O Livro Negro Do Yoga - Teaser

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O Livro Negro O Livro Negro do do Yoga Yoga 1

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O Livro Negro O Livro Negro do do

YogaYoga

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Mestre Bhava

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Uma Iniciação ao Tantra Yoga

SANNYAS EDITORA

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Copyright © 2011 by Mestre Bhava

Direitos em Língua Portuguesa reservados ao autor através

da

SANNYAS EDITORA

Editoria Sannyas Editora

Capa

Arthur Presta de Castro

Revisão

Ma Prem Kaliní Puri (Silvana Mara de Castro)

CIP

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SANNYAS EDITORA

Bahia - Brasil

“Dedico este livro a querida Maha com quem divido

a minha existência “

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Prefácio

Este livro surgiu de um sonho, isto mesmo, eu sonhei que as pessoas haviam

compreendido o que elas são e o que elas podiam fazer por elas mesmas, e ao acordar

percebi a distância ainda a percorrer na divulgação desta busca de si mesmo e logo

imaginei um meio simples, direto, de comunicar uma mensagem que pudesse ter algum

tipo de efeito revitalizador sobre cada um. Conheço e ensino o Tantra, como uma

Semiologia surgida na Índia, o produto mais refinado do Yoga. Mas os nomes e os

contextos dificilmente podem ser levados para a pessoa comum, o que dificulta

qualquer comunicação desta filosofia. O sonho foi uma resposta a esta dificuldade, aqui

como um texto, fácil, a ser estudado, comparado, revisto, sem o hermetismo desta

filosofia.

Todas as nações do mundo desejam o enriquecimento para dar as pessoas o

acesso a uma vida com saúde, educação e segurança. E a lógica comum no ditado é:

“Que mundo nós deixaremos para nossos filhos?”, quando deveria ser: “Que filhos nós

deixaremos para o mundo?” Educação é o eixo, o ponto principal como cultura que dê a

cada pessoa uma sensação de existir, de ser alguém para ele mesmo e para o mundo. A

novidade é que o Tantra Yoga como filosofia entra como uma educação superior, após a

educação formal, e é “Como ser alguém para si mesmo” O mundo nos diz quem somos

pela intermediação do capital e dos valores morais e culturais. O capital resume-se a ter

acesso aos bens e serviços e ter uma vida digna, com Saúde e Segurança, e o trabalho

gera esta riqueza. Os valores éticos e morais estão formalizados nas leis que regulam

nossa vida social, mas falta uma parte, designada de espiritual ou religiosa, que teria que

dar um suporte espiritual além da Lei, e ao mesmo tempo responder as questões mais

comuns a todos, independente do Capital, e da Cultura.

O que somos nós? De onde viemos? Porque vivemos? Como aprendemos a Ser

alguém? Quem é este Alguém que somos? Porque sentimos angústia? Porque a

felicidade vem e logo desaparece? E a morte, como lidamos com nossa extinção?

O mundo todo sempre buscou uma resposta racional, lógica, sensata, para estas

questões, e desde que surgiu a palavra Yoga, ela parece oferecer ali a resposta, e está ali,

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sim, mas na forma que você jamais imaginou - como Tantra. Tantra é a forma e Yoga é

o conteúdo.

Como os termos utilizados vêm de outra cultura, as palavras chave foram

grifadas em Itálico, elas são de uma língua morta, o Sânscrito, que se prestou

admiravelmente para a filosofia. Perdoem-me os estudiosos, pois eu preferi simplificá-

las e depois o leitor poderá buscar se desejar sua exata grafia.

Mestre Bhava

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Examinando Yogas

Este livro surgiu como um esclarecimento ao enorme o número de pessoas

praticantes e interessadas em Yoga e até mesmo pelo fato de que seja um consenso que

Yoga seja uma prática, onde se executam Asanas, as Posições físicas, Pranayamas, os

exercícios Respiratórios, Yoga Nidrá um Relaxamento e Dhyánam a Meditação. A

partir dos últimos anos se comprovou pelas pesquisas históricas realizadas na Índia de

que os Asanas, que são as “posturas” ou “posições” feitas com o corpo, eles não faziam

parte do Yoga original, o termo simplesmente significa “assento” e pode ser uma

cadeira, ou almofada, um divã, ou seja, qualquer coisa estável para o corpo e para a

mente, e me perdoem em utilizar a palavra “mente”, entretanto depois irei reparar esta

expressão inadequada. Os Asanas surgiram somente nos últimos 150 anos, primeiro

eram duas posições, Padmasana e Sidhasana e depois se multiplicaram em 84 posições

e hoje temos mais de mil posições. Eu mesmo fui instrutor “deste tipo de Yoga” por

mais de 15 anos, e deixei de praticar e ensinar estes “tipos” de Yoga, por não ver nada

além de um mero exercício, ainda assim, muito bom para criar uma estabilidade, fazer

do corpo o seu lugar. Ainda não se conheciam no mundo, as bases do Yoga Real, até

pelo motivo de que não tínhamos ninguém que pudesse traduzir os textos sobre Yoga

diretamente do Sânscrito para o Português, o que tínhamos eram as versões no Inglês, e

na língua Francesa, destes textos. Então o Yoga que aprendemos foi a versão de alguém,

o mesmo ocorreu na Índia, na terra do Yoga, cada região, grupo, seita, dá ao Yoga uma

versão, não existindo até hoje nenhuma unanimidade a respeito.

Todos nós que dávamos aulas de Yoga ficávamos com a pulga atrás da orelha,

bem, pelo menos aqueles que buscavam algo ali que fizesse algum sentido, e que não

fosse pelo mero mercantilismo ou pela crença sempre presente nas linhagens de Yoga.

Muitos instrutores de Yoga no Brasil, e no mundo, e eu conheço centenas deles, eles

sabem que “aquilo” passa bem longe do que se denominou de Yoga, mas balançam a

cabeça, como se não pudessem e não podem mais voltar atrás. Eles se tornaram reféns

daquilo que praticam como uma verdade que lhes deveria libertar, não o fez, e eles

passam adiante este “embaraço”, nos dando um tapinha nas costas e falando algumas

palavras complicadas em sânscrito. Como ninguém entende sânscrito, fica o crédito de

que aquilo seja verídico.

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Yoga parece com aquela frase de Caetano Veloso, “Quanto mais se conhece (de

perto) pior fica (ninguém é normal)”

Em 1995 terminei as minhas pesquisas e viagens para ver, ouvir, e estudar os

grandes mestres do Yoga, e cheguei à conclusão que se tratava de uma coisa do tipo,

“Nós ganhamos nosso dinheiro, e as pessoas ficam felizes, portanto está tudo ok, para

que vamos mudar alguma coisa?”

Quando lancei meu primeiro livro sobre Tantra, em 1996, o Tantra; Sexo , Amor

e Meditação, e neste livro eu expus como fiz nas palestras, a minha opinião sobre

Yoga, eu fiquei sendo “o amaldiçoado no meio do Yoga”, e agora venho dar as devidas

explicações, aqui no Livro Negro do Yoga. Não é uma reparação ou a busca de um

desagravo, e sim expor o Yoga fora de seu ambiente, sem tendências.

Sabemos que Yoga como um protocolo filosófico é o que descreveu o Sábio

Patanjali em seu Yoga Sutras. Então tenho três motivos de estar aqui lhes dizendo algo

sobre Yoga: O primeiro é para confirmar aquilo que eu disse sobre Yoga em 1996 e o

segundo é para provar aqui, que Yoga existe e é uma filosofia maravilhosa, perfeita, se

for assimilada como filosofia, e não como crença ou ideologia mítica sem o Tantra. E

vocês podem ficar tranqüilos, pois isto eu vou fazer neste livro. O terceiro motivo é

apresentar em linhas gerais o que é Yoga, e Tantra Yoga, que ensino e inicio as pessoas

nele.

O título é O Livro Negro do Yoga e o sub título deste livro poderia ser Yoga

para não idiotas, e ele nem era provocativo, é fato, idiota vem do grego idiotes, que era

atribuído ao sujeito que imaginava que tinha alguma vida privativa, somente dele. E o

que é uma vida privativa? Não vem da cultura? Quem tem uma vida que não venha da

cultura? Então somente um idiotes pode imaginar que esteja fazendo algo que seja

privativo, só dele! Somos seres sociais, formados pela cultura, detentores de uma

linguagem que dá conta, bem, como veremos, pelo menos a linguagem tenta dar conta

de quem somos. Se o caro leitor pensa que possui uma vida privada, somente dele, eu

respeito, como uma imaginação ou como a crença em um futuro, ou na criação divina

do mundo. Mas nada disto tem a ver com Yoga. E aí surgiu o título atual, O Livro

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Negro do Yoga, pois quem vive uma vida privada vive sem luz, sem perspectiva sobre si

mesmo. Sem futuro.

O que seria uma vida privada que não tenha vindo da cultura? Está certo que

defendamos algum tipo de vida espiritual privada, mas o que ela nos diz? Como ela nos

responde? Que leis ela segue? Nada sabemos dela, pois tudo que fazemos é através de

um discurso, e este, vem da cultura, dos demais e da nossa relação com tudo.

Yoga é este desafio - o de buscar a melhor versão de você mesmo.

Será que ele existe? Ou teremos que inventá-lo? Sempre se usou de motivos e

necessidades para a prática do Yoga, como um chamariz, pois geralmente se promete:

Um corpo bonito e saudável

Grande capacidade de concentração

Idéias flexíveis (exceto quanto ao que seja Yoga)

Melhor qualidade de vida

Felicidade

Bem, nesta busca pela melhor versão de você mesmo, um masoquista gostaria

mais ainda de sofrer e um perverso gostaria mais ainda de fazer os demais sofrerem, não

é mesmo? Ou será que Yoga muda a Psique de alguém ao ponto de curar? Creio que

não, Yoga cura tanto como uma caminhada diária, ou uma corrida diária. Nos meus

profícuos anos de Mestre de Yoga, na modalidade para pessoas que imaginam que

possuem uma vida privada, e assim são quase todos os Yogas que você encontra por aí;

Bem, nestes anos percebi que uma pessoa desmaiada fica flexível, até além do ponto

onde impediam as tensões psíquicas, mas o aumento da flexibilidade por alongamentos,

pelos Asanas do Yoga. Ele não mudava as tensões que a Psique exerciam sobre o corpo,

e pior, elas passavam a afetar os órgãos, e ai me lembrei muito do Analista Wilhelm

Reich na sua versão de Couraça muscular do caráter, e de Ida Rolf, na sua técnica de

desfazer as Fáscias, regiões de ligamento das estruturas que deveriam ser deslizantes

nos músculos. Rolfing funciona, mas Yoga não funciona, Rolfing dói, é terrível, mas

funciona, sabe-se lá como, mas funciona. Mas veremos que esta entrada do Yoga no

mundo da ginástica é posterior a proposta original do Yoga. Entretanto não se pode

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desprezar um século de desenvolvimento realizado pelos Hindus a partir das ginásticas

militares, origem dos Asanas.

Outra área defendida com verdadeiros milagres pelo Yoga é a área da respiração,

os Pranayamas. A respiração é uma parte da fisiologia muito complexa, ela funciona

pela concentração de gases, pressão interna e externa, posição e amplitude dos

conjuntos de músculos, ansiedade tec. e tudo isto monitorado por sensores localizados

no coração, na parte interior de artérias e no bulbo. E aí nesta área eu vi verdadeiros

absurdos, como respirações forçadas que produzem mais toxinas no sangue, oxidando

as células, e as pessoas ficam com uma sensação de leveza, intoxicadas pelo acúmulo de

CO². O nosso sistema nervoso evoluiu milhões de anos, e todos nós temos a última

versão do programa, e vem um sujeito e lhe diz que você deve respirar de certa forma e

em um certo ritmo. Bastaria uma reeducação respiratória, nada mais.

Se Yoga desse mais saúde aos seus praticantes, daria mais longevidade, e não é

o que vemos por aí, Yogues morrem cedo, com diabetes, câncer, infartos, exatamente

com todos os demais mortais do planeta. Dieta “Sattwica” para Yogue indiano é a

ingestão de açúcar, sorvetes, e de doces em profusão, dizem eles, aumenta a capacidade

espiritual, e mata bem rápido também, como Vivekananda, que morreu diabético aos 39

anos, e Yogananada que morreu diabético aos 50 anos.

O leitor desconfiado poderia dizer: Mas na meditação, aí sim, nesta área o Yoga

é insuperável! Então experimente perguntar o que é meditação para alguém do Yoga,

faça o teste, cada pessoa lhe dirá algo diferente, ninguém sabe exatamente o que seja

isto! Se existe uma zona do Yoga onde ninguém se entende, é quanto a natureza da

prática da meditação, Dhyánam, e aí nós vamos desde a imaginação de chamas que

sobem pela coluna, ou engrenagens que estão enferrujadas, chamadas de Chakras e que

a meditação desperta, as fazendo girar, esta das engrenagens enferrujadas como sendo

Chakras eu vi em um blog de um monge Natha de Santos, no Brasil, e ele segue a

tradição de Gorakshanatha! Outra que vi como meditação é imaginar entrar no coração

e lá pedir a uma árvore sagrada que os seus desejos sejam realizados e esta árvore

concede todos os desejos; ou então a um mestre de barbas longas que mora lá sentado

em um trono enjoiado; existe também a MT, Meditação Transcendental, que poderá

fazer você levitar, bastando repetir o mantra da sua idade, tem uma tabela com os

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mantras de cada idade; mas nada é mais bizarro quando se trata de meditação e

Kundaliní, exatamente o que conheço, pois eu ensino Tantra Yoga e quando se fala em

Kundaliní, a coisa fica bastante feia, dizem que se deve ter cuidado, pois uma vez

despertada o seu apetite sexual será insaciável, e para sempre! Relatos não faltam, como

o de uma senhora de seus 60 anos, dona de casa, que foi a uma sessão de Kundaliní

Yoga e a energia despertou, ela saiu do estúdio com os olhos vidrados, desceu as

escadarias do estúdio de Yoga, e ali na rua mesmo saiu convidando todos os homens

que passavam para um sexo selvagem! Esta última me lembra, e muito, a novela de

Orson Wells, sobre a invasão marciana, uma novela do rádio, e as pessoas acreditaram

que se estava relatando uma invasão marciana real, pelo rádio, entretanto tratava-se de

uma novela! Em poucas horas mais de 100 mulheres diziam ter sido estupradas por

marcianos! Ainda na área de Kundaliní temos a versão de fazer sexo sem ejacular e ou

gozar, pois o Bindu, a energia espiritual estaria no esperma e ele não pode ser

desperdiçado! Nesta versão, as mulheres não tem Bindu, tem Rajas, sendo, portanto

cidadãs desprovidas da capacidade iluminativa! Outro tipo de Kundaliní Yoga,

Daksihna Tantra Yoga é o alinhamento do Kanda, segundo eles, existe uma semente,

um órgão espiritual no corpo, o Kanda, e as pessoas precisam alinhá-lo, como se faz

com um carro, não ria caro leitor, é isto mesmo! Seus problemas podem advir de seu

Kanda desalinhado! E hoje os pais ainda estão preocupados com seus filhos, porque eles

estão jogando RPG!

Já vi de tudo neste universo Yogui, desde pessoas sentadas sob uma lâmpada

incandescente de 500 watts, cujo cabelo queimou; pessoas sentadas de costas para o

trem na linha férrea, para sentir Kundaliní despertando, e ali no último minuto sair

correndo; pessoas sentadas batendo o cóccix no chão para despertar esta força; pessoas

que fazem pactos com o demônio, ao estilo Aleister Crowley; pessoas que bebem urina

de uma mulher grávida de um monge celibatário; treinamento para ter cara e atitude de

General Patton, pois segundo este professor de Yoga famoso no Brasil, ele, Patton, tinha

sua Kundaliní atualizada. E eu me senti um idiota lá sentado recebendo um treinamento

de General Patton para atualizar minha Kundaliní! Enfim caro leitor, eu aqui lhe poupei

de coisas bem piores, é uma pena que pessoas que se dedicam ao Yoga tenham que

conviver com tudo isto.

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A única instrução possível para uma meditação seria: SS - Sente e Sinta. A

mesma de Hui Neng: ZZ - Za e Zen.

Se Yoga é a busca pela melhor versão de você mesmo, é natural que passemos

pelas versões mais toscas, elas também fazem parte do Humano, daquilo que os Gregos

diziam como a saída do homem idiota para o homem público. As fantasias que as

pessoas fazem com o Yoga deram-se muito, devido à linguagem metafórica de muitos

textos e mestres, e mesmo, e principalmente na Índia, existem pessoas que vem neste

exotismo uma forma de sustento, e garantia para a atração de ocidentais.

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O que é Yoga?

Já viram quantos rodeios e digressões fazem as pessoas quando lhes

perguntamos O que é Yoga? Desde a resposta mais clichê, que é: Yoga é uma filosofia

de vida, prática. E a palavra “prática” no final é o pior, deveriam parar na filosofia de

vida. Pois praticar Yoga significa ir para uma escola, academia, clube, e estando lá com

um grupo, fazer uns alongamentos, respiratórios, relaxar e meditar. O que seria de fato

praticar Yoga? E os tipos de Yoga se multiplicam como parceiros férteis sem

anticonceptivos e sem TV. Tem Yoga de todos os tipos, desde os tradicionais até Yoga

na Sauna, Yoga na piscina, em cima de cavalos, bicicletas, Yoga com pedras, Yoga com

luz, Yoga com água, Yoga com fogo, Yoga no gelo, Yoga dos olhos, Yoga do Riso,

Yoga dos Astros, Yoga dirigindo, Yoga da morte, etc

Os principais são Hatha Yoga, Asthanga Yoga, Raja Yoga, Jnana Yoga, Karma

Yoga, Bhakti Yoga, Kundaliní Yoga, e Tantra Yoga. Cada um deles ainda vem com um

pacote extra de ponto de vista religioso, filosófico, esotérico ou exotérico. Parecem

muita as obras de Niemeyer, lindas na frente e nos fundos tem um puxadinho anexo

onde tudo funciona.

Outros tipos, como o Swásthya Yoga, popular aqui do Brasil, e que eu conheço

bem, acrescentam ao pacote que ele é o único original, que é o mais antigo, e que é

matriarcal, sensorial e desrepressor! E ainda defendem a idéia de que ele existe há 5000,

6000 mil anos, e era praticado pelos Drávidas, que na verdade eram os aborígenes da

Oceania que migraram para o continente indiano e que antes vinham provavelmente da

Atlântida! Mas como eles foram massacrados pelos Arianos cruéis, e com isto o Yoga

ficou sendo secreto. Uma história da carochinha desmentida pelos antropólogos e

historiadores da Índia.

E o Hatha Yoga? E aí começam as maiores celeumas, pois se diz que foi criado

por um monge chamado Goraksha, no século VIII depois de Cristo, e que seu Guru, que

se chamava Matsyendra, fundou uma ordem Natha, assim Goraksha passa a ser

chamado de GorakshaNatha. Uma das versões do Hatha Yoga é deste Yoga Natha, e

que passou a ser Hatha. Eu ouvi estarrecido em um curso para Formar Instrutores de

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Yoga, ministrado pelo Prof De Rose, e era a seguinte a sua explicação: “Era Natha, mas

uma traça (isto mesmo caro leitor), foi uma traça que comeu a ligação do N, e as

pessoas passaram a chama-lo de Hatha.” Uma simples traça mudou o Yoga!

Pensam que acabou? Tem mais:

HathaYôgaPradípika

No século XI d.C., Gôraksha escreve seu livro Hatha Yôga, que logo passa a ser

perseguido por tratar-se de modalidade tântrica numa época de vigência

brahmácharya. Todos os exemplares são destruídos e os seguidores desse ramo

são torturados. Por medo do martírio, instala-se o censurável costume, que

perdura até os nossos dias, dos praticantes desse ramo de Yôga tântrico, o

Hatha, declararem-se contra o Tantra! O livro proibido de Gôraksha Natha, por

sua vez, é reescrito de memória por um discípulo, décadas mais tarde, quando

as coisas se acalmam.

Prof. De Rose

Fonte: Origens do Yôga Antigo; Prof De Rose.

Sabe-se que Gorakhsa era analfabeto, portanto não escreveu livro algum, mas a

ele se atribuem livros, como o Goraksha Paddhati. Ele era um mágico, curava as

pessoas, dava passes, vendia amuletos, era como dizem os seus estudiosos, um

taumaturgo, um Siddha. Mas todas as teorias sobre ele caem quando se lê o Tantra

Aloka, onde o autor, Abinava Gupta presta uma homenagem ao seu Guru, Matsyendra, e

como Matsyendra e Abinava Gupta viveram no século X depois de Cristo, portanto

Goraksha que também foi discípulo de Matsyendra não poderia ter vivido antes, como

afirmam algumas seitas Nathas. Goraksha jamais poderia ter escrito o Hatha Yoga

Pradipika, livro que foi escrito por Svatmarama no meio do século XIV, então fica em

dúvida o que afirma o professor de Yoga brasileiro que este texto foi escrito por

Goraksha.

Ainda na tentativa de responder a pergunta deste capítulo, O que é Yoga? Vou

recorrer a um livro que já considerado como a “Bíblia do Yoga” ele escrito por Georg

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Feuerstein, este livro é chamado de A Tradição do Yoga. Logo na pagina 35 da versão

em Português temos a definição:

Yoga é um fenômeno espetacularmente multifacetado e, como tal, é muito difícil

de definir, pois cada regra concebível terá suas exceções. O que todos os ramos

e escolas têm em comum, porém, é o fato de estarem ligados a um estado de ser

ou de consciência que é realmente extraordinário. Yoga é êxtase.

Um dos mais antigos textos sagrados do Yoga, o Yoga-Bhâshya de Vyâsa,

resume essa orientação essencial na seguinte fórmula: Yoga é êxtase.

Neste texto escrito em sânscrito a palavra traduzida por êxtase é Samâdhi.

Mais a frente, vamos explorar este êxtase extático, que é o Samadhi, em cuja

condição todos nós permanecemos sempre o mesmo, independente das alterações,

qualidades e estados do nosso pensamento.

A palavra Samadhi é composta pelos prefixos “Sam” e “a” e depois com a raiz

verbal “Dha”, sendo, portanto, colocar-se junto. Se Yoga é Samadhi, significa que

Yoga é colocar-se junto do que se é.

Existem milhares de Gurus e professores de Yoga, e cada um tem uma versão do

mesmo fato, explicando o que é Yoga pela carga filosófica, religiosa, mítica de cada

um, é claro. Aí nestes pontos de vista as pessoas estão agrupados segundo sua

semelhança, crença, e isto se chamam de escolas de Yoga , linhas de Yoga, seitas, etc

O que de novo nos traz o Yoga que já não trazem as grandes religiões? Qual é o

meio de colocar-se junto a si mesmo?

Milhões de dólares passam pelos Gurus, templos, escolas de Yoga de todo o

mundo, pois todos nós desejamos saber como fazer isto, já imaginaram poder ser o que

se é de fato, para sempre!

Dito isto, então vamos ver as 14 mais famosas definições sobre Yoga:

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1.Yoga é Samadhi - Yoga Bhashya Vyasa.

2.Yoga é equilíbrio - Bhagavad Gita

3.Yoga o caminho eterno da realização do divino - Taittirya Upanishad

4.Yoga é habilidade em ação - Bhagavad Gita

5. Yoga é compostura impassível - Shankara

6.Yoga é a unificação da teia das dualidades - Yoga Bija

7.Yoga é uma arte, uma ciência e uma filosofia - B.K.S Iyengar

8.Toda vida é Yoga - Sri Aurobindo

9.Yoga é supressão dos turbilhões mentais – Shivananda

10. Yoga é impedir que a matéria mental tome formas variadas – Vivêkánanda

11.Yoga é a supressão dos estados de consciência - Mircea Eliade

12.Yoga é a habilidade de dirigir a mente exclusivamente para um objeto e

suster essa direção sem quaisquer distrações – Dêsikachar

13.Yoga é a inibição das modificações da mente – Taimni

14.Yoga é o estado do ser em que o movimento ideacional eletivo da

mente retarda-se e chega a deter-se – Dêshpandê

E outras menos precisas:

O Yoga consiste em suprimir a atividade da mente - Vishnudêvánanda

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Yoga é a restrição das modificações da matéria mental - Satchidánanda

Yoga é impedir que a substância mental tome formas variadas - Lin Yutang

Yoga é a inibição das funções da mente - Satya Prakash

Yoga é a supressão das modificações da mente - Gardini

Yoga é o controle das idéias no espírito - Padmánanda

Yoga é o controle das ondas-pensamento na mente - Prabhávánanda

Yoga é controlar as atividades da mente - Purôhit Swámi

Yoga é restringir de modificações o complexo-personalidade – Yôgêndra

Yoga pode ser atingido pelo domínio da tendência natural da mente de

reagir a impressões - Stephen

Yoga alcança-se mediante a subjugação da natureza psíquica e a sujei-

ção da mente – Bailey

A União, a consciência espiritual, logra-se por meio do domínio da versátil

natureza psíquica - Charles Johnston

Yoga é a restrição dos processos da mente. - Tola e Dragonetti

Yoga é o controle das idéias na mente - Ernest E.Wood

Yôga é controle das funções mentais – De Rose

Então o caro leitor já deve ter notado um padrão em definir Yoga como algo

que possa controlar, restringir, subjugar, dominar, retardar, inibir, impedir, suprimir a

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“mente’. Mas de onde veio a definição que deu origem a tantas interpretações? Exceto

aquelas que foram feitas antes do Yoga Sutras. É o que vamos veremos em seguida pois

sempre surge a palavrinha mágica “mente” que resolve a coisa, embora não resolva

coisa nenhuma.

Patanjali viveu no Século III depois de Cristo foi o autor da promulgação do

Yoga como um dos caminhos espirituais, Darshana, na Índia. São seis os Darshanas

ortodoxos aceitos. Sua obra, o Yoga Sutras, abre oficialmente o Yoga como uma visão

reconhecida pela sociedade indiana, como um caminho filosófico. Por esta razão o Yoga

é considerado como um dos seis Sistemas Filosóficos da ortodoxia filosófica da Índia.

O contexto dos Yoga Sutras e o uso das palavras apontam para a dinastia Gupta, entre

os Séculos III e V d.C. e não o século II d.C., como alguns acreditam.

Como Patanjali define Yoga?

1.2 Yogashcittavrrtinirodhah

(Yogash citta vrrti nirodhah)

O Yoga é o recalque [nirodhah] das percepções [vrrtis] do pensamento [citta]

Citta - Consciência distintiva, pensamento.

Vrrtis - Redemoinho de percepções.

Nirodhah – Recalque, restrição.

O leitor poderá perceber que não está escrita a palavra Manas na descrição de

Patanjali, e sim a palavra Citta. Manas significa Mente, mas ela é usada pelos

interpretadores, Gurus e professores de Yoga, o que confere um caráter diferente a

formulação do Yoga. Como um controle da mente, um detalhe pequeno, mas

fundamental, e que irá fazer toda a diferença como veremos.

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Um outro erro bem grosseiro é na palavra Vrrti, como função, idéia, processo,

atividade, modificações etc A palavra Vrrti significa redemoinho, dando a idéia de algo

que venha de fora e seja captada pelo Yogui, ou seja, percebido, então a palavra Vrrti no

sentido dado por Patanjali é percepção e não idéia (até mesmo por que a idéia surge

depois da percepção) ou modificação. Patanjali não cria uma tecnologia da Psique, mas

relata com uma precisão impressionante como ela funciona.

Agora podemos falar da palavra Nirodha, traduzida como controle, subjugação,

domínio, retardo, inibição, impedimento, supressão etc como se o sujeito, como se

fosse ele quem fizesse tal controle, o que é um erro que compromete toda a prática do

Yoga. Nirodha é uma “restrição natural”, Ni significa um movimento para dentro.

Nirodha é o recolhimento automático e não o ato de trazer para dentro algo que se

espalhou do lado de fora, é imposto pela própria percepção e é isto que escapou de

quem tenta aprender Yoga. Sabe-se que os capítulos do Yoga Sutras foram introduzidos

posteriormente para reforçar a tese de que o Nirodha fosse produto de uma prática e

com isto o Yogue controlaria a percepção, mas isto é impossível sem uma crença.

Assim todo o processo de entendimento do Yoga começa por este suposto

controle e depois se estende ao corpo, e para as normas morais como Yamas e Niyamas.

O Yoga Sutra em sua composição posterior já apresenta quatro Capítulos, Pada,

distribuídos assim:

Samadhi Pada – O Capítulo do Samadhi, 51 aforismos

Sadhana Pada – O Capítulo da Prática, 55 aforismos

Vibhuti Pada – O Capítulo dos resultados, 55 aforismos

Kaivalya Pada – O Capítulo do Isolamento, 34 aforismos

Na verdade Patanjali compilou o que se tinha sobre a busca de si mesmo desde a

era do budismo, e até de antes do Budismo, em um texto de Sutras que lutava para

retomar o espaço perdido NO Hinduísmo para o Budismo. E historiadores dizem que

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várias palavras somente existiriam muito mais tarde, e, portanto, o texto sofreu

alterações posteriores.

E agora o leitor deve estar se perguntando, como e porque tivemos todas estas

alterações até hoje, e em centenas de tipos de Yoga, se na verdade Yoga era aquilo que

foi compilado por Patanjali? É claro que aqui eu não posso fazer um estudo comparativo

de todo o Yoga Sutras [dois bons professores que fazem este estudo são João Carlos B,

Gonçalves e Carlos Eduardo Gonzales Barbosa], a proposta deste livro é alertar para as

pessoas que existe sim um Yoga verdadeiro e autêntico e que pode ser praticado, porém

ele é completamente diferente do que se divulga por aí, O livro Negro do Yoga é esta

apresentação. Os conhecedores da semiologia na Índia, eles riem disto tudo, e balançam

a cabeça dizendo que é o Karma de cada um que atrai estas barbaridades, ditas sob o

nome do Yoga, e deve ser mesmo.

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Introdução a um Yoga Real

Eu fiz aqui um resumo da interpretação do Yoga, baseado em Patanjali, neste

resumo retirei os Sutras que são relevantes quanto ao aspecto filosófico, e que

representam algo muito valioso criado muitos séculos antes de Arthur Schopenhauer,

Freud, Husserl, Merleau –Ponty e Lacan, revelarem cada um deles, um aspecto da

Psique e seu mecanismo de percepção. O que impressiona em Patanjali é que ele já

havia descrito estas idéias com grande precisão no século III depois de Cristo. Para a

consulta de uma boa tradução dos Yoga Sutras na Língua portuguesa, eu indico a feita

por Carlos Eduardo G. Barbosa.

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Mestre Bhava – Sutras do [Tantra] Yoga

Abaixo segue um Sutra com 18 frases, feitas por mim em 1997, uma adaptação

de um possível Yoga segundo o contexto Tantrico, uma breve mas importante

introdução ao Tantra, sem as metaforizações que são tão comuns nesta filosofia, fica a

critério do leitor ou do estudante meditar nestes sutras, cujo objetivo é o de conciliar,

unir, costurar a verdade, proporcionando uma abertura espiritual, um conhecimento

superior que seja capaz de produzir o Svavidya, o Autoconhecimento. Nos círculos mais

fechados do Tantra se chamava este conhecimento de Svatantra, conhecer a realidade

equivale a conhecer a si mesmo.

1. Agora a Descrição do Yoga.

2. Yoga é o recalque [Nirodha] das percepções [Vrttis] do

pensamento [Citta];

3. Então aquele que percebe se manifesta em sua

natureza mais autêntica;

4. Nesta condição ele está perfeitamente adequado à

percepção [Vrttis] Real;

5. Samadhi é a percepção como a própria medida do

objeto, esvaziando-se de sua própria forma pela

imanência subjetiva do Ideen;

6. Meditação [Dhyánam] é a continuidade [da imanência

subjetiva] nesse único objeto;

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7. Concentração [Dhárana] é a retenção da imanência

subjetiva, como sendo o objeto;

8. Estes três passos reunidos são o [Samyama]

(meditação automática);

10. São três as manifestações da Identidade, Samadhi,

Dhyánam e Dhárana;

11. Estas três manifestações são produto de um

fenômeno de identidade, Kundaliní;

12. A primeira transformação do pensamento é a

Ideentificação [Samadhi ];

13. A segunda transformação do pensamento é a

Meditação [Dhyánam];

14. A terceira transformação do pensamento é a

Concentração [Dhárana].

15. Este processo se dá em duas direções, a da expansão,

Tan, e o da retração, Tra.

16. A expansão [Tan] se dá pelo Samadhi sem semente,

Nirbijasamadhi, e a retração [Tra] se dá pelo Samadhi

com semente, Sabijasamadhi.

17. O Nirbijamadhi surge com a Identidade e o seu Ideen.

18. O Sabijasamadhi surge como a expressão desta

identidade, como ser no mundo – Ishvara.

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A primeira manifestação do sujeito diante do Objeto é “sofrer” o

Samadhi, a percepção como sendo a própria medida do Objeto. No

Samadhi o sujeito está perfeitamente identificado com o objeto, e

tudo o que restou, aquilo que não combina e que não está

identificado, é recalcado. E o que é identificado é um fenômeno, uma imanência

subjetiva que coloca o sujeito percebedor ao lado, junto da Consciência [A mesma nos

dois, e em todos, Ideen]. Dito isto, o Samadhi é inconsciente, é um fenômeno tão

instantâneo e rápido, Tan, que quando temos consciência dele, ele já é uma meditação

[Dhyánam, experiência continuada do Samadhi], há ainda um sabor de magia, uma

expansão, abertura. Logo depois temos o fechamento, a sua restrição como um objeto,

como Dhárana. E começa a fase de conhecimento [Vidya] do que foi expandido [Tra].

O Yoga foi a descrição do processo de Ser, a que todos nós humanos estamos

submetidos, e o Tantra já aprofunda o conhecimento deste processo, e o coloca como

natural, próprio do Ser dentro de um contexto naturalista.

Então o mecanismo primal do Tantra Yoga é a identificação de um objeto como

sendo idêntico ao Ser. Como duas coisas iguais não produzem nada, se empatam,

produzem o estado de Ser mais elevado da consciência humana, o Samadhi. Esta

nulidade intrínseca de duas coisas idênticas produz o esvaziamento da própria forma do

Ser, espelhado no objeto-ideen, no outro. A percepção já é o produto do Samadhi, uma

imanência subjetiva. Produto do fenômeno da identidade, Kundaliní.

Isto ocorre a todo instante, tão rápido que não podemos perceber, pois perceber a

percepção já é um ato posterior à própria percepção, é a meditação. No instante seguinte

temos a volta do que foi recalcado, negado, para ser comparado com a identidade. Logo

a meditação é uma admiração, um maravilhar-se por tudo que é a identidade, por um

breve momento em que a identidade está anulada de sua egoidade. E no instante

seguinte temos o fim do ciclo, Samyama, o Dhárana. Aí vemos e retemos o que foi

recalcado, negado, e logo somos também este resto, o objeto, a linguagem.

Este ciclo entre o Samadhi e o Dhárana é o da expansão, Tan, e o ciclo do seu

declínio é o ciclo Tra, e entre os dois temos o Dhyánam, a meditação como o meio que

mede, e que irá começar quantificar e qualificar uma experiência e depois desfaze-la

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como dado conhecível. Por este motivo D.T. Suzuki classificou o Prajna como tendo

dois sentidos na sua obra A doutrina Zen da Não mente, um estudo sobre Hui Neng. A

meditação [Dhyánam] precisa possuir um ar espiritual do Samadhi e pelo outro lado e

possuir a determinação do Dhárana.

Primeiro temos uma expansão do Samadhi ao Dhárana, passando pela

meditação, pelo Dhyánam, um Tan e depois um ciclo contrário, o Tra, o da expansão

para a retração, feito a partir do Dhárana, e logo vem o Dhyánam ate o Samadhi

novamente.

Esta alternância é a Biunivocidade, é o Tan e o Tra, feito pela identidade que se

identifica, reconhece [Samadhi] e ultrapassa o que ela é [Dharana], e depois volta, se

reassume tornando o presente um passado, um dado. O Dhyánam é um estado

intermediário, em que podemos dar valor ou não a uma experiência por intermédio da

nossa cultura, e ele ocorre tanto na fase Tan, quando estamos sob o impacto do Gozo do

Samadhi, e ocorre também no retorno pelo Tra. Por este motivo chama-se de Nivrrti e

Pravrrti ou Anuloma ou Viloma, o ciclo de Tan e de Tra.

Assim o Dhyánam, ou a meditação é a valorização que fazemos de uma

experiência da identidade com o objeto [eu sou], com aquilo que lhe é similar, um

sentido de evolução subjetiva [intersubjetiva], logo a ser incorporada pelo Dhárana,

como um dado [eu sou isso]. Na volta, no Privrrti, ou na “descida” com se diz no

Tantra, este dado precisa ser incorporado ao ser falante e pensante e então começa um

ciclo contrário [Tra], de Dhárana ao Samadhi, aqui o Dhyána atua como gerador de

discurso, pois coloca a experiência sob o rigor da linguagem, de uma evolução objetiva,

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TANNirbijasamadhi > Dhyánam > Dhárana

TRASabijasamadhi < Dhyánam < Dhárana

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e depois temos o Samadhi, este sim chamado Savikalpa ou Samadhi com semente, Bija,

Sabijasamadhi.

Desta forma o Tan é produzido por um Samadhi chamado de Nirvikalpa ou sem

semente, Bija, também chamado de Nirbijasamadhi, pois a semente foi a existência de

um outro percebido, como também portador da mesma identidade comum, Cósmica,

idêntica a si mesmo. Existe um meio secreto de fazê-lo acontecer pela Diksha, onde o

Guru em Samadhi produz o mesmo no outro, pela sua identidade comum.

O Tantra surge do conhecimento deste fenômeno, como Kundaliní, que produz a

identidade entre os seres, produzindo a percepção, oriunda deste impacto subjetivo, o

Samadhi. Isto comprova que temos uma parte comum, uma Consciência comum, sem

isto não haveria a percepção, e nem uma linguagem. Então o Samadhi chamado

Nirvikalpa é um êxtase instantâneo quando vemos algo e ele nos atrai de alguma forma,

pois ele também representa a Consciência única, aquele Eu que é o mesmo Eu original,

chamado no Tantra de Shiva. A ideentidade são as duas coisas idênticas no Universo, e

o fenômeno vem daí, deste fenômeno surge a percepção, muito bem descrito por

Husserl e Marleau – Ponty.

E isto ocorre por que:

2. Yoga é o recalque [Nirodha] das percepções [Vrttis] do pensamento [Citta];

3. Então aquele que percebe se manifesta em sua natureza mais autêntica;

Na operação descrita resta um percebedor, na passagem de EU, para EU SOU

EU, e logo surge um EU SOU ISSO, e logo depois um ISSO SOU EU, sendo o EU

SOU EU é a identificação entre a mesma estrutura, é a Consciência que não termina,

pois é infinita, esta identificação é Yoga, o Samadhi, o êxtase. Em um momento

seguinte temos o Dhyánam como EU SOU ISSO, e logo o fim do primeiro ciclo do

Tantra como Dhárana, o ISSO SOU EU, a definição pela linguagem, a decodificação

do Ser vertido para um conceito. Na fase do Tra temos a volta ao Tan pelo processo de

desfazimento.

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....EU > EU SOU ISSO > ISSO SOU EU > ISSO TAMBÉM SOU EU > EU...

O momento em que somos é muito rápido, como que atingidos por algo, como

um raio, que nos impacta, é o Samadhi, não como Insight, mas puro, fenômeno do

Universo, e que desta forma mantém separados em corpos a mesma Consciência, e a

linguagem como algo que tenta dar conta desta separação, gerando uma versão cada vez

melhor de si mesmo. O insight virá depois quando Dhyánam dará continuidade ao sabor

de ser si mesmo, de ter estado ali, junto de si mesmo, da Consciência única, e daí surge

um Dhárana, um EU SOU ISSO. O Insight virá depois neste ciclo do Tra, passando

pelo Dhyánam como um ISSO a ser colocado na cadeia de significantes, e lá ele surge

como Samadhi, mas com semente, com ISSO SOU EU. Na verdade não existem dois

tipos de Samadhi, ele é um só, o tempo todo ele é um só. As identificações é que

produzem um ciclo de percepção e depois uma volta ao estado natural forçada pelos

sonhos e pelo sono.

Os hindus simbolizam este Eu, a Consciência, como um ponto chamado Bindu, e

teorizam que na volta ao Samadhi, as impurezas sempre são destruídas, pois a

identidade identificará a original, portanto aquilo que não é ela, será convertido em

recalque, sempre, pelo fenômeno chamado de Kundaliní. Assim cada letra de cada

região do corpo é um pedaço deste Bindu, deste ponto original, arrumados em quatro

regiões, La, Sa, Va, Ra, Ya, e Ha. No Samadhi esta letras ganham vida, e se tornam

Lam, Vam, Ram, Yam, e Ham. Cada região destas foi chamada de Chakra. Elas

somadas dão as letras do alfabeto, portanto, o Samadhi faz uma espécie de comparação

com a identidade original em cada Samadhi. Esta comparação é uma Ideentificação.

No Yoga Sutras, Patanjali coloca esta testemunha que se cria com o nome de

Ishvara, que significa a semente da onisciência, abrindo uma possibilidade de um

Principio de Consciência, mas muito longe de determinar a existência de um Deus ou

como age este Princípio, pois ele mesmo não pode agir em nada, ele é imutável, para

sempre. Não fica claro se ele se refere a Consciência em cada um de nós, mas não

poderia ser diferente, já que ele formaliza o processo, a partir da identificação entre a

mesma Consciência.

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Analisando mais o mérito do fenômeno como identificação, sabemos que duas

coisas iguais não se atraem e nem se repelem, cria-se um campo neutro entre ambas,

coisa que não existe em nenhum lugar na matéria que sempre tem uma atividade

incessante de diferenças de potencial. Nós não sabemos o que ocorre quando duas

coisas idênticas são postas frente a frente, e não é pelo desejo de nenhum dos dois que

algo ocorre, então a Consciência frente a ela mesma não produz desejo algum que não

seja representar esta Consciência de alguma forma em um terceiro. E aí se dá a

passagem do:

Eu e Eu – Identidade, Shiva – Consciência.

Eu Sou – Manifestação de Kundaliní – Shakti como Idden.

Eu Sou Eu – Primeira manifestação de Vontade, Icchá – Shakti.

Eu Sou Isso – A primeira Percepção, Ishvara – O Criador.

Isso Sou Eu - O Primeiro conhecimento, Vidya – O conhecimento.

Por este motivo o Tantra afirma que a Consciência se manifesta como linguagem

no ser humano, e após o fenômeno da imanência subjetiva, o Samadhi, produz-se uma

percepção, Vrrti, como pensamento, Citta. O Ser [Ishvara] no Tantra, ele surge quando

Eu Sou Isso, quando crio aquele que percebo [Vrrti] e depois surge a percepção como

meu Pensamento [Citta]. Sendo o percebedor um Purusha [ o Homem] e o percebido

Prakriti [ a substância, o dado]

O Tantra surgiu quatro ou cinco séculos depois de Patanjali, que expôs o Yoga

no Século III, e nem mesmo existe até hoje a descrição de Kundalinì antes do Século X

depois de Cristo, pois o Tantra foi uma síntese dos conhecimentos sobre a Psique, sobre

a Alma, que se faz vivente no ser humano, Jivatman. Como ser que se cria a partir da

identificação como criador de si mesmo, Ishvara.

Antes de Cristo tínhamos os Vedas como sendo a base destes conhecimentos, e

haviam Tantras como sendo os rituais Védicos, os Ágamas, depois tivemos a

compilação do Yoga Sutras e bem depois houve o surgimento do Tantra, por volta do

século X, que incorpora os valores antigos, mas em um contexto factível – a linguagem.

Ora, então a Alma deve ter uma estrutura que lhe permita ouvir, falar e pensar por um

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certo número de letras, que formarão as palavras e uma Alma, dando a ela um sentido

como seu senhor, Ishvara. Os sábios então teorizaram que o corpo psíquico era feito de

sons e não de luz, e este sons distribuídos são exatamente os Chakras. O Tantra fez o

que Lacan fez agora no século XX, e nem ainda foi bem assimilado pelos analistas e

filósofos, e isto já estava sendo feito no Século X na Índia.

No Ocidente Freud começa a construir uma Psique, pois o ocidente não tinha

nem uma vaga idéia de como deveria ser e funcionar a Psique em 1910! Ele bebeu desta

fonte oriental? Com certeza que sim, pois eram idéias que causavam um grande

alvoroço na Europa na época.

Então o Yoga e o Tantra representam dois momentos filosóficos marcantes na

humanidade, pois eles revelam lá no Século III depois de Cristo, aquilo que somente

surgiria com Husserl e Merleau – Ponty. E que ainda está obscuro para a maioria dos

orientais e dos ocidentais.

Depois desta apresentação o sistema do Tantra Yoga fica claro, pois não existe

Tantra sem Yoga e nem Yoga sem Tantra. Este último surge na região conhecida como

Bengala, Nordeste da Índia, e desta forma nós já temos uma base teórica, Yoga; e a sua

prática como uso da linguagem, Tantra. Ficando claro um caminho que é Dvaita, dual,

em que a realização como Samadhi é um processo de Ser, e não o fruto de uma

disciplina, e este viés, o da promessa de uma realização perene é, e foi, durante séculos,

prometida aos seguidores, praticantes e estudiosos, como algo realizável sob o rigor de

um sistema. O Sagrado que está sendo vendido como coisa a ser buscada na sabedoria

de um outro, estabelecendo um compromisso de fidelidade sobre algo que é sempre

inalcançável, não é o Yoga e nem é o Tantra.

O Livro Negro do Yoga é esta informação, a de que existe o Yoga natural no

qual todos os seres são, pois é somente pela virtude desta identidade e do fato de que ela

existe, e que produz a manifestação como percepção, e é daí que temos uma cultura,

algo que nos separou definitivamente dos animais. Esta posição é pacífica, embora na

prática também freqüentemente negligenciada. No Latim temos um interessante ditado:

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“Primus modus unionis est, quo Deus, ratione suæ immensitatis est in omnibus

rebus per essentiam, præsentiam, et potentiam; per essentiam ut dans omnibus

esse; per prmentiam ut omnia prospiciens: per potentiam ut de omnibus

disponens.” – “O primeiro modo é uma forma de união, em que Deus, em razão

da imensidão de si é em todas as coisas, por essência, presença e poder, a dar a

essência de ser para todas as coisas; e assim prometia supervisionar todas as

coisas, pelo poder de que todas as descarte”

É deste Tantra Yoga “super natural”, maior do que o primeiro que tratamos aqui

como Yoga, que é a realização desta identidade, a qual existe, embora não conhecida,

mas que produz o conhecimento. É pela destruição da falsa aparência de separatividade,

que depois surge como o poder [Shakti] de descartar aquilo que não é, daí é que surge

uma linguagem, capaz de lidar com o mundo, pelo que não é o Eu, não é a Consciência,

mas dela vem este poder, e este processo é natural – a transcendência. Logo tudo que

existe está como produto de uma única causa primeira, duas identidades, duas coisas

que são uma só. E por favor não me fale em união Shiva e Shakti pois isto é um grande

bobagem metafísica.

Não há melhor amigo do que o conhecimento, Jñāna, nem pior inimigo do que o

egoísmo, Ahamkara. Assim, para aprender o Tantra Sastra, se deve aprender o alfabeto,

assim o Yoga é necessário para a aquisição de Tattvajñāna, da verdade, que nos

colocará na nossa posição natural e nos dará pleno acesso ao poder. Por isto o que pode

libertar é a educação, aprender a ler e a falar, para um dia ter a mínima condição de se

libertar, sem isto o homem apenas crê cegamente, sem um motivo racional, sem saber

que ele mesmo se criou.

O que é necessário deve ser determinado de acordo com as circunstâncias de

cada caso em particular. O que é adequado ou necessário em um caso pode não ser para

outro, porém o conhecimento do Tantra é necessário em todos os casos, pois ele nos

coloca no lugar, no nosso lugar comum, e dali podemos sim, ser o que desejamos, ter o

que desejamos, com total responsabilidade, pois em nenhum momento, já sabedores

desta verdade, estaremos agindo pela egoidade. A transformação do pensamento é

Transformação do Ser. Este é o princípio essencial e a base racional de tudo isto e das

Sadhanas Tantricas semelhantes, entretanto sem o Yoga real estas práticas perdem

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completamente seu sentido, pois buscam uma realização que já está realizada, nunca

deixou de ser realizada. O que falta é se descobrir criador de si e de suas ilusões.

Tantra é este conhecimento que converge para a liberdade, com cada ciclo de

Tan e de Tra, de como o Yoga nos afeta como Ser no mundo. Não pela aceitação cega

de um Eu, de uma Consciência única, nem de um Deus inoperante, mas pelo

entendimento deste processo, é este entendimento que liberta, que cura, e por fim nos

torna humanos.

Após esta introdução podemos nos aprofundar mais, e assim começo o que se

chama de Diksha, que é a iniciação no assunto do Tantra Yoga e primeiro temos que

entender o que é Mantra.

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Mantra

(Texto original publicado em 1997- baseado na leitura dos Tantras

de Arthur Avalon)

Neste livro antes eu lhes disse que as letras chamadas de Varna, do alfabeto,

estão distribuídas através dos centros do corpo nas pétalas dos Chakras. Aqui agora eu

vou lhes iniciar no Tantra, trazendo o contexto da Índia para que se possa iniciar um

entendimento sobre Tantra Yoga, aqui falarei sobre Tantra, a forma de realizar o Yoga.

Kundaliní é ambos, ela é a Luz, Jyotirmayí; e é o Mantra, Mantramayí, e o Mantra é

usado no processo de seu despertar na Diksha.

Este assunto é o mais importante parte do Tantra, e é conhecido como Mantra

Shastra. Comumente os Orientais, e outros, descrevem o Mantra como “oração”, ou

como “fórmula de adoração”, ou “sílabas místicas” e assim por diante. A ciência do

Mantra é a mais bem fundamentada e ao mesmo tempo a mais desconhecida. Aqueles

que pensam nos Mantras e que eles sejam orações, e o significado que eles

compreendem com a oração que eles estão familiarizados, terão uma grata surpresa

neste conhecimento. Não há nada necessariamente santo ou piedoso sobre um Mantra.

Mantra é um poder, Mantra-shakti, que se emprega de forma imparcial para qualquer

uso. Dizem os textos tântricos: “Um homem pode ser ferido ou morto pelo Mantra; Pelo

Mantra uma espécie de união com a Shakti física é efetuada; Pelo Mantra na iniciação

chamada Vedhadīkshā ocorre uma transferência de poder do Guru para o discípulo

que o último desmaia sob a imposição dele; pelo Mantra o homem é salvo e assim por

diante.”

O Mantra, em resumo, é um poder, Shakti; poder na forma de Som. A raiz

“Man” significa “Pensar” e Tra, significa “Deter”, ter este pensamento para si mesmo.

Logo, Tantra é Mantra e Mantra é Tantra.

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O poder do pensamento criativo recebe uma crescente aceitação no Ocidente. A

leitura do pensamento, a transferência de pensamento pela Psicanálise, a sugestão

hipnótica, as projeções mentais, Mokshana, e proteção mental, Grahana, estão se

tornando conhecidos e praticados, nem sempre com bons resultados. A doutrina

Lingüística, da Semiologia, ela é muito antiga na Índia e as suas práticas encontradas

nos Tantras são mantidas geralmente em segredo para prevenir o abuso de poder.

O que ainda não é compreensível no Ocidente é o seu uso como pensamento

científico, chamado de Mantra-Vidya [SLW – semiótic landescape wild] Quem está

familiarizado com o desenvolvimento da filosofia ocidental e em assuntos semelhantes,

irá compreender mais facilmente o Tantra. De acordo com a doutrina Indiana descrita

aqui, o pensamento é um poder, Shakti. É, portanto, tão real quanto os demais objetos

materiais. Ambos, os objetos materiais e o pensamento são projeções do pensamento

criativo deste Pensador Universal, que nós somos – Ishvara, toda a criação é

propriamente produto de um pensador. O Mantra é o Shabda-Brahman manifesto, um

poder do universo nas mãos de todos nós.

Mas o que é Shabda, ou o “Som”? Aqui o Tantra segue a doutrina Mimamsa do

Shabda, com as modificações necessárias para adaptá-la à sua doutrina da Shakti. O

Som é Shabda, o qual é uma qualidade [Guna] do espaço [ Akasha ], e é percebida pelos

nossos ouvidos. Ele é duplo – ou seja, letrado, Varnātmaka-Shabda e sem as letras, ou

Dhvani, Dhvanyatmaka-Shabda. O último é causado pelo toque, ou batida, de duas

coisas juntas, e não faz sentido. O Shabda como som, ao contrário, o qual é Anahata,

termo aplicado ao Chakra do Coração, é aquele som que não é causada pela pressão das

duas coisas juntas. Assim o som com letras é composto de sentenças Vakya, palavras,

Pada, e letras, Varna. Tais sons têm um significado. Shabda, o som manifestando-se

como o discurso é eterno. Neste parecer o Mimamsa nega-o, dizendo que a percepção

do som deve ser diferenciada do som como uma letra em si mesmo. A percepção do

som se dá devido a Dhvani causada pela impressão do ar em contato com os órgãos

vocais – ou seja, a garganta, palato e língua. Antes de haver Dhvani deve haver a

impressão de alguma coisa contra outra coisa. Não é a mera impressão que é o Shabda

soletrado. Este o manifesta, pois lhe é comum, como forma de fazê-lo. O som soletrado

é produzido pela formação dos órgãos vocais em contato com o ar, que é a formação em

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Page 35: O Livro Negro Do Yoga - Teaser

resposta ao pensamento, ou idéia, que pela vontade assim busca a expressão do som

audível.

A percepção deste som é que é transitória para a Dhvani que manifesta as idéias

em uma linguagem que sempre está buscando um sentido nela. Mas o som soletrado,

assim como é em si mesmo – é eterno. Ele não foi produzido no momento em que é

percebido. Ele só foi manifestado pela Dhvani, pelo uso do ar no espaço. Ele existe

antes, como existirá depois, buscando a manifestação por uma possibilidade de

expressão. O ar em contato com os órgãos vocais revela o som na Forma, como a das

letras do alfabeto, e as suas combinações em palavras e sentenças. Tantra é a Forma. As

letras são produzidas pela audição e no esforço das pessoas que desejam falar, e assim

se tornam audíveis para o ouvido dos outros, através da operação do som não soletrado,

ou Dhvani. O último, como som Dhvani, sendo um manifestador somente, como som

não soletrado é somente outro além do que seu manifestador. Assim sem o significado,

o significante não tem lugar na cadeia de significantes do pensamento, é o Ser quem dá

o Significado pela necessidade de expressar algo.

Quando dizemos ou escrevemos a palavra "cadeira" temos um significante, isto é

a Forma, o Tantra, da palavra falada ou escrita. O objeto ou a realidade, “aquela coisa

de quatro pernas usada para sentar é o significado (a idéia)”. Assim da mesma forma eu

posso falar cadeira em sânscrito, espanhol, ou em inglês, o significante muda conforme

a língua, pois é a forma, mas não é o significado.

Antes de descrever a natureza de Shabda em suas diferentes formas de

desenvolvimento é necessário compreender a psicologia da percepção hindu. Em cada

momento o ser, Ishvara, como um ser vivo, Jiva, está sujeito a inumeráveis influências.

E somente aquelas que alcançam a sua Consciência como percepção, a qual atrai a sua

atenção, é assim selecionada por seu pensamento. Este último atende a um ou outro

destas impressões dos sentidos, e transmite-os ao intelecto, Buddhi. Quando um objeto,

Artha, é apresentado no pensamento e percebido, este último é formado na forma do

objeto percebido, ideen a ele. Isto é chamado Vrtti mental, pensamento, que é o objeto

do Yoga. O pensamento como um Vrtti é assim uma representação idêntica do objeto

exterior, na medida exata, mas interior, em que esta representação é somente um objeto

no exterior. O último – é aquele, o objeto físico exterior – é chamado de objeto

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grosseiro Sthula-artha, e o formador, ou a impressão que ele causa é chamada de objeto

sutil Sukshma-artha. Mas além do objeto há o pensamento do percebedor, que o

percebe. Segue-se que o pensamento tem dois aspectos, em um dos quais ele é o

percebedor, Ishvara e, em outro, o percebido na forma de pensamento, Vrtti, que

precede a criação da percepção em sua projeção externa, e até depois da criação o

percebedor segue como sendo a impressão produzida na mente através da detecção de

um objeto físico bruto. A impressão “mental”, pois aqui já há uma mente e ela é deste

percebedor, o Ishvara. Ele e o objeto físico correspondem exatamente, pois o objeto

físico é, de fato, senão uma projeção da imaginação do Ser que criou, embora ele tenha

a mesma realidade como a mente dele agora tem; não mais e não menos. A “mente” do

Ishvara é assim, ambos - o conhecedor e o conhecido Grahaka-Grāhya, revelador e

revelado Prakāshaka-Prakāshya.

Quando o pensamento, Citta, percebe, gera um Vrtti, um objeto, ele se

transforma na forma daquele objeto como ser que percebe, Ishvara, e como o objeto

sendo de sua mente, sendo seu. Assim, a única mente que existe é a do percebedor.

Quem pensa em uma Divindade, o qual o adora como Ishta-devata, está se

transformando em algo semelhante aquele Devata. Ao permitir que o Devata assim

ocupe a sua mente por longo tempo, ele se torna parecido com o Devata, pois esta

divindade é de sua mente. Isto é um princípio fundamental da prática, do uso da Forma,

do Tantra, para o Ser se expressar em todas as ocasiões, exceto no sono. O objeto

percebido é chamado de Artha, um termo que vem da raiz “Ri”, que significa dar,

conhecer, desfrutar. Artha é aquilo que é conhecido, e que, portanto, é um objeto de

Gozo, como Samadhi. Assim como o objeto grosseiro é Artha, assim é a forma da

mente, sutil, interna, que o corresponde para o Ser. Logo nós não podemos dizer que

temos uma mente, e sim que ao percebermos com nosso pensamento, criamos uma

mente e é nela que percebemos o objeto. O aspecto do pensamento que percebe é

chamado Shabda, ou Nama, nome, e aquele aspecto no qual é seu próprio objeto, ou

percebido, é chamado Artha, ou Rupa, a forma. Subjetivo e objetivo são assim os

aspectos do Mantra, Shabda e Artha – A percepção é o poder, [Shakti], a função de

distinguir e identificar - Bhedasamsargavritti Shakti.

A percepção é dependente da distinção e da identificação. Na percepção de um

objeto que parte da mente, e portanto já foi previamente identificado pelo ser, o qual o

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identifica e o distingue, como cognição parcial, é o som, Shabda, sutil, e aquela outra

parte o qual toma a forma do objeto, a forma que corresponde com a coisa externa é o

Artha, sutil. Assim nós pensamos. A percepção de um objeto está assim, conseqüente e

simultaneamente, funcionando na mente do Ser como Shabda , Som e Artha, objeto, os

quais tem relações indissolúveis com um outro como sendo o conhecedor (Grahaka) e

conhecido (Grahya), o Ser criado e a sua mente.

A criação do Ser [Ishvara], se dá a partir da percepção, Madhyama-shabda

aparece em um primeiro momento. Naquele momento não existe um objeto externo

correspondente, um Artha externo. Então, a percepção projeta este Madhyama-artha

interno no mundo da experiência sensorial, e nomeia-o em um discurso falado,

Vaikharí-shabda, dando vida para ele, ligando-o a outros objetos para a sua mente e

para os demais como um objeto agora conhecido, seu e como ele sendo um Ser. Mas

ainda sem a distinção de que seja ou não seu. Em um último momento, o Vaikhari-

shabda é o discurso proferido desenvolvido na garganta e emitido na boca, em que o

objeto já é do Ser, ele não consegue mais se distinguir dele. Este é o Virat-shabda.

Vaikharí-shabda é, portanto, a linguagem, ou o som com letras, que cria o Ser e cria a

sua realidade como sua mente. Seus correspondentes, Artha são sempre os objetos

físicos, os quais a linguagem denota [denotativa]. Então não podemos diretamente

ensinar uma criança por conceitos subjetivos e sim primeiramente por objetos físicos

correspondentes. Isso diz respeito às correspondências de seu corpo físico Sthula-

sharira, com o seu corpo de criança que será o seu Ser, a sua imagem no mundo. Mais

tarde esta criança poderá ligar os objetos externos criando nela e lhes dando um sentido

entre eles, começando a sua mente, e seu Ser, como Ishvara, como o criador de si

mesmo.

Madhyama-shabda já é um movimento mental posterior, ou a ideação do som

sem seu aspecto cognitivo, e Madhyama-artha é a impressão mental do objeto

grosseiro. O movimento do pensamento em seu aspecto como Shabda-artha, é

considerado tanto em seu aspecto [Shabda] como em seu objeto sutil conhecido, Arhta,

já pertencem a um corpo sutil, sonoro, Sukshma-sharira, feito de letras, de Chakras. A

causa destes dois é o primeiro movimento geral para a ideação particular, do Ser, do

Ishvara. As duas formas do discurso interior, ou oculto, causal e sutil, acompanhando o

movimento mental, assim precede e levam a uma linguagem falada pelo Ser e o que lhe

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dá o sentido de ser alguém. As formas internas das idéias em movimento constituem o

sutil; e o som proferido, o grosseiro, são os aspectos do Mantra, o qual é o Shabda-

brahman, som do todo manifestado pelo Ser que se cria, Ishvara.

O Shabda, o som audível, chamado Vaikhari, ou discurso proferido, e o Artha,

ou o objeto físico denotado por aquele discurso, são as projeções do Shabda sutil

inaudível e do Artha, objeto invisível através da atividade inicial do Shabda-brahman

no mundo das percepções sensórias grosseiras. Portanto, no mundo físico da forma,

Shabda significa linguagem – ou seja, sentenças, palavras e letras, que são a expressão

de idéias e são Mantras. No mundo sutil, ou mental, Shabda é a mente que “nomeia”

em seu aspecto como conhecedor e criador, e Artha é a mesma mente em seu aspecto

como o objeto mental de sua cognição. Exatamente e mais completo que a definição

feita pela lingüística com Sassure, este é o Tantra. Assim é semelhante no estado de

sonhos, o Svapana, ou como no sono sem sonhos, Sushupti, e no Vaikhari que é o

estado de vigília onde a mesma operação é feita pela percepção.

Importante dizer que o objeto mental não é mais uma percepção, já é um

Samskara, já é uma impressão deixada no corpo sutil por experiências anteriores, pelo

fato de ligar as palavras a determinados contextos, que é recordada quando o Ser re-

desperta para a experiência do mundo, e re-coleciona a experiência temporariamente

perdida no estado do sono sem sonho, Sushupti, o qual é a dissolução dos sentidos, e do

Ser sem a ligação entre o objeto e seu som, Shabda.

O que é que desperta esta impressão? Este Samskara?

Assim como todo efeito deve ter uma causa, Karana, esta Karana é o Shadba,

ou nome Nama, sutil, inaudível e o audível, grosseiro, e que corresponde àquele objeto

em particular. Quando uma palavra é proferida, como “cadeira”, isto evoca na mente do

Ishvara a imagem de um objeto – uma cadeira – assim como a apresentação daquele

objeto faz. O ser vive pelas suas impressões como Samskaras trabalhados, o que evoca

as suas imagens mentais no sonho e o pensamento na vigília. O mundo inteiro é então

Shabda e Artha – ou seja, nome e forma Nama-Rupa. Os dois estão inseparavelmente

associados como os lados de uma folha de papel. Portanto não existe Shabda sem Artha,

ou Artha sem Shabda, som sem objeto ou objeto sem som. A palavra grega Logos

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também significa o pensamento e a palavra combinados. Existe, assim, uma linha dupla

de criação, Shabda e Artha, idéias e linguagem juntos com seus objetos, representações.

O discurso, como aquele que é ouvido, ou a manifestação exterior de Shabda,

representa a criação de Shabda pelo Ishvara. A criação de Artha são os objetos internos

e externos vistos pela mente ou pela visão física. Do ponto de vista criativo, a mente

como manifestação de possibilidades do Ser, vem em primeiro lugar, e dela o mundo

físico evoluiu de acordo com as impressões amadurecidas, que levaram à existência de

um Universo particular. Assim fica claro que o pensamento como identificação, como

percepção, antecede aquilo que depois será a mente do Ishvara. Portanto, o objeto

mental precede o objeto físico. Ele não é percebido.... e depois é percebido quando o Ser

o usa como linguagem, então ele surge como parte de um contexto, que chamamos de

mente. Logo a mente em si não existe, ela é uma projeção do Ser, para significar as

coisas e a si mesmo ao mesmo tempo.

O estado mental corresponde ao dos sonhos, Svapna, quando o homem vive no

mundo mental somente. No sono não há mente e nem percepção e se chama de

Sushupti, aí está o Nirbija-samadhi por uma identificação absoluta entre o Ser, Ishvara,

sem sua mente, sem sua percepção, percebendo o que é idêntico a ele – a Consciência.

O discurso proferido é uma manifestação da nomeação interior, ou do

pensamento da sua mente, da mente do Ishvara. Este movimento de pensamentos é

semelhante nos homens de todas as raças. Quando um alemão, um brasileiro ou um

hindu pensam em um objeto, a imagem é, para todos, a mesma, contudo evocado pelo

objeto em si mesmo ou pelo proferir de seu nome. Talvez seja esta a razão que uma

pessoa que treine para ser medium, pode ler o “discurso” oculto – ou seja, o pensamento

de alguém cujo discurso ele não pode entender, como intuição de perceber a mesma

imagem. Assim, enquanto o movimento dos pensamentos é semelhante em todos os

homens, a expressão dele como Vaikharí-Shabda difere. De acordo com a tradição, há

uma linguagem universal e as características raciais e as condições físicas, tal como a

natureza dos órgãos vocais, climáticas, impressões herdadas e assim por diante, diferem.

Portanto, assim também ocorre com a linguagem. Mas para cada homem em particular,

qualquer linguagem em particular, o nome proferido de qualquer objeto é a expressão

perceptível de seu movimento mental interno feito pelo Ser.

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A partir do relato acima será entendido que quando se diz que as “letras” estão

nos seis Chakras do corpo, não é para supor que se destinam a confirmar a absurda

afirmação de que as letras, como formas escritas, ou como sons proferidos, estejam lá.

As letras neste sentido, ou seja, como coisa grosseira – são manifestadas somente no

discurso e na escrita. Isto é muito claro. Mas o significado preciso desta declaração é

uma matéria de grande dificuldade técnica. Nenhum assunto apresenta maior

dificuldade do que o Mantra-vidya, quer seja considerado no geral ou em relação a um

assunto em específico. Em primeiro lugar deve-se manter atento constantemente contra

as possíveis armadilhas, ou seja, a obtenção correta de métodos prescritos de realização

para a atualidade, no sentido comum do termo. Os primeiros métodos criados pelo

Tantra no século X são convencionais, e os últimos são reais. Dúvidas sobre este

assunto são incrementadas por algumas variações nos relatos descritivos da Forma. Por

isto o Tantra tradicional não serve mais para no nosso tempo.

A Consciência é em si mesma, Svarupa, sem forma e Nihshabda, sem som, em

sua forma suprema, como Para-shabda, está presente como um movimento geral

indiferenciado, Samanya-spanda, em seguida, um movimento diferenciado Vishesha-

Spanda. O movimento interior tem sempre o exterior correspondente como aquela

forma emitida dos lábios pela ajuda de Dhvani, o som ouvido. Esta é a forma de dizer

que o Mantra pelo qual a Consciência, o Eu, Shiva se move como Shakti, surge como

realidade subjetiva [Shabda, som] e objetiva [Artha, objeto] primeiramente na forma

sutil do pensamento e os seus conteúdos gerados pelos impressões, e, em seguida, na

forma grosseira da linguagem como expressão de idéias e dos objetos físicos , Artha.

Seria uma Mente Cósmica ou Criativa que se projeta no mundo da experiência

sensória para ser a fonte das impressões do experimentador individual como o Ser no

seu lugar? Ou é o Ser como Consciência imutável, que produz este fenômeno como

identificação e percepção e depois o Ser Criador, e que com sua mente é que são os

produtos do fenômeno e não a razão de uma criação? O Tantra segue esta segunda

opção.

Cada homem ou mulher é Shiva e pode alcançar seu poder [Shakti] em degraus

de sua habilidade para realizar-se conscientemente como tal. Quando o Mantra é

plenamente praticado como palavra ele aviva o Samskara, a impressão das coisas, e

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então o objeto surge, brilha para a mente que o criou, é como eu dizer que: vou com

alguém amanhã ao cinema. Isto é um milagre, que ocorre em todos os momentos! Os

Mantras são assim uma fonte de Samskara, das impressões do Ser, do Ishvara, o Artha

pelo qual ele se torna manifesto para a Consciência que está apta para percebê-la. A

essência de tudo isto é – concentrar e vitalizar o pensamento e a força de vontade como

um dom que nos é dado como poder [Shakti]. Mas para tal propósito, um método é

necessário – ou seja, a linguagem e as suas variedades determinadas na prática, de

acordo com o fim almejado...

NOTA: AQUI TERMINA ESTE TEASER DO LIVRO NEGRO DO YOGA,

AS DEMAIS PÁGINAS ESTARÃO DISPONÍVEIS NA PUBLICAÇÃO COMPLETA

COMO EBOOK.

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