na Ásia Menor.

b) Girgaseus – da região ocidental do mar da Galiléia.

c) Amorreus – povo montanhês dos planaltos ao oeste e leste do mar

morto.

d) Cananeus – tecnicamente, da parte norte.

e) Ferezeus – associados com os cananeus no norte.

f) Heveus – os pacíficos gibeonitas perto de Jerusalém.

g) Jebuseus – tribo guerreira estabelecida em torno de Jerusalém.

Religiosa e moralmente, a terra vivia infestada de idolatria completamente degradada. Visto que as divindades dos cananeus não teriam caráter moral, não é de surpreender que a moralidade daquele povo fosse extremamente baixa.

A brutalidade e imoralidade que se destacam nas narrativas sobre esses deuses é algo muito pior que qualquer outra coisa vista no Oriente Próximo. Vejamos abaixo alguns deuses encontrados na terra de Canaã naquela época:

a) El – era o deus supremo. Era reputado como principal divindade cananéia. Simbolizado como um touro entre um rebanho de vacas, o povo se referia a ele como “pai touro”. Poemas ugaríticos descrevem-no como um tirano cruel e sanguinário, de sensualidade incontrolável.b) Baal – era filho de El e o seu sucessor. Seu nome quer dizer “Senhor”. Dominava o grupo cananeu e como monarca reinante dos deuses, ele controlaria os céus e a terra. Era o deus da chuva e da vegetação.c) Anate – era irmã de Baal e uma das três deusas protetoras do sexo e da guerra. Concomitantemente com o culto da prostituição sagrada, havia o morticínio infantil.d) Asterote (Astarte) – era esposa de Baal e também deusa do sexo e da guerra.e) Asera – era a esposa de El. f) Moloque e Milcom – de origem amonita, eram deuses da orgia, do mesmo modo que Camos era a divindade nacional dos moabitas.g) Mote – deus da morte, era o principal adversário de Baal. h) Iom – deus do mar, foi derrotado por Baal.

Josué foi divinamente comissionado para dividir o território conquistado entre as nove tribos e meia. Rúben, Gade e metade da tribo de Manassés tinham recebido seus quinhões a leste do rio Jordão, sob Moisés e Eleazar (Js 13:8-33; Nm 32). Durante o período da conquista o acampamento de Israel ficava localizado em Gilgal, ligeiramente para nordeste de Jericó, perto do Jordão.

Sob a supervisão de Josué e Eleazar foram distribuídos os quinhões de algumas tribos, enquanto Israel ainda estava acampado ali. Silo foi estabelecida como centro religioso de Israel (Js 18:1).

A tribo de Levi não recebeu quinhão na forma de território, porquanto eram responsáveis pelos serviços religiosos por toda a nação. As diversas tribos foram encarregadas da obrigação de selecionarem cidades para os levitas. Terras de pasto, em redor de cada uma das quarenta e oito cidades, foram igualmente providas, pelo que os levitas podiam dar pasto a seu gado vacum e ovino.

Depois de relatar várias batalhas vitoriosas, e de demonstrar a divisão da terra entre as doze tribos de Israel, o livro aproxima-se do fim com as palavras do grande líder Josué. Josué envelhecera. Sabia que não iria viver muito mais tempo. Queria transmitir ao povo algumas palavras finais de advertência.

Levando em conta o destaque que a aliança tem no pentateuco, e sabendo a respeito dos itens envolvidos numa cerimônia de instituição e renovação, torna-se evidente que o livro de Josué consta de um livro de renovação da aliança.

Êxodo registra a instituição da aliança com a primeira geração saída do Egito (cap.19-24). Deuteronômio registra a reiteração dos eventos e termos das aliança registrada em Êxodo, mas dentro de um contexto de levar ao registro da renovação daquela aliança com a segunda geração de Israel. Josué, por sua vez, registra os eventos que levaram à renovação da antiga aliança com a terceira geração(cap.24).

Convocou os dirigentes com o todo povo, e recomendou que se lembrassem do poder e da fidelidade de Deus e os admoestou a serem fiéis (Js 24:14). Igualmente preveniu-os contra a apostasia (Js 24:15). Com cento e dez anos de idade, morreu Josué, o grande homem de Deus. O livro termina com sua morte a declaração de que o povo servia ao Senhor (Js 24:31).

De acordo com o conteúdo narrado no livro podemos perceber as seguintes ênfases:

1. A fidelidade divina em conceder a Israel a terra de Canaã (Gn 13:15); 2. A importância da Lei Escrita (Js 1:8; 8:32-35; 23:6-16; 24:26-27);3. A santidade de Deus ao julgar os pecados dos cananeus (Dt 7:1-6).

  A desigualdade da distribuição da terra é bastante surpreendente. Por que uma porção gigante para Judá, Efraim e Manassés, e uma parte pequena para os outros? A partilha realizou-se mediante “sorteio”, revelando assim a vontade de Deus (Js 18:6, 10; Pv 16:33). Como foi dado a José o direito da primogenitura (1Cr 5:1,2), seus dois filhos Efraim e Manassés receberam a grande parte do centro. Quanto aos levitas, eles não receberam terras (Js 18:7), mas cidades espalhadas pela nação para habitarem (Js 14:4; 21:1-42). Nesta época Silo foi estabelecida como centro religioso de Israel (Js 18:1).

TEMAS ESPECIAIS - Divisão das Terras

A invasão de Josué cumpriu o segundo aspecto da aliança do Senhor com Abraão: a entrega da terra de Canaã. As últimas palavras do Senhor a Moisés enfatizaram a infalibilidade da sua Palavra no cumprimento da promessa de dar Canaã às tribos de Jacó (Dt 34:4).

TEMAS ESPECIAIS - Cumprimento da Promessa

A esta altura precisamos compreender que apesar de Israel ser o povo do Senhor, a salvação de Javé e suas bênção não estavam presas à esta nação. Qualquer que quisesse entrar em comunhão e aliança com o Senhor poderia fazê-lo. É assim que vemos por exemplo, Raabe, sendo salva por meio de sua fé (Js 2:12-21; 6:22-25; Hb 11:31).

Deus não estava interessado em salvar somente o povo de Israel (Sl 117). Pelo contrário, queria usar Israel como instrumento para proclamá-lO (Sl 96:3). Lembremo-nos que Deus não escolheu a nação de Israel se esquecendo das outras nações. Deus nunca tirou os olhos de todos os povos da terra (Is 42:6).

TEMAS ESPECIAIS - Salvação a Todas as Nações

1. O “Príncipe do exército” é uma cristofania, sem dúvida (Js 5:14). E o próprio Josué, é nesse livro, o tipo por excelência de Cristo, tanto no seu nome (“Jesus”, ou “salvação” do Senhor) e na sua obra de trazer o povo ao descanso (Hb 4:6-10). 2. Josué demonstrou que verdadeiramente era um tipo de Jesus Cristo que, em um sentido maior e mais profundo, traria seu povo seguramente desta vida para sua residência eterna.

TEMAS ESPECIAIS – Cristologia em Josué

Como se justifica que um povo escolhido por Deus se apossasse da Canaã, massacrando a população, tomando a sua terra e riquezas? Israel impõe armas contra os pagãos em vez de pregar a Palavra. Por que não foram enviados a Canaã como evangelistas em vez de carrascos?

TEMAS ESPECIAIS - Análise moral da conquista de Canaã

Israel não foi designado para ser apenas uma organização religiosa, mas um governo civil com obrigações da aliança perante o Senhor. Como tal, sua primeira comissão era executar o julgamento de uma sociedade corrupta e violenta de acordo com aliança noéica (Gn 9:6).

Os israelitas tomando a terra e destruindo os cananeus eram a manifestação do juízo de Deus contra um povo ímpio, promíscuo, idólatra, regidos por um sistema inspirado e dirigido por Satanás. (Lv 18:24, 25; 20:22; Gn 15:16; Dt 9:4, 5)

  Outra razão é que Moisés encarregou solenemente o seu povo de destruir os cananeus – não somente para puni-los por causa de sua iniquidade, mas também para impedir a contaminação do povo escolhido por Deus (Lv 18:24-28; 20:33; Dt 12:31 e 20:17, 18).

Por fim, o texto declara muitas vezes que o Senhor era o verdadeiro dono da terra de Canaã e podia dá-la ou negá-la a quem quisesse. Assim, aquela terra pertencia a Deus, e já havia sido prometida a Abraão e sua descendência, mesmo que naquele tempo estivesse inapropriadamente ocupada pelos cananeus.

Geograficamente, a terra de “Canaã” compunha-se de toda a faixa ocidental desde Sidom, ao norte, até Gaza e Sodoma, no sul (Gn 10:19). O nome “Canaã” denominava, em geral, toda a área em que se estabeleceram os filhos de Canaã.

Deus chamou a Terra Prometida de “boa terra” (Dt 8:7-10), contrastando-a com a monotonia e a aridez do Egito (Dt 11:8-14). Aquele deveria ser o descanso de Israel, sua herança e o lugar onde Deus habitaria (Dt 12:9, 11). Depois de suportar a escravidão no Egito e a penúria no deserto, os israelitas finalmente seriam capazes de encontrar descanso em sua Terra Prometida (Js 1:13, 15; 11:23; 21:44; 22:4; 23:1).

TEMAS ESPECIAIS – Terra que Mana Leite e Mel

O profeta Ezequiel chamou a terra de Israel de “coroa de todas as terras” (Ez 20:6, 15) e Daniel a chama de “terra gloriosa” (Dn 8:9; 11:16 e 41). Em várias ocasiões, ela é descrita como “a terra que mana leite e mel” (Ex 3:8, 17; 13:5; 33:3; Lv 20:24; Nm 13:27; Dt 6:3; 11:9; etc).

Trata-se de uma declaração proverbial, que significa “terra de abundância”, lugar de pastos tranquilos e de jardins, onde os rebanhos podiam pastar e as abelhas coletavam pólen para fazer mel.

Até à próxima aula sobre o livro dos

JUÍZES!