A Implantação Do Planejamento Estratégico Em Organizações Complexas
O Lugar da Memória Institucional nas Organizações Complexas
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7/31/2019 O Lugar da Memria Institucional nas Organizaes Complexas
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Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao
XXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012
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O Lugar da Memria Institucional nas Organizaes Complexas 1
Andria Arruda BARBOSA2
Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS
RESUMO
As implicaes do mundo ps-moderno esto repercutindo no ambiente organizacional,cada vez mais (inter) dependente s variaes e alteraes no relacionamento com os
pblicos. Esta complexa realidade de relaes sociais e valores efmeros evidenciam anecessidade de um (re) pensar sobre prticas de comunicao que ressaltem os elementosno transitrios da Identidade Organizacional, estimulando o senso de pertencimento e a
partilha de significados. Este artigo busca apresentar a Memria Institucional como
possibilidade de Comunicao Organizacional para lugarizar os sujeitos e como umaalternativa para a compreenso dos aspectos dialgicos da trajetria das organizaes.
PALAVRAS-CHAVE: Memria Institucional; Complexidade; Lugar; Identidade.
1 APORTES INICIAIS
Vivemos em um contexto complexo, cujos elementos mais caractersticos so a incerteza, o
provisrio e o efmero. Este cenrio imprevisvel, onde as identidades esto fragmentadas e
as relaes sociais e valores so transitrios, tem gerado consequncias nos sujeitos e nas
organizaes.
Os novos cenrios exigem maior transparncia das organizaes e uma postura de
comunicao diferenciada, pois, conforme pondera Freitas (2000), perceptvel a perda de
confiana dos cidados na credibilidade das empresas, do Estado e de outras instituies
consagradas3. De acordo com Oliveira (2008, p. 105), a complexificao da sociedade e
suas constantes mudanas econmicas, tecnolgicas e sociais tm atingido diversasinstncias, incluindo as organizaes e, consequentemente, a forma como elas se
relacionam e se comunicam com os atores sociais.
1 Trabalho apresentado no DT 3 - Relaes Pblicas e Comunicao Organizacional, do XII Encontro dos Grupos dePesquisa em Comunicao, evento componente do XXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao. O presentetrabalho representa um recorte da dissertao de mestrado defendida em 2010, intitulada A Memria Institucional comoPossibilidade de Comunicao Organizacional: o Caso Exrcito Brasileiro, sob orientao da Prof. Dra. Cleusa MariaAndrade Scroferneker (PPGCOM/PUCRS).
2 Doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Comunicao Social da PUCRS. E-mail: [email protected].
3
No obstante alguns autores delimitarem diferenas conceituais para as categorias Organizao e Instituio, nesteestudo as duas definies so tomadas como sendo sinnimas para facilitar o desenvolvimento do texto.
mailto:[email protected]:[email protected] -
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O anseio pela identificao e pelo pertencimento parece ter se tornado uma necessidade
humana premente nos dias atuais. Segundo Freitas (2000, p. 57), os indivduos se
encontram numa situao de fragilidade de identidade, de enfraquecimento de vnculos
sociais diversos, de busca de sentido, de desorientao quanto ao presente e ao futuro e de
carncia de referenciais. Desse modo, a busca pela identidade, coletiva ou individual,
atribuda ou construda, tornou-se a fonte bsica de significado social (CASTELLS, 2000).
O desafio que se coloca para a Comunicao Organizacional , ento, (re) constituir ou (re)
criar vnculos que possam propiciar o senso de pertencimento e o resgate da identidade do
indivduo. Isso porque, conforme observa Nassar (2007, p. 186):
Mais do que nunca, a questo do pertencimento, na sociedade atual, est posta comoalgo que diferencia e solidifica a relao dos pblicos com a organizao. Em ummundo em que rapidamente banalizado pela massificao, pela utilizaocotidiana, pelo excesso de exposio, uma diferenciao que nasce pela histria deuma organizao, um atributo que poucos tm.
A adoo de prticas de comunicao que valorizam a alteridade do outro e que contribuem
para a criao e o reforo do senso de pertencimento dos indivduos com uma causa, um
objetivo ou a trajetria de uma organizao, pode ser essencial para (re) construirrelacionamentos de valor com os pblicos de interesse. Conforme prope Morin (2007,
p.15), s se pode preparar um futuro quando se salva um passado, mesmo que estejamos
num sculo em que foras de desintegrao mltiplas e potentes encontram-se em
andamento. Nessa direo que a Memria Institucional se apresenta como uma
possibilidade de Comunicao Organizacional que pode lugarizar os sujeitos em meio aos
no-lugares da complexidade.
2 AS ORGANIZAES COMPLEXAS
As organizaes atuais desenvolvem suas atividades em um ambiente complexo, permeado
por aes e interaes contnuas que produzem novas aes e reaes, obrigando que
aquelas se (re) inventem para atingir seus objetivos globais/regionais/locais e acompanhar
os processos de mudana. Uma viso isolada e fragmentada dificulta a compreenso dos
fenmenos produzidos neste contexto, onde ordem, desordem e organizao devem ser
pensadas juntas (MORIN, 2007, p. 50).
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A compreenso das nuances desta realidade organizacional multifacetada passa pela
apreenso das caractersticas dos indivduos que a constituem, pois, conforme observa
Baldissera (2009), as organizaes atuais constituem resultados provisrios da interao dos
diferentes indivduos que as compem, ou que, de alguma forma, a ela se articulam.
Nesse sentido, compreender que o sujeito complexo sinaliza o desafio da construo de
relacionamentos que no se baseiem apenas na conquista do consenso, mas busquem o
equilbrio em um sistema que sofre ajustes continuadamente. Considerar que cada ser tem
uma multiplicidade de identidades, uma multiplicidade de personalidades em si mesmo, um
mundo de fantasias e de sonhos que acompanham sua vida (MORIN, 2006,p. 57) torna-se
premente para o desenvolvimento de quaisquer atividades de Comunicao Organizacional.
Principalmente porque, hoje, conforme aponta Scroferneker (2008, p.16), as realidades
mutantes, cada vez mais presentes no mundo das organizaes e dos sujeitos
organizacionais [...] implicam necessariamente um (re) visitar permanente das concepes
de comunicao, organizao e sujeito organizacional.
Para Morin (2006), a concepo de sujeito complexa, pois, ser sujeito ser autnomo,
sendo ao mesmo tempo dependente. ser algum provisrio, vacilante, incerto, ser quase
tudo para si e quase nada para o universo (MORIN, 2006, p. 66). Para ele, ser sujeito no
significa apenas ser consciente ou possuir afetividade ou sentimentos, ainda que a
subjetividade humana se desenvolva por meio destes. Em sua anlise, considera que o
sujeito se define por sua conscincia, no sendo esta absolutamente fixa ou estvel
(MORIN, 2008). Ser sujeito, assim, consiste na possibilidade do indivduo de colocar-se no
centro de seu prprio mundo, egocentricamente, ocupando o lugar do eu, uma posio a
partir da qual ele pode lidar com o mundo e consigo prprio.
As organizaes constituem agentes coletivos planejados deliberadamente para realizar um
determinado objetivo - produzir bens e servios - torna-se essencial compreend-las hoje
como produtoras de significado. Repletas de nuances simultaneamente complementares e
antagnicas, as organizaes constituem ambientes de pulso e repulso, mas podem ser
tambm espaos para o desenvolvimento de saberes e de valorizao dos indivduos. Alm
disso, elas so ecossistemicamente tensionadas (BALDISSERA, 2009, p. 144), pois
sofrem variadas influncias de seu entorno. Ainda na viso deste autor, as organizaes ao
mesmo tempo em que so (re) tecidas, tambm so agentes na tessitura do entorno
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Outrossim, compreender a dinmica organizacional sob a perspectiva dialgica tambm
essencial para enxergar os processos, pois, de acordo com Morin (2006, p. 89), a relao
ordem/desordem uma necessidade nas organizaes, que operam em um universo onde
os sistemas sofrem incremento da desordem e tendem a se desintegrar. A complexidade
das instituies e a multiplicidade de pblicos de interesse que elas tm vai implicar na
necessidade das organizaes refletirem constantemente sobre novas posturas e formas de
ao frente s incertezas e transitoriedade.
O princpio hologramtico pressupe que todas as alteraes que ocorrem no todo
organizacional repercutem de alguma maneira sobre as partes e, da mesma forma, o que
acontece nas partes provocar reaes no todo, o que favorece a percepo das prticas de
memria como possibilidade de lugarizar os indivduos dentro de um contexto maior de
continuidade dentro do tempo e de sentido.
Assim, se a comunicao antes era unidirecional e no pressupunha muitos
questionamentos, hoje, com a variedade de pblicos e com o alto grau de informaes
disponveis, demanda negociao permanente (WOLTON, 2006). Esse sentido aproxima a
comunicao do campo da memria devido relao desta ltima com a identidade, cujo
processo de construo to somente possvel por meio da negociao direta com outrossujeitos.
Se, como vimos, a busca pela identificao e pelo senso de pertena latente neste contexto
complexo, as prticas de Memria Institucional podem propiciar um espao de relao nas
organizaes atuais. Nesse lugar, que, conforme Aug (1994) fonte de referncias e de
identidade, os sujeitos podem (re) encontrar o seu valor e (re) adquirir o sentido de suas
existncias medida que visualizam a ampla trajetria da organizao disposta na linha do
tempo, e percebem que fazem parte dessa histria de valores no-transitrios.
3 A PREMNCIA DA MEMRIA
As lembranas de outros tempos, de outros vividos e sentidos, fazem com que cada
indivduo seja nico, pelas experincias nicas que guarda em sua memria. Da decorre a
intrnseca relao entre memria e identidade, uma vez que, de acordo com Izquierdo
(2002, p. 09), o acervo de nossas memrias faz com que cada um de ns seja o que , comque sejamos, cada um, um indivduo, um ser para o qual no existe outro idntico.
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As nossas memrias possuem o potencial de nos referenciar e contextualizar dentro do
tempo. Conforme observa Tedesco (2004, p. 64), se o indivduo perde o sentido da relao
com o prprio passado perde tambm um elemento fundamental de sua identidade, ou seja,
a capacidade de perceber sua prpria continuidade, de se reconhecer como mesmo no
decorrer do tempo.
Essa referncia, esse sentido de si, representa algo de valor nessa realidade complexa,
criadora de infinitos no-lugares, onde reina o individualismo, a pluralidade, o provisrio e
o efmero. Quando os indivduos so cada vez mais prisioneiros do instante, a memria
pode representar uma possibilidade de lugariz-los dentro de um projeto maior de
continuidade, de constncia no tempo, de sentido. Nesse lugar4, os sujeitos podem (re)
descobrir sua identidade, seus pontos de referncia e construir vnculos sociais.
A temtica da memria vem sendo abordada em campos de investigao to diversos
quanto o das cincias biolgicas, humanas e sociais. As abrangentes esferas de estudo tm
posicionado tais reflexes tambm no campo dos imaginrios e das representaes. Para
Huyssen (2000), tal obsesso pelo passado se justifica pela sobrecarga de informaes a que
temos sido submetidos:
Nosso mal-estar parece fluir de uma sobrecarga informacional e percepcionalcombinada com uma acelerao cultural, com as quais nem a nossa psique nem osnossos sentidos esto bem equipados para lidar. Quanto mais rpido somosempurrados para o futuro global que no nos inspira confiana, mais forte o desejode ir mais devagar e mais nos voltamos para a memria em busca de conforto (HUYSSEN, 2000, p. 32).
A cultura da memria busca ocupar, ento, um importante papel nas transformaes atuais
da experincia de tempo, trazidas a reboque no impacto das novas tecnologias e mdias napercepo e na sensibilidade do ser humano (HUYSSEN, 2000). Pode representar, assim,
4 Santos (1994, p. 37) compreende lugar como um encontro entre possibilidades latentes e oportunidades preexistentesou criadas (SANTOS, 1994, p. 44, grifo do autor). Nesse sentido, o lugar que permite aos indivduos perc eberem omundo, posto que rene caractersticas de permanncia, mesmo em meio fluidez e competitividade presente nostempos atuais: pelo lugar que revemos o Mundo e ajustamos nossa interpretao, pois, nele, o recndito, o permanente,o real triunfam, afinal, sobre o movimento, o passageiro, o imposto de fora (SANTOS, 1994, p. 37). Noutra perspectiva,Aug (1994) define lugar como o identitrio, o relacional e o histrico, ou seja, as referncias que compe a identidadeindividual e que marcam as relaes dos sujeitos com os outros. Em contrapartida, os no-lugares so espaos de
passagem, do provisrio, do efmero e do transitrio e representam uma nova configurao social, caracterstica de umapoca que se define pelo excesso de fatos, superabundncia espacial e individualizao das referncias (AUG, 1994).
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um contraponto aos no-lugares por propiciar um sentido de continuidade em um contexto
caracterizado pelo efmero. De acordo com Tedesco (2004, p. 75):
Nesse contexto de mercantilizao da cultura, percebe-se a necessidade de construiruma biografia, uma histria da prpria vida que esteja com possibilidade defornecer, ainda que limitadamente, um senso de continuidade do tempo numcontexto de fragmentao.
Na busca pela compreenso de um conceito de Memria Institucional recorremos a trs
tericos que discorrem sobre a temtica da memria, no sentido de buscar as semelhanas e
as diferenas entre os pensamentos, que possam subsidiar nossa explanao sobre o
conceito que propomos aqui. Desse modo, apreendemos o conceito e as caractersticas deMemria Individual a partir dos estudos de Bergson (2006), de Memria Coletiva em
Halbwachs (2006) e a perspectiva social com base na anlise de Pollak (1992).
Apesar das diferenas conceituais entre os trs, encontramos o carter seletivo da memria
nas trs abordagens. Para Bergson (2006), a memria consiste em uma fora subjetiva, no
domnio do esprito, que possui uma funo essencial no processo psicolgico ao
possibilitar o conhecimento das coisas e o retorno ao passado. Para Halbwachs (2006), a
seleo da memria coletiva feita em razo dos interesses do presente, constituindo no
apenas um fator de identidade do indivduo e do grupo, mas tambm a expresso e
manifestao do momento presente. J Pollak (1992, p. 204) considera que o que a
memria individual grava, recalca, exclui, relembra, evidentemente o resultado de um
verdadeiro trabalho de organizao. Desse modo, a memria, tanto individual quanto
coletiva, seletiva e realiza a organizao das lembranas, atuando como uma (re)
construo do passado, que no foi de um indivduo somente, mas de um indivduo inserido
dentro de um contexto social, ao qual influencia e recebe influncias, como em um circuito
recursivo.
A (re) construo outro aspecto similar extrado das trs reflexes. Halbwachs
compreende a memria, individual ou coletiva, como um processo de (re) construo, mas
diferentemente de Bergson, no a v como um depsito que guarda o passado da mesma
forma como ocorreu, mas como algo que comporta um aspecto social ineliminvel, que
conserva tanto os processos de sedimentao dos acontecimentos passados na conscincia
quanto os de sua conservao e de seu reconhecimento (HALBWACHS, 2006, p. 59).
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Neste sentido o autor pondera que a memria no est no esprito, como indicou Bergson,
mas na sociedade, onde se encontram os vestgios e indicaes essenciais para reconstruir o
passado. Porm, nem esta ltima fornece as indicaes para que o passado se apresente por
completo, consistindo sempre em uma reconstruo.
Para Pollak (1992), a memria, em todos os nveis, um fenmeno construdo social e
individualmente e que, por isso, tem ligao direta com o sentimento de identidade. De
acordo com Halbwachs (2006), at mesmo as lembranas individuais mais arraigadas esto
impregnadas da relao com os outros sujeitos, e, por analogia, com as organizaes e com
a sociedade. Isto remete ao princpio hologramtico de Morin (2008), uma vez que
demonstra a dimenso da insero do sujeito dentro da coletividade e de uma continuidade
dentro do tempo. Outrossim, a memria pode ser compreendida como sendo um conjunto
dinmico, espao no s de relao, mas de reinterpretao/renovao de sentido
(TEDESCO, 2004, p. 59), cuja finalidade consiste em preservar os elementos do passado
que garantem aos sujeitos sua prpria continuidade e afirmao identitria (TEDESCO,
2004, p. 59).
A estreita relao entre memria e identidade nos leva ao senso de pertena, vital para
lugarizaros indivduos neste contexto complexo. Na viso de Pollak (1992), essa profundasimbiose contribui para a criao do sentimento de pertencimento nos indivduos, posto que
a memria representa um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e
de coerncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruo de si (POLLAK, 1992,
p.204). Para Bergson (2006) ela possui uma funo essencial no processo psicolgico, pois
posiciona os sujeitos, contextualizando-os no tempo, nos ambientes e nas relaes. J
Halbwachs (2006, p. 08) considera somente ser possvel conceber o problema da
recordao e da localizao das lembranas quando se toma como ponto de referncia oscontextos sociais reais que servem de baliza a essa reconstruo que chamamos memria.
Diante do Exposto, conclumos que a Memria Institucional consiste em uma (re)
construo do passado, visto que no possvel, conforme Bergson (2006), voltar ao que
no atua mais, ao tempo decorrido, se no for pela memria. Como em todo processo de
escolha e de seleo, a memria da organizao consistir em uma narrativa entre as
mltiplas narrativas possveis dentro do contexto institucional. Impregnada pela Cultura
Organizacional, essa (re) construo necessita ser alicerada naquilo que foi ou
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considerado relevante para cada indivduo, para o grupo ou para a organizao. Veremos a
seguir a evoluo da temtica no contexto organizacional.
4 A MEMRIA NO CONTEXTO ORGANIZACIONAL
Observamos a emergncia dos estudos sobre memria de instituies e acontecimentos a
partir da dcada de 1980, com os processos de democratizao e lutas por direitos humanos
e expanso e fortalecimento das esferas pblicas da sociedade civil. Esse cenrio se
refletiu no ambiente organizacional, que passou a sofrer maiores presses dos pblicos,
mais diversificados e conscientes de seus direitos em razo do aumento da circulao de
informaes5.
O cenrio do Brasil dos anos 1980 era de luta pela redemocratizao em razo do fim do
Regime Militar. Esse processo, aliado reestruturao das foras produtivas, mudana de
postura no perfil do Estado, que promoveu uma srie de privatizaes em importantes
corporaes na dcada de 1990, alm das fuses e aquisies correntes nesta poca, tiveram
significativo impacto sobre as organizaes e a sociedade. Alm disso, o impulso no
desenvolvimento da tecnologia, a partir da massificao dos computadores pessoais e do
aumento da utilizao da internet fora das universidades, a partir de 1994, colaborou para
potencializar a diversificao e a articulao dos pblicos (NASSAR, 2007).
Esses fatores contriburam para provocar profundas mudanas nas empresas, desde sua
estrutura at o (re) pensar sobre novas posturas de comunicao. Conforme resgata Nassar
(2004, p. 15), milhes de brasileiros, nos seus papis de cidados, trabalhadores e de
consumidores perceberam que as identidades de empresas e instituies, extremamente
reconhecidas em nossa sociedade mudavam.
Numa tentativa de conquistar os novos objetivos de eficcia requeridos nesse contexto,
alm do engajamento dos pblicos com a causa e favorecer o processo de democratizao,
as empresas brasileiras passaram a adotar programa de Qualidade Total a partir de 1990.
Mas a adoo destas iniciativas se mostrou demasiado negativa para a memria das
5 No obstante, algumas organizaes j realizavam aes pioneiras com esse carter no incio do sculo passado. NoBrasil, o registro dos primeiros trabalhos caracterizados como de memria empresarial datam de 1960, constituindoestudos acadmicos com enfoque na relao entre aspectos econmicos, ideologia e estrutura paternalista, centrados naevoluo das empresas e de seus fundadores. As reflexes acadmicas brasileiras dos anos 1970 receberam influncia da
Nova Histria
5
e da escola norte-americana, sendo desenvolvidas por historiadores de reas afins como economia,administrao e sociologia. Para um panorama mais abrangente, ver Totini e Gagete (2004) e Nassar (2004; 2007).
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organizaes, uma vez que a implantao descuidada de aes que se inspiravam nos
modelos japoneses e norte-americanos, focados apenas em resultados quantitativos, teve
como conseqncia a destruio de grande parte do acervo das empresas, cujas histrias
eram consideradas como mero passado, morto, destitudo de valor. Nassar (2007) retratando
essa situao observa que,
[...] muitas delas se inspiravam no management japons e norte-americano,principalmente do programa conhecido como 5S, que em seu manejo prev, comoum dos primeiros rituais, o descarte de coisas velhas pelos empregados dasempresas que implantam esse tipo de metodologia. Assim, nos anos 1990,simplesmente se jogaram no lixo milhares de documentos, fotografias, mquinas eobjetos, sem nenhuma preocupao com a preservao da memria organizacional
(NASSAR, 2007, p. 20, grifo do autor).
Aps o trmino desse movimento de descarte de documentos, fotos e outros registros
importantes de suas trajetrias, as organizaes passaram a compreender que a histria
que traduz a sua identidade, interna e externamente, pois ela que constri, a cada dia, a
percepo que o consumidor e seus funcionrios tm das marcas, dos produtos, dos
servios (NASSAR, 2004, p. 21). Totini e Gagete (2004) apontam que isto se deu em
virtude das empresas terem comeado a perceber que precisavam se (re) adaptar smudanas do contexto sem perder sua identidade e os valores essenciais de sua cultura.
O enfoque das prticas de memria mudou consideravelmente desde que a temtica foi
inserida no ambiente empresarial. Se antes o objetivo era documentar o acervo ou realizar
uma mera celebrao do passado, nos ltimos anos os projetos de resgate histrico tm sido
pensados como aes de comunicao institucional e marketing corporativo (TOTINI;
GAGETE, 2004). Porm, no obstante a aplicao de novos conceitos de memria face
necessidade de uma comunicao mais aberta e transparente, ela tem sido vislumbradaainda como uma ferramenta (grifo nosso) de comunicao, perspectiva diferente da que
propomos aqui por acreditar que essa viso instrumental no d conta da complexidade das
organizaes atuais.
5 O LUGAR DA MEMRIA INSTITUCIONAL NAS ORGANIZAES COMPLEXAS
Neste contexto complexo, onde a velocidade e o descarte imperam, e as referncias
coletivas esto enfraquecidas e o individualismo, exacerbado, a Memria Institucional se
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apresenta como uma possibilidade de Comunicao Organizacional que pode propiciar a
relao e o resgate da identidade dos indivduos. Isso porque promove a reflexo acerca de
valores duradouros, cada vez mais distantes da realidade fugaz que parece ter abarcado as
organizaes e os relacionamentos na conjuntura atual.
A solidez da trajetria de uma organizao ao longo do tempo pode representar uma
possibilidade de (re) construir relacionamentos de valor com seus pblicos de interesse. Ela
pode constituir, tambm, uma possibilidade de lugarizar (grifo nosso) os sujeitos
organizacionais neste contexto de valores transitrios e identidades descentralizadas.
Refletir sobre a questo do lugar indispensvel atualmente, porque ele que permite aos
indivduos perceberem o mundo, posto que rene caractersticas de permanncia, mesmo
em meio fluidez e competitividade presente nos tempos atuais: pelo lugar que
revemos o Mundo e ajustamos nossa interpretao, pois, nele, o recndito, o permanente, o
real triunfam, afinal, sobre o movimento, o passageiro, o imposto de fora (SANTOS, 1994,
p. 37). Noutra perspectiva, Aug (1994) compreende o lugar como o identitrio, o
relacional e o histrico, ou seja, as referncias que compe a identidade individual e que
marcam as relaes dos sujeitos com os outros. As organizaes complexas podem ser um
lugaronde os indivduos encontrem sentido para as suas aes.
Em nossa viso, a Memria Institucional consiste em uma (re) construo de fatos e
acontecimentos significativos da trajetria e das experincias da organizao, selecionados
e (re) organizados com o objetivo de estimular o processo de (re) construo de uma
identidade comum entre esta e seus pblicos de interesse. Mas, embora essa identidade seja
voltil e mutvel em razo da complexidade do ambiente organizacional, ela que,
dialogicamente, pode propiciar o senso de pertencimento e a partilha de significados entre
os sujeitos e a instituio. Tal aspecto parece ser relevante, porque, conforme Tedesco
(2004, p. 64, grifo do autor), um indivduo que perde o sentido da relao com o prprio
passado perde tambm um elemento fundante de sua identidade, ou seja, a capacidade de
perceber sua prpria continuidade, de se reconhecer como mesmo no decorrer do tempo.
O papel da Memria Institucional , ento, (re) construir o futuro por meio do passado e da
atualidade, no qual a identificao dos elementos da cultura e da identidade organizacional
sero fatores predominantes.
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Quanto s possibilidades latentes da Memria Institucional, consideramos que as mais
acentuadas so revelar e contextualizar as inmeras facetas das organizaes complexas,
evidenciando que a trajetria ao longo de uma histria mais valiosa do que fatos isolados
que talvez estejam presentes no imaginrio coletivo. Representa, deste modo, uma
alternativa para compreenso das diferenas e dos aspectos contraditrios existentes no
ambiente organizacional, pois, sem memria, sem a leitura dos restos do passado, no
pode haver o reconhecimento da diferena [...] nem a tolerncia das ricas complexidades e
instabilidades pessoais e culturais, polticas e nacionais (HUYSSEN, 2006, p. 72, grifo
nosso).
Outrossim, tais iniciativas podem servir para a defesa de sua imagem em situaes de crise
(NASSAR, 2007). Igualmente, contribuem para criar valor para a organizao, uma vez que
o mergulho para dentro do prprio ser que essas prticas promovem favorece o
autoconhecimento e representam uma maneira bastante contundente de antever o futuro
(MARICATO, 2006). Esses valores intangveis que implicitamente afetam as relaes das
organizaes complexas imagem, identidade e reputao - constituem ativos que
representam um de seus maiores legados atualmente.
A Memria Institucional se apresenta, em nossa viso, como uma alternativa para geraruma comunicao organizacional significativa, permanente e bidirecional, que favorea a
(re) construo de relacionamentos de valor e garanta o processo de negociao entre a
organizao e seus pblicos de interesse. Ela se expressa como uma possibilidade de (re)
ligao dos sujeitos estrutura, pois propicia aos indivduos se reconhecerem como
elementos partcipes da trajetria organizacional. Nesse sentido, representa um contraponto
aos no-lugares6, na medida em que estimula o sentido de continuidade em um contexto
caracterizado pela incerteza e o efmero.
6 CONSIDERAES FINAIS
A comunicao sempre desempenhou um papel de destaque no desenvolvimento da
sociedade, mas no ambiente marcado pela complexidade que ela se configura como
imprescindvel. Neste contexto de valores efmeros, identidades fragmentadas e contnuas
6 Aug (1994) tambm conceitua os no-lugares numa oposio aos lugares. Nesse sentido, constituem espaos de
passagem, do provisrio, do efmero e do transitrio, e representam uma nova configurao social, caracterstica de umapoca que se define pelo excesso de fatos, superabundncia espacial e individualizao das referncias (AUG, 1994).
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mudanas, o grande desafio que se coloca para a comunicao (re) constituir ou tentar
criar vnculos que possam propiciar o senso de pertencimento e o resgate da identidade do
indivduo.
Segundo Nassar (2007), diante do enfraquecimento das formas tradicionais de comunicao
com o objetivo de envolver os empregados e outros pblicos, a histria organizacional
comeou a se firmar como uma nova perspectiva para o reforo, principalmente, do
sentimento de pertencimento dos empregados, como protagonistas fundamentais das
realizaes, dos bens, dos servios e da prpria sustentao dos empreendimentos.
O conhecimento, a preservao e a utilizao estratgica da Memria Institucional se
apresentam como aspectos relevantes para a Comunicao Organizacional em um tempo
onde foras de desintegrao mltiplas e potentes encontram-se em andamento (MORIN,
2007, p. 15), marcado por constantes mudanas, modismos e instantaneidade. Tais prticas
evidenciam a responsabilidade histrica da organizao, marcando seu legado para a
sociedade, e podem representar um caminho para a questo do pertencimento. Deste modo,
colaboram para fortalecer a imagem, a identidade e reputao da organizao, legitimando
sua ao perante a sociedade.
Este contexto complexo, em que a reputao, on-line, exige novos e rpidos
posicionamentos, requer novas possibilidades de comunicao, pois at mesmo os no-ditos
se tornam, muitas vezes, mais audveis do que projetos de comunicao vigorosamente
planejados e sistematicamente executados. Contextualizar os acontecimentos, positivos ou
negativos, da trajetria de uma organizao essencial, pois, de acordo com Morin (2007,
p. 58), uma palavra s tem sentido no contexto, uma informao s tem sentido numa
concepo ou numa teoria, e da mesma forma um acontecimento s inteligvel se
possvel restitu-lo em suas condies histricas, sociolgicas ou outras.
Destarte, ponderar sobre possibilidades de comunicao que nos permitam evidenciar os
outros lados/facetas/aspectos das organizaes, que so ao mesmo tempo uma mescla de
aspectos complexos/antagnicos, contraditrios, mas complementares premente nos dias
atuais, uma vez que, conforme observa Morin (2008, p. 50), no se deve reduzir um ser
mnima parcela de si mesmo, nem parcela ruim de seu passado. Assim, como o passado,
o presente e o futuro das organizaes esto inseridos numa relao circular que segue umalgica recursiva. As organizaes necessitam olhar para trs e identificar os aspectos de seu
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percurso que foram significativos, pois estes tm influncias e consequncias, no hoje e no
amanh.
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