O MINISTRO DA DEFESA NACIONAL VISITA A MARINHA · Este gesto da maior solidariedade de Deus para...

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O MINISTRO DA DEFESA NACIONAL VISITA A MARINHA O MINISTRO DA DEFESA NACIONAL VISITA A MARINHA PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 436 • ANO XXXIX DEZEMBRO 2009 • MENSAL • 1,50 DEZEMBRO 2009 • MENSAL • 1,50 PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 436 • ANO XXXIX

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O MINISTRO DA DEFESA NACIONALVISITA A MARINHA

O MINISTRO DA DEFESA NACIONALVISITA A MARINHA

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 436 • ANO XXXIX DEZEMBRO 2009 • MENSAL • € 1,50DEZEMBRO 2009 • MENSAL • € 1,50PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 436 • ANO XXXIX

NATAL, OU A EXTREMA «OUSADIA» DE DEUS

“… e veio habitar connosco” (Jo. 1,14)

NATAL, OU A EXTREMA «OUSADIA» DE DEUS

Não adianta esconder: continuamos a habitar numa terra de equívocos.

Num relatório recente da UNICEF que reflectia dados sobre a situação mundial da infância e sobrevivência infantil, diz-se que ”há mais de vinte e seis mil menores que diariamente morrem antes de completar cinco anos, na sua maioria por causas evitáveis.”

É pena que queiramos nesta quadra celebrar o nascimento da Vida quando, ao mesmo tempo, nos apercebemos dos desvarios a que tan-tas vidas estão entregues.

Preocupa-nos muito a nossa família, a nossa casa, o nosso quintal, …ao fim e ao cabo “as nossas coisas”, mas falta-nos um olhar global e abran-gente suficientemente atento ao mundo e à humanidade.

Dizem os dicionários que «ousadia» se pode traduzir por atrevimento, cora-gem, temeridade, audácia…

Tendo em conta o jeito tão humano de arriscar o menos possível, precaven-do sempre um fundamentado calculis-mo, mais do que temerário, atrevido ou corajoso, o Natal fala-nos da «ousadia» de Deus.

Sonhou com a humanidade, tornou a sonhar, voltou a sonhar vezes sem conta e, por fim, “investiu” nela o melhor que tinha, o preço mais alto: a “Sua” própria Vida. E, segundo Deus, a humanidade é uma conquista e uma reconquista Sua.

Este gesto da maior solidariedade de Deus para com o ser humano deveria ser muito bem revisitado em todos os “natais” e talvez essa atitude implicasse mudança nas nossas opções recorrente-mente mesquinhas.

Diz o conto que a tartaruga acabava de sair do seu esconderijo para um passeio nocturno.

O sapo ao vê-la sair adverte-a:-Tartaruga, a esta hora não é muito aconselhável sair.Mas a tartaruga continua e, ousando um passo mais longo, vê-se virada

de patas para o ar, sobre a sua própria couraça. Então o sapo exclamou:- Eu bem te avisei tartaruga, que era uma imprudência sair a esta hora:

agora vais morrer aí.- Bem sei – respondeu a tartaruga – mas é a primeira vez que estou a ver

o céu estrelado…

Também este gesto da tartaruga ensina-nos a «ousadia».Embalados por melodias ternas e anestesiados por luzeiros do mer-

cado, pode acontecer que o essencial desta quadra nos passe desper-cebido e nós não o devíamos permitir.

Revisitando o mesmo relatório da UNICEF a que já aludimos, lá se diz também que “a integração ao nível da comunidade de serviços essenciais para as mães, recém-nascidos e crianças, bem como a melhoria susten-tável dos serviços de saúde à escala nacional poderiam salvar a vida de uma grande parte dessas crianças que morrem todos os dias”.

Perante a cultura que se foi instalando e que amiudadas vezes rela-tiviza a vida, o Papa Bento XVI falou não há muito tempo de “emer-gência educativa”.

De facto, quando se começa a pôr em causa o valor da vida, quando se defende repetidamente uma cultura de morte, é indiscutível que há ”emergência educativa” para a grandeza do ser humano.

Celebrar o Natal é sustentar caminhos que contrariem tudo o que relativize a pessoa humana: violência, ódio, exploração de menores, comércio de pessoas, pobreza, fome…

É imperativo crescer na consciência humilde da grandeza do que somos e do valor que temos.

Aproveitando este contexto nata-lício e respeitando sempre as mais díspares convicções sobre a vida e o mundo, dirigimo-nos mais uma vez a todos aqueles que servem Portugal na Marinha.

Ser homem é, hoje, um destino glorioso, apesar dos nossos possíveis absur dos e erros. Apesar de tudo o que possa vir a acontecer, a verda-de inequívoca é que o próprio Deus se glorificou ao fazer-se membro da raça humana.

Cremos sinceramente que a gran-de crise que o mundo da pós-moder-nidade atravessa não é preferencial-mente uma crise de valores, de fé ou de moral, mas, essencialmente, de esperança.

A este propósito, a segunda Encíclica (Spe salvi) do actual Papa diz-nos que “ é incontornável a esperança numa vida serena e simples, amando e servindo, trabalhando pela justiça e lutando para que a cada homem seja reconhecida a sua dignidade.

Não são as ideologias nem a ciência – continua Bento XVI – que redimem o homem. O homem é redimi-do pelo amor”.

A «ousadia» de Deus sugere-nos que também nós sejamos «ousa-dos». Por isso os enfastiados nunca O encontrarão.

Não há dúvida: com o primeiro Natal, a história da humanidade deu uma volta total. A «ousadia» de Deus levou-O a dar a vida por uma causa. E essa causa somos nós.

A todos os que se cruzarem com este texto sugerimos uma visita ao presépio. De facto, ali, a vida é Deus e Deus é a vida. Numa pura «ousadia divina».

A todos os militares, militarizados e civis da Marinha Portuguesa, às suas excelentíssimas famílias, com uma saudação muito especial para os nossos doentes e implorando a bênção de Nossa Senhora do Mar, os capelães da Marinha desejam um santo Natal vivido na ale-gria, na partilha, na serenidade, na paz e … na “ousadia”.

José Ilídio Fernandes da CostaCMG Capelão

MENSAGEM DE NATAL

Pormenor do Quadro “Aparição da Sagrada Família”.Pedro Alexandrino / Séc. XVIII.Museu Nacional de Machado de Castro.

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Publicação Oficial da Marinha

Periodicidade mensalNº 436 • Ano XXXIX

Dezembro 2009

DirectorCALM EMQ

Luís Augusto Roque Martins

Chefe de RedacçãoCMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira

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Tiragem média mensal:6000 exemplares

Preço de venda avulso: € 1,50Registada na DGI em 6/4/73

com o nº 44/23Depósito Legal nº 55737/92

ISSN 0870-9343

SUMÁRIO

GMV-INNOVATING SOLUTIONS; ROHDE & SCHWARZ, Lda.

MENSAGEM DE NATAL 2INAUGURAÇÃO DO CENTRO DE OPERAÇÕES PORTUÁRIAS DA BASE NAVAL DE LISBOA (COP-BNL) / EMBARQUE DE JUÍZES DO TRIBUNAL DA RELAÇÃO DO PORTO 5ALOCUÇÃO DO ALMIRANTE CEMA 7NRP “ÁLVARES CABRAL”. NAVIO-ALMIRANTE DA SNMG1 10ATITUDE POSITIVA, AMOR À MARINHA E DEVOÇÃO AO TRABALHO 11CENTRO DE COMUNICAÇÕES, DE DADOS E DE CIFRA DA MARINHA / / TRANSFERÊNCIA DA CRECHE DO ARSENAL DO ALFEITE PARA O IASFA 12MILITARES DA MARINHA PRESENTES NA MISSA DE FIÉIS DEFUNTOS / / 35º ANIVERSÁRIO DA SUPERINTENDÊNCIA DOS SERVIÇOS FINANCEIROS 13A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (3) 16CERTIFICAÇÃO DO SISTEMA DE RECURSOS HUMANOS DA MARINHA 17DOUTRINA NAVAL 4 18TOMADAS DE POSSE 20VIGIA DA HISTÓRIA 16 2450º ANIVERSÁRIO DO CURSO D. JOÃO I 25CURSO DE OPERAÇÕES ESPECIAIS DA MARINHA 26INSTRUMENTOS NA PEDRA 28RECORDANDO ... / 24ª CONFERÊNCIA DA KONGSBERG MARITIME’S SIMULATOR 29HISTÓRIAS DA BOTICA (69) 30“TEORIA GERAL DA ESTRATÉGIA” / “MOÇAMBIQUE HÁ UM SÉCULO, VISTO PELOS COLONIZADORES” 31QUARTO DE FOLGA / CONVÍVIO 33NOTÍCIAS PESSOAIS / CONVÍVIOS 34A BANDA DA ARMADA CONTRACAPA

REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRo 2009 3

Foto: 1SAR FZ Pereira

Cerimónia de Abertura do Ano Operacional 2009/2010

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Um dia com.... O Curso de Formação Básica

de Praças da Armada

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O Ministro da Defesa Nacional visita a Marinha4

Meridiano de Greenwich

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O MINISTRO DA DEFESA NACIONALVISITA A MARINHA

O MINISTRO DA DEFESA NACIONALVISITA A MARINHA

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 436 • ANO XXXIX DEZEMBRO 2009 • MENSAL • € 1,50DEZEMBRO 2009 • MENSAL • € 1,50PUBLICAÇÃO OFICIAL DA MARINHA • Nº 436 • ANO XXXIX

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O Ministro da Defesa Nacionalvisita a Marinha

O Ministro da Defesa Nacionalvisita a Marinha

O Prof. Dr. Augusto Santos Silva realizou, no passado dia 10 de Novembro, a sua

primeira visita à Marinha desde que assumiu funções como Ministro da Defesa Nacional, em 26 de Outu-bro. O Almirante CEMA recebeu o Ministro e o Secretário de Estado da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar, Dr. Marcos Perestrello, à entrada do Palácio do Alfeite. Em seguida, uma Força constituída por uma Companhia de Fuzileiros e pela Banda da Armada, prestou as honras protocolares, enquanto a corveta “João Coutinho”, fundeada na Bacia de Manobra, executava as respectivas salvas.

Após cumprimentar o Almiran-tado e efectuar uma curta visita ao Palácio do Alfeite, onde foi recebido com os apitos da Ordenança execu-tados por quatro Mestres, o Minis-tro da Defesa Nacional dirigiu-se ao N.R.P. “Corte-Real”, onde o Alm. CEMA fez uma breve apresentação sobre a Marinha, focalizada nos as-suntos de maior premência que po-derão implicar decisão política no curto prazo, apresentando a sua vi-são da Marinha do futuro, com es-pecial enfoque nos paradigmas da Marinha de duplo uso e da Mari-nha equilibrada, essenciais para que o País possa continuar a usar o mar que o envolve, ao mesmo tempo que contribui para o esforço comum de manutenção da segurança global. Na apresentação, abordou ainda a evo-lução dos recursos humanos e mate-riais que o País tem atribuído à Mari-nha e traçou objectivos de utilidade e serviço que se resumem em três pilares: firme na defesa, empenha-da na segurança e parceira no desen-volvimento. Finda a apresentação, o Alm. CEMA respondeu a algumas perguntas do Ministro da Defesa Nacional, posto o que acompanhou as altas entidades numa visita ao navio em que, no Centro de Opera-ções, foi feita uma breve simulação de um “raid aéreo”, demonstrando as capacidades de defesa aérea, bem como, uma curta apresentação pelo Comandante acerca das potenciali-dades de comando e controlo e ca-

pacidades do navio. Na sua desloca-ção para o hangar, o MDN observou um conjunto de meios pertencentes à Autoridade Marítima que, para o efeito, foram deslocados para a Base Naval de Lisboa. Por fim no hangar, teve ainda a oportunidade de apre-ciar um conjunto de equipamentos e pessoal representativo dos três destacamentos de mergulhadores sapadores e ainda uma equipa de abordagem com o respectivo equi-pamento utilizado em acções de “boarding” a navios e embarcações suspeitas de actividades ilegais.

Na segunda parte do programa da visita, o Ministro, o Secretário de Estado e o Alm. CEMA embarcaram no helicóptero orgânico que os levou a sobrevoar a Estação Naval, Arsenal do Alfeite, Escola Naval, Centro de Comunicações Dados e Cifra da Ma-rinha, Esquadrilha de Submarinos, Escola de Tecnologias Navais e Base de Fuzileiros, onde aterrou. Na pa-rada da Base de Fuzileiros, observou um dispositivo estático com meios representativos da Autoridade Ma-rítima e uma exposição com as acti-vidades do Instituto Hidrográfico, patente numa tenda adaptada para o efeito. Seguiu-se um curto trajecto a pé até à mata, onde foi efectuada uma apresentação sobre as poten-cialidades e capacidades do Corpo de Fuzileiros, incluindo uma visita à exposição estática.

No final desta visita à Base de Fu-zileiros, o Ministro prestou decla-rações aos órgãos de comunicação social que acompanharam a visita, tendo referido como pontos mais sa-lientes a necessidade de mantermos uma Marinha equilibrada, capaz de desempenhar todas as funções que lhe estão atribuídas, o processo de modernização e de reequipamento da Marinha que está em curso e re-presenta uma qualificação muito im-portante e o emprego de Fuzileiros em teatro de operações. A visita ter-minou com o regresso ao Palácio do Alfeite onde foi oferecido um almo-ço às Altas Entidades e Comitivas. Por fim, o Ministro assinou o Livro de Honra e saiu do Palácio ao som dos apitos da Ordenança.

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Foi pouco depois das nove horas do dia 28 de Outubro que o N.R.P. “Corte-Real” atracou no Cais RoRo do porto de Leixões.

Após ter sido dada volta à faina iniciaram-se os preparativos para receber a visita dos Juízes das Secções Criminais do Tribunal da Relação do Porto, comitiva presidida pelo Dr. Gonçalo Xavier Silvano, Presidente daquele Tribunal.

O propósito do embarque consistia em mos-trar algumas das capacidades e valências da Marinha Portuguesa e dos seus meios navais. No hangar, a comitiva foi recebida pelo CALM Pires da Cunha, 2º Comandante Naval e Comandante da Flotilha, em repre-sentação do Almirante CEMA.

Dadas as boas vindas a bordo e formulados votos de que o programa de actividades proposto fosse do inteiro agrado dos ilustres visitantes, foram transmitidas, pelo Chefe do Serviço de Limitação de Avarias, no-ções básicas de segurança a reter durante o embarque, após o que foi apresentado um filme sobre as valências do navio, focando, de igual modo, o seu emprego recente na Operação Real Contra-pirataria da NATO “Allied Protector”, na região do Corno de África.

A “Corte-Real” largou do porto de Leixões às 1230 e dirigiu-se para o largo de modo a conduzir uma série de exercícios como demonstra-ção das suas capacidades próprias.

Enquanto se efectuava o trânsito para a área onde se iriam realizar tais exercícios, foi servido um almoço volante aos convidados, ainda no hangar, que não foi muito afectado pela ondulação larga que se fa-zia sentir. Concluído o almoço a comitiva foi separada em dois grupos e deu-se início à visita ao navio com enfoque para os principais centros de decisão, designadamente a Ponte, o Centro de Operações (CO) e a Sala de Comando e Controlo da Plataforma (MCR). Terminada a visi-ta deu-se início à realização de um exercício de defesa aérea, simulado,

com um grupo de Juízes no CO a assistir aos desenvolvimentos da chamada batalha externa e, também, da batalha interna (neste caso mate-rializado, sobretudo, na operação do sistema de apoio à decisão SINGRAR), enquanto o outro grupo se encontrava no MCR a assistir à gestão da mesma batalha interna (pese embora agora com uma visão substancialmente diferente da existente no CO, já que estava mais vocaciona-

da para o combate ao sinistro), fruto da ocorrência de um incêndio que se seguiu ao impacte simulado sofrido. No final, deu-se a rotação dos grupos e o início de nova simulação.

Finalizado o exercício de defesa aérea, o programa prosseguiu com uma demonstração das capacidades de abordagem do navio, com o emprego da aeronave orgânica, o helicóptero Daxter, e a equipa de abor-dagem embarcada, num sempre espectacular exercício de inserção por “fast-rope”, no castelo, simulando o convés de um qualquer navio de interesse, suspeito da prática de um determinado acto ilícito.

Aproximava-se o final do embarque. O programa havia sido integral-mente cumprido. De novo no hangar, e já com o porto de Leixões no horizonte, o Juíz Presidente do Tribunal da Relação do Porto, Dr. Gon-çalo Xavier Silvano, com os demais convidados a assistir, procedeu à assinatura do Livro de Honra e à troca de lembranças com o Coman-dante do navio. No final, com os cabos de amarração passados a terra e a prancha colocada, os convidados despediram-se do navio após uma tarde seguramente diferente e, certamente, bem passada.

Com o sol a baixar no horizonte, e com o sentimento de missão cum-prida, a “Corte-Real” largou, de novo, de Leixões e iniciou o trânsito de regresso à BNL.

(Colaboração do NRP “CORTE-REAL”)

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Embarque de Juízes do Tribunal da Relação do PortoEmbarque de Juízes do Tribunal da Relação do Porto

Inauguração do Centro de Operações Portuárias da Base Naval de Lisboa (COP - BNL)

Inauguração do Centro de Operações Portuárias da Base Naval de Lisboa (COP - BNL)

No passado dia 15 de Outubro, após a cerimónia de abertura do Ano Ope-racional, teve lugar a inauguração do

Centro de Operações Portuárias da Base Naval de Lisboa (COP - BNL).

Fruto da introdução das novas tecnologias de informação, comunicações e de infra-estruturas disponibilizadas na sua área de responsabilidade, o COP vem permitir que possam ser colocados à disposição do Coman-do da BNL novos instrumentos que contribuem para o exercício de um comando e controlo mais eficaz.

A cerimónia realizou-se nas insta-lações da Casa da Guarda da BNL, onde está sediado o COP. O evento foi presidido pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, ten-do assistido à cerimónia várias entidades da Marinha.

Durante a cerimónia o Comandante da Base Naval de Lisboa efectuou uma breve apresen-tação operacional do funcionamento geral do COP, sua utilidade e futuras potencialidades.

O COP tem como objectivos primordiais, uma visão integrada e modernização da Base

Naval de Lisboa e o reforço dos processos de Segurança e Gestão de Emergência.

Nesta conformidade e para a concretização desses objectivos, dispõe de um plano de activi-dades com vista a optimizar a coordenação de acções em tempo real, um sistema de comunica-

ções que inclui MMHS, canais portuários e redes internas, acesso a informações sobre meteorolo-gia, marés e correntes, controlo visual que utiliza um sistema de Videovigilância, informação so-bre navios através do sistema AIS e controlo de equipas em campo servindo-se de dispositivos de localização utilizando as tecnologias GPS e GSM (cooperação do Instituto de Telecomuni-

cações). Possui ainda, um controlo de alarmes/equipas de intervenção e informação sobre as redes técnicas da área do Alfeite, o que permite uma maior e melhor eficácia na acção em even-tuais incidentes no mar e em terra.

O COP irá desenvolver, num futuro próxi-mo, acções para incrementação de uma gestão da emergência desen-volvendo um SINGRAR para as unidades em terra, de um portal da Divisão e de um Serviço de Rede de Sensores com competências neces-sárias para efectuar uma adequada monitorização do espaço electro-magnético, coligindo informação da localização, em tempo real, das equipas de intervenção e avaliação do grau de operacionalidade das redes técnicas.

Este projecto impulsionado pelo Comando Naval contou com a colaboração multidisci-plinar e interdepartamental da Base Naval de Lisboa, da Flotilha, do Instituto Hidrográfico, da DITIC e do Centro de Comunicações Dados e Cifra da Marinha.

(Colaboração do COMANDO DA BNL)

Foto

Júlio

Tito

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Realizou-se no passado dia 15 de Outubro a já tradicional Cerimónia Militar que assinala a Abertura do Ano Operacional 2009/10, na

Base Naval de Lisboa tendo sido presidida pelo Al-mirante Chefe do Estado-Maior da Armada.

Esta cerimónia assinala o início de um novo ci-clo operacional e tem como objectivo principal fazer o balanço anual da actividade operacional e perspectivar o futuro, constituindo ainda uma excelente oportunidade para que o Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada possa trans-mitir directamente à comunidade operacional o seu pensamento. É o momento em que o Coman-dante da Marinha se dirige, de viva voz, aos seus subordinados.

O Comandante Naval ao efectuar a análise da actividade operacional, fez um breve resumo das acções mais relevantes e felicitou as mulheres e homens das guarnições pelo dever cumprido, num ano operacional exigente, tendo enumerado os de-safios para o novo ciclo de actividades.

Esta cerimónia contou com a participação de diversas unidades navais atracadas nos cais 2 e 3 da BNL, de militares das guarnições dos navios e de fuzileiros dispostas em forças apeadas e motori-

zadas, a participação de um helicóptero, meios do Destacamento de Mergulhadores Sapadores e ain-da, de meios terrestres e de uma lancha pertencen-tes à Direcção-Geral de Autoridade Marítima.

O Almirante CEMA, acompanhado pelo Co-mandante Naval, embarcou na Doca da Mari-nha no N.R.P. “Pégaso”, comandado pelo 2TEN Silva Ângelo e navegou até à BNL onde efectuou a Revista Naval às unidades atracadas nos cais 2 e 3 e à corveta “António Enes” que se encontra-va fundeada.

Após a Revista Naval, teve início a cerimónia militar onde foram condecorados diversos militares e prestada homenagem aos mortos em defesa da Pátria, com uma evocação proferida pelo Capelão Chefe da Marinha, seguida das alocuções do Co-mandante Naval e do Almirante CEMA.

Na BNL, encontravam-se representadas as di-versas capacidades operacionais da Marinha, de-signadamente: a capacidade oceânica de superfí-cie, através da fragata “Corte-Real”, a capacidade de fiscalização oceânica, com a corveta “João Roby”, a capacidade de fiscalização costeira e ri-beirinha, pelo patrulha “Zaire” e pelas lanchas de fiscalização “Argos” e “Centauro”, a capacidade de projecção de força representada pelo Batalhão Ligeiro de Desembarque e pelo Destacamento de Acções Especiais, a capacidade submarina corpo-rizada pelo submarino “Barracuda”; a capacidade

Hidro-Oceanográfica, pela lancha “Andrómeda”, a capacidade de mergulho de combate, de guer-ra de minas, inactivação de engenhos explosivos, realização de trabalhos submarinos no âmbito da busca e salvamento marítimo e da salvação marítima corporizado pelos Destacamentos de

Mergulhadores Sapadores, que desfilaram em botes e semi-rígida e finalmente a representar a Autoridade Marítima a lancha da Polícia Maríti-ma “Vendaval”.

As forças em parada foram comandadas pelo CMG Gomes de Sousa, actualmente a desempe-nhar as funções de Comandante da Esquadrilha de Escoltas Oceânicos.

Constituíam as forças em parada: a Banda da

Armada e a Fanfarra; o Bloco de Estandartes Na-cionais, constituído por Estandartes pertencentes a unidades e organismos do Comando Naval e a respectiva escolta constituída por um pelotão do Curso de Formação de Sargentos Fuzileiros, o Blo-co de Guiões constituído por guiões pertencentes a unidades e organismos do Comando Naval, dois batalhões a duas companhias cada, o primeiro ba-talhão, constituído por elementos das guarnições das Unidades Navais, o segundo batalhão, cons-tituído por elementos do Batalhão de Fuzileiros nº1 e da Unidade de Polícia Naval e finalmente, uma companhia constituída por elementos do Ba-talhão de Fuzileiros nº2 (encontrando-se na altura a outra Companhia a participar no exercício espa-nhol TAPON 09).

Assistiram também a esta cerimónia os cadetes, alunos dos 2º/3º e 4º ano da Escola Naval.

A fechar o desfile das Forças apeadas, desfilou, em marcha acelerada, a Companhia de Fuzileiros Nº2, a dois Pelotões, que foi, sobrevoada por um helicóptero Lynx MK95 (encontrando-se na altura um helicóptero a participar no exercício TAPON 09 a bordo do NRP “Bartolomeu Dias” e outro a bordo do Navio-Chefe Português da SNMG1, em opera-

ções de combate ao terrorismo no Mediterrâneo).Seguidamente desfilou a Força Motorizada

constituída por um elemento de comando, um grupo de abordagem, um destacamento de ac-ções especiais, um elemento de manobra, um elemento de apoio de combate, um elemento de apoio de serviços em combate e um elemento de assalto anfíbio tendo encerrado o desfile das For-ças Motorizadas um grupo de diversas viaturas da Direcção-Geral de Autoridade Marítima, nomea-damente, uma viatura pick-up rebocando uma embarcação semi-rígida, uma viatura Sea Master do Instituto de Socorros a Náufragos rebocando uma mota-de-água, uma viatura da Direcção de Faróis, uma viatura de combate à poluição por hi-drocarbonetos tipo galera, uma viatura de combate à poluição todo-o-terreno tipo UNIMOG e uma viatura do grupo de intervenção rápido da Polícia Marítima. Este desfile foi também sobrevoado por um helicóptero Lynx.

Finalmente o helicóptero Lynx MK95 sobrevoou o local da cerimónia e cumprimentou em despedi-da o Almirante CEMA e todos os convidados.

Após a conclusão da cerimónia militar, foi ser-vido um porto de honra a bordo do N.R.P “Corte--Real”, animado por um conjunto de música ligei-ra formado por elementos da Banda da Armada.

Fotos SAJ FZ Silva, CAB L Figueiredo, Júlio Tito

Cerimónia de Abertura do Ano Operacional 2009/10Cerimónia de Abertura do Ano Operacional 2009/10

Revista da aRmada • DEZEMBRo 2009 7

as minhas primeiras palavras nesta cerimónia de abertura do ano operacional destinam-se a saudar e a incentivar os que se en-contram em missão, ao serviço de Portugal. Saúdo particular-

mente os fuzileiros e o pessoal de saúde destacado no Afeganistão, e a guarnição da fragata “Álvares Cabral”, navio-chefe do Standing NATO Maritime Group 1, que está empenhada na Operação Active Endea-vour, após o que seguirá para o Golfo de Áden para mais um empe-nhamento no âmbito do combate à pirataria.

Seguidamente, quero agradecer a disponibilidade dos ilustres con-vidados para aqui estarem connosco. O meu muito obrigado pela Vossa presença.

Bem vindos à Marinha.Esta cerimónia destina-se a dar público reconhecimento do trabalho

efectuado por quem está na primeira linha de exigência operacional, constituindo uma oportunidade para fazer o balanço do trabalho efec-tuado pelos que no mar ou a partir do mar, dão o melhor do seu esforço e dedicação ao País.

O produto operacio-nal das unidades navais, de fuzileiros e de mer-gulhadores, da Autorida-de Marítima Nacional e do Instituto Hidrográfico, são a razão de ser da Ma-rinha. Com efeito, é ele que permite ao País usar o mar na justa medida dos seus interesses e das suas necessidades.

De forma sóbria e dis-creta, normalmente para além dos olhares do ci-dadão comum e longe da atenção mediática, empenhamo-nos no cumprimento pronto e eficaz das missões, obtendo resultados que fortalecem a confiança dos por-tugueses na sua Marinha.

De facto, os indicadores operacionais referidos pelo senhor Vice--Almirante Comandante Naval, no que concerne ao último ano, são gratificantes e motivadores, traduzindo bem o produto do investimen-to que é feito, como também o são os resultados da actividade desen-volvida pelos órgãos e serviços da Direcção-Geral de Marinha e do Comando-Geral da Polícia Marítima, validando de forma inequívoca o conceito da Marinha de Duplo Uso.

Estes resultados são, também, a face visível do trabalho de todos os que diariamente superam dificuldades na manutenção e apoio da Es-quadra, bem como os que asseguram que ela é guarnecida por pes-soal preparado e treinado de acordo com os mais elevados padrões internacionais.

A qualidade do nosso desempenho está ao nível das melhores ma-rinhas, como tem sido evidenciado em rigorosos processos de treino e avaliação, e é continuamente comprovada, nomeadamente pela elevada taxa de sucesso no âmbito da busca e salvamento marítimo e, sobretudo, pelas operações, chamadas do mundo real, no exterior, como aquelas em que estivemos empenhados este ano.

Ilustres convidados,Marinheiros,O cumprimento da nossa missão sustenta-se em três paradigmas de

transformação, que nos orientam nos domínios genético, estrutural e operacional. Esta é, também, a oportunidade ideal para fazer um ba-lanço daquilo que de novo aconteceu em cada um destes três domínios e, a partir daí, tentar vislumbrar o que o futuro nos vai trazer.

No domínio genético, em que o nosso modelo é o de uma “Marinha Equilibrada”, quero começar por abordar alguns aspectos relacionados com o pessoal, para depois passar à área do material.

Como sabem, foi recentemente promulgado o novo regime remu-neratório, o qual visa, no essencial, regular a transição de um regime baseado em escalões para outro baseado em posições e níveis remune-ratórios. Nesse enquadramento, sei bem que o novo regime não traduz a justa aproximação das remunerações dos militares às das profissões de referência. Todavia, é forçoso registar que houve uma evolução, que em alguns casos é significativa, havendo agora que acautelar as regras de transição para que esta mudança não venha a defraudar adicional-mente as legítimas expectativas dos militares.

No que diz respeito aos suplementos dos militares das Forças Arma-das, que estão ainda a ser discutidos, preconizo um sistema de incen-tivos que se assuma como um instrumento de integração e de moti-

vação e que reconheça a especificidade do pessoal embarcado e daquele que actua na primeira linha de exigência operacional. É nesse enquadramento que continuo, e continuarei, empenhado na justa reva-lorização dos suplemen-tos aplicáveis aos militares da Marinha, no âmbito da revisão em curso.

No que respeita ao ma-terial e à renovação da Esquadra, quero lembrar o que aqui referi há um ano atrás. Uma parte mui-to significativa das nossas tarefas é efectuada por patrulhas e corvetas que

têm mais de 35 anos de serviço e não conseguirão manter, por muito mais tempo, os actuais níveis de emprego operacional, pese embora o grande esforço das suas guarnições.

A situação dos patrulhas, em particular, torna imperiosa a sua subs-tituição pelas futuras lanchas de fiscalização costeira, pelo que me congratulo com a assinatura, no passado dia 17 de Março, do con-trato entre o Ministério da Defesa Nacional e os Estaleiros Navais de Viana do Castelo para a aquisição de cinco unidades, com opção de compra para mais três.

As corvetas serão substituídas por navios de patrulha oceâni-ca, estando previsto que as duas primeiras unidades, em constru-ção em Viana do Castelo, sejam aumentadas ao Efectivo dos Na-vios da Armada durante o ano de 2010. Contudo, mantém-se a urgência na construção das outras seis unidades previstas, duas das quais vocacionadas para o combate à poluição e para a balizagem. Ainda no âmbito da regeneração da esquadra, congratulo-me com o aumento ao efectivo da primeira fragata adquirida à Marinha Holan-desa, a “Bartolomeu Dias”, em 16 de Janeiro deste ano. Esta unidade naval, de inquestionável valor militar, permite-nos, desde já, estar dis-poníveis para assumir dois comandos de força naval em simultâneo. Teremos connosco, dentro de alguns meses, a “D. Francisco de Almei-da”. Recebemos a “Diligente”, a terceira unidade da classe “Vigilante”, para reforçar o dispositivo do Instituto de Socorros a Náufragos, inte-gralmente concebida e construída em Portugal, no Arsenal do Alfeite. Finalmente, a Esquadra irá em breve dispor dos dois novos submarinos: o “Tridente”, actualmente a efectuar provas de mar e que esperamos receber no próximo ano, e o “Arpão”, em 2011.

Estaremos, como sempre, longe da turbulência que tem existido na opinião pública, com fins que não nos compete avaliar. Estamos,

Alocução do Almirante CEMAAlocução do Almirante CEMA

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porém, certos que Portugal não pode ceder a outros a sua responsa-bilidade soberana e de intervenção nas zonas oceânicas do seu inte-resse estratégico, não podendo, por isso, dispensar a arma submarina, como, em devido tempo, e bem, foi reconhecido pelo poder político. Ter submarinos é caro, muito caro, mas muito mais caro seria não os ter em especial para as gerações que nos sucedem.

Faço votos para que a miopia marítima que ciclicamente nos afecta e que nos úl-timos anos tem apresentado sintomas de recuperação não sofra uma recaída irre-versível que retire a Portugal o seu maior potencial de desenvolvimento – o mar.

Não menos importante, será a concre-tização do contrato de aquisição do navio “polivalente logístico”, o mais conjunto de todos os meios do nosso sistema de forças e um elemento essencial para assegurar a nossa capacidade expedicionária. Por fim, aguardamos a disponibilização das viatu-ras tácticas ligeiras blindadas que permi-tam a integração dos Fuzileiros na unidade de Force Protection do módulo de apoio às OMLTs no Afeganistão, prevista para o início de 2010.

Distintos convidados,No domínio estrutural, o nosso paradi-

gma é o de uma “Marinha Optimizada”, com uma organização capaz de maximi-zar a articulação dos seus meios, no âmbi-to das tarefas que o País necessita para usar o mar. Isto implica manter a sua estrutura em permanente evolução, adequando-a continuamen-te às necessidades e respeitando a sua inserção no âmbito das Forças Armadas e da Defesa Nacional.

Como sabem, ficou concluída recentemente a Reorganização da Es-trutura Superior da Defesa Nacional e das Forças Armadas, que se tradu-ziu na revisão da Lei de Defesa Nacional, da Lei Orgânica de Bases da Organização das Forças Armadas, conhecida como LO-BOFA, e das Leis Orgânicas do MDN, do EMGFA e dos três ramos.

No que respeita à Lei de Defesa Na-cional e à LOBOFA, considero que, no essencial, foi respeitada a especificidade da Marinha, que decorre do ambiente em que actuamos e das tarefas que desempe-nhamos, algumas delas sem carácter mar-cadamente militar.

Estão neste caso as seguintes missões cometidas à Marinha:

• Exercer a autoridade marítima e garantir o cumprimento da lei nos espaços maríti-mos sob soberania ou jurisdição nacional;

• Assegurar o serviço de busca e salva-mento marítimo nos espaços marítimos sob responsabilidade nacional;

• Realizar operações e actividades no domínio das ciências e técnicas do mar.

Estas tarefas exigem uma organização própria e integrada, a funcionar perma-nentemente no mar e em terra, que muito beneficiará das valências únicas existen-tes no Centro de Operações Marítimas: COMAR.

No que respeita à Lei Orgânica da Marinha, a LOMAR, o anterior diploma esteve em vigor cerca de 16 anos e já não correspondia inte-gralmente à actual realidade estrutural.

A sua revisão, proporcionou a oportunidade para concretizar al-gumas alterações que visam optimizar a organização da Marinha. Citarei apenas três delas.

A primeira diz respeito à inserção numa só estrutura dos elemen-tos da componente operacional do Sistema de Forças dependentes do Comando Naval e dos que asseguram tarefas operacionais no âmbito do Instituto Hidrográfico, da Autoridade Marítima Nacio-nal e do Serviço de Busca e Salvamento Marítimo.

A segunda evolução decorre do reconhecimento da importância do recurso “informação” e traduziu-se na criação de um novo órgão central de administração e direcção com a missão de assegurar as actividades da Marinha no domínio da gestão da informação e da administração das tecnologias da in-formação: a Superintendência dos Servi-ços de Tecnologias da Informação.

A terceira novidade traduziu-se na criação da Inspecção-Geral de Marinha, dando resposta à necessidade, há muito sentida, de possuir um serviço central de inspecção individualizado. Este novo órgão permitirá sedimentar o modelo de gestão estratégica da Marinha, pelo re-forço da função “inspecção”.

Ainda, no domínio estrutural, concre-tizou-se a empresarialização do Arsenal do Alfeite, medida da maior importância e impacte estratégico, que representa um novo desafio para a Marinha. Estou certo que, em estreita colaboração, saberemos encontrar as melhores soluções para que a Esquadra continue pronta.

E, finalmente, após um longo processo que todos conhecemos, concentrou-se, como se impunha, a ETNA no Alfeite rentabilizan-do-se recursos.

Os caminhos estão abertos para que as gerações que nos suce-derem tenham condições para melhorar o muito que se fez com competência, dedicação e visão do futuro.

Ilustres convidadosNo domínio operacional, o nosso pa-

radigma é o de uma “Marinha de Duplo Uso”, pronta para realizar, simultanea-mente, uma actuação militar no plano da defesa militar e do apoio à política exter-na, e uma actuação não militar, centra-da na segurança e autoridade do Estado no mar e no apoio ao desenvolvimento económico, científico e cultural.

A Marinha está ciente de que, face à complexidade do ambiente de seguran-ça actual, só será possível dar resposta aos múltiplos desafios que se colocam no imenso mar português através de uma cooperação alargada entre as várias en-tidades que nele exercem responsabili-dades. Esta premissa, tem-nos motiva-do para assumir uma postura de grande abertura e de incentivo à cooperação entre departamentos do Estado, designa-damente no âmbito do Centro Nacional Coordenador Marítimo, fórum que tem permitido melhorar a articulação entre os diversos intervenientes, contribuindo

decisivamente para a afirmação de Portugal nos espaços marítimos de sua responsabilidade.

É também com esse propósito que temos vindo a desenvolver a Iniciativa Mar Aberto, na qual procuramos pôr em prática um mode-lo de cooperação inovador, indo ao encontro das necessidades dos PALOP e de Timor-Leste, no ambiente marítimo. Esta iniciativa tem enquadrado, todos os anos, o empenhamento em África de uma uni-

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dade naval e de equipas multidisciplinares oriundas dos vários sec-tores da Marinha.

É certo que não há desenvolvimento económico sem segurança, e o mar não é excepção. É para garantir isso que empenhamos, ao longo de todo o ano e vinte e quatro horas por dia, um conjunto sig-nificativo de meios da estrutura operacional. Nalguns casos estamos no limite máximo de exploração operacional, noutros poderemos fazer mais, muitíssimo mais.

Estão neste caso os fuzileiros, cujas potencialidades estão, em minha opinião, desapro-veitadas. Actualmente, o único empenhamento in-ternacional dos fuzileiros decorre na reduzida par-ticipação no quadro das OMLT, no Afeganistão. As-sim, descontando este pe-queno envolvimento, desde 2006 que não se verifica o empenhamento de uma for-ça ou unidade de fuzileiros no exterior. Isto significa que não se tem tirado par-tido dos nossos fuzileiros em apoio à política exter-na, apesar de estes estarem prontos, bem treinados e equipados, o que, a par das suas qualidades militares, seria o garante de uma participação visí-vel e prestigiante.

A este propósito, não será demais recordar que as nossas unidades operacionais são objecto dos maiores encómios sempre que lhes é granjeada a possibilidade de integrarem forças multinacionais, como foi o recente caso da “Álvares Cabral” e da “Corte-Real”, que pres-tigiaram de forma bem marcada a Marinha e o País. Tal aconteceu também com a “Sagres”, que na sua habitual viagem de instrução se constituiu como uma plataforma multinacional e multicultural de troca de experiências para jovens militares das Marinhas amigas, oriundos de 3 continentes, e também com a “Baptista de Andrade”, empenhada na Iniciativa Mar Aberto – 2009, em Cabo verde.

Outros excelentes exem-plos do aproveitamento das capacidades residentes na Marinha ao serviço do País são as actividades diaria-mente executadas no âmbi-to da Autoridade Marítima Nacional, seja no combate à poluição, no salvamento marítimo, no assinalamen-to marítimo ou na repres-são de ilícitos, bem como o empenhamento dos navios hidrográficos na campanha relativa à extensão da nos-sa plataforma continental, certamente um dos maio-res trabalhos realizados no domínio da geografia dos oceanos. Desta campanha resultará um legado de potencial de de-senvolvimento económico e científico para as gerações futuras, cuja importância e valor a sociedade portuguesa reconhecerá.

Marinheiros,O orgulho por tudo aquilo que temos concretizado é um estímulo

para enfrentarmos os desafios que se aproximam. Continuaremos atentos às evoluções do ambiente externo, nome-

adamente à crescente importância das operações no litoral. Nesse enquadramento, vamos edificar uma força projectável que agregará

capacidades no âmbito da vigilância e da protecção, numa base de polivalência e de complementaridade. Esta nova Unidade de Acção Litoral incluirá unidades navais, de fuzileiros e de mergulhadores, podendo ser complementada com forças policiais marítimas. O seu objectivo passará por dar resposta militar e não militar às ameaças de natureza assimétrica que caracterizam o presente e o futuro am-biente de segurança marítimo, em actuações à superfície, submari-nas e na interface mar-terra. Esta unidade poderá complementar as capacidades existentes no âmbito da segurança interna, caso seja

solicitado o recurso a meios militares. Adicionalmente, poderá ser disponibilizada no âmbito das organizações internacionais de que o País faz parte, indo assim ao en-contro dos recentes desen-volvimentos relacionados com as Operações de Se-gurança Marítima.

Temos ainda outros de-safios importantes pela frente: o comando do Standing NATO Maritime Group 1, que exercemos com brilhantismo desde Janeiro deste ano e que se prolongará até ao fim de Janeiro do próximo ano,

e o comando da EUROMARFOR, que assumimos em Setembro passado, por um período de 2 anos. São desafios em que vamos ter que continuar a demonstrar a qualidade e a dedicação a que habituámos o País, com uma marcada postura de serviço a Portu-gal e aos Portugueses.

Ilustres e distintos convidados,Militares, militarizados e civis da MarinhaTracei-vos uma breve avaliação do passado recente e das perspec-

tivas futuras nos âmbitos genético, estrutural e operacional. Como Comandante da Marinha, estou profundamente orgulhoso do que conseguimos, sempre guiados pelo objectivo de permitir a Portugal

usar o mar na justa medida dos seus interesses.

Neste ano operacional, cujo início hoje marcamos, são muitos os desafios que temos pela frente. Há que continuar a trabalhar per-manentemente no sentido de contribuir para o reforço da autoridade do Estado nas nossas águas jurisdicionais tirando o melhor partido dos navios de que dispo-mos, mesmo que, nalguns casos, desactualizados. Há que garantir importantes compromissos internacio-nais e há que integrar no-vos meios. Tudo isto numa

conjuntura financeira que certamente será muito difícil. Saberemos responder com dedicação, brio e profissionalismo.

Os resultados alcançados no ano operacional que agora se completa são o garante de que conseguiremos superar este e outros desafios.

Como comandante, sinto-me orgulhoso do que tem sido feito em conjunto e, neste novo período que agora se inicia, conto com a minha guarnição, para que a Marinha possa continuar a honrar Portugal.

Fernando de Melo GomesAlmirante

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10 DEZEMBRo 2009 • Revista da aRmada

“A cAminho dA GréciA”

a estadia em La Valetta, capital da Repú-blica de Malta, constituiu uma excelen-te oportunidade para retemperar forças,

tendo em vista o segundo período de empe-nhamento na operação Active Endeavour. Esta cidade situa-se na ilha de Malta, que faz parte de um arquipélago de cinco ilhas, com pouco mais de trezentos quilómetros quadrados de área e que dá o nome ao país. Localizada 90 quilómetros a sul da Sicília e 290 quilómetros a norte da Líbia, ocupando uma posição muito privilegiada entre dois continentes tão distintos como a Europa e a África, Malta é sem sombra de dúvidas, e em particular nos dias que correm, uma ponte de culturas onde a história, a religião e o lazer con-vivem em franca harmonia.

A manhã de 12 de Outubro nasceu solarenga, como que transmitindo algum alento aos marinheiros da “Álvares Ca-bral”, que partiam de La Valet-ta para mais uma tirada da sua longa missão. Ao largar do últi-mo cabo da amarração, ainda se podiam ouvir os gracejos e as peripécias vividas pela maru-jada neste porto mediterrânico. Agora, à sua frente restam ainda quinze dias de navegação, antes de nova pa-ragem, desta vez em Souda Bay, Grécia.

Navegando para leste a caminho do extre-mo oriental do Mar Mediterrâneo, ostentando o distintivo de Navio-Almirante da SNMG1, a “Álvares Cabral” segue inicialmente na companhia do navio reabastecedor alemão “Rhöen”. O rendez-vous com os restantes navios da força só acontece durante a tarde, altura em que é iniciado o trânsito conjunto para as áreas definidas para a operação Active Endeavour. De entre as unidades deste grupo salienta-se a presença do navio da marinha búlgara, o “Drazki”, que constitui uma opor-tunidade única de interacção com navios deste país do leste europeu. Já mais familiar é a presença da fragata alemã “Hamburg”, que irá acompanhar a força durante os dois primeiros dias.

Ao sabor do vento e da ondulação, os navios evoluem cumprindo com um programa seria-do concebido para solidificar a interoperabili-dade e a coesão da força naval. Em paralelo, e com os olhos postos nas tarefas a que o con-trolo da navegação poderá obrigar, cada navio vai preparando a sua capacidade de resposta, treinando acções de interrogação e vistoria. A bordo, os exercícios de limitação de avarias e

os voos do seu helicóptero orgânico “Rogue”, que treina a operação com a metralhadora M3M de 12.7mm recentemente adquirida pela Marinha, também ajudam a preencher o pla-neamento diário da “Álvares Cabral”, fazendo com que os dias passem “a voar”...

Ao quarto dia de navegação, em pleno tea-tro da Active Endeavour os navios são sepa-rados de acordo com os seus taskings (instru-ções), ficando a “Álvares Cabral” a navegar na companhia do “Drazki” em direcção à área de patrulha atribuída, situada ao largo da Síria e do Líbano. Esta operação naval, conduzida pela NATO, foi iniciada no final de 2001 e tem

como objectivo primordial o combate ao ter-rorismo, através do controlo e monitorização da navegação que circula desde o extremo oriental do Mar Mediterrâneo até ao Estreito de Gibraltar, com vista à detecção, identificação e seguimento de navios suspeitos de envolvi-mento em actividades ilícitas.

A neblina e o sol dificultam um pouco a vida aos vigias, mas os leves contornos no horizonte não deixam dúvidas, “Terra à vista!”. Já na área de patrulha e a navegar solitariamente, a “Ál-vares Cabral” passa a norte da Ilha de Chipre, com a derrota traçada para patrulhar a zona entre a antiga costa fenícia actual Síria e a ilha cipriota. Sendo uma das maiores ilhas do Me-diterrâneo, a ilha de Chipre impressiona pela dimensão do seu monte Olimpo, com quase dois mil metros de altura.

A tarde já vai longa e o sol já se encaminha para o horizonte a oeste, quando o navio é chamado a conduzir uma acção de boarding a um navio mercante que fazia parte da lista de navios de interesse. Depois de conduzido o interrogatório inicial na ponte, a semi-rígida é arriada e as equipas de segurança e vistoria são transportadas para bordo. O nosso navio man-têm a posição na alheta de estibordo, enquan-to na ponte os vigias, de binóculos apontados,

tentam identificar algum movimento suspeito. Ao fim de uma hora, chegam finalmente ao VHF as palavras de código que indicam que a documentação e carga foram verificadas. De-pois de recolhidas as equipas, o navio mercan-te prossegue a sua rota, enquanto a “Álvares Cabral” retorna a sua rotina de patrulha.

No dia 23 junta-se à força o navio ucrania-no “Ternopil” e o navio grego “Salamis”. Nes-ta altura, o nosso navio já navega para oeste após uma breve passagem a sul da Turquia, já noutra área de patrulha da operação.

Com a ilha de Creta em pano de fundo, e a poucas horas de atracar, a “Álvares Cabral” ain-

da seria chamada a outra acção de vistoria. Desta vez o mar en-crespado não aconselhava à utili-zação da semi-rígida, pelo que a inserção e a recolha das equipas foram executadas com recurso ao helicóptero do navio.

A noite de 25 de Outubro já estava bem escura quando o navio atracou finalmente em Souda Bay, Creta, dando por concluída a sua participação na operação Active Endeavour.

Esta escala permitiu algum descanso à guarnição, mas houve ainda a possibilidade de frequentar no centro de treino NMIOTC (NATO Maritime In-

terdiction Operations Training Center) alguns módulos sobre acções de boarding, aspectos legais e regras de empenhamento relaciona-dos com as missões de combate à pirataria e em especial da operação Ocean Shield que o navio integrará nos próximos meses. A uti-lização de um simulador de um navio mer-cante, com a reprodução de alguns dos espa-ços típicos desses navios, possibilitando mais uma excelente oportunidade de treino para as equipas de boarding, superando algumas das situações mais complexas que se pode-rão encontrar durante uma abordagem a um navio suspeito.

Durante a estadia, o navio embarcou ain-da alguns sobressalentes indispensáveis vin-dos de Lisboa que permitiram efectuar várias acções de manutenção indispensáveis para o próximo empenhamento no Índico e uma quantidade considerável de mantimentos, adquiridos no mercado local, já a pensar nos próximos sessenta dias de missão e nas difi-culdades de abastecimento que possam advir do outro lado do canal do Suez. Como diz o ditado popular, “quem vai para o mar, avia--se em terra”.

(Colaboração do COMANDO NAVAL)

NRP “Álvares Cabral”Navio-Almirante da SNMG1

NRP “Álvares Cabral”Navio-Almirante da SNMG1

PARTE III

Os NRP “Álvares Cabral”, FGS “Rhöen” e ESPS “Mendez Nuñez”.

Revista da aRmada • DEZEMBRo 2009 11

Atitude positiva, amor à Marinha e devoção ao trabalho

Atitude positiva, amor à Marinha e devoção ao trabalho

Caros cadetes, neste artigo falo-vos sobre a importância da atitude po-sitiva, do amor à Marinha e da de-

voção ao trabalho, requisitos essenciais para que cada um de vós cumpra com ob-jectividade, gosto e dedicação as suas ta-refas e mantenha uma atmosfera de digni-dade, camaradagem e crença ao serviço de Portugal.

Alguns dos princípios morais que devem estar na base da atitude positiva de todo o oficial da Armada, foram abordados nos sete artigos anteriores que vos dediquei. Des-tes princípios é eviden-te que resultam certas exigências para a vossa actividade futura. Na realidade, os oficiais da Armada, por terem elevadas responsabili-dades de guia e exem-plo na Marinha, decor-rentes do seu estatuto e saber, devem ser since-ros, verdadeiros e jus-tos. Também é preciso que motivem os seus subordinados no cum-primento das respecti-vas tarefas, e que con-traponham às dúvidas e ao desalento, os refe-renciais de certeza e de força que devem orientar e incentivar o nosso pessoal. Estes referenciais estão intimamente ligados à ca-pacidade dos oficiais para buscarem a exce-lência nos seus trabalhos, para melhorarem a sua formação, para superarem a regulari-dade, para colaborarem com o grupo onde estão inseridos e para estimularem pelo exemplo. Nestas circunstâncias, impõe-se que, ao longo da sua carreira, os oficiais da Armada adoptem uma atitude consistente-mente positiva.

Caros cadetes, o amor por tudo o que a Marinha representa e em tudo o que a ela diz respeito, requer que cada um de vós mantenha permanentemente um olhar atento sobre o que se passa no mundo, e a inteligência focalizada no nosso País. O olhar amplo no mundo, para perceberem as grandes linhas de evolução da conjun-tura externa. A inteligência direccionada para o país, para nele aplicarem o produ-to do vosso trabalho. Assim, conseguirão alargar a vossa acção a todos os domínios

da Marinha, assegurando a sua utilidade para o país e garantindo o devido reco-nhecimento pelos cidadãos e responsáveis políticos. O amor à Marinha é essencial a todo o oficial da Armada, no cumprimen-to das suas tarefas ao serviço de Portugal. Este sentimento nobre e puro de dedicação, fidelidade, sacrifício e respeito à Marinha, despontou na grande maioria de vós, ain-da antes de serem admitidos na Escola Na-val. Porventura, nessa fase e na maior parte

dos casos, ainda mal percepcionado, sob a forma de simpatia ou afecto para com as pessoas ou as coisas do mar. Por isso, pode ter sido designado por vocação para uma carreira na Marinha. Todavia, uma vez in-seridos no seio da grande família que é o Corpo de Alunos da Escola Naval, educa-dos nas virtudes militares e sujeitos ao es-pírito de fraternidade aglutinante que a to-dos envolve, essa vocação foi robustecida e desenvolveu-se a par da vossa maturidade, pela incorporação da abnegação, do afecto, da integridade, da rectidão, da dignidade e do zelo, que estruturam a condição de sen-timento intenso de amor à Marinha.

A devoção ao trabalho não é exclusiva ou privilégio dos oficiais da Armada, nem uma especificidade do tipo de actividade que desenvolvemos em benefício da socie-dade que servimos com orgulho e honra. Porém, é na carreira militar que ela mais releva, porque os deveres que, de forma voluntária e patriótica assumimos, quando juramos pela nossa honra, como portugueses e

como oficiais, servir a nossa Pátria em todas as circunstâncias e sem limitações, mesmo com o sacrifício da própria vida, ultrapassa larga-mente o simples cumprimento das leis, dos regulamentos e das ordens ligadas às profissões civis.

A devoção ao trabalho traduz o orgulho, a seriedade, a honestidade e o altruísmo no cumprimento do dever e na permanente disponibilidade para realizar novas tare-fas. Expressa-se no seu fiel cumprimento,

segundo as orientações recebidas dos superio-res hierárquicos e na obser vância das leis, dos regulamentos e das ordens militares. Tam-bém é traduzida na ale-gria, no optimismo e na afabilidade do trato pes-soal, ligadas às condu-tas nobres que irradiam tolerância relativamente aos que revelam maio-res dificuldades na rea-lização das suas tarefas, e às situações difíceis do serviço, quando os obs-táculos se interpõem no caminho para o objecti-vo. Para além disso, é evidente na simpatia e na brandura. A simpa-tia fomenta o espírito

de colaboração e a valorização de pares e subordinados. A brandura alastra o campo daqueles que compreendem as nossas insu-ficiências, erros e decisões. Num e noutro caso conferem beleza e graça ao cumpri-mento do dever.

A atitude positiva, o amor à Marinha e a devoção ao trabalho são indispensáveis para enaltecer o orgulho e a honra do mi-litar, elementos determinantes do seu equi-líbrio moral, sem os quais o dever militar não tem significado. Também são essen-ciais para anularem o desalento, a antipa-tia, o rancor e a inveja, que são os terrenos férteis das circunstâncias duvidosas, das transgressões e da indisciplina. Porém, são verdadeiramente decisivos para a constru-ção de um futuro onde impere o entusias-mo positivo e vivo, bem como a harmonia construtiva e idealista em todos os escalões hierárquicos da Marinha.

António Silva RibeiroCALM

AOS CADETES DA ESCOLA NAVAL 8

12 DEZEMBRo 2009 • Revista da aRmada

Centro de Comunicações, de Dados e de Cifra da MarinhaUma realidade com quatro anos

Centro de Comunicações, de Dados e de Cifra da Marinha

O dia 26 de Outubro marca a passagem de mais um ano sobre a data de inau-guração em 2005 do Centro de Co-

municações, de Dados e de Cifra da Marinha (CCM), pelo então Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio.

Apesar daquela data ter sido adoptada como dia da unidade, a data que marca a activação opera-cional do CCM é 18 de Setem-bro de 2005. O arranque deste novo Centro marca igualmente o início de uma nova era nas comunicações navais. Surge desta forma o novo conceito de centro de comunicações tendo associado um local de transmissão e outro de recep-ção. Esta fórmula integrado-ra vem acabar, no continente, com a separação entre as Esta-ções Radionavais e os Centros de Comunicações. A activação do Centro de Comunicações, de Dados e de Cifra da Ma-rinha permitiu integrar numa única estrutura as valências que até então estavam dispersas pela Estação Radionaval Comandante Nunes Ribeiro, pelo Centro de Comunicações e de Cifra da Armada e pelo Centro de Comunica-ções do Alfeite.

Esta mudança profunda, associada à evolu-ção tecnológica, introduziu a automatização dos sistemas, a racionalização das infra-estru-

turas numa perspectiva de redução de custos financeiros e de recursos humanos, aumentan-do no entanto a oferta de serviços, potencian-do desta forma as funcionalidades de comuni-cações na capacidade de comando e controlo. Toda esta dinâmica é fruto do trabalho de uma vasta equipa que ao longo do tempo deram

corpo a grupos de trabalho e de projecto como sejam o Grupo de Projecto de Modernização e Automatização das Estações Radionavais (GP-RADNAV) e o Grupo de Projecto Integrado para a Modernização das Comunicações Na-vais (GPI-MCNAV).

Na sua génese, conforme se pode ler no des-pacho do CEMA 42/04, o CCM é um órgão de execução de serviços na directa dependência do Comandante Naval ao qual incumbe a con-dução e monitorização dos sistemas de comu-

nicações e a gestão dos sistemas de cifra e do respectivo material. Nesta esfera de acção, o CCM constitui-se como o interface entre as di-versas entidades em terra e as estações móveis. Apesar desta natureza transversal, o CCM, fru-to da sua dependência hierárquica, sempre in-tegrou a estrutura operacional da Marinha. Esta

realidade vem agora ser refor-çada, pela recente entrada em vigor (1 de Outubro de 2009), do Decreto-Lei n.º 233/2009 de 15 de Setembro – Lei Orgânica da Marinha (LOMAR). Este di-ploma vem constituir o Centro de Comunicações, de Dados e de Cifra da Marinha como um centro da componente opera-cional do sistema de forças, no-meadamente como um centro de apoio às operações ao qual incumbe assegurar as comu-nicações entre os comandos e

as forças e unidades em operações, e apoiar a gestão da informação e do conhecimento, no âmbito da superioridade de informação e de decisão. A entrada em vigor da LOMAR, para além de alterar a natureza funcional do Centro, vai também obrigar à alteração do seu acrónimo uma vez que estabelece como CCM a Comis-são Cultural da Marinha.

(Colaboração do CENTRO DE COMUNICAÇÕES, DE DADOS E DE CIFRA DA MARINHA)

Transferência da creche do Arsenal do Alfeite para o IASFA

Transferência da creche do Arsenal do Alfeite para o IASFA

No passado dia 25 de Agosto, teve lugar, na Biblio-

teca do Estado-Maior da Armada, a cerimónia de assinatura de um proto-colo entre a Marinha, re-presentada no acto pelo Superintendente dos Ser-viços do Pessoal, VALM Vilas Boas Tavares, que presidiu, o Instituto de Acção Social das Forças Armadas, (IASFA), repre-sentado pelos presidente e vogal do seu Conselho Di-rectivo, respectivamente o TENGEN Fialho da Rosa e o CALM AN Silva e Castro e pela empresa Arsenal do Alfeite, SA (AA), representada pelo seu Presidente do Conselho de Admi-nistração, Eng.o Carlos da Maia, visando a

transferência do Berçário, Creche e Jardim--de-Infância do Arsenal do Alfeite para o IASFA. Na cerimónia estiveram presentes diversos oficiais e civis que prestam servi-

ço na área das entidades envolvidas.

No quadro do processo de empresarialização do AA, o protocolo veio pos-sibilitar dar continuidade ao funcionamento desta importante facilidade e valência de carácter so-cial na área do Alfeite, as-segurando a manutenção do apoio no domínio ma-terno-infantil que já vinha sendo prestado às famílias dos funcionários do AA e do pessoal da Marinha, doravante de uma forma sinergeticamente integra-

da no Centro de Apoio Social do Alfeite (CASA) do IASFA.

(Colaboração da DAS)

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Revista da aRmada • DEZEMBRo 2009 13

Militares da Marinha presentes na Missa de Fiéis Defuntos

Militares da Marinha presentes na Missa de Fiéis Defuntos

No âmbito das Actividades da Dioce-se das Forças Armadas e de Seguran-ça, realizou-se no passado dia 2 de

Novembro na Igreja de Nossa Senhora de Belém, no Mosteiro dos Jeróni-mos, a tradicional e sempre senti-da celebração eucarística do Dia de Fiéi s Defuntos onde são recor-dados todos os militares, militari-zados e civis que não estão já no meio de nós e que fizeram parte da família militar.

O Bispo das Forças Armadas e de Segurança, D. Januário Tor-gal Ferreira, presidiu a esta solene concelebração na qual participa-ram todos os capelães da Marinha e outros capelães militares.

Também estiveram presentes o Chefe do Estado-Maior Gene-ral das Forças Armadas, o Chefe do Estado--Maior da Armada, o Chefe do Estado-Maior do Exército, o Chefe do Estado-Maior da For-ça Aérea, o Comandante Geral da GNR, o Director Nacional da PSP, Directores-gerais

do Ministério da Defesa Nacional, vários Oficiais Generais e ainda muitos outros mi-litares e civis dos três Ramos das Forças Ar-madas e das Forças de Segurança que tam-

bém quiseram estar nesta jornada de respeito e memória.

Este ano e fruto de uma remodelação na nave principal da Igreja, a disposição dos crentes e daqueles que quiseram participar estava mais

adequada ao sentimento de partilha. A “manta Azul Ferrete” estava densa e composta.

A animação litúrgica esteve este ano a car-go do Coro da Academia Militar, que integra-

va cadetes do Exército e da GNR.A tradicional homenagem aos

mortos, momento recheado de particular significado para a insti-tuição castrense, foi sem dúvida o ponto mais alto da cerimónia, onde a Fanfarra entoando os toques da praxe manteve e criou o ambiente adequado para cada um e todos prestarem a sua homenagem àque-les que continuam a sua caminha-da noutra direcção.

Neste dia 2 de Novembro quise-mos mais uma vez dizer que aqueles que nos deixaram fisicamente conti-nuam vivos na nossa memória.

Que o seu exemplo perdure sobretudo nas nossas vidas.

J. Coutinho de LucenaCFR

35º Aniversário da Superintendência dos Serviços Financeiros

35º Aniversário da Superintendência dos Serviços Financeiros

integrados nas comemorações do 35º aniver-sário da Superintendência dos Serviços Fi-nanceiros (SSF), realizaram-se vários eventos

que assinalaram condignamente a efeméride.Assim, a Revista da Armada publicou no nú-

mero de Setembro/Outubro do corrente ano um artigo sob o título “A Adminis-tração dos Recursos Financeiros da Marinha” que apresenta uma sínte-se histórica da administração finan-ceira da Marinha, percorrendo as evoluções organizativas e técnico--funcionais no inequívoco sentido da modernidade.

No dia 18 de Setembro, dia do aniversário, realizou-se um almoço/convívio e passeio no Tejo a bordo da UAM “Zêzere”, com todos os militares e civis que servem a Mari-nha na SSF. Nesta oportunidade fo-ram entregues os prémios da actividade lúdica/desportiva realizada na semana de 14 a 18 de Setembro. No dia 1 de Outubro, culminando as comemorações, e com o privilégio da presença dos oficiais generais que exerceram as funções de Superintendente dos Serviços Financeiros, VALM AN Alfredo de Oliveira, CALM AN Nu-nes Marques, CALM AN Rodrigues Baptista, CALM AN Correia Jacinto, CALM AN Roçadas Ramalho e CALM AN Calceteiro Serafim (esti-

veram ausentes, respectivamente, por motivo de saúde e de ordem pessoal, o CALM AN Lola dos Reis e o CALM AN Gonçalves da Silva), foi realizada sessão solene evocativa da data. Na oportunidade, o Superintendente dos Serviços Financeiros, CALM AN Palma Mendonça, de-

pois de agradecer e enfatizar a presença de tão distintos e ilustres oficiais, relevando o caminho percorrido, as grandes inovações organizativas e dos processos, prospectivou o futuro da SSF. Terminou com as significativas palavras “Valeu a pena. Desde a génese da administração fi-nanceira que remonta ao século XVI, passou-se por diversos marcos históricos, culminando a 18 de Setembro de 1974 com a criação da Su-perintendência dos Serviços Financeiros, a qual,

perante os desafios actuais, continua, na senda das referências históricas, a projectar o futuro, a dignificar a função financeira com transparência, competência e dedicação à causa da Marinha. A SSF constitui-se como um elemento fulcral na edificação e manutenção das capacidades con-

formes à componente operacional e fixa do sistema de forças, cumprindo, assim, a Marinha.”

Sensibilizado e com subida emo-ção, o VALM Alfredo de Oliveira, em nome dos anteriores superintenden-tes, agradeceu o convite e manifes-tou o reconhecimento pela obra fei-ta e do excelente nível académico e intelectual da sessão. Seguiu -se uma visita aos órgãos da SSF que, consti-tuindo uma romagem de saudade, possibilitou o regresso a muitas e boas memórias.

Em acto de pleno, elevado e reconhecido signi ficado, a comitiva, que incluía, ainda, o che-fe do Gabinete do SSF, os directores do Apura-mento de Responsabilidades e de Administração Financeira e o chefe do Serviço de Apoio Admi-nistrativo, foi recebida e apresentou cumprimen-tos ao Chefe do Estado-Maior da Armada.

(Colaboração da SUPERINTENDÊNCIA DOS SERVIÇOS FINANCEIROS)

Foto

Júlio

Tito

14 DEZEMBRo 2009 • Revista da aRmada

Meridiano de GreenwichREFERÊNCIAS GEOGRÁFICAS 2

O Meridiano de Greenwich, também co-nhecido como Primeiro Meridiano1, é uma linha convencional que passa por

aquela localidade inglesa e, tal como qualquer meridiano2, tem extremidades nos pólos da Terra e é perpendicular ao Equador e a todos os para-lelos. A exemplo do que sucede com a linha do Equador, que divide o mundo nas semiesferas norte e sul, o Meridiano de Greenwich delimi-ta o globo noutros dois hemisférios, ocidental e oriental, constituindo-se, actualmente, como origem das longitudes.

Por definição, longitude3 corresponde ao arco de Equador compreendido entre o meridiano de referência e o meridiano do lugar, ou, mais cor-rectamente, o valor do ângulo diedro4, em graus, entre o plano que contém o Meridiano de Green-wich e o plano que contém o meridiano do lu-gar. A contagem é feita em ambos os sentidos, Leste (E) e Oeste (W), podendo assumir valores compreendidos entre 0 e 180 graus. O primei-ro regista-se em qualquer lugar situado sobre o próprio meridiano de referência, enquanto o se-gundo ocorre no denominado antimeridiano5 de Greenwich. Em função do sentido em que é feita a medição, que por sua vez é ditado pelo hemis-fério6 em que se situa o lugar, assim o valor do ân-gulo assume sinal Leste (L1) ou Oeste (L2).

O actual Meridiano de Greenwich, que pas-sa pelo Royal Observatory, situado na locali-dade homónima dos subúrbios de Londres, foi estabelecido em 1851 pelo Astrónomo Real Sir George Airy (1801-1892). O primeiro meridia-no instituído naquele local foi o Flamsteed’s, em 1675, baptizado em honra do primeiro titular do cargo de Astrónomo Real, John Flamsteed (1646-1719). Seguiu-se um segundo, em 1725, promovido pelo seu sucessor, Sir Edmond Hal-ley (1656-1742), e um terceiro, em meados do século XVIII, baseado nos cálculos do Astróno-mo Real James Bradley (1693-1762).

A nível internacional, até 1884, subsistiram inúmeros «meridianos de referência» – como os de Berna, Hierro (Canárias), Lisboa, Meca, Paris, Quioto, Roma, Washington, etc. –, em certa medida resultantes da proliferação, por todo o mundo, das sociedades de geografia e observatórios astronómicos, criados com o pro-pósito de resolver as questões relacionadas com a longitude7. Esta situação, por si só, compor-tava enormes contrariedades, pois a existência de inúmeras origens para a contagem da longi-tude na cartografia coeva obrigava a reiterados cálculos de conversão, quando se pretendia saber qual o valor daquela coordenada nou-tro referencial.

Naquele ano, por iniciativa do então presiden-te dos Estados Unidos, Chester Alan Arthur (1829--1886), teve lugar, em Washington, a International Meridian Conference, que contou com a partici-pação de um total de 41 delegados, oriundos de 25 nações (Alemanha, Áustria-Hungria8, Brasil,

Chile, Colômbia, Costa Rica, Espanha, Estados Unidos, França, Guatemala, Holanda, Inglater-ra, Itália, Japão, Libéria, México, Paraguai, Reino do Havai 9, Rússia, Salvador, Santo Domingo10, Suécia, Suíça, Turquia e Venezuela).

Logo no início, a International Meridian Con-ference estabeleceu uma lista de sete resolu-ções, que seriam posteriormente votadas, a tí-tulo individual, pelos participantes presentes no

encontro, que decorreu na capital dos Estados Unidos entre 13 e 22 de Outubro daquele ano. Entre parêntesis, e para cada um dos pontos su-jeitos a escrutínio, encontra-se o número total de votos favoráveis, votos contra e abstenções.

1. Adoptar um meridiano, a nível mundial, para substituir todos os existentes (25);

2. O referido meridiano passa sob a base do telescópio principal do Royal Observatory em Greenwich, que é, doravante, o Meridiano Ini-cial (22-1-2);

3. Todas as longitudes são calculadas a partir deste meridiano, para leste e para oeste, até um máximo de 180 graus (14-5-6);

4. Todos os países adoptam o Dia Univer-sal (23-2);

5. O Dia Universal é o Dia Solar Médio, que tem início à Meia-noite Média em Greenwich, sendo contabilizado com recurso a um relógio com mostrador de 24 horas (15-2-8);

6. Os dias náutico e astronómico têm início, em todos os lugares, à Meia-noite Média (25);

7. São apoiados todos os esforços e estudos técnicos com vista a regular e estender a apli-cação do sistema decimal às divisões do tempo e do espaço11 (21-4).

Face à grande rivalidade existente entre in-gleses e franceses, a França seria o único país a votar contra a instituição do meridiano de refe-rência em Greenwich12. De referir, no entanto, que este foi o único ponto que aquele país vo-tou desfavoravelmente.

Além da sua hegemonia como potência ma-rítima, também o facto de cerca de 72% das cartas náuticas utilizadas na época serem de concepção inglesa contribuiu para que o des-fecho, relativamente à definição do Primeiro Meridiano, recaísse sobre Greenwich. Não ad-mira, pois, neste contexto, que a França tivesse mantido, até 1911, a referência ao Meridiano de Paris para efeitos horários e para a navega-ção em geral até 1914. Aliás, subsiste todavia a menção a este meridiano nalguma cartografia francesa contemporânea.

Além da origem das longitudes, a International Meridian Conference conferiu também a Green-wich a primazia na definição da hora padrão – durante muito tempo conhecida como Tempo Médio de Greenwich13 (GMT) –, e do início do dia. Com o objectivo de suprimir a conotação com um local específico, a 1 de Janeiro de 1972 entrou em vigor o conceito de Tempo Universal Coordenado (UTC), que também constitui o fuso horário padrão relativamente ao qual são defini-das as demais horas em todo o mundo. Na sua génese encontra-se o Tempo Universal (UT), que é um sistema convencionado para medição do tempo. O Tempo Universal (UT) divide-se em UT0 (Tempo Solar Médio referido ao Meridiano de Greenwich); UT1 (resultante da correcção da migração dos pólos terrestres em UT0); e UT2 (derivado da correcção das variações periódi-cas da velocidade de rotação da Terra em UT1), sendo que este último é o que mais se aproxi-ma do tempo uniforme. Como o próprio nome deixa perceber, o Tempo Universal Coordenado resulta, passe o pleonasmo, da coordenação14 entre o Tempo Universal (UT) e o Tempo Atómi-co (TAI)15, uma vez que o período de rotação da

Meridiano de Greenwich

Pormenor de uma carta francesa do século XIX, onde se encontra assinalada a longitude relativa-mente aos meridianos do Cabo Lizard, Londres, Paris e ilhas do Ferro e Tenerife.

Representação da Terra vista do Pólo Norte, com o Meridiano de Greenwich, o correspon-dente antimeridiano (180 graus) e exemplos de lugares com longitude Leste e Oeste.

CTEN António Gonçalves

Arquivo CTEN António Gonçalves

Terra, em parte devido à excentricidade da sua órbita, não assume um valor uniforme ao longo do ano16. Dito de outra forma, o Tempo Univer-sal Coordenado (UTC) baseia a medição do tem-po em relógios atómicos, ao passo que o Tempo Médio de Greenwich (GMT) privilegiava as re-ferências celestes.

De resto, o Tempo Universal Coordenado (UTC) constitui também referência para as co-municações, navegação aérea e marítima, onde habitualmente assume a designação Hora Zulo (Z), anulando-se, desta forma, as ambiguidades resultantes da existência de diversos fusos ho-rários e horas legais, estas últimas ditadas, em grande medida, com o objectivo de minimizar o consumo de energia eléctrica. Além disso, o Tempo Universal Coordenado (UTC) é igual-mente utilizado pela própria World Wide Web (WWW), vulgo internet, ao abrigo do Network Time Protocol.

Refira-se, a título de mera curiosidade, que as siglas AM e PM, utilizadas quando se adopta o formato de 12 horas para o dia, constituem abre-viaturas das expressões latinas ante meridiem e post meridiem, cujo significado é, respectivamen-te, antes do meio-dia e depois do meio-dia.

Utilizando instrumentos de concepção muito simples, como eram os casos do quadrante, do astrolábio, da balestilha e outros, havia já muitos séculos que era possível calcular o valor da latitu-de de um lugar com recurso aos astros, nomeada-mente por observação da altura do Sol em passa-

gem meridiana superior e da estrela Polar. Muito embora a determinação da longitude já fosse pos-sível, nomeadamente em terra, recorrendo a mé-todos como o das distâncias lunares, dos satélites de Júpiter ou dos eclipses, foi necessário esperar até meados do século XVIII para que John Harri-son (1693-1776) desenvolvesse um cronómetro suficientemente estável, que permitisse calcular esta coordenada a bordo dos navios, que, como é sabido, exige uma rigorosa medição do tem-po17. Dado que o desconhecimento da longitude também contribuiu para o naufrágio de inúmeros navios, cedo se verificou a necessidade de desen-volver um método que possibilitasse calcular o seu valor, tendo inclusivamente sido instituídos diversos prémios internacionais.

As denominadas soluções mecânicas, assim designadas por oposição aos métodos astronó-

micos anteriormente citados, baseavam-se na de-terminação da hora local, que comparada com a do meridiano de referência fornecia o valor da longitude do lugar, dado que a diferença em tem-po entre os dois meridianos, depois de convertida em arco18, conduz àquela coordenada.

Pese embora a afirmação não corresponder de todo à verdade, Greenwich19 é nos nossos dias conhecido como o lugar onde se estabe-lece a hora do mundo, sendo que o meridiano de referência atravessa 8 países (Argélia, Burkina Faso, Espanha, França, Gana, Mali, Reino Unido e Togo). Esta povoação começou a ganhar rele-vância a partir de meados do século XVII, mas é o vasto conjunto histórico-museológico que lhe confere estatuto de visita incontornável para qualquer pessoa que se desloque a Londres. Na-quele local, junto ao Tamisa, com a skyline de Londres como fundo, situam-se, e só para referir os mais emblemáticos, o Old Royal Naval Colle-ge, a Queen’s House, o National Maritime Mu-seum, o Royal Observatory e os célebres navios Cutty Sark e Gipsy Moth IV, além da demarca-ção, in situ, do mais célebre meridiano do mun-do. Se durante o dia o Meridiano de Greenwich pode ser observado, no chão, passando através do obser vatório, à noite, a partir deste, é emitido um raio laser apontando para o Norte.

António Manuel GonçalvesCTEN

[email protected]

Notas:1 Embora menos comum, pode também surgir sob as de-

signações de Meridiano Inicial, Meridiano Zero, Meridiano Internacional, Meridiano Fundamental, Meridiano-Origem ou Meridiano de Referência.

2 Do latim meridianum, que significa meio-dia, rela-tivo ao meio-dia, exposto ao sul, do Sul ou meridional. Embora com conotação distinta, austral também pode ser usado como sinónimo de meridional. Em relação ao Nor-te, e no mesmo contexto, utilizam-se os termos setentrio-nal e boreal.

3 Do latim longitudo, cujo significado é duração, longura ou extensão em comprimento.

4 Em geometria, diz-se diedro o ângulo formado pela intersecção de dois planos, sendo de realçar que a inter-secção de todos e quaisquer meridianos entre si coincide com o eixo da Terra.

5 O antimeridiano, ou meridiano contrário, é o semi-círculo, de pólo a pólo, que se encontra 180 graus desfa-

sado de um determinado semicírculo de longitude local. Ao conjunto de dois meridianos opostos dá-se o nome de círculo meridiano.

6 Cada uma das metades de uma esfera determinadas por um plano que passa pelo respectivo centro. O termo radica no grego hemisphaírion, que significa metade da esfera ou cúpula.

7 As primeiras alusões concretas a um meridiano de refe-rência remontam, salvo melhor opinião, a finais do século XV. Era o denominado meridiano vero, ou verdadeiro, que se acreditava, apesar das inúmeras provas em contrário, passar pelos lugares em que o valor da declinação magné-tica era zero. Muito embora essa e outras linhas agónicas existam de facto, na realidade não se tratam de meridianos. Ainda assim, durante cerca de dois séculos alimentou qui-meras e estudos com o intuito de descobrir a relação, que se pretendia directa, entre a distância de um lugar ao meri-diano vero e o denominado caminho Leste-Oeste, ou seja, o valor da longitude.

8 Mais conhecido como Império Austro-Húngaro (1867-1918).

9 O Reino do Havai existiu formalmente entre 1810 e 1893. Destituída a monarquia, manteve-se ainda como re-pública independente de 1894 a 1898. Seria anexado pelos Estados Unidos neste último ano, tornando-se no 50.º e últi-mo estado a aderir àquela república federal em 1959.

10 Actual República Dominicana.11 Ao que sabemos, esta condição terá sido colocada

na agenda para, de alguma forma, satisfazer as pretensões francesas, pois já se sabia, de antemão, que estas iriam sair vencidas na principal questão, que era a definição do meridiano de referência. Resta acrescentar que a ideia de conferir carácter decimal à contagem do tempo nasceu na sequência dos acontecimentos que se sucederam à Revo-lução Francesa. Na realidade, um decreto da Convention Nationale, de 24 de Novembro de 1793, instituiu este pa-drão, para que também a contagem do tempo ficasse de acordo com o sistema métrico adoptado pela «nova» nação. Assim, cada mês era composto por 3 décadas com 10 dias cada, denominados primidi, duodi, tridi, quartidi, quintidi, sextidi, septidi, octidi, nonodi e décadi. Por seu turno, o dia contava com 10 horas de 100 minutos cada – 1 hora deci-mal equivalente a 2 horas e 20 minutos antigas –, e os mi-nutos encontravam-se divididos em 100 segundos. Muito por força da resistência da população em acatar o articulado no decreto, a qual não terá sido alheia a parca disponibi-lidade de relógios com este novo formato, a 7 de Abril de 1795 um novo diploma veio suspender a obrigatoriedade da hora decimal. Apesar de também colher fraco entusiasmo, o «calendário republicano» ainda se manteve em uso até 1 de Janeiro de 1806, altura em que Napoleão o aboliu em definitivo. Ainda assim, em 1897, na sequência da Interna-tional Meridian Conference, a França fez mais uma tentativa no sentido de tornar decimal a divisão do tempo, criando a Commission de Décimalisation du Temps e nomeando para seu secretário o famoso matemático Henri Pointcaré (1854--1912). Por falta de adesão da comunidade internacional, o projecto foi abandonado em 1900.

12 Embora não conheçamos as razões da ausência, Por-tugal não participou nesta conferência. No entanto, pouco tempo antes, havia manifestado o seu apoio à escolha de Greenwich para meridiano de referência.

13 O mesmo que Tempo Meridiano de Greenwich, já que meridiano aparece aqui como sinónimo de médio.

14 Obtém-se através da introdução dos denominados Segundos de Salto, determinados pelo International Earth Rotation Service (IERS).

15 O Tempo Atómico (TAI) é uma medida do Bureau In-ternational des Poids et Mesures (BIPM) e a sua unidade de tempo é o segundo do Sistema Internacional (SI).

16 Recordamos que enquanto os relógios nos indicam aquilo que se designa por hora média, o movimento apa-rente do Sol ao longo do ano não é regular. Como forma de ultrapassar esta questão foi criada a Equação do Tem-po, que traduz, para cada dia, a diferença entre a hora so-lar e a hora média.

17 É também por esta altura que surgem os primeiros ins-trumentos que baseiam a medição de ângulos no princípio da dupla reflexão (e.g. octante e sextante), permitindo um ri-gor na ordem de 1 minuto de arco (1 grau = 60 minutos).

18 1 hora = 15 graus de longitude e 1 minuto = 15 mi-nutos de longitude.

19 Greenwich fez parte do Kent até 1889, altura em que passou a integrar o recém-criado condado de Londres.

Revista da aRmada • DEZEMBRo 2009 15

O Meridiano de Greenwich e os países por ele atravessados.

CTEN Bessa Pacheco

O Meridiano de Greenwich junto ao Obser-vatório Real.

Foto CTEN António Gonçalves

16 DEZEMBRo 2009 • Revista da aRmada

A MARINHA DE D. SEBASTIÃO (3)

Damão e a “Província do Norte”Damão e a “Província do Norte”

A forma como Moniz Barreto pôs fim aos ataques que os muçulmanos abexins lançavam contra a recém-

conquistada praça de Damão e os seus li-mítrofes é paradigmática, e pode tomar-se como exemplo de centenas de operações militares que aproveitaram a surpresa e as condições do terreno. Tratou-se de um verdadeiro golpe de mão, onde o ímpeto do assalto final e as condições de pouca vi-sibilidade contaram a favor dos atacantes, permitindo que uma força reduzida con-seguisse pôr em fuga uma hoste numerosa e medianamente equi-pada. Diz-nos Diogo do Couto que, após a conquista de Damão, D. Constantino tomou várias medidas no sen-tido de atrair os desa-lojados camponeses às suas terras, procuran-do organizar o espaço agrário que circunda-va a cidade, de manei-ra a que se tornasse um pólo de produção agrí-cola capaz de apoiar logisticamente o Esta-do da Índia com abas-tecimentos e madeira para a construção na-val. Mas este processo era prejudicado pelos sucessivos ataques dos abexins que, depois de expulsos da cidade, permaneceram acantonados numa região limítrofe, de onde lançavam contínuas ac-ções de flagelação, obrigando a uma vigi-lância apurada por parte dos portugueses. Para além do mais, limitavam a reorganiza-ção territorial, nomeadamente no que dizia respeito à fixação dos trabalhadores agríco-las e possibilidade de continuar as tarefas quotidianas que requerem sossego e paz.

O relato do cronista é particularmente e vivo nestas descrições. Couto chegou à Índia com 15 anos de idade, em 1519 (uns meses depois dos acontecimentos), e ou-viu tudo contado em primeira mão, viven-do com entusiasmo este vice-reinado. Diz--nos ele que o Vice-Rei pensou em pedir auxílio ao capitão de Baçaim, requerendo a sua presença com uma força militar capaz de surpreender os abexins, mas a situação arrastava-se sem solução e D. Constantino não saía de Damão sem o assunto resolvi-do. Foi durante uma reunião do seu con-selho que Moniz Barreto lhe pediu “que lhe desse quinhentos homens que elle iria buscar os Abexins, e que com o favor di-vino se atrevia a os lançar fora das terras,

sem risco nem perigo algum”. Só a grande convicção do capitão e a experiência que tinha das guerras da Índia, fez com que o Vice -Rei aceitasse aquele oferecimento, antes da chegada dos reforços requeridos. Despedido Moniz Barreto, passou o rio no final da tarde, indo colocar-se antes de anoitecer a alguma distância do acantona-mento inimigo, preparando-se para o atacar com a surpresa indispensável para garantir uma vitória, mesmo levando menos gente e não podendo dispor da força da artilharia. Avançou a coberto do escuro e a rapidez

com que o fez, levou a que a maioria dos soldados que levava se dispersassem per-didos nos caminhos da densa mata. Mas atacou mesmo assim. Aliás, não tinha ou-tra hipótese, como ele próprio disse na al-tura: “senhores, segui-me, porque na pressa com que dermos nesta gente, está a nossa salvação”. Surpreendidos por um punhado de portugueses em intensa gritaria, dispa-rando os arcabuzes em todas as direcções e passando à espada todos os que foram apa-nhando estremunhados, quem teve tempo para isso montou a cavalo e fugiu como lhe foi possível, deixando para trás a artilharia e as bagagens. Quando raiou o sol, o acam-pamento abexim estava nas mãos dos por-tugueses que, tão rápido quando puderam se organizaram colocando a artilharia em posição defensiva e preparando-se para o contra-ataque que ai viria. Valeu, de facto, este expediente e a rapidez com que Mo-niz Barreto moveu todo o pessoal disponí-vel, recolhendo os que andavam perdidos pelo mato, porque foi muito rápida a forma como os inimigos tomaram consciência de que ali estavam apenas meia dúzia de ho-mens com parcos meios. O contra-ataque

não se fez esperar mas contou com a re-sistência nacional, agora reforçada pelas peças de artilharia. Diz o cronista que os abexins tiveram numerosas baixas sendo obrigado a recuar de forma desordenada. Moniz Barreto aproveitou esse sucesso e perseguiu-os até à serra, matando mais de quinhentos. São números exagerados, tal-vez, mas mostram a violência do combate, a decisão com que foi travado e o impacto de uma vitória estrondosa que consolidou a posse de Damão.

Como explica Luís Filipe Thomaz o ter-ritório ficou associado ao de Baçaim, consti-tuindo a “Província do Norte”, cujo provei-to principal era a pro-dução agrícola obtida pela tutela portuguesa das aldeias circunvizi-nhas, cuja administra-ção foi sendo entregue, por emprazamento, a nobres portugueses estabelecidos na Ín-dia. Era uma forma de os recompensar pe-los serviços prestados, utilizando uma forma semelhante à que era usada no território eu-ropeu, mas associando--lhe algumas regras e costumes locais que as

populações, de alguma forma, aceitavam. D. Constantino deu grande importância a esta praça de Damão, empenhando-se em promover as condições em que ela trans-poria para a Índia um regime de conces-sões que lhe era particularmente grato. Permaneceu ali até ao final de Março de 1559, atendendo a todos os pormenores da sua defesa, deixando instruções detalhadas para a construção de uma fortaleza e nome-ando como capitão D. Diogo de Noronha. Despachou uma armada para o Estreito, sob o comando de D. Álvaro da Silveira e regressou, finalmente, a Goa onde o espe-ravam más notícias do Malabar. Os proble-mas que tinham começado no ano anterior, com a nomeação de D. Payo de Noronha para capitão de Cananor, agravaram-se bastante em 1559. A armada que ali andara durante toda a estação, conseguira algumas vitórias, mas o clima contra os portugueses adensava-se, exigindo medidas mais enér-gicas. Será assunto para tratarmos numa das próximas revistas.

J. Semedo de MatosCFR FZ

Praça de Damão.António Bocarro – «O Livro das Plantas de todas as fortalezas e povoações do Estado da Índia Oriental».

Revista da aRmada • DEZEMBRo 2009 17

a certificação do Sistema de Gestão de Re-cursos Humanos da Marinha (SGRHM) de acordo com a norma NP 4427:2004

é uma meta estabelecida em sede da Directiva Sectorial de Recursos Humanos (DSRH) 20061, que decorre do programa de aplicar à Gestão dos Recursos Humanos os instrumentos da Ges-tão Moderna.

Para operacionalizar este desiderato foi cons-tituído na dependência directa do Superinten-dente dos Serviços do Pessoal um Núcleo, com a designação de Núcleo de Certificação do Sistema de Gestão de Recursos Humanos da Marinha, abreviadamente NCSGRHM, com a missão de alcançar a meta estabelecida até final do ano de 2009. Desde o início foi entendido que a certificação não era um fim em si mesmo, mas sim uma consequência de um projecto de certificação.

O Projecto de Certificação foi de-senhado de forma a ter início em Fe-vereiro de 2008 e terminar em finais do Verão de 2009. Foi entendido di-vidir o projecto em duas fases, uma primeira até Novembro de 2008 em que se adequou a área nevrálgica do SGRHM, isto é, a estrutura da SSP aos requisitos da norma em apreço. Na segunda fase, adequou-se as res-tantes unidades que integram o Siste-ma à norma.

O SGRHM está há muito estabelecido e im-plementado, conforme descrito no PPA 10 (A)- Gestão de Recursos Humanos, Doutrina Básica e Procedimentos Gerais, e a funcionar de forma eficiente e eficaz, no entanto em algumas área s apresentava disponibilidade para melhorar e tor-nar a Gestão dos Recursos Humanos da Mari-nha ainda mais eficiente e eficaz.

A norma NP 4427:2004 – Sistemas de Gestão de Recursos Humanos. Requisitos, é uma nor-ma portuguesa que está muito alinhada com a norma ISO 9001:2002 e que no essencial esta-belece que uma organização implementou um SGRH de forma a: a) atrair, manter e desenvol-ver continuamente os seus RH; b) desenvolver os RH de forma a satisfazer continuamente to-das as necessidades implícitas e explícitas da organização; c) assegurar o cumprimento da legislação aplicável, no âmbito da gestão de recursos humanos.2

O Projecto de Certificação implicou lidar com um Sistema complexo e singular, consti-tuído por grupos profissionais distintos, os mili-tares, militarizados e civis, e áreas de actuação também diferentes, o mar, a terra e o ar, o que tornou a abordagem bastante exigente.

O sucesso deste projecto passou pela adesão inequívoca aos princípios da qualidade, em par-ticular à adesão à melhoria contínua, consubs-tanciada no Ciclo de Deming ou PDCA. Plan (Planear); Do (Fazer), Check (Verificar) e Act (Actuar, melhorar), bem como, no envolvimento

das pessoas, quer através de Workshops, acções de sensibilização e de Newsletters.

Começou-se por edificar um Manual de Ges-tão de Recursos Humanos, dividido em três par-tes independentes. O MASUP 1001 – Manual de Gestão de Recursos Humanos, onde se pre-tende apresentar a Marinha e o SGRHM; o MA-SUP 1002 – Manual de Procedimentos, onde estão expressos os procedimentos mais signifi-cativos do Sistema e que são requisito da nor-ma e do SGRHM, por último o MASUP 1003 – Manual de Procedimentos para a Gestão de Recursos Humanos nas Unidades, que preten-de no essencial ser um compêndio de todos os procedimentos mais importantes no relaciona-mento das unidades com o SGRHM.

Divulgou-se de forma mais adequada e abrangente a política de Gestão de Recursos Humanos.

Estabeleceu-se um Código de Padrões e Con-duta, que na prática resultou da compilação dos comportamentos dispersos na variada legislação de suporte ao edifício estatutário, disciplinar e de justiça militar.

Aplicaram-se questionários à satisfação in-terna.

Implementou-se a realização de auditorias internas e respectivo procedimento para as Ac-ções de Melhoria.

Com estes marcos importantes, garantiu-se que o Sistema, está mais adequado às necessi-dades das pessoas que o integram e são servidas por ele. Garantiu-se uma maior transparência, uma sistematização mais eficiente e eficaz dos processos e procedimentos, tendencialmente concorrentes para aumentar os índices de sa-tisfação das pessoas.

O trabalho não terminou e continua a ha-ver espaço para melhorar, nesse sentido, con-tinua-se a apostar na implementação, adesão a princípios fundamentais na Gestão moderna das pessoas e dos Recursos Humanos, como sejam as questões relacionadas com a Pers-pectiva de Género, no âmbito do apoio so-cial considerar o trabalho à distância como medida integrada na parentalidade e por úl-timo considerar a adesão aos princípios da Responsabilidade Social nas dimensões mais adequadas à realidade do SGRHM.

Cerimónia de entrega do CertifiCado de CertifiCação nP 4427:2004

No dia 12 de Outubro de 2009 decorreu na sala do antigo Tribunal de Marinha, na Direcção do Serviço de Pessoal, a cerimónia de entrega do certificado de certificação NP 4427:2004, presidida pelo VALM Vilas Boas Tavares, Supe-rintendente dos Serviços do Pessoal.

Estiveram presentes, entre outros, os Vice--Almirantes Vice-Chefe do Estado-Maior da Armada, Superintendente dos Serviços do Material, Director-Geral da Autoridade Ma-rítima, Comandante Naval; o VALM Ferreira Pires, na qualidade de ex-Superintendente

dos Serviços do Pessoal; o Contra--Almirante Superintendente dos Ser-viços Financeiros; o Director-Geral e Subdirector-Geral de Pessoal e Recrutamento Militar, do Ministério da Defesa Nacional; representan-tes dos Comandantes do Pessoal do Exército e da Força Aérea e os Di-rectores e Chefes da área funcional do Pessoal, bem como, o Presidente do Conselho de Administração e o CEO da APCER.

Esta cerimónia, apesar de singe-la, revestiu -se de enorme significado

para a Marinha, pois formalizou-se a entrega do comprovativo da Certificação do Sistema de Gestão de Recursos Humanos da Marinha de acordo com a norma NP 4427:2004 pela empresa de certificação APCER – Associação Portuguesa de Certificação.

A cerimónia iniciou-se com uma alocução do Comandante Caldeira dos Santos, Presiden-te do Conselho de Administração da APCER que, resumidamente, fez referência ao feito da Marinha em certificar o seu SGRH tendo como referencial uma norma que é portu-guesa e que centrada nas pessoas estimula, garante que as organizações consigam atrair, manter e desenvolver os seus RH de forma efi-ciente e eficaz.

Após as palavras do Comandante Caldeira dos Santos, procedeu-se à entrega formal do certificado de certificação NP 4427:2004 tendo o VALM Superintendente dos Serviços do Pes-soal recebido das mãos do Presidente do Con-selho de Administração da APCER o certificado numa moldura.

O VALM Vilas Boas Tavares usou da palavra e no essencial expressou a importância e os ganhos de a Marinha ter obtido tão relevante e significativo reconhecimento.

(Colaboração da SSP. NCSGRHM)

Notas1 DSRH 2006, de 15 de Abril, publicada na OA1

n.º 17/26-04-062 Conforme requisito 4.1 Requisitos gerais da nor-

ma NP 4427:2004

Certificação do Sistema de Gestão de Recursos Humanos da Marinha

Certificação do Sistema de Gestão de Recursos Humanos da Marinha

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Desenvolvimento económico, científico e cultural

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Desenvolvimento económico, científico e cultural

20 DEZEMBRo 2009 • Revista da aRmada

TOMADAS DE POSSE

l Presidida pelo SSP VALM Vilas Boas Ta-vares, realizou-se no passado dia 6 de Ou-tubro na sala da Biblioteca do Hospital da Marinha, a cerimónia de tomada de posse do novo Director do HM, CMG MN Luís António de Medeiros Ramos.

Assistiram à cerimónia diversas entidades da estrutura orgânica da Marinha, Almiran-tes e Oficiais de outras unidades, além de militares, militarizados e civis que prestam serviço no Hospital.

Após a leitura da Ordem, usou da palavra o CMG MN Medeiros Ramos, sendo de realçar no seu discurso “O meu compromisso com esta missão, será persistente, direccionado a merecer a confiança da hierarquia, bem como a dar continuidade ao trabalho efectuado pe-los colegas que me precederam, com os quais tive a honra de cola-borar, com o objectivo comum de dignificar o HM”…

“Eu e a equipa que me acompanha, empenhar-nos-emos com cri-térios de exigência pessoal e colectiva, mas com sentido prático da necessária adequação à realidade em que vivemos, com a preocupa-ção da exequibilidade das soluções e a justa ponderação dos recur-sos disponíveis”…

“Por outras palavras, devemos enfrentar as mudanças que se adivi-nham no horizonte, assentes na vontade de evoluir. E atentos à tran-sumância na política da saúde militar, já com força de lei”…

“Comprometemo-nos, a levar a cabo o desafio de contribuir para a gestão deste nosso Hospital numa plataforma de processos, liderados por pessoas integras e leais, assentes em padrões organizativos de ele-vada qualidade e sustentados por critérios de clareza e transparência,

de forma a que a actuação do Hospital, este-ja, toda ela, vocacionada para a sua valiosa missão de servir os utentes, a Marinha e o interesse comum, na defesa do maior bem: A Vida Humana…

No final, o Director do Serviço de Saúde, CALM Teles Martins realçou: “Hoje, após muito mais que na mudança de comando, assumimos a mudança. Há cada vez menos tempo para idealizar projectos de longo pra-zo, o nosso tempo é hoje. Conhecemos a nos-

sa realidade, assumimos um plano para melhorar a desempenho da Saúde Naval”.

DIRECTOR DO HOSPITAL DA MARINHA

O CMG MN Luís António de Medeiros Ramos, é natural de Lisboa, fregue-sia de Sta. Isabel. Concluiu os estudos do ensino secundário no liceu de Passos Manuel, em Lisboa, em 1973.

Em 1980 licenciou-se em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Unuiversidade Nova de Lisboa.

Ingressou nos Quadros Permanentes na Marinha, na classe de médicos na-vais em 1983 por concurso público.

Especializou-se em neurologia pelos Hospitais Civis de Lisboa e pela Ordem dos Médicos em 1990, e passou a integrar o serviço de Neurologia do HM.

Nos períodos que se encontrou fora do Hospital da Marinha, esteve colo-cado no NRP “S. Gabriel”, na Escola de Fuzileiros, como Chefe do Serviço de Saúde e foi Chief-Medical Staff na Stanavforland em 1995 sob o comando do ALM Reis Rodrigues.

E, desde 1996 chefe de Serviço de Neurologia.A nível civil é sócio de várias sociedades médicas (Neurologia, Esclerose

Múltipla e Epilepsia) e frequentou inúmeras acções de formação em Portugal e no Estrangeiro, por vezes como palestrante.

Da sua folha de serviços constam diversos louvores e condecorações.

l No passado dia 20 de Outubro, rea-lizou-se na parada das Instalações Cen-trais de Marinha, a entrega de comando da U AICM e posse do novo Comandan-te CMG Fernando Jorge Ferreira Seua-nes, presidida pelo Vice-CEMA, VALM Teles Palhinha.

A cerimónia consistiu da apresentação e revista das Forças em parada, acto de rendição e discursos dos intervenientes.

As forças em parada, compostas pela Banda da Armada, duas companhias constituídas por elementos da guarnição da UAICM e da Messe de Lisboa, foram comandadas pelo 2º Comandante da UAICM, CFR SEF Santos Teixeira.

Após a leitura da ordem, usou da palavra o Comandante cessante, CMG Soares Ribeiro realçando-se o seguinte:

“No cumprimento da sua missão, a UAICM desenvolve uma actividade complexa e de elevada importância no apoio ao vasto conjunto de órgãos, cujo funcionamento depende deste apoio, para o cumprimento a sua missão. As ver-

tentes de apoio disponibilizado cobrem um larguíssi-mo espectro abrangendo o fornecimento de alimenta-ção, incluindo o apoio a eventos internos e externos à Marinha, o apoio médico-sanitário, o desenvolvi-mento do Plano Director, a manutenção de Infra--estruturas, as limpezas das áreas comuns, a manu-

tenção de espaços verdes, a recolha selectiva de lixo, a distribuição de água, gás e electricidade, incluindo a energia eléctrica de emergência, a capacidade de armazenamento, a assistência re-ligiosa, a potenciação do património histórico, a segurança física e o policiamento, passando pela limitação de avarias, a manutenção da ordem e da disciplina, a coordenação de condomínio e de escalas de serviço, o tratamento e encaminha-mento de mensagens e da correspondência, o atendimento telefónico, o apoio de transportes a pedido da Direcção de Transportes, o estacio-namento, os registos de pessoal, o controlo das provas de aptidão física e do treino específico, o

alojamento e os vestiários, o apoio à realização de actos eleitorais, os serviços de lavandaria e de barbearia e o bem-estar.

Exorto-vos pois a persistirem naquele que podia ser o nosso lema – APOIAR PARA QUE OUTROS POSSAM CUMPRIR”

Na sua alocução o Comandante empossado, CMG Ferreira Seuanes, agradeceu a confiança nele depositada para o exercício do cargo, afir-mou a sua lealdade, dedicação e empenho para ao seu nível dar conti-nuidade ao trabalho que vem sendo desenvolvido na UAICM.

A encerrar tomou a palavra o VALM Teles Palhinha que, no essen-cial do seu discurso, destacou a importância da UAICM.

COMANDANTE DA UNIDADE DE APOIO ÀS INSTALAÇÕES CENTRAIS DE MARINHA

O CMG Fernando Jorge Ferreira Seuanes é natural de Moçambique, entrou para a Marinha em 1980, tendo sido promovido a guarda-marinha em OUT 85.

Fez parte das guarnições das corvetas “Augusto Castilho”, “Pereira D’Eça” e “Afonso Cerqueira”. Especializou-se primeiro em Artilharia Naval e posterior-mente em Piloto de helicóptero Naval. Como piloto de Helicópteros comandou destacamentos embarcados nas fragatas “Vasco da Gama” e “Corte-Real”.

Após um período em terra onde desempenhou as funções de 2º Comandante da Esquadrilha de Helicópteros, comandou a corveta “João Coutinho”.

Posteriormente desempenhou funções de assessor militar nos gabinetes do CINCSOUTHLANT e do CEMGFA. Finalmente prestou serviço no MCC NORTHWOOD em Inglaterra.

Da sua folha de serviços constam vários louvores e condecorações.

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Cientes da história mais recente, fomos, acompanhados pelo seu co-mandante, mais do que conhecê-los, darmo-nos a conhecer porque volta-ríamos, não para deles falarmos mas para nos inteirarmos da for-mação que estavam ainda a começar e tentar perceber como sentiriam, eles pró-prios, essa desejada experi-ência, já que todos são volun-tários, mas que hoje, de tão desconhecida, é certamente um mergulho mais ousado que noutros tempos.

Constituem a 5.ª companhia do Batalhão de Instrução da Escola de Fuzileiros, o Gru-

po «Charlie», e repartem-se por três turmas de jovens entre os 17 e os 24 anos, a idade limite de admissão para Praça da Armada, e, tratando--se, pontualmente, de uma recruta exclusivamente destinada aos Fu-zileiros e por força dos mínimos de condição física que se têm como imperativos, todos são rapazes.

Ao contrário do que supunha-mos, desde Macedo de Cavaleiros a Faro, de Cascais a Elvas, mesmo dos Açores e da Madeira, houve nesta incorporação, uma boa re-presentatividade de todo o país em-bora os dos arredores, de Alcochete à Caparica, estivessem também representa-dos. Mais; integra ainda jovens portugueses de origem africana.

Todos de meios urbanos, a sua média de estudos dobra a dos seus antecessores mais antigos, o que dá desde já uma ideia da evo-lução dos tempos embora revelando, por ve-

zes, as carências da nossa instrução públi-ca na parte académica mas, curiosamente, sobretudo na preparação física, por escassa ou por inadequadamente auto-orientada. Limitações de que uns recuperam e ou-tros… não.

Assinado um contrato por dois anos, po-dem desistir em qualquer momento, sem terem de pagar qualquer indemnização à Armada, durante os vinte e cinco dias úteis que durará o Curso de Formação Básica para Praças (CFBP) da Armada.

Foi assim que, dos 83 iniciais, cerca de

28% haviam já desistido, logo nesse pri-meiro fim de semana. Numa perfeita defini-ção; “Por tudo e por nada!” ou seja porque tinham de fazer a cama, ou de varrer o alo-jamento, ou, insuportável (!), privarem-se do… telemóvel.

E não se pense que só nesta Es-cola… sem sequer se terem aven-turado numa realidade diferente da que, em casa, viveram.

Na penúltima semana, entretan-to mais uma ou outra desistência, acompanhados pelo seu coman-dante de Companhia, fomos en-contrá-los mais desenvoltos à or-dem de sentido, quando entrámos na sala de aula.

Depois duma palestra, ministra-da nessa manhã por uma médica da UTITA (Unidade de Tratamento Intensivo de Toxicodependência e Alcoolismo), sobre os perigos da Toxicodependência e os testes aleatórios a que os membros do Serviço Activo, voluntária ou com-pulsivamente, se têm de submeter e em que só se admite uma única recaída, numa das turmas, um de-les assinalou-nos, do que registara, a dificuldade do processo de des-continuação.

Aí, começámos por seguir a pri-meira hora de uma aula de Pri-meiros Socorros, apoiada, como em todas as salas, por um cuidado Power Point, onde a Alimentação, a Hidratação e a Higiene Pessoal foram temas centrais numa pers-pectiva geral mas sobretudo para

combate, nomeadamente a selecção do tipo de alimentos da própria Ração de Combate, adequada, por sua vez, a cada missão e que apesar de muito melhorada continua, vox populi,… intragável.

Assim, durante a marcha de aproxima-ção um tipo de alimentos e exactamente

Um dia com…Um dia com…O Curso de Formação Básica de Praças da Armada

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antes do assalto, outro (açucares), … des-de a gestão, a prevenir a desidratação, da pouca água do cantil ou da que encontra-rem, à adaptação das botas aos pés e nun-ca o contrário (enchendo-as de alcoól até que fiquem confortáveis), entre muitas ou-tras indicações úteis (v.g. como cortar as unhas dos pés…) que nos apanharam de surpresa.

Por razões fáceis de entender, o Forma-dor ia alertando um ou outro mais ensonado mas vi-os, por iniciativa própria, levantarem-se e seguirem a aula de pé, ao fundo da sala como fazia, há tantos anos, um cadete da Escola Naval que seria o me-lhor aluno do seu curso de Fuzi-leiro Especial.

No intervalo, descontraídos, vol-tam a ser comuns rapazes mas o sentido de responsabilidade, pes-soal e colectiva, já está presente pois um deles dará o alerta para o início do segundo tempo daque-la disciplina. Para que ninguém se atrase…

Já a marchar, vamos encontrar, na parada, outra turma em exercí-cios de infantaria. Agora, os reparos do instrutor vão já rareando pois, às ordens de comando, a coordena-ção de movimentos vai sendo cum-prida, seja no manejo de arma, no alinhamento ao rodar ou no unísso-no batimento na sua execução. O passo de corrida (uma batida com o pé esquerdo a cada quatro pas-sos) em que sempre se deslocam na unidade traduz a dureza do curso e a flagrante mudança de vida.

É que o Juramento de Bandeira se aproxima e ninguém já quer, por si, falhar, nem que que o seu pelo-tão faça má figura. É o despontar do Espírito de Corpo que sauda-velmente conduzirá à Coesão do Grupo, como lhes foi recordado junto do Memorial onde figuram os nomes de todos os camaradas caídos em combate, alguns para não deixarem para trás um cama-rada já… cadáver.

A sair da caserna, já de branco equipados para a ginástica, come-ça a formar a terceira turma. Para trás ficam as camaratas arrumadas mas o plantão terá de identificar quem se esqueceu de um par de sapatilhas no balneário… que ali cada um responde por si ou to-dos por um.

A turma segue pela mata envolvente em passo de corrida… Embora alguns pare-çam atléticos, assinalam-nos que exercícios mal conduzidos em Ginásios particulares, por vezes suportados por Suplementos Ali-mentares, não traduzem equilibrada força mas apenas mais impressivas massas mus-culares.

Na piscina, neste entretanto, já se encon-tra a primeira turma, calções azuis e touca branca. Um ou outro com maior dificuldade, sob o olhar do instrutor e atentos às suas in-dicações vão corrigindo movimentos, acer-tando a respiração, etc.

A manhã termina com o almoço que à quinta feira segue a tradição do Dia de Joa-netes1. Chegam formados ao refeitório onde, no self-service, vão encontrar elementos da

turma de apoio à cozinha que, como o plan-tão à Caserna, se vão assim integrando nas tarefas diárias duma unidade naval. Uma ala do refeitório está-lhes reservada e as re-feições são mais um momento de convívio entre moços que ainda há pouco se desco-nheciam.

Como o curso corre acelerado é já tempo de exames. Esta tarde começou-se pelo de

Armamento Portátil. Os pontos de resposta múltipla, o preto e o vermelho, são respon-didos em folha à parte. O silêncio é absoluto mas em certas cabeças o ruído … ouve-se. «Como se define uma granada defensiva? a), b) ou c)»… que só uma resposta está inequi-vocamente certa.

Havendo recrutas com o 12º ano a média orça pelo nono, no entanto alguns denotam reais dificuldades de interpretação, quer das

perguntas, quer das respostas. São, contudo, conduzidos a um correc-to entendimento sem quebra do ri-gor posto no exame.

Nos intervalos das aulas teóri-cas podem frequentar, num espa-ço a eles reservado, a Cantina/Bar que nos das aulas práticas, antes e depois, as deslocações não dão descanço. A pontualidade não é senão… pontual!

O fim do dia aproxima-se e o jantar acontece. Uma sopa, um prato bem servido de, nessa noite, uma jardineira abundante em car-ne e legumes, uma peça de fruta, pão e água e/ou sumo. Na mesa, a conversa, rondou pela curiosi-dade... a nossa ácerca das suas vivências e da parte deles sobre a insólita presença dum estranho à… paisana.

Rápido que o dia não acabou… É que o tempo reservado ao es-tudo segue-se e amanhã há mais exames. O de Organização e Re-gulamentos.

Nas três salas o silêncio, con-centrados no actual «Livro do Gru-mete», é a regra… mas também a intervenção dos instrutores que ao tirarem dúvidas lançam perguntas a um ou outro aluno, ou à sala; «O que significa a sigla no quadro?» ou «Diz lá, por ordem decrescente os postos da Armada?». Numa delas a revisão da matéria foi conduzi-da com o apoio do Power Point. Atentos vão memorizando as res-postas… e assim também melhor se integrando numa estrutura que tem por coluna vertebral, a Disci-plina Militar.

«A disciplina militar, conforme dispunha o artigo 1.º do Regula-mento Disciplinar de 2 de Maio de 1913, «é o laço moral que liga entre si os diversos graus da hierar-quia militar; nasce da dedicação pelo dever e consiste na estrita e

pontual observância das leis e regulamen-tos militares».

Segundo o mesmo Regulamento, ela ob-tém-se «pela convicção da missão a cumprir e mantém-se pelo prestígio que nasce dos princípios de justiça empregados, do respei-to pelos direitos de todos, do cumprimento exacto dos deveres, do saber, da correcção de proceder e da estima recíproca».

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São estes, ainda hoje, os princípios funda-mentais em que assenta a disciplina militar, condição indispensável para o cumprimento da missão histórica e nacional cometida às forças armadas e sem a qual não seria, nem será, possível a sobrevivência destas, seja em que quadrante for…»

«Porque fazem a continência?» «É um cumprimento…», respondeu um. Lembrá-mo-nos de termos lido a diferença entre um cumprimento militar e um cumprimento ci-vil. Estes seguram a mão que o mais impor-tante oferece mas com a mútua e simultânea certeza de que, assim, o outro não puxará do seu… punhal2.

No militar, o mais jovem identificava-se mostrando o rosto ao levantar a viseira do seu elmo a que o mais velho, identicamen-te, correspondia dando a cara, olhando-se olhos nos olhos, pela verdade (onde a men-tira3 não cabe) em que se fundamentam as recíprocas lealda-des, do almirante ao grumete, do soldado ao general, posto a posto, nos dois sen-tidos da cadeia de Comando. Por isso a tradição impõe que só com a cabeça co-berta4…

O arriar da Ban-deira ao exacto pôr do sol paralisa, du-rante solenes minu-tos, com assumido respeito a vida da unidade. Os motoris-tas param os carros, saem, perfilam-se e, se fardados, fazem a continência. Aqui como em qualquer outra unidade em que país fôr5!

Acabado o estudo começa-se por arrumar os livros, depois, em cima das mesas, as ca-deiras e antes de se passar a lambaz6, var-rem, segundo uma escala, a sala que no dia seguinte voltarão a usar.

Numa última formatura é feita uma revi-são dos acontecimentos do dia e reconhe-cidas as falhas cometidas paga-se um pesa-do tributo que reporá, na gíria da Escola, o planeta na sua órbita. Em nome da corres-ponsabilização dentro da equipa em que o grupo, dia a dia, se vai convertendo numa unidade de combate.

Depois de destroçarem, seguem em cor-reria a recolher uma merecida ceia, uma sanduíche, um pacote de leite e uma peça de fruta, que os ajudará a recuperar de um só sono, o esforço de mais um dia para um dia menos.

O recolher às 2230 e o silêncio meia hora depois.

De noite um plantão, rendido de duas em duas horas, estará, porém, zelando para que todos tenham o seu merecido repouso até que, às 0630, o toque de alvorada ecoe. A responsabilidade vencendo o mais natural

e legítimo sono do quarto nosso de cada… noite. O pior o da modorra7.

O dia, feita a higiene matinal, começa com uma corrida e enquanto uma turma vai dar apoio às cozinhas, as outras, impecáveis nos seus brancos equipamentos de ginástica, formam antes de arrancarem, às ordens, na circunstância, do seu comandante de grupo que, com outra preparação, teve de fazer, du-rante o percurso, uma pausa para recuperar alguns dos seus iniciados alunos.

Claro que a componente ginástica com-pleta esta corrida, siga ela pela mata ou se fique pela parada da unidade.

Regressados, banhados e tomado o pe-queno almoço (Café com leite e pão com manteiga, queijo ou fiambre ou… e em dias de exercícios prolongados, com mais um reforço) depois de às 0800, numa singela cerimónia que ecoa por toda a unidade mas envolvendo apenas o pessoal de Serviço, se

proceder ao solene içar da Bandeira, todo o Batalhão de Instrução tem, na parada, a sua formatura geral para revista e para marcar o início das actividades escolares do dia com um desfile perante o Oficial de Dia.

Um dos pelotões/turma (o que não fez a corrida matinal), agora equipado para ginás-tica, já sabemos qual o seu destino nesse dia; apoio aos Serviços Gerais da Escola.

Os outros envergam o seu habitual uni-forme de serviço, verde (calça com bolsos externos e camisa também com bolsos ex-ternos no peito, designado por fato de exer-cício), completa-se com o cinturão, o boné e as botas de lona.

Os seus formadores, assinalamos, osten-tam no camuflado, no ombro direito a pa-lavra ARMADA8, do seu ancestral Terço9, a mais antiga Força Militar Regular em Portu-gal, de que o Ramo Militar-Naval das nos-sas Forças Armadas retirou o seu nome e a sua antiguidade!

Estes seguem para as salas de aulas onde, pontualmente, os instrutores retomam as ma-térias, fazendo sempre revisões.

No Ginásio assistimos, mais tarde, a uma aula que desta vez foi de alongamentos, mas de alongamentos com ajuda. Assim, aos pa-

res, de estaturas aproximadas, depois de in-dustriados pelo instrutor ácerca dos porme-nores da sessão e do seu objectivo, sobre os colchões, após uma demonstração, iniciam os diversos exercícios, revezando-se os pa-res no fim de cada um deles.

Cá fora três recrutas, com as toalhas de ba-nho na mão, aguardavam, formados, o fim da aula. À nossa pergunta responderam que «dispensados!» e ao nosso «Porquê?» um, por causa de uma dor no joelho esquerdo, outro, uma dor na anca esquerda e o tercei-ro, um joelho esquerdo que o direito já esta-va… bom. Sabiam que o médico da unidade iria vê-los ainda nesse dia.

Finda a Ginástica, recuperadas as toalhas (que envolviam os fatos de banho azul escu-ro, percebemo-lo agora!) deixadas no muro em frente do Ginásio seguiram para a Pis-cina coberta pois o objectivo daquela aula era deixá-los na melhor forma para vence-

rem, sem sobressal-tos, as provas finais (e eliminatórias) de natação.

Cumpridas as pis-cinas (crawll - não conta o tempo mas sim a técnica) e exi-bida uma manilha recolhida no fun-do da piscina era o momento de en-vergarem, por cima do fato de banho, o macaco verde com que teriam de cum-prir duas piscinas em qualquer estilo embora o de bruços ser a técnica mais

utilizada. Mais à frente, já no curso para fu-zileiros, terão de o fazer, na piscina, equipa-dos e empunhando uma arma (4,5 kg) sem a… molharem!

Nessa altura também os espera uma pro-va de travessia do rio Coina, mas sem a… arma.

Após o almoço, o exame final de Orga-nização e Regulamentos, envolveu todos e cada um, até ao fundo dos seus conhe-cimentos.

Note-se que as reprovações são assumi-das sem tergiversações, mas aos mancebos que tenham demonstrado inequívocas ap-tidões, e só a esses, é-lhes concedido, se o requerem, a possibilidade de repetirem o curso.

Nessa tarde, enquanto uns (os do pelotão de serviço) se ocupavam de limpezas gerais, outra turma, alinhada à porta da Escotaria preparava-se para levantar a espingarda (a clássica G3) com que teriam mais uma aula de infantaria. Rapidamente reconstituído o pelotão, seguiram, em formatura, para a mata onde decorreu, às vozes de comando, a ins-trução de manejo de arma.

Porque é um dia especial, as camaratas, seis beliches e doze armários individuais

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(para que se saiba, sujeitos a revista ale-atória!) como sempre irrepreensivelmente arrumadas e limpas, daqui a pouco serão revolvidas antes de regressarem ao seu es-tado habitual.

É que amanhã é feriado e portanto são horas de se prepararem para sair e isso sig-nifica descançar de tanto trabalho, de tanta disciplina, de tanto tudo e de se entregarem aos pequenos nadas, a que nunca tinham dado valor, ou mesmo deixarem-se “estra-gar” com os, eternamente recordados, mi-mos caseiros (por vezes tão longe10), sobre-tudo os maternos11.

Vimo-los chegar, depois de, no gabinete do Sargento Formador de Serviço ao Bata-lhão de Instrução, um a um ou um por al-guns, trocarem, pelas Credenciais de Identi-dade, as chapas azuis que traziam ao ombro, penduradas na platina esquerda, mais sisu-dos do que esperávamos, de branco, impe-cavelmente uniformizados, e empuhando os sacos azuis onde levarão o suor duma semana e trarão, entre o cheiro a alfazema, os possíveis pequenos tudo que suavizarão os momentos mais difíceis.

Dentro de dias, vencidos desafios que nunca terão pensado ser sequer capazes de aceitar e ainda menos de enfrentar, para sua auto-estima e orgulho da família e amigos, jurarão, peito feito, Bandeira, ritual que a to-dos nos comoverá…

A assunção de Pertença a uma comunida-de cimentada por uma Língua, culturalmen-te secular, que excede as nossas fronteiras, que estabelece identidades históricas com Portugueses fora delas e com os seus Luso--descendentes e ainda as doutros Povos que a adoptaram como sua, um Sentimento que, hoje, muitos Portugueses nunca conhecerão embora lhes (ou se) digam serem Europeus numa Europa de que na verdade mal conhe-cem o… mapa.

Na mesma formatura de Licenças, um pe-lotão dos que agora orgulhosa e ainda mais tenazmente lutam pela honra de receberem a bóina de Fuzileiro, é-lhes concedido o

privilégio de, estranha contradição, saírem à… paisana.

Não dando imagem de si, dos valores que vão descobrindo, não emprestam a sua imagem à Armada que os acolhe, nem permitem que ela lhes devolva, com outra força, a imagem que se fica a dever ao seu carácter, à sua competência, ao seu profis-sionalismo e ao seu brio de marinheiros--militares, num processo degenerativo de crescente auto-apagamento mútuo. Volun-tariamente, claro!

Não foi assim, para gerações e gerações de praças, sargentos e oficiais, a saudosa Esco-la que, dos anos vinte até 1993, os acolhe-ra em Vila Franca de Xira, aí voluntários ou obrigados pelo Dever de Servir a Pátria, que os introduzia (a outra porta é a Escola Naval) nesta vida de marinheiros, onde o brio de cada um se exponenciava na Briosa.

Recordo, comandando um pelotão, na-quele sempre memorável dia em que se as-sume um compromisso que nos transcende - o de jurar defender a Bandeira sob a qual somos o que mais ninguém pode ser – que, terminada a cerimónia, me virei para eles, quase todos da minha idade, e lhes desejei as maiores felicidades, melhor que no seu garboso porte, foi nos seus olhos que tam-bém o li. Só por isso essa fugaz partilha se não apagou da nossa memória.

É como a recordam, para além do Servi-ço Militar, no que era e, afinal, continua a ser um rito de passagem à vida adulta, nas fotografias de grupo, com as famílias, os amigos e os ”filhos da Escola”, sob o arco da entrada da «ESCOLA DE ALUNOS MA-RINHEIROS» de que se despediam.

Àquela efémera e incaracterística compa-nhia da Escola de Fuzileiros, CFBP, Grupo «Charlie» ou o que seja, àquela caserna, àquelas camaratas, àquela ala das aulas, apesar da excelência de tudo e sem nada de fundamental alterar, falta no entanto o ser uma individualizada «Escola dos Alu-nos Marinheiros» da Armada, com guião e bandeira próprios (nem que seja por um dia,

nesse Dia!), mas que lhe empreste um ca-risma que aglutine todas as classes e perdu-re, enquanto tal, tanto nas memórias como nos corações de muitos que por lá vierem a passar, mesmo que só como responsáveis, como vive em tantos testemunhos que, de cabelos grisalhos, nos chegam…

Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves1TEN

Notas1 Era Dia de Revista, servia-se arroz doce e nas câ-

maras de oficiais, vinho do Porto. Actualmente é tam-bém conhecido por dia dos “três Bs”, Batata (frita), Bife e Bolo ou, ainda, por “Dia do Grumete”!

2 A circulação dos peões, na idade média era pela esquerda, encostados à parede já que se empunha a espada com a mão direita. Daí a circulação ser ainda pela esquerda no Reino Unido e outros.

3 Ainda na rica Gíria Naval – Património Imaterial – duma mentira evidente, só tolerável num jovem, di-zia-se, com despreso mas talvez injustamente, que era uma “mentira de grumete”!....

4 A maioria dos países do Velho Mundo cumpre essa tradição.

5 Em França os militares, se fardados, conduzem os seus carros pessoais com o boné posto!

6 O secular lambaz usado nos navios só apareceu na vida doméstica nos finais dos anos sessenta sob o prosaico nome de… esfregona.

7 Das 00.00 às 04.00.8 Na Península Ibérica prevalece a designação AR-

MADA para o conjunto dos navios da Marinha de Guerra, suas Unidades, Serviços e todo o pessoal, mi-litar, militarizado e civil que nela serve. Com a mes-ma raíz, ARMY e ARMÉE, são em Inglês e Francês o Exército que em Castelhano é o Ejercito. Marinha é o conjunto de todos os navios e embarcações dum Es-tado. A Armada o seu Braço armado.

9 Terço da Armada da Coroa de Portugal, a mais an-tiga Força Militar constituída com carácter permanen-te em Portugal, data de 1621 embora a existência de Fuzileiros remonte a 1585 quando se estabeleceram núcleos de adestramento das guarnições das naus da Índia para o manejo da artilharia e da fuzilaria. O ac-tual Corpo de Fuzileiros tem nele a sua fundação sen-do, assim, os Fuzileiros os seus legítimos herdeiros, em Portugal e no Brasil.

10 Os “asilantes” de fim de semana eram mais co-muns quando de Lisboa a Bragança se levava dois dias! E o pré mais… magro.

11 Em acidentes aéreos fatais tem-se verificado, nos EUA, que o último grito registado, independentemente da idade, é invariavelmnte ”mummy!”; “mãezinha!” ou “mamã!”

24 DEZEMBRo 2009 • Revista da aRmada

VIGIA DA HISTÓRIA 16

Pesca do Bacalhau

Quando se aborda o tema da pesca do bacalhau, levada a cabo pelos portugueses na Terra Nova, é habitual encon-trar-se a referência de que terá tido início imediatamente

após as viagens dos irmãos Corte Real, o que pode caracterizar um período relativamente dilatado para o acontecimento.

Estou em crer que é possível situar o início de tal actividade nos primeiros anos do séc. XVI e isto porque já em 1506, D. Manuel estabelecia a cobrança do dízimo da pesca do bacalhau.

Quanto ao limite anterior, a sentença, proferida em Julho de 1540, contra o Duque de Bragança vem permitir, sem margem para dúvidas, estabelecer a data, a partir da qual teria tido iní-cio a actividade.

Em Agosto de 1499 o Rei, em satisfação dos direitos das judia-rias e mourarias que o Duque de Bragança detinha, concedeu-

-lhe o direito a cobrar as dízimas nova e velha do pescado na ci-dade de Lisboa.

Alguns anos depois, na sequência do litígio entre a Coroa e o Duque quanto ao direito a cobrar a dízima da pesca do bacalhau, foi proferida sentença a favor da Coroa com o fundamento de que, à data da concessão, Agosto de 1499, ainda não era achada a Terra Nova e a pescaria dos bacalhaus.

A inexistência de contestação da sentença por parte do Duque de Bragança, num assunto que envolvia largos proventos, cons-titui, a meu ver, prova da veracidade do que nela se afirma.

Com. E. GomesFonte: T. Tombo Gaveta X-10-12

Pesca do Bacalhau

Revista da aRmada • DEZEMBRo 2009 25

50º Aniversário do Curso D. João I50º Aniversário do Curso D. João I

Tudo começou em 1959, quando ain-da jovens, oriundos das mais diversas partes do solo nacional, concorremos

à Escola Naval (EN), onde nos apresentá-mos, sem vacilação, com ideias firmes e de-terminados a encetar essa carreira que cada um escolhera.

Volvidos 50 anos regressámos ao pon-to de partida, mas agora com sentimentos diferentes, onde um misto de nostalgia e saudade combinava com a noção do dever cumprido.

As comemorações foram assinaladas por duas ocasiões, ambas com significado próprio.

A primeira delas foi determi-nante para o curso “D. João I”, pela convicção íntima dos seus membros de se proceder a um acto de alto significado como foi a “Romagem ao Túmulo e Home-nagem a El-Rei D. João I”, nosso patrono.

A segunda não fugiu ao padrão de outros cursos e constou:

- dos Cumprimentos ao Chefe do Estado Maior da Armada;

- da Memória e Acção de Graças realizada na Capela do Alfeite;

- da Confraternização na EN; - do Jantar com as famílias no

Farol da Guia.No dia 1 de Outubro, uma re-

presentação do curso “D. João I”, apresentou cumprimentos ao ALM Melo Gomes. Na oportu-nidade para além dos agradeci-mentos pelos apoios concedidos, foram oferecidos um exemplar do “Livro do Curso” e uma “Me-dalha Comemorativa”. Foi tam-bém afirmado que haveria dis-ponibilidade e abertura por parte dos membros do curso, para con-tinuarem a dar o seu apoio à Ins-tituição e contribuirem com o seu conhecimento e experiência para o engrandecimento e bom nome da Marinha.

No dia seguinte, ocorreram, as cerimónias desse memorável e incontornável dia de re-cordações, sentimentos e unidade.

Tudo começou junto à Capela onde foi es-tabelecido o ponto de concentração daqueles que se dispuzeram e puderam estar presen-tes. Vimos naqueles que não se reviam há muito tempo, a alegria e a satisfação estam-pada nos seus rostos emocionados pelo en-contro, enquanto que os outros na paz dos seus sentimentos ferviam na excitação do que estava para acontecer. Na igreja o ritual da Missa foi valorizado pela evocação dos ca-maradas falecidos – Ricardo Gonçalves, Go-mes Ramos, Dias Souto, Teixeira Pinto, Faus-to Monteiro, João Silva Dias, Guerra da Mata, Melo Cunha, Pericão de Almeida e Guerreiro

Pereira. Momento de respeito e de honra aos que não queriamos esquecer perante uma as-sistência que irradiava um misto de alegria e tristeza. Foi um momento alto desse dia pelas palavras que foram ditas.

Terminado o acto evocativo seguiram todos para a EN, onde as cerimónias assumiram um carácter bastante diferente. Cumprimentos formais ao Comandante da Escola-Mãe de todos nós. O evento foi engrandecido com a oferta ao CALM Luís Fragoso de um exem-plar do “Livro” e da “Medalha” do “DJ”. Sob o seu olhar de satisfação assinámos o “Livro de Honra”.

Do silêncio e introspecção observados ins-tantes antes passou-se para o bulício e irre-verência dos encontros pessoais, suportados pelas trocas de experiências vividas e/ou re-miniscências do passado. Foi uma transfigu-ração dos presentes.

Seguiram-se a Fotografia de Grupo e o des-cerrar da Placa, dois momentos a perpetuar a nossa passagem na EN. Os falecidos mais uma vez foram evocados, como queridos fa-miliares deixados no silêncio dos tempos, mas ligados aos vivos pelos elos da eternididade, materializados na Placa, como reafirmando que a “Agora a vigília é nossa”.

Depois foi a visita ao Museu da EN, onde se encontravam preservados e estimados os valores da história da Escola. Ainda vi-sitámos a Sala da Reserva Naval, onde ti-

vemos acesso aos registos da nossa passa-gem pela EN.

O tempo parecia escoar-se e minutos de-pois estavamos frente à parada com os ca-detes formados. Tinhamos assumido a atitu-de formal e militar que o momento exigia e com a curiosidade de ouvirmos as palavras do nosso Chefe de Curso dirigidas a esses jo-vens perfilados, que nos fizeram recordar o tempo passado. Na sua dissertação afirmou em certa altura:

“... Adquirimos aqui os pilares da nossa sabedo-ria: Cultura naval e a sua matriz de principios, va-lores e atitudes, competência técnica, espírito de cor-

po, capacidade de liderança e atitude de abertura aos outros e ao mundo.”

Pelo seu significado transcreve-mos as palavras do nosso Cte. de Companhia, o CTEN Saturnino Monteiro, retiradas para o mo-mento do nosso Livro de Curso:

“O vosso curso fez parte da gera-ção dos que saíram directamente da Escola Naval para a Guerra.

Foi uma passagem abrupta da “Instrução Primária” para o “dou-toramento”, prova essa que todos vós haveis ultrapassado com distinção, sobretudo porque se tratava duma guerra para a qual não vos havia sido fornecida qualquer preparação específica, uma guerra estranha, com objectivos mal definidos e em que não se sabia bem quem era o inimigo nem onde estava.”

Seguiu-se o desfile garboso dos cadetes (incluindo rapari-gas, que no nosso tempo não existiam). Dirigimo-nos a seguir para a Sala Macau, onde nos foi oferecido um “Porto de Honra”, antecipando o almoço, na Cama-rinha do Comandante, no edifí-cio do refeitório. Tudo gentileza e amabilidade do Cte. da EN, que nos acompanhou, durante toda a visita.

Foi mais um momento de convívio dos 35 ex-cadetes presentes, dos 5 ex-professores e do Manuel Melo Cunha, membro honorário do curso. Aos seis foram oferecidos “Livros do Curso”.

As celebrações continuaram, com um jan-tar no Farol da Guia num contexto mais ín-timo, com a presença das mulheres e outros familiares próximos. Houve mais brindes e discursos louvando todos pelo seu espírito colaborante e participativo, certamente dan-do o adequado enfoco aos que mais envolvi-mento tiveram na organização da efeméride assim como às suas mulheres que sacrifica-ram o seu bem-estar e sossego.

Foi um dia bem vivido e aproveitado por todos com a triste mágoa de ter sido fugaz.

(Colaboração do CURSO D. JOÃO I)

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26 DEZEMBRo 2009 • Revista da aRmada

AssAlto no mAr

Às 10H30 em ponto o Director do 2º Cur-so de Aperfeiçoamento em Operações Especiais de Marinha (CAOEMAR) fez

sinal que a abordagem à embarcação suspeita ia começar, informando a R.A. que iria ter cinco minutos para registar as imagens. De repente vindos do nada um helicóptero Linx e uma em-barcação semi-rígida desembarcam 11 milita-res, utilizando as técnicas de «fast rope» e abordagem pelo costado. Seguiu-se uma rápida revista ao interior no maior silên-cio, apenas entrecortado por pequenos sussurros dos invasores quando falavam pelos rádios individuais. Ao fim de quatro minutos a embarcação estava tomada e controlada.

Tratava-se de um Visit, Board, Search and Seizure (VBSS) – abordagem, busca e controlo –, num cenário fictício, a uma embarcação que transportava uma célula terrorista. A sua neutralização e controlo foram efectuados pelos 11 alunos finalistas do 2º CAOEMAR, com o apoio da Esqua-drilha de Helicópteros e da Unidade de Meios de Desembarque (UMD).

Durante este artigo – dada a natureza classificada de todos os elementos envol-vidos, formandos e formadores – irão ser omitidos nomes de militares e locais en-volvidos durante o Curso.

CArtA A GArCiAResolveu a Marinha criar um curso que

fornecesse os conhecimentos e compe-tências necessárias ao desempenho de missões de operações especiais, criando então em 2007 o CAOEMAR. Assim, em Dezembro de 2007 e 2008, 50 e 44 can-didatos respectivamente, efectuaram du-rante seis dias as Provas de Avaliação Mi-litar Específica (PAME), com o objectivo da avaliação em quatro áreas essenciais: meio aquático, tiro, topografia e condição física geral, tendo sido aprovados 25 mi-litares em 2007 e 24 militares em 2008. Requisitos para os candidatos: Curso de Fuzileiro, CAEDMA (Curso de Aperfeiço-amento em Explosivos, Demolições, Mi-nas e Armadilhas), aptidão nos exames médi-cos de acesso ao curso e conclusão da PAME com aproveitamento.

Os dois cursos iniciaram-se em Março de 2008 e 2009 respectivamente com um signi-ficativo evento – a Carta a Garcia. Alunos per-filados à noite dentro de água recebem uma missão, simbolicamente identificada com a entrega da espingarda automática G3 de co-ronha retráctil por militares do Destacamento de Acções Especiais (DAE). No final do curso é efectuada uma cerimónia idêntica simboli-zando o cumprimento dessa missão. Passam a partir desse momento a fazer parte da família das Operações Especiais de Marinha.

O CAOEMAR tem a duração de 18 sema-nas e divide-se em três fases: Técnica (7 se-manas), Combate (3 semanas) e Táctica (8 se-manas). A fase Técnica abrange métodos de infiltração em terra e no mar, condução de viaturas e embarcações, utilização de meios aéreos, montanhismo e comunicações. A fase de Combate incluiu disciplinas como o tiro de combate, sobrevivência e infantaria de combate. A fase Táctica visa a aplicação

conjunta dos conceitos anteriores, incluindo o pla neamento de operações especiais, que engloba um conjunto de exercícios inspirados em cinco áreas: Acção Directa – vulgo golpe de mão e emboscada –, Reconhecimento Es-pecial – reconhecimento por detrás das linhas inimigas, VBSS – que já vimos anteriormen-te –, Close Quarters Battle (CBQ) – combate a curta distância – e Survival, Evasion, Resis-tance and Escape (SERE) – evasão em territó-

rio IN sujeito a prisão, interrogatório e sobrevivência.

operAção DiAmAnteNo inicio do curso os alunos são su-

jeitos a uma prova de resistência e endu-recimento, onde é avaliado o espírito de sacrifício, servindo ainda para despistar os indecisos e os menos aptos – Opera-ção Diamante. Foram 5 dias em que fo-ram postas à prova a privação do sono, a fome, o descanso, e onde o carácter e a personalidade vêm ao de cima. Dentro das muitas provas a que os alunos foram sujeitos, descrevemos uma que consistiu numa sessão nocturna – instruendos per-filados em sentido – de leitura completa de um conhecido livro da arte da guerra, em que sucessivamente cada aluno lia o seu capítulo…

O resultado desta fase, no caso do 2º Curso, 6 baixas cujos capacetes entre-gues em formatura passaram a ornamen-tar o escaparate da parada onde os alunos formavam diariamente, podendo-se lá ler uma frase da «Mensagem» de Fernando Pessoa: «Cumpri contra o destino o meu dever? Não, porque cumpri». Até ao fim das 18 semanas reprovaram mais cinco elementos. Durante o curso os alunos, que são avaliados constantemente, são ainda sujeitos a quatro «Screening Test» - con-junto de nove provas físicas com carácter eliminatório.

Não se pense que um curso desta natu-reza só abrange disciplinas do âmbito da aplicação militar e de combate. De acor-do com a sua filosofia, um militar de ope-rações especiais tem que dominar uma série de disciplinas, o que lhe permite ter

uma visão mais ampla do mundo que o rodeia e o projecta como um combatente polivalente e adaptado às tecnologias da guerra moderna. Assim, logo no início da formação, surgiram matérias como motricidade humana, fisiolo-gia e nutrição, de modo a capacitar os alunos com noções que possibilitem compreender os mecanismos do esforço humano e até ministrar sessões de educação física.

Fins-De-semAnA prAtiCAmente não existirAm

Este Curso mostrou várias novidades em termos do relacionamento entre formandos e formadores: A cada conjunto de alunos é desi-

Curso de Operações Especiais da MarinhaCurso de Operações Especiais da Marinha

O salto para o desconhecido e a segurança

O cenário: algures perto do mar, aos alunos eram vendados os olhos e amarradas as mãos atrás das costas. Estes desconheciam o local onde se encon-travam e o que iam fazer. Eram então conduzidos in-dividualmente por um instrutor até à beira da água. Depois de alguma conversa de circunstância eram empurrados sem qualquer aviso para o desconhe-cido indo aterrar na água de uma altura de 5 mt. Todos se portaram à altura regressando rapidamen-te à tona e ficando a flutuar numa situação estável. Mas mais uma vez a R.A. pode constatar uma das filosofias deste curso: a máxima segurança. Assim na água, para receber os «saltadores», estava um bote de apoio para além de dois instrutores, um com máscara e «snorkel» e outro com garrafas.

Revista da aRmada • DEZEMBRo 2009 27

gnado um tutor de entre os formadores para assim permitir um melhor acompanhamen-to e avaliação do aluno, e este ter alguém a quem apresentar os seus problemas. Am-bos coabitavam no mesmo edifício, onde pernoitavam, tinham o seu material indivi-dual, faziam algumas refeições e eram mi-nistrados determinados módulos de forma-ção teórica. Outra característica inovadora prendia-se com o acompanhamento quase personalizado dos alunos nos exercícios de campo e instrução na generalidade, sendo os instruendos acompanhados por igual ou superior número de instrutores. O director do Curso justificou esta atitude dada a fu-tura responsabilidade destes militares, e a necessidade da compreensão e afinação de pormenores que irão fazer toda a dife-rença num ambiente de uma operação es-pecial. A proximidade tanto quanto possí-vel com a realidade operacional foi outra regra básica da formação daí a utilização, por exemplo, de munições e explosivos reai s em toda a instrução.

Um dos princípios do curso consistia ain-da na permanente falta de informação dos alunos, daquilo que os esperava diariamente, nunca sabendo qual o próximo passo numa total ausência de horários. Inclusive a sua ca-serna exibia permanentemente o grau de pron-tidão: vermelho / 3 minutos; amarelo / 2 horas; verde / 6 horas. Claro está que fins-de-semana praticamente não existiram. Esta prontidão re-

flectia-se quando faziam deslocações, trans-portando sempre o equipamento individual – mochila de 100 lt, capacete e G3 – que até no período das refeições acompanhava os alunos, ficando no exterior do refeitório à sua guarda. O tempo de uma refeição, esse oscilava entre os dois e os 15 minutos.

mAis-vAliA pArA o CombAte Ao nArCotráFiCo, imiGrA-ção ileGAl, terrorismo, e operAções De pAz

O CAOEMAR pode dizer-se que se ins-pirou na componente física dos Navy Seals (Sea, Air and Land Forces) da Marinha dos Estados Unidos, reconhecido como um dos mais duros do mundo no seu género. Grande parte da doutrina da selecção e do curso em si vieram dos SAS (Special Air Service) do Reino Unido, cujos princípios se baseiam no traba-lho de grupo, rapidez, eficiência, furtividade e auto-suficiência. Esta combinação, a par da experiência operacional do Corpo de Fuzilei-ros, faz deste Curso um dos mais exigentes no âmbito das nossas Forças Armadas.

A Marinha passa agora a dispor de um curso na área das operações especiais que – complementado com outros cursos, no-meadamente pára-quedismo e mergulho de combate – irá possibilitar o acesso ao Desta-camento de Acções Especiais (DAE), ao Pelo-tão de Abordagem e ao Pelotão de Reconhe-cimento, unidades já com um longo historial

de sucesso em áreas tão sensíveis como o com-bate ao narcotráfico, controlo da imigração ilegal, terrorismo e operações internacionais de paz.

Abel Melo e SousaCFR REF

Fotos: Direcção do CAOEMAR e CFR Melo e Sousa

28 DEZEMBRo 2009 • Revista da aRmada

Instrumentos na pedraInstrumentos na pedraHá uns anos atrás li, numa revista inglesa 1 um artigo cujo

contexto me pareceu ter interesse para ser divulgado. Não o fiz e, agora, que me dispus a escrevê-lo, constato que esta

minha demora fez com que eu contribuísse, por mero acaso, para a identificação duma peça que, entretanto, fora roubada.

A história que vou contar começa há longos anos e tem como perso-nagem principal um alemão de nome Christian Carl Ludwig Rümker. Nascido no ano de 1788, em Stargard, na Alemanha e, por ser dotado para a matemática, vamo-lo encontrar, em 1808, professor desta dis-ciplina em Hamburg o. Todavia, nesse mesmo ano, ou no seguin-te, decide emigrar para Inglaterra, que considera o único país livre na Europa, tendo em vista alistar-se na Royal Navy.

Consegue o ingresso na Com-panhia das Índias Inglesas, mas, certo dia, numa das ruas perto do Tamisa, trazendo debaixo do bra-ço um sextante que tinha acabado de comprar, é recrutado à força e levado para bordo do H.M.S. Ben-bow, onde ensinou matemática e navegação, actividade que, aliás, também exerceu noutros navios. Durante uma estadia no Mediterrâneo conhece Franz von Zach edi-tor da revista Correspondence Astronomique, que o encoraja e publica o seu primeiro trabalho. Depois, como aconteceu com outros ofi-ciais que deixaram a Marinha Inglesa, Rümker vai para Hamburgo onde veio a ser professor na Escola de Navegação. Ali é desafiado a ir para Parramata, na Austrália, onde ia ser construído um obser-vatório astronómico, o que aceita com entusiasmo, dado que, no he-misfério Sul, só existia um observatório na cidade do Cabo. Depois de muita actividade no campo da astronomia, Rümker acaba por ir ocupar, em 1833, o lugar de director do Observatório Astronómico de Hamburgo.

Entretanto, em 1832, Rümker tem um filho duma sua empregada doméstica, com quem não se casa, mas que perfilha com o nome de George Friedrich Wilhem Rümker, que virá a ser um astrónomo de renome e seu sucessor como director do Observatório de Hambur-go. Em 1848, Rümker casa-se com Mary Ann Crockford, nascida em 1809: uma astrónoma que tem no seu curriculum a descoberta, no ano de 1847, do cometa VI.

Rümker continua a sua actividade mas, em 1857, tem o infortúnio de cair e ficar seriamente injuriado numa perna. Requer a exoneração do cargo de director do Observatório, que não lhe é dada por consideração pelos serviços presta-dos, recebendo antes uma licença ilimitada. Seu filho substitui-o como director interino.

Esperando que um clima ameno possa ser benéfico à saúde, Rümker vem viver para Lis-boa com a mulher, acabando por falecer a 21 de Dezembro de 1862. O seu corpo ficou deposi-tado no Cemitério da Estrela, também chama-do dos Ingleses. Na pedra tumular lê-se uma pequena biografia de Rümker e noutra pedra levantada, tendo em cima um globo terrestre, estão gravados, em baixo relevo, três instru-mentos: um óculo, um sextante e um relógio. Presumimos que seja, no nosso país, um caso único quanto a referências astronómicas em pedras tumulares.

Antes de terminar, gostaria de partilhar com o leitor uma curio-sidade e uma descoberta, esta já atrás anunciada. A primeira acon-

teceu quando fui ao Cemitério para ver a campa de Rümker e fui atendido por uma porteira que aparentava uma idade avançada. “Posso perguntar-lhe a sua idade?” Resposta pronta de Adelina Pi-res: “Nasci no ano da República”. Não pode ser, pensei eu, mas a verdade é que a porteira do Cemitério da Estrela, é seguramente a mais antiga funcionária de uma instituição, a nível Mundial. Aliá s, os seus serviços foram reconhecidos pela rainha Isabel II, que lhe conferiu a Ordem do Império Britânico em reconhecimento pelos serviços prestados à comunidade britânica em Lisboa. Foi então

que com a ajuda da fotografia apresentada por Julian Holland, no seu artigo acima mencionado, Adelina Pires, levou-nos, sem he-sitação, até à campa de Rümker, para verificar que está negra, de-vido à poluição, de um século e meio, como aliás se constata na fotografia do artigo de Holland 2. O curioso é que, quando chamei

à atenção para a figura de um anjo, que a fotografia mostrava e não se via so-bre a pedra tumular, ela, com ar de satisfação, pu-xou-me pelo braço e le-vou-me a uma pequena capela que existe no cemi-tério. Abre a porta e logo me mostra um pequeno e bonito anjo. “Está aqui!”, diz-me ela. “Mas porquê aqui? E, para mais… res-taurado?”, perguntei. E, conta-me o que aconte-ceu. Disse-me que há al-gum tempo, houve um assalto ao cemitério ten-do desaparecido várias figuras que decoravam as campas. Acontece que

os ladrões foram apanhados, todas ou quase todas as peças foram recuperadas e colocadas nos locais apropriados. Apenas uma úni-

ca excepção: aquele pequeno anjo por não se atinar donde tinha sido retirado. Agora sim, vai ficar completa a campa de Rümker graças à grande força do acaso.

Antes de terminar quero ainda esclarecer o leitor que o Sr. Andrew Swington, director do Cemitério, além de me ter dado um excelente apoio, autorizou a limpeza da campa. Opera-ção que já foi executada, excepto no que res-peita ao anjo, que não foi necessário beneficiar, dado que os salteadores, até serem apanhados, decidiram mandar limpar aquela pequena imagem e pô-la como nova. Ainda há saltea-dores simpáticos!

António Estácio dos ReisCMG

Notas1 “Instruments in the Cemetery: Carl Rümker´s Grave in Lisbon”, de Julian Holland, Scientific Instrument So-ciety Bulletin, nº 77, Junho de 2003.

2 Conforme é referido por Holland, a fotografia que apresentou no seu artigo foi obtida pelo Prof. Bragança Gil, fundador do Museu de Ciência de Lisboa, que faleceu recentemente.

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Revista da aRmada • DEZEMBRo 2009 29

Após mais uma longa permanência na costa do Malabar, o aviso de 1ª classe Afonso de Albuquerque, comandado

pelo saudoso CMG António Marques Espar-teiro, em Abril de 1957 largou de Goa a cami-nho de Portugal e chegou à barra do Tejo em Junho. Embandeirado e com flâmula extra lon-ga, ei-lo rio acima até à Doca da Marinha onde atracou no molhe exterior.

Cumpridas que foram as cerimónias protocolares de boas-vindas, todos os elementos da guarnição desejavam logo sair prancha fora a fim de reverem Lis-boa, reencontrarem familiares, amigos e se possível darem mesmo uma escapa-dela à terra Natal. Aproximava-se a hora do almoço e nada de novidades sobre saídas de bordo e, quando já se comia, os altifalantes troaram e surgiu a voz do oficial imediato: “atenção guarnição?! – Por determinação do EMA, o navio vai para os Açores numa missão especial de curta duração; assim, a partir deste mo-mento estão suspensas todas as licenças e tam-bém ficam suspensos os destacamentos, hoje a seguir ao almoço, quem não está de serviço pode sair com licença diária.”

A notícia desgostou o pessoal, mas passados dois dias, aquela gente concentrou-se na azá-fama preparativa para a nova viagem e num curto espaço de tempo, o navio ficou apare-lhado. Assim, a 18 de Julho zarpou de Lisboa rumo à ilha de São Miguel, onde devia chegar no dia 20 de manhã. No quarto do alva des-se dia verificou-se que o rumo apontava um certo desvio da rota desejada e, para o corrigir;

as máquinas propulsoras teriam que sofrer um aumento de rotações, o que aconteceu e, quando tudo parecia remediado, o pior acon-teceu!, uma das máquinas propulsoras avariou completamente e o navio prosseguiu viagem a pé coxinho até Ponta Delgada, onde chegou pelas 18.00 horas.

O “Afonso de Albuquerque” tinha por mis-

são transportar entre ilhas o marechal Fran-cisco Higino Craveiro Lopes, Presidente da República e a comitiva presidencial. A visita oficial ao arquipélago iniciou-se na ilha de São Miguel. Cerca das 12.00 horas de 22-07-1957, Sua Exª inaugurou o edifício do Comando da Defesa Marítima dos Açores, na cidade de Ponta Delgada.

As honras militares foram prestadas pela guarnição do Afonso de Albuquerque de onde saiu uma companhia com bandeira, terno de clarins e dois pelotões que a toque de caixa marchou avenida fora e estacionou junto ao

edifício a inaugurar. Passados uns minutos aproximou-se o séquito presidencial.

Do imponente cerimonial ficou a foto tirada por um fotógrafo desconhecido que nos dá a conhecer o garbo militar de outrora. Nela ob-servamos a respectiva companhia, comandada pelo 1TEN Martins Salvador um pouco atrás e ligeiramente desviado para a esquerda é vi-

sível o clarim às ordens do comandante de companhia; logo a seguir estão colo-cados os comandantes de pelotão: 2TEN Gomes Mota e 2TEN Heitor Patrício e ainda se observam sargentos e praças que em conjunto apresentavam armas ao Presidente da República marechal Craveiro Lopes, que do lado oposto se perfilava em continência, logo seguido do comodoro Oliveira Lima, comandan-te da Defesa Marítima, o 2º Comandante e muito público.

Recordando a “ARMADA” de outro-ra, a vida dum marinheiro será sempre um mar de saudades e eu orgulho-me

dessa Marinha, ufano-me de a ter servido e sinto-me muito prezado por ter sido coman-dado por um dos principais marinheiros da Marinha de Guerra, que devotadamente ser-viu: na artilharia, marinharia, na escrita e não só, por isso, aqui deixo um muito obrigado ao insigne CMG António Marques Esparteiro, de Mouriscas do Ribatejo.

É bom recordar que os marinheiros partem e felizmente a “MARINHA” fica.

J. Marques GuedesSCH H REF

A Visita Presidencial aos Açores em 1957A Visita Presidencial aos Açores em 1957

Força de Marinha em Ponta Delgada em que se distinguem o 1TEN Martins S alvador e os 2TEN Gomes Mota e Heitor Patrício.

Entre dia 14 e 16 de Outubro de 2009, realizou-se no Hotel Sheraton em Lisboa, a vigésima quarta Confe-

rência da Kongsberg Maritime’s Simula-tor, empresa reconhecida mundialmente no domínio da simulação marítima e à qual a Marinha adquiriu o Simulador de Navegação e Manobra (SIMNAV).

A abertura desta conferência com o lema “Explore the Simulation Possibilities”, realizada anualmente, teve a presença da Embaixadora da Noruega e do CALM Pires da Cunha, que proferiu um discurso em que abordou a importância da simulação no adestramento das Forças Navais e as relações custo-eficácia destes equipamentos.

No dia 15 de Outubro, os 120 delegados que participavam nesta conferência desloca-ram-se à Base Naval de Lisboa onde foram recebidos pelo Director do CITAN, tendo se-guidamente assistido a uma palestra subor-dinada ao tema: “O SIMNAV e a importância

da Simulação na MGP”. Após um “coffee-break”, seguiu-se um conjunto de três visitas simultâneas, ao SIMNAV, onde houve a opor-tunidade para uma demonstração das capaci-dades do simulador, à fragata “Corte-Real”, para uma visita aos centros de Comando e Controlo e à Escola de Tecnologias Navais, a fim de visitarem o simulador NAUTUS. Por fim, foi hora da tradicional fotografia de grupo, onde todos teceram rasgados elogios à

forma como foram recebidos e pela dis-ponibilidade e atenção com que foram obsequiados durante as visitas. Durante os 3 dias deste evento, o Simulador de Navegação Portátil da Marinha esteve exposto na Sala de Demonstrações do hotel anfitrião, juntamente com outros simuladores, o que despertou a curiosi-dade de todos os participantes.

A conferência terminou no dia 16, tendo os seus objectivos principais sido cumpridos: a apresentação das inovações

nas áreas da simulação como por exemplo na área do Combate à Pirataria, Navegação no Gelo e Manobras Offshore; a divulgação da forma de utilização de simuladores em vá-rios países e Marinhas do mundo e não me-nos importante, a troca de ideias e experiên-cias entre todos os utilizadores e a criação de novos desafios.

(Colaboração do CITAN)

24ª Conferência da Kongsberg Maritime’s Simulator24ª Conferência da Kongsberg Maritime’s Simulator

RECORDANDO…

30 DEZEMBRo 2009 • Revista da aRmada

“Em dias de vazio encontramo-nos aqui, sem hora marcada. Trazemos na alma ven-tos de um local distante em que os homens bons abundavam e a vida não se perdia. Ha-via um tempo e havia um modo. O mundo fazia sentido...”

In Histórias do Mundo e outros contos, livro de autor desconhecido

a vida tem ironias, que a mente não consegue facilmente explicar. Foi as-sim, por acaso, que do nada me cru-

zei com uma senhora timorense a viver e a trabalhar em Portugal, há relativamente pou-co tempo. Tem um trabalho ligado à diplo-macia, falava mal o português, que está a aprender... Então ocorreu-me de forma súbita, passaram agora exactamente dez anos desde que parti, eu próprio, para Timor.

Timor, aquele território longín-quo, estava no seu conturbado pro-cesso de autodeterminação. Por-tugal, que tinha resolvido mal o processo de descolonização daque-le antiga colónia (particularmente na sua consicência colectiva), apre-sentava um ambiente abertamente pró-Timor. Nomes como Ali Alatas, ministro dos negócios estrangeiros da Indonésia, eram então voz cor-rente, com forte conotação negati-va. Ao contrário, manifestações de apoio ao Bispo D. Ximenes Belo e a Xanana Gusmão, então encarce-rado, tinham participação intensa. Os Trovante ouviam-se na rádio com uma canção pró-Timor, que comovia muitos. – Timor unia es-querda e direita políticas (consti-tuindo, mesmo, concordará o leitor, um dos poucos desígnios verdadeiramente nacionais nos últimos tempos). Neste am-biente, a Marinha foi chamada a participar, naquele desígnio nacional, e enviou a Fra-gata “Vasco da Gama”, com honras de Pri-meiro Ministro na despedida (então António Guterres). Levava os olhos da nação portu-guesa postos nas suas acções nos meses que estavam para vir...

O povo de Timor, esse, percebia-se ime-diatamente na chegada, estava em profunda crise. As infraestruturas haviam sido destruí-das por mílicias de timorenses, orquestra-das pela própria Indonésia. Eram, aliás, os militares indonésios os responsáveis pela segurança (quais lobos a guardar ovelhas), permitindo roubos, violações e até assassi-natos na maior passividade. A Austrália (ou-

tro país cujas intenções em relação a Timor haviam sido pouco claras e já contava com vários tratados comerciais com a Indonésia, para a exploração das riquezas marítimas daquela “província” que lhe era vizinha), foi escolhida para liderar uma coligação inter-nacional que iria apoiar a corajosa decisão dos timorenses nas urnas: a autodetermina-ção. A “Vasco da Gama” viria a integrar essa missão, conhecida como INTERFET.

Os timorenses comuns viviam com grandes dificuldades. Perseguidos, acossados nas suas próprias casas, tinham necessidades de toda a ordem. Era toda uma humanidade em crise, particularmente na alimentação e na saúde.

Desse tempo, como em tudo, fixamo-nos nas caras, nas pessoas. Em Timor era fácil, em pri-meiro lugar porque as pessoas, quase todas, tinham nomes portugueses de baptismo. Não importava que a grande maioria perdesse todo o contacto com a lingua lusa, chamavam-se António, Pedro, Manuel, José... Muitas ti-nham sangue português, como era o caso da Senhora Joana. Esta, senhora – já uma mu-lher madura - falava um português melhor que aquele presente nas ruas de Lisboa de hoje, filha de pai português, ex – militar do exérci-to, que nunca voltou ao seu Minho natal. Era a minha tradutora.

Mas, mais vezes me lembro do sofredor anónimo com que amíude me deparei. Nun-ca antes tinha feito aquela medicina dita de “subsistência”: a febre, a tosse, a diarreia.

A omnipresente malária, que ataca grandes pequenos e até ricos e poderosos. Guardo também as caras de uns tantos marinheiros anónimos, que cresceram mais que a sua própria dimensão, numa terra que nunca os tinha esquecido...

Lembro-me, particularmente, das crianças, imensas, muitas vezes apenas recém nasci-dos – todas com um olhar bem maior do que a idade. Tinham todas o cabelo claro e abomén proeminente...o que levou alguém no poder, que em determinada ocasião vi-sitou Manatuto, a afirmar que “havia muito cruzamento de raças”, quando na verdade – avisámos nós – aqueles eram sinais da má

nutrição que grassava. Timor era por certo um local em que nos sentíamos mal só por comer. Já que quase todos deixavam a me-renda ás crianças com quem se cruzavam. Lembro-me em especial de determinado piloto de helicóptero daquele navio, que, propositadamente, trazia os bolsos do seu fato de voo cheios de guloseimas, que des-pejou sobre a minha secretária no Hospital da AMI – nem sei quem saiu mais feliz nes-se dia, se as crianças, se eu, seria talvez o próprio piloto...

Sei que gostaria de voltar a ver muitas da-quelas caras, que me procuram em noites solitárias, quais fantasmas de um passado recente. E estes anos todos volvividos, penso que todos os que lá estiveram concordarão: a lição que se traz de Timor é a da amizade.

HISTÓRIAS DA BOTICA (69)

A velha ferida… e a alma dos homens livres A velha ferida… e a alma dos homens livres

Revista da aRmada • DEZEMBRo 2009 31

Havia amizade e entreajuda entre os timo-renses pequenos e deserdados de então e ha-via amizade entre os marinheiros presentes naquele navio. A memória do comandante, que já partiu em missão longínqua, é prova disso. Tudo isto me atravessou, num ápice, a memória, na voz e no sotaque da tal senhora. Estou certo que este mesmo fenómeno já se passou com os pacientes leitores destas cró-nicas, sempre que se lembram de situações em que acreditam que mudaram o mundo (...ou que o mundo lhes mudou...o coração...). É deverás estranho, dirão muitos.

Timor, contudo, não parece na nebelina do tempo e da distância, ter encontrado o seu ca-

minho. Admito que não devemos ser muito críticos, basta pensar que nós próprios, após a nossa própria revolução, demorámos anos a acertar o passo político e ainda estamos lon-ge de conseguir acertar o passo económico. Isto, é claro, apesar da Comunidade Europeia, com toda a sua ajuda à estabilidade política e incentivo ao desenvolvimento económico. Não serei eu, portanto, a atirar daqui a pri-meira pedra. Timor, estou certo, acabará por achar o seu lugar e o seu carisma.

Muitas vezes volto lá, em espírito. Nunca antes me senti tão útil como médico, nem tão valorizado como a pessoa que procuro ser. A velha ferida de Timor, continua, assim

deste modo, aberta. Continuará para sempre aberta, na minha vida, porque sou um ho-mem de emoções, ou apenas porque nesse tempo, como está expresso na citação acima de autor desconhecido, a vida fazia sentido. Estávamos do lado dos bons. Sabiamos quem eram os maus. Estávamos unidos. Poucas ve-zes na vida as coisas me pareceram tão cla-ras. Poucas vezes senti, de tão perto, a im-portância da consiciência e da vontade de uns quantos homens livres...

Parabéns a Timor, pelos primeiros dez anos…

Doc

Realizou-se no dia 27 de Ou-tubro o lançamento do livro “Teo ria Geral da Estratégia – o

essencial ao processo estratégico”, da autoria do Contra-almirante António Silva Ribeiro. A cerimónia decorreu no Instituto Superior de Ciências So-ciais e Políticas (ISCSP), onde o autor é professor catedrático convidado e lecciona nos Mestrados em Estraté-gia, Relações Internacionais e Estu-dos Africanos.

A obra foi apresentada pelo Professor Doutor Adria-no Moreira, que salientou a importância dos estudos estratégicos realizados no ISCSP desde 1985 e a re-levância do contributo dos militares para o ensino e estudo das temáticas estratégicas com interesse para Portugal.

O autor salientou a importância das ligações entre o Estado, as em-presas e a Universidade, para o de-senvolvimento da teoria essencial à fundamentação dos processos estra-tégicos nas relações internacionais e empresariais. Referiu-se, igualmente, às características essenciais do mes-tre em estratégia como líder, prati-cante e teórico estratégico, e ao con-tributo que o ISCSP tem dado para a formação destes especialistas, neces-

sários aos órgãos do Estado e às empresas.O evento contou com a presença de cerca de duas

centenas de pessoas, sendo de destacar a presença do Chefe do Estado-Maior da Armada e de outras relevan-tes personalidades militares e académicas.

No passado dia 22 de Outubro, pelas 18.00 horas teve lugar na Sala de Leitura da Biblio-

teca Central da Marinha, mais um lançamento de novo livro das Edi-ções Culturais da Marinha.

“Moçambique há um Século, vis-to pelos Colonizadores: campanhas militares, ocupação do território e conhecimento dos povos (1895--1910)” é uma compilação, com no-tas e comentários do Professor Emé-rito de Sociologia do ISCTE o Doutor João Freire.

Dedicado à memória de seu avô – ex-pedicionário da campanha de guerra de 1895 em Moçambique – o livro inclui excertos comentados de matérias abor-dadas em “A Guerra de África de 1895” de António Ennes, do”Livro das Campa-nhas” e “Moçambique, 1896-1898” de Mouzinho de Albuquerque, de “A Campanha do Barué em 1902” de João Azevedo Coutinho e de “Relatório sobre a Ocupação de Angoche – 1910” de Massano de Amorim.

Como o autor refere na sua Apresentação, trata-se de uma “se-

gunda leitura crítica” “ultrapassada a época dos embalos emancipado-res dos povos oprimidos e dos com-plexos-de-culpa civilizacionais das nações ocidentais”. Trata-se nas pa-lavras do compilador de um “mosai-co de representações que povoaram as mentes de pessoas importantes e com elevada responsabilidade poli-ticas e sociais” à época e hoje um pouco esquecidos do comum dos portugueses.

Estiveram presentes cerca de qua-tro dezenas de convidados com gran-

de participação de ex-camaradas do Curso da Escola Naval do au-tor – Oficial da Armada reformado, bem como muitos colegas do Instituto onde leccionou.

Após uma curta apresentação do Professor Doutor João Freire, pelo Presidente da Comissão Cultural da Marinha, CALM MN RES Rui de Abreu, a obra foi comentada pelo Dr. Rui Ortigão Neves, terminando a pequena cerimónia com palavras do Professor João Freire.

Seguiu-se um agradável momento de convívio, com uma sessão de autógrafos, tendo sido o mais novo colaborador das Edições Culturais da Marinha muito cumprimentado.

“Teoria Geral da Estratégia”

“Moçambique há um Século, visto pelos Colonizadores”

“Teoria Geral da Estratégia”

“Moçambique há um Século, visto pelos Colonizadores”

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Revista da aRmada • DEZEMBRO 2009 33

QUARTO DE FOLGA

JOGUEMOS O BRIDGEJOGUEMOS O BRIDGEProblema Nº 124

Todos vuln. S joga 5♦ recebendo a saída de ♥V. Como deverá S jogar para cum-prir este contrato em que tem 3 perdentes (1♠+2♣), sabendo pelo leilão que W tem um bicolor ♥-♣.

TAPE OS JOGOS DE E-W PARA TENTAR RESOLVER A 2 MÃOS.

SOLUÇÕES: PROBLEMA Nº 124A informação do bicolor em W vai ser aproveitada para o seu plano de jogo, como vamos constatar: Faz de A e joga imediatamente ♠2 para a passagem ao R, certamen-te bem colocado, sendo esta a jogada chave para o cumprimento, pois W vai cair no engodo, a menos que seja um jogador experiente e com visão de jogo, e já veremos a razão; joga ♥ para cortar, vai ao morto em trunfo, última ♥ para corte e eliminar o naipe; sabendo que o ♠R está em W à 2ª, joga pequena e deixa W em mão sem defe-sa, pois terá de jogar ♣A ou ♥ para corte e balda, permitindo a anulação de uma das perdentes a ♣. Todavia, temos de salientar que W nem terá pensado, face à rapidez da jogada a ♠, pois caso contrário tinha a obrigação de ter jogado o R que viu estar per-dido, tendo tornado o contrato incumprível. Este problema serve para demonstrar que, tal como no xadrez, igualmente no bridge devemos pensar sempre um pouco antes de jogarmos, para tentar apercebermo-nos da intenção das jogadas do adversário.

Nunes MarquesCALM AN

Oeste (W):

R8

V10954

5

AD1062

Este (E):

V976

R873

4

V987

Norte (N):

AD43

D62

RD87

53

1052

Sul (S):

A

AV109632

R4

PALAVRAS CRUZADASProblema Nº 407

PALAVRAS CRUZADAS

123456789

1011

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

HORiZONtais : 1 – Instrumento com que se mede a evaporação. 2 – Sector da re-gião de Tombali (Rep. da Guiné-Bissau); está à capa (náutico) (inv). 3 – No princípio de ulmo; capela fora do povoado; símb. quím. do bismuto. 4 – Designa o que está perto ou presente; raiva; gracejas. 5 – Reino de gentio Papéis, na Ilha de Jata (Rep. da Guiné-Bissau); grupo de oásis do Sará Central, a sudoeste de Laguat. 6 – Morcão de queijo e de carne de porco; camareira. 7 – Nota musical; planta faseolácea, espécie de ervilhaca; prefixo de movimento. 8 – Unidade de trabalho do sistema C.G.S; minis-tro da religião maometana; bagatela (fig). 9 – Navios de vela, de alto bordo, com três mastros; movimento periódico e alternado das águas do mar (inv). 10 – Sulcar; corpo simples, gasoso, excelente desinfectante. 11 – Da congregação do Oratório (pl).

veRtiCais: 1 – Acto ou efeito de aquecer. 2 – Filha de Sérvio Túlio e mulher de Tarquí-nio, o Soberbo que ela impeliu a matar Sérvio, para reinar; irara, na confusão. 3 – A mim; fecha as asas para descer mais depressa (as aves); vício de comer e beber em excesso. 4 – Distrito da província de Cabo Delgado, Moçambique; vazio; no princípio de Saturno. 5 – Pequena embarcação achatada, usada na pesca do bacalhau; nome próprio masculino; letra grega. 6 – Pequeno arco; gosto muito (inv). 7 – Montão de feixes de trigo, palha, etc. a que se dá forma cónica título do bispo, em algumas igrejas orientais; cento e um romanos. 8 – Início de uma nova ordem de coisas; irmão do pai; de quem se fala. 9 – Planta liliácea da China; caminho ladeado de casas; engenho (inv). 10 – Raiva; o mesmo que avarento. 11 – Parte posterior de um templo grego e particularmente do Partenão (pl).

SOLUÇÕES: PALAVRAS CRUZADAS Nº 407HORiZONtais: 1 – Atmidometro. 2 – Quebo; Eriap. 3 – Ul: Orada; Bi. 4 – Eis; Ira; Ris. 5 – Caio; Tuat. 6 – Aca; Aia. 7 – Mi; Orobo; Ad. 8 – Erg; Ima; Avo. 9 – Naus; Eram. 10 – Talar; Cloro. 11 – Oratorianos.

veRtiCais: 1 – Aquecimento. 2 – Tulia; Iraar. 3 – Me; Sia; Gula. 4 – Ibo; Oco; Sat. 5 – Dori; Ari; Ro. 6 – Aro; Oma. 7 – Meda; Aba; Ci. 8 – Era; Tio; Ela. 9 – Ti; Rua; Aron. 10 – Rabia; Avaro. 11 – Opistodomos.

Carmo Pinto1TEN REF

CONVÍVIO

9º CONVIVIO DOS “FILHOS DA ESCOLA” DE FERREIRA DO ZÊZEREl Fundada a 13 de Outubro de 2006, a Associação de Marinheiros do concelho de Ferreira do Zêzere voltou a organizar no passado dia 3 de Outubro, um almoço-convívio onde estiveram presentes “filhos da terra”, alguns familiares e amigos.

Aproveitando o evento efectuou-se uma Assembleia Geral com a eleição dos novos corpos sociais para o biénio 2009-2011.

A degustação de uma boa ementa “à marinheiro”, aconteceu num restaurante em Vale Serrão, na freguesia de Dornes, onde se avistam as calmas águas do Zêzere.

Sempre bem-disposta, a comitiva da Direcção desta Associação, orgulha-se de ter reunido cerca de 100 convivas, ficando todos já a aguardar Outubro do próximo ano, para nova realização.

34 DEZEMBRo 2009 • Revista da aRmada

NOTÍCIAS PESSOAIS

RESERVA CFR SEH José Alberto Fernandes de Oliveira Robalo SCH ETI Cláudio José Filipe Valente SAJ E Agostinho João Ferreira Borges 1SAR C Fernando Alves Ferreira de Brito CAB M Carlos Manuel Freire Antunes Crisóstomo CAB A Joaquim Bile Mafra CAB CM Manuel Carlos da Silva Ramos CAB E Felisberto Alfredo Alves CAB L Eduardo José Figueiredo Fraga CAB L

REFORMA CALM Eurico Ferreira de Carvalho CMG EMA Francisco José Ferreira Neto CMG Joaquim Filipe Figueiredo Alves Gaspar CMG Luís Rui Teodósio Rodrigues Pena CFR SEE Rui Bugalho Correia CFR OT Manuel António Franco da Silva CFR SEH João Celso Queiroz Tavares Mascarenhas CTEN OT Manuel Teixeira da Costa SMOR H Eugénio de Oliveira da Silva SMOR CM José António Caleja SCH E José Augusto Pereira SAJ FZ António Maria Caldeira do Couto SAJ L Luís José de Brito Nunes SAJ L José da Silva Marreiros Correia SAJ FZ António dos Santos Moreiras SAJ CM Avelino da Conceição Malaquias Pepe SAJ FZ Alberto Lopes dos Santos 1SAR MQ Álvaro Augusto Silva dos Santos CAB FZ José Pinto Duarte CAB A José Manuel Cameja Capelo CAB T Jorge Manuel Feiteira Gaspar CAB TFH José Manuel Amaral Miranda CAB CM Francisco de Melo Fernandes.

FALECIMENTOS CALM REF António Galvão de Almeida Brandão CMG AN REF Cupertino Ferreira Guerra 1TEN OTS REF Horácio Martinho Lourenço SMOR SE REF Evaristo Orelhas Lavadinho SAJ E REF Augusto de Jesus Estêvão SAJ T REF Armando Alves Silva 1SAR FZ REF Reinaldo Paixão Baptista 1MAR TFH REF António João Filipe AG 1ª CL MILIT. António Medeiros da Luz.

COMANDOS E CARGOSNOMEAÇÕES

CMG Pedro Manuel Filipe do Amaral Frazão nomeado Comandante da Zona Marítima da Madeira em acumulação, Chefe do Departamento Marítimo da Madeira, capitão do Porto do Funchal e capitão do Porto de Porto Santo CMG AN João Barreiros Esteves Nunes nomeado Chefe do Gabinete do Superintendente dos Serviços Financeiros CMG Francisco José Nunes Braz da Silva nomeado Chefe da Divisão de Planeamento do Estado-Maior da Armada CMG Edgar Marcos de Bastos Ribeiro nomeado Chefe da Divisão de Logística de Material do Estado-Maior da Armada CMG AN José Arnaldo Teixeira Alves nomeado Director de Apuramento de Responsabilidades CMG MN Luís António de Medeiros Ramos nomeado Director do Hospital de Marinha CFR MN José de Gouveia de Albuquerque nomeado Director do Centro de Medicina Subaquática e Hiperbárica CFR Nuno Maia D’Orey Roquete Cornélio da Silva nomeado Comandante do NRP “Creoula”.

CONVÍVIOS

“FILHOS DA ESCOLA” DE JANEIRO DE 1973 Para comemorar o 37º aniversário do ingresso na Briosa, os “Filhos da Es-cola” de 1973 realizam no dia 16 de Janeiro um convívio, em Évora, no res-taurante “ Quinta do Galhetas “.

A comissão organizadora ira solicitar transporte à Marinha para todos os interessados. Para mais informações contactar: SMOR E Jose Armada TM 918659381; SCH E Manuel Pais TM 936265993; SCH FZ João Marques TM 966877631; SCH M Amandio Nascimento TM 919870179; SAJ MQ Moura TM 965855564 e o 1SAR M António Cardoso TM 934492272

25º ANIVERSÁRIO DO INÍCIO DOS CURSOS DE ENFERMAGEM E TÉCNICOS

DE DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICA

Realizou-se no passado dia 19 de Setembro nas instalações da INATEL da Costa da Caparica, um almoço e lanche convívio para celebrar o 25º aniversário do início dos cursos de enfermagem e téc-nicos de diagnóstico e terapêutica, da Escola do Serviço de Saúde Militar. Um curso composto por militares de todos os ramos, GNR e Guarda Fiscal. Reuniram-se cerca de 60 pessoas entre ex-alunos e seus familiares, num inesquecível convívio recheado de muitas saudades, e muitas histórias passadas no curso. O próximo convívio será em Se-tembro 2010, talvez para terras transmontanas.

Mais uma vez se cumpriu o 15 de Agosto e como é habitual, reuniu -se o pessoal que prestou serviço na Armada e respecti-vas famílias.

Este ano o encontro foi no parque da florestal na Prainha e contou com a presença de catorze elementos dos cerca de cin-quenta possíveis, picarotos e não picarotos residentes ou de pas-sagem por cá.

Neste convívio encontramos amigos e camaradas de armas re-sidentes nos EUA, no continente português e ainda outros que es-palhados pelas ilhas, é sempre um prazer rever, conhecer outros, que ainda não conhecíamos, enfim, confraternizar, recordando momentos que só estas vivências permitem.

Para os que gostam de conviver, para o ano haverá mais.Contacto: Alfredo Medeiros 1842/67 Mar S - TM: 917889772

A VELHA GUARDA NO PICOII ENCONTRO DOS MARINHEIROS DO CONCELHO DE ALCOUTIM

Realizou-se no dia 4 de Julho o II Encontro dos Marinhei-ros do concelho de Alcoutim que teve lugar a bordo de um bar-co de turismo “Peninsular” no rio Guadiana entre Vila Real de Stº António e a localidade de Pomarão no concelho de Mértola. Este encontro teve a presença de 147 marinheiros e familiares, bem como a presença do Presidente da Câmara Municipal de Alcoutim.

O próximo encontro realiza-se no ano de 2010 em local e data a de-signar. Os interessados em participar no III encontro, deverão contac-tar com: CTEN José Francisco Manuel - 962954191; 1TEN Raul Gomes Bento - 969253708; 1SAR Fernando A. Lourenço Dias - 963237304.

Hermínio Paulo Frazão Medeiros CAB V Jorge Manuel Peres Parreira CAB TFD José António da Encarnação Amaro.

A Banda da ArmadaA Banda da Armada

…e viemos às naus, a comer, tangendo gaitas e trombetas, ……e levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu ‑se

com eles a dançar, tomando‑os pelas mãos; e eles folgavam e riam, e andavam com ele muito bem ao som da gaita. … aquilo muito os segurou e afagou…

…enquanto ali andaram, dançaram e bailaram sempre com os nossos, ao som dum tamboril dos nossos, em maneira que são mui‑to mais nossos amigos que nós seus…

Excertos da Carta de Pero Vaz de Caminha a El‑Rei D. Manuel – 1 de Maio de 1500.

Neste que é um dos textos mais emocionantes da história da Humani-dade, pela descrição do encontro de duas civilizações, fica bem patente não só a presença de músicos na Armada de Pedro Álvares Cabral mas a sua fundamental importância na aproximação dos dois povos.

Hoje, a Banda da Armada Portuguesa, faz o mesmo mas com o pú-blico. Sedução, comunicação, conhecimento. A Banda carrega todo este peso histórico e iconográfico dos nossos marinheiros e da época em que Portugal foi mais grande e tão maior. Nada que se consubs-tancie. É como uma mística, algo que se sente e vê na forma como a Banda é recebida e sentida em qualquer parte do país.

A presença institucional de músi-cos na Marinha Portuguesa é ainda um assunto vagamente investigado. Se é certa a presença de músicos nas frotas expedicionárias de 1500, não sabemos ainda se eram meros marinheiros com jeito para a músi-ca ou se a sua presença era fruto de uma necessidade sentida e estruturada no seio da instituição.

Os primeiros dados seguros da existência de músicos na estrutura da Marinha datam de 1740, e é ainda do séc. XVIII a primeira imagem que se conhece do agrupamento do 1º Regimento da Armada Real. Ao longo da história da Banda, a sua denominação e número de músicos foram-se alterando numa permanente adequação aos procedimentos em uso na época. Por esta altura, na década de 1790, era maestro o italiano Caetano Tozi.

Em 1797 era criada a Brigada Real de Marinha cuja “música mar-cial” era dirigida pelo maestro italiano Pascoal Corvalini e que em 1807 acompanhou a Família Real na sua viagem para o Brasil, onde a maior parte dos músicos acabariam por ficar.

Em 1840, após a dissolução da Brigada Real de Marinha, a “cha-ranga marcial” do Batalhão Naval era dirigida pelo maestro alemão Mark Holzel que, seguindo conceitos prussianos, introduziu novos instrumentos destacando-se um parecido com a actual lira.

Em 1863 o maestro era o belga Arthur Reinhardt e nesse ano reali-zou uma série de concertos em Bordéus quando acompanhou a via-gem de D. Fernando pela Europa

Em 1889 passa a ser chefe da “música” António Maria Chéu, pri-meiro maestro português e primeiro com graduação de oficial. É sob a batuta de Chéu que, o agrupamento se passa a chamar “Ban-da dos Marinheiros da Armada” e que, em 1903 gravou 26 temas, e outros tantos discos, dos quais existe um exemplar no nosso país, em poder da Banda da Armada, doado pela família Cutileiro à Ma-rinha e os restantes 25 nos arquivos da EMI em Inglaterra. Durante anos foram estas consideradas as primeiras gravações realizadas em Portugal. Foram agora descobertas gravações de 1900.

Entre 1912 e 1920 o maestro passou a ser José de Oliveira Brito e em 1918 foi estabelecida uma nova organização da música na Ma-rinha passando a banda a denominar-se Banda de Música da Escola Central de Recrutas do Alfeite. Ainda em 1919, o decreto nº1652 pu-blicado na Ordem da Armada regulamenta um novo quadro de 93 músicos, contemplando já 4 contrabaixos de corda.

De 1920 a 1955, na mais longa chefia da Banda, o maestro foi Ar-thur Fão. Compositor e pedagogo, escreveu obras teóricas, que ainda hoje são referência. Em 1922, embarcada no navio presidencial Porto, acompanhou o Presidente da República Dr. António José de Almeida na viagem oficial para participar nas comemorações do 1º Centenário da Independência do Brasil.

Entre 1956 e 1975 a Banda foi chefiada por Marcos Romão, ma-estro, compositor e considerado o fundador da escola portuguesa de clarinete.

Entre 1976 e 1987 a chefia esteve a cargo de Manuel Maria Balta-zar. Em 1982 a Banda deslocou-se à Madeira integrada nas cerimó-nias do Dia da Marinha e a Paris onde participou no Festival Inter-

nacional de Bandas Militares; e em 1983 realizou concertos nas nove ilhas dos Açores integrados no Dia da Marinha

Entre 1987 e 2005 assumiu a chefia José de Araújo Pereira. Deste período destacamos em 1988 a deslocação à Madeira ao XI Festival de Bandas Militares. Em 1992 duas viagens aos Açores, e a deslocação a França/Chateaudun onde participou no 5º Festival In-ternacional de Música Militar; em 1994, deslocou-se aos EUA/Nor-

folk para participar no XII Festival Internacional das Azáleas; em 1999 foi-lhe concedida a Medalha de Ouro de Serviços Distintos pelo Almi-rante CEMA.

Desde 2005 a Banda é dirigida pelo CFR MUS Carlos da Silva Ribei-ro. Em 2007 embarcou nos NRP “Sagres” e “João Roby” para participar no Dia da Marinha nos Açores. Em 2008 deslocou-se à Alemanha/Bre-men onde participou no 44º Musikschau der Nationen e foi à Madeira e Porto Santo participar no Dia da Marinha. Durante este período de-senvolveu uma parceria com o teatro o bando que se consubstanciou em duas obras: a iniciativa didáctica “Projecto Tartaruga” e “Saga, ópera extravagante” que conquistou diversos prémios da crítica em Portugal e uma nomeação de referência nacional.

A Banda da Armada é um órgão de natureza cultural e desenvolve um trabalho de grande interesse público tanto ao nível do cerimonial militar e do protocolo de Estado, como no âmbito cultural e da pro-moção da imagem da Marinha no exterior. Com 39 trabalhos disco-gráficos editados em toda a sua história, privilegia hoje a excelência e a inovação nas suas apresentações e o contacto da Marinha com as camadas jovens através de sessões organizadas em parceria com um grande número das escolas do ensino oficial em Portugal.

Fazem parte dos seus quadros alguns dos melhores instrumentistas da actualidade portuguesa e ao longo da sua história têm pertenci-do, e continuam a despontar nas suas fileiras, vários compositores e maestros de reconhecido mérito. Com 37% de licenciados e 20% a frequentarem o ensino superior, a média etária da Banda da Armada é hoje de 33 anos.

SAJ B Jorge Salgueiro

14 Janeiro 2003 • Revista da aRmada

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