O NEPOTISMO, A MORALIDADE PÚBLICA E A JURISDIÇÃO ...

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1 Centro Universitário de Brasília Instituto CEUB de Pesquisa e Desenvolvimento ICPD Programa de Pós-Graduação em Direito NATÁLIA CISCOTTO FERREIRA O NEPOTISMO, A MORALIDADE PÚBLICA E A JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL: um estudo acerca do sentido e do alcance normativo da Súmula Vinculante n. 13. BRASÍLIA-DF 2015

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1

Centro Universitaacuterio de Brasiacutelia

Instituto CEUB de Pesquisa e Desenvolvimento ndash ICPD

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Direito

NATAacuteLIA CISCOTTO FERREIRA

O NEPOTISMO A MORALIDADE PUacuteBLICA E A JURISDICcedilAtildeO

CONSTITUCIONAL

um estudo acerca do sentido e do alcance normativo da Suacutemula

Vinculante n 13

BRASIacuteLIA-DF

2015

2

NATAacuteLIA CISCOTTO FERREIRA

O NEPOTISMO A MORALIDADE PUacuteBLICA E A JURISDICcedilAtildeO

CONSTITUCIONAL

um estudo acerca do sentido e do alcance normativo da Suacutemula

Vinculante n 13

Dissertaccedilatildeo apresentada ao curso de

Mestrado aacuterea Direito e Poliacuteticas

Puacuteblicas do Centro Universitaacuterio de

Brasiacutelia como requisito final agrave

concessatildeo do tiacutetulo de Mestre em Direito

e Poliacuteticas Puacuteblicas

Orientador Professor Doutor Luiacutes

Carlos Martins Alves Juacutenior

BRASIacuteLIA-DF

2015

3

Ferreira Nataacutelia Ciscotto

O nepotismo a moralidade puacuteblica e a jurisdiccedilatildeo constitucional um estudo acerca

do sentido e do alcance normativo da Suacutemula Vinculante n 13Nataacutelia Ciscotto

Ferreira A Autora 2015

221f

Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Centro Universitaacuterio de Brasiacutelia Programa de Mestrado

em Direito e Poliacutetica Puacuteblica Orientador Professor Doutor Luiacutes Carlos Martins Alves

Juacutenior

1Direito Constitucional 2 Nepotismo 3 Moralidade Administrativa 4Suacutemula

Vinculante Luiacutes Carlos Martins Alves Juacutenior (Orientador)

CDU

4

NATAacuteLIA CISCOTTO FERREIRA

O NEPOTISMO A MORALIDADE PUacuteBLICA E A JURISDICcedilAtildeO

CONSTITUCIONAL

um estudo acerca do sentido e do alcance normativo da Suacutemula

Vinculante n 13

Dissertaccedilatildeo apresentada ao curso de

Mestrado aacuterea Direito e Poliacuteticas

Puacuteblicas do Centro Universitaacuterio de

Brasiacutelia como requisito final agrave

concessatildeo do tiacutetulo de Mestre em Direito

e Poliacuteticas Puacuteblicas

Orientador Professor Doutor Luiacutes

Carlos Martins Alves Juacutenior

BRASIacuteLIA 20 DE MARCcedilO DE 2015

Banca Examinadora

_________________________________________

Professor Doutor Luiacutes Carlos Martins Alves Juacutenior

_______________________________________

Professor Doutor Jefferson C Caruacutes Guedes

__________________________________________

Professor Doutor Joatildeo Batista Gomes Moreira

5

Ao meu pai meu gordinho

que um dia reencontrarei com o mesmo amor

6

AGRADECIMENTO

A Deus por governar minha vida

Agrave minha matildee minha sempre e eterna amiga

Ao meu segundo pai Saraiva Felipe pelo amparo incondicional

Ao amigo Silas Brasileiro pela confianccedila e credulidade

Aos meus ex-chefes no Ministeacuterio da Agricultura Joseacute Gerardo Fontelles e Joseacute Carlos

Vaz pelo apoio indispensaacutevel

Ao meu ex-chefe e amigo Gustavo Pereira da Silva Filho pela continua paciecircncia e

compreensatildeo imprescindiacutevel ao alcance desta vitoacuteria

Agrave equipe da Coordenaccedilatildeo-Geral de Procedimentos Disciplinares especialmente Affonsa de

Oliveira Cristiane Castro Elisane Ribeiro Ana Rocha Vitor Rachid que esperaram e

vibraram comigo em cada etapa

Ao Dr Daniel Amim pela orientaccedilatildeo a iniciar esta caminhada

Agraves funcionaacuterias da secretaria do mestrado especialmente agrave Marley pela presteza e

gentileza sempre dispensadas

A todos os amigos pela paciecircncia e entendimento quanto agrave minha ausecircncia em suas vidas

nesta longa jornada

Agraves colegas e amigas do mestrado Raquel Mousinho e Bruna Mizuki pelo apoio

cumplicidade e companheirismo desde os primeiros dias deste aacuterduo estudo unidas pelo

Professor Dr Luiacutes Carlos Martins Alves Jr

Ao Professor Dr Marcelo Varella pela prestimosa e imprescindiacutevel compreensatildeo a

viabilizar a finalizaccedilatildeo deste trabalho

Ao meu amigo-irmatildeo parceiro de trabalho de jornada de vida Marcelo Arauacutejo cuja

amizade dedicaccedilatildeo disposiccedilatildeo e presteza incondicionais foram fundamentais para que

fosse possiacutevel chegar aqui

Enfim minha sincera e terna gratidatildeo ao meu orientador Professor Dr Luiacutes Carlos Martins

Alves Jr pela orientaccedilatildeo firme contundente brilhante e precisa pela compreensatildeo

paciecircncia e toleracircncia que o tornou para mim mais que o professor o orientador o mestre

e o exemplo de profissional - o ser humano extraordinaacuterio cuja conduta eacute exemplo a ser

seguido e quem estaraacute para sempre preservado como amigo no coraccedilatildeo

7

RESUMO

A presente dissertaccedilatildeo tem como objeto central a anaacutelise da construccedilatildeo da

Suacutemula Vinculante n 13 editada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2182008

a fim de obstar o nepotismo no acircmbito das trecircs esferas do Poder Puacuteblico de todos os

entes da Federaccedilatildeo tendo como referecircncia legislativa o disposto no caput do art 37 da

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 ou seja nos princiacutepios basilares da Administraccedilatildeo

Puacuteblica especialmente nos da moralidade impessoalidade e eficiecircncia Diante disso e

tendo em vista que o seu efeito vinculante atingiu a todos os Poderes de cada um dos

Entes Federados do Paiacutes causando impacto na realidade juriacutedica e administrativa

brasileira faz-se relevante o estudo do tema do qual se extraem pontos polecircmicos que

circundam tanto sua construccedilatildeo procedimental quanto o seu conteuacutedo juriacutedico material

Daiacute a necessidade de se analisar se o texto da suacutemula expocircs o que deveria expor - nos

termos das normas constitucionais e legais que regem o verbete vinculante em

concordacircncia com seus proacuteprios precedentes e ainda quais foram as suas

consequecircncias A partir disto se verifica se o STF ao realizar a construccedilatildeo judicial e

reconstruir a normativa da vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da Suacutemula Vinculante n 13

exorbitou a normatividade do proacuteprio instituto a partir da apreciaccedilatildeo das argumentaccedilotildees

expostas pelos Ministros do STF tanto nos seus quatro precedentes quanto nos dois

debates que a antecederam e que constituem as balizas de sua ediccedilatildeo com vistas a

esclarecer o seu sentido na forma que foi ementada Ainda se observa a ligaccedilatildeo da

noccedilatildeo poliacutetico-administrativa de nepotismo com a sua noccedilatildeo juriacutedica e a exposta pela

SV n13 bem como sua relaccedilatildeo com a moralidade no acircmbito constitucional tendo em

vista o sentido e alcance desta e se enfoca a dinacircmica de decidir dos Ministros do STF

sob a oacutetica da hermenecircutica juriacutedica analisando a maneira como eles decidem e a forma

como deveriam decidir especialmente quanto agrave interpretaccedilatildeo dos princiacutepios de acordo

com a norma constitucional e enfim se trata do procedimento de elaboraccedilatildeo da Suacutemula

Vinculante a fim de se analisar como deve ser construiacutedo o seu processo editorial qual

o seu sentido e efetivo alcance

Palavras-Chaves 1 Direito Constitucional 2 Nepotismo 3 Moralidade Puacuteblica 4

Suacutemula Vinculante 5 Jurisdiccedilatildeo Constitucional

8

ABSTRACT

The primary objective this work is the analysis about Precedent Instruction nordm 13 It

edited by the Supreme Court (STF) on August 21th 2008 in order to prevent nepotism

on all levels of Government Its legal reference is article 37 of the Constitution in other

words it is based on more importants principles of the Public Administration morality

impartiality and efficiency For this reason and given that Precedent Instructionlsquo effect

reached all the 3 powers of each of the Federated States impacting the Brazilian legal

and administrative rules itlsquos important the subject of the study which are extracted

controversial points surround both its procedural construction as its legal content

material Hence the need to analyze if the text of the summary set out what should

expose - under the constitutional and legal provisions which govern the binding Entry in

accordance with its own precedents and also what were the consequences From this we

can very appears that the Supreme Court in making the judicial construction and

reconstruct the rules of the bloc of nepotism by Precedent Instruction n 13 went

beyond the normativity of the Office itself from an examination of the arguments

exposed by the Ministers of the Supreme Court both in their previous four as the two

debates that preceded it and which are the beacons of its issue in order to clarify its

meaning in the form that was written Also note the connection of political and

administrative notion of nepotism with his legal concept and the exposed by Precedent

Instruction n13 as well as its relationship with morality within the constitutional

instruction in view of the meaning and scope of this and focuses the dynamics of

decision of the Ministers of the Supreme Court from the perspective of legal

interpretation analyzing the way they decide and how should decide especially as to

the interpretation of the principles according to constitutional rule and finally it comes

to the procedure elaboration of Precedent Instruction in order to analyze how it should

be built your editorial process which its meaning and effective range

Key Words 1 Constitutional Law 2 Nepotism 3 Public Morality 4 Summary

Vinculante5 Constitutional jurisdiction

9

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO p 10

1 A CONSTRUCcedilAtildeO JUDICIAL DA NOCcedilAtildeO DE NEPOTISMO E DE SUA

VEDACcedilAtildeO PELA SUacuteMULA VINCULANTE N13 p 41

11 Os precedentes da SV n13 p41 111 A Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade n 1521-4RS p41

112 O Mandado de Seguranccedila n 23780-5MA p46

113 Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade n12-6DF p48

114 Recurso Extraordinaacuterio n 579951RN p57

12 Os debates do Supremo Tribunal Federal sobre a SV n13 p63

13 Asserccedilotildees sobre a elaboraccedilatildeo da SV n13 e a reconstruccedilatildeo normativa da

vedaccedilatildeo do nepotismo pelo STF p68

2 O NEPOTISMO E A (I) MORALIDADE PUacuteBLICA A COMPREENSAtildeO NA

PERSPECTIVA BRASILEIRA p75

21 Bases histoacutericas do nepotismo no Brasil de heranccedila portuguesa a viacutecio da

administraccedilatildeo puacuteblica brasileira p75

22 A noccedilatildeo de nepotismo sob a oacutetica do magisteacuterio doutrinaacuterio no Brasil p78

23 A Moralidade Puacuteblica e a vedaccedilatildeo do nepotismo na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

de 1988 p84

231 O contraventor do princiacutepio da impessoalidade p94

232 O viacutecio que danifica o princiacutepio da eficiecircncia p98

233 O fim avesso ao princiacutepio da finalidade e ao interesse puacuteblico p100

234 A Moralidade Puacuteblica antiacutedoto do Nepotismo p101

24 Consideraccedilotildees Parciais p107

3 HERMENEUTICA E PODER NORMATIVO COMO OS MAGISTRADOS

DECIDEM E COMO DEVERIAM DECIDIR p112

31 Hermenecircutica juriacutedica e a aplicaccedilatildeo judicial p112

311 Como os magistrados decidem p112

3111 Hans Kelsen p112

3112 Alf Ross p114

3113 Eros Grau p119

312 Como os magistrados deveriam decidirp124

3121 Friedrich Karl Von Savigny p 124

3122 ChaiumlmPerelman p126

3123 Karl Larenz p 130

3124 Inocecircncio Maacutertires Coelho p134

32 Hermenecircutica Constitucional o poder normativo e a intepretaccedilatildeo dos

princiacutepios e postulados constitucionais p139

321 Inocecircncio Maacutertires Coelho p 139

32 Consideraccedilotildees a partir de Ronald Dworkin e Robert Alexy Ronald Dworkin p 143

323 Marcelo Neves p 146

324 Humberto Aacutevila p147

33 Consideraccedilotildees Parciais p152

10

4 A JURISDICcedilAtildeO CONSTITUCIONAL E A SUacuteMULA VINCULANTE N 13 p

162

41 A Suacutemula Vinculante no sistema normativo brasileiro p162

42 Sentido e alcance da Suacutemula Vinculante n 13 p167

421 Parentesco por consanguinidade e afinidade ateacute o terceiro grau p171

422 Parentesco com autoridade ou servidor ocupante de cargo comissionado p174

423 Acircmbito da mesma pessoa juriacutedica p176

424 Nomeaccedilatildeo de parente para cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila p179

425 Nepotismo Cruzado p189

43 Consequecircncias de seu sentido e alcance p 190

431 Reclamaccedilatildeo n 6838DF p190

432 Decreto Presidencial n 720310 p195

433 Multiplicidade de Reclamaccedilotildees p197

44 Consideraccedilotildees Parciais p200

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS p208

REFEREcircNCIAS p 213

11

INTRODUCcedilAtildeO

A presente dissertaccedilatildeo tem como objeto central a anaacutelise da construccedilatildeo da

Suacutemula Vinculante n 13 editada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2182008

a fim de obstar o nepotismo no acircmbito das trecircs esferas do Poder Puacuteblico de todos os

entes da Federaccedilatildeo tendo como referecircncia legislativa o disposto no caput do art 37 da

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 ou seja nos princiacutepios basilares da Administraccedilatildeo

Puacuteblica especialmente nos da moralidade impessoalidade e eficiecircncia como se

constata tanto pelos debates acerca dos termos do verbete sumular como pelos votos

dos Ministros nos quatro precedentes da SV n13 ADI n 1521-4RS MS 23780-5MA

MC - ADC n 12-6DF e a proacutepria ADC n 12-6DF e o RE n 579951RN1

A primeira redaccedilatildeo da citada Suacutemula foi ―baseada no julgamento da ADC n

12-6DF do RE n 579951 do MS n 23718 e em ―outros pronunciamentos2 com os

seguintes dizeres

A proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta em

qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

1 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade ADI n 1521-4RS Ementaacuterio n 1983-1

―CARGO DE CONFIANCcedilA ndash PARENTESCO ndash NOMEACcedilAtildeO E EXERCIacuteCIO - PROIBICcedilAtildeO ndash EMENDA

CONSTITUCINAL ndash ADI ndash LIMINAR Relator Min Marco Aureacutelio julgada em 12397 e publicada no DJ de

170300 Ajuizada pelo Procurador-Geral da Repuacuteblica Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em 100213

BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS 23780-5MA Ementaacuterio n 2223-1 ―MANDADO

DE SEGURANCcedilA NEPOTISMO CARGO EM COMISSAtildeO IMPOSSIBILIDADE PRINCIacutePIO DA

MORALIDADE ADMINISTRATIVA Ajuizado pela servidora Terezinha de Jesus Cunha Belford Relator Min

Joaquim Barbosa julgada em 28905 e publicada no DJ de 3306 Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em

100213 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar da Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC -

ADC n 12-6DF Ementaacuterio n 2245-1 ―EMENTA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE CONSTITUCIONALIDADE

AJUIZADA EM PROL DA RESOLUCcedilAtildeO Nordm 07 de 18102005 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA

MEDIDA CAUTELAR Relator Min Carlos Ayres Britto julgada em 16022006 e publicada no DJ de 010906

Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em 100213 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Declaratoacuteria

de Constitucionalidade ADC n 12-6DF Ementaacuterio n 2387-1 ―ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE

CONSTITUCIONALIDADE AJUIZADA EM PROL DA RESOLUCcedilAtildeO Nordm 07 de 181005 DO CONSELHO

NACIONAL DE JUSTICcedilA ATO NORMATIVO QUE DISCIPLINA O EXERCIacuteCIO DE CARGOS EMPREGOS E

FUNCcedilOtildeES POR PARENTES COcircNJUGES E COMPANHEIROS DE MAGISTRADOS E DE SERVIDORES

INVESTIDOS EM CARGOS DE DIRECcedilAtildeO E ASSESSORAMENTO NO AcircMBITO DOS OacuteRGAtildeOS DO PODER

JUDICIAacuteRIO E DAacute OUTRAS PROVIDEcircNCIAS Ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros - AMB e

patrocinada por Luis Roberto Barroso Relator Min Carlos Ayres Britto julgada em 20082008 DJ n 237 de

18122009 Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em 100213 BRASIL Supremo Tribunal Federal

Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ementaacuterio n 2338-10 ―ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA VEDACcedilAtildeO

NEPOTISMO NECESSIDADE DE LEI FORMAL INEXIGIBILIDADE PROIBICcedilAtildeO QUE DECORRE DO ART

37 CAPUT DA CF REPROVIDO EM PARTE Relator Min Ricardo Lewandowski julgado em 200808 e

publicada no DJ n 202 de 241008 Ajuizado pelo Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte Disponiacutevel em

http wwwstfjusbr Acesso em 100213Tais precedentes dentre outras coisas demonstraratildeo (ou natildeo) se

configuram de acordo com o art 103-A da Constituiccedilatildeo Federal um dos requisitos constitucionais referentes agrave

elaboraccedilatildeo de suacutemula vinculante qual seja ―reiterada jurisprudecircncia 2 BRASIL Supremo Tribunal Federal Debate sobre a Suacutemula Vinculante n 13 que integra a Ata da 21ordf (vigeacutesima

primeira) sessatildeo ordinaacuteria realizada em 200808 publicada no STF - DJe n 2142008 divulgado na terccedila-feira

111108 e publicado na quarta-feira 121108 p 20-24 p20 Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em

100213

12

Municiacutepios independe de lei decorrendo diretamente dos princiacutepios contidos

no artigo 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal3

Contudo nesse esteio foi recomendada outra redaccedilatildeo

A proibiccedilatildeo da nomeaccedilatildeo em cargo comissionado ou funccedilatildeo de confianccedila de

cocircnjuge companheiro ou parente de autoridade nomeada e investida em

cargo de direccedilatildeo chefia ou assessoramento na Administraccedilatildeo Puacuteblica direta

e indireta em qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados e dos Municiacutepios

independe de lei decorrendo diretamente dos princiacutepios contidos no artigo

37 caput da Constituiccedilatildeo4

Mas ao final dos debates o STF ―visando dirimir conflitos a respeito do tema

e expurgar a praacutetica do nepotismo no acircmbito judicial5 e ainda atuando como ―regrador

geral do paiacutes 6 ementou a SV n13 nos seguintes termos

A nomeaccedilatildeo de cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou

por afinidade ateacute terceiro grau inclusive da autoridade nomeante ou de

servidor da mesma pessoa juriacutedica investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo ou de confianccedila ou

ainda de funccedilatildeo gratificada na administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta em

qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

Municiacutepios compreendido o ajuste mediante designaccedilotildees reciacuteprocas viola a

Constituiccedilatildeo Federal7

Dessa forma em homenagem ao princiacutepio republicano e aos administrativos

da moralidade da impessoalidade da eficiecircncia e da finalidade com o intento de coibir

que agentes puacuteblicos confiram privileacutegios empregatiacutecios a seus parentes utilizando-se da

maacutequina estatal o STF traccedilou a noccedilatildeo de nepotismo por meio do texto do verbete

sumular e ―causou estreacutepito em todos os Poderes da Repuacuteblica Brasileira8 porque a

SV 13 ―natildeo se limitou a declarar a vedaccedilatildeo constitucional do nepotismo9 mas teceu

minuacutecias sobre o assunto reconstruindo normativamente a proibiccedilatildeo do nepotismo

Nesse contexto enquanto alguns representantes do magisteacuterio doutrinaacuterio

passaram a afirmar que o STF editou a Suacutemula Vinculante n13 impulsionado pela

3BRASIL Supremo Tribunal Federal Debate sobre a Suacutemula Vinculante n 13 que integra a Ata da 21ordf (vigeacutesima

primeira) sessatildeo ordinaacuteria realizada em 200808 publicada no STF - DJe n 2142008 divulgado na terccedila-feira

111108 e publicado na quarta-feira 121108 p20 Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em 100213 4 Ministro Cezar Peluso Ibidem fl 20 5EMPIROTTI Gabriele Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula n13 e sua eficaacutecia In Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 p 37-49 fev 2013 p39 6RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no Serviccedilo Puacuteblico Brasileiro e a SV 13 In Revista de Direito

Administrativo- RDA Rio de Janeiro v 260 p 203-229 maiago 2012 p 209 7 BRASIL Supremo Tribunal Federal Debate sobre a Suacutemula Vinculante n 13 que integra a Ata da 21ordf (vigeacutesima

primeira) sessatildeo ordinaacuteria realizada em 200808 publicada no STF - DJe n 2142008 divulgado na terccedila-feira

111108 e publicado na quarta-feira 121108 p20 Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em 100213p 24 8 OLIVEIRA George Feliacutecio Gomes de Da anaacutelise da Suacutemula Vinculante 13 do Supremo Tribunal Federal Alcance

Precedentes e Motivos Determinantes da norma que veda a praacutetica do Nepotismo no Brasil In Revista dos Tribunais

- RT v 98 n 890 p 9-32 dez 2009 p 10 9 DIZ Nelson Nascimento Nepotismo Suacutemula Vinculante nordm 13 Limitaccedilatildeo ao tratamento por lei In Revista de

Direito do Estado - RDE v 3 n 12 p385-391 outdez 2008 p390

13

necessidade de moralizar a administraccedilatildeo puacuteblica10

outros alegaram que o motivo que

levou o STF a editar a Suacutemula Vinculante que veda a praacutetica do nepotismo foi a ―mora

legislativa11

Todavia haacute de se ressaltar que nessa eacutepoca a Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e

Justiccedila e de Cidadania da Cacircmara Federal pressionada pelas sucessivas notiacutecias de

casos de nepotismo12

aprovou no dia 13 de abril de 2005 seis propostas de emenda

constitucional que proibiam a contrataccedilatildeo sem concurso de parentes ateacute o segundo

grau por autoridades dos trecircs Poderes da Uniatildeo dos Estados e dos Municiacutepios quais

sejam as PECs n 334 de 199613

que dispotildee sobre a vedaccedilatildeo para cocircnjuge parente ateacute o

segundo grau e companheiro n 558 de 199714

que proiacutebe a contrataccedilatildeo de parentes

nos trecircs poderes da Uniatildeo n 101 de 199915

que amplia os cargos em que a contrataccedilatildeo

de parente eacute vedada n 549 de 200216

que veda a nomeaccedilatildeo de parentes nos trecircs

poderes nos diferentes niacuteveis de governo com exceccedilatildeo do concursado e de parentesco

constituiacutedo apoacutes a nomeaccedilatildeo n 128 de 200317

e n193 de 200318

10 ―Era mesmo necessaacuteria portanto uma regulaccedilatildeo expressa da mateacuteria inclusive como forma de resguardar as

autoridades administrativas com espiacuterito republicano contra as tatildeo arraigadas pressotildees poliacuteticas no sentido de colocar

a maacutequina estatal a serviccedilo de interesses privados ESTRELLA Heron Nunes Nepotismo Aplicaccedilatildeo da Suacutemula

Vinculante n 13 do Supremo Tribunal Federal In Interesse Puacuteblico v 10 n 54 p 245-278 maiabr 2009 p 265-

266 ―Apoacutes tantos casos questionando a ocorrecircncia de nepotismo em vaacuterios setores da Administraccedilatildeo () resolveu se

posicionar e definir um conceito restrito vinculando as instacircncias inferiores ao seu entendimento mediante Suacutemula

Vinculante AMORA Luis Armando Saboya O Nepotismo o Recurso Extraordinaacuterio 579951RJ e a Suacutemula

Vinculante n13 do Supremo Tribunal Federal In MARIANO Cynara Monteiro e LIMA Martonio Montlsquoalverne

Barreto O Supremo Tribunal Federal e os casos difiacuteceis Florianoacutepolis Grupo conceito p 293-306 2012 p 295 11 ― () a mora de nossas casas legislativas no que toca agrave ediccedilatildeo de Lei regulamentando a mateacuteria a descrenccedila e

ilegitimidade que tomam conta do Parlamento onde a praacutetica do Nepotismo por parte dos agentes poliacuteticos tornou-se

recorrente a crise da Lei () como uacutenica forma de conduta exigiacutevel de particulares e do proacuteprio Estado a

supervalorizaccedilatildeo da eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitucionais o robustecimento da atuaccedilatildeo juriacutedica e poliacutetica do

Supremo Tribunal Federal enquanto Corte Constitucional () ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira de A ilegitimidade

Constitucional da Suacutemula Vinculante n 13 do STF e os limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica In Revista

Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia - Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro

Victor Nunes Leal v3 n 9 p 131-148 marabr 2011 p137 ―De qualquer modo dado o impacto simboacutelico e a

necessidade de diretrizes mais claras a Corte Suprema viu-se na contingecircncia de normatizarlsquo a mateacuteria numa suacutemula

vinculante para colmatar a renitente omissatildeo do Legislativo RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no Serviccedilo

Puacuteblico Brasileiro e a SV 13 In Revista de Direito Administrativo- RDA Rio de Janeiro v 260 p 203-229

maiago 2012 p 204-205 12 GARCIA Emerson Nepotismo origens e paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano IX n 200 p 24-27

mai2005 p 24 13 De autoria do ex-Deputado Aldo Arantes 14 De titularidade do ex-Deputado Carlos Nelson 15 De autoria do ex-Deputado Padre Roque 16 De titularidade do ex- Deputado Joseacute Dirceu 17 De autoria do ex Deputado Antocircnio Biscaia igual a anterior 18 De titularidade do Deputado Raul Jungmann que natildeo dispotildee diretamente sobre nepotismo mas trata da permissatildeo

da quebra de sigilo bancaacuterio e fiscal para os cargos de confianccedila ateacute o terceiro escalatildeo

14

E assim no dia 20 de abril de 2005 foi criada uma Comissatildeo Especial

constituiacuteda por 32 integrantes para discutir e sistematizar as seis emendas a serem

aprovadas em um projeto mas natildeo se logrou ecircxito19

Outros ainda aduziram que tal motivaccedilatildeo natildeo legitimaria a ediccedilatildeo da suacutemula

haja vista que seria prescindiacutevel que a vedaccedilatildeo no nepotismo decorresse de normativa

infraconstitucional20

Todavia o STF no ensejo de obstar as nomeaccedilotildees em cargos comissionados e

designaccedilotildees em funccedilotildees de confianccedila baseadas na satisfaccedilatildeo do interesse pessoal em

detrimento do puacuteblico assentou por meio do verbete sumular a reconstruccedilatildeo21

da

vedaccedilatildeo ao nepotismo bem como a proacutepria noccedilatildeo deste de forma a abarcar a nomeaccedilatildeo

de cocircnjuge e companheiro22

bem como dos parentes consanguiacuteneos em linha reta23

colateral24

e por afinidade25

ateacute o terceiro grau seja da autoridade nomeante ou de

servidor investido em cargo comissionado inclusive por designaccedilotildees reciacuteprocas26

em

funccedilatildeo de confianccedila ou cargo comissionado27

vinculando natildeo soacute ―todas as instacircncias

19 GARCIA Emerson Nepotismo origens e paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano IX n 200 p 24-27

mai2005 p24 20 Seraacute observado mais a frente que o STF quando tratou dos precedentes descaracterizou a necessidade de se

regulamentar a proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica por lei em sentido formal Segundo os Ministros o

nepotismo fere os princiacutepios da moralidade impessoalidade e eficiecircncia que regem a Administraccedilatildeo Puacuteblica e

assim sua vedaccedilatildeo decorre da autoaplicaccedilatildeo de tais princiacutepios insculpidos no art 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal

natildeo havendo portanto necessidade de lei especiacutefica a regulamentar a mateacuteria 21 Quando comparada com outras normativas antecedentes a ela eacute que se observa a reconstruccedilatildeo normativa da

vedaccedilatildeo do nepotismo o que seraacute verificado no final desta introduccedilatildeo 22 Parece loacutegico que o STF ao reconhecer a uniatildeo estaacutevel entre pessoas do mesmo sexo possibilita que o nepotismo

tambeacutem alcance a relaccedilatildeo homoafetiva 23 Os parentes consanguiacuteneos podem ser em linha retal ou colateral sendo a primeira referente agrave ascendecircncia e

descendecircncia Contando seus graus o primeiro grau ascendente refere-se aos pais e o segundo aos avoacutes Assim na

linha reta ascendente o nepotismo abarca os avoacutes Jaacute na linha descendente tecircm-se em primeiro grau os filhos e no

segundo grau os netos Portanto na linha reta descendente o nepotismo se limita aos netos 24 A linha colateral eacute aquela em que os parentes consanguiacuteneos partem de um mesmo descendente Como se inicia a

contagem do ascendente em comum nos pais que satildeo os parentes de primeiro grau de ambos o primeiro parente

colateral jaacute eacute de segundo grau que eacute o irmatildeo Os primos satildeo parentes de quarto grau natildeo alcanccedilados portanto pela

relaccedilatildeo de parentesco disposta pela suacutemula 25 O artigo 1595 do CC dispotildee que cada cocircnjuge ou companheiro eacute aliado aos parentes do outro pelo viacutenculo da

afinidadesect 1ordm - O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes aos descendentes e aos irmatildeos do cocircnjuge ou

companheirosect 2ordm - Na linha reta a afinidade natildeo se extingue com a dissoluccedilatildeo do casamento ou da uniatildeo estaacutevel

Entatildeo o viacutenculo por afinidade eacute criado pelo casamento e uniatildeo estaacutevel lembrando que nem com o divoacutercio existem

ex-sogros conforme o que dispotildee o CC Mas tendo em vista a previsatildeo disposta na Suacutemula a extensatildeo do

parentesco por afinidade no que concerne ao nepotismo chega ao terceiro grau abarcando os pais avocircs e bisavocircs

filhos netos e bisnetos irmatildeos sobrinhos e tios do cocircnjuge ou do companheiro assunto este que seraacute esmiuccedilado

mais adiante no presente trabalho 26 As quais configuram o nepotismo cruzado que ocorre quando duas autoridades ou servidores puacuteblicos que

ocupam cargo comissionado nomeiam em cargos de comissatildeo familiares um do outro sejam consanguiacuteneos ou afins

ateacute terceiro grau como troca de favor sendo portanto imprescindiacutevel a reciprocidade de favores para a

configuraccedilatildeo da espeacutecie proibida pela Suacutemula Vinculante Segundo Gina Copola ldquoReitere-se portanto que se natildeo

ocorrer o ajuste mediante designaccedilotildees reciacuteprocaslsquo entre as autoridades nomeantes natildeo ocorre o nepotismo cruzado e

assim se retira por completo a ilegalidade das nomeaccedilotildees realizadas COPOLA Gina O Nepotismo Cruzado e a

Suacutemula Vinculante n 13 do egreacutegio Supremo Tribunal Federal A improbidade administrativa Jurisprudecircncia sobre

o tema In Boletim de Direito Administrativo - BDA v 28 n07 p 785-789 jul 2012 p 789 27 Todas as expressotildees destacadas em itaacutelico na forma dispostas no acircmbito da Suacutemula sofrem aacuterduas criacuteticas dos

juristas

15

do Judiciaacuterio mas tambeacutem os ―Poderes Legislativo e Executivo (tanto a administraccedilatildeo

direta quanto a indireta) 28

Diante disso e tendo em vista que o seu efeito vinculante atingiu a todos os

Poderes de cada um dos Entes Federados do Paiacutes causando impacto na realidade

juriacutedica e administrativa brasileira faz-se relevante o estudo do tema Relevacircncia esta

que se assenta ao se observar o processo de decisatildeo da ediccedilatildeo da SV n13 do qual se

extraem pontos polecircmicos que circundam tanto sua construccedilatildeo procedimental quanto o

seu conteuacutedo juriacutedico material

O problema eacute que natildeo se sabe se o STF ao realizar a construccedilatildeo judicial e

reconstruir a normativa da vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da Suacutemula Vinculante n 13

exorbitou a normatividade do proacuteprio instituto

Daiacute a necessidade de se analisar se o texto da suacutemula expocircs o que deveria

expor - nos termos das normas constitucionais e legais que regem o verbete vinculante

em concordacircncia com seus proacuteprios precedentes e ainda quais foram as suas

consequecircncias A partir disto se verificaraacute se a SV n13 extrapolou os limites do proacuteprio

instrumento constitucional

Assim em torno da problemaacutetica satildeo suscitadas as seguintes hipoacuteteses

A partir de quais fundamentos o STF construiu a noccedilatildeo judicial sobre o

nepotismo e sua vedaccedilatildeo Os elementos sobre os quais foi construiacuteda tal noccedilatildeo satildeo os

mesmos nos quatro precedentes A redaccedilatildeo sumular guarda correspondecircncia com os

mesmos Qual motivaccedilatildeo acarretou a elaboraccedilatildeo da SV n13

A partir da noccedilatildeo administrativa-poliacutetica brasileira e da noccedilatildeo juriacutedica de

nepotismo a Suacutemula Vinculante n 13 abarcou todos os casos de privilegiamento

contraacuterios agrave moralidade puacuteblica

O STF utilizou de teacutecnicas e meacutetodos pertinentes agrave hermenecircutica juriacutedica

especialmente a constitucional tanto para julgar os precedentes quanto para construir a

noccedilatildeo judicial de nepotismo

O enunciando vinculante eacute consistente jaacute que se embasa apenas em quatro

julgados29

Eles configurariam jurisprudecircncia reiterada sobre a mateacuteria

28 PIRES Luis Manoel Fonseca Controle Judicial do Nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante do Supremo

Tribunal Federal In In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e

moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p235-252 p 247

16

A redaccedilatildeo da S V n 13 guardou coerecircncia com a finalidade do Instituto

Suacutemula Vinculante de ser clara objetiva e apaziguadora de controveacutersias jaacute que tece

minuacutecias sobre o nepotismo

A originalidade do texto sumular atende ao princiacutepio da legalidade jaacute que a S

V n 13 dispotildee de forma dissonante da constitucional e legal sobre temas juriacutedicos

como pessoa juriacutedica de direito puacuteblico e parentela por afinidade

Para que assim se possa responder o seguinte problema apresenta-se a questatildeo

o STF ao realizar a reconstruccedilatildeo normativa da vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da

Suacutemula Vinculante n 13 exorbitou a normatividade do proacuteprio Instituto A SV n 13 eacute

vaacutelida ou merece revisatildeo do tribunal

A fim de estear as hipoacuteteses perquiridas - as quais se visam responder por meio

dos capiacutetulos do texto - faz-se necessaacuterio realizar algumas consideraccedilotildees iniciais sobre

elementos que guardam relaccedilatildeo com o tema do trabalho

A primeira eacute pertinente agraves origens do nepotismo e sua implementaccedilatildeo no

Brasil a segunda refere-se agrave moralidade puacuteblica como preceito da administraccedilatildeo e a

terceira refere-se agraves normativas que apoacutes a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 vedaram o

nepotismo e formaram a base da ediccedilatildeo da Suacutemula Vinculante

O nepotismo remonta a quatro noccedilotildees30

sendo a mais relevante ao estudo a que

pertence ao haacutebito papal de privilegiar seus parentes que eram empregados na Santa Seacute

inclusive sobrinhos ditos nepoti na liacutengua italiana daiacute a designaccedilatildeo do nepotismo

acrescido do sufixo ismo que traduz a praacutetica31

Assim as origens do nepotismo remetem agraves praacuteticas de raiacutezes eclesiaacutesticas

arraigadas na Igreja que consistiam na nomeaccedilatildeo por Sua Santidade de familiares

29 Dissonantes em vaacuterios aspectos quanto agrave noccedilatildeo de nepotismo tanto as argumentaccedilotildees apresentadas pelos Ministros

no debate da suacutemula quanto os acoacuterdatildeos precedentes do enunciado 30 Duas decorrentes da palavra latina nepos sendo que uma indica ―posteridade podendo ser igualmente utilizado no

sentido de dissipador proacutedigo perdulaacuterio e devasso conforme Dicionaacuterio Latino Portuguecircs pp 550551 GARCIA

Emerson O Nepotismo Boletim de Direito Administrativo-BDA jun 2003 p 461-463 p461 e a outra define uma

espeacutecie de escorpiatildeo cujas crias colocando-se no dorso materno devoram a matildee conforme afirma Zelio Maia da

ROCHA Nepotismo e o Concurso Puacuteblico Criteacuterio objetivo de ausecircncia de moralidade e impessoalidade na

Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Juriacutedica Consulex ano 12 n 286 dez 2008 p 40-41 p 40 O autor em uma

posiccedilatildeo diferenciada dos demais afirma que ―Esta situaccedilatildeo me parece mais proacutexima ao que vivemos hoje no Brasil

ou seja aquele que se apodera do Estado e visa apenas o benefiacutecio proacuteprio em detrimento da coletividade Haacute ainda

outra noccedilatildeo pois ―para alguns proveacutem do nome do imperador romano Flaacutevio Juacutelio Nepote (em latim Flavius Iulius

Nepos) conforme informa Joatildeo Gaspar RODRIGUES Nepotismo no Serviccedilo Puacuteblico Brasileiro e a SV 13 Revista

de Direito Administrativo - RDA Rio de Janeiro v 260 maiago 2012 p 203-229 p 205 31 POLITO Andreacute Guilherme Michaelis Dicionaacuterio Escolar Italiano Italiano-Portuguecircs Portuguecircs Italiano Satildeo

Paulo Ed Melhoramentos 2007 p 609 e 684

17

sobretudo de netos e sobrinhos em cargos pontifiacutecios tanto que Marsiacutelio de Paacutedua

noticia a ocorrecircncia de tal praacutetica nos idos do seacuteculo XIV32

Nesse esteio Emerson Garcia sintetiza o histoacuterico do nepotismo durante os

seacuteculos na igreja demonstrando ainda a iacutentima ligaccedilatildeo entre a nobreza os Governantes

de Roma e a Igreja sendo aqueles nomeados para cargos desta33

e Dioacutegenes Gasparini

afirma que o nepotismo ―expressava o costume adotado pelos papas dos seacuteculos XV e

XVI consistente no favorecimento sistemaacutetico de suas famiacutelias (sobrinhos e outros

parentes) com tiacutetulos (cargos de autoridade) e doaccedilotildees (presentes materiais)34

O fato de que nepotismo adveio da praacutetica papal foi tatildeo notoriamente assentado

na histoacuteria que restou absorvido pelos operadores do direito paacutetrio ao elucidarem no

acircmbito juriacutedico sobre o tema35

Mas este costume natildeo pode ser atribuiacutedo apenas agraves

accedilotildees do Sumo Pontiacutefice da Igreja Catoacutelica uma vez que jaacute na Roma antiga os seus

imperadores beneficiavam seus familiares com cargos de prestiacutegios tiacutetulos e outras

honrarias36

E a praacutetica natildeo parou em Roma Antiga muito pelo contraacuterio se expandiu pelos

diversos Estados Absolutistas como costume do rei jaacute que o Estado se confundia com a

figura real e por consequecircncia a maacutequina estatal natildeo era vista como algo estatal

32 ―Com efeito quem natildeo ficaraacute espantado e estarrecido perante o fato de que esses jovens ignorantes da escritura

divina imaturos () inexperientes incultos e agraves vezes ateacute sabidamente criminosos foram nomeados para os

bispados mais importantes da igreja graccedilas agrave corrupccedilatildeo simoniacuteaca ou pela suacuteplica dos poderosos para natildeo

mencionar por vezes o terror por servilismo ou em razatildeo de laccedilos de parentesco p540 Segundo ele os papas ―()

se reservaram exclusivamente o direto de nomear para os cargos eclesiaacutesticos em geral () graccedilas agrave plenitude do

poder passaram a indicar pessoas ignaras nas Sagradas Paacuteginas mundanas incultas e com muita frequecircncia ateacute

indiviacuteduos sabiamente criminosos p538 Sendo tal nomeaccedilatildeo assim ―() porta maleacutevola atraveacutes da qual eles

proacuteprios jaacute entraram e que conduz aos cargos e benefiacutecios eclesiaacutesticos p544 Ainda elucida que a nomeaccedilatildeo para o

cargo era moeda de troca de favores ―O Bispo de Roma procurando obter em benefiacutecio proacuteprio o favor e a mercecirc

dos poderosos talvez tendo deles recebido uma soma de dinheiro promoveu o episcopado nas cidades mais

renomadas jovens ignorantes na lei divina PAacuteDUA Marsiacutelio op cit p544 PAacuteDUA Marsiacutelio O Defensor da

Paz Traduccedilatildeo e notas Joseacute Antocircnio Camargo Rodrigues de Souza introduccedilatildeo Joseacute Antocircnio Camargo Rodrigues de

Souza Francisco Berteloni e Gregorio Piaia Petroacutepolis RJ Vozes 1995 33 GARCIA Emerson Nepotismo Origens e Paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano 9 n 200 mai 2005 p 27

Fato este observado tambeacutem por Marsiacutelio de Paacutedua no Seacuteculo XIV 34

GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN

Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p71-98 p 73 35 Eacute o que demonstra a passagem do voto do Ministro Ricardo Lewandowski ―A utilizaccedilatildeo desse termo

historicamente adveacutem da autoridade exercida pelos sobrinhos e outros aparentados dos Papas na administraccedilatildeo

eclesiaacutestica nos seacuteculos XV e XVI da nossa era ganhando atualmente o significado pejorativo do favorecimento de

parentes por parte de algueacutem que exerce o poder na esfera puacuteblica ou privada BRASIL Supremo Tribunal Federal

Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Relator Min Ricardo Lewandowski julgado em 2082008 DJ n 202 de

24101008 Ementaacuterio n 2338-10 36 ―() Roma ao tempo de Juacutelio Ceacutesar em finais do seacuteculo I aC agravequela eacutepoca tornou-se comum o ato juriacutedico da

adoccedilatildeo a perfilhaccedilatildeo de adultos principalmente pelos poliacuteticos que natildeo possuiacuteam filhos homens Neste caso passava

o adotado a se beneficiar dos mesmos criteacuterios que os dos filhos legiacutetimos () GARCIA Emerson Nepotismo

Origens e Paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano 9 n 200 mai 2005 p26

18

puacuteblico mas particular pertencente ao monarca que poderia utilizar dela como bem lhe

conviesse37

E natildeo haacute de se esquecer de que na proacutepria Itaacutelia Renascentista natildeo unificada

na qual cada cidade era um Estado esta praacutetica ligava o poder estatal ao eclesiaacutestico e

vice-versa em um jogo de interesses entre as famiacutelias que governavam tais cidades-

estados e a Igreja em uma simbiose de luta pelo poder e pelo status por meio das

nomeaccedilotildees de parentes em ambos os cargos38

Diante disso eacute que Carmem Luacutecia afirma que a praacutetica do nepotismo natildeo foi

obstada pelo Estado de Direito pois ―a Lei que deveria informar o Poder ateacute os seacuteculos

XVII e XVIII natildeo era senatildeo a vontade do rei e dos poderosos que em torno dele

respiravam e que recebiam os favores que a ningueacutem mais eram concedidos A

doutrinadora ainda completa que a transposiccedilatildeo da vontade pessoal pela ―politizaccedilatildeo e

publicidade do poder estatal impessoal natildeo foram o bastante para romper a tradiccedilatildeo do

exerciacutecio pessoal e particular do Poder39

Isto porque o cerne do nepotismo ato de ―empregar parentes no poder

puacuteblico remonta ao entendimento de que o puacuteblico eacute privado de que a maacutequina

administrativa estatal eacute um patrimocircnio familiar do qual se pode dispor da forma que

quiser e natildeo como coisa puacuteblica que pertence ao povo algo bem encrustado na

monarquia independente do Estado ser Absolutista ou de Direito

37 ―O direito divino dos reis ()distribuiacutea repartia e compartilhava segundo os seus uacutenicos interesses a quem bem

entendesse e claro ele soacute entendia e o estendia a seus parentes e pessoas a ele ligadas A ideia do Poder do Estado

como res pessoal do monarca e natildeo Poder Puacuteblico () estendeu-se ao territoacuterio do Estado ROCHA Carmem Luacutecia

Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p 159 Tanto que

Thomas Hobbes em ―O Leviatatilde ao pregar um Estado forte absolutista firmado na monarquia suscita que esta eacute

preferiacutevel agrave democracia e que um dos motivos disto eacute que a praacutetica personalista pelo rei eacute menor que pela assembleia

incluiacutedo neste esteio o nepotismo como praacutetica de favorecimento da famiacutelia pois segundo o autor na monarquia haacute

um rei e na democracia haacute vaacuterios e como o monarca em quantidade de parentes eacute menor que os integrantes da

assembleia a monarquia seria preferiacutevel o cabedal de emprego e auxiacutelio seria menor Hobbes fundamenta sua tese no

fato de que seja quem for que represente o povo antes de tudo se representa como pessoa natural e mesmo que ―()

tenha o cuidado em sua pessoa poliacutetica de promover o interesse comum () teraacute mais ainda de promover seu proacuteprio

bem pessoal assim como o de sua famiacutelia seus parentes e amigos () De onde se segue que quanto mais

intimamente unidos estiverem o interesse puacuteblico e o interesse pessoal mais se beneficiaraacute o interesse puacuteblico Ora

na monarquia o interesse pessoal eacute o mesmo que o interesse puacuteblico () e enquanto os favoritos de um monarca satildeo

poucos e ele tem para favorecer apenas os seus parentes os favoritos de uma assembleia satildeo muitos e os parentes satildeo

em muito maior nuacutemero que os de um monarca HOBBES Thomas O Leviatatilde Satildeo Paulo Ed Martins Fontes

2003 p 162 38 Dioacutegenes Gasparini afirma que ―na Itaacutelia Renascentista era comum a nomeaccedilatildeo pelos titulares do poder puacuteblico

para postos militares e poliacuteticos de alta relevacircncia de seus proacuteprios familiares PIRES Luis Manuel Fonseca

ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa

GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico Belo Horizonte Ed Foacuterum 2008 p 73 E Emerson Garcia completa

asseverando que no ―periacuteodo que vai da metade do seacuteculo XV ateacute meados do XVII poucas famiacutelias dominaram o

Vaticano Orsini Colonna Meacutedici Barberini Deila Rovere e umas poucas mais que fizeram mais de quarenta

papas Nepotismo Origens e Paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano 9 n 200 mai 2005 p 27 39ROCHA Op cit p 159

19

Assim utilizado pela Igreja ou pelo Estado40

o nepotismo era empregado

como instrumento de poliacutetica familiar cuja finalidade eacute beneficiar o clatilde de um

determinado patronato e foi nesse esteio que se enraizou no Brasil

O governo e a corte da monarquia portuguesa sedimentados em uma sociedade

personalista e dividida em estamento tinham como costumes vaacuterias condutas que

confundiam o puacuteblico com o privado Dentre elas a concessatildeo de privileacutegios aos

servidores e agrave nobreza a proteccedilatildeo do rei aos seus e aos seus auxiliares41

Nesse esteio

se inseria o nepotismo configurado na disposiccedilatildeo de cargos e tiacutetulos utilizado pelo

monarca de acordo com o seu interesse como instrumento de privileacutegio e proteccedilatildeo aos

seus

O rei comandava impunha respeito obediecircncia e ordem por meio da

―autarquia do indiviacuteduo da exaltaccedilatildeo extrema da personalidade da paixatildeo fundamental

e que natildeo tolera compromissos42

a uma nobreza avessa ao trabalho que venerava o

oacutecio43

e como parasita do rei tinha o haacutebito de articular ―agrave custa da intriga bem tecida

da conversa doce ―a conquista ao emprego ao posto agrave dignidade44

40 ―() consiste numa poliacutetica para empregar parentes privilegiar os laccedilos de sangue ou de afinidade fechando-se o

preenchimento de cargos puacuteblicos em grupos familiares Tal poliacutetica revela uma reminiscecircncia da eacutepoca das grandes

monarquias e das repuacuteblicas aristocratas quando a figura central aqueles que detinham o poder conferiam

privileacutegios e cargos aos seus parentes enquanto os demais que natildeo circundavam essa classe privilegiada ficavam

excluiacutedos do acesso a tais privileacutegios ARAKAKI Allan Thiago Barbosa ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula

Vinculante 13 e o combate ao nepotismo Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI Ed RT

Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 p 101-121 abrjun 2011 p 103 Ainda como exemplo desta praacutetica pode-

se citar a conduta de Napoleatildeo ―que nomeou seu irmatildeo Napoleatildeo III para governar a Aacuteustria que abrangia a

Franccedila a Espanha e a Itaacutelia Com isto em muito diminuiacuteam as chances de uma possiacutevel traiccedilatildeo permitindo a

subsistecircncia do impeacuterio napoleocircnico GARCIA Emerson Nepotismo Boletim de Direito Administrativo ndash BDA jun

2003 p 461 41 Segundo Raymundo Faoro ―Do patrimocircnio do rei () fluiacuteam rendas para sustentar os guerreiros os delegados

monaacuterquicos espalhados no paiacutes e o embriatildeo dos servidores ministeriais aglutinados na corte FAORO Raymundo

Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p4 E Seacutergio

Buarque de Holanda informa que ―Em 1720 () soacute as pessoas investidas de cargo puacuteblico poderiam embarcar com

destino a colocircnia HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras

1995 p 102 Oliveira Viana assevera que ―Quando Portugal iniciou os descobrimentos () o campo do parentesco

adotivo tinha entatildeo uma extensatildeo muito maior do que a atual - o que ampliava consideravelmente o tamanho do

grupo patriarcal e em consequecircncia a forccedila e o prestiacutegio do pater-famiacutelias senhorial () Os acostados da Nobreza

eram havidos na conta de parentes () gloriando-se da sua casa adotiva e prontos a darem a vida pelo amo ()

VIANA Oliveira Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 223

Segundo Carmem Luacutecia ―Em Portugal () a Monarquia traduzia o paradigma de poder exercido pelo rei em seu

nome e segundo sua vontade Os cargos e empregos puacuteblicos podiam ser e eram por ele leiloados e presenteados

como o eram as proacuteprias terras colonizadas e onde se estendessem os domiacutenios portugueses Princiacutepios

Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p 159 42 HOLANDA Op cit p39 43 Conforme Seacutergio Buarque de Holanda ―Uma digna ociosidade sempre pareceu mais excelente e ate mais

nobilitante a um bom portuguecircs ou a um espanhol do que a luta insana pelo patildeo de cada dia () O certo eacute que

entre espanhoacuteis e portugueses a moral do trabalho representou sempre fruto exoacutetico Ibidem p 38 -39 44FAORO op cit p 81 ―Politicamente a camada dominante associada ao rei por conviacutevio fraternal e de

irmandade dispotildee de poderes administrativos e de comando os quais para se atrelarem ao rei dependem de

negociaccedilotildees e entendimentos Ibidem p 19

20

Nesse Estado patrimonialista em que o puacuteblico era privado e que o Estado era

o proacuteprio rei do rei para o rei e para aqueles que estavam a sua volta fossem parentes

ou amigos a uacutenica solidariedade que existia entre eles era ―de ciacuterculos forccedilosamente

restritos particularistas onde havia vinculaccedilatildeo de sentimentos () no recinto

domeacutestico ou entre amigos45

sendo o nepotismo apenas uma decorrecircncia deste

contexto46

Desta feita os portugueses construiacuteram o Brasil ―erguido sobre os pilares de

uma monarquia absolutista fazendo que monarca e administradores se mantivessem

unidos por elos iminentemente pessoais e paternalistas ―sem qualquer

comprometimento com ideais eacuteticos deveres funcionais ou interesses coletivos sendo

―a coisa puacuteblica ―coisa de ningueacutem e que sua uacutenica utilidade eacute satisfazer os interesses

da classe que ascendeu ao poder47

E mesmo que essa concepccedilatildeo tenha sido parcialmente alterada na eacutepoca da

invasatildeo de Portugal por Napoleatildeo pois tal acontecimento provocou a fuga da realeza

portuguesa para as terras brasileiras em 180848

natildeo influiu na distribuiccedilatildeo de tiacutetulos e

honrarias onde se acoberta o nepotismo49

45 HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 39 Paulo

Modesto ensina que ―() eacute a manifestaccedilatildeo tiacutepica de patrimonialismo na Gestatildeo do Estado ou dominaccedilatildeo patrimonial

() No patrimonialismo o governante organiza o poder poliacutetico como uma espeacutecie de poder domeacutestico segundo

viacutenculos de solidariedade e fidelidade tiacutepicos dos membros de uma famiacutelia Natildeo haacute impessoalidade () O poder eacute

exercido como propriedade pessoal do governante extensatildeo do seu domiacutenio privado sem realizar a distinccedilatildeo entre a

esfera puacuteblica e a esfera privada Os cargos satildeo vendidos ou concedidos () sendo utilizados para cooptaccedilatildeo e

favorecimento O poder eacute concebido como um bem privado e apropriado por seus exercentes sempre atentos agrave

proteccedilatildeo de seus dependentes e afilhados O governante eacute o pater familias supremo () descriccedilatildeo tiacutepica-ideal

sintetizada para conformar um conceito operacional e criacutetico de patrimonialismo no exerciacutecio do poder poliacutetico-

administrativo () eacute conceito uacutetil tambeacutem para descrever traccedilos amplamente verificados ao longo da histoacuteria poliacutetico

institucional brasileira () Eacute o culto ao patrimonialismo que explica porque o favorecimento de parentes e afins no

acesso a cargos e funccedilotildees puacuteblicas foi comportamento considerado normal durante largos periacuteodos de nossa histoacuteria

Nepotismo em Cargos Poliacutetico administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP Belo Horizonte Ed

Foacuterum v 11 n 41 abrjun 2013 p14-15 46 Segundo Florivaldo Dutra de Arauacutejo ―O nepotismo () constitui vertente do patrimonialismo modelo de

administraccedilatildeo puacuteblica que confunde o puacuteblico e o privado transformando as prerrogativas e os recursos puacuteblicos em

instrumentos a serviccedilo de interesses particulares O patrimonialismo caracterizou a administraccedilatildeo dos negoacutecios

puacuteblicos na maior parte da Histoacuteria e somente com a concepccedilatildeo do Estado de Direito passou a ser vista como

incompatiacutevel com o exerciacutecio das funccedilotildees estatais ARAUacuteJO Florivaldo Dutra O nepotismo e os princiacutepios da

administraccedilatildeo puacuteblica In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo

eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p117-128 p 118 47 GARCIA Emerson Repressatildeo agrave Corrupccedilatildeo no Brasil Entre a Realidade e a Utopia Rio de Janeiro Ed Lumen

Juris 2011 p 2 48 Segundo Emerson Garcia ―Napoleatildeo ao determinar a invasatildeo do territoacuterio portuguecircs e precipitar a fuga da famiacutelia

real em 1808 para o Brasil contribuiu decisivamente () feiccedilatildeo da colocircnia comeccedilou a mudar no momento em que a

famiacutelia real desembarcou em solo brasileiro e aqui se instalou () Com a presenccedila da famiacutelia real logo o Brasil

tornou-se o centro de comando das possessotildees portuguesas Op cit p 2-3 49 Nas palavras de Emerson Garcia ―Melhorias agrave parte a administraccedilatildeo puacuteblica brasileira cultivou maus haacutebitos

desde o nascedouro () A distribuiccedilatildeo de honrarias e tiacutetulos de nobreza foi uma das formas encontradas por D Joatildeo

VI para conquistar o apoio poliacutetico e financeiro da elite local variando a importacircncia dos tiacutetulos conforme a

intensidade do apoio declinado agrave Coroa Em apenas oito anos distribuiu mais tiacutetulos de nobreza que Portugal nos

trezentos anos anteriores Essa elite destituiacuteda de valores eacuteticos e movida pelo espiacuterito de troca () ascendeu ao

21

Desta feita a cultura inerente agrave monarquia portuguesa e sua corte50

que

privilegiava o personalismo em detrimento da impessoalidade que ensejava ao

indiviacuteduo a visualizar o cargo puacuteblico como uma forma de ―encostar-se ao Estado e se

nobilitar51

que ressaltava a busca da riqueza faacutecil em detrimento do trabalho52

que

confundia o espaccedilo puacuteblico e o privado a beneficiar uma minoria que ensinava que a

troca de favores e a influecircncia eram os meios adequados a se obter algo e ainda que se

deve obedecer a quem estaacute no poder em conformidade com o velho jargatildeo de ―manda

quem pode obedece quem tem juiacutezo foi sedimentada no Brasil53

Por isso pode-se dizer ―que de laacute () veio a forma atual de nossa cultura

―fundamentos do nosso destino histoacuterico de ―nossas raiacutezes governamental-

administrativa brasileira patrimonialista54

exaltadas na realidade colonial quase toda

poder e sedimentou um verdadeiro cranco na estrutura administrativa GARCIA Emerson Repressatildeo agrave Corrupccedilatildeo

no Brasil Entre a Realidade e a Utopia Rio de Janeiro Ed Lumen Juris 2011 p3-4 50 Segundo Viana ―os usos tradiccedilotildees costumes - em suma todas as modalidades estandardizadas ou

institucionalizadas de comportamento social impostas pelo que a Ciecircncia Social hoje chama de a culturalsquo do grupo

ou do povo - natildeo tem apenas uma existecircncia fora de noacutes ndash na sociedade mas tambeacutem dentro de noacutes na nossa

consciecircncia () Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p67

Segundo Holanda ―Por outro lado natildeo foi possiacutevel consolidarem-se ou cristalizarem-se padrotildees eacuteticos muito

diferentes dos que jaacute preexistiam para a nobreza () Op cit Paacuteg 112 De acordo com Roberto DAMATTA ―O

lado contundente de nossa histoacuteria eacute que somos um paiacutes feito por portugueses brancos e aristocraacuteticos uma sociedade

hierarquizada e que foi formada dentro de um quadro riacutegido de valores discriminatoacuterios O que faz o Brasil Brasil

Rio de Janeiro Rocco 1984 p27 51 Conforme Raymundo Faoro ―O estamento supotildee distacircncia social e se esforccedila pela conquista de vantagens

materiais e espirituais exclusivas () bem como asseguram privileacutegios materiais e de maneiras Os donos do Poder

Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p 47 ―No paiacutes os cargos satildeo

para os homens e natildeo os homens para os cargos Op cit p 58 52 Segundo Raymundo FAORO ―Os netos dos conquistadores de dois mundos podem sem desonra consumir no

oacutecio o tempo e a fortuna ou mendigar pelas secretarias um emprego o que natildeo podem sem indignidade eacute trabalhar

() noacutes preferimos ser uma aristocracia de pobres ociosos a ser uma democracia prospera de trabalhadores Op cit

p 87 ―O mundo colonial () consolidaraacute manteacutem o potencial da fortuna faacutecil () do enriquecimento raacutepido

Ibidem p216 ―Nem o branco portuguecircs nem o branco natural do paiacutes podem apanhar enxada ou tocar no arado O

trabalho braccedilal degrada e o equipara ao escravo ndash a esta infacircmia eacute preferiacutevel a ociosidade o parasitismo o expediente

da busca de proteccedilatildeo dos poderosos Ibidem p 217 53 Segundo Emerson Garcia haacute uma sedimentaccedilatildeo ―no imaginaacuterio popular de ―um sentimento de desvalorizaccedilatildeo dos

interesses puacuteblicos que sempre satildeo submetidos agraves mudanccedilas do tempo () e de hipervalorizaccedilatildeo do interesse

privado que deve assumir uma posiccedilatildeo de premecircncia custe o que custar E afirma que este quadro brasileiro se

iniciou no ―seu proacuteprio processo de colonizaccedilatildeo Repressatildeo agrave Corrupccedilatildeo no Brasil Entre a Realidade e a Utopia

Rio de Janeiro Ed Lumen Juris 2011 p 1-2 Para Faoro no Brasil Colocircnia os ―() fidalgos vivem das comendas e

rendas da coroa () A nobreza () se alimenta dos favores e das vantagens que fluem das matildeos do rei Os Donos do

Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p 220 ―E ainda haacute

delegados e concessionaacuterios dos monopoacutelios e privileacutegioslsquo bem como o particular nimbado com os favores

puacuteblicos Opcit p 222Segundo Faoro ―() aberto o acesso ao apelo retificador do rei somente aos poderosos O

funcionaacuterio eacute a sombra do rei e o rei tudo pode Ibidem p 172 Conforme os dizeres de VIANA o povo desde

sempre aprendeu que ―() soacute o senhor decidia soacute o senhor ordenava Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia

Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 299-301 E que assim ― () o povo-massa aprendia () princiacutepio uacutetil

-- de interesse puacuteblico era o do valor da obediecircncia agrave autoridade dos chefes ndash traccedilo () que () se tem ateacute agora

mantido fiel Idem p 304 Seacutergio Buarque de Holanda resume como ―essa acircnsia de prosperidade sem custo de

tiacutetulos honoriacuteficos de posiccedilotildees e riquezas faacuteceis tatildeo notoriamente caracteriacutestica da gente de nossa terra

HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p46 54 HOLANDA Op cit p 40 Eacute o que explica VIANA Os ―povos () da Ameacuterica que foram ―submetidos aos ()

espanhoacuteis portugueses sofreram desviaccedilotildeeslsquo da pauta cultural () Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia

Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p75 Segundo Faoro o ―espiacuterito dos povoadores e de que ―tudo

pretendem levar a Portugal e este espiacuterito se alastrou pois ―natildeo o tem soacute os que de laacute vieram mas ainda os que caacute

nasceram E desta visatildeo viciada ―nasce tambeacutem que nem um homem nesta terra eacute republicano nem zela ou trata do

22

rural e sedimentada nos clatildes formados pelos ―grupos rurais dominantes e enraizadas

nas relaccedilotildees pessoais parentais o que ensejou o aumento do personalismo55

E ocasionou consequecircncias costumeiras agrave esfera poliacutetica governamental e

administrativa brasileira as quais em seu conjunto patrimonialista estabeleceu as bases

para que o nepotismo natildeo apenas de enraizasse mas tambeacutem se ampliasse A primeira

delas eacute a forma de se se governar assentada no modelo patrimonial e no coronelismo -

maneira de fazer poliacutetica - desde o Impeacuterio56

proacutexima agrave ―de clientela com fundamental

distorccedilatildeo autoritaacuteria e povo votava em quem tinha que votar ―com promessas de

rendosos empregos e depreciadas condecoraccedilotildees57

E como a poliacutetica brasileira se constituiu em uma linha uniforme tambeacutem na

Repuacuteblica Velha - emancipada na poliacutetica dos governadores e no coronelismo - a

poliacutetica continuou a ser realizada de acordo com a pessoalidade os laccedilos de amizade a

afinidade e parentesco58

natildeo havendo qualquer mudanccedila posteriormente jaacute que os

estadistas continuavam sendo ―a minoria dirigente conduzindo o paiacutes com a pele de

bem comum senatildeo cada um do bem particular Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf

ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p 153 55 HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 15 ―() dos

vaacuterios setores de nossa sociedade colonial foi sem duacutevida a esfera da vida domeacutestica aquela onde o princiacutepio de

autoridade menos acessiacutevel se mostrou as forccedilas corrosivas que de todos os lados o atacavam Sempre imerso em si

mesmo natildeo tolerando nenhuma pressatildeo de fora o grupo familiar se mantem imune de qualquer restriccedilatildeo ou abalo

Em seu recatado isolamento pode desprezar qualquer princiacutepio superior que procure perturba-lo ou oprimi-lo () O

quadro familiar torna-se assim tatildeo poderoso e exigente que sua sombra persegue os indiviacuteduos mesmo fora do

recinto domeacutestico A entidade privada precede sempre neles agrave entidade puacuteblica A nostalgia dessa organizaccedilatildeo

compacta uacutenica e intransferiacutevel onde prevalecem necessariamente as preferencias fundadas em laccedilos afetivos natildeo

podia deixar de marcar nossa sociedade nossa vida puacuteblica e todas as nossas atividades Representando () o uacutenico

setor onde o princiacutepio de autoridade eacute indisputado a famiacutelia colonial fornecia a ideia mais normal do poder da

respeitabilidade da obediecircncia e da coesatildeo entre os homens O resultado era predominarem em toda a vida social

sentimentos proacuteprios a comunidade domeacutestica naturalmente particularista e antipoliacutetica uma invasatildeo do puacuteblico pelo

privado do Estado pela famiacutelia Ibidem p81-82 56 Segundo Viana os ―clatildes feudais e parentais que se formaram a partir de uma ―solidariedade levaram esta

―cooperaccedilatildeo aos movimentos poliacuteticos com ―fins exclusivamente eleitorais formando assim os ―clatildes eleitorais

Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 258 De acordo com

Faoro desde o Impeacuterio instituiacutedo o voto popular havia os coroneacuteis assim designados porque pagavam as despesas

Daiacute a nomenclatura coronelismolsquo passou a fazer parte da evoluccedilatildeo poliacutetico-social do Brasil ―A passagem do regime

imperial ao republicano iraacute acentuar e exacerbar a funccedilatildeo eleitoral do coronel Op cit p 622 Viana afirma que

nesta eacutepoca ―em mateacuteria de eleiccedilotildees tudo se passava normalmente sem violecircncias sem tumultos () O tumulto natildeo

existia porque o corpo eleitoral natildeo era ainda a congeacuterie democraacutetica da Regecircncia formava-o () um escol

seletiacutessimo Op cit p 272 Eacute o que se extrai dos ensinamentos de Victor Nunes Leal de que eacute ―fenocircmeno

caracteriacutestico do regime republicano embora tenha sido observado ―durante o Impeacuterio () no proacuteprio periacuteodo

colonial p 233-234 Diante disto eacute que o fenocircmeno coronelismo caracteriacutestico do sistema representativo seraacute

assim designado LEAL Victor Nunes Coronelismo Enxada e Voto O Municiacutepio e o Regime Representativo no

Brasil 7ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 prefaacutecio agrave 2ordf ediccedilatildeo p 37 57 FAORO Op cit p371 ―() o eleitor seria o instrumento do senhor territorial p 382 ―Os partidos amoldaram-se

aos tempos novos e na troca de favores prometiam arranjarlsquo empregos favores e benefiacutecios para os cabos

eleitorais as influecircncias locais Ibidem p 386-387 58LEAL Op cit p 226 Segundo Roberto Damatta daiacute se observa que na sociedade brasileira haacute a divisatildeo ―pelas

ordens tradicionais o nome de famiacutelia o tiacutetulo de doutor a cor da pele o bairro onde moramos o nome do padrinho

as relaccedilotildees pessoais o ser amigo do Rei Chefe Poliacutetico ou Presidente Tudo isso nos classifica socialmente de modo

irremediaacutevel O que faz o Brasil Brasil Rio de Janeiro Rocco 1984 p 48

23

raposa disfarccediladas sobre as garras de lobo59

a ―opiniatildeo puacuteblica permanecia ―sem

caraacuteter nacional os ―estadualismos continuavam exclusivistas e as ―ambiccedilotildees

pessoais prosseguiam ―arvoradas em lideranccedilas de partidos artificiais60

E embora tenham sido criados os departamentos de municipalidades no

governo provisoacuterio de 1930 oacutergatildeos estaduais com a dita finalidade de ―moralizar a

administraccedilatildeo municipal e dar-lhe maior eficiecircncia este natildeo era o fim real do governo e

sim o interesse partidaacuterio eleitoreiro61

Na Era de Vargas o que houve foi uma reorganizaccedilatildeo da estrutura

patrimonialista e um ―assalto a empregos e a vantagens materiais62

pois ―na chefia do

governo natildeo existia um presidente constitucional mas o mito popular63

que pelo

―esquema autoritaacuterio de 1937 realizou um ―regresso patrimonialista () com a

formaccedilatildeo de uma comunidade burocraacutetica () de caraacuteter estamental onde continuava

a predominar o ―jogo das competiccedilotildees individuais 64

A segunda consequecircncia costumeira que se pode observar trazida pelos

portugueses e enraizada no Brasil vinculada agrave primeira eacute o favorecimento do Estado agrave

classe dominante ou a utilizaccedilatildeo deste por ela65

O que se colhe eacute que o Estado sempre amparou os poderosos e natildeo agrave sociedade

e que da forma com que foi constituiacutedo jaacute no seu nascedouro provocou uma separaccedilatildeo

entre a classe dominante e o povo vez que desde o Brasil Impeacuterio a classe dominantelsquo

esteve completamente dissociada da sociedade brasileira66

e utilizava o Estado para seu

59 FAORO Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987

p 686 60 Ibidem p 695 Nas palavras de Seacutergio Buarque de Holanda ―()a verdadeira solidariedade soacute se pode sustentar

realmente nos ciacuterculos restritos e a nossa predileccedilatildeo confessada ou natildeo pelas pessoas e interesses concretos () natildeo

encontra alimento muito substancial nos ideais teoacutericos ou mesmo nos interesses econocircmicos em que se haacute de apoiar

um grande partido Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 182-183 61

LEAL Victor Nunes Coronelismo Enxada e Voto O Municiacutepio e o Regime Representativo no Brasil 7ordf ediccedilatildeo

Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 p 95 Para que aos governadores e natildeo aos coroneacuteislsquo tocasse a posiccedilatildeo

mais vantajosa nessa troca de serviccedilos o meio teacutecnico-juriacutedico mais adequado foram justamente as limitaccedilotildees agrave

autonomia das comunas Ibidem p 111 Carmem Luacutecia Antunes da Rocha cita na nota de rodapeacute 40 da p 219 de

sua obra o Decreto n 19 398 de 1930 que estabeleceu no artigo 1ordm que ―O Governo Provisoacuterio exerceraacute

discricionariamente em toda a sua plenitude as funccedilotildees e atribuiccedilotildees natildeo soacute do poder Executivo como tambeacutem do

Poder Legislativo () E ainda no paraacutegrafo primeiro estipulou ―Todas as nomeaccedilotildees e demissotildees de funcionaacuterios

ou de quaisquer cargos puacuteblicos quer sejam efetivos internos ou em comissatildeo competem exclusivamente ao Chefe

do Governo Provisoacuterio O que demonstra que realmente nada havia mudado 62FAORO Op cit p 692 63 Conforme Faoro o () o chefe do governo colocado no papel de protetor e pai sempre autoritariamente pai que

distribui favores simboacutelicos e castigos reais Ibidem p 707 64 Ibidem p 718 -722 65 Segundo Faoro ―A elite governamental dentro da rede social da aristocracia da qual o estamento tece sua

estrutura externa obedece ao cunho do estilo de vida das normas de conduta da nobreza burocraacutetica Ibidem p 89 66 Conforme Viana esta separaccedilatildeo eacute assentada no ―caraacuteter privado quase domeacutestico da nossa vida poliacutetica onde ―o

traccedilo privatista e personalista da nossa cultura ou civilizaccedilatildeo poliacutetica domina o espiacuterito natildeo havendo ―nenhum traccedilo

24

benefiacutecio em especial de sua famiacutelia e amigos o que consagrou por um lado o

domiacutenio dos clatildes familiares no poder e por outro o Estado como coisa familiar

abancando a confusatildeo entre o puacuteblico e o privado

Mas como nem sempre aquele que possuiacutea o poder econocircmico tambeacutem

detinha o puacuteblico pois os cargos ou funccedilotildees de governo reservados a premiar serviccedilos e

colocar a nobreza ociosa67

o Estado a partir do seacuteculo XVII passou a distribuir os

cargos como instrumento nobilitar que conferia status e prestiacutegio agravequele que jaacute tinha

renome social e econocircmico o que elevou ―aos cimos da nobreza a burguesia

enriquecida68

Contudo natildeo foi soacute isto a partir do seacuteculo XVIII os cargos puacuteblicos

passaram a ser vendidos 69

E na Repuacuteblica o auxiacutelio do Estado agrave classe dominante soacute se perpetuou jaacute que

ela reinou no ―absolutismo de uma oligarquia70

assentada na poliacutetica dos

governadores com base no coronelismo e no voto do cabresto71

O cargo puacuteblico na Repuacuteblica mais que um ―tiacutetulo nobiliaacuterquico era um

―poderoso agente de agregaccedilatildeo partidaacuteria utilizado largamente pelos

de motivaccedilatildeo coletiva Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999p

339 Segundo DaMatta o Brasil tem uma ―sociedade que tem horror agrave mobilidade sobretudo agrave mobilidade que

permite trocar efetivamente de posiccedilatildeo social Eacute exibiccedilatildeo numa ordem social marcada pelo falso recato de ―quem

conhece o seu lugar ndash algo sempre usado para o mais forte controlar o mais fraco em todas as situaccedilotildees O que faz o

Brasil Brasil Rio de Janeiro Rocco 1984 p 49 E continua ―Seu foco eacute nas autoridades () Nisso eles revelam

ampliando as diferenciaccedilotildees sociais jaacute existentes no mundo diaacuterio onde as pessoas eletivamente se distinguem por

meio de cadeias hieraacuterquicas que indicam e revelam sua importacircncia na reproduccedilatildeo da ordem social conhecida

Ibidem p53 ―Pela mesma loacutegica e seguindo o mesmo princiacutepio do reforccedilo e da ampliaccedilatildeo se a pessoa natildeo tem

qualquer autoridade ou posiccedilatildeo social e faz parte daquilo a que chamamos genericamente ―povo eacute deste lado que

deve ficar () Mas como o povo aprendeu que natildeo eacute bom ―ser ningueacutem que deve ser algueacutemlsquo e que para isto tem

que estar proacuteximo de pessoas que satildeo algueacutemlsquo daiacute o porquecirc dele forccedilar a cordalsquo para passar para o lado das

autoridades () significa nesse contexto simboacutelico uma mudanccedila significativa de posiccedilatildeo social Ibidem p54 67 Nas palavras de Faoro ―() o emprego puacuteblico era ainda no seacuteculo XVI atributo do nobre de sangue ou do

cortesatildeo criado nas dobras do manto real o exerciacutecio do cargo infunde o acatamento aristocraacutetico aos suacuteditos

FAORO Raymundo Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O

Globo 1987 p 175 68 Ibidem p 175 69 Segundo Faoro ―A riqueza exige maior participaccedilatildeo nos negoacutecios puacuteblicos e o afidalgamento () a tendecircncia se

reforccedila no seacuteculo XVIII com a venda de cargos puacuteblicos porta ampla que permite agrave burguesia acotovelar

familiarmente a aristocracia Ibidem p 208 De acordo com Victor Nunes Leal ―() pouco a pouco as patentes

passaram a ser avaliadas em dinheiro e concedidas a quem dispusesse a pagar o preccedilo exigido ou estipulado pelo

poder puacuteblico o que natildeo chegava a alterar coisa alguma quando essa faculdade de comprar a patente natildeo deixava de

corresponder a um poder econocircmico que estava na origem das investiduras anteriores Coronelismo Enxada e

Voto O Municiacutepio e o Regime Representativo no Brasil 7ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 p 38 70FAORO Op cit p 566 71―O coronelismo o compadrazzo latino-americano a clientelalsquo () participam da estrutura patrimonial Peccedilas de

uma ampla maacutequina a visatildeo do partido e do sistema estatal se perde no aproveitamento privado da coisa puacuteblica ()

de modo a converter o agente puacuteblico num cliente dentro de uma extensa rede clientelista O coronel utiliza seus

poderes puacuteblicos para fins particulares mistura natildeo raro a organizaccedilatildeo estatal e seu eraacuterio com os bens proacuteprios

Ibidem p 637 De acordo com Seacutergio Buarque de Holanda ―os candidatos agraves funccedilotildees novamente criadas recrutam-

se por forccedila entre indiviacuteduos da mesma massa dos antigos senhores rurais portadores de mentalidade e tendecircncia

caracteriacutesticas dessa classe Toda a ordem administrativa do paiacutes durante o Impeacuterio e mesmo depois jaacute no regime

republicano ha de comportar por isso elementos estreitamente vinculados ao velho sistema senhorial Raiacutezes do

Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 73

25

Governadoresque indicavam ―ao Centro os nomes dos grandes proprietaacuterios rurais que

lhe pareciam mais merecedores e ―pleiteavam a honraria para os da sua

parcialidade72

Desta forma a classe dominante republicana deu continuidade ao

sistema de privilegiamento estatal dos interesses privados dos poderosos73

Assim o Estado quis e permitiu que as ambiciosas matildeos da classe dominante

durante seacuteculos tratassem o Estado como algo de seu interesse como seu negoacutecio o

que resultou em um contiacutenuo conflito entre o espaccedilo puacuteblico e o espaccedilo privado74

A terceira consequecircncia da heranccedila portuguesa que se constata eacute quanto agrave

manipulaccedilatildeo do poder puacuteblico pelos interesses privados da classe dominante por meio

das normas juriacutedicas que legalizavam de maneira dissimulada os seus interesses sob a

simulaccedilatildeo do resguardo do interesse da sociedade Assim as normas juriacutedicas eram

feitas bem ao ditado ―para inglecircs ver porque natildeo eram elaboradas de acordo com os

anseios sociais mas de acordo com a vontade da classe dominante com o fito de

satisfazer os seus interesses75

Por meio da ―vontade normativa produto de uma agregaccedilatildeo artificiosa e ainda

mal segura76

os governantes implantaram a impessoalidade administrativa o que

resultou em um impasse entre a confecccedilatildeo de leis formalmente perfeitas - que

determinavam uma organizaccedilatildeo administrativa impessoal nos ditames da lei - e a

realidade costumeira governamental-administrativa do Brasil assente no extremo

personalismo

72 VIANA Oliveira Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 261 73 Por isto Raymundo Faoro conclui que ―o velho estamento imperial se dissolve desta sorte num elitismo de

cuacutepula regredindo a estrutura patrimonialista para o acircmbito local local no sentido de entrelaccedilamento de interesses

estaduais e municipais () A elite descomprometida de fidelidade e ideias e programas soacute viveraacute com o apoio das

bases estaduais enquanto favorecidas pela benevolecircncia presidencial Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato

Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p 562-563 ―O movimento ascendente se fazia por

cooptaccedilatildeo com o centro do tabuleiro apesar das limitaccedilotildees do alto e de baixo ocupado pelas situaccedilotildees estaduais

Esta era a alma das oligarquias ndash das chamadas oligarquias da Repuacuteblica Velha Ibidem p649 74 De acordo com Faoro ―Uma longa heranccedila ndash heranccedila social e poliacutetica ndash concentrou o poder minoritaacuterio em uma

camada institucionalizada Forma-se desta sorte uma aristocracia num estamento de caraacuteter aristocraacutetico do qual se

projeta sem autonomia uma elite um escol dirigente uma classelsquo poliacutetica Op cit p 92 Tanto que Seacutergio

Buarque de Holanda afirma que ―Natildeo era faacutecil aos detentores das posiccedilotildees puacuteblicas de responsabilidade formados

por tal ambiente compreenderem a distinccedilatildeo fundamental entre os domiacutenios do privado e do puacuteblico () a proacutepria

gestatildeo poliacutetica apresenta-se como assunto de seu interesse particular as funccedilotildees os empregos e os benefiacutecios que

deles aufere relacionam-se a direitos pessoais () e natildeo a interesses objetivos HOLANDA Seacutergio Buarque de

Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p145-146 75 Segundo VIANA isto eacute um problema porque ocorre ―() desconformidade ou desarmonia entre a realidade

subjetiva criada pela tradiccedilatildeo (elementos imanentes) e a realidade externa criada pelo novo sistema de normas

(elementos transcendentes) () Natildeo basta decretar consequentemente uma determinada norma de conduta para que

o complexo correspondente se forme e se resolva em atitudes ou comportamentos Op cit p96 76HOLANDA Op cit p 117

26

E na Repuacuteblica como natildeo podia deixar de ser diante das bases agraves avessas

instituiacutedas pelo imperialismo portuguecircs nada mudou O novo regime dito republicano

sem o ser pois de reslsquo puacuteblica nada havia prosseguiu na mesma praacutetica imperial de

fixar uma ―legitimidade artificialmente montada pelas normas juriacutedicas77

Destas trecircs consequecircncias decorreu a quarta o Estado natildeo protetor desde o

iniacutecio de seu estabelecimento78

embasado no estamento e no patrimonialismo separou

o poder poliacutetico da sociedade e esta em classes a dominante e o povo e assim ao natildeo

primar pelo ideal de nacionalidade que todo povo deveria ter exacerbou o sentimento

de pessoalidade e individualidade79

pois por meio de suas accedilotildees patrimonialistas

deixou o legado agrave sociedade de que o indiviacuteduo para ter direitos e voz ativa deveria ter

poder econocircmico ou poliacutetico qualidades estas que normalmente estavam atreladas80

por isto natildeo nasceu em ningueacutem salvo ―os buscadores de benefiacutecios escusos e de cargos

puacuteblicos81

o sentimento de colaboraccedilatildeo com o Estado

77 Na visatildeo de Victor Nunes Leal ―tiveacutessemos maior dose de espiacuterito puacuteblico e as coisas certamente se passariam de

outra forma Coronelismo Enxada e Voto O Municiacutepio e o Regime Representativo no Brasil 7ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2012 p 239 Adaptando as elucidaccedilotildees de Viana pode-se dizer que ―natildeo havia nada de

republicano porque natildeo havia ―consciecircncia nacional que eacute o sentimento de res publica dos romanos Ela ―natildeo se

condensou nem se sedimentou nas tradiccedilotildees da vida puacuteblica Desta feita sua ―inexistecircncia orientaraacute a ―uma

direccedilatildeo personalista ndash de interesse privado ou de famiacutelia ou de indiviacuteduo ou de clatilde Eacute um complexo chave

()Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 199 176 78 Conforme Viana ―Os famosos senadoslsquo das cacircmaras do periacuteodo colonial () natildeo tinham nada destas

organizaccedilotildees de direito puacuteblico () Natildeo possuiacuteam o sentimento do interesse da comunidade nem o espiacuterito da

colaboraccedilatildeo administrativa colocados nas matildeos dos senhores rurais e postos a seu serviccedilo tornaram-se instrumentos

deles para fazerem a sua poliacutetica pessoal ndash a poliacutetica dos seus interesses de famiacutelia ou de clatilde Op cit p 307 Mesmo

porque segundo Viana os ―nossos homens puacuteblicos natildeo possuiacuteam a ideia de nacionalidade ―como um estado

afetivo como um sentimento vivo ndash desses que vecircm do berccedilo adquiridos na penetraccedilatildeo do homem pelo ambiente

social vinculados ao subconsciente pela educaccedilatildeo em suma -- como um complexo cultural e assim natildeo podiam

transmiti-lo ao povo ou governar por este Ibidem p 338 Para o autor o ―() sentimento do Estado Nacional ()

verdadeiro sentimento coletivo ndash forte cristalizado e de amplitude nacional () Os nossos estados de consciecircncia

coletiva mais altos mais intensos mais amplos tecircm sido efecircmeros frustros transitoacuterios Por isto mesmo pouco

fecundos na constituiccedilatildeo e estratificaccedilatildeo de uma consciecircncia nacional ndash robusta clara definida atuante Ibidem p

332 79 De acordo com Viana o povo quando agia ―em comum era para realizar exclusivamente fins pessoais do grande

proprietaacuterio ou para servirem aos membros da famiacutelia senhorial ndash e natildeo para fins de gestatildeo de nenhum interesse

coletivo Ibidem p 305 E que o que ―o nosso povo () pede aos governos () eacute que eles natildeo o inquietem no seu

viver particular Que ―nossa evoluccedilatildeo administrativa () tem sido nesse sentido Op cit p 492 Segundo o autor

para que o individualismo natildeo prospere o ―Estado-Naccedilatildeo haacute de ter o seu assento principal num complexo cultural

que deve ser anterior e preliminar agrave instituiccedilatildeo deste tipo de Estado () Sem esta base preliminar eacute certo que a

estrutura democraacutetica seja qual for o tamanho do grupo degenera e se corrompe Ibidem p 177 80 Roberto DaMatta explica que esta questatildeo se tornou cultural Desta forma o autor afirma que ―a palavra cultura

exprime precisamente um estilo um modo e um jeito () de fazer coisas E que a nossa cultura eacute esta ―todos estatildeo

acostumados a admitir um jeitinholsquo pela relaccedilatildeo pessoal e pela amizade O que faz o Brasil Brasil Rio de Janeiro

Rocco 1984 p 12 81 FAORO Raymundo Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O

Globo 1987 p 165

27

Diante de todo este enredo se constata a quinta consequecircncia da heranccedila

portuguesa desde que o Brasil eacute Brasil seja Colocircnia Impeacuterio ou Repuacuteblica o cargo

puacuteblico eacute um poderoso instrumento de poder82

O que interessava era a ―apropriaccedilatildeo do cargo ndash o cargo carregado de poder

proacuteprio articulado com o priacutencipe sem a anulaccedilatildeo da espera proacutepria de competecircncia

porque o Estado era visto como ―um feixe de cargos do qual ―hauria vida e calor83

agraves

―muitas matildeos erguidas e suplicantes dos fidalgos84

e era capaz de nobilitar ―o letrado e

o homem de armas85

sendo sua forccedila tamanha que ―() brancos e pardos

conquistavam patentes e honras insuflado com a farda86

e o ―mulato ganhava atestado

de brancura com o posto () jaacute natildeo era mulato87

Em tudo isto havia um fruto proibido o apreccedilo pelo oacutecio e o desprezo pelo

trabalho digno pois todos queriam ―se elevar verticalmente com o galatildeo

nobilitador88

o cargo puacuteblico ―uacutenico foco de poder poder que daacute prestigio enobrece

propicia e legitima a riqueza89

Nesse ensejo tanto para conservaacute-lo com para

82 Segundo Faoro no Estado Portuguecircs havia uma ―enxurrada de servidores e pretendentes a servidores de soldados

e dependentes de reivindicadores de pensotildees para a velhice () devoravam o Estado para o proveito ostentatoacuterio da

fidalguia () encasulada no cargo puacuteblico Assim os servidores ―ocupam o lugar da velha nobreza contraindo sua

eacutetica e seu estilo da vida e ainda ―o consumo improdutivo que ―lhes transmite prestiacutegio () como instrumento de

poder () sugerindo-lhes grandeza importacircncia forccedila FAORO Raymundo Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do

Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p83 83 FAORO Op cit p83 84 Ibidem p 229 85 Ibidem p 171 ―() inquieta ardente apaixonada cassa ao emprego puacuteblico Soacute ele nobilita soacute ele oferece o poder

e a gloacuteria soacute ele eleva branqueia e decora o nome () O letrado se torna letrado para conquistar o cargo para galgar

o parlamento ateacute que o assento no Senado lhe decirc o comando partidaacuterio e a farda ministerial () Com o poder e soacute

por meio dele vem por acrescentamento a nobilitaccedilatildeo No contexto o funcionalismo seraacute a profissatildeolsquo nobre e a

vocaccedilatildeo de todos Ibidem p 390 ―O corpo militar nos seus graus de oficial infundia nobreza equiparada agrave miliacutecia e

depois a guarda nacional agraves tropas de linha para os efeitos de honras aristocraacuteticas Os filhos dos oficiais podiam

ingressar na tropa de linha como cadetes privileacutegio reservado agrave nobreza Ibidem p 192 E esta nobilitaccedilatildeo pelo

cargo natildeo parou no Impeacuterio tambeacutem na Repuacuteblica as patentes da Guarda Nacional ―eram distribuiacutedas () a

correligionaacuterios e o ―prestiacutegio do seu tiacutetulo passou a constituir seduccedilatildeo muitas vezes infaliacutevel na teacutecnica de captaccedilatildeo

dos chefes locais Ibidemp 202-203 86 Ibidem p 192 87 Ibidem p194 O autor sintetiza ―a primeira consequecircncia a mais visiacutevel da ordem burocraacutetica aristocratizada no

aacutepice seraacute a inquieta ardente apaixonada cassa ao emprego puacuteblico Soacute ele nobilita soacute ele oferece o poder e a gloacuteria

soacute ele eleva branqueia e decora o nome () O letrado se torna letrado para conquistar o cargo para galgar o

parlamento ateacute que o assento no Senado lhe decirc o comando partidaacuterio e a farda ministerial pomposa na carruagem

solene () Seja que aspirem aos cargos de magistratura tatildeo somente ou aos poliacuteticos eletivos e administrativos seja

que aspirem a uns e a outros ao mesmo tempo agravequeles como meio seguro de existecircncia a estes como um meio de

passatempo e dissipaccedilatildeo nas capitais e na corte ou como satisfaccedilatildeo ao poder e ambiccedilatildeo poliacutetica() Com o poder e

soacute por meio dele vem por acrescentamento a nobilitaccedilatildeo No contexto o funcionalismo seraacute a profissatildeolsquo nobre e a

vocaccedilatildeo de todos Tomem-se ao acaso vinte ou trinta brasileiros em qualquer lugar onde se reuacutena a nossa sociedade

mais culta todos eles ou foram ou satildeo ou hatildeo de ser empregados puacuteblicos se natildeo eles seus filhoslsquo Ibidem p 390 88 Ibidem p 195 89 Ibidem p 310

28

conquista-lo ―desencadeiam-se as energias ferozes ou manhosas de acordo com as

circunstacircncias e com a oportunidade90

As classes sociais dotadas de poder econocircmico e social que ambicionavam

possuiacute-lo pois ele as asseguraria ―honras e prestiacutegio poliacutetico91

desde que puderam

concorrer a eles a partir do seacuteculo XII fizeram o que foi necessaacuterio a alcanccedila-lo

usaram desde a graduaccedilatildeo que denotava prestiacutegio social92

ateacute o poder econocircmico para

consegui-los quando no seacuteculo XVIII eram vendidos93

Era o binocircmio perfeito entre as ―atividades intelectuais que natildeo se vinculam ao

trabalho material e ―parecem brotar de uma qualidade inata a fidalguia e o

instrumento nobilitador daquele que eacute intelectualizado e fidalgolsquo94

o cargo puacuteblico A

gana pelo cargo puacuteblico era tamanha que era vaacutelido deixar o emprego privado o

negoacutecio proacuteprio ou o seu dom promissor para almejar o cargo puacuteblico ―que daacute a gloacuteria

e o poder95

Assim foi instituiacuteda na cultura brasileira que a ocupaccedilatildeo dos cargos

puacuteblicos era um privileacutegio que garantia o oacutecio96

Mas natildeo eacute soacute isto tambeacutem foi utilizado pelo proacuteprio monarca como ferramenta

de poder pois empregado como ―instrumento de amalgama e controle das suas

conquistas e pela classe dominante como ―meio de accedilatildeo e influecircncia pois o

90 FAORO Raymundo Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O

Globo 1987p 310 91 Ibidem p 287 92 Segundo Holanda ―O amor bizantino dos livros pareceu muitas vezes penhor de sabedoria e indicio de

superioridade mental assim como o anel de grau ou a carta de bacharel HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes do

Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 160 Segundo Faoro ―O caminho da nobilitaccedilatildeo passava

pela escola pelos casarotildees dos jesuiacutetas pela solene Coimbra ou pelos acanhados edifiacutecios de Olinda Satildeo Paulo e

Recife O alvo seria o emprego e por via dele a carruagem do estamento burocraacutetico num processo de valorizaccedilatildeo

social decorrente do prestiacutegio do mando poliacutetico FAORO Op cit p389 93 Eacute o que informa Seacutergio Buarque de Holanda ―as nossas academias diplomam todos os anos centenas de novos

bachareacuteis () praga do bacharelismolsquo () E aos que nos censuram por sermos uma terra de advogados onde apenas

os cidadatildeos formados em direito ascendem em regra as mais altas posiccedilotildees e cargos puacuteblicos () No seacuteculo XVII a

crer no que afianccedila a Arte de furtar mais de cem estudantes conseguiam colar grau na Universidade de Coimbra

todos os anos a fim de obterem empregos puacuteblicos sem nunca terem estado em Coimbra ―() ainda no vicio do

bacharelismo ostenta-se tambeacutem nossa tendecircncia para exaltar acima de tudo a personalidade individual como valor

proacuteprio superior as contingencias () o motivo da acircnsia pelos meios de vida definitivos que datildeo seguranccedila e

estabilidade exigindo ao mesmo tempo um miacutenimo de esforccedilo pessoal de aplicaccedilatildeo e sujeiccedilatildeo da personalidade

como sucede tatildeo frequentemente com certos empregos puacuteblicos Ibidem p 157 94 Aqui merece se fazer referecircncia ao aparte de Holanda ―() dedicamos de modo geral pouca estima as

especulaccedilotildees intelectuais mdash mas () os tiacutetulos honoriacuteficos e alguns dos seus distintivos materiais como o anel de

grau e a carta de bacharel podem equivaler a autecircnticos brasotildees de nobreza HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes

do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 83 E continua ―() tatildeo admirada ―inteligecircncia eacute

simplesmente decorativa () numa sociedade de coloraccedilatildeo aristocraacutetica e personalista Op cit p 84 95 FAORO Op cit p 329 96 De acordo com Roberto DAMATTA o brasileiro aguenta o trabalho mas gosta mesmo eacute do oacutecio ―Para noacutes

brasileiros a festa eacute sinocircnimo de alegria o trabalho eacute eufemismo de castigo dureza suor O que faz o Brasil

Brasil Rio de Janeiro Rocco 1984 p 42

29

utilizavam ao bel prazer dos seus interesses particulares perseguindo seus inimigos e

protegendo seu grupo amigos e parentes97

Desta feita o cargo puacuteblico sagra-se nesse vislumbre como uma das mais ou

senatildeo a mais valiosa moeda de troca na poliacutetica que ―manipula lealdades98

e por meio

dele ―a burguesia se enobrece () o pardo se afidalga e o soberano ―domestica

turbulecircncias dispersas99

Na Repuacuteblica houve uma aparente democratizaccedilatildeo pontual quanto ao acesso ao

cargo de oficialato havendo a ―necessidade de concurso de capacidade para que o

cadete passasse a oficial entretanto esta democratizaccedilatildeo foi soacute aparente pois os

propoacutesitos eram poliacuteticos particulares ―acoimados pelos homens que ocupavam o

poder100

de forma que o cargo puacuteblico continuou a ser instrumento de poder pois a

Uniatildeo o concedia aos Estados a fim de cativar sua lealdade101

Todavia laacute pelos idos de 1919 o cargo puacuteblico perde sua gloacuteria natildeo sendo

mais ―o caminho nobilitador de outrora mas o precaacuterio e desprezado refuacutegio contra a

miseacuteria102

pois os funcionaacuterios puacuteblicos e os militares foram convertidos ―aos olhos

dos dirigentes e da burguesia em parasitas ociosos103

E tal ideia enraizou no

consciente social de certa forma que continua ateacute hoje seja na mentalidade dos

servidores concursados ou natildeo ou daqueles que laboram na iniciativa privada ou

opiniatildeo puacuteblica mas apesar disso natildeo determinou nem o retrocesso nem o fim do

vislumbre sobre o cargo puacuteblico

97 FAORO Raymundo Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O

Globo 1987p176 Assim passavam ―das matildeos de um poder mais distante mais imparcial () para as influecircncias

que muitas vezes se serviam dessa arma poderosa para se reforccedilarem e esmagarem aquelas aos quais se antojava

disputar-lhes o governo da terra Ibidem p 309 ―Mandar e natildeo governar seraacute o alvo ndash mando do homem sobre o

homem do poderoso sobre o fraco e natildeo o institucionalizado comando que impotildee entre o suacutedito e a autoridade o

respeito a direitos superiores ao jogo do poder O emprego puacuteblico sagra-se na presa do vencedor Ibidem p 310 98 Ibidem p 389 99 Ibidem p 202 Por isto Faoro alega que ―Essa coluna parte do imperador e vai ateacute agraves eleiccedilotildees paroquiais articula-

se na vitaliciedade e se projeta nas autoridades policiais e judiciaacuterias donas dos votos no manejo caricato da soberania

nacional A opiniatildeo puacuteblica os interesses de classe natildeo tecircm autonomia eacute a sombra do governo do grupo encastelado

na vitaliciedade vitaliciedade aacutevida de buscar na hereditariedade o domiacutenio aleacutem das geraccedilotildees A influecircncia oficial

sedimentada de tradiccedilotildees e vinculada a uma ordem econocircmica patrimonial Ibidem p389-390 100 Ibidem p 470 101 Ibidem p569 Conforme elucida Carmem Luacutecia ―eacute que a Repuacuteblica proclamada natildeo se fez realizada em 1889 ()

Instaurou-se uma Repuacuteblica dos Senhoreslsquo () a dominarem o Poder e a exercecirc-lo segundo seus proacuteprios interesses

fizeram da Administraccedilatildeo apenas o meio burocraacutetico para obtecirc-los O coronelismo que se fez presente nas primeiras

fases da histoacuteria republicana enfatizou o nepotismo e fortaleceu o personalismo e o paternalismo do Poder Ao lado

do paternalismolsquo que encarece a figura do eventual detentor do Poder talvez fosse o caso de se cunhar a expressatildeo

que melhor caracterizou a Administraccedilatildeo vista em suas entranhas o parentelismolsquo() Repuacuteblica proclamada eacute um

tanto extensatildeo da casa e da famiacutelia do agente ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da

Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p 162 102 FAORO Raymundo Op cit p610 103 Ibidem p610

30

Neste esteio a sexta consequecircncia trazida pela heranccedila portuguesa e acolhida

na esfera administrativa governamental eacute o proacuteprio nepotismo que revela o

entendimento assentado de que o Estado eacute o prolongamento da famiacutelia primeiro

agrupamento social conhecido pelo homem onde os laccedilos satildeo de sangue e representa o

conhecido o confiaacutevel o leal104

E sendo a praacutetica do nepotismo dissonante da Moralidade Puacuteblica passa-se a

essa segunda consideraccedilatildeo

A ―inaceitaccedilatildeo da imoralidade na Administraccedilatildeo Puacuteblica eacute atemporal 105

e de

que se tem notiacutecia desde a Antiguidade pois os grandes pensadores filoacutesofos e

poliacuteticos firmavam ―a ideia de que as condiccedilotildees morais devem ser tidas como uma

exigecircncia impostergaacutevel para o exerciacutecio das atividades de governo 106

imprescindiacutevel

a todos aqueles que exercem a atividade puacuteblica e que a moralidade eacute ―princiacutepio

inexpurgaacutevel a res puacuteblica107

Contudo desde os tempos do absolutismo como a concepccedilatildeo poliacutetica passou a

ser formulada ―segundo a pessoa que encarnava o Poder do Estado sendo o

personalismo semente da proacutepria ordem implantada a verdadeira moralidade puacuteblica

foi sufocada e dessa forma o individualismo imperou e ―fomentou a distacircncia entre o

Direito e a Moral algo que nem no Estado Social ―em seus primeiros momentos foi

questionado108

104 Conforme afirma Joatildeo Gaspar Rodrigues ―Os fenocircmenos sociais tecircm dentro de certos limites uma gecircnese

psicoloacutegica () O nepotismo como fator antissocial de antagonismo e discoacuterdia guarda conexotildees psicoloacutegicas e

histoacutericas esclarecedoras de suas motivaccedilotildees inconscientes Eacute um dos fenocircmenos sociais mais primitivos O homem

existiu primeiro no seio de grupos isolados hordas ou clatildes a formaccedilatildeo original deve-se aos viacutenculos sanguiacuteneos O

grupo domeacutestico-familiar enquadrava os seus diferentes membros () O culto da famiacutelia (ou familismo) tende a

refluir para seus limites normais (dentro da funcionalidade da famiacutelia) quando a sociedade revela progressos

industriais e teacutecnicos com a criaccedilatildeo subsequente de muitos focos de interesses opostos que competem ou

transacionam entre si buscando vantagens () Em termos praacutetico-poliacuteticos a profunda importacircncia da famiacutelia

repousa sobre o fato de estar o mundo organizado de tal modo que natildeo haacute nele lugar para o indiviacuteduo ou seja para

quem quer que seja diferente () Os indiviacuteduos alcanccedilam posiccedilotildees de acordo com outros padrotildees que natildeo seus

meacuteritos o processo poliacutetico eacute contaminado pelas relaccedilotildees pessoais e familiares ―Portando qualquer anaacutelise de

caracteriacutesticas culturais (como o nepotismo) de determinado sistema poliacutetico deve levar em conta a permanente

importacircncia das relaccedilotildees informais e tradicionais que moldam as atitudes e accedilotildees dos indiviacuteduos Nepotismo no

serviccedilo puacuteblico brasileiro e a SV 13 Revista de Direito Administrativo- RDA Rio de Janeiro v 260 maiago 2012

p207 - 208 105ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey

1994 p183 106 CARDOZO Joseacute Eduardo Martins Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica (de acordo com a

Emenda Constitucional nordm 1998) in Os 10 anos da Constituiccedilatildeo Federal Alexandre Moraes (coordenador) Satildeo

Paulo Atlas 1999 p 156 107 ROCHA Op cit p184 108 Ibidem p 179 ―Do seacuteculo XVII ao iniacutecio do seacuteculo XIX ocorreram momentos ―em que as correntes filosoacuteficas

dominanteslsquo primaram pela separaccedilatildeo das noccedilotildees de moral e Direito conforme explica BASTOS Celso Ribeiro e

MARTINS Ives Gandra Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo do Brasil 3ordm volume - tomo III arts 37-43 Satildeo Paulo

Saraiva 1992 p 37 Destacando-se as teorias de Kant e Kelsen - principais pensadores de tal linha - respectivamente

da metafiacutesica dos costumeslsquo e da teoria pura do direitolsquo Por meio desta segundo Maria Sylvia de Pietro Kelsen

31

Entretanto como a ―influecircncia da Moral no Direito mostrou-se permanente na

sequecircncia histoacuterica da humanidade109

jaacute no comeccedilo do seacuteculo XX surgiram correntes

reacionaacuterias agrave separaccedilatildeo entre Direito e Moral em especial na Alemanha e na

Franccedila110

O pioneiro em desenvolver uma teoria quanto agrave moralidade administrativa

como um importante mecanismo de contenccedilatildeo da atividade estatal que natildeo se reduzisse

a um mero preceito normativo111

foi Maurice Hauriou que a partir das decisotildees do

Conselho de Estado constatou que ―o Estado natildeo eacute um fim em si mesmo mas sim um

instrumento utilizado em prol do interesse puacuteblico e que por isto era imprescindiacutevel

viabilizar instrumentos que ―o mantivessem adstrito a esse fim112

Desta feita ―em 1910 na primeira ediccedilatildeo dos seus Princiacutepios de Direito

Puacuteblico introduziu sua teoria asseverando que ―o poder puacuteblico constituiu a armadura

moral da administraccedilatildeo puacuteblica e que ―todo controle organizado em nome da

moralidade administrativa sobre os atos administrativos deve partir da noccedilatildeo de poder

concluindo que o controle dos atos deve ser ―exercido em nome da moral puacuteblica mais

do que em nome do direito 113

Mas o desvio de poder embora tenha nascido vinculado agrave moralidade ―passou

a ser visto como hipoacutetese de ilegalidade114

pois inserido no conceito de legalidade

administrativa e portanto submetido ao controle judicial passando assim ―de regra de

conteuacutedo moral a ―uma regra juriacutedica115

Weber tambeacutem contribuiu de forma consideraacutevel quanto ao assunto uma vez

que vinculou a moralidade administrativa agrave ―moral dos resultados pois segundo ele

―pretendeu desligar por completolsquo o conceito de norma juriacutedica do de norma moral de que proveio

Discricionariedade Administrativa na Constituiccedilatildeo de 1988 3ordf ed Satildeo Paulo Editora Altas 2012 p 163 109 ROCHA Op cit p 176 110 DI PIETRO Op cit 165 111 GARCIA Emerson e ALVES Rogeacuterio Pacheco Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem Rio de Janeiro

Ed Lumen Juris 2002 p 41 112 Assim elaborou uma teoria que estabelecesse ―paracircmetros adequados para a individualizaccedilatildeo do desvio de poder

e conclui que ele natildeo se reduzia agrave legalidade mas estava intimamente vinculado agrave imoralidade ou agrave inobservacircncia da

moralidade no desenvolvimento funccedilatildeo administrativa HAURIOU Maurice Precis de Droit Administratif et de

Droit Public p 439 apud GARCIA Emerson e ALVES Rogeacuterio Pacheco op cit p 41 113 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Mutaccedilotildees do Direito Administrativo 2ordf ed Satildeo Paulo Renovar 2001

p57 Segundo Carmem Luacutecia o autor na 11ordf ediccedilatildeo de sua obra em 1927 ―apresentou a noccedilatildeo de moralidade

administrativa mais acabada como ―o princiacutepio segundo o qual o Estado define o desempenho da funccedilatildeo

administrativa segundo uma ordem eacutetica acordada com os valores sociais prevalentes e voltada agrave realizaccedilatildeo de seus

fins ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p189 114 Ibidem 169 115 Ibidem p176

32

por ela eacute que se ―contrasta o resultado objetivamente considerado com o resultado que

seria exigido para atender agrave finalidade legal da administraccedilatildeo 116

De forma que o agente puacuteblico deve realizar o bem comum sendo esta a

finalidade do seu agir um agir institucional sendo censuraacuteveis ―poliacuteticos e servidores

ao empregarem ―o poder estatal de que foram investidos para fins estranhos aos

interesses puacuteblicos que a lei lhes cometeu 117

Mas a evoluccedilatildeo quanto agrave relaccedilatildeo entre direito e moral e quanto ao princiacutepio da

moralidade puacuteblica natildeo parou por aiacute vez que a noccedilatildeo do princiacutepio da moralidade

tambeacutem ―se ampliou natildeo sendo mais aquele da eacutepoca de Hauriou118

Nesse esteio antes da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 os administradores

brasileiros jaacute refletiam sobre a moralidade administrativa de forma que uns a aceitavam

como princiacutepio juriacutedico outros a acolhiam como requisito de validade dos atos da

Administraccedilatildeo Puacuteblica e outros ainda recusavam a ela a iacutendole juriacutedica119

Todavia esse contexto foi alterado apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 que a reconheceu explicitamente como um dos princiacutepios basilares da

Administraccedilatildeo Puacuteblica120

Deste modo no atual Estado Democraacutetico ―eacute a autoridade moral que legitima o

comportamento da pessoa puacuteblica121

pois ―o sistema juriacutedico democraacutetico

fundamenta-se na legitimidade a qual se compotildee com o elemento da moralidade

puacuteblica socialmente afirmada122

Nesse esteio eacute que se apresenta a uacuteltima consideraccedilatildeo sobre as algumas das

normativas editadas quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo a partir da Constituiccedilatildeo Federal de

116 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Mutaccedilotildees do Direito Administrativo 2ordf ed Satildeo Paulo Renovar

2001p59 ―O bom resultado objetivamente considerado ao que a Administraccedilatildeo Puacuteblica moralmente deve tender soacute

pode ser o que concorre para a realizaccedilatildeo da boa administraccedilatildeo inegavelmente o que satisfaz o direcionamento aos

interesses puacuteblicos o que vem a ser seu fim institucional Idem p 59 117 Idem p 60 118 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994p189 119 Afirma Marcio Cammarosano que Hely Lopes Meirelles e Cretella Junior jaacute a entendiam princiacutepio juriacutedico que

Manoel de Oliveira Franco Sobrinho a acolhia como requisito de validade do ato e que Moreira Neto negava sua

juridicidade O Princiacutepio Constitucional da Moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa Belo Horizonte

Foacuterum 2006 p 68-69 120 Segundo Carmem Luacutecia na deacutecada de 90 se projetou uma ―preocupaccedilatildeo com a moralidade puacuteblica a niacuteveis antes

natildeo vistos neste seacuteculo ou mesmo em qualquer outro () pocircs-se entatildeo a imperiosidade do questionamento da eacutetica e

da moral puacuteblica () A eacutetica passou () a ser um dos polos fundamentais do discurso e da praacutetica poliacutetica e

econocircmica deste final de seacuteculo () A moralidade puacuteblica e basicamente a moralidade administrativa refletem o

momento e fazem crescer em importacircncia e domiacutenio este princiacutepio que passa () a pairar sobre todos os processos

de juridicizaccedilatildeo Op cit p 176 121 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Op cit p180 122 Ibidem p182

33

1988 visto que se por um lado os Estados-membros e os Municiacutepios cada qual em seu

acircmbito elaboraram vaacuterias normas ―de repressatildeo ao nepotismo 123

(algumas ―elevadas

ao primeiro plano do ordenamento estadual124

construindo uma legislaccedilatildeo nacional

esparsa)125

que dispunham de forma diversa sobre a noccedilatildeo e a coibiccedilatildeo do nepotismo

por outro os poderes da Uniatildeo126

editaram nos seus respectivos domiacutenios normas

disciplinares aos seus respectivos destinataacuterios127

sendo estas ora enfocadas quais

sejam o Estatuto de Servidores Puacuteblicos Civis Federais do Poder Executivo a Lei

Complementar do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo o Coacutedigo de Eacutetica dos Servidores

Puacuteblicos Civis Federais do Poder Executivo a lei que disciplina os servidores no acircmbito

do Tribunal de Contas da Uniatildeo a lei federal que regulamenta as carreiras do Poder

Judiciaacuterio da Uniatildeo e ainda a Resoluccedilatildeo n 072005 editada pelo Conselho Nacional

de Justiccedila que embora tenham visado extirpar o nepotismo da Administraccedilatildeo Puacuteblica

nos mais diversos oacutergatildeos da Uniatildeo natildeo o obstaram totalmente

A primeira lei federal que apoacutes a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 previu

expressamente a vedaccedilatildeo do nepotismo foi a de n 8112 de 11 de dezembro de 1990

que ao tratar do regime disciplinar estatutaacuterio dispocircs no artigo 117 sobre as condutas

proibidas ao servidor e dentre elas pelo seu inciso VIII vedou ao servidor do Poder

Executivo das autarquias e das fundaccedilotildees puacuteblicas que mantivesse ―sob sua chefia

imediata em cargo ou funccedilatildeo de confianccedila cocircnjuge companheiro ou parente ateacute o

segundo grau civil definindo entatildeo os limites da noccedilatildeo de nepotismo pela

123 ―Existem leis estaduais e leis municipais dentre as quais diversas leis orgacircnicas municipais que aqui natildeo se citam

por desnecessaacuterio (e de resto interminaacutevel) que consignam similarmente agraves leis federais referidas disposiccedilotildees

restritivas ao nepotismo em termos sempre inspirados na legislaccedilatildeo federal Quanto agraves LOMs observa se ateacute mesmo

a introduccedilatildeo da regra antinepotismo por forccedila de emendas parlamentares e natildeo oriundas do Executivo como pela

abrangecircncia da finalidade ante a dimensatildeo dos quadros das Prefeituras ante a das Cacircmaras Municipais seria de

esperar as quais iniciativas jaacute mereceram acolhida judicial como pelo e Tribunal de Justiccedila do Estado de Satildeo Paulo

na ADI n 963340100 originaacuteria do Municiacutepio de Biritiba Mirim ARAKAKI Allan Thiago Barbosa ORTIZ

Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash

RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 p 101-121 abrjun 2011 p106 124 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP

Belo Horizonte Ed Forum ano 11 n 41 abrjun 2013 p 25 ―Assim algumas constituiccedilotildees estaduais impediam

que determinados parentes ocupassem cargos em comissatildeo o que eacute o caso da Constituiccedilatildeo do Rio Grande do Sul que

em seu art 20 sect 5ordm buscou conferir um tratamento uniforme nos trecircs Poderes naquele Estado ao proibir o exerciacutecio

do cargo comissionado pelos cocircnjuges ou companheiros e parentes consanguiacuteneos afins ou por adoccedilatildeo ateacute o

segundo grau ARAKAKI Allan Thiago Barbosa E ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o Combate ao

Nepotismo Revista de direito Constitucional e Internacional ndash RDCI v 211 ano 75 p 105-106 A Emenda que

propocircs a modificaccedilatildeo foi a n12 agrave Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Sul elaborada pela Assembleia

Legislativa daquele Estado que vedava o nepotismo em todos os Poderes desse ente federativo e foi objeto da ADI n

1521-4RS um dos precedentes da suacutemula 125 E era ―objeto de resistecircncia e descumprimento MODESTO Paulo Opcit p25 126Dos ―cinco Poderes da Uniatildeo pois que ningueacutem duvide de que o Ministeacuterio Puacuteblico e o Tribunal de Contas satildeo o

quarto e o quinto ao lado dos tradicionais trecircs ARAKAKI Op cit p105 127 ANTONIO Alice Barroso O Nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF Criacuteticas e Proposiccedilotildees

Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM janmar 2009 Belo Horizonte ano 10 n 31 p 61

34

subordinaccedilatildeo do parente nomeado agrave chefia imediata do nomeante e restrita ao cocircnjuge

companheiro128

e parentes consanguiacuteneos ateacute o segundo grau

Em 20 de maio de 1993 foi editada a Lei Complementar federal n 75 que

dispotildee sobre a organizaccedilatildeo as atribuiccedilotildees e o estatuto do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo e

que por meio do seu artigo 293 vedou o nepotismo no acircmbito do referido oacutergatildeo nos

mesmos termos da Lei 811290129

Posteriormente em 22 de junho de 1994 foi publicado o Coacutedigo de Eacutetica do

servidor puacuteblico civil do Poder Executivo federal aprovado pelo Decreto Presidencial n

1171 que enfatizou as regras deontoloacutegicas130

ressaltando que o servidor puacuteblico natildeo

poderaacute jamais desprezar o elemento eacutetico de sua condutalsquo131

estabelecendo que seja

dever do servidor resistir a todas as pressotildees de superiores hieraacuterquicos de

interessados de familiares que viessem obter quaisquer favores benesses ou vantagens

indevidas em decorrecircncia de accedilotildees imorais ilegais ou aeacuteticaslsquo132

e vedando o uso do

cargo ou funccedilatildeo facilidades amizades tempo posiccedilatildeo e influecircncias para obter

qualquer favorecimento para si ou para outremlsquo 133

Dessa forma o titular do Poder Executivo Federal natildeo satisfeito com o jaacute

disposto na Lei n 811290 assentou por meio do Coacutedigo de Eacutetica134

que a proibiccedilatildeo

de se utilizar o puacuteblico em prol do privado sob a oacutetica da moralidade puacuteblica tambeacutem eacute

aeacutetico

O Tribunal de Contas da Uniatildeo por meio da Lei n 9165 de 19 de dezembro

de 1995 alterou o art 110 da Lei Orgacircnica do Tribunal de Contas da Uniatildeo - Lei nordm

8443 de 16 de julho de 1992 - dando nova redaccedilatildeo ao seu inciso IV e acrescentando

paraacutegrafo uacutenico ao mesmo artigo que veda o nepotismo135

sendo a primeira normativa

128 Companheiro eacute a pessoa com quem se vive em uniatildeo estaacutevel como se casado fosse nos termos do caput do art

1723 do CC de 2002 129 Art 293 Ao membro ou servidor do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo eacute vedado manter sob sua chefia imediata em

cargo ou funccedilatildeo de confianccedila cocircnjuge companheiro ou parente ateacute o segundo grau civil 130 E determinou a criaccedilatildeo de Comissotildees de Eacutetica no acircmbito dos oacutergatildeos e entidades do Poder Executivo 131 Anexo do Decreto Seccedilatildeo I inciso II 132 Anexo do Decreto Seccedilatildeo II inciso XIV aliacutenea i 133 Anexo do Decreto Seccedilatildeo III inciso XV aliacutenea a 134 Carmem Luacutecia Antunes Rocha em sua obra de 1994 jaacute asseverava que era necessaacuteria a criaccedilatildeo de um ―Coacutedigo

Deontoloacutegico da Administraccedilatildeo Puacuteblica e de ―Comissotildees de Eacutetica do Serviccedilo Puacuteblico em todos os poderes e

entidades da Federaccedilatildeo Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p

232-233 135 ―Art 1ordm - O art 110 da Lei nordm 8443 de 16 de julho de 1992 - Lei Orgacircnica do Tribunal de Contas da Uniatildeo

alterado o inciso IV e acrescido de paraacutegrafo uacutenico passa a vigorar com a seguinte redaccedilatildeo ―Art 110() IV -

provimento dos cargos em comissatildeo e funccedilotildees de confianccedila por servidores do quadro de pessoal exceto quanto aos

Gabinetes de Ministro do Procurador-Geral e de Auditor em relaccedilatildeo a um Oficial de Gabinete e a um Assistente que

seratildeo de livre escolha da autoridade obedecidos os requisitos legais e regimentais Paraacutegrafo uacutenico Eacute vedada a

nomeaccedilatildeo para cargos em comissatildeo e a designaccedilatildeo para funccedilotildees de confianccedila de cocircnjuge companheiro ou

35

a elastecer os limites do nepotismo aos parentes consanguiacuteneos ateacute o terceiro grau e aos

afins

A Lei 9421 de 24 de dezembro de 1996136

que criou as carreiras dos

servidores do Poder Judiciaacuterio vedou o nepotismo conforme disposto no seu artigo 10

nos mesmos limites da lei do Tribunal de Contas contudo inovou ao excepcionar a

vedaccedilatildeo do nepotismo aos servidores efetivos da carreira judiciaacuteria nomeados para

ocupar cargo em comissatildeo salvo se fossem diretamente subordinados ao magistrado

parente137

E entatildeo apoacutes quase uma deacutecada da ediccedilatildeo da uacuteltima legislaccedilatildeo federal sobre o

tema e jaacute no seacuteculo XXI o Conselho Nacional de Justiccedila138

―em meio a declaraccedilotildees de

autoridades da Repuacuteblica favoraacuteveis agrave contrataccedilatildeo de familiares para o serviccedilo puacuteblico

que provocou repulsa na populaccedilatildeo brasileira139

no uso de sua competecircncia140

aprovou

a Resoluccedilatildeo n 7 de 18 de outubro de 2005 que ―disciplina o exerciacutecio de cargos

empregos e funccedilotildees por parentes cocircnjuges e companheiros de magistrados e de

servidores investidos em cargos de direccedilatildeo e assessoramento no acircmbito dos oacutergatildeos do

Poder Judiciaacuterio e daacute outras providecircncias141

e que assim estabeleceu marco na

parentes consanguiacuteneos ou afins em linha reta ou colateral ateacute o terceiro grau de ministro auditor ou membro do

Ministeacuterio Puacuteblico junto ao Tribunal em atividade ou aposentados haacute menos de cinco anos exceto se admitidos no

quadro proacuteprio de pessoal mediante concurso puacuteblico 136 Revogada pela Lei n 11416 de 15 de dezembro de 2006 que dispotildee sobre as Carreiras dos Servidores do Poder

Judiciaacuterio da Uniatildeo 137 Artigo 10 ―No acircmbito da jurisdiccedilatildeo de cada Tribunal ou Juiacutezo eacute vedada a nomeaccedilatildeo ou designaccedilatildeo para cargos e

Comissatildeo e para as Funccedilotildees Comissionadas de que trata o art 9 de cocircnjuge companheiro ou parente ateacute o terceiro

grau inclusive dos respectivos membros ou juiacutezes vinculados salvo a de servidor ocupante de cargo de provimento

efetivo das Carreiras Judiciaacuterias caso em que a vedaccedilatildeo eacute restrita agrave nomeaccedilatildeo ou designaccedilatildeo para servir junto ao

Magistrado determinante da incompatibilidade 138 Criado pela Emenda agrave Constituiccedilatildeo n 4504 que promoveu vaacuterias mudanccedilas no Judiciaacuterio eacute oacutergatildeo responsaacutevel

pelo controle administrativo e financeiro do Judiciaacuterio e pelo cumprimento dos deveres funcionais dos magistrados 139GARCIA Emerson Nepotismo origens e paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano IX n 200 15 de maio de

2005 p 24 Nesta eacutepoca ―a pressatildeo da opiniatildeo popular contribuiu para que projetos contraacuterios ao nepotismo que

estavam engavetados na CCL voltassem a tramitar no Congresso Nacional O clamor popular estaacute levando

prefeituras e cacircmaras de vereadores a abdicarem da antiga praacutetica poliacutetica de dividir as benesses do poder com os

parentes agrave custa do eraacuterio Em vaacuterias cidades organizaccedilotildees natildeo governamentais e grupos de cidadatildeos mobilizam-se

contra o nepotismo 140 ―Art 103-b () sect4ordm () II - zelar pela observacircncia do art 37 e apreciar de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo a

legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio podendo desconstituiacute-los

revecirc-los ou fixar prazo para que se adotem as providecircncias necessaacuterias ao exato cumprimento da lei sem prejuiacutezo da

competecircncia do Tribunal de Contas da Uniatildeo 141 Posteriormente alterada pelas Resoluccedilotildees n 9 de 06 de dezembro de 2005 e n 21 de 29 de agosto de 2006 A

Resoluccedilatildeo n 9 deu nova redaccedilatildeo ao art 3ordm da Resoluccedilatildeo n7 Eacute vedada a manutenccedilatildeo aditamento ou prorrogaccedilatildeo de

contrato de prestaccedilatildeo de serviccedilos com empresa que venha a contratar empregados que sejam cocircnjuges companheiros

ou parentes em linha reta colaterais ou por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive de ocupantes de cargo de direccedilatildeo

e de assessoramento de membros de juiacutezes vinculados ao respectivo tribunal contratante devendo tal condiccedilatildeo

constar expressamente dos editais de licitaccedilatildeolsquo e a Resoluccedilatildeo n 21 deu nova redaccedilatildeo ao sect1ordm do art 2ordm da Resoluccedilatildeo

n7 ―Ficam excepcionadas nas hipoacuteteses dos incisos I II e III deste artigo as nomeaccedilotildees ou designaccedilotildees de

servidores ocupantes de cargo de provimento efetivo das carreiras judiciaacuterias admitidos por concurso puacuteblico

observada a compatibilidade do grau de escolaridade do cargo de origem ou a compatibilidade de atividade que lhe

seja afeta e a complexidade inerente ao cargo em comissatildeo a ser exercido aleacutem da qualificaccedilatildeo profissional do

36

poliacutetica de combate ao nepotismo no acircmbito do Judiciaacuterio pois mesmo que tenha

determinado a proibiccedilatildeo do nepotismo nos mesmos limites de parentesco dispostos nas

leis anteriores bem como excepcionado o nepotismo em situaccedilatildeo jaacute disposta na Lei n

94211996 ela inovou em diversos outros pontos e ainda esmiuccedilou as espeacutecies de

nepotismo de acordo com suas respectivas caracteriacutesticas sendo a principal precedente

normativa da SV n13

No seu artigo 1ordm vedou a praacutetica do nepotismo no acircmbito de todo o poder

judiciaacuterio dispocircs sobre a nulidade dos atos caracterizados como de nepotismo142

e na

sequecircncia elencou no seu artigo 2ordm as situaccedilotildees e ateacute espeacutecies de nepotismo143

Assim no inciso I previu a espeacutecie de nepotismo denominada ―direto e

imediato caracterizado quando cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta

colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau dos membros ou juiacutezes eacute nomeado ou

designado para exercer cargo em comissatildeo ou de funccedilatildeo gratificada no juiacutezo ou tribunal

em que aqueles satildeo vinculados sendo a forma mais natural de nepotismo e de faacutecil

constataccedilatildeo

No inciso II explicou sobre a espeacutecie de nepotismo indireto ou cruzado que eacute

caracterizado quando haacute reciprocidade nas nomeaccedilotildees ou designaccedilotildees ajustadas por

meio de trocas de favores reciacuteprocos e conhecidas como ―barrigas de aluguel 144

Ocorre de fato quando parente de uma autoridade eacute nomeada por meio de

outra autoridade e o parente da segunda autoridade eacute nomeado reciprocamente por

servidor vedada em qualquer caso a nomeaccedilatildeo ou designaccedilatildeo para servir subordinado ao magistrado ou servidor

determinante da incompatibilidade Disponiacuteveis em wwwcnjjusbr Acesso em 10022013 142 ―Art 1deg Eacute vedada a praacutetica de nepotismo no acircmbito de todos os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio sendo nulos os atos

assim caracterizados 143 ―Art 2deg Constituem praacuteticas de nepotismo dentre outras

1 - o exerciacutecio de cargo de provimento em comissatildeo ou de funccedilatildeo gratificada no acircmbito da jurisdiccedilatildeo de cada

Tribunal ou Juiacutezo por cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau

inclusive dos respectivos membros ou juiacutezes vinculados

II - o exerciacutecio em Tribunais ou Juiacutezos diversos de cargos de provimento em comissatildeo ou de funccedilotildees gratificadas

por cocircnjuges companheiros ou parentes em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive de

dois ou mais magistrados ou de servidores investidos em cargos de direccedilatildeo ou de assessoramento em circunstacircncias

que caracterizem ajuste para burlar a regra do inciso anterior mediante reciprocidade nas nomeaccedilotildees ou designaccedilotildees

III - o exerciacutecio de cargo de provimento em comissatildeo ou de funccedilatildeo gratificada no acircmbito da jurisdiccedilatildeo de cada

Tribunal ou Juiacutezo por cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau

inclusive de qualquer servidor investido em cargo de direccedilatildeo ou de assessoramento

IV - a contrataccedilatildeo por tempo determinado para atender a necessidade temporaacuteria de excepcional interesse puacuteblico de

cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive dos

respectivos membros ou juiacutezes vinculados bem como de qualquer servidor investido em cargo de direccedilatildeo ou de

assessoramento

V - a contrataccedilatildeo em casos excepcionais de dispensa ou inexigibilidade de licitaccedilatildeo de pessoa juriacutedica da qual

sejam soacutecios cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta ou colateral ateacute o terceiro grau inclusive dos

respectivos membros ou juiacutezes vinculados ou servidor investido em cargo de direccedilatildeo e de assessoramento 144 RIBEIRO JUNIOR Joseacute Hortecircncio A ilegalidade do nepotismo no poder judiciaacuterio Revista Juriacutedica Consulex

ano IX nordm 200 p 30

37

meio da primeira autoridade sendo portanto uma espeacutecie de nepotismo de difiacutecil

comprovaccedilatildeo vez que para sua configuraccedilatildeo eacute imprescindiacutevel provar o ajuste realizado

entre as autoridades que detecircm o poder de nomear ou solicitar a nomeaccedilatildeo

Pelo inciso III determinou a coibiccedilatildeo de nepotismo aos parentes de qualquer

servidor investido em cargo de direccedilatildeo ou de assessoramento e pelo inciso IV inovou

vedando a contrataccedilatildeo temporaacuteria sem processo seletivo dos parentes de daqueles que

geram incompatibilidade para atender a necessidade temporaacuteria de excepcional

interesse puacuteblico

Ainda no inciso V proibiu a contrataccedilatildeo natildeo precedida de licitaccedilatildeo de pessoa

juriacutedica em que os parentes dos membros juiacutezes ou dos servidores investidos em cargo

de direccedilatildeo e assessoramento tribunal contratante sejam soacutecios

Igualmente nos paraacutegrafos primeiro e segundo excepcionou145

as nomeaccedilotildees

ou designaccedilotildees de servidores ocupantes de cargo de provimento efetivo das carreiras

judiciaacuterias

Por meio do artigo 3ordm vedou a contrataccedilatildeo dos parentes (daqueles que geram

incompatibilidade) por pessoa juriacutedica prestadora de serviccedilo ao juiacutezo ou tribunal aos

quais se vincula e pelo artigo 4ordm determinou que a pessoa nomeada ou designada deve

declarar formalmente antes da posse que natildeo possui parentesco com ningueacutem que gere

incompatibilidade e caracterize o nepotismo 146

No seu artigo 5ordm definiu que os Presidentes dos Tribunais exonerassem os

servidores em situaccedilatildeo de nepotismo147

Diante da severidade e coerccedilatildeo da Resoluccedilatildeo foram suscitadas inuacutemeras

discussotildees e polecircmicas quanto agrave sua aplicaccedilatildeo148

e devido agrave resistecircncia encontrada no

145 ―sect 1deg Ficam excepcionadas nas hipoacuteteses dos incisos I II e III deste artigo as nomeaccedilotildees ou designaccedilotildees de

servidores ocupantes de cargo de provimento efetivo das carreiras judiciaacuterias admitidos por concurso puacuteblico

observada a compatibilidade do grau de escolaridade do cargo de origem a qualificaccedilatildeo profissional do servidor e a

complexidade inerente ao cargo em comissatildeo a ser exercido vedada em qualquer caso a nomeaccedilatildeo ou designaccedilatildeo

para servir subordinado ao magistrado ou servidor determinante da incompatibilidade

―sect 2deg A vedaccedilatildeo constante do inciso IV deste artigo natildeo se aplica quando a contrataccedilatildeo por tempo determinado para

atender a necessidade temporaacuteria de excepcional interesse puacuteblico houver sido precedida de regular processo seletivo

em cumprimento de preceito legal 146 ―Art 4deg O nomeado ou designado antes da posse declararaacute por escrito natildeo ter relaccedilatildeo familiar ou de parentesco

que importe praacutetica vedada na forma do art 2ordm 147 ―Art 5deg Os Presidentes dos Tribunais dentro do prazo de noventa dias contado da publicaccedilatildeo deste ato

promoveratildeo a exoneraccedilatildeo dos atuais ocupantes de cargos de provimento em comissatildeo e de funccedilotildees gratificadas nas

situaccedilotildees previstas no art 2deg comunicando a este Conselho Paraacutegrafo uacutenico Os atos de exoneraccedilatildeo produziratildeo

efeitos a contar de suas respectivas publicaccedilotildees 148 Pois diversos magistrados e servidores do poder judiciaacuterio lotados nas inuacutemeras cortes e foacuteruns do paiacutes se

mostraram relutantes em cumpri-la ―Eacute comum a relutacircncia interna de alguns tribunais () haacute no comportamento de

38

acircmbito do proacuteprio Judiciaacuterio a dar cumprimento ao determinado pela Resoluccedilatildeo o CNJ

aleacutem de tecirc-la alterado por meio das outras duas Resoluccedilotildees ainda editou enunciados

administrativos149

dentre os quais cabe ressaltar o n1 por meio do qual o CNJ

excepcionou trecircs situaccedilotildees da praacutetica nepoacutetica a nomeaccedilatildeo do servidor-parente para

ocupar cargo comissionado que tenha ocorrido anteriormente ao ingresso daquele que

gera a incompatibilidade a nomeaccedilatildeo ocorrida anteriormente agrave uniatildeo estaacutevel ou do

casamento e a nomeaccedilatildeo de parentes de servidor ou o magistrado morto ou

aposentado150

E tambeacutem n7 por meio do qual o CNJ estabeleceu sobre a aplicaccedilatildeo da

referida resoluccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave contrataccedilatildeo de estagiaacuterios sem processo seletivo

ressaltando ainda que o estagiaacuterio natildeo poderia ser subordinado direto do servidor ou

magistrado parente seus 151

Na sua 16ordf sessatildeo esclareceu sobre alguns pontos quanto agrave Resoluccedilatildeo dentre

eles que a definiccedilatildeo de cargo de assessoramento ou de chefia deve embasada na

natureza e nas atribuiccedilotildees do cargo independentemente de sua nomenclatura152

Ainda vale frisar que a Resoluccedilatildeo n7 ao expurgar o nepotismo do Judiciaacuterio

―desencadeou um movimento similar em todo o serviccedilo puacuteblico153

antes mesmo da

ediccedilatildeo da SV n13 Tanto que inspirou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico a

parte do Poder Judiciaacuterio um fator cultural materializado na relaccedilatildeo de troca de influecircncias que estabelece com a

sociedade bem como um sentimento fortemente presente de natildeo se achar parte do Estado () a constataccedilatildeo de que a

forma como se deu a colonizaccedilatildeo brasileira e o exerciacutecio do poder local marcadamente familiar ainda influenciam o

modo de agir e pensar de grande parcela de seus membros() Na realidade o que se via na resistecircncia em aceitar a

determinaccedilatildeo do CNJ era um comportamento compatiacutevel com a relaccedilatildeo coronelista do iniacutecio do seacuteculo XX cuja

marca primeira era o clientelismo ou seja uma rede de relaccedilotildees pessoais e diretas baseadas na troca firmada em

termos poliacuteticos A impossibilidade de nomear os parentes teria podado em alguns membros da magistratura o

exerciacutecio do seu lado patrimonialista () fim da relaccedilatildeo em que o patrimocircnio puacuteblico () era utilizado para fins

pessoais () Eliminava-se () o requisito de um favor para conseguir-se () acesso a um cargo puacuteblico ()

dificuldade de alguns membros da magistratura de separarem os negoacutecios privados dos negoacutecios do estado seja por

empregar os parentes os amigos ()Tudo muito semelhante agrave relaccedilatildeo do senhor de engenho ou do coronel com seu

―povo tudo visto de forma muito ―cordial na acepccedilatildeo de Seacutergio Buarque de Holanda () Tais praacuteticas

decididamente patrimonialistas necessitavam ser combatidas() favoritismo ou perseguiccedilotildees os atos com ausecircncia

do criteacuterio impessoal RODRIGUES Francisco Luciano Lima Os efeitos da resistecircncia agrave implantaccedilatildeo das regras de

combate ao nepotismo sobre o papel do Judiciaacuterio na construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

in Constituiccedilatildeo e Estado Social Os obstaacuteculos agrave concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Oliveira Neto Francisco Joseacute

Rodrigues de (Org) Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2008 p 151 a 153 149 N1 de 08 de setembro de 2008 que estende a aplicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo CNJ nordm 7 de 18 de outubro de 2005 agraves

nomeaccedilotildees natildeo concursadas para serventias extrajudiciais (redaccedilatildeo dada pela Divisatildeo Normatizaccedilatildeo e Organizaccedilatildeo)

n1 de 25 de abril de 2006 que aprova nova redaccedilatildeo agrave aliacutenea C do Enunciado Administrativo n 1 (redaccedilatildeo dada pela

Divisatildeo Normatizaccedilatildeo e Organizaccedilatildeo) n 1 de 11 de abril de 2006 que especifica fatores e situaccedilotildees geradoras de

incompatibilidade nos termos da Resoluccedilatildeo CNJ nordm 7 de 18 de outubro de 2005 (redaccedilatildeo dada pela Divisatildeo

Normatizaccedilatildeo e Organizaccedilatildeo) Disponiacutevel em wwwcnjjusbr 150 De 15 de dezembro de 2005 que dispotildee sobre as vedaccedilotildees constantes na Resoluccedilatildeo CNJ nordm 7 de 18 de outubro de

2005 151 De 19 de junho de 2008 que dispotildee sobre contrataccedilatildeo de estagiaacuterios no acircmbito dos Tribunais 152 Ata da sessatildeo disponiacutevel em wwwcnjjusbr Acesso em 10022013 Ainda ficou estabelecido que a exoneraccedilatildeo

dos servidores em situaccedilatildeo de nepotismo eacute escolha que compete ao Presidente do Tribunal e que a prescriccedilatildeo e a

decadecircncia natildeo satildeo aplicadas ao ato de exoneraccedilatildeo de tais servidores 153 CAVALCANTI Felipe Locke O Conselho Nacional de Justiccedila e a efetividade dos princiacutepios constitucionais

Revista do Advogado v 32 n 117 out2012 p 92

39

editar a Resoluccedilatildeo CONAMP n 1 de 7 de novembro de 2005154

diversa mas tatildeo

rigorosa como a do CNJ155

dirigida a todo o Ministeacuterio Puacuteblico como provocou a

ediccedilatildeo da Lei Federal n 11416 de 15 de dezembro de 2006 que dispotildee sobre as

carreiras do Poder Judiciaacuterio da Uniatildeo com vedaccedilatildeo expressa ao nepotismo no seu

artigo 6ordm156

e ainda foi aplicada pelo Tribunal de Contas da Uniatildeo ao ementar o

Acoacuterdatildeo n 382007 sobre o tema157

natildeo restando portanto ―qualquer duacutevida da

incontrastaacutevel proibiccedilatildeo ao nepotismo que desde entatildeo impera perante o Judiciaacuterio158

Diante de tudo isto resta a imprescindibilidade de se fazer expressa a vedaccedilatildeo

do nepotismo em todos os poderes de todos os entes federados Mas deve-se

questionar tendo em vista o assunto e a legislaccedilatildeo jaacute existente havia a necessidade de

ser editar uma Suacutemula Vinculante a regulamentar a mateacuteria Ela eacute o instrumento mais

adequado a fazecirc-lo O STF exorbitou sua competecircncia e extrapolou a proacutepria finalidade

da Suacutemula Vinculante Eacute essa a problemaacutetica a que se volta o trabalho

154 O seu uacuteltimo considerando dispotildee que o nepotismo vicia os princiacutepios da Administraccedilatildeo Puacuteblica e que por isto eacute

inconstitucional e ainda que natildeo eacute necessaacuterio vedaacute-lo expressamente por lei diante da autoaplicabilidade dos

princiacutepios que prescindem de previsatildeo legal para terem plena eficaacutecia 155 Segundo Antocircnio Arnaldo Dal Pozzo ―se compararmos o disposto no art 2ordm 1 da Resoluccedilatildeo nordm 0705 (CNJ) com

a norma do art 1ordm da Resoluccedilatildeo nordm 105 (CNMP) () notamos uma sensiacutevel diferenccedila entre os conceitos de

nepotismo O nepotismo no Poder Executivo In Boletim de Direito Municipal ndash BDMEditora NDJ v 24 n 8 ago

2008 p 598 156 Art 6ordm No acircmbito da jurisdiccedilatildeo de cada tribunal ou juiacutezo eacute vedada a nomeaccedilatildeo ou designaccedilatildeo para os cargos em

comissatildeo e funccedilotildees comissionadas de cocircnjuge companheiro parente ou afim em linha reta ou colateral ateacute o

terceiro grau inclusive dos respectivos membros e juiacutezes vinculados salvo a de ocupante de cargo de provimento

efetivo das Carreiras dos Quadros de Pessoal do Poder Judiciaacuterio caso em que a vedaccedilatildeo eacute restrita agrave nomeaccedilatildeo ou

designaccedilatildeo para servir perante o magistrado determinante da incompatibilidade 157 BRASIL Tribunal de Contas da Uniatildeo Processo 0049662003-4 ―Sumaacuterio Pedido de Reexame contra Acoacuterdatildeo

que determinou agrave Presidecircncia do TRT22ordf Regiatildeo que se abstivesse de nomear ou designar para o exerciacutecio de

funccedilatildeo que demande alguma atividade sob direccedilatildeo acompanhamento supervisatildeo aprovaccedilatildeo coordenaccedilatildeo controle

delegaccedilatildeo ou subdelegaccedilatildeo da pessoa que preside o oacutergatildeo servidor puacuteblico mesmo ocupante de cargo de provimento

efetivo que seja seu cocircnjuge companheiro ou parente ateacute o terceiro grau nos termos do art 10 da Lei nordm 942196 e

do art 2ordm da Resoluccedilatildeo CNJ 72005 Conhecimento Natildeo-provimento ldquoEmenta PEDIDO DE REEXAME

NEPOTISMO AUSEcircNCIA DE INTERESSE DE AGIR EM RELACcedilAtildeO A UM DOS ITENS DO ACOacuteRDAtildeO

ARGUMENTACcedilAtildeO INCAPAZ DE AFASTAR FALHAS DE GESTAtildeO NEGADO PROVIMENTO 1 A praacutetica

de nepotismo configura ofensa aos princiacutepios que regem a Administraccedilatildeo Puacuteblica sobretudo os da moralidade

igualdade impessoalidade e finalidade administrativa 2 Natildeo se conheceraacute de peccedila recursal que ataque atos de mero

expediente porquanto desprovidos de carga decisoacuteria ou que ataque deliberaccedilatildeo que natildeo alcance a parte em face de

evidente falta de interesse de agir 3 Nega-se provimento a pedido de reexame quando os argumentos apresentados

pelo recorrente natildeo forem haacutebeis a afastar ou mesmo justificar as falhas de gestatildeo identificadas ao tempo de

fiscalizaccedilatildeo promovida por este Tribunal Interessante frisar que o Ministro Relator citou no acircmbito do julgado o

parecer dado pelo Subprocurador-Geral junto ao TCU Jatyr Batista Cunha nos autos do TC nordm 00620072003-4

onde afirmou que por traacutes da coibiccedilatildeo do nepotismo ―natildeo estaacute apenas uma intenccedilatildeo de melhoria de qualidade e

produtividade do serviccedilo puacuteblico mas tambeacutem a vontade dos legisladores ordinaacuterios e constituintes de promover a

moralizaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica BRASIL Tribunal de Contas da Uniatildeo Relator Min Augusto Nardes

Acoacuterdatildeo n 382007 de 3112007 aprovado em 122007 e publicado no DOU de 222007 Processo

0049662003-4 Disponiacutevel em httpportal2tcugovbr Acesso em 25032013 158 PIRES Luis Manuel Fonseca Controle Judicial do Nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante do Supremo

Tribunal Federal In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p235

40

Para tanto se aplica metodologia ao estudo159

por meio de pesquisa

bibliograacutefica que revele ao longo do trabalho o objeto pesquisado as hipoacuteteses

pertinentes o problema decorrente e o argumento final

Assim a dissertaccedilatildeo eacute dividida em cinco partes A primeira se volta agrave anaacutelise

da anatomia da ediccedilatildeo da SV 13 a partir dos contornos das argumentaccedilotildees expostas

pelos Ministros do STF tanto nos seus quatro precedentes quanto nos dois debates que

a antecederam e que constituem as balizas de sua ediccedilatildeo com vistas a esclarecer o seu

sentido na forma que foi ementada

A partir da sistematizaccedilatildeo da descriccedilatildeo de tais informaccedilotildees - relevantes ao

estudo pois levaram agrave decisatildeo do STF de editar a SV n13 num determinado contexto -

se observa a retoacuterica argumentativa utilizada pelo Tribunal que construiu judicialmente

a noccedilatildeo da vedaccedilatildeo do nepotismo e que indicam as controveacutersias que circundam o

proacuteprio texto do ato normativo editado

Dessa forma na exposiccedilatildeo dos precedentes160

se pontua os assuntos

levantados as semelhanccedilas e diferenccedilas entre eles e ainda o reflexo de cada um deles

na redaccedilatildeo da Suacutemula

Jaacute o segundo capiacutetulo do trabalho exibe apertada siacutentese sobre o contexto

histoacuterico do nepotismo no Brasil a ligaccedilatildeo de sua noccedilatildeo poliacutetico-administrativa com a

noccedilatildeo juriacutedica e consideraccedilotildees sobre a moralidade no acircmbito constitucional seu sentido

e alcance tudo em conformidade com o magisteacuterio doutrinaacuterio paacutetrio

No terceiro capiacutetulo se enfoca a dinacircmica de decidir dos Ministros do STF

sob a oacutetica da hermenecircutica juriacutedica subdividido em trecircs toacutepicos um referente agrave

maneira como eles decidem de acordo com as elucidaccedilotildees de Hans Kelsen Alf Ross e

Eros Grau outro pertinente agrave forma como deveriam decidir segundo os meacutetodos e

criteacuterios hermenecircuticos de controlabilidade do processo decisoacuterio judicial propostos por

Friedrich Karl Von Savigny Chaiumlm Perelman Karl Larenz e Inocecircncio Maacutertires Coelho

e um terceiro atinente agrave interpretaccedilatildeo dos princiacutepios de acordo com a norma

constitucional de acordo com as liccedilotildees de Inocecircncio Maacutertires Coelho Ronald Dworkin

Robert Alexy Humberto Aacutevila e Marcelo Neves

159 Aqui no sentido de ―caminho a ser seguido para atingir uma finalidade FILHO Roberto Freitas e LIMA Thalita

Moraes Metodologia da Anaacutelise de Decisotildees ndash MAD Univ JUS Brasiacutelia n 21 p2 juldez 2010 160 Se ―passa por um inevitaacutevel processo de interpretaccedilatildeo dos dados ali constantes sem ―pretender-se a palavra final

() mas sempre um ponto inicial de debate sobre o proacuteprio precedente SILVA Christine Oliveira Peter da

Metodologia de Estudo de Precedentes Observatoacuterio da Jurisdiccedilatildeo Constitucional Brasiacutelia ano 1 out 2007 p6

Disponiacutevel emhttpwwwidporgbr Acesso em 020813

41

No quarto capiacutetulo se trata do procedimento de elaboraccedilatildeo da Suacutemula

Vinculante a partir dos ensinamentos de Roger Leal dentre outros a fim de se analisar

como deve ser construiacutedo o seu processo editorial seu sentido e efetivo alcance

Nesse enredo a criacutetica ao alcance da Suacutemula eacute feita com base em alternativas

argumentativas sistematizadas descritivamente e em suas consequecircncias na realidade

faacutetica que demonstram a complexidade do assunto e a necessidade de se refletir de

forma criacutetica sobre o assunto em tela com a finalidade de constatar se STF ao realizar

se construccedilatildeo judicial da vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da Suacutemula Vinculante n 13

exorbitou a normatividade do proacuteprio instituto o que concluiraacute o trabalho

42

1 A CONSTRUCcedilAtildeO JUDICIAL DA NOCcedilAtildeO DE NEPOTISMO E DE SUA

VEDACcedilAtildeO PELA SUacuteMULA VINCULANTE N 13

O capiacutetulo se volta a tratar da maneira pela qual o Supremo Tribunal Federal

(STF) realizou a construccedilatildeo judicial da noccedilatildeo e vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da

Suacutemula Vinculante n 13 com base nos julgados do proacuteprio STF considerados como

precedentes da referida Suacutemula e nos debates ocorridos161

1 1 Os precedentes da SV n13

111 A Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade n 1521-4RS

Pela ADI162

em questatildeo se objetivou arguir a inconstitucionalidade de alguns

artigos163

da Emenda n 12 agrave Constituiccedilatildeo do Rio Grande do Sul sob o argumento164

de

161 Que subsidiaram a ediccedilatildeo da mesma o que possibilitaraacute verificar as similaridades e desigualdades entre os

precedentes bem como entre eles e a proacutepria Suacutemula e responder entatildeo agraves seguintes questotildees a partir de quais

fundamentos o STF construiu a noccedilatildeo judicial sobre o nepotismo e sua vedaccedilatildeo Os elementos sobre os quais foi

construiacuteda tal noccedilatildeo satildeo os mesmos nos quatro precedentes A redaccedilatildeo sumular guarda correspondecircncia com os

mesmos Qual motivaccedilatildeo acarretou a elaboraccedilatildeo da SV n13 162 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade - ADI n 1521-4RS Ementaacuterio nordm

1983-1 ―CARGO DE CONFIANCcedilA ndash PARENTESCO ndash NOMEACcedilAtildeO E EXERCIacuteCIO - PROIBICcedilAtildeO ndash EMENDA

CONSTITUCINAL ndash ADI ndash LIMINAR A concessatildeo de liminar pressupotildee a relevacircncia do pedido formulado e o

risco de manter-se com plena eficaacutecia o preceito Isso natildeo ocorre quando o dispositivo atacado de iacutendole

constitucional confere ao tema chamado ―nepotismo tratamento uniforme nos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio proibindo o exerciacutecio do cargo pelos parentes consanguiacuteneos e afins ateacute o segundo grau no acircmbito de

cada Poder dispondo sobre os procedimentos a serem adotados para cessaccedilatildeo das situaccedilotildees existentes CARGOS ndash

EXTINCcedilAtildeO ndash INICIATIVA ndash ADI - LIMINAR Ao primeiro exame exsurge conflitante com a Carta Poliacutetica da

Repuacuteblica preceito que embora de iacutendole constitucional implique extinccedilatildeo de cargos de confianccedila ocupados agrave

margem das peculiaridades que lhes satildeo proacuteprias Relator Min Marco Aureacutelio julgada em 12397 e publicada no

DJ de 1732000 f105 Disponiacutevel em wwwstfgovbr 163 Art 1ordm - O artigo 20 da Constituiccedilatildeo do Estado fica acrescido dos seguintes paraacutegrafos ldquo4ordm - Os cargos em

comissatildeo destinam-se agrave transmissatildeo das diretrizes poliacuteticas para a execuccedilatildeo administrativa e ao assessoramento 5ordm -

Os cargos em comissatildeo natildeo podem ser ocupados por cocircnjuges ou companheiros e parentes consanguiacuteneos afins ou

por adoccedilatildeo ateacute o segundo grau I - do Governador do Vice-Governador do Procurador-Geral do Estado e dos

Secretaacuterios de Estado ou titulares de cargos que lhe sejam equiparados no acircmbito da administraccedilatildeo direta do Poder

Executivo II - dos Desembargadores e Juiacutezes de 2ordm grau no acircmbito do Poder Judiciaacuterio III - dos Deputados

Estaduais no acircmbito da Assembleia Legislativa IV- dos Procuradores de Justiccedila no acircmbito da Procuradoria-Geral

de Justiccedila V ndash dos Conselheiros e Auditores Substitutos de Conselheiros no acircmbito do Tribunal de Contas do

Estado VI ndash dos Presidentes Diretores-Gerais ou titulares de cargos equivalentes e dos Vice-Presidentes ou

equivalentes no acircmbito da respectiva autarquia fundaccedilatildeo instituiacuteda ou mantida pelo Poder Puacuteblico empresa puacuteblica

ou sociedade de economia mista (grifos nossos) Art 2ordm O caputlsquo do artigo 32 da Constituiccedilatildeo do Estado passa a ter

a seguinte redaccedilatildeo Art 32 ndash Os cargos em comissatildeo criados por lei em nuacutemero e remuneraccedilatildeo certos e com

atribuiccedilotildees definidas de direccedilatildeo chefia e assessoramento satildeo de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo observados os

requisitos gerais de provimento em cargos estaduais Art 4ordm Ficam extintos os cargos em comissatildeo que natildeo atendam

agraves disposiccedilotildees do paraacutegrafo 4ordm do artigo 20 e do artigo 32 caputlsquo da Constituiccedilatildeo do Estado Art 5ordm - Ficam

extintos os provimentos com a respectiva exoneraccedilatildeo dos cargos em comissatildeo providos em desacordo com as

disposiccedilotildees do paraacutegrafo 5ordm do artigo 20 da Constituiccedilatildeo do Estado Art 6ordm - O Governador do Estado o Presidente

do Tribunal de Justiccedila e a Mesa da Assembleia Legislativa no acircmbito dos respectivos Poderes o Procurador-Geral de

Justiccedila e o Presidente do Tribunal de Contas do Estado no acircmbito das suas respectivas instituiccedilotildees emitiratildeo os atos

administrativos declaratoacuterios de atendimento das disposiccedilotildees dos artigos 4ordm e 5ordm desta Emenda Constitucional

inclusive de extinccedilatildeo de cargos em comissatildeo e de exoneraccedilatildeo Paraacutegrafo uacutenico ndash O Governador do Estado poderaacute

delegar atribuiccedilotildees para a praacutetica dos atos previstos neste artigo Art 7ordm - (omissis) com as seguintes ressalvas a) o

artigo 4ordm entra em vigor cento e oitenta (180) dias apoacutes a data de sua publicaccedilatildeo b) o artigo 5ordm entra em vigor trinta

(30) dias apoacutes a data de sua publicaccedilatildeo BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade -

ADI n 1521-4RS fl107-109 164Ibidem fls 109 e 110 Ao serem requeridas informaccedilotildees agrave Assembleia Legislativa daquele Estado ela contestou a

ADI proposta sob os argumentos citados agraves folhas 111 a 113 do referido documento entre eles a necessidade de

43

que haveria viacutecio de forma pois o ―preenchimento de cargos em comissatildeo estaria na

oacuterbita interna de cada um dos Poderes razatildeo pela qual feridas de mortelsquo fizeram-se a

autonomia e a independecircncia que lhe satildeo proacuteprios 165

e que os efeitos retroativos

imputados natildeo mereceriam prosperar pois os servidores jaacute detentores do cargo

estariam amparados por direito adquirido 166

Contudo o STF entendeu que natildeo havia risco na manutenccedilatildeo do dispositivo167

pois de iacutendole constitucional e que conferia ao tema nepotismolsquo tratamento uniforme

nos Poderes Legislativo Executivo e Judiciaacuterio proibindo o exerciacutecio do cargo pelos

parentes consanguiacuteneos e afins ateacute o segundo grau

Assim a Corte decidiu pela constitucionalidade da Emenda n12 agrave Constituiccedilatildeo

Estadual do Rio Grande do Sul e indeferiu a suspensatildeo cautelar do sect4ordm do artigo 20 da

Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Sul com a redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

nordm 1295168

Nesse esteio o STF argumentou que seria necessaacuteria uma ―reflexatildeo mais

profunda sobre o sentido eacutetico que lastreia normas deste quilate169

e ao dispor sobre o

nepotismo170

afirmou que a Emenda n 12 objeto da ADI em questatildeo rendeu

―homenagem aos princiacutepios da legalidade da impessoalidade da moralidade171

e da

proibiccedilatildeo especiacutefica sobre o nepotismo e a existecircncia de diversas normas precedentes que o vedam em todos os entes

federados e nos mais diversos poderes 165 Argumento este que merece ser trazido agrave baila para se questionar ateacute onde a ediccedilatildeo da Suacutemula Vinculante n 13

tambeacutem natildeo resultou nesta mesma consequecircncia BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS fl 109 166Ibidem fl 109 167 Elaborada pela Assembleia Legislativa daquele Estado 168 ARAKAKI Allan Thiago Barbosa e ORTIZ Laudson Cruz lembram que ―Na seara judicial tambeacutem havia

manifestaccedilatildeo desfavoraacutevel ao nepotismo uma vez que mesmo sem previsatildeo expressa em Constituiccedilotildees anteriores a

1988 eacute possiacutevel defender que o princiacutepio da moralidade na verdade estava presente na ordem juriacutedica por uma

interpretaccedilatildeo sistecircmica In Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria

Garcia v 19 n 75 abrjun 2011 p 106 169 BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS voto do Ministro Marco Aureacutelio agraves fl 115 Pois ―o povo

brasileiro jaacute natildeo tateia mergulhado nas trevas da ignoracircncia em consequente subserviecircncia em busca da matildeo ditadora

e assistencialista Ibidem fl 115-116 Nesse ensejo o Ministro Celso Mello aduziu que ―() o Estado no exerciacutecio

das atividades que lhe satildeo inerentes natildeo pode ignorar os princiacutepios essenciais que derivando da constelaccedilatildeo

axioloacutegica que confere substrato eacutetico agraves accedilotildees do Poder Puacuteblico proclamam que as funccedilotildees governamentais hatildeo de

ser exercidas com estrita observacircncia dos postulados da igualdade da impessoalidade e da moralidade

administrativa Ibidem fl 141 E que tais princiacutepios ―() erigidos agrave condiccedilatildeo de valores fundamentais pela Carta

Poliacutetica () tais postulados qualificam-se como diretrizes essenciais que datildeo substacircncia e significado a repulsa que

busca prevalecer no acircmbito do aparelho do Estado o sentido real da ideia republicana que natildeo tolera praacuteticas e

costumes administrativos tendentes a confundir o espaccedilo puacuteblico com a dimensatildeo pessoal do governante em claro

desvio de caraacuteter eacutetico juriacutedico fl 142 170 Quem melhor explicou sobre a importacircncia de rebater o nepotismo foi o Ministro Celso Mello ao asseverar

―quem tem o poder e a forccedila do Estado em suas matildeos natildeo tem o direito de exercer em seu proacuteprio benefiacutecio a

autoridade que lhe eacute conferida E aleacutem de conceituaacute-lo como ato que reflete ―um gesto ilegiacutetimo de dominaccedilatildeo

patrimonial do Estado tambeacutem explicitou que ―desrespeita os postulados republicanos da igualdade da

impessoalidade e da moralidade administrativa Ibidem fl 142 171 O Relator aduziu pela ―() afirmaccedilatildeo definitiva da moralidade como princiacutepio norteador das instituiccedilotildees puacuteblicas

() Ibidem fl 116

44

isonomia172

vez que ―a vedaccedilatildeo de contrataccedilatildeo de parentes para cargos

comissionados ao abranger ―os cocircnjuges companheiros e parentes consanguiacuteneos

afins ou por adoccedilatildeo ateacute o segundo grau (pais filhos irmatildeos) a fim de prestarem serviccedilos

justamente onde o integrante familiar despontou e assumiu cargo de grande prestiacutegio173

inibe o nepotismo e atua na ―preservaccedilatildeo da proacutepria res puacuteblica174

Destacou nesse contexto o princiacutepio da isonomia disposto nos artigos 5ordm e 37

da Constituiccedilatildeo Federal e considerando que a accedilatildeo homenageia o princiacutepio

mencionado175

entendeu pela constitucionalidade da Emenda agrave Constituiccedilatildeo do Rio

Grande do Sul176

asseverando que a Emenda Constitucional pode disciplinar a mateacuteria

de forma abrangente e uniforme incidente aos trecircs Poderes177

Em que pese o STF ter apreciado todos os dispositivos combatidos da EC n12

faz-se necessaacuterio dentre eles trazer agrave baila apenas o disposto quanto aos dois principais

artigos da normativa que tocam o nepotismo quais sejam o paraacutegrafo 5ordm do artigo 1ordm

que proiacutebe expressamente a nomeaccedilatildeo de parentes de ateacute o segundo grau de

determinadas autoridades178

e o artigo 5ordm alusivo agrave exoneraccedilatildeo dos nomeados em cargo

em comissatildeo de forma infringente agrave vedaccedilatildeo do nepotismo179

172 Segundo o Relator ―a ocupaccedilatildeo dos cargos revela transgressatildeo agrave isonomia agrave impessoalidade e agrave moralidade ()

p121-122 O Ministro Celso Mello tambeacutem votou na mesma linha ao afirmar que a Emenda Constitucional―()

prestou efetiva reverecircncia ao texto da Constituiccedilatildeo Federal revelando-se fiel aos grandes princiacutepios fundados na eacutetica

republicana e consagrados na Carta Poliacutetica do Brasil () concepccedilatildeo republicana () incompatiacutevel com qualquer

praacutetica governamental tendente a restaurar a inaceitaacutevel teoria do Estado patrimonial BRASIL Supremo Tribunal

Federal ADI n 1521-4RS p 141 173 Ibidem fl 117-118 174 Ibidem fl 117 O Relator Ministro Marco Aureacutelio ainda dispocircs que ―() o meacuterito eacute a foacutermula eficiente para

chegar-se agrave qualidade total desejada aos serviccedilos puacuteblicos ditos essenciais E que natildeo se poderia ―compatibilizar tais

assertivas com a possibilidade de nomeaccedilatildeo de parentes proacuteximos para ocupar importantes ndash e ateacute estrateacutegicos ndash

cargos de direccedilatildeo nas reparticcedilotildees puacuteblicas comandadas pelo protetor Ibidem p 116 De forma que natildeo disse

claramente mas deu a entender que para ele haacute uma relaccedilatildeo entre nepotismo e eficiecircncia 175 Todos os Ministros dispotildeem que a vedaccedilatildeo do nepotismo eacute decorrente da observacircncia dos princiacutepios esculpidos no

caput do artigo 37 da CF Nesse ensejo curioso ressaltar que por este mesmo fundamento o STF reconheceu

constitucionalidade tanto agrave Emenda como agrave Suacutemula mesmo que diversas 176 Ibidem fl 119 O Ministro Relator ainda lembra que a atual emenda teve origem em uma proposta de emenda

constitucional realizada pelo Judiciaacuterio daquele Estado e que nesta estava vedada tambeacutem a ―troca de nomeaccedilotildees

entre dirigentes de oacutergatildeos bem como a ―proibiccedilatildeo se estendia ateacute o terceiro grau mas que esta proibiccedilatildeo soacute

alcanccedilaria novas nomeaccedilotildees mas natildeo ―aqueles que jaacute estivessem prestando serviccedilo Entretanto tal proposta frise-

se foi soacute o embriatildeo da atual redaccedilatildeo da Emenda Constitucional sob judice pois a composiccedilatildeo inicial natildeo prosperou 177 ―() a iniciativa do Estado do Rio Grande do Sul salta aos olhos como reflexo como sinal dos novos ares do atual

momento brasileiro angariando simpatia suficiente a que seja dada agrave questatildeo tratamento linear a abranger no campo

da proibiccedilatildeo atos que em uacuteltima anaacutelise em visatildeo desassombrada decorram de atuaccedilatildeo apaixonada direta ou

indireta () Ibidem fl 117-118 178 Ibidem fl 121-122 179 ―Art 1ordm - O artigo 20 da Constituiccedilatildeo do Estado fica acrescido dos seguintes paraacutegrafos () Paraacutegrafo 5ordm - Os

cargos em comissatildeo natildeo podem ser ocupados por cocircnjuges ou companheiros e parentes consanguiacuteneos afins ou por

adoccedilatildeo ateacute o segundo grau I - do Governador do Vice-Governador do Procurador-Geral do Estado e dos

Secretaacuterios de Estado ou titulares de cargos que lhe sejam equiparados no acircmbito da administraccedilatildeo direta do Poder

Executivo II - dos Desembargadores e Juiacutezes de 2ordm grau no acircmbito do Poder Judiciaacuterio III - dos Deputados

Estaduais no acircmbito da Assembleia Legislativa IV- dos Procuradores de Justiccedila no acircmbito da Procuradoria-Geral

de Justiccedila V ndash dos Conselheiros e Auditores Substitutos de Conselheiros no acircmbito do Tribunal de Contas do

45

Quanto ao primeiro foi destacada a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade180

agrave extensatildeo da proibiccedilatildeo tanto quanto ao seu acircmbito (oacutergatildeo em que a autoridade eacute

lotada) quanto agrave delimitaccedilatildeo do parentesco (o nepotismo eacute vinculado ao segundo grau

de parentesco)181

e quanto ao segundo dispositivo se asseverou que natildeo haacute direito

adquirido por parte daquele cuja nomeaccedilatildeo configura nepotismo 182

Aleacutem da argumentaccedilatildeo exposta tambeacutem se alegou que a vedaccedilatildeo ao nepotismo

ocorre em ―respeito ao regime juriacutedico uacutenico dos servidores puacuteblicos comum aos trecircs

Poderes183

e que por isto ―natildeo se submete agrave iniciativa reservada de cada um deles

podendo ―de acordo com o paracircmetro do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal ser objeto da

Constituiccedilatildeo estadual ou de emenda a esta Constituiccedilatildeo184

O que parece demonstrar a

Estado VI ndash dos Presidentes Diretores-Gerais ou titulares de cargos equivalentes e dos Vice-Presidentes ou

equivalentes no acircmbito da respectiva autarquia fundaccedilatildeo instituiacuteda ou mantida pelo Poder Puacuteblico empresa puacuteblica

ou sociedade de economia mista () Art 5ordm - Ficam extintos os provimentos com a respectiva exoneraccedilatildeo dos

cargos em comissatildeo providos em desacordo com as disposiccedilotildees do paraacutegrafo 5ordm do artigo 20 da Constituiccedilatildeo do

Estado 180 Princiacutepio este natildeo ventilado expressamente quando da elaboraccedilatildeo da Suacutemula Vinculante em questatildeo 181 Segundo o Ministro Relator―() o dispositivo natildeo alija a toda a evidecircncia o direito dos parentes de ombrearem

com os comuns do povo e inscreverem-se em concurso puacuteblico Alcanccedila apenas o afastamento das distorccedilotildees que se

tornaram tatildeo frequentes na administraccedilatildeo direta e indireta nos Poderes beneficiando de forma mais ou menos

escancarada em detrimento de cidadatildeos os parentes mencionados A norma eacute abrangente atingindo como jaacute

ressaltado os trecircs Poderes e estaacute limitada agrave disciplina de situaccedilotildees bem definidas em que a ocupaccedilatildeo dos cargos

revela transgressatildeo agrave isonomia agrave impessoalidade e agrave moralidade () Natildeo vejo como se possa ante agrave razoabilidade

constitucional dizer do conflito de regras com a Carta de 1988 () O texto da parte final do inciso II do art 37

―ressalvadas as nomeaccedilotildees para cargo em comissatildeo declarado em lei de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo natildeo serve de

respaldo ao quadro de injusticcedila e por vezes de absoluta imoralidade que costumeiramente eacute denunciado pela imprensa

escrita e falada Ressalto que no caso a razoabilidade da proibiccedilatildeo de iacutendole constitucional decorre natildeo soacute do grau

de parentesco ndash ateacute o 2ordm - como tambeacutem da limitaccedilatildeo considerando cada oacutergatildeo em si Indefiro a liminarrdquo (grifos

nossos) BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro Relator agraves fl 121 -

122Mas a Suacutemula em 2008 abrangeu o 3ordm grau de parentesco bem como alcanccedilou o acircmbito de ―pessoa juriacutedica e

natildeo mais de ―oacutergatildeo se alargando a vedaccedilatildeo mas pelos mesmos fundamentos Constitucional O Ministro Relator

ainda se manifestou quanto agrave legalidade da redaccedilatildeo do 2ordm artigo da EC ratificando que cargo em comissatildeo eacute aquele

destinado agrave direccedilatildeo chefia e assessoramento e assim indeferiu a liminar no que concerne ao artigo 4ordm referente agrave

extinccedilatildeo dos cargos em comissatildeo concedeu a liminar suspendendo a eficaacutecia do dispositivo e finalmente indeferiu

a liminar quanto agrave suspensatildeo do artigo 6ordm referente agrave emissatildeo dos atos das autoridades a declarar o cumprimento do

disposto pela EC e julgou prejudicado o pedido de concessatildeo de liminar quanto agrave suspensatildeo do artigo 7ordm da EC (que

estipulava o prazo em que entrariam em vigor o expresso no artigo 4ordm e 5ordm da EC) diante da decorrecircncia do lapso

temporal BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS 182 ―() a norma torna efetiva a regra proibitiva da ocupaccedilatildeo dos cargos em comissatildeo pelos parentes mencionados no

sect5ordm do artigo 20 da Constituiccedilatildeo do Estado () a meu ver os preceitos da Carta do Rio Grande do Sul somente

esmiuccedilaram pedagogicamente o que se conteacutem na Constituiccedilatildeo Federal Dizer-se a esta altura concorrer na espeacutecie

direito adquirido porque antes da Emenda Constitucional nordm 1295 natildeo havia norma expliacutecita proibindo as

nomeaccedilotildees eacute olvidar a proacutepria natureza e as peculiaridades dos cargos em comissatildeo isto eacute a livre nomeaccedilatildeo e

exoneraccedilatildeo de que cogita o inciso II do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal Indefiro a liminar BRASIL Supremo

Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro Relator agraves fl 124 183 Ministro Sepuacutelveda Pertence 184 BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro Sepuacutelveda Pertence agraves fl

131 Mas em sede da Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade ndash ADC n12 tambeacutem precedente do verbete sumular

(e percebe-se ser o principal jaacute que seu objeto eacute a Resoluccedilatildeo n 705 do Conselho Nacional de Justiccedila que vedou o

nepotismo no acircmbito do Poder Judiciaacuterio e eacute a base redacional da Suacutemula Vinculante em questatildeo) foi assentado que o

nepotismo natildeo precisa ser regulamentado por lei formal muito menos por Constituiccedilatildeo Estadual ou emenda a esta

entatildeo mas por qualquer ato normativo bastando a Resoluccedilatildeo do CNJ no acircmbito do Poder Judiciaacuterio e Suacutemula

Vinculante do STF aplicaacutevel a todos os poderes de todos os entes federados

46

necessidade de uma lei formal a vedar o nepotismo185

Por outro lado foram apresentadas argumentaccedilotildees contraacuterias lastreadas no

princiacutepio da isonomia referentes aos dispositivos em voga186

As alegaccedilotildees utilizadas foram de que a Emenda natildeo diferenciou o servidor que

eacute ocupante de cargo efetivo e comissionado daquele que eacute nomeado ―ad nutum 187

emcargo comissionado o que inobserva natildeo apenas o princiacutepio da isonomia188

como

tambeacutem o princiacutepio da razoabilidade que ―discrimina servidores puacuteblicos integrantes da

carreira vale dizer servidores puacuteblicos efetivos189

e que a amplitude da sua vedaccedilatildeo eacute

desarrazoada e despropositada 190

185 O Ministro Celso de Mello notou que a Emenda Constitucional foi fundamentada ldquono esteio dos princiacutepios

republicanos consagrados na Constituiccedilatildeo Federalrdquo a fim de repelir o nepotismo Nesse esteio se posicionou em

todos os julgados precedentes em que ele participou Ao motivar seus votos aduziu que os princiacutepios do art 37

caput da Constituiccedilatildeo Federal satildeo autoaplicaacuteveis e que rechaccedila automaticamente o nepotismo natildeo importando qual

espeacutecie de normativa iraacute regulamentar a vedaccedilatildeo deste E esse argumento parece ser o uacutenico entendimento uniforme

dos Ministros quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo e expresso em todos os precedentes da Suacutemula 186 Os Ministros divergentes foram Ilmar Galvatildeo e Carlos Velloso Ministros Octavio Gallotti e Neacuteri da Silveira Mas

aqui haacute de se ressaltar que o Ministro Carlos Velloso natildeo foi contraacuterio agrave vedaccedilatildeo do nepotismo pois assim dispocircs

sobre o nepotismo ―() o nepotismo nome pelo qual ficaram conhecidas as nomeaccedilotildees de parentes de magistrados

para servirem em cargos de comissatildeo junto a estes eacute erva daninha porque causa problemas para a administraccedilatildeo e eacute

ofensivo sobretudo ao princiacutepio da moralidade administrativa p135 E ainda afirmou que ―A discriminaccedilatildeo em tal

caso encontra justificativa em princiacutepios racionalizadores da administraccedilatildeo puacuteblica e sobretudo no princiacutepio da

moralidade administrativa BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS p 138 187 Ministro Ilmar Galvatildeo ―() natildeo ouvi da parte do eminente Relator a soluccedilatildeo que seria dada no caso agrave situaccedilatildeo

dos servidores concursados exercentes de cargos efetivos no acircmbito da Administraccedilatildeo Outra dificuldade que estou

vislumbrando diz com a extensatildeo da vedaccedilatildeo ao acircmbito de todo o Poder Vale dizer que mantida a norma a ofensa

ao princiacutepio da isonomia vai verificar-se em sentido inverso atingindo no primeiro caso servidores efetivos para

impedi-los de preencher cargos de confianccedila proacuteprios de sua situaccedilatildeo funcional e no segundo parentes ateacute o segundo

grau de pessoas com as quais natildeo teratildeo nenhum relacionamento funcional e de cuja influecircncia natildeo dependeu a sua

escolha Sobre esses pesaraacute como que uma maldiccedilatildeo O tio Desembargador poderaacute por exemplo exercer o seu cargo

por 20 30 anos e durante esse periacuteodo ficaratildeo condenados ao natildeo exerciacutecio de qualquer cargo da espeacutecie () As leis

federais quando tratam dessas mateacuterias consignam invariavelmente a ressalva no acircmbito do oacutergatildeo e natildeo no acircmbito

do poder () A emenda natildeo discriminando as situaccedilotildees apontadas parece ter tido uma motivaccedilatildeo de ordem

demagoacutegica objetivando tatildeo somente os aplausos da miacutedia como de ordinaacuterio acontece () Considero a emenda

inconstitucional Se natildeo violadora do princiacutepio da isonomia eacute pelo menos desarrazoada pelos excessos que nela se

contecircm BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS fl 133 188 BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro Ilmar Galvatildeo fl 133-134 189

Ministro Carlos Velloso ―O que deve ser proibido eacute a nomeaccedilatildeo gratuita de favor O servidor de carreira poderia

eacute certo ser discriminado no sentido de natildeo poder ser designado para cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila sob a

direccedilatildeo do seu parente () natildeo se pode perder de vista que ao servidor de carreira assiste o direito de preferecircncia de

ser nomeado para cargo em comissatildeo e funccedilatildeo de confianccedila (CF art 37 V) de modo que natildeo pode ele ser

discriminado com a generalidade como o foi () servidores de carreira () estatildeo inapelavelmente afastados natildeo

podem pugnar por uma pretensatildeo legiacutetima qual a de exercer cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila para os

quais a Constituiccedilatildeo lhes confere o direito de preferecircncia Ibidem fl 137-138 ―() o legislador ordinaacuterio estadual

investido de poder constituinte decorrente foi longe demais e cometeu excessos excessos que maculam um ato que

traz na sua essecircncia a marca da moralizaccedilatildeo () Penso que a norma do modo como estaacute posta eacute violadora do

princiacutepio da igualdade que a Constituiccedilatildeo consagra em diversos passos a comeccedilar pelo art 5ordm caput () BRASIL

Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro fl 136 190 ―Os cargos em comissatildeo natildeo podem ser ocupados por cocircnjuges os companheiros e parentes consanguiacuteneos afins

ou por adoccedilatildeo ateacute o segundo grau do Governador do Vice-Governador do Procurador-Geral do Estado do

Defensor Puacuteblico Gral do Estado e dos Secretaacuterios de Estado os titulares de cargos que lhe sejam equiparados no

acircmbito da administraccedilatildeo direta do Poder Executivo Que dizer nem a mil quilocircmetros do local onde esteja sediado o

Defensor Puacuteblico Geral por exemplo seria possiacutevel a designaccedilatildeo de um parente deste ocupante de cargo efetivo

para cargo em comissatildeo E natildeo importa se a designaccedilatildeo seria para setor totalmente diverso da Defensoria Puacuteblica ()

Isto data vecircnia natildeo eacute razoaacutevel eacute um despropoacutesito () Entendo portanto que os dispositivos do sect 5ordm satildeo ofensivos

47

Nesse ensejo vale ressaltar que a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 conforme

o disposto no seu art 37 II qualifica o cargo comissionado como de livre nomeaccedilatildeo

(natildeo precedida de aprovaccedilatildeo em concurso puacuteblico) e livre exoneraccedilatildeo (sendo

desnecessaacuteria qualquer alegaccedilatildeo para justificar o desligamento de quem o ocupa) por

isto ad nutum e destinado a direccedilatildeo e assessoramento superior a ser ocupado por

pessoa de confianccedila do agente puacuteblico191

E eacute aiacute que se processa o nepotismo pois o agente puacuteblico muitas vezes

entende que por este cargo ser destinado a ser ocupado por indiviacuteduo de sua confianccedila

pode entatildeo nomear parente Mas como se veraacute esta confianccedila natildeo eacute a decorrente de

viacutenculo pessoal entre o nomeado e o agente puacuteblico mas da caracteriacutestica profissional

do nomeado

Assim os Ministros divergentes criticaram os dispositivos da Emenda

Constitucional em anaacutelise com base no princiacutepio da isonomia sob um olhar diverso ao

dos demais Ministros em defesa da inaplicabilidade da norma aos servidores efetivos a

fim de que natildeo sofressem limitaccedilotildees por serem parentes da autoridade nomeante

Igualmente entenderam que o tribunal deveria realizar interpretaccedilatildeo

conformelsquo quanto agrave proibiccedilatildeo192

com vista a excluir os servidores efetivos para que os

mesmos pudessem ser nomeados em cargos comissionados193

112 O Mandado de Seguranccedila n 23780-5MA

O segundo precedente194

da SV n13 foi impetrado por servidora puacuteblica

ao princiacutepio da igualdade BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro

Carlos Veloso fl 138-140 191

Dioacutegenes Gasparini ensina que cargo puacuteblico eacute ―() o menor centro hierarquizado de competecircncias da

Administraccedilatildeo direta autaacuterquica e fundacional puacuteblica criado por lei ou resoluccedilatildeo com denominaccedilatildeo proacutepria e

nuacutemero certo E que ele poder ser de provimento em comissatildeo efetivo ou vitaliacutecio contudo enquanto o

comissionado eacute o efetivo satildeo previstos pelo texto constitucional mas instituiacutedos por lei o vitaliacutecio eacute estabelecido pela

Constituiccedilatildeo PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) in

Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico Belo Horizonte Ed

Foacuterum 2008 p 78 192 Ministro Neacuteri da Silveira ―Entendo que a regra em apreccedilo se compatibiliza com a Constituiccedilatildeo Federal se for

entendida como natildeo abrangente dos funcionaacuterios ocupantes de cargo de provimento efetivo () porque ()

ingressaram por concurso puacuteblico como qualquer cidadatildeo BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS

Trecho do voto do Ministro fl 149 193 A sugestatildeo do Ministro natildeo foi acolhida pelos seus Colegas mesmo sendo a interpretaccedilatildeo conforme a

constituiccedilatildeolsquo agrave luz da hermenecircutica juriacutedica uma soluccedilatildeo juridicamente plausiacutevel a sanar a questatildeo melindrosa a que

os servidores efetivos foram submetidos 194BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA Ementaacuterio n 2223-1

―MANDADO DE SEGURANCcedilA NEPOTISMO CARGO EM COMISSAtildeO IMPOSSIBILIDADE PRINCIacutePIO

DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA Servidora puacuteblica da Secretaria de Educaccedilatildeo nomeada para cargo em

comissatildeo no Tribunal Regional do Trabalho da 16ordf Regiatildeo agrave eacutepoca em que o vice-presidente do Tribunal era parente

seu Impossibilidade A proibiccedilatildeo do preenchimento de cargos em comissatildeo por cocircnjuges e parentes de servidores

puacuteblicos eacute medida que homenageia e concretiza o princiacutepio da moralidade administrativa o qual deve nortear toda a

Administraccedilatildeo Puacuteblica em qualquer esfera do poder Mandado de seguranccedila denegado fl109 Relator Min Joaquim

48

efetiva de oacutergatildeo do poder executivo estadual195

agrave disposiccedilatildeo do TRT 16 por ter sido

exonerada de cargo comissionado do tribunal196

devido a decisatildeo do TCU o qual apoacutes

avaliar denuacutencia considerou sua nomeaccedilatildeo ilegal violadora do artigo 10 da Lei n

942196 e da Decisatildeo n 1181994 do seu oacutergatildeo pleno197

devido ao seu viacutenculo de

parentesco com o Vice-Presidente do TRT 16198

que contudo teve sua seguranccedila

denegada

A impetrante sob os argumentos de que o TCU ―exorbitou dos limites de sua

competecircncia funcional ao erigir agrave categoria de norma legal a Decisatildeo n 1181994 de

seu oacutergatildeo pleno e de que detinha ―direito liacutequido e certo a permanecer no cargo

enquanto natildeo ocorrerem razotildees legais para a exoneraccedilatildeo199

requereu ―a declaraccedilatildeo da

nulidade do ato que a exonerou bem como sua reintegraccedilatildeo ao TRT da 16ordf Regiatildeo com

a percepccedilatildeo inclusive dos vencimentos que lhe foram suprimidos desde a ediccedilatildeo do ato

de exoneraccedilatildeo200

O TRT 16 prestou suas informaccedilotildees201

o TCU202

alegou que o pleito da

impetrante era ―juridicamente impossiacutevel por natildeo encontrar amparo no ordenamento

legal em razatildeo de os ocupantes de cargo em comissatildeo serem exoneraacuteveis a qualquer

tempo e que o ato do TRT 16 caracterizava ―niacutetida violaccedilatildeo dos princiacutepios da

moralidade e impessoalidade203

e o Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) opinou pela

denegaccedilatildeo da ordem sob o argumento de que a nomeaccedilatildeo da servidora tinha sido

publicada em data posterior agrave decisatildeo da Corte de Contas204

infringindo a decisatildeo do

TCU205

que ―efetiva o princiacutepio da moralidade administrativa inserindo no art 37 da

Barbosa julgada em 2892005 e publicada no DJ de 030306 Ajuizado pela servidora Terezinha de Jesus Cunha

Belford Disponiacutevel em wwwstfgovbr Acesso em 10022013 195 Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo 196 Embora tivesse sido disponibilizada desde 1889 ao TRT passou a ocupar cargo comissionado do quadro do

tribunal em 1994 tendo sido exonerada do DAS-5 da Coordenaccedilatildeo do Programa de Assistecircncia ao Servidor 197Referentes agrave vedaccedilatildeo do nepotismo 198 2ordm grau ndash irmatilde 199 BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA fl 111 200 Com pedido de liminar em face do Plenaacuterio do Tribunal de Contas da Uniatildeo - TCU e do Juiz Presidente do

referido Tribunal do Trabalho que foi indeferida BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS

n23780-5MA Ibidem fl 110 - 111 201 Nas quais aleacutem de alegar em preliminar a ilegitimidade do TCU de figurar no polo passivo e consequentemente

arguir a incompetecircncia do STF para decidir o MS tambeacutem asseverou sobre a legalidade de seu ato realizado ―no

estrito cumprimento de seu dever legal em obediecircncia agrave determinaccedilatildeo do TCU BRASIL Supremo Tribunal

Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA fl 112 202 Arrazoou sua ilegitimidade e consequente incompetecircncia do STF para julgar o caso em tela 203BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA Ibidem fl 112 204 Nomeaccedilatildeo publicada em 131094 apoacutes a decisatildeo normativa exposta no DOU em 28394 205 Que ―proiacutebe a contrataccedilatildeo de cocircnjuges ou parentes consanguiacuteneos ou afins ateacute o terceiro grau de juiacutezes em

atividade ou aposentados haacute menos de cinco anos para funccedilotildees gratificadas ou de gabinete e cargos em comissatildeo em

todos os oacutergatildeos da Justiccedila Trabalhista BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-

5MA Ibidem fl 112-113

49

Constituiccedilatildeo Federal de 1988206

Nesse contexto a Corte ao apreciar o meacuterito207

afirmou que o ato impugnado

natildeo padecia ―de nenhum viacutecio passiacutevel de anulaccedilatildeo208

visto que a nomeaccedilatildeo da

servidora tinha ocorrido apoacutes a publicaccedilatildeo da decisatildeo do TCU que veda esta espeacutecie de

nomeaccedilatildeo no acircmbito da Justiccedila do Trabalho tambeacutem lembrou que a citada normativa

excepciona a nomeaccedilatildeodesignaccedilatildeo de ―servidor titular de cargo puacuteblico de provimento

efetivo de juiacutezo ou tribunal209

para ocupar cargo comissionado ou exercer funccedilatildeo

gratificada no proacuteprio acircmbito da justiccedila do trabalho mas que essa ressalva natildeo se

aplicava agrave impetrante visto que ela eacute servidora do Poder Executivo do Estado do

Maranhatildeo e ainda sustentou que a lei n 9432 de 1992210

- anterior agrave decisatildeo do

TCU211

e agrave nomeaccedilatildeo da servidora - jaacute proibia a praacutetica do nepotismo eacute que por isto

natildeo havia amparo legal agrave impetrante

Nesse ensejo restou destacado212

que a proibiccedilatildeo natildeo alcanccedila ―o cargo efetivo

de cada tribunal213

- os servidores de carreira de cada um dos tribunais214

e foi

ressaltado215

que a uacutenica limitaccedilatildeo imposta aos servidores de cargo efetivo do quadro do

Tribunal se refere a natildeo poder haver ocupaccedilatildeo de cargo comissionado por eles sob o

comando direto do seu parente ou seja ―no gabinete do proacuteprio parente216

113 Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade n12-6DF

Eacute o terceiro precedente da SV n13217

e objetivou que o STF declarasse a

206BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA fl 113 207 O Relator Ministro Joaquim Barbosa 208 BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA Trecho do voto do Ministro

Relator fl114 209 Ibidem fl 115 210 Aleacutem de aduzir que as sucessivas nomeaccedilotildees e exoneraccedilotildees da servidora informadas pelo proacuteprio TRT 16 nos

autos do processo evidenciaram ―uma possiacutevel tentativa de burlar agrave Lei n 84321992 que veda a nomeaccedilatildeo de

parentes para cargos em comissatildeo e agrave supracitada Decisatildeo n1181994 do TCU BRASIL Supremo Tribunal

Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA Trecho do voto no Relator Ministro Joaquim Barbosa fl 115 211 A decisatildeo do TCU ―homenageia e concretiza o princiacutepio da moralidade administrativa () BRASIL Supremo

Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA Trecho do voto no Relator Ministro Joaquim

Barbosa fl 116 212Pelos Ministros Marco Aureacutelio e Sepuacutelveda Pertence 213 Expressatildeo do Ministro Sepuacutelveda Pertence BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS

n23780-5MA fl 117 214 O interessante quanto a este argumento eacute que embora lembrado pelos Ministros neste precedente da Suacutemula foi

rechaccedilado pela maioria dos ministros no precedente anterior e natildeo foi observado por eles quando da ediccedilatildeo da

Suacutemula pelo STF cuja vedaccedilatildeo alcanccedilou os servidores efetivos 215 Pelo Ministro Nelson Jobim BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA 216 Explicado pelo Ministro Sepuacutelveda Pertencefl 117 BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila

MS n23780-5MA 217

BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n12-6DF Ementaacuterio n 2245-1 ―EMENTA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE CONSTITUCIONALIDADE

AJUIZADA EM PROL DA RESOLUCcedilAtildeO Nordm 07 de 18102005 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA

MEDIDA CAUTELAR()Medida liminar deferida para com efeito vinculante a) emprestar interpretaccedilatildeo conforme

para incluir o termo chefia nos inciso II III IV V do artigo 2deg do ato normativo em foco b) suspender ateacute o exame

50

constitucionalidade da Resoluccedilatildeo n 7 editada pelo Conselho Nacional de Justiccedila218

219

em 18102005 por meio da qual foi vedada a praacutetica de nepotismo no acircmbito do Poder

Judiciaacuterio

A Associaccedilatildeo dos Magistrados do Brasil (AMB) propocircs a ADC quanto agrave

Resoluccedilatildeo n 072005 do Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) 220

sob os argumentos de

que o CNJ deteacutem competecircncia ―para zelar pela observacircncia do art 37 da Constituiccedilatildeo

Federal e apreciar a validade dos atos administrativos praticados pelos oacutergatildeos do Poder

Judiciaacuterio (inciso II do sect4ordm do art 103-B da CF88) que a proibiccedilatildeo da praacutetica do

nepotismo eacute defendida como ―regra constitucional que decorre do nuacutecleo dos princiacutepios

da impessoalidade e da moralidade administrativas que o Poder Puacuteblico eacute subordinado

natildeo soacute agrave legalidade formal como tambeacutem ―estaacute adstrito agrave juridicidade conceito mais

abrangente que inclui a proacutepria Constituiccedilatildeo221

e finalmente que a Resoluccedilatildeo ―nem

prejudica o necessaacuterio equiliacutebrio entre os Poderes do Estado ndash por natildeo subordinar

nenhum deles ao outro ndash nem vulnera o princiacutepio federativo dado que tambeacutem natildeo

estabelece viacutenculo de sujeiccedilatildeo entre as pessoas estatais de base geograacutefica222

com o

fito de que fosse deferida a cautelar223

e posteriormente que a accedilatildeo fosse julgada

de meacuterito desta ADC o julgamento dos processos que tenham por objeto questionar a constitucionalidade da

Resoluccedilatildeo nordm 072005 do Conselho Nacional de Justiccedila c) obstar que juiacutezes e Tribunais venham a proferir decisotildees

que impeccedilam ou afastem a aplicabilidade da mesma Resoluccedilatildeo nordm 072005 do CNJ e d) suspender com eficaacutecia ex

tunc os efeitos daquelas decisotildees que jaacute proferidas determinaram o afastamento da sobredita aplicaccedilatildeo Relator

Min Carlos Ayres Britto julgada em 16022006 e publicada no DJ de 01092006 Ajuizada pela Associaccedilatildeo dos

Magistrados Brasileiros - AMB e patrocinada por Luiacutes Roberto Barroso Disponiacutevel em http wwwstfjusbr

Acesso em 10022013 218 Segundo explicaccedilotildees do Ministro Gilmar Mendes neste julgado a ADC tem o papel de ―transformar a presunccedilatildeo

relativas de constitucionalidade (que milita a favor dos atos normativos) em presunccedilatildeo absoluta Serve portanto para

afastar o controle difuso e a controveacutersia sobre a aplicaccedilatildeo de determinada norma no acircmbito do Executivo e do

Judiciaacuterio De forma que sua proposiccedilatildeo se faz necessaacuteria ―quando houver controveacutersia ou duacutevidas relevantes sobre

a constitucionalidade de um determinado preceito () atua contra a inseguranccedila gerada por aplicaccedilotildees e

interpretaccedilotildees contraditoacuterias de um mesmo preceito normativo () revela-se como instrumento adequado para a

soluccedilatildeo desse impasse juriacutedico-poliacutetico permitindo que o Supremo Tribunal Federal possa manifestar-se sobre

questatildeo de relevante interesse nacional como eacute o caso do nepotismo preservando e potencializando princiacutepios

constitucionais como a seguranccedila juriacutedica e a moralidade BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em

Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fls 66-67 219 Oacutergatildeo superior de fiscalizaccedilatildeo administrativa do Poder Judiciaacuterio 220 Que disciplina o exerciacutecio de cargos empregos e funccedilotildees por parentes cocircnjuges e companheiros de magistrados e

de servidores investidos em cargos de direccedilatildeo e assessoramento no acircmbito dos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio e daacute outras

providecircncias BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade

MC - ADC n 12-6DF fl 7-8 221 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DFfl 8 222 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF fl 9 223 ―a) do julgamento dos processos que envolvam a aplicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo nordm 705 do CNJ ateacute o julgamento

definitivo da presente accedilatildeo ficando impedidos de proferir qualquer nova decisatildeo a qualquer tiacutetulo que impeccedila ou

afaste a eficaacutecia da Resoluccedilatildeo em questatildeo‟ e b) com eficaacutecia ex tunc dos efeitos de quaisquer decisotildees proferidas

a qualquer tiacutetulo que tenham afastado a aplicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo nordm 705 do CNJ‟rdquo BRASIL Supremo Tribunal

Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fl 9 A liminar foi

pleiteada tendo em vista ―A dificuldade de separar o interesse privado dos interesses do Estado ficou patente ao se

observar o fundamento dos diversos mandados de seguranccedila propostos por ocupantes de cargos comissionados

51

procedente sendo declarada a constitucionalidade da Resoluccedilatildeo224

Tendo em vista que o presente precedente eacute um dos mais relevantes senatildeo o

mais proeminente agrave elaboraccedilatildeo da Suacutemula Vinculante faz-se imprescindiacutevel uma

anaacutelise mais minuciosa deste julgado pois gerou ―o mais extenso e aprofundado debate

na Suprema Corte sobre o nepotismo ateacute hoje225

a partir dos argumentos trazidos agrave

baila pelo Ministro Relator e complementados ou ratificados pelos demais Ministros

que acompanharam seu voto sendo divergente apenas o Ministro Marco Aureacutelio

A Corte226

ao se pronunciar pelo deferimento da medida cautelar227

afirmou

que o fundamento da Resoluccedilatildeo eacute extraiacutedo da Constituiccedilatildeo pois o CNJ228

deteacutem

competecircncia em modalidade primaacuteria229

para editar atos normativos primaacuterios

conforme dispotildee o inciso II sect4ordm do art 103-B constitucional230

a qual segue

―imediatamente a vontade da proacutepria Constituiccedilatildeo sem outra base de validade que natildeo

seja a Constituiccedilatildeo mesma 231

e ainda que a Constituiccedilatildeo ao deferir competecircncia ao

CNJ quedou ―silente quanto a um tipo de atuaccedilatildeo necessariamente precedida de lei232

motivo pelo qual entendeu que o CNJ deteacutem o ―poder de aplicar imediatamente a

incluiacutedos nas hipoacuteteses descritas na Resoluccedilatildeo n 07 do CNJ perante vaacuterios tribunais do paiacutes quando argumentavam

que a proibiccedilatildeo atingia o direito adquirido agrave nomeaccedilatildeo e o exerciacutecio do cargo comissionado que o criteacuterio de

―confianccedila estava ligado agrave proximidade entre a autoridade nomeante e nomeado proximidade muitas vezes de

cunho familiar que a impossibilidade de nomear parente atinge o princiacutepio da isonomia aleacutem da argumentaccedilatildeo de

que a medida deixaria em dificuldades financeiras muitos pais de famiacutelia dentre outros RODRIGUES Francisco

Luciano Lima Os efeitos da resistecircncia a implantaccedilatildeo das regras de combate ao nepotismo sobre o papel do

judiciaacuterio na construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do estado democraacutetico de direito In Oliveira Neto Francisco Joseacute Rodrigues

de Constituiccedilatildeo e Estado social os obstaacuteculos agrave concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Revista dos

Tribunais 2008 p153 224 Figuram como amici curiae na accedilatildeo o Tribunal de Justiccedila do Rio de Janeiro o Sindicato dos Trabalhadores do

Poder Judiciaacuterio e do Ministeacuterio Puacuteblico da uniatildeo do Distrito Federal ndash SINDJUSDF o Conselho Federal da Ordem

dos Advogados do Brasil a Associaccedilatildeo Nacional dos Magistrados da Justiccedila do Trabalho ndash ANAMATRA e a

Federaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores do Judiciaacuterio Federal e Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo ndash FENAJUFE 225 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos In Revista Brasileira de Direito Puacuteblico ndash

RBDP Belo Horizonte v 11 n 41 abrjun2013 226 Pelo Relator Ministro Ayres Britto 227 Julgada em 1222006 com efeitos vinculantes e erga omnes proacuteprios do controle concentrado suspendendo

assim a discussatildeo da questatildeo pelas instacircncias inferiores ateacute ser examinado o meacuterito da accedilatildeo 228 Tanto quanto o Senado em alguns casos e o Chefe do Poder Executivo em outros 229 Que eacute aquela por meio da qual o normativo editado decorre diretamente de postulados constitucionais e Segundo o

Ministro Ayres Britto daiacute decorre o ―poder que traz consigo a dimensatildeo da normatividade em abstrato que jaacute eacute uma

forma de prevenir a irrupccedilatildeo de conflitos O poder de precaver-se ou acautelar-se para minimizar a possibilidade das

transgressotildees em concreto BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fl30 Desta ideia se colhe que natildeo eacute necessaacuterio regulamentar o

nepotismo por meio de lei formal podendo portanto a sua praacutetica ser vedada por Suacutemula Vinculante 230 ―103-B () sect 4ordm Compete ao Conselho o controle da atuaccedilatildeo administrativa e financeira do Poder Judiciaacuterio e do

cumprimento dos deveres funcionais dos juiacutezes cabendo-lhe aleacutem de outras atribuiccedilotildees que lhe foram conferidas

pelo Estatuto da Magistratura () II ndash zelar pela observacircncia do art 37 e apreciar de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo

a ilegalidade dos atos administrativos praticados por membros ou oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio podendo desconstituiacute-

los revecirc-los ou fixar prazo para que se adotem as providecircncias necessaacuterias ao exato cumprimento da lei () 231 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Relator Ministro Ayres Brito fl 19 232 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Relator Ministro Ayres Brito fl31

52

Constituiccedilatildeo-cidadatilde tanto em concreto como em abstrato 233

Dessa forma concluiu que a Resoluccedilatildeo do CNJ debulha ―os proacuteprios

conteuacutedos loacutegicos dos princiacutepios constitucionais da centrada regecircncia de toda a

atividade administrativa do Estado234

quais sejam ―o da impessoalidade o da

igualdade o da eficiecircncia e por fim o da moralidade administrativa235

os

densificando236

Asseverou ainda237

que se por um lado a praacutetica do nepotismo eacute perniciosa ao

interesse puacuteblico238

e ofende o princiacutepio da impessoalidade239

por outro cabe ao CNJ

233 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Relator Ministro Ayres Brito fl 32 234 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Relator Ministro Ayres Brito fl 33 235 Novamente se observa a decorrecircncia da vedaccedilatildeo do nepotismo dos princiacutepios que regem a Administraccedilatildeo Puacuteblica

inseridos na cabeccedila do art 37 da Carta Constitucional Conforme a Ministra Ellen Gracie ―() Os princiacutepios

estampados no art 37 da Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 erigiram ao niacutevel fundamental e de maneira expressa o que

se continha na legislaccedilatildeo brasileira (de se lembrar dentre outras a lei n 4717 de 1965 - lei de accedilatildeo popular) que

rompe a presunccedilatildeo de legitimidade dos atos administrados quando se cuide de nomeaccedilatildeo sem concurso puacuteblico

maacutexime em se cuidando de parentes E a legislaccedilatildeo eleitoral que com fundamento constitucional vem impedindo

desde a deacutecada de 30 do seacuteculo passado candidaturas de parentes Tudo a demonstrar que os fundamentos

constitucionais natildeo permitem o parentesco como fonte ou criteacuterio de admissatildeo no serviccedilo puacuteblico sequer em cargo

dito de confianccedila que confianccedila aiacute se potildee na qualificaccedilatildeo do candidato e natildeo na qualidade do nome por ele ostentado

Nem precisaria haver princiacutepio expresso - quer da impessoalidade quer da moralidade administrativa - para que se

chegasse ao reconhecimento da constitucionalidade das proibiccedilotildees de contrataccedilatildeo de parentes para os cargos

puacuteblicos Bastaria que se tivesse em mente a eacutetica democraacutetica e a exigecircncia republicana contidas no art 1ordm da

Constituiccedilatildeo para impor a proibiccedilatildeo de maneira definitiva direta e imediata a todos os Poderes da Repuacuteblica 236 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF fl 37 Seriam especialmente os da impessoalidade eficiecircncia e igualdade e que a inobservacircncia de um

dos trecircs acarretaria a violaccedilatildeo do princiacutepio da moralidade administrativa 237 O Ministro Cezar Peluso 238 De acordo com o Relator Ministro Britto o nepotismo ―() significa a paroquial fusatildeo do ambiente caseiro com o

espaccedilo puacuteblico E citando Rui Cirne Lima aduziu que ―administrar natildeo eacute atividade de que eacute senhor de coisa

proacutepria mas gestor de coisa alheia P 36 Segundo ele tambeacutem obsta o princiacutepio da eficiecircncia porque com a ―()

projeccedilatildeo do domeacutestico na intimidade das reparticcedilotildees estatais a comeccedilar pela oacutebvia razatildeo de que jaacute natildeo se tem a

necessaacuteria isenccedilatildeo () quando se vai avaliar a capacitaccedilatildeo profissional de um parente ou familiar Quando se vai

cobrar assiduidade e pontualidade no comparecimento do trabalho Mais ainda quando se eacute preciso punir

exemplarmente o servidor faltoso P 35Segundo o Ministro Celso Mello normas como a Resoluccedilatildeo em questatildeo

obstam ―() a formaccedilatildeo de grupos familiares cuja atuaccedilatildeo facilitada pelas nomeaccedilotildees em comissatildeo ou designaccedilatildeo

para funccedilotildees de confianccedila acaba () por patrimonializarlsquo o poder governamental convertendo-o em razatildeo de uma

inadmissiacutevel inversatildeo dos postulados republicanos em verdadeira res domesticalsquo degradando-o assim agrave condiccedilatildeo

subalterna de instrumento de mera dominaccedilatildeo do Estado vocacionado natildeo a servir ao interesse puacuteblico e ao bem

comum mas antes a atuar como incompreensiacutevel e inaceitaacutevel meio de satisfazer conveniecircncias pessoais e de

realizar aspiraccedilotildees particulares fl 109 Isso porque segundo o Ministro ―() impotildee que se faccedila essencial distinccedilatildeo

entre o espaccedilo puacuteblico () e o espaccedilo privado () em ordem a obstar que os indiviacuteduos mediante ilegiacutetima

apropriaccedilatildeo culminem por incorporar no acircmbito de seus interesses particulares a esfera de domiacutenio institucional do

Estado marginalizando como consequecircncia desse gesto de indevida patrimonializaccedilatildeolsquo o concurso dos demais

cidadatildeos na edificaccedilatildeo da res publicalsquo fl 110 E entatildeo conclui ―A consagraccedilatildeo do nepotismo na esfera

institucional do poder puacuteblico natildeo pode ser tolerada sob pena de o processo de governo ndash que haacute de ser impessoal

transparente e fundado em bases eacuteticas- ser conduzido um verdadeiro retrocesso histoacuterico o que constituiraacute na

perspectiva da atualizaccedilatildeo e modernizaccedilatildeo do aparelho do Estado situaccedilatildeo de todo inaceitaacutevel BRASIL Supremo

Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fl 111 239 Conforme o Relator Ministro Britto o nepotismo fere ―() os proacuteprios conteuacutedos loacutegicos dos princiacutepios

constitucionais de centrada regecircncia de toda a atividade administrativa do Estado Princiacutepios como I - o da

impessoalidade consistente no descarte do personalismo () Na absoluta separaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado ou

entre a Administraccedilatildeo e o administrador segundo a republicana metaacutefora de que natildeo se pode fazer cortesia com o

chapeacuteu alheiolsquo Conceitos que se contrapotildeem agrave multissecular cultura do patrimonialismo e que se vulnerabilizam natildeo

haacute negar com a praacutetica do chamado nepotismolsquo fl 33-34 Nesse mesmo esteio eacute o voto do Ministro Cezar Peluso

―Gostaria de versar a questatildeo agrave luz de um soacute princiacutepio explicitado pela vigente Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica o da

53

velar pela aplicaccedilatildeo desse princiacutepio e por isto ―natildeo haacute duacutevida que cabe ao Conselho

―coibir ainda que de forma geneacuterica as praacuteticas que violem 240

a impessoalidade e

que ―cabe agraves autoridades administrativas e nesse caso ao CNJ no cumprimento de seus

deveres constitucionais fazer cumprir os comandos normativos veiculados pelos

princiacutepios do art 37 241

Assim se extrai do disposto que ao CNJ compete assegurar o cumprimento do

disposto pelos princiacutepios insculpidos pelo art 37 da Constituiccedilatildeo Federal242

e por isto

que eacute competente para editar resoluccedilotildees como a sob apreciaccedilatildeo

Nesse diapasatildeo a Corte Suprema ao analisar se os ―condicionamentos

impessoalidade () Acredito ser possiacutevel isolar uma noccedilatildeo estreita do princiacutepio () aparece diretamente relacionado

com o controle juriacutedico do exerciacutecio do poder poliacutetico que por definiccedilatildeo eacute mantido sempre por minorias fl 59 E

continua ―As necessidades da administraccedilatildeo puacuteblica dependem daquilo que WEBER denominava a dominaccedilatildeo

burocraacutetica da impessoalidade formaliacutesticalsquo cujo conteuacutedo relevava bem com a expressatildeo () regida pelo dever

juriacutedico estrito de natildeo se deixar guiar () conduzir na tutela da coisa puacuteblica nem por oacutedio nem por amor Nesse

sentido o princiacutepio da impessoalidade estaacute ligado agrave ideia eficiecircncia porque constitui condiccedilatildeo ou requisito

indispensaacutevel da eficiecircncia operacional da administraccedilatildeo puacuteblica Mas a despeito disso atua sobremodo como

limitaccedilatildeo ao exerciacutecio do poder discricionaacuterio de nomear funcionaacuterios em cargo de confianccedila () O que limita esse

poder garantindo o alcance da satisfaccedilatildeo das necessidades e dos interesses puacuteblicos eacute o princiacutepio da impessoalidade

o qual deve guiar o administrador na escolha dos quadros natildeo para servir ao que se crecirc dono do poder isto eacute chefe

mas para acudir agraves necessidades da administraccedilatildeo puacuteblica fl 60 Entatildeo conclui ―A impessoalidade apresenta duas

dimensotildees () coibir o exerciacutecio do poder voltado a favorecer ou a prejudicar pessoas () impedir o personalismo no

exerciacutecio desse poder mediante atos de promoccedilatildeo pessoal () sublinha o dever de preenchimento dos cargos puacuteblicos

() significando vedaccedilatildeo de privileacutegios e tambeacutem de perseguiccedilotildees pessoais E () a autopromoccedilatildeo () Natildeo vejo

como negar agrave praacutetica do nepotismo a pecha de ofensa ostensiva ao princiacutepio da impessoalidade () BRASIL

Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fl

60-61 240 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Cezar Peluso fl 55 241 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Gilmar Mendes fl 74 242 Nas palavras do Relator Ministro Britto ―() essas praacuteticas tambeacutem podem resvalar com maior facilidade para a

zona proibida da imoralidade administrativa () Mas entendo que esse descambar para o iliacutecito moral jaacute eacute quase

sempre uma consequecircncia da deliberada inobservacircncia dos trecircs outros princiacutepios citados (foram impessoalidade

eficiecircncia e igualdade) fl37 Na mesma toada estatildeo os dizeres do Ministro Joaquim Barbosa ―() as regras

estabelecidas pelo CNJ na Resoluccedilatildeo 072005 () buscam dar efetividade aos princiacutepios da moralidade e da

impessoalidade administrativa () Por sua vez talvez com mais ecircnfase ainda impotildee-se ao caso o princiacutepio da

moralidade por aplicaccedilatildeo direta da Constituiccedilatildeo () fl 52-53 Em esteio similar se pronunciou o Ministro Gilmar

Mendes ―() natildeo haacute duacutevida de que os atos que impliquem a praacutetica do nepotismo ofendem diretamente os princiacutepios

da moralidade e da impessoalidade () fl 72 E continua ―A vedaccedilatildeo do nepotismo eacute regra constitucional que estaacute

na zona de certeza dos princiacutepios da moralidade e da impessoalidade Natildeo eacute de hoje que o nepotismo eacute uma praacutetica

condenada pela sociedade brasileira fl 73 Nesse iacutenterim conclui ―() o ato administrativo que implique nesse

tipo de praacutetica imoral eacute ilegiacutetimo natildeo apenas por violaccedilatildeo a uma determinada lei mas por ofensa direta agrave moralidade

que atua como substrato eacutetico de ordem constitucional () a proibiccedilatildeo do nepotismo decorre do conjunto de

princiacutepios constitucionais dentre os quais tecircm relevo os princiacutepios da moralidade e da impessoalidade fl 73-74

Bem como a Ministra Ellen Gracie ―() questatildeo do nepotismo como uma das formas mais visiacuteveis de ofensa ao

princiacutepio da moralidade administrativa () fl 84 E do Ministro Celso Mello ―() os postulados da impessoalidade

e da moralidade que representam os valores essenciais na conformaccedilatildeo das atividades do poder Sabemos todos que a

atividade estatal qualquer que seja o domiacutenio institucional de sua incidecircncia estaacute necessariamente subordinada agrave

observacircncia de paracircmetros eacutetico juriacutedicos que se refletem na consagraccedilatildeo constitucional dos princiacutepios da moralidade

administrativa que se qualifica como valor constitucional impregnado de substrato eacutetico e erigido agrave condiccedilatildeo de vetor

fundamental no processo do poder fl 97 E ainda complementa ―A praacutetica do nepotismo () traduz a proacutepria

antiacutetese da pauta de valores cujo substrato constitucional repousa no postulado da moralidade administrativa que natildeo

tolera ndash porque incompatiacutevel com o espiacuterito republicano e com a essecircncia da ordem democraacutetica ndash o exerciacutecio do

poder pro domo sua fl 100 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF Trechos dos votos dos Ministros

54

impostos pela resoluccedilatildeo satildeo ―atentatoacuterios da liberdade de nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo dos

cargos em comissatildeo e funccedilotildees de confianccedila (inciso II e V do art 37)243

alegou que ao

contraacuterio do que se pode pensar a resoluccedilatildeo apenas positivou ainda mais as proibiccedilotildees

constitucionais decorrentes dos princiacutepios da impessoalidade da eficiecircncia e da

igualdade244

E arrematou que os ―servidores puacuteblicos natildeo satildeo titulares de direito adquirido a

regime juriacutedico 245

e que as nomeaccedilotildees para exerciacutecio de cargo em comissatildeo se

submetem ao princiacutepio da moralidade e impessoalidade e que a proibiccedilatildeo do nepotismo

emana do princiacutepio da impessoalidade e que diante disto mesmo que a nomeaccedilatildeo de

cargo comissionado seja discricionaacuteria seus limites satildeo estabelecidos dentre outros por

esse princiacutepio e concluiu que os servidores que foram nomeados de forma irregular natildeo

detecircm direito subjetivo algum vez que da ―praacutetica ofensiva agrave Constituiccedilatildeo () natildeo pode

irradiar-se nenhum direito subjetivo 246

Disso o que se extrai que eacute vedado o

nepotismo na nomeaccedilatildeo de cargos comissionados

Ainda se afirmou que o normativo natildeo exprime afronta agrave separaccedilatildeo dos

poderes e nem ao princiacutepio federativo porque natildeo submeteu o Poder Judiciaacuterio aos

outros dois Poderes e que tambeacutem natildeo invadiu a competecircncia do Poder Legislativo

federal ou dos estaduais vez que apenas positivou o exerciacutecio da competecircncia reservada

pela Constituiccedilatildeo ao CNJ247

natildeo havendo ―violecircncia aos dogmas da separaccedilatildeo dos

poderes e da Federaccedilatildeo como tambeacutem natildeo observa ―ofensa alguma agrave isonomia 248

e

243 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Relator fl 37-38 244 ―O juiacutezo de que as restriccedilotildees constantes do ato normativo do CNJ satildeo no rigor dos termos as mesmas restriccedilotildees jaacute

impostas pela Constituiccedilatildeo de 1988 dedutiacuteveis dos republicanos princiacutepios da impessoalidade da eficiecircncia e da

igualdade sobretudo Quero dizer o que jaacute era constitucionalmente proibido permanece com essa tipificaccedilatildeo poreacutem

agora mais expletivamente positivado E completa ―() clara razatildeo de que a interpretaccedilatildeo dos mencionados

incisos tem que ficar adstrita agrave exegese dos comandos que se lecirc no caput do mesmo art 37 () princiacutepios reitores de

toda a Administraccedilatildeo Puacuteblica adequadamente pinccedilados e debulhados pelo ato normativo sub judice () Natildeo se

tratando entatildeo de discriminar o Poder Judiciaacuterio perante os outros dois Poderes Orgacircnicos do Estado sob a

equivocada proposiccedilatildeo de que o Poder Executivo e o Poder Legislativo estariam inteiramente libertos de peias

juriacutedicas para prover seus cargos em comissatildeo e funccedilotildees de confianccedila naquelas situaccedilotildees em que os respectivos

ocupantes natildeo hajam ingressado na atividade estatal por meio de concurso puacuteblico fl38 Neste final da passagem o

Ministro parece excepcionar os casos de servidores efetivos que satildeo nomeados para cargo comissionado BRASIL

Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF

Trecho do voto do Ministro Relator 245 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Eros Grau fl 47 246 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Cezar Peluso fl 57 247 Ministro Ayres Britto 248 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Sepuacutelveda Pertence Idem fl 117

55

tambeacutem que a Resoluccedilatildeo ―preserva a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica249

Nesse ensejo foi explicado250

que o CNJ positivou mateacuteria afeta agrave reserva da

norma vez que estabeleceu sobre uma mateacuteria que natildeo necessita ser versada por lei

formal podendo o ser por norma elaborada pelo Poder Executivo ou pelo Poder

Judiciaacuterio e que o assunto deveria ser regulado por cada oacutergatildeo no acircmbito de sua

respectiva competecircncia e que mas natildeo o foi o CNJ editou a Resoluccedilatildeo substituindo a

iniciativa dos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio 251

Aqui importa pensar que este tambeacutem eacute um dos argumentos de defesa quanto agrave

necessidade da elaboraccedilatildeo da SV N13 como instrumento constitucional utilizado pelo

STF na opiniatildeo de alguns devido agrave omissatildeo do Legislativo e tambeacutem do Executivo

Nesse diapasatildeo asseverou-se que a Resoluccedilatildeo veio para ―remediar os danos

causados pela praacutetica em si e tambeacutem para ―prevenir os riscos que esse dano venha

causar o que poderia ―ser feito apenas mediante a ediccedilatildeo de ato com caraacuteter normativo

e de sentido geral 252

e que a normativa eacute decorre do princiacutepio da moralidade 253

Aleacutem disso vale destacar que ainda se lembrou254

que incumbia ao STF

naquela ―sede de controle abstrato de normas tatildeo-somente aferir a constitucionalidade

da Resoluccedilatildeo n 0705 e natildeo ―esmiuccedilar cada qual das suas teoacutericas possibilidades de

incidecircncia menos ainda os particularizados efeitos de sua aplicaccedilatildeo em concreto 255

A partir de entatildeo foram suscitados dois pontos que ensejariam ―ajustes no ato

normativo256

o primeiro referente a ―parente por afinidade ateacute terceiro grau257

e o

249 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Celso Mello fl 100 Aleacutem de repulsar o nepotismo com base no princiacutepio da

moralidade principal esteio do seu voto 250 Ministro Eros Grau 251 Presidente do STF Ministro Nelson Jobim ―A iniciativa das leis dessa natureza eacute do Tribunal de Justiccedila e

nenhum Tribunal de Justiccedila salvo o do Rio Grande do Norte providenciou a emissatildeo da sua iniciativardquo BRASIL

Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF

Trecho do voto do Ministrofl 121 252 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Ministro Cezar Pelusofl 56 253 A Ministra Ellen Gracie dispocircs ―() no estrito exerciacutecio dessa atividade de verificaccedilatildeo ou guarda da proacutepria

constitucionalidade dos atos administrativos expedidos pelos tribunais () ao considerar a nomeaccedilatildeo de parentes por

magistrados uma conduta atentatoacuteria ao princiacutepio da moralidade (CF art 37 caput) BRASIL Supremo Tribunal

Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fl 83 Assim quanto

agrave legalidade da Resoluccedilatildeo do CNJ os Ministros apresentaram os mais variados argumentos quanto agrave sua legalidade

desde que decorre de oacutergatildeo competente do princiacutepio da moralidade e da normativa constitucional ateacute que resulta da

omissatildeo de outros oacutergatildeos e trata de mateacuteria de reserva de norma 254 Ministro Britto 255 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Relator fl43 Contudo tal entendimento natildeo foi assentado quando da ediccedilatildeo

da SV 13 256 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Relator fl 44

56

segundo que atinente agrave inclusatildeo do vocaacutebulo ―chefia agrave Resoluccedilatildeo

Quanto ao primeiro ponto que

() a Resoluccedilatildeo nordm 0705 ato normativo que tenho como de natureza

primaacuteria podia mesmo fazer do terceiro grau de parentesco consanguiacuteneo um

criteacuterio de inibiccedilatildeo ao ―nepotismordquo Impedida estava no entanto de criar um

novo grau de parentesco por afinidade devido a que essa mateacuteria eacute de caraacuteter

civil reservada pela Constituiccedilatildeo agrave competecircncia do Poder Legislativo

Federal E o fato eacute que ela (Resoluccedilatildeo n 0705) distendeu as fronteiras do

parentesco para incluir ―parentes de 3ordm grau por afinidade ultrapassando

assim o instituto do cunhado Daiacute a necessidade de emprestar-se

interpretaccedilatildeo conforme aos incisos do art 2ordm da Resoluccedilatildeo nordm 07 do CNJ

para restringir o parentesco por afinidade da linha colateral ldquoaos irmatildeos do

cocircnjuge ou companheirordquo 258

Pois

() os atos do CNJ estatildeo necessariamente vinculados por hierarquia

normativa dentro do plano das leis de acircmbito nacional dentre outras agrave Lei n

1040602 que instituiu o vigente Coacutedigo Civil () precisamente de acordo

com as premissas antes referidas as normas desta Resoluccedilatildeo devem ser

interpretadas agrave luz do Coacutedigo Civil259

Todavia este argumento natildeo prevaleceu e nem foi aplicado agrave construccedilatildeo da SV

n13 embasada por tal Resoluccedilatildeo pois os entendimentos contraacuterios expostos pelos

demais Ministros prevalecerem vez que ao reveacutes afirmou-se que o STF natildeo deveria

discutir sobre o grau de parentesco disposto na Resoluccedilatildeo agrave luz do Coacutedigo Civil pois ―a

questatildeo de parentesco definida no Coacutedigo Civil eacute para efeitos civis e no julgado

visava-se ―a vigecircncia absoluta do princiacutepio da impessoalidade tendo em vista a

―impessoalidade efetiva natildeo se podendo deixar em aberto senatildeo a impessoalidade

seria ―rompida exatamente por esse caminho 260

Nesse esteio foi dito que o problema natildeo seria ―definir quais satildeo os parentes

para efeitos civis mas definir quais aquelas pessoas que sob a classe da parentela

tendem a ser escolhidas natildeo por interesse puacuteblico mas por interesse de caraacuteter

pessoal261

pois se devia focar em ―uma relaccedilatildeo familiar ainda que para os efeitos do

257 Ministro Britto 258 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Relator fl 44 259 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Gilmar Mendes fl 79 O Ministro desta feita se manifestou de maneira

legalmente adequada quanto ao tema mas natildeo foi acompanhado por seus colegas 260 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Ministro Nelson Jobim fl 62 261 Assim o Ministro Relator adere agrave questatildeo que havia de iniacutecio se manifestado pela incongruecircncia se posicionando

no seguinte sentido se os Colegas entediam que ―a resoluccedilatildeo nada mais fez do que transformar o terceiro grau de

parentesco num simples criteacuterio de inibiccedilatildeo BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo

Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF Ministro Relator fl 63

57

Coacutedigo Civil natildeo seja chamada de parentesco262

e que como natildeo ―haacute conceito

constitucional de parentesco ou da extensatildeo do parentesco a ―uma norma

infraconstitucional vaacutelida seria ―dado atribuir para determinados efeitos conceitos

diversos daquele insculpido no Coacutedigo Civil 263

O segundo item ressaltado foi que se deveria incluir o vocaacutebulo chefialsquo na

resoluccedilatildeo por meio da interpretaccedilatildeo conforme visto que embora natildeo tenham sido

mencionados por ela os cargos em comissatildeo e as funccedilotildees de confianccedila foram

vinculados pelo texto constitucional natildeo apenas quanto agraves atribuiccedilotildees de direccedilatildeo e

assessoramento mas tambeacutem de chefia de acordo com o disposto no inciso V do art

37

Por fim tem-se como uacutenica argumentaccedilatildeo dissidente a indeferir a medida

cautelar264

que o CNJ natildeo possui poder normativo para editar a Resoluccedilatildeo pois natildeo haacute

―base constitucional para que ele possa ―normatizar de forma abstrata substituindo-se

ao Congresso nem a liminar poderia ser concedida com tais ―contornos maiores uma

vez que natildeo soacute suspende ―atos jurisdicionais jaacute formalizados mas ―vai-se aleacutem para

colocar em segundo plano uma garantia constitucional baacutesica a do livre acesso ao Poder

Judiciaacuterio a qual decorre do disposto no inciso XXXV do art 5ordm da Carta de 1988265

Feita a anaacutelise do julgado quanto a cautelar da ADC passa-se ao julgado

quanto agrave apreciaccedilatildeo do meacuterito da accedilatildeo que ―natildeo animou a Corte a novos debates ou

aprofundamentos266

mas declarou a constitucionalidade da Resoluccedilatildeo do Conselho

Nacional de Justiccedila267

com eficaacutecia erga omnes e efeito vinculante268

262 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Ministro Sepuacutelveda Pertence fl 63 263 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Ministro Sepuacutelveda Pertence fl 118 Neste esteio em prol da inibiccedilatildeo ao nepotismo vale por meio de

teacutecnica de argumentaccedilatildeo criar ampliar o parentesco por afinidade diverso do restringido em lei Os Ministros

resolveram ser mais legalistas que a proacutepria lei fundados na observacircncia dos princiacutepios constitucionais da

impessoalidade e da moralidade que regem a Administraccedilatildeo Puacuteblica 264 Ministro Marco Aureacutelio Que remonta ao voto proferido em sede da ADI n 1521-4RS tambeacutem precedente da

Suacutemula como este julgado Vaacuterios Ministros fizeram referecircncia ou aos seus proacuteprios votos na referida ADI ou ao dos

seus colegas para fundamentar os respectivos proferidos no julgamento em voga 265 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Ministro Marco Aureacuteliofl 89 - 90 266 MODESTO Paulo Nepotismo em Cargos Poliacutetico administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP

Belo Horizonte Ed Forum ano 11 n 41 abrjun 2013 p30 267 O que natildeo podia ser diferente uma vez que o proacuteprio Presidente do STF tambeacutem no julgamento da liminar jaacute

havia se pronunciado desta maneira ―Sabemos perfeitamente que na tradiccedilatildeo do Tribunal as concessotildees da liminar

praticamente satildeo as decisotildees finais ()fl 122 268 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade ADC n 12-6DF Ementaacuterio n

2387-1 ―ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE CONSTITUCIONALIDADE AJUIZADA EM PROL DA RESOLUCcedilAtildeO

Nordm 07 de 181005 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA ATO NORMATIVO QUE DISCIPLINA O

EXERCIacuteCIO DE CARGOS EMPREGOS E FUNCcedilOtildeES POR PARENTES COcircNJUGES E COMPANHEIROS DE

MAGISTRADOS E DE SERVIDORES INVESTIDOS EM CARGOS DE DIRECcedilAtildeO E ASSESSORAMENTO NO

AcircMBITO DOS OacuteRGAtildeOS DO PODER JUDICIAacuteRIO E DAacute OUTRAS PROVIDEcircNCIAS PROCEDEcircNCIA DO

58

O julgamento do meacuterito da ADC assentou tudo aquilo jaacute expresso no julgado

referente agrave cautelar e especialmente o uacutenico argumento linear que se extrai dos votos

de todos os Ministros de que os princiacutepios insertos no caput do artigo 37 da

Constituiccedilatildeo Federal satildeo autoaplicaacuteveis e que deles decorre o vedaccedilatildeo do nepotismolsquo 269

e trouxe argumentos novos tatildeo somente quanto agrave inclusatildeo do vocaacutebulo chefia na

Resoluccedilatildeo por meio da interpretaccedilatildeo conformelsquo pois restou notado270

ao reveacutes do

entendimento disposto na cautelar271

que eacute prescindiacutevel se realizar interpretaccedilatildeo

conformelsquo quanto aos termos ―direccedilatildeo e assessoramento dispostos na resoluccedilatildeo

porque os cargos em comissatildeo ―satildeo cargos de direccedilatildeo e assessoramento superior

portanto inclui necessariamente o cargo de chefia272

Todavia nem esse ponto que natildeo deveria suscitar duacutevidas tamanha clareza

natildeo restou paciacutefico pois ainda foi de outra banda registrado que ―seria bom que

constasse direccedilatildeo chefia e assessoramentolsquo273

na redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo

114 Recurso Extraordinaacuterio n 579951RN

O quarto precedente da SV n13 natildeo menos importante que o terceiro trata de

Recurso Extraordinaacuterio274

interposto em face de Acoacuterdatildeo proferido pelo Tribunal de

Justiccedila do Estado do Rio Grande do Norte275

que considerou legais a nomeaccedilatildeo de

irmatildeo de vereador municipal para o cargo de Secretaacuterio de Sauacutede do Municiacutepio e de

irmatildeo do vice-prefeito do Municiacutepio como motorista da Prefeitura vez que segundo o

Colegiado recorrido natildeo havia ―() qualquer inconstitucionalidade ou ilegalidade na

PEDIDO() fl13 Relator Min Carlos Ayres Britto julgada em 2082008 e publicada no DJ nordm 237 de

18122009 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 100213 269 Tanto no julgado da liminar seja no meacuterito da ADC todos os Ministros elucidaram sobre o nepotismo e sobre os

princiacutepios entretanto natildeo se remontou novamente aos pronunciamentos uma vez que a maioria das argumentaccedilotildees

jaacute foi citada 270 Ministro Menezes Direito 271BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade ADC n 12-6DF Ministro

Menezes Direito fl 16 Tanto que a Ministra Carmem Luacutecia esclarece logo na fl 18 do julgado que direccedilatildeo inclui a

chefia 272 O Ministro Marco Aureacutelio dissidente no julgamento da cautelar aderiu agrave ―colocaccedilatildeo do ministro Menezes

Direito quanto agrave desnecessidade da interpretaccedilatildeo conforme (fl 23) e o Ministro Gilmar Mendes acompanhou o

relator integralmente mesmo tendo afirmado que entendia a proposiccedilatildeo da desnecessidade da interpretaccedilatildeo

conforme BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade ADC n 12-6DF 273 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade ADC n 12-6DF Ministro Cezar

Peluso fl 27 274 BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ementaacuterio n 2338-10

―ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA VEDACcedilAtildeO NEPOTISMO NECESSIDADE DE LEI FORMAL

INEXIGIBILIDADE PROIBICcedilAtildeO QUE DECORRE DO ART 37 CAPUT DA CF REPROVIDO EM PARTE I ndash

() II - A vedaccedilatildeo do nepotismo natildeo exige a ediccedilatildeo de lei formal para coibir a praacutetica III - Proibiccedilatildeo que decorre

diretamente dos princiacutepios contidos no art 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal fl 1876 Relator Min Ricardo

Lewandowski julgado em 2082008 e publicado no DJ n 202 de 24101008 ajuizado pelo Ministeacuterio Puacuteblico do

Rio Grande do Norte 275 Apelaccedilatildeo agrave decisatildeo de primeira instacircncia proferida na accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade de ato administrativo pelo

magistrado da 1ordf Vara Ciacutevel da Comarca de Pau de FerrosRN Autos n 2007006909-8

59

nomeaccedilatildeo () para exerciacutecio respectivamente dos cargos em comissatildeo de Secretaacuterio

Municipal de Sauacutede e de motorista276

A Corte Estadual afirmou a uma que a Resoluccedilatildeo do CNJ natildeo podia ser

interpretada extensivamente e por isto natildeo seria aplicaacutevel ao Poder Executivo e

Legislativo a duas que a proibiccedilatildeo do nepotismo ―no acircmbito desses poderes exige a

ediccedilatildeo de lei formal e a trecircs que a ―nomeaccedilatildeo de parentes de agentes poliacuteticos para o

exerciacutecio de cargos de confianccedila ou em comissatildeo natildeo viola qualquer dispositivo

constitucional 277

pois a Constituiccedilatildeo dispotildee sobre a livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo para

estes cargos

Entretanto o Ministeacuterio Puacuteblico ao apresentar as razotildees recursais obtemperou

que a decisatildeo do TJRN eacute contraacuteria ao ―princiacutepio da moralidade abrigado no art 37 da

mesma Carta que natildeo eacute ―liacutecito dar-se aos seus incisos II e V278

uma interpretaccedilatildeo

isolada dissociada do que conteacutem no caput do mencionado dispositivo279

e que ―a

proibiccedilatildeo ao nepotismo decorre diretamente do referido princiacutepio constitucional sendo

dispensaacutevel a ediccedilatildeo de lei expressa nesse sentido280

Diante de tal embate a Corte afirmou que ―o entendimento agasalhado no

acoacuterdatildeo recorrido natildeo merecia prosperar diante da forccedila normativa dos princiacutepios

dispostos no art 37 da Carta Federal pois ―a vedaccedilatildeo ao nepotismo eacute regra

constitucional que estaacute na zona de certeza dos princiacutepios da moralidade e da

impessoalidade281

Ainda explicitou natildeo soacute sobre a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da moralidade282

como

tambeacutem sobre o nepotismo283

e daiacute trouxe a lume o fato de que diversas leis vedam o

276 BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1877 277

BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1877- 1878 278 Referentes agrave nomeaccedilatildeo para cargo em comissatildeo e funccedilatildeo de confianccedila que eacute tanto quanto a exoneraccedilatildeo ad

nutum 279 BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1878 280 BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1878 De acordo com o

exposto pelo Relator Ministro Ricardo Lewandowiski os princiacutepios coiacutebem ―a nefasta e antirrepublicana praacutetica do

nepotismo o Ministro explica que ―os princiacutepios constitucionais longe de configurarem meras recomendaccedilotildees de

caraacuteter moral ou eacutetico consubstanciam regras juriacutedicas de caraacuteter prescritivo hierarquicamente superiores agraves demais

e positivamente vinculanteslsquo como ensina Gomes Canotilho fl1888 281BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1878 Relator Ministro

Ricardo Lewandowiski fl 1883 ―() os princiacutepios dentre os quais destaco o da moralidade e impessoalidade

exigem que o agente puacuteblico paute a sua conduta por padrotildees eacuteticos que tecircm como fim uacuteltimo lograr a consecuccedilatildeo do

bem comum seja qual for a esfera do poder ou niacutevel poliacutetico-administraccedilatildeo da Federaccedilatildeo em que atue fl 1890 282 O Relator Ministro Ricardo Lewandowiski jaacute no Relatoacuterio afirma que a decisatildeo do TJRN ―contraria o princiacutepio

da moralidade porque abarca a praacutetica de nepotismo e a proibiccedilatildeo deste ―decorre diretamente do referido princiacutepio

constitucional BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1878 283 O Ministro Relator quanto ao nepotismo aleacutem de afirmar citando a obra de Sergio Buarque de Holanda que o

nepotismo adveacutem das ―() origens da dificuldade de separaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado pelos detentores do poder

em nossa sociedade () fl 1885 Ainda se refere agrave noccedilatildeo de nepotismo explicando que ―Como se sabe do ponto de

60

nepotismo no acircmbito federal mas que isto natildeo significaria que a proibiccedilatildeo possa

ocorrer apenas por leis formais284

pois sua vedaccedilatildeo estaacute diretamente relacionada com a

aplicaccedilatildeo do princiacutepio da moralidade e que o nepotismo aleacutem de transgredir este

tambeacutem infringe os princiacutepios da impessoalidade e da isonomia285

e ainda na maioria

das vezes o da eficiecircncia286

Nessa mesma linha foi reafirmada a desnecessidade de lei formal para coibir o

nepotismo decorrente da aplicaccedilatildeo do princiacutepio constitucional da moralidade287

diante

da aplicaccedilatildeo imediata dos princiacutepios do artigo 37 da Carta Federal independente

portanto de legislaccedilatildeo infraconstitucional288

pois o princiacutepio da moralidade como

assentado pelo proacuteprio Tribunal ―condiciona a legitimidade e a validade dos atos

estatais 289

Nessa toada tambeacutem foi destacado que haacute ―consenso social acerca da

reprovabilidade290

da praacutetica do nepotismo e que ―() carece de plausibilidade a

exegese segundo a qual o nepotismo seria permitido simplesmente porque natildeo haacute lei

que o proiacuteba mas que natildeo havia como prover integralmente o recurso pois natildeo cabia

ao STF atuar como legislador positivo natildeo podendo portanto proibir o muniacutecipio de

vista etimoloacutegico a palavra nepotismolsquo tem origem no latim derivando da conjugaccedilatildeo do termo nepote significando

sobrinho ou protegido com o sufixo ismolsquo que remete agrave ideia de ato praacutetica ou resultado A utilizaccedilatildeo desse termo

historicamente adveacutem da autoridade exercida pelos sobrinhos e outros aparentados dos Papas na administraccedilatildeo

eclesiaacutestica nos seacuteculos XV e XVI da nossa era ganhando atualmente o significado pejorativo do favorecimento de

parentes por parte de algueacutem que exerce o poder na esfera puacuteblica ou privada BRASIL Supremo Tribunal Federal

Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1881-1882 284

―() os princiacutepios constitucionais longe de configurarem meras recomendaccedilotildees de caraacuteter moral ou eacutetico

consubstanciam regras juriacutedicas de caraacuteter prescritivo e hierarquicamente superiores agraves demais e positivamente

vinculanteslsquo () como se reconhece atualmente satildeo sempre dotados de eficaacutecia cuja materializaccedilatildeo pode ser

cobrada judicialmente se necessaacuterio

BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n

579951RN Ministro Relator fl1888 285 Em conformidade com os dizeres do Ministro Relator ―Aleacutem da ofensiva agrave moralidade administrativa a nomeaccedilatildeo

de parentes para cargos e funccedilotildees que natildeo exigem concurso puacuteblico () fere o princiacutepio da impessoalidade e por

extensatildeo o basilar princiacutepio da isonomia porque prevalece o nefasto QIlsquo o popular quem indicalsquo () BRASIL

Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ministro Relator fl1892 286 BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ministro Relator fl 1890-1893

Ao afirmar que ―no mais das vezes a nomeaccedilatildeo de parentes dada absoluta inapetecircncia destes para o trabalho e o seu

completo despreparo para o exerciacutecio das funccedilotildees que alegadamente exercem vulnera tambeacutem o princiacutepio da

eficiecircncia () num evidente desvio de finalidade porquanto permite que o interesse privado isto eacute patrimonial no

sentido socioloacutegico e tambeacutem vulgar da expressatildeo prevaleccedila sobre o interesse coletivofl 1893 Tambeacutem que ―()

o fato de que essa praacutetica atenta natildeo apenas contra o princiacutepio da impessoalidade como tambeacutem o da eficiecircncia

ambos inseridos no rol daqueles que devem nortear a accedilatildeo dos agentes puacuteblicos fl 1898 E ainda que o princiacutepio da

eficiecircncia obsta a ―() histoacuterica confusatildeo que os administradores puacuteblicos com honrosas exceccedilotildees tecircm feito entre

patrimocircnio puacuteblico e privado fl1899 287 Ministro Menezes Direito 288 Ministra Carmen Luacutecia 289

Ministro Celso Mello como nos demais votos proferidos nos precedentes da Suacutemula ora em exame inclusive

citando o seu proacuteprio voto proferido da ADI 1521RS torna a rechaccedilar a praacutetica do nepotismo com base nos

princiacutepios constitucionais republicanos BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n

579951RN fl 1932-1933 290 Ministro Relator BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1896

61

realizar certas nomeaccedilotildees291

Declarou-se nula a nomeaccedilatildeo do irmatildeo do Vice-Prefeito como motorista e a

legalidade da nomeaccedilatildeo do irmatildeo do vereador para o cargo poliacutetico de Secretaacuterio de

Sauacutede por natildeo configurar ―nepotismo cruzado292

Diante disse os dois assuntos que mereceram debates inovadores neste quarto

precedente da SV n13 foram a distinccedilatildeo quanto agrave aplicabilidade do nepotismo no

cargo administrativo e no cargo comissionado293

e a possibilidade de se ter configurado

o nepotismo cruzado

Quanto ao primeiro ponto foi elucidado

() sobre a distinccedilatildeo entre cargo em comissatildeo e funccedilatildeo de confianccedila de um

lado e do outro cargo de Secretaacuterio Municipal Secretaacuterio de Estado

Ministro de Estado portanto cargos de natureza poliacutetica claro que eu natildeo

quis dizer que esses princiacutepios do art 37 ndash legalidade e moralidade ndash natildeo se

aplicam aos dirigentes superiores de toda a Administraccedilatildeo Puacuteblica Agora os

cargos aqui referidos no inciso V do artigo 37 satildeo singelamente

administrativos satildeo cargos criados por lei natildeo satildeo nominados pela

Constituiccedilatildeo Os cargos de Secretaacuterio de Estado Secretaacuterio Municipal tecircm

por ecircmulo ou paradigma federal os cargos de Ministro de Estado cuja

natureza eacute poliacutetica e natildeo singelamente administrativa Diz a Constituiccedilatildeo

Federal sobre o Poder Executivo o Poder Executivo eacute exercido pelo

Presidente da Repuacuteblica auxiliado pelos Ministros de Estado Ou seja os

Ministros de Estado satildeo ocupantes de cargos de existecircncia necessaacuteria

poliacutetica porque componentes do governo Aonde eu quero chegar O Chefe

do Poder Executivo eacute livre para escolher seus quadros de governo mas natildeo o

eacute para escolher seus quadros administrativos porque dentre os quadros

administrativos estatildeo os cargos em comissatildeo os cargos de provimento

efetivo e as funccedilotildees de confianccedila A proacutepria Constituiccedilatildeo sentando praccedila

desse caraacuteter constitucional eminentemente poliacutetico dos Ministros de Estado

ndash e isso vale no plano dos Estados-membros e no plano dos municiacutepios aleacutem

de dizer os requisitos deles () diz o que basicamente lhes compete Entatildeo o

assento o locus juriacutedico dos auxiliares de governo eacute diretamente

291

() natildeo cabe a esta Corte conforme paciacutefica jurisprudecircncia atuar como legislador positivo sendo-lhe vedado

inovar o sistema normativo funccedilatildeo reservada ao Poder Legislativo O provimento integral do RE com efeito

revelaria flagrante extravasamento de competecircncias com ofensa ao princiacutepio constitucional da separaccedilatildeo dos

poderes BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ministro Relator fl

1900 292

―Desprovejo-o quanto ao secretaacuterio de sauacutede Entendo que natildeo podemos a partir do disposto na cabeccedila do art 37

da Constituiccedilatildeo Federal glosar a escolha E haveria ainda a problemaacutetica a que se referiu Vossa Excelecircncia o

parentesco natildeo eacute com o titular natildeo eacute com o vice-prefeito natildeo eacute com algueacutem ligado ao Executivo com servidor ou

agente poliacutetico mas com um vereador BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n

579951RN Ministro Relator fl 1911 293O Ministro Marco Aureacutelio foi o primeiro a trazer agrave baila a distinccedilatildeo da aplicabilidade do nepotismo ao servidor

puacuteblico e ao agente poliacutetico Um dos pontos mais relevantes deste julgado e criticaacutevel por alguns no que concerne ao

verbete sumular Segundo Paulo Modesto ―A mais grave das ressalvas foi germinada nas primeiras decisotildees da Corte

sobre o tema nepotismo a partir de uma distinccedilatildeo ausente do enunciado da suacutemula entre o favorecimento familiar de

agentes no provimento de cargos administrativos e no provimento de bdquocargos poliacuteticos‟ ou bdquopoliacutetico-

administrativos‟ E completa ―Segundo essa interpretaccedilatildeo difundida amplamente sem os matizes presentes nos

debates da Corte a Suacutemula Vinculante seria aplicaacutevel apenas a funccedilotildees de confianccedila e cargos em comissatildeo

puramente administrativos de livre nomeaccedilatildeo e livre exoneraccedilatildeo O provimento de cargos puacuteblicos mesmo os natildeo

eletivos natildeo sofreria as limitaccedilotildees da proibiccedilatildeo do nepotismo MODESTO Paulo MODESTO Paulo Nepotismo

em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP Belo Horizonte Ed Forum ano

11 n 41 abrjun 2013 p11-12

62

constitucional A Constituiccedilatildeo Federal a atestar o caraacuteter o poliacutetico do cargo e

do agente Por isso o que decidimos no plano da ADC nordm 12 e agora

servindo de fundamento para a nova decisatildeo a proibiccedilatildeo do nepotismo

arranca decola deriva diretamente dos princiacutepios do artigo 37 que satildeo

princiacutepios extensiacuteveis a toda a Administraccedilatildeo Puacuteblica de qualquer dos

Poderes de qualquer das pessoas federadas ―Tudo isso na vertente na

perspectiva de cargos em comissatildeo e funccedilotildees de confianccedila que tem caraacuteter

apenas administrativo e natildeo caraacuteter poliacutetico 294

E tambeacutem

() a Corte concordou ndash que os princiacutepios do artigo 37 eram extensiacuteveis a

toda a Administraccedilatildeo Puacuteblica tive em conta a proacutepria expressatildeo

―Administraccedilatildeo Puacuteblica porque esses princiacutepios da legalidade

impessoalidade e moralidade vecircm num contexto natildeo de governo natildeo de

poder poliacutetico mas de Administraccedilatildeo Puacuteblica ou seja para exerciacutecio da

atividade administrativa A Administraccedilatildeo Puacuteblica aqui parece-me eacute

segmento do governo O governo eacute mais do que a Administraccedilatildeo Puacuteblica

porque incorpora ingrediente poliacutetico Entatildeo quando o art 37 refere-se a

cargo em comissatildeo e funccedilatildeo de confianccedila estaacute tratando de cargos e funccedilotildees

singelamente administrativos natildeo de cargos poliacuteticos Portanto os cargos

poliacuteticos estariam fora do alcance da decisatildeo que tomamos na ADC n 12

porque o proacuteprio Capiacutetulo VII eacute Da Administraccedilatildeo Puacuteblica enquanto

segmento do Poder Executivo E sabemos que os cargos poliacuteticos como por

exemplo os de Secretaacuterio Municipal satildeo de agentes do Poder fazem parte

do Poder Executivo O cargo natildeo eacute em comissatildeo no sentido do art 37

Somente os cargos e funccedilotildees singelamente administrativos ndash eacute como penso ndash

satildeo alcanccedilados pela imperiosidade do artigo 37 com seus lapidares

princiacutepios Entatildeo essa distinccedilatildeo me parece importante para no caso excluir

do acircmbito da nossa decisatildeo anterior os Secretaacuterios Municipais que

correspondem a Secretaacuterios de Estado no acircmbito dos Estados e Ministros de

Estado no acircmbito federal295

Dessa forma a distinccedilatildeo entre cargo poliacutetico e cargo comissionado se tornou

mais clara ao Tribunal296

Poreacutem foi levantado o questionamento de como ficariam as situaccedilotildees dos

Prefeitos Municipais que nomeiam vaacuterios parentes seus para assumirem cargos poliacuteticos

de Secretaacuterios297

e foi explicado que tais nomeaccedilotildees faziam parte da rotina inerente ao

funcionamento do Poder Executivo e que se referia agrave formaccedilatildeo do ―quadro de governo

natildeo sendo aplicaacutevel a norma do inciso V do art 37 (nomeaccedilatildeo de cargo em

294

Ministro Ayres Britto Desta feita manifestou-se pelo provimento do recurso apenas quanto agrave contrataccedilatildeo do

irmatildeo do vice-prefeito como motorista da Prefeitura BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio

RE n 579951RN Ministro Relator 1912-1913 295BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ministro Ayres Britto fl 1922-

1923 296 E aos demais Ministros que acompanharam a divergecircncia e se manifestaram pelo provimento parcial do recurso

Tanto se tornou clara que o Ministro Menezes Direito ao proferir seu voto disse que fazia as mesmas restriccedilotildees que

haviam sido feitas pelos Ministros Marco Aureacutelio e Ayres Britto ―Eu entendo que nessa circunstacircncia natildeo cabe a

aplicaccedilatildeo do princiacutepio natildeo se trata aqui de nepotismo Seria absolutamente impossiacutevel fazer essa vinculaccedilatildeo

Todavia tal natildeo ocorre com o cargo de motorista porque ele estaacute sendo contratado para o gabinete do vice-prefeito

ele eacute funcionaacuterio da administraccedilatildeo municipal tambeacutem servindo o vice-prefeito e aiacute fica evidente que estaacute havendo a

contrataccedilatildeo de um irmatildeo para a mesma reparticcedilatildeo para o mesmo local e ateacute mesmo um caso mais grave que me

parece este escapando do necessaacuterio concurso puacuteblico considerando que o cargo de motorista natildeo eacute suscetiacutevel de

contrataccedilatildeo por via de cargo de direccedilatildeo e assessoramento superior BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso

Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1915-1916 297 Ministro Relator Ricardo Lewandowski questionou ao Ministro Ayres Britto

63

comissatildeo)298

Mas mesmo assim foi manifesto um ―certo receio quanto ao assentamento

―com todas as letras que em se tratando de Secretaacuterio Municipal que eacute cargo poliacutetico

de livre nomeaccedilatildeo enfim de confianccedila do prefeito tal atitude seria liacutecita porque entatildeo

o prefeito poderia colocar sua ―esposa em um cargo chavelsquo de Secretaacuteria de Governo o

que seria liacutecito agrave luz da proibiccedilatildeo do nepotismo do princiacutepio da moralidade 299

E nesse enredo foi manifesto o entendimento de que seria inviaacutevel permitir que

os Chefes do Poder Executivo pudessem nomear quem quisessem pois ―Natildeo existe

liberdade absoluta em espaccedilo algum senatildeo o governante poderia escolher apenas os

seus familiares para todos os cargos E por ser cargo poliacutetico isso seria permitido De

modo algum 300

e que tambeacutem os ―membros de Poder satildeo pessoas que natildeo titularizam

cargo em comissatildeo 301

e por isto natildeo haveria que se falar em nepotismo quanto a eles

E o nepotismo foi excepcionado quanto aos cargos de natureza eminentemente

poliacutetica citando-se que Bobby Kennedy irmatildeo do Presidente dos Estados Unidos John

F Kennedy compunha seu governo302

Por fim o segundo ponto a ser trazido agrave pauta da discussatildeo foi o ―nepotismo

cruzado explicado como troca de favores entre autoridades dos poderes que de forma

reciacuteproca nomeiam os seus parentes303

298 Resposta do Ministro Ayres Britto 299

BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1925 A preocupaccedilatildeo do

Relator quanto ao entendimento do Ministro Britto eacute quanto agrave aplicabilidade da tese na praacutetica especialmente dos

municiacutepios pequenos onde o perigo de ocorrerem estas nomeaccedilotildees eacute ainda maior 300

Ministra Carmem Luacutecia BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl

1925 301

―Tanto que natildeo contam esse prazo por exemplo para efeito de aposentadoria Eacute um regime juriacutedico realmente

diferenciado Mas tenho certeza de que eacute por essa via que se pode abrir uma cunha extremamente perigosa

BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1920 302 Ministro Gilmar Mendes ―Eacute tradiccedilatildeo mundial () e no proacuteprio plano nacional muitas vezes parentes ou irmatildeos

fazem carreiras paralelas e estabelecem um plano eventual de cooperaccedilatildeo ndash temos governadores e secretaacuterios de

Estado - sem que haja qualquer conotaccedilatildeo de nepotismo Parece-me que devemos entatildeo ter cuidado quanto agrave

fixaccedilatildeo () A vinculaccedilatildeo haacute de ser com o titular ou titulares do cargo de que se cuida na relaccedilatildeo com a

Administraccedilatildeo BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1939 Conforme

o entendimento de Joatildeo Joseacute Leal e Rodrigo Joseacute Leal esta compreensatildeo do Ministro sinaliza ―() uma contraditoacuteria

hermenecircutica da Corte de Justiccedila sobre a mateacuteria que procurou justificar a legitimidade dessa infeliz hipoacutetese de

exceccedilatildeo agrave regra com o exemplo dos irmatildeos Kennedy E assim concluem que ―Parece que ainda natildeo superamos a

velha e discutiacutevel filosofia tupiniquim de que o que foi uma vez bom para os Estados Unidos eacute bom tambeacutem para o

Brasil Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top In Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008 p 23 Quanto a este argumento resta claro e inequiacutevoco

que desde o iniacutecio os Ministros assentaram o entendimento de que a vedaccedilatildeo ao nepotismo eacute aplicaacutevel agrave esfera

administrativa mas natildeo agrave poliacutetica ou seja apenas ao acircmbito da administraccedilatildeo e natildeo ao de governo mesmo sendo tal

praacutetica contraacuteria ao princiacutepio republicano e nesse esteio posteriormente editaram a SV13 aplicando a moralidade

restritivamente agrave nomeaccedilatildeo do cargo comissionado escusando assim o cargo puacuteblico e ensejando no caso do

nepotismo que ―quem pode o mais natildeo pode o menos 303 Apoacutes o voto do Ministro Cezar Peluso o Ministro Relator realizou ajustamento ao seu voto provendo em parte o

Recurso estando excluiacuteda a situaccedilatildeo do Secretaacuterio de Sauacutede como praacutetica de nepotismo Ibidem fl 1929 E ainda

64

Desta feita o nepotismo cruzado juntamente com o tema nepotismo

inaplicaacutevel ao cargo poliacutetico configuram os debates mais importantes observados neste

precedente a fundamentar a elaboraccedilatildeo da SV n13304

Expostos os precedentes da Suacutemula em questatildeo305

imprescindiacutevel passar agrave

apreciaccedilatildeo dos debates travados entre os Ministros quanto agrave ediccedilatildeo do verbete sumular e

sua respectiva redaccedilatildeo com o fito natildeo apenas de demonstrar que o STF reconstruiu a

noccedilatildeo de nepotismo como tambeacutem por que editou a SV n13

12 Os debates do Supremo Tribunal Federal sobre a SV n13

Nesse toacutepico satildeo enfocadas as argumentaccedilotildees expostas pelos Ministros nos

debates ocorridos em duas sessotildees plenaacuterias306

do STF em que o tema sobre a ediccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo da Suacutemula foi tratado a fim de compreender natildeo apenas a proacutepria elaboraccedilatildeo

da Suacutemula como tambeacutem o sentido e a interpretaccedilatildeo que foram dados pelos Ministros a

algumas palavras e expressotildees dispostas em seu corpo textual que causaram duacutevidas e

polecircmicas no meio juriacutedico tais como ―parente por afinidade ateacute terceiro grau

inclusive e ―pessoa juriacutedica tratadas na primeira e segunda sessatildeo respectivamente

O primeiro debate foi iniciado307

a partir da anaacutelise sobre o grau de parentesco

sob o argumento de que o limite do parentesco face agrave vedaccedilatildeo do nepotismo deveria ser

―ateacute o terceiro grau pois a redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo n 072005 do Conselho Nacional de

Justiccedila308

e da maioria das legislaccedilotildees estaduais veda a praacutetica do nepotismo ateacute o

ressaltou que existem outras possibilidades de nomeaccedilatildeo realizadas para agradar que natildeo configuram nepotismo

mesmo infringindo a moralidade como a nomeaccedilatildeo de parente de amigo da autoridade verbis ―() existe tambeacutem

a hipoacutetese em que se nomeia terceiro que natildeo tem parentesco com nenhum agente puacuteblico mas tem parentesco com

quem seja amigo do nomeante Isto eacute qualquer autoridade pode nomear algueacutem para o cargo em comissatildeo atendendo

a amigo e isso natildeo eacute alcanccedilado pela restriccedilatildeo do princiacutepio da impessoalidade Natildeo se sabe o que se passa na

subjetividade do nomeante se eacute para atender a este ou aquele fl 1928 Segundo os ensinamentos de Celso Mello

em seu voto neste RE ―Cabe preservar desse modo as relaccedilotildees que os conceitos de espaccedilo puacuteblico e espaccedilo privado

guardam entre si para que tais noccedilotildees natildeo se deformem nem provoquem a subversatildeo dos fins eacutetico-juriacutedicos visados

pelo legislador constituinte BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl

1936 Neste sentido que Antocircnio Arnaldo Dal Pozzo questiona o porquecirc de o ordenamento tratar de maneira tatildeo

diferente o parente e amigo iacutentimo ―() quando se trata de (livre) nomeaccedilatildeo para cargo em comissatildeo (isto eacute

permitindo a nomeaccedilatildeo do amigo iacutentimo e impedindo a do parente) Ainda mais quando se considera que no acircmbito

do Poder Executivo a questatildeo da amizade do sectarismo do partidarismo te influecircncia decisiva DAL POZZO

Antocircnio Arnaldo O nepotismo no Poder Executivo In Boletim de Direito Municipal ndash BDM Editora NDJ vol 24

n 8 ago 2008 p599 304

E voltam a ser discutidos tanto nos debates anteriores a elaboraccedilatildeo dela como posteriormente agrave sua ediccedilatildeo 305O que Antocircnio Maueacutes discorda porque segundo ele a Suacutemula editada pelo STF proveacutem de um uacutenico precedente

―Apesar de rigorosamente contar com um uacutenico precedente o STF decidiu usar a Resoluccedilatildeo nordm 7 do CNJ sobre o

nepotismo como base da redaccedilatildeo da suacutemula tendo em vista sua decisatildeo na ADC nordm 12 Suacutemula Vinculante e

Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais In Direitos Fundamentais e Justiccedila n 8 julset 2009 p 93 306 21ordf ordinaacuteria e 28ordf extraordinaacuteria ocorridas respectivamente no dia 20 e 21082008 A iacutentegra da ata da sessatildeo foi

publicada pelo STF no DJE nordm 2142008 fl 20-21 cuja divulgaccedilatildeo ocorreu na terccedila-feira 11112008 e a publicaccedilatildeo

na quarta-feira seguinte 12112008 Disponiacutevel em httpwwwstfjusbrportalautenticacaosob o nuacutemero 314372 307 Pelo Ministro Marco Aureacutelio 308 Que neste momento jaacute havia sido submetida agrave apreciaccedilatildeo do Tribunal por meio do julgamento da ADC n 12

como visto anteriormente um dos precedentes da Suacutemula in casu

65

terceiro grau de parentesco309

Contudo nesse primeiro momento os Ministros ainda natildeo haviam conectado a

limitaccedilatildeo de parentesco agrave ―afinidade ateacute o terceiro grau e entatildeo foi suscitada a

possibilidade de o ―parentesco abarcar os familiares consanguiacuteneos adotivos e afins310

ateacute o terceiro grau ficando dessa forma assentado tal entendimento sobre o terceiro

grau de parentesco por afinidade311

A essa altura a discussatildeo se voltou312

a um foco preliminar e imprescindiacutevel a

nortear o debate juriacutedico qual seja que a ―tese disposta pela Suacutemula Vinculante

deveria apenas positivar a proibiccedilatildeo do nepotismo como consequecircncia dos princiacutepios

dispostos no artigo 37 da Constituiccedilatildeo Federal mesmo porque poderia haver aleacutem da

Resoluccedilatildeo n 072005 do CNJ base da discussatildeo para a ediccedilatildeo da Suacutemula313

outras leis

ateacute mais rigorosas que a Resoluccedilatildeo e que nem por isso seriam inconstitucionais

Nesse esteio foi lembrado que o intuito daquele colegiado natildeo era definir a

questatildeo com grande precisatildeo mas elaborar uma orientaccedilatildeo sumular que diminuiacutesse as

demandas judiciais envolvendo nepotismo314

e que assim a Suacutemula poderia ser

previamente aprovada mas que a sua redaccedilatildeo diante das duacutevidas postas em plenaacuterio

deveria ser aprimorada o que necessitaria de um maior tempo especialmente pela

necessidade de compatibilizar o disposto na Suacutemula agrave legislaccedilatildeo jaacute existente315

Mas tal

sugestatildeo natildeo foi absorvida pelo colegiado pois restou acertado que diante da

309 Segundo o entatildeo Presidente do STF Ministro Gilmar Mendes e a Ministra Carmem Luacutecia Perceba-se a vedaccedilatildeo

jaacute existia nas diversas leis infraconstitucionais estaduais e nenhuma duacutevida ou controveacutersia quanto agrave grande maioria

delas tinha sido levada ao STF salvo a Emenda agrave Constituiccedilatildeo do Rio Grande do Sul objeto da ADI que constitui o

primeiro precedente da Suacutemula E observe-se que ateacute este momento os Ministros ainda natildeo haviam ―pensado na

limitaccedilatildeo do parentesco constante na Suacutemula ―por afinidade ateacute o terceiro grau 310 Posicionamento do Ministro Cezar Peluso ao interromper o Ministro Menezes Direito que ressaltava a

impossibilidade de a Suacutemula tecer minuacutecias 311 Os Ministros natildeo retornaram mais ao tema e apenas ao final do segundo dia de debate eacute que passaram pelo assunto

ao tratar do vocaacutebulo inclusivelsquo 312 Pelo Ministro Menezes Direito 313 ―Pode acontecer Ministro Gilmar e isso natildeo eacute impossiacutevel que haja uma lei por exemplo estadual que seja mais

rigorosa que a resoluccedilatildeo do Conselho e essa lei nem por isso seria inconstitucional Tenho a impressatildeo de que

estamos aprovando uma suacutemula que do ponto de vista constitucional eacute uma tese Qual eacute a tese do ponto de vista

constitucional Eacute dizer que o nepotismo estaacute dentro da cabeccedila do artigo 37 ou seja dentro do princiacutepio da

moralidade e que ele independe de lei formal ele decorre diretamente da Constituiccedilatildeo Entatildeo me parece que do

ponto de vista ateacute do conteuacutedo da suacutemula a expressatildeo ―nepotismo tem mais forccedila e noacutes escapamos dessa discussatildeo

que natildeo eacute pertinente a meu ver pelo menos agora de dizer parentesco ateacute que grau se aplica o Coacutedigo Civil se natildeo

aplica ―Pode acontecer Ministro Gilmar e isso natildeo eacute impossiacutevel que haja uma lei por exemplo estadual que seja

mais rigorosa que a resoluccedilatildeo do Conselho e essa lei nem por isso seria inconstitucional DJE nordm 2142008 Ata da

sessatildeo fl 20 314 Pelo Ministro Gilmar Mendes que concordou com o Ministro Menezes Direito ―E natildeo haacute necessidade de definir

com maior precisatildeo porque queremos que essa orientaccedilatildeo seja aplicada e que decirc tanto quanto possiacutevel ensejo a um

nuacutemero menor de reclamaccedilotildees DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 20 Segundo artigos lidos que seratildeo objeto de

apreciaccedilatildeo mais adiante a Suacutemula natildeo provocou tal diminuiccedilatildeo de demandas judiciais como pretendido pelo STF 315 ―Diante de tantos embargos e duacutevidas que surgem proponho que consideremos a proposta da suacutemula previamente

aprovada mas que nos dediquemos agrave sua redaccedilatildeo DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 20

66

―importacircncia da mateacuteria e da ―relevacircncia social e poliacutetica do tema316

a discussatildeo

―deveria ficar para o dia imediatamente posteriorsendo encerrada a sessatildeo317

Aberta a 28ordf sessatildeo extraordinaacuteria do plenaacuterio318

retornou-se ao assunto

referente agrave proposta de Suacutemula concernente ao ―parentesco no serviccedilo puacuteblico e

assim a proposta apresentada quanto agrave redaccedilatildeo sumular319

ao contraacuterio do sugerido

teceu minuacutecias e seguiu a redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo do CJN n 72005 que embasou natildeo soacute

a sua elaboraccedilatildeo como tambeacutem fundamentou seu texto expresso320

E isso que se extrai da comparaccedilatildeo da primeira proposta com a nova

redaccedilatildeo321

vez que enquanto a anterior dispunha que

A proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta em

qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

Municiacutepios independe de lei decorrendo diretamente dos princiacutepios contidos

no artigo 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal

A sugerida foi

A nomeaccedilatildeo de cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou

por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive da autoridade nomeante ou de

servidor do mesmo oacutergatildeo investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo ou de confianccedila ou

ainda de funccedilatildeo gratificada na administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta em

qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

Municiacutepios compreendendo ajuste mediante designaccedilotildees reciacuteprocas viola o

art 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal

Todavia a redaccedilatildeo final foi diversa dessa uacuteltima e ainda divergiu da proacutepria

Resoluccedilatildeo apresentando uma versatildeo mais complexa e polecircmica

A nomeaccedilatildeo de cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou

por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive da autoridade nomeante ou de

servidor da mesma pessoa juriacutedica investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo ou de confianccedila ou

ainda de funccedilatildeo gratificada na administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta em

qualquer dos poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

Municiacutepios compreendido o ajuste mediante designaccedilotildees reciacuteprocas viola a

316 O Ministro Ricardo Levandowski foi o primeiro a discordar da necessidade do ―maior tempo DJE nordm 2142008

Ata da sessatildeo fl 20 317 Todos assentiram quanto a isso mas a Ministra Carmem Luacutecia ao concordar como por milagre lembrou que a

Lei Federal nordm 811290 vedava o nepotismo jaacute que ateacute o momento nenhum dos Ministros havia feito menccedilatildeo agrave

normativa em questatildeo que cuja abrangecircncia da proibiccedilatildeo eacute bem mais restrita que a SV n13 em todos os sentidos

Nesse enredo o Ministro Menezes Direito ressalvou que embora a proibiccedilatildeo do nepotismo emane ―diretamente da

Constituiccedilatildeo isto ―natildeo invalida a possibilidade de legislaccedilatildeo especiacutefica sobre o tema Ministro Gilmar Mendes ()

E vamos tambeacutem tentar resolver a questatildeo () concernente agrave compatibilizaccedilatildeo dessa regra comum a eventual

disciplina constante de lei estadual ou municipal () A partir de hoje trabalharemos no texto definitivo desta suacutemula

se for assim entendido DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl21 318 A iacutentegra da ata da sessatildeo foi publicada pelo STF no DJE nordm 2142008 fl 21- 24 cuja divulgaccedilatildeo ocorreu na

terccedila-feira 11112008 e a publicaccedilatildeo na quarta-feira seguinte 12112008 Disponiacutevel em

httpwwwstfjusbrportalautenticacaosob o nuacutemero 314372 319 Expressatildeo do Ministro Ricardo Lewandowski DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 21 320 Por isto eacute que a ADC n 12 eacute o principal precedente da Suacutemula Vinculante ou ao menos a mais relevante em sua

construccedilatildeo 321 Ambas do proacuteprio Ministro Ricardo Lewandowski

67

Constituiccedilatildeo Federal (grifos nossos)

Dessa feita a expressatildeo ―mesmo oacutergatildeo foi substituiacuteda por ―mesma pessoa

juriacutedica e a referecircncia ao ―art 37 caput foi suprimida da redaccedilatildeo ensejando ambas

as alteraccedilotildees discussotildees tanto quanto agrave amplitude que a pessoa juriacutedica abarca322

como

quanto agrave extraccedilatildeo da referecircncia ao artigo caput do artigo 37 uacutenico ponto incontroverso

da redaccedilatildeo da SV n13 vez que em todos os jugados de seus precedentes foi assentada

que a proibiccedilatildeo do nepotismo decorre dos princiacutepios constitucionais expressos em tal

artigo

A discussatildeo iniciada pela proposta de inclusatildeo da ADI n 1521 como

precedente da Suacutemula323

e tambeacutem do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal como referecircncia

da SV n13324

se volta agrave expressatildeo ―no mesmo oacutergatildeo325

sob a alegaccedilatildeo de que tal

expressatildeo poderia ensejar uma interpretaccedilatildeo equivocada de que a vedaccedilatildeo natildeo

alcanccedilaria as entidades da administraccedilatildeo indireta mas tatildeo somente os oacutergatildeos da

administraccedilatildeo direta fazendo parecer que o nepotismo estaria proibido apenas nesta e

natildeo naquela o que levou a se optar por ―mesma pessoa juriacutedica em substituiccedilatildeo a

―mesmo oacutergatildeo para que a vedaccedilatildeo ficasse mais ampla326

Entendimento esse que se fundamentou no fato de ser necessaacuterio vedar o

nepotismo em toda a sua extensatildeo e ser imprescindiacutevel limitar o poder de nomeaccedilatildeo do

titular do Poder Executivo que diretamente ou por delegaccedilatildeo eacute a autoridade que

―nomeia tudo327

E ainda interpretaram ―mesma pessoa juriacutedica como ―Poder e natildeo

322 Estando por exemplo vedado o nepotismo na Uniatildeo 323 Ministro Marco Aureacutelio 324 O assunto foi posteriormente retomado pelo Ministro Ricardo Levandowski acompanhando a sugestatildeo do

Ministro Marco Aureacutelio opinando que fosse subtraiacuteda a menccedilatildeo ao artigo 37 e ficou acertado entre tais Ministros e

os Ministros Cezar Peluso e Gilmar Mendes que a redaccedilatildeo ficaria ―viola a Constituiccedilatildeo Federal e que o art 37 seria

posto como referecircncia Ainda discutiram onde a expressatildeo deveria estar posta no corpo do texto mas permaneceu na

forma da proposta inicial no final do verbete sumular DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fls 22-24 325 Eacute a mesma disposta na Resoluccedilatildeo n 0705 do CNJ ―EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA CAacuteRMEN

LUacuteCIA ndash mesmo oacutergatildeolsquo () a administraccedilatildeo puacuteblica eacute um conjunto de oacutergatildeos Por exemplo natildeo se nomeia para este

oacutergatildeo mas se nomeia para outro oacutergatildeo onde natildeo haacute a pessoa e aiacute natildeo eacute nem uma contrataccedilatildeo cruzada Aiacute eacute apenas a

relaccedilatildeo hieraacuterquica de chefia e natildeo eacute isso O nepotismo proiacutebe que se utilize a questatildeo pessoal para nomeaccedilotildees e aiacute

natildeo eacute o oacutergatildeo EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO ndash Sim Vossa Excelecircncia estaacute

propondo substituir oacutergatildeolsquo por que palavra EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA CAacuteRMEN LUacuteCIA ndash

Estou apenas questionando exatamente o significado disso aqui Porque em uma administraccedilatildeo puacuteblica inclusive

direta e indireta pode-se se entender que ―estaacute vedado na administraccedilatildeo direta e para outra entidade da indireta

nomear DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl22 326 Expressatildeo do Ministro Cezar Peluso ― servidor da mesma pessoa juriacutedica ―Fica mais amplo DJE nordm

2142008 Ata da sessatildeo fl22 327 Pelo Presidente Gilmar Mendes e pela Ministra Carmem Luacutecia ao debaterem sobre o tema Expressatildeo da

Ministra Ibidem fl 22 EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (PRESIDENTE) ndash A

minha observaccedilatildeo seria em relaccedilatildeo agrave autoridade nomeante Porque hoje noacutes temos um regime tal em que pelo menos

o Chefe do Poder Executivo EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA CAacuteRMEN LUacuteCIA - Nomeia tudo ()

EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA CAacuteRMEN LUacuteCIA ndash Ele pode delegar mas de toda sorte aiacute natildeo se

tem essa vinculaccedilatildeo e portanto estaria excluiacutedo disso daqui Natildeo eacute a preocupaccedilatildeo de Vossa Excelecircncia() fl22 A

partir daiacute constata-se que a intenccedilatildeo dos Ministros era vedar as nomeaccedilotildees dentro de um mesmo Poder e

68

como Ente Federado que deteacutem personalidade juriacutedica de direito puacuteblico328

Entretanto tal questatildeo levou agrave defesa da utilizaccedilatildeo de ―oacutergatildeo em substituiccedilatildeo

agrave ―pessoa juriacutedica mas natildeo convenceu329

Igualmente em meio agrave questatildeo exposta foi lembrado que a expressatildeo utilizada

natildeo abarcaria ―todas as hipoacuteteses da realidade faacutetica e que haveria a necessidade de se

analisar cada caso concreto especificamente330

A outra expressatildeo - disposta na minuta da SV n13 - debatida pelos Ministros

foi ―parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute terceiro grau inclusive

Contudo trataram apenas do sentido da palavra ―inclusive que permaneceu a indicar

que estaacute vedada a nomeaccedilatildeo de parente ateacute o 3ordm grau de servidor ocupante de cargo em

comissatildeo ou autoridade nomeante na mesma pessoa juriacutedica em que estivessem

lotados331

Dessa forma os Ministros deixaram impliacutecito que aiacute se incluiacutea o parentesco

especialmente do Poder Executivo ―EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES

(PRESIDENTE) ndash Mas acho que a ideia eacute abranger na verdade a pessoa juriacutedica Porque se houver intervalos nas

relaccedilotildees por exemplo entre o prefeito ele natildeo pode nomear nem - parece que isso decorre do espiacuterito - no seu

gabinete nem na secretaria de fazenda Entatildeo tem a vantagem EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA

CAacuteRMEN LUacuteCIA ndash Exatamente Satildeo dois oacutergatildeos diferentes EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CARLOS

BRITTO - Tem essa vantagem eacute mais amplo EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES

(PRESIDENTE) ndash Eacute esse o espiacuterito parece-me natildeo eacute DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 22 328 No lastro do disposto pela Ministra Carmem Luacutecia que objetivava aprimorar a expressatildeo mas conseguiu pioraacute-la

questiona-se se natildeo seria mais adequado jaacute que optaram por uma redaccedilatildeo com tantas especificaccedilotildees escolher por ―no

mesmo oacutergatildeo ou mesma entidade pois abarcaria a vedaccedilatildeo do nepotismo dentro do mesmo oacutergatildeo da administraccedilatildeo

direta e da mesma entidade da indireta e ateacute mais coerente pois a Ministra Carmem Luacutecia havia dito ao suscitar o

debate ―que visava evitar que se interpretasse que a vedaccedilatildeo seria apenas para os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Direta A

Suacutemula na forma que estaacute veda aquilo que eacute nepotismo e tambeacutem o que natildeo eacute como a nomeaccedilatildeo de um parente do

servidor puacuteblico ou da autoridade em oacutergatildeo ou entidade diversa e cuja autoridade nomeante eacute do outro oacutergatildeo ou

entidade No caso do chefe do Poder Executivo nomear seria soacute observar se ele ou algueacutem a quem ele delegou a

competecircncia (competecircncia esta que pode ser avocada) infringiu a vedaccedilatildeo nomeando um dos seus parentes para

ocupar cargo no poder executivo do qual eacute titular ou se houve nepotismo cruzado com o poder legislativo ou

judiciaacuterio 329 EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO ndash Parece-me que aqui o Ministro Lewandowski

levou em conta a redaccedilatildeo do Estatuto do Regime Juriacutedico Uacutenico Estatuto dos Servidores Puacuteblicos Civis da Uniatildeo ao

dizer ― do mesmo oacutergatildeo investido em cargo de direccedilatildeo EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO RICARDO

LEWANDOWSKI ndash Exatamente EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO ndash Ainda acho que

oacutergatildeolsquo fica melhor do que pessoa juriacutedicalsquo A EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA CAacuteRMEN LUacuteCIA ndash

Mas oacutergatildeolsquo fica soacute aquele oacutergatildeolsquo () EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO ndash A pessoa

juriacutedica da Uniatildeo Compreende toda a Justiccedila Eleitoral do Brasil em todos os Estados aqui no TSE Acho que

oacutergatildeolsquo estaacute mais de acordo com esse imediatismo de viacutenculo entre o nomeante e o nomeado Idem fl 23 E apoacutes

ouvir a Ministra Carmem Luacutecia e o Ministro Gilmar Mendes o Ministro Ayres Britto entendeu que os Ministros

visavam dar uma interpretaccedilatildeo mais ampla agrave expressatildeo ―pessoa juriacutedica ―EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR

MINISTRO CARLOS BRITTO ndash Ou seja a proibiccedilatildeo se faz mais riacutegida EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA

MINISTRA CAacuteRMEN LUacuteCIA ndash Nem na secretaria da sauacutede nem na secretaria da administraccedilatildeo Satildeo dois oacutergatildeos

diferentes EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO ndash Se o espiacuterito eacute esse estaacute melhor A

proibiccedilatildeo se faz mais riacutegida e eacute muito mais difiacutecil de fraude de contorno Estaacute melhor assim pessoa juriacutedicalsquo DJE

nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 23 330 Expressatildeo do Ministro Ricardo Lewandowski DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 22 Argumentaccedilatildeo essa que

contraria uma das finalidades da Suacutemula uniformizar uma soluccedilatildeo agraves diversas controveacutersias juriacutedicas E o que houve

na realidade eacute que a Suacutemula impactou mas natildeo extirpou de vez o nepotismo Tanto que continuam a existir situaccedilotildees

esdruacutexulas apoacutes a ediccedilatildeo da Suacutemula que resultou na necessidade de se editar um Decreto Presidencial a fim de

delimitar o seu alcance da Suacutemula como se veraacute tambeacutem pelo exposto nos proacuteximos toacutepicos 331 Ibidem fl 23 E assim concluem o debate elencando os precedentes da Suacutemula seu nuacutemero e redaccedilatildeo ao passo

que por fim o entatildeo Excelentiacutessimo Presidente do STF Ministro Gilmar Mendes apoacutes a manifestaccedilatildeo

69

por afinidade em terceiro grau

Lastreado nos precedentes e debates em questatildeo o STF editou a SV n13

construindo a partir dela a noccedilatildeo judicial de nepotismo e de sua vedaccedilatildeo

13 Asserccedilotildees sobre a elaboraccedilatildeo da SV n13 e a construccedilatildeo normativa da vedaccedilatildeo

do nepotismo pelo STF

Nesse toacutepico busca-se sintetizar os argumentos mais importantes em cada um

dos precedentes da Suacutemula e assim dentre eles observar qual eacute o fundamental e ainda

se os debates travados pelos Ministros nas sessotildees plenaacuterias retornaram a todos os

elementos tratados nos precedentes quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo ou natildeo com o fim

de demonstrar sob qual fundamentaccedilatildeo o STF editou a SV em questatildeo e como

elaborou judicialmente a construccedilatildeo da vedaccedilatildeo do nepotismo

A ADI n 1521-4RS primeiro precedente da SV n13 foi julgada

improcedente pelo STF sob o uacutenico argumento unacircnime332

de que a vedaccedilatildeo do

nepotismo decorre da observacircncia aos princiacutepios constitucionais do caput do seu art

37333

e apenas por esse argumento eacute que se observa a similaridade entre este precedente

e os demais que a lastreiam

Mas mesmo assim pode-se questionar a redaccedilatildeo da SV n13 guarda

correspondecircncia com a redaccedilatildeo da Emenda Constitucional objeto da ADI A redaccedilatildeo

da SV n13 foi lastrada na extensatildeo da proibiccedilatildeo do nepotismo disposta neste primeiro

precedente foi seguida

A resposta eacute negativa jaacute que a extensatildeo da proibiccedilatildeo expressa pela Emenda

natildeo eacute a mesma dada pela Suacutemula Vinculante sendo aquela bem mais limitada que a

obstada por esta tanto quanto ao grau de parentesco (uma vez que a Emenda se limita

ao 2ordm grau e a Suacutemula amplia a coibiccedilatildeo ao 3ordm grau) como quanto agrave disposiccedilatildeo daquele

argumentativa de cada um dos Ministros do STF quanto agrave aprovaccedilatildeo da redaccedilatildeo a ser dada ao verbete vinculante e ao

pronunciamento favoraacutevel manifesto pelo entatildeo Vice Procurador Geral da Repuacuteblica Roberto Monteiro Gurgel

Santos aprovou a Suacutemula Ibidem fl 23-24 332 Utilizado por todos os Ministros ao repudiarem a praacutetica do nepotismo e reconhecerem a constitucionalidade da

Emenda Constitucional do Rio Grande do Sul que veda o nepotismo 333 Tanto que embora tenha havido divergecircncia dos Ministros quanto agrave ―exclusatildeo dos servidores efetivos do alcance

da norma restritiva e sobre a extensatildeo da limitaccedilatildeo a apenas o oacutergatildeo em que atuasse a autoridade nomeante ou todo o

Poder assentaram seus votos pela constitucionalidade da Emenda Constitucional embasados nos princiacutepios

constitucionais do caput do seu art 37 MODESTO Paulo Nepotismo em Cargos Poliacutetico administrativos Revista

Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP Belo Horizonte Ed Forum ano 11 n 41 abrjun 2013 p28 Ainda

segundo o autor meacuterito do STF nessa decisatildeo foi ―acentuar que os princiacutepios republicanos da isonomia da

moralidade no trato com a coisa puacuteblica da impessoalidade da administraccedilatildeo da eficiecircncia administrativa

constituiacuteam fundamento direto para o estabelecimento de restriccedilotildees agrave livre nomeaccedilatildeo de parentes a cargos de

comissatildeo em todos os Poderes autorizando ainda o tratamento uniforme Ibidem p28

70

que enseja o nepotismo (pois a Emenda delimita a autoridade e a Suacutemula acresce o

servidor ocupante de cargo comissionado) e ao campolsquo que a proibiccedilatildeo ao nepotismo eacute

aplicaacutevel (enquanto a Emenda dispotildee sobre mesmo oacutergatildeolsquo a Suacutemula prevecirc mesma

pessoa juriacutedicalsquo) embora tenham como similaridade redacional abarcarem os servidores

efetivos334

Entatildeo em que medida este julgado eacute precedente da SV n13335

Tambeacutem o segundo precedente da SV n13 o MS n 23780-5MA teve como

seu uacutenico fundamento linear a vedaccedilatildeo do nepotismo embasada pelos princiacutepios do

artigo 37 da Constituiccedilatildeo Federal especialmente o da moralidade336

Contudo haacute de se perquirir se o STF assentou na redaccedilatildeo da SV n13 os

elementos sobre o nepotismo da mesma forma que analisada no MS

A resposta tambeacutem eacute contraacuteria pois a noccedilatildeo de nepotismo expressa na decisatildeo

do TCU objeto do MS 2ordm eacute diversa da disposta na SV n13 a uma porque enquanto a

decisatildeo do TCU vincula a praacutetica do nepotismo agrave autoridade nomeante a Suacutemula aleacutem

de realizar essa vinculaccedilatildeo a estende ao servidor ocupante de cargo comissionado a

duas porque enquanto a decisatildeo do TCU exclui os servidores efetivos da vedaccedilatildeo a

Suacutemula os inclui na sua regra geral coibitiva e a trecircs porque enquanto a decisatildeo do

TCU veda o nepotismo aos servidores efetivos apenas quando subordinados diretamente

ao seu parente a Suacutemula eacute mais abrangente veda tudo337

E esse julgado pode ser considerado como precedente da Suacutemula mesmo que o

objeto do julgado trate dos elementos de nepotismo de forma diversa338

da explicitada

pela SV n13339

Esses dois julgados possuem como pontos em comum a uma a tratativa do

parentesco de segundo grau340

a duas o fato de o nepotismo ser vinculado agrave autoridade

que nomeia parente a ocupar cargo comissionado341

e ainda a trecircs o fato de que em

334 Contudo tambeacutem existem criacuteticas quanto a este elemento da SV n13 335 Que seraacute respondido mais adiante quando se observaraacute um dos requisitos da elaboraccedilatildeo de uma Suacutemula

Vinculante a dita ―jurisprudecircncia reiterada 336Nas palavras de Paulo Modesto nesse julgado ―muito pouco se tratou do proacuteprio tema nepotismo mas mesmo

assim ―foi o MS n 23780 como a ADI n 1521 considerado um dos precedentes imediatos da Suacutemula Vinculante

n 13 Op cit p 29 337 Natildeo delimitando o nepotismo agrave subordinaccedilatildeo do parente agrave autoridade ou servidor comissionado 338 Assemelha-se agrave disposiccedilatildeo da Lei n 811290 que determina em seu art 117 VIII a proibiccedilatildeo da praacutetica do

nepotismo pelos servidores puacuteblicos civis federais conduta esta que eacute tipificada quando estes tecircm sob sua chefia

imediata cocircnjuge companheiro e parentes de ateacute segundo grau 339 Eacute o que se veraacute mais adiante 340 Vedado pela EC n 12RS e tratado no MS embora a decisatildeo do TCU que ensejou o MS alcance parentes ateacute o

terceiro grau 341 Mesmo que o acircmbito de atuaccedilatildeo das autoridades nos julgados seja diferente sendo seu domiacutenio vedado em maior

amplitude pela EC n 12RS do que pela decisatildeo do TCU o que se constata facilmente eacute que ambos os julgados ao

71

ambos os casos o STF natildeo estabeleceu criteacuterios sobre o nepotismo mas somente julgou

a ―adequaccedilatildeo da legislaccedilatildeo agrave Constituiccedilatildeo reconhecendo a liberdade do legislador para

dispor sobre a mateacuteria342

No mais os precedentes se diferem uma vez que enquanto no primeiro a

proibiccedilatildeo abarcou os servidores efetivos no segundo natildeo aleacutem disso enquanto o

nepotismo foi limitado ao ―mesmo oacutergatildeo no primeiro precedente no segundo foi ―ao

gabinete da autoridade 343

Diante disso haacute de se questionar mesmo assim os julgados ensejam

jurisprudecircncia reiterada sobre a mateacuteria apenas porque os dois tratam de nepotismo e

em ambos foi assentado o repuacutedio agrave praacutetica do nepotismo com base nas diretrizes

principioloacutegicas do caput do artigo 37 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica344

Do terceiro precedente da Suacutemula a ADC n 126 ndash DF que parece ser o mais

relevante deles345

observa-se que o nepotismo foi repudiado novamente pelo mesmo

embasamento constitucional disposto nos outros dois precedentes pelos princiacutepios

dispostos no caput do artigo 37 da Constituiccedilatildeo Federal346

Nesse enredo o que se constata eacute que restou assentado pelo julgamento dos

trecircs precedentes que a proibiccedilatildeo do nepotismo decorre dos princiacutepios constitucionais

contraacuterio da Suacutemula se limitam a dispor sobre o nepotismo vinculado agrave autoridade e os Ministros proferem os seus

respectivos votos em ambos as decisotildees colegiadas neste esteio 342 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais In Direitos Fundamentais

e Justiccedila n 8 julset 2009 p 93 343 O que demonstra que a noccedilatildeo de nepotismo em ambos os precedentes eacute diversa quanto a quem sofre a vedaccedilatildeo e

ao acircmbito fiacutesico desta vedaccedilatildeo Pontos esse que satildeo elementos conceituais que fazem parte da noccedilatildeo de nepotismo e

por isso mesmo fazem a diferenccedila quanto agrave proacutepria 344 Eacute isto que se responderaacute apoacutes analisar o quesito ―jurisprudecircncia reiterada referente agrave ediccedilatildeo de Suacutemula

Vinculante 345 Pela primeira vez o STF se pronunciou quanto ao viacutenculo de parentela especificamente quanto ao nepotismo

sendo este um dos pontos primordiais deste precedente Contudo o entendimento do STF se mostrou de forma diacutespar

agrave expressa no Coacutedigo Civil vez que diferentemente deste a fim de obstar atos personalistas enfatizar a absoluta

separaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado e moralizar a Administraccedilatildeo Puacuteblica estendeu o parentesco por afinidade ao

terceiro grau ―() entendeu-se que a definiccedilatildeo de parentesco consignada pelo Coacutedigo Civil natildeo eacute determinante para a

exata compreensatildeo da mateacuteria tendo em vista que natildeo haacute norma constitucional tratando de definir o alcance de

parentesco bem como que a vedaccedilatildeo do nepotismo tem de ter em vista o alcance mesmo das relaccedilotildees familiares

―() Assim afasta-se por completo a limitada definiccedilatildeo de parentesco presente no Coacutedigo Civil quando se estaacute em

jogo a proteccedilatildeo maacutexima a ser conferida pelo princiacutepio da impessoalidade OLIVEIRA George Feliacutecio Gomes de

Da anaacutelise da Suacutemula Vinculante 13 do Supremo Tribunal Federal Alcance Precedentes e Motivos Determinantes

da Norma que Veda a Praacutetica do Nepotismo no Brasil In Revista dos Tribunais - RT v 98 n 890 p 9-32 dez

2009 p 24-25 346Vez que os Ministros assentaram que a vedaccedilatildeo do nepotismo decorre da autoaplicaccedilatildeo dos princiacutepios da

Administraccedilatildeo independentemente de lei infraconstitucional e assim que eacute desnecessaacuteria lei formal a regulamentar a

vedaccedilatildeo do nepotismo Compreensatildeo esta clara e notoacuteria no julgado da liminar ADC uma vez que quase a

unanimidade dos Ministros (salvo o Ministro Marco Aureacutelio) acompanharam o pronunciamento do voto no Ministro

Relator no qual deixou claro a prescindibilidade de lei formal a regulamentar a proibiccedilatildeo da praacutetica do nepotismo

72

que regem a Administraccedilatildeo Puacuteblica347

Igualmente colhe-se que se aplica no acircmbito do mesmo oacutergatildeo348

e ainda tanto

no julgado do segundo como do terceiro precedente que eacute prescindiacutevel lei formal a

regulamentar a vedaccedilatildeo do nepotismo

Do entendimento assentado quanto agrave normativa objeto do segundo precedente

(MS) bem como da literalidade da normativa objeto do terceiro precedente (ADC) os

servidores efetivos que fossem nomeados para ocupar cargo comissionado ou

designados em comissatildeo de confianccedila soacute estariam em situaccedilatildeo de nepotismo se fossem

diretamente subordinados ao seu parente nomeante

Entatildeo o que se extrai do disposto pelo STF eacute que a uma a vedaccedilatildeo decorre

dos princiacutepios do artigo 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal e a duas que eacute delimitada ao

―mesmo oacutergatildeo

Mas a noccedilatildeo uniforme de nepotismo eacute apenas esta jaacute que por outro lado satildeo

vaacuterias as diferenccedilas encontradas nos precedentes quanto agrave delimitaccedilatildeo da noccedilatildeo de

nepotismo pois enquanto na ADI e no MS o nepotismo eacute vinculado agrave autoridade na

ADC verifica-se que tambeacutem vincula o servidor ocupante de cargo comissionado ainda

enquanto na ADI tem-se a delimitaccedilatildeo no oacutergatildeo em que a autoridade eacute lotada no MS e

na ADC a limitaccedilatildeo eacute esta mas atrelada ao requisito subordinaccedilatildeo do parente agrave

autoridade aleacutem disso enquanto na ADI o servidor efetivo natildeo eacute excluiacutedo da incidecircncia

da norma geral proibitiva no MS e na ADC sua inclusatildeo agrave proibiccedilatildeo normativa eacute

condicionada agrave sua subordinaccedilatildeo direta ao nomeante

Assim diante desses trecircs precedentes observa-se que o STF ainda natildeo havia

construiacutedo judicialmente a vedaccedilatildeo do nepotismo vez que natildeo havia entendimento

linear quanto a todos os seus elementos

E o que se pode observar eacute que a SV n13 aleacutem de ser diacutespar deles tambeacutem

natildeo segue a base redacional da Resoluccedilatildeo do CNJ objeto da ADC vez que ao comparaacute-

las constata-se que a SV ampliou a extensatildeo do nepotismo construindo nova normativa

347 ―() ao dizer que os princiacutepios constitucionais da moralidade da impessoalidade da igualdade e da eficiecircncia satildeo

autoaplicaacuteveis e portanto dotados da necessaacuteria carga de taxatividade e de positividade para vedar a praacutetica do

nepotismo Assim o Tribunal deu ―ao direito consagrado no espaccedilo normativo dos referidos princiacutepios o seu

sentido de certeza juriacutedica e o seu acircmbito de incidecircncia aos casos concretos da vida poliacutetica e social LEAL Joatildeo

Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top In Revista Magister de Direito Penal e

Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008 p19 348 Uma vez que os Ministros julgaram pela legalidade da decisatildeo do TCU de vedaacute-lo no acircmbito da Justiccedila do

Trabalho (objeto do MS) bem como pela legitimidade da Resoluccedilatildeo do CNJ em coibi-lo em todo o Judiciaacuterio (objeto

da ADC)

73

sobre sua vedaccedilatildeo especialmente em trecircs pontos alterou o domiacutenio ―mesmo oacutergatildeo

para ―mesma pessoa juriacutedica modificou a expressatildeo ―exerciacutecio do cargo - disposta na

Resoluccedilatildeo - para ―nomeaccedilatildeo e ainda natildeo excluiu os servidores efetivos de sua

incidecircncia como fez a Resoluccedilatildeo haja vista que sua redaccedilatildeo o servidor efetivo natildeo

pode ser nomeado a ocupar cargo comissionado e nem ser designado em funccedilatildeo de

confianccedila na mesma pessoa juriacutedica que seu parente for autoridade ou servidor ocupante

de cargo comissionado349

Dessa maneira a SV 13 expandiu o nepotismo inclusive aleacutem do disposto na

Resoluccedilatildeo do CNJ sendo mais rigorosa que esta devido agrave sua extensatildeo350

Mesmo tendo o STF inovado quanto agrave noccedilatildeo de vedaccedilatildeo do nepotismo disposta

na Resoluccedilatildeo este julgado eacute precedente da SV n13 Sim pois a Resoluccedilatildeo do CNJ

objeto de tal precedente foi a base redacional daquela

Mas esse precedente tem o mesmo fundamento que os demais Apenas quanto

ao fato de que a vedaccedilatildeo do nepotismo decorre dos princiacutepios do artigo 37 da CF

E configura juntamente aos demais jurisprudecircncia reiterada para embasar a

ediccedilatildeo de Suacutemula Vinculante 351

O quarto precedente da SV n13 o RE n 579951RN corrobora que a vedaccedilatildeo

do nepotismo decorre dos princiacutepios do caput do artigo constitucional352

e ainda se

nota pela primeira vez a exposiccedilatildeo quanto agrave vedaccedilatildeo ao nepotismo cruzado353

e agrave

distinccedilatildeo entre aos cargos comissionados e cargos poliacuteticos354

pois de acordo com a

inteligecircncia do Tribunal o nepotismo abarca tatildeo somente os parentes nomeados em

349 Dessa forma a SV n13 vedou expressamente natildeo soacute a nomeaccedilatildeo do servidor para cargo comissionado como

tambeacutem para exercer funccedilatildeo de confianccedila diga-se de passagem exclusivamente exercida pelo efetivo nos termos do

inciso V do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal 350 Do que se poderia retirar que a vedaccedilatildeo do nepotismo para aquele que realiza atos administrativos ou legislativos eacute

mais severa do que para quem julga 351 Essa resposta viraacute mais adiante 352

Sendo esse o uacutenico fundamento que esteou todos os votos de cada um dos Ministros nos quatro precedentes 353Pela primeira vez o STF reconheceu a ilegalidade do nepotismo cruzado como ―a situaccedilatildeo em que duas

autoridades tentam burlar a suacutemula por meio da nomeaccedilatildeo de seus parentes de forma reciacuteproca p 113 354 Segundo Luis Manoel Fonseca Pires ―Eacute em razatildeo da relaccedilatildeo de confianccedila que os encargos de direccedilatildeo chefia e

assessoramento reclamam que optou o legislador portanto por admitir a possibilidade de que para estas tarefas

houvesse o livre acesso o que assim se evitaria que em funccedilotildees que exigem confianccedila fossem exercidas por pessoas

absolutamente desconhecidas dos seus respectivos superiores hieraacuterquicos E ainda completa () natildeo satildeo os cargos

em comissatildeo em si o objeto de suposta imoralidade administrativa mas sim o fato de eventualmente serem

preenchidos com a nomeaccedilatildeo de parentes()Controle Judicial do Nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante

do Supremo Tribunal Federal In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Belo Horizonte Foacuterum p 235-

252 2008 p 237-238 Neste ensejo os Ministros entenderam que se por um lado a contrataccedilatildeo do irmatildeo de vice-

prefeito como motorista da prefeitura configurava nepotismo e que por isto ele deveria ser exonerado por outro a

contrataccedilatildeo do irmatildeo do vereador para o cargo de Secretaacuterio Municipal natildeo configurava nepotismo por ser o cargo

poliacutetico e portanto o seu ocupante agente poliacutetico

74

cargos comissionados e natildeo aqueles que forem designados agentes poliacuteticos355

Diante disto vale estabelecer tambeacutem quanto ao Recurso Extraordinaacuterio suas

diferenccedilas e semelhanccedilas comparativamente aos demais precedentes e agrave SV n13 a fim

de analisar em que precede a esta

A similaridade observada entre os quatro julgados eacute o repuacutedio ao nepotismo

embasado nos princiacutepios constitucionais do artigo 37 (moralidade impessoalidade e

eficiecircncia) jaacute da comparaccedilatildeo do RE com o MS e a ADC tem-se o assentamento da

prescindibilidade de lei formal para coibir a praacutetica do nepotismo356

Jaacute as diferenccedilas apontadas satildeo o RE mesmo tendo uma noccedilatildeo de nepotismo

semelhante agrave do primeiro e segundo precedentes (ADI e MS ndash parente de segundo grau

de autoridade) eacute diversa agrave do terceiro (ADC ndash parente de autoridade ateacute terceiro grau) e

foi o primeiro e uacutenico a trazer agrave baila dois pontos que natildeo haviam sido cogitados

anteriormente a inaplicabilidade da vedaccedilatildeo do nepotismo agraves nomeaccedilotildees de parentes de

autoridades em cargos poliacuteticos e a explicaccedilatildeo sobre o nepotismo cruzadolsquo que

depende de comprovaccedilatildeo do acordo que enseja as designaccedilotildees reciacuteprocas

Mas em que medida esse julgado subsidiou a redaccedilatildeo da SV n13 Na medida

em que sua redaccedilatildeo natildeo abrangeu os cargos poliacuteticos e expressamente proibiu o

nepotismo cruzado

Qual eacute o fundamento uniforme desse quanto aos demais precedentes O

entendimento de que o nepotismo infringe os princiacutepios do caput do art 37 da CF

Ele forma juntamente com os demais julgados o quesito ―jurisprudecircncia

reiterada para a ediccedilatildeo da SV n13 357

355 Ministros de Estado Secretaacuterios Estaduais Distritais e Municipais De acordo com Luis Armando Saboya Amora

―natildeo sofrem essa vedaccedilatildeo uma vez que a Constituiccedilatildeo Federal garante ao Presidente da Repuacuteblica chefe do Poder

Executivo Federal o auxiacutelio de seus ministros para que o exerciacutecio de suas funccedilotildees se decirc de forma mais eficaz O

Nepotismo o Recurso Extraordinaacuterio 579951RJ e a Suacutemula Vinculante n13 do Supremo Tribunal Federal In O

Supremo Tribunal Federal e os casos difiacuteceis MARIANO Cynara Monteiro e LIMA Martonio Montlsquoalverne

Barreto Florianoacutepolis Grupo conceitop 293-306 2012 p 299 O que significa dizer que ―na esfera da

administraccedilatildeo municipal o prefeito poderia nomear filhos irmatildeos cocircnjuges ou sobrinhos para exercer o cargo de

secretaacuterio municipal LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute LEAL Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo

Top In Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008 Op cit p 22 Ambos

itens de extrema relevacircncia vez que satildeo elementos da Suacutemula Vinculante em questatildeo que as nomeaccedilotildees dos

parentes (de autoridades) que atuam como agentes poliacuteticos355 estatildeo excluiacutedas de seu alcance e que tambeacutem eacute

proibido o nepotismo cruzado 356 ― ou seja os princiacutepios vinculam estabelecendo condutas a ser seguidas Natildeo se pode deixar de observaacute-los sob

o argumento de que os mesmos natildeo possuem a mesma densidade normativa das regras AMORA Luis Armando

Saboya In O Supremo Tribunal Federal e os casos difiacuteceis MARIANO Cynara Monteiro e LIMA Martonio

Montlsquoalverne Barreto Florianoacutepolis Grupo conceitop 293-306 2012 p 298 357 Eacute o que se observaraacute a frente

75

Por fim vale questionar dos debates se extraem todos os elementos de uma

nova noccedilatildeo de vedaccedilatildeo ao nepotismo Tambeacutem a essa interrogaccedilatildeo se responde

negativamente pois em ambas as sessotildees plenaacuterias os Ministros debateram

pontualmente apenas dois assuntos na primeira sessatildeo a extensatildeo do parentesco mas

de maneira superficial e na segunda sessatildeo o acircmbito fiacutesico da vedaccedilatildeo do

nepotismo358

E assim o STF elaborou a SV 13 motivado pela necessidade de limitar

expressamente o nepotismo em outro poder o executivo conforme se extrai do julgado

do terceiro precedente da SV 13 e da segunda sessatildeo plenaacuteria sobre o assunto vez que

foi dito pelos Ministros que ―natildeo eacute porque a Resoluccedilatildeo do CNJ vedou expressamente o

nepotismo no acircmbito do poder judiciaacuterio que os demais poderes poderiam praticar o

nepotismo359

e que se fazia necessaacuterio limitar o nepotismo no poder executivo porque

o titular dele ―nomeia tudo360

Diante disso restam muitas duacutevidas sobre se o texto da SV n13 diz

exatamente o que deveria dizer E eacute por isto que no proacuteximo capiacutetulo se buscaraacute

responder ao seguinte questionamento a partir da noccedilatildeo administrativa poliacutetica

brasileira e da noccedilatildeo juriacutedica de nepotismo a Suacutemula Vinculante n 13 abarcou todos os

casos de privilegiamentocontraacuterios agrave moralidade puacuteblica

358 Cuja discussatildeo foi levantada e em que pese ter sido acirrada trouxe outro equiacutevoco agrave redaccedilatildeo da SV 13 pois ao

inveacutes de dispor sobre nepotismo no mesmo oacutergatildeo como nas demais normas observadas inclusive na Resoluccedilatildeo do

CNJ assentou a vedaccedilatildeo do nepotismo na mesma pessoa juriacutedica 359 De acordo com os votos na ADC 360 Conforme a Ministra Carmem Luacutecia e o Ministro Gilmar Mendes na segunda sessatildeo plenaacuteria

76

2 O NEPOTISMO E A (I) MORALIDADE PUacuteBLICA A COMPREENSAtildeO NA

PERSPECTIVA BRASILEIRA

Trata-se da anaacutelise de dois pontos do trabalho o primeiro relativo agrave construccedilatildeo

do nepotismo sob a perspectiva brasileira do seu contexto histoacuterico no Brasil e da sua

noccedilatildeo juriacutedica e o segundo atinente agrave moralidade puacuteblica na Constituiccedilatildeo Federal de

1988 e sua relaccedilatildeo com o nepotismo sob o enfoque do princiacutepio republicano e dos

princiacutepios administrativos da impessoalidade da eficiecircncia e da finalidade averiguando

assim o papel da moralidade puacuteblica como proibitiva do nepotismo natildeo apenas como

princiacutepio administrativo mas como aglutinadora dos outros princiacutepios citados e tambeacutem

densificada por eles361

Tudo em conformidade com Raymundo Faoro Seacutergio Buarque

de Holanda Oliveira Viana Roberto Damatta Victor Nunes Leal Carmem Luacutecia

Antunes Rocha Diogo de Figueiredo Moreira Neto Ives Gandra Maria Sylvia Zanella

di Pietro Dioacutegenes Gasparini Florivaldo Dutra de Arauacutejo Paulo Modesto Joseacute dos

Santos Carvalho Filho Alexandre de Moraes dentre outros

21 Bases histoacutericas do nepotismo no Brasil de heranccedila portuguesa a um viacutecio da

administraccedilatildeo puacuteblica brasileira

O nepotismo como visto na Introduccedilatildeo desse trabalho eacute mais um dos viacutecios

do velho mundo que como heranccedila portuguesa chegou agraves terras brasileiras conforme

demonstra a carta escrita por Pero Vaz de Caminha ao Monarca Portuguecircs que ao lhe

dar as boas novas do ―continente novo solicitou que ao Rei que encaminhasse seu

genro agrave colocircnia receacutem-descoberta362

Por isto segundo os doutrinadores paacutetrios que tratam do assunto ―tudo

comeccedilou nesta passagem363

Sendo o nepotismo tiacutepico ―comportamento caracterizador

361 Com o fito de observar se a partir da noccedilatildeo administrativo poliacutetica brasileira e da noccedilatildeo juriacutedica de nepotismo a

Suacutemula Vinculante n 13 abarcou todos os casos de privilegiamento de nepotismo contraacuterios agrave moralidade puacuteblica 362 Na anaacutelise de Roberto DaMatta ―Ali naquele pedaccedilo terminal e naquela hora de arremate Caminha arrisca ―E

nesta maneira Senhor dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta terra vi E se algum pouco me alonguei Ela me

perdoe pois o desejo que tinha de tudo vos dizer mo fez pocircr assim pelo miuacutedo E pois que Senhor eacute certo que

assim neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviccedilo for Vossa Alteza haacute de ser de mim

muito bem servida a Ela peccedilo que por me fazer graccedila especial mande vir da Ilha de Satildeo Tomeacute a Jorge de Osorio

meu genro ndash o que dela receberei em muita mercecirc E conclui Caminha como ateacute hoje manda o nosso figurino de

malandragem ―Beijo as matildeos de Vossa Alteza deste Porto Seguro de Vossa ilha de Vera Cruz hoje sexta-feira

primeiro dia de maio de 1500 Pero Vaz de Caminha Seraacute que eacute preciso dizer mais alguma coisa O que faz o

Brasil Brasil Rio de Janeiro Rocco 1984 p 67 363 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p 160 Tambeacutem eacute o que afirma George Feliacutecio Gomes de Oliveira ―Essa praacutetica trazida nas naus

portuguesas que vieram pela vez primeira agraves terras brasileiras consignou-se com a presenccedila da Corte Portuguesa no

Brasil (entre 1808 e 1821) Da anaacutelise da Suacutemula vinculante n13 do Supremo Tribunal Federal alcance

precedentes e motivos determinantes da norma que veda a praacutetica do nepotismo no Brasil Revista dos Tribunais -RT

v 890 ano 98 Dez 2009 p 15

77

do patrimonialismo364

natildeo apenas trazido mas tambeacutem implantado no Brasil ―desde

os primeiros dias365

no acircmbito do modelo governamental que imperava em Portugal

identificando o Estado como coisa de famiacutelia366

privilegiando o interesse familiar em

detrimento do puacuteblico e consagrando assim a histoacuterica e continua confusatildeo entre o

puacuteblico e o privado367

Mas o nepotismo ao ser trazido para o Brasil natildeo apenas se instalou como

tambeacutem se alastrou porque o Estado brasileiro herdeiro das condutas portuguesas

patrimonial e de sociedade estamental estabelecido sob as bases coloniais tinha como a

sua maior forccedila social o clatilde familiar368

E a autarquia familiar de origem rural se estendeu pelo paiacutes alcanccedilando as

cidades onde reinou a mesma mentalidade familiar tanto que Nabuco de Arauacutejo notou

―sabiamente como o espiacuterito antissocial e perigoso representado por essas famiacutelias foi

um viacutecio ―que nasceu da antiga organizaccedilatildeo e que nossas revoluccedilotildees e civilizaccedilatildeo natildeo

puderam acabar tendo ―a mentalidade de casa-grande invadido as cidades369

Desta sorte aquele que se encontrava no poder como representante do Estado

compartilhava a administraccedilatildeo os cargos e as possibilidades estatais com os seus em

detrimento da impessoalidade vez que a escolha dos homens que iriam exercer as

funccedilotildees puacuteblicas era realizada de acordo com a ―confianccedila pessoal que depositava neles

e natildeo com as suas capacidades proacuteprias370

364 PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade

Administrativa Florivaldo Dutra de Arauacutejo O nepotismo e os princiacutepios da administraccedilatildeo puacuteblica Belo Horizonte

Ed Foacuterum 2008 p 117 365 PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade

Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires Controle judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante do

Supremo Tribunal Federal Belo Horizonte Ed Foacuterum 2008 p 235 366 Interessante que agrave eacutepoca do Brasil Colocircnia se tem certa preocupaccedilatildeo com a vedaccedilatildeo do nepotismo pois conforme

aduz Victor Nunes Leal ―() escolheriam para os cargos concelho as pessoas mais pertencenteslsquo () que natildeo

fossem cunhados nem parentes ateacute o quarto grau de direito canocircnico Coronelismo Enxada e Voto O Municiacutepio e o

Regime Representativo no Brasil 7ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 p 114 367 Rebatida pelos dizeres de Seacutergio Buarque de Holanda ―O Estado natildeo e uma ampliaccedilatildeo do ciacuterculo familiar e ainda

menos uma integraccedilatildeo de certos agrupamentos de certas vontades particularistas de que a famiacutelia eacute o melhor

exemplo Natildeo existe entre o circulo familiar e o Estado uma gradaccedilatildeo mas antes uma descontinuidade e ateacute uma

oposiccedilatildeo Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 141 368Assim no ―complexo da famiacutelia senhorial estatildeo acobertados natildeo apenas os parentes consanguiacuteneos (filhos e

netos) e os parentes colaterais (irmatildeos tios e sobrinhos) como tambeacutem ―os parentes por afinidade civil (genros e

cunhados) os parentes por afinidade religiosa (os compadres e afilhados) os parentes por adoccedilatildeo (os crias da

casa senhorial) Daiacute nascem instituiccedilotildees como a ―solidariedade parental a ―responsabilidade coletiva no taliatildeo

privado o ―dever de proteccedilatildeo e ―assistecircncia parental reciacuteproca e ainda o compadrio VIANA Oliveira

Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 226 369 Exorbitando por isto ―a aacuterea do domiacutenio-tronco e se estendendo ―por vaacuterios domiacutenios e mesmo por municiacutepios

inteiros VIANA Op cit p 227 E completa afirmando que ―() eacute esta a lei da nossa expansatildeo povoadora a

famiacutelia- tronco partindo de um domiacutenio inicial espalha-se em derredor e vai irradiando por contiguidade () Idem

p 232 370 VIANA Oliveira Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 145-

146

78

E por isto que no acircmbito da classe dominante havia ―quase que um direito

hereditaacuterio de acesso aos cargos puacuteblicos e as ―negociatas eram pautadas na troca de

favores entre os que detinham o poder ―visando atingir fins privados e natildeo fins

puacuteblicos371

qual seja ―a transmissatildeo de privileacutegios do grupo central (classe dirigente)

de uma geraccedilatildeo para o de outra372

restando edificada por um lado a ―dificuldade de

separaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado pelos detentores do poder em nossa sociedade373

Esta conjuntura gerou um ciclo vicioso entre o personalismo e a confusatildeo da

relaccedilatildeo puacuteblicondashprivado e enraizou o nepotismo com profundidade na estrutura

administrativa-governamental brasileira374

utilizado como forma de autopreservaccedilatildeo e

autoproteccedilatildeo das famiacutelias que dominavam o poder puacuteblico ―com a dupla funccedilatildeo de

ampliar a influecircncia e o poder unipessoal do governante e enfraquecer o sistema

representativo375

Exemplo crasso dessa questatildeo foi o governo estabelecido pelo Presidente

Getuacutelio Vargas que ―nos breves trecircs meses em que esteve agrave testa do Executivo

empregou um nuacutemero exagerado de parentes376

e ao ser questionado justificou-se da

seguinte forma Eu tive que fazer uma opccedilatildeo Entre passar sessenta dias acusado pelos

adversaacuterios e passar sessenta anos () condenado pela minha famiacutelia preferi atender agrave

famiacutelia Ningueacutem aguenta uma famiacutelia pedindo emprego Dei logo para me deixarem

em pazlsquo 377

371 ROCHA Zeacutelio Maia da Nepotismo e concurso puacuteblico ndash criteacuterio objetivo de ausecircncia de moralidade e

impessoalidade na administraccedilatildeo puacuteblica Revista Consulex ano XII nordm 286 15 dez 2008 p 41 372 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p222 373 Expressatildeo retirada do voto do Min Ricardo Lewandowiski relator do RE 579951-4RN julgado em 20082008

p 1885 Um dos precedentes da Suacutemula Vinculante n13 374 Conforme sintetiza Gabriela Empirotti ―No Brasil a praacutetica do nepotismo eacute heranccedila do sistema patrimonialista

em que havia uma confusatildeo entre o que era particular e o que pertencia ao Estado O bem puacuteblico era uma extensatildeo

da proacutepria casa passando o administrador a trataacute-lo como se assim fosse Nesse contexto esclarece Seacutergio Buarque

de Holanda que o que falta aos administradores eacute compreender a diferenciaccedilatildeo existente entre Estado e famiacutelia e

ainda que natildeo deve haver ligaccedilatildeo entre ambos () Assim para Buarque de Holanda para atingirmos um Estado que

atenda aos anseios puacuteblicos ultrapassando os limites do que eacute pessoal eacute preciso que se transcenda o ambiente

familiar () Segundo o autor no Brasil somente em casos excepcionais tivemos a figura de funcionaacuterios voltados a

interesses objetivos do Estado tomando suas decisotildees de maneira impessoal A heranccedila patrimonialista tendo a

famiacutelia corno a sua instituiccedilatildeo mais forte possui ainda grande influecircncia restando pouco espaccedilo para a

Impessoalidade Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo ndash A Suacutemula Vinculante n 13 e a sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash

FA Belo Horizonte ano 13 n 144 fev 2013 p 38 375 Idem p 15 376 GARCIA Emerson Nepotismo Origens e paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano IX nordm 200 15 de maio de

2005 p27 377 GARCIA Emerson Nepotismo Origens e paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano IX nordm 200 15 de maio de

2005 p27

79

22 A noccedilatildeo de nepotismo sob a oacutetica do magisteacuterio doutrinaacuterio no Brasil

Desse histoacuterico foi extraiacuteda a noccedilatildeo juriacutedica do nepotismo que em sua

concepccedilatildeo ampla designa ―a conduta havida na Administraccedilatildeo do Estado pela qual

agentes puacuteblicos valendo-se dos cargos por ele ocupados concedem favores e

benefiacutecios pessoais a seus parentes e amigos 378

Isto porque a noccedilatildeo juriacutedica de nepotismo eacute para alguns doutrinadores

associada a atos de privileacutegio dos agentes puacuteblicos agravequeles que lhes importam natildeo

apenas aos seus familiares e ainda se vincula agrave ideia de lealdade e confianccedila existentes

entre o patrono e o favorecido com o objetivo de amparar os interesses do primeiro379

Entretanto diante das noccedilotildees expressas nas normativas existentes380

tambeacutem

pode ser definido de uma maneira mais restrita como ―a praacutetica pela autoridade puacuteblica

com poder para nomear de favorecer seus parentes proacuteximos nomeando-os para

titularizarem cargos ou empregos de provimento em comissatildeo381

Ou ainda como

() a conduta de nomear para cargos puacuteblicos em comissatildeo ou funccedilotildees de

confianccedila de livre provimento e livre exoneraccedilatildeo ou para cargos e funccedilotildees de

provimento ou exoneraccedilatildeo condicionada parentes cocircnjuges ou

companheiros de agentes puacuteblicos enaltecendo criteacuterios de promoccedilatildeo

familiar e de afinidade em detrimento a criteacuterios de meacuterito e capacidade

funcional no acesso a cargos puacuteblicos382

Vale dizer que esta definiccedilatildeo parece mais acertada jaacute que o nepotismo na

atualidade conforme eacute observado pela grande maioria daqueles que se debruccedilam sobre

o assunto significa o privilegiamento realizada pelo agente puacuteblico a seus parentes por

meio da indicaccedilatildeonomeaccedilatildeo desses em cargos puacuteblicos ad nuttum ou seja de livre

nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo denominados cargos em comissatildeo383

378 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p158 379 ―() atualmente o termo em sentido amplo significa favorecimento e abrange qualquer concessatildeo de benesses a

parentes ou a outras pessoas ligadas ao beneficente por laccedilos de amizade ou confianccedila () Inobstante os variados

sentidos que o termo pode ter () o nepotismo eacute entendido como o favorecimento de parentes de agentes puacuteblicos

Mais especificamente o emprego no serviccedilo puacuteblico de parentes de agentes puacuteblicos sem o crivo do concurso

puacuteblico ANTONIO Alice Barroso de O Nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante n 13 do STF Criacuteticas e

Proposiccedilotildees Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM Belo Horizonte ano 10 n 31 janmar 2009 p 63 -

64 380 Que satildeo diferentes entre si mas mais restritas pois natildeo abarcam a nomeaccedilatildeo de amigos na praacutetica de nepotismo

como se veraacute no proacuteximo capiacutetulo 381 PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) in Corrupccedilatildeo Eacutetica e

Moralidade Administrativa GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico Belo Horizonte Ed Foacuterum 2008 p73 382 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP

ano 11 n 41 abrjun 2013 Belo Horizonte Ed Foacuterum p 10-11 383 Luis Manuel Fonseca Pires sintetiza como ―() a nomeaccedilatildeo para os cargos em comissatildeo de parentes do

nomeante Eacute o que popularmente alcunha-se de nepotismo Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI

80

Entretanto diante da evoluccedilatildeo sobre a noccedilatildeo juriacutedica do termo eacute necessaacuterio

fazer algumas complementaccedilotildees quanto agrave mesma A primeira se refere agrave delimitaccedilatildeo do

parentesco ou seja eacute importante dispor sobre a definiccedilatildeo de quem satildeo os parentes cuja

nomeaccedilatildeo em cargo comissionado enseja nepotismo pois todas as normativas paacutetrias

que trataram ou tratam do assunto fixam o parentesco como elemento limitador de um

dos criteacuterios objetivos do nepotismo que eacute justamente a nomeaccedilatildeo de parente em cargo

comissionado384

Pela noccedilatildeo juriacutedica atual385

o nepotismo em sua espeacutecie direta ―ocorre

quando a autoridade competente nomeia cocircnjuge companheiro ou parente em linha

reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau o que abarca ―filho neto bisneto

irmatildeo tio sobrinho sogro genro nora cunhado 386

Desta noccedilatildeo se extrai aleacutem da demarcaccedilatildeo de parentesco outro criteacuterio

tambeacutem objetivo como esse a nomeaccedilatildeo pela autoridade que tem competecircncia para

nomear

Esses satildeo os dois aspectos objetivos a que o nepotismo se vincula quais sejam

a competecircncia para nomear (para o cargo puacuteblico em comissatildeo ou designar para a

funccedilatildeo puacuteblica) e a nomeaccedilatildeo de parente

Todavia aleacutem desses existem outros criteacuterios como o objetivo referente ao

parente estar sob a chefia imediata da autoridade nomeante e o criteacuterio subjetivo que

remonta ao favorecimento do parente Contudo ambos satildeo prescindiacuteveis jaacute que o

nepotismo eacute configurado na atualidade independe de ambos os criteacuterios o que eacute

demonstrado tanto na configuraccedilatildeo de sua forma direta onde basta a nomeaccedilatildeo pela

Renata Porto (Coordenadores) in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis Manoel Fonseca

Controle Judicial do Nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante do Supremo Tribunal Federal In Corrupccedilatildeo

Eacutetica e Moralidade Administrativa Belo Horizonte Foacuterum p 237 Florivaldo Dutra de Arauacutejo compendia a noccedilatildeo

de nepotismo como ―() antiga praacutetica dos papas () significa a indicaccedilatildeo de parentes para ocupar cargos na

administraccedilatildeo puacuteblica () guarda sentido pejorativo por indicar a circunstacircncia de que algueacutem se vale apenas do

parentesco com outrem detentor de poder para ser guindado agrave condiccedilatildeo de agente puacuteblico () a autoridade

nomeante designa um parente para funccedilatildeo de confianccedila ou cargo comissionado () PIRES Luis Manuel Fonseca

ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa

Florivaldo Dutra de Arauacutejo O nepotismo e os princiacutepios da administraccedilatildeo puacuteblica Belo Horizonte Ed Foacuterum 2008

p 117-118 384 Ateacute aquelas normas que foram editadas antes da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 delimitavam este criteacuterio pela

espeacutecie e grau de parentesco 385 Conforme as normativas atuais sobre o assunto tratadas na Introduccedilatildeo deste trabalho 386RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 210

81

autoridade nomeante de seu parente387

como tambeacutem na sua forma cruzada que eacute

caracterizada pela nomeaccedilatildeo feita por outra autoridade que natildeo eacute parente do nomeado

Segundo o moderno entendimento388

―natildeo haacute necessidade de se comprovar o

criteacuterio subjetivo pois estaacute impliacutecito ao cerne da praacutetica vez que consiste no propoacutesito

de atender a interesses pessoais com a nomeaccedilatildeo do familiar ou de privilegiar o viacutenculo

sanguiacuteneo Ou seja intriacutenseco ao nepotismo pois a finalidade da escolha do parente

para ocupaccedilatildeo do cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila eacute a satisfaccedilatildeo pessoal

gerada pelo laccedilo familiar389

Assim pode-se dizer que o aspecto subjetivo do ato eacute o seu

motivo impliacutecito agrave sua praacutetica 390

Entatildeo a benesse do acesso ao cargo puacuteblico pelos ―laccedilos de confianccedila pessoal

e familiar391

estaacute embutida no nepotismo sendo portanto desnecessaacuteria a sua

comprovaccedilatildeo para que ele reste configurado mas apenas dos dois primeiros elementos

objetivos dispostos cuja junccedilatildeo produz o nepotismo ―a nomeaccedilatildeo feita por algueacutem que

seja detentor do poder administrativo e o ―viacutenculo familiar (cocircnjuge companheiro ou

parente ateacute o terceiro grau) do nomeado com o nomeante392

Nesse diapasatildeo a confianccedila eacute necessaacuteria para se nomear algueacutem em cargo

comissionado - ―dito de confianccedila - constitucionalmente destinado agraves funccedilotildees de

direccedilatildeo e assessoramento superior mas ao contraacuterio do que se costuma pensar natildeo deve

ser originaacuteria da relaccedilatildeo pessoal mas da aptidatildeo profissional daquele que seraacute nomeado

o qual deve ter a qualificaccedilatildeo necessaacuteria e correspondente a exercer as funccedilotildees do citado

cargo Desta sorte a autoridade nomeante natildeo pode nomear quem quiser mas aquele

que se adeque agraves atribuiccedilotildees do cargomiddot

387 ―O aspecto objetivo do nepotismo concentra-se na efetiva relaccedilatildeo de parentesco existente entre o nomeante e o

nomeado Assim havendo a relaccedilatildeo de parentesco estar-se-aacute diante do nepotismo considerado no seu aspecto

objetivo RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In

Revista de Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 212 O criteacuterio eacute agraves vezes

excepcionalmente aplicado quando se trata de nomeaccedilatildeo de servidor efetivo parente de autoridade nomeante para

exercer cargo comissionado 388 Especialmente apoacutes a publicaccedilatildeo da SV n13 389 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Op cit p 213 E ainda acrescenta ―() diz R Tourinho (2011) a comprovaccedilatildeo do

elemento subjetivo eacute de difiacutecil concretizaccedilatildeo razatildeo pela qual a simples presenccedila do aspecto objetivo relaccedilatildeo de

parentesco vem se mostrando suficiente para caracterizar a praacutetica O caraacuteter objetivo da constataccedilatildeo da situaccedilatildeo a

envolver nepotismo torna irrelevante ateacute por indecifraacutevel em muitos casos o elemento aniacutemico presente no ato de

nomeaccedilatildeo Idem p 214 390 O nepotismo eacute entatildeo ―favorecimento privileacutegios e benefiacutecios para os parentes () daqueles que detecircm o poder

de possibilitar o acesso ao cargo puacuteblico sem a necessidade de submissatildeo ao Concurso Puacuteblico e ―estaacute relacionado

agrave lealdade e agrave confianccedila existentes entre quem favorece e o favorecido CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida

Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula Vinculante n 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash

FA Belo Horizonte ano 10 n 111 mai 2010 p 30 391 RIGOLIN Ivan Barbosa Sobre o nepotismo Uma reflexatildeo sobre moralidade e moralismo Foacuterum Administrativo

‐ FA Belo Horizonte ano 7 n 80 out 2007 392 RIBEIRO JUNIOR Joseacute Hortecircncio A ilegalidade do nepotismo no poder judiciaacuterio Revista Juriacutedica Consulex

ano 9 n 200 p 30

82

Assim mesmo que o cargo seja caracterizado ―pela confianccedila de que se dota o

comissionado esta confiabilidade ―tem que se firmar em qualificaccedilatildeo profissional a

dizer em merecimento que se liga agraves suas condiccedilotildees para o desempenho do cargo e natildeo

em qualificaccedilatildeo patroniacutemica como tantas vezes continua a ocorrer393

Diante desta interpretaccedilatildeo resta loacutegico que natildeo se trata da lealdade da

afinidade e da cumplicidade existentes entre integrantes de uma famiacutelia seja por laccedilos

consanguiacuteneos ou afins mas que a partir do momento em que ―o Constituinte

originaacuterio consagrou a existecircncia das funccedilotildees de confianccedila e dos cargos em comissatildeo

natildeo haacute como negar que eacute ―tarefa assaz difiacutecil sustentar que os valores que informam a

moralidade administrativa () natildeo autorizam que o agente nomeie um parente no qual

tenha ampla e irrestrita confianccedila394

Nessa toada o que se constata eacute que a praacutetica do nepotismo resta configurada

quando parentes consanguiacuteneos em linha reta ou colateral ou afins ateacute o terceiro grau

satildeo nomeados em cargos comissionados ou para exercerem funccedilotildees comissionadas no

mesmo poder em que a autoridade eacute nomeante ou o servidor eacute comissionado395

Outro ponto que interessa ressaltar quanto ao nepotismo eacute que a sua vedaccedilatildeo

abarca apenas os cargos comissionados que satildeo cargos administrativos e natildeo os

poliacuteticos396

Feitas tais exposiccedilotildees quanto ao nepotismo e agrave espeacutecie nepotismo direto passa-

se agrave anaacutelise do nepotismo cruzado tambeacutem denominado transversal ou obliacutequo que se

constroacutei por meio de troca de favoreslsquo entre os agentes nomeantes os quais de forma

393

ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p 163 394 GARCIA Emerson O nepotismo Boletim de Direito Administrativo ndash BDA jun 2003 p 462 395 Esta eacute o entendimento sobre a noccedilatildeo de nepotismo conforme o determinado pela SV n13 do STF de 210808 O

que isto quer dizer Que a autoridade nomeante ou servidor comissionado natildeo podem ter parentes no mesmo poder

em que atuam Por exemplo no acircmbito do Poder Executivo Federal a autoridade ou servidor comissionado lotado no

Ministeacuterio da Sauacutede natildeo pode ter cocircnjuge companheiro filhos pais netos avoacutes bisavoacutes bisnetos irmatildeos sobrinhos

ou tios nomeados em qualquer cargo comissionado ou ateacute se servidores efetivos designados em funccedilatildeo de

confianccedila em qualquer dos Ministeacuterios oacutergatildeos que compotildeem o Poder Executivo Tal vedaccedilatildeo eacute ampla demais Isto

que se constataraacute no uacuteltimo capiacutetulo do trabalho 396 O Ministro Carlos Britto em trecho do seu voto na p 1923 do RE 579951-4RN explica que a proibiccedilatildeo do

nepotismo decorre dos princiacutepios aplicaacuteveis agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica e por isto engloba apenas aos cargos

administrativos e natildeo poliacuteticos O quer dizer que a autoridade nomeante pode mais mas natildeo pode menos Por

exemplo um Prefeito pode nomear irmatildeo para exercer o cargo poliacutetico de Secretaacuterio de Transporte do Municiacutepio em

que eacute governante mas natildeo pode nomear seu sobrinho para um ocupar cargo comissionado em qualquer dos oacutergatildeos do

Poder Executivo Municipal pois estaraacute realizando praticando o nepotismo Parece meio iloacutegico mas todas as normas

brasileiras que vedam o nepotismo o limitam agraves nomeaccedilotildees menoreslsquo para cargos comissionados e funccedilotildees de

confianccedila de natureza administrativa e natildeo para as maioreslsquo que satildeo as para cargos poliacuteticos Este assunto seraacute

tratado no uacuteltimo capiacutetulo

83

inversa e reciacuteproca nomeiam parentes para exercerem cargo comissionado ou funccedilatildeo de

confianccedila em esfera diversa da que o agente eacute autoridade nomeante397

Nesse enredo o nepotismo cruzado somente eacute caracterizado quando ocorre a

reciprocidade das nomeaccedilotildees impondo pela via indireta o favorecimento vedado isto

eacute se natildeo houver a reciprocidade natildeo haveraacute nepotismo cruzado

Ele traduz o fato de os agentes puacuteblicos valerem-se ―de sua influecircncia junto a

outras autoridades com poder para nomear na tentativa de ocultar a praacutetica do

nepotismo e diferente do que ocorre no nepotismo direto pois as ―funccedilotildees seratildeo

exercidas pelo parente nomeado ―por orientaccedilatildeo da autoridade nomeante e natildeo pela

orientaccedilatildeo da autoridade ―beneficiada398

A maior questatildeo quanto a esta espeacutecie de nepotismo refere-se agrave troca de

favoreslsquo sua caracteriacutestica peculiar que o configura e o diferencia das demais Isto

porque ela eacute de difiacutecil verificaccedilatildeo e comprovaccedilatildeo399

jaacute que se insere em ―uma linha

tecircnue capaz de enganar em casos onde realmente ocorre e ao mesmo tempo levar a

conclusotildees equivocadas400

Outra espeacutecie de nepotismo eacute o denominado indireto que implica

favorecimento de parente e que ocorre ―por meio das contrataccedilotildees que se fazem por via

de empresas de locaccedilatildeo de matildeo de obra (terceirizaccedilatildeo) ou de prestaccedilatildeo de serviccedilos 401

Eacute outra forma de burlar a vedaccedilatildeo do nepotismo jaacute que o agente puacuteblico que tem o

poder para nomear seu familiar ou indicaacute-lo para a nomeaccedilatildeo utiliza o poder eou

397 Segundo Dioacutegenes Gasparini ―() nepotismo transversal ou () nepotismo obliquo caracterizado pela nomeaccedilatildeo

reciacuteproca de parentes de autoridades () com poderes para nomear impedidas no entanto de nomeaacute-los cujo

desempenho das respectivas atribuiccedilotildees dar-se-aacute sob as ordens da autoridade nomeante e natildeo da autoridade

beneficiada favorecida () Essa modalidade de nepotismo () surgiu para contornar as severas objeccedilotildees eacutetico-

sociais senatildeo para fugir das proibiccedilotildees legalmente impostas agraves nomeaccedilotildees de parentes proacuteximos da autoridade () na

praacutetica eacute uma troca de favores entre autoridades com o poder de nomeaccedilatildeo para favorecer os respectivos parentes

com evidente intenccedilatildeo de burlar a vedaccedilatildeo legal () no nepotismo obliquo quem nomeia o favorecido eacute outra

autoridade que com ele natildeo manteacutem qualquer parentesco ()Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES

Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum

p75 398 EMPIROTTI Gabriela Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula nordm13 e sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 fev 2013 p 38 399 Para Joatildeo Gaspar Rodrigues eacute ―um ajuste que garante nomeaccedilotildees reciacuteprocas entre os podereslsquo do Estado mas que

tem de ser provado para configurar a categoria nepoacuteticalsquo o que na praacuteticalsquo eacute muito difiacutecil de ser comprovado

Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de Direito Administrativo ndash RDA

Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 211 400 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 31 401 PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) in Corrupccedilatildeo Eacutetica e

Moralidade Administrativa ARAUacuteJO Florivaldo Dutra de O nepotismo e os princiacutepios da administraccedilatildeo puacuteblica

Belo Horizonte Foacuterum 2008 p118

84

prestiacutegio do cargo puacuteblico para indicar seu parente a ser contratado por empresa de

terceirizaccedilatildeo que atua no oacutergatildeo em que eacute ocupante do cargo puacuteblico402

A uacuteltima espeacutecie a ser tratada eacute o nepotismo poliacutetico que eacute descrito ―como a

nomeaccedilatildeo de pessoas independente do viacutenculo de parentesco com a autoridade

nomeante em cumprimento a ―acordos poliacuteticos403

e que apesar de natildeo ser abarcada

por nenhuma normativa eacute lembrada como uma conduta que infringe o princiacutepio da

impessoalidade404

Por fim a uacuteltima espeacutecie de nepotismo a ser tratada eacute o nepotismo das

primeiras-damas405

implantado na eacutepoca de Getuacutelio Vargas406

e que continua a vigorar

no Brasil ateacute hoje e que parece ser uma ―institucionalizaccedilatildeo do nepotismo pois

ocupam cargos puacuteblicos ao desempenharem atribuiccedilotildees de cunho social na conduccedilatildeo de

instituiccedilotildees sem fins lucrativos do ente federado de que o marido eacute representante407

Contudo salvo a situaccedilatildeo das primeiras-damas o Brasil movido por ―um

sentimento ou um sensus communis de que eacute imprescindiacutevel a vedaccedilatildeo do carreirismo

apadrinhadolsquo e da agecircncia familiar de emprego puacuteblicolsquo408

primou pela alteraccedilatildeo do

402 Esta forma de nepotismo estaacute vedada em algumas normativas como na Resoluccedilatildeo n705 do CNJ e no Decreto

presidencial n 720310 a primeira jaacute tratada na Introduccedilatildeo e o segundo no uacuteltimo capiacutetulo deste trabalho 403 EMPIROTTI Gabriela Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula nordm13 e sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 fev 2013 p 38 404 Por vaacuterios doutrinadores e juristas dentre eles Dioacutegenes Gasparini no artigo jaacute citado e Carmem Luacutecia Antunes

Rocha em sua obra tambeacutem jaacute referida 405 Mayara Pegorer afirma que a ―figura da primeira-dama foi inventadalsquo nos Estados Unidos quando por volta de

1790 Martha a esposa do entatildeo presidente George Washington passou a aparecer ao seu lado em ocasiotildees solenes

fazendo o papel de rainha mesmo em um Estado independente e republicano pois refletia a forma de governo

inglecircs PEGORER Mayara Alice Souza As primeiras-damas da improbidade administrativa do nepotismo agrave

corrupccedilatildeo ndash Poliacuteticas puacuteblicas e efetivaccedilatildeo dos direitos sociais Foacuterum administrativo FA Belo Horizonte nov 2012

ano 12 n 141 p 53 406Segundo Mayara Pegorer ―No Brasil foi a mulher de Getuacutelio Vargas Darcy Vargas a precursora no

assistencialismo social passando a assumir o papel de matildee dos pobres ao fundar a Legiatildeo Brasileira de

Assistecircncia e auxiliando na construccedilatildeo do estereoacutetipo de que as primeiras-damas seriam a imagem da elegacircncia da

discriccedilatildeo e da benevolecircncia modelo de valores da preocupaccedilatildeo com os problemas sociais que assolam os entes

federativos que seus maridos representam Neste sentido ateacute hoje acabam assumindo cargos comissionados e funccedilotildees

institucionais cargos relacionados agrave gestatildeo destas aacutereas sociais e empreendendo projetos que mais do que auxiliarem

a populaccedilatildeo carente a que se destinam auxiliam seus maridos na consolidaccedilatildeo de sua imagem no cenaacuterio poliacutetico e

social Op cit p 54 407 ― ()eacute exemplo o mau-vezo de se outorgar agraves primeiras-damas a atribuiccedilatildeo de conduzir instituiccedilotildees sem fins

lucrativos natildeo raras vezes dotadas de vultoso patrimocircnio e de incomensuraacutevel importacircncia para determinadas classes

da populaccedilatildeo Garcia Emerson O nepotismo Boletim de Direito Administrativo ndash BDA jun 2003 p 461Questiona

Emerson Garcia ―Natildeo seria esta uma modalidade de nepotismo ex vi legis () as primeiras-damas exercem a

representatividade popular Qual eacute o fundamento de legitimidade de sua atuaccedilatildeo Satildeo competentes ou possuem uma

―competecircncia reflexa oriunda do chefe do Executivo Op cit p 462 Explica Mayara Alice Souza Pegorer ―Essa

inquestionaacutevel doaccedilatildeo agraves causas sociais por vezes serve de fachada para o empreendimento de manobras puacuteblicas

escusas que ganharam repercussatildeo com a notiacutecia da ocupaccedilatildeo de cargos comissionados pelas primeiras-damas de

municiacutepios brasileiros (muitas vezes sem nem mesmo trabalhar efetivamente restringindo-se a perceber proventos) e

sua participaccedilatildeo em esquemas de desvio de verbas puacuteblicas () possibilidade de figuraccedilatildeo das primeiras-damas

como sujeitos do nepotismo () caracterizando-se infelizmente como praacutetica extremamente recorrente na realidade

brasileira Op cit p 55-56 408 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 222

85

quadro administrativo-governamental ao consagrar em 1988 constitucionalmente a

moralidade puacuteblica

23 A Moralidade Puacuteblica e a vedaccedilatildeo do nepotismo na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

de 1988

A partir dos entendimentos expressos pelos Constituintes nos debates da

Assembleia Nacional Constituinte409

sobre moralidade constata-se que a moralidade

puacuteblica eacute coibidora do nepotismo

Na eacutepoca da elaboraccedilatildeo da Constituiccedilatildeo a noccedilatildeo especiacutefica do princiacutepio da

moralidade natildeo restava pacificada ou clara entre os constituintes de forma que eles

apenas se imbuiacuteram do dever ratificar ―uma tendecircncia consagrada pela jurisprudecircncia

paacutetria e ―pela primeira vez410

a introduziram explicitamente no ordenamento juriacutedico

constitucional brasileiro411

tornando ―expresso o que jaacute estava impliacutecito no sistema

mesmo sob a eacutegide de Constituiccedilotildees anteriores412

que a moralidade eacute um dos vetores

―conformadores da atividade administrativa413

O que se visava naquele momento constituinte era o restabelecimento da

democracia e a moralizaccedilatildeo do poder puacuteblico natildeo apenas quanto ao serviccedilo puacuteblico

como tambeacutem quanto agraves autoridades puacuteblicas eleitas ou nomeadas

Eacute o que se extrai dos debates travados pelos Constituintes no Projeto da

Constituiccedilatildeo414

que ―avanccedilou no campo da moralidade administrativa415

em prol da

moralizaccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico a fim obstar todos os ―jeitinhos brasileiros que

burlassem a moralidade

409 Que antecedeu a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 410 CORREcircA Gustavo Hermont Princiacutepio da Moralidade ou Eticidade da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese

Direito Administrativo v6 n 66 jun 2011 p 64 411 Segundo Carmem Luacutecia desde 34 o principio da moralidade foi inserido nas disposiccedilotildees constitucionais ―()

como fundamental do sistema constitucional republicano nacional embutido na menccedilatildeo expressa agrave probidade

administrativa como dever do Presidente da Repuacuteblica () (art 54 sect 6ordm da Constituiccedilatildeo de 1981 art 57 f da

Constituiccedilatildeo de 1934 art 85 d da Carta de 1937 () art 89 V da Constituiccedilatildeo de 1946 art 84 V da Carta de

1967 art 82 V da Emenda n 169) Op cit p222 Informaccedilatildeo esta que eacute completada pelo Emerson Garcia ao

afirmar que ―Natildeo obstante sua ausecircncia nos textos constitucionais preteacuteritos o princiacutepio da moralidade foi

contemplado pelo Decreto nordm 19398 de 11 de novembro de 1930 norma de equivalecircncia constitucional que foi

editada apoacutes a Revoluccedilatildeo de outubro do mesmo ano () o seu art 7ordm manteve em vigor as leis obrigaccedilotildees e direitos

na esfera puacuteblica salvo os que submetidos agrave revisatildeo contravenham o interesse puacuteblico e a moralidade

administrativa Op cit Nota de rodapeacute n 87 p 46 412 CAMMAROSANO Maacutercio O Princiacutepio Constitucional da Moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

Belo Horizonte Foacuterum 2006 p 91 413 MEIRELLES Hely Lopes apud BASTOS Celso Ribeiro e MARTINS Ives Gandra Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo

do Brasil 3ordm volume ndash tomo III arts 37-43 ndash 1992 Satildeo Paulo Saraiva p 35-36 414 Denominado por Aluiacutezio Campos como ―bom e corajoso Projeto 415 BRASIL Congresso NacionalComissatildeo de Sistematizaccedilatildeo ndash Ata da Reuniatildeo Solene de entrega do Projeto de

Constituiccedilatildeo (A) 33ordf Reuniatildeo Extraordinaacuteria em 24 de novembro de 1987 ndash Assembleia Nacional Constituinte ndash

Diaacuterio - Ano II- Suplemento A n 307 sexta-feira 23 de setembro de 1988 Brasiacutelia DF p 2

86

Dois quais vale ressaltar o relativo ao paraacutegrafo sect3ordm do art 14 das disposiccedilotildees

transitoacuterias416

que seria exceccedilatildeo ao sect 1ordm do artigo 44 do Projeto da Constituiccedilatildeo o qual

dispunha sobre o acesso ao cargo puacuteblico pelo concurso puacuteblico417

e tido como norma

que viria

() de encontro agrave moralidade que se procurou instaurar neste texto

constitucional eis que seratildeo admitidos sem concurso sem provas e sem

tiacutetulos quatro mil procuradores ou advogados hoje integrando os quadros da

advocacia consultiva ou defensiva da Uniatildeo 418

Contudo em argumentaccedilatildeo contraacuteria foi dito que ―natildeo seria um trem da

alegrialsquo pois trem da alegrialsquo eacute a criaccedilatildeo de novos cargos eacute a realizaccedilatildeo de nomeaccedilotildees

a toque de caixa 419

No mesmo ensejo a fim de ser evitar o personalismo o favoritismo houve

discussatildeo quanto ao artigo 61 das disposiccedilotildees transitoacuterias que determina a estabilidade

para aqueles que jaacute eram servidores cinco anos antes da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo

Federal 420

A discussatildeo eacute iniciada a partir da afirmativa de que queriam421

suprimir este

artigo porque entendiam ―que ele estabelece uma grave irregularidade no serviccedilo

puacuteblico permite o favoritismo aleacutem de ser o que se chama de um trem da alegrialsquo- mas

um trenzatildeo completo 422

Ao contra argumentar eacute dito que se pretende423

negar ―estabilidade para

milhares de funcionaacuterios do serviccedilo puacuteblico que trabalham haacute cinco anos 424

mesmo

416―Os procuradores e advogados de oficio os procuradores da Fazenda nacional e os procuradores ou advogados das

autarquias federais passam a integrar em caraacuteter efetivo a carreira de procurador da Uniatildeo Diaacuterio da Assembleia

Nacional Constituinte ndash Suplemento C p 461 417 ―A primeira investidura em cargo ou emprego puacuteblico sob qualquer regime dependeraacute sempre da aprovaccedilatildeo

preacutevia em concurso puacuteblico de provas ou de provas e tiacutetulos Idem p 461 418 Joatildeo Agripino Idem p461 E continua ―() Imaginem V Exa Esses dispositivos aplicados nos Estados onde

procuradores satildeo nomeados sempre atraveacutes de prestiacutegio ou influecircncia poliacutetica () muitas vezes exercendo em caraacuteter

permanente a advocacia sem dar um uacutenico dia de trabalho agrave Uniatildeo ao Estado () se esta Comissatildeo natildeo suprimir ()

estaremos praticando um ocircnibus espacial da alegrialsquo natildeo apenas um tremlsquo () 419 Palavras de Nilson Gibson na reacuteplica Este era o tamanho do desleixo com o serviccedilo puacuteblico jaacute na deacutecada de 80 do

seacuteculo XX no Brasil utilizado como ―cabide de emprego para os ―amigos do rei muitos amigos e muitos reis E eacute

o que ainda acontece devido aos abusos ocorridos quanto agrave criaccedilatildeo de cargos comissionados que podem ser

ocupados por nomeados sem concurso e pela nomeaccedilatildeo destes embasadas na pessoalidade em personalismo

clientelismo nepotismo favoritismo e partidarismo Diante do debate o que fica patente eacute a necessaacuteria moralizaccedilatildeo

do serviccedilo puacuteblico que ateacute entatildeo era ―casa da matildee Joana de acordo com os mandos e desmandos daqueles que

detinham o poder e nomeavam seus apadrinhados para os cargos e que estes muitas vezes se tornavam ―servidores

fantasmas 420 ―Satildeo estaacuteveis os atuais servidores da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios que agrave data da

promulgaccedilatildeo desta Constituiccedilatildeo contem pelo menos cinco anos de serviccedilo na administraccedilatildeo direta e indireta

inclusive em fundaccedilotildees instituiacutedas e mantidas pelo Poder Puacuteblico Complemento C p 478 421 O PT e PDC 422 Pliacutenio Arruda Sampaio Complemento C Idem p 478 423 Na reacuteplica Gerson Peres dizendo sobre o PT 424

Complemento C p 478

87

sendo a favor da estabilidade para os trabalhadores brasileiros e que ―() natildeo estaacute se

fazendo trem da alegrialsquo () porque o trenzatildeo da alegria soacute existiria se nomeassem

―servidores a partir da data da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo mas o que estavam

fazendo era para garantir ―o emprego de milhares de trabalhadores que haacute cinco anos

servem no Poder Puacuteblico 425

E nesse contexto se toca no apadrinhamento espeacutecie de privilegiamento como

o nepotismo criticando a falta de profissionalizaccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico e de seguranccedilalsquo

do servidor exposto agrave vontade e interesse puramente pessoal das autoridades que detecircm

o poder426

A discussatildeo em torno da moralidade ou imoralidade continua quanto agrave

possibilidade de se permitir a acumulaccedilatildeo de determinados cargos427

e se demonstra a

necessidade de moralizaccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico que passa pelo expurgo constitucional

de jeitinhos brasileiroslsquo os quais encapam atos imorais dissimulando-os e simulando

uma falsa moralidade428

Igualmente observa-se no Destaque nordm 4246-87 da Emenda nordm ES 22775-1429

que propunha estender a obrigatoriedade do concurso puacuteblico para a ―contrataccedilatildeo de

serviccedilos autaacuterquicos empregados de empresas puacuteblicas da sociedade de economia

mista e das fundaccedilotildees universalizando uma norma hoje privativa de algumas estatais

a fim de que todos fossem favorecidos de ―forma mais transparente democraacutetica

completando ―o princiacutepio da moralidade administrativa da impessoalidade e da

425 Complemento C p 478 E completa ―Portanto natildeo existe imoralidade Se existisse as Constituiccedilotildees de 1946 e

1967 tambeacutem seriam imorais porque estabeleceram os mesmos criteacuterios Aqui fica patente novamente que a defesa

dos constituintes quanto ao natildeo trezatildeolsquo se embasa na mesma argumentaccedilatildeo que o trenzatildeo da alegrialsquo ocorre quando

as nomeaccedilotildees satildeo realizadas ilimitadamente sem criteacuterio de forma imoral 426 Siqueira Campos afirma que ―o servidor puacuteblico () apoacutes cinco anos de trabalho soacute pode ser demitido por

perseguiccedilatildeo de vencedores ocasionais e que natildeo ―se trata de uma imoralidade trata-se de uma proteccedilatildeo a quem

trabalha pois natildeo seria justo deixar o ―trabalhador exposto agrave sanha de poliacuteticos que vivem a colocar para fora do

trabalho servidores qualificados () substituindo-os por afilhados poliacuteticos Ibidem p480 427 Apoacutes a explanaccedilatildeo de Adylson Motta ―Seria um crime uma injusticcedila inominaacutevel se propuseacutessemos apenas retirar

a proibiccedilatildeo de acumulaccedilatildeo de cargos e natildeo reconhececircssemos o direito adquirido daqueles que hoje deteacutem dois cargos

como eacute o caso dos meacutedicos dos professores de magistrado e professor de teacutecnicos cientiacutefico e professor de mateacuteria

afim desde que haja correlaccedilatildeo de mateacuterias e compatibilidade de horaacuterios () Queremos o direito reconhecido para

aqueles que sob o respaldo da Constituiccedilatildeo vigente estatildeo hoje titulando dois empregos porque de agora em diante

natildeo se permitiraacute mais dois empregos no texto constitucional Ibidem p 481 428 Antocircnio Britto ―() a foacutermula apresentada () permitiraacute que todas as acumulaccedilotildees hoje existentes ditas legais

sejam transformadas em direito adquirido sem que se tenha possibilidade Estado a Estado Municiacutepio a Municiacutepio

de examinar caso a caso o que foi uma das grandes formas de fraude usadas pelo Poder Puacuteblico () o serviccedilo puacuteblico

do Paiacutes exige hoje duas moralizaccedilotildees a primeira eacute o prestigiamento do servidor puacuteblico dando-lhe condiccedilotildees

corretas para o exerciacutecio de sua funccedilatildeo () a segunda () dotar a Constituiccedilatildeo de instrumentos eneacutergicos para

enfrentar imoralidades cometidas Ibidem p 481 429 De Jalles Fontoura

88

publicidade contempladas nos art 43 430

o apreccedilo natildeo soacute pela moralidade mas tambeacutem

pela publicidade e impessoalidade

Por fim se constata o apelo agrave moralidade puacuteblica tambeacutem no que concerne agrave

remuneraccedilatildeo dos funcionaacuterios da administraccedilatildeo indireta conforme o disposto no

Destaque n 3876-8 da Emenda n ES 26044-8431

quanto ao art 63 sect 6ordm do substitutivo

n 2432

() um fato vem provocando clamor popular e indignaccedilatildeo puacuteblica a

existecircncia dos chamados marajaacutes na administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta

em todo o Paiacutes () estatildeo incrustados na administraccedilatildeo puacuteblica somam

vantagens () benefiacutecios () chegam a vencimentos () assustadores ()

tem que ter uma poliacutetica de austeridade na administraccedilatildeo puacuteblica () tem

que ser extensiva tambeacutem agrave administraccedilatildeo indireta () agraves empresas estatais a

que natildeo temos acesso nem a imprensa consegue chegar laacute para noticiar ()

as polpudas recompensas de suas diretorias de seus assessores () eacute preciso

que laacute tambeacutem se instale a moralidade a probidade a austeridade () teto

() agrave sanha agrave voracidade daqueles que () detecircm cargos puacuteblicos ou a

direccedilatildeo de empresas433

Desta feita foi expressamente consignada nos debates dos constituintes na

ANC a necessidade de moralizaccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico e do poder puacuteblico dos quais

resultaram os dispositivos constitucionais atuais quanto agrave moralidade puacuteblica

Moralidade esta que obriga ―a todo agente puacuteblico do Presidente da Repuacuteblica

ao mais humilde servidor que tenha o ―dever juriacutedico e moral de ser leal ao seu paiacutes

bem como de cumprir o ―Direito que consubstancia a organizaccedilatildeo da sociedade

poliacutetica devendo assim ―respeitar e fazer respeitar a ordem juriacutedica que tambeacutem

accedilambarca o dever de melhor administraccedilatildeo 434

E natildeo eacute soacute a moralidade puacuteblica tambeacutem aparece como fundamento agrave vedaccedilatildeo

do domiacutenio familiar no acircmbito eleitoral Eacute isto que se extrai dos destaques e

substitutivos pertinentes agrave inelegibilidade de parentes dos representantes do Poder

430 Complemento C p 827 Ressalta-se que o artigo 43 hoje o art 37 tinha a seguinte redaccedilatildeo ―A administraccedilatildeo

puacuteblica direta ou indireta de qualquer dos poderes obedeceraacute aos princiacutepios da legalidade impessoalidade

moralidade e publicidade salvo na hipoacutetese de rescisatildeo do contrato de trabalho como condiccedilatildeo de validade dos atos

administrativos a motivaccedilatildeo suficiente e como requisito de sua legitimidade a razoabilidade 431 De Gastone Rigui 432 Gastone Rigui ―Nenhum funcionaacuterio diretor ou empregador na administraccedilatildeo puacuteblica direta ou indireta de

empresa estatal ou sociedade de economia mista teraacute remuneraccedilatildeo ou vantagens superiores agraves percebidas

respectivamente na aacuterea municipal pelo prefeito na aacuterea estadual pelos secretaacuterios de Estado e na aacuterea federal

pelos Ministros de Estado Idem p 837 433

Gastone Rigui Ibidem p 837 O destaque foi rejeitado 434 CAMMAROSANO Maacutercio O princiacutepio constitucional da moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

Belo Horizonte Foacuterum 2006p114

89

Executivo dos entes federados atualmente denominada pela doutrina como

inelegibilidade reflexa435

Nesse esteio fica registrado que para se evitar o nepotismo aqui como

domiacutenio familiar do poder puacuteblico pela via eleitoral haacute de se coibir a elegibilidade dos

parentes de certa autoridade puacuteblica Assim eacute assentada a necessidade de ser preservar a

tradiccedilatildeo constitucional que prima por esta moralidade puacuteblica436

Iniciado o embate437

sobre o Destaque nordm 836-87 ndash Emenda nordm ES-27313 artigo

13 sect7ordm do Substitutivo n 2438

seguido439

sobre o Destaque n 3870-87 da Emenda n

ES-26031-6 quanto ao art 13 sect 9ordm do Substitutivo n 2 que estabelece a inelegibilidade

dos parentes dos titulares dos poderes executivos de cada um dos entes federados440

a

posiccedilatildeo tomada eacute contraacuteria agrave redaccedilatildeo441

Nessa alccedilada os argumentos foram rebatidos442

pela argumentaccedilatildeo de que ―()

a supressatildeo deste dispositivo permitiria exatamente o contraacuterio que se tornasse pela

primeira vez neste Paiacutes elegiacuteveis o cocircnjuge e o parente ateacute segundo grau de qualquer

dos detentores de cargos executivos colocando fora uma das mais moralizadoras

tradiccedilotildees deste Paiacutes 443

sendo um ―atentando contra a moralidade que deve existir no

trato da coisa puacuteblica com relaccedilatildeo agraves eleiccedilotildees e que ―Ignorar que parentes proacuteximos de

435 ―De aplicaccedilatildeo objetiva independente da relaccedilatildeo de amizade segundo Alexandre Moraes Constituiccedilatildeo do Brasil

Interpretada 4ordf ed Satildeo Paulo Atlas 2004 p 577 436 Conforme Emerson Garcia ―() a preocupaccedilatildeo com o favorecimento haacute muito estaacute sedimentada no direito

positivo paacutetrio do que eacute exemplo a causa de inelegibilidade prevista no art 14 sect 7ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

que alcanccedila o cocircnjuge e os parentes consanguiacuteneos ou afins ateacute o segundo grau ou por adoccedilatildeo do chefe do

Executivo ou de quem o tenha substituiacutedo nos seis meses anteriores ao pleito salvo se jaacute titular de mandato eletivo e

candidato agrave reeleiccedilatildeo O nepotismo Boletim de Direito Administrativo ndash BDA jun 2003 p462 437 Pelo entatildeo Deputado Federal Nelson Jobim 438 Senhor Haroldo Lima ―() atribui agrave lei complementar a fixaccedilatildeo de outros casos de inelegibilidade () levando

em conta a moralidade para o exerciacutecio do mandato e a normalidade e legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia

() ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego puacuteblico da administraccedilatildeo direta ou indireta Complemento

C p 593 439 Por Gastone Righi 440 () estabelece que satildeo inelegiacuteveis para quaisquer cargos o cocircnjuge ou parentes ateacute segundo grau por

consanguinidade afinidade ou adoccedilatildeo do Presidente da Repuacuteblica do Governador e do Prefeito que tenha exercido

mais da metade do mandato e soacute ressalva os que jaacute exercem mandatos eletivosIbidem p 593 441 Com ―esta redaccedilatildeo () qualquer pessoa que morar no Rio Grande do Sul e for parente de um prefeito no Rio

Grande do Norte natildeo poderaacute candidatar a nenhum cargo eletivo dentro do paiacutes Eacute uma verdadeira aberraccedilatildeo () natildeo

eacute preciso que a Constituiccedilatildeo vaacute ao ponto absurdo da proibiccedilatildeo total e absoluta de eleiccedilatildeo mesmo para parentes por

afinidade () eacute o cunhado algueacutem que sequer escolheu o parentesco e nem mesmo tem a consanguinidade ou liame

familiar estabelecido Ibidem p 599 Neste ponto eacute interessante frisar que esta aberraccedilatildeo que se refere eacute tanto

quanto ao agrave extensatildeo territorial envolvida na proibiccedilatildeo quanto agrave amplitude da vedaccedilatildeo familiar o que

inegavelmente mutatis mutantis tambeacutem constitui objeto de severas criacuteticas doutrinaacuterias agrave Suacutemula Vinculante n13

do STF 442 Por Antocircnio Britto 443 Ibidem p 600

90

Governadores cocircnjuges candidatos por exemplo satildeo beneficiados pelo poder puacuteblico

() em suas eleiccedilotildees seria tapar o sol com a peneira 444

Contudo este substitutivo foi rejeitado e apresentado outro445

quando foi

realizada uma explanaccedilatildeo completa sobre o tema446

pois aleacutem de se aduzir que a

inelegibilidade de parentes das autoridades poliacuteticas em voga eacute uma tradiccedilatildeo

constitucional no Brasil447

ainda restou claro que aquilo que embasa e sempre embasou

esta vedaccedilatildeo constitucional eacute a necessidade de se obstar o nepotismo e a manutenccedilatildeo de

domiacutenios familiares no poder puacuteblico 448

O substitutivo foi aprovado Daiacute a notoriedade de que tanto a Constituiccedilatildeo veda

o nepotismo que eacute este o motivo da inelegibilidade reflexa expressa no artigo 14 sect 7ordm

do texto constitucional

Nesse iacutenterim vale ressaltar que natildeo seria loacutegico que o texto constitucional

obstasse por um lado o domiacutenio familiar pelo meio poliacutetico eleitoral e por outro

permitisse o mesmo o poderio deste clatilde pelas vias administrativas de nomeaccedilatildeo em

cargos puacuteblicos eou administrativos449

444 Gerson Peres que completa Complemento C p 600 E continua ―Eacute a realidade brasileira () temos de manter o

texto () que sustenta a moralidade na coisa puacuteblica Natildeo vamos () abrir a porta para que no Paiacutes ocorram fatos

degradantes () essa proibiccedilatildeo eacute vaacutelida () moralidade natildeo tem limite nem jurisdiccedilatildeo () a utilizaccedilatildeo do poder eacute

dentro do territoacuterio nacional E foi este o pensamento adotado pelos Ministros do Supremo ao elaborarem a SV

n13 445 Do Relator Bernardo Cabral 446 Por Ruy Barcelar 447 ―Por um lapso () deixou de incluir a inelegibilidade dos parentes de segundo grau afins e por adoccedilatildeo do

Presidente da Repuacuteblica () No que concerne agraves inelegibilidades oriundas do grau de parentesco por

consanguinidade ou afim jaacute a Carta Constitucional de 1891 tornava inelegiacuteveis para o cargo de Presidente os

parentes consanguiacuteneos e afins do 1ordm e 2ordm graus do Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica ou de quem se achasse

em serviccedilo no momento da eleiccedilatildeo ou de quem tivesse deixado ateacute 6 meses antes A Constituiccedilatildeo de 1934

considerava inelegiacuteveis os parentes ateacute o terceiro grau do Presidente da Repuacuteblica que natildeo se afastasse do cargo pelo

menos um ano antes A Carta autoritaacuteria de 1937 () se omitiu com relaccedilatildeo ao tema() a Constituiccedilatildeo de 1946

voltou a considerar inelegiacuteveis os parentes consanguiacuteneos e afins ateacute o 2ordm grau natildeo soacute do Presidente da Repuacuteblica

mas tambeacutem dos Governadores e Prefeitos estendendo-se este impedimento () ao cocircnjuge dessas autoridades ()

A Constituiccedilatildeo de 1967 () diferenccedila eacute a extensatildeo das inelegibilidades aos parentes ateacute o 3ordm grau e aos parentes por

adoccedilatildeo () Emenda Constitucional n 22 de 1982 agrave () de 1967 com a redaccedilatildeo dada pela Emenda n 1 de 1969

manteacutem a inelegibilidade por parentesco voltando-se o limite de ateacute 2ordm grau () no territoacuterio de jurisdiccedilatildeo do titular

() O projeto da Comissatildeo de Sistematizaccedilatildeo art 28 II letra g considera igualmente inelegiacuteveis no territoacuterio de

jurisdiccedilatildeo do titular o cocircnjuge e os parentes por consanguinidade afinidade ou adoccedilatildeo () jaacute o substitutivo ()

repete a redaccedilatildeo dada pelas Constituiccedilotildees de 1946 e 1967 () sem tornar inelegiacuteveis o cocircnjuge e os parentes de

Presidente da Repuacuteblica () Ata de Comissotildees p 683 ndash 684 448() a tradiccedilatildeo constitucional brasileira sobre inelegibilidade por grau de parentesco () sempre contemplou esse

impedimento como forma necessaacuteria para evitar o nepotismo ou a perpetuaccedilatildeo no poder atraveacutes de interposta pessoa

deve ser mantida A intenccedilatildeo do legislador brasileiro ao longo de nossa histoacuteria foi de impedir que aqueles que

detecircm uma parcela do poder de governar tendo sob o seu controle a maacutequina administrativa ou aquele que deixou o

cargo agraves veacutesperas das eleiccedilotildees favoreccedilam seus parentes prevalecendo-se da autoridade que tem ou aproveitando-se

da influecircncia que ainda manteacutem decorrente da proximidade do afastamento do cargo Visou-se preservar a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia ou abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo ou cargo Daiacute nossa

iniciativa de apresentar emenda no sentido de restabelecer a tradiccedilatildeo constitucional brasileira e ao mesmo tempo

alertar () para o tema que achamos de grande importacircncia para a normalidade e a moralidade da vida poliacutetica

brasileira (grifos nossos) Idem 683-684 449 Quem natildeo pode o mais pode o menos

91

Ainda na esfera eleitoral ao se dispor sobre o voto e a eleiccedilatildeo em dois turnos o

personalismo eacute lembrado como uma chaga aberta no sistema eleitoreirondashgovernamental

do paiacutes

Neste diapasatildeo fala-se sobre o ―conservadorismo mesclado () pelo

clientelismo e pelas benesses da maacutequina do Poder Executivo que estaacute vinculado ()

com o empreguismo e com todo esse fisiologismo que tem dominado a poliacutetica

brasileira ao longo desses anos450

e portanto constata-se que ―A questatildeo eleitoral ()

eacute crucial para se ter uma democracia natildeo do autoritarismo do clientelismo e do

fisiologismo () que () espelhe parte da verdade do voto451

E no Destaque nordm 7746-87 que dispunha sobre eleiccedilatildeo em dois turnos a

argumentaccedilatildeo exibida se reporta agrave longa histoacuteria da pessoalidade sempre presente no

acircmbito do poder puacuteblico brasileiro e expotildee a falta de probidade encrustada na orbita

governamental-administrativa onde transita livremente o nepotismo452

que remonta agrave

eacutepoca do coronelismolsquo e da Repuacuteblica Velha453

Apoacutes toda esta explanaccedilatildeo se conclui que os constituintes estavam absorvidos

natildeo apenas em garantir a moralidade administrativa do serviccedilo puacuteblico em si mas a

moralidade puacuteblica em sentido amplo aquela que vigora no sistema no Estado no

governo e na administraccedilatildeo454

Nesse esteio vale ressaltar que o concurso puacuteblico em meio agrave argumentaccedilatildeo

quanto agrave moralidade puacuteblica455

eacute observado a uma como instrumento moralizador da

maacutequina administrativa e do seu serviccedilo puacuteblico e a duas como elemento

constitucionalmente inibidor do nepotismo

450Joseacute Genoiacuteno Ata das Comissotildees p 685 451 Idem p 685 452 Gerson Peres Que ainda afirma ―O processo de dois turnos eacute () reacionaacuterio () antipopular eacute contra o avanccedilo

da proacutepria esquerda que o enaltece irresponsavelmente sem noccedilatildeo histoacuterica intelectual sem sequer seriedade ou

probidade () Os governos haveratildeo de ser partilhados as secretarias divididas as diretorias vendidas o nepotismo o

filhotismo o apadrinhamento se daraacute em toda a extensatildeo para que o candidato compre essa maioria absoluta

Suplemento C p760-761 453 ―() a influecircncia do poder do Governo municipal do poder do Governo estadual ainda estaacute arraigado () e noacutes

vamos assistir a espetaacuteculos degradantes com as eleiccedilotildees de dois turnos vencendo sempre aquele que vai deter a

maacutequina Idem p 762 454 Diante disto como afirmar que o nepotismo refere-se apenas agrave oacuterbita administrativa e natildeo governamental Jaacute natildeo

ficou exposto que eacute o nepotismo a fundamentaccedilatildeo da inelegibilidade reflexa E natildeo eacute a eleiccedilatildeo o instrumento

imprescindiacutevel ao governo Entatildeo natildeo seria tambeacutem nepotismo as nomeaccedilotildees em cargos poliacuteticos governamentais

Se eacute nepotismo a eleiccedilatildeo para deputada federal por um Estado da filha do governador deste Estado porque natildeo seria

nepotismo a sua nomeaccedilatildeo para ser Secretaacuteria de uma das Pastas estaduais do governo de seu pai Esta eacute outra criacutetica

levantada pela doutrina quanto agrave redaccedilatildeo da SV n13 que natildeo abarcou a vedaccedilatildeo da nomeaccedilatildeo para cargos poliacuteticos

como nepotismo 455 Pela fala de Adylson Motta quanto ao serviccedilo puacuteblico ao analisar o substitutivo do Relator Bernardo Cabral

92

E ainda que foi apresentada uma emenda456

que expressamente vedada o

nepotismo na funccedilatildeo puacuteblica e nos cargos comissionados os quais seriam apenas

destinados aos titulares de direccedilatildeo superior do denominado primeiro e segundo escalatildeo

da Administraccedilatildeo Puacuteblica457

Assim quando se remonta ao binocircmio composto por um lado pela Moralidade

Puacuteblica consagrada pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 e por outro pelo

nepotismo deve-se enfocar que a moralidade puacuteblica eacute diretriz decorrente do proacuteprio

princiacutepio republicano que veda que qualquer ato seja realizado em detrimento da

igualdade

E nesse contexto se observa que a Constituiccedilatildeo Federal embora natildeo tenha se

referido expressamente ao nepotismo em nenhum dos seus dispositivos o exortou do

―atual estaacutegio do nosso viver458

jaacute que desde o seu artigo primeiro estabeleceu o

princiacutepio republicano incompatiacutevel com atos como o nepotismo 459

Eacute tambeacutem neste espeque que se constata que a Constituiccedilatildeo Federal de 1988

determinou no seu art 14 sect 7ordm a inelegibilidade de cocircnjuges parentes consanguiacuteneos

afins e por adoccedilatildeo ateacute o segundo grau de poliacuteticos deixando patente a

incompatibilidade do nepotismo com os seus preceitos

456 Por Adylson Motta 457 ―() temos que mudar a fisionomia da funccedilatildeo puacuteblica e do funcionaacuterio puacuteblico () cuidar eacute do ingresso de algueacutem

na funccedilatildeo puacuteblica que eacute pela porta do concurso () obrigatoriedade da organizaccedilatildeo do funcionaacuterio em carreira ()

continua constando aqui neste substitutivo () uma emenda que eu apresentei no primeiro momento que proiacutebe o

nepotismo na funccedilatildeo puacuteblica e limita a utilizaccedilatildeo do cargo de confianccedila () ficariam adstritos apenas aos titulares de

Ministeacuterios a Chefes do poder a secretaacuterios talvez de Ministeacuterios a dirigentes maacuteximos das entidades paraestatais

() Adylson Motta Ata das Comissotildees p 787 Tal proposta natildeo foi aprovada mas se tivesse sido poderia ter ao

menos limitado o nepotismo a alguns cargos poliacuteticos e outros puacuteblicos que restariam como cargos de confianccedila de

livre nomeaccedilatildeo 458 VASCONCELOS Telmo da Silva Princiacutepio Constitucional da Moralidade e o Nepotismo Revista L amp C n 50

ago 2002 p 30 459Por isto Paulo Modesto afirma que ―() respeitar o interesse comum dirigir-se ao interesse puacuteblico exige do

agente puacuteblico republicano a adoccedilatildeo de criteacuterios igualitaacuterios e de meacuterito no acesso aos cargos puacuteblicos de sua livre

escolha em qualquer estrato do Poder dentro do Estado Todos satildeo iguais em uma Repuacuteblica satildeo cidadatildeos com

cargas puacuteblicas e direitos iguais A proteccedilatildeo de privileacutegios de origem familiar na intimidade do Estado eacute a antiacutetese do

regime republicano MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de

Direito Puacuteblico - RBDP ano 11 n 41 abrjun 2013 Belo Horizonte Ed Foacuterum p 24 E ainda completa ―Trata-se

de comportamento em qualquer extensatildeo do conceito evidentemente contraacuterio ao ethos republicano a princiacutepio

baacutesicos da administraccedilatildeo puacuteblica e a elementares preceitos de boa gestatildeo da coisa puacuteblica mas que foi tolerado

durante toda a histoacuteria do Brasil e nos vinte primeiros anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 MODESTO Paulo

Op cit p 11 Tambeacutem eacute este o posicionamento adotado por Zeacutelio Maia da Rocha ao afirmar que ―Nepotismo em

essecircncia significa favorecimento Somente os agentes que ostentem grande equiliacutebrio e retidatildeo de caraacuteter conseguem

manter incoacutelume a dicotomia entre o puacuteblico e o privado impedindo que sentimentos de ordem pessoal contaminem

e desvirtuem a atividade puacuteblica que se propuseram a desempenhar () Assim nepotismo consiste em condutas

praticadas por agentes puacuteblicos que utilizando-se dos cargos estrateacutegicos que ocupam na estrutura estatal passam a

nomear ou manter parentes em cargos comissionados em indiscutiacutevel prejuiacutezo ao princiacutepio republicano segundo o

qual o da isonomia deve sempre ser potencializado com o intuito de que a coisa do povo (respublicum) reste

plenamente preservada Nepotismo e concurso puacuteblico Criteacuterio objetivo de ausecircncia de moralidade e

impessoalidade na Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista juriacutedica Consulex v 12 n 286 15 de dezembro 2008 p 40

93

Daiacute se constata se o domiacutenio poliacutetico familiar pela via eleitoral eacute

constitucionalmente coibido que diraacute pela via administrativa por meio da qual ocorre o

nepotismo ―Quem natildeo pode mais tambeacutem natildeo pode menos

Mas natildeo eacute soacute nesse enredo estatildeo assentados pela Constituiccedilatildeo Federal como

princiacutepios constitucionais460

basilares da Administraccedilatildeo Puacuteblica461

da legalidade da

impessoalidade da moralidade da publicidade e da eficiecircncia

Princiacutepios462

que longe de serem apenas meros valores satildeo normas que geram

efeitos no mundo juriacutedico463

indicam ―uma situaccedilatildeo geral a ser buscada por todos

aqueles que se encontrarem sob sua regecircncia464

e conferem ―coerecircncia e unidade

sistemaacutetica 465

ao ordenamento juriacutedico figurando como norte confiaacutevel466

Assim a Administraccedilatildeo Puacuteblica presente em todos os poderes de cada um dos

entes federados aleacutem de obedecer a diversas ―leis esparsas que mudam com uma

frequecircncia assustadora467

deve observar os princiacutepios constitucionais gerais os que a

regem especificamente e ainda aqueles que derivam destes pois satildeo os princiacutepios

aplicaacuteveis agrave Administraccedilatildeo que asseguram estabilidade ao direito administrativo vez

que mesmo que as leis sejam alteradas eles permanecem468

Diante disto se o administrador puacuteblico descumpre um dos princiacutepios que

regem a Administraccedilatildeo estaraacute ―ferindo a mais alta ordem de um Estado469

460 Segundo o Ministro Ricardo Lewandowiski em seu voto no RE 579951-4 RN ―os princiacutepios constitucionais

―consubstanciam regras juriacutedicas de caraacuteter prescritivo hierarquicamente superiores agraves demais e satildeo positivamente

vinculanteslsquo como ensina Gomes Canotilho p1888 461 Expostos no caput do seu artigo 37 ―a administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo

dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade

moralidade publicidade e eficiecircncia Que satildeo de ―observacircncia obrigatoacuteria para os trecircs Poderes do Estado PIETRO

Maria Sylvia Zanella di Discricionariedade Administrativa na Constituiccedilatildeo de 1988 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Atlas 2012 p 160 462 Poeticamente segundo Machado de Assis eacute ―uma verdade que nas coisas anda que mora no visiacutevel e no

invisiacutevel Citaccedilatildeo do autor na fala de Quincas Borba explicando a Rubiatildeo sobre ―Humanitas Quincas Borba Satildeo

Paulo EDIGRAF 1889 p 18 463 A anaacutelise dos princiacutepios seraacute realizada no proacuteximo capiacutetulo de acordo com a hermenecircutica constitucional

Conforme o moderno entendimento ―satildeo conceituados como mandamento nuclear de um sistema em virtude de sua

relevacircncia axioloacutegica que lhe outorga a condiccedilatildeo de nuacutecleo central da ordem juriacutedica Karl Larenz apud Maria

Sylvia Zanella di Pietro in Discricionariedade Administrativa na Constituiccedilatildeo de 1988 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Atlas 2012 p154 Entretanto existem vaacuterias posiccedilotildees quanto agrave sua ponderabilidade e aplicaccedilatildeo 464 Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires Mauriacutecio Zockun Renata Porto Adri

(Coordenadores) O nepotismo e os princiacutepios da administraccedilatildeo puacuteblica ndash Florivaldo Dutra de Arauacutejo Belo

Horizonte Ed Foacuterum 2008 p 120 465 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Princiacutepios Informativos e Interpretativos do Direito Administrativo in

ARAUacuteJO Valter Shuenquener de (coord) Direito Administrativo em Foco Niteroacutei Ed Impetus 2005 p30 466 PEREIRA JUNIOR Jesseacute Torres Controle Judicial da Administraccedilatildeo Puacuteblica Da Legalidade Estrita agrave Loacutegica

do Razoaacutevel 2ordf ediccedilatildeo Belo Horizonte Editora Forum 2006 p 62 467 Idem p 159 468 Idem p160 469 EMPIROTTI Gabriela Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula nordm13 e sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 fev 2013 p 40

94

E eacute nesse ensejo que os juristas afirmam que o texto constitucional coibiu o

nepotismo no poder puacuteblico por trecircs dos cinco princiacutepios basilares da Administraccedilatildeo470

quais sejam o da impessoalidade471

o da eficiecircncia e o da moralidade administrativa472

Nesse esteio eacute que a Constituiccedilatildeo Federal veda a praacutetica de atos de

personalismo dentre eles o nepotismo sendo imprescindiacutevel que o agente puacuteblico

realize o ato administrativo desconsiderando quaisquer condiccedilotildees de parentesco

amizade posiccedilotildees partidaacuterias ou ideoloacutegicas daquele que seraacute nomeado473

Daiacute a importacircncias de tais princiacutepios e da moralidade puacuteblica no estudo do

nepotismo cuja proibiccedilatildeo de acordo com o STF deles deriva474

Mas o nepotismo natildeo eacute ato dissonante apenas dos princiacutepios da

Impessoalidade475

da Eficiecircncia476

e da Moralidade 477

tambeacutem destoa do princiacutepio da

Finalidade478

470 Assentados pela jurisprudecircncia do STF como autoaplicaacuteveis o que se observaraacute no uacuteltimo capiacutetulo 471 Uma das formas pelas quais a Constituiccedilatildeo consagrou este princiacutepio foi estabelecer o acesso ao cargo puacuteblico por

meio de concurso puacuteblico a fim de rechaccedilar da administraccedilatildeo os viacutecios do patrimonialismo e o personalismo dentre

eles o nepotismo Aqui vale apenas lembrar que o concurso puacuteblico previsto no inciso II do art 37 da CF88 eacute

espeacutecie de procedimento licitatoacuterio regulado pela lei 866693 destinado a preencher os cargos efetivos do quadro

pessoal dos oacutergatildeos e entidades da administraccedilatildeo Ele eacute a regra e a exceccedilatildeo eacute a livre nomeaccedilatildeo de indiviacuteduo a ocupar

cargo comissionado tambeacutem prevista constitucionalmente 472―Eacute evidente que atenta contra a moralidade do serviccedilo puacuteblico a contrataccedilatildeo indiscriminada de parentes aleacutem de

ofender a impessoalidade com que deve ser regida a atuaccedilatildeo do Poder Puacuteblico Tambeacutem a eficiecircncia do pessoal deixa

a desejar () CAVALCANTI Felipe Locke O Conselho Nacional de Justiccedila e a efetividade dos princiacutepios

constitucionais Revista do advogado ano 32 n 117 out 2012 p 92 E ―() o nepotismo pode ser compreendido

como o favorecimento dos viacutenculos de parentesco nas relaccedilotildees de trabalho ou emprego () viola os princiacutepios

constitucionais da moralidade da impessoalidade e da eficiecircncia na Administraccedilatildeo Puacuteblica ESTRELLA Heron

Nunes Nepotismo Aplicaccedilatildeo da Suacutemula Vinculante n 13 do Supremo Tribunal Federal Interesse Puacuteblico Ed

Foacuterum v10 n 54 marabr 2009 p265 473 Por isto Dioacutegenes Gasparini sintetiza que ―O que se quer na atualidade eacute ver extinto o vezo de certas autoridades

dotadas do poder de prover cargos ou empregos puacuteblicos de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo que deles valem-se para

beneficiar parentes propiciando-lhes um bom emprego PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI

Renata Porto (Coordenadores) Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Nepotismo Poliacutetico p 97 474 EMPIROTTI Gabriela Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula nordm13 e sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 fev 2013 p 41 475 Tanto que Mayara Alice Souza Pegorer ao analisar o nepotismo institucionalizado no papel da primeira-dama

afirma que ―() justamente pelo papel assumido pela figura da primeira-dama a segunda situaccedilatildeo torna-se bem

recorrente atribuindo-se a ela a conduccedilatildeo de instituiccedilotildees sem fins lucrativos que buscam promover o bem-estar social

da populaccedilatildeo empreendendo poliacuteticas sociais que vatildeo desde a proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente famiacutelias carentes e

meio ambiente () poder-se-ia aventar a violaccedilatildeo ao princiacutepio da () impessoalidade e a moralidade ao se sobrepor

os interesses pessoais aos coletivos resultando pois em ato contra os princiacutepios da Administraccedilatildeo Puacuteblica As

primeiras damas da improbidade administrativa do nepotismo agrave corrupccedilatildeo ndash Poliacuteticas puacuteblicas de efetivaccedilatildeo dos

direitos sociais Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 12 n141 nov 2012 p 56 476 Dioacutegenes Gasparini afirma que o nepotismo ―contraria a moralidade a impessoalidade a finalidade e a eficiecircncia

das accedilotildees administrativas Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN

Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p 88-89 477 Nesse sentido satildeo as palavras de Temo da Silva Vasconcelos ―Nepotismo afigura-se agrave ideia de favoritismo

patronal em dissonacircncia a impessoalidade A breve histoacuteria da naccedilatildeo brasileira jaacute em seus primoacuterdios registra a

primeira manifestaccedilatildeo de tal praacutetica () Desde entatildeo a percorrer e macular toda a nossa histoacuteria puacuteblica e privada

afigurado apadrinhamento da assunccedilatildeo aos postos sem a afericcedilatildeo de medidas de capacidade e merecimento Fez-se

presente suplantando periacuteodos despoacuteticos e democraacuteticos como que pairando sobre qualquer juiacutezo de moralidade e

probidade O Princiacutepio Constitucional da Moralidade e o Nepotismo Revista L amp C n 50 ago2002 p 29-30 478 O princiacutepio da finalidade eacute citado como um daqueles infringidos pelo nepotismo pois o administrador puacuteblico ao

nomear parentes para determinados cargos natildeo visa ―a finalidade puacuteblica como norte de tal ato mas o ―beneficiar

95

Assim aquele que pratica o nepotismo os inobserva pois tal conduta

rechaccedilada nada mais eacute do que ―um dos caminhos pelos quais se destroacutei e se adultera a

administraccedilatildeo puacuteblica desviando-a dos fins que informam sua existecircncia479

Fins

esses a serem ―buscados pelo poder puacuteblico no Estado de Direito480

derivados dos

seus princiacutepios e do proacuteprio princiacutepio da finalidade

Desta feita passa-se agrave anaacutelise da relaccedilatildeolsquo do nepotismo com os princiacutepios da

impessoalidade eficiecircncia finalidade com o fito de demonstrar que ao final e antes de

tudo o nepotismo eacute imoral

231 O contraventor do princiacutepio da impessoalidade

Como jaacute foi dito o nepotismo que eacute perpetuado ―ateacute os dias de hoje 481

eacute um

haacutebito viciado da Administraccedilatildeo Puacuteblica brasileira vinculado ao personalismo e ao

favoritismo avesso ao princiacutepio da impessoalidade482

e que em uma Repuacuteblica que vige

desde 1988 estruturada no trato impessoal e igualitaacuterio483

―de traccedilos organizados

estruturados e dinamizados segundo o direito que nele vigora 484

e cujas bases natildeo

convivem ―com a personalizaccedilatildeo do Poder conforme o governante em exerciacutecio485

natildeo

haacute como ser aceito

A administraccedilatildeo puacuteblica deve ser exercida pelos seus agentes de forma

imparcial neutra e impessoal no trato com a coisa puacuteblica na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos nas atividades puacuteblicas que realizam garantindo tratamento igualitaacuterio aos

determinada classe em detrimento daqueles que natildeo nasceram parentes ou natildeo se casaram ou nem mantiveram uniatildeo

estaacutevel com algueacutem com certa influecircncia ARAKAKI Allan Thiago Barbosa e ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula

Vinculante n 13 e o combate ao nepotismo Revista de direito Constitucional e Internacional ndash RDCI n 211 v 75 p

104 479ARAUacuteJO Florivaldo Dutra O nepotismo e os princiacutepios da administraccedilatildeo puacuteblica In ADRI Renata Porto

PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte

Foacuterum 2008 p 119 480 Ibidem p 126 481CORREcircA Gustavo Hermont Princiacutepio da Moralidade ou Eticidade da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese

Direito Administrativo v6 n 66 jun 2011 p 72 482 Nos termos de Ives Gandra Martins e Celso Ribeiro Bastos o princiacutepio da impessoalidade eacute aplicado na

Administraccedilatildeo Puacuteblica para obstar ―que o administrador natildeo seja tentadolsquo a substituir o interesse coletivo por

consideraccedilotildees de ordem pessoal (favorecimento ou perseguiccedilatildeo) Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo do Brasil 3ordm volume ndash

tomo III arts 37- 43 Satildeo Paulo Saraiva 1992 p 34 483 Segundo Joseacute dos Santos Carvalho Filho ―Impessoal eacute () aquilo que natildeo pode ser voltado especialmente a

determinadas pessoas() deve a Administraccedilatildeo voltar-se exclusivamente para o interesse puacuteblico e natildeo para o

privado vedando-se em consequecircncia sejam favorecidos alguns indiviacuteduos em detrimento de outros e prejudicados

alguns para favorecimento de outros() reflete () princiacutepio da finalidade () o alvo a ser alcanccedilado pela

Administraccedilatildeo eacute somente o interesse puacuteblico e natildeo se alcanccedila o interesse puacuteblico se for perseguido o interesse

particular() a Administraccedilatildeo haacute de ser impessoal sem ter em mira este ou aquele indiviacuteduo de forma especial

Manual de Direito Administrativo 11ordf ed Rio de Janeiro Ed Lumen Juris 2004 p15 484 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes O Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p 146 485 Ibidem p 146

96

administrados486

e por isso ao contraacuterio natildeo deve ser exercida vinculada a ―um

comando pessoal a um capricho ou vontade particular que cada um se obriga mas agrave

norma de Direito tendo a impessoalidade ―que se tornou princiacutepio constitucional pela

fundamentalidade de que se reveste 487

como uma de suas caracteriacutesticas principais

Por isto os atos administrativos devem ser ―sempre destinados genericamente

agrave coletividade sem consideraccedilatildeo para fins de privilegiamento das ―caracteriacutesticas

pessoais daqueles a quem porventura se dirija natildeo podendo jamais ser apropriado para

qualquer fim pessoal privado particular ―por aquele que em decorrecircncia de exerciacutecio

funcional se viu na condiccedilatildeo de executaacute-la488

E eacute este princiacutepio489

que garante ao administrado a administraccedilatildeo idocircnea pois

―impotildee ao administrador puacuteblico que soacute pratique o ato de forma impessoal estando

―impedido de buscar outro objetivo ou de praticaacute-lo no interesse proacuteprio ou de

terceiros490

Por um lado tanto coiacutebe ―a promoccedilatildeo pessoal de autoridades ou servidores

puacuteblicos sobre suas realizaccedilotildees administrativas como veda que o ato administrativo

seja praticado ―unicamente a satisfazer interesses privados por favoritismo ou

perseguiccedilatildeo dos agentes governamentais491

e por outro impede que a Administraccedilatildeo

distinga ―interesses onde a lei natildeo o fizer obrigando-a a atuar sem dar ―precedecircncia a

quaisquer interesses em detrimento dos finaliacutesticos a fim de que esteja despida ―de

qualquer inclinaccedilatildeo tendecircncia ou preferecircncia subjetiva492

486 De acordo com Alexandre de Moraes ―o administrador eacute um executor do ato da entidade puacuteblica em nome da

qual atua Constituiccedilatildeo do Brasil Interpretada e Legislaccedilatildeo Constitucional 6ordf ed Satildeo Paulo Atlas 2006 p 817

Conforme ensina Juarez Freitas ―() a Administraccedilatildeo Puacuteblica precisa dispensar um tratamento isonocircmico a todos

sem privileacutegios espuacuterios tampouco qualquer manobra persecutoacuteria () determina que o agente puacuteblico proceda com

desprendimento atuando desinteressada e desapegadamente com isenccedilatildeo sem perseguir nem favorecer jamais

movidos por interesses subalternos FREITAS Juarez O controle dos atos administrativos e os princiacutepios

fundamentais 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 p50 487 Ibidem Op cit p 146 488 CARDOZO Joseacute Eduardo Martins Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica (de acordo com a

Emenda Constitucional nordm 1998) in Os 10 anos da Constituiccedilatildeo Federal Alexandre Moraes (coordenador) Satildeo

Paulo Atlas 1999 p 154 ndash 155 Para Carmem Luacutecia Antunes Rocha o princiacutepio ―garante que a Administraccedilatildeo seja

Puacuteblica e natildeo coisa particular de um ―grupo de pessoas eventualmente ocupantes dos cargos do Poder Princiacutepios

Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p154 489 Que ―ganhou dimensatildeo no direito administrativo de acordo com a influecircncia do direito italiano e alematildeo

CORREIA Seacutervulo Direito do Contencioso Administrativo Lisboa Editora Lex 2005 p619 490 MEIRELLES Hely Lopes Direito Administrativo Brasileiro 21ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 1996 p 85

Conforme Carmem Luacutecia ―A impessoalidade no trato da coisa puacuteblica garante () qualidade da res gerida pelo

Estado a sua condiccedilatildeo de ser puacuteblica () voltada agrave concretizaccedilatildeo do bem de todos e natildeo de grupos ou de algumas

pessoas () traduz-se na ausecircncia de marcas pessoais e particulares correspondentes ao administrador que em

determinado momento esteja no exerciacutecio da atividade administrativa () revela o Estado natildeo-Cesar Op cit p

147 491 Ibidem p 86 492 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Princiacutepios Informativos e Interpretativos do Direito Administrativo in

Direito Administrativo Coord Valter Shuenquener de Arauacutejo Niteroacutei Impetus 2005 p 28

97

Desta forma como ―princiacutepio cardial493

da Administraccedilatildeo natildeo soacute protege ―o

particular contra a administraccedilatildeo como tambeacutem a proteger a administraccedilatildeo contra seus

proacuteprios funcionaacuterios494

e torna ―ilegiacutetima a decisatildeo tomada em condiccedilotildees de

parcialidade495

Nesse enredo constata-se que eacute vetor democraacutetico e republicano de ―se dar

trato puacuteblico agrave coisa puacuteblica independentemente da ―situaccedilatildeo pessoal daquele que

deteacutem o cargo puacuteblico o qual ―se deve manter neutro e objetivo em sua conduta496

e

tratar a todos sem qualquer espeacutecie de discriminaccedilatildeo seja ela beneacutefica ou

detrimentosa497

Em siacutentese o princiacutepio da impessoalidade estabelece que ―a atividade

administrativa deve ser destinada a todos os administrados dirigida ao cidadatildeo em

geral sem determinaccedilatildeo de pessoa ou discriminaccedilatildeo de qualquer natureza a fim de

romper o ―velho costume do atendimento do administrado em razatildeo do seu prestiacutegio

social poliacutetico econocircmico ou porque a ele o agente puacuteblico com poder para nomear

deve alguma obrigaccedilatildeo ou por fim porque ele eacute seu parente498

Eacute neste contexto que se afirma que rechaccedila do ordenamento juriacutedico todo e

qualquer ato ou vontade fundamentada no subjetivismo na pessoalidade ou na

particularidade que represente o ―privileacutegio pelo administrador puacuteblico para si ou para

seus parentes e amigos em razatildeo da sua proximidade com o poder499

e que o nepotismo

representa a ―quebra do princiacutepio da impessoalidade jaacute que sobrepotildee o interesse

particular ao puacuteblico com o direcionamento de nomeaccedilotildees500

493 GORDILLO Agustiacuten Tratado de Derecho Administrativo tomo 2 Buenos Aires Fundacion de Derecho

Administrativo 1998 pVIII-44 494 Ibidem p VIII 11 495 Ibidem pVIII 44 496 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p 155 497 Conforme esclarece Celso Antocircnio Bandeira de Mello ―Nem favoritismo nem perseguiccedilotildees satildeo toleraacuteveis

Simpatias ou animosidades pessoais poliacuteticas ou ideoloacutegicas natildeo podem interferir na atuaccedilatildeo administrativa e muito

menos interesses sectaacuterios de facccedilotildees ou grupos de qualquer espeacutecie Curso de Direito Administrativo 14ordf ediccedilatildeo

Satildeo Paulo Malheiros 2002 p 96 498 GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis

Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) p 88 499 Ibidem p 154 500 RIBEIRO JUNIOR Joseacute Hortecircncio A ilegalidade do nepotismo no poder judiciaacuterio ndashRevista Juriacutedica Consulex

ano IX nordm 200 p 30 Nos dizeres de Carmem Luacutecia A impessoalidade () eacute rompida () quando o motivo que

conduz a uma praacutetica pela entidade puacuteblica natildeo eacute uma razatildeo juriacutedica baseada no interesse puacuteblico mas no interesse

particular do seu autor () motivado por interesse em auxiliar () ou beneficiar parentes amigos pessoas

identificadas pelo agente e que dele mereccedilam segundo particular vinculaccedilatildeo que os aproxima favores e graccedilas que o

Poder facilita ou ateacute mesmo em prejudicar pessoas que destoem do seu ciacuterculo de relacionamentos pessoais e pelos

quais nutra () desafeiccedilatildeo ou desagrado () O motivo particular natildeo pode prosperar () o cometimento motivado

por razotildees particulares eacute o prejuiacutezo de quem natildeo tenha acesso pleno e republico agrave Administraccedilatildeo ROCHA Op cit

p157

98

A partir do princiacutepio da impessoalidade ―quer-se quebrar o velho costume do

atendimento do administrado em razatildeo do seu prestiacutegio ou porque a ele o agente puacuteblico

deve alguma obrigaccedilatildeo uma vez que o ato administrativo natildeo ―pode ser dirigido com o

intuito de beneficiar esta ou aquela pessoa501

Eacute ele que se assegura a prevalecircncia do princiacutepio isonocircmico502

em detrimento

dos ―idiossincraacuteticos projetos de cunho particularista fundados em ―efecircmeros motivos

caracteriacutesticos dos cultivadores do poder503

carregados de ―subjetivismos

injustificaacuteveis e de ―caprichos lesivos504

Desta forma o princiacutepio da impessoalidade eacute um dos princiacutepios que obsta o

Estado seja tratado como ―uma ampliaccedilatildeo do ciacuterculo familiar como ―uma integraccedilatildeo

de certos agrupamentos ou ainda como objeto ―de certas vontades particularistas505

Mas na realidade praacutetica eis aiacute um dos desafios que os agentes do direito em

especial os constitucionalistas e os administrativistas devem se debruccedilar jaacute que a

maacutequina estatal eacute formada por pessoas agentes estatais impregnados da pessoalidade

de fazer do Estado coisa sua que pode e deve utilizar o poder para beneficiar natildeo soacute a

si mas tambeacutem aos seus506

E eacute nesse diapasatildeo insere-se o nepotismo ―praacutetica ilegiacutetima e incompatiacutevel agrave

forma republicana da gestatildeo da coisa puacuteblica507

cuja vedaccedilatildeo decorre diretamente do

princiacutepio da impessoalidade508

e que ―talvez seja a questatildeo principal e mais

frequentemente encontrada na Administraccedilatildeo a ferir o princiacutepio da impessoalidade

constitucionalmente estabelecido na esteira da opccedilatildeo republicana509

501 GASPARINI Diogenes Direito Administrativo 10ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 p9 502 Para Emerson GARCIA e Rogeacuterio Pacheco ALVES ―() preserva-se o princiacutepio da isonomia entre os

administrados e o princiacutepio da finalidade () sendo vedada a atividade discriminatoacuteria que busque unicamente a

implementaccedilatildeo de um interesse particular Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem Rio de Janeiro Ed

Lumen Juris 2002 p21 503 Ibidem 50 504 Ibidem 53 505 Empirotti Gabriele Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula nordm13 e sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 fev 2013 p 41 506 Neste sentido Carmem Luacutecia ressalta ―A grande dificuldade de garantia de impessoalidade estatal () que suas

atividades satildeo desempenhadas pelas pessoas cujos interesses e ambiccedilotildees afloram mais facilmente ali em razatildeo da

proximidade do Poder e portanto da possibilidade de realiza-las valendo-se para tanto da coisa que eacute de todos e natildeo

apenas dele ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo

Horizonte Del Rey 1994 p 147 507 LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal ano V n 26 outnov 2008 p 19 508 Segundo Emerson Garcia ―Identificada a praacutetica do nepotismo ter-se-aacute de imediato a violaccedilatildeo ao princiacutepio da

impessoalidade jaacute que privilegiados interesses individuais em detrimento do interesse coletivoO nepotismo

Boletim de Direito Administrativo-BDA jun 2003 p 462 O interessante eacute que o Presidente pode nomear seu irmatildeo

como ministro Este ato mesmo pessoal natildeo se enquadra como nepotismo como se veraacute no uacuteltimo capiacutetulo 509 ROCHA Carmem Luacutecia Op cit p 158

99

Assim o nepotismo resultante ―da multissecular cultura do

patrimonialismo510

eacute avesso ao ato administrativo impessoal511

e torna a administraccedilatildeo

natildeo puacuteblica mas personalizada antidemocraacutetica e socialmente injusta512

se

configurando como ato invaacutelido para o Direito513

e de ―responsabilidade de quem lhe

tenha dado causa514

232 O viacutecio que danifica o Princiacutepio da Eficiecircncia

Incluiacutedo na Constituiccedilatildeo Federal pela Emenda Constitucional n 1998 como

princiacutepio cardinal da Administraccedilatildeo Puacuteblica traduz a exigecircncia de o agente puacuteblico

buscar incessantemente o melhor resultado ―sem descurar dos mandamentos legais e

dos padrotildees eacuteticos subjacentes ao bom administrador 515

Eacute o mandamento da qualidade do serviccedilo puacuteblico que envolve natildeo apenas a

eficiecircncia do ―modo pelo qual se processa o desempenho da atividade administrativa

como tambeacutem a eficaacutecia dos ―meios e instrumentos empregados e a efetividade dos

―resultados obtidos516

obrigando a Administraccedilatildeo Puacuteblica agrave ―racionalidade e

aproveitamento maacuteximo das potencialidades existentes em prol da ―promoccedilatildeo do bem

510 Expressatildeo do Ministro Carlos Britto no seu voto agraves fls 3334 da MC - ADC n12DF 511 De acordo com Joseacute Eduardo Martins Cardozo a Administraccedilatildeo natildeo pode ―beneficiar ou impor sanccedilatildeo a algueacutem

em decorrecircncia de favoritismo ou de perseguiccedilatildeo pessoal por predileccedilatildeo ou discriminaccedilatildeo do agente puacuteblico a

algueacutem devido agraves caracteriacutesticas pessoais desta Princiacutepios constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica (de acordo com

a Emenda Constitucional nordm 191998) In MORAES Alexandre Os 10 anos da Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo

Atlas 1999 p 156 512 O agente puacuteblico natildeo pode exercer o ato considerando suas opiniotildees e interesses Desta forma mesmo se ele for

competente natildeo pode nomear parente ou amigo para cargo puacuteblico vez que este ―deve ser provido segundo os

interesses e conveniecircncias puacuteblicas e natildeo particulares ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais

da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p156 513 Tendo a teoria da nulidade plena aplicaccedilatildeo ao mesmo Ibidem p 155 514 Ibidem p 151 A autora ainda elucida que ―() se o ato no qual emerge a pessoalidade na Administraccedilatildeo tem

conotaccedilatildeo nepotista por exemplo aquele que foi favorecido com cargo ou emprego puacuteblico pela qualificaccedilatildeo

familiar teraacute desfeito o ato de sua nomeaccedilatildeo ou contrataccedilatildeo () obrigaccedilatildeo de a entidade puacuteblica regressar contra o

agente que tenha atuado com personalismo paternalismo clientelismo subjetivismo e toda e qualquer outra forma de

agravo ao princiacutepio constitucional da impessoalidade administrativa Esta eacute a norma juriacutedica a ser acatada e cumprida

rigorosamente para garantia dos demais princiacutepios e de todo o sistema constitucional republicano Ibidem p 170-

171 515 GARCIA Emerson e ALVES Rogeacuterio Pacheco Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem Rio de Janeiro

Ed Lumen Juris 2002 p 35 Hely Lopes Meirelles mesmo de a eficiecircncia ser princiacutepio constitucional jaacute a

elucidava como o dever da administraccedilatildeo que ―atinge os aspectos quantitativo e qualitativo do serviccedilo Direito

Administrativo Brasileiro 21ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 1996 p90 Eacute conhecido nos dizeres de Dioacutegenes

Gasparini ―entre os italianos como dever da boa administraccedilatildeo GASPARINI Dioacutegenes Direito Administrativo 10ordf

ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 p21 Segundo Celso Antocircnio Bandeira de Mello a eficiecircncia eacute o ―dever administrativo

por excelecircncia () faceta de um princiacutepio mais amplo () da boa administraccedilatildeo Curso de Direito Administrativo

14ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2002 p 104 516 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de Direito Administrativo 8ordf ed Rio de JaneiroEd Lumen Juris

2007 p19- 20

100

comum de forma que sua atuaccedilatildeo estatal seja ―juridicamente eficiente quanto seu

resultado quantitativo e qualitativo for satisfatoacuterio 517

Dessa forma impotildee o dever da eficiecircncia aos administradores puacuteblicos que

―reside na necessidade de tornar cada vez mais qualitativa a atividade

administrativa518

fazendo ―que os sujeitos da atividade tenham qualificaccedilatildeo compatiacutevel

com as funccedilotildees a seu cargo 519

e portanto obstando que a ―histoacuterica confusatildeo que os

administradores puacuteblicos com honrosas exceccedilotildees tecircm feito entre patrimocircnio puacuteblico e

privado 520

o que suscita o entendimento de que ―certamente natildeo atenderia o princiacutepio

da eficiecircncia a nomeaccedilatildeo de parente proacuteximo da autoridade com poder para nomear e

por ela nomeado para exercer o cargo de provimento em comissatildeo521

pois ―natildeo se

pode esperar o desempenho eficiente das funccedilotildees pelos servidores que configurem

nomeaccedilotildees favorecidas522

O cerne da problemaacutetica estaacute no fato de que a nomeaccedilatildeo de parentes

comprometeria a qualidade total desejada nos serviccedilos puacuteblicos pois a nomeaccedilatildeo de

familiares de autoridades danificaria a eficiecircncia da administraccedilatildeo em dois acircngulos um

pelos nomeados natildeo possuiacuterem a isenccedilatildeo necessaacuteria a realizar a atividade puacuteblica de

forma neutra e eficiente e em outro pela autoridade nomeante gestora ser parcial

quanto ao seu familiar523

517 CARDOZO Joseacute Eduardo Martins Princiacutepios constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica (de acordo com a

Emenda Constitucional nordm 191998) In MORAES Alexandre Os 10 anos da Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo

Atlas 1999p 165- 166 518 De acordo com Diogo de Figueiredo Moreira Neto quando os atos satildeo realizados com ―qualidades intriacutensecas de

excelecircncia obteacutem-se ―o melhor atendimento possiacutevel das finalidades previstas em lei conforme ―paracircmetros

objetivos ―destinados agrave afericcedilatildeo dos resultados alcanccedilados pela administraccedilatildeo NETO Diogo de Figueiredo

Moreira Mutaccedilotildees do direito administrativo 2ordf ed Satildeo Paulo Renovar 2001 p 41 519 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de Direito Administrativo 8ordf ed Rio de JaneiroEd Lumen Juris

2007 p 52 Tanto que de acordo com Diogo de Figueiredo Moreira Neto a eficiecircncia eacute entendida ―() como

melhor realizaccedilatildeo possiacutevel da gestatildeo dos interesses puacuteblicos em termos de plena satisfaccedilatildeo dos administrados com os

menores custos para a sociedade ela se apresenta na accedilatildeo administrativa puacuteblica simultaneamente como um

atributo teacutecnico da administraccedilatildeo como uma exigecircncia eacutetica a ser atendida no sentido weberiano dos resultados e

como uma caracteriacutestica juriacutedica exigiacutevel de boa administraccedilatildeo dos interesses puacuteblicos Op cit p 42 520 Trecho do voto do Ministro Ricardo Lewandowiski na p 1899 do RE 579951-4 RN de 20082008 521 GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN

Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p89 522 Ibidem p91 523 Nestes termos Zeacutelio Maia da Rocha afirma ―A vedaccedilatildeo ao nepotismo se justifica porque sendo o parentesco o

fundamento da nomeaccedilatildeo para ocupar cargo em comissatildeo natildeo se imagina que o dirigente iraacute fiscalizar com o mesmo

rigor o parente e sim que haacute uma natural toleracircncia a qual natildeo existiria numa relaccedilatildeo de subordinaccedilatildeo sem qualquer

grau de parentesco Veja que natildeo se pode permitir na avaliaccedilatildeo do nepotismo a utilizaccedilatildeo de um criteacuterio subjetivo

para concluir se o parente foi ou natildeo beneficiado de forma indevida Esse benefiacutecio deve ser presumido pois como

se trata de coisa puacuteblica a proibiccedilatildeo existe ou seja se o processo de nomeaccedilatildeo eacute passiacutevel de ser influenciado

indevido eacute o ingresso do parente Nepotismo e concurso puacuteblico Criteacuterio objetivo de ausecircncia de moralidade e

impessoalidade na Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista juriacutedica Consulex v 12 n 286 15 de dezembro 2008 p41

101

233 O fim avesso ao Princiacutepio da Finalidade e ao Interesse Puacuteblico

Do elenco dos cinco princiacutepios expressos no caput do artigo 37 da Constituiccedilatildeo

Federal que regem a Administraccedilatildeo outros princiacutepios que tambeacutem satildeo diretrizes do

poder puacuteblico e dentre estes o princiacutepio da finalidade decorrente do princiacutepio da

legalidade

Tal princiacutepio eacute intimamente ligado ao princiacutepio da indisponibilidade do

interesse puacuteblico pois ―institui um dever juriacutedico para a Administraccedilatildeo de dar o devido

atendimento aqueles fins consagrados como de especiacutefico interesse puacuteblico524

e traduz

a obrigaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica executar os seus atos de acordo com o fim

disposto em lei525

voltado a satisfazer o interesse puacuteblico526

jaacute que ―administrar natildeo eacute

atividade de que eacute senhor de coisa proacutepria mas gestor de coisa alheia 527

O princiacutepio da finalidade alicerccedila a execuccedilatildeo da funccedilatildeo administrativa no

interesse puacuteblico a ser perseguido pela Administraccedilatildeo Puacuteblica que se sobrepotildee ao

privado e ―natildeo pode ser livremente disposto por aqueles que em nome da coletividade

recebem o dever-poder de realiza-los528

restando ferido quando a finalidade do ato

praticado pelo agente puacuteblico eacute voltada a interesse diverso do interesse puacuteblico como

―ao benefiacutecio pessoal ou ao prejuiacutezo particular por razotildees subjetivas529

Eacute o que ocorre quando o administrador pratica o nepotismo pois natildeo atua

como agente puacuteblico que executa sua atividade em prol do interesse puacuteblico mas como

agente privado que visa satisfazer interesses de cunho pessoal confundindo assim o

espaccedilo puacuteblico com o privado530

deixando de ―realizar a ponderaccedilatildeo exclusiva dos

interesses puacuteblicos relevantes para incluir na estrutura do processo decisoacuterio

administrativo a tutela de interesses familiares e pessoais estranhos ao bem comum (res

524 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Mutaccedilotildees do direito administrativo 2ordf ed Satildeo Paulo Renovar 2001

p28 525 De acordo com Carmem Luacutecia Antunes Rocha ―Os fins satildeo a destinaccedilatildeo imanente agrave pessoa puacuteblica Eles satildeo a

razatildeo de ser da existecircncia do Estado o seu sentido e a sua justificativa Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo

Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p 192 526―Somente o interesse puacuteblico legitima o comportamento da Administraccedilatildeo Puacuteblica E apenas a conduta

administrativa legiacutetima tem sede no Direito do Estado Democraacutetico Ibidem p 214 527 Rui Cirne Lima apud Ministro Carlos Britto no seu voto na p 36 da Medida Cautelar da ADC 12-6DF de sua

relatoria de 16022006 528 CARDOZO Joseacute Eduardo Martins Princiacutepios constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica (de acordo com a

Emenda Constitucional nordm 191998) In MORAES Alexandre Os 10 anos da Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo

Atlas 1999 p149 529 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Op cit p 157 530 Nos dizeres de Dioacutegenes Gasparini ―() eacute faacutecil ver que natildeo se caracteriza como de interesse puacuteblico o relativo agrave

certa pessoa ou grupo de pessoas a uma famiacutelia () na nomeaccedilatildeo para ocupar cargo de provimento em comissatildeo de

parente proacuteximo da autoridade () sem qualquer preocupaccedilatildeo com a qualificaccedilatildeo eacutetico-profissional do nomeado

Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e

moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p 92

102

publica) 531

e viciando assim ―o ato de nomeaccedilatildeo direta ou transversa de parente de

autoridade com poder para nomear proporcionando-lhe um bom cargo ou emprego

puacuteblico532

234 A Moralidade Puacuteblica antiacutedoto do Nepotismo

Neste toacutepico passa-se agrave anaacutelise da Moralidade Puacuteblica como pilar da vedaccedilatildeo

do nepotismo seja em sentido amplo decorrente do princiacutepio republicano seja em

sentido estrito como fundamento de norma infraconstitucional seja como princiacutepio

densificado pelos outros princiacutepios ou base destes 533

Ora dita puacuteblica ora dita administrativa ora observada como norma

concreta534

ora como vista como uma norma em branco535

densificada por outros

princiacutepios536

o certo eacute que a Constituiccedilatildeo Federal deu

() especial relevacircncia agrave moralidade Administrativa como princiacutepio

norteador proacuteprio da atividade da Administraccedilatildeo Puacuteblica () ao elencaacute-lo

entre os cinco princiacutepios expressos () ao mencionaacute-lo como condiccedilatildeo de

validade do ato do Poder Puacuteblico () ao categorizar a probidade na

531 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico ndash RBDP

Belo Horizonte v 11 n 41 abrjun2013 p19 532 GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN

Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p95 533 Por isto de acordo com Ives Gandra Martins e Celso Ribeiro Bastos ―() o princiacutepio da moralidade eacute o princiacutepio

central e o maior dos quatro nele se fundamentando toda a Administraccedilatildeo Puacuteblica ateacute porque quem queira

representar a naccedilatildeo tornando-se servidor puacuteblico deve postar-se acima de qualquer suspeita e ser dotado de

idealismo que supere o dos demais cidadatildeos Eacute que em uma visatildeo correta do poder tem ele a honra e o privileacutegio de

servir aos cidadatildeos e agrave paacutetria Natildeo se pode admitir que um servidor puacuteblico seja um imoral um corrupto um

peculataacuterio posto que seu crime eacute na minha particular visatildeo de interpretar o princiacutepio da moralidade administrativa

superior aos demais visto que tendo se apresentado como algueacutem disposto a servir a sociedade sobre ela tripudia

graccedilas agrave funccedilatildeo que exerce Natildeo consigo ver o administrador puacuteblico senatildeo como algueacutem com predicados superiores

aos demais cidadatildeos razatildeo pela qual se dispotildee a servir a sociedade e creio ter sido esta a razatildeo pela qual o

constituinte houve por bem inserir o princiacutepio da moralidade puacuteblica como o mais relevante princiacutepio do direito

administrativo ―A mulher de Ceacutesar natildeo deve ser apenas honesta mas deve parecer ser honesta diziam os antigos

com acuidade eis que quem governa tem que possuir a confianccedila dos governados e a idoneidade eacute o elemento mais

denso para que mereccedila essa confianccedila Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo do Brasil 3ordm volume ndash tomo III arts 37-43 Satildeo

Paulo Saraiva 1992 p 4 ndash 5 534 Base da accedilatildeo popular e da probidade administrativa 535 Para Ricardo Marcondes Martins eacute ―uma regra de estrutura porque disciplina o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

() trata-se de uma regra em branco pois se reporta a todas as regras eacuteticas objetivadas () exige complementaccedilatildeo a

apuraccedilatildeo de quais satildeo os deveres eacuteticos Princiacutepio da moralidade administrativa In ADRI Renata Porto PIRES

Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum

2008 p323 Egon Bockman Moreira entende que eacute um principio juriacutedico em brancolsquo cujo conteuacutedo natildeo se exaure

em comandos concretos e definidos () estabelece eacute uma finalidade a ser perseguida e implementada Corrupccedilatildeo

Eacutetica e Moralidade Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires Mauriacutecio Zockun Renata Porto Adri

(Coordenadores) O princiacutepio da moralidade e seu controle objetivo Belo Horizonte Ed Foacuterum 2008 p 102 536 Segundo Luis Manuel Fonseca Pires ―() o princiacutepio da moralidade administrativa prescrito no art 37 caput da

Constituiccedilatildeo Federal eacute uma norma juriacutedica de eficaacutecia plena que natildeo guarda dependecircncia para a sua significaccedilatildeo

apenas de regras juriacutedicas mas () que igualmente pode qualificar-se como norma legitima a ser aplicada para

permitir ou vedar dado comportamento em razatildeo de outros meios de densificaccedilatildeo ou significado () se a moralidade

administrativa natildeo se confunde com a moral comum por outro lado a moralidade administrativa natildeo depende uacutenica e

exclusivamente de uma regra juriacutedicalsquo para externar o seu significado pois eacute possiacutevel compreendecirc-la e concretizaacute-la

com uma leitura toacutepica e sistemaacutetica de toda a ordem juriacutedica em vigor Controle judicial do nepotismo para aleacutem da

13ordf suacutemula vinculante do Supremo Tribunal Federal in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Mauriacutecio

Zockun Renata Porto Adri (Coordenadores) p 239-240

103

administraccedilatildeo como valor juriacutedico inviolaacutevel pelo Presidente da Repuacuteblica

e finalmente () ao cominar os atos de improbidade administrativa537

Nesse ensejo quando se observa a moralidade administrativa de forma

concreta volta-se o olhar para ―os proacuteprios meios de accedilatildeo escolhidos pela

Administraccedilatildeo Puacuteblica que age de forma contraacuteria agrave moral puacuteblica quando o conteuacutedo

do seu ato eacute avesso ―ao senso comum de honestidade retidatildeo equiliacutebrio justiccedila

respeito agrave dignidade do ser humano agrave boa-feacute ao trabalho agrave eacutetica das instituiccedilotildees538

Desta forma a moralidade administrativa se observada no ordenamento

juriacutedico ―passou a ser conceito elaborado com forccedila de elemento autocircnomo na

formaccedilatildeo e informaccedilatildeo do comportamento administrativo juridicamente vaacutelido539

Sendo norma que juridicamente por si soacute impotildee ―a honestidade na gerecircncia da res

publica540

pois sua obediecircncia eacute cogente ao agente puacuteblico e ainda como lastreia o

controle objetivo dos atos administrativos possibilita de forma autocircnoma sua

invalidaccedilatildeo541

e consequente ―responsabilizaccedilatildeo dos agentes puacuteblicos que se afastaram

dessas diretrizes obrigatoacuterias542

Por isto pode-se dizer que a accedilatildeo popular eacute ―marco imprescindiacutevel na sede de

moralidade administrativa543

que a lastreia natildeo apenas como um princiacutepio mas como

um instrumento de resguardo do proacuteprio interesse puacuteblico mesmo porque qualquer

537 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Direito Administrativo Coord Valter Shuenquener de Arauacutejo Niteroacutei

Impetus 2005 Princiacutepios Informativos e Interpretativos do Direito Administrativo p 29 538 PIETRO Maria Sylvia Zanella di Discricionariedade Administrativa na Constituiccedilatildeo de 1988 3ordf ed Satildeo Paulo

Editora Atlas 2012 p178 Nos dizeres de Celso Antocircnio Bandeira de Mello ―tal princiacutepio assume foros de pauta

juriacutedica porque ―compreendem-se em seu acircmbito () os chamados princiacutepios da lealdade e boa-feacute () Curso de

Direito Administrativo 14ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2002 p 101 539 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p187 540 FREITAS Juarez O controle dos atos administrativos e os princiacutepios fundamentais 3ordf ed Malheiros 2004

p56 541 Conforme Ives Gandra Martins ―A primeira consequecircncia a nosso ver da encampaccedilatildeo desse princiacutepio eacute o

aumento do acircmbito do controle jurisdicional sobre a atividade administrativa Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo do Brasil

3ordm volume ndash tomo III arts 37-43 Satildeo Paulo Saraiva 1992 p 38 542 MORAES Alexandre de Constituiccedilatildeo do Brasil Interpretada e legislaccedilatildeo constitucional 6ordf ed Satildeo Paulo Atlas

2006 p 816 Neste sentido Maria Sylvia Zanella de Pietro afirma ―A partir do momento em que a Constituiccedilatildeo

Federal no artigo 37 inseriu o princiacutepio da moralidade entre os de observacircncia obrigatoacuteria pela Administraccedilatildeo

Puacuteblica e no artigo 5ordm inciso LXXIII colocou a lesatildeo agrave moralidade administrativa como um dos fundamentos da

accedilatildeo popular ela veio permitir duas conclusotildees a primeira eacute a de que o ato administrativo que infrinja a moralidade

administrativa eacute tatildeo invaacutelido quanto o ato ilegal a segunda () eacute a que sendo invaacutelido o ato administrativo imoral

pode ser apreciado pelo Poder Judiciaacuterio para fins de decretaccedilatildeo de sua invalidade DI PIETRO Op cit p 186 543 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Op cit 220 A autora ainda informa que a ―Constituiccedilatildeo de 1934 introduz em

seu art 113 inciso 38 a accedilatildeo popular e que foi ―reintroduzida na esfera Constitucional em 1946 pelo artigo 141 sect

38 porque tinha sido ―excluiacuteda da Carta de 1937 Outrossim assevera que em 1957 foi publicada a Lei n 3164 que

tratava da accedilatildeo popular e que novamente em 1958 foi inserida outra lei no ordenamento juriacutedica a Lei n 3502 que

trouxe agrave lume uma accedilatildeo popular especiallsquo Afirma a autora que a primeira tinha como finalidade ―coibir o

enriquecimento iliacutecito dos servidores puacuteblicos () e dos dirigentes e empregados de autarquias e dos que lhe satildeo

equiparados e que a segunda visava ―a anulaccedilatildeo ou decretaccedilatildeo de nulidade dos atos lesivos ao patrimocircnio E por

fim que ―em 1965 foi editada a Lei n 4717 regulamentando o artigo 141 sect38 da Constituiccedilatildeo de 46 Ibidem p

220-222

104

cidadatildeo pode intentar a citada accedilatildeo com ―a pretensatildeo de anular atos do Poder

Puacuteblico544

por terem sido realizados em dissonacircncia com a moralidade administrativa

Neste ensejo ao se capitular o nepotismo como um ato imoral isto eacute lesivo agrave

moralidadelsquo545

pode-se requerer sua anulaccedilatildeo por meio da accedilatildeo popular

De outro lado ao pensar na moralidade como uma norma autocircnoma que

produz efeitos no mundo juriacutedico natildeo haacute como natildeo fazer referecircncia agrave probidade

administrativa sua descendente dita ―particular aspecto da moralidade administrativa

que recebeu da Constituiccedilatildeo Federal um tratamento proacuteprio546

Tamanha a sua

importacircncia que natildeo apenas estaacute explicita no sect4ordm do art 37 do texto constitucional

como tambeacutem regulamentada por meio da Lei n 842992 denominada Lei de

Improbidade Administrativa que veda todo e qualquer ato que configure ―grave

violaccedilatildeo do senso meacutedio superior da moralidade e () inequiacutevoca intenccedilatildeo

desonesta547

Nesse diapasatildeo imprescindiacutevel destacar que esta lei consagrou ―a Moral no

acircmbito do Direito ao considerar como atos de improbidade os que atentam contra os

princiacutepios da Administraccedilatildeo548

e por conseguinte tornou o nepotismo ato que atenta

contra os princiacutepios da moralidade impessoalidade e eficiecircncia que regem a

Administraccedilatildeo tambeacutem um ato de improbidade administrativa

Diante disto constata-se que a moralidade puacuteblica obriga que os atos dos

administradores puacuteblicos se adequem aos valores albergados por ela natildeo bastando aos

agentes puacuteblicos brasileiros cumprir apenas os estritos termos da lei vez que tambeacutem

devem agir em conformidade com os ―valores morais juridicizados549

544 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de Direito Administrativo 8ordf ed Rio de JaneiroEd Lumen Juris

2007 p 17 545 Artigo 5ordm inciso LXXIII da CF 88 546 GASPARINI Dioacutegenes Direito Administrativo 10ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 p11 A partir dos comentaacuterios

de Diogo de Figueiredo Moreira Neto a probidade ―() consiste no dever de o funcionaacuterio servir agrave Administraccedilatildeo

com honestidade procedendo no exerciacutecio das suas funccedilotildees sem aproveitar os poderes ou facilidades delas

decorrentes em proveito pessoal ou de outrem a quem queira favorecer Mutaccedilotildees do Direito Administrativo 2ordf ed

Satildeo Paulo Renovar 2001 p95 Segundo Joseacute dos Santos Carvalho Filho ―()abrange todo e qualquer agente

puacuteblico seja qual for a situaccedilatildeo que o vincule ao Poder Puacuteblico bem como aqueles que natildeo sendo agentes

concorram para as condutas de improbidade ou delas se beneficiem Op cit p50 E conforme Juarez Freitas ―O

princiacutepio da moralidade tornou-se assim pedra de arrimo do edifiacutecio juriacutedico () Logo o agir eticamente

universalizaacutevel desponta como imposiccedilatildeo vaacutelida para as relaccedilotildees juriacutedicas independentemente de assumirem

natureza puacuteblica ou privada FREITAS Juarez Princiacutepio da moralidade administrativa In Corrupccedilatildeo Eacutetica e

Moralidade Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires Mauriacutecio Zockun Renata Porto Adri (Coordenadores) 2008

p 196 547 Ibidem p 204 548 PIETRO Maria Sylvia Zanella di Discricionariedade Administrativa na Constituiccedilatildeo de 1988 3ordf ed Satildeo Paulo

Editora Altas 2012 p 189 549 CAMMAROSANO Maacutercio Princiacutepio Constitucional da Moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

Belo Horizonte Foacuterum 2006 p78 Nesse enredo o autor afirma que o administrador puacuteblico ―() ao interpretar as

105

E assim seja ao encampar550

―outros princiacutepios ou inserida no contexto do

dever de boa administraccedilatildeo551

visa obstar a ―postura de quem se considera o dono da

coisa puacuteblica552

fundamentar e direcionar o sistema553

normativo que rege o poder

puacuteblico como sua pedra angular554

possuindo portanto ―primazia sobre os outros

princiacutepios constitucionalmente formulados555

Isto porque o conteuacutedo da moralidade administrativa retrata o comportamento

puacuteblico ideal de forma que toda atuaccedilatildeo administrativa deveria partir dela e a ela se

voltar556

abarcando o determinado por outros princiacutepios que regem a administraccedilatildeo

que estatildeo tatildeo intimamente ligados a ela como elos em uma cadeia que o agente puacuteblico

ao inobservaacute-la estaraacute automaticamente infringindo os demais

Tanto que se observa o elo da moralidade com a substacircncia de outro princiacutepio

basilar da Administraccedilatildeo Puacuteblica o da impessoalidade pois para que o ato

administrativo seja moral prioritariamente haacute de ser impessoal557

desprovido de

qualquer motivaccedilatildeo ou manifestaccedilatildeo de caraacuteter pessoal agente puacuteblico558

Ela obsta ―desmandos de maus administradores que almejam satisfazer ―seus

proacuteprios interesses ou ateacute ―interesses inconfessaacuteveis relegando para o uacuteltimo plano os

preceitos morais de que natildeo deveriam se afastar de forma que resta vulnerada quando

normas nas quais se refletem visando sua aplicaccedilatildeo e ao avaliar situaccedilotildees de fato para detectar sua incidecircncia natildeo

pode ignorar o sentido que os conceitos que expressam valores tecircm no seio da coletividade de que promanam e em

dado momento histoacuterico mas sempre atentos ao enfoque contextual do sistema normativo Op cit p 85 550 ―Este princiacutepio substantivo () informa vaacuterios institutos atinentes ao controle da Administraccedilatildeo Puacuteblica

notadamente os que datildeo suporte ao desempenho dos agentes poliacuteticos e administrativos MOREIRA NETO Diogo

de Figueiredo Princiacutepios Informativos e Interpretativos do Direito Administrativo in Direito Administrativo

Coordenador Valter Shuenquener de Arauacutejo Niteroacutei Impetus 2005 p 30 551 ARAUacuteJO Florivaldo Dutra de Motivaccedilatildeo e Controle do Ato Administrativo 2ordf ediccedilatildeo Horizonte Del Rey

2005 p 99 552 CAMMAROSANO Marcio O princiacutepio constitucional da moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

Belo Horizonte Foacuterum 2006 115 553 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p186 554 Conforme Juarez Freitas ―() a inserccedilatildeo de preocupaccedilotildees com a moralidade () no acircmbito do Direito positivo

() constitui-se condiccedilatildeo sine qua nonlsquo para a sustentaccedilatildeo democraticamente fundamentaacutevel do Estado () em

realidade soacute haacute direito legiacutetimo se promover um devido processo justo no tocante aos meios e resultados moralmente

aceitaacuteveis Princiacutepio da moralidade administrativa In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis

Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) p 199 555 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Op cit p 214 556 Eacute por isto que Carmem Luacutecia afirma ―Assim o que se exige () eacute a legalidade moral vale dizer a legalidade

legiacutetima da conduta administrativa () A moralidade tem sua certeza na diferenciaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado e

na imprescindiacutevel prevalecircncia daquele sobre este segundo as bases normativas Op cit p 214 557 MARTINS Ricardo Marcondes in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis Manuel

Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) Princiacutepio da moralidade administrativa Belo

Horizonte Ed Foacuterum 2008 p 319-321 558 Eacute neste sentido a anotaccedilatildeo de Emerson Garcia e Rogeacuterio Pacheco Alves ―Ao valorar os elementos delineadores

da moralidade administrativa eacute defeso ao agente puacuteblico direcionar seu obrar por criteacuterios de ordem ideoloacutegica ou de

estrita subjetividade Ao interpretar e aplicar a norma deve o agente considerar os valores norteadores do sistema

juriacutedico ainda que se apresentem dissonantes de sua visatildeo pessoal Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem

Rio de Janeiro Ed Lumen Juris 2002 p43-44

106

ocorre ―()tratamento discriminatoacuterio positivo ou negativo dispensado ao

administrado 559

estando ferido tambeacutem o princiacutepio da impessoalidade

Desta forma o princiacutepio da moralidade densificado pelo da impessoalidade

que encerra ―a relaccedilatildeo fiduciaacuteria que ―investe todo aquele que exerce uma funccedilatildeo

puacuteblica ndash pois o faz em nome da coletividade exige que o comportamento deste siga a

―um padratildeo objetivo de honestidade e impessoalidade560

Aleacutem disso como a nomeaccedilatildeo se faz fundada na intimidade haacute quem

questione a eficiecircncia do ato relacionando-a com a moral tanto quanto agrave gestatildeo da

autoridade quanto agrave eficiecircncia do parente nomeado561

E por fim mas natildeo menos importante a densificaccedilatildeo da moralidade pelo

princiacutepio da finalidade decorrente do princiacutepio da legalidade e que prima pelo fato de o

ato administrativo ser motivado e executado de acordo com os fins legais e com o

interesse puacuteblico Seja este ato vinculado ou que possua elementos discricionaacuterios o

agente natildeo pode se descuidar de realiza-lo tendo em vista o interesse puacuteblico e

objetivando o bem comum

Tanto que a relaccedilatildeo de conteuacutedo normativo eacute facilmente detectada entre a

moralidade e a finalidade pois para que o ato administrativo seja classificado como

moral antes deve primar pelo interesse puacuteblico almejando-o verdadeiramente562

vez

que ―o referencial da moralidade administrativa eacute a finalidade puacuteblica () elemento do

ato administrativo () regra moral interna do governo da coisa puacuteblica563

e o

administrador puacuteblico a atinge quando realiza o ato ―com vistas a resultados divorciados

559 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de Direito Administrativo 8ordf ed Rio de JaneiroEd Lumen Juris

2007 p 16 560 PIRES Luis Manoel Fonseca Controle judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf suacutemula vinculante do Supremo

Tribunal Federal In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN

Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) p 247 561Destarte Dioacutegenes Gasparini afianccedila que ―O fundamento juriacutedico para o enfrentamento do nepotismo eacute o

princiacutepio da moralidade () O ato e a atividade da Administraccedilatildeo Puacuteblica devem obedecer natildeo soacute a lei mas agrave

proacutepria moral porque nem tudo que eacute legal eacute honesto conforme afirmavam os romanos () veda-se agrave Administraccedilatildeo

Puacuteblica qualquer comportamento que contrarie os princiacutepios da lealdade da boa-feacute e da eficiecircncia Nepotismo

Poliacutetico In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires Mauriacutecio Zockun Renata

Porto Adri (Coordenadores) p 86 562 Segundo Diogo de Figueiredo Moreira Neto seguindo a esteira de Oliveira Franco Sobrinho o enfoque da

moralidade administrativa deve ser adotado para saber ser o ―motivo e objeto foram manipulados pelo agente puacuteblico

para produzir a falsa impressatildeo de que suportam lidimamente a inafastaacutevel finalidade puacuteblica Segundo ele eacute

―necessaacuterio ir adiante na anaacutelise da accedilatildeo administrativa para investigar se o conjunto dos seus elementos realmente

sustenta o interesse puacuteblico ou apenas datildeo a falsa impressatildeo de que o fazem Mutaccedilotildees do direito administrativo 2ordf

ed Satildeo Paulo Renovar 2001p64-65 Para Juarez Freitas satildeo ―atos () que atentam contra a moralidade e

simultaneamente contra outros princiacutepios reitores da Administraccedilatildeo Puacuteblica seja por accedilatildeo ou por inoperacircncia

transgredindo deveres de retidatildeo e lealdade ao interesse puacuteblico in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa

PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) Princiacutepio da moralidade

administrativa p 216 563 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Op cit p62-63

107

do estrito interesse puacuteblico a que deveria atender564

ou seja desvia o ato do seu fim

institucional565

Deste modo quando o agente pratica o nepotismo ele motiva o ato de forma

imoral e ainda desvia o ato administrativo de sua finalidade pois natildeo estaacute embasado

no bem da coletividade mas em um interesse particular proveniente da vontade pessoal

e que visa o bem de um grupo sua famiacutelia o que enseja o interesse privado em

detrimento do puacuteblico totalmente agraves avessas agrave finalidade como princiacutepio ou como

elemento do ato administrativo bem com infringe o princiacutepio da Supremacia do

Interesse Puacuteblico

Neste acircmbito o ato administrativo antes de ser ilegal pois natildeo visa o fim

disposto em lei eacute imoral vez que seu motivo o eacute Ocorrendo o viacutecio quando o motivo eacute

incompatiacutevel com o ato ou seja quando haacute a eleiccedilatildeo do objeto sem o motivo

compatiacutevel o que ―() trai a finalidade puacuteblica do ato prejudicando ou beneficiando

um administrado sem qualquer relaccedilatildeo com o seu dever de bem administrar 566

E assim sua imoralidade enseja sua ilegalidade por meio da viciaccedilatildeo do

motivo do ato e do consequente desvio de finalidade Esta relaccedilatildeo eacute tatildeo densa que

Maurice Hauriou ao analisar os desvios do ato formulou a noccedilatildeo de moralidade

puacuteblica

Desta feita para que o ato seja moral deve haver uma ―relaccedilatildeo harmocircnica entre

a situaccedilatildeo faacutetica a intenccedilatildeo do agente e o ato praticado sendo analisadas no contexto

deste a motivaccedilatildeo declinada e a finalidade almejada567

pois a ―moralidade torna

564 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo in Direito Administrativo Coord Valter Shuenquener de Arauacutejo

Princiacutepios Informativos e Interpretativos do Direito Administrativo Niteroacutei Impetus 2005 p29 565 Diogo de Figueiredo Moreira Neto explica que ―() para que o administrador puacuteblico vulnere esse princiacutepio basta

que administre mal os interesses puacuteblicos () atraveacutes de atos com desvio de finalidade puacuteblica para perseguir

interesses que natildeo satildeo aqueles para os quais deve agir () atos sem finalidade puacuteblica () com deficiente finalidade

puacuteblica reveladores de uma ineficiecircncia () atos com a utilizaccedilatildeo de meios ilegiacutetimos como a traiccedilatildeo da finalidade

satildeo exemplos de maacute administraccedilatildeo da coisa puacuteblica caracterizando a imoralidade administrativa e trazendo como

consequecircncia a anulaccedilatildeo do ato Ibidem p 30 566 Diogo de Figueiredo Moreira Neto ensina que o ―objeto eacute desconforme () quando ocorrer uma incompatibilidade

loacutegica entre sua escolha (discricionaacuteria) e o interesse puacuteblico contido na regra da finalidade Aqui a conformidade que

interessa eacute com o dever da boa administraccedilatildeo que eacute o ocircnus do administrador () assume () o ocircnus moral de bem

administrar Mutaccedilotildees do Direito Administrativo Satildeo Paulo Renovar 200 p 68 567 GARCIA Emerson e ALVES Rogeacuterio Pacheco Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem Rio de Janeiro

Ed Lumen Juris 2002p 48 Para Luis Manuel Fonseca Pires ―()natildeo basta o cumprimento dos fins mas eacute preciso

que os meios que o comportamento puacuteblico atenda a padrotildees objetivos de moralidade administrativa In

Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata

Porto (Coordenadores) Controle judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf suacutemula vinculante do Supremo Tribunal

Federal p 246

108

obrigatoacuterio que o moacutevel do agente e o objetivo visado estejam em harmonia com o

dever de bem administrar 568

E como a moralidade administrativa ―atua como um verdadeiro mecanismo

aglutinador extraindo o sumo569

natildeo soacute dos princiacutepios da impessoalidade e da

finalidade como tambeacutem de todos os outros princiacutepios que regem a atividade estatal

condensando-os ―em standards que podem ser mais facilmente percebidos do que

definidos570

o nepotismo a atinge em seu cerne em sua substacircncia normativa Ela ao

avesso seja por si soacute ou densificando os outros princiacutepios eacute sempre o principal e mais

recorrente substrato de vedaccedilatildeo do nepotismo571

atuando como um antiacutedoto que visa

obstar que os interesses privados sejam ―beneficiados com a accedilatildeo estatal572

24 Consideraccedilotildees Parciais

O nepotismo foi assente no direito costumeiro puacuteblicolsquo brasileiro como

heranccedila portuguesa antidemocraacutetica e antirrepublicana historicamente contemplado

por aqueles que dominam o poder puacuteblico desde a colonizaccedilatildeo do Brasil de fazer da

administraccedilatildeo puacuteblica coisa sua infringe assim moralidade puacuteblica

Como uma espeacutecie dos atos vinculados ao personalismo faz do Estado

instrumento beneficiador de famiacutelias e persecutoacuterio de seus inimigos traduzindo

portanto a supremacia da vontade particular em detrimento da puacuteblica a qual motiva o

seu ato administrativo em prejuiacutezo agrave coletividade e transforma a administraccedilatildeo puacuteblica

em negoacutecio de natureza familiar573

que a distribuir cargos entre os familiares maculando

568 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de Direito Administrativo 8ordf ed Rio de JaneiroEd Lumen Juris

2007 p 44 Segundo ele a atuaccedilatildeo do administrador puacuteblico ―() deve em qualquer hipoacutetese pautar-se pelos

princiacutepios da honestidade e moralidade quer em face dos administrados quer em face da proacutepria Administraccedilatildeo Natildeo

se deve cometer favorecimento nem nepotismo cabendo-lhe optar sempre pelo que melhor servir agrave Administraccedilatildeo

Idem p 49 569 GARCIA Emerson e ALVES Rogeacuterio Pacheco Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem Rio de Janeiro

Ed Lumen Juris 2002 p 45 E ainda afirmam que ―talvez por esse motivo que a jurisprudecircncia paacutetria ao

fundamentar suas decisotildees com base no princiacutepio da moralidade administrativa normalmente o faz com outro

princiacutepio dotado de maior especificidade para o caso concreto Op cit p 45 570 Os mesmos autores ainda afirmam que ―longe de arranhar a autonomia do princiacutepio da moralidade demonstra

apenas que os valores extraiacutedos do outro princiacutepio utilizado concorrem de maneira mais incisiva na conformaccedilatildeo do

standard adotado como padratildeo de bom administrador naquela situaccedilatildeo Idem p 45-46 571 Segundo Carmem Luacutecia Antunes Rocha eacute ―aplicaacutevel em sede democraacutetica ―faz parte da democracia e se

justifica com ela e por ela Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p

225 572 De acordo com Carmem Luacutecia ―A moralidade administrativa () eacute uma questatildeo que comeccedila e termina () na

qualidade dos sistemas juriacutedico poliacutetico e administrativo vigentes em determinada sociedade estatal () a

moralidade administrativa pode e deve ser imposta juridicamente () a imoralidade () verificada apurada e punida

() dificultada controlada () eacute viacutecio da razatildeo() Op cit p 184-185 573 RIBEIRO JUNIOR Joseacute Hortecircncio A ilegalidade do nepotismo no poder judiciaacuterio ndash Revista Juriacutedica Consulex

ano IX nordm 200 p 30

109

a ideia da boa-feacute e a proacutepria conduta eacutetica pela qual deveria se pautar o administrador

puacuteblico574

Sua vedaccedilatildeo pelo descrito vale aduzir que mesmo que ao longo do texto

constitucional natildeo se vislumbre nenhum dispositivo que faccedila direta e expressa

referecircncia a ela natildeo significa que tal praacutetica natildeo esteja proibida pelo contraacuterio eacute

incompatiacutevel com ordenamento juriacutedico pois a Constituiccedilatildeo Federal de 1988

estabeleceu o princiacutepio republicano a inelegibilidade reflexa os princiacutepios expressos no

caput artigo 37 e ainda o concurso puacuteblico vedando o domiacutenio familiar estatal e

direcionando a Administraccedilatildeo Puacuteblica por meio da moralidade puacuteblica575

E pela moralidade administrativa eacute obstada a atuaccedilatildeo dos agentes puacuteblicos

―eivadas de maacute-feacute deslealdade dolo fraude favoritismo perseguiccedilatildeo comportamentos

e atos enfim incompatiacuteveis com o escorreito exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa 576

De forma que aquele que convive e aceita ―o nepotismo como uma praacutetica

comum e corriqueira na Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo se preocupando ―com a eticidade

que deve nortear a atuaccedilatildeo dos agentes puacuteblicos que se utilizam do poder577

a infringe

em seu cerne

Ainda mais se se observar que a moralidade administrativa ao fundamentar a

accedilatildeo popular e a accedilatildeo de improbidade concretamente obsta o nepotismo vez que

embasa a primeira na perquiriccedilatildeo da anulaccedilatildeo do ato que a lesa e lastreia a segunda a

viabilizar a responsabilizaccedilatildeo do agente que deu causa ao nepotismo sendo fundamento

juriacutedico suficiente para justificar a intervenccedilatildeo judicial ou para impedir a nomeaccedilatildeo ou

para invalidaacute-la578

permitindo dessa forma o controle judicial do nepotismo

574 ARAKAKI Allan Thiago Barbosa ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo

Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 abrjun

2011 p 103 575 Contudo ressalta-se que o Supremo Tribunal mesmo antes da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 jaacute proibia o

nepotismo por meio de dos artigos arts 355 sect 7ordm e 357 paraacutegrafo uacutenico do seu Regimento Interno de 1980 ―Art

355 () sect7deg Salvo se funcionaacuterio efetivo do Tribunal natildeo poderaacute ser nomeado para cargo em comissatildeo ou designado

para funccedilatildeo gratificada cocircnjuge ou parente (artigos 330 a 336 do Coacutedigo Civil) em linha reta ou colateral ateacute o

terceiro grau inclusive de qualquer dos Ministros em atividade () Art 357 () Paraacutegrafo uacutenico Natildeo pode ser

designado Assessor ou Auxiliar na forma deste artigo cocircnjuge ou parente (arts 330 a 336 do Coacutedigo Civil) em linha

reta ou colateral ateacute o terceiro grau inclusive de qualquer dos Ministros em atividade 576 CAMMAROSANO Maacutercio O princiacutepio constitucional da moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

Belo Horizonte Foacuterum 2006 p72 577 CORREcircA Gustavo Princiacutepio da Moralidade ou eticidade da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese ndash Direito

Administrativo v 6 n 66 jun 2011 p75 578 PIRES Luis Manuel Fonseca in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires

Mauriacutecio Zockun Renata Porto Adri (Coordenadores) Controle judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf suacutemula

vinculante do Supremo Tribunal Federal p 249

110

Assim a moralidade pelo ―vieacutes objetivo ―impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica o

dever de ser leal integra honesta e pelo ―vieacutes subjetivo ―impotildee ao agente puacuteblico o

dever de ser honesto de forma que faz com que o agente ―motivado por compadrio

ainda que ―a conduta pareccedila atender ao interesse puacuteblico579

arque com sua

responsabilidade

Mas a moralidade puacuteblica obsta o nepotismo natildeo apenas por a posteriori

fundamentar instrumentos processuais a inviabiliza-lo por sua anulaccedilatildeo e

responsabilizaccedilatildeo do agente mas antes por impedi-lo pois sua substacircncia dispotildee sobre

a conduta ideal do agente puacuteblico e por isto mesmo eacute densificada pelo conteuacutedo de

outros princiacutepios que regem a Administraccedilatildeo

Tendo em vista a relaccedilatildeo inversa e direta do princiacutepio da impessoalidade com o

nepotismo ele se destaca como o princiacutepio que prima pela neutralidade e

imparcialidade do agente e da Administraccedilatildeo e por isto mesmo quanto ao nepotismo

densifica o disposto pela moralidade puacuteblica580

jaacute que o nepotismo ato parcial de

caraacuteter particular que enseja o favorecimento de familiares de autoridade e servidores

puacuteblicos um grupo portanto seleto em detrimento dos demais cidadatildeos

transformando a maacutequina puacuteblica em negoacutecio de famiacutelia infringe tanto a

impessoalidade como enfim a moralidade puacuteblica581

Desta feita eacute viacutecio rechaccedilado como praacutetica antirrepublicana que desrespeita a

diretriz igualitaacuteria do Estado de Direito582

e fere os princiacutepios que regem a

579 MARTINS Ricardo Marcondes in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis Manuel

Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) Controle judicial do nepotismo para aleacutem da

13ordf suacutemula vinculante do Supremo Tribunal Federal p326 580 Conforme Luis Manuel Fonseca Pires ―() natildeo eacute suficiente a invocaccedilatildeo geneacuterica do princiacutepio da moralidade

administrativa para enfrentarmos a questatildeo do nepotismo () pois eacute preciso densificar () em razatildeo da vagueza e

larga amplitude que o signo proporciona () Nesse contexto a noccedilatildeo de funccedilatildeo puacuteblica () a densificar o princiacutepio

constitucional () de honestidade de transparecircncia e de impessoalidade in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade

Administrativa PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) Controle

judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante do Supremo Tribunal Federal p 242 e 244 581 De acordo com Gustavo Hermont Correcirca ldquoEacute notoacuteria a distorccedilatildeo dessa praacutetica com o princiacutepio da moralidade

administrativa jaacute que fere o senso comum imaginar que a Administraccedilatildeo Puacuteblica possa ser transformada em um

negoacutecio de famiacutelia visando favorecer interesses exclusivamente pessoais Princiacutepio da Moralidade ou eticidade da

Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese ndash Direito Administrativo v 6 n 66 jun 2011 p72 Conforme Ives Gandra

Martins ―A administraccedilatildeo puacuteblica tem que ser impessoal sem favorecimentos a quem quer que seja aplicando as

leis do paiacutes por igual a todos os cidadatildeos () Agrave evidecircncia natildeo se pode falar em impessoalidade sem falar em

moralidade eis que eacute esta que daacute a coloraccedilatildeo maior daquela tonando o administrador um justo servidor puacuteblico na

medida em que natildeo cria privileacutegios nem oferta tratamentos desisonocircmicos e preferenciais Os princiacutepios da

moralidade puacuteblica e da impessoalidade da administraccedilatildeo ndash necessidade de licitaccedilatildeo para contratar agecircncias de

publicidade ndash a funccedilatildeo constitucional da imprensa para preservaccedilatildeo do estado de direito Boletim de Direito

Administrativo ndash BDA Jan 92 p06 582 De acordo com Gustavo Correcirca ―() o nepotismo fere princiacutepios constitucionais expliacutecitos () e acima de tudo

fere a teleologia constitucional pois se preocupa () com interesses () familiares () afeta a todos () parte do

Estado Democraacutetico de Direito Princiacutepio da Moralidade ou eticidade da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese ndash

Direito Administrativo v 6 n 66 jun 2011 p 76

111

Administraccedilatildeo em especial o da impessoalidade o da finalidade e o da eficiecircncia vez

que seus efeitos tecircm ampla dimensatildeo infratora pois o agente ao praticar o ato revela

um ―injustificaacutevel tratamento diferenciado dos administrados viola os mais diversos

fundamentos eacuteticos-normativos e por isto transgride o princiacutepio da moralidade

administrativa ―densificado a partir dos standards de conduta colhidos no ambiente

institucional e inerentes ao bom administrador583

ao transformar a Administraccedilatildeo

Puacuteblica em um negoacutecio de famiacutelia584

Diante disso constata-se que o STF extraiu elementos tanto da noccedilatildeo de

nepotismo criada a partir da evoluccedilatildeo administrativopoliacutetica brasileira como da noccedilatildeo

juriacutedica de nepotismo vez que as poucas e raras vezes que os Ministros do STF se

voltaram especificamente agrave noccedilatildeo de nepotismo remontaram ao seu histoacuterico a ser uma

heranccedila portuguesa e um viacutecio que se destaca dos demais por ser favorecimento

familiar conforme se verifica por seus votos nos precedentes da SV585

Todavia como foi visto o STF ao elaborar a Suacutemula natildeo seguiu tambeacutem a

maioria das noccedilotildees expostas pelo magisteacuterio doutrinaacuterio sendo a noccedilatildeo expressa no

corpo textual da SV uma noccedilatildeo nova diacutespar das demais o que tambeacutem demonstra que

o STF natildeo deveria ter sumulado a noccedilatildeo de nepotismo mas apenas sua vedaccedilatildeo a partir

dos princiacutepios do artigo 37 da Constituiccedilatildeo Federal jaacute que este foi o fundamento

recorrente e uniacutessono presente nos precedentes da Suacutemula

Essa nova noccedilatildeo quanto ao nepotismo e sua vedaccedilatildeo construiacuteda pelo STF

partiu das noccedilotildees jaacute existentes mas natildeo guarda compatibilidade com elas pois abarca

como elementos a um o agente infrator a autoridade e o servidor ocupante de cargo

comissionado a dois como parente o familiar ateacute de terceiro grau por afinidade a trecircs

como acircmbito da vedaccedilatildeo a pessoa juriacutedica a quatro a vedaccedilatildeo natildeo apenas aos cargos

comissionados mas ateacute as funccedilotildees de confianccedila proacuteprias dos servidores efetivos

Por fim observa-se que a Suacutemula Vinculante n 13 natildeo abarcou todos os casos

de privilegiamento de nepotismo contraacuterios agrave moralidade puacuteblica vez que foi exclui de

583 GARCIA Emerson O nepotismo Boletim de Direito Administrativo ndash BDA junho 2003 p 462 584 Assim tal conduta - que espelha o domiacutenio familiar do poder puacuteblico e transforma a maacutequina administrativa em

negoacutecio privado parental - macula a Administraccedilatildeo Puacuteblica e fere seus princiacutepios a comeccedilar pelo da moralidade

densificado pelos estandartes da impessoalidade da eficiecircncia e da finalidade que guiam e orientam ―os

administradores na praacutetica dos atos administrativos de sua competecircncia a fim de ―assegurar uma boa correta

eficiente e honesta administraccedilatildeo puacuteblica PACHECO Joseacute da Silva Da extinccedilatildeo do nepotismo na administraccedilatildeo

puacuteblica e da Suacutemula vinculante do STF para agilizar a eficaacutecia de normas que envolvam mateacuteria constitucional

Revista da Academia Brasileira de Letras Juriacutedicas vol 25 n 34 janjun 2009 p 102 585 Jaacute expostos no capiacutetulo 1 deste trabalho

112

seu acircmbito a aplicaccedilatildeo da vedaccedilatildeo agrave indicaccedilatildeo do parente da autoridade ao cargo

poliacutetico e tambeacutem natildeo levantou qualquer questionamento quanto agrave situaccedilatildeo das

primeiras-damas ambos vistos como nepotismo em perspectiva da moralidade puacuteblica

Diante do exposto conclui-se que eacute incontestaacutevel a necessidade de se vedar o

nepotismo expressamente e de maneira uniforme em todos os poderes de todos os entes

federados Mas o STF o fez por meacutetodos teacutecnicas e argumentaccedilotildees apropriadas

conforme a hermenecircutica juriacutedica e em especial a constitucional Esta eacute a problemaacutetica

que seraacute tratada no proacuteximo capiacutetulo a partir de teses doutrinarias de autores que

enfocam a dinacircmica de decidir do magistrado

113

3 HERMENEUTICA E PODER NORMATIVO COMO OS MAGISTRADOS

DECIDEM E COMO DEVERIAM DECIDIR

O objetivo desse capiacutetulo eacute apreciar a atividade interpretativa do magistrado586

subdividida em trecircs toacutepicos um referente agrave maneira como eles decidem conforme as

elucidaccedilotildees de Hans Kelsen Alf Ross e Eros Grau o outro pertinente agrave forma como

deveriam decidir segundo os meacutetodos e criteacuterios hermenecircuticos de controlabilidade do

processo decisoacuterio judicial propostos por Friedrich Karl Von Savigny Chaiumlm Perelman

Karl Larenz e Inocecircncio Maacutertires Coelho e um terceiro atinente agrave interpretaccedilatildeo dos

princiacutepios de acordo com a norma constitucional em conformidade com as liccedilotildees de

Inocecircncio Maacutertires Coelho Ronald Dworkin Robert Alexy Humberto Aacutevila Marcelo

Neves e Karl Larenz

31 Hermenecircutica Juriacutedica e a aplicaccedilatildeo judicial

311 Como os magistrados decidem

3111 Hans Kelsen

Segundo Kelsen a interpretaccedilatildeo eacute uma ―operaccedilatildeo mental que eacute utilizada no

decorrer de todo o procedimento de ―aplicaccedilatildeo do Direito587

tendo como objeto as

normas juriacutedicas588

e dentre elas a constitucional589

Nesse enredo afirma que existem duas espeacutecies de interpretaccedilatildeo sendo uma

―autecircntica a realizada pelo oacutergatildeo aplicador do Direito por meio da qual este cria

direito outra ―natildeo-autecircntica que eacute feita pela ciecircncia juriacutedica e se voltando agrave

interpretaccedilatildeo autecircntica explica que ― todo o ato juriacutedico em que o Direito eacute aplicado

seja ele de ―criaccedilatildeo juriacutedica590

ou natildeo eacute ―em parte determinado pelo Direito e em

parte indeterminado seja pelas disposiccedilotildees faacuteticas ou pela proacutepria ―intenccedilatildeo do

oacutergatildeo que estabeleceu a norma a aplicar591

Da ―expressatildeo verbal da norma se extrai uma diversidade de ―significaccedilotildees

possiacuteveis592

do que resulta que a interpretaccedilatildeo juriacutedica eacute a ―fixaccedilatildeo da moldura que

586 O STF utilizou de teacutecnicas e meacutetodos pertinentes agrave hermenecircutica juriacutedica especialmente a constitucional tanto

para julgar os precedentes quanto para construir a noccedilatildeo judicial de nepotismo 587 KELSEN Hans Teoria Pura do Direito 8ordf ed Trad Joatildeo Baptista Machado Satildeo Paulo WMF Martins Fontes

2009 p 387 ―() no seu progredir de um escalatildeo superior para um escalatildeo inferior 588 Kelsen afirma que devem ser interpretadas ―() todas as normas juriacutedicas na medida em que hajam de ser

aplicadas Ibidem p 387 589 ―() haacute tambeacutem uma interpretaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo na medida em que de igual modo se trata de aplicar esta

()Ibidem p 387 590Ibidem p 388 591 Ibidem p 389 592 Ibidem p 389

114

representa o Direito a interpretar593

e de que haacute diversas possibilidades interpretativas

no acircmbito desta ―moldura kelsiana onde a norma individual continua o processo de

determinaccedilatildeo da norma geral da qual decorre594

tanto que de uma norma geral

transcorrem diversas normas individuais

Por isto a interpretaccedilatildeo de uma lei natildeo conduz ―a uma uacutenica soluccedilatildeo como

sendo a uacutenica correta mas possivelmente a vaacuterias soluccedilotildees595

dentre as quais uma se

tornaraacute a decisatildeo judicial do caso596

Kelsen dispotildee ainda que natildeo haacute ―qualquer meacutetodo de ―Direito positivo que

possibilite a escolha de apenas uma significaccedilatildeo agrave norma como ―a correta597

e que a

eleiccedilatildeo de uma das soluccedilotildees possiacuteveis eacute ―um problema de poliacutetica do Direito598

de

maneira que o oacutergatildeo aplicador do direito ao aplicaacute-lo realiza uma operaccedilatildeo de

conhecimento do Direito a ser empregado conjugada com um ―ato de vontade 599

ndash

provenientes da moral da justiccedila e dos ―juiacutezos de valor sociais dentre outras ndash por

meio do qual escolhe um significado agrave norma entre as vaacuterias possibilidades Deste ato

de vontade eacute que decorre a interpretaccedilatildeo juriacutedica ndash designada por Kelsen como

interpretaccedilatildeo autecircntica que pode ser executada apenas pelo oacutergatildeo aplicador do

Direito600

o qual eacute capaz de criar direito601

Assim a produccedilatildeo do ato juriacutedico pelo oacutergatildeo aplicador do Direito no acircmbito

da moldura de uma determinada norma juriacutedica eacute livre pois ―realiza-se segundo a livre

593 KELSEN Hans Teoria Pura do Direito 8ordf ed Trad Joatildeo Baptista Machado Satildeo Paulo WMF Martins Fontes

2009 p 390 594 Ibidem p 389 ―() que constitui o sentido da seriaccedilatildeo escalonada ou gradual das normas juriacutedicas 595Ibidem p 390 ―O Direito a aplicar forma em todas estas hipoacuteteses uma moldura dentro da qual existem vaacuterias

possibilidades de aplicaccedilatildeo pelo que eacute conforme ao Direito todo ato que se mantenha dentro deste quadro ou

moldura que preencha esta moldura em qualquer sentido possiacutevel p 390 596 Diante disto observa-se que uma decisatildeo judicial que eacute uma norma juriacutedica de natureza individual eacute realizada a

partir da lei dentro da moldura de Direito e eacute apenas uma das vaacuterias normas individuais que podem decorrer da

norma geral inovando a ordem juriacutedica e criando um novo direito 597KELSEN Op cit p 391 ―Todos os meacutetodos de interpretaccedilatildeo ateacute ao presente elaborados conduzem sempre a um

resultado apenas possiacutevel nunca a um resultado que seja o uacutenico correto Ibidemp 392 598 ―() a questatildeo de saber qual eacute dentre as possibilidades aquela que se apresenta nos quadros do Direito a aplicar a

correta natildeo eacute sequer uma questatildeo de conhecimento dirigido ao Direito positivo natildeo eacute um problema de teoria do

Direito mas um problema de poliacutetica do Direito A tarefa que consiste em obter a partir da lei a uacutenica sentenccedila justa

(certa) ou o uacutenico ato administrativo correto eacute no essencial idecircntica agrave tarefa de quem se proponha nos quadros da

Constituiccedilatildeo criar as uacutenicas leis justas (certas) Assim como da Constituiccedilatildeo atraveacutes da interpretaccedilatildeo natildeo podemos

extrair as uacutenicas leis corretas tampouco podemos a partir da lei por interpretaccedilatildeo obter as uacutenicas sentenccedilas

corretas Ibidem p 393 599 Ibidem p 394 600 Para Kelsen a aplicaccedilatildeo do direito eacute simultaneamente sua produccedilatildeo 601 ―Atraveacutes de uma interpretaccedilatildeo autecircntica deste tipo pode criar-se Direito natildeo soacute no caso em que a interpretaccedilatildeo

tem caraacuteter geral em que portanto existe interpretaccedilatildeo autecircntica no sentido usual da palavra mas tambeacutem no caso

em que eacute produzida uma norma juriacutedica individual atraveacutes de um oacutergatildeo aplicador do Direito desde que o ato deste

oacutergatildeo jaacute natildeo possa ser anulado desde que ele tenha transitado em julgado Eacute fato bem conhecido que pela via da

interpretaccedilatildeo autecircntica deste tipo eacute muitas vezes criado direito novo ndash especialmente pelos tribunais de uacuteltima

instacircncia KELSEN Op cit p 394-395

115

apreciaccedilatildeo do oacutergatildeo chamado a produzir o ato602

dentro da moldura kelsiana uma vez

que no seu acircmbito o magistrado atua como cocriador e pode quase tudo tendo que

observar apenas a moldura da norma geral

E eacute esta liberdade na produccedilatildeo do ato que pode criar direito que diferencia a

interpretaccedilatildeo autecircntica de todas as outras formas de interpretaccedilatildeo603

inclusive da natildeo

autecircntica realizada pela ciecircncia juriacutedica604

que soacute aponta ―as possiacuteveis significaccedilotildees de

uma norma juriacutedica605

Desta forma Kelsen entende que a decisatildeo quanto agrave eleiccedilatildeo de uma

interpretaccedilatildeo dentre as vaacuterias significaccedilotildees compete ao oacutergatildeo aplicador do Direito606

pois natildeo haacute uma uacutenica correta o que possibilita que o tribunal decida como bem

entender a seu criteacuterio

E nesse diapasatildeo ressalta um ponto imprescindiacutevel a refletir quanto ao

presente trabalho ao afirmar que aquele que observa apenas uma interpretaccedilatildeo como a

correta estaacute agindo em uma funccedilatildeo juriacutedico-poliacutetica607

Outra liccedilatildeo de Kelsen - de que a aplicaccedilatildeo de ―uma interpretaccedilatildeo estritamente

cientiacutefica pode revelar ―todas as significaccedilotildees possiacuteveis estabelecidas na ―foacutermula

verbal () escolhida da norma inclusive as ―politicamente indesejaacuteveis ndash tambeacutem

merece ser observada ao se refletir sobre a decisatildeo do STF608

3112 Alf Ross

Alf Ross propotildee a teoria do ―meacutetodo juriacutedico de interpretaccedilatildeo como forma de

explicar a atividade do magistrado ao aplicar ―o direito formulado verificando

analiacutetica e descritivamente a partir daiacute com base na ―praacutetica dos tribunais quais ―os

602 KELSEN Hans Teoria Pura do Direito 8ordf ed Trad Joatildeo Baptista Machado Satildeo Paulo WMF Martins Fontes

2009 p 393 603 Ibidem p 394 ―Atraveacutes desse ato de vontade se distingue a interpretaccedilatildeo juriacutedica feita pelo oacutergatildeo aplicador do

Direito A interpretaccedilatildeo feita pela ciecircncia juriacutedica eacute aquela que natildeo eacute feita pelo juiz mas pelos demais 604 A interpretaccedilatildeo feita pela ciecircncia juriacutedica eacute aquela que natildeo eacute feita pelos magistrados mas pelos demais 605 Ibidem p 395 Segundo Kelsen a interpretaccedilatildeo feita pela ciecircncia juriacutedica natildeo deve afirmar que uma norma

juriacutedica permite somente uma interpretaccedilatildeo para ―todos os casos uma vez que pela pluralidade dos significados das

normas juriacutedicas este ideal que a ―jurisprudecircncia tradicional utiliza ―para consolidar o ideal de seguranccedila juriacutedica

―somente eacute realizaacutevel aproximativamente p 396 606 Ibidem p 396 607 Ibidem p 396 Em suas palavras ―Natildeo se pretende negar que esta ficccedilatildeo da univocidade das normas juriacutedicas

vista de uma certa posiccedilatildeo poliacutetica pode ter grandes vantagens Mas nenhuma vantagem poliacutetica pode justificar que

se faccedila uso desta ficccedilatildeo numa exposiccedilatildeo cientifica do Direito positivo proclamando como uacutenica correta de um ponto

de vista cientiacutefico objetivo uma interpretaccedilatildeo que de um ponto de vista poliacutetico subjetivo eacute mais desejaacutevel do que

em uma outra igualmente possiacutevel do ponto de vista loacutegico Neste caso com efeito apresenta-se falsamente como

uma verdade cientiacutefica aquilo que eacute tatildeo somente um juiacutezo de valor poliacutetico p 396 608 Ibidem p 396 Em suas palavras ―() pode ter um efeito praacutetico que supere de longe a vantagem poliacutetica da

ficccedilatildeo do sentido uacutenico Eacute que a uma tal interpretaccedilatildeo cientifica pode mostrar agrave autoridade legisladora quatildeo longe

estaacute a sua obra de satisfazer agrave exigecircncia teacutecnico-juriacutedica de uma formulaccedilatildeo de normas juriacutedicas o mais possiacutevel

inequiacutevocas ou pelo menos de uma formulaccedilatildeo feita por maneira tal que a inevitaacutevel pluralidade de significaccedilotildees

seja reduzida a um miacutenimo e assim se obtenha o maior grau possiacutevel de seguranccedila juriacutedica Idem p 396-397

116

princiacutepios ou regras que realmente os norteiam no tracircnsito da regra geral agrave decisatildeo

particular609

De acordo com seu entendimento pela ideologia do meacutetodo pode-se ―no

maacuteximo obter ―um estilo de meacutetodo ou estilo de interpretaccedilatildeo610

E ao dividir o

estudo em duas partes uma doutrinaacuteria e outra de teoria geral afirma que primeira parte

eacute da ciecircncia do direito destinada a averiguar ―o meacutetodo seguido pelos tribunais num

ordenamento juriacutedico especiacutefico e a segunda eacute aquela que611

tambeacutem explica os

―estilos de meacutetodo e interpretaccedilatildeo que realmente ocorrem612

Nesse diapasatildeo613

passa a analisar a teoria geral do meacutetodo tendo como base o

sistema que vige no Brasil de que toda interpretaccedilatildeo do direito legislado principia com

um texto isto eacute uma foacutermula linguiacutestica escrita614

e que por uma fundamentaccedilatildeo

semacircntica se deve observar as palavras e as frases formadas por elas dentro de um

contexto jaacute que este contexto eacute que de acordo com Ross demonstra como ―a palavra

tem sido usada em cada caso individual615

e que por meio da constataccedilatildeo dos diversos

significados razoaacuteveis616

dados agrave palavra se observa o seu ―campo de referecircncia

correspondente617

e dentre eles o significado ―mais provaacutevel618

de forma que pela

interpretaccedilatildeo se busca o ―significado da expressatildeo619

609 ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 p 136 Natildeo tendo a mesma precisatildeo de

uma ideologia das fontes do direito especialmente no que diz respeito agrave ―interpretaccedilatildeo do direito legislado E assim

afirma que a ―doutrina do meacutetodo para efetivamente nortear a interpretaccedilatildeo deve visar a anaacutelise descritiva de ―como

se comportam de fato os tribunais na aplicaccedilatildeo do direito vigente a situaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 137 610 Ibidem p 136 611 Aleacutem explicitar os fatos que levam aos problemas dos meacutetodos 612 Ibidem p 137 Elucida que os problemas dos meacutetodos satildeo diversos de acordo com o sistema juriacutedico adotado e

que por isso os que satildeo observados no sistema inglecircs ―no qual os precedentes (jurisprudecircncia) constituem a fonte

predominante do direito natildeo satildeo os mesmos que os de ―um sistema em que a legislaccedilatildeo eacute a fonte principal pois

enquanto no primeiro o ―problema do meacutetodo consiste em como extrair uma regra geral dos precedentes existentes e

aplicaacute-la ao caso a ser decidido no segundo ―a atenccedilatildeo se concentra aqui na relaccedilatildeo existente entre uma dada

formulaccedilatildeo linguiacutestica e um complexo especiacutefico de fatos p 138 A elaboraccedilatildeo da Suacutemula Vinculante eacute realizada

com base em precedentes ou seja na forma do sistema inglecircs ndash de precedentes jaacute que eacute a anaacutelise dos julgados

qualificados como precedentes que subsidiaraacute a construccedilatildeo da Suacutemula Vinculante 613 Lembrando que no sistema de precedentes a ―regra geral frequentemente se modifica ―durante o curso do

desenvolvimento de um caso para outro Ibidem p 138 Por isso afirma () haver continuidade ou alteraccedilatildeo

dependeraacute do juiz ao examinar as semelhanccedilas e as diferenccedilas entre o caso presente e o precedente () ou em outras

palavras decidir que eacute mister introduzir uma distinccedilatildeo com o auxiacutelio de outros conceitos Neste uacuteltimo caso a regra

geral adquiriu um conteuacutedo distinto No comeccedilo de uma linha de precedentes a regra geral pressuposta teraacute de

ordinaacuterio um conteuacutedo muito pouco definido Uma doutrina natildeo foi ainda cristalizada Por isso a tarefa que tem

diante de si o juiz natildeo consiste tanto em aplicar uma regra geral a um caso especiacutefico mas em decidir se o caso difere

do precedente de tal maneira que existam fundamentos para chegar a uma decisatildeo distinta O raciociacutenio juriacutedico

(meacutetodo juriacutedico) num sistema como esse eacute raciociacutenio por via de exemplos e a teacutecnica de argumentaccedilatildeo exigida por

esse meacutetodo visa a mostrar as semelhanccedilas e diferenccedilas exibidas pelos casos e asseverar que as diferenccedilas satildeo ou natildeo

satildeo relevantes Ibidem p 138 614 Ibidem p 139 615 Ibidem p 141 616 Ibidem p 143 Contudo parece que natildeo foi isso que o STF fez 617 ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 p 141 Parece que natildeo foi o que o STF

fez 618 Ibidem p 144 ―() que pode ser aceito conforme as circunstacircncias como contexto e situaccedilatildeo O contexto se

estende ateacute onde se possa supor que uma expressatildeo foi formulada tendo outra em mente () abrange todos os fatos e

117

Ainda diferencia a interpretaccedilatildeo subjetiva da objetiva afirmando que pela

primeira620

se toma ―em consideraccedilatildeo natildeo apenas a expressatildeo linguiacutestica como tambeacutem

todos os outros relevantes o contexto e a situaccedilatildeo621

e pela segunda622

se ―restringe os

dados aos discerniacuteveis pelo destinataacuterio na situaccedilatildeo em que ele se acha ao apreender a

expressatildeo sendo portanto divergentes natildeo quanto ao ―propoacutesito da interpretaccedilatildeo623

mas quanto ao que consideram ao interpretar

Nesse ensejo discorre sobre os problemas da interpretaccedilatildeo iniciando pelos

concernentes a sintaxe624

e em seguida os loacutegicos625

dentre os quais se destaca a

inconsistecircncia626

que podem ser resolvidos de algumas formas627

e tambeacutem pelos

―princiacutepios de peso relativo que gravitam em torno da interpretaccedilatildeo ao lado de outras

consideraccedilotildees a propiciar que a lei ―esteja de acordo com o senso comum com a

consciecircncia juriacutedica popular ou com os objetivos sociais supostos628

Daiacute aponta os problemas semacircnticos de interpretaccedilatildeo que concernem ao

significado das palavras individuais ou das frases629

e nessa toada ao considerar que

nenhum ―texto pode ser tatildeo claro a ponto de ser impossiacutevel que suscite duacutevidas quanto agrave

sua interpretaccedilatildeo apresenta uma teoria sobre meacutetodos de interpretaccedilatildeolsquo por meio dos

quais os magistrados buscam solucionar ―esses problemas na administraccedilatildeo da

circunstacircncias que podem indicar qual era ()razatildeo provaacutevel () toda a situaccedilatildeo fatual fiacutesica e social de vida que

condicionou a expressatildeo Ibidem p 144-145 Parece que natildeo foi o que o STF fez 619 Seja pelo todo pois ―somente o contexto e o desejo de descobrir um significado bom ou razoaacutevel em relaccedilatildeo a

uma dada situaccedilatildeo determinam o significado das palavras individuais ou pelo proacuteprio ―contexto e da situaccedilatildeo em

que a expressatildeo eacute formulada onde a ―conexatildeo externa da expressatildeo natildeo eacute dada de modo imediato associada a esta

de forma que em ambos ―o contexto eacute codeterminativo Ibidem p 146 620 Natildeo eacute como muitos acham a interpretaccedilatildeo que ―visa a descobrir o significado que se buscou expressar Ibidem

p 149 621 ―O propoacutesito declarado e o propoacutesito presumido Ibidem p 149-150 622 Natildeo eacute a que ―visa estabelecer o significado comunicado Ibidem p 149 623 Ibidem p 150 624 Que se referem agrave ligaccedilatildeo entre as palavras ―na estrutura da frase e cuja soluccedilatildeo eacute a descoberta do ―significado

bom ou razoaacutevelrdquo Ibidem p 151 625 Que se referem ―agraves relaccedilotildees de uma expressatildeo com outras expressotildees dentro de um contexto Ibidem p 157 626 ―Existe inconsistecircncia entre duas normas quando satildeo imputados efeitos juriacutedicos incompatiacuteveis agraves mesmas

condiccedilotildees fatuais e isto pode ocorrer de ―trecircs maneiras distintas ia) Inconsistecircncia total-total () quando nenhuma

das normas pode ser aplicada sob circunstacircncia alguma sem entrar em conflito com a outra () 2a) Inconsistecircncia

total-parcial () quando uma das duas normas natildeo pode ser aplicada sob nenhuma circunstacircncia sem entrar em

conflito com a outra enquanto esta tem um campo adicional de aplicaccedilatildeo no qual natildeo entra em conflito com a

primeira Ibidem p 158-162 627 Pela aplicaccedilatildeo das regras de vigecircncia da lei especial da lei posterior e superior ―Pensa-se frequentemente que

quando se trata da relaccedilatildeo entre leis diferentes as inconsistecircncias podem ser resolvidas mediante duas simples regras

convencionais de interpretaccedilatildeo Lex posterior significa que de duas leis do mesmo niacutevel a segunda prevalece sobre a

anterior e () soacute se aplica na medida em que em termos subjetivos o legislador teve a intenccedilatildeo de substituir a lei

mais antiga (anterior) Entretanto pode tambeacutem ter tido a intenccedilatildeo de que a nova regra se incorporasse

harmoniosamente ao direito existente como um suplemento dele () Lex superior quer dizer que num conflito entre

previsotildees legislativas de niacutevel diferente a lei de niacutevel mais elevado qualquer que seja a ordem cronoloacutegica se acharaacute

numa situaccedilatildeo de preferecircncia relativamente a de niacutevel mais baixordquo Ibidem p 158-162 628 Ibidem p 163-164 629Sendo sua soluccedilatildeo a interpretaccedilatildeo da ―expressatildeo como um todo com seu contexto pois ―o problema do

significado das palavras individuais estaacute sempre unido a esse conceito ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson

Bini BauruSP Edipro 2000 p 164

118

justiccedila630

e afirma que o problema que deve ser enfrentado eacute o referente a como o

magistrado na praacutetica realiza a interpretaccedilatildeo

Diz que a soluccedilatildeo eacute analiacutetico-descritiva e que por isso a atividade do juiz - ―de

interpretar e aplicar a lei a um caso especiacutefico - ―eacute um problema praacutetico e que a sua

decisatildeo - aleacutem de ser fundada em ―processos cognitivos por sua proacutepria natureza -

tambeacutem configura ―um ato de vontade631

E assim ao se posicionar contrariamente agraves

teorias positivistas-mecanicistas632

assevera que o juiz ao decidir faz uma escolha

embasada natildeo apenas em um processo cognoscitivo mas tambeacutem em uma

―valoraccedilatildeo633

sendo ―sua interpretaccedilatildeo da lei (num sentido mais amplo) ―um ato de

natureza construtiva e natildeo ―de puro conhecimento uma vez que ―seus motivos natildeo se

reduzem ao desejo de acatar uma determinada diretiva634

E assevera que ―a tarefa de administrar justiccedila eacute muito maior que o ato de

―interpretar a lei vez que o juiz eacute agente que realiza funccedilatildeo criadora que ao decidir

utiliza sua percepccedilatildeo quanto aos ―valores juriacutedicos e assim transcende ―o respeito

pelo texto da lei e ateacute ―deixa o texto da lei de lado embora natildeo admita635

Dessa forma a decisatildeo judicial eacute ato de ―administraccedilatildeo do direito e natildeo ato

interpretativo ―de mera atividade intelectual mas construtivo realizado por meio de

um processo onde se observa concomitantemente ―a funccedilatildeo valorativa e a

cognoscitiva636

que se fundem na praacutetica ao envolverem ―conhecimento e valoraccedilatildeo

passividade e atividade637

Nesse enredo ressalta que ―administraccedilatildeo da justiccedila apresenta niacutetida

dualidade jaacute que se por um lado haacute uma ―atividade puramente cognoscitiva por outro

haacute ―uma atividade emotivo-volitiva fundada em valoraccedilotildees sociais e em observaccedilotildees

630Ibidem p 165 631 Ibidem p 166 632 Segundo Ross esta teoria eacute equivocada e que para se perceber o disposto ―basta assinalar que a interpretaccedilatildeo - no

sentido de determinaccedilatildeo do significado como fato empiacuterico amiuacutede natildeo conduz a qualquer resultado certo () Idem

p 167 633 ―O juiz eacute um ser humano Por traacutes da decisatildeo tomada encontra-se toda sua personalidade Mesmo quando a

obediecircncia ao direito (a consciecircncia juriacutedica formal) esteja profundamente enraizada na mente do juiz como postura

moral e profissional ver nesta o uacutenico fator ou moacutevel eacute aceitar uma ficccedilatildeo O juiz natildeo eacute um autocircmato que de forma

mecacircnica transforma regras e fatos em decisotildees Eacute um ser humano que presta cuidadosa atenccedilatildeo em sua tarefa social

tomando decisotildees que sente ser corretas de acordo com o espiacuterito da tradiccedilatildeo juriacutedica e cultural Seu respeito pela lei

natildeo eacute absoluto A obediecircncia a esta natildeo constitui o uacutenico motivo Aos seus olhos a lei natildeo eacute uma foacutermula maacutegica mas

uma manifestaccedilatildeo dos ideais posturas padrotildees ou valoraccedilotildees que denominamos tradiccedilatildeo cultural()rdquo Ibidem p

168 634 Ibidem p 167 635 Ibidem p 169 636 ―() o juiz natildeo pode deixar de cumprir sua tarefa Tem que escolher e esta escolha teraacute sua origem qualquer que

seja seu conteuacutedo numa valoraccedilatildeo Sua interpretaccedilatildeo da lei (num sentido mais amplo) eacute nessa medida um ato de

natureza construtiva natildeo um ato de puro conhecimento Seus motivos natildeo se reduzem ao desejo de acatar uma

determinada diretiva ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 p 167 637 Ibidem p 169

119

socioloacutegico-juriacutedicas638

e que a diferenciaccedilatildeo quanto agrave forma de administrar esta

justiccedila ou este direito estaacute ancorada no estilo da interpretaccedilatildeo - administraccedilatildeo da justiccedila

- que varia a uma de acordo com os ―fatores e dados que convencionalmente satildeo

levados em consideraccedilatildeo a duas com o ―grau de liberdade do juiz podendo haver

portanto uma ―interpretaccedilatildeo (relativamente) livre diferenciada natildeo ― tanto no grau de

liberdade de que goza o juiz mas ―na franqueza com que essa liberdade eacute

reconhecida639

e a trecircs em conformidade com a ―amplitude em que se tomam em

consideraccedilatildeo elementos de juiacutezo alheios agraves palavras da lei por interpretaccedilatildeo subjetiva

ou objetiva640

De forma que a ―atitude do juiz em relaccedilatildeo agrave lei seraacute sempre influenciada por

uma seacuterie de fatores produtos da situaccedilatildeo e pela conexatildeo entre a lei e o resto do

direito641

e quanto maior a liberdade maior a possibilidade de o juiz ―desconsiderar as

claras manifestaccedilotildees que aparecem nos antecedentes legislativos642

e utilizar ―os

fatores pragmaacuteticos na administraccedilatildeo da justiccedila643

realizando uma ―interpretaccedilatildeo

pragmaacutetica que busca ldquoapoio para o resultado desejado onde quer que possa encontraacute-

lo644

seja pela interpretaccedilatildeo especificadora (quando as consideraccedilotildees pragmaacuteticas satildeo

decisivas para a eleiccedilatildeo entre vaacuterias interpretaccedilotildees todas elas possiacuteveis e razoaacuteveis

dentro do significado linguiacutestico do texto)645

restritiva (quando ao recorrer ao propoacutesito

provaacutevel da lei as consideraccedilotildees pragmaacuteticas excluem a aplicaccedilatildeo de uma regra que

segundo o sentido linguiacutestico do texto seria aplicaacutevel ou extensiva (quando as

consideraccedilotildees pragmaacuteticas se traduzem na aplicaccedilatildeo da regra a situaccedilotildees que

638 Ibidem p 170 E assim afirma que ―toda interpretaccedilatildeo juriacutedica em sentido proacuteprio inclui presunccedilotildees que tangem

aos criteacuterios e valores sociais que motivaram o legislador Ibidem p170 639 Ibidem p 171 No caso do STF haveria entatildeo uma ampla liberdade tanto em grau como em reconhecimento 640 Ibidem p 172 Segundo o autor a ―interpretaccedilatildeo objetiva rejeita certos dados de interpretaccedilatildeo (os antecedentes da

lei) e se ateacutem exclusivamente ao proacuteprio texto conduziraacute frequentemente a resultados menos precisos que a

interpretaccedilatildeo subjetiva deixando assim maior raio de alcance para a liberdade do juiz Num certo sentido

consequentemente a interpretaccedilatildeo objetiva eacute mais subjetiva do que a subjetiva Ibidem p 172 641 ―() inconcebiacutevel um estilo de interpretaccedilatildeo completamente objetivo no sentido de que se funde exclusivamente

nas palavras da lei Ibidem p 172 ―Jamais seraacute possiacutevel evitar levar em consideraccedilatildeo que o texto que tem diante de

seus olhos natildeo eacute uma peccedila de ficccedilatildeo nem um artigo cientiacutefico mais precisamente uma lei isto eacute um instrumento de

direccedilatildeo poliacutetica que nasce do seio de interesses e ideias conflitantes e que aponta para certos objetivos sociais

Ibidem p 172 642 Ibidem p 182 Em parte parece que foi isto o que o STF fez ao considerar ao final apenas a Resoluccedilatildeo n 72005

do CNJ e as manifestaccedilotildees quanto agrave mesma no julgado da ADC n12 da qual foi objeto como ―antecedentes da SV

n13 643 E explica que ―Este tipo de raciociacutenio eacute o que estamos habituados a chamar de argumentos baseados em

consideraccedilotildees praacuteticas (razatildeo) ()A interpretaccedilatildeo pragmaacutetica pode considerar natildeo soacute os efeitos sociais previsiacuteveis

como tambeacutem a teacutecnica da interpretaccedilatildeo e sua concordacircncia com o sistema juriacutedico e as ideias culturais que servem

de base a esse sistema () eacute a integraccedilatildeo de uma multiplicidade de valoraccedilotildees e o propoacutesito da lei indica somente

uma consideraccedilatildeo uacutenica dentro dessa multiplicidade Ibidem p 176-177 644 Ibidem p 182 645 ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 p 178

120

contempladas agrave luz do sentido linguiacutestico natural se encontram claramente fora de seu

campo de referecircncia)646

mas com ―caraacuteter construtivo647

raramente assumido648

Mas que tal decisatildeo natildeo tem qualquer debilidade ao contraacuterio que representa

a ―verdade fundamental de que as maacuteximas de interpretaccedilatildeo satildeo ―implementos de uma

teacutecnica que () habilita o juiz a atingir a conclusatildeo que julga desejaacutevel nas

circunstacircncias e concomitantemente ―reserva a ficccedilatildeo de que soacute estaacute obedecendo a lei

e os princiacutepios objetivos de interpretaccedilatildeo649

e assim administram a justiccedila em ―uma

atividade poliacutetico-juriacutedica650

de forma que os ―meacutetodos de interpretaccedilatildeo apenas

estabelecem ―limites agrave liberdade do juiz na administraccedilatildeo da justiccedila determinando a

aacuterea de soluccedilotildees justificaacuteveis651

Assim Alf Ross pelo meacutetodo juriacutedico proposto traduz os ―argumentos

teacutecnicos utilizados pelos magistrados como razotildees presentes ―na sua consciecircncia

juriacutedica652

fundada nas normas e tambeacutem nas ―exigecircncias sociais e por consideraccedilotildees

socioloacutegico juriacutedicas653

traduzem sua consciecircncia juriacutedica material presente em todas

as suas decisotildees judiciais654

3113 Eros Grau

Segundo o autor a atividade de interpretar o direito eacute vista como a

―compreensatildeo do significado das normas juriacutedicas seja pela identificaccedilatildeo ou pela

determinaccedilatildeo do significado da norma Dessa forma observada pelo prisma do ato de

646 Ibidem p 179 Como quando haacute ―as condiccedilotildees para o uso da analogia estatildeo reunidas p 182-183 Diante disto

seria possiacutevel vislumbrar que os ministros do STF ao construiacuterem a SV n13 estabeleceram os significados das

palavras com base em tais interpretaccedilotildees 647 Ibidem p 182 Assim a palavra final eacute do uacuteltimo inteacuterprete da lei o uacuteltimo juiz ou tribunal a apreciar o caso

Nesse enredo o que se pode avaliar eacute que o STF como tribunal maacuteximo do Brasil tem a liberdade para decidir em

grau e em reconhecimento e que eacute quanto aos precedentes da Suacutemula Vinculante o uacuteltimo interprete e quanto agrave sua

ediccedilatildeo seu uacutenico inteacuterprete 648 Ibidem p 181 ―() o segredo dessa teacutecnica de argumentaccedilatildeo consiste em natildeo haver criteacuterio que indique qual

regra de interpretaccedilatildeo deveraacute ser empregada () Numa certa medida a escolha pode ser motivada pelos dados da

interpretaccedilatildeo () Essas teacutecnicas de argumentaccedilatildeo satildeo recursos integrantes do equipamento de todo jurista

experimentado Ele tem que saber como justificar tecnicamente mediante argumentos interpretativos a soluccedilatildeo

juriacutedica que considera justa ou desejaacutevel p 183 649Ibidem p 184 E por isto aduz que ―as teorias do movimento do direito livre se acham mais proacuteximas da verdade

do que as teorias positivistas jaacute que explicam como o ―direito eacute administrado ou seja como os magistrados

decidem - administram a justiccedila e natildeo fazem apenas um raciociacutenio loacutegico com base nas normas positivadas p 185 -

186 650 Ross explica que pelas ―teorias do meacutetodo da escola do direito livre - correspondentes agraves teorias juriacutedicas

idealistas - a validade do direito eacute oriunda de uma ideia princiacutepio ou propoacutesito inerentes ao direito a ideia de

justiccedila as atitudes eacutetico-juriacutedicas predominantes do povo o princiacutepio de solidariedade o princiacutepio de justiccedila social

etc () Nos tempos modernos eacute corrente o referir-se particularmente a consideraccedilotildees de propoacutesito social e agrave

ponderaccedilatildeo dos interesses como diretrizes para a interpretaccedilatildeo livre Ibidem p 186 651 Ibidem p 183 E afirma ―()administraccedilatildeo da justiccedila eacute o resultante de um paralelogramo de forccedilas no qual os

vetores dominantes satildeo a interpretaccedilatildeo cognoscitivamiddot da lei e a atitude valorativa da consciecircncia juriacutedica p 168 652 Ibidem p 183 653 Ibidem p 186-187 654 Ibidem p 168

121

conhecer ou do ato de vontade tem o seu pilar de significaccedilatildeo estabelecido no fato de

que interpretar eacute ―identificar ou determinar (= compreender) a significaccedilatildeo de algo No

caso compreender o significado da norma juriacutedica655

Daiacute realiza uma apresentaccedilatildeo descritiva de ―como se processa a interpretaccedilatildeo

do direito e afirma que a ―interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo do direito satildeo uma soacute operaccedilatildeo

sendo portanto a interpretaccedilatildeo do direito ―constitutiva e natildeo apenas declaratoacuteria vez

que ela vai aleacutem da ―mera compreensatildeo dos textos e dos fatos 656

e por isto eacute

―atividade que se presta a transformar textos ndash disposiccedilotildees preceitos enunciados - em

norma657

Nesse ensejo aduz que o magistrado ao realizar a interpretaccedilatildeo extrai ―normas

de decisatildeo658

como ―interprete autecircntico659

que eacute pois ―revestido do poder de criar

normas e ―pronunciar o discurso do direito660

sobrepondo-se nesse processo a

interpretaccedilatildeo e concretizaccedilatildeo vez que a primeira natildeo existe sem a segunda sendo esta a

―derradeira etapa daquela661

vez que ―o inteacuterprete desvencilha a norma do seu

involucro (o texto) e ―opera a inserccedilatildeo do direito na vida662

655 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p

21 656 Ibidem p 22 E assim o autor explica que ―o inteacuterprete procede agrave interpretaccedilatildeo dos textos normativos e

concomitantemente dos fatos de sorte que o modo sob o qual os acontecimentos que compotildeem o caso vai tambeacutem

pesar de maneira determinante na produccedilatildeo da(s) norma(s) aplicaacutevel(is) ao caso p 22 657 Ibidem p 23 E complementa sua ideia afirmando que o ―significado do texto (isto eacute a norma) eacute o resultado da

tarefa interpretativa e ainda que ―a interpretaccedilatildeo se pode descrever como um processo intelectivo atraveacutes do qual

() alcanccedilamos a determinaccedilatildeo de um conteuacutedo normativo p 23 e 26 Assim ―o significado da norma eacute produzido

pelo inteacuterprete Ele eacute o que o inteacuterprete diz que ele eacute p 23 658 Que de acordo com o autor eacute ―a norma juriacutedica aplicada ao caso concreto Segundo ele para ―se passar da

normatividade mediata para a normatividade concreta a norma juriacutedica precisa de revestir o caraacuteter de norma de

decisatildeo Ibidem p 98-99 659 Ibidem p 24 Segundo o autor ―() todos os operadores do direito o interpretam mas apenas uma certa categoria

deles realiza plenamente o processo de interpretaccedilatildeo ateacute o seu ponto culminante que se encontra no momento da

definiccedilatildeo da norma de decisatildeo () o juiz p 24 Assim ―o interprete cria direito no sentido de definir normas de

decisatildeo p 85 660 Ibidem p 87 Segundo o autor esse discurso eacute ―prescritivo produzido pelos juiacutezes e tribunais autorizados a dizecirc-

los p 96 Diante disto se observa que os Ministros do STF ao interpretarem os princiacutepios constitucionais

produziram norma juriacutedica e ao decidirem aos quatro julgados que foram precedentes da SV n13 elaboraram as

normas de decisatildeo Segundo o autor ―A concretizaccedilatildeo somente se realiza em sua plenitude () quando eacute definida a

norma de decisatildeo apta a dar soluccedilatildeo ao conflito que consubstancia o caso concreto p 25 661 Ibidem p 25 Mais agrave frente o autor explica ―interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo natildeo se realizam autonomamente ―Assim

existe uma equaccedilatildeo entre interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo () uma soacute operaccedilatildeo () p 31 Nesse enredo Eros Grau

compara o direito agrave musica (p 102) e ao teatro afirmando que todos satildeo alograacuteficos ―Isso significa que o texto

normativo () reclama um inteacuterprete (primeiro inteacuterprete) que compreenda e reproduza () a fim de que um

determinado conflito seja decidido (p 79) vez que precisam da ―compreensatildeo e da reproduccedilatildeo e que ―tal

classificaccedilatildeo se aplica ao direito pois o texto normativo se completa ―quando o sentido por ele expressado eacute

produzido como nova forma de expressatildeo pelo inteacuterprete e que este sentido eacute novo diferente do texto eacute a norma

p 26 662 Ibidem p 27 O inteacuterprete cria a norma no sentido reproduccedilatildeo pois se por um lado a norma estaacute parcialmente

―involucrada no texto em ―estado de potecircncia por outro o inteacuterprete ao interpretar o texto a ―desnuda ―a partir

de elementos do caso ao qual seraacute ela aplicada e desta forma ―produz a norma ao fazecirc-la ―brotar do texto p 27 e

83 E mais agrave frente elucida―() a interpretaccedilatildeo do direito tem caraacuteter constitutivo ndash natildeo meramente declaratoacuterio pois

ndash e consiste na produccedilatildeo pelo interprete a partir dos textos normativos e dos fatos atinentes a um determinado caso

de normas juriacutedicas a serem ponderadas para a soluccedilatildeo desse caso mediante a definiccedilatildeo de uma norma de decisatildeo

Interpretar eacute assim dar concreccedilatildeo (=concretizar) ao direito Neste sentido a interpretaccedilatildeo (=intepretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo)

122

E afirma que a ―moldura da norma proposta por Kelsen deve ser aplicada para

tambeacutem emoldurar o caso vez que o inteacuterprete ao ―empreender a produccedilatildeo praacutetica do

direito aleacutem de interpretar o texto tambeacutem interpreta o caso pois como natildeo existe

soluccedilatildeo preacutevia a cada caso o ―trabalho juriacutedico de construccedilatildeo da norma aplicaacutevel a cada

caso deve ser ―artesanal tendo para cada caso concreto uma nova ―soluccedilatildeo

juriacutedica663

Ao se voltar agrave interpretaccedilatildeo dos fatos alega que ―o inteacuterprete os reconforma e

que por isso ―o direito institui a sua proacutepria realidade mas ressalta que haacute fragilidade

entre o relato e o relatado pois o relato dos fatos estaacute ligado agrave maneira como se observa

a realidade sendo considerado verdadeiro o depreendido pelo inteacuterprete no momento da

―criaccedilatildeo da norma664

Nesse enredo afirma que a preacute-compreensatildeo665

eacute ―momento inicial do

―processo de interpretaccedilatildeo dos textos normativos666

―qual ganha dinamismo em um

movimento circular que compotildee o ciacuterculo hermenecircutico e traduz os conflitos do

inteacuterprete tanto que ―a norma de decisatildeo por ele produzida possui ―as marcas desse(s)

conflito(s)667

Assim conforme as liccedilotildees de Eros Grau o juiz decide de acordo com o

contexto histoacuterico em que vive e com a ―consciecircncia social de seu tempo668

mas

sopesando o ―direito todo e natildeo apenas um determinado texto normativo669

e que ele

―ao produzir as normas juriacutedicas realiza como inteacuterprete autecircntico ―juris prudentia e

opera a inserccedilatildeo do direito na realidade opera a mediaccedilatildeo entre o caraacuteter geral do texto normativo e sua aplicaccedilatildeo

particular () opera a inserccedilatildeo das leis (=do direito) no mundo do ser (=mundo da vida) GRAU Eros Ensaio e

discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 34 663 Ibidem p 32 e 93 Ao aplicar os ensinamentos de Eros Grau agrave apreciaccedilatildeo do caso da SV n13 constata-se que

para cada um dos julgados que formaram seus precedentes os Ministros chegaram a uma soluccedilatildeo juriacutedica especiacutefica

diferente vez que em cada um deles o nepotismo foi analisado de forma diversa e ensejou consequecircncias diferentes

quanto agrave conceituaccedilatildeo dos elementos que compotildeem a sua noccedilatildeo De acordo com Eros Grau isso seria possiacutevel mas se

suscita a duacutevida eles ensejariam desta forma ―jurisprudecircncia reiterada ndash um dos criteacuterios para a ediccedilatildeo da Suacutemula

Vinculante Esta eacute uma das hipoacuteteses que se almeja responder ao final do estudo 664 Ibidem p 33 665 Segundo o autor a preacute-compreensatildeo eacute a ―representaccedilatildeo antecipada do resultado da tarefa de interpretaccedilatildeo ndash

parametra o empreendimento dessa tarefa () Nesse momento o interprete opera juiacutezos de valor seus E ainda

elucida que ela ―natildeo eacute conceito metodoloacutegico () eacute conceito que se desenvolve em um plano essencialmente

descritivo Ibidem p 111-112 666 Ibidem p 37 e 108 De acordo com o autor ―() Isso natildeo implica que o interprete deve abandonar todas as suas

opiniotildees preacutevias sobre o conteuacutedo do texto ou todas as posiccedilotildees proacuteprias poreacutem simplesmente que esteja aberto

para a opiniatildeo do texto quem deseja compreender um texto tem de estar em princiacutepio disposto a deixar-se dizer algo

por ele uma consciecircncia formada hermeneuticamente tem de mostrar-se receptiva desde o princiacutepio agrave alteridade do

texto Ibidem p 109 667 Ibidem p 37 Assim () ―a decisatildeo judicial considera e eacute determinada dentre outros ―() pelas expectativas de

justiccedila nutridas pela consciecircncia da sociedade () pelas convicccedilotildees do proacuteprio juiz que pode estar influenciado de

forma decisiva por preceitos de eacutetica religiosa ou social () ou por instacircncias de ordem poliacutetica p 37 668 Ibidem p 38 e 113 E por isto segundo o autor a ―decisatildeo judicial implica necessariamente elementos emotivos e

volitivos p 113 669 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p

38

123

natildeo juris scientia670

pois ao interpretar o texto escolhe seguindo uma ―loacutegica da

preferecircncia671

uma dentre as diversas ―interpretaccedilotildees possiacuteveis devendo ser a

escolhida a mais adequada672

A partir deste enredo assevera que natildeo haacute no direito o binocircmio

―verdadeirofalso673

mas apenas o ―aceitaacutevel (justificaacutevel) e que como ―o justo

comporta sempre mais de uma soluccedilatildeo a norma eacute ―objeto de justificaccedilatildeo674

pois ―a

problematizaccedilatildeo dos textos normativos () se opera no acircmbito da prudecircncia675

devido

agrave ―existecircncia de muacuteltiplas soluccedilotildees corretas para a mesma questatildeo676

E que como os ―cacircnones hermenecircuticos natildeo possuem hierarquia eles satildeo

utilizados pelo inteacuterprete ―se e quando lhe aprouver ―como justificativas a legitimar

os resultados677

funcionando como ―reservas de recursos de argumentaccedilatildeo em poder

dos inteacuterpretes678

mas que a interpretaccedilatildeo deve ser adequar ―a algumas pautas dentre

elas ―agrave interpretaccedilatildeo do direito no seu todo ―agrave finalidade do direto e ―aos

princiacutepios679

em concordacircncia com o sistema juriacutedico do qual faz parte de acordo com

a Constituiccedilatildeo680

pois um ―texto de direito desprendido do sistema juriacutedico natildeo

expressa significado normativo algum681

670 Ibidem p 35 e 101 671Ibidem p 101 672Ibidem p 35 Em conformidade com os ensinamentos de Larenz 673Ibidem p 35 e 114 Devido ao fato de que ―as soluccedilotildees atribuiacuteveis aos problemas juriacutedicos natildeo satildeo definiacuteveis

exclusivamente a partir da atribuiccedilatildeo de um ou outro significado a determinado texto podendo haver ―ponderaccedilatildeo

de variaacuteveis muacuteltiplas p114 674 Ibidem p 35 675Ibidem p 35 e102 676Ibidem p 35 e 102 E ao negar ―a existecircncia de uma uacutenica resposta correta para cada caso juriacutedico ndash ainda que o

interprete esteja atraveacutes dos princiacutepios vinculado pelo sistema juriacutedico assevera que nem ―o juiz Heacutercules de

Dworkin pode ―encontrar para cada caso uma resposta verdadeira pois natildeo existe ―a uacutenica resposta correta E

conclui que a ―concepccedilatildeo dworkiana () perece no momento em que sustentada sobre a busca da melhor teoria

possiacutevel como ideal absoluto () Segundo ele ―nem os princiacutepios nem a argumentaccedilatildeo segundo um sistema de

regras que funcione como um coacutedigo da razatildeo praacutetica ()permitiratildeo o discernimento da uacutenica resposta correta E

assim novamente conclui ―Essa resposta verdadeira (uacutenica correta) natildeo existe p 36 e 103 Diante deste

entendimento pode-se constatar que segundo Eros Grau natildeo haacute nada de equivocado em os Ministros do STF

decidirem cada caso de nepotismo de uma forma desde que a escolha seja a mais adequada e a justificaacutevel ao caso

concreto pois natildeo haacute apenas uma soluccedilatildeo correta Mas este raciociacutenio tambeacutem se aplica agrave ediccedilatildeo da SV n13 A sua

ediccedilatildeo foi a mais adequada e a justificaacutevel ao caso concreto 677Ibidem p 39 678 Ibidem p 104 679 Ibidem p 39 680 Ibidem p 40 De acordo com o autor ―o significado normativo de cada texto somente eacute detectaacutevel no momento

em que se o toma como inserido com contexto do sistema para apoacutes afirmar-se plenamente no contexto funcional

p 128 681 Ibidem p 40 e 128 Nesse enredo o autor ainda afirma que os texto normativos satildeo ―instrumentos de governo

―que consubstanciam ―normas-objetivo (―que explicitam resultados e fins em relaccedilatildeo e cuja realizaccedilatildeo estatildeo

comprometidas outras normas ndash estas de conduta e organizaccedilatildeo) determinam ―os processos de interpretaccedilatildeo do

direito reduzindo a amplitude da moldura do texto e dos fatos e fazem com que natildeo caibam na interpretaccedilatildeo

―soluccedilotildees que natildeo sejam absolutamente adequadas a tais normas-objetivo positivando ―os fins para os quais o

sistema estaacute voltado GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo

Malheiros 2005 p 129

124

Ainda assevera que a interpretaccedilatildeo deve ser adequada aos princiacutepios expliacutecitos

no texto constitucional ou na lei os impliacutecitos resultado da apreciaccedilatildeo ―de um ou mais

preceitos constitucionais ou de uma lei ou conjunto de textos normativos da legislaccedilatildeo

infraconstitucional ou ainda gerais de direito682

taacutecitos ―no interior do ordenamento

juriacutedico683

e reconhecidos ―no instante de seu descobrimento684

sendo portanto

declarado pelo juiz e natildeo constituiacutedo por este685

cuja forccedila deve dominar a interpretaccedilatildeo

do direito pois ―satildeo eles que conferem coerecircncia ao sistema686

mas que embora eles

vinculem o inteacuterprete natildeo garantem a sua ―neutralidade poliacutetica pois esta na praacutetica

―do direito se dissolve sempre vez que ― todas as decisotildees juriacutedicas porque juriacutedicas

satildeo poliacuteticas 687

mas que isto natildeo quer dizer que existe a ―discricionariedade

judicial688

pois o ―juiz natildeo produz normas livremente689

mas como inteacuterprete

autecircntico realiza um juiacutezo de legalidade que eacute ―desenvolvido no campo da prudecircncia

detido tanto pelo texto normativo especialmente ―pelos que veiculam princiacutepios690

como pelos fatos

Assim ressalva que a ―abertura dos textos do direito permite que este

―permaneccedila ao serviccedilo da realidade mas ―natildeo eacute absoluta 691

pois o interprete estaacute

―atado retido pelos texto do direito ―sua funccedilatildeo estaacute contida nos lindes da legalidade

(e da constitucionalidade) e ao ―interpretar o direito formula ―juiacutezos de legalidade692

que ―embora desenvolvido no campo da prudecircncia eacute realizado ―atado ao texto

normativo e aos fatos693

de forma que o ―rompimento dessa retenccedilatildeo pelo inteacuterprete

682 Ibidem p 43 Embora natildeo estejam ―enunciados em texto escrito ―estatildeo contemplados em estado de latecircncia no

ordenamento de que faz parte p 147-148 683 Ibidem p 43 684 ―A autoridade judicial ao tomaacute-los () simplesmente comprova a sua existecircncia no bojo do ordenamento juriacutedico

do direito que aplica declarando-os Ibidem p 44 e 145 685 Ibidem p 47 Ainda segundo o autor o juiz ―simplesmente comprova a sua existecircncia no bojo do ordenamento

juriacutedico do direito que aplica p 149 686 Ibidem p 51 e 200 Segundo o autor ―a interpretaccedilatildeo do direito eacute dominada pela forccedila dos princiacutepios p 200-

201 687 Ibidem p 51 204-205 688 Segundo Eros Grau a discricionariedade enseja ―juiacutezo de oportunidade que eacute a ―escolha entre indiferentes

juriacutedicos mas como cabe ao magistrado apenas o ―juiacutezo de legalidade e natildeo de oportunidade natildeo haacute que se falar

em discricionariedade judicial Idem p 52 -53 151 208 e 209 689 Ibidem p 52 e 207 690 Ibidem p 52 Os ―princiacutepios atuam como mecanismo de controle da produccedilatildeo de norma pelo inteacuterprete como

―medida do controle externo da produccedilatildeo de normas p 203 691 Ibidem p 52 e 116 ―A interpretaccedilatildeo do direito encaminha a atualizaccedilatildeo do direito p 52 115-116 e 207 692 Ibidem p 52 e 208 A ―interpretaccedilatildeo eacute a expressatildeo de uma manifestaccedilatildeo constitutiva que envolve uma decisatildeo

() assumida () mediante a formulaccedilatildeo de um juiacutezo de legalidade ndash natildeo de um juiacutezo de oportunidade

(=discricionariedade) p 52 e 209 693 Ibidem p 209

125

autecircntico resultaraacute a subversatildeo do texto694

em que o binocircmio norma versus ideologia

natildeo guarda equivalecircncia695

Nesse ensejo Eros Grau conclui que a interpretaccedilatildeo do direito696

eacute o ―caminhar

de um ponto a outro do universal ao singular atraveacutes do particular697

primando pela

atualizaccedilatildeo do direito mesmo que ―pereccedila a certeza em benefiacutecio da esperanccedila698

vez

que o direito eacute ―um organismo vivo peculiar que ―natildeo envelhece ―eacute contemporacircneo agrave

realidade e eacute disso que extrai sua ―forccedila ―fasciacutenio e ―beleza699

312 Como os magistrados deveriam decidir

3121 Friedrich Karl Von Savigny

Ao propor uma metodologia juriacutedica a partir da ―apresentaccedilatildeo das normas de

elaboraccedilatildeo absoluta da ciecircncia do direito700

Savigny afirma que a lei ―deveria ser ()

tatildeo perfeita que quem a aplicasse natildeo teria que adicionar nada de si proacuteprio e que

assim o juiz ao tomar a decisatildeo aplicaria ―a proacutepria lei cabendo a ele apenas

reconhecer ―as normas e as aplica no caso particular sendo portanto sua uacutenica

atividade realizar uma ―uma interpretaccedilatildeo puramente loacutegica701

por meio de uma

jurisprudecircncia sistematicamente elaborada de forma coerente e uniforme702

levando em

conta o histoacuterico e o filosoacutefico703

Daiacute Savigny propotildee uma ―metodologia completa e absoluta composta por trecircs

partes uma ―filoloacutegica destinada agrave interpretaccedilatildeo da jurisprudecircncia outra histoacuterica

referente agrave elaboraccedilatildeo histoacuterica da jurisprudecircncia e uma terceira ―sistemaacutetico-

filosoacutefica pertinente agrave elaboraccedilatildeo sistemaacutetica da jurisprudecircncia704

694 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p

52 e 207 695 Ibidem p 211 696 Segundo o autor ―processo de contiacutenua adaptaccedilatildeo de seus textos normativos agrave realidade e seus conflitos Ibidem

p 55 e 125 697 Ibidem p 56 698 Afirma que o juiz ndash interprete autecircntico - realiza uma interpretaccedilatildeo correta quando ela estaacute a uma inserida ―no

quadro (na moldura) do direito a duas justificada por um ―discurso que () se processa de maneira racional e a

trecircs de acordo com ―coacutedigo de valores dominantes p 211 699 Ibidem p 55 Para o autor ―() a realidade social eacute o presente o presente eacute a vida ndash e vida eacute movimento 2005

p 55 ―Assim o significado vaacutelido dos textos eacute variaacutevel no tempo e no espaccedilo histoacuterica e culturalmente p 126 700 SAVIGNY Friedrich Karl Von Metodologia Juriacutedica Trad Hebe A M Caletti Marenco e Regina Ceacutelia de

Carvalho Paschoal Lima CampinasSP Edicamp 2001 p 1 701 Ibidem p 3-4Nesse interim o autor explica que isto inclui que ―a jurisprudecircncia eacute uma ciecircncia puramente

filoloacutegica p 4 702 Nesse diapasatildeo Savigny afirma que como a filosofia ―mediante uma completa deduccedilatildeo deve indicar todo o

conteuacutedo da tarefa geral pode-se concluir que a ―jurisprudecircncia eacute uma ciecircncia filosoacutefica p 5 703 Ibidem p 7 O autor ainda afirma que o sistema ―deve ser concebido como em progresso constante e estar

relacionado com o todo (histoacuteria interior do direito) mas natildeo deve elaborar somente questotildees isoladas do direitop

7 704 Ibidem p 7-8 Assevera que a interpretaccedilatildeo deve ser feita ―histoacuterica e sistematicamente e que nela estaacute

―pressuposto algo diretamente dado um texto Ainda afirma ―toda lei deve expressar um pensamento de maneira tal

que seja vaacutelido como norma de maneira que quem interpreta uma lei deve analisar o pensamento contido na lei

deve pesquisar o conteuacutedo da lei p 9

126

E daiacute explica que a interpretaccedilatildeo eacute ―triacuteplice constituiacuteda pela loacutegica que

apresenta a ―geneacutetica do pensamento da lei que deve ser expresso pela gramaacutetica

condiccedilatildeo necessaacuteria loacutegica e pela parte histoacuterica mas que ―todas as premissas da

interpretaccedilatildeo devem se encontrar na proacutepria lei ou em conhecimentos gerais e que o

inteacuterprete assim ao se colocar ―no ponto de vista da lei teraacute sua interpretaccedilatildeo

vinculada agrave ―intenccedilatildeo do legislador705

Nesse esteio conceitua a interpretaccedilatildeo como ―a reconstruccedilatildeo do pensamento

(claro ou obscuro eacute o mesmo) expresso na lei enquanto seja possiacutevel conhececirc-lo na lei

e elucida que sua ―tarefa suprema eacute restaurar o ―sentido a um texto corrompido por

meio dos elementos ―loacutegicos gramaticais e histoacutericos podendo advir do proacuteprio texto

mas que quando se destina a reconstruir o sentido do texto corrompido se caracteriza

como ―criacutetica superior que ―prescinde da arbitrariedade ―pressupotildee uma

necessidade e deve ser norteada pela certeza

706

Nesse contexto alega que existem dois ―princiacutepios fundamentais para a

interpretaccedilatildeo em geral o princiacutepio da ―individualidade da interpretaccedilatildeo707

e o

princiacutepio da ―universalidade708

haja vista que toda interpretaccedilatildeo deve ser

concomitantemente ―individual e universal capaz de ―unir os diferentes709

vez que a

―interpretaccedilatildeo natildeo pode seguir por uma uacutenica trilha710

sendo para tanto

imprescindiacutevel atrelar este dois princiacutepios ―em um todo pois seu objetivo eacute ofertar

―um resultado para o sistema711

Daiacute Savigny discorre sobre a ―elaboraccedilatildeo histoacuterica da jurisprudecircncia

afirmando que como ―muitos aspectos da jurisprudecircncia ―natildeo podem ser

compreendidos sem um certo conhecimento histoacuterico preacutevio ela eacute necessaacuteria mesmo

porque ―toda a legislaccedilatildeo eacute mais ou menos o resultado da sua histoacuteria anterior712

705 SAVIGNY Friedrich Karl Von Metodologia Juriacutedica Trad Hebe A M Caletti Marenco e Regina Ceacutelia de

Carvalho Paschoal Lima CampinasSP Edicamp 2001 p 9-10 ―Que traduz ―as condiccedilotildees histoacutericas para captar o

pensamento da lei Ibidem p 10 Isto porque segundo o autor ―Soacute eacute possiacutevel a apresentaccedilatildeo da lei atraveacutes da

apresentaccedilatildeo do momento em que existe a lei p 10 706 Ibidem p 11 Tal criacutetica eacute formulada por ―simples suposiccedilotildees engenhosas p 12 707 Ibidem p 15 Aquele por meio do qual ―o inteacuterprete deve () descobrir o particular de cada texto que soacute pode ser

extraiacutedo do mesmo e que eacute ―o melhor meio de realizar tal descoberta pois possibilita ao interprete ―descobrir a

singularidade de expressotildees teacutecnicas mas ressalta sua utilizaccedilatildeo estaacute vinculada agrave ―qualidade da legislaccedilatildeo que se

pretende interpretar pois quanto maior a perfeiccedilatildeo da ―legislaccedilatildeo tanto mais aplicaacutevel seraacute o princiacutepio p 15-17 708 Por meio dele ―cada parte eacute entendida e concebida ―em relaccedilatildeo com o todo Ibidem p 18 709 Ibidem p 15 710 Ibidem p 19 711 Ibidem p 21 712 Ibidem p 28-29 E explica que a ―elaboraccedilatildeo histoacuterica eacute possiacutevel a uma por meio ―de uma vinculaccedilatildeo histoacuterica

e a duas por ―uma separaccedilatildeo histoacuterica sendo a primeira traduzida pela pesquisa sobre ―como uma questatildeo especial

foi respondida de distintos modos em diversas eacutepocas da legislaccedilatildeo devendo-se observar o sistema ―na sua

totalidade e ser considerado progressivo e a segunda pela apreciaccedilatildeo da jurisprudecircncia a partir da ―separaccedilatildeo

completa de suas fontes p 29-31 Seja da maneira que for de acordo com Savigny a jurisprudecircncia tanto pode ser o

127

Assim Savigny analisa a ―elaboraccedilatildeo sisteacutemica da jurisprudecircncia713

e afirma

que para tanto eacute necessaacuterio o conhecimento de todo o conteuacutedo da legislaccedilatildeo para

avaliar os princiacutepios em parte de forma particular em parte na sua conexatildeo714

e

assim montar um verdadeiro sistema por meio do qual eacute possiacutevel por exemplo

―estabelecer a relaccedilatildeo entre norma e exceccedilatildeo715

―dar definiccedilotildees e fazer distinccedilotildees716

Por fim Savigny ―interpretaccedilatildeo extensiva e restritiva natildeo eacute uma ―verdadeira

interpretaccedilatildeo podendo ser denominada ―interpretaccedilatildeo material porque ―diz que por

meio do juiz algo de fora eacute adicionado agrave expressatildeo da lei e soacute na interpretaccedilatildeo material

eacute possiacutevel esta arbitrariedade717

E entatildeo conclui que eacute apenas ―possiacutevel um aperfeiccediloamento da lei atraveacutes do

legislador mas nunca atraveacutes do juiz718

e que por isso mesmo ―aquilo que for exceccedilatildeo

a uma regra legal natildeo pode ser estendido pelo juiz ―por analogia para outros casos

semelhantes719

3122 Chaiumlm Perelman

Perelman diferentemente dos demais autores propotildee temperar o positivismo

juriacutedico de Kelsen com a realizaccedilatildeo de um raciociacutenio loacutegico pelo magistrado embasado

em valores da realidade social maacuteximas e princiacutepios do direito visando moldar o

direito aos fatos720

com o fito de decidir nos termos da legalidade do ordenamento

juriacutedico mas tambeacutem aplicando a soluccedilatildeo mais aceitaacutevel razoaacutevel justa de acordo

com a realidade do caso concreto

Ao explicar ―Loacutegica Juriacutedica a fim de demonstrar que existiria uma loacutegica na

aplicaccedilatildeo dos juiacutezos de valor defende que os juiacutezos de valores embora subjetivos

poderiam ser analisados objetivamente e tenta realizar um consenso entre o pensamento

positivista e a concepccedilatildeo natildeo positivista721

tema principal como tambeacutem pode ser instrumento de criacutetica agrave poliacutetica ou de anaacutelise comparativa entre a legislaccedilatildeo e

seu resultado p 33 713 SAVIGNY Friedrich Karl Von Metodologia Juriacutedica Trad Hebe A M Caletti Marenco e Regina Ceacutelia de

Carvalho Paschoal Lima CampinasSP Edicamp 2001p 34 714 Com o fim de ―desenvolver a determinaccedilatildeo dos princiacutepios particulares e ainda ―ordenar a vinculaccedilatildeo de vaacuterios

princiacutepios particulares e sua conexatildeo Idem p 37 715Ibidem p 40 716Ibidem p 37 717 Ibidem p 41 Segundo ele ―Esta operaccedilatildeo eacute tatildeo arbitraacuteria que natildeo eacute possiacutevel falar em uma verdadeira

interpretaccedilatildeo porque o que o juiz deve adicionar agrave lei () natildeo pode ser objetivo p 42 718 Ibidem p 46 719 Ibidem p 47 720 PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 135 721 ―Que utiliza tatildeo somente o criteacuterio da legalidade na aplicaccedilatildeo do direito por operaccedilatildeo dedutiva restringindo a

funccedilatildeo da loacutegica e da utilizaccedilatildeo praacutetica da razatildeo sem considerar o razoaacutevel o justo Ibidem p 136-137 721 Ibidem p 137

128

Daiacute afirma que eacute justo tratar situaccedilotildees semelhantes da mesma forma mas que

para isso deve se aplicar a justiccedila ao juiacutezo de valor e agrave apreciaccedilatildeo loacutegica dos valores

passando nesse iacutenterim a ponderar sobre as teacutecnicas de argumentaccedilatildeo e a elucidar

sobre a dialeacutetica722

e a retoacuterica723

E entatildeo por meio da sua teoria intitulada nova retoacuterica ou tratado de

argumentaccedilatildeo demonstra o valor da nova retoacuterica especialmente para a loacutegica juriacutedica

pois aquela objetiva persuadir as mentes a consentir as teorias apresentadas por meio do

discurso visando angariar a adesatildeo do auditoacuterio e aleacutem disso deteacutem uma relaccedilatildeo com a

loacutegica formal pois quando esta natildeo eacute capaz de clarear algo confuso a soluccedilatildeo da

questatildeo e realizada por meio da apreciaccedilatildeo dos argumentos que depende da retoacuterica724

Ainda afirma que ―a adesatildeo a uma tese pode ter intensidade variaacutevel (o que eacute

imprescindiacutevel quando o assunto remete a valores) e que a retoacuterica (diversamente da

loacutegica formal e das ciecircncias positivas) tem maior relaccedilatildeo com ―a adesatildeo do que com a

verdade porque a adesatildeo eacute pessoal visa um auditoacuterio725

Neste contexto informa que na retoacuterica o ―auditoacuterio eacute parte central e que

para que o discurso seja eficaz eacute imprescindiacutevel sua especificidade ao respectivo

auditoacuterio e ainda que seja tatildeo persuasiva e convincente que possa ser capaz de

convencer qualquer auditoacuterio726

E assim afirma que a argumentaccedilatildeo do raciociacutenio eacute na nova retoacuterica o pano

de fundo do discurso juriacutedico727

e almeja a adesatildeo a uma determinada tese por ser a

mais oportuna conveniente razoaacutevel ou uacutetil quer dizer a argumentaccedilatildeo invoca o juiacutezo

de valor728

por meio do qual o orador deve realizar a escolha dos valores e fatos que

722 PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p139

Segundo o autor a dialeacutetica eacute ―arte da discussatildeo e ―se mostra o meacutetodo apropriado a soluccedilatildeo dos problemas praacuteticos

os que concernem aos fins da accedilatildeo que envolvem valores 723 Para o autor diferentemente do conceito aristoteacutelico (―arte de procurar em qualquer situaccedilatildeo os meios de

persuasatildeo disponiacuteveis) eacute por meio da retoacuterica que se estuda ―as teacutecnicas discursivas que visam provocar ou a

aumentar a adesatildeo das mentes agrave tese apresentada a seu assentimento Ibidem p 141 724Ibidem p 142-143 725 ―A retoacuterica visa o convencimento da pessoa que por motivos pessoais adere agrave tese disposta por meio da retoacuterica

Ibidem p 143 726 Ibidem p 143-144 Diante disto elucida que se deve utilizar argumentos universais que sejam admitidos por todo

e qualquer ser racional mas que tambeacutem na sua concepccedilatildeo de uma nova retoacuterica deve-se conhecer o auditoacuterio e

adaptar a argumentaccedilatildeo quanto ao mesmo porque a forma de se dirigir a ele de abordaacute-lo eacute o que faraacute a diferenccedila no

discurso especificamente de forma a realizar uma melhor conexatildeo entre aqueles que compotildeem o auditoacuterio que escuta

e o orador que visa persuadi-los a aderir agrave sua tese p 144-146 Nesse enredo afirma que existem trecircs espeacutecies de

oratoacuterias sendo uma delas a judiciaacuteria que ―desde agrave eacutepoca de Aristoacuteteles visava os aspectos teacutecnicos do raciociacutenio

praacutetico da deliberaccedilatildeo e da loacutegica dos juiacutezos de valores com vista a um fim mas que natildeo havia qualquer discussatildeo

quanto ao valor deste fim e que as outras duas satildeo a ―deliberativa referente a questatildeo poliacutetica controvertida e a

epidiacutetica relacionada ao espetaacuteculo mas que a primeira tanto quanto a judiciaacuteria objetiva uma decisatildeo e na uacuteltima

apenas o ―apreccedilo ao talento do orador Ibidem p 147 727 Ibidem p 154 728Segundo o autor quando o orador que natildeo se preocupa com as reaccedilotildees do auditoacuterio que visa convencer e natildeo

conhece previamente as teses agraves quais o determinado auditoacuterio eacute adepto cai na peticcedilatildeo de princiacutepio devendo a fim de

129

abordaraacute em sua argumentaccedilatildeo e que as opccedilotildees incidiratildeo tanto sobre a tese que defende

como sobre a maneira que a formula729

assentando-os na consciecircncia daqueles que

compotildeem a plateia por meio das teacutecnicas de apresentaccedilatildeo730

Sendo assim inegaacutevel que a uma a arte da argumentaccedilatildeo possui uma funccedilatildeo

extremamente persuasiva e a duas que o orador pode por meio das teacutecnicas de

apresentaccedilatildeo unir as proposiccedilotildees coordenaacute-las hierarquizar os acontecimentos

acentuar sua singularidade ou frisar sua generalidade731

ao buscar as soluccedilotildees dos

problemas e das dificuldades no mundo juriacutedico732

Daiacute passa a elucidar sobre os princiacutepios afirmando que estes se referem muito

mais a presunccedilotildees que a evidecircncias e assim apresenta trecircs princiacutepios o conservador

que eacute aquele que presume a importacircncia aos precedentes da vida social e do direito733

o

liberal que eacute melhor deixar que os homens decidam livremente e o socialista que eacute o

que dispotildee sobre presunccedilatildeo de igualdade sendo cada um deles um lugar-comum ―um

princiacutepio geral de conduta presumiacuteveis 734

mas que como satildeo incompatiacuteveis ensejam

satildeo escolha ao orador que ao optar por um deve usaacute-lo como ponto de partida de sua

argumentaccedilatildeo735

E assevera que a influecircncia maior ou menor que o orador exerce sobre o

auditoacuterio estaacute diretamente ligada ao discurso como um todo seja por cada argumento

isolado seja pela conexatildeo que apresentam entre si seja ainda pelos argumentos iacutentima

e espontaneamente assimilados por aqueles que ouvem o discurso736

a fim de garantir a

sua eficaacutecia que depende do seu efeito sobre o auditoacuterio737

Diante disto propotildee a obtenccedilatildeo de soluccedilotildees judiciais aceitaacuteveis recorrendo-se

agraves teacutecnicas da argumentaccedilatildeo necessaacuterias a conciliar ―a melhor interpretaccedilatildeo da lei com evitaacute-la conhecer o que o seu auditoacuterio pensa PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed

Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 156-157 729 Segundo o autor ―() aquele que argumenta e procura exercer com o seu discurso uma influecircncia sobre o seu

auditoacuterio natildeo pode evitar fazer escolhas Estas incidiratildeo tanto sobre a sua tese como sobre a maneira de formulaacute-las

p 165 730 Ibidem p 160 731 Ibidem p 162 O que quer dizer que afinal tudo depende do que eacute mais conveniente agrave tese do orador Pela teacutecnica

de argumentaccedilatildeo ele vai apresentar os fatos como melhor lhe convier Ao se observar os argumentos dos ministros

do STF durante os debates que precederam a ediccedilatildeo da SV n13 natildeo eacute isto que se constata 732 Segundo o autor ―Ao se aplicar o geral ao concreto () no raciociacutenio juriacutedico muitas vezes eacute necessaacuterio opor o

ponto de vista pragmaacutetico ao formal o espiacuterito da lei agrave sua letra fria reinterpretar ao inveacutes de interpreta-la

literalmente Ibidem p 163 Isto porque ―o direito busca solucionar a questatildeo posta uma vez que seu objetivo eacute que

as lides cheguem a termo em um tempo razoaacutevel Ibidem p 166-167 733 Ibidem p 168 734 Referente agrave presunccedilatildeo da liberdade Tudo que natildeo fosse proibido seria permitido A proibiccedilatildeo eacute a exceccedilatildeo e a

permissatildeo eacute a regra Idem p 169 735 Ibidem p 170 736 PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 172-180 737 Nesse iacutenterim Perelman afirma que o orador pode modificar o discurso de acordo com a plateia e apresentar os

argumentos a partir do momento que percebe que o puacuteblico estaacute pronto para assimilaacute-los positivamente Ibidem p

180-181 Mas o STF natildeo se importou com isso

130

a melhor soluccedilatildeo dos casos particulares temperando assim o direito positivo tambeacutem

por meio dos princiacutepios gerais do direito e das regras de direito natildeo escritas e tendo em

voga o valor de equidade738

Segundo ele eacute possiacutevel que os colegiados natildeo hesitem em utilizar ateacute a ficccedilatildeo

juriacutedica739

para justificar as decisotildees poreacutem lembra que podem ateacute fazecirc-lo mas que a

argumentaccedilatildeo utilizada para motivar a soluccedilatildeo deve ser juridicamente soacutelida a mais

aceitaacutevel socialmente conciliando a decisatildeo aceitaacutevel agrave sociedade com e agrave legislaccedilatildeo

posta740

Desta feita o papel do magistrado eacute obter uma decisatildeo legal ―razoaacutevel e

aceitaacutevel741

e somente pode determinar como a lei deve ser aplicada quando haacute

omissatildeo do legislativo742

pois deve interpretaacute-la tornaacute-la mais flexiacutevel por meio de sua

decisatildeo quanto ao caso concreto mas natildeo lhe compete criaacute-la743

Desta feita juiz deve motivar sua decisatildeo expressar o raciociacutenio juriacutedico

desenvolvido no transcorrer do caminho agrave soluccedilatildeo do caso concreto pois assim afasta a

tentativa de mera persuasatildeo expressa razotildees pelas quais optou por aquela determinada

soluccedilatildeo744

e consequentemente afasta a arbitrariedade essencial agrave boa administraccedilatildeo da

justiccedila e imprescindiacutevel ao convencimento do auditoacuterio745

738 Ibidem p 186 Mas vale questionar como natildeo se ao realizar a apreciaccedilatildeo do valor de equidade no caso concreto

o juiz elabora um juiacutezo discricionaacuterio em que a linha com o arbitraacuterio eacute extremamente tecircnue e o raciociacutenio realizado

estaacute intimamente ligado agraves convicccedilotildees subjetivas do magistrado Isto eacute temeraacuterio O juiacutezo elaborado pelo magistrado

eacute de legalidade natildeo de discricionariedade como afirma Eros Grau E o equiacutevoco dos ministros do STF ao comporem

a SV n13 pode ter sido este natildeo realizar estritamente o juiacutezo de legalidade 739 Ibidem p 191O uso da ficccedilatildeo eacute temeraacuterio pois remete agrave discussatildeo sobre verdade e justiccedila Seu uso eacute

recomendado apenas em casos extrema necessidade quando natildeo haacute outro recurso para resolver o binocircmio legislaccedilatildeo

aplicaacutevel e equidade quando o formalismo juriacutedico acarreta consequecircncias socialmente inaceitaacuteveis 740 Ibidem p 193 ―Eacute raro entretanto que os tribunais se realmente o desejam natildeo encontrem na teacutecnica juriacutedica

um meio de conciliar sua preocupaccedilatildeo de uma soluccedilatildeo aceitaacutevel com sua fidelidade agrave lei p 193 741 Ibidem p 200 742 Ibidem p 203-204 743 Ibidem p 206 O autor ressalta que o magistrado ―ao colocar-se no lugar do legislador () torna-se por assim

dizer independente dele tendo a missatildeo de criar a lei em vez de se limitar a aplica-la Ibidem p 206 E completa ―a

corte suprema e o legislador atual eacute que torna atraente a teacutecnica de interpretaccedilatildeo sugerida pois ela transforma a busca

da vontade do legislador em uma presunccedilatildeo suscetiacutevel de ser derrubada Ibidem p 207 E ainda afirma ―De fato

o papel especiacutefico dos juiacutezes eacute dizer o direito ndash e natildeo o criar ndash embora frequentemente a obrigaccedilatildeo de julgar imposta

ao juiz leve-o a completar a lei reinterpretaacute-la e tornaacute-la mais flexiacutevel Ibidem p 209 744 Ibidem p 210-211Em conformidade com os dizeres de Perelman com a motivaccedilatildeo os demais juristas entendem

porque foi proferida aquela decisatildeo e a opiniatildeo puacuteblica a conhece e desta forma o magistrado natildeo apenas obedece ao

requisito legal mas tambeacutem ao valor de soluccedilatildeo mais aceitaacutevel Ibidem p 213 No caso da SV n13 ―os demais

juristas natildeo entenderam ―porque foi proferida aquela decisatildeo nos termos em que foi e natildeo a observaram como ―a

soluccedilatildeo mais aceitaacutevel 745 PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 216

Desta forma fica clara a conclusatildeo de que o objetivo do magistrado ao prolatar a sentenccedila natildeo eacute soacute decidir mas

tambeacutem convencer com os argumentos expostos por meio dos motivos natildeo apenas os demandantes como tambeacutem a

opiniatildeo puacuteblica e as instacircncias superiores Tanto que hoje em dia eacute de notoacuterio saber que o magistrado de primeira

instacircncia antes de decidir normalmente busca conhecer como os magistrados de segundo instacircncia estatildeo decidindo

quanto ao tema jaacute que possuem competecircncia para reformar sua decisatildeo E isto ocorre em todas as instacircncias ateacute

chegar ao STF que possui a palavra final A questatildeo em tela eacute ainda maior no caso da ediccedilatildeo da SV n13 a palavra

do STF natildeo eacute a final eacute a uacutenica e exclusiva

131

Aleacutem disso o magistrado deve ter em mente o ramo e a mateacuteria de direito em

voga bem como o auditoacuterio ao qual se dirige746

trazendo a soluccedilatildeo viaacutevel de acordo

com a legislaccedilatildeo e com a sociedade ao problema concreto747

Desta feita Perelman elucida que a loacutegica judiciaacuteria fundamenta-se na adesatildeo

cabendo ao magistrado convencer a todos de que a decisatildeo tomada eacute a legal e mais

aceitaacutevel ―mais equitativa e a mais conforme o direito em vigor748

Diante disto se constata que a teoria de Perelman - nova retoacuterica por meio da

loacutegica juriacutedica aleacutem de propor argumentaccedilotildees - destaca a funccedilatildeo do magistrado na

busca de argumentos com base na doutrina e jurisprudecircncia que deve sopesar tudo

motivar e tomar a sua decisatildeo com o fito de convencer os auditoacuterios de que a soluccedilatildeo

tomada a escolha feita sua decisatildeo eacute legal e eacute a mais aceitaacutevel749

3123 Karl Larenz

Segundo Larenz a interpretaccedilatildeo eacute ―uma atividade de mediaccedilatildeo pela qual o

inteacuterprete traz agrave compreensatildeo o sentido de um texto que se lhe torna problemaacutetico

devido a existir na linguagem da lei ―termos mais ou menos flexiacuteveis cujo significado

possiacutevel oscila dentro de uma larga faixa e que pode ser diferente segundo as

circunstacircncias750

e sua missatildeo eacute ―evitar a contradiccedilatildeo entre normas responder a

questotildees sobre concurso de normas e concurso de regulaccedilotildees e delimitar uma face agraves

outras as esferas de regulaccedilatildeo sempre que tal seja exigiacutevel751

Por isto o autor dispotildee que o objeto da interpretaccedilatildeo eacute o texto legal e que

mediante a interpretaccedilatildeo faz-se falar o sentido do texto tornando-o assim

―comunicaacutevel mas que para que o texto ―fale a algueacutem que esta pessoa tem que

entender ―alguma coisa daquilo que ele trata pois ele apenas ―responde a quem o

746 Ibidem p 216 Pois a finalidade do direito eacute regulamentar a vida em sociedade e para isto o magistrado deve

aplicar a lei de forma que ―()os tribunais () eacute que satildeo encarregados de dizer o direito motivando suas decisotildees

Ibidem p 221Diante da forma que a SV n13 foi editada (debates e redaccedilatildeo) parece que os Ministros do STF se

esqueceram que a normativa atingiria vaacuterios auditoacuterios natildeo soacute o executivo ndash poliacutetico como tambeacutem o legislativo o

judiciaacuterio e seria mateacuteria de anaacutelise do magisteacuterio doutrinaacuterio em todos os entes da federaccedilatildeo vez que os argumentos

apresentados pelo STF natildeo forem entendidos juridicamente e muito menos convenceram a todos estes auditoacuterios 747 Ibidem p 222 Afirma que a decisatildeo deve ser ―conforme ao direito em vigor e aceitaacutevel como tal por aqueles que

a examinaratildeo Ibidem p 223 Mas parece que os ministros do STF ao editarem a SV n13 apenas se ocuparam com

o poder executivo sob o argumento de que a vedaccedilatildeo do nepotismo decorria do anseio da sociedade 748 Ibidem p 240 O autor ressalva ainda que o magistrado ao realizar o raciociacutenio juriacutedico pode realizar o

silogismo poreacutem pela loacutegica juriacutedica deve ser ater a demonstrar a aceitabilidade das premissas que resultam da

confrontaccedilatildeo das provas das argumentaccedilotildees dos valores e de tudo o mais apresentado na demanda 749 Ibidem p 241-242 Parece ser esta uma das falhas no procedimento de ediccedilatildeo da SV n13 pelo STF 750 LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 439 Tanto eacute assim que uma mesma expressatildeo eacute usada em diferentes leis e inclusivamente na

mesma lei em diferentes sentidos Neste iacutenterim o autor ainda lembra da necessidade da interpretaccedilatildeo quando ―duas

proposiccedilotildees juriacutedicas prescrevem para a mesma situaccedilatildeo duas consequecircncias juriacutedicas que reciprocamente se excluem

sendo tambeacutem neste momento imprescindiacutevel aplicar a interpretaccedilatildeo 751 LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 441

132

interroga corretamente E por assim ser conforme o autor o inteacuterprete ―precisa

conhecer a linguagem da lei e o contexto de regulaccedilatildeo em que a norma se encontra752

Contudo Larenz ressalta que cada nova interpretaccedilatildeo transforma a aplicaccedilatildeo

efetiva da respectiva norma e que por isso natildeo haacute como admitir a ideia de que o

inteacuterprete eacute passivo de apenas ―deixar falar a norma753

Dessa forma o juiz ao interpretar um determinado termo ou proposiccedilatildeo

juriacutedica deve fazecirc-lo ―natildeo apenas precisamente para este caso concreto mas de maneira

que a sua interpretaccedilatildeo possa ser efetiva para todos os outros casos similares e ainda

com ―conhecimento adequado apoiado em razotildees compreensiacuteveis mesmo natildeo

havendo ―uma interpretaccedilatildeo absolutamente correta754

O autor informa que a correccedilatildeo da decisatildeo eacute de acordo com ordem juriacutedica e o

momento e que os tribunais natildeo estatildeo ―presos a determinada interpretaccedilatildeo mas sempre

que ―mudem ou pretendam mudar de orientaccedilatildeo estatildeo obrigados a expor suas razotildees e

estas tecircm que ser de tal ordem que possam sustentar a nova interpretaccedilatildeo Dessa

maneira ―a atividade interpretativa do juiz eacute conforme ensina Larenz subordinada agrave

exigecircncia de ―correccedilatildeo dos seus resultados755

A partir disso afirma que ―toda interpretaccedilatildeo de texto deve iniciar-se com o

sentido literal mas que tambeacutem deve observar o ―contexto significativo da lei vez

que um termo ―segundo o uso da linguagem pode ter vaacuterios significados de acordo

com o contexto da lei 756

Contudo ressalva que como tais criteacuterios ainda ―deixam em aberto diferentes

possibilidades de interpretaccedilatildeo e que por isso deve-se observar qual ―a interpretaccedilatildeo

que melhor corresponde agrave intenccedilatildeo reguladora do legislador ou agrave sua ideia

752Ibidem p 441 753 Ibidem p 441-442 754 Ibidem 442-443 ―No sentido de que seja tanto definitiva como vaacutelida para todas as eacutepocas devido agrave ―variedade

inabarcaacutevel e permanente da mutaccedilatildeo das relaccedilotildees da vida que colocam aquele que aplica a norma constantemente

perante novas questotildees bem como de acordo com a ―totalidade do ordenamento juriacutedico respectivo e com ―as

pautas de valoraccedilatildeo que lhe satildeo subjacentes p 443 755 Ibidem 359 Nesse iacutenterim constata que embora existam duas teorias contrapostas sobre a interpretaccedilatildeo da lei a

―subjetivista ou de vontade e a ―objetivista ou da interpretaccedilatildeo imanente agrave lei que ambas possuem uma parte de

verdade mas que devem ser aceitas ―com limitaccedilotildees Ibidem p 445

Nesse contexto o autor ainda explica que ―A verdade da teoria subjetivista eacute que a lei juriacutedica () eacute expressatildeo de

uma vontade dirigida agrave criaccedilatildeo de uma ordem tanto quanto possiacutevel justa e adequada agraves necessidades da sociedade

E que por isso ―Por detraacutes da lei estaacute uma determinada intenccedilatildeo reguladora estatildeo valoraccedilotildees aspiraccedilotildees e reflexotildees

substantivas que nela acharam expressatildeo mais ou menos clara De outro lado o autor afirma que ―A verdade da

teoria objetivista eacute que uma lei logo que seja aplicada irradia uma accedilatildeo que lhe eacute peculiar que transcende aquilo que

o legislador tinha intentado Ibidem p 446 756 Ibidem p 450 Conforme o autor ―o sentido literal a extrair do uso linguiacutestico () serve agrave interpretaccedilatildeo ()

como uma primeira orientaccedilatildeo assinalando por outro lado enquanto sentido literal possiacutevel () o limite da

interpretaccedilatildeo propriamente dita Delimita de certo modo o campo em que se leva a cabo a ulterior atividade do

inteacuterprete Ibidem p 457

133

normativa757

indo o inteacuterprete ateacute ―aleacutem da vontade do legislador entendendo-a de

acordo com a sua proacutepria racionalidade758

Daiacute expotildee sobre os criteacuterios de interpretaccedilatildeo759

teleoloacutegico-objetivo760

e

princiacutepios eacutetico-juriacutedicos761

que devem nortear a interpretaccedilatildeo e assim afirma que o

―preceito da interpretaccedilatildeo conforme a constituiccedilatildeo tem ―uma importacircncia acrescida aos

princiacutepios elevados a niacutevel constitucional762

pois satildeo ―princiacutepios e decisotildees

valorativas763

que determinam a invalidade da legislaccedilatildeo ordinaacuteria contraacuteria quando

esta natildeo pode ser ―interpretada em conformidade com a Constituiccedilatildeo764

E entatildeo elucida que a ―interpretaccedilatildeo em conformidade com a Constituiccedilatildeo eacute

―um criteacuterio de interpretaccedilatildeo preferiacutevel dentre ―as vaacuterias interpretaccedilotildees possiacuteveis

aleacutem de natildeo poder ―ultrapassar os limites que resultam de sentido literal possiacutevel e do

contexto significativo da lei765

eacute ―aquela que melhor concorda com os princiacutepios da

Constituiccedilatildeo766

Nesse diapasatildeo afirma que o inteacuterprete deve preferir aquela interpretaccedilatildeo que

melhor se ajuste ―agrave intenccedilatildeo reguladora do legislador e ao escopo da norma em causa

pois o juiz ao realizar a interpretaccedilatildeo ―estaacute vinculado por princiacutepio aos fins da lei e agraves

757 LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 462 758 Ibidem p 468 759 Aqui vale ressaltar que o autor afirma que ―os criteacuterios de interpretaccedilatildeo natildeo satildeo apenas diferentes meacutetodos de

interpretaccedilatildeo entre os quais o inteacuterprete possa escolher segundo o seu arbiacutetrio mas pontos de vistas metoacutedicos que

devem ser todos tomados em consideraccedilatildeo para que o resultado da interpretaccedilatildeo deva poder impor a pretensatildeo de

correccedilatildeo (no sentido de um enunciado adequado) E ainda acrescenta que ―os diversos criteacuterios como o sentido

literal e tambeacutem frequentemente a conexatildeo de significado da lei deixam sempre em aberto diferentes possibilidades

de interpretaccedilatildeo outros frequentemente natildeo funcionam porque por exemplo o entendimento da norma por parte do

legislador histoacuterico jaacute natildeo eacute possiacutevel de se constatar E que por isto ―Natildeo raramente necessita-se de uma

laquoponderaccedilatildeoraquo de diferentes pontos de vistardquo Ibidem p 450 760 Conforme o autor ―() trata-se das estruturas do acircmbito material regulado dados factuais em relaccedilatildeo aos quais

nem o legislador pode alterar o que quer que seja e que ele toma em consideraccedilatildeo de modo racional a propoacutesito de

qualquer regulaccedilatildeo Idem p 469 761 De acordo com as liccedilotildees do autor ―estatildeo antepostos a uma regulaccedilatildeo nos quais a referecircncia de sentido dessa

regulaccedilatildeo agrave ideia de Direito se torna apreensiacutevel manifesta Ibidem p 469-470 762 Ibidem p 479 763 Os valores que satildeo reconhecidos na Lei Fundamental podem estar dispostos como princiacutepios ou como direitos

fundamentais e ―se relacionam uns com os outros de acordo com o sentido e por isso podem tanto complementar-se

como delimitar-se entre si Ibidem p 483 764 Ibidem p 479 765 Ibidem p 480-481 Parece que os Ministros do STF ultrapassaram este limite ao estabelecerem uma Suacutemula

Vinculante que veda minuciosamente o nepotismo como decorrente apenas do conteuacutedo dos princiacutepios

constitucionais que regem a administraccedilatildeo especialmente o da moralidade da imparcialidade e da eficiecircncia

Realmente a vedaccedilatildeo do nepotismo eacute consequecircncia da autoaplicaccedilatildeo de tais princiacutepios mas isto natildeo quer dizer que a

redaccedilatildeo da Suacutemula na forma em que estaacute eacute decorrente de apenas deles vez que tece minucias quanto agrave noccedilatildeo de

nepotismo que nem mesmo em uma interpretaccedilatildeo ampla podem ser observadas como consequecircncia da autoaplicaccedilatildeo

de tais princiacutepios 766 Ibidem p 480 Nesse sentido assevera que ―quando a interpretaccedilatildeo mais antiga estaacute em contradiccedilatildeo com um

princiacutepio constitucional haacute de verificar-se se eacute possiacutevel uma interpretaccedilatildeo conforme a Constituiccedilatildeo se o for haacute de

preferir-se esta se natildeo haacute de denegar-se validade agrave norma como contraacuteria agrave Constituiccedilatildeo Ibidem p 488- 489

134

decisotildees valorativas do legislador a ele subjacente767

e que como os criteacuterios guardam

relaccedilatildeo entre si que o peso deles depende do modo como se apresentam no caso

concreto podendo apoiar-se reciprocamente768

Ainda ressalta que natildeo haacute como definir em que momento uma interpretaccedilatildeo

―originariamente legitimada haacute de ceder agrave outra que se orienta por pautas atuais mas

que a interpretaccedilatildeo ―eacute uma atividade criadora do espiacuterito e que aquele que a realiza tem

―uma margem de livre apreciaccedilatildeo dentro da qual satildeo plausiacuteveis diferentes resoluccedilotildees

mas desde que ―fundamente as razotildees porque considera algum criteacuterio como

determinante769

Nesse enredo ainda dispotildee que quando o inteacuterprete tiver ―esgotado todas as

possibilidades de alcanccedilar um resultado metodologicamente assegurado ele ainda pode

―encontrar uma decisatildeo de sua exclusiva responsabilidade mas que nesse contexto ele

deve explicar a valoraccedilatildeo pessoal que foi realizada770

uma vez que tudo gira em volta

do ―caso concreto que tem de resolver771

Daiacute tambeacutem afirma que a aspiraccedilatildeo ―legiacutetima do magistrado eacute ―um

imperativo de ordem moral e que por isso ele deve procurar na lei ―possibilidades de

soluccedilotildees que satisfaccedilam a justiccedila mesmo que esta ―natildeo possa ser sempre alcanccedilada

Nesse diapasatildeo ainda explica que o juiz mesmo detendo ―uma opiniatildeo preliminar

relativa agrave resoluccedilatildeo que haacute de achar eacute obrigado a ―permitir que a sua opiniatildeo

preliminar seja retificada pela lei772

Natildeo sendo portanto liacutecito ao juiz ―introduzir na lei o que deseja extrair dela

pois natildeo pode ―sobrepor-se agrave decisatildeo valorativa do legislador vez que a ―justiccedila da

resoluccedilatildeo do caso eacute ―uma meta desejaacutevel de atividade judicial que deve ser realizada

nos termos das leis vigentes e dos princiacutepios juriacutedicos reconhecidos em conformidade

767 LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 485-486 768 Ibidem p 488 Como o criteacuterio do sentido literal e o contexto que delimitam as diversas interpretaccedilotildees possiacuteveis

Contudo Larenz ressalta que como ―o sentido literal delimita a interpretaccedilatildeo possiacutevel de uma disposiccedilatildeo eacute

recomendaacutevel comeccedilar por ele com isso eacute-se logo conduzido ao contexto significativo Ibidem p 488 Nesse

contexto aduz que os criteacuterios teleoloacutegicos satildeo decisivos pois satildeo por um lado ―as estruturas materiais do acircmbito da

norma e por outro lado os princiacutepios juriacutedicos imanentes ao ordenamento juriacutedico Ibidem p 487 769 Ibidem p 489 Mas parece que tal accedilatildeo tambeacutem natildeo foi clara e completamente explicitada pelos Ministros do

STF ao editarem a SV n13 770 Ibidem p 489 Muitas das valoraccedilotildees apresentadas pelos Ministros nos debates que antecederem a SV n13 se

assemelham mais a valoraccedilotildees pessoais que juriacutedicas 771 Ibidem p 491 Natildeo parece que com a ediccedilatildeo da SV n13 o STF tenha dado a resoluccedilatildeo mais justa aos casos

concretos posteriores a ela 772 Idem p 492-493

135

com ―o auxiacutelio das regras de interpretaccedilatildeo mencionadas no decurso de um

desenvolvimento jurisprudencial do Direito que seja admissiacutevel773

Nesse diapasatildeo nota que o Estado se encontra em situaccedilatildeo perigosa pois se

por um lado haacute a ―perda de autoridade do legislador atual que soacute raras vezes se ocupa

do tempo necessaacuterio () a examinar cuidadosamente as suas formulaccedilotildees e natildeo raro se

omite em absoluto quanto agrave regulaccedilatildeo quando esta deve esperar-se dele por outro haacute

o juiz ―que sorteia o Direito estatuiacutedo para substituir as pautas legais pela sua ideia

pessoal de justiccedila774

E sintetiza esse toacutepico afirmando que a modificaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo anterior

ocorre quando a ―alteraccedilatildeo da situaccedilatildeo normativa motiva a revisatildeo devido agrave variaccedilatildeo

das relaccedilotildees faacuteticas ―de tal modo que a norma dada deixou de se ajustar agraves novas

relaccedilotildees devido ao passar do tempo que natildeo estaacute na quietude775

Desta feita para Larenz a ―aplicaccedilatildeo correta do direito () natildeo soacute autoriza o

juiz a desenvolvecirc-lo no sentido de continuar a formaacute-lo atraveacutes da interpretaccedilatildeo como

ateacute mesmo obriga-o a isso podendo ao realizar a interpretaccedilatildeo do direito ―aplicar a

formulaccedilatildeo integradora e ndash em determinados limites ndash corretora ou modificativa do

direito pois intriacutenseca agrave atividade judicante mas resta questionar sobre os limites

dessa faculdade776

3124 Inocecircncio Maacutertires Coelho

Inocecircncio Maacutertires Coelho elucida que existem ―traccedilos comuns a atividade

interpretativa e que ―uma preacutevia formulaccedilatildeo teoacuterica sobre a interpretaccedilatildeo juriacutedica em

geral eacute imprescindiacutevel para que se possa desenvolver posteriormente a ―hermenecircutica

constitucional sem ―transgressotildees metodoloacutegicas inoportunas777

773 LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 493 E ainda acrescenta que a decisatildeo equitativa tem ―o papel na interpretaccedilatildeo de ―repensar de

novo a interpretaccedilatildeo da lei e ―achar novos pontos de vistas Ibidem p 493 ―A aspiraccedilatildeo a uma justiccedila de caso eacute

assim um fator legiacutetimo no processo de decisatildeo judicial conquanto natildeo induza o juiz a manipular a lei de acordo

com as suas convicccedilotildees () as indicaccedilotildees metoacutedicas ajudam pouco aqui em caso de conflito () da fidelidade agrave lei

que lhe eacute preceituada e a justiccedila do caso por ele buscada o juiz soacute em uacuteltimo termo pode decidir segundo sua proacutepria

consciecircncia Ibidem p 494 Na realidade os Ministros do STF elaboraram uma normativa segundo suas

consciecircncias mas natildeo asseguraram a justiccedila 774 Ibidem p 494 775 Entretanto o autor ressalta que ―natildeo eacute toda modificaccedilatildeo que provoca alteraccedilatildeo do conteuacutedo da norma mas quando

ocorre pode impelir a uma soluccedilatildeo ndash por via de uma interpretaccedilatildeo modificada ou de um desenvolvimento judicial do

direito Ibidem p 495Com isto poder-se-ia aduzir que a SV n13 reviu a noccedilatildeo de nepotismo e a sua consequente

vedaccedilatildeo disposta pela legislaccedilatildeo anterior devido ao tempo 776 Ibidem p 424 777 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 35Nesse enredo expotildee

sobre a hermenecircutica juriacutedica e como deveria ser a sua aplicaccedilatildeo no acircmbito judicial ndash como os magistrados deveriam

decidir

136

E ensina que o processo interpretativo observado como procedimento de

resposta a um problema ―eacute uacutenico e idecircntico em seus elementos fundamentais778

embora seja diverso quanto agraves suas variadas formas de aplicaccedilatildeo e que a Constituiccedilatildeo e

a lei embora sejam ―objetos culturais materialmente idecircnticas divergem quanto aos

―aspectos externos779

Nesse diapasatildeo assevera o professor que ―a interpretaccedilatildeo de qualquer norma

juriacutedica eacute uma atividade intelectual e que ao extrair o sentido do enunciado normativo

possibilita sua aplicaccedilatildeo agraves situaccedilotildees faacuteticas concretas pois retira o sentido do texto e

diminui a extensatildeo que haacute entre a ―generalidade da norma e a singularidade do caso

concreto780

E entatildeo constata que por meio da concretizaccedilatildeo ocorrida com a aplicaccedilatildeo do

texto juriacutedico ao caso concerto ―eacute que se revela () o conteuacutedo significativo da norma

e que esse processo ―nunca apresenta um termo final ou seja eacute uma atividade

infinita781

Diante disto Inocecircncio Coelho ressalta que no acircmbito do judiciaacuterio ―as

exigecircncias sociais satildeo absorvidas e racionalizadas pelo aplicador do direito por ―novas

leituras dos mesmos enunciados normativos e que essas podem ser ―tatildeo inovadoras

que chegam a criar modelos juriacutedicos inteiramente novos782

E nota que ―quando os juiacutezes e tribunais emprestam sentidos novos a um

mesmo enunciado normativo produzem ―novos enunciados e funcionam ―como

instacircncias heterocircnomas de criaccedilatildeo abreviada do direito783

natildeo apenas porque os fatos

que exercem influecircncia sobre os modelos juriacutedicos alterando o sentido da norma mas

tambeacutem porque constituem ―o significado das regras de direito sendo a adaptaccedilatildeo das

normas a eles ―requisito sine qua non da proacutepria efetividade do direito que soacute funciona

na medida em que se manteacutem sintonizado com a realidade social da qual emerge e

sobre a qual atua784

778 Ibidem p 36 779 Ibidem p 35 780 Ibidem p 36 781 Ibidem p 37 ―infinita pela razatildeo de que uma interpretaccedilatildeo que parecia adequada pode ser demonstrada

incorreta e porque sempre satildeo possiacuteveis novas e melhores interpretaccedilotildees possiacuteveis porque a cada vez conforme a

eacutepoca histoacuterica em que vive o inteacuterprete e com base no que ele sabe natildeo se excluem interpretaccedilotildees que

precisamente para aquela eacutepoca e para o que na eacutepoca se sabe satildeo melhores ou mais adequadas do que outras

Giovanni Reale amp Dario Antiseri (1991 v III p 630) apud Inocecircncio Maacutertires Coelho p 37 782 Ibidem p 37 783 COELHO Inocecircncio Maacutertires Op cit p 39 Nesse enredo o autor explica que agrave ―luz da experiecircncia juriacutedica

verificamos que isso ocorre em razatildeo das mudanccedilas que se operam continuamente no prisma histoacuterico-social de

aplicaccedilatildeo do direito exigindo soluccedilotildees novas e imediatas Idem p 39 784 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 41

137

Daiacute afirma o doutrinador que o magistrado ao ―ajustar normas e fatos realiza

uma atividade que une ―a compreensatildeo a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo dos modelos

juriacutedicos e que dessa forma exerce ―o papel de agente redutor da distacircncia entre a

generalidade da norma e a singularidade do caso concreto e cria ―a norma de decisatildeo

concreta ou a norma do caso () decidindo em vistas das particularidades da situaccedilatildeo

posta a seu julgamento realizando enquanto inteacuterprete-aplicador do direito um

processo - imprescindiacutevel agrave compreensatildeo do ―modelos juriacutedicos que deve aplicar785

-

de refazimento do ―caminho do legislador a partir do questionamento do texto quanto

aos problemas sociais que ensejaram determinada resposta normativa786

Por isto o autor elucida que o magistrado-inteacuterprete deve a fim de

compreender o significado do texto aleacutem de atentar para o passado observar ―a si

mesmo e a ―concreta situaccedilatildeo hermenecircutica em que se encontra pois eacute o inteacuterprete

que concretiza a norma juriacutedica e o faz no presente em que vive 787

Desta feita arremata que a ―aplicaccedilatildeo de qualquer norma juriacutedica visa

solucionar as intempeacuteries do momento em conformidade com os valores do tempo do

inteacuterprete e por decisatildeo deste como autoridade legitimada a ―criar modelos juriacutedicos e

dotaacute-los de eficaacutecia e ainda que o magistrado-inteacuterprete deve com o fito de

―reconhecer o significado juriacutedico da lei realizar a adequaccedilatildeo da lei agraves necessidades

reais a fim de solucionar de forma praacutetica a demanda a ele apresentada788

Assim Inocecircncio Maacutertires dispotildee que isso representa o ―significado exemplar

ou paradigmaacutetico da hermenecircutica juriacutedica pois a partir daiacute se integram ―os horizontes

significativos do texto normativo e o de seu aplicador jaacute que possibilita que o

inteacuterprete aplicador expanda seu ―horizonte ao ―fundi-lo com o horizonte do texto789

785 Ibidemp 43-44 E ressalta que segundo Gadamer ―compreender eacute sempre aplicar que ―a tarefa da interpretaccedilatildeo

consiste em concretizar a lei em cada caso isto eacute na sua aplicaccedilatildeo e que a ―aplicaccedilatildeo natildeo eacute uma etapa derradeira e

eventual do fenocircmeno de compreensatildeo mas um elemento que a determina desde o princiacutepio e no seu conjunto

Ibidem p 44 786 Ibidem p 44 O autor lembra a partir de Larenz que para se questionar o texto deve se saber sobre o que ―ele

trata pois ele ―soacute responde a quem o interroga corretamente Larenz (1989 p 337) apud Inocecircncio (1997p 44) E

ainda conclui que por isto ―parece liacutecito considerar que uma pergunta bem feita jaacute representa mais de meio caminho

para se chegar agrave resposta Ibidem p 44 787 Ibidem p 46Nesse contexto o autor ainda cita Richard Palmer que afirma ―() tanto ao transmitir um juiacutezo

como ao pregar um sermatildeo a interpretaccedilatildeo deve incluir natildeo soacute a interpretaccedilatildeo do que o texto representava no seu

proacuteprio mundo na circunstacircncia em que produziu como tambeacutem aquilo que significa no momento atual porque em

todo o ato de compreensatildeo se daacute uma aplicaccedilatildeo ao presente Ibidem p 46 788 Ibidem p 47 789 Ibidem p 47

138

Nesse ensejo afirma que interpretar eacute essencial ao magistrado inteacuterprete -

aplicador do direito pois possibilita a ele que amplie e aprimore sua visatildeo e sua

persuasatildeo por meio de novos elementos analiacuteticos790

Contudo o autor lembra que se por um lado tal atividade abre o ―campo

visual do magistrado-inteacuterprete por outro remonta agrave necessidade de o aplicador do

direito ―prestar contas do seu trabalho interpretativo para que este se demonstre

legiacutetimo ―haacute de ser racional objetivo e controlaacutevel pois natildeo se coaduna com a ideia de

Estado de Direito a figura de um oraacuteculo despoacutetico ou iluminado que se ponha acima

da lei e dos criteacuterios usuais de interpretaccedilatildeo Sendo portanto imprescindiacutevel aplicar

criteacuterios em ―todo o itineraacuterio hermenecircutico onde as regras de interpretaccedilatildeo

demonstram os ―passos do processo do pensamento essenciais a evidenciar ―a

racionalidade do seu desenvolvimento791

Daiacute assevera que ―soacute eacute possiacutevel uma hermenecircutica juriacutedica onde a lei vincule

por igual a todos os membros da comunidade juriacutedica tanto os governantes quanto os

governados tanto os legisladores quanto os juiacutezes e que este processo transparece o

raciociacutenio desenvolvido e possibilita num ―imperativo eacutetico-poliacutetico o convencimento

daqueles a quem ―as decisotildees dos agentes puacuteblicos se destinam792

Ainda elucida que satildeo obrigatoacuterias a publicidade e a motivaccedilatildeo das decisotildees

dos magistrados pois traduzem a validade ou natildeo do proacuteprio ato decisoacuterio bem como a

sua compatibilidade ou natildeo com ―a ideia do direito enquanto instrumento de ordenaccedilatildeo

justa e racional da convivecircncia humana sendo a motivaccedilatildeo da decisatildeo natildeo apenas o

elemento assecuratoacuterio da racionalidade da decisatildeo como tambeacutem da proacutepria decisatildeo

pois eacute ―condiccedilatildeo de legitimidade e de eficaacutecia do seu labor hermenecircutico cujo resultado

soacute se tornaraacute coletivamente vinculante se obtiver o consenso social que no caso

funcionaraacute senatildeo como prova pelo menos como sintoma de racionalidade793

E que esse consenso deve ser de todos aqueles que ―possam ser afetados pela

decisatildeo por meio de um procedimento em que ―participem como livres e iguais da

busca cooperativa da verdade na qual ―a uacutenica forma de coerccedilatildeo que se pode exercer eacute

a coerccedilatildeo das coerccedilotildees que exercem os bons argumentos pois ―o ideal de

racionalidade de objetividade e mesmo de seguranccedila juriacutedica aponta para o 790 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997p 47 791 Ibidemp 47-48 792 Ibidem p 48 793 Ibidem p 49 O autor assevera na p 26 da ediccedilatildeo de sua obra em 2011 que considera vaacutelido ―() utilizar como

paracircmetros de controle e legitimaccedilatildeo da atividade hermenecircutica a consciecircncia juriacutedica geral e o devido processo

legalrdquo uma vez que ambos ―tecircm-se mostrado pelo menos razoaacuteveis na medida em que impedem os voluntarismos

mas natildeo inibem a necessaacuteria criatividade dos inteacuterpretes e aplicadores do direito

139

imperativo de se evitar ao maacuteximo ―o momento puramente subjetivo da

interpretaccedilatildeo e com isto diminuir o ―resiacuteduo incocircmodo de voluntarismo que se faz

presente inevitavelmente em todo trabalho hermenecircutico794

Assim Inocecircncio Maacutertires elucida que as decisotildees judiciais - para serem

―modelos jurisdicionais por excelecircncia devem estar ―revestida de legitimidade e

eficaacutecia795

e que o exerciacutecio da hermenecircutica juriacutedica eacute delimitado por quatro

condiccedilotildees gerais destacando dentre elas ―o caraacuteter linguiacutestico - que eacute comum a

qualquer interpretaccedilatildeo796

―o caraacuteter necessaacuterio da atividade interpretativa que

desmistifica a existecircncia de legislaccedilatildeo cujo dispositivo natildeo suscita quaisquer ―duacutevidas

obscuridades ou contradiccedilotildees

o fato de que a atividade interpretativa eacute

―contextualizada o que impede que o inteacuterprete atribua significaccedilatildeo arbitraacuteria aos

enunciados legais - proibido dizer aleacutem da redaccedilatildeo do texto legal - esse eacute o limite da

interpretaccedilatildeo797

e por fim o ―caraacuteter unitaacuterio do seu procedimento que resulta em

uma ―unidade de compreensatildeo onde se integram todos ―instrumentos

hermenecircuticos798

E entatildeo o autor constata que a interpretaccedilatildeo das normas juriacutedicas eacute vista

atualmente como ―um conjunto de meacutetodos desenvolvidos pela doutrina e

jurisprudecircncia com base em criteacuterios ou premissas diferentes mas reciprocamente

complementares799

o que faz inexistir qualquer hierarquia entre tais criteacuterios e assim

garante por um lado maior ―liberdade ao juiz800

e por outro demonstra a inocorrecircncia

de qualquer competiccedilatildeo entre os ―chamados meacutetodos de interpretaccedilatildeo do direito801

794 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 49-50 Entretanto

informa que o ponto de vista subjetivo ocorre natildeo de cada um mas do ponto de vista comum ndash denominador comum

dos inteacuterpretes - dito ―intersubjetivo transcendental pelo qual ―poderatildeo chegar a resultados semelhantes que

edificam o ―entendimento objetivo da decisatildeo Ibidem 50-51 Isso foi observado nos precedentes da SV n13

apenas quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo pela autoaplicaccedilatildeo dos princiacutepios dispostos no caput do artigo 37 da CF88 795 Ibidem p 38 796 Ibidem p 54 Descortina a prescindibilidade da disputa entre aqueles que entendem que a finalidade da

interpretaccedilatildeo eacute decifrar ―por traacutes da norma juriacutedica ―a vontade do legislador e os que compreendem que eacute se

―curvar agraves palavras e agrave vontade da lei demonstrando que o verdadeiro ―objeto de interpretaccedilatildeo natildeo eacute a questatildeo

volitiva seja do legislador ou da lei mas a maneira como foi expressada por meio do ―feito ou falado 797 Ibidem p 55 Por isso se constata a necessidade de se interpretar o significado das palavras do dispositivo legal

natildeo apenas literalmente mas de forma contextualizada respeitando a ―autonomia do texto - ―condiccedilatildeo de

objetividade da interpretaccedilatildeo p 56 798 Ibidem p 61 799 Ibidem p 61-62 O que faz lembrar como afirmado pelo proacuteprio autor que Savigny jaacute elucidava que os

elementos ―gramatical loacutegico histoacuterico e sistemaacutetico satildeo ―quatro operaccedilotildees que se integram na atividade

interpretativa que sem a unificaccedilatildeo deles natildeo obtecircm ecircxito p 62 800 Ibidem p 62 ―Natildeo existe uma relaccedilatildeo hieraacuterquica fixa entre os diversos criteacuterios de interpretaccedilatildeo essa

pluralidade de meacutetodos torna-se um veiacuteculo de liberdade do juizlsquo (Martin Kriele) ateacute certo ponto acaba podendo

escolher o meacutetodo em funccedilatildeo do objeto e mesmo do resultado que ele estimando correto e justo pretende alcanccedilar

em cada caso Idem p 62 801 Ibidem p 63 ―Agrave vista dessa interdependecircncia dos procedimentos interpretativos ndash que se entrelaccedilam sob a ideia

de que a decisatildeo do caso concreto para se qualificar como juriacutedica () os chamados meacutetodoslsquo de interpretaccedilatildeo do

direito () devem ser utilizados em conjunto e complementarmente para que o resultado afinal obtido possa refletir

140

Poreacutem afirma que isto natildeo quer dizer que o inteacuterprete por intermeacutedio de

―resultados preconcebidos possa ―afeiccediloar a norma com uma pseudo argumentaccedilatildeo e

assim realizar uma interpretaccedilatildeo discricionaacuteria dando uma significaccedilatildeo diversa da

delimitada pelo enunciado legal e ainda legitimar tais resultados pois tal ato natildeo soacute

desqualificaria a anaacutelise do resultado como ―instrumento de controle da interpretaccedilatildeo

como infringiria a lei pois sua liberdade eacute ―objetivamente vinculada devendo sua

decisatildeo ser ―correta e justa para ser considerada juriacutedica802

32 Hermenecircutica Constitucional o poder normativo e a intepretaccedilatildeo dos

princiacutepios e postulados constitucionais

Nesse item se trata da interpretaccedilatildeo dos postulados e princiacutepios constitucionais

no acircmbito da Hermenecircutica Constitucional e tambeacutem do poder normativo que tal

atividade interpretativa pode suscitar ao Supremo Tribunal Federal no exerciacutecio da

jurisdiccedilatildeo constitucional

Partindo das liccedilotildees de Gadamer deve-se atentar que a hermenecircutica

constitucional transformou-se na teoria do conhecimento juriacutedico ou ―no conhecimento

do conhecimento do direito pois ela tem a tarefa ―de interpretar as diferentes

interpretaccedilotildees do fenocircmeno juriacutedico a partir da anaacutelise criacutetica das muacuteltiplas leituras da

lei fundamental e dos vaacuterios mundos constitucionais que podem emergir dessas

leituras803

Do que se passa agrave apreciaccedilatildeo e constataccedilatildeo de que se a questatildeo hermenecircutica eacute

melindrosa no acircmbito da aplicaccedilatildeo judicial de forma ampla o eacute ainda mais quando

aposta estritamente pelo Supremo Tribunal Federal

321 Inocecircncio Maacutertires Coelho

Na hermenecircutica aplicada no acircmbito da jurisdiccedilatildeo constitucional eacute ainda mais

intrigante o fato de que a ―criatividade exercida pelos ministros ―a rigor natildeo conhece

limites natildeo apenas porque a proacutepria corte constitucional estaacute ―fora e acima da

triparticcedilatildeo dos poderes como tambeacutem porque os ―enunciados constitucionais satildeo

―abertos indeterminados e polissecircmicos fazendo com que o tribunal constitucional

―inteacuterprete final da Constituiccedilatildeo e juiz uacuteltimo de sua proacutepria autoridade seja ― variante

do poder legislativo 804

toda a complexidade dos afazeres hermenecircuticos como atividade na qual se fundem necessariamente a compreensatildeo

a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo de modelos juriacutedicos Ibidem p 63 802 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 62-63 803 GADAMER Hans-Georg Verdad y meacutetodo Salamanca Siacutegueme v I p 396414 804 COELHO Op cit p 38

141

Nesse iacutenterim o autor afirma que a hermenecircutica constitucional eacute diversa da

legal vez que a Constituiccedilatildeo devido agrave sua ―natureza estrutura e finalidade apresentar-

se ―como um sistema aberto de regras e princiacutepios que necessitam da mediaccedilatildeo de

legisladores e juiacutezes para lograrem efetividade805

e sua respectiva hermenecircutica visa

obstar os ―procedimentos que ultrapassam os limites da interpretaccedilatildeo e produzem

resultados hermenecircuticos incompatiacuteveis com os princiacutepios estruturais da lei

fundamental806

Assim no acircmbito da interpretaccedilatildeo constitucional as normas positivadas aleacutem

de natildeo traduzirem ―decisotildees inequiacutevocas do legislador tambeacutem natildeo exprimem uma

―suposta ou imaginaacuteria vontade da proacutepria Constituiccedilatildeo limitando-se na maioria das

vezes a proclamar princiacutepios ou a apontar os objetivos sendo nela que ―mais se

manifesta a criatividade dos aplicadores do direito Mas que isso natildeo significa que - no

―domiacutenio hermenecircutico807

- admitir ―alteraccedilotildees no acircmbito ou na esfera da norma

traduz rupturas ou revisotildees apoacutecrifas a ensejar ―uma realidade inconstitucional

manifestamente incomportaacutevel no programa da norma constitucional808

pois se por

um lado as ―viragens da jurisprudecircncia evidenciam que houve alteraccedilatildeo no

significado que se dispunha a algum texto legal por outro devem estar expressamente

fundamentadas nos motivos que as balizaram e que tenham calccedilado o afastamento do

inteacuterprete de um criteacuterio normalmente utilizado 809

E dessa forma o doutrinador alega parecer que ―em decorrecircncia do modo

como se altera a realidade social a escolha do caso ou do momento em que se deve

atribuir um novo significado a determinado texto de lei eacute ateacute certo ponto uma decisatildeo

discricionaacuteria dos aplicadores do direito810

e nesse enredo passa a elucidar sobre a

―interpretaccedilatildeo constitucional e a criaccedilatildeo judicial do direito asseverando que a corrente

interpretativista considera ―incompatiacutevel com o princiacutepio democraacutetico qualquer

criatividade judicial que proporcione ―interpretaccedilatildeo dos enunciados normativos aleacutem

do ―significado linguisticamente possiacutevel da lei e assim imprima aos juiacutezes ―uma

805 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 26 806 Ibidem p 40 807 Ibidem p 54-55 808 Ibidem p 40 Na mesma linha de Gomes Canotilho 809 Ibidem p 60 Nesse iacutenterim o autor cita Robert Alexy ―Quem resolve desprezar um precedente assume o ocircnus

da argumentaccedilatildeo pois natildeo parece sensato renunciar sem justificaccedilatildeo ao que ateacute entatildeo vinha sendo adotado como

prevalecente p 60 Nesse diapasatildeo cumpre afirmar que os ministros do STF inovaram jurisprudecircncia nos

precedentes da Suacutemula especialmente no terceiro e quarto quanto a entendimento referentes agraves disposiccedilotildees legais e

constitucionais mas natildeo fundamentaram criteriosamente nenhuma destas inovaccedilotildees 810 Ibidem p 60

142

legitimidade que eacute privativa dos titulares dos mandatos poliacuteticos 811

e que a corrente

natildeo-interpretativista defende que eacute fidedigno por meio de valotildees como justiccedila

igualdade e liberdade se conceber aos magistrados-aplicadores do direito uma

―competecircncia interpretativa em sentido forte especialmente porque a Constituiccedilatildeo eacute

formada de ―princiacutepios juriacutedicos abertos indeterminados 812

Daiacute conclui que a corrente natildeo-interpretativa como ―pano de fundo

substanciou ―ensaios rumo agrave autonomia e agrave especificidade da interpretaccedilatildeo

constitucional que exige do inteacuterprete ―situar-se em perspectiva metodologicamente

adequada ao objeto do seu afazer hermenecircutico 813

Nesse diapasatildeo Inocecircncio Maacutertires afianccedila que a Constituiccedilatildeo ―determina a

escolha do meacutetodo adequado a seu conhecimento e em poder do inteacuterprete cria os

―objetos hermenecircuticos num processo aberto e infinito mas que sua ―consistecircncia

deve ser controlada por meio da verificaccedilatildeo de seus ―resultados a partir de um

―criteacuterio de verdade baseado na justiccedila da decisatildeo em cada caso concreto natildeo

podendo as decisotildees dos inteacuterpretes constitucionais ser arbitraacuterias pois mesmo

havendo o resquiacutecio ―incocircmodo do ―voluntarismo deve-se controlar o proacuteprio criteacuterio

que foi utilizado no ―procedimento legitimador do ―ponto de vista formal por meio

da ―exigecircncia do devido processo legal e do ―ponto de vista substancial pela

―consciecircncia juriacutedica geral - que eacute formada por criteacuterios traduzidos pelos princiacutepios

juriacutedicos ―pelos valores eacuteticos reconhecidos na comunidade juriacutedica pela ―natureza

das coisas e pela ―consciecircncia axioloacutegica da comunidade juriacutedica814

- e natildeo apenas

pela individual do juiz

Nesse enredo o doutrinador explicita que ―a peculiaridade da estrutura

normativo-material da parte dogmaacutetica da Constituiccedilatildeo - que ―justifica a existecircncia de

uma interpretaccedilatildeo especificamente constitucional - decorre do fato de que ―as normas

constitucionais natildeo contecircm uma previsatildeo por elementos limitando-se a enunciar

princiacutepios ou criteacuterios gerais de valoraccedilatildeo que () soacute se tornam operantes depois de

densificados e concretizados pelo inteacuterprete aplicador e que por isso sua interpretaccedilatildeo

811 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 67 - 68 Segundo o

autor os adeptos desta corrente explicam que interpretar natildeo eacute criar mas aplicar e que desequilibraria a ―balanccedila se

aos juiacutezes fosse delegada a competecircncia de criar normas juriacutedicas por meio da interpretaccedilatildeo sendo imprescindiacutevel

rechaccedilar ―qualquer espeacutecie de ativismo judicial porque incompatiacutevel com a ordem juriacutedico-poliacutetica plasmada na

Constituiccedilatildeo p 68 812 Ibidem p 69 813 Ibidem p 73 814 Ibidem p 76

143

eacute especifica - realizada a partir do estudo da ―estrutura normativo-material815

dos

princiacutepios 816

que satildeo ―mandamentos de otimizaccedilatildeo de ―importante dimensatildeo

institucional que atuam como ―fatores de criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de unidade poliacutetica

pois ―graccedilas agrave amplitude e indeterminaccedilatildeo dos seus enunciados 817

ensejam variadas

leituras devendo ser aplicados em ―diferentes graus de efetivaccedilatildeo818

Daiacute se extrai que a interpretaccedilatildeo constitucional eacute especiacutefica e autocircnoma

―enquanto atividade hermenecircutica que opera com princiacutepios isto eacute com preceitos cuja

estrutura normativo-material eacute aberta e indeterminada e por isto geradora de

significados muacuteltiplos819

e que existem criteacuterios e meacutetodos que induzem aspectos

―emancipadores820

a ela

Por isto afirma que a ―interpretaccedilatildeo constitucional eacute um conjunto de meacutetodos

embasados em ―criteacuterios ou premissas complementares que demonstram o ―caraacuteter

unitaacuterio das atividades interpretativas que deve ser realizada a partir das ―regras

tradicionais da hermenecircutica821

Nesse ensejo o autor ensina que a uma o criteacuterio toacutepico-problemaacutetico se volta

ao ―caraacuteter praacutetico da interpretaccedilatildeo e privilegia a interpretaccedilatildeo a partir de um

―processo aberto de argumentaccedilatildeo a duas que o hermenecircutico concretizador enseja a

interpretaccedilatildeo a partir da ―preacute-compreensatildeo que o inteacuterprete tem do texto (a quem cabe

―concretizar a norma) a trecircs que o meacutetodo que destaca a atividade criativa de quem

interpreta a Constituiccedilatildeo pois enseja a relaccedilatildeo entre o texto e o contexto e transforma ―o

ato interpretativo em movimento de ir e vir o chamado ciacuterculo hermenecircutico a

quatro que o cientiacutefico-espiritual cujo objetos satildeo os ―valores subjacentes agrave

Constituiccedilatildeo traduz sentido e realidade face agrave ―integraccedilatildeo comunitaacuteria e que por

fim a cinco o normativo estruturante permite ao inteacuterprete-aplicador - ao concretizar a

norma constitucional - realizar a conexatildeo entre a norma e a ―situaccedilatildeo normada

conformando o texto e a realidade 822

815COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 77-78 816 Ibidemp 83 Nesse diapasatildeo destaca que ―a atribuiccedilatildeo de maior importacircncia a um determinado princiacutepio natildeo

invalida nem sequer desqualifica a pauta que deixou de ser aplicada porque a sua pretericcedilatildeo teraacute decorrido

exclusivamente da anaacutelise das circunstacircncias do caso e que eles natildeo apresentam tensatildeo entre si mas que se isso

ocorrer ao serem aplicados caberaacute ao inteacuterprete realizar um ―meacutetodo de ponderaccedilatildeo entre eles que pode ser diversa

em cada um dos casos a fim de solucionar a questatildeo posta Ibidem p 84 817 Ibidem p 126 818 Ibidem p 84 819 Ibidem p 85 820 Ibidem p 87 821 A fim de revelar elementos como loacutegico histoacuterico teleoloacutegico Ibidem p 89 822 Ibidem p 89-90

144

Elucida ainda que os ―princiacutepios de interpretaccedilatildeo constitucional823

devem

ser aplicados pelo inteacuterprete conjuntamente quais sejam da unidade constitucional que

ensina que as normas constitucionais satildeo ―preceitos desconexos num sistema interno

unitaacuterio de regras e princiacutepios de efeito integrador que dispotildee que se deve preferir os

criteacuterios que garantam a ―integraccedilatildeo poliacutetica e social da maacutexima efetividade que

orienta a se dar o sentido que assegura ―maior eficaacutecia ou efetividade agrave norma da

concordacircncia praacutetica ou da harmonizaccedilatildeo que se volta a garantir a afirmaccedilatildeo de um

bem juriacutedico sem o ―sacrifiacutecio do outro da forccedila normativa da constituiccedilatildeo que

direciona o inteacuterprete a ―dar primazia agraves soluccedilotildees que densificam as normas

constitucionais tornando-as permanentes e enfim o princiacutepio da interpretaccedilatildeo

conforme a Constituiccedilatildeo que assegura que se decirc agraves normas infraconstitucionais um

―sentido compatiacutevel e natildeo conflitante com a Constituiccedilatildeo824

Por fim Inocecircncio Maacutertires conclui que o inteacuterprete-constitucional como

uacuteltimo aplicador eacute o verdadeiro legislador pois a interpreta em caraacuteter definitivo825

tendo portanto a palavra final sobre aquilo que eacute ou natildeo compatiacutevel com a

Constituiccedilatildeo826

que deve ser dada por intermeacutedio de uma ―hermenecircutica de princiacutepios

que substitui a ―retrospectiva de interpretaccedilatildeo pela prospectiva de concretizaccedilatildeo827

322 Consideraccedilotildees a partir de Ronald Dworkin e Robert Alexy

Dworkin volta-se agrave anaacutelise da decisatildeo judicial na praacutetica agrave maneira com que os

magistrados interpretam e decidem os casos concretos e entende que o direito depende

―de convenccedilotildees sociais distintas designadas de ―convenccedilotildees juriacutedicas sobre as quais

instituiccedilotildees deveriam ter o poder de elaborar as leis 828

Nesse contexto explica que os casos denominados hard cases829

natildeo satildeo

solucionados via convenccedilatildeo juriacutedica (lei precedentes etc) seja porque quanto a eles

natildeo haacute convenccedilatildeo estabelecida ou porque natildeo haacute consenso quanto a qual convenccedilatildeo eacute

823COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 90 824 Ibidem p 91-92 Diante disto conclui que da ―interaccedilatildeo dialeacutetica entre pauta e realidade () decorrem a abertura

e a infinitude do processo interpretativo ou da espiral hermenecircutica Ibidem p 92 825 Embora suscite variadas ―controveacutersias doutrinaacuterias quanto ao ―caraacuteter acentuadamente poliacuteticolsquo e ainda ―ateacute

certo ponto arbitraacuteriolsquo da interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo da Carta Magna pelas ―cortes constitucionais Ibidem p 27 826 Prerrogativa tatildeo extraordinaacuteria esta que enseja reflexatildeo quanto ao modelo brasileiro de jurisdiccedilatildeo constitucional

Ibidem p 57 827 Ibidem p 98 828 Segundo o autor o convencionalismo ―explica de que maneira o conteuacutedo das decisotildees poliacuteticas do passado pode

tornar-se expliacutecito e incontestaacutevel DWORKIN Ronald Levando os direitos a seacuterio Satildeo Paulo Martins Fontes

2002 p 141-142 829 O autor elucida que satildeo aqueles casos que natildeo podem ser submetidos a regras de direito claras estabelecidas de

antematildeo por alguma instituiccedilatildeo Ibidem p 127

145

viaacutevel para se realizar a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do direito830

e que por isso a

decisatildeo do juiz nos casos difiacuteceis natildeo eacute discricionaacuteria831

Ao repelir o pragmatismo832

propotildee uma teoria que resulte na reconstruccedilatildeo

racional do direito a partir de uma concepccedilatildeo principioloacutegica da comunidade poliacutetica

pois se por um lado ―a comunidade poliacutetica estaacute fundada nos princiacutepios de convivecircncia

em comum por outro o Direito se faz a partir da ―reconstruccedilatildeo interpretativa das

fontes normativas agrave luz de tais princiacutepios833

Daiacute assevera que soacute existe uma sociedade poliacutetica a partir de certos princiacutepios

que satildeo vetores da poliacutetica e do Direito834

e que da estrutura da convivecircncia poliacutetica

resulta a integridade que constitui mantem e legitima natildeo soacute o Estado mas o Direito e

a Constituiccedilatildeo835

E entatildeo sendo o Direito mais que sistema de regras estritas pois tambeacutem de

princiacutepios que por sua vez provecircm da comunidade poliacutetica836

afirma que ele eacute

modificado desenvolvido e interpretado de forma global e fundado em princiacutepios837

e

ainda que cabe ao seu operador descobrir dentre as fontes normativas as regentes dos

casos postos bem como a estrutura em que as regras e princiacutepios satildeo conjugados com o

fito de realizar a justiccedila no caso838

Nesse enredo afirma que o princiacutepio de integridade induz que ―os

responsaacuteveis por decidir o que eacute a lei a vejam e faccedilam cumprir como sendo coerente

nesse sentido e que para que o juiz exerccedila seu papel com integridade e coerecircncia eacute

imprescindiacutevel que ele analise o Direito ―como um todo839

orientados no sistema

juriacutedico pelas regras pelos princiacutepios e pelas denominadas policies840

E dispotildee que o princiacutepio ―enuncia razatildeo que conduz o argumento em uma

certa direccedilatildeo841

830 DWORKIN Ronald Levando os direitos a seacuterio Satildeo Paulo Martins Fontes 2002 p 148-149 153 e165 831 Ibidem p 143 O autor explica que como a ―extensatildeo expliacutecita dessas convenccedilotildees ―natildeo conteacutem absolutamente

nada de denso que de acordo com o convencionalismo os juiacutezes podem utilizar de discricionariedade ao analisarem

os casos difiacuteceis sendo ―liberados da legislaccedilatildeo e do precedente Ibidem p 158 832 Que ―justifica a coerccedilatildeo na justiccedila na eficiecircncia ou em alguma outra virtude contemporacircnea da proacutepria decisatildeo

coercitiva como e quando ela eacute tomada por juiacutezes Ibidem p 185 833 Ibidem p 202 834 Ibidem p 204 835 Ibidem p 228 836 Ibidem p 256-257 837 Ibidem p 258 838 Ibidem p 259-260 839 Ibidem p 203 840 Ibidem p 35-38 De acordo com o autor as policies satildeo definidas ―[] como um tipo de padratildeo que estabelece

um objetivo a ser alcanccedilado p 36 841 Ibidem p 41 Conforme Dworkin se um princiacutepio for relevante ―deve ser levado em conta pelas autoridades

puacuteblicas com (se fosse) uma razatildeo que inclina numa ou noutra direccedilatildeo p 41 E quando haacute uma tensatildeo entre dois

princiacutepios haacute a mensuraccedilatildeo de sua importacircncia de seu peso no caso concreto de sua dimensatildeo quanto ao caso

146

Assim Dworkin compara o magistrado com a figura do Heacutercules842

e propotildee a

teoria da decisatildeo judicial de Heacutercules em que o juiz natildeo escolhe ―entre suas convicccedilotildees

poliacuteticas e aquelas que ele considera como as convicccedilotildees poliacuteticas do conjunto da

comunidade mas aplica ―uma concepccedilatildeo particular de comunidade comunitaacuteria como

um fator decisivo para os problemas juriacutedicos de maneira que o princiacutepio da

moralidade comunitaacuteria seria ―a moralidade poliacutetica que as leis e as instituiccedilotildees da

comunidade pressupotildeem843

e do qual advecircm os princiacutepios juriacutedicos que orientam o

magistrado a tomar a uacutenica decisatildeo correta ou oferecer o melhor julgamento superando

desta forma qualquer discricionariedade nos chamados hard cases844

Jaacute para Robert Alexy que tambeacutem se debruccedila quanto agrave distinccedilatildeo entre regras e

princiacutepios elucida que os ―princiacutepios satildeo normas que ordenam algo que seja realizado

na maior medida possiacutevel dentro das possibilidades juriacutedicas e faacuteticas existentes

―mandamentos de otimizaccedilatildeo caracterizados por poderem ser satisfeitos em graus

variados conforme as possibilidades faacuteticas e juriacutedicas 845

Nesse enredo realiza a distinccedilatildeo entre a aplicaccedilatildeo da regra e do princiacutepio em

caso de possiacutevel coalisatildeo846

e informa que no caso dos princiacutepios haacute uma anaacutelise de

precedecircncia que natildeo importa em validade847

porque os princiacutepios ―natildeo contecircm um

mandamento definitivo mas apenas prima facie848

concreto Ibidem p 43 Nos termos de Inocecircncio Maacutertires Coelho de acordo com o criteacuterio de Dworkin a

diversidade entre regras e princiacutepios adveacutem do modo de aplicaccedilatildeo de cada um uma vez que enquanto as regras

―determinam consequecircncias precisas e reciprocamente excludentes os princiacutepios ―enunciam motivos para decidir

num certo sentido e natildeo causam como pode ocorrer com as regras conflito ou colisatildeo pelo contraacuterio ―eles admitem

convivecircncia e conciliaccedilatildeo entre si em um ―complexo sistema de freios e contrapesos em que atuam como ―fatores

de criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de ―pactos de convivecircncia COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional

Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 79 a 82 842 Heroacutei grego filho de Zeus 843 DWORKIN Ronald Levando os direitos a seacuterio Satildeo Paulo Martins Fontes 2002 p 197 844 Ibidem p 429 845 ALEXY Robert Teoria dos direitos fundamentais Trad Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 p

90-91 E as regras ―satildeo normas que satildeo sempre ou satisfeitas ou natildeo satisfeitas caso uma tenha validade se deve

fazer ―aquilo que ela exige sendo a distinccedilatildeo entre ambos ―qualitativa e natildeo ―de grau Ibidem p91 846 No caso das regras haacute a soluccedilatildeo a partir da validade de uma diante do caso concreto Segundo Alexy no caso de

colisatildeo entre os princiacutepios diferentemente do criteacuterio adotado para as regras natildeo a apreciaccedilatildeo da validade ou

invalidade mas em verificar qual princiacutepio tem maior peso na situaccedilatildeo concreta o que natildeo quer dizer que o princiacutepio

que natildeo aplicado naquele caso seja invaacutelido ()Na verdade o que ocorre eacute que um dos princiacutepios tem precedecircncia

em face do outro sob determinadas condiccedilotildees Sob outras condiccedilotildees a questatildeo da precedecircncia pode ser resolvida de

forma oposta Isso eacute o que se quer dizer quando se afirma que nos casos concretos os princiacutepios tecircm pesos diferentes

e que os princiacutepios com o maior peso tecircm precedecircncia Ibidem p 93-94 847 Diferentemente de Dworkin assevera que o aplicador - inteacuterprete do direito - ao se encontrar diante de uma tensatildeo

entre os princiacutepios deve fazer um sopesamento entre eles e escolher aquele que seja mais adequado como

mandamento de otimizaccedilatildeo da justiccedila 848 ALEXY Robert Teoria dos direitos fundamentais Trad Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 p

104 Diferentemente das regras que dispotildeem de ―uma determinaccedilatildeo da extensatildeo de seu conteuacutedo p 104

147

323 Marcelo Neves

Marcelo Neves diferente dos demais propotildee um modelo a partir de uma

metaacutefora mitoloacutegica onde as regras satildeo o Heacutercules e os princiacutepios a Hidra e que devem

ser analisados no Estado Constitucional por um magistrado - designado Iolau que seja

capaz de ―desparadoxizar o enlace circular entre princiacutepios e regras nos diversos casos

constitucionais de maior complexidade quer dizer que nem seja hercuacuteleo preso agraves

regras e nem hidraforme totalmente subordinado aos princiacutepios849

Assim o juiz Iolau seria o magistrado que ―natildeo isola o direito do seu contexto

social e que ―percebe o limite de suas regras para solucionar controveacutersias juriacutedicas

complexas e que procura ―outros caminhos aleacutem do formalismo das regras e do

substancialismo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo entre eles850

Daiacute aduz que ―a relaccedilatildeo paradoxal entre princiacutepios e regras estaacute associada

intimamente ao paradoxo da justiccedila como uma foacutermula de contingecircncialsquo que motiva a

accedilatildeo e a comunicaccedilatildeo no acircmbito juriacutedico e que como a justiccedila tem duas dimensotildees uma

interna pertinente ―agrave tomada de decisatildeo juridicamente consistente e outra externa

referente agrave decisatildeo ―adequadamente complexa agrave sociedade ela tem que apresentar

―consistecircncia constitucional a demonstrar ―a racionalidade do direito e a ―adequaccedilatildeo

social do direito para que seja feita com racionalidade juriacutedica851

Desta forma o autor constata que a ―adequaccedilatildeo social do direito

constitucionalmente amparada deve legitimar os ―procedimentos constitucionalmente

estabelecidos mas que como a ―relaccedilatildeo entre a justiccedila interna e externa eacute paradoxal

natildeo haacute como imaginar ―o equiliacutebrio perfeito entre consistecircncia juriacutedica e adequaccedilatildeo

social do direito a saber entre justiccedila constitucional interna e externa pois mesmo que

a ―justiccedila do sistema juriacutedico como foacutermula de contingecircncia importe sempre uma

orientaccedilatildeo motivadora de comportamentos e expectativas que buscam esse equiliacutebrio

este ―sempre eacute imperfeito e se define em cada caso concreto 852

E entatildeo conclui que se por um lado a busca pura da ―consistecircncia

constitucional pode gerar a ―inadequaccedilatildeo social do direito por outro o enfoque na

―mera adequaccedilatildeo social pode conduzir a ―um realismo juridicamente inconsistente853

o que consequentemente demonstra que o paradoxo nunca seraacute totalmente superado e 849 NEVES Marcelo Entre Hidra e Heacutercules princiacutepios e regras constitucionais como diferenccedila paradoxal do

sistema juriacutedico Satildeo Paulo WMF Martins Fontes 2013 p 221-222 850 Ibidem p 222-223 851 Ibidem p 223-224 852 Ibidem p 224-225 853 Fazendo com que este perca a ―capacidade de reorientar as expectativas normativas e portanto de legitimar-se

socialmente Ibidem p 225

148

que natildeo pode e natildeo deve secirc-lo pois como eacute ―condiccedilatildeo da proacutepria existecircncia do

direito854

Contudo afirma diante disso que cabe ao juiz Iolau confrontar-se com o

paradoxo da justiccedila buscando superaacute-lo ―em cada caso constitucional controverso mas

sem a ― pretensatildeo hercuacutelea de eliminaacute-lo definitivamente e que deve fazecirc-lo

conjugando em sua decisatildeo tanto a anaacutelise das regras constitucionais quanto dos

princiacutepios pertinentes a interesses e variaacuteveis sociais mesmo sabendo que ―esse

equiliacutebrio eacute sempre instaacutevel pois seu objetivo eacute estabelecer ―criteacuterios definitoacuterios que

minimizem o ―valor surpresa das decisotildees do porvir855

Para Marcelo Neves o juiz Iolau trataria―os princiacutepios e as regras

constitucionais como foacutermula de transcendecircncialsquo da sociedade desenvolvendo um

papel de ―observador da sociedade como um todo com o fito de resolver as demandas

afastando tanto a ―absolutizaccedilatildeo das regras e dos princiacutepios de forma que o que vai

dizer ou definir se um enunciado seraacute regra ou princiacutepio eacute a seguranccedila juriacutedica e a

leitura do inteacuterprete que utiliza o princiacutepio e formula a regra de decisatildeo856

Por fim Marcelo Neves observa que a relaccedilatildeo paradoxal existente entre

princiacutepios e regras estaacute realmente associada ao paradoxo da justiccedila como uma foacutermula

de contingecircncialsquo agrave medida que motiva a accedilatildeo e a comunicaccedilatildeo no acircmbito juriacutedico mas

que como natildeo haacute ainda uma jurisprudecircncia sedimentada que seja capaz de construir

precedentes orientadores de julgamentos do porvir e o fundamento das decisotildees podem

ser deficientes quanto ao quesito clareza - o que faz com que os julgadores cheguem aos

mesmos resultados por meio de argumentos diferentes857

- pode-se ter um julgamento

final inconsistente agrave medida que mesmo com a maioria ou a unanimidade decidindo no

sentido da parte dispositiva os argumentos sejam incompatiacuteveis entre si858

324 Humberto Aacutevila

Humberto Aacutevila apresenta uma tese diferenciada vez que critica a distinccedilatildeo

realizada entre princiacutepios e regras ao afirmar que normas satildeo princiacutepios ou regras mas

que o que interessa observar eacute que por um lado os princiacutepios explicitam valores e

―indiretamente estabelecem espeacutecies precisas de comportamentos e por outro as

regras explicitam condutas em que o comportamento preliminarmente previsto dependa

854 NEVES Marcelo Entre Hidra e Heacutercules princiacutepios e regras constitucionais como diferenccedila paradoxal do

sistema juriacutedico Satildeo Paulo WMF Martins Fontes 2013 p 226 855 Ibidem p 226-227 856 Ibidem p 227 857 Ibidem p 199 858 Ibidem p 201-202

149

do preenchimento de algumas consideraccedilotildees mas tambeacutem pode ser objeto de

ponderaccedilatildeo859

Assim ao propor ultrapassar tanto a exaltaccedilatildeo dos valores por meio dos

princiacutepios quanto a aplicaccedilatildeo automaacutetica das regras dispotildee sobre uma teoria que

analise as espeacutecies normativas mas por meio da ―ponderaccedilatildeo estruturada no processo

de aplicaccedilatildeo e da utilizaccedilatildeo de ―criteacuterios materiais de justiccedila na argumentaccedilatildeo

viabilizando uma ―reconstruccedilatildeo analiacutetica do uso concreto dos postulados normativos

especialmente da razoabilidade e da proporcionalidade sem obstar o ―controle

intersubjetivo da argumentaccedilatildeo necessaacuterio a evitar o decisionismo judicial860

Nesse enredo alega que um dispositivo natildeo eacute princiacutepio ou regra e que

―normas natildeo satildeo textos nem o conjunto deles mas os sentidos construiacutedos a partir da

interpretaccedilatildeo sistemaacutetica de textos normativos861

e que a interpretaccedilatildeo eacute um ―ato de

decisatildeo que constitui a significaccedilatildeo e os sentidos de um texto de forma que ―o

inteacuterprete tatildeo somente ―constroacutei versotildees de significadosndashsentidos862

mas que isto natildeo

quer dizer que natildeo haacute significado anterior ao processo de interpretaccedilatildeo863

Assim segundo o autor o inteacuterprete ―constroacutei e reconstroacutei sentido tendo em

vista a existecircncia de significados incorporados ao uso linguiacutestico e construiacutedos na

comunidade do discurso e nesse ensejo afirma que o Judiciaacuterio constroacutei significados

mas que deve fazecirc-lo dentro de certos limites existentes os quais caso sejam

inobservados redundaratildeo em um ―descompasso entre a previsatildeo constitucional e o

direito constitucional concretizado e ainda ressalta que o STF vem ultrapassando tais

limites e que devido a isto hodiernamente estaacute a sofrer diversas criacuteticas 864

Tambeacutem afirma que natildeo eacute porque as normas satildeo construiacutedas pelo inteacuterprete a

partir dos dispositivos que o inteacuterprete tem liberdade para realizar as conjunccedilotildees que

quiser entre ―normas e fins a cuja realizaccedilatildeo elas servem pois o ordenamento juriacutedico

estabelece os fins e a manutenccedilatildeo dos valores o que obsta ao inteacuterprete a pretericcedilatildeo

859 AVILA Humberto Teoria dos princiacutepios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 3 ed Satildeo Paulo

Malheiros Editores 2004 p 18 860 Ibidem p 18 861 Ibidem p 22 Assim segundo o autor nem sempre onde haacute um dispositivo haacute uma norma e vice-versa de forma

que texto e os seus sentidos satildeo desvinculados Ibidem 23 862 Que se ―concretizam no uso ou como uso Ibidem p 24 863 Ibidem p 25 Pois de acordo com Humberto Aacutevila ―[] haacute traccedilos de significados miacutenimos incorporados ao uso

ordinaacuterio ou teacutecnico da linguagem como o uso ―comunitaacuterio da linguagem do qual deriva alguns criteacuterios de ―uso

da proacutepria linguagem como ―condiccedilotildees dadas da comunicaccedilatildeo E exemplifica dizendo que termos como ―vida

―morte ―apresentam significados intersubjetivados que natildeo precisam a toda nova situaccedilatildeo ser fundamentados 864 Ibidem 25 Pois ―interpretar eacute construir a partir de algo ndash ―reconstruir seja porque ―utiliza como ponto de

partida os textos normativos que oferecem limites agrave construccedilatildeo de sentidos ou porque ―manipula a linguagem agrave

qual satildeo incorporados nuacutecleos de sentidos instituiacutedos pelo uso e preexistentes ―ao processo interpretativo individual

p 25

150

desse ―ponto de partida e que por isto ―o inteacuterprete deve interpretar os dispositivos

constitucionais de modo a explicitar suas versotildees de significado de acordo com os fins e

valores entremostrados na linguagem constitucional865

Nesse diapasatildeo reprocha os criteacuterios de distinccedilatildeo entre princiacutepios e regras866

e

afirma que eacute equiacutevoco entender que as regras devem ser ―aplicadas de modo absoluto

tudo ou nada e que os princiacutepios ―satildeo aplicados de modo gradual mais ou menosrdquo867

sugerindo portanto sua reformulaccedilatildeo vez que ―o modo de aplicaccedilatildeo natildeo estaacute

determinado pelo texto objeto de interpretaccedilatildeo mas decorre das ―conexotildees axioloacutegicas

que satildeo construiacutedas (ou no miacutenimo coerentemente intensificadas) pelo inteacuterprete868

tendo sentido apenas aplicar o ―modo tudo ou nada agrave regras ―se todas as questotildees

relacionadas agrave validade ao sentido e agrave subsunccedilatildeo final dos fatos jaacute estiverem

superadas869

Aleacutem disso quanto criteacuterio do ―relacionamento normativo870

propotildee seu

aperfeiccediloamento871

pois afirma que embora ―o tipo de ponderaccedilatildeo quanto aos

princiacutepios e agraves regras sejam diversos a tarefa de ponderar eacute uma ―qualidade geral de

qualquer aplicaccedilatildeo de norma 872

de forma que ambos se submetem a ela diante do

caso concreto pois se diferenciam apenas quanto agrave ―determinaccedilatildeo da prescriccedilatildeo da

conduta que resulta de sua interpretaccedilatildeo devendo se ter em conta o tipo de ponderaccedilatildeo

que eacute feito quanto agraves regras e o modo como elas deveratildeo ser ―validamente

fundamentadas873

865 AVILA Humberto Teoria dos princiacutepios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 3 ed Satildeo Paulo

Malheiros Editores 2004 p 26 866 Ibidem p 26 Quanto ao de ―caraacuteter hipoteacutetico condicional - que dispotildee que as regras possuem ―uma hipoacutetese e

uma consequecircncia que predeterminam a decisatildeo sendo aplicadas no modo se entatildeo e ―os princiacutepios apenas indicam

o fundamento a ser utilizado pelo aplicador para futuramente encontrar a regra para o caso concreto - afirma que eacute

incorreto asseverar que ―os princiacutepios ao contraacuterio das regras natildeo possuem nem consequecircncias normativas nem

hipoacuteteses de incidecircncia porque natildeo eacute que eles natildeo tem ― prescriccedilatildeo de comportamentos ou natildeo resultem em

consequecircncias o que eacute preciso observar eacute que possuem um ―tipo da prescriccedilatildeo de comportamentos e de

consequecircncias diverso p 30 e 35 867 Ibidem p 31 868 Ibidem p 36 869 Ibidem p 39 Tal proposiccedilatildeo faz-se importante vez que os Ministros natildeo aplicaram sequer a forma mais moderna

de anaacutelise da aplicaccedilatildeo de princiacutepios e regras ao estabelecerem os limites juriacutedicos da noccedilatildeo de vedaccedilatildeo do

nepotismo 870 Voltado ao fato de que enquanto a antinomia entre as regras conduz agrave declaraccedilatildeo de invalidade de uma delas ou agrave

criaccedilatildeo de uma exceccedilatildeo a tensatildeo entre os princiacutepios eacute solucionada a partir da ―ponderaccedilatildeo que atribua uma dimensatildeo

de peso a cada um deles Ibidem p 31 871 Porque as regras gerais e excepcionais e os princiacutepios natildeo se imbricam ―quanto agrave existecircncia de ponderaccedilatildeo de

razotildees mas divergem quanto ―agrave intensidade da contribuiccedilatildeo institucional do aplicador na determinaccedilatildeo concreta

dessa relaccedilatildeo e quanto ao modo de ponderaccedilatildeo pois enquanto o aplicador deteacutem ―menor e diferente acircmbito de

apreciaccedilatildeo quanto agrave relaccedilatildeo entre as regras gerais e excepcionais ―possui maior espaccedilo de apreciaccedilatildeo Ibidem p

47-48 872 Ibidem p 50 873 Vez que se por um lado os princiacutepios natildeo dispotildeem ―diretamente a conduta a ser seguida por outro as regras

preveem ―frontalmente a conduta Ibidem p 55

151

Nesse enredo tambeacutem reprocha o criteacuterio do ―fundamento axioloacutegico874

e

propotildee que o modelo de dualidade entre princiacutepios e regras seja superado agrave um

―modelo tripartite de dissociaccedilatildeo regrasprinciacutepiospostulados que aleacutem de

desconectar as regras dos princiacutepios875

acresce ―a figura dos postulados876

-

instrumentos normativos metoacutedicos - que impotildeem condiccedilotildees a serem observadas na

aplicaccedilatildeo das regras877

e dos princiacutepios878

natildeo se confundindo com eles879

Dentre tais postulados estatildeo a ponderaccedilatildeo como uma teacutecnica voltada a

―atribuir pesos a elementos que se entrelaccedilam880

como interesses881

e valores882

- e

intensamente estruturada a qual tem uma fase de ―preparaccedilatildeo883

depois uma fase de

―realizaccedilatildeo884

e por uacuteltimo de ―reconstruccedilatildeo quando haacute a ―formulaccedilatildeo de regras de

relaccedilatildeo inclusive de primazia entre os elementos objetos de sopesamento885

Diante disto o autor constata que tanto os princiacutepios constitucionais como as

regras de argumentaccedilatildeo ―podem ser construiacutedas a partir dos diversos criteacuterios de

ponderaccedilatildeo886

Outros postulados que destaca satildeo a uma o da concordacircncia praacutetica - que

possui a finalidade de direcionar a ponderaccedilatildeo - e que significa ―dever de realizaccedilatildeo

maacutexima de valores que se imbricam887

e a duas o da proibiccedilatildeo do excesso que

estabelece um limite agrave ―promoccedilatildeo das finalidades constitucionalmente postas vez que

874 Utilizado apenas quanto aos princiacutepios e natildeo agraves regras AVILA Humberto Teoria dos princiacutepios da definiccedilatildeo agrave

aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 3 ed Satildeo Paulo Malheiros Editores 2004 p 31 875 Ibidem p 62Tanto ―quanto ao dever que instituem quanto agrave ―justificaccedilatildeo que exigem e a maneira pela qual

―contribuem para solucionar conflitos 876 ―Deveres estruturais Idem p 70 877 ―Normas imediatamente descritivas Cuja aplicaccedilatildeo demanda ―avaliaccedilatildeo da correspondecircncia sempre focada

―na finalidade que lhes daacute suporte ou nos princiacutepios que lhes satildeo axiologicamente sobrejacentes entre a construccedilatildeo

conceitual da descriccedilatildeo normativa e a construccedilatildeo conceitual dos fatos Ibidem p 70 878 ―Normas imediatamente finaliacutesticas Cuja aplicaccedilatildeo depende de uma ―avaliaccedilatildeo da correlaccedilatildeo entre o estado de

coisas a ser promovido e os efeitos decorrentes da conduta havida como necessaacuteria agrave sua promoccedilatildeo Dessa forma se

observa que os princiacutepios satildeo normas finaliacutesticas pois determinam um fim a ser atingido e todavia sejam conectados

aos valores com eles natildeo se confundem pois enquanto os princiacutepios especificam ―a obrigatoriedade da adoccedilatildeo de

condutas necessaacuterias agrave promoccedilatildeo gradual de um estado de coisas os valores tatildeo somente conferem uma ―qualidade

positiva a determinado elemento Idem p 70 879 Ibidem p 62-63 880 ―Situaccedilotildees estados ou propriedades essenciais agrave promoccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos Ibidem p 95 881 ―Satildeo os proacuteprios bens juriacutedicos na sua vinculaccedilatildeo com algum sujeito que os pretende obter Ibidem p 95 882 ―Constituem o aspecto axioloacutegico das normas na medida em que indicam que algo eacute bom e por isso digno de ser

buscado ou preservado Ibidem p 95 883 Quando seratildeo apreciados todos ―os elementos e argumentos o mais exaustivamente possiacutevel Ibidem p 95 884 Na qual a relaccedilatildeo entre os elementos eacute fundamentada Ibidem p 96 885 Ibidem p 96 886 Ibidem p 96 887 E como a ponderaccedilatildeo natildeo indica ―os criteacuterios formais ou materiais por meio dos quais deve ser feita a promoccedilatildeo

das finalidades entrelaccediladas vez que eacute ―estruturas exclusivamente formais e despidas de criteacuterios Ibidem p 96

152

proiacutebe ―a restriccedilatildeo excessiva de qualquer direito fundamental888

por meio de um

―meacutetodo de controle889

que diverge do relativo ao postulado da proporcionalidade

Tambeacutem ressalta890

a igualdade como o postulado que ―estrutura a aplicaccedilatildeo do

Direito em funccedilatildeo de elementos e da relaccedilatildeo entre eles891

e enseja distinccedilatildeo relevante

no sentido material quando as pessoas ―passam a ser iguais ou diferentes de acordo

com um mesmo criteacuterio dependendo da finalidade a que ele serve892

a razoabilidade

como postulado que dentre outras eacute utilizado em trecircs acepccedilotildees ―como diretriz que

exige a relaccedilatildeo das normas gerais com as individualidades designada razoabilidade

como equidade ―como diretriz que exige uma relaccedilatildeo das normas juriacutedicas893

com o

mundo exterior denominada ―razoabilidade com congruecircncia894

e a terceira ―como

diretriz que exige a relaccedilatildeo de equivalecircncia entre duas grandezas895

- ―medida adotada

e o criteacuterio que a dimensiona - intitulada ―razoabilidade como equivalecircncia e que

somada agrave eficaacutecia ―dos princiacutepios constitucionais do Estado do Direito e do devido

processo legal e agrave do princiacutepio da igualdade ―impede a utilizaccedilatildeo de criteacuterios

distintivos inadequados896

Daiacute o autor dispotildee que o ―controle pelo Poder Judiciaacuterio e a exigecircncia de

justificaccedilatildeo da restriccedilatildeo a um direito fundamental seraacute menor quanto mais impreciso

for ―o efeito futuro da lei ―difiacutecil e teacutecnico for o juiacutezo exigido para o tratamento da

mateacuteria e ainda for aberta ―a prerrogativa de ponderaccedilatildeo atribuiacuteda ao Poder

Legislativo pela Constituiccedilatildeo897

E enfim assevera que o postulado da proporcionalidade que enseja medidas

proporcionais eacute diferenciado pelos ―fins internos e externos agrave medida que exige

proporcionalidade em sentido estrito898

888 Ibidem p 97 889 Ibidem p 101 890 Dentre os postulados inespeciacuteficos ou incondicionais 891 Embora tambeacutem possa funcionar como regra ao prever ―a proibiccedilatildeo de tratamento discriminatoacuterio e como

princiacutepio ―ao instituir um estado igualitaacuterio como fim a ser promovido AVILA Humberto Teoria dos princiacutepios

da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 3 ed Satildeo Paulo Malheiros Editores 2004 p 101 892 Ibidem p 101 ―Fins diversos levam agrave utilizaccedilatildeo de criteacuterios distintos pela singela razatildeo de que alguns criteacuterios

satildeo adequados agrave realizaccedilatildeo de determinados fins outros natildeo Mais do que isso fins diversos conduzem a medidas

diferentes do controle Haacute fins e fins no Direito Ibidem p 101 893 Ibidem p 103 894 Eacute a ―harmonizaccedilatildeo das normas com suas condiccedilotildees externas de aplicaccedilatildeo Ibidem p 106 895 Ibidem p 103 896 Ibidem p 109 897 Ibidem p 126 898 Ibidem p 116 Sendo ―um meio eacute adequado quando promove minimamente o fim e necessaacuterio quando natildeo

houver meios alternativos que possam promover igualmente o fim sem restringir na mesma intensidade os direitos

fundamentais afetados Ibidem p 131

153

33 Consideraccedilotildees Parciais

De todo o disposto o que se observa eacute que o STF extrapolou natildeo apenas as

liccedilotildees dos doutrinadores que elucidam como os magistrados decidem na realidade

como ainda mais os ensinamentos dos doutrinadores que se voltam a como os

magistrados deveriam efetivamente decidir

De Kelsen se extrai que a dita uacutenica interpretaccedilatildeo correta eacute um ―juiacutezo de valor

poliacutetico e natildeo uma ―verdade cientiacutefica899

como aquele que a diz o qual exercita uma

funccedilatildeo juriacutedico-poliacutetica

Mas natildeo foi isto que o STF fez ao reconstruir a noccedilatildeo juriacutedica de nepotismo

Ao editar a Suacutemula Vinculante o STF tatildeo somente construiu a partir dos votos dos

ministros nos quatro julgados (no acircmbito dos quais poucos deles tocaram sobre os

assuntos que constroem a figura do nepotismo) uma noccedilatildeo de nepotismo embasada

naquilo que deveria ser vedado segundo um ideal social e natildeo segundo uma noccedilatildeo

juriacutedica de nepotismo

Desta forma a noccedilatildeo de nepotismo apresentada pela Suacutemula como uma noccedilatildeo

juriacutedica seria na verdade uma noccedilatildeo embasada em ―um juiacutezo de valor poliacutetico Por

isto se poderia pensar que as liccedilotildees de Hans Kelsen estatildeo embasando natildeo ―como os

magistrados decidem mas ―como deveriam decidir

Outra liccedilatildeo de Kelsen que merece ser observada eacute que a aplicaccedilatildeo de ―uma

interpretaccedilatildeo estritamente cientiacutefica pode revelar ―todas as significaccedilotildees possiacuteveis

estabelecidas na ―foacutermula verbal () escolhida900

da norma inclusive as

―politicamente indesejaacuteveis e parece que a interpretaccedilatildeo realizada pelo STF quanto agrave

ediccedilatildeo da SV n13 pelo STF foi realizada por esse vieacutes jaacute que o que motivo o tribunal

a elaborar a SV n13 foi a necessidade de tambeacutem vedar o nepotismo no Poder

Executivo em termos similares agrave ocorrida no Poder Judiciaacuterio devido agrave publicaccedilatildeo da

Resoluccedilatildeo n 0705

Das liccedilotildees de Alf Ross se retira que pela interpretaccedilatildeo se busca o significado da

palavra e que tal atividade eacute realizada ao se observar o campo de referecircncia

correspondente agrave ela seus diversos significados razoaacuteveis bem como

dentre eles o

significado ―mais provaacutevel mas da decisatildeo do STF natildeo eacute isto que se observa tanto que

a expressatildeo ―pessoa juriacutedica passou a significar poder pelo simples fato de que se

899 KELSEN Hans Teoria Pura do Direito 8ordf ed Trad Joatildeo Baptista Machado Satildeo Paulo WMF Martins Fontes

2009 p 396 900 Ibidem p 396

154

deveria vedar o nepotismo no poder Executivo e como o Presidente ―nomeia tudo

seria melhor uma vedaccedilatildeo mais ampla em todo o poder901

Tambeacutem se pode aplicar ao caso em tela os dizeres de Alf Ross de que o juiz

pode desconsiderar as manifestaccedilotildees dos antecedentes legislativos e realizar uma

―interpretaccedilatildeo pragmaacutetica que busca ldquoapoio para o resultado desejado onde quer que

possa encontraacute-lo902

vez que o STF considerou apenas a Resoluccedilatildeo n 72005 do CNJ

e as manifestaccedilotildees quanto agrave mesma no julgado da ADC n12 como ―antecedente da

SV n13 e a partir daiacute decidiu da forma que lhe conveio embasando sua decisatildeo em

algumas argumentaccedilotildees ora aplicadas por interpretaccedilatildeo restritiva como no caso de se

excluir a vedaccedilatildeo do nepotismo ao cargo poliacutetico por meio do argumento de que a

moralidade disposta no caput do artigo 37 da Constituiccedilatildeo Federal rege a nomeaccedilatildeo dos

cargos administrativos comissionados e natildeo os cargos poliacuteticos jaacute que os primeiros

estatildeo na esfera da Administraccedilatildeo Puacuteblica e os segundos na esfera de Governo fora das

disposiccedilotildees do artigo 37

Mas se a base da vedaccedilatildeo do nepotismo eacute a moralidade puacuteblica como

demonstrado nos debates que antecederam a Suacutemula como nos votos dos ministros nos

precedentes da mesma natildeo seria contraditoacuterio vedar o nepotismo quanto aos cargos

comissionados e natildeo quanto aos poliacuteticos soacute porque a moralidade estaacute insculpida no

caput do artigo 37 como princiacutepio administrativo e natildeo puacuteblico

Conforme observado pelas manifestaccedilotildees dos Ministros este foi o

entendimento derivado de uma interpretaccedilatildeo restritiva tanto quanto ao conceito de

cargo puacuteblico de confianccedila como quanto ao de moralidade Isto eacute expressamente

disposto pelo Ministro Gilmar Mendes que ao se manifestar lembra que Bob Kennedy

irmatildeo do Presidente Kennedy ocupava cargo de governo durante o mandato de

presidente do irmatildeo

O que significa dizer que configura nepotismo a nomeaccedilatildeo de um tio do

Presidente da Repuacuteblica para exercer o cargo administrativo em comissatildeo de Secretaacuterio-

Executivo de um Ministeacuterio mas que tal praacutetica natildeo ocorreraacute caso o tio do Presidente da

Repuacuteblica seja nomeado como Ministro de Estado

Outrossim observa-se que a decisatildeo do STF tem ―caraacuteter construtivo

raramente assumido903

dito por Alf Ross vez que o STF teve a liberdade para decidir

901 Conforme se extrai dos dizeres da Ministra Carmem Luacutecia e do Ministro Gilmar Mendes no segundo debate

ocorrido anterior agrave ediccedilatildeo da SV n13 902 ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 182 903 Ibidem p 181-182

155

em grau e em reconhecimento quanto aos precedentes da Suacutemula Vinculante e quanto agrave

sua ediccedilatildeo Mas diferentemente do que dispotildee o autor natildeo soube ―como justificar

tecnicamente mediante argumentos interpretativos a soluccedilatildeo juriacutedica que considerou

―justa ou desejaacutevel904

vez que o STF ao construir a Suacutemula reconstruindo a noccedilatildeo de

nepotismo e sua consequente vedaccedilatildeo natildeo indicou expressamente as regras de

interpretaccedilatildeo e os dados interpretativos utilizados a embasar a decisatildeo que considerada

desejaacutevel

Por fim parece que o STF natildeo aplicou as liccedilotildees de Alf Ross vez que os

argumentos teacutecnicos utilizados pelos ministros como razotildees provenientes de suas

consciecircncias juriacutedicas fundados nas normas e nas exigecircncias sociais natildeo se fizerem

presente em toda a decisatildeo judicial905

Natildeo haacute argumento teacutecnico que justifique ―parente afim ateacute o terceiro grau

inclusive no contexto da vedaccedilatildeo do nepotismo no acircmbito da Suacutemula jaacute que contraacuterio

ao conceito determinado pelo Coacutedigo Civil que natildeo classifica em graus o parentesco

por afinidade e mesmo se classificasse seria ateacute segundo grau jaacute que a afinidade abarca

os irmatildeos do cocircnjuge ou seja os cunhados

Mas agindo em funccedilatildeo poliacutetica e natildeo juriacutedica os Ministros justificaram tal

elaacutestica interpretaccedilatildeo aduzindo que se fazia necessaacuterio proibir uma rede familiarlsquo na

ocupaccedilatildeo de cargos comissionados da Administraccedilatildeo Puacuteblica Soacute nela jaacute que tal rede

natildeo importa no acircmbito governamental pois natildeo abarca a nomeaccedilatildeo para cargo poliacutetico

Eacute imoral a rede familiar em acircmbito menor ndash administrativo mas eacute moral no maior ndash

governamental

Conforme ensina Eros Grau o juiz deve decidir sopesando o ―direito todo e

natildeo apenas um determinado texto normativo906

contudo natildeo foi o que o STF vez que

aleacutem de inobservar determinados dispositivos constitucionais e legais sobre

determinados elementos do nepotismo como o pertinente a funccedilatildeo comissionada e o

relativo a parentesco por afinidade respectivamente fundamentou a redaccedilatildeo sumular

efetivamente apenas no texto da Resoluccedilatildeo n 0705 do CNJ e ainda ao discutir sua

redaccedilatildeo a fim de aprimoraacute-la tambeacutem dela se distanciou pois ao inveacutes de estabelecer a

vedaccedilatildeo do nepotismo na mesma pessoa juriacutedica estabeleceu no mesmo poder

904 ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 p 183 905 Ibidem p 168 906 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p

38

156

Por fim nota-se que o autor afirma que a interpretaccedilatildeo deve se adequar ―a

algumas pautas dentre elas ―agrave finalidade do direto e ―aos princiacutepios907

de acordo

com o sistema juriacutedico do qual faz parte e com a Constituiccedilatildeo visto que um texto de

direito ―desprendido do sistema juriacutedico natildeo expressa significado normativo algum908

e constata-se que a interpretaccedilatildeo do STF natildeo se adequou nem agrave finalidade do direito em

questatildeo que eacute garantir a moralidade puacuteblica quanto ao nepotismo e muito menos

efetivou integralmente o referido princiacutepio

Pois bem se o STF natildeo decidiu efetivamente conforme os ensinamentos dos

autores que se debruccedilam agrave questatildeo de como os magistrados decidem menos ainda ao

analisar sua decisatildeo sob a perspectiva das teorias doutrinaacuterias de como os magistrados

deveriam decidir

Do que se tira das liccedilotildees de Savigny observa-se que a elaboraccedilatildeo da

jurisprudecircncia deve ser sistecircmica e histoacuterica909

contudo tal natildeo ocorreu quando da

elaboraccedilatildeo da SV n13910

Outrossim nota-se que as interpretaccedilotildees extensiva e restritiva ditas natildeo

verdadeiras por Savigny porque ―algo de fora eacute adicionado agrave expressatildeo da lei

configurando arbitrariamente forma utilizadas pelo STF na interpretaccedilatildeo de elementos

da noccedilatildeo de nepotismo dando aos mesmos ora limitaccedilatildeo ora elasticidade em prol de

uma redaccedilatildeo desejada pelos Ministros mas nem de longe a mais justa para a sociedade

ou para o paiacutes911

Ainda nota-se que o STF inobservou as liccedilotildees de Perelman quanto ao fato de

que discurso juriacutedico apresentado pelo orador deve apresentar a tese mais oportuna

conveniente razoaacutevel ou uacutetil devendo se preocupar em conhecer as teses agraves quais o

auditoacuterio que visa convencer eacute adepto e se fundamentar em teorias comuns ao senso

geral da coletividade especialmente quando o puacuteblico eacute heterogecircneo vez que a SV n13

foi editada em termos contraacuterios ao disposto caindo o STF no que o autor designa como

―Peticcedilatildeo de Princiacutepio

E ao utilizar ficccedilatildeo juriacutedica912

para justificar sua decisatildeo ao contraacuterio do que

ensina Perelmam natildeo utilizou argumentaccedilatildeo juridicamente soacutelida e mais aceitaacutevel

907 Ibidem p 39 908 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p

40 e 128 909 SAVIGNY Friedrich Karl Von Metodologia Juriacutedica Trad Hebe A M Caletti Marenco e Regina Ceacutelia de

Carvalho Paschoal Lima CampinasSP Edicamp 2001p 8 910 Conforme se observa do descrito no capiacutetulo I deste trabalho 911 SAVIGNY Op cit p 41 -42 912PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 191

157

socialmente913

bem como natildeo exerceu seu papel de obter uma decisatildeo legal ―razoaacutevel

e aceitaacutevel914

e ainda editou a normativa sem omissatildeo do legislativo

915

Aleacutem disso o STF tambeacutem natildeo expressou todo o raciociacutenio juriacutedico

desenvolvido no transcorrer do caminho agrave soluccedilatildeo do caso concreto916

nem quanto aos

elementos que compotildeem o conceito de nepotismo nem quanto agrave redaccedilatildeo final da

proacutepria Suacutemula

Em conformidade com os dizeres de Perelman com a motivaccedilatildeo os demais

juristas entendem porque foi proferida aquela decisatildeo e a opiniatildeo puacuteblica a conhece e

desta forma o magistrado natildeo apenas obedece ao requisito legal mas tambeacutem ao valor

de soluccedilatildeo mais aceitaacutevel mas no caso da SV n13 ―os demais juristas natildeo entenderam

―porque foi proferida aquela decisatildeo nos termos em que foi e natildeo a observaram como

―a soluccedilatildeo mais aceitaacutevel

Desta feita Perelman elucida que a loacutegica judiciaacuteria fundamenta-se na adesatildeo

cabendo ao magistrado convencer a todos de que a decisatildeo tomada eacute a legal e mais

aceitaacutevel ―mais equitativa e a mais conforme o direito em vigor917

contudo natildeo foi o

que os ministros do STF fizerem tanto ao julgar os precedentes como ao elaborarem a

SV n13 como a soluccedilatildeo legal mais aceitaacutevel a solucionar a questatildeo vedar o nepotismo

Larenz elucida que a ―interpretaccedilatildeo em conformidade com a Constituiccedilatildeo eacute

―um criteacuterio de interpretaccedilatildeo preferiacutevel dentre ―as vaacuterias interpretaccedilotildees possiacuteveis e

que natildeo ultrapassa ―os limites que resultam de sentido literal possiacutevel e do contexto

significativo da lei918

Todavia parece que os Ministros do STF ultrapassaram este limite ao

estabelecerem uma Suacutemula Vinculante que veda minuciosamente o nepotismo como

decorrente apenas do conteuacutedo dos princiacutepios constitucionais que regem a

administraccedilatildeo especialmente o da moralidade da imparcialidade e da eficiecircncia

Realmente a vedaccedilatildeo do nepotismo eacute consequecircncia da autoaplicaccedilatildeo de tais

princiacutepios mas isto natildeo quer dizer que a redaccedilatildeo da Suacutemula na forma em que estaacute eacute

decorrente de apenas deles vez que tece minucias quanto agrave noccedilatildeo de nepotismo que

913 PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 193

Como no caso do parentesco por afinidade ateacute 3ordm grau 914 Ibidem p 200 915 Ibidem p 203-204 Parece que no caso da SV n13 o Judiciaacuterio fez mais que isto Ele natildeo determinou como a lei

deve ser aplicada ele legislou 916 Ibidem p 210-211 917 Ibidem p 240 918LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 480-481

158

nem mesmo em uma interpretaccedilatildeo ampla podem ser observadas como consequecircncia da

autoaplicaccedilatildeo de tais princiacutepios

Tambeacutem afirma que a aspiraccedilatildeo ―legiacutetima do magistrado eacute ―um imperativo de

ordem moral e que por isso ele deve procurar na lei ―possibilidades de soluccedilotildees que

satisfaccedilam a justiccedila919

contudo pode-se dizer que os Ministros do STF ao elaborarem a

SV n 13 natildeo vislumbraram as soluccedilotildees justas vez que a redaccedilatildeo do instrumento

sumular tanto natildeo corresponde a tal valor que seu alcance foi posteriormente

questionado pelo Procurador-Geral da Repuacuteblica e ―regulamentado por Decreto

Presidencial no acircmbito do Poder Executivo

Outrossim ensina que natildeo eacute liacutecito ao juiz ―introduzir na lei o que deseja

extrair dela pois natildeo pode ―sobrepor-se agrave decisatildeo valorativa do legislador920

Entretanto a decisatildeo dos Ministros do STF se sobrepocircs agrave decisatildeo valorativa do

legislador tanto em relaccedilatildeo ao legislador constitucional como ao infraconstitucional

inclusive quanto ao legislador da Resoluccedilatildeo n 705 do CNJ que foi a principal

normativa que subsidiou a redaccedilatildeo da SV n13

Inocecircncio Maacutertires Coelho ensina que no acircmbito do judiciaacuterio ―as exigecircncias

sociais satildeo absorvidas e racionalizadas pelo aplicador do direito por ―novas leituras dos

mesmos enunciados normativos e que essas podem ser ―tatildeo inovadoras que chegam a

criar modelos juriacutedicos inteiramente novos e parece que foi exatamente isto que o STF

fez ao editar a Suacutemula

Mas o que se observa eacute que o STF extrapolou vaacuterios dos limites juriacutedicos em

prol de uma motivaccedilatildeo natildeo juriacutedica pois como uacuteltimo inteacuterprete por meio da normativa

vinculante (que parece natildeo ter alcanccedilado o objetivo da proacutepria Suacutemula Vinculante que

eacute de apaziguar controveacutersias de forma clara e objetiva) recriou a noccedilatildeo de nepotismo

bem como sua vedaccedilatildeo de forma ampla por meio de uma redaccedilatildeo que vai aleacutem do

disposto em todas as outras normas existentes e estancou as demais interpretaccedilotildees

quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo tanto do poder executivo quanto do legislativo e do

proacuteprio judiciaacuterio em todos os entes da federaccedilatildeo sem analisar as consequecircncias reais

do seu ato

Segundo Inocecircncio o magistrado cria norma de decisatildeo concreta ou a norma

do caso de acordo com as particularidades da situaccedilatildeo sob tutela jurisdicional921

919LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 492 920 Ibidem p 493 921 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 43

159

Contudo o STF ao editar a SV n13 impediu que isso ocorra pois a Suacutemula

Vinculante embora seja uma norma geral eacute uma norma de decisatildeo e ainda vinculante

que portanto natildeo permite que os demais agentes puacuteblicos que devem aplica-la tenham

outra forma de interpretaccedilatildeo senatildeo aquela que emana da sua proacutepria redaccedilatildeo o que

quer dizer que a normativa vinculante editada pelo STF natildeo permite que existam

decisotildees diversas conforme a particularidade do caso concreto apresentado

O autor tambeacutem informa que refazer o ―caminho do legislador a partir do

questionamento do texto922

quanto aos problemas sociais que ensejaram determinada

resposta normativa923

eacute ―recurso hermenecircutico a mais que natildeo deve ser desprezado

sobretudo quando se pretenda descobrir a razatildeo subjacente a um enunciado normativo

cujo significado seja de alguma maneira ―problemaacutetico

Contudo os ministros do STF natildeo o fizeram ao elaborar a SV n13 a partir da

Res nordm 0507 do CNJ vez que natildeo se fazia necessaacuterio descobrir a razatildeo subjacente ela

era clara eliminar o nepotismo no Judiciaacuterio Ao saberem disso e estarem motivados a

extirpar o nepotismo da administraccedilatildeo puacuteblica leia-se Poder Executivo partiram da

resoluccedilatildeo que para o Judiciaacuterio foi problemaacutetica e elaboraram uma disposiccedilatildeo

vinculante muito mais problemaacutetica ora em termos teacutecnicos juriacutedicos e natildeo apenas

isto ensejaram por meio desta a accedilatildeo interpretativa equiacutevoca por parte de todos a ela

submetidos

Inocecircncio tambeacutem elucida que o magistrado-inteacuterprete deve a fim de

compreender o significado do texto aleacutem de atentar para o passado observar ―a si

mesmo e a ―concreta situaccedilatildeo hermenecircutica em que se encontra924

pois eacute o inteacuterprete

que concretiza a norma juriacutedica e o faz no presente em que vive

No caso da ediccedilatildeo da SV n13 os ministros observaram a si mesmos mas

parece que a situaccedilatildeo hermenecircutica concreta de forma equivocada vez que os

precedentes utilizados natildeo eram bastante a demonstraacute-la tanto que a consequente

redaccedilatildeo da suacutemula restou problemaacutetica

Em conformidade com o autor a decisatildeo deve ser racional objetiva e

controlaacutevel natildeo podendo configurar um ―oraacuteculo despoacutetico ou iluminado que se ponha

acima da lei e dos criteacuterios usuais de interpretaccedilatildeo devendo o magistrado percorrer

922 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 44 923 Ibidem p 44 924 Ibidem p 46

160

―todo o itineraacuterio hermenecircutico onde as regras de interpretaccedilatildeo demonstram os

―passos do processo do pensamento925

Poreacutem o que se observa dos votos dos ministros proferidos nos quatro julgados

utilizados como precedentes da SV n13 e nas suas disposiccedilotildees acerca do tema nos dois

debates que antecederam agrave elaboraccedilatildeo do verbete sumular eacute que natildeo utilizaram

―criteacuterios usuais de interpretaccedilatildeo mas ao contraacuterio ―um oraacuteculo despoacutetico muitas

vezes aplicado aleacutem das disposiccedilotildees constitucionais e infraconstitucionais

O autor tambeacutem ensina que ―soacute eacute possiacutevel uma hermenecircutica juriacutedica onde a

lei vincule por igual a todos os membros da comunidade juriacutedica tanto os governantes

quanto os governados tanto os legisladores quanto os juiacutezes e que este processo

transparece o raciociacutenio desenvolvido e possibilita num ―imperativo eacutetico-poliacutetico o

convencimento daqueles a quem ―as decisotildees dos agentes puacuteblicos se destinam 926

Ocorre que natildeo foi isto que se obteve com a ediccedilatildeo da SV n13 vez que a

vedaccedilatildeo do nepotismo natildeo abarca todos vez que excepciona as nomeaccedilotildees de parentes

de autoridades para cargos poliacuteticos e mesmo abrangendo o sobrinho do marido de uma

autoridade excepciona do nepotismo a nomeaccedilatildeo de um primo desta autoridade

Normativa esta que aleacutem de natildeo vincular os possiacuteveis agentes por igual natildeo foi

realizada por meio de um processo hermenecircutico que convence a plateia pois feita em

um imperativo apenas poliacutetico e nada eacutetico

Por outro lado nota-se que foi pela obrigatoacuteria publicidade e a motivaccedilatildeo das

decisotildees dos magistrados que traduzem a validade ou natildeo do proacuteprio ato decisoacuterio bem

como a sua compatibilidade ou natildeo com ―a ideia do direito enquanto instrumento de

ordenaccedilatildeo justa e racional da convivecircncia humana que foi possiacutevel observar a

problemaacutetica juriacutedica que se encontra no cerne da SV do STF 927

Das liccedilotildees de Inocecircncio tambeacutem se extrai que a atividade interpretativa eacute

―contextualizada o que obsta significaccedilatildeo arbitraacuteria aos enunciados legais sendo

vedado dizer aleacutem da redaccedilatildeo do texto legal sendo a ―letra da lei o ―ponto de partida

da interpretaccedilatildeo e tambeacutem a sua delimitaccedilatildeo a ensejar uma decisatildeo ―razoaacutevel que eacute

demonstrada por meio dos motivos da interpretaccedilatildeo daquilo que a fundamentou de

acordo com o caso concreto do momento presente 928

925 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 47-48 926 Ibidemp 48 927 Ibidem p 49 928 Ibidem p 55

161

Entretanto os ministros do STF natildeo fizeram o disposto acima jaacute que a letra da

lei seja ela constitucional ou infraconstitucional foi desconsiderada quanto a

determinados enunciados que passaram a ter significados arbitraacuterios havendo hoje

uma realidade inconstitucional incompatiacutevel com a norma constitucional929

Ainda pode-se dizer que o STF inobservou o fato de que natildeo foi dado aos

magistrados ―uma legitimidade que eacute privativa dos titulares dos mandatos poliacuteticos e

que deve-se evitar qualquer espeacutecie de ativismo judicial que fira a ordem juriacutedico-

poliacutetica plasmada na Constituiccedilatildeo 930

No acircmbito especiacutefico da hermenecircutica constitucional e poder normativo pelas

liccedilotildees de Dworkin que cabe ao seu operador descobrir dentre as fontes normativas as

regentes dos casos postos bem como a estrutura em que as regras e princiacutepios satildeo

conjugados com o fito de realizar a justiccedila no caso931

mas isto natildeo foi realizado pelos

Ministros do STF nem ao debater os precedentes da SV nem a ediccedilatildeo da proacutepria

normativa vinculante

Conforme Marcelo Neves os magistrados devem-se ater a almejar a ―justiccedila do

sistema juriacutedico que ―sempre eacute imperfeito e se define em cada caso concreto

Contudo o STF ao editar uma SV com uma redaccedilatildeo equiacutevoca fez foi agravar a

imperfeiccedilatildeo do sistema natildeo havendo possibilidade de se definir a situaccedilatildeo em cada caso

concreto932

Humberto Aacutevila defende que o Judiciaacuterio deve construir significados dentro de

certos limites existentes a fim de que natildeo acarrete um ―descompasso entre a previsatildeo

constitucional e o direito constitucional concretizado933

mas o caso da SV n13 soacute faz

exemplificar que o STF vem ultrapassando tais limites

Assim embora a Constituiccedilatildeo em poder do inteacuterprete crie os ―objetos

hermenecircuticos num processo aberto e infinito sua ―consistecircncia deve ser controlada

por meio da verificaccedilatildeo de seus resultados a partir de um ―criteacuterio baseado na justiccedila

da decisatildeo em cada caso concreto necessaacuterio a obstar decisotildees arbitraacuterias934

Contudo se observa que o STF natildeo utilizou de teacutecnicas e meacutetodos pertinentes agrave

hermenecircutica juriacutedica especialmente a constitucional tanto para julgar os precedentes

929

COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 40 930

Idem p 67 - 68 931

DWORKIN Ronald Levando os direitos a seacuterio Satildeo Paulo Martins Fontes 2002 p 259-260 932

NEVES Marcelo Entre Hidra e Heacutercules princiacutepios e regras constitucionais como diferenccedila

paradoxal do sistema juriacutedico Satildeo Paulo WMF Martins Fontes 2013 p 225 933

AacuteVILA Humberto Teoria dos princiacutepios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 3 ed

Satildeo Paulo Malheiros Editores 2004 p 25 934

COELHO Op cit p 76

162

quanto para construir a noccedilatildeo judicial de nepotismo por meio da SV n13 pois natildeo

aplicou os paracircmetros racionais e despersonalizados da atividade hermenecircutica

163

4 A JURISDICcedilAtildeO CONSTITUCIONAL E A SUacuteMULA VINCULANTE N 13

Diante do fato de que o Supremo Tribunal Federal reconheceu por meio da SV

n13 que o nepotismo eacute vedado em todos os poderes de todos os entes da Federaccedilatildeo

cabendo agraves autoridades dos demais poderes somente reconhecer a existecircncia de

nepotismo e aplicar as medidas cabiacuteveis o que se discute nesse capiacutetulo eacute se o STF ao

realizar a reconstruccedilatildeo normativa da vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da Suacutemula

Vinculante n 13 exorbitou a normatividade do proacuteprio instituto avaliando se os quatro

julgados que embasam o enunciado vinculante configuram jurisprudecircncia reiterada

sobre a mateacuteria se qualitativamente a tornam consistente se sua redaccedilatildeo eacute coerente agrave

finalidade do instituto de ser clara objetiva e apaziguadora de controveacutersias e ainda se

o texto sumular estaacute de acordo com o princiacutepio da legalidade

41 A Suacutemula Vinculante no sistema normativo brasileiro

No decorrer do seacuteculo XX a proteccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo consolidou-se

como um importante mecanismo de defesa do Estado Constitucional se consagrando

dois sistemas um americano e outro europeu935

Nesse esteio no Brasil foi desenvolvido um sistema que apresenta

―particularmente os limites de cada um dos modelos mas que tambeacutem possui

―dificuldades de mesclar os elementos para solucionar os problemas936

fazendo com

que a justiccedila constitucional seja ―pautada pelos problemas decorrentes da convivecircncia

entre controle difuso e concentrado e seja recorrente a divergecircncia entre ―as decisotildees

tomadas pelo STF e pelas demais instacircncias do Judiciaacuterio sendo um mesma demanda

decidida vaacuterias vezes diferentemente pelos demais juiacutezes e tribunais e pelo STF

ensejando a proposiccedilatildeo de diversos recursos extraordinaacuterios no mesmo sentido

E entatildeo foram adotadas medidas a solucionar as demandas causadas por

―divergecircncia jurisprudencial sobre a interpretaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo estando dentre elas

as Suacutemulas Vinculantes que se caracterizam ―como mecanismo de prevenccedilatildeo da

935 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e proteccedilatildeo dos direitos fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 ndash julset2009 p 81 Contudo enquanto nos Estados Unidos ―a posiccedilatildeo do judiciaacuterio como defensor do

cidadatildeo contra o poder legislativo permite a qualquer indiviacuteduo ameaccedilado por ato legal buscar o remeacutedio judicial

na Europa ― a defesa da ordem constitucional de competecircncias requer a criaccedilatildeo de um tribunal ad hoc e a limitaccedilatildeo da

legitimidade ativa p 83 936 Ibidem p84

164

divergecircncia sobre a interpretaccedilatildeo constitucional e visam que os juiacutezes se adaptem agraves

orientaccedilotildees jurisprudenciais do STF937

Assim a Emenda Constitucional n 45 estabeleceu938

a Suacutemula Vinculante

como ferramenta para contribuir na celeridade processual939

sob um conjunto de

criteacuterios a subsidiar sua ediccedilatildeo dispostos no artigo 103-A da Constituiccedilatildeo Federal940

e

dentre eles dois ―que dependem de um juiacutezo de caraacuteter substantivo941

sendo o

primeiro a ―controveacutersia atual que acarrete grave inseguranccedila juriacutedica e relevante

multiplicaccedilatildeo de processos sobre questatildeo idecircntica942

e o segundo ―reiteradas decisotildees

de mateacuteria constitucional do que se pode extrair que a existecircncia apenas do primeiro

natildeo autoriza a ediccedilatildeo da SV sendo necessaacuterio que a similitude entre os casos que

justifica trataacute-los como questatildeo idecircnticalsquo ensejem reiteradas decisotildeeslsquo943

Ainda nota-se que a Suacutemula Vinculante desde que de acordo com tais

paracircmetros constitucionais eacute autorizada por decisatildeo de no miacutenimo 23 dos ministros do

STF

E a Lei n 11417 de 19122006944

que regulamenta o art 103-A da

Constituiccedilatildeo Federal disciplinando a ediccedilatildeo a revisatildeo e o cancelamento de enunciado

de suacutemula vinculante pelo Supremo Tribunal Federal por sua vez aleacutem replicar alguns

937 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e proteccedilatildeo dos direitos fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila nordm8 ndash julset2009 p 84-85 938 Em 30122004 939 Tem-se em vista com a Suacutemula Vinculante evitar processos desnecessaacuterios e protelatoacuterios e tornar mais ceacutelere a

justa aplicaccedilatildeo do Direito PACHECO Joseacute da Silva Da extinccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica e da

Suacutemula Vinculante do STF para agilizar a eficaacutecia de normas que envolvam mateacuteria constitucional Revista da

Academia Brasileira de Letras Juriacutedicas V 25 n 34 Rio de Janeiro janjun 2009 p 108 940 Art 103-A O Supremo Tribunal Federal poderaacute de ofiacutecio ou por provocaccedilatildeo mediante decisatildeo de dois terccedilos dos

seus membros apoacutes reiteradas decisotildees sobre mateacuteria constitucional aprovar suacutemula que a partir de sua publicaccedilatildeo

na imprensa oficial teraacute efeito vinculante em relaccedilatildeo os demais oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio e agrave administraccedilatildeo puacuteblica

direta e indireta nas esferas federal estadual e municipal bem como proceder agrave sua revisatildeo ou cancelamento na

forma estabelecida em lei (grifos nossos)sect 1ordm A Suacutemula teraacute por objetivo a validade a interpretaccedilatildeo e a eficaacutecia de

normas determinadas acerca das quais haja controveacutersia atual entre os oacutergatildeos judiciaacuterios ou entre esses e a

administraccedilatildeo puacuteblica que acarrete grave inseguranccedila juriacutedica e relevante multiplicaccedilatildeo de processos sobre questatildeo

idecircntica (grifos nossos) sect2ordm Sem prejuiacutezo de que vier a ser estabelecido em lei a aprovaccedilatildeo revisatildeo ou cancelamento

da suacutemula poderaacute ser provocada por aqueles que podem propor a accedilatildeo direta de inconstitucionalidadesect3ordm Do ato

administrativo ou decisatildeo judicial que contrariar a suacutemula aplicaacutevel ou que indevidamente a aplicar caberaacute

reclamaccedilatildeo ao Supremo Tribunal Federal que julgando-a procedente anularaacute o ato administrativo ou cassaraacute a

decisatildeo judicial reclamada e determinaraacute que outra seja proferida com ou sem a aplicaccedilatildeo da suacutemula conforme o

caso 941 MAUEacuteS Op cit p 86 942 ― A controveacutersia deve ser atual e natildeo ultrapassada ou superada por entendimento subsequente A

contemporaneidade do dissenso eacute um requisito importante () A controveacutersia haacute de ter grave intensidade capaz de

provocar inseguranccedila juriacutedica e multiplicidade de processos a impedir a celeridade de sua tramitaccedilatildeo PACHECO

Joseacute da Silva Op cit p 108 ― a multiplicidade de demandas e recursos sobre teses juriacutedicas absolutamente idecircnticas

jaacute definidas inclusive na suprema corte do paiacutes sabido ainda que o descumprimento das diretrizes promana em

percentual muito elevado da proacutepria Administraccedilatildeo Puacuteblica Ibidem p 109 943 MAUEacuteS Op cit p 86 ― A imprescindibilidade de resguardar o princiacutepio da seguranccedila juriacutedica assegurando a

previsibilidade das decisotildees judiciais em causas idecircnticas PACHECO Joseacute da Silva Op cit p 109 944 Art 1o Esta Lei disciplina a ediccedilatildeo a revisatildeo e o cancelamento de enunciado de suacutemula vinculante pelo Supremo

Tribunal Federal e daacute outras providecircncias

165

dos dispositivos jaacute expresso no artigo 103-A da Constituiccedilatildeo Federal esmiuccedilou o jaacute

previsto constitucionalmente e ainda estabeleceu detalhes sobre o procedimento de

criaccedilatildeo revisatildeo e extinccedilatildeo do instrumento sumular

Nesse ensejo vale enfocar que o sect2ordm do art 3ordm dispotildee sobre a possibilidade de

haver nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal manifestaccedilatildeo de

terceiros quanto agrave questatildeo945

que o art 4ordm estabelece ser possiacutevel a restriccedilatildeo dos efeitos

vinculantes da mesma e sua eficaacutecia para outro momento ambas por motivo de

seguranccedila juriacutedica ou excepcional interesse puacuteblico946

que o art 5ordm determina a revisatildeo

da SV quando da revogaccedilatildeo ou modificaccedilatildeo da lei em que se embasou947

e que o art 10

da lei prevecirc que o procedimento referente agrave Suacutemula observaraacute tambeacutem dispositivos do

Regimento Interno do STF948

Ainda se extrai que se natildeo houver a observacircncia de algumas das condiccedilotildees

insculpidas nos dispositivos constitucionais e legais quando da elaboraccedilatildeo da suacutemula

ela natildeo teraacute efeito vinculante apoacutes sua publicaccedilatildeo Nesse caso configuraria entatildeo outra

espeacutecie de suacutemula a de ―jurisprudecircncia predominante do Supremo Tribunal Federal949

Assim a Suacutemula caso natildeo verse sobre mateacuteria constitucional e natildeo tenha sido

editada em face de controveacutersia atual entre oacutergatildeos judiciaacuterios ou entre esses e a

administraccedilatildeo puacuteblica que acarrete grave inseguranccedila juriacutedica e relevante multiplicaccedilatildeo

de processos sobre questotildees idecircnticas natildeo seraacute vinculante

Aqui vale ressaltar que o efeito vinculante da suacutemula aleacutem de o ser quanto ao

enunciado tambeacutem chega aos motivos determinantes expostos nos seus precedentes

vez que ―a atribuiccedilatildeo de efeito vinculante agraves suacutemulas a exemplo do que sucede em

relaccedilatildeo agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal em controle abstrato de normas tem

945 Como faculta o sect 2o do artigo 3ordm da lei ―No procedimento de ediccedilatildeo revisatildeo ou cancelamento de enunciado da

suacutemula vinculante o relator poderaacute admitir por decisatildeo irrecorriacutevel a manifestaccedilatildeo de terceiros na questatildeo nos

termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal 946 Conforme expresso no Art 4o ―A suacutemula com efeito vinculante tem eficaacutecia imediata mas o Supremo Tribunal

Federal por decisatildeo de 23 (dois terccedilos) dos seus membros poderaacute restringir os efeitos vinculantes ou decidir que soacute

tenha eficaacutecia a partir de outro momento tendo em vista razotildees de seguranccedila juriacutedica ou de excepcional interesse

puacuteblico 947 Verbis ―Art 5o Revogada ou modificada a lei em que se fundou a ediccedilatildeo de enunciado de suacutemula vinculante o

Supremo Tribunal Federal de ofiacutecio ou por provocaccedilatildeo procederaacute agrave sua revisatildeo ou cancelamento conforme o caso 948 ―Art 10 O procedimento de ediccedilatildeo revisatildeo ou cancelamento de enunciado de suacutemula com efeito vinculante

obedeceraacute subsidiariamente ao disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal 949LEAL Roger Stiefelman O Efeito Viculante na jurisdiccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 2006 Expressatildeo

utilizada na nota de rodapeacute n 539 da p 176

166

como resultado praacutetico a imposiccedilatildeo de seus fundamentos determinantes aos oacutergatildeos e

poderes especificados na norma constitucional950

Isso porque como a Suacutemula Vinculante eacute um instrumento a uniformizar a

―jurisprudecircncia constitucional sobre a mateacuteria com base na orientaccedilatildeo do STF951

faz-

se imprescindiacutevel agrave sua aplicaccedilatildeo o conhecimento dos precedentes que levaram agrave sua

ediccedilatildeo sem o qual natildeo se pode identificar as ―circunstacircncias do caso que autorizam

aplica-la952

Assim mesmo natildeo sendo possiacutevel que seu enunciado expresse todo o seu

processo hermenecircutico deve conter ―os fundamentos que se quer generalizar de modo

contextualizado pois eacute imprescindiacutevel ao juiz que faraacute ―o processo de aplicaccedilatildeo da

suacutemula vinculante o ―conhecimento do modo como os fatos tratados nos precedentes

foram interpretados pelo STF a fim de que possa ―decidir se cabe ou natildeo sua aplicaccedilatildeo

em determinado caso953

Desta feita como o marco da suacutemula eacute constituiacutedo por seus precedentes ela

deve se ajustar ―tanto agraves decisotildees passadas guardando coerecircncia com as circunstacircncias

dos casos e o fundamento de suas decisotildees quanto justificar sua vinculatividade como a

soluccedilatildeo correta para os casos futuros Para tanto o STF deve desenvolver ―um juiacutezo de

igualdade fundamentando sua conclusatildeo nas similitudes dos casos954

Por isso deve-se ―evitar que o enunciado das suacutemulas se afaste do processo

hermenecircutico que conduziu aos precedentes bem como que natildeo apenas reafirme os

princiacutepios constitucionais mas antes garanta a ―concretizaccedilatildeo deles diante das

situaccedilotildees especiacuteficas955

Eacute dessa forma que as suacutemulas vinculantes obrigam os magistrados a aplicarem

o disposto pelo STF956

tanto pelo seu enunciado como tambeacutem por sua

950 LEAL Roger Stiefelman O Efeito Viculante na jurisdiccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 2006 p 176 951 ―Quando da discussatildeo sobre a conveniecircncia da introduccedilatildeo ou natildeo no ordenamento juriacutedico da Suacutemula

Vinculante argumento de peso brandido pelos contraacuterios era a sua utilizaccedilatildeo pelo judiciaacuterio como instrumento de

dominaccedilatildeo sobreposto ateacute agrave lei Seus defensores afastavam tal receio e viam a Suacutemula como afastamento das

incertezas possibilitando uma prestaccedilatildeo jurisdicional mais segura () e mais raacutepida DIZ Nelson Nascimento

Nepotismo Suacutemula Vinculante nordm 13 Limitaccedilatildeo ao tratamento por lei Revista de Direito do Estado - RDE v 3 n

12 outdez 2008 p 391 952 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p85 953 Ibidem p87 954 Ibidem p95 955 Ibidem p95 956 ― o efeito vinculante natildeo retira do julgador a sua liberdade de decidir mas apenas o impede que decirc curso agrave

renovaccedilatildeo de teses jaacute apreciadas e decididas anteriormente de forma reiterada por oacutergatildeos colegiados

presumivelmente detentores de maior conhecimento da mateacuteria PACHECO Joseacute da Silva Da extinccedilatildeo do

167

fundamentaccedilatildeo957

funcionando o efeito vinculante como meio que ―aleacutem de preservar

iacutentegros os elementos conceituais do instituto minimiza o perigo das imperfeiccedilotildees que

natildeo raro recaem sobre a simplificaccedilatildeo de complexas questotildees juriacutedicas em verbetes

condensadores da jurisprudecircncia dominante cabendo ―aos destinataacuterios do efeito

vinculante observar natildeo soacute o enunciado da suacutemula mas tambeacutem as condiccedilotildees e

circunstacircncias em que tem aplicaccedilatildeo958

Tambeacutem haacute de se ressaltar que por sua natureza a Suacutemula Vinculante

diferentemente das disposiccedilotildees constitucionais e legais natildeo enseja aplicaccedilatildeo de

hermenecircutica necessaacuteria a iluminar o seu entendimento jaacute que como deve ser clara

objetiva e apaziguadora de controveacutersias parte-se do pressuposto que se basta em si

proacutepria e por si soacute sendo auto-suficiente auto-explicativa e auto-aplicaacutevel

dispensando portantoalgum texto adicional que explique ou traduza o seu espiacuterito E

nesse esteio se diz que a interpretaccedilatildeo da redaccedilatildeo Suacutemula Vinculante deve ser literal

Contudo eacute interessante destacar que o STF ao se editar a primeira SV

consignou em seu enunciado ―a necessidade de anaacutelise das particularidades de cada caso

para sua aplicaccedilatildeo959

Dessa forma as SVs passaram a ser editadas e com elas vieram as dificuldades

como o fato de a diversidade de circunstacircncias dos precedentes por ―em duacutevida a

correccedilatildeo do enunciado que deve ser objeto do maacuteximo cuidado quando se trata de

decisotildees que restringem direitos e de a Suacutemula ser ―fiel agraves reiteradas decisotildeeslsquo que

devem antecedecirc-la960

nepotismo da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da Suacutemula Vinculante do STF para agilizar a eficaacutecia de normas que

envolvam mateacuteria constitucional Revista da Academia Brasileira de Letras Juriacutedicas Rio de Janeiro v 25 n 34

janjun 2009 p 109 957 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 86 Aqui vale realizar uma explicaccedilatildeo sobre o efeito vinculante da suacutemula que se refere

natildeo apenas ao proacuteprio verbete sendo vinculante quanto ao seu enunciado como tambeacutem agrave ratio decidendi ou seja

aos fundamentos determinantes das suacutemulas que ―satildeo os fundamentos determinantes dos precedentes que lhes deram

origem alcanccedilando assim ―os princiacutepios e interpretaccedilotildees asseverados na motivaccedilatildeo dos reiterados julgados que

embasaram a sua ediccedilatildeo LEAL Roger Stiefelman O Efeito Viculante na jurisdiccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo

Saraiva 2006 p 176 958 Ibidem p177 959 MAUEacuteS Op cit p87 960 O que aconteceu na ediccedilatildeo da SV n5 ―A falta de defesa teacutecnica por advogado no processo administrativo

disciplinar natildeo ofende a Constituiccedilatildeo Conforme informa Maueacutes ―Neste caso os proacuteprios Ministros reconhecem

que natildeo havia decisotildees reiteradas sobre a mateacuteria e ainda que ―o STF natildeo verifica a adequaccedilatildeo dos precedentes

citados na decisatildeo que leva agrave aprovaccedilatildeo da Suacutemula P89 Isso porque foram listados como precedentes julgados

que natildeo trataram de processo administrativo disciplinar e entre os que tratavam apenas um veiculou duacutevida sobre a

defesa teacutecnica o qual natildeo envolvia sanccedilatildeo grave como a demissatildeo ndash RE-AgR n 244027

168

Dito isto eacute que se passa a observar a maneira pela qual a Suacutemula Vinculante n

13 foi editada - pois potildee ―em duacutevida o cumprimento pelo STF dos dispositivos

constitucionais961

42 Sentido e Alcance da Suacutemula Vinculante n 13

A Constituiccedilatildeo Federal atribui ao STF competecircncia para expedir Suacutemula

Vinculante962

na forma estabelecida em lei Lei esta nordm 114172006 que determinou

no paraacutegrafo 2ordm do seu artigo 3ordm a possibilidade de haver a participaccedilatildeo de terceiro

interessado no procedimento da Suacutemula a criteacuterio do relator e conforme disposto no

Regimento Interno da Corte

Por isso se diz que a lei ao admitir a presenccedila de terceiro no procedimento de

ediccedilatildeo de suacutemula vinculante teve ―em conta o sadio princiacutepio de que no processo de

formaccedilatildeo e extroversatildeo da vontade do Estado ndash e a suacutemula expressa vontade do Estado

exteriorizada pela via jurisdicional ndash eacute a prudente ouvir antes de fazer obedecer

realccedilando assim ―a cidadania ativa princiacutepio fundamental da Repuacuteblica Federativa do

Brasil a preservar ―o Estado de decisotildees unilaterais e de vieacutes autoritaacuterio mutiladas por

visatildeo solitaacuteria e agraves vezes distorcida ou equivocada963

Todavia natildeo foi o que ocorreu e a omissatildeo ou negligecircncia do STF em observar

tal dispositivo e que sua aplicaccedilatildeo seria vaacutelida no caso em tela resultou em uma

normativa de ―vieacutes autoritaacuterio motivada pelo ativismo judicial em face do Poder

Executivo e ―mutilada por uma ―visatildeo distorcida pois parcial e desprovida de um

marco teoacuterico do magisteacuterio doutrinaacuterio paacutetrio vez que natildeo foi utilizada qualquer noccedilatildeo

doutrinaacuteria especiacutefica a delimitar a noccedilatildeo de nepotismo e sua vedaccedilatildeo e ainda

equivocada jaacute que se distanciou inclusive do seu marco legal a Resoluccedilatildeo do CNJ nordm

0705 natildeo apenas porque aumentou o acircmbito de vedaccedilatildeo do nepotismo de pessoa

juriacutedica para poder como tambeacutem porque natildeo acompanhou suas alteraccedilotildees dizendo

hoje menos do que a proacutepria Resoluccedilatildeo jaacute que natildeo veda como esta o nepotismo em

contrataccedilotildees diretas seja de que forma for

961 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p87 962 Artigo 103-A 963 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009p 14-15

169

E mesmo que se alegue que ―o Pleno supriria a exigecircncia da audiccedilatildeo preacutevia da

Comissatildeo de Jurisprudecircncia pois o Pleno pode muito natildeo se pode levar isso em conta

jaacute que o Pleno

―() natildeo pode tudo Natildeo pode substituir oacutergatildeos criados pelo Regimento de

caraacuteter normativo com atribuiccedilotildees proacuteprias e relativamente agraves quais o que

vigora eacute o princiacutepio da indisponibilidade das competecircncias puacuteblicas aleacutem do

que em vaacuterias ocasiotildees nem todos os integrantes da Comissatildeo estatildeo presentes

agrave sessatildeo em que apresentada proposta de suacutemula O afatilde do STF de acelerar a

prestaccedilatildeo jurisdicional e de viabilizar-se como oacutergatildeo de maacutexima jurisdiccedilatildeo

natildeo lhe daacute o direito de atropelar nem a Constituiccedilatildeo nem a lei A esse preccedilo

natildeo vai o princiacutepio da eficiecircnciardquo964

Ainda como a Resoluccedilatildeo n0705 do CNJ base normativa da ediccedilatildeo da SV

n13 foi alterada pela Resoluccedilatildeo n 09 e ainda esmiuccedilada por diversos enunciados do

mesmo Conselho a SV n13 nos termos do artigo 5ordm da lei regulamentar deveria ter

sido revista mas natildeo o foi

E embora o Ministro Marco Aureacutelio tenha persistido na necessidade de se

submeter a proposta da suacutemula vinculante previamente agrave Comissatildeo de Jurisprudecircncia

como previsto no proacuteprio RI observando o disposto no artigo 10 da lei em questatildeo e

sob o fundamento de que ―a finalidade do exame preacutevio () reside em prevenir

eventuais desacertos que bem podem resultar da redaccedilatildeo do verbete no calor das

discussotildees durante sessatildeo do Pleno965

a proposta da Suacutemula 13 natildeo foi submetida

previamente agrave Comissatildeo de Jurisprudecircncia do STF

Por fim o artigo 4ordm da mesma lei dispotildee que ―o Supremo Tribunal Federal por

decisatildeo de 23 (dois terccedilos) dos seus membros poderaacute restringir os efeitos vinculantes

() tendo em vista razotildees de seguranccedila juriacutedica ou de excepcional interesse puacuteblico e

a partir do disposto em seguida se observaraacute se este eacute um caso que poder-se-ia aplicar

tal hipoacutetese normativa

Como disposto no primeiro capiacutetulo deste a SV n13 foi embasada em quatro

precedentes que versaram sobre nepotismo mas que foram julgados diferentemente

pelo STF966

964 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009p 15 965 DJe nordm 1722008 pp 30 31 e 32 966 Na ADI 1521RS o STF decidiu foi pela constitucionalidade da proibiccedilatildeo de nomeaccedilatildeo de parentes ateacute o segundo

grau no acircmbito da respectiva autarquia fundaccedilatildeo instituiacuteda ou mantida pelo Poder Puacuteblico empresa puacuteblica ou

sociedade de economia mista ―Note-se bem no acircmbito da respectiva entidade E natildeo de qualquer outra embora

integrada na mesma Administraccedilatildeo ALEGRE Op cit p8 ―Tambeacutem avanccedilou na questatildeo de saber se o parente

ocupante de cargo efetivo poderia ocupar cargo em comissatildeo o ―que foi respondido afirmativamente pelo Min

170

A apreciaccedilatildeo de cada caracteriacutestica dos julgados nos precedentes deve ser

realizada de forma acurada a ensejar uma ―correta generalizaccedilatildeo dos fundamentos do

enunciado da Suacutemula Vinculante sendo nesse processo indissociaacuteveis ―o fundamento

da decisatildeo e o caso que se integram em um mesmo processo hermenecircutico onde os

―fundamentos satildeo elaborados nos precedentes de acordo com determinadas

circunstacircncias sendo possiacutevel saber se se deve solucionar da mesma forma situaccedilotildees

posteriores se houver o conhecimento dessas circunstacircncias967

Ocorre que como jaacute explicado anteriormente o STF natildeo analisou detidamente

as circunstacircncias de cada caso e ao elaborar a SV n13 ainda se distanciou dos seus

precedentes inclusive do uacutenico julgado que realmente poderia ser tido como seu

precedente a ADC 126-DF que teve por objeto a Resoluccedilatildeo nordm 0705 do CNJ que

embasou a redaccedilatildeo da SV n13

Desta feita o STF natildeo apenas julgou cada um dos quatro precedentes de forma

diversa quanto agrave noccedilatildeo do nepotismo e de sua vedaccedilatildeo como tambeacutem produziu uma

Suacutemula que natildeo condiz com os mesmos

Nos dois primeiros precedentes ADI n 1521 e MS n23780 o STF julgou a

adequaccedilatildeo das normativas agrave Constituiccedilatildeo Federal ―reconhecendo a liberdade do

legislador para dispor sobre a mateacuteria e se por um lado entendeu na ADI n 1521 pela

vedaccedilatildeo do nepotismo ateacute o segundo grau como dispunha a Emenda Constitucional

atacada por outro no MS n23780 acolheu a vedaccedilatildeo do nepotismo aos parentes de ateacute

terceiro grau

Ainda no terceiro precedente o RE n 679951 dispocircs sobre nepotismo

cruzado e a natildeo vedaccedilatildeo do nepotismo no que concerne a cargo poliacutetico e no quarto

precedente ndash a ADC 126-DF ambos julgados na mesma sessatildeo decidiu fazer da

Resoluccedilatildeo n 705 do CNJ a base da Suacutemula Vinculante n 13 mas tambeacutem dela se

afastou ao incluir na redaccedilatildeo sumular o elemento ―pessoa juriacutedica

CARLOS VELLOSO que contudo restou vencido e essa questatildeo natildeo foi discutida em nenhuma outra

oportunidaderdquo No MS 23780MA o STF entendeu pela proibiccedilatildeo do nepotismo ao terceiro grau mas tudo ficou

reduzido ao seu caso concretordquo ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF

Decifra-me ou te devoro Revista Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de

Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev 2009 p 8-9 967 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 86

171

Igualmente eacute de notoacuterio saber que a finalidade do instituto SV eacute apaziguar

―controveacutersias que acarretem ―grave inseguranccedila juriacutedica e relevante multiplicaccedilatildeo de

processos sobre questatildeo idecircntica

Contudo no caso da SV n13 sua ediccedilatildeo ocorreu mesmo natildeo havendo

―controveacutersia atual a causar ―grave inseguranccedila juriacutedica e ―multiplicaccedilatildeo de processos

sobre questatildeo idecircntica vez que no primeiro precedente a ADI n 1521 o STF julgou a

validade da Emenda Constitucional agrave Constituiccedilatildeo do Estado de Rio Grande do Sul no

segundo o MS n 23780 analisou a interpretaccedilatildeo das Leis n 942196 e n843292

referente a um uacutenico caso e no terceiro precedente o RE 579951 analisou a demanda

por meio da auto-aplicabilidade dos princiacutepios constitucionais e no quarto precedente a

ADC 126ndashDF resolveu estender a vedaccedilatildeo do nepotismo disposta pela Resoluccedilatildeo nordm

0705 do CNJ aos demais poderes Dessa forma configuraram todos eles demandas

uacutenicas e singulares e que natildeo envolveram nenhuma norma que estivesse causando

―grave inseguranccedila juriacutedica e muito menos ―multiplicaccedilatildeo de processos sobre questatildeo

idecircntica968

Aleacutem disso o STF inovou a redaccedilatildeo da SV n13 em relaccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo

existente inclusive em relaccedilatildeo agrave vedaccedilatildeo disposta na normativa que a embasou a

Resoluccedilatildeo nordm 0705 do CNJ fugindo das ―interpretaccedilotildees desenvolvidas nos

precedentes e formulando ―novas interpretaccedilotildees para casos que natildeo foram tratados o

que eacute ―constitucionalmente inadmissiacutevel969

criando mais controveacutersias ao inveacutes de

dirimiacute-las970

Assim o STF fugiu do seu tradicional campo de atuaccedilatildeo - jaacute que natildeo atuou

como simples inteacuterprete da Constituiccedilatildeo - ―mediante hermenecircutica a que estaacutevamos

habituados e ao ―agir como tiacutepico legislador positivo e editou a SV n13 que ao

contraacuterio ―natildeo interpretou direito existente mas manifestou-se como tiacutepico ato

968 Salvo a Resoluccedilatildeo do CNJ que estava ―causando no Judiciaacuterio 969 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 95 970 () natildeo constitui objeto da suacutemula a ediccedilatildeo de norma juriacutedica aqui entendida como regra de direito dotada de

generalidade e abstraccedilatildeo cujo objeto seja a regulaccedilatildeo de condutas sociais A inovaccedilatildeo na ordem juriacutedica natildeo constitui

propoacutesito da suacutemula vinculante Diversamente edita-se um enunciado vinculante exatamente para se interpretar a

Lei regra de Direito Positivo jaacute existente A ediccedilatildeo da suacutemula pressupotildee pois a vigecircncia de regras juriacutedicas

abstratas jaacute criadas pelo Legislador sobre as quais haja controveacutersia interpretativa Adveacutem a () criacutetica ao conteuacutedo

da suacutemula vinculante nordm 13 nos termos em que editada e redigida a suacutemula desatende os contornos constitucionais

que conformam o instituto jaacute que ao editaacute-la o Pretoacuterio Excelso agiu () como Legislador Positivo criando uma

regra geral e abstrata a partir da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de princiacutepios constitucionais (impessoalidade e moralidade)

cujos conteuacutedos satildeo dotados de um alto grau de vagueza semacircntica FILHO Joatildeo Pereira de Andrade A ilegitimidade

Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista

Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia - Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor

Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 136

172

normativo primaacuterio que foi buscar fundamento de validade diretamente no texto

constitucional ou seja no art 37 caput da Carta Federal971

Dessa forma o STF ao inveacutes de editar uma suacutemula vinculante a garantir

interpretaccedilatildeo validade e eficaacutecia a normativas controversas como determinam os

dispositivos constitucionais e legais reconstruiu a noccedilatildeo juriacutedica da vedaccedilatildeo do

nepotismo por meio da SV n13 - que inovou o tema e sua limitaccedilatildeo a partir de uma

redaccedilatildeo nada clara e objetiva incompatiacutevel com o que deve estear uma Suacutemula

Vinculante972

Eacute o que fica ainda mais patente ao se apreciar cada um dos cinco elementos

que constituem a noccedilatildeo de nepotismo disposta em sua redaccedilatildeo quais sejam parente por

afinidade ateacute terceiro grau inclusive autoridade nomeante ou () servidor ()

investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou assessoramento da mesma pessoa juriacutedica

para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila () compreendido o

ajuste mediante designaccedilotildees reciacuteprocas

421 Parentesco por consanguinidade e afinidade ateacute o terceiro grau

Primeiramente se aventa a questatildeo quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo a parente

por afinidade ateacute terceiro grau inclusive

O STF ―inovando primariamente na ordem juriacutedica foi aleacutem do que dispotildee

a lei civil brasileira que no sect 1ordm do artigo 1595 dispotildee claramente que o parentesco por

afinidade estaacute adstrito aos ascendentes descendentes e irmatildeos do cocircnjuge ou

companheiro natildeo havendo especificaccedilatildeo de graus e determinou pela redaccedilatildeo da SV 13

―dentro do ciacuterculo de vedaccedilatildeo que o parentesco por afinidade no que concerne ao

nepotismo eacute ateacute de terceiro grau973

Contudo no ramo civilista a expressatildeo sofre duras criacuteticas pois a suacutemula natildeo

poderia dispor diferentemente do CCB designando como parente quem natildeo eacute parente

por lei Tanto que o Ministro CARLOS BRITTO ―chegou ateacute a propor interpretaccedilatildeo

971 ROCHA Zeacutelio Maia da Nepotismo e concurso puacuteblico criteacuterio objetivo de ausecircncia de moralidade e

impessoalidade na Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Juriacutedica Consulex ano XII n 286 15122008 p 40 972 Bem analisado o conteuacutedo da suacutemula seraacute possiacutevel perceber que o STF definiu mediante escolha e valoraccedilotildees de

cunho poliacutetico as modalidades de parentesco (consanguiacuteneo ou por afinidade) determinou ateacute que grau (terceiro)

estendeu a vedaccedilatildeo do nepotismo prescreveu o acircmbito espacial de aplicaccedilatildeo da vedaccedilatildeo () A mateacuteria foi regulada

de maneira ampla descendo-se a detalhes e minuacutecias que refogem aos objetivos de uma suacutemula de caraacuteter

vinculante ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira de A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF

e os limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e

Democracia - Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 139 973 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 209

173

conforme a fim de excluir relaccedilatildeo de parentesco que o CC natildeo contempla qual seja

aquela que leva para aleacutem do cunhado o viacutenculo da colateralidade por afinidade (nordm 45

I do seu voto na ADC ndash 12) mas infelizmente no segundo debate sobre a ediccedilatildeo da

SV n13 preferiu ―aderir agrave tese da extensatildeo ao terceiro grau como criteacuterio de inibiccedilatildeo

de abusosrdquo974

Na realidade o STF natildeo apenas inovou ao criar contagem de parentesco por

afinidade em grau como tambeacutem a limitou aleacutem do que seria em lei vez que conforme

o disposto no CCB o parentesco por afinidade seria limitado ao segundo grau da linha

colateral representado pelo irmatildeo (atilde) do cocircnjuge ndash cunhado (a)

E o mais interessante eacute que o tribunal em que criteacuterio se embasou o STF para

escolheu este grau com limite agrave inibiccedilatildeo sem estar embasado em qualquer criteacuterio

efetivamente juriacutedico vez que os Ministros natildeo utilizaram qualquer meacutetodo ou teacutecnica

hermenecircutica a explicar os motivos de tal escolha mas apenas reproduziram a redaccedilatildeo

da Resoluccedilatildeo n 0507 do CNJ tendo em vista que ―a questatildeo da adequaccedilatildeo dos graus

de parentesco estabelecidos no ato normativo especialmente o problema do parentesco

por afinidade ateacute o terceiro grau975

jaacute havia sido enfrentada quanto a ela quando do

julgamento da ADC n126-DF

Assim a SV n 13 trouxe ―inovaccedilatildeo no mundo juriacutedico qual seja a definiccedilatildeo

do terceiro grau de parentesco por afinidade ateacute entatildeo desconhecido na legislaccedilatildeo e

literatura brasileira976

E natildeo eacute apenas isto se a SV n13 por um lado alargou o parentesco por

afinidade por outro restringiu o de consanguinidade pois ao determinar a vedaccedilatildeo ateacute

o seu terceiro grau excluiu o parentesco de quatro grau (primos) previsto no Coacutedigo

Civil o que tambeacutem foi ocasionado pela reproduccedilatildeo do disposto na Resoluccedilatildeo do CNJ

quanto a esse elemento

Assim o parentesco ―consanguiacuteneo de quarto grau natildeo foi considerado pelo

STF como haacutebil a macular a indicaccedilatildeo para a ocupaccedilatildeo de cargos de provimento em

comissatildeo977

974 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro ReRE ndash

Revista Eletocircnica sobre a Reforma do Estado N 16 ndash dezembrojaneirofevereiro 2009 Salvador- Bahia ndash Brasil ndash

ISSN 1981 -1888 IBDP p 2 975 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 93 976CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 35

174

Dessa forma observa-se duas situaccedilotildees no miacutenimo irrazoaacuteveis provocadas

pela redaccedilatildeo da SV n13 pois se por um lado ―um primo de uma autoridade ou servidor

pode ser indicado para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo sem configurar nepotismo

por outro seu ex-sogrolsquo natildeo pode ―vez que de acordo com o art 1595 sect 2ordm do Coacutedigo

Civil na linha reta a afinidade natildeo se extingue com a dissoluccedilatildeo do casamento ou uniatildeo

estaacutevel978

Assim o STF ao desconsiderar a definiccedilatildeo de parentesco prevista na lei civil

pelo que se extrai do teor da SV n 13 quanto ao assunto provocou tais incoerecircncias e

outras controveacutersias979

Dentre elas vale destacar as duacutevidas suscitadas quanto agrave possibilidade de

nomeaccedilatildeo anteriormente agrave concretizaccedilatildeo de fato impeditivo como por exemplo um

casamento posterior agrave nomeaccedilatildeo para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo

Tendo em vista a falta de clareza da Suacutemula quanto a este ponto dentre

outros o que se pode dizer eacute que caso natildeo haja sua devida interpretaccedilatildeo de acordo com

os princiacutepios como o da razoabilidade e proporcionalidade para solucionar a questatildeo

seratildeo provocadas injusticcedilas ―pois na frieza do verbete sumular tal situaccedilatildeo natildeo estaacute

devidamente esclarecida980

Desta feita deve-se interpretar a questatildeo agrave luz de tais princiacutepios tendo em vista

que apesar de a redaccedilatildeo da SV n13 natildeo ser clara tem-se certo que sua ―intenccedilatildeo natildeo foi

proibir o afeto entre os agentes puacuteblicos mas sim que este natildeo representasse a razatildeo da

contrataccedilatildeo ou qualquer outra vantagem em detrimento do interesse puacuteblico981

Ainda vale ressaltar que o STF seguindo a redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo n 0705 do

CNJ982

inobservou natildeo apenas o CCB mas outras normativas referentes agrave delimitaccedilatildeo

de parentesco Dentre elas a uacutenica passagem da Constituiccedilatildeo Federal ―que trata de

demarcaccedilatildeo de parentesco para efeito de inibiccedilatildeo ou exclusatildeo de exerciacutecio de direito

poliacutetico de natureza fundamental em detrimento de certas pessoas onde ―a

Constituiccedilatildeo eacute parcimoniosa e adota o limite do segundo grau (inclusive este) o art

977 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 35 978 Ibidem p 35 979 Ibidem p 35 980 Ibidem p 35-36 981 BASTOS Tatiana Quintela de Azeredo Direitos e deveres na relaccedilatildeo homoafetiva uma discussatildeo a respeito do

nepotismo Disponiacutevel em revista jus navegandi Acesso em 030313 982 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 93

175

14 sect 7ordm983

o assentado no primeiro precedente sumular a ADI n 1521 no acircmbito da

qual o STF ―declarou constitucional uma emenda agrave Constituiccedilatildeo do Rio Grande do Sul

que proibia a nomeaccedilatildeo de parentes ateacute o segundo grau (art 20 sect5ordm)984

e o princiacutepio de

hermenecircutica juriacutedica que dispotildee que ―onde a lei natildeo distingue natildeo cabe ao inteacuterprete

fazecirc-lo985

Diante disso a opccedilatildeo do STF causou perplexidade e ensejou ―duacutevida seacuteria

sobre se houve o devido processo legal ―em sentido substantivo a que estatildeo sujeitos

todos os Poderes da Repuacuteblica inclusive e sobretudo o proacuteprio STF guardiatildeo preciacutepuo

da Constituiccedilatildeo986

422 Parentesco com autoridade ou servidor ocupante de cargo comissionado

Uma segunda criacutetica quanto agrave Suacutemula recai quanto agrave expressatildeo ―autoridade

nomeante ou de servidor () investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramentordquo

Primeiramente insta dizer que conforme a redaccedilatildeo sumular ―a mera

possibilidade da influecircncia da autoridade ou do servidor que ocupa cargo em comissatildeo

―basta para a configuraccedilatildeo do viacutecio987

Assim interpretando-se literalmente o dispositivo sumular natildeo poderaacute exercer

cargo comissionado ou funccedilatildeo gratificada aquele que deteacutem ―relaccedilatildeo de consaguinidade

ou afinidade com a autoridade nomeante ou com outro servidor puacuteblico988

ocupante de

cargo comissionado o que natildeo eacute aplicaacutevel aos vereadores deputados federais estaduais

983 ―Satildeo inelegiacuteveis no territoacuterio de jurisdiccedilatildeo do titular o cocircnjuge e os parentes consanguiacuteneos ou afins ateacute o

segundo grau ou por adoccedilatildeo do Presidente da Repuacuteblica de Governador de Estado ou Territoacuterio do Distrito Federal

de Prefeito ou de quem os haja substituiacutedo dentro dos seis meses anteriores ao pleitoAfirma Ivan Barbosa Rigolin

―E nossa Constituiccedilatildeo nada menciona em especiacutefico nem remotamente sobre o tema do empregode parentes e correl

atos das autoridades nomeadoras na Administraccedilatildeo Puacuteblica Nem uma breveeferecircncia a esse tema consta de modo ex

pliacutecito ou mesmo impliacutecito da Carta de 1988 O assuntoeacuteshylhe por completo estranho e inusitado shy como de resto o eacute

desde a primeira Constituiccedilatildeobrasileira que como todas ateacute o presente jamais se abalanccedilou a restringir nepotismos na

Administraccedilatildeo Sobre o nepotismo Uma reflexatildeo sobre a moralidade e o moralismo Foacuterum Administrativo ndash FA

Belo Horizonte ano 7 n80 out2007 p 2 984 Rodrigues Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 209 985 COPOLA Gina O nepotismo cruzado e a suacutemula vinculante n 13 do egreacutegio supremo tribunal federal a

improbidade administrativa ndash jurisprudecircncia sobre o tema Boletim de Direito Administrativo ndash BDA julho 2012 p

785-789 p788 986 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009 p 5 987 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 31 988 ANTONIO Alice Barroso O Nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF Criacuteticas e Proposiccedilotildees

Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM janmar 2009 Belo Horizonte ano 10 n31 p75

176

ou distritais989

magistrados e membros no Ministeacuterio Puacuteblico990

quando natildeo forem

efetivamente a autoridade a nomear o seu parente991

uma vez que natildeo se enquadram

como servidor () investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou assessoramentordquo pois natildeo

satildeo servidores mas agentes poliacuteticos ocupantes de cargo poliacutetico

Exemplificando

A nomeaccedilatildeo de parente de um desembargador de um procurador de justiccedila

(ou promotor de justiccedila) ou de um deputado nos lindes literais da SV 13

dificilmente constituiria nepotismo pois a autoridade nomeante seria o

presidente do Tribunal o Procurador-Geral de Justiccedila ou o Presidente da

Assembleia Legislativa E como os membros destes oacutergatildeos satildeo agentes

poliacuteticos natildeo () exercendo qualquer cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento impossiacutevel subsumir a praacutetica aos termos sumulares992

989 ―() quanto aos membros do Poder Legislativo que tambeacutem satildeo agentes poliacuteticos e natildeo servidores puacuteblicos em

sentido estrito portanto tambeacutem natildeo estaria vedada a nomeaccedilatildeo para exercer cargo em comissatildeo de confianccedila ou

funccedilatildeo gratificada de parentes consanguiacuteneos e afins dos senadores deputados e vereadores Entretanto o raciociacutenio

natildeo se aplica ao presidente da Cacircmara ou Senado nem ao Prefeito Governador ou Presidente pois embora sejam

agentes poliacuteticos eles satildeo autoridades nomeantes condiccedilatildeo prevista expressamente no texto sumular Ibidem p 75 990 Por isso se afirma que eacute ― () tambeacutem excessiva restriccedilatildeo afastar os membros da magistratura do Ministeacuterio

Puacuteblico e dos Tribunais de Contas do conceito de agentes poliacuteticos pois cada um deles de diferentes formas

exercitam funccedilatildeo de soberania com independecircncia regime juriacutedico peculiar e regime de responsabilidade igualmente

diferenciado em relaccedilatildeo aos demais agentes administrativos MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-

administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico ndash RBDP Belo Horizonte v 11 n 41 abrjun2013 p 21 O

que quer dizer que ―() aqueles que exercem as funccedilotildees de direccedilatildeo do Estado (funccedilatildeo de governo) integrando a

estrutura constitucional (central) de cada um dos poderes Eacute o caso do Presidente da Repuacuteblica Ministros de Estado

Deputados Senadores Segundo o STF tambeacutem o satildeo os Membros do Judiciaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico ()Com

base nisso podemos afirmar que enquadram-se na categoria de agentes poliacuteticos a) titulares de mandato eletivo b)

seus auxiliares diretos (Ministros de Estado Secretaacuterios de Estado e Secretaacuterios Municipais) c) membros do

Judiciaacuterio e do Ministeacuterio Puacuteblico FILHO Joatildeo Trindade Cavalcante e LAGO Rodrigo Pires Ferreira A vedaccedilatildeo ao

nepotismo e as nomeaccedilotildees de agentes poliacuteticos - Uma anaacutelise sobre a jurisprudecircncia do STF e a Suacutemula Vinculante

STF ndeg13 Revista Siacutentese de Administrativo v1 n1 (jan 2006) Satildeo Paulo IOB ndash v5 n58 p93-115 p 99-

100Neste ensejo os autores explicam que Quanto aos uacuteltimos magistrados e membros do MP existe relevante

controveacutersia doutrinaacuteria Celso Antocircnio Bandeira de Mello (MELLO 2005 p 123) Maria Silvia Zanella Di Pietro

(DI PIETRO 2009 p 511) e Joseacute dos Santos Carvalho Filho (CARVALHO FILHO 2007 p 526) natildeo os incluem

entre os agentes poliacuteticos O fundamento eacute que eles natildeo satildeo eleitos mas recrutados por criteacuterios teacutecnicos Jaacute Hely

Lopes Meirelles defendeu sempre que os juiacutezes e promotores seriam agentes poliacuteticos pois tecircm as atribuiccedilotildees

regulamentadas constitucionalmente e exercem parcela do poder soberano do Estado (MEIRELLES 2000 p 84)Natildeo

se trata de uma discussatildeo meramente acadecircmica Ao contraacuterio a contenda ganha relevo praacutetico na medida em que a

consideraccedilatildeo desses agentes como agentes poliacuteticos ou administrativos possui reflexos no regime juriacutedico ao qual

seratildeo submetidos Embora esse seja um tema apenas incidental no presente trabalho adota-se o posicionamento

defendido por Hely Lopes Meirelles Realmente natildeo haacute como deixar de reconhecer na atividade judicante ou

ministerial puacuteblica o exerciacutecio de parcela do poder soberano do Estado Ademais a moderna hermenecircutica

constitucional reconhece que a atividade judicial eacute tambeacutem poliacutetica no sentido original do termo Os membros que

exercem essas funccedilotildees devem portanto ser enquadrados entre os agentes poliacuteticosNesse sentido tambeacutem jaacute se

posicionou expressamente o Supremo Tribunal Federal (BRASIL RE ndeg 228977 2002) Eacute tambeacutem o que se colhe de

uma interpretaccedilatildeo literal do art 37 XI da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica ao se referir agrave remuneraccedilatildeo dos (hellip) membros

de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios dos detentores de mandato

eletivo e dos demais agentes poliacuteticos Ibidem p 99-100 991 A proibiccedilatildeo do nepotismo no acircmbito do Poder Judiciaacuterio decorre da Resoluccedilatildeo n 0507 do CNJ e natildeo da Suacutemula

Vinculante da Corte Suprema veja-se a contradiccedilatildeo aplicaacutevel na praacutetica agraves contendas levadas agrave tutela jurisdicional

quanto aos casos de nepotismo na administraccedilatildeo puacuteblica dos diversos entes federados mesmo que muitos destes

diga-se de passagem jaacute haviam editado anteriormente agrave suacutemula normativa aplicaacutevel ao acircmbito de sua administraccedilatildeo

puacuteblica destinada agrave vedaccedilatildeo do nepotismo Quanto agrave proibiccedilatildeo no acircmbito do MP a mesma foi feita por meio da

Resoluccedilatildeo n 01 do Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico ndash CONAMP de 07 112005 992 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 8

177

Assim se tais autoridades em questatildeo natildeo forem aquele que investido em

cargo comissionado nomeia seu parente natildeo haveraacute nepotismo jaacute que natildeo satildeo

classificadas como servidor mas como agente poliacutetico ao qual a Suacutemula natildeo alcanccedila

423 Acircmbito da mesma pessoa juriacutedica

A terceira criacutetica recai sobre a expressatildeo da mesma pessoa juriacutedica A questatildeo

eacute problemaacutetica pois a pessoa juriacutedica de direito puacuteblico satildeo os proacuteprios entes federados

a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios e as entidades da administraccedilatildeo

indireta e tal conceituaccedilatildeo no que concerne agrave vedaccedilatildeo de nepotismo se por um lado

alarga o acircmbito da proibiccedilatildeo e alcanccedila situaccedilotildees questionavelmente tidas como

nepoacuteticas por outro possibilita o nepotismo em outras situaccedilotildees pois natildeo impede a

nomeaccedilatildeo de um parente de autoridade nomeante em um dos trecircs poderes dos entes da

federaccedilatildeo para uma entidade da administraccedilatildeo indireta uma vez que esta entidade eacute

outra pessoa juriacutedica

Isso porque os Ministro desconsideram o oacutergatildeo ndash tecnicamente considerado

como centro despersonalizado de formaccedilatildeo e expressatildeo da vontade imputada agrave pessoa

juriacutedica ndash para ater-se pessoa juriacutedica o que significa dizer que tudo fica acantonado agrave

mesma pessoa juriacutedica natildeo se estendendo a outra dela diversa993

A fim de explicar as situaccedilotildees exemplifica-se um ―servidor ocupante de cargo

efetivo que seja nomeado para exercer cargo de direccedilatildeo no Ministeacuterio das Cidades em

Brasiacutelia impediria por exemplo que seu irmatildeo ―tambeacutem servidor puacuteblico ocupante de

cargo efetivo fosse nomeado para exercer cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila

em uma Superintendecircncia da Poliacutecia Federal mesmo que fosse em outro Estado da

Federaccedilatildeo ―em razatildeo de ser este oacutergatildeo pertencente agrave mesma pessoa juriacutedica na qual o

Ministeacuterio das Cidades estaacute entranhado 994

qual seja a Uniatildeo

Por outro lado ―o Secretaacuterio-Executivo do Ministeacuterio do Planejamento

Orccedilamento e Gestatildeo poderia ter seu irmatildeo nomeado para ocupar um cargo

comissionado na Fundaccedilatildeo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE

entidade da Administraccedilatildeo Indireta vinculada ao Ministeacuterio995

vez que natildeo

993 Alegre Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009 p 8 994 FILHO Joatildeo Pereira Andrade A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites de

atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia - Escola

da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011p 142 995 Ibidem p144

178

configuraria nepotismo pois aleacutem de o Secretaacuterio natildeo ser a autoridade nomeante pois o

seu irmatildeo seria nomeado pelo presidente do IBGE este eacute pessoa juriacutedica diversa da

Uniatildeo pois tem personalidade juriacutedica proacutepria

Desta feita a literalidade da Suacutemula Vinculante leva agrave conclusatildeo de que o

primeiro caso seria ofensivo agrave Constituiccedilatildeo e o segundo natildeo quando parece ser o

oposto pois no primeiro exemplo natildeo se observa ―beneficiamento familiar e no

segundo sim

Contudo mesmo sendo intuitivo que situaccedilotildees dispares natildeo podem ser tratadas

da mesma forma996

pelas argumentaccedilotildees dos ministros no debate da suacutemula se

verifica que agrave pessoa juriacutedica disposta na suacutemula se deu a conotaccedilatildeo de poder ou seja

servidor de um poder investido em cargo de direccedilatildeo chefia e assessoramento natildeo

poderaacute ter parente consanguiacuteneo ou afim ateacute terceiro grau nomeado em cargo em

comissatildeo naquele mesmo poder997

pois os Ministro objetivavam com esta amplitude

mesmo acarretando situaccedilotildees contraditoacuterias obstar as nomeaccedilotildees realizadas pelo titular

do Poder Executivo que ―nomeia tudo

Todavia tal assentamento obsta tanto parentes de servidores puacuteblicos que

detenham cargo em comissatildeo e que sejam tambeacutem servidores puacuteblicos a ascender

profissionalmente como tambeacutem a outros parentes a adentrarem ao mesmo poder que

seu parente eacute servidor ocupante de cargo comissionado (seja efetivo ou natildeo) ou

autoridade nomeante seja nomeado soacute em cargo em comissatildeo mesmo que este parente

a adentrar seja lotado em oacutergatildeo completamente diferente do oacutergatildeo de seu parente

totalmente desvinculado e sem qualquer subordinaccedilatildeo

E sob esse prisma ―o enunciado vinculante estaria cerceando amplamente a

liberdade de atuaccedilatildeo de todos os oacutergatildeos de Poder pois ―impediria que cargos

comissionados em oacutergatildeos distintos sem relaccedilatildeo de subordinaccedilatildeo entre si fossem

providos por parentes998

mesmo que servidores de carreira (ocupantes de cargos

efetivos) de seus respectivos oacutergatildeos

996 PA n 722010 de 280510 nos autos do processo nordm 18487-1859732010 p 06 Disponiacutevel em www

pgespgovbr 997 Seja no Executivo Federal (todos os Ministeacuterios e demais oacutergatildeos do poder executivo) no Poder Judiciaacuterio Federal

(toda a justiccedila federal seja comum ou especializada) ou no Poder Legislativo Federal (Congresso Nacional ndash Cacircmara

e Senado) e assim nos poderes dos demais entes federados ( Estados Distrito Federal e Municiacutepios) 998ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira de A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os

limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia

- Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 142

179

Situaccedilotildees como estas natildeo ferem de forma alguma o princiacutepio da moralidade

insculpido na Constituiccedilatildeo Republicana jaacute que natildeo haacute como servidor ocupante de cargo

comissionado de um oacutergatildeo ter poder de indicaccedilatildeo para nomeaccedilatildeo em outro oacutergatildeo pois

muitas vezes nem a autoridade nomeante em um oacutergatildeo tem este poder em relaccedilatildeo a

outro oacutergatildeo999

Tambeacutem se pode pensar que a vedaccedilatildeo ampla da Suacutemula ao obstar situaccedilotildees

esdruxulamente tidas como nepotismo na realidade infringe o princiacutepio da

impessoalidade pois desde jaacute independente de qualquer situaccedilatildeo se provoca uma

desigualdade quanto agrave qualquer parente consanguiacuteneo ou por afinidade ateacute terceiro

grau de servidor ocupante de cargo em comissatildeo seja este com viacutenculo (ocupante de

cargo efetivo tambeacutem) ou sem viacutenculo (ocupante soacute de cargo comissionado) de poder

ser nomeado no mesmo poder em que seu parente estaacute lotado

Isto eacute uma infraccedilatildeo ao princiacutepio da impessoalidade eacute um cerceamento da

liberdade deste cidadatildeo soacute por ele ser parente do outro o que foi lembrado inclusive no

primeiro precedente da SV n13 ―Efetivamente natildeo seria admissiacutevel que no regime

democraacutetico se impedisse determinada parcela de cidadatildeos de participar do serviccedilo

puacuteblico tatildeo-soacute pelo fato de manterem algum viacutenculo de parentesco com autoridades

dos Trecircs Poderes1000

O que se deve ter em mente eacute que se por um lado ―natildeo eacute admissiacutevel aceitar que

haja benefiacutecios e confortos evidentes e decorrentes do grau de parentesco ou do viacutenculo

conjugal por outro natildeo se pode ―estigmatizar o indiviacuteduo por ser parente de algueacutem

o que se deve entatildeo ―eacute evitar a concessatildeo de facilidades decorrentes do berccedilo ou dos

laccedilos de sangue ou do viacutenculo uxoacuterio ou marital1001

Diante disto o que se pode dizer eacute que o STF ―por natildeo se basear em um

exame cuidadoso dos casos e diante das oacutebvias dificuldades de estabelecer uma regra

geral para a questatildeo escolheu usar o termo pessoa juriacutedicalsquo no enunciado da SV

999 E diga-se mais dependendo do cargo de direccedilatildeo e assessoramento superior (DAS no Poder Executivo Federal)

que o servidor ocupa ele mal tem como se ―segurar no cargo muito menos indicar parente para cargo comissionado

mesmo no proacuteprio oacutergatildeo 1000 Neri da Silveira voto da ADI 1-521-4 precedente da Suacutemula fl 148 1001 ARAKAKI Allan Thiago Barbosa ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante n 13 e o combate ao nepotismo

Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI n 75 2011 p 104

180

n131002

que tatildeo logo notado foi questionado1003

vez que estaacute a violar a

impessoalidade e a moralidade que nortearam o proacuteprio enunciado vinculante

424 Nomeaccedilatildeo de parente para cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila

Uma quarta criacutetica eacute que se proiacutebe a nomeaccedilatildeo de parente para cargo em

comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila da qual decorrem trecircs questotildees problemaacuteticas a

primeira referente ao fato de que a nomeaccedilatildeo para cargo poliacutetico natildeo foi vedada a

segunda concernente ao fato de que os servidores efetivos parentes do outro servidor

que ocupa cargo comissionado natildeo poderiam de forma alguma ocupar cargo

comissionado tambeacutem e a terceira de que a vedaccedilatildeo abarca tambeacutem os servidores

efetivos designados para exercerem funccedilatildeo de confianccedila

Assim primeiramente faz-se imprescindiacutevel diferenciar o cargo em comissatildeo -

de natureza administrativa - do cargo poliacutetico Enquanto o primeiro integra a estrutura

da administraccedilatildeo vinculado ao ―cumprimento de diretrizes e determinada finalidade

preacute-fixada1004

o segundo eacute de governo envolve ―atividade primaacuteria de escolha de

decisatildeo ()1005

sendo ocupados respectivamente por servidores - que satildeo regidos

pelo regime juriacutedico estatutaacuterio geral e por os agentes poliacuteticos que ―tecircm seus direitos e

obrigaccedilotildees estabelecidos diretamente pela Constituiccedilatildeo Federal1006

diferenciados

tambeacutem quanto ao regime remuneratoacuterio e agrave responsabilizaccedilatildeo por atos iliacutecitos1007

Assim a SV n13 natildeo alcanccedila os Ministros de Estado Secretaacuterios de Estados e

Distritais bem como Secretaacuterios Municipais uma vez que ocupantes de cargos poliacuteticos

e desempenham funccedilotildees ―nitidamente superiores mais abstratas mais poliacuteticas menos

1002MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p94 1003 Por meio da Reclamaccedilatildeo n 6838 proposta pelo Procurador-Geral da Repuacuteblica - PGR 1004 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Op cit p97 1005 FILHO Joatildeo Trindade Cavalcanti e LAGO Rodrigo Pires Ferreira A vedaccedilatildeo ao Nepotismo e as Nomeaccedilotildees de

Agentes Poliacuteticos ndash Uma anaacutelise sobre a Jurisprudecircncia do STF e a Suacutemula Vinculante STF nordm 13 Revista Siacutentese

Direito Administrativo v 5 n 58 out2010 p97 1006 Ibidem p 101 1007 ― ()ateacute mesmo o regime remuneratoacuterio eacute diferente Enquanto os agentes poliacuteticos ndash incluiacutedos expressamente os

Ministros de Estado (art 39 sect4ordm da CR88) ndash devem ser remunerados por regime de subsiacutedio os agentes

administrativos percebem sua contraprestaccedilatildeo pecuniaacuteria em regra pelo sistema de remuneraccedilatildeo 106 ―Tambeacutem a

responsabilizaccedilatildeo por atos iliacutecitos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo eacute distinta caso se trate de agente poliacutetico ou

administrativo Os Ministros de Estado respondem por crime de responsabilidade perante o Senado Federal ou

perante o Supremo Tribunal Federal caso o ato respectivamente seja ou natildeo conexo com o Presidente ou Vice-

Presidente da Repuacuteblica E esse foro diferenciado se justifica exatamente por serem agentes poliacuteticos Jaacute os agentes

administrativos podem ser responsabilizados por improbidade administrativa nos termos do art 37 sect4ordm da

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Esse regime de responsabilizaccedilatildeo em geral natildeo se aplica aos agentes poliacuteticos conforme

jaacute decidiu o Supremo Tribunal Federal Ibidem p 105

181

vinculadas e mais ligadas agrave funccedilatildeo governativa voltadas a auxiliar na direccedilatildeo superior

da administraccedilatildeo federal1008

Ou seja nos termos jaacute dispostos por Carlos Ayres Britto os cargos

comissionados satildeo ― singelamente administrativo e os cargos poliacuteticos satildeo de governo

sendo esta a fundamentaccedilatildeo constitucional utilizadas pelos Ministros para diferenciar a

aplicaccedilatildeo do nepotismo quanto aos primeiros e natildeo aos segundos

Entatildeo na realidade a diferenccedila se deriva da natureza diversa dos cargos pois

enquanto o cargo em comissatildeo eacute administrativo ―espeacutecie do gecircnero cargo puacuteblico (em

sentido estrito) os cargos ocupados pelos Ministros satildeo considerados cargos poliacuteticos

de natureza especial que exige do seu ocupante que esteja no pleno gozo dos direitos

poliacuteticos o que jaacute denota o caraacuteter poliacutetico que caracteriza a funccedilatildeo1009

Desta forma a questatildeo de a Suacutemula proibir a nomeaccedilatildeo do parente do servidor

ou da autoridade nomeante para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo ou de confianccedila mas

natildeo vedar a nomeaccedilatildeo agente poliacutetico como observado no proacuteprio debate da suacutemula

bem como em votos dos ministros nos precedentes da mesma natildeo alcanccedila a nomeaccedilatildeo

de parente de autoridade nomeante para agente poliacutetico podendo os chefes dos poderes

executivos de cada um dos respectivos entes federados nomear parente para ser seus

respectivos Ministro ou Secretaacuterio Estadual Distrital ou Federal jaacute que seriam agentes

poliacuteticos e natildeo servidores ocupantes de cargo em comissatildeo

Segundo as razotildees apresentadas pelos Ministros do STF tal situaccedilatildeo natildeo se

qualificaria como nepotica pois esta soacute seria verificada quando o parente fosse

indicandonomeado em cargo comissionado o que eacute sintetizado pela seguinte exposiccedilatildeo

―natildeo se pode considerar para a anaacutelise da questatildeo posta apenas o contido no artigo 37 da

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica para concluir que toda a nomeaccedilatildeo de parente ofende o

princiacutepio da impessoalidade A nomeaccedilatildeo para cargos de agentes poliacuteticos eacute

diferenciada e deve reger-se pelo seu regime proacuteprio1010

Tanto foi assentado pelo STF que os agentes poliacuteticos estariam fora de sua

aplicabilidade que o entatildeo presidente do Tribunal Ministro Gilmar Mendes a fim de

1008 FILHO CAVALCANTI Joatildeo Trindade e LAGO Rodrigo Pires Ferreira A vedaccedilatildeo ao Nepotismo e as

Nomeaccedilotildees de Agentes Poliacuteticos ndash Uma anaacutelise sobre a Jurisprudecircncia do STF e a Suacutemula Vinculante STF nordm 13

Revista Siacutentese Direito Administrativo v 5 n 58 out2010 p103 ndash 104 1009 Ibidem p 104 Mas aqui haacute de se notar que da mesma forma que provimento dos cargos em comissatildeo eacute

excepcional jaacute que a regra eacute o provimento por concurso puacuteblico a investidura dos Ministros e Secretaacuterios sejam

estes Estaduais Distritais ou Municipais tambeacutem eacute excepcional pois por ad nutum e natildeo por eleiccedilatildeo que eacute a regra

neste caso 1010 Ibidem p 107

182

justificar essa ―contraditoacuteria hermenecircutica da Corte de Justiccedila sobre a mateacuteria procurou

legitimaacute-la como uma ―hipoacutetese de exceccedilatildeo agrave regra por meio do exemplo dos irmatildeos

Kennedy o que na realidade ratificou ―que ainda natildeo superamos a velha e discutiacutevel a

velha filosofia tupiniquim de que o que foi uma vez bom para os Estados Unidos eacute

bom tambeacutem para o Brasillsquo()1011

Aleacutem de o argumento ser ―anti-republicano desprovido de loacutegica tambeacutem

―ofende os princiacutepios da razoabilidade e da isonomia pois natildeo se vislumbra qualquer

loacutegica juriacutedica ou razoabilidade em natildeo se reconhecer nepotismo quanto aos cargos

poliacuteticos vez que gozam ―de um maior grau de confianccedila dos que os demais ocupantes

de cargos comissionados e como estes uacuteltimos ocupam cargos e funccedilotildees de livre

escolha gozando tambeacutem ―da estrita confianccedila da autoridade nomeante1012

A continuidade do raciociacutenio eacute a seguinte

() cabe ao Chefe do Poder Executivo nomear os titulares destes cargos que

satildeo tambeacutem demissiacuteveis ad nutum E tem que ser assim Natildeo poderiam eles

ser objeto de eleiccedilatildeo porquanto os seus titulares devem estar em perfeita

sintonia com o Presidente da Repuacuteblica o Governador ou o Prefeito

conforme o caso Trata-se sem duacutevida de uma transferecircncia de poder

poliacutetico ()Tem-se portanto que os integrantes do denominado primeiro

escalatildeo do governo e que natildeo satildeo eleitos exercem as suas funccedilotildees como

espeacutecie de delegaccedilatildeo de poder poliacutetico pelo mandataacuterio Essa circunstacircncia

lhes confere caracteriacutestica peculiar E daiacute natildeo se vedar por si soacute a

nomeaccedilatildeo1013

(grifos nossos)

Mas justamente por haver ―transferecircncia de poder isto seria tatildeo imoral quanto

o nepotismo podendo ensejar ateacute o ―monopoacutelio de uma mesma famiacutelia na cuacutepula de um

governo

Tambeacutem quanto a esta possiacutevel nomeaccedilatildeo natildeo convence a argumentaccedilatildeo de

que ―o regime juriacutedico dos agentes poliacuteticos justifica escolhas com a mais ampla

discricionariedade possiacutevel segundo criteacuterios realmente poliacuteticos podendo a escolha

recair inclusive em parentes ()1014

porque eacute pior ainda a indicaccedilatildeo para o cargo

poliacutetico ―que ajuda a formar a vontade superior do governo sendo sua vinculaccedilatildeo

1011 LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008 p 23 1012 Ibidem p 23 1013 CAVALCANTI FILHO Joatildeo Trindade e LAGO Rodrigo Pires Ferreira A vedaccedilatildeo ao Nepotismo e as

Nomeaccedilotildees de Agentes Poliacuteticos ndash Uma anaacutelise sobre a Jurisprudecircncia do STF e a Suacutemula Vinculante STF nordm 13

Revista Siacutentese Direito Administrativo v 5 n 58 out2010 p 108 - 109 1014 Ibidem p 110

183

―poliacutetica e natildeo profissional (administrativa)1015

vez que enseja ainda mais a dominaccedilatildeo

do Estado pela ―entidade familiar

Exemplificando ―o prefeito municipal natildeo poderia nomear a sua esposa para o

cargo de diretora de estabelecimento escolar mas poderia nomeaacute-la para Secretaacuteria

Municipal de Educaccedilatildeo Natildeo poderia nomear o irmatildeo motorista mas poderia nomeaacute-lo

Secretaacuterio de Transportes Servindo a vedaccedilatildeo da SV n13 para menos mas natildeo para

mais vez que a proibiccedilatildeo do nepotismo ―() entre noacutes parece dirigir-se para os cargos

de segundo escalatildeo e alcanccedilar apenas o servidor barnabeacute integrante dos extratos

administrativos mais singelos atribuindo-se aos escalotildees elevados da administraccedilatildeo

puacuteblica a qualidade de serem compostos por cargos de provimento exclusivamente

poliacutetico1016

O certo eacute que eacute imoralidade se nomear parente com agente poliacutetico tanto

quanto em cargo comissionado ou eacute ateacute pior vez que

() o princiacutepio constitucional da moralidade administrativa densificado pela

noccedilatildeo de funccedilatildeo puacuteblica persiste encarecido com a consciecircncia juriacutedica de

que haacute uma relaccedilatildeo fiduciaacuteria () que se investe todo aquele que exerce uma

funccedilatildeo puacuteblica ndash pois o fazem em nome de terceiro da coletividade ndash e

sobretudo aos chefes do executivo (Presidente de Republica Governadores

Prefeitos) e portanto igualmente eacute exigiacutevel a adequaccedilatildeo do comportamento

deles a um padratildeo objetivo de honestidade transparecircncia e impessoalidade o

que impede ndash por muito mais razatildeo pois os chefes do executivo encontra-se

no aacutepice da relaccedilatildeo hieraacuterquica deste Poder ndash que nomeiem para os cargos de

Ministros e Secretaacuterios os seus parentes e ateacute mesmo parentes de outros

agentes puacuteblicos integrantes de outro Poder (nepotismo cruzado) () vige a

noccedilatildeo juriacutedica de que o exerciacutecio da missatildeo puacuteblica natildeo se realiza para a

satisfaccedilatildeo de um interesse proacuteprio mas em cumprimento dos deveres que

surgem da relaccedilatildeo de confianccedila decorrente do princiacutepio republicano (a

elementar noccedilatildeo de coisa puacuteblica) 1017

Tais razotildees satildeo bastantes a combater o nepotismo junto aos cargos poliacuteticos em

qualquer esfera dos Poderes do Estado sendo exatamente essa a compreensatildeo que se

deve ter na anaacutelise das nomeaccedilotildees para cargos de agentes poliacuteticos pois muito embora

―natildeo se extraia da norma constitucional vedaccedilatildeo absoluta para que esta recaia sobre

algum parente do governante eacute preciso investigar natildeo apenas a legalidade do ato mas

1015 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 217 1016 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico ndash

RBDP Belo Horizonte v 11 n 41 abrjun2013 p 12 1017 PIRES Luis Manuel Fonseca Controle judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf suacutemula vinculante do Supremo

Tribunal Federal Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Belo Horizonte EdFoacuterum 2008 p 235-252 P

248 249

184

tambeacutem a sua legitimidade De forma a ―repudiar todo o ato que embora revestido de

suposta legalidade natildeo se mostre conforme o Direito tornando-o ilegiacutetimo1018

Assim a redaccedilatildeo da Suacutemula Vinculante trouxe agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica

brasileira casos esdruacutexulos pois se por um lado um servidor efetivo ocupante de um

cargo em comissatildeo no Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome em

Brasiacutelia natildeo pode ter uma tia nomeada para cargo em comissatildeo na Superintendecircncia

Federal de Agricultura no Estado do Sergipe por outro um prefeito nomear um irmatildeo

como Secretaacuterio de Sauacutede do Municiacutepio e a sogra como Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

Municipal1019

Mas isto configura imenso risco agrave aplicabilidade do princiacutepio da moralidade

administrativa que constitucionalmente exposto vincula a Administraccedilatildeo Puacuteblica com

um todo ou seja natildeo soacute quanto aos cargos comissionados mas tambeacutem os poliacuteticos

nomeados da mesma forma ou seja pela aplicabilidade do poder discricionaacuterio natildeo se

podendo admitir que tal ―exceccedilatildeo converta-se em regra permitindo ―manobras triviais

destinadas a favorecer relaccedilotildees de parentesco nos cargos mais elevados do Estado em

1018 FILHO Joatildeo Trindade Cavalcanti e LAGO Rodrigo Pires Ferreira A vedaccedilatildeo ao Nepotismo e as Nomeaccedilotildees de

Agentes Poliacuteticos ndash Uma anaacutelise sobre a Jurisprudecircncia do STF e a Suacutemula Vinculante STF nordm 13 Revista Siacutentese

Direito Administrativo v 5 n 58 out2010p 112 1019 Conforme Alegre a sintetiza toda a questatildeo ora disposta da seguinte forma() um parente natildeo pode nomear seu

proacuteprio parente natildeo importa a sua qualificaccedilatildeo e retidatildeo moral mas pode nomear os de outros inclusive seus

amigos filhos parentes e aderentes ainda quando desqualificados e de duvidosa moralidade E os agentes poliacuteticos

justamente aqueles que tecircm a responsabilidade graviacutessima de definir os rumos do governo de decidir a qualidade de

vida de um povo inteiro bem estes podem nomear parentes agrave vontade () E assim () a Suacutemula eacute impotente

inapta mesmo para coibir o tratamento favorecido por parte de agentes puacuteblicos por conta de relaccedilotildees de ―afeto

pessoal () haacute insuficiecircncia o que tambeacutem contraria o princiacutepio da proporcionalidaderazoabilidade () Com

efeito custa entender a loacutegica do razoaacutevel que presidiu a distinccedilatildeo entre agente administrativo e agente poliacutetico para

dar tratamento favorecido a este uacuteltimo A distinccedilatildeo eacute sem duacutevida rigorosamente teacutecnica Contudo o seu resultado eacute

desastroso () E aiacute eacute que estaacute a perplexidade Se eacute deles que mais se deve exigir especialmente no plano do

comportamento da excelecircncia eacutetica entatildeo como entender que no caso da nomeaccedilatildeo de parentes viola a Constituiccedilatildeo

a nomeaccedilatildeo daqueles que o sejam na qualidade de agentes somente administrativos e natildeo tambeacutem no caso de agentes

poliacuteticos Quem eacute mais importante na escala do poder Aquele que exerce funccedilotildees de Governo que define as

diretrizes e metas a serem buscadas administrativamente ou aqueles que apenas se limitam a executar tais metas e

diretrizes Entatildeo eacute honesto deixar de nomear mulher filhos sobrinhos companheira pai matildee avoacutes para cargos de

pequena expressatildeo na Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive de menor repercussatildeo financeira natildeo importando a boa

qualificaccedilatildeo que possam ostentar mas eacute honesto fazecirc-lo para cargo de Ministro de Estado Secretaacuterio de Estado ou de

Municiacutepio ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro

Revista Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez

jan fev 2009 p18 Esse tambeacutem eacute o entendimento de Arakaki ―No que tange entatildeo aos cargos poliacuteticos como de

Secretaacuterio ou Ministro do Poder Executivo pode ser nomeado o parente da autoridade nomeante A tiacutetulo de

exemplo pode-se dizer que o Governador pode nomear seu irmatildeo como Secretaacuterio Estadual de Seguranccedila Puacuteblica

eou a sua mulher como Secretaacuteria de Transporte em razatildeo da natureza poliacutetica do proacuteprio cargo visto que foge agraves

hipoacuteteses previstas na redaccedilatildeo sumular segundo entendimento esposado pelo STF ARAKAKI Allan Thiago

Barbosa e ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo Revista de Direito Constitucional

e Internacional ndash RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 abrjun p113 Joatildeo Joseacute Leal tambeacutem

exemplifica na mesma linha ―() eacute legiacutetima a nomeaccedilatildeo de parentes proacuteximos para cargos poliacuteticos exercidos por

agentes poliacuteticoslsquo Ou seja na esfera da administraccedilatildeo municipal o prefeito poderia nomear filhos irmatildeos cocircnjuges

ou sobrinhos para exercer o cargo de secretaacuterio municipal A mesma exceccedilatildeo valeria para permitir que o presidente

da Repuacuteblica e os governadores possam nomear parentes para exercer a funccedilatildeo poliacuteticalsquo de ministros federais e

secretaacuterios estaduais respectivamente LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o

Nepotismo Top Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal ano v n 26 p 18-24 outnov2008 p22

185

desfavor da meritocracia e da seriedade exigidas na gestatildeo puacuteblica1020

aleacutem de

reacender ―o debate sobre o alcance do conteuacutedo dos atos poliacuteticos cujo entendimento

atualmente ―eacute no sentido de que nenhuma categoria de ato estaacute excluiacuteda da observacircncia

da Constituiccedilatildeo e principalmente dos princiacutepios administrativos1021

Assim natildeo se justifica racionalmente ―a exclusatildeo dos agentes poliacuteticos

Ministros e Secretaacuterios de Estados Distrito Federal e Municiacutepios da regra estabelecida

para o nepotismo pois quando ―o Chefe do Executivo Municipal nomeia um irmatildeo

para ocupar o cargo de Secretaacuterio de Sauacutede do Municiacutepio obviamente que se configura

o nepotismo com a presenccedila dos dois aspectos o objetivo e o subjetivo natildeo havendo

portanto ―motivo de excluiacute-lo da regra geral uma vez que houve a violaccedilatildeo dos

princiacutepios da impessoalidade e da moralidade administrativa1022

Em verdade a ―exclusatildeo dos mencionados agentes poliacuteticos do alcance da

suacutemula vinculante n 13 revela um contrassenso em total desacordo com a moderna

doutrina dos atos poliacuteticos bem como o ―desconhecimento da Suprema Corte dos reais

problemas enfrentados nos milhares de municiacutepios brasileiros no que concerne agrave praacutetica

do nepotismo onde o ―beneficiamento de parentes com cargos de primeiro escalatildeo de

governo eacute nefasto agraves Administraccedilotildees Puacuteblicas locais1023

Por isso a accedilatildeo do STF em excepcionaacute-los aleacutem de ser preocupante eacute

perigosa profundamente lamentaacutevel ao ensejar na praacutetica a seguinte situaccedilatildeo

para a maioria dos cargos comissionados a nomeaccedilatildeo de parentes proacuteximos

estaria proibida por ofender os princiacutepios da moralidade e da impessoalidade

no entanto para os chamados cargos poliacuteticos a nomeaccedilatildeo de parentes seria

liacutecita e natildeo ofenderia a estes dois princiacutepios constitucionais tatildeo importantes

para a conduccedilatildeo da administraccedilatildeo puacuteblica brasileira de forma mais eficiente e

segundo os preceitos da eacutetica1024

Tal entendimento ocasiona

1020 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico ndash

RBDP Belo Horizonte v 11 n 41 abrjun2013p 12 Tanto que o autor ainda exemplifica ―No interior do Brasil

e em Estados relevantes parentes estatildeo sendo nomeados Secretaacuterios para ajustar a estrutura administrativa aos

padrotildees decisoacuterios do STF e aparentar o cumprimento agrave Sumula Vinculante n 13 () o prefeito de Curitiba Gustavo

Fruet (PDT) nomeou a esposa Maacutercia Fuet para comandar a Fundaccedilatildeo de Accedilatildeo Social () e a irmatilde Eleonora Fruet

para assumir a Secretaria de Financcedilas Em Manga (MG) o prefeito Anastaacutecio Guedes (PT) designou trecircs parentes

para o primeiro escalatildeo do governo o cunhado assumiu a Secretaria de Agricultura Familiar a cunhada a Secretaria

de Assistecircncia Social e o sobrinho a Secretaria de Administraccedilatildeo Investido na prefeitura de Manaus o ex-senador

Arthur Virgiacutelio nomeou a mulher Goreth Garcia para a Secretaria de Assistecircncia Social p13 1021 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p218 1022 Ibidem p218 1023 Ibidem p 218 1024 LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008 p 23

186

seacuterio risco de conviver com nocivos clatildes encastelados na administraccedilotildees

estaduais municipais e federal Todos respaldados por essa contraditoacuteria

hermenecircutica sumular da Suprema Corte Prefeitos e governadores deste paiacutes

agora confortados por esse entendimento jurisprudencial manteratildeo seus

parentes na elevada funccedilatildeo comissionada de secretaacuterios municipais e

estaduais1025

Mas haacute de se questionar como se pode aceitar juridicamente tal diferenciaccedilatildeo

entre as duas situaccedilotildees sendo uma configurada como ―perniciosa agrave vida da

administraccedilatildeo puacuteblica por ser imoral ilegiacutetima e ofensiva aos princiacutepios constitucionais

jaacute referidos e outra perfeitamente liacutecita compatiacutevel com tais princiacutepios pois a ―accedilatildeo

nepoacutetica em qualquer situaccedilatildeo apresentada tem a mesma natureza antieacutetica1026

infringindo da mesma maneira e os princiacutepios constitucionais consagrados no artigo 37

da CF natildeo sendo portanto possiacutevel dividir o nepotismo em duas classificaccedilotildees

opostas um legiacutetima e outra ilegiacutetima o que seria contraditoriamente ofensivo ao

princiacutepio da igualdade1027

No miacutenimo a ―interpretaccedilatildeo dada pelo STF revela-se desprovida de um exame

acurado das definiccedilotildees inseridas no texto da Suacutemula1028

Por fim vale ressaltar que tal entendimento do STF expresso no quarto

precedente da SV n13 foi reafirmado quando na RCL n 6650 MC ndash AgRPR1029

suspendeu decisatildeo judicial1030

que anulava a nomeaccedilatildeo de irmatildeo1031

do entatildeo

Governador do Estado do Paranaacute Roberto Requiatildeo para o cargo de Secretaacuterio Estadual

de Transporte sob o argumento de que essa situaccedilatildeo natildeo estava vedada pela SV

n131032

tendo em vista o RE n 579951RN precedente da citada SV que autorizou a

distinccedilatildeo dos agentes poliacuteticos1033

1025 LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008p 23 1026 Ibidem p 23 1027 ― () natildeo podemos compreender que o STF venha a dar uma interpretaccedilatildeo ambiacutegua ao conteuacutedo normativo dos

princiacutepios constitucionais aqui examinados para admitir a existecircncia de duas formas de nepotismo uma legiacutetima e

outra ilegiacutetima Ibidem p 24 ―Como decorrecircncia dessa hermenecircutica sustentada pelo STF tem-se na praacutetica duas

modalidades de nepotismo o nepotismo iliacutecito (ofensivo aos princiacutepios constitucionais jaacute referidos) e outro

perfeitamente liacutecito (compatiacutevel com tais princiacutepios) Aleacutem disso esse entendimento jurisprudencial tem estimulado a

que muitos prefeitos e governadores criem novas secretarias com o intuito de promover seus familiares de funccedilotildees

comissionadas subalternas para cargos de natureza poliacutetica no primeiro escalatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica migrando

do nepotismo iliacutecito para o nepotismo liacutecito Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13

In Revista de Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 218 1028 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 36 1029 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl 6650 ndash MC ndash AgRPR Relatora Ministra Ellen Gracie

publicada no Dje 222 20112008 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 110214 1030 Do juiacutezo de Direito da Primeira Vara da Fazenda Puacuteblica Falecircncias e Concordatas do Foacuterum Central da Comarca

da Regiatildeo Metropolitana de CuritibaPR nos autos da Accedilatildeo Popular n 24242008 1031 Eduardo Requiatildeo de Mello e Silva 1032 A liminar foi deferida monocraticamente pelo Ministro Cezar Peluso e publicada no Dje n184 de 29072008

sendo registrado que a nomeaccedilatildeo do irmatildeo do Governador como titular da autarquia designada Administraccedilatildeo dos

187

Interessante ressaltar que apesar de o Ministro Ricardo Lewandowski um dos

maiores defensores da SV n13 ter afirmado no julgamento da liminar da Reclamaccedilatildeo

que ―Eacute preciso examinar caso a caso para verificar se houve fraude agrave lei ou nepotismo

cruzado que poderia ensejar a anulaccedilatildeo do ato1034

o STF mesmo tendo conhecimento

da dissimulaccedilatildeo em questatildeo vez que o irmatildeo do Governador foi nomeado para o cargo

poliacutetico de Secretaacuterio Estadual para poder cumular o cargo comissionado de direccedilatildeo de

autarquia entendeu pela inaplicabilidade da SV n13 ao caso o que ocasionou a

proposiccedilatildeo de diversas outras Reclamaccedilotildees com base nesse julgado e no citado RE

precedente sumular o que posteriormente ensejou ao STF rever seu posicionamento

como se veraacute

O que parece eacute que estamos a ―conviver com uma forma mais selecionada

sofisticada e elitizado do nepotismo () nepotismo top por meio do qual ocorrem

nomeaccedilotildees de parentela de autoridades para cargos poliacuteticos

Mas natildeo eacute justamente nas nomeaccedilotildees para os cargos do primeiro escalatildeo da

administraccedilatildeo puacuteblica que a praacutetica nepoacutetica apresenta um maior grau de imoralidade e

perniciosidade Pois ―a partilha entre membros do clatilde familiar de cargos em

provimento sem concurso puacuteblico aleacutem do seu caraacuteter imoral e da ausecircncia do requisito

da impessoalidade na escolha eacute a que mais profundamente ofende os princiacutepios da

eficiecircncia e da igualdade Sendo fato puacuteblico e notoacuterio que o criteacuterio de escolha natildeo eacute

a capacidade nem a aptidatildeo para o trabalho ―mas a identidade de sangue que corre nas

veias do mandataacuterio e de seu parente protegido1035

Natildeo se pode preparar um lenitivo agrave margem do mal que se busca combater

esse sim eacute um caso de controveacutersia inseguranccedila juriacutedica muacuteltiplos processos que

deveria ter sido vedado por SV

Mas natildeo eacute soacute a segunda problemaacutetica eacute que de acordo com a literalidade da

SV n13 ateacute os servidores efetivos que satildeo parentes do outro servidor que ocupa cargo

Portos de Paranaguaacute e Antonina deveria ser analisada quando do julgamento do meacuterito da reclamaccedilatildeo Dessa forma a

mateacuteria foi a Plenaacuterio quando se verificou que o intuito na nomeaccedilatildeo do irmatildeo do Governador para Secretaacuterio de

Transportes tinha como objetivo encobrir a nomeaccedilatildeo do mesmo confirmado pela publicaccedilatildeo do Decreto Estadual n

33482008 dissimulando a aplicabilidade da SV n13 ao caso 1033 A Relatora Ministra Ellen Gracie votou pela manutenccedilatildeo da decisatildeo liminar com esteio nesse precedente e a

maioria dos Ministros a acompanhou 1034 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl 6650 ndash MC ndash AgRPR Relatora Ministra Ellen Gracie

publicada no Dje 222 20112008 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 110214 1035 LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008p 24

188

comissionado natildeo poderiam de forma alguma ocupar cargo comissionado tambeacutem1036

Isto traduz seacuteria discriminaccedilatildeo sofrida pelos servidores efetivos devido agrave sua parentela

o que contraria diretamente o disposto pelo princiacutepio da impessoalidade que rege a

Administraccedilatildeo Puacuteblica e pode ateacute mesmo configurar ―um tipo de perseguiccedilatildeo

qualificada pelo grau de parentesco com algum agente puacuteblico 1037

Primar pela impessoalidade no serviccedilo puacuteblico passa objetividade e

transparecircncia na ocupaccedilatildeo de cargos em comissatildeo mas natildeo significa vedar a ocupaccedilatildeo

de cargos comissionados por todos que forem parentes uns dos outros indistintamente

o que ―pode representar um radicalismo pouco saudaacutevel1038

Radicalismo esse que obsta a aplicaccedilatildeo da meritocracia ao servidor efetivo

visto que o impede de ser nomeado em qualquer cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento por meacuterito proacuteprio pois a Suacutemula presumiu que o alcance ao cargo

comissionado de servidor efetivo que eacute parente daquele que eacute apenas ocupante de cargo

comissionado ocorreraacute tatildeo somente devido ao viacutenculo familiar e natildeo por sua eficiecircncia

invertendo nesse caso o brocado do princiacutepio da inocecircncia

Tal fato ainda obsta a efetivaccedilatildeo tambeacutem do princiacutepio da eficiecircncia vez que

veda o acesso ao cargo agravequele servidor que tem parente comissionado mesmo que

detenha capacidade teacutecnica e perfil adequado para tanto

Ainda viola o princiacutepio da igualdade ao discriminar1039

tais servidores frente

aos demais servidores e aos cidadatildeos1040

pois a SV n 13 ao dispor ―um criteacuterio objetivo

para avaliar algo eminentemente subjetivo trata igualmente os desiguais colocando

1036 ―Se o servidor puacuteblico parente por afinidade ou consanguinidade da autoridade nomeante ou de outro servidor

puacuteblico de confianccedila eacute titular de cargo efetivo mas estaacute exercendo cargo comissionado ou funccedilatildeo gratificada

enquadra-se na vedaccedilatildeo da Sumula e por isso mesmo deve retornar ao exerciacutecio apenas do seu cargo efetivo que

natildeo eacute afetado em virtude das relaccedilotildees de parentesco ANTONIO Alice Barroso O nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula

Vinculante n 13 do STF criacuteticas e proposiccedilotildees Revista Brasileira de Direito Municipal - RBDM Belo Horizonte

Ed Foacuterum ano 10 n 32 p 61-84 janmar 2009 p73 1037 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 33 1038 Ibidem p33 1039 ―Indevida a presunccedilatildeo de que todo parente de agente publico ingressa em cargos de comissatildeo ou funccedilotildees de

confianccedila apenas em virtude de seu vinculo familiar sem preencher qualquer outra condiccedilatildeo para o exerciacutecio do

serviccedilo puacuteblico Tal anaacutelise eacute preconceituosa () O que natildeo condiz com o que o proacuteprio STF firmou pelo MI n 58

DJ de 190491 que ―O princiacutepio da isonomia () deve ser considerado em sua preciacutepua funccedilatildeo de obstar

discriminaccedilotildees e de extinguir privileacutegios ANTONIO Alice Barroso O nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante

nordm13 do STF criacuteticas e proposiccedilotildees Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM Belo Horizonte v 10 n31

janmar 2009 p 79 1040 CABRAL NETO Cirino Adolfo A resoluccedilatildeo n 0705 do Conselho Nacional de Justiccedila e seus efeitos na

administraccedilatildeo puacuteblica municipal Revista Zenite de Direito Administrativo e LRF ndash IDAF ano VII n 78 jan

20072008 p 531-536 p 533

189

todos ―em uma vala comum na medida em que a avaliaccedilatildeo eacute feita ―em razatildeo da

existecircncia de viacutenculo familiar e natildeo em decorrecircncia do meacuterito do servidor1041

Contudo se de um lado ―eacute imoral contratar algueacutem apenas em razatildeo do seu

viacutenculo com o administrador seria igualmente errado demiti-lo tatildeo somente por esse

fato1042

vez que ―o simples fato objetivo do parentesco natildeo configura o nepotismo

mas a consequente violaccedilatildeo dos princiacutepios da moralidade e impessoalidade dentre

outros―pois natildeo haacute lei que proiacuteba expressamente tal contrataccedilatildeo nem ela estaacute vedada

pelos princiacutepios gerais de direito 1043

e diga-se mais tal proibiccedilatildeo fere

direito constitucional e humano desta pessoa ao acesso agrave funccedilatildeo administrativa1044

Diante disso constata-se que tal situaccedilatildeo demanda esforccedilo interpretativo pois

se por um lado ―natildeo eacute razoaacutevel impor limites ao desenvolvimento profissional de

servidores efetivos pelo simples fato de serem parentes por vezes sem qualquer

viacutenculo afetivo por outro imprescindiacutevel preservar a Administraccedilatildeo Puacuteblica do

nepotismo por meio da proibiccedilatildeo de parentes ―trabalharem sob a subordinaccedilatildeo de um ao

outro fato que poderia gerar incompatibilidade e controveacutersias no desempenho probo

dos cargos ocupados1045

E a terceira referente ao fato de que a vedaccedilatildeo tambeacutem proiacutebe que os

servidores efetivos parentes da autoridade nomeante ou de servidor que ocupa tatildeo

somente cargo comissionado sejam designados agrave funccedilatildeo de confianccedila

Como eacute de notoacuterio saber o exerciacutecio da funccedilatildeo de confianccedila eacute destinado

apenas aos servidores efetivos nos termos do artigo 37 inciso V da Constituiccedilatildeo

Federal1046

vez que mesmo sendo como os cargos em comissatildeo preenchidas ―pela

escolha da autoridade competente deste uacuteltimo se difere pois ―eacute imperioso que o

nomeado seja do quadro interno da Administraccedilatildeo Puacuteblica1047

1041 PEacuteRES Taynah Litaiff Isper Abrahim Carpinteiro SILVA Adriana Carla de Souza Suacutemula vinculante n 13 a

―estrada dos tijolos amarelos do funcionalismo puacuteblico brasileiro Revista jus navegandi 102012 1042 Ibidem 1043 POZZO Antocircnio Arnaldo dal O nepotismo no Poder Executivo Boletim de Direito Municipal ndash BDM n 8 ano

XXIV ago2008 1044 RIGOLIN Ivan Barbosa Sobre o nepotismo Uma reflexatildeo sobre a moralidade e o moralismo Foacuterum

Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 7 n80 out2007 p 2 1045 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 36 1046 Verbis ldquoas funccedilotildees de confianccedila exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo ()rdquo 1047 ARAKAKI Allan Thiago Barbosa e ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo

Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 abrjun

2011 p 112

190

Desta feita pela literalidade da Suacutemula chega-se ao absurdo de que o marido

ocupante de cargo comissionado na Controladoria-Geral da Uniatildeo em Brasiacutelia obsta

que sua esposa servidora efetiva seja designada agrave funccedilatildeo de confianccedila na

Superintendecircncia Federal de Agricultura no Distrito Federal vez que tal situaccedilatildeo

configuraria nepotismo conforme a literalidade da SV n13 pois ambos mesmo sendo

lotados em oacutergatildeos diversos e de carreiras distintas sem qualquer vinculaccedilatildeo ou

hierarquia satildeo da mesma pessoa juriacutedica (poder executivo federal conforme a leitura

dos Ministros)

Eacute por situaccedilotildees estremadas como esta que eacute imprescindiacutevel a anaacutelise de cada

caso concreto ―perquirindo suas especificidades suas finalidades e seus efeitos o que

natildeo se garante por meio de ―controle aprioriacutestico feito pela ediccedilatildeo de normas e sumulas

gerais e abstratas aplicaacuteveis a todas as hipoacuteteses indefinidamente mas sim pelo exame

apurado de cada situaccedilatildeo faacutetica1048

425 Nepotismo Cruzado

Uma quinta criacutetica agrave Suacutemula eacute quanto agrave vedaccedilatildeo sobre o nepotismo cruzado

pois o mesmo se qualifica por designaccedilotildees reciacuteprocas realizadas mediante acordo entre

as autoridades nomeante ou seja uma autoridade nomeia parente de outra em troca

desta nomear tambeacutem parente seu O que significa dizer que quando uma autoridade

de um poder tem parente nomeado em cargo comissionado de outro poder sem que

tenha havido designaccedilatildeo reciacuteproca natildeo existe nepotismo

Entatildeo se o prefeito de um municiacutepio nomeia parente de um vereador

presidente da Cacircmara Municipal para exercer as funccedilotildees de um cargo comissionado no

poder executivo municipal isto natildeo eacute nepotismo a uma porque o vereador ndash presidente

da Cacircmara - parente - natildeo eacute a autoridade nomeante de seu parente e a duas porque ele

natildeo nomeou nenhum parente do prefeito1049

natildeo configurando o nepotismo cruzado

Outro enfoque a se levantar eacute que para se configurar o dito nepotismo

cruzado haacute de ser provado o ajuste o que na praacutetica eacute extremamente complexo sendo

―aacuterduo identificaacute-los e sobretudo comprovar a existecircncia deles pois podem assumir

1048 ANTONIO Alice Barroso O nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante nordm13 do STF criacuteticas e proposiccedilotildees

Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM Belo Horizonte v 10 n31 janmar 2009 p 83 1049 O que configuraria designaccedilatildeo reciacuteproca e portanto nepotismo cruzado

191

formas extremamente complexas e contornos tecircnues a fim de resguardar a sua

praacutetica1050

Ainda vale questionar e se fossem feitas sucessivas nomeaccedilotildees ―entre trecircs ou

mais autoridades nomeantes sem cruzamento Como no caso de ―um Desembargador

o Governador e um Conselheiro do TCE que possuem cargos comissionados para

serem preenchidos por sua nomeaccedilatildeo Pois bem os trecircs em conluio decidem que o

Desembargador nomearaacute a esposa do Governador que por seu turno nomearaacute o

sobrinho do Conselheiro do TCE que por sua vez nomearaacute o neto do Desembargador

Sendo sucessivas as nomeaccedilotildees natildeo se enquadrariam nas hipoacuteteses do que

dispotildee a suacutemula vinculante ora em comento mesmo havendo conluio pois pela

―interpretaccedilatildeo literal da Suacutemula Vinculante 13 por si soacute nada pode fazer1051

Assim se o intento do STF foi pela SV n13 moralizar a Administraccedilatildeo

Puacuteblica natildeo logrou ecircxito jaacute que aleacutem de radicalizar por um lado por outro sua

redaccedilatildeo deixou agrave margem vaacuterias outras situaccedilotildees imorais1052

43 Consequecircncias de seu sentido e alcance

431 Reclamaccedilatildeo n 6838DF

Logo apoacutes a ediccedilatildeo da SV n13 o entatildeo Procurador-Geral da Repuacuteblica

Antocircnio Fernando Barros e Silva de Souza ingressou com a Reclamaccedilatildeo n 68381053

com pedido de liminar ao Supremo Tribunal Federal em face do Enunciado n 13 do

1050 ARAKAKI Allan Thiago Barbosa e ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo

Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 p 119 1051 Ibidem p118 1052 A suacutemula vinculante eacute tatildeo geneacuterica e abstrata quanto uma lei E como norma geneacuterica ela natildeo consegue prever

todos os casos possiacuteveis de ocorrer no comeacutercio cotidiano da vida Por sua proacutepria natureza eacute impotente para

fornecer por si soacute todas as soluccedilotildees reclamadas pela ordem juriacutedica (Lima 195595) natildeo se podendo exigir do STF

(no caso das SVlsquos) ou do legislador (no caso da lei) uma inatingiacutevel onisciecircncia Afirma-se com frequecircncia como

ensina Lumia (200386-87) que a completude e a coerecircncia satildeo caracteriacutesticas essenciais do ordenamento juriacutedico

mas a realidade eacute bem diferente porque nem sempre o discurso do legislador eacute imune agraves contradiccedilotildees nem a previsatildeo

normativa pode exaurir a casuiacutestica que a experiecircncia ou seja a proacutepria vida na multiplicidade das suas dimensotildees

―inventa em um processo sempre aberto e imprevisiacutevel Afirmar o contraacuterio seria como fechar os olhos diante da

realidade do direito em nome de um ideal que eacute proacuteprio de certa ideologia juspositivista mas que se procuraria em

vatildeo realizar em qualquer ordenamento historicamente existente No mais o proacuteprio legislador natildeo ignora essa

realidade no momento em que dita as diretivas para dirimir de fato os conflitos de normas e para preencher as

lacunas do ordenamento Sempre haveraacute diz Hart (2009 p 351) em qualquer sistema juriacutedico casos natildeo

regulamentados juridicamente sobre os quais em certos momentos o direito natildeo pode fundamentar uma decisatildeo em

nenhum sentido mostrando-se o direito portanto parcialmente indeterminado ou incompleto O instituto da SV natildeo

tem forccedila orgacircnica ou elasticidade ilimitada para abranger todos os casos concretos O proacuteprio constituinte derivado

sabedor dessa incompletude loacutegica da lei ou da norma escrita ao atribuir ao STF o poder de editar SVlsquos facultou-lhe

a possibilidade de ―proceder agrave sua revisatildeo ou cancelamento na forma estabelecida em lei (CF art 103-A caput) A

faculdade de revisatildeo da SV eacute claramente o reconhecimento de que o entendimento sumular vinculante natildeo abarca

todas as situaccedilotildees concretas da vida RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula

Vinculante nordm 13 In Revista de Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 224 1053 Em 21102008

192

Senado que dispocircs sobre o nepotismo de forma diversa do explicitado pela Suacutemula

Vinculante n 131054

Contudo a mesma foi julgada como prejudicada1055

em razatildeo da revogaccedilatildeo do

ato impugnado pelo Ato n 49 da Mesa do Senado1056

Mas tendo em vista que o Procurador-Geral da Repuacuteblica dispocircs no parecer da

Reclamaccedilatildeo que eram ―muacuteltiplas as situaccedilotildees que podiam ―provocar duacutevidas ao

aplicar-se do enunciado da Suacutemula Vinculante n 13 sendo imprescindiacutevel a realizaccedilatildeo

1054 ―DECISAtildeO DA COMISSAtildeO DIRETORADecide aprovar o Enunciado nordm 13 da Advocacia do Senado Federal

editado com base no Ato da Comissatildeo Diretora nordm 7 de 2008 considerando a relevacircncia e a repercussatildeo da mateacuteria e

a necessidade de que seus efeitos sejam estendidos aos oacutergatildeos administrativos bem como aos gabinetes

parlamentares desta Casa LegislativaA COMISSAtildeO DIRETORA DO SENADO FEDERAL no uso de suas

competecircncias regimentais e considerando a relevacircncia e a repercussatildeo da mateacuteria bem como a necessidade de que

seus efeitos sejam estendidos natildeo soacute aos oacutergatildeos administrativos mas tambeacutem aos gabinetes parlamentares desta Casa

Legislativa RESOLVEArt 1ordm Fica aprovado o Enunciado nordm 13 da Advocacia do Senado Federal anexo a esta

DecisatildeoArt 2ordm O Enunciado de que trata esta Decisatildeo teraacute efeito normativo e seraacute aplicaacutevel a todos os oacutergatildeos

administrativos e aos gabinetes parlamentares do Senado FederalArt 3ordm A Advocacia do Senado disponibilizaraacute a

todos os gabinetes e aos oacutergatildeos administrativos o texto do Enunciado nordm 13Art 4ordm Este Ato entra em vigor na data

de sua publicaccedilatildeoSala da Comissatildeo Diretora em 14 de outubro de 2008 Garibaldi Alves Filho - Alvaro Dias -

Efraim Morais - Gerson Camata - Ceacutesar Borges - Magno Malta - Papaleacuteo Paes - Flexa Ribeiro ENUNCIADO Nordm 13

Para a aplicaccedilatildeo da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF no acircmbito do Senado Federal observar-se-atildeo as seguintes

orientaccedilotildees da Advocacia do Senado FederalI) eacute vedado o exerciacutecio de cargo em comissatildeo por cocircnjuge companheiro

ou parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive dos Senadores e dos servidores

investidos em cargos em comissatildeo ou funccedilotildees comissionadas de direccedilatildeo chefia ou assessoramento representados

pelos siacutembolos FC-8 FC-9 e FC-10 que teriam presumidamente por forccedila da Suacutemula nordm 13 o poder de influenciar

na respectiva nomeaccedilatildeoII) a vedaccedilatildeo para a nomeaccedilatildeo de parentes por afinidade na linha colateral limita-se aos

irmatildeos do cocircnjuge ou companheiro por forccedila do que dispotildee o sect 1ordm do art 1595 do Coacutedigo Civil Brasileiro conforme

entendimento constante do Parecer nordm 2212008-ADVOSFIII) a proibiccedilatildeo contida na Suacutemula Vinculante nordm 13 natildeo

alcanccedila os servidores ocupantes de cargos efetivos do Senado Federal vedada em qualquer caso a nomeaccedilatildeo ou a

designaccedilatildeo para cargo ou funccedilatildeo de confianccedila de parentes ateacute o 2ordm grau na linha reta ou colateral inclusive por

afinidade para servir sob a chefia imediata de Senador ou servidor investido em cargo ou funccedilatildeo de direccedilatildeo chefia

ou assessoramento conforme o disposto no inciso VIII do art 117 da Lei nordm 811290III) a proibiccedilatildeo contida na

Suacutemula Vinculante nordm 13 natildeo alcanccedila os servidores ocupantes de cargos efetivos do Senado Federal vedada em

qualquer caso a nomeaccedilatildeo ou a designaccedilatildeo para cargo ou funccedilatildeo de confianccedila de parentes ateacute o 2ordm grau na linha reta

ou colateral inclusive por afinidade para servir sob a chefia imediata de Senador ou servidor investido em cargo ou

funccedilatildeo de direccedilatildeo chefia ou assessoramento conforme o disposto no inciso VIII do art 117 da Lei nordm 811290IV) a

proibiccedilatildeo constante da Suacutemula Vinculante nordm 13 tambeacutem natildeo abrange o cocircnjuge companheiro ou parente nomeado

em data anterior ao ingresso do Senador ou ao exerciacutecio do cargo em comissatildeo pelo servidor gerador da

incompatibilidade nem aqueles cuja uniatildeo estaacutevel ou casamento houver ocorrido posteriormente ao exerciacutecio dos

respectivos cargos ou funccedilotildees vedada em qualquer caso a subordinaccedilatildeo a que se refere o item IIIV) o viacutenculo

conjugal ou de parentesco com Senador ou servidor investido em cargo ou funccedilatildeo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento jaacute falecidos ou aposentados natildeo gera a incompatibilidade de que trata a Suacutemula Vinculante nordm 13VI)

eacute vedado o ajuste de nomeaccedilotildees reciacuteprocas para o exerciacutecio de cargos em comissatildeo ou funccedilotildees comissionadas por

cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive dos

Senadores e dos servidores investidos em cargos ou funccedilotildees de direccedilatildeo chefia ou de assessoramentoVII) a

exoneraccedilatildeo motivada pela aplicaccedilatildeo da Suacutemula nordm 13 vincula o respectivo ato administrativo impondo-se a

observacircncia do devido processo legal assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa antes que se ultime a

exoneraccedilatildeoVIII) o nomeado ou designado para cargo em comissatildeo deveraacute declarar por escrito que natildeo tem relaccedilatildeo

familiar ou de parentesco que importe praacutetica de nepotismo vedada pela Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF observadas

as orientaccedilotildees contidas neste Enunciado 1055 Em 150609 por intermeacutedio de Despacho monocraacutetico do Relator Ministro Cezar Peluso 1056 REVOGA DECISAtildeO DA COMISSAtildeO DIRETORA -ATO DO PRESIDENTE Nordm 49 de 2008 O PRESIDENTE

DO SENADO FEDERAL no uso de suas atribuiccedilotildees regimentais e regulamentares e considerando os termos da

RECLAMACcedilAtildeO nordm 6838 protocolada pelo Senhor Procurador-Geral da Repuacuteblica no Supremo Tribunal Federal

RESOLVE ad referendum da Comissatildeo Diretora DECIDE REVOGAR a Decisatildeo da Comissatildeo Diretora publicada

no Boletim Administrativo de Pessoal nordm 4072 de 15 de outubro de 2008 que aprovou o Enunciado nordm 13 da

Advocacia do Senado FederalSenado Federal 21 de outubro de 2008 Senador Garibaldi Alves Filho Presidente do

Senado Federal

193

de explicaccedilotildees sobre os elementos da mesma o que contribuiria ―de modo significativo

para aprimorar a concretizaccedilatildeo dos comandos nela inseridos1057

faz-se necessaacuterio

analisa-lo de modo pormenorizado pois dele se extrai as falhas dispostas no enunciado

da SV n13 anteriormente tratadas

Assim o PGR embora afirme em seu parecer que ―desde o iniacutecio de nossa

histoacuteria poliacutetica o nepotismo eacute fruto da renitente e odiosa confusatildeo entre as esferas

puacuteblica e privada tendo reflexos mais acentuados na Repuacuteblica sobretudo quando o

poder proveniente desta res publica eacute exercido pelo povo sendo ―um fardo a ancorar a

efetividade da construccedilatildeo concreta da democracia no paiacutes1058

aponta duacutevidas acerca da

redaccedilatildeo do enunciado sumular

Nesse diapasatildeo suscita sobre a possibilidade de os servidores efetivos serem

designados para o exerciacutecio de funccedilatildeo ou cargo em comissatildeo desde que natildeo haja

viacutenculo hieraacuterquico direto entre os parentes1059

ressalta que se faz necessaacuterio delimitar

o acircmbito de abrangecircncia da proibiccedilatildeo que deve ser o oacutergatildeo ou a entidade puacuteblica a qual

pertenccedila a autoridade nomeante ou contratante1060

que a proibiccedilatildeo sumular natildeo deve

aplicada a aqueles casos de chefia e assessoramento em que o servidor natildeo deteacutem poder

de decisatildeo ou posiccedilatildeo hieraacuterquica imediatamente superior agrave do servidor com quem

tenha parentesco1061

e ao alegar que eacute indispensaacutevel deixar claro que estatildeo

1057

BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 6838DF Relator Ministro Cezar Peluso julgada

em 150609 e publicada no DJe-116 de 24062009Texto do parecer do PGR fl 175184 Disponiacutevel em

httpnoticiaspgrmpfmpbr Acesso em 030314 1058 Trecho do Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr 1059 ―O entendimento de se adotar interpretaccedilatildeo uniforme para a aplicaccedilatildeo do enunciado da Suacutemula Vinculante n 13

em relaccedilatildeo ao servidor que ingressou no servidor puacuteblico mediante concurso puacuteblico e por isso eacute titular de cargo

efetivo e nessa condiccedilatildeo foi designado para o exerciacutecio de funccedilatildeo de confianccedila ou funccedilatildeo gratificadalsquo cujo o

exerciacutecio eacute exclusivo por servidores ocupantes de cargo efetivo () ou de cargo em comissatildeo que deve ser ocupado

prioritariamente por servidores de carreira na hipoacutetese de a respectiva funccedilatildeo de confianccedila ou o respectivo cargo em

comissatildeo guardar compatibilidade com o cargo efetivo de que o servidor eacute titular e ausente o viacutenculo hieraacuterquico

direto com o eventual parente integrante da Administraccedilatildeo Puacuteblica em relaccedilatildeo ao servidor que natildeo eacute titular do cargo

efetivo e foi designado para ocupar cargo em comissatildeo desprezando a flagrante diversidade faacutetica e juriacutedica no que

se refere ao ingresso de cada um no serviccedilo puacuteblico merece detida reflexatildeo e reclama esclarecimento dessa Corte

Suprema pois a aplicaccedilatildeo uniforme e linear do enunciado agraves duas situaccedilotildees pode albergar hipoacuteteses que se afastam

do conceito de nepotismo Trecho do Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em

httpnoticiaspgrmpfmpbr 1060 ―A expressatildeo na mesma pessoa juriacutedicalsquo como o ente federal em sua totalidade (Uniatildeo Estado Distrito Federal

e Municiacutepios) tem gerado assimetria horizontes e verticais na aplicaccedilatildeo do enunciado da Suacutemula Vinculante a

alcanccedilar situaccedilotildees que substancialmente natildeo configuram nepotismo Se a expressatildeo oacutergatildeo eacute insuficiente para

combater eficazmente situaccedilotildees de nepotismo a identificaccedilatildeo da expressatildeo mesma pessoa juriacutedica como ente federal

em sua totalidade tem potencial de identificar como ilegiacutetimas situaccedilotildees que natildeo estatildeo maculadas pelo viacutecio em

questatildeo A delimitaccedilatildeo considerando os Poderes do Estado (Executivo Legislativo e Judiciaacuterio) e mesmo o oacutergatildeo

autocircnomo Ministeacuterio Puacuteblico compreendendo-se em conjunto ou individualmente os entes federados eacute uma das

alternativas para que se possa superar a insuficiecircncia ou o excesso das interpretaccedilotildees aventadas Trecho do Parecer do

PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr 1061 ― O tratamento uniforme e linear do enunciado quando a suposta situaccedilatildeo funcional vedada decorre de parentesco

ou de matrimocircnio com ocupante de funccedilatildeo de confianccedila ou de cargo em comissatildeo com atribuiccedilotildees de direccedilatildeo ou de

chefia ou de assessoramento () Se eacute incontroversa a caracterizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de nepotismo quando um dos

servidores tem atribuiccedilotildees de direccedilatildeo que compreende o poder de decisatildeo o mesmo natildeo se pode dizer quando se

194

compreendidas todas as formas legais do viacutenculo familiar natural ou civil em linha

reta colateral ou por afinidade nos termos do Coacutedigo Civil lembra que a relaccedilatildeo de

parentesco ocorrida apoacutes a ocupaccedilatildeo do cargo ou funccedilatildeo natildeo caracteriza nepotismo1062

Assim o PGR afirma que mesmo que a revogaccedilatildeo do ato questionado tenha

gerado a perda do objeto da reclamaccedilatildeo

― () a situaccedilatildeo veiculada na reclamaccedilatildeo pela sua novidade e pela sua ampla

repercussatildeo no serviccedilo puacuteblico em geral transcende os limites do ato

normativo questionado visto que eacute do conhecimento puacuteblico que o

enunciado da Suacutemula Vinculante n 13 natildeo apenas no Senado Federal mas

tambeacutem em todas as esferas do poder puacuteblico tem recebido interpretaccedilatildeo

divergente e motivado por isso mesmo sua aplicaccedilatildeo de modo natildeo uniforme

situaccedilatildeo que estaacute a reclamar uma deliberaccedilatildeo dessa Suprema Corte que eacute a

uacutenica com autoridade para delimitar seu preciso alcance1063

Assim tendo em vista o fato de que ―natildeo se pode querer aplicar a Suacutemula

vinculante 13 em sua literalidade pois isso poderia gerar equiacutevocos os quais poriam em

risco o caraacuteter sem jaccedila dos princiacutepios constitucionais1064

o PGR asseverou em seu

parecer que ―se o enunciado da Suacutemula Vinculante pode ser editado de ofiacutecio () modo

pelo qual tambeacutem pode-se verificar a sua eventual revisatildeo ou ateacute mesmo o seu

cancelamento nada impede que essa Corte Suprema defina de ofiacutecio a sua precisa

compreensatildeo1065

E entatildeo conclui que como ―lhe compete atuar no sentido de impedir a

persistecircncia de praacuteticas que agridem o enunciado da Suacutemula Vinculante n 13 eacute

fundamental que o Ministeacuterio Puacuteblico tenha conhecimento dos paracircmetros precisos de

sua compreensatildeo para que possa exercer com seguranccedila as atribuiccedilotildees e requereu

―independente do natildeo conhecimento da Reclamaccedilatildeo que o STF se pronunciasse sobre

a SV n13

trata de chefia que normalmente encerra atribuiccedilotildees circunscritas a departamentos burocraacuteticos quase sempre

subordinados a oacutergatildeos de direccedilatildeo ou exerce funccedilotildees de assessoramento logicamente desprovidas de conteuacutedo

deliberativo A duacutevida se instala porque alguns sustentam que na configuraccedilatildeo da situaccedilatildeo de nepotismo natildeo pode ser

irrelevante em relaccedilatildeo a um servidor a presenccedila do poder de decidir ou a capacidade de influenciar de modo

contundente a praacutetica de um ato direcionado agrave investidura em funccedilatildeo de confianccedila ou em cargo em comissatildeo

Trecho do Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr 1062 ―As situaccedilotildees licitamente preacute-constituiacutedas e os eventuais impedimentos supervenientes de que o casamento

subsequente eacute um dos exemplos a despeito de natildeo explicitadas na Suacutemula Vinculante parecem encontrar conforto

numa compreensatildeo teleoloacutegica do enunciado em questatildeo bem como dos seus precedentes circunstancia que justifica

um pronunciamento capaz de afastar eventual duacutevida Tambeacutem merece explicitaccedilatildeo a eventual relevacircncia da

existecircncia de vinculo conjugal ou parentesco com membro de poder ou autoridades jaacute aposentados Trecho do

Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr 1063 Trecho do Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr 1064 OLIVEIRA George Feliacutecio Gomes Da anaacutelise da Suacutemula vinculante 13 do Supremo Tribunal Federal alcance

precedentes e motivos determinantes da norma que veda a praacutetica do nepotismo no Brasil Revista dos Tribunais ndash

RT ano 98 v 890 dez2009 p9-32 p31 1065 Trecho do Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr

195

Entatildeo o Ministro Cezar Peluso considerou a necessidade de se definir

claramente os limites da vedaccedilatildeo ao nepotismo no acircmbito da Administraccedilatildeo Puacuteblica e

se pronunciou pela definiccedilatildeo pela Corte de ofiacutecio quanto agrave ―precisa compreensatildeo do

enunciado da Suacutemula Vinculante1066

E ao ser noticiado na miacutedia que o entatildeo presidente do STF Cezar Peluso o

mesmo que deu ensejo agrave SV n13 teria nomeado um casal para cargos comissionados no

STF o proacuteprio tribunal divulgou em 23 de junho de 2010 que

As justas e fundadas ponderaccedilotildees de entatildeo Procurador-Geral da Repuacuteblica

dr Antocircnio Fernando Barros e Silva de Souza sobre duacutevidas suscitadas pelo

texto da referida Suacutemula nos autos da Reclamaccedilatildeo n 6838 natildeo puderam na

ocasiatildeo ser ali conhecidas porque diante da revogaccedilatildeo do ato que a

provocara o processo ficou prejudicado e em consequecircncia teve de ser

extinto sem a apreciaccedilatildeo do meacuterito Para atender tais ponderaccedilotildees e

propoacutesitos igualmente manifestados por alguns Ministros da Corte bem

como para evitar absurdos que a interpretaccedilatildeo superficial e desavisada da

Suacutemula pode ensejar o Presidente do STF estaacute encaminhando os senhores

Ministros proposta fundamentada de revisatildeo da redaccedilatildeo da mesma Suacutemula

para restrigiacute-la aos casos verdadeiros de nepotismo proibidos pela

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica O teor da proposta seraacute levado ao conhecimento

da imprensa e do puacuteblico apoacutes a apreciaccedilatildeo dos Senhores Ministros1067

Todavia ateacute o atual momento nada aconteceu embora aleacutem da Procuradoria da

Repuacuteblica tambeacutem tenha se manifestado concretamente sobre a SV n13 o Poder

Executivo federal que publicou o Decreto Presidencial n 6906 de 21 de julho de

2009 por meio do qual estabeleceu a obrigatoriedade de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees

sobre viacutenculos familiares pelos Ministro de Estado ocupante de cargo de natureza

especial e ocupante de cargo do Grupo-Direccedilatildeo e Assessoramento Superiores1068

a fim

de preliminarmente ―mapear a ocorrecircncia do nepotismo em seu acircmbito como

1066 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 6838DF Relator Ministro Cezar Peluso julgada

em 150609 e publicada no DJe-116 de 24062009 Item 3 da decisatildeo monocraacutetica proferida Disponiacutevel em

wwwstfjusbr Acesso em 310713 1067 FILHO Joatildeo Pereira de Andrade A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites

de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia -

Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 143 1068 Art 1o Eacute obrigatoacuteria a apresentaccedilatildeo de declaraccedilatildeo acerca da existecircncia de viacutenculo matrimonial de

companheirismo ou de parentesco consanguiacuteneo ou afim em linha reta ou colateral ateacute o terceiro grau conforme

disposto no Anexo I com ocupantes de cargos em comissatildeo ou funccedilotildees de confianccedila no acircmbito do Poder Executivo

federal pelos agentes puacuteblicos a seguir indicados que se encontrem em exerciacutecio na data de publicaccedilatildeo deste

Decreto I - Ministro de Estado II - ocupante de cargo de natureza especial e III - ocupante de cargo do Grupo-

Direccedilatildeo e Assessoramento Superiores Paraacutegrafo uacutenico A declaraccedilatildeo referida no caput deveraacute incluir tambeacutem

informaccedilatildeo sobre a existecircncia de viacutenculo matrimonial de companheirismo ou de parentesco consanguiacuteneo ou afim

em linha reta ou colateral ateacute o terceiro grau com estagiaacuterio terceirizado ou consultor contratado por organismo

internacional que prestem serviccedilos para o oacutergatildeo ou entidade da administraccedilatildeo puacuteblica direta autaacuterquica ou

fundacional onde o agente exerce atividade

196

disposiccedilatildeo legal preacutevia e necessaacuteria a viabilizar posterior ato do chefe do poder

executivo a delimitar a questatildeo no respectivo acircmbito1069

432 Decreto Presidencial n 720310

Diante do resultado quanto agrave ocorrecircncia do nepotismo nos diversos oacutergatildeos e

entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal foi publicado o Decreto Presidencial n

720310 que determina a vedaccedilatildeo do nepotismo no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica

federal1070

Assim tal normativa uniformizou a proibiccedilatildeo da praacutetica do nepotismo nos

oacutergatildeos e entidades do poder executivo federal e embora contenha disposiccedilotildees de

alcance mais restrito que da Suacutemula Vinculante n 13 do STF apresenta normas mais

detalhadas que esta pois natildeo soacute veda mas tambeacutem especifica as condutas proibidas os

procedimentos a serem tomados e as exceccedilotildees

Em seu artigo 2ordm estabelece a configuraccedilatildeo do parentesco1071

conforme

disposto na Suacutemula Vinculante nordm 13 o que significa que no Poder Executivo Federal a

vedaccedilatildeo do nepotismo em comparaccedilatildeo com o disposto pelo artigo 117 VIII da Lei nordm

811290 foi ampliada abarcando tambeacutem os tios e sobrinhos que figuram na linha

colateral consanguiacutenea de terceiro grau

Ainda algumas das disposiccedilotildees do Decreto vieram a ―explicar os dispositivos

da Suacutemula como o artigo 3ordm que aleacutem de esclarecer que a ―autoridade nomeante

disposta na Suacutemula Vinculante eacute o ―Ministro de Estado ou autoridade administrativa

correspondente tambeacutem explanou que ―pessoa juriacutedica eacute ―cada oacutergatildeo ou entidade e

ainda veda o nepotismo aos parentes do Presidente e Vice-Presidente qualificando

diferentemente da SV n13 o nepotismo pelos agentes poliacuteticos natildeo soacute nomeados mas

tambeacutem eleitos1072

Outrossim o Decreto dispotildee neste mesmo artigo 3ordm que eacute nepotismo natildeo soacute a

nomeaccedilatildeo de familiares em cargos ou funccedilotildees de confianccedila mas tambeacutem sua

1069 E ainda determinou no seu artigo 3ordm a anaacutelise das declaraccedilotildees pela Controladoria-Geral da Uniatildeo ndash CGU

visando a identificar os possiacuteveis casos de nepotismo e posterior adoccedilatildeo de medidas nos termos de ato normativo a

ser editado pelo Poder Executivo Federal 1070 BRASIL Decreto n 7203 de 04062010 que dispotildee sobre a vedaccedilatildeo do nepotismo no acircmbito da administraccedilatildeo

puacuteblica federal Disponiacutevel em wwwingovbr

―Art 1o A vedaccedilatildeo do nepotismo no acircmbito dos oacutergatildeos e entidades da administraccedilatildeo puacuteblica federal direta e indireta

observaraacute o disposto neste Decreto 1071 ldquoArt 2o Para os fins deste Decreto considera-se () III - familiar o cocircnjuge o companheiro ou o parente em

linha reta ou colateral por consanguinidade ou afinidade ateacute o terceiro grau 1072 ―Art 3o No acircmbito de cada oacutergatildeo e de cada entidade satildeo vedadas as nomeaccedilotildees contrataccedilotildees ou designaccedilotildees de

familiar de Ministro de Estado familiar da maacutexima autoridade administrativa correspondente ou ainda familiar de

ocupante de cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila de direccedilatildeo chefia ou assessoramento para ()sect 2o As

vedaccedilotildees deste artigo estendem-se aos familiares do Presidente e do Vice-Presidente da Repuacuteblica e nesta hipoacutetese

abrangem todo o Poder Executivo Federal

197

contrataccedilatildeo na modalidade de contrataccedilatildeo temporaacuteria direta estaacutegio sem processo

seletivo e ainda contrataccedilatildeo direta de empresa que seja de titularidade de parente do

servidor puacuteblico1073

Observa-se que todas as disposiccedilotildees satildeo pertinentes agraves contrataccedilotildees diretas ou

seja aquelas natildeo precedidas de processo seletivo tendo em vista que soacute nesta

modalidade eacute possiacutevel haver a ―indicaccedilatildeo o ―favoritismo e eacute isto que o Decreto veio a

proibir

E pelo sect 1ordm do artigo 3ordm veda qualquer ato que caracterize ajuste para burlar as

restriccedilotildees ao nepotismo no mesmo ensejo da Suacutemula ao dispor sobre ―designaccedilotildees

reciacuteprocas proibindo portanto o designado ―nepotismo cruzado1074

Amiuacutede o Decreto tambeacutem estabelece no seu artigo 4ordm as exceccedilotildees1075

quanto

aos casos de nepotismo particularizando situaccedilotildees que natildeo o configuram tratando cada

caso de acordo com sua especificidade acertada e diferentemente da Suacutemula Vinculante

em questatildeo pois apoacutes estudo praacutetico dos casos concretos levantados a partir do Decreto

nordm 690690 por meio do qual pode mapear todos os casos de suposto nepotismo no

acircmbito da Administraccedilatildeo Puacuteblica eacute que Poder Executivo Federal excepcionou situaccedilotildees

que natildeo configuram nepotismo

Pela primeira vez desde agrave disposiccedilatildeo Lei nordm 811290 tambeacutem trouxe no seu

artigo 5ordm determinaccedilotildees quanto ao procedimento apuratoacuterio1076

e ainda pelo seu artigo

1073 Art 3o No acircmbito de cada oacutergatildeo e de cada entidade satildeo vedadas as nomeaccedilotildees contrataccedilotildees ou designaccedilotildees de

() para ()I - cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedilaII - atendimento a necessidade temporaacuteria de excepcional

interesse puacuteblico salvo quando a contrataccedilatildeo tiver sido precedida de regular processo seletivo eIII - estaacutegio salvo se

a contrataccedilatildeo for precedida de processo seletivo que assegure o princiacutepio da isonomia entre os concorrentes

()sect 3o Eacute vedada tambeacutem a contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo por oacutergatildeo ou entidade da administraccedilatildeo puacuteblica

federal de pessoa juriacutedica na qual haja administrador ou soacutecio com poder de direccedilatildeo familiar de detentor de cargo em

comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila que atue na aacuterea responsaacutevel pela demanda ou contrataccedilatildeo ou de autoridade a ele

hierarquicamente superior no acircmbito de cada oacutergatildeo e de cada entidade 1074 ―()sect 1o Aplicam-se as vedaccedilotildees deste Decreto tambeacutem quando existirem circunstacircncias caracterizadoras de

ajuste para burlar as restriccedilotildees ao nepotismo especialmente mediante nomeaccedilotildees ou designaccedilotildees reciacuteprocas

envolvendo oacutergatildeo ou entidade da administraccedilatildeo puacuteblica federal 1075 ―Art 4ordm Natildeo se incluem nas vedaccedilotildees deste Decreto as nomeaccedilotildees designaccedilotildees ou contrataccedilotildees

I - de servidores federais ocupantes de cargo de provimento efetivo bem como de empregados federais permanentes

inclusive aposentados observada a compatibilidade do grau de escolaridade do cargo ou emprego de origem ou a

compatibilidade da atividade que lhe seja afeta e a complexidade inerente ao cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo

comissionada a ocupar aleacutem da qualificaccedilatildeo profissional do servidor ou empregadoII - de pessoa ainda que sem

vinculaccedilatildeo funcional com a administraccedilatildeo puacuteblica para a ocupaccedilatildeo de cargo em comissatildeo de niacutevel hieraacuterquico mais

alto que o do agente puacuteblico referido no art 3ordm

III - realizadas anteriormente ao iniacutecio do viacutenculo familiar entre o agente puacuteblico e o nomeado designado ou

contratado desde que natildeo se caracterize ajuste preacutevio para burlar a vedaccedilatildeo do nepotismo ou IV - de pessoa jaacute em

exerciacutecio no mesmo oacutergatildeo ou entidade antes do iniacutecio do viacutenculo familiar com o agente puacuteblico para cargo funccedilatildeo

ou emprego de niacutevel hieraacuterquico igual ou mais baixo que o anteriormente ocupado 1076 ― Art 5ordm Cabe aos titulares dos oacutergatildeos e entidades da administraccedilatildeo puacuteblica federal exonerar ou dispensar agente

puacuteblico em situaccedilatildeo de nepotismo de que tenham conhecimento ou requerer igual providecircncia agrave autoridade

encarregada de nomear designar ou contratar sob pena de responsabilidadeParaacutegrafo uacutenico Cabe agrave Controladoria-

Geral da Uniatildeo notificar os casos de nepotismo de que tomar conhecimento agraves autoridades competentes sem prejuiacutezo

198

6ordm explicita a necessidade de apuraccedilatildeo dos casos em que o familiar seja ―indicado por

agente puacuteblico para ser contratado por empresa prestadora de serviccedilos terceirizados ou

contrato de outra forma natildeo prevista no Decreto englobando aqui natildeo soacute o servidor

ocupante de cargo comissionado e a autoridade mas todos os demais1077

Por fim visando tratar de maneira especiacutefica do assunto o Decreto no seu

artigo 8ordm determina agrave ControladoriandashGeral da Uniatildeo1078

a competecircncia para dirimir as

duacutevidas quanto ao tema1079

Diante deste contexto se observa que a forma como a mateacuteria foi regulada no

decreto veio a explicar e delimitar o disposto anteriormente na SV n13 comprovando

portanto que ―o desacerto do STF em procurar chamar para si atraveacutes da ediccedilatildeo de um

enunciado de suacutemula vinculante a tarefa de regulamentar tema envolto de tantas

particularidades1080

provocou ―a necessidade de um tratamento mais minudente

detalhado do tema a fim de facilitar a anaacutelise do assunto no caso concreto

433 Multiplicidade de Reclamaccedilotildees

Mas o impacto da SV n13 natildeo parou aiacute vez que provocou no proacuteprio STF

muacuteltiplos processos sendo ―objeto de interpretaccedilotildees diversas em julgados que ateacute

―estabeleceram exceccedilotildees agrave proibiccedilatildeo anunciada ou restringiram seus limites1081

Nesse ensejo o STF

() assentou em diversos julgados reservar-se a apurar caso a caso situaccedilotildees

de abuso e falta de razoabilidade no provimento de cargos poliacuteticos1082

a

apreciar em cada caso eventual nepotismo cruzado e apurar a ausecircncia de

qualificaccedilatildeo teacutecnica dos nomeados como indicativo de fraude agrave lei e aos

princiacutepios da impessoalidade moralidade e eficiecircncia na Administraccedilatildeo

da responsabilidade permanente delas de zelar pelo cumprimento deste Decreto assim como de apurar situaccedilotildees

irregulares de que tenham conhecimento nos oacutergatildeos e entidades correspondentes 1077 ―Art 6ordm Seratildeo objeto de apuraccedilatildeo especiacutefica os casos em que haja indiacutecios de influecircncia dos agentes puacuteblicos

referidos no art 3oI - na nomeaccedilatildeo designaccedilatildeo ou contrataccedilatildeo de familiares em hipoacuteteses natildeo previstas neste

DecretoII - na contrataccedilatildeo de familiares por empresa prestadora de serviccedilo terceirizado ou entidade que desenvolva

projeto no acircmbito de oacutergatildeo ou entidade da administraccedilatildeo puacuteblica federal Estes casos natildeo configuram efetivamente

nepotismo mas tambeacutem satildeo similarmente proibidos 1078 Oacutergatildeo do Poder Executivo Federal vinculado diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica cuja finalidade eacute garantir a

transparecircncia dos atos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal por meio de controle correiccedilatildeo e combate agrave corrupccedilatildeo 1079ldquoArt 8o Os casos omissos ou que suscitem duacutevidas seratildeo disciplinados e dirimidos pela Controladoria-Geral da

Uniatildeo 1080 ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira Andrade A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e

os limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e

Democracia - Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 146 1081 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico Belo

Horizonte Foruacutem ano 11 ndash n 41 abrjun 2013 p 9-52 p11 1082 De outro norte natildeo se pode olvidar que o proacuteprio STF jaacute criou a exceccedilatildeo em relaccedilatildeo aos cargos poliacuteticos () se

pode verificar eacute que de fato a Suacutemula Vinculante 13 foi um grande marco mas seria oniacuterico crer no fim do

nepotismo apenas com a ediccedilatildeo do referido instrumento pelo STF ARAKAKIAllan Thiago Barbosa e ORTIZ

Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash

RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 abrjun 2011 p 118

199

Puacuteblica ( STF Rcl n 8625MG Rel Min Ellen Gracie () Rcl n 6938

MCMG Rel Min Carmen Luacutecia () Trata-se de orientaccedilatildeo evidentemente

improacutepria para uma Suprema Corte que natildeo deve se ocupar de situaccedilotildees de

varejo do cotidiano da gestatildeo de pessoal da maacutequina puacuteblica cumprindo-lhe

antes fixar criteacuterios gerais e objetivos de aplicaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal

na mateacuteria1083

Desta feita sua consequecircncia foi tatildeo claramente oposta ao seu objetivo qual

seja a uniformizaccedilatildeo das decisotildees sobre a mateacuteria controvertida evidenciando sua

ineficiecircncia em cumpri-lo concretamente que o proacuteprio tribunal editor da Suacutemula

passou a rever a sua decisatildeo ao julgar contrariamente ao seu disposto diversas

reclamaccedilotildees interpostas e ainda firmou por meio destas o entendimento de que cada

caso deveria ser analisado de forma individualizada e subjetiva

Dentre as diversas reclamaccedilotildees1084

destaca-se a n 8625MG onde a Ministra

Ellen Gracie relatora da Rcl 6650 MC- AgRPR julgou diferentemente desta e

afirmou que o caso concreto tratado na Rcl 8625MG de nomeaccedilatildeo de parentes do

prefeito de Arapoatilde para os cargos de Secretaacuterios Municipais de Financcedilas de Sauacutede de

Obras Habitaccedilatildeo e Infra-estrutura e de trabalho e Accedilatildeo Social embora tenha sido

excluiacutedo da vedaccedilatildeo disposta na SV n 13 devido ao fato de que a ―jurisprudecircncia da

Corte eacute no sentido de que as nomeaccedilotildees para cargos poliacuteticos natildeo se enquadram a

princiacutepio nas hipoacuteteses elencadas na suacutemula ora em exame trata de ―conduta que

evidentemente ofende os princiacutepios da moralidade e razoabilidade e deve ser apurada

no esteio de que ―supostos casos de nepotismo deve ser realizada necessariamente de

acordo com cada caso concreto1085

A Ministra afirmando que o caso tratava-se de ―situaccedilatildeo teratoloacutegica em que

foram empossados por livre nomeaccedilatildeo oito parentes para cargo em comissatildeo e de

secretaacuterio municipal ―natildeo sendo criacutevel que natildeo exista no Municiacutepio de Araporatilde ()

de seis mil quinhentos e vinte e dois habitantes () pessoas competentes e capazes para

desempenhar tais misteres aleacutem do ciacuterculo familiar iacutentimo de seu prefeito deferiu a

liminar sob o fundamento de que que seria ―temeraacuterio o entendimento de que a Suacutemula

Vinculante 13 natildeo se aplicaria a todos os casos que envolvam agentes poliacuteticos pois

entendido com ―tamanha largueza poderia ocasionar ―em futuro proacuteximo o

preenchimento da maioria ou ateacute mesmo da totalidade dos cargos de secretaacuterio

1083 MODESTO Paulo Op cit p 13 1084 ―no acircmbito do STF se abateu verdadeira cisatildeo acerca da interpretaccedilatildeo sobre o alcance da mencionada sumula

cujo os julgamentos houveram por criar regras de exceccedilatildeo que vatildeo dilapidando a norma para situaccedilotildees casuiacutesticas

PEacuteRES Taynah Litaiff Isper Abrahim Carpinteiro SILVA Adriana Carla de Souza Suacutemula Vinculante n 13 a

―estrada dos tijolos amarelos do funcionalismo puacuteblico brasileiro Revista jus navegandi 102012 1085 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 8625MG Rel Min Ellen Gracie Jug 310510 e

publicada no Dje 84 de 080610 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 060115

200

municipal por parentes de prefeitos e que esse natildeo era ―o espiacuterito da jurisprudecircncia do

STF que o levou ―a editar a Suacutemula Vinculante 13

Nesse ensejo ao alegar que ao STF guardiatildeo ―maior dos princiacutepios e valores

da Constituiccedilatildeo e a quem compete a ―nobre missatildeo de dizer o direito em sua uacuteltima e

derradeira acepccedilatildeo natildeo poderia ―se omitir diante de situaccedilotildees absurdas como a

presente de impeacuterio do nepotismo praacutetica repulsiva reiterada eleiccedilatildeo apoacutes eleiccedilatildeo

asseverou que a ele cabia ―coibir esses exageros balizado pelo bom senso tratando

―caso a caso com o objetivo de evitar injusticcedilas e ingerecircncias desproporcionais em

relaccedilatildeo agrave livre nomeaccedilatildeo para cargos de natureza poliacutetica1086

Ainda na Rcl n 6938 MCMG1087

a Relatora Ministra Carmen Luacutecia que

tambeacutem participou da ediccedilatildeo da SV n 13 concedeu a liminar e determinou o imediato

afastamento das pessoas nomeadas para cargos comissionados no Municiacutepio de

FronteiraMG aduzindo que

― O prefeito nomeou nove parentes de sete vereadores que compotildeem o Poder

Legislativo local para ocupar cargos em comissatildeo de natureza administrativa

no Poder Executivo municipal Portanto a situaccedilatildeo dos interessados parece

se subsumir em princiacutepio ao que dispotildee a Suacutemula Vinculante n 13 deste

Tribunal()1088

Desta feita a Ministra diferentemente do disposto na SV n13 julgou que

havia nepotismo no caso

Ainda o Ministro Joaquim Barbosa considerou ―sem justificativa de natureza

profissional curricular ou teacutecnica a nomeaccedilatildeo de agente ao cargo de Secretaacuterio

Municipal de Educaccedilatildeo e sob a justificativa de que ―os acoacuterdatildeos proferidos por este

Supremo Tribunal Federal no RE n 579951 e na Medida Cautelar na Rcl n 6650 natildeo

poderiam ―ser considerados representativos da jurisprudecircncia desta Corte e tampouco

poderiam ―ser tomados como reconhecimento definitivo da exceccedilatildeo agrave Suacutemula

Vinculante n 13 pois ―a redaccedilatildeo do verbete natildeo prevecirc a exceccedilatildeo mencionada

Segundo ele como dependeria ―da avaliaccedilatildeo colegiada da situaccedilatildeo concreta descrita nos

autos a afirmativa se tratar de nepotismo ou natildeo e que ao compulsar o entranhado no

processo constatou que natildeo havia ―qualquer justificativa de natureza profissional

curricular ou teacutecnica para a nomeaccedilatildeo do parente ao cargo de secretaacuterio municipal de

1086 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 8625MG Rel Min Ellen Gracie Jug 310510 e

publicada no Dje 84 de 080610 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 060115 1087 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 6938MG Rel Min Carmem Luacutecia Julgada em

220811 e publicada no Dje ndash 169 de 020911 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 060115 1088 Ibidem Item 11 do Julgado

201

educaccedilatildeo e que tudo indicava que a nomeaccedilatildeo impugnada havia recaiacutedo sobre ―parente

do prefeito () por essa exclusiva razatildeo1089

44 Consideraccedilotildees Parciais

De tudo o relatado no presente capiacutetulo pode-se extrair que natildeo houve no caso

em voga ―decisotildees reiteradas sobre questatildeo idecircntica sobre a mateacuteria jaacute sua existecircncia

parte da anaacutelise das circunstacircncias dos casos concretos e especialmente dos ―criteacuterios

utilizados para qualificar juridicamente esses fatos e ainda se baseia no entendimento

de que ―os casos devem ser julgados no mesmo sentido apesar das suas

particularidades de forma que a interpretaccedilatildeo dada a eles tambeacutem seja ―vaacutelida como

paracircmetro de decisatildeo em outros1090

Aplicando-se este fato a um dos requisitos necessaacuterios agrave elaboraccedilatildeo da SV

qual seja ―a existecircncia de reiteradas decisotildees sobre questatildeo idecircntica1091

constata-se

que o STF editou a SV n13 sem observar tal hipoacutetese normativa

E que assim sua redaccedilatildeo restou viciada inconsistente com os seus ditos

precedentes que se por um lado natildeo configuram quantitativamente ―decisatildeo reiterada

por outro tambeacutem natildeo o satildeo qualitativamente vez que o STF ao contraacuterio do que

determina a Constituiccedilatildeo Federal a autorizar a ediccedilatildeo de uma SV natildeo interpretou

―corretamente um conjunto de casos como iguais1092

Aleacutem disso se observa que a SV n13 natildeo foi coerente agrave finalidade do instituto

jaacute que sua redaccedilatildeo da maneira como estaacute escrita se por um lado natildeo abarca outras

circunstacircncias que deveriam ser rechaccediladas por outro alcanccedila situaccedilotildees em que eacute no

miacutenimo esdruacutexulo se pensar em nepotismo e por isso mesmo pode-se dizer que seu

texto natildeo contribuiu ―efetivamente para o fim da desmoralizaccedilatildeo ou das benesses pois

1089BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 12478-MCDF Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso

em 170215 1090 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 86 1091 Ibidem Op cit p91 Nesses termos se extrai do magisteacuterio doutrinaacuterio que a grande e decisiva criacutetica que se faz

agrave SV 13 refere-se agrave sua ediccedilatildeo a toque de caixalsquo apoacutes dois pronunciamentos do STF sobre a mateacuteria numa uacutenica

Sessatildeo Plenaacuteria Esse procedimento contraria a Constituiccedilatildeo que exige a ediccedilatildeo de suacutemulas vinculantes apoacutes

―reiteradas decisotildees (CF art 103-A) Assim muitas questotildees envolvendo essa mateacuteria complexa natildeo conseguiram

ser abarcadas pela SV 13 talvez pela precipitaccedilatildeo com que foi aprovada (sem um debate e um estudo aprofundados)

() A despeito dos propoacutesitos moralizadores que animaram os Ministros do STF na elaboraccedilatildeo da Suacutemula ela eacute

passiacutevel de criacutetica quanto ao modo como se deu sua aprovaccedilatildeo bem como quanto agrave forma como foi redigida No que

concerne agraves circunstacircncias em que se deu a aprovaccedilatildeo merece registro que apenas quatro julgados serviram de

precedentes ao Verbete dois deles prolatados numa mesma ocasiatildeo agraves veacutesperas da ediccedilatildeo da Suacutemula RODRIGUES

Joatildeo Gaspar RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro Revista de Direito Administrativo

ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 225 1092MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 86

202

pode em alguns casos ―servir de escudo para situaccedilotildees que deveriam ser afastadas e

em outros ―impedir o acesso a quem tem capacidade para servir ao paiacutes sem estar

afetado pelo mal nefasto do nepotismo na conceituaccedilatildeo dada pela Suacutemula ora em

anaacutelise1093

Desta feita contrariando a natureza do proacuteprio instituto a SV n13 natildeo pode

―ser aplicada em seu teor literal sendo necessaacuterio em diversas situaccedilotildees praacuteticas ―a

comprovaccedilatildeo do elemento aniacutemico1094

a configurar o nepotismo

Mas natildeo soacute isso ainda observa-se que o texto sumular natildeo estaacute de acordo com

o princiacutepio da legalidade natildeo apenas pelo STF ter inobservado o procedimento

constitucional e legal de ediccedilatildeo da SV n13 mas tambeacutem porque por isso extrapolou

sua competecircncia e a finalidade do proacuteprio instituto editando-o equivocadamente

Explica-se

O STF ao editar a SV n13 na maneira que estaacute redigida excedeu a sua

competecircncia ―exercendo claramente funccedilatildeo atiacutepica de legislador que natildeo o eacute1095

Enquanto guardiatildeo da Constituiccedilatildeo o STF pode ―dizer que o nepotismo

constitui sim praacutetica ilegiacutetima mas ―regulamentar a mateacuteria definindo o que se

entende por nepotismo quem satildeo as autoridades proibidas de nomear quem se sujeita agrave

vedaccedilatildeo quais as modalidades de parentesco se incluem na proibiccedilatildeo et coetera natildeo

constitui atribuiccedilatildeo do STF1096

O que quer dizer que ―a regulamentaccedilatildeo da mateacuteria nos termos assinalados natildeo

se insere no domiacutenio proacuteprio da funccedilatildeo jurisdicional1097

natildeo podendo o STF portanto

―em nenhuma circunstacircncia buscar a celeridade jurisdicional pelos meios que lhe

aprouver Natildeo pode raciocinar em termos de que se o Congresso natildeo faz faccedilo-o eu1098

pois em Direito ―os fins nunca legitimam os meios e sim estes agravequeles1099

1093 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante n 13 do STF Revista Foacuterum Administrativo ndash Direito Puacuteblico Belo Horizonte ano 10 n 111 p 30-38

maio 2010 p 30 1094 RODRIGUES Op cit p214 1095 CORREcircA Gustavo Hermont Princiacutepio da Moralidade ou Eticidade da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese

de Direito Administrativo v 6 n66 jun 2011 p 63-77 p 65 1096 ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites

de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia -

Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 139 1097 Ibidem 139 1098 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009 p 16 1099 Insiste a mais natildeo poder o Min MARCO AUREacuteLIO

203

Daiacute se extrai natildeo apenas duacutevidas quanto ao seu ativismo judicial como

tambeacutem quanto a falar de tal forma sobre a mateacuteria os motivos que o levaram a tanto e

ainda por suacutemula vinculante e natildeo por outro instrumento

Por isto haacute quem diga que o STF adotou ―circunstacircncias definidoras do que

seja nepotismo bem como abriu exceccedilotildees a ele mas que elas ―natildeo seriam dotadas de

forccedila vinculativa do legislador ordinaacuterio jaacute que natildeo decorrem imprescindivelmente do

texto constitucional mas de uma liberdade de conformaccedilatildeo que o STF adotou1100

E que como ―por forccedila do princiacutepio da separaccedilatildeo dos poderes a escolha eacute do

―legislador ordinaacuterio que ―natildeo pode ser substituiacuteda pela escolha do Judiciaacuterio ainda

que sujeita ao seu controle que o que o STF fez foi atuar ―verdadeiramente como

legislador positivo 1101

Assim o STF contrariou ateacute seu proacuteprio posicionamento jaacute assentado em

outros julgados de que

Natildeo cabe ao Poder Judiciaacuterio em tema regido pelo postulado

constitucional atuar na anocircmala condiccedilatildeo de legislador positivo () natildeo

dispotildee de funccedilatildeo legislativa ndash passaria a desempenhar a atribuiccedilatildeo que lhe eacute

inconstitucionalmente estranha (a de legislador positivo) usurpando desse

modo no contexto de um sistema de poderes essencialmente limitados

competecircncia que natildeo lhe pertence com evidente transgressatildeo ao princiacutepio

constitucional da separaccedilatildeo dos poderes1102

Tal questionamento quanto ao disposto na SV n13 eacute ainda mais seacuterio por

tratar da mateacuteria que versa de alta complexidade e ainda diretamente vinculada agrave

Administraccedilatildeo Puacuteblica que foi entatildeo regulamentada pelo Judiciaacuterio de uma forma

minimamente equivocada como jaacute se demonstrou natildeo se figurando

razoaacutevel defender sob o prisma da legitimidade constitucional que tema tatildeo

delicado ndash vedaccedilatildeo agrave praacutetica do Nepotismo ndash seja regulado por um ato

emanado de um oacutergatildeo jurisdicional a quem cabe aplicar a regras de direito

previamente existentes e natildeo ditar referidas regras com o fim de regular

diversas situaccedilotildees juriacutedicas criadas no acircmbito da Administraccedilatildeo Puacuteblica de

todos os oacutergatildeos de poder (Executivo Legislativo e Judiciaacuterio) de todas as

entidades federadas (Uniatildeo Estados Municiacutepios e Distrito Federal)1103

Mesmo que se afirme que o entendimento do STF sobre a aplicaccedilatildeo direta do

artigo 37 ―pode fundamentar sua proacutepria competecircncia para dispor sobre a nomeaccedilatildeo de

1100 DIZ Nelson Nascimento Nepotismo suacutemula Vinculante n 13 Limitaccedilatildeo ao tratamento por lei Revista de

Direito do Estado- RDE ano 3 n12 outdez2008 p 390 1101 Ibidem p 390 1102 BRASIL Supremo Tribunal Federal AgRgrE n 322348SC Rel Min Celso de Mello julgado em 12112002

publicado no DJU de 06122002 p 74 1103 ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites

de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia -

Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 137

204

parentes em outros poderes ele teria que ter exercido essa competecircncia ―a partir da

anaacutelise das particularidades dos poderes executivo e legislativo advinda de um conjunto

de decisotildees sobre o tema1104

mas natildeo o fez como jaacute visto

E natildeo eacute soacute isto tambeacutem haacute questionamento quanto aos motivos que levaram agrave

ediccedilatildeo da n13 que seria ―proveniente muito mais de uma escolha poliacutetica do que

estritamente juriacutedica pois o STF ―ao editar o enunciado vinculante vedando em termos

ampliacutessimos o nepotismo o que fez foi valorizar ―o seu papel no cenaacuterio Poliacutetico

Nacional1105

e natildeo vinculado agrave finalidade do instrumento

Daiacute tambeacutem decorre que a suacutemula vinculante natildeo seria o ―instituto adequado

para tratar de mateacuteria envolta a tantas peculiaridades e minuacutecias ademais tendo em

vista as ―implicaccedilotildees diretas na autonomia administrativa e organizacional do Poder

Executivo o que reforccedila ―a premissa de que o STF teria agido de maneira ilegiacutetima ao

editar o enunciado n 13 1106

Ainda a SV ―natildeo eacute nem pode ser um instrumento que substitua a lei como se

teme comece a ser pensado face ao que se esboccedila1107

na SV n 13 O que eacute vedado

quanto ao instrumento pelo o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e tambeacutem quanto agrave

mateacuteria por decisatildeo do proacuteprio STF que estabeleceu1108

―que soacute a lei em sentido formal

() pode estabelecer requisitos que condicionem o ingresso no serviccedilo puacuteblico1109

E ainda que se alegue que as suacutemulas vinculantes podem ser instrumento uacutetil

para reforccedilar o direito ao tratamento igual em determinadas situaccedilotildees natildeo foi isto que

ocorreu nesse caso

Explica-se Para que este objetivo seja cumprido ―eacute indispensaacutevel que o STF

se atenha aos comandos constitucionais pois a legitimidade do uso do precedente se

baseia no direito agrave igualdade a norma do caso formulada na ratio decidendi

generaliza-se quando as circunstacircncias do outro caso o exigem para que seja dado um

1104 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 93 1105 ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites

de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia -

Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 138 1106 Ibidem p 132 1107 DIZ Nelson Nascimento Nepotismo suacutemula Vinculante n 13 Limitaccedilatildeo ao tratamento por lei Revista de

Direito do Estado- RDE ano 3 n12 outdez2008 p 385-391 P 391 1108 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade ADI n1188DF Relator Ministro

Marco Aureacutelio julgada em 23021995 e publicada no DJU de 20041995 p 9945 Disponiacutevel em wwwstfjusbr

Acesso em 050215 1109 CABRAL NETO Cirino Adolfo A Resoluccedilatildeo nordm 0705 do Conselho Nacional de Justiccedila e seus efeitos na

administraccedilatildeo puacuteblica municipal Revista Zecircnite de Direito Administrativo e LRF- IDAF v 7 n78 jan 20072008

p 534

205

tratamento igual1110

e como foi visto natildeo eacute isto que ocorreu ou estaacute a acontecer o que

reforccedila ainda mais o equiacutevoco do STF em editar a SV n13

Ainda observa-se que a finalidade preciacutepua do efeito vinculante ―consiste em

coibir a recalcitracircncia dos demais oacutergatildeos e poderes do Estado agraves decisotildees proferidas em

sede de controle abstrato de constitucionalidade especialmente em relaccedilatildeo aos atos que

tenham por objeto a reproduccedilatildeo substancial de preceito normativo jaacute julgado

inconstitucional1111

mas natildeo como natildeo se vislumbra essa recalcitracircncia nos precedentes

da Suacutemula Vinculante n13 questiona-se a aplicaccedilatildeo da SV em detrimento da escolha

de outro instrumento que parece seria mais apropriado ao caso a suacutemula de

jurisprudecircncia predominante

Por isso se afirma que ―tambeacutem natildeo eacute um indiferente juriacutedico nem eacutetico que o

STF ao decidir dois precedentes pontuais natildeo tenha diante da relevacircncia do tema

sequer editado suacutemula de sua jurisprudecircncia predominante como lhe permitia e ainda

permite o Regimento Interno1112

Ou ainda que

ateacute no acircmbito da conveniecircncia natildeo era para a Suacutemula ser vinculante mas de

jurisprudecircncia dominantelsquo o que seria melhor uma vez que esta assenta a

orientaccedilatildeo da Corte a respeito de uma mateacuteria especiacutefica e assim direciona os

demais Colegiados paacutetrios bem como os magistrados quanto agraves suas

decisotildees mas natildeo os vincula sendo portanto quanto a este assunto

especiacutefico o mais adequado1113

Mas como mesmo diante de tudo isto foi editada a SV n13 o que resta eacute

analisar seu ―rigor com cautela a fim de evitar excessos e injusticcedilas1114

pois assim

como o STF deveria ―realiza um juiacutezo de igualdade para proferir reiteradas decisotildees

sobre uma mateacuteria tambeacutem o juiz (e o administrador) encarregado da aplicaccedilatildeo da

suacutemula a novos casos deve examinar suas caracteriacutesticas para concluir se estaacute diante

de uma questatildeo igual ou diferente1115

1110MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 95 1111 LEAL Roger StiefelmannO Efeito Viculante na jurisdiccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 2006 p 181 1112 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009 p 11 1113 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e proteccedilatildeo dos direitos fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 ndash julset2009 p87 1114 BASTOS Tatiana Quintela de Azeredo Direitos e deveres na relaccedilatildeo homoafetiva uma discussatildeo a respeito do

nepotismo Disponiacutevel em revista jus navegandi Acesso em 03 032013 1115 MAUacuteES Op cit p 87

206

Ainda mais quando se tratar dessa SV pois ao que parece ―constitui

atitude pouco teacutecnica e perigosamente tendente a um moralismo que nem sempre leva agrave

verdadeira moralidade ndash investir de forma indiscriminada e generalizante contra todo e

qualquer ato que parece ser nepotismo1116

Nesse enredo tendo o STF chamado para si a regulamentaccedilatildeo do tema por

meio de Suacutemula Vinculante restou tambeacutem agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica considerando ―de

um lado as razotildees de ordem histoacuterica social e juriacutedica subjacentes agrave ediccedilatildeo do

enunciado da Suacutemula Vinculante n 13 e de outro as atuais incertezas quanto agrave

respectiva aplicaccedilatildeo reconhecidas pelo proacuteprio STF enquanto este natildeo se manifesta

―interpretar o enunciado em questatildeo da forma em que melhor compatibilize os

princiacutepios da moralidade e da impessoalidade com o princiacutepio da igualdade e da

eficiecircncia sem se omitir em relaccedilatildeo agrave SV n13 mas ao mesmo tempo ―procurando

enfrentar com razoabilidade e proporcionalidade as dificuldades acima referidas1117

Foi o que o chefe do Poder Executivo Federal procurou fazer por meio do

Decreto Presidencial 720310 que delimitou a aplicabilidade do enunciado da SV n13

no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica federal de acordo com seus dispositivos

Ato este que tambeacutem pode ser feito pelo poder legislativo federal e pelos

poderes executivo e legislativo dos outros entres federados (Estados Municiacutepios e

Distrito Federal) pois ―eacute mateacuteria que reclama preferencialmente a ediccedilatildeo de lei ou de

ato normativo de caraacuteter infralegal a fim de que se regulamente a questatildeo ―levando-se

em conta as diversas peculiaridades faacuteticas passiacuteveis de ocorrecircncia nas diversas relaccedilotildees

juriacutedicas gestadas no acircmbito da Administraccedilatildeo Puacuteblica1118

Contudo isso poderaacute suscitar ainda mais conflitos institucionais

Imagine-se o caso de um Estado da Federaccedilatildeo editar Lei regulamentando o

regime juriacutedico de seus servidores puacuteblicos Pense-se que esse mesmo

estado-membro com o escopo de coibir a praacutetica do nepotismo no acircmbito de

sua Administraccedilatildeo Puacuteblica regulamente a mateacuteria na referida Lei tratando

do tema de modo diverso ao disposto na suacutemula vinculante nordm 13 ao vedar

por exemplo o nepotismo em termos menos amplos () Poder-se-ia

entender que no caso desse estado-membro existiriam concomitantemente

dois regulamentos normativos distintos acerca da vedaccedilatildeo ao nepotismo

previsto na suacutemula vinculante nordm 13 e o outro disposto na Lei Estadual que

1116 RIGOLIN Ivan Barbosa Sobre o nepotismo uma reflexatildeo da moralidade e moralismo Foacuterum Administrativo ndash

Direito Puacuteblico ndash FA Belo Horizonte ano 7 n 80 p 7 1117 ESTRELLA Heron Nunes Nepotismo Aplicaccedilatildeo da Suacutemula Vinculante n 13 do Supremo Tribunal Federal

Interesse Puacuteblico Belo Horizonte Ed Foacuterum marabril 2009 v 10 n 54 p 246-274 1118 FILHO Joatildeo Pereira de Andrade A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites

de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia -

Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 141

207

define o regime juriacutedico dos servidores puacuteblicos Natildeo eacute difiacutecil imaginar o

significativo volume de problemas que poderiam advir dessa situaccedilatildeo no

campo institucional ter-se-ia um status em que se potildee em choque de um

lado a supremacia de uma determinaccedilatildeo judicial de caraacuteter vinculante e de

outro a autonomia legislativa dos estados-membros1119

E por conseguinte

No campo das questotildees juriacutedicas praacuteticas surgiriam duacutevidas diversas

envolvendo a situaccedilatildeo retratada Apenas agrave guisa de ilustraccedilatildeo poder-se-ia

imaginar na possibilidade de serem ajuizadas reclamaccedilotildees contra atos

administrativos praticados em obediecircncia aos termos da Lei Estadual mas

em desacordo com a suacutemula vinculante ou mesmo indagar se a posterior

ediccedilatildeo da Lei cujo conteuacutedo seja diverso daquele constante da suacutemula

vinculante teria o condatildeo de revogar ou afastar a aplicaccedilatildeo do entendimento

do STF1120

Assim se constata que o STF ―procedeu ao desdobramento de princiacutepios

constitucionais para aleacutem de seu campo de incidecircncia direta extraindo-lhes efeitos

impossiacuteveis de serem sustentados agrave luz da Dogmaacutetica Juriacutedica e nesse esteio

―malgrado a inspiraccedilatildeo republicana da Suacutemula Vinculante n 13 fez dela mais um

―caso modelar de ativismo judiciaacuterio que por sua vez provocou um efeito contraacuterio ao

almejado que seria diminuir as divergecircncias das decisotildees judiciais e administrativas

relacionadas agrave mateacuteria ventilada uma vez que ―como era previsiacutevel que acontecesse

inuacutemeras duacutevidas e questionamentos tecircm surgido no acircmbito da Administraccedilatildeo Puacuteblica e

do Poder Judiciaacuterio de todo paiacutes acerca da maneira correta de dar execuccedilatildeo agraves

prescriccedilotildees sumulares mesmo porque natildeo eacute faacutecil ―fixar balizamentos normativos em

mateacuteria tatildeo complexa que haacute deacutecadas havia desafiando o legislador (competente)

brasileiro1121

Dessa forma nota-se que ―a redaccedilatildeo da Suacutemula Vinculante n 13 eacute um grande

empecilho agrave soluccedilatildeo do nepotismo na administraccedilatildeo puacuteblica natildeo apenas porque

―encerra conceitos data maacutexima vecircnia equivocados com tambeacutem porque ―cria outros

natildeo previstos em lei e despreza situaccedilotildees relevantes e caras agrave mateacuteria natildeo havendo

portanto ―como aplicar a suacutemula n 13 sem a necessidade de se realizar um esforccedilo

interpretativo 1122

1119 ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira de A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os

limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia

- Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 140 1120 Ibidem p 140 1121 PA n 722010 de 280510 nos autos do processo nordm 18487-1859732010 p10 Disponiacutevel em www

pgespgovbr Acesso em 140514 1122 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 34

208

Tudo isto insere consequentemente a mateacuteria do nepotismo e suas aplicaccedilotildees

em ―difiacutecil compreensatildeo e extensatildeo dificultando a orientaccedilatildeo aos agentes puacuteblicos1123

quanto ao fim dessa praacutetica nefasta sendo necessaacuterio ateacute que sua redaccedilatildeo seja revista

que as ―situaccedilotildees sejam analisadas com maior profundidade esclarecendo-se as

circunstacircncias faacuteticas de sua constituiccedilatildeo1124

Desta forma por todos os pontos aqui levantados como criacuteticas negativas agrave

Suacutemula n 13 na forma em que estaacute redigida se evidencia ―a inconveniecircncia a

impropriedade e sobretudo a ilegitimidade da aprovaccedilatildeo da suacutemula vinculante1125

que

induz agrave conclusatildeo de que ela exorbitou a proacutepria normatividade do instituto e que por

isto deve ser revista pelo STF pois ―o aclaramento completo do verdadeiro sentido e

alcance do verbete sumulante somente pode ser dado por seus criadores quais sejam os

nobres magistrados no Supremo Tribunal Federal1126

nos termos do procedimento

estabelecido na Constituiccedilatildeo Federal e regulamentado em lei

O que pode ser realizado natildeo soacute pela suspensatildeo do seu efeito vinculante diante

do interesse puacuteblico de solucionar as questotildees controversas provocadas por ela como

tambeacutem pela revisatildeo de sua redaccedilatildeo consistente com agrave sua uacutenica ratio decidendi - de

que a vedaccedilatildeo do nepotismo decorre dos princiacutepios constitucionais insculpidos no artigo

37 da Constituiccedilatildeo Federal e coerente com ela e com a finalidade do proacuteprio instituto

de apaziguar controveacutersias

E como moralizar a administraccedilatildeo puacuteblica brasileira ―mesmo porque o

princiacutepio da moralidade administrativa eacute princiacutepio constitucional () e o povo tem fome

de eacutetica natildeo quer dizer que o STF pode tudo pois deve fazecirc-lo de acordo com o

direito ―com a observacircncia da ordem juriacutedica mediante medidas e normas razoaacuteveis

constitucionais1127

Nesse esteio a soluccedilatildeo da questatildeo pode reclamar a accedilatildeo do Poder Legislativo

Federal nos termos do jaacute disposto no Decreto Presidencial n 720310 possibilitando

assim que o poder legislativo de todos os demais entes federados estabeleccedila com base

no que foi determinado pela lei federal a respectiva vedaccedilatildeo do nepotismo

1123 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 34 1124 PA n 722010 de 280510 p14 Disponiacutevel em www pgespgovbr 1125ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira de Op cit p 141 1126 ANTONIO Alice Barroso O nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante nordm13 do STF criacuteticas e proposiccedilotildees

Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM Belo Horizonte v 10 n31 janmar 2009 p 75 1127 Idem fl 140

209

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Como arremate desse trabalho que teve por escopo analisar a Suacutemula

Vinculante n 13 editada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que veda o nepotismo

no acircmbito das trecircs esferas do Poder Puacuteblico de todos os entes da Federaccedilatildeo a fim de

verificar se o STF ao realizar a construccedilatildeo judicial e reconstruir a normativa da vedaccedilatildeo

do nepotismo por meio do citado enunciado vinculante exorbitou a normatividade do

proacuteprio instituto

Para discutir um pouco mais a fundo sobre o tema este trabalho se dispocircs a

verificar se o texto da suacutemula expocircs o que deveria expor - nos termos das normas

constitucionais e legais que regem o verbete vinculante em concordacircncia com seus

proacuteprios precedentes e ainda quais foram as suas consequecircncias

Tal enfoque possibilitou que viesse agrave tona a forma pela qual o STF construiu a

noccedilatildeo judicial sobre o nepotismo e sua vedaccedilatildeo quais foram os elementos especificados

na redaccedilatildeo a motivaccedilatildeo que acarretou a elaboraccedilatildeo da SV n13 e a hermenecircutica

juriacutedica utilizada pelo STF o que viabilizou observar a consistecircncia coerecircncia e

legalidade da mesma

Diante disso avalia-se como conveniente destacar os pontos que a pesquisa

apontou como sendo os mais relevantes

De pronto a pesquisa evidenciou que o nepotismo quer fruto da esfera

eclesiaacutestica quer praticado pelos governantes natildeo eacute uma conduta nova mas pelo

contraacuterio estaacute ensimesmado na Administraccedilatildeo Puacuteblica desde o preteacuterito como produto

viciado de accedilotildees viciosas daqueles que detinham o poder e que sob a perspectiva

brasileira eacute viacutecio atrelado a um complexo e acabado sistema de preceitos que remonta o

patrimonialismo estamental trazido pelos governantes portugueses ainda no seacuteculo XVI

e assentado no Estado brasileiro por meio das raiacutezes coloniais da solidariedade familiar

em um Estado de influecircncia deleteacuteria dos interesses anti-sociais criados e alimentados

em torno do poder puacuteblico e que ateacute hoje determinam graves consequecircncias culturais

natildeo soacute aterradas na Administraccedilatildeo Puacuteblica como na proacutepria sociedade

Enraizado como costume brasileiro o nepotismo - a forccedila das parentelas se

encrustou na cultura governamental do Brasil ainda no Brasil Impeacuterio e se alastrou ao

Brasil Repuacuteblica sendo no periacuteodo da Repuacuteblica Velha largamente aplicado por meio

210

do coronelismolsquo agrave parentela que se estendia dos parentes consanguumliacuteneos e afins aos

apadrinhados

Assim se observou a noccedilatildeo juriacutedica de nepotismo como ato que configura a

inversatildeo entre o puacuteblico e o privado e degrada a esfera administrativa-governamental

caracterizando o Estado como negoacutecio familiar por meio da nomeaccedilatildeo por agente

puacuteblico de seus parentes em detrimento da dignidade da funccedilatildeo puacuteblica mas que deteacutem

uma noccedilatildeo natildeo completamente acabada quanto aos seus limites da qual decorre mais

de espeacutecie de nepotismo

O estudo mostrou aleacutem disso que na ANC dentre os mais diversos assuntos

debatidos pelos constituintes envolvendo tanto o acircmbito governamental como o

administrativo esteve presente a necessidade de moralizar o poder puacuteblico fincaacute-lo na

moralidade puacuteblica e rechaccedilar os atos de personalismos costumeiros da praacutetica estatal

dentre eles o nepotismo sendo o princiacutepio da moralidade elevado a princiacutepio

constitucional e que ao reger a Administraccedilatildeo Puacuteblica submete o administrador

puacuteblico a uma honestidade profissional

Nesse enredo a moralidade puacuteblica obsta o nepotismo como princiacutepio

constitucional e tambeacutem como aglutinadora dos outros princiacutepios citados ou sendo

sensificada por eles em uma relaccedilatildeo simbioacutetica na previsatildeo eou vedaccedilatildeo do nepotismo

consagrando-se como o substrato fundamental da esfera administrativa-governamental

E o nepotismo por sua vez ao conflitar com um princiacutepio da administraccedilatildeo

viola outro mesmo que em diversos graus face agrave natural interligaccedilatildeo que os caracteriza

pois se nutrem e se constituem respectiva e mutuamente

Igualmente o trabalho demonstrou que a construccedilatildeo judicial da vedaccedilatildeo do

nepotismo foi realizada com base na vinculaccedilatildeo do parente nomeado agrave autoridade

nomeante ou servidor ocupante de cargo comissionado que alcanccedila os servidores

ocupantes de cargos efetivos e eacute limitado ao terceiro grau de parentesco inclusive afim

e embora alcance ateacute o nepotismo cruzado natildeo se aplica agrave nomeaccedilatildeo de parente em

cargo poliacutetico

Contudo a totalidade dos elementos natildeo foram tratados em todos os

precedentes e nos debates Como foi visto o STF construiu a noccedilatildeo de vedaccedilatildeo ao

nepotismo basicamente a partir dos elementos da noccedilatildeo exposta na redaccedilatildeo da

Resoluccedilatildeo do CNJ objeto do terceiro precedente dentre eles a extensatildeo de parentesco -

211

ratificada na primeira sessatildeo plenaacuteria sobre o assunto ndashacresceu de acordo com o RE -

quarto precedente - a vedaccedilatildeo ao nepotismo cruzado e exclui os cargos poliacuteticos da

incidecircncia do nepotismo e ainda seguindo apenas a ADI seu primeiro precedente

pois incluiu os servidores efetivos sob a incidecircncia da normativa sumular

Aleacutem disso devido ao debate travado na segunda sessatildeo plenaacuteria sobre o

assunto o STF alterou o acircmbito fiacutesico da vedaccedilatildeo do nepotismo inovando ateacute quanto agrave

redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo ao substituir ―mesmo oacutergatildeo por ―mesma pessoa juriacutedica no

corpo textual da Suacutemula

Desta feita a SV n13 foi construiacuteda por elementos pinccedilados pelo STF aqui e

acolaacute da forma que entendeu acertada embora nem de longe lembre a redaccedilatildeo de sua

―proposta original

Por isto considera-se que os Ministros natildeo chegaram a um resultado eficaz jaacute

que a SV13 da forma que estaacute redigida eacute questionaacutevel replicaacutevel criticaacutevel natildeo soacute por

contrariar seu proacuteprio objetivo como tambeacutem por natildeo ter se fundamentado em

jurisprudecircncia reiterada sobre a mateacuteria e ainda por sua redaccedilatildeo natildeo ter guardado

coerecircncia ou consistecircncia com os seus precedentes

Inobservado a maacutexima de que o direito natildeo se interpreta ―em tiras aos

pedaccedilos1128

o STF ao editar a SV n13 na forma em que estaacute redigida dentre outras

consequecircncias equivocadas natildeo coibiu que parentes da autoridade nomeante pudessem

ser nomeados ao cargo eacute poliacutetico

Diante disso o proacuteprio STF amargou as consequecircncias de sua decisatildeo vez que

posteriormente agrave ediccedilatildeo do texto sumular chegaram ao Tribunal diversas Reclamaccedilotildees

veiculando situaccedilotildees esdruacutexulas pertinentes agrave nomeaccedilatildeo de parentes pelos prefeitos e

governadores dos vaacuterios entes federados do Brasil

Dessa forma chega-se ao ponto nevraacutelgico do trabalho qual seja o STF com

base apenas na redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo n0507 do CNJ tambeacutem problemaacutetica editou a

SV n13 repleta de falhas e equiacutevocos a fim de obstar o nepotismo no acircmbito do Poder

Executivo agrave moda da proibiccedilatildeo daquela ao Poder Judiciaacuterio sem observar qualquer

meacutetodo ou teacutecnica da hermenecircutica e assim extrapolou a normatividade da proacutepria SV

inobservando tambeacutem os criteacuterios constitucionais e legais de sua ediccedilatildeo

1128

GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo

Malheiros 2005 p40

212

Voltando agraves liccedilotildees de Larenz que dispotildee que alteraccedilatildeo da situaccedilatildeo normativa

pode conduzir agrave modificaccedilatildeo restriccedilatildeo ou extensatildeo do significado da norma

prevalecente motivada por situaccedilotildees diversas que ensejam um novo entendimento dos

criteacuterios teleoloacutegico-objetivos bem como a necessidade de adequaccedilatildeo do Direito preacute-

constitucional aos princiacutepios constitucionais poderia se argumentar que o proacuteprio STF

deveria jaacute ter revisto a SV n13 ou ao mesmo ter suspendido seu efeito vinculante como

previsto na lei regulamentar do dispositivo constitucional sobre o instituto Mesmo

porque esta alteraccedilatildeo natildeo eacute intempestiva

Entretanto como o tribunal permaneceu inerte tanto o Procurador-Geral da

Repuacuteblica questionou as falhas da SV n13 como tambeacutem o Poder Executivo Federal

editou o Decreto n 720310

Como agrave Constituiccedilatildeo cabe uma elevada funccedilatildeo de estabilizaccedilatildeo deve-se ter

uma especial atenccedilatildeo quando se cria norma ainda mais neste caso de SV que se trata

de decisatildeo judicial onde o STF ao contraacuterio do que deveria natildeo pocircs a claro o alcance

das ideias expressas nem delimitou-as separando os fundamentos da base da SV

Ainda os Ministros do STF natildeo apartaram no desenvolvimento do processo de

ediccedilatildeo da SV n13 a interpretaccedilatildeo da lei da interpretaccedilatildeo da concepccedilatildeo juriacutedica do

tribunal sendo esta de importacircncia decisiva para a ediccedilatildeo do texto sumular em

detrimento daquela

Eacute o que se extrai da proacutepria SV n13 reduzida a escrito mas que tambeacutem

demonstra que o seu sentido literal eacute dissonante do necessaacuterio contexto significativo

social

Verificadas as contradiccedilotildees e lacunas da SV n13 durante toda esta exposiccedilatildeo

com base na sua fundamentaccedilatildeo ndash precedentes se observa que por todos os criteacuterios

legais e constitucionais a SV n13 mais uma aberraccedilatildeo judicial pois o Supremo

Tribunal Federal impocircs a SV n13 a todos os poderes de todos os entes federados uma

nova noccedilatildeo da vedaccedilatildeo de nepotismo construiacuteda ao jeito de proposiccedilatildeo juriacutedica

criando-se a aparecircncia de que desligada da situaccedilatildeo de fato resolvida lhe cabe o caraacuteter

de uma regra estabelecida e uniformemente aplicaacutevel mas natildeo eacute a situaccedilatildeo veriacutedica jaacute

que se observou que os casos posteriores a ela continuam a carecer de interpretaccedilatildeo

Nesse contexto o que se constata eacute que o STF inobservado que o assunto ndash

como mateacuteria de grande alcance poliacutetico-administrativo - deveria ser analisado dentro

213

de sua ―responsabilidade poliacutetica na manutenccedilatildeo da ordem juriacutedico-estadual e da sua

capacidade de funcionamento1129

natildeo ponderou as consequecircncias de sua decisatildeo e

diferentemente do que lhe compete natildeo garantiu a manutenccedilatildeo ou aperfeiccediloamento da

capacidade funcional do Estado do Direito1130

e seguindo sua orientaccedilatildeo poliacutetica

subjetiva editou uma SV inconsistente incoerente ilegal e ateacute inconstitucional

Desta feita ateacute que a questatildeo seja solucionada pelo STF editor da norma

criticada por meio da revisatildeo da redaccedilatildeo da SV n13 ou da aplicaccedilatildeo do artigo 4ordm da Lei

1141706 agrave mesma suspendendo seu efeito vinculante cada um dos poderes dos entes

federados poderatildeo elaborar respectivas normativas a exemplo do Decreto Presidencial

n 720310 a fim de clarear o dispositivo sumular e aparar suas controveacutersias diante

das situaccedilotildees faacuteticas

Ainda nada impede que o Congresso Nacional cumpra sua funccedilatildeo e no esteio

do parecer do Procurador-Geral da Repuacuteblica e do Decreto Presidencial supra citado

vede o nepotismo ateacute que um dia o paiacutes passe por uma mudanccedila cultural extensa

envolvendo todos os segmentos da sociedade a partir do que se poderaacute indicar pessoas

para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo por seus meacuteritos em relaccedilatildeo agrave qualificaccedilatildeo

requerida para o exerciacutecio do cargo natildeo importando que sejam parentes ou natildeo e sim

que sejam capazes de atuar em prol do sociedade quando se prescindiraacute de lei para se

moralizar o poder puacuteblico

1129

LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste Gulbenkian 1997 p 517 1130

Ibidem p 517

214

REFEREcircNCIAS

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Page 2: O NEPOTISMO, A MORALIDADE PÚBLICA E A JURISDIÇÃO ...

2

NATAacuteLIA CISCOTTO FERREIRA

O NEPOTISMO A MORALIDADE PUacuteBLICA E A JURISDICcedilAtildeO

CONSTITUCIONAL

um estudo acerca do sentido e do alcance normativo da Suacutemula

Vinculante n 13

Dissertaccedilatildeo apresentada ao curso de

Mestrado aacuterea Direito e Poliacuteticas

Puacuteblicas do Centro Universitaacuterio de

Brasiacutelia como requisito final agrave

concessatildeo do tiacutetulo de Mestre em Direito

e Poliacuteticas Puacuteblicas

Orientador Professor Doutor Luiacutes

Carlos Martins Alves Juacutenior

BRASIacuteLIA-DF

2015

3

Ferreira Nataacutelia Ciscotto

O nepotismo a moralidade puacuteblica e a jurisdiccedilatildeo constitucional um estudo acerca

do sentido e do alcance normativo da Suacutemula Vinculante n 13Nataacutelia Ciscotto

Ferreira A Autora 2015

221f

Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Centro Universitaacuterio de Brasiacutelia Programa de Mestrado

em Direito e Poliacutetica Puacuteblica Orientador Professor Doutor Luiacutes Carlos Martins Alves

Juacutenior

1Direito Constitucional 2 Nepotismo 3 Moralidade Administrativa 4Suacutemula

Vinculante Luiacutes Carlos Martins Alves Juacutenior (Orientador)

CDU

4

NATAacuteLIA CISCOTTO FERREIRA

O NEPOTISMO A MORALIDADE PUacuteBLICA E A JURISDICcedilAtildeO

CONSTITUCIONAL

um estudo acerca do sentido e do alcance normativo da Suacutemula

Vinculante n 13

Dissertaccedilatildeo apresentada ao curso de

Mestrado aacuterea Direito e Poliacuteticas

Puacuteblicas do Centro Universitaacuterio de

Brasiacutelia como requisito final agrave

concessatildeo do tiacutetulo de Mestre em Direito

e Poliacuteticas Puacuteblicas

Orientador Professor Doutor Luiacutes

Carlos Martins Alves Juacutenior

BRASIacuteLIA 20 DE MARCcedilO DE 2015

Banca Examinadora

_________________________________________

Professor Doutor Luiacutes Carlos Martins Alves Juacutenior

_______________________________________

Professor Doutor Jefferson C Caruacutes Guedes

__________________________________________

Professor Doutor Joatildeo Batista Gomes Moreira

5

Ao meu pai meu gordinho

que um dia reencontrarei com o mesmo amor

6

AGRADECIMENTO

A Deus por governar minha vida

Agrave minha matildee minha sempre e eterna amiga

Ao meu segundo pai Saraiva Felipe pelo amparo incondicional

Ao amigo Silas Brasileiro pela confianccedila e credulidade

Aos meus ex-chefes no Ministeacuterio da Agricultura Joseacute Gerardo Fontelles e Joseacute Carlos

Vaz pelo apoio indispensaacutevel

Ao meu ex-chefe e amigo Gustavo Pereira da Silva Filho pela continua paciecircncia e

compreensatildeo imprescindiacutevel ao alcance desta vitoacuteria

Agrave equipe da Coordenaccedilatildeo-Geral de Procedimentos Disciplinares especialmente Affonsa de

Oliveira Cristiane Castro Elisane Ribeiro Ana Rocha Vitor Rachid que esperaram e

vibraram comigo em cada etapa

Ao Dr Daniel Amim pela orientaccedilatildeo a iniciar esta caminhada

Agraves funcionaacuterias da secretaria do mestrado especialmente agrave Marley pela presteza e

gentileza sempre dispensadas

A todos os amigos pela paciecircncia e entendimento quanto agrave minha ausecircncia em suas vidas

nesta longa jornada

Agraves colegas e amigas do mestrado Raquel Mousinho e Bruna Mizuki pelo apoio

cumplicidade e companheirismo desde os primeiros dias deste aacuterduo estudo unidas pelo

Professor Dr Luiacutes Carlos Martins Alves Jr

Ao Professor Dr Marcelo Varella pela prestimosa e imprescindiacutevel compreensatildeo a

viabilizar a finalizaccedilatildeo deste trabalho

Ao meu amigo-irmatildeo parceiro de trabalho de jornada de vida Marcelo Arauacutejo cuja

amizade dedicaccedilatildeo disposiccedilatildeo e presteza incondicionais foram fundamentais para que

fosse possiacutevel chegar aqui

Enfim minha sincera e terna gratidatildeo ao meu orientador Professor Dr Luiacutes Carlos Martins

Alves Jr pela orientaccedilatildeo firme contundente brilhante e precisa pela compreensatildeo

paciecircncia e toleracircncia que o tornou para mim mais que o professor o orientador o mestre

e o exemplo de profissional - o ser humano extraordinaacuterio cuja conduta eacute exemplo a ser

seguido e quem estaraacute para sempre preservado como amigo no coraccedilatildeo

7

RESUMO

A presente dissertaccedilatildeo tem como objeto central a anaacutelise da construccedilatildeo da

Suacutemula Vinculante n 13 editada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2182008

a fim de obstar o nepotismo no acircmbito das trecircs esferas do Poder Puacuteblico de todos os

entes da Federaccedilatildeo tendo como referecircncia legislativa o disposto no caput do art 37 da

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 ou seja nos princiacutepios basilares da Administraccedilatildeo

Puacuteblica especialmente nos da moralidade impessoalidade e eficiecircncia Diante disso e

tendo em vista que o seu efeito vinculante atingiu a todos os Poderes de cada um dos

Entes Federados do Paiacutes causando impacto na realidade juriacutedica e administrativa

brasileira faz-se relevante o estudo do tema do qual se extraem pontos polecircmicos que

circundam tanto sua construccedilatildeo procedimental quanto o seu conteuacutedo juriacutedico material

Daiacute a necessidade de se analisar se o texto da suacutemula expocircs o que deveria expor - nos

termos das normas constitucionais e legais que regem o verbete vinculante em

concordacircncia com seus proacuteprios precedentes e ainda quais foram as suas

consequecircncias A partir disto se verifica se o STF ao realizar a construccedilatildeo judicial e

reconstruir a normativa da vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da Suacutemula Vinculante n 13

exorbitou a normatividade do proacuteprio instituto a partir da apreciaccedilatildeo das argumentaccedilotildees

expostas pelos Ministros do STF tanto nos seus quatro precedentes quanto nos dois

debates que a antecederam e que constituem as balizas de sua ediccedilatildeo com vistas a

esclarecer o seu sentido na forma que foi ementada Ainda se observa a ligaccedilatildeo da

noccedilatildeo poliacutetico-administrativa de nepotismo com a sua noccedilatildeo juriacutedica e a exposta pela

SV n13 bem como sua relaccedilatildeo com a moralidade no acircmbito constitucional tendo em

vista o sentido e alcance desta e se enfoca a dinacircmica de decidir dos Ministros do STF

sob a oacutetica da hermenecircutica juriacutedica analisando a maneira como eles decidem e a forma

como deveriam decidir especialmente quanto agrave interpretaccedilatildeo dos princiacutepios de acordo

com a norma constitucional e enfim se trata do procedimento de elaboraccedilatildeo da Suacutemula

Vinculante a fim de se analisar como deve ser construiacutedo o seu processo editorial qual

o seu sentido e efetivo alcance

Palavras-Chaves 1 Direito Constitucional 2 Nepotismo 3 Moralidade Puacuteblica 4

Suacutemula Vinculante 5 Jurisdiccedilatildeo Constitucional

8

ABSTRACT

The primary objective this work is the analysis about Precedent Instruction nordm 13 It

edited by the Supreme Court (STF) on August 21th 2008 in order to prevent nepotism

on all levels of Government Its legal reference is article 37 of the Constitution in other

words it is based on more importants principles of the Public Administration morality

impartiality and efficiency For this reason and given that Precedent Instructionlsquo effect

reached all the 3 powers of each of the Federated States impacting the Brazilian legal

and administrative rules itlsquos important the subject of the study which are extracted

controversial points surround both its procedural construction as its legal content

material Hence the need to analyze if the text of the summary set out what should

expose - under the constitutional and legal provisions which govern the binding Entry in

accordance with its own precedents and also what were the consequences From this we

can very appears that the Supreme Court in making the judicial construction and

reconstruct the rules of the bloc of nepotism by Precedent Instruction n 13 went

beyond the normativity of the Office itself from an examination of the arguments

exposed by the Ministers of the Supreme Court both in their previous four as the two

debates that preceded it and which are the beacons of its issue in order to clarify its

meaning in the form that was written Also note the connection of political and

administrative notion of nepotism with his legal concept and the exposed by Precedent

Instruction n13 as well as its relationship with morality within the constitutional

instruction in view of the meaning and scope of this and focuses the dynamics of

decision of the Ministers of the Supreme Court from the perspective of legal

interpretation analyzing the way they decide and how should decide especially as to

the interpretation of the principles according to constitutional rule and finally it comes

to the procedure elaboration of Precedent Instruction in order to analyze how it should

be built your editorial process which its meaning and effective range

Key Words 1 Constitutional Law 2 Nepotism 3 Public Morality 4 Summary

Vinculante5 Constitutional jurisdiction

9

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO p 10

1 A CONSTRUCcedilAtildeO JUDICIAL DA NOCcedilAtildeO DE NEPOTISMO E DE SUA

VEDACcedilAtildeO PELA SUacuteMULA VINCULANTE N13 p 41

11 Os precedentes da SV n13 p41 111 A Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade n 1521-4RS p41

112 O Mandado de Seguranccedila n 23780-5MA p46

113 Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade n12-6DF p48

114 Recurso Extraordinaacuterio n 579951RN p57

12 Os debates do Supremo Tribunal Federal sobre a SV n13 p63

13 Asserccedilotildees sobre a elaboraccedilatildeo da SV n13 e a reconstruccedilatildeo normativa da

vedaccedilatildeo do nepotismo pelo STF p68

2 O NEPOTISMO E A (I) MORALIDADE PUacuteBLICA A COMPREENSAtildeO NA

PERSPECTIVA BRASILEIRA p75

21 Bases histoacutericas do nepotismo no Brasil de heranccedila portuguesa a viacutecio da

administraccedilatildeo puacuteblica brasileira p75

22 A noccedilatildeo de nepotismo sob a oacutetica do magisteacuterio doutrinaacuterio no Brasil p78

23 A Moralidade Puacuteblica e a vedaccedilatildeo do nepotismo na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

de 1988 p84

231 O contraventor do princiacutepio da impessoalidade p94

232 O viacutecio que danifica o princiacutepio da eficiecircncia p98

233 O fim avesso ao princiacutepio da finalidade e ao interesse puacuteblico p100

234 A Moralidade Puacuteblica antiacutedoto do Nepotismo p101

24 Consideraccedilotildees Parciais p107

3 HERMENEUTICA E PODER NORMATIVO COMO OS MAGISTRADOS

DECIDEM E COMO DEVERIAM DECIDIR p112

31 Hermenecircutica juriacutedica e a aplicaccedilatildeo judicial p112

311 Como os magistrados decidem p112

3111 Hans Kelsen p112

3112 Alf Ross p114

3113 Eros Grau p119

312 Como os magistrados deveriam decidirp124

3121 Friedrich Karl Von Savigny p 124

3122 ChaiumlmPerelman p126

3123 Karl Larenz p 130

3124 Inocecircncio Maacutertires Coelho p134

32 Hermenecircutica Constitucional o poder normativo e a intepretaccedilatildeo dos

princiacutepios e postulados constitucionais p139

321 Inocecircncio Maacutertires Coelho p 139

32 Consideraccedilotildees a partir de Ronald Dworkin e Robert Alexy Ronald Dworkin p 143

323 Marcelo Neves p 146

324 Humberto Aacutevila p147

33 Consideraccedilotildees Parciais p152

10

4 A JURISDICcedilAtildeO CONSTITUCIONAL E A SUacuteMULA VINCULANTE N 13 p

162

41 A Suacutemula Vinculante no sistema normativo brasileiro p162

42 Sentido e alcance da Suacutemula Vinculante n 13 p167

421 Parentesco por consanguinidade e afinidade ateacute o terceiro grau p171

422 Parentesco com autoridade ou servidor ocupante de cargo comissionado p174

423 Acircmbito da mesma pessoa juriacutedica p176

424 Nomeaccedilatildeo de parente para cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila p179

425 Nepotismo Cruzado p189

43 Consequecircncias de seu sentido e alcance p 190

431 Reclamaccedilatildeo n 6838DF p190

432 Decreto Presidencial n 720310 p195

433 Multiplicidade de Reclamaccedilotildees p197

44 Consideraccedilotildees Parciais p200

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS p208

REFEREcircNCIAS p 213

11

INTRODUCcedilAtildeO

A presente dissertaccedilatildeo tem como objeto central a anaacutelise da construccedilatildeo da

Suacutemula Vinculante n 13 editada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2182008

a fim de obstar o nepotismo no acircmbito das trecircs esferas do Poder Puacuteblico de todos os

entes da Federaccedilatildeo tendo como referecircncia legislativa o disposto no caput do art 37 da

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 ou seja nos princiacutepios basilares da Administraccedilatildeo

Puacuteblica especialmente nos da moralidade impessoalidade e eficiecircncia como se

constata tanto pelos debates acerca dos termos do verbete sumular como pelos votos

dos Ministros nos quatro precedentes da SV n13 ADI n 1521-4RS MS 23780-5MA

MC - ADC n 12-6DF e a proacutepria ADC n 12-6DF e o RE n 579951RN1

A primeira redaccedilatildeo da citada Suacutemula foi ―baseada no julgamento da ADC n

12-6DF do RE n 579951 do MS n 23718 e em ―outros pronunciamentos2 com os

seguintes dizeres

A proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta em

qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

1 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade ADI n 1521-4RS Ementaacuterio n 1983-1

―CARGO DE CONFIANCcedilA ndash PARENTESCO ndash NOMEACcedilAtildeO E EXERCIacuteCIO - PROIBICcedilAtildeO ndash EMENDA

CONSTITUCINAL ndash ADI ndash LIMINAR Relator Min Marco Aureacutelio julgada em 12397 e publicada no DJ de

170300 Ajuizada pelo Procurador-Geral da Repuacuteblica Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em 100213

BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS 23780-5MA Ementaacuterio n 2223-1 ―MANDADO

DE SEGURANCcedilA NEPOTISMO CARGO EM COMISSAtildeO IMPOSSIBILIDADE PRINCIacutePIO DA

MORALIDADE ADMINISTRATIVA Ajuizado pela servidora Terezinha de Jesus Cunha Belford Relator Min

Joaquim Barbosa julgada em 28905 e publicada no DJ de 3306 Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em

100213 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar da Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC -

ADC n 12-6DF Ementaacuterio n 2245-1 ―EMENTA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE CONSTITUCIONALIDADE

AJUIZADA EM PROL DA RESOLUCcedilAtildeO Nordm 07 de 18102005 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA

MEDIDA CAUTELAR Relator Min Carlos Ayres Britto julgada em 16022006 e publicada no DJ de 010906

Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em 100213 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Declaratoacuteria

de Constitucionalidade ADC n 12-6DF Ementaacuterio n 2387-1 ―ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE

CONSTITUCIONALIDADE AJUIZADA EM PROL DA RESOLUCcedilAtildeO Nordm 07 de 181005 DO CONSELHO

NACIONAL DE JUSTICcedilA ATO NORMATIVO QUE DISCIPLINA O EXERCIacuteCIO DE CARGOS EMPREGOS E

FUNCcedilOtildeES POR PARENTES COcircNJUGES E COMPANHEIROS DE MAGISTRADOS E DE SERVIDORES

INVESTIDOS EM CARGOS DE DIRECcedilAtildeO E ASSESSORAMENTO NO AcircMBITO DOS OacuteRGAtildeOS DO PODER

JUDICIAacuteRIO E DAacute OUTRAS PROVIDEcircNCIAS Ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros - AMB e

patrocinada por Luis Roberto Barroso Relator Min Carlos Ayres Britto julgada em 20082008 DJ n 237 de

18122009 Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em 100213 BRASIL Supremo Tribunal Federal

Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ementaacuterio n 2338-10 ―ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA VEDACcedilAtildeO

NEPOTISMO NECESSIDADE DE LEI FORMAL INEXIGIBILIDADE PROIBICcedilAtildeO QUE DECORRE DO ART

37 CAPUT DA CF REPROVIDO EM PARTE Relator Min Ricardo Lewandowski julgado em 200808 e

publicada no DJ n 202 de 241008 Ajuizado pelo Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte Disponiacutevel em

http wwwstfjusbr Acesso em 100213Tais precedentes dentre outras coisas demonstraratildeo (ou natildeo) se

configuram de acordo com o art 103-A da Constituiccedilatildeo Federal um dos requisitos constitucionais referentes agrave

elaboraccedilatildeo de suacutemula vinculante qual seja ―reiterada jurisprudecircncia 2 BRASIL Supremo Tribunal Federal Debate sobre a Suacutemula Vinculante n 13 que integra a Ata da 21ordf (vigeacutesima

primeira) sessatildeo ordinaacuteria realizada em 200808 publicada no STF - DJe n 2142008 divulgado na terccedila-feira

111108 e publicado na quarta-feira 121108 p 20-24 p20 Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em

100213

12

Municiacutepios independe de lei decorrendo diretamente dos princiacutepios contidos

no artigo 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal3

Contudo nesse esteio foi recomendada outra redaccedilatildeo

A proibiccedilatildeo da nomeaccedilatildeo em cargo comissionado ou funccedilatildeo de confianccedila de

cocircnjuge companheiro ou parente de autoridade nomeada e investida em

cargo de direccedilatildeo chefia ou assessoramento na Administraccedilatildeo Puacuteblica direta

e indireta em qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados e dos Municiacutepios

independe de lei decorrendo diretamente dos princiacutepios contidos no artigo

37 caput da Constituiccedilatildeo4

Mas ao final dos debates o STF ―visando dirimir conflitos a respeito do tema

e expurgar a praacutetica do nepotismo no acircmbito judicial5 e ainda atuando como ―regrador

geral do paiacutes 6 ementou a SV n13 nos seguintes termos

A nomeaccedilatildeo de cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou

por afinidade ateacute terceiro grau inclusive da autoridade nomeante ou de

servidor da mesma pessoa juriacutedica investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo ou de confianccedila ou

ainda de funccedilatildeo gratificada na administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta em

qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

Municiacutepios compreendido o ajuste mediante designaccedilotildees reciacuteprocas viola a

Constituiccedilatildeo Federal7

Dessa forma em homenagem ao princiacutepio republicano e aos administrativos

da moralidade da impessoalidade da eficiecircncia e da finalidade com o intento de coibir

que agentes puacuteblicos confiram privileacutegios empregatiacutecios a seus parentes utilizando-se da

maacutequina estatal o STF traccedilou a noccedilatildeo de nepotismo por meio do texto do verbete

sumular e ―causou estreacutepito em todos os Poderes da Repuacuteblica Brasileira8 porque a

SV 13 ―natildeo se limitou a declarar a vedaccedilatildeo constitucional do nepotismo9 mas teceu

minuacutecias sobre o assunto reconstruindo normativamente a proibiccedilatildeo do nepotismo

Nesse contexto enquanto alguns representantes do magisteacuterio doutrinaacuterio

passaram a afirmar que o STF editou a Suacutemula Vinculante n13 impulsionado pela

3BRASIL Supremo Tribunal Federal Debate sobre a Suacutemula Vinculante n 13 que integra a Ata da 21ordf (vigeacutesima

primeira) sessatildeo ordinaacuteria realizada em 200808 publicada no STF - DJe n 2142008 divulgado na terccedila-feira

111108 e publicado na quarta-feira 121108 p20 Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em 100213 4 Ministro Cezar Peluso Ibidem fl 20 5EMPIROTTI Gabriele Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula n13 e sua eficaacutecia In Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 p 37-49 fev 2013 p39 6RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no Serviccedilo Puacuteblico Brasileiro e a SV 13 In Revista de Direito

Administrativo- RDA Rio de Janeiro v 260 p 203-229 maiago 2012 p 209 7 BRASIL Supremo Tribunal Federal Debate sobre a Suacutemula Vinculante n 13 que integra a Ata da 21ordf (vigeacutesima

primeira) sessatildeo ordinaacuteria realizada em 200808 publicada no STF - DJe n 2142008 divulgado na terccedila-feira

111108 e publicado na quarta-feira 121108 p20 Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em 100213p 24 8 OLIVEIRA George Feliacutecio Gomes de Da anaacutelise da Suacutemula Vinculante 13 do Supremo Tribunal Federal Alcance

Precedentes e Motivos Determinantes da norma que veda a praacutetica do Nepotismo no Brasil In Revista dos Tribunais

- RT v 98 n 890 p 9-32 dez 2009 p 10 9 DIZ Nelson Nascimento Nepotismo Suacutemula Vinculante nordm 13 Limitaccedilatildeo ao tratamento por lei In Revista de

Direito do Estado - RDE v 3 n 12 p385-391 outdez 2008 p390

13

necessidade de moralizar a administraccedilatildeo puacuteblica10

outros alegaram que o motivo que

levou o STF a editar a Suacutemula Vinculante que veda a praacutetica do nepotismo foi a ―mora

legislativa11

Todavia haacute de se ressaltar que nessa eacutepoca a Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e

Justiccedila e de Cidadania da Cacircmara Federal pressionada pelas sucessivas notiacutecias de

casos de nepotismo12

aprovou no dia 13 de abril de 2005 seis propostas de emenda

constitucional que proibiam a contrataccedilatildeo sem concurso de parentes ateacute o segundo

grau por autoridades dos trecircs Poderes da Uniatildeo dos Estados e dos Municiacutepios quais

sejam as PECs n 334 de 199613

que dispotildee sobre a vedaccedilatildeo para cocircnjuge parente ateacute o

segundo grau e companheiro n 558 de 199714

que proiacutebe a contrataccedilatildeo de parentes

nos trecircs poderes da Uniatildeo n 101 de 199915

que amplia os cargos em que a contrataccedilatildeo

de parente eacute vedada n 549 de 200216

que veda a nomeaccedilatildeo de parentes nos trecircs

poderes nos diferentes niacuteveis de governo com exceccedilatildeo do concursado e de parentesco

constituiacutedo apoacutes a nomeaccedilatildeo n 128 de 200317

e n193 de 200318

10 ―Era mesmo necessaacuteria portanto uma regulaccedilatildeo expressa da mateacuteria inclusive como forma de resguardar as

autoridades administrativas com espiacuterito republicano contra as tatildeo arraigadas pressotildees poliacuteticas no sentido de colocar

a maacutequina estatal a serviccedilo de interesses privados ESTRELLA Heron Nunes Nepotismo Aplicaccedilatildeo da Suacutemula

Vinculante n 13 do Supremo Tribunal Federal In Interesse Puacuteblico v 10 n 54 p 245-278 maiabr 2009 p 265-

266 ―Apoacutes tantos casos questionando a ocorrecircncia de nepotismo em vaacuterios setores da Administraccedilatildeo () resolveu se

posicionar e definir um conceito restrito vinculando as instacircncias inferiores ao seu entendimento mediante Suacutemula

Vinculante AMORA Luis Armando Saboya O Nepotismo o Recurso Extraordinaacuterio 579951RJ e a Suacutemula

Vinculante n13 do Supremo Tribunal Federal In MARIANO Cynara Monteiro e LIMA Martonio Montlsquoalverne

Barreto O Supremo Tribunal Federal e os casos difiacuteceis Florianoacutepolis Grupo conceito p 293-306 2012 p 295 11 ― () a mora de nossas casas legislativas no que toca agrave ediccedilatildeo de Lei regulamentando a mateacuteria a descrenccedila e

ilegitimidade que tomam conta do Parlamento onde a praacutetica do Nepotismo por parte dos agentes poliacuteticos tornou-se

recorrente a crise da Lei () como uacutenica forma de conduta exigiacutevel de particulares e do proacuteprio Estado a

supervalorizaccedilatildeo da eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitucionais o robustecimento da atuaccedilatildeo juriacutedica e poliacutetica do

Supremo Tribunal Federal enquanto Corte Constitucional () ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira de A ilegitimidade

Constitucional da Suacutemula Vinculante n 13 do STF e os limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica In Revista

Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia - Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro

Victor Nunes Leal v3 n 9 p 131-148 marabr 2011 p137 ―De qualquer modo dado o impacto simboacutelico e a

necessidade de diretrizes mais claras a Corte Suprema viu-se na contingecircncia de normatizarlsquo a mateacuteria numa suacutemula

vinculante para colmatar a renitente omissatildeo do Legislativo RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no Serviccedilo

Puacuteblico Brasileiro e a SV 13 In Revista de Direito Administrativo- RDA Rio de Janeiro v 260 p 203-229

maiago 2012 p 204-205 12 GARCIA Emerson Nepotismo origens e paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano IX n 200 p 24-27

mai2005 p 24 13 De autoria do ex-Deputado Aldo Arantes 14 De titularidade do ex-Deputado Carlos Nelson 15 De autoria do ex-Deputado Padre Roque 16 De titularidade do ex- Deputado Joseacute Dirceu 17 De autoria do ex Deputado Antocircnio Biscaia igual a anterior 18 De titularidade do Deputado Raul Jungmann que natildeo dispotildee diretamente sobre nepotismo mas trata da permissatildeo

da quebra de sigilo bancaacuterio e fiscal para os cargos de confianccedila ateacute o terceiro escalatildeo

14

E assim no dia 20 de abril de 2005 foi criada uma Comissatildeo Especial

constituiacuteda por 32 integrantes para discutir e sistematizar as seis emendas a serem

aprovadas em um projeto mas natildeo se logrou ecircxito19

Outros ainda aduziram que tal motivaccedilatildeo natildeo legitimaria a ediccedilatildeo da suacutemula

haja vista que seria prescindiacutevel que a vedaccedilatildeo no nepotismo decorresse de normativa

infraconstitucional20

Todavia o STF no ensejo de obstar as nomeaccedilotildees em cargos comissionados e

designaccedilotildees em funccedilotildees de confianccedila baseadas na satisfaccedilatildeo do interesse pessoal em

detrimento do puacuteblico assentou por meio do verbete sumular a reconstruccedilatildeo21

da

vedaccedilatildeo ao nepotismo bem como a proacutepria noccedilatildeo deste de forma a abarcar a nomeaccedilatildeo

de cocircnjuge e companheiro22

bem como dos parentes consanguiacuteneos em linha reta23

colateral24

e por afinidade25

ateacute o terceiro grau seja da autoridade nomeante ou de

servidor investido em cargo comissionado inclusive por designaccedilotildees reciacuteprocas26

em

funccedilatildeo de confianccedila ou cargo comissionado27

vinculando natildeo soacute ―todas as instacircncias

19 GARCIA Emerson Nepotismo origens e paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano IX n 200 p 24-27

mai2005 p24 20 Seraacute observado mais a frente que o STF quando tratou dos precedentes descaracterizou a necessidade de se

regulamentar a proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica por lei em sentido formal Segundo os Ministros o

nepotismo fere os princiacutepios da moralidade impessoalidade e eficiecircncia que regem a Administraccedilatildeo Puacuteblica e

assim sua vedaccedilatildeo decorre da autoaplicaccedilatildeo de tais princiacutepios insculpidos no art 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal

natildeo havendo portanto necessidade de lei especiacutefica a regulamentar a mateacuteria 21 Quando comparada com outras normativas antecedentes a ela eacute que se observa a reconstruccedilatildeo normativa da

vedaccedilatildeo do nepotismo o que seraacute verificado no final desta introduccedilatildeo 22 Parece loacutegico que o STF ao reconhecer a uniatildeo estaacutevel entre pessoas do mesmo sexo possibilita que o nepotismo

tambeacutem alcance a relaccedilatildeo homoafetiva 23 Os parentes consanguiacuteneos podem ser em linha retal ou colateral sendo a primeira referente agrave ascendecircncia e

descendecircncia Contando seus graus o primeiro grau ascendente refere-se aos pais e o segundo aos avoacutes Assim na

linha reta ascendente o nepotismo abarca os avoacutes Jaacute na linha descendente tecircm-se em primeiro grau os filhos e no

segundo grau os netos Portanto na linha reta descendente o nepotismo se limita aos netos 24 A linha colateral eacute aquela em que os parentes consanguiacuteneos partem de um mesmo descendente Como se inicia a

contagem do ascendente em comum nos pais que satildeo os parentes de primeiro grau de ambos o primeiro parente

colateral jaacute eacute de segundo grau que eacute o irmatildeo Os primos satildeo parentes de quarto grau natildeo alcanccedilados portanto pela

relaccedilatildeo de parentesco disposta pela suacutemula 25 O artigo 1595 do CC dispotildee que cada cocircnjuge ou companheiro eacute aliado aos parentes do outro pelo viacutenculo da

afinidadesect 1ordm - O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes aos descendentes e aos irmatildeos do cocircnjuge ou

companheirosect 2ordm - Na linha reta a afinidade natildeo se extingue com a dissoluccedilatildeo do casamento ou da uniatildeo estaacutevel

Entatildeo o viacutenculo por afinidade eacute criado pelo casamento e uniatildeo estaacutevel lembrando que nem com o divoacutercio existem

ex-sogros conforme o que dispotildee o CC Mas tendo em vista a previsatildeo disposta na Suacutemula a extensatildeo do

parentesco por afinidade no que concerne ao nepotismo chega ao terceiro grau abarcando os pais avocircs e bisavocircs

filhos netos e bisnetos irmatildeos sobrinhos e tios do cocircnjuge ou do companheiro assunto este que seraacute esmiuccedilado

mais adiante no presente trabalho 26 As quais configuram o nepotismo cruzado que ocorre quando duas autoridades ou servidores puacuteblicos que

ocupam cargo comissionado nomeiam em cargos de comissatildeo familiares um do outro sejam consanguiacuteneos ou afins

ateacute terceiro grau como troca de favor sendo portanto imprescindiacutevel a reciprocidade de favores para a

configuraccedilatildeo da espeacutecie proibida pela Suacutemula Vinculante Segundo Gina Copola ldquoReitere-se portanto que se natildeo

ocorrer o ajuste mediante designaccedilotildees reciacuteprocaslsquo entre as autoridades nomeantes natildeo ocorre o nepotismo cruzado e

assim se retira por completo a ilegalidade das nomeaccedilotildees realizadas COPOLA Gina O Nepotismo Cruzado e a

Suacutemula Vinculante n 13 do egreacutegio Supremo Tribunal Federal A improbidade administrativa Jurisprudecircncia sobre

o tema In Boletim de Direito Administrativo - BDA v 28 n07 p 785-789 jul 2012 p 789 27 Todas as expressotildees destacadas em itaacutelico na forma dispostas no acircmbito da Suacutemula sofrem aacuterduas criacuteticas dos

juristas

15

do Judiciaacuterio mas tambeacutem os ―Poderes Legislativo e Executivo (tanto a administraccedilatildeo

direta quanto a indireta) 28

Diante disso e tendo em vista que o seu efeito vinculante atingiu a todos os

Poderes de cada um dos Entes Federados do Paiacutes causando impacto na realidade

juriacutedica e administrativa brasileira faz-se relevante o estudo do tema Relevacircncia esta

que se assenta ao se observar o processo de decisatildeo da ediccedilatildeo da SV n13 do qual se

extraem pontos polecircmicos que circundam tanto sua construccedilatildeo procedimental quanto o

seu conteuacutedo juriacutedico material

O problema eacute que natildeo se sabe se o STF ao realizar a construccedilatildeo judicial e

reconstruir a normativa da vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da Suacutemula Vinculante n 13

exorbitou a normatividade do proacuteprio instituto

Daiacute a necessidade de se analisar se o texto da suacutemula expocircs o que deveria

expor - nos termos das normas constitucionais e legais que regem o verbete vinculante

em concordacircncia com seus proacuteprios precedentes e ainda quais foram as suas

consequecircncias A partir disto se verificaraacute se a SV n13 extrapolou os limites do proacuteprio

instrumento constitucional

Assim em torno da problemaacutetica satildeo suscitadas as seguintes hipoacuteteses

A partir de quais fundamentos o STF construiu a noccedilatildeo judicial sobre o

nepotismo e sua vedaccedilatildeo Os elementos sobre os quais foi construiacuteda tal noccedilatildeo satildeo os

mesmos nos quatro precedentes A redaccedilatildeo sumular guarda correspondecircncia com os

mesmos Qual motivaccedilatildeo acarretou a elaboraccedilatildeo da SV n13

A partir da noccedilatildeo administrativa-poliacutetica brasileira e da noccedilatildeo juriacutedica de

nepotismo a Suacutemula Vinculante n 13 abarcou todos os casos de privilegiamento

contraacuterios agrave moralidade puacuteblica

O STF utilizou de teacutecnicas e meacutetodos pertinentes agrave hermenecircutica juriacutedica

especialmente a constitucional tanto para julgar os precedentes quanto para construir a

noccedilatildeo judicial de nepotismo

O enunciando vinculante eacute consistente jaacute que se embasa apenas em quatro

julgados29

Eles configurariam jurisprudecircncia reiterada sobre a mateacuteria

28 PIRES Luis Manoel Fonseca Controle Judicial do Nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante do Supremo

Tribunal Federal In In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e

moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p235-252 p 247

16

A redaccedilatildeo da S V n 13 guardou coerecircncia com a finalidade do Instituto

Suacutemula Vinculante de ser clara objetiva e apaziguadora de controveacutersias jaacute que tece

minuacutecias sobre o nepotismo

A originalidade do texto sumular atende ao princiacutepio da legalidade jaacute que a S

V n 13 dispotildee de forma dissonante da constitucional e legal sobre temas juriacutedicos

como pessoa juriacutedica de direito puacuteblico e parentela por afinidade

Para que assim se possa responder o seguinte problema apresenta-se a questatildeo

o STF ao realizar a reconstruccedilatildeo normativa da vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da

Suacutemula Vinculante n 13 exorbitou a normatividade do proacuteprio Instituto A SV n 13 eacute

vaacutelida ou merece revisatildeo do tribunal

A fim de estear as hipoacuteteses perquiridas - as quais se visam responder por meio

dos capiacutetulos do texto - faz-se necessaacuterio realizar algumas consideraccedilotildees iniciais sobre

elementos que guardam relaccedilatildeo com o tema do trabalho

A primeira eacute pertinente agraves origens do nepotismo e sua implementaccedilatildeo no

Brasil a segunda refere-se agrave moralidade puacuteblica como preceito da administraccedilatildeo e a

terceira refere-se agraves normativas que apoacutes a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 vedaram o

nepotismo e formaram a base da ediccedilatildeo da Suacutemula Vinculante

O nepotismo remonta a quatro noccedilotildees30

sendo a mais relevante ao estudo a que

pertence ao haacutebito papal de privilegiar seus parentes que eram empregados na Santa Seacute

inclusive sobrinhos ditos nepoti na liacutengua italiana daiacute a designaccedilatildeo do nepotismo

acrescido do sufixo ismo que traduz a praacutetica31

Assim as origens do nepotismo remetem agraves praacuteticas de raiacutezes eclesiaacutesticas

arraigadas na Igreja que consistiam na nomeaccedilatildeo por Sua Santidade de familiares

29 Dissonantes em vaacuterios aspectos quanto agrave noccedilatildeo de nepotismo tanto as argumentaccedilotildees apresentadas pelos Ministros

no debate da suacutemula quanto os acoacuterdatildeos precedentes do enunciado 30 Duas decorrentes da palavra latina nepos sendo que uma indica ―posteridade podendo ser igualmente utilizado no

sentido de dissipador proacutedigo perdulaacuterio e devasso conforme Dicionaacuterio Latino Portuguecircs pp 550551 GARCIA

Emerson O Nepotismo Boletim de Direito Administrativo-BDA jun 2003 p 461-463 p461 e a outra define uma

espeacutecie de escorpiatildeo cujas crias colocando-se no dorso materno devoram a matildee conforme afirma Zelio Maia da

ROCHA Nepotismo e o Concurso Puacuteblico Criteacuterio objetivo de ausecircncia de moralidade e impessoalidade na

Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Juriacutedica Consulex ano 12 n 286 dez 2008 p 40-41 p 40 O autor em uma

posiccedilatildeo diferenciada dos demais afirma que ―Esta situaccedilatildeo me parece mais proacutexima ao que vivemos hoje no Brasil

ou seja aquele que se apodera do Estado e visa apenas o benefiacutecio proacuteprio em detrimento da coletividade Haacute ainda

outra noccedilatildeo pois ―para alguns proveacutem do nome do imperador romano Flaacutevio Juacutelio Nepote (em latim Flavius Iulius

Nepos) conforme informa Joatildeo Gaspar RODRIGUES Nepotismo no Serviccedilo Puacuteblico Brasileiro e a SV 13 Revista

de Direito Administrativo - RDA Rio de Janeiro v 260 maiago 2012 p 203-229 p 205 31 POLITO Andreacute Guilherme Michaelis Dicionaacuterio Escolar Italiano Italiano-Portuguecircs Portuguecircs Italiano Satildeo

Paulo Ed Melhoramentos 2007 p 609 e 684

17

sobretudo de netos e sobrinhos em cargos pontifiacutecios tanto que Marsiacutelio de Paacutedua

noticia a ocorrecircncia de tal praacutetica nos idos do seacuteculo XIV32

Nesse esteio Emerson Garcia sintetiza o histoacuterico do nepotismo durante os

seacuteculos na igreja demonstrando ainda a iacutentima ligaccedilatildeo entre a nobreza os Governantes

de Roma e a Igreja sendo aqueles nomeados para cargos desta33

e Dioacutegenes Gasparini

afirma que o nepotismo ―expressava o costume adotado pelos papas dos seacuteculos XV e

XVI consistente no favorecimento sistemaacutetico de suas famiacutelias (sobrinhos e outros

parentes) com tiacutetulos (cargos de autoridade) e doaccedilotildees (presentes materiais)34

O fato de que nepotismo adveio da praacutetica papal foi tatildeo notoriamente assentado

na histoacuteria que restou absorvido pelos operadores do direito paacutetrio ao elucidarem no

acircmbito juriacutedico sobre o tema35

Mas este costume natildeo pode ser atribuiacutedo apenas agraves

accedilotildees do Sumo Pontiacutefice da Igreja Catoacutelica uma vez que jaacute na Roma antiga os seus

imperadores beneficiavam seus familiares com cargos de prestiacutegios tiacutetulos e outras

honrarias36

E a praacutetica natildeo parou em Roma Antiga muito pelo contraacuterio se expandiu pelos

diversos Estados Absolutistas como costume do rei jaacute que o Estado se confundia com a

figura real e por consequecircncia a maacutequina estatal natildeo era vista como algo estatal

32 ―Com efeito quem natildeo ficaraacute espantado e estarrecido perante o fato de que esses jovens ignorantes da escritura

divina imaturos () inexperientes incultos e agraves vezes ateacute sabidamente criminosos foram nomeados para os

bispados mais importantes da igreja graccedilas agrave corrupccedilatildeo simoniacuteaca ou pela suacuteplica dos poderosos para natildeo

mencionar por vezes o terror por servilismo ou em razatildeo de laccedilos de parentesco p540 Segundo ele os papas ―()

se reservaram exclusivamente o direto de nomear para os cargos eclesiaacutesticos em geral () graccedilas agrave plenitude do

poder passaram a indicar pessoas ignaras nas Sagradas Paacuteginas mundanas incultas e com muita frequecircncia ateacute

indiviacuteduos sabiamente criminosos p538 Sendo tal nomeaccedilatildeo assim ―() porta maleacutevola atraveacutes da qual eles

proacuteprios jaacute entraram e que conduz aos cargos e benefiacutecios eclesiaacutesticos p544 Ainda elucida que a nomeaccedilatildeo para o

cargo era moeda de troca de favores ―O Bispo de Roma procurando obter em benefiacutecio proacuteprio o favor e a mercecirc

dos poderosos talvez tendo deles recebido uma soma de dinheiro promoveu o episcopado nas cidades mais

renomadas jovens ignorantes na lei divina PAacuteDUA Marsiacutelio op cit p544 PAacuteDUA Marsiacutelio O Defensor da

Paz Traduccedilatildeo e notas Joseacute Antocircnio Camargo Rodrigues de Souza introduccedilatildeo Joseacute Antocircnio Camargo Rodrigues de

Souza Francisco Berteloni e Gregorio Piaia Petroacutepolis RJ Vozes 1995 33 GARCIA Emerson Nepotismo Origens e Paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano 9 n 200 mai 2005 p 27

Fato este observado tambeacutem por Marsiacutelio de Paacutedua no Seacuteculo XIV 34

GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN

Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p71-98 p 73 35 Eacute o que demonstra a passagem do voto do Ministro Ricardo Lewandowski ―A utilizaccedilatildeo desse termo

historicamente adveacutem da autoridade exercida pelos sobrinhos e outros aparentados dos Papas na administraccedilatildeo

eclesiaacutestica nos seacuteculos XV e XVI da nossa era ganhando atualmente o significado pejorativo do favorecimento de

parentes por parte de algueacutem que exerce o poder na esfera puacuteblica ou privada BRASIL Supremo Tribunal Federal

Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Relator Min Ricardo Lewandowski julgado em 2082008 DJ n 202 de

24101008 Ementaacuterio n 2338-10 36 ―() Roma ao tempo de Juacutelio Ceacutesar em finais do seacuteculo I aC agravequela eacutepoca tornou-se comum o ato juriacutedico da

adoccedilatildeo a perfilhaccedilatildeo de adultos principalmente pelos poliacuteticos que natildeo possuiacuteam filhos homens Neste caso passava

o adotado a se beneficiar dos mesmos criteacuterios que os dos filhos legiacutetimos () GARCIA Emerson Nepotismo

Origens e Paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano 9 n 200 mai 2005 p26

18

puacuteblico mas particular pertencente ao monarca que poderia utilizar dela como bem lhe

conviesse37

E natildeo haacute de se esquecer de que na proacutepria Itaacutelia Renascentista natildeo unificada

na qual cada cidade era um Estado esta praacutetica ligava o poder estatal ao eclesiaacutestico e

vice-versa em um jogo de interesses entre as famiacutelias que governavam tais cidades-

estados e a Igreja em uma simbiose de luta pelo poder e pelo status por meio das

nomeaccedilotildees de parentes em ambos os cargos38

Diante disso eacute que Carmem Luacutecia afirma que a praacutetica do nepotismo natildeo foi

obstada pelo Estado de Direito pois ―a Lei que deveria informar o Poder ateacute os seacuteculos

XVII e XVIII natildeo era senatildeo a vontade do rei e dos poderosos que em torno dele

respiravam e que recebiam os favores que a ningueacutem mais eram concedidos A

doutrinadora ainda completa que a transposiccedilatildeo da vontade pessoal pela ―politizaccedilatildeo e

publicidade do poder estatal impessoal natildeo foram o bastante para romper a tradiccedilatildeo do

exerciacutecio pessoal e particular do Poder39

Isto porque o cerne do nepotismo ato de ―empregar parentes no poder

puacuteblico remonta ao entendimento de que o puacuteblico eacute privado de que a maacutequina

administrativa estatal eacute um patrimocircnio familiar do qual se pode dispor da forma que

quiser e natildeo como coisa puacuteblica que pertence ao povo algo bem encrustado na

monarquia independente do Estado ser Absolutista ou de Direito

37 ―O direito divino dos reis ()distribuiacutea repartia e compartilhava segundo os seus uacutenicos interesses a quem bem

entendesse e claro ele soacute entendia e o estendia a seus parentes e pessoas a ele ligadas A ideia do Poder do Estado

como res pessoal do monarca e natildeo Poder Puacuteblico () estendeu-se ao territoacuterio do Estado ROCHA Carmem Luacutecia

Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p 159 Tanto que

Thomas Hobbes em ―O Leviatatilde ao pregar um Estado forte absolutista firmado na monarquia suscita que esta eacute

preferiacutevel agrave democracia e que um dos motivos disto eacute que a praacutetica personalista pelo rei eacute menor que pela assembleia

incluiacutedo neste esteio o nepotismo como praacutetica de favorecimento da famiacutelia pois segundo o autor na monarquia haacute

um rei e na democracia haacute vaacuterios e como o monarca em quantidade de parentes eacute menor que os integrantes da

assembleia a monarquia seria preferiacutevel o cabedal de emprego e auxiacutelio seria menor Hobbes fundamenta sua tese no

fato de que seja quem for que represente o povo antes de tudo se representa como pessoa natural e mesmo que ―()

tenha o cuidado em sua pessoa poliacutetica de promover o interesse comum () teraacute mais ainda de promover seu proacuteprio

bem pessoal assim como o de sua famiacutelia seus parentes e amigos () De onde se segue que quanto mais

intimamente unidos estiverem o interesse puacuteblico e o interesse pessoal mais se beneficiaraacute o interesse puacuteblico Ora

na monarquia o interesse pessoal eacute o mesmo que o interesse puacuteblico () e enquanto os favoritos de um monarca satildeo

poucos e ele tem para favorecer apenas os seus parentes os favoritos de uma assembleia satildeo muitos e os parentes satildeo

em muito maior nuacutemero que os de um monarca HOBBES Thomas O Leviatatilde Satildeo Paulo Ed Martins Fontes

2003 p 162 38 Dioacutegenes Gasparini afirma que ―na Itaacutelia Renascentista era comum a nomeaccedilatildeo pelos titulares do poder puacuteblico

para postos militares e poliacuteticos de alta relevacircncia de seus proacuteprios familiares PIRES Luis Manuel Fonseca

ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa

GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico Belo Horizonte Ed Foacuterum 2008 p 73 E Emerson Garcia completa

asseverando que no ―periacuteodo que vai da metade do seacuteculo XV ateacute meados do XVII poucas famiacutelias dominaram o

Vaticano Orsini Colonna Meacutedici Barberini Deila Rovere e umas poucas mais que fizeram mais de quarenta

papas Nepotismo Origens e Paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano 9 n 200 mai 2005 p 27 39ROCHA Op cit p 159

19

Assim utilizado pela Igreja ou pelo Estado40

o nepotismo era empregado

como instrumento de poliacutetica familiar cuja finalidade eacute beneficiar o clatilde de um

determinado patronato e foi nesse esteio que se enraizou no Brasil

O governo e a corte da monarquia portuguesa sedimentados em uma sociedade

personalista e dividida em estamento tinham como costumes vaacuterias condutas que

confundiam o puacuteblico com o privado Dentre elas a concessatildeo de privileacutegios aos

servidores e agrave nobreza a proteccedilatildeo do rei aos seus e aos seus auxiliares41

Nesse esteio

se inseria o nepotismo configurado na disposiccedilatildeo de cargos e tiacutetulos utilizado pelo

monarca de acordo com o seu interesse como instrumento de privileacutegio e proteccedilatildeo aos

seus

O rei comandava impunha respeito obediecircncia e ordem por meio da

―autarquia do indiviacuteduo da exaltaccedilatildeo extrema da personalidade da paixatildeo fundamental

e que natildeo tolera compromissos42

a uma nobreza avessa ao trabalho que venerava o

oacutecio43

e como parasita do rei tinha o haacutebito de articular ―agrave custa da intriga bem tecida

da conversa doce ―a conquista ao emprego ao posto agrave dignidade44

40 ―() consiste numa poliacutetica para empregar parentes privilegiar os laccedilos de sangue ou de afinidade fechando-se o

preenchimento de cargos puacuteblicos em grupos familiares Tal poliacutetica revela uma reminiscecircncia da eacutepoca das grandes

monarquias e das repuacuteblicas aristocratas quando a figura central aqueles que detinham o poder conferiam

privileacutegios e cargos aos seus parentes enquanto os demais que natildeo circundavam essa classe privilegiada ficavam

excluiacutedos do acesso a tais privileacutegios ARAKAKI Allan Thiago Barbosa ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula

Vinculante 13 e o combate ao nepotismo Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI Ed RT

Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 p 101-121 abrjun 2011 p 103 Ainda como exemplo desta praacutetica pode-

se citar a conduta de Napoleatildeo ―que nomeou seu irmatildeo Napoleatildeo III para governar a Aacuteustria que abrangia a

Franccedila a Espanha e a Itaacutelia Com isto em muito diminuiacuteam as chances de uma possiacutevel traiccedilatildeo permitindo a

subsistecircncia do impeacuterio napoleocircnico GARCIA Emerson Nepotismo Boletim de Direito Administrativo ndash BDA jun

2003 p 461 41 Segundo Raymundo Faoro ―Do patrimocircnio do rei () fluiacuteam rendas para sustentar os guerreiros os delegados

monaacuterquicos espalhados no paiacutes e o embriatildeo dos servidores ministeriais aglutinados na corte FAORO Raymundo

Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p4 E Seacutergio

Buarque de Holanda informa que ―Em 1720 () soacute as pessoas investidas de cargo puacuteblico poderiam embarcar com

destino a colocircnia HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras

1995 p 102 Oliveira Viana assevera que ―Quando Portugal iniciou os descobrimentos () o campo do parentesco

adotivo tinha entatildeo uma extensatildeo muito maior do que a atual - o que ampliava consideravelmente o tamanho do

grupo patriarcal e em consequecircncia a forccedila e o prestiacutegio do pater-famiacutelias senhorial () Os acostados da Nobreza

eram havidos na conta de parentes () gloriando-se da sua casa adotiva e prontos a darem a vida pelo amo ()

VIANA Oliveira Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 223

Segundo Carmem Luacutecia ―Em Portugal () a Monarquia traduzia o paradigma de poder exercido pelo rei em seu

nome e segundo sua vontade Os cargos e empregos puacuteblicos podiam ser e eram por ele leiloados e presenteados

como o eram as proacuteprias terras colonizadas e onde se estendessem os domiacutenios portugueses Princiacutepios

Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p 159 42 HOLANDA Op cit p39 43 Conforme Seacutergio Buarque de Holanda ―Uma digna ociosidade sempre pareceu mais excelente e ate mais

nobilitante a um bom portuguecircs ou a um espanhol do que a luta insana pelo patildeo de cada dia () O certo eacute que

entre espanhoacuteis e portugueses a moral do trabalho representou sempre fruto exoacutetico Ibidem p 38 -39 44FAORO op cit p 81 ―Politicamente a camada dominante associada ao rei por conviacutevio fraternal e de

irmandade dispotildee de poderes administrativos e de comando os quais para se atrelarem ao rei dependem de

negociaccedilotildees e entendimentos Ibidem p 19

20

Nesse Estado patrimonialista em que o puacuteblico era privado e que o Estado era

o proacuteprio rei do rei para o rei e para aqueles que estavam a sua volta fossem parentes

ou amigos a uacutenica solidariedade que existia entre eles era ―de ciacuterculos forccedilosamente

restritos particularistas onde havia vinculaccedilatildeo de sentimentos () no recinto

domeacutestico ou entre amigos45

sendo o nepotismo apenas uma decorrecircncia deste

contexto46

Desta feita os portugueses construiacuteram o Brasil ―erguido sobre os pilares de

uma monarquia absolutista fazendo que monarca e administradores se mantivessem

unidos por elos iminentemente pessoais e paternalistas ―sem qualquer

comprometimento com ideais eacuteticos deveres funcionais ou interesses coletivos sendo

―a coisa puacuteblica ―coisa de ningueacutem e que sua uacutenica utilidade eacute satisfazer os interesses

da classe que ascendeu ao poder47

E mesmo que essa concepccedilatildeo tenha sido parcialmente alterada na eacutepoca da

invasatildeo de Portugal por Napoleatildeo pois tal acontecimento provocou a fuga da realeza

portuguesa para as terras brasileiras em 180848

natildeo influiu na distribuiccedilatildeo de tiacutetulos e

honrarias onde se acoberta o nepotismo49

45 HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 39 Paulo

Modesto ensina que ―() eacute a manifestaccedilatildeo tiacutepica de patrimonialismo na Gestatildeo do Estado ou dominaccedilatildeo patrimonial

() No patrimonialismo o governante organiza o poder poliacutetico como uma espeacutecie de poder domeacutestico segundo

viacutenculos de solidariedade e fidelidade tiacutepicos dos membros de uma famiacutelia Natildeo haacute impessoalidade () O poder eacute

exercido como propriedade pessoal do governante extensatildeo do seu domiacutenio privado sem realizar a distinccedilatildeo entre a

esfera puacuteblica e a esfera privada Os cargos satildeo vendidos ou concedidos () sendo utilizados para cooptaccedilatildeo e

favorecimento O poder eacute concebido como um bem privado e apropriado por seus exercentes sempre atentos agrave

proteccedilatildeo de seus dependentes e afilhados O governante eacute o pater familias supremo () descriccedilatildeo tiacutepica-ideal

sintetizada para conformar um conceito operacional e criacutetico de patrimonialismo no exerciacutecio do poder poliacutetico-

administrativo () eacute conceito uacutetil tambeacutem para descrever traccedilos amplamente verificados ao longo da histoacuteria poliacutetico

institucional brasileira () Eacute o culto ao patrimonialismo que explica porque o favorecimento de parentes e afins no

acesso a cargos e funccedilotildees puacuteblicas foi comportamento considerado normal durante largos periacuteodos de nossa histoacuteria

Nepotismo em Cargos Poliacutetico administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP Belo Horizonte Ed

Foacuterum v 11 n 41 abrjun 2013 p14-15 46 Segundo Florivaldo Dutra de Arauacutejo ―O nepotismo () constitui vertente do patrimonialismo modelo de

administraccedilatildeo puacuteblica que confunde o puacuteblico e o privado transformando as prerrogativas e os recursos puacuteblicos em

instrumentos a serviccedilo de interesses particulares O patrimonialismo caracterizou a administraccedilatildeo dos negoacutecios

puacuteblicos na maior parte da Histoacuteria e somente com a concepccedilatildeo do Estado de Direito passou a ser vista como

incompatiacutevel com o exerciacutecio das funccedilotildees estatais ARAUacuteJO Florivaldo Dutra O nepotismo e os princiacutepios da

administraccedilatildeo puacuteblica In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo

eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p117-128 p 118 47 GARCIA Emerson Repressatildeo agrave Corrupccedilatildeo no Brasil Entre a Realidade e a Utopia Rio de Janeiro Ed Lumen

Juris 2011 p 2 48 Segundo Emerson Garcia ―Napoleatildeo ao determinar a invasatildeo do territoacuterio portuguecircs e precipitar a fuga da famiacutelia

real em 1808 para o Brasil contribuiu decisivamente () feiccedilatildeo da colocircnia comeccedilou a mudar no momento em que a

famiacutelia real desembarcou em solo brasileiro e aqui se instalou () Com a presenccedila da famiacutelia real logo o Brasil

tornou-se o centro de comando das possessotildees portuguesas Op cit p 2-3 49 Nas palavras de Emerson Garcia ―Melhorias agrave parte a administraccedilatildeo puacuteblica brasileira cultivou maus haacutebitos

desde o nascedouro () A distribuiccedilatildeo de honrarias e tiacutetulos de nobreza foi uma das formas encontradas por D Joatildeo

VI para conquistar o apoio poliacutetico e financeiro da elite local variando a importacircncia dos tiacutetulos conforme a

intensidade do apoio declinado agrave Coroa Em apenas oito anos distribuiu mais tiacutetulos de nobreza que Portugal nos

trezentos anos anteriores Essa elite destituiacuteda de valores eacuteticos e movida pelo espiacuterito de troca () ascendeu ao

21

Desta feita a cultura inerente agrave monarquia portuguesa e sua corte50

que

privilegiava o personalismo em detrimento da impessoalidade que ensejava ao

indiviacuteduo a visualizar o cargo puacuteblico como uma forma de ―encostar-se ao Estado e se

nobilitar51

que ressaltava a busca da riqueza faacutecil em detrimento do trabalho52

que

confundia o espaccedilo puacuteblico e o privado a beneficiar uma minoria que ensinava que a

troca de favores e a influecircncia eram os meios adequados a se obter algo e ainda que se

deve obedecer a quem estaacute no poder em conformidade com o velho jargatildeo de ―manda

quem pode obedece quem tem juiacutezo foi sedimentada no Brasil53

Por isso pode-se dizer ―que de laacute () veio a forma atual de nossa cultura

―fundamentos do nosso destino histoacuterico de ―nossas raiacutezes governamental-

administrativa brasileira patrimonialista54

exaltadas na realidade colonial quase toda

poder e sedimentou um verdadeiro cranco na estrutura administrativa GARCIA Emerson Repressatildeo agrave Corrupccedilatildeo

no Brasil Entre a Realidade e a Utopia Rio de Janeiro Ed Lumen Juris 2011 p3-4 50 Segundo Viana ―os usos tradiccedilotildees costumes - em suma todas as modalidades estandardizadas ou

institucionalizadas de comportamento social impostas pelo que a Ciecircncia Social hoje chama de a culturalsquo do grupo

ou do povo - natildeo tem apenas uma existecircncia fora de noacutes ndash na sociedade mas tambeacutem dentro de noacutes na nossa

consciecircncia () Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p67

Segundo Holanda ―Por outro lado natildeo foi possiacutevel consolidarem-se ou cristalizarem-se padrotildees eacuteticos muito

diferentes dos que jaacute preexistiam para a nobreza () Op cit Paacuteg 112 De acordo com Roberto DAMATTA ―O

lado contundente de nossa histoacuteria eacute que somos um paiacutes feito por portugueses brancos e aristocraacuteticos uma sociedade

hierarquizada e que foi formada dentro de um quadro riacutegido de valores discriminatoacuterios O que faz o Brasil Brasil

Rio de Janeiro Rocco 1984 p27 51 Conforme Raymundo Faoro ―O estamento supotildee distacircncia social e se esforccedila pela conquista de vantagens

materiais e espirituais exclusivas () bem como asseguram privileacutegios materiais e de maneiras Os donos do Poder

Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p 47 ―No paiacutes os cargos satildeo

para os homens e natildeo os homens para os cargos Op cit p 58 52 Segundo Raymundo FAORO ―Os netos dos conquistadores de dois mundos podem sem desonra consumir no

oacutecio o tempo e a fortuna ou mendigar pelas secretarias um emprego o que natildeo podem sem indignidade eacute trabalhar

() noacutes preferimos ser uma aristocracia de pobres ociosos a ser uma democracia prospera de trabalhadores Op cit

p 87 ―O mundo colonial () consolidaraacute manteacutem o potencial da fortuna faacutecil () do enriquecimento raacutepido

Ibidem p216 ―Nem o branco portuguecircs nem o branco natural do paiacutes podem apanhar enxada ou tocar no arado O

trabalho braccedilal degrada e o equipara ao escravo ndash a esta infacircmia eacute preferiacutevel a ociosidade o parasitismo o expediente

da busca de proteccedilatildeo dos poderosos Ibidem p 217 53 Segundo Emerson Garcia haacute uma sedimentaccedilatildeo ―no imaginaacuterio popular de ―um sentimento de desvalorizaccedilatildeo dos

interesses puacuteblicos que sempre satildeo submetidos agraves mudanccedilas do tempo () e de hipervalorizaccedilatildeo do interesse

privado que deve assumir uma posiccedilatildeo de premecircncia custe o que custar E afirma que este quadro brasileiro se

iniciou no ―seu proacuteprio processo de colonizaccedilatildeo Repressatildeo agrave Corrupccedilatildeo no Brasil Entre a Realidade e a Utopia

Rio de Janeiro Ed Lumen Juris 2011 p 1-2 Para Faoro no Brasil Colocircnia os ―() fidalgos vivem das comendas e

rendas da coroa () A nobreza () se alimenta dos favores e das vantagens que fluem das matildeos do rei Os Donos do

Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p 220 ―E ainda haacute

delegados e concessionaacuterios dos monopoacutelios e privileacutegioslsquo bem como o particular nimbado com os favores

puacuteblicos Opcit p 222Segundo Faoro ―() aberto o acesso ao apelo retificador do rei somente aos poderosos O

funcionaacuterio eacute a sombra do rei e o rei tudo pode Ibidem p 172 Conforme os dizeres de VIANA o povo desde

sempre aprendeu que ―() soacute o senhor decidia soacute o senhor ordenava Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia

Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 299-301 E que assim ― () o povo-massa aprendia () princiacutepio uacutetil

-- de interesse puacuteblico era o do valor da obediecircncia agrave autoridade dos chefes ndash traccedilo () que () se tem ateacute agora

mantido fiel Idem p 304 Seacutergio Buarque de Holanda resume como ―essa acircnsia de prosperidade sem custo de

tiacutetulos honoriacuteficos de posiccedilotildees e riquezas faacuteceis tatildeo notoriamente caracteriacutestica da gente de nossa terra

HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p46 54 HOLANDA Op cit p 40 Eacute o que explica VIANA Os ―povos () da Ameacuterica que foram ―submetidos aos ()

espanhoacuteis portugueses sofreram desviaccedilotildeeslsquo da pauta cultural () Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia

Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p75 Segundo Faoro o ―espiacuterito dos povoadores e de que ―tudo

pretendem levar a Portugal e este espiacuterito se alastrou pois ―natildeo o tem soacute os que de laacute vieram mas ainda os que caacute

nasceram E desta visatildeo viciada ―nasce tambeacutem que nem um homem nesta terra eacute republicano nem zela ou trata do

22

rural e sedimentada nos clatildes formados pelos ―grupos rurais dominantes e enraizadas

nas relaccedilotildees pessoais parentais o que ensejou o aumento do personalismo55

E ocasionou consequecircncias costumeiras agrave esfera poliacutetica governamental e

administrativa brasileira as quais em seu conjunto patrimonialista estabeleceu as bases

para que o nepotismo natildeo apenas de enraizasse mas tambeacutem se ampliasse A primeira

delas eacute a forma de se se governar assentada no modelo patrimonial e no coronelismo -

maneira de fazer poliacutetica - desde o Impeacuterio56

proacutexima agrave ―de clientela com fundamental

distorccedilatildeo autoritaacuteria e povo votava em quem tinha que votar ―com promessas de

rendosos empregos e depreciadas condecoraccedilotildees57

E como a poliacutetica brasileira se constituiu em uma linha uniforme tambeacutem na

Repuacuteblica Velha - emancipada na poliacutetica dos governadores e no coronelismo - a

poliacutetica continuou a ser realizada de acordo com a pessoalidade os laccedilos de amizade a

afinidade e parentesco58

natildeo havendo qualquer mudanccedila posteriormente jaacute que os

estadistas continuavam sendo ―a minoria dirigente conduzindo o paiacutes com a pele de

bem comum senatildeo cada um do bem particular Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf

ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p 153 55 HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 15 ―() dos

vaacuterios setores de nossa sociedade colonial foi sem duacutevida a esfera da vida domeacutestica aquela onde o princiacutepio de

autoridade menos acessiacutevel se mostrou as forccedilas corrosivas que de todos os lados o atacavam Sempre imerso em si

mesmo natildeo tolerando nenhuma pressatildeo de fora o grupo familiar se mantem imune de qualquer restriccedilatildeo ou abalo

Em seu recatado isolamento pode desprezar qualquer princiacutepio superior que procure perturba-lo ou oprimi-lo () O

quadro familiar torna-se assim tatildeo poderoso e exigente que sua sombra persegue os indiviacuteduos mesmo fora do

recinto domeacutestico A entidade privada precede sempre neles agrave entidade puacuteblica A nostalgia dessa organizaccedilatildeo

compacta uacutenica e intransferiacutevel onde prevalecem necessariamente as preferencias fundadas em laccedilos afetivos natildeo

podia deixar de marcar nossa sociedade nossa vida puacuteblica e todas as nossas atividades Representando () o uacutenico

setor onde o princiacutepio de autoridade eacute indisputado a famiacutelia colonial fornecia a ideia mais normal do poder da

respeitabilidade da obediecircncia e da coesatildeo entre os homens O resultado era predominarem em toda a vida social

sentimentos proacuteprios a comunidade domeacutestica naturalmente particularista e antipoliacutetica uma invasatildeo do puacuteblico pelo

privado do Estado pela famiacutelia Ibidem p81-82 56 Segundo Viana os ―clatildes feudais e parentais que se formaram a partir de uma ―solidariedade levaram esta

―cooperaccedilatildeo aos movimentos poliacuteticos com ―fins exclusivamente eleitorais formando assim os ―clatildes eleitorais

Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 258 De acordo com

Faoro desde o Impeacuterio instituiacutedo o voto popular havia os coroneacuteis assim designados porque pagavam as despesas

Daiacute a nomenclatura coronelismolsquo passou a fazer parte da evoluccedilatildeo poliacutetico-social do Brasil ―A passagem do regime

imperial ao republicano iraacute acentuar e exacerbar a funccedilatildeo eleitoral do coronel Op cit p 622 Viana afirma que

nesta eacutepoca ―em mateacuteria de eleiccedilotildees tudo se passava normalmente sem violecircncias sem tumultos () O tumulto natildeo

existia porque o corpo eleitoral natildeo era ainda a congeacuterie democraacutetica da Regecircncia formava-o () um escol

seletiacutessimo Op cit p 272 Eacute o que se extrai dos ensinamentos de Victor Nunes Leal de que eacute ―fenocircmeno

caracteriacutestico do regime republicano embora tenha sido observado ―durante o Impeacuterio () no proacuteprio periacuteodo

colonial p 233-234 Diante disto eacute que o fenocircmeno coronelismo caracteriacutestico do sistema representativo seraacute

assim designado LEAL Victor Nunes Coronelismo Enxada e Voto O Municiacutepio e o Regime Representativo no

Brasil 7ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 prefaacutecio agrave 2ordf ediccedilatildeo p 37 57 FAORO Op cit p371 ―() o eleitor seria o instrumento do senhor territorial p 382 ―Os partidos amoldaram-se

aos tempos novos e na troca de favores prometiam arranjarlsquo empregos favores e benefiacutecios para os cabos

eleitorais as influecircncias locais Ibidem p 386-387 58LEAL Op cit p 226 Segundo Roberto Damatta daiacute se observa que na sociedade brasileira haacute a divisatildeo ―pelas

ordens tradicionais o nome de famiacutelia o tiacutetulo de doutor a cor da pele o bairro onde moramos o nome do padrinho

as relaccedilotildees pessoais o ser amigo do Rei Chefe Poliacutetico ou Presidente Tudo isso nos classifica socialmente de modo

irremediaacutevel O que faz o Brasil Brasil Rio de Janeiro Rocco 1984 p 48

23

raposa disfarccediladas sobre as garras de lobo59

a ―opiniatildeo puacuteblica permanecia ―sem

caraacuteter nacional os ―estadualismos continuavam exclusivistas e as ―ambiccedilotildees

pessoais prosseguiam ―arvoradas em lideranccedilas de partidos artificiais60

E embora tenham sido criados os departamentos de municipalidades no

governo provisoacuterio de 1930 oacutergatildeos estaduais com a dita finalidade de ―moralizar a

administraccedilatildeo municipal e dar-lhe maior eficiecircncia este natildeo era o fim real do governo e

sim o interesse partidaacuterio eleitoreiro61

Na Era de Vargas o que houve foi uma reorganizaccedilatildeo da estrutura

patrimonialista e um ―assalto a empregos e a vantagens materiais62

pois ―na chefia do

governo natildeo existia um presidente constitucional mas o mito popular63

que pelo

―esquema autoritaacuterio de 1937 realizou um ―regresso patrimonialista () com a

formaccedilatildeo de uma comunidade burocraacutetica () de caraacuteter estamental onde continuava

a predominar o ―jogo das competiccedilotildees individuais 64

A segunda consequecircncia costumeira que se pode observar trazida pelos

portugueses e enraizada no Brasil vinculada agrave primeira eacute o favorecimento do Estado agrave

classe dominante ou a utilizaccedilatildeo deste por ela65

O que se colhe eacute que o Estado sempre amparou os poderosos e natildeo agrave sociedade

e que da forma com que foi constituiacutedo jaacute no seu nascedouro provocou uma separaccedilatildeo

entre a classe dominante e o povo vez que desde o Brasil Impeacuterio a classe dominantelsquo

esteve completamente dissociada da sociedade brasileira66

e utilizava o Estado para seu

59 FAORO Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987

p 686 60 Ibidem p 695 Nas palavras de Seacutergio Buarque de Holanda ―()a verdadeira solidariedade soacute se pode sustentar

realmente nos ciacuterculos restritos e a nossa predileccedilatildeo confessada ou natildeo pelas pessoas e interesses concretos () natildeo

encontra alimento muito substancial nos ideais teoacutericos ou mesmo nos interesses econocircmicos em que se haacute de apoiar

um grande partido Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 182-183 61

LEAL Victor Nunes Coronelismo Enxada e Voto O Municiacutepio e o Regime Representativo no Brasil 7ordf ediccedilatildeo

Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 p 95 Para que aos governadores e natildeo aos coroneacuteislsquo tocasse a posiccedilatildeo

mais vantajosa nessa troca de serviccedilos o meio teacutecnico-juriacutedico mais adequado foram justamente as limitaccedilotildees agrave

autonomia das comunas Ibidem p 111 Carmem Luacutecia Antunes da Rocha cita na nota de rodapeacute 40 da p 219 de

sua obra o Decreto n 19 398 de 1930 que estabeleceu no artigo 1ordm que ―O Governo Provisoacuterio exerceraacute

discricionariamente em toda a sua plenitude as funccedilotildees e atribuiccedilotildees natildeo soacute do poder Executivo como tambeacutem do

Poder Legislativo () E ainda no paraacutegrafo primeiro estipulou ―Todas as nomeaccedilotildees e demissotildees de funcionaacuterios

ou de quaisquer cargos puacuteblicos quer sejam efetivos internos ou em comissatildeo competem exclusivamente ao Chefe

do Governo Provisoacuterio O que demonstra que realmente nada havia mudado 62FAORO Op cit p 692 63 Conforme Faoro o () o chefe do governo colocado no papel de protetor e pai sempre autoritariamente pai que

distribui favores simboacutelicos e castigos reais Ibidem p 707 64 Ibidem p 718 -722 65 Segundo Faoro ―A elite governamental dentro da rede social da aristocracia da qual o estamento tece sua

estrutura externa obedece ao cunho do estilo de vida das normas de conduta da nobreza burocraacutetica Ibidem p 89 66 Conforme Viana esta separaccedilatildeo eacute assentada no ―caraacuteter privado quase domeacutestico da nossa vida poliacutetica onde ―o

traccedilo privatista e personalista da nossa cultura ou civilizaccedilatildeo poliacutetica domina o espiacuterito natildeo havendo ―nenhum traccedilo

24

benefiacutecio em especial de sua famiacutelia e amigos o que consagrou por um lado o

domiacutenio dos clatildes familiares no poder e por outro o Estado como coisa familiar

abancando a confusatildeo entre o puacuteblico e o privado

Mas como nem sempre aquele que possuiacutea o poder econocircmico tambeacutem

detinha o puacuteblico pois os cargos ou funccedilotildees de governo reservados a premiar serviccedilos e

colocar a nobreza ociosa67

o Estado a partir do seacuteculo XVII passou a distribuir os

cargos como instrumento nobilitar que conferia status e prestiacutegio agravequele que jaacute tinha

renome social e econocircmico o que elevou ―aos cimos da nobreza a burguesia

enriquecida68

Contudo natildeo foi soacute isto a partir do seacuteculo XVIII os cargos puacuteblicos

passaram a ser vendidos 69

E na Repuacuteblica o auxiacutelio do Estado agrave classe dominante soacute se perpetuou jaacute que

ela reinou no ―absolutismo de uma oligarquia70

assentada na poliacutetica dos

governadores com base no coronelismo e no voto do cabresto71

O cargo puacuteblico na Repuacuteblica mais que um ―tiacutetulo nobiliaacuterquico era um

―poderoso agente de agregaccedilatildeo partidaacuteria utilizado largamente pelos

de motivaccedilatildeo coletiva Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999p

339 Segundo DaMatta o Brasil tem uma ―sociedade que tem horror agrave mobilidade sobretudo agrave mobilidade que

permite trocar efetivamente de posiccedilatildeo social Eacute exibiccedilatildeo numa ordem social marcada pelo falso recato de ―quem

conhece o seu lugar ndash algo sempre usado para o mais forte controlar o mais fraco em todas as situaccedilotildees O que faz o

Brasil Brasil Rio de Janeiro Rocco 1984 p 49 E continua ―Seu foco eacute nas autoridades () Nisso eles revelam

ampliando as diferenciaccedilotildees sociais jaacute existentes no mundo diaacuterio onde as pessoas eletivamente se distinguem por

meio de cadeias hieraacuterquicas que indicam e revelam sua importacircncia na reproduccedilatildeo da ordem social conhecida

Ibidem p53 ―Pela mesma loacutegica e seguindo o mesmo princiacutepio do reforccedilo e da ampliaccedilatildeo se a pessoa natildeo tem

qualquer autoridade ou posiccedilatildeo social e faz parte daquilo a que chamamos genericamente ―povo eacute deste lado que

deve ficar () Mas como o povo aprendeu que natildeo eacute bom ―ser ningueacutem que deve ser algueacutemlsquo e que para isto tem

que estar proacuteximo de pessoas que satildeo algueacutemlsquo daiacute o porquecirc dele forccedilar a cordalsquo para passar para o lado das

autoridades () significa nesse contexto simboacutelico uma mudanccedila significativa de posiccedilatildeo social Ibidem p54 67 Nas palavras de Faoro ―() o emprego puacuteblico era ainda no seacuteculo XVI atributo do nobre de sangue ou do

cortesatildeo criado nas dobras do manto real o exerciacutecio do cargo infunde o acatamento aristocraacutetico aos suacuteditos

FAORO Raymundo Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O

Globo 1987 p 175 68 Ibidem p 175 69 Segundo Faoro ―A riqueza exige maior participaccedilatildeo nos negoacutecios puacuteblicos e o afidalgamento () a tendecircncia se

reforccedila no seacuteculo XVIII com a venda de cargos puacuteblicos porta ampla que permite agrave burguesia acotovelar

familiarmente a aristocracia Ibidem p 208 De acordo com Victor Nunes Leal ―() pouco a pouco as patentes

passaram a ser avaliadas em dinheiro e concedidas a quem dispusesse a pagar o preccedilo exigido ou estipulado pelo

poder puacuteblico o que natildeo chegava a alterar coisa alguma quando essa faculdade de comprar a patente natildeo deixava de

corresponder a um poder econocircmico que estava na origem das investiduras anteriores Coronelismo Enxada e

Voto O Municiacutepio e o Regime Representativo no Brasil 7ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 p 38 70FAORO Op cit p 566 71―O coronelismo o compadrazzo latino-americano a clientelalsquo () participam da estrutura patrimonial Peccedilas de

uma ampla maacutequina a visatildeo do partido e do sistema estatal se perde no aproveitamento privado da coisa puacuteblica ()

de modo a converter o agente puacuteblico num cliente dentro de uma extensa rede clientelista O coronel utiliza seus

poderes puacuteblicos para fins particulares mistura natildeo raro a organizaccedilatildeo estatal e seu eraacuterio com os bens proacuteprios

Ibidem p 637 De acordo com Seacutergio Buarque de Holanda ―os candidatos agraves funccedilotildees novamente criadas recrutam-

se por forccedila entre indiviacuteduos da mesma massa dos antigos senhores rurais portadores de mentalidade e tendecircncia

caracteriacutesticas dessa classe Toda a ordem administrativa do paiacutes durante o Impeacuterio e mesmo depois jaacute no regime

republicano ha de comportar por isso elementos estreitamente vinculados ao velho sistema senhorial Raiacutezes do

Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 73

25

Governadoresque indicavam ―ao Centro os nomes dos grandes proprietaacuterios rurais que

lhe pareciam mais merecedores e ―pleiteavam a honraria para os da sua

parcialidade72

Desta forma a classe dominante republicana deu continuidade ao

sistema de privilegiamento estatal dos interesses privados dos poderosos73

Assim o Estado quis e permitiu que as ambiciosas matildeos da classe dominante

durante seacuteculos tratassem o Estado como algo de seu interesse como seu negoacutecio o

que resultou em um contiacutenuo conflito entre o espaccedilo puacuteblico e o espaccedilo privado74

A terceira consequecircncia da heranccedila portuguesa que se constata eacute quanto agrave

manipulaccedilatildeo do poder puacuteblico pelos interesses privados da classe dominante por meio

das normas juriacutedicas que legalizavam de maneira dissimulada os seus interesses sob a

simulaccedilatildeo do resguardo do interesse da sociedade Assim as normas juriacutedicas eram

feitas bem ao ditado ―para inglecircs ver porque natildeo eram elaboradas de acordo com os

anseios sociais mas de acordo com a vontade da classe dominante com o fito de

satisfazer os seus interesses75

Por meio da ―vontade normativa produto de uma agregaccedilatildeo artificiosa e ainda

mal segura76

os governantes implantaram a impessoalidade administrativa o que

resultou em um impasse entre a confecccedilatildeo de leis formalmente perfeitas - que

determinavam uma organizaccedilatildeo administrativa impessoal nos ditames da lei - e a

realidade costumeira governamental-administrativa do Brasil assente no extremo

personalismo

72 VIANA Oliveira Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 261 73 Por isto Raymundo Faoro conclui que ―o velho estamento imperial se dissolve desta sorte num elitismo de

cuacutepula regredindo a estrutura patrimonialista para o acircmbito local local no sentido de entrelaccedilamento de interesses

estaduais e municipais () A elite descomprometida de fidelidade e ideias e programas soacute viveraacute com o apoio das

bases estaduais enquanto favorecidas pela benevolecircncia presidencial Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato

Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p 562-563 ―O movimento ascendente se fazia por

cooptaccedilatildeo com o centro do tabuleiro apesar das limitaccedilotildees do alto e de baixo ocupado pelas situaccedilotildees estaduais

Esta era a alma das oligarquias ndash das chamadas oligarquias da Repuacuteblica Velha Ibidem p649 74 De acordo com Faoro ―Uma longa heranccedila ndash heranccedila social e poliacutetica ndash concentrou o poder minoritaacuterio em uma

camada institucionalizada Forma-se desta sorte uma aristocracia num estamento de caraacuteter aristocraacutetico do qual se

projeta sem autonomia uma elite um escol dirigente uma classelsquo poliacutetica Op cit p 92 Tanto que Seacutergio

Buarque de Holanda afirma que ―Natildeo era faacutecil aos detentores das posiccedilotildees puacuteblicas de responsabilidade formados

por tal ambiente compreenderem a distinccedilatildeo fundamental entre os domiacutenios do privado e do puacuteblico () a proacutepria

gestatildeo poliacutetica apresenta-se como assunto de seu interesse particular as funccedilotildees os empregos e os benefiacutecios que

deles aufere relacionam-se a direitos pessoais () e natildeo a interesses objetivos HOLANDA Seacutergio Buarque de

Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p145-146 75 Segundo VIANA isto eacute um problema porque ocorre ―() desconformidade ou desarmonia entre a realidade

subjetiva criada pela tradiccedilatildeo (elementos imanentes) e a realidade externa criada pelo novo sistema de normas

(elementos transcendentes) () Natildeo basta decretar consequentemente uma determinada norma de conduta para que

o complexo correspondente se forme e se resolva em atitudes ou comportamentos Op cit p96 76HOLANDA Op cit p 117

26

E na Repuacuteblica como natildeo podia deixar de ser diante das bases agraves avessas

instituiacutedas pelo imperialismo portuguecircs nada mudou O novo regime dito republicano

sem o ser pois de reslsquo puacuteblica nada havia prosseguiu na mesma praacutetica imperial de

fixar uma ―legitimidade artificialmente montada pelas normas juriacutedicas77

Destas trecircs consequecircncias decorreu a quarta o Estado natildeo protetor desde o

iniacutecio de seu estabelecimento78

embasado no estamento e no patrimonialismo separou

o poder poliacutetico da sociedade e esta em classes a dominante e o povo e assim ao natildeo

primar pelo ideal de nacionalidade que todo povo deveria ter exacerbou o sentimento

de pessoalidade e individualidade79

pois por meio de suas accedilotildees patrimonialistas

deixou o legado agrave sociedade de que o indiviacuteduo para ter direitos e voz ativa deveria ter

poder econocircmico ou poliacutetico qualidades estas que normalmente estavam atreladas80

por isto natildeo nasceu em ningueacutem salvo ―os buscadores de benefiacutecios escusos e de cargos

puacuteblicos81

o sentimento de colaboraccedilatildeo com o Estado

77 Na visatildeo de Victor Nunes Leal ―tiveacutessemos maior dose de espiacuterito puacuteblico e as coisas certamente se passariam de

outra forma Coronelismo Enxada e Voto O Municiacutepio e o Regime Representativo no Brasil 7ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2012 p 239 Adaptando as elucidaccedilotildees de Viana pode-se dizer que ―natildeo havia nada de

republicano porque natildeo havia ―consciecircncia nacional que eacute o sentimento de res publica dos romanos Ela ―natildeo se

condensou nem se sedimentou nas tradiccedilotildees da vida puacuteblica Desta feita sua ―inexistecircncia orientaraacute a ―uma

direccedilatildeo personalista ndash de interesse privado ou de famiacutelia ou de indiviacuteduo ou de clatilde Eacute um complexo chave

()Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 199 176 78 Conforme Viana ―Os famosos senadoslsquo das cacircmaras do periacuteodo colonial () natildeo tinham nada destas

organizaccedilotildees de direito puacuteblico () Natildeo possuiacuteam o sentimento do interesse da comunidade nem o espiacuterito da

colaboraccedilatildeo administrativa colocados nas matildeos dos senhores rurais e postos a seu serviccedilo tornaram-se instrumentos

deles para fazerem a sua poliacutetica pessoal ndash a poliacutetica dos seus interesses de famiacutelia ou de clatilde Op cit p 307 Mesmo

porque segundo Viana os ―nossos homens puacuteblicos natildeo possuiacuteam a ideia de nacionalidade ―como um estado

afetivo como um sentimento vivo ndash desses que vecircm do berccedilo adquiridos na penetraccedilatildeo do homem pelo ambiente

social vinculados ao subconsciente pela educaccedilatildeo em suma -- como um complexo cultural e assim natildeo podiam

transmiti-lo ao povo ou governar por este Ibidem p 338 Para o autor o ―() sentimento do Estado Nacional ()

verdadeiro sentimento coletivo ndash forte cristalizado e de amplitude nacional () Os nossos estados de consciecircncia

coletiva mais altos mais intensos mais amplos tecircm sido efecircmeros frustros transitoacuterios Por isto mesmo pouco

fecundos na constituiccedilatildeo e estratificaccedilatildeo de uma consciecircncia nacional ndash robusta clara definida atuante Ibidem p

332 79 De acordo com Viana o povo quando agia ―em comum era para realizar exclusivamente fins pessoais do grande

proprietaacuterio ou para servirem aos membros da famiacutelia senhorial ndash e natildeo para fins de gestatildeo de nenhum interesse

coletivo Ibidem p 305 E que o que ―o nosso povo () pede aos governos () eacute que eles natildeo o inquietem no seu

viver particular Que ―nossa evoluccedilatildeo administrativa () tem sido nesse sentido Op cit p 492 Segundo o autor

para que o individualismo natildeo prospere o ―Estado-Naccedilatildeo haacute de ter o seu assento principal num complexo cultural

que deve ser anterior e preliminar agrave instituiccedilatildeo deste tipo de Estado () Sem esta base preliminar eacute certo que a

estrutura democraacutetica seja qual for o tamanho do grupo degenera e se corrompe Ibidem p 177 80 Roberto DaMatta explica que esta questatildeo se tornou cultural Desta forma o autor afirma que ―a palavra cultura

exprime precisamente um estilo um modo e um jeito () de fazer coisas E que a nossa cultura eacute esta ―todos estatildeo

acostumados a admitir um jeitinholsquo pela relaccedilatildeo pessoal e pela amizade O que faz o Brasil Brasil Rio de Janeiro

Rocco 1984 p 12 81 FAORO Raymundo Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O

Globo 1987 p 165

27

Diante de todo este enredo se constata a quinta consequecircncia da heranccedila

portuguesa desde que o Brasil eacute Brasil seja Colocircnia Impeacuterio ou Repuacuteblica o cargo

puacuteblico eacute um poderoso instrumento de poder82

O que interessava era a ―apropriaccedilatildeo do cargo ndash o cargo carregado de poder

proacuteprio articulado com o priacutencipe sem a anulaccedilatildeo da espera proacutepria de competecircncia

porque o Estado era visto como ―um feixe de cargos do qual ―hauria vida e calor83

agraves

―muitas matildeos erguidas e suplicantes dos fidalgos84

e era capaz de nobilitar ―o letrado e

o homem de armas85

sendo sua forccedila tamanha que ―() brancos e pardos

conquistavam patentes e honras insuflado com a farda86

e o ―mulato ganhava atestado

de brancura com o posto () jaacute natildeo era mulato87

Em tudo isto havia um fruto proibido o apreccedilo pelo oacutecio e o desprezo pelo

trabalho digno pois todos queriam ―se elevar verticalmente com o galatildeo

nobilitador88

o cargo puacuteblico ―uacutenico foco de poder poder que daacute prestigio enobrece

propicia e legitima a riqueza89

Nesse ensejo tanto para conservaacute-lo com para

82 Segundo Faoro no Estado Portuguecircs havia uma ―enxurrada de servidores e pretendentes a servidores de soldados

e dependentes de reivindicadores de pensotildees para a velhice () devoravam o Estado para o proveito ostentatoacuterio da

fidalguia () encasulada no cargo puacuteblico Assim os servidores ―ocupam o lugar da velha nobreza contraindo sua

eacutetica e seu estilo da vida e ainda ―o consumo improdutivo que ―lhes transmite prestiacutegio () como instrumento de

poder () sugerindo-lhes grandeza importacircncia forccedila FAORO Raymundo Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do

Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p83 83 FAORO Op cit p83 84 Ibidem p 229 85 Ibidem p 171 ―() inquieta ardente apaixonada cassa ao emprego puacuteblico Soacute ele nobilita soacute ele oferece o poder

e a gloacuteria soacute ele eleva branqueia e decora o nome () O letrado se torna letrado para conquistar o cargo para galgar

o parlamento ateacute que o assento no Senado lhe decirc o comando partidaacuterio e a farda ministerial () Com o poder e soacute

por meio dele vem por acrescentamento a nobilitaccedilatildeo No contexto o funcionalismo seraacute a profissatildeolsquo nobre e a

vocaccedilatildeo de todos Ibidem p 390 ―O corpo militar nos seus graus de oficial infundia nobreza equiparada agrave miliacutecia e

depois a guarda nacional agraves tropas de linha para os efeitos de honras aristocraacuteticas Os filhos dos oficiais podiam

ingressar na tropa de linha como cadetes privileacutegio reservado agrave nobreza Ibidem p 192 E esta nobilitaccedilatildeo pelo

cargo natildeo parou no Impeacuterio tambeacutem na Repuacuteblica as patentes da Guarda Nacional ―eram distribuiacutedas () a

correligionaacuterios e o ―prestiacutegio do seu tiacutetulo passou a constituir seduccedilatildeo muitas vezes infaliacutevel na teacutecnica de captaccedilatildeo

dos chefes locais Ibidemp 202-203 86 Ibidem p 192 87 Ibidem p194 O autor sintetiza ―a primeira consequecircncia a mais visiacutevel da ordem burocraacutetica aristocratizada no

aacutepice seraacute a inquieta ardente apaixonada cassa ao emprego puacuteblico Soacute ele nobilita soacute ele oferece o poder e a gloacuteria

soacute ele eleva branqueia e decora o nome () O letrado se torna letrado para conquistar o cargo para galgar o

parlamento ateacute que o assento no Senado lhe decirc o comando partidaacuterio e a farda ministerial pomposa na carruagem

solene () Seja que aspirem aos cargos de magistratura tatildeo somente ou aos poliacuteticos eletivos e administrativos seja

que aspirem a uns e a outros ao mesmo tempo agravequeles como meio seguro de existecircncia a estes como um meio de

passatempo e dissipaccedilatildeo nas capitais e na corte ou como satisfaccedilatildeo ao poder e ambiccedilatildeo poliacutetica() Com o poder e

soacute por meio dele vem por acrescentamento a nobilitaccedilatildeo No contexto o funcionalismo seraacute a profissatildeolsquo nobre e a

vocaccedilatildeo de todos Tomem-se ao acaso vinte ou trinta brasileiros em qualquer lugar onde se reuacutena a nossa sociedade

mais culta todos eles ou foram ou satildeo ou hatildeo de ser empregados puacuteblicos se natildeo eles seus filhoslsquo Ibidem p 390 88 Ibidem p 195 89 Ibidem p 310

28

conquista-lo ―desencadeiam-se as energias ferozes ou manhosas de acordo com as

circunstacircncias e com a oportunidade90

As classes sociais dotadas de poder econocircmico e social que ambicionavam

possuiacute-lo pois ele as asseguraria ―honras e prestiacutegio poliacutetico91

desde que puderam

concorrer a eles a partir do seacuteculo XII fizeram o que foi necessaacuterio a alcanccedila-lo

usaram desde a graduaccedilatildeo que denotava prestiacutegio social92

ateacute o poder econocircmico para

consegui-los quando no seacuteculo XVIII eram vendidos93

Era o binocircmio perfeito entre as ―atividades intelectuais que natildeo se vinculam ao

trabalho material e ―parecem brotar de uma qualidade inata a fidalguia e o

instrumento nobilitador daquele que eacute intelectualizado e fidalgolsquo94

o cargo puacuteblico A

gana pelo cargo puacuteblico era tamanha que era vaacutelido deixar o emprego privado o

negoacutecio proacuteprio ou o seu dom promissor para almejar o cargo puacuteblico ―que daacute a gloacuteria

e o poder95

Assim foi instituiacuteda na cultura brasileira que a ocupaccedilatildeo dos cargos

puacuteblicos era um privileacutegio que garantia o oacutecio96

Mas natildeo eacute soacute isto tambeacutem foi utilizado pelo proacuteprio monarca como ferramenta

de poder pois empregado como ―instrumento de amalgama e controle das suas

conquistas e pela classe dominante como ―meio de accedilatildeo e influecircncia pois o

90 FAORO Raymundo Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O

Globo 1987p 310 91 Ibidem p 287 92 Segundo Holanda ―O amor bizantino dos livros pareceu muitas vezes penhor de sabedoria e indicio de

superioridade mental assim como o anel de grau ou a carta de bacharel HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes do

Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 160 Segundo Faoro ―O caminho da nobilitaccedilatildeo passava

pela escola pelos casarotildees dos jesuiacutetas pela solene Coimbra ou pelos acanhados edifiacutecios de Olinda Satildeo Paulo e

Recife O alvo seria o emprego e por via dele a carruagem do estamento burocraacutetico num processo de valorizaccedilatildeo

social decorrente do prestiacutegio do mando poliacutetico FAORO Op cit p389 93 Eacute o que informa Seacutergio Buarque de Holanda ―as nossas academias diplomam todos os anos centenas de novos

bachareacuteis () praga do bacharelismolsquo () E aos que nos censuram por sermos uma terra de advogados onde apenas

os cidadatildeos formados em direito ascendem em regra as mais altas posiccedilotildees e cargos puacuteblicos () No seacuteculo XVII a

crer no que afianccedila a Arte de furtar mais de cem estudantes conseguiam colar grau na Universidade de Coimbra

todos os anos a fim de obterem empregos puacuteblicos sem nunca terem estado em Coimbra ―() ainda no vicio do

bacharelismo ostenta-se tambeacutem nossa tendecircncia para exaltar acima de tudo a personalidade individual como valor

proacuteprio superior as contingencias () o motivo da acircnsia pelos meios de vida definitivos que datildeo seguranccedila e

estabilidade exigindo ao mesmo tempo um miacutenimo de esforccedilo pessoal de aplicaccedilatildeo e sujeiccedilatildeo da personalidade

como sucede tatildeo frequentemente com certos empregos puacuteblicos Ibidem p 157 94 Aqui merece se fazer referecircncia ao aparte de Holanda ―() dedicamos de modo geral pouca estima as

especulaccedilotildees intelectuais mdash mas () os tiacutetulos honoriacuteficos e alguns dos seus distintivos materiais como o anel de

grau e a carta de bacharel podem equivaler a autecircnticos brasotildees de nobreza HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes

do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 83 E continua ―() tatildeo admirada ―inteligecircncia eacute

simplesmente decorativa () numa sociedade de coloraccedilatildeo aristocraacutetica e personalista Op cit p 84 95 FAORO Op cit p 329 96 De acordo com Roberto DAMATTA o brasileiro aguenta o trabalho mas gosta mesmo eacute do oacutecio ―Para noacutes

brasileiros a festa eacute sinocircnimo de alegria o trabalho eacute eufemismo de castigo dureza suor O que faz o Brasil

Brasil Rio de Janeiro Rocco 1984 p 42

29

utilizavam ao bel prazer dos seus interesses particulares perseguindo seus inimigos e

protegendo seu grupo amigos e parentes97

Desta feita o cargo puacuteblico sagra-se nesse vislumbre como uma das mais ou

senatildeo a mais valiosa moeda de troca na poliacutetica que ―manipula lealdades98

e por meio

dele ―a burguesia se enobrece () o pardo se afidalga e o soberano ―domestica

turbulecircncias dispersas99

Na Repuacuteblica houve uma aparente democratizaccedilatildeo pontual quanto ao acesso ao

cargo de oficialato havendo a ―necessidade de concurso de capacidade para que o

cadete passasse a oficial entretanto esta democratizaccedilatildeo foi soacute aparente pois os

propoacutesitos eram poliacuteticos particulares ―acoimados pelos homens que ocupavam o

poder100

de forma que o cargo puacuteblico continuou a ser instrumento de poder pois a

Uniatildeo o concedia aos Estados a fim de cativar sua lealdade101

Todavia laacute pelos idos de 1919 o cargo puacuteblico perde sua gloacuteria natildeo sendo

mais ―o caminho nobilitador de outrora mas o precaacuterio e desprezado refuacutegio contra a

miseacuteria102

pois os funcionaacuterios puacuteblicos e os militares foram convertidos ―aos olhos

dos dirigentes e da burguesia em parasitas ociosos103

E tal ideia enraizou no

consciente social de certa forma que continua ateacute hoje seja na mentalidade dos

servidores concursados ou natildeo ou daqueles que laboram na iniciativa privada ou

opiniatildeo puacuteblica mas apesar disso natildeo determinou nem o retrocesso nem o fim do

vislumbre sobre o cargo puacuteblico

97 FAORO Raymundo Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O

Globo 1987p176 Assim passavam ―das matildeos de um poder mais distante mais imparcial () para as influecircncias

que muitas vezes se serviam dessa arma poderosa para se reforccedilarem e esmagarem aquelas aos quais se antojava

disputar-lhes o governo da terra Ibidem p 309 ―Mandar e natildeo governar seraacute o alvo ndash mando do homem sobre o

homem do poderoso sobre o fraco e natildeo o institucionalizado comando que impotildee entre o suacutedito e a autoridade o

respeito a direitos superiores ao jogo do poder O emprego puacuteblico sagra-se na presa do vencedor Ibidem p 310 98 Ibidem p 389 99 Ibidem p 202 Por isto Faoro alega que ―Essa coluna parte do imperador e vai ateacute agraves eleiccedilotildees paroquiais articula-

se na vitaliciedade e se projeta nas autoridades policiais e judiciaacuterias donas dos votos no manejo caricato da soberania

nacional A opiniatildeo puacuteblica os interesses de classe natildeo tecircm autonomia eacute a sombra do governo do grupo encastelado

na vitaliciedade vitaliciedade aacutevida de buscar na hereditariedade o domiacutenio aleacutem das geraccedilotildees A influecircncia oficial

sedimentada de tradiccedilotildees e vinculada a uma ordem econocircmica patrimonial Ibidem p389-390 100 Ibidem p 470 101 Ibidem p569 Conforme elucida Carmem Luacutecia ―eacute que a Repuacuteblica proclamada natildeo se fez realizada em 1889 ()

Instaurou-se uma Repuacuteblica dos Senhoreslsquo () a dominarem o Poder e a exercecirc-lo segundo seus proacuteprios interesses

fizeram da Administraccedilatildeo apenas o meio burocraacutetico para obtecirc-los O coronelismo que se fez presente nas primeiras

fases da histoacuteria republicana enfatizou o nepotismo e fortaleceu o personalismo e o paternalismo do Poder Ao lado

do paternalismolsquo que encarece a figura do eventual detentor do Poder talvez fosse o caso de se cunhar a expressatildeo

que melhor caracterizou a Administraccedilatildeo vista em suas entranhas o parentelismolsquo() Repuacuteblica proclamada eacute um

tanto extensatildeo da casa e da famiacutelia do agente ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da

Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p 162 102 FAORO Raymundo Op cit p610 103 Ibidem p610

30

Neste esteio a sexta consequecircncia trazida pela heranccedila portuguesa e acolhida

na esfera administrativa governamental eacute o proacuteprio nepotismo que revela o

entendimento assentado de que o Estado eacute o prolongamento da famiacutelia primeiro

agrupamento social conhecido pelo homem onde os laccedilos satildeo de sangue e representa o

conhecido o confiaacutevel o leal104

E sendo a praacutetica do nepotismo dissonante da Moralidade Puacuteblica passa-se a

essa segunda consideraccedilatildeo

A ―inaceitaccedilatildeo da imoralidade na Administraccedilatildeo Puacuteblica eacute atemporal 105

e de

que se tem notiacutecia desde a Antiguidade pois os grandes pensadores filoacutesofos e

poliacuteticos firmavam ―a ideia de que as condiccedilotildees morais devem ser tidas como uma

exigecircncia impostergaacutevel para o exerciacutecio das atividades de governo 106

imprescindiacutevel

a todos aqueles que exercem a atividade puacuteblica e que a moralidade eacute ―princiacutepio

inexpurgaacutevel a res puacuteblica107

Contudo desde os tempos do absolutismo como a concepccedilatildeo poliacutetica passou a

ser formulada ―segundo a pessoa que encarnava o Poder do Estado sendo o

personalismo semente da proacutepria ordem implantada a verdadeira moralidade puacuteblica

foi sufocada e dessa forma o individualismo imperou e ―fomentou a distacircncia entre o

Direito e a Moral algo que nem no Estado Social ―em seus primeiros momentos foi

questionado108

104 Conforme afirma Joatildeo Gaspar Rodrigues ―Os fenocircmenos sociais tecircm dentro de certos limites uma gecircnese

psicoloacutegica () O nepotismo como fator antissocial de antagonismo e discoacuterdia guarda conexotildees psicoloacutegicas e

histoacutericas esclarecedoras de suas motivaccedilotildees inconscientes Eacute um dos fenocircmenos sociais mais primitivos O homem

existiu primeiro no seio de grupos isolados hordas ou clatildes a formaccedilatildeo original deve-se aos viacutenculos sanguiacuteneos O

grupo domeacutestico-familiar enquadrava os seus diferentes membros () O culto da famiacutelia (ou familismo) tende a

refluir para seus limites normais (dentro da funcionalidade da famiacutelia) quando a sociedade revela progressos

industriais e teacutecnicos com a criaccedilatildeo subsequente de muitos focos de interesses opostos que competem ou

transacionam entre si buscando vantagens () Em termos praacutetico-poliacuteticos a profunda importacircncia da famiacutelia

repousa sobre o fato de estar o mundo organizado de tal modo que natildeo haacute nele lugar para o indiviacuteduo ou seja para

quem quer que seja diferente () Os indiviacuteduos alcanccedilam posiccedilotildees de acordo com outros padrotildees que natildeo seus

meacuteritos o processo poliacutetico eacute contaminado pelas relaccedilotildees pessoais e familiares ―Portando qualquer anaacutelise de

caracteriacutesticas culturais (como o nepotismo) de determinado sistema poliacutetico deve levar em conta a permanente

importacircncia das relaccedilotildees informais e tradicionais que moldam as atitudes e accedilotildees dos indiviacuteduos Nepotismo no

serviccedilo puacuteblico brasileiro e a SV 13 Revista de Direito Administrativo- RDA Rio de Janeiro v 260 maiago 2012

p207 - 208 105ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey

1994 p183 106 CARDOZO Joseacute Eduardo Martins Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica (de acordo com a

Emenda Constitucional nordm 1998) in Os 10 anos da Constituiccedilatildeo Federal Alexandre Moraes (coordenador) Satildeo

Paulo Atlas 1999 p 156 107 ROCHA Op cit p184 108 Ibidem p 179 ―Do seacuteculo XVII ao iniacutecio do seacuteculo XIX ocorreram momentos ―em que as correntes filosoacuteficas

dominanteslsquo primaram pela separaccedilatildeo das noccedilotildees de moral e Direito conforme explica BASTOS Celso Ribeiro e

MARTINS Ives Gandra Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo do Brasil 3ordm volume - tomo III arts 37-43 Satildeo Paulo

Saraiva 1992 p 37 Destacando-se as teorias de Kant e Kelsen - principais pensadores de tal linha - respectivamente

da metafiacutesica dos costumeslsquo e da teoria pura do direitolsquo Por meio desta segundo Maria Sylvia de Pietro Kelsen

31

Entretanto como a ―influecircncia da Moral no Direito mostrou-se permanente na

sequecircncia histoacuterica da humanidade109

jaacute no comeccedilo do seacuteculo XX surgiram correntes

reacionaacuterias agrave separaccedilatildeo entre Direito e Moral em especial na Alemanha e na

Franccedila110

O pioneiro em desenvolver uma teoria quanto agrave moralidade administrativa

como um importante mecanismo de contenccedilatildeo da atividade estatal que natildeo se reduzisse

a um mero preceito normativo111

foi Maurice Hauriou que a partir das decisotildees do

Conselho de Estado constatou que ―o Estado natildeo eacute um fim em si mesmo mas sim um

instrumento utilizado em prol do interesse puacuteblico e que por isto era imprescindiacutevel

viabilizar instrumentos que ―o mantivessem adstrito a esse fim112

Desta feita ―em 1910 na primeira ediccedilatildeo dos seus Princiacutepios de Direito

Puacuteblico introduziu sua teoria asseverando que ―o poder puacuteblico constituiu a armadura

moral da administraccedilatildeo puacuteblica e que ―todo controle organizado em nome da

moralidade administrativa sobre os atos administrativos deve partir da noccedilatildeo de poder

concluindo que o controle dos atos deve ser ―exercido em nome da moral puacuteblica mais

do que em nome do direito 113

Mas o desvio de poder embora tenha nascido vinculado agrave moralidade ―passou

a ser visto como hipoacutetese de ilegalidade114

pois inserido no conceito de legalidade

administrativa e portanto submetido ao controle judicial passando assim ―de regra de

conteuacutedo moral a ―uma regra juriacutedica115

Weber tambeacutem contribuiu de forma consideraacutevel quanto ao assunto uma vez

que vinculou a moralidade administrativa agrave ―moral dos resultados pois segundo ele

―pretendeu desligar por completolsquo o conceito de norma juriacutedica do de norma moral de que proveio

Discricionariedade Administrativa na Constituiccedilatildeo de 1988 3ordf ed Satildeo Paulo Editora Altas 2012 p 163 109 ROCHA Op cit p 176 110 DI PIETRO Op cit 165 111 GARCIA Emerson e ALVES Rogeacuterio Pacheco Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem Rio de Janeiro

Ed Lumen Juris 2002 p 41 112 Assim elaborou uma teoria que estabelecesse ―paracircmetros adequados para a individualizaccedilatildeo do desvio de poder

e conclui que ele natildeo se reduzia agrave legalidade mas estava intimamente vinculado agrave imoralidade ou agrave inobservacircncia da

moralidade no desenvolvimento funccedilatildeo administrativa HAURIOU Maurice Precis de Droit Administratif et de

Droit Public p 439 apud GARCIA Emerson e ALVES Rogeacuterio Pacheco op cit p 41 113 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Mutaccedilotildees do Direito Administrativo 2ordf ed Satildeo Paulo Renovar 2001

p57 Segundo Carmem Luacutecia o autor na 11ordf ediccedilatildeo de sua obra em 1927 ―apresentou a noccedilatildeo de moralidade

administrativa mais acabada como ―o princiacutepio segundo o qual o Estado define o desempenho da funccedilatildeo

administrativa segundo uma ordem eacutetica acordada com os valores sociais prevalentes e voltada agrave realizaccedilatildeo de seus

fins ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p189 114 Ibidem 169 115 Ibidem p176

32

por ela eacute que se ―contrasta o resultado objetivamente considerado com o resultado que

seria exigido para atender agrave finalidade legal da administraccedilatildeo 116

De forma que o agente puacuteblico deve realizar o bem comum sendo esta a

finalidade do seu agir um agir institucional sendo censuraacuteveis ―poliacuteticos e servidores

ao empregarem ―o poder estatal de que foram investidos para fins estranhos aos

interesses puacuteblicos que a lei lhes cometeu 117

Mas a evoluccedilatildeo quanto agrave relaccedilatildeo entre direito e moral e quanto ao princiacutepio da

moralidade puacuteblica natildeo parou por aiacute vez que a noccedilatildeo do princiacutepio da moralidade

tambeacutem ―se ampliou natildeo sendo mais aquele da eacutepoca de Hauriou118

Nesse esteio antes da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 os administradores

brasileiros jaacute refletiam sobre a moralidade administrativa de forma que uns a aceitavam

como princiacutepio juriacutedico outros a acolhiam como requisito de validade dos atos da

Administraccedilatildeo Puacuteblica e outros ainda recusavam a ela a iacutendole juriacutedica119

Todavia esse contexto foi alterado apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 que a reconheceu explicitamente como um dos princiacutepios basilares da

Administraccedilatildeo Puacuteblica120

Deste modo no atual Estado Democraacutetico ―eacute a autoridade moral que legitima o

comportamento da pessoa puacuteblica121

pois ―o sistema juriacutedico democraacutetico

fundamenta-se na legitimidade a qual se compotildee com o elemento da moralidade

puacuteblica socialmente afirmada122

Nesse esteio eacute que se apresenta a uacuteltima consideraccedilatildeo sobre as algumas das

normativas editadas quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo a partir da Constituiccedilatildeo Federal de

116 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Mutaccedilotildees do Direito Administrativo 2ordf ed Satildeo Paulo Renovar

2001p59 ―O bom resultado objetivamente considerado ao que a Administraccedilatildeo Puacuteblica moralmente deve tender soacute

pode ser o que concorre para a realizaccedilatildeo da boa administraccedilatildeo inegavelmente o que satisfaz o direcionamento aos

interesses puacuteblicos o que vem a ser seu fim institucional Idem p 59 117 Idem p 60 118 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994p189 119 Afirma Marcio Cammarosano que Hely Lopes Meirelles e Cretella Junior jaacute a entendiam princiacutepio juriacutedico que

Manoel de Oliveira Franco Sobrinho a acolhia como requisito de validade do ato e que Moreira Neto negava sua

juridicidade O Princiacutepio Constitucional da Moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa Belo Horizonte

Foacuterum 2006 p 68-69 120 Segundo Carmem Luacutecia na deacutecada de 90 se projetou uma ―preocupaccedilatildeo com a moralidade puacuteblica a niacuteveis antes

natildeo vistos neste seacuteculo ou mesmo em qualquer outro () pocircs-se entatildeo a imperiosidade do questionamento da eacutetica e

da moral puacuteblica () A eacutetica passou () a ser um dos polos fundamentais do discurso e da praacutetica poliacutetica e

econocircmica deste final de seacuteculo () A moralidade puacuteblica e basicamente a moralidade administrativa refletem o

momento e fazem crescer em importacircncia e domiacutenio este princiacutepio que passa () a pairar sobre todos os processos

de juridicizaccedilatildeo Op cit p 176 121 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Op cit p180 122 Ibidem p182

33

1988 visto que se por um lado os Estados-membros e os Municiacutepios cada qual em seu

acircmbito elaboraram vaacuterias normas ―de repressatildeo ao nepotismo 123

(algumas ―elevadas

ao primeiro plano do ordenamento estadual124

construindo uma legislaccedilatildeo nacional

esparsa)125

que dispunham de forma diversa sobre a noccedilatildeo e a coibiccedilatildeo do nepotismo

por outro os poderes da Uniatildeo126

editaram nos seus respectivos domiacutenios normas

disciplinares aos seus respectivos destinataacuterios127

sendo estas ora enfocadas quais

sejam o Estatuto de Servidores Puacuteblicos Civis Federais do Poder Executivo a Lei

Complementar do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo o Coacutedigo de Eacutetica dos Servidores

Puacuteblicos Civis Federais do Poder Executivo a lei que disciplina os servidores no acircmbito

do Tribunal de Contas da Uniatildeo a lei federal que regulamenta as carreiras do Poder

Judiciaacuterio da Uniatildeo e ainda a Resoluccedilatildeo n 072005 editada pelo Conselho Nacional

de Justiccedila que embora tenham visado extirpar o nepotismo da Administraccedilatildeo Puacuteblica

nos mais diversos oacutergatildeos da Uniatildeo natildeo o obstaram totalmente

A primeira lei federal que apoacutes a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 previu

expressamente a vedaccedilatildeo do nepotismo foi a de n 8112 de 11 de dezembro de 1990

que ao tratar do regime disciplinar estatutaacuterio dispocircs no artigo 117 sobre as condutas

proibidas ao servidor e dentre elas pelo seu inciso VIII vedou ao servidor do Poder

Executivo das autarquias e das fundaccedilotildees puacuteblicas que mantivesse ―sob sua chefia

imediata em cargo ou funccedilatildeo de confianccedila cocircnjuge companheiro ou parente ateacute o

segundo grau civil definindo entatildeo os limites da noccedilatildeo de nepotismo pela

123 ―Existem leis estaduais e leis municipais dentre as quais diversas leis orgacircnicas municipais que aqui natildeo se citam

por desnecessaacuterio (e de resto interminaacutevel) que consignam similarmente agraves leis federais referidas disposiccedilotildees

restritivas ao nepotismo em termos sempre inspirados na legislaccedilatildeo federal Quanto agraves LOMs observa se ateacute mesmo

a introduccedilatildeo da regra antinepotismo por forccedila de emendas parlamentares e natildeo oriundas do Executivo como pela

abrangecircncia da finalidade ante a dimensatildeo dos quadros das Prefeituras ante a das Cacircmaras Municipais seria de

esperar as quais iniciativas jaacute mereceram acolhida judicial como pelo e Tribunal de Justiccedila do Estado de Satildeo Paulo

na ADI n 963340100 originaacuteria do Municiacutepio de Biritiba Mirim ARAKAKI Allan Thiago Barbosa ORTIZ

Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash

RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 p 101-121 abrjun 2011 p106 124 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP

Belo Horizonte Ed Forum ano 11 n 41 abrjun 2013 p 25 ―Assim algumas constituiccedilotildees estaduais impediam

que determinados parentes ocupassem cargos em comissatildeo o que eacute o caso da Constituiccedilatildeo do Rio Grande do Sul que

em seu art 20 sect 5ordm buscou conferir um tratamento uniforme nos trecircs Poderes naquele Estado ao proibir o exerciacutecio

do cargo comissionado pelos cocircnjuges ou companheiros e parentes consanguiacuteneos afins ou por adoccedilatildeo ateacute o

segundo grau ARAKAKI Allan Thiago Barbosa E ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o Combate ao

Nepotismo Revista de direito Constitucional e Internacional ndash RDCI v 211 ano 75 p 105-106 A Emenda que

propocircs a modificaccedilatildeo foi a n12 agrave Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Sul elaborada pela Assembleia

Legislativa daquele Estado que vedava o nepotismo em todos os Poderes desse ente federativo e foi objeto da ADI n

1521-4RS um dos precedentes da suacutemula 125 E era ―objeto de resistecircncia e descumprimento MODESTO Paulo Opcit p25 126Dos ―cinco Poderes da Uniatildeo pois que ningueacutem duvide de que o Ministeacuterio Puacuteblico e o Tribunal de Contas satildeo o

quarto e o quinto ao lado dos tradicionais trecircs ARAKAKI Op cit p105 127 ANTONIO Alice Barroso O Nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF Criacuteticas e Proposiccedilotildees

Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM janmar 2009 Belo Horizonte ano 10 n 31 p 61

34

subordinaccedilatildeo do parente nomeado agrave chefia imediata do nomeante e restrita ao cocircnjuge

companheiro128

e parentes consanguiacuteneos ateacute o segundo grau

Em 20 de maio de 1993 foi editada a Lei Complementar federal n 75 que

dispotildee sobre a organizaccedilatildeo as atribuiccedilotildees e o estatuto do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo e

que por meio do seu artigo 293 vedou o nepotismo no acircmbito do referido oacutergatildeo nos

mesmos termos da Lei 811290129

Posteriormente em 22 de junho de 1994 foi publicado o Coacutedigo de Eacutetica do

servidor puacuteblico civil do Poder Executivo federal aprovado pelo Decreto Presidencial n

1171 que enfatizou as regras deontoloacutegicas130

ressaltando que o servidor puacuteblico natildeo

poderaacute jamais desprezar o elemento eacutetico de sua condutalsquo131

estabelecendo que seja

dever do servidor resistir a todas as pressotildees de superiores hieraacuterquicos de

interessados de familiares que viessem obter quaisquer favores benesses ou vantagens

indevidas em decorrecircncia de accedilotildees imorais ilegais ou aeacuteticaslsquo132

e vedando o uso do

cargo ou funccedilatildeo facilidades amizades tempo posiccedilatildeo e influecircncias para obter

qualquer favorecimento para si ou para outremlsquo 133

Dessa forma o titular do Poder Executivo Federal natildeo satisfeito com o jaacute

disposto na Lei n 811290 assentou por meio do Coacutedigo de Eacutetica134

que a proibiccedilatildeo

de se utilizar o puacuteblico em prol do privado sob a oacutetica da moralidade puacuteblica tambeacutem eacute

aeacutetico

O Tribunal de Contas da Uniatildeo por meio da Lei n 9165 de 19 de dezembro

de 1995 alterou o art 110 da Lei Orgacircnica do Tribunal de Contas da Uniatildeo - Lei nordm

8443 de 16 de julho de 1992 - dando nova redaccedilatildeo ao seu inciso IV e acrescentando

paraacutegrafo uacutenico ao mesmo artigo que veda o nepotismo135

sendo a primeira normativa

128 Companheiro eacute a pessoa com quem se vive em uniatildeo estaacutevel como se casado fosse nos termos do caput do art

1723 do CC de 2002 129 Art 293 Ao membro ou servidor do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo eacute vedado manter sob sua chefia imediata em

cargo ou funccedilatildeo de confianccedila cocircnjuge companheiro ou parente ateacute o segundo grau civil 130 E determinou a criaccedilatildeo de Comissotildees de Eacutetica no acircmbito dos oacutergatildeos e entidades do Poder Executivo 131 Anexo do Decreto Seccedilatildeo I inciso II 132 Anexo do Decreto Seccedilatildeo II inciso XIV aliacutenea i 133 Anexo do Decreto Seccedilatildeo III inciso XV aliacutenea a 134 Carmem Luacutecia Antunes Rocha em sua obra de 1994 jaacute asseverava que era necessaacuteria a criaccedilatildeo de um ―Coacutedigo

Deontoloacutegico da Administraccedilatildeo Puacuteblica e de ―Comissotildees de Eacutetica do Serviccedilo Puacuteblico em todos os poderes e

entidades da Federaccedilatildeo Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p

232-233 135 ―Art 1ordm - O art 110 da Lei nordm 8443 de 16 de julho de 1992 - Lei Orgacircnica do Tribunal de Contas da Uniatildeo

alterado o inciso IV e acrescido de paraacutegrafo uacutenico passa a vigorar com a seguinte redaccedilatildeo ―Art 110() IV -

provimento dos cargos em comissatildeo e funccedilotildees de confianccedila por servidores do quadro de pessoal exceto quanto aos

Gabinetes de Ministro do Procurador-Geral e de Auditor em relaccedilatildeo a um Oficial de Gabinete e a um Assistente que

seratildeo de livre escolha da autoridade obedecidos os requisitos legais e regimentais Paraacutegrafo uacutenico Eacute vedada a

nomeaccedilatildeo para cargos em comissatildeo e a designaccedilatildeo para funccedilotildees de confianccedila de cocircnjuge companheiro ou

35

a elastecer os limites do nepotismo aos parentes consanguiacuteneos ateacute o terceiro grau e aos

afins

A Lei 9421 de 24 de dezembro de 1996136

que criou as carreiras dos

servidores do Poder Judiciaacuterio vedou o nepotismo conforme disposto no seu artigo 10

nos mesmos limites da lei do Tribunal de Contas contudo inovou ao excepcionar a

vedaccedilatildeo do nepotismo aos servidores efetivos da carreira judiciaacuteria nomeados para

ocupar cargo em comissatildeo salvo se fossem diretamente subordinados ao magistrado

parente137

E entatildeo apoacutes quase uma deacutecada da ediccedilatildeo da uacuteltima legislaccedilatildeo federal sobre o

tema e jaacute no seacuteculo XXI o Conselho Nacional de Justiccedila138

―em meio a declaraccedilotildees de

autoridades da Repuacuteblica favoraacuteveis agrave contrataccedilatildeo de familiares para o serviccedilo puacuteblico

que provocou repulsa na populaccedilatildeo brasileira139

no uso de sua competecircncia140

aprovou

a Resoluccedilatildeo n 7 de 18 de outubro de 2005 que ―disciplina o exerciacutecio de cargos

empregos e funccedilotildees por parentes cocircnjuges e companheiros de magistrados e de

servidores investidos em cargos de direccedilatildeo e assessoramento no acircmbito dos oacutergatildeos do

Poder Judiciaacuterio e daacute outras providecircncias141

e que assim estabeleceu marco na

parentes consanguiacuteneos ou afins em linha reta ou colateral ateacute o terceiro grau de ministro auditor ou membro do

Ministeacuterio Puacuteblico junto ao Tribunal em atividade ou aposentados haacute menos de cinco anos exceto se admitidos no

quadro proacuteprio de pessoal mediante concurso puacuteblico 136 Revogada pela Lei n 11416 de 15 de dezembro de 2006 que dispotildee sobre as Carreiras dos Servidores do Poder

Judiciaacuterio da Uniatildeo 137 Artigo 10 ―No acircmbito da jurisdiccedilatildeo de cada Tribunal ou Juiacutezo eacute vedada a nomeaccedilatildeo ou designaccedilatildeo para cargos e

Comissatildeo e para as Funccedilotildees Comissionadas de que trata o art 9 de cocircnjuge companheiro ou parente ateacute o terceiro

grau inclusive dos respectivos membros ou juiacutezes vinculados salvo a de servidor ocupante de cargo de provimento

efetivo das Carreiras Judiciaacuterias caso em que a vedaccedilatildeo eacute restrita agrave nomeaccedilatildeo ou designaccedilatildeo para servir junto ao

Magistrado determinante da incompatibilidade 138 Criado pela Emenda agrave Constituiccedilatildeo n 4504 que promoveu vaacuterias mudanccedilas no Judiciaacuterio eacute oacutergatildeo responsaacutevel

pelo controle administrativo e financeiro do Judiciaacuterio e pelo cumprimento dos deveres funcionais dos magistrados 139GARCIA Emerson Nepotismo origens e paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano IX n 200 15 de maio de

2005 p 24 Nesta eacutepoca ―a pressatildeo da opiniatildeo popular contribuiu para que projetos contraacuterios ao nepotismo que

estavam engavetados na CCL voltassem a tramitar no Congresso Nacional O clamor popular estaacute levando

prefeituras e cacircmaras de vereadores a abdicarem da antiga praacutetica poliacutetica de dividir as benesses do poder com os

parentes agrave custa do eraacuterio Em vaacuterias cidades organizaccedilotildees natildeo governamentais e grupos de cidadatildeos mobilizam-se

contra o nepotismo 140 ―Art 103-b () sect4ordm () II - zelar pela observacircncia do art 37 e apreciar de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo a

legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio podendo desconstituiacute-los

revecirc-los ou fixar prazo para que se adotem as providecircncias necessaacuterias ao exato cumprimento da lei sem prejuiacutezo da

competecircncia do Tribunal de Contas da Uniatildeo 141 Posteriormente alterada pelas Resoluccedilotildees n 9 de 06 de dezembro de 2005 e n 21 de 29 de agosto de 2006 A

Resoluccedilatildeo n 9 deu nova redaccedilatildeo ao art 3ordm da Resoluccedilatildeo n7 Eacute vedada a manutenccedilatildeo aditamento ou prorrogaccedilatildeo de

contrato de prestaccedilatildeo de serviccedilos com empresa que venha a contratar empregados que sejam cocircnjuges companheiros

ou parentes em linha reta colaterais ou por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive de ocupantes de cargo de direccedilatildeo

e de assessoramento de membros de juiacutezes vinculados ao respectivo tribunal contratante devendo tal condiccedilatildeo

constar expressamente dos editais de licitaccedilatildeolsquo e a Resoluccedilatildeo n 21 deu nova redaccedilatildeo ao sect1ordm do art 2ordm da Resoluccedilatildeo

n7 ―Ficam excepcionadas nas hipoacuteteses dos incisos I II e III deste artigo as nomeaccedilotildees ou designaccedilotildees de

servidores ocupantes de cargo de provimento efetivo das carreiras judiciaacuterias admitidos por concurso puacuteblico

observada a compatibilidade do grau de escolaridade do cargo de origem ou a compatibilidade de atividade que lhe

seja afeta e a complexidade inerente ao cargo em comissatildeo a ser exercido aleacutem da qualificaccedilatildeo profissional do

36

poliacutetica de combate ao nepotismo no acircmbito do Judiciaacuterio pois mesmo que tenha

determinado a proibiccedilatildeo do nepotismo nos mesmos limites de parentesco dispostos nas

leis anteriores bem como excepcionado o nepotismo em situaccedilatildeo jaacute disposta na Lei n

94211996 ela inovou em diversos outros pontos e ainda esmiuccedilou as espeacutecies de

nepotismo de acordo com suas respectivas caracteriacutesticas sendo a principal precedente

normativa da SV n13

No seu artigo 1ordm vedou a praacutetica do nepotismo no acircmbito de todo o poder

judiciaacuterio dispocircs sobre a nulidade dos atos caracterizados como de nepotismo142

e na

sequecircncia elencou no seu artigo 2ordm as situaccedilotildees e ateacute espeacutecies de nepotismo143

Assim no inciso I previu a espeacutecie de nepotismo denominada ―direto e

imediato caracterizado quando cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta

colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau dos membros ou juiacutezes eacute nomeado ou

designado para exercer cargo em comissatildeo ou de funccedilatildeo gratificada no juiacutezo ou tribunal

em que aqueles satildeo vinculados sendo a forma mais natural de nepotismo e de faacutecil

constataccedilatildeo

No inciso II explicou sobre a espeacutecie de nepotismo indireto ou cruzado que eacute

caracterizado quando haacute reciprocidade nas nomeaccedilotildees ou designaccedilotildees ajustadas por

meio de trocas de favores reciacuteprocos e conhecidas como ―barrigas de aluguel 144

Ocorre de fato quando parente de uma autoridade eacute nomeada por meio de

outra autoridade e o parente da segunda autoridade eacute nomeado reciprocamente por

servidor vedada em qualquer caso a nomeaccedilatildeo ou designaccedilatildeo para servir subordinado ao magistrado ou servidor

determinante da incompatibilidade Disponiacuteveis em wwwcnjjusbr Acesso em 10022013 142 ―Art 1deg Eacute vedada a praacutetica de nepotismo no acircmbito de todos os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio sendo nulos os atos

assim caracterizados 143 ―Art 2deg Constituem praacuteticas de nepotismo dentre outras

1 - o exerciacutecio de cargo de provimento em comissatildeo ou de funccedilatildeo gratificada no acircmbito da jurisdiccedilatildeo de cada

Tribunal ou Juiacutezo por cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau

inclusive dos respectivos membros ou juiacutezes vinculados

II - o exerciacutecio em Tribunais ou Juiacutezos diversos de cargos de provimento em comissatildeo ou de funccedilotildees gratificadas

por cocircnjuges companheiros ou parentes em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive de

dois ou mais magistrados ou de servidores investidos em cargos de direccedilatildeo ou de assessoramento em circunstacircncias

que caracterizem ajuste para burlar a regra do inciso anterior mediante reciprocidade nas nomeaccedilotildees ou designaccedilotildees

III - o exerciacutecio de cargo de provimento em comissatildeo ou de funccedilatildeo gratificada no acircmbito da jurisdiccedilatildeo de cada

Tribunal ou Juiacutezo por cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau

inclusive de qualquer servidor investido em cargo de direccedilatildeo ou de assessoramento

IV - a contrataccedilatildeo por tempo determinado para atender a necessidade temporaacuteria de excepcional interesse puacuteblico de

cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive dos

respectivos membros ou juiacutezes vinculados bem como de qualquer servidor investido em cargo de direccedilatildeo ou de

assessoramento

V - a contrataccedilatildeo em casos excepcionais de dispensa ou inexigibilidade de licitaccedilatildeo de pessoa juriacutedica da qual

sejam soacutecios cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta ou colateral ateacute o terceiro grau inclusive dos

respectivos membros ou juiacutezes vinculados ou servidor investido em cargo de direccedilatildeo e de assessoramento 144 RIBEIRO JUNIOR Joseacute Hortecircncio A ilegalidade do nepotismo no poder judiciaacuterio Revista Juriacutedica Consulex

ano IX nordm 200 p 30

37

meio da primeira autoridade sendo portanto uma espeacutecie de nepotismo de difiacutecil

comprovaccedilatildeo vez que para sua configuraccedilatildeo eacute imprescindiacutevel provar o ajuste realizado

entre as autoridades que detecircm o poder de nomear ou solicitar a nomeaccedilatildeo

Pelo inciso III determinou a coibiccedilatildeo de nepotismo aos parentes de qualquer

servidor investido em cargo de direccedilatildeo ou de assessoramento e pelo inciso IV inovou

vedando a contrataccedilatildeo temporaacuteria sem processo seletivo dos parentes de daqueles que

geram incompatibilidade para atender a necessidade temporaacuteria de excepcional

interesse puacuteblico

Ainda no inciso V proibiu a contrataccedilatildeo natildeo precedida de licitaccedilatildeo de pessoa

juriacutedica em que os parentes dos membros juiacutezes ou dos servidores investidos em cargo

de direccedilatildeo e assessoramento tribunal contratante sejam soacutecios

Igualmente nos paraacutegrafos primeiro e segundo excepcionou145

as nomeaccedilotildees

ou designaccedilotildees de servidores ocupantes de cargo de provimento efetivo das carreiras

judiciaacuterias

Por meio do artigo 3ordm vedou a contrataccedilatildeo dos parentes (daqueles que geram

incompatibilidade) por pessoa juriacutedica prestadora de serviccedilo ao juiacutezo ou tribunal aos

quais se vincula e pelo artigo 4ordm determinou que a pessoa nomeada ou designada deve

declarar formalmente antes da posse que natildeo possui parentesco com ningueacutem que gere

incompatibilidade e caracterize o nepotismo 146

No seu artigo 5ordm definiu que os Presidentes dos Tribunais exonerassem os

servidores em situaccedilatildeo de nepotismo147

Diante da severidade e coerccedilatildeo da Resoluccedilatildeo foram suscitadas inuacutemeras

discussotildees e polecircmicas quanto agrave sua aplicaccedilatildeo148

e devido agrave resistecircncia encontrada no

145 ―sect 1deg Ficam excepcionadas nas hipoacuteteses dos incisos I II e III deste artigo as nomeaccedilotildees ou designaccedilotildees de

servidores ocupantes de cargo de provimento efetivo das carreiras judiciaacuterias admitidos por concurso puacuteblico

observada a compatibilidade do grau de escolaridade do cargo de origem a qualificaccedilatildeo profissional do servidor e a

complexidade inerente ao cargo em comissatildeo a ser exercido vedada em qualquer caso a nomeaccedilatildeo ou designaccedilatildeo

para servir subordinado ao magistrado ou servidor determinante da incompatibilidade

―sect 2deg A vedaccedilatildeo constante do inciso IV deste artigo natildeo se aplica quando a contrataccedilatildeo por tempo determinado para

atender a necessidade temporaacuteria de excepcional interesse puacuteblico houver sido precedida de regular processo seletivo

em cumprimento de preceito legal 146 ―Art 4deg O nomeado ou designado antes da posse declararaacute por escrito natildeo ter relaccedilatildeo familiar ou de parentesco

que importe praacutetica vedada na forma do art 2ordm 147 ―Art 5deg Os Presidentes dos Tribunais dentro do prazo de noventa dias contado da publicaccedilatildeo deste ato

promoveratildeo a exoneraccedilatildeo dos atuais ocupantes de cargos de provimento em comissatildeo e de funccedilotildees gratificadas nas

situaccedilotildees previstas no art 2deg comunicando a este Conselho Paraacutegrafo uacutenico Os atos de exoneraccedilatildeo produziratildeo

efeitos a contar de suas respectivas publicaccedilotildees 148 Pois diversos magistrados e servidores do poder judiciaacuterio lotados nas inuacutemeras cortes e foacuteruns do paiacutes se

mostraram relutantes em cumpri-la ―Eacute comum a relutacircncia interna de alguns tribunais () haacute no comportamento de

38

acircmbito do proacuteprio Judiciaacuterio a dar cumprimento ao determinado pela Resoluccedilatildeo o CNJ

aleacutem de tecirc-la alterado por meio das outras duas Resoluccedilotildees ainda editou enunciados

administrativos149

dentre os quais cabe ressaltar o n1 por meio do qual o CNJ

excepcionou trecircs situaccedilotildees da praacutetica nepoacutetica a nomeaccedilatildeo do servidor-parente para

ocupar cargo comissionado que tenha ocorrido anteriormente ao ingresso daquele que

gera a incompatibilidade a nomeaccedilatildeo ocorrida anteriormente agrave uniatildeo estaacutevel ou do

casamento e a nomeaccedilatildeo de parentes de servidor ou o magistrado morto ou

aposentado150

E tambeacutem n7 por meio do qual o CNJ estabeleceu sobre a aplicaccedilatildeo da

referida resoluccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave contrataccedilatildeo de estagiaacuterios sem processo seletivo

ressaltando ainda que o estagiaacuterio natildeo poderia ser subordinado direto do servidor ou

magistrado parente seus 151

Na sua 16ordf sessatildeo esclareceu sobre alguns pontos quanto agrave Resoluccedilatildeo dentre

eles que a definiccedilatildeo de cargo de assessoramento ou de chefia deve embasada na

natureza e nas atribuiccedilotildees do cargo independentemente de sua nomenclatura152

Ainda vale frisar que a Resoluccedilatildeo n7 ao expurgar o nepotismo do Judiciaacuterio

―desencadeou um movimento similar em todo o serviccedilo puacuteblico153

antes mesmo da

ediccedilatildeo da SV n13 Tanto que inspirou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico a

parte do Poder Judiciaacuterio um fator cultural materializado na relaccedilatildeo de troca de influecircncias que estabelece com a

sociedade bem como um sentimento fortemente presente de natildeo se achar parte do Estado () a constataccedilatildeo de que a

forma como se deu a colonizaccedilatildeo brasileira e o exerciacutecio do poder local marcadamente familiar ainda influenciam o

modo de agir e pensar de grande parcela de seus membros() Na realidade o que se via na resistecircncia em aceitar a

determinaccedilatildeo do CNJ era um comportamento compatiacutevel com a relaccedilatildeo coronelista do iniacutecio do seacuteculo XX cuja

marca primeira era o clientelismo ou seja uma rede de relaccedilotildees pessoais e diretas baseadas na troca firmada em

termos poliacuteticos A impossibilidade de nomear os parentes teria podado em alguns membros da magistratura o

exerciacutecio do seu lado patrimonialista () fim da relaccedilatildeo em que o patrimocircnio puacuteblico () era utilizado para fins

pessoais () Eliminava-se () o requisito de um favor para conseguir-se () acesso a um cargo puacuteblico ()

dificuldade de alguns membros da magistratura de separarem os negoacutecios privados dos negoacutecios do estado seja por

empregar os parentes os amigos ()Tudo muito semelhante agrave relaccedilatildeo do senhor de engenho ou do coronel com seu

―povo tudo visto de forma muito ―cordial na acepccedilatildeo de Seacutergio Buarque de Holanda () Tais praacuteticas

decididamente patrimonialistas necessitavam ser combatidas() favoritismo ou perseguiccedilotildees os atos com ausecircncia

do criteacuterio impessoal RODRIGUES Francisco Luciano Lima Os efeitos da resistecircncia agrave implantaccedilatildeo das regras de

combate ao nepotismo sobre o papel do Judiciaacuterio na construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

in Constituiccedilatildeo e Estado Social Os obstaacuteculos agrave concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Oliveira Neto Francisco Joseacute

Rodrigues de (Org) Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2008 p 151 a 153 149 N1 de 08 de setembro de 2008 que estende a aplicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo CNJ nordm 7 de 18 de outubro de 2005 agraves

nomeaccedilotildees natildeo concursadas para serventias extrajudiciais (redaccedilatildeo dada pela Divisatildeo Normatizaccedilatildeo e Organizaccedilatildeo)

n1 de 25 de abril de 2006 que aprova nova redaccedilatildeo agrave aliacutenea C do Enunciado Administrativo n 1 (redaccedilatildeo dada pela

Divisatildeo Normatizaccedilatildeo e Organizaccedilatildeo) n 1 de 11 de abril de 2006 que especifica fatores e situaccedilotildees geradoras de

incompatibilidade nos termos da Resoluccedilatildeo CNJ nordm 7 de 18 de outubro de 2005 (redaccedilatildeo dada pela Divisatildeo

Normatizaccedilatildeo e Organizaccedilatildeo) Disponiacutevel em wwwcnjjusbr 150 De 15 de dezembro de 2005 que dispotildee sobre as vedaccedilotildees constantes na Resoluccedilatildeo CNJ nordm 7 de 18 de outubro de

2005 151 De 19 de junho de 2008 que dispotildee sobre contrataccedilatildeo de estagiaacuterios no acircmbito dos Tribunais 152 Ata da sessatildeo disponiacutevel em wwwcnjjusbr Acesso em 10022013 Ainda ficou estabelecido que a exoneraccedilatildeo

dos servidores em situaccedilatildeo de nepotismo eacute escolha que compete ao Presidente do Tribunal e que a prescriccedilatildeo e a

decadecircncia natildeo satildeo aplicadas ao ato de exoneraccedilatildeo de tais servidores 153 CAVALCANTI Felipe Locke O Conselho Nacional de Justiccedila e a efetividade dos princiacutepios constitucionais

Revista do Advogado v 32 n 117 out2012 p 92

39

editar a Resoluccedilatildeo CONAMP n 1 de 7 de novembro de 2005154

diversa mas tatildeo

rigorosa como a do CNJ155

dirigida a todo o Ministeacuterio Puacuteblico como provocou a

ediccedilatildeo da Lei Federal n 11416 de 15 de dezembro de 2006 que dispotildee sobre as

carreiras do Poder Judiciaacuterio da Uniatildeo com vedaccedilatildeo expressa ao nepotismo no seu

artigo 6ordm156

e ainda foi aplicada pelo Tribunal de Contas da Uniatildeo ao ementar o

Acoacuterdatildeo n 382007 sobre o tema157

natildeo restando portanto ―qualquer duacutevida da

incontrastaacutevel proibiccedilatildeo ao nepotismo que desde entatildeo impera perante o Judiciaacuterio158

Diante de tudo isto resta a imprescindibilidade de se fazer expressa a vedaccedilatildeo

do nepotismo em todos os poderes de todos os entes federados Mas deve-se

questionar tendo em vista o assunto e a legislaccedilatildeo jaacute existente havia a necessidade de

ser editar uma Suacutemula Vinculante a regulamentar a mateacuteria Ela eacute o instrumento mais

adequado a fazecirc-lo O STF exorbitou sua competecircncia e extrapolou a proacutepria finalidade

da Suacutemula Vinculante Eacute essa a problemaacutetica a que se volta o trabalho

154 O seu uacuteltimo considerando dispotildee que o nepotismo vicia os princiacutepios da Administraccedilatildeo Puacuteblica e que por isto eacute

inconstitucional e ainda que natildeo eacute necessaacuterio vedaacute-lo expressamente por lei diante da autoaplicabilidade dos

princiacutepios que prescindem de previsatildeo legal para terem plena eficaacutecia 155 Segundo Antocircnio Arnaldo Dal Pozzo ―se compararmos o disposto no art 2ordm 1 da Resoluccedilatildeo nordm 0705 (CNJ) com

a norma do art 1ordm da Resoluccedilatildeo nordm 105 (CNMP) () notamos uma sensiacutevel diferenccedila entre os conceitos de

nepotismo O nepotismo no Poder Executivo In Boletim de Direito Municipal ndash BDMEditora NDJ v 24 n 8 ago

2008 p 598 156 Art 6ordm No acircmbito da jurisdiccedilatildeo de cada tribunal ou juiacutezo eacute vedada a nomeaccedilatildeo ou designaccedilatildeo para os cargos em

comissatildeo e funccedilotildees comissionadas de cocircnjuge companheiro parente ou afim em linha reta ou colateral ateacute o

terceiro grau inclusive dos respectivos membros e juiacutezes vinculados salvo a de ocupante de cargo de provimento

efetivo das Carreiras dos Quadros de Pessoal do Poder Judiciaacuterio caso em que a vedaccedilatildeo eacute restrita agrave nomeaccedilatildeo ou

designaccedilatildeo para servir perante o magistrado determinante da incompatibilidade 157 BRASIL Tribunal de Contas da Uniatildeo Processo 0049662003-4 ―Sumaacuterio Pedido de Reexame contra Acoacuterdatildeo

que determinou agrave Presidecircncia do TRT22ordf Regiatildeo que se abstivesse de nomear ou designar para o exerciacutecio de

funccedilatildeo que demande alguma atividade sob direccedilatildeo acompanhamento supervisatildeo aprovaccedilatildeo coordenaccedilatildeo controle

delegaccedilatildeo ou subdelegaccedilatildeo da pessoa que preside o oacutergatildeo servidor puacuteblico mesmo ocupante de cargo de provimento

efetivo que seja seu cocircnjuge companheiro ou parente ateacute o terceiro grau nos termos do art 10 da Lei nordm 942196 e

do art 2ordm da Resoluccedilatildeo CNJ 72005 Conhecimento Natildeo-provimento ldquoEmenta PEDIDO DE REEXAME

NEPOTISMO AUSEcircNCIA DE INTERESSE DE AGIR EM RELACcedilAtildeO A UM DOS ITENS DO ACOacuteRDAtildeO

ARGUMENTACcedilAtildeO INCAPAZ DE AFASTAR FALHAS DE GESTAtildeO NEGADO PROVIMENTO 1 A praacutetica

de nepotismo configura ofensa aos princiacutepios que regem a Administraccedilatildeo Puacuteblica sobretudo os da moralidade

igualdade impessoalidade e finalidade administrativa 2 Natildeo se conheceraacute de peccedila recursal que ataque atos de mero

expediente porquanto desprovidos de carga decisoacuteria ou que ataque deliberaccedilatildeo que natildeo alcance a parte em face de

evidente falta de interesse de agir 3 Nega-se provimento a pedido de reexame quando os argumentos apresentados

pelo recorrente natildeo forem haacutebeis a afastar ou mesmo justificar as falhas de gestatildeo identificadas ao tempo de

fiscalizaccedilatildeo promovida por este Tribunal Interessante frisar que o Ministro Relator citou no acircmbito do julgado o

parecer dado pelo Subprocurador-Geral junto ao TCU Jatyr Batista Cunha nos autos do TC nordm 00620072003-4

onde afirmou que por traacutes da coibiccedilatildeo do nepotismo ―natildeo estaacute apenas uma intenccedilatildeo de melhoria de qualidade e

produtividade do serviccedilo puacuteblico mas tambeacutem a vontade dos legisladores ordinaacuterios e constituintes de promover a

moralizaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica BRASIL Tribunal de Contas da Uniatildeo Relator Min Augusto Nardes

Acoacuterdatildeo n 382007 de 3112007 aprovado em 122007 e publicado no DOU de 222007 Processo

0049662003-4 Disponiacutevel em httpportal2tcugovbr Acesso em 25032013 158 PIRES Luis Manuel Fonseca Controle Judicial do Nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante do Supremo

Tribunal Federal In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p235

40

Para tanto se aplica metodologia ao estudo159

por meio de pesquisa

bibliograacutefica que revele ao longo do trabalho o objeto pesquisado as hipoacuteteses

pertinentes o problema decorrente e o argumento final

Assim a dissertaccedilatildeo eacute dividida em cinco partes A primeira se volta agrave anaacutelise

da anatomia da ediccedilatildeo da SV 13 a partir dos contornos das argumentaccedilotildees expostas

pelos Ministros do STF tanto nos seus quatro precedentes quanto nos dois debates que

a antecederam e que constituem as balizas de sua ediccedilatildeo com vistas a esclarecer o seu

sentido na forma que foi ementada

A partir da sistematizaccedilatildeo da descriccedilatildeo de tais informaccedilotildees - relevantes ao

estudo pois levaram agrave decisatildeo do STF de editar a SV n13 num determinado contexto -

se observa a retoacuterica argumentativa utilizada pelo Tribunal que construiu judicialmente

a noccedilatildeo da vedaccedilatildeo do nepotismo e que indicam as controveacutersias que circundam o

proacuteprio texto do ato normativo editado

Dessa forma na exposiccedilatildeo dos precedentes160

se pontua os assuntos

levantados as semelhanccedilas e diferenccedilas entre eles e ainda o reflexo de cada um deles

na redaccedilatildeo da Suacutemula

Jaacute o segundo capiacutetulo do trabalho exibe apertada siacutentese sobre o contexto

histoacuterico do nepotismo no Brasil a ligaccedilatildeo de sua noccedilatildeo poliacutetico-administrativa com a

noccedilatildeo juriacutedica e consideraccedilotildees sobre a moralidade no acircmbito constitucional seu sentido

e alcance tudo em conformidade com o magisteacuterio doutrinaacuterio paacutetrio

No terceiro capiacutetulo se enfoca a dinacircmica de decidir dos Ministros do STF

sob a oacutetica da hermenecircutica juriacutedica subdividido em trecircs toacutepicos um referente agrave

maneira como eles decidem de acordo com as elucidaccedilotildees de Hans Kelsen Alf Ross e

Eros Grau outro pertinente agrave forma como deveriam decidir segundo os meacutetodos e

criteacuterios hermenecircuticos de controlabilidade do processo decisoacuterio judicial propostos por

Friedrich Karl Von Savigny Chaiumlm Perelman Karl Larenz e Inocecircncio Maacutertires Coelho

e um terceiro atinente agrave interpretaccedilatildeo dos princiacutepios de acordo com a norma

constitucional de acordo com as liccedilotildees de Inocecircncio Maacutertires Coelho Ronald Dworkin

Robert Alexy Humberto Aacutevila e Marcelo Neves

159 Aqui no sentido de ―caminho a ser seguido para atingir uma finalidade FILHO Roberto Freitas e LIMA Thalita

Moraes Metodologia da Anaacutelise de Decisotildees ndash MAD Univ JUS Brasiacutelia n 21 p2 juldez 2010 160 Se ―passa por um inevitaacutevel processo de interpretaccedilatildeo dos dados ali constantes sem ―pretender-se a palavra final

() mas sempre um ponto inicial de debate sobre o proacuteprio precedente SILVA Christine Oliveira Peter da

Metodologia de Estudo de Precedentes Observatoacuterio da Jurisdiccedilatildeo Constitucional Brasiacutelia ano 1 out 2007 p6

Disponiacutevel emhttpwwwidporgbr Acesso em 020813

41

No quarto capiacutetulo se trata do procedimento de elaboraccedilatildeo da Suacutemula

Vinculante a partir dos ensinamentos de Roger Leal dentre outros a fim de se analisar

como deve ser construiacutedo o seu processo editorial seu sentido e efetivo alcance

Nesse enredo a criacutetica ao alcance da Suacutemula eacute feita com base em alternativas

argumentativas sistematizadas descritivamente e em suas consequecircncias na realidade

faacutetica que demonstram a complexidade do assunto e a necessidade de se refletir de

forma criacutetica sobre o assunto em tela com a finalidade de constatar se STF ao realizar

se construccedilatildeo judicial da vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da Suacutemula Vinculante n 13

exorbitou a normatividade do proacuteprio instituto o que concluiraacute o trabalho

42

1 A CONSTRUCcedilAtildeO JUDICIAL DA NOCcedilAtildeO DE NEPOTISMO E DE SUA

VEDACcedilAtildeO PELA SUacuteMULA VINCULANTE N 13

O capiacutetulo se volta a tratar da maneira pela qual o Supremo Tribunal Federal

(STF) realizou a construccedilatildeo judicial da noccedilatildeo e vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da

Suacutemula Vinculante n 13 com base nos julgados do proacuteprio STF considerados como

precedentes da referida Suacutemula e nos debates ocorridos161

1 1 Os precedentes da SV n13

111 A Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade n 1521-4RS

Pela ADI162

em questatildeo se objetivou arguir a inconstitucionalidade de alguns

artigos163

da Emenda n 12 agrave Constituiccedilatildeo do Rio Grande do Sul sob o argumento164

de

161 Que subsidiaram a ediccedilatildeo da mesma o que possibilitaraacute verificar as similaridades e desigualdades entre os

precedentes bem como entre eles e a proacutepria Suacutemula e responder entatildeo agraves seguintes questotildees a partir de quais

fundamentos o STF construiu a noccedilatildeo judicial sobre o nepotismo e sua vedaccedilatildeo Os elementos sobre os quais foi

construiacuteda tal noccedilatildeo satildeo os mesmos nos quatro precedentes A redaccedilatildeo sumular guarda correspondecircncia com os

mesmos Qual motivaccedilatildeo acarretou a elaboraccedilatildeo da SV n13 162 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade - ADI n 1521-4RS Ementaacuterio nordm

1983-1 ―CARGO DE CONFIANCcedilA ndash PARENTESCO ndash NOMEACcedilAtildeO E EXERCIacuteCIO - PROIBICcedilAtildeO ndash EMENDA

CONSTITUCINAL ndash ADI ndash LIMINAR A concessatildeo de liminar pressupotildee a relevacircncia do pedido formulado e o

risco de manter-se com plena eficaacutecia o preceito Isso natildeo ocorre quando o dispositivo atacado de iacutendole

constitucional confere ao tema chamado ―nepotismo tratamento uniforme nos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio proibindo o exerciacutecio do cargo pelos parentes consanguiacuteneos e afins ateacute o segundo grau no acircmbito de

cada Poder dispondo sobre os procedimentos a serem adotados para cessaccedilatildeo das situaccedilotildees existentes CARGOS ndash

EXTINCcedilAtildeO ndash INICIATIVA ndash ADI - LIMINAR Ao primeiro exame exsurge conflitante com a Carta Poliacutetica da

Repuacuteblica preceito que embora de iacutendole constitucional implique extinccedilatildeo de cargos de confianccedila ocupados agrave

margem das peculiaridades que lhes satildeo proacuteprias Relator Min Marco Aureacutelio julgada em 12397 e publicada no

DJ de 1732000 f105 Disponiacutevel em wwwstfgovbr 163 Art 1ordm - O artigo 20 da Constituiccedilatildeo do Estado fica acrescido dos seguintes paraacutegrafos ldquo4ordm - Os cargos em

comissatildeo destinam-se agrave transmissatildeo das diretrizes poliacuteticas para a execuccedilatildeo administrativa e ao assessoramento 5ordm -

Os cargos em comissatildeo natildeo podem ser ocupados por cocircnjuges ou companheiros e parentes consanguiacuteneos afins ou

por adoccedilatildeo ateacute o segundo grau I - do Governador do Vice-Governador do Procurador-Geral do Estado e dos

Secretaacuterios de Estado ou titulares de cargos que lhe sejam equiparados no acircmbito da administraccedilatildeo direta do Poder

Executivo II - dos Desembargadores e Juiacutezes de 2ordm grau no acircmbito do Poder Judiciaacuterio III - dos Deputados

Estaduais no acircmbito da Assembleia Legislativa IV- dos Procuradores de Justiccedila no acircmbito da Procuradoria-Geral

de Justiccedila V ndash dos Conselheiros e Auditores Substitutos de Conselheiros no acircmbito do Tribunal de Contas do

Estado VI ndash dos Presidentes Diretores-Gerais ou titulares de cargos equivalentes e dos Vice-Presidentes ou

equivalentes no acircmbito da respectiva autarquia fundaccedilatildeo instituiacuteda ou mantida pelo Poder Puacuteblico empresa puacuteblica

ou sociedade de economia mista (grifos nossos) Art 2ordm O caputlsquo do artigo 32 da Constituiccedilatildeo do Estado passa a ter

a seguinte redaccedilatildeo Art 32 ndash Os cargos em comissatildeo criados por lei em nuacutemero e remuneraccedilatildeo certos e com

atribuiccedilotildees definidas de direccedilatildeo chefia e assessoramento satildeo de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo observados os

requisitos gerais de provimento em cargos estaduais Art 4ordm Ficam extintos os cargos em comissatildeo que natildeo atendam

agraves disposiccedilotildees do paraacutegrafo 4ordm do artigo 20 e do artigo 32 caputlsquo da Constituiccedilatildeo do Estado Art 5ordm - Ficam

extintos os provimentos com a respectiva exoneraccedilatildeo dos cargos em comissatildeo providos em desacordo com as

disposiccedilotildees do paraacutegrafo 5ordm do artigo 20 da Constituiccedilatildeo do Estado Art 6ordm - O Governador do Estado o Presidente

do Tribunal de Justiccedila e a Mesa da Assembleia Legislativa no acircmbito dos respectivos Poderes o Procurador-Geral de

Justiccedila e o Presidente do Tribunal de Contas do Estado no acircmbito das suas respectivas instituiccedilotildees emitiratildeo os atos

administrativos declaratoacuterios de atendimento das disposiccedilotildees dos artigos 4ordm e 5ordm desta Emenda Constitucional

inclusive de extinccedilatildeo de cargos em comissatildeo e de exoneraccedilatildeo Paraacutegrafo uacutenico ndash O Governador do Estado poderaacute

delegar atribuiccedilotildees para a praacutetica dos atos previstos neste artigo Art 7ordm - (omissis) com as seguintes ressalvas a) o

artigo 4ordm entra em vigor cento e oitenta (180) dias apoacutes a data de sua publicaccedilatildeo b) o artigo 5ordm entra em vigor trinta

(30) dias apoacutes a data de sua publicaccedilatildeo BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade -

ADI n 1521-4RS fl107-109 164Ibidem fls 109 e 110 Ao serem requeridas informaccedilotildees agrave Assembleia Legislativa daquele Estado ela contestou a

ADI proposta sob os argumentos citados agraves folhas 111 a 113 do referido documento entre eles a necessidade de

43

que haveria viacutecio de forma pois o ―preenchimento de cargos em comissatildeo estaria na

oacuterbita interna de cada um dos Poderes razatildeo pela qual feridas de mortelsquo fizeram-se a

autonomia e a independecircncia que lhe satildeo proacuteprios 165

e que os efeitos retroativos

imputados natildeo mereceriam prosperar pois os servidores jaacute detentores do cargo

estariam amparados por direito adquirido 166

Contudo o STF entendeu que natildeo havia risco na manutenccedilatildeo do dispositivo167

pois de iacutendole constitucional e que conferia ao tema nepotismolsquo tratamento uniforme

nos Poderes Legislativo Executivo e Judiciaacuterio proibindo o exerciacutecio do cargo pelos

parentes consanguiacuteneos e afins ateacute o segundo grau

Assim a Corte decidiu pela constitucionalidade da Emenda n12 agrave Constituiccedilatildeo

Estadual do Rio Grande do Sul e indeferiu a suspensatildeo cautelar do sect4ordm do artigo 20 da

Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Sul com a redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

nordm 1295168

Nesse esteio o STF argumentou que seria necessaacuteria uma ―reflexatildeo mais

profunda sobre o sentido eacutetico que lastreia normas deste quilate169

e ao dispor sobre o

nepotismo170

afirmou que a Emenda n 12 objeto da ADI em questatildeo rendeu

―homenagem aos princiacutepios da legalidade da impessoalidade da moralidade171

e da

proibiccedilatildeo especiacutefica sobre o nepotismo e a existecircncia de diversas normas precedentes que o vedam em todos os entes

federados e nos mais diversos poderes 165 Argumento este que merece ser trazido agrave baila para se questionar ateacute onde a ediccedilatildeo da Suacutemula Vinculante n 13

tambeacutem natildeo resultou nesta mesma consequecircncia BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS fl 109 166Ibidem fl 109 167 Elaborada pela Assembleia Legislativa daquele Estado 168 ARAKAKI Allan Thiago Barbosa e ORTIZ Laudson Cruz lembram que ―Na seara judicial tambeacutem havia

manifestaccedilatildeo desfavoraacutevel ao nepotismo uma vez que mesmo sem previsatildeo expressa em Constituiccedilotildees anteriores a

1988 eacute possiacutevel defender que o princiacutepio da moralidade na verdade estava presente na ordem juriacutedica por uma

interpretaccedilatildeo sistecircmica In Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria

Garcia v 19 n 75 abrjun 2011 p 106 169 BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS voto do Ministro Marco Aureacutelio agraves fl 115 Pois ―o povo

brasileiro jaacute natildeo tateia mergulhado nas trevas da ignoracircncia em consequente subserviecircncia em busca da matildeo ditadora

e assistencialista Ibidem fl 115-116 Nesse ensejo o Ministro Celso Mello aduziu que ―() o Estado no exerciacutecio

das atividades que lhe satildeo inerentes natildeo pode ignorar os princiacutepios essenciais que derivando da constelaccedilatildeo

axioloacutegica que confere substrato eacutetico agraves accedilotildees do Poder Puacuteblico proclamam que as funccedilotildees governamentais hatildeo de

ser exercidas com estrita observacircncia dos postulados da igualdade da impessoalidade e da moralidade

administrativa Ibidem fl 141 E que tais princiacutepios ―() erigidos agrave condiccedilatildeo de valores fundamentais pela Carta

Poliacutetica () tais postulados qualificam-se como diretrizes essenciais que datildeo substacircncia e significado a repulsa que

busca prevalecer no acircmbito do aparelho do Estado o sentido real da ideia republicana que natildeo tolera praacuteticas e

costumes administrativos tendentes a confundir o espaccedilo puacuteblico com a dimensatildeo pessoal do governante em claro

desvio de caraacuteter eacutetico juriacutedico fl 142 170 Quem melhor explicou sobre a importacircncia de rebater o nepotismo foi o Ministro Celso Mello ao asseverar

―quem tem o poder e a forccedila do Estado em suas matildeos natildeo tem o direito de exercer em seu proacuteprio benefiacutecio a

autoridade que lhe eacute conferida E aleacutem de conceituaacute-lo como ato que reflete ―um gesto ilegiacutetimo de dominaccedilatildeo

patrimonial do Estado tambeacutem explicitou que ―desrespeita os postulados republicanos da igualdade da

impessoalidade e da moralidade administrativa Ibidem fl 142 171 O Relator aduziu pela ―() afirmaccedilatildeo definitiva da moralidade como princiacutepio norteador das instituiccedilotildees puacuteblicas

() Ibidem fl 116

44

isonomia172

vez que ―a vedaccedilatildeo de contrataccedilatildeo de parentes para cargos

comissionados ao abranger ―os cocircnjuges companheiros e parentes consanguiacuteneos

afins ou por adoccedilatildeo ateacute o segundo grau (pais filhos irmatildeos) a fim de prestarem serviccedilos

justamente onde o integrante familiar despontou e assumiu cargo de grande prestiacutegio173

inibe o nepotismo e atua na ―preservaccedilatildeo da proacutepria res puacuteblica174

Destacou nesse contexto o princiacutepio da isonomia disposto nos artigos 5ordm e 37

da Constituiccedilatildeo Federal e considerando que a accedilatildeo homenageia o princiacutepio

mencionado175

entendeu pela constitucionalidade da Emenda agrave Constituiccedilatildeo do Rio

Grande do Sul176

asseverando que a Emenda Constitucional pode disciplinar a mateacuteria

de forma abrangente e uniforme incidente aos trecircs Poderes177

Em que pese o STF ter apreciado todos os dispositivos combatidos da EC n12

faz-se necessaacuterio dentre eles trazer agrave baila apenas o disposto quanto aos dois principais

artigos da normativa que tocam o nepotismo quais sejam o paraacutegrafo 5ordm do artigo 1ordm

que proiacutebe expressamente a nomeaccedilatildeo de parentes de ateacute o segundo grau de

determinadas autoridades178

e o artigo 5ordm alusivo agrave exoneraccedilatildeo dos nomeados em cargo

em comissatildeo de forma infringente agrave vedaccedilatildeo do nepotismo179

172 Segundo o Relator ―a ocupaccedilatildeo dos cargos revela transgressatildeo agrave isonomia agrave impessoalidade e agrave moralidade ()

p121-122 O Ministro Celso Mello tambeacutem votou na mesma linha ao afirmar que a Emenda Constitucional―()

prestou efetiva reverecircncia ao texto da Constituiccedilatildeo Federal revelando-se fiel aos grandes princiacutepios fundados na eacutetica

republicana e consagrados na Carta Poliacutetica do Brasil () concepccedilatildeo republicana () incompatiacutevel com qualquer

praacutetica governamental tendente a restaurar a inaceitaacutevel teoria do Estado patrimonial BRASIL Supremo Tribunal

Federal ADI n 1521-4RS p 141 173 Ibidem fl 117-118 174 Ibidem fl 117 O Relator Ministro Marco Aureacutelio ainda dispocircs que ―() o meacuterito eacute a foacutermula eficiente para

chegar-se agrave qualidade total desejada aos serviccedilos puacuteblicos ditos essenciais E que natildeo se poderia ―compatibilizar tais

assertivas com a possibilidade de nomeaccedilatildeo de parentes proacuteximos para ocupar importantes ndash e ateacute estrateacutegicos ndash

cargos de direccedilatildeo nas reparticcedilotildees puacuteblicas comandadas pelo protetor Ibidem p 116 De forma que natildeo disse

claramente mas deu a entender que para ele haacute uma relaccedilatildeo entre nepotismo e eficiecircncia 175 Todos os Ministros dispotildeem que a vedaccedilatildeo do nepotismo eacute decorrente da observacircncia dos princiacutepios esculpidos no

caput do artigo 37 da CF Nesse ensejo curioso ressaltar que por este mesmo fundamento o STF reconheceu

constitucionalidade tanto agrave Emenda como agrave Suacutemula mesmo que diversas 176 Ibidem fl 119 O Ministro Relator ainda lembra que a atual emenda teve origem em uma proposta de emenda

constitucional realizada pelo Judiciaacuterio daquele Estado e que nesta estava vedada tambeacutem a ―troca de nomeaccedilotildees

entre dirigentes de oacutergatildeos bem como a ―proibiccedilatildeo se estendia ateacute o terceiro grau mas que esta proibiccedilatildeo soacute

alcanccedilaria novas nomeaccedilotildees mas natildeo ―aqueles que jaacute estivessem prestando serviccedilo Entretanto tal proposta frise-

se foi soacute o embriatildeo da atual redaccedilatildeo da Emenda Constitucional sob judice pois a composiccedilatildeo inicial natildeo prosperou 177 ―() a iniciativa do Estado do Rio Grande do Sul salta aos olhos como reflexo como sinal dos novos ares do atual

momento brasileiro angariando simpatia suficiente a que seja dada agrave questatildeo tratamento linear a abranger no campo

da proibiccedilatildeo atos que em uacuteltima anaacutelise em visatildeo desassombrada decorram de atuaccedilatildeo apaixonada direta ou

indireta () Ibidem fl 117-118 178 Ibidem fl 121-122 179 ―Art 1ordm - O artigo 20 da Constituiccedilatildeo do Estado fica acrescido dos seguintes paraacutegrafos () Paraacutegrafo 5ordm - Os

cargos em comissatildeo natildeo podem ser ocupados por cocircnjuges ou companheiros e parentes consanguiacuteneos afins ou por

adoccedilatildeo ateacute o segundo grau I - do Governador do Vice-Governador do Procurador-Geral do Estado e dos

Secretaacuterios de Estado ou titulares de cargos que lhe sejam equiparados no acircmbito da administraccedilatildeo direta do Poder

Executivo II - dos Desembargadores e Juiacutezes de 2ordm grau no acircmbito do Poder Judiciaacuterio III - dos Deputados

Estaduais no acircmbito da Assembleia Legislativa IV- dos Procuradores de Justiccedila no acircmbito da Procuradoria-Geral

de Justiccedila V ndash dos Conselheiros e Auditores Substitutos de Conselheiros no acircmbito do Tribunal de Contas do

45

Quanto ao primeiro foi destacada a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade180

agrave extensatildeo da proibiccedilatildeo tanto quanto ao seu acircmbito (oacutergatildeo em que a autoridade eacute

lotada) quanto agrave delimitaccedilatildeo do parentesco (o nepotismo eacute vinculado ao segundo grau

de parentesco)181

e quanto ao segundo dispositivo se asseverou que natildeo haacute direito

adquirido por parte daquele cuja nomeaccedilatildeo configura nepotismo 182

Aleacutem da argumentaccedilatildeo exposta tambeacutem se alegou que a vedaccedilatildeo ao nepotismo

ocorre em ―respeito ao regime juriacutedico uacutenico dos servidores puacuteblicos comum aos trecircs

Poderes183

e que por isto ―natildeo se submete agrave iniciativa reservada de cada um deles

podendo ―de acordo com o paracircmetro do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal ser objeto da

Constituiccedilatildeo estadual ou de emenda a esta Constituiccedilatildeo184

O que parece demonstrar a

Estado VI ndash dos Presidentes Diretores-Gerais ou titulares de cargos equivalentes e dos Vice-Presidentes ou

equivalentes no acircmbito da respectiva autarquia fundaccedilatildeo instituiacuteda ou mantida pelo Poder Puacuteblico empresa puacuteblica

ou sociedade de economia mista () Art 5ordm - Ficam extintos os provimentos com a respectiva exoneraccedilatildeo dos

cargos em comissatildeo providos em desacordo com as disposiccedilotildees do paraacutegrafo 5ordm do artigo 20 da Constituiccedilatildeo do

Estado 180 Princiacutepio este natildeo ventilado expressamente quando da elaboraccedilatildeo da Suacutemula Vinculante em questatildeo 181 Segundo o Ministro Relator―() o dispositivo natildeo alija a toda a evidecircncia o direito dos parentes de ombrearem

com os comuns do povo e inscreverem-se em concurso puacuteblico Alcanccedila apenas o afastamento das distorccedilotildees que se

tornaram tatildeo frequentes na administraccedilatildeo direta e indireta nos Poderes beneficiando de forma mais ou menos

escancarada em detrimento de cidadatildeos os parentes mencionados A norma eacute abrangente atingindo como jaacute

ressaltado os trecircs Poderes e estaacute limitada agrave disciplina de situaccedilotildees bem definidas em que a ocupaccedilatildeo dos cargos

revela transgressatildeo agrave isonomia agrave impessoalidade e agrave moralidade () Natildeo vejo como se possa ante agrave razoabilidade

constitucional dizer do conflito de regras com a Carta de 1988 () O texto da parte final do inciso II do art 37

―ressalvadas as nomeaccedilotildees para cargo em comissatildeo declarado em lei de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo natildeo serve de

respaldo ao quadro de injusticcedila e por vezes de absoluta imoralidade que costumeiramente eacute denunciado pela imprensa

escrita e falada Ressalto que no caso a razoabilidade da proibiccedilatildeo de iacutendole constitucional decorre natildeo soacute do grau

de parentesco ndash ateacute o 2ordm - como tambeacutem da limitaccedilatildeo considerando cada oacutergatildeo em si Indefiro a liminarrdquo (grifos

nossos) BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro Relator agraves fl 121 -

122Mas a Suacutemula em 2008 abrangeu o 3ordm grau de parentesco bem como alcanccedilou o acircmbito de ―pessoa juriacutedica e

natildeo mais de ―oacutergatildeo se alargando a vedaccedilatildeo mas pelos mesmos fundamentos Constitucional O Ministro Relator

ainda se manifestou quanto agrave legalidade da redaccedilatildeo do 2ordm artigo da EC ratificando que cargo em comissatildeo eacute aquele

destinado agrave direccedilatildeo chefia e assessoramento e assim indeferiu a liminar no que concerne ao artigo 4ordm referente agrave

extinccedilatildeo dos cargos em comissatildeo concedeu a liminar suspendendo a eficaacutecia do dispositivo e finalmente indeferiu

a liminar quanto agrave suspensatildeo do artigo 6ordm referente agrave emissatildeo dos atos das autoridades a declarar o cumprimento do

disposto pela EC e julgou prejudicado o pedido de concessatildeo de liminar quanto agrave suspensatildeo do artigo 7ordm da EC (que

estipulava o prazo em que entrariam em vigor o expresso no artigo 4ordm e 5ordm da EC) diante da decorrecircncia do lapso

temporal BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS 182 ―() a norma torna efetiva a regra proibitiva da ocupaccedilatildeo dos cargos em comissatildeo pelos parentes mencionados no

sect5ordm do artigo 20 da Constituiccedilatildeo do Estado () a meu ver os preceitos da Carta do Rio Grande do Sul somente

esmiuccedilaram pedagogicamente o que se conteacutem na Constituiccedilatildeo Federal Dizer-se a esta altura concorrer na espeacutecie

direito adquirido porque antes da Emenda Constitucional nordm 1295 natildeo havia norma expliacutecita proibindo as

nomeaccedilotildees eacute olvidar a proacutepria natureza e as peculiaridades dos cargos em comissatildeo isto eacute a livre nomeaccedilatildeo e

exoneraccedilatildeo de que cogita o inciso II do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal Indefiro a liminar BRASIL Supremo

Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro Relator agraves fl 124 183 Ministro Sepuacutelveda Pertence 184 BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro Sepuacutelveda Pertence agraves fl

131 Mas em sede da Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade ndash ADC n12 tambeacutem precedente do verbete sumular

(e percebe-se ser o principal jaacute que seu objeto eacute a Resoluccedilatildeo n 705 do Conselho Nacional de Justiccedila que vedou o

nepotismo no acircmbito do Poder Judiciaacuterio e eacute a base redacional da Suacutemula Vinculante em questatildeo) foi assentado que o

nepotismo natildeo precisa ser regulamentado por lei formal muito menos por Constituiccedilatildeo Estadual ou emenda a esta

entatildeo mas por qualquer ato normativo bastando a Resoluccedilatildeo do CNJ no acircmbito do Poder Judiciaacuterio e Suacutemula

Vinculante do STF aplicaacutevel a todos os poderes de todos os entes federados

46

necessidade de uma lei formal a vedar o nepotismo185

Por outro lado foram apresentadas argumentaccedilotildees contraacuterias lastreadas no

princiacutepio da isonomia referentes aos dispositivos em voga186

As alegaccedilotildees utilizadas foram de que a Emenda natildeo diferenciou o servidor que

eacute ocupante de cargo efetivo e comissionado daquele que eacute nomeado ―ad nutum 187

emcargo comissionado o que inobserva natildeo apenas o princiacutepio da isonomia188

como

tambeacutem o princiacutepio da razoabilidade que ―discrimina servidores puacuteblicos integrantes da

carreira vale dizer servidores puacuteblicos efetivos189

e que a amplitude da sua vedaccedilatildeo eacute

desarrazoada e despropositada 190

185 O Ministro Celso de Mello notou que a Emenda Constitucional foi fundamentada ldquono esteio dos princiacutepios

republicanos consagrados na Constituiccedilatildeo Federalrdquo a fim de repelir o nepotismo Nesse esteio se posicionou em

todos os julgados precedentes em que ele participou Ao motivar seus votos aduziu que os princiacutepios do art 37

caput da Constituiccedilatildeo Federal satildeo autoaplicaacuteveis e que rechaccedila automaticamente o nepotismo natildeo importando qual

espeacutecie de normativa iraacute regulamentar a vedaccedilatildeo deste E esse argumento parece ser o uacutenico entendimento uniforme

dos Ministros quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo e expresso em todos os precedentes da Suacutemula 186 Os Ministros divergentes foram Ilmar Galvatildeo e Carlos Velloso Ministros Octavio Gallotti e Neacuteri da Silveira Mas

aqui haacute de se ressaltar que o Ministro Carlos Velloso natildeo foi contraacuterio agrave vedaccedilatildeo do nepotismo pois assim dispocircs

sobre o nepotismo ―() o nepotismo nome pelo qual ficaram conhecidas as nomeaccedilotildees de parentes de magistrados

para servirem em cargos de comissatildeo junto a estes eacute erva daninha porque causa problemas para a administraccedilatildeo e eacute

ofensivo sobretudo ao princiacutepio da moralidade administrativa p135 E ainda afirmou que ―A discriminaccedilatildeo em tal

caso encontra justificativa em princiacutepios racionalizadores da administraccedilatildeo puacuteblica e sobretudo no princiacutepio da

moralidade administrativa BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS p 138 187 Ministro Ilmar Galvatildeo ―() natildeo ouvi da parte do eminente Relator a soluccedilatildeo que seria dada no caso agrave situaccedilatildeo

dos servidores concursados exercentes de cargos efetivos no acircmbito da Administraccedilatildeo Outra dificuldade que estou

vislumbrando diz com a extensatildeo da vedaccedilatildeo ao acircmbito de todo o Poder Vale dizer que mantida a norma a ofensa

ao princiacutepio da isonomia vai verificar-se em sentido inverso atingindo no primeiro caso servidores efetivos para

impedi-los de preencher cargos de confianccedila proacuteprios de sua situaccedilatildeo funcional e no segundo parentes ateacute o segundo

grau de pessoas com as quais natildeo teratildeo nenhum relacionamento funcional e de cuja influecircncia natildeo dependeu a sua

escolha Sobre esses pesaraacute como que uma maldiccedilatildeo O tio Desembargador poderaacute por exemplo exercer o seu cargo

por 20 30 anos e durante esse periacuteodo ficaratildeo condenados ao natildeo exerciacutecio de qualquer cargo da espeacutecie () As leis

federais quando tratam dessas mateacuterias consignam invariavelmente a ressalva no acircmbito do oacutergatildeo e natildeo no acircmbito

do poder () A emenda natildeo discriminando as situaccedilotildees apontadas parece ter tido uma motivaccedilatildeo de ordem

demagoacutegica objetivando tatildeo somente os aplausos da miacutedia como de ordinaacuterio acontece () Considero a emenda

inconstitucional Se natildeo violadora do princiacutepio da isonomia eacute pelo menos desarrazoada pelos excessos que nela se

contecircm BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS fl 133 188 BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro Ilmar Galvatildeo fl 133-134 189

Ministro Carlos Velloso ―O que deve ser proibido eacute a nomeaccedilatildeo gratuita de favor O servidor de carreira poderia

eacute certo ser discriminado no sentido de natildeo poder ser designado para cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila sob a

direccedilatildeo do seu parente () natildeo se pode perder de vista que ao servidor de carreira assiste o direito de preferecircncia de

ser nomeado para cargo em comissatildeo e funccedilatildeo de confianccedila (CF art 37 V) de modo que natildeo pode ele ser

discriminado com a generalidade como o foi () servidores de carreira () estatildeo inapelavelmente afastados natildeo

podem pugnar por uma pretensatildeo legiacutetima qual a de exercer cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila para os

quais a Constituiccedilatildeo lhes confere o direito de preferecircncia Ibidem fl 137-138 ―() o legislador ordinaacuterio estadual

investido de poder constituinte decorrente foi longe demais e cometeu excessos excessos que maculam um ato que

traz na sua essecircncia a marca da moralizaccedilatildeo () Penso que a norma do modo como estaacute posta eacute violadora do

princiacutepio da igualdade que a Constituiccedilatildeo consagra em diversos passos a comeccedilar pelo art 5ordm caput () BRASIL

Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro fl 136 190 ―Os cargos em comissatildeo natildeo podem ser ocupados por cocircnjuges os companheiros e parentes consanguiacuteneos afins

ou por adoccedilatildeo ateacute o segundo grau do Governador do Vice-Governador do Procurador-Geral do Estado do

Defensor Puacuteblico Gral do Estado e dos Secretaacuterios de Estado os titulares de cargos que lhe sejam equiparados no

acircmbito da administraccedilatildeo direta do Poder Executivo Que dizer nem a mil quilocircmetros do local onde esteja sediado o

Defensor Puacuteblico Geral por exemplo seria possiacutevel a designaccedilatildeo de um parente deste ocupante de cargo efetivo

para cargo em comissatildeo E natildeo importa se a designaccedilatildeo seria para setor totalmente diverso da Defensoria Puacuteblica ()

Isto data vecircnia natildeo eacute razoaacutevel eacute um despropoacutesito () Entendo portanto que os dispositivos do sect 5ordm satildeo ofensivos

47

Nesse ensejo vale ressaltar que a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 conforme

o disposto no seu art 37 II qualifica o cargo comissionado como de livre nomeaccedilatildeo

(natildeo precedida de aprovaccedilatildeo em concurso puacuteblico) e livre exoneraccedilatildeo (sendo

desnecessaacuteria qualquer alegaccedilatildeo para justificar o desligamento de quem o ocupa) por

isto ad nutum e destinado a direccedilatildeo e assessoramento superior a ser ocupado por

pessoa de confianccedila do agente puacuteblico191

E eacute aiacute que se processa o nepotismo pois o agente puacuteblico muitas vezes

entende que por este cargo ser destinado a ser ocupado por indiviacuteduo de sua confianccedila

pode entatildeo nomear parente Mas como se veraacute esta confianccedila natildeo eacute a decorrente de

viacutenculo pessoal entre o nomeado e o agente puacuteblico mas da caracteriacutestica profissional

do nomeado

Assim os Ministros divergentes criticaram os dispositivos da Emenda

Constitucional em anaacutelise com base no princiacutepio da isonomia sob um olhar diverso ao

dos demais Ministros em defesa da inaplicabilidade da norma aos servidores efetivos a

fim de que natildeo sofressem limitaccedilotildees por serem parentes da autoridade nomeante

Igualmente entenderam que o tribunal deveria realizar interpretaccedilatildeo

conformelsquo quanto agrave proibiccedilatildeo192

com vista a excluir os servidores efetivos para que os

mesmos pudessem ser nomeados em cargos comissionados193

112 O Mandado de Seguranccedila n 23780-5MA

O segundo precedente194

da SV n13 foi impetrado por servidora puacuteblica

ao princiacutepio da igualdade BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro

Carlos Veloso fl 138-140 191

Dioacutegenes Gasparini ensina que cargo puacuteblico eacute ―() o menor centro hierarquizado de competecircncias da

Administraccedilatildeo direta autaacuterquica e fundacional puacuteblica criado por lei ou resoluccedilatildeo com denominaccedilatildeo proacutepria e

nuacutemero certo E que ele poder ser de provimento em comissatildeo efetivo ou vitaliacutecio contudo enquanto o

comissionado eacute o efetivo satildeo previstos pelo texto constitucional mas instituiacutedos por lei o vitaliacutecio eacute estabelecido pela

Constituiccedilatildeo PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) in

Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico Belo Horizonte Ed

Foacuterum 2008 p 78 192 Ministro Neacuteri da Silveira ―Entendo que a regra em apreccedilo se compatibiliza com a Constituiccedilatildeo Federal se for

entendida como natildeo abrangente dos funcionaacuterios ocupantes de cargo de provimento efetivo () porque ()

ingressaram por concurso puacuteblico como qualquer cidadatildeo BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS

Trecho do voto do Ministro fl 149 193 A sugestatildeo do Ministro natildeo foi acolhida pelos seus Colegas mesmo sendo a interpretaccedilatildeo conforme a

constituiccedilatildeolsquo agrave luz da hermenecircutica juriacutedica uma soluccedilatildeo juridicamente plausiacutevel a sanar a questatildeo melindrosa a que

os servidores efetivos foram submetidos 194BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA Ementaacuterio n 2223-1

―MANDADO DE SEGURANCcedilA NEPOTISMO CARGO EM COMISSAtildeO IMPOSSIBILIDADE PRINCIacutePIO

DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA Servidora puacuteblica da Secretaria de Educaccedilatildeo nomeada para cargo em

comissatildeo no Tribunal Regional do Trabalho da 16ordf Regiatildeo agrave eacutepoca em que o vice-presidente do Tribunal era parente

seu Impossibilidade A proibiccedilatildeo do preenchimento de cargos em comissatildeo por cocircnjuges e parentes de servidores

puacuteblicos eacute medida que homenageia e concretiza o princiacutepio da moralidade administrativa o qual deve nortear toda a

Administraccedilatildeo Puacuteblica em qualquer esfera do poder Mandado de seguranccedila denegado fl109 Relator Min Joaquim

48

efetiva de oacutergatildeo do poder executivo estadual195

agrave disposiccedilatildeo do TRT 16 por ter sido

exonerada de cargo comissionado do tribunal196

devido a decisatildeo do TCU o qual apoacutes

avaliar denuacutencia considerou sua nomeaccedilatildeo ilegal violadora do artigo 10 da Lei n

942196 e da Decisatildeo n 1181994 do seu oacutergatildeo pleno197

devido ao seu viacutenculo de

parentesco com o Vice-Presidente do TRT 16198

que contudo teve sua seguranccedila

denegada

A impetrante sob os argumentos de que o TCU ―exorbitou dos limites de sua

competecircncia funcional ao erigir agrave categoria de norma legal a Decisatildeo n 1181994 de

seu oacutergatildeo pleno e de que detinha ―direito liacutequido e certo a permanecer no cargo

enquanto natildeo ocorrerem razotildees legais para a exoneraccedilatildeo199

requereu ―a declaraccedilatildeo da

nulidade do ato que a exonerou bem como sua reintegraccedilatildeo ao TRT da 16ordf Regiatildeo com

a percepccedilatildeo inclusive dos vencimentos que lhe foram suprimidos desde a ediccedilatildeo do ato

de exoneraccedilatildeo200

O TRT 16 prestou suas informaccedilotildees201

o TCU202

alegou que o pleito da

impetrante era ―juridicamente impossiacutevel por natildeo encontrar amparo no ordenamento

legal em razatildeo de os ocupantes de cargo em comissatildeo serem exoneraacuteveis a qualquer

tempo e que o ato do TRT 16 caracterizava ―niacutetida violaccedilatildeo dos princiacutepios da

moralidade e impessoalidade203

e o Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) opinou pela

denegaccedilatildeo da ordem sob o argumento de que a nomeaccedilatildeo da servidora tinha sido

publicada em data posterior agrave decisatildeo da Corte de Contas204

infringindo a decisatildeo do

TCU205

que ―efetiva o princiacutepio da moralidade administrativa inserindo no art 37 da

Barbosa julgada em 2892005 e publicada no DJ de 030306 Ajuizado pela servidora Terezinha de Jesus Cunha

Belford Disponiacutevel em wwwstfgovbr Acesso em 10022013 195 Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo 196 Embora tivesse sido disponibilizada desde 1889 ao TRT passou a ocupar cargo comissionado do quadro do

tribunal em 1994 tendo sido exonerada do DAS-5 da Coordenaccedilatildeo do Programa de Assistecircncia ao Servidor 197Referentes agrave vedaccedilatildeo do nepotismo 198 2ordm grau ndash irmatilde 199 BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA fl 111 200 Com pedido de liminar em face do Plenaacuterio do Tribunal de Contas da Uniatildeo - TCU e do Juiz Presidente do

referido Tribunal do Trabalho que foi indeferida BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS

n23780-5MA Ibidem fl 110 - 111 201 Nas quais aleacutem de alegar em preliminar a ilegitimidade do TCU de figurar no polo passivo e consequentemente

arguir a incompetecircncia do STF para decidir o MS tambeacutem asseverou sobre a legalidade de seu ato realizado ―no

estrito cumprimento de seu dever legal em obediecircncia agrave determinaccedilatildeo do TCU BRASIL Supremo Tribunal

Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA fl 112 202 Arrazoou sua ilegitimidade e consequente incompetecircncia do STF para julgar o caso em tela 203BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA Ibidem fl 112 204 Nomeaccedilatildeo publicada em 131094 apoacutes a decisatildeo normativa exposta no DOU em 28394 205 Que ―proiacutebe a contrataccedilatildeo de cocircnjuges ou parentes consanguiacuteneos ou afins ateacute o terceiro grau de juiacutezes em

atividade ou aposentados haacute menos de cinco anos para funccedilotildees gratificadas ou de gabinete e cargos em comissatildeo em

todos os oacutergatildeos da Justiccedila Trabalhista BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-

5MA Ibidem fl 112-113

49

Constituiccedilatildeo Federal de 1988206

Nesse contexto a Corte ao apreciar o meacuterito207

afirmou que o ato impugnado

natildeo padecia ―de nenhum viacutecio passiacutevel de anulaccedilatildeo208

visto que a nomeaccedilatildeo da

servidora tinha ocorrido apoacutes a publicaccedilatildeo da decisatildeo do TCU que veda esta espeacutecie de

nomeaccedilatildeo no acircmbito da Justiccedila do Trabalho tambeacutem lembrou que a citada normativa

excepciona a nomeaccedilatildeodesignaccedilatildeo de ―servidor titular de cargo puacuteblico de provimento

efetivo de juiacutezo ou tribunal209

para ocupar cargo comissionado ou exercer funccedilatildeo

gratificada no proacuteprio acircmbito da justiccedila do trabalho mas que essa ressalva natildeo se

aplicava agrave impetrante visto que ela eacute servidora do Poder Executivo do Estado do

Maranhatildeo e ainda sustentou que a lei n 9432 de 1992210

- anterior agrave decisatildeo do

TCU211

e agrave nomeaccedilatildeo da servidora - jaacute proibia a praacutetica do nepotismo eacute que por isto

natildeo havia amparo legal agrave impetrante

Nesse ensejo restou destacado212

que a proibiccedilatildeo natildeo alcanccedila ―o cargo efetivo

de cada tribunal213

- os servidores de carreira de cada um dos tribunais214

e foi

ressaltado215

que a uacutenica limitaccedilatildeo imposta aos servidores de cargo efetivo do quadro do

Tribunal se refere a natildeo poder haver ocupaccedilatildeo de cargo comissionado por eles sob o

comando direto do seu parente ou seja ―no gabinete do proacuteprio parente216

113 Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade n12-6DF

Eacute o terceiro precedente da SV n13217

e objetivou que o STF declarasse a

206BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA fl 113 207 O Relator Ministro Joaquim Barbosa 208 BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA Trecho do voto do Ministro

Relator fl114 209 Ibidem fl 115 210 Aleacutem de aduzir que as sucessivas nomeaccedilotildees e exoneraccedilotildees da servidora informadas pelo proacuteprio TRT 16 nos

autos do processo evidenciaram ―uma possiacutevel tentativa de burlar agrave Lei n 84321992 que veda a nomeaccedilatildeo de

parentes para cargos em comissatildeo e agrave supracitada Decisatildeo n1181994 do TCU BRASIL Supremo Tribunal

Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA Trecho do voto no Relator Ministro Joaquim Barbosa fl 115 211 A decisatildeo do TCU ―homenageia e concretiza o princiacutepio da moralidade administrativa () BRASIL Supremo

Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA Trecho do voto no Relator Ministro Joaquim

Barbosa fl 116 212Pelos Ministros Marco Aureacutelio e Sepuacutelveda Pertence 213 Expressatildeo do Ministro Sepuacutelveda Pertence BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS

n23780-5MA fl 117 214 O interessante quanto a este argumento eacute que embora lembrado pelos Ministros neste precedente da Suacutemula foi

rechaccedilado pela maioria dos ministros no precedente anterior e natildeo foi observado por eles quando da ediccedilatildeo da

Suacutemula pelo STF cuja vedaccedilatildeo alcanccedilou os servidores efetivos 215 Pelo Ministro Nelson Jobim BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA 216 Explicado pelo Ministro Sepuacutelveda Pertencefl 117 BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila

MS n23780-5MA 217

BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n12-6DF Ementaacuterio n 2245-1 ―EMENTA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE CONSTITUCIONALIDADE

AJUIZADA EM PROL DA RESOLUCcedilAtildeO Nordm 07 de 18102005 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA

MEDIDA CAUTELAR()Medida liminar deferida para com efeito vinculante a) emprestar interpretaccedilatildeo conforme

para incluir o termo chefia nos inciso II III IV V do artigo 2deg do ato normativo em foco b) suspender ateacute o exame

50

constitucionalidade da Resoluccedilatildeo n 7 editada pelo Conselho Nacional de Justiccedila218

219

em 18102005 por meio da qual foi vedada a praacutetica de nepotismo no acircmbito do Poder

Judiciaacuterio

A Associaccedilatildeo dos Magistrados do Brasil (AMB) propocircs a ADC quanto agrave

Resoluccedilatildeo n 072005 do Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) 220

sob os argumentos de

que o CNJ deteacutem competecircncia ―para zelar pela observacircncia do art 37 da Constituiccedilatildeo

Federal e apreciar a validade dos atos administrativos praticados pelos oacutergatildeos do Poder

Judiciaacuterio (inciso II do sect4ordm do art 103-B da CF88) que a proibiccedilatildeo da praacutetica do

nepotismo eacute defendida como ―regra constitucional que decorre do nuacutecleo dos princiacutepios

da impessoalidade e da moralidade administrativas que o Poder Puacuteblico eacute subordinado

natildeo soacute agrave legalidade formal como tambeacutem ―estaacute adstrito agrave juridicidade conceito mais

abrangente que inclui a proacutepria Constituiccedilatildeo221

e finalmente que a Resoluccedilatildeo ―nem

prejudica o necessaacuterio equiliacutebrio entre os Poderes do Estado ndash por natildeo subordinar

nenhum deles ao outro ndash nem vulnera o princiacutepio federativo dado que tambeacutem natildeo

estabelece viacutenculo de sujeiccedilatildeo entre as pessoas estatais de base geograacutefica222

com o

fito de que fosse deferida a cautelar223

e posteriormente que a accedilatildeo fosse julgada

de meacuterito desta ADC o julgamento dos processos que tenham por objeto questionar a constitucionalidade da

Resoluccedilatildeo nordm 072005 do Conselho Nacional de Justiccedila c) obstar que juiacutezes e Tribunais venham a proferir decisotildees

que impeccedilam ou afastem a aplicabilidade da mesma Resoluccedilatildeo nordm 072005 do CNJ e d) suspender com eficaacutecia ex

tunc os efeitos daquelas decisotildees que jaacute proferidas determinaram o afastamento da sobredita aplicaccedilatildeo Relator

Min Carlos Ayres Britto julgada em 16022006 e publicada no DJ de 01092006 Ajuizada pela Associaccedilatildeo dos

Magistrados Brasileiros - AMB e patrocinada por Luiacutes Roberto Barroso Disponiacutevel em http wwwstfjusbr

Acesso em 10022013 218 Segundo explicaccedilotildees do Ministro Gilmar Mendes neste julgado a ADC tem o papel de ―transformar a presunccedilatildeo

relativas de constitucionalidade (que milita a favor dos atos normativos) em presunccedilatildeo absoluta Serve portanto para

afastar o controle difuso e a controveacutersia sobre a aplicaccedilatildeo de determinada norma no acircmbito do Executivo e do

Judiciaacuterio De forma que sua proposiccedilatildeo se faz necessaacuteria ―quando houver controveacutersia ou duacutevidas relevantes sobre

a constitucionalidade de um determinado preceito () atua contra a inseguranccedila gerada por aplicaccedilotildees e

interpretaccedilotildees contraditoacuterias de um mesmo preceito normativo () revela-se como instrumento adequado para a

soluccedilatildeo desse impasse juriacutedico-poliacutetico permitindo que o Supremo Tribunal Federal possa manifestar-se sobre

questatildeo de relevante interesse nacional como eacute o caso do nepotismo preservando e potencializando princiacutepios

constitucionais como a seguranccedila juriacutedica e a moralidade BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em

Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fls 66-67 219 Oacutergatildeo superior de fiscalizaccedilatildeo administrativa do Poder Judiciaacuterio 220 Que disciplina o exerciacutecio de cargos empregos e funccedilotildees por parentes cocircnjuges e companheiros de magistrados e

de servidores investidos em cargos de direccedilatildeo e assessoramento no acircmbito dos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio e daacute outras

providecircncias BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade

MC - ADC n 12-6DF fl 7-8 221 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DFfl 8 222 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF fl 9 223 ―a) do julgamento dos processos que envolvam a aplicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo nordm 705 do CNJ ateacute o julgamento

definitivo da presente accedilatildeo ficando impedidos de proferir qualquer nova decisatildeo a qualquer tiacutetulo que impeccedila ou

afaste a eficaacutecia da Resoluccedilatildeo em questatildeo‟ e b) com eficaacutecia ex tunc dos efeitos de quaisquer decisotildees proferidas

a qualquer tiacutetulo que tenham afastado a aplicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo nordm 705 do CNJ‟rdquo BRASIL Supremo Tribunal

Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fl 9 A liminar foi

pleiteada tendo em vista ―A dificuldade de separar o interesse privado dos interesses do Estado ficou patente ao se

observar o fundamento dos diversos mandados de seguranccedila propostos por ocupantes de cargos comissionados

51

procedente sendo declarada a constitucionalidade da Resoluccedilatildeo224

Tendo em vista que o presente precedente eacute um dos mais relevantes senatildeo o

mais proeminente agrave elaboraccedilatildeo da Suacutemula Vinculante faz-se imprescindiacutevel uma

anaacutelise mais minuciosa deste julgado pois gerou ―o mais extenso e aprofundado debate

na Suprema Corte sobre o nepotismo ateacute hoje225

a partir dos argumentos trazidos agrave

baila pelo Ministro Relator e complementados ou ratificados pelos demais Ministros

que acompanharam seu voto sendo divergente apenas o Ministro Marco Aureacutelio

A Corte226

ao se pronunciar pelo deferimento da medida cautelar227

afirmou

que o fundamento da Resoluccedilatildeo eacute extraiacutedo da Constituiccedilatildeo pois o CNJ228

deteacutem

competecircncia em modalidade primaacuteria229

para editar atos normativos primaacuterios

conforme dispotildee o inciso II sect4ordm do art 103-B constitucional230

a qual segue

―imediatamente a vontade da proacutepria Constituiccedilatildeo sem outra base de validade que natildeo

seja a Constituiccedilatildeo mesma 231

e ainda que a Constituiccedilatildeo ao deferir competecircncia ao

CNJ quedou ―silente quanto a um tipo de atuaccedilatildeo necessariamente precedida de lei232

motivo pelo qual entendeu que o CNJ deteacutem o ―poder de aplicar imediatamente a

incluiacutedos nas hipoacuteteses descritas na Resoluccedilatildeo n 07 do CNJ perante vaacuterios tribunais do paiacutes quando argumentavam

que a proibiccedilatildeo atingia o direito adquirido agrave nomeaccedilatildeo e o exerciacutecio do cargo comissionado que o criteacuterio de

―confianccedila estava ligado agrave proximidade entre a autoridade nomeante e nomeado proximidade muitas vezes de

cunho familiar que a impossibilidade de nomear parente atinge o princiacutepio da isonomia aleacutem da argumentaccedilatildeo de

que a medida deixaria em dificuldades financeiras muitos pais de famiacutelia dentre outros RODRIGUES Francisco

Luciano Lima Os efeitos da resistecircncia a implantaccedilatildeo das regras de combate ao nepotismo sobre o papel do

judiciaacuterio na construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do estado democraacutetico de direito In Oliveira Neto Francisco Joseacute Rodrigues

de Constituiccedilatildeo e Estado social os obstaacuteculos agrave concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Revista dos

Tribunais 2008 p153 224 Figuram como amici curiae na accedilatildeo o Tribunal de Justiccedila do Rio de Janeiro o Sindicato dos Trabalhadores do

Poder Judiciaacuterio e do Ministeacuterio Puacuteblico da uniatildeo do Distrito Federal ndash SINDJUSDF o Conselho Federal da Ordem

dos Advogados do Brasil a Associaccedilatildeo Nacional dos Magistrados da Justiccedila do Trabalho ndash ANAMATRA e a

Federaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores do Judiciaacuterio Federal e Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo ndash FENAJUFE 225 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos In Revista Brasileira de Direito Puacuteblico ndash

RBDP Belo Horizonte v 11 n 41 abrjun2013 226 Pelo Relator Ministro Ayres Britto 227 Julgada em 1222006 com efeitos vinculantes e erga omnes proacuteprios do controle concentrado suspendendo

assim a discussatildeo da questatildeo pelas instacircncias inferiores ateacute ser examinado o meacuterito da accedilatildeo 228 Tanto quanto o Senado em alguns casos e o Chefe do Poder Executivo em outros 229 Que eacute aquela por meio da qual o normativo editado decorre diretamente de postulados constitucionais e Segundo o

Ministro Ayres Britto daiacute decorre o ―poder que traz consigo a dimensatildeo da normatividade em abstrato que jaacute eacute uma

forma de prevenir a irrupccedilatildeo de conflitos O poder de precaver-se ou acautelar-se para minimizar a possibilidade das

transgressotildees em concreto BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fl30 Desta ideia se colhe que natildeo eacute necessaacuterio regulamentar o

nepotismo por meio de lei formal podendo portanto a sua praacutetica ser vedada por Suacutemula Vinculante 230 ―103-B () sect 4ordm Compete ao Conselho o controle da atuaccedilatildeo administrativa e financeira do Poder Judiciaacuterio e do

cumprimento dos deveres funcionais dos juiacutezes cabendo-lhe aleacutem de outras atribuiccedilotildees que lhe foram conferidas

pelo Estatuto da Magistratura () II ndash zelar pela observacircncia do art 37 e apreciar de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo

a ilegalidade dos atos administrativos praticados por membros ou oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio podendo desconstituiacute-

los revecirc-los ou fixar prazo para que se adotem as providecircncias necessaacuterias ao exato cumprimento da lei () 231 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Relator Ministro Ayres Brito fl 19 232 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Relator Ministro Ayres Brito fl31

52

Constituiccedilatildeo-cidadatilde tanto em concreto como em abstrato 233

Dessa forma concluiu que a Resoluccedilatildeo do CNJ debulha ―os proacuteprios

conteuacutedos loacutegicos dos princiacutepios constitucionais da centrada regecircncia de toda a

atividade administrativa do Estado234

quais sejam ―o da impessoalidade o da

igualdade o da eficiecircncia e por fim o da moralidade administrativa235

os

densificando236

Asseverou ainda237

que se por um lado a praacutetica do nepotismo eacute perniciosa ao

interesse puacuteblico238

e ofende o princiacutepio da impessoalidade239

por outro cabe ao CNJ

233 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Relator Ministro Ayres Brito fl 32 234 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Relator Ministro Ayres Brito fl 33 235 Novamente se observa a decorrecircncia da vedaccedilatildeo do nepotismo dos princiacutepios que regem a Administraccedilatildeo Puacuteblica

inseridos na cabeccedila do art 37 da Carta Constitucional Conforme a Ministra Ellen Gracie ―() Os princiacutepios

estampados no art 37 da Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 erigiram ao niacutevel fundamental e de maneira expressa o que

se continha na legislaccedilatildeo brasileira (de se lembrar dentre outras a lei n 4717 de 1965 - lei de accedilatildeo popular) que

rompe a presunccedilatildeo de legitimidade dos atos administrados quando se cuide de nomeaccedilatildeo sem concurso puacuteblico

maacutexime em se cuidando de parentes E a legislaccedilatildeo eleitoral que com fundamento constitucional vem impedindo

desde a deacutecada de 30 do seacuteculo passado candidaturas de parentes Tudo a demonstrar que os fundamentos

constitucionais natildeo permitem o parentesco como fonte ou criteacuterio de admissatildeo no serviccedilo puacuteblico sequer em cargo

dito de confianccedila que confianccedila aiacute se potildee na qualificaccedilatildeo do candidato e natildeo na qualidade do nome por ele ostentado

Nem precisaria haver princiacutepio expresso - quer da impessoalidade quer da moralidade administrativa - para que se

chegasse ao reconhecimento da constitucionalidade das proibiccedilotildees de contrataccedilatildeo de parentes para os cargos

puacuteblicos Bastaria que se tivesse em mente a eacutetica democraacutetica e a exigecircncia republicana contidas no art 1ordm da

Constituiccedilatildeo para impor a proibiccedilatildeo de maneira definitiva direta e imediata a todos os Poderes da Repuacuteblica 236 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF fl 37 Seriam especialmente os da impessoalidade eficiecircncia e igualdade e que a inobservacircncia de um

dos trecircs acarretaria a violaccedilatildeo do princiacutepio da moralidade administrativa 237 O Ministro Cezar Peluso 238 De acordo com o Relator Ministro Britto o nepotismo ―() significa a paroquial fusatildeo do ambiente caseiro com o

espaccedilo puacuteblico E citando Rui Cirne Lima aduziu que ―administrar natildeo eacute atividade de que eacute senhor de coisa

proacutepria mas gestor de coisa alheia P 36 Segundo ele tambeacutem obsta o princiacutepio da eficiecircncia porque com a ―()

projeccedilatildeo do domeacutestico na intimidade das reparticcedilotildees estatais a comeccedilar pela oacutebvia razatildeo de que jaacute natildeo se tem a

necessaacuteria isenccedilatildeo () quando se vai avaliar a capacitaccedilatildeo profissional de um parente ou familiar Quando se vai

cobrar assiduidade e pontualidade no comparecimento do trabalho Mais ainda quando se eacute preciso punir

exemplarmente o servidor faltoso P 35Segundo o Ministro Celso Mello normas como a Resoluccedilatildeo em questatildeo

obstam ―() a formaccedilatildeo de grupos familiares cuja atuaccedilatildeo facilitada pelas nomeaccedilotildees em comissatildeo ou designaccedilatildeo

para funccedilotildees de confianccedila acaba () por patrimonializarlsquo o poder governamental convertendo-o em razatildeo de uma

inadmissiacutevel inversatildeo dos postulados republicanos em verdadeira res domesticalsquo degradando-o assim agrave condiccedilatildeo

subalterna de instrumento de mera dominaccedilatildeo do Estado vocacionado natildeo a servir ao interesse puacuteblico e ao bem

comum mas antes a atuar como incompreensiacutevel e inaceitaacutevel meio de satisfazer conveniecircncias pessoais e de

realizar aspiraccedilotildees particulares fl 109 Isso porque segundo o Ministro ―() impotildee que se faccedila essencial distinccedilatildeo

entre o espaccedilo puacuteblico () e o espaccedilo privado () em ordem a obstar que os indiviacuteduos mediante ilegiacutetima

apropriaccedilatildeo culminem por incorporar no acircmbito de seus interesses particulares a esfera de domiacutenio institucional do

Estado marginalizando como consequecircncia desse gesto de indevida patrimonializaccedilatildeolsquo o concurso dos demais

cidadatildeos na edificaccedilatildeo da res publicalsquo fl 110 E entatildeo conclui ―A consagraccedilatildeo do nepotismo na esfera

institucional do poder puacuteblico natildeo pode ser tolerada sob pena de o processo de governo ndash que haacute de ser impessoal

transparente e fundado em bases eacuteticas- ser conduzido um verdadeiro retrocesso histoacuterico o que constituiraacute na

perspectiva da atualizaccedilatildeo e modernizaccedilatildeo do aparelho do Estado situaccedilatildeo de todo inaceitaacutevel BRASIL Supremo

Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fl 111 239 Conforme o Relator Ministro Britto o nepotismo fere ―() os proacuteprios conteuacutedos loacutegicos dos princiacutepios

constitucionais de centrada regecircncia de toda a atividade administrativa do Estado Princiacutepios como I - o da

impessoalidade consistente no descarte do personalismo () Na absoluta separaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado ou

entre a Administraccedilatildeo e o administrador segundo a republicana metaacutefora de que natildeo se pode fazer cortesia com o

chapeacuteu alheiolsquo Conceitos que se contrapotildeem agrave multissecular cultura do patrimonialismo e que se vulnerabilizam natildeo

haacute negar com a praacutetica do chamado nepotismolsquo fl 33-34 Nesse mesmo esteio eacute o voto do Ministro Cezar Peluso

―Gostaria de versar a questatildeo agrave luz de um soacute princiacutepio explicitado pela vigente Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica o da

53

velar pela aplicaccedilatildeo desse princiacutepio e por isto ―natildeo haacute duacutevida que cabe ao Conselho

―coibir ainda que de forma geneacuterica as praacuteticas que violem 240

a impessoalidade e

que ―cabe agraves autoridades administrativas e nesse caso ao CNJ no cumprimento de seus

deveres constitucionais fazer cumprir os comandos normativos veiculados pelos

princiacutepios do art 37 241

Assim se extrai do disposto que ao CNJ compete assegurar o cumprimento do

disposto pelos princiacutepios insculpidos pelo art 37 da Constituiccedilatildeo Federal242

e por isto

que eacute competente para editar resoluccedilotildees como a sob apreciaccedilatildeo

Nesse diapasatildeo a Corte Suprema ao analisar se os ―condicionamentos

impessoalidade () Acredito ser possiacutevel isolar uma noccedilatildeo estreita do princiacutepio () aparece diretamente relacionado

com o controle juriacutedico do exerciacutecio do poder poliacutetico que por definiccedilatildeo eacute mantido sempre por minorias fl 59 E

continua ―As necessidades da administraccedilatildeo puacuteblica dependem daquilo que WEBER denominava a dominaccedilatildeo

burocraacutetica da impessoalidade formaliacutesticalsquo cujo conteuacutedo relevava bem com a expressatildeo () regida pelo dever

juriacutedico estrito de natildeo se deixar guiar () conduzir na tutela da coisa puacuteblica nem por oacutedio nem por amor Nesse

sentido o princiacutepio da impessoalidade estaacute ligado agrave ideia eficiecircncia porque constitui condiccedilatildeo ou requisito

indispensaacutevel da eficiecircncia operacional da administraccedilatildeo puacuteblica Mas a despeito disso atua sobremodo como

limitaccedilatildeo ao exerciacutecio do poder discricionaacuterio de nomear funcionaacuterios em cargo de confianccedila () O que limita esse

poder garantindo o alcance da satisfaccedilatildeo das necessidades e dos interesses puacuteblicos eacute o princiacutepio da impessoalidade

o qual deve guiar o administrador na escolha dos quadros natildeo para servir ao que se crecirc dono do poder isto eacute chefe

mas para acudir agraves necessidades da administraccedilatildeo puacuteblica fl 60 Entatildeo conclui ―A impessoalidade apresenta duas

dimensotildees () coibir o exerciacutecio do poder voltado a favorecer ou a prejudicar pessoas () impedir o personalismo no

exerciacutecio desse poder mediante atos de promoccedilatildeo pessoal () sublinha o dever de preenchimento dos cargos puacuteblicos

() significando vedaccedilatildeo de privileacutegios e tambeacutem de perseguiccedilotildees pessoais E () a autopromoccedilatildeo () Natildeo vejo

como negar agrave praacutetica do nepotismo a pecha de ofensa ostensiva ao princiacutepio da impessoalidade () BRASIL

Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fl

60-61 240 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Cezar Peluso fl 55 241 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Gilmar Mendes fl 74 242 Nas palavras do Relator Ministro Britto ―() essas praacuteticas tambeacutem podem resvalar com maior facilidade para a

zona proibida da imoralidade administrativa () Mas entendo que esse descambar para o iliacutecito moral jaacute eacute quase

sempre uma consequecircncia da deliberada inobservacircncia dos trecircs outros princiacutepios citados (foram impessoalidade

eficiecircncia e igualdade) fl37 Na mesma toada estatildeo os dizeres do Ministro Joaquim Barbosa ―() as regras

estabelecidas pelo CNJ na Resoluccedilatildeo 072005 () buscam dar efetividade aos princiacutepios da moralidade e da

impessoalidade administrativa () Por sua vez talvez com mais ecircnfase ainda impotildee-se ao caso o princiacutepio da

moralidade por aplicaccedilatildeo direta da Constituiccedilatildeo () fl 52-53 Em esteio similar se pronunciou o Ministro Gilmar

Mendes ―() natildeo haacute duacutevida de que os atos que impliquem a praacutetica do nepotismo ofendem diretamente os princiacutepios

da moralidade e da impessoalidade () fl 72 E continua ―A vedaccedilatildeo do nepotismo eacute regra constitucional que estaacute

na zona de certeza dos princiacutepios da moralidade e da impessoalidade Natildeo eacute de hoje que o nepotismo eacute uma praacutetica

condenada pela sociedade brasileira fl 73 Nesse iacutenterim conclui ―() o ato administrativo que implique nesse

tipo de praacutetica imoral eacute ilegiacutetimo natildeo apenas por violaccedilatildeo a uma determinada lei mas por ofensa direta agrave moralidade

que atua como substrato eacutetico de ordem constitucional () a proibiccedilatildeo do nepotismo decorre do conjunto de

princiacutepios constitucionais dentre os quais tecircm relevo os princiacutepios da moralidade e da impessoalidade fl 73-74

Bem como a Ministra Ellen Gracie ―() questatildeo do nepotismo como uma das formas mais visiacuteveis de ofensa ao

princiacutepio da moralidade administrativa () fl 84 E do Ministro Celso Mello ―() os postulados da impessoalidade

e da moralidade que representam os valores essenciais na conformaccedilatildeo das atividades do poder Sabemos todos que a

atividade estatal qualquer que seja o domiacutenio institucional de sua incidecircncia estaacute necessariamente subordinada agrave

observacircncia de paracircmetros eacutetico juriacutedicos que se refletem na consagraccedilatildeo constitucional dos princiacutepios da moralidade

administrativa que se qualifica como valor constitucional impregnado de substrato eacutetico e erigido agrave condiccedilatildeo de vetor

fundamental no processo do poder fl 97 E ainda complementa ―A praacutetica do nepotismo () traduz a proacutepria

antiacutetese da pauta de valores cujo substrato constitucional repousa no postulado da moralidade administrativa que natildeo

tolera ndash porque incompatiacutevel com o espiacuterito republicano e com a essecircncia da ordem democraacutetica ndash o exerciacutecio do

poder pro domo sua fl 100 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF Trechos dos votos dos Ministros

54

impostos pela resoluccedilatildeo satildeo ―atentatoacuterios da liberdade de nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo dos

cargos em comissatildeo e funccedilotildees de confianccedila (inciso II e V do art 37)243

alegou que ao

contraacuterio do que se pode pensar a resoluccedilatildeo apenas positivou ainda mais as proibiccedilotildees

constitucionais decorrentes dos princiacutepios da impessoalidade da eficiecircncia e da

igualdade244

E arrematou que os ―servidores puacuteblicos natildeo satildeo titulares de direito adquirido a

regime juriacutedico 245

e que as nomeaccedilotildees para exerciacutecio de cargo em comissatildeo se

submetem ao princiacutepio da moralidade e impessoalidade e que a proibiccedilatildeo do nepotismo

emana do princiacutepio da impessoalidade e que diante disto mesmo que a nomeaccedilatildeo de

cargo comissionado seja discricionaacuteria seus limites satildeo estabelecidos dentre outros por

esse princiacutepio e concluiu que os servidores que foram nomeados de forma irregular natildeo

detecircm direito subjetivo algum vez que da ―praacutetica ofensiva agrave Constituiccedilatildeo () natildeo pode

irradiar-se nenhum direito subjetivo 246

Disso o que se extrai que eacute vedado o

nepotismo na nomeaccedilatildeo de cargos comissionados

Ainda se afirmou que o normativo natildeo exprime afronta agrave separaccedilatildeo dos

poderes e nem ao princiacutepio federativo porque natildeo submeteu o Poder Judiciaacuterio aos

outros dois Poderes e que tambeacutem natildeo invadiu a competecircncia do Poder Legislativo

federal ou dos estaduais vez que apenas positivou o exerciacutecio da competecircncia reservada

pela Constituiccedilatildeo ao CNJ247

natildeo havendo ―violecircncia aos dogmas da separaccedilatildeo dos

poderes e da Federaccedilatildeo como tambeacutem natildeo observa ―ofensa alguma agrave isonomia 248

e

243 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Relator fl 37-38 244 ―O juiacutezo de que as restriccedilotildees constantes do ato normativo do CNJ satildeo no rigor dos termos as mesmas restriccedilotildees jaacute

impostas pela Constituiccedilatildeo de 1988 dedutiacuteveis dos republicanos princiacutepios da impessoalidade da eficiecircncia e da

igualdade sobretudo Quero dizer o que jaacute era constitucionalmente proibido permanece com essa tipificaccedilatildeo poreacutem

agora mais expletivamente positivado E completa ―() clara razatildeo de que a interpretaccedilatildeo dos mencionados

incisos tem que ficar adstrita agrave exegese dos comandos que se lecirc no caput do mesmo art 37 () princiacutepios reitores de

toda a Administraccedilatildeo Puacuteblica adequadamente pinccedilados e debulhados pelo ato normativo sub judice () Natildeo se

tratando entatildeo de discriminar o Poder Judiciaacuterio perante os outros dois Poderes Orgacircnicos do Estado sob a

equivocada proposiccedilatildeo de que o Poder Executivo e o Poder Legislativo estariam inteiramente libertos de peias

juriacutedicas para prover seus cargos em comissatildeo e funccedilotildees de confianccedila naquelas situaccedilotildees em que os respectivos

ocupantes natildeo hajam ingressado na atividade estatal por meio de concurso puacuteblico fl38 Neste final da passagem o

Ministro parece excepcionar os casos de servidores efetivos que satildeo nomeados para cargo comissionado BRASIL

Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF

Trecho do voto do Ministro Relator 245 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Eros Grau fl 47 246 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Cezar Peluso fl 57 247 Ministro Ayres Britto 248 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Sepuacutelveda Pertence Idem fl 117

55

tambeacutem que a Resoluccedilatildeo ―preserva a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica249

Nesse ensejo foi explicado250

que o CNJ positivou mateacuteria afeta agrave reserva da

norma vez que estabeleceu sobre uma mateacuteria que natildeo necessita ser versada por lei

formal podendo o ser por norma elaborada pelo Poder Executivo ou pelo Poder

Judiciaacuterio e que o assunto deveria ser regulado por cada oacutergatildeo no acircmbito de sua

respectiva competecircncia e que mas natildeo o foi o CNJ editou a Resoluccedilatildeo substituindo a

iniciativa dos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio 251

Aqui importa pensar que este tambeacutem eacute um dos argumentos de defesa quanto agrave

necessidade da elaboraccedilatildeo da SV N13 como instrumento constitucional utilizado pelo

STF na opiniatildeo de alguns devido agrave omissatildeo do Legislativo e tambeacutem do Executivo

Nesse diapasatildeo asseverou-se que a Resoluccedilatildeo veio para ―remediar os danos

causados pela praacutetica em si e tambeacutem para ―prevenir os riscos que esse dano venha

causar o que poderia ―ser feito apenas mediante a ediccedilatildeo de ato com caraacuteter normativo

e de sentido geral 252

e que a normativa eacute decorre do princiacutepio da moralidade 253

Aleacutem disso vale destacar que ainda se lembrou254

que incumbia ao STF

naquela ―sede de controle abstrato de normas tatildeo-somente aferir a constitucionalidade

da Resoluccedilatildeo n 0705 e natildeo ―esmiuccedilar cada qual das suas teoacutericas possibilidades de

incidecircncia menos ainda os particularizados efeitos de sua aplicaccedilatildeo em concreto 255

A partir de entatildeo foram suscitados dois pontos que ensejariam ―ajustes no ato

normativo256

o primeiro referente a ―parente por afinidade ateacute terceiro grau257

e o

249 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Celso Mello fl 100 Aleacutem de repulsar o nepotismo com base no princiacutepio da

moralidade principal esteio do seu voto 250 Ministro Eros Grau 251 Presidente do STF Ministro Nelson Jobim ―A iniciativa das leis dessa natureza eacute do Tribunal de Justiccedila e

nenhum Tribunal de Justiccedila salvo o do Rio Grande do Norte providenciou a emissatildeo da sua iniciativardquo BRASIL

Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF

Trecho do voto do Ministrofl 121 252 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Ministro Cezar Pelusofl 56 253 A Ministra Ellen Gracie dispocircs ―() no estrito exerciacutecio dessa atividade de verificaccedilatildeo ou guarda da proacutepria

constitucionalidade dos atos administrativos expedidos pelos tribunais () ao considerar a nomeaccedilatildeo de parentes por

magistrados uma conduta atentatoacuteria ao princiacutepio da moralidade (CF art 37 caput) BRASIL Supremo Tribunal

Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fl 83 Assim quanto

agrave legalidade da Resoluccedilatildeo do CNJ os Ministros apresentaram os mais variados argumentos quanto agrave sua legalidade

desde que decorre de oacutergatildeo competente do princiacutepio da moralidade e da normativa constitucional ateacute que resulta da

omissatildeo de outros oacutergatildeos e trata de mateacuteria de reserva de norma 254 Ministro Britto 255 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Relator fl43 Contudo tal entendimento natildeo foi assentado quando da ediccedilatildeo

da SV 13 256 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Relator fl 44

56

segundo que atinente agrave inclusatildeo do vocaacutebulo ―chefia agrave Resoluccedilatildeo

Quanto ao primeiro ponto que

() a Resoluccedilatildeo nordm 0705 ato normativo que tenho como de natureza

primaacuteria podia mesmo fazer do terceiro grau de parentesco consanguiacuteneo um

criteacuterio de inibiccedilatildeo ao ―nepotismordquo Impedida estava no entanto de criar um

novo grau de parentesco por afinidade devido a que essa mateacuteria eacute de caraacuteter

civil reservada pela Constituiccedilatildeo agrave competecircncia do Poder Legislativo

Federal E o fato eacute que ela (Resoluccedilatildeo n 0705) distendeu as fronteiras do

parentesco para incluir ―parentes de 3ordm grau por afinidade ultrapassando

assim o instituto do cunhado Daiacute a necessidade de emprestar-se

interpretaccedilatildeo conforme aos incisos do art 2ordm da Resoluccedilatildeo nordm 07 do CNJ

para restringir o parentesco por afinidade da linha colateral ldquoaos irmatildeos do

cocircnjuge ou companheirordquo 258

Pois

() os atos do CNJ estatildeo necessariamente vinculados por hierarquia

normativa dentro do plano das leis de acircmbito nacional dentre outras agrave Lei n

1040602 que instituiu o vigente Coacutedigo Civil () precisamente de acordo

com as premissas antes referidas as normas desta Resoluccedilatildeo devem ser

interpretadas agrave luz do Coacutedigo Civil259

Todavia este argumento natildeo prevaleceu e nem foi aplicado agrave construccedilatildeo da SV

n13 embasada por tal Resoluccedilatildeo pois os entendimentos contraacuterios expostos pelos

demais Ministros prevalecerem vez que ao reveacutes afirmou-se que o STF natildeo deveria

discutir sobre o grau de parentesco disposto na Resoluccedilatildeo agrave luz do Coacutedigo Civil pois ―a

questatildeo de parentesco definida no Coacutedigo Civil eacute para efeitos civis e no julgado

visava-se ―a vigecircncia absoluta do princiacutepio da impessoalidade tendo em vista a

―impessoalidade efetiva natildeo se podendo deixar em aberto senatildeo a impessoalidade

seria ―rompida exatamente por esse caminho 260

Nesse esteio foi dito que o problema natildeo seria ―definir quais satildeo os parentes

para efeitos civis mas definir quais aquelas pessoas que sob a classe da parentela

tendem a ser escolhidas natildeo por interesse puacuteblico mas por interesse de caraacuteter

pessoal261

pois se devia focar em ―uma relaccedilatildeo familiar ainda que para os efeitos do

257 Ministro Britto 258 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Relator fl 44 259 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Gilmar Mendes fl 79 O Ministro desta feita se manifestou de maneira

legalmente adequada quanto ao tema mas natildeo foi acompanhado por seus colegas 260 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Ministro Nelson Jobim fl 62 261 Assim o Ministro Relator adere agrave questatildeo que havia de iniacutecio se manifestado pela incongruecircncia se posicionando

no seguinte sentido se os Colegas entediam que ―a resoluccedilatildeo nada mais fez do que transformar o terceiro grau de

parentesco num simples criteacuterio de inibiccedilatildeo BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo

Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF Ministro Relator fl 63

57

Coacutedigo Civil natildeo seja chamada de parentesco262

e que como natildeo ―haacute conceito

constitucional de parentesco ou da extensatildeo do parentesco a ―uma norma

infraconstitucional vaacutelida seria ―dado atribuir para determinados efeitos conceitos

diversos daquele insculpido no Coacutedigo Civil 263

O segundo item ressaltado foi que se deveria incluir o vocaacutebulo chefialsquo na

resoluccedilatildeo por meio da interpretaccedilatildeo conforme visto que embora natildeo tenham sido

mencionados por ela os cargos em comissatildeo e as funccedilotildees de confianccedila foram

vinculados pelo texto constitucional natildeo apenas quanto agraves atribuiccedilotildees de direccedilatildeo e

assessoramento mas tambeacutem de chefia de acordo com o disposto no inciso V do art

37

Por fim tem-se como uacutenica argumentaccedilatildeo dissidente a indeferir a medida

cautelar264

que o CNJ natildeo possui poder normativo para editar a Resoluccedilatildeo pois natildeo haacute

―base constitucional para que ele possa ―normatizar de forma abstrata substituindo-se

ao Congresso nem a liminar poderia ser concedida com tais ―contornos maiores uma

vez que natildeo soacute suspende ―atos jurisdicionais jaacute formalizados mas ―vai-se aleacutem para

colocar em segundo plano uma garantia constitucional baacutesica a do livre acesso ao Poder

Judiciaacuterio a qual decorre do disposto no inciso XXXV do art 5ordm da Carta de 1988265

Feita a anaacutelise do julgado quanto a cautelar da ADC passa-se ao julgado

quanto agrave apreciaccedilatildeo do meacuterito da accedilatildeo que ―natildeo animou a Corte a novos debates ou

aprofundamentos266

mas declarou a constitucionalidade da Resoluccedilatildeo do Conselho

Nacional de Justiccedila267

com eficaacutecia erga omnes e efeito vinculante268

262 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Ministro Sepuacutelveda Pertence fl 63 263 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Ministro Sepuacutelveda Pertence fl 118 Neste esteio em prol da inibiccedilatildeo ao nepotismo vale por meio de

teacutecnica de argumentaccedilatildeo criar ampliar o parentesco por afinidade diverso do restringido em lei Os Ministros

resolveram ser mais legalistas que a proacutepria lei fundados na observacircncia dos princiacutepios constitucionais da

impessoalidade e da moralidade que regem a Administraccedilatildeo Puacuteblica 264 Ministro Marco Aureacutelio Que remonta ao voto proferido em sede da ADI n 1521-4RS tambeacutem precedente da

Suacutemula como este julgado Vaacuterios Ministros fizeram referecircncia ou aos seus proacuteprios votos na referida ADI ou ao dos

seus colegas para fundamentar os respectivos proferidos no julgamento em voga 265 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Ministro Marco Aureacuteliofl 89 - 90 266 MODESTO Paulo Nepotismo em Cargos Poliacutetico administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP

Belo Horizonte Ed Forum ano 11 n 41 abrjun 2013 p30 267 O que natildeo podia ser diferente uma vez que o proacuteprio Presidente do STF tambeacutem no julgamento da liminar jaacute

havia se pronunciado desta maneira ―Sabemos perfeitamente que na tradiccedilatildeo do Tribunal as concessotildees da liminar

praticamente satildeo as decisotildees finais ()fl 122 268 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade ADC n 12-6DF Ementaacuterio n

2387-1 ―ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE CONSTITUCIONALIDADE AJUIZADA EM PROL DA RESOLUCcedilAtildeO

Nordm 07 de 181005 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA ATO NORMATIVO QUE DISCIPLINA O

EXERCIacuteCIO DE CARGOS EMPREGOS E FUNCcedilOtildeES POR PARENTES COcircNJUGES E COMPANHEIROS DE

MAGISTRADOS E DE SERVIDORES INVESTIDOS EM CARGOS DE DIRECcedilAtildeO E ASSESSORAMENTO NO

AcircMBITO DOS OacuteRGAtildeOS DO PODER JUDICIAacuteRIO E DAacute OUTRAS PROVIDEcircNCIAS PROCEDEcircNCIA DO

58

O julgamento do meacuterito da ADC assentou tudo aquilo jaacute expresso no julgado

referente agrave cautelar e especialmente o uacutenico argumento linear que se extrai dos votos

de todos os Ministros de que os princiacutepios insertos no caput do artigo 37 da

Constituiccedilatildeo Federal satildeo autoaplicaacuteveis e que deles decorre o vedaccedilatildeo do nepotismolsquo 269

e trouxe argumentos novos tatildeo somente quanto agrave inclusatildeo do vocaacutebulo chefia na

Resoluccedilatildeo por meio da interpretaccedilatildeo conformelsquo pois restou notado270

ao reveacutes do

entendimento disposto na cautelar271

que eacute prescindiacutevel se realizar interpretaccedilatildeo

conformelsquo quanto aos termos ―direccedilatildeo e assessoramento dispostos na resoluccedilatildeo

porque os cargos em comissatildeo ―satildeo cargos de direccedilatildeo e assessoramento superior

portanto inclui necessariamente o cargo de chefia272

Todavia nem esse ponto que natildeo deveria suscitar duacutevidas tamanha clareza

natildeo restou paciacutefico pois ainda foi de outra banda registrado que ―seria bom que

constasse direccedilatildeo chefia e assessoramentolsquo273

na redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo

114 Recurso Extraordinaacuterio n 579951RN

O quarto precedente da SV n13 natildeo menos importante que o terceiro trata de

Recurso Extraordinaacuterio274

interposto em face de Acoacuterdatildeo proferido pelo Tribunal de

Justiccedila do Estado do Rio Grande do Norte275

que considerou legais a nomeaccedilatildeo de

irmatildeo de vereador municipal para o cargo de Secretaacuterio de Sauacutede do Municiacutepio e de

irmatildeo do vice-prefeito do Municiacutepio como motorista da Prefeitura vez que segundo o

Colegiado recorrido natildeo havia ―() qualquer inconstitucionalidade ou ilegalidade na

PEDIDO() fl13 Relator Min Carlos Ayres Britto julgada em 2082008 e publicada no DJ nordm 237 de

18122009 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 100213 269 Tanto no julgado da liminar seja no meacuterito da ADC todos os Ministros elucidaram sobre o nepotismo e sobre os

princiacutepios entretanto natildeo se remontou novamente aos pronunciamentos uma vez que a maioria das argumentaccedilotildees

jaacute foi citada 270 Ministro Menezes Direito 271BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade ADC n 12-6DF Ministro

Menezes Direito fl 16 Tanto que a Ministra Carmem Luacutecia esclarece logo na fl 18 do julgado que direccedilatildeo inclui a

chefia 272 O Ministro Marco Aureacutelio dissidente no julgamento da cautelar aderiu agrave ―colocaccedilatildeo do ministro Menezes

Direito quanto agrave desnecessidade da interpretaccedilatildeo conforme (fl 23) e o Ministro Gilmar Mendes acompanhou o

relator integralmente mesmo tendo afirmado que entendia a proposiccedilatildeo da desnecessidade da interpretaccedilatildeo

conforme BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade ADC n 12-6DF 273 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade ADC n 12-6DF Ministro Cezar

Peluso fl 27 274 BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ementaacuterio n 2338-10

―ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA VEDACcedilAtildeO NEPOTISMO NECESSIDADE DE LEI FORMAL

INEXIGIBILIDADE PROIBICcedilAtildeO QUE DECORRE DO ART 37 CAPUT DA CF REPROVIDO EM PARTE I ndash

() II - A vedaccedilatildeo do nepotismo natildeo exige a ediccedilatildeo de lei formal para coibir a praacutetica III - Proibiccedilatildeo que decorre

diretamente dos princiacutepios contidos no art 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal fl 1876 Relator Min Ricardo

Lewandowski julgado em 2082008 e publicado no DJ n 202 de 24101008 ajuizado pelo Ministeacuterio Puacuteblico do

Rio Grande do Norte 275 Apelaccedilatildeo agrave decisatildeo de primeira instacircncia proferida na accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade de ato administrativo pelo

magistrado da 1ordf Vara Ciacutevel da Comarca de Pau de FerrosRN Autos n 2007006909-8

59

nomeaccedilatildeo () para exerciacutecio respectivamente dos cargos em comissatildeo de Secretaacuterio

Municipal de Sauacutede e de motorista276

A Corte Estadual afirmou a uma que a Resoluccedilatildeo do CNJ natildeo podia ser

interpretada extensivamente e por isto natildeo seria aplicaacutevel ao Poder Executivo e

Legislativo a duas que a proibiccedilatildeo do nepotismo ―no acircmbito desses poderes exige a

ediccedilatildeo de lei formal e a trecircs que a ―nomeaccedilatildeo de parentes de agentes poliacuteticos para o

exerciacutecio de cargos de confianccedila ou em comissatildeo natildeo viola qualquer dispositivo

constitucional 277

pois a Constituiccedilatildeo dispotildee sobre a livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo para

estes cargos

Entretanto o Ministeacuterio Puacuteblico ao apresentar as razotildees recursais obtemperou

que a decisatildeo do TJRN eacute contraacuteria ao ―princiacutepio da moralidade abrigado no art 37 da

mesma Carta que natildeo eacute ―liacutecito dar-se aos seus incisos II e V278

uma interpretaccedilatildeo

isolada dissociada do que conteacutem no caput do mencionado dispositivo279

e que ―a

proibiccedilatildeo ao nepotismo decorre diretamente do referido princiacutepio constitucional sendo

dispensaacutevel a ediccedilatildeo de lei expressa nesse sentido280

Diante de tal embate a Corte afirmou que ―o entendimento agasalhado no

acoacuterdatildeo recorrido natildeo merecia prosperar diante da forccedila normativa dos princiacutepios

dispostos no art 37 da Carta Federal pois ―a vedaccedilatildeo ao nepotismo eacute regra

constitucional que estaacute na zona de certeza dos princiacutepios da moralidade e da

impessoalidade281

Ainda explicitou natildeo soacute sobre a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da moralidade282

como

tambeacutem sobre o nepotismo283

e daiacute trouxe a lume o fato de que diversas leis vedam o

276 BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1877 277

BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1877- 1878 278 Referentes agrave nomeaccedilatildeo para cargo em comissatildeo e funccedilatildeo de confianccedila que eacute tanto quanto a exoneraccedilatildeo ad

nutum 279 BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1878 280 BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1878 De acordo com o

exposto pelo Relator Ministro Ricardo Lewandowiski os princiacutepios coiacutebem ―a nefasta e antirrepublicana praacutetica do

nepotismo o Ministro explica que ―os princiacutepios constitucionais longe de configurarem meras recomendaccedilotildees de

caraacuteter moral ou eacutetico consubstanciam regras juriacutedicas de caraacuteter prescritivo hierarquicamente superiores agraves demais

e positivamente vinculanteslsquo como ensina Gomes Canotilho fl1888 281BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1878 Relator Ministro

Ricardo Lewandowiski fl 1883 ―() os princiacutepios dentre os quais destaco o da moralidade e impessoalidade

exigem que o agente puacuteblico paute a sua conduta por padrotildees eacuteticos que tecircm como fim uacuteltimo lograr a consecuccedilatildeo do

bem comum seja qual for a esfera do poder ou niacutevel poliacutetico-administraccedilatildeo da Federaccedilatildeo em que atue fl 1890 282 O Relator Ministro Ricardo Lewandowiski jaacute no Relatoacuterio afirma que a decisatildeo do TJRN ―contraria o princiacutepio

da moralidade porque abarca a praacutetica de nepotismo e a proibiccedilatildeo deste ―decorre diretamente do referido princiacutepio

constitucional BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1878 283 O Ministro Relator quanto ao nepotismo aleacutem de afirmar citando a obra de Sergio Buarque de Holanda que o

nepotismo adveacutem das ―() origens da dificuldade de separaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado pelos detentores do poder

em nossa sociedade () fl 1885 Ainda se refere agrave noccedilatildeo de nepotismo explicando que ―Como se sabe do ponto de

60

nepotismo no acircmbito federal mas que isto natildeo significaria que a proibiccedilatildeo possa

ocorrer apenas por leis formais284

pois sua vedaccedilatildeo estaacute diretamente relacionada com a

aplicaccedilatildeo do princiacutepio da moralidade e que o nepotismo aleacutem de transgredir este

tambeacutem infringe os princiacutepios da impessoalidade e da isonomia285

e ainda na maioria

das vezes o da eficiecircncia286

Nessa mesma linha foi reafirmada a desnecessidade de lei formal para coibir o

nepotismo decorrente da aplicaccedilatildeo do princiacutepio constitucional da moralidade287

diante

da aplicaccedilatildeo imediata dos princiacutepios do artigo 37 da Carta Federal independente

portanto de legislaccedilatildeo infraconstitucional288

pois o princiacutepio da moralidade como

assentado pelo proacuteprio Tribunal ―condiciona a legitimidade e a validade dos atos

estatais 289

Nessa toada tambeacutem foi destacado que haacute ―consenso social acerca da

reprovabilidade290

da praacutetica do nepotismo e que ―() carece de plausibilidade a

exegese segundo a qual o nepotismo seria permitido simplesmente porque natildeo haacute lei

que o proiacuteba mas que natildeo havia como prover integralmente o recurso pois natildeo cabia

ao STF atuar como legislador positivo natildeo podendo portanto proibir o muniacutecipio de

vista etimoloacutegico a palavra nepotismolsquo tem origem no latim derivando da conjugaccedilatildeo do termo nepote significando

sobrinho ou protegido com o sufixo ismolsquo que remete agrave ideia de ato praacutetica ou resultado A utilizaccedilatildeo desse termo

historicamente adveacutem da autoridade exercida pelos sobrinhos e outros aparentados dos Papas na administraccedilatildeo

eclesiaacutestica nos seacuteculos XV e XVI da nossa era ganhando atualmente o significado pejorativo do favorecimento de

parentes por parte de algueacutem que exerce o poder na esfera puacuteblica ou privada BRASIL Supremo Tribunal Federal

Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1881-1882 284

―() os princiacutepios constitucionais longe de configurarem meras recomendaccedilotildees de caraacuteter moral ou eacutetico

consubstanciam regras juriacutedicas de caraacuteter prescritivo e hierarquicamente superiores agraves demais e positivamente

vinculanteslsquo () como se reconhece atualmente satildeo sempre dotados de eficaacutecia cuja materializaccedilatildeo pode ser

cobrada judicialmente se necessaacuterio

BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n

579951RN Ministro Relator fl1888 285 Em conformidade com os dizeres do Ministro Relator ―Aleacutem da ofensiva agrave moralidade administrativa a nomeaccedilatildeo

de parentes para cargos e funccedilotildees que natildeo exigem concurso puacuteblico () fere o princiacutepio da impessoalidade e por

extensatildeo o basilar princiacutepio da isonomia porque prevalece o nefasto QIlsquo o popular quem indicalsquo () BRASIL

Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ministro Relator fl1892 286 BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ministro Relator fl 1890-1893

Ao afirmar que ―no mais das vezes a nomeaccedilatildeo de parentes dada absoluta inapetecircncia destes para o trabalho e o seu

completo despreparo para o exerciacutecio das funccedilotildees que alegadamente exercem vulnera tambeacutem o princiacutepio da

eficiecircncia () num evidente desvio de finalidade porquanto permite que o interesse privado isto eacute patrimonial no

sentido socioloacutegico e tambeacutem vulgar da expressatildeo prevaleccedila sobre o interesse coletivofl 1893 Tambeacutem que ―()

o fato de que essa praacutetica atenta natildeo apenas contra o princiacutepio da impessoalidade como tambeacutem o da eficiecircncia

ambos inseridos no rol daqueles que devem nortear a accedilatildeo dos agentes puacuteblicos fl 1898 E ainda que o princiacutepio da

eficiecircncia obsta a ―() histoacuterica confusatildeo que os administradores puacuteblicos com honrosas exceccedilotildees tecircm feito entre

patrimocircnio puacuteblico e privado fl1899 287 Ministro Menezes Direito 288 Ministra Carmen Luacutecia 289

Ministro Celso Mello como nos demais votos proferidos nos precedentes da Suacutemula ora em exame inclusive

citando o seu proacuteprio voto proferido da ADI 1521RS torna a rechaccedilar a praacutetica do nepotismo com base nos

princiacutepios constitucionais republicanos BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n

579951RN fl 1932-1933 290 Ministro Relator BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1896

61

realizar certas nomeaccedilotildees291

Declarou-se nula a nomeaccedilatildeo do irmatildeo do Vice-Prefeito como motorista e a

legalidade da nomeaccedilatildeo do irmatildeo do vereador para o cargo poliacutetico de Secretaacuterio de

Sauacutede por natildeo configurar ―nepotismo cruzado292

Diante disse os dois assuntos que mereceram debates inovadores neste quarto

precedente da SV n13 foram a distinccedilatildeo quanto agrave aplicabilidade do nepotismo no

cargo administrativo e no cargo comissionado293

e a possibilidade de se ter configurado

o nepotismo cruzado

Quanto ao primeiro ponto foi elucidado

() sobre a distinccedilatildeo entre cargo em comissatildeo e funccedilatildeo de confianccedila de um

lado e do outro cargo de Secretaacuterio Municipal Secretaacuterio de Estado

Ministro de Estado portanto cargos de natureza poliacutetica claro que eu natildeo

quis dizer que esses princiacutepios do art 37 ndash legalidade e moralidade ndash natildeo se

aplicam aos dirigentes superiores de toda a Administraccedilatildeo Puacuteblica Agora os

cargos aqui referidos no inciso V do artigo 37 satildeo singelamente

administrativos satildeo cargos criados por lei natildeo satildeo nominados pela

Constituiccedilatildeo Os cargos de Secretaacuterio de Estado Secretaacuterio Municipal tecircm

por ecircmulo ou paradigma federal os cargos de Ministro de Estado cuja

natureza eacute poliacutetica e natildeo singelamente administrativa Diz a Constituiccedilatildeo

Federal sobre o Poder Executivo o Poder Executivo eacute exercido pelo

Presidente da Repuacuteblica auxiliado pelos Ministros de Estado Ou seja os

Ministros de Estado satildeo ocupantes de cargos de existecircncia necessaacuteria

poliacutetica porque componentes do governo Aonde eu quero chegar O Chefe

do Poder Executivo eacute livre para escolher seus quadros de governo mas natildeo o

eacute para escolher seus quadros administrativos porque dentre os quadros

administrativos estatildeo os cargos em comissatildeo os cargos de provimento

efetivo e as funccedilotildees de confianccedila A proacutepria Constituiccedilatildeo sentando praccedila

desse caraacuteter constitucional eminentemente poliacutetico dos Ministros de Estado

ndash e isso vale no plano dos Estados-membros e no plano dos municiacutepios aleacutem

de dizer os requisitos deles () diz o que basicamente lhes compete Entatildeo o

assento o locus juriacutedico dos auxiliares de governo eacute diretamente

291

() natildeo cabe a esta Corte conforme paciacutefica jurisprudecircncia atuar como legislador positivo sendo-lhe vedado

inovar o sistema normativo funccedilatildeo reservada ao Poder Legislativo O provimento integral do RE com efeito

revelaria flagrante extravasamento de competecircncias com ofensa ao princiacutepio constitucional da separaccedilatildeo dos

poderes BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ministro Relator fl

1900 292

―Desprovejo-o quanto ao secretaacuterio de sauacutede Entendo que natildeo podemos a partir do disposto na cabeccedila do art 37

da Constituiccedilatildeo Federal glosar a escolha E haveria ainda a problemaacutetica a que se referiu Vossa Excelecircncia o

parentesco natildeo eacute com o titular natildeo eacute com o vice-prefeito natildeo eacute com algueacutem ligado ao Executivo com servidor ou

agente poliacutetico mas com um vereador BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n

579951RN Ministro Relator fl 1911 293O Ministro Marco Aureacutelio foi o primeiro a trazer agrave baila a distinccedilatildeo da aplicabilidade do nepotismo ao servidor

puacuteblico e ao agente poliacutetico Um dos pontos mais relevantes deste julgado e criticaacutevel por alguns no que concerne ao

verbete sumular Segundo Paulo Modesto ―A mais grave das ressalvas foi germinada nas primeiras decisotildees da Corte

sobre o tema nepotismo a partir de uma distinccedilatildeo ausente do enunciado da suacutemula entre o favorecimento familiar de

agentes no provimento de cargos administrativos e no provimento de bdquocargos poliacuteticos‟ ou bdquopoliacutetico-

administrativos‟ E completa ―Segundo essa interpretaccedilatildeo difundida amplamente sem os matizes presentes nos

debates da Corte a Suacutemula Vinculante seria aplicaacutevel apenas a funccedilotildees de confianccedila e cargos em comissatildeo

puramente administrativos de livre nomeaccedilatildeo e livre exoneraccedilatildeo O provimento de cargos puacuteblicos mesmo os natildeo

eletivos natildeo sofreria as limitaccedilotildees da proibiccedilatildeo do nepotismo MODESTO Paulo MODESTO Paulo Nepotismo

em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP Belo Horizonte Ed Forum ano

11 n 41 abrjun 2013 p11-12

62

constitucional A Constituiccedilatildeo Federal a atestar o caraacuteter o poliacutetico do cargo e

do agente Por isso o que decidimos no plano da ADC nordm 12 e agora

servindo de fundamento para a nova decisatildeo a proibiccedilatildeo do nepotismo

arranca decola deriva diretamente dos princiacutepios do artigo 37 que satildeo

princiacutepios extensiacuteveis a toda a Administraccedilatildeo Puacuteblica de qualquer dos

Poderes de qualquer das pessoas federadas ―Tudo isso na vertente na

perspectiva de cargos em comissatildeo e funccedilotildees de confianccedila que tem caraacuteter

apenas administrativo e natildeo caraacuteter poliacutetico 294

E tambeacutem

() a Corte concordou ndash que os princiacutepios do artigo 37 eram extensiacuteveis a

toda a Administraccedilatildeo Puacuteblica tive em conta a proacutepria expressatildeo

―Administraccedilatildeo Puacuteblica porque esses princiacutepios da legalidade

impessoalidade e moralidade vecircm num contexto natildeo de governo natildeo de

poder poliacutetico mas de Administraccedilatildeo Puacuteblica ou seja para exerciacutecio da

atividade administrativa A Administraccedilatildeo Puacuteblica aqui parece-me eacute

segmento do governo O governo eacute mais do que a Administraccedilatildeo Puacuteblica

porque incorpora ingrediente poliacutetico Entatildeo quando o art 37 refere-se a

cargo em comissatildeo e funccedilatildeo de confianccedila estaacute tratando de cargos e funccedilotildees

singelamente administrativos natildeo de cargos poliacuteticos Portanto os cargos

poliacuteticos estariam fora do alcance da decisatildeo que tomamos na ADC n 12

porque o proacuteprio Capiacutetulo VII eacute Da Administraccedilatildeo Puacuteblica enquanto

segmento do Poder Executivo E sabemos que os cargos poliacuteticos como por

exemplo os de Secretaacuterio Municipal satildeo de agentes do Poder fazem parte

do Poder Executivo O cargo natildeo eacute em comissatildeo no sentido do art 37

Somente os cargos e funccedilotildees singelamente administrativos ndash eacute como penso ndash

satildeo alcanccedilados pela imperiosidade do artigo 37 com seus lapidares

princiacutepios Entatildeo essa distinccedilatildeo me parece importante para no caso excluir

do acircmbito da nossa decisatildeo anterior os Secretaacuterios Municipais que

correspondem a Secretaacuterios de Estado no acircmbito dos Estados e Ministros de

Estado no acircmbito federal295

Dessa forma a distinccedilatildeo entre cargo poliacutetico e cargo comissionado se tornou

mais clara ao Tribunal296

Poreacutem foi levantado o questionamento de como ficariam as situaccedilotildees dos

Prefeitos Municipais que nomeiam vaacuterios parentes seus para assumirem cargos poliacuteticos

de Secretaacuterios297

e foi explicado que tais nomeaccedilotildees faziam parte da rotina inerente ao

funcionamento do Poder Executivo e que se referia agrave formaccedilatildeo do ―quadro de governo

natildeo sendo aplicaacutevel a norma do inciso V do art 37 (nomeaccedilatildeo de cargo em

294

Ministro Ayres Britto Desta feita manifestou-se pelo provimento do recurso apenas quanto agrave contrataccedilatildeo do

irmatildeo do vice-prefeito como motorista da Prefeitura BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio

RE n 579951RN Ministro Relator 1912-1913 295BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ministro Ayres Britto fl 1922-

1923 296 E aos demais Ministros que acompanharam a divergecircncia e se manifestaram pelo provimento parcial do recurso

Tanto se tornou clara que o Ministro Menezes Direito ao proferir seu voto disse que fazia as mesmas restriccedilotildees que

haviam sido feitas pelos Ministros Marco Aureacutelio e Ayres Britto ―Eu entendo que nessa circunstacircncia natildeo cabe a

aplicaccedilatildeo do princiacutepio natildeo se trata aqui de nepotismo Seria absolutamente impossiacutevel fazer essa vinculaccedilatildeo

Todavia tal natildeo ocorre com o cargo de motorista porque ele estaacute sendo contratado para o gabinete do vice-prefeito

ele eacute funcionaacuterio da administraccedilatildeo municipal tambeacutem servindo o vice-prefeito e aiacute fica evidente que estaacute havendo a

contrataccedilatildeo de um irmatildeo para a mesma reparticcedilatildeo para o mesmo local e ateacute mesmo um caso mais grave que me

parece este escapando do necessaacuterio concurso puacuteblico considerando que o cargo de motorista natildeo eacute suscetiacutevel de

contrataccedilatildeo por via de cargo de direccedilatildeo e assessoramento superior BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso

Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1915-1916 297 Ministro Relator Ricardo Lewandowski questionou ao Ministro Ayres Britto

63

comissatildeo)298

Mas mesmo assim foi manifesto um ―certo receio quanto ao assentamento

―com todas as letras que em se tratando de Secretaacuterio Municipal que eacute cargo poliacutetico

de livre nomeaccedilatildeo enfim de confianccedila do prefeito tal atitude seria liacutecita porque entatildeo

o prefeito poderia colocar sua ―esposa em um cargo chavelsquo de Secretaacuteria de Governo o

que seria liacutecito agrave luz da proibiccedilatildeo do nepotismo do princiacutepio da moralidade 299

E nesse enredo foi manifesto o entendimento de que seria inviaacutevel permitir que

os Chefes do Poder Executivo pudessem nomear quem quisessem pois ―Natildeo existe

liberdade absoluta em espaccedilo algum senatildeo o governante poderia escolher apenas os

seus familiares para todos os cargos E por ser cargo poliacutetico isso seria permitido De

modo algum 300

e que tambeacutem os ―membros de Poder satildeo pessoas que natildeo titularizam

cargo em comissatildeo 301

e por isto natildeo haveria que se falar em nepotismo quanto a eles

E o nepotismo foi excepcionado quanto aos cargos de natureza eminentemente

poliacutetica citando-se que Bobby Kennedy irmatildeo do Presidente dos Estados Unidos John

F Kennedy compunha seu governo302

Por fim o segundo ponto a ser trazido agrave pauta da discussatildeo foi o ―nepotismo

cruzado explicado como troca de favores entre autoridades dos poderes que de forma

reciacuteproca nomeiam os seus parentes303

298 Resposta do Ministro Ayres Britto 299

BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1925 A preocupaccedilatildeo do

Relator quanto ao entendimento do Ministro Britto eacute quanto agrave aplicabilidade da tese na praacutetica especialmente dos

municiacutepios pequenos onde o perigo de ocorrerem estas nomeaccedilotildees eacute ainda maior 300

Ministra Carmem Luacutecia BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl

1925 301

―Tanto que natildeo contam esse prazo por exemplo para efeito de aposentadoria Eacute um regime juriacutedico realmente

diferenciado Mas tenho certeza de que eacute por essa via que se pode abrir uma cunha extremamente perigosa

BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1920 302 Ministro Gilmar Mendes ―Eacute tradiccedilatildeo mundial () e no proacuteprio plano nacional muitas vezes parentes ou irmatildeos

fazem carreiras paralelas e estabelecem um plano eventual de cooperaccedilatildeo ndash temos governadores e secretaacuterios de

Estado - sem que haja qualquer conotaccedilatildeo de nepotismo Parece-me que devemos entatildeo ter cuidado quanto agrave

fixaccedilatildeo () A vinculaccedilatildeo haacute de ser com o titular ou titulares do cargo de que se cuida na relaccedilatildeo com a

Administraccedilatildeo BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1939 Conforme

o entendimento de Joatildeo Joseacute Leal e Rodrigo Joseacute Leal esta compreensatildeo do Ministro sinaliza ―() uma contraditoacuteria

hermenecircutica da Corte de Justiccedila sobre a mateacuteria que procurou justificar a legitimidade dessa infeliz hipoacutetese de

exceccedilatildeo agrave regra com o exemplo dos irmatildeos Kennedy E assim concluem que ―Parece que ainda natildeo superamos a

velha e discutiacutevel filosofia tupiniquim de que o que foi uma vez bom para os Estados Unidos eacute bom tambeacutem para o

Brasil Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top In Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008 p 23 Quanto a este argumento resta claro e inequiacutevoco

que desde o iniacutecio os Ministros assentaram o entendimento de que a vedaccedilatildeo ao nepotismo eacute aplicaacutevel agrave esfera

administrativa mas natildeo agrave poliacutetica ou seja apenas ao acircmbito da administraccedilatildeo e natildeo ao de governo mesmo sendo tal

praacutetica contraacuteria ao princiacutepio republicano e nesse esteio posteriormente editaram a SV13 aplicando a moralidade

restritivamente agrave nomeaccedilatildeo do cargo comissionado escusando assim o cargo puacuteblico e ensejando no caso do

nepotismo que ―quem pode o mais natildeo pode o menos 303 Apoacutes o voto do Ministro Cezar Peluso o Ministro Relator realizou ajustamento ao seu voto provendo em parte o

Recurso estando excluiacuteda a situaccedilatildeo do Secretaacuterio de Sauacutede como praacutetica de nepotismo Ibidem fl 1929 E ainda

64

Desta feita o nepotismo cruzado juntamente com o tema nepotismo

inaplicaacutevel ao cargo poliacutetico configuram os debates mais importantes observados neste

precedente a fundamentar a elaboraccedilatildeo da SV n13304

Expostos os precedentes da Suacutemula em questatildeo305

imprescindiacutevel passar agrave

apreciaccedilatildeo dos debates travados entre os Ministros quanto agrave ediccedilatildeo do verbete sumular e

sua respectiva redaccedilatildeo com o fito natildeo apenas de demonstrar que o STF reconstruiu a

noccedilatildeo de nepotismo como tambeacutem por que editou a SV n13

12 Os debates do Supremo Tribunal Federal sobre a SV n13

Nesse toacutepico satildeo enfocadas as argumentaccedilotildees expostas pelos Ministros nos

debates ocorridos em duas sessotildees plenaacuterias306

do STF em que o tema sobre a ediccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo da Suacutemula foi tratado a fim de compreender natildeo apenas a proacutepria elaboraccedilatildeo

da Suacutemula como tambeacutem o sentido e a interpretaccedilatildeo que foram dados pelos Ministros a

algumas palavras e expressotildees dispostas em seu corpo textual que causaram duacutevidas e

polecircmicas no meio juriacutedico tais como ―parente por afinidade ateacute terceiro grau

inclusive e ―pessoa juriacutedica tratadas na primeira e segunda sessatildeo respectivamente

O primeiro debate foi iniciado307

a partir da anaacutelise sobre o grau de parentesco

sob o argumento de que o limite do parentesco face agrave vedaccedilatildeo do nepotismo deveria ser

―ateacute o terceiro grau pois a redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo n 072005 do Conselho Nacional de

Justiccedila308

e da maioria das legislaccedilotildees estaduais veda a praacutetica do nepotismo ateacute o

ressaltou que existem outras possibilidades de nomeaccedilatildeo realizadas para agradar que natildeo configuram nepotismo

mesmo infringindo a moralidade como a nomeaccedilatildeo de parente de amigo da autoridade verbis ―() existe tambeacutem

a hipoacutetese em que se nomeia terceiro que natildeo tem parentesco com nenhum agente puacuteblico mas tem parentesco com

quem seja amigo do nomeante Isto eacute qualquer autoridade pode nomear algueacutem para o cargo em comissatildeo atendendo

a amigo e isso natildeo eacute alcanccedilado pela restriccedilatildeo do princiacutepio da impessoalidade Natildeo se sabe o que se passa na

subjetividade do nomeante se eacute para atender a este ou aquele fl 1928 Segundo os ensinamentos de Celso Mello

em seu voto neste RE ―Cabe preservar desse modo as relaccedilotildees que os conceitos de espaccedilo puacuteblico e espaccedilo privado

guardam entre si para que tais noccedilotildees natildeo se deformem nem provoquem a subversatildeo dos fins eacutetico-juriacutedicos visados

pelo legislador constituinte BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl

1936 Neste sentido que Antocircnio Arnaldo Dal Pozzo questiona o porquecirc de o ordenamento tratar de maneira tatildeo

diferente o parente e amigo iacutentimo ―() quando se trata de (livre) nomeaccedilatildeo para cargo em comissatildeo (isto eacute

permitindo a nomeaccedilatildeo do amigo iacutentimo e impedindo a do parente) Ainda mais quando se considera que no acircmbito

do Poder Executivo a questatildeo da amizade do sectarismo do partidarismo te influecircncia decisiva DAL POZZO

Antocircnio Arnaldo O nepotismo no Poder Executivo In Boletim de Direito Municipal ndash BDM Editora NDJ vol 24

n 8 ago 2008 p599 304

E voltam a ser discutidos tanto nos debates anteriores a elaboraccedilatildeo dela como posteriormente agrave sua ediccedilatildeo 305O que Antocircnio Maueacutes discorda porque segundo ele a Suacutemula editada pelo STF proveacutem de um uacutenico precedente

―Apesar de rigorosamente contar com um uacutenico precedente o STF decidiu usar a Resoluccedilatildeo nordm 7 do CNJ sobre o

nepotismo como base da redaccedilatildeo da suacutemula tendo em vista sua decisatildeo na ADC nordm 12 Suacutemula Vinculante e

Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais In Direitos Fundamentais e Justiccedila n 8 julset 2009 p 93 306 21ordf ordinaacuteria e 28ordf extraordinaacuteria ocorridas respectivamente no dia 20 e 21082008 A iacutentegra da ata da sessatildeo foi

publicada pelo STF no DJE nordm 2142008 fl 20-21 cuja divulgaccedilatildeo ocorreu na terccedila-feira 11112008 e a publicaccedilatildeo

na quarta-feira seguinte 12112008 Disponiacutevel em httpwwwstfjusbrportalautenticacaosob o nuacutemero 314372 307 Pelo Ministro Marco Aureacutelio 308 Que neste momento jaacute havia sido submetida agrave apreciaccedilatildeo do Tribunal por meio do julgamento da ADC n 12

como visto anteriormente um dos precedentes da Suacutemula in casu

65

terceiro grau de parentesco309

Contudo nesse primeiro momento os Ministros ainda natildeo haviam conectado a

limitaccedilatildeo de parentesco agrave ―afinidade ateacute o terceiro grau e entatildeo foi suscitada a

possibilidade de o ―parentesco abarcar os familiares consanguiacuteneos adotivos e afins310

ateacute o terceiro grau ficando dessa forma assentado tal entendimento sobre o terceiro

grau de parentesco por afinidade311

A essa altura a discussatildeo se voltou312

a um foco preliminar e imprescindiacutevel a

nortear o debate juriacutedico qual seja que a ―tese disposta pela Suacutemula Vinculante

deveria apenas positivar a proibiccedilatildeo do nepotismo como consequecircncia dos princiacutepios

dispostos no artigo 37 da Constituiccedilatildeo Federal mesmo porque poderia haver aleacutem da

Resoluccedilatildeo n 072005 do CNJ base da discussatildeo para a ediccedilatildeo da Suacutemula313

outras leis

ateacute mais rigorosas que a Resoluccedilatildeo e que nem por isso seriam inconstitucionais

Nesse esteio foi lembrado que o intuito daquele colegiado natildeo era definir a

questatildeo com grande precisatildeo mas elaborar uma orientaccedilatildeo sumular que diminuiacutesse as

demandas judiciais envolvendo nepotismo314

e que assim a Suacutemula poderia ser

previamente aprovada mas que a sua redaccedilatildeo diante das duacutevidas postas em plenaacuterio

deveria ser aprimorada o que necessitaria de um maior tempo especialmente pela

necessidade de compatibilizar o disposto na Suacutemula agrave legislaccedilatildeo jaacute existente315

Mas tal

sugestatildeo natildeo foi absorvida pelo colegiado pois restou acertado que diante da

309 Segundo o entatildeo Presidente do STF Ministro Gilmar Mendes e a Ministra Carmem Luacutecia Perceba-se a vedaccedilatildeo

jaacute existia nas diversas leis infraconstitucionais estaduais e nenhuma duacutevida ou controveacutersia quanto agrave grande maioria

delas tinha sido levada ao STF salvo a Emenda agrave Constituiccedilatildeo do Rio Grande do Sul objeto da ADI que constitui o

primeiro precedente da Suacutemula E observe-se que ateacute este momento os Ministros ainda natildeo haviam ―pensado na

limitaccedilatildeo do parentesco constante na Suacutemula ―por afinidade ateacute o terceiro grau 310 Posicionamento do Ministro Cezar Peluso ao interromper o Ministro Menezes Direito que ressaltava a

impossibilidade de a Suacutemula tecer minuacutecias 311 Os Ministros natildeo retornaram mais ao tema e apenas ao final do segundo dia de debate eacute que passaram pelo assunto

ao tratar do vocaacutebulo inclusivelsquo 312 Pelo Ministro Menezes Direito 313 ―Pode acontecer Ministro Gilmar e isso natildeo eacute impossiacutevel que haja uma lei por exemplo estadual que seja mais

rigorosa que a resoluccedilatildeo do Conselho e essa lei nem por isso seria inconstitucional Tenho a impressatildeo de que

estamos aprovando uma suacutemula que do ponto de vista constitucional eacute uma tese Qual eacute a tese do ponto de vista

constitucional Eacute dizer que o nepotismo estaacute dentro da cabeccedila do artigo 37 ou seja dentro do princiacutepio da

moralidade e que ele independe de lei formal ele decorre diretamente da Constituiccedilatildeo Entatildeo me parece que do

ponto de vista ateacute do conteuacutedo da suacutemula a expressatildeo ―nepotismo tem mais forccedila e noacutes escapamos dessa discussatildeo

que natildeo eacute pertinente a meu ver pelo menos agora de dizer parentesco ateacute que grau se aplica o Coacutedigo Civil se natildeo

aplica ―Pode acontecer Ministro Gilmar e isso natildeo eacute impossiacutevel que haja uma lei por exemplo estadual que seja

mais rigorosa que a resoluccedilatildeo do Conselho e essa lei nem por isso seria inconstitucional DJE nordm 2142008 Ata da

sessatildeo fl 20 314 Pelo Ministro Gilmar Mendes que concordou com o Ministro Menezes Direito ―E natildeo haacute necessidade de definir

com maior precisatildeo porque queremos que essa orientaccedilatildeo seja aplicada e que decirc tanto quanto possiacutevel ensejo a um

nuacutemero menor de reclamaccedilotildees DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 20 Segundo artigos lidos que seratildeo objeto de

apreciaccedilatildeo mais adiante a Suacutemula natildeo provocou tal diminuiccedilatildeo de demandas judiciais como pretendido pelo STF 315 ―Diante de tantos embargos e duacutevidas que surgem proponho que consideremos a proposta da suacutemula previamente

aprovada mas que nos dediquemos agrave sua redaccedilatildeo DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 20

66

―importacircncia da mateacuteria e da ―relevacircncia social e poliacutetica do tema316

a discussatildeo

―deveria ficar para o dia imediatamente posteriorsendo encerrada a sessatildeo317

Aberta a 28ordf sessatildeo extraordinaacuteria do plenaacuterio318

retornou-se ao assunto

referente agrave proposta de Suacutemula concernente ao ―parentesco no serviccedilo puacuteblico e

assim a proposta apresentada quanto agrave redaccedilatildeo sumular319

ao contraacuterio do sugerido

teceu minuacutecias e seguiu a redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo do CJN n 72005 que embasou natildeo soacute

a sua elaboraccedilatildeo como tambeacutem fundamentou seu texto expresso320

E isso que se extrai da comparaccedilatildeo da primeira proposta com a nova

redaccedilatildeo321

vez que enquanto a anterior dispunha que

A proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta em

qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

Municiacutepios independe de lei decorrendo diretamente dos princiacutepios contidos

no artigo 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal

A sugerida foi

A nomeaccedilatildeo de cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou

por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive da autoridade nomeante ou de

servidor do mesmo oacutergatildeo investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo ou de confianccedila ou

ainda de funccedilatildeo gratificada na administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta em

qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

Municiacutepios compreendendo ajuste mediante designaccedilotildees reciacuteprocas viola o

art 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal

Todavia a redaccedilatildeo final foi diversa dessa uacuteltima e ainda divergiu da proacutepria

Resoluccedilatildeo apresentando uma versatildeo mais complexa e polecircmica

A nomeaccedilatildeo de cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou

por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive da autoridade nomeante ou de

servidor da mesma pessoa juriacutedica investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo ou de confianccedila ou

ainda de funccedilatildeo gratificada na administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta em

qualquer dos poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

Municiacutepios compreendido o ajuste mediante designaccedilotildees reciacuteprocas viola a

316 O Ministro Ricardo Levandowski foi o primeiro a discordar da necessidade do ―maior tempo DJE nordm 2142008

Ata da sessatildeo fl 20 317 Todos assentiram quanto a isso mas a Ministra Carmem Luacutecia ao concordar como por milagre lembrou que a

Lei Federal nordm 811290 vedava o nepotismo jaacute que ateacute o momento nenhum dos Ministros havia feito menccedilatildeo agrave

normativa em questatildeo que cuja abrangecircncia da proibiccedilatildeo eacute bem mais restrita que a SV n13 em todos os sentidos

Nesse enredo o Ministro Menezes Direito ressalvou que embora a proibiccedilatildeo do nepotismo emane ―diretamente da

Constituiccedilatildeo isto ―natildeo invalida a possibilidade de legislaccedilatildeo especiacutefica sobre o tema Ministro Gilmar Mendes ()

E vamos tambeacutem tentar resolver a questatildeo () concernente agrave compatibilizaccedilatildeo dessa regra comum a eventual

disciplina constante de lei estadual ou municipal () A partir de hoje trabalharemos no texto definitivo desta suacutemula

se for assim entendido DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl21 318 A iacutentegra da ata da sessatildeo foi publicada pelo STF no DJE nordm 2142008 fl 21- 24 cuja divulgaccedilatildeo ocorreu na

terccedila-feira 11112008 e a publicaccedilatildeo na quarta-feira seguinte 12112008 Disponiacutevel em

httpwwwstfjusbrportalautenticacaosob o nuacutemero 314372 319 Expressatildeo do Ministro Ricardo Lewandowski DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 21 320 Por isto eacute que a ADC n 12 eacute o principal precedente da Suacutemula Vinculante ou ao menos a mais relevante em sua

construccedilatildeo 321 Ambas do proacuteprio Ministro Ricardo Lewandowski

67

Constituiccedilatildeo Federal (grifos nossos)

Dessa feita a expressatildeo ―mesmo oacutergatildeo foi substituiacuteda por ―mesma pessoa

juriacutedica e a referecircncia ao ―art 37 caput foi suprimida da redaccedilatildeo ensejando ambas

as alteraccedilotildees discussotildees tanto quanto agrave amplitude que a pessoa juriacutedica abarca322

como

quanto agrave extraccedilatildeo da referecircncia ao artigo caput do artigo 37 uacutenico ponto incontroverso

da redaccedilatildeo da SV n13 vez que em todos os jugados de seus precedentes foi assentada

que a proibiccedilatildeo do nepotismo decorre dos princiacutepios constitucionais expressos em tal

artigo

A discussatildeo iniciada pela proposta de inclusatildeo da ADI n 1521 como

precedente da Suacutemula323

e tambeacutem do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal como referecircncia

da SV n13324

se volta agrave expressatildeo ―no mesmo oacutergatildeo325

sob a alegaccedilatildeo de que tal

expressatildeo poderia ensejar uma interpretaccedilatildeo equivocada de que a vedaccedilatildeo natildeo

alcanccedilaria as entidades da administraccedilatildeo indireta mas tatildeo somente os oacutergatildeos da

administraccedilatildeo direta fazendo parecer que o nepotismo estaria proibido apenas nesta e

natildeo naquela o que levou a se optar por ―mesma pessoa juriacutedica em substituiccedilatildeo a

―mesmo oacutergatildeo para que a vedaccedilatildeo ficasse mais ampla326

Entendimento esse que se fundamentou no fato de ser necessaacuterio vedar o

nepotismo em toda a sua extensatildeo e ser imprescindiacutevel limitar o poder de nomeaccedilatildeo do

titular do Poder Executivo que diretamente ou por delegaccedilatildeo eacute a autoridade que

―nomeia tudo327

E ainda interpretaram ―mesma pessoa juriacutedica como ―Poder e natildeo

322 Estando por exemplo vedado o nepotismo na Uniatildeo 323 Ministro Marco Aureacutelio 324 O assunto foi posteriormente retomado pelo Ministro Ricardo Levandowski acompanhando a sugestatildeo do

Ministro Marco Aureacutelio opinando que fosse subtraiacuteda a menccedilatildeo ao artigo 37 e ficou acertado entre tais Ministros e

os Ministros Cezar Peluso e Gilmar Mendes que a redaccedilatildeo ficaria ―viola a Constituiccedilatildeo Federal e que o art 37 seria

posto como referecircncia Ainda discutiram onde a expressatildeo deveria estar posta no corpo do texto mas permaneceu na

forma da proposta inicial no final do verbete sumular DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fls 22-24 325 Eacute a mesma disposta na Resoluccedilatildeo n 0705 do CNJ ―EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA CAacuteRMEN

LUacuteCIA ndash mesmo oacutergatildeolsquo () a administraccedilatildeo puacuteblica eacute um conjunto de oacutergatildeos Por exemplo natildeo se nomeia para este

oacutergatildeo mas se nomeia para outro oacutergatildeo onde natildeo haacute a pessoa e aiacute natildeo eacute nem uma contrataccedilatildeo cruzada Aiacute eacute apenas a

relaccedilatildeo hieraacuterquica de chefia e natildeo eacute isso O nepotismo proiacutebe que se utilize a questatildeo pessoal para nomeaccedilotildees e aiacute

natildeo eacute o oacutergatildeo EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO ndash Sim Vossa Excelecircncia estaacute

propondo substituir oacutergatildeolsquo por que palavra EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA CAacuteRMEN LUacuteCIA ndash

Estou apenas questionando exatamente o significado disso aqui Porque em uma administraccedilatildeo puacuteblica inclusive

direta e indireta pode-se se entender que ―estaacute vedado na administraccedilatildeo direta e para outra entidade da indireta

nomear DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl22 326 Expressatildeo do Ministro Cezar Peluso ― servidor da mesma pessoa juriacutedica ―Fica mais amplo DJE nordm

2142008 Ata da sessatildeo fl22 327 Pelo Presidente Gilmar Mendes e pela Ministra Carmem Luacutecia ao debaterem sobre o tema Expressatildeo da

Ministra Ibidem fl 22 EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (PRESIDENTE) ndash A

minha observaccedilatildeo seria em relaccedilatildeo agrave autoridade nomeante Porque hoje noacutes temos um regime tal em que pelo menos

o Chefe do Poder Executivo EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA CAacuteRMEN LUacuteCIA - Nomeia tudo ()

EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA CAacuteRMEN LUacuteCIA ndash Ele pode delegar mas de toda sorte aiacute natildeo se

tem essa vinculaccedilatildeo e portanto estaria excluiacutedo disso daqui Natildeo eacute a preocupaccedilatildeo de Vossa Excelecircncia() fl22 A

partir daiacute constata-se que a intenccedilatildeo dos Ministros era vedar as nomeaccedilotildees dentro de um mesmo Poder e

68

como Ente Federado que deteacutem personalidade juriacutedica de direito puacuteblico328

Entretanto tal questatildeo levou agrave defesa da utilizaccedilatildeo de ―oacutergatildeo em substituiccedilatildeo

agrave ―pessoa juriacutedica mas natildeo convenceu329

Igualmente em meio agrave questatildeo exposta foi lembrado que a expressatildeo utilizada

natildeo abarcaria ―todas as hipoacuteteses da realidade faacutetica e que haveria a necessidade de se

analisar cada caso concreto especificamente330

A outra expressatildeo - disposta na minuta da SV n13 - debatida pelos Ministros

foi ―parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute terceiro grau inclusive

Contudo trataram apenas do sentido da palavra ―inclusive que permaneceu a indicar

que estaacute vedada a nomeaccedilatildeo de parente ateacute o 3ordm grau de servidor ocupante de cargo em

comissatildeo ou autoridade nomeante na mesma pessoa juriacutedica em que estivessem

lotados331

Dessa forma os Ministros deixaram impliacutecito que aiacute se incluiacutea o parentesco

especialmente do Poder Executivo ―EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES

(PRESIDENTE) ndash Mas acho que a ideia eacute abranger na verdade a pessoa juriacutedica Porque se houver intervalos nas

relaccedilotildees por exemplo entre o prefeito ele natildeo pode nomear nem - parece que isso decorre do espiacuterito - no seu

gabinete nem na secretaria de fazenda Entatildeo tem a vantagem EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA

CAacuteRMEN LUacuteCIA ndash Exatamente Satildeo dois oacutergatildeos diferentes EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CARLOS

BRITTO - Tem essa vantagem eacute mais amplo EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES

(PRESIDENTE) ndash Eacute esse o espiacuterito parece-me natildeo eacute DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 22 328 No lastro do disposto pela Ministra Carmem Luacutecia que objetivava aprimorar a expressatildeo mas conseguiu pioraacute-la

questiona-se se natildeo seria mais adequado jaacute que optaram por uma redaccedilatildeo com tantas especificaccedilotildees escolher por ―no

mesmo oacutergatildeo ou mesma entidade pois abarcaria a vedaccedilatildeo do nepotismo dentro do mesmo oacutergatildeo da administraccedilatildeo

direta e da mesma entidade da indireta e ateacute mais coerente pois a Ministra Carmem Luacutecia havia dito ao suscitar o

debate ―que visava evitar que se interpretasse que a vedaccedilatildeo seria apenas para os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Direta A

Suacutemula na forma que estaacute veda aquilo que eacute nepotismo e tambeacutem o que natildeo eacute como a nomeaccedilatildeo de um parente do

servidor puacuteblico ou da autoridade em oacutergatildeo ou entidade diversa e cuja autoridade nomeante eacute do outro oacutergatildeo ou

entidade No caso do chefe do Poder Executivo nomear seria soacute observar se ele ou algueacutem a quem ele delegou a

competecircncia (competecircncia esta que pode ser avocada) infringiu a vedaccedilatildeo nomeando um dos seus parentes para

ocupar cargo no poder executivo do qual eacute titular ou se houve nepotismo cruzado com o poder legislativo ou

judiciaacuterio 329 EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO ndash Parece-me que aqui o Ministro Lewandowski

levou em conta a redaccedilatildeo do Estatuto do Regime Juriacutedico Uacutenico Estatuto dos Servidores Puacuteblicos Civis da Uniatildeo ao

dizer ― do mesmo oacutergatildeo investido em cargo de direccedilatildeo EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO RICARDO

LEWANDOWSKI ndash Exatamente EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO ndash Ainda acho que

oacutergatildeolsquo fica melhor do que pessoa juriacutedicalsquo A EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA CAacuteRMEN LUacuteCIA ndash

Mas oacutergatildeolsquo fica soacute aquele oacutergatildeolsquo () EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO ndash A pessoa

juriacutedica da Uniatildeo Compreende toda a Justiccedila Eleitoral do Brasil em todos os Estados aqui no TSE Acho que

oacutergatildeolsquo estaacute mais de acordo com esse imediatismo de viacutenculo entre o nomeante e o nomeado Idem fl 23 E apoacutes

ouvir a Ministra Carmem Luacutecia e o Ministro Gilmar Mendes o Ministro Ayres Britto entendeu que os Ministros

visavam dar uma interpretaccedilatildeo mais ampla agrave expressatildeo ―pessoa juriacutedica ―EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR

MINISTRO CARLOS BRITTO ndash Ou seja a proibiccedilatildeo se faz mais riacutegida EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA

MINISTRA CAacuteRMEN LUacuteCIA ndash Nem na secretaria da sauacutede nem na secretaria da administraccedilatildeo Satildeo dois oacutergatildeos

diferentes EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO ndash Se o espiacuterito eacute esse estaacute melhor A

proibiccedilatildeo se faz mais riacutegida e eacute muito mais difiacutecil de fraude de contorno Estaacute melhor assim pessoa juriacutedicalsquo DJE

nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 23 330 Expressatildeo do Ministro Ricardo Lewandowski DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 22 Argumentaccedilatildeo essa que

contraria uma das finalidades da Suacutemula uniformizar uma soluccedilatildeo agraves diversas controveacutersias juriacutedicas E o que houve

na realidade eacute que a Suacutemula impactou mas natildeo extirpou de vez o nepotismo Tanto que continuam a existir situaccedilotildees

esdruacutexulas apoacutes a ediccedilatildeo da Suacutemula que resultou na necessidade de se editar um Decreto Presidencial a fim de

delimitar o seu alcance da Suacutemula como se veraacute tambeacutem pelo exposto nos proacuteximos toacutepicos 331 Ibidem fl 23 E assim concluem o debate elencando os precedentes da Suacutemula seu nuacutemero e redaccedilatildeo ao passo

que por fim o entatildeo Excelentiacutessimo Presidente do STF Ministro Gilmar Mendes apoacutes a manifestaccedilatildeo

69

por afinidade em terceiro grau

Lastreado nos precedentes e debates em questatildeo o STF editou a SV n13

construindo a partir dela a noccedilatildeo judicial de nepotismo e de sua vedaccedilatildeo

13 Asserccedilotildees sobre a elaboraccedilatildeo da SV n13 e a construccedilatildeo normativa da vedaccedilatildeo

do nepotismo pelo STF

Nesse toacutepico busca-se sintetizar os argumentos mais importantes em cada um

dos precedentes da Suacutemula e assim dentre eles observar qual eacute o fundamental e ainda

se os debates travados pelos Ministros nas sessotildees plenaacuterias retornaram a todos os

elementos tratados nos precedentes quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo ou natildeo com o fim

de demonstrar sob qual fundamentaccedilatildeo o STF editou a SV em questatildeo e como

elaborou judicialmente a construccedilatildeo da vedaccedilatildeo do nepotismo

A ADI n 1521-4RS primeiro precedente da SV n13 foi julgada

improcedente pelo STF sob o uacutenico argumento unacircnime332

de que a vedaccedilatildeo do

nepotismo decorre da observacircncia aos princiacutepios constitucionais do caput do seu art

37333

e apenas por esse argumento eacute que se observa a similaridade entre este precedente

e os demais que a lastreiam

Mas mesmo assim pode-se questionar a redaccedilatildeo da SV n13 guarda

correspondecircncia com a redaccedilatildeo da Emenda Constitucional objeto da ADI A redaccedilatildeo

da SV n13 foi lastrada na extensatildeo da proibiccedilatildeo do nepotismo disposta neste primeiro

precedente foi seguida

A resposta eacute negativa jaacute que a extensatildeo da proibiccedilatildeo expressa pela Emenda

natildeo eacute a mesma dada pela Suacutemula Vinculante sendo aquela bem mais limitada que a

obstada por esta tanto quanto ao grau de parentesco (uma vez que a Emenda se limita

ao 2ordm grau e a Suacutemula amplia a coibiccedilatildeo ao 3ordm grau) como quanto agrave disposiccedilatildeo daquele

argumentativa de cada um dos Ministros do STF quanto agrave aprovaccedilatildeo da redaccedilatildeo a ser dada ao verbete vinculante e ao

pronunciamento favoraacutevel manifesto pelo entatildeo Vice Procurador Geral da Repuacuteblica Roberto Monteiro Gurgel

Santos aprovou a Suacutemula Ibidem fl 23-24 332 Utilizado por todos os Ministros ao repudiarem a praacutetica do nepotismo e reconhecerem a constitucionalidade da

Emenda Constitucional do Rio Grande do Sul que veda o nepotismo 333 Tanto que embora tenha havido divergecircncia dos Ministros quanto agrave ―exclusatildeo dos servidores efetivos do alcance

da norma restritiva e sobre a extensatildeo da limitaccedilatildeo a apenas o oacutergatildeo em que atuasse a autoridade nomeante ou todo o

Poder assentaram seus votos pela constitucionalidade da Emenda Constitucional embasados nos princiacutepios

constitucionais do caput do seu art 37 MODESTO Paulo Nepotismo em Cargos Poliacutetico administrativos Revista

Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP Belo Horizonte Ed Forum ano 11 n 41 abrjun 2013 p28 Ainda

segundo o autor meacuterito do STF nessa decisatildeo foi ―acentuar que os princiacutepios republicanos da isonomia da

moralidade no trato com a coisa puacuteblica da impessoalidade da administraccedilatildeo da eficiecircncia administrativa

constituiacuteam fundamento direto para o estabelecimento de restriccedilotildees agrave livre nomeaccedilatildeo de parentes a cargos de

comissatildeo em todos os Poderes autorizando ainda o tratamento uniforme Ibidem p28

70

que enseja o nepotismo (pois a Emenda delimita a autoridade e a Suacutemula acresce o

servidor ocupante de cargo comissionado) e ao campolsquo que a proibiccedilatildeo ao nepotismo eacute

aplicaacutevel (enquanto a Emenda dispotildee sobre mesmo oacutergatildeolsquo a Suacutemula prevecirc mesma

pessoa juriacutedicalsquo) embora tenham como similaridade redacional abarcarem os servidores

efetivos334

Entatildeo em que medida este julgado eacute precedente da SV n13335

Tambeacutem o segundo precedente da SV n13 o MS n 23780-5MA teve como

seu uacutenico fundamento linear a vedaccedilatildeo do nepotismo embasada pelos princiacutepios do

artigo 37 da Constituiccedilatildeo Federal especialmente o da moralidade336

Contudo haacute de se perquirir se o STF assentou na redaccedilatildeo da SV n13 os

elementos sobre o nepotismo da mesma forma que analisada no MS

A resposta tambeacutem eacute contraacuteria pois a noccedilatildeo de nepotismo expressa na decisatildeo

do TCU objeto do MS 2ordm eacute diversa da disposta na SV n13 a uma porque enquanto a

decisatildeo do TCU vincula a praacutetica do nepotismo agrave autoridade nomeante a Suacutemula aleacutem

de realizar essa vinculaccedilatildeo a estende ao servidor ocupante de cargo comissionado a

duas porque enquanto a decisatildeo do TCU exclui os servidores efetivos da vedaccedilatildeo a

Suacutemula os inclui na sua regra geral coibitiva e a trecircs porque enquanto a decisatildeo do

TCU veda o nepotismo aos servidores efetivos apenas quando subordinados diretamente

ao seu parente a Suacutemula eacute mais abrangente veda tudo337

E esse julgado pode ser considerado como precedente da Suacutemula mesmo que o

objeto do julgado trate dos elementos de nepotismo de forma diversa338

da explicitada

pela SV n13339

Esses dois julgados possuem como pontos em comum a uma a tratativa do

parentesco de segundo grau340

a duas o fato de o nepotismo ser vinculado agrave autoridade

que nomeia parente a ocupar cargo comissionado341

e ainda a trecircs o fato de que em

334 Contudo tambeacutem existem criacuteticas quanto a este elemento da SV n13 335 Que seraacute respondido mais adiante quando se observaraacute um dos requisitos da elaboraccedilatildeo de uma Suacutemula

Vinculante a dita ―jurisprudecircncia reiterada 336Nas palavras de Paulo Modesto nesse julgado ―muito pouco se tratou do proacuteprio tema nepotismo mas mesmo

assim ―foi o MS n 23780 como a ADI n 1521 considerado um dos precedentes imediatos da Suacutemula Vinculante

n 13 Op cit p 29 337 Natildeo delimitando o nepotismo agrave subordinaccedilatildeo do parente agrave autoridade ou servidor comissionado 338 Assemelha-se agrave disposiccedilatildeo da Lei n 811290 que determina em seu art 117 VIII a proibiccedilatildeo da praacutetica do

nepotismo pelos servidores puacuteblicos civis federais conduta esta que eacute tipificada quando estes tecircm sob sua chefia

imediata cocircnjuge companheiro e parentes de ateacute segundo grau 339 Eacute o que se veraacute mais adiante 340 Vedado pela EC n 12RS e tratado no MS embora a decisatildeo do TCU que ensejou o MS alcance parentes ateacute o

terceiro grau 341 Mesmo que o acircmbito de atuaccedilatildeo das autoridades nos julgados seja diferente sendo seu domiacutenio vedado em maior

amplitude pela EC n 12RS do que pela decisatildeo do TCU o que se constata facilmente eacute que ambos os julgados ao

71

ambos os casos o STF natildeo estabeleceu criteacuterios sobre o nepotismo mas somente julgou

a ―adequaccedilatildeo da legislaccedilatildeo agrave Constituiccedilatildeo reconhecendo a liberdade do legislador para

dispor sobre a mateacuteria342

No mais os precedentes se diferem uma vez que enquanto no primeiro a

proibiccedilatildeo abarcou os servidores efetivos no segundo natildeo aleacutem disso enquanto o

nepotismo foi limitado ao ―mesmo oacutergatildeo no primeiro precedente no segundo foi ―ao

gabinete da autoridade 343

Diante disso haacute de se questionar mesmo assim os julgados ensejam

jurisprudecircncia reiterada sobre a mateacuteria apenas porque os dois tratam de nepotismo e

em ambos foi assentado o repuacutedio agrave praacutetica do nepotismo com base nas diretrizes

principioloacutegicas do caput do artigo 37 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica344

Do terceiro precedente da Suacutemula a ADC n 126 ndash DF que parece ser o mais

relevante deles345

observa-se que o nepotismo foi repudiado novamente pelo mesmo

embasamento constitucional disposto nos outros dois precedentes pelos princiacutepios

dispostos no caput do artigo 37 da Constituiccedilatildeo Federal346

Nesse enredo o que se constata eacute que restou assentado pelo julgamento dos

trecircs precedentes que a proibiccedilatildeo do nepotismo decorre dos princiacutepios constitucionais

contraacuterio da Suacutemula se limitam a dispor sobre o nepotismo vinculado agrave autoridade e os Ministros proferem os seus

respectivos votos em ambos as decisotildees colegiadas neste esteio 342 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais In Direitos Fundamentais

e Justiccedila n 8 julset 2009 p 93 343 O que demonstra que a noccedilatildeo de nepotismo em ambos os precedentes eacute diversa quanto a quem sofre a vedaccedilatildeo e

ao acircmbito fiacutesico desta vedaccedilatildeo Pontos esse que satildeo elementos conceituais que fazem parte da noccedilatildeo de nepotismo e

por isso mesmo fazem a diferenccedila quanto agrave proacutepria 344 Eacute isto que se responderaacute apoacutes analisar o quesito ―jurisprudecircncia reiterada referente agrave ediccedilatildeo de Suacutemula

Vinculante 345 Pela primeira vez o STF se pronunciou quanto ao viacutenculo de parentela especificamente quanto ao nepotismo

sendo este um dos pontos primordiais deste precedente Contudo o entendimento do STF se mostrou de forma diacutespar

agrave expressa no Coacutedigo Civil vez que diferentemente deste a fim de obstar atos personalistas enfatizar a absoluta

separaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado e moralizar a Administraccedilatildeo Puacuteblica estendeu o parentesco por afinidade ao

terceiro grau ―() entendeu-se que a definiccedilatildeo de parentesco consignada pelo Coacutedigo Civil natildeo eacute determinante para a

exata compreensatildeo da mateacuteria tendo em vista que natildeo haacute norma constitucional tratando de definir o alcance de

parentesco bem como que a vedaccedilatildeo do nepotismo tem de ter em vista o alcance mesmo das relaccedilotildees familiares

―() Assim afasta-se por completo a limitada definiccedilatildeo de parentesco presente no Coacutedigo Civil quando se estaacute em

jogo a proteccedilatildeo maacutexima a ser conferida pelo princiacutepio da impessoalidade OLIVEIRA George Feliacutecio Gomes de

Da anaacutelise da Suacutemula Vinculante 13 do Supremo Tribunal Federal Alcance Precedentes e Motivos Determinantes

da Norma que Veda a Praacutetica do Nepotismo no Brasil In Revista dos Tribunais - RT v 98 n 890 p 9-32 dez

2009 p 24-25 346Vez que os Ministros assentaram que a vedaccedilatildeo do nepotismo decorre da autoaplicaccedilatildeo dos princiacutepios da

Administraccedilatildeo independentemente de lei infraconstitucional e assim que eacute desnecessaacuteria lei formal a regulamentar a

vedaccedilatildeo do nepotismo Compreensatildeo esta clara e notoacuteria no julgado da liminar ADC uma vez que quase a

unanimidade dos Ministros (salvo o Ministro Marco Aureacutelio) acompanharam o pronunciamento do voto no Ministro

Relator no qual deixou claro a prescindibilidade de lei formal a regulamentar a proibiccedilatildeo da praacutetica do nepotismo

72

que regem a Administraccedilatildeo Puacuteblica347

Igualmente colhe-se que se aplica no acircmbito do mesmo oacutergatildeo348

e ainda tanto

no julgado do segundo como do terceiro precedente que eacute prescindiacutevel lei formal a

regulamentar a vedaccedilatildeo do nepotismo

Do entendimento assentado quanto agrave normativa objeto do segundo precedente

(MS) bem como da literalidade da normativa objeto do terceiro precedente (ADC) os

servidores efetivos que fossem nomeados para ocupar cargo comissionado ou

designados em comissatildeo de confianccedila soacute estariam em situaccedilatildeo de nepotismo se fossem

diretamente subordinados ao seu parente nomeante

Entatildeo o que se extrai do disposto pelo STF eacute que a uma a vedaccedilatildeo decorre

dos princiacutepios do artigo 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal e a duas que eacute delimitada ao

―mesmo oacutergatildeo

Mas a noccedilatildeo uniforme de nepotismo eacute apenas esta jaacute que por outro lado satildeo

vaacuterias as diferenccedilas encontradas nos precedentes quanto agrave delimitaccedilatildeo da noccedilatildeo de

nepotismo pois enquanto na ADI e no MS o nepotismo eacute vinculado agrave autoridade na

ADC verifica-se que tambeacutem vincula o servidor ocupante de cargo comissionado ainda

enquanto na ADI tem-se a delimitaccedilatildeo no oacutergatildeo em que a autoridade eacute lotada no MS e

na ADC a limitaccedilatildeo eacute esta mas atrelada ao requisito subordinaccedilatildeo do parente agrave

autoridade aleacutem disso enquanto na ADI o servidor efetivo natildeo eacute excluiacutedo da incidecircncia

da norma geral proibitiva no MS e na ADC sua inclusatildeo agrave proibiccedilatildeo normativa eacute

condicionada agrave sua subordinaccedilatildeo direta ao nomeante

Assim diante desses trecircs precedentes observa-se que o STF ainda natildeo havia

construiacutedo judicialmente a vedaccedilatildeo do nepotismo vez que natildeo havia entendimento

linear quanto a todos os seus elementos

E o que se pode observar eacute que a SV n13 aleacutem de ser diacutespar deles tambeacutem

natildeo segue a base redacional da Resoluccedilatildeo do CNJ objeto da ADC vez que ao comparaacute-

las constata-se que a SV ampliou a extensatildeo do nepotismo construindo nova normativa

347 ―() ao dizer que os princiacutepios constitucionais da moralidade da impessoalidade da igualdade e da eficiecircncia satildeo

autoaplicaacuteveis e portanto dotados da necessaacuteria carga de taxatividade e de positividade para vedar a praacutetica do

nepotismo Assim o Tribunal deu ―ao direito consagrado no espaccedilo normativo dos referidos princiacutepios o seu

sentido de certeza juriacutedica e o seu acircmbito de incidecircncia aos casos concretos da vida poliacutetica e social LEAL Joatildeo

Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top In Revista Magister de Direito Penal e

Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008 p19 348 Uma vez que os Ministros julgaram pela legalidade da decisatildeo do TCU de vedaacute-lo no acircmbito da Justiccedila do

Trabalho (objeto do MS) bem como pela legitimidade da Resoluccedilatildeo do CNJ em coibi-lo em todo o Judiciaacuterio (objeto

da ADC)

73

sobre sua vedaccedilatildeo especialmente em trecircs pontos alterou o domiacutenio ―mesmo oacutergatildeo

para ―mesma pessoa juriacutedica modificou a expressatildeo ―exerciacutecio do cargo - disposta na

Resoluccedilatildeo - para ―nomeaccedilatildeo e ainda natildeo excluiu os servidores efetivos de sua

incidecircncia como fez a Resoluccedilatildeo haja vista que sua redaccedilatildeo o servidor efetivo natildeo

pode ser nomeado a ocupar cargo comissionado e nem ser designado em funccedilatildeo de

confianccedila na mesma pessoa juriacutedica que seu parente for autoridade ou servidor ocupante

de cargo comissionado349

Dessa maneira a SV 13 expandiu o nepotismo inclusive aleacutem do disposto na

Resoluccedilatildeo do CNJ sendo mais rigorosa que esta devido agrave sua extensatildeo350

Mesmo tendo o STF inovado quanto agrave noccedilatildeo de vedaccedilatildeo do nepotismo disposta

na Resoluccedilatildeo este julgado eacute precedente da SV n13 Sim pois a Resoluccedilatildeo do CNJ

objeto de tal precedente foi a base redacional daquela

Mas esse precedente tem o mesmo fundamento que os demais Apenas quanto

ao fato de que a vedaccedilatildeo do nepotismo decorre dos princiacutepios do artigo 37 da CF

E configura juntamente aos demais jurisprudecircncia reiterada para embasar a

ediccedilatildeo de Suacutemula Vinculante 351

O quarto precedente da SV n13 o RE n 579951RN corrobora que a vedaccedilatildeo

do nepotismo decorre dos princiacutepios do caput do artigo constitucional352

e ainda se

nota pela primeira vez a exposiccedilatildeo quanto agrave vedaccedilatildeo ao nepotismo cruzado353

e agrave

distinccedilatildeo entre aos cargos comissionados e cargos poliacuteticos354

pois de acordo com a

inteligecircncia do Tribunal o nepotismo abarca tatildeo somente os parentes nomeados em

349 Dessa forma a SV n13 vedou expressamente natildeo soacute a nomeaccedilatildeo do servidor para cargo comissionado como

tambeacutem para exercer funccedilatildeo de confianccedila diga-se de passagem exclusivamente exercida pelo efetivo nos termos do

inciso V do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal 350 Do que se poderia retirar que a vedaccedilatildeo do nepotismo para aquele que realiza atos administrativos ou legislativos eacute

mais severa do que para quem julga 351 Essa resposta viraacute mais adiante 352

Sendo esse o uacutenico fundamento que esteou todos os votos de cada um dos Ministros nos quatro precedentes 353Pela primeira vez o STF reconheceu a ilegalidade do nepotismo cruzado como ―a situaccedilatildeo em que duas

autoridades tentam burlar a suacutemula por meio da nomeaccedilatildeo de seus parentes de forma reciacuteproca p 113 354 Segundo Luis Manoel Fonseca Pires ―Eacute em razatildeo da relaccedilatildeo de confianccedila que os encargos de direccedilatildeo chefia e

assessoramento reclamam que optou o legislador portanto por admitir a possibilidade de que para estas tarefas

houvesse o livre acesso o que assim se evitaria que em funccedilotildees que exigem confianccedila fossem exercidas por pessoas

absolutamente desconhecidas dos seus respectivos superiores hieraacuterquicos E ainda completa () natildeo satildeo os cargos

em comissatildeo em si o objeto de suposta imoralidade administrativa mas sim o fato de eventualmente serem

preenchidos com a nomeaccedilatildeo de parentes()Controle Judicial do Nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante

do Supremo Tribunal Federal In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Belo Horizonte Foacuterum p 235-

252 2008 p 237-238 Neste ensejo os Ministros entenderam que se por um lado a contrataccedilatildeo do irmatildeo de vice-

prefeito como motorista da prefeitura configurava nepotismo e que por isto ele deveria ser exonerado por outro a

contrataccedilatildeo do irmatildeo do vereador para o cargo de Secretaacuterio Municipal natildeo configurava nepotismo por ser o cargo

poliacutetico e portanto o seu ocupante agente poliacutetico

74

cargos comissionados e natildeo aqueles que forem designados agentes poliacuteticos355

Diante disto vale estabelecer tambeacutem quanto ao Recurso Extraordinaacuterio suas

diferenccedilas e semelhanccedilas comparativamente aos demais precedentes e agrave SV n13 a fim

de analisar em que precede a esta

A similaridade observada entre os quatro julgados eacute o repuacutedio ao nepotismo

embasado nos princiacutepios constitucionais do artigo 37 (moralidade impessoalidade e

eficiecircncia) jaacute da comparaccedilatildeo do RE com o MS e a ADC tem-se o assentamento da

prescindibilidade de lei formal para coibir a praacutetica do nepotismo356

Jaacute as diferenccedilas apontadas satildeo o RE mesmo tendo uma noccedilatildeo de nepotismo

semelhante agrave do primeiro e segundo precedentes (ADI e MS ndash parente de segundo grau

de autoridade) eacute diversa agrave do terceiro (ADC ndash parente de autoridade ateacute terceiro grau) e

foi o primeiro e uacutenico a trazer agrave baila dois pontos que natildeo haviam sido cogitados

anteriormente a inaplicabilidade da vedaccedilatildeo do nepotismo agraves nomeaccedilotildees de parentes de

autoridades em cargos poliacuteticos e a explicaccedilatildeo sobre o nepotismo cruzadolsquo que

depende de comprovaccedilatildeo do acordo que enseja as designaccedilotildees reciacuteprocas

Mas em que medida esse julgado subsidiou a redaccedilatildeo da SV n13 Na medida

em que sua redaccedilatildeo natildeo abrangeu os cargos poliacuteticos e expressamente proibiu o

nepotismo cruzado

Qual eacute o fundamento uniforme desse quanto aos demais precedentes O

entendimento de que o nepotismo infringe os princiacutepios do caput do art 37 da CF

Ele forma juntamente com os demais julgados o quesito ―jurisprudecircncia

reiterada para a ediccedilatildeo da SV n13 357

355 Ministros de Estado Secretaacuterios Estaduais Distritais e Municipais De acordo com Luis Armando Saboya Amora

―natildeo sofrem essa vedaccedilatildeo uma vez que a Constituiccedilatildeo Federal garante ao Presidente da Repuacuteblica chefe do Poder

Executivo Federal o auxiacutelio de seus ministros para que o exerciacutecio de suas funccedilotildees se decirc de forma mais eficaz O

Nepotismo o Recurso Extraordinaacuterio 579951RJ e a Suacutemula Vinculante n13 do Supremo Tribunal Federal In O

Supremo Tribunal Federal e os casos difiacuteceis MARIANO Cynara Monteiro e LIMA Martonio Montlsquoalverne

Barreto Florianoacutepolis Grupo conceitop 293-306 2012 p 299 O que significa dizer que ―na esfera da

administraccedilatildeo municipal o prefeito poderia nomear filhos irmatildeos cocircnjuges ou sobrinhos para exercer o cargo de

secretaacuterio municipal LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute LEAL Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo

Top In Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008 Op cit p 22 Ambos

itens de extrema relevacircncia vez que satildeo elementos da Suacutemula Vinculante em questatildeo que as nomeaccedilotildees dos

parentes (de autoridades) que atuam como agentes poliacuteticos355 estatildeo excluiacutedas de seu alcance e que tambeacutem eacute

proibido o nepotismo cruzado 356 ― ou seja os princiacutepios vinculam estabelecendo condutas a ser seguidas Natildeo se pode deixar de observaacute-los sob

o argumento de que os mesmos natildeo possuem a mesma densidade normativa das regras AMORA Luis Armando

Saboya In O Supremo Tribunal Federal e os casos difiacuteceis MARIANO Cynara Monteiro e LIMA Martonio

Montlsquoalverne Barreto Florianoacutepolis Grupo conceitop 293-306 2012 p 298 357 Eacute o que se observaraacute a frente

75

Por fim vale questionar dos debates se extraem todos os elementos de uma

nova noccedilatildeo de vedaccedilatildeo ao nepotismo Tambeacutem a essa interrogaccedilatildeo se responde

negativamente pois em ambas as sessotildees plenaacuterias os Ministros debateram

pontualmente apenas dois assuntos na primeira sessatildeo a extensatildeo do parentesco mas

de maneira superficial e na segunda sessatildeo o acircmbito fiacutesico da vedaccedilatildeo do

nepotismo358

E assim o STF elaborou a SV 13 motivado pela necessidade de limitar

expressamente o nepotismo em outro poder o executivo conforme se extrai do julgado

do terceiro precedente da SV 13 e da segunda sessatildeo plenaacuteria sobre o assunto vez que

foi dito pelos Ministros que ―natildeo eacute porque a Resoluccedilatildeo do CNJ vedou expressamente o

nepotismo no acircmbito do poder judiciaacuterio que os demais poderes poderiam praticar o

nepotismo359

e que se fazia necessaacuterio limitar o nepotismo no poder executivo porque

o titular dele ―nomeia tudo360

Diante disso restam muitas duacutevidas sobre se o texto da SV n13 diz

exatamente o que deveria dizer E eacute por isto que no proacuteximo capiacutetulo se buscaraacute

responder ao seguinte questionamento a partir da noccedilatildeo administrativa poliacutetica

brasileira e da noccedilatildeo juriacutedica de nepotismo a Suacutemula Vinculante n 13 abarcou todos os

casos de privilegiamentocontraacuterios agrave moralidade puacuteblica

358 Cuja discussatildeo foi levantada e em que pese ter sido acirrada trouxe outro equiacutevoco agrave redaccedilatildeo da SV 13 pois ao

inveacutes de dispor sobre nepotismo no mesmo oacutergatildeo como nas demais normas observadas inclusive na Resoluccedilatildeo do

CNJ assentou a vedaccedilatildeo do nepotismo na mesma pessoa juriacutedica 359 De acordo com os votos na ADC 360 Conforme a Ministra Carmem Luacutecia e o Ministro Gilmar Mendes na segunda sessatildeo plenaacuteria

76

2 O NEPOTISMO E A (I) MORALIDADE PUacuteBLICA A COMPREENSAtildeO NA

PERSPECTIVA BRASILEIRA

Trata-se da anaacutelise de dois pontos do trabalho o primeiro relativo agrave construccedilatildeo

do nepotismo sob a perspectiva brasileira do seu contexto histoacuterico no Brasil e da sua

noccedilatildeo juriacutedica e o segundo atinente agrave moralidade puacuteblica na Constituiccedilatildeo Federal de

1988 e sua relaccedilatildeo com o nepotismo sob o enfoque do princiacutepio republicano e dos

princiacutepios administrativos da impessoalidade da eficiecircncia e da finalidade averiguando

assim o papel da moralidade puacuteblica como proibitiva do nepotismo natildeo apenas como

princiacutepio administrativo mas como aglutinadora dos outros princiacutepios citados e tambeacutem

densificada por eles361

Tudo em conformidade com Raymundo Faoro Seacutergio Buarque

de Holanda Oliveira Viana Roberto Damatta Victor Nunes Leal Carmem Luacutecia

Antunes Rocha Diogo de Figueiredo Moreira Neto Ives Gandra Maria Sylvia Zanella

di Pietro Dioacutegenes Gasparini Florivaldo Dutra de Arauacutejo Paulo Modesto Joseacute dos

Santos Carvalho Filho Alexandre de Moraes dentre outros

21 Bases histoacutericas do nepotismo no Brasil de heranccedila portuguesa a um viacutecio da

administraccedilatildeo puacuteblica brasileira

O nepotismo como visto na Introduccedilatildeo desse trabalho eacute mais um dos viacutecios

do velho mundo que como heranccedila portuguesa chegou agraves terras brasileiras conforme

demonstra a carta escrita por Pero Vaz de Caminha ao Monarca Portuguecircs que ao lhe

dar as boas novas do ―continente novo solicitou que ao Rei que encaminhasse seu

genro agrave colocircnia receacutem-descoberta362

Por isto segundo os doutrinadores paacutetrios que tratam do assunto ―tudo

comeccedilou nesta passagem363

Sendo o nepotismo tiacutepico ―comportamento caracterizador

361 Com o fito de observar se a partir da noccedilatildeo administrativo poliacutetica brasileira e da noccedilatildeo juriacutedica de nepotismo a

Suacutemula Vinculante n 13 abarcou todos os casos de privilegiamento de nepotismo contraacuterios agrave moralidade puacuteblica 362 Na anaacutelise de Roberto DaMatta ―Ali naquele pedaccedilo terminal e naquela hora de arremate Caminha arrisca ―E

nesta maneira Senhor dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta terra vi E se algum pouco me alonguei Ela me

perdoe pois o desejo que tinha de tudo vos dizer mo fez pocircr assim pelo miuacutedo E pois que Senhor eacute certo que

assim neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviccedilo for Vossa Alteza haacute de ser de mim

muito bem servida a Ela peccedilo que por me fazer graccedila especial mande vir da Ilha de Satildeo Tomeacute a Jorge de Osorio

meu genro ndash o que dela receberei em muita mercecirc E conclui Caminha como ateacute hoje manda o nosso figurino de

malandragem ―Beijo as matildeos de Vossa Alteza deste Porto Seguro de Vossa ilha de Vera Cruz hoje sexta-feira

primeiro dia de maio de 1500 Pero Vaz de Caminha Seraacute que eacute preciso dizer mais alguma coisa O que faz o

Brasil Brasil Rio de Janeiro Rocco 1984 p 67 363 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p 160 Tambeacutem eacute o que afirma George Feliacutecio Gomes de Oliveira ―Essa praacutetica trazida nas naus

portuguesas que vieram pela vez primeira agraves terras brasileiras consignou-se com a presenccedila da Corte Portuguesa no

Brasil (entre 1808 e 1821) Da anaacutelise da Suacutemula vinculante n13 do Supremo Tribunal Federal alcance

precedentes e motivos determinantes da norma que veda a praacutetica do nepotismo no Brasil Revista dos Tribunais -RT

v 890 ano 98 Dez 2009 p 15

77

do patrimonialismo364

natildeo apenas trazido mas tambeacutem implantado no Brasil ―desde

os primeiros dias365

no acircmbito do modelo governamental que imperava em Portugal

identificando o Estado como coisa de famiacutelia366

privilegiando o interesse familiar em

detrimento do puacuteblico e consagrando assim a histoacuterica e continua confusatildeo entre o

puacuteblico e o privado367

Mas o nepotismo ao ser trazido para o Brasil natildeo apenas se instalou como

tambeacutem se alastrou porque o Estado brasileiro herdeiro das condutas portuguesas

patrimonial e de sociedade estamental estabelecido sob as bases coloniais tinha como a

sua maior forccedila social o clatilde familiar368

E a autarquia familiar de origem rural se estendeu pelo paiacutes alcanccedilando as

cidades onde reinou a mesma mentalidade familiar tanto que Nabuco de Arauacutejo notou

―sabiamente como o espiacuterito antissocial e perigoso representado por essas famiacutelias foi

um viacutecio ―que nasceu da antiga organizaccedilatildeo e que nossas revoluccedilotildees e civilizaccedilatildeo natildeo

puderam acabar tendo ―a mentalidade de casa-grande invadido as cidades369

Desta sorte aquele que se encontrava no poder como representante do Estado

compartilhava a administraccedilatildeo os cargos e as possibilidades estatais com os seus em

detrimento da impessoalidade vez que a escolha dos homens que iriam exercer as

funccedilotildees puacuteblicas era realizada de acordo com a ―confianccedila pessoal que depositava neles

e natildeo com as suas capacidades proacuteprias370

364 PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade

Administrativa Florivaldo Dutra de Arauacutejo O nepotismo e os princiacutepios da administraccedilatildeo puacuteblica Belo Horizonte

Ed Foacuterum 2008 p 117 365 PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade

Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires Controle judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante do

Supremo Tribunal Federal Belo Horizonte Ed Foacuterum 2008 p 235 366 Interessante que agrave eacutepoca do Brasil Colocircnia se tem certa preocupaccedilatildeo com a vedaccedilatildeo do nepotismo pois conforme

aduz Victor Nunes Leal ―() escolheriam para os cargos concelho as pessoas mais pertencenteslsquo () que natildeo

fossem cunhados nem parentes ateacute o quarto grau de direito canocircnico Coronelismo Enxada e Voto O Municiacutepio e o

Regime Representativo no Brasil 7ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 p 114 367 Rebatida pelos dizeres de Seacutergio Buarque de Holanda ―O Estado natildeo e uma ampliaccedilatildeo do ciacuterculo familiar e ainda

menos uma integraccedilatildeo de certos agrupamentos de certas vontades particularistas de que a famiacutelia eacute o melhor

exemplo Natildeo existe entre o circulo familiar e o Estado uma gradaccedilatildeo mas antes uma descontinuidade e ateacute uma

oposiccedilatildeo Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 141 368Assim no ―complexo da famiacutelia senhorial estatildeo acobertados natildeo apenas os parentes consanguiacuteneos (filhos e

netos) e os parentes colaterais (irmatildeos tios e sobrinhos) como tambeacutem ―os parentes por afinidade civil (genros e

cunhados) os parentes por afinidade religiosa (os compadres e afilhados) os parentes por adoccedilatildeo (os crias da

casa senhorial) Daiacute nascem instituiccedilotildees como a ―solidariedade parental a ―responsabilidade coletiva no taliatildeo

privado o ―dever de proteccedilatildeo e ―assistecircncia parental reciacuteproca e ainda o compadrio VIANA Oliveira

Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 226 369 Exorbitando por isto ―a aacuterea do domiacutenio-tronco e se estendendo ―por vaacuterios domiacutenios e mesmo por municiacutepios

inteiros VIANA Op cit p 227 E completa afirmando que ―() eacute esta a lei da nossa expansatildeo povoadora a

famiacutelia- tronco partindo de um domiacutenio inicial espalha-se em derredor e vai irradiando por contiguidade () Idem

p 232 370 VIANA Oliveira Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 145-

146

78

E por isto que no acircmbito da classe dominante havia ―quase que um direito

hereditaacuterio de acesso aos cargos puacuteblicos e as ―negociatas eram pautadas na troca de

favores entre os que detinham o poder ―visando atingir fins privados e natildeo fins

puacuteblicos371

qual seja ―a transmissatildeo de privileacutegios do grupo central (classe dirigente)

de uma geraccedilatildeo para o de outra372

restando edificada por um lado a ―dificuldade de

separaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado pelos detentores do poder em nossa sociedade373

Esta conjuntura gerou um ciclo vicioso entre o personalismo e a confusatildeo da

relaccedilatildeo puacuteblicondashprivado e enraizou o nepotismo com profundidade na estrutura

administrativa-governamental brasileira374

utilizado como forma de autopreservaccedilatildeo e

autoproteccedilatildeo das famiacutelias que dominavam o poder puacuteblico ―com a dupla funccedilatildeo de

ampliar a influecircncia e o poder unipessoal do governante e enfraquecer o sistema

representativo375

Exemplo crasso dessa questatildeo foi o governo estabelecido pelo Presidente

Getuacutelio Vargas que ―nos breves trecircs meses em que esteve agrave testa do Executivo

empregou um nuacutemero exagerado de parentes376

e ao ser questionado justificou-se da

seguinte forma Eu tive que fazer uma opccedilatildeo Entre passar sessenta dias acusado pelos

adversaacuterios e passar sessenta anos () condenado pela minha famiacutelia preferi atender agrave

famiacutelia Ningueacutem aguenta uma famiacutelia pedindo emprego Dei logo para me deixarem

em pazlsquo 377

371 ROCHA Zeacutelio Maia da Nepotismo e concurso puacuteblico ndash criteacuterio objetivo de ausecircncia de moralidade e

impessoalidade na administraccedilatildeo puacuteblica Revista Consulex ano XII nordm 286 15 dez 2008 p 41 372 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p222 373 Expressatildeo retirada do voto do Min Ricardo Lewandowiski relator do RE 579951-4RN julgado em 20082008

p 1885 Um dos precedentes da Suacutemula Vinculante n13 374 Conforme sintetiza Gabriela Empirotti ―No Brasil a praacutetica do nepotismo eacute heranccedila do sistema patrimonialista

em que havia uma confusatildeo entre o que era particular e o que pertencia ao Estado O bem puacuteblico era uma extensatildeo

da proacutepria casa passando o administrador a trataacute-lo como se assim fosse Nesse contexto esclarece Seacutergio Buarque

de Holanda que o que falta aos administradores eacute compreender a diferenciaccedilatildeo existente entre Estado e famiacutelia e

ainda que natildeo deve haver ligaccedilatildeo entre ambos () Assim para Buarque de Holanda para atingirmos um Estado que

atenda aos anseios puacuteblicos ultrapassando os limites do que eacute pessoal eacute preciso que se transcenda o ambiente

familiar () Segundo o autor no Brasil somente em casos excepcionais tivemos a figura de funcionaacuterios voltados a

interesses objetivos do Estado tomando suas decisotildees de maneira impessoal A heranccedila patrimonialista tendo a

famiacutelia corno a sua instituiccedilatildeo mais forte possui ainda grande influecircncia restando pouco espaccedilo para a

Impessoalidade Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo ndash A Suacutemula Vinculante n 13 e a sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash

FA Belo Horizonte ano 13 n 144 fev 2013 p 38 375 Idem p 15 376 GARCIA Emerson Nepotismo Origens e paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano IX nordm 200 15 de maio de

2005 p27 377 GARCIA Emerson Nepotismo Origens e paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano IX nordm 200 15 de maio de

2005 p27

79

22 A noccedilatildeo de nepotismo sob a oacutetica do magisteacuterio doutrinaacuterio no Brasil

Desse histoacuterico foi extraiacuteda a noccedilatildeo juriacutedica do nepotismo que em sua

concepccedilatildeo ampla designa ―a conduta havida na Administraccedilatildeo do Estado pela qual

agentes puacuteblicos valendo-se dos cargos por ele ocupados concedem favores e

benefiacutecios pessoais a seus parentes e amigos 378

Isto porque a noccedilatildeo juriacutedica de nepotismo eacute para alguns doutrinadores

associada a atos de privileacutegio dos agentes puacuteblicos agravequeles que lhes importam natildeo

apenas aos seus familiares e ainda se vincula agrave ideia de lealdade e confianccedila existentes

entre o patrono e o favorecido com o objetivo de amparar os interesses do primeiro379

Entretanto diante das noccedilotildees expressas nas normativas existentes380

tambeacutem

pode ser definido de uma maneira mais restrita como ―a praacutetica pela autoridade puacuteblica

com poder para nomear de favorecer seus parentes proacuteximos nomeando-os para

titularizarem cargos ou empregos de provimento em comissatildeo381

Ou ainda como

() a conduta de nomear para cargos puacuteblicos em comissatildeo ou funccedilotildees de

confianccedila de livre provimento e livre exoneraccedilatildeo ou para cargos e funccedilotildees de

provimento ou exoneraccedilatildeo condicionada parentes cocircnjuges ou

companheiros de agentes puacuteblicos enaltecendo criteacuterios de promoccedilatildeo

familiar e de afinidade em detrimento a criteacuterios de meacuterito e capacidade

funcional no acesso a cargos puacuteblicos382

Vale dizer que esta definiccedilatildeo parece mais acertada jaacute que o nepotismo na

atualidade conforme eacute observado pela grande maioria daqueles que se debruccedilam sobre

o assunto significa o privilegiamento realizada pelo agente puacuteblico a seus parentes por

meio da indicaccedilatildeonomeaccedilatildeo desses em cargos puacuteblicos ad nuttum ou seja de livre

nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo denominados cargos em comissatildeo383

378 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p158 379 ―() atualmente o termo em sentido amplo significa favorecimento e abrange qualquer concessatildeo de benesses a

parentes ou a outras pessoas ligadas ao beneficente por laccedilos de amizade ou confianccedila () Inobstante os variados

sentidos que o termo pode ter () o nepotismo eacute entendido como o favorecimento de parentes de agentes puacuteblicos

Mais especificamente o emprego no serviccedilo puacuteblico de parentes de agentes puacuteblicos sem o crivo do concurso

puacuteblico ANTONIO Alice Barroso de O Nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante n 13 do STF Criacuteticas e

Proposiccedilotildees Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM Belo Horizonte ano 10 n 31 janmar 2009 p 63 -

64 380 Que satildeo diferentes entre si mas mais restritas pois natildeo abarcam a nomeaccedilatildeo de amigos na praacutetica de nepotismo

como se veraacute no proacuteximo capiacutetulo 381 PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) in Corrupccedilatildeo Eacutetica e

Moralidade Administrativa GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico Belo Horizonte Ed Foacuterum 2008 p73 382 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP

ano 11 n 41 abrjun 2013 Belo Horizonte Ed Foacuterum p 10-11 383 Luis Manuel Fonseca Pires sintetiza como ―() a nomeaccedilatildeo para os cargos em comissatildeo de parentes do

nomeante Eacute o que popularmente alcunha-se de nepotismo Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI

80

Entretanto diante da evoluccedilatildeo sobre a noccedilatildeo juriacutedica do termo eacute necessaacuterio

fazer algumas complementaccedilotildees quanto agrave mesma A primeira se refere agrave delimitaccedilatildeo do

parentesco ou seja eacute importante dispor sobre a definiccedilatildeo de quem satildeo os parentes cuja

nomeaccedilatildeo em cargo comissionado enseja nepotismo pois todas as normativas paacutetrias

que trataram ou tratam do assunto fixam o parentesco como elemento limitador de um

dos criteacuterios objetivos do nepotismo que eacute justamente a nomeaccedilatildeo de parente em cargo

comissionado384

Pela noccedilatildeo juriacutedica atual385

o nepotismo em sua espeacutecie direta ―ocorre

quando a autoridade competente nomeia cocircnjuge companheiro ou parente em linha

reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau o que abarca ―filho neto bisneto

irmatildeo tio sobrinho sogro genro nora cunhado 386

Desta noccedilatildeo se extrai aleacutem da demarcaccedilatildeo de parentesco outro criteacuterio

tambeacutem objetivo como esse a nomeaccedilatildeo pela autoridade que tem competecircncia para

nomear

Esses satildeo os dois aspectos objetivos a que o nepotismo se vincula quais sejam

a competecircncia para nomear (para o cargo puacuteblico em comissatildeo ou designar para a

funccedilatildeo puacuteblica) e a nomeaccedilatildeo de parente

Todavia aleacutem desses existem outros criteacuterios como o objetivo referente ao

parente estar sob a chefia imediata da autoridade nomeante e o criteacuterio subjetivo que

remonta ao favorecimento do parente Contudo ambos satildeo prescindiacuteveis jaacute que o

nepotismo eacute configurado na atualidade independe de ambos os criteacuterios o que eacute

demonstrado tanto na configuraccedilatildeo de sua forma direta onde basta a nomeaccedilatildeo pela

Renata Porto (Coordenadores) in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis Manoel Fonseca

Controle Judicial do Nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante do Supremo Tribunal Federal In Corrupccedilatildeo

Eacutetica e Moralidade Administrativa Belo Horizonte Foacuterum p 237 Florivaldo Dutra de Arauacutejo compendia a noccedilatildeo

de nepotismo como ―() antiga praacutetica dos papas () significa a indicaccedilatildeo de parentes para ocupar cargos na

administraccedilatildeo puacuteblica () guarda sentido pejorativo por indicar a circunstacircncia de que algueacutem se vale apenas do

parentesco com outrem detentor de poder para ser guindado agrave condiccedilatildeo de agente puacuteblico () a autoridade

nomeante designa um parente para funccedilatildeo de confianccedila ou cargo comissionado () PIRES Luis Manuel Fonseca

ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa

Florivaldo Dutra de Arauacutejo O nepotismo e os princiacutepios da administraccedilatildeo puacuteblica Belo Horizonte Ed Foacuterum 2008

p 117-118 384 Ateacute aquelas normas que foram editadas antes da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 delimitavam este criteacuterio pela

espeacutecie e grau de parentesco 385 Conforme as normativas atuais sobre o assunto tratadas na Introduccedilatildeo deste trabalho 386RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 210

81

autoridade nomeante de seu parente387

como tambeacutem na sua forma cruzada que eacute

caracterizada pela nomeaccedilatildeo feita por outra autoridade que natildeo eacute parente do nomeado

Segundo o moderno entendimento388

―natildeo haacute necessidade de se comprovar o

criteacuterio subjetivo pois estaacute impliacutecito ao cerne da praacutetica vez que consiste no propoacutesito

de atender a interesses pessoais com a nomeaccedilatildeo do familiar ou de privilegiar o viacutenculo

sanguiacuteneo Ou seja intriacutenseco ao nepotismo pois a finalidade da escolha do parente

para ocupaccedilatildeo do cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila eacute a satisfaccedilatildeo pessoal

gerada pelo laccedilo familiar389

Assim pode-se dizer que o aspecto subjetivo do ato eacute o seu

motivo impliacutecito agrave sua praacutetica 390

Entatildeo a benesse do acesso ao cargo puacuteblico pelos ―laccedilos de confianccedila pessoal

e familiar391

estaacute embutida no nepotismo sendo portanto desnecessaacuteria a sua

comprovaccedilatildeo para que ele reste configurado mas apenas dos dois primeiros elementos

objetivos dispostos cuja junccedilatildeo produz o nepotismo ―a nomeaccedilatildeo feita por algueacutem que

seja detentor do poder administrativo e o ―viacutenculo familiar (cocircnjuge companheiro ou

parente ateacute o terceiro grau) do nomeado com o nomeante392

Nesse diapasatildeo a confianccedila eacute necessaacuteria para se nomear algueacutem em cargo

comissionado - ―dito de confianccedila - constitucionalmente destinado agraves funccedilotildees de

direccedilatildeo e assessoramento superior mas ao contraacuterio do que se costuma pensar natildeo deve

ser originaacuteria da relaccedilatildeo pessoal mas da aptidatildeo profissional daquele que seraacute nomeado

o qual deve ter a qualificaccedilatildeo necessaacuteria e correspondente a exercer as funccedilotildees do citado

cargo Desta sorte a autoridade nomeante natildeo pode nomear quem quiser mas aquele

que se adeque agraves atribuiccedilotildees do cargomiddot

387 ―O aspecto objetivo do nepotismo concentra-se na efetiva relaccedilatildeo de parentesco existente entre o nomeante e o

nomeado Assim havendo a relaccedilatildeo de parentesco estar-se-aacute diante do nepotismo considerado no seu aspecto

objetivo RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In

Revista de Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 212 O criteacuterio eacute agraves vezes

excepcionalmente aplicado quando se trata de nomeaccedilatildeo de servidor efetivo parente de autoridade nomeante para

exercer cargo comissionado 388 Especialmente apoacutes a publicaccedilatildeo da SV n13 389 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Op cit p 213 E ainda acrescenta ―() diz R Tourinho (2011) a comprovaccedilatildeo do

elemento subjetivo eacute de difiacutecil concretizaccedilatildeo razatildeo pela qual a simples presenccedila do aspecto objetivo relaccedilatildeo de

parentesco vem se mostrando suficiente para caracterizar a praacutetica O caraacuteter objetivo da constataccedilatildeo da situaccedilatildeo a

envolver nepotismo torna irrelevante ateacute por indecifraacutevel em muitos casos o elemento aniacutemico presente no ato de

nomeaccedilatildeo Idem p 214 390 O nepotismo eacute entatildeo ―favorecimento privileacutegios e benefiacutecios para os parentes () daqueles que detecircm o poder

de possibilitar o acesso ao cargo puacuteblico sem a necessidade de submissatildeo ao Concurso Puacuteblico e ―estaacute relacionado

agrave lealdade e agrave confianccedila existentes entre quem favorece e o favorecido CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida

Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula Vinculante n 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash

FA Belo Horizonte ano 10 n 111 mai 2010 p 30 391 RIGOLIN Ivan Barbosa Sobre o nepotismo Uma reflexatildeo sobre moralidade e moralismo Foacuterum Administrativo

‐ FA Belo Horizonte ano 7 n 80 out 2007 392 RIBEIRO JUNIOR Joseacute Hortecircncio A ilegalidade do nepotismo no poder judiciaacuterio Revista Juriacutedica Consulex

ano 9 n 200 p 30

82

Assim mesmo que o cargo seja caracterizado ―pela confianccedila de que se dota o

comissionado esta confiabilidade ―tem que se firmar em qualificaccedilatildeo profissional a

dizer em merecimento que se liga agraves suas condiccedilotildees para o desempenho do cargo e natildeo

em qualificaccedilatildeo patroniacutemica como tantas vezes continua a ocorrer393

Diante desta interpretaccedilatildeo resta loacutegico que natildeo se trata da lealdade da

afinidade e da cumplicidade existentes entre integrantes de uma famiacutelia seja por laccedilos

consanguiacuteneos ou afins mas que a partir do momento em que ―o Constituinte

originaacuterio consagrou a existecircncia das funccedilotildees de confianccedila e dos cargos em comissatildeo

natildeo haacute como negar que eacute ―tarefa assaz difiacutecil sustentar que os valores que informam a

moralidade administrativa () natildeo autorizam que o agente nomeie um parente no qual

tenha ampla e irrestrita confianccedila394

Nessa toada o que se constata eacute que a praacutetica do nepotismo resta configurada

quando parentes consanguiacuteneos em linha reta ou colateral ou afins ateacute o terceiro grau

satildeo nomeados em cargos comissionados ou para exercerem funccedilotildees comissionadas no

mesmo poder em que a autoridade eacute nomeante ou o servidor eacute comissionado395

Outro ponto que interessa ressaltar quanto ao nepotismo eacute que a sua vedaccedilatildeo

abarca apenas os cargos comissionados que satildeo cargos administrativos e natildeo os

poliacuteticos396

Feitas tais exposiccedilotildees quanto ao nepotismo e agrave espeacutecie nepotismo direto passa-

se agrave anaacutelise do nepotismo cruzado tambeacutem denominado transversal ou obliacutequo que se

constroacutei por meio de troca de favoreslsquo entre os agentes nomeantes os quais de forma

393

ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p 163 394 GARCIA Emerson O nepotismo Boletim de Direito Administrativo ndash BDA jun 2003 p 462 395 Esta eacute o entendimento sobre a noccedilatildeo de nepotismo conforme o determinado pela SV n13 do STF de 210808 O

que isto quer dizer Que a autoridade nomeante ou servidor comissionado natildeo podem ter parentes no mesmo poder

em que atuam Por exemplo no acircmbito do Poder Executivo Federal a autoridade ou servidor comissionado lotado no

Ministeacuterio da Sauacutede natildeo pode ter cocircnjuge companheiro filhos pais netos avoacutes bisavoacutes bisnetos irmatildeos sobrinhos

ou tios nomeados em qualquer cargo comissionado ou ateacute se servidores efetivos designados em funccedilatildeo de

confianccedila em qualquer dos Ministeacuterios oacutergatildeos que compotildeem o Poder Executivo Tal vedaccedilatildeo eacute ampla demais Isto

que se constataraacute no uacuteltimo capiacutetulo do trabalho 396 O Ministro Carlos Britto em trecho do seu voto na p 1923 do RE 579951-4RN explica que a proibiccedilatildeo do

nepotismo decorre dos princiacutepios aplicaacuteveis agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica e por isto engloba apenas aos cargos

administrativos e natildeo poliacuteticos O quer dizer que a autoridade nomeante pode mais mas natildeo pode menos Por

exemplo um Prefeito pode nomear irmatildeo para exercer o cargo poliacutetico de Secretaacuterio de Transporte do Municiacutepio em

que eacute governante mas natildeo pode nomear seu sobrinho para um ocupar cargo comissionado em qualquer dos oacutergatildeos do

Poder Executivo Municipal pois estaraacute realizando praticando o nepotismo Parece meio iloacutegico mas todas as normas

brasileiras que vedam o nepotismo o limitam agraves nomeaccedilotildees menoreslsquo para cargos comissionados e funccedilotildees de

confianccedila de natureza administrativa e natildeo para as maioreslsquo que satildeo as para cargos poliacuteticos Este assunto seraacute

tratado no uacuteltimo capiacutetulo

83

inversa e reciacuteproca nomeiam parentes para exercerem cargo comissionado ou funccedilatildeo de

confianccedila em esfera diversa da que o agente eacute autoridade nomeante397

Nesse enredo o nepotismo cruzado somente eacute caracterizado quando ocorre a

reciprocidade das nomeaccedilotildees impondo pela via indireta o favorecimento vedado isto

eacute se natildeo houver a reciprocidade natildeo haveraacute nepotismo cruzado

Ele traduz o fato de os agentes puacuteblicos valerem-se ―de sua influecircncia junto a

outras autoridades com poder para nomear na tentativa de ocultar a praacutetica do

nepotismo e diferente do que ocorre no nepotismo direto pois as ―funccedilotildees seratildeo

exercidas pelo parente nomeado ―por orientaccedilatildeo da autoridade nomeante e natildeo pela

orientaccedilatildeo da autoridade ―beneficiada398

A maior questatildeo quanto a esta espeacutecie de nepotismo refere-se agrave troca de

favoreslsquo sua caracteriacutestica peculiar que o configura e o diferencia das demais Isto

porque ela eacute de difiacutecil verificaccedilatildeo e comprovaccedilatildeo399

jaacute que se insere em ―uma linha

tecircnue capaz de enganar em casos onde realmente ocorre e ao mesmo tempo levar a

conclusotildees equivocadas400

Outra espeacutecie de nepotismo eacute o denominado indireto que implica

favorecimento de parente e que ocorre ―por meio das contrataccedilotildees que se fazem por via

de empresas de locaccedilatildeo de matildeo de obra (terceirizaccedilatildeo) ou de prestaccedilatildeo de serviccedilos 401

Eacute outra forma de burlar a vedaccedilatildeo do nepotismo jaacute que o agente puacuteblico que tem o

poder para nomear seu familiar ou indicaacute-lo para a nomeaccedilatildeo utiliza o poder eou

397 Segundo Dioacutegenes Gasparini ―() nepotismo transversal ou () nepotismo obliquo caracterizado pela nomeaccedilatildeo

reciacuteproca de parentes de autoridades () com poderes para nomear impedidas no entanto de nomeaacute-los cujo

desempenho das respectivas atribuiccedilotildees dar-se-aacute sob as ordens da autoridade nomeante e natildeo da autoridade

beneficiada favorecida () Essa modalidade de nepotismo () surgiu para contornar as severas objeccedilotildees eacutetico-

sociais senatildeo para fugir das proibiccedilotildees legalmente impostas agraves nomeaccedilotildees de parentes proacuteximos da autoridade () na

praacutetica eacute uma troca de favores entre autoridades com o poder de nomeaccedilatildeo para favorecer os respectivos parentes

com evidente intenccedilatildeo de burlar a vedaccedilatildeo legal () no nepotismo obliquo quem nomeia o favorecido eacute outra

autoridade que com ele natildeo manteacutem qualquer parentesco ()Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES

Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum

p75 398 EMPIROTTI Gabriela Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula nordm13 e sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 fev 2013 p 38 399 Para Joatildeo Gaspar Rodrigues eacute ―um ajuste que garante nomeaccedilotildees reciacuteprocas entre os podereslsquo do Estado mas que

tem de ser provado para configurar a categoria nepoacuteticalsquo o que na praacuteticalsquo eacute muito difiacutecil de ser comprovado

Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de Direito Administrativo ndash RDA

Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 211 400 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 31 401 PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) in Corrupccedilatildeo Eacutetica e

Moralidade Administrativa ARAUacuteJO Florivaldo Dutra de O nepotismo e os princiacutepios da administraccedilatildeo puacuteblica

Belo Horizonte Foacuterum 2008 p118

84

prestiacutegio do cargo puacuteblico para indicar seu parente a ser contratado por empresa de

terceirizaccedilatildeo que atua no oacutergatildeo em que eacute ocupante do cargo puacuteblico402

A uacuteltima espeacutecie a ser tratada eacute o nepotismo poliacutetico que eacute descrito ―como a

nomeaccedilatildeo de pessoas independente do viacutenculo de parentesco com a autoridade

nomeante em cumprimento a ―acordos poliacuteticos403

e que apesar de natildeo ser abarcada

por nenhuma normativa eacute lembrada como uma conduta que infringe o princiacutepio da

impessoalidade404

Por fim a uacuteltima espeacutecie de nepotismo a ser tratada eacute o nepotismo das

primeiras-damas405

implantado na eacutepoca de Getuacutelio Vargas406

e que continua a vigorar

no Brasil ateacute hoje e que parece ser uma ―institucionalizaccedilatildeo do nepotismo pois

ocupam cargos puacuteblicos ao desempenharem atribuiccedilotildees de cunho social na conduccedilatildeo de

instituiccedilotildees sem fins lucrativos do ente federado de que o marido eacute representante407

Contudo salvo a situaccedilatildeo das primeiras-damas o Brasil movido por ―um

sentimento ou um sensus communis de que eacute imprescindiacutevel a vedaccedilatildeo do carreirismo

apadrinhadolsquo e da agecircncia familiar de emprego puacuteblicolsquo408

primou pela alteraccedilatildeo do

402 Esta forma de nepotismo estaacute vedada em algumas normativas como na Resoluccedilatildeo n705 do CNJ e no Decreto

presidencial n 720310 a primeira jaacute tratada na Introduccedilatildeo e o segundo no uacuteltimo capiacutetulo deste trabalho 403 EMPIROTTI Gabriela Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula nordm13 e sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 fev 2013 p 38 404 Por vaacuterios doutrinadores e juristas dentre eles Dioacutegenes Gasparini no artigo jaacute citado e Carmem Luacutecia Antunes

Rocha em sua obra tambeacutem jaacute referida 405 Mayara Pegorer afirma que a ―figura da primeira-dama foi inventadalsquo nos Estados Unidos quando por volta de

1790 Martha a esposa do entatildeo presidente George Washington passou a aparecer ao seu lado em ocasiotildees solenes

fazendo o papel de rainha mesmo em um Estado independente e republicano pois refletia a forma de governo

inglecircs PEGORER Mayara Alice Souza As primeiras-damas da improbidade administrativa do nepotismo agrave

corrupccedilatildeo ndash Poliacuteticas puacuteblicas e efetivaccedilatildeo dos direitos sociais Foacuterum administrativo FA Belo Horizonte nov 2012

ano 12 n 141 p 53 406Segundo Mayara Pegorer ―No Brasil foi a mulher de Getuacutelio Vargas Darcy Vargas a precursora no

assistencialismo social passando a assumir o papel de matildee dos pobres ao fundar a Legiatildeo Brasileira de

Assistecircncia e auxiliando na construccedilatildeo do estereoacutetipo de que as primeiras-damas seriam a imagem da elegacircncia da

discriccedilatildeo e da benevolecircncia modelo de valores da preocupaccedilatildeo com os problemas sociais que assolam os entes

federativos que seus maridos representam Neste sentido ateacute hoje acabam assumindo cargos comissionados e funccedilotildees

institucionais cargos relacionados agrave gestatildeo destas aacutereas sociais e empreendendo projetos que mais do que auxiliarem

a populaccedilatildeo carente a que se destinam auxiliam seus maridos na consolidaccedilatildeo de sua imagem no cenaacuterio poliacutetico e

social Op cit p 54 407 ― ()eacute exemplo o mau-vezo de se outorgar agraves primeiras-damas a atribuiccedilatildeo de conduzir instituiccedilotildees sem fins

lucrativos natildeo raras vezes dotadas de vultoso patrimocircnio e de incomensuraacutevel importacircncia para determinadas classes

da populaccedilatildeo Garcia Emerson O nepotismo Boletim de Direito Administrativo ndash BDA jun 2003 p 461Questiona

Emerson Garcia ―Natildeo seria esta uma modalidade de nepotismo ex vi legis () as primeiras-damas exercem a

representatividade popular Qual eacute o fundamento de legitimidade de sua atuaccedilatildeo Satildeo competentes ou possuem uma

―competecircncia reflexa oriunda do chefe do Executivo Op cit p 462 Explica Mayara Alice Souza Pegorer ―Essa

inquestionaacutevel doaccedilatildeo agraves causas sociais por vezes serve de fachada para o empreendimento de manobras puacuteblicas

escusas que ganharam repercussatildeo com a notiacutecia da ocupaccedilatildeo de cargos comissionados pelas primeiras-damas de

municiacutepios brasileiros (muitas vezes sem nem mesmo trabalhar efetivamente restringindo-se a perceber proventos) e

sua participaccedilatildeo em esquemas de desvio de verbas puacuteblicas () possibilidade de figuraccedilatildeo das primeiras-damas

como sujeitos do nepotismo () caracterizando-se infelizmente como praacutetica extremamente recorrente na realidade

brasileira Op cit p 55-56 408 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 222

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quadro administrativo-governamental ao consagrar em 1988 constitucionalmente a

moralidade puacuteblica

23 A Moralidade Puacuteblica e a vedaccedilatildeo do nepotismo na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

de 1988

A partir dos entendimentos expressos pelos Constituintes nos debates da

Assembleia Nacional Constituinte409

sobre moralidade constata-se que a moralidade

puacuteblica eacute coibidora do nepotismo

Na eacutepoca da elaboraccedilatildeo da Constituiccedilatildeo a noccedilatildeo especiacutefica do princiacutepio da

moralidade natildeo restava pacificada ou clara entre os constituintes de forma que eles

apenas se imbuiacuteram do dever ratificar ―uma tendecircncia consagrada pela jurisprudecircncia

paacutetria e ―pela primeira vez410

a introduziram explicitamente no ordenamento juriacutedico

constitucional brasileiro411

tornando ―expresso o que jaacute estava impliacutecito no sistema

mesmo sob a eacutegide de Constituiccedilotildees anteriores412

que a moralidade eacute um dos vetores

―conformadores da atividade administrativa413

O que se visava naquele momento constituinte era o restabelecimento da

democracia e a moralizaccedilatildeo do poder puacuteblico natildeo apenas quanto ao serviccedilo puacuteblico

como tambeacutem quanto agraves autoridades puacuteblicas eleitas ou nomeadas

Eacute o que se extrai dos debates travados pelos Constituintes no Projeto da

Constituiccedilatildeo414

que ―avanccedilou no campo da moralidade administrativa415

em prol da

moralizaccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico a fim obstar todos os ―jeitinhos brasileiros que

burlassem a moralidade

409 Que antecedeu a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 410 CORREcircA Gustavo Hermont Princiacutepio da Moralidade ou Eticidade da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese

Direito Administrativo v6 n 66 jun 2011 p 64 411 Segundo Carmem Luacutecia desde 34 o principio da moralidade foi inserido nas disposiccedilotildees constitucionais ―()

como fundamental do sistema constitucional republicano nacional embutido na menccedilatildeo expressa agrave probidade

administrativa como dever do Presidente da Repuacuteblica () (art 54 sect 6ordm da Constituiccedilatildeo de 1981 art 57 f da

Constituiccedilatildeo de 1934 art 85 d da Carta de 1937 () art 89 V da Constituiccedilatildeo de 1946 art 84 V da Carta de

1967 art 82 V da Emenda n 169) Op cit p222 Informaccedilatildeo esta que eacute completada pelo Emerson Garcia ao

afirmar que ―Natildeo obstante sua ausecircncia nos textos constitucionais preteacuteritos o princiacutepio da moralidade foi

contemplado pelo Decreto nordm 19398 de 11 de novembro de 1930 norma de equivalecircncia constitucional que foi

editada apoacutes a Revoluccedilatildeo de outubro do mesmo ano () o seu art 7ordm manteve em vigor as leis obrigaccedilotildees e direitos

na esfera puacuteblica salvo os que submetidos agrave revisatildeo contravenham o interesse puacuteblico e a moralidade

administrativa Op cit Nota de rodapeacute n 87 p 46 412 CAMMAROSANO Maacutercio O Princiacutepio Constitucional da Moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

Belo Horizonte Foacuterum 2006 p 91 413 MEIRELLES Hely Lopes apud BASTOS Celso Ribeiro e MARTINS Ives Gandra Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo

do Brasil 3ordm volume ndash tomo III arts 37-43 ndash 1992 Satildeo Paulo Saraiva p 35-36 414 Denominado por Aluiacutezio Campos como ―bom e corajoso Projeto 415 BRASIL Congresso NacionalComissatildeo de Sistematizaccedilatildeo ndash Ata da Reuniatildeo Solene de entrega do Projeto de

Constituiccedilatildeo (A) 33ordf Reuniatildeo Extraordinaacuteria em 24 de novembro de 1987 ndash Assembleia Nacional Constituinte ndash

Diaacuterio - Ano II- Suplemento A n 307 sexta-feira 23 de setembro de 1988 Brasiacutelia DF p 2

86

Dois quais vale ressaltar o relativo ao paraacutegrafo sect3ordm do art 14 das disposiccedilotildees

transitoacuterias416

que seria exceccedilatildeo ao sect 1ordm do artigo 44 do Projeto da Constituiccedilatildeo o qual

dispunha sobre o acesso ao cargo puacuteblico pelo concurso puacuteblico417

e tido como norma

que viria

() de encontro agrave moralidade que se procurou instaurar neste texto

constitucional eis que seratildeo admitidos sem concurso sem provas e sem

tiacutetulos quatro mil procuradores ou advogados hoje integrando os quadros da

advocacia consultiva ou defensiva da Uniatildeo 418

Contudo em argumentaccedilatildeo contraacuteria foi dito que ―natildeo seria um trem da

alegrialsquo pois trem da alegrialsquo eacute a criaccedilatildeo de novos cargos eacute a realizaccedilatildeo de nomeaccedilotildees

a toque de caixa 419

No mesmo ensejo a fim de ser evitar o personalismo o favoritismo houve

discussatildeo quanto ao artigo 61 das disposiccedilotildees transitoacuterias que determina a estabilidade

para aqueles que jaacute eram servidores cinco anos antes da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo

Federal 420

A discussatildeo eacute iniciada a partir da afirmativa de que queriam421

suprimir este

artigo porque entendiam ―que ele estabelece uma grave irregularidade no serviccedilo

puacuteblico permite o favoritismo aleacutem de ser o que se chama de um trem da alegrialsquo- mas

um trenzatildeo completo 422

Ao contra argumentar eacute dito que se pretende423

negar ―estabilidade para

milhares de funcionaacuterios do serviccedilo puacuteblico que trabalham haacute cinco anos 424

mesmo

416―Os procuradores e advogados de oficio os procuradores da Fazenda nacional e os procuradores ou advogados das

autarquias federais passam a integrar em caraacuteter efetivo a carreira de procurador da Uniatildeo Diaacuterio da Assembleia

Nacional Constituinte ndash Suplemento C p 461 417 ―A primeira investidura em cargo ou emprego puacuteblico sob qualquer regime dependeraacute sempre da aprovaccedilatildeo

preacutevia em concurso puacuteblico de provas ou de provas e tiacutetulos Idem p 461 418 Joatildeo Agripino Idem p461 E continua ―() Imaginem V Exa Esses dispositivos aplicados nos Estados onde

procuradores satildeo nomeados sempre atraveacutes de prestiacutegio ou influecircncia poliacutetica () muitas vezes exercendo em caraacuteter

permanente a advocacia sem dar um uacutenico dia de trabalho agrave Uniatildeo ao Estado () se esta Comissatildeo natildeo suprimir ()

estaremos praticando um ocircnibus espacial da alegrialsquo natildeo apenas um tremlsquo () 419 Palavras de Nilson Gibson na reacuteplica Este era o tamanho do desleixo com o serviccedilo puacuteblico jaacute na deacutecada de 80 do

seacuteculo XX no Brasil utilizado como ―cabide de emprego para os ―amigos do rei muitos amigos e muitos reis E eacute

o que ainda acontece devido aos abusos ocorridos quanto agrave criaccedilatildeo de cargos comissionados que podem ser

ocupados por nomeados sem concurso e pela nomeaccedilatildeo destes embasadas na pessoalidade em personalismo

clientelismo nepotismo favoritismo e partidarismo Diante do debate o que fica patente eacute a necessaacuteria moralizaccedilatildeo

do serviccedilo puacuteblico que ateacute entatildeo era ―casa da matildee Joana de acordo com os mandos e desmandos daqueles que

detinham o poder e nomeavam seus apadrinhados para os cargos e que estes muitas vezes se tornavam ―servidores

fantasmas 420 ―Satildeo estaacuteveis os atuais servidores da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios que agrave data da

promulgaccedilatildeo desta Constituiccedilatildeo contem pelo menos cinco anos de serviccedilo na administraccedilatildeo direta e indireta

inclusive em fundaccedilotildees instituiacutedas e mantidas pelo Poder Puacuteblico Complemento C p 478 421 O PT e PDC 422 Pliacutenio Arruda Sampaio Complemento C Idem p 478 423 Na reacuteplica Gerson Peres dizendo sobre o PT 424

Complemento C p 478

87

sendo a favor da estabilidade para os trabalhadores brasileiros e que ―() natildeo estaacute se

fazendo trem da alegrialsquo () porque o trenzatildeo da alegria soacute existiria se nomeassem

―servidores a partir da data da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo mas o que estavam

fazendo era para garantir ―o emprego de milhares de trabalhadores que haacute cinco anos

servem no Poder Puacuteblico 425

E nesse contexto se toca no apadrinhamento espeacutecie de privilegiamento como

o nepotismo criticando a falta de profissionalizaccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico e de seguranccedilalsquo

do servidor exposto agrave vontade e interesse puramente pessoal das autoridades que detecircm

o poder426

A discussatildeo em torno da moralidade ou imoralidade continua quanto agrave

possibilidade de se permitir a acumulaccedilatildeo de determinados cargos427

e se demonstra a

necessidade de moralizaccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico que passa pelo expurgo constitucional

de jeitinhos brasileiroslsquo os quais encapam atos imorais dissimulando-os e simulando

uma falsa moralidade428

Igualmente observa-se no Destaque nordm 4246-87 da Emenda nordm ES 22775-1429

que propunha estender a obrigatoriedade do concurso puacuteblico para a ―contrataccedilatildeo de

serviccedilos autaacuterquicos empregados de empresas puacuteblicas da sociedade de economia

mista e das fundaccedilotildees universalizando uma norma hoje privativa de algumas estatais

a fim de que todos fossem favorecidos de ―forma mais transparente democraacutetica

completando ―o princiacutepio da moralidade administrativa da impessoalidade e da

425 Complemento C p 478 E completa ―Portanto natildeo existe imoralidade Se existisse as Constituiccedilotildees de 1946 e

1967 tambeacutem seriam imorais porque estabeleceram os mesmos criteacuterios Aqui fica patente novamente que a defesa

dos constituintes quanto ao natildeo trezatildeolsquo se embasa na mesma argumentaccedilatildeo que o trenzatildeo da alegrialsquo ocorre quando

as nomeaccedilotildees satildeo realizadas ilimitadamente sem criteacuterio de forma imoral 426 Siqueira Campos afirma que ―o servidor puacuteblico () apoacutes cinco anos de trabalho soacute pode ser demitido por

perseguiccedilatildeo de vencedores ocasionais e que natildeo ―se trata de uma imoralidade trata-se de uma proteccedilatildeo a quem

trabalha pois natildeo seria justo deixar o ―trabalhador exposto agrave sanha de poliacuteticos que vivem a colocar para fora do

trabalho servidores qualificados () substituindo-os por afilhados poliacuteticos Ibidem p480 427 Apoacutes a explanaccedilatildeo de Adylson Motta ―Seria um crime uma injusticcedila inominaacutevel se propuseacutessemos apenas retirar

a proibiccedilatildeo de acumulaccedilatildeo de cargos e natildeo reconhececircssemos o direito adquirido daqueles que hoje deteacutem dois cargos

como eacute o caso dos meacutedicos dos professores de magistrado e professor de teacutecnicos cientiacutefico e professor de mateacuteria

afim desde que haja correlaccedilatildeo de mateacuterias e compatibilidade de horaacuterios () Queremos o direito reconhecido para

aqueles que sob o respaldo da Constituiccedilatildeo vigente estatildeo hoje titulando dois empregos porque de agora em diante

natildeo se permitiraacute mais dois empregos no texto constitucional Ibidem p 481 428 Antocircnio Britto ―() a foacutermula apresentada () permitiraacute que todas as acumulaccedilotildees hoje existentes ditas legais

sejam transformadas em direito adquirido sem que se tenha possibilidade Estado a Estado Municiacutepio a Municiacutepio

de examinar caso a caso o que foi uma das grandes formas de fraude usadas pelo Poder Puacuteblico () o serviccedilo puacuteblico

do Paiacutes exige hoje duas moralizaccedilotildees a primeira eacute o prestigiamento do servidor puacuteblico dando-lhe condiccedilotildees

corretas para o exerciacutecio de sua funccedilatildeo () a segunda () dotar a Constituiccedilatildeo de instrumentos eneacutergicos para

enfrentar imoralidades cometidas Ibidem p 481 429 De Jalles Fontoura

88

publicidade contempladas nos art 43 430

o apreccedilo natildeo soacute pela moralidade mas tambeacutem

pela publicidade e impessoalidade

Por fim se constata o apelo agrave moralidade puacuteblica tambeacutem no que concerne agrave

remuneraccedilatildeo dos funcionaacuterios da administraccedilatildeo indireta conforme o disposto no

Destaque n 3876-8 da Emenda n ES 26044-8431

quanto ao art 63 sect 6ordm do substitutivo

n 2432

() um fato vem provocando clamor popular e indignaccedilatildeo puacuteblica a

existecircncia dos chamados marajaacutes na administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta

em todo o Paiacutes () estatildeo incrustados na administraccedilatildeo puacuteblica somam

vantagens () benefiacutecios () chegam a vencimentos () assustadores ()

tem que ter uma poliacutetica de austeridade na administraccedilatildeo puacuteblica () tem

que ser extensiva tambeacutem agrave administraccedilatildeo indireta () agraves empresas estatais a

que natildeo temos acesso nem a imprensa consegue chegar laacute para noticiar ()

as polpudas recompensas de suas diretorias de seus assessores () eacute preciso

que laacute tambeacutem se instale a moralidade a probidade a austeridade () teto

() agrave sanha agrave voracidade daqueles que () detecircm cargos puacuteblicos ou a

direccedilatildeo de empresas433

Desta feita foi expressamente consignada nos debates dos constituintes na

ANC a necessidade de moralizaccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico e do poder puacuteblico dos quais

resultaram os dispositivos constitucionais atuais quanto agrave moralidade puacuteblica

Moralidade esta que obriga ―a todo agente puacuteblico do Presidente da Repuacuteblica

ao mais humilde servidor que tenha o ―dever juriacutedico e moral de ser leal ao seu paiacutes

bem como de cumprir o ―Direito que consubstancia a organizaccedilatildeo da sociedade

poliacutetica devendo assim ―respeitar e fazer respeitar a ordem juriacutedica que tambeacutem

accedilambarca o dever de melhor administraccedilatildeo 434

E natildeo eacute soacute a moralidade puacuteblica tambeacutem aparece como fundamento agrave vedaccedilatildeo

do domiacutenio familiar no acircmbito eleitoral Eacute isto que se extrai dos destaques e

substitutivos pertinentes agrave inelegibilidade de parentes dos representantes do Poder

430 Complemento C p 827 Ressalta-se que o artigo 43 hoje o art 37 tinha a seguinte redaccedilatildeo ―A administraccedilatildeo

puacuteblica direta ou indireta de qualquer dos poderes obedeceraacute aos princiacutepios da legalidade impessoalidade

moralidade e publicidade salvo na hipoacutetese de rescisatildeo do contrato de trabalho como condiccedilatildeo de validade dos atos

administrativos a motivaccedilatildeo suficiente e como requisito de sua legitimidade a razoabilidade 431 De Gastone Rigui 432 Gastone Rigui ―Nenhum funcionaacuterio diretor ou empregador na administraccedilatildeo puacuteblica direta ou indireta de

empresa estatal ou sociedade de economia mista teraacute remuneraccedilatildeo ou vantagens superiores agraves percebidas

respectivamente na aacuterea municipal pelo prefeito na aacuterea estadual pelos secretaacuterios de Estado e na aacuterea federal

pelos Ministros de Estado Idem p 837 433

Gastone Rigui Ibidem p 837 O destaque foi rejeitado 434 CAMMAROSANO Maacutercio O princiacutepio constitucional da moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

Belo Horizonte Foacuterum 2006p114

89

Executivo dos entes federados atualmente denominada pela doutrina como

inelegibilidade reflexa435

Nesse esteio fica registrado que para se evitar o nepotismo aqui como

domiacutenio familiar do poder puacuteblico pela via eleitoral haacute de se coibir a elegibilidade dos

parentes de certa autoridade puacuteblica Assim eacute assentada a necessidade de ser preservar a

tradiccedilatildeo constitucional que prima por esta moralidade puacuteblica436

Iniciado o embate437

sobre o Destaque nordm 836-87 ndash Emenda nordm ES-27313 artigo

13 sect7ordm do Substitutivo n 2438

seguido439

sobre o Destaque n 3870-87 da Emenda n

ES-26031-6 quanto ao art 13 sect 9ordm do Substitutivo n 2 que estabelece a inelegibilidade

dos parentes dos titulares dos poderes executivos de cada um dos entes federados440

a

posiccedilatildeo tomada eacute contraacuteria agrave redaccedilatildeo441

Nessa alccedilada os argumentos foram rebatidos442

pela argumentaccedilatildeo de que ―()

a supressatildeo deste dispositivo permitiria exatamente o contraacuterio que se tornasse pela

primeira vez neste Paiacutes elegiacuteveis o cocircnjuge e o parente ateacute segundo grau de qualquer

dos detentores de cargos executivos colocando fora uma das mais moralizadoras

tradiccedilotildees deste Paiacutes 443

sendo um ―atentando contra a moralidade que deve existir no

trato da coisa puacuteblica com relaccedilatildeo agraves eleiccedilotildees e que ―Ignorar que parentes proacuteximos de

435 ―De aplicaccedilatildeo objetiva independente da relaccedilatildeo de amizade segundo Alexandre Moraes Constituiccedilatildeo do Brasil

Interpretada 4ordf ed Satildeo Paulo Atlas 2004 p 577 436 Conforme Emerson Garcia ―() a preocupaccedilatildeo com o favorecimento haacute muito estaacute sedimentada no direito

positivo paacutetrio do que eacute exemplo a causa de inelegibilidade prevista no art 14 sect 7ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

que alcanccedila o cocircnjuge e os parentes consanguiacuteneos ou afins ateacute o segundo grau ou por adoccedilatildeo do chefe do

Executivo ou de quem o tenha substituiacutedo nos seis meses anteriores ao pleito salvo se jaacute titular de mandato eletivo e

candidato agrave reeleiccedilatildeo O nepotismo Boletim de Direito Administrativo ndash BDA jun 2003 p462 437 Pelo entatildeo Deputado Federal Nelson Jobim 438 Senhor Haroldo Lima ―() atribui agrave lei complementar a fixaccedilatildeo de outros casos de inelegibilidade () levando

em conta a moralidade para o exerciacutecio do mandato e a normalidade e legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia

() ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego puacuteblico da administraccedilatildeo direta ou indireta Complemento

C p 593 439 Por Gastone Righi 440 () estabelece que satildeo inelegiacuteveis para quaisquer cargos o cocircnjuge ou parentes ateacute segundo grau por

consanguinidade afinidade ou adoccedilatildeo do Presidente da Repuacuteblica do Governador e do Prefeito que tenha exercido

mais da metade do mandato e soacute ressalva os que jaacute exercem mandatos eletivosIbidem p 593 441 Com ―esta redaccedilatildeo () qualquer pessoa que morar no Rio Grande do Sul e for parente de um prefeito no Rio

Grande do Norte natildeo poderaacute candidatar a nenhum cargo eletivo dentro do paiacutes Eacute uma verdadeira aberraccedilatildeo () natildeo

eacute preciso que a Constituiccedilatildeo vaacute ao ponto absurdo da proibiccedilatildeo total e absoluta de eleiccedilatildeo mesmo para parentes por

afinidade () eacute o cunhado algueacutem que sequer escolheu o parentesco e nem mesmo tem a consanguinidade ou liame

familiar estabelecido Ibidem p 599 Neste ponto eacute interessante frisar que esta aberraccedilatildeo que se refere eacute tanto

quanto ao agrave extensatildeo territorial envolvida na proibiccedilatildeo quanto agrave amplitude da vedaccedilatildeo familiar o que

inegavelmente mutatis mutantis tambeacutem constitui objeto de severas criacuteticas doutrinaacuterias agrave Suacutemula Vinculante n13

do STF 442 Por Antocircnio Britto 443 Ibidem p 600

90

Governadores cocircnjuges candidatos por exemplo satildeo beneficiados pelo poder puacuteblico

() em suas eleiccedilotildees seria tapar o sol com a peneira 444

Contudo este substitutivo foi rejeitado e apresentado outro445

quando foi

realizada uma explanaccedilatildeo completa sobre o tema446

pois aleacutem de se aduzir que a

inelegibilidade de parentes das autoridades poliacuteticas em voga eacute uma tradiccedilatildeo

constitucional no Brasil447

ainda restou claro que aquilo que embasa e sempre embasou

esta vedaccedilatildeo constitucional eacute a necessidade de se obstar o nepotismo e a manutenccedilatildeo de

domiacutenios familiares no poder puacuteblico 448

O substitutivo foi aprovado Daiacute a notoriedade de que tanto a Constituiccedilatildeo veda

o nepotismo que eacute este o motivo da inelegibilidade reflexa expressa no artigo 14 sect 7ordm

do texto constitucional

Nesse iacutenterim vale ressaltar que natildeo seria loacutegico que o texto constitucional

obstasse por um lado o domiacutenio familiar pelo meio poliacutetico eleitoral e por outro

permitisse o mesmo o poderio deste clatilde pelas vias administrativas de nomeaccedilatildeo em

cargos puacuteblicos eou administrativos449

444 Gerson Peres que completa Complemento C p 600 E continua ―Eacute a realidade brasileira () temos de manter o

texto () que sustenta a moralidade na coisa puacuteblica Natildeo vamos () abrir a porta para que no Paiacutes ocorram fatos

degradantes () essa proibiccedilatildeo eacute vaacutelida () moralidade natildeo tem limite nem jurisdiccedilatildeo () a utilizaccedilatildeo do poder eacute

dentro do territoacuterio nacional E foi este o pensamento adotado pelos Ministros do Supremo ao elaborarem a SV

n13 445 Do Relator Bernardo Cabral 446 Por Ruy Barcelar 447 ―Por um lapso () deixou de incluir a inelegibilidade dos parentes de segundo grau afins e por adoccedilatildeo do

Presidente da Repuacuteblica () No que concerne agraves inelegibilidades oriundas do grau de parentesco por

consanguinidade ou afim jaacute a Carta Constitucional de 1891 tornava inelegiacuteveis para o cargo de Presidente os

parentes consanguiacuteneos e afins do 1ordm e 2ordm graus do Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica ou de quem se achasse

em serviccedilo no momento da eleiccedilatildeo ou de quem tivesse deixado ateacute 6 meses antes A Constituiccedilatildeo de 1934

considerava inelegiacuteveis os parentes ateacute o terceiro grau do Presidente da Repuacuteblica que natildeo se afastasse do cargo pelo

menos um ano antes A Carta autoritaacuteria de 1937 () se omitiu com relaccedilatildeo ao tema() a Constituiccedilatildeo de 1946

voltou a considerar inelegiacuteveis os parentes consanguiacuteneos e afins ateacute o 2ordm grau natildeo soacute do Presidente da Repuacuteblica

mas tambeacutem dos Governadores e Prefeitos estendendo-se este impedimento () ao cocircnjuge dessas autoridades ()

A Constituiccedilatildeo de 1967 () diferenccedila eacute a extensatildeo das inelegibilidades aos parentes ateacute o 3ordm grau e aos parentes por

adoccedilatildeo () Emenda Constitucional n 22 de 1982 agrave () de 1967 com a redaccedilatildeo dada pela Emenda n 1 de 1969

manteacutem a inelegibilidade por parentesco voltando-se o limite de ateacute 2ordm grau () no territoacuterio de jurisdiccedilatildeo do titular

() O projeto da Comissatildeo de Sistematizaccedilatildeo art 28 II letra g considera igualmente inelegiacuteveis no territoacuterio de

jurisdiccedilatildeo do titular o cocircnjuge e os parentes por consanguinidade afinidade ou adoccedilatildeo () jaacute o substitutivo ()

repete a redaccedilatildeo dada pelas Constituiccedilotildees de 1946 e 1967 () sem tornar inelegiacuteveis o cocircnjuge e os parentes de

Presidente da Repuacuteblica () Ata de Comissotildees p 683 ndash 684 448() a tradiccedilatildeo constitucional brasileira sobre inelegibilidade por grau de parentesco () sempre contemplou esse

impedimento como forma necessaacuteria para evitar o nepotismo ou a perpetuaccedilatildeo no poder atraveacutes de interposta pessoa

deve ser mantida A intenccedilatildeo do legislador brasileiro ao longo de nossa histoacuteria foi de impedir que aqueles que

detecircm uma parcela do poder de governar tendo sob o seu controle a maacutequina administrativa ou aquele que deixou o

cargo agraves veacutesperas das eleiccedilotildees favoreccedilam seus parentes prevalecendo-se da autoridade que tem ou aproveitando-se

da influecircncia que ainda manteacutem decorrente da proximidade do afastamento do cargo Visou-se preservar a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia ou abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo ou cargo Daiacute nossa

iniciativa de apresentar emenda no sentido de restabelecer a tradiccedilatildeo constitucional brasileira e ao mesmo tempo

alertar () para o tema que achamos de grande importacircncia para a normalidade e a moralidade da vida poliacutetica

brasileira (grifos nossos) Idem 683-684 449 Quem natildeo pode o mais pode o menos

91

Ainda na esfera eleitoral ao se dispor sobre o voto e a eleiccedilatildeo em dois turnos o

personalismo eacute lembrado como uma chaga aberta no sistema eleitoreirondashgovernamental

do paiacutes

Neste diapasatildeo fala-se sobre o ―conservadorismo mesclado () pelo

clientelismo e pelas benesses da maacutequina do Poder Executivo que estaacute vinculado ()

com o empreguismo e com todo esse fisiologismo que tem dominado a poliacutetica

brasileira ao longo desses anos450

e portanto constata-se que ―A questatildeo eleitoral ()

eacute crucial para se ter uma democracia natildeo do autoritarismo do clientelismo e do

fisiologismo () que () espelhe parte da verdade do voto451

E no Destaque nordm 7746-87 que dispunha sobre eleiccedilatildeo em dois turnos a

argumentaccedilatildeo exibida se reporta agrave longa histoacuteria da pessoalidade sempre presente no

acircmbito do poder puacuteblico brasileiro e expotildee a falta de probidade encrustada na orbita

governamental-administrativa onde transita livremente o nepotismo452

que remonta agrave

eacutepoca do coronelismolsquo e da Repuacuteblica Velha453

Apoacutes toda esta explanaccedilatildeo se conclui que os constituintes estavam absorvidos

natildeo apenas em garantir a moralidade administrativa do serviccedilo puacuteblico em si mas a

moralidade puacuteblica em sentido amplo aquela que vigora no sistema no Estado no

governo e na administraccedilatildeo454

Nesse esteio vale ressaltar que o concurso puacuteblico em meio agrave argumentaccedilatildeo

quanto agrave moralidade puacuteblica455

eacute observado a uma como instrumento moralizador da

maacutequina administrativa e do seu serviccedilo puacuteblico e a duas como elemento

constitucionalmente inibidor do nepotismo

450Joseacute Genoiacuteno Ata das Comissotildees p 685 451 Idem p 685 452 Gerson Peres Que ainda afirma ―O processo de dois turnos eacute () reacionaacuterio () antipopular eacute contra o avanccedilo

da proacutepria esquerda que o enaltece irresponsavelmente sem noccedilatildeo histoacuterica intelectual sem sequer seriedade ou

probidade () Os governos haveratildeo de ser partilhados as secretarias divididas as diretorias vendidas o nepotismo o

filhotismo o apadrinhamento se daraacute em toda a extensatildeo para que o candidato compre essa maioria absoluta

Suplemento C p760-761 453 ―() a influecircncia do poder do Governo municipal do poder do Governo estadual ainda estaacute arraigado () e noacutes

vamos assistir a espetaacuteculos degradantes com as eleiccedilotildees de dois turnos vencendo sempre aquele que vai deter a

maacutequina Idem p 762 454 Diante disto como afirmar que o nepotismo refere-se apenas agrave oacuterbita administrativa e natildeo governamental Jaacute natildeo

ficou exposto que eacute o nepotismo a fundamentaccedilatildeo da inelegibilidade reflexa E natildeo eacute a eleiccedilatildeo o instrumento

imprescindiacutevel ao governo Entatildeo natildeo seria tambeacutem nepotismo as nomeaccedilotildees em cargos poliacuteticos governamentais

Se eacute nepotismo a eleiccedilatildeo para deputada federal por um Estado da filha do governador deste Estado porque natildeo seria

nepotismo a sua nomeaccedilatildeo para ser Secretaacuteria de uma das Pastas estaduais do governo de seu pai Esta eacute outra criacutetica

levantada pela doutrina quanto agrave redaccedilatildeo da SV n13 que natildeo abarcou a vedaccedilatildeo da nomeaccedilatildeo para cargos poliacuteticos

como nepotismo 455 Pela fala de Adylson Motta quanto ao serviccedilo puacuteblico ao analisar o substitutivo do Relator Bernardo Cabral

92

E ainda que foi apresentada uma emenda456

que expressamente vedada o

nepotismo na funccedilatildeo puacuteblica e nos cargos comissionados os quais seriam apenas

destinados aos titulares de direccedilatildeo superior do denominado primeiro e segundo escalatildeo

da Administraccedilatildeo Puacuteblica457

Assim quando se remonta ao binocircmio composto por um lado pela Moralidade

Puacuteblica consagrada pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 e por outro pelo

nepotismo deve-se enfocar que a moralidade puacuteblica eacute diretriz decorrente do proacuteprio

princiacutepio republicano que veda que qualquer ato seja realizado em detrimento da

igualdade

E nesse contexto se observa que a Constituiccedilatildeo Federal embora natildeo tenha se

referido expressamente ao nepotismo em nenhum dos seus dispositivos o exortou do

―atual estaacutegio do nosso viver458

jaacute que desde o seu artigo primeiro estabeleceu o

princiacutepio republicano incompatiacutevel com atos como o nepotismo 459

Eacute tambeacutem neste espeque que se constata que a Constituiccedilatildeo Federal de 1988

determinou no seu art 14 sect 7ordm a inelegibilidade de cocircnjuges parentes consanguiacuteneos

afins e por adoccedilatildeo ateacute o segundo grau de poliacuteticos deixando patente a

incompatibilidade do nepotismo com os seus preceitos

456 Por Adylson Motta 457 ―() temos que mudar a fisionomia da funccedilatildeo puacuteblica e do funcionaacuterio puacuteblico () cuidar eacute do ingresso de algueacutem

na funccedilatildeo puacuteblica que eacute pela porta do concurso () obrigatoriedade da organizaccedilatildeo do funcionaacuterio em carreira ()

continua constando aqui neste substitutivo () uma emenda que eu apresentei no primeiro momento que proiacutebe o

nepotismo na funccedilatildeo puacuteblica e limita a utilizaccedilatildeo do cargo de confianccedila () ficariam adstritos apenas aos titulares de

Ministeacuterios a Chefes do poder a secretaacuterios talvez de Ministeacuterios a dirigentes maacuteximos das entidades paraestatais

() Adylson Motta Ata das Comissotildees p 787 Tal proposta natildeo foi aprovada mas se tivesse sido poderia ter ao

menos limitado o nepotismo a alguns cargos poliacuteticos e outros puacuteblicos que restariam como cargos de confianccedila de

livre nomeaccedilatildeo 458 VASCONCELOS Telmo da Silva Princiacutepio Constitucional da Moralidade e o Nepotismo Revista L amp C n 50

ago 2002 p 30 459Por isto Paulo Modesto afirma que ―() respeitar o interesse comum dirigir-se ao interesse puacuteblico exige do

agente puacuteblico republicano a adoccedilatildeo de criteacuterios igualitaacuterios e de meacuterito no acesso aos cargos puacuteblicos de sua livre

escolha em qualquer estrato do Poder dentro do Estado Todos satildeo iguais em uma Repuacuteblica satildeo cidadatildeos com

cargas puacuteblicas e direitos iguais A proteccedilatildeo de privileacutegios de origem familiar na intimidade do Estado eacute a antiacutetese do

regime republicano MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de

Direito Puacuteblico - RBDP ano 11 n 41 abrjun 2013 Belo Horizonte Ed Foacuterum p 24 E ainda completa ―Trata-se

de comportamento em qualquer extensatildeo do conceito evidentemente contraacuterio ao ethos republicano a princiacutepio

baacutesicos da administraccedilatildeo puacuteblica e a elementares preceitos de boa gestatildeo da coisa puacuteblica mas que foi tolerado

durante toda a histoacuteria do Brasil e nos vinte primeiros anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 MODESTO Paulo

Op cit p 11 Tambeacutem eacute este o posicionamento adotado por Zeacutelio Maia da Rocha ao afirmar que ―Nepotismo em

essecircncia significa favorecimento Somente os agentes que ostentem grande equiliacutebrio e retidatildeo de caraacuteter conseguem

manter incoacutelume a dicotomia entre o puacuteblico e o privado impedindo que sentimentos de ordem pessoal contaminem

e desvirtuem a atividade puacuteblica que se propuseram a desempenhar () Assim nepotismo consiste em condutas

praticadas por agentes puacuteblicos que utilizando-se dos cargos estrateacutegicos que ocupam na estrutura estatal passam a

nomear ou manter parentes em cargos comissionados em indiscutiacutevel prejuiacutezo ao princiacutepio republicano segundo o

qual o da isonomia deve sempre ser potencializado com o intuito de que a coisa do povo (respublicum) reste

plenamente preservada Nepotismo e concurso puacuteblico Criteacuterio objetivo de ausecircncia de moralidade e

impessoalidade na Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista juriacutedica Consulex v 12 n 286 15 de dezembro 2008 p 40

93

Daiacute se constata se o domiacutenio poliacutetico familiar pela via eleitoral eacute

constitucionalmente coibido que diraacute pela via administrativa por meio da qual ocorre o

nepotismo ―Quem natildeo pode mais tambeacutem natildeo pode menos

Mas natildeo eacute soacute nesse enredo estatildeo assentados pela Constituiccedilatildeo Federal como

princiacutepios constitucionais460

basilares da Administraccedilatildeo Puacuteblica461

da legalidade da

impessoalidade da moralidade da publicidade e da eficiecircncia

Princiacutepios462

que longe de serem apenas meros valores satildeo normas que geram

efeitos no mundo juriacutedico463

indicam ―uma situaccedilatildeo geral a ser buscada por todos

aqueles que se encontrarem sob sua regecircncia464

e conferem ―coerecircncia e unidade

sistemaacutetica 465

ao ordenamento juriacutedico figurando como norte confiaacutevel466

Assim a Administraccedilatildeo Puacuteblica presente em todos os poderes de cada um dos

entes federados aleacutem de obedecer a diversas ―leis esparsas que mudam com uma

frequecircncia assustadora467

deve observar os princiacutepios constitucionais gerais os que a

regem especificamente e ainda aqueles que derivam destes pois satildeo os princiacutepios

aplicaacuteveis agrave Administraccedilatildeo que asseguram estabilidade ao direito administrativo vez

que mesmo que as leis sejam alteradas eles permanecem468

Diante disto se o administrador puacuteblico descumpre um dos princiacutepios que

regem a Administraccedilatildeo estaraacute ―ferindo a mais alta ordem de um Estado469

460 Segundo o Ministro Ricardo Lewandowiski em seu voto no RE 579951-4 RN ―os princiacutepios constitucionais

―consubstanciam regras juriacutedicas de caraacuteter prescritivo hierarquicamente superiores agraves demais e satildeo positivamente

vinculanteslsquo como ensina Gomes Canotilho p1888 461 Expostos no caput do seu artigo 37 ―a administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo

dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade

moralidade publicidade e eficiecircncia Que satildeo de ―observacircncia obrigatoacuteria para os trecircs Poderes do Estado PIETRO

Maria Sylvia Zanella di Discricionariedade Administrativa na Constituiccedilatildeo de 1988 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Atlas 2012 p 160 462 Poeticamente segundo Machado de Assis eacute ―uma verdade que nas coisas anda que mora no visiacutevel e no

invisiacutevel Citaccedilatildeo do autor na fala de Quincas Borba explicando a Rubiatildeo sobre ―Humanitas Quincas Borba Satildeo

Paulo EDIGRAF 1889 p 18 463 A anaacutelise dos princiacutepios seraacute realizada no proacuteximo capiacutetulo de acordo com a hermenecircutica constitucional

Conforme o moderno entendimento ―satildeo conceituados como mandamento nuclear de um sistema em virtude de sua

relevacircncia axioloacutegica que lhe outorga a condiccedilatildeo de nuacutecleo central da ordem juriacutedica Karl Larenz apud Maria

Sylvia Zanella di Pietro in Discricionariedade Administrativa na Constituiccedilatildeo de 1988 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Atlas 2012 p154 Entretanto existem vaacuterias posiccedilotildees quanto agrave sua ponderabilidade e aplicaccedilatildeo 464 Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires Mauriacutecio Zockun Renata Porto Adri

(Coordenadores) O nepotismo e os princiacutepios da administraccedilatildeo puacuteblica ndash Florivaldo Dutra de Arauacutejo Belo

Horizonte Ed Foacuterum 2008 p 120 465 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Princiacutepios Informativos e Interpretativos do Direito Administrativo in

ARAUacuteJO Valter Shuenquener de (coord) Direito Administrativo em Foco Niteroacutei Ed Impetus 2005 p30 466 PEREIRA JUNIOR Jesseacute Torres Controle Judicial da Administraccedilatildeo Puacuteblica Da Legalidade Estrita agrave Loacutegica

do Razoaacutevel 2ordf ediccedilatildeo Belo Horizonte Editora Forum 2006 p 62 467 Idem p 159 468 Idem p160 469 EMPIROTTI Gabriela Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula nordm13 e sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 fev 2013 p 40

94

E eacute nesse ensejo que os juristas afirmam que o texto constitucional coibiu o

nepotismo no poder puacuteblico por trecircs dos cinco princiacutepios basilares da Administraccedilatildeo470

quais sejam o da impessoalidade471

o da eficiecircncia e o da moralidade administrativa472

Nesse esteio eacute que a Constituiccedilatildeo Federal veda a praacutetica de atos de

personalismo dentre eles o nepotismo sendo imprescindiacutevel que o agente puacuteblico

realize o ato administrativo desconsiderando quaisquer condiccedilotildees de parentesco

amizade posiccedilotildees partidaacuterias ou ideoloacutegicas daquele que seraacute nomeado473

Daiacute a importacircncias de tais princiacutepios e da moralidade puacuteblica no estudo do

nepotismo cuja proibiccedilatildeo de acordo com o STF deles deriva474

Mas o nepotismo natildeo eacute ato dissonante apenas dos princiacutepios da

Impessoalidade475

da Eficiecircncia476

e da Moralidade 477

tambeacutem destoa do princiacutepio da

Finalidade478

470 Assentados pela jurisprudecircncia do STF como autoaplicaacuteveis o que se observaraacute no uacuteltimo capiacutetulo 471 Uma das formas pelas quais a Constituiccedilatildeo consagrou este princiacutepio foi estabelecer o acesso ao cargo puacuteblico por

meio de concurso puacuteblico a fim de rechaccedilar da administraccedilatildeo os viacutecios do patrimonialismo e o personalismo dentre

eles o nepotismo Aqui vale apenas lembrar que o concurso puacuteblico previsto no inciso II do art 37 da CF88 eacute

espeacutecie de procedimento licitatoacuterio regulado pela lei 866693 destinado a preencher os cargos efetivos do quadro

pessoal dos oacutergatildeos e entidades da administraccedilatildeo Ele eacute a regra e a exceccedilatildeo eacute a livre nomeaccedilatildeo de indiviacuteduo a ocupar

cargo comissionado tambeacutem prevista constitucionalmente 472―Eacute evidente que atenta contra a moralidade do serviccedilo puacuteblico a contrataccedilatildeo indiscriminada de parentes aleacutem de

ofender a impessoalidade com que deve ser regida a atuaccedilatildeo do Poder Puacuteblico Tambeacutem a eficiecircncia do pessoal deixa

a desejar () CAVALCANTI Felipe Locke O Conselho Nacional de Justiccedila e a efetividade dos princiacutepios

constitucionais Revista do advogado ano 32 n 117 out 2012 p 92 E ―() o nepotismo pode ser compreendido

como o favorecimento dos viacutenculos de parentesco nas relaccedilotildees de trabalho ou emprego () viola os princiacutepios

constitucionais da moralidade da impessoalidade e da eficiecircncia na Administraccedilatildeo Puacuteblica ESTRELLA Heron

Nunes Nepotismo Aplicaccedilatildeo da Suacutemula Vinculante n 13 do Supremo Tribunal Federal Interesse Puacuteblico Ed

Foacuterum v10 n 54 marabr 2009 p265 473 Por isto Dioacutegenes Gasparini sintetiza que ―O que se quer na atualidade eacute ver extinto o vezo de certas autoridades

dotadas do poder de prover cargos ou empregos puacuteblicos de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo que deles valem-se para

beneficiar parentes propiciando-lhes um bom emprego PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI

Renata Porto (Coordenadores) Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Nepotismo Poliacutetico p 97 474 EMPIROTTI Gabriela Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula nordm13 e sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 fev 2013 p 41 475 Tanto que Mayara Alice Souza Pegorer ao analisar o nepotismo institucionalizado no papel da primeira-dama

afirma que ―() justamente pelo papel assumido pela figura da primeira-dama a segunda situaccedilatildeo torna-se bem

recorrente atribuindo-se a ela a conduccedilatildeo de instituiccedilotildees sem fins lucrativos que buscam promover o bem-estar social

da populaccedilatildeo empreendendo poliacuteticas sociais que vatildeo desde a proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente famiacutelias carentes e

meio ambiente () poder-se-ia aventar a violaccedilatildeo ao princiacutepio da () impessoalidade e a moralidade ao se sobrepor

os interesses pessoais aos coletivos resultando pois em ato contra os princiacutepios da Administraccedilatildeo Puacuteblica As

primeiras damas da improbidade administrativa do nepotismo agrave corrupccedilatildeo ndash Poliacuteticas puacuteblicas de efetivaccedilatildeo dos

direitos sociais Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 12 n141 nov 2012 p 56 476 Dioacutegenes Gasparini afirma que o nepotismo ―contraria a moralidade a impessoalidade a finalidade e a eficiecircncia

das accedilotildees administrativas Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN

Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p 88-89 477 Nesse sentido satildeo as palavras de Temo da Silva Vasconcelos ―Nepotismo afigura-se agrave ideia de favoritismo

patronal em dissonacircncia a impessoalidade A breve histoacuteria da naccedilatildeo brasileira jaacute em seus primoacuterdios registra a

primeira manifestaccedilatildeo de tal praacutetica () Desde entatildeo a percorrer e macular toda a nossa histoacuteria puacuteblica e privada

afigurado apadrinhamento da assunccedilatildeo aos postos sem a afericcedilatildeo de medidas de capacidade e merecimento Fez-se

presente suplantando periacuteodos despoacuteticos e democraacuteticos como que pairando sobre qualquer juiacutezo de moralidade e

probidade O Princiacutepio Constitucional da Moralidade e o Nepotismo Revista L amp C n 50 ago2002 p 29-30 478 O princiacutepio da finalidade eacute citado como um daqueles infringidos pelo nepotismo pois o administrador puacuteblico ao

nomear parentes para determinados cargos natildeo visa ―a finalidade puacuteblica como norte de tal ato mas o ―beneficiar

95

Assim aquele que pratica o nepotismo os inobserva pois tal conduta

rechaccedilada nada mais eacute do que ―um dos caminhos pelos quais se destroacutei e se adultera a

administraccedilatildeo puacuteblica desviando-a dos fins que informam sua existecircncia479

Fins

esses a serem ―buscados pelo poder puacuteblico no Estado de Direito480

derivados dos

seus princiacutepios e do proacuteprio princiacutepio da finalidade

Desta feita passa-se agrave anaacutelise da relaccedilatildeolsquo do nepotismo com os princiacutepios da

impessoalidade eficiecircncia finalidade com o fito de demonstrar que ao final e antes de

tudo o nepotismo eacute imoral

231 O contraventor do princiacutepio da impessoalidade

Como jaacute foi dito o nepotismo que eacute perpetuado ―ateacute os dias de hoje 481

eacute um

haacutebito viciado da Administraccedilatildeo Puacuteblica brasileira vinculado ao personalismo e ao

favoritismo avesso ao princiacutepio da impessoalidade482

e que em uma Repuacuteblica que vige

desde 1988 estruturada no trato impessoal e igualitaacuterio483

―de traccedilos organizados

estruturados e dinamizados segundo o direito que nele vigora 484

e cujas bases natildeo

convivem ―com a personalizaccedilatildeo do Poder conforme o governante em exerciacutecio485

natildeo

haacute como ser aceito

A administraccedilatildeo puacuteblica deve ser exercida pelos seus agentes de forma

imparcial neutra e impessoal no trato com a coisa puacuteblica na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos nas atividades puacuteblicas que realizam garantindo tratamento igualitaacuterio aos

determinada classe em detrimento daqueles que natildeo nasceram parentes ou natildeo se casaram ou nem mantiveram uniatildeo

estaacutevel com algueacutem com certa influecircncia ARAKAKI Allan Thiago Barbosa e ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula

Vinculante n 13 e o combate ao nepotismo Revista de direito Constitucional e Internacional ndash RDCI n 211 v 75 p

104 479ARAUacuteJO Florivaldo Dutra O nepotismo e os princiacutepios da administraccedilatildeo puacuteblica In ADRI Renata Porto

PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte

Foacuterum 2008 p 119 480 Ibidem p 126 481CORREcircA Gustavo Hermont Princiacutepio da Moralidade ou Eticidade da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese

Direito Administrativo v6 n 66 jun 2011 p 72 482 Nos termos de Ives Gandra Martins e Celso Ribeiro Bastos o princiacutepio da impessoalidade eacute aplicado na

Administraccedilatildeo Puacuteblica para obstar ―que o administrador natildeo seja tentadolsquo a substituir o interesse coletivo por

consideraccedilotildees de ordem pessoal (favorecimento ou perseguiccedilatildeo) Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo do Brasil 3ordm volume ndash

tomo III arts 37- 43 Satildeo Paulo Saraiva 1992 p 34 483 Segundo Joseacute dos Santos Carvalho Filho ―Impessoal eacute () aquilo que natildeo pode ser voltado especialmente a

determinadas pessoas() deve a Administraccedilatildeo voltar-se exclusivamente para o interesse puacuteblico e natildeo para o

privado vedando-se em consequecircncia sejam favorecidos alguns indiviacuteduos em detrimento de outros e prejudicados

alguns para favorecimento de outros() reflete () princiacutepio da finalidade () o alvo a ser alcanccedilado pela

Administraccedilatildeo eacute somente o interesse puacuteblico e natildeo se alcanccedila o interesse puacuteblico se for perseguido o interesse

particular() a Administraccedilatildeo haacute de ser impessoal sem ter em mira este ou aquele indiviacuteduo de forma especial

Manual de Direito Administrativo 11ordf ed Rio de Janeiro Ed Lumen Juris 2004 p15 484 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes O Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p 146 485 Ibidem p 146

96

administrados486

e por isso ao contraacuterio natildeo deve ser exercida vinculada a ―um

comando pessoal a um capricho ou vontade particular que cada um se obriga mas agrave

norma de Direito tendo a impessoalidade ―que se tornou princiacutepio constitucional pela

fundamentalidade de que se reveste 487

como uma de suas caracteriacutesticas principais

Por isto os atos administrativos devem ser ―sempre destinados genericamente

agrave coletividade sem consideraccedilatildeo para fins de privilegiamento das ―caracteriacutesticas

pessoais daqueles a quem porventura se dirija natildeo podendo jamais ser apropriado para

qualquer fim pessoal privado particular ―por aquele que em decorrecircncia de exerciacutecio

funcional se viu na condiccedilatildeo de executaacute-la488

E eacute este princiacutepio489

que garante ao administrado a administraccedilatildeo idocircnea pois

―impotildee ao administrador puacuteblico que soacute pratique o ato de forma impessoal estando

―impedido de buscar outro objetivo ou de praticaacute-lo no interesse proacuteprio ou de

terceiros490

Por um lado tanto coiacutebe ―a promoccedilatildeo pessoal de autoridades ou servidores

puacuteblicos sobre suas realizaccedilotildees administrativas como veda que o ato administrativo

seja praticado ―unicamente a satisfazer interesses privados por favoritismo ou

perseguiccedilatildeo dos agentes governamentais491

e por outro impede que a Administraccedilatildeo

distinga ―interesses onde a lei natildeo o fizer obrigando-a a atuar sem dar ―precedecircncia a

quaisquer interesses em detrimento dos finaliacutesticos a fim de que esteja despida ―de

qualquer inclinaccedilatildeo tendecircncia ou preferecircncia subjetiva492

486 De acordo com Alexandre de Moraes ―o administrador eacute um executor do ato da entidade puacuteblica em nome da

qual atua Constituiccedilatildeo do Brasil Interpretada e Legislaccedilatildeo Constitucional 6ordf ed Satildeo Paulo Atlas 2006 p 817

Conforme ensina Juarez Freitas ―() a Administraccedilatildeo Puacuteblica precisa dispensar um tratamento isonocircmico a todos

sem privileacutegios espuacuterios tampouco qualquer manobra persecutoacuteria () determina que o agente puacuteblico proceda com

desprendimento atuando desinteressada e desapegadamente com isenccedilatildeo sem perseguir nem favorecer jamais

movidos por interesses subalternos FREITAS Juarez O controle dos atos administrativos e os princiacutepios

fundamentais 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 p50 487 Ibidem Op cit p 146 488 CARDOZO Joseacute Eduardo Martins Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica (de acordo com a

Emenda Constitucional nordm 1998) in Os 10 anos da Constituiccedilatildeo Federal Alexandre Moraes (coordenador) Satildeo

Paulo Atlas 1999 p 154 ndash 155 Para Carmem Luacutecia Antunes Rocha o princiacutepio ―garante que a Administraccedilatildeo seja

Puacuteblica e natildeo coisa particular de um ―grupo de pessoas eventualmente ocupantes dos cargos do Poder Princiacutepios

Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p154 489 Que ―ganhou dimensatildeo no direito administrativo de acordo com a influecircncia do direito italiano e alematildeo

CORREIA Seacutervulo Direito do Contencioso Administrativo Lisboa Editora Lex 2005 p619 490 MEIRELLES Hely Lopes Direito Administrativo Brasileiro 21ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 1996 p 85

Conforme Carmem Luacutecia ―A impessoalidade no trato da coisa puacuteblica garante () qualidade da res gerida pelo

Estado a sua condiccedilatildeo de ser puacuteblica () voltada agrave concretizaccedilatildeo do bem de todos e natildeo de grupos ou de algumas

pessoas () traduz-se na ausecircncia de marcas pessoais e particulares correspondentes ao administrador que em

determinado momento esteja no exerciacutecio da atividade administrativa () revela o Estado natildeo-Cesar Op cit p

147 491 Ibidem p 86 492 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Princiacutepios Informativos e Interpretativos do Direito Administrativo in

Direito Administrativo Coord Valter Shuenquener de Arauacutejo Niteroacutei Impetus 2005 p 28

97

Desta forma como ―princiacutepio cardial493

da Administraccedilatildeo natildeo soacute protege ―o

particular contra a administraccedilatildeo como tambeacutem a proteger a administraccedilatildeo contra seus

proacuteprios funcionaacuterios494

e torna ―ilegiacutetima a decisatildeo tomada em condiccedilotildees de

parcialidade495

Nesse enredo constata-se que eacute vetor democraacutetico e republicano de ―se dar

trato puacuteblico agrave coisa puacuteblica independentemente da ―situaccedilatildeo pessoal daquele que

deteacutem o cargo puacuteblico o qual ―se deve manter neutro e objetivo em sua conduta496

e

tratar a todos sem qualquer espeacutecie de discriminaccedilatildeo seja ela beneacutefica ou

detrimentosa497

Em siacutentese o princiacutepio da impessoalidade estabelece que ―a atividade

administrativa deve ser destinada a todos os administrados dirigida ao cidadatildeo em

geral sem determinaccedilatildeo de pessoa ou discriminaccedilatildeo de qualquer natureza a fim de

romper o ―velho costume do atendimento do administrado em razatildeo do seu prestiacutegio

social poliacutetico econocircmico ou porque a ele o agente puacuteblico com poder para nomear

deve alguma obrigaccedilatildeo ou por fim porque ele eacute seu parente498

Eacute neste contexto que se afirma que rechaccedila do ordenamento juriacutedico todo e

qualquer ato ou vontade fundamentada no subjetivismo na pessoalidade ou na

particularidade que represente o ―privileacutegio pelo administrador puacuteblico para si ou para

seus parentes e amigos em razatildeo da sua proximidade com o poder499

e que o nepotismo

representa a ―quebra do princiacutepio da impessoalidade jaacute que sobrepotildee o interesse

particular ao puacuteblico com o direcionamento de nomeaccedilotildees500

493 GORDILLO Agustiacuten Tratado de Derecho Administrativo tomo 2 Buenos Aires Fundacion de Derecho

Administrativo 1998 pVIII-44 494 Ibidem p VIII 11 495 Ibidem pVIII 44 496 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p 155 497 Conforme esclarece Celso Antocircnio Bandeira de Mello ―Nem favoritismo nem perseguiccedilotildees satildeo toleraacuteveis

Simpatias ou animosidades pessoais poliacuteticas ou ideoloacutegicas natildeo podem interferir na atuaccedilatildeo administrativa e muito

menos interesses sectaacuterios de facccedilotildees ou grupos de qualquer espeacutecie Curso de Direito Administrativo 14ordf ediccedilatildeo

Satildeo Paulo Malheiros 2002 p 96 498 GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis

Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) p 88 499 Ibidem p 154 500 RIBEIRO JUNIOR Joseacute Hortecircncio A ilegalidade do nepotismo no poder judiciaacuterio ndashRevista Juriacutedica Consulex

ano IX nordm 200 p 30 Nos dizeres de Carmem Luacutecia A impessoalidade () eacute rompida () quando o motivo que

conduz a uma praacutetica pela entidade puacuteblica natildeo eacute uma razatildeo juriacutedica baseada no interesse puacuteblico mas no interesse

particular do seu autor () motivado por interesse em auxiliar () ou beneficiar parentes amigos pessoas

identificadas pelo agente e que dele mereccedilam segundo particular vinculaccedilatildeo que os aproxima favores e graccedilas que o

Poder facilita ou ateacute mesmo em prejudicar pessoas que destoem do seu ciacuterculo de relacionamentos pessoais e pelos

quais nutra () desafeiccedilatildeo ou desagrado () O motivo particular natildeo pode prosperar () o cometimento motivado

por razotildees particulares eacute o prejuiacutezo de quem natildeo tenha acesso pleno e republico agrave Administraccedilatildeo ROCHA Op cit

p157

98

A partir do princiacutepio da impessoalidade ―quer-se quebrar o velho costume do

atendimento do administrado em razatildeo do seu prestiacutegio ou porque a ele o agente puacuteblico

deve alguma obrigaccedilatildeo uma vez que o ato administrativo natildeo ―pode ser dirigido com o

intuito de beneficiar esta ou aquela pessoa501

Eacute ele que se assegura a prevalecircncia do princiacutepio isonocircmico502

em detrimento

dos ―idiossincraacuteticos projetos de cunho particularista fundados em ―efecircmeros motivos

caracteriacutesticos dos cultivadores do poder503

carregados de ―subjetivismos

injustificaacuteveis e de ―caprichos lesivos504

Desta forma o princiacutepio da impessoalidade eacute um dos princiacutepios que obsta o

Estado seja tratado como ―uma ampliaccedilatildeo do ciacuterculo familiar como ―uma integraccedilatildeo

de certos agrupamentos ou ainda como objeto ―de certas vontades particularistas505

Mas na realidade praacutetica eis aiacute um dos desafios que os agentes do direito em

especial os constitucionalistas e os administrativistas devem se debruccedilar jaacute que a

maacutequina estatal eacute formada por pessoas agentes estatais impregnados da pessoalidade

de fazer do Estado coisa sua que pode e deve utilizar o poder para beneficiar natildeo soacute a

si mas tambeacutem aos seus506

E eacute nesse diapasatildeo insere-se o nepotismo ―praacutetica ilegiacutetima e incompatiacutevel agrave

forma republicana da gestatildeo da coisa puacuteblica507

cuja vedaccedilatildeo decorre diretamente do

princiacutepio da impessoalidade508

e que ―talvez seja a questatildeo principal e mais

frequentemente encontrada na Administraccedilatildeo a ferir o princiacutepio da impessoalidade

constitucionalmente estabelecido na esteira da opccedilatildeo republicana509

501 GASPARINI Diogenes Direito Administrativo 10ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 p9 502 Para Emerson GARCIA e Rogeacuterio Pacheco ALVES ―() preserva-se o princiacutepio da isonomia entre os

administrados e o princiacutepio da finalidade () sendo vedada a atividade discriminatoacuteria que busque unicamente a

implementaccedilatildeo de um interesse particular Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem Rio de Janeiro Ed

Lumen Juris 2002 p21 503 Ibidem 50 504 Ibidem 53 505 Empirotti Gabriele Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula nordm13 e sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 fev 2013 p 41 506 Neste sentido Carmem Luacutecia ressalta ―A grande dificuldade de garantia de impessoalidade estatal () que suas

atividades satildeo desempenhadas pelas pessoas cujos interesses e ambiccedilotildees afloram mais facilmente ali em razatildeo da

proximidade do Poder e portanto da possibilidade de realiza-las valendo-se para tanto da coisa que eacute de todos e natildeo

apenas dele ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo

Horizonte Del Rey 1994 p 147 507 LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal ano V n 26 outnov 2008 p 19 508 Segundo Emerson Garcia ―Identificada a praacutetica do nepotismo ter-se-aacute de imediato a violaccedilatildeo ao princiacutepio da

impessoalidade jaacute que privilegiados interesses individuais em detrimento do interesse coletivoO nepotismo

Boletim de Direito Administrativo-BDA jun 2003 p 462 O interessante eacute que o Presidente pode nomear seu irmatildeo

como ministro Este ato mesmo pessoal natildeo se enquadra como nepotismo como se veraacute no uacuteltimo capiacutetulo 509 ROCHA Carmem Luacutecia Op cit p 158

99

Assim o nepotismo resultante ―da multissecular cultura do

patrimonialismo510

eacute avesso ao ato administrativo impessoal511

e torna a administraccedilatildeo

natildeo puacuteblica mas personalizada antidemocraacutetica e socialmente injusta512

se

configurando como ato invaacutelido para o Direito513

e de ―responsabilidade de quem lhe

tenha dado causa514

232 O viacutecio que danifica o Princiacutepio da Eficiecircncia

Incluiacutedo na Constituiccedilatildeo Federal pela Emenda Constitucional n 1998 como

princiacutepio cardinal da Administraccedilatildeo Puacuteblica traduz a exigecircncia de o agente puacuteblico

buscar incessantemente o melhor resultado ―sem descurar dos mandamentos legais e

dos padrotildees eacuteticos subjacentes ao bom administrador 515

Eacute o mandamento da qualidade do serviccedilo puacuteblico que envolve natildeo apenas a

eficiecircncia do ―modo pelo qual se processa o desempenho da atividade administrativa

como tambeacutem a eficaacutecia dos ―meios e instrumentos empregados e a efetividade dos

―resultados obtidos516

obrigando a Administraccedilatildeo Puacuteblica agrave ―racionalidade e

aproveitamento maacuteximo das potencialidades existentes em prol da ―promoccedilatildeo do bem

510 Expressatildeo do Ministro Carlos Britto no seu voto agraves fls 3334 da MC - ADC n12DF 511 De acordo com Joseacute Eduardo Martins Cardozo a Administraccedilatildeo natildeo pode ―beneficiar ou impor sanccedilatildeo a algueacutem

em decorrecircncia de favoritismo ou de perseguiccedilatildeo pessoal por predileccedilatildeo ou discriminaccedilatildeo do agente puacuteblico a

algueacutem devido agraves caracteriacutesticas pessoais desta Princiacutepios constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica (de acordo com

a Emenda Constitucional nordm 191998) In MORAES Alexandre Os 10 anos da Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo

Atlas 1999 p 156 512 O agente puacuteblico natildeo pode exercer o ato considerando suas opiniotildees e interesses Desta forma mesmo se ele for

competente natildeo pode nomear parente ou amigo para cargo puacuteblico vez que este ―deve ser provido segundo os

interesses e conveniecircncias puacuteblicas e natildeo particulares ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais

da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p156 513 Tendo a teoria da nulidade plena aplicaccedilatildeo ao mesmo Ibidem p 155 514 Ibidem p 151 A autora ainda elucida que ―() se o ato no qual emerge a pessoalidade na Administraccedilatildeo tem

conotaccedilatildeo nepotista por exemplo aquele que foi favorecido com cargo ou emprego puacuteblico pela qualificaccedilatildeo

familiar teraacute desfeito o ato de sua nomeaccedilatildeo ou contrataccedilatildeo () obrigaccedilatildeo de a entidade puacuteblica regressar contra o

agente que tenha atuado com personalismo paternalismo clientelismo subjetivismo e toda e qualquer outra forma de

agravo ao princiacutepio constitucional da impessoalidade administrativa Esta eacute a norma juriacutedica a ser acatada e cumprida

rigorosamente para garantia dos demais princiacutepios e de todo o sistema constitucional republicano Ibidem p 170-

171 515 GARCIA Emerson e ALVES Rogeacuterio Pacheco Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem Rio de Janeiro

Ed Lumen Juris 2002 p 35 Hely Lopes Meirelles mesmo de a eficiecircncia ser princiacutepio constitucional jaacute a

elucidava como o dever da administraccedilatildeo que ―atinge os aspectos quantitativo e qualitativo do serviccedilo Direito

Administrativo Brasileiro 21ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 1996 p90 Eacute conhecido nos dizeres de Dioacutegenes

Gasparini ―entre os italianos como dever da boa administraccedilatildeo GASPARINI Dioacutegenes Direito Administrativo 10ordf

ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 p21 Segundo Celso Antocircnio Bandeira de Mello a eficiecircncia eacute o ―dever administrativo

por excelecircncia () faceta de um princiacutepio mais amplo () da boa administraccedilatildeo Curso de Direito Administrativo

14ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2002 p 104 516 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de Direito Administrativo 8ordf ed Rio de JaneiroEd Lumen Juris

2007 p19- 20

100

comum de forma que sua atuaccedilatildeo estatal seja ―juridicamente eficiente quanto seu

resultado quantitativo e qualitativo for satisfatoacuterio 517

Dessa forma impotildee o dever da eficiecircncia aos administradores puacuteblicos que

―reside na necessidade de tornar cada vez mais qualitativa a atividade

administrativa518

fazendo ―que os sujeitos da atividade tenham qualificaccedilatildeo compatiacutevel

com as funccedilotildees a seu cargo 519

e portanto obstando que a ―histoacuterica confusatildeo que os

administradores puacuteblicos com honrosas exceccedilotildees tecircm feito entre patrimocircnio puacuteblico e

privado 520

o que suscita o entendimento de que ―certamente natildeo atenderia o princiacutepio

da eficiecircncia a nomeaccedilatildeo de parente proacuteximo da autoridade com poder para nomear e

por ela nomeado para exercer o cargo de provimento em comissatildeo521

pois ―natildeo se

pode esperar o desempenho eficiente das funccedilotildees pelos servidores que configurem

nomeaccedilotildees favorecidas522

O cerne da problemaacutetica estaacute no fato de que a nomeaccedilatildeo de parentes

comprometeria a qualidade total desejada nos serviccedilos puacuteblicos pois a nomeaccedilatildeo de

familiares de autoridades danificaria a eficiecircncia da administraccedilatildeo em dois acircngulos um

pelos nomeados natildeo possuiacuterem a isenccedilatildeo necessaacuteria a realizar a atividade puacuteblica de

forma neutra e eficiente e em outro pela autoridade nomeante gestora ser parcial

quanto ao seu familiar523

517 CARDOZO Joseacute Eduardo Martins Princiacutepios constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica (de acordo com a

Emenda Constitucional nordm 191998) In MORAES Alexandre Os 10 anos da Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo

Atlas 1999p 165- 166 518 De acordo com Diogo de Figueiredo Moreira Neto quando os atos satildeo realizados com ―qualidades intriacutensecas de

excelecircncia obteacutem-se ―o melhor atendimento possiacutevel das finalidades previstas em lei conforme ―paracircmetros

objetivos ―destinados agrave afericcedilatildeo dos resultados alcanccedilados pela administraccedilatildeo NETO Diogo de Figueiredo

Moreira Mutaccedilotildees do direito administrativo 2ordf ed Satildeo Paulo Renovar 2001 p 41 519 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de Direito Administrativo 8ordf ed Rio de JaneiroEd Lumen Juris

2007 p 52 Tanto que de acordo com Diogo de Figueiredo Moreira Neto a eficiecircncia eacute entendida ―() como

melhor realizaccedilatildeo possiacutevel da gestatildeo dos interesses puacuteblicos em termos de plena satisfaccedilatildeo dos administrados com os

menores custos para a sociedade ela se apresenta na accedilatildeo administrativa puacuteblica simultaneamente como um

atributo teacutecnico da administraccedilatildeo como uma exigecircncia eacutetica a ser atendida no sentido weberiano dos resultados e

como uma caracteriacutestica juriacutedica exigiacutevel de boa administraccedilatildeo dos interesses puacuteblicos Op cit p 42 520 Trecho do voto do Ministro Ricardo Lewandowiski na p 1899 do RE 579951-4 RN de 20082008 521 GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN

Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p89 522 Ibidem p91 523 Nestes termos Zeacutelio Maia da Rocha afirma ―A vedaccedilatildeo ao nepotismo se justifica porque sendo o parentesco o

fundamento da nomeaccedilatildeo para ocupar cargo em comissatildeo natildeo se imagina que o dirigente iraacute fiscalizar com o mesmo

rigor o parente e sim que haacute uma natural toleracircncia a qual natildeo existiria numa relaccedilatildeo de subordinaccedilatildeo sem qualquer

grau de parentesco Veja que natildeo se pode permitir na avaliaccedilatildeo do nepotismo a utilizaccedilatildeo de um criteacuterio subjetivo

para concluir se o parente foi ou natildeo beneficiado de forma indevida Esse benefiacutecio deve ser presumido pois como

se trata de coisa puacuteblica a proibiccedilatildeo existe ou seja se o processo de nomeaccedilatildeo eacute passiacutevel de ser influenciado

indevido eacute o ingresso do parente Nepotismo e concurso puacuteblico Criteacuterio objetivo de ausecircncia de moralidade e

impessoalidade na Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista juriacutedica Consulex v 12 n 286 15 de dezembro 2008 p41

101

233 O fim avesso ao Princiacutepio da Finalidade e ao Interesse Puacuteblico

Do elenco dos cinco princiacutepios expressos no caput do artigo 37 da Constituiccedilatildeo

Federal que regem a Administraccedilatildeo outros princiacutepios que tambeacutem satildeo diretrizes do

poder puacuteblico e dentre estes o princiacutepio da finalidade decorrente do princiacutepio da

legalidade

Tal princiacutepio eacute intimamente ligado ao princiacutepio da indisponibilidade do

interesse puacuteblico pois ―institui um dever juriacutedico para a Administraccedilatildeo de dar o devido

atendimento aqueles fins consagrados como de especiacutefico interesse puacuteblico524

e traduz

a obrigaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica executar os seus atos de acordo com o fim

disposto em lei525

voltado a satisfazer o interesse puacuteblico526

jaacute que ―administrar natildeo eacute

atividade de que eacute senhor de coisa proacutepria mas gestor de coisa alheia 527

O princiacutepio da finalidade alicerccedila a execuccedilatildeo da funccedilatildeo administrativa no

interesse puacuteblico a ser perseguido pela Administraccedilatildeo Puacuteblica que se sobrepotildee ao

privado e ―natildeo pode ser livremente disposto por aqueles que em nome da coletividade

recebem o dever-poder de realiza-los528

restando ferido quando a finalidade do ato

praticado pelo agente puacuteblico eacute voltada a interesse diverso do interesse puacuteblico como

―ao benefiacutecio pessoal ou ao prejuiacutezo particular por razotildees subjetivas529

Eacute o que ocorre quando o administrador pratica o nepotismo pois natildeo atua

como agente puacuteblico que executa sua atividade em prol do interesse puacuteblico mas como

agente privado que visa satisfazer interesses de cunho pessoal confundindo assim o

espaccedilo puacuteblico com o privado530

deixando de ―realizar a ponderaccedilatildeo exclusiva dos

interesses puacuteblicos relevantes para incluir na estrutura do processo decisoacuterio

administrativo a tutela de interesses familiares e pessoais estranhos ao bem comum (res

524 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Mutaccedilotildees do direito administrativo 2ordf ed Satildeo Paulo Renovar 2001

p28 525 De acordo com Carmem Luacutecia Antunes Rocha ―Os fins satildeo a destinaccedilatildeo imanente agrave pessoa puacuteblica Eles satildeo a

razatildeo de ser da existecircncia do Estado o seu sentido e a sua justificativa Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo

Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p 192 526―Somente o interesse puacuteblico legitima o comportamento da Administraccedilatildeo Puacuteblica E apenas a conduta

administrativa legiacutetima tem sede no Direito do Estado Democraacutetico Ibidem p 214 527 Rui Cirne Lima apud Ministro Carlos Britto no seu voto na p 36 da Medida Cautelar da ADC 12-6DF de sua

relatoria de 16022006 528 CARDOZO Joseacute Eduardo Martins Princiacutepios constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica (de acordo com a

Emenda Constitucional nordm 191998) In MORAES Alexandre Os 10 anos da Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo

Atlas 1999 p149 529 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Op cit p 157 530 Nos dizeres de Dioacutegenes Gasparini ―() eacute faacutecil ver que natildeo se caracteriza como de interesse puacuteblico o relativo agrave

certa pessoa ou grupo de pessoas a uma famiacutelia () na nomeaccedilatildeo para ocupar cargo de provimento em comissatildeo de

parente proacuteximo da autoridade () sem qualquer preocupaccedilatildeo com a qualificaccedilatildeo eacutetico-profissional do nomeado

Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e

moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p 92

102

publica) 531

e viciando assim ―o ato de nomeaccedilatildeo direta ou transversa de parente de

autoridade com poder para nomear proporcionando-lhe um bom cargo ou emprego

puacuteblico532

234 A Moralidade Puacuteblica antiacutedoto do Nepotismo

Neste toacutepico passa-se agrave anaacutelise da Moralidade Puacuteblica como pilar da vedaccedilatildeo

do nepotismo seja em sentido amplo decorrente do princiacutepio republicano seja em

sentido estrito como fundamento de norma infraconstitucional seja como princiacutepio

densificado pelos outros princiacutepios ou base destes 533

Ora dita puacuteblica ora dita administrativa ora observada como norma

concreta534

ora como vista como uma norma em branco535

densificada por outros

princiacutepios536

o certo eacute que a Constituiccedilatildeo Federal deu

() especial relevacircncia agrave moralidade Administrativa como princiacutepio

norteador proacuteprio da atividade da Administraccedilatildeo Puacuteblica () ao elencaacute-lo

entre os cinco princiacutepios expressos () ao mencionaacute-lo como condiccedilatildeo de

validade do ato do Poder Puacuteblico () ao categorizar a probidade na

531 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico ndash RBDP

Belo Horizonte v 11 n 41 abrjun2013 p19 532 GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN

Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p95 533 Por isto de acordo com Ives Gandra Martins e Celso Ribeiro Bastos ―() o princiacutepio da moralidade eacute o princiacutepio

central e o maior dos quatro nele se fundamentando toda a Administraccedilatildeo Puacuteblica ateacute porque quem queira

representar a naccedilatildeo tornando-se servidor puacuteblico deve postar-se acima de qualquer suspeita e ser dotado de

idealismo que supere o dos demais cidadatildeos Eacute que em uma visatildeo correta do poder tem ele a honra e o privileacutegio de

servir aos cidadatildeos e agrave paacutetria Natildeo se pode admitir que um servidor puacuteblico seja um imoral um corrupto um

peculataacuterio posto que seu crime eacute na minha particular visatildeo de interpretar o princiacutepio da moralidade administrativa

superior aos demais visto que tendo se apresentado como algueacutem disposto a servir a sociedade sobre ela tripudia

graccedilas agrave funccedilatildeo que exerce Natildeo consigo ver o administrador puacuteblico senatildeo como algueacutem com predicados superiores

aos demais cidadatildeos razatildeo pela qual se dispotildee a servir a sociedade e creio ter sido esta a razatildeo pela qual o

constituinte houve por bem inserir o princiacutepio da moralidade puacuteblica como o mais relevante princiacutepio do direito

administrativo ―A mulher de Ceacutesar natildeo deve ser apenas honesta mas deve parecer ser honesta diziam os antigos

com acuidade eis que quem governa tem que possuir a confianccedila dos governados e a idoneidade eacute o elemento mais

denso para que mereccedila essa confianccedila Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo do Brasil 3ordm volume ndash tomo III arts 37-43 Satildeo

Paulo Saraiva 1992 p 4 ndash 5 534 Base da accedilatildeo popular e da probidade administrativa 535 Para Ricardo Marcondes Martins eacute ―uma regra de estrutura porque disciplina o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

() trata-se de uma regra em branco pois se reporta a todas as regras eacuteticas objetivadas () exige complementaccedilatildeo a

apuraccedilatildeo de quais satildeo os deveres eacuteticos Princiacutepio da moralidade administrativa In ADRI Renata Porto PIRES

Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum

2008 p323 Egon Bockman Moreira entende que eacute um principio juriacutedico em brancolsquo cujo conteuacutedo natildeo se exaure

em comandos concretos e definidos () estabelece eacute uma finalidade a ser perseguida e implementada Corrupccedilatildeo

Eacutetica e Moralidade Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires Mauriacutecio Zockun Renata Porto Adri

(Coordenadores) O princiacutepio da moralidade e seu controle objetivo Belo Horizonte Ed Foacuterum 2008 p 102 536 Segundo Luis Manuel Fonseca Pires ―() o princiacutepio da moralidade administrativa prescrito no art 37 caput da

Constituiccedilatildeo Federal eacute uma norma juriacutedica de eficaacutecia plena que natildeo guarda dependecircncia para a sua significaccedilatildeo

apenas de regras juriacutedicas mas () que igualmente pode qualificar-se como norma legitima a ser aplicada para

permitir ou vedar dado comportamento em razatildeo de outros meios de densificaccedilatildeo ou significado () se a moralidade

administrativa natildeo se confunde com a moral comum por outro lado a moralidade administrativa natildeo depende uacutenica e

exclusivamente de uma regra juriacutedicalsquo para externar o seu significado pois eacute possiacutevel compreendecirc-la e concretizaacute-la

com uma leitura toacutepica e sistemaacutetica de toda a ordem juriacutedica em vigor Controle judicial do nepotismo para aleacutem da

13ordf suacutemula vinculante do Supremo Tribunal Federal in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Mauriacutecio

Zockun Renata Porto Adri (Coordenadores) p 239-240

103

administraccedilatildeo como valor juriacutedico inviolaacutevel pelo Presidente da Repuacuteblica

e finalmente () ao cominar os atos de improbidade administrativa537

Nesse ensejo quando se observa a moralidade administrativa de forma

concreta volta-se o olhar para ―os proacuteprios meios de accedilatildeo escolhidos pela

Administraccedilatildeo Puacuteblica que age de forma contraacuteria agrave moral puacuteblica quando o conteuacutedo

do seu ato eacute avesso ―ao senso comum de honestidade retidatildeo equiliacutebrio justiccedila

respeito agrave dignidade do ser humano agrave boa-feacute ao trabalho agrave eacutetica das instituiccedilotildees538

Desta forma a moralidade administrativa se observada no ordenamento

juriacutedico ―passou a ser conceito elaborado com forccedila de elemento autocircnomo na

formaccedilatildeo e informaccedilatildeo do comportamento administrativo juridicamente vaacutelido539

Sendo norma que juridicamente por si soacute impotildee ―a honestidade na gerecircncia da res

publica540

pois sua obediecircncia eacute cogente ao agente puacuteblico e ainda como lastreia o

controle objetivo dos atos administrativos possibilita de forma autocircnoma sua

invalidaccedilatildeo541

e consequente ―responsabilizaccedilatildeo dos agentes puacuteblicos que se afastaram

dessas diretrizes obrigatoacuterias542

Por isto pode-se dizer que a accedilatildeo popular eacute ―marco imprescindiacutevel na sede de

moralidade administrativa543

que a lastreia natildeo apenas como um princiacutepio mas como

um instrumento de resguardo do proacuteprio interesse puacuteblico mesmo porque qualquer

537 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Direito Administrativo Coord Valter Shuenquener de Arauacutejo Niteroacutei

Impetus 2005 Princiacutepios Informativos e Interpretativos do Direito Administrativo p 29 538 PIETRO Maria Sylvia Zanella di Discricionariedade Administrativa na Constituiccedilatildeo de 1988 3ordf ed Satildeo Paulo

Editora Atlas 2012 p178 Nos dizeres de Celso Antocircnio Bandeira de Mello ―tal princiacutepio assume foros de pauta

juriacutedica porque ―compreendem-se em seu acircmbito () os chamados princiacutepios da lealdade e boa-feacute () Curso de

Direito Administrativo 14ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2002 p 101 539 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p187 540 FREITAS Juarez O controle dos atos administrativos e os princiacutepios fundamentais 3ordf ed Malheiros 2004

p56 541 Conforme Ives Gandra Martins ―A primeira consequecircncia a nosso ver da encampaccedilatildeo desse princiacutepio eacute o

aumento do acircmbito do controle jurisdicional sobre a atividade administrativa Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo do Brasil

3ordm volume ndash tomo III arts 37-43 Satildeo Paulo Saraiva 1992 p 38 542 MORAES Alexandre de Constituiccedilatildeo do Brasil Interpretada e legislaccedilatildeo constitucional 6ordf ed Satildeo Paulo Atlas

2006 p 816 Neste sentido Maria Sylvia Zanella de Pietro afirma ―A partir do momento em que a Constituiccedilatildeo

Federal no artigo 37 inseriu o princiacutepio da moralidade entre os de observacircncia obrigatoacuteria pela Administraccedilatildeo

Puacuteblica e no artigo 5ordm inciso LXXIII colocou a lesatildeo agrave moralidade administrativa como um dos fundamentos da

accedilatildeo popular ela veio permitir duas conclusotildees a primeira eacute a de que o ato administrativo que infrinja a moralidade

administrativa eacute tatildeo invaacutelido quanto o ato ilegal a segunda () eacute a que sendo invaacutelido o ato administrativo imoral

pode ser apreciado pelo Poder Judiciaacuterio para fins de decretaccedilatildeo de sua invalidade DI PIETRO Op cit p 186 543 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Op cit 220 A autora ainda informa que a ―Constituiccedilatildeo de 1934 introduz em

seu art 113 inciso 38 a accedilatildeo popular e que foi ―reintroduzida na esfera Constitucional em 1946 pelo artigo 141 sect

38 porque tinha sido ―excluiacuteda da Carta de 1937 Outrossim assevera que em 1957 foi publicada a Lei n 3164 que

tratava da accedilatildeo popular e que novamente em 1958 foi inserida outra lei no ordenamento juriacutedica a Lei n 3502 que

trouxe agrave lume uma accedilatildeo popular especiallsquo Afirma a autora que a primeira tinha como finalidade ―coibir o

enriquecimento iliacutecito dos servidores puacuteblicos () e dos dirigentes e empregados de autarquias e dos que lhe satildeo

equiparados e que a segunda visava ―a anulaccedilatildeo ou decretaccedilatildeo de nulidade dos atos lesivos ao patrimocircnio E por

fim que ―em 1965 foi editada a Lei n 4717 regulamentando o artigo 141 sect38 da Constituiccedilatildeo de 46 Ibidem p

220-222

104

cidadatildeo pode intentar a citada accedilatildeo com ―a pretensatildeo de anular atos do Poder

Puacuteblico544

por terem sido realizados em dissonacircncia com a moralidade administrativa

Neste ensejo ao se capitular o nepotismo como um ato imoral isto eacute lesivo agrave

moralidadelsquo545

pode-se requerer sua anulaccedilatildeo por meio da accedilatildeo popular

De outro lado ao pensar na moralidade como uma norma autocircnoma que

produz efeitos no mundo juriacutedico natildeo haacute como natildeo fazer referecircncia agrave probidade

administrativa sua descendente dita ―particular aspecto da moralidade administrativa

que recebeu da Constituiccedilatildeo Federal um tratamento proacuteprio546

Tamanha a sua

importacircncia que natildeo apenas estaacute explicita no sect4ordm do art 37 do texto constitucional

como tambeacutem regulamentada por meio da Lei n 842992 denominada Lei de

Improbidade Administrativa que veda todo e qualquer ato que configure ―grave

violaccedilatildeo do senso meacutedio superior da moralidade e () inequiacutevoca intenccedilatildeo

desonesta547

Nesse diapasatildeo imprescindiacutevel destacar que esta lei consagrou ―a Moral no

acircmbito do Direito ao considerar como atos de improbidade os que atentam contra os

princiacutepios da Administraccedilatildeo548

e por conseguinte tornou o nepotismo ato que atenta

contra os princiacutepios da moralidade impessoalidade e eficiecircncia que regem a

Administraccedilatildeo tambeacutem um ato de improbidade administrativa

Diante disto constata-se que a moralidade puacuteblica obriga que os atos dos

administradores puacuteblicos se adequem aos valores albergados por ela natildeo bastando aos

agentes puacuteblicos brasileiros cumprir apenas os estritos termos da lei vez que tambeacutem

devem agir em conformidade com os ―valores morais juridicizados549

544 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de Direito Administrativo 8ordf ed Rio de JaneiroEd Lumen Juris

2007 p 17 545 Artigo 5ordm inciso LXXIII da CF 88 546 GASPARINI Dioacutegenes Direito Administrativo 10ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 p11 A partir dos comentaacuterios

de Diogo de Figueiredo Moreira Neto a probidade ―() consiste no dever de o funcionaacuterio servir agrave Administraccedilatildeo

com honestidade procedendo no exerciacutecio das suas funccedilotildees sem aproveitar os poderes ou facilidades delas

decorrentes em proveito pessoal ou de outrem a quem queira favorecer Mutaccedilotildees do Direito Administrativo 2ordf ed

Satildeo Paulo Renovar 2001 p95 Segundo Joseacute dos Santos Carvalho Filho ―()abrange todo e qualquer agente

puacuteblico seja qual for a situaccedilatildeo que o vincule ao Poder Puacuteblico bem como aqueles que natildeo sendo agentes

concorram para as condutas de improbidade ou delas se beneficiem Op cit p50 E conforme Juarez Freitas ―O

princiacutepio da moralidade tornou-se assim pedra de arrimo do edifiacutecio juriacutedico () Logo o agir eticamente

universalizaacutevel desponta como imposiccedilatildeo vaacutelida para as relaccedilotildees juriacutedicas independentemente de assumirem

natureza puacuteblica ou privada FREITAS Juarez Princiacutepio da moralidade administrativa In Corrupccedilatildeo Eacutetica e

Moralidade Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires Mauriacutecio Zockun Renata Porto Adri (Coordenadores) 2008

p 196 547 Ibidem p 204 548 PIETRO Maria Sylvia Zanella di Discricionariedade Administrativa na Constituiccedilatildeo de 1988 3ordf ed Satildeo Paulo

Editora Altas 2012 p 189 549 CAMMAROSANO Maacutercio Princiacutepio Constitucional da Moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

Belo Horizonte Foacuterum 2006 p78 Nesse enredo o autor afirma que o administrador puacuteblico ―() ao interpretar as

105

E assim seja ao encampar550

―outros princiacutepios ou inserida no contexto do

dever de boa administraccedilatildeo551

visa obstar a ―postura de quem se considera o dono da

coisa puacuteblica552

fundamentar e direcionar o sistema553

normativo que rege o poder

puacuteblico como sua pedra angular554

possuindo portanto ―primazia sobre os outros

princiacutepios constitucionalmente formulados555

Isto porque o conteuacutedo da moralidade administrativa retrata o comportamento

puacuteblico ideal de forma que toda atuaccedilatildeo administrativa deveria partir dela e a ela se

voltar556

abarcando o determinado por outros princiacutepios que regem a administraccedilatildeo

que estatildeo tatildeo intimamente ligados a ela como elos em uma cadeia que o agente puacuteblico

ao inobservaacute-la estaraacute automaticamente infringindo os demais

Tanto que se observa o elo da moralidade com a substacircncia de outro princiacutepio

basilar da Administraccedilatildeo Puacuteblica o da impessoalidade pois para que o ato

administrativo seja moral prioritariamente haacute de ser impessoal557

desprovido de

qualquer motivaccedilatildeo ou manifestaccedilatildeo de caraacuteter pessoal agente puacuteblico558

Ela obsta ―desmandos de maus administradores que almejam satisfazer ―seus

proacuteprios interesses ou ateacute ―interesses inconfessaacuteveis relegando para o uacuteltimo plano os

preceitos morais de que natildeo deveriam se afastar de forma que resta vulnerada quando

normas nas quais se refletem visando sua aplicaccedilatildeo e ao avaliar situaccedilotildees de fato para detectar sua incidecircncia natildeo

pode ignorar o sentido que os conceitos que expressam valores tecircm no seio da coletividade de que promanam e em

dado momento histoacuterico mas sempre atentos ao enfoque contextual do sistema normativo Op cit p 85 550 ―Este princiacutepio substantivo () informa vaacuterios institutos atinentes ao controle da Administraccedilatildeo Puacuteblica

notadamente os que datildeo suporte ao desempenho dos agentes poliacuteticos e administrativos MOREIRA NETO Diogo

de Figueiredo Princiacutepios Informativos e Interpretativos do Direito Administrativo in Direito Administrativo

Coordenador Valter Shuenquener de Arauacutejo Niteroacutei Impetus 2005 p 30 551 ARAUacuteJO Florivaldo Dutra de Motivaccedilatildeo e Controle do Ato Administrativo 2ordf ediccedilatildeo Horizonte Del Rey

2005 p 99 552 CAMMAROSANO Marcio O princiacutepio constitucional da moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

Belo Horizonte Foacuterum 2006 115 553 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p186 554 Conforme Juarez Freitas ―() a inserccedilatildeo de preocupaccedilotildees com a moralidade () no acircmbito do Direito positivo

() constitui-se condiccedilatildeo sine qua nonlsquo para a sustentaccedilatildeo democraticamente fundamentaacutevel do Estado () em

realidade soacute haacute direito legiacutetimo se promover um devido processo justo no tocante aos meios e resultados moralmente

aceitaacuteveis Princiacutepio da moralidade administrativa In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis

Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) p 199 555 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Op cit p 214 556 Eacute por isto que Carmem Luacutecia afirma ―Assim o que se exige () eacute a legalidade moral vale dizer a legalidade

legiacutetima da conduta administrativa () A moralidade tem sua certeza na diferenciaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado e

na imprescindiacutevel prevalecircncia daquele sobre este segundo as bases normativas Op cit p 214 557 MARTINS Ricardo Marcondes in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis Manuel

Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) Princiacutepio da moralidade administrativa Belo

Horizonte Ed Foacuterum 2008 p 319-321 558 Eacute neste sentido a anotaccedilatildeo de Emerson Garcia e Rogeacuterio Pacheco Alves ―Ao valorar os elementos delineadores

da moralidade administrativa eacute defeso ao agente puacuteblico direcionar seu obrar por criteacuterios de ordem ideoloacutegica ou de

estrita subjetividade Ao interpretar e aplicar a norma deve o agente considerar os valores norteadores do sistema

juriacutedico ainda que se apresentem dissonantes de sua visatildeo pessoal Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem

Rio de Janeiro Ed Lumen Juris 2002 p43-44

106

ocorre ―()tratamento discriminatoacuterio positivo ou negativo dispensado ao

administrado 559

estando ferido tambeacutem o princiacutepio da impessoalidade

Desta forma o princiacutepio da moralidade densificado pelo da impessoalidade

que encerra ―a relaccedilatildeo fiduciaacuteria que ―investe todo aquele que exerce uma funccedilatildeo

puacuteblica ndash pois o faz em nome da coletividade exige que o comportamento deste siga a

―um padratildeo objetivo de honestidade e impessoalidade560

Aleacutem disso como a nomeaccedilatildeo se faz fundada na intimidade haacute quem

questione a eficiecircncia do ato relacionando-a com a moral tanto quanto agrave gestatildeo da

autoridade quanto agrave eficiecircncia do parente nomeado561

E por fim mas natildeo menos importante a densificaccedilatildeo da moralidade pelo

princiacutepio da finalidade decorrente do princiacutepio da legalidade e que prima pelo fato de o

ato administrativo ser motivado e executado de acordo com os fins legais e com o

interesse puacuteblico Seja este ato vinculado ou que possua elementos discricionaacuterios o

agente natildeo pode se descuidar de realiza-lo tendo em vista o interesse puacuteblico e

objetivando o bem comum

Tanto que a relaccedilatildeo de conteuacutedo normativo eacute facilmente detectada entre a

moralidade e a finalidade pois para que o ato administrativo seja classificado como

moral antes deve primar pelo interesse puacuteblico almejando-o verdadeiramente562

vez

que ―o referencial da moralidade administrativa eacute a finalidade puacuteblica () elemento do

ato administrativo () regra moral interna do governo da coisa puacuteblica563

e o

administrador puacuteblico a atinge quando realiza o ato ―com vistas a resultados divorciados

559 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de Direito Administrativo 8ordf ed Rio de JaneiroEd Lumen Juris

2007 p 16 560 PIRES Luis Manoel Fonseca Controle judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf suacutemula vinculante do Supremo

Tribunal Federal In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN

Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) p 247 561Destarte Dioacutegenes Gasparini afianccedila que ―O fundamento juriacutedico para o enfrentamento do nepotismo eacute o

princiacutepio da moralidade () O ato e a atividade da Administraccedilatildeo Puacuteblica devem obedecer natildeo soacute a lei mas agrave

proacutepria moral porque nem tudo que eacute legal eacute honesto conforme afirmavam os romanos () veda-se agrave Administraccedilatildeo

Puacuteblica qualquer comportamento que contrarie os princiacutepios da lealdade da boa-feacute e da eficiecircncia Nepotismo

Poliacutetico In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires Mauriacutecio Zockun Renata

Porto Adri (Coordenadores) p 86 562 Segundo Diogo de Figueiredo Moreira Neto seguindo a esteira de Oliveira Franco Sobrinho o enfoque da

moralidade administrativa deve ser adotado para saber ser o ―motivo e objeto foram manipulados pelo agente puacuteblico

para produzir a falsa impressatildeo de que suportam lidimamente a inafastaacutevel finalidade puacuteblica Segundo ele eacute

―necessaacuterio ir adiante na anaacutelise da accedilatildeo administrativa para investigar se o conjunto dos seus elementos realmente

sustenta o interesse puacuteblico ou apenas datildeo a falsa impressatildeo de que o fazem Mutaccedilotildees do direito administrativo 2ordf

ed Satildeo Paulo Renovar 2001p64-65 Para Juarez Freitas satildeo ―atos () que atentam contra a moralidade e

simultaneamente contra outros princiacutepios reitores da Administraccedilatildeo Puacuteblica seja por accedilatildeo ou por inoperacircncia

transgredindo deveres de retidatildeo e lealdade ao interesse puacuteblico in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa

PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) Princiacutepio da moralidade

administrativa p 216 563 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Op cit p62-63

107

do estrito interesse puacuteblico a que deveria atender564

ou seja desvia o ato do seu fim

institucional565

Deste modo quando o agente pratica o nepotismo ele motiva o ato de forma

imoral e ainda desvia o ato administrativo de sua finalidade pois natildeo estaacute embasado

no bem da coletividade mas em um interesse particular proveniente da vontade pessoal

e que visa o bem de um grupo sua famiacutelia o que enseja o interesse privado em

detrimento do puacuteblico totalmente agraves avessas agrave finalidade como princiacutepio ou como

elemento do ato administrativo bem com infringe o princiacutepio da Supremacia do

Interesse Puacuteblico

Neste acircmbito o ato administrativo antes de ser ilegal pois natildeo visa o fim

disposto em lei eacute imoral vez que seu motivo o eacute Ocorrendo o viacutecio quando o motivo eacute

incompatiacutevel com o ato ou seja quando haacute a eleiccedilatildeo do objeto sem o motivo

compatiacutevel o que ―() trai a finalidade puacuteblica do ato prejudicando ou beneficiando

um administrado sem qualquer relaccedilatildeo com o seu dever de bem administrar 566

E assim sua imoralidade enseja sua ilegalidade por meio da viciaccedilatildeo do

motivo do ato e do consequente desvio de finalidade Esta relaccedilatildeo eacute tatildeo densa que

Maurice Hauriou ao analisar os desvios do ato formulou a noccedilatildeo de moralidade

puacuteblica

Desta feita para que o ato seja moral deve haver uma ―relaccedilatildeo harmocircnica entre

a situaccedilatildeo faacutetica a intenccedilatildeo do agente e o ato praticado sendo analisadas no contexto

deste a motivaccedilatildeo declinada e a finalidade almejada567

pois a ―moralidade torna

564 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo in Direito Administrativo Coord Valter Shuenquener de Arauacutejo

Princiacutepios Informativos e Interpretativos do Direito Administrativo Niteroacutei Impetus 2005 p29 565 Diogo de Figueiredo Moreira Neto explica que ―() para que o administrador puacuteblico vulnere esse princiacutepio basta

que administre mal os interesses puacuteblicos () atraveacutes de atos com desvio de finalidade puacuteblica para perseguir

interesses que natildeo satildeo aqueles para os quais deve agir () atos sem finalidade puacuteblica () com deficiente finalidade

puacuteblica reveladores de uma ineficiecircncia () atos com a utilizaccedilatildeo de meios ilegiacutetimos como a traiccedilatildeo da finalidade

satildeo exemplos de maacute administraccedilatildeo da coisa puacuteblica caracterizando a imoralidade administrativa e trazendo como

consequecircncia a anulaccedilatildeo do ato Ibidem p 30 566 Diogo de Figueiredo Moreira Neto ensina que o ―objeto eacute desconforme () quando ocorrer uma incompatibilidade

loacutegica entre sua escolha (discricionaacuteria) e o interesse puacuteblico contido na regra da finalidade Aqui a conformidade que

interessa eacute com o dever da boa administraccedilatildeo que eacute o ocircnus do administrador () assume () o ocircnus moral de bem

administrar Mutaccedilotildees do Direito Administrativo Satildeo Paulo Renovar 200 p 68 567 GARCIA Emerson e ALVES Rogeacuterio Pacheco Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem Rio de Janeiro

Ed Lumen Juris 2002p 48 Para Luis Manuel Fonseca Pires ―()natildeo basta o cumprimento dos fins mas eacute preciso

que os meios que o comportamento puacuteblico atenda a padrotildees objetivos de moralidade administrativa In

Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata

Porto (Coordenadores) Controle judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf suacutemula vinculante do Supremo Tribunal

Federal p 246

108

obrigatoacuterio que o moacutevel do agente e o objetivo visado estejam em harmonia com o

dever de bem administrar 568

E como a moralidade administrativa ―atua como um verdadeiro mecanismo

aglutinador extraindo o sumo569

natildeo soacute dos princiacutepios da impessoalidade e da

finalidade como tambeacutem de todos os outros princiacutepios que regem a atividade estatal

condensando-os ―em standards que podem ser mais facilmente percebidos do que

definidos570

o nepotismo a atinge em seu cerne em sua substacircncia normativa Ela ao

avesso seja por si soacute ou densificando os outros princiacutepios eacute sempre o principal e mais

recorrente substrato de vedaccedilatildeo do nepotismo571

atuando como um antiacutedoto que visa

obstar que os interesses privados sejam ―beneficiados com a accedilatildeo estatal572

24 Consideraccedilotildees Parciais

O nepotismo foi assente no direito costumeiro puacuteblicolsquo brasileiro como

heranccedila portuguesa antidemocraacutetica e antirrepublicana historicamente contemplado

por aqueles que dominam o poder puacuteblico desde a colonizaccedilatildeo do Brasil de fazer da

administraccedilatildeo puacuteblica coisa sua infringe assim moralidade puacuteblica

Como uma espeacutecie dos atos vinculados ao personalismo faz do Estado

instrumento beneficiador de famiacutelias e persecutoacuterio de seus inimigos traduzindo

portanto a supremacia da vontade particular em detrimento da puacuteblica a qual motiva o

seu ato administrativo em prejuiacutezo agrave coletividade e transforma a administraccedilatildeo puacuteblica

em negoacutecio de natureza familiar573

que a distribuir cargos entre os familiares maculando

568 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de Direito Administrativo 8ordf ed Rio de JaneiroEd Lumen Juris

2007 p 44 Segundo ele a atuaccedilatildeo do administrador puacuteblico ―() deve em qualquer hipoacutetese pautar-se pelos

princiacutepios da honestidade e moralidade quer em face dos administrados quer em face da proacutepria Administraccedilatildeo Natildeo

se deve cometer favorecimento nem nepotismo cabendo-lhe optar sempre pelo que melhor servir agrave Administraccedilatildeo

Idem p 49 569 GARCIA Emerson e ALVES Rogeacuterio Pacheco Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem Rio de Janeiro

Ed Lumen Juris 2002 p 45 E ainda afirmam que ―talvez por esse motivo que a jurisprudecircncia paacutetria ao

fundamentar suas decisotildees com base no princiacutepio da moralidade administrativa normalmente o faz com outro

princiacutepio dotado de maior especificidade para o caso concreto Op cit p 45 570 Os mesmos autores ainda afirmam que ―longe de arranhar a autonomia do princiacutepio da moralidade demonstra

apenas que os valores extraiacutedos do outro princiacutepio utilizado concorrem de maneira mais incisiva na conformaccedilatildeo do

standard adotado como padratildeo de bom administrador naquela situaccedilatildeo Idem p 45-46 571 Segundo Carmem Luacutecia Antunes Rocha eacute ―aplicaacutevel em sede democraacutetica ―faz parte da democracia e se

justifica com ela e por ela Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p

225 572 De acordo com Carmem Luacutecia ―A moralidade administrativa () eacute uma questatildeo que comeccedila e termina () na

qualidade dos sistemas juriacutedico poliacutetico e administrativo vigentes em determinada sociedade estatal () a

moralidade administrativa pode e deve ser imposta juridicamente () a imoralidade () verificada apurada e punida

() dificultada controlada () eacute viacutecio da razatildeo() Op cit p 184-185 573 RIBEIRO JUNIOR Joseacute Hortecircncio A ilegalidade do nepotismo no poder judiciaacuterio ndash Revista Juriacutedica Consulex

ano IX nordm 200 p 30

109

a ideia da boa-feacute e a proacutepria conduta eacutetica pela qual deveria se pautar o administrador

puacuteblico574

Sua vedaccedilatildeo pelo descrito vale aduzir que mesmo que ao longo do texto

constitucional natildeo se vislumbre nenhum dispositivo que faccedila direta e expressa

referecircncia a ela natildeo significa que tal praacutetica natildeo esteja proibida pelo contraacuterio eacute

incompatiacutevel com ordenamento juriacutedico pois a Constituiccedilatildeo Federal de 1988

estabeleceu o princiacutepio republicano a inelegibilidade reflexa os princiacutepios expressos no

caput artigo 37 e ainda o concurso puacuteblico vedando o domiacutenio familiar estatal e

direcionando a Administraccedilatildeo Puacuteblica por meio da moralidade puacuteblica575

E pela moralidade administrativa eacute obstada a atuaccedilatildeo dos agentes puacuteblicos

―eivadas de maacute-feacute deslealdade dolo fraude favoritismo perseguiccedilatildeo comportamentos

e atos enfim incompatiacuteveis com o escorreito exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa 576

De forma que aquele que convive e aceita ―o nepotismo como uma praacutetica

comum e corriqueira na Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo se preocupando ―com a eticidade

que deve nortear a atuaccedilatildeo dos agentes puacuteblicos que se utilizam do poder577

a infringe

em seu cerne

Ainda mais se se observar que a moralidade administrativa ao fundamentar a

accedilatildeo popular e a accedilatildeo de improbidade concretamente obsta o nepotismo vez que

embasa a primeira na perquiriccedilatildeo da anulaccedilatildeo do ato que a lesa e lastreia a segunda a

viabilizar a responsabilizaccedilatildeo do agente que deu causa ao nepotismo sendo fundamento

juriacutedico suficiente para justificar a intervenccedilatildeo judicial ou para impedir a nomeaccedilatildeo ou

para invalidaacute-la578

permitindo dessa forma o controle judicial do nepotismo

574 ARAKAKI Allan Thiago Barbosa ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo

Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 abrjun

2011 p 103 575 Contudo ressalta-se que o Supremo Tribunal mesmo antes da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 jaacute proibia o

nepotismo por meio de dos artigos arts 355 sect 7ordm e 357 paraacutegrafo uacutenico do seu Regimento Interno de 1980 ―Art

355 () sect7deg Salvo se funcionaacuterio efetivo do Tribunal natildeo poderaacute ser nomeado para cargo em comissatildeo ou designado

para funccedilatildeo gratificada cocircnjuge ou parente (artigos 330 a 336 do Coacutedigo Civil) em linha reta ou colateral ateacute o

terceiro grau inclusive de qualquer dos Ministros em atividade () Art 357 () Paraacutegrafo uacutenico Natildeo pode ser

designado Assessor ou Auxiliar na forma deste artigo cocircnjuge ou parente (arts 330 a 336 do Coacutedigo Civil) em linha

reta ou colateral ateacute o terceiro grau inclusive de qualquer dos Ministros em atividade 576 CAMMAROSANO Maacutercio O princiacutepio constitucional da moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

Belo Horizonte Foacuterum 2006 p72 577 CORREcircA Gustavo Princiacutepio da Moralidade ou eticidade da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese ndash Direito

Administrativo v 6 n 66 jun 2011 p75 578 PIRES Luis Manuel Fonseca in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires

Mauriacutecio Zockun Renata Porto Adri (Coordenadores) Controle judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf suacutemula

vinculante do Supremo Tribunal Federal p 249

110

Assim a moralidade pelo ―vieacutes objetivo ―impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica o

dever de ser leal integra honesta e pelo ―vieacutes subjetivo ―impotildee ao agente puacuteblico o

dever de ser honesto de forma que faz com que o agente ―motivado por compadrio

ainda que ―a conduta pareccedila atender ao interesse puacuteblico579

arque com sua

responsabilidade

Mas a moralidade puacuteblica obsta o nepotismo natildeo apenas por a posteriori

fundamentar instrumentos processuais a inviabiliza-lo por sua anulaccedilatildeo e

responsabilizaccedilatildeo do agente mas antes por impedi-lo pois sua substacircncia dispotildee sobre

a conduta ideal do agente puacuteblico e por isto mesmo eacute densificada pelo conteuacutedo de

outros princiacutepios que regem a Administraccedilatildeo

Tendo em vista a relaccedilatildeo inversa e direta do princiacutepio da impessoalidade com o

nepotismo ele se destaca como o princiacutepio que prima pela neutralidade e

imparcialidade do agente e da Administraccedilatildeo e por isto mesmo quanto ao nepotismo

densifica o disposto pela moralidade puacuteblica580

jaacute que o nepotismo ato parcial de

caraacuteter particular que enseja o favorecimento de familiares de autoridade e servidores

puacuteblicos um grupo portanto seleto em detrimento dos demais cidadatildeos

transformando a maacutequina puacuteblica em negoacutecio de famiacutelia infringe tanto a

impessoalidade como enfim a moralidade puacuteblica581

Desta feita eacute viacutecio rechaccedilado como praacutetica antirrepublicana que desrespeita a

diretriz igualitaacuteria do Estado de Direito582

e fere os princiacutepios que regem a

579 MARTINS Ricardo Marcondes in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis Manuel

Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) Controle judicial do nepotismo para aleacutem da

13ordf suacutemula vinculante do Supremo Tribunal Federal p326 580 Conforme Luis Manuel Fonseca Pires ―() natildeo eacute suficiente a invocaccedilatildeo geneacuterica do princiacutepio da moralidade

administrativa para enfrentarmos a questatildeo do nepotismo () pois eacute preciso densificar () em razatildeo da vagueza e

larga amplitude que o signo proporciona () Nesse contexto a noccedilatildeo de funccedilatildeo puacuteblica () a densificar o princiacutepio

constitucional () de honestidade de transparecircncia e de impessoalidade in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade

Administrativa PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) Controle

judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante do Supremo Tribunal Federal p 242 e 244 581 De acordo com Gustavo Hermont Correcirca ldquoEacute notoacuteria a distorccedilatildeo dessa praacutetica com o princiacutepio da moralidade

administrativa jaacute que fere o senso comum imaginar que a Administraccedilatildeo Puacuteblica possa ser transformada em um

negoacutecio de famiacutelia visando favorecer interesses exclusivamente pessoais Princiacutepio da Moralidade ou eticidade da

Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese ndash Direito Administrativo v 6 n 66 jun 2011 p72 Conforme Ives Gandra

Martins ―A administraccedilatildeo puacuteblica tem que ser impessoal sem favorecimentos a quem quer que seja aplicando as

leis do paiacutes por igual a todos os cidadatildeos () Agrave evidecircncia natildeo se pode falar em impessoalidade sem falar em

moralidade eis que eacute esta que daacute a coloraccedilatildeo maior daquela tonando o administrador um justo servidor puacuteblico na

medida em que natildeo cria privileacutegios nem oferta tratamentos desisonocircmicos e preferenciais Os princiacutepios da

moralidade puacuteblica e da impessoalidade da administraccedilatildeo ndash necessidade de licitaccedilatildeo para contratar agecircncias de

publicidade ndash a funccedilatildeo constitucional da imprensa para preservaccedilatildeo do estado de direito Boletim de Direito

Administrativo ndash BDA Jan 92 p06 582 De acordo com Gustavo Correcirca ―() o nepotismo fere princiacutepios constitucionais expliacutecitos () e acima de tudo

fere a teleologia constitucional pois se preocupa () com interesses () familiares () afeta a todos () parte do

Estado Democraacutetico de Direito Princiacutepio da Moralidade ou eticidade da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese ndash

Direito Administrativo v 6 n 66 jun 2011 p 76

111

Administraccedilatildeo em especial o da impessoalidade o da finalidade e o da eficiecircncia vez

que seus efeitos tecircm ampla dimensatildeo infratora pois o agente ao praticar o ato revela

um ―injustificaacutevel tratamento diferenciado dos administrados viola os mais diversos

fundamentos eacuteticos-normativos e por isto transgride o princiacutepio da moralidade

administrativa ―densificado a partir dos standards de conduta colhidos no ambiente

institucional e inerentes ao bom administrador583

ao transformar a Administraccedilatildeo

Puacuteblica em um negoacutecio de famiacutelia584

Diante disso constata-se que o STF extraiu elementos tanto da noccedilatildeo de

nepotismo criada a partir da evoluccedilatildeo administrativopoliacutetica brasileira como da noccedilatildeo

juriacutedica de nepotismo vez que as poucas e raras vezes que os Ministros do STF se

voltaram especificamente agrave noccedilatildeo de nepotismo remontaram ao seu histoacuterico a ser uma

heranccedila portuguesa e um viacutecio que se destaca dos demais por ser favorecimento

familiar conforme se verifica por seus votos nos precedentes da SV585

Todavia como foi visto o STF ao elaborar a Suacutemula natildeo seguiu tambeacutem a

maioria das noccedilotildees expostas pelo magisteacuterio doutrinaacuterio sendo a noccedilatildeo expressa no

corpo textual da SV uma noccedilatildeo nova diacutespar das demais o que tambeacutem demonstra que

o STF natildeo deveria ter sumulado a noccedilatildeo de nepotismo mas apenas sua vedaccedilatildeo a partir

dos princiacutepios do artigo 37 da Constituiccedilatildeo Federal jaacute que este foi o fundamento

recorrente e uniacutessono presente nos precedentes da Suacutemula

Essa nova noccedilatildeo quanto ao nepotismo e sua vedaccedilatildeo construiacuteda pelo STF

partiu das noccedilotildees jaacute existentes mas natildeo guarda compatibilidade com elas pois abarca

como elementos a um o agente infrator a autoridade e o servidor ocupante de cargo

comissionado a dois como parente o familiar ateacute de terceiro grau por afinidade a trecircs

como acircmbito da vedaccedilatildeo a pessoa juriacutedica a quatro a vedaccedilatildeo natildeo apenas aos cargos

comissionados mas ateacute as funccedilotildees de confianccedila proacuteprias dos servidores efetivos

Por fim observa-se que a Suacutemula Vinculante n 13 natildeo abarcou todos os casos

de privilegiamento de nepotismo contraacuterios agrave moralidade puacuteblica vez que foi exclui de

583 GARCIA Emerson O nepotismo Boletim de Direito Administrativo ndash BDA junho 2003 p 462 584 Assim tal conduta - que espelha o domiacutenio familiar do poder puacuteblico e transforma a maacutequina administrativa em

negoacutecio privado parental - macula a Administraccedilatildeo Puacuteblica e fere seus princiacutepios a comeccedilar pelo da moralidade

densificado pelos estandartes da impessoalidade da eficiecircncia e da finalidade que guiam e orientam ―os

administradores na praacutetica dos atos administrativos de sua competecircncia a fim de ―assegurar uma boa correta

eficiente e honesta administraccedilatildeo puacuteblica PACHECO Joseacute da Silva Da extinccedilatildeo do nepotismo na administraccedilatildeo

puacuteblica e da Suacutemula vinculante do STF para agilizar a eficaacutecia de normas que envolvam mateacuteria constitucional

Revista da Academia Brasileira de Letras Juriacutedicas vol 25 n 34 janjun 2009 p 102 585 Jaacute expostos no capiacutetulo 1 deste trabalho

112

seu acircmbito a aplicaccedilatildeo da vedaccedilatildeo agrave indicaccedilatildeo do parente da autoridade ao cargo

poliacutetico e tambeacutem natildeo levantou qualquer questionamento quanto agrave situaccedilatildeo das

primeiras-damas ambos vistos como nepotismo em perspectiva da moralidade puacuteblica

Diante do exposto conclui-se que eacute incontestaacutevel a necessidade de se vedar o

nepotismo expressamente e de maneira uniforme em todos os poderes de todos os entes

federados Mas o STF o fez por meacutetodos teacutecnicas e argumentaccedilotildees apropriadas

conforme a hermenecircutica juriacutedica e em especial a constitucional Esta eacute a problemaacutetica

que seraacute tratada no proacuteximo capiacutetulo a partir de teses doutrinarias de autores que

enfocam a dinacircmica de decidir do magistrado

113

3 HERMENEUTICA E PODER NORMATIVO COMO OS MAGISTRADOS

DECIDEM E COMO DEVERIAM DECIDIR

O objetivo desse capiacutetulo eacute apreciar a atividade interpretativa do magistrado586

subdividida em trecircs toacutepicos um referente agrave maneira como eles decidem conforme as

elucidaccedilotildees de Hans Kelsen Alf Ross e Eros Grau o outro pertinente agrave forma como

deveriam decidir segundo os meacutetodos e criteacuterios hermenecircuticos de controlabilidade do

processo decisoacuterio judicial propostos por Friedrich Karl Von Savigny Chaiumlm Perelman

Karl Larenz e Inocecircncio Maacutertires Coelho e um terceiro atinente agrave interpretaccedilatildeo dos

princiacutepios de acordo com a norma constitucional em conformidade com as liccedilotildees de

Inocecircncio Maacutertires Coelho Ronald Dworkin Robert Alexy Humberto Aacutevila Marcelo

Neves e Karl Larenz

31 Hermenecircutica Juriacutedica e a aplicaccedilatildeo judicial

311 Como os magistrados decidem

3111 Hans Kelsen

Segundo Kelsen a interpretaccedilatildeo eacute uma ―operaccedilatildeo mental que eacute utilizada no

decorrer de todo o procedimento de ―aplicaccedilatildeo do Direito587

tendo como objeto as

normas juriacutedicas588

e dentre elas a constitucional589

Nesse enredo afirma que existem duas espeacutecies de interpretaccedilatildeo sendo uma

―autecircntica a realizada pelo oacutergatildeo aplicador do Direito por meio da qual este cria

direito outra ―natildeo-autecircntica que eacute feita pela ciecircncia juriacutedica e se voltando agrave

interpretaccedilatildeo autecircntica explica que ― todo o ato juriacutedico em que o Direito eacute aplicado

seja ele de ―criaccedilatildeo juriacutedica590

ou natildeo eacute ―em parte determinado pelo Direito e em

parte indeterminado seja pelas disposiccedilotildees faacuteticas ou pela proacutepria ―intenccedilatildeo do

oacutergatildeo que estabeleceu a norma a aplicar591

Da ―expressatildeo verbal da norma se extrai uma diversidade de ―significaccedilotildees

possiacuteveis592

do que resulta que a interpretaccedilatildeo juriacutedica eacute a ―fixaccedilatildeo da moldura que

586 O STF utilizou de teacutecnicas e meacutetodos pertinentes agrave hermenecircutica juriacutedica especialmente a constitucional tanto

para julgar os precedentes quanto para construir a noccedilatildeo judicial de nepotismo 587 KELSEN Hans Teoria Pura do Direito 8ordf ed Trad Joatildeo Baptista Machado Satildeo Paulo WMF Martins Fontes

2009 p 387 ―() no seu progredir de um escalatildeo superior para um escalatildeo inferior 588 Kelsen afirma que devem ser interpretadas ―() todas as normas juriacutedicas na medida em que hajam de ser

aplicadas Ibidem p 387 589 ―() haacute tambeacutem uma interpretaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo na medida em que de igual modo se trata de aplicar esta

()Ibidem p 387 590Ibidem p 388 591 Ibidem p 389 592 Ibidem p 389

114

representa o Direito a interpretar593

e de que haacute diversas possibilidades interpretativas

no acircmbito desta ―moldura kelsiana onde a norma individual continua o processo de

determinaccedilatildeo da norma geral da qual decorre594

tanto que de uma norma geral

transcorrem diversas normas individuais

Por isto a interpretaccedilatildeo de uma lei natildeo conduz ―a uma uacutenica soluccedilatildeo como

sendo a uacutenica correta mas possivelmente a vaacuterias soluccedilotildees595

dentre as quais uma se

tornaraacute a decisatildeo judicial do caso596

Kelsen dispotildee ainda que natildeo haacute ―qualquer meacutetodo de ―Direito positivo que

possibilite a escolha de apenas uma significaccedilatildeo agrave norma como ―a correta597

e que a

eleiccedilatildeo de uma das soluccedilotildees possiacuteveis eacute ―um problema de poliacutetica do Direito598

de

maneira que o oacutergatildeo aplicador do direito ao aplicaacute-lo realiza uma operaccedilatildeo de

conhecimento do Direito a ser empregado conjugada com um ―ato de vontade 599

ndash

provenientes da moral da justiccedila e dos ―juiacutezos de valor sociais dentre outras ndash por

meio do qual escolhe um significado agrave norma entre as vaacuterias possibilidades Deste ato

de vontade eacute que decorre a interpretaccedilatildeo juriacutedica ndash designada por Kelsen como

interpretaccedilatildeo autecircntica que pode ser executada apenas pelo oacutergatildeo aplicador do

Direito600

o qual eacute capaz de criar direito601

Assim a produccedilatildeo do ato juriacutedico pelo oacutergatildeo aplicador do Direito no acircmbito

da moldura de uma determinada norma juriacutedica eacute livre pois ―realiza-se segundo a livre

593 KELSEN Hans Teoria Pura do Direito 8ordf ed Trad Joatildeo Baptista Machado Satildeo Paulo WMF Martins Fontes

2009 p 390 594 Ibidem p 389 ―() que constitui o sentido da seriaccedilatildeo escalonada ou gradual das normas juriacutedicas 595Ibidem p 390 ―O Direito a aplicar forma em todas estas hipoacuteteses uma moldura dentro da qual existem vaacuterias

possibilidades de aplicaccedilatildeo pelo que eacute conforme ao Direito todo ato que se mantenha dentro deste quadro ou

moldura que preencha esta moldura em qualquer sentido possiacutevel p 390 596 Diante disto observa-se que uma decisatildeo judicial que eacute uma norma juriacutedica de natureza individual eacute realizada a

partir da lei dentro da moldura de Direito e eacute apenas uma das vaacuterias normas individuais que podem decorrer da

norma geral inovando a ordem juriacutedica e criando um novo direito 597KELSEN Op cit p 391 ―Todos os meacutetodos de interpretaccedilatildeo ateacute ao presente elaborados conduzem sempre a um

resultado apenas possiacutevel nunca a um resultado que seja o uacutenico correto Ibidemp 392 598 ―() a questatildeo de saber qual eacute dentre as possibilidades aquela que se apresenta nos quadros do Direito a aplicar a

correta natildeo eacute sequer uma questatildeo de conhecimento dirigido ao Direito positivo natildeo eacute um problema de teoria do

Direito mas um problema de poliacutetica do Direito A tarefa que consiste em obter a partir da lei a uacutenica sentenccedila justa

(certa) ou o uacutenico ato administrativo correto eacute no essencial idecircntica agrave tarefa de quem se proponha nos quadros da

Constituiccedilatildeo criar as uacutenicas leis justas (certas) Assim como da Constituiccedilatildeo atraveacutes da interpretaccedilatildeo natildeo podemos

extrair as uacutenicas leis corretas tampouco podemos a partir da lei por interpretaccedilatildeo obter as uacutenicas sentenccedilas

corretas Ibidem p 393 599 Ibidem p 394 600 Para Kelsen a aplicaccedilatildeo do direito eacute simultaneamente sua produccedilatildeo 601 ―Atraveacutes de uma interpretaccedilatildeo autecircntica deste tipo pode criar-se Direito natildeo soacute no caso em que a interpretaccedilatildeo

tem caraacuteter geral em que portanto existe interpretaccedilatildeo autecircntica no sentido usual da palavra mas tambeacutem no caso

em que eacute produzida uma norma juriacutedica individual atraveacutes de um oacutergatildeo aplicador do Direito desde que o ato deste

oacutergatildeo jaacute natildeo possa ser anulado desde que ele tenha transitado em julgado Eacute fato bem conhecido que pela via da

interpretaccedilatildeo autecircntica deste tipo eacute muitas vezes criado direito novo ndash especialmente pelos tribunais de uacuteltima

instacircncia KELSEN Op cit p 394-395

115

apreciaccedilatildeo do oacutergatildeo chamado a produzir o ato602

dentro da moldura kelsiana uma vez

que no seu acircmbito o magistrado atua como cocriador e pode quase tudo tendo que

observar apenas a moldura da norma geral

E eacute esta liberdade na produccedilatildeo do ato que pode criar direito que diferencia a

interpretaccedilatildeo autecircntica de todas as outras formas de interpretaccedilatildeo603

inclusive da natildeo

autecircntica realizada pela ciecircncia juriacutedica604

que soacute aponta ―as possiacuteveis significaccedilotildees de

uma norma juriacutedica605

Desta forma Kelsen entende que a decisatildeo quanto agrave eleiccedilatildeo de uma

interpretaccedilatildeo dentre as vaacuterias significaccedilotildees compete ao oacutergatildeo aplicador do Direito606

pois natildeo haacute uma uacutenica correta o que possibilita que o tribunal decida como bem

entender a seu criteacuterio

E nesse diapasatildeo ressalta um ponto imprescindiacutevel a refletir quanto ao

presente trabalho ao afirmar que aquele que observa apenas uma interpretaccedilatildeo como a

correta estaacute agindo em uma funccedilatildeo juriacutedico-poliacutetica607

Outra liccedilatildeo de Kelsen - de que a aplicaccedilatildeo de ―uma interpretaccedilatildeo estritamente

cientiacutefica pode revelar ―todas as significaccedilotildees possiacuteveis estabelecidas na ―foacutermula

verbal () escolhida da norma inclusive as ―politicamente indesejaacuteveis ndash tambeacutem

merece ser observada ao se refletir sobre a decisatildeo do STF608

3112 Alf Ross

Alf Ross propotildee a teoria do ―meacutetodo juriacutedico de interpretaccedilatildeo como forma de

explicar a atividade do magistrado ao aplicar ―o direito formulado verificando

analiacutetica e descritivamente a partir daiacute com base na ―praacutetica dos tribunais quais ―os

602 KELSEN Hans Teoria Pura do Direito 8ordf ed Trad Joatildeo Baptista Machado Satildeo Paulo WMF Martins Fontes

2009 p 393 603 Ibidem p 394 ―Atraveacutes desse ato de vontade se distingue a interpretaccedilatildeo juriacutedica feita pelo oacutergatildeo aplicador do

Direito A interpretaccedilatildeo feita pela ciecircncia juriacutedica eacute aquela que natildeo eacute feita pelo juiz mas pelos demais 604 A interpretaccedilatildeo feita pela ciecircncia juriacutedica eacute aquela que natildeo eacute feita pelos magistrados mas pelos demais 605 Ibidem p 395 Segundo Kelsen a interpretaccedilatildeo feita pela ciecircncia juriacutedica natildeo deve afirmar que uma norma

juriacutedica permite somente uma interpretaccedilatildeo para ―todos os casos uma vez que pela pluralidade dos significados das

normas juriacutedicas este ideal que a ―jurisprudecircncia tradicional utiliza ―para consolidar o ideal de seguranccedila juriacutedica

―somente eacute realizaacutevel aproximativamente p 396 606 Ibidem p 396 607 Ibidem p 396 Em suas palavras ―Natildeo se pretende negar que esta ficccedilatildeo da univocidade das normas juriacutedicas

vista de uma certa posiccedilatildeo poliacutetica pode ter grandes vantagens Mas nenhuma vantagem poliacutetica pode justificar que

se faccedila uso desta ficccedilatildeo numa exposiccedilatildeo cientifica do Direito positivo proclamando como uacutenica correta de um ponto

de vista cientiacutefico objetivo uma interpretaccedilatildeo que de um ponto de vista poliacutetico subjetivo eacute mais desejaacutevel do que

em uma outra igualmente possiacutevel do ponto de vista loacutegico Neste caso com efeito apresenta-se falsamente como

uma verdade cientiacutefica aquilo que eacute tatildeo somente um juiacutezo de valor poliacutetico p 396 608 Ibidem p 396 Em suas palavras ―() pode ter um efeito praacutetico que supere de longe a vantagem poliacutetica da

ficccedilatildeo do sentido uacutenico Eacute que a uma tal interpretaccedilatildeo cientifica pode mostrar agrave autoridade legisladora quatildeo longe

estaacute a sua obra de satisfazer agrave exigecircncia teacutecnico-juriacutedica de uma formulaccedilatildeo de normas juriacutedicas o mais possiacutevel

inequiacutevocas ou pelo menos de uma formulaccedilatildeo feita por maneira tal que a inevitaacutevel pluralidade de significaccedilotildees

seja reduzida a um miacutenimo e assim se obtenha o maior grau possiacutevel de seguranccedila juriacutedica Idem p 396-397

116

princiacutepios ou regras que realmente os norteiam no tracircnsito da regra geral agrave decisatildeo

particular609

De acordo com seu entendimento pela ideologia do meacutetodo pode-se ―no

maacuteximo obter ―um estilo de meacutetodo ou estilo de interpretaccedilatildeo610

E ao dividir o

estudo em duas partes uma doutrinaacuteria e outra de teoria geral afirma que primeira parte

eacute da ciecircncia do direito destinada a averiguar ―o meacutetodo seguido pelos tribunais num

ordenamento juriacutedico especiacutefico e a segunda eacute aquela que611

tambeacutem explica os

―estilos de meacutetodo e interpretaccedilatildeo que realmente ocorrem612

Nesse diapasatildeo613

passa a analisar a teoria geral do meacutetodo tendo como base o

sistema que vige no Brasil de que toda interpretaccedilatildeo do direito legislado principia com

um texto isto eacute uma foacutermula linguiacutestica escrita614

e que por uma fundamentaccedilatildeo

semacircntica se deve observar as palavras e as frases formadas por elas dentro de um

contexto jaacute que este contexto eacute que de acordo com Ross demonstra como ―a palavra

tem sido usada em cada caso individual615

e que por meio da constataccedilatildeo dos diversos

significados razoaacuteveis616

dados agrave palavra se observa o seu ―campo de referecircncia

correspondente617

e dentre eles o significado ―mais provaacutevel618

de forma que pela

interpretaccedilatildeo se busca o ―significado da expressatildeo619

609 ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 p 136 Natildeo tendo a mesma precisatildeo de

uma ideologia das fontes do direito especialmente no que diz respeito agrave ―interpretaccedilatildeo do direito legislado E assim

afirma que a ―doutrina do meacutetodo para efetivamente nortear a interpretaccedilatildeo deve visar a anaacutelise descritiva de ―como

se comportam de fato os tribunais na aplicaccedilatildeo do direito vigente a situaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 137 610 Ibidem p 136 611 Aleacutem explicitar os fatos que levam aos problemas dos meacutetodos 612 Ibidem p 137 Elucida que os problemas dos meacutetodos satildeo diversos de acordo com o sistema juriacutedico adotado e

que por isso os que satildeo observados no sistema inglecircs ―no qual os precedentes (jurisprudecircncia) constituem a fonte

predominante do direito natildeo satildeo os mesmos que os de ―um sistema em que a legislaccedilatildeo eacute a fonte principal pois

enquanto no primeiro o ―problema do meacutetodo consiste em como extrair uma regra geral dos precedentes existentes e

aplicaacute-la ao caso a ser decidido no segundo ―a atenccedilatildeo se concentra aqui na relaccedilatildeo existente entre uma dada

formulaccedilatildeo linguiacutestica e um complexo especiacutefico de fatos p 138 A elaboraccedilatildeo da Suacutemula Vinculante eacute realizada

com base em precedentes ou seja na forma do sistema inglecircs ndash de precedentes jaacute que eacute a anaacutelise dos julgados

qualificados como precedentes que subsidiaraacute a construccedilatildeo da Suacutemula Vinculante 613 Lembrando que no sistema de precedentes a ―regra geral frequentemente se modifica ―durante o curso do

desenvolvimento de um caso para outro Ibidem p 138 Por isso afirma () haver continuidade ou alteraccedilatildeo

dependeraacute do juiz ao examinar as semelhanccedilas e as diferenccedilas entre o caso presente e o precedente () ou em outras

palavras decidir que eacute mister introduzir uma distinccedilatildeo com o auxiacutelio de outros conceitos Neste uacuteltimo caso a regra

geral adquiriu um conteuacutedo distinto No comeccedilo de uma linha de precedentes a regra geral pressuposta teraacute de

ordinaacuterio um conteuacutedo muito pouco definido Uma doutrina natildeo foi ainda cristalizada Por isso a tarefa que tem

diante de si o juiz natildeo consiste tanto em aplicar uma regra geral a um caso especiacutefico mas em decidir se o caso difere

do precedente de tal maneira que existam fundamentos para chegar a uma decisatildeo distinta O raciociacutenio juriacutedico

(meacutetodo juriacutedico) num sistema como esse eacute raciociacutenio por via de exemplos e a teacutecnica de argumentaccedilatildeo exigida por

esse meacutetodo visa a mostrar as semelhanccedilas e diferenccedilas exibidas pelos casos e asseverar que as diferenccedilas satildeo ou natildeo

satildeo relevantes Ibidem p 138 614 Ibidem p 139 615 Ibidem p 141 616 Ibidem p 143 Contudo parece que natildeo foi isso que o STF fez 617 ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 p 141 Parece que natildeo foi o que o STF

fez 618 Ibidem p 144 ―() que pode ser aceito conforme as circunstacircncias como contexto e situaccedilatildeo O contexto se

estende ateacute onde se possa supor que uma expressatildeo foi formulada tendo outra em mente () abrange todos os fatos e

117

Ainda diferencia a interpretaccedilatildeo subjetiva da objetiva afirmando que pela

primeira620

se toma ―em consideraccedilatildeo natildeo apenas a expressatildeo linguiacutestica como tambeacutem

todos os outros relevantes o contexto e a situaccedilatildeo621

e pela segunda622

se ―restringe os

dados aos discerniacuteveis pelo destinataacuterio na situaccedilatildeo em que ele se acha ao apreender a

expressatildeo sendo portanto divergentes natildeo quanto ao ―propoacutesito da interpretaccedilatildeo623

mas quanto ao que consideram ao interpretar

Nesse ensejo discorre sobre os problemas da interpretaccedilatildeo iniciando pelos

concernentes a sintaxe624

e em seguida os loacutegicos625

dentre os quais se destaca a

inconsistecircncia626

que podem ser resolvidos de algumas formas627

e tambeacutem pelos

―princiacutepios de peso relativo que gravitam em torno da interpretaccedilatildeo ao lado de outras

consideraccedilotildees a propiciar que a lei ―esteja de acordo com o senso comum com a

consciecircncia juriacutedica popular ou com os objetivos sociais supostos628

Daiacute aponta os problemas semacircnticos de interpretaccedilatildeo que concernem ao

significado das palavras individuais ou das frases629

e nessa toada ao considerar que

nenhum ―texto pode ser tatildeo claro a ponto de ser impossiacutevel que suscite duacutevidas quanto agrave

sua interpretaccedilatildeo apresenta uma teoria sobre meacutetodos de interpretaccedilatildeolsquo por meio dos

quais os magistrados buscam solucionar ―esses problemas na administraccedilatildeo da

circunstacircncias que podem indicar qual era ()razatildeo provaacutevel () toda a situaccedilatildeo fatual fiacutesica e social de vida que

condicionou a expressatildeo Ibidem p 144-145 Parece que natildeo foi o que o STF fez 619 Seja pelo todo pois ―somente o contexto e o desejo de descobrir um significado bom ou razoaacutevel em relaccedilatildeo a

uma dada situaccedilatildeo determinam o significado das palavras individuais ou pelo proacuteprio ―contexto e da situaccedilatildeo em

que a expressatildeo eacute formulada onde a ―conexatildeo externa da expressatildeo natildeo eacute dada de modo imediato associada a esta

de forma que em ambos ―o contexto eacute codeterminativo Ibidem p 146 620 Natildeo eacute como muitos acham a interpretaccedilatildeo que ―visa a descobrir o significado que se buscou expressar Ibidem

p 149 621 ―O propoacutesito declarado e o propoacutesito presumido Ibidem p 149-150 622 Natildeo eacute a que ―visa estabelecer o significado comunicado Ibidem p 149 623 Ibidem p 150 624 Que se referem agrave ligaccedilatildeo entre as palavras ―na estrutura da frase e cuja soluccedilatildeo eacute a descoberta do ―significado

bom ou razoaacutevelrdquo Ibidem p 151 625 Que se referem ―agraves relaccedilotildees de uma expressatildeo com outras expressotildees dentro de um contexto Ibidem p 157 626 ―Existe inconsistecircncia entre duas normas quando satildeo imputados efeitos juriacutedicos incompatiacuteveis agraves mesmas

condiccedilotildees fatuais e isto pode ocorrer de ―trecircs maneiras distintas ia) Inconsistecircncia total-total () quando nenhuma

das normas pode ser aplicada sob circunstacircncia alguma sem entrar em conflito com a outra () 2a) Inconsistecircncia

total-parcial () quando uma das duas normas natildeo pode ser aplicada sob nenhuma circunstacircncia sem entrar em

conflito com a outra enquanto esta tem um campo adicional de aplicaccedilatildeo no qual natildeo entra em conflito com a

primeira Ibidem p 158-162 627 Pela aplicaccedilatildeo das regras de vigecircncia da lei especial da lei posterior e superior ―Pensa-se frequentemente que

quando se trata da relaccedilatildeo entre leis diferentes as inconsistecircncias podem ser resolvidas mediante duas simples regras

convencionais de interpretaccedilatildeo Lex posterior significa que de duas leis do mesmo niacutevel a segunda prevalece sobre a

anterior e () soacute se aplica na medida em que em termos subjetivos o legislador teve a intenccedilatildeo de substituir a lei

mais antiga (anterior) Entretanto pode tambeacutem ter tido a intenccedilatildeo de que a nova regra se incorporasse

harmoniosamente ao direito existente como um suplemento dele () Lex superior quer dizer que num conflito entre

previsotildees legislativas de niacutevel diferente a lei de niacutevel mais elevado qualquer que seja a ordem cronoloacutegica se acharaacute

numa situaccedilatildeo de preferecircncia relativamente a de niacutevel mais baixordquo Ibidem p 158-162 628 Ibidem p 163-164 629Sendo sua soluccedilatildeo a interpretaccedilatildeo da ―expressatildeo como um todo com seu contexto pois ―o problema do

significado das palavras individuais estaacute sempre unido a esse conceito ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson

Bini BauruSP Edipro 2000 p 164

118

justiccedila630

e afirma que o problema que deve ser enfrentado eacute o referente a como o

magistrado na praacutetica realiza a interpretaccedilatildeo

Diz que a soluccedilatildeo eacute analiacutetico-descritiva e que por isso a atividade do juiz - ―de

interpretar e aplicar a lei a um caso especiacutefico - ―eacute um problema praacutetico e que a sua

decisatildeo - aleacutem de ser fundada em ―processos cognitivos por sua proacutepria natureza -

tambeacutem configura ―um ato de vontade631

E assim ao se posicionar contrariamente agraves

teorias positivistas-mecanicistas632

assevera que o juiz ao decidir faz uma escolha

embasada natildeo apenas em um processo cognoscitivo mas tambeacutem em uma

―valoraccedilatildeo633

sendo ―sua interpretaccedilatildeo da lei (num sentido mais amplo) ―um ato de

natureza construtiva e natildeo ―de puro conhecimento uma vez que ―seus motivos natildeo se

reduzem ao desejo de acatar uma determinada diretiva634

E assevera que ―a tarefa de administrar justiccedila eacute muito maior que o ato de

―interpretar a lei vez que o juiz eacute agente que realiza funccedilatildeo criadora que ao decidir

utiliza sua percepccedilatildeo quanto aos ―valores juriacutedicos e assim transcende ―o respeito

pelo texto da lei e ateacute ―deixa o texto da lei de lado embora natildeo admita635

Dessa forma a decisatildeo judicial eacute ato de ―administraccedilatildeo do direito e natildeo ato

interpretativo ―de mera atividade intelectual mas construtivo realizado por meio de

um processo onde se observa concomitantemente ―a funccedilatildeo valorativa e a

cognoscitiva636

que se fundem na praacutetica ao envolverem ―conhecimento e valoraccedilatildeo

passividade e atividade637

Nesse enredo ressalta que ―administraccedilatildeo da justiccedila apresenta niacutetida

dualidade jaacute que se por um lado haacute uma ―atividade puramente cognoscitiva por outro

haacute ―uma atividade emotivo-volitiva fundada em valoraccedilotildees sociais e em observaccedilotildees

630Ibidem p 165 631 Ibidem p 166 632 Segundo Ross esta teoria eacute equivocada e que para se perceber o disposto ―basta assinalar que a interpretaccedilatildeo - no

sentido de determinaccedilatildeo do significado como fato empiacuterico amiuacutede natildeo conduz a qualquer resultado certo () Idem

p 167 633 ―O juiz eacute um ser humano Por traacutes da decisatildeo tomada encontra-se toda sua personalidade Mesmo quando a

obediecircncia ao direito (a consciecircncia juriacutedica formal) esteja profundamente enraizada na mente do juiz como postura

moral e profissional ver nesta o uacutenico fator ou moacutevel eacute aceitar uma ficccedilatildeo O juiz natildeo eacute um autocircmato que de forma

mecacircnica transforma regras e fatos em decisotildees Eacute um ser humano que presta cuidadosa atenccedilatildeo em sua tarefa social

tomando decisotildees que sente ser corretas de acordo com o espiacuterito da tradiccedilatildeo juriacutedica e cultural Seu respeito pela lei

natildeo eacute absoluto A obediecircncia a esta natildeo constitui o uacutenico motivo Aos seus olhos a lei natildeo eacute uma foacutermula maacutegica mas

uma manifestaccedilatildeo dos ideais posturas padrotildees ou valoraccedilotildees que denominamos tradiccedilatildeo cultural()rdquo Ibidem p

168 634 Ibidem p 167 635 Ibidem p 169 636 ―() o juiz natildeo pode deixar de cumprir sua tarefa Tem que escolher e esta escolha teraacute sua origem qualquer que

seja seu conteuacutedo numa valoraccedilatildeo Sua interpretaccedilatildeo da lei (num sentido mais amplo) eacute nessa medida um ato de

natureza construtiva natildeo um ato de puro conhecimento Seus motivos natildeo se reduzem ao desejo de acatar uma

determinada diretiva ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 p 167 637 Ibidem p 169

119

socioloacutegico-juriacutedicas638

e que a diferenciaccedilatildeo quanto agrave forma de administrar esta

justiccedila ou este direito estaacute ancorada no estilo da interpretaccedilatildeo - administraccedilatildeo da justiccedila

- que varia a uma de acordo com os ―fatores e dados que convencionalmente satildeo

levados em consideraccedilatildeo a duas com o ―grau de liberdade do juiz podendo haver

portanto uma ―interpretaccedilatildeo (relativamente) livre diferenciada natildeo ― tanto no grau de

liberdade de que goza o juiz mas ―na franqueza com que essa liberdade eacute

reconhecida639

e a trecircs em conformidade com a ―amplitude em que se tomam em

consideraccedilatildeo elementos de juiacutezo alheios agraves palavras da lei por interpretaccedilatildeo subjetiva

ou objetiva640

De forma que a ―atitude do juiz em relaccedilatildeo agrave lei seraacute sempre influenciada por

uma seacuterie de fatores produtos da situaccedilatildeo e pela conexatildeo entre a lei e o resto do

direito641

e quanto maior a liberdade maior a possibilidade de o juiz ―desconsiderar as

claras manifestaccedilotildees que aparecem nos antecedentes legislativos642

e utilizar ―os

fatores pragmaacuteticos na administraccedilatildeo da justiccedila643

realizando uma ―interpretaccedilatildeo

pragmaacutetica que busca ldquoapoio para o resultado desejado onde quer que possa encontraacute-

lo644

seja pela interpretaccedilatildeo especificadora (quando as consideraccedilotildees pragmaacuteticas satildeo

decisivas para a eleiccedilatildeo entre vaacuterias interpretaccedilotildees todas elas possiacuteveis e razoaacuteveis

dentro do significado linguiacutestico do texto)645

restritiva (quando ao recorrer ao propoacutesito

provaacutevel da lei as consideraccedilotildees pragmaacuteticas excluem a aplicaccedilatildeo de uma regra que

segundo o sentido linguiacutestico do texto seria aplicaacutevel ou extensiva (quando as

consideraccedilotildees pragmaacuteticas se traduzem na aplicaccedilatildeo da regra a situaccedilotildees que

638 Ibidem p 170 E assim afirma que ―toda interpretaccedilatildeo juriacutedica em sentido proacuteprio inclui presunccedilotildees que tangem

aos criteacuterios e valores sociais que motivaram o legislador Ibidem p170 639 Ibidem p 171 No caso do STF haveria entatildeo uma ampla liberdade tanto em grau como em reconhecimento 640 Ibidem p 172 Segundo o autor a ―interpretaccedilatildeo objetiva rejeita certos dados de interpretaccedilatildeo (os antecedentes da

lei) e se ateacutem exclusivamente ao proacuteprio texto conduziraacute frequentemente a resultados menos precisos que a

interpretaccedilatildeo subjetiva deixando assim maior raio de alcance para a liberdade do juiz Num certo sentido

consequentemente a interpretaccedilatildeo objetiva eacute mais subjetiva do que a subjetiva Ibidem p 172 641 ―() inconcebiacutevel um estilo de interpretaccedilatildeo completamente objetivo no sentido de que se funde exclusivamente

nas palavras da lei Ibidem p 172 ―Jamais seraacute possiacutevel evitar levar em consideraccedilatildeo que o texto que tem diante de

seus olhos natildeo eacute uma peccedila de ficccedilatildeo nem um artigo cientiacutefico mais precisamente uma lei isto eacute um instrumento de

direccedilatildeo poliacutetica que nasce do seio de interesses e ideias conflitantes e que aponta para certos objetivos sociais

Ibidem p 172 642 Ibidem p 182 Em parte parece que foi isto o que o STF fez ao considerar ao final apenas a Resoluccedilatildeo n 72005

do CNJ e as manifestaccedilotildees quanto agrave mesma no julgado da ADC n12 da qual foi objeto como ―antecedentes da SV

n13 643 E explica que ―Este tipo de raciociacutenio eacute o que estamos habituados a chamar de argumentos baseados em

consideraccedilotildees praacuteticas (razatildeo) ()A interpretaccedilatildeo pragmaacutetica pode considerar natildeo soacute os efeitos sociais previsiacuteveis

como tambeacutem a teacutecnica da interpretaccedilatildeo e sua concordacircncia com o sistema juriacutedico e as ideias culturais que servem

de base a esse sistema () eacute a integraccedilatildeo de uma multiplicidade de valoraccedilotildees e o propoacutesito da lei indica somente

uma consideraccedilatildeo uacutenica dentro dessa multiplicidade Ibidem p 176-177 644 Ibidem p 182 645 ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 p 178

120

contempladas agrave luz do sentido linguiacutestico natural se encontram claramente fora de seu

campo de referecircncia)646

mas com ―caraacuteter construtivo647

raramente assumido648

Mas que tal decisatildeo natildeo tem qualquer debilidade ao contraacuterio que representa

a ―verdade fundamental de que as maacuteximas de interpretaccedilatildeo satildeo ―implementos de uma

teacutecnica que () habilita o juiz a atingir a conclusatildeo que julga desejaacutevel nas

circunstacircncias e concomitantemente ―reserva a ficccedilatildeo de que soacute estaacute obedecendo a lei

e os princiacutepios objetivos de interpretaccedilatildeo649

e assim administram a justiccedila em ―uma

atividade poliacutetico-juriacutedica650

de forma que os ―meacutetodos de interpretaccedilatildeo apenas

estabelecem ―limites agrave liberdade do juiz na administraccedilatildeo da justiccedila determinando a

aacuterea de soluccedilotildees justificaacuteveis651

Assim Alf Ross pelo meacutetodo juriacutedico proposto traduz os ―argumentos

teacutecnicos utilizados pelos magistrados como razotildees presentes ―na sua consciecircncia

juriacutedica652

fundada nas normas e tambeacutem nas ―exigecircncias sociais e por consideraccedilotildees

socioloacutegico juriacutedicas653

traduzem sua consciecircncia juriacutedica material presente em todas

as suas decisotildees judiciais654

3113 Eros Grau

Segundo o autor a atividade de interpretar o direito eacute vista como a

―compreensatildeo do significado das normas juriacutedicas seja pela identificaccedilatildeo ou pela

determinaccedilatildeo do significado da norma Dessa forma observada pelo prisma do ato de

646 Ibidem p 179 Como quando haacute ―as condiccedilotildees para o uso da analogia estatildeo reunidas p 182-183 Diante disto

seria possiacutevel vislumbrar que os ministros do STF ao construiacuterem a SV n13 estabeleceram os significados das

palavras com base em tais interpretaccedilotildees 647 Ibidem p 182 Assim a palavra final eacute do uacuteltimo inteacuterprete da lei o uacuteltimo juiz ou tribunal a apreciar o caso

Nesse enredo o que se pode avaliar eacute que o STF como tribunal maacuteximo do Brasil tem a liberdade para decidir em

grau e em reconhecimento e que eacute quanto aos precedentes da Suacutemula Vinculante o uacuteltimo interprete e quanto agrave sua

ediccedilatildeo seu uacutenico inteacuterprete 648 Ibidem p 181 ―() o segredo dessa teacutecnica de argumentaccedilatildeo consiste em natildeo haver criteacuterio que indique qual

regra de interpretaccedilatildeo deveraacute ser empregada () Numa certa medida a escolha pode ser motivada pelos dados da

interpretaccedilatildeo () Essas teacutecnicas de argumentaccedilatildeo satildeo recursos integrantes do equipamento de todo jurista

experimentado Ele tem que saber como justificar tecnicamente mediante argumentos interpretativos a soluccedilatildeo

juriacutedica que considera justa ou desejaacutevel p 183 649Ibidem p 184 E por isto aduz que ―as teorias do movimento do direito livre se acham mais proacuteximas da verdade

do que as teorias positivistas jaacute que explicam como o ―direito eacute administrado ou seja como os magistrados

decidem - administram a justiccedila e natildeo fazem apenas um raciociacutenio loacutegico com base nas normas positivadas p 185 -

186 650 Ross explica que pelas ―teorias do meacutetodo da escola do direito livre - correspondentes agraves teorias juriacutedicas

idealistas - a validade do direito eacute oriunda de uma ideia princiacutepio ou propoacutesito inerentes ao direito a ideia de

justiccedila as atitudes eacutetico-juriacutedicas predominantes do povo o princiacutepio de solidariedade o princiacutepio de justiccedila social

etc () Nos tempos modernos eacute corrente o referir-se particularmente a consideraccedilotildees de propoacutesito social e agrave

ponderaccedilatildeo dos interesses como diretrizes para a interpretaccedilatildeo livre Ibidem p 186 651 Ibidem p 183 E afirma ―()administraccedilatildeo da justiccedila eacute o resultante de um paralelogramo de forccedilas no qual os

vetores dominantes satildeo a interpretaccedilatildeo cognoscitivamiddot da lei e a atitude valorativa da consciecircncia juriacutedica p 168 652 Ibidem p 183 653 Ibidem p 186-187 654 Ibidem p 168

121

conhecer ou do ato de vontade tem o seu pilar de significaccedilatildeo estabelecido no fato de

que interpretar eacute ―identificar ou determinar (= compreender) a significaccedilatildeo de algo No

caso compreender o significado da norma juriacutedica655

Daiacute realiza uma apresentaccedilatildeo descritiva de ―como se processa a interpretaccedilatildeo

do direito e afirma que a ―interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo do direito satildeo uma soacute operaccedilatildeo

sendo portanto a interpretaccedilatildeo do direito ―constitutiva e natildeo apenas declaratoacuteria vez

que ela vai aleacutem da ―mera compreensatildeo dos textos e dos fatos 656

e por isto eacute

―atividade que se presta a transformar textos ndash disposiccedilotildees preceitos enunciados - em

norma657

Nesse ensejo aduz que o magistrado ao realizar a interpretaccedilatildeo extrai ―normas

de decisatildeo658

como ―interprete autecircntico659

que eacute pois ―revestido do poder de criar

normas e ―pronunciar o discurso do direito660

sobrepondo-se nesse processo a

interpretaccedilatildeo e concretizaccedilatildeo vez que a primeira natildeo existe sem a segunda sendo esta a

―derradeira etapa daquela661

vez que ―o inteacuterprete desvencilha a norma do seu

involucro (o texto) e ―opera a inserccedilatildeo do direito na vida662

655 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p

21 656 Ibidem p 22 E assim o autor explica que ―o inteacuterprete procede agrave interpretaccedilatildeo dos textos normativos e

concomitantemente dos fatos de sorte que o modo sob o qual os acontecimentos que compotildeem o caso vai tambeacutem

pesar de maneira determinante na produccedilatildeo da(s) norma(s) aplicaacutevel(is) ao caso p 22 657 Ibidem p 23 E complementa sua ideia afirmando que o ―significado do texto (isto eacute a norma) eacute o resultado da

tarefa interpretativa e ainda que ―a interpretaccedilatildeo se pode descrever como um processo intelectivo atraveacutes do qual

() alcanccedilamos a determinaccedilatildeo de um conteuacutedo normativo p 23 e 26 Assim ―o significado da norma eacute produzido

pelo inteacuterprete Ele eacute o que o inteacuterprete diz que ele eacute p 23 658 Que de acordo com o autor eacute ―a norma juriacutedica aplicada ao caso concreto Segundo ele para ―se passar da

normatividade mediata para a normatividade concreta a norma juriacutedica precisa de revestir o caraacuteter de norma de

decisatildeo Ibidem p 98-99 659 Ibidem p 24 Segundo o autor ―() todos os operadores do direito o interpretam mas apenas uma certa categoria

deles realiza plenamente o processo de interpretaccedilatildeo ateacute o seu ponto culminante que se encontra no momento da

definiccedilatildeo da norma de decisatildeo () o juiz p 24 Assim ―o interprete cria direito no sentido de definir normas de

decisatildeo p 85 660 Ibidem p 87 Segundo o autor esse discurso eacute ―prescritivo produzido pelos juiacutezes e tribunais autorizados a dizecirc-

los p 96 Diante disto se observa que os Ministros do STF ao interpretarem os princiacutepios constitucionais

produziram norma juriacutedica e ao decidirem aos quatro julgados que foram precedentes da SV n13 elaboraram as

normas de decisatildeo Segundo o autor ―A concretizaccedilatildeo somente se realiza em sua plenitude () quando eacute definida a

norma de decisatildeo apta a dar soluccedilatildeo ao conflito que consubstancia o caso concreto p 25 661 Ibidem p 25 Mais agrave frente o autor explica ―interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo natildeo se realizam autonomamente ―Assim

existe uma equaccedilatildeo entre interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo () uma soacute operaccedilatildeo () p 31 Nesse enredo Eros Grau

compara o direito agrave musica (p 102) e ao teatro afirmando que todos satildeo alograacuteficos ―Isso significa que o texto

normativo () reclama um inteacuterprete (primeiro inteacuterprete) que compreenda e reproduza () a fim de que um

determinado conflito seja decidido (p 79) vez que precisam da ―compreensatildeo e da reproduccedilatildeo e que ―tal

classificaccedilatildeo se aplica ao direito pois o texto normativo se completa ―quando o sentido por ele expressado eacute

produzido como nova forma de expressatildeo pelo inteacuterprete e que este sentido eacute novo diferente do texto eacute a norma

p 26 662 Ibidem p 27 O inteacuterprete cria a norma no sentido reproduccedilatildeo pois se por um lado a norma estaacute parcialmente

―involucrada no texto em ―estado de potecircncia por outro o inteacuterprete ao interpretar o texto a ―desnuda ―a partir

de elementos do caso ao qual seraacute ela aplicada e desta forma ―produz a norma ao fazecirc-la ―brotar do texto p 27 e

83 E mais agrave frente elucida―() a interpretaccedilatildeo do direito tem caraacuteter constitutivo ndash natildeo meramente declaratoacuterio pois

ndash e consiste na produccedilatildeo pelo interprete a partir dos textos normativos e dos fatos atinentes a um determinado caso

de normas juriacutedicas a serem ponderadas para a soluccedilatildeo desse caso mediante a definiccedilatildeo de uma norma de decisatildeo

Interpretar eacute assim dar concreccedilatildeo (=concretizar) ao direito Neste sentido a interpretaccedilatildeo (=intepretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo)

122

E afirma que a ―moldura da norma proposta por Kelsen deve ser aplicada para

tambeacutem emoldurar o caso vez que o inteacuterprete ao ―empreender a produccedilatildeo praacutetica do

direito aleacutem de interpretar o texto tambeacutem interpreta o caso pois como natildeo existe

soluccedilatildeo preacutevia a cada caso o ―trabalho juriacutedico de construccedilatildeo da norma aplicaacutevel a cada

caso deve ser ―artesanal tendo para cada caso concreto uma nova ―soluccedilatildeo

juriacutedica663

Ao se voltar agrave interpretaccedilatildeo dos fatos alega que ―o inteacuterprete os reconforma e

que por isso ―o direito institui a sua proacutepria realidade mas ressalta que haacute fragilidade

entre o relato e o relatado pois o relato dos fatos estaacute ligado agrave maneira como se observa

a realidade sendo considerado verdadeiro o depreendido pelo inteacuterprete no momento da

―criaccedilatildeo da norma664

Nesse enredo afirma que a preacute-compreensatildeo665

eacute ―momento inicial do

―processo de interpretaccedilatildeo dos textos normativos666

―qual ganha dinamismo em um

movimento circular que compotildee o ciacuterculo hermenecircutico e traduz os conflitos do

inteacuterprete tanto que ―a norma de decisatildeo por ele produzida possui ―as marcas desse(s)

conflito(s)667

Assim conforme as liccedilotildees de Eros Grau o juiz decide de acordo com o

contexto histoacuterico em que vive e com a ―consciecircncia social de seu tempo668

mas

sopesando o ―direito todo e natildeo apenas um determinado texto normativo669

e que ele

―ao produzir as normas juriacutedicas realiza como inteacuterprete autecircntico ―juris prudentia e

opera a inserccedilatildeo do direito na realidade opera a mediaccedilatildeo entre o caraacuteter geral do texto normativo e sua aplicaccedilatildeo

particular () opera a inserccedilatildeo das leis (=do direito) no mundo do ser (=mundo da vida) GRAU Eros Ensaio e

discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 34 663 Ibidem p 32 e 93 Ao aplicar os ensinamentos de Eros Grau agrave apreciaccedilatildeo do caso da SV n13 constata-se que

para cada um dos julgados que formaram seus precedentes os Ministros chegaram a uma soluccedilatildeo juriacutedica especiacutefica

diferente vez que em cada um deles o nepotismo foi analisado de forma diversa e ensejou consequecircncias diferentes

quanto agrave conceituaccedilatildeo dos elementos que compotildeem a sua noccedilatildeo De acordo com Eros Grau isso seria possiacutevel mas se

suscita a duacutevida eles ensejariam desta forma ―jurisprudecircncia reiterada ndash um dos criteacuterios para a ediccedilatildeo da Suacutemula

Vinculante Esta eacute uma das hipoacuteteses que se almeja responder ao final do estudo 664 Ibidem p 33 665 Segundo o autor a preacute-compreensatildeo eacute a ―representaccedilatildeo antecipada do resultado da tarefa de interpretaccedilatildeo ndash

parametra o empreendimento dessa tarefa () Nesse momento o interprete opera juiacutezos de valor seus E ainda

elucida que ela ―natildeo eacute conceito metodoloacutegico () eacute conceito que se desenvolve em um plano essencialmente

descritivo Ibidem p 111-112 666 Ibidem p 37 e 108 De acordo com o autor ―() Isso natildeo implica que o interprete deve abandonar todas as suas

opiniotildees preacutevias sobre o conteuacutedo do texto ou todas as posiccedilotildees proacuteprias poreacutem simplesmente que esteja aberto

para a opiniatildeo do texto quem deseja compreender um texto tem de estar em princiacutepio disposto a deixar-se dizer algo

por ele uma consciecircncia formada hermeneuticamente tem de mostrar-se receptiva desde o princiacutepio agrave alteridade do

texto Ibidem p 109 667 Ibidem p 37 Assim () ―a decisatildeo judicial considera e eacute determinada dentre outros ―() pelas expectativas de

justiccedila nutridas pela consciecircncia da sociedade () pelas convicccedilotildees do proacuteprio juiz que pode estar influenciado de

forma decisiva por preceitos de eacutetica religiosa ou social () ou por instacircncias de ordem poliacutetica p 37 668 Ibidem p 38 e 113 E por isto segundo o autor a ―decisatildeo judicial implica necessariamente elementos emotivos e

volitivos p 113 669 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p

38

123

natildeo juris scientia670

pois ao interpretar o texto escolhe seguindo uma ―loacutegica da

preferecircncia671

uma dentre as diversas ―interpretaccedilotildees possiacuteveis devendo ser a

escolhida a mais adequada672

A partir deste enredo assevera que natildeo haacute no direito o binocircmio

―verdadeirofalso673

mas apenas o ―aceitaacutevel (justificaacutevel) e que como ―o justo

comporta sempre mais de uma soluccedilatildeo a norma eacute ―objeto de justificaccedilatildeo674

pois ―a

problematizaccedilatildeo dos textos normativos () se opera no acircmbito da prudecircncia675

devido

agrave ―existecircncia de muacuteltiplas soluccedilotildees corretas para a mesma questatildeo676

E que como os ―cacircnones hermenecircuticos natildeo possuem hierarquia eles satildeo

utilizados pelo inteacuterprete ―se e quando lhe aprouver ―como justificativas a legitimar

os resultados677

funcionando como ―reservas de recursos de argumentaccedilatildeo em poder

dos inteacuterpretes678

mas que a interpretaccedilatildeo deve ser adequar ―a algumas pautas dentre

elas ―agrave interpretaccedilatildeo do direito no seu todo ―agrave finalidade do direto e ―aos

princiacutepios679

em concordacircncia com o sistema juriacutedico do qual faz parte de acordo com

a Constituiccedilatildeo680

pois um ―texto de direito desprendido do sistema juriacutedico natildeo

expressa significado normativo algum681

670 Ibidem p 35 e 101 671Ibidem p 101 672Ibidem p 35 Em conformidade com os ensinamentos de Larenz 673Ibidem p 35 e 114 Devido ao fato de que ―as soluccedilotildees atribuiacuteveis aos problemas juriacutedicos natildeo satildeo definiacuteveis

exclusivamente a partir da atribuiccedilatildeo de um ou outro significado a determinado texto podendo haver ―ponderaccedilatildeo

de variaacuteveis muacuteltiplas p114 674 Ibidem p 35 675Ibidem p 35 e102 676Ibidem p 35 e 102 E ao negar ―a existecircncia de uma uacutenica resposta correta para cada caso juriacutedico ndash ainda que o

interprete esteja atraveacutes dos princiacutepios vinculado pelo sistema juriacutedico assevera que nem ―o juiz Heacutercules de

Dworkin pode ―encontrar para cada caso uma resposta verdadeira pois natildeo existe ―a uacutenica resposta correta E

conclui que a ―concepccedilatildeo dworkiana () perece no momento em que sustentada sobre a busca da melhor teoria

possiacutevel como ideal absoluto () Segundo ele ―nem os princiacutepios nem a argumentaccedilatildeo segundo um sistema de

regras que funcione como um coacutedigo da razatildeo praacutetica ()permitiratildeo o discernimento da uacutenica resposta correta E

assim novamente conclui ―Essa resposta verdadeira (uacutenica correta) natildeo existe p 36 e 103 Diante deste

entendimento pode-se constatar que segundo Eros Grau natildeo haacute nada de equivocado em os Ministros do STF

decidirem cada caso de nepotismo de uma forma desde que a escolha seja a mais adequada e a justificaacutevel ao caso

concreto pois natildeo haacute apenas uma soluccedilatildeo correta Mas este raciociacutenio tambeacutem se aplica agrave ediccedilatildeo da SV n13 A sua

ediccedilatildeo foi a mais adequada e a justificaacutevel ao caso concreto 677Ibidem p 39 678 Ibidem p 104 679 Ibidem p 39 680 Ibidem p 40 De acordo com o autor ―o significado normativo de cada texto somente eacute detectaacutevel no momento

em que se o toma como inserido com contexto do sistema para apoacutes afirmar-se plenamente no contexto funcional

p 128 681 Ibidem p 40 e 128 Nesse enredo o autor ainda afirma que os texto normativos satildeo ―instrumentos de governo

―que consubstanciam ―normas-objetivo (―que explicitam resultados e fins em relaccedilatildeo e cuja realizaccedilatildeo estatildeo

comprometidas outras normas ndash estas de conduta e organizaccedilatildeo) determinam ―os processos de interpretaccedilatildeo do

direito reduzindo a amplitude da moldura do texto e dos fatos e fazem com que natildeo caibam na interpretaccedilatildeo

―soluccedilotildees que natildeo sejam absolutamente adequadas a tais normas-objetivo positivando ―os fins para os quais o

sistema estaacute voltado GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo

Malheiros 2005 p 129

124

Ainda assevera que a interpretaccedilatildeo deve ser adequada aos princiacutepios expliacutecitos

no texto constitucional ou na lei os impliacutecitos resultado da apreciaccedilatildeo ―de um ou mais

preceitos constitucionais ou de uma lei ou conjunto de textos normativos da legislaccedilatildeo

infraconstitucional ou ainda gerais de direito682

taacutecitos ―no interior do ordenamento

juriacutedico683

e reconhecidos ―no instante de seu descobrimento684

sendo portanto

declarado pelo juiz e natildeo constituiacutedo por este685

cuja forccedila deve dominar a interpretaccedilatildeo

do direito pois ―satildeo eles que conferem coerecircncia ao sistema686

mas que embora eles

vinculem o inteacuterprete natildeo garantem a sua ―neutralidade poliacutetica pois esta na praacutetica

―do direito se dissolve sempre vez que ― todas as decisotildees juriacutedicas porque juriacutedicas

satildeo poliacuteticas 687

mas que isto natildeo quer dizer que existe a ―discricionariedade

judicial688

pois o ―juiz natildeo produz normas livremente689

mas como inteacuterprete

autecircntico realiza um juiacutezo de legalidade que eacute ―desenvolvido no campo da prudecircncia

detido tanto pelo texto normativo especialmente ―pelos que veiculam princiacutepios690

como pelos fatos

Assim ressalva que a ―abertura dos textos do direito permite que este

―permaneccedila ao serviccedilo da realidade mas ―natildeo eacute absoluta 691

pois o interprete estaacute

―atado retido pelos texto do direito ―sua funccedilatildeo estaacute contida nos lindes da legalidade

(e da constitucionalidade) e ao ―interpretar o direito formula ―juiacutezos de legalidade692

que ―embora desenvolvido no campo da prudecircncia eacute realizado ―atado ao texto

normativo e aos fatos693

de forma que o ―rompimento dessa retenccedilatildeo pelo inteacuterprete

682 Ibidem p 43 Embora natildeo estejam ―enunciados em texto escrito ―estatildeo contemplados em estado de latecircncia no

ordenamento de que faz parte p 147-148 683 Ibidem p 43 684 ―A autoridade judicial ao tomaacute-los () simplesmente comprova a sua existecircncia no bojo do ordenamento juriacutedico

do direito que aplica declarando-os Ibidem p 44 e 145 685 Ibidem p 47 Ainda segundo o autor o juiz ―simplesmente comprova a sua existecircncia no bojo do ordenamento

juriacutedico do direito que aplica p 149 686 Ibidem p 51 e 200 Segundo o autor ―a interpretaccedilatildeo do direito eacute dominada pela forccedila dos princiacutepios p 200-

201 687 Ibidem p 51 204-205 688 Segundo Eros Grau a discricionariedade enseja ―juiacutezo de oportunidade que eacute a ―escolha entre indiferentes

juriacutedicos mas como cabe ao magistrado apenas o ―juiacutezo de legalidade e natildeo de oportunidade natildeo haacute que se falar

em discricionariedade judicial Idem p 52 -53 151 208 e 209 689 Ibidem p 52 e 207 690 Ibidem p 52 Os ―princiacutepios atuam como mecanismo de controle da produccedilatildeo de norma pelo inteacuterprete como

―medida do controle externo da produccedilatildeo de normas p 203 691 Ibidem p 52 e 116 ―A interpretaccedilatildeo do direito encaminha a atualizaccedilatildeo do direito p 52 115-116 e 207 692 Ibidem p 52 e 208 A ―interpretaccedilatildeo eacute a expressatildeo de uma manifestaccedilatildeo constitutiva que envolve uma decisatildeo

() assumida () mediante a formulaccedilatildeo de um juiacutezo de legalidade ndash natildeo de um juiacutezo de oportunidade

(=discricionariedade) p 52 e 209 693 Ibidem p 209

125

autecircntico resultaraacute a subversatildeo do texto694

em que o binocircmio norma versus ideologia

natildeo guarda equivalecircncia695

Nesse ensejo Eros Grau conclui que a interpretaccedilatildeo do direito696

eacute o ―caminhar

de um ponto a outro do universal ao singular atraveacutes do particular697

primando pela

atualizaccedilatildeo do direito mesmo que ―pereccedila a certeza em benefiacutecio da esperanccedila698

vez

que o direito eacute ―um organismo vivo peculiar que ―natildeo envelhece ―eacute contemporacircneo agrave

realidade e eacute disso que extrai sua ―forccedila ―fasciacutenio e ―beleza699

312 Como os magistrados deveriam decidir

3121 Friedrich Karl Von Savigny

Ao propor uma metodologia juriacutedica a partir da ―apresentaccedilatildeo das normas de

elaboraccedilatildeo absoluta da ciecircncia do direito700

Savigny afirma que a lei ―deveria ser ()

tatildeo perfeita que quem a aplicasse natildeo teria que adicionar nada de si proacuteprio e que

assim o juiz ao tomar a decisatildeo aplicaria ―a proacutepria lei cabendo a ele apenas

reconhecer ―as normas e as aplica no caso particular sendo portanto sua uacutenica

atividade realizar uma ―uma interpretaccedilatildeo puramente loacutegica701

por meio de uma

jurisprudecircncia sistematicamente elaborada de forma coerente e uniforme702

levando em

conta o histoacuterico e o filosoacutefico703

Daiacute Savigny propotildee uma ―metodologia completa e absoluta composta por trecircs

partes uma ―filoloacutegica destinada agrave interpretaccedilatildeo da jurisprudecircncia outra histoacuterica

referente agrave elaboraccedilatildeo histoacuterica da jurisprudecircncia e uma terceira ―sistemaacutetico-

filosoacutefica pertinente agrave elaboraccedilatildeo sistemaacutetica da jurisprudecircncia704

694 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p

52 e 207 695 Ibidem p 211 696 Segundo o autor ―processo de contiacutenua adaptaccedilatildeo de seus textos normativos agrave realidade e seus conflitos Ibidem

p 55 e 125 697 Ibidem p 56 698 Afirma que o juiz ndash interprete autecircntico - realiza uma interpretaccedilatildeo correta quando ela estaacute a uma inserida ―no

quadro (na moldura) do direito a duas justificada por um ―discurso que () se processa de maneira racional e a

trecircs de acordo com ―coacutedigo de valores dominantes p 211 699 Ibidem p 55 Para o autor ―() a realidade social eacute o presente o presente eacute a vida ndash e vida eacute movimento 2005

p 55 ―Assim o significado vaacutelido dos textos eacute variaacutevel no tempo e no espaccedilo histoacuterica e culturalmente p 126 700 SAVIGNY Friedrich Karl Von Metodologia Juriacutedica Trad Hebe A M Caletti Marenco e Regina Ceacutelia de

Carvalho Paschoal Lima CampinasSP Edicamp 2001 p 1 701 Ibidem p 3-4Nesse interim o autor explica que isto inclui que ―a jurisprudecircncia eacute uma ciecircncia puramente

filoloacutegica p 4 702 Nesse diapasatildeo Savigny afirma que como a filosofia ―mediante uma completa deduccedilatildeo deve indicar todo o

conteuacutedo da tarefa geral pode-se concluir que a ―jurisprudecircncia eacute uma ciecircncia filosoacutefica p 5 703 Ibidem p 7 O autor ainda afirma que o sistema ―deve ser concebido como em progresso constante e estar

relacionado com o todo (histoacuteria interior do direito) mas natildeo deve elaborar somente questotildees isoladas do direitop

7 704 Ibidem p 7-8 Assevera que a interpretaccedilatildeo deve ser feita ―histoacuterica e sistematicamente e que nela estaacute

―pressuposto algo diretamente dado um texto Ainda afirma ―toda lei deve expressar um pensamento de maneira tal

que seja vaacutelido como norma de maneira que quem interpreta uma lei deve analisar o pensamento contido na lei

deve pesquisar o conteuacutedo da lei p 9

126

E daiacute explica que a interpretaccedilatildeo eacute ―triacuteplice constituiacuteda pela loacutegica que

apresenta a ―geneacutetica do pensamento da lei que deve ser expresso pela gramaacutetica

condiccedilatildeo necessaacuteria loacutegica e pela parte histoacuterica mas que ―todas as premissas da

interpretaccedilatildeo devem se encontrar na proacutepria lei ou em conhecimentos gerais e que o

inteacuterprete assim ao se colocar ―no ponto de vista da lei teraacute sua interpretaccedilatildeo

vinculada agrave ―intenccedilatildeo do legislador705

Nesse esteio conceitua a interpretaccedilatildeo como ―a reconstruccedilatildeo do pensamento

(claro ou obscuro eacute o mesmo) expresso na lei enquanto seja possiacutevel conhececirc-lo na lei

e elucida que sua ―tarefa suprema eacute restaurar o ―sentido a um texto corrompido por

meio dos elementos ―loacutegicos gramaticais e histoacutericos podendo advir do proacuteprio texto

mas que quando se destina a reconstruir o sentido do texto corrompido se caracteriza

como ―criacutetica superior que ―prescinde da arbitrariedade ―pressupotildee uma

necessidade e deve ser norteada pela certeza

706

Nesse contexto alega que existem dois ―princiacutepios fundamentais para a

interpretaccedilatildeo em geral o princiacutepio da ―individualidade da interpretaccedilatildeo707

e o

princiacutepio da ―universalidade708

haja vista que toda interpretaccedilatildeo deve ser

concomitantemente ―individual e universal capaz de ―unir os diferentes709

vez que a

―interpretaccedilatildeo natildeo pode seguir por uma uacutenica trilha710

sendo para tanto

imprescindiacutevel atrelar este dois princiacutepios ―em um todo pois seu objetivo eacute ofertar

―um resultado para o sistema711

Daiacute Savigny discorre sobre a ―elaboraccedilatildeo histoacuterica da jurisprudecircncia

afirmando que como ―muitos aspectos da jurisprudecircncia ―natildeo podem ser

compreendidos sem um certo conhecimento histoacuterico preacutevio ela eacute necessaacuteria mesmo

porque ―toda a legislaccedilatildeo eacute mais ou menos o resultado da sua histoacuteria anterior712

705 SAVIGNY Friedrich Karl Von Metodologia Juriacutedica Trad Hebe A M Caletti Marenco e Regina Ceacutelia de

Carvalho Paschoal Lima CampinasSP Edicamp 2001 p 9-10 ―Que traduz ―as condiccedilotildees histoacutericas para captar o

pensamento da lei Ibidem p 10 Isto porque segundo o autor ―Soacute eacute possiacutevel a apresentaccedilatildeo da lei atraveacutes da

apresentaccedilatildeo do momento em que existe a lei p 10 706 Ibidem p 11 Tal criacutetica eacute formulada por ―simples suposiccedilotildees engenhosas p 12 707 Ibidem p 15 Aquele por meio do qual ―o inteacuterprete deve () descobrir o particular de cada texto que soacute pode ser

extraiacutedo do mesmo e que eacute ―o melhor meio de realizar tal descoberta pois possibilita ao interprete ―descobrir a

singularidade de expressotildees teacutecnicas mas ressalta sua utilizaccedilatildeo estaacute vinculada agrave ―qualidade da legislaccedilatildeo que se

pretende interpretar pois quanto maior a perfeiccedilatildeo da ―legislaccedilatildeo tanto mais aplicaacutevel seraacute o princiacutepio p 15-17 708 Por meio dele ―cada parte eacute entendida e concebida ―em relaccedilatildeo com o todo Ibidem p 18 709 Ibidem p 15 710 Ibidem p 19 711 Ibidem p 21 712 Ibidem p 28-29 E explica que a ―elaboraccedilatildeo histoacuterica eacute possiacutevel a uma por meio ―de uma vinculaccedilatildeo histoacuterica

e a duas por ―uma separaccedilatildeo histoacuterica sendo a primeira traduzida pela pesquisa sobre ―como uma questatildeo especial

foi respondida de distintos modos em diversas eacutepocas da legislaccedilatildeo devendo-se observar o sistema ―na sua

totalidade e ser considerado progressivo e a segunda pela apreciaccedilatildeo da jurisprudecircncia a partir da ―separaccedilatildeo

completa de suas fontes p 29-31 Seja da maneira que for de acordo com Savigny a jurisprudecircncia tanto pode ser o

127

Assim Savigny analisa a ―elaboraccedilatildeo sisteacutemica da jurisprudecircncia713

e afirma

que para tanto eacute necessaacuterio o conhecimento de todo o conteuacutedo da legislaccedilatildeo para

avaliar os princiacutepios em parte de forma particular em parte na sua conexatildeo714

e

assim montar um verdadeiro sistema por meio do qual eacute possiacutevel por exemplo

―estabelecer a relaccedilatildeo entre norma e exceccedilatildeo715

―dar definiccedilotildees e fazer distinccedilotildees716

Por fim Savigny ―interpretaccedilatildeo extensiva e restritiva natildeo eacute uma ―verdadeira

interpretaccedilatildeo podendo ser denominada ―interpretaccedilatildeo material porque ―diz que por

meio do juiz algo de fora eacute adicionado agrave expressatildeo da lei e soacute na interpretaccedilatildeo material

eacute possiacutevel esta arbitrariedade717

E entatildeo conclui que eacute apenas ―possiacutevel um aperfeiccediloamento da lei atraveacutes do

legislador mas nunca atraveacutes do juiz718

e que por isso mesmo ―aquilo que for exceccedilatildeo

a uma regra legal natildeo pode ser estendido pelo juiz ―por analogia para outros casos

semelhantes719

3122 Chaiumlm Perelman

Perelman diferentemente dos demais autores propotildee temperar o positivismo

juriacutedico de Kelsen com a realizaccedilatildeo de um raciociacutenio loacutegico pelo magistrado embasado

em valores da realidade social maacuteximas e princiacutepios do direito visando moldar o

direito aos fatos720

com o fito de decidir nos termos da legalidade do ordenamento

juriacutedico mas tambeacutem aplicando a soluccedilatildeo mais aceitaacutevel razoaacutevel justa de acordo

com a realidade do caso concreto

Ao explicar ―Loacutegica Juriacutedica a fim de demonstrar que existiria uma loacutegica na

aplicaccedilatildeo dos juiacutezos de valor defende que os juiacutezos de valores embora subjetivos

poderiam ser analisados objetivamente e tenta realizar um consenso entre o pensamento

positivista e a concepccedilatildeo natildeo positivista721

tema principal como tambeacutem pode ser instrumento de criacutetica agrave poliacutetica ou de anaacutelise comparativa entre a legislaccedilatildeo e

seu resultado p 33 713 SAVIGNY Friedrich Karl Von Metodologia Juriacutedica Trad Hebe A M Caletti Marenco e Regina Ceacutelia de

Carvalho Paschoal Lima CampinasSP Edicamp 2001p 34 714 Com o fim de ―desenvolver a determinaccedilatildeo dos princiacutepios particulares e ainda ―ordenar a vinculaccedilatildeo de vaacuterios

princiacutepios particulares e sua conexatildeo Idem p 37 715Ibidem p 40 716Ibidem p 37 717 Ibidem p 41 Segundo ele ―Esta operaccedilatildeo eacute tatildeo arbitraacuteria que natildeo eacute possiacutevel falar em uma verdadeira

interpretaccedilatildeo porque o que o juiz deve adicionar agrave lei () natildeo pode ser objetivo p 42 718 Ibidem p 46 719 Ibidem p 47 720 PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 135 721 ―Que utiliza tatildeo somente o criteacuterio da legalidade na aplicaccedilatildeo do direito por operaccedilatildeo dedutiva restringindo a

funccedilatildeo da loacutegica e da utilizaccedilatildeo praacutetica da razatildeo sem considerar o razoaacutevel o justo Ibidem p 136-137 721 Ibidem p 137

128

Daiacute afirma que eacute justo tratar situaccedilotildees semelhantes da mesma forma mas que

para isso deve se aplicar a justiccedila ao juiacutezo de valor e agrave apreciaccedilatildeo loacutegica dos valores

passando nesse iacutenterim a ponderar sobre as teacutecnicas de argumentaccedilatildeo e a elucidar

sobre a dialeacutetica722

e a retoacuterica723

E entatildeo por meio da sua teoria intitulada nova retoacuterica ou tratado de

argumentaccedilatildeo demonstra o valor da nova retoacuterica especialmente para a loacutegica juriacutedica

pois aquela objetiva persuadir as mentes a consentir as teorias apresentadas por meio do

discurso visando angariar a adesatildeo do auditoacuterio e aleacutem disso deteacutem uma relaccedilatildeo com a

loacutegica formal pois quando esta natildeo eacute capaz de clarear algo confuso a soluccedilatildeo da

questatildeo e realizada por meio da apreciaccedilatildeo dos argumentos que depende da retoacuterica724

Ainda afirma que ―a adesatildeo a uma tese pode ter intensidade variaacutevel (o que eacute

imprescindiacutevel quando o assunto remete a valores) e que a retoacuterica (diversamente da

loacutegica formal e das ciecircncias positivas) tem maior relaccedilatildeo com ―a adesatildeo do que com a

verdade porque a adesatildeo eacute pessoal visa um auditoacuterio725

Neste contexto informa que na retoacuterica o ―auditoacuterio eacute parte central e que

para que o discurso seja eficaz eacute imprescindiacutevel sua especificidade ao respectivo

auditoacuterio e ainda que seja tatildeo persuasiva e convincente que possa ser capaz de

convencer qualquer auditoacuterio726

E assim afirma que a argumentaccedilatildeo do raciociacutenio eacute na nova retoacuterica o pano

de fundo do discurso juriacutedico727

e almeja a adesatildeo a uma determinada tese por ser a

mais oportuna conveniente razoaacutevel ou uacutetil quer dizer a argumentaccedilatildeo invoca o juiacutezo

de valor728

por meio do qual o orador deve realizar a escolha dos valores e fatos que

722 PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p139

Segundo o autor a dialeacutetica eacute ―arte da discussatildeo e ―se mostra o meacutetodo apropriado a soluccedilatildeo dos problemas praacuteticos

os que concernem aos fins da accedilatildeo que envolvem valores 723 Para o autor diferentemente do conceito aristoteacutelico (―arte de procurar em qualquer situaccedilatildeo os meios de

persuasatildeo disponiacuteveis) eacute por meio da retoacuterica que se estuda ―as teacutecnicas discursivas que visam provocar ou a

aumentar a adesatildeo das mentes agrave tese apresentada a seu assentimento Ibidem p 141 724Ibidem p 142-143 725 ―A retoacuterica visa o convencimento da pessoa que por motivos pessoais adere agrave tese disposta por meio da retoacuterica

Ibidem p 143 726 Ibidem p 143-144 Diante disto elucida que se deve utilizar argumentos universais que sejam admitidos por todo

e qualquer ser racional mas que tambeacutem na sua concepccedilatildeo de uma nova retoacuterica deve-se conhecer o auditoacuterio e

adaptar a argumentaccedilatildeo quanto ao mesmo porque a forma de se dirigir a ele de abordaacute-lo eacute o que faraacute a diferenccedila no

discurso especificamente de forma a realizar uma melhor conexatildeo entre aqueles que compotildeem o auditoacuterio que escuta

e o orador que visa persuadi-los a aderir agrave sua tese p 144-146 Nesse enredo afirma que existem trecircs espeacutecies de

oratoacuterias sendo uma delas a judiciaacuteria que ―desde agrave eacutepoca de Aristoacuteteles visava os aspectos teacutecnicos do raciociacutenio

praacutetico da deliberaccedilatildeo e da loacutegica dos juiacutezos de valores com vista a um fim mas que natildeo havia qualquer discussatildeo

quanto ao valor deste fim e que as outras duas satildeo a ―deliberativa referente a questatildeo poliacutetica controvertida e a

epidiacutetica relacionada ao espetaacuteculo mas que a primeira tanto quanto a judiciaacuteria objetiva uma decisatildeo e na uacuteltima

apenas o ―apreccedilo ao talento do orador Ibidem p 147 727 Ibidem p 154 728Segundo o autor quando o orador que natildeo se preocupa com as reaccedilotildees do auditoacuterio que visa convencer e natildeo

conhece previamente as teses agraves quais o determinado auditoacuterio eacute adepto cai na peticcedilatildeo de princiacutepio devendo a fim de

129

abordaraacute em sua argumentaccedilatildeo e que as opccedilotildees incidiratildeo tanto sobre a tese que defende

como sobre a maneira que a formula729

assentando-os na consciecircncia daqueles que

compotildeem a plateia por meio das teacutecnicas de apresentaccedilatildeo730

Sendo assim inegaacutevel que a uma a arte da argumentaccedilatildeo possui uma funccedilatildeo

extremamente persuasiva e a duas que o orador pode por meio das teacutecnicas de

apresentaccedilatildeo unir as proposiccedilotildees coordenaacute-las hierarquizar os acontecimentos

acentuar sua singularidade ou frisar sua generalidade731

ao buscar as soluccedilotildees dos

problemas e das dificuldades no mundo juriacutedico732

Daiacute passa a elucidar sobre os princiacutepios afirmando que estes se referem muito

mais a presunccedilotildees que a evidecircncias e assim apresenta trecircs princiacutepios o conservador

que eacute aquele que presume a importacircncia aos precedentes da vida social e do direito733

o

liberal que eacute melhor deixar que os homens decidam livremente e o socialista que eacute o

que dispotildee sobre presunccedilatildeo de igualdade sendo cada um deles um lugar-comum ―um

princiacutepio geral de conduta presumiacuteveis 734

mas que como satildeo incompatiacuteveis ensejam

satildeo escolha ao orador que ao optar por um deve usaacute-lo como ponto de partida de sua

argumentaccedilatildeo735

E assevera que a influecircncia maior ou menor que o orador exerce sobre o

auditoacuterio estaacute diretamente ligada ao discurso como um todo seja por cada argumento

isolado seja pela conexatildeo que apresentam entre si seja ainda pelos argumentos iacutentima

e espontaneamente assimilados por aqueles que ouvem o discurso736

a fim de garantir a

sua eficaacutecia que depende do seu efeito sobre o auditoacuterio737

Diante disto propotildee a obtenccedilatildeo de soluccedilotildees judiciais aceitaacuteveis recorrendo-se

agraves teacutecnicas da argumentaccedilatildeo necessaacuterias a conciliar ―a melhor interpretaccedilatildeo da lei com evitaacute-la conhecer o que o seu auditoacuterio pensa PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed

Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 156-157 729 Segundo o autor ―() aquele que argumenta e procura exercer com o seu discurso uma influecircncia sobre o seu

auditoacuterio natildeo pode evitar fazer escolhas Estas incidiratildeo tanto sobre a sua tese como sobre a maneira de formulaacute-las

p 165 730 Ibidem p 160 731 Ibidem p 162 O que quer dizer que afinal tudo depende do que eacute mais conveniente agrave tese do orador Pela teacutecnica

de argumentaccedilatildeo ele vai apresentar os fatos como melhor lhe convier Ao se observar os argumentos dos ministros

do STF durante os debates que precederam a ediccedilatildeo da SV n13 natildeo eacute isto que se constata 732 Segundo o autor ―Ao se aplicar o geral ao concreto () no raciociacutenio juriacutedico muitas vezes eacute necessaacuterio opor o

ponto de vista pragmaacutetico ao formal o espiacuterito da lei agrave sua letra fria reinterpretar ao inveacutes de interpreta-la

literalmente Ibidem p 163 Isto porque ―o direito busca solucionar a questatildeo posta uma vez que seu objetivo eacute que

as lides cheguem a termo em um tempo razoaacutevel Ibidem p 166-167 733 Ibidem p 168 734 Referente agrave presunccedilatildeo da liberdade Tudo que natildeo fosse proibido seria permitido A proibiccedilatildeo eacute a exceccedilatildeo e a

permissatildeo eacute a regra Idem p 169 735 Ibidem p 170 736 PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 172-180 737 Nesse iacutenterim Perelman afirma que o orador pode modificar o discurso de acordo com a plateia e apresentar os

argumentos a partir do momento que percebe que o puacuteblico estaacute pronto para assimilaacute-los positivamente Ibidem p

180-181 Mas o STF natildeo se importou com isso

130

a melhor soluccedilatildeo dos casos particulares temperando assim o direito positivo tambeacutem

por meio dos princiacutepios gerais do direito e das regras de direito natildeo escritas e tendo em

voga o valor de equidade738

Segundo ele eacute possiacutevel que os colegiados natildeo hesitem em utilizar ateacute a ficccedilatildeo

juriacutedica739

para justificar as decisotildees poreacutem lembra que podem ateacute fazecirc-lo mas que a

argumentaccedilatildeo utilizada para motivar a soluccedilatildeo deve ser juridicamente soacutelida a mais

aceitaacutevel socialmente conciliando a decisatildeo aceitaacutevel agrave sociedade com e agrave legislaccedilatildeo

posta740

Desta feita o papel do magistrado eacute obter uma decisatildeo legal ―razoaacutevel e

aceitaacutevel741

e somente pode determinar como a lei deve ser aplicada quando haacute

omissatildeo do legislativo742

pois deve interpretaacute-la tornaacute-la mais flexiacutevel por meio de sua

decisatildeo quanto ao caso concreto mas natildeo lhe compete criaacute-la743

Desta feita juiz deve motivar sua decisatildeo expressar o raciociacutenio juriacutedico

desenvolvido no transcorrer do caminho agrave soluccedilatildeo do caso concreto pois assim afasta a

tentativa de mera persuasatildeo expressa razotildees pelas quais optou por aquela determinada

soluccedilatildeo744

e consequentemente afasta a arbitrariedade essencial agrave boa administraccedilatildeo da

justiccedila e imprescindiacutevel ao convencimento do auditoacuterio745

738 Ibidem p 186 Mas vale questionar como natildeo se ao realizar a apreciaccedilatildeo do valor de equidade no caso concreto

o juiz elabora um juiacutezo discricionaacuterio em que a linha com o arbitraacuterio eacute extremamente tecircnue e o raciociacutenio realizado

estaacute intimamente ligado agraves convicccedilotildees subjetivas do magistrado Isto eacute temeraacuterio O juiacutezo elaborado pelo magistrado

eacute de legalidade natildeo de discricionariedade como afirma Eros Grau E o equiacutevoco dos ministros do STF ao comporem

a SV n13 pode ter sido este natildeo realizar estritamente o juiacutezo de legalidade 739 Ibidem p 191O uso da ficccedilatildeo eacute temeraacuterio pois remete agrave discussatildeo sobre verdade e justiccedila Seu uso eacute

recomendado apenas em casos extrema necessidade quando natildeo haacute outro recurso para resolver o binocircmio legislaccedilatildeo

aplicaacutevel e equidade quando o formalismo juriacutedico acarreta consequecircncias socialmente inaceitaacuteveis 740 Ibidem p 193 ―Eacute raro entretanto que os tribunais se realmente o desejam natildeo encontrem na teacutecnica juriacutedica

um meio de conciliar sua preocupaccedilatildeo de uma soluccedilatildeo aceitaacutevel com sua fidelidade agrave lei p 193 741 Ibidem p 200 742 Ibidem p 203-204 743 Ibidem p 206 O autor ressalta que o magistrado ―ao colocar-se no lugar do legislador () torna-se por assim

dizer independente dele tendo a missatildeo de criar a lei em vez de se limitar a aplica-la Ibidem p 206 E completa ―a

corte suprema e o legislador atual eacute que torna atraente a teacutecnica de interpretaccedilatildeo sugerida pois ela transforma a busca

da vontade do legislador em uma presunccedilatildeo suscetiacutevel de ser derrubada Ibidem p 207 E ainda afirma ―De fato

o papel especiacutefico dos juiacutezes eacute dizer o direito ndash e natildeo o criar ndash embora frequentemente a obrigaccedilatildeo de julgar imposta

ao juiz leve-o a completar a lei reinterpretaacute-la e tornaacute-la mais flexiacutevel Ibidem p 209 744 Ibidem p 210-211Em conformidade com os dizeres de Perelman com a motivaccedilatildeo os demais juristas entendem

porque foi proferida aquela decisatildeo e a opiniatildeo puacuteblica a conhece e desta forma o magistrado natildeo apenas obedece ao

requisito legal mas tambeacutem ao valor de soluccedilatildeo mais aceitaacutevel Ibidem p 213 No caso da SV n13 ―os demais

juristas natildeo entenderam ―porque foi proferida aquela decisatildeo nos termos em que foi e natildeo a observaram como ―a

soluccedilatildeo mais aceitaacutevel 745 PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 216

Desta forma fica clara a conclusatildeo de que o objetivo do magistrado ao prolatar a sentenccedila natildeo eacute soacute decidir mas

tambeacutem convencer com os argumentos expostos por meio dos motivos natildeo apenas os demandantes como tambeacutem a

opiniatildeo puacuteblica e as instacircncias superiores Tanto que hoje em dia eacute de notoacuterio saber que o magistrado de primeira

instacircncia antes de decidir normalmente busca conhecer como os magistrados de segundo instacircncia estatildeo decidindo

quanto ao tema jaacute que possuem competecircncia para reformar sua decisatildeo E isto ocorre em todas as instacircncias ateacute

chegar ao STF que possui a palavra final A questatildeo em tela eacute ainda maior no caso da ediccedilatildeo da SV n13 a palavra

do STF natildeo eacute a final eacute a uacutenica e exclusiva

131

Aleacutem disso o magistrado deve ter em mente o ramo e a mateacuteria de direito em

voga bem como o auditoacuterio ao qual se dirige746

trazendo a soluccedilatildeo viaacutevel de acordo

com a legislaccedilatildeo e com a sociedade ao problema concreto747

Desta feita Perelman elucida que a loacutegica judiciaacuteria fundamenta-se na adesatildeo

cabendo ao magistrado convencer a todos de que a decisatildeo tomada eacute a legal e mais

aceitaacutevel ―mais equitativa e a mais conforme o direito em vigor748

Diante disto se constata que a teoria de Perelman - nova retoacuterica por meio da

loacutegica juriacutedica aleacutem de propor argumentaccedilotildees - destaca a funccedilatildeo do magistrado na

busca de argumentos com base na doutrina e jurisprudecircncia que deve sopesar tudo

motivar e tomar a sua decisatildeo com o fito de convencer os auditoacuterios de que a soluccedilatildeo

tomada a escolha feita sua decisatildeo eacute legal e eacute a mais aceitaacutevel749

3123 Karl Larenz

Segundo Larenz a interpretaccedilatildeo eacute ―uma atividade de mediaccedilatildeo pela qual o

inteacuterprete traz agrave compreensatildeo o sentido de um texto que se lhe torna problemaacutetico

devido a existir na linguagem da lei ―termos mais ou menos flexiacuteveis cujo significado

possiacutevel oscila dentro de uma larga faixa e que pode ser diferente segundo as

circunstacircncias750

e sua missatildeo eacute ―evitar a contradiccedilatildeo entre normas responder a

questotildees sobre concurso de normas e concurso de regulaccedilotildees e delimitar uma face agraves

outras as esferas de regulaccedilatildeo sempre que tal seja exigiacutevel751

Por isto o autor dispotildee que o objeto da interpretaccedilatildeo eacute o texto legal e que

mediante a interpretaccedilatildeo faz-se falar o sentido do texto tornando-o assim

―comunicaacutevel mas que para que o texto ―fale a algueacutem que esta pessoa tem que

entender ―alguma coisa daquilo que ele trata pois ele apenas ―responde a quem o

746 Ibidem p 216 Pois a finalidade do direito eacute regulamentar a vida em sociedade e para isto o magistrado deve

aplicar a lei de forma que ―()os tribunais () eacute que satildeo encarregados de dizer o direito motivando suas decisotildees

Ibidem p 221Diante da forma que a SV n13 foi editada (debates e redaccedilatildeo) parece que os Ministros do STF se

esqueceram que a normativa atingiria vaacuterios auditoacuterios natildeo soacute o executivo ndash poliacutetico como tambeacutem o legislativo o

judiciaacuterio e seria mateacuteria de anaacutelise do magisteacuterio doutrinaacuterio em todos os entes da federaccedilatildeo vez que os argumentos

apresentados pelo STF natildeo forem entendidos juridicamente e muito menos convenceram a todos estes auditoacuterios 747 Ibidem p 222 Afirma que a decisatildeo deve ser ―conforme ao direito em vigor e aceitaacutevel como tal por aqueles que

a examinaratildeo Ibidem p 223 Mas parece que os ministros do STF ao editarem a SV n13 apenas se ocuparam com

o poder executivo sob o argumento de que a vedaccedilatildeo do nepotismo decorria do anseio da sociedade 748 Ibidem p 240 O autor ressalva ainda que o magistrado ao realizar o raciociacutenio juriacutedico pode realizar o

silogismo poreacutem pela loacutegica juriacutedica deve ser ater a demonstrar a aceitabilidade das premissas que resultam da

confrontaccedilatildeo das provas das argumentaccedilotildees dos valores e de tudo o mais apresentado na demanda 749 Ibidem p 241-242 Parece ser esta uma das falhas no procedimento de ediccedilatildeo da SV n13 pelo STF 750 LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 439 Tanto eacute assim que uma mesma expressatildeo eacute usada em diferentes leis e inclusivamente na

mesma lei em diferentes sentidos Neste iacutenterim o autor ainda lembra da necessidade da interpretaccedilatildeo quando ―duas

proposiccedilotildees juriacutedicas prescrevem para a mesma situaccedilatildeo duas consequecircncias juriacutedicas que reciprocamente se excluem

sendo tambeacutem neste momento imprescindiacutevel aplicar a interpretaccedilatildeo 751 LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 441

132

interroga corretamente E por assim ser conforme o autor o inteacuterprete ―precisa

conhecer a linguagem da lei e o contexto de regulaccedilatildeo em que a norma se encontra752

Contudo Larenz ressalta que cada nova interpretaccedilatildeo transforma a aplicaccedilatildeo

efetiva da respectiva norma e que por isso natildeo haacute como admitir a ideia de que o

inteacuterprete eacute passivo de apenas ―deixar falar a norma753

Dessa forma o juiz ao interpretar um determinado termo ou proposiccedilatildeo

juriacutedica deve fazecirc-lo ―natildeo apenas precisamente para este caso concreto mas de maneira

que a sua interpretaccedilatildeo possa ser efetiva para todos os outros casos similares e ainda

com ―conhecimento adequado apoiado em razotildees compreensiacuteveis mesmo natildeo

havendo ―uma interpretaccedilatildeo absolutamente correta754

O autor informa que a correccedilatildeo da decisatildeo eacute de acordo com ordem juriacutedica e o

momento e que os tribunais natildeo estatildeo ―presos a determinada interpretaccedilatildeo mas sempre

que ―mudem ou pretendam mudar de orientaccedilatildeo estatildeo obrigados a expor suas razotildees e

estas tecircm que ser de tal ordem que possam sustentar a nova interpretaccedilatildeo Dessa

maneira ―a atividade interpretativa do juiz eacute conforme ensina Larenz subordinada agrave

exigecircncia de ―correccedilatildeo dos seus resultados755

A partir disso afirma que ―toda interpretaccedilatildeo de texto deve iniciar-se com o

sentido literal mas que tambeacutem deve observar o ―contexto significativo da lei vez

que um termo ―segundo o uso da linguagem pode ter vaacuterios significados de acordo

com o contexto da lei 756

Contudo ressalva que como tais criteacuterios ainda ―deixam em aberto diferentes

possibilidades de interpretaccedilatildeo e que por isso deve-se observar qual ―a interpretaccedilatildeo

que melhor corresponde agrave intenccedilatildeo reguladora do legislador ou agrave sua ideia

752Ibidem p 441 753 Ibidem p 441-442 754 Ibidem 442-443 ―No sentido de que seja tanto definitiva como vaacutelida para todas as eacutepocas devido agrave ―variedade

inabarcaacutevel e permanente da mutaccedilatildeo das relaccedilotildees da vida que colocam aquele que aplica a norma constantemente

perante novas questotildees bem como de acordo com a ―totalidade do ordenamento juriacutedico respectivo e com ―as

pautas de valoraccedilatildeo que lhe satildeo subjacentes p 443 755 Ibidem 359 Nesse iacutenterim constata que embora existam duas teorias contrapostas sobre a interpretaccedilatildeo da lei a

―subjetivista ou de vontade e a ―objetivista ou da interpretaccedilatildeo imanente agrave lei que ambas possuem uma parte de

verdade mas que devem ser aceitas ―com limitaccedilotildees Ibidem p 445

Nesse contexto o autor ainda explica que ―A verdade da teoria subjetivista eacute que a lei juriacutedica () eacute expressatildeo de

uma vontade dirigida agrave criaccedilatildeo de uma ordem tanto quanto possiacutevel justa e adequada agraves necessidades da sociedade

E que por isso ―Por detraacutes da lei estaacute uma determinada intenccedilatildeo reguladora estatildeo valoraccedilotildees aspiraccedilotildees e reflexotildees

substantivas que nela acharam expressatildeo mais ou menos clara De outro lado o autor afirma que ―A verdade da

teoria objetivista eacute que uma lei logo que seja aplicada irradia uma accedilatildeo que lhe eacute peculiar que transcende aquilo que

o legislador tinha intentado Ibidem p 446 756 Ibidem p 450 Conforme o autor ―o sentido literal a extrair do uso linguiacutestico () serve agrave interpretaccedilatildeo ()

como uma primeira orientaccedilatildeo assinalando por outro lado enquanto sentido literal possiacutevel () o limite da

interpretaccedilatildeo propriamente dita Delimita de certo modo o campo em que se leva a cabo a ulterior atividade do

inteacuterprete Ibidem p 457

133

normativa757

indo o inteacuterprete ateacute ―aleacutem da vontade do legislador entendendo-a de

acordo com a sua proacutepria racionalidade758

Daiacute expotildee sobre os criteacuterios de interpretaccedilatildeo759

teleoloacutegico-objetivo760

e

princiacutepios eacutetico-juriacutedicos761

que devem nortear a interpretaccedilatildeo e assim afirma que o

―preceito da interpretaccedilatildeo conforme a constituiccedilatildeo tem ―uma importacircncia acrescida aos

princiacutepios elevados a niacutevel constitucional762

pois satildeo ―princiacutepios e decisotildees

valorativas763

que determinam a invalidade da legislaccedilatildeo ordinaacuteria contraacuteria quando

esta natildeo pode ser ―interpretada em conformidade com a Constituiccedilatildeo764

E entatildeo elucida que a ―interpretaccedilatildeo em conformidade com a Constituiccedilatildeo eacute

―um criteacuterio de interpretaccedilatildeo preferiacutevel dentre ―as vaacuterias interpretaccedilotildees possiacuteveis

aleacutem de natildeo poder ―ultrapassar os limites que resultam de sentido literal possiacutevel e do

contexto significativo da lei765

eacute ―aquela que melhor concorda com os princiacutepios da

Constituiccedilatildeo766

Nesse diapasatildeo afirma que o inteacuterprete deve preferir aquela interpretaccedilatildeo que

melhor se ajuste ―agrave intenccedilatildeo reguladora do legislador e ao escopo da norma em causa

pois o juiz ao realizar a interpretaccedilatildeo ―estaacute vinculado por princiacutepio aos fins da lei e agraves

757 LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 462 758 Ibidem p 468 759 Aqui vale ressaltar que o autor afirma que ―os criteacuterios de interpretaccedilatildeo natildeo satildeo apenas diferentes meacutetodos de

interpretaccedilatildeo entre os quais o inteacuterprete possa escolher segundo o seu arbiacutetrio mas pontos de vistas metoacutedicos que

devem ser todos tomados em consideraccedilatildeo para que o resultado da interpretaccedilatildeo deva poder impor a pretensatildeo de

correccedilatildeo (no sentido de um enunciado adequado) E ainda acrescenta que ―os diversos criteacuterios como o sentido

literal e tambeacutem frequentemente a conexatildeo de significado da lei deixam sempre em aberto diferentes possibilidades

de interpretaccedilatildeo outros frequentemente natildeo funcionam porque por exemplo o entendimento da norma por parte do

legislador histoacuterico jaacute natildeo eacute possiacutevel de se constatar E que por isto ―Natildeo raramente necessita-se de uma

laquoponderaccedilatildeoraquo de diferentes pontos de vistardquo Ibidem p 450 760 Conforme o autor ―() trata-se das estruturas do acircmbito material regulado dados factuais em relaccedilatildeo aos quais

nem o legislador pode alterar o que quer que seja e que ele toma em consideraccedilatildeo de modo racional a propoacutesito de

qualquer regulaccedilatildeo Idem p 469 761 De acordo com as liccedilotildees do autor ―estatildeo antepostos a uma regulaccedilatildeo nos quais a referecircncia de sentido dessa

regulaccedilatildeo agrave ideia de Direito se torna apreensiacutevel manifesta Ibidem p 469-470 762 Ibidem p 479 763 Os valores que satildeo reconhecidos na Lei Fundamental podem estar dispostos como princiacutepios ou como direitos

fundamentais e ―se relacionam uns com os outros de acordo com o sentido e por isso podem tanto complementar-se

como delimitar-se entre si Ibidem p 483 764 Ibidem p 479 765 Ibidem p 480-481 Parece que os Ministros do STF ultrapassaram este limite ao estabelecerem uma Suacutemula

Vinculante que veda minuciosamente o nepotismo como decorrente apenas do conteuacutedo dos princiacutepios

constitucionais que regem a administraccedilatildeo especialmente o da moralidade da imparcialidade e da eficiecircncia

Realmente a vedaccedilatildeo do nepotismo eacute consequecircncia da autoaplicaccedilatildeo de tais princiacutepios mas isto natildeo quer dizer que a

redaccedilatildeo da Suacutemula na forma em que estaacute eacute decorrente de apenas deles vez que tece minucias quanto agrave noccedilatildeo de

nepotismo que nem mesmo em uma interpretaccedilatildeo ampla podem ser observadas como consequecircncia da autoaplicaccedilatildeo

de tais princiacutepios 766 Ibidem p 480 Nesse sentido assevera que ―quando a interpretaccedilatildeo mais antiga estaacute em contradiccedilatildeo com um

princiacutepio constitucional haacute de verificar-se se eacute possiacutevel uma interpretaccedilatildeo conforme a Constituiccedilatildeo se o for haacute de

preferir-se esta se natildeo haacute de denegar-se validade agrave norma como contraacuteria agrave Constituiccedilatildeo Ibidem p 488- 489

134

decisotildees valorativas do legislador a ele subjacente767

e que como os criteacuterios guardam

relaccedilatildeo entre si que o peso deles depende do modo como se apresentam no caso

concreto podendo apoiar-se reciprocamente768

Ainda ressalta que natildeo haacute como definir em que momento uma interpretaccedilatildeo

―originariamente legitimada haacute de ceder agrave outra que se orienta por pautas atuais mas

que a interpretaccedilatildeo ―eacute uma atividade criadora do espiacuterito e que aquele que a realiza tem

―uma margem de livre apreciaccedilatildeo dentro da qual satildeo plausiacuteveis diferentes resoluccedilotildees

mas desde que ―fundamente as razotildees porque considera algum criteacuterio como

determinante769

Nesse enredo ainda dispotildee que quando o inteacuterprete tiver ―esgotado todas as

possibilidades de alcanccedilar um resultado metodologicamente assegurado ele ainda pode

―encontrar uma decisatildeo de sua exclusiva responsabilidade mas que nesse contexto ele

deve explicar a valoraccedilatildeo pessoal que foi realizada770

uma vez que tudo gira em volta

do ―caso concreto que tem de resolver771

Daiacute tambeacutem afirma que a aspiraccedilatildeo ―legiacutetima do magistrado eacute ―um

imperativo de ordem moral e que por isso ele deve procurar na lei ―possibilidades de

soluccedilotildees que satisfaccedilam a justiccedila mesmo que esta ―natildeo possa ser sempre alcanccedilada

Nesse diapasatildeo ainda explica que o juiz mesmo detendo ―uma opiniatildeo preliminar

relativa agrave resoluccedilatildeo que haacute de achar eacute obrigado a ―permitir que a sua opiniatildeo

preliminar seja retificada pela lei772

Natildeo sendo portanto liacutecito ao juiz ―introduzir na lei o que deseja extrair dela

pois natildeo pode ―sobrepor-se agrave decisatildeo valorativa do legislador vez que a ―justiccedila da

resoluccedilatildeo do caso eacute ―uma meta desejaacutevel de atividade judicial que deve ser realizada

nos termos das leis vigentes e dos princiacutepios juriacutedicos reconhecidos em conformidade

767 LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 485-486 768 Ibidem p 488 Como o criteacuterio do sentido literal e o contexto que delimitam as diversas interpretaccedilotildees possiacuteveis

Contudo Larenz ressalta que como ―o sentido literal delimita a interpretaccedilatildeo possiacutevel de uma disposiccedilatildeo eacute

recomendaacutevel comeccedilar por ele com isso eacute-se logo conduzido ao contexto significativo Ibidem p 488 Nesse

contexto aduz que os criteacuterios teleoloacutegicos satildeo decisivos pois satildeo por um lado ―as estruturas materiais do acircmbito da

norma e por outro lado os princiacutepios juriacutedicos imanentes ao ordenamento juriacutedico Ibidem p 487 769 Ibidem p 489 Mas parece que tal accedilatildeo tambeacutem natildeo foi clara e completamente explicitada pelos Ministros do

STF ao editarem a SV n13 770 Ibidem p 489 Muitas das valoraccedilotildees apresentadas pelos Ministros nos debates que antecederem a SV n13 se

assemelham mais a valoraccedilotildees pessoais que juriacutedicas 771 Ibidem p 491 Natildeo parece que com a ediccedilatildeo da SV n13 o STF tenha dado a resoluccedilatildeo mais justa aos casos

concretos posteriores a ela 772 Idem p 492-493

135

com ―o auxiacutelio das regras de interpretaccedilatildeo mencionadas no decurso de um

desenvolvimento jurisprudencial do Direito que seja admissiacutevel773

Nesse diapasatildeo nota que o Estado se encontra em situaccedilatildeo perigosa pois se

por um lado haacute a ―perda de autoridade do legislador atual que soacute raras vezes se ocupa

do tempo necessaacuterio () a examinar cuidadosamente as suas formulaccedilotildees e natildeo raro se

omite em absoluto quanto agrave regulaccedilatildeo quando esta deve esperar-se dele por outro haacute

o juiz ―que sorteia o Direito estatuiacutedo para substituir as pautas legais pela sua ideia

pessoal de justiccedila774

E sintetiza esse toacutepico afirmando que a modificaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo anterior

ocorre quando a ―alteraccedilatildeo da situaccedilatildeo normativa motiva a revisatildeo devido agrave variaccedilatildeo

das relaccedilotildees faacuteticas ―de tal modo que a norma dada deixou de se ajustar agraves novas

relaccedilotildees devido ao passar do tempo que natildeo estaacute na quietude775

Desta feita para Larenz a ―aplicaccedilatildeo correta do direito () natildeo soacute autoriza o

juiz a desenvolvecirc-lo no sentido de continuar a formaacute-lo atraveacutes da interpretaccedilatildeo como

ateacute mesmo obriga-o a isso podendo ao realizar a interpretaccedilatildeo do direito ―aplicar a

formulaccedilatildeo integradora e ndash em determinados limites ndash corretora ou modificativa do

direito pois intriacutenseca agrave atividade judicante mas resta questionar sobre os limites

dessa faculdade776

3124 Inocecircncio Maacutertires Coelho

Inocecircncio Maacutertires Coelho elucida que existem ―traccedilos comuns a atividade

interpretativa e que ―uma preacutevia formulaccedilatildeo teoacuterica sobre a interpretaccedilatildeo juriacutedica em

geral eacute imprescindiacutevel para que se possa desenvolver posteriormente a ―hermenecircutica

constitucional sem ―transgressotildees metodoloacutegicas inoportunas777

773 LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 493 E ainda acrescenta que a decisatildeo equitativa tem ―o papel na interpretaccedilatildeo de ―repensar de

novo a interpretaccedilatildeo da lei e ―achar novos pontos de vistas Ibidem p 493 ―A aspiraccedilatildeo a uma justiccedila de caso eacute

assim um fator legiacutetimo no processo de decisatildeo judicial conquanto natildeo induza o juiz a manipular a lei de acordo

com as suas convicccedilotildees () as indicaccedilotildees metoacutedicas ajudam pouco aqui em caso de conflito () da fidelidade agrave lei

que lhe eacute preceituada e a justiccedila do caso por ele buscada o juiz soacute em uacuteltimo termo pode decidir segundo sua proacutepria

consciecircncia Ibidem p 494 Na realidade os Ministros do STF elaboraram uma normativa segundo suas

consciecircncias mas natildeo asseguraram a justiccedila 774 Ibidem p 494 775 Entretanto o autor ressalta que ―natildeo eacute toda modificaccedilatildeo que provoca alteraccedilatildeo do conteuacutedo da norma mas quando

ocorre pode impelir a uma soluccedilatildeo ndash por via de uma interpretaccedilatildeo modificada ou de um desenvolvimento judicial do

direito Ibidem p 495Com isto poder-se-ia aduzir que a SV n13 reviu a noccedilatildeo de nepotismo e a sua consequente

vedaccedilatildeo disposta pela legislaccedilatildeo anterior devido ao tempo 776 Ibidem p 424 777 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 35Nesse enredo expotildee

sobre a hermenecircutica juriacutedica e como deveria ser a sua aplicaccedilatildeo no acircmbito judicial ndash como os magistrados deveriam

decidir

136

E ensina que o processo interpretativo observado como procedimento de

resposta a um problema ―eacute uacutenico e idecircntico em seus elementos fundamentais778

embora seja diverso quanto agraves suas variadas formas de aplicaccedilatildeo e que a Constituiccedilatildeo e

a lei embora sejam ―objetos culturais materialmente idecircnticas divergem quanto aos

―aspectos externos779

Nesse diapasatildeo assevera o professor que ―a interpretaccedilatildeo de qualquer norma

juriacutedica eacute uma atividade intelectual e que ao extrair o sentido do enunciado normativo

possibilita sua aplicaccedilatildeo agraves situaccedilotildees faacuteticas concretas pois retira o sentido do texto e

diminui a extensatildeo que haacute entre a ―generalidade da norma e a singularidade do caso

concreto780

E entatildeo constata que por meio da concretizaccedilatildeo ocorrida com a aplicaccedilatildeo do

texto juriacutedico ao caso concerto ―eacute que se revela () o conteuacutedo significativo da norma

e que esse processo ―nunca apresenta um termo final ou seja eacute uma atividade

infinita781

Diante disto Inocecircncio Coelho ressalta que no acircmbito do judiciaacuterio ―as

exigecircncias sociais satildeo absorvidas e racionalizadas pelo aplicador do direito por ―novas

leituras dos mesmos enunciados normativos e que essas podem ser ―tatildeo inovadoras

que chegam a criar modelos juriacutedicos inteiramente novos782

E nota que ―quando os juiacutezes e tribunais emprestam sentidos novos a um

mesmo enunciado normativo produzem ―novos enunciados e funcionam ―como

instacircncias heterocircnomas de criaccedilatildeo abreviada do direito783

natildeo apenas porque os fatos

que exercem influecircncia sobre os modelos juriacutedicos alterando o sentido da norma mas

tambeacutem porque constituem ―o significado das regras de direito sendo a adaptaccedilatildeo das

normas a eles ―requisito sine qua non da proacutepria efetividade do direito que soacute funciona

na medida em que se manteacutem sintonizado com a realidade social da qual emerge e

sobre a qual atua784

778 Ibidem p 36 779 Ibidem p 35 780 Ibidem p 36 781 Ibidem p 37 ―infinita pela razatildeo de que uma interpretaccedilatildeo que parecia adequada pode ser demonstrada

incorreta e porque sempre satildeo possiacuteveis novas e melhores interpretaccedilotildees possiacuteveis porque a cada vez conforme a

eacutepoca histoacuterica em que vive o inteacuterprete e com base no que ele sabe natildeo se excluem interpretaccedilotildees que

precisamente para aquela eacutepoca e para o que na eacutepoca se sabe satildeo melhores ou mais adequadas do que outras

Giovanni Reale amp Dario Antiseri (1991 v III p 630) apud Inocecircncio Maacutertires Coelho p 37 782 Ibidem p 37 783 COELHO Inocecircncio Maacutertires Op cit p 39 Nesse enredo o autor explica que agrave ―luz da experiecircncia juriacutedica

verificamos que isso ocorre em razatildeo das mudanccedilas que se operam continuamente no prisma histoacuterico-social de

aplicaccedilatildeo do direito exigindo soluccedilotildees novas e imediatas Idem p 39 784 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 41

137

Daiacute afirma o doutrinador que o magistrado ao ―ajustar normas e fatos realiza

uma atividade que une ―a compreensatildeo a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo dos modelos

juriacutedicos e que dessa forma exerce ―o papel de agente redutor da distacircncia entre a

generalidade da norma e a singularidade do caso concreto e cria ―a norma de decisatildeo

concreta ou a norma do caso () decidindo em vistas das particularidades da situaccedilatildeo

posta a seu julgamento realizando enquanto inteacuterprete-aplicador do direito um

processo - imprescindiacutevel agrave compreensatildeo do ―modelos juriacutedicos que deve aplicar785

-

de refazimento do ―caminho do legislador a partir do questionamento do texto quanto

aos problemas sociais que ensejaram determinada resposta normativa786

Por isto o autor elucida que o magistrado-inteacuterprete deve a fim de

compreender o significado do texto aleacutem de atentar para o passado observar ―a si

mesmo e a ―concreta situaccedilatildeo hermenecircutica em que se encontra pois eacute o inteacuterprete

que concretiza a norma juriacutedica e o faz no presente em que vive 787

Desta feita arremata que a ―aplicaccedilatildeo de qualquer norma juriacutedica visa

solucionar as intempeacuteries do momento em conformidade com os valores do tempo do

inteacuterprete e por decisatildeo deste como autoridade legitimada a ―criar modelos juriacutedicos e

dotaacute-los de eficaacutecia e ainda que o magistrado-inteacuterprete deve com o fito de

―reconhecer o significado juriacutedico da lei realizar a adequaccedilatildeo da lei agraves necessidades

reais a fim de solucionar de forma praacutetica a demanda a ele apresentada788

Assim Inocecircncio Maacutertires dispotildee que isso representa o ―significado exemplar

ou paradigmaacutetico da hermenecircutica juriacutedica pois a partir daiacute se integram ―os horizontes

significativos do texto normativo e o de seu aplicador jaacute que possibilita que o

inteacuterprete aplicador expanda seu ―horizonte ao ―fundi-lo com o horizonte do texto789

785 Ibidemp 43-44 E ressalta que segundo Gadamer ―compreender eacute sempre aplicar que ―a tarefa da interpretaccedilatildeo

consiste em concretizar a lei em cada caso isto eacute na sua aplicaccedilatildeo e que a ―aplicaccedilatildeo natildeo eacute uma etapa derradeira e

eventual do fenocircmeno de compreensatildeo mas um elemento que a determina desde o princiacutepio e no seu conjunto

Ibidem p 44 786 Ibidem p 44 O autor lembra a partir de Larenz que para se questionar o texto deve se saber sobre o que ―ele

trata pois ele ―soacute responde a quem o interroga corretamente Larenz (1989 p 337) apud Inocecircncio (1997p 44) E

ainda conclui que por isto ―parece liacutecito considerar que uma pergunta bem feita jaacute representa mais de meio caminho

para se chegar agrave resposta Ibidem p 44 787 Ibidem p 46Nesse contexto o autor ainda cita Richard Palmer que afirma ―() tanto ao transmitir um juiacutezo

como ao pregar um sermatildeo a interpretaccedilatildeo deve incluir natildeo soacute a interpretaccedilatildeo do que o texto representava no seu

proacuteprio mundo na circunstacircncia em que produziu como tambeacutem aquilo que significa no momento atual porque em

todo o ato de compreensatildeo se daacute uma aplicaccedilatildeo ao presente Ibidem p 46 788 Ibidem p 47 789 Ibidem p 47

138

Nesse ensejo afirma que interpretar eacute essencial ao magistrado inteacuterprete -

aplicador do direito pois possibilita a ele que amplie e aprimore sua visatildeo e sua

persuasatildeo por meio de novos elementos analiacuteticos790

Contudo o autor lembra que se por um lado tal atividade abre o ―campo

visual do magistrado-inteacuterprete por outro remonta agrave necessidade de o aplicador do

direito ―prestar contas do seu trabalho interpretativo para que este se demonstre

legiacutetimo ―haacute de ser racional objetivo e controlaacutevel pois natildeo se coaduna com a ideia de

Estado de Direito a figura de um oraacuteculo despoacutetico ou iluminado que se ponha acima

da lei e dos criteacuterios usuais de interpretaccedilatildeo Sendo portanto imprescindiacutevel aplicar

criteacuterios em ―todo o itineraacuterio hermenecircutico onde as regras de interpretaccedilatildeo

demonstram os ―passos do processo do pensamento essenciais a evidenciar ―a

racionalidade do seu desenvolvimento791

Daiacute assevera que ―soacute eacute possiacutevel uma hermenecircutica juriacutedica onde a lei vincule

por igual a todos os membros da comunidade juriacutedica tanto os governantes quanto os

governados tanto os legisladores quanto os juiacutezes e que este processo transparece o

raciociacutenio desenvolvido e possibilita num ―imperativo eacutetico-poliacutetico o convencimento

daqueles a quem ―as decisotildees dos agentes puacuteblicos se destinam792

Ainda elucida que satildeo obrigatoacuterias a publicidade e a motivaccedilatildeo das decisotildees

dos magistrados pois traduzem a validade ou natildeo do proacuteprio ato decisoacuterio bem como a

sua compatibilidade ou natildeo com ―a ideia do direito enquanto instrumento de ordenaccedilatildeo

justa e racional da convivecircncia humana sendo a motivaccedilatildeo da decisatildeo natildeo apenas o

elemento assecuratoacuterio da racionalidade da decisatildeo como tambeacutem da proacutepria decisatildeo

pois eacute ―condiccedilatildeo de legitimidade e de eficaacutecia do seu labor hermenecircutico cujo resultado

soacute se tornaraacute coletivamente vinculante se obtiver o consenso social que no caso

funcionaraacute senatildeo como prova pelo menos como sintoma de racionalidade793

E que esse consenso deve ser de todos aqueles que ―possam ser afetados pela

decisatildeo por meio de um procedimento em que ―participem como livres e iguais da

busca cooperativa da verdade na qual ―a uacutenica forma de coerccedilatildeo que se pode exercer eacute

a coerccedilatildeo das coerccedilotildees que exercem os bons argumentos pois ―o ideal de

racionalidade de objetividade e mesmo de seguranccedila juriacutedica aponta para o 790 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997p 47 791 Ibidemp 47-48 792 Ibidem p 48 793 Ibidem p 49 O autor assevera na p 26 da ediccedilatildeo de sua obra em 2011 que considera vaacutelido ―() utilizar como

paracircmetros de controle e legitimaccedilatildeo da atividade hermenecircutica a consciecircncia juriacutedica geral e o devido processo

legalrdquo uma vez que ambos ―tecircm-se mostrado pelo menos razoaacuteveis na medida em que impedem os voluntarismos

mas natildeo inibem a necessaacuteria criatividade dos inteacuterpretes e aplicadores do direito

139

imperativo de se evitar ao maacuteximo ―o momento puramente subjetivo da

interpretaccedilatildeo e com isto diminuir o ―resiacuteduo incocircmodo de voluntarismo que se faz

presente inevitavelmente em todo trabalho hermenecircutico794

Assim Inocecircncio Maacutertires elucida que as decisotildees judiciais - para serem

―modelos jurisdicionais por excelecircncia devem estar ―revestida de legitimidade e

eficaacutecia795

e que o exerciacutecio da hermenecircutica juriacutedica eacute delimitado por quatro

condiccedilotildees gerais destacando dentre elas ―o caraacuteter linguiacutestico - que eacute comum a

qualquer interpretaccedilatildeo796

―o caraacuteter necessaacuterio da atividade interpretativa que

desmistifica a existecircncia de legislaccedilatildeo cujo dispositivo natildeo suscita quaisquer ―duacutevidas

obscuridades ou contradiccedilotildees

o fato de que a atividade interpretativa eacute

―contextualizada o que impede que o inteacuterprete atribua significaccedilatildeo arbitraacuteria aos

enunciados legais - proibido dizer aleacutem da redaccedilatildeo do texto legal - esse eacute o limite da

interpretaccedilatildeo797

e por fim o ―caraacuteter unitaacuterio do seu procedimento que resulta em

uma ―unidade de compreensatildeo onde se integram todos ―instrumentos

hermenecircuticos798

E entatildeo o autor constata que a interpretaccedilatildeo das normas juriacutedicas eacute vista

atualmente como ―um conjunto de meacutetodos desenvolvidos pela doutrina e

jurisprudecircncia com base em criteacuterios ou premissas diferentes mas reciprocamente

complementares799

o que faz inexistir qualquer hierarquia entre tais criteacuterios e assim

garante por um lado maior ―liberdade ao juiz800

e por outro demonstra a inocorrecircncia

de qualquer competiccedilatildeo entre os ―chamados meacutetodos de interpretaccedilatildeo do direito801

794 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 49-50 Entretanto

informa que o ponto de vista subjetivo ocorre natildeo de cada um mas do ponto de vista comum ndash denominador comum

dos inteacuterpretes - dito ―intersubjetivo transcendental pelo qual ―poderatildeo chegar a resultados semelhantes que

edificam o ―entendimento objetivo da decisatildeo Ibidem 50-51 Isso foi observado nos precedentes da SV n13

apenas quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo pela autoaplicaccedilatildeo dos princiacutepios dispostos no caput do artigo 37 da CF88 795 Ibidem p 38 796 Ibidem p 54 Descortina a prescindibilidade da disputa entre aqueles que entendem que a finalidade da

interpretaccedilatildeo eacute decifrar ―por traacutes da norma juriacutedica ―a vontade do legislador e os que compreendem que eacute se

―curvar agraves palavras e agrave vontade da lei demonstrando que o verdadeiro ―objeto de interpretaccedilatildeo natildeo eacute a questatildeo

volitiva seja do legislador ou da lei mas a maneira como foi expressada por meio do ―feito ou falado 797 Ibidem p 55 Por isso se constata a necessidade de se interpretar o significado das palavras do dispositivo legal

natildeo apenas literalmente mas de forma contextualizada respeitando a ―autonomia do texto - ―condiccedilatildeo de

objetividade da interpretaccedilatildeo p 56 798 Ibidem p 61 799 Ibidem p 61-62 O que faz lembrar como afirmado pelo proacuteprio autor que Savigny jaacute elucidava que os

elementos ―gramatical loacutegico histoacuterico e sistemaacutetico satildeo ―quatro operaccedilotildees que se integram na atividade

interpretativa que sem a unificaccedilatildeo deles natildeo obtecircm ecircxito p 62 800 Ibidem p 62 ―Natildeo existe uma relaccedilatildeo hieraacuterquica fixa entre os diversos criteacuterios de interpretaccedilatildeo essa

pluralidade de meacutetodos torna-se um veiacuteculo de liberdade do juizlsquo (Martin Kriele) ateacute certo ponto acaba podendo

escolher o meacutetodo em funccedilatildeo do objeto e mesmo do resultado que ele estimando correto e justo pretende alcanccedilar

em cada caso Idem p 62 801 Ibidem p 63 ―Agrave vista dessa interdependecircncia dos procedimentos interpretativos ndash que se entrelaccedilam sob a ideia

de que a decisatildeo do caso concreto para se qualificar como juriacutedica () os chamados meacutetodoslsquo de interpretaccedilatildeo do

direito () devem ser utilizados em conjunto e complementarmente para que o resultado afinal obtido possa refletir

140

Poreacutem afirma que isto natildeo quer dizer que o inteacuterprete por intermeacutedio de

―resultados preconcebidos possa ―afeiccediloar a norma com uma pseudo argumentaccedilatildeo e

assim realizar uma interpretaccedilatildeo discricionaacuteria dando uma significaccedilatildeo diversa da

delimitada pelo enunciado legal e ainda legitimar tais resultados pois tal ato natildeo soacute

desqualificaria a anaacutelise do resultado como ―instrumento de controle da interpretaccedilatildeo

como infringiria a lei pois sua liberdade eacute ―objetivamente vinculada devendo sua

decisatildeo ser ―correta e justa para ser considerada juriacutedica802

32 Hermenecircutica Constitucional o poder normativo e a intepretaccedilatildeo dos

princiacutepios e postulados constitucionais

Nesse item se trata da interpretaccedilatildeo dos postulados e princiacutepios constitucionais

no acircmbito da Hermenecircutica Constitucional e tambeacutem do poder normativo que tal

atividade interpretativa pode suscitar ao Supremo Tribunal Federal no exerciacutecio da

jurisdiccedilatildeo constitucional

Partindo das liccedilotildees de Gadamer deve-se atentar que a hermenecircutica

constitucional transformou-se na teoria do conhecimento juriacutedico ou ―no conhecimento

do conhecimento do direito pois ela tem a tarefa ―de interpretar as diferentes

interpretaccedilotildees do fenocircmeno juriacutedico a partir da anaacutelise criacutetica das muacuteltiplas leituras da

lei fundamental e dos vaacuterios mundos constitucionais que podem emergir dessas

leituras803

Do que se passa agrave apreciaccedilatildeo e constataccedilatildeo de que se a questatildeo hermenecircutica eacute

melindrosa no acircmbito da aplicaccedilatildeo judicial de forma ampla o eacute ainda mais quando

aposta estritamente pelo Supremo Tribunal Federal

321 Inocecircncio Maacutertires Coelho

Na hermenecircutica aplicada no acircmbito da jurisdiccedilatildeo constitucional eacute ainda mais

intrigante o fato de que a ―criatividade exercida pelos ministros ―a rigor natildeo conhece

limites natildeo apenas porque a proacutepria corte constitucional estaacute ―fora e acima da

triparticcedilatildeo dos poderes como tambeacutem porque os ―enunciados constitucionais satildeo

―abertos indeterminados e polissecircmicos fazendo com que o tribunal constitucional

―inteacuterprete final da Constituiccedilatildeo e juiz uacuteltimo de sua proacutepria autoridade seja ― variante

do poder legislativo 804

toda a complexidade dos afazeres hermenecircuticos como atividade na qual se fundem necessariamente a compreensatildeo

a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo de modelos juriacutedicos Ibidem p 63 802 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 62-63 803 GADAMER Hans-Georg Verdad y meacutetodo Salamanca Siacutegueme v I p 396414 804 COELHO Op cit p 38

141

Nesse iacutenterim o autor afirma que a hermenecircutica constitucional eacute diversa da

legal vez que a Constituiccedilatildeo devido agrave sua ―natureza estrutura e finalidade apresentar-

se ―como um sistema aberto de regras e princiacutepios que necessitam da mediaccedilatildeo de

legisladores e juiacutezes para lograrem efetividade805

e sua respectiva hermenecircutica visa

obstar os ―procedimentos que ultrapassam os limites da interpretaccedilatildeo e produzem

resultados hermenecircuticos incompatiacuteveis com os princiacutepios estruturais da lei

fundamental806

Assim no acircmbito da interpretaccedilatildeo constitucional as normas positivadas aleacutem

de natildeo traduzirem ―decisotildees inequiacutevocas do legislador tambeacutem natildeo exprimem uma

―suposta ou imaginaacuteria vontade da proacutepria Constituiccedilatildeo limitando-se na maioria das

vezes a proclamar princiacutepios ou a apontar os objetivos sendo nela que ―mais se

manifesta a criatividade dos aplicadores do direito Mas que isso natildeo significa que - no

―domiacutenio hermenecircutico807

- admitir ―alteraccedilotildees no acircmbito ou na esfera da norma

traduz rupturas ou revisotildees apoacutecrifas a ensejar ―uma realidade inconstitucional

manifestamente incomportaacutevel no programa da norma constitucional808

pois se por

um lado as ―viragens da jurisprudecircncia evidenciam que houve alteraccedilatildeo no

significado que se dispunha a algum texto legal por outro devem estar expressamente

fundamentadas nos motivos que as balizaram e que tenham calccedilado o afastamento do

inteacuterprete de um criteacuterio normalmente utilizado 809

E dessa forma o doutrinador alega parecer que ―em decorrecircncia do modo

como se altera a realidade social a escolha do caso ou do momento em que se deve

atribuir um novo significado a determinado texto de lei eacute ateacute certo ponto uma decisatildeo

discricionaacuteria dos aplicadores do direito810

e nesse enredo passa a elucidar sobre a

―interpretaccedilatildeo constitucional e a criaccedilatildeo judicial do direito asseverando que a corrente

interpretativista considera ―incompatiacutevel com o princiacutepio democraacutetico qualquer

criatividade judicial que proporcione ―interpretaccedilatildeo dos enunciados normativos aleacutem

do ―significado linguisticamente possiacutevel da lei e assim imprima aos juiacutezes ―uma

805 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 26 806 Ibidem p 40 807 Ibidem p 54-55 808 Ibidem p 40 Na mesma linha de Gomes Canotilho 809 Ibidem p 60 Nesse iacutenterim o autor cita Robert Alexy ―Quem resolve desprezar um precedente assume o ocircnus

da argumentaccedilatildeo pois natildeo parece sensato renunciar sem justificaccedilatildeo ao que ateacute entatildeo vinha sendo adotado como

prevalecente p 60 Nesse diapasatildeo cumpre afirmar que os ministros do STF inovaram jurisprudecircncia nos

precedentes da Suacutemula especialmente no terceiro e quarto quanto a entendimento referentes agraves disposiccedilotildees legais e

constitucionais mas natildeo fundamentaram criteriosamente nenhuma destas inovaccedilotildees 810 Ibidem p 60

142

legitimidade que eacute privativa dos titulares dos mandatos poliacuteticos 811

e que a corrente

natildeo-interpretativista defende que eacute fidedigno por meio de valotildees como justiccedila

igualdade e liberdade se conceber aos magistrados-aplicadores do direito uma

―competecircncia interpretativa em sentido forte especialmente porque a Constituiccedilatildeo eacute

formada de ―princiacutepios juriacutedicos abertos indeterminados 812

Daiacute conclui que a corrente natildeo-interpretativa como ―pano de fundo

substanciou ―ensaios rumo agrave autonomia e agrave especificidade da interpretaccedilatildeo

constitucional que exige do inteacuterprete ―situar-se em perspectiva metodologicamente

adequada ao objeto do seu afazer hermenecircutico 813

Nesse diapasatildeo Inocecircncio Maacutertires afianccedila que a Constituiccedilatildeo ―determina a

escolha do meacutetodo adequado a seu conhecimento e em poder do inteacuterprete cria os

―objetos hermenecircuticos num processo aberto e infinito mas que sua ―consistecircncia

deve ser controlada por meio da verificaccedilatildeo de seus ―resultados a partir de um

―criteacuterio de verdade baseado na justiccedila da decisatildeo em cada caso concreto natildeo

podendo as decisotildees dos inteacuterpretes constitucionais ser arbitraacuterias pois mesmo

havendo o resquiacutecio ―incocircmodo do ―voluntarismo deve-se controlar o proacuteprio criteacuterio

que foi utilizado no ―procedimento legitimador do ―ponto de vista formal por meio

da ―exigecircncia do devido processo legal e do ―ponto de vista substancial pela

―consciecircncia juriacutedica geral - que eacute formada por criteacuterios traduzidos pelos princiacutepios

juriacutedicos ―pelos valores eacuteticos reconhecidos na comunidade juriacutedica pela ―natureza

das coisas e pela ―consciecircncia axioloacutegica da comunidade juriacutedica814

- e natildeo apenas

pela individual do juiz

Nesse enredo o doutrinador explicita que ―a peculiaridade da estrutura

normativo-material da parte dogmaacutetica da Constituiccedilatildeo - que ―justifica a existecircncia de

uma interpretaccedilatildeo especificamente constitucional - decorre do fato de que ―as normas

constitucionais natildeo contecircm uma previsatildeo por elementos limitando-se a enunciar

princiacutepios ou criteacuterios gerais de valoraccedilatildeo que () soacute se tornam operantes depois de

densificados e concretizados pelo inteacuterprete aplicador e que por isso sua interpretaccedilatildeo

811 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 67 - 68 Segundo o

autor os adeptos desta corrente explicam que interpretar natildeo eacute criar mas aplicar e que desequilibraria a ―balanccedila se

aos juiacutezes fosse delegada a competecircncia de criar normas juriacutedicas por meio da interpretaccedilatildeo sendo imprescindiacutevel

rechaccedilar ―qualquer espeacutecie de ativismo judicial porque incompatiacutevel com a ordem juriacutedico-poliacutetica plasmada na

Constituiccedilatildeo p 68 812 Ibidem p 69 813 Ibidem p 73 814 Ibidem p 76

143

eacute especifica - realizada a partir do estudo da ―estrutura normativo-material815

dos

princiacutepios 816

que satildeo ―mandamentos de otimizaccedilatildeo de ―importante dimensatildeo

institucional que atuam como ―fatores de criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de unidade poliacutetica

pois ―graccedilas agrave amplitude e indeterminaccedilatildeo dos seus enunciados 817

ensejam variadas

leituras devendo ser aplicados em ―diferentes graus de efetivaccedilatildeo818

Daiacute se extrai que a interpretaccedilatildeo constitucional eacute especiacutefica e autocircnoma

―enquanto atividade hermenecircutica que opera com princiacutepios isto eacute com preceitos cuja

estrutura normativo-material eacute aberta e indeterminada e por isto geradora de

significados muacuteltiplos819

e que existem criteacuterios e meacutetodos que induzem aspectos

―emancipadores820

a ela

Por isto afirma que a ―interpretaccedilatildeo constitucional eacute um conjunto de meacutetodos

embasados em ―criteacuterios ou premissas complementares que demonstram o ―caraacuteter

unitaacuterio das atividades interpretativas que deve ser realizada a partir das ―regras

tradicionais da hermenecircutica821

Nesse ensejo o autor ensina que a uma o criteacuterio toacutepico-problemaacutetico se volta

ao ―caraacuteter praacutetico da interpretaccedilatildeo e privilegia a interpretaccedilatildeo a partir de um

―processo aberto de argumentaccedilatildeo a duas que o hermenecircutico concretizador enseja a

interpretaccedilatildeo a partir da ―preacute-compreensatildeo que o inteacuterprete tem do texto (a quem cabe

―concretizar a norma) a trecircs que o meacutetodo que destaca a atividade criativa de quem

interpreta a Constituiccedilatildeo pois enseja a relaccedilatildeo entre o texto e o contexto e transforma ―o

ato interpretativo em movimento de ir e vir o chamado ciacuterculo hermenecircutico a

quatro que o cientiacutefico-espiritual cujo objetos satildeo os ―valores subjacentes agrave

Constituiccedilatildeo traduz sentido e realidade face agrave ―integraccedilatildeo comunitaacuteria e que por

fim a cinco o normativo estruturante permite ao inteacuterprete-aplicador - ao concretizar a

norma constitucional - realizar a conexatildeo entre a norma e a ―situaccedilatildeo normada

conformando o texto e a realidade 822

815COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 77-78 816 Ibidemp 83 Nesse diapasatildeo destaca que ―a atribuiccedilatildeo de maior importacircncia a um determinado princiacutepio natildeo

invalida nem sequer desqualifica a pauta que deixou de ser aplicada porque a sua pretericcedilatildeo teraacute decorrido

exclusivamente da anaacutelise das circunstacircncias do caso e que eles natildeo apresentam tensatildeo entre si mas que se isso

ocorrer ao serem aplicados caberaacute ao inteacuterprete realizar um ―meacutetodo de ponderaccedilatildeo entre eles que pode ser diversa

em cada um dos casos a fim de solucionar a questatildeo posta Ibidem p 84 817 Ibidem p 126 818 Ibidem p 84 819 Ibidem p 85 820 Ibidem p 87 821 A fim de revelar elementos como loacutegico histoacuterico teleoloacutegico Ibidem p 89 822 Ibidem p 89-90

144

Elucida ainda que os ―princiacutepios de interpretaccedilatildeo constitucional823

devem

ser aplicados pelo inteacuterprete conjuntamente quais sejam da unidade constitucional que

ensina que as normas constitucionais satildeo ―preceitos desconexos num sistema interno

unitaacuterio de regras e princiacutepios de efeito integrador que dispotildee que se deve preferir os

criteacuterios que garantam a ―integraccedilatildeo poliacutetica e social da maacutexima efetividade que

orienta a se dar o sentido que assegura ―maior eficaacutecia ou efetividade agrave norma da

concordacircncia praacutetica ou da harmonizaccedilatildeo que se volta a garantir a afirmaccedilatildeo de um

bem juriacutedico sem o ―sacrifiacutecio do outro da forccedila normativa da constituiccedilatildeo que

direciona o inteacuterprete a ―dar primazia agraves soluccedilotildees que densificam as normas

constitucionais tornando-as permanentes e enfim o princiacutepio da interpretaccedilatildeo

conforme a Constituiccedilatildeo que assegura que se decirc agraves normas infraconstitucionais um

―sentido compatiacutevel e natildeo conflitante com a Constituiccedilatildeo824

Por fim Inocecircncio Maacutertires conclui que o inteacuterprete-constitucional como

uacuteltimo aplicador eacute o verdadeiro legislador pois a interpreta em caraacuteter definitivo825

tendo portanto a palavra final sobre aquilo que eacute ou natildeo compatiacutevel com a

Constituiccedilatildeo826

que deve ser dada por intermeacutedio de uma ―hermenecircutica de princiacutepios

que substitui a ―retrospectiva de interpretaccedilatildeo pela prospectiva de concretizaccedilatildeo827

322 Consideraccedilotildees a partir de Ronald Dworkin e Robert Alexy

Dworkin volta-se agrave anaacutelise da decisatildeo judicial na praacutetica agrave maneira com que os

magistrados interpretam e decidem os casos concretos e entende que o direito depende

―de convenccedilotildees sociais distintas designadas de ―convenccedilotildees juriacutedicas sobre as quais

instituiccedilotildees deveriam ter o poder de elaborar as leis 828

Nesse contexto explica que os casos denominados hard cases829

natildeo satildeo

solucionados via convenccedilatildeo juriacutedica (lei precedentes etc) seja porque quanto a eles

natildeo haacute convenccedilatildeo estabelecida ou porque natildeo haacute consenso quanto a qual convenccedilatildeo eacute

823COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 90 824 Ibidem p 91-92 Diante disto conclui que da ―interaccedilatildeo dialeacutetica entre pauta e realidade () decorrem a abertura

e a infinitude do processo interpretativo ou da espiral hermenecircutica Ibidem p 92 825 Embora suscite variadas ―controveacutersias doutrinaacuterias quanto ao ―caraacuteter acentuadamente poliacuteticolsquo e ainda ―ateacute

certo ponto arbitraacuteriolsquo da interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo da Carta Magna pelas ―cortes constitucionais Ibidem p 27 826 Prerrogativa tatildeo extraordinaacuteria esta que enseja reflexatildeo quanto ao modelo brasileiro de jurisdiccedilatildeo constitucional

Ibidem p 57 827 Ibidem p 98 828 Segundo o autor o convencionalismo ―explica de que maneira o conteuacutedo das decisotildees poliacuteticas do passado pode

tornar-se expliacutecito e incontestaacutevel DWORKIN Ronald Levando os direitos a seacuterio Satildeo Paulo Martins Fontes

2002 p 141-142 829 O autor elucida que satildeo aqueles casos que natildeo podem ser submetidos a regras de direito claras estabelecidas de

antematildeo por alguma instituiccedilatildeo Ibidem p 127

145

viaacutevel para se realizar a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do direito830

e que por isso a

decisatildeo do juiz nos casos difiacuteceis natildeo eacute discricionaacuteria831

Ao repelir o pragmatismo832

propotildee uma teoria que resulte na reconstruccedilatildeo

racional do direito a partir de uma concepccedilatildeo principioloacutegica da comunidade poliacutetica

pois se por um lado ―a comunidade poliacutetica estaacute fundada nos princiacutepios de convivecircncia

em comum por outro o Direito se faz a partir da ―reconstruccedilatildeo interpretativa das

fontes normativas agrave luz de tais princiacutepios833

Daiacute assevera que soacute existe uma sociedade poliacutetica a partir de certos princiacutepios

que satildeo vetores da poliacutetica e do Direito834

e que da estrutura da convivecircncia poliacutetica

resulta a integridade que constitui mantem e legitima natildeo soacute o Estado mas o Direito e

a Constituiccedilatildeo835

E entatildeo sendo o Direito mais que sistema de regras estritas pois tambeacutem de

princiacutepios que por sua vez provecircm da comunidade poliacutetica836

afirma que ele eacute

modificado desenvolvido e interpretado de forma global e fundado em princiacutepios837

e

ainda que cabe ao seu operador descobrir dentre as fontes normativas as regentes dos

casos postos bem como a estrutura em que as regras e princiacutepios satildeo conjugados com o

fito de realizar a justiccedila no caso838

Nesse enredo afirma que o princiacutepio de integridade induz que ―os

responsaacuteveis por decidir o que eacute a lei a vejam e faccedilam cumprir como sendo coerente

nesse sentido e que para que o juiz exerccedila seu papel com integridade e coerecircncia eacute

imprescindiacutevel que ele analise o Direito ―como um todo839

orientados no sistema

juriacutedico pelas regras pelos princiacutepios e pelas denominadas policies840

E dispotildee que o princiacutepio ―enuncia razatildeo que conduz o argumento em uma

certa direccedilatildeo841

830 DWORKIN Ronald Levando os direitos a seacuterio Satildeo Paulo Martins Fontes 2002 p 148-149 153 e165 831 Ibidem p 143 O autor explica que como a ―extensatildeo expliacutecita dessas convenccedilotildees ―natildeo conteacutem absolutamente

nada de denso que de acordo com o convencionalismo os juiacutezes podem utilizar de discricionariedade ao analisarem

os casos difiacuteceis sendo ―liberados da legislaccedilatildeo e do precedente Ibidem p 158 832 Que ―justifica a coerccedilatildeo na justiccedila na eficiecircncia ou em alguma outra virtude contemporacircnea da proacutepria decisatildeo

coercitiva como e quando ela eacute tomada por juiacutezes Ibidem p 185 833 Ibidem p 202 834 Ibidem p 204 835 Ibidem p 228 836 Ibidem p 256-257 837 Ibidem p 258 838 Ibidem p 259-260 839 Ibidem p 203 840 Ibidem p 35-38 De acordo com o autor as policies satildeo definidas ―[] como um tipo de padratildeo que estabelece

um objetivo a ser alcanccedilado p 36 841 Ibidem p 41 Conforme Dworkin se um princiacutepio for relevante ―deve ser levado em conta pelas autoridades

puacuteblicas com (se fosse) uma razatildeo que inclina numa ou noutra direccedilatildeo p 41 E quando haacute uma tensatildeo entre dois

princiacutepios haacute a mensuraccedilatildeo de sua importacircncia de seu peso no caso concreto de sua dimensatildeo quanto ao caso

146

Assim Dworkin compara o magistrado com a figura do Heacutercules842

e propotildee a

teoria da decisatildeo judicial de Heacutercules em que o juiz natildeo escolhe ―entre suas convicccedilotildees

poliacuteticas e aquelas que ele considera como as convicccedilotildees poliacuteticas do conjunto da

comunidade mas aplica ―uma concepccedilatildeo particular de comunidade comunitaacuteria como

um fator decisivo para os problemas juriacutedicos de maneira que o princiacutepio da

moralidade comunitaacuteria seria ―a moralidade poliacutetica que as leis e as instituiccedilotildees da

comunidade pressupotildeem843

e do qual advecircm os princiacutepios juriacutedicos que orientam o

magistrado a tomar a uacutenica decisatildeo correta ou oferecer o melhor julgamento superando

desta forma qualquer discricionariedade nos chamados hard cases844

Jaacute para Robert Alexy que tambeacutem se debruccedila quanto agrave distinccedilatildeo entre regras e

princiacutepios elucida que os ―princiacutepios satildeo normas que ordenam algo que seja realizado

na maior medida possiacutevel dentro das possibilidades juriacutedicas e faacuteticas existentes

―mandamentos de otimizaccedilatildeo caracterizados por poderem ser satisfeitos em graus

variados conforme as possibilidades faacuteticas e juriacutedicas 845

Nesse enredo realiza a distinccedilatildeo entre a aplicaccedilatildeo da regra e do princiacutepio em

caso de possiacutevel coalisatildeo846

e informa que no caso dos princiacutepios haacute uma anaacutelise de

precedecircncia que natildeo importa em validade847

porque os princiacutepios ―natildeo contecircm um

mandamento definitivo mas apenas prima facie848

concreto Ibidem p 43 Nos termos de Inocecircncio Maacutertires Coelho de acordo com o criteacuterio de Dworkin a

diversidade entre regras e princiacutepios adveacutem do modo de aplicaccedilatildeo de cada um uma vez que enquanto as regras

―determinam consequecircncias precisas e reciprocamente excludentes os princiacutepios ―enunciam motivos para decidir

num certo sentido e natildeo causam como pode ocorrer com as regras conflito ou colisatildeo pelo contraacuterio ―eles admitem

convivecircncia e conciliaccedilatildeo entre si em um ―complexo sistema de freios e contrapesos em que atuam como ―fatores

de criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de ―pactos de convivecircncia COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional

Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 79 a 82 842 Heroacutei grego filho de Zeus 843 DWORKIN Ronald Levando os direitos a seacuterio Satildeo Paulo Martins Fontes 2002 p 197 844 Ibidem p 429 845 ALEXY Robert Teoria dos direitos fundamentais Trad Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 p

90-91 E as regras ―satildeo normas que satildeo sempre ou satisfeitas ou natildeo satisfeitas caso uma tenha validade se deve

fazer ―aquilo que ela exige sendo a distinccedilatildeo entre ambos ―qualitativa e natildeo ―de grau Ibidem p91 846 No caso das regras haacute a soluccedilatildeo a partir da validade de uma diante do caso concreto Segundo Alexy no caso de

colisatildeo entre os princiacutepios diferentemente do criteacuterio adotado para as regras natildeo a apreciaccedilatildeo da validade ou

invalidade mas em verificar qual princiacutepio tem maior peso na situaccedilatildeo concreta o que natildeo quer dizer que o princiacutepio

que natildeo aplicado naquele caso seja invaacutelido ()Na verdade o que ocorre eacute que um dos princiacutepios tem precedecircncia

em face do outro sob determinadas condiccedilotildees Sob outras condiccedilotildees a questatildeo da precedecircncia pode ser resolvida de

forma oposta Isso eacute o que se quer dizer quando se afirma que nos casos concretos os princiacutepios tecircm pesos diferentes

e que os princiacutepios com o maior peso tecircm precedecircncia Ibidem p 93-94 847 Diferentemente de Dworkin assevera que o aplicador - inteacuterprete do direito - ao se encontrar diante de uma tensatildeo

entre os princiacutepios deve fazer um sopesamento entre eles e escolher aquele que seja mais adequado como

mandamento de otimizaccedilatildeo da justiccedila 848 ALEXY Robert Teoria dos direitos fundamentais Trad Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 p

104 Diferentemente das regras que dispotildeem de ―uma determinaccedilatildeo da extensatildeo de seu conteuacutedo p 104

147

323 Marcelo Neves

Marcelo Neves diferente dos demais propotildee um modelo a partir de uma

metaacutefora mitoloacutegica onde as regras satildeo o Heacutercules e os princiacutepios a Hidra e que devem

ser analisados no Estado Constitucional por um magistrado - designado Iolau que seja

capaz de ―desparadoxizar o enlace circular entre princiacutepios e regras nos diversos casos

constitucionais de maior complexidade quer dizer que nem seja hercuacuteleo preso agraves

regras e nem hidraforme totalmente subordinado aos princiacutepios849

Assim o juiz Iolau seria o magistrado que ―natildeo isola o direito do seu contexto

social e que ―percebe o limite de suas regras para solucionar controveacutersias juriacutedicas

complexas e que procura ―outros caminhos aleacutem do formalismo das regras e do

substancialismo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo entre eles850

Daiacute aduz que ―a relaccedilatildeo paradoxal entre princiacutepios e regras estaacute associada

intimamente ao paradoxo da justiccedila como uma foacutermula de contingecircncialsquo que motiva a

accedilatildeo e a comunicaccedilatildeo no acircmbito juriacutedico e que como a justiccedila tem duas dimensotildees uma

interna pertinente ―agrave tomada de decisatildeo juridicamente consistente e outra externa

referente agrave decisatildeo ―adequadamente complexa agrave sociedade ela tem que apresentar

―consistecircncia constitucional a demonstrar ―a racionalidade do direito e a ―adequaccedilatildeo

social do direito para que seja feita com racionalidade juriacutedica851

Desta forma o autor constata que a ―adequaccedilatildeo social do direito

constitucionalmente amparada deve legitimar os ―procedimentos constitucionalmente

estabelecidos mas que como a ―relaccedilatildeo entre a justiccedila interna e externa eacute paradoxal

natildeo haacute como imaginar ―o equiliacutebrio perfeito entre consistecircncia juriacutedica e adequaccedilatildeo

social do direito a saber entre justiccedila constitucional interna e externa pois mesmo que

a ―justiccedila do sistema juriacutedico como foacutermula de contingecircncia importe sempre uma

orientaccedilatildeo motivadora de comportamentos e expectativas que buscam esse equiliacutebrio

este ―sempre eacute imperfeito e se define em cada caso concreto 852

E entatildeo conclui que se por um lado a busca pura da ―consistecircncia

constitucional pode gerar a ―inadequaccedilatildeo social do direito por outro o enfoque na

―mera adequaccedilatildeo social pode conduzir a ―um realismo juridicamente inconsistente853

o que consequentemente demonstra que o paradoxo nunca seraacute totalmente superado e 849 NEVES Marcelo Entre Hidra e Heacutercules princiacutepios e regras constitucionais como diferenccedila paradoxal do

sistema juriacutedico Satildeo Paulo WMF Martins Fontes 2013 p 221-222 850 Ibidem p 222-223 851 Ibidem p 223-224 852 Ibidem p 224-225 853 Fazendo com que este perca a ―capacidade de reorientar as expectativas normativas e portanto de legitimar-se

socialmente Ibidem p 225

148

que natildeo pode e natildeo deve secirc-lo pois como eacute ―condiccedilatildeo da proacutepria existecircncia do

direito854

Contudo afirma diante disso que cabe ao juiz Iolau confrontar-se com o

paradoxo da justiccedila buscando superaacute-lo ―em cada caso constitucional controverso mas

sem a ― pretensatildeo hercuacutelea de eliminaacute-lo definitivamente e que deve fazecirc-lo

conjugando em sua decisatildeo tanto a anaacutelise das regras constitucionais quanto dos

princiacutepios pertinentes a interesses e variaacuteveis sociais mesmo sabendo que ―esse

equiliacutebrio eacute sempre instaacutevel pois seu objetivo eacute estabelecer ―criteacuterios definitoacuterios que

minimizem o ―valor surpresa das decisotildees do porvir855

Para Marcelo Neves o juiz Iolau trataria―os princiacutepios e as regras

constitucionais como foacutermula de transcendecircncialsquo da sociedade desenvolvendo um

papel de ―observador da sociedade como um todo com o fito de resolver as demandas

afastando tanto a ―absolutizaccedilatildeo das regras e dos princiacutepios de forma que o que vai

dizer ou definir se um enunciado seraacute regra ou princiacutepio eacute a seguranccedila juriacutedica e a

leitura do inteacuterprete que utiliza o princiacutepio e formula a regra de decisatildeo856

Por fim Marcelo Neves observa que a relaccedilatildeo paradoxal existente entre

princiacutepios e regras estaacute realmente associada ao paradoxo da justiccedila como uma foacutermula

de contingecircncialsquo agrave medida que motiva a accedilatildeo e a comunicaccedilatildeo no acircmbito juriacutedico mas

que como natildeo haacute ainda uma jurisprudecircncia sedimentada que seja capaz de construir

precedentes orientadores de julgamentos do porvir e o fundamento das decisotildees podem

ser deficientes quanto ao quesito clareza - o que faz com que os julgadores cheguem aos

mesmos resultados por meio de argumentos diferentes857

- pode-se ter um julgamento

final inconsistente agrave medida que mesmo com a maioria ou a unanimidade decidindo no

sentido da parte dispositiva os argumentos sejam incompatiacuteveis entre si858

324 Humberto Aacutevila

Humberto Aacutevila apresenta uma tese diferenciada vez que critica a distinccedilatildeo

realizada entre princiacutepios e regras ao afirmar que normas satildeo princiacutepios ou regras mas

que o que interessa observar eacute que por um lado os princiacutepios explicitam valores e

―indiretamente estabelecem espeacutecies precisas de comportamentos e por outro as

regras explicitam condutas em que o comportamento preliminarmente previsto dependa

854 NEVES Marcelo Entre Hidra e Heacutercules princiacutepios e regras constitucionais como diferenccedila paradoxal do

sistema juriacutedico Satildeo Paulo WMF Martins Fontes 2013 p 226 855 Ibidem p 226-227 856 Ibidem p 227 857 Ibidem p 199 858 Ibidem p 201-202

149

do preenchimento de algumas consideraccedilotildees mas tambeacutem pode ser objeto de

ponderaccedilatildeo859

Assim ao propor ultrapassar tanto a exaltaccedilatildeo dos valores por meio dos

princiacutepios quanto a aplicaccedilatildeo automaacutetica das regras dispotildee sobre uma teoria que

analise as espeacutecies normativas mas por meio da ―ponderaccedilatildeo estruturada no processo

de aplicaccedilatildeo e da utilizaccedilatildeo de ―criteacuterios materiais de justiccedila na argumentaccedilatildeo

viabilizando uma ―reconstruccedilatildeo analiacutetica do uso concreto dos postulados normativos

especialmente da razoabilidade e da proporcionalidade sem obstar o ―controle

intersubjetivo da argumentaccedilatildeo necessaacuterio a evitar o decisionismo judicial860

Nesse enredo alega que um dispositivo natildeo eacute princiacutepio ou regra e que

―normas natildeo satildeo textos nem o conjunto deles mas os sentidos construiacutedos a partir da

interpretaccedilatildeo sistemaacutetica de textos normativos861

e que a interpretaccedilatildeo eacute um ―ato de

decisatildeo que constitui a significaccedilatildeo e os sentidos de um texto de forma que ―o

inteacuterprete tatildeo somente ―constroacutei versotildees de significadosndashsentidos862

mas que isto natildeo

quer dizer que natildeo haacute significado anterior ao processo de interpretaccedilatildeo863

Assim segundo o autor o inteacuterprete ―constroacutei e reconstroacutei sentido tendo em

vista a existecircncia de significados incorporados ao uso linguiacutestico e construiacutedos na

comunidade do discurso e nesse ensejo afirma que o Judiciaacuterio constroacutei significados

mas que deve fazecirc-lo dentro de certos limites existentes os quais caso sejam

inobservados redundaratildeo em um ―descompasso entre a previsatildeo constitucional e o

direito constitucional concretizado e ainda ressalta que o STF vem ultrapassando tais

limites e que devido a isto hodiernamente estaacute a sofrer diversas criacuteticas 864

Tambeacutem afirma que natildeo eacute porque as normas satildeo construiacutedas pelo inteacuterprete a

partir dos dispositivos que o inteacuterprete tem liberdade para realizar as conjunccedilotildees que

quiser entre ―normas e fins a cuja realizaccedilatildeo elas servem pois o ordenamento juriacutedico

estabelece os fins e a manutenccedilatildeo dos valores o que obsta ao inteacuterprete a pretericcedilatildeo

859 AVILA Humberto Teoria dos princiacutepios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 3 ed Satildeo Paulo

Malheiros Editores 2004 p 18 860 Ibidem p 18 861 Ibidem p 22 Assim segundo o autor nem sempre onde haacute um dispositivo haacute uma norma e vice-versa de forma

que texto e os seus sentidos satildeo desvinculados Ibidem 23 862 Que se ―concretizam no uso ou como uso Ibidem p 24 863 Ibidem p 25 Pois de acordo com Humberto Aacutevila ―[] haacute traccedilos de significados miacutenimos incorporados ao uso

ordinaacuterio ou teacutecnico da linguagem como o uso ―comunitaacuterio da linguagem do qual deriva alguns criteacuterios de ―uso

da proacutepria linguagem como ―condiccedilotildees dadas da comunicaccedilatildeo E exemplifica dizendo que termos como ―vida

―morte ―apresentam significados intersubjetivados que natildeo precisam a toda nova situaccedilatildeo ser fundamentados 864 Ibidem 25 Pois ―interpretar eacute construir a partir de algo ndash ―reconstruir seja porque ―utiliza como ponto de

partida os textos normativos que oferecem limites agrave construccedilatildeo de sentidos ou porque ―manipula a linguagem agrave

qual satildeo incorporados nuacutecleos de sentidos instituiacutedos pelo uso e preexistentes ―ao processo interpretativo individual

p 25

150

desse ―ponto de partida e que por isto ―o inteacuterprete deve interpretar os dispositivos

constitucionais de modo a explicitar suas versotildees de significado de acordo com os fins e

valores entremostrados na linguagem constitucional865

Nesse diapasatildeo reprocha os criteacuterios de distinccedilatildeo entre princiacutepios e regras866

e

afirma que eacute equiacutevoco entender que as regras devem ser ―aplicadas de modo absoluto

tudo ou nada e que os princiacutepios ―satildeo aplicados de modo gradual mais ou menosrdquo867

sugerindo portanto sua reformulaccedilatildeo vez que ―o modo de aplicaccedilatildeo natildeo estaacute

determinado pelo texto objeto de interpretaccedilatildeo mas decorre das ―conexotildees axioloacutegicas

que satildeo construiacutedas (ou no miacutenimo coerentemente intensificadas) pelo inteacuterprete868

tendo sentido apenas aplicar o ―modo tudo ou nada agrave regras ―se todas as questotildees

relacionadas agrave validade ao sentido e agrave subsunccedilatildeo final dos fatos jaacute estiverem

superadas869

Aleacutem disso quanto criteacuterio do ―relacionamento normativo870

propotildee seu

aperfeiccediloamento871

pois afirma que embora ―o tipo de ponderaccedilatildeo quanto aos

princiacutepios e agraves regras sejam diversos a tarefa de ponderar eacute uma ―qualidade geral de

qualquer aplicaccedilatildeo de norma 872

de forma que ambos se submetem a ela diante do

caso concreto pois se diferenciam apenas quanto agrave ―determinaccedilatildeo da prescriccedilatildeo da

conduta que resulta de sua interpretaccedilatildeo devendo se ter em conta o tipo de ponderaccedilatildeo

que eacute feito quanto agraves regras e o modo como elas deveratildeo ser ―validamente

fundamentadas873

865 AVILA Humberto Teoria dos princiacutepios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 3 ed Satildeo Paulo

Malheiros Editores 2004 p 26 866 Ibidem p 26 Quanto ao de ―caraacuteter hipoteacutetico condicional - que dispotildee que as regras possuem ―uma hipoacutetese e

uma consequecircncia que predeterminam a decisatildeo sendo aplicadas no modo se entatildeo e ―os princiacutepios apenas indicam

o fundamento a ser utilizado pelo aplicador para futuramente encontrar a regra para o caso concreto - afirma que eacute

incorreto asseverar que ―os princiacutepios ao contraacuterio das regras natildeo possuem nem consequecircncias normativas nem

hipoacuteteses de incidecircncia porque natildeo eacute que eles natildeo tem ― prescriccedilatildeo de comportamentos ou natildeo resultem em

consequecircncias o que eacute preciso observar eacute que possuem um ―tipo da prescriccedilatildeo de comportamentos e de

consequecircncias diverso p 30 e 35 867 Ibidem p 31 868 Ibidem p 36 869 Ibidem p 39 Tal proposiccedilatildeo faz-se importante vez que os Ministros natildeo aplicaram sequer a forma mais moderna

de anaacutelise da aplicaccedilatildeo de princiacutepios e regras ao estabelecerem os limites juriacutedicos da noccedilatildeo de vedaccedilatildeo do

nepotismo 870 Voltado ao fato de que enquanto a antinomia entre as regras conduz agrave declaraccedilatildeo de invalidade de uma delas ou agrave

criaccedilatildeo de uma exceccedilatildeo a tensatildeo entre os princiacutepios eacute solucionada a partir da ―ponderaccedilatildeo que atribua uma dimensatildeo

de peso a cada um deles Ibidem p 31 871 Porque as regras gerais e excepcionais e os princiacutepios natildeo se imbricam ―quanto agrave existecircncia de ponderaccedilatildeo de

razotildees mas divergem quanto ―agrave intensidade da contribuiccedilatildeo institucional do aplicador na determinaccedilatildeo concreta

dessa relaccedilatildeo e quanto ao modo de ponderaccedilatildeo pois enquanto o aplicador deteacutem ―menor e diferente acircmbito de

apreciaccedilatildeo quanto agrave relaccedilatildeo entre as regras gerais e excepcionais ―possui maior espaccedilo de apreciaccedilatildeo Ibidem p

47-48 872 Ibidem p 50 873 Vez que se por um lado os princiacutepios natildeo dispotildeem ―diretamente a conduta a ser seguida por outro as regras

preveem ―frontalmente a conduta Ibidem p 55

151

Nesse enredo tambeacutem reprocha o criteacuterio do ―fundamento axioloacutegico874

e

propotildee que o modelo de dualidade entre princiacutepios e regras seja superado agrave um

―modelo tripartite de dissociaccedilatildeo regrasprinciacutepiospostulados que aleacutem de

desconectar as regras dos princiacutepios875

acresce ―a figura dos postulados876

-

instrumentos normativos metoacutedicos - que impotildeem condiccedilotildees a serem observadas na

aplicaccedilatildeo das regras877

e dos princiacutepios878

natildeo se confundindo com eles879

Dentre tais postulados estatildeo a ponderaccedilatildeo como uma teacutecnica voltada a

―atribuir pesos a elementos que se entrelaccedilam880

como interesses881

e valores882

- e

intensamente estruturada a qual tem uma fase de ―preparaccedilatildeo883

depois uma fase de

―realizaccedilatildeo884

e por uacuteltimo de ―reconstruccedilatildeo quando haacute a ―formulaccedilatildeo de regras de

relaccedilatildeo inclusive de primazia entre os elementos objetos de sopesamento885

Diante disto o autor constata que tanto os princiacutepios constitucionais como as

regras de argumentaccedilatildeo ―podem ser construiacutedas a partir dos diversos criteacuterios de

ponderaccedilatildeo886

Outros postulados que destaca satildeo a uma o da concordacircncia praacutetica - que

possui a finalidade de direcionar a ponderaccedilatildeo - e que significa ―dever de realizaccedilatildeo

maacutexima de valores que se imbricam887

e a duas o da proibiccedilatildeo do excesso que

estabelece um limite agrave ―promoccedilatildeo das finalidades constitucionalmente postas vez que

874 Utilizado apenas quanto aos princiacutepios e natildeo agraves regras AVILA Humberto Teoria dos princiacutepios da definiccedilatildeo agrave

aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 3 ed Satildeo Paulo Malheiros Editores 2004 p 31 875 Ibidem p 62Tanto ―quanto ao dever que instituem quanto agrave ―justificaccedilatildeo que exigem e a maneira pela qual

―contribuem para solucionar conflitos 876 ―Deveres estruturais Idem p 70 877 ―Normas imediatamente descritivas Cuja aplicaccedilatildeo demanda ―avaliaccedilatildeo da correspondecircncia sempre focada

―na finalidade que lhes daacute suporte ou nos princiacutepios que lhes satildeo axiologicamente sobrejacentes entre a construccedilatildeo

conceitual da descriccedilatildeo normativa e a construccedilatildeo conceitual dos fatos Ibidem p 70 878 ―Normas imediatamente finaliacutesticas Cuja aplicaccedilatildeo depende de uma ―avaliaccedilatildeo da correlaccedilatildeo entre o estado de

coisas a ser promovido e os efeitos decorrentes da conduta havida como necessaacuteria agrave sua promoccedilatildeo Dessa forma se

observa que os princiacutepios satildeo normas finaliacutesticas pois determinam um fim a ser atingido e todavia sejam conectados

aos valores com eles natildeo se confundem pois enquanto os princiacutepios especificam ―a obrigatoriedade da adoccedilatildeo de

condutas necessaacuterias agrave promoccedilatildeo gradual de um estado de coisas os valores tatildeo somente conferem uma ―qualidade

positiva a determinado elemento Idem p 70 879 Ibidem p 62-63 880 ―Situaccedilotildees estados ou propriedades essenciais agrave promoccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos Ibidem p 95 881 ―Satildeo os proacuteprios bens juriacutedicos na sua vinculaccedilatildeo com algum sujeito que os pretende obter Ibidem p 95 882 ―Constituem o aspecto axioloacutegico das normas na medida em que indicam que algo eacute bom e por isso digno de ser

buscado ou preservado Ibidem p 95 883 Quando seratildeo apreciados todos ―os elementos e argumentos o mais exaustivamente possiacutevel Ibidem p 95 884 Na qual a relaccedilatildeo entre os elementos eacute fundamentada Ibidem p 96 885 Ibidem p 96 886 Ibidem p 96 887 E como a ponderaccedilatildeo natildeo indica ―os criteacuterios formais ou materiais por meio dos quais deve ser feita a promoccedilatildeo

das finalidades entrelaccediladas vez que eacute ―estruturas exclusivamente formais e despidas de criteacuterios Ibidem p 96

152

proiacutebe ―a restriccedilatildeo excessiva de qualquer direito fundamental888

por meio de um

―meacutetodo de controle889

que diverge do relativo ao postulado da proporcionalidade

Tambeacutem ressalta890

a igualdade como o postulado que ―estrutura a aplicaccedilatildeo do

Direito em funccedilatildeo de elementos e da relaccedilatildeo entre eles891

e enseja distinccedilatildeo relevante

no sentido material quando as pessoas ―passam a ser iguais ou diferentes de acordo

com um mesmo criteacuterio dependendo da finalidade a que ele serve892

a razoabilidade

como postulado que dentre outras eacute utilizado em trecircs acepccedilotildees ―como diretriz que

exige a relaccedilatildeo das normas gerais com as individualidades designada razoabilidade

como equidade ―como diretriz que exige uma relaccedilatildeo das normas juriacutedicas893

com o

mundo exterior denominada ―razoabilidade com congruecircncia894

e a terceira ―como

diretriz que exige a relaccedilatildeo de equivalecircncia entre duas grandezas895

- ―medida adotada

e o criteacuterio que a dimensiona - intitulada ―razoabilidade como equivalecircncia e que

somada agrave eficaacutecia ―dos princiacutepios constitucionais do Estado do Direito e do devido

processo legal e agrave do princiacutepio da igualdade ―impede a utilizaccedilatildeo de criteacuterios

distintivos inadequados896

Daiacute o autor dispotildee que o ―controle pelo Poder Judiciaacuterio e a exigecircncia de

justificaccedilatildeo da restriccedilatildeo a um direito fundamental seraacute menor quanto mais impreciso

for ―o efeito futuro da lei ―difiacutecil e teacutecnico for o juiacutezo exigido para o tratamento da

mateacuteria e ainda for aberta ―a prerrogativa de ponderaccedilatildeo atribuiacuteda ao Poder

Legislativo pela Constituiccedilatildeo897

E enfim assevera que o postulado da proporcionalidade que enseja medidas

proporcionais eacute diferenciado pelos ―fins internos e externos agrave medida que exige

proporcionalidade em sentido estrito898

888 Ibidem p 97 889 Ibidem p 101 890 Dentre os postulados inespeciacuteficos ou incondicionais 891 Embora tambeacutem possa funcionar como regra ao prever ―a proibiccedilatildeo de tratamento discriminatoacuterio e como

princiacutepio ―ao instituir um estado igualitaacuterio como fim a ser promovido AVILA Humberto Teoria dos princiacutepios

da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 3 ed Satildeo Paulo Malheiros Editores 2004 p 101 892 Ibidem p 101 ―Fins diversos levam agrave utilizaccedilatildeo de criteacuterios distintos pela singela razatildeo de que alguns criteacuterios

satildeo adequados agrave realizaccedilatildeo de determinados fins outros natildeo Mais do que isso fins diversos conduzem a medidas

diferentes do controle Haacute fins e fins no Direito Ibidem p 101 893 Ibidem p 103 894 Eacute a ―harmonizaccedilatildeo das normas com suas condiccedilotildees externas de aplicaccedilatildeo Ibidem p 106 895 Ibidem p 103 896 Ibidem p 109 897 Ibidem p 126 898 Ibidem p 116 Sendo ―um meio eacute adequado quando promove minimamente o fim e necessaacuterio quando natildeo

houver meios alternativos que possam promover igualmente o fim sem restringir na mesma intensidade os direitos

fundamentais afetados Ibidem p 131

153

33 Consideraccedilotildees Parciais

De todo o disposto o que se observa eacute que o STF extrapolou natildeo apenas as

liccedilotildees dos doutrinadores que elucidam como os magistrados decidem na realidade

como ainda mais os ensinamentos dos doutrinadores que se voltam a como os

magistrados deveriam efetivamente decidir

De Kelsen se extrai que a dita uacutenica interpretaccedilatildeo correta eacute um ―juiacutezo de valor

poliacutetico e natildeo uma ―verdade cientiacutefica899

como aquele que a diz o qual exercita uma

funccedilatildeo juriacutedico-poliacutetica

Mas natildeo foi isto que o STF fez ao reconstruir a noccedilatildeo juriacutedica de nepotismo

Ao editar a Suacutemula Vinculante o STF tatildeo somente construiu a partir dos votos dos

ministros nos quatro julgados (no acircmbito dos quais poucos deles tocaram sobre os

assuntos que constroem a figura do nepotismo) uma noccedilatildeo de nepotismo embasada

naquilo que deveria ser vedado segundo um ideal social e natildeo segundo uma noccedilatildeo

juriacutedica de nepotismo

Desta forma a noccedilatildeo de nepotismo apresentada pela Suacutemula como uma noccedilatildeo

juriacutedica seria na verdade uma noccedilatildeo embasada em ―um juiacutezo de valor poliacutetico Por

isto se poderia pensar que as liccedilotildees de Hans Kelsen estatildeo embasando natildeo ―como os

magistrados decidem mas ―como deveriam decidir

Outra liccedilatildeo de Kelsen que merece ser observada eacute que a aplicaccedilatildeo de ―uma

interpretaccedilatildeo estritamente cientiacutefica pode revelar ―todas as significaccedilotildees possiacuteveis

estabelecidas na ―foacutermula verbal () escolhida900

da norma inclusive as

―politicamente indesejaacuteveis e parece que a interpretaccedilatildeo realizada pelo STF quanto agrave

ediccedilatildeo da SV n13 pelo STF foi realizada por esse vieacutes jaacute que o que motivo o tribunal

a elaborar a SV n13 foi a necessidade de tambeacutem vedar o nepotismo no Poder

Executivo em termos similares agrave ocorrida no Poder Judiciaacuterio devido agrave publicaccedilatildeo da

Resoluccedilatildeo n 0705

Das liccedilotildees de Alf Ross se retira que pela interpretaccedilatildeo se busca o significado da

palavra e que tal atividade eacute realizada ao se observar o campo de referecircncia

correspondente agrave ela seus diversos significados razoaacuteveis bem como

dentre eles o

significado ―mais provaacutevel mas da decisatildeo do STF natildeo eacute isto que se observa tanto que

a expressatildeo ―pessoa juriacutedica passou a significar poder pelo simples fato de que se

899 KELSEN Hans Teoria Pura do Direito 8ordf ed Trad Joatildeo Baptista Machado Satildeo Paulo WMF Martins Fontes

2009 p 396 900 Ibidem p 396

154

deveria vedar o nepotismo no poder Executivo e como o Presidente ―nomeia tudo

seria melhor uma vedaccedilatildeo mais ampla em todo o poder901

Tambeacutem se pode aplicar ao caso em tela os dizeres de Alf Ross de que o juiz

pode desconsiderar as manifestaccedilotildees dos antecedentes legislativos e realizar uma

―interpretaccedilatildeo pragmaacutetica que busca ldquoapoio para o resultado desejado onde quer que

possa encontraacute-lo902

vez que o STF considerou apenas a Resoluccedilatildeo n 72005 do CNJ

e as manifestaccedilotildees quanto agrave mesma no julgado da ADC n12 como ―antecedente da

SV n13 e a partir daiacute decidiu da forma que lhe conveio embasando sua decisatildeo em

algumas argumentaccedilotildees ora aplicadas por interpretaccedilatildeo restritiva como no caso de se

excluir a vedaccedilatildeo do nepotismo ao cargo poliacutetico por meio do argumento de que a

moralidade disposta no caput do artigo 37 da Constituiccedilatildeo Federal rege a nomeaccedilatildeo dos

cargos administrativos comissionados e natildeo os cargos poliacuteticos jaacute que os primeiros

estatildeo na esfera da Administraccedilatildeo Puacuteblica e os segundos na esfera de Governo fora das

disposiccedilotildees do artigo 37

Mas se a base da vedaccedilatildeo do nepotismo eacute a moralidade puacuteblica como

demonstrado nos debates que antecederam a Suacutemula como nos votos dos ministros nos

precedentes da mesma natildeo seria contraditoacuterio vedar o nepotismo quanto aos cargos

comissionados e natildeo quanto aos poliacuteticos soacute porque a moralidade estaacute insculpida no

caput do artigo 37 como princiacutepio administrativo e natildeo puacuteblico

Conforme observado pelas manifestaccedilotildees dos Ministros este foi o

entendimento derivado de uma interpretaccedilatildeo restritiva tanto quanto ao conceito de

cargo puacuteblico de confianccedila como quanto ao de moralidade Isto eacute expressamente

disposto pelo Ministro Gilmar Mendes que ao se manifestar lembra que Bob Kennedy

irmatildeo do Presidente Kennedy ocupava cargo de governo durante o mandato de

presidente do irmatildeo

O que significa dizer que configura nepotismo a nomeaccedilatildeo de um tio do

Presidente da Repuacuteblica para exercer o cargo administrativo em comissatildeo de Secretaacuterio-

Executivo de um Ministeacuterio mas que tal praacutetica natildeo ocorreraacute caso o tio do Presidente da

Repuacuteblica seja nomeado como Ministro de Estado

Outrossim observa-se que a decisatildeo do STF tem ―caraacuteter construtivo

raramente assumido903

dito por Alf Ross vez que o STF teve a liberdade para decidir

901 Conforme se extrai dos dizeres da Ministra Carmem Luacutecia e do Ministro Gilmar Mendes no segundo debate

ocorrido anterior agrave ediccedilatildeo da SV n13 902 ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 182 903 Ibidem p 181-182

155

em grau e em reconhecimento quanto aos precedentes da Suacutemula Vinculante e quanto agrave

sua ediccedilatildeo Mas diferentemente do que dispotildee o autor natildeo soube ―como justificar

tecnicamente mediante argumentos interpretativos a soluccedilatildeo juriacutedica que considerou

―justa ou desejaacutevel904

vez que o STF ao construir a Suacutemula reconstruindo a noccedilatildeo de

nepotismo e sua consequente vedaccedilatildeo natildeo indicou expressamente as regras de

interpretaccedilatildeo e os dados interpretativos utilizados a embasar a decisatildeo que considerada

desejaacutevel

Por fim parece que o STF natildeo aplicou as liccedilotildees de Alf Ross vez que os

argumentos teacutecnicos utilizados pelos ministros como razotildees provenientes de suas

consciecircncias juriacutedicas fundados nas normas e nas exigecircncias sociais natildeo se fizerem

presente em toda a decisatildeo judicial905

Natildeo haacute argumento teacutecnico que justifique ―parente afim ateacute o terceiro grau

inclusive no contexto da vedaccedilatildeo do nepotismo no acircmbito da Suacutemula jaacute que contraacuterio

ao conceito determinado pelo Coacutedigo Civil que natildeo classifica em graus o parentesco

por afinidade e mesmo se classificasse seria ateacute segundo grau jaacute que a afinidade abarca

os irmatildeos do cocircnjuge ou seja os cunhados

Mas agindo em funccedilatildeo poliacutetica e natildeo juriacutedica os Ministros justificaram tal

elaacutestica interpretaccedilatildeo aduzindo que se fazia necessaacuterio proibir uma rede familiarlsquo na

ocupaccedilatildeo de cargos comissionados da Administraccedilatildeo Puacuteblica Soacute nela jaacute que tal rede

natildeo importa no acircmbito governamental pois natildeo abarca a nomeaccedilatildeo para cargo poliacutetico

Eacute imoral a rede familiar em acircmbito menor ndash administrativo mas eacute moral no maior ndash

governamental

Conforme ensina Eros Grau o juiz deve decidir sopesando o ―direito todo e

natildeo apenas um determinado texto normativo906

contudo natildeo foi o que o STF vez que

aleacutem de inobservar determinados dispositivos constitucionais e legais sobre

determinados elementos do nepotismo como o pertinente a funccedilatildeo comissionada e o

relativo a parentesco por afinidade respectivamente fundamentou a redaccedilatildeo sumular

efetivamente apenas no texto da Resoluccedilatildeo n 0705 do CNJ e ainda ao discutir sua

redaccedilatildeo a fim de aprimoraacute-la tambeacutem dela se distanciou pois ao inveacutes de estabelecer a

vedaccedilatildeo do nepotismo na mesma pessoa juriacutedica estabeleceu no mesmo poder

904 ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 p 183 905 Ibidem p 168 906 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p

38

156

Por fim nota-se que o autor afirma que a interpretaccedilatildeo deve se adequar ―a

algumas pautas dentre elas ―agrave finalidade do direto e ―aos princiacutepios907

de acordo

com o sistema juriacutedico do qual faz parte e com a Constituiccedilatildeo visto que um texto de

direito ―desprendido do sistema juriacutedico natildeo expressa significado normativo algum908

e constata-se que a interpretaccedilatildeo do STF natildeo se adequou nem agrave finalidade do direito em

questatildeo que eacute garantir a moralidade puacuteblica quanto ao nepotismo e muito menos

efetivou integralmente o referido princiacutepio

Pois bem se o STF natildeo decidiu efetivamente conforme os ensinamentos dos

autores que se debruccedilam agrave questatildeo de como os magistrados decidem menos ainda ao

analisar sua decisatildeo sob a perspectiva das teorias doutrinaacuterias de como os magistrados

deveriam decidir

Do que se tira das liccedilotildees de Savigny observa-se que a elaboraccedilatildeo da

jurisprudecircncia deve ser sistecircmica e histoacuterica909

contudo tal natildeo ocorreu quando da

elaboraccedilatildeo da SV n13910

Outrossim nota-se que as interpretaccedilotildees extensiva e restritiva ditas natildeo

verdadeiras por Savigny porque ―algo de fora eacute adicionado agrave expressatildeo da lei

configurando arbitrariamente forma utilizadas pelo STF na interpretaccedilatildeo de elementos

da noccedilatildeo de nepotismo dando aos mesmos ora limitaccedilatildeo ora elasticidade em prol de

uma redaccedilatildeo desejada pelos Ministros mas nem de longe a mais justa para a sociedade

ou para o paiacutes911

Ainda nota-se que o STF inobservou as liccedilotildees de Perelman quanto ao fato de

que discurso juriacutedico apresentado pelo orador deve apresentar a tese mais oportuna

conveniente razoaacutevel ou uacutetil devendo se preocupar em conhecer as teses agraves quais o

auditoacuterio que visa convencer eacute adepto e se fundamentar em teorias comuns ao senso

geral da coletividade especialmente quando o puacuteblico eacute heterogecircneo vez que a SV n13

foi editada em termos contraacuterios ao disposto caindo o STF no que o autor designa como

―Peticcedilatildeo de Princiacutepio

E ao utilizar ficccedilatildeo juriacutedica912

para justificar sua decisatildeo ao contraacuterio do que

ensina Perelmam natildeo utilizou argumentaccedilatildeo juridicamente soacutelida e mais aceitaacutevel

907 Ibidem p 39 908 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p

40 e 128 909 SAVIGNY Friedrich Karl Von Metodologia Juriacutedica Trad Hebe A M Caletti Marenco e Regina Ceacutelia de

Carvalho Paschoal Lima CampinasSP Edicamp 2001p 8 910 Conforme se observa do descrito no capiacutetulo I deste trabalho 911 SAVIGNY Op cit p 41 -42 912PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 191

157

socialmente913

bem como natildeo exerceu seu papel de obter uma decisatildeo legal ―razoaacutevel

e aceitaacutevel914

e ainda editou a normativa sem omissatildeo do legislativo

915

Aleacutem disso o STF tambeacutem natildeo expressou todo o raciociacutenio juriacutedico

desenvolvido no transcorrer do caminho agrave soluccedilatildeo do caso concreto916

nem quanto aos

elementos que compotildeem o conceito de nepotismo nem quanto agrave redaccedilatildeo final da

proacutepria Suacutemula

Em conformidade com os dizeres de Perelman com a motivaccedilatildeo os demais

juristas entendem porque foi proferida aquela decisatildeo e a opiniatildeo puacuteblica a conhece e

desta forma o magistrado natildeo apenas obedece ao requisito legal mas tambeacutem ao valor

de soluccedilatildeo mais aceitaacutevel mas no caso da SV n13 ―os demais juristas natildeo entenderam

―porque foi proferida aquela decisatildeo nos termos em que foi e natildeo a observaram como

―a soluccedilatildeo mais aceitaacutevel

Desta feita Perelman elucida que a loacutegica judiciaacuteria fundamenta-se na adesatildeo

cabendo ao magistrado convencer a todos de que a decisatildeo tomada eacute a legal e mais

aceitaacutevel ―mais equitativa e a mais conforme o direito em vigor917

contudo natildeo foi o

que os ministros do STF fizerem tanto ao julgar os precedentes como ao elaborarem a

SV n13 como a soluccedilatildeo legal mais aceitaacutevel a solucionar a questatildeo vedar o nepotismo

Larenz elucida que a ―interpretaccedilatildeo em conformidade com a Constituiccedilatildeo eacute

―um criteacuterio de interpretaccedilatildeo preferiacutevel dentre ―as vaacuterias interpretaccedilotildees possiacuteveis e

que natildeo ultrapassa ―os limites que resultam de sentido literal possiacutevel e do contexto

significativo da lei918

Todavia parece que os Ministros do STF ultrapassaram este limite ao

estabelecerem uma Suacutemula Vinculante que veda minuciosamente o nepotismo como

decorrente apenas do conteuacutedo dos princiacutepios constitucionais que regem a

administraccedilatildeo especialmente o da moralidade da imparcialidade e da eficiecircncia

Realmente a vedaccedilatildeo do nepotismo eacute consequecircncia da autoaplicaccedilatildeo de tais

princiacutepios mas isto natildeo quer dizer que a redaccedilatildeo da Suacutemula na forma em que estaacute eacute

decorrente de apenas deles vez que tece minucias quanto agrave noccedilatildeo de nepotismo que

913 PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 193

Como no caso do parentesco por afinidade ateacute 3ordm grau 914 Ibidem p 200 915 Ibidem p 203-204 Parece que no caso da SV n13 o Judiciaacuterio fez mais que isto Ele natildeo determinou como a lei

deve ser aplicada ele legislou 916 Ibidem p 210-211 917 Ibidem p 240 918LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 480-481

158

nem mesmo em uma interpretaccedilatildeo ampla podem ser observadas como consequecircncia da

autoaplicaccedilatildeo de tais princiacutepios

Tambeacutem afirma que a aspiraccedilatildeo ―legiacutetima do magistrado eacute ―um imperativo de

ordem moral e que por isso ele deve procurar na lei ―possibilidades de soluccedilotildees que

satisfaccedilam a justiccedila919

contudo pode-se dizer que os Ministros do STF ao elaborarem a

SV n 13 natildeo vislumbraram as soluccedilotildees justas vez que a redaccedilatildeo do instrumento

sumular tanto natildeo corresponde a tal valor que seu alcance foi posteriormente

questionado pelo Procurador-Geral da Repuacuteblica e ―regulamentado por Decreto

Presidencial no acircmbito do Poder Executivo

Outrossim ensina que natildeo eacute liacutecito ao juiz ―introduzir na lei o que deseja

extrair dela pois natildeo pode ―sobrepor-se agrave decisatildeo valorativa do legislador920

Entretanto a decisatildeo dos Ministros do STF se sobrepocircs agrave decisatildeo valorativa do

legislador tanto em relaccedilatildeo ao legislador constitucional como ao infraconstitucional

inclusive quanto ao legislador da Resoluccedilatildeo n 705 do CNJ que foi a principal

normativa que subsidiou a redaccedilatildeo da SV n13

Inocecircncio Maacutertires Coelho ensina que no acircmbito do judiciaacuterio ―as exigecircncias

sociais satildeo absorvidas e racionalizadas pelo aplicador do direito por ―novas leituras dos

mesmos enunciados normativos e que essas podem ser ―tatildeo inovadoras que chegam a

criar modelos juriacutedicos inteiramente novos e parece que foi exatamente isto que o STF

fez ao editar a Suacutemula

Mas o que se observa eacute que o STF extrapolou vaacuterios dos limites juriacutedicos em

prol de uma motivaccedilatildeo natildeo juriacutedica pois como uacuteltimo inteacuterprete por meio da normativa

vinculante (que parece natildeo ter alcanccedilado o objetivo da proacutepria Suacutemula Vinculante que

eacute de apaziguar controveacutersias de forma clara e objetiva) recriou a noccedilatildeo de nepotismo

bem como sua vedaccedilatildeo de forma ampla por meio de uma redaccedilatildeo que vai aleacutem do

disposto em todas as outras normas existentes e estancou as demais interpretaccedilotildees

quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo tanto do poder executivo quanto do legislativo e do

proacuteprio judiciaacuterio em todos os entes da federaccedilatildeo sem analisar as consequecircncias reais

do seu ato

Segundo Inocecircncio o magistrado cria norma de decisatildeo concreta ou a norma

do caso de acordo com as particularidades da situaccedilatildeo sob tutela jurisdicional921

919LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 492 920 Ibidem p 493 921 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 43

159

Contudo o STF ao editar a SV n13 impediu que isso ocorra pois a Suacutemula

Vinculante embora seja uma norma geral eacute uma norma de decisatildeo e ainda vinculante

que portanto natildeo permite que os demais agentes puacuteblicos que devem aplica-la tenham

outra forma de interpretaccedilatildeo senatildeo aquela que emana da sua proacutepria redaccedilatildeo o que

quer dizer que a normativa vinculante editada pelo STF natildeo permite que existam

decisotildees diversas conforme a particularidade do caso concreto apresentado

O autor tambeacutem informa que refazer o ―caminho do legislador a partir do

questionamento do texto922

quanto aos problemas sociais que ensejaram determinada

resposta normativa923

eacute ―recurso hermenecircutico a mais que natildeo deve ser desprezado

sobretudo quando se pretenda descobrir a razatildeo subjacente a um enunciado normativo

cujo significado seja de alguma maneira ―problemaacutetico

Contudo os ministros do STF natildeo o fizeram ao elaborar a SV n13 a partir da

Res nordm 0507 do CNJ vez que natildeo se fazia necessaacuterio descobrir a razatildeo subjacente ela

era clara eliminar o nepotismo no Judiciaacuterio Ao saberem disso e estarem motivados a

extirpar o nepotismo da administraccedilatildeo puacuteblica leia-se Poder Executivo partiram da

resoluccedilatildeo que para o Judiciaacuterio foi problemaacutetica e elaboraram uma disposiccedilatildeo

vinculante muito mais problemaacutetica ora em termos teacutecnicos juriacutedicos e natildeo apenas

isto ensejaram por meio desta a accedilatildeo interpretativa equiacutevoca por parte de todos a ela

submetidos

Inocecircncio tambeacutem elucida que o magistrado-inteacuterprete deve a fim de

compreender o significado do texto aleacutem de atentar para o passado observar ―a si

mesmo e a ―concreta situaccedilatildeo hermenecircutica em que se encontra924

pois eacute o inteacuterprete

que concretiza a norma juriacutedica e o faz no presente em que vive

No caso da ediccedilatildeo da SV n13 os ministros observaram a si mesmos mas

parece que a situaccedilatildeo hermenecircutica concreta de forma equivocada vez que os

precedentes utilizados natildeo eram bastante a demonstraacute-la tanto que a consequente

redaccedilatildeo da suacutemula restou problemaacutetica

Em conformidade com o autor a decisatildeo deve ser racional objetiva e

controlaacutevel natildeo podendo configurar um ―oraacuteculo despoacutetico ou iluminado que se ponha

acima da lei e dos criteacuterios usuais de interpretaccedilatildeo devendo o magistrado percorrer

922 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 44 923 Ibidem p 44 924 Ibidem p 46

160

―todo o itineraacuterio hermenecircutico onde as regras de interpretaccedilatildeo demonstram os

―passos do processo do pensamento925

Poreacutem o que se observa dos votos dos ministros proferidos nos quatro julgados

utilizados como precedentes da SV n13 e nas suas disposiccedilotildees acerca do tema nos dois

debates que antecederam agrave elaboraccedilatildeo do verbete sumular eacute que natildeo utilizaram

―criteacuterios usuais de interpretaccedilatildeo mas ao contraacuterio ―um oraacuteculo despoacutetico muitas

vezes aplicado aleacutem das disposiccedilotildees constitucionais e infraconstitucionais

O autor tambeacutem ensina que ―soacute eacute possiacutevel uma hermenecircutica juriacutedica onde a

lei vincule por igual a todos os membros da comunidade juriacutedica tanto os governantes

quanto os governados tanto os legisladores quanto os juiacutezes e que este processo

transparece o raciociacutenio desenvolvido e possibilita num ―imperativo eacutetico-poliacutetico o

convencimento daqueles a quem ―as decisotildees dos agentes puacuteblicos se destinam 926

Ocorre que natildeo foi isto que se obteve com a ediccedilatildeo da SV n13 vez que a

vedaccedilatildeo do nepotismo natildeo abarca todos vez que excepciona as nomeaccedilotildees de parentes

de autoridades para cargos poliacuteticos e mesmo abrangendo o sobrinho do marido de uma

autoridade excepciona do nepotismo a nomeaccedilatildeo de um primo desta autoridade

Normativa esta que aleacutem de natildeo vincular os possiacuteveis agentes por igual natildeo foi

realizada por meio de um processo hermenecircutico que convence a plateia pois feita em

um imperativo apenas poliacutetico e nada eacutetico

Por outro lado nota-se que foi pela obrigatoacuteria publicidade e a motivaccedilatildeo das

decisotildees dos magistrados que traduzem a validade ou natildeo do proacuteprio ato decisoacuterio bem

como a sua compatibilidade ou natildeo com ―a ideia do direito enquanto instrumento de

ordenaccedilatildeo justa e racional da convivecircncia humana que foi possiacutevel observar a

problemaacutetica juriacutedica que se encontra no cerne da SV do STF 927

Das liccedilotildees de Inocecircncio tambeacutem se extrai que a atividade interpretativa eacute

―contextualizada o que obsta significaccedilatildeo arbitraacuteria aos enunciados legais sendo

vedado dizer aleacutem da redaccedilatildeo do texto legal sendo a ―letra da lei o ―ponto de partida

da interpretaccedilatildeo e tambeacutem a sua delimitaccedilatildeo a ensejar uma decisatildeo ―razoaacutevel que eacute

demonstrada por meio dos motivos da interpretaccedilatildeo daquilo que a fundamentou de

acordo com o caso concreto do momento presente 928

925 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 47-48 926 Ibidemp 48 927 Ibidem p 49 928 Ibidem p 55

161

Entretanto os ministros do STF natildeo fizeram o disposto acima jaacute que a letra da

lei seja ela constitucional ou infraconstitucional foi desconsiderada quanto a

determinados enunciados que passaram a ter significados arbitraacuterios havendo hoje

uma realidade inconstitucional incompatiacutevel com a norma constitucional929

Ainda pode-se dizer que o STF inobservou o fato de que natildeo foi dado aos

magistrados ―uma legitimidade que eacute privativa dos titulares dos mandatos poliacuteticos e

que deve-se evitar qualquer espeacutecie de ativismo judicial que fira a ordem juriacutedico-

poliacutetica plasmada na Constituiccedilatildeo 930

No acircmbito especiacutefico da hermenecircutica constitucional e poder normativo pelas

liccedilotildees de Dworkin que cabe ao seu operador descobrir dentre as fontes normativas as

regentes dos casos postos bem como a estrutura em que as regras e princiacutepios satildeo

conjugados com o fito de realizar a justiccedila no caso931

mas isto natildeo foi realizado pelos

Ministros do STF nem ao debater os precedentes da SV nem a ediccedilatildeo da proacutepria

normativa vinculante

Conforme Marcelo Neves os magistrados devem-se ater a almejar a ―justiccedila do

sistema juriacutedico que ―sempre eacute imperfeito e se define em cada caso concreto

Contudo o STF ao editar uma SV com uma redaccedilatildeo equiacutevoca fez foi agravar a

imperfeiccedilatildeo do sistema natildeo havendo possibilidade de se definir a situaccedilatildeo em cada caso

concreto932

Humberto Aacutevila defende que o Judiciaacuterio deve construir significados dentro de

certos limites existentes a fim de que natildeo acarrete um ―descompasso entre a previsatildeo

constitucional e o direito constitucional concretizado933

mas o caso da SV n13 soacute faz

exemplificar que o STF vem ultrapassando tais limites

Assim embora a Constituiccedilatildeo em poder do inteacuterprete crie os ―objetos

hermenecircuticos num processo aberto e infinito sua ―consistecircncia deve ser controlada

por meio da verificaccedilatildeo de seus resultados a partir de um ―criteacuterio baseado na justiccedila

da decisatildeo em cada caso concreto necessaacuterio a obstar decisotildees arbitraacuterias934

Contudo se observa que o STF natildeo utilizou de teacutecnicas e meacutetodos pertinentes agrave

hermenecircutica juriacutedica especialmente a constitucional tanto para julgar os precedentes

929

COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 40 930

Idem p 67 - 68 931

DWORKIN Ronald Levando os direitos a seacuterio Satildeo Paulo Martins Fontes 2002 p 259-260 932

NEVES Marcelo Entre Hidra e Heacutercules princiacutepios e regras constitucionais como diferenccedila

paradoxal do sistema juriacutedico Satildeo Paulo WMF Martins Fontes 2013 p 225 933

AacuteVILA Humberto Teoria dos princiacutepios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 3 ed

Satildeo Paulo Malheiros Editores 2004 p 25 934

COELHO Op cit p 76

162

quanto para construir a noccedilatildeo judicial de nepotismo por meio da SV n13 pois natildeo

aplicou os paracircmetros racionais e despersonalizados da atividade hermenecircutica

163

4 A JURISDICcedilAtildeO CONSTITUCIONAL E A SUacuteMULA VINCULANTE N 13

Diante do fato de que o Supremo Tribunal Federal reconheceu por meio da SV

n13 que o nepotismo eacute vedado em todos os poderes de todos os entes da Federaccedilatildeo

cabendo agraves autoridades dos demais poderes somente reconhecer a existecircncia de

nepotismo e aplicar as medidas cabiacuteveis o que se discute nesse capiacutetulo eacute se o STF ao

realizar a reconstruccedilatildeo normativa da vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da Suacutemula

Vinculante n 13 exorbitou a normatividade do proacuteprio instituto avaliando se os quatro

julgados que embasam o enunciado vinculante configuram jurisprudecircncia reiterada

sobre a mateacuteria se qualitativamente a tornam consistente se sua redaccedilatildeo eacute coerente agrave

finalidade do instituto de ser clara objetiva e apaziguadora de controveacutersias e ainda se

o texto sumular estaacute de acordo com o princiacutepio da legalidade

41 A Suacutemula Vinculante no sistema normativo brasileiro

No decorrer do seacuteculo XX a proteccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo consolidou-se

como um importante mecanismo de defesa do Estado Constitucional se consagrando

dois sistemas um americano e outro europeu935

Nesse esteio no Brasil foi desenvolvido um sistema que apresenta

―particularmente os limites de cada um dos modelos mas que tambeacutem possui

―dificuldades de mesclar os elementos para solucionar os problemas936

fazendo com

que a justiccedila constitucional seja ―pautada pelos problemas decorrentes da convivecircncia

entre controle difuso e concentrado e seja recorrente a divergecircncia entre ―as decisotildees

tomadas pelo STF e pelas demais instacircncias do Judiciaacuterio sendo um mesma demanda

decidida vaacuterias vezes diferentemente pelos demais juiacutezes e tribunais e pelo STF

ensejando a proposiccedilatildeo de diversos recursos extraordinaacuterios no mesmo sentido

E entatildeo foram adotadas medidas a solucionar as demandas causadas por

―divergecircncia jurisprudencial sobre a interpretaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo estando dentre elas

as Suacutemulas Vinculantes que se caracterizam ―como mecanismo de prevenccedilatildeo da

935 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e proteccedilatildeo dos direitos fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 ndash julset2009 p 81 Contudo enquanto nos Estados Unidos ―a posiccedilatildeo do judiciaacuterio como defensor do

cidadatildeo contra o poder legislativo permite a qualquer indiviacuteduo ameaccedilado por ato legal buscar o remeacutedio judicial

na Europa ― a defesa da ordem constitucional de competecircncias requer a criaccedilatildeo de um tribunal ad hoc e a limitaccedilatildeo da

legitimidade ativa p 83 936 Ibidem p84

164

divergecircncia sobre a interpretaccedilatildeo constitucional e visam que os juiacutezes se adaptem agraves

orientaccedilotildees jurisprudenciais do STF937

Assim a Emenda Constitucional n 45 estabeleceu938

a Suacutemula Vinculante

como ferramenta para contribuir na celeridade processual939

sob um conjunto de

criteacuterios a subsidiar sua ediccedilatildeo dispostos no artigo 103-A da Constituiccedilatildeo Federal940

e

dentre eles dois ―que dependem de um juiacutezo de caraacuteter substantivo941

sendo o

primeiro a ―controveacutersia atual que acarrete grave inseguranccedila juriacutedica e relevante

multiplicaccedilatildeo de processos sobre questatildeo idecircntica942

e o segundo ―reiteradas decisotildees

de mateacuteria constitucional do que se pode extrair que a existecircncia apenas do primeiro

natildeo autoriza a ediccedilatildeo da SV sendo necessaacuterio que a similitude entre os casos que

justifica trataacute-los como questatildeo idecircnticalsquo ensejem reiteradas decisotildeeslsquo943

Ainda nota-se que a Suacutemula Vinculante desde que de acordo com tais

paracircmetros constitucionais eacute autorizada por decisatildeo de no miacutenimo 23 dos ministros do

STF

E a Lei n 11417 de 19122006944

que regulamenta o art 103-A da

Constituiccedilatildeo Federal disciplinando a ediccedilatildeo a revisatildeo e o cancelamento de enunciado

de suacutemula vinculante pelo Supremo Tribunal Federal por sua vez aleacutem replicar alguns

937 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e proteccedilatildeo dos direitos fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila nordm8 ndash julset2009 p 84-85 938 Em 30122004 939 Tem-se em vista com a Suacutemula Vinculante evitar processos desnecessaacuterios e protelatoacuterios e tornar mais ceacutelere a

justa aplicaccedilatildeo do Direito PACHECO Joseacute da Silva Da extinccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica e da

Suacutemula Vinculante do STF para agilizar a eficaacutecia de normas que envolvam mateacuteria constitucional Revista da

Academia Brasileira de Letras Juriacutedicas V 25 n 34 Rio de Janeiro janjun 2009 p 108 940 Art 103-A O Supremo Tribunal Federal poderaacute de ofiacutecio ou por provocaccedilatildeo mediante decisatildeo de dois terccedilos dos

seus membros apoacutes reiteradas decisotildees sobre mateacuteria constitucional aprovar suacutemula que a partir de sua publicaccedilatildeo

na imprensa oficial teraacute efeito vinculante em relaccedilatildeo os demais oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio e agrave administraccedilatildeo puacuteblica

direta e indireta nas esferas federal estadual e municipal bem como proceder agrave sua revisatildeo ou cancelamento na

forma estabelecida em lei (grifos nossos)sect 1ordm A Suacutemula teraacute por objetivo a validade a interpretaccedilatildeo e a eficaacutecia de

normas determinadas acerca das quais haja controveacutersia atual entre os oacutergatildeos judiciaacuterios ou entre esses e a

administraccedilatildeo puacuteblica que acarrete grave inseguranccedila juriacutedica e relevante multiplicaccedilatildeo de processos sobre questatildeo

idecircntica (grifos nossos) sect2ordm Sem prejuiacutezo de que vier a ser estabelecido em lei a aprovaccedilatildeo revisatildeo ou cancelamento

da suacutemula poderaacute ser provocada por aqueles que podem propor a accedilatildeo direta de inconstitucionalidadesect3ordm Do ato

administrativo ou decisatildeo judicial que contrariar a suacutemula aplicaacutevel ou que indevidamente a aplicar caberaacute

reclamaccedilatildeo ao Supremo Tribunal Federal que julgando-a procedente anularaacute o ato administrativo ou cassaraacute a

decisatildeo judicial reclamada e determinaraacute que outra seja proferida com ou sem a aplicaccedilatildeo da suacutemula conforme o

caso 941 MAUEacuteS Op cit p 86 942 ― A controveacutersia deve ser atual e natildeo ultrapassada ou superada por entendimento subsequente A

contemporaneidade do dissenso eacute um requisito importante () A controveacutersia haacute de ter grave intensidade capaz de

provocar inseguranccedila juriacutedica e multiplicidade de processos a impedir a celeridade de sua tramitaccedilatildeo PACHECO

Joseacute da Silva Op cit p 108 ― a multiplicidade de demandas e recursos sobre teses juriacutedicas absolutamente idecircnticas

jaacute definidas inclusive na suprema corte do paiacutes sabido ainda que o descumprimento das diretrizes promana em

percentual muito elevado da proacutepria Administraccedilatildeo Puacuteblica Ibidem p 109 943 MAUEacuteS Op cit p 86 ― A imprescindibilidade de resguardar o princiacutepio da seguranccedila juriacutedica assegurando a

previsibilidade das decisotildees judiciais em causas idecircnticas PACHECO Joseacute da Silva Op cit p 109 944 Art 1o Esta Lei disciplina a ediccedilatildeo a revisatildeo e o cancelamento de enunciado de suacutemula vinculante pelo Supremo

Tribunal Federal e daacute outras providecircncias

165

dos dispositivos jaacute expresso no artigo 103-A da Constituiccedilatildeo Federal esmiuccedilou o jaacute

previsto constitucionalmente e ainda estabeleceu detalhes sobre o procedimento de

criaccedilatildeo revisatildeo e extinccedilatildeo do instrumento sumular

Nesse ensejo vale enfocar que o sect2ordm do art 3ordm dispotildee sobre a possibilidade de

haver nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal manifestaccedilatildeo de

terceiros quanto agrave questatildeo945

que o art 4ordm estabelece ser possiacutevel a restriccedilatildeo dos efeitos

vinculantes da mesma e sua eficaacutecia para outro momento ambas por motivo de

seguranccedila juriacutedica ou excepcional interesse puacuteblico946

que o art 5ordm determina a revisatildeo

da SV quando da revogaccedilatildeo ou modificaccedilatildeo da lei em que se embasou947

e que o art 10

da lei prevecirc que o procedimento referente agrave Suacutemula observaraacute tambeacutem dispositivos do

Regimento Interno do STF948

Ainda se extrai que se natildeo houver a observacircncia de algumas das condiccedilotildees

insculpidas nos dispositivos constitucionais e legais quando da elaboraccedilatildeo da suacutemula

ela natildeo teraacute efeito vinculante apoacutes sua publicaccedilatildeo Nesse caso configuraria entatildeo outra

espeacutecie de suacutemula a de ―jurisprudecircncia predominante do Supremo Tribunal Federal949

Assim a Suacutemula caso natildeo verse sobre mateacuteria constitucional e natildeo tenha sido

editada em face de controveacutersia atual entre oacutergatildeos judiciaacuterios ou entre esses e a

administraccedilatildeo puacuteblica que acarrete grave inseguranccedila juriacutedica e relevante multiplicaccedilatildeo

de processos sobre questotildees idecircnticas natildeo seraacute vinculante

Aqui vale ressaltar que o efeito vinculante da suacutemula aleacutem de o ser quanto ao

enunciado tambeacutem chega aos motivos determinantes expostos nos seus precedentes

vez que ―a atribuiccedilatildeo de efeito vinculante agraves suacutemulas a exemplo do que sucede em

relaccedilatildeo agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal em controle abstrato de normas tem

945 Como faculta o sect 2o do artigo 3ordm da lei ―No procedimento de ediccedilatildeo revisatildeo ou cancelamento de enunciado da

suacutemula vinculante o relator poderaacute admitir por decisatildeo irrecorriacutevel a manifestaccedilatildeo de terceiros na questatildeo nos

termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal 946 Conforme expresso no Art 4o ―A suacutemula com efeito vinculante tem eficaacutecia imediata mas o Supremo Tribunal

Federal por decisatildeo de 23 (dois terccedilos) dos seus membros poderaacute restringir os efeitos vinculantes ou decidir que soacute

tenha eficaacutecia a partir de outro momento tendo em vista razotildees de seguranccedila juriacutedica ou de excepcional interesse

puacuteblico 947 Verbis ―Art 5o Revogada ou modificada a lei em que se fundou a ediccedilatildeo de enunciado de suacutemula vinculante o

Supremo Tribunal Federal de ofiacutecio ou por provocaccedilatildeo procederaacute agrave sua revisatildeo ou cancelamento conforme o caso 948 ―Art 10 O procedimento de ediccedilatildeo revisatildeo ou cancelamento de enunciado de suacutemula com efeito vinculante

obedeceraacute subsidiariamente ao disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal 949LEAL Roger Stiefelman O Efeito Viculante na jurisdiccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 2006 Expressatildeo

utilizada na nota de rodapeacute n 539 da p 176

166

como resultado praacutetico a imposiccedilatildeo de seus fundamentos determinantes aos oacutergatildeos e

poderes especificados na norma constitucional950

Isso porque como a Suacutemula Vinculante eacute um instrumento a uniformizar a

―jurisprudecircncia constitucional sobre a mateacuteria com base na orientaccedilatildeo do STF951

faz-

se imprescindiacutevel agrave sua aplicaccedilatildeo o conhecimento dos precedentes que levaram agrave sua

ediccedilatildeo sem o qual natildeo se pode identificar as ―circunstacircncias do caso que autorizam

aplica-la952

Assim mesmo natildeo sendo possiacutevel que seu enunciado expresse todo o seu

processo hermenecircutico deve conter ―os fundamentos que se quer generalizar de modo

contextualizado pois eacute imprescindiacutevel ao juiz que faraacute ―o processo de aplicaccedilatildeo da

suacutemula vinculante o ―conhecimento do modo como os fatos tratados nos precedentes

foram interpretados pelo STF a fim de que possa ―decidir se cabe ou natildeo sua aplicaccedilatildeo

em determinado caso953

Desta feita como o marco da suacutemula eacute constituiacutedo por seus precedentes ela

deve se ajustar ―tanto agraves decisotildees passadas guardando coerecircncia com as circunstacircncias

dos casos e o fundamento de suas decisotildees quanto justificar sua vinculatividade como a

soluccedilatildeo correta para os casos futuros Para tanto o STF deve desenvolver ―um juiacutezo de

igualdade fundamentando sua conclusatildeo nas similitudes dos casos954

Por isso deve-se ―evitar que o enunciado das suacutemulas se afaste do processo

hermenecircutico que conduziu aos precedentes bem como que natildeo apenas reafirme os

princiacutepios constitucionais mas antes garanta a ―concretizaccedilatildeo deles diante das

situaccedilotildees especiacuteficas955

Eacute dessa forma que as suacutemulas vinculantes obrigam os magistrados a aplicarem

o disposto pelo STF956

tanto pelo seu enunciado como tambeacutem por sua

950 LEAL Roger Stiefelman O Efeito Viculante na jurisdiccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 2006 p 176 951 ―Quando da discussatildeo sobre a conveniecircncia da introduccedilatildeo ou natildeo no ordenamento juriacutedico da Suacutemula

Vinculante argumento de peso brandido pelos contraacuterios era a sua utilizaccedilatildeo pelo judiciaacuterio como instrumento de

dominaccedilatildeo sobreposto ateacute agrave lei Seus defensores afastavam tal receio e viam a Suacutemula como afastamento das

incertezas possibilitando uma prestaccedilatildeo jurisdicional mais segura () e mais raacutepida DIZ Nelson Nascimento

Nepotismo Suacutemula Vinculante nordm 13 Limitaccedilatildeo ao tratamento por lei Revista de Direito do Estado - RDE v 3 n

12 outdez 2008 p 391 952 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p85 953 Ibidem p87 954 Ibidem p95 955 Ibidem p95 956 ― o efeito vinculante natildeo retira do julgador a sua liberdade de decidir mas apenas o impede que decirc curso agrave

renovaccedilatildeo de teses jaacute apreciadas e decididas anteriormente de forma reiterada por oacutergatildeos colegiados

presumivelmente detentores de maior conhecimento da mateacuteria PACHECO Joseacute da Silva Da extinccedilatildeo do

167

fundamentaccedilatildeo957

funcionando o efeito vinculante como meio que ―aleacutem de preservar

iacutentegros os elementos conceituais do instituto minimiza o perigo das imperfeiccedilotildees que

natildeo raro recaem sobre a simplificaccedilatildeo de complexas questotildees juriacutedicas em verbetes

condensadores da jurisprudecircncia dominante cabendo ―aos destinataacuterios do efeito

vinculante observar natildeo soacute o enunciado da suacutemula mas tambeacutem as condiccedilotildees e

circunstacircncias em que tem aplicaccedilatildeo958

Tambeacutem haacute de se ressaltar que por sua natureza a Suacutemula Vinculante

diferentemente das disposiccedilotildees constitucionais e legais natildeo enseja aplicaccedilatildeo de

hermenecircutica necessaacuteria a iluminar o seu entendimento jaacute que como deve ser clara

objetiva e apaziguadora de controveacutersias parte-se do pressuposto que se basta em si

proacutepria e por si soacute sendo auto-suficiente auto-explicativa e auto-aplicaacutevel

dispensando portantoalgum texto adicional que explique ou traduza o seu espiacuterito E

nesse esteio se diz que a interpretaccedilatildeo da redaccedilatildeo Suacutemula Vinculante deve ser literal

Contudo eacute interessante destacar que o STF ao se editar a primeira SV

consignou em seu enunciado ―a necessidade de anaacutelise das particularidades de cada caso

para sua aplicaccedilatildeo959

Dessa forma as SVs passaram a ser editadas e com elas vieram as dificuldades

como o fato de a diversidade de circunstacircncias dos precedentes por ―em duacutevida a

correccedilatildeo do enunciado que deve ser objeto do maacuteximo cuidado quando se trata de

decisotildees que restringem direitos e de a Suacutemula ser ―fiel agraves reiteradas decisotildeeslsquo que

devem antecedecirc-la960

nepotismo da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da Suacutemula Vinculante do STF para agilizar a eficaacutecia de normas que

envolvam mateacuteria constitucional Revista da Academia Brasileira de Letras Juriacutedicas Rio de Janeiro v 25 n 34

janjun 2009 p 109 957 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 86 Aqui vale realizar uma explicaccedilatildeo sobre o efeito vinculante da suacutemula que se refere

natildeo apenas ao proacuteprio verbete sendo vinculante quanto ao seu enunciado como tambeacutem agrave ratio decidendi ou seja

aos fundamentos determinantes das suacutemulas que ―satildeo os fundamentos determinantes dos precedentes que lhes deram

origem alcanccedilando assim ―os princiacutepios e interpretaccedilotildees asseverados na motivaccedilatildeo dos reiterados julgados que

embasaram a sua ediccedilatildeo LEAL Roger Stiefelman O Efeito Viculante na jurisdiccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo

Saraiva 2006 p 176 958 Ibidem p177 959 MAUEacuteS Op cit p87 960 O que aconteceu na ediccedilatildeo da SV n5 ―A falta de defesa teacutecnica por advogado no processo administrativo

disciplinar natildeo ofende a Constituiccedilatildeo Conforme informa Maueacutes ―Neste caso os proacuteprios Ministros reconhecem

que natildeo havia decisotildees reiteradas sobre a mateacuteria e ainda que ―o STF natildeo verifica a adequaccedilatildeo dos precedentes

citados na decisatildeo que leva agrave aprovaccedilatildeo da Suacutemula P89 Isso porque foram listados como precedentes julgados

que natildeo trataram de processo administrativo disciplinar e entre os que tratavam apenas um veiculou duacutevida sobre a

defesa teacutecnica o qual natildeo envolvia sanccedilatildeo grave como a demissatildeo ndash RE-AgR n 244027

168

Dito isto eacute que se passa a observar a maneira pela qual a Suacutemula Vinculante n

13 foi editada - pois potildee ―em duacutevida o cumprimento pelo STF dos dispositivos

constitucionais961

42 Sentido e Alcance da Suacutemula Vinculante n 13

A Constituiccedilatildeo Federal atribui ao STF competecircncia para expedir Suacutemula

Vinculante962

na forma estabelecida em lei Lei esta nordm 114172006 que determinou

no paraacutegrafo 2ordm do seu artigo 3ordm a possibilidade de haver a participaccedilatildeo de terceiro

interessado no procedimento da Suacutemula a criteacuterio do relator e conforme disposto no

Regimento Interno da Corte

Por isso se diz que a lei ao admitir a presenccedila de terceiro no procedimento de

ediccedilatildeo de suacutemula vinculante teve ―em conta o sadio princiacutepio de que no processo de

formaccedilatildeo e extroversatildeo da vontade do Estado ndash e a suacutemula expressa vontade do Estado

exteriorizada pela via jurisdicional ndash eacute a prudente ouvir antes de fazer obedecer

realccedilando assim ―a cidadania ativa princiacutepio fundamental da Repuacuteblica Federativa do

Brasil a preservar ―o Estado de decisotildees unilaterais e de vieacutes autoritaacuterio mutiladas por

visatildeo solitaacuteria e agraves vezes distorcida ou equivocada963

Todavia natildeo foi o que ocorreu e a omissatildeo ou negligecircncia do STF em observar

tal dispositivo e que sua aplicaccedilatildeo seria vaacutelida no caso em tela resultou em uma

normativa de ―vieacutes autoritaacuterio motivada pelo ativismo judicial em face do Poder

Executivo e ―mutilada por uma ―visatildeo distorcida pois parcial e desprovida de um

marco teoacuterico do magisteacuterio doutrinaacuterio paacutetrio vez que natildeo foi utilizada qualquer noccedilatildeo

doutrinaacuteria especiacutefica a delimitar a noccedilatildeo de nepotismo e sua vedaccedilatildeo e ainda

equivocada jaacute que se distanciou inclusive do seu marco legal a Resoluccedilatildeo do CNJ nordm

0705 natildeo apenas porque aumentou o acircmbito de vedaccedilatildeo do nepotismo de pessoa

juriacutedica para poder como tambeacutem porque natildeo acompanhou suas alteraccedilotildees dizendo

hoje menos do que a proacutepria Resoluccedilatildeo jaacute que natildeo veda como esta o nepotismo em

contrataccedilotildees diretas seja de que forma for

961 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p87 962 Artigo 103-A 963 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009p 14-15

169

E mesmo que se alegue que ―o Pleno supriria a exigecircncia da audiccedilatildeo preacutevia da

Comissatildeo de Jurisprudecircncia pois o Pleno pode muito natildeo se pode levar isso em conta

jaacute que o Pleno

―() natildeo pode tudo Natildeo pode substituir oacutergatildeos criados pelo Regimento de

caraacuteter normativo com atribuiccedilotildees proacuteprias e relativamente agraves quais o que

vigora eacute o princiacutepio da indisponibilidade das competecircncias puacuteblicas aleacutem do

que em vaacuterias ocasiotildees nem todos os integrantes da Comissatildeo estatildeo presentes

agrave sessatildeo em que apresentada proposta de suacutemula O afatilde do STF de acelerar a

prestaccedilatildeo jurisdicional e de viabilizar-se como oacutergatildeo de maacutexima jurisdiccedilatildeo

natildeo lhe daacute o direito de atropelar nem a Constituiccedilatildeo nem a lei A esse preccedilo

natildeo vai o princiacutepio da eficiecircnciardquo964

Ainda como a Resoluccedilatildeo n0705 do CNJ base normativa da ediccedilatildeo da SV

n13 foi alterada pela Resoluccedilatildeo n 09 e ainda esmiuccedilada por diversos enunciados do

mesmo Conselho a SV n13 nos termos do artigo 5ordm da lei regulamentar deveria ter

sido revista mas natildeo o foi

E embora o Ministro Marco Aureacutelio tenha persistido na necessidade de se

submeter a proposta da suacutemula vinculante previamente agrave Comissatildeo de Jurisprudecircncia

como previsto no proacuteprio RI observando o disposto no artigo 10 da lei em questatildeo e

sob o fundamento de que ―a finalidade do exame preacutevio () reside em prevenir

eventuais desacertos que bem podem resultar da redaccedilatildeo do verbete no calor das

discussotildees durante sessatildeo do Pleno965

a proposta da Suacutemula 13 natildeo foi submetida

previamente agrave Comissatildeo de Jurisprudecircncia do STF

Por fim o artigo 4ordm da mesma lei dispotildee que ―o Supremo Tribunal Federal por

decisatildeo de 23 (dois terccedilos) dos seus membros poderaacute restringir os efeitos vinculantes

() tendo em vista razotildees de seguranccedila juriacutedica ou de excepcional interesse puacuteblico e

a partir do disposto em seguida se observaraacute se este eacute um caso que poder-se-ia aplicar

tal hipoacutetese normativa

Como disposto no primeiro capiacutetulo deste a SV n13 foi embasada em quatro

precedentes que versaram sobre nepotismo mas que foram julgados diferentemente

pelo STF966

964 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009p 15 965 DJe nordm 1722008 pp 30 31 e 32 966 Na ADI 1521RS o STF decidiu foi pela constitucionalidade da proibiccedilatildeo de nomeaccedilatildeo de parentes ateacute o segundo

grau no acircmbito da respectiva autarquia fundaccedilatildeo instituiacuteda ou mantida pelo Poder Puacuteblico empresa puacuteblica ou

sociedade de economia mista ―Note-se bem no acircmbito da respectiva entidade E natildeo de qualquer outra embora

integrada na mesma Administraccedilatildeo ALEGRE Op cit p8 ―Tambeacutem avanccedilou na questatildeo de saber se o parente

ocupante de cargo efetivo poderia ocupar cargo em comissatildeo o ―que foi respondido afirmativamente pelo Min

170

A apreciaccedilatildeo de cada caracteriacutestica dos julgados nos precedentes deve ser

realizada de forma acurada a ensejar uma ―correta generalizaccedilatildeo dos fundamentos do

enunciado da Suacutemula Vinculante sendo nesse processo indissociaacuteveis ―o fundamento

da decisatildeo e o caso que se integram em um mesmo processo hermenecircutico onde os

―fundamentos satildeo elaborados nos precedentes de acordo com determinadas

circunstacircncias sendo possiacutevel saber se se deve solucionar da mesma forma situaccedilotildees

posteriores se houver o conhecimento dessas circunstacircncias967

Ocorre que como jaacute explicado anteriormente o STF natildeo analisou detidamente

as circunstacircncias de cada caso e ao elaborar a SV n13 ainda se distanciou dos seus

precedentes inclusive do uacutenico julgado que realmente poderia ser tido como seu

precedente a ADC 126-DF que teve por objeto a Resoluccedilatildeo nordm 0705 do CNJ que

embasou a redaccedilatildeo da SV n13

Desta feita o STF natildeo apenas julgou cada um dos quatro precedentes de forma

diversa quanto agrave noccedilatildeo do nepotismo e de sua vedaccedilatildeo como tambeacutem produziu uma

Suacutemula que natildeo condiz com os mesmos

Nos dois primeiros precedentes ADI n 1521 e MS n23780 o STF julgou a

adequaccedilatildeo das normativas agrave Constituiccedilatildeo Federal ―reconhecendo a liberdade do

legislador para dispor sobre a mateacuteria e se por um lado entendeu na ADI n 1521 pela

vedaccedilatildeo do nepotismo ateacute o segundo grau como dispunha a Emenda Constitucional

atacada por outro no MS n23780 acolheu a vedaccedilatildeo do nepotismo aos parentes de ateacute

terceiro grau

Ainda no terceiro precedente o RE n 679951 dispocircs sobre nepotismo

cruzado e a natildeo vedaccedilatildeo do nepotismo no que concerne a cargo poliacutetico e no quarto

precedente ndash a ADC 126-DF ambos julgados na mesma sessatildeo decidiu fazer da

Resoluccedilatildeo n 705 do CNJ a base da Suacutemula Vinculante n 13 mas tambeacutem dela se

afastou ao incluir na redaccedilatildeo sumular o elemento ―pessoa juriacutedica

CARLOS VELLOSO que contudo restou vencido e essa questatildeo natildeo foi discutida em nenhuma outra

oportunidaderdquo No MS 23780MA o STF entendeu pela proibiccedilatildeo do nepotismo ao terceiro grau mas tudo ficou

reduzido ao seu caso concretordquo ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF

Decifra-me ou te devoro Revista Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de

Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev 2009 p 8-9 967 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 86

171

Igualmente eacute de notoacuterio saber que a finalidade do instituto SV eacute apaziguar

―controveacutersias que acarretem ―grave inseguranccedila juriacutedica e relevante multiplicaccedilatildeo de

processos sobre questatildeo idecircntica

Contudo no caso da SV n13 sua ediccedilatildeo ocorreu mesmo natildeo havendo

―controveacutersia atual a causar ―grave inseguranccedila juriacutedica e ―multiplicaccedilatildeo de processos

sobre questatildeo idecircntica vez que no primeiro precedente a ADI n 1521 o STF julgou a

validade da Emenda Constitucional agrave Constituiccedilatildeo do Estado de Rio Grande do Sul no

segundo o MS n 23780 analisou a interpretaccedilatildeo das Leis n 942196 e n843292

referente a um uacutenico caso e no terceiro precedente o RE 579951 analisou a demanda

por meio da auto-aplicabilidade dos princiacutepios constitucionais e no quarto precedente a

ADC 126ndashDF resolveu estender a vedaccedilatildeo do nepotismo disposta pela Resoluccedilatildeo nordm

0705 do CNJ aos demais poderes Dessa forma configuraram todos eles demandas

uacutenicas e singulares e que natildeo envolveram nenhuma norma que estivesse causando

―grave inseguranccedila juriacutedica e muito menos ―multiplicaccedilatildeo de processos sobre questatildeo

idecircntica968

Aleacutem disso o STF inovou a redaccedilatildeo da SV n13 em relaccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo

existente inclusive em relaccedilatildeo agrave vedaccedilatildeo disposta na normativa que a embasou a

Resoluccedilatildeo nordm 0705 do CNJ fugindo das ―interpretaccedilotildees desenvolvidas nos

precedentes e formulando ―novas interpretaccedilotildees para casos que natildeo foram tratados o

que eacute ―constitucionalmente inadmissiacutevel969

criando mais controveacutersias ao inveacutes de

dirimiacute-las970

Assim o STF fugiu do seu tradicional campo de atuaccedilatildeo - jaacute que natildeo atuou

como simples inteacuterprete da Constituiccedilatildeo - ―mediante hermenecircutica a que estaacutevamos

habituados e ao ―agir como tiacutepico legislador positivo e editou a SV n13 que ao

contraacuterio ―natildeo interpretou direito existente mas manifestou-se como tiacutepico ato

968 Salvo a Resoluccedilatildeo do CNJ que estava ―causando no Judiciaacuterio 969 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 95 970 () natildeo constitui objeto da suacutemula a ediccedilatildeo de norma juriacutedica aqui entendida como regra de direito dotada de

generalidade e abstraccedilatildeo cujo objeto seja a regulaccedilatildeo de condutas sociais A inovaccedilatildeo na ordem juriacutedica natildeo constitui

propoacutesito da suacutemula vinculante Diversamente edita-se um enunciado vinculante exatamente para se interpretar a

Lei regra de Direito Positivo jaacute existente A ediccedilatildeo da suacutemula pressupotildee pois a vigecircncia de regras juriacutedicas

abstratas jaacute criadas pelo Legislador sobre as quais haja controveacutersia interpretativa Adveacutem a () criacutetica ao conteuacutedo

da suacutemula vinculante nordm 13 nos termos em que editada e redigida a suacutemula desatende os contornos constitucionais

que conformam o instituto jaacute que ao editaacute-la o Pretoacuterio Excelso agiu () como Legislador Positivo criando uma

regra geral e abstrata a partir da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de princiacutepios constitucionais (impessoalidade e moralidade)

cujos conteuacutedos satildeo dotados de um alto grau de vagueza semacircntica FILHO Joatildeo Pereira de Andrade A ilegitimidade

Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista

Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia - Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor

Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 136

172

normativo primaacuterio que foi buscar fundamento de validade diretamente no texto

constitucional ou seja no art 37 caput da Carta Federal971

Dessa forma o STF ao inveacutes de editar uma suacutemula vinculante a garantir

interpretaccedilatildeo validade e eficaacutecia a normativas controversas como determinam os

dispositivos constitucionais e legais reconstruiu a noccedilatildeo juriacutedica da vedaccedilatildeo do

nepotismo por meio da SV n13 - que inovou o tema e sua limitaccedilatildeo a partir de uma

redaccedilatildeo nada clara e objetiva incompatiacutevel com o que deve estear uma Suacutemula

Vinculante972

Eacute o que fica ainda mais patente ao se apreciar cada um dos cinco elementos

que constituem a noccedilatildeo de nepotismo disposta em sua redaccedilatildeo quais sejam parente por

afinidade ateacute terceiro grau inclusive autoridade nomeante ou () servidor ()

investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou assessoramento da mesma pessoa juriacutedica

para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila () compreendido o

ajuste mediante designaccedilotildees reciacuteprocas

421 Parentesco por consanguinidade e afinidade ateacute o terceiro grau

Primeiramente se aventa a questatildeo quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo a parente

por afinidade ateacute terceiro grau inclusive

O STF ―inovando primariamente na ordem juriacutedica foi aleacutem do que dispotildee

a lei civil brasileira que no sect 1ordm do artigo 1595 dispotildee claramente que o parentesco por

afinidade estaacute adstrito aos ascendentes descendentes e irmatildeos do cocircnjuge ou

companheiro natildeo havendo especificaccedilatildeo de graus e determinou pela redaccedilatildeo da SV 13

―dentro do ciacuterculo de vedaccedilatildeo que o parentesco por afinidade no que concerne ao

nepotismo eacute ateacute de terceiro grau973

Contudo no ramo civilista a expressatildeo sofre duras criacuteticas pois a suacutemula natildeo

poderia dispor diferentemente do CCB designando como parente quem natildeo eacute parente

por lei Tanto que o Ministro CARLOS BRITTO ―chegou ateacute a propor interpretaccedilatildeo

971 ROCHA Zeacutelio Maia da Nepotismo e concurso puacuteblico criteacuterio objetivo de ausecircncia de moralidade e

impessoalidade na Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Juriacutedica Consulex ano XII n 286 15122008 p 40 972 Bem analisado o conteuacutedo da suacutemula seraacute possiacutevel perceber que o STF definiu mediante escolha e valoraccedilotildees de

cunho poliacutetico as modalidades de parentesco (consanguiacuteneo ou por afinidade) determinou ateacute que grau (terceiro)

estendeu a vedaccedilatildeo do nepotismo prescreveu o acircmbito espacial de aplicaccedilatildeo da vedaccedilatildeo () A mateacuteria foi regulada

de maneira ampla descendo-se a detalhes e minuacutecias que refogem aos objetivos de uma suacutemula de caraacuteter

vinculante ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira de A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF

e os limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e

Democracia - Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 139 973 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 209

173

conforme a fim de excluir relaccedilatildeo de parentesco que o CC natildeo contempla qual seja

aquela que leva para aleacutem do cunhado o viacutenculo da colateralidade por afinidade (nordm 45

I do seu voto na ADC ndash 12) mas infelizmente no segundo debate sobre a ediccedilatildeo da

SV n13 preferiu ―aderir agrave tese da extensatildeo ao terceiro grau como criteacuterio de inibiccedilatildeo

de abusosrdquo974

Na realidade o STF natildeo apenas inovou ao criar contagem de parentesco por

afinidade em grau como tambeacutem a limitou aleacutem do que seria em lei vez que conforme

o disposto no CCB o parentesco por afinidade seria limitado ao segundo grau da linha

colateral representado pelo irmatildeo (atilde) do cocircnjuge ndash cunhado (a)

E o mais interessante eacute que o tribunal em que criteacuterio se embasou o STF para

escolheu este grau com limite agrave inibiccedilatildeo sem estar embasado em qualquer criteacuterio

efetivamente juriacutedico vez que os Ministros natildeo utilizaram qualquer meacutetodo ou teacutecnica

hermenecircutica a explicar os motivos de tal escolha mas apenas reproduziram a redaccedilatildeo

da Resoluccedilatildeo n 0507 do CNJ tendo em vista que ―a questatildeo da adequaccedilatildeo dos graus

de parentesco estabelecidos no ato normativo especialmente o problema do parentesco

por afinidade ateacute o terceiro grau975

jaacute havia sido enfrentada quanto a ela quando do

julgamento da ADC n126-DF

Assim a SV n 13 trouxe ―inovaccedilatildeo no mundo juriacutedico qual seja a definiccedilatildeo

do terceiro grau de parentesco por afinidade ateacute entatildeo desconhecido na legislaccedilatildeo e

literatura brasileira976

E natildeo eacute apenas isto se a SV n13 por um lado alargou o parentesco por

afinidade por outro restringiu o de consanguinidade pois ao determinar a vedaccedilatildeo ateacute

o seu terceiro grau excluiu o parentesco de quatro grau (primos) previsto no Coacutedigo

Civil o que tambeacutem foi ocasionado pela reproduccedilatildeo do disposto na Resoluccedilatildeo do CNJ

quanto a esse elemento

Assim o parentesco ―consanguiacuteneo de quarto grau natildeo foi considerado pelo

STF como haacutebil a macular a indicaccedilatildeo para a ocupaccedilatildeo de cargos de provimento em

comissatildeo977

974 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro ReRE ndash

Revista Eletocircnica sobre a Reforma do Estado N 16 ndash dezembrojaneirofevereiro 2009 Salvador- Bahia ndash Brasil ndash

ISSN 1981 -1888 IBDP p 2 975 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 93 976CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 35

174

Dessa forma observa-se duas situaccedilotildees no miacutenimo irrazoaacuteveis provocadas

pela redaccedilatildeo da SV n13 pois se por um lado ―um primo de uma autoridade ou servidor

pode ser indicado para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo sem configurar nepotismo

por outro seu ex-sogrolsquo natildeo pode ―vez que de acordo com o art 1595 sect 2ordm do Coacutedigo

Civil na linha reta a afinidade natildeo se extingue com a dissoluccedilatildeo do casamento ou uniatildeo

estaacutevel978

Assim o STF ao desconsiderar a definiccedilatildeo de parentesco prevista na lei civil

pelo que se extrai do teor da SV n 13 quanto ao assunto provocou tais incoerecircncias e

outras controveacutersias979

Dentre elas vale destacar as duacutevidas suscitadas quanto agrave possibilidade de

nomeaccedilatildeo anteriormente agrave concretizaccedilatildeo de fato impeditivo como por exemplo um

casamento posterior agrave nomeaccedilatildeo para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo

Tendo em vista a falta de clareza da Suacutemula quanto a este ponto dentre

outros o que se pode dizer eacute que caso natildeo haja sua devida interpretaccedilatildeo de acordo com

os princiacutepios como o da razoabilidade e proporcionalidade para solucionar a questatildeo

seratildeo provocadas injusticcedilas ―pois na frieza do verbete sumular tal situaccedilatildeo natildeo estaacute

devidamente esclarecida980

Desta feita deve-se interpretar a questatildeo agrave luz de tais princiacutepios tendo em vista

que apesar de a redaccedilatildeo da SV n13 natildeo ser clara tem-se certo que sua ―intenccedilatildeo natildeo foi

proibir o afeto entre os agentes puacuteblicos mas sim que este natildeo representasse a razatildeo da

contrataccedilatildeo ou qualquer outra vantagem em detrimento do interesse puacuteblico981

Ainda vale ressaltar que o STF seguindo a redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo n 0705 do

CNJ982

inobservou natildeo apenas o CCB mas outras normativas referentes agrave delimitaccedilatildeo

de parentesco Dentre elas a uacutenica passagem da Constituiccedilatildeo Federal ―que trata de

demarcaccedilatildeo de parentesco para efeito de inibiccedilatildeo ou exclusatildeo de exerciacutecio de direito

poliacutetico de natureza fundamental em detrimento de certas pessoas onde ―a

Constituiccedilatildeo eacute parcimoniosa e adota o limite do segundo grau (inclusive este) o art

977 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 35 978 Ibidem p 35 979 Ibidem p 35 980 Ibidem p 35-36 981 BASTOS Tatiana Quintela de Azeredo Direitos e deveres na relaccedilatildeo homoafetiva uma discussatildeo a respeito do

nepotismo Disponiacutevel em revista jus navegandi Acesso em 030313 982 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 93

175

14 sect 7ordm983

o assentado no primeiro precedente sumular a ADI n 1521 no acircmbito da

qual o STF ―declarou constitucional uma emenda agrave Constituiccedilatildeo do Rio Grande do Sul

que proibia a nomeaccedilatildeo de parentes ateacute o segundo grau (art 20 sect5ordm)984

e o princiacutepio de

hermenecircutica juriacutedica que dispotildee que ―onde a lei natildeo distingue natildeo cabe ao inteacuterprete

fazecirc-lo985

Diante disso a opccedilatildeo do STF causou perplexidade e ensejou ―duacutevida seacuteria

sobre se houve o devido processo legal ―em sentido substantivo a que estatildeo sujeitos

todos os Poderes da Repuacuteblica inclusive e sobretudo o proacuteprio STF guardiatildeo preciacutepuo

da Constituiccedilatildeo986

422 Parentesco com autoridade ou servidor ocupante de cargo comissionado

Uma segunda criacutetica quanto agrave Suacutemula recai quanto agrave expressatildeo ―autoridade

nomeante ou de servidor () investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramentordquo

Primeiramente insta dizer que conforme a redaccedilatildeo sumular ―a mera

possibilidade da influecircncia da autoridade ou do servidor que ocupa cargo em comissatildeo

―basta para a configuraccedilatildeo do viacutecio987

Assim interpretando-se literalmente o dispositivo sumular natildeo poderaacute exercer

cargo comissionado ou funccedilatildeo gratificada aquele que deteacutem ―relaccedilatildeo de consaguinidade

ou afinidade com a autoridade nomeante ou com outro servidor puacuteblico988

ocupante de

cargo comissionado o que natildeo eacute aplicaacutevel aos vereadores deputados federais estaduais

983 ―Satildeo inelegiacuteveis no territoacuterio de jurisdiccedilatildeo do titular o cocircnjuge e os parentes consanguiacuteneos ou afins ateacute o

segundo grau ou por adoccedilatildeo do Presidente da Repuacuteblica de Governador de Estado ou Territoacuterio do Distrito Federal

de Prefeito ou de quem os haja substituiacutedo dentro dos seis meses anteriores ao pleitoAfirma Ivan Barbosa Rigolin

―E nossa Constituiccedilatildeo nada menciona em especiacutefico nem remotamente sobre o tema do empregode parentes e correl

atos das autoridades nomeadoras na Administraccedilatildeo Puacuteblica Nem uma breveeferecircncia a esse tema consta de modo ex

pliacutecito ou mesmo impliacutecito da Carta de 1988 O assuntoeacuteshylhe por completo estranho e inusitado shy como de resto o eacute

desde a primeira Constituiccedilatildeobrasileira que como todas ateacute o presente jamais se abalanccedilou a restringir nepotismos na

Administraccedilatildeo Sobre o nepotismo Uma reflexatildeo sobre a moralidade e o moralismo Foacuterum Administrativo ndash FA

Belo Horizonte ano 7 n80 out2007 p 2 984 Rodrigues Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 209 985 COPOLA Gina O nepotismo cruzado e a suacutemula vinculante n 13 do egreacutegio supremo tribunal federal a

improbidade administrativa ndash jurisprudecircncia sobre o tema Boletim de Direito Administrativo ndash BDA julho 2012 p

785-789 p788 986 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009 p 5 987 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 31 988 ANTONIO Alice Barroso O Nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF Criacuteticas e Proposiccedilotildees

Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM janmar 2009 Belo Horizonte ano 10 n31 p75

176

ou distritais989

magistrados e membros no Ministeacuterio Puacuteblico990

quando natildeo forem

efetivamente a autoridade a nomear o seu parente991

uma vez que natildeo se enquadram

como servidor () investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou assessoramentordquo pois natildeo

satildeo servidores mas agentes poliacuteticos ocupantes de cargo poliacutetico

Exemplificando

A nomeaccedilatildeo de parente de um desembargador de um procurador de justiccedila

(ou promotor de justiccedila) ou de um deputado nos lindes literais da SV 13

dificilmente constituiria nepotismo pois a autoridade nomeante seria o

presidente do Tribunal o Procurador-Geral de Justiccedila ou o Presidente da

Assembleia Legislativa E como os membros destes oacutergatildeos satildeo agentes

poliacuteticos natildeo () exercendo qualquer cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento impossiacutevel subsumir a praacutetica aos termos sumulares992

989 ―() quanto aos membros do Poder Legislativo que tambeacutem satildeo agentes poliacuteticos e natildeo servidores puacuteblicos em

sentido estrito portanto tambeacutem natildeo estaria vedada a nomeaccedilatildeo para exercer cargo em comissatildeo de confianccedila ou

funccedilatildeo gratificada de parentes consanguiacuteneos e afins dos senadores deputados e vereadores Entretanto o raciociacutenio

natildeo se aplica ao presidente da Cacircmara ou Senado nem ao Prefeito Governador ou Presidente pois embora sejam

agentes poliacuteticos eles satildeo autoridades nomeantes condiccedilatildeo prevista expressamente no texto sumular Ibidem p 75 990 Por isso se afirma que eacute ― () tambeacutem excessiva restriccedilatildeo afastar os membros da magistratura do Ministeacuterio

Puacuteblico e dos Tribunais de Contas do conceito de agentes poliacuteticos pois cada um deles de diferentes formas

exercitam funccedilatildeo de soberania com independecircncia regime juriacutedico peculiar e regime de responsabilidade igualmente

diferenciado em relaccedilatildeo aos demais agentes administrativos MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-

administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico ndash RBDP Belo Horizonte v 11 n 41 abrjun2013 p 21 O

que quer dizer que ―() aqueles que exercem as funccedilotildees de direccedilatildeo do Estado (funccedilatildeo de governo) integrando a

estrutura constitucional (central) de cada um dos poderes Eacute o caso do Presidente da Repuacuteblica Ministros de Estado

Deputados Senadores Segundo o STF tambeacutem o satildeo os Membros do Judiciaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico ()Com

base nisso podemos afirmar que enquadram-se na categoria de agentes poliacuteticos a) titulares de mandato eletivo b)

seus auxiliares diretos (Ministros de Estado Secretaacuterios de Estado e Secretaacuterios Municipais) c) membros do

Judiciaacuterio e do Ministeacuterio Puacuteblico FILHO Joatildeo Trindade Cavalcante e LAGO Rodrigo Pires Ferreira A vedaccedilatildeo ao

nepotismo e as nomeaccedilotildees de agentes poliacuteticos - Uma anaacutelise sobre a jurisprudecircncia do STF e a Suacutemula Vinculante

STF ndeg13 Revista Siacutentese de Administrativo v1 n1 (jan 2006) Satildeo Paulo IOB ndash v5 n58 p93-115 p 99-

100Neste ensejo os autores explicam que Quanto aos uacuteltimos magistrados e membros do MP existe relevante

controveacutersia doutrinaacuteria Celso Antocircnio Bandeira de Mello (MELLO 2005 p 123) Maria Silvia Zanella Di Pietro

(DI PIETRO 2009 p 511) e Joseacute dos Santos Carvalho Filho (CARVALHO FILHO 2007 p 526) natildeo os incluem

entre os agentes poliacuteticos O fundamento eacute que eles natildeo satildeo eleitos mas recrutados por criteacuterios teacutecnicos Jaacute Hely

Lopes Meirelles defendeu sempre que os juiacutezes e promotores seriam agentes poliacuteticos pois tecircm as atribuiccedilotildees

regulamentadas constitucionalmente e exercem parcela do poder soberano do Estado (MEIRELLES 2000 p 84)Natildeo

se trata de uma discussatildeo meramente acadecircmica Ao contraacuterio a contenda ganha relevo praacutetico na medida em que a

consideraccedilatildeo desses agentes como agentes poliacuteticos ou administrativos possui reflexos no regime juriacutedico ao qual

seratildeo submetidos Embora esse seja um tema apenas incidental no presente trabalho adota-se o posicionamento

defendido por Hely Lopes Meirelles Realmente natildeo haacute como deixar de reconhecer na atividade judicante ou

ministerial puacuteblica o exerciacutecio de parcela do poder soberano do Estado Ademais a moderna hermenecircutica

constitucional reconhece que a atividade judicial eacute tambeacutem poliacutetica no sentido original do termo Os membros que

exercem essas funccedilotildees devem portanto ser enquadrados entre os agentes poliacuteticosNesse sentido tambeacutem jaacute se

posicionou expressamente o Supremo Tribunal Federal (BRASIL RE ndeg 228977 2002) Eacute tambeacutem o que se colhe de

uma interpretaccedilatildeo literal do art 37 XI da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica ao se referir agrave remuneraccedilatildeo dos (hellip) membros

de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios dos detentores de mandato

eletivo e dos demais agentes poliacuteticos Ibidem p 99-100 991 A proibiccedilatildeo do nepotismo no acircmbito do Poder Judiciaacuterio decorre da Resoluccedilatildeo n 0507 do CNJ e natildeo da Suacutemula

Vinculante da Corte Suprema veja-se a contradiccedilatildeo aplicaacutevel na praacutetica agraves contendas levadas agrave tutela jurisdicional

quanto aos casos de nepotismo na administraccedilatildeo puacuteblica dos diversos entes federados mesmo que muitos destes

diga-se de passagem jaacute haviam editado anteriormente agrave suacutemula normativa aplicaacutevel ao acircmbito de sua administraccedilatildeo

puacuteblica destinada agrave vedaccedilatildeo do nepotismo Quanto agrave proibiccedilatildeo no acircmbito do MP a mesma foi feita por meio da

Resoluccedilatildeo n 01 do Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico ndash CONAMP de 07 112005 992 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 8

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Assim se tais autoridades em questatildeo natildeo forem aquele que investido em

cargo comissionado nomeia seu parente natildeo haveraacute nepotismo jaacute que natildeo satildeo

classificadas como servidor mas como agente poliacutetico ao qual a Suacutemula natildeo alcanccedila

423 Acircmbito da mesma pessoa juriacutedica

A terceira criacutetica recai sobre a expressatildeo da mesma pessoa juriacutedica A questatildeo

eacute problemaacutetica pois a pessoa juriacutedica de direito puacuteblico satildeo os proacuteprios entes federados

a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios e as entidades da administraccedilatildeo

indireta e tal conceituaccedilatildeo no que concerne agrave vedaccedilatildeo de nepotismo se por um lado

alarga o acircmbito da proibiccedilatildeo e alcanccedila situaccedilotildees questionavelmente tidas como

nepoacuteticas por outro possibilita o nepotismo em outras situaccedilotildees pois natildeo impede a

nomeaccedilatildeo de um parente de autoridade nomeante em um dos trecircs poderes dos entes da

federaccedilatildeo para uma entidade da administraccedilatildeo indireta uma vez que esta entidade eacute

outra pessoa juriacutedica

Isso porque os Ministro desconsideram o oacutergatildeo ndash tecnicamente considerado

como centro despersonalizado de formaccedilatildeo e expressatildeo da vontade imputada agrave pessoa

juriacutedica ndash para ater-se pessoa juriacutedica o que significa dizer que tudo fica acantonado agrave

mesma pessoa juriacutedica natildeo se estendendo a outra dela diversa993

A fim de explicar as situaccedilotildees exemplifica-se um ―servidor ocupante de cargo

efetivo que seja nomeado para exercer cargo de direccedilatildeo no Ministeacuterio das Cidades em

Brasiacutelia impediria por exemplo que seu irmatildeo ―tambeacutem servidor puacuteblico ocupante de

cargo efetivo fosse nomeado para exercer cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila

em uma Superintendecircncia da Poliacutecia Federal mesmo que fosse em outro Estado da

Federaccedilatildeo ―em razatildeo de ser este oacutergatildeo pertencente agrave mesma pessoa juriacutedica na qual o

Ministeacuterio das Cidades estaacute entranhado 994

qual seja a Uniatildeo

Por outro lado ―o Secretaacuterio-Executivo do Ministeacuterio do Planejamento

Orccedilamento e Gestatildeo poderia ter seu irmatildeo nomeado para ocupar um cargo

comissionado na Fundaccedilatildeo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE

entidade da Administraccedilatildeo Indireta vinculada ao Ministeacuterio995

vez que natildeo

993 Alegre Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009 p 8 994 FILHO Joatildeo Pereira Andrade A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites de

atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia - Escola

da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011p 142 995 Ibidem p144

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configuraria nepotismo pois aleacutem de o Secretaacuterio natildeo ser a autoridade nomeante pois o

seu irmatildeo seria nomeado pelo presidente do IBGE este eacute pessoa juriacutedica diversa da

Uniatildeo pois tem personalidade juriacutedica proacutepria

Desta feita a literalidade da Suacutemula Vinculante leva agrave conclusatildeo de que o

primeiro caso seria ofensivo agrave Constituiccedilatildeo e o segundo natildeo quando parece ser o

oposto pois no primeiro exemplo natildeo se observa ―beneficiamento familiar e no

segundo sim

Contudo mesmo sendo intuitivo que situaccedilotildees dispares natildeo podem ser tratadas

da mesma forma996

pelas argumentaccedilotildees dos ministros no debate da suacutemula se

verifica que agrave pessoa juriacutedica disposta na suacutemula se deu a conotaccedilatildeo de poder ou seja

servidor de um poder investido em cargo de direccedilatildeo chefia e assessoramento natildeo

poderaacute ter parente consanguiacuteneo ou afim ateacute terceiro grau nomeado em cargo em

comissatildeo naquele mesmo poder997

pois os Ministro objetivavam com esta amplitude

mesmo acarretando situaccedilotildees contraditoacuterias obstar as nomeaccedilotildees realizadas pelo titular

do Poder Executivo que ―nomeia tudo

Todavia tal assentamento obsta tanto parentes de servidores puacuteblicos que

detenham cargo em comissatildeo e que sejam tambeacutem servidores puacuteblicos a ascender

profissionalmente como tambeacutem a outros parentes a adentrarem ao mesmo poder que

seu parente eacute servidor ocupante de cargo comissionado (seja efetivo ou natildeo) ou

autoridade nomeante seja nomeado soacute em cargo em comissatildeo mesmo que este parente

a adentrar seja lotado em oacutergatildeo completamente diferente do oacutergatildeo de seu parente

totalmente desvinculado e sem qualquer subordinaccedilatildeo

E sob esse prisma ―o enunciado vinculante estaria cerceando amplamente a

liberdade de atuaccedilatildeo de todos os oacutergatildeos de Poder pois ―impediria que cargos

comissionados em oacutergatildeos distintos sem relaccedilatildeo de subordinaccedilatildeo entre si fossem

providos por parentes998

mesmo que servidores de carreira (ocupantes de cargos

efetivos) de seus respectivos oacutergatildeos

996 PA n 722010 de 280510 nos autos do processo nordm 18487-1859732010 p 06 Disponiacutevel em www

pgespgovbr 997 Seja no Executivo Federal (todos os Ministeacuterios e demais oacutergatildeos do poder executivo) no Poder Judiciaacuterio Federal

(toda a justiccedila federal seja comum ou especializada) ou no Poder Legislativo Federal (Congresso Nacional ndash Cacircmara

e Senado) e assim nos poderes dos demais entes federados ( Estados Distrito Federal e Municiacutepios) 998ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira de A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os

limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia

- Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 142

179

Situaccedilotildees como estas natildeo ferem de forma alguma o princiacutepio da moralidade

insculpido na Constituiccedilatildeo Republicana jaacute que natildeo haacute como servidor ocupante de cargo

comissionado de um oacutergatildeo ter poder de indicaccedilatildeo para nomeaccedilatildeo em outro oacutergatildeo pois

muitas vezes nem a autoridade nomeante em um oacutergatildeo tem este poder em relaccedilatildeo a

outro oacutergatildeo999

Tambeacutem se pode pensar que a vedaccedilatildeo ampla da Suacutemula ao obstar situaccedilotildees

esdruxulamente tidas como nepotismo na realidade infringe o princiacutepio da

impessoalidade pois desde jaacute independente de qualquer situaccedilatildeo se provoca uma

desigualdade quanto agrave qualquer parente consanguiacuteneo ou por afinidade ateacute terceiro

grau de servidor ocupante de cargo em comissatildeo seja este com viacutenculo (ocupante de

cargo efetivo tambeacutem) ou sem viacutenculo (ocupante soacute de cargo comissionado) de poder

ser nomeado no mesmo poder em que seu parente estaacute lotado

Isto eacute uma infraccedilatildeo ao princiacutepio da impessoalidade eacute um cerceamento da

liberdade deste cidadatildeo soacute por ele ser parente do outro o que foi lembrado inclusive no

primeiro precedente da SV n13 ―Efetivamente natildeo seria admissiacutevel que no regime

democraacutetico se impedisse determinada parcela de cidadatildeos de participar do serviccedilo

puacuteblico tatildeo-soacute pelo fato de manterem algum viacutenculo de parentesco com autoridades

dos Trecircs Poderes1000

O que se deve ter em mente eacute que se por um lado ―natildeo eacute admissiacutevel aceitar que

haja benefiacutecios e confortos evidentes e decorrentes do grau de parentesco ou do viacutenculo

conjugal por outro natildeo se pode ―estigmatizar o indiviacuteduo por ser parente de algueacutem

o que se deve entatildeo ―eacute evitar a concessatildeo de facilidades decorrentes do berccedilo ou dos

laccedilos de sangue ou do viacutenculo uxoacuterio ou marital1001

Diante disto o que se pode dizer eacute que o STF ―por natildeo se basear em um

exame cuidadoso dos casos e diante das oacutebvias dificuldades de estabelecer uma regra

geral para a questatildeo escolheu usar o termo pessoa juriacutedicalsquo no enunciado da SV

999 E diga-se mais dependendo do cargo de direccedilatildeo e assessoramento superior (DAS no Poder Executivo Federal)

que o servidor ocupa ele mal tem como se ―segurar no cargo muito menos indicar parente para cargo comissionado

mesmo no proacuteprio oacutergatildeo 1000 Neri da Silveira voto da ADI 1-521-4 precedente da Suacutemula fl 148 1001 ARAKAKI Allan Thiago Barbosa ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante n 13 e o combate ao nepotismo

Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI n 75 2011 p 104

180

n131002

que tatildeo logo notado foi questionado1003

vez que estaacute a violar a

impessoalidade e a moralidade que nortearam o proacuteprio enunciado vinculante

424 Nomeaccedilatildeo de parente para cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila

Uma quarta criacutetica eacute que se proiacutebe a nomeaccedilatildeo de parente para cargo em

comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila da qual decorrem trecircs questotildees problemaacuteticas a

primeira referente ao fato de que a nomeaccedilatildeo para cargo poliacutetico natildeo foi vedada a

segunda concernente ao fato de que os servidores efetivos parentes do outro servidor

que ocupa cargo comissionado natildeo poderiam de forma alguma ocupar cargo

comissionado tambeacutem e a terceira de que a vedaccedilatildeo abarca tambeacutem os servidores

efetivos designados para exercerem funccedilatildeo de confianccedila

Assim primeiramente faz-se imprescindiacutevel diferenciar o cargo em comissatildeo -

de natureza administrativa - do cargo poliacutetico Enquanto o primeiro integra a estrutura

da administraccedilatildeo vinculado ao ―cumprimento de diretrizes e determinada finalidade

preacute-fixada1004

o segundo eacute de governo envolve ―atividade primaacuteria de escolha de

decisatildeo ()1005

sendo ocupados respectivamente por servidores - que satildeo regidos

pelo regime juriacutedico estatutaacuterio geral e por os agentes poliacuteticos que ―tecircm seus direitos e

obrigaccedilotildees estabelecidos diretamente pela Constituiccedilatildeo Federal1006

diferenciados

tambeacutem quanto ao regime remuneratoacuterio e agrave responsabilizaccedilatildeo por atos iliacutecitos1007

Assim a SV n13 natildeo alcanccedila os Ministros de Estado Secretaacuterios de Estados e

Distritais bem como Secretaacuterios Municipais uma vez que ocupantes de cargos poliacuteticos

e desempenham funccedilotildees ―nitidamente superiores mais abstratas mais poliacuteticas menos

1002MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p94 1003 Por meio da Reclamaccedilatildeo n 6838 proposta pelo Procurador-Geral da Repuacuteblica - PGR 1004 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Op cit p97 1005 FILHO Joatildeo Trindade Cavalcanti e LAGO Rodrigo Pires Ferreira A vedaccedilatildeo ao Nepotismo e as Nomeaccedilotildees de

Agentes Poliacuteticos ndash Uma anaacutelise sobre a Jurisprudecircncia do STF e a Suacutemula Vinculante STF nordm 13 Revista Siacutentese

Direito Administrativo v 5 n 58 out2010 p97 1006 Ibidem p 101 1007 ― ()ateacute mesmo o regime remuneratoacuterio eacute diferente Enquanto os agentes poliacuteticos ndash incluiacutedos expressamente os

Ministros de Estado (art 39 sect4ordm da CR88) ndash devem ser remunerados por regime de subsiacutedio os agentes

administrativos percebem sua contraprestaccedilatildeo pecuniaacuteria em regra pelo sistema de remuneraccedilatildeo 106 ―Tambeacutem a

responsabilizaccedilatildeo por atos iliacutecitos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo eacute distinta caso se trate de agente poliacutetico ou

administrativo Os Ministros de Estado respondem por crime de responsabilidade perante o Senado Federal ou

perante o Supremo Tribunal Federal caso o ato respectivamente seja ou natildeo conexo com o Presidente ou Vice-

Presidente da Repuacuteblica E esse foro diferenciado se justifica exatamente por serem agentes poliacuteticos Jaacute os agentes

administrativos podem ser responsabilizados por improbidade administrativa nos termos do art 37 sect4ordm da

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Esse regime de responsabilizaccedilatildeo em geral natildeo se aplica aos agentes poliacuteticos conforme

jaacute decidiu o Supremo Tribunal Federal Ibidem p 105

181

vinculadas e mais ligadas agrave funccedilatildeo governativa voltadas a auxiliar na direccedilatildeo superior

da administraccedilatildeo federal1008

Ou seja nos termos jaacute dispostos por Carlos Ayres Britto os cargos

comissionados satildeo ― singelamente administrativo e os cargos poliacuteticos satildeo de governo

sendo esta a fundamentaccedilatildeo constitucional utilizadas pelos Ministros para diferenciar a

aplicaccedilatildeo do nepotismo quanto aos primeiros e natildeo aos segundos

Entatildeo na realidade a diferenccedila se deriva da natureza diversa dos cargos pois

enquanto o cargo em comissatildeo eacute administrativo ―espeacutecie do gecircnero cargo puacuteblico (em

sentido estrito) os cargos ocupados pelos Ministros satildeo considerados cargos poliacuteticos

de natureza especial que exige do seu ocupante que esteja no pleno gozo dos direitos

poliacuteticos o que jaacute denota o caraacuteter poliacutetico que caracteriza a funccedilatildeo1009

Desta forma a questatildeo de a Suacutemula proibir a nomeaccedilatildeo do parente do servidor

ou da autoridade nomeante para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo ou de confianccedila mas

natildeo vedar a nomeaccedilatildeo agente poliacutetico como observado no proacuteprio debate da suacutemula

bem como em votos dos ministros nos precedentes da mesma natildeo alcanccedila a nomeaccedilatildeo

de parente de autoridade nomeante para agente poliacutetico podendo os chefes dos poderes

executivos de cada um dos respectivos entes federados nomear parente para ser seus

respectivos Ministro ou Secretaacuterio Estadual Distrital ou Federal jaacute que seriam agentes

poliacuteticos e natildeo servidores ocupantes de cargo em comissatildeo

Segundo as razotildees apresentadas pelos Ministros do STF tal situaccedilatildeo natildeo se

qualificaria como nepotica pois esta soacute seria verificada quando o parente fosse

indicandonomeado em cargo comissionado o que eacute sintetizado pela seguinte exposiccedilatildeo

―natildeo se pode considerar para a anaacutelise da questatildeo posta apenas o contido no artigo 37 da

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica para concluir que toda a nomeaccedilatildeo de parente ofende o

princiacutepio da impessoalidade A nomeaccedilatildeo para cargos de agentes poliacuteticos eacute

diferenciada e deve reger-se pelo seu regime proacuteprio1010

Tanto foi assentado pelo STF que os agentes poliacuteticos estariam fora de sua

aplicabilidade que o entatildeo presidente do Tribunal Ministro Gilmar Mendes a fim de

1008 FILHO CAVALCANTI Joatildeo Trindade e LAGO Rodrigo Pires Ferreira A vedaccedilatildeo ao Nepotismo e as

Nomeaccedilotildees de Agentes Poliacuteticos ndash Uma anaacutelise sobre a Jurisprudecircncia do STF e a Suacutemula Vinculante STF nordm 13

Revista Siacutentese Direito Administrativo v 5 n 58 out2010 p103 ndash 104 1009 Ibidem p 104 Mas aqui haacute de se notar que da mesma forma que provimento dos cargos em comissatildeo eacute

excepcional jaacute que a regra eacute o provimento por concurso puacuteblico a investidura dos Ministros e Secretaacuterios sejam

estes Estaduais Distritais ou Municipais tambeacutem eacute excepcional pois por ad nutum e natildeo por eleiccedilatildeo que eacute a regra

neste caso 1010 Ibidem p 107

182

justificar essa ―contraditoacuteria hermenecircutica da Corte de Justiccedila sobre a mateacuteria procurou

legitimaacute-la como uma ―hipoacutetese de exceccedilatildeo agrave regra por meio do exemplo dos irmatildeos

Kennedy o que na realidade ratificou ―que ainda natildeo superamos a velha e discutiacutevel a

velha filosofia tupiniquim de que o que foi uma vez bom para os Estados Unidos eacute

bom tambeacutem para o Brasillsquo()1011

Aleacutem de o argumento ser ―anti-republicano desprovido de loacutegica tambeacutem

―ofende os princiacutepios da razoabilidade e da isonomia pois natildeo se vislumbra qualquer

loacutegica juriacutedica ou razoabilidade em natildeo se reconhecer nepotismo quanto aos cargos

poliacuteticos vez que gozam ―de um maior grau de confianccedila dos que os demais ocupantes

de cargos comissionados e como estes uacuteltimos ocupam cargos e funccedilotildees de livre

escolha gozando tambeacutem ―da estrita confianccedila da autoridade nomeante1012

A continuidade do raciociacutenio eacute a seguinte

() cabe ao Chefe do Poder Executivo nomear os titulares destes cargos que

satildeo tambeacutem demissiacuteveis ad nutum E tem que ser assim Natildeo poderiam eles

ser objeto de eleiccedilatildeo porquanto os seus titulares devem estar em perfeita

sintonia com o Presidente da Repuacuteblica o Governador ou o Prefeito

conforme o caso Trata-se sem duacutevida de uma transferecircncia de poder

poliacutetico ()Tem-se portanto que os integrantes do denominado primeiro

escalatildeo do governo e que natildeo satildeo eleitos exercem as suas funccedilotildees como

espeacutecie de delegaccedilatildeo de poder poliacutetico pelo mandataacuterio Essa circunstacircncia

lhes confere caracteriacutestica peculiar E daiacute natildeo se vedar por si soacute a

nomeaccedilatildeo1013

(grifos nossos)

Mas justamente por haver ―transferecircncia de poder isto seria tatildeo imoral quanto

o nepotismo podendo ensejar ateacute o ―monopoacutelio de uma mesma famiacutelia na cuacutepula de um

governo

Tambeacutem quanto a esta possiacutevel nomeaccedilatildeo natildeo convence a argumentaccedilatildeo de

que ―o regime juriacutedico dos agentes poliacuteticos justifica escolhas com a mais ampla

discricionariedade possiacutevel segundo criteacuterios realmente poliacuteticos podendo a escolha

recair inclusive em parentes ()1014

porque eacute pior ainda a indicaccedilatildeo para o cargo

poliacutetico ―que ajuda a formar a vontade superior do governo sendo sua vinculaccedilatildeo

1011 LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008 p 23 1012 Ibidem p 23 1013 CAVALCANTI FILHO Joatildeo Trindade e LAGO Rodrigo Pires Ferreira A vedaccedilatildeo ao Nepotismo e as

Nomeaccedilotildees de Agentes Poliacuteticos ndash Uma anaacutelise sobre a Jurisprudecircncia do STF e a Suacutemula Vinculante STF nordm 13

Revista Siacutentese Direito Administrativo v 5 n 58 out2010 p 108 - 109 1014 Ibidem p 110

183

―poliacutetica e natildeo profissional (administrativa)1015

vez que enseja ainda mais a dominaccedilatildeo

do Estado pela ―entidade familiar

Exemplificando ―o prefeito municipal natildeo poderia nomear a sua esposa para o

cargo de diretora de estabelecimento escolar mas poderia nomeaacute-la para Secretaacuteria

Municipal de Educaccedilatildeo Natildeo poderia nomear o irmatildeo motorista mas poderia nomeaacute-lo

Secretaacuterio de Transportes Servindo a vedaccedilatildeo da SV n13 para menos mas natildeo para

mais vez que a proibiccedilatildeo do nepotismo ―() entre noacutes parece dirigir-se para os cargos

de segundo escalatildeo e alcanccedilar apenas o servidor barnabeacute integrante dos extratos

administrativos mais singelos atribuindo-se aos escalotildees elevados da administraccedilatildeo

puacuteblica a qualidade de serem compostos por cargos de provimento exclusivamente

poliacutetico1016

O certo eacute que eacute imoralidade se nomear parente com agente poliacutetico tanto

quanto em cargo comissionado ou eacute ateacute pior vez que

() o princiacutepio constitucional da moralidade administrativa densificado pela

noccedilatildeo de funccedilatildeo puacuteblica persiste encarecido com a consciecircncia juriacutedica de

que haacute uma relaccedilatildeo fiduciaacuteria () que se investe todo aquele que exerce uma

funccedilatildeo puacuteblica ndash pois o fazem em nome de terceiro da coletividade ndash e

sobretudo aos chefes do executivo (Presidente de Republica Governadores

Prefeitos) e portanto igualmente eacute exigiacutevel a adequaccedilatildeo do comportamento

deles a um padratildeo objetivo de honestidade transparecircncia e impessoalidade o

que impede ndash por muito mais razatildeo pois os chefes do executivo encontra-se

no aacutepice da relaccedilatildeo hieraacuterquica deste Poder ndash que nomeiem para os cargos de

Ministros e Secretaacuterios os seus parentes e ateacute mesmo parentes de outros

agentes puacuteblicos integrantes de outro Poder (nepotismo cruzado) () vige a

noccedilatildeo juriacutedica de que o exerciacutecio da missatildeo puacuteblica natildeo se realiza para a

satisfaccedilatildeo de um interesse proacuteprio mas em cumprimento dos deveres que

surgem da relaccedilatildeo de confianccedila decorrente do princiacutepio republicano (a

elementar noccedilatildeo de coisa puacuteblica) 1017

Tais razotildees satildeo bastantes a combater o nepotismo junto aos cargos poliacuteticos em

qualquer esfera dos Poderes do Estado sendo exatamente essa a compreensatildeo que se

deve ter na anaacutelise das nomeaccedilotildees para cargos de agentes poliacuteticos pois muito embora

―natildeo se extraia da norma constitucional vedaccedilatildeo absoluta para que esta recaia sobre

algum parente do governante eacute preciso investigar natildeo apenas a legalidade do ato mas

1015 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 217 1016 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico ndash

RBDP Belo Horizonte v 11 n 41 abrjun2013 p 12 1017 PIRES Luis Manuel Fonseca Controle judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf suacutemula vinculante do Supremo

Tribunal Federal Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Belo Horizonte EdFoacuterum 2008 p 235-252 P

248 249

184

tambeacutem a sua legitimidade De forma a ―repudiar todo o ato que embora revestido de

suposta legalidade natildeo se mostre conforme o Direito tornando-o ilegiacutetimo1018

Assim a redaccedilatildeo da Suacutemula Vinculante trouxe agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica

brasileira casos esdruacutexulos pois se por um lado um servidor efetivo ocupante de um

cargo em comissatildeo no Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome em

Brasiacutelia natildeo pode ter uma tia nomeada para cargo em comissatildeo na Superintendecircncia

Federal de Agricultura no Estado do Sergipe por outro um prefeito nomear um irmatildeo

como Secretaacuterio de Sauacutede do Municiacutepio e a sogra como Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

Municipal1019

Mas isto configura imenso risco agrave aplicabilidade do princiacutepio da moralidade

administrativa que constitucionalmente exposto vincula a Administraccedilatildeo Puacuteblica com

um todo ou seja natildeo soacute quanto aos cargos comissionados mas tambeacutem os poliacuteticos

nomeados da mesma forma ou seja pela aplicabilidade do poder discricionaacuterio natildeo se

podendo admitir que tal ―exceccedilatildeo converta-se em regra permitindo ―manobras triviais

destinadas a favorecer relaccedilotildees de parentesco nos cargos mais elevados do Estado em

1018 FILHO Joatildeo Trindade Cavalcanti e LAGO Rodrigo Pires Ferreira A vedaccedilatildeo ao Nepotismo e as Nomeaccedilotildees de

Agentes Poliacuteticos ndash Uma anaacutelise sobre a Jurisprudecircncia do STF e a Suacutemula Vinculante STF nordm 13 Revista Siacutentese

Direito Administrativo v 5 n 58 out2010p 112 1019 Conforme Alegre a sintetiza toda a questatildeo ora disposta da seguinte forma() um parente natildeo pode nomear seu

proacuteprio parente natildeo importa a sua qualificaccedilatildeo e retidatildeo moral mas pode nomear os de outros inclusive seus

amigos filhos parentes e aderentes ainda quando desqualificados e de duvidosa moralidade E os agentes poliacuteticos

justamente aqueles que tecircm a responsabilidade graviacutessima de definir os rumos do governo de decidir a qualidade de

vida de um povo inteiro bem estes podem nomear parentes agrave vontade () E assim () a Suacutemula eacute impotente

inapta mesmo para coibir o tratamento favorecido por parte de agentes puacuteblicos por conta de relaccedilotildees de ―afeto

pessoal () haacute insuficiecircncia o que tambeacutem contraria o princiacutepio da proporcionalidaderazoabilidade () Com

efeito custa entender a loacutegica do razoaacutevel que presidiu a distinccedilatildeo entre agente administrativo e agente poliacutetico para

dar tratamento favorecido a este uacuteltimo A distinccedilatildeo eacute sem duacutevida rigorosamente teacutecnica Contudo o seu resultado eacute

desastroso () E aiacute eacute que estaacute a perplexidade Se eacute deles que mais se deve exigir especialmente no plano do

comportamento da excelecircncia eacutetica entatildeo como entender que no caso da nomeaccedilatildeo de parentes viola a Constituiccedilatildeo

a nomeaccedilatildeo daqueles que o sejam na qualidade de agentes somente administrativos e natildeo tambeacutem no caso de agentes

poliacuteticos Quem eacute mais importante na escala do poder Aquele que exerce funccedilotildees de Governo que define as

diretrizes e metas a serem buscadas administrativamente ou aqueles que apenas se limitam a executar tais metas e

diretrizes Entatildeo eacute honesto deixar de nomear mulher filhos sobrinhos companheira pai matildee avoacutes para cargos de

pequena expressatildeo na Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive de menor repercussatildeo financeira natildeo importando a boa

qualificaccedilatildeo que possam ostentar mas eacute honesto fazecirc-lo para cargo de Ministro de Estado Secretaacuterio de Estado ou de

Municiacutepio ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro

Revista Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez

jan fev 2009 p18 Esse tambeacutem eacute o entendimento de Arakaki ―No que tange entatildeo aos cargos poliacuteticos como de

Secretaacuterio ou Ministro do Poder Executivo pode ser nomeado o parente da autoridade nomeante A tiacutetulo de

exemplo pode-se dizer que o Governador pode nomear seu irmatildeo como Secretaacuterio Estadual de Seguranccedila Puacuteblica

eou a sua mulher como Secretaacuteria de Transporte em razatildeo da natureza poliacutetica do proacuteprio cargo visto que foge agraves

hipoacuteteses previstas na redaccedilatildeo sumular segundo entendimento esposado pelo STF ARAKAKI Allan Thiago

Barbosa e ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo Revista de Direito Constitucional

e Internacional ndash RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 abrjun p113 Joatildeo Joseacute Leal tambeacutem

exemplifica na mesma linha ―() eacute legiacutetima a nomeaccedilatildeo de parentes proacuteximos para cargos poliacuteticos exercidos por

agentes poliacuteticoslsquo Ou seja na esfera da administraccedilatildeo municipal o prefeito poderia nomear filhos irmatildeos cocircnjuges

ou sobrinhos para exercer o cargo de secretaacuterio municipal A mesma exceccedilatildeo valeria para permitir que o presidente

da Repuacuteblica e os governadores possam nomear parentes para exercer a funccedilatildeo poliacuteticalsquo de ministros federais e

secretaacuterios estaduais respectivamente LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o

Nepotismo Top Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal ano v n 26 p 18-24 outnov2008 p22

185

desfavor da meritocracia e da seriedade exigidas na gestatildeo puacuteblica1020

aleacutem de

reacender ―o debate sobre o alcance do conteuacutedo dos atos poliacuteticos cujo entendimento

atualmente ―eacute no sentido de que nenhuma categoria de ato estaacute excluiacuteda da observacircncia

da Constituiccedilatildeo e principalmente dos princiacutepios administrativos1021

Assim natildeo se justifica racionalmente ―a exclusatildeo dos agentes poliacuteticos

Ministros e Secretaacuterios de Estados Distrito Federal e Municiacutepios da regra estabelecida

para o nepotismo pois quando ―o Chefe do Executivo Municipal nomeia um irmatildeo

para ocupar o cargo de Secretaacuterio de Sauacutede do Municiacutepio obviamente que se configura

o nepotismo com a presenccedila dos dois aspectos o objetivo e o subjetivo natildeo havendo

portanto ―motivo de excluiacute-lo da regra geral uma vez que houve a violaccedilatildeo dos

princiacutepios da impessoalidade e da moralidade administrativa1022

Em verdade a ―exclusatildeo dos mencionados agentes poliacuteticos do alcance da

suacutemula vinculante n 13 revela um contrassenso em total desacordo com a moderna

doutrina dos atos poliacuteticos bem como o ―desconhecimento da Suprema Corte dos reais

problemas enfrentados nos milhares de municiacutepios brasileiros no que concerne agrave praacutetica

do nepotismo onde o ―beneficiamento de parentes com cargos de primeiro escalatildeo de

governo eacute nefasto agraves Administraccedilotildees Puacuteblicas locais1023

Por isso a accedilatildeo do STF em excepcionaacute-los aleacutem de ser preocupante eacute

perigosa profundamente lamentaacutevel ao ensejar na praacutetica a seguinte situaccedilatildeo

para a maioria dos cargos comissionados a nomeaccedilatildeo de parentes proacuteximos

estaria proibida por ofender os princiacutepios da moralidade e da impessoalidade

no entanto para os chamados cargos poliacuteticos a nomeaccedilatildeo de parentes seria

liacutecita e natildeo ofenderia a estes dois princiacutepios constitucionais tatildeo importantes

para a conduccedilatildeo da administraccedilatildeo puacuteblica brasileira de forma mais eficiente e

segundo os preceitos da eacutetica1024

Tal entendimento ocasiona

1020 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico ndash

RBDP Belo Horizonte v 11 n 41 abrjun2013p 12 Tanto que o autor ainda exemplifica ―No interior do Brasil

e em Estados relevantes parentes estatildeo sendo nomeados Secretaacuterios para ajustar a estrutura administrativa aos

padrotildees decisoacuterios do STF e aparentar o cumprimento agrave Sumula Vinculante n 13 () o prefeito de Curitiba Gustavo

Fruet (PDT) nomeou a esposa Maacutercia Fuet para comandar a Fundaccedilatildeo de Accedilatildeo Social () e a irmatilde Eleonora Fruet

para assumir a Secretaria de Financcedilas Em Manga (MG) o prefeito Anastaacutecio Guedes (PT) designou trecircs parentes

para o primeiro escalatildeo do governo o cunhado assumiu a Secretaria de Agricultura Familiar a cunhada a Secretaria

de Assistecircncia Social e o sobrinho a Secretaria de Administraccedilatildeo Investido na prefeitura de Manaus o ex-senador

Arthur Virgiacutelio nomeou a mulher Goreth Garcia para a Secretaria de Assistecircncia Social p13 1021 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p218 1022 Ibidem p218 1023 Ibidem p 218 1024 LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008 p 23

186

seacuterio risco de conviver com nocivos clatildes encastelados na administraccedilotildees

estaduais municipais e federal Todos respaldados por essa contraditoacuteria

hermenecircutica sumular da Suprema Corte Prefeitos e governadores deste paiacutes

agora confortados por esse entendimento jurisprudencial manteratildeo seus

parentes na elevada funccedilatildeo comissionada de secretaacuterios municipais e

estaduais1025

Mas haacute de se questionar como se pode aceitar juridicamente tal diferenciaccedilatildeo

entre as duas situaccedilotildees sendo uma configurada como ―perniciosa agrave vida da

administraccedilatildeo puacuteblica por ser imoral ilegiacutetima e ofensiva aos princiacutepios constitucionais

jaacute referidos e outra perfeitamente liacutecita compatiacutevel com tais princiacutepios pois a ―accedilatildeo

nepoacutetica em qualquer situaccedilatildeo apresentada tem a mesma natureza antieacutetica1026

infringindo da mesma maneira e os princiacutepios constitucionais consagrados no artigo 37

da CF natildeo sendo portanto possiacutevel dividir o nepotismo em duas classificaccedilotildees

opostas um legiacutetima e outra ilegiacutetima o que seria contraditoriamente ofensivo ao

princiacutepio da igualdade1027

No miacutenimo a ―interpretaccedilatildeo dada pelo STF revela-se desprovida de um exame

acurado das definiccedilotildees inseridas no texto da Suacutemula1028

Por fim vale ressaltar que tal entendimento do STF expresso no quarto

precedente da SV n13 foi reafirmado quando na RCL n 6650 MC ndash AgRPR1029

suspendeu decisatildeo judicial1030

que anulava a nomeaccedilatildeo de irmatildeo1031

do entatildeo

Governador do Estado do Paranaacute Roberto Requiatildeo para o cargo de Secretaacuterio Estadual

de Transporte sob o argumento de que essa situaccedilatildeo natildeo estava vedada pela SV

n131032

tendo em vista o RE n 579951RN precedente da citada SV que autorizou a

distinccedilatildeo dos agentes poliacuteticos1033

1025 LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008p 23 1026 Ibidem p 23 1027 ― () natildeo podemos compreender que o STF venha a dar uma interpretaccedilatildeo ambiacutegua ao conteuacutedo normativo dos

princiacutepios constitucionais aqui examinados para admitir a existecircncia de duas formas de nepotismo uma legiacutetima e

outra ilegiacutetima Ibidem p 24 ―Como decorrecircncia dessa hermenecircutica sustentada pelo STF tem-se na praacutetica duas

modalidades de nepotismo o nepotismo iliacutecito (ofensivo aos princiacutepios constitucionais jaacute referidos) e outro

perfeitamente liacutecito (compatiacutevel com tais princiacutepios) Aleacutem disso esse entendimento jurisprudencial tem estimulado a

que muitos prefeitos e governadores criem novas secretarias com o intuito de promover seus familiares de funccedilotildees

comissionadas subalternas para cargos de natureza poliacutetica no primeiro escalatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica migrando

do nepotismo iliacutecito para o nepotismo liacutecito Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13

In Revista de Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 218 1028 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 36 1029 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl 6650 ndash MC ndash AgRPR Relatora Ministra Ellen Gracie

publicada no Dje 222 20112008 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 110214 1030 Do juiacutezo de Direito da Primeira Vara da Fazenda Puacuteblica Falecircncias e Concordatas do Foacuterum Central da Comarca

da Regiatildeo Metropolitana de CuritibaPR nos autos da Accedilatildeo Popular n 24242008 1031 Eduardo Requiatildeo de Mello e Silva 1032 A liminar foi deferida monocraticamente pelo Ministro Cezar Peluso e publicada no Dje n184 de 29072008

sendo registrado que a nomeaccedilatildeo do irmatildeo do Governador como titular da autarquia designada Administraccedilatildeo dos

187

Interessante ressaltar que apesar de o Ministro Ricardo Lewandowski um dos

maiores defensores da SV n13 ter afirmado no julgamento da liminar da Reclamaccedilatildeo

que ―Eacute preciso examinar caso a caso para verificar se houve fraude agrave lei ou nepotismo

cruzado que poderia ensejar a anulaccedilatildeo do ato1034

o STF mesmo tendo conhecimento

da dissimulaccedilatildeo em questatildeo vez que o irmatildeo do Governador foi nomeado para o cargo

poliacutetico de Secretaacuterio Estadual para poder cumular o cargo comissionado de direccedilatildeo de

autarquia entendeu pela inaplicabilidade da SV n13 ao caso o que ocasionou a

proposiccedilatildeo de diversas outras Reclamaccedilotildees com base nesse julgado e no citado RE

precedente sumular o que posteriormente ensejou ao STF rever seu posicionamento

como se veraacute

O que parece eacute que estamos a ―conviver com uma forma mais selecionada

sofisticada e elitizado do nepotismo () nepotismo top por meio do qual ocorrem

nomeaccedilotildees de parentela de autoridades para cargos poliacuteticos

Mas natildeo eacute justamente nas nomeaccedilotildees para os cargos do primeiro escalatildeo da

administraccedilatildeo puacuteblica que a praacutetica nepoacutetica apresenta um maior grau de imoralidade e

perniciosidade Pois ―a partilha entre membros do clatilde familiar de cargos em

provimento sem concurso puacuteblico aleacutem do seu caraacuteter imoral e da ausecircncia do requisito

da impessoalidade na escolha eacute a que mais profundamente ofende os princiacutepios da

eficiecircncia e da igualdade Sendo fato puacuteblico e notoacuterio que o criteacuterio de escolha natildeo eacute

a capacidade nem a aptidatildeo para o trabalho ―mas a identidade de sangue que corre nas

veias do mandataacuterio e de seu parente protegido1035

Natildeo se pode preparar um lenitivo agrave margem do mal que se busca combater

esse sim eacute um caso de controveacutersia inseguranccedila juriacutedica muacuteltiplos processos que

deveria ter sido vedado por SV

Mas natildeo eacute soacute a segunda problemaacutetica eacute que de acordo com a literalidade da

SV n13 ateacute os servidores efetivos que satildeo parentes do outro servidor que ocupa cargo

Portos de Paranaguaacute e Antonina deveria ser analisada quando do julgamento do meacuterito da reclamaccedilatildeo Dessa forma a

mateacuteria foi a Plenaacuterio quando se verificou que o intuito na nomeaccedilatildeo do irmatildeo do Governador para Secretaacuterio de

Transportes tinha como objetivo encobrir a nomeaccedilatildeo do mesmo confirmado pela publicaccedilatildeo do Decreto Estadual n

33482008 dissimulando a aplicabilidade da SV n13 ao caso 1033 A Relatora Ministra Ellen Gracie votou pela manutenccedilatildeo da decisatildeo liminar com esteio nesse precedente e a

maioria dos Ministros a acompanhou 1034 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl 6650 ndash MC ndash AgRPR Relatora Ministra Ellen Gracie

publicada no Dje 222 20112008 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 110214 1035 LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008p 24

188

comissionado natildeo poderiam de forma alguma ocupar cargo comissionado tambeacutem1036

Isto traduz seacuteria discriminaccedilatildeo sofrida pelos servidores efetivos devido agrave sua parentela

o que contraria diretamente o disposto pelo princiacutepio da impessoalidade que rege a

Administraccedilatildeo Puacuteblica e pode ateacute mesmo configurar ―um tipo de perseguiccedilatildeo

qualificada pelo grau de parentesco com algum agente puacuteblico 1037

Primar pela impessoalidade no serviccedilo puacuteblico passa objetividade e

transparecircncia na ocupaccedilatildeo de cargos em comissatildeo mas natildeo significa vedar a ocupaccedilatildeo

de cargos comissionados por todos que forem parentes uns dos outros indistintamente

o que ―pode representar um radicalismo pouco saudaacutevel1038

Radicalismo esse que obsta a aplicaccedilatildeo da meritocracia ao servidor efetivo

visto que o impede de ser nomeado em qualquer cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento por meacuterito proacuteprio pois a Suacutemula presumiu que o alcance ao cargo

comissionado de servidor efetivo que eacute parente daquele que eacute apenas ocupante de cargo

comissionado ocorreraacute tatildeo somente devido ao viacutenculo familiar e natildeo por sua eficiecircncia

invertendo nesse caso o brocado do princiacutepio da inocecircncia

Tal fato ainda obsta a efetivaccedilatildeo tambeacutem do princiacutepio da eficiecircncia vez que

veda o acesso ao cargo agravequele servidor que tem parente comissionado mesmo que

detenha capacidade teacutecnica e perfil adequado para tanto

Ainda viola o princiacutepio da igualdade ao discriminar1039

tais servidores frente

aos demais servidores e aos cidadatildeos1040

pois a SV n 13 ao dispor ―um criteacuterio objetivo

para avaliar algo eminentemente subjetivo trata igualmente os desiguais colocando

1036 ―Se o servidor puacuteblico parente por afinidade ou consanguinidade da autoridade nomeante ou de outro servidor

puacuteblico de confianccedila eacute titular de cargo efetivo mas estaacute exercendo cargo comissionado ou funccedilatildeo gratificada

enquadra-se na vedaccedilatildeo da Sumula e por isso mesmo deve retornar ao exerciacutecio apenas do seu cargo efetivo que

natildeo eacute afetado em virtude das relaccedilotildees de parentesco ANTONIO Alice Barroso O nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula

Vinculante n 13 do STF criacuteticas e proposiccedilotildees Revista Brasileira de Direito Municipal - RBDM Belo Horizonte

Ed Foacuterum ano 10 n 32 p 61-84 janmar 2009 p73 1037 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 33 1038 Ibidem p33 1039 ―Indevida a presunccedilatildeo de que todo parente de agente publico ingressa em cargos de comissatildeo ou funccedilotildees de

confianccedila apenas em virtude de seu vinculo familiar sem preencher qualquer outra condiccedilatildeo para o exerciacutecio do

serviccedilo puacuteblico Tal anaacutelise eacute preconceituosa () O que natildeo condiz com o que o proacuteprio STF firmou pelo MI n 58

DJ de 190491 que ―O princiacutepio da isonomia () deve ser considerado em sua preciacutepua funccedilatildeo de obstar

discriminaccedilotildees e de extinguir privileacutegios ANTONIO Alice Barroso O nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante

nordm13 do STF criacuteticas e proposiccedilotildees Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM Belo Horizonte v 10 n31

janmar 2009 p 79 1040 CABRAL NETO Cirino Adolfo A resoluccedilatildeo n 0705 do Conselho Nacional de Justiccedila e seus efeitos na

administraccedilatildeo puacuteblica municipal Revista Zenite de Direito Administrativo e LRF ndash IDAF ano VII n 78 jan

20072008 p 531-536 p 533

189

todos ―em uma vala comum na medida em que a avaliaccedilatildeo eacute feita ―em razatildeo da

existecircncia de viacutenculo familiar e natildeo em decorrecircncia do meacuterito do servidor1041

Contudo se de um lado ―eacute imoral contratar algueacutem apenas em razatildeo do seu

viacutenculo com o administrador seria igualmente errado demiti-lo tatildeo somente por esse

fato1042

vez que ―o simples fato objetivo do parentesco natildeo configura o nepotismo

mas a consequente violaccedilatildeo dos princiacutepios da moralidade e impessoalidade dentre

outros―pois natildeo haacute lei que proiacuteba expressamente tal contrataccedilatildeo nem ela estaacute vedada

pelos princiacutepios gerais de direito 1043

e diga-se mais tal proibiccedilatildeo fere

direito constitucional e humano desta pessoa ao acesso agrave funccedilatildeo administrativa1044

Diante disso constata-se que tal situaccedilatildeo demanda esforccedilo interpretativo pois

se por um lado ―natildeo eacute razoaacutevel impor limites ao desenvolvimento profissional de

servidores efetivos pelo simples fato de serem parentes por vezes sem qualquer

viacutenculo afetivo por outro imprescindiacutevel preservar a Administraccedilatildeo Puacuteblica do

nepotismo por meio da proibiccedilatildeo de parentes ―trabalharem sob a subordinaccedilatildeo de um ao

outro fato que poderia gerar incompatibilidade e controveacutersias no desempenho probo

dos cargos ocupados1045

E a terceira referente ao fato de que a vedaccedilatildeo tambeacutem proiacutebe que os

servidores efetivos parentes da autoridade nomeante ou de servidor que ocupa tatildeo

somente cargo comissionado sejam designados agrave funccedilatildeo de confianccedila

Como eacute de notoacuterio saber o exerciacutecio da funccedilatildeo de confianccedila eacute destinado

apenas aos servidores efetivos nos termos do artigo 37 inciso V da Constituiccedilatildeo

Federal1046

vez que mesmo sendo como os cargos em comissatildeo preenchidas ―pela

escolha da autoridade competente deste uacuteltimo se difere pois ―eacute imperioso que o

nomeado seja do quadro interno da Administraccedilatildeo Puacuteblica1047

1041 PEacuteRES Taynah Litaiff Isper Abrahim Carpinteiro SILVA Adriana Carla de Souza Suacutemula vinculante n 13 a

―estrada dos tijolos amarelos do funcionalismo puacuteblico brasileiro Revista jus navegandi 102012 1042 Ibidem 1043 POZZO Antocircnio Arnaldo dal O nepotismo no Poder Executivo Boletim de Direito Municipal ndash BDM n 8 ano

XXIV ago2008 1044 RIGOLIN Ivan Barbosa Sobre o nepotismo Uma reflexatildeo sobre a moralidade e o moralismo Foacuterum

Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 7 n80 out2007 p 2 1045 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 36 1046 Verbis ldquoas funccedilotildees de confianccedila exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo ()rdquo 1047 ARAKAKI Allan Thiago Barbosa e ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo

Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 abrjun

2011 p 112

190

Desta feita pela literalidade da Suacutemula chega-se ao absurdo de que o marido

ocupante de cargo comissionado na Controladoria-Geral da Uniatildeo em Brasiacutelia obsta

que sua esposa servidora efetiva seja designada agrave funccedilatildeo de confianccedila na

Superintendecircncia Federal de Agricultura no Distrito Federal vez que tal situaccedilatildeo

configuraria nepotismo conforme a literalidade da SV n13 pois ambos mesmo sendo

lotados em oacutergatildeos diversos e de carreiras distintas sem qualquer vinculaccedilatildeo ou

hierarquia satildeo da mesma pessoa juriacutedica (poder executivo federal conforme a leitura

dos Ministros)

Eacute por situaccedilotildees estremadas como esta que eacute imprescindiacutevel a anaacutelise de cada

caso concreto ―perquirindo suas especificidades suas finalidades e seus efeitos o que

natildeo se garante por meio de ―controle aprioriacutestico feito pela ediccedilatildeo de normas e sumulas

gerais e abstratas aplicaacuteveis a todas as hipoacuteteses indefinidamente mas sim pelo exame

apurado de cada situaccedilatildeo faacutetica1048

425 Nepotismo Cruzado

Uma quinta criacutetica agrave Suacutemula eacute quanto agrave vedaccedilatildeo sobre o nepotismo cruzado

pois o mesmo se qualifica por designaccedilotildees reciacuteprocas realizadas mediante acordo entre

as autoridades nomeante ou seja uma autoridade nomeia parente de outra em troca

desta nomear tambeacutem parente seu O que significa dizer que quando uma autoridade

de um poder tem parente nomeado em cargo comissionado de outro poder sem que

tenha havido designaccedilatildeo reciacuteproca natildeo existe nepotismo

Entatildeo se o prefeito de um municiacutepio nomeia parente de um vereador

presidente da Cacircmara Municipal para exercer as funccedilotildees de um cargo comissionado no

poder executivo municipal isto natildeo eacute nepotismo a uma porque o vereador ndash presidente

da Cacircmara - parente - natildeo eacute a autoridade nomeante de seu parente e a duas porque ele

natildeo nomeou nenhum parente do prefeito1049

natildeo configurando o nepotismo cruzado

Outro enfoque a se levantar eacute que para se configurar o dito nepotismo

cruzado haacute de ser provado o ajuste o que na praacutetica eacute extremamente complexo sendo

―aacuterduo identificaacute-los e sobretudo comprovar a existecircncia deles pois podem assumir

1048 ANTONIO Alice Barroso O nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante nordm13 do STF criacuteticas e proposiccedilotildees

Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM Belo Horizonte v 10 n31 janmar 2009 p 83 1049 O que configuraria designaccedilatildeo reciacuteproca e portanto nepotismo cruzado

191

formas extremamente complexas e contornos tecircnues a fim de resguardar a sua

praacutetica1050

Ainda vale questionar e se fossem feitas sucessivas nomeaccedilotildees ―entre trecircs ou

mais autoridades nomeantes sem cruzamento Como no caso de ―um Desembargador

o Governador e um Conselheiro do TCE que possuem cargos comissionados para

serem preenchidos por sua nomeaccedilatildeo Pois bem os trecircs em conluio decidem que o

Desembargador nomearaacute a esposa do Governador que por seu turno nomearaacute o

sobrinho do Conselheiro do TCE que por sua vez nomearaacute o neto do Desembargador

Sendo sucessivas as nomeaccedilotildees natildeo se enquadrariam nas hipoacuteteses do que

dispotildee a suacutemula vinculante ora em comento mesmo havendo conluio pois pela

―interpretaccedilatildeo literal da Suacutemula Vinculante 13 por si soacute nada pode fazer1051

Assim se o intento do STF foi pela SV n13 moralizar a Administraccedilatildeo

Puacuteblica natildeo logrou ecircxito jaacute que aleacutem de radicalizar por um lado por outro sua

redaccedilatildeo deixou agrave margem vaacuterias outras situaccedilotildees imorais1052

43 Consequecircncias de seu sentido e alcance

431 Reclamaccedilatildeo n 6838DF

Logo apoacutes a ediccedilatildeo da SV n13 o entatildeo Procurador-Geral da Repuacuteblica

Antocircnio Fernando Barros e Silva de Souza ingressou com a Reclamaccedilatildeo n 68381053

com pedido de liminar ao Supremo Tribunal Federal em face do Enunciado n 13 do

1050 ARAKAKI Allan Thiago Barbosa e ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo

Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 p 119 1051 Ibidem p118 1052 A suacutemula vinculante eacute tatildeo geneacuterica e abstrata quanto uma lei E como norma geneacuterica ela natildeo consegue prever

todos os casos possiacuteveis de ocorrer no comeacutercio cotidiano da vida Por sua proacutepria natureza eacute impotente para

fornecer por si soacute todas as soluccedilotildees reclamadas pela ordem juriacutedica (Lima 195595) natildeo se podendo exigir do STF

(no caso das SVlsquos) ou do legislador (no caso da lei) uma inatingiacutevel onisciecircncia Afirma-se com frequecircncia como

ensina Lumia (200386-87) que a completude e a coerecircncia satildeo caracteriacutesticas essenciais do ordenamento juriacutedico

mas a realidade eacute bem diferente porque nem sempre o discurso do legislador eacute imune agraves contradiccedilotildees nem a previsatildeo

normativa pode exaurir a casuiacutestica que a experiecircncia ou seja a proacutepria vida na multiplicidade das suas dimensotildees

―inventa em um processo sempre aberto e imprevisiacutevel Afirmar o contraacuterio seria como fechar os olhos diante da

realidade do direito em nome de um ideal que eacute proacuteprio de certa ideologia juspositivista mas que se procuraria em

vatildeo realizar em qualquer ordenamento historicamente existente No mais o proacuteprio legislador natildeo ignora essa

realidade no momento em que dita as diretivas para dirimir de fato os conflitos de normas e para preencher as

lacunas do ordenamento Sempre haveraacute diz Hart (2009 p 351) em qualquer sistema juriacutedico casos natildeo

regulamentados juridicamente sobre os quais em certos momentos o direito natildeo pode fundamentar uma decisatildeo em

nenhum sentido mostrando-se o direito portanto parcialmente indeterminado ou incompleto O instituto da SV natildeo

tem forccedila orgacircnica ou elasticidade ilimitada para abranger todos os casos concretos O proacuteprio constituinte derivado

sabedor dessa incompletude loacutegica da lei ou da norma escrita ao atribuir ao STF o poder de editar SVlsquos facultou-lhe

a possibilidade de ―proceder agrave sua revisatildeo ou cancelamento na forma estabelecida em lei (CF art 103-A caput) A

faculdade de revisatildeo da SV eacute claramente o reconhecimento de que o entendimento sumular vinculante natildeo abarca

todas as situaccedilotildees concretas da vida RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula

Vinculante nordm 13 In Revista de Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 224 1053 Em 21102008

192

Senado que dispocircs sobre o nepotismo de forma diversa do explicitado pela Suacutemula

Vinculante n 131054

Contudo a mesma foi julgada como prejudicada1055

em razatildeo da revogaccedilatildeo do

ato impugnado pelo Ato n 49 da Mesa do Senado1056

Mas tendo em vista que o Procurador-Geral da Repuacuteblica dispocircs no parecer da

Reclamaccedilatildeo que eram ―muacuteltiplas as situaccedilotildees que podiam ―provocar duacutevidas ao

aplicar-se do enunciado da Suacutemula Vinculante n 13 sendo imprescindiacutevel a realizaccedilatildeo

1054 ―DECISAtildeO DA COMISSAtildeO DIRETORADecide aprovar o Enunciado nordm 13 da Advocacia do Senado Federal

editado com base no Ato da Comissatildeo Diretora nordm 7 de 2008 considerando a relevacircncia e a repercussatildeo da mateacuteria e

a necessidade de que seus efeitos sejam estendidos aos oacutergatildeos administrativos bem como aos gabinetes

parlamentares desta Casa LegislativaA COMISSAtildeO DIRETORA DO SENADO FEDERAL no uso de suas

competecircncias regimentais e considerando a relevacircncia e a repercussatildeo da mateacuteria bem como a necessidade de que

seus efeitos sejam estendidos natildeo soacute aos oacutergatildeos administrativos mas tambeacutem aos gabinetes parlamentares desta Casa

Legislativa RESOLVEArt 1ordm Fica aprovado o Enunciado nordm 13 da Advocacia do Senado Federal anexo a esta

DecisatildeoArt 2ordm O Enunciado de que trata esta Decisatildeo teraacute efeito normativo e seraacute aplicaacutevel a todos os oacutergatildeos

administrativos e aos gabinetes parlamentares do Senado FederalArt 3ordm A Advocacia do Senado disponibilizaraacute a

todos os gabinetes e aos oacutergatildeos administrativos o texto do Enunciado nordm 13Art 4ordm Este Ato entra em vigor na data

de sua publicaccedilatildeoSala da Comissatildeo Diretora em 14 de outubro de 2008 Garibaldi Alves Filho - Alvaro Dias -

Efraim Morais - Gerson Camata - Ceacutesar Borges - Magno Malta - Papaleacuteo Paes - Flexa Ribeiro ENUNCIADO Nordm 13

Para a aplicaccedilatildeo da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF no acircmbito do Senado Federal observar-se-atildeo as seguintes

orientaccedilotildees da Advocacia do Senado FederalI) eacute vedado o exerciacutecio de cargo em comissatildeo por cocircnjuge companheiro

ou parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive dos Senadores e dos servidores

investidos em cargos em comissatildeo ou funccedilotildees comissionadas de direccedilatildeo chefia ou assessoramento representados

pelos siacutembolos FC-8 FC-9 e FC-10 que teriam presumidamente por forccedila da Suacutemula nordm 13 o poder de influenciar

na respectiva nomeaccedilatildeoII) a vedaccedilatildeo para a nomeaccedilatildeo de parentes por afinidade na linha colateral limita-se aos

irmatildeos do cocircnjuge ou companheiro por forccedila do que dispotildee o sect 1ordm do art 1595 do Coacutedigo Civil Brasileiro conforme

entendimento constante do Parecer nordm 2212008-ADVOSFIII) a proibiccedilatildeo contida na Suacutemula Vinculante nordm 13 natildeo

alcanccedila os servidores ocupantes de cargos efetivos do Senado Federal vedada em qualquer caso a nomeaccedilatildeo ou a

designaccedilatildeo para cargo ou funccedilatildeo de confianccedila de parentes ateacute o 2ordm grau na linha reta ou colateral inclusive por

afinidade para servir sob a chefia imediata de Senador ou servidor investido em cargo ou funccedilatildeo de direccedilatildeo chefia

ou assessoramento conforme o disposto no inciso VIII do art 117 da Lei nordm 811290III) a proibiccedilatildeo contida na

Suacutemula Vinculante nordm 13 natildeo alcanccedila os servidores ocupantes de cargos efetivos do Senado Federal vedada em

qualquer caso a nomeaccedilatildeo ou a designaccedilatildeo para cargo ou funccedilatildeo de confianccedila de parentes ateacute o 2ordm grau na linha reta

ou colateral inclusive por afinidade para servir sob a chefia imediata de Senador ou servidor investido em cargo ou

funccedilatildeo de direccedilatildeo chefia ou assessoramento conforme o disposto no inciso VIII do art 117 da Lei nordm 811290IV) a

proibiccedilatildeo constante da Suacutemula Vinculante nordm 13 tambeacutem natildeo abrange o cocircnjuge companheiro ou parente nomeado

em data anterior ao ingresso do Senador ou ao exerciacutecio do cargo em comissatildeo pelo servidor gerador da

incompatibilidade nem aqueles cuja uniatildeo estaacutevel ou casamento houver ocorrido posteriormente ao exerciacutecio dos

respectivos cargos ou funccedilotildees vedada em qualquer caso a subordinaccedilatildeo a que se refere o item IIIV) o viacutenculo

conjugal ou de parentesco com Senador ou servidor investido em cargo ou funccedilatildeo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento jaacute falecidos ou aposentados natildeo gera a incompatibilidade de que trata a Suacutemula Vinculante nordm 13VI)

eacute vedado o ajuste de nomeaccedilotildees reciacuteprocas para o exerciacutecio de cargos em comissatildeo ou funccedilotildees comissionadas por

cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive dos

Senadores e dos servidores investidos em cargos ou funccedilotildees de direccedilatildeo chefia ou de assessoramentoVII) a

exoneraccedilatildeo motivada pela aplicaccedilatildeo da Suacutemula nordm 13 vincula o respectivo ato administrativo impondo-se a

observacircncia do devido processo legal assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa antes que se ultime a

exoneraccedilatildeoVIII) o nomeado ou designado para cargo em comissatildeo deveraacute declarar por escrito que natildeo tem relaccedilatildeo

familiar ou de parentesco que importe praacutetica de nepotismo vedada pela Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF observadas

as orientaccedilotildees contidas neste Enunciado 1055 Em 150609 por intermeacutedio de Despacho monocraacutetico do Relator Ministro Cezar Peluso 1056 REVOGA DECISAtildeO DA COMISSAtildeO DIRETORA -ATO DO PRESIDENTE Nordm 49 de 2008 O PRESIDENTE

DO SENADO FEDERAL no uso de suas atribuiccedilotildees regimentais e regulamentares e considerando os termos da

RECLAMACcedilAtildeO nordm 6838 protocolada pelo Senhor Procurador-Geral da Repuacuteblica no Supremo Tribunal Federal

RESOLVE ad referendum da Comissatildeo Diretora DECIDE REVOGAR a Decisatildeo da Comissatildeo Diretora publicada

no Boletim Administrativo de Pessoal nordm 4072 de 15 de outubro de 2008 que aprovou o Enunciado nordm 13 da

Advocacia do Senado FederalSenado Federal 21 de outubro de 2008 Senador Garibaldi Alves Filho Presidente do

Senado Federal

193

de explicaccedilotildees sobre os elementos da mesma o que contribuiria ―de modo significativo

para aprimorar a concretizaccedilatildeo dos comandos nela inseridos1057

faz-se necessaacuterio

analisa-lo de modo pormenorizado pois dele se extrai as falhas dispostas no enunciado

da SV n13 anteriormente tratadas

Assim o PGR embora afirme em seu parecer que ―desde o iniacutecio de nossa

histoacuteria poliacutetica o nepotismo eacute fruto da renitente e odiosa confusatildeo entre as esferas

puacuteblica e privada tendo reflexos mais acentuados na Repuacuteblica sobretudo quando o

poder proveniente desta res publica eacute exercido pelo povo sendo ―um fardo a ancorar a

efetividade da construccedilatildeo concreta da democracia no paiacutes1058

aponta duacutevidas acerca da

redaccedilatildeo do enunciado sumular

Nesse diapasatildeo suscita sobre a possibilidade de os servidores efetivos serem

designados para o exerciacutecio de funccedilatildeo ou cargo em comissatildeo desde que natildeo haja

viacutenculo hieraacuterquico direto entre os parentes1059

ressalta que se faz necessaacuterio delimitar

o acircmbito de abrangecircncia da proibiccedilatildeo que deve ser o oacutergatildeo ou a entidade puacuteblica a qual

pertenccedila a autoridade nomeante ou contratante1060

que a proibiccedilatildeo sumular natildeo deve

aplicada a aqueles casos de chefia e assessoramento em que o servidor natildeo deteacutem poder

de decisatildeo ou posiccedilatildeo hieraacuterquica imediatamente superior agrave do servidor com quem

tenha parentesco1061

e ao alegar que eacute indispensaacutevel deixar claro que estatildeo

1057

BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 6838DF Relator Ministro Cezar Peluso julgada

em 150609 e publicada no DJe-116 de 24062009Texto do parecer do PGR fl 175184 Disponiacutevel em

httpnoticiaspgrmpfmpbr Acesso em 030314 1058 Trecho do Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr 1059 ―O entendimento de se adotar interpretaccedilatildeo uniforme para a aplicaccedilatildeo do enunciado da Suacutemula Vinculante n 13

em relaccedilatildeo ao servidor que ingressou no servidor puacuteblico mediante concurso puacuteblico e por isso eacute titular de cargo

efetivo e nessa condiccedilatildeo foi designado para o exerciacutecio de funccedilatildeo de confianccedila ou funccedilatildeo gratificadalsquo cujo o

exerciacutecio eacute exclusivo por servidores ocupantes de cargo efetivo () ou de cargo em comissatildeo que deve ser ocupado

prioritariamente por servidores de carreira na hipoacutetese de a respectiva funccedilatildeo de confianccedila ou o respectivo cargo em

comissatildeo guardar compatibilidade com o cargo efetivo de que o servidor eacute titular e ausente o viacutenculo hieraacuterquico

direto com o eventual parente integrante da Administraccedilatildeo Puacuteblica em relaccedilatildeo ao servidor que natildeo eacute titular do cargo

efetivo e foi designado para ocupar cargo em comissatildeo desprezando a flagrante diversidade faacutetica e juriacutedica no que

se refere ao ingresso de cada um no serviccedilo puacuteblico merece detida reflexatildeo e reclama esclarecimento dessa Corte

Suprema pois a aplicaccedilatildeo uniforme e linear do enunciado agraves duas situaccedilotildees pode albergar hipoacuteteses que se afastam

do conceito de nepotismo Trecho do Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em

httpnoticiaspgrmpfmpbr 1060 ―A expressatildeo na mesma pessoa juriacutedicalsquo como o ente federal em sua totalidade (Uniatildeo Estado Distrito Federal

e Municiacutepios) tem gerado assimetria horizontes e verticais na aplicaccedilatildeo do enunciado da Suacutemula Vinculante a

alcanccedilar situaccedilotildees que substancialmente natildeo configuram nepotismo Se a expressatildeo oacutergatildeo eacute insuficiente para

combater eficazmente situaccedilotildees de nepotismo a identificaccedilatildeo da expressatildeo mesma pessoa juriacutedica como ente federal

em sua totalidade tem potencial de identificar como ilegiacutetimas situaccedilotildees que natildeo estatildeo maculadas pelo viacutecio em

questatildeo A delimitaccedilatildeo considerando os Poderes do Estado (Executivo Legislativo e Judiciaacuterio) e mesmo o oacutergatildeo

autocircnomo Ministeacuterio Puacuteblico compreendendo-se em conjunto ou individualmente os entes federados eacute uma das

alternativas para que se possa superar a insuficiecircncia ou o excesso das interpretaccedilotildees aventadas Trecho do Parecer do

PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr 1061 ― O tratamento uniforme e linear do enunciado quando a suposta situaccedilatildeo funcional vedada decorre de parentesco

ou de matrimocircnio com ocupante de funccedilatildeo de confianccedila ou de cargo em comissatildeo com atribuiccedilotildees de direccedilatildeo ou de

chefia ou de assessoramento () Se eacute incontroversa a caracterizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de nepotismo quando um dos

servidores tem atribuiccedilotildees de direccedilatildeo que compreende o poder de decisatildeo o mesmo natildeo se pode dizer quando se

194

compreendidas todas as formas legais do viacutenculo familiar natural ou civil em linha

reta colateral ou por afinidade nos termos do Coacutedigo Civil lembra que a relaccedilatildeo de

parentesco ocorrida apoacutes a ocupaccedilatildeo do cargo ou funccedilatildeo natildeo caracteriza nepotismo1062

Assim o PGR afirma que mesmo que a revogaccedilatildeo do ato questionado tenha

gerado a perda do objeto da reclamaccedilatildeo

― () a situaccedilatildeo veiculada na reclamaccedilatildeo pela sua novidade e pela sua ampla

repercussatildeo no serviccedilo puacuteblico em geral transcende os limites do ato

normativo questionado visto que eacute do conhecimento puacuteblico que o

enunciado da Suacutemula Vinculante n 13 natildeo apenas no Senado Federal mas

tambeacutem em todas as esferas do poder puacuteblico tem recebido interpretaccedilatildeo

divergente e motivado por isso mesmo sua aplicaccedilatildeo de modo natildeo uniforme

situaccedilatildeo que estaacute a reclamar uma deliberaccedilatildeo dessa Suprema Corte que eacute a

uacutenica com autoridade para delimitar seu preciso alcance1063

Assim tendo em vista o fato de que ―natildeo se pode querer aplicar a Suacutemula

vinculante 13 em sua literalidade pois isso poderia gerar equiacutevocos os quais poriam em

risco o caraacuteter sem jaccedila dos princiacutepios constitucionais1064

o PGR asseverou em seu

parecer que ―se o enunciado da Suacutemula Vinculante pode ser editado de ofiacutecio () modo

pelo qual tambeacutem pode-se verificar a sua eventual revisatildeo ou ateacute mesmo o seu

cancelamento nada impede que essa Corte Suprema defina de ofiacutecio a sua precisa

compreensatildeo1065

E entatildeo conclui que como ―lhe compete atuar no sentido de impedir a

persistecircncia de praacuteticas que agridem o enunciado da Suacutemula Vinculante n 13 eacute

fundamental que o Ministeacuterio Puacuteblico tenha conhecimento dos paracircmetros precisos de

sua compreensatildeo para que possa exercer com seguranccedila as atribuiccedilotildees e requereu

―independente do natildeo conhecimento da Reclamaccedilatildeo que o STF se pronunciasse sobre

a SV n13

trata de chefia que normalmente encerra atribuiccedilotildees circunscritas a departamentos burocraacuteticos quase sempre

subordinados a oacutergatildeos de direccedilatildeo ou exerce funccedilotildees de assessoramento logicamente desprovidas de conteuacutedo

deliberativo A duacutevida se instala porque alguns sustentam que na configuraccedilatildeo da situaccedilatildeo de nepotismo natildeo pode ser

irrelevante em relaccedilatildeo a um servidor a presenccedila do poder de decidir ou a capacidade de influenciar de modo

contundente a praacutetica de um ato direcionado agrave investidura em funccedilatildeo de confianccedila ou em cargo em comissatildeo

Trecho do Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr 1062 ―As situaccedilotildees licitamente preacute-constituiacutedas e os eventuais impedimentos supervenientes de que o casamento

subsequente eacute um dos exemplos a despeito de natildeo explicitadas na Suacutemula Vinculante parecem encontrar conforto

numa compreensatildeo teleoloacutegica do enunciado em questatildeo bem como dos seus precedentes circunstancia que justifica

um pronunciamento capaz de afastar eventual duacutevida Tambeacutem merece explicitaccedilatildeo a eventual relevacircncia da

existecircncia de vinculo conjugal ou parentesco com membro de poder ou autoridades jaacute aposentados Trecho do

Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr 1063 Trecho do Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr 1064 OLIVEIRA George Feliacutecio Gomes Da anaacutelise da Suacutemula vinculante 13 do Supremo Tribunal Federal alcance

precedentes e motivos determinantes da norma que veda a praacutetica do nepotismo no Brasil Revista dos Tribunais ndash

RT ano 98 v 890 dez2009 p9-32 p31 1065 Trecho do Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr

195

Entatildeo o Ministro Cezar Peluso considerou a necessidade de se definir

claramente os limites da vedaccedilatildeo ao nepotismo no acircmbito da Administraccedilatildeo Puacuteblica e

se pronunciou pela definiccedilatildeo pela Corte de ofiacutecio quanto agrave ―precisa compreensatildeo do

enunciado da Suacutemula Vinculante1066

E ao ser noticiado na miacutedia que o entatildeo presidente do STF Cezar Peluso o

mesmo que deu ensejo agrave SV n13 teria nomeado um casal para cargos comissionados no

STF o proacuteprio tribunal divulgou em 23 de junho de 2010 que

As justas e fundadas ponderaccedilotildees de entatildeo Procurador-Geral da Repuacuteblica

dr Antocircnio Fernando Barros e Silva de Souza sobre duacutevidas suscitadas pelo

texto da referida Suacutemula nos autos da Reclamaccedilatildeo n 6838 natildeo puderam na

ocasiatildeo ser ali conhecidas porque diante da revogaccedilatildeo do ato que a

provocara o processo ficou prejudicado e em consequecircncia teve de ser

extinto sem a apreciaccedilatildeo do meacuterito Para atender tais ponderaccedilotildees e

propoacutesitos igualmente manifestados por alguns Ministros da Corte bem

como para evitar absurdos que a interpretaccedilatildeo superficial e desavisada da

Suacutemula pode ensejar o Presidente do STF estaacute encaminhando os senhores

Ministros proposta fundamentada de revisatildeo da redaccedilatildeo da mesma Suacutemula

para restrigiacute-la aos casos verdadeiros de nepotismo proibidos pela

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica O teor da proposta seraacute levado ao conhecimento

da imprensa e do puacuteblico apoacutes a apreciaccedilatildeo dos Senhores Ministros1067

Todavia ateacute o atual momento nada aconteceu embora aleacutem da Procuradoria da

Repuacuteblica tambeacutem tenha se manifestado concretamente sobre a SV n13 o Poder

Executivo federal que publicou o Decreto Presidencial n 6906 de 21 de julho de

2009 por meio do qual estabeleceu a obrigatoriedade de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees

sobre viacutenculos familiares pelos Ministro de Estado ocupante de cargo de natureza

especial e ocupante de cargo do Grupo-Direccedilatildeo e Assessoramento Superiores1068

a fim

de preliminarmente ―mapear a ocorrecircncia do nepotismo em seu acircmbito como

1066 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 6838DF Relator Ministro Cezar Peluso julgada

em 150609 e publicada no DJe-116 de 24062009 Item 3 da decisatildeo monocraacutetica proferida Disponiacutevel em

wwwstfjusbr Acesso em 310713 1067 FILHO Joatildeo Pereira de Andrade A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites

de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia -

Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 143 1068 Art 1o Eacute obrigatoacuteria a apresentaccedilatildeo de declaraccedilatildeo acerca da existecircncia de viacutenculo matrimonial de

companheirismo ou de parentesco consanguiacuteneo ou afim em linha reta ou colateral ateacute o terceiro grau conforme

disposto no Anexo I com ocupantes de cargos em comissatildeo ou funccedilotildees de confianccedila no acircmbito do Poder Executivo

federal pelos agentes puacuteblicos a seguir indicados que se encontrem em exerciacutecio na data de publicaccedilatildeo deste

Decreto I - Ministro de Estado II - ocupante de cargo de natureza especial e III - ocupante de cargo do Grupo-

Direccedilatildeo e Assessoramento Superiores Paraacutegrafo uacutenico A declaraccedilatildeo referida no caput deveraacute incluir tambeacutem

informaccedilatildeo sobre a existecircncia de viacutenculo matrimonial de companheirismo ou de parentesco consanguiacuteneo ou afim

em linha reta ou colateral ateacute o terceiro grau com estagiaacuterio terceirizado ou consultor contratado por organismo

internacional que prestem serviccedilos para o oacutergatildeo ou entidade da administraccedilatildeo puacuteblica direta autaacuterquica ou

fundacional onde o agente exerce atividade

196

disposiccedilatildeo legal preacutevia e necessaacuteria a viabilizar posterior ato do chefe do poder

executivo a delimitar a questatildeo no respectivo acircmbito1069

432 Decreto Presidencial n 720310

Diante do resultado quanto agrave ocorrecircncia do nepotismo nos diversos oacutergatildeos e

entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal foi publicado o Decreto Presidencial n

720310 que determina a vedaccedilatildeo do nepotismo no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica

federal1070

Assim tal normativa uniformizou a proibiccedilatildeo da praacutetica do nepotismo nos

oacutergatildeos e entidades do poder executivo federal e embora contenha disposiccedilotildees de

alcance mais restrito que da Suacutemula Vinculante n 13 do STF apresenta normas mais

detalhadas que esta pois natildeo soacute veda mas tambeacutem especifica as condutas proibidas os

procedimentos a serem tomados e as exceccedilotildees

Em seu artigo 2ordm estabelece a configuraccedilatildeo do parentesco1071

conforme

disposto na Suacutemula Vinculante nordm 13 o que significa que no Poder Executivo Federal a

vedaccedilatildeo do nepotismo em comparaccedilatildeo com o disposto pelo artigo 117 VIII da Lei nordm

811290 foi ampliada abarcando tambeacutem os tios e sobrinhos que figuram na linha

colateral consanguiacutenea de terceiro grau

Ainda algumas das disposiccedilotildees do Decreto vieram a ―explicar os dispositivos

da Suacutemula como o artigo 3ordm que aleacutem de esclarecer que a ―autoridade nomeante

disposta na Suacutemula Vinculante eacute o ―Ministro de Estado ou autoridade administrativa

correspondente tambeacutem explanou que ―pessoa juriacutedica eacute ―cada oacutergatildeo ou entidade e

ainda veda o nepotismo aos parentes do Presidente e Vice-Presidente qualificando

diferentemente da SV n13 o nepotismo pelos agentes poliacuteticos natildeo soacute nomeados mas

tambeacutem eleitos1072

Outrossim o Decreto dispotildee neste mesmo artigo 3ordm que eacute nepotismo natildeo soacute a

nomeaccedilatildeo de familiares em cargos ou funccedilotildees de confianccedila mas tambeacutem sua

1069 E ainda determinou no seu artigo 3ordm a anaacutelise das declaraccedilotildees pela Controladoria-Geral da Uniatildeo ndash CGU

visando a identificar os possiacuteveis casos de nepotismo e posterior adoccedilatildeo de medidas nos termos de ato normativo a

ser editado pelo Poder Executivo Federal 1070 BRASIL Decreto n 7203 de 04062010 que dispotildee sobre a vedaccedilatildeo do nepotismo no acircmbito da administraccedilatildeo

puacuteblica federal Disponiacutevel em wwwingovbr

―Art 1o A vedaccedilatildeo do nepotismo no acircmbito dos oacutergatildeos e entidades da administraccedilatildeo puacuteblica federal direta e indireta

observaraacute o disposto neste Decreto 1071 ldquoArt 2o Para os fins deste Decreto considera-se () III - familiar o cocircnjuge o companheiro ou o parente em

linha reta ou colateral por consanguinidade ou afinidade ateacute o terceiro grau 1072 ―Art 3o No acircmbito de cada oacutergatildeo e de cada entidade satildeo vedadas as nomeaccedilotildees contrataccedilotildees ou designaccedilotildees de

familiar de Ministro de Estado familiar da maacutexima autoridade administrativa correspondente ou ainda familiar de

ocupante de cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila de direccedilatildeo chefia ou assessoramento para ()sect 2o As

vedaccedilotildees deste artigo estendem-se aos familiares do Presidente e do Vice-Presidente da Repuacuteblica e nesta hipoacutetese

abrangem todo o Poder Executivo Federal

197

contrataccedilatildeo na modalidade de contrataccedilatildeo temporaacuteria direta estaacutegio sem processo

seletivo e ainda contrataccedilatildeo direta de empresa que seja de titularidade de parente do

servidor puacuteblico1073

Observa-se que todas as disposiccedilotildees satildeo pertinentes agraves contrataccedilotildees diretas ou

seja aquelas natildeo precedidas de processo seletivo tendo em vista que soacute nesta

modalidade eacute possiacutevel haver a ―indicaccedilatildeo o ―favoritismo e eacute isto que o Decreto veio a

proibir

E pelo sect 1ordm do artigo 3ordm veda qualquer ato que caracterize ajuste para burlar as

restriccedilotildees ao nepotismo no mesmo ensejo da Suacutemula ao dispor sobre ―designaccedilotildees

reciacuteprocas proibindo portanto o designado ―nepotismo cruzado1074

Amiuacutede o Decreto tambeacutem estabelece no seu artigo 4ordm as exceccedilotildees1075

quanto

aos casos de nepotismo particularizando situaccedilotildees que natildeo o configuram tratando cada

caso de acordo com sua especificidade acertada e diferentemente da Suacutemula Vinculante

em questatildeo pois apoacutes estudo praacutetico dos casos concretos levantados a partir do Decreto

nordm 690690 por meio do qual pode mapear todos os casos de suposto nepotismo no

acircmbito da Administraccedilatildeo Puacuteblica eacute que Poder Executivo Federal excepcionou situaccedilotildees

que natildeo configuram nepotismo

Pela primeira vez desde agrave disposiccedilatildeo Lei nordm 811290 tambeacutem trouxe no seu

artigo 5ordm determinaccedilotildees quanto ao procedimento apuratoacuterio1076

e ainda pelo seu artigo

1073 Art 3o No acircmbito de cada oacutergatildeo e de cada entidade satildeo vedadas as nomeaccedilotildees contrataccedilotildees ou designaccedilotildees de

() para ()I - cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedilaII - atendimento a necessidade temporaacuteria de excepcional

interesse puacuteblico salvo quando a contrataccedilatildeo tiver sido precedida de regular processo seletivo eIII - estaacutegio salvo se

a contrataccedilatildeo for precedida de processo seletivo que assegure o princiacutepio da isonomia entre os concorrentes

()sect 3o Eacute vedada tambeacutem a contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo por oacutergatildeo ou entidade da administraccedilatildeo puacuteblica

federal de pessoa juriacutedica na qual haja administrador ou soacutecio com poder de direccedilatildeo familiar de detentor de cargo em

comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila que atue na aacuterea responsaacutevel pela demanda ou contrataccedilatildeo ou de autoridade a ele

hierarquicamente superior no acircmbito de cada oacutergatildeo e de cada entidade 1074 ―()sect 1o Aplicam-se as vedaccedilotildees deste Decreto tambeacutem quando existirem circunstacircncias caracterizadoras de

ajuste para burlar as restriccedilotildees ao nepotismo especialmente mediante nomeaccedilotildees ou designaccedilotildees reciacuteprocas

envolvendo oacutergatildeo ou entidade da administraccedilatildeo puacuteblica federal 1075 ―Art 4ordm Natildeo se incluem nas vedaccedilotildees deste Decreto as nomeaccedilotildees designaccedilotildees ou contrataccedilotildees

I - de servidores federais ocupantes de cargo de provimento efetivo bem como de empregados federais permanentes

inclusive aposentados observada a compatibilidade do grau de escolaridade do cargo ou emprego de origem ou a

compatibilidade da atividade que lhe seja afeta e a complexidade inerente ao cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo

comissionada a ocupar aleacutem da qualificaccedilatildeo profissional do servidor ou empregadoII - de pessoa ainda que sem

vinculaccedilatildeo funcional com a administraccedilatildeo puacuteblica para a ocupaccedilatildeo de cargo em comissatildeo de niacutevel hieraacuterquico mais

alto que o do agente puacuteblico referido no art 3ordm

III - realizadas anteriormente ao iniacutecio do viacutenculo familiar entre o agente puacuteblico e o nomeado designado ou

contratado desde que natildeo se caracterize ajuste preacutevio para burlar a vedaccedilatildeo do nepotismo ou IV - de pessoa jaacute em

exerciacutecio no mesmo oacutergatildeo ou entidade antes do iniacutecio do viacutenculo familiar com o agente puacuteblico para cargo funccedilatildeo

ou emprego de niacutevel hieraacuterquico igual ou mais baixo que o anteriormente ocupado 1076 ― Art 5ordm Cabe aos titulares dos oacutergatildeos e entidades da administraccedilatildeo puacuteblica federal exonerar ou dispensar agente

puacuteblico em situaccedilatildeo de nepotismo de que tenham conhecimento ou requerer igual providecircncia agrave autoridade

encarregada de nomear designar ou contratar sob pena de responsabilidadeParaacutegrafo uacutenico Cabe agrave Controladoria-

Geral da Uniatildeo notificar os casos de nepotismo de que tomar conhecimento agraves autoridades competentes sem prejuiacutezo

198

6ordm explicita a necessidade de apuraccedilatildeo dos casos em que o familiar seja ―indicado por

agente puacuteblico para ser contratado por empresa prestadora de serviccedilos terceirizados ou

contrato de outra forma natildeo prevista no Decreto englobando aqui natildeo soacute o servidor

ocupante de cargo comissionado e a autoridade mas todos os demais1077

Por fim visando tratar de maneira especiacutefica do assunto o Decreto no seu

artigo 8ordm determina agrave ControladoriandashGeral da Uniatildeo1078

a competecircncia para dirimir as

duacutevidas quanto ao tema1079

Diante deste contexto se observa que a forma como a mateacuteria foi regulada no

decreto veio a explicar e delimitar o disposto anteriormente na SV n13 comprovando

portanto que ―o desacerto do STF em procurar chamar para si atraveacutes da ediccedilatildeo de um

enunciado de suacutemula vinculante a tarefa de regulamentar tema envolto de tantas

particularidades1080

provocou ―a necessidade de um tratamento mais minudente

detalhado do tema a fim de facilitar a anaacutelise do assunto no caso concreto

433 Multiplicidade de Reclamaccedilotildees

Mas o impacto da SV n13 natildeo parou aiacute vez que provocou no proacuteprio STF

muacuteltiplos processos sendo ―objeto de interpretaccedilotildees diversas em julgados que ateacute

―estabeleceram exceccedilotildees agrave proibiccedilatildeo anunciada ou restringiram seus limites1081

Nesse ensejo o STF

() assentou em diversos julgados reservar-se a apurar caso a caso situaccedilotildees

de abuso e falta de razoabilidade no provimento de cargos poliacuteticos1082

a

apreciar em cada caso eventual nepotismo cruzado e apurar a ausecircncia de

qualificaccedilatildeo teacutecnica dos nomeados como indicativo de fraude agrave lei e aos

princiacutepios da impessoalidade moralidade e eficiecircncia na Administraccedilatildeo

da responsabilidade permanente delas de zelar pelo cumprimento deste Decreto assim como de apurar situaccedilotildees

irregulares de que tenham conhecimento nos oacutergatildeos e entidades correspondentes 1077 ―Art 6ordm Seratildeo objeto de apuraccedilatildeo especiacutefica os casos em que haja indiacutecios de influecircncia dos agentes puacuteblicos

referidos no art 3oI - na nomeaccedilatildeo designaccedilatildeo ou contrataccedilatildeo de familiares em hipoacuteteses natildeo previstas neste

DecretoII - na contrataccedilatildeo de familiares por empresa prestadora de serviccedilo terceirizado ou entidade que desenvolva

projeto no acircmbito de oacutergatildeo ou entidade da administraccedilatildeo puacuteblica federal Estes casos natildeo configuram efetivamente

nepotismo mas tambeacutem satildeo similarmente proibidos 1078 Oacutergatildeo do Poder Executivo Federal vinculado diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica cuja finalidade eacute garantir a

transparecircncia dos atos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal por meio de controle correiccedilatildeo e combate agrave corrupccedilatildeo 1079ldquoArt 8o Os casos omissos ou que suscitem duacutevidas seratildeo disciplinados e dirimidos pela Controladoria-Geral da

Uniatildeo 1080 ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira Andrade A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e

os limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e

Democracia - Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 146 1081 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico Belo

Horizonte Foruacutem ano 11 ndash n 41 abrjun 2013 p 9-52 p11 1082 De outro norte natildeo se pode olvidar que o proacuteprio STF jaacute criou a exceccedilatildeo em relaccedilatildeo aos cargos poliacuteticos () se

pode verificar eacute que de fato a Suacutemula Vinculante 13 foi um grande marco mas seria oniacuterico crer no fim do

nepotismo apenas com a ediccedilatildeo do referido instrumento pelo STF ARAKAKIAllan Thiago Barbosa e ORTIZ

Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash

RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 abrjun 2011 p 118

199

Puacuteblica ( STF Rcl n 8625MG Rel Min Ellen Gracie () Rcl n 6938

MCMG Rel Min Carmen Luacutecia () Trata-se de orientaccedilatildeo evidentemente

improacutepria para uma Suprema Corte que natildeo deve se ocupar de situaccedilotildees de

varejo do cotidiano da gestatildeo de pessoal da maacutequina puacuteblica cumprindo-lhe

antes fixar criteacuterios gerais e objetivos de aplicaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal

na mateacuteria1083

Desta feita sua consequecircncia foi tatildeo claramente oposta ao seu objetivo qual

seja a uniformizaccedilatildeo das decisotildees sobre a mateacuteria controvertida evidenciando sua

ineficiecircncia em cumpri-lo concretamente que o proacuteprio tribunal editor da Suacutemula

passou a rever a sua decisatildeo ao julgar contrariamente ao seu disposto diversas

reclamaccedilotildees interpostas e ainda firmou por meio destas o entendimento de que cada

caso deveria ser analisado de forma individualizada e subjetiva

Dentre as diversas reclamaccedilotildees1084

destaca-se a n 8625MG onde a Ministra

Ellen Gracie relatora da Rcl 6650 MC- AgRPR julgou diferentemente desta e

afirmou que o caso concreto tratado na Rcl 8625MG de nomeaccedilatildeo de parentes do

prefeito de Arapoatilde para os cargos de Secretaacuterios Municipais de Financcedilas de Sauacutede de

Obras Habitaccedilatildeo e Infra-estrutura e de trabalho e Accedilatildeo Social embora tenha sido

excluiacutedo da vedaccedilatildeo disposta na SV n 13 devido ao fato de que a ―jurisprudecircncia da

Corte eacute no sentido de que as nomeaccedilotildees para cargos poliacuteticos natildeo se enquadram a

princiacutepio nas hipoacuteteses elencadas na suacutemula ora em exame trata de ―conduta que

evidentemente ofende os princiacutepios da moralidade e razoabilidade e deve ser apurada

no esteio de que ―supostos casos de nepotismo deve ser realizada necessariamente de

acordo com cada caso concreto1085

A Ministra afirmando que o caso tratava-se de ―situaccedilatildeo teratoloacutegica em que

foram empossados por livre nomeaccedilatildeo oito parentes para cargo em comissatildeo e de

secretaacuterio municipal ―natildeo sendo criacutevel que natildeo exista no Municiacutepio de Araporatilde ()

de seis mil quinhentos e vinte e dois habitantes () pessoas competentes e capazes para

desempenhar tais misteres aleacutem do ciacuterculo familiar iacutentimo de seu prefeito deferiu a

liminar sob o fundamento de que que seria ―temeraacuterio o entendimento de que a Suacutemula

Vinculante 13 natildeo se aplicaria a todos os casos que envolvam agentes poliacuteticos pois

entendido com ―tamanha largueza poderia ocasionar ―em futuro proacuteximo o

preenchimento da maioria ou ateacute mesmo da totalidade dos cargos de secretaacuterio

1083 MODESTO Paulo Op cit p 13 1084 ―no acircmbito do STF se abateu verdadeira cisatildeo acerca da interpretaccedilatildeo sobre o alcance da mencionada sumula

cujo os julgamentos houveram por criar regras de exceccedilatildeo que vatildeo dilapidando a norma para situaccedilotildees casuiacutesticas

PEacuteRES Taynah Litaiff Isper Abrahim Carpinteiro SILVA Adriana Carla de Souza Suacutemula Vinculante n 13 a

―estrada dos tijolos amarelos do funcionalismo puacuteblico brasileiro Revista jus navegandi 102012 1085 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 8625MG Rel Min Ellen Gracie Jug 310510 e

publicada no Dje 84 de 080610 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 060115

200

municipal por parentes de prefeitos e que esse natildeo era ―o espiacuterito da jurisprudecircncia do

STF que o levou ―a editar a Suacutemula Vinculante 13

Nesse ensejo ao alegar que ao STF guardiatildeo ―maior dos princiacutepios e valores

da Constituiccedilatildeo e a quem compete a ―nobre missatildeo de dizer o direito em sua uacuteltima e

derradeira acepccedilatildeo natildeo poderia ―se omitir diante de situaccedilotildees absurdas como a

presente de impeacuterio do nepotismo praacutetica repulsiva reiterada eleiccedilatildeo apoacutes eleiccedilatildeo

asseverou que a ele cabia ―coibir esses exageros balizado pelo bom senso tratando

―caso a caso com o objetivo de evitar injusticcedilas e ingerecircncias desproporcionais em

relaccedilatildeo agrave livre nomeaccedilatildeo para cargos de natureza poliacutetica1086

Ainda na Rcl n 6938 MCMG1087

a Relatora Ministra Carmen Luacutecia que

tambeacutem participou da ediccedilatildeo da SV n 13 concedeu a liminar e determinou o imediato

afastamento das pessoas nomeadas para cargos comissionados no Municiacutepio de

FronteiraMG aduzindo que

― O prefeito nomeou nove parentes de sete vereadores que compotildeem o Poder

Legislativo local para ocupar cargos em comissatildeo de natureza administrativa

no Poder Executivo municipal Portanto a situaccedilatildeo dos interessados parece

se subsumir em princiacutepio ao que dispotildee a Suacutemula Vinculante n 13 deste

Tribunal()1088

Desta feita a Ministra diferentemente do disposto na SV n13 julgou que

havia nepotismo no caso

Ainda o Ministro Joaquim Barbosa considerou ―sem justificativa de natureza

profissional curricular ou teacutecnica a nomeaccedilatildeo de agente ao cargo de Secretaacuterio

Municipal de Educaccedilatildeo e sob a justificativa de que ―os acoacuterdatildeos proferidos por este

Supremo Tribunal Federal no RE n 579951 e na Medida Cautelar na Rcl n 6650 natildeo

poderiam ―ser considerados representativos da jurisprudecircncia desta Corte e tampouco

poderiam ―ser tomados como reconhecimento definitivo da exceccedilatildeo agrave Suacutemula

Vinculante n 13 pois ―a redaccedilatildeo do verbete natildeo prevecirc a exceccedilatildeo mencionada

Segundo ele como dependeria ―da avaliaccedilatildeo colegiada da situaccedilatildeo concreta descrita nos

autos a afirmativa se tratar de nepotismo ou natildeo e que ao compulsar o entranhado no

processo constatou que natildeo havia ―qualquer justificativa de natureza profissional

curricular ou teacutecnica para a nomeaccedilatildeo do parente ao cargo de secretaacuterio municipal de

1086 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 8625MG Rel Min Ellen Gracie Jug 310510 e

publicada no Dje 84 de 080610 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 060115 1087 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 6938MG Rel Min Carmem Luacutecia Julgada em

220811 e publicada no Dje ndash 169 de 020911 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 060115 1088 Ibidem Item 11 do Julgado

201

educaccedilatildeo e que tudo indicava que a nomeaccedilatildeo impugnada havia recaiacutedo sobre ―parente

do prefeito () por essa exclusiva razatildeo1089

44 Consideraccedilotildees Parciais

De tudo o relatado no presente capiacutetulo pode-se extrair que natildeo houve no caso

em voga ―decisotildees reiteradas sobre questatildeo idecircntica sobre a mateacuteria jaacute sua existecircncia

parte da anaacutelise das circunstacircncias dos casos concretos e especialmente dos ―criteacuterios

utilizados para qualificar juridicamente esses fatos e ainda se baseia no entendimento

de que ―os casos devem ser julgados no mesmo sentido apesar das suas

particularidades de forma que a interpretaccedilatildeo dada a eles tambeacutem seja ―vaacutelida como

paracircmetro de decisatildeo em outros1090

Aplicando-se este fato a um dos requisitos necessaacuterios agrave elaboraccedilatildeo da SV

qual seja ―a existecircncia de reiteradas decisotildees sobre questatildeo idecircntica1091

constata-se

que o STF editou a SV n13 sem observar tal hipoacutetese normativa

E que assim sua redaccedilatildeo restou viciada inconsistente com os seus ditos

precedentes que se por um lado natildeo configuram quantitativamente ―decisatildeo reiterada

por outro tambeacutem natildeo o satildeo qualitativamente vez que o STF ao contraacuterio do que

determina a Constituiccedilatildeo Federal a autorizar a ediccedilatildeo de uma SV natildeo interpretou

―corretamente um conjunto de casos como iguais1092

Aleacutem disso se observa que a SV n13 natildeo foi coerente agrave finalidade do instituto

jaacute que sua redaccedilatildeo da maneira como estaacute escrita se por um lado natildeo abarca outras

circunstacircncias que deveriam ser rechaccediladas por outro alcanccedila situaccedilotildees em que eacute no

miacutenimo esdruacutexulo se pensar em nepotismo e por isso mesmo pode-se dizer que seu

texto natildeo contribuiu ―efetivamente para o fim da desmoralizaccedilatildeo ou das benesses pois

1089BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 12478-MCDF Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso

em 170215 1090 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 86 1091 Ibidem Op cit p91 Nesses termos se extrai do magisteacuterio doutrinaacuterio que a grande e decisiva criacutetica que se faz

agrave SV 13 refere-se agrave sua ediccedilatildeo a toque de caixalsquo apoacutes dois pronunciamentos do STF sobre a mateacuteria numa uacutenica

Sessatildeo Plenaacuteria Esse procedimento contraria a Constituiccedilatildeo que exige a ediccedilatildeo de suacutemulas vinculantes apoacutes

―reiteradas decisotildees (CF art 103-A) Assim muitas questotildees envolvendo essa mateacuteria complexa natildeo conseguiram

ser abarcadas pela SV 13 talvez pela precipitaccedilatildeo com que foi aprovada (sem um debate e um estudo aprofundados)

() A despeito dos propoacutesitos moralizadores que animaram os Ministros do STF na elaboraccedilatildeo da Suacutemula ela eacute

passiacutevel de criacutetica quanto ao modo como se deu sua aprovaccedilatildeo bem como quanto agrave forma como foi redigida No que

concerne agraves circunstacircncias em que se deu a aprovaccedilatildeo merece registro que apenas quatro julgados serviram de

precedentes ao Verbete dois deles prolatados numa mesma ocasiatildeo agraves veacutesperas da ediccedilatildeo da Suacutemula RODRIGUES

Joatildeo Gaspar RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro Revista de Direito Administrativo

ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 225 1092MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 86

202

pode em alguns casos ―servir de escudo para situaccedilotildees que deveriam ser afastadas e

em outros ―impedir o acesso a quem tem capacidade para servir ao paiacutes sem estar

afetado pelo mal nefasto do nepotismo na conceituaccedilatildeo dada pela Suacutemula ora em

anaacutelise1093

Desta feita contrariando a natureza do proacuteprio instituto a SV n13 natildeo pode

―ser aplicada em seu teor literal sendo necessaacuterio em diversas situaccedilotildees praacuteticas ―a

comprovaccedilatildeo do elemento aniacutemico1094

a configurar o nepotismo

Mas natildeo soacute isso ainda observa-se que o texto sumular natildeo estaacute de acordo com

o princiacutepio da legalidade natildeo apenas pelo STF ter inobservado o procedimento

constitucional e legal de ediccedilatildeo da SV n13 mas tambeacutem porque por isso extrapolou

sua competecircncia e a finalidade do proacuteprio instituto editando-o equivocadamente

Explica-se

O STF ao editar a SV n13 na maneira que estaacute redigida excedeu a sua

competecircncia ―exercendo claramente funccedilatildeo atiacutepica de legislador que natildeo o eacute1095

Enquanto guardiatildeo da Constituiccedilatildeo o STF pode ―dizer que o nepotismo

constitui sim praacutetica ilegiacutetima mas ―regulamentar a mateacuteria definindo o que se

entende por nepotismo quem satildeo as autoridades proibidas de nomear quem se sujeita agrave

vedaccedilatildeo quais as modalidades de parentesco se incluem na proibiccedilatildeo et coetera natildeo

constitui atribuiccedilatildeo do STF1096

O que quer dizer que ―a regulamentaccedilatildeo da mateacuteria nos termos assinalados natildeo

se insere no domiacutenio proacuteprio da funccedilatildeo jurisdicional1097

natildeo podendo o STF portanto

―em nenhuma circunstacircncia buscar a celeridade jurisdicional pelos meios que lhe

aprouver Natildeo pode raciocinar em termos de que se o Congresso natildeo faz faccedilo-o eu1098

pois em Direito ―os fins nunca legitimam os meios e sim estes agravequeles1099

1093 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante n 13 do STF Revista Foacuterum Administrativo ndash Direito Puacuteblico Belo Horizonte ano 10 n 111 p 30-38

maio 2010 p 30 1094 RODRIGUES Op cit p214 1095 CORREcircA Gustavo Hermont Princiacutepio da Moralidade ou Eticidade da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese

de Direito Administrativo v 6 n66 jun 2011 p 63-77 p 65 1096 ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites

de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia -

Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 139 1097 Ibidem 139 1098 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009 p 16 1099 Insiste a mais natildeo poder o Min MARCO AUREacuteLIO

203

Daiacute se extrai natildeo apenas duacutevidas quanto ao seu ativismo judicial como

tambeacutem quanto a falar de tal forma sobre a mateacuteria os motivos que o levaram a tanto e

ainda por suacutemula vinculante e natildeo por outro instrumento

Por isto haacute quem diga que o STF adotou ―circunstacircncias definidoras do que

seja nepotismo bem como abriu exceccedilotildees a ele mas que elas ―natildeo seriam dotadas de

forccedila vinculativa do legislador ordinaacuterio jaacute que natildeo decorrem imprescindivelmente do

texto constitucional mas de uma liberdade de conformaccedilatildeo que o STF adotou1100

E que como ―por forccedila do princiacutepio da separaccedilatildeo dos poderes a escolha eacute do

―legislador ordinaacuterio que ―natildeo pode ser substituiacuteda pela escolha do Judiciaacuterio ainda

que sujeita ao seu controle que o que o STF fez foi atuar ―verdadeiramente como

legislador positivo 1101

Assim o STF contrariou ateacute seu proacuteprio posicionamento jaacute assentado em

outros julgados de que

Natildeo cabe ao Poder Judiciaacuterio em tema regido pelo postulado

constitucional atuar na anocircmala condiccedilatildeo de legislador positivo () natildeo

dispotildee de funccedilatildeo legislativa ndash passaria a desempenhar a atribuiccedilatildeo que lhe eacute

inconstitucionalmente estranha (a de legislador positivo) usurpando desse

modo no contexto de um sistema de poderes essencialmente limitados

competecircncia que natildeo lhe pertence com evidente transgressatildeo ao princiacutepio

constitucional da separaccedilatildeo dos poderes1102

Tal questionamento quanto ao disposto na SV n13 eacute ainda mais seacuterio por

tratar da mateacuteria que versa de alta complexidade e ainda diretamente vinculada agrave

Administraccedilatildeo Puacuteblica que foi entatildeo regulamentada pelo Judiciaacuterio de uma forma

minimamente equivocada como jaacute se demonstrou natildeo se figurando

razoaacutevel defender sob o prisma da legitimidade constitucional que tema tatildeo

delicado ndash vedaccedilatildeo agrave praacutetica do Nepotismo ndash seja regulado por um ato

emanado de um oacutergatildeo jurisdicional a quem cabe aplicar a regras de direito

previamente existentes e natildeo ditar referidas regras com o fim de regular

diversas situaccedilotildees juriacutedicas criadas no acircmbito da Administraccedilatildeo Puacuteblica de

todos os oacutergatildeos de poder (Executivo Legislativo e Judiciaacuterio) de todas as

entidades federadas (Uniatildeo Estados Municiacutepios e Distrito Federal)1103

Mesmo que se afirme que o entendimento do STF sobre a aplicaccedilatildeo direta do

artigo 37 ―pode fundamentar sua proacutepria competecircncia para dispor sobre a nomeaccedilatildeo de

1100 DIZ Nelson Nascimento Nepotismo suacutemula Vinculante n 13 Limitaccedilatildeo ao tratamento por lei Revista de

Direito do Estado- RDE ano 3 n12 outdez2008 p 390 1101 Ibidem p 390 1102 BRASIL Supremo Tribunal Federal AgRgrE n 322348SC Rel Min Celso de Mello julgado em 12112002

publicado no DJU de 06122002 p 74 1103 ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites

de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia -

Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 137

204

parentes em outros poderes ele teria que ter exercido essa competecircncia ―a partir da

anaacutelise das particularidades dos poderes executivo e legislativo advinda de um conjunto

de decisotildees sobre o tema1104

mas natildeo o fez como jaacute visto

E natildeo eacute soacute isto tambeacutem haacute questionamento quanto aos motivos que levaram agrave

ediccedilatildeo da n13 que seria ―proveniente muito mais de uma escolha poliacutetica do que

estritamente juriacutedica pois o STF ―ao editar o enunciado vinculante vedando em termos

ampliacutessimos o nepotismo o que fez foi valorizar ―o seu papel no cenaacuterio Poliacutetico

Nacional1105

e natildeo vinculado agrave finalidade do instrumento

Daiacute tambeacutem decorre que a suacutemula vinculante natildeo seria o ―instituto adequado

para tratar de mateacuteria envolta a tantas peculiaridades e minuacutecias ademais tendo em

vista as ―implicaccedilotildees diretas na autonomia administrativa e organizacional do Poder

Executivo o que reforccedila ―a premissa de que o STF teria agido de maneira ilegiacutetima ao

editar o enunciado n 13 1106

Ainda a SV ―natildeo eacute nem pode ser um instrumento que substitua a lei como se

teme comece a ser pensado face ao que se esboccedila1107

na SV n 13 O que eacute vedado

quanto ao instrumento pelo o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e tambeacutem quanto agrave

mateacuteria por decisatildeo do proacuteprio STF que estabeleceu1108

―que soacute a lei em sentido formal

() pode estabelecer requisitos que condicionem o ingresso no serviccedilo puacuteblico1109

E ainda que se alegue que as suacutemulas vinculantes podem ser instrumento uacutetil

para reforccedilar o direito ao tratamento igual em determinadas situaccedilotildees natildeo foi isto que

ocorreu nesse caso

Explica-se Para que este objetivo seja cumprido ―eacute indispensaacutevel que o STF

se atenha aos comandos constitucionais pois a legitimidade do uso do precedente se

baseia no direito agrave igualdade a norma do caso formulada na ratio decidendi

generaliza-se quando as circunstacircncias do outro caso o exigem para que seja dado um

1104 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 93 1105 ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites

de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia -

Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 138 1106 Ibidem p 132 1107 DIZ Nelson Nascimento Nepotismo suacutemula Vinculante n 13 Limitaccedilatildeo ao tratamento por lei Revista de

Direito do Estado- RDE ano 3 n12 outdez2008 p 385-391 P 391 1108 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade ADI n1188DF Relator Ministro

Marco Aureacutelio julgada em 23021995 e publicada no DJU de 20041995 p 9945 Disponiacutevel em wwwstfjusbr

Acesso em 050215 1109 CABRAL NETO Cirino Adolfo A Resoluccedilatildeo nordm 0705 do Conselho Nacional de Justiccedila e seus efeitos na

administraccedilatildeo puacuteblica municipal Revista Zecircnite de Direito Administrativo e LRF- IDAF v 7 n78 jan 20072008

p 534

205

tratamento igual1110

e como foi visto natildeo eacute isto que ocorreu ou estaacute a acontecer o que

reforccedila ainda mais o equiacutevoco do STF em editar a SV n13

Ainda observa-se que a finalidade preciacutepua do efeito vinculante ―consiste em

coibir a recalcitracircncia dos demais oacutergatildeos e poderes do Estado agraves decisotildees proferidas em

sede de controle abstrato de constitucionalidade especialmente em relaccedilatildeo aos atos que

tenham por objeto a reproduccedilatildeo substancial de preceito normativo jaacute julgado

inconstitucional1111

mas natildeo como natildeo se vislumbra essa recalcitracircncia nos precedentes

da Suacutemula Vinculante n13 questiona-se a aplicaccedilatildeo da SV em detrimento da escolha

de outro instrumento que parece seria mais apropriado ao caso a suacutemula de

jurisprudecircncia predominante

Por isso se afirma que ―tambeacutem natildeo eacute um indiferente juriacutedico nem eacutetico que o

STF ao decidir dois precedentes pontuais natildeo tenha diante da relevacircncia do tema

sequer editado suacutemula de sua jurisprudecircncia predominante como lhe permitia e ainda

permite o Regimento Interno1112

Ou ainda que

ateacute no acircmbito da conveniecircncia natildeo era para a Suacutemula ser vinculante mas de

jurisprudecircncia dominantelsquo o que seria melhor uma vez que esta assenta a

orientaccedilatildeo da Corte a respeito de uma mateacuteria especiacutefica e assim direciona os

demais Colegiados paacutetrios bem como os magistrados quanto agraves suas

decisotildees mas natildeo os vincula sendo portanto quanto a este assunto

especiacutefico o mais adequado1113

Mas como mesmo diante de tudo isto foi editada a SV n13 o que resta eacute

analisar seu ―rigor com cautela a fim de evitar excessos e injusticcedilas1114

pois assim

como o STF deveria ―realiza um juiacutezo de igualdade para proferir reiteradas decisotildees

sobre uma mateacuteria tambeacutem o juiz (e o administrador) encarregado da aplicaccedilatildeo da

suacutemula a novos casos deve examinar suas caracteriacutesticas para concluir se estaacute diante

de uma questatildeo igual ou diferente1115

1110MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 95 1111 LEAL Roger StiefelmannO Efeito Viculante na jurisdiccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 2006 p 181 1112 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009 p 11 1113 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e proteccedilatildeo dos direitos fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 ndash julset2009 p87 1114 BASTOS Tatiana Quintela de Azeredo Direitos e deveres na relaccedilatildeo homoafetiva uma discussatildeo a respeito do

nepotismo Disponiacutevel em revista jus navegandi Acesso em 03 032013 1115 MAUacuteES Op cit p 87

206

Ainda mais quando se tratar dessa SV pois ao que parece ―constitui

atitude pouco teacutecnica e perigosamente tendente a um moralismo que nem sempre leva agrave

verdadeira moralidade ndash investir de forma indiscriminada e generalizante contra todo e

qualquer ato que parece ser nepotismo1116

Nesse enredo tendo o STF chamado para si a regulamentaccedilatildeo do tema por

meio de Suacutemula Vinculante restou tambeacutem agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica considerando ―de

um lado as razotildees de ordem histoacuterica social e juriacutedica subjacentes agrave ediccedilatildeo do

enunciado da Suacutemula Vinculante n 13 e de outro as atuais incertezas quanto agrave

respectiva aplicaccedilatildeo reconhecidas pelo proacuteprio STF enquanto este natildeo se manifesta

―interpretar o enunciado em questatildeo da forma em que melhor compatibilize os

princiacutepios da moralidade e da impessoalidade com o princiacutepio da igualdade e da

eficiecircncia sem se omitir em relaccedilatildeo agrave SV n13 mas ao mesmo tempo ―procurando

enfrentar com razoabilidade e proporcionalidade as dificuldades acima referidas1117

Foi o que o chefe do Poder Executivo Federal procurou fazer por meio do

Decreto Presidencial 720310 que delimitou a aplicabilidade do enunciado da SV n13

no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica federal de acordo com seus dispositivos

Ato este que tambeacutem pode ser feito pelo poder legislativo federal e pelos

poderes executivo e legislativo dos outros entres federados (Estados Municiacutepios e

Distrito Federal) pois ―eacute mateacuteria que reclama preferencialmente a ediccedilatildeo de lei ou de

ato normativo de caraacuteter infralegal a fim de que se regulamente a questatildeo ―levando-se

em conta as diversas peculiaridades faacuteticas passiacuteveis de ocorrecircncia nas diversas relaccedilotildees

juriacutedicas gestadas no acircmbito da Administraccedilatildeo Puacuteblica1118

Contudo isso poderaacute suscitar ainda mais conflitos institucionais

Imagine-se o caso de um Estado da Federaccedilatildeo editar Lei regulamentando o

regime juriacutedico de seus servidores puacuteblicos Pense-se que esse mesmo

estado-membro com o escopo de coibir a praacutetica do nepotismo no acircmbito de

sua Administraccedilatildeo Puacuteblica regulamente a mateacuteria na referida Lei tratando

do tema de modo diverso ao disposto na suacutemula vinculante nordm 13 ao vedar

por exemplo o nepotismo em termos menos amplos () Poder-se-ia

entender que no caso desse estado-membro existiriam concomitantemente

dois regulamentos normativos distintos acerca da vedaccedilatildeo ao nepotismo

previsto na suacutemula vinculante nordm 13 e o outro disposto na Lei Estadual que

1116 RIGOLIN Ivan Barbosa Sobre o nepotismo uma reflexatildeo da moralidade e moralismo Foacuterum Administrativo ndash

Direito Puacuteblico ndash FA Belo Horizonte ano 7 n 80 p 7 1117 ESTRELLA Heron Nunes Nepotismo Aplicaccedilatildeo da Suacutemula Vinculante n 13 do Supremo Tribunal Federal

Interesse Puacuteblico Belo Horizonte Ed Foacuterum marabril 2009 v 10 n 54 p 246-274 1118 FILHO Joatildeo Pereira de Andrade A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites

de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia -

Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 141

207

define o regime juriacutedico dos servidores puacuteblicos Natildeo eacute difiacutecil imaginar o

significativo volume de problemas que poderiam advir dessa situaccedilatildeo no

campo institucional ter-se-ia um status em que se potildee em choque de um

lado a supremacia de uma determinaccedilatildeo judicial de caraacuteter vinculante e de

outro a autonomia legislativa dos estados-membros1119

E por conseguinte

No campo das questotildees juriacutedicas praacuteticas surgiriam duacutevidas diversas

envolvendo a situaccedilatildeo retratada Apenas agrave guisa de ilustraccedilatildeo poder-se-ia

imaginar na possibilidade de serem ajuizadas reclamaccedilotildees contra atos

administrativos praticados em obediecircncia aos termos da Lei Estadual mas

em desacordo com a suacutemula vinculante ou mesmo indagar se a posterior

ediccedilatildeo da Lei cujo conteuacutedo seja diverso daquele constante da suacutemula

vinculante teria o condatildeo de revogar ou afastar a aplicaccedilatildeo do entendimento

do STF1120

Assim se constata que o STF ―procedeu ao desdobramento de princiacutepios

constitucionais para aleacutem de seu campo de incidecircncia direta extraindo-lhes efeitos

impossiacuteveis de serem sustentados agrave luz da Dogmaacutetica Juriacutedica e nesse esteio

―malgrado a inspiraccedilatildeo republicana da Suacutemula Vinculante n 13 fez dela mais um

―caso modelar de ativismo judiciaacuterio que por sua vez provocou um efeito contraacuterio ao

almejado que seria diminuir as divergecircncias das decisotildees judiciais e administrativas

relacionadas agrave mateacuteria ventilada uma vez que ―como era previsiacutevel que acontecesse

inuacutemeras duacutevidas e questionamentos tecircm surgido no acircmbito da Administraccedilatildeo Puacuteblica e

do Poder Judiciaacuterio de todo paiacutes acerca da maneira correta de dar execuccedilatildeo agraves

prescriccedilotildees sumulares mesmo porque natildeo eacute faacutecil ―fixar balizamentos normativos em

mateacuteria tatildeo complexa que haacute deacutecadas havia desafiando o legislador (competente)

brasileiro1121

Dessa forma nota-se que ―a redaccedilatildeo da Suacutemula Vinculante n 13 eacute um grande

empecilho agrave soluccedilatildeo do nepotismo na administraccedilatildeo puacuteblica natildeo apenas porque

―encerra conceitos data maacutexima vecircnia equivocados com tambeacutem porque ―cria outros

natildeo previstos em lei e despreza situaccedilotildees relevantes e caras agrave mateacuteria natildeo havendo

portanto ―como aplicar a suacutemula n 13 sem a necessidade de se realizar um esforccedilo

interpretativo 1122

1119 ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira de A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os

limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia

- Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 140 1120 Ibidem p 140 1121 PA n 722010 de 280510 nos autos do processo nordm 18487-1859732010 p10 Disponiacutevel em www

pgespgovbr Acesso em 140514 1122 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 34

208

Tudo isto insere consequentemente a mateacuteria do nepotismo e suas aplicaccedilotildees

em ―difiacutecil compreensatildeo e extensatildeo dificultando a orientaccedilatildeo aos agentes puacuteblicos1123

quanto ao fim dessa praacutetica nefasta sendo necessaacuterio ateacute que sua redaccedilatildeo seja revista

que as ―situaccedilotildees sejam analisadas com maior profundidade esclarecendo-se as

circunstacircncias faacuteticas de sua constituiccedilatildeo1124

Desta forma por todos os pontos aqui levantados como criacuteticas negativas agrave

Suacutemula n 13 na forma em que estaacute redigida se evidencia ―a inconveniecircncia a

impropriedade e sobretudo a ilegitimidade da aprovaccedilatildeo da suacutemula vinculante1125

que

induz agrave conclusatildeo de que ela exorbitou a proacutepria normatividade do instituto e que por

isto deve ser revista pelo STF pois ―o aclaramento completo do verdadeiro sentido e

alcance do verbete sumulante somente pode ser dado por seus criadores quais sejam os

nobres magistrados no Supremo Tribunal Federal1126

nos termos do procedimento

estabelecido na Constituiccedilatildeo Federal e regulamentado em lei

O que pode ser realizado natildeo soacute pela suspensatildeo do seu efeito vinculante diante

do interesse puacuteblico de solucionar as questotildees controversas provocadas por ela como

tambeacutem pela revisatildeo de sua redaccedilatildeo consistente com agrave sua uacutenica ratio decidendi - de

que a vedaccedilatildeo do nepotismo decorre dos princiacutepios constitucionais insculpidos no artigo

37 da Constituiccedilatildeo Federal e coerente com ela e com a finalidade do proacuteprio instituto

de apaziguar controveacutersias

E como moralizar a administraccedilatildeo puacuteblica brasileira ―mesmo porque o

princiacutepio da moralidade administrativa eacute princiacutepio constitucional () e o povo tem fome

de eacutetica natildeo quer dizer que o STF pode tudo pois deve fazecirc-lo de acordo com o

direito ―com a observacircncia da ordem juriacutedica mediante medidas e normas razoaacuteveis

constitucionais1127

Nesse esteio a soluccedilatildeo da questatildeo pode reclamar a accedilatildeo do Poder Legislativo

Federal nos termos do jaacute disposto no Decreto Presidencial n 720310 possibilitando

assim que o poder legislativo de todos os demais entes federados estabeleccedila com base

no que foi determinado pela lei federal a respectiva vedaccedilatildeo do nepotismo

1123 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 34 1124 PA n 722010 de 280510 p14 Disponiacutevel em www pgespgovbr 1125ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira de Op cit p 141 1126 ANTONIO Alice Barroso O nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante nordm13 do STF criacuteticas e proposiccedilotildees

Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM Belo Horizonte v 10 n31 janmar 2009 p 75 1127 Idem fl 140

209

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Como arremate desse trabalho que teve por escopo analisar a Suacutemula

Vinculante n 13 editada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que veda o nepotismo

no acircmbito das trecircs esferas do Poder Puacuteblico de todos os entes da Federaccedilatildeo a fim de

verificar se o STF ao realizar a construccedilatildeo judicial e reconstruir a normativa da vedaccedilatildeo

do nepotismo por meio do citado enunciado vinculante exorbitou a normatividade do

proacuteprio instituto

Para discutir um pouco mais a fundo sobre o tema este trabalho se dispocircs a

verificar se o texto da suacutemula expocircs o que deveria expor - nos termos das normas

constitucionais e legais que regem o verbete vinculante em concordacircncia com seus

proacuteprios precedentes e ainda quais foram as suas consequecircncias

Tal enfoque possibilitou que viesse agrave tona a forma pela qual o STF construiu a

noccedilatildeo judicial sobre o nepotismo e sua vedaccedilatildeo quais foram os elementos especificados

na redaccedilatildeo a motivaccedilatildeo que acarretou a elaboraccedilatildeo da SV n13 e a hermenecircutica

juriacutedica utilizada pelo STF o que viabilizou observar a consistecircncia coerecircncia e

legalidade da mesma

Diante disso avalia-se como conveniente destacar os pontos que a pesquisa

apontou como sendo os mais relevantes

De pronto a pesquisa evidenciou que o nepotismo quer fruto da esfera

eclesiaacutestica quer praticado pelos governantes natildeo eacute uma conduta nova mas pelo

contraacuterio estaacute ensimesmado na Administraccedilatildeo Puacuteblica desde o preteacuterito como produto

viciado de accedilotildees viciosas daqueles que detinham o poder e que sob a perspectiva

brasileira eacute viacutecio atrelado a um complexo e acabado sistema de preceitos que remonta o

patrimonialismo estamental trazido pelos governantes portugueses ainda no seacuteculo XVI

e assentado no Estado brasileiro por meio das raiacutezes coloniais da solidariedade familiar

em um Estado de influecircncia deleteacuteria dos interesses anti-sociais criados e alimentados

em torno do poder puacuteblico e que ateacute hoje determinam graves consequecircncias culturais

natildeo soacute aterradas na Administraccedilatildeo Puacuteblica como na proacutepria sociedade

Enraizado como costume brasileiro o nepotismo - a forccedila das parentelas se

encrustou na cultura governamental do Brasil ainda no Brasil Impeacuterio e se alastrou ao

Brasil Repuacuteblica sendo no periacuteodo da Repuacuteblica Velha largamente aplicado por meio

210

do coronelismolsquo agrave parentela que se estendia dos parentes consanguumliacuteneos e afins aos

apadrinhados

Assim se observou a noccedilatildeo juriacutedica de nepotismo como ato que configura a

inversatildeo entre o puacuteblico e o privado e degrada a esfera administrativa-governamental

caracterizando o Estado como negoacutecio familiar por meio da nomeaccedilatildeo por agente

puacuteblico de seus parentes em detrimento da dignidade da funccedilatildeo puacuteblica mas que deteacutem

uma noccedilatildeo natildeo completamente acabada quanto aos seus limites da qual decorre mais

de espeacutecie de nepotismo

O estudo mostrou aleacutem disso que na ANC dentre os mais diversos assuntos

debatidos pelos constituintes envolvendo tanto o acircmbito governamental como o

administrativo esteve presente a necessidade de moralizar o poder puacuteblico fincaacute-lo na

moralidade puacuteblica e rechaccedilar os atos de personalismos costumeiros da praacutetica estatal

dentre eles o nepotismo sendo o princiacutepio da moralidade elevado a princiacutepio

constitucional e que ao reger a Administraccedilatildeo Puacuteblica submete o administrador

puacuteblico a uma honestidade profissional

Nesse enredo a moralidade puacuteblica obsta o nepotismo como princiacutepio

constitucional e tambeacutem como aglutinadora dos outros princiacutepios citados ou sendo

sensificada por eles em uma relaccedilatildeo simbioacutetica na previsatildeo eou vedaccedilatildeo do nepotismo

consagrando-se como o substrato fundamental da esfera administrativa-governamental

E o nepotismo por sua vez ao conflitar com um princiacutepio da administraccedilatildeo

viola outro mesmo que em diversos graus face agrave natural interligaccedilatildeo que os caracteriza

pois se nutrem e se constituem respectiva e mutuamente

Igualmente o trabalho demonstrou que a construccedilatildeo judicial da vedaccedilatildeo do

nepotismo foi realizada com base na vinculaccedilatildeo do parente nomeado agrave autoridade

nomeante ou servidor ocupante de cargo comissionado que alcanccedila os servidores

ocupantes de cargos efetivos e eacute limitado ao terceiro grau de parentesco inclusive afim

e embora alcance ateacute o nepotismo cruzado natildeo se aplica agrave nomeaccedilatildeo de parente em

cargo poliacutetico

Contudo a totalidade dos elementos natildeo foram tratados em todos os

precedentes e nos debates Como foi visto o STF construiu a noccedilatildeo de vedaccedilatildeo ao

nepotismo basicamente a partir dos elementos da noccedilatildeo exposta na redaccedilatildeo da

Resoluccedilatildeo do CNJ objeto do terceiro precedente dentre eles a extensatildeo de parentesco -

211

ratificada na primeira sessatildeo plenaacuteria sobre o assunto ndashacresceu de acordo com o RE -

quarto precedente - a vedaccedilatildeo ao nepotismo cruzado e exclui os cargos poliacuteticos da

incidecircncia do nepotismo e ainda seguindo apenas a ADI seu primeiro precedente

pois incluiu os servidores efetivos sob a incidecircncia da normativa sumular

Aleacutem disso devido ao debate travado na segunda sessatildeo plenaacuteria sobre o

assunto o STF alterou o acircmbito fiacutesico da vedaccedilatildeo do nepotismo inovando ateacute quanto agrave

redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo ao substituir ―mesmo oacutergatildeo por ―mesma pessoa juriacutedica no

corpo textual da Suacutemula

Desta feita a SV n13 foi construiacuteda por elementos pinccedilados pelo STF aqui e

acolaacute da forma que entendeu acertada embora nem de longe lembre a redaccedilatildeo de sua

―proposta original

Por isto considera-se que os Ministros natildeo chegaram a um resultado eficaz jaacute

que a SV13 da forma que estaacute redigida eacute questionaacutevel replicaacutevel criticaacutevel natildeo soacute por

contrariar seu proacuteprio objetivo como tambeacutem por natildeo ter se fundamentado em

jurisprudecircncia reiterada sobre a mateacuteria e ainda por sua redaccedilatildeo natildeo ter guardado

coerecircncia ou consistecircncia com os seus precedentes

Inobservado a maacutexima de que o direito natildeo se interpreta ―em tiras aos

pedaccedilos1128

o STF ao editar a SV n13 na forma em que estaacute redigida dentre outras

consequecircncias equivocadas natildeo coibiu que parentes da autoridade nomeante pudessem

ser nomeados ao cargo eacute poliacutetico

Diante disso o proacuteprio STF amargou as consequecircncias de sua decisatildeo vez que

posteriormente agrave ediccedilatildeo do texto sumular chegaram ao Tribunal diversas Reclamaccedilotildees

veiculando situaccedilotildees esdruacutexulas pertinentes agrave nomeaccedilatildeo de parentes pelos prefeitos e

governadores dos vaacuterios entes federados do Brasil

Dessa forma chega-se ao ponto nevraacutelgico do trabalho qual seja o STF com

base apenas na redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo n0507 do CNJ tambeacutem problemaacutetica editou a

SV n13 repleta de falhas e equiacutevocos a fim de obstar o nepotismo no acircmbito do Poder

Executivo agrave moda da proibiccedilatildeo daquela ao Poder Judiciaacuterio sem observar qualquer

meacutetodo ou teacutecnica da hermenecircutica e assim extrapolou a normatividade da proacutepria SV

inobservando tambeacutem os criteacuterios constitucionais e legais de sua ediccedilatildeo

1128

GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo

Malheiros 2005 p40

212

Voltando agraves liccedilotildees de Larenz que dispotildee que alteraccedilatildeo da situaccedilatildeo normativa

pode conduzir agrave modificaccedilatildeo restriccedilatildeo ou extensatildeo do significado da norma

prevalecente motivada por situaccedilotildees diversas que ensejam um novo entendimento dos

criteacuterios teleoloacutegico-objetivos bem como a necessidade de adequaccedilatildeo do Direito preacute-

constitucional aos princiacutepios constitucionais poderia se argumentar que o proacuteprio STF

deveria jaacute ter revisto a SV n13 ou ao mesmo ter suspendido seu efeito vinculante como

previsto na lei regulamentar do dispositivo constitucional sobre o instituto Mesmo

porque esta alteraccedilatildeo natildeo eacute intempestiva

Entretanto como o tribunal permaneceu inerte tanto o Procurador-Geral da

Repuacuteblica questionou as falhas da SV n13 como tambeacutem o Poder Executivo Federal

editou o Decreto n 720310

Como agrave Constituiccedilatildeo cabe uma elevada funccedilatildeo de estabilizaccedilatildeo deve-se ter

uma especial atenccedilatildeo quando se cria norma ainda mais neste caso de SV que se trata

de decisatildeo judicial onde o STF ao contraacuterio do que deveria natildeo pocircs a claro o alcance

das ideias expressas nem delimitou-as separando os fundamentos da base da SV

Ainda os Ministros do STF natildeo apartaram no desenvolvimento do processo de

ediccedilatildeo da SV n13 a interpretaccedilatildeo da lei da interpretaccedilatildeo da concepccedilatildeo juriacutedica do

tribunal sendo esta de importacircncia decisiva para a ediccedilatildeo do texto sumular em

detrimento daquela

Eacute o que se extrai da proacutepria SV n13 reduzida a escrito mas que tambeacutem

demonstra que o seu sentido literal eacute dissonante do necessaacuterio contexto significativo

social

Verificadas as contradiccedilotildees e lacunas da SV n13 durante toda esta exposiccedilatildeo

com base na sua fundamentaccedilatildeo ndash precedentes se observa que por todos os criteacuterios

legais e constitucionais a SV n13 mais uma aberraccedilatildeo judicial pois o Supremo

Tribunal Federal impocircs a SV n13 a todos os poderes de todos os entes federados uma

nova noccedilatildeo da vedaccedilatildeo de nepotismo construiacuteda ao jeito de proposiccedilatildeo juriacutedica

criando-se a aparecircncia de que desligada da situaccedilatildeo de fato resolvida lhe cabe o caraacuteter

de uma regra estabelecida e uniformemente aplicaacutevel mas natildeo eacute a situaccedilatildeo veriacutedica jaacute

que se observou que os casos posteriores a ela continuam a carecer de interpretaccedilatildeo

Nesse contexto o que se constata eacute que o STF inobservado que o assunto ndash

como mateacuteria de grande alcance poliacutetico-administrativo - deveria ser analisado dentro

213

de sua ―responsabilidade poliacutetica na manutenccedilatildeo da ordem juriacutedico-estadual e da sua

capacidade de funcionamento1129

natildeo ponderou as consequecircncias de sua decisatildeo e

diferentemente do que lhe compete natildeo garantiu a manutenccedilatildeo ou aperfeiccediloamento da

capacidade funcional do Estado do Direito1130

e seguindo sua orientaccedilatildeo poliacutetica

subjetiva editou uma SV inconsistente incoerente ilegal e ateacute inconstitucional

Desta feita ateacute que a questatildeo seja solucionada pelo STF editor da norma

criticada por meio da revisatildeo da redaccedilatildeo da SV n13 ou da aplicaccedilatildeo do artigo 4ordm da Lei

1141706 agrave mesma suspendendo seu efeito vinculante cada um dos poderes dos entes

federados poderatildeo elaborar respectivas normativas a exemplo do Decreto Presidencial

n 720310 a fim de clarear o dispositivo sumular e aparar suas controveacutersias diante

das situaccedilotildees faacuteticas

Ainda nada impede que o Congresso Nacional cumpra sua funccedilatildeo e no esteio

do parecer do Procurador-Geral da Repuacuteblica e do Decreto Presidencial supra citado

vede o nepotismo ateacute que um dia o paiacutes passe por uma mudanccedila cultural extensa

envolvendo todos os segmentos da sociedade a partir do que se poderaacute indicar pessoas

para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo por seus meacuteritos em relaccedilatildeo agrave qualificaccedilatildeo

requerida para o exerciacutecio do cargo natildeo importando que sejam parentes ou natildeo e sim

que sejam capazes de atuar em prol do sociedade quando se prescindiraacute de lei para se

moralizar o poder puacuteblico

1129

LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste Gulbenkian 1997 p 517 1130

Ibidem p 517

214

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Page 3: O NEPOTISMO, A MORALIDADE PÚBLICA E A JURISDIÇÃO ...

3

Ferreira Nataacutelia Ciscotto

O nepotismo a moralidade puacuteblica e a jurisdiccedilatildeo constitucional um estudo acerca

do sentido e do alcance normativo da Suacutemula Vinculante n 13Nataacutelia Ciscotto

Ferreira A Autora 2015

221f

Dissertaccedilatildeo (Mestrado) ndash Centro Universitaacuterio de Brasiacutelia Programa de Mestrado

em Direito e Poliacutetica Puacuteblica Orientador Professor Doutor Luiacutes Carlos Martins Alves

Juacutenior

1Direito Constitucional 2 Nepotismo 3 Moralidade Administrativa 4Suacutemula

Vinculante Luiacutes Carlos Martins Alves Juacutenior (Orientador)

CDU

4

NATAacuteLIA CISCOTTO FERREIRA

O NEPOTISMO A MORALIDADE PUacuteBLICA E A JURISDICcedilAtildeO

CONSTITUCIONAL

um estudo acerca do sentido e do alcance normativo da Suacutemula

Vinculante n 13

Dissertaccedilatildeo apresentada ao curso de

Mestrado aacuterea Direito e Poliacuteticas

Puacuteblicas do Centro Universitaacuterio de

Brasiacutelia como requisito final agrave

concessatildeo do tiacutetulo de Mestre em Direito

e Poliacuteticas Puacuteblicas

Orientador Professor Doutor Luiacutes

Carlos Martins Alves Juacutenior

BRASIacuteLIA 20 DE MARCcedilO DE 2015

Banca Examinadora

_________________________________________

Professor Doutor Luiacutes Carlos Martins Alves Juacutenior

_______________________________________

Professor Doutor Jefferson C Caruacutes Guedes

__________________________________________

Professor Doutor Joatildeo Batista Gomes Moreira

5

Ao meu pai meu gordinho

que um dia reencontrarei com o mesmo amor

6

AGRADECIMENTO

A Deus por governar minha vida

Agrave minha matildee minha sempre e eterna amiga

Ao meu segundo pai Saraiva Felipe pelo amparo incondicional

Ao amigo Silas Brasileiro pela confianccedila e credulidade

Aos meus ex-chefes no Ministeacuterio da Agricultura Joseacute Gerardo Fontelles e Joseacute Carlos

Vaz pelo apoio indispensaacutevel

Ao meu ex-chefe e amigo Gustavo Pereira da Silva Filho pela continua paciecircncia e

compreensatildeo imprescindiacutevel ao alcance desta vitoacuteria

Agrave equipe da Coordenaccedilatildeo-Geral de Procedimentos Disciplinares especialmente Affonsa de

Oliveira Cristiane Castro Elisane Ribeiro Ana Rocha Vitor Rachid que esperaram e

vibraram comigo em cada etapa

Ao Dr Daniel Amim pela orientaccedilatildeo a iniciar esta caminhada

Agraves funcionaacuterias da secretaria do mestrado especialmente agrave Marley pela presteza e

gentileza sempre dispensadas

A todos os amigos pela paciecircncia e entendimento quanto agrave minha ausecircncia em suas vidas

nesta longa jornada

Agraves colegas e amigas do mestrado Raquel Mousinho e Bruna Mizuki pelo apoio

cumplicidade e companheirismo desde os primeiros dias deste aacuterduo estudo unidas pelo

Professor Dr Luiacutes Carlos Martins Alves Jr

Ao Professor Dr Marcelo Varella pela prestimosa e imprescindiacutevel compreensatildeo a

viabilizar a finalizaccedilatildeo deste trabalho

Ao meu amigo-irmatildeo parceiro de trabalho de jornada de vida Marcelo Arauacutejo cuja

amizade dedicaccedilatildeo disposiccedilatildeo e presteza incondicionais foram fundamentais para que

fosse possiacutevel chegar aqui

Enfim minha sincera e terna gratidatildeo ao meu orientador Professor Dr Luiacutes Carlos Martins

Alves Jr pela orientaccedilatildeo firme contundente brilhante e precisa pela compreensatildeo

paciecircncia e toleracircncia que o tornou para mim mais que o professor o orientador o mestre

e o exemplo de profissional - o ser humano extraordinaacuterio cuja conduta eacute exemplo a ser

seguido e quem estaraacute para sempre preservado como amigo no coraccedilatildeo

7

RESUMO

A presente dissertaccedilatildeo tem como objeto central a anaacutelise da construccedilatildeo da

Suacutemula Vinculante n 13 editada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2182008

a fim de obstar o nepotismo no acircmbito das trecircs esferas do Poder Puacuteblico de todos os

entes da Federaccedilatildeo tendo como referecircncia legislativa o disposto no caput do art 37 da

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 ou seja nos princiacutepios basilares da Administraccedilatildeo

Puacuteblica especialmente nos da moralidade impessoalidade e eficiecircncia Diante disso e

tendo em vista que o seu efeito vinculante atingiu a todos os Poderes de cada um dos

Entes Federados do Paiacutes causando impacto na realidade juriacutedica e administrativa

brasileira faz-se relevante o estudo do tema do qual se extraem pontos polecircmicos que

circundam tanto sua construccedilatildeo procedimental quanto o seu conteuacutedo juriacutedico material

Daiacute a necessidade de se analisar se o texto da suacutemula expocircs o que deveria expor - nos

termos das normas constitucionais e legais que regem o verbete vinculante em

concordacircncia com seus proacuteprios precedentes e ainda quais foram as suas

consequecircncias A partir disto se verifica se o STF ao realizar a construccedilatildeo judicial e

reconstruir a normativa da vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da Suacutemula Vinculante n 13

exorbitou a normatividade do proacuteprio instituto a partir da apreciaccedilatildeo das argumentaccedilotildees

expostas pelos Ministros do STF tanto nos seus quatro precedentes quanto nos dois

debates que a antecederam e que constituem as balizas de sua ediccedilatildeo com vistas a

esclarecer o seu sentido na forma que foi ementada Ainda se observa a ligaccedilatildeo da

noccedilatildeo poliacutetico-administrativa de nepotismo com a sua noccedilatildeo juriacutedica e a exposta pela

SV n13 bem como sua relaccedilatildeo com a moralidade no acircmbito constitucional tendo em

vista o sentido e alcance desta e se enfoca a dinacircmica de decidir dos Ministros do STF

sob a oacutetica da hermenecircutica juriacutedica analisando a maneira como eles decidem e a forma

como deveriam decidir especialmente quanto agrave interpretaccedilatildeo dos princiacutepios de acordo

com a norma constitucional e enfim se trata do procedimento de elaboraccedilatildeo da Suacutemula

Vinculante a fim de se analisar como deve ser construiacutedo o seu processo editorial qual

o seu sentido e efetivo alcance

Palavras-Chaves 1 Direito Constitucional 2 Nepotismo 3 Moralidade Puacuteblica 4

Suacutemula Vinculante 5 Jurisdiccedilatildeo Constitucional

8

ABSTRACT

The primary objective this work is the analysis about Precedent Instruction nordm 13 It

edited by the Supreme Court (STF) on August 21th 2008 in order to prevent nepotism

on all levels of Government Its legal reference is article 37 of the Constitution in other

words it is based on more importants principles of the Public Administration morality

impartiality and efficiency For this reason and given that Precedent Instructionlsquo effect

reached all the 3 powers of each of the Federated States impacting the Brazilian legal

and administrative rules itlsquos important the subject of the study which are extracted

controversial points surround both its procedural construction as its legal content

material Hence the need to analyze if the text of the summary set out what should

expose - under the constitutional and legal provisions which govern the binding Entry in

accordance with its own precedents and also what were the consequences From this we

can very appears that the Supreme Court in making the judicial construction and

reconstruct the rules of the bloc of nepotism by Precedent Instruction n 13 went

beyond the normativity of the Office itself from an examination of the arguments

exposed by the Ministers of the Supreme Court both in their previous four as the two

debates that preceded it and which are the beacons of its issue in order to clarify its

meaning in the form that was written Also note the connection of political and

administrative notion of nepotism with his legal concept and the exposed by Precedent

Instruction n13 as well as its relationship with morality within the constitutional

instruction in view of the meaning and scope of this and focuses the dynamics of

decision of the Ministers of the Supreme Court from the perspective of legal

interpretation analyzing the way they decide and how should decide especially as to

the interpretation of the principles according to constitutional rule and finally it comes

to the procedure elaboration of Precedent Instruction in order to analyze how it should

be built your editorial process which its meaning and effective range

Key Words 1 Constitutional Law 2 Nepotism 3 Public Morality 4 Summary

Vinculante5 Constitutional jurisdiction

9

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO p 10

1 A CONSTRUCcedilAtildeO JUDICIAL DA NOCcedilAtildeO DE NEPOTISMO E DE SUA

VEDACcedilAtildeO PELA SUacuteMULA VINCULANTE N13 p 41

11 Os precedentes da SV n13 p41 111 A Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade n 1521-4RS p41

112 O Mandado de Seguranccedila n 23780-5MA p46

113 Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade n12-6DF p48

114 Recurso Extraordinaacuterio n 579951RN p57

12 Os debates do Supremo Tribunal Federal sobre a SV n13 p63

13 Asserccedilotildees sobre a elaboraccedilatildeo da SV n13 e a reconstruccedilatildeo normativa da

vedaccedilatildeo do nepotismo pelo STF p68

2 O NEPOTISMO E A (I) MORALIDADE PUacuteBLICA A COMPREENSAtildeO NA

PERSPECTIVA BRASILEIRA p75

21 Bases histoacutericas do nepotismo no Brasil de heranccedila portuguesa a viacutecio da

administraccedilatildeo puacuteblica brasileira p75

22 A noccedilatildeo de nepotismo sob a oacutetica do magisteacuterio doutrinaacuterio no Brasil p78

23 A Moralidade Puacuteblica e a vedaccedilatildeo do nepotismo na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

de 1988 p84

231 O contraventor do princiacutepio da impessoalidade p94

232 O viacutecio que danifica o princiacutepio da eficiecircncia p98

233 O fim avesso ao princiacutepio da finalidade e ao interesse puacuteblico p100

234 A Moralidade Puacuteblica antiacutedoto do Nepotismo p101

24 Consideraccedilotildees Parciais p107

3 HERMENEUTICA E PODER NORMATIVO COMO OS MAGISTRADOS

DECIDEM E COMO DEVERIAM DECIDIR p112

31 Hermenecircutica juriacutedica e a aplicaccedilatildeo judicial p112

311 Como os magistrados decidem p112

3111 Hans Kelsen p112

3112 Alf Ross p114

3113 Eros Grau p119

312 Como os magistrados deveriam decidirp124

3121 Friedrich Karl Von Savigny p 124

3122 ChaiumlmPerelman p126

3123 Karl Larenz p 130

3124 Inocecircncio Maacutertires Coelho p134

32 Hermenecircutica Constitucional o poder normativo e a intepretaccedilatildeo dos

princiacutepios e postulados constitucionais p139

321 Inocecircncio Maacutertires Coelho p 139

32 Consideraccedilotildees a partir de Ronald Dworkin e Robert Alexy Ronald Dworkin p 143

323 Marcelo Neves p 146

324 Humberto Aacutevila p147

33 Consideraccedilotildees Parciais p152

10

4 A JURISDICcedilAtildeO CONSTITUCIONAL E A SUacuteMULA VINCULANTE N 13 p

162

41 A Suacutemula Vinculante no sistema normativo brasileiro p162

42 Sentido e alcance da Suacutemula Vinculante n 13 p167

421 Parentesco por consanguinidade e afinidade ateacute o terceiro grau p171

422 Parentesco com autoridade ou servidor ocupante de cargo comissionado p174

423 Acircmbito da mesma pessoa juriacutedica p176

424 Nomeaccedilatildeo de parente para cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila p179

425 Nepotismo Cruzado p189

43 Consequecircncias de seu sentido e alcance p 190

431 Reclamaccedilatildeo n 6838DF p190

432 Decreto Presidencial n 720310 p195

433 Multiplicidade de Reclamaccedilotildees p197

44 Consideraccedilotildees Parciais p200

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS p208

REFEREcircNCIAS p 213

11

INTRODUCcedilAtildeO

A presente dissertaccedilatildeo tem como objeto central a anaacutelise da construccedilatildeo da

Suacutemula Vinculante n 13 editada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2182008

a fim de obstar o nepotismo no acircmbito das trecircs esferas do Poder Puacuteblico de todos os

entes da Federaccedilatildeo tendo como referecircncia legislativa o disposto no caput do art 37 da

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 ou seja nos princiacutepios basilares da Administraccedilatildeo

Puacuteblica especialmente nos da moralidade impessoalidade e eficiecircncia como se

constata tanto pelos debates acerca dos termos do verbete sumular como pelos votos

dos Ministros nos quatro precedentes da SV n13 ADI n 1521-4RS MS 23780-5MA

MC - ADC n 12-6DF e a proacutepria ADC n 12-6DF e o RE n 579951RN1

A primeira redaccedilatildeo da citada Suacutemula foi ―baseada no julgamento da ADC n

12-6DF do RE n 579951 do MS n 23718 e em ―outros pronunciamentos2 com os

seguintes dizeres

A proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta em

qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

1 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade ADI n 1521-4RS Ementaacuterio n 1983-1

―CARGO DE CONFIANCcedilA ndash PARENTESCO ndash NOMEACcedilAtildeO E EXERCIacuteCIO - PROIBICcedilAtildeO ndash EMENDA

CONSTITUCINAL ndash ADI ndash LIMINAR Relator Min Marco Aureacutelio julgada em 12397 e publicada no DJ de

170300 Ajuizada pelo Procurador-Geral da Repuacuteblica Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em 100213

BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS 23780-5MA Ementaacuterio n 2223-1 ―MANDADO

DE SEGURANCcedilA NEPOTISMO CARGO EM COMISSAtildeO IMPOSSIBILIDADE PRINCIacutePIO DA

MORALIDADE ADMINISTRATIVA Ajuizado pela servidora Terezinha de Jesus Cunha Belford Relator Min

Joaquim Barbosa julgada em 28905 e publicada no DJ de 3306 Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em

100213 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar da Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC -

ADC n 12-6DF Ementaacuterio n 2245-1 ―EMENTA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE CONSTITUCIONALIDADE

AJUIZADA EM PROL DA RESOLUCcedilAtildeO Nordm 07 de 18102005 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA

MEDIDA CAUTELAR Relator Min Carlos Ayres Britto julgada em 16022006 e publicada no DJ de 010906

Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em 100213 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Declaratoacuteria

de Constitucionalidade ADC n 12-6DF Ementaacuterio n 2387-1 ―ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE

CONSTITUCIONALIDADE AJUIZADA EM PROL DA RESOLUCcedilAtildeO Nordm 07 de 181005 DO CONSELHO

NACIONAL DE JUSTICcedilA ATO NORMATIVO QUE DISCIPLINA O EXERCIacuteCIO DE CARGOS EMPREGOS E

FUNCcedilOtildeES POR PARENTES COcircNJUGES E COMPANHEIROS DE MAGISTRADOS E DE SERVIDORES

INVESTIDOS EM CARGOS DE DIRECcedilAtildeO E ASSESSORAMENTO NO AcircMBITO DOS OacuteRGAtildeOS DO PODER

JUDICIAacuteRIO E DAacute OUTRAS PROVIDEcircNCIAS Ajuizada pela Associaccedilatildeo dos Magistrados Brasileiros - AMB e

patrocinada por Luis Roberto Barroso Relator Min Carlos Ayres Britto julgada em 20082008 DJ n 237 de

18122009 Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em 100213 BRASIL Supremo Tribunal Federal

Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ementaacuterio n 2338-10 ―ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA VEDACcedilAtildeO

NEPOTISMO NECESSIDADE DE LEI FORMAL INEXIGIBILIDADE PROIBICcedilAtildeO QUE DECORRE DO ART

37 CAPUT DA CF REPROVIDO EM PARTE Relator Min Ricardo Lewandowski julgado em 200808 e

publicada no DJ n 202 de 241008 Ajuizado pelo Ministeacuterio Puacuteblico do Rio Grande do Norte Disponiacutevel em

http wwwstfjusbr Acesso em 100213Tais precedentes dentre outras coisas demonstraratildeo (ou natildeo) se

configuram de acordo com o art 103-A da Constituiccedilatildeo Federal um dos requisitos constitucionais referentes agrave

elaboraccedilatildeo de suacutemula vinculante qual seja ―reiterada jurisprudecircncia 2 BRASIL Supremo Tribunal Federal Debate sobre a Suacutemula Vinculante n 13 que integra a Ata da 21ordf (vigeacutesima

primeira) sessatildeo ordinaacuteria realizada em 200808 publicada no STF - DJe n 2142008 divulgado na terccedila-feira

111108 e publicado na quarta-feira 121108 p 20-24 p20 Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em

100213

12

Municiacutepios independe de lei decorrendo diretamente dos princiacutepios contidos

no artigo 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal3

Contudo nesse esteio foi recomendada outra redaccedilatildeo

A proibiccedilatildeo da nomeaccedilatildeo em cargo comissionado ou funccedilatildeo de confianccedila de

cocircnjuge companheiro ou parente de autoridade nomeada e investida em

cargo de direccedilatildeo chefia ou assessoramento na Administraccedilatildeo Puacuteblica direta

e indireta em qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados e dos Municiacutepios

independe de lei decorrendo diretamente dos princiacutepios contidos no artigo

37 caput da Constituiccedilatildeo4

Mas ao final dos debates o STF ―visando dirimir conflitos a respeito do tema

e expurgar a praacutetica do nepotismo no acircmbito judicial5 e ainda atuando como ―regrador

geral do paiacutes 6 ementou a SV n13 nos seguintes termos

A nomeaccedilatildeo de cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou

por afinidade ateacute terceiro grau inclusive da autoridade nomeante ou de

servidor da mesma pessoa juriacutedica investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo ou de confianccedila ou

ainda de funccedilatildeo gratificada na administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta em

qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

Municiacutepios compreendido o ajuste mediante designaccedilotildees reciacuteprocas viola a

Constituiccedilatildeo Federal7

Dessa forma em homenagem ao princiacutepio republicano e aos administrativos

da moralidade da impessoalidade da eficiecircncia e da finalidade com o intento de coibir

que agentes puacuteblicos confiram privileacutegios empregatiacutecios a seus parentes utilizando-se da

maacutequina estatal o STF traccedilou a noccedilatildeo de nepotismo por meio do texto do verbete

sumular e ―causou estreacutepito em todos os Poderes da Repuacuteblica Brasileira8 porque a

SV 13 ―natildeo se limitou a declarar a vedaccedilatildeo constitucional do nepotismo9 mas teceu

minuacutecias sobre o assunto reconstruindo normativamente a proibiccedilatildeo do nepotismo

Nesse contexto enquanto alguns representantes do magisteacuterio doutrinaacuterio

passaram a afirmar que o STF editou a Suacutemula Vinculante n13 impulsionado pela

3BRASIL Supremo Tribunal Federal Debate sobre a Suacutemula Vinculante n 13 que integra a Ata da 21ordf (vigeacutesima

primeira) sessatildeo ordinaacuteria realizada em 200808 publicada no STF - DJe n 2142008 divulgado na terccedila-feira

111108 e publicado na quarta-feira 121108 p20 Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em 100213 4 Ministro Cezar Peluso Ibidem fl 20 5EMPIROTTI Gabriele Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula n13 e sua eficaacutecia In Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 p 37-49 fev 2013 p39 6RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no Serviccedilo Puacuteblico Brasileiro e a SV 13 In Revista de Direito

Administrativo- RDA Rio de Janeiro v 260 p 203-229 maiago 2012 p 209 7 BRASIL Supremo Tribunal Federal Debate sobre a Suacutemula Vinculante n 13 que integra a Ata da 21ordf (vigeacutesima

primeira) sessatildeo ordinaacuteria realizada em 200808 publicada no STF - DJe n 2142008 divulgado na terccedila-feira

111108 e publicado na quarta-feira 121108 p20 Disponiacutevel em http wwwstfjusbr Acesso em 100213p 24 8 OLIVEIRA George Feliacutecio Gomes de Da anaacutelise da Suacutemula Vinculante 13 do Supremo Tribunal Federal Alcance

Precedentes e Motivos Determinantes da norma que veda a praacutetica do Nepotismo no Brasil In Revista dos Tribunais

- RT v 98 n 890 p 9-32 dez 2009 p 10 9 DIZ Nelson Nascimento Nepotismo Suacutemula Vinculante nordm 13 Limitaccedilatildeo ao tratamento por lei In Revista de

Direito do Estado - RDE v 3 n 12 p385-391 outdez 2008 p390

13

necessidade de moralizar a administraccedilatildeo puacuteblica10

outros alegaram que o motivo que

levou o STF a editar a Suacutemula Vinculante que veda a praacutetica do nepotismo foi a ―mora

legislativa11

Todavia haacute de se ressaltar que nessa eacutepoca a Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e

Justiccedila e de Cidadania da Cacircmara Federal pressionada pelas sucessivas notiacutecias de

casos de nepotismo12

aprovou no dia 13 de abril de 2005 seis propostas de emenda

constitucional que proibiam a contrataccedilatildeo sem concurso de parentes ateacute o segundo

grau por autoridades dos trecircs Poderes da Uniatildeo dos Estados e dos Municiacutepios quais

sejam as PECs n 334 de 199613

que dispotildee sobre a vedaccedilatildeo para cocircnjuge parente ateacute o

segundo grau e companheiro n 558 de 199714

que proiacutebe a contrataccedilatildeo de parentes

nos trecircs poderes da Uniatildeo n 101 de 199915

que amplia os cargos em que a contrataccedilatildeo

de parente eacute vedada n 549 de 200216

que veda a nomeaccedilatildeo de parentes nos trecircs

poderes nos diferentes niacuteveis de governo com exceccedilatildeo do concursado e de parentesco

constituiacutedo apoacutes a nomeaccedilatildeo n 128 de 200317

e n193 de 200318

10 ―Era mesmo necessaacuteria portanto uma regulaccedilatildeo expressa da mateacuteria inclusive como forma de resguardar as

autoridades administrativas com espiacuterito republicano contra as tatildeo arraigadas pressotildees poliacuteticas no sentido de colocar

a maacutequina estatal a serviccedilo de interesses privados ESTRELLA Heron Nunes Nepotismo Aplicaccedilatildeo da Suacutemula

Vinculante n 13 do Supremo Tribunal Federal In Interesse Puacuteblico v 10 n 54 p 245-278 maiabr 2009 p 265-

266 ―Apoacutes tantos casos questionando a ocorrecircncia de nepotismo em vaacuterios setores da Administraccedilatildeo () resolveu se

posicionar e definir um conceito restrito vinculando as instacircncias inferiores ao seu entendimento mediante Suacutemula

Vinculante AMORA Luis Armando Saboya O Nepotismo o Recurso Extraordinaacuterio 579951RJ e a Suacutemula

Vinculante n13 do Supremo Tribunal Federal In MARIANO Cynara Monteiro e LIMA Martonio Montlsquoalverne

Barreto O Supremo Tribunal Federal e os casos difiacuteceis Florianoacutepolis Grupo conceito p 293-306 2012 p 295 11 ― () a mora de nossas casas legislativas no que toca agrave ediccedilatildeo de Lei regulamentando a mateacuteria a descrenccedila e

ilegitimidade que tomam conta do Parlamento onde a praacutetica do Nepotismo por parte dos agentes poliacuteticos tornou-se

recorrente a crise da Lei () como uacutenica forma de conduta exigiacutevel de particulares e do proacuteprio Estado a

supervalorizaccedilatildeo da eficaacutecia juriacutedica dos princiacutepios constitucionais o robustecimento da atuaccedilatildeo juriacutedica e poliacutetica do

Supremo Tribunal Federal enquanto Corte Constitucional () ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira de A ilegitimidade

Constitucional da Suacutemula Vinculante n 13 do STF e os limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica In Revista

Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia - Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro

Victor Nunes Leal v3 n 9 p 131-148 marabr 2011 p137 ―De qualquer modo dado o impacto simboacutelico e a

necessidade de diretrizes mais claras a Corte Suprema viu-se na contingecircncia de normatizarlsquo a mateacuteria numa suacutemula

vinculante para colmatar a renitente omissatildeo do Legislativo RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no Serviccedilo

Puacuteblico Brasileiro e a SV 13 In Revista de Direito Administrativo- RDA Rio de Janeiro v 260 p 203-229

maiago 2012 p 204-205 12 GARCIA Emerson Nepotismo origens e paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano IX n 200 p 24-27

mai2005 p 24 13 De autoria do ex-Deputado Aldo Arantes 14 De titularidade do ex-Deputado Carlos Nelson 15 De autoria do ex-Deputado Padre Roque 16 De titularidade do ex- Deputado Joseacute Dirceu 17 De autoria do ex Deputado Antocircnio Biscaia igual a anterior 18 De titularidade do Deputado Raul Jungmann que natildeo dispotildee diretamente sobre nepotismo mas trata da permissatildeo

da quebra de sigilo bancaacuterio e fiscal para os cargos de confianccedila ateacute o terceiro escalatildeo

14

E assim no dia 20 de abril de 2005 foi criada uma Comissatildeo Especial

constituiacuteda por 32 integrantes para discutir e sistematizar as seis emendas a serem

aprovadas em um projeto mas natildeo se logrou ecircxito19

Outros ainda aduziram que tal motivaccedilatildeo natildeo legitimaria a ediccedilatildeo da suacutemula

haja vista que seria prescindiacutevel que a vedaccedilatildeo no nepotismo decorresse de normativa

infraconstitucional20

Todavia o STF no ensejo de obstar as nomeaccedilotildees em cargos comissionados e

designaccedilotildees em funccedilotildees de confianccedila baseadas na satisfaccedilatildeo do interesse pessoal em

detrimento do puacuteblico assentou por meio do verbete sumular a reconstruccedilatildeo21

da

vedaccedilatildeo ao nepotismo bem como a proacutepria noccedilatildeo deste de forma a abarcar a nomeaccedilatildeo

de cocircnjuge e companheiro22

bem como dos parentes consanguiacuteneos em linha reta23

colateral24

e por afinidade25

ateacute o terceiro grau seja da autoridade nomeante ou de

servidor investido em cargo comissionado inclusive por designaccedilotildees reciacuteprocas26

em

funccedilatildeo de confianccedila ou cargo comissionado27

vinculando natildeo soacute ―todas as instacircncias

19 GARCIA Emerson Nepotismo origens e paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano IX n 200 p 24-27

mai2005 p24 20 Seraacute observado mais a frente que o STF quando tratou dos precedentes descaracterizou a necessidade de se

regulamentar a proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica por lei em sentido formal Segundo os Ministros o

nepotismo fere os princiacutepios da moralidade impessoalidade e eficiecircncia que regem a Administraccedilatildeo Puacuteblica e

assim sua vedaccedilatildeo decorre da autoaplicaccedilatildeo de tais princiacutepios insculpidos no art 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal

natildeo havendo portanto necessidade de lei especiacutefica a regulamentar a mateacuteria 21 Quando comparada com outras normativas antecedentes a ela eacute que se observa a reconstruccedilatildeo normativa da

vedaccedilatildeo do nepotismo o que seraacute verificado no final desta introduccedilatildeo 22 Parece loacutegico que o STF ao reconhecer a uniatildeo estaacutevel entre pessoas do mesmo sexo possibilita que o nepotismo

tambeacutem alcance a relaccedilatildeo homoafetiva 23 Os parentes consanguiacuteneos podem ser em linha retal ou colateral sendo a primeira referente agrave ascendecircncia e

descendecircncia Contando seus graus o primeiro grau ascendente refere-se aos pais e o segundo aos avoacutes Assim na

linha reta ascendente o nepotismo abarca os avoacutes Jaacute na linha descendente tecircm-se em primeiro grau os filhos e no

segundo grau os netos Portanto na linha reta descendente o nepotismo se limita aos netos 24 A linha colateral eacute aquela em que os parentes consanguiacuteneos partem de um mesmo descendente Como se inicia a

contagem do ascendente em comum nos pais que satildeo os parentes de primeiro grau de ambos o primeiro parente

colateral jaacute eacute de segundo grau que eacute o irmatildeo Os primos satildeo parentes de quarto grau natildeo alcanccedilados portanto pela

relaccedilatildeo de parentesco disposta pela suacutemula 25 O artigo 1595 do CC dispotildee que cada cocircnjuge ou companheiro eacute aliado aos parentes do outro pelo viacutenculo da

afinidadesect 1ordm - O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes aos descendentes e aos irmatildeos do cocircnjuge ou

companheirosect 2ordm - Na linha reta a afinidade natildeo se extingue com a dissoluccedilatildeo do casamento ou da uniatildeo estaacutevel

Entatildeo o viacutenculo por afinidade eacute criado pelo casamento e uniatildeo estaacutevel lembrando que nem com o divoacutercio existem

ex-sogros conforme o que dispotildee o CC Mas tendo em vista a previsatildeo disposta na Suacutemula a extensatildeo do

parentesco por afinidade no que concerne ao nepotismo chega ao terceiro grau abarcando os pais avocircs e bisavocircs

filhos netos e bisnetos irmatildeos sobrinhos e tios do cocircnjuge ou do companheiro assunto este que seraacute esmiuccedilado

mais adiante no presente trabalho 26 As quais configuram o nepotismo cruzado que ocorre quando duas autoridades ou servidores puacuteblicos que

ocupam cargo comissionado nomeiam em cargos de comissatildeo familiares um do outro sejam consanguiacuteneos ou afins

ateacute terceiro grau como troca de favor sendo portanto imprescindiacutevel a reciprocidade de favores para a

configuraccedilatildeo da espeacutecie proibida pela Suacutemula Vinculante Segundo Gina Copola ldquoReitere-se portanto que se natildeo

ocorrer o ajuste mediante designaccedilotildees reciacuteprocaslsquo entre as autoridades nomeantes natildeo ocorre o nepotismo cruzado e

assim se retira por completo a ilegalidade das nomeaccedilotildees realizadas COPOLA Gina O Nepotismo Cruzado e a

Suacutemula Vinculante n 13 do egreacutegio Supremo Tribunal Federal A improbidade administrativa Jurisprudecircncia sobre

o tema In Boletim de Direito Administrativo - BDA v 28 n07 p 785-789 jul 2012 p 789 27 Todas as expressotildees destacadas em itaacutelico na forma dispostas no acircmbito da Suacutemula sofrem aacuterduas criacuteticas dos

juristas

15

do Judiciaacuterio mas tambeacutem os ―Poderes Legislativo e Executivo (tanto a administraccedilatildeo

direta quanto a indireta) 28

Diante disso e tendo em vista que o seu efeito vinculante atingiu a todos os

Poderes de cada um dos Entes Federados do Paiacutes causando impacto na realidade

juriacutedica e administrativa brasileira faz-se relevante o estudo do tema Relevacircncia esta

que se assenta ao se observar o processo de decisatildeo da ediccedilatildeo da SV n13 do qual se

extraem pontos polecircmicos que circundam tanto sua construccedilatildeo procedimental quanto o

seu conteuacutedo juriacutedico material

O problema eacute que natildeo se sabe se o STF ao realizar a construccedilatildeo judicial e

reconstruir a normativa da vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da Suacutemula Vinculante n 13

exorbitou a normatividade do proacuteprio instituto

Daiacute a necessidade de se analisar se o texto da suacutemula expocircs o que deveria

expor - nos termos das normas constitucionais e legais que regem o verbete vinculante

em concordacircncia com seus proacuteprios precedentes e ainda quais foram as suas

consequecircncias A partir disto se verificaraacute se a SV n13 extrapolou os limites do proacuteprio

instrumento constitucional

Assim em torno da problemaacutetica satildeo suscitadas as seguintes hipoacuteteses

A partir de quais fundamentos o STF construiu a noccedilatildeo judicial sobre o

nepotismo e sua vedaccedilatildeo Os elementos sobre os quais foi construiacuteda tal noccedilatildeo satildeo os

mesmos nos quatro precedentes A redaccedilatildeo sumular guarda correspondecircncia com os

mesmos Qual motivaccedilatildeo acarretou a elaboraccedilatildeo da SV n13

A partir da noccedilatildeo administrativa-poliacutetica brasileira e da noccedilatildeo juriacutedica de

nepotismo a Suacutemula Vinculante n 13 abarcou todos os casos de privilegiamento

contraacuterios agrave moralidade puacuteblica

O STF utilizou de teacutecnicas e meacutetodos pertinentes agrave hermenecircutica juriacutedica

especialmente a constitucional tanto para julgar os precedentes quanto para construir a

noccedilatildeo judicial de nepotismo

O enunciando vinculante eacute consistente jaacute que se embasa apenas em quatro

julgados29

Eles configurariam jurisprudecircncia reiterada sobre a mateacuteria

28 PIRES Luis Manoel Fonseca Controle Judicial do Nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante do Supremo

Tribunal Federal In In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e

moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p235-252 p 247

16

A redaccedilatildeo da S V n 13 guardou coerecircncia com a finalidade do Instituto

Suacutemula Vinculante de ser clara objetiva e apaziguadora de controveacutersias jaacute que tece

minuacutecias sobre o nepotismo

A originalidade do texto sumular atende ao princiacutepio da legalidade jaacute que a S

V n 13 dispotildee de forma dissonante da constitucional e legal sobre temas juriacutedicos

como pessoa juriacutedica de direito puacuteblico e parentela por afinidade

Para que assim se possa responder o seguinte problema apresenta-se a questatildeo

o STF ao realizar a reconstruccedilatildeo normativa da vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da

Suacutemula Vinculante n 13 exorbitou a normatividade do proacuteprio Instituto A SV n 13 eacute

vaacutelida ou merece revisatildeo do tribunal

A fim de estear as hipoacuteteses perquiridas - as quais se visam responder por meio

dos capiacutetulos do texto - faz-se necessaacuterio realizar algumas consideraccedilotildees iniciais sobre

elementos que guardam relaccedilatildeo com o tema do trabalho

A primeira eacute pertinente agraves origens do nepotismo e sua implementaccedilatildeo no

Brasil a segunda refere-se agrave moralidade puacuteblica como preceito da administraccedilatildeo e a

terceira refere-se agraves normativas que apoacutes a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 vedaram o

nepotismo e formaram a base da ediccedilatildeo da Suacutemula Vinculante

O nepotismo remonta a quatro noccedilotildees30

sendo a mais relevante ao estudo a que

pertence ao haacutebito papal de privilegiar seus parentes que eram empregados na Santa Seacute

inclusive sobrinhos ditos nepoti na liacutengua italiana daiacute a designaccedilatildeo do nepotismo

acrescido do sufixo ismo que traduz a praacutetica31

Assim as origens do nepotismo remetem agraves praacuteticas de raiacutezes eclesiaacutesticas

arraigadas na Igreja que consistiam na nomeaccedilatildeo por Sua Santidade de familiares

29 Dissonantes em vaacuterios aspectos quanto agrave noccedilatildeo de nepotismo tanto as argumentaccedilotildees apresentadas pelos Ministros

no debate da suacutemula quanto os acoacuterdatildeos precedentes do enunciado 30 Duas decorrentes da palavra latina nepos sendo que uma indica ―posteridade podendo ser igualmente utilizado no

sentido de dissipador proacutedigo perdulaacuterio e devasso conforme Dicionaacuterio Latino Portuguecircs pp 550551 GARCIA

Emerson O Nepotismo Boletim de Direito Administrativo-BDA jun 2003 p 461-463 p461 e a outra define uma

espeacutecie de escorpiatildeo cujas crias colocando-se no dorso materno devoram a matildee conforme afirma Zelio Maia da

ROCHA Nepotismo e o Concurso Puacuteblico Criteacuterio objetivo de ausecircncia de moralidade e impessoalidade na

Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Juriacutedica Consulex ano 12 n 286 dez 2008 p 40-41 p 40 O autor em uma

posiccedilatildeo diferenciada dos demais afirma que ―Esta situaccedilatildeo me parece mais proacutexima ao que vivemos hoje no Brasil

ou seja aquele que se apodera do Estado e visa apenas o benefiacutecio proacuteprio em detrimento da coletividade Haacute ainda

outra noccedilatildeo pois ―para alguns proveacutem do nome do imperador romano Flaacutevio Juacutelio Nepote (em latim Flavius Iulius

Nepos) conforme informa Joatildeo Gaspar RODRIGUES Nepotismo no Serviccedilo Puacuteblico Brasileiro e a SV 13 Revista

de Direito Administrativo - RDA Rio de Janeiro v 260 maiago 2012 p 203-229 p 205 31 POLITO Andreacute Guilherme Michaelis Dicionaacuterio Escolar Italiano Italiano-Portuguecircs Portuguecircs Italiano Satildeo

Paulo Ed Melhoramentos 2007 p 609 e 684

17

sobretudo de netos e sobrinhos em cargos pontifiacutecios tanto que Marsiacutelio de Paacutedua

noticia a ocorrecircncia de tal praacutetica nos idos do seacuteculo XIV32

Nesse esteio Emerson Garcia sintetiza o histoacuterico do nepotismo durante os

seacuteculos na igreja demonstrando ainda a iacutentima ligaccedilatildeo entre a nobreza os Governantes

de Roma e a Igreja sendo aqueles nomeados para cargos desta33

e Dioacutegenes Gasparini

afirma que o nepotismo ―expressava o costume adotado pelos papas dos seacuteculos XV e

XVI consistente no favorecimento sistemaacutetico de suas famiacutelias (sobrinhos e outros

parentes) com tiacutetulos (cargos de autoridade) e doaccedilotildees (presentes materiais)34

O fato de que nepotismo adveio da praacutetica papal foi tatildeo notoriamente assentado

na histoacuteria que restou absorvido pelos operadores do direito paacutetrio ao elucidarem no

acircmbito juriacutedico sobre o tema35

Mas este costume natildeo pode ser atribuiacutedo apenas agraves

accedilotildees do Sumo Pontiacutefice da Igreja Catoacutelica uma vez que jaacute na Roma antiga os seus

imperadores beneficiavam seus familiares com cargos de prestiacutegios tiacutetulos e outras

honrarias36

E a praacutetica natildeo parou em Roma Antiga muito pelo contraacuterio se expandiu pelos

diversos Estados Absolutistas como costume do rei jaacute que o Estado se confundia com a

figura real e por consequecircncia a maacutequina estatal natildeo era vista como algo estatal

32 ―Com efeito quem natildeo ficaraacute espantado e estarrecido perante o fato de que esses jovens ignorantes da escritura

divina imaturos () inexperientes incultos e agraves vezes ateacute sabidamente criminosos foram nomeados para os

bispados mais importantes da igreja graccedilas agrave corrupccedilatildeo simoniacuteaca ou pela suacuteplica dos poderosos para natildeo

mencionar por vezes o terror por servilismo ou em razatildeo de laccedilos de parentesco p540 Segundo ele os papas ―()

se reservaram exclusivamente o direto de nomear para os cargos eclesiaacutesticos em geral () graccedilas agrave plenitude do

poder passaram a indicar pessoas ignaras nas Sagradas Paacuteginas mundanas incultas e com muita frequecircncia ateacute

indiviacuteduos sabiamente criminosos p538 Sendo tal nomeaccedilatildeo assim ―() porta maleacutevola atraveacutes da qual eles

proacuteprios jaacute entraram e que conduz aos cargos e benefiacutecios eclesiaacutesticos p544 Ainda elucida que a nomeaccedilatildeo para o

cargo era moeda de troca de favores ―O Bispo de Roma procurando obter em benefiacutecio proacuteprio o favor e a mercecirc

dos poderosos talvez tendo deles recebido uma soma de dinheiro promoveu o episcopado nas cidades mais

renomadas jovens ignorantes na lei divina PAacuteDUA Marsiacutelio op cit p544 PAacuteDUA Marsiacutelio O Defensor da

Paz Traduccedilatildeo e notas Joseacute Antocircnio Camargo Rodrigues de Souza introduccedilatildeo Joseacute Antocircnio Camargo Rodrigues de

Souza Francisco Berteloni e Gregorio Piaia Petroacutepolis RJ Vozes 1995 33 GARCIA Emerson Nepotismo Origens e Paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano 9 n 200 mai 2005 p 27

Fato este observado tambeacutem por Marsiacutelio de Paacutedua no Seacuteculo XIV 34

GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN

Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p71-98 p 73 35 Eacute o que demonstra a passagem do voto do Ministro Ricardo Lewandowski ―A utilizaccedilatildeo desse termo

historicamente adveacutem da autoridade exercida pelos sobrinhos e outros aparentados dos Papas na administraccedilatildeo

eclesiaacutestica nos seacuteculos XV e XVI da nossa era ganhando atualmente o significado pejorativo do favorecimento de

parentes por parte de algueacutem que exerce o poder na esfera puacuteblica ou privada BRASIL Supremo Tribunal Federal

Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Relator Min Ricardo Lewandowski julgado em 2082008 DJ n 202 de

24101008 Ementaacuterio n 2338-10 36 ―() Roma ao tempo de Juacutelio Ceacutesar em finais do seacuteculo I aC agravequela eacutepoca tornou-se comum o ato juriacutedico da

adoccedilatildeo a perfilhaccedilatildeo de adultos principalmente pelos poliacuteticos que natildeo possuiacuteam filhos homens Neste caso passava

o adotado a se beneficiar dos mesmos criteacuterios que os dos filhos legiacutetimos () GARCIA Emerson Nepotismo

Origens e Paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano 9 n 200 mai 2005 p26

18

puacuteblico mas particular pertencente ao monarca que poderia utilizar dela como bem lhe

conviesse37

E natildeo haacute de se esquecer de que na proacutepria Itaacutelia Renascentista natildeo unificada

na qual cada cidade era um Estado esta praacutetica ligava o poder estatal ao eclesiaacutestico e

vice-versa em um jogo de interesses entre as famiacutelias que governavam tais cidades-

estados e a Igreja em uma simbiose de luta pelo poder e pelo status por meio das

nomeaccedilotildees de parentes em ambos os cargos38

Diante disso eacute que Carmem Luacutecia afirma que a praacutetica do nepotismo natildeo foi

obstada pelo Estado de Direito pois ―a Lei que deveria informar o Poder ateacute os seacuteculos

XVII e XVIII natildeo era senatildeo a vontade do rei e dos poderosos que em torno dele

respiravam e que recebiam os favores que a ningueacutem mais eram concedidos A

doutrinadora ainda completa que a transposiccedilatildeo da vontade pessoal pela ―politizaccedilatildeo e

publicidade do poder estatal impessoal natildeo foram o bastante para romper a tradiccedilatildeo do

exerciacutecio pessoal e particular do Poder39

Isto porque o cerne do nepotismo ato de ―empregar parentes no poder

puacuteblico remonta ao entendimento de que o puacuteblico eacute privado de que a maacutequina

administrativa estatal eacute um patrimocircnio familiar do qual se pode dispor da forma que

quiser e natildeo como coisa puacuteblica que pertence ao povo algo bem encrustado na

monarquia independente do Estado ser Absolutista ou de Direito

37 ―O direito divino dos reis ()distribuiacutea repartia e compartilhava segundo os seus uacutenicos interesses a quem bem

entendesse e claro ele soacute entendia e o estendia a seus parentes e pessoas a ele ligadas A ideia do Poder do Estado

como res pessoal do monarca e natildeo Poder Puacuteblico () estendeu-se ao territoacuterio do Estado ROCHA Carmem Luacutecia

Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p 159 Tanto que

Thomas Hobbes em ―O Leviatatilde ao pregar um Estado forte absolutista firmado na monarquia suscita que esta eacute

preferiacutevel agrave democracia e que um dos motivos disto eacute que a praacutetica personalista pelo rei eacute menor que pela assembleia

incluiacutedo neste esteio o nepotismo como praacutetica de favorecimento da famiacutelia pois segundo o autor na monarquia haacute

um rei e na democracia haacute vaacuterios e como o monarca em quantidade de parentes eacute menor que os integrantes da

assembleia a monarquia seria preferiacutevel o cabedal de emprego e auxiacutelio seria menor Hobbes fundamenta sua tese no

fato de que seja quem for que represente o povo antes de tudo se representa como pessoa natural e mesmo que ―()

tenha o cuidado em sua pessoa poliacutetica de promover o interesse comum () teraacute mais ainda de promover seu proacuteprio

bem pessoal assim como o de sua famiacutelia seus parentes e amigos () De onde se segue que quanto mais

intimamente unidos estiverem o interesse puacuteblico e o interesse pessoal mais se beneficiaraacute o interesse puacuteblico Ora

na monarquia o interesse pessoal eacute o mesmo que o interesse puacuteblico () e enquanto os favoritos de um monarca satildeo

poucos e ele tem para favorecer apenas os seus parentes os favoritos de uma assembleia satildeo muitos e os parentes satildeo

em muito maior nuacutemero que os de um monarca HOBBES Thomas O Leviatatilde Satildeo Paulo Ed Martins Fontes

2003 p 162 38 Dioacutegenes Gasparini afirma que ―na Itaacutelia Renascentista era comum a nomeaccedilatildeo pelos titulares do poder puacuteblico

para postos militares e poliacuteticos de alta relevacircncia de seus proacuteprios familiares PIRES Luis Manuel Fonseca

ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa

GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico Belo Horizonte Ed Foacuterum 2008 p 73 E Emerson Garcia completa

asseverando que no ―periacuteodo que vai da metade do seacuteculo XV ateacute meados do XVII poucas famiacutelias dominaram o

Vaticano Orsini Colonna Meacutedici Barberini Deila Rovere e umas poucas mais que fizeram mais de quarenta

papas Nepotismo Origens e Paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano 9 n 200 mai 2005 p 27 39ROCHA Op cit p 159

19

Assim utilizado pela Igreja ou pelo Estado40

o nepotismo era empregado

como instrumento de poliacutetica familiar cuja finalidade eacute beneficiar o clatilde de um

determinado patronato e foi nesse esteio que se enraizou no Brasil

O governo e a corte da monarquia portuguesa sedimentados em uma sociedade

personalista e dividida em estamento tinham como costumes vaacuterias condutas que

confundiam o puacuteblico com o privado Dentre elas a concessatildeo de privileacutegios aos

servidores e agrave nobreza a proteccedilatildeo do rei aos seus e aos seus auxiliares41

Nesse esteio

se inseria o nepotismo configurado na disposiccedilatildeo de cargos e tiacutetulos utilizado pelo

monarca de acordo com o seu interesse como instrumento de privileacutegio e proteccedilatildeo aos

seus

O rei comandava impunha respeito obediecircncia e ordem por meio da

―autarquia do indiviacuteduo da exaltaccedilatildeo extrema da personalidade da paixatildeo fundamental

e que natildeo tolera compromissos42

a uma nobreza avessa ao trabalho que venerava o

oacutecio43

e como parasita do rei tinha o haacutebito de articular ―agrave custa da intriga bem tecida

da conversa doce ―a conquista ao emprego ao posto agrave dignidade44

40 ―() consiste numa poliacutetica para empregar parentes privilegiar os laccedilos de sangue ou de afinidade fechando-se o

preenchimento de cargos puacuteblicos em grupos familiares Tal poliacutetica revela uma reminiscecircncia da eacutepoca das grandes

monarquias e das repuacuteblicas aristocratas quando a figura central aqueles que detinham o poder conferiam

privileacutegios e cargos aos seus parentes enquanto os demais que natildeo circundavam essa classe privilegiada ficavam

excluiacutedos do acesso a tais privileacutegios ARAKAKI Allan Thiago Barbosa ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula

Vinculante 13 e o combate ao nepotismo Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI Ed RT

Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 p 101-121 abrjun 2011 p 103 Ainda como exemplo desta praacutetica pode-

se citar a conduta de Napoleatildeo ―que nomeou seu irmatildeo Napoleatildeo III para governar a Aacuteustria que abrangia a

Franccedila a Espanha e a Itaacutelia Com isto em muito diminuiacuteam as chances de uma possiacutevel traiccedilatildeo permitindo a

subsistecircncia do impeacuterio napoleocircnico GARCIA Emerson Nepotismo Boletim de Direito Administrativo ndash BDA jun

2003 p 461 41 Segundo Raymundo Faoro ―Do patrimocircnio do rei () fluiacuteam rendas para sustentar os guerreiros os delegados

monaacuterquicos espalhados no paiacutes e o embriatildeo dos servidores ministeriais aglutinados na corte FAORO Raymundo

Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p4 E Seacutergio

Buarque de Holanda informa que ―Em 1720 () soacute as pessoas investidas de cargo puacuteblico poderiam embarcar com

destino a colocircnia HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras

1995 p 102 Oliveira Viana assevera que ―Quando Portugal iniciou os descobrimentos () o campo do parentesco

adotivo tinha entatildeo uma extensatildeo muito maior do que a atual - o que ampliava consideravelmente o tamanho do

grupo patriarcal e em consequecircncia a forccedila e o prestiacutegio do pater-famiacutelias senhorial () Os acostados da Nobreza

eram havidos na conta de parentes () gloriando-se da sua casa adotiva e prontos a darem a vida pelo amo ()

VIANA Oliveira Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 223

Segundo Carmem Luacutecia ―Em Portugal () a Monarquia traduzia o paradigma de poder exercido pelo rei em seu

nome e segundo sua vontade Os cargos e empregos puacuteblicos podiam ser e eram por ele leiloados e presenteados

como o eram as proacuteprias terras colonizadas e onde se estendessem os domiacutenios portugueses Princiacutepios

Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p 159 42 HOLANDA Op cit p39 43 Conforme Seacutergio Buarque de Holanda ―Uma digna ociosidade sempre pareceu mais excelente e ate mais

nobilitante a um bom portuguecircs ou a um espanhol do que a luta insana pelo patildeo de cada dia () O certo eacute que

entre espanhoacuteis e portugueses a moral do trabalho representou sempre fruto exoacutetico Ibidem p 38 -39 44FAORO op cit p 81 ―Politicamente a camada dominante associada ao rei por conviacutevio fraternal e de

irmandade dispotildee de poderes administrativos e de comando os quais para se atrelarem ao rei dependem de

negociaccedilotildees e entendimentos Ibidem p 19

20

Nesse Estado patrimonialista em que o puacuteblico era privado e que o Estado era

o proacuteprio rei do rei para o rei e para aqueles que estavam a sua volta fossem parentes

ou amigos a uacutenica solidariedade que existia entre eles era ―de ciacuterculos forccedilosamente

restritos particularistas onde havia vinculaccedilatildeo de sentimentos () no recinto

domeacutestico ou entre amigos45

sendo o nepotismo apenas uma decorrecircncia deste

contexto46

Desta feita os portugueses construiacuteram o Brasil ―erguido sobre os pilares de

uma monarquia absolutista fazendo que monarca e administradores se mantivessem

unidos por elos iminentemente pessoais e paternalistas ―sem qualquer

comprometimento com ideais eacuteticos deveres funcionais ou interesses coletivos sendo

―a coisa puacuteblica ―coisa de ningueacutem e que sua uacutenica utilidade eacute satisfazer os interesses

da classe que ascendeu ao poder47

E mesmo que essa concepccedilatildeo tenha sido parcialmente alterada na eacutepoca da

invasatildeo de Portugal por Napoleatildeo pois tal acontecimento provocou a fuga da realeza

portuguesa para as terras brasileiras em 180848

natildeo influiu na distribuiccedilatildeo de tiacutetulos e

honrarias onde se acoberta o nepotismo49

45 HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 39 Paulo

Modesto ensina que ―() eacute a manifestaccedilatildeo tiacutepica de patrimonialismo na Gestatildeo do Estado ou dominaccedilatildeo patrimonial

() No patrimonialismo o governante organiza o poder poliacutetico como uma espeacutecie de poder domeacutestico segundo

viacutenculos de solidariedade e fidelidade tiacutepicos dos membros de uma famiacutelia Natildeo haacute impessoalidade () O poder eacute

exercido como propriedade pessoal do governante extensatildeo do seu domiacutenio privado sem realizar a distinccedilatildeo entre a

esfera puacuteblica e a esfera privada Os cargos satildeo vendidos ou concedidos () sendo utilizados para cooptaccedilatildeo e

favorecimento O poder eacute concebido como um bem privado e apropriado por seus exercentes sempre atentos agrave

proteccedilatildeo de seus dependentes e afilhados O governante eacute o pater familias supremo () descriccedilatildeo tiacutepica-ideal

sintetizada para conformar um conceito operacional e criacutetico de patrimonialismo no exerciacutecio do poder poliacutetico-

administrativo () eacute conceito uacutetil tambeacutem para descrever traccedilos amplamente verificados ao longo da histoacuteria poliacutetico

institucional brasileira () Eacute o culto ao patrimonialismo que explica porque o favorecimento de parentes e afins no

acesso a cargos e funccedilotildees puacuteblicas foi comportamento considerado normal durante largos periacuteodos de nossa histoacuteria

Nepotismo em Cargos Poliacutetico administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP Belo Horizonte Ed

Foacuterum v 11 n 41 abrjun 2013 p14-15 46 Segundo Florivaldo Dutra de Arauacutejo ―O nepotismo () constitui vertente do patrimonialismo modelo de

administraccedilatildeo puacuteblica que confunde o puacuteblico e o privado transformando as prerrogativas e os recursos puacuteblicos em

instrumentos a serviccedilo de interesses particulares O patrimonialismo caracterizou a administraccedilatildeo dos negoacutecios

puacuteblicos na maior parte da Histoacuteria e somente com a concepccedilatildeo do Estado de Direito passou a ser vista como

incompatiacutevel com o exerciacutecio das funccedilotildees estatais ARAUacuteJO Florivaldo Dutra O nepotismo e os princiacutepios da

administraccedilatildeo puacuteblica In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo

eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p117-128 p 118 47 GARCIA Emerson Repressatildeo agrave Corrupccedilatildeo no Brasil Entre a Realidade e a Utopia Rio de Janeiro Ed Lumen

Juris 2011 p 2 48 Segundo Emerson Garcia ―Napoleatildeo ao determinar a invasatildeo do territoacuterio portuguecircs e precipitar a fuga da famiacutelia

real em 1808 para o Brasil contribuiu decisivamente () feiccedilatildeo da colocircnia comeccedilou a mudar no momento em que a

famiacutelia real desembarcou em solo brasileiro e aqui se instalou () Com a presenccedila da famiacutelia real logo o Brasil

tornou-se o centro de comando das possessotildees portuguesas Op cit p 2-3 49 Nas palavras de Emerson Garcia ―Melhorias agrave parte a administraccedilatildeo puacuteblica brasileira cultivou maus haacutebitos

desde o nascedouro () A distribuiccedilatildeo de honrarias e tiacutetulos de nobreza foi uma das formas encontradas por D Joatildeo

VI para conquistar o apoio poliacutetico e financeiro da elite local variando a importacircncia dos tiacutetulos conforme a

intensidade do apoio declinado agrave Coroa Em apenas oito anos distribuiu mais tiacutetulos de nobreza que Portugal nos

trezentos anos anteriores Essa elite destituiacuteda de valores eacuteticos e movida pelo espiacuterito de troca () ascendeu ao

21

Desta feita a cultura inerente agrave monarquia portuguesa e sua corte50

que

privilegiava o personalismo em detrimento da impessoalidade que ensejava ao

indiviacuteduo a visualizar o cargo puacuteblico como uma forma de ―encostar-se ao Estado e se

nobilitar51

que ressaltava a busca da riqueza faacutecil em detrimento do trabalho52

que

confundia o espaccedilo puacuteblico e o privado a beneficiar uma minoria que ensinava que a

troca de favores e a influecircncia eram os meios adequados a se obter algo e ainda que se

deve obedecer a quem estaacute no poder em conformidade com o velho jargatildeo de ―manda

quem pode obedece quem tem juiacutezo foi sedimentada no Brasil53

Por isso pode-se dizer ―que de laacute () veio a forma atual de nossa cultura

―fundamentos do nosso destino histoacuterico de ―nossas raiacutezes governamental-

administrativa brasileira patrimonialista54

exaltadas na realidade colonial quase toda

poder e sedimentou um verdadeiro cranco na estrutura administrativa GARCIA Emerson Repressatildeo agrave Corrupccedilatildeo

no Brasil Entre a Realidade e a Utopia Rio de Janeiro Ed Lumen Juris 2011 p3-4 50 Segundo Viana ―os usos tradiccedilotildees costumes - em suma todas as modalidades estandardizadas ou

institucionalizadas de comportamento social impostas pelo que a Ciecircncia Social hoje chama de a culturalsquo do grupo

ou do povo - natildeo tem apenas uma existecircncia fora de noacutes ndash na sociedade mas tambeacutem dentro de noacutes na nossa

consciecircncia () Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p67

Segundo Holanda ―Por outro lado natildeo foi possiacutevel consolidarem-se ou cristalizarem-se padrotildees eacuteticos muito

diferentes dos que jaacute preexistiam para a nobreza () Op cit Paacuteg 112 De acordo com Roberto DAMATTA ―O

lado contundente de nossa histoacuteria eacute que somos um paiacutes feito por portugueses brancos e aristocraacuteticos uma sociedade

hierarquizada e que foi formada dentro de um quadro riacutegido de valores discriminatoacuterios O que faz o Brasil Brasil

Rio de Janeiro Rocco 1984 p27 51 Conforme Raymundo Faoro ―O estamento supotildee distacircncia social e se esforccedila pela conquista de vantagens

materiais e espirituais exclusivas () bem como asseguram privileacutegios materiais e de maneiras Os donos do Poder

Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p 47 ―No paiacutes os cargos satildeo

para os homens e natildeo os homens para os cargos Op cit p 58 52 Segundo Raymundo FAORO ―Os netos dos conquistadores de dois mundos podem sem desonra consumir no

oacutecio o tempo e a fortuna ou mendigar pelas secretarias um emprego o que natildeo podem sem indignidade eacute trabalhar

() noacutes preferimos ser uma aristocracia de pobres ociosos a ser uma democracia prospera de trabalhadores Op cit

p 87 ―O mundo colonial () consolidaraacute manteacutem o potencial da fortuna faacutecil () do enriquecimento raacutepido

Ibidem p216 ―Nem o branco portuguecircs nem o branco natural do paiacutes podem apanhar enxada ou tocar no arado O

trabalho braccedilal degrada e o equipara ao escravo ndash a esta infacircmia eacute preferiacutevel a ociosidade o parasitismo o expediente

da busca de proteccedilatildeo dos poderosos Ibidem p 217 53 Segundo Emerson Garcia haacute uma sedimentaccedilatildeo ―no imaginaacuterio popular de ―um sentimento de desvalorizaccedilatildeo dos

interesses puacuteblicos que sempre satildeo submetidos agraves mudanccedilas do tempo () e de hipervalorizaccedilatildeo do interesse

privado que deve assumir uma posiccedilatildeo de premecircncia custe o que custar E afirma que este quadro brasileiro se

iniciou no ―seu proacuteprio processo de colonizaccedilatildeo Repressatildeo agrave Corrupccedilatildeo no Brasil Entre a Realidade e a Utopia

Rio de Janeiro Ed Lumen Juris 2011 p 1-2 Para Faoro no Brasil Colocircnia os ―() fidalgos vivem das comendas e

rendas da coroa () A nobreza () se alimenta dos favores e das vantagens que fluem das matildeos do rei Os Donos do

Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p 220 ―E ainda haacute

delegados e concessionaacuterios dos monopoacutelios e privileacutegioslsquo bem como o particular nimbado com os favores

puacuteblicos Opcit p 222Segundo Faoro ―() aberto o acesso ao apelo retificador do rei somente aos poderosos O

funcionaacuterio eacute a sombra do rei e o rei tudo pode Ibidem p 172 Conforme os dizeres de VIANA o povo desde

sempre aprendeu que ―() soacute o senhor decidia soacute o senhor ordenava Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia

Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 299-301 E que assim ― () o povo-massa aprendia () princiacutepio uacutetil

-- de interesse puacuteblico era o do valor da obediecircncia agrave autoridade dos chefes ndash traccedilo () que () se tem ateacute agora

mantido fiel Idem p 304 Seacutergio Buarque de Holanda resume como ―essa acircnsia de prosperidade sem custo de

tiacutetulos honoriacuteficos de posiccedilotildees e riquezas faacuteceis tatildeo notoriamente caracteriacutestica da gente de nossa terra

HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p46 54 HOLANDA Op cit p 40 Eacute o que explica VIANA Os ―povos () da Ameacuterica que foram ―submetidos aos ()

espanhoacuteis portugueses sofreram desviaccedilotildeeslsquo da pauta cultural () Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia

Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p75 Segundo Faoro o ―espiacuterito dos povoadores e de que ―tudo

pretendem levar a Portugal e este espiacuterito se alastrou pois ―natildeo o tem soacute os que de laacute vieram mas ainda os que caacute

nasceram E desta visatildeo viciada ―nasce tambeacutem que nem um homem nesta terra eacute republicano nem zela ou trata do

22

rural e sedimentada nos clatildes formados pelos ―grupos rurais dominantes e enraizadas

nas relaccedilotildees pessoais parentais o que ensejou o aumento do personalismo55

E ocasionou consequecircncias costumeiras agrave esfera poliacutetica governamental e

administrativa brasileira as quais em seu conjunto patrimonialista estabeleceu as bases

para que o nepotismo natildeo apenas de enraizasse mas tambeacutem se ampliasse A primeira

delas eacute a forma de se se governar assentada no modelo patrimonial e no coronelismo -

maneira de fazer poliacutetica - desde o Impeacuterio56

proacutexima agrave ―de clientela com fundamental

distorccedilatildeo autoritaacuteria e povo votava em quem tinha que votar ―com promessas de

rendosos empregos e depreciadas condecoraccedilotildees57

E como a poliacutetica brasileira se constituiu em uma linha uniforme tambeacutem na

Repuacuteblica Velha - emancipada na poliacutetica dos governadores e no coronelismo - a

poliacutetica continuou a ser realizada de acordo com a pessoalidade os laccedilos de amizade a

afinidade e parentesco58

natildeo havendo qualquer mudanccedila posteriormente jaacute que os

estadistas continuavam sendo ―a minoria dirigente conduzindo o paiacutes com a pele de

bem comum senatildeo cada um do bem particular Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf

ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p 153 55 HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 15 ―() dos

vaacuterios setores de nossa sociedade colonial foi sem duacutevida a esfera da vida domeacutestica aquela onde o princiacutepio de

autoridade menos acessiacutevel se mostrou as forccedilas corrosivas que de todos os lados o atacavam Sempre imerso em si

mesmo natildeo tolerando nenhuma pressatildeo de fora o grupo familiar se mantem imune de qualquer restriccedilatildeo ou abalo

Em seu recatado isolamento pode desprezar qualquer princiacutepio superior que procure perturba-lo ou oprimi-lo () O

quadro familiar torna-se assim tatildeo poderoso e exigente que sua sombra persegue os indiviacuteduos mesmo fora do

recinto domeacutestico A entidade privada precede sempre neles agrave entidade puacuteblica A nostalgia dessa organizaccedilatildeo

compacta uacutenica e intransferiacutevel onde prevalecem necessariamente as preferencias fundadas em laccedilos afetivos natildeo

podia deixar de marcar nossa sociedade nossa vida puacuteblica e todas as nossas atividades Representando () o uacutenico

setor onde o princiacutepio de autoridade eacute indisputado a famiacutelia colonial fornecia a ideia mais normal do poder da

respeitabilidade da obediecircncia e da coesatildeo entre os homens O resultado era predominarem em toda a vida social

sentimentos proacuteprios a comunidade domeacutestica naturalmente particularista e antipoliacutetica uma invasatildeo do puacuteblico pelo

privado do Estado pela famiacutelia Ibidem p81-82 56 Segundo Viana os ―clatildes feudais e parentais que se formaram a partir de uma ―solidariedade levaram esta

―cooperaccedilatildeo aos movimentos poliacuteticos com ―fins exclusivamente eleitorais formando assim os ―clatildes eleitorais

Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 258 De acordo com

Faoro desde o Impeacuterio instituiacutedo o voto popular havia os coroneacuteis assim designados porque pagavam as despesas

Daiacute a nomenclatura coronelismolsquo passou a fazer parte da evoluccedilatildeo poliacutetico-social do Brasil ―A passagem do regime

imperial ao republicano iraacute acentuar e exacerbar a funccedilatildeo eleitoral do coronel Op cit p 622 Viana afirma que

nesta eacutepoca ―em mateacuteria de eleiccedilotildees tudo se passava normalmente sem violecircncias sem tumultos () O tumulto natildeo

existia porque o corpo eleitoral natildeo era ainda a congeacuterie democraacutetica da Regecircncia formava-o () um escol

seletiacutessimo Op cit p 272 Eacute o que se extrai dos ensinamentos de Victor Nunes Leal de que eacute ―fenocircmeno

caracteriacutestico do regime republicano embora tenha sido observado ―durante o Impeacuterio () no proacuteprio periacuteodo

colonial p 233-234 Diante disto eacute que o fenocircmeno coronelismo caracteriacutestico do sistema representativo seraacute

assim designado LEAL Victor Nunes Coronelismo Enxada e Voto O Municiacutepio e o Regime Representativo no

Brasil 7ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 prefaacutecio agrave 2ordf ediccedilatildeo p 37 57 FAORO Op cit p371 ―() o eleitor seria o instrumento do senhor territorial p 382 ―Os partidos amoldaram-se

aos tempos novos e na troca de favores prometiam arranjarlsquo empregos favores e benefiacutecios para os cabos

eleitorais as influecircncias locais Ibidem p 386-387 58LEAL Op cit p 226 Segundo Roberto Damatta daiacute se observa que na sociedade brasileira haacute a divisatildeo ―pelas

ordens tradicionais o nome de famiacutelia o tiacutetulo de doutor a cor da pele o bairro onde moramos o nome do padrinho

as relaccedilotildees pessoais o ser amigo do Rei Chefe Poliacutetico ou Presidente Tudo isso nos classifica socialmente de modo

irremediaacutevel O que faz o Brasil Brasil Rio de Janeiro Rocco 1984 p 48

23

raposa disfarccediladas sobre as garras de lobo59

a ―opiniatildeo puacuteblica permanecia ―sem

caraacuteter nacional os ―estadualismos continuavam exclusivistas e as ―ambiccedilotildees

pessoais prosseguiam ―arvoradas em lideranccedilas de partidos artificiais60

E embora tenham sido criados os departamentos de municipalidades no

governo provisoacuterio de 1930 oacutergatildeos estaduais com a dita finalidade de ―moralizar a

administraccedilatildeo municipal e dar-lhe maior eficiecircncia este natildeo era o fim real do governo e

sim o interesse partidaacuterio eleitoreiro61

Na Era de Vargas o que houve foi uma reorganizaccedilatildeo da estrutura

patrimonialista e um ―assalto a empregos e a vantagens materiais62

pois ―na chefia do

governo natildeo existia um presidente constitucional mas o mito popular63

que pelo

―esquema autoritaacuterio de 1937 realizou um ―regresso patrimonialista () com a

formaccedilatildeo de uma comunidade burocraacutetica () de caraacuteter estamental onde continuava

a predominar o ―jogo das competiccedilotildees individuais 64

A segunda consequecircncia costumeira que se pode observar trazida pelos

portugueses e enraizada no Brasil vinculada agrave primeira eacute o favorecimento do Estado agrave

classe dominante ou a utilizaccedilatildeo deste por ela65

O que se colhe eacute que o Estado sempre amparou os poderosos e natildeo agrave sociedade

e que da forma com que foi constituiacutedo jaacute no seu nascedouro provocou uma separaccedilatildeo

entre a classe dominante e o povo vez que desde o Brasil Impeacuterio a classe dominantelsquo

esteve completamente dissociada da sociedade brasileira66

e utilizava o Estado para seu

59 FAORO Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987

p 686 60 Ibidem p 695 Nas palavras de Seacutergio Buarque de Holanda ―()a verdadeira solidariedade soacute se pode sustentar

realmente nos ciacuterculos restritos e a nossa predileccedilatildeo confessada ou natildeo pelas pessoas e interesses concretos () natildeo

encontra alimento muito substancial nos ideais teoacutericos ou mesmo nos interesses econocircmicos em que se haacute de apoiar

um grande partido Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 182-183 61

LEAL Victor Nunes Coronelismo Enxada e Voto O Municiacutepio e o Regime Representativo no Brasil 7ordf ediccedilatildeo

Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 p 95 Para que aos governadores e natildeo aos coroneacuteislsquo tocasse a posiccedilatildeo

mais vantajosa nessa troca de serviccedilos o meio teacutecnico-juriacutedico mais adequado foram justamente as limitaccedilotildees agrave

autonomia das comunas Ibidem p 111 Carmem Luacutecia Antunes da Rocha cita na nota de rodapeacute 40 da p 219 de

sua obra o Decreto n 19 398 de 1930 que estabeleceu no artigo 1ordm que ―O Governo Provisoacuterio exerceraacute

discricionariamente em toda a sua plenitude as funccedilotildees e atribuiccedilotildees natildeo soacute do poder Executivo como tambeacutem do

Poder Legislativo () E ainda no paraacutegrafo primeiro estipulou ―Todas as nomeaccedilotildees e demissotildees de funcionaacuterios

ou de quaisquer cargos puacuteblicos quer sejam efetivos internos ou em comissatildeo competem exclusivamente ao Chefe

do Governo Provisoacuterio O que demonstra que realmente nada havia mudado 62FAORO Op cit p 692 63 Conforme Faoro o () o chefe do governo colocado no papel de protetor e pai sempre autoritariamente pai que

distribui favores simboacutelicos e castigos reais Ibidem p 707 64 Ibidem p 718 -722 65 Segundo Faoro ―A elite governamental dentro da rede social da aristocracia da qual o estamento tece sua

estrutura externa obedece ao cunho do estilo de vida das normas de conduta da nobreza burocraacutetica Ibidem p 89 66 Conforme Viana esta separaccedilatildeo eacute assentada no ―caraacuteter privado quase domeacutestico da nossa vida poliacutetica onde ―o

traccedilo privatista e personalista da nossa cultura ou civilizaccedilatildeo poliacutetica domina o espiacuterito natildeo havendo ―nenhum traccedilo

24

benefiacutecio em especial de sua famiacutelia e amigos o que consagrou por um lado o

domiacutenio dos clatildes familiares no poder e por outro o Estado como coisa familiar

abancando a confusatildeo entre o puacuteblico e o privado

Mas como nem sempre aquele que possuiacutea o poder econocircmico tambeacutem

detinha o puacuteblico pois os cargos ou funccedilotildees de governo reservados a premiar serviccedilos e

colocar a nobreza ociosa67

o Estado a partir do seacuteculo XVII passou a distribuir os

cargos como instrumento nobilitar que conferia status e prestiacutegio agravequele que jaacute tinha

renome social e econocircmico o que elevou ―aos cimos da nobreza a burguesia

enriquecida68

Contudo natildeo foi soacute isto a partir do seacuteculo XVIII os cargos puacuteblicos

passaram a ser vendidos 69

E na Repuacuteblica o auxiacutelio do Estado agrave classe dominante soacute se perpetuou jaacute que

ela reinou no ―absolutismo de uma oligarquia70

assentada na poliacutetica dos

governadores com base no coronelismo e no voto do cabresto71

O cargo puacuteblico na Repuacuteblica mais que um ―tiacutetulo nobiliaacuterquico era um

―poderoso agente de agregaccedilatildeo partidaacuteria utilizado largamente pelos

de motivaccedilatildeo coletiva Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999p

339 Segundo DaMatta o Brasil tem uma ―sociedade que tem horror agrave mobilidade sobretudo agrave mobilidade que

permite trocar efetivamente de posiccedilatildeo social Eacute exibiccedilatildeo numa ordem social marcada pelo falso recato de ―quem

conhece o seu lugar ndash algo sempre usado para o mais forte controlar o mais fraco em todas as situaccedilotildees O que faz o

Brasil Brasil Rio de Janeiro Rocco 1984 p 49 E continua ―Seu foco eacute nas autoridades () Nisso eles revelam

ampliando as diferenciaccedilotildees sociais jaacute existentes no mundo diaacuterio onde as pessoas eletivamente se distinguem por

meio de cadeias hieraacuterquicas que indicam e revelam sua importacircncia na reproduccedilatildeo da ordem social conhecida

Ibidem p53 ―Pela mesma loacutegica e seguindo o mesmo princiacutepio do reforccedilo e da ampliaccedilatildeo se a pessoa natildeo tem

qualquer autoridade ou posiccedilatildeo social e faz parte daquilo a que chamamos genericamente ―povo eacute deste lado que

deve ficar () Mas como o povo aprendeu que natildeo eacute bom ―ser ningueacutem que deve ser algueacutemlsquo e que para isto tem

que estar proacuteximo de pessoas que satildeo algueacutemlsquo daiacute o porquecirc dele forccedilar a cordalsquo para passar para o lado das

autoridades () significa nesse contexto simboacutelico uma mudanccedila significativa de posiccedilatildeo social Ibidem p54 67 Nas palavras de Faoro ―() o emprego puacuteblico era ainda no seacuteculo XVI atributo do nobre de sangue ou do

cortesatildeo criado nas dobras do manto real o exerciacutecio do cargo infunde o acatamento aristocraacutetico aos suacuteditos

FAORO Raymundo Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O

Globo 1987 p 175 68 Ibidem p 175 69 Segundo Faoro ―A riqueza exige maior participaccedilatildeo nos negoacutecios puacuteblicos e o afidalgamento () a tendecircncia se

reforccedila no seacuteculo XVIII com a venda de cargos puacuteblicos porta ampla que permite agrave burguesia acotovelar

familiarmente a aristocracia Ibidem p 208 De acordo com Victor Nunes Leal ―() pouco a pouco as patentes

passaram a ser avaliadas em dinheiro e concedidas a quem dispusesse a pagar o preccedilo exigido ou estipulado pelo

poder puacuteblico o que natildeo chegava a alterar coisa alguma quando essa faculdade de comprar a patente natildeo deixava de

corresponder a um poder econocircmico que estava na origem das investiduras anteriores Coronelismo Enxada e

Voto O Municiacutepio e o Regime Representativo no Brasil 7ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 p 38 70FAORO Op cit p 566 71―O coronelismo o compadrazzo latino-americano a clientelalsquo () participam da estrutura patrimonial Peccedilas de

uma ampla maacutequina a visatildeo do partido e do sistema estatal se perde no aproveitamento privado da coisa puacuteblica ()

de modo a converter o agente puacuteblico num cliente dentro de uma extensa rede clientelista O coronel utiliza seus

poderes puacuteblicos para fins particulares mistura natildeo raro a organizaccedilatildeo estatal e seu eraacuterio com os bens proacuteprios

Ibidem p 637 De acordo com Seacutergio Buarque de Holanda ―os candidatos agraves funccedilotildees novamente criadas recrutam-

se por forccedila entre indiviacuteduos da mesma massa dos antigos senhores rurais portadores de mentalidade e tendecircncia

caracteriacutesticas dessa classe Toda a ordem administrativa do paiacutes durante o Impeacuterio e mesmo depois jaacute no regime

republicano ha de comportar por isso elementos estreitamente vinculados ao velho sistema senhorial Raiacutezes do

Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 73

25

Governadoresque indicavam ―ao Centro os nomes dos grandes proprietaacuterios rurais que

lhe pareciam mais merecedores e ―pleiteavam a honraria para os da sua

parcialidade72

Desta forma a classe dominante republicana deu continuidade ao

sistema de privilegiamento estatal dos interesses privados dos poderosos73

Assim o Estado quis e permitiu que as ambiciosas matildeos da classe dominante

durante seacuteculos tratassem o Estado como algo de seu interesse como seu negoacutecio o

que resultou em um contiacutenuo conflito entre o espaccedilo puacuteblico e o espaccedilo privado74

A terceira consequecircncia da heranccedila portuguesa que se constata eacute quanto agrave

manipulaccedilatildeo do poder puacuteblico pelos interesses privados da classe dominante por meio

das normas juriacutedicas que legalizavam de maneira dissimulada os seus interesses sob a

simulaccedilatildeo do resguardo do interesse da sociedade Assim as normas juriacutedicas eram

feitas bem ao ditado ―para inglecircs ver porque natildeo eram elaboradas de acordo com os

anseios sociais mas de acordo com a vontade da classe dominante com o fito de

satisfazer os seus interesses75

Por meio da ―vontade normativa produto de uma agregaccedilatildeo artificiosa e ainda

mal segura76

os governantes implantaram a impessoalidade administrativa o que

resultou em um impasse entre a confecccedilatildeo de leis formalmente perfeitas - que

determinavam uma organizaccedilatildeo administrativa impessoal nos ditames da lei - e a

realidade costumeira governamental-administrativa do Brasil assente no extremo

personalismo

72 VIANA Oliveira Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 261 73 Por isto Raymundo Faoro conclui que ―o velho estamento imperial se dissolve desta sorte num elitismo de

cuacutepula regredindo a estrutura patrimonialista para o acircmbito local local no sentido de entrelaccedilamento de interesses

estaduais e municipais () A elite descomprometida de fidelidade e ideias e programas soacute viveraacute com o apoio das

bases estaduais enquanto favorecidas pela benevolecircncia presidencial Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato

Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p 562-563 ―O movimento ascendente se fazia por

cooptaccedilatildeo com o centro do tabuleiro apesar das limitaccedilotildees do alto e de baixo ocupado pelas situaccedilotildees estaduais

Esta era a alma das oligarquias ndash das chamadas oligarquias da Repuacuteblica Velha Ibidem p649 74 De acordo com Faoro ―Uma longa heranccedila ndash heranccedila social e poliacutetica ndash concentrou o poder minoritaacuterio em uma

camada institucionalizada Forma-se desta sorte uma aristocracia num estamento de caraacuteter aristocraacutetico do qual se

projeta sem autonomia uma elite um escol dirigente uma classelsquo poliacutetica Op cit p 92 Tanto que Seacutergio

Buarque de Holanda afirma que ―Natildeo era faacutecil aos detentores das posiccedilotildees puacuteblicas de responsabilidade formados

por tal ambiente compreenderem a distinccedilatildeo fundamental entre os domiacutenios do privado e do puacuteblico () a proacutepria

gestatildeo poliacutetica apresenta-se como assunto de seu interesse particular as funccedilotildees os empregos e os benefiacutecios que

deles aufere relacionam-se a direitos pessoais () e natildeo a interesses objetivos HOLANDA Seacutergio Buarque de

Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p145-146 75 Segundo VIANA isto eacute um problema porque ocorre ―() desconformidade ou desarmonia entre a realidade

subjetiva criada pela tradiccedilatildeo (elementos imanentes) e a realidade externa criada pelo novo sistema de normas

(elementos transcendentes) () Natildeo basta decretar consequentemente uma determinada norma de conduta para que

o complexo correspondente se forme e se resolva em atitudes ou comportamentos Op cit p96 76HOLANDA Op cit p 117

26

E na Repuacuteblica como natildeo podia deixar de ser diante das bases agraves avessas

instituiacutedas pelo imperialismo portuguecircs nada mudou O novo regime dito republicano

sem o ser pois de reslsquo puacuteblica nada havia prosseguiu na mesma praacutetica imperial de

fixar uma ―legitimidade artificialmente montada pelas normas juriacutedicas77

Destas trecircs consequecircncias decorreu a quarta o Estado natildeo protetor desde o

iniacutecio de seu estabelecimento78

embasado no estamento e no patrimonialismo separou

o poder poliacutetico da sociedade e esta em classes a dominante e o povo e assim ao natildeo

primar pelo ideal de nacionalidade que todo povo deveria ter exacerbou o sentimento

de pessoalidade e individualidade79

pois por meio de suas accedilotildees patrimonialistas

deixou o legado agrave sociedade de que o indiviacuteduo para ter direitos e voz ativa deveria ter

poder econocircmico ou poliacutetico qualidades estas que normalmente estavam atreladas80

por isto natildeo nasceu em ningueacutem salvo ―os buscadores de benefiacutecios escusos e de cargos

puacuteblicos81

o sentimento de colaboraccedilatildeo com o Estado

77 Na visatildeo de Victor Nunes Leal ―tiveacutessemos maior dose de espiacuterito puacuteblico e as coisas certamente se passariam de

outra forma Coronelismo Enxada e Voto O Municiacutepio e o Regime Representativo no Brasil 7ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo

Companhia das Letras 2012 p 239 Adaptando as elucidaccedilotildees de Viana pode-se dizer que ―natildeo havia nada de

republicano porque natildeo havia ―consciecircncia nacional que eacute o sentimento de res publica dos romanos Ela ―natildeo se

condensou nem se sedimentou nas tradiccedilotildees da vida puacuteblica Desta feita sua ―inexistecircncia orientaraacute a ―uma

direccedilatildeo personalista ndash de interesse privado ou de famiacutelia ou de indiviacuteduo ou de clatilde Eacute um complexo chave

()Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 199 176 78 Conforme Viana ―Os famosos senadoslsquo das cacircmaras do periacuteodo colonial () natildeo tinham nada destas

organizaccedilotildees de direito puacuteblico () Natildeo possuiacuteam o sentimento do interesse da comunidade nem o espiacuterito da

colaboraccedilatildeo administrativa colocados nas matildeos dos senhores rurais e postos a seu serviccedilo tornaram-se instrumentos

deles para fazerem a sua poliacutetica pessoal ndash a poliacutetica dos seus interesses de famiacutelia ou de clatilde Op cit p 307 Mesmo

porque segundo Viana os ―nossos homens puacuteblicos natildeo possuiacuteam a ideia de nacionalidade ―como um estado

afetivo como um sentimento vivo ndash desses que vecircm do berccedilo adquiridos na penetraccedilatildeo do homem pelo ambiente

social vinculados ao subconsciente pela educaccedilatildeo em suma -- como um complexo cultural e assim natildeo podiam

transmiti-lo ao povo ou governar por este Ibidem p 338 Para o autor o ―() sentimento do Estado Nacional ()

verdadeiro sentimento coletivo ndash forte cristalizado e de amplitude nacional () Os nossos estados de consciecircncia

coletiva mais altos mais intensos mais amplos tecircm sido efecircmeros frustros transitoacuterios Por isto mesmo pouco

fecundos na constituiccedilatildeo e estratificaccedilatildeo de uma consciecircncia nacional ndash robusta clara definida atuante Ibidem p

332 79 De acordo com Viana o povo quando agia ―em comum era para realizar exclusivamente fins pessoais do grande

proprietaacuterio ou para servirem aos membros da famiacutelia senhorial ndash e natildeo para fins de gestatildeo de nenhum interesse

coletivo Ibidem p 305 E que o que ―o nosso povo () pede aos governos () eacute que eles natildeo o inquietem no seu

viver particular Que ―nossa evoluccedilatildeo administrativa () tem sido nesse sentido Op cit p 492 Segundo o autor

para que o individualismo natildeo prospere o ―Estado-Naccedilatildeo haacute de ter o seu assento principal num complexo cultural

que deve ser anterior e preliminar agrave instituiccedilatildeo deste tipo de Estado () Sem esta base preliminar eacute certo que a

estrutura democraacutetica seja qual for o tamanho do grupo degenera e se corrompe Ibidem p 177 80 Roberto DaMatta explica que esta questatildeo se tornou cultural Desta forma o autor afirma que ―a palavra cultura

exprime precisamente um estilo um modo e um jeito () de fazer coisas E que a nossa cultura eacute esta ―todos estatildeo

acostumados a admitir um jeitinholsquo pela relaccedilatildeo pessoal e pela amizade O que faz o Brasil Brasil Rio de Janeiro

Rocco 1984 p 12 81 FAORO Raymundo Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O

Globo 1987 p 165

27

Diante de todo este enredo se constata a quinta consequecircncia da heranccedila

portuguesa desde que o Brasil eacute Brasil seja Colocircnia Impeacuterio ou Repuacuteblica o cargo

puacuteblico eacute um poderoso instrumento de poder82

O que interessava era a ―apropriaccedilatildeo do cargo ndash o cargo carregado de poder

proacuteprio articulado com o priacutencipe sem a anulaccedilatildeo da espera proacutepria de competecircncia

porque o Estado era visto como ―um feixe de cargos do qual ―hauria vida e calor83

agraves

―muitas matildeos erguidas e suplicantes dos fidalgos84

e era capaz de nobilitar ―o letrado e

o homem de armas85

sendo sua forccedila tamanha que ―() brancos e pardos

conquistavam patentes e honras insuflado com a farda86

e o ―mulato ganhava atestado

de brancura com o posto () jaacute natildeo era mulato87

Em tudo isto havia um fruto proibido o apreccedilo pelo oacutecio e o desprezo pelo

trabalho digno pois todos queriam ―se elevar verticalmente com o galatildeo

nobilitador88

o cargo puacuteblico ―uacutenico foco de poder poder que daacute prestigio enobrece

propicia e legitima a riqueza89

Nesse ensejo tanto para conservaacute-lo com para

82 Segundo Faoro no Estado Portuguecircs havia uma ―enxurrada de servidores e pretendentes a servidores de soldados

e dependentes de reivindicadores de pensotildees para a velhice () devoravam o Estado para o proveito ostentatoacuterio da

fidalguia () encasulada no cargo puacuteblico Assim os servidores ―ocupam o lugar da velha nobreza contraindo sua

eacutetica e seu estilo da vida e ainda ―o consumo improdutivo que ―lhes transmite prestiacutegio () como instrumento de

poder () sugerindo-lhes grandeza importacircncia forccedila FAORO Raymundo Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do

Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O Globo 1987 p83 83 FAORO Op cit p83 84 Ibidem p 229 85 Ibidem p 171 ―() inquieta ardente apaixonada cassa ao emprego puacuteblico Soacute ele nobilita soacute ele oferece o poder

e a gloacuteria soacute ele eleva branqueia e decora o nome () O letrado se torna letrado para conquistar o cargo para galgar

o parlamento ateacute que o assento no Senado lhe decirc o comando partidaacuterio e a farda ministerial () Com o poder e soacute

por meio dele vem por acrescentamento a nobilitaccedilatildeo No contexto o funcionalismo seraacute a profissatildeolsquo nobre e a

vocaccedilatildeo de todos Ibidem p 390 ―O corpo militar nos seus graus de oficial infundia nobreza equiparada agrave miliacutecia e

depois a guarda nacional agraves tropas de linha para os efeitos de honras aristocraacuteticas Os filhos dos oficiais podiam

ingressar na tropa de linha como cadetes privileacutegio reservado agrave nobreza Ibidem p 192 E esta nobilitaccedilatildeo pelo

cargo natildeo parou no Impeacuterio tambeacutem na Repuacuteblica as patentes da Guarda Nacional ―eram distribuiacutedas () a

correligionaacuterios e o ―prestiacutegio do seu tiacutetulo passou a constituir seduccedilatildeo muitas vezes infaliacutevel na teacutecnica de captaccedilatildeo

dos chefes locais Ibidemp 202-203 86 Ibidem p 192 87 Ibidem p194 O autor sintetiza ―a primeira consequecircncia a mais visiacutevel da ordem burocraacutetica aristocratizada no

aacutepice seraacute a inquieta ardente apaixonada cassa ao emprego puacuteblico Soacute ele nobilita soacute ele oferece o poder e a gloacuteria

soacute ele eleva branqueia e decora o nome () O letrado se torna letrado para conquistar o cargo para galgar o

parlamento ateacute que o assento no Senado lhe decirc o comando partidaacuterio e a farda ministerial pomposa na carruagem

solene () Seja que aspirem aos cargos de magistratura tatildeo somente ou aos poliacuteticos eletivos e administrativos seja

que aspirem a uns e a outros ao mesmo tempo agravequeles como meio seguro de existecircncia a estes como um meio de

passatempo e dissipaccedilatildeo nas capitais e na corte ou como satisfaccedilatildeo ao poder e ambiccedilatildeo poliacutetica() Com o poder e

soacute por meio dele vem por acrescentamento a nobilitaccedilatildeo No contexto o funcionalismo seraacute a profissatildeolsquo nobre e a

vocaccedilatildeo de todos Tomem-se ao acaso vinte ou trinta brasileiros em qualquer lugar onde se reuacutena a nossa sociedade

mais culta todos eles ou foram ou satildeo ou hatildeo de ser empregados puacuteblicos se natildeo eles seus filhoslsquo Ibidem p 390 88 Ibidem p 195 89 Ibidem p 310

28

conquista-lo ―desencadeiam-se as energias ferozes ou manhosas de acordo com as

circunstacircncias e com a oportunidade90

As classes sociais dotadas de poder econocircmico e social que ambicionavam

possuiacute-lo pois ele as asseguraria ―honras e prestiacutegio poliacutetico91

desde que puderam

concorrer a eles a partir do seacuteculo XII fizeram o que foi necessaacuterio a alcanccedila-lo

usaram desde a graduaccedilatildeo que denotava prestiacutegio social92

ateacute o poder econocircmico para

consegui-los quando no seacuteculo XVIII eram vendidos93

Era o binocircmio perfeito entre as ―atividades intelectuais que natildeo se vinculam ao

trabalho material e ―parecem brotar de uma qualidade inata a fidalguia e o

instrumento nobilitador daquele que eacute intelectualizado e fidalgolsquo94

o cargo puacuteblico A

gana pelo cargo puacuteblico era tamanha que era vaacutelido deixar o emprego privado o

negoacutecio proacuteprio ou o seu dom promissor para almejar o cargo puacuteblico ―que daacute a gloacuteria

e o poder95

Assim foi instituiacuteda na cultura brasileira que a ocupaccedilatildeo dos cargos

puacuteblicos era um privileacutegio que garantia o oacutecio96

Mas natildeo eacute soacute isto tambeacutem foi utilizado pelo proacuteprio monarca como ferramenta

de poder pois empregado como ―instrumento de amalgama e controle das suas

conquistas e pela classe dominante como ―meio de accedilatildeo e influecircncia pois o

90 FAORO Raymundo Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O

Globo 1987p 310 91 Ibidem p 287 92 Segundo Holanda ―O amor bizantino dos livros pareceu muitas vezes penhor de sabedoria e indicio de

superioridade mental assim como o anel de grau ou a carta de bacharel HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes do

Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 160 Segundo Faoro ―O caminho da nobilitaccedilatildeo passava

pela escola pelos casarotildees dos jesuiacutetas pela solene Coimbra ou pelos acanhados edifiacutecios de Olinda Satildeo Paulo e

Recife O alvo seria o emprego e por via dele a carruagem do estamento burocraacutetico num processo de valorizaccedilatildeo

social decorrente do prestiacutegio do mando poliacutetico FAORO Op cit p389 93 Eacute o que informa Seacutergio Buarque de Holanda ―as nossas academias diplomam todos os anos centenas de novos

bachareacuteis () praga do bacharelismolsquo () E aos que nos censuram por sermos uma terra de advogados onde apenas

os cidadatildeos formados em direito ascendem em regra as mais altas posiccedilotildees e cargos puacuteblicos () No seacuteculo XVII a

crer no que afianccedila a Arte de furtar mais de cem estudantes conseguiam colar grau na Universidade de Coimbra

todos os anos a fim de obterem empregos puacuteblicos sem nunca terem estado em Coimbra ―() ainda no vicio do

bacharelismo ostenta-se tambeacutem nossa tendecircncia para exaltar acima de tudo a personalidade individual como valor

proacuteprio superior as contingencias () o motivo da acircnsia pelos meios de vida definitivos que datildeo seguranccedila e

estabilidade exigindo ao mesmo tempo um miacutenimo de esforccedilo pessoal de aplicaccedilatildeo e sujeiccedilatildeo da personalidade

como sucede tatildeo frequentemente com certos empregos puacuteblicos Ibidem p 157 94 Aqui merece se fazer referecircncia ao aparte de Holanda ―() dedicamos de modo geral pouca estima as

especulaccedilotildees intelectuais mdash mas () os tiacutetulos honoriacuteficos e alguns dos seus distintivos materiais como o anel de

grau e a carta de bacharel podem equivaler a autecircnticos brasotildees de nobreza HOLANDA Seacutergio Buarque de Raiacutezes

do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 83 E continua ―() tatildeo admirada ―inteligecircncia eacute

simplesmente decorativa () numa sociedade de coloraccedilatildeo aristocraacutetica e personalista Op cit p 84 95 FAORO Op cit p 329 96 De acordo com Roberto DAMATTA o brasileiro aguenta o trabalho mas gosta mesmo eacute do oacutecio ―Para noacutes

brasileiros a festa eacute sinocircnimo de alegria o trabalho eacute eufemismo de castigo dureza suor O que faz o Brasil

Brasil Rio de Janeiro Rocco 1984 p 42

29

utilizavam ao bel prazer dos seus interesses particulares perseguindo seus inimigos e

protegendo seu grupo amigos e parentes97

Desta feita o cargo puacuteblico sagra-se nesse vislumbre como uma das mais ou

senatildeo a mais valiosa moeda de troca na poliacutetica que ―manipula lealdades98

e por meio

dele ―a burguesia se enobrece () o pardo se afidalga e o soberano ―domestica

turbulecircncias dispersas99

Na Repuacuteblica houve uma aparente democratizaccedilatildeo pontual quanto ao acesso ao

cargo de oficialato havendo a ―necessidade de concurso de capacidade para que o

cadete passasse a oficial entretanto esta democratizaccedilatildeo foi soacute aparente pois os

propoacutesitos eram poliacuteticos particulares ―acoimados pelos homens que ocupavam o

poder100

de forma que o cargo puacuteblico continuou a ser instrumento de poder pois a

Uniatildeo o concedia aos Estados a fim de cativar sua lealdade101

Todavia laacute pelos idos de 1919 o cargo puacuteblico perde sua gloacuteria natildeo sendo

mais ―o caminho nobilitador de outrora mas o precaacuterio e desprezado refuacutegio contra a

miseacuteria102

pois os funcionaacuterios puacuteblicos e os militares foram convertidos ―aos olhos

dos dirigentes e da burguesia em parasitas ociosos103

E tal ideia enraizou no

consciente social de certa forma que continua ateacute hoje seja na mentalidade dos

servidores concursados ou natildeo ou daqueles que laboram na iniciativa privada ou

opiniatildeo puacuteblica mas apesar disso natildeo determinou nem o retrocesso nem o fim do

vislumbre sobre o cargo puacuteblico

97 FAORO Raymundo Os Donos do Poder Formaccedilatildeo do Patronato Poliacutetico Brasileiro 7ordf ed Rio de Janeiro O

Globo 1987p176 Assim passavam ―das matildeos de um poder mais distante mais imparcial () para as influecircncias

que muitas vezes se serviam dessa arma poderosa para se reforccedilarem e esmagarem aquelas aos quais se antojava

disputar-lhes o governo da terra Ibidem p 309 ―Mandar e natildeo governar seraacute o alvo ndash mando do homem sobre o

homem do poderoso sobre o fraco e natildeo o institucionalizado comando que impotildee entre o suacutedito e a autoridade o

respeito a direitos superiores ao jogo do poder O emprego puacuteblico sagra-se na presa do vencedor Ibidem p 310 98 Ibidem p 389 99 Ibidem p 202 Por isto Faoro alega que ―Essa coluna parte do imperador e vai ateacute agraves eleiccedilotildees paroquiais articula-

se na vitaliciedade e se projeta nas autoridades policiais e judiciaacuterias donas dos votos no manejo caricato da soberania

nacional A opiniatildeo puacuteblica os interesses de classe natildeo tecircm autonomia eacute a sombra do governo do grupo encastelado

na vitaliciedade vitaliciedade aacutevida de buscar na hereditariedade o domiacutenio aleacutem das geraccedilotildees A influecircncia oficial

sedimentada de tradiccedilotildees e vinculada a uma ordem econocircmica patrimonial Ibidem p389-390 100 Ibidem p 470 101 Ibidem p569 Conforme elucida Carmem Luacutecia ―eacute que a Repuacuteblica proclamada natildeo se fez realizada em 1889 ()

Instaurou-se uma Repuacuteblica dos Senhoreslsquo () a dominarem o Poder e a exercecirc-lo segundo seus proacuteprios interesses

fizeram da Administraccedilatildeo apenas o meio burocraacutetico para obtecirc-los O coronelismo que se fez presente nas primeiras

fases da histoacuteria republicana enfatizou o nepotismo e fortaleceu o personalismo e o paternalismo do Poder Ao lado

do paternalismolsquo que encarece a figura do eventual detentor do Poder talvez fosse o caso de se cunhar a expressatildeo

que melhor caracterizou a Administraccedilatildeo vista em suas entranhas o parentelismolsquo() Repuacuteblica proclamada eacute um

tanto extensatildeo da casa e da famiacutelia do agente ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da

Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p 162 102 FAORO Raymundo Op cit p610 103 Ibidem p610

30

Neste esteio a sexta consequecircncia trazida pela heranccedila portuguesa e acolhida

na esfera administrativa governamental eacute o proacuteprio nepotismo que revela o

entendimento assentado de que o Estado eacute o prolongamento da famiacutelia primeiro

agrupamento social conhecido pelo homem onde os laccedilos satildeo de sangue e representa o

conhecido o confiaacutevel o leal104

E sendo a praacutetica do nepotismo dissonante da Moralidade Puacuteblica passa-se a

essa segunda consideraccedilatildeo

A ―inaceitaccedilatildeo da imoralidade na Administraccedilatildeo Puacuteblica eacute atemporal 105

e de

que se tem notiacutecia desde a Antiguidade pois os grandes pensadores filoacutesofos e

poliacuteticos firmavam ―a ideia de que as condiccedilotildees morais devem ser tidas como uma

exigecircncia impostergaacutevel para o exerciacutecio das atividades de governo 106

imprescindiacutevel

a todos aqueles que exercem a atividade puacuteblica e que a moralidade eacute ―princiacutepio

inexpurgaacutevel a res puacuteblica107

Contudo desde os tempos do absolutismo como a concepccedilatildeo poliacutetica passou a

ser formulada ―segundo a pessoa que encarnava o Poder do Estado sendo o

personalismo semente da proacutepria ordem implantada a verdadeira moralidade puacuteblica

foi sufocada e dessa forma o individualismo imperou e ―fomentou a distacircncia entre o

Direito e a Moral algo que nem no Estado Social ―em seus primeiros momentos foi

questionado108

104 Conforme afirma Joatildeo Gaspar Rodrigues ―Os fenocircmenos sociais tecircm dentro de certos limites uma gecircnese

psicoloacutegica () O nepotismo como fator antissocial de antagonismo e discoacuterdia guarda conexotildees psicoloacutegicas e

histoacutericas esclarecedoras de suas motivaccedilotildees inconscientes Eacute um dos fenocircmenos sociais mais primitivos O homem

existiu primeiro no seio de grupos isolados hordas ou clatildes a formaccedilatildeo original deve-se aos viacutenculos sanguiacuteneos O

grupo domeacutestico-familiar enquadrava os seus diferentes membros () O culto da famiacutelia (ou familismo) tende a

refluir para seus limites normais (dentro da funcionalidade da famiacutelia) quando a sociedade revela progressos

industriais e teacutecnicos com a criaccedilatildeo subsequente de muitos focos de interesses opostos que competem ou

transacionam entre si buscando vantagens () Em termos praacutetico-poliacuteticos a profunda importacircncia da famiacutelia

repousa sobre o fato de estar o mundo organizado de tal modo que natildeo haacute nele lugar para o indiviacuteduo ou seja para

quem quer que seja diferente () Os indiviacuteduos alcanccedilam posiccedilotildees de acordo com outros padrotildees que natildeo seus

meacuteritos o processo poliacutetico eacute contaminado pelas relaccedilotildees pessoais e familiares ―Portando qualquer anaacutelise de

caracteriacutesticas culturais (como o nepotismo) de determinado sistema poliacutetico deve levar em conta a permanente

importacircncia das relaccedilotildees informais e tradicionais que moldam as atitudes e accedilotildees dos indiviacuteduos Nepotismo no

serviccedilo puacuteblico brasileiro e a SV 13 Revista de Direito Administrativo- RDA Rio de Janeiro v 260 maiago 2012

p207 - 208 105ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey

1994 p183 106 CARDOZO Joseacute Eduardo Martins Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica (de acordo com a

Emenda Constitucional nordm 1998) in Os 10 anos da Constituiccedilatildeo Federal Alexandre Moraes (coordenador) Satildeo

Paulo Atlas 1999 p 156 107 ROCHA Op cit p184 108 Ibidem p 179 ―Do seacuteculo XVII ao iniacutecio do seacuteculo XIX ocorreram momentos ―em que as correntes filosoacuteficas

dominanteslsquo primaram pela separaccedilatildeo das noccedilotildees de moral e Direito conforme explica BASTOS Celso Ribeiro e

MARTINS Ives Gandra Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo do Brasil 3ordm volume - tomo III arts 37-43 Satildeo Paulo

Saraiva 1992 p 37 Destacando-se as teorias de Kant e Kelsen - principais pensadores de tal linha - respectivamente

da metafiacutesica dos costumeslsquo e da teoria pura do direitolsquo Por meio desta segundo Maria Sylvia de Pietro Kelsen

31

Entretanto como a ―influecircncia da Moral no Direito mostrou-se permanente na

sequecircncia histoacuterica da humanidade109

jaacute no comeccedilo do seacuteculo XX surgiram correntes

reacionaacuterias agrave separaccedilatildeo entre Direito e Moral em especial na Alemanha e na

Franccedila110

O pioneiro em desenvolver uma teoria quanto agrave moralidade administrativa

como um importante mecanismo de contenccedilatildeo da atividade estatal que natildeo se reduzisse

a um mero preceito normativo111

foi Maurice Hauriou que a partir das decisotildees do

Conselho de Estado constatou que ―o Estado natildeo eacute um fim em si mesmo mas sim um

instrumento utilizado em prol do interesse puacuteblico e que por isto era imprescindiacutevel

viabilizar instrumentos que ―o mantivessem adstrito a esse fim112

Desta feita ―em 1910 na primeira ediccedilatildeo dos seus Princiacutepios de Direito

Puacuteblico introduziu sua teoria asseverando que ―o poder puacuteblico constituiu a armadura

moral da administraccedilatildeo puacuteblica e que ―todo controle organizado em nome da

moralidade administrativa sobre os atos administrativos deve partir da noccedilatildeo de poder

concluindo que o controle dos atos deve ser ―exercido em nome da moral puacuteblica mais

do que em nome do direito 113

Mas o desvio de poder embora tenha nascido vinculado agrave moralidade ―passou

a ser visto como hipoacutetese de ilegalidade114

pois inserido no conceito de legalidade

administrativa e portanto submetido ao controle judicial passando assim ―de regra de

conteuacutedo moral a ―uma regra juriacutedica115

Weber tambeacutem contribuiu de forma consideraacutevel quanto ao assunto uma vez

que vinculou a moralidade administrativa agrave ―moral dos resultados pois segundo ele

―pretendeu desligar por completolsquo o conceito de norma juriacutedica do de norma moral de que proveio

Discricionariedade Administrativa na Constituiccedilatildeo de 1988 3ordf ed Satildeo Paulo Editora Altas 2012 p 163 109 ROCHA Op cit p 176 110 DI PIETRO Op cit 165 111 GARCIA Emerson e ALVES Rogeacuterio Pacheco Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem Rio de Janeiro

Ed Lumen Juris 2002 p 41 112 Assim elaborou uma teoria que estabelecesse ―paracircmetros adequados para a individualizaccedilatildeo do desvio de poder

e conclui que ele natildeo se reduzia agrave legalidade mas estava intimamente vinculado agrave imoralidade ou agrave inobservacircncia da

moralidade no desenvolvimento funccedilatildeo administrativa HAURIOU Maurice Precis de Droit Administratif et de

Droit Public p 439 apud GARCIA Emerson e ALVES Rogeacuterio Pacheco op cit p 41 113 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Mutaccedilotildees do Direito Administrativo 2ordf ed Satildeo Paulo Renovar 2001

p57 Segundo Carmem Luacutecia o autor na 11ordf ediccedilatildeo de sua obra em 1927 ―apresentou a noccedilatildeo de moralidade

administrativa mais acabada como ―o princiacutepio segundo o qual o Estado define o desempenho da funccedilatildeo

administrativa segundo uma ordem eacutetica acordada com os valores sociais prevalentes e voltada agrave realizaccedilatildeo de seus

fins ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p189 114 Ibidem 169 115 Ibidem p176

32

por ela eacute que se ―contrasta o resultado objetivamente considerado com o resultado que

seria exigido para atender agrave finalidade legal da administraccedilatildeo 116

De forma que o agente puacuteblico deve realizar o bem comum sendo esta a

finalidade do seu agir um agir institucional sendo censuraacuteveis ―poliacuteticos e servidores

ao empregarem ―o poder estatal de que foram investidos para fins estranhos aos

interesses puacuteblicos que a lei lhes cometeu 117

Mas a evoluccedilatildeo quanto agrave relaccedilatildeo entre direito e moral e quanto ao princiacutepio da

moralidade puacuteblica natildeo parou por aiacute vez que a noccedilatildeo do princiacutepio da moralidade

tambeacutem ―se ampliou natildeo sendo mais aquele da eacutepoca de Hauriou118

Nesse esteio antes da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 os administradores

brasileiros jaacute refletiam sobre a moralidade administrativa de forma que uns a aceitavam

como princiacutepio juriacutedico outros a acolhiam como requisito de validade dos atos da

Administraccedilatildeo Puacuteblica e outros ainda recusavam a ela a iacutendole juriacutedica119

Todavia esse contexto foi alterado apoacutes a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 que a reconheceu explicitamente como um dos princiacutepios basilares da

Administraccedilatildeo Puacuteblica120

Deste modo no atual Estado Democraacutetico ―eacute a autoridade moral que legitima o

comportamento da pessoa puacuteblica121

pois ―o sistema juriacutedico democraacutetico

fundamenta-se na legitimidade a qual se compotildee com o elemento da moralidade

puacuteblica socialmente afirmada122

Nesse esteio eacute que se apresenta a uacuteltima consideraccedilatildeo sobre as algumas das

normativas editadas quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo a partir da Constituiccedilatildeo Federal de

116 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Mutaccedilotildees do Direito Administrativo 2ordf ed Satildeo Paulo Renovar

2001p59 ―O bom resultado objetivamente considerado ao que a Administraccedilatildeo Puacuteblica moralmente deve tender soacute

pode ser o que concorre para a realizaccedilatildeo da boa administraccedilatildeo inegavelmente o que satisfaz o direcionamento aos

interesses puacuteblicos o que vem a ser seu fim institucional Idem p 59 117 Idem p 60 118 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994p189 119 Afirma Marcio Cammarosano que Hely Lopes Meirelles e Cretella Junior jaacute a entendiam princiacutepio juriacutedico que

Manoel de Oliveira Franco Sobrinho a acolhia como requisito de validade do ato e que Moreira Neto negava sua

juridicidade O Princiacutepio Constitucional da Moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa Belo Horizonte

Foacuterum 2006 p 68-69 120 Segundo Carmem Luacutecia na deacutecada de 90 se projetou uma ―preocupaccedilatildeo com a moralidade puacuteblica a niacuteveis antes

natildeo vistos neste seacuteculo ou mesmo em qualquer outro () pocircs-se entatildeo a imperiosidade do questionamento da eacutetica e

da moral puacuteblica () A eacutetica passou () a ser um dos polos fundamentais do discurso e da praacutetica poliacutetica e

econocircmica deste final de seacuteculo () A moralidade puacuteblica e basicamente a moralidade administrativa refletem o

momento e fazem crescer em importacircncia e domiacutenio este princiacutepio que passa () a pairar sobre todos os processos

de juridicizaccedilatildeo Op cit p 176 121 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Op cit p180 122 Ibidem p182

33

1988 visto que se por um lado os Estados-membros e os Municiacutepios cada qual em seu

acircmbito elaboraram vaacuterias normas ―de repressatildeo ao nepotismo 123

(algumas ―elevadas

ao primeiro plano do ordenamento estadual124

construindo uma legislaccedilatildeo nacional

esparsa)125

que dispunham de forma diversa sobre a noccedilatildeo e a coibiccedilatildeo do nepotismo

por outro os poderes da Uniatildeo126

editaram nos seus respectivos domiacutenios normas

disciplinares aos seus respectivos destinataacuterios127

sendo estas ora enfocadas quais

sejam o Estatuto de Servidores Puacuteblicos Civis Federais do Poder Executivo a Lei

Complementar do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo o Coacutedigo de Eacutetica dos Servidores

Puacuteblicos Civis Federais do Poder Executivo a lei que disciplina os servidores no acircmbito

do Tribunal de Contas da Uniatildeo a lei federal que regulamenta as carreiras do Poder

Judiciaacuterio da Uniatildeo e ainda a Resoluccedilatildeo n 072005 editada pelo Conselho Nacional

de Justiccedila que embora tenham visado extirpar o nepotismo da Administraccedilatildeo Puacuteblica

nos mais diversos oacutergatildeos da Uniatildeo natildeo o obstaram totalmente

A primeira lei federal que apoacutes a Constituiccedilatildeo Federal de 1988 previu

expressamente a vedaccedilatildeo do nepotismo foi a de n 8112 de 11 de dezembro de 1990

que ao tratar do regime disciplinar estatutaacuterio dispocircs no artigo 117 sobre as condutas

proibidas ao servidor e dentre elas pelo seu inciso VIII vedou ao servidor do Poder

Executivo das autarquias e das fundaccedilotildees puacuteblicas que mantivesse ―sob sua chefia

imediata em cargo ou funccedilatildeo de confianccedila cocircnjuge companheiro ou parente ateacute o

segundo grau civil definindo entatildeo os limites da noccedilatildeo de nepotismo pela

123 ―Existem leis estaduais e leis municipais dentre as quais diversas leis orgacircnicas municipais que aqui natildeo se citam

por desnecessaacuterio (e de resto interminaacutevel) que consignam similarmente agraves leis federais referidas disposiccedilotildees

restritivas ao nepotismo em termos sempre inspirados na legislaccedilatildeo federal Quanto agraves LOMs observa se ateacute mesmo

a introduccedilatildeo da regra antinepotismo por forccedila de emendas parlamentares e natildeo oriundas do Executivo como pela

abrangecircncia da finalidade ante a dimensatildeo dos quadros das Prefeituras ante a das Cacircmaras Municipais seria de

esperar as quais iniciativas jaacute mereceram acolhida judicial como pelo e Tribunal de Justiccedila do Estado de Satildeo Paulo

na ADI n 963340100 originaacuteria do Municiacutepio de Biritiba Mirim ARAKAKI Allan Thiago Barbosa ORTIZ

Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash

RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 p 101-121 abrjun 2011 p106 124 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP

Belo Horizonte Ed Forum ano 11 n 41 abrjun 2013 p 25 ―Assim algumas constituiccedilotildees estaduais impediam

que determinados parentes ocupassem cargos em comissatildeo o que eacute o caso da Constituiccedilatildeo do Rio Grande do Sul que

em seu art 20 sect 5ordm buscou conferir um tratamento uniforme nos trecircs Poderes naquele Estado ao proibir o exerciacutecio

do cargo comissionado pelos cocircnjuges ou companheiros e parentes consanguiacuteneos afins ou por adoccedilatildeo ateacute o

segundo grau ARAKAKI Allan Thiago Barbosa E ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o Combate ao

Nepotismo Revista de direito Constitucional e Internacional ndash RDCI v 211 ano 75 p 105-106 A Emenda que

propocircs a modificaccedilatildeo foi a n12 agrave Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Sul elaborada pela Assembleia

Legislativa daquele Estado que vedava o nepotismo em todos os Poderes desse ente federativo e foi objeto da ADI n

1521-4RS um dos precedentes da suacutemula 125 E era ―objeto de resistecircncia e descumprimento MODESTO Paulo Opcit p25 126Dos ―cinco Poderes da Uniatildeo pois que ningueacutem duvide de que o Ministeacuterio Puacuteblico e o Tribunal de Contas satildeo o

quarto e o quinto ao lado dos tradicionais trecircs ARAKAKI Op cit p105 127 ANTONIO Alice Barroso O Nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF Criacuteticas e Proposiccedilotildees

Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM janmar 2009 Belo Horizonte ano 10 n 31 p 61

34

subordinaccedilatildeo do parente nomeado agrave chefia imediata do nomeante e restrita ao cocircnjuge

companheiro128

e parentes consanguiacuteneos ateacute o segundo grau

Em 20 de maio de 1993 foi editada a Lei Complementar federal n 75 que

dispotildee sobre a organizaccedilatildeo as atribuiccedilotildees e o estatuto do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo e

que por meio do seu artigo 293 vedou o nepotismo no acircmbito do referido oacutergatildeo nos

mesmos termos da Lei 811290129

Posteriormente em 22 de junho de 1994 foi publicado o Coacutedigo de Eacutetica do

servidor puacuteblico civil do Poder Executivo federal aprovado pelo Decreto Presidencial n

1171 que enfatizou as regras deontoloacutegicas130

ressaltando que o servidor puacuteblico natildeo

poderaacute jamais desprezar o elemento eacutetico de sua condutalsquo131

estabelecendo que seja

dever do servidor resistir a todas as pressotildees de superiores hieraacuterquicos de

interessados de familiares que viessem obter quaisquer favores benesses ou vantagens

indevidas em decorrecircncia de accedilotildees imorais ilegais ou aeacuteticaslsquo132

e vedando o uso do

cargo ou funccedilatildeo facilidades amizades tempo posiccedilatildeo e influecircncias para obter

qualquer favorecimento para si ou para outremlsquo 133

Dessa forma o titular do Poder Executivo Federal natildeo satisfeito com o jaacute

disposto na Lei n 811290 assentou por meio do Coacutedigo de Eacutetica134

que a proibiccedilatildeo

de se utilizar o puacuteblico em prol do privado sob a oacutetica da moralidade puacuteblica tambeacutem eacute

aeacutetico

O Tribunal de Contas da Uniatildeo por meio da Lei n 9165 de 19 de dezembro

de 1995 alterou o art 110 da Lei Orgacircnica do Tribunal de Contas da Uniatildeo - Lei nordm

8443 de 16 de julho de 1992 - dando nova redaccedilatildeo ao seu inciso IV e acrescentando

paraacutegrafo uacutenico ao mesmo artigo que veda o nepotismo135

sendo a primeira normativa

128 Companheiro eacute a pessoa com quem se vive em uniatildeo estaacutevel como se casado fosse nos termos do caput do art

1723 do CC de 2002 129 Art 293 Ao membro ou servidor do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo eacute vedado manter sob sua chefia imediata em

cargo ou funccedilatildeo de confianccedila cocircnjuge companheiro ou parente ateacute o segundo grau civil 130 E determinou a criaccedilatildeo de Comissotildees de Eacutetica no acircmbito dos oacutergatildeos e entidades do Poder Executivo 131 Anexo do Decreto Seccedilatildeo I inciso II 132 Anexo do Decreto Seccedilatildeo II inciso XIV aliacutenea i 133 Anexo do Decreto Seccedilatildeo III inciso XV aliacutenea a 134 Carmem Luacutecia Antunes Rocha em sua obra de 1994 jaacute asseverava que era necessaacuteria a criaccedilatildeo de um ―Coacutedigo

Deontoloacutegico da Administraccedilatildeo Puacuteblica e de ―Comissotildees de Eacutetica do Serviccedilo Puacuteblico em todos os poderes e

entidades da Federaccedilatildeo Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p

232-233 135 ―Art 1ordm - O art 110 da Lei nordm 8443 de 16 de julho de 1992 - Lei Orgacircnica do Tribunal de Contas da Uniatildeo

alterado o inciso IV e acrescido de paraacutegrafo uacutenico passa a vigorar com a seguinte redaccedilatildeo ―Art 110() IV -

provimento dos cargos em comissatildeo e funccedilotildees de confianccedila por servidores do quadro de pessoal exceto quanto aos

Gabinetes de Ministro do Procurador-Geral e de Auditor em relaccedilatildeo a um Oficial de Gabinete e a um Assistente que

seratildeo de livre escolha da autoridade obedecidos os requisitos legais e regimentais Paraacutegrafo uacutenico Eacute vedada a

nomeaccedilatildeo para cargos em comissatildeo e a designaccedilatildeo para funccedilotildees de confianccedila de cocircnjuge companheiro ou

35

a elastecer os limites do nepotismo aos parentes consanguiacuteneos ateacute o terceiro grau e aos

afins

A Lei 9421 de 24 de dezembro de 1996136

que criou as carreiras dos

servidores do Poder Judiciaacuterio vedou o nepotismo conforme disposto no seu artigo 10

nos mesmos limites da lei do Tribunal de Contas contudo inovou ao excepcionar a

vedaccedilatildeo do nepotismo aos servidores efetivos da carreira judiciaacuteria nomeados para

ocupar cargo em comissatildeo salvo se fossem diretamente subordinados ao magistrado

parente137

E entatildeo apoacutes quase uma deacutecada da ediccedilatildeo da uacuteltima legislaccedilatildeo federal sobre o

tema e jaacute no seacuteculo XXI o Conselho Nacional de Justiccedila138

―em meio a declaraccedilotildees de

autoridades da Repuacuteblica favoraacuteveis agrave contrataccedilatildeo de familiares para o serviccedilo puacuteblico

que provocou repulsa na populaccedilatildeo brasileira139

no uso de sua competecircncia140

aprovou

a Resoluccedilatildeo n 7 de 18 de outubro de 2005 que ―disciplina o exerciacutecio de cargos

empregos e funccedilotildees por parentes cocircnjuges e companheiros de magistrados e de

servidores investidos em cargos de direccedilatildeo e assessoramento no acircmbito dos oacutergatildeos do

Poder Judiciaacuterio e daacute outras providecircncias141

e que assim estabeleceu marco na

parentes consanguiacuteneos ou afins em linha reta ou colateral ateacute o terceiro grau de ministro auditor ou membro do

Ministeacuterio Puacuteblico junto ao Tribunal em atividade ou aposentados haacute menos de cinco anos exceto se admitidos no

quadro proacuteprio de pessoal mediante concurso puacuteblico 136 Revogada pela Lei n 11416 de 15 de dezembro de 2006 que dispotildee sobre as Carreiras dos Servidores do Poder

Judiciaacuterio da Uniatildeo 137 Artigo 10 ―No acircmbito da jurisdiccedilatildeo de cada Tribunal ou Juiacutezo eacute vedada a nomeaccedilatildeo ou designaccedilatildeo para cargos e

Comissatildeo e para as Funccedilotildees Comissionadas de que trata o art 9 de cocircnjuge companheiro ou parente ateacute o terceiro

grau inclusive dos respectivos membros ou juiacutezes vinculados salvo a de servidor ocupante de cargo de provimento

efetivo das Carreiras Judiciaacuterias caso em que a vedaccedilatildeo eacute restrita agrave nomeaccedilatildeo ou designaccedilatildeo para servir junto ao

Magistrado determinante da incompatibilidade 138 Criado pela Emenda agrave Constituiccedilatildeo n 4504 que promoveu vaacuterias mudanccedilas no Judiciaacuterio eacute oacutergatildeo responsaacutevel

pelo controle administrativo e financeiro do Judiciaacuterio e pelo cumprimento dos deveres funcionais dos magistrados 139GARCIA Emerson Nepotismo origens e paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano IX n 200 15 de maio de

2005 p 24 Nesta eacutepoca ―a pressatildeo da opiniatildeo popular contribuiu para que projetos contraacuterios ao nepotismo que

estavam engavetados na CCL voltassem a tramitar no Congresso Nacional O clamor popular estaacute levando

prefeituras e cacircmaras de vereadores a abdicarem da antiga praacutetica poliacutetica de dividir as benesses do poder com os

parentes agrave custa do eraacuterio Em vaacuterias cidades organizaccedilotildees natildeo governamentais e grupos de cidadatildeos mobilizam-se

contra o nepotismo 140 ―Art 103-b () sect4ordm () II - zelar pela observacircncia do art 37 e apreciar de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo a

legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio podendo desconstituiacute-los

revecirc-los ou fixar prazo para que se adotem as providecircncias necessaacuterias ao exato cumprimento da lei sem prejuiacutezo da

competecircncia do Tribunal de Contas da Uniatildeo 141 Posteriormente alterada pelas Resoluccedilotildees n 9 de 06 de dezembro de 2005 e n 21 de 29 de agosto de 2006 A

Resoluccedilatildeo n 9 deu nova redaccedilatildeo ao art 3ordm da Resoluccedilatildeo n7 Eacute vedada a manutenccedilatildeo aditamento ou prorrogaccedilatildeo de

contrato de prestaccedilatildeo de serviccedilos com empresa que venha a contratar empregados que sejam cocircnjuges companheiros

ou parentes em linha reta colaterais ou por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive de ocupantes de cargo de direccedilatildeo

e de assessoramento de membros de juiacutezes vinculados ao respectivo tribunal contratante devendo tal condiccedilatildeo

constar expressamente dos editais de licitaccedilatildeolsquo e a Resoluccedilatildeo n 21 deu nova redaccedilatildeo ao sect1ordm do art 2ordm da Resoluccedilatildeo

n7 ―Ficam excepcionadas nas hipoacuteteses dos incisos I II e III deste artigo as nomeaccedilotildees ou designaccedilotildees de

servidores ocupantes de cargo de provimento efetivo das carreiras judiciaacuterias admitidos por concurso puacuteblico

observada a compatibilidade do grau de escolaridade do cargo de origem ou a compatibilidade de atividade que lhe

seja afeta e a complexidade inerente ao cargo em comissatildeo a ser exercido aleacutem da qualificaccedilatildeo profissional do

36

poliacutetica de combate ao nepotismo no acircmbito do Judiciaacuterio pois mesmo que tenha

determinado a proibiccedilatildeo do nepotismo nos mesmos limites de parentesco dispostos nas

leis anteriores bem como excepcionado o nepotismo em situaccedilatildeo jaacute disposta na Lei n

94211996 ela inovou em diversos outros pontos e ainda esmiuccedilou as espeacutecies de

nepotismo de acordo com suas respectivas caracteriacutesticas sendo a principal precedente

normativa da SV n13

No seu artigo 1ordm vedou a praacutetica do nepotismo no acircmbito de todo o poder

judiciaacuterio dispocircs sobre a nulidade dos atos caracterizados como de nepotismo142

e na

sequecircncia elencou no seu artigo 2ordm as situaccedilotildees e ateacute espeacutecies de nepotismo143

Assim no inciso I previu a espeacutecie de nepotismo denominada ―direto e

imediato caracterizado quando cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta

colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau dos membros ou juiacutezes eacute nomeado ou

designado para exercer cargo em comissatildeo ou de funccedilatildeo gratificada no juiacutezo ou tribunal

em que aqueles satildeo vinculados sendo a forma mais natural de nepotismo e de faacutecil

constataccedilatildeo

No inciso II explicou sobre a espeacutecie de nepotismo indireto ou cruzado que eacute

caracterizado quando haacute reciprocidade nas nomeaccedilotildees ou designaccedilotildees ajustadas por

meio de trocas de favores reciacuteprocos e conhecidas como ―barrigas de aluguel 144

Ocorre de fato quando parente de uma autoridade eacute nomeada por meio de

outra autoridade e o parente da segunda autoridade eacute nomeado reciprocamente por

servidor vedada em qualquer caso a nomeaccedilatildeo ou designaccedilatildeo para servir subordinado ao magistrado ou servidor

determinante da incompatibilidade Disponiacuteveis em wwwcnjjusbr Acesso em 10022013 142 ―Art 1deg Eacute vedada a praacutetica de nepotismo no acircmbito de todos os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio sendo nulos os atos

assim caracterizados 143 ―Art 2deg Constituem praacuteticas de nepotismo dentre outras

1 - o exerciacutecio de cargo de provimento em comissatildeo ou de funccedilatildeo gratificada no acircmbito da jurisdiccedilatildeo de cada

Tribunal ou Juiacutezo por cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau

inclusive dos respectivos membros ou juiacutezes vinculados

II - o exerciacutecio em Tribunais ou Juiacutezos diversos de cargos de provimento em comissatildeo ou de funccedilotildees gratificadas

por cocircnjuges companheiros ou parentes em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive de

dois ou mais magistrados ou de servidores investidos em cargos de direccedilatildeo ou de assessoramento em circunstacircncias

que caracterizem ajuste para burlar a regra do inciso anterior mediante reciprocidade nas nomeaccedilotildees ou designaccedilotildees

III - o exerciacutecio de cargo de provimento em comissatildeo ou de funccedilatildeo gratificada no acircmbito da jurisdiccedilatildeo de cada

Tribunal ou Juiacutezo por cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau

inclusive de qualquer servidor investido em cargo de direccedilatildeo ou de assessoramento

IV - a contrataccedilatildeo por tempo determinado para atender a necessidade temporaacuteria de excepcional interesse puacuteblico de

cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive dos

respectivos membros ou juiacutezes vinculados bem como de qualquer servidor investido em cargo de direccedilatildeo ou de

assessoramento

V - a contrataccedilatildeo em casos excepcionais de dispensa ou inexigibilidade de licitaccedilatildeo de pessoa juriacutedica da qual

sejam soacutecios cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta ou colateral ateacute o terceiro grau inclusive dos

respectivos membros ou juiacutezes vinculados ou servidor investido em cargo de direccedilatildeo e de assessoramento 144 RIBEIRO JUNIOR Joseacute Hortecircncio A ilegalidade do nepotismo no poder judiciaacuterio Revista Juriacutedica Consulex

ano IX nordm 200 p 30

37

meio da primeira autoridade sendo portanto uma espeacutecie de nepotismo de difiacutecil

comprovaccedilatildeo vez que para sua configuraccedilatildeo eacute imprescindiacutevel provar o ajuste realizado

entre as autoridades que detecircm o poder de nomear ou solicitar a nomeaccedilatildeo

Pelo inciso III determinou a coibiccedilatildeo de nepotismo aos parentes de qualquer

servidor investido em cargo de direccedilatildeo ou de assessoramento e pelo inciso IV inovou

vedando a contrataccedilatildeo temporaacuteria sem processo seletivo dos parentes de daqueles que

geram incompatibilidade para atender a necessidade temporaacuteria de excepcional

interesse puacuteblico

Ainda no inciso V proibiu a contrataccedilatildeo natildeo precedida de licitaccedilatildeo de pessoa

juriacutedica em que os parentes dos membros juiacutezes ou dos servidores investidos em cargo

de direccedilatildeo e assessoramento tribunal contratante sejam soacutecios

Igualmente nos paraacutegrafos primeiro e segundo excepcionou145

as nomeaccedilotildees

ou designaccedilotildees de servidores ocupantes de cargo de provimento efetivo das carreiras

judiciaacuterias

Por meio do artigo 3ordm vedou a contrataccedilatildeo dos parentes (daqueles que geram

incompatibilidade) por pessoa juriacutedica prestadora de serviccedilo ao juiacutezo ou tribunal aos

quais se vincula e pelo artigo 4ordm determinou que a pessoa nomeada ou designada deve

declarar formalmente antes da posse que natildeo possui parentesco com ningueacutem que gere

incompatibilidade e caracterize o nepotismo 146

No seu artigo 5ordm definiu que os Presidentes dos Tribunais exonerassem os

servidores em situaccedilatildeo de nepotismo147

Diante da severidade e coerccedilatildeo da Resoluccedilatildeo foram suscitadas inuacutemeras

discussotildees e polecircmicas quanto agrave sua aplicaccedilatildeo148

e devido agrave resistecircncia encontrada no

145 ―sect 1deg Ficam excepcionadas nas hipoacuteteses dos incisos I II e III deste artigo as nomeaccedilotildees ou designaccedilotildees de

servidores ocupantes de cargo de provimento efetivo das carreiras judiciaacuterias admitidos por concurso puacuteblico

observada a compatibilidade do grau de escolaridade do cargo de origem a qualificaccedilatildeo profissional do servidor e a

complexidade inerente ao cargo em comissatildeo a ser exercido vedada em qualquer caso a nomeaccedilatildeo ou designaccedilatildeo

para servir subordinado ao magistrado ou servidor determinante da incompatibilidade

―sect 2deg A vedaccedilatildeo constante do inciso IV deste artigo natildeo se aplica quando a contrataccedilatildeo por tempo determinado para

atender a necessidade temporaacuteria de excepcional interesse puacuteblico houver sido precedida de regular processo seletivo

em cumprimento de preceito legal 146 ―Art 4deg O nomeado ou designado antes da posse declararaacute por escrito natildeo ter relaccedilatildeo familiar ou de parentesco

que importe praacutetica vedada na forma do art 2ordm 147 ―Art 5deg Os Presidentes dos Tribunais dentro do prazo de noventa dias contado da publicaccedilatildeo deste ato

promoveratildeo a exoneraccedilatildeo dos atuais ocupantes de cargos de provimento em comissatildeo e de funccedilotildees gratificadas nas

situaccedilotildees previstas no art 2deg comunicando a este Conselho Paraacutegrafo uacutenico Os atos de exoneraccedilatildeo produziratildeo

efeitos a contar de suas respectivas publicaccedilotildees 148 Pois diversos magistrados e servidores do poder judiciaacuterio lotados nas inuacutemeras cortes e foacuteruns do paiacutes se

mostraram relutantes em cumpri-la ―Eacute comum a relutacircncia interna de alguns tribunais () haacute no comportamento de

38

acircmbito do proacuteprio Judiciaacuterio a dar cumprimento ao determinado pela Resoluccedilatildeo o CNJ

aleacutem de tecirc-la alterado por meio das outras duas Resoluccedilotildees ainda editou enunciados

administrativos149

dentre os quais cabe ressaltar o n1 por meio do qual o CNJ

excepcionou trecircs situaccedilotildees da praacutetica nepoacutetica a nomeaccedilatildeo do servidor-parente para

ocupar cargo comissionado que tenha ocorrido anteriormente ao ingresso daquele que

gera a incompatibilidade a nomeaccedilatildeo ocorrida anteriormente agrave uniatildeo estaacutevel ou do

casamento e a nomeaccedilatildeo de parentes de servidor ou o magistrado morto ou

aposentado150

E tambeacutem n7 por meio do qual o CNJ estabeleceu sobre a aplicaccedilatildeo da

referida resoluccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave contrataccedilatildeo de estagiaacuterios sem processo seletivo

ressaltando ainda que o estagiaacuterio natildeo poderia ser subordinado direto do servidor ou

magistrado parente seus 151

Na sua 16ordf sessatildeo esclareceu sobre alguns pontos quanto agrave Resoluccedilatildeo dentre

eles que a definiccedilatildeo de cargo de assessoramento ou de chefia deve embasada na

natureza e nas atribuiccedilotildees do cargo independentemente de sua nomenclatura152

Ainda vale frisar que a Resoluccedilatildeo n7 ao expurgar o nepotismo do Judiciaacuterio

―desencadeou um movimento similar em todo o serviccedilo puacuteblico153

antes mesmo da

ediccedilatildeo da SV n13 Tanto que inspirou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico a

parte do Poder Judiciaacuterio um fator cultural materializado na relaccedilatildeo de troca de influecircncias que estabelece com a

sociedade bem como um sentimento fortemente presente de natildeo se achar parte do Estado () a constataccedilatildeo de que a

forma como se deu a colonizaccedilatildeo brasileira e o exerciacutecio do poder local marcadamente familiar ainda influenciam o

modo de agir e pensar de grande parcela de seus membros() Na realidade o que se via na resistecircncia em aceitar a

determinaccedilatildeo do CNJ era um comportamento compatiacutevel com a relaccedilatildeo coronelista do iniacutecio do seacuteculo XX cuja

marca primeira era o clientelismo ou seja uma rede de relaccedilotildees pessoais e diretas baseadas na troca firmada em

termos poliacuteticos A impossibilidade de nomear os parentes teria podado em alguns membros da magistratura o

exerciacutecio do seu lado patrimonialista () fim da relaccedilatildeo em que o patrimocircnio puacuteblico () era utilizado para fins

pessoais () Eliminava-se () o requisito de um favor para conseguir-se () acesso a um cargo puacuteblico ()

dificuldade de alguns membros da magistratura de separarem os negoacutecios privados dos negoacutecios do estado seja por

empregar os parentes os amigos ()Tudo muito semelhante agrave relaccedilatildeo do senhor de engenho ou do coronel com seu

―povo tudo visto de forma muito ―cordial na acepccedilatildeo de Seacutergio Buarque de Holanda () Tais praacuteticas

decididamente patrimonialistas necessitavam ser combatidas() favoritismo ou perseguiccedilotildees os atos com ausecircncia

do criteacuterio impessoal RODRIGUES Francisco Luciano Lima Os efeitos da resistecircncia agrave implantaccedilatildeo das regras de

combate ao nepotismo sobre o papel do Judiciaacuterio na construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito

in Constituiccedilatildeo e Estado Social Os obstaacuteculos agrave concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Oliveira Neto Francisco Joseacute

Rodrigues de (Org) Satildeo Paulo Revista dos Tribunais 2008 p 151 a 153 149 N1 de 08 de setembro de 2008 que estende a aplicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo CNJ nordm 7 de 18 de outubro de 2005 agraves

nomeaccedilotildees natildeo concursadas para serventias extrajudiciais (redaccedilatildeo dada pela Divisatildeo Normatizaccedilatildeo e Organizaccedilatildeo)

n1 de 25 de abril de 2006 que aprova nova redaccedilatildeo agrave aliacutenea C do Enunciado Administrativo n 1 (redaccedilatildeo dada pela

Divisatildeo Normatizaccedilatildeo e Organizaccedilatildeo) n 1 de 11 de abril de 2006 que especifica fatores e situaccedilotildees geradoras de

incompatibilidade nos termos da Resoluccedilatildeo CNJ nordm 7 de 18 de outubro de 2005 (redaccedilatildeo dada pela Divisatildeo

Normatizaccedilatildeo e Organizaccedilatildeo) Disponiacutevel em wwwcnjjusbr 150 De 15 de dezembro de 2005 que dispotildee sobre as vedaccedilotildees constantes na Resoluccedilatildeo CNJ nordm 7 de 18 de outubro de

2005 151 De 19 de junho de 2008 que dispotildee sobre contrataccedilatildeo de estagiaacuterios no acircmbito dos Tribunais 152 Ata da sessatildeo disponiacutevel em wwwcnjjusbr Acesso em 10022013 Ainda ficou estabelecido que a exoneraccedilatildeo

dos servidores em situaccedilatildeo de nepotismo eacute escolha que compete ao Presidente do Tribunal e que a prescriccedilatildeo e a

decadecircncia natildeo satildeo aplicadas ao ato de exoneraccedilatildeo de tais servidores 153 CAVALCANTI Felipe Locke O Conselho Nacional de Justiccedila e a efetividade dos princiacutepios constitucionais

Revista do Advogado v 32 n 117 out2012 p 92

39

editar a Resoluccedilatildeo CONAMP n 1 de 7 de novembro de 2005154

diversa mas tatildeo

rigorosa como a do CNJ155

dirigida a todo o Ministeacuterio Puacuteblico como provocou a

ediccedilatildeo da Lei Federal n 11416 de 15 de dezembro de 2006 que dispotildee sobre as

carreiras do Poder Judiciaacuterio da Uniatildeo com vedaccedilatildeo expressa ao nepotismo no seu

artigo 6ordm156

e ainda foi aplicada pelo Tribunal de Contas da Uniatildeo ao ementar o

Acoacuterdatildeo n 382007 sobre o tema157

natildeo restando portanto ―qualquer duacutevida da

incontrastaacutevel proibiccedilatildeo ao nepotismo que desde entatildeo impera perante o Judiciaacuterio158

Diante de tudo isto resta a imprescindibilidade de se fazer expressa a vedaccedilatildeo

do nepotismo em todos os poderes de todos os entes federados Mas deve-se

questionar tendo em vista o assunto e a legislaccedilatildeo jaacute existente havia a necessidade de

ser editar uma Suacutemula Vinculante a regulamentar a mateacuteria Ela eacute o instrumento mais

adequado a fazecirc-lo O STF exorbitou sua competecircncia e extrapolou a proacutepria finalidade

da Suacutemula Vinculante Eacute essa a problemaacutetica a que se volta o trabalho

154 O seu uacuteltimo considerando dispotildee que o nepotismo vicia os princiacutepios da Administraccedilatildeo Puacuteblica e que por isto eacute

inconstitucional e ainda que natildeo eacute necessaacuterio vedaacute-lo expressamente por lei diante da autoaplicabilidade dos

princiacutepios que prescindem de previsatildeo legal para terem plena eficaacutecia 155 Segundo Antocircnio Arnaldo Dal Pozzo ―se compararmos o disposto no art 2ordm 1 da Resoluccedilatildeo nordm 0705 (CNJ) com

a norma do art 1ordm da Resoluccedilatildeo nordm 105 (CNMP) () notamos uma sensiacutevel diferenccedila entre os conceitos de

nepotismo O nepotismo no Poder Executivo In Boletim de Direito Municipal ndash BDMEditora NDJ v 24 n 8 ago

2008 p 598 156 Art 6ordm No acircmbito da jurisdiccedilatildeo de cada tribunal ou juiacutezo eacute vedada a nomeaccedilatildeo ou designaccedilatildeo para os cargos em

comissatildeo e funccedilotildees comissionadas de cocircnjuge companheiro parente ou afim em linha reta ou colateral ateacute o

terceiro grau inclusive dos respectivos membros e juiacutezes vinculados salvo a de ocupante de cargo de provimento

efetivo das Carreiras dos Quadros de Pessoal do Poder Judiciaacuterio caso em que a vedaccedilatildeo eacute restrita agrave nomeaccedilatildeo ou

designaccedilatildeo para servir perante o magistrado determinante da incompatibilidade 157 BRASIL Tribunal de Contas da Uniatildeo Processo 0049662003-4 ―Sumaacuterio Pedido de Reexame contra Acoacuterdatildeo

que determinou agrave Presidecircncia do TRT22ordf Regiatildeo que se abstivesse de nomear ou designar para o exerciacutecio de

funccedilatildeo que demande alguma atividade sob direccedilatildeo acompanhamento supervisatildeo aprovaccedilatildeo coordenaccedilatildeo controle

delegaccedilatildeo ou subdelegaccedilatildeo da pessoa que preside o oacutergatildeo servidor puacuteblico mesmo ocupante de cargo de provimento

efetivo que seja seu cocircnjuge companheiro ou parente ateacute o terceiro grau nos termos do art 10 da Lei nordm 942196 e

do art 2ordm da Resoluccedilatildeo CNJ 72005 Conhecimento Natildeo-provimento ldquoEmenta PEDIDO DE REEXAME

NEPOTISMO AUSEcircNCIA DE INTERESSE DE AGIR EM RELACcedilAtildeO A UM DOS ITENS DO ACOacuteRDAtildeO

ARGUMENTACcedilAtildeO INCAPAZ DE AFASTAR FALHAS DE GESTAtildeO NEGADO PROVIMENTO 1 A praacutetica

de nepotismo configura ofensa aos princiacutepios que regem a Administraccedilatildeo Puacuteblica sobretudo os da moralidade

igualdade impessoalidade e finalidade administrativa 2 Natildeo se conheceraacute de peccedila recursal que ataque atos de mero

expediente porquanto desprovidos de carga decisoacuteria ou que ataque deliberaccedilatildeo que natildeo alcance a parte em face de

evidente falta de interesse de agir 3 Nega-se provimento a pedido de reexame quando os argumentos apresentados

pelo recorrente natildeo forem haacutebeis a afastar ou mesmo justificar as falhas de gestatildeo identificadas ao tempo de

fiscalizaccedilatildeo promovida por este Tribunal Interessante frisar que o Ministro Relator citou no acircmbito do julgado o

parecer dado pelo Subprocurador-Geral junto ao TCU Jatyr Batista Cunha nos autos do TC nordm 00620072003-4

onde afirmou que por traacutes da coibiccedilatildeo do nepotismo ―natildeo estaacute apenas uma intenccedilatildeo de melhoria de qualidade e

produtividade do serviccedilo puacuteblico mas tambeacutem a vontade dos legisladores ordinaacuterios e constituintes de promover a

moralizaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica BRASIL Tribunal de Contas da Uniatildeo Relator Min Augusto Nardes

Acoacuterdatildeo n 382007 de 3112007 aprovado em 122007 e publicado no DOU de 222007 Processo

0049662003-4 Disponiacutevel em httpportal2tcugovbr Acesso em 25032013 158 PIRES Luis Manuel Fonseca Controle Judicial do Nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante do Supremo

Tribunal Federal In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p235

40

Para tanto se aplica metodologia ao estudo159

por meio de pesquisa

bibliograacutefica que revele ao longo do trabalho o objeto pesquisado as hipoacuteteses

pertinentes o problema decorrente e o argumento final

Assim a dissertaccedilatildeo eacute dividida em cinco partes A primeira se volta agrave anaacutelise

da anatomia da ediccedilatildeo da SV 13 a partir dos contornos das argumentaccedilotildees expostas

pelos Ministros do STF tanto nos seus quatro precedentes quanto nos dois debates que

a antecederam e que constituem as balizas de sua ediccedilatildeo com vistas a esclarecer o seu

sentido na forma que foi ementada

A partir da sistematizaccedilatildeo da descriccedilatildeo de tais informaccedilotildees - relevantes ao

estudo pois levaram agrave decisatildeo do STF de editar a SV n13 num determinado contexto -

se observa a retoacuterica argumentativa utilizada pelo Tribunal que construiu judicialmente

a noccedilatildeo da vedaccedilatildeo do nepotismo e que indicam as controveacutersias que circundam o

proacuteprio texto do ato normativo editado

Dessa forma na exposiccedilatildeo dos precedentes160

se pontua os assuntos

levantados as semelhanccedilas e diferenccedilas entre eles e ainda o reflexo de cada um deles

na redaccedilatildeo da Suacutemula

Jaacute o segundo capiacutetulo do trabalho exibe apertada siacutentese sobre o contexto

histoacuterico do nepotismo no Brasil a ligaccedilatildeo de sua noccedilatildeo poliacutetico-administrativa com a

noccedilatildeo juriacutedica e consideraccedilotildees sobre a moralidade no acircmbito constitucional seu sentido

e alcance tudo em conformidade com o magisteacuterio doutrinaacuterio paacutetrio

No terceiro capiacutetulo se enfoca a dinacircmica de decidir dos Ministros do STF

sob a oacutetica da hermenecircutica juriacutedica subdividido em trecircs toacutepicos um referente agrave

maneira como eles decidem de acordo com as elucidaccedilotildees de Hans Kelsen Alf Ross e

Eros Grau outro pertinente agrave forma como deveriam decidir segundo os meacutetodos e

criteacuterios hermenecircuticos de controlabilidade do processo decisoacuterio judicial propostos por

Friedrich Karl Von Savigny Chaiumlm Perelman Karl Larenz e Inocecircncio Maacutertires Coelho

e um terceiro atinente agrave interpretaccedilatildeo dos princiacutepios de acordo com a norma

constitucional de acordo com as liccedilotildees de Inocecircncio Maacutertires Coelho Ronald Dworkin

Robert Alexy Humberto Aacutevila e Marcelo Neves

159 Aqui no sentido de ―caminho a ser seguido para atingir uma finalidade FILHO Roberto Freitas e LIMA Thalita

Moraes Metodologia da Anaacutelise de Decisotildees ndash MAD Univ JUS Brasiacutelia n 21 p2 juldez 2010 160 Se ―passa por um inevitaacutevel processo de interpretaccedilatildeo dos dados ali constantes sem ―pretender-se a palavra final

() mas sempre um ponto inicial de debate sobre o proacuteprio precedente SILVA Christine Oliveira Peter da

Metodologia de Estudo de Precedentes Observatoacuterio da Jurisdiccedilatildeo Constitucional Brasiacutelia ano 1 out 2007 p6

Disponiacutevel emhttpwwwidporgbr Acesso em 020813

41

No quarto capiacutetulo se trata do procedimento de elaboraccedilatildeo da Suacutemula

Vinculante a partir dos ensinamentos de Roger Leal dentre outros a fim de se analisar

como deve ser construiacutedo o seu processo editorial seu sentido e efetivo alcance

Nesse enredo a criacutetica ao alcance da Suacutemula eacute feita com base em alternativas

argumentativas sistematizadas descritivamente e em suas consequecircncias na realidade

faacutetica que demonstram a complexidade do assunto e a necessidade de se refletir de

forma criacutetica sobre o assunto em tela com a finalidade de constatar se STF ao realizar

se construccedilatildeo judicial da vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da Suacutemula Vinculante n 13

exorbitou a normatividade do proacuteprio instituto o que concluiraacute o trabalho

42

1 A CONSTRUCcedilAtildeO JUDICIAL DA NOCcedilAtildeO DE NEPOTISMO E DE SUA

VEDACcedilAtildeO PELA SUacuteMULA VINCULANTE N 13

O capiacutetulo se volta a tratar da maneira pela qual o Supremo Tribunal Federal

(STF) realizou a construccedilatildeo judicial da noccedilatildeo e vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da

Suacutemula Vinculante n 13 com base nos julgados do proacuteprio STF considerados como

precedentes da referida Suacutemula e nos debates ocorridos161

1 1 Os precedentes da SV n13

111 A Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade n 1521-4RS

Pela ADI162

em questatildeo se objetivou arguir a inconstitucionalidade de alguns

artigos163

da Emenda n 12 agrave Constituiccedilatildeo do Rio Grande do Sul sob o argumento164

de

161 Que subsidiaram a ediccedilatildeo da mesma o que possibilitaraacute verificar as similaridades e desigualdades entre os

precedentes bem como entre eles e a proacutepria Suacutemula e responder entatildeo agraves seguintes questotildees a partir de quais

fundamentos o STF construiu a noccedilatildeo judicial sobre o nepotismo e sua vedaccedilatildeo Os elementos sobre os quais foi

construiacuteda tal noccedilatildeo satildeo os mesmos nos quatro precedentes A redaccedilatildeo sumular guarda correspondecircncia com os

mesmos Qual motivaccedilatildeo acarretou a elaboraccedilatildeo da SV n13 162 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade - ADI n 1521-4RS Ementaacuterio nordm

1983-1 ―CARGO DE CONFIANCcedilA ndash PARENTESCO ndash NOMEACcedilAtildeO E EXERCIacuteCIO - PROIBICcedilAtildeO ndash EMENDA

CONSTITUCINAL ndash ADI ndash LIMINAR A concessatildeo de liminar pressupotildee a relevacircncia do pedido formulado e o

risco de manter-se com plena eficaacutecia o preceito Isso natildeo ocorre quando o dispositivo atacado de iacutendole

constitucional confere ao tema chamado ―nepotismo tratamento uniforme nos Poderes Legislativo Executivo e

Judiciaacuterio proibindo o exerciacutecio do cargo pelos parentes consanguiacuteneos e afins ateacute o segundo grau no acircmbito de

cada Poder dispondo sobre os procedimentos a serem adotados para cessaccedilatildeo das situaccedilotildees existentes CARGOS ndash

EXTINCcedilAtildeO ndash INICIATIVA ndash ADI - LIMINAR Ao primeiro exame exsurge conflitante com a Carta Poliacutetica da

Repuacuteblica preceito que embora de iacutendole constitucional implique extinccedilatildeo de cargos de confianccedila ocupados agrave

margem das peculiaridades que lhes satildeo proacuteprias Relator Min Marco Aureacutelio julgada em 12397 e publicada no

DJ de 1732000 f105 Disponiacutevel em wwwstfgovbr 163 Art 1ordm - O artigo 20 da Constituiccedilatildeo do Estado fica acrescido dos seguintes paraacutegrafos ldquo4ordm - Os cargos em

comissatildeo destinam-se agrave transmissatildeo das diretrizes poliacuteticas para a execuccedilatildeo administrativa e ao assessoramento 5ordm -

Os cargos em comissatildeo natildeo podem ser ocupados por cocircnjuges ou companheiros e parentes consanguiacuteneos afins ou

por adoccedilatildeo ateacute o segundo grau I - do Governador do Vice-Governador do Procurador-Geral do Estado e dos

Secretaacuterios de Estado ou titulares de cargos que lhe sejam equiparados no acircmbito da administraccedilatildeo direta do Poder

Executivo II - dos Desembargadores e Juiacutezes de 2ordm grau no acircmbito do Poder Judiciaacuterio III - dos Deputados

Estaduais no acircmbito da Assembleia Legislativa IV- dos Procuradores de Justiccedila no acircmbito da Procuradoria-Geral

de Justiccedila V ndash dos Conselheiros e Auditores Substitutos de Conselheiros no acircmbito do Tribunal de Contas do

Estado VI ndash dos Presidentes Diretores-Gerais ou titulares de cargos equivalentes e dos Vice-Presidentes ou

equivalentes no acircmbito da respectiva autarquia fundaccedilatildeo instituiacuteda ou mantida pelo Poder Puacuteblico empresa puacuteblica

ou sociedade de economia mista (grifos nossos) Art 2ordm O caputlsquo do artigo 32 da Constituiccedilatildeo do Estado passa a ter

a seguinte redaccedilatildeo Art 32 ndash Os cargos em comissatildeo criados por lei em nuacutemero e remuneraccedilatildeo certos e com

atribuiccedilotildees definidas de direccedilatildeo chefia e assessoramento satildeo de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo observados os

requisitos gerais de provimento em cargos estaduais Art 4ordm Ficam extintos os cargos em comissatildeo que natildeo atendam

agraves disposiccedilotildees do paraacutegrafo 4ordm do artigo 20 e do artigo 32 caputlsquo da Constituiccedilatildeo do Estado Art 5ordm - Ficam

extintos os provimentos com a respectiva exoneraccedilatildeo dos cargos em comissatildeo providos em desacordo com as

disposiccedilotildees do paraacutegrafo 5ordm do artigo 20 da Constituiccedilatildeo do Estado Art 6ordm - O Governador do Estado o Presidente

do Tribunal de Justiccedila e a Mesa da Assembleia Legislativa no acircmbito dos respectivos Poderes o Procurador-Geral de

Justiccedila e o Presidente do Tribunal de Contas do Estado no acircmbito das suas respectivas instituiccedilotildees emitiratildeo os atos

administrativos declaratoacuterios de atendimento das disposiccedilotildees dos artigos 4ordm e 5ordm desta Emenda Constitucional

inclusive de extinccedilatildeo de cargos em comissatildeo e de exoneraccedilatildeo Paraacutegrafo uacutenico ndash O Governador do Estado poderaacute

delegar atribuiccedilotildees para a praacutetica dos atos previstos neste artigo Art 7ordm - (omissis) com as seguintes ressalvas a) o

artigo 4ordm entra em vigor cento e oitenta (180) dias apoacutes a data de sua publicaccedilatildeo b) o artigo 5ordm entra em vigor trinta

(30) dias apoacutes a data de sua publicaccedilatildeo BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade -

ADI n 1521-4RS fl107-109 164Ibidem fls 109 e 110 Ao serem requeridas informaccedilotildees agrave Assembleia Legislativa daquele Estado ela contestou a

ADI proposta sob os argumentos citados agraves folhas 111 a 113 do referido documento entre eles a necessidade de

43

que haveria viacutecio de forma pois o ―preenchimento de cargos em comissatildeo estaria na

oacuterbita interna de cada um dos Poderes razatildeo pela qual feridas de mortelsquo fizeram-se a

autonomia e a independecircncia que lhe satildeo proacuteprios 165

e que os efeitos retroativos

imputados natildeo mereceriam prosperar pois os servidores jaacute detentores do cargo

estariam amparados por direito adquirido 166

Contudo o STF entendeu que natildeo havia risco na manutenccedilatildeo do dispositivo167

pois de iacutendole constitucional e que conferia ao tema nepotismolsquo tratamento uniforme

nos Poderes Legislativo Executivo e Judiciaacuterio proibindo o exerciacutecio do cargo pelos

parentes consanguiacuteneos e afins ateacute o segundo grau

Assim a Corte decidiu pela constitucionalidade da Emenda n12 agrave Constituiccedilatildeo

Estadual do Rio Grande do Sul e indeferiu a suspensatildeo cautelar do sect4ordm do artigo 20 da

Constituiccedilatildeo do Estado do Rio Grande do Sul com a redaccedilatildeo da Emenda Constitucional

nordm 1295168

Nesse esteio o STF argumentou que seria necessaacuteria uma ―reflexatildeo mais

profunda sobre o sentido eacutetico que lastreia normas deste quilate169

e ao dispor sobre o

nepotismo170

afirmou que a Emenda n 12 objeto da ADI em questatildeo rendeu

―homenagem aos princiacutepios da legalidade da impessoalidade da moralidade171

e da

proibiccedilatildeo especiacutefica sobre o nepotismo e a existecircncia de diversas normas precedentes que o vedam em todos os entes

federados e nos mais diversos poderes 165 Argumento este que merece ser trazido agrave baila para se questionar ateacute onde a ediccedilatildeo da Suacutemula Vinculante n 13

tambeacutem natildeo resultou nesta mesma consequecircncia BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS fl 109 166Ibidem fl 109 167 Elaborada pela Assembleia Legislativa daquele Estado 168 ARAKAKI Allan Thiago Barbosa e ORTIZ Laudson Cruz lembram que ―Na seara judicial tambeacutem havia

manifestaccedilatildeo desfavoraacutevel ao nepotismo uma vez que mesmo sem previsatildeo expressa em Constituiccedilotildees anteriores a

1988 eacute possiacutevel defender que o princiacutepio da moralidade na verdade estava presente na ordem juriacutedica por uma

interpretaccedilatildeo sistecircmica In Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria

Garcia v 19 n 75 abrjun 2011 p 106 169 BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS voto do Ministro Marco Aureacutelio agraves fl 115 Pois ―o povo

brasileiro jaacute natildeo tateia mergulhado nas trevas da ignoracircncia em consequente subserviecircncia em busca da matildeo ditadora

e assistencialista Ibidem fl 115-116 Nesse ensejo o Ministro Celso Mello aduziu que ―() o Estado no exerciacutecio

das atividades que lhe satildeo inerentes natildeo pode ignorar os princiacutepios essenciais que derivando da constelaccedilatildeo

axioloacutegica que confere substrato eacutetico agraves accedilotildees do Poder Puacuteblico proclamam que as funccedilotildees governamentais hatildeo de

ser exercidas com estrita observacircncia dos postulados da igualdade da impessoalidade e da moralidade

administrativa Ibidem fl 141 E que tais princiacutepios ―() erigidos agrave condiccedilatildeo de valores fundamentais pela Carta

Poliacutetica () tais postulados qualificam-se como diretrizes essenciais que datildeo substacircncia e significado a repulsa que

busca prevalecer no acircmbito do aparelho do Estado o sentido real da ideia republicana que natildeo tolera praacuteticas e

costumes administrativos tendentes a confundir o espaccedilo puacuteblico com a dimensatildeo pessoal do governante em claro

desvio de caraacuteter eacutetico juriacutedico fl 142 170 Quem melhor explicou sobre a importacircncia de rebater o nepotismo foi o Ministro Celso Mello ao asseverar

―quem tem o poder e a forccedila do Estado em suas matildeos natildeo tem o direito de exercer em seu proacuteprio benefiacutecio a

autoridade que lhe eacute conferida E aleacutem de conceituaacute-lo como ato que reflete ―um gesto ilegiacutetimo de dominaccedilatildeo

patrimonial do Estado tambeacutem explicitou que ―desrespeita os postulados republicanos da igualdade da

impessoalidade e da moralidade administrativa Ibidem fl 142 171 O Relator aduziu pela ―() afirmaccedilatildeo definitiva da moralidade como princiacutepio norteador das instituiccedilotildees puacuteblicas

() Ibidem fl 116

44

isonomia172

vez que ―a vedaccedilatildeo de contrataccedilatildeo de parentes para cargos

comissionados ao abranger ―os cocircnjuges companheiros e parentes consanguiacuteneos

afins ou por adoccedilatildeo ateacute o segundo grau (pais filhos irmatildeos) a fim de prestarem serviccedilos

justamente onde o integrante familiar despontou e assumiu cargo de grande prestiacutegio173

inibe o nepotismo e atua na ―preservaccedilatildeo da proacutepria res puacuteblica174

Destacou nesse contexto o princiacutepio da isonomia disposto nos artigos 5ordm e 37

da Constituiccedilatildeo Federal e considerando que a accedilatildeo homenageia o princiacutepio

mencionado175

entendeu pela constitucionalidade da Emenda agrave Constituiccedilatildeo do Rio

Grande do Sul176

asseverando que a Emenda Constitucional pode disciplinar a mateacuteria

de forma abrangente e uniforme incidente aos trecircs Poderes177

Em que pese o STF ter apreciado todos os dispositivos combatidos da EC n12

faz-se necessaacuterio dentre eles trazer agrave baila apenas o disposto quanto aos dois principais

artigos da normativa que tocam o nepotismo quais sejam o paraacutegrafo 5ordm do artigo 1ordm

que proiacutebe expressamente a nomeaccedilatildeo de parentes de ateacute o segundo grau de

determinadas autoridades178

e o artigo 5ordm alusivo agrave exoneraccedilatildeo dos nomeados em cargo

em comissatildeo de forma infringente agrave vedaccedilatildeo do nepotismo179

172 Segundo o Relator ―a ocupaccedilatildeo dos cargos revela transgressatildeo agrave isonomia agrave impessoalidade e agrave moralidade ()

p121-122 O Ministro Celso Mello tambeacutem votou na mesma linha ao afirmar que a Emenda Constitucional―()

prestou efetiva reverecircncia ao texto da Constituiccedilatildeo Federal revelando-se fiel aos grandes princiacutepios fundados na eacutetica

republicana e consagrados na Carta Poliacutetica do Brasil () concepccedilatildeo republicana () incompatiacutevel com qualquer

praacutetica governamental tendente a restaurar a inaceitaacutevel teoria do Estado patrimonial BRASIL Supremo Tribunal

Federal ADI n 1521-4RS p 141 173 Ibidem fl 117-118 174 Ibidem fl 117 O Relator Ministro Marco Aureacutelio ainda dispocircs que ―() o meacuterito eacute a foacutermula eficiente para

chegar-se agrave qualidade total desejada aos serviccedilos puacuteblicos ditos essenciais E que natildeo se poderia ―compatibilizar tais

assertivas com a possibilidade de nomeaccedilatildeo de parentes proacuteximos para ocupar importantes ndash e ateacute estrateacutegicos ndash

cargos de direccedilatildeo nas reparticcedilotildees puacuteblicas comandadas pelo protetor Ibidem p 116 De forma que natildeo disse

claramente mas deu a entender que para ele haacute uma relaccedilatildeo entre nepotismo e eficiecircncia 175 Todos os Ministros dispotildeem que a vedaccedilatildeo do nepotismo eacute decorrente da observacircncia dos princiacutepios esculpidos no

caput do artigo 37 da CF Nesse ensejo curioso ressaltar que por este mesmo fundamento o STF reconheceu

constitucionalidade tanto agrave Emenda como agrave Suacutemula mesmo que diversas 176 Ibidem fl 119 O Ministro Relator ainda lembra que a atual emenda teve origem em uma proposta de emenda

constitucional realizada pelo Judiciaacuterio daquele Estado e que nesta estava vedada tambeacutem a ―troca de nomeaccedilotildees

entre dirigentes de oacutergatildeos bem como a ―proibiccedilatildeo se estendia ateacute o terceiro grau mas que esta proibiccedilatildeo soacute

alcanccedilaria novas nomeaccedilotildees mas natildeo ―aqueles que jaacute estivessem prestando serviccedilo Entretanto tal proposta frise-

se foi soacute o embriatildeo da atual redaccedilatildeo da Emenda Constitucional sob judice pois a composiccedilatildeo inicial natildeo prosperou 177 ―() a iniciativa do Estado do Rio Grande do Sul salta aos olhos como reflexo como sinal dos novos ares do atual

momento brasileiro angariando simpatia suficiente a que seja dada agrave questatildeo tratamento linear a abranger no campo

da proibiccedilatildeo atos que em uacuteltima anaacutelise em visatildeo desassombrada decorram de atuaccedilatildeo apaixonada direta ou

indireta () Ibidem fl 117-118 178 Ibidem fl 121-122 179 ―Art 1ordm - O artigo 20 da Constituiccedilatildeo do Estado fica acrescido dos seguintes paraacutegrafos () Paraacutegrafo 5ordm - Os

cargos em comissatildeo natildeo podem ser ocupados por cocircnjuges ou companheiros e parentes consanguiacuteneos afins ou por

adoccedilatildeo ateacute o segundo grau I - do Governador do Vice-Governador do Procurador-Geral do Estado e dos

Secretaacuterios de Estado ou titulares de cargos que lhe sejam equiparados no acircmbito da administraccedilatildeo direta do Poder

Executivo II - dos Desembargadores e Juiacutezes de 2ordm grau no acircmbito do Poder Judiciaacuterio III - dos Deputados

Estaduais no acircmbito da Assembleia Legislativa IV- dos Procuradores de Justiccedila no acircmbito da Procuradoria-Geral

de Justiccedila V ndash dos Conselheiros e Auditores Substitutos de Conselheiros no acircmbito do Tribunal de Contas do

45

Quanto ao primeiro foi destacada a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da razoabilidade180

agrave extensatildeo da proibiccedilatildeo tanto quanto ao seu acircmbito (oacutergatildeo em que a autoridade eacute

lotada) quanto agrave delimitaccedilatildeo do parentesco (o nepotismo eacute vinculado ao segundo grau

de parentesco)181

e quanto ao segundo dispositivo se asseverou que natildeo haacute direito

adquirido por parte daquele cuja nomeaccedilatildeo configura nepotismo 182

Aleacutem da argumentaccedilatildeo exposta tambeacutem se alegou que a vedaccedilatildeo ao nepotismo

ocorre em ―respeito ao regime juriacutedico uacutenico dos servidores puacuteblicos comum aos trecircs

Poderes183

e que por isto ―natildeo se submete agrave iniciativa reservada de cada um deles

podendo ―de acordo com o paracircmetro do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal ser objeto da

Constituiccedilatildeo estadual ou de emenda a esta Constituiccedilatildeo184

O que parece demonstrar a

Estado VI ndash dos Presidentes Diretores-Gerais ou titulares de cargos equivalentes e dos Vice-Presidentes ou

equivalentes no acircmbito da respectiva autarquia fundaccedilatildeo instituiacuteda ou mantida pelo Poder Puacuteblico empresa puacuteblica

ou sociedade de economia mista () Art 5ordm - Ficam extintos os provimentos com a respectiva exoneraccedilatildeo dos

cargos em comissatildeo providos em desacordo com as disposiccedilotildees do paraacutegrafo 5ordm do artigo 20 da Constituiccedilatildeo do

Estado 180 Princiacutepio este natildeo ventilado expressamente quando da elaboraccedilatildeo da Suacutemula Vinculante em questatildeo 181 Segundo o Ministro Relator―() o dispositivo natildeo alija a toda a evidecircncia o direito dos parentes de ombrearem

com os comuns do povo e inscreverem-se em concurso puacuteblico Alcanccedila apenas o afastamento das distorccedilotildees que se

tornaram tatildeo frequentes na administraccedilatildeo direta e indireta nos Poderes beneficiando de forma mais ou menos

escancarada em detrimento de cidadatildeos os parentes mencionados A norma eacute abrangente atingindo como jaacute

ressaltado os trecircs Poderes e estaacute limitada agrave disciplina de situaccedilotildees bem definidas em que a ocupaccedilatildeo dos cargos

revela transgressatildeo agrave isonomia agrave impessoalidade e agrave moralidade () Natildeo vejo como se possa ante agrave razoabilidade

constitucional dizer do conflito de regras com a Carta de 1988 () O texto da parte final do inciso II do art 37

―ressalvadas as nomeaccedilotildees para cargo em comissatildeo declarado em lei de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo natildeo serve de

respaldo ao quadro de injusticcedila e por vezes de absoluta imoralidade que costumeiramente eacute denunciado pela imprensa

escrita e falada Ressalto que no caso a razoabilidade da proibiccedilatildeo de iacutendole constitucional decorre natildeo soacute do grau

de parentesco ndash ateacute o 2ordm - como tambeacutem da limitaccedilatildeo considerando cada oacutergatildeo em si Indefiro a liminarrdquo (grifos

nossos) BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro Relator agraves fl 121 -

122Mas a Suacutemula em 2008 abrangeu o 3ordm grau de parentesco bem como alcanccedilou o acircmbito de ―pessoa juriacutedica e

natildeo mais de ―oacutergatildeo se alargando a vedaccedilatildeo mas pelos mesmos fundamentos Constitucional O Ministro Relator

ainda se manifestou quanto agrave legalidade da redaccedilatildeo do 2ordm artigo da EC ratificando que cargo em comissatildeo eacute aquele

destinado agrave direccedilatildeo chefia e assessoramento e assim indeferiu a liminar no que concerne ao artigo 4ordm referente agrave

extinccedilatildeo dos cargos em comissatildeo concedeu a liminar suspendendo a eficaacutecia do dispositivo e finalmente indeferiu

a liminar quanto agrave suspensatildeo do artigo 6ordm referente agrave emissatildeo dos atos das autoridades a declarar o cumprimento do

disposto pela EC e julgou prejudicado o pedido de concessatildeo de liminar quanto agrave suspensatildeo do artigo 7ordm da EC (que

estipulava o prazo em que entrariam em vigor o expresso no artigo 4ordm e 5ordm da EC) diante da decorrecircncia do lapso

temporal BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS 182 ―() a norma torna efetiva a regra proibitiva da ocupaccedilatildeo dos cargos em comissatildeo pelos parentes mencionados no

sect5ordm do artigo 20 da Constituiccedilatildeo do Estado () a meu ver os preceitos da Carta do Rio Grande do Sul somente

esmiuccedilaram pedagogicamente o que se conteacutem na Constituiccedilatildeo Federal Dizer-se a esta altura concorrer na espeacutecie

direito adquirido porque antes da Emenda Constitucional nordm 1295 natildeo havia norma expliacutecita proibindo as

nomeaccedilotildees eacute olvidar a proacutepria natureza e as peculiaridades dos cargos em comissatildeo isto eacute a livre nomeaccedilatildeo e

exoneraccedilatildeo de que cogita o inciso II do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal Indefiro a liminar BRASIL Supremo

Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro Relator agraves fl 124 183 Ministro Sepuacutelveda Pertence 184 BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro Sepuacutelveda Pertence agraves fl

131 Mas em sede da Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade ndash ADC n12 tambeacutem precedente do verbete sumular

(e percebe-se ser o principal jaacute que seu objeto eacute a Resoluccedilatildeo n 705 do Conselho Nacional de Justiccedila que vedou o

nepotismo no acircmbito do Poder Judiciaacuterio e eacute a base redacional da Suacutemula Vinculante em questatildeo) foi assentado que o

nepotismo natildeo precisa ser regulamentado por lei formal muito menos por Constituiccedilatildeo Estadual ou emenda a esta

entatildeo mas por qualquer ato normativo bastando a Resoluccedilatildeo do CNJ no acircmbito do Poder Judiciaacuterio e Suacutemula

Vinculante do STF aplicaacutevel a todos os poderes de todos os entes federados

46

necessidade de uma lei formal a vedar o nepotismo185

Por outro lado foram apresentadas argumentaccedilotildees contraacuterias lastreadas no

princiacutepio da isonomia referentes aos dispositivos em voga186

As alegaccedilotildees utilizadas foram de que a Emenda natildeo diferenciou o servidor que

eacute ocupante de cargo efetivo e comissionado daquele que eacute nomeado ―ad nutum 187

emcargo comissionado o que inobserva natildeo apenas o princiacutepio da isonomia188

como

tambeacutem o princiacutepio da razoabilidade que ―discrimina servidores puacuteblicos integrantes da

carreira vale dizer servidores puacuteblicos efetivos189

e que a amplitude da sua vedaccedilatildeo eacute

desarrazoada e despropositada 190

185 O Ministro Celso de Mello notou que a Emenda Constitucional foi fundamentada ldquono esteio dos princiacutepios

republicanos consagrados na Constituiccedilatildeo Federalrdquo a fim de repelir o nepotismo Nesse esteio se posicionou em

todos os julgados precedentes em que ele participou Ao motivar seus votos aduziu que os princiacutepios do art 37

caput da Constituiccedilatildeo Federal satildeo autoaplicaacuteveis e que rechaccedila automaticamente o nepotismo natildeo importando qual

espeacutecie de normativa iraacute regulamentar a vedaccedilatildeo deste E esse argumento parece ser o uacutenico entendimento uniforme

dos Ministros quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo e expresso em todos os precedentes da Suacutemula 186 Os Ministros divergentes foram Ilmar Galvatildeo e Carlos Velloso Ministros Octavio Gallotti e Neacuteri da Silveira Mas

aqui haacute de se ressaltar que o Ministro Carlos Velloso natildeo foi contraacuterio agrave vedaccedilatildeo do nepotismo pois assim dispocircs

sobre o nepotismo ―() o nepotismo nome pelo qual ficaram conhecidas as nomeaccedilotildees de parentes de magistrados

para servirem em cargos de comissatildeo junto a estes eacute erva daninha porque causa problemas para a administraccedilatildeo e eacute

ofensivo sobretudo ao princiacutepio da moralidade administrativa p135 E ainda afirmou que ―A discriminaccedilatildeo em tal

caso encontra justificativa em princiacutepios racionalizadores da administraccedilatildeo puacuteblica e sobretudo no princiacutepio da

moralidade administrativa BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS p 138 187 Ministro Ilmar Galvatildeo ―() natildeo ouvi da parte do eminente Relator a soluccedilatildeo que seria dada no caso agrave situaccedilatildeo

dos servidores concursados exercentes de cargos efetivos no acircmbito da Administraccedilatildeo Outra dificuldade que estou

vislumbrando diz com a extensatildeo da vedaccedilatildeo ao acircmbito de todo o Poder Vale dizer que mantida a norma a ofensa

ao princiacutepio da isonomia vai verificar-se em sentido inverso atingindo no primeiro caso servidores efetivos para

impedi-los de preencher cargos de confianccedila proacuteprios de sua situaccedilatildeo funcional e no segundo parentes ateacute o segundo

grau de pessoas com as quais natildeo teratildeo nenhum relacionamento funcional e de cuja influecircncia natildeo dependeu a sua

escolha Sobre esses pesaraacute como que uma maldiccedilatildeo O tio Desembargador poderaacute por exemplo exercer o seu cargo

por 20 30 anos e durante esse periacuteodo ficaratildeo condenados ao natildeo exerciacutecio de qualquer cargo da espeacutecie () As leis

federais quando tratam dessas mateacuterias consignam invariavelmente a ressalva no acircmbito do oacutergatildeo e natildeo no acircmbito

do poder () A emenda natildeo discriminando as situaccedilotildees apontadas parece ter tido uma motivaccedilatildeo de ordem

demagoacutegica objetivando tatildeo somente os aplausos da miacutedia como de ordinaacuterio acontece () Considero a emenda

inconstitucional Se natildeo violadora do princiacutepio da isonomia eacute pelo menos desarrazoada pelos excessos que nela se

contecircm BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS fl 133 188 BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro Ilmar Galvatildeo fl 133-134 189

Ministro Carlos Velloso ―O que deve ser proibido eacute a nomeaccedilatildeo gratuita de favor O servidor de carreira poderia

eacute certo ser discriminado no sentido de natildeo poder ser designado para cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila sob a

direccedilatildeo do seu parente () natildeo se pode perder de vista que ao servidor de carreira assiste o direito de preferecircncia de

ser nomeado para cargo em comissatildeo e funccedilatildeo de confianccedila (CF art 37 V) de modo que natildeo pode ele ser

discriminado com a generalidade como o foi () servidores de carreira () estatildeo inapelavelmente afastados natildeo

podem pugnar por uma pretensatildeo legiacutetima qual a de exercer cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila para os

quais a Constituiccedilatildeo lhes confere o direito de preferecircncia Ibidem fl 137-138 ―() o legislador ordinaacuterio estadual

investido de poder constituinte decorrente foi longe demais e cometeu excessos excessos que maculam um ato que

traz na sua essecircncia a marca da moralizaccedilatildeo () Penso que a norma do modo como estaacute posta eacute violadora do

princiacutepio da igualdade que a Constituiccedilatildeo consagra em diversos passos a comeccedilar pelo art 5ordm caput () BRASIL

Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro fl 136 190 ―Os cargos em comissatildeo natildeo podem ser ocupados por cocircnjuges os companheiros e parentes consanguiacuteneos afins

ou por adoccedilatildeo ateacute o segundo grau do Governador do Vice-Governador do Procurador-Geral do Estado do

Defensor Puacuteblico Gral do Estado e dos Secretaacuterios de Estado os titulares de cargos que lhe sejam equiparados no

acircmbito da administraccedilatildeo direta do Poder Executivo Que dizer nem a mil quilocircmetros do local onde esteja sediado o

Defensor Puacuteblico Geral por exemplo seria possiacutevel a designaccedilatildeo de um parente deste ocupante de cargo efetivo

para cargo em comissatildeo E natildeo importa se a designaccedilatildeo seria para setor totalmente diverso da Defensoria Puacuteblica ()

Isto data vecircnia natildeo eacute razoaacutevel eacute um despropoacutesito () Entendo portanto que os dispositivos do sect 5ordm satildeo ofensivos

47

Nesse ensejo vale ressaltar que a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 conforme

o disposto no seu art 37 II qualifica o cargo comissionado como de livre nomeaccedilatildeo

(natildeo precedida de aprovaccedilatildeo em concurso puacuteblico) e livre exoneraccedilatildeo (sendo

desnecessaacuteria qualquer alegaccedilatildeo para justificar o desligamento de quem o ocupa) por

isto ad nutum e destinado a direccedilatildeo e assessoramento superior a ser ocupado por

pessoa de confianccedila do agente puacuteblico191

E eacute aiacute que se processa o nepotismo pois o agente puacuteblico muitas vezes

entende que por este cargo ser destinado a ser ocupado por indiviacuteduo de sua confianccedila

pode entatildeo nomear parente Mas como se veraacute esta confianccedila natildeo eacute a decorrente de

viacutenculo pessoal entre o nomeado e o agente puacuteblico mas da caracteriacutestica profissional

do nomeado

Assim os Ministros divergentes criticaram os dispositivos da Emenda

Constitucional em anaacutelise com base no princiacutepio da isonomia sob um olhar diverso ao

dos demais Ministros em defesa da inaplicabilidade da norma aos servidores efetivos a

fim de que natildeo sofressem limitaccedilotildees por serem parentes da autoridade nomeante

Igualmente entenderam que o tribunal deveria realizar interpretaccedilatildeo

conformelsquo quanto agrave proibiccedilatildeo192

com vista a excluir os servidores efetivos para que os

mesmos pudessem ser nomeados em cargos comissionados193

112 O Mandado de Seguranccedila n 23780-5MA

O segundo precedente194

da SV n13 foi impetrado por servidora puacuteblica

ao princiacutepio da igualdade BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS Trecho do voto do Ministro

Carlos Veloso fl 138-140 191

Dioacutegenes Gasparini ensina que cargo puacuteblico eacute ―() o menor centro hierarquizado de competecircncias da

Administraccedilatildeo direta autaacuterquica e fundacional puacuteblica criado por lei ou resoluccedilatildeo com denominaccedilatildeo proacutepria e

nuacutemero certo E que ele poder ser de provimento em comissatildeo efetivo ou vitaliacutecio contudo enquanto o

comissionado eacute o efetivo satildeo previstos pelo texto constitucional mas instituiacutedos por lei o vitaliacutecio eacute estabelecido pela

Constituiccedilatildeo PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) in

Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico Belo Horizonte Ed

Foacuterum 2008 p 78 192 Ministro Neacuteri da Silveira ―Entendo que a regra em apreccedilo se compatibiliza com a Constituiccedilatildeo Federal se for

entendida como natildeo abrangente dos funcionaacuterios ocupantes de cargo de provimento efetivo () porque ()

ingressaram por concurso puacuteblico como qualquer cidadatildeo BRASIL Supremo Tribunal Federal ADI n 1521-4RS

Trecho do voto do Ministro fl 149 193 A sugestatildeo do Ministro natildeo foi acolhida pelos seus Colegas mesmo sendo a interpretaccedilatildeo conforme a

constituiccedilatildeolsquo agrave luz da hermenecircutica juriacutedica uma soluccedilatildeo juridicamente plausiacutevel a sanar a questatildeo melindrosa a que

os servidores efetivos foram submetidos 194BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA Ementaacuterio n 2223-1

―MANDADO DE SEGURANCcedilA NEPOTISMO CARGO EM COMISSAtildeO IMPOSSIBILIDADE PRINCIacutePIO

DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA Servidora puacuteblica da Secretaria de Educaccedilatildeo nomeada para cargo em

comissatildeo no Tribunal Regional do Trabalho da 16ordf Regiatildeo agrave eacutepoca em que o vice-presidente do Tribunal era parente

seu Impossibilidade A proibiccedilatildeo do preenchimento de cargos em comissatildeo por cocircnjuges e parentes de servidores

puacuteblicos eacute medida que homenageia e concretiza o princiacutepio da moralidade administrativa o qual deve nortear toda a

Administraccedilatildeo Puacuteblica em qualquer esfera do poder Mandado de seguranccedila denegado fl109 Relator Min Joaquim

48

efetiva de oacutergatildeo do poder executivo estadual195

agrave disposiccedilatildeo do TRT 16 por ter sido

exonerada de cargo comissionado do tribunal196

devido a decisatildeo do TCU o qual apoacutes

avaliar denuacutencia considerou sua nomeaccedilatildeo ilegal violadora do artigo 10 da Lei n

942196 e da Decisatildeo n 1181994 do seu oacutergatildeo pleno197

devido ao seu viacutenculo de

parentesco com o Vice-Presidente do TRT 16198

que contudo teve sua seguranccedila

denegada

A impetrante sob os argumentos de que o TCU ―exorbitou dos limites de sua

competecircncia funcional ao erigir agrave categoria de norma legal a Decisatildeo n 1181994 de

seu oacutergatildeo pleno e de que detinha ―direito liacutequido e certo a permanecer no cargo

enquanto natildeo ocorrerem razotildees legais para a exoneraccedilatildeo199

requereu ―a declaraccedilatildeo da

nulidade do ato que a exonerou bem como sua reintegraccedilatildeo ao TRT da 16ordf Regiatildeo com

a percepccedilatildeo inclusive dos vencimentos que lhe foram suprimidos desde a ediccedilatildeo do ato

de exoneraccedilatildeo200

O TRT 16 prestou suas informaccedilotildees201

o TCU202

alegou que o pleito da

impetrante era ―juridicamente impossiacutevel por natildeo encontrar amparo no ordenamento

legal em razatildeo de os ocupantes de cargo em comissatildeo serem exoneraacuteveis a qualquer

tempo e que o ato do TRT 16 caracterizava ―niacutetida violaccedilatildeo dos princiacutepios da

moralidade e impessoalidade203

e o Ministeacuterio Puacuteblico Federal (MPF) opinou pela

denegaccedilatildeo da ordem sob o argumento de que a nomeaccedilatildeo da servidora tinha sido

publicada em data posterior agrave decisatildeo da Corte de Contas204

infringindo a decisatildeo do

TCU205

que ―efetiva o princiacutepio da moralidade administrativa inserindo no art 37 da

Barbosa julgada em 2892005 e publicada no DJ de 030306 Ajuizado pela servidora Terezinha de Jesus Cunha

Belford Disponiacutevel em wwwstfgovbr Acesso em 10022013 195 Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo 196 Embora tivesse sido disponibilizada desde 1889 ao TRT passou a ocupar cargo comissionado do quadro do

tribunal em 1994 tendo sido exonerada do DAS-5 da Coordenaccedilatildeo do Programa de Assistecircncia ao Servidor 197Referentes agrave vedaccedilatildeo do nepotismo 198 2ordm grau ndash irmatilde 199 BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA fl 111 200 Com pedido de liminar em face do Plenaacuterio do Tribunal de Contas da Uniatildeo - TCU e do Juiz Presidente do

referido Tribunal do Trabalho que foi indeferida BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS

n23780-5MA Ibidem fl 110 - 111 201 Nas quais aleacutem de alegar em preliminar a ilegitimidade do TCU de figurar no polo passivo e consequentemente

arguir a incompetecircncia do STF para decidir o MS tambeacutem asseverou sobre a legalidade de seu ato realizado ―no

estrito cumprimento de seu dever legal em obediecircncia agrave determinaccedilatildeo do TCU BRASIL Supremo Tribunal

Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA fl 112 202 Arrazoou sua ilegitimidade e consequente incompetecircncia do STF para julgar o caso em tela 203BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA Ibidem fl 112 204 Nomeaccedilatildeo publicada em 131094 apoacutes a decisatildeo normativa exposta no DOU em 28394 205 Que ―proiacutebe a contrataccedilatildeo de cocircnjuges ou parentes consanguiacuteneos ou afins ateacute o terceiro grau de juiacutezes em

atividade ou aposentados haacute menos de cinco anos para funccedilotildees gratificadas ou de gabinete e cargos em comissatildeo em

todos os oacutergatildeos da Justiccedila Trabalhista BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-

5MA Ibidem fl 112-113

49

Constituiccedilatildeo Federal de 1988206

Nesse contexto a Corte ao apreciar o meacuterito207

afirmou que o ato impugnado

natildeo padecia ―de nenhum viacutecio passiacutevel de anulaccedilatildeo208

visto que a nomeaccedilatildeo da

servidora tinha ocorrido apoacutes a publicaccedilatildeo da decisatildeo do TCU que veda esta espeacutecie de

nomeaccedilatildeo no acircmbito da Justiccedila do Trabalho tambeacutem lembrou que a citada normativa

excepciona a nomeaccedilatildeodesignaccedilatildeo de ―servidor titular de cargo puacuteblico de provimento

efetivo de juiacutezo ou tribunal209

para ocupar cargo comissionado ou exercer funccedilatildeo

gratificada no proacuteprio acircmbito da justiccedila do trabalho mas que essa ressalva natildeo se

aplicava agrave impetrante visto que ela eacute servidora do Poder Executivo do Estado do

Maranhatildeo e ainda sustentou que a lei n 9432 de 1992210

- anterior agrave decisatildeo do

TCU211

e agrave nomeaccedilatildeo da servidora - jaacute proibia a praacutetica do nepotismo eacute que por isto

natildeo havia amparo legal agrave impetrante

Nesse ensejo restou destacado212

que a proibiccedilatildeo natildeo alcanccedila ―o cargo efetivo

de cada tribunal213

- os servidores de carreira de cada um dos tribunais214

e foi

ressaltado215

que a uacutenica limitaccedilatildeo imposta aos servidores de cargo efetivo do quadro do

Tribunal se refere a natildeo poder haver ocupaccedilatildeo de cargo comissionado por eles sob o

comando direto do seu parente ou seja ―no gabinete do proacuteprio parente216

113 Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade n12-6DF

Eacute o terceiro precedente da SV n13217

e objetivou que o STF declarasse a

206BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA fl 113 207 O Relator Ministro Joaquim Barbosa 208 BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA Trecho do voto do Ministro

Relator fl114 209 Ibidem fl 115 210 Aleacutem de aduzir que as sucessivas nomeaccedilotildees e exoneraccedilotildees da servidora informadas pelo proacuteprio TRT 16 nos

autos do processo evidenciaram ―uma possiacutevel tentativa de burlar agrave Lei n 84321992 que veda a nomeaccedilatildeo de

parentes para cargos em comissatildeo e agrave supracitada Decisatildeo n1181994 do TCU BRASIL Supremo Tribunal

Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA Trecho do voto no Relator Ministro Joaquim Barbosa fl 115 211 A decisatildeo do TCU ―homenageia e concretiza o princiacutepio da moralidade administrativa () BRASIL Supremo

Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA Trecho do voto no Relator Ministro Joaquim

Barbosa fl 116 212Pelos Ministros Marco Aureacutelio e Sepuacutelveda Pertence 213 Expressatildeo do Ministro Sepuacutelveda Pertence BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS

n23780-5MA fl 117 214 O interessante quanto a este argumento eacute que embora lembrado pelos Ministros neste precedente da Suacutemula foi

rechaccedilado pela maioria dos ministros no precedente anterior e natildeo foi observado por eles quando da ediccedilatildeo da

Suacutemula pelo STF cuja vedaccedilatildeo alcanccedilou os servidores efetivos 215 Pelo Ministro Nelson Jobim BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila MS n23780-5MA 216 Explicado pelo Ministro Sepuacutelveda Pertencefl 117 BRASIL Supremo Tribunal Federal Mandado de Seguranccedila

MS n23780-5MA 217

BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n12-6DF Ementaacuterio n 2245-1 ―EMENTA ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE CONSTITUCIONALIDADE

AJUIZADA EM PROL DA RESOLUCcedilAtildeO Nordm 07 de 18102005 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA

MEDIDA CAUTELAR()Medida liminar deferida para com efeito vinculante a) emprestar interpretaccedilatildeo conforme

para incluir o termo chefia nos inciso II III IV V do artigo 2deg do ato normativo em foco b) suspender ateacute o exame

50

constitucionalidade da Resoluccedilatildeo n 7 editada pelo Conselho Nacional de Justiccedila218

219

em 18102005 por meio da qual foi vedada a praacutetica de nepotismo no acircmbito do Poder

Judiciaacuterio

A Associaccedilatildeo dos Magistrados do Brasil (AMB) propocircs a ADC quanto agrave

Resoluccedilatildeo n 072005 do Conselho Nacional de Justiccedila (CNJ) 220

sob os argumentos de

que o CNJ deteacutem competecircncia ―para zelar pela observacircncia do art 37 da Constituiccedilatildeo

Federal e apreciar a validade dos atos administrativos praticados pelos oacutergatildeos do Poder

Judiciaacuterio (inciso II do sect4ordm do art 103-B da CF88) que a proibiccedilatildeo da praacutetica do

nepotismo eacute defendida como ―regra constitucional que decorre do nuacutecleo dos princiacutepios

da impessoalidade e da moralidade administrativas que o Poder Puacuteblico eacute subordinado

natildeo soacute agrave legalidade formal como tambeacutem ―estaacute adstrito agrave juridicidade conceito mais

abrangente que inclui a proacutepria Constituiccedilatildeo221

e finalmente que a Resoluccedilatildeo ―nem

prejudica o necessaacuterio equiliacutebrio entre os Poderes do Estado ndash por natildeo subordinar

nenhum deles ao outro ndash nem vulnera o princiacutepio federativo dado que tambeacutem natildeo

estabelece viacutenculo de sujeiccedilatildeo entre as pessoas estatais de base geograacutefica222

com o

fito de que fosse deferida a cautelar223

e posteriormente que a accedilatildeo fosse julgada

de meacuterito desta ADC o julgamento dos processos que tenham por objeto questionar a constitucionalidade da

Resoluccedilatildeo nordm 072005 do Conselho Nacional de Justiccedila c) obstar que juiacutezes e Tribunais venham a proferir decisotildees

que impeccedilam ou afastem a aplicabilidade da mesma Resoluccedilatildeo nordm 072005 do CNJ e d) suspender com eficaacutecia ex

tunc os efeitos daquelas decisotildees que jaacute proferidas determinaram o afastamento da sobredita aplicaccedilatildeo Relator

Min Carlos Ayres Britto julgada em 16022006 e publicada no DJ de 01092006 Ajuizada pela Associaccedilatildeo dos

Magistrados Brasileiros - AMB e patrocinada por Luiacutes Roberto Barroso Disponiacutevel em http wwwstfjusbr

Acesso em 10022013 218 Segundo explicaccedilotildees do Ministro Gilmar Mendes neste julgado a ADC tem o papel de ―transformar a presunccedilatildeo

relativas de constitucionalidade (que milita a favor dos atos normativos) em presunccedilatildeo absoluta Serve portanto para

afastar o controle difuso e a controveacutersia sobre a aplicaccedilatildeo de determinada norma no acircmbito do Executivo e do

Judiciaacuterio De forma que sua proposiccedilatildeo se faz necessaacuteria ―quando houver controveacutersia ou duacutevidas relevantes sobre

a constitucionalidade de um determinado preceito () atua contra a inseguranccedila gerada por aplicaccedilotildees e

interpretaccedilotildees contraditoacuterias de um mesmo preceito normativo () revela-se como instrumento adequado para a

soluccedilatildeo desse impasse juriacutedico-poliacutetico permitindo que o Supremo Tribunal Federal possa manifestar-se sobre

questatildeo de relevante interesse nacional como eacute o caso do nepotismo preservando e potencializando princiacutepios

constitucionais como a seguranccedila juriacutedica e a moralidade BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em

Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fls 66-67 219 Oacutergatildeo superior de fiscalizaccedilatildeo administrativa do Poder Judiciaacuterio 220 Que disciplina o exerciacutecio de cargos empregos e funccedilotildees por parentes cocircnjuges e companheiros de magistrados e

de servidores investidos em cargos de direccedilatildeo e assessoramento no acircmbito dos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio e daacute outras

providecircncias BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade

MC - ADC n 12-6DF fl 7-8 221 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DFfl 8 222 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF fl 9 223 ―a) do julgamento dos processos que envolvam a aplicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo nordm 705 do CNJ ateacute o julgamento

definitivo da presente accedilatildeo ficando impedidos de proferir qualquer nova decisatildeo a qualquer tiacutetulo que impeccedila ou

afaste a eficaacutecia da Resoluccedilatildeo em questatildeo‟ e b) com eficaacutecia ex tunc dos efeitos de quaisquer decisotildees proferidas

a qualquer tiacutetulo que tenham afastado a aplicaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo nordm 705 do CNJ‟rdquo BRASIL Supremo Tribunal

Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fl 9 A liminar foi

pleiteada tendo em vista ―A dificuldade de separar o interesse privado dos interesses do Estado ficou patente ao se

observar o fundamento dos diversos mandados de seguranccedila propostos por ocupantes de cargos comissionados

51

procedente sendo declarada a constitucionalidade da Resoluccedilatildeo224

Tendo em vista que o presente precedente eacute um dos mais relevantes senatildeo o

mais proeminente agrave elaboraccedilatildeo da Suacutemula Vinculante faz-se imprescindiacutevel uma

anaacutelise mais minuciosa deste julgado pois gerou ―o mais extenso e aprofundado debate

na Suprema Corte sobre o nepotismo ateacute hoje225

a partir dos argumentos trazidos agrave

baila pelo Ministro Relator e complementados ou ratificados pelos demais Ministros

que acompanharam seu voto sendo divergente apenas o Ministro Marco Aureacutelio

A Corte226

ao se pronunciar pelo deferimento da medida cautelar227

afirmou

que o fundamento da Resoluccedilatildeo eacute extraiacutedo da Constituiccedilatildeo pois o CNJ228

deteacutem

competecircncia em modalidade primaacuteria229

para editar atos normativos primaacuterios

conforme dispotildee o inciso II sect4ordm do art 103-B constitucional230

a qual segue

―imediatamente a vontade da proacutepria Constituiccedilatildeo sem outra base de validade que natildeo

seja a Constituiccedilatildeo mesma 231

e ainda que a Constituiccedilatildeo ao deferir competecircncia ao

CNJ quedou ―silente quanto a um tipo de atuaccedilatildeo necessariamente precedida de lei232

motivo pelo qual entendeu que o CNJ deteacutem o ―poder de aplicar imediatamente a

incluiacutedos nas hipoacuteteses descritas na Resoluccedilatildeo n 07 do CNJ perante vaacuterios tribunais do paiacutes quando argumentavam

que a proibiccedilatildeo atingia o direito adquirido agrave nomeaccedilatildeo e o exerciacutecio do cargo comissionado que o criteacuterio de

―confianccedila estava ligado agrave proximidade entre a autoridade nomeante e nomeado proximidade muitas vezes de

cunho familiar que a impossibilidade de nomear parente atinge o princiacutepio da isonomia aleacutem da argumentaccedilatildeo de

que a medida deixaria em dificuldades financeiras muitos pais de famiacutelia dentre outros RODRIGUES Francisco

Luciano Lima Os efeitos da resistecircncia a implantaccedilatildeo das regras de combate ao nepotismo sobre o papel do

judiciaacuterio na construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo do estado democraacutetico de direito In Oliveira Neto Francisco Joseacute Rodrigues

de Constituiccedilatildeo e Estado social os obstaacuteculos agrave concretizaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Revista dos

Tribunais 2008 p153 224 Figuram como amici curiae na accedilatildeo o Tribunal de Justiccedila do Rio de Janeiro o Sindicato dos Trabalhadores do

Poder Judiciaacuterio e do Ministeacuterio Puacuteblico da uniatildeo do Distrito Federal ndash SINDJUSDF o Conselho Federal da Ordem

dos Advogados do Brasil a Associaccedilatildeo Nacional dos Magistrados da Justiccedila do Trabalho ndash ANAMATRA e a

Federaccedilatildeo Nacional dos Trabalhadores do Judiciaacuterio Federal e Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo ndash FENAJUFE 225 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos In Revista Brasileira de Direito Puacuteblico ndash

RBDP Belo Horizonte v 11 n 41 abrjun2013 226 Pelo Relator Ministro Ayres Britto 227 Julgada em 1222006 com efeitos vinculantes e erga omnes proacuteprios do controle concentrado suspendendo

assim a discussatildeo da questatildeo pelas instacircncias inferiores ateacute ser examinado o meacuterito da accedilatildeo 228 Tanto quanto o Senado em alguns casos e o Chefe do Poder Executivo em outros 229 Que eacute aquela por meio da qual o normativo editado decorre diretamente de postulados constitucionais e Segundo o

Ministro Ayres Britto daiacute decorre o ―poder que traz consigo a dimensatildeo da normatividade em abstrato que jaacute eacute uma

forma de prevenir a irrupccedilatildeo de conflitos O poder de precaver-se ou acautelar-se para minimizar a possibilidade das

transgressotildees em concreto BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fl30 Desta ideia se colhe que natildeo eacute necessaacuterio regulamentar o

nepotismo por meio de lei formal podendo portanto a sua praacutetica ser vedada por Suacutemula Vinculante 230 ―103-B () sect 4ordm Compete ao Conselho o controle da atuaccedilatildeo administrativa e financeira do Poder Judiciaacuterio e do

cumprimento dos deveres funcionais dos juiacutezes cabendo-lhe aleacutem de outras atribuiccedilotildees que lhe foram conferidas

pelo Estatuto da Magistratura () II ndash zelar pela observacircncia do art 37 e apreciar de ofiacutecio ou mediante provocaccedilatildeo

a ilegalidade dos atos administrativos praticados por membros ou oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio podendo desconstituiacute-

los revecirc-los ou fixar prazo para que se adotem as providecircncias necessaacuterias ao exato cumprimento da lei () 231 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Relator Ministro Ayres Brito fl 19 232 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Relator Ministro Ayres Brito fl31

52

Constituiccedilatildeo-cidadatilde tanto em concreto como em abstrato 233

Dessa forma concluiu que a Resoluccedilatildeo do CNJ debulha ―os proacuteprios

conteuacutedos loacutegicos dos princiacutepios constitucionais da centrada regecircncia de toda a

atividade administrativa do Estado234

quais sejam ―o da impessoalidade o da

igualdade o da eficiecircncia e por fim o da moralidade administrativa235

os

densificando236

Asseverou ainda237

que se por um lado a praacutetica do nepotismo eacute perniciosa ao

interesse puacuteblico238

e ofende o princiacutepio da impessoalidade239

por outro cabe ao CNJ

233 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Relator Ministro Ayres Brito fl 32 234 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Relator Ministro Ayres Brito fl 33 235 Novamente se observa a decorrecircncia da vedaccedilatildeo do nepotismo dos princiacutepios que regem a Administraccedilatildeo Puacuteblica

inseridos na cabeccedila do art 37 da Carta Constitucional Conforme a Ministra Ellen Gracie ―() Os princiacutepios

estampados no art 37 da Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 erigiram ao niacutevel fundamental e de maneira expressa o que

se continha na legislaccedilatildeo brasileira (de se lembrar dentre outras a lei n 4717 de 1965 - lei de accedilatildeo popular) que

rompe a presunccedilatildeo de legitimidade dos atos administrados quando se cuide de nomeaccedilatildeo sem concurso puacuteblico

maacutexime em se cuidando de parentes E a legislaccedilatildeo eleitoral que com fundamento constitucional vem impedindo

desde a deacutecada de 30 do seacuteculo passado candidaturas de parentes Tudo a demonstrar que os fundamentos

constitucionais natildeo permitem o parentesco como fonte ou criteacuterio de admissatildeo no serviccedilo puacuteblico sequer em cargo

dito de confianccedila que confianccedila aiacute se potildee na qualificaccedilatildeo do candidato e natildeo na qualidade do nome por ele ostentado

Nem precisaria haver princiacutepio expresso - quer da impessoalidade quer da moralidade administrativa - para que se

chegasse ao reconhecimento da constitucionalidade das proibiccedilotildees de contrataccedilatildeo de parentes para os cargos

puacuteblicos Bastaria que se tivesse em mente a eacutetica democraacutetica e a exigecircncia republicana contidas no art 1ordm da

Constituiccedilatildeo para impor a proibiccedilatildeo de maneira definitiva direta e imediata a todos os Poderes da Repuacuteblica 236 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF fl 37 Seriam especialmente os da impessoalidade eficiecircncia e igualdade e que a inobservacircncia de um

dos trecircs acarretaria a violaccedilatildeo do princiacutepio da moralidade administrativa 237 O Ministro Cezar Peluso 238 De acordo com o Relator Ministro Britto o nepotismo ―() significa a paroquial fusatildeo do ambiente caseiro com o

espaccedilo puacuteblico E citando Rui Cirne Lima aduziu que ―administrar natildeo eacute atividade de que eacute senhor de coisa

proacutepria mas gestor de coisa alheia P 36 Segundo ele tambeacutem obsta o princiacutepio da eficiecircncia porque com a ―()

projeccedilatildeo do domeacutestico na intimidade das reparticcedilotildees estatais a comeccedilar pela oacutebvia razatildeo de que jaacute natildeo se tem a

necessaacuteria isenccedilatildeo () quando se vai avaliar a capacitaccedilatildeo profissional de um parente ou familiar Quando se vai

cobrar assiduidade e pontualidade no comparecimento do trabalho Mais ainda quando se eacute preciso punir

exemplarmente o servidor faltoso P 35Segundo o Ministro Celso Mello normas como a Resoluccedilatildeo em questatildeo

obstam ―() a formaccedilatildeo de grupos familiares cuja atuaccedilatildeo facilitada pelas nomeaccedilotildees em comissatildeo ou designaccedilatildeo

para funccedilotildees de confianccedila acaba () por patrimonializarlsquo o poder governamental convertendo-o em razatildeo de uma

inadmissiacutevel inversatildeo dos postulados republicanos em verdadeira res domesticalsquo degradando-o assim agrave condiccedilatildeo

subalterna de instrumento de mera dominaccedilatildeo do Estado vocacionado natildeo a servir ao interesse puacuteblico e ao bem

comum mas antes a atuar como incompreensiacutevel e inaceitaacutevel meio de satisfazer conveniecircncias pessoais e de

realizar aspiraccedilotildees particulares fl 109 Isso porque segundo o Ministro ―() impotildee que se faccedila essencial distinccedilatildeo

entre o espaccedilo puacuteblico () e o espaccedilo privado () em ordem a obstar que os indiviacuteduos mediante ilegiacutetima

apropriaccedilatildeo culminem por incorporar no acircmbito de seus interesses particulares a esfera de domiacutenio institucional do

Estado marginalizando como consequecircncia desse gesto de indevida patrimonializaccedilatildeolsquo o concurso dos demais

cidadatildeos na edificaccedilatildeo da res publicalsquo fl 110 E entatildeo conclui ―A consagraccedilatildeo do nepotismo na esfera

institucional do poder puacuteblico natildeo pode ser tolerada sob pena de o processo de governo ndash que haacute de ser impessoal

transparente e fundado em bases eacuteticas- ser conduzido um verdadeiro retrocesso histoacuterico o que constituiraacute na

perspectiva da atualizaccedilatildeo e modernizaccedilatildeo do aparelho do Estado situaccedilatildeo de todo inaceitaacutevel BRASIL Supremo

Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fl 111 239 Conforme o Relator Ministro Britto o nepotismo fere ―() os proacuteprios conteuacutedos loacutegicos dos princiacutepios

constitucionais de centrada regecircncia de toda a atividade administrativa do Estado Princiacutepios como I - o da

impessoalidade consistente no descarte do personalismo () Na absoluta separaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado ou

entre a Administraccedilatildeo e o administrador segundo a republicana metaacutefora de que natildeo se pode fazer cortesia com o

chapeacuteu alheiolsquo Conceitos que se contrapotildeem agrave multissecular cultura do patrimonialismo e que se vulnerabilizam natildeo

haacute negar com a praacutetica do chamado nepotismolsquo fl 33-34 Nesse mesmo esteio eacute o voto do Ministro Cezar Peluso

―Gostaria de versar a questatildeo agrave luz de um soacute princiacutepio explicitado pela vigente Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica o da

53

velar pela aplicaccedilatildeo desse princiacutepio e por isto ―natildeo haacute duacutevida que cabe ao Conselho

―coibir ainda que de forma geneacuterica as praacuteticas que violem 240

a impessoalidade e

que ―cabe agraves autoridades administrativas e nesse caso ao CNJ no cumprimento de seus

deveres constitucionais fazer cumprir os comandos normativos veiculados pelos

princiacutepios do art 37 241

Assim se extrai do disposto que ao CNJ compete assegurar o cumprimento do

disposto pelos princiacutepios insculpidos pelo art 37 da Constituiccedilatildeo Federal242

e por isto

que eacute competente para editar resoluccedilotildees como a sob apreciaccedilatildeo

Nesse diapasatildeo a Corte Suprema ao analisar se os ―condicionamentos

impessoalidade () Acredito ser possiacutevel isolar uma noccedilatildeo estreita do princiacutepio () aparece diretamente relacionado

com o controle juriacutedico do exerciacutecio do poder poliacutetico que por definiccedilatildeo eacute mantido sempre por minorias fl 59 E

continua ―As necessidades da administraccedilatildeo puacuteblica dependem daquilo que WEBER denominava a dominaccedilatildeo

burocraacutetica da impessoalidade formaliacutesticalsquo cujo conteuacutedo relevava bem com a expressatildeo () regida pelo dever

juriacutedico estrito de natildeo se deixar guiar () conduzir na tutela da coisa puacuteblica nem por oacutedio nem por amor Nesse

sentido o princiacutepio da impessoalidade estaacute ligado agrave ideia eficiecircncia porque constitui condiccedilatildeo ou requisito

indispensaacutevel da eficiecircncia operacional da administraccedilatildeo puacuteblica Mas a despeito disso atua sobremodo como

limitaccedilatildeo ao exerciacutecio do poder discricionaacuterio de nomear funcionaacuterios em cargo de confianccedila () O que limita esse

poder garantindo o alcance da satisfaccedilatildeo das necessidades e dos interesses puacuteblicos eacute o princiacutepio da impessoalidade

o qual deve guiar o administrador na escolha dos quadros natildeo para servir ao que se crecirc dono do poder isto eacute chefe

mas para acudir agraves necessidades da administraccedilatildeo puacuteblica fl 60 Entatildeo conclui ―A impessoalidade apresenta duas

dimensotildees () coibir o exerciacutecio do poder voltado a favorecer ou a prejudicar pessoas () impedir o personalismo no

exerciacutecio desse poder mediante atos de promoccedilatildeo pessoal () sublinha o dever de preenchimento dos cargos puacuteblicos

() significando vedaccedilatildeo de privileacutegios e tambeacutem de perseguiccedilotildees pessoais E () a autopromoccedilatildeo () Natildeo vejo

como negar agrave praacutetica do nepotismo a pecha de ofensa ostensiva ao princiacutepio da impessoalidade () BRASIL

Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fl

60-61 240 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Cezar Peluso fl 55 241 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Gilmar Mendes fl 74 242 Nas palavras do Relator Ministro Britto ―() essas praacuteticas tambeacutem podem resvalar com maior facilidade para a

zona proibida da imoralidade administrativa () Mas entendo que esse descambar para o iliacutecito moral jaacute eacute quase

sempre uma consequecircncia da deliberada inobservacircncia dos trecircs outros princiacutepios citados (foram impessoalidade

eficiecircncia e igualdade) fl37 Na mesma toada estatildeo os dizeres do Ministro Joaquim Barbosa ―() as regras

estabelecidas pelo CNJ na Resoluccedilatildeo 072005 () buscam dar efetividade aos princiacutepios da moralidade e da

impessoalidade administrativa () Por sua vez talvez com mais ecircnfase ainda impotildee-se ao caso o princiacutepio da

moralidade por aplicaccedilatildeo direta da Constituiccedilatildeo () fl 52-53 Em esteio similar se pronunciou o Ministro Gilmar

Mendes ―() natildeo haacute duacutevida de que os atos que impliquem a praacutetica do nepotismo ofendem diretamente os princiacutepios

da moralidade e da impessoalidade () fl 72 E continua ―A vedaccedilatildeo do nepotismo eacute regra constitucional que estaacute

na zona de certeza dos princiacutepios da moralidade e da impessoalidade Natildeo eacute de hoje que o nepotismo eacute uma praacutetica

condenada pela sociedade brasileira fl 73 Nesse iacutenterim conclui ―() o ato administrativo que implique nesse

tipo de praacutetica imoral eacute ilegiacutetimo natildeo apenas por violaccedilatildeo a uma determinada lei mas por ofensa direta agrave moralidade

que atua como substrato eacutetico de ordem constitucional () a proibiccedilatildeo do nepotismo decorre do conjunto de

princiacutepios constitucionais dentre os quais tecircm relevo os princiacutepios da moralidade e da impessoalidade fl 73-74

Bem como a Ministra Ellen Gracie ―() questatildeo do nepotismo como uma das formas mais visiacuteveis de ofensa ao

princiacutepio da moralidade administrativa () fl 84 E do Ministro Celso Mello ―() os postulados da impessoalidade

e da moralidade que representam os valores essenciais na conformaccedilatildeo das atividades do poder Sabemos todos que a

atividade estatal qualquer que seja o domiacutenio institucional de sua incidecircncia estaacute necessariamente subordinada agrave

observacircncia de paracircmetros eacutetico juriacutedicos que se refletem na consagraccedilatildeo constitucional dos princiacutepios da moralidade

administrativa que se qualifica como valor constitucional impregnado de substrato eacutetico e erigido agrave condiccedilatildeo de vetor

fundamental no processo do poder fl 97 E ainda complementa ―A praacutetica do nepotismo () traduz a proacutepria

antiacutetese da pauta de valores cujo substrato constitucional repousa no postulado da moralidade administrativa que natildeo

tolera ndash porque incompatiacutevel com o espiacuterito republicano e com a essecircncia da ordem democraacutetica ndash o exerciacutecio do

poder pro domo sua fl 100 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de

Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF Trechos dos votos dos Ministros

54

impostos pela resoluccedilatildeo satildeo ―atentatoacuterios da liberdade de nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo dos

cargos em comissatildeo e funccedilotildees de confianccedila (inciso II e V do art 37)243

alegou que ao

contraacuterio do que se pode pensar a resoluccedilatildeo apenas positivou ainda mais as proibiccedilotildees

constitucionais decorrentes dos princiacutepios da impessoalidade da eficiecircncia e da

igualdade244

E arrematou que os ―servidores puacuteblicos natildeo satildeo titulares de direito adquirido a

regime juriacutedico 245

e que as nomeaccedilotildees para exerciacutecio de cargo em comissatildeo se

submetem ao princiacutepio da moralidade e impessoalidade e que a proibiccedilatildeo do nepotismo

emana do princiacutepio da impessoalidade e que diante disto mesmo que a nomeaccedilatildeo de

cargo comissionado seja discricionaacuteria seus limites satildeo estabelecidos dentre outros por

esse princiacutepio e concluiu que os servidores que foram nomeados de forma irregular natildeo

detecircm direito subjetivo algum vez que da ―praacutetica ofensiva agrave Constituiccedilatildeo () natildeo pode

irradiar-se nenhum direito subjetivo 246

Disso o que se extrai que eacute vedado o

nepotismo na nomeaccedilatildeo de cargos comissionados

Ainda se afirmou que o normativo natildeo exprime afronta agrave separaccedilatildeo dos

poderes e nem ao princiacutepio federativo porque natildeo submeteu o Poder Judiciaacuterio aos

outros dois Poderes e que tambeacutem natildeo invadiu a competecircncia do Poder Legislativo

federal ou dos estaduais vez que apenas positivou o exerciacutecio da competecircncia reservada

pela Constituiccedilatildeo ao CNJ247

natildeo havendo ―violecircncia aos dogmas da separaccedilatildeo dos

poderes e da Federaccedilatildeo como tambeacutem natildeo observa ―ofensa alguma agrave isonomia 248

e

243 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Relator fl 37-38 244 ―O juiacutezo de que as restriccedilotildees constantes do ato normativo do CNJ satildeo no rigor dos termos as mesmas restriccedilotildees jaacute

impostas pela Constituiccedilatildeo de 1988 dedutiacuteveis dos republicanos princiacutepios da impessoalidade da eficiecircncia e da

igualdade sobretudo Quero dizer o que jaacute era constitucionalmente proibido permanece com essa tipificaccedilatildeo poreacutem

agora mais expletivamente positivado E completa ―() clara razatildeo de que a interpretaccedilatildeo dos mencionados

incisos tem que ficar adstrita agrave exegese dos comandos que se lecirc no caput do mesmo art 37 () princiacutepios reitores de

toda a Administraccedilatildeo Puacuteblica adequadamente pinccedilados e debulhados pelo ato normativo sub judice () Natildeo se

tratando entatildeo de discriminar o Poder Judiciaacuterio perante os outros dois Poderes Orgacircnicos do Estado sob a

equivocada proposiccedilatildeo de que o Poder Executivo e o Poder Legislativo estariam inteiramente libertos de peias

juriacutedicas para prover seus cargos em comissatildeo e funccedilotildees de confianccedila naquelas situaccedilotildees em que os respectivos

ocupantes natildeo hajam ingressado na atividade estatal por meio de concurso puacuteblico fl38 Neste final da passagem o

Ministro parece excepcionar os casos de servidores efetivos que satildeo nomeados para cargo comissionado BRASIL

Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF

Trecho do voto do Ministro Relator 245 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Eros Grau fl 47 246 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Cezar Peluso fl 57 247 Ministro Ayres Britto 248 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Sepuacutelveda Pertence Idem fl 117

55

tambeacutem que a Resoluccedilatildeo ―preserva a forccedila normativa da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica249

Nesse ensejo foi explicado250

que o CNJ positivou mateacuteria afeta agrave reserva da

norma vez que estabeleceu sobre uma mateacuteria que natildeo necessita ser versada por lei

formal podendo o ser por norma elaborada pelo Poder Executivo ou pelo Poder

Judiciaacuterio e que o assunto deveria ser regulado por cada oacutergatildeo no acircmbito de sua

respectiva competecircncia e que mas natildeo o foi o CNJ editou a Resoluccedilatildeo substituindo a

iniciativa dos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio 251

Aqui importa pensar que este tambeacutem eacute um dos argumentos de defesa quanto agrave

necessidade da elaboraccedilatildeo da SV N13 como instrumento constitucional utilizado pelo

STF na opiniatildeo de alguns devido agrave omissatildeo do Legislativo e tambeacutem do Executivo

Nesse diapasatildeo asseverou-se que a Resoluccedilatildeo veio para ―remediar os danos

causados pela praacutetica em si e tambeacutem para ―prevenir os riscos que esse dano venha

causar o que poderia ―ser feito apenas mediante a ediccedilatildeo de ato com caraacuteter normativo

e de sentido geral 252

e que a normativa eacute decorre do princiacutepio da moralidade 253

Aleacutem disso vale destacar que ainda se lembrou254

que incumbia ao STF

naquela ―sede de controle abstrato de normas tatildeo-somente aferir a constitucionalidade

da Resoluccedilatildeo n 0705 e natildeo ―esmiuccedilar cada qual das suas teoacutericas possibilidades de

incidecircncia menos ainda os particularizados efeitos de sua aplicaccedilatildeo em concreto 255

A partir de entatildeo foram suscitados dois pontos que ensejariam ―ajustes no ato

normativo256

o primeiro referente a ―parente por afinidade ateacute terceiro grau257

e o

249 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Celso Mello fl 100 Aleacutem de repulsar o nepotismo com base no princiacutepio da

moralidade principal esteio do seu voto 250 Ministro Eros Grau 251 Presidente do STF Ministro Nelson Jobim ―A iniciativa das leis dessa natureza eacute do Tribunal de Justiccedila e

nenhum Tribunal de Justiccedila salvo o do Rio Grande do Norte providenciou a emissatildeo da sua iniciativardquo BRASIL

Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF

Trecho do voto do Ministrofl 121 252 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Ministro Cezar Pelusofl 56 253 A Ministra Ellen Gracie dispocircs ―() no estrito exerciacutecio dessa atividade de verificaccedilatildeo ou guarda da proacutepria

constitucionalidade dos atos administrativos expedidos pelos tribunais () ao considerar a nomeaccedilatildeo de parentes por

magistrados uma conduta atentatoacuteria ao princiacutepio da moralidade (CF art 37 caput) BRASIL Supremo Tribunal

Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF fl 83 Assim quanto

agrave legalidade da Resoluccedilatildeo do CNJ os Ministros apresentaram os mais variados argumentos quanto agrave sua legalidade

desde que decorre de oacutergatildeo competente do princiacutepio da moralidade e da normativa constitucional ateacute que resulta da

omissatildeo de outros oacutergatildeos e trata de mateacuteria de reserva de norma 254 Ministro Britto 255 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Relator fl43 Contudo tal entendimento natildeo foi assentado quando da ediccedilatildeo

da SV 13 256 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Relator fl 44

56

segundo que atinente agrave inclusatildeo do vocaacutebulo ―chefia agrave Resoluccedilatildeo

Quanto ao primeiro ponto que

() a Resoluccedilatildeo nordm 0705 ato normativo que tenho como de natureza

primaacuteria podia mesmo fazer do terceiro grau de parentesco consanguiacuteneo um

criteacuterio de inibiccedilatildeo ao ―nepotismordquo Impedida estava no entanto de criar um

novo grau de parentesco por afinidade devido a que essa mateacuteria eacute de caraacuteter

civil reservada pela Constituiccedilatildeo agrave competecircncia do Poder Legislativo

Federal E o fato eacute que ela (Resoluccedilatildeo n 0705) distendeu as fronteiras do

parentesco para incluir ―parentes de 3ordm grau por afinidade ultrapassando

assim o instituto do cunhado Daiacute a necessidade de emprestar-se

interpretaccedilatildeo conforme aos incisos do art 2ordm da Resoluccedilatildeo nordm 07 do CNJ

para restringir o parentesco por afinidade da linha colateral ldquoaos irmatildeos do

cocircnjuge ou companheirordquo 258

Pois

() os atos do CNJ estatildeo necessariamente vinculados por hierarquia

normativa dentro do plano das leis de acircmbito nacional dentre outras agrave Lei n

1040602 que instituiu o vigente Coacutedigo Civil () precisamente de acordo

com as premissas antes referidas as normas desta Resoluccedilatildeo devem ser

interpretadas agrave luz do Coacutedigo Civil259

Todavia este argumento natildeo prevaleceu e nem foi aplicado agrave construccedilatildeo da SV

n13 embasada por tal Resoluccedilatildeo pois os entendimentos contraacuterios expostos pelos

demais Ministros prevalecerem vez que ao reveacutes afirmou-se que o STF natildeo deveria

discutir sobre o grau de parentesco disposto na Resoluccedilatildeo agrave luz do Coacutedigo Civil pois ―a

questatildeo de parentesco definida no Coacutedigo Civil eacute para efeitos civis e no julgado

visava-se ―a vigecircncia absoluta do princiacutepio da impessoalidade tendo em vista a

―impessoalidade efetiva natildeo se podendo deixar em aberto senatildeo a impessoalidade

seria ―rompida exatamente por esse caminho 260

Nesse esteio foi dito que o problema natildeo seria ―definir quais satildeo os parentes

para efeitos civis mas definir quais aquelas pessoas que sob a classe da parentela

tendem a ser escolhidas natildeo por interesse puacuteblico mas por interesse de caraacuteter

pessoal261

pois se devia focar em ―uma relaccedilatildeo familiar ainda que para os efeitos do

257 Ministro Britto 258 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Relator fl 44 259 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Trecho do voto do Ministro Gilmar Mendes fl 79 O Ministro desta feita se manifestou de maneira

legalmente adequada quanto ao tema mas natildeo foi acompanhado por seus colegas 260 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Ministro Nelson Jobim fl 62 261 Assim o Ministro Relator adere agrave questatildeo que havia de iniacutecio se manifestado pela incongruecircncia se posicionando

no seguinte sentido se os Colegas entediam que ―a resoluccedilatildeo nada mais fez do que transformar o terceiro grau de

parentesco num simples criteacuterio de inibiccedilatildeo BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo

Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC n 12-6DF Ministro Relator fl 63

57

Coacutedigo Civil natildeo seja chamada de parentesco262

e que como natildeo ―haacute conceito

constitucional de parentesco ou da extensatildeo do parentesco a ―uma norma

infraconstitucional vaacutelida seria ―dado atribuir para determinados efeitos conceitos

diversos daquele insculpido no Coacutedigo Civil 263

O segundo item ressaltado foi que se deveria incluir o vocaacutebulo chefialsquo na

resoluccedilatildeo por meio da interpretaccedilatildeo conforme visto que embora natildeo tenham sido

mencionados por ela os cargos em comissatildeo e as funccedilotildees de confianccedila foram

vinculados pelo texto constitucional natildeo apenas quanto agraves atribuiccedilotildees de direccedilatildeo e

assessoramento mas tambeacutem de chefia de acordo com o disposto no inciso V do art

37

Por fim tem-se como uacutenica argumentaccedilatildeo dissidente a indeferir a medida

cautelar264

que o CNJ natildeo possui poder normativo para editar a Resoluccedilatildeo pois natildeo haacute

―base constitucional para que ele possa ―normatizar de forma abstrata substituindo-se

ao Congresso nem a liminar poderia ser concedida com tais ―contornos maiores uma

vez que natildeo soacute suspende ―atos jurisdicionais jaacute formalizados mas ―vai-se aleacutem para

colocar em segundo plano uma garantia constitucional baacutesica a do livre acesso ao Poder

Judiciaacuterio a qual decorre do disposto no inciso XXXV do art 5ordm da Carta de 1988265

Feita a anaacutelise do julgado quanto a cautelar da ADC passa-se ao julgado

quanto agrave apreciaccedilatildeo do meacuterito da accedilatildeo que ―natildeo animou a Corte a novos debates ou

aprofundamentos266

mas declarou a constitucionalidade da Resoluccedilatildeo do Conselho

Nacional de Justiccedila267

com eficaacutecia erga omnes e efeito vinculante268

262 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Ministro Sepuacutelveda Pertence fl 63 263 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Ministro Sepuacutelveda Pertence fl 118 Neste esteio em prol da inibiccedilatildeo ao nepotismo vale por meio de

teacutecnica de argumentaccedilatildeo criar ampliar o parentesco por afinidade diverso do restringido em lei Os Ministros

resolveram ser mais legalistas que a proacutepria lei fundados na observacircncia dos princiacutepios constitucionais da

impessoalidade e da moralidade que regem a Administraccedilatildeo Puacuteblica 264 Ministro Marco Aureacutelio Que remonta ao voto proferido em sede da ADI n 1521-4RS tambeacutem precedente da

Suacutemula como este julgado Vaacuterios Ministros fizeram referecircncia ou aos seus proacuteprios votos na referida ADI ou ao dos

seus colegas para fundamentar os respectivos proferidos no julgamento em voga 265 BRASIL Supremo Tribunal Federal Medida Cautelar em Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade MC - ADC

n 12-6DF Ministro Marco Aureacuteliofl 89 - 90 266 MODESTO Paulo Nepotismo em Cargos Poliacutetico administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP

Belo Horizonte Ed Forum ano 11 n 41 abrjun 2013 p30 267 O que natildeo podia ser diferente uma vez que o proacuteprio Presidente do STF tambeacutem no julgamento da liminar jaacute

havia se pronunciado desta maneira ―Sabemos perfeitamente que na tradiccedilatildeo do Tribunal as concessotildees da liminar

praticamente satildeo as decisotildees finais ()fl 122 268 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade ADC n 12-6DF Ementaacuterio n

2387-1 ―ACcedilAtildeO DECLARATOacuteRIA DE CONSTITUCIONALIDADE AJUIZADA EM PROL DA RESOLUCcedilAtildeO

Nordm 07 de 181005 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTICcedilA ATO NORMATIVO QUE DISCIPLINA O

EXERCIacuteCIO DE CARGOS EMPREGOS E FUNCcedilOtildeES POR PARENTES COcircNJUGES E COMPANHEIROS DE

MAGISTRADOS E DE SERVIDORES INVESTIDOS EM CARGOS DE DIRECcedilAtildeO E ASSESSORAMENTO NO

AcircMBITO DOS OacuteRGAtildeOS DO PODER JUDICIAacuteRIO E DAacute OUTRAS PROVIDEcircNCIAS PROCEDEcircNCIA DO

58

O julgamento do meacuterito da ADC assentou tudo aquilo jaacute expresso no julgado

referente agrave cautelar e especialmente o uacutenico argumento linear que se extrai dos votos

de todos os Ministros de que os princiacutepios insertos no caput do artigo 37 da

Constituiccedilatildeo Federal satildeo autoaplicaacuteveis e que deles decorre o vedaccedilatildeo do nepotismolsquo 269

e trouxe argumentos novos tatildeo somente quanto agrave inclusatildeo do vocaacutebulo chefia na

Resoluccedilatildeo por meio da interpretaccedilatildeo conformelsquo pois restou notado270

ao reveacutes do

entendimento disposto na cautelar271

que eacute prescindiacutevel se realizar interpretaccedilatildeo

conformelsquo quanto aos termos ―direccedilatildeo e assessoramento dispostos na resoluccedilatildeo

porque os cargos em comissatildeo ―satildeo cargos de direccedilatildeo e assessoramento superior

portanto inclui necessariamente o cargo de chefia272

Todavia nem esse ponto que natildeo deveria suscitar duacutevidas tamanha clareza

natildeo restou paciacutefico pois ainda foi de outra banda registrado que ―seria bom que

constasse direccedilatildeo chefia e assessoramentolsquo273

na redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo

114 Recurso Extraordinaacuterio n 579951RN

O quarto precedente da SV n13 natildeo menos importante que o terceiro trata de

Recurso Extraordinaacuterio274

interposto em face de Acoacuterdatildeo proferido pelo Tribunal de

Justiccedila do Estado do Rio Grande do Norte275

que considerou legais a nomeaccedilatildeo de

irmatildeo de vereador municipal para o cargo de Secretaacuterio de Sauacutede do Municiacutepio e de

irmatildeo do vice-prefeito do Municiacutepio como motorista da Prefeitura vez que segundo o

Colegiado recorrido natildeo havia ―() qualquer inconstitucionalidade ou ilegalidade na

PEDIDO() fl13 Relator Min Carlos Ayres Britto julgada em 2082008 e publicada no DJ nordm 237 de

18122009 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 100213 269 Tanto no julgado da liminar seja no meacuterito da ADC todos os Ministros elucidaram sobre o nepotismo e sobre os

princiacutepios entretanto natildeo se remontou novamente aos pronunciamentos uma vez que a maioria das argumentaccedilotildees

jaacute foi citada 270 Ministro Menezes Direito 271BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade ADC n 12-6DF Ministro

Menezes Direito fl 16 Tanto que a Ministra Carmem Luacutecia esclarece logo na fl 18 do julgado que direccedilatildeo inclui a

chefia 272 O Ministro Marco Aureacutelio dissidente no julgamento da cautelar aderiu agrave ―colocaccedilatildeo do ministro Menezes

Direito quanto agrave desnecessidade da interpretaccedilatildeo conforme (fl 23) e o Ministro Gilmar Mendes acompanhou o

relator integralmente mesmo tendo afirmado que entendia a proposiccedilatildeo da desnecessidade da interpretaccedilatildeo

conforme BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade ADC n 12-6DF 273 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Declaratoacuteria de Constitucionalidade ADC n 12-6DF Ministro Cezar

Peluso fl 27 274 BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ementaacuterio n 2338-10

―ADMINISTRACcedilAtildeO PUacuteBLICA VEDACcedilAtildeO NEPOTISMO NECESSIDADE DE LEI FORMAL

INEXIGIBILIDADE PROIBICcedilAtildeO QUE DECORRE DO ART 37 CAPUT DA CF REPROVIDO EM PARTE I ndash

() II - A vedaccedilatildeo do nepotismo natildeo exige a ediccedilatildeo de lei formal para coibir a praacutetica III - Proibiccedilatildeo que decorre

diretamente dos princiacutepios contidos no art 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal fl 1876 Relator Min Ricardo

Lewandowski julgado em 2082008 e publicado no DJ n 202 de 24101008 ajuizado pelo Ministeacuterio Puacuteblico do

Rio Grande do Norte 275 Apelaccedilatildeo agrave decisatildeo de primeira instacircncia proferida na accedilatildeo declaratoacuteria de nulidade de ato administrativo pelo

magistrado da 1ordf Vara Ciacutevel da Comarca de Pau de FerrosRN Autos n 2007006909-8

59

nomeaccedilatildeo () para exerciacutecio respectivamente dos cargos em comissatildeo de Secretaacuterio

Municipal de Sauacutede e de motorista276

A Corte Estadual afirmou a uma que a Resoluccedilatildeo do CNJ natildeo podia ser

interpretada extensivamente e por isto natildeo seria aplicaacutevel ao Poder Executivo e

Legislativo a duas que a proibiccedilatildeo do nepotismo ―no acircmbito desses poderes exige a

ediccedilatildeo de lei formal e a trecircs que a ―nomeaccedilatildeo de parentes de agentes poliacuteticos para o

exerciacutecio de cargos de confianccedila ou em comissatildeo natildeo viola qualquer dispositivo

constitucional 277

pois a Constituiccedilatildeo dispotildee sobre a livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo para

estes cargos

Entretanto o Ministeacuterio Puacuteblico ao apresentar as razotildees recursais obtemperou

que a decisatildeo do TJRN eacute contraacuteria ao ―princiacutepio da moralidade abrigado no art 37 da

mesma Carta que natildeo eacute ―liacutecito dar-se aos seus incisos II e V278

uma interpretaccedilatildeo

isolada dissociada do que conteacutem no caput do mencionado dispositivo279

e que ―a

proibiccedilatildeo ao nepotismo decorre diretamente do referido princiacutepio constitucional sendo

dispensaacutevel a ediccedilatildeo de lei expressa nesse sentido280

Diante de tal embate a Corte afirmou que ―o entendimento agasalhado no

acoacuterdatildeo recorrido natildeo merecia prosperar diante da forccedila normativa dos princiacutepios

dispostos no art 37 da Carta Federal pois ―a vedaccedilatildeo ao nepotismo eacute regra

constitucional que estaacute na zona de certeza dos princiacutepios da moralidade e da

impessoalidade281

Ainda explicitou natildeo soacute sobre a aplicaccedilatildeo do princiacutepio da moralidade282

como

tambeacutem sobre o nepotismo283

e daiacute trouxe a lume o fato de que diversas leis vedam o

276 BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1877 277

BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1877- 1878 278 Referentes agrave nomeaccedilatildeo para cargo em comissatildeo e funccedilatildeo de confianccedila que eacute tanto quanto a exoneraccedilatildeo ad

nutum 279 BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1878 280 BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1878 De acordo com o

exposto pelo Relator Ministro Ricardo Lewandowiski os princiacutepios coiacutebem ―a nefasta e antirrepublicana praacutetica do

nepotismo o Ministro explica que ―os princiacutepios constitucionais longe de configurarem meras recomendaccedilotildees de

caraacuteter moral ou eacutetico consubstanciam regras juriacutedicas de caraacuteter prescritivo hierarquicamente superiores agraves demais

e positivamente vinculanteslsquo como ensina Gomes Canotilho fl1888 281BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1878 Relator Ministro

Ricardo Lewandowiski fl 1883 ―() os princiacutepios dentre os quais destaco o da moralidade e impessoalidade

exigem que o agente puacuteblico paute a sua conduta por padrotildees eacuteticos que tecircm como fim uacuteltimo lograr a consecuccedilatildeo do

bem comum seja qual for a esfera do poder ou niacutevel poliacutetico-administraccedilatildeo da Federaccedilatildeo em que atue fl 1890 282 O Relator Ministro Ricardo Lewandowiski jaacute no Relatoacuterio afirma que a decisatildeo do TJRN ―contraria o princiacutepio

da moralidade porque abarca a praacutetica de nepotismo e a proibiccedilatildeo deste ―decorre diretamente do referido princiacutepio

constitucional BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1878 283 O Ministro Relator quanto ao nepotismo aleacutem de afirmar citando a obra de Sergio Buarque de Holanda que o

nepotismo adveacutem das ―() origens da dificuldade de separaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado pelos detentores do poder

em nossa sociedade () fl 1885 Ainda se refere agrave noccedilatildeo de nepotismo explicando que ―Como se sabe do ponto de

60

nepotismo no acircmbito federal mas que isto natildeo significaria que a proibiccedilatildeo possa

ocorrer apenas por leis formais284

pois sua vedaccedilatildeo estaacute diretamente relacionada com a

aplicaccedilatildeo do princiacutepio da moralidade e que o nepotismo aleacutem de transgredir este

tambeacutem infringe os princiacutepios da impessoalidade e da isonomia285

e ainda na maioria

das vezes o da eficiecircncia286

Nessa mesma linha foi reafirmada a desnecessidade de lei formal para coibir o

nepotismo decorrente da aplicaccedilatildeo do princiacutepio constitucional da moralidade287

diante

da aplicaccedilatildeo imediata dos princiacutepios do artigo 37 da Carta Federal independente

portanto de legislaccedilatildeo infraconstitucional288

pois o princiacutepio da moralidade como

assentado pelo proacuteprio Tribunal ―condiciona a legitimidade e a validade dos atos

estatais 289

Nessa toada tambeacutem foi destacado que haacute ―consenso social acerca da

reprovabilidade290

da praacutetica do nepotismo e que ―() carece de plausibilidade a

exegese segundo a qual o nepotismo seria permitido simplesmente porque natildeo haacute lei

que o proiacuteba mas que natildeo havia como prover integralmente o recurso pois natildeo cabia

ao STF atuar como legislador positivo natildeo podendo portanto proibir o muniacutecipio de

vista etimoloacutegico a palavra nepotismolsquo tem origem no latim derivando da conjugaccedilatildeo do termo nepote significando

sobrinho ou protegido com o sufixo ismolsquo que remete agrave ideia de ato praacutetica ou resultado A utilizaccedilatildeo desse termo

historicamente adveacutem da autoridade exercida pelos sobrinhos e outros aparentados dos Papas na administraccedilatildeo

eclesiaacutestica nos seacuteculos XV e XVI da nossa era ganhando atualmente o significado pejorativo do favorecimento de

parentes por parte de algueacutem que exerce o poder na esfera puacuteblica ou privada BRASIL Supremo Tribunal Federal

Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1881-1882 284

―() os princiacutepios constitucionais longe de configurarem meras recomendaccedilotildees de caraacuteter moral ou eacutetico

consubstanciam regras juriacutedicas de caraacuteter prescritivo e hierarquicamente superiores agraves demais e positivamente

vinculanteslsquo () como se reconhece atualmente satildeo sempre dotados de eficaacutecia cuja materializaccedilatildeo pode ser

cobrada judicialmente se necessaacuterio

BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n

579951RN Ministro Relator fl1888 285 Em conformidade com os dizeres do Ministro Relator ―Aleacutem da ofensiva agrave moralidade administrativa a nomeaccedilatildeo

de parentes para cargos e funccedilotildees que natildeo exigem concurso puacuteblico () fere o princiacutepio da impessoalidade e por

extensatildeo o basilar princiacutepio da isonomia porque prevalece o nefasto QIlsquo o popular quem indicalsquo () BRASIL

Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ministro Relator fl1892 286 BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ministro Relator fl 1890-1893

Ao afirmar que ―no mais das vezes a nomeaccedilatildeo de parentes dada absoluta inapetecircncia destes para o trabalho e o seu

completo despreparo para o exerciacutecio das funccedilotildees que alegadamente exercem vulnera tambeacutem o princiacutepio da

eficiecircncia () num evidente desvio de finalidade porquanto permite que o interesse privado isto eacute patrimonial no

sentido socioloacutegico e tambeacutem vulgar da expressatildeo prevaleccedila sobre o interesse coletivofl 1893 Tambeacutem que ―()

o fato de que essa praacutetica atenta natildeo apenas contra o princiacutepio da impessoalidade como tambeacutem o da eficiecircncia

ambos inseridos no rol daqueles que devem nortear a accedilatildeo dos agentes puacuteblicos fl 1898 E ainda que o princiacutepio da

eficiecircncia obsta a ―() histoacuterica confusatildeo que os administradores puacuteblicos com honrosas exceccedilotildees tecircm feito entre

patrimocircnio puacuteblico e privado fl1899 287 Ministro Menezes Direito 288 Ministra Carmen Luacutecia 289

Ministro Celso Mello como nos demais votos proferidos nos precedentes da Suacutemula ora em exame inclusive

citando o seu proacuteprio voto proferido da ADI 1521RS torna a rechaccedilar a praacutetica do nepotismo com base nos

princiacutepios constitucionais republicanos BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n

579951RN fl 1932-1933 290 Ministro Relator BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1896

61

realizar certas nomeaccedilotildees291

Declarou-se nula a nomeaccedilatildeo do irmatildeo do Vice-Prefeito como motorista e a

legalidade da nomeaccedilatildeo do irmatildeo do vereador para o cargo poliacutetico de Secretaacuterio de

Sauacutede por natildeo configurar ―nepotismo cruzado292

Diante disse os dois assuntos que mereceram debates inovadores neste quarto

precedente da SV n13 foram a distinccedilatildeo quanto agrave aplicabilidade do nepotismo no

cargo administrativo e no cargo comissionado293

e a possibilidade de se ter configurado

o nepotismo cruzado

Quanto ao primeiro ponto foi elucidado

() sobre a distinccedilatildeo entre cargo em comissatildeo e funccedilatildeo de confianccedila de um

lado e do outro cargo de Secretaacuterio Municipal Secretaacuterio de Estado

Ministro de Estado portanto cargos de natureza poliacutetica claro que eu natildeo

quis dizer que esses princiacutepios do art 37 ndash legalidade e moralidade ndash natildeo se

aplicam aos dirigentes superiores de toda a Administraccedilatildeo Puacuteblica Agora os

cargos aqui referidos no inciso V do artigo 37 satildeo singelamente

administrativos satildeo cargos criados por lei natildeo satildeo nominados pela

Constituiccedilatildeo Os cargos de Secretaacuterio de Estado Secretaacuterio Municipal tecircm

por ecircmulo ou paradigma federal os cargos de Ministro de Estado cuja

natureza eacute poliacutetica e natildeo singelamente administrativa Diz a Constituiccedilatildeo

Federal sobre o Poder Executivo o Poder Executivo eacute exercido pelo

Presidente da Repuacuteblica auxiliado pelos Ministros de Estado Ou seja os

Ministros de Estado satildeo ocupantes de cargos de existecircncia necessaacuteria

poliacutetica porque componentes do governo Aonde eu quero chegar O Chefe

do Poder Executivo eacute livre para escolher seus quadros de governo mas natildeo o

eacute para escolher seus quadros administrativos porque dentre os quadros

administrativos estatildeo os cargos em comissatildeo os cargos de provimento

efetivo e as funccedilotildees de confianccedila A proacutepria Constituiccedilatildeo sentando praccedila

desse caraacuteter constitucional eminentemente poliacutetico dos Ministros de Estado

ndash e isso vale no plano dos Estados-membros e no plano dos municiacutepios aleacutem

de dizer os requisitos deles () diz o que basicamente lhes compete Entatildeo o

assento o locus juriacutedico dos auxiliares de governo eacute diretamente

291

() natildeo cabe a esta Corte conforme paciacutefica jurisprudecircncia atuar como legislador positivo sendo-lhe vedado

inovar o sistema normativo funccedilatildeo reservada ao Poder Legislativo O provimento integral do RE com efeito

revelaria flagrante extravasamento de competecircncias com ofensa ao princiacutepio constitucional da separaccedilatildeo dos

poderes BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ministro Relator fl

1900 292

―Desprovejo-o quanto ao secretaacuterio de sauacutede Entendo que natildeo podemos a partir do disposto na cabeccedila do art 37

da Constituiccedilatildeo Federal glosar a escolha E haveria ainda a problemaacutetica a que se referiu Vossa Excelecircncia o

parentesco natildeo eacute com o titular natildeo eacute com o vice-prefeito natildeo eacute com algueacutem ligado ao Executivo com servidor ou

agente poliacutetico mas com um vereador BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n

579951RN Ministro Relator fl 1911 293O Ministro Marco Aureacutelio foi o primeiro a trazer agrave baila a distinccedilatildeo da aplicabilidade do nepotismo ao servidor

puacuteblico e ao agente poliacutetico Um dos pontos mais relevantes deste julgado e criticaacutevel por alguns no que concerne ao

verbete sumular Segundo Paulo Modesto ―A mais grave das ressalvas foi germinada nas primeiras decisotildees da Corte

sobre o tema nepotismo a partir de uma distinccedilatildeo ausente do enunciado da suacutemula entre o favorecimento familiar de

agentes no provimento de cargos administrativos e no provimento de bdquocargos poliacuteticos‟ ou bdquopoliacutetico-

administrativos‟ E completa ―Segundo essa interpretaccedilatildeo difundida amplamente sem os matizes presentes nos

debates da Corte a Suacutemula Vinculante seria aplicaacutevel apenas a funccedilotildees de confianccedila e cargos em comissatildeo

puramente administrativos de livre nomeaccedilatildeo e livre exoneraccedilatildeo O provimento de cargos puacuteblicos mesmo os natildeo

eletivos natildeo sofreria as limitaccedilotildees da proibiccedilatildeo do nepotismo MODESTO Paulo MODESTO Paulo Nepotismo

em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP Belo Horizonte Ed Forum ano

11 n 41 abrjun 2013 p11-12

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constitucional A Constituiccedilatildeo Federal a atestar o caraacuteter o poliacutetico do cargo e

do agente Por isso o que decidimos no plano da ADC nordm 12 e agora

servindo de fundamento para a nova decisatildeo a proibiccedilatildeo do nepotismo

arranca decola deriva diretamente dos princiacutepios do artigo 37 que satildeo

princiacutepios extensiacuteveis a toda a Administraccedilatildeo Puacuteblica de qualquer dos

Poderes de qualquer das pessoas federadas ―Tudo isso na vertente na

perspectiva de cargos em comissatildeo e funccedilotildees de confianccedila que tem caraacuteter

apenas administrativo e natildeo caraacuteter poliacutetico 294

E tambeacutem

() a Corte concordou ndash que os princiacutepios do artigo 37 eram extensiacuteveis a

toda a Administraccedilatildeo Puacuteblica tive em conta a proacutepria expressatildeo

―Administraccedilatildeo Puacuteblica porque esses princiacutepios da legalidade

impessoalidade e moralidade vecircm num contexto natildeo de governo natildeo de

poder poliacutetico mas de Administraccedilatildeo Puacuteblica ou seja para exerciacutecio da

atividade administrativa A Administraccedilatildeo Puacuteblica aqui parece-me eacute

segmento do governo O governo eacute mais do que a Administraccedilatildeo Puacuteblica

porque incorpora ingrediente poliacutetico Entatildeo quando o art 37 refere-se a

cargo em comissatildeo e funccedilatildeo de confianccedila estaacute tratando de cargos e funccedilotildees

singelamente administrativos natildeo de cargos poliacuteticos Portanto os cargos

poliacuteticos estariam fora do alcance da decisatildeo que tomamos na ADC n 12

porque o proacuteprio Capiacutetulo VII eacute Da Administraccedilatildeo Puacuteblica enquanto

segmento do Poder Executivo E sabemos que os cargos poliacuteticos como por

exemplo os de Secretaacuterio Municipal satildeo de agentes do Poder fazem parte

do Poder Executivo O cargo natildeo eacute em comissatildeo no sentido do art 37

Somente os cargos e funccedilotildees singelamente administrativos ndash eacute como penso ndash

satildeo alcanccedilados pela imperiosidade do artigo 37 com seus lapidares

princiacutepios Entatildeo essa distinccedilatildeo me parece importante para no caso excluir

do acircmbito da nossa decisatildeo anterior os Secretaacuterios Municipais que

correspondem a Secretaacuterios de Estado no acircmbito dos Estados e Ministros de

Estado no acircmbito federal295

Dessa forma a distinccedilatildeo entre cargo poliacutetico e cargo comissionado se tornou

mais clara ao Tribunal296

Poreacutem foi levantado o questionamento de como ficariam as situaccedilotildees dos

Prefeitos Municipais que nomeiam vaacuterios parentes seus para assumirem cargos poliacuteticos

de Secretaacuterios297

e foi explicado que tais nomeaccedilotildees faziam parte da rotina inerente ao

funcionamento do Poder Executivo e que se referia agrave formaccedilatildeo do ―quadro de governo

natildeo sendo aplicaacutevel a norma do inciso V do art 37 (nomeaccedilatildeo de cargo em

294

Ministro Ayres Britto Desta feita manifestou-se pelo provimento do recurso apenas quanto agrave contrataccedilatildeo do

irmatildeo do vice-prefeito como motorista da Prefeitura BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio

RE n 579951RN Ministro Relator 1912-1913 295BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN Ministro Ayres Britto fl 1922-

1923 296 E aos demais Ministros que acompanharam a divergecircncia e se manifestaram pelo provimento parcial do recurso

Tanto se tornou clara que o Ministro Menezes Direito ao proferir seu voto disse que fazia as mesmas restriccedilotildees que

haviam sido feitas pelos Ministros Marco Aureacutelio e Ayres Britto ―Eu entendo que nessa circunstacircncia natildeo cabe a

aplicaccedilatildeo do princiacutepio natildeo se trata aqui de nepotismo Seria absolutamente impossiacutevel fazer essa vinculaccedilatildeo

Todavia tal natildeo ocorre com o cargo de motorista porque ele estaacute sendo contratado para o gabinete do vice-prefeito

ele eacute funcionaacuterio da administraccedilatildeo municipal tambeacutem servindo o vice-prefeito e aiacute fica evidente que estaacute havendo a

contrataccedilatildeo de um irmatildeo para a mesma reparticcedilatildeo para o mesmo local e ateacute mesmo um caso mais grave que me

parece este escapando do necessaacuterio concurso puacuteblico considerando que o cargo de motorista natildeo eacute suscetiacutevel de

contrataccedilatildeo por via de cargo de direccedilatildeo e assessoramento superior BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso

Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1915-1916 297 Ministro Relator Ricardo Lewandowski questionou ao Ministro Ayres Britto

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comissatildeo)298

Mas mesmo assim foi manifesto um ―certo receio quanto ao assentamento

―com todas as letras que em se tratando de Secretaacuterio Municipal que eacute cargo poliacutetico

de livre nomeaccedilatildeo enfim de confianccedila do prefeito tal atitude seria liacutecita porque entatildeo

o prefeito poderia colocar sua ―esposa em um cargo chavelsquo de Secretaacuteria de Governo o

que seria liacutecito agrave luz da proibiccedilatildeo do nepotismo do princiacutepio da moralidade 299

E nesse enredo foi manifesto o entendimento de que seria inviaacutevel permitir que

os Chefes do Poder Executivo pudessem nomear quem quisessem pois ―Natildeo existe

liberdade absoluta em espaccedilo algum senatildeo o governante poderia escolher apenas os

seus familiares para todos os cargos E por ser cargo poliacutetico isso seria permitido De

modo algum 300

e que tambeacutem os ―membros de Poder satildeo pessoas que natildeo titularizam

cargo em comissatildeo 301

e por isto natildeo haveria que se falar em nepotismo quanto a eles

E o nepotismo foi excepcionado quanto aos cargos de natureza eminentemente

poliacutetica citando-se que Bobby Kennedy irmatildeo do Presidente dos Estados Unidos John

F Kennedy compunha seu governo302

Por fim o segundo ponto a ser trazido agrave pauta da discussatildeo foi o ―nepotismo

cruzado explicado como troca de favores entre autoridades dos poderes que de forma

reciacuteproca nomeiam os seus parentes303

298 Resposta do Ministro Ayres Britto 299

BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1925 A preocupaccedilatildeo do

Relator quanto ao entendimento do Ministro Britto eacute quanto agrave aplicabilidade da tese na praacutetica especialmente dos

municiacutepios pequenos onde o perigo de ocorrerem estas nomeaccedilotildees eacute ainda maior 300

Ministra Carmem Luacutecia BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl

1925 301

―Tanto que natildeo contam esse prazo por exemplo para efeito de aposentadoria Eacute um regime juriacutedico realmente

diferenciado Mas tenho certeza de que eacute por essa via que se pode abrir uma cunha extremamente perigosa

BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1920 302 Ministro Gilmar Mendes ―Eacute tradiccedilatildeo mundial () e no proacuteprio plano nacional muitas vezes parentes ou irmatildeos

fazem carreiras paralelas e estabelecem um plano eventual de cooperaccedilatildeo ndash temos governadores e secretaacuterios de

Estado - sem que haja qualquer conotaccedilatildeo de nepotismo Parece-me que devemos entatildeo ter cuidado quanto agrave

fixaccedilatildeo () A vinculaccedilatildeo haacute de ser com o titular ou titulares do cargo de que se cuida na relaccedilatildeo com a

Administraccedilatildeo BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl 1939 Conforme

o entendimento de Joatildeo Joseacute Leal e Rodrigo Joseacute Leal esta compreensatildeo do Ministro sinaliza ―() uma contraditoacuteria

hermenecircutica da Corte de Justiccedila sobre a mateacuteria que procurou justificar a legitimidade dessa infeliz hipoacutetese de

exceccedilatildeo agrave regra com o exemplo dos irmatildeos Kennedy E assim concluem que ―Parece que ainda natildeo superamos a

velha e discutiacutevel filosofia tupiniquim de que o que foi uma vez bom para os Estados Unidos eacute bom tambeacutem para o

Brasil Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top In Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008 p 23 Quanto a este argumento resta claro e inequiacutevoco

que desde o iniacutecio os Ministros assentaram o entendimento de que a vedaccedilatildeo ao nepotismo eacute aplicaacutevel agrave esfera

administrativa mas natildeo agrave poliacutetica ou seja apenas ao acircmbito da administraccedilatildeo e natildeo ao de governo mesmo sendo tal

praacutetica contraacuteria ao princiacutepio republicano e nesse esteio posteriormente editaram a SV13 aplicando a moralidade

restritivamente agrave nomeaccedilatildeo do cargo comissionado escusando assim o cargo puacuteblico e ensejando no caso do

nepotismo que ―quem pode o mais natildeo pode o menos 303 Apoacutes o voto do Ministro Cezar Peluso o Ministro Relator realizou ajustamento ao seu voto provendo em parte o

Recurso estando excluiacuteda a situaccedilatildeo do Secretaacuterio de Sauacutede como praacutetica de nepotismo Ibidem fl 1929 E ainda

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Desta feita o nepotismo cruzado juntamente com o tema nepotismo

inaplicaacutevel ao cargo poliacutetico configuram os debates mais importantes observados neste

precedente a fundamentar a elaboraccedilatildeo da SV n13304

Expostos os precedentes da Suacutemula em questatildeo305

imprescindiacutevel passar agrave

apreciaccedilatildeo dos debates travados entre os Ministros quanto agrave ediccedilatildeo do verbete sumular e

sua respectiva redaccedilatildeo com o fito natildeo apenas de demonstrar que o STF reconstruiu a

noccedilatildeo de nepotismo como tambeacutem por que editou a SV n13

12 Os debates do Supremo Tribunal Federal sobre a SV n13

Nesse toacutepico satildeo enfocadas as argumentaccedilotildees expostas pelos Ministros nos

debates ocorridos em duas sessotildees plenaacuterias306

do STF em que o tema sobre a ediccedilatildeo e

aprovaccedilatildeo da Suacutemula foi tratado a fim de compreender natildeo apenas a proacutepria elaboraccedilatildeo

da Suacutemula como tambeacutem o sentido e a interpretaccedilatildeo que foram dados pelos Ministros a

algumas palavras e expressotildees dispostas em seu corpo textual que causaram duacutevidas e

polecircmicas no meio juriacutedico tais como ―parente por afinidade ateacute terceiro grau

inclusive e ―pessoa juriacutedica tratadas na primeira e segunda sessatildeo respectivamente

O primeiro debate foi iniciado307

a partir da anaacutelise sobre o grau de parentesco

sob o argumento de que o limite do parentesco face agrave vedaccedilatildeo do nepotismo deveria ser

―ateacute o terceiro grau pois a redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo n 072005 do Conselho Nacional de

Justiccedila308

e da maioria das legislaccedilotildees estaduais veda a praacutetica do nepotismo ateacute o

ressaltou que existem outras possibilidades de nomeaccedilatildeo realizadas para agradar que natildeo configuram nepotismo

mesmo infringindo a moralidade como a nomeaccedilatildeo de parente de amigo da autoridade verbis ―() existe tambeacutem

a hipoacutetese em que se nomeia terceiro que natildeo tem parentesco com nenhum agente puacuteblico mas tem parentesco com

quem seja amigo do nomeante Isto eacute qualquer autoridade pode nomear algueacutem para o cargo em comissatildeo atendendo

a amigo e isso natildeo eacute alcanccedilado pela restriccedilatildeo do princiacutepio da impessoalidade Natildeo se sabe o que se passa na

subjetividade do nomeante se eacute para atender a este ou aquele fl 1928 Segundo os ensinamentos de Celso Mello

em seu voto neste RE ―Cabe preservar desse modo as relaccedilotildees que os conceitos de espaccedilo puacuteblico e espaccedilo privado

guardam entre si para que tais noccedilotildees natildeo se deformem nem provoquem a subversatildeo dos fins eacutetico-juriacutedicos visados

pelo legislador constituinte BRASIL Supremo Tribunal Federal Recurso Extraordinaacuterio RE n 579951RN fl

1936 Neste sentido que Antocircnio Arnaldo Dal Pozzo questiona o porquecirc de o ordenamento tratar de maneira tatildeo

diferente o parente e amigo iacutentimo ―() quando se trata de (livre) nomeaccedilatildeo para cargo em comissatildeo (isto eacute

permitindo a nomeaccedilatildeo do amigo iacutentimo e impedindo a do parente) Ainda mais quando se considera que no acircmbito

do Poder Executivo a questatildeo da amizade do sectarismo do partidarismo te influecircncia decisiva DAL POZZO

Antocircnio Arnaldo O nepotismo no Poder Executivo In Boletim de Direito Municipal ndash BDM Editora NDJ vol 24

n 8 ago 2008 p599 304

E voltam a ser discutidos tanto nos debates anteriores a elaboraccedilatildeo dela como posteriormente agrave sua ediccedilatildeo 305O que Antocircnio Maueacutes discorda porque segundo ele a Suacutemula editada pelo STF proveacutem de um uacutenico precedente

―Apesar de rigorosamente contar com um uacutenico precedente o STF decidiu usar a Resoluccedilatildeo nordm 7 do CNJ sobre o

nepotismo como base da redaccedilatildeo da suacutemula tendo em vista sua decisatildeo na ADC nordm 12 Suacutemula Vinculante e

Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais In Direitos Fundamentais e Justiccedila n 8 julset 2009 p 93 306 21ordf ordinaacuteria e 28ordf extraordinaacuteria ocorridas respectivamente no dia 20 e 21082008 A iacutentegra da ata da sessatildeo foi

publicada pelo STF no DJE nordm 2142008 fl 20-21 cuja divulgaccedilatildeo ocorreu na terccedila-feira 11112008 e a publicaccedilatildeo

na quarta-feira seguinte 12112008 Disponiacutevel em httpwwwstfjusbrportalautenticacaosob o nuacutemero 314372 307 Pelo Ministro Marco Aureacutelio 308 Que neste momento jaacute havia sido submetida agrave apreciaccedilatildeo do Tribunal por meio do julgamento da ADC n 12

como visto anteriormente um dos precedentes da Suacutemula in casu

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terceiro grau de parentesco309

Contudo nesse primeiro momento os Ministros ainda natildeo haviam conectado a

limitaccedilatildeo de parentesco agrave ―afinidade ateacute o terceiro grau e entatildeo foi suscitada a

possibilidade de o ―parentesco abarcar os familiares consanguiacuteneos adotivos e afins310

ateacute o terceiro grau ficando dessa forma assentado tal entendimento sobre o terceiro

grau de parentesco por afinidade311

A essa altura a discussatildeo se voltou312

a um foco preliminar e imprescindiacutevel a

nortear o debate juriacutedico qual seja que a ―tese disposta pela Suacutemula Vinculante

deveria apenas positivar a proibiccedilatildeo do nepotismo como consequecircncia dos princiacutepios

dispostos no artigo 37 da Constituiccedilatildeo Federal mesmo porque poderia haver aleacutem da

Resoluccedilatildeo n 072005 do CNJ base da discussatildeo para a ediccedilatildeo da Suacutemula313

outras leis

ateacute mais rigorosas que a Resoluccedilatildeo e que nem por isso seriam inconstitucionais

Nesse esteio foi lembrado que o intuito daquele colegiado natildeo era definir a

questatildeo com grande precisatildeo mas elaborar uma orientaccedilatildeo sumular que diminuiacutesse as

demandas judiciais envolvendo nepotismo314

e que assim a Suacutemula poderia ser

previamente aprovada mas que a sua redaccedilatildeo diante das duacutevidas postas em plenaacuterio

deveria ser aprimorada o que necessitaria de um maior tempo especialmente pela

necessidade de compatibilizar o disposto na Suacutemula agrave legislaccedilatildeo jaacute existente315

Mas tal

sugestatildeo natildeo foi absorvida pelo colegiado pois restou acertado que diante da

309 Segundo o entatildeo Presidente do STF Ministro Gilmar Mendes e a Ministra Carmem Luacutecia Perceba-se a vedaccedilatildeo

jaacute existia nas diversas leis infraconstitucionais estaduais e nenhuma duacutevida ou controveacutersia quanto agrave grande maioria

delas tinha sido levada ao STF salvo a Emenda agrave Constituiccedilatildeo do Rio Grande do Sul objeto da ADI que constitui o

primeiro precedente da Suacutemula E observe-se que ateacute este momento os Ministros ainda natildeo haviam ―pensado na

limitaccedilatildeo do parentesco constante na Suacutemula ―por afinidade ateacute o terceiro grau 310 Posicionamento do Ministro Cezar Peluso ao interromper o Ministro Menezes Direito que ressaltava a

impossibilidade de a Suacutemula tecer minuacutecias 311 Os Ministros natildeo retornaram mais ao tema e apenas ao final do segundo dia de debate eacute que passaram pelo assunto

ao tratar do vocaacutebulo inclusivelsquo 312 Pelo Ministro Menezes Direito 313 ―Pode acontecer Ministro Gilmar e isso natildeo eacute impossiacutevel que haja uma lei por exemplo estadual que seja mais

rigorosa que a resoluccedilatildeo do Conselho e essa lei nem por isso seria inconstitucional Tenho a impressatildeo de que

estamos aprovando uma suacutemula que do ponto de vista constitucional eacute uma tese Qual eacute a tese do ponto de vista

constitucional Eacute dizer que o nepotismo estaacute dentro da cabeccedila do artigo 37 ou seja dentro do princiacutepio da

moralidade e que ele independe de lei formal ele decorre diretamente da Constituiccedilatildeo Entatildeo me parece que do

ponto de vista ateacute do conteuacutedo da suacutemula a expressatildeo ―nepotismo tem mais forccedila e noacutes escapamos dessa discussatildeo

que natildeo eacute pertinente a meu ver pelo menos agora de dizer parentesco ateacute que grau se aplica o Coacutedigo Civil se natildeo

aplica ―Pode acontecer Ministro Gilmar e isso natildeo eacute impossiacutevel que haja uma lei por exemplo estadual que seja

mais rigorosa que a resoluccedilatildeo do Conselho e essa lei nem por isso seria inconstitucional DJE nordm 2142008 Ata da

sessatildeo fl 20 314 Pelo Ministro Gilmar Mendes que concordou com o Ministro Menezes Direito ―E natildeo haacute necessidade de definir

com maior precisatildeo porque queremos que essa orientaccedilatildeo seja aplicada e que decirc tanto quanto possiacutevel ensejo a um

nuacutemero menor de reclamaccedilotildees DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 20 Segundo artigos lidos que seratildeo objeto de

apreciaccedilatildeo mais adiante a Suacutemula natildeo provocou tal diminuiccedilatildeo de demandas judiciais como pretendido pelo STF 315 ―Diante de tantos embargos e duacutevidas que surgem proponho que consideremos a proposta da suacutemula previamente

aprovada mas que nos dediquemos agrave sua redaccedilatildeo DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 20

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―importacircncia da mateacuteria e da ―relevacircncia social e poliacutetica do tema316

a discussatildeo

―deveria ficar para o dia imediatamente posteriorsendo encerrada a sessatildeo317

Aberta a 28ordf sessatildeo extraordinaacuteria do plenaacuterio318

retornou-se ao assunto

referente agrave proposta de Suacutemula concernente ao ―parentesco no serviccedilo puacuteblico e

assim a proposta apresentada quanto agrave redaccedilatildeo sumular319

ao contraacuterio do sugerido

teceu minuacutecias e seguiu a redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo do CJN n 72005 que embasou natildeo soacute

a sua elaboraccedilatildeo como tambeacutem fundamentou seu texto expresso320

E isso que se extrai da comparaccedilatildeo da primeira proposta com a nova

redaccedilatildeo321

vez que enquanto a anterior dispunha que

A proibiccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta em

qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

Municiacutepios independe de lei decorrendo diretamente dos princiacutepios contidos

no artigo 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal

A sugerida foi

A nomeaccedilatildeo de cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou

por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive da autoridade nomeante ou de

servidor do mesmo oacutergatildeo investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo ou de confianccedila ou

ainda de funccedilatildeo gratificada na administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta em

qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

Municiacutepios compreendendo ajuste mediante designaccedilotildees reciacuteprocas viola o

art 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal

Todavia a redaccedilatildeo final foi diversa dessa uacuteltima e ainda divergiu da proacutepria

Resoluccedilatildeo apresentando uma versatildeo mais complexa e polecircmica

A nomeaccedilatildeo de cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou

por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive da autoridade nomeante ou de

servidor da mesma pessoa juriacutedica investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo ou de confianccedila ou

ainda de funccedilatildeo gratificada na administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta em

qualquer dos poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos

Municiacutepios compreendido o ajuste mediante designaccedilotildees reciacuteprocas viola a

316 O Ministro Ricardo Levandowski foi o primeiro a discordar da necessidade do ―maior tempo DJE nordm 2142008

Ata da sessatildeo fl 20 317 Todos assentiram quanto a isso mas a Ministra Carmem Luacutecia ao concordar como por milagre lembrou que a

Lei Federal nordm 811290 vedava o nepotismo jaacute que ateacute o momento nenhum dos Ministros havia feito menccedilatildeo agrave

normativa em questatildeo que cuja abrangecircncia da proibiccedilatildeo eacute bem mais restrita que a SV n13 em todos os sentidos

Nesse enredo o Ministro Menezes Direito ressalvou que embora a proibiccedilatildeo do nepotismo emane ―diretamente da

Constituiccedilatildeo isto ―natildeo invalida a possibilidade de legislaccedilatildeo especiacutefica sobre o tema Ministro Gilmar Mendes ()

E vamos tambeacutem tentar resolver a questatildeo () concernente agrave compatibilizaccedilatildeo dessa regra comum a eventual

disciplina constante de lei estadual ou municipal () A partir de hoje trabalharemos no texto definitivo desta suacutemula

se for assim entendido DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl21 318 A iacutentegra da ata da sessatildeo foi publicada pelo STF no DJE nordm 2142008 fl 21- 24 cuja divulgaccedilatildeo ocorreu na

terccedila-feira 11112008 e a publicaccedilatildeo na quarta-feira seguinte 12112008 Disponiacutevel em

httpwwwstfjusbrportalautenticacaosob o nuacutemero 314372 319 Expressatildeo do Ministro Ricardo Lewandowski DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 21 320 Por isto eacute que a ADC n 12 eacute o principal precedente da Suacutemula Vinculante ou ao menos a mais relevante em sua

construccedilatildeo 321 Ambas do proacuteprio Ministro Ricardo Lewandowski

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Constituiccedilatildeo Federal (grifos nossos)

Dessa feita a expressatildeo ―mesmo oacutergatildeo foi substituiacuteda por ―mesma pessoa

juriacutedica e a referecircncia ao ―art 37 caput foi suprimida da redaccedilatildeo ensejando ambas

as alteraccedilotildees discussotildees tanto quanto agrave amplitude que a pessoa juriacutedica abarca322

como

quanto agrave extraccedilatildeo da referecircncia ao artigo caput do artigo 37 uacutenico ponto incontroverso

da redaccedilatildeo da SV n13 vez que em todos os jugados de seus precedentes foi assentada

que a proibiccedilatildeo do nepotismo decorre dos princiacutepios constitucionais expressos em tal

artigo

A discussatildeo iniciada pela proposta de inclusatildeo da ADI n 1521 como

precedente da Suacutemula323

e tambeacutem do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal como referecircncia

da SV n13324

se volta agrave expressatildeo ―no mesmo oacutergatildeo325

sob a alegaccedilatildeo de que tal

expressatildeo poderia ensejar uma interpretaccedilatildeo equivocada de que a vedaccedilatildeo natildeo

alcanccedilaria as entidades da administraccedilatildeo indireta mas tatildeo somente os oacutergatildeos da

administraccedilatildeo direta fazendo parecer que o nepotismo estaria proibido apenas nesta e

natildeo naquela o que levou a se optar por ―mesma pessoa juriacutedica em substituiccedilatildeo a

―mesmo oacutergatildeo para que a vedaccedilatildeo ficasse mais ampla326

Entendimento esse que se fundamentou no fato de ser necessaacuterio vedar o

nepotismo em toda a sua extensatildeo e ser imprescindiacutevel limitar o poder de nomeaccedilatildeo do

titular do Poder Executivo que diretamente ou por delegaccedilatildeo eacute a autoridade que

―nomeia tudo327

E ainda interpretaram ―mesma pessoa juriacutedica como ―Poder e natildeo

322 Estando por exemplo vedado o nepotismo na Uniatildeo 323 Ministro Marco Aureacutelio 324 O assunto foi posteriormente retomado pelo Ministro Ricardo Levandowski acompanhando a sugestatildeo do

Ministro Marco Aureacutelio opinando que fosse subtraiacuteda a menccedilatildeo ao artigo 37 e ficou acertado entre tais Ministros e

os Ministros Cezar Peluso e Gilmar Mendes que a redaccedilatildeo ficaria ―viola a Constituiccedilatildeo Federal e que o art 37 seria

posto como referecircncia Ainda discutiram onde a expressatildeo deveria estar posta no corpo do texto mas permaneceu na

forma da proposta inicial no final do verbete sumular DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fls 22-24 325 Eacute a mesma disposta na Resoluccedilatildeo n 0705 do CNJ ―EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA CAacuteRMEN

LUacuteCIA ndash mesmo oacutergatildeolsquo () a administraccedilatildeo puacuteblica eacute um conjunto de oacutergatildeos Por exemplo natildeo se nomeia para este

oacutergatildeo mas se nomeia para outro oacutergatildeo onde natildeo haacute a pessoa e aiacute natildeo eacute nem uma contrataccedilatildeo cruzada Aiacute eacute apenas a

relaccedilatildeo hieraacuterquica de chefia e natildeo eacute isso O nepotismo proiacutebe que se utilize a questatildeo pessoal para nomeaccedilotildees e aiacute

natildeo eacute o oacutergatildeo EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO ndash Sim Vossa Excelecircncia estaacute

propondo substituir oacutergatildeolsquo por que palavra EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA CAacuteRMEN LUacuteCIA ndash

Estou apenas questionando exatamente o significado disso aqui Porque em uma administraccedilatildeo puacuteblica inclusive

direta e indireta pode-se se entender que ―estaacute vedado na administraccedilatildeo direta e para outra entidade da indireta

nomear DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl22 326 Expressatildeo do Ministro Cezar Peluso ― servidor da mesma pessoa juriacutedica ―Fica mais amplo DJE nordm

2142008 Ata da sessatildeo fl22 327 Pelo Presidente Gilmar Mendes e pela Ministra Carmem Luacutecia ao debaterem sobre o tema Expressatildeo da

Ministra Ibidem fl 22 EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (PRESIDENTE) ndash A

minha observaccedilatildeo seria em relaccedilatildeo agrave autoridade nomeante Porque hoje noacutes temos um regime tal em que pelo menos

o Chefe do Poder Executivo EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA CAacuteRMEN LUacuteCIA - Nomeia tudo ()

EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA CAacuteRMEN LUacuteCIA ndash Ele pode delegar mas de toda sorte aiacute natildeo se

tem essa vinculaccedilatildeo e portanto estaria excluiacutedo disso daqui Natildeo eacute a preocupaccedilatildeo de Vossa Excelecircncia() fl22 A

partir daiacute constata-se que a intenccedilatildeo dos Ministros era vedar as nomeaccedilotildees dentro de um mesmo Poder e

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como Ente Federado que deteacutem personalidade juriacutedica de direito puacuteblico328

Entretanto tal questatildeo levou agrave defesa da utilizaccedilatildeo de ―oacutergatildeo em substituiccedilatildeo

agrave ―pessoa juriacutedica mas natildeo convenceu329

Igualmente em meio agrave questatildeo exposta foi lembrado que a expressatildeo utilizada

natildeo abarcaria ―todas as hipoacuteteses da realidade faacutetica e que haveria a necessidade de se

analisar cada caso concreto especificamente330

A outra expressatildeo - disposta na minuta da SV n13 - debatida pelos Ministros

foi ―parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute terceiro grau inclusive

Contudo trataram apenas do sentido da palavra ―inclusive que permaneceu a indicar

que estaacute vedada a nomeaccedilatildeo de parente ateacute o 3ordm grau de servidor ocupante de cargo em

comissatildeo ou autoridade nomeante na mesma pessoa juriacutedica em que estivessem

lotados331

Dessa forma os Ministros deixaram impliacutecito que aiacute se incluiacutea o parentesco

especialmente do Poder Executivo ―EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES

(PRESIDENTE) ndash Mas acho que a ideia eacute abranger na verdade a pessoa juriacutedica Porque se houver intervalos nas

relaccedilotildees por exemplo entre o prefeito ele natildeo pode nomear nem - parece que isso decorre do espiacuterito - no seu

gabinete nem na secretaria de fazenda Entatildeo tem a vantagem EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA

CAacuteRMEN LUacuteCIA ndash Exatamente Satildeo dois oacutergatildeos diferentes EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CARLOS

BRITTO - Tem essa vantagem eacute mais amplo EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES

(PRESIDENTE) ndash Eacute esse o espiacuterito parece-me natildeo eacute DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 22 328 No lastro do disposto pela Ministra Carmem Luacutecia que objetivava aprimorar a expressatildeo mas conseguiu pioraacute-la

questiona-se se natildeo seria mais adequado jaacute que optaram por uma redaccedilatildeo com tantas especificaccedilotildees escolher por ―no

mesmo oacutergatildeo ou mesma entidade pois abarcaria a vedaccedilatildeo do nepotismo dentro do mesmo oacutergatildeo da administraccedilatildeo

direta e da mesma entidade da indireta e ateacute mais coerente pois a Ministra Carmem Luacutecia havia dito ao suscitar o

debate ―que visava evitar que se interpretasse que a vedaccedilatildeo seria apenas para os oacutergatildeos da Administraccedilatildeo Direta A

Suacutemula na forma que estaacute veda aquilo que eacute nepotismo e tambeacutem o que natildeo eacute como a nomeaccedilatildeo de um parente do

servidor puacuteblico ou da autoridade em oacutergatildeo ou entidade diversa e cuja autoridade nomeante eacute do outro oacutergatildeo ou

entidade No caso do chefe do Poder Executivo nomear seria soacute observar se ele ou algueacutem a quem ele delegou a

competecircncia (competecircncia esta que pode ser avocada) infringiu a vedaccedilatildeo nomeando um dos seus parentes para

ocupar cargo no poder executivo do qual eacute titular ou se houve nepotismo cruzado com o poder legislativo ou

judiciaacuterio 329 EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO ndash Parece-me que aqui o Ministro Lewandowski

levou em conta a redaccedilatildeo do Estatuto do Regime Juriacutedico Uacutenico Estatuto dos Servidores Puacuteblicos Civis da Uniatildeo ao

dizer ― do mesmo oacutergatildeo investido em cargo de direccedilatildeo EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO RICARDO

LEWANDOWSKI ndash Exatamente EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO ndash Ainda acho que

oacutergatildeolsquo fica melhor do que pessoa juriacutedicalsquo A EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA MINISTRA CAacuteRMEN LUacuteCIA ndash

Mas oacutergatildeolsquo fica soacute aquele oacutergatildeolsquo () EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO ndash A pessoa

juriacutedica da Uniatildeo Compreende toda a Justiccedila Eleitoral do Brasil em todos os Estados aqui no TSE Acho que

oacutergatildeolsquo estaacute mais de acordo com esse imediatismo de viacutenculo entre o nomeante e o nomeado Idem fl 23 E apoacutes

ouvir a Ministra Carmem Luacutecia e o Ministro Gilmar Mendes o Ministro Ayres Britto entendeu que os Ministros

visavam dar uma interpretaccedilatildeo mais ampla agrave expressatildeo ―pessoa juriacutedica ―EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR

MINISTRO CARLOS BRITTO ndash Ou seja a proibiccedilatildeo se faz mais riacutegida EXCELENTIacuteSSIMA SENHORA

MINISTRA CAacuteRMEN LUacuteCIA ndash Nem na secretaria da sauacutede nem na secretaria da administraccedilatildeo Satildeo dois oacutergatildeos

diferentes EXCELENTIacuteSSIMO SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO ndash Se o espiacuterito eacute esse estaacute melhor A

proibiccedilatildeo se faz mais riacutegida e eacute muito mais difiacutecil de fraude de contorno Estaacute melhor assim pessoa juriacutedicalsquo DJE

nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 23 330 Expressatildeo do Ministro Ricardo Lewandowski DJE nordm 2142008 Ata da sessatildeo fl 22 Argumentaccedilatildeo essa que

contraria uma das finalidades da Suacutemula uniformizar uma soluccedilatildeo agraves diversas controveacutersias juriacutedicas E o que houve

na realidade eacute que a Suacutemula impactou mas natildeo extirpou de vez o nepotismo Tanto que continuam a existir situaccedilotildees

esdruacutexulas apoacutes a ediccedilatildeo da Suacutemula que resultou na necessidade de se editar um Decreto Presidencial a fim de

delimitar o seu alcance da Suacutemula como se veraacute tambeacutem pelo exposto nos proacuteximos toacutepicos 331 Ibidem fl 23 E assim concluem o debate elencando os precedentes da Suacutemula seu nuacutemero e redaccedilatildeo ao passo

que por fim o entatildeo Excelentiacutessimo Presidente do STF Ministro Gilmar Mendes apoacutes a manifestaccedilatildeo

69

por afinidade em terceiro grau

Lastreado nos precedentes e debates em questatildeo o STF editou a SV n13

construindo a partir dela a noccedilatildeo judicial de nepotismo e de sua vedaccedilatildeo

13 Asserccedilotildees sobre a elaboraccedilatildeo da SV n13 e a construccedilatildeo normativa da vedaccedilatildeo

do nepotismo pelo STF

Nesse toacutepico busca-se sintetizar os argumentos mais importantes em cada um

dos precedentes da Suacutemula e assim dentre eles observar qual eacute o fundamental e ainda

se os debates travados pelos Ministros nas sessotildees plenaacuterias retornaram a todos os

elementos tratados nos precedentes quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo ou natildeo com o fim

de demonstrar sob qual fundamentaccedilatildeo o STF editou a SV em questatildeo e como

elaborou judicialmente a construccedilatildeo da vedaccedilatildeo do nepotismo

A ADI n 1521-4RS primeiro precedente da SV n13 foi julgada

improcedente pelo STF sob o uacutenico argumento unacircnime332

de que a vedaccedilatildeo do

nepotismo decorre da observacircncia aos princiacutepios constitucionais do caput do seu art

37333

e apenas por esse argumento eacute que se observa a similaridade entre este precedente

e os demais que a lastreiam

Mas mesmo assim pode-se questionar a redaccedilatildeo da SV n13 guarda

correspondecircncia com a redaccedilatildeo da Emenda Constitucional objeto da ADI A redaccedilatildeo

da SV n13 foi lastrada na extensatildeo da proibiccedilatildeo do nepotismo disposta neste primeiro

precedente foi seguida

A resposta eacute negativa jaacute que a extensatildeo da proibiccedilatildeo expressa pela Emenda

natildeo eacute a mesma dada pela Suacutemula Vinculante sendo aquela bem mais limitada que a

obstada por esta tanto quanto ao grau de parentesco (uma vez que a Emenda se limita

ao 2ordm grau e a Suacutemula amplia a coibiccedilatildeo ao 3ordm grau) como quanto agrave disposiccedilatildeo daquele

argumentativa de cada um dos Ministros do STF quanto agrave aprovaccedilatildeo da redaccedilatildeo a ser dada ao verbete vinculante e ao

pronunciamento favoraacutevel manifesto pelo entatildeo Vice Procurador Geral da Repuacuteblica Roberto Monteiro Gurgel

Santos aprovou a Suacutemula Ibidem fl 23-24 332 Utilizado por todos os Ministros ao repudiarem a praacutetica do nepotismo e reconhecerem a constitucionalidade da

Emenda Constitucional do Rio Grande do Sul que veda o nepotismo 333 Tanto que embora tenha havido divergecircncia dos Ministros quanto agrave ―exclusatildeo dos servidores efetivos do alcance

da norma restritiva e sobre a extensatildeo da limitaccedilatildeo a apenas o oacutergatildeo em que atuasse a autoridade nomeante ou todo o

Poder assentaram seus votos pela constitucionalidade da Emenda Constitucional embasados nos princiacutepios

constitucionais do caput do seu art 37 MODESTO Paulo Nepotismo em Cargos Poliacutetico administrativos Revista

Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP Belo Horizonte Ed Forum ano 11 n 41 abrjun 2013 p28 Ainda

segundo o autor meacuterito do STF nessa decisatildeo foi ―acentuar que os princiacutepios republicanos da isonomia da

moralidade no trato com a coisa puacuteblica da impessoalidade da administraccedilatildeo da eficiecircncia administrativa

constituiacuteam fundamento direto para o estabelecimento de restriccedilotildees agrave livre nomeaccedilatildeo de parentes a cargos de

comissatildeo em todos os Poderes autorizando ainda o tratamento uniforme Ibidem p28

70

que enseja o nepotismo (pois a Emenda delimita a autoridade e a Suacutemula acresce o

servidor ocupante de cargo comissionado) e ao campolsquo que a proibiccedilatildeo ao nepotismo eacute

aplicaacutevel (enquanto a Emenda dispotildee sobre mesmo oacutergatildeolsquo a Suacutemula prevecirc mesma

pessoa juriacutedicalsquo) embora tenham como similaridade redacional abarcarem os servidores

efetivos334

Entatildeo em que medida este julgado eacute precedente da SV n13335

Tambeacutem o segundo precedente da SV n13 o MS n 23780-5MA teve como

seu uacutenico fundamento linear a vedaccedilatildeo do nepotismo embasada pelos princiacutepios do

artigo 37 da Constituiccedilatildeo Federal especialmente o da moralidade336

Contudo haacute de se perquirir se o STF assentou na redaccedilatildeo da SV n13 os

elementos sobre o nepotismo da mesma forma que analisada no MS

A resposta tambeacutem eacute contraacuteria pois a noccedilatildeo de nepotismo expressa na decisatildeo

do TCU objeto do MS 2ordm eacute diversa da disposta na SV n13 a uma porque enquanto a

decisatildeo do TCU vincula a praacutetica do nepotismo agrave autoridade nomeante a Suacutemula aleacutem

de realizar essa vinculaccedilatildeo a estende ao servidor ocupante de cargo comissionado a

duas porque enquanto a decisatildeo do TCU exclui os servidores efetivos da vedaccedilatildeo a

Suacutemula os inclui na sua regra geral coibitiva e a trecircs porque enquanto a decisatildeo do

TCU veda o nepotismo aos servidores efetivos apenas quando subordinados diretamente

ao seu parente a Suacutemula eacute mais abrangente veda tudo337

E esse julgado pode ser considerado como precedente da Suacutemula mesmo que o

objeto do julgado trate dos elementos de nepotismo de forma diversa338

da explicitada

pela SV n13339

Esses dois julgados possuem como pontos em comum a uma a tratativa do

parentesco de segundo grau340

a duas o fato de o nepotismo ser vinculado agrave autoridade

que nomeia parente a ocupar cargo comissionado341

e ainda a trecircs o fato de que em

334 Contudo tambeacutem existem criacuteticas quanto a este elemento da SV n13 335 Que seraacute respondido mais adiante quando se observaraacute um dos requisitos da elaboraccedilatildeo de uma Suacutemula

Vinculante a dita ―jurisprudecircncia reiterada 336Nas palavras de Paulo Modesto nesse julgado ―muito pouco se tratou do proacuteprio tema nepotismo mas mesmo

assim ―foi o MS n 23780 como a ADI n 1521 considerado um dos precedentes imediatos da Suacutemula Vinculante

n 13 Op cit p 29 337 Natildeo delimitando o nepotismo agrave subordinaccedilatildeo do parente agrave autoridade ou servidor comissionado 338 Assemelha-se agrave disposiccedilatildeo da Lei n 811290 que determina em seu art 117 VIII a proibiccedilatildeo da praacutetica do

nepotismo pelos servidores puacuteblicos civis federais conduta esta que eacute tipificada quando estes tecircm sob sua chefia

imediata cocircnjuge companheiro e parentes de ateacute segundo grau 339 Eacute o que se veraacute mais adiante 340 Vedado pela EC n 12RS e tratado no MS embora a decisatildeo do TCU que ensejou o MS alcance parentes ateacute o

terceiro grau 341 Mesmo que o acircmbito de atuaccedilatildeo das autoridades nos julgados seja diferente sendo seu domiacutenio vedado em maior

amplitude pela EC n 12RS do que pela decisatildeo do TCU o que se constata facilmente eacute que ambos os julgados ao

71

ambos os casos o STF natildeo estabeleceu criteacuterios sobre o nepotismo mas somente julgou

a ―adequaccedilatildeo da legislaccedilatildeo agrave Constituiccedilatildeo reconhecendo a liberdade do legislador para

dispor sobre a mateacuteria342

No mais os precedentes se diferem uma vez que enquanto no primeiro a

proibiccedilatildeo abarcou os servidores efetivos no segundo natildeo aleacutem disso enquanto o

nepotismo foi limitado ao ―mesmo oacutergatildeo no primeiro precedente no segundo foi ―ao

gabinete da autoridade 343

Diante disso haacute de se questionar mesmo assim os julgados ensejam

jurisprudecircncia reiterada sobre a mateacuteria apenas porque os dois tratam de nepotismo e

em ambos foi assentado o repuacutedio agrave praacutetica do nepotismo com base nas diretrizes

principioloacutegicas do caput do artigo 37 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica344

Do terceiro precedente da Suacutemula a ADC n 126 ndash DF que parece ser o mais

relevante deles345

observa-se que o nepotismo foi repudiado novamente pelo mesmo

embasamento constitucional disposto nos outros dois precedentes pelos princiacutepios

dispostos no caput do artigo 37 da Constituiccedilatildeo Federal346

Nesse enredo o que se constata eacute que restou assentado pelo julgamento dos

trecircs precedentes que a proibiccedilatildeo do nepotismo decorre dos princiacutepios constitucionais

contraacuterio da Suacutemula se limitam a dispor sobre o nepotismo vinculado agrave autoridade e os Ministros proferem os seus

respectivos votos em ambos as decisotildees colegiadas neste esteio 342 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais In Direitos Fundamentais

e Justiccedila n 8 julset 2009 p 93 343 O que demonstra que a noccedilatildeo de nepotismo em ambos os precedentes eacute diversa quanto a quem sofre a vedaccedilatildeo e

ao acircmbito fiacutesico desta vedaccedilatildeo Pontos esse que satildeo elementos conceituais que fazem parte da noccedilatildeo de nepotismo e

por isso mesmo fazem a diferenccedila quanto agrave proacutepria 344 Eacute isto que se responderaacute apoacutes analisar o quesito ―jurisprudecircncia reiterada referente agrave ediccedilatildeo de Suacutemula

Vinculante 345 Pela primeira vez o STF se pronunciou quanto ao viacutenculo de parentela especificamente quanto ao nepotismo

sendo este um dos pontos primordiais deste precedente Contudo o entendimento do STF se mostrou de forma diacutespar

agrave expressa no Coacutedigo Civil vez que diferentemente deste a fim de obstar atos personalistas enfatizar a absoluta

separaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado e moralizar a Administraccedilatildeo Puacuteblica estendeu o parentesco por afinidade ao

terceiro grau ―() entendeu-se que a definiccedilatildeo de parentesco consignada pelo Coacutedigo Civil natildeo eacute determinante para a

exata compreensatildeo da mateacuteria tendo em vista que natildeo haacute norma constitucional tratando de definir o alcance de

parentesco bem como que a vedaccedilatildeo do nepotismo tem de ter em vista o alcance mesmo das relaccedilotildees familiares

―() Assim afasta-se por completo a limitada definiccedilatildeo de parentesco presente no Coacutedigo Civil quando se estaacute em

jogo a proteccedilatildeo maacutexima a ser conferida pelo princiacutepio da impessoalidade OLIVEIRA George Feliacutecio Gomes de

Da anaacutelise da Suacutemula Vinculante 13 do Supremo Tribunal Federal Alcance Precedentes e Motivos Determinantes

da Norma que Veda a Praacutetica do Nepotismo no Brasil In Revista dos Tribunais - RT v 98 n 890 p 9-32 dez

2009 p 24-25 346Vez que os Ministros assentaram que a vedaccedilatildeo do nepotismo decorre da autoaplicaccedilatildeo dos princiacutepios da

Administraccedilatildeo independentemente de lei infraconstitucional e assim que eacute desnecessaacuteria lei formal a regulamentar a

vedaccedilatildeo do nepotismo Compreensatildeo esta clara e notoacuteria no julgado da liminar ADC uma vez que quase a

unanimidade dos Ministros (salvo o Ministro Marco Aureacutelio) acompanharam o pronunciamento do voto no Ministro

Relator no qual deixou claro a prescindibilidade de lei formal a regulamentar a proibiccedilatildeo da praacutetica do nepotismo

72

que regem a Administraccedilatildeo Puacuteblica347

Igualmente colhe-se que se aplica no acircmbito do mesmo oacutergatildeo348

e ainda tanto

no julgado do segundo como do terceiro precedente que eacute prescindiacutevel lei formal a

regulamentar a vedaccedilatildeo do nepotismo

Do entendimento assentado quanto agrave normativa objeto do segundo precedente

(MS) bem como da literalidade da normativa objeto do terceiro precedente (ADC) os

servidores efetivos que fossem nomeados para ocupar cargo comissionado ou

designados em comissatildeo de confianccedila soacute estariam em situaccedilatildeo de nepotismo se fossem

diretamente subordinados ao seu parente nomeante

Entatildeo o que se extrai do disposto pelo STF eacute que a uma a vedaccedilatildeo decorre

dos princiacutepios do artigo 37 caput da Constituiccedilatildeo Federal e a duas que eacute delimitada ao

―mesmo oacutergatildeo

Mas a noccedilatildeo uniforme de nepotismo eacute apenas esta jaacute que por outro lado satildeo

vaacuterias as diferenccedilas encontradas nos precedentes quanto agrave delimitaccedilatildeo da noccedilatildeo de

nepotismo pois enquanto na ADI e no MS o nepotismo eacute vinculado agrave autoridade na

ADC verifica-se que tambeacutem vincula o servidor ocupante de cargo comissionado ainda

enquanto na ADI tem-se a delimitaccedilatildeo no oacutergatildeo em que a autoridade eacute lotada no MS e

na ADC a limitaccedilatildeo eacute esta mas atrelada ao requisito subordinaccedilatildeo do parente agrave

autoridade aleacutem disso enquanto na ADI o servidor efetivo natildeo eacute excluiacutedo da incidecircncia

da norma geral proibitiva no MS e na ADC sua inclusatildeo agrave proibiccedilatildeo normativa eacute

condicionada agrave sua subordinaccedilatildeo direta ao nomeante

Assim diante desses trecircs precedentes observa-se que o STF ainda natildeo havia

construiacutedo judicialmente a vedaccedilatildeo do nepotismo vez que natildeo havia entendimento

linear quanto a todos os seus elementos

E o que se pode observar eacute que a SV n13 aleacutem de ser diacutespar deles tambeacutem

natildeo segue a base redacional da Resoluccedilatildeo do CNJ objeto da ADC vez que ao comparaacute-

las constata-se que a SV ampliou a extensatildeo do nepotismo construindo nova normativa

347 ―() ao dizer que os princiacutepios constitucionais da moralidade da impessoalidade da igualdade e da eficiecircncia satildeo

autoaplicaacuteveis e portanto dotados da necessaacuteria carga de taxatividade e de positividade para vedar a praacutetica do

nepotismo Assim o Tribunal deu ―ao direito consagrado no espaccedilo normativo dos referidos princiacutepios o seu

sentido de certeza juriacutedica e o seu acircmbito de incidecircncia aos casos concretos da vida poliacutetica e social LEAL Joatildeo

Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top In Revista Magister de Direito Penal e

Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008 p19 348 Uma vez que os Ministros julgaram pela legalidade da decisatildeo do TCU de vedaacute-lo no acircmbito da Justiccedila do

Trabalho (objeto do MS) bem como pela legitimidade da Resoluccedilatildeo do CNJ em coibi-lo em todo o Judiciaacuterio (objeto

da ADC)

73

sobre sua vedaccedilatildeo especialmente em trecircs pontos alterou o domiacutenio ―mesmo oacutergatildeo

para ―mesma pessoa juriacutedica modificou a expressatildeo ―exerciacutecio do cargo - disposta na

Resoluccedilatildeo - para ―nomeaccedilatildeo e ainda natildeo excluiu os servidores efetivos de sua

incidecircncia como fez a Resoluccedilatildeo haja vista que sua redaccedilatildeo o servidor efetivo natildeo

pode ser nomeado a ocupar cargo comissionado e nem ser designado em funccedilatildeo de

confianccedila na mesma pessoa juriacutedica que seu parente for autoridade ou servidor ocupante

de cargo comissionado349

Dessa maneira a SV 13 expandiu o nepotismo inclusive aleacutem do disposto na

Resoluccedilatildeo do CNJ sendo mais rigorosa que esta devido agrave sua extensatildeo350

Mesmo tendo o STF inovado quanto agrave noccedilatildeo de vedaccedilatildeo do nepotismo disposta

na Resoluccedilatildeo este julgado eacute precedente da SV n13 Sim pois a Resoluccedilatildeo do CNJ

objeto de tal precedente foi a base redacional daquela

Mas esse precedente tem o mesmo fundamento que os demais Apenas quanto

ao fato de que a vedaccedilatildeo do nepotismo decorre dos princiacutepios do artigo 37 da CF

E configura juntamente aos demais jurisprudecircncia reiterada para embasar a

ediccedilatildeo de Suacutemula Vinculante 351

O quarto precedente da SV n13 o RE n 579951RN corrobora que a vedaccedilatildeo

do nepotismo decorre dos princiacutepios do caput do artigo constitucional352

e ainda se

nota pela primeira vez a exposiccedilatildeo quanto agrave vedaccedilatildeo ao nepotismo cruzado353

e agrave

distinccedilatildeo entre aos cargos comissionados e cargos poliacuteticos354

pois de acordo com a

inteligecircncia do Tribunal o nepotismo abarca tatildeo somente os parentes nomeados em

349 Dessa forma a SV n13 vedou expressamente natildeo soacute a nomeaccedilatildeo do servidor para cargo comissionado como

tambeacutem para exercer funccedilatildeo de confianccedila diga-se de passagem exclusivamente exercida pelo efetivo nos termos do

inciso V do art 37 da Constituiccedilatildeo Federal 350 Do que se poderia retirar que a vedaccedilatildeo do nepotismo para aquele que realiza atos administrativos ou legislativos eacute

mais severa do que para quem julga 351 Essa resposta viraacute mais adiante 352

Sendo esse o uacutenico fundamento que esteou todos os votos de cada um dos Ministros nos quatro precedentes 353Pela primeira vez o STF reconheceu a ilegalidade do nepotismo cruzado como ―a situaccedilatildeo em que duas

autoridades tentam burlar a suacutemula por meio da nomeaccedilatildeo de seus parentes de forma reciacuteproca p 113 354 Segundo Luis Manoel Fonseca Pires ―Eacute em razatildeo da relaccedilatildeo de confianccedila que os encargos de direccedilatildeo chefia e

assessoramento reclamam que optou o legislador portanto por admitir a possibilidade de que para estas tarefas

houvesse o livre acesso o que assim se evitaria que em funccedilotildees que exigem confianccedila fossem exercidas por pessoas

absolutamente desconhecidas dos seus respectivos superiores hieraacuterquicos E ainda completa () natildeo satildeo os cargos

em comissatildeo em si o objeto de suposta imoralidade administrativa mas sim o fato de eventualmente serem

preenchidos com a nomeaccedilatildeo de parentes()Controle Judicial do Nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante

do Supremo Tribunal Federal In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Belo Horizonte Foacuterum p 235-

252 2008 p 237-238 Neste ensejo os Ministros entenderam que se por um lado a contrataccedilatildeo do irmatildeo de vice-

prefeito como motorista da prefeitura configurava nepotismo e que por isto ele deveria ser exonerado por outro a

contrataccedilatildeo do irmatildeo do vereador para o cargo de Secretaacuterio Municipal natildeo configurava nepotismo por ser o cargo

poliacutetico e portanto o seu ocupante agente poliacutetico

74

cargos comissionados e natildeo aqueles que forem designados agentes poliacuteticos355

Diante disto vale estabelecer tambeacutem quanto ao Recurso Extraordinaacuterio suas

diferenccedilas e semelhanccedilas comparativamente aos demais precedentes e agrave SV n13 a fim

de analisar em que precede a esta

A similaridade observada entre os quatro julgados eacute o repuacutedio ao nepotismo

embasado nos princiacutepios constitucionais do artigo 37 (moralidade impessoalidade e

eficiecircncia) jaacute da comparaccedilatildeo do RE com o MS e a ADC tem-se o assentamento da

prescindibilidade de lei formal para coibir a praacutetica do nepotismo356

Jaacute as diferenccedilas apontadas satildeo o RE mesmo tendo uma noccedilatildeo de nepotismo

semelhante agrave do primeiro e segundo precedentes (ADI e MS ndash parente de segundo grau

de autoridade) eacute diversa agrave do terceiro (ADC ndash parente de autoridade ateacute terceiro grau) e

foi o primeiro e uacutenico a trazer agrave baila dois pontos que natildeo haviam sido cogitados

anteriormente a inaplicabilidade da vedaccedilatildeo do nepotismo agraves nomeaccedilotildees de parentes de

autoridades em cargos poliacuteticos e a explicaccedilatildeo sobre o nepotismo cruzadolsquo que

depende de comprovaccedilatildeo do acordo que enseja as designaccedilotildees reciacuteprocas

Mas em que medida esse julgado subsidiou a redaccedilatildeo da SV n13 Na medida

em que sua redaccedilatildeo natildeo abrangeu os cargos poliacuteticos e expressamente proibiu o

nepotismo cruzado

Qual eacute o fundamento uniforme desse quanto aos demais precedentes O

entendimento de que o nepotismo infringe os princiacutepios do caput do art 37 da CF

Ele forma juntamente com os demais julgados o quesito ―jurisprudecircncia

reiterada para a ediccedilatildeo da SV n13 357

355 Ministros de Estado Secretaacuterios Estaduais Distritais e Municipais De acordo com Luis Armando Saboya Amora

―natildeo sofrem essa vedaccedilatildeo uma vez que a Constituiccedilatildeo Federal garante ao Presidente da Repuacuteblica chefe do Poder

Executivo Federal o auxiacutelio de seus ministros para que o exerciacutecio de suas funccedilotildees se decirc de forma mais eficaz O

Nepotismo o Recurso Extraordinaacuterio 579951RJ e a Suacutemula Vinculante n13 do Supremo Tribunal Federal In O

Supremo Tribunal Federal e os casos difiacuteceis MARIANO Cynara Monteiro e LIMA Martonio Montlsquoalverne

Barreto Florianoacutepolis Grupo conceitop 293-306 2012 p 299 O que significa dizer que ―na esfera da

administraccedilatildeo municipal o prefeito poderia nomear filhos irmatildeos cocircnjuges ou sobrinhos para exercer o cargo de

secretaacuterio municipal LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute LEAL Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo

Top In Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008 Op cit p 22 Ambos

itens de extrema relevacircncia vez que satildeo elementos da Suacutemula Vinculante em questatildeo que as nomeaccedilotildees dos

parentes (de autoridades) que atuam como agentes poliacuteticos355 estatildeo excluiacutedas de seu alcance e que tambeacutem eacute

proibido o nepotismo cruzado 356 ― ou seja os princiacutepios vinculam estabelecendo condutas a ser seguidas Natildeo se pode deixar de observaacute-los sob

o argumento de que os mesmos natildeo possuem a mesma densidade normativa das regras AMORA Luis Armando

Saboya In O Supremo Tribunal Federal e os casos difiacuteceis MARIANO Cynara Monteiro e LIMA Martonio

Montlsquoalverne Barreto Florianoacutepolis Grupo conceitop 293-306 2012 p 298 357 Eacute o que se observaraacute a frente

75

Por fim vale questionar dos debates se extraem todos os elementos de uma

nova noccedilatildeo de vedaccedilatildeo ao nepotismo Tambeacutem a essa interrogaccedilatildeo se responde

negativamente pois em ambas as sessotildees plenaacuterias os Ministros debateram

pontualmente apenas dois assuntos na primeira sessatildeo a extensatildeo do parentesco mas

de maneira superficial e na segunda sessatildeo o acircmbito fiacutesico da vedaccedilatildeo do

nepotismo358

E assim o STF elaborou a SV 13 motivado pela necessidade de limitar

expressamente o nepotismo em outro poder o executivo conforme se extrai do julgado

do terceiro precedente da SV 13 e da segunda sessatildeo plenaacuteria sobre o assunto vez que

foi dito pelos Ministros que ―natildeo eacute porque a Resoluccedilatildeo do CNJ vedou expressamente o

nepotismo no acircmbito do poder judiciaacuterio que os demais poderes poderiam praticar o

nepotismo359

e que se fazia necessaacuterio limitar o nepotismo no poder executivo porque

o titular dele ―nomeia tudo360

Diante disso restam muitas duacutevidas sobre se o texto da SV n13 diz

exatamente o que deveria dizer E eacute por isto que no proacuteximo capiacutetulo se buscaraacute

responder ao seguinte questionamento a partir da noccedilatildeo administrativa poliacutetica

brasileira e da noccedilatildeo juriacutedica de nepotismo a Suacutemula Vinculante n 13 abarcou todos os

casos de privilegiamentocontraacuterios agrave moralidade puacuteblica

358 Cuja discussatildeo foi levantada e em que pese ter sido acirrada trouxe outro equiacutevoco agrave redaccedilatildeo da SV 13 pois ao

inveacutes de dispor sobre nepotismo no mesmo oacutergatildeo como nas demais normas observadas inclusive na Resoluccedilatildeo do

CNJ assentou a vedaccedilatildeo do nepotismo na mesma pessoa juriacutedica 359 De acordo com os votos na ADC 360 Conforme a Ministra Carmem Luacutecia e o Ministro Gilmar Mendes na segunda sessatildeo plenaacuteria

76

2 O NEPOTISMO E A (I) MORALIDADE PUacuteBLICA A COMPREENSAtildeO NA

PERSPECTIVA BRASILEIRA

Trata-se da anaacutelise de dois pontos do trabalho o primeiro relativo agrave construccedilatildeo

do nepotismo sob a perspectiva brasileira do seu contexto histoacuterico no Brasil e da sua

noccedilatildeo juriacutedica e o segundo atinente agrave moralidade puacuteblica na Constituiccedilatildeo Federal de

1988 e sua relaccedilatildeo com o nepotismo sob o enfoque do princiacutepio republicano e dos

princiacutepios administrativos da impessoalidade da eficiecircncia e da finalidade averiguando

assim o papel da moralidade puacuteblica como proibitiva do nepotismo natildeo apenas como

princiacutepio administrativo mas como aglutinadora dos outros princiacutepios citados e tambeacutem

densificada por eles361

Tudo em conformidade com Raymundo Faoro Seacutergio Buarque

de Holanda Oliveira Viana Roberto Damatta Victor Nunes Leal Carmem Luacutecia

Antunes Rocha Diogo de Figueiredo Moreira Neto Ives Gandra Maria Sylvia Zanella

di Pietro Dioacutegenes Gasparini Florivaldo Dutra de Arauacutejo Paulo Modesto Joseacute dos

Santos Carvalho Filho Alexandre de Moraes dentre outros

21 Bases histoacutericas do nepotismo no Brasil de heranccedila portuguesa a um viacutecio da

administraccedilatildeo puacuteblica brasileira

O nepotismo como visto na Introduccedilatildeo desse trabalho eacute mais um dos viacutecios

do velho mundo que como heranccedila portuguesa chegou agraves terras brasileiras conforme

demonstra a carta escrita por Pero Vaz de Caminha ao Monarca Portuguecircs que ao lhe

dar as boas novas do ―continente novo solicitou que ao Rei que encaminhasse seu

genro agrave colocircnia receacutem-descoberta362

Por isto segundo os doutrinadores paacutetrios que tratam do assunto ―tudo

comeccedilou nesta passagem363

Sendo o nepotismo tiacutepico ―comportamento caracterizador

361 Com o fito de observar se a partir da noccedilatildeo administrativo poliacutetica brasileira e da noccedilatildeo juriacutedica de nepotismo a

Suacutemula Vinculante n 13 abarcou todos os casos de privilegiamento de nepotismo contraacuterios agrave moralidade puacuteblica 362 Na anaacutelise de Roberto DaMatta ―Ali naquele pedaccedilo terminal e naquela hora de arremate Caminha arrisca ―E

nesta maneira Senhor dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta terra vi E se algum pouco me alonguei Ela me

perdoe pois o desejo que tinha de tudo vos dizer mo fez pocircr assim pelo miuacutedo E pois que Senhor eacute certo que

assim neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviccedilo for Vossa Alteza haacute de ser de mim

muito bem servida a Ela peccedilo que por me fazer graccedila especial mande vir da Ilha de Satildeo Tomeacute a Jorge de Osorio

meu genro ndash o que dela receberei em muita mercecirc E conclui Caminha como ateacute hoje manda o nosso figurino de

malandragem ―Beijo as matildeos de Vossa Alteza deste Porto Seguro de Vossa ilha de Vera Cruz hoje sexta-feira

primeiro dia de maio de 1500 Pero Vaz de Caminha Seraacute que eacute preciso dizer mais alguma coisa O que faz o

Brasil Brasil Rio de Janeiro Rocco 1984 p 67 363 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p 160 Tambeacutem eacute o que afirma George Feliacutecio Gomes de Oliveira ―Essa praacutetica trazida nas naus

portuguesas que vieram pela vez primeira agraves terras brasileiras consignou-se com a presenccedila da Corte Portuguesa no

Brasil (entre 1808 e 1821) Da anaacutelise da Suacutemula vinculante n13 do Supremo Tribunal Federal alcance

precedentes e motivos determinantes da norma que veda a praacutetica do nepotismo no Brasil Revista dos Tribunais -RT

v 890 ano 98 Dez 2009 p 15

77

do patrimonialismo364

natildeo apenas trazido mas tambeacutem implantado no Brasil ―desde

os primeiros dias365

no acircmbito do modelo governamental que imperava em Portugal

identificando o Estado como coisa de famiacutelia366

privilegiando o interesse familiar em

detrimento do puacuteblico e consagrando assim a histoacuterica e continua confusatildeo entre o

puacuteblico e o privado367

Mas o nepotismo ao ser trazido para o Brasil natildeo apenas se instalou como

tambeacutem se alastrou porque o Estado brasileiro herdeiro das condutas portuguesas

patrimonial e de sociedade estamental estabelecido sob as bases coloniais tinha como a

sua maior forccedila social o clatilde familiar368

E a autarquia familiar de origem rural se estendeu pelo paiacutes alcanccedilando as

cidades onde reinou a mesma mentalidade familiar tanto que Nabuco de Arauacutejo notou

―sabiamente como o espiacuterito antissocial e perigoso representado por essas famiacutelias foi

um viacutecio ―que nasceu da antiga organizaccedilatildeo e que nossas revoluccedilotildees e civilizaccedilatildeo natildeo

puderam acabar tendo ―a mentalidade de casa-grande invadido as cidades369

Desta sorte aquele que se encontrava no poder como representante do Estado

compartilhava a administraccedilatildeo os cargos e as possibilidades estatais com os seus em

detrimento da impessoalidade vez que a escolha dos homens que iriam exercer as

funccedilotildees puacuteblicas era realizada de acordo com a ―confianccedila pessoal que depositava neles

e natildeo com as suas capacidades proacuteprias370

364 PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade

Administrativa Florivaldo Dutra de Arauacutejo O nepotismo e os princiacutepios da administraccedilatildeo puacuteblica Belo Horizonte

Ed Foacuterum 2008 p 117 365 PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade

Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires Controle judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante do

Supremo Tribunal Federal Belo Horizonte Ed Foacuterum 2008 p 235 366 Interessante que agrave eacutepoca do Brasil Colocircnia se tem certa preocupaccedilatildeo com a vedaccedilatildeo do nepotismo pois conforme

aduz Victor Nunes Leal ―() escolheriam para os cargos concelho as pessoas mais pertencenteslsquo () que natildeo

fossem cunhados nem parentes ateacute o quarto grau de direito canocircnico Coronelismo Enxada e Voto O Municiacutepio e o

Regime Representativo no Brasil 7ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Companhia das Letras 2012 p 114 367 Rebatida pelos dizeres de Seacutergio Buarque de Holanda ―O Estado natildeo e uma ampliaccedilatildeo do ciacuterculo familiar e ainda

menos uma integraccedilatildeo de certos agrupamentos de certas vontades particularistas de que a famiacutelia eacute o melhor

exemplo Natildeo existe entre o circulo familiar e o Estado uma gradaccedilatildeo mas antes uma descontinuidade e ateacute uma

oposiccedilatildeo Raiacutezes do Brasil 26ordf ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1995 p 141 368Assim no ―complexo da famiacutelia senhorial estatildeo acobertados natildeo apenas os parentes consanguiacuteneos (filhos e

netos) e os parentes colaterais (irmatildeos tios e sobrinhos) como tambeacutem ―os parentes por afinidade civil (genros e

cunhados) os parentes por afinidade religiosa (os compadres e afilhados) os parentes por adoccedilatildeo (os crias da

casa senhorial) Daiacute nascem instituiccedilotildees como a ―solidariedade parental a ―responsabilidade coletiva no taliatildeo

privado o ―dever de proteccedilatildeo e ―assistecircncia parental reciacuteproca e ainda o compadrio VIANA Oliveira

Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 226 369 Exorbitando por isto ―a aacuterea do domiacutenio-tronco e se estendendo ―por vaacuterios domiacutenios e mesmo por municiacutepios

inteiros VIANA Op cit p 227 E completa afirmando que ―() eacute esta a lei da nossa expansatildeo povoadora a

famiacutelia- tronco partindo de um domiacutenio inicial espalha-se em derredor e vai irradiando por contiguidade () Idem

p 232 370 VIANA Oliveira Instituiccedilotildees Poliacuteticas Brasileiras Brasiacutelia Conselho Editorial do Senado Federal 1999 p 145-

146

78

E por isto que no acircmbito da classe dominante havia ―quase que um direito

hereditaacuterio de acesso aos cargos puacuteblicos e as ―negociatas eram pautadas na troca de

favores entre os que detinham o poder ―visando atingir fins privados e natildeo fins

puacuteblicos371

qual seja ―a transmissatildeo de privileacutegios do grupo central (classe dirigente)

de uma geraccedilatildeo para o de outra372

restando edificada por um lado a ―dificuldade de

separaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado pelos detentores do poder em nossa sociedade373

Esta conjuntura gerou um ciclo vicioso entre o personalismo e a confusatildeo da

relaccedilatildeo puacuteblicondashprivado e enraizou o nepotismo com profundidade na estrutura

administrativa-governamental brasileira374

utilizado como forma de autopreservaccedilatildeo e

autoproteccedilatildeo das famiacutelias que dominavam o poder puacuteblico ―com a dupla funccedilatildeo de

ampliar a influecircncia e o poder unipessoal do governante e enfraquecer o sistema

representativo375

Exemplo crasso dessa questatildeo foi o governo estabelecido pelo Presidente

Getuacutelio Vargas que ―nos breves trecircs meses em que esteve agrave testa do Executivo

empregou um nuacutemero exagerado de parentes376

e ao ser questionado justificou-se da

seguinte forma Eu tive que fazer uma opccedilatildeo Entre passar sessenta dias acusado pelos

adversaacuterios e passar sessenta anos () condenado pela minha famiacutelia preferi atender agrave

famiacutelia Ningueacutem aguenta uma famiacutelia pedindo emprego Dei logo para me deixarem

em pazlsquo 377

371 ROCHA Zeacutelio Maia da Nepotismo e concurso puacuteblico ndash criteacuterio objetivo de ausecircncia de moralidade e

impessoalidade na administraccedilatildeo puacuteblica Revista Consulex ano XII nordm 286 15 dez 2008 p 41 372 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p222 373 Expressatildeo retirada do voto do Min Ricardo Lewandowiski relator do RE 579951-4RN julgado em 20082008

p 1885 Um dos precedentes da Suacutemula Vinculante n13 374 Conforme sintetiza Gabriela Empirotti ―No Brasil a praacutetica do nepotismo eacute heranccedila do sistema patrimonialista

em que havia uma confusatildeo entre o que era particular e o que pertencia ao Estado O bem puacuteblico era uma extensatildeo

da proacutepria casa passando o administrador a trataacute-lo como se assim fosse Nesse contexto esclarece Seacutergio Buarque

de Holanda que o que falta aos administradores eacute compreender a diferenciaccedilatildeo existente entre Estado e famiacutelia e

ainda que natildeo deve haver ligaccedilatildeo entre ambos () Assim para Buarque de Holanda para atingirmos um Estado que

atenda aos anseios puacuteblicos ultrapassando os limites do que eacute pessoal eacute preciso que se transcenda o ambiente

familiar () Segundo o autor no Brasil somente em casos excepcionais tivemos a figura de funcionaacuterios voltados a

interesses objetivos do Estado tomando suas decisotildees de maneira impessoal A heranccedila patrimonialista tendo a

famiacutelia corno a sua instituiccedilatildeo mais forte possui ainda grande influecircncia restando pouco espaccedilo para a

Impessoalidade Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo ndash A Suacutemula Vinculante n 13 e a sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash

FA Belo Horizonte ano 13 n 144 fev 2013 p 38 375 Idem p 15 376 GARCIA Emerson Nepotismo Origens e paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano IX nordm 200 15 de maio de

2005 p27 377 GARCIA Emerson Nepotismo Origens e paroxismo Revista Juriacutedica Consulex ano IX nordm 200 15 de maio de

2005 p27

79

22 A noccedilatildeo de nepotismo sob a oacutetica do magisteacuterio doutrinaacuterio no Brasil

Desse histoacuterico foi extraiacuteda a noccedilatildeo juriacutedica do nepotismo que em sua

concepccedilatildeo ampla designa ―a conduta havida na Administraccedilatildeo do Estado pela qual

agentes puacuteblicos valendo-se dos cargos por ele ocupados concedem favores e

benefiacutecios pessoais a seus parentes e amigos 378

Isto porque a noccedilatildeo juriacutedica de nepotismo eacute para alguns doutrinadores

associada a atos de privileacutegio dos agentes puacuteblicos agravequeles que lhes importam natildeo

apenas aos seus familiares e ainda se vincula agrave ideia de lealdade e confianccedila existentes

entre o patrono e o favorecido com o objetivo de amparar os interesses do primeiro379

Entretanto diante das noccedilotildees expressas nas normativas existentes380

tambeacutem

pode ser definido de uma maneira mais restrita como ―a praacutetica pela autoridade puacuteblica

com poder para nomear de favorecer seus parentes proacuteximos nomeando-os para

titularizarem cargos ou empregos de provimento em comissatildeo381

Ou ainda como

() a conduta de nomear para cargos puacuteblicos em comissatildeo ou funccedilotildees de

confianccedila de livre provimento e livre exoneraccedilatildeo ou para cargos e funccedilotildees de

provimento ou exoneraccedilatildeo condicionada parentes cocircnjuges ou

companheiros de agentes puacuteblicos enaltecendo criteacuterios de promoccedilatildeo

familiar e de afinidade em detrimento a criteacuterios de meacuterito e capacidade

funcional no acesso a cargos puacuteblicos382

Vale dizer que esta definiccedilatildeo parece mais acertada jaacute que o nepotismo na

atualidade conforme eacute observado pela grande maioria daqueles que se debruccedilam sobre

o assunto significa o privilegiamento realizada pelo agente puacuteblico a seus parentes por

meio da indicaccedilatildeonomeaccedilatildeo desses em cargos puacuteblicos ad nuttum ou seja de livre

nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo denominados cargos em comissatildeo383

378 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p158 379 ―() atualmente o termo em sentido amplo significa favorecimento e abrange qualquer concessatildeo de benesses a

parentes ou a outras pessoas ligadas ao beneficente por laccedilos de amizade ou confianccedila () Inobstante os variados

sentidos que o termo pode ter () o nepotismo eacute entendido como o favorecimento de parentes de agentes puacuteblicos

Mais especificamente o emprego no serviccedilo puacuteblico de parentes de agentes puacuteblicos sem o crivo do concurso

puacuteblico ANTONIO Alice Barroso de O Nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante n 13 do STF Criacuteticas e

Proposiccedilotildees Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM Belo Horizonte ano 10 n 31 janmar 2009 p 63 -

64 380 Que satildeo diferentes entre si mas mais restritas pois natildeo abarcam a nomeaccedilatildeo de amigos na praacutetica de nepotismo

como se veraacute no proacuteximo capiacutetulo 381 PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) in Corrupccedilatildeo Eacutetica e

Moralidade Administrativa GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico Belo Horizonte Ed Foacuterum 2008 p73 382 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico - RBDP

ano 11 n 41 abrjun 2013 Belo Horizonte Ed Foacuterum p 10-11 383 Luis Manuel Fonseca Pires sintetiza como ―() a nomeaccedilatildeo para os cargos em comissatildeo de parentes do

nomeante Eacute o que popularmente alcunha-se de nepotismo Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI

80

Entretanto diante da evoluccedilatildeo sobre a noccedilatildeo juriacutedica do termo eacute necessaacuterio

fazer algumas complementaccedilotildees quanto agrave mesma A primeira se refere agrave delimitaccedilatildeo do

parentesco ou seja eacute importante dispor sobre a definiccedilatildeo de quem satildeo os parentes cuja

nomeaccedilatildeo em cargo comissionado enseja nepotismo pois todas as normativas paacutetrias

que trataram ou tratam do assunto fixam o parentesco como elemento limitador de um

dos criteacuterios objetivos do nepotismo que eacute justamente a nomeaccedilatildeo de parente em cargo

comissionado384

Pela noccedilatildeo juriacutedica atual385

o nepotismo em sua espeacutecie direta ―ocorre

quando a autoridade competente nomeia cocircnjuge companheiro ou parente em linha

reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau o que abarca ―filho neto bisneto

irmatildeo tio sobrinho sogro genro nora cunhado 386

Desta noccedilatildeo se extrai aleacutem da demarcaccedilatildeo de parentesco outro criteacuterio

tambeacutem objetivo como esse a nomeaccedilatildeo pela autoridade que tem competecircncia para

nomear

Esses satildeo os dois aspectos objetivos a que o nepotismo se vincula quais sejam

a competecircncia para nomear (para o cargo puacuteblico em comissatildeo ou designar para a

funccedilatildeo puacuteblica) e a nomeaccedilatildeo de parente

Todavia aleacutem desses existem outros criteacuterios como o objetivo referente ao

parente estar sob a chefia imediata da autoridade nomeante e o criteacuterio subjetivo que

remonta ao favorecimento do parente Contudo ambos satildeo prescindiacuteveis jaacute que o

nepotismo eacute configurado na atualidade independe de ambos os criteacuterios o que eacute

demonstrado tanto na configuraccedilatildeo de sua forma direta onde basta a nomeaccedilatildeo pela

Renata Porto (Coordenadores) in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis Manoel Fonseca

Controle Judicial do Nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante do Supremo Tribunal Federal In Corrupccedilatildeo

Eacutetica e Moralidade Administrativa Belo Horizonte Foacuterum p 237 Florivaldo Dutra de Arauacutejo compendia a noccedilatildeo

de nepotismo como ―() antiga praacutetica dos papas () significa a indicaccedilatildeo de parentes para ocupar cargos na

administraccedilatildeo puacuteblica () guarda sentido pejorativo por indicar a circunstacircncia de que algueacutem se vale apenas do

parentesco com outrem detentor de poder para ser guindado agrave condiccedilatildeo de agente puacuteblico () a autoridade

nomeante designa um parente para funccedilatildeo de confianccedila ou cargo comissionado () PIRES Luis Manuel Fonseca

ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa

Florivaldo Dutra de Arauacutejo O nepotismo e os princiacutepios da administraccedilatildeo puacuteblica Belo Horizonte Ed Foacuterum 2008

p 117-118 384 Ateacute aquelas normas que foram editadas antes da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 delimitavam este criteacuterio pela

espeacutecie e grau de parentesco 385 Conforme as normativas atuais sobre o assunto tratadas na Introduccedilatildeo deste trabalho 386RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 210

81

autoridade nomeante de seu parente387

como tambeacutem na sua forma cruzada que eacute

caracterizada pela nomeaccedilatildeo feita por outra autoridade que natildeo eacute parente do nomeado

Segundo o moderno entendimento388

―natildeo haacute necessidade de se comprovar o

criteacuterio subjetivo pois estaacute impliacutecito ao cerne da praacutetica vez que consiste no propoacutesito

de atender a interesses pessoais com a nomeaccedilatildeo do familiar ou de privilegiar o viacutenculo

sanguiacuteneo Ou seja intriacutenseco ao nepotismo pois a finalidade da escolha do parente

para ocupaccedilatildeo do cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila eacute a satisfaccedilatildeo pessoal

gerada pelo laccedilo familiar389

Assim pode-se dizer que o aspecto subjetivo do ato eacute o seu

motivo impliacutecito agrave sua praacutetica 390

Entatildeo a benesse do acesso ao cargo puacuteblico pelos ―laccedilos de confianccedila pessoal

e familiar391

estaacute embutida no nepotismo sendo portanto desnecessaacuteria a sua

comprovaccedilatildeo para que ele reste configurado mas apenas dos dois primeiros elementos

objetivos dispostos cuja junccedilatildeo produz o nepotismo ―a nomeaccedilatildeo feita por algueacutem que

seja detentor do poder administrativo e o ―viacutenculo familiar (cocircnjuge companheiro ou

parente ateacute o terceiro grau) do nomeado com o nomeante392

Nesse diapasatildeo a confianccedila eacute necessaacuteria para se nomear algueacutem em cargo

comissionado - ―dito de confianccedila - constitucionalmente destinado agraves funccedilotildees de

direccedilatildeo e assessoramento superior mas ao contraacuterio do que se costuma pensar natildeo deve

ser originaacuteria da relaccedilatildeo pessoal mas da aptidatildeo profissional daquele que seraacute nomeado

o qual deve ter a qualificaccedilatildeo necessaacuteria e correspondente a exercer as funccedilotildees do citado

cargo Desta sorte a autoridade nomeante natildeo pode nomear quem quiser mas aquele

que se adeque agraves atribuiccedilotildees do cargomiddot

387 ―O aspecto objetivo do nepotismo concentra-se na efetiva relaccedilatildeo de parentesco existente entre o nomeante e o

nomeado Assim havendo a relaccedilatildeo de parentesco estar-se-aacute diante do nepotismo considerado no seu aspecto

objetivo RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In

Revista de Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 212 O criteacuterio eacute agraves vezes

excepcionalmente aplicado quando se trata de nomeaccedilatildeo de servidor efetivo parente de autoridade nomeante para

exercer cargo comissionado 388 Especialmente apoacutes a publicaccedilatildeo da SV n13 389 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Op cit p 213 E ainda acrescenta ―() diz R Tourinho (2011) a comprovaccedilatildeo do

elemento subjetivo eacute de difiacutecil concretizaccedilatildeo razatildeo pela qual a simples presenccedila do aspecto objetivo relaccedilatildeo de

parentesco vem se mostrando suficiente para caracterizar a praacutetica O caraacuteter objetivo da constataccedilatildeo da situaccedilatildeo a

envolver nepotismo torna irrelevante ateacute por indecifraacutevel em muitos casos o elemento aniacutemico presente no ato de

nomeaccedilatildeo Idem p 214 390 O nepotismo eacute entatildeo ―favorecimento privileacutegios e benefiacutecios para os parentes () daqueles que detecircm o poder

de possibilitar o acesso ao cargo puacuteblico sem a necessidade de submissatildeo ao Concurso Puacuteblico e ―estaacute relacionado

agrave lealdade e agrave confianccedila existentes entre quem favorece e o favorecido CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida

Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula Vinculante n 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash

FA Belo Horizonte ano 10 n 111 mai 2010 p 30 391 RIGOLIN Ivan Barbosa Sobre o nepotismo Uma reflexatildeo sobre moralidade e moralismo Foacuterum Administrativo

‐ FA Belo Horizonte ano 7 n 80 out 2007 392 RIBEIRO JUNIOR Joseacute Hortecircncio A ilegalidade do nepotismo no poder judiciaacuterio Revista Juriacutedica Consulex

ano 9 n 200 p 30

82

Assim mesmo que o cargo seja caracterizado ―pela confianccedila de que se dota o

comissionado esta confiabilidade ―tem que se firmar em qualificaccedilatildeo profissional a

dizer em merecimento que se liga agraves suas condiccedilotildees para o desempenho do cargo e natildeo

em qualificaccedilatildeo patroniacutemica como tantas vezes continua a ocorrer393

Diante desta interpretaccedilatildeo resta loacutegico que natildeo se trata da lealdade da

afinidade e da cumplicidade existentes entre integrantes de uma famiacutelia seja por laccedilos

consanguiacuteneos ou afins mas que a partir do momento em que ―o Constituinte

originaacuterio consagrou a existecircncia das funccedilotildees de confianccedila e dos cargos em comissatildeo

natildeo haacute como negar que eacute ―tarefa assaz difiacutecil sustentar que os valores que informam a

moralidade administrativa () natildeo autorizam que o agente nomeie um parente no qual

tenha ampla e irrestrita confianccedila394

Nessa toada o que se constata eacute que a praacutetica do nepotismo resta configurada

quando parentes consanguiacuteneos em linha reta ou colateral ou afins ateacute o terceiro grau

satildeo nomeados em cargos comissionados ou para exercerem funccedilotildees comissionadas no

mesmo poder em que a autoridade eacute nomeante ou o servidor eacute comissionado395

Outro ponto que interessa ressaltar quanto ao nepotismo eacute que a sua vedaccedilatildeo

abarca apenas os cargos comissionados que satildeo cargos administrativos e natildeo os

poliacuteticos396

Feitas tais exposiccedilotildees quanto ao nepotismo e agrave espeacutecie nepotismo direto passa-

se agrave anaacutelise do nepotismo cruzado tambeacutem denominado transversal ou obliacutequo que se

constroacutei por meio de troca de favoreslsquo entre os agentes nomeantes os quais de forma

393

ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p 163 394 GARCIA Emerson O nepotismo Boletim de Direito Administrativo ndash BDA jun 2003 p 462 395 Esta eacute o entendimento sobre a noccedilatildeo de nepotismo conforme o determinado pela SV n13 do STF de 210808 O

que isto quer dizer Que a autoridade nomeante ou servidor comissionado natildeo podem ter parentes no mesmo poder

em que atuam Por exemplo no acircmbito do Poder Executivo Federal a autoridade ou servidor comissionado lotado no

Ministeacuterio da Sauacutede natildeo pode ter cocircnjuge companheiro filhos pais netos avoacutes bisavoacutes bisnetos irmatildeos sobrinhos

ou tios nomeados em qualquer cargo comissionado ou ateacute se servidores efetivos designados em funccedilatildeo de

confianccedila em qualquer dos Ministeacuterios oacutergatildeos que compotildeem o Poder Executivo Tal vedaccedilatildeo eacute ampla demais Isto

que se constataraacute no uacuteltimo capiacutetulo do trabalho 396 O Ministro Carlos Britto em trecho do seu voto na p 1923 do RE 579951-4RN explica que a proibiccedilatildeo do

nepotismo decorre dos princiacutepios aplicaacuteveis agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica e por isto engloba apenas aos cargos

administrativos e natildeo poliacuteticos O quer dizer que a autoridade nomeante pode mais mas natildeo pode menos Por

exemplo um Prefeito pode nomear irmatildeo para exercer o cargo poliacutetico de Secretaacuterio de Transporte do Municiacutepio em

que eacute governante mas natildeo pode nomear seu sobrinho para um ocupar cargo comissionado em qualquer dos oacutergatildeos do

Poder Executivo Municipal pois estaraacute realizando praticando o nepotismo Parece meio iloacutegico mas todas as normas

brasileiras que vedam o nepotismo o limitam agraves nomeaccedilotildees menoreslsquo para cargos comissionados e funccedilotildees de

confianccedila de natureza administrativa e natildeo para as maioreslsquo que satildeo as para cargos poliacuteticos Este assunto seraacute

tratado no uacuteltimo capiacutetulo

83

inversa e reciacuteproca nomeiam parentes para exercerem cargo comissionado ou funccedilatildeo de

confianccedila em esfera diversa da que o agente eacute autoridade nomeante397

Nesse enredo o nepotismo cruzado somente eacute caracterizado quando ocorre a

reciprocidade das nomeaccedilotildees impondo pela via indireta o favorecimento vedado isto

eacute se natildeo houver a reciprocidade natildeo haveraacute nepotismo cruzado

Ele traduz o fato de os agentes puacuteblicos valerem-se ―de sua influecircncia junto a

outras autoridades com poder para nomear na tentativa de ocultar a praacutetica do

nepotismo e diferente do que ocorre no nepotismo direto pois as ―funccedilotildees seratildeo

exercidas pelo parente nomeado ―por orientaccedilatildeo da autoridade nomeante e natildeo pela

orientaccedilatildeo da autoridade ―beneficiada398

A maior questatildeo quanto a esta espeacutecie de nepotismo refere-se agrave troca de

favoreslsquo sua caracteriacutestica peculiar que o configura e o diferencia das demais Isto

porque ela eacute de difiacutecil verificaccedilatildeo e comprovaccedilatildeo399

jaacute que se insere em ―uma linha

tecircnue capaz de enganar em casos onde realmente ocorre e ao mesmo tempo levar a

conclusotildees equivocadas400

Outra espeacutecie de nepotismo eacute o denominado indireto que implica

favorecimento de parente e que ocorre ―por meio das contrataccedilotildees que se fazem por via

de empresas de locaccedilatildeo de matildeo de obra (terceirizaccedilatildeo) ou de prestaccedilatildeo de serviccedilos 401

Eacute outra forma de burlar a vedaccedilatildeo do nepotismo jaacute que o agente puacuteblico que tem o

poder para nomear seu familiar ou indicaacute-lo para a nomeaccedilatildeo utiliza o poder eou

397 Segundo Dioacutegenes Gasparini ―() nepotismo transversal ou () nepotismo obliquo caracterizado pela nomeaccedilatildeo

reciacuteproca de parentes de autoridades () com poderes para nomear impedidas no entanto de nomeaacute-los cujo

desempenho das respectivas atribuiccedilotildees dar-se-aacute sob as ordens da autoridade nomeante e natildeo da autoridade

beneficiada favorecida () Essa modalidade de nepotismo () surgiu para contornar as severas objeccedilotildees eacutetico-

sociais senatildeo para fugir das proibiccedilotildees legalmente impostas agraves nomeaccedilotildees de parentes proacuteximos da autoridade () na

praacutetica eacute uma troca de favores entre autoridades com o poder de nomeaccedilatildeo para favorecer os respectivos parentes

com evidente intenccedilatildeo de burlar a vedaccedilatildeo legal () no nepotismo obliquo quem nomeia o favorecido eacute outra

autoridade que com ele natildeo manteacutem qualquer parentesco ()Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES

Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum

p75 398 EMPIROTTI Gabriela Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula nordm13 e sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 fev 2013 p 38 399 Para Joatildeo Gaspar Rodrigues eacute ―um ajuste que garante nomeaccedilotildees reciacuteprocas entre os podereslsquo do Estado mas que

tem de ser provado para configurar a categoria nepoacuteticalsquo o que na praacuteticalsquo eacute muito difiacutecil de ser comprovado

Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de Direito Administrativo ndash RDA

Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 211 400 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 31 401 PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) in Corrupccedilatildeo Eacutetica e

Moralidade Administrativa ARAUacuteJO Florivaldo Dutra de O nepotismo e os princiacutepios da administraccedilatildeo puacuteblica

Belo Horizonte Foacuterum 2008 p118

84

prestiacutegio do cargo puacuteblico para indicar seu parente a ser contratado por empresa de

terceirizaccedilatildeo que atua no oacutergatildeo em que eacute ocupante do cargo puacuteblico402

A uacuteltima espeacutecie a ser tratada eacute o nepotismo poliacutetico que eacute descrito ―como a

nomeaccedilatildeo de pessoas independente do viacutenculo de parentesco com a autoridade

nomeante em cumprimento a ―acordos poliacuteticos403

e que apesar de natildeo ser abarcada

por nenhuma normativa eacute lembrada como uma conduta que infringe o princiacutepio da

impessoalidade404

Por fim a uacuteltima espeacutecie de nepotismo a ser tratada eacute o nepotismo das

primeiras-damas405

implantado na eacutepoca de Getuacutelio Vargas406

e que continua a vigorar

no Brasil ateacute hoje e que parece ser uma ―institucionalizaccedilatildeo do nepotismo pois

ocupam cargos puacuteblicos ao desempenharem atribuiccedilotildees de cunho social na conduccedilatildeo de

instituiccedilotildees sem fins lucrativos do ente federado de que o marido eacute representante407

Contudo salvo a situaccedilatildeo das primeiras-damas o Brasil movido por ―um

sentimento ou um sensus communis de que eacute imprescindiacutevel a vedaccedilatildeo do carreirismo

apadrinhadolsquo e da agecircncia familiar de emprego puacuteblicolsquo408

primou pela alteraccedilatildeo do

402 Esta forma de nepotismo estaacute vedada em algumas normativas como na Resoluccedilatildeo n705 do CNJ e no Decreto

presidencial n 720310 a primeira jaacute tratada na Introduccedilatildeo e o segundo no uacuteltimo capiacutetulo deste trabalho 403 EMPIROTTI Gabriela Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula nordm13 e sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 fev 2013 p 38 404 Por vaacuterios doutrinadores e juristas dentre eles Dioacutegenes Gasparini no artigo jaacute citado e Carmem Luacutecia Antunes

Rocha em sua obra tambeacutem jaacute referida 405 Mayara Pegorer afirma que a ―figura da primeira-dama foi inventadalsquo nos Estados Unidos quando por volta de

1790 Martha a esposa do entatildeo presidente George Washington passou a aparecer ao seu lado em ocasiotildees solenes

fazendo o papel de rainha mesmo em um Estado independente e republicano pois refletia a forma de governo

inglecircs PEGORER Mayara Alice Souza As primeiras-damas da improbidade administrativa do nepotismo agrave

corrupccedilatildeo ndash Poliacuteticas puacuteblicas e efetivaccedilatildeo dos direitos sociais Foacuterum administrativo FA Belo Horizonte nov 2012

ano 12 n 141 p 53 406Segundo Mayara Pegorer ―No Brasil foi a mulher de Getuacutelio Vargas Darcy Vargas a precursora no

assistencialismo social passando a assumir o papel de matildee dos pobres ao fundar a Legiatildeo Brasileira de

Assistecircncia e auxiliando na construccedilatildeo do estereoacutetipo de que as primeiras-damas seriam a imagem da elegacircncia da

discriccedilatildeo e da benevolecircncia modelo de valores da preocupaccedilatildeo com os problemas sociais que assolam os entes

federativos que seus maridos representam Neste sentido ateacute hoje acabam assumindo cargos comissionados e funccedilotildees

institucionais cargos relacionados agrave gestatildeo destas aacutereas sociais e empreendendo projetos que mais do que auxiliarem

a populaccedilatildeo carente a que se destinam auxiliam seus maridos na consolidaccedilatildeo de sua imagem no cenaacuterio poliacutetico e

social Op cit p 54 407 ― ()eacute exemplo o mau-vezo de se outorgar agraves primeiras-damas a atribuiccedilatildeo de conduzir instituiccedilotildees sem fins

lucrativos natildeo raras vezes dotadas de vultoso patrimocircnio e de incomensuraacutevel importacircncia para determinadas classes

da populaccedilatildeo Garcia Emerson O nepotismo Boletim de Direito Administrativo ndash BDA jun 2003 p 461Questiona

Emerson Garcia ―Natildeo seria esta uma modalidade de nepotismo ex vi legis () as primeiras-damas exercem a

representatividade popular Qual eacute o fundamento de legitimidade de sua atuaccedilatildeo Satildeo competentes ou possuem uma

―competecircncia reflexa oriunda do chefe do Executivo Op cit p 462 Explica Mayara Alice Souza Pegorer ―Essa

inquestionaacutevel doaccedilatildeo agraves causas sociais por vezes serve de fachada para o empreendimento de manobras puacuteblicas

escusas que ganharam repercussatildeo com a notiacutecia da ocupaccedilatildeo de cargos comissionados pelas primeiras-damas de

municiacutepios brasileiros (muitas vezes sem nem mesmo trabalhar efetivamente restringindo-se a perceber proventos) e

sua participaccedilatildeo em esquemas de desvio de verbas puacuteblicas () possibilidade de figuraccedilatildeo das primeiras-damas

como sujeitos do nepotismo () caracterizando-se infelizmente como praacutetica extremamente recorrente na realidade

brasileira Op cit p 55-56 408 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 222

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quadro administrativo-governamental ao consagrar em 1988 constitucionalmente a

moralidade puacuteblica

23 A Moralidade Puacuteblica e a vedaccedilatildeo do nepotismo na Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

de 1988

A partir dos entendimentos expressos pelos Constituintes nos debates da

Assembleia Nacional Constituinte409

sobre moralidade constata-se que a moralidade

puacuteblica eacute coibidora do nepotismo

Na eacutepoca da elaboraccedilatildeo da Constituiccedilatildeo a noccedilatildeo especiacutefica do princiacutepio da

moralidade natildeo restava pacificada ou clara entre os constituintes de forma que eles

apenas se imbuiacuteram do dever ratificar ―uma tendecircncia consagrada pela jurisprudecircncia

paacutetria e ―pela primeira vez410

a introduziram explicitamente no ordenamento juriacutedico

constitucional brasileiro411

tornando ―expresso o que jaacute estava impliacutecito no sistema

mesmo sob a eacutegide de Constituiccedilotildees anteriores412

que a moralidade eacute um dos vetores

―conformadores da atividade administrativa413

O que se visava naquele momento constituinte era o restabelecimento da

democracia e a moralizaccedilatildeo do poder puacuteblico natildeo apenas quanto ao serviccedilo puacuteblico

como tambeacutem quanto agraves autoridades puacuteblicas eleitas ou nomeadas

Eacute o que se extrai dos debates travados pelos Constituintes no Projeto da

Constituiccedilatildeo414

que ―avanccedilou no campo da moralidade administrativa415

em prol da

moralizaccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico a fim obstar todos os ―jeitinhos brasileiros que

burlassem a moralidade

409 Que antecedeu a promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 410 CORREcircA Gustavo Hermont Princiacutepio da Moralidade ou Eticidade da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese

Direito Administrativo v6 n 66 jun 2011 p 64 411 Segundo Carmem Luacutecia desde 34 o principio da moralidade foi inserido nas disposiccedilotildees constitucionais ―()

como fundamental do sistema constitucional republicano nacional embutido na menccedilatildeo expressa agrave probidade

administrativa como dever do Presidente da Repuacuteblica () (art 54 sect 6ordm da Constituiccedilatildeo de 1981 art 57 f da

Constituiccedilatildeo de 1934 art 85 d da Carta de 1937 () art 89 V da Constituiccedilatildeo de 1946 art 84 V da Carta de

1967 art 82 V da Emenda n 169) Op cit p222 Informaccedilatildeo esta que eacute completada pelo Emerson Garcia ao

afirmar que ―Natildeo obstante sua ausecircncia nos textos constitucionais preteacuteritos o princiacutepio da moralidade foi

contemplado pelo Decreto nordm 19398 de 11 de novembro de 1930 norma de equivalecircncia constitucional que foi

editada apoacutes a Revoluccedilatildeo de outubro do mesmo ano () o seu art 7ordm manteve em vigor as leis obrigaccedilotildees e direitos

na esfera puacuteblica salvo os que submetidos agrave revisatildeo contravenham o interesse puacuteblico e a moralidade

administrativa Op cit Nota de rodapeacute n 87 p 46 412 CAMMAROSANO Maacutercio O Princiacutepio Constitucional da Moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

Belo Horizonte Foacuterum 2006 p 91 413 MEIRELLES Hely Lopes apud BASTOS Celso Ribeiro e MARTINS Ives Gandra Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo

do Brasil 3ordm volume ndash tomo III arts 37-43 ndash 1992 Satildeo Paulo Saraiva p 35-36 414 Denominado por Aluiacutezio Campos como ―bom e corajoso Projeto 415 BRASIL Congresso NacionalComissatildeo de Sistematizaccedilatildeo ndash Ata da Reuniatildeo Solene de entrega do Projeto de

Constituiccedilatildeo (A) 33ordf Reuniatildeo Extraordinaacuteria em 24 de novembro de 1987 ndash Assembleia Nacional Constituinte ndash

Diaacuterio - Ano II- Suplemento A n 307 sexta-feira 23 de setembro de 1988 Brasiacutelia DF p 2

86

Dois quais vale ressaltar o relativo ao paraacutegrafo sect3ordm do art 14 das disposiccedilotildees

transitoacuterias416

que seria exceccedilatildeo ao sect 1ordm do artigo 44 do Projeto da Constituiccedilatildeo o qual

dispunha sobre o acesso ao cargo puacuteblico pelo concurso puacuteblico417

e tido como norma

que viria

() de encontro agrave moralidade que se procurou instaurar neste texto

constitucional eis que seratildeo admitidos sem concurso sem provas e sem

tiacutetulos quatro mil procuradores ou advogados hoje integrando os quadros da

advocacia consultiva ou defensiva da Uniatildeo 418

Contudo em argumentaccedilatildeo contraacuteria foi dito que ―natildeo seria um trem da

alegrialsquo pois trem da alegrialsquo eacute a criaccedilatildeo de novos cargos eacute a realizaccedilatildeo de nomeaccedilotildees

a toque de caixa 419

No mesmo ensejo a fim de ser evitar o personalismo o favoritismo houve

discussatildeo quanto ao artigo 61 das disposiccedilotildees transitoacuterias que determina a estabilidade

para aqueles que jaacute eram servidores cinco anos antes da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo

Federal 420

A discussatildeo eacute iniciada a partir da afirmativa de que queriam421

suprimir este

artigo porque entendiam ―que ele estabelece uma grave irregularidade no serviccedilo

puacuteblico permite o favoritismo aleacutem de ser o que se chama de um trem da alegrialsquo- mas

um trenzatildeo completo 422

Ao contra argumentar eacute dito que se pretende423

negar ―estabilidade para

milhares de funcionaacuterios do serviccedilo puacuteblico que trabalham haacute cinco anos 424

mesmo

416―Os procuradores e advogados de oficio os procuradores da Fazenda nacional e os procuradores ou advogados das

autarquias federais passam a integrar em caraacuteter efetivo a carreira de procurador da Uniatildeo Diaacuterio da Assembleia

Nacional Constituinte ndash Suplemento C p 461 417 ―A primeira investidura em cargo ou emprego puacuteblico sob qualquer regime dependeraacute sempre da aprovaccedilatildeo

preacutevia em concurso puacuteblico de provas ou de provas e tiacutetulos Idem p 461 418 Joatildeo Agripino Idem p461 E continua ―() Imaginem V Exa Esses dispositivos aplicados nos Estados onde

procuradores satildeo nomeados sempre atraveacutes de prestiacutegio ou influecircncia poliacutetica () muitas vezes exercendo em caraacuteter

permanente a advocacia sem dar um uacutenico dia de trabalho agrave Uniatildeo ao Estado () se esta Comissatildeo natildeo suprimir ()

estaremos praticando um ocircnibus espacial da alegrialsquo natildeo apenas um tremlsquo () 419 Palavras de Nilson Gibson na reacuteplica Este era o tamanho do desleixo com o serviccedilo puacuteblico jaacute na deacutecada de 80 do

seacuteculo XX no Brasil utilizado como ―cabide de emprego para os ―amigos do rei muitos amigos e muitos reis E eacute

o que ainda acontece devido aos abusos ocorridos quanto agrave criaccedilatildeo de cargos comissionados que podem ser

ocupados por nomeados sem concurso e pela nomeaccedilatildeo destes embasadas na pessoalidade em personalismo

clientelismo nepotismo favoritismo e partidarismo Diante do debate o que fica patente eacute a necessaacuteria moralizaccedilatildeo

do serviccedilo puacuteblico que ateacute entatildeo era ―casa da matildee Joana de acordo com os mandos e desmandos daqueles que

detinham o poder e nomeavam seus apadrinhados para os cargos e que estes muitas vezes se tornavam ―servidores

fantasmas 420 ―Satildeo estaacuteveis os atuais servidores da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios que agrave data da

promulgaccedilatildeo desta Constituiccedilatildeo contem pelo menos cinco anos de serviccedilo na administraccedilatildeo direta e indireta

inclusive em fundaccedilotildees instituiacutedas e mantidas pelo Poder Puacuteblico Complemento C p 478 421 O PT e PDC 422 Pliacutenio Arruda Sampaio Complemento C Idem p 478 423 Na reacuteplica Gerson Peres dizendo sobre o PT 424

Complemento C p 478

87

sendo a favor da estabilidade para os trabalhadores brasileiros e que ―() natildeo estaacute se

fazendo trem da alegrialsquo () porque o trenzatildeo da alegria soacute existiria se nomeassem

―servidores a partir da data da promulgaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo mas o que estavam

fazendo era para garantir ―o emprego de milhares de trabalhadores que haacute cinco anos

servem no Poder Puacuteblico 425

E nesse contexto se toca no apadrinhamento espeacutecie de privilegiamento como

o nepotismo criticando a falta de profissionalizaccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico e de seguranccedilalsquo

do servidor exposto agrave vontade e interesse puramente pessoal das autoridades que detecircm

o poder426

A discussatildeo em torno da moralidade ou imoralidade continua quanto agrave

possibilidade de se permitir a acumulaccedilatildeo de determinados cargos427

e se demonstra a

necessidade de moralizaccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico que passa pelo expurgo constitucional

de jeitinhos brasileiroslsquo os quais encapam atos imorais dissimulando-os e simulando

uma falsa moralidade428

Igualmente observa-se no Destaque nordm 4246-87 da Emenda nordm ES 22775-1429

que propunha estender a obrigatoriedade do concurso puacuteblico para a ―contrataccedilatildeo de

serviccedilos autaacuterquicos empregados de empresas puacuteblicas da sociedade de economia

mista e das fundaccedilotildees universalizando uma norma hoje privativa de algumas estatais

a fim de que todos fossem favorecidos de ―forma mais transparente democraacutetica

completando ―o princiacutepio da moralidade administrativa da impessoalidade e da

425 Complemento C p 478 E completa ―Portanto natildeo existe imoralidade Se existisse as Constituiccedilotildees de 1946 e

1967 tambeacutem seriam imorais porque estabeleceram os mesmos criteacuterios Aqui fica patente novamente que a defesa

dos constituintes quanto ao natildeo trezatildeolsquo se embasa na mesma argumentaccedilatildeo que o trenzatildeo da alegrialsquo ocorre quando

as nomeaccedilotildees satildeo realizadas ilimitadamente sem criteacuterio de forma imoral 426 Siqueira Campos afirma que ―o servidor puacuteblico () apoacutes cinco anos de trabalho soacute pode ser demitido por

perseguiccedilatildeo de vencedores ocasionais e que natildeo ―se trata de uma imoralidade trata-se de uma proteccedilatildeo a quem

trabalha pois natildeo seria justo deixar o ―trabalhador exposto agrave sanha de poliacuteticos que vivem a colocar para fora do

trabalho servidores qualificados () substituindo-os por afilhados poliacuteticos Ibidem p480 427 Apoacutes a explanaccedilatildeo de Adylson Motta ―Seria um crime uma injusticcedila inominaacutevel se propuseacutessemos apenas retirar

a proibiccedilatildeo de acumulaccedilatildeo de cargos e natildeo reconhececircssemos o direito adquirido daqueles que hoje deteacutem dois cargos

como eacute o caso dos meacutedicos dos professores de magistrado e professor de teacutecnicos cientiacutefico e professor de mateacuteria

afim desde que haja correlaccedilatildeo de mateacuterias e compatibilidade de horaacuterios () Queremos o direito reconhecido para

aqueles que sob o respaldo da Constituiccedilatildeo vigente estatildeo hoje titulando dois empregos porque de agora em diante

natildeo se permitiraacute mais dois empregos no texto constitucional Ibidem p 481 428 Antocircnio Britto ―() a foacutermula apresentada () permitiraacute que todas as acumulaccedilotildees hoje existentes ditas legais

sejam transformadas em direito adquirido sem que se tenha possibilidade Estado a Estado Municiacutepio a Municiacutepio

de examinar caso a caso o que foi uma das grandes formas de fraude usadas pelo Poder Puacuteblico () o serviccedilo puacuteblico

do Paiacutes exige hoje duas moralizaccedilotildees a primeira eacute o prestigiamento do servidor puacuteblico dando-lhe condiccedilotildees

corretas para o exerciacutecio de sua funccedilatildeo () a segunda () dotar a Constituiccedilatildeo de instrumentos eneacutergicos para

enfrentar imoralidades cometidas Ibidem p 481 429 De Jalles Fontoura

88

publicidade contempladas nos art 43 430

o apreccedilo natildeo soacute pela moralidade mas tambeacutem

pela publicidade e impessoalidade

Por fim se constata o apelo agrave moralidade puacuteblica tambeacutem no que concerne agrave

remuneraccedilatildeo dos funcionaacuterios da administraccedilatildeo indireta conforme o disposto no

Destaque n 3876-8 da Emenda n ES 26044-8431

quanto ao art 63 sect 6ordm do substitutivo

n 2432

() um fato vem provocando clamor popular e indignaccedilatildeo puacuteblica a

existecircncia dos chamados marajaacutes na administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta

em todo o Paiacutes () estatildeo incrustados na administraccedilatildeo puacuteblica somam

vantagens () benefiacutecios () chegam a vencimentos () assustadores ()

tem que ter uma poliacutetica de austeridade na administraccedilatildeo puacuteblica () tem

que ser extensiva tambeacutem agrave administraccedilatildeo indireta () agraves empresas estatais a

que natildeo temos acesso nem a imprensa consegue chegar laacute para noticiar ()

as polpudas recompensas de suas diretorias de seus assessores () eacute preciso

que laacute tambeacutem se instale a moralidade a probidade a austeridade () teto

() agrave sanha agrave voracidade daqueles que () detecircm cargos puacuteblicos ou a

direccedilatildeo de empresas433

Desta feita foi expressamente consignada nos debates dos constituintes na

ANC a necessidade de moralizaccedilatildeo do serviccedilo puacuteblico e do poder puacuteblico dos quais

resultaram os dispositivos constitucionais atuais quanto agrave moralidade puacuteblica

Moralidade esta que obriga ―a todo agente puacuteblico do Presidente da Repuacuteblica

ao mais humilde servidor que tenha o ―dever juriacutedico e moral de ser leal ao seu paiacutes

bem como de cumprir o ―Direito que consubstancia a organizaccedilatildeo da sociedade

poliacutetica devendo assim ―respeitar e fazer respeitar a ordem juriacutedica que tambeacutem

accedilambarca o dever de melhor administraccedilatildeo 434

E natildeo eacute soacute a moralidade puacuteblica tambeacutem aparece como fundamento agrave vedaccedilatildeo

do domiacutenio familiar no acircmbito eleitoral Eacute isto que se extrai dos destaques e

substitutivos pertinentes agrave inelegibilidade de parentes dos representantes do Poder

430 Complemento C p 827 Ressalta-se que o artigo 43 hoje o art 37 tinha a seguinte redaccedilatildeo ―A administraccedilatildeo

puacuteblica direta ou indireta de qualquer dos poderes obedeceraacute aos princiacutepios da legalidade impessoalidade

moralidade e publicidade salvo na hipoacutetese de rescisatildeo do contrato de trabalho como condiccedilatildeo de validade dos atos

administrativos a motivaccedilatildeo suficiente e como requisito de sua legitimidade a razoabilidade 431 De Gastone Rigui 432 Gastone Rigui ―Nenhum funcionaacuterio diretor ou empregador na administraccedilatildeo puacuteblica direta ou indireta de

empresa estatal ou sociedade de economia mista teraacute remuneraccedilatildeo ou vantagens superiores agraves percebidas

respectivamente na aacuterea municipal pelo prefeito na aacuterea estadual pelos secretaacuterios de Estado e na aacuterea federal

pelos Ministros de Estado Idem p 837 433

Gastone Rigui Ibidem p 837 O destaque foi rejeitado 434 CAMMAROSANO Maacutercio O princiacutepio constitucional da moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

Belo Horizonte Foacuterum 2006p114

89

Executivo dos entes federados atualmente denominada pela doutrina como

inelegibilidade reflexa435

Nesse esteio fica registrado que para se evitar o nepotismo aqui como

domiacutenio familiar do poder puacuteblico pela via eleitoral haacute de se coibir a elegibilidade dos

parentes de certa autoridade puacuteblica Assim eacute assentada a necessidade de ser preservar a

tradiccedilatildeo constitucional que prima por esta moralidade puacuteblica436

Iniciado o embate437

sobre o Destaque nordm 836-87 ndash Emenda nordm ES-27313 artigo

13 sect7ordm do Substitutivo n 2438

seguido439

sobre o Destaque n 3870-87 da Emenda n

ES-26031-6 quanto ao art 13 sect 9ordm do Substitutivo n 2 que estabelece a inelegibilidade

dos parentes dos titulares dos poderes executivos de cada um dos entes federados440

a

posiccedilatildeo tomada eacute contraacuteria agrave redaccedilatildeo441

Nessa alccedilada os argumentos foram rebatidos442

pela argumentaccedilatildeo de que ―()

a supressatildeo deste dispositivo permitiria exatamente o contraacuterio que se tornasse pela

primeira vez neste Paiacutes elegiacuteveis o cocircnjuge e o parente ateacute segundo grau de qualquer

dos detentores de cargos executivos colocando fora uma das mais moralizadoras

tradiccedilotildees deste Paiacutes 443

sendo um ―atentando contra a moralidade que deve existir no

trato da coisa puacuteblica com relaccedilatildeo agraves eleiccedilotildees e que ―Ignorar que parentes proacuteximos de

435 ―De aplicaccedilatildeo objetiva independente da relaccedilatildeo de amizade segundo Alexandre Moraes Constituiccedilatildeo do Brasil

Interpretada 4ordf ed Satildeo Paulo Atlas 2004 p 577 436 Conforme Emerson Garcia ―() a preocupaccedilatildeo com o favorecimento haacute muito estaacute sedimentada no direito

positivo paacutetrio do que eacute exemplo a causa de inelegibilidade prevista no art 14 sect 7ordm da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

que alcanccedila o cocircnjuge e os parentes consanguiacuteneos ou afins ateacute o segundo grau ou por adoccedilatildeo do chefe do

Executivo ou de quem o tenha substituiacutedo nos seis meses anteriores ao pleito salvo se jaacute titular de mandato eletivo e

candidato agrave reeleiccedilatildeo O nepotismo Boletim de Direito Administrativo ndash BDA jun 2003 p462 437 Pelo entatildeo Deputado Federal Nelson Jobim 438 Senhor Haroldo Lima ―() atribui agrave lei complementar a fixaccedilatildeo de outros casos de inelegibilidade () levando

em conta a moralidade para o exerciacutecio do mandato e a normalidade e legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia

() ou o abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo cargo ou emprego puacuteblico da administraccedilatildeo direta ou indireta Complemento

C p 593 439 Por Gastone Righi 440 () estabelece que satildeo inelegiacuteveis para quaisquer cargos o cocircnjuge ou parentes ateacute segundo grau por

consanguinidade afinidade ou adoccedilatildeo do Presidente da Repuacuteblica do Governador e do Prefeito que tenha exercido

mais da metade do mandato e soacute ressalva os que jaacute exercem mandatos eletivosIbidem p 593 441 Com ―esta redaccedilatildeo () qualquer pessoa que morar no Rio Grande do Sul e for parente de um prefeito no Rio

Grande do Norte natildeo poderaacute candidatar a nenhum cargo eletivo dentro do paiacutes Eacute uma verdadeira aberraccedilatildeo () natildeo

eacute preciso que a Constituiccedilatildeo vaacute ao ponto absurdo da proibiccedilatildeo total e absoluta de eleiccedilatildeo mesmo para parentes por

afinidade () eacute o cunhado algueacutem que sequer escolheu o parentesco e nem mesmo tem a consanguinidade ou liame

familiar estabelecido Ibidem p 599 Neste ponto eacute interessante frisar que esta aberraccedilatildeo que se refere eacute tanto

quanto ao agrave extensatildeo territorial envolvida na proibiccedilatildeo quanto agrave amplitude da vedaccedilatildeo familiar o que

inegavelmente mutatis mutantis tambeacutem constitui objeto de severas criacuteticas doutrinaacuterias agrave Suacutemula Vinculante n13

do STF 442 Por Antocircnio Britto 443 Ibidem p 600

90

Governadores cocircnjuges candidatos por exemplo satildeo beneficiados pelo poder puacuteblico

() em suas eleiccedilotildees seria tapar o sol com a peneira 444

Contudo este substitutivo foi rejeitado e apresentado outro445

quando foi

realizada uma explanaccedilatildeo completa sobre o tema446

pois aleacutem de se aduzir que a

inelegibilidade de parentes das autoridades poliacuteticas em voga eacute uma tradiccedilatildeo

constitucional no Brasil447

ainda restou claro que aquilo que embasa e sempre embasou

esta vedaccedilatildeo constitucional eacute a necessidade de se obstar o nepotismo e a manutenccedilatildeo de

domiacutenios familiares no poder puacuteblico 448

O substitutivo foi aprovado Daiacute a notoriedade de que tanto a Constituiccedilatildeo veda

o nepotismo que eacute este o motivo da inelegibilidade reflexa expressa no artigo 14 sect 7ordm

do texto constitucional

Nesse iacutenterim vale ressaltar que natildeo seria loacutegico que o texto constitucional

obstasse por um lado o domiacutenio familiar pelo meio poliacutetico eleitoral e por outro

permitisse o mesmo o poderio deste clatilde pelas vias administrativas de nomeaccedilatildeo em

cargos puacuteblicos eou administrativos449

444 Gerson Peres que completa Complemento C p 600 E continua ―Eacute a realidade brasileira () temos de manter o

texto () que sustenta a moralidade na coisa puacuteblica Natildeo vamos () abrir a porta para que no Paiacutes ocorram fatos

degradantes () essa proibiccedilatildeo eacute vaacutelida () moralidade natildeo tem limite nem jurisdiccedilatildeo () a utilizaccedilatildeo do poder eacute

dentro do territoacuterio nacional E foi este o pensamento adotado pelos Ministros do Supremo ao elaborarem a SV

n13 445 Do Relator Bernardo Cabral 446 Por Ruy Barcelar 447 ―Por um lapso () deixou de incluir a inelegibilidade dos parentes de segundo grau afins e por adoccedilatildeo do

Presidente da Repuacuteblica () No que concerne agraves inelegibilidades oriundas do grau de parentesco por

consanguinidade ou afim jaacute a Carta Constitucional de 1891 tornava inelegiacuteveis para o cargo de Presidente os

parentes consanguiacuteneos e afins do 1ordm e 2ordm graus do Presidente e Vice-Presidente da Repuacuteblica ou de quem se achasse

em serviccedilo no momento da eleiccedilatildeo ou de quem tivesse deixado ateacute 6 meses antes A Constituiccedilatildeo de 1934

considerava inelegiacuteveis os parentes ateacute o terceiro grau do Presidente da Repuacuteblica que natildeo se afastasse do cargo pelo

menos um ano antes A Carta autoritaacuteria de 1937 () se omitiu com relaccedilatildeo ao tema() a Constituiccedilatildeo de 1946

voltou a considerar inelegiacuteveis os parentes consanguiacuteneos e afins ateacute o 2ordm grau natildeo soacute do Presidente da Repuacuteblica

mas tambeacutem dos Governadores e Prefeitos estendendo-se este impedimento () ao cocircnjuge dessas autoridades ()

A Constituiccedilatildeo de 1967 () diferenccedila eacute a extensatildeo das inelegibilidades aos parentes ateacute o 3ordm grau e aos parentes por

adoccedilatildeo () Emenda Constitucional n 22 de 1982 agrave () de 1967 com a redaccedilatildeo dada pela Emenda n 1 de 1969

manteacutem a inelegibilidade por parentesco voltando-se o limite de ateacute 2ordm grau () no territoacuterio de jurisdiccedilatildeo do titular

() O projeto da Comissatildeo de Sistematizaccedilatildeo art 28 II letra g considera igualmente inelegiacuteveis no territoacuterio de

jurisdiccedilatildeo do titular o cocircnjuge e os parentes por consanguinidade afinidade ou adoccedilatildeo () jaacute o substitutivo ()

repete a redaccedilatildeo dada pelas Constituiccedilotildees de 1946 e 1967 () sem tornar inelegiacuteveis o cocircnjuge e os parentes de

Presidente da Repuacuteblica () Ata de Comissotildees p 683 ndash 684 448() a tradiccedilatildeo constitucional brasileira sobre inelegibilidade por grau de parentesco () sempre contemplou esse

impedimento como forma necessaacuteria para evitar o nepotismo ou a perpetuaccedilatildeo no poder atraveacutes de interposta pessoa

deve ser mantida A intenccedilatildeo do legislador brasileiro ao longo de nossa histoacuteria foi de impedir que aqueles que

detecircm uma parcela do poder de governar tendo sob o seu controle a maacutequina administrativa ou aquele que deixou o

cargo agraves veacutesperas das eleiccedilotildees favoreccedilam seus parentes prevalecendo-se da autoridade que tem ou aproveitando-se

da influecircncia que ainda manteacutem decorrente da proximidade do afastamento do cargo Visou-se preservar a

normalidade e a legitimidade das eleiccedilotildees contra a influecircncia ou abuso do exerciacutecio de funccedilatildeo ou cargo Daiacute nossa

iniciativa de apresentar emenda no sentido de restabelecer a tradiccedilatildeo constitucional brasileira e ao mesmo tempo

alertar () para o tema que achamos de grande importacircncia para a normalidade e a moralidade da vida poliacutetica

brasileira (grifos nossos) Idem 683-684 449 Quem natildeo pode o mais pode o menos

91

Ainda na esfera eleitoral ao se dispor sobre o voto e a eleiccedilatildeo em dois turnos o

personalismo eacute lembrado como uma chaga aberta no sistema eleitoreirondashgovernamental

do paiacutes

Neste diapasatildeo fala-se sobre o ―conservadorismo mesclado () pelo

clientelismo e pelas benesses da maacutequina do Poder Executivo que estaacute vinculado ()

com o empreguismo e com todo esse fisiologismo que tem dominado a poliacutetica

brasileira ao longo desses anos450

e portanto constata-se que ―A questatildeo eleitoral ()

eacute crucial para se ter uma democracia natildeo do autoritarismo do clientelismo e do

fisiologismo () que () espelhe parte da verdade do voto451

E no Destaque nordm 7746-87 que dispunha sobre eleiccedilatildeo em dois turnos a

argumentaccedilatildeo exibida se reporta agrave longa histoacuteria da pessoalidade sempre presente no

acircmbito do poder puacuteblico brasileiro e expotildee a falta de probidade encrustada na orbita

governamental-administrativa onde transita livremente o nepotismo452

que remonta agrave

eacutepoca do coronelismolsquo e da Repuacuteblica Velha453

Apoacutes toda esta explanaccedilatildeo se conclui que os constituintes estavam absorvidos

natildeo apenas em garantir a moralidade administrativa do serviccedilo puacuteblico em si mas a

moralidade puacuteblica em sentido amplo aquela que vigora no sistema no Estado no

governo e na administraccedilatildeo454

Nesse esteio vale ressaltar que o concurso puacuteblico em meio agrave argumentaccedilatildeo

quanto agrave moralidade puacuteblica455

eacute observado a uma como instrumento moralizador da

maacutequina administrativa e do seu serviccedilo puacuteblico e a duas como elemento

constitucionalmente inibidor do nepotismo

450Joseacute Genoiacuteno Ata das Comissotildees p 685 451 Idem p 685 452 Gerson Peres Que ainda afirma ―O processo de dois turnos eacute () reacionaacuterio () antipopular eacute contra o avanccedilo

da proacutepria esquerda que o enaltece irresponsavelmente sem noccedilatildeo histoacuterica intelectual sem sequer seriedade ou

probidade () Os governos haveratildeo de ser partilhados as secretarias divididas as diretorias vendidas o nepotismo o

filhotismo o apadrinhamento se daraacute em toda a extensatildeo para que o candidato compre essa maioria absoluta

Suplemento C p760-761 453 ―() a influecircncia do poder do Governo municipal do poder do Governo estadual ainda estaacute arraigado () e noacutes

vamos assistir a espetaacuteculos degradantes com as eleiccedilotildees de dois turnos vencendo sempre aquele que vai deter a

maacutequina Idem p 762 454 Diante disto como afirmar que o nepotismo refere-se apenas agrave oacuterbita administrativa e natildeo governamental Jaacute natildeo

ficou exposto que eacute o nepotismo a fundamentaccedilatildeo da inelegibilidade reflexa E natildeo eacute a eleiccedilatildeo o instrumento

imprescindiacutevel ao governo Entatildeo natildeo seria tambeacutem nepotismo as nomeaccedilotildees em cargos poliacuteticos governamentais

Se eacute nepotismo a eleiccedilatildeo para deputada federal por um Estado da filha do governador deste Estado porque natildeo seria

nepotismo a sua nomeaccedilatildeo para ser Secretaacuteria de uma das Pastas estaduais do governo de seu pai Esta eacute outra criacutetica

levantada pela doutrina quanto agrave redaccedilatildeo da SV n13 que natildeo abarcou a vedaccedilatildeo da nomeaccedilatildeo para cargos poliacuteticos

como nepotismo 455 Pela fala de Adylson Motta quanto ao serviccedilo puacuteblico ao analisar o substitutivo do Relator Bernardo Cabral

92

E ainda que foi apresentada uma emenda456

que expressamente vedada o

nepotismo na funccedilatildeo puacuteblica e nos cargos comissionados os quais seriam apenas

destinados aos titulares de direccedilatildeo superior do denominado primeiro e segundo escalatildeo

da Administraccedilatildeo Puacuteblica457

Assim quando se remonta ao binocircmio composto por um lado pela Moralidade

Puacuteblica consagrada pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 e por outro pelo

nepotismo deve-se enfocar que a moralidade puacuteblica eacute diretriz decorrente do proacuteprio

princiacutepio republicano que veda que qualquer ato seja realizado em detrimento da

igualdade

E nesse contexto se observa que a Constituiccedilatildeo Federal embora natildeo tenha se

referido expressamente ao nepotismo em nenhum dos seus dispositivos o exortou do

―atual estaacutegio do nosso viver458

jaacute que desde o seu artigo primeiro estabeleceu o

princiacutepio republicano incompatiacutevel com atos como o nepotismo 459

Eacute tambeacutem neste espeque que se constata que a Constituiccedilatildeo Federal de 1988

determinou no seu art 14 sect 7ordm a inelegibilidade de cocircnjuges parentes consanguiacuteneos

afins e por adoccedilatildeo ateacute o segundo grau de poliacuteticos deixando patente a

incompatibilidade do nepotismo com os seus preceitos

456 Por Adylson Motta 457 ―() temos que mudar a fisionomia da funccedilatildeo puacuteblica e do funcionaacuterio puacuteblico () cuidar eacute do ingresso de algueacutem

na funccedilatildeo puacuteblica que eacute pela porta do concurso () obrigatoriedade da organizaccedilatildeo do funcionaacuterio em carreira ()

continua constando aqui neste substitutivo () uma emenda que eu apresentei no primeiro momento que proiacutebe o

nepotismo na funccedilatildeo puacuteblica e limita a utilizaccedilatildeo do cargo de confianccedila () ficariam adstritos apenas aos titulares de

Ministeacuterios a Chefes do poder a secretaacuterios talvez de Ministeacuterios a dirigentes maacuteximos das entidades paraestatais

() Adylson Motta Ata das Comissotildees p 787 Tal proposta natildeo foi aprovada mas se tivesse sido poderia ter ao

menos limitado o nepotismo a alguns cargos poliacuteticos e outros puacuteblicos que restariam como cargos de confianccedila de

livre nomeaccedilatildeo 458 VASCONCELOS Telmo da Silva Princiacutepio Constitucional da Moralidade e o Nepotismo Revista L amp C n 50

ago 2002 p 30 459Por isto Paulo Modesto afirma que ―() respeitar o interesse comum dirigir-se ao interesse puacuteblico exige do

agente puacuteblico republicano a adoccedilatildeo de criteacuterios igualitaacuterios e de meacuterito no acesso aos cargos puacuteblicos de sua livre

escolha em qualquer estrato do Poder dentro do Estado Todos satildeo iguais em uma Repuacuteblica satildeo cidadatildeos com

cargas puacuteblicas e direitos iguais A proteccedilatildeo de privileacutegios de origem familiar na intimidade do Estado eacute a antiacutetese do

regime republicano MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de

Direito Puacuteblico - RBDP ano 11 n 41 abrjun 2013 Belo Horizonte Ed Foacuterum p 24 E ainda completa ―Trata-se

de comportamento em qualquer extensatildeo do conceito evidentemente contraacuterio ao ethos republicano a princiacutepio

baacutesicos da administraccedilatildeo puacuteblica e a elementares preceitos de boa gestatildeo da coisa puacuteblica mas que foi tolerado

durante toda a histoacuteria do Brasil e nos vinte primeiros anos da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 MODESTO Paulo

Op cit p 11 Tambeacutem eacute este o posicionamento adotado por Zeacutelio Maia da Rocha ao afirmar que ―Nepotismo em

essecircncia significa favorecimento Somente os agentes que ostentem grande equiliacutebrio e retidatildeo de caraacuteter conseguem

manter incoacutelume a dicotomia entre o puacuteblico e o privado impedindo que sentimentos de ordem pessoal contaminem

e desvirtuem a atividade puacuteblica que se propuseram a desempenhar () Assim nepotismo consiste em condutas

praticadas por agentes puacuteblicos que utilizando-se dos cargos estrateacutegicos que ocupam na estrutura estatal passam a

nomear ou manter parentes em cargos comissionados em indiscutiacutevel prejuiacutezo ao princiacutepio republicano segundo o

qual o da isonomia deve sempre ser potencializado com o intuito de que a coisa do povo (respublicum) reste

plenamente preservada Nepotismo e concurso puacuteblico Criteacuterio objetivo de ausecircncia de moralidade e

impessoalidade na Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista juriacutedica Consulex v 12 n 286 15 de dezembro 2008 p 40

93

Daiacute se constata se o domiacutenio poliacutetico familiar pela via eleitoral eacute

constitucionalmente coibido que diraacute pela via administrativa por meio da qual ocorre o

nepotismo ―Quem natildeo pode mais tambeacutem natildeo pode menos

Mas natildeo eacute soacute nesse enredo estatildeo assentados pela Constituiccedilatildeo Federal como

princiacutepios constitucionais460

basilares da Administraccedilatildeo Puacuteblica461

da legalidade da

impessoalidade da moralidade da publicidade e da eficiecircncia

Princiacutepios462

que longe de serem apenas meros valores satildeo normas que geram

efeitos no mundo juriacutedico463

indicam ―uma situaccedilatildeo geral a ser buscada por todos

aqueles que se encontrarem sob sua regecircncia464

e conferem ―coerecircncia e unidade

sistemaacutetica 465

ao ordenamento juriacutedico figurando como norte confiaacutevel466

Assim a Administraccedilatildeo Puacuteblica presente em todos os poderes de cada um dos

entes federados aleacutem de obedecer a diversas ―leis esparsas que mudam com uma

frequecircncia assustadora467

deve observar os princiacutepios constitucionais gerais os que a

regem especificamente e ainda aqueles que derivam destes pois satildeo os princiacutepios

aplicaacuteveis agrave Administraccedilatildeo que asseguram estabilidade ao direito administrativo vez

que mesmo que as leis sejam alteradas eles permanecem468

Diante disto se o administrador puacuteblico descumpre um dos princiacutepios que

regem a Administraccedilatildeo estaraacute ―ferindo a mais alta ordem de um Estado469

460 Segundo o Ministro Ricardo Lewandowiski em seu voto no RE 579951-4 RN ―os princiacutepios constitucionais

―consubstanciam regras juriacutedicas de caraacuteter prescritivo hierarquicamente superiores agraves demais e satildeo positivamente

vinculanteslsquo como ensina Gomes Canotilho p1888 461 Expostos no caput do seu artigo 37 ―a administraccedilatildeo puacuteblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Uniatildeo

dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios obedeceraacute aos princiacutepios de legalidade impessoalidade

moralidade publicidade e eficiecircncia Que satildeo de ―observacircncia obrigatoacuteria para os trecircs Poderes do Estado PIETRO

Maria Sylvia Zanella di Discricionariedade Administrativa na Constituiccedilatildeo de 1988 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Atlas 2012 p 160 462 Poeticamente segundo Machado de Assis eacute ―uma verdade que nas coisas anda que mora no visiacutevel e no

invisiacutevel Citaccedilatildeo do autor na fala de Quincas Borba explicando a Rubiatildeo sobre ―Humanitas Quincas Borba Satildeo

Paulo EDIGRAF 1889 p 18 463 A anaacutelise dos princiacutepios seraacute realizada no proacuteximo capiacutetulo de acordo com a hermenecircutica constitucional

Conforme o moderno entendimento ―satildeo conceituados como mandamento nuclear de um sistema em virtude de sua

relevacircncia axioloacutegica que lhe outorga a condiccedilatildeo de nuacutecleo central da ordem juriacutedica Karl Larenz apud Maria

Sylvia Zanella di Pietro in Discricionariedade Administrativa na Constituiccedilatildeo de 1988 3ordf Ed Satildeo Paulo Editora

Atlas 2012 p154 Entretanto existem vaacuterias posiccedilotildees quanto agrave sua ponderabilidade e aplicaccedilatildeo 464 Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires Mauriacutecio Zockun Renata Porto Adri

(Coordenadores) O nepotismo e os princiacutepios da administraccedilatildeo puacuteblica ndash Florivaldo Dutra de Arauacutejo Belo

Horizonte Ed Foacuterum 2008 p 120 465 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Princiacutepios Informativos e Interpretativos do Direito Administrativo in

ARAUacuteJO Valter Shuenquener de (coord) Direito Administrativo em Foco Niteroacutei Ed Impetus 2005 p30 466 PEREIRA JUNIOR Jesseacute Torres Controle Judicial da Administraccedilatildeo Puacuteblica Da Legalidade Estrita agrave Loacutegica

do Razoaacutevel 2ordf ediccedilatildeo Belo Horizonte Editora Forum 2006 p 62 467 Idem p 159 468 Idem p160 469 EMPIROTTI Gabriela Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula nordm13 e sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 fev 2013 p 40

94

E eacute nesse ensejo que os juristas afirmam que o texto constitucional coibiu o

nepotismo no poder puacuteblico por trecircs dos cinco princiacutepios basilares da Administraccedilatildeo470

quais sejam o da impessoalidade471

o da eficiecircncia e o da moralidade administrativa472

Nesse esteio eacute que a Constituiccedilatildeo Federal veda a praacutetica de atos de

personalismo dentre eles o nepotismo sendo imprescindiacutevel que o agente puacuteblico

realize o ato administrativo desconsiderando quaisquer condiccedilotildees de parentesco

amizade posiccedilotildees partidaacuterias ou ideoloacutegicas daquele que seraacute nomeado473

Daiacute a importacircncias de tais princiacutepios e da moralidade puacuteblica no estudo do

nepotismo cuja proibiccedilatildeo de acordo com o STF deles deriva474

Mas o nepotismo natildeo eacute ato dissonante apenas dos princiacutepios da

Impessoalidade475

da Eficiecircncia476

e da Moralidade 477

tambeacutem destoa do princiacutepio da

Finalidade478

470 Assentados pela jurisprudecircncia do STF como autoaplicaacuteveis o que se observaraacute no uacuteltimo capiacutetulo 471 Uma das formas pelas quais a Constituiccedilatildeo consagrou este princiacutepio foi estabelecer o acesso ao cargo puacuteblico por

meio de concurso puacuteblico a fim de rechaccedilar da administraccedilatildeo os viacutecios do patrimonialismo e o personalismo dentre

eles o nepotismo Aqui vale apenas lembrar que o concurso puacuteblico previsto no inciso II do art 37 da CF88 eacute

espeacutecie de procedimento licitatoacuterio regulado pela lei 866693 destinado a preencher os cargos efetivos do quadro

pessoal dos oacutergatildeos e entidades da administraccedilatildeo Ele eacute a regra e a exceccedilatildeo eacute a livre nomeaccedilatildeo de indiviacuteduo a ocupar

cargo comissionado tambeacutem prevista constitucionalmente 472―Eacute evidente que atenta contra a moralidade do serviccedilo puacuteblico a contrataccedilatildeo indiscriminada de parentes aleacutem de

ofender a impessoalidade com que deve ser regida a atuaccedilatildeo do Poder Puacuteblico Tambeacutem a eficiecircncia do pessoal deixa

a desejar () CAVALCANTI Felipe Locke O Conselho Nacional de Justiccedila e a efetividade dos princiacutepios

constitucionais Revista do advogado ano 32 n 117 out 2012 p 92 E ―() o nepotismo pode ser compreendido

como o favorecimento dos viacutenculos de parentesco nas relaccedilotildees de trabalho ou emprego () viola os princiacutepios

constitucionais da moralidade da impessoalidade e da eficiecircncia na Administraccedilatildeo Puacuteblica ESTRELLA Heron

Nunes Nepotismo Aplicaccedilatildeo da Suacutemula Vinculante n 13 do Supremo Tribunal Federal Interesse Puacuteblico Ed

Foacuterum v10 n 54 marabr 2009 p265 473 Por isto Dioacutegenes Gasparini sintetiza que ―O que se quer na atualidade eacute ver extinto o vezo de certas autoridades

dotadas do poder de prover cargos ou empregos puacuteblicos de livre nomeaccedilatildeo e exoneraccedilatildeo que deles valem-se para

beneficiar parentes propiciando-lhes um bom emprego PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI

Renata Porto (Coordenadores) Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Nepotismo Poliacutetico p 97 474 EMPIROTTI Gabriela Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula nordm13 e sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 fev 2013 p 41 475 Tanto que Mayara Alice Souza Pegorer ao analisar o nepotismo institucionalizado no papel da primeira-dama

afirma que ―() justamente pelo papel assumido pela figura da primeira-dama a segunda situaccedilatildeo torna-se bem

recorrente atribuindo-se a ela a conduccedilatildeo de instituiccedilotildees sem fins lucrativos que buscam promover o bem-estar social

da populaccedilatildeo empreendendo poliacuteticas sociais que vatildeo desde a proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente famiacutelias carentes e

meio ambiente () poder-se-ia aventar a violaccedilatildeo ao princiacutepio da () impessoalidade e a moralidade ao se sobrepor

os interesses pessoais aos coletivos resultando pois em ato contra os princiacutepios da Administraccedilatildeo Puacuteblica As

primeiras damas da improbidade administrativa do nepotismo agrave corrupccedilatildeo ndash Poliacuteticas puacuteblicas de efetivaccedilatildeo dos

direitos sociais Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 12 n141 nov 2012 p 56 476 Dioacutegenes Gasparini afirma que o nepotismo ―contraria a moralidade a impessoalidade a finalidade e a eficiecircncia

das accedilotildees administrativas Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN

Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p 88-89 477 Nesse sentido satildeo as palavras de Temo da Silva Vasconcelos ―Nepotismo afigura-se agrave ideia de favoritismo

patronal em dissonacircncia a impessoalidade A breve histoacuteria da naccedilatildeo brasileira jaacute em seus primoacuterdios registra a

primeira manifestaccedilatildeo de tal praacutetica () Desde entatildeo a percorrer e macular toda a nossa histoacuteria puacuteblica e privada

afigurado apadrinhamento da assunccedilatildeo aos postos sem a afericcedilatildeo de medidas de capacidade e merecimento Fez-se

presente suplantando periacuteodos despoacuteticos e democraacuteticos como que pairando sobre qualquer juiacutezo de moralidade e

probidade O Princiacutepio Constitucional da Moralidade e o Nepotismo Revista L amp C n 50 ago2002 p 29-30 478 O princiacutepio da finalidade eacute citado como um daqueles infringidos pelo nepotismo pois o administrador puacuteblico ao

nomear parentes para determinados cargos natildeo visa ―a finalidade puacuteblica como norte de tal ato mas o ―beneficiar

95

Assim aquele que pratica o nepotismo os inobserva pois tal conduta

rechaccedilada nada mais eacute do que ―um dos caminhos pelos quais se destroacutei e se adultera a

administraccedilatildeo puacuteblica desviando-a dos fins que informam sua existecircncia479

Fins

esses a serem ―buscados pelo poder puacuteblico no Estado de Direito480

derivados dos

seus princiacutepios e do proacuteprio princiacutepio da finalidade

Desta feita passa-se agrave anaacutelise da relaccedilatildeolsquo do nepotismo com os princiacutepios da

impessoalidade eficiecircncia finalidade com o fito de demonstrar que ao final e antes de

tudo o nepotismo eacute imoral

231 O contraventor do princiacutepio da impessoalidade

Como jaacute foi dito o nepotismo que eacute perpetuado ―ateacute os dias de hoje 481

eacute um

haacutebito viciado da Administraccedilatildeo Puacuteblica brasileira vinculado ao personalismo e ao

favoritismo avesso ao princiacutepio da impessoalidade482

e que em uma Repuacuteblica que vige

desde 1988 estruturada no trato impessoal e igualitaacuterio483

―de traccedilos organizados

estruturados e dinamizados segundo o direito que nele vigora 484

e cujas bases natildeo

convivem ―com a personalizaccedilatildeo do Poder conforme o governante em exerciacutecio485

natildeo

haacute como ser aceito

A administraccedilatildeo puacuteblica deve ser exercida pelos seus agentes de forma

imparcial neutra e impessoal no trato com a coisa puacuteblica na prestaccedilatildeo dos serviccedilos

puacuteblicos nas atividades puacuteblicas que realizam garantindo tratamento igualitaacuterio aos

determinada classe em detrimento daqueles que natildeo nasceram parentes ou natildeo se casaram ou nem mantiveram uniatildeo

estaacutevel com algueacutem com certa influecircncia ARAKAKI Allan Thiago Barbosa e ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula

Vinculante n 13 e o combate ao nepotismo Revista de direito Constitucional e Internacional ndash RDCI n 211 v 75 p

104 479ARAUacuteJO Florivaldo Dutra O nepotismo e os princiacutepios da administraccedilatildeo puacuteblica In ADRI Renata Porto

PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte

Foacuterum 2008 p 119 480 Ibidem p 126 481CORREcircA Gustavo Hermont Princiacutepio da Moralidade ou Eticidade da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese

Direito Administrativo v6 n 66 jun 2011 p 72 482 Nos termos de Ives Gandra Martins e Celso Ribeiro Bastos o princiacutepio da impessoalidade eacute aplicado na

Administraccedilatildeo Puacuteblica para obstar ―que o administrador natildeo seja tentadolsquo a substituir o interesse coletivo por

consideraccedilotildees de ordem pessoal (favorecimento ou perseguiccedilatildeo) Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo do Brasil 3ordm volume ndash

tomo III arts 37- 43 Satildeo Paulo Saraiva 1992 p 34 483 Segundo Joseacute dos Santos Carvalho Filho ―Impessoal eacute () aquilo que natildeo pode ser voltado especialmente a

determinadas pessoas() deve a Administraccedilatildeo voltar-se exclusivamente para o interesse puacuteblico e natildeo para o

privado vedando-se em consequecircncia sejam favorecidos alguns indiviacuteduos em detrimento de outros e prejudicados

alguns para favorecimento de outros() reflete () princiacutepio da finalidade () o alvo a ser alcanccedilado pela

Administraccedilatildeo eacute somente o interesse puacuteblico e natildeo se alcanccedila o interesse puacuteblico se for perseguido o interesse

particular() a Administraccedilatildeo haacute de ser impessoal sem ter em mira este ou aquele indiviacuteduo de forma especial

Manual de Direito Administrativo 11ordf ed Rio de Janeiro Ed Lumen Juris 2004 p15 484 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes O Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p 146 485 Ibidem p 146

96

administrados486

e por isso ao contraacuterio natildeo deve ser exercida vinculada a ―um

comando pessoal a um capricho ou vontade particular que cada um se obriga mas agrave

norma de Direito tendo a impessoalidade ―que se tornou princiacutepio constitucional pela

fundamentalidade de que se reveste 487

como uma de suas caracteriacutesticas principais

Por isto os atos administrativos devem ser ―sempre destinados genericamente

agrave coletividade sem consideraccedilatildeo para fins de privilegiamento das ―caracteriacutesticas

pessoais daqueles a quem porventura se dirija natildeo podendo jamais ser apropriado para

qualquer fim pessoal privado particular ―por aquele que em decorrecircncia de exerciacutecio

funcional se viu na condiccedilatildeo de executaacute-la488

E eacute este princiacutepio489

que garante ao administrado a administraccedilatildeo idocircnea pois

―impotildee ao administrador puacuteblico que soacute pratique o ato de forma impessoal estando

―impedido de buscar outro objetivo ou de praticaacute-lo no interesse proacuteprio ou de

terceiros490

Por um lado tanto coiacutebe ―a promoccedilatildeo pessoal de autoridades ou servidores

puacuteblicos sobre suas realizaccedilotildees administrativas como veda que o ato administrativo

seja praticado ―unicamente a satisfazer interesses privados por favoritismo ou

perseguiccedilatildeo dos agentes governamentais491

e por outro impede que a Administraccedilatildeo

distinga ―interesses onde a lei natildeo o fizer obrigando-a a atuar sem dar ―precedecircncia a

quaisquer interesses em detrimento dos finaliacutesticos a fim de que esteja despida ―de

qualquer inclinaccedilatildeo tendecircncia ou preferecircncia subjetiva492

486 De acordo com Alexandre de Moraes ―o administrador eacute um executor do ato da entidade puacuteblica em nome da

qual atua Constituiccedilatildeo do Brasil Interpretada e Legislaccedilatildeo Constitucional 6ordf ed Satildeo Paulo Atlas 2006 p 817

Conforme ensina Juarez Freitas ―() a Administraccedilatildeo Puacuteblica precisa dispensar um tratamento isonocircmico a todos

sem privileacutegios espuacuterios tampouco qualquer manobra persecutoacuteria () determina que o agente puacuteblico proceda com

desprendimento atuando desinteressada e desapegadamente com isenccedilatildeo sem perseguir nem favorecer jamais

movidos por interesses subalternos FREITAS Juarez O controle dos atos administrativos e os princiacutepios

fundamentais 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2004 p50 487 Ibidem Op cit p 146 488 CARDOZO Joseacute Eduardo Martins Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica (de acordo com a

Emenda Constitucional nordm 1998) in Os 10 anos da Constituiccedilatildeo Federal Alexandre Moraes (coordenador) Satildeo

Paulo Atlas 1999 p 154 ndash 155 Para Carmem Luacutecia Antunes Rocha o princiacutepio ―garante que a Administraccedilatildeo seja

Puacuteblica e natildeo coisa particular de um ―grupo de pessoas eventualmente ocupantes dos cargos do Poder Princiacutepios

Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p154 489 Que ―ganhou dimensatildeo no direito administrativo de acordo com a influecircncia do direito italiano e alematildeo

CORREIA Seacutervulo Direito do Contencioso Administrativo Lisboa Editora Lex 2005 p619 490 MEIRELLES Hely Lopes Direito Administrativo Brasileiro 21ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 1996 p 85

Conforme Carmem Luacutecia ―A impessoalidade no trato da coisa puacuteblica garante () qualidade da res gerida pelo

Estado a sua condiccedilatildeo de ser puacuteblica () voltada agrave concretizaccedilatildeo do bem de todos e natildeo de grupos ou de algumas

pessoas () traduz-se na ausecircncia de marcas pessoais e particulares correspondentes ao administrador que em

determinado momento esteja no exerciacutecio da atividade administrativa () revela o Estado natildeo-Cesar Op cit p

147 491 Ibidem p 86 492 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Princiacutepios Informativos e Interpretativos do Direito Administrativo in

Direito Administrativo Coord Valter Shuenquener de Arauacutejo Niteroacutei Impetus 2005 p 28

97

Desta forma como ―princiacutepio cardial493

da Administraccedilatildeo natildeo soacute protege ―o

particular contra a administraccedilatildeo como tambeacutem a proteger a administraccedilatildeo contra seus

proacuteprios funcionaacuterios494

e torna ―ilegiacutetima a decisatildeo tomada em condiccedilotildees de

parcialidade495

Nesse enredo constata-se que eacute vetor democraacutetico e republicano de ―se dar

trato puacuteblico agrave coisa puacuteblica independentemente da ―situaccedilatildeo pessoal daquele que

deteacutem o cargo puacuteblico o qual ―se deve manter neutro e objetivo em sua conduta496

e

tratar a todos sem qualquer espeacutecie de discriminaccedilatildeo seja ela beneacutefica ou

detrimentosa497

Em siacutentese o princiacutepio da impessoalidade estabelece que ―a atividade

administrativa deve ser destinada a todos os administrados dirigida ao cidadatildeo em

geral sem determinaccedilatildeo de pessoa ou discriminaccedilatildeo de qualquer natureza a fim de

romper o ―velho costume do atendimento do administrado em razatildeo do seu prestiacutegio

social poliacutetico econocircmico ou porque a ele o agente puacuteblico com poder para nomear

deve alguma obrigaccedilatildeo ou por fim porque ele eacute seu parente498

Eacute neste contexto que se afirma que rechaccedila do ordenamento juriacutedico todo e

qualquer ato ou vontade fundamentada no subjetivismo na pessoalidade ou na

particularidade que represente o ―privileacutegio pelo administrador puacuteblico para si ou para

seus parentes e amigos em razatildeo da sua proximidade com o poder499

e que o nepotismo

representa a ―quebra do princiacutepio da impessoalidade jaacute que sobrepotildee o interesse

particular ao puacuteblico com o direcionamento de nomeaccedilotildees500

493 GORDILLO Agustiacuten Tratado de Derecho Administrativo tomo 2 Buenos Aires Fundacion de Derecho

Administrativo 1998 pVIII-44 494 Ibidem p VIII 11 495 Ibidem pVIII 44 496 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p 155 497 Conforme esclarece Celso Antocircnio Bandeira de Mello ―Nem favoritismo nem perseguiccedilotildees satildeo toleraacuteveis

Simpatias ou animosidades pessoais poliacuteticas ou ideoloacutegicas natildeo podem interferir na atuaccedilatildeo administrativa e muito

menos interesses sectaacuterios de facccedilotildees ou grupos de qualquer espeacutecie Curso de Direito Administrativo 14ordf ediccedilatildeo

Satildeo Paulo Malheiros 2002 p 96 498 GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis

Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) p 88 499 Ibidem p 154 500 RIBEIRO JUNIOR Joseacute Hortecircncio A ilegalidade do nepotismo no poder judiciaacuterio ndashRevista Juriacutedica Consulex

ano IX nordm 200 p 30 Nos dizeres de Carmem Luacutecia A impessoalidade () eacute rompida () quando o motivo que

conduz a uma praacutetica pela entidade puacuteblica natildeo eacute uma razatildeo juriacutedica baseada no interesse puacuteblico mas no interesse

particular do seu autor () motivado por interesse em auxiliar () ou beneficiar parentes amigos pessoas

identificadas pelo agente e que dele mereccedilam segundo particular vinculaccedilatildeo que os aproxima favores e graccedilas que o

Poder facilita ou ateacute mesmo em prejudicar pessoas que destoem do seu ciacuterculo de relacionamentos pessoais e pelos

quais nutra () desafeiccedilatildeo ou desagrado () O motivo particular natildeo pode prosperar () o cometimento motivado

por razotildees particulares eacute o prejuiacutezo de quem natildeo tenha acesso pleno e republico agrave Administraccedilatildeo ROCHA Op cit

p157

98

A partir do princiacutepio da impessoalidade ―quer-se quebrar o velho costume do

atendimento do administrado em razatildeo do seu prestiacutegio ou porque a ele o agente puacuteblico

deve alguma obrigaccedilatildeo uma vez que o ato administrativo natildeo ―pode ser dirigido com o

intuito de beneficiar esta ou aquela pessoa501

Eacute ele que se assegura a prevalecircncia do princiacutepio isonocircmico502

em detrimento

dos ―idiossincraacuteticos projetos de cunho particularista fundados em ―efecircmeros motivos

caracteriacutesticos dos cultivadores do poder503

carregados de ―subjetivismos

injustificaacuteveis e de ―caprichos lesivos504

Desta forma o princiacutepio da impessoalidade eacute um dos princiacutepios que obsta o

Estado seja tratado como ―uma ampliaccedilatildeo do ciacuterculo familiar como ―uma integraccedilatildeo

de certos agrupamentos ou ainda como objeto ―de certas vontades particularistas505

Mas na realidade praacutetica eis aiacute um dos desafios que os agentes do direito em

especial os constitucionalistas e os administrativistas devem se debruccedilar jaacute que a

maacutequina estatal eacute formada por pessoas agentes estatais impregnados da pessoalidade

de fazer do Estado coisa sua que pode e deve utilizar o poder para beneficiar natildeo soacute a

si mas tambeacutem aos seus506

E eacute nesse diapasatildeo insere-se o nepotismo ―praacutetica ilegiacutetima e incompatiacutevel agrave

forma republicana da gestatildeo da coisa puacuteblica507

cuja vedaccedilatildeo decorre diretamente do

princiacutepio da impessoalidade508

e que ―talvez seja a questatildeo principal e mais

frequentemente encontrada na Administraccedilatildeo a ferir o princiacutepio da impessoalidade

constitucionalmente estabelecido na esteira da opccedilatildeo republicana509

501 GASPARINI Diogenes Direito Administrativo 10ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 p9 502 Para Emerson GARCIA e Rogeacuterio Pacheco ALVES ―() preserva-se o princiacutepio da isonomia entre os

administrados e o princiacutepio da finalidade () sendo vedada a atividade discriminatoacuteria que busque unicamente a

implementaccedilatildeo de um interesse particular Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem Rio de Janeiro Ed

Lumen Juris 2002 p21 503 Ibidem 50 504 Ibidem 53 505 Empirotti Gabriele Nepotismo e Fiscalizaccedilatildeo Suacutemula nordm13 e sua eficaacutecia Foacuterum Administrativo ndash FA Belo

Horizonte v 13 n 144 fev 2013 p 41 506 Neste sentido Carmem Luacutecia ressalta ―A grande dificuldade de garantia de impessoalidade estatal () que suas

atividades satildeo desempenhadas pelas pessoas cujos interesses e ambiccedilotildees afloram mais facilmente ali em razatildeo da

proximidade do Poder e portanto da possibilidade de realiza-las valendo-se para tanto da coisa que eacute de todos e natildeo

apenas dele ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo

Horizonte Del Rey 1994 p 147 507 LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal ano V n 26 outnov 2008 p 19 508 Segundo Emerson Garcia ―Identificada a praacutetica do nepotismo ter-se-aacute de imediato a violaccedilatildeo ao princiacutepio da

impessoalidade jaacute que privilegiados interesses individuais em detrimento do interesse coletivoO nepotismo

Boletim de Direito Administrativo-BDA jun 2003 p 462 O interessante eacute que o Presidente pode nomear seu irmatildeo

como ministro Este ato mesmo pessoal natildeo se enquadra como nepotismo como se veraacute no uacuteltimo capiacutetulo 509 ROCHA Carmem Luacutecia Op cit p 158

99

Assim o nepotismo resultante ―da multissecular cultura do

patrimonialismo510

eacute avesso ao ato administrativo impessoal511

e torna a administraccedilatildeo

natildeo puacuteblica mas personalizada antidemocraacutetica e socialmente injusta512

se

configurando como ato invaacutelido para o Direito513

e de ―responsabilidade de quem lhe

tenha dado causa514

232 O viacutecio que danifica o Princiacutepio da Eficiecircncia

Incluiacutedo na Constituiccedilatildeo Federal pela Emenda Constitucional n 1998 como

princiacutepio cardinal da Administraccedilatildeo Puacuteblica traduz a exigecircncia de o agente puacuteblico

buscar incessantemente o melhor resultado ―sem descurar dos mandamentos legais e

dos padrotildees eacuteticos subjacentes ao bom administrador 515

Eacute o mandamento da qualidade do serviccedilo puacuteblico que envolve natildeo apenas a

eficiecircncia do ―modo pelo qual se processa o desempenho da atividade administrativa

como tambeacutem a eficaacutecia dos ―meios e instrumentos empregados e a efetividade dos

―resultados obtidos516

obrigando a Administraccedilatildeo Puacuteblica agrave ―racionalidade e

aproveitamento maacuteximo das potencialidades existentes em prol da ―promoccedilatildeo do bem

510 Expressatildeo do Ministro Carlos Britto no seu voto agraves fls 3334 da MC - ADC n12DF 511 De acordo com Joseacute Eduardo Martins Cardozo a Administraccedilatildeo natildeo pode ―beneficiar ou impor sanccedilatildeo a algueacutem

em decorrecircncia de favoritismo ou de perseguiccedilatildeo pessoal por predileccedilatildeo ou discriminaccedilatildeo do agente puacuteblico a

algueacutem devido agraves caracteriacutesticas pessoais desta Princiacutepios constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica (de acordo com

a Emenda Constitucional nordm 191998) In MORAES Alexandre Os 10 anos da Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo

Atlas 1999 p 156 512 O agente puacuteblico natildeo pode exercer o ato considerando suas opiniotildees e interesses Desta forma mesmo se ele for

competente natildeo pode nomear parente ou amigo para cargo puacuteblico vez que este ―deve ser provido segundo os

interesses e conveniecircncias puacuteblicas e natildeo particulares ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais

da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p156 513 Tendo a teoria da nulidade plena aplicaccedilatildeo ao mesmo Ibidem p 155 514 Ibidem p 151 A autora ainda elucida que ―() se o ato no qual emerge a pessoalidade na Administraccedilatildeo tem

conotaccedilatildeo nepotista por exemplo aquele que foi favorecido com cargo ou emprego puacuteblico pela qualificaccedilatildeo

familiar teraacute desfeito o ato de sua nomeaccedilatildeo ou contrataccedilatildeo () obrigaccedilatildeo de a entidade puacuteblica regressar contra o

agente que tenha atuado com personalismo paternalismo clientelismo subjetivismo e toda e qualquer outra forma de

agravo ao princiacutepio constitucional da impessoalidade administrativa Esta eacute a norma juriacutedica a ser acatada e cumprida

rigorosamente para garantia dos demais princiacutepios e de todo o sistema constitucional republicano Ibidem p 170-

171 515 GARCIA Emerson e ALVES Rogeacuterio Pacheco Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem Rio de Janeiro

Ed Lumen Juris 2002 p 35 Hely Lopes Meirelles mesmo de a eficiecircncia ser princiacutepio constitucional jaacute a

elucidava como o dever da administraccedilatildeo que ―atinge os aspectos quantitativo e qualitativo do serviccedilo Direito

Administrativo Brasileiro 21ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 1996 p90 Eacute conhecido nos dizeres de Dioacutegenes

Gasparini ―entre os italianos como dever da boa administraccedilatildeo GASPARINI Dioacutegenes Direito Administrativo 10ordf

ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 p21 Segundo Celso Antocircnio Bandeira de Mello a eficiecircncia eacute o ―dever administrativo

por excelecircncia () faceta de um princiacutepio mais amplo () da boa administraccedilatildeo Curso de Direito Administrativo

14ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2002 p 104 516 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de Direito Administrativo 8ordf ed Rio de JaneiroEd Lumen Juris

2007 p19- 20

100

comum de forma que sua atuaccedilatildeo estatal seja ―juridicamente eficiente quanto seu

resultado quantitativo e qualitativo for satisfatoacuterio 517

Dessa forma impotildee o dever da eficiecircncia aos administradores puacuteblicos que

―reside na necessidade de tornar cada vez mais qualitativa a atividade

administrativa518

fazendo ―que os sujeitos da atividade tenham qualificaccedilatildeo compatiacutevel

com as funccedilotildees a seu cargo 519

e portanto obstando que a ―histoacuterica confusatildeo que os

administradores puacuteblicos com honrosas exceccedilotildees tecircm feito entre patrimocircnio puacuteblico e

privado 520

o que suscita o entendimento de que ―certamente natildeo atenderia o princiacutepio

da eficiecircncia a nomeaccedilatildeo de parente proacuteximo da autoridade com poder para nomear e

por ela nomeado para exercer o cargo de provimento em comissatildeo521

pois ―natildeo se

pode esperar o desempenho eficiente das funccedilotildees pelos servidores que configurem

nomeaccedilotildees favorecidas522

O cerne da problemaacutetica estaacute no fato de que a nomeaccedilatildeo de parentes

comprometeria a qualidade total desejada nos serviccedilos puacuteblicos pois a nomeaccedilatildeo de

familiares de autoridades danificaria a eficiecircncia da administraccedilatildeo em dois acircngulos um

pelos nomeados natildeo possuiacuterem a isenccedilatildeo necessaacuteria a realizar a atividade puacuteblica de

forma neutra e eficiente e em outro pela autoridade nomeante gestora ser parcial

quanto ao seu familiar523

517 CARDOZO Joseacute Eduardo Martins Princiacutepios constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica (de acordo com a

Emenda Constitucional nordm 191998) In MORAES Alexandre Os 10 anos da Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo

Atlas 1999p 165- 166 518 De acordo com Diogo de Figueiredo Moreira Neto quando os atos satildeo realizados com ―qualidades intriacutensecas de

excelecircncia obteacutem-se ―o melhor atendimento possiacutevel das finalidades previstas em lei conforme ―paracircmetros

objetivos ―destinados agrave afericcedilatildeo dos resultados alcanccedilados pela administraccedilatildeo NETO Diogo de Figueiredo

Moreira Mutaccedilotildees do direito administrativo 2ordf ed Satildeo Paulo Renovar 2001 p 41 519 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de Direito Administrativo 8ordf ed Rio de JaneiroEd Lumen Juris

2007 p 52 Tanto que de acordo com Diogo de Figueiredo Moreira Neto a eficiecircncia eacute entendida ―() como

melhor realizaccedilatildeo possiacutevel da gestatildeo dos interesses puacuteblicos em termos de plena satisfaccedilatildeo dos administrados com os

menores custos para a sociedade ela se apresenta na accedilatildeo administrativa puacuteblica simultaneamente como um

atributo teacutecnico da administraccedilatildeo como uma exigecircncia eacutetica a ser atendida no sentido weberiano dos resultados e

como uma caracteriacutestica juriacutedica exigiacutevel de boa administraccedilatildeo dos interesses puacuteblicos Op cit p 42 520 Trecho do voto do Ministro Ricardo Lewandowiski na p 1899 do RE 579951-4 RN de 20082008 521 GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN

Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p89 522 Ibidem p91 523 Nestes termos Zeacutelio Maia da Rocha afirma ―A vedaccedilatildeo ao nepotismo se justifica porque sendo o parentesco o

fundamento da nomeaccedilatildeo para ocupar cargo em comissatildeo natildeo se imagina que o dirigente iraacute fiscalizar com o mesmo

rigor o parente e sim que haacute uma natural toleracircncia a qual natildeo existiria numa relaccedilatildeo de subordinaccedilatildeo sem qualquer

grau de parentesco Veja que natildeo se pode permitir na avaliaccedilatildeo do nepotismo a utilizaccedilatildeo de um criteacuterio subjetivo

para concluir se o parente foi ou natildeo beneficiado de forma indevida Esse benefiacutecio deve ser presumido pois como

se trata de coisa puacuteblica a proibiccedilatildeo existe ou seja se o processo de nomeaccedilatildeo eacute passiacutevel de ser influenciado

indevido eacute o ingresso do parente Nepotismo e concurso puacuteblico Criteacuterio objetivo de ausecircncia de moralidade e

impessoalidade na Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista juriacutedica Consulex v 12 n 286 15 de dezembro 2008 p41

101

233 O fim avesso ao Princiacutepio da Finalidade e ao Interesse Puacuteblico

Do elenco dos cinco princiacutepios expressos no caput do artigo 37 da Constituiccedilatildeo

Federal que regem a Administraccedilatildeo outros princiacutepios que tambeacutem satildeo diretrizes do

poder puacuteblico e dentre estes o princiacutepio da finalidade decorrente do princiacutepio da

legalidade

Tal princiacutepio eacute intimamente ligado ao princiacutepio da indisponibilidade do

interesse puacuteblico pois ―institui um dever juriacutedico para a Administraccedilatildeo de dar o devido

atendimento aqueles fins consagrados como de especiacutefico interesse puacuteblico524

e traduz

a obrigaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica executar os seus atos de acordo com o fim

disposto em lei525

voltado a satisfazer o interesse puacuteblico526

jaacute que ―administrar natildeo eacute

atividade de que eacute senhor de coisa proacutepria mas gestor de coisa alheia 527

O princiacutepio da finalidade alicerccedila a execuccedilatildeo da funccedilatildeo administrativa no

interesse puacuteblico a ser perseguido pela Administraccedilatildeo Puacuteblica que se sobrepotildee ao

privado e ―natildeo pode ser livremente disposto por aqueles que em nome da coletividade

recebem o dever-poder de realiza-los528

restando ferido quando a finalidade do ato

praticado pelo agente puacuteblico eacute voltada a interesse diverso do interesse puacuteblico como

―ao benefiacutecio pessoal ou ao prejuiacutezo particular por razotildees subjetivas529

Eacute o que ocorre quando o administrador pratica o nepotismo pois natildeo atua

como agente puacuteblico que executa sua atividade em prol do interesse puacuteblico mas como

agente privado que visa satisfazer interesses de cunho pessoal confundindo assim o

espaccedilo puacuteblico com o privado530

deixando de ―realizar a ponderaccedilatildeo exclusiva dos

interesses puacuteblicos relevantes para incluir na estrutura do processo decisoacuterio

administrativo a tutela de interesses familiares e pessoais estranhos ao bem comum (res

524 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Mutaccedilotildees do direito administrativo 2ordf ed Satildeo Paulo Renovar 2001

p28 525 De acordo com Carmem Luacutecia Antunes Rocha ―Os fins satildeo a destinaccedilatildeo imanente agrave pessoa puacuteblica Eles satildeo a

razatildeo de ser da existecircncia do Estado o seu sentido e a sua justificativa Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo

Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p 192 526―Somente o interesse puacuteblico legitima o comportamento da Administraccedilatildeo Puacuteblica E apenas a conduta

administrativa legiacutetima tem sede no Direito do Estado Democraacutetico Ibidem p 214 527 Rui Cirne Lima apud Ministro Carlos Britto no seu voto na p 36 da Medida Cautelar da ADC 12-6DF de sua

relatoria de 16022006 528 CARDOZO Joseacute Eduardo Martins Princiacutepios constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica (de acordo com a

Emenda Constitucional nordm 191998) In MORAES Alexandre Os 10 anos da Constituiccedilatildeo Federal Satildeo Paulo

Atlas 1999 p149 529 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Op cit p 157 530 Nos dizeres de Dioacutegenes Gasparini ―() eacute faacutecil ver que natildeo se caracteriza como de interesse puacuteblico o relativo agrave

certa pessoa ou grupo de pessoas a uma famiacutelia () na nomeaccedilatildeo para ocupar cargo de provimento em comissatildeo de

parente proacuteximo da autoridade () sem qualquer preocupaccedilatildeo com a qualificaccedilatildeo eacutetico-profissional do nomeado

Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e

moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p 92

102

publica) 531

e viciando assim ―o ato de nomeaccedilatildeo direta ou transversa de parente de

autoridade com poder para nomear proporcionando-lhe um bom cargo ou emprego

puacuteblico532

234 A Moralidade Puacuteblica antiacutedoto do Nepotismo

Neste toacutepico passa-se agrave anaacutelise da Moralidade Puacuteblica como pilar da vedaccedilatildeo

do nepotismo seja em sentido amplo decorrente do princiacutepio republicano seja em

sentido estrito como fundamento de norma infraconstitucional seja como princiacutepio

densificado pelos outros princiacutepios ou base destes 533

Ora dita puacuteblica ora dita administrativa ora observada como norma

concreta534

ora como vista como uma norma em branco535

densificada por outros

princiacutepios536

o certo eacute que a Constituiccedilatildeo Federal deu

() especial relevacircncia agrave moralidade Administrativa como princiacutepio

norteador proacuteprio da atividade da Administraccedilatildeo Puacuteblica () ao elencaacute-lo

entre os cinco princiacutepios expressos () ao mencionaacute-lo como condiccedilatildeo de

validade do ato do Poder Puacuteblico () ao categorizar a probidade na

531 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico ndash RBDP

Belo Horizonte v 11 n 41 abrjun2013 p19 532 GASPARINI Dioacutegenes Nepotismo Poliacutetico In ADRI Renata Porto PIRES Luis Manoel Fonseca ZOCKUN

Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum 2008 p95 533 Por isto de acordo com Ives Gandra Martins e Celso Ribeiro Bastos ―() o princiacutepio da moralidade eacute o princiacutepio

central e o maior dos quatro nele se fundamentando toda a Administraccedilatildeo Puacuteblica ateacute porque quem queira

representar a naccedilatildeo tornando-se servidor puacuteblico deve postar-se acima de qualquer suspeita e ser dotado de

idealismo que supere o dos demais cidadatildeos Eacute que em uma visatildeo correta do poder tem ele a honra e o privileacutegio de

servir aos cidadatildeos e agrave paacutetria Natildeo se pode admitir que um servidor puacuteblico seja um imoral um corrupto um

peculataacuterio posto que seu crime eacute na minha particular visatildeo de interpretar o princiacutepio da moralidade administrativa

superior aos demais visto que tendo se apresentado como algueacutem disposto a servir a sociedade sobre ela tripudia

graccedilas agrave funccedilatildeo que exerce Natildeo consigo ver o administrador puacuteblico senatildeo como algueacutem com predicados superiores

aos demais cidadatildeos razatildeo pela qual se dispotildee a servir a sociedade e creio ter sido esta a razatildeo pela qual o

constituinte houve por bem inserir o princiacutepio da moralidade puacuteblica como o mais relevante princiacutepio do direito

administrativo ―A mulher de Ceacutesar natildeo deve ser apenas honesta mas deve parecer ser honesta diziam os antigos

com acuidade eis que quem governa tem que possuir a confianccedila dos governados e a idoneidade eacute o elemento mais

denso para que mereccedila essa confianccedila Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo do Brasil 3ordm volume ndash tomo III arts 37-43 Satildeo

Paulo Saraiva 1992 p 4 ndash 5 534 Base da accedilatildeo popular e da probidade administrativa 535 Para Ricardo Marcondes Martins eacute ―uma regra de estrutura porque disciplina o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

() trata-se de uma regra em branco pois se reporta a todas as regras eacuteticas objetivadas () exige complementaccedilatildeo a

apuraccedilatildeo de quais satildeo os deveres eacuteticos Princiacutepio da moralidade administrativa In ADRI Renata Porto PIRES

Luis Manoel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio Corrupccedilatildeo eacutetica e moralidade administrativa Belo Horizonte Foacuterum

2008 p323 Egon Bockman Moreira entende que eacute um principio juriacutedico em brancolsquo cujo conteuacutedo natildeo se exaure

em comandos concretos e definidos () estabelece eacute uma finalidade a ser perseguida e implementada Corrupccedilatildeo

Eacutetica e Moralidade Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires Mauriacutecio Zockun Renata Porto Adri

(Coordenadores) O princiacutepio da moralidade e seu controle objetivo Belo Horizonte Ed Foacuterum 2008 p 102 536 Segundo Luis Manuel Fonseca Pires ―() o princiacutepio da moralidade administrativa prescrito no art 37 caput da

Constituiccedilatildeo Federal eacute uma norma juriacutedica de eficaacutecia plena que natildeo guarda dependecircncia para a sua significaccedilatildeo

apenas de regras juriacutedicas mas () que igualmente pode qualificar-se como norma legitima a ser aplicada para

permitir ou vedar dado comportamento em razatildeo de outros meios de densificaccedilatildeo ou significado () se a moralidade

administrativa natildeo se confunde com a moral comum por outro lado a moralidade administrativa natildeo depende uacutenica e

exclusivamente de uma regra juriacutedicalsquo para externar o seu significado pois eacute possiacutevel compreendecirc-la e concretizaacute-la

com uma leitura toacutepica e sistemaacutetica de toda a ordem juriacutedica em vigor Controle judicial do nepotismo para aleacutem da

13ordf suacutemula vinculante do Supremo Tribunal Federal in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Mauriacutecio

Zockun Renata Porto Adri (Coordenadores) p 239-240

103

administraccedilatildeo como valor juriacutedico inviolaacutevel pelo Presidente da Repuacuteblica

e finalmente () ao cominar os atos de improbidade administrativa537

Nesse ensejo quando se observa a moralidade administrativa de forma

concreta volta-se o olhar para ―os proacuteprios meios de accedilatildeo escolhidos pela

Administraccedilatildeo Puacuteblica que age de forma contraacuteria agrave moral puacuteblica quando o conteuacutedo

do seu ato eacute avesso ―ao senso comum de honestidade retidatildeo equiliacutebrio justiccedila

respeito agrave dignidade do ser humano agrave boa-feacute ao trabalho agrave eacutetica das instituiccedilotildees538

Desta forma a moralidade administrativa se observada no ordenamento

juriacutedico ―passou a ser conceito elaborado com forccedila de elemento autocircnomo na

formaccedilatildeo e informaccedilatildeo do comportamento administrativo juridicamente vaacutelido539

Sendo norma que juridicamente por si soacute impotildee ―a honestidade na gerecircncia da res

publica540

pois sua obediecircncia eacute cogente ao agente puacuteblico e ainda como lastreia o

controle objetivo dos atos administrativos possibilita de forma autocircnoma sua

invalidaccedilatildeo541

e consequente ―responsabilizaccedilatildeo dos agentes puacuteblicos que se afastaram

dessas diretrizes obrigatoacuterias542

Por isto pode-se dizer que a accedilatildeo popular eacute ―marco imprescindiacutevel na sede de

moralidade administrativa543

que a lastreia natildeo apenas como um princiacutepio mas como

um instrumento de resguardo do proacuteprio interesse puacuteblico mesmo porque qualquer

537 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Direito Administrativo Coord Valter Shuenquener de Arauacutejo Niteroacutei

Impetus 2005 Princiacutepios Informativos e Interpretativos do Direito Administrativo p 29 538 PIETRO Maria Sylvia Zanella di Discricionariedade Administrativa na Constituiccedilatildeo de 1988 3ordf ed Satildeo Paulo

Editora Atlas 2012 p178 Nos dizeres de Celso Antocircnio Bandeira de Mello ―tal princiacutepio assume foros de pauta

juriacutedica porque ―compreendem-se em seu acircmbito () os chamados princiacutepios da lealdade e boa-feacute () Curso de

Direito Administrativo 14ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros 2002 p 101 539 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p187 540 FREITAS Juarez O controle dos atos administrativos e os princiacutepios fundamentais 3ordf ed Malheiros 2004

p56 541 Conforme Ives Gandra Martins ―A primeira consequecircncia a nosso ver da encampaccedilatildeo desse princiacutepio eacute o

aumento do acircmbito do controle jurisdicional sobre a atividade administrativa Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo do Brasil

3ordm volume ndash tomo III arts 37-43 Satildeo Paulo Saraiva 1992 p 38 542 MORAES Alexandre de Constituiccedilatildeo do Brasil Interpretada e legislaccedilatildeo constitucional 6ordf ed Satildeo Paulo Atlas

2006 p 816 Neste sentido Maria Sylvia Zanella de Pietro afirma ―A partir do momento em que a Constituiccedilatildeo

Federal no artigo 37 inseriu o princiacutepio da moralidade entre os de observacircncia obrigatoacuteria pela Administraccedilatildeo

Puacuteblica e no artigo 5ordm inciso LXXIII colocou a lesatildeo agrave moralidade administrativa como um dos fundamentos da

accedilatildeo popular ela veio permitir duas conclusotildees a primeira eacute a de que o ato administrativo que infrinja a moralidade

administrativa eacute tatildeo invaacutelido quanto o ato ilegal a segunda () eacute a que sendo invaacutelido o ato administrativo imoral

pode ser apreciado pelo Poder Judiciaacuterio para fins de decretaccedilatildeo de sua invalidade DI PIETRO Op cit p 186 543 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Op cit 220 A autora ainda informa que a ―Constituiccedilatildeo de 1934 introduz em

seu art 113 inciso 38 a accedilatildeo popular e que foi ―reintroduzida na esfera Constitucional em 1946 pelo artigo 141 sect

38 porque tinha sido ―excluiacuteda da Carta de 1937 Outrossim assevera que em 1957 foi publicada a Lei n 3164 que

tratava da accedilatildeo popular e que novamente em 1958 foi inserida outra lei no ordenamento juriacutedica a Lei n 3502 que

trouxe agrave lume uma accedilatildeo popular especiallsquo Afirma a autora que a primeira tinha como finalidade ―coibir o

enriquecimento iliacutecito dos servidores puacuteblicos () e dos dirigentes e empregados de autarquias e dos que lhe satildeo

equiparados e que a segunda visava ―a anulaccedilatildeo ou decretaccedilatildeo de nulidade dos atos lesivos ao patrimocircnio E por

fim que ―em 1965 foi editada a Lei n 4717 regulamentando o artigo 141 sect38 da Constituiccedilatildeo de 46 Ibidem p

220-222

104

cidadatildeo pode intentar a citada accedilatildeo com ―a pretensatildeo de anular atos do Poder

Puacuteblico544

por terem sido realizados em dissonacircncia com a moralidade administrativa

Neste ensejo ao se capitular o nepotismo como um ato imoral isto eacute lesivo agrave

moralidadelsquo545

pode-se requerer sua anulaccedilatildeo por meio da accedilatildeo popular

De outro lado ao pensar na moralidade como uma norma autocircnoma que

produz efeitos no mundo juriacutedico natildeo haacute como natildeo fazer referecircncia agrave probidade

administrativa sua descendente dita ―particular aspecto da moralidade administrativa

que recebeu da Constituiccedilatildeo Federal um tratamento proacuteprio546

Tamanha a sua

importacircncia que natildeo apenas estaacute explicita no sect4ordm do art 37 do texto constitucional

como tambeacutem regulamentada por meio da Lei n 842992 denominada Lei de

Improbidade Administrativa que veda todo e qualquer ato que configure ―grave

violaccedilatildeo do senso meacutedio superior da moralidade e () inequiacutevoca intenccedilatildeo

desonesta547

Nesse diapasatildeo imprescindiacutevel destacar que esta lei consagrou ―a Moral no

acircmbito do Direito ao considerar como atos de improbidade os que atentam contra os

princiacutepios da Administraccedilatildeo548

e por conseguinte tornou o nepotismo ato que atenta

contra os princiacutepios da moralidade impessoalidade e eficiecircncia que regem a

Administraccedilatildeo tambeacutem um ato de improbidade administrativa

Diante disto constata-se que a moralidade puacuteblica obriga que os atos dos

administradores puacuteblicos se adequem aos valores albergados por ela natildeo bastando aos

agentes puacuteblicos brasileiros cumprir apenas os estritos termos da lei vez que tambeacutem

devem agir em conformidade com os ―valores morais juridicizados549

544 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de Direito Administrativo 8ordf ed Rio de JaneiroEd Lumen Juris

2007 p 17 545 Artigo 5ordm inciso LXXIII da CF 88 546 GASPARINI Dioacutegenes Direito Administrativo 10ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 p11 A partir dos comentaacuterios

de Diogo de Figueiredo Moreira Neto a probidade ―() consiste no dever de o funcionaacuterio servir agrave Administraccedilatildeo

com honestidade procedendo no exerciacutecio das suas funccedilotildees sem aproveitar os poderes ou facilidades delas

decorrentes em proveito pessoal ou de outrem a quem queira favorecer Mutaccedilotildees do Direito Administrativo 2ordf ed

Satildeo Paulo Renovar 2001 p95 Segundo Joseacute dos Santos Carvalho Filho ―()abrange todo e qualquer agente

puacuteblico seja qual for a situaccedilatildeo que o vincule ao Poder Puacuteblico bem como aqueles que natildeo sendo agentes

concorram para as condutas de improbidade ou delas se beneficiem Op cit p50 E conforme Juarez Freitas ―O

princiacutepio da moralidade tornou-se assim pedra de arrimo do edifiacutecio juriacutedico () Logo o agir eticamente

universalizaacutevel desponta como imposiccedilatildeo vaacutelida para as relaccedilotildees juriacutedicas independentemente de assumirem

natureza puacuteblica ou privada FREITAS Juarez Princiacutepio da moralidade administrativa In Corrupccedilatildeo Eacutetica e

Moralidade Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires Mauriacutecio Zockun Renata Porto Adri (Coordenadores) 2008

p 196 547 Ibidem p 204 548 PIETRO Maria Sylvia Zanella di Discricionariedade Administrativa na Constituiccedilatildeo de 1988 3ordf ed Satildeo Paulo

Editora Altas 2012 p 189 549 CAMMAROSANO Maacutercio Princiacutepio Constitucional da Moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

Belo Horizonte Foacuterum 2006 p78 Nesse enredo o autor afirma que o administrador puacuteblico ―() ao interpretar as

105

E assim seja ao encampar550

―outros princiacutepios ou inserida no contexto do

dever de boa administraccedilatildeo551

visa obstar a ―postura de quem se considera o dono da

coisa puacuteblica552

fundamentar e direcionar o sistema553

normativo que rege o poder

puacuteblico como sua pedra angular554

possuindo portanto ―primazia sobre os outros

princiacutepios constitucionalmente formulados555

Isto porque o conteuacutedo da moralidade administrativa retrata o comportamento

puacuteblico ideal de forma que toda atuaccedilatildeo administrativa deveria partir dela e a ela se

voltar556

abarcando o determinado por outros princiacutepios que regem a administraccedilatildeo

que estatildeo tatildeo intimamente ligados a ela como elos em uma cadeia que o agente puacuteblico

ao inobservaacute-la estaraacute automaticamente infringindo os demais

Tanto que se observa o elo da moralidade com a substacircncia de outro princiacutepio

basilar da Administraccedilatildeo Puacuteblica o da impessoalidade pois para que o ato

administrativo seja moral prioritariamente haacute de ser impessoal557

desprovido de

qualquer motivaccedilatildeo ou manifestaccedilatildeo de caraacuteter pessoal agente puacuteblico558

Ela obsta ―desmandos de maus administradores que almejam satisfazer ―seus

proacuteprios interesses ou ateacute ―interesses inconfessaacuteveis relegando para o uacuteltimo plano os

preceitos morais de que natildeo deveriam se afastar de forma que resta vulnerada quando

normas nas quais se refletem visando sua aplicaccedilatildeo e ao avaliar situaccedilotildees de fato para detectar sua incidecircncia natildeo

pode ignorar o sentido que os conceitos que expressam valores tecircm no seio da coletividade de que promanam e em

dado momento histoacuterico mas sempre atentos ao enfoque contextual do sistema normativo Op cit p 85 550 ―Este princiacutepio substantivo () informa vaacuterios institutos atinentes ao controle da Administraccedilatildeo Puacuteblica

notadamente os que datildeo suporte ao desempenho dos agentes poliacuteticos e administrativos MOREIRA NETO Diogo

de Figueiredo Princiacutepios Informativos e Interpretativos do Direito Administrativo in Direito Administrativo

Coordenador Valter Shuenquener de Arauacutejo Niteroacutei Impetus 2005 p 30 551 ARAUacuteJO Florivaldo Dutra de Motivaccedilatildeo e Controle do Ato Administrativo 2ordf ediccedilatildeo Horizonte Del Rey

2005 p 99 552 CAMMAROSANO Marcio O princiacutepio constitucional da moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

Belo Horizonte Foacuterum 2006 115 553 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del

Rey 1994 p186 554 Conforme Juarez Freitas ―() a inserccedilatildeo de preocupaccedilotildees com a moralidade () no acircmbito do Direito positivo

() constitui-se condiccedilatildeo sine qua nonlsquo para a sustentaccedilatildeo democraticamente fundamentaacutevel do Estado () em

realidade soacute haacute direito legiacutetimo se promover um devido processo justo no tocante aos meios e resultados moralmente

aceitaacuteveis Princiacutepio da moralidade administrativa In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis

Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) p 199 555 ROCHA Carmem Luacutecia Antunes Op cit p 214 556 Eacute por isto que Carmem Luacutecia afirma ―Assim o que se exige () eacute a legalidade moral vale dizer a legalidade

legiacutetima da conduta administrativa () A moralidade tem sua certeza na diferenciaccedilatildeo entre o puacuteblico e o privado e

na imprescindiacutevel prevalecircncia daquele sobre este segundo as bases normativas Op cit p 214 557 MARTINS Ricardo Marcondes in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis Manuel

Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) Princiacutepio da moralidade administrativa Belo

Horizonte Ed Foacuterum 2008 p 319-321 558 Eacute neste sentido a anotaccedilatildeo de Emerson Garcia e Rogeacuterio Pacheco Alves ―Ao valorar os elementos delineadores

da moralidade administrativa eacute defeso ao agente puacuteblico direcionar seu obrar por criteacuterios de ordem ideoloacutegica ou de

estrita subjetividade Ao interpretar e aplicar a norma deve o agente considerar os valores norteadores do sistema

juriacutedico ainda que se apresentem dissonantes de sua visatildeo pessoal Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem

Rio de Janeiro Ed Lumen Juris 2002 p43-44

106

ocorre ―()tratamento discriminatoacuterio positivo ou negativo dispensado ao

administrado 559

estando ferido tambeacutem o princiacutepio da impessoalidade

Desta forma o princiacutepio da moralidade densificado pelo da impessoalidade

que encerra ―a relaccedilatildeo fiduciaacuteria que ―investe todo aquele que exerce uma funccedilatildeo

puacuteblica ndash pois o faz em nome da coletividade exige que o comportamento deste siga a

―um padratildeo objetivo de honestidade e impessoalidade560

Aleacutem disso como a nomeaccedilatildeo se faz fundada na intimidade haacute quem

questione a eficiecircncia do ato relacionando-a com a moral tanto quanto agrave gestatildeo da

autoridade quanto agrave eficiecircncia do parente nomeado561

E por fim mas natildeo menos importante a densificaccedilatildeo da moralidade pelo

princiacutepio da finalidade decorrente do princiacutepio da legalidade e que prima pelo fato de o

ato administrativo ser motivado e executado de acordo com os fins legais e com o

interesse puacuteblico Seja este ato vinculado ou que possua elementos discricionaacuterios o

agente natildeo pode se descuidar de realiza-lo tendo em vista o interesse puacuteblico e

objetivando o bem comum

Tanto que a relaccedilatildeo de conteuacutedo normativo eacute facilmente detectada entre a

moralidade e a finalidade pois para que o ato administrativo seja classificado como

moral antes deve primar pelo interesse puacuteblico almejando-o verdadeiramente562

vez

que ―o referencial da moralidade administrativa eacute a finalidade puacuteblica () elemento do

ato administrativo () regra moral interna do governo da coisa puacuteblica563

e o

administrador puacuteblico a atinge quando realiza o ato ―com vistas a resultados divorciados

559 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de Direito Administrativo 8ordf ed Rio de JaneiroEd Lumen Juris

2007 p 16 560 PIRES Luis Manoel Fonseca Controle judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf suacutemula vinculante do Supremo

Tribunal Federal In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN

Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) p 247 561Destarte Dioacutegenes Gasparini afianccedila que ―O fundamento juriacutedico para o enfrentamento do nepotismo eacute o

princiacutepio da moralidade () O ato e a atividade da Administraccedilatildeo Puacuteblica devem obedecer natildeo soacute a lei mas agrave

proacutepria moral porque nem tudo que eacute legal eacute honesto conforme afirmavam os romanos () veda-se agrave Administraccedilatildeo

Puacuteblica qualquer comportamento que contrarie os princiacutepios da lealdade da boa-feacute e da eficiecircncia Nepotismo

Poliacutetico In Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires Mauriacutecio Zockun Renata

Porto Adri (Coordenadores) p 86 562 Segundo Diogo de Figueiredo Moreira Neto seguindo a esteira de Oliveira Franco Sobrinho o enfoque da

moralidade administrativa deve ser adotado para saber ser o ―motivo e objeto foram manipulados pelo agente puacuteblico

para produzir a falsa impressatildeo de que suportam lidimamente a inafastaacutevel finalidade puacuteblica Segundo ele eacute

―necessaacuterio ir adiante na anaacutelise da accedilatildeo administrativa para investigar se o conjunto dos seus elementos realmente

sustenta o interesse puacuteblico ou apenas datildeo a falsa impressatildeo de que o fazem Mutaccedilotildees do direito administrativo 2ordf

ed Satildeo Paulo Renovar 2001p64-65 Para Juarez Freitas satildeo ―atos () que atentam contra a moralidade e

simultaneamente contra outros princiacutepios reitores da Administraccedilatildeo Puacuteblica seja por accedilatildeo ou por inoperacircncia

transgredindo deveres de retidatildeo e lealdade ao interesse puacuteblico in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa

PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) Princiacutepio da moralidade

administrativa p 216 563 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo Op cit p62-63

107

do estrito interesse puacuteblico a que deveria atender564

ou seja desvia o ato do seu fim

institucional565

Deste modo quando o agente pratica o nepotismo ele motiva o ato de forma

imoral e ainda desvia o ato administrativo de sua finalidade pois natildeo estaacute embasado

no bem da coletividade mas em um interesse particular proveniente da vontade pessoal

e que visa o bem de um grupo sua famiacutelia o que enseja o interesse privado em

detrimento do puacuteblico totalmente agraves avessas agrave finalidade como princiacutepio ou como

elemento do ato administrativo bem com infringe o princiacutepio da Supremacia do

Interesse Puacuteblico

Neste acircmbito o ato administrativo antes de ser ilegal pois natildeo visa o fim

disposto em lei eacute imoral vez que seu motivo o eacute Ocorrendo o viacutecio quando o motivo eacute

incompatiacutevel com o ato ou seja quando haacute a eleiccedilatildeo do objeto sem o motivo

compatiacutevel o que ―() trai a finalidade puacuteblica do ato prejudicando ou beneficiando

um administrado sem qualquer relaccedilatildeo com o seu dever de bem administrar 566

E assim sua imoralidade enseja sua ilegalidade por meio da viciaccedilatildeo do

motivo do ato e do consequente desvio de finalidade Esta relaccedilatildeo eacute tatildeo densa que

Maurice Hauriou ao analisar os desvios do ato formulou a noccedilatildeo de moralidade

puacuteblica

Desta feita para que o ato seja moral deve haver uma ―relaccedilatildeo harmocircnica entre

a situaccedilatildeo faacutetica a intenccedilatildeo do agente e o ato praticado sendo analisadas no contexto

deste a motivaccedilatildeo declinada e a finalidade almejada567

pois a ―moralidade torna

564 MOREIRA NETO Diogo de Figueiredo in Direito Administrativo Coord Valter Shuenquener de Arauacutejo

Princiacutepios Informativos e Interpretativos do Direito Administrativo Niteroacutei Impetus 2005 p29 565 Diogo de Figueiredo Moreira Neto explica que ―() para que o administrador puacuteblico vulnere esse princiacutepio basta

que administre mal os interesses puacuteblicos () atraveacutes de atos com desvio de finalidade puacuteblica para perseguir

interesses que natildeo satildeo aqueles para os quais deve agir () atos sem finalidade puacuteblica () com deficiente finalidade

puacuteblica reveladores de uma ineficiecircncia () atos com a utilizaccedilatildeo de meios ilegiacutetimos como a traiccedilatildeo da finalidade

satildeo exemplos de maacute administraccedilatildeo da coisa puacuteblica caracterizando a imoralidade administrativa e trazendo como

consequecircncia a anulaccedilatildeo do ato Ibidem p 30 566 Diogo de Figueiredo Moreira Neto ensina que o ―objeto eacute desconforme () quando ocorrer uma incompatibilidade

loacutegica entre sua escolha (discricionaacuteria) e o interesse puacuteblico contido na regra da finalidade Aqui a conformidade que

interessa eacute com o dever da boa administraccedilatildeo que eacute o ocircnus do administrador () assume () o ocircnus moral de bem

administrar Mutaccedilotildees do Direito Administrativo Satildeo Paulo Renovar 200 p 68 567 GARCIA Emerson e ALVES Rogeacuterio Pacheco Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem Rio de Janeiro

Ed Lumen Juris 2002p 48 Para Luis Manuel Fonseca Pires ―()natildeo basta o cumprimento dos fins mas eacute preciso

que os meios que o comportamento puacuteblico atenda a padrotildees objetivos de moralidade administrativa In

Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata

Porto (Coordenadores) Controle judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf suacutemula vinculante do Supremo Tribunal

Federal p 246

108

obrigatoacuterio que o moacutevel do agente e o objetivo visado estejam em harmonia com o

dever de bem administrar 568

E como a moralidade administrativa ―atua como um verdadeiro mecanismo

aglutinador extraindo o sumo569

natildeo soacute dos princiacutepios da impessoalidade e da

finalidade como tambeacutem de todos os outros princiacutepios que regem a atividade estatal

condensando-os ―em standards que podem ser mais facilmente percebidos do que

definidos570

o nepotismo a atinge em seu cerne em sua substacircncia normativa Ela ao

avesso seja por si soacute ou densificando os outros princiacutepios eacute sempre o principal e mais

recorrente substrato de vedaccedilatildeo do nepotismo571

atuando como um antiacutedoto que visa

obstar que os interesses privados sejam ―beneficiados com a accedilatildeo estatal572

24 Consideraccedilotildees Parciais

O nepotismo foi assente no direito costumeiro puacuteblicolsquo brasileiro como

heranccedila portuguesa antidemocraacutetica e antirrepublicana historicamente contemplado

por aqueles que dominam o poder puacuteblico desde a colonizaccedilatildeo do Brasil de fazer da

administraccedilatildeo puacuteblica coisa sua infringe assim moralidade puacuteblica

Como uma espeacutecie dos atos vinculados ao personalismo faz do Estado

instrumento beneficiador de famiacutelias e persecutoacuterio de seus inimigos traduzindo

portanto a supremacia da vontade particular em detrimento da puacuteblica a qual motiva o

seu ato administrativo em prejuiacutezo agrave coletividade e transforma a administraccedilatildeo puacuteblica

em negoacutecio de natureza familiar573

que a distribuir cargos entre os familiares maculando

568 CARVALHO FILHO Joseacute dos Santos Manual de Direito Administrativo 8ordf ed Rio de JaneiroEd Lumen Juris

2007 p 44 Segundo ele a atuaccedilatildeo do administrador puacuteblico ―() deve em qualquer hipoacutetese pautar-se pelos

princiacutepios da honestidade e moralidade quer em face dos administrados quer em face da proacutepria Administraccedilatildeo Natildeo

se deve cometer favorecimento nem nepotismo cabendo-lhe optar sempre pelo que melhor servir agrave Administraccedilatildeo

Idem p 49 569 GARCIA Emerson e ALVES Rogeacuterio Pacheco Improbidade Administrativa 1ordf ed 2ordf tiragem Rio de Janeiro

Ed Lumen Juris 2002 p 45 E ainda afirmam que ―talvez por esse motivo que a jurisprudecircncia paacutetria ao

fundamentar suas decisotildees com base no princiacutepio da moralidade administrativa normalmente o faz com outro

princiacutepio dotado de maior especificidade para o caso concreto Op cit p 45 570 Os mesmos autores ainda afirmam que ―longe de arranhar a autonomia do princiacutepio da moralidade demonstra

apenas que os valores extraiacutedos do outro princiacutepio utilizado concorrem de maneira mais incisiva na conformaccedilatildeo do

standard adotado como padratildeo de bom administrador naquela situaccedilatildeo Idem p 45-46 571 Segundo Carmem Luacutecia Antunes Rocha eacute ―aplicaacutevel em sede democraacutetica ―faz parte da democracia e se

justifica com ela e por ela Princiacutepios Constitucionais da Administraccedilatildeo Puacuteblica Belo Horizonte Del Rey 1994 p

225 572 De acordo com Carmem Luacutecia ―A moralidade administrativa () eacute uma questatildeo que comeccedila e termina () na

qualidade dos sistemas juriacutedico poliacutetico e administrativo vigentes em determinada sociedade estatal () a

moralidade administrativa pode e deve ser imposta juridicamente () a imoralidade () verificada apurada e punida

() dificultada controlada () eacute viacutecio da razatildeo() Op cit p 184-185 573 RIBEIRO JUNIOR Joseacute Hortecircncio A ilegalidade do nepotismo no poder judiciaacuterio ndash Revista Juriacutedica Consulex

ano IX nordm 200 p 30

109

a ideia da boa-feacute e a proacutepria conduta eacutetica pela qual deveria se pautar o administrador

puacuteblico574

Sua vedaccedilatildeo pelo descrito vale aduzir que mesmo que ao longo do texto

constitucional natildeo se vislumbre nenhum dispositivo que faccedila direta e expressa

referecircncia a ela natildeo significa que tal praacutetica natildeo esteja proibida pelo contraacuterio eacute

incompatiacutevel com ordenamento juriacutedico pois a Constituiccedilatildeo Federal de 1988

estabeleceu o princiacutepio republicano a inelegibilidade reflexa os princiacutepios expressos no

caput artigo 37 e ainda o concurso puacuteblico vedando o domiacutenio familiar estatal e

direcionando a Administraccedilatildeo Puacuteblica por meio da moralidade puacuteblica575

E pela moralidade administrativa eacute obstada a atuaccedilatildeo dos agentes puacuteblicos

―eivadas de maacute-feacute deslealdade dolo fraude favoritismo perseguiccedilatildeo comportamentos

e atos enfim incompatiacuteveis com o escorreito exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa 576

De forma que aquele que convive e aceita ―o nepotismo como uma praacutetica

comum e corriqueira na Administraccedilatildeo Puacuteblica natildeo se preocupando ―com a eticidade

que deve nortear a atuaccedilatildeo dos agentes puacuteblicos que se utilizam do poder577

a infringe

em seu cerne

Ainda mais se se observar que a moralidade administrativa ao fundamentar a

accedilatildeo popular e a accedilatildeo de improbidade concretamente obsta o nepotismo vez que

embasa a primeira na perquiriccedilatildeo da anulaccedilatildeo do ato que a lesa e lastreia a segunda a

viabilizar a responsabilizaccedilatildeo do agente que deu causa ao nepotismo sendo fundamento

juriacutedico suficiente para justificar a intervenccedilatildeo judicial ou para impedir a nomeaccedilatildeo ou

para invalidaacute-la578

permitindo dessa forma o controle judicial do nepotismo

574 ARAKAKI Allan Thiago Barbosa ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo

Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 abrjun

2011 p 103 575 Contudo ressalta-se que o Supremo Tribunal mesmo antes da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 jaacute proibia o

nepotismo por meio de dos artigos arts 355 sect 7ordm e 357 paraacutegrafo uacutenico do seu Regimento Interno de 1980 ―Art

355 () sect7deg Salvo se funcionaacuterio efetivo do Tribunal natildeo poderaacute ser nomeado para cargo em comissatildeo ou designado

para funccedilatildeo gratificada cocircnjuge ou parente (artigos 330 a 336 do Coacutedigo Civil) em linha reta ou colateral ateacute o

terceiro grau inclusive de qualquer dos Ministros em atividade () Art 357 () Paraacutegrafo uacutenico Natildeo pode ser

designado Assessor ou Auxiliar na forma deste artigo cocircnjuge ou parente (arts 330 a 336 do Coacutedigo Civil) em linha

reta ou colateral ateacute o terceiro grau inclusive de qualquer dos Ministros em atividade 576 CAMMAROSANO Maacutercio O princiacutepio constitucional da moralidade e o exerciacutecio da funccedilatildeo administrativa

Belo Horizonte Foacuterum 2006 p72 577 CORREcircA Gustavo Princiacutepio da Moralidade ou eticidade da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese ndash Direito

Administrativo v 6 n 66 jun 2011 p75 578 PIRES Luis Manuel Fonseca in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Luis Manuel Fonseca Pires

Mauriacutecio Zockun Renata Porto Adri (Coordenadores) Controle judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf suacutemula

vinculante do Supremo Tribunal Federal p 249

110

Assim a moralidade pelo ―vieacutes objetivo ―impotildee agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica o

dever de ser leal integra honesta e pelo ―vieacutes subjetivo ―impotildee ao agente puacuteblico o

dever de ser honesto de forma que faz com que o agente ―motivado por compadrio

ainda que ―a conduta pareccedila atender ao interesse puacuteblico579

arque com sua

responsabilidade

Mas a moralidade puacuteblica obsta o nepotismo natildeo apenas por a posteriori

fundamentar instrumentos processuais a inviabiliza-lo por sua anulaccedilatildeo e

responsabilizaccedilatildeo do agente mas antes por impedi-lo pois sua substacircncia dispotildee sobre

a conduta ideal do agente puacuteblico e por isto mesmo eacute densificada pelo conteuacutedo de

outros princiacutepios que regem a Administraccedilatildeo

Tendo em vista a relaccedilatildeo inversa e direta do princiacutepio da impessoalidade com o

nepotismo ele se destaca como o princiacutepio que prima pela neutralidade e

imparcialidade do agente e da Administraccedilatildeo e por isto mesmo quanto ao nepotismo

densifica o disposto pela moralidade puacuteblica580

jaacute que o nepotismo ato parcial de

caraacuteter particular que enseja o favorecimento de familiares de autoridade e servidores

puacuteblicos um grupo portanto seleto em detrimento dos demais cidadatildeos

transformando a maacutequina puacuteblica em negoacutecio de famiacutelia infringe tanto a

impessoalidade como enfim a moralidade puacuteblica581

Desta feita eacute viacutecio rechaccedilado como praacutetica antirrepublicana que desrespeita a

diretriz igualitaacuteria do Estado de Direito582

e fere os princiacutepios que regem a

579 MARTINS Ricardo Marcondes in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa PIRES Luis Manuel

Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) Controle judicial do nepotismo para aleacutem da

13ordf suacutemula vinculante do Supremo Tribunal Federal p326 580 Conforme Luis Manuel Fonseca Pires ―() natildeo eacute suficiente a invocaccedilatildeo geneacuterica do princiacutepio da moralidade

administrativa para enfrentarmos a questatildeo do nepotismo () pois eacute preciso densificar () em razatildeo da vagueza e

larga amplitude que o signo proporciona () Nesse contexto a noccedilatildeo de funccedilatildeo puacuteblica () a densificar o princiacutepio

constitucional () de honestidade de transparecircncia e de impessoalidade in Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade

Administrativa PIRES Luis Manuel Fonseca ZOCKUN Mauriacutecio ADRI Renata Porto (Coordenadores) Controle

judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf Suacutemula Vinculante do Supremo Tribunal Federal p 242 e 244 581 De acordo com Gustavo Hermont Correcirca ldquoEacute notoacuteria a distorccedilatildeo dessa praacutetica com o princiacutepio da moralidade

administrativa jaacute que fere o senso comum imaginar que a Administraccedilatildeo Puacuteblica possa ser transformada em um

negoacutecio de famiacutelia visando favorecer interesses exclusivamente pessoais Princiacutepio da Moralidade ou eticidade da

Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese ndash Direito Administrativo v 6 n 66 jun 2011 p72 Conforme Ives Gandra

Martins ―A administraccedilatildeo puacuteblica tem que ser impessoal sem favorecimentos a quem quer que seja aplicando as

leis do paiacutes por igual a todos os cidadatildeos () Agrave evidecircncia natildeo se pode falar em impessoalidade sem falar em

moralidade eis que eacute esta que daacute a coloraccedilatildeo maior daquela tonando o administrador um justo servidor puacuteblico na

medida em que natildeo cria privileacutegios nem oferta tratamentos desisonocircmicos e preferenciais Os princiacutepios da

moralidade puacuteblica e da impessoalidade da administraccedilatildeo ndash necessidade de licitaccedilatildeo para contratar agecircncias de

publicidade ndash a funccedilatildeo constitucional da imprensa para preservaccedilatildeo do estado de direito Boletim de Direito

Administrativo ndash BDA Jan 92 p06 582 De acordo com Gustavo Correcirca ―() o nepotismo fere princiacutepios constitucionais expliacutecitos () e acima de tudo

fere a teleologia constitucional pois se preocupa () com interesses () familiares () afeta a todos () parte do

Estado Democraacutetico de Direito Princiacutepio da Moralidade ou eticidade da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese ndash

Direito Administrativo v 6 n 66 jun 2011 p 76

111

Administraccedilatildeo em especial o da impessoalidade o da finalidade e o da eficiecircncia vez

que seus efeitos tecircm ampla dimensatildeo infratora pois o agente ao praticar o ato revela

um ―injustificaacutevel tratamento diferenciado dos administrados viola os mais diversos

fundamentos eacuteticos-normativos e por isto transgride o princiacutepio da moralidade

administrativa ―densificado a partir dos standards de conduta colhidos no ambiente

institucional e inerentes ao bom administrador583

ao transformar a Administraccedilatildeo

Puacuteblica em um negoacutecio de famiacutelia584

Diante disso constata-se que o STF extraiu elementos tanto da noccedilatildeo de

nepotismo criada a partir da evoluccedilatildeo administrativopoliacutetica brasileira como da noccedilatildeo

juriacutedica de nepotismo vez que as poucas e raras vezes que os Ministros do STF se

voltaram especificamente agrave noccedilatildeo de nepotismo remontaram ao seu histoacuterico a ser uma

heranccedila portuguesa e um viacutecio que se destaca dos demais por ser favorecimento

familiar conforme se verifica por seus votos nos precedentes da SV585

Todavia como foi visto o STF ao elaborar a Suacutemula natildeo seguiu tambeacutem a

maioria das noccedilotildees expostas pelo magisteacuterio doutrinaacuterio sendo a noccedilatildeo expressa no

corpo textual da SV uma noccedilatildeo nova diacutespar das demais o que tambeacutem demonstra que

o STF natildeo deveria ter sumulado a noccedilatildeo de nepotismo mas apenas sua vedaccedilatildeo a partir

dos princiacutepios do artigo 37 da Constituiccedilatildeo Federal jaacute que este foi o fundamento

recorrente e uniacutessono presente nos precedentes da Suacutemula

Essa nova noccedilatildeo quanto ao nepotismo e sua vedaccedilatildeo construiacuteda pelo STF

partiu das noccedilotildees jaacute existentes mas natildeo guarda compatibilidade com elas pois abarca

como elementos a um o agente infrator a autoridade e o servidor ocupante de cargo

comissionado a dois como parente o familiar ateacute de terceiro grau por afinidade a trecircs

como acircmbito da vedaccedilatildeo a pessoa juriacutedica a quatro a vedaccedilatildeo natildeo apenas aos cargos

comissionados mas ateacute as funccedilotildees de confianccedila proacuteprias dos servidores efetivos

Por fim observa-se que a Suacutemula Vinculante n 13 natildeo abarcou todos os casos

de privilegiamento de nepotismo contraacuterios agrave moralidade puacuteblica vez que foi exclui de

583 GARCIA Emerson O nepotismo Boletim de Direito Administrativo ndash BDA junho 2003 p 462 584 Assim tal conduta - que espelha o domiacutenio familiar do poder puacuteblico e transforma a maacutequina administrativa em

negoacutecio privado parental - macula a Administraccedilatildeo Puacuteblica e fere seus princiacutepios a comeccedilar pelo da moralidade

densificado pelos estandartes da impessoalidade da eficiecircncia e da finalidade que guiam e orientam ―os

administradores na praacutetica dos atos administrativos de sua competecircncia a fim de ―assegurar uma boa correta

eficiente e honesta administraccedilatildeo puacuteblica PACHECO Joseacute da Silva Da extinccedilatildeo do nepotismo na administraccedilatildeo

puacuteblica e da Suacutemula vinculante do STF para agilizar a eficaacutecia de normas que envolvam mateacuteria constitucional

Revista da Academia Brasileira de Letras Juriacutedicas vol 25 n 34 janjun 2009 p 102 585 Jaacute expostos no capiacutetulo 1 deste trabalho

112

seu acircmbito a aplicaccedilatildeo da vedaccedilatildeo agrave indicaccedilatildeo do parente da autoridade ao cargo

poliacutetico e tambeacutem natildeo levantou qualquer questionamento quanto agrave situaccedilatildeo das

primeiras-damas ambos vistos como nepotismo em perspectiva da moralidade puacuteblica

Diante do exposto conclui-se que eacute incontestaacutevel a necessidade de se vedar o

nepotismo expressamente e de maneira uniforme em todos os poderes de todos os entes

federados Mas o STF o fez por meacutetodos teacutecnicas e argumentaccedilotildees apropriadas

conforme a hermenecircutica juriacutedica e em especial a constitucional Esta eacute a problemaacutetica

que seraacute tratada no proacuteximo capiacutetulo a partir de teses doutrinarias de autores que

enfocam a dinacircmica de decidir do magistrado

113

3 HERMENEUTICA E PODER NORMATIVO COMO OS MAGISTRADOS

DECIDEM E COMO DEVERIAM DECIDIR

O objetivo desse capiacutetulo eacute apreciar a atividade interpretativa do magistrado586

subdividida em trecircs toacutepicos um referente agrave maneira como eles decidem conforme as

elucidaccedilotildees de Hans Kelsen Alf Ross e Eros Grau o outro pertinente agrave forma como

deveriam decidir segundo os meacutetodos e criteacuterios hermenecircuticos de controlabilidade do

processo decisoacuterio judicial propostos por Friedrich Karl Von Savigny Chaiumlm Perelman

Karl Larenz e Inocecircncio Maacutertires Coelho e um terceiro atinente agrave interpretaccedilatildeo dos

princiacutepios de acordo com a norma constitucional em conformidade com as liccedilotildees de

Inocecircncio Maacutertires Coelho Ronald Dworkin Robert Alexy Humberto Aacutevila Marcelo

Neves e Karl Larenz

31 Hermenecircutica Juriacutedica e a aplicaccedilatildeo judicial

311 Como os magistrados decidem

3111 Hans Kelsen

Segundo Kelsen a interpretaccedilatildeo eacute uma ―operaccedilatildeo mental que eacute utilizada no

decorrer de todo o procedimento de ―aplicaccedilatildeo do Direito587

tendo como objeto as

normas juriacutedicas588

e dentre elas a constitucional589

Nesse enredo afirma que existem duas espeacutecies de interpretaccedilatildeo sendo uma

―autecircntica a realizada pelo oacutergatildeo aplicador do Direito por meio da qual este cria

direito outra ―natildeo-autecircntica que eacute feita pela ciecircncia juriacutedica e se voltando agrave

interpretaccedilatildeo autecircntica explica que ― todo o ato juriacutedico em que o Direito eacute aplicado

seja ele de ―criaccedilatildeo juriacutedica590

ou natildeo eacute ―em parte determinado pelo Direito e em

parte indeterminado seja pelas disposiccedilotildees faacuteticas ou pela proacutepria ―intenccedilatildeo do

oacutergatildeo que estabeleceu a norma a aplicar591

Da ―expressatildeo verbal da norma se extrai uma diversidade de ―significaccedilotildees

possiacuteveis592

do que resulta que a interpretaccedilatildeo juriacutedica eacute a ―fixaccedilatildeo da moldura que

586 O STF utilizou de teacutecnicas e meacutetodos pertinentes agrave hermenecircutica juriacutedica especialmente a constitucional tanto

para julgar os precedentes quanto para construir a noccedilatildeo judicial de nepotismo 587 KELSEN Hans Teoria Pura do Direito 8ordf ed Trad Joatildeo Baptista Machado Satildeo Paulo WMF Martins Fontes

2009 p 387 ―() no seu progredir de um escalatildeo superior para um escalatildeo inferior 588 Kelsen afirma que devem ser interpretadas ―() todas as normas juriacutedicas na medida em que hajam de ser

aplicadas Ibidem p 387 589 ―() haacute tambeacutem uma interpretaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo na medida em que de igual modo se trata de aplicar esta

()Ibidem p 387 590Ibidem p 388 591 Ibidem p 389 592 Ibidem p 389

114

representa o Direito a interpretar593

e de que haacute diversas possibilidades interpretativas

no acircmbito desta ―moldura kelsiana onde a norma individual continua o processo de

determinaccedilatildeo da norma geral da qual decorre594

tanto que de uma norma geral

transcorrem diversas normas individuais

Por isto a interpretaccedilatildeo de uma lei natildeo conduz ―a uma uacutenica soluccedilatildeo como

sendo a uacutenica correta mas possivelmente a vaacuterias soluccedilotildees595

dentre as quais uma se

tornaraacute a decisatildeo judicial do caso596

Kelsen dispotildee ainda que natildeo haacute ―qualquer meacutetodo de ―Direito positivo que

possibilite a escolha de apenas uma significaccedilatildeo agrave norma como ―a correta597

e que a

eleiccedilatildeo de uma das soluccedilotildees possiacuteveis eacute ―um problema de poliacutetica do Direito598

de

maneira que o oacutergatildeo aplicador do direito ao aplicaacute-lo realiza uma operaccedilatildeo de

conhecimento do Direito a ser empregado conjugada com um ―ato de vontade 599

ndash

provenientes da moral da justiccedila e dos ―juiacutezos de valor sociais dentre outras ndash por

meio do qual escolhe um significado agrave norma entre as vaacuterias possibilidades Deste ato

de vontade eacute que decorre a interpretaccedilatildeo juriacutedica ndash designada por Kelsen como

interpretaccedilatildeo autecircntica que pode ser executada apenas pelo oacutergatildeo aplicador do

Direito600

o qual eacute capaz de criar direito601

Assim a produccedilatildeo do ato juriacutedico pelo oacutergatildeo aplicador do Direito no acircmbito

da moldura de uma determinada norma juriacutedica eacute livre pois ―realiza-se segundo a livre

593 KELSEN Hans Teoria Pura do Direito 8ordf ed Trad Joatildeo Baptista Machado Satildeo Paulo WMF Martins Fontes

2009 p 390 594 Ibidem p 389 ―() que constitui o sentido da seriaccedilatildeo escalonada ou gradual das normas juriacutedicas 595Ibidem p 390 ―O Direito a aplicar forma em todas estas hipoacuteteses uma moldura dentro da qual existem vaacuterias

possibilidades de aplicaccedilatildeo pelo que eacute conforme ao Direito todo ato que se mantenha dentro deste quadro ou

moldura que preencha esta moldura em qualquer sentido possiacutevel p 390 596 Diante disto observa-se que uma decisatildeo judicial que eacute uma norma juriacutedica de natureza individual eacute realizada a

partir da lei dentro da moldura de Direito e eacute apenas uma das vaacuterias normas individuais que podem decorrer da

norma geral inovando a ordem juriacutedica e criando um novo direito 597KELSEN Op cit p 391 ―Todos os meacutetodos de interpretaccedilatildeo ateacute ao presente elaborados conduzem sempre a um

resultado apenas possiacutevel nunca a um resultado que seja o uacutenico correto Ibidemp 392 598 ―() a questatildeo de saber qual eacute dentre as possibilidades aquela que se apresenta nos quadros do Direito a aplicar a

correta natildeo eacute sequer uma questatildeo de conhecimento dirigido ao Direito positivo natildeo eacute um problema de teoria do

Direito mas um problema de poliacutetica do Direito A tarefa que consiste em obter a partir da lei a uacutenica sentenccedila justa

(certa) ou o uacutenico ato administrativo correto eacute no essencial idecircntica agrave tarefa de quem se proponha nos quadros da

Constituiccedilatildeo criar as uacutenicas leis justas (certas) Assim como da Constituiccedilatildeo atraveacutes da interpretaccedilatildeo natildeo podemos

extrair as uacutenicas leis corretas tampouco podemos a partir da lei por interpretaccedilatildeo obter as uacutenicas sentenccedilas

corretas Ibidem p 393 599 Ibidem p 394 600 Para Kelsen a aplicaccedilatildeo do direito eacute simultaneamente sua produccedilatildeo 601 ―Atraveacutes de uma interpretaccedilatildeo autecircntica deste tipo pode criar-se Direito natildeo soacute no caso em que a interpretaccedilatildeo

tem caraacuteter geral em que portanto existe interpretaccedilatildeo autecircntica no sentido usual da palavra mas tambeacutem no caso

em que eacute produzida uma norma juriacutedica individual atraveacutes de um oacutergatildeo aplicador do Direito desde que o ato deste

oacutergatildeo jaacute natildeo possa ser anulado desde que ele tenha transitado em julgado Eacute fato bem conhecido que pela via da

interpretaccedilatildeo autecircntica deste tipo eacute muitas vezes criado direito novo ndash especialmente pelos tribunais de uacuteltima

instacircncia KELSEN Op cit p 394-395

115

apreciaccedilatildeo do oacutergatildeo chamado a produzir o ato602

dentro da moldura kelsiana uma vez

que no seu acircmbito o magistrado atua como cocriador e pode quase tudo tendo que

observar apenas a moldura da norma geral

E eacute esta liberdade na produccedilatildeo do ato que pode criar direito que diferencia a

interpretaccedilatildeo autecircntica de todas as outras formas de interpretaccedilatildeo603

inclusive da natildeo

autecircntica realizada pela ciecircncia juriacutedica604

que soacute aponta ―as possiacuteveis significaccedilotildees de

uma norma juriacutedica605

Desta forma Kelsen entende que a decisatildeo quanto agrave eleiccedilatildeo de uma

interpretaccedilatildeo dentre as vaacuterias significaccedilotildees compete ao oacutergatildeo aplicador do Direito606

pois natildeo haacute uma uacutenica correta o que possibilita que o tribunal decida como bem

entender a seu criteacuterio

E nesse diapasatildeo ressalta um ponto imprescindiacutevel a refletir quanto ao

presente trabalho ao afirmar que aquele que observa apenas uma interpretaccedilatildeo como a

correta estaacute agindo em uma funccedilatildeo juriacutedico-poliacutetica607

Outra liccedilatildeo de Kelsen - de que a aplicaccedilatildeo de ―uma interpretaccedilatildeo estritamente

cientiacutefica pode revelar ―todas as significaccedilotildees possiacuteveis estabelecidas na ―foacutermula

verbal () escolhida da norma inclusive as ―politicamente indesejaacuteveis ndash tambeacutem

merece ser observada ao se refletir sobre a decisatildeo do STF608

3112 Alf Ross

Alf Ross propotildee a teoria do ―meacutetodo juriacutedico de interpretaccedilatildeo como forma de

explicar a atividade do magistrado ao aplicar ―o direito formulado verificando

analiacutetica e descritivamente a partir daiacute com base na ―praacutetica dos tribunais quais ―os

602 KELSEN Hans Teoria Pura do Direito 8ordf ed Trad Joatildeo Baptista Machado Satildeo Paulo WMF Martins Fontes

2009 p 393 603 Ibidem p 394 ―Atraveacutes desse ato de vontade se distingue a interpretaccedilatildeo juriacutedica feita pelo oacutergatildeo aplicador do

Direito A interpretaccedilatildeo feita pela ciecircncia juriacutedica eacute aquela que natildeo eacute feita pelo juiz mas pelos demais 604 A interpretaccedilatildeo feita pela ciecircncia juriacutedica eacute aquela que natildeo eacute feita pelos magistrados mas pelos demais 605 Ibidem p 395 Segundo Kelsen a interpretaccedilatildeo feita pela ciecircncia juriacutedica natildeo deve afirmar que uma norma

juriacutedica permite somente uma interpretaccedilatildeo para ―todos os casos uma vez que pela pluralidade dos significados das

normas juriacutedicas este ideal que a ―jurisprudecircncia tradicional utiliza ―para consolidar o ideal de seguranccedila juriacutedica

―somente eacute realizaacutevel aproximativamente p 396 606 Ibidem p 396 607 Ibidem p 396 Em suas palavras ―Natildeo se pretende negar que esta ficccedilatildeo da univocidade das normas juriacutedicas

vista de uma certa posiccedilatildeo poliacutetica pode ter grandes vantagens Mas nenhuma vantagem poliacutetica pode justificar que

se faccedila uso desta ficccedilatildeo numa exposiccedilatildeo cientifica do Direito positivo proclamando como uacutenica correta de um ponto

de vista cientiacutefico objetivo uma interpretaccedilatildeo que de um ponto de vista poliacutetico subjetivo eacute mais desejaacutevel do que

em uma outra igualmente possiacutevel do ponto de vista loacutegico Neste caso com efeito apresenta-se falsamente como

uma verdade cientiacutefica aquilo que eacute tatildeo somente um juiacutezo de valor poliacutetico p 396 608 Ibidem p 396 Em suas palavras ―() pode ter um efeito praacutetico que supere de longe a vantagem poliacutetica da

ficccedilatildeo do sentido uacutenico Eacute que a uma tal interpretaccedilatildeo cientifica pode mostrar agrave autoridade legisladora quatildeo longe

estaacute a sua obra de satisfazer agrave exigecircncia teacutecnico-juriacutedica de uma formulaccedilatildeo de normas juriacutedicas o mais possiacutevel

inequiacutevocas ou pelo menos de uma formulaccedilatildeo feita por maneira tal que a inevitaacutevel pluralidade de significaccedilotildees

seja reduzida a um miacutenimo e assim se obtenha o maior grau possiacutevel de seguranccedila juriacutedica Idem p 396-397

116

princiacutepios ou regras que realmente os norteiam no tracircnsito da regra geral agrave decisatildeo

particular609

De acordo com seu entendimento pela ideologia do meacutetodo pode-se ―no

maacuteximo obter ―um estilo de meacutetodo ou estilo de interpretaccedilatildeo610

E ao dividir o

estudo em duas partes uma doutrinaacuteria e outra de teoria geral afirma que primeira parte

eacute da ciecircncia do direito destinada a averiguar ―o meacutetodo seguido pelos tribunais num

ordenamento juriacutedico especiacutefico e a segunda eacute aquela que611

tambeacutem explica os

―estilos de meacutetodo e interpretaccedilatildeo que realmente ocorrem612

Nesse diapasatildeo613

passa a analisar a teoria geral do meacutetodo tendo como base o

sistema que vige no Brasil de que toda interpretaccedilatildeo do direito legislado principia com

um texto isto eacute uma foacutermula linguiacutestica escrita614

e que por uma fundamentaccedilatildeo

semacircntica se deve observar as palavras e as frases formadas por elas dentro de um

contexto jaacute que este contexto eacute que de acordo com Ross demonstra como ―a palavra

tem sido usada em cada caso individual615

e que por meio da constataccedilatildeo dos diversos

significados razoaacuteveis616

dados agrave palavra se observa o seu ―campo de referecircncia

correspondente617

e dentre eles o significado ―mais provaacutevel618

de forma que pela

interpretaccedilatildeo se busca o ―significado da expressatildeo619

609 ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 p 136 Natildeo tendo a mesma precisatildeo de

uma ideologia das fontes do direito especialmente no que diz respeito agrave ―interpretaccedilatildeo do direito legislado E assim

afirma que a ―doutrina do meacutetodo para efetivamente nortear a interpretaccedilatildeo deve visar a anaacutelise descritiva de ―como

se comportam de fato os tribunais na aplicaccedilatildeo do direito vigente a situaccedilotildees especiacuteficas Op cit p 137 610 Ibidem p 136 611 Aleacutem explicitar os fatos que levam aos problemas dos meacutetodos 612 Ibidem p 137 Elucida que os problemas dos meacutetodos satildeo diversos de acordo com o sistema juriacutedico adotado e

que por isso os que satildeo observados no sistema inglecircs ―no qual os precedentes (jurisprudecircncia) constituem a fonte

predominante do direito natildeo satildeo os mesmos que os de ―um sistema em que a legislaccedilatildeo eacute a fonte principal pois

enquanto no primeiro o ―problema do meacutetodo consiste em como extrair uma regra geral dos precedentes existentes e

aplicaacute-la ao caso a ser decidido no segundo ―a atenccedilatildeo se concentra aqui na relaccedilatildeo existente entre uma dada

formulaccedilatildeo linguiacutestica e um complexo especiacutefico de fatos p 138 A elaboraccedilatildeo da Suacutemula Vinculante eacute realizada

com base em precedentes ou seja na forma do sistema inglecircs ndash de precedentes jaacute que eacute a anaacutelise dos julgados

qualificados como precedentes que subsidiaraacute a construccedilatildeo da Suacutemula Vinculante 613 Lembrando que no sistema de precedentes a ―regra geral frequentemente se modifica ―durante o curso do

desenvolvimento de um caso para outro Ibidem p 138 Por isso afirma () haver continuidade ou alteraccedilatildeo

dependeraacute do juiz ao examinar as semelhanccedilas e as diferenccedilas entre o caso presente e o precedente () ou em outras

palavras decidir que eacute mister introduzir uma distinccedilatildeo com o auxiacutelio de outros conceitos Neste uacuteltimo caso a regra

geral adquiriu um conteuacutedo distinto No comeccedilo de uma linha de precedentes a regra geral pressuposta teraacute de

ordinaacuterio um conteuacutedo muito pouco definido Uma doutrina natildeo foi ainda cristalizada Por isso a tarefa que tem

diante de si o juiz natildeo consiste tanto em aplicar uma regra geral a um caso especiacutefico mas em decidir se o caso difere

do precedente de tal maneira que existam fundamentos para chegar a uma decisatildeo distinta O raciociacutenio juriacutedico

(meacutetodo juriacutedico) num sistema como esse eacute raciociacutenio por via de exemplos e a teacutecnica de argumentaccedilatildeo exigida por

esse meacutetodo visa a mostrar as semelhanccedilas e diferenccedilas exibidas pelos casos e asseverar que as diferenccedilas satildeo ou natildeo

satildeo relevantes Ibidem p 138 614 Ibidem p 139 615 Ibidem p 141 616 Ibidem p 143 Contudo parece que natildeo foi isso que o STF fez 617 ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 p 141 Parece que natildeo foi o que o STF

fez 618 Ibidem p 144 ―() que pode ser aceito conforme as circunstacircncias como contexto e situaccedilatildeo O contexto se

estende ateacute onde se possa supor que uma expressatildeo foi formulada tendo outra em mente () abrange todos os fatos e

117

Ainda diferencia a interpretaccedilatildeo subjetiva da objetiva afirmando que pela

primeira620

se toma ―em consideraccedilatildeo natildeo apenas a expressatildeo linguiacutestica como tambeacutem

todos os outros relevantes o contexto e a situaccedilatildeo621

e pela segunda622

se ―restringe os

dados aos discerniacuteveis pelo destinataacuterio na situaccedilatildeo em que ele se acha ao apreender a

expressatildeo sendo portanto divergentes natildeo quanto ao ―propoacutesito da interpretaccedilatildeo623

mas quanto ao que consideram ao interpretar

Nesse ensejo discorre sobre os problemas da interpretaccedilatildeo iniciando pelos

concernentes a sintaxe624

e em seguida os loacutegicos625

dentre os quais se destaca a

inconsistecircncia626

que podem ser resolvidos de algumas formas627

e tambeacutem pelos

―princiacutepios de peso relativo que gravitam em torno da interpretaccedilatildeo ao lado de outras

consideraccedilotildees a propiciar que a lei ―esteja de acordo com o senso comum com a

consciecircncia juriacutedica popular ou com os objetivos sociais supostos628

Daiacute aponta os problemas semacircnticos de interpretaccedilatildeo que concernem ao

significado das palavras individuais ou das frases629

e nessa toada ao considerar que

nenhum ―texto pode ser tatildeo claro a ponto de ser impossiacutevel que suscite duacutevidas quanto agrave

sua interpretaccedilatildeo apresenta uma teoria sobre meacutetodos de interpretaccedilatildeolsquo por meio dos

quais os magistrados buscam solucionar ―esses problemas na administraccedilatildeo da

circunstacircncias que podem indicar qual era ()razatildeo provaacutevel () toda a situaccedilatildeo fatual fiacutesica e social de vida que

condicionou a expressatildeo Ibidem p 144-145 Parece que natildeo foi o que o STF fez 619 Seja pelo todo pois ―somente o contexto e o desejo de descobrir um significado bom ou razoaacutevel em relaccedilatildeo a

uma dada situaccedilatildeo determinam o significado das palavras individuais ou pelo proacuteprio ―contexto e da situaccedilatildeo em

que a expressatildeo eacute formulada onde a ―conexatildeo externa da expressatildeo natildeo eacute dada de modo imediato associada a esta

de forma que em ambos ―o contexto eacute codeterminativo Ibidem p 146 620 Natildeo eacute como muitos acham a interpretaccedilatildeo que ―visa a descobrir o significado que se buscou expressar Ibidem

p 149 621 ―O propoacutesito declarado e o propoacutesito presumido Ibidem p 149-150 622 Natildeo eacute a que ―visa estabelecer o significado comunicado Ibidem p 149 623 Ibidem p 150 624 Que se referem agrave ligaccedilatildeo entre as palavras ―na estrutura da frase e cuja soluccedilatildeo eacute a descoberta do ―significado

bom ou razoaacutevelrdquo Ibidem p 151 625 Que se referem ―agraves relaccedilotildees de uma expressatildeo com outras expressotildees dentro de um contexto Ibidem p 157 626 ―Existe inconsistecircncia entre duas normas quando satildeo imputados efeitos juriacutedicos incompatiacuteveis agraves mesmas

condiccedilotildees fatuais e isto pode ocorrer de ―trecircs maneiras distintas ia) Inconsistecircncia total-total () quando nenhuma

das normas pode ser aplicada sob circunstacircncia alguma sem entrar em conflito com a outra () 2a) Inconsistecircncia

total-parcial () quando uma das duas normas natildeo pode ser aplicada sob nenhuma circunstacircncia sem entrar em

conflito com a outra enquanto esta tem um campo adicional de aplicaccedilatildeo no qual natildeo entra em conflito com a

primeira Ibidem p 158-162 627 Pela aplicaccedilatildeo das regras de vigecircncia da lei especial da lei posterior e superior ―Pensa-se frequentemente que

quando se trata da relaccedilatildeo entre leis diferentes as inconsistecircncias podem ser resolvidas mediante duas simples regras

convencionais de interpretaccedilatildeo Lex posterior significa que de duas leis do mesmo niacutevel a segunda prevalece sobre a

anterior e () soacute se aplica na medida em que em termos subjetivos o legislador teve a intenccedilatildeo de substituir a lei

mais antiga (anterior) Entretanto pode tambeacutem ter tido a intenccedilatildeo de que a nova regra se incorporasse

harmoniosamente ao direito existente como um suplemento dele () Lex superior quer dizer que num conflito entre

previsotildees legislativas de niacutevel diferente a lei de niacutevel mais elevado qualquer que seja a ordem cronoloacutegica se acharaacute

numa situaccedilatildeo de preferecircncia relativamente a de niacutevel mais baixordquo Ibidem p 158-162 628 Ibidem p 163-164 629Sendo sua soluccedilatildeo a interpretaccedilatildeo da ―expressatildeo como um todo com seu contexto pois ―o problema do

significado das palavras individuais estaacute sempre unido a esse conceito ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson

Bini BauruSP Edipro 2000 p 164

118

justiccedila630

e afirma que o problema que deve ser enfrentado eacute o referente a como o

magistrado na praacutetica realiza a interpretaccedilatildeo

Diz que a soluccedilatildeo eacute analiacutetico-descritiva e que por isso a atividade do juiz - ―de

interpretar e aplicar a lei a um caso especiacutefico - ―eacute um problema praacutetico e que a sua

decisatildeo - aleacutem de ser fundada em ―processos cognitivos por sua proacutepria natureza -

tambeacutem configura ―um ato de vontade631

E assim ao se posicionar contrariamente agraves

teorias positivistas-mecanicistas632

assevera que o juiz ao decidir faz uma escolha

embasada natildeo apenas em um processo cognoscitivo mas tambeacutem em uma

―valoraccedilatildeo633

sendo ―sua interpretaccedilatildeo da lei (num sentido mais amplo) ―um ato de

natureza construtiva e natildeo ―de puro conhecimento uma vez que ―seus motivos natildeo se

reduzem ao desejo de acatar uma determinada diretiva634

E assevera que ―a tarefa de administrar justiccedila eacute muito maior que o ato de

―interpretar a lei vez que o juiz eacute agente que realiza funccedilatildeo criadora que ao decidir

utiliza sua percepccedilatildeo quanto aos ―valores juriacutedicos e assim transcende ―o respeito

pelo texto da lei e ateacute ―deixa o texto da lei de lado embora natildeo admita635

Dessa forma a decisatildeo judicial eacute ato de ―administraccedilatildeo do direito e natildeo ato

interpretativo ―de mera atividade intelectual mas construtivo realizado por meio de

um processo onde se observa concomitantemente ―a funccedilatildeo valorativa e a

cognoscitiva636

que se fundem na praacutetica ao envolverem ―conhecimento e valoraccedilatildeo

passividade e atividade637

Nesse enredo ressalta que ―administraccedilatildeo da justiccedila apresenta niacutetida

dualidade jaacute que se por um lado haacute uma ―atividade puramente cognoscitiva por outro

haacute ―uma atividade emotivo-volitiva fundada em valoraccedilotildees sociais e em observaccedilotildees

630Ibidem p 165 631 Ibidem p 166 632 Segundo Ross esta teoria eacute equivocada e que para se perceber o disposto ―basta assinalar que a interpretaccedilatildeo - no

sentido de determinaccedilatildeo do significado como fato empiacuterico amiuacutede natildeo conduz a qualquer resultado certo () Idem

p 167 633 ―O juiz eacute um ser humano Por traacutes da decisatildeo tomada encontra-se toda sua personalidade Mesmo quando a

obediecircncia ao direito (a consciecircncia juriacutedica formal) esteja profundamente enraizada na mente do juiz como postura

moral e profissional ver nesta o uacutenico fator ou moacutevel eacute aceitar uma ficccedilatildeo O juiz natildeo eacute um autocircmato que de forma

mecacircnica transforma regras e fatos em decisotildees Eacute um ser humano que presta cuidadosa atenccedilatildeo em sua tarefa social

tomando decisotildees que sente ser corretas de acordo com o espiacuterito da tradiccedilatildeo juriacutedica e cultural Seu respeito pela lei

natildeo eacute absoluto A obediecircncia a esta natildeo constitui o uacutenico motivo Aos seus olhos a lei natildeo eacute uma foacutermula maacutegica mas

uma manifestaccedilatildeo dos ideais posturas padrotildees ou valoraccedilotildees que denominamos tradiccedilatildeo cultural()rdquo Ibidem p

168 634 Ibidem p 167 635 Ibidem p 169 636 ―() o juiz natildeo pode deixar de cumprir sua tarefa Tem que escolher e esta escolha teraacute sua origem qualquer que

seja seu conteuacutedo numa valoraccedilatildeo Sua interpretaccedilatildeo da lei (num sentido mais amplo) eacute nessa medida um ato de

natureza construtiva natildeo um ato de puro conhecimento Seus motivos natildeo se reduzem ao desejo de acatar uma

determinada diretiva ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 p 167 637 Ibidem p 169

119

socioloacutegico-juriacutedicas638

e que a diferenciaccedilatildeo quanto agrave forma de administrar esta

justiccedila ou este direito estaacute ancorada no estilo da interpretaccedilatildeo - administraccedilatildeo da justiccedila

- que varia a uma de acordo com os ―fatores e dados que convencionalmente satildeo

levados em consideraccedilatildeo a duas com o ―grau de liberdade do juiz podendo haver

portanto uma ―interpretaccedilatildeo (relativamente) livre diferenciada natildeo ― tanto no grau de

liberdade de que goza o juiz mas ―na franqueza com que essa liberdade eacute

reconhecida639

e a trecircs em conformidade com a ―amplitude em que se tomam em

consideraccedilatildeo elementos de juiacutezo alheios agraves palavras da lei por interpretaccedilatildeo subjetiva

ou objetiva640

De forma que a ―atitude do juiz em relaccedilatildeo agrave lei seraacute sempre influenciada por

uma seacuterie de fatores produtos da situaccedilatildeo e pela conexatildeo entre a lei e o resto do

direito641

e quanto maior a liberdade maior a possibilidade de o juiz ―desconsiderar as

claras manifestaccedilotildees que aparecem nos antecedentes legislativos642

e utilizar ―os

fatores pragmaacuteticos na administraccedilatildeo da justiccedila643

realizando uma ―interpretaccedilatildeo

pragmaacutetica que busca ldquoapoio para o resultado desejado onde quer que possa encontraacute-

lo644

seja pela interpretaccedilatildeo especificadora (quando as consideraccedilotildees pragmaacuteticas satildeo

decisivas para a eleiccedilatildeo entre vaacuterias interpretaccedilotildees todas elas possiacuteveis e razoaacuteveis

dentro do significado linguiacutestico do texto)645

restritiva (quando ao recorrer ao propoacutesito

provaacutevel da lei as consideraccedilotildees pragmaacuteticas excluem a aplicaccedilatildeo de uma regra que

segundo o sentido linguiacutestico do texto seria aplicaacutevel ou extensiva (quando as

consideraccedilotildees pragmaacuteticas se traduzem na aplicaccedilatildeo da regra a situaccedilotildees que

638 Ibidem p 170 E assim afirma que ―toda interpretaccedilatildeo juriacutedica em sentido proacuteprio inclui presunccedilotildees que tangem

aos criteacuterios e valores sociais que motivaram o legislador Ibidem p170 639 Ibidem p 171 No caso do STF haveria entatildeo uma ampla liberdade tanto em grau como em reconhecimento 640 Ibidem p 172 Segundo o autor a ―interpretaccedilatildeo objetiva rejeita certos dados de interpretaccedilatildeo (os antecedentes da

lei) e se ateacutem exclusivamente ao proacuteprio texto conduziraacute frequentemente a resultados menos precisos que a

interpretaccedilatildeo subjetiva deixando assim maior raio de alcance para a liberdade do juiz Num certo sentido

consequentemente a interpretaccedilatildeo objetiva eacute mais subjetiva do que a subjetiva Ibidem p 172 641 ―() inconcebiacutevel um estilo de interpretaccedilatildeo completamente objetivo no sentido de que se funde exclusivamente

nas palavras da lei Ibidem p 172 ―Jamais seraacute possiacutevel evitar levar em consideraccedilatildeo que o texto que tem diante de

seus olhos natildeo eacute uma peccedila de ficccedilatildeo nem um artigo cientiacutefico mais precisamente uma lei isto eacute um instrumento de

direccedilatildeo poliacutetica que nasce do seio de interesses e ideias conflitantes e que aponta para certos objetivos sociais

Ibidem p 172 642 Ibidem p 182 Em parte parece que foi isto o que o STF fez ao considerar ao final apenas a Resoluccedilatildeo n 72005

do CNJ e as manifestaccedilotildees quanto agrave mesma no julgado da ADC n12 da qual foi objeto como ―antecedentes da SV

n13 643 E explica que ―Este tipo de raciociacutenio eacute o que estamos habituados a chamar de argumentos baseados em

consideraccedilotildees praacuteticas (razatildeo) ()A interpretaccedilatildeo pragmaacutetica pode considerar natildeo soacute os efeitos sociais previsiacuteveis

como tambeacutem a teacutecnica da interpretaccedilatildeo e sua concordacircncia com o sistema juriacutedico e as ideias culturais que servem

de base a esse sistema () eacute a integraccedilatildeo de uma multiplicidade de valoraccedilotildees e o propoacutesito da lei indica somente

uma consideraccedilatildeo uacutenica dentro dessa multiplicidade Ibidem p 176-177 644 Ibidem p 182 645 ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 p 178

120

contempladas agrave luz do sentido linguiacutestico natural se encontram claramente fora de seu

campo de referecircncia)646

mas com ―caraacuteter construtivo647

raramente assumido648

Mas que tal decisatildeo natildeo tem qualquer debilidade ao contraacuterio que representa

a ―verdade fundamental de que as maacuteximas de interpretaccedilatildeo satildeo ―implementos de uma

teacutecnica que () habilita o juiz a atingir a conclusatildeo que julga desejaacutevel nas

circunstacircncias e concomitantemente ―reserva a ficccedilatildeo de que soacute estaacute obedecendo a lei

e os princiacutepios objetivos de interpretaccedilatildeo649

e assim administram a justiccedila em ―uma

atividade poliacutetico-juriacutedica650

de forma que os ―meacutetodos de interpretaccedilatildeo apenas

estabelecem ―limites agrave liberdade do juiz na administraccedilatildeo da justiccedila determinando a

aacuterea de soluccedilotildees justificaacuteveis651

Assim Alf Ross pelo meacutetodo juriacutedico proposto traduz os ―argumentos

teacutecnicos utilizados pelos magistrados como razotildees presentes ―na sua consciecircncia

juriacutedica652

fundada nas normas e tambeacutem nas ―exigecircncias sociais e por consideraccedilotildees

socioloacutegico juriacutedicas653

traduzem sua consciecircncia juriacutedica material presente em todas

as suas decisotildees judiciais654

3113 Eros Grau

Segundo o autor a atividade de interpretar o direito eacute vista como a

―compreensatildeo do significado das normas juriacutedicas seja pela identificaccedilatildeo ou pela

determinaccedilatildeo do significado da norma Dessa forma observada pelo prisma do ato de

646 Ibidem p 179 Como quando haacute ―as condiccedilotildees para o uso da analogia estatildeo reunidas p 182-183 Diante disto

seria possiacutevel vislumbrar que os ministros do STF ao construiacuterem a SV n13 estabeleceram os significados das

palavras com base em tais interpretaccedilotildees 647 Ibidem p 182 Assim a palavra final eacute do uacuteltimo inteacuterprete da lei o uacuteltimo juiz ou tribunal a apreciar o caso

Nesse enredo o que se pode avaliar eacute que o STF como tribunal maacuteximo do Brasil tem a liberdade para decidir em

grau e em reconhecimento e que eacute quanto aos precedentes da Suacutemula Vinculante o uacuteltimo interprete e quanto agrave sua

ediccedilatildeo seu uacutenico inteacuterprete 648 Ibidem p 181 ―() o segredo dessa teacutecnica de argumentaccedilatildeo consiste em natildeo haver criteacuterio que indique qual

regra de interpretaccedilatildeo deveraacute ser empregada () Numa certa medida a escolha pode ser motivada pelos dados da

interpretaccedilatildeo () Essas teacutecnicas de argumentaccedilatildeo satildeo recursos integrantes do equipamento de todo jurista

experimentado Ele tem que saber como justificar tecnicamente mediante argumentos interpretativos a soluccedilatildeo

juriacutedica que considera justa ou desejaacutevel p 183 649Ibidem p 184 E por isto aduz que ―as teorias do movimento do direito livre se acham mais proacuteximas da verdade

do que as teorias positivistas jaacute que explicam como o ―direito eacute administrado ou seja como os magistrados

decidem - administram a justiccedila e natildeo fazem apenas um raciociacutenio loacutegico com base nas normas positivadas p 185 -

186 650 Ross explica que pelas ―teorias do meacutetodo da escola do direito livre - correspondentes agraves teorias juriacutedicas

idealistas - a validade do direito eacute oriunda de uma ideia princiacutepio ou propoacutesito inerentes ao direito a ideia de

justiccedila as atitudes eacutetico-juriacutedicas predominantes do povo o princiacutepio de solidariedade o princiacutepio de justiccedila social

etc () Nos tempos modernos eacute corrente o referir-se particularmente a consideraccedilotildees de propoacutesito social e agrave

ponderaccedilatildeo dos interesses como diretrizes para a interpretaccedilatildeo livre Ibidem p 186 651 Ibidem p 183 E afirma ―()administraccedilatildeo da justiccedila eacute o resultante de um paralelogramo de forccedilas no qual os

vetores dominantes satildeo a interpretaccedilatildeo cognoscitivamiddot da lei e a atitude valorativa da consciecircncia juriacutedica p 168 652 Ibidem p 183 653 Ibidem p 186-187 654 Ibidem p 168

121

conhecer ou do ato de vontade tem o seu pilar de significaccedilatildeo estabelecido no fato de

que interpretar eacute ―identificar ou determinar (= compreender) a significaccedilatildeo de algo No

caso compreender o significado da norma juriacutedica655

Daiacute realiza uma apresentaccedilatildeo descritiva de ―como se processa a interpretaccedilatildeo

do direito e afirma que a ―interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo do direito satildeo uma soacute operaccedilatildeo

sendo portanto a interpretaccedilatildeo do direito ―constitutiva e natildeo apenas declaratoacuteria vez

que ela vai aleacutem da ―mera compreensatildeo dos textos e dos fatos 656

e por isto eacute

―atividade que se presta a transformar textos ndash disposiccedilotildees preceitos enunciados - em

norma657

Nesse ensejo aduz que o magistrado ao realizar a interpretaccedilatildeo extrai ―normas

de decisatildeo658

como ―interprete autecircntico659

que eacute pois ―revestido do poder de criar

normas e ―pronunciar o discurso do direito660

sobrepondo-se nesse processo a

interpretaccedilatildeo e concretizaccedilatildeo vez que a primeira natildeo existe sem a segunda sendo esta a

―derradeira etapa daquela661

vez que ―o inteacuterprete desvencilha a norma do seu

involucro (o texto) e ―opera a inserccedilatildeo do direito na vida662

655 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p

21 656 Ibidem p 22 E assim o autor explica que ―o inteacuterprete procede agrave interpretaccedilatildeo dos textos normativos e

concomitantemente dos fatos de sorte que o modo sob o qual os acontecimentos que compotildeem o caso vai tambeacutem

pesar de maneira determinante na produccedilatildeo da(s) norma(s) aplicaacutevel(is) ao caso p 22 657 Ibidem p 23 E complementa sua ideia afirmando que o ―significado do texto (isto eacute a norma) eacute o resultado da

tarefa interpretativa e ainda que ―a interpretaccedilatildeo se pode descrever como um processo intelectivo atraveacutes do qual

() alcanccedilamos a determinaccedilatildeo de um conteuacutedo normativo p 23 e 26 Assim ―o significado da norma eacute produzido

pelo inteacuterprete Ele eacute o que o inteacuterprete diz que ele eacute p 23 658 Que de acordo com o autor eacute ―a norma juriacutedica aplicada ao caso concreto Segundo ele para ―se passar da

normatividade mediata para a normatividade concreta a norma juriacutedica precisa de revestir o caraacuteter de norma de

decisatildeo Ibidem p 98-99 659 Ibidem p 24 Segundo o autor ―() todos os operadores do direito o interpretam mas apenas uma certa categoria

deles realiza plenamente o processo de interpretaccedilatildeo ateacute o seu ponto culminante que se encontra no momento da

definiccedilatildeo da norma de decisatildeo () o juiz p 24 Assim ―o interprete cria direito no sentido de definir normas de

decisatildeo p 85 660 Ibidem p 87 Segundo o autor esse discurso eacute ―prescritivo produzido pelos juiacutezes e tribunais autorizados a dizecirc-

los p 96 Diante disto se observa que os Ministros do STF ao interpretarem os princiacutepios constitucionais

produziram norma juriacutedica e ao decidirem aos quatro julgados que foram precedentes da SV n13 elaboraram as

normas de decisatildeo Segundo o autor ―A concretizaccedilatildeo somente se realiza em sua plenitude () quando eacute definida a

norma de decisatildeo apta a dar soluccedilatildeo ao conflito que consubstancia o caso concreto p 25 661 Ibidem p 25 Mais agrave frente o autor explica ―interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo natildeo se realizam autonomamente ―Assim

existe uma equaccedilatildeo entre interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo () uma soacute operaccedilatildeo () p 31 Nesse enredo Eros Grau

compara o direito agrave musica (p 102) e ao teatro afirmando que todos satildeo alograacuteficos ―Isso significa que o texto

normativo () reclama um inteacuterprete (primeiro inteacuterprete) que compreenda e reproduza () a fim de que um

determinado conflito seja decidido (p 79) vez que precisam da ―compreensatildeo e da reproduccedilatildeo e que ―tal

classificaccedilatildeo se aplica ao direito pois o texto normativo se completa ―quando o sentido por ele expressado eacute

produzido como nova forma de expressatildeo pelo inteacuterprete e que este sentido eacute novo diferente do texto eacute a norma

p 26 662 Ibidem p 27 O inteacuterprete cria a norma no sentido reproduccedilatildeo pois se por um lado a norma estaacute parcialmente

―involucrada no texto em ―estado de potecircncia por outro o inteacuterprete ao interpretar o texto a ―desnuda ―a partir

de elementos do caso ao qual seraacute ela aplicada e desta forma ―produz a norma ao fazecirc-la ―brotar do texto p 27 e

83 E mais agrave frente elucida―() a interpretaccedilatildeo do direito tem caraacuteter constitutivo ndash natildeo meramente declaratoacuterio pois

ndash e consiste na produccedilatildeo pelo interprete a partir dos textos normativos e dos fatos atinentes a um determinado caso

de normas juriacutedicas a serem ponderadas para a soluccedilatildeo desse caso mediante a definiccedilatildeo de uma norma de decisatildeo

Interpretar eacute assim dar concreccedilatildeo (=concretizar) ao direito Neste sentido a interpretaccedilatildeo (=intepretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo)

122

E afirma que a ―moldura da norma proposta por Kelsen deve ser aplicada para

tambeacutem emoldurar o caso vez que o inteacuterprete ao ―empreender a produccedilatildeo praacutetica do

direito aleacutem de interpretar o texto tambeacutem interpreta o caso pois como natildeo existe

soluccedilatildeo preacutevia a cada caso o ―trabalho juriacutedico de construccedilatildeo da norma aplicaacutevel a cada

caso deve ser ―artesanal tendo para cada caso concreto uma nova ―soluccedilatildeo

juriacutedica663

Ao se voltar agrave interpretaccedilatildeo dos fatos alega que ―o inteacuterprete os reconforma e

que por isso ―o direito institui a sua proacutepria realidade mas ressalta que haacute fragilidade

entre o relato e o relatado pois o relato dos fatos estaacute ligado agrave maneira como se observa

a realidade sendo considerado verdadeiro o depreendido pelo inteacuterprete no momento da

―criaccedilatildeo da norma664

Nesse enredo afirma que a preacute-compreensatildeo665

eacute ―momento inicial do

―processo de interpretaccedilatildeo dos textos normativos666

―qual ganha dinamismo em um

movimento circular que compotildee o ciacuterculo hermenecircutico e traduz os conflitos do

inteacuterprete tanto que ―a norma de decisatildeo por ele produzida possui ―as marcas desse(s)

conflito(s)667

Assim conforme as liccedilotildees de Eros Grau o juiz decide de acordo com o

contexto histoacuterico em que vive e com a ―consciecircncia social de seu tempo668

mas

sopesando o ―direito todo e natildeo apenas um determinado texto normativo669

e que ele

―ao produzir as normas juriacutedicas realiza como inteacuterprete autecircntico ―juris prudentia e

opera a inserccedilatildeo do direito na realidade opera a mediaccedilatildeo entre o caraacuteter geral do texto normativo e sua aplicaccedilatildeo

particular () opera a inserccedilatildeo das leis (=do direito) no mundo do ser (=mundo da vida) GRAU Eros Ensaio e

discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p 34 663 Ibidem p 32 e 93 Ao aplicar os ensinamentos de Eros Grau agrave apreciaccedilatildeo do caso da SV n13 constata-se que

para cada um dos julgados que formaram seus precedentes os Ministros chegaram a uma soluccedilatildeo juriacutedica especiacutefica

diferente vez que em cada um deles o nepotismo foi analisado de forma diversa e ensejou consequecircncias diferentes

quanto agrave conceituaccedilatildeo dos elementos que compotildeem a sua noccedilatildeo De acordo com Eros Grau isso seria possiacutevel mas se

suscita a duacutevida eles ensejariam desta forma ―jurisprudecircncia reiterada ndash um dos criteacuterios para a ediccedilatildeo da Suacutemula

Vinculante Esta eacute uma das hipoacuteteses que se almeja responder ao final do estudo 664 Ibidem p 33 665 Segundo o autor a preacute-compreensatildeo eacute a ―representaccedilatildeo antecipada do resultado da tarefa de interpretaccedilatildeo ndash

parametra o empreendimento dessa tarefa () Nesse momento o interprete opera juiacutezos de valor seus E ainda

elucida que ela ―natildeo eacute conceito metodoloacutegico () eacute conceito que se desenvolve em um plano essencialmente

descritivo Ibidem p 111-112 666 Ibidem p 37 e 108 De acordo com o autor ―() Isso natildeo implica que o interprete deve abandonar todas as suas

opiniotildees preacutevias sobre o conteuacutedo do texto ou todas as posiccedilotildees proacuteprias poreacutem simplesmente que esteja aberto

para a opiniatildeo do texto quem deseja compreender um texto tem de estar em princiacutepio disposto a deixar-se dizer algo

por ele uma consciecircncia formada hermeneuticamente tem de mostrar-se receptiva desde o princiacutepio agrave alteridade do

texto Ibidem p 109 667 Ibidem p 37 Assim () ―a decisatildeo judicial considera e eacute determinada dentre outros ―() pelas expectativas de

justiccedila nutridas pela consciecircncia da sociedade () pelas convicccedilotildees do proacuteprio juiz que pode estar influenciado de

forma decisiva por preceitos de eacutetica religiosa ou social () ou por instacircncias de ordem poliacutetica p 37 668 Ibidem p 38 e 113 E por isto segundo o autor a ―decisatildeo judicial implica necessariamente elementos emotivos e

volitivos p 113 669 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p

38

123

natildeo juris scientia670

pois ao interpretar o texto escolhe seguindo uma ―loacutegica da

preferecircncia671

uma dentre as diversas ―interpretaccedilotildees possiacuteveis devendo ser a

escolhida a mais adequada672

A partir deste enredo assevera que natildeo haacute no direito o binocircmio

―verdadeirofalso673

mas apenas o ―aceitaacutevel (justificaacutevel) e que como ―o justo

comporta sempre mais de uma soluccedilatildeo a norma eacute ―objeto de justificaccedilatildeo674

pois ―a

problematizaccedilatildeo dos textos normativos () se opera no acircmbito da prudecircncia675

devido

agrave ―existecircncia de muacuteltiplas soluccedilotildees corretas para a mesma questatildeo676

E que como os ―cacircnones hermenecircuticos natildeo possuem hierarquia eles satildeo

utilizados pelo inteacuterprete ―se e quando lhe aprouver ―como justificativas a legitimar

os resultados677

funcionando como ―reservas de recursos de argumentaccedilatildeo em poder

dos inteacuterpretes678

mas que a interpretaccedilatildeo deve ser adequar ―a algumas pautas dentre

elas ―agrave interpretaccedilatildeo do direito no seu todo ―agrave finalidade do direto e ―aos

princiacutepios679

em concordacircncia com o sistema juriacutedico do qual faz parte de acordo com

a Constituiccedilatildeo680

pois um ―texto de direito desprendido do sistema juriacutedico natildeo

expressa significado normativo algum681

670 Ibidem p 35 e 101 671Ibidem p 101 672Ibidem p 35 Em conformidade com os ensinamentos de Larenz 673Ibidem p 35 e 114 Devido ao fato de que ―as soluccedilotildees atribuiacuteveis aos problemas juriacutedicos natildeo satildeo definiacuteveis

exclusivamente a partir da atribuiccedilatildeo de um ou outro significado a determinado texto podendo haver ―ponderaccedilatildeo

de variaacuteveis muacuteltiplas p114 674 Ibidem p 35 675Ibidem p 35 e102 676Ibidem p 35 e 102 E ao negar ―a existecircncia de uma uacutenica resposta correta para cada caso juriacutedico ndash ainda que o

interprete esteja atraveacutes dos princiacutepios vinculado pelo sistema juriacutedico assevera que nem ―o juiz Heacutercules de

Dworkin pode ―encontrar para cada caso uma resposta verdadeira pois natildeo existe ―a uacutenica resposta correta E

conclui que a ―concepccedilatildeo dworkiana () perece no momento em que sustentada sobre a busca da melhor teoria

possiacutevel como ideal absoluto () Segundo ele ―nem os princiacutepios nem a argumentaccedilatildeo segundo um sistema de

regras que funcione como um coacutedigo da razatildeo praacutetica ()permitiratildeo o discernimento da uacutenica resposta correta E

assim novamente conclui ―Essa resposta verdadeira (uacutenica correta) natildeo existe p 36 e 103 Diante deste

entendimento pode-se constatar que segundo Eros Grau natildeo haacute nada de equivocado em os Ministros do STF

decidirem cada caso de nepotismo de uma forma desde que a escolha seja a mais adequada e a justificaacutevel ao caso

concreto pois natildeo haacute apenas uma soluccedilatildeo correta Mas este raciociacutenio tambeacutem se aplica agrave ediccedilatildeo da SV n13 A sua

ediccedilatildeo foi a mais adequada e a justificaacutevel ao caso concreto 677Ibidem p 39 678 Ibidem p 104 679 Ibidem p 39 680 Ibidem p 40 De acordo com o autor ―o significado normativo de cada texto somente eacute detectaacutevel no momento

em que se o toma como inserido com contexto do sistema para apoacutes afirmar-se plenamente no contexto funcional

p 128 681 Ibidem p 40 e 128 Nesse enredo o autor ainda afirma que os texto normativos satildeo ―instrumentos de governo

―que consubstanciam ―normas-objetivo (―que explicitam resultados e fins em relaccedilatildeo e cuja realizaccedilatildeo estatildeo

comprometidas outras normas ndash estas de conduta e organizaccedilatildeo) determinam ―os processos de interpretaccedilatildeo do

direito reduzindo a amplitude da moldura do texto e dos fatos e fazem com que natildeo caibam na interpretaccedilatildeo

―soluccedilotildees que natildeo sejam absolutamente adequadas a tais normas-objetivo positivando ―os fins para os quais o

sistema estaacute voltado GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo

Malheiros 2005 p 129

124

Ainda assevera que a interpretaccedilatildeo deve ser adequada aos princiacutepios expliacutecitos

no texto constitucional ou na lei os impliacutecitos resultado da apreciaccedilatildeo ―de um ou mais

preceitos constitucionais ou de uma lei ou conjunto de textos normativos da legislaccedilatildeo

infraconstitucional ou ainda gerais de direito682

taacutecitos ―no interior do ordenamento

juriacutedico683

e reconhecidos ―no instante de seu descobrimento684

sendo portanto

declarado pelo juiz e natildeo constituiacutedo por este685

cuja forccedila deve dominar a interpretaccedilatildeo

do direito pois ―satildeo eles que conferem coerecircncia ao sistema686

mas que embora eles

vinculem o inteacuterprete natildeo garantem a sua ―neutralidade poliacutetica pois esta na praacutetica

―do direito se dissolve sempre vez que ― todas as decisotildees juriacutedicas porque juriacutedicas

satildeo poliacuteticas 687

mas que isto natildeo quer dizer que existe a ―discricionariedade

judicial688

pois o ―juiz natildeo produz normas livremente689

mas como inteacuterprete

autecircntico realiza um juiacutezo de legalidade que eacute ―desenvolvido no campo da prudecircncia

detido tanto pelo texto normativo especialmente ―pelos que veiculam princiacutepios690

como pelos fatos

Assim ressalva que a ―abertura dos textos do direito permite que este

―permaneccedila ao serviccedilo da realidade mas ―natildeo eacute absoluta 691

pois o interprete estaacute

―atado retido pelos texto do direito ―sua funccedilatildeo estaacute contida nos lindes da legalidade

(e da constitucionalidade) e ao ―interpretar o direito formula ―juiacutezos de legalidade692

que ―embora desenvolvido no campo da prudecircncia eacute realizado ―atado ao texto

normativo e aos fatos693

de forma que o ―rompimento dessa retenccedilatildeo pelo inteacuterprete

682 Ibidem p 43 Embora natildeo estejam ―enunciados em texto escrito ―estatildeo contemplados em estado de latecircncia no

ordenamento de que faz parte p 147-148 683 Ibidem p 43 684 ―A autoridade judicial ao tomaacute-los () simplesmente comprova a sua existecircncia no bojo do ordenamento juriacutedico

do direito que aplica declarando-os Ibidem p 44 e 145 685 Ibidem p 47 Ainda segundo o autor o juiz ―simplesmente comprova a sua existecircncia no bojo do ordenamento

juriacutedico do direito que aplica p 149 686 Ibidem p 51 e 200 Segundo o autor ―a interpretaccedilatildeo do direito eacute dominada pela forccedila dos princiacutepios p 200-

201 687 Ibidem p 51 204-205 688 Segundo Eros Grau a discricionariedade enseja ―juiacutezo de oportunidade que eacute a ―escolha entre indiferentes

juriacutedicos mas como cabe ao magistrado apenas o ―juiacutezo de legalidade e natildeo de oportunidade natildeo haacute que se falar

em discricionariedade judicial Idem p 52 -53 151 208 e 209 689 Ibidem p 52 e 207 690 Ibidem p 52 Os ―princiacutepios atuam como mecanismo de controle da produccedilatildeo de norma pelo inteacuterprete como

―medida do controle externo da produccedilatildeo de normas p 203 691 Ibidem p 52 e 116 ―A interpretaccedilatildeo do direito encaminha a atualizaccedilatildeo do direito p 52 115-116 e 207 692 Ibidem p 52 e 208 A ―interpretaccedilatildeo eacute a expressatildeo de uma manifestaccedilatildeo constitutiva que envolve uma decisatildeo

() assumida () mediante a formulaccedilatildeo de um juiacutezo de legalidade ndash natildeo de um juiacutezo de oportunidade

(=discricionariedade) p 52 e 209 693 Ibidem p 209

125

autecircntico resultaraacute a subversatildeo do texto694

em que o binocircmio norma versus ideologia

natildeo guarda equivalecircncia695

Nesse ensejo Eros Grau conclui que a interpretaccedilatildeo do direito696

eacute o ―caminhar

de um ponto a outro do universal ao singular atraveacutes do particular697

primando pela

atualizaccedilatildeo do direito mesmo que ―pereccedila a certeza em benefiacutecio da esperanccedila698

vez

que o direito eacute ―um organismo vivo peculiar que ―natildeo envelhece ―eacute contemporacircneo agrave

realidade e eacute disso que extrai sua ―forccedila ―fasciacutenio e ―beleza699

312 Como os magistrados deveriam decidir

3121 Friedrich Karl Von Savigny

Ao propor uma metodologia juriacutedica a partir da ―apresentaccedilatildeo das normas de

elaboraccedilatildeo absoluta da ciecircncia do direito700

Savigny afirma que a lei ―deveria ser ()

tatildeo perfeita que quem a aplicasse natildeo teria que adicionar nada de si proacuteprio e que

assim o juiz ao tomar a decisatildeo aplicaria ―a proacutepria lei cabendo a ele apenas

reconhecer ―as normas e as aplica no caso particular sendo portanto sua uacutenica

atividade realizar uma ―uma interpretaccedilatildeo puramente loacutegica701

por meio de uma

jurisprudecircncia sistematicamente elaborada de forma coerente e uniforme702

levando em

conta o histoacuterico e o filosoacutefico703

Daiacute Savigny propotildee uma ―metodologia completa e absoluta composta por trecircs

partes uma ―filoloacutegica destinada agrave interpretaccedilatildeo da jurisprudecircncia outra histoacuterica

referente agrave elaboraccedilatildeo histoacuterica da jurisprudecircncia e uma terceira ―sistemaacutetico-

filosoacutefica pertinente agrave elaboraccedilatildeo sistemaacutetica da jurisprudecircncia704

694 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p

52 e 207 695 Ibidem p 211 696 Segundo o autor ―processo de contiacutenua adaptaccedilatildeo de seus textos normativos agrave realidade e seus conflitos Ibidem

p 55 e 125 697 Ibidem p 56 698 Afirma que o juiz ndash interprete autecircntico - realiza uma interpretaccedilatildeo correta quando ela estaacute a uma inserida ―no

quadro (na moldura) do direito a duas justificada por um ―discurso que () se processa de maneira racional e a

trecircs de acordo com ―coacutedigo de valores dominantes p 211 699 Ibidem p 55 Para o autor ―() a realidade social eacute o presente o presente eacute a vida ndash e vida eacute movimento 2005

p 55 ―Assim o significado vaacutelido dos textos eacute variaacutevel no tempo e no espaccedilo histoacuterica e culturalmente p 126 700 SAVIGNY Friedrich Karl Von Metodologia Juriacutedica Trad Hebe A M Caletti Marenco e Regina Ceacutelia de

Carvalho Paschoal Lima CampinasSP Edicamp 2001 p 1 701 Ibidem p 3-4Nesse interim o autor explica que isto inclui que ―a jurisprudecircncia eacute uma ciecircncia puramente

filoloacutegica p 4 702 Nesse diapasatildeo Savigny afirma que como a filosofia ―mediante uma completa deduccedilatildeo deve indicar todo o

conteuacutedo da tarefa geral pode-se concluir que a ―jurisprudecircncia eacute uma ciecircncia filosoacutefica p 5 703 Ibidem p 7 O autor ainda afirma que o sistema ―deve ser concebido como em progresso constante e estar

relacionado com o todo (histoacuteria interior do direito) mas natildeo deve elaborar somente questotildees isoladas do direitop

7 704 Ibidem p 7-8 Assevera que a interpretaccedilatildeo deve ser feita ―histoacuterica e sistematicamente e que nela estaacute

―pressuposto algo diretamente dado um texto Ainda afirma ―toda lei deve expressar um pensamento de maneira tal

que seja vaacutelido como norma de maneira que quem interpreta uma lei deve analisar o pensamento contido na lei

deve pesquisar o conteuacutedo da lei p 9

126

E daiacute explica que a interpretaccedilatildeo eacute ―triacuteplice constituiacuteda pela loacutegica que

apresenta a ―geneacutetica do pensamento da lei que deve ser expresso pela gramaacutetica

condiccedilatildeo necessaacuteria loacutegica e pela parte histoacuterica mas que ―todas as premissas da

interpretaccedilatildeo devem se encontrar na proacutepria lei ou em conhecimentos gerais e que o

inteacuterprete assim ao se colocar ―no ponto de vista da lei teraacute sua interpretaccedilatildeo

vinculada agrave ―intenccedilatildeo do legislador705

Nesse esteio conceitua a interpretaccedilatildeo como ―a reconstruccedilatildeo do pensamento

(claro ou obscuro eacute o mesmo) expresso na lei enquanto seja possiacutevel conhececirc-lo na lei

e elucida que sua ―tarefa suprema eacute restaurar o ―sentido a um texto corrompido por

meio dos elementos ―loacutegicos gramaticais e histoacutericos podendo advir do proacuteprio texto

mas que quando se destina a reconstruir o sentido do texto corrompido se caracteriza

como ―criacutetica superior que ―prescinde da arbitrariedade ―pressupotildee uma

necessidade e deve ser norteada pela certeza

706

Nesse contexto alega que existem dois ―princiacutepios fundamentais para a

interpretaccedilatildeo em geral o princiacutepio da ―individualidade da interpretaccedilatildeo707

e o

princiacutepio da ―universalidade708

haja vista que toda interpretaccedilatildeo deve ser

concomitantemente ―individual e universal capaz de ―unir os diferentes709

vez que a

―interpretaccedilatildeo natildeo pode seguir por uma uacutenica trilha710

sendo para tanto

imprescindiacutevel atrelar este dois princiacutepios ―em um todo pois seu objetivo eacute ofertar

―um resultado para o sistema711

Daiacute Savigny discorre sobre a ―elaboraccedilatildeo histoacuterica da jurisprudecircncia

afirmando que como ―muitos aspectos da jurisprudecircncia ―natildeo podem ser

compreendidos sem um certo conhecimento histoacuterico preacutevio ela eacute necessaacuteria mesmo

porque ―toda a legislaccedilatildeo eacute mais ou menos o resultado da sua histoacuteria anterior712

705 SAVIGNY Friedrich Karl Von Metodologia Juriacutedica Trad Hebe A M Caletti Marenco e Regina Ceacutelia de

Carvalho Paschoal Lima CampinasSP Edicamp 2001 p 9-10 ―Que traduz ―as condiccedilotildees histoacutericas para captar o

pensamento da lei Ibidem p 10 Isto porque segundo o autor ―Soacute eacute possiacutevel a apresentaccedilatildeo da lei atraveacutes da

apresentaccedilatildeo do momento em que existe a lei p 10 706 Ibidem p 11 Tal criacutetica eacute formulada por ―simples suposiccedilotildees engenhosas p 12 707 Ibidem p 15 Aquele por meio do qual ―o inteacuterprete deve () descobrir o particular de cada texto que soacute pode ser

extraiacutedo do mesmo e que eacute ―o melhor meio de realizar tal descoberta pois possibilita ao interprete ―descobrir a

singularidade de expressotildees teacutecnicas mas ressalta sua utilizaccedilatildeo estaacute vinculada agrave ―qualidade da legislaccedilatildeo que se

pretende interpretar pois quanto maior a perfeiccedilatildeo da ―legislaccedilatildeo tanto mais aplicaacutevel seraacute o princiacutepio p 15-17 708 Por meio dele ―cada parte eacute entendida e concebida ―em relaccedilatildeo com o todo Ibidem p 18 709 Ibidem p 15 710 Ibidem p 19 711 Ibidem p 21 712 Ibidem p 28-29 E explica que a ―elaboraccedilatildeo histoacuterica eacute possiacutevel a uma por meio ―de uma vinculaccedilatildeo histoacuterica

e a duas por ―uma separaccedilatildeo histoacuterica sendo a primeira traduzida pela pesquisa sobre ―como uma questatildeo especial

foi respondida de distintos modos em diversas eacutepocas da legislaccedilatildeo devendo-se observar o sistema ―na sua

totalidade e ser considerado progressivo e a segunda pela apreciaccedilatildeo da jurisprudecircncia a partir da ―separaccedilatildeo

completa de suas fontes p 29-31 Seja da maneira que for de acordo com Savigny a jurisprudecircncia tanto pode ser o

127

Assim Savigny analisa a ―elaboraccedilatildeo sisteacutemica da jurisprudecircncia713

e afirma

que para tanto eacute necessaacuterio o conhecimento de todo o conteuacutedo da legislaccedilatildeo para

avaliar os princiacutepios em parte de forma particular em parte na sua conexatildeo714

e

assim montar um verdadeiro sistema por meio do qual eacute possiacutevel por exemplo

―estabelecer a relaccedilatildeo entre norma e exceccedilatildeo715

―dar definiccedilotildees e fazer distinccedilotildees716

Por fim Savigny ―interpretaccedilatildeo extensiva e restritiva natildeo eacute uma ―verdadeira

interpretaccedilatildeo podendo ser denominada ―interpretaccedilatildeo material porque ―diz que por

meio do juiz algo de fora eacute adicionado agrave expressatildeo da lei e soacute na interpretaccedilatildeo material

eacute possiacutevel esta arbitrariedade717

E entatildeo conclui que eacute apenas ―possiacutevel um aperfeiccediloamento da lei atraveacutes do

legislador mas nunca atraveacutes do juiz718

e que por isso mesmo ―aquilo que for exceccedilatildeo

a uma regra legal natildeo pode ser estendido pelo juiz ―por analogia para outros casos

semelhantes719

3122 Chaiumlm Perelman

Perelman diferentemente dos demais autores propotildee temperar o positivismo

juriacutedico de Kelsen com a realizaccedilatildeo de um raciociacutenio loacutegico pelo magistrado embasado

em valores da realidade social maacuteximas e princiacutepios do direito visando moldar o

direito aos fatos720

com o fito de decidir nos termos da legalidade do ordenamento

juriacutedico mas tambeacutem aplicando a soluccedilatildeo mais aceitaacutevel razoaacutevel justa de acordo

com a realidade do caso concreto

Ao explicar ―Loacutegica Juriacutedica a fim de demonstrar que existiria uma loacutegica na

aplicaccedilatildeo dos juiacutezos de valor defende que os juiacutezos de valores embora subjetivos

poderiam ser analisados objetivamente e tenta realizar um consenso entre o pensamento

positivista e a concepccedilatildeo natildeo positivista721

tema principal como tambeacutem pode ser instrumento de criacutetica agrave poliacutetica ou de anaacutelise comparativa entre a legislaccedilatildeo e

seu resultado p 33 713 SAVIGNY Friedrich Karl Von Metodologia Juriacutedica Trad Hebe A M Caletti Marenco e Regina Ceacutelia de

Carvalho Paschoal Lima CampinasSP Edicamp 2001p 34 714 Com o fim de ―desenvolver a determinaccedilatildeo dos princiacutepios particulares e ainda ―ordenar a vinculaccedilatildeo de vaacuterios

princiacutepios particulares e sua conexatildeo Idem p 37 715Ibidem p 40 716Ibidem p 37 717 Ibidem p 41 Segundo ele ―Esta operaccedilatildeo eacute tatildeo arbitraacuteria que natildeo eacute possiacutevel falar em uma verdadeira

interpretaccedilatildeo porque o que o juiz deve adicionar agrave lei () natildeo pode ser objetivo p 42 718 Ibidem p 46 719 Ibidem p 47 720 PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 135 721 ―Que utiliza tatildeo somente o criteacuterio da legalidade na aplicaccedilatildeo do direito por operaccedilatildeo dedutiva restringindo a

funccedilatildeo da loacutegica e da utilizaccedilatildeo praacutetica da razatildeo sem considerar o razoaacutevel o justo Ibidem p 136-137 721 Ibidem p 137

128

Daiacute afirma que eacute justo tratar situaccedilotildees semelhantes da mesma forma mas que

para isso deve se aplicar a justiccedila ao juiacutezo de valor e agrave apreciaccedilatildeo loacutegica dos valores

passando nesse iacutenterim a ponderar sobre as teacutecnicas de argumentaccedilatildeo e a elucidar

sobre a dialeacutetica722

e a retoacuterica723

E entatildeo por meio da sua teoria intitulada nova retoacuterica ou tratado de

argumentaccedilatildeo demonstra o valor da nova retoacuterica especialmente para a loacutegica juriacutedica

pois aquela objetiva persuadir as mentes a consentir as teorias apresentadas por meio do

discurso visando angariar a adesatildeo do auditoacuterio e aleacutem disso deteacutem uma relaccedilatildeo com a

loacutegica formal pois quando esta natildeo eacute capaz de clarear algo confuso a soluccedilatildeo da

questatildeo e realizada por meio da apreciaccedilatildeo dos argumentos que depende da retoacuterica724

Ainda afirma que ―a adesatildeo a uma tese pode ter intensidade variaacutevel (o que eacute

imprescindiacutevel quando o assunto remete a valores) e que a retoacuterica (diversamente da

loacutegica formal e das ciecircncias positivas) tem maior relaccedilatildeo com ―a adesatildeo do que com a

verdade porque a adesatildeo eacute pessoal visa um auditoacuterio725

Neste contexto informa que na retoacuterica o ―auditoacuterio eacute parte central e que

para que o discurso seja eficaz eacute imprescindiacutevel sua especificidade ao respectivo

auditoacuterio e ainda que seja tatildeo persuasiva e convincente que possa ser capaz de

convencer qualquer auditoacuterio726

E assim afirma que a argumentaccedilatildeo do raciociacutenio eacute na nova retoacuterica o pano

de fundo do discurso juriacutedico727

e almeja a adesatildeo a uma determinada tese por ser a

mais oportuna conveniente razoaacutevel ou uacutetil quer dizer a argumentaccedilatildeo invoca o juiacutezo

de valor728

por meio do qual o orador deve realizar a escolha dos valores e fatos que

722 PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p139

Segundo o autor a dialeacutetica eacute ―arte da discussatildeo e ―se mostra o meacutetodo apropriado a soluccedilatildeo dos problemas praacuteticos

os que concernem aos fins da accedilatildeo que envolvem valores 723 Para o autor diferentemente do conceito aristoteacutelico (―arte de procurar em qualquer situaccedilatildeo os meios de

persuasatildeo disponiacuteveis) eacute por meio da retoacuterica que se estuda ―as teacutecnicas discursivas que visam provocar ou a

aumentar a adesatildeo das mentes agrave tese apresentada a seu assentimento Ibidem p 141 724Ibidem p 142-143 725 ―A retoacuterica visa o convencimento da pessoa que por motivos pessoais adere agrave tese disposta por meio da retoacuterica

Ibidem p 143 726 Ibidem p 143-144 Diante disto elucida que se deve utilizar argumentos universais que sejam admitidos por todo

e qualquer ser racional mas que tambeacutem na sua concepccedilatildeo de uma nova retoacuterica deve-se conhecer o auditoacuterio e

adaptar a argumentaccedilatildeo quanto ao mesmo porque a forma de se dirigir a ele de abordaacute-lo eacute o que faraacute a diferenccedila no

discurso especificamente de forma a realizar uma melhor conexatildeo entre aqueles que compotildeem o auditoacuterio que escuta

e o orador que visa persuadi-los a aderir agrave sua tese p 144-146 Nesse enredo afirma que existem trecircs espeacutecies de

oratoacuterias sendo uma delas a judiciaacuteria que ―desde agrave eacutepoca de Aristoacuteteles visava os aspectos teacutecnicos do raciociacutenio

praacutetico da deliberaccedilatildeo e da loacutegica dos juiacutezos de valores com vista a um fim mas que natildeo havia qualquer discussatildeo

quanto ao valor deste fim e que as outras duas satildeo a ―deliberativa referente a questatildeo poliacutetica controvertida e a

epidiacutetica relacionada ao espetaacuteculo mas que a primeira tanto quanto a judiciaacuteria objetiva uma decisatildeo e na uacuteltima

apenas o ―apreccedilo ao talento do orador Ibidem p 147 727 Ibidem p 154 728Segundo o autor quando o orador que natildeo se preocupa com as reaccedilotildees do auditoacuterio que visa convencer e natildeo

conhece previamente as teses agraves quais o determinado auditoacuterio eacute adepto cai na peticcedilatildeo de princiacutepio devendo a fim de

129

abordaraacute em sua argumentaccedilatildeo e que as opccedilotildees incidiratildeo tanto sobre a tese que defende

como sobre a maneira que a formula729

assentando-os na consciecircncia daqueles que

compotildeem a plateia por meio das teacutecnicas de apresentaccedilatildeo730

Sendo assim inegaacutevel que a uma a arte da argumentaccedilatildeo possui uma funccedilatildeo

extremamente persuasiva e a duas que o orador pode por meio das teacutecnicas de

apresentaccedilatildeo unir as proposiccedilotildees coordenaacute-las hierarquizar os acontecimentos

acentuar sua singularidade ou frisar sua generalidade731

ao buscar as soluccedilotildees dos

problemas e das dificuldades no mundo juriacutedico732

Daiacute passa a elucidar sobre os princiacutepios afirmando que estes se referem muito

mais a presunccedilotildees que a evidecircncias e assim apresenta trecircs princiacutepios o conservador

que eacute aquele que presume a importacircncia aos precedentes da vida social e do direito733

o

liberal que eacute melhor deixar que os homens decidam livremente e o socialista que eacute o

que dispotildee sobre presunccedilatildeo de igualdade sendo cada um deles um lugar-comum ―um

princiacutepio geral de conduta presumiacuteveis 734

mas que como satildeo incompatiacuteveis ensejam

satildeo escolha ao orador que ao optar por um deve usaacute-lo como ponto de partida de sua

argumentaccedilatildeo735

E assevera que a influecircncia maior ou menor que o orador exerce sobre o

auditoacuterio estaacute diretamente ligada ao discurso como um todo seja por cada argumento

isolado seja pela conexatildeo que apresentam entre si seja ainda pelos argumentos iacutentima

e espontaneamente assimilados por aqueles que ouvem o discurso736

a fim de garantir a

sua eficaacutecia que depende do seu efeito sobre o auditoacuterio737

Diante disto propotildee a obtenccedilatildeo de soluccedilotildees judiciais aceitaacuteveis recorrendo-se

agraves teacutecnicas da argumentaccedilatildeo necessaacuterias a conciliar ―a melhor interpretaccedilatildeo da lei com evitaacute-la conhecer o que o seu auditoacuterio pensa PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed

Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 156-157 729 Segundo o autor ―() aquele que argumenta e procura exercer com o seu discurso uma influecircncia sobre o seu

auditoacuterio natildeo pode evitar fazer escolhas Estas incidiratildeo tanto sobre a sua tese como sobre a maneira de formulaacute-las

p 165 730 Ibidem p 160 731 Ibidem p 162 O que quer dizer que afinal tudo depende do que eacute mais conveniente agrave tese do orador Pela teacutecnica

de argumentaccedilatildeo ele vai apresentar os fatos como melhor lhe convier Ao se observar os argumentos dos ministros

do STF durante os debates que precederam a ediccedilatildeo da SV n13 natildeo eacute isto que se constata 732 Segundo o autor ―Ao se aplicar o geral ao concreto () no raciociacutenio juriacutedico muitas vezes eacute necessaacuterio opor o

ponto de vista pragmaacutetico ao formal o espiacuterito da lei agrave sua letra fria reinterpretar ao inveacutes de interpreta-la

literalmente Ibidem p 163 Isto porque ―o direito busca solucionar a questatildeo posta uma vez que seu objetivo eacute que

as lides cheguem a termo em um tempo razoaacutevel Ibidem p 166-167 733 Ibidem p 168 734 Referente agrave presunccedilatildeo da liberdade Tudo que natildeo fosse proibido seria permitido A proibiccedilatildeo eacute a exceccedilatildeo e a

permissatildeo eacute a regra Idem p 169 735 Ibidem p 170 736 PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 172-180 737 Nesse iacutenterim Perelman afirma que o orador pode modificar o discurso de acordo com a plateia e apresentar os

argumentos a partir do momento que percebe que o puacuteblico estaacute pronto para assimilaacute-los positivamente Ibidem p

180-181 Mas o STF natildeo se importou com isso

130

a melhor soluccedilatildeo dos casos particulares temperando assim o direito positivo tambeacutem

por meio dos princiacutepios gerais do direito e das regras de direito natildeo escritas e tendo em

voga o valor de equidade738

Segundo ele eacute possiacutevel que os colegiados natildeo hesitem em utilizar ateacute a ficccedilatildeo

juriacutedica739

para justificar as decisotildees poreacutem lembra que podem ateacute fazecirc-lo mas que a

argumentaccedilatildeo utilizada para motivar a soluccedilatildeo deve ser juridicamente soacutelida a mais

aceitaacutevel socialmente conciliando a decisatildeo aceitaacutevel agrave sociedade com e agrave legislaccedilatildeo

posta740

Desta feita o papel do magistrado eacute obter uma decisatildeo legal ―razoaacutevel e

aceitaacutevel741

e somente pode determinar como a lei deve ser aplicada quando haacute

omissatildeo do legislativo742

pois deve interpretaacute-la tornaacute-la mais flexiacutevel por meio de sua

decisatildeo quanto ao caso concreto mas natildeo lhe compete criaacute-la743

Desta feita juiz deve motivar sua decisatildeo expressar o raciociacutenio juriacutedico

desenvolvido no transcorrer do caminho agrave soluccedilatildeo do caso concreto pois assim afasta a

tentativa de mera persuasatildeo expressa razotildees pelas quais optou por aquela determinada

soluccedilatildeo744

e consequentemente afasta a arbitrariedade essencial agrave boa administraccedilatildeo da

justiccedila e imprescindiacutevel ao convencimento do auditoacuterio745

738 Ibidem p 186 Mas vale questionar como natildeo se ao realizar a apreciaccedilatildeo do valor de equidade no caso concreto

o juiz elabora um juiacutezo discricionaacuterio em que a linha com o arbitraacuterio eacute extremamente tecircnue e o raciociacutenio realizado

estaacute intimamente ligado agraves convicccedilotildees subjetivas do magistrado Isto eacute temeraacuterio O juiacutezo elaborado pelo magistrado

eacute de legalidade natildeo de discricionariedade como afirma Eros Grau E o equiacutevoco dos ministros do STF ao comporem

a SV n13 pode ter sido este natildeo realizar estritamente o juiacutezo de legalidade 739 Ibidem p 191O uso da ficccedilatildeo eacute temeraacuterio pois remete agrave discussatildeo sobre verdade e justiccedila Seu uso eacute

recomendado apenas em casos extrema necessidade quando natildeo haacute outro recurso para resolver o binocircmio legislaccedilatildeo

aplicaacutevel e equidade quando o formalismo juriacutedico acarreta consequecircncias socialmente inaceitaacuteveis 740 Ibidem p 193 ―Eacute raro entretanto que os tribunais se realmente o desejam natildeo encontrem na teacutecnica juriacutedica

um meio de conciliar sua preocupaccedilatildeo de uma soluccedilatildeo aceitaacutevel com sua fidelidade agrave lei p 193 741 Ibidem p 200 742 Ibidem p 203-204 743 Ibidem p 206 O autor ressalta que o magistrado ―ao colocar-se no lugar do legislador () torna-se por assim

dizer independente dele tendo a missatildeo de criar a lei em vez de se limitar a aplica-la Ibidem p 206 E completa ―a

corte suprema e o legislador atual eacute que torna atraente a teacutecnica de interpretaccedilatildeo sugerida pois ela transforma a busca

da vontade do legislador em uma presunccedilatildeo suscetiacutevel de ser derrubada Ibidem p 207 E ainda afirma ―De fato

o papel especiacutefico dos juiacutezes eacute dizer o direito ndash e natildeo o criar ndash embora frequentemente a obrigaccedilatildeo de julgar imposta

ao juiz leve-o a completar a lei reinterpretaacute-la e tornaacute-la mais flexiacutevel Ibidem p 209 744 Ibidem p 210-211Em conformidade com os dizeres de Perelman com a motivaccedilatildeo os demais juristas entendem

porque foi proferida aquela decisatildeo e a opiniatildeo puacuteblica a conhece e desta forma o magistrado natildeo apenas obedece ao

requisito legal mas tambeacutem ao valor de soluccedilatildeo mais aceitaacutevel Ibidem p 213 No caso da SV n13 ―os demais

juristas natildeo entenderam ―porque foi proferida aquela decisatildeo nos termos em que foi e natildeo a observaram como ―a

soluccedilatildeo mais aceitaacutevel 745 PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 216

Desta forma fica clara a conclusatildeo de que o objetivo do magistrado ao prolatar a sentenccedila natildeo eacute soacute decidir mas

tambeacutem convencer com os argumentos expostos por meio dos motivos natildeo apenas os demandantes como tambeacutem a

opiniatildeo puacuteblica e as instacircncias superiores Tanto que hoje em dia eacute de notoacuterio saber que o magistrado de primeira

instacircncia antes de decidir normalmente busca conhecer como os magistrados de segundo instacircncia estatildeo decidindo

quanto ao tema jaacute que possuem competecircncia para reformar sua decisatildeo E isto ocorre em todas as instacircncias ateacute

chegar ao STF que possui a palavra final A questatildeo em tela eacute ainda maior no caso da ediccedilatildeo da SV n13 a palavra

do STF natildeo eacute a final eacute a uacutenica e exclusiva

131

Aleacutem disso o magistrado deve ter em mente o ramo e a mateacuteria de direito em

voga bem como o auditoacuterio ao qual se dirige746

trazendo a soluccedilatildeo viaacutevel de acordo

com a legislaccedilatildeo e com a sociedade ao problema concreto747

Desta feita Perelman elucida que a loacutegica judiciaacuteria fundamenta-se na adesatildeo

cabendo ao magistrado convencer a todos de que a decisatildeo tomada eacute a legal e mais

aceitaacutevel ―mais equitativa e a mais conforme o direito em vigor748

Diante disto se constata que a teoria de Perelman - nova retoacuterica por meio da

loacutegica juriacutedica aleacutem de propor argumentaccedilotildees - destaca a funccedilatildeo do magistrado na

busca de argumentos com base na doutrina e jurisprudecircncia que deve sopesar tudo

motivar e tomar a sua decisatildeo com o fito de convencer os auditoacuterios de que a soluccedilatildeo

tomada a escolha feita sua decisatildeo eacute legal e eacute a mais aceitaacutevel749

3123 Karl Larenz

Segundo Larenz a interpretaccedilatildeo eacute ―uma atividade de mediaccedilatildeo pela qual o

inteacuterprete traz agrave compreensatildeo o sentido de um texto que se lhe torna problemaacutetico

devido a existir na linguagem da lei ―termos mais ou menos flexiacuteveis cujo significado

possiacutevel oscila dentro de uma larga faixa e que pode ser diferente segundo as

circunstacircncias750

e sua missatildeo eacute ―evitar a contradiccedilatildeo entre normas responder a

questotildees sobre concurso de normas e concurso de regulaccedilotildees e delimitar uma face agraves

outras as esferas de regulaccedilatildeo sempre que tal seja exigiacutevel751

Por isto o autor dispotildee que o objeto da interpretaccedilatildeo eacute o texto legal e que

mediante a interpretaccedilatildeo faz-se falar o sentido do texto tornando-o assim

―comunicaacutevel mas que para que o texto ―fale a algueacutem que esta pessoa tem que

entender ―alguma coisa daquilo que ele trata pois ele apenas ―responde a quem o

746 Ibidem p 216 Pois a finalidade do direito eacute regulamentar a vida em sociedade e para isto o magistrado deve

aplicar a lei de forma que ―()os tribunais () eacute que satildeo encarregados de dizer o direito motivando suas decisotildees

Ibidem p 221Diante da forma que a SV n13 foi editada (debates e redaccedilatildeo) parece que os Ministros do STF se

esqueceram que a normativa atingiria vaacuterios auditoacuterios natildeo soacute o executivo ndash poliacutetico como tambeacutem o legislativo o

judiciaacuterio e seria mateacuteria de anaacutelise do magisteacuterio doutrinaacuterio em todos os entes da federaccedilatildeo vez que os argumentos

apresentados pelo STF natildeo forem entendidos juridicamente e muito menos convenceram a todos estes auditoacuterios 747 Ibidem p 222 Afirma que a decisatildeo deve ser ―conforme ao direito em vigor e aceitaacutevel como tal por aqueles que

a examinaratildeo Ibidem p 223 Mas parece que os ministros do STF ao editarem a SV n13 apenas se ocuparam com

o poder executivo sob o argumento de que a vedaccedilatildeo do nepotismo decorria do anseio da sociedade 748 Ibidem p 240 O autor ressalva ainda que o magistrado ao realizar o raciociacutenio juriacutedico pode realizar o

silogismo poreacutem pela loacutegica juriacutedica deve ser ater a demonstrar a aceitabilidade das premissas que resultam da

confrontaccedilatildeo das provas das argumentaccedilotildees dos valores e de tudo o mais apresentado na demanda 749 Ibidem p 241-242 Parece ser esta uma das falhas no procedimento de ediccedilatildeo da SV n13 pelo STF 750 LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 439 Tanto eacute assim que uma mesma expressatildeo eacute usada em diferentes leis e inclusivamente na

mesma lei em diferentes sentidos Neste iacutenterim o autor ainda lembra da necessidade da interpretaccedilatildeo quando ―duas

proposiccedilotildees juriacutedicas prescrevem para a mesma situaccedilatildeo duas consequecircncias juriacutedicas que reciprocamente se excluem

sendo tambeacutem neste momento imprescindiacutevel aplicar a interpretaccedilatildeo 751 LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 441

132

interroga corretamente E por assim ser conforme o autor o inteacuterprete ―precisa

conhecer a linguagem da lei e o contexto de regulaccedilatildeo em que a norma se encontra752

Contudo Larenz ressalta que cada nova interpretaccedilatildeo transforma a aplicaccedilatildeo

efetiva da respectiva norma e que por isso natildeo haacute como admitir a ideia de que o

inteacuterprete eacute passivo de apenas ―deixar falar a norma753

Dessa forma o juiz ao interpretar um determinado termo ou proposiccedilatildeo

juriacutedica deve fazecirc-lo ―natildeo apenas precisamente para este caso concreto mas de maneira

que a sua interpretaccedilatildeo possa ser efetiva para todos os outros casos similares e ainda

com ―conhecimento adequado apoiado em razotildees compreensiacuteveis mesmo natildeo

havendo ―uma interpretaccedilatildeo absolutamente correta754

O autor informa que a correccedilatildeo da decisatildeo eacute de acordo com ordem juriacutedica e o

momento e que os tribunais natildeo estatildeo ―presos a determinada interpretaccedilatildeo mas sempre

que ―mudem ou pretendam mudar de orientaccedilatildeo estatildeo obrigados a expor suas razotildees e

estas tecircm que ser de tal ordem que possam sustentar a nova interpretaccedilatildeo Dessa

maneira ―a atividade interpretativa do juiz eacute conforme ensina Larenz subordinada agrave

exigecircncia de ―correccedilatildeo dos seus resultados755

A partir disso afirma que ―toda interpretaccedilatildeo de texto deve iniciar-se com o

sentido literal mas que tambeacutem deve observar o ―contexto significativo da lei vez

que um termo ―segundo o uso da linguagem pode ter vaacuterios significados de acordo

com o contexto da lei 756

Contudo ressalva que como tais criteacuterios ainda ―deixam em aberto diferentes

possibilidades de interpretaccedilatildeo e que por isso deve-se observar qual ―a interpretaccedilatildeo

que melhor corresponde agrave intenccedilatildeo reguladora do legislador ou agrave sua ideia

752Ibidem p 441 753 Ibidem p 441-442 754 Ibidem 442-443 ―No sentido de que seja tanto definitiva como vaacutelida para todas as eacutepocas devido agrave ―variedade

inabarcaacutevel e permanente da mutaccedilatildeo das relaccedilotildees da vida que colocam aquele que aplica a norma constantemente

perante novas questotildees bem como de acordo com a ―totalidade do ordenamento juriacutedico respectivo e com ―as

pautas de valoraccedilatildeo que lhe satildeo subjacentes p 443 755 Ibidem 359 Nesse iacutenterim constata que embora existam duas teorias contrapostas sobre a interpretaccedilatildeo da lei a

―subjetivista ou de vontade e a ―objetivista ou da interpretaccedilatildeo imanente agrave lei que ambas possuem uma parte de

verdade mas que devem ser aceitas ―com limitaccedilotildees Ibidem p 445

Nesse contexto o autor ainda explica que ―A verdade da teoria subjetivista eacute que a lei juriacutedica () eacute expressatildeo de

uma vontade dirigida agrave criaccedilatildeo de uma ordem tanto quanto possiacutevel justa e adequada agraves necessidades da sociedade

E que por isso ―Por detraacutes da lei estaacute uma determinada intenccedilatildeo reguladora estatildeo valoraccedilotildees aspiraccedilotildees e reflexotildees

substantivas que nela acharam expressatildeo mais ou menos clara De outro lado o autor afirma que ―A verdade da

teoria objetivista eacute que uma lei logo que seja aplicada irradia uma accedilatildeo que lhe eacute peculiar que transcende aquilo que

o legislador tinha intentado Ibidem p 446 756 Ibidem p 450 Conforme o autor ―o sentido literal a extrair do uso linguiacutestico () serve agrave interpretaccedilatildeo ()

como uma primeira orientaccedilatildeo assinalando por outro lado enquanto sentido literal possiacutevel () o limite da

interpretaccedilatildeo propriamente dita Delimita de certo modo o campo em que se leva a cabo a ulterior atividade do

inteacuterprete Ibidem p 457

133

normativa757

indo o inteacuterprete ateacute ―aleacutem da vontade do legislador entendendo-a de

acordo com a sua proacutepria racionalidade758

Daiacute expotildee sobre os criteacuterios de interpretaccedilatildeo759

teleoloacutegico-objetivo760

e

princiacutepios eacutetico-juriacutedicos761

que devem nortear a interpretaccedilatildeo e assim afirma que o

―preceito da interpretaccedilatildeo conforme a constituiccedilatildeo tem ―uma importacircncia acrescida aos

princiacutepios elevados a niacutevel constitucional762

pois satildeo ―princiacutepios e decisotildees

valorativas763

que determinam a invalidade da legislaccedilatildeo ordinaacuteria contraacuteria quando

esta natildeo pode ser ―interpretada em conformidade com a Constituiccedilatildeo764

E entatildeo elucida que a ―interpretaccedilatildeo em conformidade com a Constituiccedilatildeo eacute

―um criteacuterio de interpretaccedilatildeo preferiacutevel dentre ―as vaacuterias interpretaccedilotildees possiacuteveis

aleacutem de natildeo poder ―ultrapassar os limites que resultam de sentido literal possiacutevel e do

contexto significativo da lei765

eacute ―aquela que melhor concorda com os princiacutepios da

Constituiccedilatildeo766

Nesse diapasatildeo afirma que o inteacuterprete deve preferir aquela interpretaccedilatildeo que

melhor se ajuste ―agrave intenccedilatildeo reguladora do legislador e ao escopo da norma em causa

pois o juiz ao realizar a interpretaccedilatildeo ―estaacute vinculado por princiacutepio aos fins da lei e agraves

757 LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 462 758 Ibidem p 468 759 Aqui vale ressaltar que o autor afirma que ―os criteacuterios de interpretaccedilatildeo natildeo satildeo apenas diferentes meacutetodos de

interpretaccedilatildeo entre os quais o inteacuterprete possa escolher segundo o seu arbiacutetrio mas pontos de vistas metoacutedicos que

devem ser todos tomados em consideraccedilatildeo para que o resultado da interpretaccedilatildeo deva poder impor a pretensatildeo de

correccedilatildeo (no sentido de um enunciado adequado) E ainda acrescenta que ―os diversos criteacuterios como o sentido

literal e tambeacutem frequentemente a conexatildeo de significado da lei deixam sempre em aberto diferentes possibilidades

de interpretaccedilatildeo outros frequentemente natildeo funcionam porque por exemplo o entendimento da norma por parte do

legislador histoacuterico jaacute natildeo eacute possiacutevel de se constatar E que por isto ―Natildeo raramente necessita-se de uma

laquoponderaccedilatildeoraquo de diferentes pontos de vistardquo Ibidem p 450 760 Conforme o autor ―() trata-se das estruturas do acircmbito material regulado dados factuais em relaccedilatildeo aos quais

nem o legislador pode alterar o que quer que seja e que ele toma em consideraccedilatildeo de modo racional a propoacutesito de

qualquer regulaccedilatildeo Idem p 469 761 De acordo com as liccedilotildees do autor ―estatildeo antepostos a uma regulaccedilatildeo nos quais a referecircncia de sentido dessa

regulaccedilatildeo agrave ideia de Direito se torna apreensiacutevel manifesta Ibidem p 469-470 762 Ibidem p 479 763 Os valores que satildeo reconhecidos na Lei Fundamental podem estar dispostos como princiacutepios ou como direitos

fundamentais e ―se relacionam uns com os outros de acordo com o sentido e por isso podem tanto complementar-se

como delimitar-se entre si Ibidem p 483 764 Ibidem p 479 765 Ibidem p 480-481 Parece que os Ministros do STF ultrapassaram este limite ao estabelecerem uma Suacutemula

Vinculante que veda minuciosamente o nepotismo como decorrente apenas do conteuacutedo dos princiacutepios

constitucionais que regem a administraccedilatildeo especialmente o da moralidade da imparcialidade e da eficiecircncia

Realmente a vedaccedilatildeo do nepotismo eacute consequecircncia da autoaplicaccedilatildeo de tais princiacutepios mas isto natildeo quer dizer que a

redaccedilatildeo da Suacutemula na forma em que estaacute eacute decorrente de apenas deles vez que tece minucias quanto agrave noccedilatildeo de

nepotismo que nem mesmo em uma interpretaccedilatildeo ampla podem ser observadas como consequecircncia da autoaplicaccedilatildeo

de tais princiacutepios 766 Ibidem p 480 Nesse sentido assevera que ―quando a interpretaccedilatildeo mais antiga estaacute em contradiccedilatildeo com um

princiacutepio constitucional haacute de verificar-se se eacute possiacutevel uma interpretaccedilatildeo conforme a Constituiccedilatildeo se o for haacute de

preferir-se esta se natildeo haacute de denegar-se validade agrave norma como contraacuteria agrave Constituiccedilatildeo Ibidem p 488- 489

134

decisotildees valorativas do legislador a ele subjacente767

e que como os criteacuterios guardam

relaccedilatildeo entre si que o peso deles depende do modo como se apresentam no caso

concreto podendo apoiar-se reciprocamente768

Ainda ressalta que natildeo haacute como definir em que momento uma interpretaccedilatildeo

―originariamente legitimada haacute de ceder agrave outra que se orienta por pautas atuais mas

que a interpretaccedilatildeo ―eacute uma atividade criadora do espiacuterito e que aquele que a realiza tem

―uma margem de livre apreciaccedilatildeo dentro da qual satildeo plausiacuteveis diferentes resoluccedilotildees

mas desde que ―fundamente as razotildees porque considera algum criteacuterio como

determinante769

Nesse enredo ainda dispotildee que quando o inteacuterprete tiver ―esgotado todas as

possibilidades de alcanccedilar um resultado metodologicamente assegurado ele ainda pode

―encontrar uma decisatildeo de sua exclusiva responsabilidade mas que nesse contexto ele

deve explicar a valoraccedilatildeo pessoal que foi realizada770

uma vez que tudo gira em volta

do ―caso concreto que tem de resolver771

Daiacute tambeacutem afirma que a aspiraccedilatildeo ―legiacutetima do magistrado eacute ―um

imperativo de ordem moral e que por isso ele deve procurar na lei ―possibilidades de

soluccedilotildees que satisfaccedilam a justiccedila mesmo que esta ―natildeo possa ser sempre alcanccedilada

Nesse diapasatildeo ainda explica que o juiz mesmo detendo ―uma opiniatildeo preliminar

relativa agrave resoluccedilatildeo que haacute de achar eacute obrigado a ―permitir que a sua opiniatildeo

preliminar seja retificada pela lei772

Natildeo sendo portanto liacutecito ao juiz ―introduzir na lei o que deseja extrair dela

pois natildeo pode ―sobrepor-se agrave decisatildeo valorativa do legislador vez que a ―justiccedila da

resoluccedilatildeo do caso eacute ―uma meta desejaacutevel de atividade judicial que deve ser realizada

nos termos das leis vigentes e dos princiacutepios juriacutedicos reconhecidos em conformidade

767 LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 485-486 768 Ibidem p 488 Como o criteacuterio do sentido literal e o contexto que delimitam as diversas interpretaccedilotildees possiacuteveis

Contudo Larenz ressalta que como ―o sentido literal delimita a interpretaccedilatildeo possiacutevel de uma disposiccedilatildeo eacute

recomendaacutevel comeccedilar por ele com isso eacute-se logo conduzido ao contexto significativo Ibidem p 488 Nesse

contexto aduz que os criteacuterios teleoloacutegicos satildeo decisivos pois satildeo por um lado ―as estruturas materiais do acircmbito da

norma e por outro lado os princiacutepios juriacutedicos imanentes ao ordenamento juriacutedico Ibidem p 487 769 Ibidem p 489 Mas parece que tal accedilatildeo tambeacutem natildeo foi clara e completamente explicitada pelos Ministros do

STF ao editarem a SV n13 770 Ibidem p 489 Muitas das valoraccedilotildees apresentadas pelos Ministros nos debates que antecederem a SV n13 se

assemelham mais a valoraccedilotildees pessoais que juriacutedicas 771 Ibidem p 491 Natildeo parece que com a ediccedilatildeo da SV n13 o STF tenha dado a resoluccedilatildeo mais justa aos casos

concretos posteriores a ela 772 Idem p 492-493

135

com ―o auxiacutelio das regras de interpretaccedilatildeo mencionadas no decurso de um

desenvolvimento jurisprudencial do Direito que seja admissiacutevel773

Nesse diapasatildeo nota que o Estado se encontra em situaccedilatildeo perigosa pois se

por um lado haacute a ―perda de autoridade do legislador atual que soacute raras vezes se ocupa

do tempo necessaacuterio () a examinar cuidadosamente as suas formulaccedilotildees e natildeo raro se

omite em absoluto quanto agrave regulaccedilatildeo quando esta deve esperar-se dele por outro haacute

o juiz ―que sorteia o Direito estatuiacutedo para substituir as pautas legais pela sua ideia

pessoal de justiccedila774

E sintetiza esse toacutepico afirmando que a modificaccedilatildeo da interpretaccedilatildeo anterior

ocorre quando a ―alteraccedilatildeo da situaccedilatildeo normativa motiva a revisatildeo devido agrave variaccedilatildeo

das relaccedilotildees faacuteticas ―de tal modo que a norma dada deixou de se ajustar agraves novas

relaccedilotildees devido ao passar do tempo que natildeo estaacute na quietude775

Desta feita para Larenz a ―aplicaccedilatildeo correta do direito () natildeo soacute autoriza o

juiz a desenvolvecirc-lo no sentido de continuar a formaacute-lo atraveacutes da interpretaccedilatildeo como

ateacute mesmo obriga-o a isso podendo ao realizar a interpretaccedilatildeo do direito ―aplicar a

formulaccedilatildeo integradora e ndash em determinados limites ndash corretora ou modificativa do

direito pois intriacutenseca agrave atividade judicante mas resta questionar sobre os limites

dessa faculdade776

3124 Inocecircncio Maacutertires Coelho

Inocecircncio Maacutertires Coelho elucida que existem ―traccedilos comuns a atividade

interpretativa e que ―uma preacutevia formulaccedilatildeo teoacuterica sobre a interpretaccedilatildeo juriacutedica em

geral eacute imprescindiacutevel para que se possa desenvolver posteriormente a ―hermenecircutica

constitucional sem ―transgressotildees metodoloacutegicas inoportunas777

773 LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 493 E ainda acrescenta que a decisatildeo equitativa tem ―o papel na interpretaccedilatildeo de ―repensar de

novo a interpretaccedilatildeo da lei e ―achar novos pontos de vistas Ibidem p 493 ―A aspiraccedilatildeo a uma justiccedila de caso eacute

assim um fator legiacutetimo no processo de decisatildeo judicial conquanto natildeo induza o juiz a manipular a lei de acordo

com as suas convicccedilotildees () as indicaccedilotildees metoacutedicas ajudam pouco aqui em caso de conflito () da fidelidade agrave lei

que lhe eacute preceituada e a justiccedila do caso por ele buscada o juiz soacute em uacuteltimo termo pode decidir segundo sua proacutepria

consciecircncia Ibidem p 494 Na realidade os Ministros do STF elaboraram uma normativa segundo suas

consciecircncias mas natildeo asseguraram a justiccedila 774 Ibidem p 494 775 Entretanto o autor ressalta que ―natildeo eacute toda modificaccedilatildeo que provoca alteraccedilatildeo do conteuacutedo da norma mas quando

ocorre pode impelir a uma soluccedilatildeo ndash por via de uma interpretaccedilatildeo modificada ou de um desenvolvimento judicial do

direito Ibidem p 495Com isto poder-se-ia aduzir que a SV n13 reviu a noccedilatildeo de nepotismo e a sua consequente

vedaccedilatildeo disposta pela legislaccedilatildeo anterior devido ao tempo 776 Ibidem p 424 777 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 35Nesse enredo expotildee

sobre a hermenecircutica juriacutedica e como deveria ser a sua aplicaccedilatildeo no acircmbito judicial ndash como os magistrados deveriam

decidir

136

E ensina que o processo interpretativo observado como procedimento de

resposta a um problema ―eacute uacutenico e idecircntico em seus elementos fundamentais778

embora seja diverso quanto agraves suas variadas formas de aplicaccedilatildeo e que a Constituiccedilatildeo e

a lei embora sejam ―objetos culturais materialmente idecircnticas divergem quanto aos

―aspectos externos779

Nesse diapasatildeo assevera o professor que ―a interpretaccedilatildeo de qualquer norma

juriacutedica eacute uma atividade intelectual e que ao extrair o sentido do enunciado normativo

possibilita sua aplicaccedilatildeo agraves situaccedilotildees faacuteticas concretas pois retira o sentido do texto e

diminui a extensatildeo que haacute entre a ―generalidade da norma e a singularidade do caso

concreto780

E entatildeo constata que por meio da concretizaccedilatildeo ocorrida com a aplicaccedilatildeo do

texto juriacutedico ao caso concerto ―eacute que se revela () o conteuacutedo significativo da norma

e que esse processo ―nunca apresenta um termo final ou seja eacute uma atividade

infinita781

Diante disto Inocecircncio Coelho ressalta que no acircmbito do judiciaacuterio ―as

exigecircncias sociais satildeo absorvidas e racionalizadas pelo aplicador do direito por ―novas

leituras dos mesmos enunciados normativos e que essas podem ser ―tatildeo inovadoras

que chegam a criar modelos juriacutedicos inteiramente novos782

E nota que ―quando os juiacutezes e tribunais emprestam sentidos novos a um

mesmo enunciado normativo produzem ―novos enunciados e funcionam ―como

instacircncias heterocircnomas de criaccedilatildeo abreviada do direito783

natildeo apenas porque os fatos

que exercem influecircncia sobre os modelos juriacutedicos alterando o sentido da norma mas

tambeacutem porque constituem ―o significado das regras de direito sendo a adaptaccedilatildeo das

normas a eles ―requisito sine qua non da proacutepria efetividade do direito que soacute funciona

na medida em que se manteacutem sintonizado com a realidade social da qual emerge e

sobre a qual atua784

778 Ibidem p 36 779 Ibidem p 35 780 Ibidem p 36 781 Ibidem p 37 ―infinita pela razatildeo de que uma interpretaccedilatildeo que parecia adequada pode ser demonstrada

incorreta e porque sempre satildeo possiacuteveis novas e melhores interpretaccedilotildees possiacuteveis porque a cada vez conforme a

eacutepoca histoacuterica em que vive o inteacuterprete e com base no que ele sabe natildeo se excluem interpretaccedilotildees que

precisamente para aquela eacutepoca e para o que na eacutepoca se sabe satildeo melhores ou mais adequadas do que outras

Giovanni Reale amp Dario Antiseri (1991 v III p 630) apud Inocecircncio Maacutertires Coelho p 37 782 Ibidem p 37 783 COELHO Inocecircncio Maacutertires Op cit p 39 Nesse enredo o autor explica que agrave ―luz da experiecircncia juriacutedica

verificamos que isso ocorre em razatildeo das mudanccedilas que se operam continuamente no prisma histoacuterico-social de

aplicaccedilatildeo do direito exigindo soluccedilotildees novas e imediatas Idem p 39 784 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 41

137

Daiacute afirma o doutrinador que o magistrado ao ―ajustar normas e fatos realiza

uma atividade que une ―a compreensatildeo a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo dos modelos

juriacutedicos e que dessa forma exerce ―o papel de agente redutor da distacircncia entre a

generalidade da norma e a singularidade do caso concreto e cria ―a norma de decisatildeo

concreta ou a norma do caso () decidindo em vistas das particularidades da situaccedilatildeo

posta a seu julgamento realizando enquanto inteacuterprete-aplicador do direito um

processo - imprescindiacutevel agrave compreensatildeo do ―modelos juriacutedicos que deve aplicar785

-

de refazimento do ―caminho do legislador a partir do questionamento do texto quanto

aos problemas sociais que ensejaram determinada resposta normativa786

Por isto o autor elucida que o magistrado-inteacuterprete deve a fim de

compreender o significado do texto aleacutem de atentar para o passado observar ―a si

mesmo e a ―concreta situaccedilatildeo hermenecircutica em que se encontra pois eacute o inteacuterprete

que concretiza a norma juriacutedica e o faz no presente em que vive 787

Desta feita arremata que a ―aplicaccedilatildeo de qualquer norma juriacutedica visa

solucionar as intempeacuteries do momento em conformidade com os valores do tempo do

inteacuterprete e por decisatildeo deste como autoridade legitimada a ―criar modelos juriacutedicos e

dotaacute-los de eficaacutecia e ainda que o magistrado-inteacuterprete deve com o fito de

―reconhecer o significado juriacutedico da lei realizar a adequaccedilatildeo da lei agraves necessidades

reais a fim de solucionar de forma praacutetica a demanda a ele apresentada788

Assim Inocecircncio Maacutertires dispotildee que isso representa o ―significado exemplar

ou paradigmaacutetico da hermenecircutica juriacutedica pois a partir daiacute se integram ―os horizontes

significativos do texto normativo e o de seu aplicador jaacute que possibilita que o

inteacuterprete aplicador expanda seu ―horizonte ao ―fundi-lo com o horizonte do texto789

785 Ibidemp 43-44 E ressalta que segundo Gadamer ―compreender eacute sempre aplicar que ―a tarefa da interpretaccedilatildeo

consiste em concretizar a lei em cada caso isto eacute na sua aplicaccedilatildeo e que a ―aplicaccedilatildeo natildeo eacute uma etapa derradeira e

eventual do fenocircmeno de compreensatildeo mas um elemento que a determina desde o princiacutepio e no seu conjunto

Ibidem p 44 786 Ibidem p 44 O autor lembra a partir de Larenz que para se questionar o texto deve se saber sobre o que ―ele

trata pois ele ―soacute responde a quem o interroga corretamente Larenz (1989 p 337) apud Inocecircncio (1997p 44) E

ainda conclui que por isto ―parece liacutecito considerar que uma pergunta bem feita jaacute representa mais de meio caminho

para se chegar agrave resposta Ibidem p 44 787 Ibidem p 46Nesse contexto o autor ainda cita Richard Palmer que afirma ―() tanto ao transmitir um juiacutezo

como ao pregar um sermatildeo a interpretaccedilatildeo deve incluir natildeo soacute a interpretaccedilatildeo do que o texto representava no seu

proacuteprio mundo na circunstacircncia em que produziu como tambeacutem aquilo que significa no momento atual porque em

todo o ato de compreensatildeo se daacute uma aplicaccedilatildeo ao presente Ibidem p 46 788 Ibidem p 47 789 Ibidem p 47

138

Nesse ensejo afirma que interpretar eacute essencial ao magistrado inteacuterprete -

aplicador do direito pois possibilita a ele que amplie e aprimore sua visatildeo e sua

persuasatildeo por meio de novos elementos analiacuteticos790

Contudo o autor lembra que se por um lado tal atividade abre o ―campo

visual do magistrado-inteacuterprete por outro remonta agrave necessidade de o aplicador do

direito ―prestar contas do seu trabalho interpretativo para que este se demonstre

legiacutetimo ―haacute de ser racional objetivo e controlaacutevel pois natildeo se coaduna com a ideia de

Estado de Direito a figura de um oraacuteculo despoacutetico ou iluminado que se ponha acima

da lei e dos criteacuterios usuais de interpretaccedilatildeo Sendo portanto imprescindiacutevel aplicar

criteacuterios em ―todo o itineraacuterio hermenecircutico onde as regras de interpretaccedilatildeo

demonstram os ―passos do processo do pensamento essenciais a evidenciar ―a

racionalidade do seu desenvolvimento791

Daiacute assevera que ―soacute eacute possiacutevel uma hermenecircutica juriacutedica onde a lei vincule

por igual a todos os membros da comunidade juriacutedica tanto os governantes quanto os

governados tanto os legisladores quanto os juiacutezes e que este processo transparece o

raciociacutenio desenvolvido e possibilita num ―imperativo eacutetico-poliacutetico o convencimento

daqueles a quem ―as decisotildees dos agentes puacuteblicos se destinam792

Ainda elucida que satildeo obrigatoacuterias a publicidade e a motivaccedilatildeo das decisotildees

dos magistrados pois traduzem a validade ou natildeo do proacuteprio ato decisoacuterio bem como a

sua compatibilidade ou natildeo com ―a ideia do direito enquanto instrumento de ordenaccedilatildeo

justa e racional da convivecircncia humana sendo a motivaccedilatildeo da decisatildeo natildeo apenas o

elemento assecuratoacuterio da racionalidade da decisatildeo como tambeacutem da proacutepria decisatildeo

pois eacute ―condiccedilatildeo de legitimidade e de eficaacutecia do seu labor hermenecircutico cujo resultado

soacute se tornaraacute coletivamente vinculante se obtiver o consenso social que no caso

funcionaraacute senatildeo como prova pelo menos como sintoma de racionalidade793

E que esse consenso deve ser de todos aqueles que ―possam ser afetados pela

decisatildeo por meio de um procedimento em que ―participem como livres e iguais da

busca cooperativa da verdade na qual ―a uacutenica forma de coerccedilatildeo que se pode exercer eacute

a coerccedilatildeo das coerccedilotildees que exercem os bons argumentos pois ―o ideal de

racionalidade de objetividade e mesmo de seguranccedila juriacutedica aponta para o 790 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997p 47 791 Ibidemp 47-48 792 Ibidem p 48 793 Ibidem p 49 O autor assevera na p 26 da ediccedilatildeo de sua obra em 2011 que considera vaacutelido ―() utilizar como

paracircmetros de controle e legitimaccedilatildeo da atividade hermenecircutica a consciecircncia juriacutedica geral e o devido processo

legalrdquo uma vez que ambos ―tecircm-se mostrado pelo menos razoaacuteveis na medida em que impedem os voluntarismos

mas natildeo inibem a necessaacuteria criatividade dos inteacuterpretes e aplicadores do direito

139

imperativo de se evitar ao maacuteximo ―o momento puramente subjetivo da

interpretaccedilatildeo e com isto diminuir o ―resiacuteduo incocircmodo de voluntarismo que se faz

presente inevitavelmente em todo trabalho hermenecircutico794

Assim Inocecircncio Maacutertires elucida que as decisotildees judiciais - para serem

―modelos jurisdicionais por excelecircncia devem estar ―revestida de legitimidade e

eficaacutecia795

e que o exerciacutecio da hermenecircutica juriacutedica eacute delimitado por quatro

condiccedilotildees gerais destacando dentre elas ―o caraacuteter linguiacutestico - que eacute comum a

qualquer interpretaccedilatildeo796

―o caraacuteter necessaacuterio da atividade interpretativa que

desmistifica a existecircncia de legislaccedilatildeo cujo dispositivo natildeo suscita quaisquer ―duacutevidas

obscuridades ou contradiccedilotildees

o fato de que a atividade interpretativa eacute

―contextualizada o que impede que o inteacuterprete atribua significaccedilatildeo arbitraacuteria aos

enunciados legais - proibido dizer aleacutem da redaccedilatildeo do texto legal - esse eacute o limite da

interpretaccedilatildeo797

e por fim o ―caraacuteter unitaacuterio do seu procedimento que resulta em

uma ―unidade de compreensatildeo onde se integram todos ―instrumentos

hermenecircuticos798

E entatildeo o autor constata que a interpretaccedilatildeo das normas juriacutedicas eacute vista

atualmente como ―um conjunto de meacutetodos desenvolvidos pela doutrina e

jurisprudecircncia com base em criteacuterios ou premissas diferentes mas reciprocamente

complementares799

o que faz inexistir qualquer hierarquia entre tais criteacuterios e assim

garante por um lado maior ―liberdade ao juiz800

e por outro demonstra a inocorrecircncia

de qualquer competiccedilatildeo entre os ―chamados meacutetodos de interpretaccedilatildeo do direito801

794 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 49-50 Entretanto

informa que o ponto de vista subjetivo ocorre natildeo de cada um mas do ponto de vista comum ndash denominador comum

dos inteacuterpretes - dito ―intersubjetivo transcendental pelo qual ―poderatildeo chegar a resultados semelhantes que

edificam o ―entendimento objetivo da decisatildeo Ibidem 50-51 Isso foi observado nos precedentes da SV n13

apenas quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo pela autoaplicaccedilatildeo dos princiacutepios dispostos no caput do artigo 37 da CF88 795 Ibidem p 38 796 Ibidem p 54 Descortina a prescindibilidade da disputa entre aqueles que entendem que a finalidade da

interpretaccedilatildeo eacute decifrar ―por traacutes da norma juriacutedica ―a vontade do legislador e os que compreendem que eacute se

―curvar agraves palavras e agrave vontade da lei demonstrando que o verdadeiro ―objeto de interpretaccedilatildeo natildeo eacute a questatildeo

volitiva seja do legislador ou da lei mas a maneira como foi expressada por meio do ―feito ou falado 797 Ibidem p 55 Por isso se constata a necessidade de se interpretar o significado das palavras do dispositivo legal

natildeo apenas literalmente mas de forma contextualizada respeitando a ―autonomia do texto - ―condiccedilatildeo de

objetividade da interpretaccedilatildeo p 56 798 Ibidem p 61 799 Ibidem p 61-62 O que faz lembrar como afirmado pelo proacuteprio autor que Savigny jaacute elucidava que os

elementos ―gramatical loacutegico histoacuterico e sistemaacutetico satildeo ―quatro operaccedilotildees que se integram na atividade

interpretativa que sem a unificaccedilatildeo deles natildeo obtecircm ecircxito p 62 800 Ibidem p 62 ―Natildeo existe uma relaccedilatildeo hieraacuterquica fixa entre os diversos criteacuterios de interpretaccedilatildeo essa

pluralidade de meacutetodos torna-se um veiacuteculo de liberdade do juizlsquo (Martin Kriele) ateacute certo ponto acaba podendo

escolher o meacutetodo em funccedilatildeo do objeto e mesmo do resultado que ele estimando correto e justo pretende alcanccedilar

em cada caso Idem p 62 801 Ibidem p 63 ―Agrave vista dessa interdependecircncia dos procedimentos interpretativos ndash que se entrelaccedilam sob a ideia

de que a decisatildeo do caso concreto para se qualificar como juriacutedica () os chamados meacutetodoslsquo de interpretaccedilatildeo do

direito () devem ser utilizados em conjunto e complementarmente para que o resultado afinal obtido possa refletir

140

Poreacutem afirma que isto natildeo quer dizer que o inteacuterprete por intermeacutedio de

―resultados preconcebidos possa ―afeiccediloar a norma com uma pseudo argumentaccedilatildeo e

assim realizar uma interpretaccedilatildeo discricionaacuteria dando uma significaccedilatildeo diversa da

delimitada pelo enunciado legal e ainda legitimar tais resultados pois tal ato natildeo soacute

desqualificaria a anaacutelise do resultado como ―instrumento de controle da interpretaccedilatildeo

como infringiria a lei pois sua liberdade eacute ―objetivamente vinculada devendo sua

decisatildeo ser ―correta e justa para ser considerada juriacutedica802

32 Hermenecircutica Constitucional o poder normativo e a intepretaccedilatildeo dos

princiacutepios e postulados constitucionais

Nesse item se trata da interpretaccedilatildeo dos postulados e princiacutepios constitucionais

no acircmbito da Hermenecircutica Constitucional e tambeacutem do poder normativo que tal

atividade interpretativa pode suscitar ao Supremo Tribunal Federal no exerciacutecio da

jurisdiccedilatildeo constitucional

Partindo das liccedilotildees de Gadamer deve-se atentar que a hermenecircutica

constitucional transformou-se na teoria do conhecimento juriacutedico ou ―no conhecimento

do conhecimento do direito pois ela tem a tarefa ―de interpretar as diferentes

interpretaccedilotildees do fenocircmeno juriacutedico a partir da anaacutelise criacutetica das muacuteltiplas leituras da

lei fundamental e dos vaacuterios mundos constitucionais que podem emergir dessas

leituras803

Do que se passa agrave apreciaccedilatildeo e constataccedilatildeo de que se a questatildeo hermenecircutica eacute

melindrosa no acircmbito da aplicaccedilatildeo judicial de forma ampla o eacute ainda mais quando

aposta estritamente pelo Supremo Tribunal Federal

321 Inocecircncio Maacutertires Coelho

Na hermenecircutica aplicada no acircmbito da jurisdiccedilatildeo constitucional eacute ainda mais

intrigante o fato de que a ―criatividade exercida pelos ministros ―a rigor natildeo conhece

limites natildeo apenas porque a proacutepria corte constitucional estaacute ―fora e acima da

triparticcedilatildeo dos poderes como tambeacutem porque os ―enunciados constitucionais satildeo

―abertos indeterminados e polissecircmicos fazendo com que o tribunal constitucional

―inteacuterprete final da Constituiccedilatildeo e juiz uacuteltimo de sua proacutepria autoridade seja ― variante

do poder legislativo 804

toda a complexidade dos afazeres hermenecircuticos como atividade na qual se fundem necessariamente a compreensatildeo

a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo de modelos juriacutedicos Ibidem p 63 802 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 62-63 803 GADAMER Hans-Georg Verdad y meacutetodo Salamanca Siacutegueme v I p 396414 804 COELHO Op cit p 38

141

Nesse iacutenterim o autor afirma que a hermenecircutica constitucional eacute diversa da

legal vez que a Constituiccedilatildeo devido agrave sua ―natureza estrutura e finalidade apresentar-

se ―como um sistema aberto de regras e princiacutepios que necessitam da mediaccedilatildeo de

legisladores e juiacutezes para lograrem efetividade805

e sua respectiva hermenecircutica visa

obstar os ―procedimentos que ultrapassam os limites da interpretaccedilatildeo e produzem

resultados hermenecircuticos incompatiacuteveis com os princiacutepios estruturais da lei

fundamental806

Assim no acircmbito da interpretaccedilatildeo constitucional as normas positivadas aleacutem

de natildeo traduzirem ―decisotildees inequiacutevocas do legislador tambeacutem natildeo exprimem uma

―suposta ou imaginaacuteria vontade da proacutepria Constituiccedilatildeo limitando-se na maioria das

vezes a proclamar princiacutepios ou a apontar os objetivos sendo nela que ―mais se

manifesta a criatividade dos aplicadores do direito Mas que isso natildeo significa que - no

―domiacutenio hermenecircutico807

- admitir ―alteraccedilotildees no acircmbito ou na esfera da norma

traduz rupturas ou revisotildees apoacutecrifas a ensejar ―uma realidade inconstitucional

manifestamente incomportaacutevel no programa da norma constitucional808

pois se por

um lado as ―viragens da jurisprudecircncia evidenciam que houve alteraccedilatildeo no

significado que se dispunha a algum texto legal por outro devem estar expressamente

fundamentadas nos motivos que as balizaram e que tenham calccedilado o afastamento do

inteacuterprete de um criteacuterio normalmente utilizado 809

E dessa forma o doutrinador alega parecer que ―em decorrecircncia do modo

como se altera a realidade social a escolha do caso ou do momento em que se deve

atribuir um novo significado a determinado texto de lei eacute ateacute certo ponto uma decisatildeo

discricionaacuteria dos aplicadores do direito810

e nesse enredo passa a elucidar sobre a

―interpretaccedilatildeo constitucional e a criaccedilatildeo judicial do direito asseverando que a corrente

interpretativista considera ―incompatiacutevel com o princiacutepio democraacutetico qualquer

criatividade judicial que proporcione ―interpretaccedilatildeo dos enunciados normativos aleacutem

do ―significado linguisticamente possiacutevel da lei e assim imprima aos juiacutezes ―uma

805 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 26 806 Ibidem p 40 807 Ibidem p 54-55 808 Ibidem p 40 Na mesma linha de Gomes Canotilho 809 Ibidem p 60 Nesse iacutenterim o autor cita Robert Alexy ―Quem resolve desprezar um precedente assume o ocircnus

da argumentaccedilatildeo pois natildeo parece sensato renunciar sem justificaccedilatildeo ao que ateacute entatildeo vinha sendo adotado como

prevalecente p 60 Nesse diapasatildeo cumpre afirmar que os ministros do STF inovaram jurisprudecircncia nos

precedentes da Suacutemula especialmente no terceiro e quarto quanto a entendimento referentes agraves disposiccedilotildees legais e

constitucionais mas natildeo fundamentaram criteriosamente nenhuma destas inovaccedilotildees 810 Ibidem p 60

142

legitimidade que eacute privativa dos titulares dos mandatos poliacuteticos 811

e que a corrente

natildeo-interpretativista defende que eacute fidedigno por meio de valotildees como justiccedila

igualdade e liberdade se conceber aos magistrados-aplicadores do direito uma

―competecircncia interpretativa em sentido forte especialmente porque a Constituiccedilatildeo eacute

formada de ―princiacutepios juriacutedicos abertos indeterminados 812

Daiacute conclui que a corrente natildeo-interpretativa como ―pano de fundo

substanciou ―ensaios rumo agrave autonomia e agrave especificidade da interpretaccedilatildeo

constitucional que exige do inteacuterprete ―situar-se em perspectiva metodologicamente

adequada ao objeto do seu afazer hermenecircutico 813

Nesse diapasatildeo Inocecircncio Maacutertires afianccedila que a Constituiccedilatildeo ―determina a

escolha do meacutetodo adequado a seu conhecimento e em poder do inteacuterprete cria os

―objetos hermenecircuticos num processo aberto e infinito mas que sua ―consistecircncia

deve ser controlada por meio da verificaccedilatildeo de seus ―resultados a partir de um

―criteacuterio de verdade baseado na justiccedila da decisatildeo em cada caso concreto natildeo

podendo as decisotildees dos inteacuterpretes constitucionais ser arbitraacuterias pois mesmo

havendo o resquiacutecio ―incocircmodo do ―voluntarismo deve-se controlar o proacuteprio criteacuterio

que foi utilizado no ―procedimento legitimador do ―ponto de vista formal por meio

da ―exigecircncia do devido processo legal e do ―ponto de vista substancial pela

―consciecircncia juriacutedica geral - que eacute formada por criteacuterios traduzidos pelos princiacutepios

juriacutedicos ―pelos valores eacuteticos reconhecidos na comunidade juriacutedica pela ―natureza

das coisas e pela ―consciecircncia axioloacutegica da comunidade juriacutedica814

- e natildeo apenas

pela individual do juiz

Nesse enredo o doutrinador explicita que ―a peculiaridade da estrutura

normativo-material da parte dogmaacutetica da Constituiccedilatildeo - que ―justifica a existecircncia de

uma interpretaccedilatildeo especificamente constitucional - decorre do fato de que ―as normas

constitucionais natildeo contecircm uma previsatildeo por elementos limitando-se a enunciar

princiacutepios ou criteacuterios gerais de valoraccedilatildeo que () soacute se tornam operantes depois de

densificados e concretizados pelo inteacuterprete aplicador e que por isso sua interpretaccedilatildeo

811 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 67 - 68 Segundo o

autor os adeptos desta corrente explicam que interpretar natildeo eacute criar mas aplicar e que desequilibraria a ―balanccedila se

aos juiacutezes fosse delegada a competecircncia de criar normas juriacutedicas por meio da interpretaccedilatildeo sendo imprescindiacutevel

rechaccedilar ―qualquer espeacutecie de ativismo judicial porque incompatiacutevel com a ordem juriacutedico-poliacutetica plasmada na

Constituiccedilatildeo p 68 812 Ibidem p 69 813 Ibidem p 73 814 Ibidem p 76

143

eacute especifica - realizada a partir do estudo da ―estrutura normativo-material815

dos

princiacutepios 816

que satildeo ―mandamentos de otimizaccedilatildeo de ―importante dimensatildeo

institucional que atuam como ―fatores de criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de unidade poliacutetica

pois ―graccedilas agrave amplitude e indeterminaccedilatildeo dos seus enunciados 817

ensejam variadas

leituras devendo ser aplicados em ―diferentes graus de efetivaccedilatildeo818

Daiacute se extrai que a interpretaccedilatildeo constitucional eacute especiacutefica e autocircnoma

―enquanto atividade hermenecircutica que opera com princiacutepios isto eacute com preceitos cuja

estrutura normativo-material eacute aberta e indeterminada e por isto geradora de

significados muacuteltiplos819

e que existem criteacuterios e meacutetodos que induzem aspectos

―emancipadores820

a ela

Por isto afirma que a ―interpretaccedilatildeo constitucional eacute um conjunto de meacutetodos

embasados em ―criteacuterios ou premissas complementares que demonstram o ―caraacuteter

unitaacuterio das atividades interpretativas que deve ser realizada a partir das ―regras

tradicionais da hermenecircutica821

Nesse ensejo o autor ensina que a uma o criteacuterio toacutepico-problemaacutetico se volta

ao ―caraacuteter praacutetico da interpretaccedilatildeo e privilegia a interpretaccedilatildeo a partir de um

―processo aberto de argumentaccedilatildeo a duas que o hermenecircutico concretizador enseja a

interpretaccedilatildeo a partir da ―preacute-compreensatildeo que o inteacuterprete tem do texto (a quem cabe

―concretizar a norma) a trecircs que o meacutetodo que destaca a atividade criativa de quem

interpreta a Constituiccedilatildeo pois enseja a relaccedilatildeo entre o texto e o contexto e transforma ―o

ato interpretativo em movimento de ir e vir o chamado ciacuterculo hermenecircutico a

quatro que o cientiacutefico-espiritual cujo objetos satildeo os ―valores subjacentes agrave

Constituiccedilatildeo traduz sentido e realidade face agrave ―integraccedilatildeo comunitaacuteria e que por

fim a cinco o normativo estruturante permite ao inteacuterprete-aplicador - ao concretizar a

norma constitucional - realizar a conexatildeo entre a norma e a ―situaccedilatildeo normada

conformando o texto e a realidade 822

815COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 77-78 816 Ibidemp 83 Nesse diapasatildeo destaca que ―a atribuiccedilatildeo de maior importacircncia a um determinado princiacutepio natildeo

invalida nem sequer desqualifica a pauta que deixou de ser aplicada porque a sua pretericcedilatildeo teraacute decorrido

exclusivamente da anaacutelise das circunstacircncias do caso e que eles natildeo apresentam tensatildeo entre si mas que se isso

ocorrer ao serem aplicados caberaacute ao inteacuterprete realizar um ―meacutetodo de ponderaccedilatildeo entre eles que pode ser diversa

em cada um dos casos a fim de solucionar a questatildeo posta Ibidem p 84 817 Ibidem p 126 818 Ibidem p 84 819 Ibidem p 85 820 Ibidem p 87 821 A fim de revelar elementos como loacutegico histoacuterico teleoloacutegico Ibidem p 89 822 Ibidem p 89-90

144

Elucida ainda que os ―princiacutepios de interpretaccedilatildeo constitucional823

devem

ser aplicados pelo inteacuterprete conjuntamente quais sejam da unidade constitucional que

ensina que as normas constitucionais satildeo ―preceitos desconexos num sistema interno

unitaacuterio de regras e princiacutepios de efeito integrador que dispotildee que se deve preferir os

criteacuterios que garantam a ―integraccedilatildeo poliacutetica e social da maacutexima efetividade que

orienta a se dar o sentido que assegura ―maior eficaacutecia ou efetividade agrave norma da

concordacircncia praacutetica ou da harmonizaccedilatildeo que se volta a garantir a afirmaccedilatildeo de um

bem juriacutedico sem o ―sacrifiacutecio do outro da forccedila normativa da constituiccedilatildeo que

direciona o inteacuterprete a ―dar primazia agraves soluccedilotildees que densificam as normas

constitucionais tornando-as permanentes e enfim o princiacutepio da interpretaccedilatildeo

conforme a Constituiccedilatildeo que assegura que se decirc agraves normas infraconstitucionais um

―sentido compatiacutevel e natildeo conflitante com a Constituiccedilatildeo824

Por fim Inocecircncio Maacutertires conclui que o inteacuterprete-constitucional como

uacuteltimo aplicador eacute o verdadeiro legislador pois a interpreta em caraacuteter definitivo825

tendo portanto a palavra final sobre aquilo que eacute ou natildeo compatiacutevel com a

Constituiccedilatildeo826

que deve ser dada por intermeacutedio de uma ―hermenecircutica de princiacutepios

que substitui a ―retrospectiva de interpretaccedilatildeo pela prospectiva de concretizaccedilatildeo827

322 Consideraccedilotildees a partir de Ronald Dworkin e Robert Alexy

Dworkin volta-se agrave anaacutelise da decisatildeo judicial na praacutetica agrave maneira com que os

magistrados interpretam e decidem os casos concretos e entende que o direito depende

―de convenccedilotildees sociais distintas designadas de ―convenccedilotildees juriacutedicas sobre as quais

instituiccedilotildees deveriam ter o poder de elaborar as leis 828

Nesse contexto explica que os casos denominados hard cases829

natildeo satildeo

solucionados via convenccedilatildeo juriacutedica (lei precedentes etc) seja porque quanto a eles

natildeo haacute convenccedilatildeo estabelecida ou porque natildeo haacute consenso quanto a qual convenccedilatildeo eacute

823COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 90 824 Ibidem p 91-92 Diante disto conclui que da ―interaccedilatildeo dialeacutetica entre pauta e realidade () decorrem a abertura

e a infinitude do processo interpretativo ou da espiral hermenecircutica Ibidem p 92 825 Embora suscite variadas ―controveacutersias doutrinaacuterias quanto ao ―caraacuteter acentuadamente poliacuteticolsquo e ainda ―ateacute

certo ponto arbitraacuteriolsquo da interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo da Carta Magna pelas ―cortes constitucionais Ibidem p 27 826 Prerrogativa tatildeo extraordinaacuteria esta que enseja reflexatildeo quanto ao modelo brasileiro de jurisdiccedilatildeo constitucional

Ibidem p 57 827 Ibidem p 98 828 Segundo o autor o convencionalismo ―explica de que maneira o conteuacutedo das decisotildees poliacuteticas do passado pode

tornar-se expliacutecito e incontestaacutevel DWORKIN Ronald Levando os direitos a seacuterio Satildeo Paulo Martins Fontes

2002 p 141-142 829 O autor elucida que satildeo aqueles casos que natildeo podem ser submetidos a regras de direito claras estabelecidas de

antematildeo por alguma instituiccedilatildeo Ibidem p 127

145

viaacutevel para se realizar a interpretaccedilatildeo e a aplicaccedilatildeo do direito830

e que por isso a

decisatildeo do juiz nos casos difiacuteceis natildeo eacute discricionaacuteria831

Ao repelir o pragmatismo832

propotildee uma teoria que resulte na reconstruccedilatildeo

racional do direito a partir de uma concepccedilatildeo principioloacutegica da comunidade poliacutetica

pois se por um lado ―a comunidade poliacutetica estaacute fundada nos princiacutepios de convivecircncia

em comum por outro o Direito se faz a partir da ―reconstruccedilatildeo interpretativa das

fontes normativas agrave luz de tais princiacutepios833

Daiacute assevera que soacute existe uma sociedade poliacutetica a partir de certos princiacutepios

que satildeo vetores da poliacutetica e do Direito834

e que da estrutura da convivecircncia poliacutetica

resulta a integridade que constitui mantem e legitima natildeo soacute o Estado mas o Direito e

a Constituiccedilatildeo835

E entatildeo sendo o Direito mais que sistema de regras estritas pois tambeacutem de

princiacutepios que por sua vez provecircm da comunidade poliacutetica836

afirma que ele eacute

modificado desenvolvido e interpretado de forma global e fundado em princiacutepios837

e

ainda que cabe ao seu operador descobrir dentre as fontes normativas as regentes dos

casos postos bem como a estrutura em que as regras e princiacutepios satildeo conjugados com o

fito de realizar a justiccedila no caso838

Nesse enredo afirma que o princiacutepio de integridade induz que ―os

responsaacuteveis por decidir o que eacute a lei a vejam e faccedilam cumprir como sendo coerente

nesse sentido e que para que o juiz exerccedila seu papel com integridade e coerecircncia eacute

imprescindiacutevel que ele analise o Direito ―como um todo839

orientados no sistema

juriacutedico pelas regras pelos princiacutepios e pelas denominadas policies840

E dispotildee que o princiacutepio ―enuncia razatildeo que conduz o argumento em uma

certa direccedilatildeo841

830 DWORKIN Ronald Levando os direitos a seacuterio Satildeo Paulo Martins Fontes 2002 p 148-149 153 e165 831 Ibidem p 143 O autor explica que como a ―extensatildeo expliacutecita dessas convenccedilotildees ―natildeo conteacutem absolutamente

nada de denso que de acordo com o convencionalismo os juiacutezes podem utilizar de discricionariedade ao analisarem

os casos difiacuteceis sendo ―liberados da legislaccedilatildeo e do precedente Ibidem p 158 832 Que ―justifica a coerccedilatildeo na justiccedila na eficiecircncia ou em alguma outra virtude contemporacircnea da proacutepria decisatildeo

coercitiva como e quando ela eacute tomada por juiacutezes Ibidem p 185 833 Ibidem p 202 834 Ibidem p 204 835 Ibidem p 228 836 Ibidem p 256-257 837 Ibidem p 258 838 Ibidem p 259-260 839 Ibidem p 203 840 Ibidem p 35-38 De acordo com o autor as policies satildeo definidas ―[] como um tipo de padratildeo que estabelece

um objetivo a ser alcanccedilado p 36 841 Ibidem p 41 Conforme Dworkin se um princiacutepio for relevante ―deve ser levado em conta pelas autoridades

puacuteblicas com (se fosse) uma razatildeo que inclina numa ou noutra direccedilatildeo p 41 E quando haacute uma tensatildeo entre dois

princiacutepios haacute a mensuraccedilatildeo de sua importacircncia de seu peso no caso concreto de sua dimensatildeo quanto ao caso

146

Assim Dworkin compara o magistrado com a figura do Heacutercules842

e propotildee a

teoria da decisatildeo judicial de Heacutercules em que o juiz natildeo escolhe ―entre suas convicccedilotildees

poliacuteticas e aquelas que ele considera como as convicccedilotildees poliacuteticas do conjunto da

comunidade mas aplica ―uma concepccedilatildeo particular de comunidade comunitaacuteria como

um fator decisivo para os problemas juriacutedicos de maneira que o princiacutepio da

moralidade comunitaacuteria seria ―a moralidade poliacutetica que as leis e as instituiccedilotildees da

comunidade pressupotildeem843

e do qual advecircm os princiacutepios juriacutedicos que orientam o

magistrado a tomar a uacutenica decisatildeo correta ou oferecer o melhor julgamento superando

desta forma qualquer discricionariedade nos chamados hard cases844

Jaacute para Robert Alexy que tambeacutem se debruccedila quanto agrave distinccedilatildeo entre regras e

princiacutepios elucida que os ―princiacutepios satildeo normas que ordenam algo que seja realizado

na maior medida possiacutevel dentro das possibilidades juriacutedicas e faacuteticas existentes

―mandamentos de otimizaccedilatildeo caracterizados por poderem ser satisfeitos em graus

variados conforme as possibilidades faacuteticas e juriacutedicas 845

Nesse enredo realiza a distinccedilatildeo entre a aplicaccedilatildeo da regra e do princiacutepio em

caso de possiacutevel coalisatildeo846

e informa que no caso dos princiacutepios haacute uma anaacutelise de

precedecircncia que natildeo importa em validade847

porque os princiacutepios ―natildeo contecircm um

mandamento definitivo mas apenas prima facie848

concreto Ibidem p 43 Nos termos de Inocecircncio Maacutertires Coelho de acordo com o criteacuterio de Dworkin a

diversidade entre regras e princiacutepios adveacutem do modo de aplicaccedilatildeo de cada um uma vez que enquanto as regras

―determinam consequecircncias precisas e reciprocamente excludentes os princiacutepios ―enunciam motivos para decidir

num certo sentido e natildeo causam como pode ocorrer com as regras conflito ou colisatildeo pelo contraacuterio ―eles admitem

convivecircncia e conciliaccedilatildeo entre si em um ―complexo sistema de freios e contrapesos em que atuam como ―fatores

de criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de ―pactos de convivecircncia COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional

Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 79 a 82 842 Heroacutei grego filho de Zeus 843 DWORKIN Ronald Levando os direitos a seacuterio Satildeo Paulo Martins Fontes 2002 p 197 844 Ibidem p 429 845 ALEXY Robert Teoria dos direitos fundamentais Trad Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 p

90-91 E as regras ―satildeo normas que satildeo sempre ou satisfeitas ou natildeo satisfeitas caso uma tenha validade se deve

fazer ―aquilo que ela exige sendo a distinccedilatildeo entre ambos ―qualitativa e natildeo ―de grau Ibidem p91 846 No caso das regras haacute a soluccedilatildeo a partir da validade de uma diante do caso concreto Segundo Alexy no caso de

colisatildeo entre os princiacutepios diferentemente do criteacuterio adotado para as regras natildeo a apreciaccedilatildeo da validade ou

invalidade mas em verificar qual princiacutepio tem maior peso na situaccedilatildeo concreta o que natildeo quer dizer que o princiacutepio

que natildeo aplicado naquele caso seja invaacutelido ()Na verdade o que ocorre eacute que um dos princiacutepios tem precedecircncia

em face do outro sob determinadas condiccedilotildees Sob outras condiccedilotildees a questatildeo da precedecircncia pode ser resolvida de

forma oposta Isso eacute o que se quer dizer quando se afirma que nos casos concretos os princiacutepios tecircm pesos diferentes

e que os princiacutepios com o maior peso tecircm precedecircncia Ibidem p 93-94 847 Diferentemente de Dworkin assevera que o aplicador - inteacuterprete do direito - ao se encontrar diante de uma tensatildeo

entre os princiacutepios deve fazer um sopesamento entre eles e escolher aquele que seja mais adequado como

mandamento de otimizaccedilatildeo da justiccedila 848 ALEXY Robert Teoria dos direitos fundamentais Trad Virgiacutelio Afonso da Silva Satildeo Paulo Malheiros 2008 p

104 Diferentemente das regras que dispotildeem de ―uma determinaccedilatildeo da extensatildeo de seu conteuacutedo p 104

147

323 Marcelo Neves

Marcelo Neves diferente dos demais propotildee um modelo a partir de uma

metaacutefora mitoloacutegica onde as regras satildeo o Heacutercules e os princiacutepios a Hidra e que devem

ser analisados no Estado Constitucional por um magistrado - designado Iolau que seja

capaz de ―desparadoxizar o enlace circular entre princiacutepios e regras nos diversos casos

constitucionais de maior complexidade quer dizer que nem seja hercuacuteleo preso agraves

regras e nem hidraforme totalmente subordinado aos princiacutepios849

Assim o juiz Iolau seria o magistrado que ―natildeo isola o direito do seu contexto

social e que ―percebe o limite de suas regras para solucionar controveacutersias juriacutedicas

complexas e que procura ―outros caminhos aleacutem do formalismo das regras e do

substancialismo dos princiacutepios e da ponderaccedilatildeo entre eles850

Daiacute aduz que ―a relaccedilatildeo paradoxal entre princiacutepios e regras estaacute associada

intimamente ao paradoxo da justiccedila como uma foacutermula de contingecircncialsquo que motiva a

accedilatildeo e a comunicaccedilatildeo no acircmbito juriacutedico e que como a justiccedila tem duas dimensotildees uma

interna pertinente ―agrave tomada de decisatildeo juridicamente consistente e outra externa

referente agrave decisatildeo ―adequadamente complexa agrave sociedade ela tem que apresentar

―consistecircncia constitucional a demonstrar ―a racionalidade do direito e a ―adequaccedilatildeo

social do direito para que seja feita com racionalidade juriacutedica851

Desta forma o autor constata que a ―adequaccedilatildeo social do direito

constitucionalmente amparada deve legitimar os ―procedimentos constitucionalmente

estabelecidos mas que como a ―relaccedilatildeo entre a justiccedila interna e externa eacute paradoxal

natildeo haacute como imaginar ―o equiliacutebrio perfeito entre consistecircncia juriacutedica e adequaccedilatildeo

social do direito a saber entre justiccedila constitucional interna e externa pois mesmo que

a ―justiccedila do sistema juriacutedico como foacutermula de contingecircncia importe sempre uma

orientaccedilatildeo motivadora de comportamentos e expectativas que buscam esse equiliacutebrio

este ―sempre eacute imperfeito e se define em cada caso concreto 852

E entatildeo conclui que se por um lado a busca pura da ―consistecircncia

constitucional pode gerar a ―inadequaccedilatildeo social do direito por outro o enfoque na

―mera adequaccedilatildeo social pode conduzir a ―um realismo juridicamente inconsistente853

o que consequentemente demonstra que o paradoxo nunca seraacute totalmente superado e 849 NEVES Marcelo Entre Hidra e Heacutercules princiacutepios e regras constitucionais como diferenccedila paradoxal do

sistema juriacutedico Satildeo Paulo WMF Martins Fontes 2013 p 221-222 850 Ibidem p 222-223 851 Ibidem p 223-224 852 Ibidem p 224-225 853 Fazendo com que este perca a ―capacidade de reorientar as expectativas normativas e portanto de legitimar-se

socialmente Ibidem p 225

148

que natildeo pode e natildeo deve secirc-lo pois como eacute ―condiccedilatildeo da proacutepria existecircncia do

direito854

Contudo afirma diante disso que cabe ao juiz Iolau confrontar-se com o

paradoxo da justiccedila buscando superaacute-lo ―em cada caso constitucional controverso mas

sem a ― pretensatildeo hercuacutelea de eliminaacute-lo definitivamente e que deve fazecirc-lo

conjugando em sua decisatildeo tanto a anaacutelise das regras constitucionais quanto dos

princiacutepios pertinentes a interesses e variaacuteveis sociais mesmo sabendo que ―esse

equiliacutebrio eacute sempre instaacutevel pois seu objetivo eacute estabelecer ―criteacuterios definitoacuterios que

minimizem o ―valor surpresa das decisotildees do porvir855

Para Marcelo Neves o juiz Iolau trataria―os princiacutepios e as regras

constitucionais como foacutermula de transcendecircncialsquo da sociedade desenvolvendo um

papel de ―observador da sociedade como um todo com o fito de resolver as demandas

afastando tanto a ―absolutizaccedilatildeo das regras e dos princiacutepios de forma que o que vai

dizer ou definir se um enunciado seraacute regra ou princiacutepio eacute a seguranccedila juriacutedica e a

leitura do inteacuterprete que utiliza o princiacutepio e formula a regra de decisatildeo856

Por fim Marcelo Neves observa que a relaccedilatildeo paradoxal existente entre

princiacutepios e regras estaacute realmente associada ao paradoxo da justiccedila como uma foacutermula

de contingecircncialsquo agrave medida que motiva a accedilatildeo e a comunicaccedilatildeo no acircmbito juriacutedico mas

que como natildeo haacute ainda uma jurisprudecircncia sedimentada que seja capaz de construir

precedentes orientadores de julgamentos do porvir e o fundamento das decisotildees podem

ser deficientes quanto ao quesito clareza - o que faz com que os julgadores cheguem aos

mesmos resultados por meio de argumentos diferentes857

- pode-se ter um julgamento

final inconsistente agrave medida que mesmo com a maioria ou a unanimidade decidindo no

sentido da parte dispositiva os argumentos sejam incompatiacuteveis entre si858

324 Humberto Aacutevila

Humberto Aacutevila apresenta uma tese diferenciada vez que critica a distinccedilatildeo

realizada entre princiacutepios e regras ao afirmar que normas satildeo princiacutepios ou regras mas

que o que interessa observar eacute que por um lado os princiacutepios explicitam valores e

―indiretamente estabelecem espeacutecies precisas de comportamentos e por outro as

regras explicitam condutas em que o comportamento preliminarmente previsto dependa

854 NEVES Marcelo Entre Hidra e Heacutercules princiacutepios e regras constitucionais como diferenccedila paradoxal do

sistema juriacutedico Satildeo Paulo WMF Martins Fontes 2013 p 226 855 Ibidem p 226-227 856 Ibidem p 227 857 Ibidem p 199 858 Ibidem p 201-202

149

do preenchimento de algumas consideraccedilotildees mas tambeacutem pode ser objeto de

ponderaccedilatildeo859

Assim ao propor ultrapassar tanto a exaltaccedilatildeo dos valores por meio dos

princiacutepios quanto a aplicaccedilatildeo automaacutetica das regras dispotildee sobre uma teoria que

analise as espeacutecies normativas mas por meio da ―ponderaccedilatildeo estruturada no processo

de aplicaccedilatildeo e da utilizaccedilatildeo de ―criteacuterios materiais de justiccedila na argumentaccedilatildeo

viabilizando uma ―reconstruccedilatildeo analiacutetica do uso concreto dos postulados normativos

especialmente da razoabilidade e da proporcionalidade sem obstar o ―controle

intersubjetivo da argumentaccedilatildeo necessaacuterio a evitar o decisionismo judicial860

Nesse enredo alega que um dispositivo natildeo eacute princiacutepio ou regra e que

―normas natildeo satildeo textos nem o conjunto deles mas os sentidos construiacutedos a partir da

interpretaccedilatildeo sistemaacutetica de textos normativos861

e que a interpretaccedilatildeo eacute um ―ato de

decisatildeo que constitui a significaccedilatildeo e os sentidos de um texto de forma que ―o

inteacuterprete tatildeo somente ―constroacutei versotildees de significadosndashsentidos862

mas que isto natildeo

quer dizer que natildeo haacute significado anterior ao processo de interpretaccedilatildeo863

Assim segundo o autor o inteacuterprete ―constroacutei e reconstroacutei sentido tendo em

vista a existecircncia de significados incorporados ao uso linguiacutestico e construiacutedos na

comunidade do discurso e nesse ensejo afirma que o Judiciaacuterio constroacutei significados

mas que deve fazecirc-lo dentro de certos limites existentes os quais caso sejam

inobservados redundaratildeo em um ―descompasso entre a previsatildeo constitucional e o

direito constitucional concretizado e ainda ressalta que o STF vem ultrapassando tais

limites e que devido a isto hodiernamente estaacute a sofrer diversas criacuteticas 864

Tambeacutem afirma que natildeo eacute porque as normas satildeo construiacutedas pelo inteacuterprete a

partir dos dispositivos que o inteacuterprete tem liberdade para realizar as conjunccedilotildees que

quiser entre ―normas e fins a cuja realizaccedilatildeo elas servem pois o ordenamento juriacutedico

estabelece os fins e a manutenccedilatildeo dos valores o que obsta ao inteacuterprete a pretericcedilatildeo

859 AVILA Humberto Teoria dos princiacutepios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 3 ed Satildeo Paulo

Malheiros Editores 2004 p 18 860 Ibidem p 18 861 Ibidem p 22 Assim segundo o autor nem sempre onde haacute um dispositivo haacute uma norma e vice-versa de forma

que texto e os seus sentidos satildeo desvinculados Ibidem 23 862 Que se ―concretizam no uso ou como uso Ibidem p 24 863 Ibidem p 25 Pois de acordo com Humberto Aacutevila ―[] haacute traccedilos de significados miacutenimos incorporados ao uso

ordinaacuterio ou teacutecnico da linguagem como o uso ―comunitaacuterio da linguagem do qual deriva alguns criteacuterios de ―uso

da proacutepria linguagem como ―condiccedilotildees dadas da comunicaccedilatildeo E exemplifica dizendo que termos como ―vida

―morte ―apresentam significados intersubjetivados que natildeo precisam a toda nova situaccedilatildeo ser fundamentados 864 Ibidem 25 Pois ―interpretar eacute construir a partir de algo ndash ―reconstruir seja porque ―utiliza como ponto de

partida os textos normativos que oferecem limites agrave construccedilatildeo de sentidos ou porque ―manipula a linguagem agrave

qual satildeo incorporados nuacutecleos de sentidos instituiacutedos pelo uso e preexistentes ―ao processo interpretativo individual

p 25

150

desse ―ponto de partida e que por isto ―o inteacuterprete deve interpretar os dispositivos

constitucionais de modo a explicitar suas versotildees de significado de acordo com os fins e

valores entremostrados na linguagem constitucional865

Nesse diapasatildeo reprocha os criteacuterios de distinccedilatildeo entre princiacutepios e regras866

e

afirma que eacute equiacutevoco entender que as regras devem ser ―aplicadas de modo absoluto

tudo ou nada e que os princiacutepios ―satildeo aplicados de modo gradual mais ou menosrdquo867

sugerindo portanto sua reformulaccedilatildeo vez que ―o modo de aplicaccedilatildeo natildeo estaacute

determinado pelo texto objeto de interpretaccedilatildeo mas decorre das ―conexotildees axioloacutegicas

que satildeo construiacutedas (ou no miacutenimo coerentemente intensificadas) pelo inteacuterprete868

tendo sentido apenas aplicar o ―modo tudo ou nada agrave regras ―se todas as questotildees

relacionadas agrave validade ao sentido e agrave subsunccedilatildeo final dos fatos jaacute estiverem

superadas869

Aleacutem disso quanto criteacuterio do ―relacionamento normativo870

propotildee seu

aperfeiccediloamento871

pois afirma que embora ―o tipo de ponderaccedilatildeo quanto aos

princiacutepios e agraves regras sejam diversos a tarefa de ponderar eacute uma ―qualidade geral de

qualquer aplicaccedilatildeo de norma 872

de forma que ambos se submetem a ela diante do

caso concreto pois se diferenciam apenas quanto agrave ―determinaccedilatildeo da prescriccedilatildeo da

conduta que resulta de sua interpretaccedilatildeo devendo se ter em conta o tipo de ponderaccedilatildeo

que eacute feito quanto agraves regras e o modo como elas deveratildeo ser ―validamente

fundamentadas873

865 AVILA Humberto Teoria dos princiacutepios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 3 ed Satildeo Paulo

Malheiros Editores 2004 p 26 866 Ibidem p 26 Quanto ao de ―caraacuteter hipoteacutetico condicional - que dispotildee que as regras possuem ―uma hipoacutetese e

uma consequecircncia que predeterminam a decisatildeo sendo aplicadas no modo se entatildeo e ―os princiacutepios apenas indicam

o fundamento a ser utilizado pelo aplicador para futuramente encontrar a regra para o caso concreto - afirma que eacute

incorreto asseverar que ―os princiacutepios ao contraacuterio das regras natildeo possuem nem consequecircncias normativas nem

hipoacuteteses de incidecircncia porque natildeo eacute que eles natildeo tem ― prescriccedilatildeo de comportamentos ou natildeo resultem em

consequecircncias o que eacute preciso observar eacute que possuem um ―tipo da prescriccedilatildeo de comportamentos e de

consequecircncias diverso p 30 e 35 867 Ibidem p 31 868 Ibidem p 36 869 Ibidem p 39 Tal proposiccedilatildeo faz-se importante vez que os Ministros natildeo aplicaram sequer a forma mais moderna

de anaacutelise da aplicaccedilatildeo de princiacutepios e regras ao estabelecerem os limites juriacutedicos da noccedilatildeo de vedaccedilatildeo do

nepotismo 870 Voltado ao fato de que enquanto a antinomia entre as regras conduz agrave declaraccedilatildeo de invalidade de uma delas ou agrave

criaccedilatildeo de uma exceccedilatildeo a tensatildeo entre os princiacutepios eacute solucionada a partir da ―ponderaccedilatildeo que atribua uma dimensatildeo

de peso a cada um deles Ibidem p 31 871 Porque as regras gerais e excepcionais e os princiacutepios natildeo se imbricam ―quanto agrave existecircncia de ponderaccedilatildeo de

razotildees mas divergem quanto ―agrave intensidade da contribuiccedilatildeo institucional do aplicador na determinaccedilatildeo concreta

dessa relaccedilatildeo e quanto ao modo de ponderaccedilatildeo pois enquanto o aplicador deteacutem ―menor e diferente acircmbito de

apreciaccedilatildeo quanto agrave relaccedilatildeo entre as regras gerais e excepcionais ―possui maior espaccedilo de apreciaccedilatildeo Ibidem p

47-48 872 Ibidem p 50 873 Vez que se por um lado os princiacutepios natildeo dispotildeem ―diretamente a conduta a ser seguida por outro as regras

preveem ―frontalmente a conduta Ibidem p 55

151

Nesse enredo tambeacutem reprocha o criteacuterio do ―fundamento axioloacutegico874

e

propotildee que o modelo de dualidade entre princiacutepios e regras seja superado agrave um

―modelo tripartite de dissociaccedilatildeo regrasprinciacutepiospostulados que aleacutem de

desconectar as regras dos princiacutepios875

acresce ―a figura dos postulados876

-

instrumentos normativos metoacutedicos - que impotildeem condiccedilotildees a serem observadas na

aplicaccedilatildeo das regras877

e dos princiacutepios878

natildeo se confundindo com eles879

Dentre tais postulados estatildeo a ponderaccedilatildeo como uma teacutecnica voltada a

―atribuir pesos a elementos que se entrelaccedilam880

como interesses881

e valores882

- e

intensamente estruturada a qual tem uma fase de ―preparaccedilatildeo883

depois uma fase de

―realizaccedilatildeo884

e por uacuteltimo de ―reconstruccedilatildeo quando haacute a ―formulaccedilatildeo de regras de

relaccedilatildeo inclusive de primazia entre os elementos objetos de sopesamento885

Diante disto o autor constata que tanto os princiacutepios constitucionais como as

regras de argumentaccedilatildeo ―podem ser construiacutedas a partir dos diversos criteacuterios de

ponderaccedilatildeo886

Outros postulados que destaca satildeo a uma o da concordacircncia praacutetica - que

possui a finalidade de direcionar a ponderaccedilatildeo - e que significa ―dever de realizaccedilatildeo

maacutexima de valores que se imbricam887

e a duas o da proibiccedilatildeo do excesso que

estabelece um limite agrave ―promoccedilatildeo das finalidades constitucionalmente postas vez que

874 Utilizado apenas quanto aos princiacutepios e natildeo agraves regras AVILA Humberto Teoria dos princiacutepios da definiccedilatildeo agrave

aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 3 ed Satildeo Paulo Malheiros Editores 2004 p 31 875 Ibidem p 62Tanto ―quanto ao dever que instituem quanto agrave ―justificaccedilatildeo que exigem e a maneira pela qual

―contribuem para solucionar conflitos 876 ―Deveres estruturais Idem p 70 877 ―Normas imediatamente descritivas Cuja aplicaccedilatildeo demanda ―avaliaccedilatildeo da correspondecircncia sempre focada

―na finalidade que lhes daacute suporte ou nos princiacutepios que lhes satildeo axiologicamente sobrejacentes entre a construccedilatildeo

conceitual da descriccedilatildeo normativa e a construccedilatildeo conceitual dos fatos Ibidem p 70 878 ―Normas imediatamente finaliacutesticas Cuja aplicaccedilatildeo depende de uma ―avaliaccedilatildeo da correlaccedilatildeo entre o estado de

coisas a ser promovido e os efeitos decorrentes da conduta havida como necessaacuteria agrave sua promoccedilatildeo Dessa forma se

observa que os princiacutepios satildeo normas finaliacutesticas pois determinam um fim a ser atingido e todavia sejam conectados

aos valores com eles natildeo se confundem pois enquanto os princiacutepios especificam ―a obrigatoriedade da adoccedilatildeo de

condutas necessaacuterias agrave promoccedilatildeo gradual de um estado de coisas os valores tatildeo somente conferem uma ―qualidade

positiva a determinado elemento Idem p 70 879 Ibidem p 62-63 880 ―Situaccedilotildees estados ou propriedades essenciais agrave promoccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos Ibidem p 95 881 ―Satildeo os proacuteprios bens juriacutedicos na sua vinculaccedilatildeo com algum sujeito que os pretende obter Ibidem p 95 882 ―Constituem o aspecto axioloacutegico das normas na medida em que indicam que algo eacute bom e por isso digno de ser

buscado ou preservado Ibidem p 95 883 Quando seratildeo apreciados todos ―os elementos e argumentos o mais exaustivamente possiacutevel Ibidem p 95 884 Na qual a relaccedilatildeo entre os elementos eacute fundamentada Ibidem p 96 885 Ibidem p 96 886 Ibidem p 96 887 E como a ponderaccedilatildeo natildeo indica ―os criteacuterios formais ou materiais por meio dos quais deve ser feita a promoccedilatildeo

das finalidades entrelaccediladas vez que eacute ―estruturas exclusivamente formais e despidas de criteacuterios Ibidem p 96

152

proiacutebe ―a restriccedilatildeo excessiva de qualquer direito fundamental888

por meio de um

―meacutetodo de controle889

que diverge do relativo ao postulado da proporcionalidade

Tambeacutem ressalta890

a igualdade como o postulado que ―estrutura a aplicaccedilatildeo do

Direito em funccedilatildeo de elementos e da relaccedilatildeo entre eles891

e enseja distinccedilatildeo relevante

no sentido material quando as pessoas ―passam a ser iguais ou diferentes de acordo

com um mesmo criteacuterio dependendo da finalidade a que ele serve892

a razoabilidade

como postulado que dentre outras eacute utilizado em trecircs acepccedilotildees ―como diretriz que

exige a relaccedilatildeo das normas gerais com as individualidades designada razoabilidade

como equidade ―como diretriz que exige uma relaccedilatildeo das normas juriacutedicas893

com o

mundo exterior denominada ―razoabilidade com congruecircncia894

e a terceira ―como

diretriz que exige a relaccedilatildeo de equivalecircncia entre duas grandezas895

- ―medida adotada

e o criteacuterio que a dimensiona - intitulada ―razoabilidade como equivalecircncia e que

somada agrave eficaacutecia ―dos princiacutepios constitucionais do Estado do Direito e do devido

processo legal e agrave do princiacutepio da igualdade ―impede a utilizaccedilatildeo de criteacuterios

distintivos inadequados896

Daiacute o autor dispotildee que o ―controle pelo Poder Judiciaacuterio e a exigecircncia de

justificaccedilatildeo da restriccedilatildeo a um direito fundamental seraacute menor quanto mais impreciso

for ―o efeito futuro da lei ―difiacutecil e teacutecnico for o juiacutezo exigido para o tratamento da

mateacuteria e ainda for aberta ―a prerrogativa de ponderaccedilatildeo atribuiacuteda ao Poder

Legislativo pela Constituiccedilatildeo897

E enfim assevera que o postulado da proporcionalidade que enseja medidas

proporcionais eacute diferenciado pelos ―fins internos e externos agrave medida que exige

proporcionalidade em sentido estrito898

888 Ibidem p 97 889 Ibidem p 101 890 Dentre os postulados inespeciacuteficos ou incondicionais 891 Embora tambeacutem possa funcionar como regra ao prever ―a proibiccedilatildeo de tratamento discriminatoacuterio e como

princiacutepio ―ao instituir um estado igualitaacuterio como fim a ser promovido AVILA Humberto Teoria dos princiacutepios

da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 3 ed Satildeo Paulo Malheiros Editores 2004 p 101 892 Ibidem p 101 ―Fins diversos levam agrave utilizaccedilatildeo de criteacuterios distintos pela singela razatildeo de que alguns criteacuterios

satildeo adequados agrave realizaccedilatildeo de determinados fins outros natildeo Mais do que isso fins diversos conduzem a medidas

diferentes do controle Haacute fins e fins no Direito Ibidem p 101 893 Ibidem p 103 894 Eacute a ―harmonizaccedilatildeo das normas com suas condiccedilotildees externas de aplicaccedilatildeo Ibidem p 106 895 Ibidem p 103 896 Ibidem p 109 897 Ibidem p 126 898 Ibidem p 116 Sendo ―um meio eacute adequado quando promove minimamente o fim e necessaacuterio quando natildeo

houver meios alternativos que possam promover igualmente o fim sem restringir na mesma intensidade os direitos

fundamentais afetados Ibidem p 131

153

33 Consideraccedilotildees Parciais

De todo o disposto o que se observa eacute que o STF extrapolou natildeo apenas as

liccedilotildees dos doutrinadores que elucidam como os magistrados decidem na realidade

como ainda mais os ensinamentos dos doutrinadores que se voltam a como os

magistrados deveriam efetivamente decidir

De Kelsen se extrai que a dita uacutenica interpretaccedilatildeo correta eacute um ―juiacutezo de valor

poliacutetico e natildeo uma ―verdade cientiacutefica899

como aquele que a diz o qual exercita uma

funccedilatildeo juriacutedico-poliacutetica

Mas natildeo foi isto que o STF fez ao reconstruir a noccedilatildeo juriacutedica de nepotismo

Ao editar a Suacutemula Vinculante o STF tatildeo somente construiu a partir dos votos dos

ministros nos quatro julgados (no acircmbito dos quais poucos deles tocaram sobre os

assuntos que constroem a figura do nepotismo) uma noccedilatildeo de nepotismo embasada

naquilo que deveria ser vedado segundo um ideal social e natildeo segundo uma noccedilatildeo

juriacutedica de nepotismo

Desta forma a noccedilatildeo de nepotismo apresentada pela Suacutemula como uma noccedilatildeo

juriacutedica seria na verdade uma noccedilatildeo embasada em ―um juiacutezo de valor poliacutetico Por

isto se poderia pensar que as liccedilotildees de Hans Kelsen estatildeo embasando natildeo ―como os

magistrados decidem mas ―como deveriam decidir

Outra liccedilatildeo de Kelsen que merece ser observada eacute que a aplicaccedilatildeo de ―uma

interpretaccedilatildeo estritamente cientiacutefica pode revelar ―todas as significaccedilotildees possiacuteveis

estabelecidas na ―foacutermula verbal () escolhida900

da norma inclusive as

―politicamente indesejaacuteveis e parece que a interpretaccedilatildeo realizada pelo STF quanto agrave

ediccedilatildeo da SV n13 pelo STF foi realizada por esse vieacutes jaacute que o que motivo o tribunal

a elaborar a SV n13 foi a necessidade de tambeacutem vedar o nepotismo no Poder

Executivo em termos similares agrave ocorrida no Poder Judiciaacuterio devido agrave publicaccedilatildeo da

Resoluccedilatildeo n 0705

Das liccedilotildees de Alf Ross se retira que pela interpretaccedilatildeo se busca o significado da

palavra e que tal atividade eacute realizada ao se observar o campo de referecircncia

correspondente agrave ela seus diversos significados razoaacuteveis bem como

dentre eles o

significado ―mais provaacutevel mas da decisatildeo do STF natildeo eacute isto que se observa tanto que

a expressatildeo ―pessoa juriacutedica passou a significar poder pelo simples fato de que se

899 KELSEN Hans Teoria Pura do Direito 8ordf ed Trad Joatildeo Baptista Machado Satildeo Paulo WMF Martins Fontes

2009 p 396 900 Ibidem p 396

154

deveria vedar o nepotismo no poder Executivo e como o Presidente ―nomeia tudo

seria melhor uma vedaccedilatildeo mais ampla em todo o poder901

Tambeacutem se pode aplicar ao caso em tela os dizeres de Alf Ross de que o juiz

pode desconsiderar as manifestaccedilotildees dos antecedentes legislativos e realizar uma

―interpretaccedilatildeo pragmaacutetica que busca ldquoapoio para o resultado desejado onde quer que

possa encontraacute-lo902

vez que o STF considerou apenas a Resoluccedilatildeo n 72005 do CNJ

e as manifestaccedilotildees quanto agrave mesma no julgado da ADC n12 como ―antecedente da

SV n13 e a partir daiacute decidiu da forma que lhe conveio embasando sua decisatildeo em

algumas argumentaccedilotildees ora aplicadas por interpretaccedilatildeo restritiva como no caso de se

excluir a vedaccedilatildeo do nepotismo ao cargo poliacutetico por meio do argumento de que a

moralidade disposta no caput do artigo 37 da Constituiccedilatildeo Federal rege a nomeaccedilatildeo dos

cargos administrativos comissionados e natildeo os cargos poliacuteticos jaacute que os primeiros

estatildeo na esfera da Administraccedilatildeo Puacuteblica e os segundos na esfera de Governo fora das

disposiccedilotildees do artigo 37

Mas se a base da vedaccedilatildeo do nepotismo eacute a moralidade puacuteblica como

demonstrado nos debates que antecederam a Suacutemula como nos votos dos ministros nos

precedentes da mesma natildeo seria contraditoacuterio vedar o nepotismo quanto aos cargos

comissionados e natildeo quanto aos poliacuteticos soacute porque a moralidade estaacute insculpida no

caput do artigo 37 como princiacutepio administrativo e natildeo puacuteblico

Conforme observado pelas manifestaccedilotildees dos Ministros este foi o

entendimento derivado de uma interpretaccedilatildeo restritiva tanto quanto ao conceito de

cargo puacuteblico de confianccedila como quanto ao de moralidade Isto eacute expressamente

disposto pelo Ministro Gilmar Mendes que ao se manifestar lembra que Bob Kennedy

irmatildeo do Presidente Kennedy ocupava cargo de governo durante o mandato de

presidente do irmatildeo

O que significa dizer que configura nepotismo a nomeaccedilatildeo de um tio do

Presidente da Repuacuteblica para exercer o cargo administrativo em comissatildeo de Secretaacuterio-

Executivo de um Ministeacuterio mas que tal praacutetica natildeo ocorreraacute caso o tio do Presidente da

Repuacuteblica seja nomeado como Ministro de Estado

Outrossim observa-se que a decisatildeo do STF tem ―caraacuteter construtivo

raramente assumido903

dito por Alf Ross vez que o STF teve a liberdade para decidir

901 Conforme se extrai dos dizeres da Ministra Carmem Luacutecia e do Ministro Gilmar Mendes no segundo debate

ocorrido anterior agrave ediccedilatildeo da SV n13 902 ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 182 903 Ibidem p 181-182

155

em grau e em reconhecimento quanto aos precedentes da Suacutemula Vinculante e quanto agrave

sua ediccedilatildeo Mas diferentemente do que dispotildee o autor natildeo soube ―como justificar

tecnicamente mediante argumentos interpretativos a soluccedilatildeo juriacutedica que considerou

―justa ou desejaacutevel904

vez que o STF ao construir a Suacutemula reconstruindo a noccedilatildeo de

nepotismo e sua consequente vedaccedilatildeo natildeo indicou expressamente as regras de

interpretaccedilatildeo e os dados interpretativos utilizados a embasar a decisatildeo que considerada

desejaacutevel

Por fim parece que o STF natildeo aplicou as liccedilotildees de Alf Ross vez que os

argumentos teacutecnicos utilizados pelos ministros como razotildees provenientes de suas

consciecircncias juriacutedicas fundados nas normas e nas exigecircncias sociais natildeo se fizerem

presente em toda a decisatildeo judicial905

Natildeo haacute argumento teacutecnico que justifique ―parente afim ateacute o terceiro grau

inclusive no contexto da vedaccedilatildeo do nepotismo no acircmbito da Suacutemula jaacute que contraacuterio

ao conceito determinado pelo Coacutedigo Civil que natildeo classifica em graus o parentesco

por afinidade e mesmo se classificasse seria ateacute segundo grau jaacute que a afinidade abarca

os irmatildeos do cocircnjuge ou seja os cunhados

Mas agindo em funccedilatildeo poliacutetica e natildeo juriacutedica os Ministros justificaram tal

elaacutestica interpretaccedilatildeo aduzindo que se fazia necessaacuterio proibir uma rede familiarlsquo na

ocupaccedilatildeo de cargos comissionados da Administraccedilatildeo Puacuteblica Soacute nela jaacute que tal rede

natildeo importa no acircmbito governamental pois natildeo abarca a nomeaccedilatildeo para cargo poliacutetico

Eacute imoral a rede familiar em acircmbito menor ndash administrativo mas eacute moral no maior ndash

governamental

Conforme ensina Eros Grau o juiz deve decidir sopesando o ―direito todo e

natildeo apenas um determinado texto normativo906

contudo natildeo foi o que o STF vez que

aleacutem de inobservar determinados dispositivos constitucionais e legais sobre

determinados elementos do nepotismo como o pertinente a funccedilatildeo comissionada e o

relativo a parentesco por afinidade respectivamente fundamentou a redaccedilatildeo sumular

efetivamente apenas no texto da Resoluccedilatildeo n 0705 do CNJ e ainda ao discutir sua

redaccedilatildeo a fim de aprimoraacute-la tambeacutem dela se distanciou pois ao inveacutes de estabelecer a

vedaccedilatildeo do nepotismo na mesma pessoa juriacutedica estabeleceu no mesmo poder

904 ROSS Alf Direito e Justiccedila Trad Edson Bini BauruSP Edipro 2000 p 183 905 Ibidem p 168 906 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p

38

156

Por fim nota-se que o autor afirma que a interpretaccedilatildeo deve se adequar ―a

algumas pautas dentre elas ―agrave finalidade do direto e ―aos princiacutepios907

de acordo

com o sistema juriacutedico do qual faz parte e com a Constituiccedilatildeo visto que um texto de

direito ―desprendido do sistema juriacutedico natildeo expressa significado normativo algum908

e constata-se que a interpretaccedilatildeo do STF natildeo se adequou nem agrave finalidade do direito em

questatildeo que eacute garantir a moralidade puacuteblica quanto ao nepotismo e muito menos

efetivou integralmente o referido princiacutepio

Pois bem se o STF natildeo decidiu efetivamente conforme os ensinamentos dos

autores que se debruccedilam agrave questatildeo de como os magistrados decidem menos ainda ao

analisar sua decisatildeo sob a perspectiva das teorias doutrinaacuterias de como os magistrados

deveriam decidir

Do que se tira das liccedilotildees de Savigny observa-se que a elaboraccedilatildeo da

jurisprudecircncia deve ser sistecircmica e histoacuterica909

contudo tal natildeo ocorreu quando da

elaboraccedilatildeo da SV n13910

Outrossim nota-se que as interpretaccedilotildees extensiva e restritiva ditas natildeo

verdadeiras por Savigny porque ―algo de fora eacute adicionado agrave expressatildeo da lei

configurando arbitrariamente forma utilizadas pelo STF na interpretaccedilatildeo de elementos

da noccedilatildeo de nepotismo dando aos mesmos ora limitaccedilatildeo ora elasticidade em prol de

uma redaccedilatildeo desejada pelos Ministros mas nem de longe a mais justa para a sociedade

ou para o paiacutes911

Ainda nota-se que o STF inobservou as liccedilotildees de Perelman quanto ao fato de

que discurso juriacutedico apresentado pelo orador deve apresentar a tese mais oportuna

conveniente razoaacutevel ou uacutetil devendo se preocupar em conhecer as teses agraves quais o

auditoacuterio que visa convencer eacute adepto e se fundamentar em teorias comuns ao senso

geral da coletividade especialmente quando o puacuteblico eacute heterogecircneo vez que a SV n13

foi editada em termos contraacuterios ao disposto caindo o STF no que o autor designa como

―Peticcedilatildeo de Princiacutepio

E ao utilizar ficccedilatildeo juriacutedica912

para justificar sua decisatildeo ao contraacuterio do que

ensina Perelmam natildeo utilizou argumentaccedilatildeo juridicamente soacutelida e mais aceitaacutevel

907 Ibidem p 39 908 GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 2005 p

40 e 128 909 SAVIGNY Friedrich Karl Von Metodologia Juriacutedica Trad Hebe A M Caletti Marenco e Regina Ceacutelia de

Carvalho Paschoal Lima CampinasSP Edicamp 2001p 8 910 Conforme se observa do descrito no capiacutetulo I deste trabalho 911 SAVIGNY Op cit p 41 -42 912PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 191

157

socialmente913

bem como natildeo exerceu seu papel de obter uma decisatildeo legal ―razoaacutevel

e aceitaacutevel914

e ainda editou a normativa sem omissatildeo do legislativo

915

Aleacutem disso o STF tambeacutem natildeo expressou todo o raciociacutenio juriacutedico

desenvolvido no transcorrer do caminho agrave soluccedilatildeo do caso concreto916

nem quanto aos

elementos que compotildeem o conceito de nepotismo nem quanto agrave redaccedilatildeo final da

proacutepria Suacutemula

Em conformidade com os dizeres de Perelman com a motivaccedilatildeo os demais

juristas entendem porque foi proferida aquela decisatildeo e a opiniatildeo puacuteblica a conhece e

desta forma o magistrado natildeo apenas obedece ao requisito legal mas tambeacutem ao valor

de soluccedilatildeo mais aceitaacutevel mas no caso da SV n13 ―os demais juristas natildeo entenderam

―porque foi proferida aquela decisatildeo nos termos em que foi e natildeo a observaram como

―a soluccedilatildeo mais aceitaacutevel

Desta feita Perelman elucida que a loacutegica judiciaacuteria fundamenta-se na adesatildeo

cabendo ao magistrado convencer a todos de que a decisatildeo tomada eacute a legal e mais

aceitaacutevel ―mais equitativa e a mais conforme o direito em vigor917

contudo natildeo foi o

que os ministros do STF fizerem tanto ao julgar os precedentes como ao elaborarem a

SV n13 como a soluccedilatildeo legal mais aceitaacutevel a solucionar a questatildeo vedar o nepotismo

Larenz elucida que a ―interpretaccedilatildeo em conformidade com a Constituiccedilatildeo eacute

―um criteacuterio de interpretaccedilatildeo preferiacutevel dentre ―as vaacuterias interpretaccedilotildees possiacuteveis e

que natildeo ultrapassa ―os limites que resultam de sentido literal possiacutevel e do contexto

significativo da lei918

Todavia parece que os Ministros do STF ultrapassaram este limite ao

estabelecerem uma Suacutemula Vinculante que veda minuciosamente o nepotismo como

decorrente apenas do conteuacutedo dos princiacutepios constitucionais que regem a

administraccedilatildeo especialmente o da moralidade da imparcialidade e da eficiecircncia

Realmente a vedaccedilatildeo do nepotismo eacute consequecircncia da autoaplicaccedilatildeo de tais

princiacutepios mas isto natildeo quer dizer que a redaccedilatildeo da Suacutemula na forma em que estaacute eacute

decorrente de apenas deles vez que tece minucias quanto agrave noccedilatildeo de nepotismo que

913 PERELMAN Chaiumlm Loacutegica juriacutedica Trad Virgiacutenia K Pupi 2ordf ed Satildeo Paulo Martins Fontes 1999 p 193

Como no caso do parentesco por afinidade ateacute 3ordm grau 914 Ibidem p 200 915 Ibidem p 203-204 Parece que no caso da SV n13 o Judiciaacuterio fez mais que isto Ele natildeo determinou como a lei

deve ser aplicada ele legislou 916 Ibidem p 210-211 917 Ibidem p 240 918LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 480-481

158

nem mesmo em uma interpretaccedilatildeo ampla podem ser observadas como consequecircncia da

autoaplicaccedilatildeo de tais princiacutepios

Tambeacutem afirma que a aspiraccedilatildeo ―legiacutetima do magistrado eacute ―um imperativo de

ordem moral e que por isso ele deve procurar na lei ―possibilidades de soluccedilotildees que

satisfaccedilam a justiccedila919

contudo pode-se dizer que os Ministros do STF ao elaborarem a

SV n 13 natildeo vislumbraram as soluccedilotildees justas vez que a redaccedilatildeo do instrumento

sumular tanto natildeo corresponde a tal valor que seu alcance foi posteriormente

questionado pelo Procurador-Geral da Repuacuteblica e ―regulamentado por Decreto

Presidencial no acircmbito do Poder Executivo

Outrossim ensina que natildeo eacute liacutecito ao juiz ―introduzir na lei o que deseja

extrair dela pois natildeo pode ―sobrepor-se agrave decisatildeo valorativa do legislador920

Entretanto a decisatildeo dos Ministros do STF se sobrepocircs agrave decisatildeo valorativa do

legislador tanto em relaccedilatildeo ao legislador constitucional como ao infraconstitucional

inclusive quanto ao legislador da Resoluccedilatildeo n 705 do CNJ que foi a principal

normativa que subsidiou a redaccedilatildeo da SV n13

Inocecircncio Maacutertires Coelho ensina que no acircmbito do judiciaacuterio ―as exigecircncias

sociais satildeo absorvidas e racionalizadas pelo aplicador do direito por ―novas leituras dos

mesmos enunciados normativos e que essas podem ser ―tatildeo inovadoras que chegam a

criar modelos juriacutedicos inteiramente novos e parece que foi exatamente isto que o STF

fez ao editar a Suacutemula

Mas o que se observa eacute que o STF extrapolou vaacuterios dos limites juriacutedicos em

prol de uma motivaccedilatildeo natildeo juriacutedica pois como uacuteltimo inteacuterprete por meio da normativa

vinculante (que parece natildeo ter alcanccedilado o objetivo da proacutepria Suacutemula Vinculante que

eacute de apaziguar controveacutersias de forma clara e objetiva) recriou a noccedilatildeo de nepotismo

bem como sua vedaccedilatildeo de forma ampla por meio de uma redaccedilatildeo que vai aleacutem do

disposto em todas as outras normas existentes e estancou as demais interpretaccedilotildees

quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo tanto do poder executivo quanto do legislativo e do

proacuteprio judiciaacuterio em todos os entes da federaccedilatildeo sem analisar as consequecircncias reais

do seu ato

Segundo Inocecircncio o magistrado cria norma de decisatildeo concreta ou a norma

do caso de acordo com as particularidades da situaccedilatildeo sob tutela jurisdicional921

919LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste

Gulbenkian 1997 p 492 920 Ibidem p 493 921 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 43

159

Contudo o STF ao editar a SV n13 impediu que isso ocorra pois a Suacutemula

Vinculante embora seja uma norma geral eacute uma norma de decisatildeo e ainda vinculante

que portanto natildeo permite que os demais agentes puacuteblicos que devem aplica-la tenham

outra forma de interpretaccedilatildeo senatildeo aquela que emana da sua proacutepria redaccedilatildeo o que

quer dizer que a normativa vinculante editada pelo STF natildeo permite que existam

decisotildees diversas conforme a particularidade do caso concreto apresentado

O autor tambeacutem informa que refazer o ―caminho do legislador a partir do

questionamento do texto922

quanto aos problemas sociais que ensejaram determinada

resposta normativa923

eacute ―recurso hermenecircutico a mais que natildeo deve ser desprezado

sobretudo quando se pretenda descobrir a razatildeo subjacente a um enunciado normativo

cujo significado seja de alguma maneira ―problemaacutetico

Contudo os ministros do STF natildeo o fizeram ao elaborar a SV n13 a partir da

Res nordm 0507 do CNJ vez que natildeo se fazia necessaacuterio descobrir a razatildeo subjacente ela

era clara eliminar o nepotismo no Judiciaacuterio Ao saberem disso e estarem motivados a

extirpar o nepotismo da administraccedilatildeo puacuteblica leia-se Poder Executivo partiram da

resoluccedilatildeo que para o Judiciaacuterio foi problemaacutetica e elaboraram uma disposiccedilatildeo

vinculante muito mais problemaacutetica ora em termos teacutecnicos juriacutedicos e natildeo apenas

isto ensejaram por meio desta a accedilatildeo interpretativa equiacutevoca por parte de todos a ela

submetidos

Inocecircncio tambeacutem elucida que o magistrado-inteacuterprete deve a fim de

compreender o significado do texto aleacutem de atentar para o passado observar ―a si

mesmo e a ―concreta situaccedilatildeo hermenecircutica em que se encontra924

pois eacute o inteacuterprete

que concretiza a norma juriacutedica e o faz no presente em que vive

No caso da ediccedilatildeo da SV n13 os ministros observaram a si mesmos mas

parece que a situaccedilatildeo hermenecircutica concreta de forma equivocada vez que os

precedentes utilizados natildeo eram bastante a demonstraacute-la tanto que a consequente

redaccedilatildeo da suacutemula restou problemaacutetica

Em conformidade com o autor a decisatildeo deve ser racional objetiva e

controlaacutevel natildeo podendo configurar um ―oraacuteculo despoacutetico ou iluminado que se ponha

acima da lei e dos criteacuterios usuais de interpretaccedilatildeo devendo o magistrado percorrer

922 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 44 923 Ibidem p 44 924 Ibidem p 46

160

―todo o itineraacuterio hermenecircutico onde as regras de interpretaccedilatildeo demonstram os

―passos do processo do pensamento925

Poreacutem o que se observa dos votos dos ministros proferidos nos quatro julgados

utilizados como precedentes da SV n13 e nas suas disposiccedilotildees acerca do tema nos dois

debates que antecederam agrave elaboraccedilatildeo do verbete sumular eacute que natildeo utilizaram

―criteacuterios usuais de interpretaccedilatildeo mas ao contraacuterio ―um oraacuteculo despoacutetico muitas

vezes aplicado aleacutem das disposiccedilotildees constitucionais e infraconstitucionais

O autor tambeacutem ensina que ―soacute eacute possiacutevel uma hermenecircutica juriacutedica onde a

lei vincule por igual a todos os membros da comunidade juriacutedica tanto os governantes

quanto os governados tanto os legisladores quanto os juiacutezes e que este processo

transparece o raciociacutenio desenvolvido e possibilita num ―imperativo eacutetico-poliacutetico o

convencimento daqueles a quem ―as decisotildees dos agentes puacuteblicos se destinam 926

Ocorre que natildeo foi isto que se obteve com a ediccedilatildeo da SV n13 vez que a

vedaccedilatildeo do nepotismo natildeo abarca todos vez que excepciona as nomeaccedilotildees de parentes

de autoridades para cargos poliacuteticos e mesmo abrangendo o sobrinho do marido de uma

autoridade excepciona do nepotismo a nomeaccedilatildeo de um primo desta autoridade

Normativa esta que aleacutem de natildeo vincular os possiacuteveis agentes por igual natildeo foi

realizada por meio de um processo hermenecircutico que convence a plateia pois feita em

um imperativo apenas poliacutetico e nada eacutetico

Por outro lado nota-se que foi pela obrigatoacuteria publicidade e a motivaccedilatildeo das

decisotildees dos magistrados que traduzem a validade ou natildeo do proacuteprio ato decisoacuterio bem

como a sua compatibilidade ou natildeo com ―a ideia do direito enquanto instrumento de

ordenaccedilatildeo justa e racional da convivecircncia humana que foi possiacutevel observar a

problemaacutetica juriacutedica que se encontra no cerne da SV do STF 927

Das liccedilotildees de Inocecircncio tambeacutem se extrai que a atividade interpretativa eacute

―contextualizada o que obsta significaccedilatildeo arbitraacuteria aos enunciados legais sendo

vedado dizer aleacutem da redaccedilatildeo do texto legal sendo a ―letra da lei o ―ponto de partida

da interpretaccedilatildeo e tambeacutem a sua delimitaccedilatildeo a ensejar uma decisatildeo ―razoaacutevel que eacute

demonstrada por meio dos motivos da interpretaccedilatildeo daquilo que a fundamentou de

acordo com o caso concreto do momento presente 928

925 COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 47-48 926 Ibidemp 48 927 Ibidem p 49 928 Ibidem p 55

161

Entretanto os ministros do STF natildeo fizeram o disposto acima jaacute que a letra da

lei seja ela constitucional ou infraconstitucional foi desconsiderada quanto a

determinados enunciados que passaram a ter significados arbitraacuterios havendo hoje

uma realidade inconstitucional incompatiacutevel com a norma constitucional929

Ainda pode-se dizer que o STF inobservou o fato de que natildeo foi dado aos

magistrados ―uma legitimidade que eacute privativa dos titulares dos mandatos poliacuteticos e

que deve-se evitar qualquer espeacutecie de ativismo judicial que fira a ordem juriacutedico-

poliacutetica plasmada na Constituiccedilatildeo 930

No acircmbito especiacutefico da hermenecircutica constitucional e poder normativo pelas

liccedilotildees de Dworkin que cabe ao seu operador descobrir dentre as fontes normativas as

regentes dos casos postos bem como a estrutura em que as regras e princiacutepios satildeo

conjugados com o fito de realizar a justiccedila no caso931

mas isto natildeo foi realizado pelos

Ministros do STF nem ao debater os precedentes da SV nem a ediccedilatildeo da proacutepria

normativa vinculante

Conforme Marcelo Neves os magistrados devem-se ater a almejar a ―justiccedila do

sistema juriacutedico que ―sempre eacute imperfeito e se define em cada caso concreto

Contudo o STF ao editar uma SV com uma redaccedilatildeo equiacutevoca fez foi agravar a

imperfeiccedilatildeo do sistema natildeo havendo possibilidade de se definir a situaccedilatildeo em cada caso

concreto932

Humberto Aacutevila defende que o Judiciaacuterio deve construir significados dentro de

certos limites existentes a fim de que natildeo acarrete um ―descompasso entre a previsatildeo

constitucional e o direito constitucional concretizado933

mas o caso da SV n13 soacute faz

exemplificar que o STF vem ultrapassando tais limites

Assim embora a Constituiccedilatildeo em poder do inteacuterprete crie os ―objetos

hermenecircuticos num processo aberto e infinito sua ―consistecircncia deve ser controlada

por meio da verificaccedilatildeo de seus resultados a partir de um ―criteacuterio baseado na justiccedila

da decisatildeo em cada caso concreto necessaacuterio a obstar decisotildees arbitraacuterias934

Contudo se observa que o STF natildeo utilizou de teacutecnicas e meacutetodos pertinentes agrave

hermenecircutica juriacutedica especialmente a constitucional tanto para julgar os precedentes

929

COELHO Inocecircncio Maacutertires Interpretaccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 1997 p 40 930

Idem p 67 - 68 931

DWORKIN Ronald Levando os direitos a seacuterio Satildeo Paulo Martins Fontes 2002 p 259-260 932

NEVES Marcelo Entre Hidra e Heacutercules princiacutepios e regras constitucionais como diferenccedila

paradoxal do sistema juriacutedico Satildeo Paulo WMF Martins Fontes 2013 p 225 933

AacuteVILA Humberto Teoria dos princiacutepios da definiccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo dos princiacutepios juriacutedicos 3 ed

Satildeo Paulo Malheiros Editores 2004 p 25 934

COELHO Op cit p 76

162

quanto para construir a noccedilatildeo judicial de nepotismo por meio da SV n13 pois natildeo

aplicou os paracircmetros racionais e despersonalizados da atividade hermenecircutica

163

4 A JURISDICcedilAtildeO CONSTITUCIONAL E A SUacuteMULA VINCULANTE N 13

Diante do fato de que o Supremo Tribunal Federal reconheceu por meio da SV

n13 que o nepotismo eacute vedado em todos os poderes de todos os entes da Federaccedilatildeo

cabendo agraves autoridades dos demais poderes somente reconhecer a existecircncia de

nepotismo e aplicar as medidas cabiacuteveis o que se discute nesse capiacutetulo eacute se o STF ao

realizar a reconstruccedilatildeo normativa da vedaccedilatildeo do nepotismo por meio da Suacutemula

Vinculante n 13 exorbitou a normatividade do proacuteprio instituto avaliando se os quatro

julgados que embasam o enunciado vinculante configuram jurisprudecircncia reiterada

sobre a mateacuteria se qualitativamente a tornam consistente se sua redaccedilatildeo eacute coerente agrave

finalidade do instituto de ser clara objetiva e apaziguadora de controveacutersias e ainda se

o texto sumular estaacute de acordo com o princiacutepio da legalidade

41 A Suacutemula Vinculante no sistema normativo brasileiro

No decorrer do seacuteculo XX a proteccedilatildeo judicial da Constituiccedilatildeo consolidou-se

como um importante mecanismo de defesa do Estado Constitucional se consagrando

dois sistemas um americano e outro europeu935

Nesse esteio no Brasil foi desenvolvido um sistema que apresenta

―particularmente os limites de cada um dos modelos mas que tambeacutem possui

―dificuldades de mesclar os elementos para solucionar os problemas936

fazendo com

que a justiccedila constitucional seja ―pautada pelos problemas decorrentes da convivecircncia

entre controle difuso e concentrado e seja recorrente a divergecircncia entre ―as decisotildees

tomadas pelo STF e pelas demais instacircncias do Judiciaacuterio sendo um mesma demanda

decidida vaacuterias vezes diferentemente pelos demais juiacutezes e tribunais e pelo STF

ensejando a proposiccedilatildeo de diversos recursos extraordinaacuterios no mesmo sentido

E entatildeo foram adotadas medidas a solucionar as demandas causadas por

―divergecircncia jurisprudencial sobre a interpretaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo estando dentre elas

as Suacutemulas Vinculantes que se caracterizam ―como mecanismo de prevenccedilatildeo da

935 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e proteccedilatildeo dos direitos fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 ndash julset2009 p 81 Contudo enquanto nos Estados Unidos ―a posiccedilatildeo do judiciaacuterio como defensor do

cidadatildeo contra o poder legislativo permite a qualquer indiviacuteduo ameaccedilado por ato legal buscar o remeacutedio judicial

na Europa ― a defesa da ordem constitucional de competecircncias requer a criaccedilatildeo de um tribunal ad hoc e a limitaccedilatildeo da

legitimidade ativa p 83 936 Ibidem p84

164

divergecircncia sobre a interpretaccedilatildeo constitucional e visam que os juiacutezes se adaptem agraves

orientaccedilotildees jurisprudenciais do STF937

Assim a Emenda Constitucional n 45 estabeleceu938

a Suacutemula Vinculante

como ferramenta para contribuir na celeridade processual939

sob um conjunto de

criteacuterios a subsidiar sua ediccedilatildeo dispostos no artigo 103-A da Constituiccedilatildeo Federal940

e

dentre eles dois ―que dependem de um juiacutezo de caraacuteter substantivo941

sendo o

primeiro a ―controveacutersia atual que acarrete grave inseguranccedila juriacutedica e relevante

multiplicaccedilatildeo de processos sobre questatildeo idecircntica942

e o segundo ―reiteradas decisotildees

de mateacuteria constitucional do que se pode extrair que a existecircncia apenas do primeiro

natildeo autoriza a ediccedilatildeo da SV sendo necessaacuterio que a similitude entre os casos que

justifica trataacute-los como questatildeo idecircnticalsquo ensejem reiteradas decisotildeeslsquo943

Ainda nota-se que a Suacutemula Vinculante desde que de acordo com tais

paracircmetros constitucionais eacute autorizada por decisatildeo de no miacutenimo 23 dos ministros do

STF

E a Lei n 11417 de 19122006944

que regulamenta o art 103-A da

Constituiccedilatildeo Federal disciplinando a ediccedilatildeo a revisatildeo e o cancelamento de enunciado

de suacutemula vinculante pelo Supremo Tribunal Federal por sua vez aleacutem replicar alguns

937 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e proteccedilatildeo dos direitos fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila nordm8 ndash julset2009 p 84-85 938 Em 30122004 939 Tem-se em vista com a Suacutemula Vinculante evitar processos desnecessaacuterios e protelatoacuterios e tornar mais ceacutelere a

justa aplicaccedilatildeo do Direito PACHECO Joseacute da Silva Da extinccedilatildeo do nepotismo na Administraccedilatildeo Puacuteblica e da

Suacutemula Vinculante do STF para agilizar a eficaacutecia de normas que envolvam mateacuteria constitucional Revista da

Academia Brasileira de Letras Juriacutedicas V 25 n 34 Rio de Janeiro janjun 2009 p 108 940 Art 103-A O Supremo Tribunal Federal poderaacute de ofiacutecio ou por provocaccedilatildeo mediante decisatildeo de dois terccedilos dos

seus membros apoacutes reiteradas decisotildees sobre mateacuteria constitucional aprovar suacutemula que a partir de sua publicaccedilatildeo

na imprensa oficial teraacute efeito vinculante em relaccedilatildeo os demais oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio e agrave administraccedilatildeo puacuteblica

direta e indireta nas esferas federal estadual e municipal bem como proceder agrave sua revisatildeo ou cancelamento na

forma estabelecida em lei (grifos nossos)sect 1ordm A Suacutemula teraacute por objetivo a validade a interpretaccedilatildeo e a eficaacutecia de

normas determinadas acerca das quais haja controveacutersia atual entre os oacutergatildeos judiciaacuterios ou entre esses e a

administraccedilatildeo puacuteblica que acarrete grave inseguranccedila juriacutedica e relevante multiplicaccedilatildeo de processos sobre questatildeo

idecircntica (grifos nossos) sect2ordm Sem prejuiacutezo de que vier a ser estabelecido em lei a aprovaccedilatildeo revisatildeo ou cancelamento

da suacutemula poderaacute ser provocada por aqueles que podem propor a accedilatildeo direta de inconstitucionalidadesect3ordm Do ato

administrativo ou decisatildeo judicial que contrariar a suacutemula aplicaacutevel ou que indevidamente a aplicar caberaacute

reclamaccedilatildeo ao Supremo Tribunal Federal que julgando-a procedente anularaacute o ato administrativo ou cassaraacute a

decisatildeo judicial reclamada e determinaraacute que outra seja proferida com ou sem a aplicaccedilatildeo da suacutemula conforme o

caso 941 MAUEacuteS Op cit p 86 942 ― A controveacutersia deve ser atual e natildeo ultrapassada ou superada por entendimento subsequente A

contemporaneidade do dissenso eacute um requisito importante () A controveacutersia haacute de ter grave intensidade capaz de

provocar inseguranccedila juriacutedica e multiplicidade de processos a impedir a celeridade de sua tramitaccedilatildeo PACHECO

Joseacute da Silva Op cit p 108 ― a multiplicidade de demandas e recursos sobre teses juriacutedicas absolutamente idecircnticas

jaacute definidas inclusive na suprema corte do paiacutes sabido ainda que o descumprimento das diretrizes promana em

percentual muito elevado da proacutepria Administraccedilatildeo Puacuteblica Ibidem p 109 943 MAUEacuteS Op cit p 86 ― A imprescindibilidade de resguardar o princiacutepio da seguranccedila juriacutedica assegurando a

previsibilidade das decisotildees judiciais em causas idecircnticas PACHECO Joseacute da Silva Op cit p 109 944 Art 1o Esta Lei disciplina a ediccedilatildeo a revisatildeo e o cancelamento de enunciado de suacutemula vinculante pelo Supremo

Tribunal Federal e daacute outras providecircncias

165

dos dispositivos jaacute expresso no artigo 103-A da Constituiccedilatildeo Federal esmiuccedilou o jaacute

previsto constitucionalmente e ainda estabeleceu detalhes sobre o procedimento de

criaccedilatildeo revisatildeo e extinccedilatildeo do instrumento sumular

Nesse ensejo vale enfocar que o sect2ordm do art 3ordm dispotildee sobre a possibilidade de

haver nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal manifestaccedilatildeo de

terceiros quanto agrave questatildeo945

que o art 4ordm estabelece ser possiacutevel a restriccedilatildeo dos efeitos

vinculantes da mesma e sua eficaacutecia para outro momento ambas por motivo de

seguranccedila juriacutedica ou excepcional interesse puacuteblico946

que o art 5ordm determina a revisatildeo

da SV quando da revogaccedilatildeo ou modificaccedilatildeo da lei em que se embasou947

e que o art 10

da lei prevecirc que o procedimento referente agrave Suacutemula observaraacute tambeacutem dispositivos do

Regimento Interno do STF948

Ainda se extrai que se natildeo houver a observacircncia de algumas das condiccedilotildees

insculpidas nos dispositivos constitucionais e legais quando da elaboraccedilatildeo da suacutemula

ela natildeo teraacute efeito vinculante apoacutes sua publicaccedilatildeo Nesse caso configuraria entatildeo outra

espeacutecie de suacutemula a de ―jurisprudecircncia predominante do Supremo Tribunal Federal949

Assim a Suacutemula caso natildeo verse sobre mateacuteria constitucional e natildeo tenha sido

editada em face de controveacutersia atual entre oacutergatildeos judiciaacuterios ou entre esses e a

administraccedilatildeo puacuteblica que acarrete grave inseguranccedila juriacutedica e relevante multiplicaccedilatildeo

de processos sobre questotildees idecircnticas natildeo seraacute vinculante

Aqui vale ressaltar que o efeito vinculante da suacutemula aleacutem de o ser quanto ao

enunciado tambeacutem chega aos motivos determinantes expostos nos seus precedentes

vez que ―a atribuiccedilatildeo de efeito vinculante agraves suacutemulas a exemplo do que sucede em

relaccedilatildeo agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal em controle abstrato de normas tem

945 Como faculta o sect 2o do artigo 3ordm da lei ―No procedimento de ediccedilatildeo revisatildeo ou cancelamento de enunciado da

suacutemula vinculante o relator poderaacute admitir por decisatildeo irrecorriacutevel a manifestaccedilatildeo de terceiros na questatildeo nos

termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal 946 Conforme expresso no Art 4o ―A suacutemula com efeito vinculante tem eficaacutecia imediata mas o Supremo Tribunal

Federal por decisatildeo de 23 (dois terccedilos) dos seus membros poderaacute restringir os efeitos vinculantes ou decidir que soacute

tenha eficaacutecia a partir de outro momento tendo em vista razotildees de seguranccedila juriacutedica ou de excepcional interesse

puacuteblico 947 Verbis ―Art 5o Revogada ou modificada a lei em que se fundou a ediccedilatildeo de enunciado de suacutemula vinculante o

Supremo Tribunal Federal de ofiacutecio ou por provocaccedilatildeo procederaacute agrave sua revisatildeo ou cancelamento conforme o caso 948 ―Art 10 O procedimento de ediccedilatildeo revisatildeo ou cancelamento de enunciado de suacutemula com efeito vinculante

obedeceraacute subsidiariamente ao disposto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal 949LEAL Roger Stiefelman O Efeito Viculante na jurisdiccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 2006 Expressatildeo

utilizada na nota de rodapeacute n 539 da p 176

166

como resultado praacutetico a imposiccedilatildeo de seus fundamentos determinantes aos oacutergatildeos e

poderes especificados na norma constitucional950

Isso porque como a Suacutemula Vinculante eacute um instrumento a uniformizar a

―jurisprudecircncia constitucional sobre a mateacuteria com base na orientaccedilatildeo do STF951

faz-

se imprescindiacutevel agrave sua aplicaccedilatildeo o conhecimento dos precedentes que levaram agrave sua

ediccedilatildeo sem o qual natildeo se pode identificar as ―circunstacircncias do caso que autorizam

aplica-la952

Assim mesmo natildeo sendo possiacutevel que seu enunciado expresse todo o seu

processo hermenecircutico deve conter ―os fundamentos que se quer generalizar de modo

contextualizado pois eacute imprescindiacutevel ao juiz que faraacute ―o processo de aplicaccedilatildeo da

suacutemula vinculante o ―conhecimento do modo como os fatos tratados nos precedentes

foram interpretados pelo STF a fim de que possa ―decidir se cabe ou natildeo sua aplicaccedilatildeo

em determinado caso953

Desta feita como o marco da suacutemula eacute constituiacutedo por seus precedentes ela

deve se ajustar ―tanto agraves decisotildees passadas guardando coerecircncia com as circunstacircncias

dos casos e o fundamento de suas decisotildees quanto justificar sua vinculatividade como a

soluccedilatildeo correta para os casos futuros Para tanto o STF deve desenvolver ―um juiacutezo de

igualdade fundamentando sua conclusatildeo nas similitudes dos casos954

Por isso deve-se ―evitar que o enunciado das suacutemulas se afaste do processo

hermenecircutico que conduziu aos precedentes bem como que natildeo apenas reafirme os

princiacutepios constitucionais mas antes garanta a ―concretizaccedilatildeo deles diante das

situaccedilotildees especiacuteficas955

Eacute dessa forma que as suacutemulas vinculantes obrigam os magistrados a aplicarem

o disposto pelo STF956

tanto pelo seu enunciado como tambeacutem por sua

950 LEAL Roger Stiefelman O Efeito Viculante na jurisdiccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 2006 p 176 951 ―Quando da discussatildeo sobre a conveniecircncia da introduccedilatildeo ou natildeo no ordenamento juriacutedico da Suacutemula

Vinculante argumento de peso brandido pelos contraacuterios era a sua utilizaccedilatildeo pelo judiciaacuterio como instrumento de

dominaccedilatildeo sobreposto ateacute agrave lei Seus defensores afastavam tal receio e viam a Suacutemula como afastamento das

incertezas possibilitando uma prestaccedilatildeo jurisdicional mais segura () e mais raacutepida DIZ Nelson Nascimento

Nepotismo Suacutemula Vinculante nordm 13 Limitaccedilatildeo ao tratamento por lei Revista de Direito do Estado - RDE v 3 n

12 outdez 2008 p 391 952 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p85 953 Ibidem p87 954 Ibidem p95 955 Ibidem p95 956 ― o efeito vinculante natildeo retira do julgador a sua liberdade de decidir mas apenas o impede que decirc curso agrave

renovaccedilatildeo de teses jaacute apreciadas e decididas anteriormente de forma reiterada por oacutergatildeos colegiados

presumivelmente detentores de maior conhecimento da mateacuteria PACHECO Joseacute da Silva Da extinccedilatildeo do

167

fundamentaccedilatildeo957

funcionando o efeito vinculante como meio que ―aleacutem de preservar

iacutentegros os elementos conceituais do instituto minimiza o perigo das imperfeiccedilotildees que

natildeo raro recaem sobre a simplificaccedilatildeo de complexas questotildees juriacutedicas em verbetes

condensadores da jurisprudecircncia dominante cabendo ―aos destinataacuterios do efeito

vinculante observar natildeo soacute o enunciado da suacutemula mas tambeacutem as condiccedilotildees e

circunstacircncias em que tem aplicaccedilatildeo958

Tambeacutem haacute de se ressaltar que por sua natureza a Suacutemula Vinculante

diferentemente das disposiccedilotildees constitucionais e legais natildeo enseja aplicaccedilatildeo de

hermenecircutica necessaacuteria a iluminar o seu entendimento jaacute que como deve ser clara

objetiva e apaziguadora de controveacutersias parte-se do pressuposto que se basta em si

proacutepria e por si soacute sendo auto-suficiente auto-explicativa e auto-aplicaacutevel

dispensando portantoalgum texto adicional que explique ou traduza o seu espiacuterito E

nesse esteio se diz que a interpretaccedilatildeo da redaccedilatildeo Suacutemula Vinculante deve ser literal

Contudo eacute interessante destacar que o STF ao se editar a primeira SV

consignou em seu enunciado ―a necessidade de anaacutelise das particularidades de cada caso

para sua aplicaccedilatildeo959

Dessa forma as SVs passaram a ser editadas e com elas vieram as dificuldades

como o fato de a diversidade de circunstacircncias dos precedentes por ―em duacutevida a

correccedilatildeo do enunciado que deve ser objeto do maacuteximo cuidado quando se trata de

decisotildees que restringem direitos e de a Suacutemula ser ―fiel agraves reiteradas decisotildeeslsquo que

devem antecedecirc-la960

nepotismo da Administraccedilatildeo Puacuteblica e da Suacutemula Vinculante do STF para agilizar a eficaacutecia de normas que

envolvam mateacuteria constitucional Revista da Academia Brasileira de Letras Juriacutedicas Rio de Janeiro v 25 n 34

janjun 2009 p 109 957 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 86 Aqui vale realizar uma explicaccedilatildeo sobre o efeito vinculante da suacutemula que se refere

natildeo apenas ao proacuteprio verbete sendo vinculante quanto ao seu enunciado como tambeacutem agrave ratio decidendi ou seja

aos fundamentos determinantes das suacutemulas que ―satildeo os fundamentos determinantes dos precedentes que lhes deram

origem alcanccedilando assim ―os princiacutepios e interpretaccedilotildees asseverados na motivaccedilatildeo dos reiterados julgados que

embasaram a sua ediccedilatildeo LEAL Roger Stiefelman O Efeito Viculante na jurisdiccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo

Saraiva 2006 p 176 958 Ibidem p177 959 MAUEacuteS Op cit p87 960 O que aconteceu na ediccedilatildeo da SV n5 ―A falta de defesa teacutecnica por advogado no processo administrativo

disciplinar natildeo ofende a Constituiccedilatildeo Conforme informa Maueacutes ―Neste caso os proacuteprios Ministros reconhecem

que natildeo havia decisotildees reiteradas sobre a mateacuteria e ainda que ―o STF natildeo verifica a adequaccedilatildeo dos precedentes

citados na decisatildeo que leva agrave aprovaccedilatildeo da Suacutemula P89 Isso porque foram listados como precedentes julgados

que natildeo trataram de processo administrativo disciplinar e entre os que tratavam apenas um veiculou duacutevida sobre a

defesa teacutecnica o qual natildeo envolvia sanccedilatildeo grave como a demissatildeo ndash RE-AgR n 244027

168

Dito isto eacute que se passa a observar a maneira pela qual a Suacutemula Vinculante n

13 foi editada - pois potildee ―em duacutevida o cumprimento pelo STF dos dispositivos

constitucionais961

42 Sentido e Alcance da Suacutemula Vinculante n 13

A Constituiccedilatildeo Federal atribui ao STF competecircncia para expedir Suacutemula

Vinculante962

na forma estabelecida em lei Lei esta nordm 114172006 que determinou

no paraacutegrafo 2ordm do seu artigo 3ordm a possibilidade de haver a participaccedilatildeo de terceiro

interessado no procedimento da Suacutemula a criteacuterio do relator e conforme disposto no

Regimento Interno da Corte

Por isso se diz que a lei ao admitir a presenccedila de terceiro no procedimento de

ediccedilatildeo de suacutemula vinculante teve ―em conta o sadio princiacutepio de que no processo de

formaccedilatildeo e extroversatildeo da vontade do Estado ndash e a suacutemula expressa vontade do Estado

exteriorizada pela via jurisdicional ndash eacute a prudente ouvir antes de fazer obedecer

realccedilando assim ―a cidadania ativa princiacutepio fundamental da Repuacuteblica Federativa do

Brasil a preservar ―o Estado de decisotildees unilaterais e de vieacutes autoritaacuterio mutiladas por

visatildeo solitaacuteria e agraves vezes distorcida ou equivocada963

Todavia natildeo foi o que ocorreu e a omissatildeo ou negligecircncia do STF em observar

tal dispositivo e que sua aplicaccedilatildeo seria vaacutelida no caso em tela resultou em uma

normativa de ―vieacutes autoritaacuterio motivada pelo ativismo judicial em face do Poder

Executivo e ―mutilada por uma ―visatildeo distorcida pois parcial e desprovida de um

marco teoacuterico do magisteacuterio doutrinaacuterio paacutetrio vez que natildeo foi utilizada qualquer noccedilatildeo

doutrinaacuteria especiacutefica a delimitar a noccedilatildeo de nepotismo e sua vedaccedilatildeo e ainda

equivocada jaacute que se distanciou inclusive do seu marco legal a Resoluccedilatildeo do CNJ nordm

0705 natildeo apenas porque aumentou o acircmbito de vedaccedilatildeo do nepotismo de pessoa

juriacutedica para poder como tambeacutem porque natildeo acompanhou suas alteraccedilotildees dizendo

hoje menos do que a proacutepria Resoluccedilatildeo jaacute que natildeo veda como esta o nepotismo em

contrataccedilotildees diretas seja de que forma for

961 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p87 962 Artigo 103-A 963 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009p 14-15

169

E mesmo que se alegue que ―o Pleno supriria a exigecircncia da audiccedilatildeo preacutevia da

Comissatildeo de Jurisprudecircncia pois o Pleno pode muito natildeo se pode levar isso em conta

jaacute que o Pleno

―() natildeo pode tudo Natildeo pode substituir oacutergatildeos criados pelo Regimento de

caraacuteter normativo com atribuiccedilotildees proacuteprias e relativamente agraves quais o que

vigora eacute o princiacutepio da indisponibilidade das competecircncias puacuteblicas aleacutem do

que em vaacuterias ocasiotildees nem todos os integrantes da Comissatildeo estatildeo presentes

agrave sessatildeo em que apresentada proposta de suacutemula O afatilde do STF de acelerar a

prestaccedilatildeo jurisdicional e de viabilizar-se como oacutergatildeo de maacutexima jurisdiccedilatildeo

natildeo lhe daacute o direito de atropelar nem a Constituiccedilatildeo nem a lei A esse preccedilo

natildeo vai o princiacutepio da eficiecircnciardquo964

Ainda como a Resoluccedilatildeo n0705 do CNJ base normativa da ediccedilatildeo da SV

n13 foi alterada pela Resoluccedilatildeo n 09 e ainda esmiuccedilada por diversos enunciados do

mesmo Conselho a SV n13 nos termos do artigo 5ordm da lei regulamentar deveria ter

sido revista mas natildeo o foi

E embora o Ministro Marco Aureacutelio tenha persistido na necessidade de se

submeter a proposta da suacutemula vinculante previamente agrave Comissatildeo de Jurisprudecircncia

como previsto no proacuteprio RI observando o disposto no artigo 10 da lei em questatildeo e

sob o fundamento de que ―a finalidade do exame preacutevio () reside em prevenir

eventuais desacertos que bem podem resultar da redaccedilatildeo do verbete no calor das

discussotildees durante sessatildeo do Pleno965

a proposta da Suacutemula 13 natildeo foi submetida

previamente agrave Comissatildeo de Jurisprudecircncia do STF

Por fim o artigo 4ordm da mesma lei dispotildee que ―o Supremo Tribunal Federal por

decisatildeo de 23 (dois terccedilos) dos seus membros poderaacute restringir os efeitos vinculantes

() tendo em vista razotildees de seguranccedila juriacutedica ou de excepcional interesse puacuteblico e

a partir do disposto em seguida se observaraacute se este eacute um caso que poder-se-ia aplicar

tal hipoacutetese normativa

Como disposto no primeiro capiacutetulo deste a SV n13 foi embasada em quatro

precedentes que versaram sobre nepotismo mas que foram julgados diferentemente

pelo STF966

964 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009p 15 965 DJe nordm 1722008 pp 30 31 e 32 966 Na ADI 1521RS o STF decidiu foi pela constitucionalidade da proibiccedilatildeo de nomeaccedilatildeo de parentes ateacute o segundo

grau no acircmbito da respectiva autarquia fundaccedilatildeo instituiacuteda ou mantida pelo Poder Puacuteblico empresa puacuteblica ou

sociedade de economia mista ―Note-se bem no acircmbito da respectiva entidade E natildeo de qualquer outra embora

integrada na mesma Administraccedilatildeo ALEGRE Op cit p8 ―Tambeacutem avanccedilou na questatildeo de saber se o parente

ocupante de cargo efetivo poderia ocupar cargo em comissatildeo o ―que foi respondido afirmativamente pelo Min

170

A apreciaccedilatildeo de cada caracteriacutestica dos julgados nos precedentes deve ser

realizada de forma acurada a ensejar uma ―correta generalizaccedilatildeo dos fundamentos do

enunciado da Suacutemula Vinculante sendo nesse processo indissociaacuteveis ―o fundamento

da decisatildeo e o caso que se integram em um mesmo processo hermenecircutico onde os

―fundamentos satildeo elaborados nos precedentes de acordo com determinadas

circunstacircncias sendo possiacutevel saber se se deve solucionar da mesma forma situaccedilotildees

posteriores se houver o conhecimento dessas circunstacircncias967

Ocorre que como jaacute explicado anteriormente o STF natildeo analisou detidamente

as circunstacircncias de cada caso e ao elaborar a SV n13 ainda se distanciou dos seus

precedentes inclusive do uacutenico julgado que realmente poderia ser tido como seu

precedente a ADC 126-DF que teve por objeto a Resoluccedilatildeo nordm 0705 do CNJ que

embasou a redaccedilatildeo da SV n13

Desta feita o STF natildeo apenas julgou cada um dos quatro precedentes de forma

diversa quanto agrave noccedilatildeo do nepotismo e de sua vedaccedilatildeo como tambeacutem produziu uma

Suacutemula que natildeo condiz com os mesmos

Nos dois primeiros precedentes ADI n 1521 e MS n23780 o STF julgou a

adequaccedilatildeo das normativas agrave Constituiccedilatildeo Federal ―reconhecendo a liberdade do

legislador para dispor sobre a mateacuteria e se por um lado entendeu na ADI n 1521 pela

vedaccedilatildeo do nepotismo ateacute o segundo grau como dispunha a Emenda Constitucional

atacada por outro no MS n23780 acolheu a vedaccedilatildeo do nepotismo aos parentes de ateacute

terceiro grau

Ainda no terceiro precedente o RE n 679951 dispocircs sobre nepotismo

cruzado e a natildeo vedaccedilatildeo do nepotismo no que concerne a cargo poliacutetico e no quarto

precedente ndash a ADC 126-DF ambos julgados na mesma sessatildeo decidiu fazer da

Resoluccedilatildeo n 705 do CNJ a base da Suacutemula Vinculante n 13 mas tambeacutem dela se

afastou ao incluir na redaccedilatildeo sumular o elemento ―pessoa juriacutedica

CARLOS VELLOSO que contudo restou vencido e essa questatildeo natildeo foi discutida em nenhuma outra

oportunidaderdquo No MS 23780MA o STF entendeu pela proibiccedilatildeo do nepotismo ao terceiro grau mas tudo ficou

reduzido ao seu caso concretordquo ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF

Decifra-me ou te devoro Revista Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de

Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev 2009 p 8-9 967 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 86

171

Igualmente eacute de notoacuterio saber que a finalidade do instituto SV eacute apaziguar

―controveacutersias que acarretem ―grave inseguranccedila juriacutedica e relevante multiplicaccedilatildeo de

processos sobre questatildeo idecircntica

Contudo no caso da SV n13 sua ediccedilatildeo ocorreu mesmo natildeo havendo

―controveacutersia atual a causar ―grave inseguranccedila juriacutedica e ―multiplicaccedilatildeo de processos

sobre questatildeo idecircntica vez que no primeiro precedente a ADI n 1521 o STF julgou a

validade da Emenda Constitucional agrave Constituiccedilatildeo do Estado de Rio Grande do Sul no

segundo o MS n 23780 analisou a interpretaccedilatildeo das Leis n 942196 e n843292

referente a um uacutenico caso e no terceiro precedente o RE 579951 analisou a demanda

por meio da auto-aplicabilidade dos princiacutepios constitucionais e no quarto precedente a

ADC 126ndashDF resolveu estender a vedaccedilatildeo do nepotismo disposta pela Resoluccedilatildeo nordm

0705 do CNJ aos demais poderes Dessa forma configuraram todos eles demandas

uacutenicas e singulares e que natildeo envolveram nenhuma norma que estivesse causando

―grave inseguranccedila juriacutedica e muito menos ―multiplicaccedilatildeo de processos sobre questatildeo

idecircntica968

Aleacutem disso o STF inovou a redaccedilatildeo da SV n13 em relaccedilatildeo agrave legislaccedilatildeo

existente inclusive em relaccedilatildeo agrave vedaccedilatildeo disposta na normativa que a embasou a

Resoluccedilatildeo nordm 0705 do CNJ fugindo das ―interpretaccedilotildees desenvolvidas nos

precedentes e formulando ―novas interpretaccedilotildees para casos que natildeo foram tratados o

que eacute ―constitucionalmente inadmissiacutevel969

criando mais controveacutersias ao inveacutes de

dirimiacute-las970

Assim o STF fugiu do seu tradicional campo de atuaccedilatildeo - jaacute que natildeo atuou

como simples inteacuterprete da Constituiccedilatildeo - ―mediante hermenecircutica a que estaacutevamos

habituados e ao ―agir como tiacutepico legislador positivo e editou a SV n13 que ao

contraacuterio ―natildeo interpretou direito existente mas manifestou-se como tiacutepico ato

968 Salvo a Resoluccedilatildeo do CNJ que estava ―causando no Judiciaacuterio 969 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 95 970 () natildeo constitui objeto da suacutemula a ediccedilatildeo de norma juriacutedica aqui entendida como regra de direito dotada de

generalidade e abstraccedilatildeo cujo objeto seja a regulaccedilatildeo de condutas sociais A inovaccedilatildeo na ordem juriacutedica natildeo constitui

propoacutesito da suacutemula vinculante Diversamente edita-se um enunciado vinculante exatamente para se interpretar a

Lei regra de Direito Positivo jaacute existente A ediccedilatildeo da suacutemula pressupotildee pois a vigecircncia de regras juriacutedicas

abstratas jaacute criadas pelo Legislador sobre as quais haja controveacutersia interpretativa Adveacutem a () criacutetica ao conteuacutedo

da suacutemula vinculante nordm 13 nos termos em que editada e redigida a suacutemula desatende os contornos constitucionais

que conformam o instituto jaacute que ao editaacute-la o Pretoacuterio Excelso agiu () como Legislador Positivo criando uma

regra geral e abstrata a partir da interpretaccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de princiacutepios constitucionais (impessoalidade e moralidade)

cujos conteuacutedos satildeo dotados de um alto grau de vagueza semacircntica FILHO Joatildeo Pereira de Andrade A ilegitimidade

Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista

Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia - Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor

Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 136

172

normativo primaacuterio que foi buscar fundamento de validade diretamente no texto

constitucional ou seja no art 37 caput da Carta Federal971

Dessa forma o STF ao inveacutes de editar uma suacutemula vinculante a garantir

interpretaccedilatildeo validade e eficaacutecia a normativas controversas como determinam os

dispositivos constitucionais e legais reconstruiu a noccedilatildeo juriacutedica da vedaccedilatildeo do

nepotismo por meio da SV n13 - que inovou o tema e sua limitaccedilatildeo a partir de uma

redaccedilatildeo nada clara e objetiva incompatiacutevel com o que deve estear uma Suacutemula

Vinculante972

Eacute o que fica ainda mais patente ao se apreciar cada um dos cinco elementos

que constituem a noccedilatildeo de nepotismo disposta em sua redaccedilatildeo quais sejam parente por

afinidade ateacute terceiro grau inclusive autoridade nomeante ou () servidor ()

investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou assessoramento da mesma pessoa juriacutedica

para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila () compreendido o

ajuste mediante designaccedilotildees reciacuteprocas

421 Parentesco por consanguinidade e afinidade ateacute o terceiro grau

Primeiramente se aventa a questatildeo quanto agrave vedaccedilatildeo do nepotismo a parente

por afinidade ateacute terceiro grau inclusive

O STF ―inovando primariamente na ordem juriacutedica foi aleacutem do que dispotildee

a lei civil brasileira que no sect 1ordm do artigo 1595 dispotildee claramente que o parentesco por

afinidade estaacute adstrito aos ascendentes descendentes e irmatildeos do cocircnjuge ou

companheiro natildeo havendo especificaccedilatildeo de graus e determinou pela redaccedilatildeo da SV 13

―dentro do ciacuterculo de vedaccedilatildeo que o parentesco por afinidade no que concerne ao

nepotismo eacute ateacute de terceiro grau973

Contudo no ramo civilista a expressatildeo sofre duras criacuteticas pois a suacutemula natildeo

poderia dispor diferentemente do CCB designando como parente quem natildeo eacute parente

por lei Tanto que o Ministro CARLOS BRITTO ―chegou ateacute a propor interpretaccedilatildeo

971 ROCHA Zeacutelio Maia da Nepotismo e concurso puacuteblico criteacuterio objetivo de ausecircncia de moralidade e

impessoalidade na Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Juriacutedica Consulex ano XII n 286 15122008 p 40 972 Bem analisado o conteuacutedo da suacutemula seraacute possiacutevel perceber que o STF definiu mediante escolha e valoraccedilotildees de

cunho poliacutetico as modalidades de parentesco (consanguiacuteneo ou por afinidade) determinou ateacute que grau (terceiro)

estendeu a vedaccedilatildeo do nepotismo prescreveu o acircmbito espacial de aplicaccedilatildeo da vedaccedilatildeo () A mateacuteria foi regulada

de maneira ampla descendo-se a detalhes e minuacutecias que refogem aos objetivos de uma suacutemula de caraacuteter

vinculante ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira de A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF

e os limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e

Democracia - Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 139 973 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 209

173

conforme a fim de excluir relaccedilatildeo de parentesco que o CC natildeo contempla qual seja

aquela que leva para aleacutem do cunhado o viacutenculo da colateralidade por afinidade (nordm 45

I do seu voto na ADC ndash 12) mas infelizmente no segundo debate sobre a ediccedilatildeo da

SV n13 preferiu ―aderir agrave tese da extensatildeo ao terceiro grau como criteacuterio de inibiccedilatildeo

de abusosrdquo974

Na realidade o STF natildeo apenas inovou ao criar contagem de parentesco por

afinidade em grau como tambeacutem a limitou aleacutem do que seria em lei vez que conforme

o disposto no CCB o parentesco por afinidade seria limitado ao segundo grau da linha

colateral representado pelo irmatildeo (atilde) do cocircnjuge ndash cunhado (a)

E o mais interessante eacute que o tribunal em que criteacuterio se embasou o STF para

escolheu este grau com limite agrave inibiccedilatildeo sem estar embasado em qualquer criteacuterio

efetivamente juriacutedico vez que os Ministros natildeo utilizaram qualquer meacutetodo ou teacutecnica

hermenecircutica a explicar os motivos de tal escolha mas apenas reproduziram a redaccedilatildeo

da Resoluccedilatildeo n 0507 do CNJ tendo em vista que ―a questatildeo da adequaccedilatildeo dos graus

de parentesco estabelecidos no ato normativo especialmente o problema do parentesco

por afinidade ateacute o terceiro grau975

jaacute havia sido enfrentada quanto a ela quando do

julgamento da ADC n126-DF

Assim a SV n 13 trouxe ―inovaccedilatildeo no mundo juriacutedico qual seja a definiccedilatildeo

do terceiro grau de parentesco por afinidade ateacute entatildeo desconhecido na legislaccedilatildeo e

literatura brasileira976

E natildeo eacute apenas isto se a SV n13 por um lado alargou o parentesco por

afinidade por outro restringiu o de consanguinidade pois ao determinar a vedaccedilatildeo ateacute

o seu terceiro grau excluiu o parentesco de quatro grau (primos) previsto no Coacutedigo

Civil o que tambeacutem foi ocasionado pela reproduccedilatildeo do disposto na Resoluccedilatildeo do CNJ

quanto a esse elemento

Assim o parentesco ―consanguiacuteneo de quarto grau natildeo foi considerado pelo

STF como haacutebil a macular a indicaccedilatildeo para a ocupaccedilatildeo de cargos de provimento em

comissatildeo977

974 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro ReRE ndash

Revista Eletocircnica sobre a Reforma do Estado N 16 ndash dezembrojaneirofevereiro 2009 Salvador- Bahia ndash Brasil ndash

ISSN 1981 -1888 IBDP p 2 975 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 93 976CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 35

174

Dessa forma observa-se duas situaccedilotildees no miacutenimo irrazoaacuteveis provocadas

pela redaccedilatildeo da SV n13 pois se por um lado ―um primo de uma autoridade ou servidor

pode ser indicado para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo sem configurar nepotismo

por outro seu ex-sogrolsquo natildeo pode ―vez que de acordo com o art 1595 sect 2ordm do Coacutedigo

Civil na linha reta a afinidade natildeo se extingue com a dissoluccedilatildeo do casamento ou uniatildeo

estaacutevel978

Assim o STF ao desconsiderar a definiccedilatildeo de parentesco prevista na lei civil

pelo que se extrai do teor da SV n 13 quanto ao assunto provocou tais incoerecircncias e

outras controveacutersias979

Dentre elas vale destacar as duacutevidas suscitadas quanto agrave possibilidade de

nomeaccedilatildeo anteriormente agrave concretizaccedilatildeo de fato impeditivo como por exemplo um

casamento posterior agrave nomeaccedilatildeo para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo

Tendo em vista a falta de clareza da Suacutemula quanto a este ponto dentre

outros o que se pode dizer eacute que caso natildeo haja sua devida interpretaccedilatildeo de acordo com

os princiacutepios como o da razoabilidade e proporcionalidade para solucionar a questatildeo

seratildeo provocadas injusticcedilas ―pois na frieza do verbete sumular tal situaccedilatildeo natildeo estaacute

devidamente esclarecida980

Desta feita deve-se interpretar a questatildeo agrave luz de tais princiacutepios tendo em vista

que apesar de a redaccedilatildeo da SV n13 natildeo ser clara tem-se certo que sua ―intenccedilatildeo natildeo foi

proibir o afeto entre os agentes puacuteblicos mas sim que este natildeo representasse a razatildeo da

contrataccedilatildeo ou qualquer outra vantagem em detrimento do interesse puacuteblico981

Ainda vale ressaltar que o STF seguindo a redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo n 0705 do

CNJ982

inobservou natildeo apenas o CCB mas outras normativas referentes agrave delimitaccedilatildeo

de parentesco Dentre elas a uacutenica passagem da Constituiccedilatildeo Federal ―que trata de

demarcaccedilatildeo de parentesco para efeito de inibiccedilatildeo ou exclusatildeo de exerciacutecio de direito

poliacutetico de natureza fundamental em detrimento de certas pessoas onde ―a

Constituiccedilatildeo eacute parcimoniosa e adota o limite do segundo grau (inclusive este) o art

977 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 35 978 Ibidem p 35 979 Ibidem p 35 980 Ibidem p 35-36 981 BASTOS Tatiana Quintela de Azeredo Direitos e deveres na relaccedilatildeo homoafetiva uma discussatildeo a respeito do

nepotismo Disponiacutevel em revista jus navegandi Acesso em 030313 982 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 93

175

14 sect 7ordm983

o assentado no primeiro precedente sumular a ADI n 1521 no acircmbito da

qual o STF ―declarou constitucional uma emenda agrave Constituiccedilatildeo do Rio Grande do Sul

que proibia a nomeaccedilatildeo de parentes ateacute o segundo grau (art 20 sect5ordm)984

e o princiacutepio de

hermenecircutica juriacutedica que dispotildee que ―onde a lei natildeo distingue natildeo cabe ao inteacuterprete

fazecirc-lo985

Diante disso a opccedilatildeo do STF causou perplexidade e ensejou ―duacutevida seacuteria

sobre se houve o devido processo legal ―em sentido substantivo a que estatildeo sujeitos

todos os Poderes da Repuacuteblica inclusive e sobretudo o proacuteprio STF guardiatildeo preciacutepuo

da Constituiccedilatildeo986

422 Parentesco com autoridade ou servidor ocupante de cargo comissionado

Uma segunda criacutetica quanto agrave Suacutemula recai quanto agrave expressatildeo ―autoridade

nomeante ou de servidor () investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramentordquo

Primeiramente insta dizer que conforme a redaccedilatildeo sumular ―a mera

possibilidade da influecircncia da autoridade ou do servidor que ocupa cargo em comissatildeo

―basta para a configuraccedilatildeo do viacutecio987

Assim interpretando-se literalmente o dispositivo sumular natildeo poderaacute exercer

cargo comissionado ou funccedilatildeo gratificada aquele que deteacutem ―relaccedilatildeo de consaguinidade

ou afinidade com a autoridade nomeante ou com outro servidor puacuteblico988

ocupante de

cargo comissionado o que natildeo eacute aplicaacutevel aos vereadores deputados federais estaduais

983 ―Satildeo inelegiacuteveis no territoacuterio de jurisdiccedilatildeo do titular o cocircnjuge e os parentes consanguiacuteneos ou afins ateacute o

segundo grau ou por adoccedilatildeo do Presidente da Repuacuteblica de Governador de Estado ou Territoacuterio do Distrito Federal

de Prefeito ou de quem os haja substituiacutedo dentro dos seis meses anteriores ao pleitoAfirma Ivan Barbosa Rigolin

―E nossa Constituiccedilatildeo nada menciona em especiacutefico nem remotamente sobre o tema do empregode parentes e correl

atos das autoridades nomeadoras na Administraccedilatildeo Puacuteblica Nem uma breveeferecircncia a esse tema consta de modo ex

pliacutecito ou mesmo impliacutecito da Carta de 1988 O assuntoeacuteshylhe por completo estranho e inusitado shy como de resto o eacute

desde a primeira Constituiccedilatildeobrasileira que como todas ateacute o presente jamais se abalanccedilou a restringir nepotismos na

Administraccedilatildeo Sobre o nepotismo Uma reflexatildeo sobre a moralidade e o moralismo Foacuterum Administrativo ndash FA

Belo Horizonte ano 7 n80 out2007 p 2 984 Rodrigues Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 209 985 COPOLA Gina O nepotismo cruzado e a suacutemula vinculante n 13 do egreacutegio supremo tribunal federal a

improbidade administrativa ndash jurisprudecircncia sobre o tema Boletim de Direito Administrativo ndash BDA julho 2012 p

785-789 p788 986 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009 p 5 987 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 31 988 ANTONIO Alice Barroso O Nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF Criacuteticas e Proposiccedilotildees

Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM janmar 2009 Belo Horizonte ano 10 n31 p75

176

ou distritais989

magistrados e membros no Ministeacuterio Puacuteblico990

quando natildeo forem

efetivamente a autoridade a nomear o seu parente991

uma vez que natildeo se enquadram

como servidor () investido em cargo de direccedilatildeo chefia ou assessoramentordquo pois natildeo

satildeo servidores mas agentes poliacuteticos ocupantes de cargo poliacutetico

Exemplificando

A nomeaccedilatildeo de parente de um desembargador de um procurador de justiccedila

(ou promotor de justiccedila) ou de um deputado nos lindes literais da SV 13

dificilmente constituiria nepotismo pois a autoridade nomeante seria o

presidente do Tribunal o Procurador-Geral de Justiccedila ou o Presidente da

Assembleia Legislativa E como os membros destes oacutergatildeos satildeo agentes

poliacuteticos natildeo () exercendo qualquer cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento impossiacutevel subsumir a praacutetica aos termos sumulares992

989 ―() quanto aos membros do Poder Legislativo que tambeacutem satildeo agentes poliacuteticos e natildeo servidores puacuteblicos em

sentido estrito portanto tambeacutem natildeo estaria vedada a nomeaccedilatildeo para exercer cargo em comissatildeo de confianccedila ou

funccedilatildeo gratificada de parentes consanguiacuteneos e afins dos senadores deputados e vereadores Entretanto o raciociacutenio

natildeo se aplica ao presidente da Cacircmara ou Senado nem ao Prefeito Governador ou Presidente pois embora sejam

agentes poliacuteticos eles satildeo autoridades nomeantes condiccedilatildeo prevista expressamente no texto sumular Ibidem p 75 990 Por isso se afirma que eacute ― () tambeacutem excessiva restriccedilatildeo afastar os membros da magistratura do Ministeacuterio

Puacuteblico e dos Tribunais de Contas do conceito de agentes poliacuteticos pois cada um deles de diferentes formas

exercitam funccedilatildeo de soberania com independecircncia regime juriacutedico peculiar e regime de responsabilidade igualmente

diferenciado em relaccedilatildeo aos demais agentes administrativos MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-

administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico ndash RBDP Belo Horizonte v 11 n 41 abrjun2013 p 21 O

que quer dizer que ―() aqueles que exercem as funccedilotildees de direccedilatildeo do Estado (funccedilatildeo de governo) integrando a

estrutura constitucional (central) de cada um dos poderes Eacute o caso do Presidente da Repuacuteblica Ministros de Estado

Deputados Senadores Segundo o STF tambeacutem o satildeo os Membros do Judiciaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico ()Com

base nisso podemos afirmar que enquadram-se na categoria de agentes poliacuteticos a) titulares de mandato eletivo b)

seus auxiliares diretos (Ministros de Estado Secretaacuterios de Estado e Secretaacuterios Municipais) c) membros do

Judiciaacuterio e do Ministeacuterio Puacuteblico FILHO Joatildeo Trindade Cavalcante e LAGO Rodrigo Pires Ferreira A vedaccedilatildeo ao

nepotismo e as nomeaccedilotildees de agentes poliacuteticos - Uma anaacutelise sobre a jurisprudecircncia do STF e a Suacutemula Vinculante

STF ndeg13 Revista Siacutentese de Administrativo v1 n1 (jan 2006) Satildeo Paulo IOB ndash v5 n58 p93-115 p 99-

100Neste ensejo os autores explicam que Quanto aos uacuteltimos magistrados e membros do MP existe relevante

controveacutersia doutrinaacuteria Celso Antocircnio Bandeira de Mello (MELLO 2005 p 123) Maria Silvia Zanella Di Pietro

(DI PIETRO 2009 p 511) e Joseacute dos Santos Carvalho Filho (CARVALHO FILHO 2007 p 526) natildeo os incluem

entre os agentes poliacuteticos O fundamento eacute que eles natildeo satildeo eleitos mas recrutados por criteacuterios teacutecnicos Jaacute Hely

Lopes Meirelles defendeu sempre que os juiacutezes e promotores seriam agentes poliacuteticos pois tecircm as atribuiccedilotildees

regulamentadas constitucionalmente e exercem parcela do poder soberano do Estado (MEIRELLES 2000 p 84)Natildeo

se trata de uma discussatildeo meramente acadecircmica Ao contraacuterio a contenda ganha relevo praacutetico na medida em que a

consideraccedilatildeo desses agentes como agentes poliacuteticos ou administrativos possui reflexos no regime juriacutedico ao qual

seratildeo submetidos Embora esse seja um tema apenas incidental no presente trabalho adota-se o posicionamento

defendido por Hely Lopes Meirelles Realmente natildeo haacute como deixar de reconhecer na atividade judicante ou

ministerial puacuteblica o exerciacutecio de parcela do poder soberano do Estado Ademais a moderna hermenecircutica

constitucional reconhece que a atividade judicial eacute tambeacutem poliacutetica no sentido original do termo Os membros que

exercem essas funccedilotildees devem portanto ser enquadrados entre os agentes poliacuteticosNesse sentido tambeacutem jaacute se

posicionou expressamente o Supremo Tribunal Federal (BRASIL RE ndeg 228977 2002) Eacute tambeacutem o que se colhe de

uma interpretaccedilatildeo literal do art 37 XI da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica ao se referir agrave remuneraccedilatildeo dos (hellip) membros

de qualquer dos Poderes da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios dos detentores de mandato

eletivo e dos demais agentes poliacuteticos Ibidem p 99-100 991 A proibiccedilatildeo do nepotismo no acircmbito do Poder Judiciaacuterio decorre da Resoluccedilatildeo n 0507 do CNJ e natildeo da Suacutemula

Vinculante da Corte Suprema veja-se a contradiccedilatildeo aplicaacutevel na praacutetica agraves contendas levadas agrave tutela jurisdicional

quanto aos casos de nepotismo na administraccedilatildeo puacuteblica dos diversos entes federados mesmo que muitos destes

diga-se de passagem jaacute haviam editado anteriormente agrave suacutemula normativa aplicaacutevel ao acircmbito de sua administraccedilatildeo

puacuteblica destinada agrave vedaccedilatildeo do nepotismo Quanto agrave proibiccedilatildeo no acircmbito do MP a mesma foi feita por meio da

Resoluccedilatildeo n 01 do Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico ndash CONAMP de 07 112005 992 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 8

177

Assim se tais autoridades em questatildeo natildeo forem aquele que investido em

cargo comissionado nomeia seu parente natildeo haveraacute nepotismo jaacute que natildeo satildeo

classificadas como servidor mas como agente poliacutetico ao qual a Suacutemula natildeo alcanccedila

423 Acircmbito da mesma pessoa juriacutedica

A terceira criacutetica recai sobre a expressatildeo da mesma pessoa juriacutedica A questatildeo

eacute problemaacutetica pois a pessoa juriacutedica de direito puacuteblico satildeo os proacuteprios entes federados

a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios e as entidades da administraccedilatildeo

indireta e tal conceituaccedilatildeo no que concerne agrave vedaccedilatildeo de nepotismo se por um lado

alarga o acircmbito da proibiccedilatildeo e alcanccedila situaccedilotildees questionavelmente tidas como

nepoacuteticas por outro possibilita o nepotismo em outras situaccedilotildees pois natildeo impede a

nomeaccedilatildeo de um parente de autoridade nomeante em um dos trecircs poderes dos entes da

federaccedilatildeo para uma entidade da administraccedilatildeo indireta uma vez que esta entidade eacute

outra pessoa juriacutedica

Isso porque os Ministro desconsideram o oacutergatildeo ndash tecnicamente considerado

como centro despersonalizado de formaccedilatildeo e expressatildeo da vontade imputada agrave pessoa

juriacutedica ndash para ater-se pessoa juriacutedica o que significa dizer que tudo fica acantonado agrave

mesma pessoa juriacutedica natildeo se estendendo a outra dela diversa993

A fim de explicar as situaccedilotildees exemplifica-se um ―servidor ocupante de cargo

efetivo que seja nomeado para exercer cargo de direccedilatildeo no Ministeacuterio das Cidades em

Brasiacutelia impediria por exemplo que seu irmatildeo ―tambeacutem servidor puacuteblico ocupante de

cargo efetivo fosse nomeado para exercer cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila

em uma Superintendecircncia da Poliacutecia Federal mesmo que fosse em outro Estado da

Federaccedilatildeo ―em razatildeo de ser este oacutergatildeo pertencente agrave mesma pessoa juriacutedica na qual o

Ministeacuterio das Cidades estaacute entranhado 994

qual seja a Uniatildeo

Por outro lado ―o Secretaacuterio-Executivo do Ministeacuterio do Planejamento

Orccedilamento e Gestatildeo poderia ter seu irmatildeo nomeado para ocupar um cargo

comissionado na Fundaccedilatildeo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica ndash IBGE

entidade da Administraccedilatildeo Indireta vinculada ao Ministeacuterio995

vez que natildeo

993 Alegre Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009 p 8 994 FILHO Joatildeo Pereira Andrade A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites de

atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia - Escola

da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011p 142 995 Ibidem p144

178

configuraria nepotismo pois aleacutem de o Secretaacuterio natildeo ser a autoridade nomeante pois o

seu irmatildeo seria nomeado pelo presidente do IBGE este eacute pessoa juriacutedica diversa da

Uniatildeo pois tem personalidade juriacutedica proacutepria

Desta feita a literalidade da Suacutemula Vinculante leva agrave conclusatildeo de que o

primeiro caso seria ofensivo agrave Constituiccedilatildeo e o segundo natildeo quando parece ser o

oposto pois no primeiro exemplo natildeo se observa ―beneficiamento familiar e no

segundo sim

Contudo mesmo sendo intuitivo que situaccedilotildees dispares natildeo podem ser tratadas

da mesma forma996

pelas argumentaccedilotildees dos ministros no debate da suacutemula se

verifica que agrave pessoa juriacutedica disposta na suacutemula se deu a conotaccedilatildeo de poder ou seja

servidor de um poder investido em cargo de direccedilatildeo chefia e assessoramento natildeo

poderaacute ter parente consanguiacuteneo ou afim ateacute terceiro grau nomeado em cargo em

comissatildeo naquele mesmo poder997

pois os Ministro objetivavam com esta amplitude

mesmo acarretando situaccedilotildees contraditoacuterias obstar as nomeaccedilotildees realizadas pelo titular

do Poder Executivo que ―nomeia tudo

Todavia tal assentamento obsta tanto parentes de servidores puacuteblicos que

detenham cargo em comissatildeo e que sejam tambeacutem servidores puacuteblicos a ascender

profissionalmente como tambeacutem a outros parentes a adentrarem ao mesmo poder que

seu parente eacute servidor ocupante de cargo comissionado (seja efetivo ou natildeo) ou

autoridade nomeante seja nomeado soacute em cargo em comissatildeo mesmo que este parente

a adentrar seja lotado em oacutergatildeo completamente diferente do oacutergatildeo de seu parente

totalmente desvinculado e sem qualquer subordinaccedilatildeo

E sob esse prisma ―o enunciado vinculante estaria cerceando amplamente a

liberdade de atuaccedilatildeo de todos os oacutergatildeos de Poder pois ―impediria que cargos

comissionados em oacutergatildeos distintos sem relaccedilatildeo de subordinaccedilatildeo entre si fossem

providos por parentes998

mesmo que servidores de carreira (ocupantes de cargos

efetivos) de seus respectivos oacutergatildeos

996 PA n 722010 de 280510 nos autos do processo nordm 18487-1859732010 p 06 Disponiacutevel em www

pgespgovbr 997 Seja no Executivo Federal (todos os Ministeacuterios e demais oacutergatildeos do poder executivo) no Poder Judiciaacuterio Federal

(toda a justiccedila federal seja comum ou especializada) ou no Poder Legislativo Federal (Congresso Nacional ndash Cacircmara

e Senado) e assim nos poderes dos demais entes federados ( Estados Distrito Federal e Municiacutepios) 998ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira de A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os

limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia

- Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 142

179

Situaccedilotildees como estas natildeo ferem de forma alguma o princiacutepio da moralidade

insculpido na Constituiccedilatildeo Republicana jaacute que natildeo haacute como servidor ocupante de cargo

comissionado de um oacutergatildeo ter poder de indicaccedilatildeo para nomeaccedilatildeo em outro oacutergatildeo pois

muitas vezes nem a autoridade nomeante em um oacutergatildeo tem este poder em relaccedilatildeo a

outro oacutergatildeo999

Tambeacutem se pode pensar que a vedaccedilatildeo ampla da Suacutemula ao obstar situaccedilotildees

esdruxulamente tidas como nepotismo na realidade infringe o princiacutepio da

impessoalidade pois desde jaacute independente de qualquer situaccedilatildeo se provoca uma

desigualdade quanto agrave qualquer parente consanguiacuteneo ou por afinidade ateacute terceiro

grau de servidor ocupante de cargo em comissatildeo seja este com viacutenculo (ocupante de

cargo efetivo tambeacutem) ou sem viacutenculo (ocupante soacute de cargo comissionado) de poder

ser nomeado no mesmo poder em que seu parente estaacute lotado

Isto eacute uma infraccedilatildeo ao princiacutepio da impessoalidade eacute um cerceamento da

liberdade deste cidadatildeo soacute por ele ser parente do outro o que foi lembrado inclusive no

primeiro precedente da SV n13 ―Efetivamente natildeo seria admissiacutevel que no regime

democraacutetico se impedisse determinada parcela de cidadatildeos de participar do serviccedilo

puacuteblico tatildeo-soacute pelo fato de manterem algum viacutenculo de parentesco com autoridades

dos Trecircs Poderes1000

O que se deve ter em mente eacute que se por um lado ―natildeo eacute admissiacutevel aceitar que

haja benefiacutecios e confortos evidentes e decorrentes do grau de parentesco ou do viacutenculo

conjugal por outro natildeo se pode ―estigmatizar o indiviacuteduo por ser parente de algueacutem

o que se deve entatildeo ―eacute evitar a concessatildeo de facilidades decorrentes do berccedilo ou dos

laccedilos de sangue ou do viacutenculo uxoacuterio ou marital1001

Diante disto o que se pode dizer eacute que o STF ―por natildeo se basear em um

exame cuidadoso dos casos e diante das oacutebvias dificuldades de estabelecer uma regra

geral para a questatildeo escolheu usar o termo pessoa juriacutedicalsquo no enunciado da SV

999 E diga-se mais dependendo do cargo de direccedilatildeo e assessoramento superior (DAS no Poder Executivo Federal)

que o servidor ocupa ele mal tem como se ―segurar no cargo muito menos indicar parente para cargo comissionado

mesmo no proacuteprio oacutergatildeo 1000 Neri da Silveira voto da ADI 1-521-4 precedente da Suacutemula fl 148 1001 ARAKAKI Allan Thiago Barbosa ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante n 13 e o combate ao nepotismo

Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI n 75 2011 p 104

180

n131002

que tatildeo logo notado foi questionado1003

vez que estaacute a violar a

impessoalidade e a moralidade que nortearam o proacuteprio enunciado vinculante

424 Nomeaccedilatildeo de parente para cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila

Uma quarta criacutetica eacute que se proiacutebe a nomeaccedilatildeo de parente para cargo em

comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila da qual decorrem trecircs questotildees problemaacuteticas a

primeira referente ao fato de que a nomeaccedilatildeo para cargo poliacutetico natildeo foi vedada a

segunda concernente ao fato de que os servidores efetivos parentes do outro servidor

que ocupa cargo comissionado natildeo poderiam de forma alguma ocupar cargo

comissionado tambeacutem e a terceira de que a vedaccedilatildeo abarca tambeacutem os servidores

efetivos designados para exercerem funccedilatildeo de confianccedila

Assim primeiramente faz-se imprescindiacutevel diferenciar o cargo em comissatildeo -

de natureza administrativa - do cargo poliacutetico Enquanto o primeiro integra a estrutura

da administraccedilatildeo vinculado ao ―cumprimento de diretrizes e determinada finalidade

preacute-fixada1004

o segundo eacute de governo envolve ―atividade primaacuteria de escolha de

decisatildeo ()1005

sendo ocupados respectivamente por servidores - que satildeo regidos

pelo regime juriacutedico estatutaacuterio geral e por os agentes poliacuteticos que ―tecircm seus direitos e

obrigaccedilotildees estabelecidos diretamente pela Constituiccedilatildeo Federal1006

diferenciados

tambeacutem quanto ao regime remuneratoacuterio e agrave responsabilizaccedilatildeo por atos iliacutecitos1007

Assim a SV n13 natildeo alcanccedila os Ministros de Estado Secretaacuterios de Estados e

Distritais bem como Secretaacuterios Municipais uma vez que ocupantes de cargos poliacuteticos

e desempenham funccedilotildees ―nitidamente superiores mais abstratas mais poliacuteticas menos

1002MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p94 1003 Por meio da Reclamaccedilatildeo n 6838 proposta pelo Procurador-Geral da Repuacuteblica - PGR 1004 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Op cit p97 1005 FILHO Joatildeo Trindade Cavalcanti e LAGO Rodrigo Pires Ferreira A vedaccedilatildeo ao Nepotismo e as Nomeaccedilotildees de

Agentes Poliacuteticos ndash Uma anaacutelise sobre a Jurisprudecircncia do STF e a Suacutemula Vinculante STF nordm 13 Revista Siacutentese

Direito Administrativo v 5 n 58 out2010 p97 1006 Ibidem p 101 1007 ― ()ateacute mesmo o regime remuneratoacuterio eacute diferente Enquanto os agentes poliacuteticos ndash incluiacutedos expressamente os

Ministros de Estado (art 39 sect4ordm da CR88) ndash devem ser remunerados por regime de subsiacutedio os agentes

administrativos percebem sua contraprestaccedilatildeo pecuniaacuteria em regra pelo sistema de remuneraccedilatildeo 106 ―Tambeacutem a

responsabilizaccedilatildeo por atos iliacutecitos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo eacute distinta caso se trate de agente poliacutetico ou

administrativo Os Ministros de Estado respondem por crime de responsabilidade perante o Senado Federal ou

perante o Supremo Tribunal Federal caso o ato respectivamente seja ou natildeo conexo com o Presidente ou Vice-

Presidente da Repuacuteblica E esse foro diferenciado se justifica exatamente por serem agentes poliacuteticos Jaacute os agentes

administrativos podem ser responsabilizados por improbidade administrativa nos termos do art 37 sect4ordm da

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Esse regime de responsabilizaccedilatildeo em geral natildeo se aplica aos agentes poliacuteticos conforme

jaacute decidiu o Supremo Tribunal Federal Ibidem p 105

181

vinculadas e mais ligadas agrave funccedilatildeo governativa voltadas a auxiliar na direccedilatildeo superior

da administraccedilatildeo federal1008

Ou seja nos termos jaacute dispostos por Carlos Ayres Britto os cargos

comissionados satildeo ― singelamente administrativo e os cargos poliacuteticos satildeo de governo

sendo esta a fundamentaccedilatildeo constitucional utilizadas pelos Ministros para diferenciar a

aplicaccedilatildeo do nepotismo quanto aos primeiros e natildeo aos segundos

Entatildeo na realidade a diferenccedila se deriva da natureza diversa dos cargos pois

enquanto o cargo em comissatildeo eacute administrativo ―espeacutecie do gecircnero cargo puacuteblico (em

sentido estrito) os cargos ocupados pelos Ministros satildeo considerados cargos poliacuteticos

de natureza especial que exige do seu ocupante que esteja no pleno gozo dos direitos

poliacuteticos o que jaacute denota o caraacuteter poliacutetico que caracteriza a funccedilatildeo1009

Desta forma a questatildeo de a Suacutemula proibir a nomeaccedilatildeo do parente do servidor

ou da autoridade nomeante para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo ou de confianccedila mas

natildeo vedar a nomeaccedilatildeo agente poliacutetico como observado no proacuteprio debate da suacutemula

bem como em votos dos ministros nos precedentes da mesma natildeo alcanccedila a nomeaccedilatildeo

de parente de autoridade nomeante para agente poliacutetico podendo os chefes dos poderes

executivos de cada um dos respectivos entes federados nomear parente para ser seus

respectivos Ministro ou Secretaacuterio Estadual Distrital ou Federal jaacute que seriam agentes

poliacuteticos e natildeo servidores ocupantes de cargo em comissatildeo

Segundo as razotildees apresentadas pelos Ministros do STF tal situaccedilatildeo natildeo se

qualificaria como nepotica pois esta soacute seria verificada quando o parente fosse

indicandonomeado em cargo comissionado o que eacute sintetizado pela seguinte exposiccedilatildeo

―natildeo se pode considerar para a anaacutelise da questatildeo posta apenas o contido no artigo 37 da

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica para concluir que toda a nomeaccedilatildeo de parente ofende o

princiacutepio da impessoalidade A nomeaccedilatildeo para cargos de agentes poliacuteticos eacute

diferenciada e deve reger-se pelo seu regime proacuteprio1010

Tanto foi assentado pelo STF que os agentes poliacuteticos estariam fora de sua

aplicabilidade que o entatildeo presidente do Tribunal Ministro Gilmar Mendes a fim de

1008 FILHO CAVALCANTI Joatildeo Trindade e LAGO Rodrigo Pires Ferreira A vedaccedilatildeo ao Nepotismo e as

Nomeaccedilotildees de Agentes Poliacuteticos ndash Uma anaacutelise sobre a Jurisprudecircncia do STF e a Suacutemula Vinculante STF nordm 13

Revista Siacutentese Direito Administrativo v 5 n 58 out2010 p103 ndash 104 1009 Ibidem p 104 Mas aqui haacute de se notar que da mesma forma que provimento dos cargos em comissatildeo eacute

excepcional jaacute que a regra eacute o provimento por concurso puacuteblico a investidura dos Ministros e Secretaacuterios sejam

estes Estaduais Distritais ou Municipais tambeacutem eacute excepcional pois por ad nutum e natildeo por eleiccedilatildeo que eacute a regra

neste caso 1010 Ibidem p 107

182

justificar essa ―contraditoacuteria hermenecircutica da Corte de Justiccedila sobre a mateacuteria procurou

legitimaacute-la como uma ―hipoacutetese de exceccedilatildeo agrave regra por meio do exemplo dos irmatildeos

Kennedy o que na realidade ratificou ―que ainda natildeo superamos a velha e discutiacutevel a

velha filosofia tupiniquim de que o que foi uma vez bom para os Estados Unidos eacute

bom tambeacutem para o Brasillsquo()1011

Aleacutem de o argumento ser ―anti-republicano desprovido de loacutegica tambeacutem

―ofende os princiacutepios da razoabilidade e da isonomia pois natildeo se vislumbra qualquer

loacutegica juriacutedica ou razoabilidade em natildeo se reconhecer nepotismo quanto aos cargos

poliacuteticos vez que gozam ―de um maior grau de confianccedila dos que os demais ocupantes

de cargos comissionados e como estes uacuteltimos ocupam cargos e funccedilotildees de livre

escolha gozando tambeacutem ―da estrita confianccedila da autoridade nomeante1012

A continuidade do raciociacutenio eacute a seguinte

() cabe ao Chefe do Poder Executivo nomear os titulares destes cargos que

satildeo tambeacutem demissiacuteveis ad nutum E tem que ser assim Natildeo poderiam eles

ser objeto de eleiccedilatildeo porquanto os seus titulares devem estar em perfeita

sintonia com o Presidente da Repuacuteblica o Governador ou o Prefeito

conforme o caso Trata-se sem duacutevida de uma transferecircncia de poder

poliacutetico ()Tem-se portanto que os integrantes do denominado primeiro

escalatildeo do governo e que natildeo satildeo eleitos exercem as suas funccedilotildees como

espeacutecie de delegaccedilatildeo de poder poliacutetico pelo mandataacuterio Essa circunstacircncia

lhes confere caracteriacutestica peculiar E daiacute natildeo se vedar por si soacute a

nomeaccedilatildeo1013

(grifos nossos)

Mas justamente por haver ―transferecircncia de poder isto seria tatildeo imoral quanto

o nepotismo podendo ensejar ateacute o ―monopoacutelio de uma mesma famiacutelia na cuacutepula de um

governo

Tambeacutem quanto a esta possiacutevel nomeaccedilatildeo natildeo convence a argumentaccedilatildeo de

que ―o regime juriacutedico dos agentes poliacuteticos justifica escolhas com a mais ampla

discricionariedade possiacutevel segundo criteacuterios realmente poliacuteticos podendo a escolha

recair inclusive em parentes ()1014

porque eacute pior ainda a indicaccedilatildeo para o cargo

poliacutetico ―que ajuda a formar a vontade superior do governo sendo sua vinculaccedilatildeo

1011 LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008 p 23 1012 Ibidem p 23 1013 CAVALCANTI FILHO Joatildeo Trindade e LAGO Rodrigo Pires Ferreira A vedaccedilatildeo ao Nepotismo e as

Nomeaccedilotildees de Agentes Poliacuteticos ndash Uma anaacutelise sobre a Jurisprudecircncia do STF e a Suacutemula Vinculante STF nordm 13

Revista Siacutentese Direito Administrativo v 5 n 58 out2010 p 108 - 109 1014 Ibidem p 110

183

―poliacutetica e natildeo profissional (administrativa)1015

vez que enseja ainda mais a dominaccedilatildeo

do Estado pela ―entidade familiar

Exemplificando ―o prefeito municipal natildeo poderia nomear a sua esposa para o

cargo de diretora de estabelecimento escolar mas poderia nomeaacute-la para Secretaacuteria

Municipal de Educaccedilatildeo Natildeo poderia nomear o irmatildeo motorista mas poderia nomeaacute-lo

Secretaacuterio de Transportes Servindo a vedaccedilatildeo da SV n13 para menos mas natildeo para

mais vez que a proibiccedilatildeo do nepotismo ―() entre noacutes parece dirigir-se para os cargos

de segundo escalatildeo e alcanccedilar apenas o servidor barnabeacute integrante dos extratos

administrativos mais singelos atribuindo-se aos escalotildees elevados da administraccedilatildeo

puacuteblica a qualidade de serem compostos por cargos de provimento exclusivamente

poliacutetico1016

O certo eacute que eacute imoralidade se nomear parente com agente poliacutetico tanto

quanto em cargo comissionado ou eacute ateacute pior vez que

() o princiacutepio constitucional da moralidade administrativa densificado pela

noccedilatildeo de funccedilatildeo puacuteblica persiste encarecido com a consciecircncia juriacutedica de

que haacute uma relaccedilatildeo fiduciaacuteria () que se investe todo aquele que exerce uma

funccedilatildeo puacuteblica ndash pois o fazem em nome de terceiro da coletividade ndash e

sobretudo aos chefes do executivo (Presidente de Republica Governadores

Prefeitos) e portanto igualmente eacute exigiacutevel a adequaccedilatildeo do comportamento

deles a um padratildeo objetivo de honestidade transparecircncia e impessoalidade o

que impede ndash por muito mais razatildeo pois os chefes do executivo encontra-se

no aacutepice da relaccedilatildeo hieraacuterquica deste Poder ndash que nomeiem para os cargos de

Ministros e Secretaacuterios os seus parentes e ateacute mesmo parentes de outros

agentes puacuteblicos integrantes de outro Poder (nepotismo cruzado) () vige a

noccedilatildeo juriacutedica de que o exerciacutecio da missatildeo puacuteblica natildeo se realiza para a

satisfaccedilatildeo de um interesse proacuteprio mas em cumprimento dos deveres que

surgem da relaccedilatildeo de confianccedila decorrente do princiacutepio republicano (a

elementar noccedilatildeo de coisa puacuteblica) 1017

Tais razotildees satildeo bastantes a combater o nepotismo junto aos cargos poliacuteticos em

qualquer esfera dos Poderes do Estado sendo exatamente essa a compreensatildeo que se

deve ter na anaacutelise das nomeaccedilotildees para cargos de agentes poliacuteticos pois muito embora

―natildeo se extraia da norma constitucional vedaccedilatildeo absoluta para que esta recaia sobre

algum parente do governante eacute preciso investigar natildeo apenas a legalidade do ato mas

1015 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 217 1016 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico ndash

RBDP Belo Horizonte v 11 n 41 abrjun2013 p 12 1017 PIRES Luis Manuel Fonseca Controle judicial do nepotismo para aleacutem da 13ordf suacutemula vinculante do Supremo

Tribunal Federal Corrupccedilatildeo Eacutetica e Moralidade Administrativa Belo Horizonte EdFoacuterum 2008 p 235-252 P

248 249

184

tambeacutem a sua legitimidade De forma a ―repudiar todo o ato que embora revestido de

suposta legalidade natildeo se mostre conforme o Direito tornando-o ilegiacutetimo1018

Assim a redaccedilatildeo da Suacutemula Vinculante trouxe agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica

brasileira casos esdruacutexulos pois se por um lado um servidor efetivo ocupante de um

cargo em comissatildeo no Ministeacuterio do Desenvolvimento Social e Combate agrave Fome em

Brasiacutelia natildeo pode ter uma tia nomeada para cargo em comissatildeo na Superintendecircncia

Federal de Agricultura no Estado do Sergipe por outro um prefeito nomear um irmatildeo

como Secretaacuterio de Sauacutede do Municiacutepio e a sogra como Secretaacuteria de Educaccedilatildeo

Municipal1019

Mas isto configura imenso risco agrave aplicabilidade do princiacutepio da moralidade

administrativa que constitucionalmente exposto vincula a Administraccedilatildeo Puacuteblica com

um todo ou seja natildeo soacute quanto aos cargos comissionados mas tambeacutem os poliacuteticos

nomeados da mesma forma ou seja pela aplicabilidade do poder discricionaacuterio natildeo se

podendo admitir que tal ―exceccedilatildeo converta-se em regra permitindo ―manobras triviais

destinadas a favorecer relaccedilotildees de parentesco nos cargos mais elevados do Estado em

1018 FILHO Joatildeo Trindade Cavalcanti e LAGO Rodrigo Pires Ferreira A vedaccedilatildeo ao Nepotismo e as Nomeaccedilotildees de

Agentes Poliacuteticos ndash Uma anaacutelise sobre a Jurisprudecircncia do STF e a Suacutemula Vinculante STF nordm 13 Revista Siacutentese

Direito Administrativo v 5 n 58 out2010p 112 1019 Conforme Alegre a sintetiza toda a questatildeo ora disposta da seguinte forma() um parente natildeo pode nomear seu

proacuteprio parente natildeo importa a sua qualificaccedilatildeo e retidatildeo moral mas pode nomear os de outros inclusive seus

amigos filhos parentes e aderentes ainda quando desqualificados e de duvidosa moralidade E os agentes poliacuteticos

justamente aqueles que tecircm a responsabilidade graviacutessima de definir os rumos do governo de decidir a qualidade de

vida de um povo inteiro bem estes podem nomear parentes agrave vontade () E assim () a Suacutemula eacute impotente

inapta mesmo para coibir o tratamento favorecido por parte de agentes puacuteblicos por conta de relaccedilotildees de ―afeto

pessoal () haacute insuficiecircncia o que tambeacutem contraria o princiacutepio da proporcionalidaderazoabilidade () Com

efeito custa entender a loacutegica do razoaacutevel que presidiu a distinccedilatildeo entre agente administrativo e agente poliacutetico para

dar tratamento favorecido a este uacuteltimo A distinccedilatildeo eacute sem duacutevida rigorosamente teacutecnica Contudo o seu resultado eacute

desastroso () E aiacute eacute que estaacute a perplexidade Se eacute deles que mais se deve exigir especialmente no plano do

comportamento da excelecircncia eacutetica entatildeo como entender que no caso da nomeaccedilatildeo de parentes viola a Constituiccedilatildeo

a nomeaccedilatildeo daqueles que o sejam na qualidade de agentes somente administrativos e natildeo tambeacutem no caso de agentes

poliacuteticos Quem eacute mais importante na escala do poder Aquele que exerce funccedilotildees de Governo que define as

diretrizes e metas a serem buscadas administrativamente ou aqueles que apenas se limitam a executar tais metas e

diretrizes Entatildeo eacute honesto deixar de nomear mulher filhos sobrinhos companheira pai matildee avoacutes para cargos de

pequena expressatildeo na Administraccedilatildeo Puacuteblica inclusive de menor repercussatildeo financeira natildeo importando a boa

qualificaccedilatildeo que possam ostentar mas eacute honesto fazecirc-lo para cargo de Ministro de Estado Secretaacuterio de Estado ou de

Municiacutepio ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro

Revista Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez

jan fev 2009 p18 Esse tambeacutem eacute o entendimento de Arakaki ―No que tange entatildeo aos cargos poliacuteticos como de

Secretaacuterio ou Ministro do Poder Executivo pode ser nomeado o parente da autoridade nomeante A tiacutetulo de

exemplo pode-se dizer que o Governador pode nomear seu irmatildeo como Secretaacuterio Estadual de Seguranccedila Puacuteblica

eou a sua mulher como Secretaacuteria de Transporte em razatildeo da natureza poliacutetica do proacuteprio cargo visto que foge agraves

hipoacuteteses previstas na redaccedilatildeo sumular segundo entendimento esposado pelo STF ARAKAKI Allan Thiago

Barbosa e ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo Revista de Direito Constitucional

e Internacional ndash RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 abrjun p113 Joatildeo Joseacute Leal tambeacutem

exemplifica na mesma linha ―() eacute legiacutetima a nomeaccedilatildeo de parentes proacuteximos para cargos poliacuteticos exercidos por

agentes poliacuteticoslsquo Ou seja na esfera da administraccedilatildeo municipal o prefeito poderia nomear filhos irmatildeos cocircnjuges

ou sobrinhos para exercer o cargo de secretaacuterio municipal A mesma exceccedilatildeo valeria para permitir que o presidente

da Repuacuteblica e os governadores possam nomear parentes para exercer a funccedilatildeo poliacuteticalsquo de ministros federais e

secretaacuterios estaduais respectivamente LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o

Nepotismo Top Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal ano v n 26 p 18-24 outnov2008 p22

185

desfavor da meritocracia e da seriedade exigidas na gestatildeo puacuteblica1020

aleacutem de

reacender ―o debate sobre o alcance do conteuacutedo dos atos poliacuteticos cujo entendimento

atualmente ―eacute no sentido de que nenhuma categoria de ato estaacute excluiacuteda da observacircncia

da Constituiccedilatildeo e principalmente dos princiacutepios administrativos1021

Assim natildeo se justifica racionalmente ―a exclusatildeo dos agentes poliacuteticos

Ministros e Secretaacuterios de Estados Distrito Federal e Municiacutepios da regra estabelecida

para o nepotismo pois quando ―o Chefe do Executivo Municipal nomeia um irmatildeo

para ocupar o cargo de Secretaacuterio de Sauacutede do Municiacutepio obviamente que se configura

o nepotismo com a presenccedila dos dois aspectos o objetivo e o subjetivo natildeo havendo

portanto ―motivo de excluiacute-lo da regra geral uma vez que houve a violaccedilatildeo dos

princiacutepios da impessoalidade e da moralidade administrativa1022

Em verdade a ―exclusatildeo dos mencionados agentes poliacuteticos do alcance da

suacutemula vinculante n 13 revela um contrassenso em total desacordo com a moderna

doutrina dos atos poliacuteticos bem como o ―desconhecimento da Suprema Corte dos reais

problemas enfrentados nos milhares de municiacutepios brasileiros no que concerne agrave praacutetica

do nepotismo onde o ―beneficiamento de parentes com cargos de primeiro escalatildeo de

governo eacute nefasto agraves Administraccedilotildees Puacuteblicas locais1023

Por isso a accedilatildeo do STF em excepcionaacute-los aleacutem de ser preocupante eacute

perigosa profundamente lamentaacutevel ao ensejar na praacutetica a seguinte situaccedilatildeo

para a maioria dos cargos comissionados a nomeaccedilatildeo de parentes proacuteximos

estaria proibida por ofender os princiacutepios da moralidade e da impessoalidade

no entanto para os chamados cargos poliacuteticos a nomeaccedilatildeo de parentes seria

liacutecita e natildeo ofenderia a estes dois princiacutepios constitucionais tatildeo importantes

para a conduccedilatildeo da administraccedilatildeo puacuteblica brasileira de forma mais eficiente e

segundo os preceitos da eacutetica1024

Tal entendimento ocasiona

1020 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico ndash

RBDP Belo Horizonte v 11 n 41 abrjun2013p 12 Tanto que o autor ainda exemplifica ―No interior do Brasil

e em Estados relevantes parentes estatildeo sendo nomeados Secretaacuterios para ajustar a estrutura administrativa aos

padrotildees decisoacuterios do STF e aparentar o cumprimento agrave Sumula Vinculante n 13 () o prefeito de Curitiba Gustavo

Fruet (PDT) nomeou a esposa Maacutercia Fuet para comandar a Fundaccedilatildeo de Accedilatildeo Social () e a irmatilde Eleonora Fruet

para assumir a Secretaria de Financcedilas Em Manga (MG) o prefeito Anastaacutecio Guedes (PT) designou trecircs parentes

para o primeiro escalatildeo do governo o cunhado assumiu a Secretaria de Agricultura Familiar a cunhada a Secretaria

de Assistecircncia Social e o sobrinho a Secretaria de Administraccedilatildeo Investido na prefeitura de Manaus o ex-senador

Arthur Virgiacutelio nomeou a mulher Goreth Garcia para a Secretaria de Assistecircncia Social p13 1021 RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13 In Revista de

Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p218 1022 Ibidem p218 1023 Ibidem p 218 1024 LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008 p 23

186

seacuterio risco de conviver com nocivos clatildes encastelados na administraccedilotildees

estaduais municipais e federal Todos respaldados por essa contraditoacuteria

hermenecircutica sumular da Suprema Corte Prefeitos e governadores deste paiacutes

agora confortados por esse entendimento jurisprudencial manteratildeo seus

parentes na elevada funccedilatildeo comissionada de secretaacuterios municipais e

estaduais1025

Mas haacute de se questionar como se pode aceitar juridicamente tal diferenciaccedilatildeo

entre as duas situaccedilotildees sendo uma configurada como ―perniciosa agrave vida da

administraccedilatildeo puacuteblica por ser imoral ilegiacutetima e ofensiva aos princiacutepios constitucionais

jaacute referidos e outra perfeitamente liacutecita compatiacutevel com tais princiacutepios pois a ―accedilatildeo

nepoacutetica em qualquer situaccedilatildeo apresentada tem a mesma natureza antieacutetica1026

infringindo da mesma maneira e os princiacutepios constitucionais consagrados no artigo 37

da CF natildeo sendo portanto possiacutevel dividir o nepotismo em duas classificaccedilotildees

opostas um legiacutetima e outra ilegiacutetima o que seria contraditoriamente ofensivo ao

princiacutepio da igualdade1027

No miacutenimo a ―interpretaccedilatildeo dada pelo STF revela-se desprovida de um exame

acurado das definiccedilotildees inseridas no texto da Suacutemula1028

Por fim vale ressaltar que tal entendimento do STF expresso no quarto

precedente da SV n13 foi reafirmado quando na RCL n 6650 MC ndash AgRPR1029

suspendeu decisatildeo judicial1030

que anulava a nomeaccedilatildeo de irmatildeo1031

do entatildeo

Governador do Estado do Paranaacute Roberto Requiatildeo para o cargo de Secretaacuterio Estadual

de Transporte sob o argumento de que essa situaccedilatildeo natildeo estava vedada pela SV

n131032

tendo em vista o RE n 579951RN precedente da citada SV que autorizou a

distinccedilatildeo dos agentes poliacuteticos1033

1025 LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008p 23 1026 Ibidem p 23 1027 ― () natildeo podemos compreender que o STF venha a dar uma interpretaccedilatildeo ambiacutegua ao conteuacutedo normativo dos

princiacutepios constitucionais aqui examinados para admitir a existecircncia de duas formas de nepotismo uma legiacutetima e

outra ilegiacutetima Ibidem p 24 ―Como decorrecircncia dessa hermenecircutica sustentada pelo STF tem-se na praacutetica duas

modalidades de nepotismo o nepotismo iliacutecito (ofensivo aos princiacutepios constitucionais jaacute referidos) e outro

perfeitamente liacutecito (compatiacutevel com tais princiacutepios) Aleacutem disso esse entendimento jurisprudencial tem estimulado a

que muitos prefeitos e governadores criem novas secretarias com o intuito de promover seus familiares de funccedilotildees

comissionadas subalternas para cargos de natureza poliacutetica no primeiro escalatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica migrando

do nepotismo iliacutecito para o nepotismo liacutecito Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula Vinculante nordm 13

In Revista de Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 218 1028 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 36 1029 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl 6650 ndash MC ndash AgRPR Relatora Ministra Ellen Gracie

publicada no Dje 222 20112008 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 110214 1030 Do juiacutezo de Direito da Primeira Vara da Fazenda Puacuteblica Falecircncias e Concordatas do Foacuterum Central da Comarca

da Regiatildeo Metropolitana de CuritibaPR nos autos da Accedilatildeo Popular n 24242008 1031 Eduardo Requiatildeo de Mello e Silva 1032 A liminar foi deferida monocraticamente pelo Ministro Cezar Peluso e publicada no Dje n184 de 29072008

sendo registrado que a nomeaccedilatildeo do irmatildeo do Governador como titular da autarquia designada Administraccedilatildeo dos

187

Interessante ressaltar que apesar de o Ministro Ricardo Lewandowski um dos

maiores defensores da SV n13 ter afirmado no julgamento da liminar da Reclamaccedilatildeo

que ―Eacute preciso examinar caso a caso para verificar se houve fraude agrave lei ou nepotismo

cruzado que poderia ensejar a anulaccedilatildeo do ato1034

o STF mesmo tendo conhecimento

da dissimulaccedilatildeo em questatildeo vez que o irmatildeo do Governador foi nomeado para o cargo

poliacutetico de Secretaacuterio Estadual para poder cumular o cargo comissionado de direccedilatildeo de

autarquia entendeu pela inaplicabilidade da SV n13 ao caso o que ocasionou a

proposiccedilatildeo de diversas outras Reclamaccedilotildees com base nesse julgado e no citado RE

precedente sumular o que posteriormente ensejou ao STF rever seu posicionamento

como se veraacute

O que parece eacute que estamos a ―conviver com uma forma mais selecionada

sofisticada e elitizado do nepotismo () nepotismo top por meio do qual ocorrem

nomeaccedilotildees de parentela de autoridades para cargos poliacuteticos

Mas natildeo eacute justamente nas nomeaccedilotildees para os cargos do primeiro escalatildeo da

administraccedilatildeo puacuteblica que a praacutetica nepoacutetica apresenta um maior grau de imoralidade e

perniciosidade Pois ―a partilha entre membros do clatilde familiar de cargos em

provimento sem concurso puacuteblico aleacutem do seu caraacuteter imoral e da ausecircncia do requisito

da impessoalidade na escolha eacute a que mais profundamente ofende os princiacutepios da

eficiecircncia e da igualdade Sendo fato puacuteblico e notoacuterio que o criteacuterio de escolha natildeo eacute

a capacidade nem a aptidatildeo para o trabalho ―mas a identidade de sangue que corre nas

veias do mandataacuterio e de seu parente protegido1035

Natildeo se pode preparar um lenitivo agrave margem do mal que se busca combater

esse sim eacute um caso de controveacutersia inseguranccedila juriacutedica muacuteltiplos processos que

deveria ter sido vedado por SV

Mas natildeo eacute soacute a segunda problemaacutetica eacute que de acordo com a literalidade da

SV n13 ateacute os servidores efetivos que satildeo parentes do outro servidor que ocupa cargo

Portos de Paranaguaacute e Antonina deveria ser analisada quando do julgamento do meacuterito da reclamaccedilatildeo Dessa forma a

mateacuteria foi a Plenaacuterio quando se verificou que o intuito na nomeaccedilatildeo do irmatildeo do Governador para Secretaacuterio de

Transportes tinha como objetivo encobrir a nomeaccedilatildeo do mesmo confirmado pela publicaccedilatildeo do Decreto Estadual n

33482008 dissimulando a aplicabilidade da SV n13 ao caso 1033 A Relatora Ministra Ellen Gracie votou pela manutenccedilatildeo da decisatildeo liminar com esteio nesse precedente e a

maioria dos Ministros a acompanhou 1034 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl 6650 ndash MC ndash AgRPR Relatora Ministra Ellen Gracie

publicada no Dje 222 20112008 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 110214 1035 LEAL Joatildeo Joseacute e LEAL Rodrigo Joseacute Supremo Tribunal Federal e o Nepotismo Top Revista Magister de

Direito Penal e Processual Penal v 5 n 26 outnov 2008p 24

188

comissionado natildeo poderiam de forma alguma ocupar cargo comissionado tambeacutem1036

Isto traduz seacuteria discriminaccedilatildeo sofrida pelos servidores efetivos devido agrave sua parentela

o que contraria diretamente o disposto pelo princiacutepio da impessoalidade que rege a

Administraccedilatildeo Puacuteblica e pode ateacute mesmo configurar ―um tipo de perseguiccedilatildeo

qualificada pelo grau de parentesco com algum agente puacuteblico 1037

Primar pela impessoalidade no serviccedilo puacuteblico passa objetividade e

transparecircncia na ocupaccedilatildeo de cargos em comissatildeo mas natildeo significa vedar a ocupaccedilatildeo

de cargos comissionados por todos que forem parentes uns dos outros indistintamente

o que ―pode representar um radicalismo pouco saudaacutevel1038

Radicalismo esse que obsta a aplicaccedilatildeo da meritocracia ao servidor efetivo

visto que o impede de ser nomeado em qualquer cargo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento por meacuterito proacuteprio pois a Suacutemula presumiu que o alcance ao cargo

comissionado de servidor efetivo que eacute parente daquele que eacute apenas ocupante de cargo

comissionado ocorreraacute tatildeo somente devido ao viacutenculo familiar e natildeo por sua eficiecircncia

invertendo nesse caso o brocado do princiacutepio da inocecircncia

Tal fato ainda obsta a efetivaccedilatildeo tambeacutem do princiacutepio da eficiecircncia vez que

veda o acesso ao cargo agravequele servidor que tem parente comissionado mesmo que

detenha capacidade teacutecnica e perfil adequado para tanto

Ainda viola o princiacutepio da igualdade ao discriminar1039

tais servidores frente

aos demais servidores e aos cidadatildeos1040

pois a SV n 13 ao dispor ―um criteacuterio objetivo

para avaliar algo eminentemente subjetivo trata igualmente os desiguais colocando

1036 ―Se o servidor puacuteblico parente por afinidade ou consanguinidade da autoridade nomeante ou de outro servidor

puacuteblico de confianccedila eacute titular de cargo efetivo mas estaacute exercendo cargo comissionado ou funccedilatildeo gratificada

enquadra-se na vedaccedilatildeo da Sumula e por isso mesmo deve retornar ao exerciacutecio apenas do seu cargo efetivo que

natildeo eacute afetado em virtude das relaccedilotildees de parentesco ANTONIO Alice Barroso O nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula

Vinculante n 13 do STF criacuteticas e proposiccedilotildees Revista Brasileira de Direito Municipal - RBDM Belo Horizonte

Ed Foacuterum ano 10 n 32 p 61-84 janmar 2009 p73 1037 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 33 1038 Ibidem p33 1039 ―Indevida a presunccedilatildeo de que todo parente de agente publico ingressa em cargos de comissatildeo ou funccedilotildees de

confianccedila apenas em virtude de seu vinculo familiar sem preencher qualquer outra condiccedilatildeo para o exerciacutecio do

serviccedilo puacuteblico Tal anaacutelise eacute preconceituosa () O que natildeo condiz com o que o proacuteprio STF firmou pelo MI n 58

DJ de 190491 que ―O princiacutepio da isonomia () deve ser considerado em sua preciacutepua funccedilatildeo de obstar

discriminaccedilotildees e de extinguir privileacutegios ANTONIO Alice Barroso O nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante

nordm13 do STF criacuteticas e proposiccedilotildees Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM Belo Horizonte v 10 n31

janmar 2009 p 79 1040 CABRAL NETO Cirino Adolfo A resoluccedilatildeo n 0705 do Conselho Nacional de Justiccedila e seus efeitos na

administraccedilatildeo puacuteblica municipal Revista Zenite de Direito Administrativo e LRF ndash IDAF ano VII n 78 jan

20072008 p 531-536 p 533

189

todos ―em uma vala comum na medida em que a avaliaccedilatildeo eacute feita ―em razatildeo da

existecircncia de viacutenculo familiar e natildeo em decorrecircncia do meacuterito do servidor1041

Contudo se de um lado ―eacute imoral contratar algueacutem apenas em razatildeo do seu

viacutenculo com o administrador seria igualmente errado demiti-lo tatildeo somente por esse

fato1042

vez que ―o simples fato objetivo do parentesco natildeo configura o nepotismo

mas a consequente violaccedilatildeo dos princiacutepios da moralidade e impessoalidade dentre

outros―pois natildeo haacute lei que proiacuteba expressamente tal contrataccedilatildeo nem ela estaacute vedada

pelos princiacutepios gerais de direito 1043

e diga-se mais tal proibiccedilatildeo fere

direito constitucional e humano desta pessoa ao acesso agrave funccedilatildeo administrativa1044

Diante disso constata-se que tal situaccedilatildeo demanda esforccedilo interpretativo pois

se por um lado ―natildeo eacute razoaacutevel impor limites ao desenvolvimento profissional de

servidores efetivos pelo simples fato de serem parentes por vezes sem qualquer

viacutenculo afetivo por outro imprescindiacutevel preservar a Administraccedilatildeo Puacuteblica do

nepotismo por meio da proibiccedilatildeo de parentes ―trabalharem sob a subordinaccedilatildeo de um ao

outro fato que poderia gerar incompatibilidade e controveacutersias no desempenho probo

dos cargos ocupados1045

E a terceira referente ao fato de que a vedaccedilatildeo tambeacutem proiacutebe que os

servidores efetivos parentes da autoridade nomeante ou de servidor que ocupa tatildeo

somente cargo comissionado sejam designados agrave funccedilatildeo de confianccedila

Como eacute de notoacuterio saber o exerciacutecio da funccedilatildeo de confianccedila eacute destinado

apenas aos servidores efetivos nos termos do artigo 37 inciso V da Constituiccedilatildeo

Federal1046

vez que mesmo sendo como os cargos em comissatildeo preenchidas ―pela

escolha da autoridade competente deste uacuteltimo se difere pois ―eacute imperioso que o

nomeado seja do quadro interno da Administraccedilatildeo Puacuteblica1047

1041 PEacuteRES Taynah Litaiff Isper Abrahim Carpinteiro SILVA Adriana Carla de Souza Suacutemula vinculante n 13 a

―estrada dos tijolos amarelos do funcionalismo puacuteblico brasileiro Revista jus navegandi 102012 1042 Ibidem 1043 POZZO Antocircnio Arnaldo dal O nepotismo no Poder Executivo Boletim de Direito Municipal ndash BDM n 8 ano

XXIV ago2008 1044 RIGOLIN Ivan Barbosa Sobre o nepotismo Uma reflexatildeo sobre a moralidade e o moralismo Foacuterum

Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 7 n80 out2007 p 2 1045 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 36 1046 Verbis ldquoas funccedilotildees de confianccedila exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo ()rdquo 1047 ARAKAKI Allan Thiago Barbosa e ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo

Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 abrjun

2011 p 112

190

Desta feita pela literalidade da Suacutemula chega-se ao absurdo de que o marido

ocupante de cargo comissionado na Controladoria-Geral da Uniatildeo em Brasiacutelia obsta

que sua esposa servidora efetiva seja designada agrave funccedilatildeo de confianccedila na

Superintendecircncia Federal de Agricultura no Distrito Federal vez que tal situaccedilatildeo

configuraria nepotismo conforme a literalidade da SV n13 pois ambos mesmo sendo

lotados em oacutergatildeos diversos e de carreiras distintas sem qualquer vinculaccedilatildeo ou

hierarquia satildeo da mesma pessoa juriacutedica (poder executivo federal conforme a leitura

dos Ministros)

Eacute por situaccedilotildees estremadas como esta que eacute imprescindiacutevel a anaacutelise de cada

caso concreto ―perquirindo suas especificidades suas finalidades e seus efeitos o que

natildeo se garante por meio de ―controle aprioriacutestico feito pela ediccedilatildeo de normas e sumulas

gerais e abstratas aplicaacuteveis a todas as hipoacuteteses indefinidamente mas sim pelo exame

apurado de cada situaccedilatildeo faacutetica1048

425 Nepotismo Cruzado

Uma quinta criacutetica agrave Suacutemula eacute quanto agrave vedaccedilatildeo sobre o nepotismo cruzado

pois o mesmo se qualifica por designaccedilotildees reciacuteprocas realizadas mediante acordo entre

as autoridades nomeante ou seja uma autoridade nomeia parente de outra em troca

desta nomear tambeacutem parente seu O que significa dizer que quando uma autoridade

de um poder tem parente nomeado em cargo comissionado de outro poder sem que

tenha havido designaccedilatildeo reciacuteproca natildeo existe nepotismo

Entatildeo se o prefeito de um municiacutepio nomeia parente de um vereador

presidente da Cacircmara Municipal para exercer as funccedilotildees de um cargo comissionado no

poder executivo municipal isto natildeo eacute nepotismo a uma porque o vereador ndash presidente

da Cacircmara - parente - natildeo eacute a autoridade nomeante de seu parente e a duas porque ele

natildeo nomeou nenhum parente do prefeito1049

natildeo configurando o nepotismo cruzado

Outro enfoque a se levantar eacute que para se configurar o dito nepotismo

cruzado haacute de ser provado o ajuste o que na praacutetica eacute extremamente complexo sendo

―aacuterduo identificaacute-los e sobretudo comprovar a existecircncia deles pois podem assumir

1048 ANTONIO Alice Barroso O nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante nordm13 do STF criacuteticas e proposiccedilotildees

Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM Belo Horizonte v 10 n31 janmar 2009 p 83 1049 O que configuraria designaccedilatildeo reciacuteproca e portanto nepotismo cruzado

191

formas extremamente complexas e contornos tecircnues a fim de resguardar a sua

praacutetica1050

Ainda vale questionar e se fossem feitas sucessivas nomeaccedilotildees ―entre trecircs ou

mais autoridades nomeantes sem cruzamento Como no caso de ―um Desembargador

o Governador e um Conselheiro do TCE que possuem cargos comissionados para

serem preenchidos por sua nomeaccedilatildeo Pois bem os trecircs em conluio decidem que o

Desembargador nomearaacute a esposa do Governador que por seu turno nomearaacute o

sobrinho do Conselheiro do TCE que por sua vez nomearaacute o neto do Desembargador

Sendo sucessivas as nomeaccedilotildees natildeo se enquadrariam nas hipoacuteteses do que

dispotildee a suacutemula vinculante ora em comento mesmo havendo conluio pois pela

―interpretaccedilatildeo literal da Suacutemula Vinculante 13 por si soacute nada pode fazer1051

Assim se o intento do STF foi pela SV n13 moralizar a Administraccedilatildeo

Puacuteblica natildeo logrou ecircxito jaacute que aleacutem de radicalizar por um lado por outro sua

redaccedilatildeo deixou agrave margem vaacuterias outras situaccedilotildees imorais1052

43 Consequecircncias de seu sentido e alcance

431 Reclamaccedilatildeo n 6838DF

Logo apoacutes a ediccedilatildeo da SV n13 o entatildeo Procurador-Geral da Repuacuteblica

Antocircnio Fernando Barros e Silva de Souza ingressou com a Reclamaccedilatildeo n 68381053

com pedido de liminar ao Supremo Tribunal Federal em face do Enunciado n 13 do

1050 ARAKAKI Allan Thiago Barbosa e ORTIZ Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo

Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 p 119 1051 Ibidem p118 1052 A suacutemula vinculante eacute tatildeo geneacuterica e abstrata quanto uma lei E como norma geneacuterica ela natildeo consegue prever

todos os casos possiacuteveis de ocorrer no comeacutercio cotidiano da vida Por sua proacutepria natureza eacute impotente para

fornecer por si soacute todas as soluccedilotildees reclamadas pela ordem juriacutedica (Lima 195595) natildeo se podendo exigir do STF

(no caso das SVlsquos) ou do legislador (no caso da lei) uma inatingiacutevel onisciecircncia Afirma-se com frequecircncia como

ensina Lumia (200386-87) que a completude e a coerecircncia satildeo caracteriacutesticas essenciais do ordenamento juriacutedico

mas a realidade eacute bem diferente porque nem sempre o discurso do legislador eacute imune agraves contradiccedilotildees nem a previsatildeo

normativa pode exaurir a casuiacutestica que a experiecircncia ou seja a proacutepria vida na multiplicidade das suas dimensotildees

―inventa em um processo sempre aberto e imprevisiacutevel Afirmar o contraacuterio seria como fechar os olhos diante da

realidade do direito em nome de um ideal que eacute proacuteprio de certa ideologia juspositivista mas que se procuraria em

vatildeo realizar em qualquer ordenamento historicamente existente No mais o proacuteprio legislador natildeo ignora essa

realidade no momento em que dita as diretivas para dirimir de fato os conflitos de normas e para preencher as

lacunas do ordenamento Sempre haveraacute diz Hart (2009 p 351) em qualquer sistema juriacutedico casos natildeo

regulamentados juridicamente sobre os quais em certos momentos o direito natildeo pode fundamentar uma decisatildeo em

nenhum sentido mostrando-se o direito portanto parcialmente indeterminado ou incompleto O instituto da SV natildeo

tem forccedila orgacircnica ou elasticidade ilimitada para abranger todos os casos concretos O proacuteprio constituinte derivado

sabedor dessa incompletude loacutegica da lei ou da norma escrita ao atribuir ao STF o poder de editar SVlsquos facultou-lhe

a possibilidade de ―proceder agrave sua revisatildeo ou cancelamento na forma estabelecida em lei (CF art 103-A caput) A

faculdade de revisatildeo da SV eacute claramente o reconhecimento de que o entendimento sumular vinculante natildeo abarca

todas as situaccedilotildees concretas da vida RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro e a Suacutemula

Vinculante nordm 13 In Revista de Direito Administrativo ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 224 1053 Em 21102008

192

Senado que dispocircs sobre o nepotismo de forma diversa do explicitado pela Suacutemula

Vinculante n 131054

Contudo a mesma foi julgada como prejudicada1055

em razatildeo da revogaccedilatildeo do

ato impugnado pelo Ato n 49 da Mesa do Senado1056

Mas tendo em vista que o Procurador-Geral da Repuacuteblica dispocircs no parecer da

Reclamaccedilatildeo que eram ―muacuteltiplas as situaccedilotildees que podiam ―provocar duacutevidas ao

aplicar-se do enunciado da Suacutemula Vinculante n 13 sendo imprescindiacutevel a realizaccedilatildeo

1054 ―DECISAtildeO DA COMISSAtildeO DIRETORADecide aprovar o Enunciado nordm 13 da Advocacia do Senado Federal

editado com base no Ato da Comissatildeo Diretora nordm 7 de 2008 considerando a relevacircncia e a repercussatildeo da mateacuteria e

a necessidade de que seus efeitos sejam estendidos aos oacutergatildeos administrativos bem como aos gabinetes

parlamentares desta Casa LegislativaA COMISSAtildeO DIRETORA DO SENADO FEDERAL no uso de suas

competecircncias regimentais e considerando a relevacircncia e a repercussatildeo da mateacuteria bem como a necessidade de que

seus efeitos sejam estendidos natildeo soacute aos oacutergatildeos administrativos mas tambeacutem aos gabinetes parlamentares desta Casa

Legislativa RESOLVEArt 1ordm Fica aprovado o Enunciado nordm 13 da Advocacia do Senado Federal anexo a esta

DecisatildeoArt 2ordm O Enunciado de que trata esta Decisatildeo teraacute efeito normativo e seraacute aplicaacutevel a todos os oacutergatildeos

administrativos e aos gabinetes parlamentares do Senado FederalArt 3ordm A Advocacia do Senado disponibilizaraacute a

todos os gabinetes e aos oacutergatildeos administrativos o texto do Enunciado nordm 13Art 4ordm Este Ato entra em vigor na data

de sua publicaccedilatildeoSala da Comissatildeo Diretora em 14 de outubro de 2008 Garibaldi Alves Filho - Alvaro Dias -

Efraim Morais - Gerson Camata - Ceacutesar Borges - Magno Malta - Papaleacuteo Paes - Flexa Ribeiro ENUNCIADO Nordm 13

Para a aplicaccedilatildeo da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF no acircmbito do Senado Federal observar-se-atildeo as seguintes

orientaccedilotildees da Advocacia do Senado FederalI) eacute vedado o exerciacutecio de cargo em comissatildeo por cocircnjuge companheiro

ou parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive dos Senadores e dos servidores

investidos em cargos em comissatildeo ou funccedilotildees comissionadas de direccedilatildeo chefia ou assessoramento representados

pelos siacutembolos FC-8 FC-9 e FC-10 que teriam presumidamente por forccedila da Suacutemula nordm 13 o poder de influenciar

na respectiva nomeaccedilatildeoII) a vedaccedilatildeo para a nomeaccedilatildeo de parentes por afinidade na linha colateral limita-se aos

irmatildeos do cocircnjuge ou companheiro por forccedila do que dispotildee o sect 1ordm do art 1595 do Coacutedigo Civil Brasileiro conforme

entendimento constante do Parecer nordm 2212008-ADVOSFIII) a proibiccedilatildeo contida na Suacutemula Vinculante nordm 13 natildeo

alcanccedila os servidores ocupantes de cargos efetivos do Senado Federal vedada em qualquer caso a nomeaccedilatildeo ou a

designaccedilatildeo para cargo ou funccedilatildeo de confianccedila de parentes ateacute o 2ordm grau na linha reta ou colateral inclusive por

afinidade para servir sob a chefia imediata de Senador ou servidor investido em cargo ou funccedilatildeo de direccedilatildeo chefia

ou assessoramento conforme o disposto no inciso VIII do art 117 da Lei nordm 811290III) a proibiccedilatildeo contida na

Suacutemula Vinculante nordm 13 natildeo alcanccedila os servidores ocupantes de cargos efetivos do Senado Federal vedada em

qualquer caso a nomeaccedilatildeo ou a designaccedilatildeo para cargo ou funccedilatildeo de confianccedila de parentes ateacute o 2ordm grau na linha reta

ou colateral inclusive por afinidade para servir sob a chefia imediata de Senador ou servidor investido em cargo ou

funccedilatildeo de direccedilatildeo chefia ou assessoramento conforme o disposto no inciso VIII do art 117 da Lei nordm 811290IV) a

proibiccedilatildeo constante da Suacutemula Vinculante nordm 13 tambeacutem natildeo abrange o cocircnjuge companheiro ou parente nomeado

em data anterior ao ingresso do Senador ou ao exerciacutecio do cargo em comissatildeo pelo servidor gerador da

incompatibilidade nem aqueles cuja uniatildeo estaacutevel ou casamento houver ocorrido posteriormente ao exerciacutecio dos

respectivos cargos ou funccedilotildees vedada em qualquer caso a subordinaccedilatildeo a que se refere o item IIIV) o viacutenculo

conjugal ou de parentesco com Senador ou servidor investido em cargo ou funccedilatildeo de direccedilatildeo chefia ou

assessoramento jaacute falecidos ou aposentados natildeo gera a incompatibilidade de que trata a Suacutemula Vinculante nordm 13VI)

eacute vedado o ajuste de nomeaccedilotildees reciacuteprocas para o exerciacutecio de cargos em comissatildeo ou funccedilotildees comissionadas por

cocircnjuge companheiro ou parente em linha reta colateral ou por afinidade ateacute o terceiro grau inclusive dos

Senadores e dos servidores investidos em cargos ou funccedilotildees de direccedilatildeo chefia ou de assessoramentoVII) a

exoneraccedilatildeo motivada pela aplicaccedilatildeo da Suacutemula nordm 13 vincula o respectivo ato administrativo impondo-se a

observacircncia do devido processo legal assegurados o contraditoacuterio e a ampla defesa antes que se ultime a

exoneraccedilatildeoVIII) o nomeado ou designado para cargo em comissatildeo deveraacute declarar por escrito que natildeo tem relaccedilatildeo

familiar ou de parentesco que importe praacutetica de nepotismo vedada pela Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF observadas

as orientaccedilotildees contidas neste Enunciado 1055 Em 150609 por intermeacutedio de Despacho monocraacutetico do Relator Ministro Cezar Peluso 1056 REVOGA DECISAtildeO DA COMISSAtildeO DIRETORA -ATO DO PRESIDENTE Nordm 49 de 2008 O PRESIDENTE

DO SENADO FEDERAL no uso de suas atribuiccedilotildees regimentais e regulamentares e considerando os termos da

RECLAMACcedilAtildeO nordm 6838 protocolada pelo Senhor Procurador-Geral da Repuacuteblica no Supremo Tribunal Federal

RESOLVE ad referendum da Comissatildeo Diretora DECIDE REVOGAR a Decisatildeo da Comissatildeo Diretora publicada

no Boletim Administrativo de Pessoal nordm 4072 de 15 de outubro de 2008 que aprovou o Enunciado nordm 13 da

Advocacia do Senado FederalSenado Federal 21 de outubro de 2008 Senador Garibaldi Alves Filho Presidente do

Senado Federal

193

de explicaccedilotildees sobre os elementos da mesma o que contribuiria ―de modo significativo

para aprimorar a concretizaccedilatildeo dos comandos nela inseridos1057

faz-se necessaacuterio

analisa-lo de modo pormenorizado pois dele se extrai as falhas dispostas no enunciado

da SV n13 anteriormente tratadas

Assim o PGR embora afirme em seu parecer que ―desde o iniacutecio de nossa

histoacuteria poliacutetica o nepotismo eacute fruto da renitente e odiosa confusatildeo entre as esferas

puacuteblica e privada tendo reflexos mais acentuados na Repuacuteblica sobretudo quando o

poder proveniente desta res publica eacute exercido pelo povo sendo ―um fardo a ancorar a

efetividade da construccedilatildeo concreta da democracia no paiacutes1058

aponta duacutevidas acerca da

redaccedilatildeo do enunciado sumular

Nesse diapasatildeo suscita sobre a possibilidade de os servidores efetivos serem

designados para o exerciacutecio de funccedilatildeo ou cargo em comissatildeo desde que natildeo haja

viacutenculo hieraacuterquico direto entre os parentes1059

ressalta que se faz necessaacuterio delimitar

o acircmbito de abrangecircncia da proibiccedilatildeo que deve ser o oacutergatildeo ou a entidade puacuteblica a qual

pertenccedila a autoridade nomeante ou contratante1060

que a proibiccedilatildeo sumular natildeo deve

aplicada a aqueles casos de chefia e assessoramento em que o servidor natildeo deteacutem poder

de decisatildeo ou posiccedilatildeo hieraacuterquica imediatamente superior agrave do servidor com quem

tenha parentesco1061

e ao alegar que eacute indispensaacutevel deixar claro que estatildeo

1057

BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 6838DF Relator Ministro Cezar Peluso julgada

em 150609 e publicada no DJe-116 de 24062009Texto do parecer do PGR fl 175184 Disponiacutevel em

httpnoticiaspgrmpfmpbr Acesso em 030314 1058 Trecho do Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr 1059 ―O entendimento de se adotar interpretaccedilatildeo uniforme para a aplicaccedilatildeo do enunciado da Suacutemula Vinculante n 13

em relaccedilatildeo ao servidor que ingressou no servidor puacuteblico mediante concurso puacuteblico e por isso eacute titular de cargo

efetivo e nessa condiccedilatildeo foi designado para o exerciacutecio de funccedilatildeo de confianccedila ou funccedilatildeo gratificadalsquo cujo o

exerciacutecio eacute exclusivo por servidores ocupantes de cargo efetivo () ou de cargo em comissatildeo que deve ser ocupado

prioritariamente por servidores de carreira na hipoacutetese de a respectiva funccedilatildeo de confianccedila ou o respectivo cargo em

comissatildeo guardar compatibilidade com o cargo efetivo de que o servidor eacute titular e ausente o viacutenculo hieraacuterquico

direto com o eventual parente integrante da Administraccedilatildeo Puacuteblica em relaccedilatildeo ao servidor que natildeo eacute titular do cargo

efetivo e foi designado para ocupar cargo em comissatildeo desprezando a flagrante diversidade faacutetica e juriacutedica no que

se refere ao ingresso de cada um no serviccedilo puacuteblico merece detida reflexatildeo e reclama esclarecimento dessa Corte

Suprema pois a aplicaccedilatildeo uniforme e linear do enunciado agraves duas situaccedilotildees pode albergar hipoacuteteses que se afastam

do conceito de nepotismo Trecho do Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em

httpnoticiaspgrmpfmpbr 1060 ―A expressatildeo na mesma pessoa juriacutedicalsquo como o ente federal em sua totalidade (Uniatildeo Estado Distrito Federal

e Municiacutepios) tem gerado assimetria horizontes e verticais na aplicaccedilatildeo do enunciado da Suacutemula Vinculante a

alcanccedilar situaccedilotildees que substancialmente natildeo configuram nepotismo Se a expressatildeo oacutergatildeo eacute insuficiente para

combater eficazmente situaccedilotildees de nepotismo a identificaccedilatildeo da expressatildeo mesma pessoa juriacutedica como ente federal

em sua totalidade tem potencial de identificar como ilegiacutetimas situaccedilotildees que natildeo estatildeo maculadas pelo viacutecio em

questatildeo A delimitaccedilatildeo considerando os Poderes do Estado (Executivo Legislativo e Judiciaacuterio) e mesmo o oacutergatildeo

autocircnomo Ministeacuterio Puacuteblico compreendendo-se em conjunto ou individualmente os entes federados eacute uma das

alternativas para que se possa superar a insuficiecircncia ou o excesso das interpretaccedilotildees aventadas Trecho do Parecer do

PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr 1061 ― O tratamento uniforme e linear do enunciado quando a suposta situaccedilatildeo funcional vedada decorre de parentesco

ou de matrimocircnio com ocupante de funccedilatildeo de confianccedila ou de cargo em comissatildeo com atribuiccedilotildees de direccedilatildeo ou de

chefia ou de assessoramento () Se eacute incontroversa a caracterizaccedilatildeo da situaccedilatildeo de nepotismo quando um dos

servidores tem atribuiccedilotildees de direccedilatildeo que compreende o poder de decisatildeo o mesmo natildeo se pode dizer quando se

194

compreendidas todas as formas legais do viacutenculo familiar natural ou civil em linha

reta colateral ou por afinidade nos termos do Coacutedigo Civil lembra que a relaccedilatildeo de

parentesco ocorrida apoacutes a ocupaccedilatildeo do cargo ou funccedilatildeo natildeo caracteriza nepotismo1062

Assim o PGR afirma que mesmo que a revogaccedilatildeo do ato questionado tenha

gerado a perda do objeto da reclamaccedilatildeo

― () a situaccedilatildeo veiculada na reclamaccedilatildeo pela sua novidade e pela sua ampla

repercussatildeo no serviccedilo puacuteblico em geral transcende os limites do ato

normativo questionado visto que eacute do conhecimento puacuteblico que o

enunciado da Suacutemula Vinculante n 13 natildeo apenas no Senado Federal mas

tambeacutem em todas as esferas do poder puacuteblico tem recebido interpretaccedilatildeo

divergente e motivado por isso mesmo sua aplicaccedilatildeo de modo natildeo uniforme

situaccedilatildeo que estaacute a reclamar uma deliberaccedilatildeo dessa Suprema Corte que eacute a

uacutenica com autoridade para delimitar seu preciso alcance1063

Assim tendo em vista o fato de que ―natildeo se pode querer aplicar a Suacutemula

vinculante 13 em sua literalidade pois isso poderia gerar equiacutevocos os quais poriam em

risco o caraacuteter sem jaccedila dos princiacutepios constitucionais1064

o PGR asseverou em seu

parecer que ―se o enunciado da Suacutemula Vinculante pode ser editado de ofiacutecio () modo

pelo qual tambeacutem pode-se verificar a sua eventual revisatildeo ou ateacute mesmo o seu

cancelamento nada impede que essa Corte Suprema defina de ofiacutecio a sua precisa

compreensatildeo1065

E entatildeo conclui que como ―lhe compete atuar no sentido de impedir a

persistecircncia de praacuteticas que agridem o enunciado da Suacutemula Vinculante n 13 eacute

fundamental que o Ministeacuterio Puacuteblico tenha conhecimento dos paracircmetros precisos de

sua compreensatildeo para que possa exercer com seguranccedila as atribuiccedilotildees e requereu

―independente do natildeo conhecimento da Reclamaccedilatildeo que o STF se pronunciasse sobre

a SV n13

trata de chefia que normalmente encerra atribuiccedilotildees circunscritas a departamentos burocraacuteticos quase sempre

subordinados a oacutergatildeos de direccedilatildeo ou exerce funccedilotildees de assessoramento logicamente desprovidas de conteuacutedo

deliberativo A duacutevida se instala porque alguns sustentam que na configuraccedilatildeo da situaccedilatildeo de nepotismo natildeo pode ser

irrelevante em relaccedilatildeo a um servidor a presenccedila do poder de decidir ou a capacidade de influenciar de modo

contundente a praacutetica de um ato direcionado agrave investidura em funccedilatildeo de confianccedila ou em cargo em comissatildeo

Trecho do Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr 1062 ―As situaccedilotildees licitamente preacute-constituiacutedas e os eventuais impedimentos supervenientes de que o casamento

subsequente eacute um dos exemplos a despeito de natildeo explicitadas na Suacutemula Vinculante parecem encontrar conforto

numa compreensatildeo teleoloacutegica do enunciado em questatildeo bem como dos seus precedentes circunstancia que justifica

um pronunciamento capaz de afastar eventual duacutevida Tambeacutem merece explicitaccedilatildeo a eventual relevacircncia da

existecircncia de vinculo conjugal ou parentesco com membro de poder ou autoridades jaacute aposentados Trecho do

Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr 1063 Trecho do Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr 1064 OLIVEIRA George Feliacutecio Gomes Da anaacutelise da Suacutemula vinculante 13 do Supremo Tribunal Federal alcance

precedentes e motivos determinantes da norma que veda a praacutetica do nepotismo no Brasil Revista dos Tribunais ndash

RT ano 98 v 890 dez2009 p9-32 p31 1065 Trecho do Parecer do PGR na Rcl n 6838DF Disponiacutevel em httpnoticiaspgrmpfmpbr

195

Entatildeo o Ministro Cezar Peluso considerou a necessidade de se definir

claramente os limites da vedaccedilatildeo ao nepotismo no acircmbito da Administraccedilatildeo Puacuteblica e

se pronunciou pela definiccedilatildeo pela Corte de ofiacutecio quanto agrave ―precisa compreensatildeo do

enunciado da Suacutemula Vinculante1066

E ao ser noticiado na miacutedia que o entatildeo presidente do STF Cezar Peluso o

mesmo que deu ensejo agrave SV n13 teria nomeado um casal para cargos comissionados no

STF o proacuteprio tribunal divulgou em 23 de junho de 2010 que

As justas e fundadas ponderaccedilotildees de entatildeo Procurador-Geral da Repuacuteblica

dr Antocircnio Fernando Barros e Silva de Souza sobre duacutevidas suscitadas pelo

texto da referida Suacutemula nos autos da Reclamaccedilatildeo n 6838 natildeo puderam na

ocasiatildeo ser ali conhecidas porque diante da revogaccedilatildeo do ato que a

provocara o processo ficou prejudicado e em consequecircncia teve de ser

extinto sem a apreciaccedilatildeo do meacuterito Para atender tais ponderaccedilotildees e

propoacutesitos igualmente manifestados por alguns Ministros da Corte bem

como para evitar absurdos que a interpretaccedilatildeo superficial e desavisada da

Suacutemula pode ensejar o Presidente do STF estaacute encaminhando os senhores

Ministros proposta fundamentada de revisatildeo da redaccedilatildeo da mesma Suacutemula

para restrigiacute-la aos casos verdadeiros de nepotismo proibidos pela

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica O teor da proposta seraacute levado ao conhecimento

da imprensa e do puacuteblico apoacutes a apreciaccedilatildeo dos Senhores Ministros1067

Todavia ateacute o atual momento nada aconteceu embora aleacutem da Procuradoria da

Repuacuteblica tambeacutem tenha se manifestado concretamente sobre a SV n13 o Poder

Executivo federal que publicou o Decreto Presidencial n 6906 de 21 de julho de

2009 por meio do qual estabeleceu a obrigatoriedade de prestaccedilatildeo de informaccedilotildees

sobre viacutenculos familiares pelos Ministro de Estado ocupante de cargo de natureza

especial e ocupante de cargo do Grupo-Direccedilatildeo e Assessoramento Superiores1068

a fim

de preliminarmente ―mapear a ocorrecircncia do nepotismo em seu acircmbito como

1066 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 6838DF Relator Ministro Cezar Peluso julgada

em 150609 e publicada no DJe-116 de 24062009 Item 3 da decisatildeo monocraacutetica proferida Disponiacutevel em

wwwstfjusbr Acesso em 310713 1067 FILHO Joatildeo Pereira de Andrade A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites

de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia -

Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 143 1068 Art 1o Eacute obrigatoacuteria a apresentaccedilatildeo de declaraccedilatildeo acerca da existecircncia de viacutenculo matrimonial de

companheirismo ou de parentesco consanguiacuteneo ou afim em linha reta ou colateral ateacute o terceiro grau conforme

disposto no Anexo I com ocupantes de cargos em comissatildeo ou funccedilotildees de confianccedila no acircmbito do Poder Executivo

federal pelos agentes puacuteblicos a seguir indicados que se encontrem em exerciacutecio na data de publicaccedilatildeo deste

Decreto I - Ministro de Estado II - ocupante de cargo de natureza especial e III - ocupante de cargo do Grupo-

Direccedilatildeo e Assessoramento Superiores Paraacutegrafo uacutenico A declaraccedilatildeo referida no caput deveraacute incluir tambeacutem

informaccedilatildeo sobre a existecircncia de viacutenculo matrimonial de companheirismo ou de parentesco consanguiacuteneo ou afim

em linha reta ou colateral ateacute o terceiro grau com estagiaacuterio terceirizado ou consultor contratado por organismo

internacional que prestem serviccedilos para o oacutergatildeo ou entidade da administraccedilatildeo puacuteblica direta autaacuterquica ou

fundacional onde o agente exerce atividade

196

disposiccedilatildeo legal preacutevia e necessaacuteria a viabilizar posterior ato do chefe do poder

executivo a delimitar a questatildeo no respectivo acircmbito1069

432 Decreto Presidencial n 720310

Diante do resultado quanto agrave ocorrecircncia do nepotismo nos diversos oacutergatildeos e

entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal foi publicado o Decreto Presidencial n

720310 que determina a vedaccedilatildeo do nepotismo no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica

federal1070

Assim tal normativa uniformizou a proibiccedilatildeo da praacutetica do nepotismo nos

oacutergatildeos e entidades do poder executivo federal e embora contenha disposiccedilotildees de

alcance mais restrito que da Suacutemula Vinculante n 13 do STF apresenta normas mais

detalhadas que esta pois natildeo soacute veda mas tambeacutem especifica as condutas proibidas os

procedimentos a serem tomados e as exceccedilotildees

Em seu artigo 2ordm estabelece a configuraccedilatildeo do parentesco1071

conforme

disposto na Suacutemula Vinculante nordm 13 o que significa que no Poder Executivo Federal a

vedaccedilatildeo do nepotismo em comparaccedilatildeo com o disposto pelo artigo 117 VIII da Lei nordm

811290 foi ampliada abarcando tambeacutem os tios e sobrinhos que figuram na linha

colateral consanguiacutenea de terceiro grau

Ainda algumas das disposiccedilotildees do Decreto vieram a ―explicar os dispositivos

da Suacutemula como o artigo 3ordm que aleacutem de esclarecer que a ―autoridade nomeante

disposta na Suacutemula Vinculante eacute o ―Ministro de Estado ou autoridade administrativa

correspondente tambeacutem explanou que ―pessoa juriacutedica eacute ―cada oacutergatildeo ou entidade e

ainda veda o nepotismo aos parentes do Presidente e Vice-Presidente qualificando

diferentemente da SV n13 o nepotismo pelos agentes poliacuteticos natildeo soacute nomeados mas

tambeacutem eleitos1072

Outrossim o Decreto dispotildee neste mesmo artigo 3ordm que eacute nepotismo natildeo soacute a

nomeaccedilatildeo de familiares em cargos ou funccedilotildees de confianccedila mas tambeacutem sua

1069 E ainda determinou no seu artigo 3ordm a anaacutelise das declaraccedilotildees pela Controladoria-Geral da Uniatildeo ndash CGU

visando a identificar os possiacuteveis casos de nepotismo e posterior adoccedilatildeo de medidas nos termos de ato normativo a

ser editado pelo Poder Executivo Federal 1070 BRASIL Decreto n 7203 de 04062010 que dispotildee sobre a vedaccedilatildeo do nepotismo no acircmbito da administraccedilatildeo

puacuteblica federal Disponiacutevel em wwwingovbr

―Art 1o A vedaccedilatildeo do nepotismo no acircmbito dos oacutergatildeos e entidades da administraccedilatildeo puacuteblica federal direta e indireta

observaraacute o disposto neste Decreto 1071 ldquoArt 2o Para os fins deste Decreto considera-se () III - familiar o cocircnjuge o companheiro ou o parente em

linha reta ou colateral por consanguinidade ou afinidade ateacute o terceiro grau 1072 ―Art 3o No acircmbito de cada oacutergatildeo e de cada entidade satildeo vedadas as nomeaccedilotildees contrataccedilotildees ou designaccedilotildees de

familiar de Ministro de Estado familiar da maacutexima autoridade administrativa correspondente ou ainda familiar de

ocupante de cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila de direccedilatildeo chefia ou assessoramento para ()sect 2o As

vedaccedilotildees deste artigo estendem-se aos familiares do Presidente e do Vice-Presidente da Repuacuteblica e nesta hipoacutetese

abrangem todo o Poder Executivo Federal

197

contrataccedilatildeo na modalidade de contrataccedilatildeo temporaacuteria direta estaacutegio sem processo

seletivo e ainda contrataccedilatildeo direta de empresa que seja de titularidade de parente do

servidor puacuteblico1073

Observa-se que todas as disposiccedilotildees satildeo pertinentes agraves contrataccedilotildees diretas ou

seja aquelas natildeo precedidas de processo seletivo tendo em vista que soacute nesta

modalidade eacute possiacutevel haver a ―indicaccedilatildeo o ―favoritismo e eacute isto que o Decreto veio a

proibir

E pelo sect 1ordm do artigo 3ordm veda qualquer ato que caracterize ajuste para burlar as

restriccedilotildees ao nepotismo no mesmo ensejo da Suacutemula ao dispor sobre ―designaccedilotildees

reciacuteprocas proibindo portanto o designado ―nepotismo cruzado1074

Amiuacutede o Decreto tambeacutem estabelece no seu artigo 4ordm as exceccedilotildees1075

quanto

aos casos de nepotismo particularizando situaccedilotildees que natildeo o configuram tratando cada

caso de acordo com sua especificidade acertada e diferentemente da Suacutemula Vinculante

em questatildeo pois apoacutes estudo praacutetico dos casos concretos levantados a partir do Decreto

nordm 690690 por meio do qual pode mapear todos os casos de suposto nepotismo no

acircmbito da Administraccedilatildeo Puacuteblica eacute que Poder Executivo Federal excepcionou situaccedilotildees

que natildeo configuram nepotismo

Pela primeira vez desde agrave disposiccedilatildeo Lei nordm 811290 tambeacutem trouxe no seu

artigo 5ordm determinaccedilotildees quanto ao procedimento apuratoacuterio1076

e ainda pelo seu artigo

1073 Art 3o No acircmbito de cada oacutergatildeo e de cada entidade satildeo vedadas as nomeaccedilotildees contrataccedilotildees ou designaccedilotildees de

() para ()I - cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedilaII - atendimento a necessidade temporaacuteria de excepcional

interesse puacuteblico salvo quando a contrataccedilatildeo tiver sido precedida de regular processo seletivo eIII - estaacutegio salvo se

a contrataccedilatildeo for precedida de processo seletivo que assegure o princiacutepio da isonomia entre os concorrentes

()sect 3o Eacute vedada tambeacutem a contrataccedilatildeo direta sem licitaccedilatildeo por oacutergatildeo ou entidade da administraccedilatildeo puacuteblica

federal de pessoa juriacutedica na qual haja administrador ou soacutecio com poder de direccedilatildeo familiar de detentor de cargo em

comissatildeo ou funccedilatildeo de confianccedila que atue na aacuterea responsaacutevel pela demanda ou contrataccedilatildeo ou de autoridade a ele

hierarquicamente superior no acircmbito de cada oacutergatildeo e de cada entidade 1074 ―()sect 1o Aplicam-se as vedaccedilotildees deste Decreto tambeacutem quando existirem circunstacircncias caracterizadoras de

ajuste para burlar as restriccedilotildees ao nepotismo especialmente mediante nomeaccedilotildees ou designaccedilotildees reciacuteprocas

envolvendo oacutergatildeo ou entidade da administraccedilatildeo puacuteblica federal 1075 ―Art 4ordm Natildeo se incluem nas vedaccedilotildees deste Decreto as nomeaccedilotildees designaccedilotildees ou contrataccedilotildees

I - de servidores federais ocupantes de cargo de provimento efetivo bem como de empregados federais permanentes

inclusive aposentados observada a compatibilidade do grau de escolaridade do cargo ou emprego de origem ou a

compatibilidade da atividade que lhe seja afeta e a complexidade inerente ao cargo em comissatildeo ou funccedilatildeo

comissionada a ocupar aleacutem da qualificaccedilatildeo profissional do servidor ou empregadoII - de pessoa ainda que sem

vinculaccedilatildeo funcional com a administraccedilatildeo puacuteblica para a ocupaccedilatildeo de cargo em comissatildeo de niacutevel hieraacuterquico mais

alto que o do agente puacuteblico referido no art 3ordm

III - realizadas anteriormente ao iniacutecio do viacutenculo familiar entre o agente puacuteblico e o nomeado designado ou

contratado desde que natildeo se caracterize ajuste preacutevio para burlar a vedaccedilatildeo do nepotismo ou IV - de pessoa jaacute em

exerciacutecio no mesmo oacutergatildeo ou entidade antes do iniacutecio do viacutenculo familiar com o agente puacuteblico para cargo funccedilatildeo

ou emprego de niacutevel hieraacuterquico igual ou mais baixo que o anteriormente ocupado 1076 ― Art 5ordm Cabe aos titulares dos oacutergatildeos e entidades da administraccedilatildeo puacuteblica federal exonerar ou dispensar agente

puacuteblico em situaccedilatildeo de nepotismo de que tenham conhecimento ou requerer igual providecircncia agrave autoridade

encarregada de nomear designar ou contratar sob pena de responsabilidadeParaacutegrafo uacutenico Cabe agrave Controladoria-

Geral da Uniatildeo notificar os casos de nepotismo de que tomar conhecimento agraves autoridades competentes sem prejuiacutezo

198

6ordm explicita a necessidade de apuraccedilatildeo dos casos em que o familiar seja ―indicado por

agente puacuteblico para ser contratado por empresa prestadora de serviccedilos terceirizados ou

contrato de outra forma natildeo prevista no Decreto englobando aqui natildeo soacute o servidor

ocupante de cargo comissionado e a autoridade mas todos os demais1077

Por fim visando tratar de maneira especiacutefica do assunto o Decreto no seu

artigo 8ordm determina agrave ControladoriandashGeral da Uniatildeo1078

a competecircncia para dirimir as

duacutevidas quanto ao tema1079

Diante deste contexto se observa que a forma como a mateacuteria foi regulada no

decreto veio a explicar e delimitar o disposto anteriormente na SV n13 comprovando

portanto que ―o desacerto do STF em procurar chamar para si atraveacutes da ediccedilatildeo de um

enunciado de suacutemula vinculante a tarefa de regulamentar tema envolto de tantas

particularidades1080

provocou ―a necessidade de um tratamento mais minudente

detalhado do tema a fim de facilitar a anaacutelise do assunto no caso concreto

433 Multiplicidade de Reclamaccedilotildees

Mas o impacto da SV n13 natildeo parou aiacute vez que provocou no proacuteprio STF

muacuteltiplos processos sendo ―objeto de interpretaccedilotildees diversas em julgados que ateacute

―estabeleceram exceccedilotildees agrave proibiccedilatildeo anunciada ou restringiram seus limites1081

Nesse ensejo o STF

() assentou em diversos julgados reservar-se a apurar caso a caso situaccedilotildees

de abuso e falta de razoabilidade no provimento de cargos poliacuteticos1082

a

apreciar em cada caso eventual nepotismo cruzado e apurar a ausecircncia de

qualificaccedilatildeo teacutecnica dos nomeados como indicativo de fraude agrave lei e aos

princiacutepios da impessoalidade moralidade e eficiecircncia na Administraccedilatildeo

da responsabilidade permanente delas de zelar pelo cumprimento deste Decreto assim como de apurar situaccedilotildees

irregulares de que tenham conhecimento nos oacutergatildeos e entidades correspondentes 1077 ―Art 6ordm Seratildeo objeto de apuraccedilatildeo especiacutefica os casos em que haja indiacutecios de influecircncia dos agentes puacuteblicos

referidos no art 3oI - na nomeaccedilatildeo designaccedilatildeo ou contrataccedilatildeo de familiares em hipoacuteteses natildeo previstas neste

DecretoII - na contrataccedilatildeo de familiares por empresa prestadora de serviccedilo terceirizado ou entidade que desenvolva

projeto no acircmbito de oacutergatildeo ou entidade da administraccedilatildeo puacuteblica federal Estes casos natildeo configuram efetivamente

nepotismo mas tambeacutem satildeo similarmente proibidos 1078 Oacutergatildeo do Poder Executivo Federal vinculado diretamente agrave Presidecircncia da Repuacuteblica cuja finalidade eacute garantir a

transparecircncia dos atos da Administraccedilatildeo Puacuteblica Federal por meio de controle correiccedilatildeo e combate agrave corrupccedilatildeo 1079ldquoArt 8o Os casos omissos ou que suscitem duacutevidas seratildeo disciplinados e dirimidos pela Controladoria-Geral da

Uniatildeo 1080 ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira Andrade A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e

os limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e

Democracia - Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 146 1081 MODESTO Paulo Nepotismo em cargos poliacutetico-administrativos Revista Brasileira de Direito Puacuteblico Belo

Horizonte Foruacutem ano 11 ndash n 41 abrjun 2013 p 9-52 p11 1082 De outro norte natildeo se pode olvidar que o proacuteprio STF jaacute criou a exceccedilatildeo em relaccedilatildeo aos cargos poliacuteticos () se

pode verificar eacute que de fato a Suacutemula Vinculante 13 foi um grande marco mas seria oniacuterico crer no fim do

nepotismo apenas com a ediccedilatildeo do referido instrumento pelo STF ARAKAKIAllan Thiago Barbosa e ORTIZ

Laudson Cruz Suacutemula Vinculante 13 e o combate ao nepotismo Revista de Direito Constitucional e Internacional ndash

RDCI Ed RT Coordenaccedilatildeo Maria Garcia v 19 n 75 abrjun 2011 p 118

199

Puacuteblica ( STF Rcl n 8625MG Rel Min Ellen Gracie () Rcl n 6938

MCMG Rel Min Carmen Luacutecia () Trata-se de orientaccedilatildeo evidentemente

improacutepria para uma Suprema Corte que natildeo deve se ocupar de situaccedilotildees de

varejo do cotidiano da gestatildeo de pessoal da maacutequina puacuteblica cumprindo-lhe

antes fixar criteacuterios gerais e objetivos de aplicaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo Federal

na mateacuteria1083

Desta feita sua consequecircncia foi tatildeo claramente oposta ao seu objetivo qual

seja a uniformizaccedilatildeo das decisotildees sobre a mateacuteria controvertida evidenciando sua

ineficiecircncia em cumpri-lo concretamente que o proacuteprio tribunal editor da Suacutemula

passou a rever a sua decisatildeo ao julgar contrariamente ao seu disposto diversas

reclamaccedilotildees interpostas e ainda firmou por meio destas o entendimento de que cada

caso deveria ser analisado de forma individualizada e subjetiva

Dentre as diversas reclamaccedilotildees1084

destaca-se a n 8625MG onde a Ministra

Ellen Gracie relatora da Rcl 6650 MC- AgRPR julgou diferentemente desta e

afirmou que o caso concreto tratado na Rcl 8625MG de nomeaccedilatildeo de parentes do

prefeito de Arapoatilde para os cargos de Secretaacuterios Municipais de Financcedilas de Sauacutede de

Obras Habitaccedilatildeo e Infra-estrutura e de trabalho e Accedilatildeo Social embora tenha sido

excluiacutedo da vedaccedilatildeo disposta na SV n 13 devido ao fato de que a ―jurisprudecircncia da

Corte eacute no sentido de que as nomeaccedilotildees para cargos poliacuteticos natildeo se enquadram a

princiacutepio nas hipoacuteteses elencadas na suacutemula ora em exame trata de ―conduta que

evidentemente ofende os princiacutepios da moralidade e razoabilidade e deve ser apurada

no esteio de que ―supostos casos de nepotismo deve ser realizada necessariamente de

acordo com cada caso concreto1085

A Ministra afirmando que o caso tratava-se de ―situaccedilatildeo teratoloacutegica em que

foram empossados por livre nomeaccedilatildeo oito parentes para cargo em comissatildeo e de

secretaacuterio municipal ―natildeo sendo criacutevel que natildeo exista no Municiacutepio de Araporatilde ()

de seis mil quinhentos e vinte e dois habitantes () pessoas competentes e capazes para

desempenhar tais misteres aleacutem do ciacuterculo familiar iacutentimo de seu prefeito deferiu a

liminar sob o fundamento de que que seria ―temeraacuterio o entendimento de que a Suacutemula

Vinculante 13 natildeo se aplicaria a todos os casos que envolvam agentes poliacuteticos pois

entendido com ―tamanha largueza poderia ocasionar ―em futuro proacuteximo o

preenchimento da maioria ou ateacute mesmo da totalidade dos cargos de secretaacuterio

1083 MODESTO Paulo Op cit p 13 1084 ―no acircmbito do STF se abateu verdadeira cisatildeo acerca da interpretaccedilatildeo sobre o alcance da mencionada sumula

cujo os julgamentos houveram por criar regras de exceccedilatildeo que vatildeo dilapidando a norma para situaccedilotildees casuiacutesticas

PEacuteRES Taynah Litaiff Isper Abrahim Carpinteiro SILVA Adriana Carla de Souza Suacutemula Vinculante n 13 a

―estrada dos tijolos amarelos do funcionalismo puacuteblico brasileiro Revista jus navegandi 102012 1085 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 8625MG Rel Min Ellen Gracie Jug 310510 e

publicada no Dje 84 de 080610 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 060115

200

municipal por parentes de prefeitos e que esse natildeo era ―o espiacuterito da jurisprudecircncia do

STF que o levou ―a editar a Suacutemula Vinculante 13

Nesse ensejo ao alegar que ao STF guardiatildeo ―maior dos princiacutepios e valores

da Constituiccedilatildeo e a quem compete a ―nobre missatildeo de dizer o direito em sua uacuteltima e

derradeira acepccedilatildeo natildeo poderia ―se omitir diante de situaccedilotildees absurdas como a

presente de impeacuterio do nepotismo praacutetica repulsiva reiterada eleiccedilatildeo apoacutes eleiccedilatildeo

asseverou que a ele cabia ―coibir esses exageros balizado pelo bom senso tratando

―caso a caso com o objetivo de evitar injusticcedilas e ingerecircncias desproporcionais em

relaccedilatildeo agrave livre nomeaccedilatildeo para cargos de natureza poliacutetica1086

Ainda na Rcl n 6938 MCMG1087

a Relatora Ministra Carmen Luacutecia que

tambeacutem participou da ediccedilatildeo da SV n 13 concedeu a liminar e determinou o imediato

afastamento das pessoas nomeadas para cargos comissionados no Municiacutepio de

FronteiraMG aduzindo que

― O prefeito nomeou nove parentes de sete vereadores que compotildeem o Poder

Legislativo local para ocupar cargos em comissatildeo de natureza administrativa

no Poder Executivo municipal Portanto a situaccedilatildeo dos interessados parece

se subsumir em princiacutepio ao que dispotildee a Suacutemula Vinculante n 13 deste

Tribunal()1088

Desta feita a Ministra diferentemente do disposto na SV n13 julgou que

havia nepotismo no caso

Ainda o Ministro Joaquim Barbosa considerou ―sem justificativa de natureza

profissional curricular ou teacutecnica a nomeaccedilatildeo de agente ao cargo de Secretaacuterio

Municipal de Educaccedilatildeo e sob a justificativa de que ―os acoacuterdatildeos proferidos por este

Supremo Tribunal Federal no RE n 579951 e na Medida Cautelar na Rcl n 6650 natildeo

poderiam ―ser considerados representativos da jurisprudecircncia desta Corte e tampouco

poderiam ―ser tomados como reconhecimento definitivo da exceccedilatildeo agrave Suacutemula

Vinculante n 13 pois ―a redaccedilatildeo do verbete natildeo prevecirc a exceccedilatildeo mencionada

Segundo ele como dependeria ―da avaliaccedilatildeo colegiada da situaccedilatildeo concreta descrita nos

autos a afirmativa se tratar de nepotismo ou natildeo e que ao compulsar o entranhado no

processo constatou que natildeo havia ―qualquer justificativa de natureza profissional

curricular ou teacutecnica para a nomeaccedilatildeo do parente ao cargo de secretaacuterio municipal de

1086 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 8625MG Rel Min Ellen Gracie Jug 310510 e

publicada no Dje 84 de 080610 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 060115 1087 BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 6938MG Rel Min Carmem Luacutecia Julgada em

220811 e publicada no Dje ndash 169 de 020911 Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso em 060115 1088 Ibidem Item 11 do Julgado

201

educaccedilatildeo e que tudo indicava que a nomeaccedilatildeo impugnada havia recaiacutedo sobre ―parente

do prefeito () por essa exclusiva razatildeo1089

44 Consideraccedilotildees Parciais

De tudo o relatado no presente capiacutetulo pode-se extrair que natildeo houve no caso

em voga ―decisotildees reiteradas sobre questatildeo idecircntica sobre a mateacuteria jaacute sua existecircncia

parte da anaacutelise das circunstacircncias dos casos concretos e especialmente dos ―criteacuterios

utilizados para qualificar juridicamente esses fatos e ainda se baseia no entendimento

de que ―os casos devem ser julgados no mesmo sentido apesar das suas

particularidades de forma que a interpretaccedilatildeo dada a eles tambeacutem seja ―vaacutelida como

paracircmetro de decisatildeo em outros1090

Aplicando-se este fato a um dos requisitos necessaacuterios agrave elaboraccedilatildeo da SV

qual seja ―a existecircncia de reiteradas decisotildees sobre questatildeo idecircntica1091

constata-se

que o STF editou a SV n13 sem observar tal hipoacutetese normativa

E que assim sua redaccedilatildeo restou viciada inconsistente com os seus ditos

precedentes que se por um lado natildeo configuram quantitativamente ―decisatildeo reiterada

por outro tambeacutem natildeo o satildeo qualitativamente vez que o STF ao contraacuterio do que

determina a Constituiccedilatildeo Federal a autorizar a ediccedilatildeo de uma SV natildeo interpretou

―corretamente um conjunto de casos como iguais1092

Aleacutem disso se observa que a SV n13 natildeo foi coerente agrave finalidade do instituto

jaacute que sua redaccedilatildeo da maneira como estaacute escrita se por um lado natildeo abarca outras

circunstacircncias que deveriam ser rechaccediladas por outro alcanccedila situaccedilotildees em que eacute no

miacutenimo esdruacutexulo se pensar em nepotismo e por isso mesmo pode-se dizer que seu

texto natildeo contribuiu ―efetivamente para o fim da desmoralizaccedilatildeo ou das benesses pois

1089BRASIL Supremo Tribunal Federal Reclamaccedilatildeo Rcl n 12478-MCDF Disponiacutevel em wwwstfjusbr Acesso

em 170215 1090 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 86 1091 Ibidem Op cit p91 Nesses termos se extrai do magisteacuterio doutrinaacuterio que a grande e decisiva criacutetica que se faz

agrave SV 13 refere-se agrave sua ediccedilatildeo a toque de caixalsquo apoacutes dois pronunciamentos do STF sobre a mateacuteria numa uacutenica

Sessatildeo Plenaacuteria Esse procedimento contraria a Constituiccedilatildeo que exige a ediccedilatildeo de suacutemulas vinculantes apoacutes

―reiteradas decisotildees (CF art 103-A) Assim muitas questotildees envolvendo essa mateacuteria complexa natildeo conseguiram

ser abarcadas pela SV 13 talvez pela precipitaccedilatildeo com que foi aprovada (sem um debate e um estudo aprofundados)

() A despeito dos propoacutesitos moralizadores que animaram os Ministros do STF na elaboraccedilatildeo da Suacutemula ela eacute

passiacutevel de criacutetica quanto ao modo como se deu sua aprovaccedilatildeo bem como quanto agrave forma como foi redigida No que

concerne agraves circunstacircncias em que se deu a aprovaccedilatildeo merece registro que apenas quatro julgados serviram de

precedentes ao Verbete dois deles prolatados numa mesma ocasiatildeo agraves veacutesperas da ediccedilatildeo da Suacutemula RODRIGUES

Joatildeo Gaspar RODRIGUES Joatildeo Gaspar Nepotismo no serviccedilo puacuteblico brasileiro Revista de Direito Administrativo

ndash RDA Rio de Janeiro v 260 maioago 2012 p 225 1092MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 86

202

pode em alguns casos ―servir de escudo para situaccedilotildees que deveriam ser afastadas e

em outros ―impedir o acesso a quem tem capacidade para servir ao paiacutes sem estar

afetado pelo mal nefasto do nepotismo na conceituaccedilatildeo dada pela Suacutemula ora em

anaacutelise1093

Desta feita contrariando a natureza do proacuteprio instituto a SV n13 natildeo pode

―ser aplicada em seu teor literal sendo necessaacuterio em diversas situaccedilotildees praacuteticas ―a

comprovaccedilatildeo do elemento aniacutemico1094

a configurar o nepotismo

Mas natildeo soacute isso ainda observa-se que o texto sumular natildeo estaacute de acordo com

o princiacutepio da legalidade natildeo apenas pelo STF ter inobservado o procedimento

constitucional e legal de ediccedilatildeo da SV n13 mas tambeacutem porque por isso extrapolou

sua competecircncia e a finalidade do proacuteprio instituto editando-o equivocadamente

Explica-se

O STF ao editar a SV n13 na maneira que estaacute redigida excedeu a sua

competecircncia ―exercendo claramente funccedilatildeo atiacutepica de legislador que natildeo o eacute1095

Enquanto guardiatildeo da Constituiccedilatildeo o STF pode ―dizer que o nepotismo

constitui sim praacutetica ilegiacutetima mas ―regulamentar a mateacuteria definindo o que se

entende por nepotismo quem satildeo as autoridades proibidas de nomear quem se sujeita agrave

vedaccedilatildeo quais as modalidades de parentesco se incluem na proibiccedilatildeo et coetera natildeo

constitui atribuiccedilatildeo do STF1096

O que quer dizer que ―a regulamentaccedilatildeo da mateacuteria nos termos assinalados natildeo

se insere no domiacutenio proacuteprio da funccedilatildeo jurisdicional1097

natildeo podendo o STF portanto

―em nenhuma circunstacircncia buscar a celeridade jurisdicional pelos meios que lhe

aprouver Natildeo pode raciocinar em termos de que se o Congresso natildeo faz faccedilo-o eu1098

pois em Direito ―os fins nunca legitimam os meios e sim estes agravequeles1099

1093 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante n 13 do STF Revista Foacuterum Administrativo ndash Direito Puacuteblico Belo Horizonte ano 10 n 111 p 30-38

maio 2010 p 30 1094 RODRIGUES Op cit p214 1095 CORREcircA Gustavo Hermont Princiacutepio da Moralidade ou Eticidade da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Siacutentese

de Direito Administrativo v 6 n66 jun 2011 p 63-77 p 65 1096 ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites

de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia -

Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 139 1097 Ibidem 139 1098 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009 p 16 1099 Insiste a mais natildeo poder o Min MARCO AUREacuteLIO

203

Daiacute se extrai natildeo apenas duacutevidas quanto ao seu ativismo judicial como

tambeacutem quanto a falar de tal forma sobre a mateacuteria os motivos que o levaram a tanto e

ainda por suacutemula vinculante e natildeo por outro instrumento

Por isto haacute quem diga que o STF adotou ―circunstacircncias definidoras do que

seja nepotismo bem como abriu exceccedilotildees a ele mas que elas ―natildeo seriam dotadas de

forccedila vinculativa do legislador ordinaacuterio jaacute que natildeo decorrem imprescindivelmente do

texto constitucional mas de uma liberdade de conformaccedilatildeo que o STF adotou1100

E que como ―por forccedila do princiacutepio da separaccedilatildeo dos poderes a escolha eacute do

―legislador ordinaacuterio que ―natildeo pode ser substituiacuteda pela escolha do Judiciaacuterio ainda

que sujeita ao seu controle que o que o STF fez foi atuar ―verdadeiramente como

legislador positivo 1101

Assim o STF contrariou ateacute seu proacuteprio posicionamento jaacute assentado em

outros julgados de que

Natildeo cabe ao Poder Judiciaacuterio em tema regido pelo postulado

constitucional atuar na anocircmala condiccedilatildeo de legislador positivo () natildeo

dispotildee de funccedilatildeo legislativa ndash passaria a desempenhar a atribuiccedilatildeo que lhe eacute

inconstitucionalmente estranha (a de legislador positivo) usurpando desse

modo no contexto de um sistema de poderes essencialmente limitados

competecircncia que natildeo lhe pertence com evidente transgressatildeo ao princiacutepio

constitucional da separaccedilatildeo dos poderes1102

Tal questionamento quanto ao disposto na SV n13 eacute ainda mais seacuterio por

tratar da mateacuteria que versa de alta complexidade e ainda diretamente vinculada agrave

Administraccedilatildeo Puacuteblica que foi entatildeo regulamentada pelo Judiciaacuterio de uma forma

minimamente equivocada como jaacute se demonstrou natildeo se figurando

razoaacutevel defender sob o prisma da legitimidade constitucional que tema tatildeo

delicado ndash vedaccedilatildeo agrave praacutetica do Nepotismo ndash seja regulado por um ato

emanado de um oacutergatildeo jurisdicional a quem cabe aplicar a regras de direito

previamente existentes e natildeo ditar referidas regras com o fim de regular

diversas situaccedilotildees juriacutedicas criadas no acircmbito da Administraccedilatildeo Puacuteblica de

todos os oacutergatildeos de poder (Executivo Legislativo e Judiciaacuterio) de todas as

entidades federadas (Uniatildeo Estados Municiacutepios e Distrito Federal)1103

Mesmo que se afirme que o entendimento do STF sobre a aplicaccedilatildeo direta do

artigo 37 ―pode fundamentar sua proacutepria competecircncia para dispor sobre a nomeaccedilatildeo de

1100 DIZ Nelson Nascimento Nepotismo suacutemula Vinculante n 13 Limitaccedilatildeo ao tratamento por lei Revista de

Direito do Estado- RDE ano 3 n12 outdez2008 p 390 1101 Ibidem p 390 1102 BRASIL Supremo Tribunal Federal AgRgrE n 322348SC Rel Min Celso de Mello julgado em 12112002

publicado no DJU de 06122002 p 74 1103 ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites

de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia -

Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 137

204

parentes em outros poderes ele teria que ter exercido essa competecircncia ―a partir da

anaacutelise das particularidades dos poderes executivo e legislativo advinda de um conjunto

de decisotildees sobre o tema1104

mas natildeo o fez como jaacute visto

E natildeo eacute soacute isto tambeacutem haacute questionamento quanto aos motivos que levaram agrave

ediccedilatildeo da n13 que seria ―proveniente muito mais de uma escolha poliacutetica do que

estritamente juriacutedica pois o STF ―ao editar o enunciado vinculante vedando em termos

ampliacutessimos o nepotismo o que fez foi valorizar ―o seu papel no cenaacuterio Poliacutetico

Nacional1105

e natildeo vinculado agrave finalidade do instrumento

Daiacute tambeacutem decorre que a suacutemula vinculante natildeo seria o ―instituto adequado

para tratar de mateacuteria envolta a tantas peculiaridades e minuacutecias ademais tendo em

vista as ―implicaccedilotildees diretas na autonomia administrativa e organizacional do Poder

Executivo o que reforccedila ―a premissa de que o STF teria agido de maneira ilegiacutetima ao

editar o enunciado n 13 1106

Ainda a SV ―natildeo eacute nem pode ser um instrumento que substitua a lei como se

teme comece a ser pensado face ao que se esboccedila1107

na SV n 13 O que eacute vedado

quanto ao instrumento pelo o que dispotildee a Constituiccedilatildeo Federal e tambeacutem quanto agrave

mateacuteria por decisatildeo do proacuteprio STF que estabeleceu1108

―que soacute a lei em sentido formal

() pode estabelecer requisitos que condicionem o ingresso no serviccedilo puacuteblico1109

E ainda que se alegue que as suacutemulas vinculantes podem ser instrumento uacutetil

para reforccedilar o direito ao tratamento igual em determinadas situaccedilotildees natildeo foi isto que

ocorreu nesse caso

Explica-se Para que este objetivo seja cumprido ―eacute indispensaacutevel que o STF

se atenha aos comandos constitucionais pois a legitimidade do uso do precedente se

baseia no direito agrave igualdade a norma do caso formulada na ratio decidendi

generaliza-se quando as circunstacircncias do outro caso o exigem para que seja dado um

1104 MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 93 1105 ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites

de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia -

Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 138 1106 Ibidem p 132 1107 DIZ Nelson Nascimento Nepotismo suacutemula Vinculante n 13 Limitaccedilatildeo ao tratamento por lei Revista de

Direito do Estado- RDE ano 3 n12 outdez2008 p 385-391 P 391 1108 BRASIL Supremo Tribunal Federal Accedilatildeo Direta de Inconstitucionalidade ADI n1188DF Relator Ministro

Marco Aureacutelio julgada em 23021995 e publicada no DJU de 20041995 p 9945 Disponiacutevel em wwwstfjusbr

Acesso em 050215 1109 CABRAL NETO Cirino Adolfo A Resoluccedilatildeo nordm 0705 do Conselho Nacional de Justiccedila e seus efeitos na

administraccedilatildeo puacuteblica municipal Revista Zecircnite de Direito Administrativo e LRF- IDAF v 7 n78 jan 20072008

p 534

205

tratamento igual1110

e como foi visto natildeo eacute isto que ocorreu ou estaacute a acontecer o que

reforccedila ainda mais o equiacutevoco do STF em editar a SV n13

Ainda observa-se que a finalidade preciacutepua do efeito vinculante ―consiste em

coibir a recalcitracircncia dos demais oacutergatildeos e poderes do Estado agraves decisotildees proferidas em

sede de controle abstrato de constitucionalidade especialmente em relaccedilatildeo aos atos que

tenham por objeto a reproduccedilatildeo substancial de preceito normativo jaacute julgado

inconstitucional1111

mas natildeo como natildeo se vislumbra essa recalcitracircncia nos precedentes

da Suacutemula Vinculante n13 questiona-se a aplicaccedilatildeo da SV em detrimento da escolha

de outro instrumento que parece seria mais apropriado ao caso a suacutemula de

jurisprudecircncia predominante

Por isso se afirma que ―tambeacutem natildeo eacute um indiferente juriacutedico nem eacutetico que o

STF ao decidir dois precedentes pontuais natildeo tenha diante da relevacircncia do tema

sequer editado suacutemula de sua jurisprudecircncia predominante como lhe permitia e ainda

permite o Regimento Interno1112

Ou ainda que

ateacute no acircmbito da conveniecircncia natildeo era para a Suacutemula ser vinculante mas de

jurisprudecircncia dominantelsquo o que seria melhor uma vez que esta assenta a

orientaccedilatildeo da Corte a respeito de uma mateacuteria especiacutefica e assim direciona os

demais Colegiados paacutetrios bem como os magistrados quanto agraves suas

decisotildees mas natildeo os vincula sendo portanto quanto a este assunto

especiacutefico o mais adequado1113

Mas como mesmo diante de tudo isto foi editada a SV n13 o que resta eacute

analisar seu ―rigor com cautela a fim de evitar excessos e injusticcedilas1114

pois assim

como o STF deveria ―realiza um juiacutezo de igualdade para proferir reiteradas decisotildees

sobre uma mateacuteria tambeacutem o juiz (e o administrador) encarregado da aplicaccedilatildeo da

suacutemula a novos casos deve examinar suas caracteriacutesticas para concluir se estaacute diante

de uma questatildeo igual ou diferente1115

1110MAUEacuteS Antocircnio Moreira Suacutemula Vinculante e Proteccedilatildeo dos Direitos Fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 julset 2009 p 95 1111 LEAL Roger StiefelmannO Efeito Viculante na jurisdiccedilatildeo constitucional Satildeo Paulo Saraiva 2006 p 181 1112 ALEGRE Joseacute Seacutergio Monte Suacutemula Vinculante n 13 (Nepotismo) do STF Decifra-me ou te devoro Revista

Eletrocircnica sobre a Reforma do Estado - ReRE Salvador Instituto Brasileiro de Direito Puacuteblico n 16 dez jan fev

2009 p 11 1113 MAUEacuteS Antonio Moreira Suacutemula Vinculante e proteccedilatildeo dos direitos fundamentais Direitos Fundamentais e

Justiccedila n8 ndash julset2009 p87 1114 BASTOS Tatiana Quintela de Azeredo Direitos e deveres na relaccedilatildeo homoafetiva uma discussatildeo a respeito do

nepotismo Disponiacutevel em revista jus navegandi Acesso em 03 032013 1115 MAUacuteES Op cit p 87

206

Ainda mais quando se tratar dessa SV pois ao que parece ―constitui

atitude pouco teacutecnica e perigosamente tendente a um moralismo que nem sempre leva agrave

verdadeira moralidade ndash investir de forma indiscriminada e generalizante contra todo e

qualquer ato que parece ser nepotismo1116

Nesse enredo tendo o STF chamado para si a regulamentaccedilatildeo do tema por

meio de Suacutemula Vinculante restou tambeacutem agrave Administraccedilatildeo Puacuteblica considerando ―de

um lado as razotildees de ordem histoacuterica social e juriacutedica subjacentes agrave ediccedilatildeo do

enunciado da Suacutemula Vinculante n 13 e de outro as atuais incertezas quanto agrave

respectiva aplicaccedilatildeo reconhecidas pelo proacuteprio STF enquanto este natildeo se manifesta

―interpretar o enunciado em questatildeo da forma em que melhor compatibilize os

princiacutepios da moralidade e da impessoalidade com o princiacutepio da igualdade e da

eficiecircncia sem se omitir em relaccedilatildeo agrave SV n13 mas ao mesmo tempo ―procurando

enfrentar com razoabilidade e proporcionalidade as dificuldades acima referidas1117

Foi o que o chefe do Poder Executivo Federal procurou fazer por meio do

Decreto Presidencial 720310 que delimitou a aplicabilidade do enunciado da SV n13

no acircmbito da administraccedilatildeo puacuteblica federal de acordo com seus dispositivos

Ato este que tambeacutem pode ser feito pelo poder legislativo federal e pelos

poderes executivo e legislativo dos outros entres federados (Estados Municiacutepios e

Distrito Federal) pois ―eacute mateacuteria que reclama preferencialmente a ediccedilatildeo de lei ou de

ato normativo de caraacuteter infralegal a fim de que se regulamente a questatildeo ―levando-se

em conta as diversas peculiaridades faacuteticas passiacuteveis de ocorrecircncia nas diversas relaccedilotildees

juriacutedicas gestadas no acircmbito da Administraccedilatildeo Puacuteblica1118

Contudo isso poderaacute suscitar ainda mais conflitos institucionais

Imagine-se o caso de um Estado da Federaccedilatildeo editar Lei regulamentando o

regime juriacutedico de seus servidores puacuteblicos Pense-se que esse mesmo

estado-membro com o escopo de coibir a praacutetica do nepotismo no acircmbito de

sua Administraccedilatildeo Puacuteblica regulamente a mateacuteria na referida Lei tratando

do tema de modo diverso ao disposto na suacutemula vinculante nordm 13 ao vedar

por exemplo o nepotismo em termos menos amplos () Poder-se-ia

entender que no caso desse estado-membro existiriam concomitantemente

dois regulamentos normativos distintos acerca da vedaccedilatildeo ao nepotismo

previsto na suacutemula vinculante nordm 13 e o outro disposto na Lei Estadual que

1116 RIGOLIN Ivan Barbosa Sobre o nepotismo uma reflexatildeo da moralidade e moralismo Foacuterum Administrativo ndash

Direito Puacuteblico ndash FA Belo Horizonte ano 7 n 80 p 7 1117 ESTRELLA Heron Nunes Nepotismo Aplicaccedilatildeo da Suacutemula Vinculante n 13 do Supremo Tribunal Federal

Interesse Puacuteblico Belo Horizonte Ed Foacuterum marabril 2009 v 10 n 54 p 246-274 1118 FILHO Joatildeo Pereira de Andrade A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os limites

de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia -

Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 141

207

define o regime juriacutedico dos servidores puacuteblicos Natildeo eacute difiacutecil imaginar o

significativo volume de problemas que poderiam advir dessa situaccedilatildeo no

campo institucional ter-se-ia um status em que se potildee em choque de um

lado a supremacia de uma determinaccedilatildeo judicial de caraacuteter vinculante e de

outro a autonomia legislativa dos estados-membros1119

E por conseguinte

No campo das questotildees juriacutedicas praacuteticas surgiriam duacutevidas diversas

envolvendo a situaccedilatildeo retratada Apenas agrave guisa de ilustraccedilatildeo poder-se-ia

imaginar na possibilidade de serem ajuizadas reclamaccedilotildees contra atos

administrativos praticados em obediecircncia aos termos da Lei Estadual mas

em desacordo com a suacutemula vinculante ou mesmo indagar se a posterior

ediccedilatildeo da Lei cujo conteuacutedo seja diverso daquele constante da suacutemula

vinculante teria o condatildeo de revogar ou afastar a aplicaccedilatildeo do entendimento

do STF1120

Assim se constata que o STF ―procedeu ao desdobramento de princiacutepios

constitucionais para aleacutem de seu campo de incidecircncia direta extraindo-lhes efeitos

impossiacuteveis de serem sustentados agrave luz da Dogmaacutetica Juriacutedica e nesse esteio

―malgrado a inspiraccedilatildeo republicana da Suacutemula Vinculante n 13 fez dela mais um

―caso modelar de ativismo judiciaacuterio que por sua vez provocou um efeito contraacuterio ao

almejado que seria diminuir as divergecircncias das decisotildees judiciais e administrativas

relacionadas agrave mateacuteria ventilada uma vez que ―como era previsiacutevel que acontecesse

inuacutemeras duacutevidas e questionamentos tecircm surgido no acircmbito da Administraccedilatildeo Puacuteblica e

do Poder Judiciaacuterio de todo paiacutes acerca da maneira correta de dar execuccedilatildeo agraves

prescriccedilotildees sumulares mesmo porque natildeo eacute faacutecil ―fixar balizamentos normativos em

mateacuteria tatildeo complexa que haacute deacutecadas havia desafiando o legislador (competente)

brasileiro1121

Dessa forma nota-se que ―a redaccedilatildeo da Suacutemula Vinculante n 13 eacute um grande

empecilho agrave soluccedilatildeo do nepotismo na administraccedilatildeo puacuteblica natildeo apenas porque

―encerra conceitos data maacutexima vecircnia equivocados com tambeacutem porque ―cria outros

natildeo previstos em lei e despreza situaccedilotildees relevantes e caras agrave mateacuteria natildeo havendo

portanto ―como aplicar a suacutemula n 13 sem a necessidade de se realizar um esforccedilo

interpretativo 1122

1119 ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira de A ilegitimidade Constitucional da Suacutemula Vinculante nordm 13 do STF e os

limites de atuaccedilatildeo da Administraccedilatildeo Puacuteblica Revista Publicaccedilotildees da Escola da AGU Direito Gestatildeo e Democracia

- Escola da Advocacia-Geral da Uniatildeo Ministro Victor Nunes Leal v3 n 9 marabr 2011 p 140 1120 Ibidem p 140 1121 PA n 722010 de 280510 nos autos do processo nordm 18487-1859732010 p10 Disponiacutevel em www

pgespgovbr Acesso em 140514 1122 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 34

208

Tudo isto insere consequentemente a mateacuteria do nepotismo e suas aplicaccedilotildees

em ―difiacutecil compreensatildeo e extensatildeo dificultando a orientaccedilatildeo aos agentes puacuteblicos1123

quanto ao fim dessa praacutetica nefasta sendo necessaacuterio ateacute que sua redaccedilatildeo seja revista

que as ―situaccedilotildees sejam analisadas com maior profundidade esclarecendo-se as

circunstacircncias faacuteticas de sua constituiccedilatildeo1124

Desta forma por todos os pontos aqui levantados como criacuteticas negativas agrave

Suacutemula n 13 na forma em que estaacute redigida se evidencia ―a inconveniecircncia a

impropriedade e sobretudo a ilegitimidade da aprovaccedilatildeo da suacutemula vinculante1125

que

induz agrave conclusatildeo de que ela exorbitou a proacutepria normatividade do instituto e que por

isto deve ser revista pelo STF pois ―o aclaramento completo do verdadeiro sentido e

alcance do verbete sumulante somente pode ser dado por seus criadores quais sejam os

nobres magistrados no Supremo Tribunal Federal1126

nos termos do procedimento

estabelecido na Constituiccedilatildeo Federal e regulamentado em lei

O que pode ser realizado natildeo soacute pela suspensatildeo do seu efeito vinculante diante

do interesse puacuteblico de solucionar as questotildees controversas provocadas por ela como

tambeacutem pela revisatildeo de sua redaccedilatildeo consistente com agrave sua uacutenica ratio decidendi - de

que a vedaccedilatildeo do nepotismo decorre dos princiacutepios constitucionais insculpidos no artigo

37 da Constituiccedilatildeo Federal e coerente com ela e com a finalidade do proacuteprio instituto

de apaziguar controveacutersias

E como moralizar a administraccedilatildeo puacuteblica brasileira ―mesmo porque o

princiacutepio da moralidade administrativa eacute princiacutepio constitucional () e o povo tem fome

de eacutetica natildeo quer dizer que o STF pode tudo pois deve fazecirc-lo de acordo com o

direito ―com a observacircncia da ordem juriacutedica mediante medidas e normas razoaacuteveis

constitucionais1127

Nesse esteio a soluccedilatildeo da questatildeo pode reclamar a accedilatildeo do Poder Legislativo

Federal nos termos do jaacute disposto no Decreto Presidencial n 720310 possibilitando

assim que o poder legislativo de todos os demais entes federados estabeleccedila com base

no que foi determinado pela lei federal a respectiva vedaccedilatildeo do nepotismo

1123 CUNHA Marize Maria Gabriel de Almeida Pereira da Os males do nepotismo e a soluccedilatildeo dada pela Suacutemula

Vinculante nordm 13 do STF Foacuterum Administrativo ndash FA Belo Horizonte ano 10 n111 mai 2010 p 34 1124 PA n 722010 de 280510 p14 Disponiacutevel em www pgespgovbr 1125ANDRADE FILHO Joatildeo Pereira de Op cit p 141 1126 ANTONIO Alice Barroso O nepotismo sob a oacutetica da Suacutemula Vinculante nordm13 do STF criacuteticas e proposiccedilotildees

Revista Brasileira de Direito Municipal ndash RBDM Belo Horizonte v 10 n31 janmar 2009 p 75 1127 Idem fl 140

209

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Como arremate desse trabalho que teve por escopo analisar a Suacutemula

Vinculante n 13 editada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que veda o nepotismo

no acircmbito das trecircs esferas do Poder Puacuteblico de todos os entes da Federaccedilatildeo a fim de

verificar se o STF ao realizar a construccedilatildeo judicial e reconstruir a normativa da vedaccedilatildeo

do nepotismo por meio do citado enunciado vinculante exorbitou a normatividade do

proacuteprio instituto

Para discutir um pouco mais a fundo sobre o tema este trabalho se dispocircs a

verificar se o texto da suacutemula expocircs o que deveria expor - nos termos das normas

constitucionais e legais que regem o verbete vinculante em concordacircncia com seus

proacuteprios precedentes e ainda quais foram as suas consequecircncias

Tal enfoque possibilitou que viesse agrave tona a forma pela qual o STF construiu a

noccedilatildeo judicial sobre o nepotismo e sua vedaccedilatildeo quais foram os elementos especificados

na redaccedilatildeo a motivaccedilatildeo que acarretou a elaboraccedilatildeo da SV n13 e a hermenecircutica

juriacutedica utilizada pelo STF o que viabilizou observar a consistecircncia coerecircncia e

legalidade da mesma

Diante disso avalia-se como conveniente destacar os pontos que a pesquisa

apontou como sendo os mais relevantes

De pronto a pesquisa evidenciou que o nepotismo quer fruto da esfera

eclesiaacutestica quer praticado pelos governantes natildeo eacute uma conduta nova mas pelo

contraacuterio estaacute ensimesmado na Administraccedilatildeo Puacuteblica desde o preteacuterito como produto

viciado de accedilotildees viciosas daqueles que detinham o poder e que sob a perspectiva

brasileira eacute viacutecio atrelado a um complexo e acabado sistema de preceitos que remonta o

patrimonialismo estamental trazido pelos governantes portugueses ainda no seacuteculo XVI

e assentado no Estado brasileiro por meio das raiacutezes coloniais da solidariedade familiar

em um Estado de influecircncia deleteacuteria dos interesses anti-sociais criados e alimentados

em torno do poder puacuteblico e que ateacute hoje determinam graves consequecircncias culturais

natildeo soacute aterradas na Administraccedilatildeo Puacuteblica como na proacutepria sociedade

Enraizado como costume brasileiro o nepotismo - a forccedila das parentelas se

encrustou na cultura governamental do Brasil ainda no Brasil Impeacuterio e se alastrou ao

Brasil Repuacuteblica sendo no periacuteodo da Repuacuteblica Velha largamente aplicado por meio

210

do coronelismolsquo agrave parentela que se estendia dos parentes consanguumliacuteneos e afins aos

apadrinhados

Assim se observou a noccedilatildeo juriacutedica de nepotismo como ato que configura a

inversatildeo entre o puacuteblico e o privado e degrada a esfera administrativa-governamental

caracterizando o Estado como negoacutecio familiar por meio da nomeaccedilatildeo por agente

puacuteblico de seus parentes em detrimento da dignidade da funccedilatildeo puacuteblica mas que deteacutem

uma noccedilatildeo natildeo completamente acabada quanto aos seus limites da qual decorre mais

de espeacutecie de nepotismo

O estudo mostrou aleacutem disso que na ANC dentre os mais diversos assuntos

debatidos pelos constituintes envolvendo tanto o acircmbito governamental como o

administrativo esteve presente a necessidade de moralizar o poder puacuteblico fincaacute-lo na

moralidade puacuteblica e rechaccedilar os atos de personalismos costumeiros da praacutetica estatal

dentre eles o nepotismo sendo o princiacutepio da moralidade elevado a princiacutepio

constitucional e que ao reger a Administraccedilatildeo Puacuteblica submete o administrador

puacuteblico a uma honestidade profissional

Nesse enredo a moralidade puacuteblica obsta o nepotismo como princiacutepio

constitucional e tambeacutem como aglutinadora dos outros princiacutepios citados ou sendo

sensificada por eles em uma relaccedilatildeo simbioacutetica na previsatildeo eou vedaccedilatildeo do nepotismo

consagrando-se como o substrato fundamental da esfera administrativa-governamental

E o nepotismo por sua vez ao conflitar com um princiacutepio da administraccedilatildeo

viola outro mesmo que em diversos graus face agrave natural interligaccedilatildeo que os caracteriza

pois se nutrem e se constituem respectiva e mutuamente

Igualmente o trabalho demonstrou que a construccedilatildeo judicial da vedaccedilatildeo do

nepotismo foi realizada com base na vinculaccedilatildeo do parente nomeado agrave autoridade

nomeante ou servidor ocupante de cargo comissionado que alcanccedila os servidores

ocupantes de cargos efetivos e eacute limitado ao terceiro grau de parentesco inclusive afim

e embora alcance ateacute o nepotismo cruzado natildeo se aplica agrave nomeaccedilatildeo de parente em

cargo poliacutetico

Contudo a totalidade dos elementos natildeo foram tratados em todos os

precedentes e nos debates Como foi visto o STF construiu a noccedilatildeo de vedaccedilatildeo ao

nepotismo basicamente a partir dos elementos da noccedilatildeo exposta na redaccedilatildeo da

Resoluccedilatildeo do CNJ objeto do terceiro precedente dentre eles a extensatildeo de parentesco -

211

ratificada na primeira sessatildeo plenaacuteria sobre o assunto ndashacresceu de acordo com o RE -

quarto precedente - a vedaccedilatildeo ao nepotismo cruzado e exclui os cargos poliacuteticos da

incidecircncia do nepotismo e ainda seguindo apenas a ADI seu primeiro precedente

pois incluiu os servidores efetivos sob a incidecircncia da normativa sumular

Aleacutem disso devido ao debate travado na segunda sessatildeo plenaacuteria sobre o

assunto o STF alterou o acircmbito fiacutesico da vedaccedilatildeo do nepotismo inovando ateacute quanto agrave

redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo ao substituir ―mesmo oacutergatildeo por ―mesma pessoa juriacutedica no

corpo textual da Suacutemula

Desta feita a SV n13 foi construiacuteda por elementos pinccedilados pelo STF aqui e

acolaacute da forma que entendeu acertada embora nem de longe lembre a redaccedilatildeo de sua

―proposta original

Por isto considera-se que os Ministros natildeo chegaram a um resultado eficaz jaacute

que a SV13 da forma que estaacute redigida eacute questionaacutevel replicaacutevel criticaacutevel natildeo soacute por

contrariar seu proacuteprio objetivo como tambeacutem por natildeo ter se fundamentado em

jurisprudecircncia reiterada sobre a mateacuteria e ainda por sua redaccedilatildeo natildeo ter guardado

coerecircncia ou consistecircncia com os seus precedentes

Inobservado a maacutexima de que o direito natildeo se interpreta ―em tiras aos

pedaccedilos1128

o STF ao editar a SV n13 na forma em que estaacute redigida dentre outras

consequecircncias equivocadas natildeo coibiu que parentes da autoridade nomeante pudessem

ser nomeados ao cargo eacute poliacutetico

Diante disso o proacuteprio STF amargou as consequecircncias de sua decisatildeo vez que

posteriormente agrave ediccedilatildeo do texto sumular chegaram ao Tribunal diversas Reclamaccedilotildees

veiculando situaccedilotildees esdruacutexulas pertinentes agrave nomeaccedilatildeo de parentes pelos prefeitos e

governadores dos vaacuterios entes federados do Brasil

Dessa forma chega-se ao ponto nevraacutelgico do trabalho qual seja o STF com

base apenas na redaccedilatildeo da Resoluccedilatildeo n0507 do CNJ tambeacutem problemaacutetica editou a

SV n13 repleta de falhas e equiacutevocos a fim de obstar o nepotismo no acircmbito do Poder

Executivo agrave moda da proibiccedilatildeo daquela ao Poder Judiciaacuterio sem observar qualquer

meacutetodo ou teacutecnica da hermenecircutica e assim extrapolou a normatividade da proacutepria SV

inobservando tambeacutem os criteacuterios constitucionais e legais de sua ediccedilatildeo

1128

GRAU Eros Ensaio e discurso sobre a interpretaccedilatildeoaplicaccedilatildeo do Direito 3ordf ed Satildeo Paulo

Malheiros 2005 p40

212

Voltando agraves liccedilotildees de Larenz que dispotildee que alteraccedilatildeo da situaccedilatildeo normativa

pode conduzir agrave modificaccedilatildeo restriccedilatildeo ou extensatildeo do significado da norma

prevalecente motivada por situaccedilotildees diversas que ensejam um novo entendimento dos

criteacuterios teleoloacutegico-objetivos bem como a necessidade de adequaccedilatildeo do Direito preacute-

constitucional aos princiacutepios constitucionais poderia se argumentar que o proacuteprio STF

deveria jaacute ter revisto a SV n13 ou ao mesmo ter suspendido seu efeito vinculante como

previsto na lei regulamentar do dispositivo constitucional sobre o instituto Mesmo

porque esta alteraccedilatildeo natildeo eacute intempestiva

Entretanto como o tribunal permaneceu inerte tanto o Procurador-Geral da

Repuacuteblica questionou as falhas da SV n13 como tambeacutem o Poder Executivo Federal

editou o Decreto n 720310

Como agrave Constituiccedilatildeo cabe uma elevada funccedilatildeo de estabilizaccedilatildeo deve-se ter

uma especial atenccedilatildeo quando se cria norma ainda mais neste caso de SV que se trata

de decisatildeo judicial onde o STF ao contraacuterio do que deveria natildeo pocircs a claro o alcance

das ideias expressas nem delimitou-as separando os fundamentos da base da SV

Ainda os Ministros do STF natildeo apartaram no desenvolvimento do processo de

ediccedilatildeo da SV n13 a interpretaccedilatildeo da lei da interpretaccedilatildeo da concepccedilatildeo juriacutedica do

tribunal sendo esta de importacircncia decisiva para a ediccedilatildeo do texto sumular em

detrimento daquela

Eacute o que se extrai da proacutepria SV n13 reduzida a escrito mas que tambeacutem

demonstra que o seu sentido literal eacute dissonante do necessaacuterio contexto significativo

social

Verificadas as contradiccedilotildees e lacunas da SV n13 durante toda esta exposiccedilatildeo

com base na sua fundamentaccedilatildeo ndash precedentes se observa que por todos os criteacuterios

legais e constitucionais a SV n13 mais uma aberraccedilatildeo judicial pois o Supremo

Tribunal Federal impocircs a SV n13 a todos os poderes de todos os entes federados uma

nova noccedilatildeo da vedaccedilatildeo de nepotismo construiacuteda ao jeito de proposiccedilatildeo juriacutedica

criando-se a aparecircncia de que desligada da situaccedilatildeo de fato resolvida lhe cabe o caraacuteter

de uma regra estabelecida e uniformemente aplicaacutevel mas natildeo eacute a situaccedilatildeo veriacutedica jaacute

que se observou que os casos posteriores a ela continuam a carecer de interpretaccedilatildeo

Nesse contexto o que se constata eacute que o STF inobservado que o assunto ndash

como mateacuteria de grande alcance poliacutetico-administrativo - deveria ser analisado dentro

213

de sua ―responsabilidade poliacutetica na manutenccedilatildeo da ordem juriacutedico-estadual e da sua

capacidade de funcionamento1129

natildeo ponderou as consequecircncias de sua decisatildeo e

diferentemente do que lhe compete natildeo garantiu a manutenccedilatildeo ou aperfeiccediloamento da

capacidade funcional do Estado do Direito1130

e seguindo sua orientaccedilatildeo poliacutetica

subjetiva editou uma SV inconsistente incoerente ilegal e ateacute inconstitucional

Desta feita ateacute que a questatildeo seja solucionada pelo STF editor da norma

criticada por meio da revisatildeo da redaccedilatildeo da SV n13 ou da aplicaccedilatildeo do artigo 4ordm da Lei

1141706 agrave mesma suspendendo seu efeito vinculante cada um dos poderes dos entes

federados poderatildeo elaborar respectivas normativas a exemplo do Decreto Presidencial

n 720310 a fim de clarear o dispositivo sumular e aparar suas controveacutersias diante

das situaccedilotildees faacuteticas

Ainda nada impede que o Congresso Nacional cumpra sua funccedilatildeo e no esteio

do parecer do Procurador-Geral da Repuacuteblica e do Decreto Presidencial supra citado

vede o nepotismo ateacute que um dia o paiacutes passe por uma mudanccedila cultural extensa

envolvendo todos os segmentos da sociedade a partir do que se poderaacute indicar pessoas

para o exerciacutecio de cargo em comissatildeo por seus meacuteritos em relaccedilatildeo agrave qualificaccedilatildeo

requerida para o exerciacutecio do cargo natildeo importando que sejam parentes ou natildeo e sim

que sejam capazes de atuar em prol do sociedade quando se prescindiraacute de lei para se

moralizar o poder puacuteblico

1129

LARENZ Karl Metodologia da ciecircncia do direito Trad Joseacute Lamego 5ordf ed Lisboa Fundaccedilatildeo

Calouste Gulbenkian 1997 p 517 1130

Ibidem p 517

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