O MARINHEIRO PERDIDO - Sindrome de Korsakov e Desorientação Amnésica

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    O MARINHEIRO PERDIDO – Oliver Sacks

    “É preciso começar a perder a memória, mesmo !e a das pe!e"as coisas, para perce#ermos !e $ amemória !e %a& "ossa vida' (ida sem memória ")o $ vida *'''+ Nossa memória $ "ossa coer"cia, "ossara&)o, "osso se"-ime"-o, a-$ mesmo "ossa aç)o' Sem ela, somos "ada *'''+ Só posso esperar pela am"$sia

    %i"al, a !e pode apa.ar -oda !ma vida, como %e& com a de mi"/a m)e*'''+0 1!is 2!3!ellEsse -rec/o comove"-e e ass!s-ador das memórias rec$m4-rad!&idas de 2!3!ell s!sci-a

    !es-5es %!"dame"-ais 6 cl7"icas, pr8-icas, e9is-e"ciais, %ilosó%icas' :!e -ipo de vida ;se -a"-o o simp8-ico, i"-eli.e"-e e desmemoriado ?immie @', !e %oi i"-er"ado "o i"7cio deBC em "osso 1ar de Idosos, "os arredores de Nova ork, com !ma e"i.m8-ica car-a de-ra"s%er"cia i"%orma"do> 0i"capa&, deme"-e, co"%!so e desorie"-ado0'?immie era !m /omem vis-oso, com !ma #as-a ca#eleira .risal/a e"caracolada, !m /omem

    sa!d8vel e #em4apessoado de FB a"os' Era ale.re, cordial e .e"eroso' 0Ol8, do!-or0, ele di&ia' 0:!e#ela ma"/)G Posso me se"-ar "es-a cadeira=0 Era !m s!ei-o ovial, 8vido por co"versar e respo"der s per.!"-as !e e! l/e %a&ia' I"%ormo! se! "ome e da-a de "ascime"-o, o "ome da cidade&i"/a emJo""ec-ic!- o"de "ascera' Descreve!4a de-al/adame"-e com cari"/o, c/e.a"do a-$ a dese"/ar !mmapa' Kalo! so#re as casas o"de se!s pare"-es -i"/am morado 6 ele ai"da lem#rava os "Lmerosde se!s -ele%o"es' Kalo! da escola e dos -empos de es-!da"-e, dos ami.os !e -eve e da predileç)opor ma-em8-ica e ci"cias' Discorre! com e"-!siasmo so#re se!s -empos "a Mari"/a 4 es-ava comde&esse-e a"os, aca#ara de co"cl!ir o c!rso sec!"d8rio !a"do %oi co"vocado em BF' Jom s!a/8#il me"-e de e".e"/eiro, ele era 0-al/ado0 para o r8dio e a ele-r"ica e, depois de !m c!rsoi"-e"sivo "o e9as, %oi parar em !m s!#mari"o, como operador4assis-e"-e de r8dio' Ele se lem#ravados "omes dos v8rios s!#mari"os o"de servira, as miss5es de cada !m, s!as posiç5es, os "omes

    dos cole.as de #ordo' Recordava4se do códi.o morse e ai"da era %l!e"-e "a -ra"smiss)o e recepç)oem morse e em da-ilo.ra%ia sem ol/ar o -eclado'ma vida rica e i"-eressa"-e, lem#rada vividame"-e e em de-al/es, com cari"/o' Mas "esse

    po"-o, por al.!m mo-ivo, s!as remi"isc"cias cessavam' Ele recordava, e !ase revivia, o -empo da.!erra e do serviço mili-ar, o %im da .!erra e se!s pla"os para o %!-!ro' Aca#ara por .os-ar daMari"/a, pe"sava em co"-i"!ar como mari"/eiro' Mas como @I 2ill, a lei de i"ce"-ivo ed!cacio"al eo!-ros #e"e%7cios aos america"os !e serviram "as %orças armadas, ele !l.o! !e seria maisva"-aoso c!rsar a %ac!ldade' Se! irm)o mais vel/o es-ava es-!da"do co"-a#ilidade e era "oivo de!ma 0verdadeira #eldade0 do Ore.o"'

     Ao recordar, reviver, ?immie a"imava4seQ ")o parecia es-ar %ala"do do passado, mas doprese"-e, e s!rpree"di4me com a m!da"ça de -empo ver#al em s!as remi"isc"cias !a"do ele

    passo! de se!s -empos de escola para a $poca em !e es-eve "a Mari"/a' sara primeiro opre-$ri-o, passa"do depois a %alar "o prese"-e e ;parece!4me< ")o só o prese"-e %ormal o! %ic-7cio dorelem#rar, mas o -empo prese"-e real, da e9peri"cia imedia-a'

    ma s!spei-a repe"-i"a e improv8vel apodero!4se de mim' 0Em !e a"o es-amos, se"/or @'=0, per.!"-ei, dis%arça"do mi"/a perple9idade com !m ar despreoc!pado' 0:!are"-a e ci"co, ora#olas' O !e es-8 !ere"do di&er=0 E prosse.!i!> 0@a"/amos a .!erra, a Alema"/a es-8 mor-a,r!ma" es-8 "o coma"do' O %!-!ro ser8 #ril/a"-e0' 0E voc, ?immie, !a"-os a"os -em0= De !m ei-oes!isi-o, i"cer-o, ele /esi-o! por !m mome"-o, como se es-ivesse calc!la"do' 02em, ac/o !e-e"/o de&e"ove, do!-or' (o! %a&er vi"-e "o pró9imo a"ivers8rio0' Ol/a"do o /omem .risal/o mi"/a%re"-e, -ive !m imp!lso pelo !al "!"ca me perdoei' Koi, o! -eria sido, o cLm!lo da cr!eldade se/o!vesse !al!er possi#ilidade de ?immie lem#rar4se do !e s!cede!' 0ome0, e! disse, e mos-reia ele !m espel/o' 0Ol/e4se "o espel/o e me di.a o !e v' É !m rapa& de de&e"ove a"os !e es-8ol/a"do "o espel/o0= Ele empalidece! s!#i-ame"-e e a.arro! os #raços da pol-ro"a' 0Me! De!sG0,m!rm!ro!' 0Me! De!s, o !e es-8 aco"-ece"do= O !e /o!ve comi.o= Ser8 !m pesadelo= Es-o!

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    lo!co= Is-o $ !ma #ri"cadeira0 6 e se desco"-rolo!, e"-ro! em p"ico' 0Es-8 -!do #em, ?immie0, e!disse, -ra"ili&ador' 0É só !m e!7voco' Nada para se preoc!par0'Jo"d!&i4o a-$ a a"ela' 0Ol/e sóGN)o $ !m li"do dia de primavera= Es-8 ve"do os me"i"os o.a"do #eise#ol=0 Ele reco#ro! a cor ecomeço! a sorrir, e e! me es.!eirei dali, leva"do comi.o o espel/o odioso'

    Dois mi"!-os depois vol-ei sala' ?immie co"-i"!ava ol/a"do pela a"ela, o#serva"do compra&er os me"i"os o.a"do #eise#ol l8 em#ai9o' (iro!4se !a"do a#ri a por-a, e se! ros-o ass!mi!

    e9press)o ale.re'0Ol8, do!-orG0, disse ele' 0:!e #ela ma"/)G O se"/or !eria %alar comi.o 6 possome se"-ar "es-a pol-ro"a=0 N)o /avia si"al al.!m de reco"/ecime"-o em se! ros-o %ra"co, si"cero'0?8 ")o "os vimos a"-es, se"/or @'=0, per.!"-ei displice"-eme"-e' 0N)o, ac/o !e ")o' O se"/or -em !ma #ar#a e -a"-o' E! ")o me es!eceria do se"/or, do!-orG0 0Por !e me c/ama de Tdo!-orT=00Ora, o se"/or $ m$dico, ")o $=0 0Sim, mas voc ")o me co"/ecia, como sa#e !em so!=0 0Ose"/or %alo! como m$dico' Posso ver !e $ m$dico0' Pois -em ra&)o, so! mesmo' “So! o"e!rolo.is-a da!i'0 0Ne!rolo.is-a= Ei, /8 al.o errado com me!s "ervos= E Ta!iT 6 o"de $ Ta!iT =:!e l!.ar $ es-e, a%i"al=0

    0E! ia !s-ame"-e per.!"-ar isso a voc 6 o"de voc pe"sa !e es-8=0 0(eo camas, epacie"-es por -oda par-e' Parece !ma esp$cie de /ospi-al' Mas !e dia#os, o !e $ !e e! es-aria%a&e"do em !m /ospi-al 6 e com -odos esses vel/os, m!i-o mais vel/os do !e e!= E! me si"-o

    #em, so! %or-e como !m -o!ro' alve& e! -ra#al/e a!i''' E! -ra#al/o= :!al $ me! serviço=''' N)o,es-8 #ala"ça"do a ca#eça, posso ver em se!s ol/os !e ")o -ra#al/o a!i' Se ")o -ra#al/o a!i, %!ipos-o a!i' So! !m pacie"-e, es-o! doe"-e e ")o sei, do!-or= É es-ra"/o, d8 medo''' É al.!m -ipode #ri"cadeira=0 0(oc ")o sa#e !al $ o pro#lema= N)o sa#e mesmo= (oc se lem#ra de -er meco"-ado so#re s!a i"%"cia, !e cresce! em Jo""ec-ic!-, %oi operador de r8dio em s!#mari"os= E!e se! irm)o es-8 "oivo de !ma moça do Ore.o"=0 Ei, o se"/or es-8 cer-o' Mas e! ")o l/e co"-eiisso, "!"ca o vi a"-es "a vida' Deve -er lido a me! respei-o "a mi"/a %ic/a0' Es-8 #em0, e! disse'0(o! co"-ar !ma /is-ória' m /omem %oi ao m$dico !ei9a"do4se de lapsos de memória' O m$dico%e& a ele al.!mas !es-5es de ro-i"a e depois per.!"-o!> TE !a"-o aos lapsos= T:!e lapsos=T,replico! o pacie"-e'0 “E"-)o esse $ o me! pro#lema0, ?immie ri!' 0E! mais o! me"os ac/ei !e era'É verdade !e a"do es!ece"do as coisas de ve& em !a"do 4 coisas !e aca#aram de aco"-ecer'Mas o passado es-8 claro”.

    0(oc permi-e !e e! o e9ami"e, %aça al.!"s -es-es=0 0JlaroG0, ele respo"de! ovialme"-e' 0O!e !iser' 0Nos -es-es de i"-eli."cia, ele demo"s-ro! .ra"de capacidade Era perspica&,o#servador e ló.ico, resolve"do sem di%ic!ldades pro#lemas comple9os e !e#ra4ca#eças 6 is-o $,se eles p!dessem ser resolvidos com rapide&' :!a"do dema"davam m!i-o -empo, ele es!ecia o!e es-ava %a&e"do' Ele era r8pido e /a#ilidoso "o o.o4da4vel/a e "o de damas, as-!cioso ea.ressivo 6 ve"ce!4me com %acilidade' Mas %ico! perdido "o 9adre& 6 os movime"-os eramdemasiado le"-os'

    es-a"do s!a memória, co"s-a-ei !ma perda severa e e9-raordi"8ria da memória rece"-e, pois-!do o !e l/e era di-o o! mos-rado -e"dia a ser es!ecido em po!cos se.!"dos' Por e9emplo,

    colo!ei me! reló.io, .rava-a e óc!los "a mesa, co#ri4os e l/e pedi !e se lem#rasse desseso#e-os' Depois de al.!"s mi"!-os de co"versa, per.!"-ei4l/e o !e p!sera de#ai9o da co#er-a' Ele")o se lem#rava de "e"/!m o#e-o e "em mesmo de !e e! l/e pedira para lem#rar4se' Repe-i o-es-e, dessa ve& pedi"do a ele !e escrevesse os "omes dos -rso#e-osQ "ovame"-e ele sees!ece! e, !a"do l/e mos-rei o papel com s!a cali.ra%ia, ele se espa"-o!, di&e"do !e ")o selem#rava de -er escri-o coisa al.!ma, em#ora reco"/ecesse s!a le-ra, perce#e"do e"-)o !m d$#il0eco0 do %a-o de -er escri-o a!ilo' Us ve&es, ele re-i"/a d$#eis lem#ra"ças, al.!m eco o! se"so de%amiliaridade m!i-o va.o' Por e9emplo, ci"co mi"!-os depois de -ermos o.ado o o.o4da4vel/a, elerecordo! !e al.!m 0do!-or0 o.ara isso com ele 0al.!m -empo a-r8s0> se 0al.!m -empo a-r8s0 erammi"!-os o! meses, ele ")o -i"/a id$ia' E"-)o ele %e& !ma pa!sa, depois disse 0Ser8 !e %oi ose"/or=0' :!a"do respo"di !e %ora e!, ele parece! ac/ar .raça' Diver-ir4se como %a-o e mos-rar4se

    i"di%ere"-e eram m!i-o carac-er7s-icos, -a"-o !a"-o as co.i-aç5es a !e ele era impelido por es-ar -)o desorie"-ado e perdido "o -empo' :!a"do e! per.!"-ava a ?immie em !e $poca do a"oes-8vamos, ele imedia-ame"-e ol/ava em vol-a proc!ra de al.!ma pis-a 6 e! -ivera o c!idado

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    de -irar o cale"d8rio da mesa 4 e calc!lava apro9imadame"-e a $poca do a"o ol/a"do pela a"ela' Ao !e parecia, ele ")o dei9ava de re.is-rar "a memória, mas os -raços de memória eram

    %!.idios ao e9-remo e -e"diam a apa.ar4se em !m mi"!-o, com %re"cia em me"os do !e isso,especialme"-e "a prese"ça de es-7m!los co"corre"-es !e o dis-ra7am, ao passo !e s!ascapacidades i"-elec-!ais e percep-ivas es-avam preservadas e eram m!i-o evol!7das'

    Os co"/ecime"-os cie"-7%icos de ?immie eram os de !m #ril/a"-e sec!"daris-a rec$m4%ormado

    com !eda para ma-em8-ica e ci"cias' Ele era e9cele"-e em c8lc!los ari-m$-icos ;e -am#$mal.$#ricos

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    de %a-o, se poderia %alar em !ma 0e9is-"cia0 dada !ma privaç)o -)o a#sol!-a de memória o!co"-i"!idade'

    Jo"-i"!ei re%le-i"do, "essas a"o-aç5es e em o!-ras pos-eriores 4 de ma"eira "ada cie"-7%ica 4,a respei-o de !ma 0alma perdida0 e como se poderia es-a#elecer al.!ma co"-i"!idade, ra7&es, poisele era !m /omem sem ra7&es, o! arrai.ado ape"as em !m passado remo-o' 0É só co"ec-ar0 6 mascomo ele poderia es-a#elecer !ma co"e9)o, e como "ós poder7amos a!dar "isso= O !e era a vida

    sem co"e9)o= H!me escreve!> 0Posso arriscar4me a a%irmar !e ")o passamos de !m %ei9e o!coleç)o de di%ere"-es se"saç5es !e s!cedem !mas s o!-ras com rapide& i"co"ce#7vel e see"co"-ram em perp$-!o %l!9o e movime"-o0' Em cer-o se"-ido, ?immie %ora red!&ido a !m ser0/!mea"o0 6 %oi i"evi-8vel para mim ima.i"ar o !a"-o H!me %icaria %asci"ado ve"do em ?immies!a própria 0!imera0 %ilosó%ica perso"i%icada, !ma /orr7vel red!ç)o de !m /omem a meros %l!9o em!da"ça desco"e9os, i"coere"-es'

     alve& e! p!desse e"co"-rar s!.es-5es o! a!da "a li-era-!ra m$dica 6 !e, por al.!mara&)o, era predomi"a"-eme"-e r!ssa da -ese ori.i"al de Yorsakov ;Mosco!, ZZC H8 !ma .ra"de lac!"a' N)o sa#emos o !eaco"-ece! "a $poca o! s!#se!e"-eme"-e *'''+ Precisamos pree"c/er esses a"os 0perdidos0 com aa!da de se! irm)o, o! da Mari"/a, o! dos /ospi-ais o"de ele es-eve i"-er"ado *'''+ Seria poss7vel!e ele -ivesse so%rido al.!m .ra"de -ra!ma "a $poca, al.!m -ra!ma cere#ral o! emocio"al .raveem com#a-e, "a .!erra, e !e isso possa -4lo a%e-ado desde e"-)o= *'''+ -er8 sido a .!erra o 0po"-oal-o0, a Ll-ima ve& em !e ele es-eve realme"-e vivo, se"do a e9is-"cia desde e"-)o !m lo".oa"-icl7ma9=

    Em se! %asci"a"-e rela-o oral /e .ood \ar ;BZ

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    Rece"-eme"-e -ive a opor-!"idade de disc!-ir a !es-)o com erkel, !e me a%irmo!> 0Jo"/ecimil/ares de /ome"s !e !l.am es-ar ape"as Tmarca"do passoT desde BF, mas "!"ca e"co"-reial.!$m para !em o -empo /o!vesse -ermi"ado, como o se! ?immie am"$sico0'

    Ki&emos v8rios e9ames em ?immie ;ele-roe"ce%alo.rama, -omo.ra%ia do c$re#ro 0Pare com essa #ri"cadeiraG (oc -em idade para serme! pai' Me! irm)o $ moço, aca#o! de e"-rar "a %ac!ldade de co"-a#ilidade0'

    :!a"do rece#i essas i"%ormaç5es, %i!ei ai"da mais perple9o> por !e ?immie ")o serecordava de se!s a"os mais rece"-es "a Mari"/a, por !e ")o rec!perava e or.a"i&ava s!aslem#ra"ças a-$ BCW= E! ")o sa#ia, "a $poca, !e esses pacie"-es podem so%rer de am"$siare-ró.rada ;ver o pós4escri-o

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    a"siedade espec7%ica *'''+ ")o o%erece"do pro#lemas de co"-role0, ")o /avia coisa al.!ma !e elap!desse s!.erir, -ampo!co !ma 0e"-rada0 o! 0alava"ca0 -erap!-ica !e ela p!desse co"ce#er'

     U!ela al-!ra, co"ve"cido de !e se -ra-ava realme"-e da s7"drome de Yorsakov 0p!ra0, ")ocomplicada por o!-ros %a-ores, emocio"ais o! or."icos, escrevi a 1!ria e pedi s!a opi"i)o' Narespos-a ele me"cio"o! se! pacie"-e 2el,^ c!a am"$sia erradicara re-roa-ivame"-e de& a"os' A%irmava ")o ver mo-ivos para !e !ma am"$sia re-ró.rada desse -ipo ")o p!desse apa.ar da

    memória d$cadas o! !ase -oda !ma vida' 0Só posso esperar pela am"$sia %i"al0, escreve 2!3!el,0a !e pode apa.ar -oda !ma vida0' Mas a am"$sia de ?immie, por al.!ma ra&)o, -i"/a apa.ado amemória e o -empo do prese"-e a-$ BF, apro9imadame"-e, e depois parado' De ve& em !a"doele recordava al.o aco"-ecido m!i-o depois, por$m a lem#ra"ça era %ra.me"-8ria e deslocada "o-empo' Jer-a ve&, ve"do a palavra 0sa-$li-e0 em !ma ma"c/e-e de or"al, ele come"-o! cas!alme"-e!e par-icipara de !m proe-o de locali&aç)o por sa-$li-e !a"do es-ava "o "avio J/esapeake 2a[,!ma recordaç)o %ra.me"-8ria de meados dos a"os ]W' Mas, para -odos os e%ei-os pr8-icos, se!mome"-o de 0cor-e 0%oi em meados ;o! "a se.!"da me-ade< dos a"os FW, e -!do o !e era lem#radode $pocas pos-eriores era %ra.me"-8rio, isolado' Isso ocorria em BC e co"-i"!a a ocorrer /oe emdia, "ove a"os depois'

    O !e poder7amos %a&er= O !e dever7amos %a&er= 0N)o /8 prescriç5es para !m caso como

    esse0 escreve! 1!ria' 0Kaça o !e s!a perspic8cia e se! coraç)o s!.erirem' H8 po!ca o! "e"/!maespera"ça de rec!perar s!a memória' Mas !m /omem ")o co"sis-e ape"as em memória' Ele -emse"-ime"-o, vo"-ade, se"si#ilidades, e9is-"cia moral 6 aspec-os so#re os !ais a "e!ropsicolo.ia")o pode pro"!"ciar4se' E $ ali, al$m da es%era de !ma psicolo.ia impessoal, !e voc poder8e"co"-rar modos de a-i".i4lo e m!d84lo' E as circ!"s-"cias de se! -ra#al/o permi-em issoespecialme"-e, pois voc -ra#al/a em !m asilo, !e $ como !m pe!e"o m!"do, m!i-o di%ere"-e dascl7"icas e i"s-i-!iç5es o"de -ra#al/amos' Em -ermos "e!ropsicoló.icos, /8 po!co o! "ada !e vocpossa %a&erQ mas "o !e respei-a ao i"div7d!o -alve& voc possa %a&er m!i-o0' 1!ria me"cio"o! !ese! pacie"-e Y!r ma"i%es-ava !ma rara co"sci"cia de si mesmo, "a !al a desespera"çamis-!rava4se a !ma si".!lar sere"idade' 0N)o -e"/o recordaç)o do prese"-e0, ele di&ia'

    0N)o sei o !e aca#ei de %a&er o! de o"de aca#o de vir *'''+' Posso lem#rar me! passadom!i-o #em, mas ")o -e"/o lem#ra"ça do prese"-e0' :!a"do l/e %oiper.!"-ado se ele a vira apessoa !e l/e aplicava os -es-es, ele respo"de!> 0N)o posso di&er !e sim o! !e ")o, ")o possoa%irmar "em "e.ar 8 -er vis-o voc0' Isso aco"-ecia s ve&es com ?immieQ e, como Y!r, !eperma"ece! v8rios meses "o mesmo /ospi-al, ?immie começo! a dese"volver !m 0se"so de%amiliaridade0Q le"-ame"-e, apre"de! a deslocar4se pelo asilo 6 a locali&aç)o do re%ei-ório, de se!!ar-o, dos elevadores, escadas 6 e, em cer-o se"-ido, reco"/ecia al.!"s %!"cio"8rios, em#ora osco"%!"disse, e -alve& -ivesse de %a&4lo, com pessoas do passado' 1o.o ele se a%eiçoo! %reirae"carre.ada da e"%erma.em "o asiloQ reco"/ecia de imedia-o s!a vo&, o som de se!s passos,mas sempre di&ia !e ela %ora s!a cole.a de escola "o c!rso sec!"d8rio e se s!rpree"dia !a"doe! me diri.ia a ela -ra-a"do4a por 0irm)0' 0P!9a vidaG0, e9clamava, 0aco"-ecem s coisas mais

    es-ra"/as' E! "!"ca iria adivi"/ar !e voc se -or"aria !ma reli.iosa, irm)G0Desde !e es-8 em "osso asilo 4 o! sea, desde o i"7cio de BC 4, ?immie "!"ca %oi capa& deide"-i%icar pessoa al.!ma de !m modo co"sis-e"-e' A L"ica pessoa !e ele verdadeirame"-ereco"/ece $ se! irm)o, sempre !e es-e vem do Ore.o" para visi-84lo' O#servar esses e"co"-ros $m!i-o comove"-e e pa-$-ico 4 os L"icos e"co"-ros verdadeirame"-e emocio"ais vividos por ?immie'Ele ama o irm)o, reco"/ece4o, mas ")o co"se.!e e"-e"der por !e ele parece -)o vel/o> 0Ac/o !eal.!mas pessoas e"vel/ecem r8pido0, di& ele' Na realidade, se! irm)o apare"-a #em me"os idadedo !e -em e poss!i o -ipo de ros-o e co"s-i-!iç)o %7sica !e m!dam po!co com os a"os' Esses s)overdadeiros e"co"-ros, a L"ica li.aç)o de passado e prese"-e para ?immie, e, "o e"-a"-o, ")oproporcio"am !m se"so de /is-ória o! co"-i"!idade' No m89imo, ressal-am 6 ao me"os para se!irm)o e para !em os v !"-os 6 !e ?immie ai"da vive, em#ora %ossili&ado, "o passado'

    odos, a pri"c7pio, -7"/amos .ra"des espera"ças de a!dar ?immie 6 ele era -)o #emapessoado, -)o simp8-ico, -)o vivo e i"-eli.e"-e !e era di%7cil acredi-ar ser imposs7vel a!d84lo' Mas"e"/!m de "ós amais -i"/a e"co"-rado, "em mesmo ima.i"a !ma am"$sia -)o possa"-e, a

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    possi#ilidade de !m a#ismo o"de -!do, -odas as e9peri"cias, -odos os eve"-os, ca7ai"so"davelme"-e, !m #ra"co sem %!"do da memória !e e".oliria o m!"do i"-eiro'

    :!a"do o vi pela primeira ve&, s!.eri !e ele -ivesse !m di8rio e %osse i"ce"-ivado a %a&era"o-aç5es di8rias de s!as e9peri"cias, se"-ime"-os, pe"same"-os, lem#ra"ças, re%le95es' Essas-e"-a-ivas %oram %r!s-radas, de i"7cio, por!e ele perdia sempre o di8rioQ era preciso %i984lo "ele deal.!ma %orma' Is-o, por$m, -am#$m ")o %!"cio"o!Q ele o#edie"-eme"-e a"o-ava -odos os dias em

    !m cader"o, mas ")o co"se.!ia reco"/ecer o !e escrevera ali' Ele reco"/ece s!a cali.ra%ia ees-ilo e sempre se espa"-a ao desco#rir !e escreve! al.o "o dia a"-erior' Espa"-a4se 6 e %icai"di%ere"-e 6 pois ele $ !m /omem !e, e%e-ivame"-e, ")o -em 0o"-em0' As a"o-aç5es perma"eciamsem li.aç)o com o passado e sem possi#ilidade de li.aç)o com o %!-!ro, sem o poder deproporcio"ar !m se"so de -empo o! co"-i"!idade' Al$m disso, eram -riviais 6 0Ovos "o ca%$ dama"/)0, 0Assis-i ao o.o "a (0 6 e "!"ca a-i".iam se! 7"-imo'

    Mas /averia !m 7"-imo "a!ele /omem desmemoriado, !m 7"-imo de se"-ime"-o epe"same"-o d!rado!ros, o! -eria ele sido red!&ido a !ma esp$cie de parvo /!mea"o, a meras!cess)o de impress5es e eve"-os desco"e9os= ?immie, ao mesmo -empo, es-ava e ")o es-avaco"scie"-e dessa perda ime"sa e -r8.ica em si mesmo, perda de si mesmo' ;:!a"do !m /omemperde !ma per"a o! !m ol/o, sa#e !e perde! a per"a o! o ol/oQ mas se ele perde! o e! 4 se

    perde! a si mesmo 4 ")o $ capa& de sa#er disso, pois 8 ")o es-8 mais ali para sa#4lo'< Por essemo-ivo, e! ")o podia !es-io"84lo i"-elec-!alme"-e com respei-o a esses ass!"-os' De i"7cio, eledemo"s-rara perple9idade por ver4se em meio a pacie"-es !a"do, se.!"do a%irmava, ")o se se"-iadoe"-e' Mas pe"s8vamos> como ele se se"-ia= Ele era %or-e e sadio, -i"/a !ma esp$cie de %orça ee"er.ia a"imal, mas -am#$m !ma es-ra"/a i"$rcia, passividade e ;como -odos "o-avam<0despreoc!paç)o0Q dava a -odos "ós !ma ace"-!ada impress)o de 0%al-ar al.!ma coisa0, em#oraisso, e !e ele o perce#ia, era acei-o por ele com !ma si".!lar 0despreoc!paç)o0'

    Jer-o dia, per.!"-ei4l/e ")o so#re s!a memória, mas so#re o mais simples e eleme"-ar de-odos os se"-ime"-os>0Jomo se se"-e0= “Jomo me si"-o0, ele repe-i!, coça"do a ca#eça'0N)o posso di&er !e me si"-o doe"-e' Mas ")o posso di&er !e me si"-o #em' N)o posso di&er !esi"-o coisa al.!ma0' 0(oc $ i"%eli&=0, co"-i"!ei' 0N)o posso di&er !e so!'0 0Se"-e pra&er em viver=00N)o posso di&er !e si"-o'''0 Hesi-ei, recea"do es-ar i"do lo".e demais, des"!da"do !m /omema-$ revelar al.!m desespero oc!l-o, i"co"%ess8vel, i"s!por-8vel' 0(oc ")o se"-e pra&er "a vida0,repe-i, meio vacila"-e' 0E"-)o como se se"-e em relaç)o vida=0 0N)o posso di&er !e si"-o al.!macoisa0' 0Mas voc se se"-e vivo0= 0Me se"-ir vivo= N)o realme"-e' N)o me si"-o vivo 8 %a& m!i-o-empo0' Se! ros-o mos-rava !ma e9press)o de i"%i"i-a -ris-e&a e resi."aç)o'

     Pos-eriorme"-e, "o-a"do s!a ap-id)o "os o.os r8pidos e !e#ra4ca#eças, o pra&er !e elesl/e davam e o poder !e -i"/am de 0pre"d4lo0 e"!a"-o d!ravam, e -am#$m para proporcio"ar poral.!"s mome"-os !m se"so de compa"/eirismo e compe-iç)o 6 ?immie ")o se !ei9ara desolid)o, mas parecia m!i-o soli-8rioQ "!"ca e9pressava -ris-e&a, mas parecia ime"same"-e -ris-e 6,s!.eri !e ele %osse levado para "ossos pro.ramas de recreaç)o "o asilo' Is-o %!"cio"o! mel/or 6

    mel/or do !e o di8rio' Ele se a#sorvia #reveme"-e "os o.os, mas lo.o es-es dei9avam deo%erecer4l/e desa%iosQ ele resolvia -odos os !e#ra ca#eças, e com %acilidade, e era m!i-o mais/a#ilidoso e esper-o do !e !al!er advers8rio "os o.os' :!a"do desco#ri! isso, ele vol-o! amos-rar4se irri-adiço e i"!ie-o, peram#!la"do pelos corredores, i"comodado e e"-ediado, com !mse"-ime"-o de i"di."aç)o 6o.os e !e#ra4ca#eças eram para cria"ças, !ma divers)o'Evide"-eme"-e, ele a"siava por al.!ma coisa para %a&er> !eria %a&er, ser, se"-ir 6 e ")o podiaQ!eria se"-ido, !eria propósi-o 6 "as palavras de Kre!d, “amor e -ra#al/o0'

    Ele seria capa& de %a&er !m 0-ra#al/o com!m0= :!a"do paro! de -ra#al/ar, em B], ele 0sedesco"-rolo!0, come"-ara se! irm)o' ?immie era m!i-o /a#ilidoso em d!as coisas> códi.o morse eda-ilo.ra%ia' Para o morse ")o -7"/amos aplicaç)o, a ")o ser !e i"ve"-8ssemos !maQ mas !m #omda-ilo.ra%o seria L-il, se ele co"se.!isse rec!perar s!a /a#ilidade de o!-rora 6 e seria !m -ra#al/o

    de verdade ")o ape"as !m o.o' ?immie de %a-o reco#ro! lo.o s!a per7cia e com o -empo se -or"o!!m da-ilo.ra%o m!i-o velo& 6 ")o era capa& de escrever deva.ar 4, e"co"-ra"do "isso !m po!co do

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    desa%io e sa-is%aç)o de !m -ra#al/o' Por$m, mesmo es-e era só !ma !es-)o de -o!es ecarac-eresQ era s!per%icial, -rivial, ")o a-i".ia se! 7"-imo' E, o !e ele da-ilo.ra%ava, %a&ia4omeca"icame"-e 6 ")o co"se.!ia re-er a id$ia 4, com as se"-e"ças #reves s!cede"do !mas so!-ras em !ma ordem sem si."i%icado'

     A -e"d"cia era, i"s-i"-ivame"-e, %alarmos dele como!ma perda espiri-!al 6 !ma 0alma perdida0Q seria poss7vel !e s!a alma realme"-e /o!vesse sido

    0des-r!7da0 por !ma doe"ça= 0Ac/am !e ele -em alma=0, per.!"-ei cer-a ve& s irm)s' Elas %icarami"di."adas com a per.!"-a, mas e"-e"deram por !e e! a %i&era' 0O#serve ?immie "a capela e -ires!as co"cl!s5es0, disseram'

    Se.!i a s!.es-)o e %i!ei comovido, pro%!"dame"-e comovido e impressio"ado, pois vi ali!ma i"-e"sidade e co"s-"cia de a-e"ç)o e co"ce"-raç)o !e "!"ca -i"/a vis-o "ele a"-es, de !e"em se!er o !l.ava capa&' O#servei4o aoel/ar e rece#er a /ós-ia "a l7".!a, e ")o p!de d!vidarda ple"i-!de e -o-alidade da com!"/)o, do per%ei-o ali"/ame"-o de se! esp7ri-o com o esp7ri-o damissa' De !m modo i"-e.ral, i"-e"so, sere"o, "a !ie-!de da co"ce"-raç)o e a-e"ç)o a#sol!-a, elee"-ro! e compar-il/o! da Sa"-a Jom!"/)o' Es-ava comple-ame"-e -omado a#sorvido por !mse"-ime"-o' N)o /avia es!ecime"-o, "em s7"drome de Yorsakov "a!ele mome"-o, "em pareciaposs7vel o! ima.i"8vel !e p!desse /aver, pois ele ")o es-ava mais merc de !m meca"ismo

    %al/o e %al7vel 6 o das se"cias e re.is-ros de memória sem se"-ido e sim a#sor-o em !m a-o, !ma-o de -odo o se! ser, !e co"-i"/a se"-ime"-o e si."i%icado em !ma co"-i"!idade e !"idadeor."ica, !ma co"-i"!idade e !"idade -)o coesa !e ")o permi-ia "e"/!ma r!p-!ra'

    Jlarame"-e, ?immie e"co"-rava a si mesmo, e"co"-rava co"-i"!idade e realidade "a "a-!re&aa#sol!-a da a-e"ç)o e a-o espiri-!al' As irm)s -i"/am ra&)o 6 ele de %a-o e"co"-rava s!a alma ali' E1!ria -am#$m es-ava cer-oQ s!as palavras vol-aram4me me"-e> “m /omem ")o co"sis-e ape"asem memória' Ele -em se"-ime"-o, vo"-ade, se"si#ilidade, e9is-"cia moral' É ali *'''+ !e voc poder8a-i".i4lo e o#servar !ma pro%!"da m!da"ça0' A memória, a a-ividade me"-al, a me"-e isoladame"-e")o podiam re-4loQ mas a a-e"ç)o e aç)o moral eram capa&es de a#sorv4lo por comple-o'

    Mas -alve& 0moral0 %osse !ma palavra m!i-o res-ri-a, pois o es-$-ico e o dram8-ico -am#$mes-avam e"volvidos' (er ?im "a capela a#ri!4me os ol/os para o!-ros rei"os o"de a alma $ c/amadae ma"-ida, e apa&i.!ada, "a a-e"ç)o e com!"/)o' A mesma i"-e"sidade de a#sorç)o e a-e"ç)oseria e"co"-rada em relaç)o mLsica e ar-e> "o-ei !e ?immie ")o -i"/a di%ic!ldade para0acompa"/ar0 a mLsica o! dramas simples, pois cada mome"-o "a mLsica e "a ar-e re%ere4se ao!-ros mome"-os e os co"-$m' Ele .os-ava de ardi"a.em, e passara a %a&er !ma par-e do -ra#al/oem "osso ardim' A pri"c7pio, ele -odo dia co"-emplava o ardim como se o visse pela primeira ve&,mas por al.!m mo-ivo a!ele l!.ar se -or"o! mais %amiliar para ele do !e o i"-erior do asilo' ?8!ase "!"ca se perdia o! se desorie"-ava "o ardimQ ele o moldo!, acredi-o, "os ardi"s amados elem#rados de s!a !ve"-!de em Jo""ec-ic!-'

    ?immie, -)o perdido "o -empo e9-e"sivo, 0espacial0, era per%ei-ame"-e or.a"i&ado "o -empo0i"-e"cio"al0, #er.so"ia"oQ o !e era %!.idio, i"s!s-e"-8vel como es-r!-!ra %ormal era per%ei-ame"-e

    es-8vel, per%ei-ame"-e re-ido como ar-e o! vo"-ade' Ademais, /avia al.o !e perd!rava e so#revivia'Em#ora ?immie %osse #reveme"-e 0re-ido0 por !ma -are%a, !e#ra4ca#eça, o.o o! c8lc!lo, re-idopelo p!ro desa%io me"-al dessas a-ividades, ele se desi"-e.rava assim !e as co"cl!7a,mer.!l/a"do "o a#ismo de se! "ada, de s!a am"$sia' Mas, se %osse re-ido pela a-e"ç)o emocio"ale espiri-!al 6 "a co"-emplaç)o da "a-!re&a o! da ar-e, o!vi"do mLsica, par-icipa"do da missa "acapela6, a a-e"ç)o, o 0es-ado de esp7ri-o0 e a !ie-!de des-a persis-iam por al.!m -empo, e viam4se "ele !m ar pe"sa-ivo e !ma pa& !e rarame"-e, o! "!"ca, eram o#servados d!ra"-e o res-o do-empo !e ele passava "o asilo'

    Ka& a.ora "ove a"os !e co"/eço ?immie e, "e!ropsicolo.icame"-e, ")o ocorre! "elem!da"ça al.!ma' Jo"-i"!a so%re"do a mais .rave, a mais devas-adora s7"drome de YorsakovQ ")oco"se.!e lem#rar coisas isoladas por mais de al.!"s se.!"dos e aprese"-a !ma i"-e"sa am"$sia

    !e remo"-a a BF' Mas, /!ma"a e espiri-!alme"-e, ele s ve&es $ !m /omem m!i-o di%ere"-e 6")o mais irre!ie-o, a.i-ado, e"-ediado e perdido, mas pro%!"dame"-e a-e"-o #ele&a e alma dom!"do, rico em -odas as ca-e.orias kierke.aardia"as e es-$-icas> o moral, o reli.ioso, o dram8-ico'

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    :!a"do o vi pela primeira ve&, ima.i"ei se ele ")o es-aria co"de"ado a ser !ma esp$cie de0%rivolidade0 /!mea"a, !ma o"d!laç)o sem se"-ido "a s!per%7cie da vida, e se /averia al.!m modode -ra"sce"der a i"coer"cia dessa doe"ça /!mea"a' A ci"cia emp7rica disse4me !e ")o /aviaQmas a ci"cia emp7rica, o empirismo, ")o leva em co"sideraç)o a alma, ")o -ra-a do !e co"s-i-!i ede-ermi"a a e9is-"cia pessoal' alve& /aa "isso !ma liç)o %ilosó%ica al$m de cl7"ica> "a s7"dromede Yorsakov, o! "a dem"cia e o!-ras ca-8s-ro%es semel/a"-es, por maior !e sea o da"o or."ico

    e a dissol!ç)o /!mea"a, perma"ece i"-ac-a !ma possi#ilidade de rei"-e.raç)o pela ar-e, pelacom!"/)o, pelo co"-a-o como esp7ri-o /!ma"o> e isso pode ser preservado "o !e a pri"c7pioparece ser !m es-ado irremedi8vel de devas-aç)o "e!roló.ica'

    P_S4ESJRIOSei a.ora !e a am"$sia re-ró.rada, em cer-o .ra!, $ m!i-o com!m, se ")o !"iversal, "os

    casos de s7"drome de Yorsakov' A s7"drome de Yorsakov cl8ssica6!ma devas-aç)o da memória.rave e perma"e"-e, mas 0p!ra0, ca!sada pela des-r!iç)o alcoólica dos corpos mamilares 6 $ rara,mesmo e"-re pessoas !e #e#em m!i-o' Evide"-eme"-e, podemos e"co"-rar a s7"drome deYorsakov associada a o!-ras pa-olo.ias, como "os pacie"-es com -!mor es-!dados por 1!ria' mcaso par-ic!larme"-e %asci"a"-e de s7"drome de Yorsakov a.!da ;e %eli&me"-e -ra"si-ória< %oi

    descri-o ape"as rece"-eme"-e com relaç)o a casos da c/amada Am"$sia @lo#al ra"si-ória*ra"sie"- @lo#al Am"$sia, @A+, !e pode ocorrer em e"9a!ecas, les5es "a ca#eça o!i"s!%ici"cia de %l!9o sa".7"eo "o c$re#ro' Nes-es casos, d!ra"-e al.!"s mi"!-os o! /oras, podeocorrer !ma am"$sia si".!lar, m!i-o em#ora o pacie"-e possa co"-i"!ar, de !m modo mec"ico, adiri.ir !m carro o! -alve& a reali&ar s!as -are%as de m$dico o! reda-or' Por$m, so# essa %l!"cia a&!ma pro%!"da am"$sia 6 cada se"-e"ça pro%erida $ es!ecida "o mesmo i"s-a"-e, -!do o !e $vis-o es!ecido depois de po!cos mi"!-os, em#ora lem#ra"ças e ro-i"as es-a#elecidas /8 m!i-o-empo possam es-ar per%ei-ame"-e preservadas' ;Al.!mas %ilma.e"s "o-8veis de pacie"-es d!ra"-eacessos de @A %oram %ei-as rece"-eme"-e *BZ]+ pelo dr' ?o/" Hod.es, de O9%ord'<

    Pode ocorrer, adicio"alme"-e, !ma i"-e"sa am"$siare-ró.rada em -ais casos' O dr' 1eo" Pro-ass, me! cole.a, %alo!4me so#re !m caso, !e e"co"-ro!rece"-eme"-e, "o !al !m /omem m!i-o i"-eli.e"-e -or"o!4se i"capa&, por al.!mas /oras, de selem#rar da esposa o! dos %il/os, o! de lem#rar !e -i"/a esposa e %il/os' Jom e%ei-o, ele perde!-ri"-a a"os de s!a vida, em#ora, %eli&me"-e, por ape"as al.!mas /oras' A rec!peraç)o dessesacessos $ imedia-a e comple-aQ eles s)o, em cer-o se"-ido, os mais pavorosos dos 0pe!e"osa-a!es0 em se! poder de a"!lar o! o#li-erar, de modo a#sol!-o, d$cadas de !ma vida ricame"-evivida, co"!is-ada, reple-a de lem#ra"ças' O /orror, -ipicame"-e, só $ se"-ido pelos o!-rosQ opacie"-e, sem perce#er, sem se dar co"-a de s!a am"$sia, pode co"-i"!ar o !e es-8 %a&e"do,-o-alme"-e despreoc!pado, só mais -arde desco#ri"do !e perde! ")o só !m dia ;como ocorre com%re"cia "os 0#leca!-es0 alcoólicos com!"s 0Pelo me"os viviple"ame"-e, aprovei-a"do a vida ao m89imo a"-es de so%rer o da"o cere#ral, o a-a!e e-c'0' Essese"so da 0vida 8 vivida0, !e pode ser -a"-o !ma co"solaç)o como !m -orme"-o, $ precisame"-e o!e $ -irado da pessoa "a am"$sia re-ró.rada' A 0am"$sia %i"al, a !e pode apa.ar -oda !ma vida0,de !e %ala 2!3!el, pode ocorrer, -alve&, em !ma dem"cia -ermi"al, mas, pela mi"/a e9peri"cia,")o s!#i-ame"-e, em co"se"cia de !m a-a!e' Mas e9is-e !m -ipo de am"$sia di%ere"-e, por$mcompar8vel, !e pode ocorrer de ma"eira sL#i-a 6 di%ere"-e por ")o ser 0.lo#al0, mas 0demodalidade espec7%ica0'

    Por e9emplo, em !m pacie"-e so# me!s c!idados, !ma -rom#ose repe"-i"a "a circ!laç)o

    pos-erior do c$re#ro ca!so! a mor-e imedia-a das par-es vis!ais do c$re#ro' Dali por dia"-e, essepacie"-e -or"o!4se -o-alme"-e ce.o, por$m sem o sa#er' Ele parecia ce.o, mas ")o se !ei9ava'Per.!"-as e e9ames mos-raram, sem som#ra de dLvida, !e ")o só ele es-ava ce"-ral o!

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    0cor-icalme"-e0 ce.o, mas -am#$m !e perdera -odas as s!as ima.e"s e memórias vis!ais, !e asperdera -o-alme"-e, em#ora ")o -ivesse id$ia de perda al.!ma' De %a-o, ele perdera a própria id$iade vis)o e ")o só era i"capa& de descrever al.o vis!alme"-e, como, -am#$m %icava co"%!so !a"doe! !sava palavras como 0e"9er.ar0 e 0l!&0' Em ess"cia, ele se -or"ara !m ser ")o vis!al' odo se!-empo de vida como pessoa !e e"9er.ava, se! -empo de vis!alidade, %ora e%e-ivame"-e ro!#ado'De %a-o, -oda a s!a vida vis!al %ora apa.ada 6 e apa.ada perma"e"-eme"-e 6 "o i"s-a"-e do

    a-a!e' Essa am"$sia vis!al e ;por assim di&er< ce.!eira para a ce.!eira, am"$sia para a am"$sia,co"s-i-!i e%e-ivame"-e !ma s7"drome de Yorsakov 0-o-al0 res-ri-a vis!alidade' ma am"$sia ai"damais limi-ada, mas ai"da assim -o-al, pode ocorrer em relaç)o a de-ermi"adas %ormas de percepç)o,como descri-o "o cap7-!lo a"-erior, 0O /omem !e co"%!"di! s!a m!l/er com !m c/ap$!0' Havia ali!ma prosopa."osia a#sol!-a, o! sea, !ma a."osia para ros-os' O pacie"-e ")o só era i"capa& dereco"/ecer, mas -am#$m de ima.i"ar o! lem#rar ros-os 6 de %a-o, ele perdera a própria id$ia de0ros-o0, assim como me! pacie"-e mais a%e-ado perdera as id$ias de 0ver0 e 0l!&0' ais s7"dromes%oram descri-as por A"-o" "a d$cada de ZBW' Mas a implicaç)o dessas s7"dromes 6 a de Yorsakove a de A"-o" 6, o !e elas acarre-am e devem acarre-ar para o m!"do, a vida, a pacie"-esa%e-ados, %oi po!co es-!dada, mesmo a-$ o prese"-e'

    No caso de ?immie, s ve&es %ic8vamos pe"sa"do em como ele poderia rea.ir se %osse

    levado de vol-a s!a cidade "a-al 6 e%e-ivame"-e, s!a $poca pr$4am"$sia 6, mas a cidade&i"/ade Jo""ec-ic!- crescera e se dese"volvera m!i-o como passar dos a"os' Pos-eriorme"-e, -ive aopor-!"idade de desco#rir o !e poderia aco"-ecer em circ!"s-"cias assim, em#ora .raças a o!-ropacie"-e com a s7"drome de Yorsakov, S-ep/e" R', !e so%re! !ma doe"ça a.!da em BZW e -eve!ma am"$sia re-ró.rada !e remo"-ava a ape"as !m o! dois a"os' Jom esse pacie"-e, !e-am#$m aprese"-ava .raves co"v!ls5es, /iper-o"ia e o!-ros pro#lemas !e re!eriam i"-er"aç)o,raras visi-as de %im de sema"a s!a casa revelavam !ma si-!aç)o dolorosa' No /ospi-al ele ")oco"se.!ia reco"/ecer pessoa "em coisa al.!ma e se ma"-i"/a em !m %re"esi de desorie"-aç)o!ase i"cessa"-e' Mas !a"do a esposa o levava para casa, para s!a casa !e era, e%e-ivame"-e,!ma 0c8ps!la do -empo0 de se!s dias pr$4am"$sia, ele se se"-ia imedia-ame"-e vo"-ade'Reco"/ecia -!do, a!s-ava o #arme-ro, veri%icava o -ermos-a-o, se"-ava4se em s!a pol-ro"a %avori-a,como cos-!mava %a&er' Kalava so#re os vi&i"/os, as loas, o #ar local, o ci"ema pró9imo, como sees-ivessem em meados dos a"os CW' Kicava per-!r#ado e i"-ri.ado se %ossem %ei-as m!da"ças "acasa, ai"da !e m7"imas' ;0(oc -roco! as cor-i"as /oeG0, ele se !ei9o! cer-a ve& esposa' 0Jomo$ poss7vel= )o depressaG Eram verdes /oe de ma"/)0' Mas as cor-i"as 8 ")o eram verdes desdeBCZ'< Ele reco"/ecia a maioria das casas e loas do #airro 6 /aviam m!dado po!co e"-re BCZ eBZ 6, mas %icava perple9o com a 0s!#s-i-!iç)o0 do ci"ema ;0Jomo $ !e eles co"se.!iramderr!#8lo e co"s-r!ir !m s!permercado da "oi-e para o dia=0< Ele reco"/ecia ami.os e vi&i"/os, masos ac/ava es-ra"/ame"-e mais vel/os do !e ele esperava ;0O vel/o %!la"o de -alG Ele es-8mos-ra"do a idade !e -em' E! ")o -i"/a reparado "isso a"-es' Por !e /oe -odo m!"do es-8mos-ra"do a idade !e -em=0