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23 O mundo impossível de Stefan Zweig [Parte 2] Uma nova vida em Salzburg Em fevereiro de 1920, Zweig, que por alguns anos vinha mantendo um relacionamento amoroso a respeito do qual somente seu irmão e amigos mais íntimos sabiam, casou-se com Friderike von Winternitz. Junto com as duas filhas do primeiro casamento de Friderike, Alexia e Susanna, mudaram-se para uma casa que ele havia adquirido em Salzburg, cidade a aproximadamente 300 km a oeste de Viena. Friderike von Winternitz (1882-1971) Fotógrafo não identificado Fonte: www.commons.wikimedia.org A casa da Rua Kapuzinenberg, 5 em Salzburg, Áustria Neste endereço Stefan Zweig viveu até sua partida para o exílio em 1934. Fotógrafo não identificado, s/d Fonte: www.flickr.com

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O mundo impossível de Stefan Zweig [Parte 2]

Uma nova vida em Salzburg

Em fevereiro de 1920, Zweig, que por alguns anos vinha mantendo um

relacionamento amoroso a respeito do qual somente seu irmão e amigos mais íntimos

sabiam, casou-se com Friderike von Winternitz. Junto com as duas filhas do primeiro

casamento de Friderike, Alexia e Susanna, mudaram-se para uma casa que ele havia

adquirido em Salzburg, cidade a aproximadamente 300 km a oeste de Viena.

Friderike von Winternitz (1882-1971)

Fotógrafo não identificado

Fonte: www.commons.wikimedia.org

A casa da Rua Kapuzinenberg, 5 em Salzburg, Áustria

Neste endereço Stefan Zweig viveu até sua partida para o exílio em 1934.

Fotógrafo não identificado, s/d

Fonte: www.flickr.com

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Friderike e Stefan em sua casa em Salzburg

Fotógrafo: Ludwig Boedecker, 1922.

Arquivo de Ullstein Bild

Fonte: www.gettyimages.com

Nos anos 1920, Zweig havia-se tornado um fenômeno editorial, não somente em

alemão, mas também nas mais diversas línguas como o inglês, espanhol búlgaro,

finlandês, armênio, chinês, entre outras. Tornou-se inclusive o autor mais traduzido no

mundo. Suas peças de teatro assim, como alguns filmes baseados em suas obras também

alcançaram enorme sucesso de público e crítica. Uma das mais importantes, Jeremias,

drama escrito nos últimos anos da Grande Guerra, estava entre suas obras preferidas e

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relata a história do profeta bíblico; era também um manifesto contra os horrores da

guerra.1 Sua produção foi também levada aos palcos de diversos países.

Desenho para o poster da peça Jeremias, Teatro Ohel, Tel-Aviv, Palestina 1929

Criado Arieh-El Hanani2

Fonte: The National Library of Israel

www.gizra.github.io

A Europa do pós-Primeira Guerra, porém, não era a mesma. Por todo o

continente, de maneira crescente, as crises do período encontravam respostas em

movimentos que anos mais tarde aos poucos, de país em país, iam conduzindo à

instauração de regimes totalitários. A Grande Depressão que se sucedeu à queda da

bolsa de valores de Nova York, atingiu duramente os países europeus com graves

efeitos na situação social e econômica o que aumentou o choque das diferentes forças da

sociedade gerando ondas sísmicas.

A mãe de todos os cataclismos, porém, teria seu início em janeiro de 1933, com

a chegada de Hitler ao poder na Alemanha. Assim que assumiu, seu governo começou

1 ZWEIG. The World of Yesterday. p. ... Como narra Alberto Dines em sua biografia de Stefan Zweig,

Morte no Paraíso, não foi por acaso que o Rabino Lemmle escolheu um fragmento desta obra para a

elegia lida no sepultamento de Stefan Zweig e sua esposa Lotte, em Petrópolis. 2 O arquiteto, designer e artista plástico Arieh El-Hanani (Sapoznikov), autor do pôster de divulgação da

peça de Zweig na Palestina em 1929, foi um importante nome na vanguarda artística judaica na Rússia e

posteriormente na Palestina para onde se mudou em 1922. In, Manor, Dalia. Art in Zion: The Genesis of

Modern National Art in Jewish Palestine. London: Routledge Curzon, 2005, p. 234.

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rapidamente a mover-se na direção da instauração de um regime totalitário. O discurso

antissemita do nazismo ecoava como verdade em muitos ouvidos. Na escalada desse

processo que culminaria no genocídio de 6 milhões de judeus, as primeiras ações do

nazismo, no entanto, foram justamente contra os intelectuais.

“Onde quer que queimem livros, homens também, no fim, são queimados”3

Imediatamente à subida ao poder do nazismo, Joseph Goebbels, o Ministro de

Propaganda e Esclarecimento de Hitler, iniciou o processo de alinhar as artes e a cultura

à ideologia nazista. Essa política, denominada Gleischaltung, tinha como objetivo

“limpar” todas as instituições e organizações culturais de todo elemento “não-alemão”,

fossem eles pessoas ou produções artísticas ou literárias, consideradas “degeneradas”.

Para alcançar seus objetivos, Goebbels teve como forte aliada a Associação de

Estudantes Alemães Nacional Socialistas [Nationalsozialistischer Deutscher

Studentenbund, NSDStB]. Em 6 de abril de 1933, a Associação proclamou uma ação

nacional contra o que chamou de “espírito não-alemão”. Entre as dozes “teses”

apontadas por eles em seu manifesto, estavam o ataque ao “intelectualismo judeu” e as

ações propostas descritas como resposta à “campanha do judaísmo mundial contra a

Alemanha”.4

Na noite de 10 de maio de 1933, ou seja, pouco mais de três meses depois do

início do novo governo, dezenas de milhares de estudantes em 34 cidades universitárias

alemãs, reuniram-se para iniciar seu macabro ritual queimando milhares de livros em

fogueiras localizadas em pontos centrais.5 Em Berlin, por volta de 40.000 estudantes

universitários reuniram-se na Opernplatz, para, além de queimar livros, ouvir o discurso

de líderes estudantis, professores, reitores e, principalmente, do próprio Joseph

Goebbels:

Meus colegas estudantes, homens e mulheres alemães, a era de

exagerado intelectualismo judaico chega agora a seu fim. O triunfo da

revolução limpou o caminho para a via alemã; e o futuro homem alemão

não será somente um homem de livros, mas também um homem de

caráter e é para essa finalidade que queremos educar vocês. Para que

ainda jovens tenham a coragem de olhar diretamente nos olhos

impiedosos da vida. Para repudiar o medo da morte e assim ganhar

novamente o respeito pela morte. Essa é a missão dos jovens e vocês

fazem bem a esta hora, confiar às chamas o lixo intelectual do passado.6

Os autores judeus eram, portanto, os principais escolhidos para a orgia. Assim,

como um dos mais famosos autores contemporâneos e também judeu, inúmeros

3 “Dort, wo man Bücher/Verbrennt, verbrennt man auch am Ende Menschen”. Fragmento da tragédia

Almansor, escrita em 1823 por Heinrich Heine (1797-1856). In, KNOWLES, Elizabeth (ed.) The Oxford

Dictionary of Quotations. Oxford: Oxford University Press, 5ª ed. 1999, p. 747 4 Fonte: United States Holocaust Memorial Museum (USHMM), Book Burning. Disponível em:

https://www.ushmm.org/wlc/en/article.php?ModuleId=10005852 5 Ibidem. 6 Discurso de Joseph Goebbels traduzido a partir de vídeo disponível em:

https://www.ushmm.org/wlc/en/media_fi.php?ModuleId=10005852&MediaId=158

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exemplares de todos os títulos da vasta lista que Stefan Zweig havia escrito ao longo das

décadas foram arremessados às várias fogueiras que queimaram por toda a Alemanha

naquela noite.

Multidão reunida na Opernplatz para a queima de livros, Berlim, 10 de maio de 1933

Fotografia: World Wide Photo

Fonte: United States Holocaust Memorial Museum (USHMM)

www.ushmm.org

Estudantes e membros da AS carregam livros “não-alemães”, Berlim, 10 de maio de 1933

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Fotógrafo não identificado.

National Archives and Records Administration, College Park, Md.

Fonte: United States Holocaust Memorial Museum (USHMM)

www.ushmm.org

Joseph Goebbels discursa para a multidão reunida para a queima de livros

Opernplatz, Berlim, Alemanha, 10 de maio de 1933

National Archives and Records Administration, College Park, Md.

Fonte: United States Holocaust Memorial Museum (USHMM)

www.ushmm.org

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Membros da AS e estudantes da Universidade de Frankfurt transportam livros em carroças

puxadas por bois, Frankfurt-am-Main, 10 de maio de 1933

Fotografia: World Wide Photo

Fonte: United States Holocaust Memorial Museum (USHMM)

www.ushmm.org

Principais cidades alemãs onde houve queima de livros em 10 de maio de 1933

Fonte: United States Holocaust Memorial Museum (USHMM)

www.ushmm.org

Restos de exemplar do livro de Stefan Zweig, Amok escrito e publicado em 1922

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Este exemplar, parcialmente destruído durante a queima de livros em 1933, foi apresentado em

2012 no evento “Lesen gegen das Vergessen” (Ler contra o esquecimento) realizado todos os

anos, no dia 10 de maio, na mesma Opernplatz (hoje denominada Bebelplatz) em Berlim.

Fotografia: Fraktion Die Linke im Bundestag

Fonte: www.commons.wikimedia.org

Beate Klarsfeld com exemplar do livro Amok de Stefan Zweig, Berlim, 2012

Beate Klarsfeld, que dedicou sua vida, junto com seu marido, a perseguir e levar para a justiça

perpetradores nazistas, participou da edição de 2012 do evento “Lesen gegen das Vergessen” e

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foi fotografada com o exemplar do livro de Stefan Zweig em frente ao monumento que

rememora a queima de livros organizada em 10 de maio de 1933.

Neste memorial, abaixo da placa de vidro, podem-se ver prateleiras brancas, vazias.

Fotografia: Fraktion Die Linke im Bundestag

Fonte: www.commons.wikimedia.org

De cidadão internacional a judeu Zweig

Os ataques aos intelectuais judeus não se limitaram àquele infame episódio de

10 de maio de 1933. No caso de Zweig, sua projeção pública converteu-o em alvo de

ataques também por parte da imprensa, mediante críticas e escândalos. Ainda em

novembro de 1933, Anton Kippenberg, seu editor alemão proprietário da Insel Verlag,

recebeu uma carta da Associações de Livreiros alemães com uma lista confidencial de

livros que seriam imediatamente retirados de circulação. Entre eles, nada menos do que

quinze títulos de Stefan Zweig.7

Apesar de todos esses sinais claros, e enquanto muitos de seus amigos das

letras começavam a partir para o exílio, Zweig considerava que, de alguma maneira,

ainda estava a salvo. Continuava suas viagens pela Europa, embora evitasse a

Alemanha. Mais tarde ele iniciaria inclusive uma parceria com Richard Strauss - quem

havia sido nomeado por Goebbels à presidência do Conselho de Música do Estado8 -

para o libreto de uma ópera, segundo o próprio Zweig, “o maior e mais famoso

compositor vivo da nação alemã”.

No entanto, em fevereiro de 1934, a ameaça ficou visível, como ele mesmo

relata em suas memórias:

Eu regressara à tarde de Viena para minha casa em Salzburg, encontrara

pilhas de provas tipográficas e de cartas e trabalhara até tarde da noite para pôr

tudo em dia. Na manhã seguinte, eu ainda estava na cama, alguém bateu à porta:

nosso bravo velho criado, que nunca me acordava a não ser que na véspera eu

tivesse determinado expressamente um horário, entrou com o rosto perturbado.

Pediu-me que descesse, pois tinham chegado homens da polícia que desejavam

falar comigo. Fiquei surpreso, vesti meu robe e desci. Ali havia quatro policiais

à paisana que declararam ter ordens de revistar a casa e que eu entregasse logo

todas as armas da Liga de Defesa Republicana que estavam escondidas ali.

(...) Os quatro detetives passearam pela casa, abriram alguns armários,

bateram em algumas paredes, mas pelo modo desleixado ficou logo claro para

mim que aquela investigação era pro forma e que nenhum deles acreditava

seriamente em um depósito de armas naquela casa. Depois de meia hora deram

a busca por terminada e desapareceram.

(...) A partir daquela visita policial, me desgostei da minha casa, e algo

me dizia que tais episódios seriam apenas um tímido prelúdio de intervenções

de alcance muito mais amplo. Na mesma noite comecei a arrumar meus

principais papeis, decidido a viver para sempre no exterior (...).9

7 MATUCHECK, Three lives, p. 256 8 Em 1935 Richard Strauss (1864 – 1949) acabou tendo que renunciar ao seu cargo devido a essa parceria

com Zweig. Embora ao longo de sua carreira tivesse tido parcerias com proeminentes intelectuais judeus,

sua colaboração com figuras do nazismo fez com que tenha sido desde então considerado como uma

figura ambígua e polêmica, visto por muitos, como por exemplo Hannah Arendt, como um antissemita

(ver The Jewish Writings, p. 325). Até 1998, o governo de Israel manteve um embargo às obras de

Strauss. 9 Zweig pressentira corretamente. A partir de 1934 começariam de forma sistemática as investidas de

Hitler para anexar a Áustria. Em 25 julho do mesmo ano, uma tentativa de golpe por parte de nazistas

austríacos vitimou fatalmente o chanceler austríaco Engelbert Dolfuss (1892 – 1934). Após o episódio,

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Stefan Zweig decidiu então partir para Londres onde fixou residência em um

apartamento de um prédio recém construído na Rua Hallam, 49.10 A ruptura em relação

à Áustria não seria ainda definitiva já que ele permaneceu em trânsito entre, Londres e

Viena. No entanto, o mecanismo externo que iria transformar o Zweig cosmopolita no

“judeu Zweig”, no dizer de Hannah Arendt11, havia entrado em ação. Não era um

mecanismo desconhecido; já havia ocorrido inúmeras vezes na longa história do

antissemitismo. Como afirmou Hannah Arendt em seu livro Origens do Totalitarismo,

em relação ao caso Dreyfus, ocorrido na França no final do século XIX, este “já havia

mostrado ao mundo que, em cada judeu nobre e multimilionário, havia ainda algo do

antigo pária sem nação, para quem os direitos humanos não existem, e de quem a

sociedade teria prazer de retirar os seus privilégios12.” E prossegue mais adiante:

“Precisamente por haverem representado papel tão insignificante no desenvolvimento

político dos países em que viviam, a igualdade jurídica transformou-se, para eles, num

fetiche, parecendo-lhes constituir a base indiscutível de sua eterna segurança.13

foi declarada lei marcial na Áustria, e o novo governo instaurado liderado pelo chanceler Kurt

Schuschnigg teve que recorrer à ajuda de outros países europeus para evitar a concretização do projeto

expansionista da Alemanha. Mussolini enviou suas tropas para a fronteira dos dois países, respeitando um

acordo de proteção previamente assinado entre o líder italiano e Dolfuss caso a Áustria fosse agredida. A

Áustria ainda conseguiria resistir mais quatro anos, mas em 12 de março de 1938, não foi mais possível

fazer frente aos planos expansionistas do país vizinho. Nesse dia, as tropas alemãs invadiram a Áustria e

no dia 13, o território do país era incorporado à Alemanha, evento conhecido como Anschluss (anexação).

10 Informações sobre a construção deste prédio podem ser encontradas no site da Bartlett School of

Architecture, University College London, UCL. O documento cita Stefan Zweig com um dos primeiros

residentes do edifício. O mesmo documento descreve que fachada de tijolo aparente foi realizada em ter

1934 e 1936, portanto quando Zweig já era residente.

Disponível em: https://www.ucl.ac.uk/bartlett/architecture/sites/bartlett/files/chapter21_hallam_street.pdf 11 ARENDT, Hannah. The Jewish Writings... p. 318 12 ARENDT, Hannah. The Origins of Totalitarianism. p. 117 13 Ibidem. Arendt aprofundaria esta análise crítica em sua resenha ao livro de Zweig “O Mundo de

Ontem”, op. cit.

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O prédio da Rua Hallam, 49, em Londres.

Zweig residiu em um de seus apartamentos entre abril de 1934 e setembro de 1939.

Fotógrafo não identificado, s/d

Fonte: www.rightmove.co.uk

No plano pessoal, o início do exílio de Zweig coincidiu com o processo que

levaria ao fim de seu casamento com Friderike. Embora ela ainda estivesse a cargo de

organização de muitos assuntos relacionados ao seu dia-a-dia, permaneceu com suas

filhas na residência de da Rua Kapuzinenberg, em Salzburg.

Como maior parte de seus documentos e de sua coleção também estavam em

Salzburg, para conseguir retomar normalmente seus trabalhos, Zweig decidiu contratar

uma secretária para a nova residência em Londres, a qual coordenaria tarefas com a

outra secretária que permaneceu em Salzburg,14 Entre as exigências para o cargo

estavam que candidata tivesse fluência em alemão e inglês e um bom domínio do

francês. A escolha recaiu sobre Elisabet Charlotte Altmann, ou Lotte, como preferia ser

chamada. Nascida em Kattowitz - cidade que na época de seu nascimento pertencia à

Alemanha, hoje à Polônia - após a ascensão do nazismo, Lotte foi impedida de estudar

em seu país pelo fato de ser judia. Lotte transferiu-se então para Londres onde morava

seu irmão, o Dr. Manfred Altmann.

14 MATUCHEK. Three Lives, p. 264.

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Elisabeth Charlotte (Lotte) Altmann (1908-1942)

Fotógrafo não identificado, s/d

Fonte: www.theartsdesk.com

Aos poucos, Zweig foi retomando seu ritmo de trabalho em Londres,

concentrando-se inicialmente na biografia de Mary Stuart, um gênero pelo qual já havia

incursionado ao longo de sua carreira15. Mas talvez a mais contundente das biografias

escritas por Zweig tenha sido aquela que acabara de publicar em 1934 sobre um dos

personagens históricos que mais admirava, Erasmo de Rotterdam, considerada pelo

New York Times, no mesmo ano, como “um penetrante estudo do grande humanista

cuja tragédia era a de alguém que ficou no meio do caminho em tempos turbulentos”16.

Mas a biografia de Erasmo não foi somente um relato sobre o homem histórico; nela

Zweig estabelece uma forte correspondência com a situação contemporânea à sua

época. No fragmento que segue, por exemplo, é difícil deixar de pensar que o mesmo

não foi escrito com o olhar direcionado à Europa dos anos 1930:

Às vezes, no entanto, muito raramente ao longo dos séculos,

antagonismos atingem tais níveis de tensão que é como se algo

estivesse a ponto de se romper. Então, um verdadeiro furacão se

precipita sobre a terra, despedaçando a humanidade como se esta

fosse um pano frágil que as mãos pudessem rasgar. (...)

Em momentos tão terríveis de delírio em massa e de divisão

do mundo dos homens, o indivíduo se torna desamparado.17

15 Entre elas a de seus mestres Emile Verhaeren (1910), e Romain Rolland (1921), a de Nietzsche (1925) 16 PROCHNIK, George. The Impossible Exile: Stefan Zweig at the End of the World. New York: Other

Press, 2014. Edição Kindle, Capítulo 4, Traveling Womb. 17 ZWEIG, Stefan. Erasmus of Rotterdam. London: Penguin Random House. Edição Kindle, Capítulo 1,

“Aims and Significance” (tradução nossa)

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Em meio ao caos em que a Europa adentrava de maneira acelerada, outra das

preocupações de Zweig era sua valiosíssima coleção de manuscritos; foi em Londres

que decidiu começar a distribuí-los em diferentes localidades e a iniciar a venda de

outros. Um dos locais que receberam parte dos documentos como doação foi a

Biblioteca Nacional de Israel, localizada em Jerusalém, para onde enviou

principalmente manuscritos de autores judeus; talvez um sinal de que, embora não tendo

sido favorável ao movimento nacional judaico, Zweig começava a entender a

necessidade de um estado para os judeus.18

A nova Marlene Dietrich...

Apesar das restrições na Alemanha, os livros de Zweig continuaram sendo

best-sellers no mundo inteiro o que o fez prosseguir com sua agenda de viagens,

palestras e lançamentos. Era também uma forma de escapar ao ambiente que cada vez

mais que oprimia tanto a Europa como a seu círculo de amigos a quem procurava ajudar

constantemente. Essa aparente normalidade na vida de Zweig, entretanto, começava a

despertar ressentimentos em muitos intelectuais cujas condições de vida haviam sido

completamente arruinadas. Assim, após uma viagem aos Estados Unidos em 1935 e de

outra a Viena que fez em 1936 para o aniversário de 85 anos de Ida, sua mãe – Moriz,

havia falecido em março de 1926 – Stefan Zweig decidiu aceitar um convite como

convidado de honra para participar do XIV Congresso Internacional de Clubes P.E.N.,

no qual faria um discurso em homenagem a H. G. Wells19.

A caminho para Buenos Aires, a convite de seu editor no Brasil e proprietário

da Editora Guanabara, Abraham Koogan20, Zweig iniciou uma visita de doze dias ao

país, que, graças ao trabalho de Koogan junto ao governo brasileiro, teve caráter oficial.

No dia 21 de agosto de 1936, escreveu em seu diário: “Entrei ao porto esta manhã: que

18 Nesta biblioteca encontra-se também o original da declaração que Zweig deixou quando cometeu

suicídio em Petrópolis em 1942. Ela foi doada à instituição no início dos anos 1990. Fontes:

www.haaretz.com/jewish/israeli-library-uploads-suicide-letter-of-jewish-writer-stefan-zweig-1.414312. A

afirmação sobre uma possível evolução na sua visão sobre a importância do sionismo e do trabalho de

Theodor Herzl para o povo judeu, está baseada nas próprias memórias de Zweig: “No primeiro momento,

Herzl podia se sentir incompreendido. Viena, onde se sentia mais seguro, com seu vasto prestígio,

abandonava-o e até zombava dele. Mas então a resposta retumbou com tanta veemência e êxtase que ele

se assustou com o movimento poderoso e amplo que despertara com algumas dezenas de páginas*.

Naturalmente, essa resposta não vinha dos judeus bem-situados (...) e sim das gigantescas massas no

Leste (...). Sem imaginar, Herzl inflamara com sua brochura o núcleo do judaísmo que ardia sob as cinzas

do estrangeiro, o sonho milenar e messiânico da promessa da volta para a Terra Prometida confirmada

pelos Livros Sagrados (...). Sempre quando alguém – profeta ou impostor – tangeu essa corda nos dois

mil anos da maldição, pôs a vibrar a alma inteira do povo, mas nunca com tanta intensidade, com tanta

retumbância. Com algumas dezenas de páginas, um único homem unira uma massa dispersa e desunida.

ZWEIG, Stefan. The World of Yesterday, p...

* Aqui Zweig refere-se ao livro de Theodor Herzl Der Judenstaat [O Estado dos Judeus], publicado em

Leipzig e Viena em 1896, M. Breinstein Verlag & Buchhandlung. 19 Speeches and Discourses of the XIV International Congress of P.E.N. Clubs, 5 - 15 Sept., 1936, P.E.N.

Club de Buenos Aires, Argentina, G. J, Pesce & Co, 1937 20 Abraham Koogan (1912-2000) era nascido na Ucrânia e havia chegado ao Brasil, trazido por seus pais,

em 1920. Koogan foi também responsável por introduzir no Brasil, entre muitas outras, as obras

traduzidas ao português de Sigmund Freud.

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experiência inacreditável.”21 A maneira como foi recebido ao desembarcar - o próprio

Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Macedo Soares estava aguardando no porto

- assim como o tratamento especial a ele oferecido nos dias seguintes também lhe

deixaram uma forte impressão. Ele era sem dúvida um dos autores europeus mais lidos

no Brasil. Como observou em uma carta que escreveu a Friderike durante a viagem:

“Estou tão feliz de estar aqui que nem posso começar a descrever a recepção que me

deram; nos últimos seis dias, tenho sido a nova Marlene Dietrich22.

Stefan Zweig em sua visita ao Brasil com seu editor Abraham Koogan

Fotógrafo não identificado, agosto-setembro, 1936

Arquivo Casa Stefan Zweig, Petrópolis

O adeus ao mundo de ontem

De volta à Europa, após cumprir seu compromisso em Buenos Aires, Zweig

prosseguiu com seu trabalho e seus planos de novas viagens. Sua vida pessoal, porém,

passava por grandes mudanças: o aprofundamento de seu relacionamento com Lotte, os

planos de divorciar Fridrike, a decisão de desfazer-se da casa de Salzburg. Em seu

círculo de amigos, por outro lado, a pressão por uma mudança em sua posição apolítica

aumentava. Em julho de 1937, por exemplo, seu amigo Joseph Roth, ele mesmo vítima

durante anos de um duríssimo exílio, reclamava a Zweig:

Você já tem uma clara noção [...] da inadequação de todos os

idealismos humanos nos quais se banhou desde a sua juventude e dos quais

você está embebido. Você está obrigado a estar desapontado. A não-

21 MATUSCHECK, extraído do diário de Zweig, p. 399 22 Carta de Stefan Zweig a Friderike, 25 de agosto de 1936, State University of New York, Fredonia. In,

MATUSCHEK

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violência de Mahatma Gandhi é tão inútil para mim, quanto a violência de

Hitler é detestável. Claro que você não deveria aliar-se a nenhum partido ou

grupo. Não vejo porque isso deveria ocorrer-lhe. Você é um membro não

registrado de um grupo heterogêneo constituído de acrobatas, homens do

mundo, malandros e diletantes e mentirosos, todos coexistindo com um

pequeno punhado de indivíduos decentes. Você acha que está fora dele. Não,

não está. (...) Você não consegue superar a perda da Alemanha! Você só

consegue ser um cosmopolita se a Alemanha existir.23

No final de 1937, porém, a situação política do continente parecia alienar

Zweig cada vez mais. Em carta ao mesmo Roth, meses mais tarde, contou seus planos

de visitar a sua mãe em Viena, voltar a Londres e depois partir novamente: “Não quero

ver ninguém, não quero ler nenhum jornal, provavelmente irei para Portugal, onde meu

conhecimento da língua é bem pobre24.” Zweig de fato fez essa viagem a Viena. Seria a

última vez que veria a cidade e também sua mãe.

Meses depois, a anexação da Áustria pela Alemanha nazista – Anschluss –

ocorrida em 13 de março de 1938, fecharia de uma vez as portas para milhares de

judeus da Áustria que estavam no exílio e converteria em um inferno a vida daqueles

que haviam ficado.

Alfred Zweig, irmão de Stefan, conseguiu sair do país com sua esposa via

Suíça, mas, embora tivesse conseguido um visto para Ida e sua enfermeira, a idade

avançada de sua mãe impossibilitou a saída. Alfred, antes de partir, providenciou todos

os cuidados para Ida e mesmo à distância controlava seu bem-estar. Ela, no entanto,

faleceu em 23 de agosto do mesmo ano. A tecelagem que Moriz havia construído e que

Alfred havia cuidado por décadas ficou para trás, confiscada pelos nazistas.

O cerco fechava-se rapidamente para os judeus da Europa; Zweig, em

Londres, prosseguia sua vida em relativa normalidade. Mas só aparentemente. Cercos

não são somente definidos por fronteiras, ou toques de recolher, ou buscas, ou exílios.

Os cercos podem destruir algo mais intangível. E para o homem que Romain Rolland

tão bem definiu como um “caçador de almas” sobre as quais empreendia verdadeiras

operações de vivissecção em suas obras, era o mundo das grandes almas que estava em

decomposição. Para Zweig, o papel do intelectual não era imiscuir-se na política: estas

eram duas vocações completamente separadas. O intelectual deveria ao máximo,

favorecer a ideia de unidade entre os povos e não aprofundar discórdias, tal como ele

próprio o fez em sua conferência no Rio de Janeiro intitulada “A Unidade Espiritual do

Mundo”. Este fragmento de seu discurso resume a resistência de Zweig a assumir uma

posição ativa:

Cada um de nós tem uma infinidade de coisas para fazer em

silêncio: precisamos nos privar de qualquer palavra que possa aumentar a

desconfiança entre pessoas e nações; ao contrário, temos o dever positivo

de agarrar a menor oportunidade para julgar as realizações de outras

raças, outros povos e países de acordo com o seu mérito, precisamos

23 ROTH, Joseph, A Life in Letters. Editado e traduzido ao inglês por Michael Hofmann. New York:

Granta, 2012. Edição eletrônica, Kindle. Carta escrita por Roth em 10 de julho de 1937, Parte IV, “After

Hitler: Work, Despair, Diminishing Circles, Work and Death”. 24 Ibidem.

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ensinar a juventude a odiar o ódio, porque ele é infértil e destrói o prazer

da existência, o sentido da vida; precisamos educar as pessoas de hoje e

amanhã a pensar e sentir em dimensões mais amplas. Precisamos ensinar

a elas que é mesquinhez e exclusão limitar a camaradagem apenas ao

próprio círculo, ao próprio país, em vez de se ter fraternidade além dos

oceanos, para com todos os povos do mundo.25

As pressões para que assumisse um papel antagonista e a forma como via que

o círculo ao seu redor, o círculo das belas almas com as quais antes debatia os temas que

lhe eram caros, estava sendo arrastado – devido ao contexto – na direção contrária a

suas crenças; essa era outra forma de ver seu mundo ruindo.

As perdas físicas eram por outro lado sucessivas. Talvez uma das mais

profundas nos anos de exílio tenha sido a de outro de seus grandes mestres e ilustre

vienense, Sigmund Freud. A amizade entre estes dois homens - separados em idade

praticamente por uma geração - e seu legado epistolar é, sem dúvida, um dos capítulos

mais interessantes da história cultural daquelas décadas. Zweig foi um dos primeiros a

perceber o significado para as letras da revolução que a teoria psicanalítica de Freud

trazia consigo e também um dos primeiros a utilizar seus recursos no desenvolvimento

de sua obra.

Algo que ambos obviamente não sabiam, contudo, é que teriam também em

comum a cidade de seus respectivos exílios. Em 6 de junho de 1938, assim como Zweig

fizera anos antes, Freud chegava a Londres acompanhado de sua esposa e de seus filhos

Anna e Ernst. Mas, apesar de sua idade avançada e sua saúde precária, Freud manteve-

se em intensa atividade profissional, intelectual e social, recebendo Zweig, seu amigo de

longa data, em visita nos dois endereços onde morou na capital britânica - endereços,

aliás, localizados a uma curta distância de Hallam Street, a residência de Zweig.

25 “L’Unité spirituelle du monde”. Discurso proferido por Stefan Zweig na sala de concertos do Instituto

Nacional de Música (Lapa, Rio de Janeiro), em 27 de agosto de 1936. O manuscrito original em alemão

foi presenteado por Zweig ao chanceler brasileiro Macedo Soares. Em 1940, quando retornou à América

do Sul, a pedido do jornalista Cásper Líbero, reiterou em setembro o discurso na sede de A Gazeta e

entre 29 e 31 de outubro, apresentou-o em castelhano, traduzido por seu editor argentino Alfredo Cahn

em conferências que realizou em Buenos Aires, Córdoba, Mendoza e Montevideo. In, ZWEIG, Stefan.

Um Ensaio. A Unidade Espiritual do Mundo. Coleção Expresso Zahar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar

Editor, 2013.

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Detalhe de mapa de Londres Em destaque, a distância entre os endereços de Stefan Zweig (49, Hallam Street) e de Sigmund

Freud (39, Elsworthy Road). O segundo endereço de Freud na cidade - 20, Maresfield Gardens -

ficava a apenas mais 1 km ao norte de sua primeira residência na cidade.

Fonte: Google Maps

Malgrado as agruras causadas pelo exílio e pelas notícias que vinham da

Áustria, Zweig havia mantido intacta sua vocação de liaison entre as mais proeminentes

personalidades de seu tempo. Em 18 de julho de 1938, por exemplo, escreveu uma carta

a Freud nos seguintes termos:

Querido e estimado professor!

Somente umas palavras informativas. O Sr. sabe que tenho sempre

evitado meticulosamente apresentar-lhe pessoas, mas amanhã é de veras

uma importante exceção. Para mim, Salvador Dalí (...) é o único pintor

genial da época e o único que perdurará, um fanático de suas próprias

convicções e o mais leal e grato discípulo que o Sr. tem entre os artistas.

Há anos que este autêntico gênio tem o desejo de encontrá-lo (ele afirma

que em termos artísticos não deve a ninguém tanto quanto ao Sr.). Assim

amanhã iremos ambos, junto com sua esposa [Gala]; ele gostaria de

aproveitar a oportunidade de talvez desenhar um esboço enquanto falamos

(...).26

No dia seguinte à visita à residência de Elsworthy Road Freud

escrevia a Zweig nos seguintes termos:

Querido doutor:

Realmente devo agradecer-lhe pela expedição que me trouxe os

visitantes de ontem. Até então, inclinava-me a considerar os surrealistas,

que aparentemente haviam-me escolhido como santo patrono,

absolutamente (digamos 95%, como o álcool), uns tolos. O jovem

26 Carta de Stefan Zweig a Sigmund Freud, 18 de julho de 1938. In, BURELLO, Marcelo G (Ed.).

Sigmund Freud y Stefan Zweig: “La invisible lucha por el alma”. Epistolario completo 1908-1939.

Buenos Aires: Miño y Dávila Editores, 2016.

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espanhol, contudo, com seus fanáticos olhos cândidos e sua indiscutível

maestria técnica, fez-me chegar a outra apreciação. (...)27

Salvador Dalí, Retrato de Freud28

Fonte: Freud Museum London

www.freud.org.uk

O idílio com Freud em Londres, porém, seria curto; apenas pouco mais de um

ano. No dia 23 de setembro de 1939, chegou a notícia da morte do mestre, o que para

Zweig foi um duro golpe, assim como havia sido durante a Primeira Guerra a morte de

outro de seus mestres, Emile Verhaeren. No dia 26 de setembro, no crematório Golders

Green em Londres, foi o próprio Zweig o encarregado de pronunciar o discurso fúnebre

de Freud:

Em presença deste glorioso féretro, permitam-me umas palavras

de sentido agradecimento em nome de seus amigos vienenses, austríacos e

universais, ditas nesse idioma que Sigmund Freud enriqueceu e enobreceu

tão esplendidamente com sua obra [o alemão]. (...) Nele, nós e nossa época

vimos de modo exemplar que não há coragem mais gloriosa sobre a Terra

que a coragem livre e independente do homem de espírito. Para nós será

inesquecível essa sua coragem de achar conhecimentos que os demais não

descobriram por não se atrever e achá-los ou ainda a expressá-los ou a

admiti-los. (...). Obrigado pelos mundos que nos revelaste e que agora

percorremos sós, sem guia, sempre fieis a ti, o mais precioso amigo, o mais

querido mestre: Sigmund Freud.

27 Carta de Sigmund Freud a Stefan Zweig, 20 de julho de 1938. Ibidem. 28 Retrato que Dalí criou baseado no esboço realizado durante a visita. Zweig, no entanto, aconselhou

Dalí a não mostrar o resultado a Freud pois considerou que nele ficava claro o avanço da doença que

acometia o mestre . Fonte: Freud Museum, London, www.freud.org.uk

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A morte de Freud ocorreu pouco mais de duas semanas após o casamento de

Stefan e Lotte, celebrado em 6 de setembro de 1939, apenas cinco dias depois da

invasão da Polônia pela Alemanha, evento que oficialmente arremessava a Europa à

guerra. A vida do novo casal começaria na mesma cidade onde oficializaram seu

casamento, Bath, localizada a aproximadamente 115 km a oeste de Londres. Ali, Zweig

esperava poder afastar-se um pouco das pressões e das notícias cada vez piores que

circulavam na capital britânica.

Rosemount, a casa dos Zweig em Bath

Arquivo Casa Stefan Zweig

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Eva (sobrinha de Lotte), Stefan e Lotte Zweig, Bath, Inglaterra, verão de 1940

Arquivo Casa Stefan Zweig

Em março de 1940, os Zweig obtiveram a cidadania britânica, o que lhes

propiciava certa liberdade de movimento. Em abril, Stefan Zweig foi convidado a dar

uma palestra em Paris, a qual intitulou “A Viena de Ontem” - um prenúncio do que viria

a ser sua autobiografia escrita no ano seguinte – e onde fez pesquisas para seu novo

livro sobre a vida do escritor francês, Honoré de Balzac. No entanto, as invasões do

exército alemão à Dinamarca, Noruega e posteriormente, os ataques à França, Bélgica,

Luxemburgo e Holanda deixavam claro que a partir de então, a Inglaterra havia ficado

isolada no continente contra a Alemanha. Era o momento certo para que os Zweig

aceitassem um novo convite para a América do Sul, via Estados Unidos.

Assim como vinha fazendo ao longo dos anos, desde que Hitler tomou o

poder, Zweig procurou ajudar vários de seus amigos, fosse financeiramente ou mediante

contatos para obter-lhes vistos de entrada em diversos países do mundo, como mostram

muitas de suas cartas.29 Em junho de 1940, Stefan e Lotte partiram da Europa, talvez

pressentindo que dessa vez, não haveria volta.

Em 21 de agosto de 1940, Stefan e Lotte desembarcaram novamente no Rio de

Janeiro após um mês em Nova York. No final de outubro retornaram a Buenos Aires,

para outra rodada de apresentações de Zweig, de onde tramitaram seus vistos

permanentes para fixarem residência no Brasil; os mesmos foram concedidos em 5 de

novembro de 1940.

Ficha de imigração de Stefan Zweig, 1940

Arquivo Nacional, RJ

29 Stefan and Lotte Zweig’s South American Letters: New York, Argentina... pp. 12

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Ficha de imigração de Lotte Zweig, 1940

Arquivo Nacional, RJ

Foi também nessa época que Zweig começou a escrever seu livro Brasilien:

ein Land der Zukunft - traduzido ao português como Brasil: País do Futuro, sem o artigo

“um” – baseado em suas impressões sobre um lugar que parecia não sofrer os males do

continente que havia deixado para trás, rasgado pela guerra. Zweig via o Brasil como

uma esperança para o mundo e principalmente como resposta à sua própria pergunta:

“como é possível conseguir em nosso mundo uma convivência pacífica entre os homens

apesar das mais decididas diferenças de raça, classe, cor e convicções? ” Ao que ele

mesmo responde:

Em nenhum país essa questão se apresentou, por uma constelação

particularmente complicada, de um modo mais perigoso que para o

Brasil, e nenhum o resolveu de maneira tão feliz e exemplar quanto o

Brasil. O objeto deste livro é o testemunho agradecido disso. Resolveu-o

de um modo que, a meu juízo pessoal, chama, não somente a atenção,

mas também a admiração do mundo.30

(...)

O Brasil – e o significado deste experimento magnífico me parece

exemplar – levou o problema racial, que transtorna nosso mundo

europeu, do modo mais simples ad absurdum: ignorando simplesmente a

sua pretensa validez.31

30 ZWEIG, Stefan. Brasil: País de Futuro. Ediciones. Madrid: Editorial El Aleph, 1941. Edição

Eletrônica. pp. 13. 31 Ibidem. pp. 14.

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Brasil: um País do Futuro, é uma declaração de amor não somente ao país,

mas também ao que o mundo poderia ter sido, à sua utopia. E mesmo se uma análise

mais aprofundada das complexidades da nação brasileira não resiste completamente às

impressões de Zweig, sua força está justamente em seu próprio caráter de modelo

adotado por alguém que havia escapado de uma parte do mundo acometida de

insanidade e, mesmo se seu modelo não era de fato “o paraíso”, era sem dúvida um

lugar que tinha, sem dúvida, possibilidades muito maiores de um dia chegar a sê-lo.

Contudo, o “caçador de almas” e de futuros estava cansado. Em março de

1941 voltou mais uma vez a Nova York, onde escreveu sua biografia O Mundo de

Ontem. Mas ele não se sentia à vontade ali. Talvez porque não se sentisse à vontade em

um mundo que não era mais seu mundo. As frustrações de um exílio que cada vez mais

parecia não ter fim começaram a causar danos que aos poucos iam tornando-se

irreversíveis assim como parecia ser irreversível o futuro da Europa, principalmente

após a notícia da invasão da União Soviética pela Alemanha em 22 junho do mesmo

ano.

A casa da Rua Gonçalves Dias, 34, em Petrópolis, RJ, último endereço de Stefan e Lotte Zweig

Fotógrafo não identificado, s/d

Arquivo Casa Stefan Zweig, RJ

Fonte: Deutsche National Bibliothek

www.dnb.de

O Brasil, nesse sentido, parecia ser o único lugar que ainda propiciava a Zweig

um pouco de calma e – por que não – felicidade. Em novembro de 1941, já instalados

em Petrópolis, naquela que seria sua última residência. Em uma carta a seus cunhados

Manfred e Hannah – o irmão de Lotte e sua esposa - em tom de certa forma agridoce,

Zweig escrevia:

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Queridos H. & M. Não acreditava que em meu sexagésimo

aniversário estaria sentado em uma cidadezinha brasileira, sendo servido

por uma menina negra, descalça e a milhas e milhas de distância de tudo

o que era anteriormente a minha vida: livros, concertos, amigos,

conversa. Mas estamos extremamente felizes aqui, o pequeno bangalô

com sua grande varanda coberta (nossa verdadeira sala) tem uma

esplêndida vista das montanhas e bem em frente há um pequenino café,

chamado “Café Elegante” onde posso tomar um delicioso café por

centavos e desfrutar a companhia de condutores de carroças negros. A

vida é muito barata aqui e você não tem oportunidade de gastar. Estou

trabalhando e em minhas horas ociosas jogo partidas mestras de um

grande livro de xadrez – sentimo-nos distantes de tudo, até mesmo da

guerra.32

O jogo que Zweig estudava, no entanto, não era somente uma atividade para

as horas ociosas: o xadrez foi um dos protagonistas do último livro que Zweig

escreveria em sua vida.

Uma obra rica em termos do olhar psicanalítico nela contido e que gira em

torno a uma partida de xadrez que tem lugar em um navio que sai de Nova York rumo à

América do Sul. Nesse navio embarca Czentovitz, que, na ficção, é um dos maiores

enxadristas de todos tempos. Durante a viagem, uma partida é organizada entre o

campeão e um grupo de amadores. Após um impasse no jogo, o narrador relata o

aparecimento de um desconhecido que irá desafiar Czentovitz: o Dr. B., um advogado

vienense, preso após a anexação da Áustria pela Gestapo e condenado a um isolamento

total, em uma sala sem estímulos, sem nenhuma noção de tempo ou lugar, sem

possibilidade de ocupar seu espírito. Seu único entretenimento eram os interrogatórios.

Durante um desses interrogatórios o Dr. B. consegue roubar um livro. Ao

chegar à sua sala/cela, decepciona-se profundamente ao ver que se trata de um livro que

descreve partidas de xadrez. Mesmo assim, por falta de opção, começa a estudá-lo.

Naquele isolamento, as partidas tornam-se uma obsessão e ele começa a jogá-las em sua

mente. Ao redobrar seu espírito para jogar contra si mesmo, perde a razão e adoece. O

governo alemão permite então que ele parta para o exílio. O trauma, no entanto, deixou

nele marcas profundas, uma espécie de esquizofrenia:

Mas mesmo os pensamentos, por mais insubstanciais que

pareçam, precisam de um ponto de apoio, sem o qual começam a rodar e

a girar sobre si mesmos sem propósito. Eles também não toleram o

vácuo. Você esperava alguma coisa de manhã até a noite, mas nada

acontecia. Esperava novamente, e novamente. Nada acontecia. Você

esperava, esperava, esperava, você pensava, você pensava, você pensava

até que sua cabeça doía. Nada acontecia. Você era deixado só. Só. Só.33

Lotte terminou de datilografar Schachnovelle [A Novela do Xadrez], em três

cópias, na sexta-feira 20 de fevereiro de 1942. O original foi entregue no mesmo dia ao

editor Abraham Koogan, no Rio de Janeiro. Uma das cópias foi enviada aos editores de

Zweig em Nova York, Gottfried Bermann Fischer e Ben Huebsch e outra a seu editor e

32 Ibidem., p. 148. 33 ZWEIG, Stefan. Chess. London: Penguin Books, 2006, p. 28-29 (tradução nossa)

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tradutor em Buenos Aires, Alfredo Cahn.34 No dia seguinte, as cópias seguiram pelo

correio junto com mais de vinte cartas de despedida de Zweig para amigos familiares, as

quais chegariam dias após a sua morte. Entre os destinatários estavam seu irmão

Alfred35 e sua ex-esposa Friderike36. Na tarde de 23 de fevereiro, os corpos de Stefan e

Lotte foram encontrados sem vida na casa de Petrópolis, a última etapa do exílio. No dia

24, foram sepultados no cemitério da cidade, acompanhados por inúmeros intelectuais,

artistas, políticos; entre eles, os muitos amigos que haviam feito no Brasil.

Stefan e Lotte Zweig

Fotógrafo não identificado, s/d

Arquivo Casa Stefan Zweig, RJ

34 Fonte: www.elke-rehder.de/stefan-zweig.htm 35 Após uma passagem pela Suiça após o Anschluss, Alfred e sua esposa Stephanie fixaram residência nos

Estados Unidos. Documento relativo ao censo do país em 1940 indica que ele habitava no lado Oeste da

Rua 70, em Manhattan e era presidente de uma tecelagem. Faleceu em 19 de julho de 1977 aos quase 98

anos de idade e foi sepultado no cemitério Woodlawn, do Bronx, Nova York. 36 Friderike Maria von Winterwitz, Zweig (Burger) também se refugiou nos Estados Unidos durante a

guerra e onde viveu por várias décadas escrevendo memórias e dedicando-se a atividades voltadas a

causas sociais. Faleceu em 18 de janeiro de 1971, aos 88 anos de idade, na cidade de Stamford,

Connecticut, Estados Unidos

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Saiba mais...

Livros

ARENDT, Hannah. The Origins of Totalitarianism. New York: Harcourt, Brace and

Company, 1973.

ARENDT, Hannah. The Jewish Writings. New York: Schocken Books, 2007.

BURELLO, Marcelo G. (Ed.). Sigmund Freud y Stefan Zweig: “La invisible lucha por

el alma”. Epistolario completo 1908-1939. Buenos Aires: Miño y Dávila Editores,

2016.

DAVIES, D.; MARSHALL, J. (Eds.) Stefan and Lotte Zweig’s South American Letters.

New York: Continuum, 2010.

DINES, Alberto. Morte no Paraíso. São Paulo: Rocco, 2014.

HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do Espírito. Parte II. Petrópolis: Editora Vozes,

1999, 4ª ed. Trad. Paulo Meneses, com a colaboração de José Nogueira Machado.

KATZ, Jacob. Out of the Ghetto. The Social Background of Jewish Emancipation,

1770-1870. Cambridge: Harvard University Press, 1973.

KNOWLES, Elizabeth (ed.) The Oxford Dictionary of Quotations. Oxford: Oxford

University Press, 5ª ed. 1999.

MATUSCHEK, Oliver. Three Lives. A Biography of Stefan Zweig. London: Pushkin

Press, 2011.

ORWELL, George. “Pacifism and the War”. Publicado pela primeira vez na edição de

agosto-setembro de 1942 do periódico Partisan Review. In, The Collected Essays,

Journalism and Letters of George Orwell, 1940-1943. New York: Harcourt, Brace &

World, 1968.

PROCHNIK, George. The Impossible Exile: Stefan Zweig at the End of the World. New

York: Other Press, 2014. Edição eletrônica, Kindle.

ROTH, Joseph, A Life in Letters. Editado e traduzido ao inglês por Michael Hofmann.

New York: Granta, 2012. Edição eletrônica, Kindle.

SPITZER, Leo, Lives in Between. Assimilation and Marginality in Austria, Brazil, West

Africa 1780-1945. Cambridge: Cambridge University Press, 1989.

ZWEIG, Stefan. Beware of Pity. London: Pushkin Press Edição eletrônica para Kindle,

2011. (1ª ed., 1939)

_____________. Brasil: País de Futuro. Ediciones. Madrid: Editorial El Aleph, 1941.

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_____________. Chess. London: Penguin Books, 2006

_____________. Um Ensaio. A Unidade Espiritual do Mundo. Coleção Expresso Zahar.

Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2013.

_____________. Autobiografia: O Mundo de Ontem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar

Editor, 2014.

_____________. Erasmus of Rotterdam. London: Penguin Random House. Edição

Eletrônica, Kindle, 2015.

Sites

ANNO. Historische österreichische Zeitungen und Zeitschriften

www.anno.onb.ac.at

British Library (Coleção Stefan Zweig)

www.bl.uk/events/stefan-zweig-european-humanist-collector

Casa Stefan Zweig

www.casastefanzweig.org

Deutsche National Bibliothek

www.dnb.de

Elke Rehder

www.elke-rehder.de/stefan-zweig.htm

Freud Museum, London

www.freud.org.uk

Jewish Virtual Library

www.jewishvirtuallibrary.org

Staatsbibliothek zu Berlin. Preussischer Kulturbesitz

www.zefys.staatsbibliothek-berlin.de

The National Library of Israel

www.gizra.github.io

United States Holocaust Memorial Museum (USHMM)

www.ushmm.org

Vienna Tourist Guide

www.viennatouristguide.at

Zentrales Verzeichnis Antiquarischer Bücher

www.zvab.com

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49

Zweig Collection, State University of New York-Fredonia

www.zweigatfredonia.com

Artigos

ZOHN, Harry. “Stefan Zweig and Verhaeren. In memorian Stefan Zweig”. In

Monatshefte, Vol. 43, N. 4/5 (Apr – May 1951). Madison: University of Wisconsin

Press, pp. 199-206.

Speeches and Discourses of the XIV International Congress of P.E.N. Clubs, 5 - 15

Sept., 1936, P.E.N. Club de Buenos Aires, Argentina, G. J, Pesce & Co, 1937

Pesquisa e texto Carol Colffield