o Novo Testamento perante a Escravidão

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Transcript of o Novo Testamento perante a Escravidão

EM UAS RELACÜE C01\1

POR

A RELIGIÃO CHRISrÃ

~OClEDlilE RIU 'ILEIRA DE TRATADO: E\H(~ELICO'

A _E S C R AI V I DÃO

SÃO PAULO

'lHA .... YAPOR DE JORGE EI":KLER &; c.

Uma scena da Escravidão

1

(;la.lun não ces.' cr:. , iC\"!l.nll"éOIDO trom beln n tua yo~ enl1uunciu. ao meu puvo n~ suu...c;maldades, e li 01lS'\ de Jacobos seu. petrndos. r·. fi T

Entre as recordações do meu passado,uma sobre "ae, como nota di cordantc emsaudosa harmonia.

Era eu iniciado em uma fazenda, no se­gredo das primeiras lettras.

Um dia, um ruido partindo de um quartofechado, na extremidade do terreiro, cha­mou minha attenção. Approximei-me eescutei. Gemido surdos c supplicantes des­tinguiam-se no meio do som de alguma~ cou asflexiveis que cahiam compassadas ~obre umcorpo mol\e. De \'ez em quando, uma voz

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ameaçadora respondia ás supplica' humildesde alguma yictima. Conheci a voz e compre­h ndi o, gemido : alli dava-se uma dessa'cenas da escra\ idão, montruo as e dilaceran·

te., que tem de mil fazendas chamado terrí·veis maldicçõe "obre este desventurado paiz.

Sentia batcr·me ro\'oltado o coração; maque podia eu fazer, se não derramar umalagrima inefficaz de indignação e piedadepelo pobre captivo?

affre misero escra\'o, Já que c mette:ko crim de nascer no,- clima' ardentes dar frica, e já que perpetrasLe um outro nãomenos gra 'e-de abandonar o eito e oazorrarrue do feitor, para procurar no mattoa liberdade do foragido! Desgrac".ado quenâo conta\'as com a fome para te arrancardos bo..ques sombrios, nem c 111 ,tigma detu cor para te denunciar aos caboclos a 'iuo'da recompensa do tt;u senhor! Paga, pois,c IJ1 o teu . anguc 11 prejuizo qt e de te.

dire, g-eme e morre, infeliz, que o dia dar \cmpção não raiara para t:! Morre por­que neste paiz ciZJilisad(J e c/lristão, . Ó a mortep de suspender o braço auto latíco de teup'lrceiro, antes que s _ cu 1 )ra a novenafatal eterminada pela justiça da fazen la .Entretanto, con ole-te e co ole-nos a crençade que os teu gemido <) teu sanCTuet m :iu recolhido no cali. - da ira da re tae tremenda j 1 'tlça.

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Lembro-me que no dia seguinte, ou diasdepois, achei o quarto aberto e entrei. Oh!miseria! alli estva pendurado um, instru­mento horrendo: um páo curto de um cen­timentro de diametro, mais ou menos, ser­via de cabo a algumas correias de courocrú, finas e duras, todas ensanguentadasnas extremidades e salpicadas no resto. Umaescada no chão indicava no quarto o lugarde supplicio.

Sahi. O dia era esplendido e os sorrisosde um ceu azul varreriam, por certo, bemdepressa de meu espirito pueril a:5 dolorosasimpressões, se um novo espectaculo não asviesse accentuar profundamente.

Fui ao quintal, e lá, á sombra de umaJarangeira, vi deitado de bruço, um pobrenegro, que, se não me falha a memoria,.tinha uma grande massa de ferro cingindo­lhe os tornozelos. Acheguei-me: era a vi­ctima desventurada que alli procurava umabrigo contra os ardores do sol. Enxoteias moscas que o perseguiam, e-especta­culo repugnante !-atravez do trapo quemal cobria-lhe as nadegas, pude perceberlima chaga viva, funda, e purulenta!

Oh! maldicla instituição, que despertano homem o instincto da féra, obliterando-os mais comesinhos sentimentos de huma­nidade!

Qua i vinte aono,; são pass8 dos, c: anelec -tara c e infeliz?

A morte provavelmenk ter-lhe-há dado orcpou o e hospitalid:1de que lhe neg:1rampeitos humanos. Ou talvez ainda arrastemiseravelmente p,lra o eilo um r" O decarne que sobrou ao bacallzáu e aI) rdlwdo feitor, re to vergonhosamente di<;puta lopela voracidade do escravi:mo na oppo.;i<.áOa libertaç5.o do sexag narios.

E entretanto, quantos de.gra ad(l~ cumoesse, privados yiol~ntamente de :cus direitosnaturaes, têm ~ido, durante trcs eculos, co­vardemente explorauo:" cruelmente marty­risadas e murto pela ci\-ili. ação humaní­taria de nosSO culto Impcrio?

Tremcnda realisação te\'c a maldicçãL' ueCanaan, ma" ai daquclles por quem se CU1TI­

. e S cUl11J?re a tl:rrivel predicção de

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-captivos, sejam espectros que venham cons­tantemente perturbar-lhe o somno criminosode um indefferentismo egoista e covarde!

E' mister que a iinprensa clame e nãocesse, que levante como trombeta a suavoz e denuncie ao povo a monstruosidadedeste peccado nacional,. que já não tem parao attenuar a ignorancia dos seculos detrevas.

E' mister que se diga com franqueza aossenhore de escravos o quanto ha deoffensivo ás leis de Deus e da humanidade,o quanto ha de vil na vergonho a explora­ção ele uma raça que tem tanto direito,como qualquer outra, á liberdade que Deuslhe deu.

Clama rei e denunciarei aos novos filhosde Israel esse crime que mancha ainda oseio das egrejas evangelicas do Brazil, comgrandissimo detrimento do Evangelho.

E emquanto a justiç,.-a falar por minhabocca, rninha VQZ terá a mE'sma auctoridadeque a do Propheta, porque a voz da jus­tiça é a voz de Jehovah.

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A escravidão perante oVei ho Testamento

II

Lembra te 'ln.' tambem tu [(1,'1'c,cruvo na l\:rrtL .10 ngyplo. c queo 'enhor leu lJe.UF te libertou; epor i"isO U f( orJ "D{'I agora e"tprc<:eito. Deul. Vi. Iii .

Quando e. -aminamos a escra iJão á luzda razão e do~ nobre' sentimentos do co­raçao, quando a consideramos cm suas de-astrosas consequencias ~ociaes, podemos

affirmar a priori com toda a s gurança,que el1a não tem, nào póue ter, a sancçãodevina.

Se não é uma nLntira o sentimento dojusto e do bom, o mais nobre apanagiocom que nos dotára o Creador; então nãopóde a ~scravidão aproiar-se nem no Velhoe nem no Noo Testamento, que contéma sublime revelação de e grande Creador.cuja justiça infinita e infinita misericorc1iase rdkctem nas almas creaL1as á sua ima­gem e semelhança.

_'ada, p rtm, obscur ce .. !lto o entendi­mento como o~ intere.·e mal entenchdosde. ta vida. • .ão e para tranhar, enãopara I' mental profundamente, que muito'chri tã I commettam () "<1(' 'ilegio de defen·der I a propriedade tsa lr'a com a Pala-

ra do Deus de ju liça de àmor.

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E' tempo de abrir os olhos desses ir­mãos, encarando a escravidão á luz de ambosos Testamentos. Examinal-a-ei hoje peranteo Velho: em artigos subsequentes vel-a-emosá luz do T ovo.

Do estudo do Pentateucho inferimos queuma tlspecie de escravidão era tole1'ada pelalegislação mosaica; porém, esse mesmo es­tudo nos revela que o seu caracter eramuito diverso do da escravidão que infeliz­mente reina em nosso paiz.

Pondo por agora de parte essa ordem deconsiderações, pergunto: Porventura, o VelhoTestamento instituiu ou mesmo approvouessa escravidão branda, que não podia en­tr.etanto deixar de ter certo gráu de injus­tiça e oppressão? Respondo-não) apenastole1'ou.

O Divino Mestre reivindicando a justiçade Deus, nos patenteia a razão dessa to­lerancia.

Tentaram 05 phariseus um dia pôl-o emcollisão com Moysés, sobre o divorcio. Tendoperguntado se era licito repudiar-se a mu­lher, por qualquer causa, e sendo-lhes res­pondido que não, replicaram: Porque entãoMoysés o permittio?

Por causa da dureza do vossos corações;mas ao principio não e1'a assim, retrucou­lhes o Senhor. Matt. 19: 8.

2

i1-

E"ta r -p ta e razão. que faz rt.:,altar.sabedoria e bondade de [eus, c.' ~lica ato!erml': (! eles. br;l' ) captiveiro entre osjudeu a) me mo t mpo que n;sa 'a aJustIça Divina.

Ao principio não ra assim, D us nftinstituiu ú divorcio por qualquer cam'a : to­lerou·o, preparando o povo para o rc.,tabe­eciment da pureza c jus iça primitiva.

ssim da escra !dão cm ljualqut.:r grao, DdJ.1ão creou um !tqp o .lfim de cultiar prrn.

dão c I~ Ta o jardin do Eúen, ma, ellcs ocultiva am com s\ a propria mito. Gen. 2:

6, i, I " Depoi", quando a t 'n'a prodUZIe pinh ~ c abrolht) , não di.sc o S nhor:­Co /leras o teu ptlO /lO suor do rosto de teueSCrtlVO: mas OH] nou:-COJ/lcras o /eu Pí;/'J1/0 suor do TE 1'0 to. (Gen : 18, 19).

Esta é a ordem primitiva, por Deus ins­tituída' porém, homens;i medida que.;s multiplJcavam 'obre a terra, creSCIam nadepra 'a ,LO de sua natur za dccahiaa.treva. d seu enten limcnto tormnamse cad'vez nldi' negras e apaga\ am ni' ua almaos ·itigio. da lln;p'ern 1 rimiti\ ,\ de jlL tiçae anti ade (Ephe'ios 4: 24. orgulho,a cubil.:a e a indoleneia foral1 arraigandoprofun lamente a escravidão no costumes.de tod S s povos, como a hsr."via foi in­troduzindo :l polygamia na vida intima detodas a SOCIedade. "

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Desarraigar essas instituições abominaveissem preparar o povo, sem elevar a socie­dade á comprehensão da justiça e santidade,era deitar remendo de palUlO novo em ves­tido velho, ou despejar vinho novo em ve­lhos ôdres.

Dizer a esses homens obscurecidos' queelles não tinham o direito de matar ou es­cravi ar os prisioneiros feitos com o valorde seu arco ou de sua espada, em guerrafranca com o seus inimigos, era dizer-lheuma cousa ab olutamente incomprehensivel,inteiramente absurda.

Diante da dureza dos corações.. notemosa prudencia de Moysés, e a paciencia deDeus. em d,issz1111dm' os tempos dessa igtLO­rancza. (Act . [7: 30.)

_ ão podendo abolir a escravidão, o le­gislador dos hebreus cerca-a de taes me­didas, que cerceia-lhe os abusos e tira-lhe ocaracter de crueldade, que é sua feiçãoproeminente em nossa sociedade culta edzristã.

E' admira\'el ver es. e grande Legi lador,ha tre. mil al1l10S em um paiz asiatic;o,elevar-se nacomprehensão da justiça, nossentimentos da humanidade, muito acimade nossos legisladores do seculo XIX.

Estabeleçamo. um pequeno confronto eenvergonhemo-nos do contraste.

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4.qllcl/e que furtar 'lIJl !tOIilt?-lI/ e o 'i-'ellderdiz ; lo)'scs, co7l11cucido de crime morra di'mOI ti'. E.'. 2 I : [6).

Entretanto, os nossos legisladores leoa­lisam o infame roubo e o hediondo traticode africanos. 1 Tão é tudo: o art. 1 li dalei Saraiva e Cotegipc, não e. 'jQ"indc a de­claração de naturalidade da nova macricula r

decreta a escravi. ação lIos que são linespela lei de 1831 !

O contraste e doloro o: lá prodama· ea ignidade do homem creado á imagemde Deus; aqui destroe-se a obra c oCre, ­dor, rebaixando suas creaturas racionae aonivel ele cousas!

Se cOll/prares um escravo llé'brt'?I. e/le teservira seis anllOS, e ao setimo sa!llrci :forrode graça. E não o~ deú:ará ir com.asmãos vasias. (E.. 21 : 3. Deut. IS: 13.)

O contraste é patcntc.-Depois de tre en­to~ annos de uma horrorosa escra id.io, caheo glorio o gabinete Dantas por ter inscriptono seu programma a libertação daquelle quetinham Ja -ervido (/~z vezes seis mmos!

'e a/guem deitar fóra 11m del1ft' ao SL'lt

l scravo ou e~cra1.·a. os deixara iI' /i'L,rt·s.(Ex. 21: ~7).

Entretanto, por tres seclllos, . ob a cgidcprotectora de nossa 1cis, os c cravo!> a­hiam l'vres de seus :oenhores, quando, com

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a carne ensanguentada, arrancavam-lhes osaçoutes tambem a vida!

\ ão entregarás a seu sellJlOr o eSC7-avoque se tiver acolJúdo a ti: elle IzabÜarácomtigo no luga?- que l!te agradar e des­cançará em uma de tuas cidades: nâo o7I/olestes. (Deut. 23: r5, 16).

E' pungente aqui o contraste com a novalei sobre o elemento servil.

Se um escravo, impellido por um ins­tincto imperioso, evadir- e ás atrocidadesdo captiveiro, e, diz um do . nossos elo­quente tribunos, ~ andrajoso, seviciado, es­pavoridú, irrompendo de subito, vos cahir dejoelhos entre as criancinhas, que vos affagame a mãe, que vos sorri, é preciso e magar ocoração, afogar as lagrimas, carregar. o em­blante, e expellir o miseravel, ou a.marral-o,pflra o entrc-gar á justiça (!) Quando não, oprocesso, a multa de um conto de réis.»

Ao lado destas disposições mosaicas, quedenotam o caracter brando da escravidãotolerada entre os judeus, ha uma recom­mendação tocante que nào podia d~jxar deexercer profunda impressão no coração doisraelita. E' a que está collocada á testadeste artigo. Lembra-te que tambem tufoste escravo !la te1'1-a do EgJ,pto, e que oSenhor teu Deu$ te libertou.

Uma tal advertencia dava u.ma immensaforça ás tendencias libertadoras da legisla-

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.'ão mosalcél. l: corria poderosamente paraabrandar a dure::;a d,(}s corações e restabe­lecer no . eio da familias religiosas, a ordeminstituída ao rillCljJio., Fique pois por hoje demonstrado:

Que a escravidão, ou ante, ser idão ju­datca era muito div<.:rsa da escravidão actual:consegullltemente absurdo é justificar e,;tacom aquella:

Que me mo e_sa servidão era apenas to­JO'ada em razão a profunda igno rancia do­tempo: e dureza dos corações: I azão quenão póde "t:r invocada no seculo das luze,;;ob a di. pcn ação christã;

Que, tinalmentc, qucm quizer defendersua propriedade escra~'a com o Velho Tes­tamento. deve appellO'lr para a ordem /lO

principio por Deus estabelecida :-COllll!rtlS

o 11:'1( PilO 110 .'/for di' TEU RU. Ti).

o Novo Testamento perante a Escravidão

IIITudo o que \"OB '1u(]rd~ -.11(." \ (I~

fllçmu oS! homeml huei-u tambem 8cllQ.. Por1lue ('lIl, é a Lei e o) I'ro_phela.. Mal. Vfr. 12.

Fic u patente do artigo anterior que oc1ho Testamento e tá longe de legItimar

a escr. vidão. E o Qi\'ino :\lestre, interprde

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infalliveI da Lei e dos Prophetas, synthetisan­do o ensinos e o espirito do Velho Testa­mento, no texto supra tran cripto, confirmaplenamente as conclusões desse artigo.

Pois. se a Vellla Dispensação, que SãoPaulo denomina-jugo da esc1'avz'dão (Gal.V. I), condemna, entretanto, o captiveiro;a Lei Real da Lz'be7'dade, como chamaS. Thiago (II, 8, 12) a ova Dispensação,o sanccionará?

E' por certo contristadora a nece sidadede se mostrar a chri tãos que a indole dochri tiarÍisrno é inteiramente infensa, profun­damente opposta á instituição servil.

De facto, Aquelle que veio • prégar re­missão aos captivoso, como declara o Pro­pheta (Is. LXI, I) póde porventura pactuarcom o captiveiro de qualquer especie? Eseu sublime Evangelho que ao homensannuncia a «liberdade dos filhos ele Deus»,póde coadunar,se acaso com a escravidão?Finalmente, o Jovo Testamento que nosapresenta o } ilho ele Deus derramando oproprio sangue preciosissimo para nos res­gatar do captiveiro; o Novo Testamento,que encerta o Evangelho offerecendo a todosgratuitamente o E pirito do Senhor, que éo Espirito da liberdade (z.a Cor. III, 17),póde porventura cobrir com seu manto dejustiça e de amor, a mais flagrante e maiscruel violação do amor e da justiça?

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~ TO cmtanto, procuram alguns chris tãos,que talvez m reçal1 este nome, obscureci·do;; pelo. intere. e negreiros, justIficar comcerta:; recommendaçõe de . Paulo aquiJloque não :0 e uma traição ao c~pirito doEvangelho, ma! a negação cO'TIpleta dadOl'trinas e da vida desse grande ,11 ostolodos gentios.

S. Paulo recoml11cnda a0S servos queobedc,;alll a seus ;,enbores, aos senhoresque'[,Içam com os servos o que é de jus­tiça e quiJade; logo-fatal cegueira!-ae-cr(1\"lCl,lo ju tifica-sc perante o _ ov Tes­tament .

Com o olhos cerrados a luz do ~van­

gelho, não attendel1 á m n truo a blasphe·mia de :emt:lha 1tt conclusão. Pois que ~ oe pi rito da liberdadc e do amor fíaternalpóde irmanar-se, sequer harmonisar·s, com aindole da escrm'idão: Christo, o H.edcmptordo mundo, póde ser ccnnivente na destruiçãosacrilega da obra do Cre'ldor, no assas inatomoral de milbare" d cr 'atura ?

Brilhem, em n s s almas, alguns raiosda e plendida luz do christiani. mo, c pa­tentear-se·ha a loucura de uma tal conclusão.

Pondo () ello de sua auctoridade di\ inana Lei e no Prophetas, pre 'cre 'e o Senhora seus discipulos; '(Tudo o que ·ós fluereisque \'0,.., façam O' hOI ens tàzei·o tambema clles »

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Agora pergunto :-este preceito do grandeRedemptor, entendido na extensão em quedeve. er, é ou não é, um preceito aboHcionista?

Uma vez qLle elle penetre no entendi­mento, no coração e na consciencia dochristão, que não é um mero hypocrita, pódeelle deLxar de determinar forçosamente, obri­gatoriamente a libertação de seus escravos?

«Fazei aos outros o que quereis que osoutros' vos façamo, sobre ser um artigo delei positiva é uma verdade primeira, umaxioma moral, de uma applicação tão in­tuitiva ás relações dos senhores' para comseus e cravos, que escu ado me é ;'1si tirsobre eUa.

Que outros dominados por mesquinho$interesses recusem syste01aticamente pôr empratica Das multiplas relações ç1a vida estaregra de ouro' nunca, porém, o fará ocl1ristão sincero, pois que lhe é el1a dupla­mente santa, duplamente obrigatoria: oCreador Ih'a prescreve pelo orgam da ra­zão, e Christo nas aurea paginas de euEvangelho.

Lançando por terra o muro que separavaisrael dos outros povos, Christo affirmaS. Paulo, matou em si as inimizades, eacabou com a distincção entre judeus egentios.-Do alto do monte da Galiléa, en­viando seus Apostolos, o Salvador proclama,perante sua Cruz, a egualdade dos hotnens

ii

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ri toda as cores, a cCltll'Jlicidade da no\'areligião, que abrangeria no seio maternaltodas as raças, língua' e con liçõe.s, • r'L

Parabola do amaritano 'a1. cahir a, e~ca­

mas do olhos do douto' da Lei, e vibr,l.no peito estreito do jud'.u, a nota ublimcdo christiani;;mo, eni'inando-Ihe que, pro--imo não e sórnentc o que falia a mesma

lingua, ou o que tem a mesma cor. 1 a,;·gande a. sim largos e de 'onh cidos hori·sonte', ordena Je u~ a eu po\"o, como as)'nthese maravilho a da Lei: cAmar;i ,Iteu pro 'imo, com a ti me 'mo

E não . transgn:dir e 'se manchlllenloconservar meu proximo c1cbai 'o de um jug'oque, cm circunlstancia nenhuma, queria, obremim?

Com .:, Paulo, c,me permittido cl 1. r emnobre alti,'c7: .DL ningUém me farei e.,.crm'o, Mas, 0)[110 póde haver cm mimrccipn'cidade christrr. a caridade ele Cht;Slll,se cu permittn qu 11m outro homem sejafeit meu esc 'avo ~

mar~' teu pro, 'imo como ;\ ti mt:'1l1

a conr enm;' ão terminante do capti eirAinda mai,: quando, a 10ite, no ti::

quarto, ~egui Ido as prc, cril-'ções do - alva·dor, dize;;: Pac 1l0SS0; tas palavra. nãoqueimam, por ventura os labias? Comoou a nes a. sublimes palaYr~ da oraçaodomil11cal, proclamar a fraternidade d todo'i

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os homens, se lá na senzala estendem-sesobre dura taboa os membrps andrajosos ealquebrados de um homem que é teu es­cravo? Onde está tua sinceridade? Poisaquelle que por um pouco se esquece desua triste sorte, é de facto teu irmão paraque tenhas o direito de elizer-Pae nosso?Leva. acaso o despreso ele Deus a pontode crêr que a tua oração será ouvida?

Não reparas que o uor do negro derra­mado por ti e para ti, seus membros fati­gados, seu corpo deformado e andrajoso,sua intelligencia embrutecida, são terriveispetições bradando á eterna justiça: Nãoouças a oração hypocrita: elle não é meuirmão: é meu senhor?

A admiravel introducção da oração domi­lúcal, reveladora da essençia divina do chris­tianislDo, é a manifestação eloquentissirnade seu espirito fraternal, diameUalmenteantagonico ás injustiças e atrocidades inhe­rentes ao captiveiro. E', portanto, a con­demoação emphatica e peremptoria da es­cravidão.

EUa foi po ta pelo Divino Me tre nabocca de seus discipulos, para ser procla­mada como um protesto diario contra todasas tyrannias e violencia da ferocidade hu­mana,

.Pai Nosso! tres syllabas que encerrama idéa mais elevada que nos foi dado com·

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pr hencler. diz . Martin, e que um diade, e quebrar todas as tyrannia, 'ivificartodo os PO\'OS, e constituir o gcnero hu,mano em sua gloria ç liberdade. ~

E de facto, em todos o tempos e paizescm que o espirito genuino do Evangelho

-contidos nessas syllabas luminosa:, . e temencarnado no seio de communidades. nube.'empre o homem despedaçar os grilhõesdo eaptiveiro. para dizer a . eu escravo: tucs meu irmão!

Liberdade e fraternidade, . ublimes ut~pias

do espirito humano, são os fructos tIt11\'er­saes do \'erdadeiJ o christianismo,

Basta o que ficou dito para evidenciarque a indole e o. preceitos do No\'o Tes·tamento, longe de harmonisarem- e com odemento 'ervil, são pelo contrario a maiscnergica e efficaz das condemnações contrae sa postergação do direito natura!.

erá, pois, crivei, que o heróe mais emi·nente do ovo Testamento, o trpa maiscompleto da caIidadc cvangelicu, a encar,nação mais viva do e pirito christão, o O'rande\postolo do genti()~. trahise a mis dO de

amor, justiça e liberdade, de que o cncarre­gira o Salvador, justificando a escra, idão?

Imp si eJ.E <:. suas recommcndaçõcs?

E o qu e aminarel no proximu numero.

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IV

A Lei foi posta Plll'R.·. os rot!­bndore- do homens .

.l. 7'im. 1. O. 10.

Do expo to no artigo antecedente, pode-seaffirmar sem he itação que, se lVIoy és ar­rancou as prezas da serpe do escravi moentre os judeus, Christo matou-a ent:-e oschritãos.

Cumpre, talvez, aqui observar COlp SãoPaulo, para dis. ipar qualquer duvida sobrea veracidade de uma tal asserção, que nemtodo o que se publica judeu, é judeu: domesmo modo muitos que se appelliclamchristãos são a deshonra des e nome.

E' tempo, porém, de lavar o Apostolodas gentes do labéo de escravocrata, en­trando no exame de suas recommendações.

«Servos, recoml'nenda S. Paulo, obdeceiem todas as cousas a vossos senbores tem­porae .». t Vós, senhores, fazei com os vos­sos servos o que é de justiça e equidade:sabendo que o Senhor tanto del1es, comovos o, e tá nos céos: e que não ha aece-'pção de pessoas para elle•. Cal. III. 22,23 ; IV. L .

Sã0 estas as palavras que lidas atra\'ez.do prisma dos interes es negreiros parecemju tificar a e cravidão.

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não 'ponderando a circumstancias do tempofalseas e imprudentemente as sabias recom­J)1endações do Mestre, deitando o vinhonovo de sublime doutlinas em velhos ôdrespagãos.

Convinha-lhe portanto, imitar a prudenciade Moy és; importava renovar os odres,para que pudessem resistir.á expansão po­derosa das novas idéas.

Não devia, observa criterio ament obreeste ponto o Rev. Houston, esperar a co­lheita antes de lançar a semente. Era ne­cessario prim iro lançar a _ementes dajustiça, da caridade, da gualdade absolutaue todas as condições e posiçõe ociaesperante Cbri to cru ificac1o, da fraternidadeuniver al perante o nnico Deus de toda aterra, Pae commum de toclo os homens,para que se pudesse obter a colheita lumi­nosa da liberclade. Convinha que O e pi­rito de Chri to penetrasse pri:lleiro na ma saimpura do gentilismo.

A escravidão era ymptomatica do egois­mo, indolencia e ambição desenfreada; rele­vava combater a origem do mal. E' por

- certo charlatão ou in xpericnte o medico quecombate os ymptomas, em ,-ez de combatcra molestia.

1. lão raro t: ser uma febre, por exemplo,o resultado de uma lesão organica ; neste casu,só a insensatez poderia levar o facultativo a

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tentar lral-a, scn previamente medIcar o01' am lesado.

Tae. 'onsideraçôcs tornam claramen e compn:lll~lldjdasas rec 11lmendaçües de '. Paulo.Com medico ablO c. dilio-ente, applica\'G 'lSmolestiíls originac~ o poderos remedia d;!."novas doutrinas, certo dc que com a n 01 'stiadesélpparcceriam os symptomas.

üenlais, S. Paul não era um politico queprelen e e reformar o: mold!.:s das velha.soeied lrles. A n;~encraçJo :aeial er 'Ipene,,,uma cbnsequencia natural do' sãos principiasque pregava. . u. mi são era immcdiata ~

mais elevada: ellc busca\'a a sc.lva ';i(\ daalma, pela fc cm J sus Christo cruclficad .

Com que direito, p rtelI to, t bstaria elle asalvaC:10 urgente de milhare., levantando Ingo110 pr'ncipio o grito en 'urJccente de precon­ceitos eeuJar s, c profundo" interesses deordeno privada e politica?

p, '1' toda" e. sa' considerações a' 'az pode­ro:~', convinha .di imutar ainda o tcrll}) "( e --a ignorancia., c, como l\[oysé. J a e·verade melhores tempo , capitular ante a durt'.. l

dos corações. ate onde fo~se campa ivd coma c.lignidnlk ti· seu mini terio.

A palavra do Apos 010, não importam,pois, a 'gitimação tia . cra\'ldão cn t mp)Jl nhum, muito menos no seculo em q c j\ emos. O valor dellas pódc er t~. ·prL:';. ona seguint paraphrase.

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dito sobre os motivos llU~ determinaram su;lprevidente posição ante o temeroso problema.

Como Moysés, ergueu-se elIe muito acimade seu tempo, e lavra em suas epistolas asentença de morte da escravidão, em, en­tretanto, lançar a scenteUla das confiagraçoe.civis, que, já no' anno 133 antes de Christo,convulsionára terrivelmente o Imperio.

Ante o estado explosivel da sociedade, re­velado por e sa temera. a revolta dos escravose pela insurreição heroica do.- gladiadoresno anno 7 I da era christã, admiremos a ha­bilidad com que o Apostolo reprova a ser­vidão, aconselhando os servos a se libert~­

rem: (Foste chamado endo servo? não tedê cuidado: e se ainda pódes ser livre. apro­v ita-te melhor. Porque o servo que foi cha­mado no Senhor, liberto é do Senhor: assimmesmo o que foi chamad sendo livre, ervaé de Christo. Por preço fo tes com rado.,não vos façaes servos de homen .' \ I Cor.7· 21. 23)·

E tas palavras com certeza não revelamgrande enthusiasmo pela . ervidão.

~ este melindroso assumpto, não esque­ceu'se S. Paulá dos enhore. ão só lem­bra-lhes que elles e seus escravos são escra­vos de um mesmo Senhor, para o qual nãoha accejJção de pessôas, mas on;lena-lh s quedeixem as ameaças e façam com seus servo:,o que é de justiça e equidade.

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E hoje que a d\1lcis~jma luz do Evangelhoem di ::.ipado 05 n v eiro. da razão, o que

é. pergunto ao mai velTlelho scravocrata,<) que é quc~ perante o. immutaveis prin·cipios da jllstiça, . e deve fazer com aquclle:::que foram ;niquamente privados de se\1~ di.reit, .:

5,1 nota\'ei ainda as pala\ ras com queS. Paulo apadrilJlw um escran) fugido Oenhor é Philct11un, l: o e"cravo Üne..,imo.Ainda que eu tenha l1111ita liberd.1d' cm

Jesus Chti.-to, para te mandar o que tc convém: comtudo antes te rogo com carid,lde .pelo meu tilho Oncsimo. Recebe-o nãl) ja'com) um ~l:r\'o, 111,5 cm vez ue :en'o \1nirmão muito amado. (Vs. 7, lO, 16).

Tal pedido não é certamente (Il.: um en­thusiasta p la propricc1aue cscrava ; pois, bementendido, clle encerrava um mandaIJ/oztopara a lib rtação do convertido )ne imo.

Finalmente declara. o l: 'cellente Apo tolo,que a Lei de Deus foi posta para a con­demnaç 10 dos roubadores de l/ll?1/CIIS. (r Fim.I la).

Fa7.er lima tai declaraç;jo é fulminar a es­cravidão. a do Brazil principalmt:ntc, cm suaorigem, t.: pôr o que se aprO\ citam c1'e. eroubo debai'o do ernvd anathema da LeIdi ln:l.

f...' de crêr que não invoc,lrão mai" Iml.lL-nlllt.:ntc :::l. Paulo, ara cobrir COI ua aucto-

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ridade veneranda aquillo que é a contradic­ção flÇlgrante do e pirito e doutrinas do chris­tianismo. Suas 1'ecolltmendaçóes explicam- eá luz dos tempos, e não pódem ergu~r-se emconflicto com o influxo invencivel do Evan­gelho, que tem em todas as espheras pro­.clamado Hemissão aos captivos•.

o Pulpito em face da escravidão

ve o Atalain: \ ir (1118 '"éUl a ei·

1)311... e mio tO('ar 11 trom bell1' c oJ)O'·o _e não guardar, e vier fi. e paLiae lenlr uml1 lLlma dentre elles' e~tctal foi por ceno uPlluhado na sull. ini­quidade mas cu demandarei o seuslLngne àllo mno do Atailli .... E:. ;1.1. Ô.

A escravidão é um roubo sacrilego, por­que a liberdade é um dom primitivo de

.Deus, e sencial ao ·pleno cumprimento doselevados destinos da personalidade humana.

A' luz de nosso seculo, impõe- e e ta pro­po ição com clareza intuitiva de uma ver­dade axiomatica. O mais intransigente dosescravistas, seja dito em homenagem á in­tellectualidade brazilei ra, não ousa negaro brilho de sua evidencia.

Forti imo é, pois, a posição abolicio­nista n'es~e ultimo quartel do seculo: infe,lizmente não acontecia isso nos tempo

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apostolico. Cu ta a crer que tanta fos­sem as treva do espirito pagão, que me. moseus philosopho pugna. sem em favor dae cravidão, como de um direito natural, po:i' o que era uma nece secidade social.

~ Tão pode com certeza subsistir a ~ocie­

dade s m o trabalho manual sem a indu'­tria; entretanto, apregoavam os cégos mora­listas desses tempos, que não deviam o,;cidadãos deshonrar-s~ com a industria e vtrabalho, naturalmente reservado. aos quetraziam no corpo o ~ rrete de capti\·os. DizXenolJhonte que o homem condemnado ?trabal'lO manuaes, torna-se inutil a repu­blica, máo cidadão e máo defensor da pa­tI;a. Cicero tem por verg(JllllOSO e i7ldiglzade 11m IlOlIlem /à/re qualquer p1'ojiSSão la­boriosa, e lIlal exceptua a arc/titrc/ura e alIlt'dicilla. C Canlú voI. 4.°, pago 56.

Com preconceitos tão absurdos c infelizesnão era ele espantar, affirma o mesmo his­toriador. qu fosse a c cra"idão conside­rada como de direito natural, como umdogma politico pel s proprietario. e pelo_philosophos, que não po . iam comprehenderuma ,:; ciedade sem aquclla fune ta condi-ão. Mais ainda: os proprio escravo "

quando se revoltavam, não contestavam oprincipio de sua condição. e limitavam-. ea protestar contra os excessos de que os­senhores os to 'navam victimas

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Isto projecta rfova luz sobre a prudente.attitude do Apostolo dos gentios, e sobremodo corrobora as considerações do artigoantecedente. Por mai de um motivo convi­nha-lhe alargar primeiro os horisontes mo­raes, e primeiro convencer de estultice asabedoria daquelle seculo. O abolicionismointransigente, immediato, seria um crime delesa-sociedade, a violação de um direito_ocial I

Hoje, que, apá dezenove. eculos de lu­das, os brilhantes raios do christiarusmo temvarrido as carregadas sombras do espiritahumano; hoje não ha mais razão para asreservas do Apostolo, pois é claro, como aclara luz meridiana, que a escravidão é aviolação do direito natural, um crime delesa-humanidade, um attentado sacrílego con­tra a obra do Creador. j

A' luz destas verdades incontestaveis, qualdeve ser a attitude do pulpito em face daescravidão?

Deverá ser a attítude negativa da re­'erva?

Porque? Haverá perigo de partir do pul­pito a fagulha productora de um incendiosocial? Sobre I I milhões de homens livres,haverá neste Imperio roo milhões de escra­vús, cujo estado convul o, inflammavel, es­pere, soffrego, a primeira faisca incendiaria?

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cOra~ão do senllOr, cahirão por terra a.cadeias de seus escravos.

Se este modo de proceder fosse licitoem relação á escravidão, porque não o seriaem relação ás loterias, ao jogo, á embria­guez, á quebra .do domingo, e a mil outrasexternações do peccado?

Ha, portanto, nesse methodo de conductauma falsa apprehen ão dos deveres pasto­rae , de qlle infelizmente se encarrega dedemonstrar o aspecto de muitas familiascrentes.

«Eis ahi, diz Amós, os olhos do SenhorDeus abertos obre o reino que pecca, eeu o exterminarei da face da terra •.

E as ruina.s que juncam o sólo desertodo mundo antigo, lá estão attestando, nacioquencia de sua mudez, á veracidade' doPropheta.

ão será, pois, dever urgente de empu­nharem o thuribulo os filhos de Arão, efazerem subir de sobre o Altar o incensode sua intercess,ão, antes que se accenda aira do Senhor contra esse pctcado nacional?

:Mas, o fumo d'esse incenso provocará ajusta indignação de Deus, se forem os sa·cerdotes participantes d'esse peccado. Eainda me mo que não tenhamos o anathemacm nossas casas, não existe elle pon-en·tura em nossas egrejas?

- 3~)-

c a inju. tiça da escravidão tem de eh ­mar mais algum flag 110 sobre este pa'z,não diz a E:criptura Santa qu dle eon e­çará pela ca a de Deu ?

A apathia (leial nos acabrunh,l, e não éneees"ario muito atilamento para dec:;c­brir-. e na esera ,'Ídão a causa princIpal de ti;

grande mal. E não é verdade ue temos,em geral, a lamentar o mesmo mal em10 sas communidadcs ere te:>? Porque entãonão enchergar na me.",ma cau. a a origem<J'essa atonia religiosa, d'essa '\" lhice prema­tura, que aml.:aça ac; egrejas:

'ão sera, pois, tempo de bradar co TI

Jo ué: «O -.nathema está no meio de ti, oh!I rael ~

Do seio das Egrejas E\'angelicas, partiu,nos E tados-Unido I o brado que espedaçouO' ferros de quatro milhões de infelizes.Se tremendo foi oca. tigo que recebeu are istencia do Sul, riquissimas foram abençãos que seguiram-o e á redcmpção doscapti\·os.

O. ministros do ~ enhor dirigiram repre­seI taçücs .0 governo da n:publica; o pul­pito arremessou contra a nefanda .n ÍtuÍção, os r:J.ios da condemna"ão divina.

Le\ antou- e então a con~ciencia naCionale e magou com a pIaI ta de Lincol acabcç'l da erpe maldita.

34

E quando os navlOS negreiros cruzavamdesassombrados, os mares, affrontando ajustiça do Creador, foi ainda o espirito dochristianismo que, apoderando-se de \Vilber­force, 13uxton e Lamartine, deu satisfaçãoá Providencia, fulminando com o verbo in­cendido da justiça e caridade o hedi andotrafico de africano..

Morreu, porventura esse verbo poderosono labias dos mini tros do Senhor? O fogosagrado do Evangelho, que dava temperainquebrantavel á perseverante coragem deGarrison e Brown, que fazia pulsar no largopeito o coração generoso de vVilberforce eBuxtOll, não terá mais a virtude de infun­dir nos corações crentes a mesma dedicação,e produzir as mesmas puL açôes ante a iniquaQppresSão de uma raça desgraçada?

A' extincção desta iniquidade social estáprovidencialmente ligado o protesto efficazde eminentes christãos. Privar-se esta so­ciedade,desse protesto fecundo, não é tal­vez frustar-se os designios da P.rovidencia,ou, pelo menos, incorrer-se na ameaça es­tampada á testa deste artigo?

Ainda mesmo que se duvidasse do ex­tenso poder da palavra Evangelica nestevasto paiz, póde o pulpito assistir mudo,indifferente, sem violar seus mais sagradosdeveres, ao espectaculo contristador de atro-

3.) -

pelar.se o direito, a justiça e caridade ásombra sacratissi,na da religião do Cruci·ficado.

1 'ada, pois, de contempori ação Oll c<.1m­participação com o peccado social, que a 'saztem prejudicado o" 'itae:- interesse: da Re·ligião.

Levante-..;\: em nome do Reuemptor ome:m protesto que já se te le\'antadoem nome da razão, da humanidade (; do.interesses economicos d ste raiz.

Salve-se a honra do E\-angclho, cahindode todos o pulpitos o raio e. -terminadorda escr \ iclão n' . eio da. egreja..

o crente e a escravidão

VI{) nnal ilema c~ta 110 lUcio

d,· tI. ó J:-l'Ut~1 tu nüo pu­cJerü... ~:it:tr fliftllto de tem:;inilui.rolo' !lté ulÍn ~cr e termiUlltln ,lo lDeio ue i u que~ 3,<:hlt mnllc1lUfllJ dp.;l'" tri-

me. .ltHUI 7. Is.

TUlelo n s artigo antecedentes chamadoa attenção para o facto d ser a e cra\'idãoaltamente offensi\ a ás lei; de Deus e dahumanidade; cum re·me, ao concluir a ta­refa que me impuz, applicar a conscicncia dchn tão sincero as -erdade já expentlida

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Ouve-me, pois, com paciencia, prezadoirmão, se é que possue escravos. Impel­le-me o desejo de teu proprio bem, tantoquanto a compaixão pela raça expoliada.

r. o Tu professas ser cl1ristão, por con­St "uinte respeitador das leis de Deus, quereJam ellas escriptas nas pagin'as das Escrip­

turas, quer gravadas nas taboas de teucoração.

Pois bem, nunca attendeste á manifesta'incompatibz'lz'dade que lza entre essa profis­são de fé e o captivez'1'O ,que mancha tuacasa?

Se ate aqui procuravas confusamenteadormecer tua con ciencia em algum textoisolado da Escriptura, creio que já te con­venceste do absurdo e acrilegio de seme­lhante tentativa. ão ousarás mais invocar5. Paulo como advogado da escravidão.

Se a religião, portanto, que professas,condemna o captiveiro, escollze entre ella eos escravos que possues. Ou guarda teusescravos, e continua aproveitar do suor dorosto cio teu proximo, e, neste caso, imi­tando o exemplo dos"'~adarenos, pede aJesus que se retire de tua casa; ou então,restitue a teus escravos a liberdade roubadae declara por esse acto que não és ummero hypocrita.

-:.17 -

;-'Ia i.to e duro, dirá, ningu m tem odireito d me propôr tüo critica altcrnatÍ\ ,..

Que é duro, não o nego' porém quenão me as i ta o direito, mais ainda, o de­'cr, de por diante d'~ tua con;'ciencia e' a

penosa alternati\ a, cousa é essa que podiaser verdadeira se tu c eu \'ive semo \lO

.'ecu]o cIe . Paulo. .A' plena luz du cbristianismo, que t 111

illuminaclo a esphera moral da 1umaniclade,cUI1pro apenas um dev-er infelizmente ne·gligenciado.

E em face do e.'pendido em artigos anoteriol es n: ponde-me: J: Lscraddão : ounão Ima injustiça, que offende directamento e.-pirito e o. preceitos do Envangelho :

c t, como não ousas negar, não póde elladeixar de ser um peccado profundamentede. agrada 'el ao Deus de caridade annul1­ciado pdo grande P edemptol'.

E pócIe o christão,. em perder. ipso fadoo direito a esse nome sagrado, con. er art-wluÚ'ntemi'nte em 'ua ca a, ~ob qualqu rprete.'to, uma cou a peccamiJlosa, desaura­clavel a seu Deus?

Conh ce que a c cravidão e uma m­justiça, portanto, um pucado, t: continua.'l}()!tmtanamente a commetter esse peccado r

"~ão nec;aras, por certo, a S. Paulo eS. João o direito de te propôre n, em tuascircutn5tancia<;, a terriyel alternativa. Ouve,

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« e nós peccamos VOLU_ TARIAMENTEdepois de termos recebido o conhecimentoda verdade, já não resta mais hostia pelospeccados, senão uma esperança terrivel dojuizo, e um ardor de um fogo zeloso, queha de devorar o adversarias.»

Filhinhos, ninguem vo engane. O quefaz obra de justiça, é justo: como Elletambcm é ju. to. AqueUe que commette opeccado ê filho do diabo.» Heb. 10. 27 .João 3· 7, 8.

Abrindo. lois, diante de tua conscienciaa terrivel encruzilhada, não fiz mais do quepropàr-te o en. ino desses iIlustres Apos­tolas. Não exhorbitci, antes te offereci umapedra de toque para mostrare a teus Irmãoso fino ouro de tuas crenças, e persuadiresa ti mesmos da sinceridade de tua fé.

2.° «E os meus interesse, como vi­verei depois», objectará talvez.

Teus interesses são oS interesses da jus­tiça e da verdade, são os illteresses do Evalt­gel/to, e a vida de tua a/ma vale 1m'/ 7/t'.zesmais que a vida do teu corpo.

e Bu ca em prim iro lugar o. Reino doCéo e a sua justiça., é ordem terminantede teu Divino Mestre. Quem, pois, ousadesobedecer aO Senhor dos senhores? Queordem de interesse haverá na terra ou nosinfernos, capaz de upplantar os supremoslnteresse do reino de Deus?

Demai , quel 1 te di . e quetem orae . offrcl iam? ão vale aoe D u mais que o braço.cra o':

Di :>e-mc, ha pouc dias, um fazendeiroque espero a colher cem alqUl:lr de arr ze colheu apenas quatro. Cumpre o pre­c itos do Senhor e • Elle abrirá as cataratas uo céo e derramara sua benção sobrti, e em abund ncia. t Mal. 3, í. I 2,

Julgavam os Est, do do -ui, na An ericado orte, qu acabar com o. scravos cramatar o rei algodão de truir a la\ ura,e, c 'lseguintcmente, a riqueza e a pro. pe·ridal • do pai:'. o 1.0 de Janeiro de 1 63,11m golpe ioLnto do grande Lincoln con­verle em ci adJo. milhões d sera o .:\pó o terri d abalo, c apesar de 4 annode tremenda gl' rra ci iI, a riqueza e pro·gresso dos Estados·Uniuos não tem rivaesno mundo, e os uli..tas em nada tem queinvejar a prosperidade do • orte Este qua­dro contrastado com o estado do no o

aiz, uma eloquente contir .1<1 'o da se-gUlDte \'erdade affirmada pela F. criptura,erdade que naturalmente e 'edtica no

individuos, cujo aggregado con titu rt1 anação, A justi 'a e. alta a naçõe. mas opeccado faz mizenveis os povos.) Provo 14.34-

AI m dI -), AquelIe que dis eJ Busca oReino do Céo e ua justiça em primeiro lu-

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gar,» accrescentou, «e todas as cousas (tem­poraes) se vos darão» Mat. 6. 33.

3.0 Mas a lei de meu paiz me permittepossuir escravos~ dirás talvez no desejoegoista de conservar tua p1'opyz·edade.

Dado que haja essa lei, ella é llulla pe­rante tua conscúncÚ:1J, ainda mesmo quepromulgada por uma assembléa de anjos.

ão ha para ti lei valida, que se levantecontra as leis de Deus. . '

Essa pretença lei te cCJI1cede a posse dalibeJ;dade de outro homem; porém uma leiprimitiva e mais alta confere a esse homemo dominio de sua propria liberdade. Asduas leis se contradizem: é necessario es­col/ter entre el1as, e eis de novo a criticaalte1'nativa a surgir di1nte de ti. Ou a leidos homens ou a lei de Deus: decide.

4." Os que, pela astucia e pela força,e apoderaram, nas costas da Africa, de

homens livres, para vendêl-os aos fazen­deiros do Brazil, commetteram evidente­mente um roubo hediondo. E todas asleú de nossos legúladores não pódem le­gitimar um roubo. A Lei de Deus ahiestá, declara S. Paulo, contra os 1'oubadoresde /tomens.

Mas objectarás: «Os culpados são osque roubaram, eu po suia os escravos naboa fé.)

-·H

Bem, por 'sso eras de~culpavel; poréne:;-a boa fé não existe mais.

abes que foram roubados, como consen-te_ em reter roubo :

Tão bom é o ladrão como o con--entidor.E" duro no teu caso a app1icação desta ma­_'ima, e sinceramente des~io que de a ap~

plicação te possa. eximir.

Entretanto, essa maxima é a consagraçãop pular do que diz o Apostolo: ~São dignosde morte os que fazem . emelhante cou:as,e... os que consentem aos que a fazem.~

Rom. 1. 32.• 'ão roubaste, é verdade; mas aproveitas

do roubo que outros fizeram, e assim can­centes, tornando-te solidario com elles pe­rante Deu.

Quando .ompramo: um objecto roubade o dono reclama, absurdo e ridiculo seriae. -igir dell· o valor do objecto, para Ih'oentregarmo. então. a unico rccurse- é ir­mo:> bater éL porta do ladrão, para reclamarno so dinheiro. Porém, o ladrão morreue outros moram em 'ua casa. aue fazer?E. 'igir do 1 ovos moradore umã in :lemni·sação? Elle: os bateriam, indignados, coma porta na ca'-a.

_"ão h;"l remedia: ' entregar o objectorvubado, ou lamentar inutilmente a nos. aimprudencia II má sorte. a contrclrio é

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faltarmos á lealdade, e darmos o direito desermos equiparados ao ladrão.

Poi bem, o escravo é o dono que re­dama de ti sua liberdade. Deves exigir queelle te dê o valor daqui1l6 que por direitonatural Jhe pertence?

.0 ladrão é o governo», dizes tu. Poisbem, reclama do ladrão o teu dinheiro.Mas, o governo que segundo tuas idéas,foi o ladrão, já morreu, e mesmo que nãotivesse morrido, elle não tinha dinheiro parate paga;', pai - o governo é apenas admi­nistrador dos dinheiro publicos. Com quedireito pois, exiges indemni ação do actualgoverno?

De engana-te. perante os eternos princi.pios da justiça. não tens direito de espe­cular com a liberdade de teu semelhante,e como christão deves dez"_1:or o fzwdode emaltcz"pação aos que Jtão se regem pelasnormas sublimes do Evangelho. Soffre oprejui7.0, entrega a liberdade roubada aseu legitimo proprietario, assim o e 'ige.a lealdade, a justiça, a humanidade e Deus.

5." Lê a hi. toria de Achan narrada nocap. 7 de Josué, donde transcrevi o textoque encima e tes artigos. Repara como acubiça de um homem turbou todo I raeUSó depois que as cham mas do Valle eleAchar consumiram seu cadaver, e tudo

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De um captiveiro amargo e degradantenão te libertou o sangue do compassivoRedemptor? E agora ao contemplares teuescravo, não ouves a terrivel repulsão deteu Senhor?

«Servo máo, eu perdoei-te v divida to­da...... não devz'as tu logo c01Jlpadece1'-teegualmente de teu companltei1'o, assitiz comotambem eu me compadeá de ti?» Mat. IS. 32.

8.° Bem vês, é infelizmente duro « fazeraos outros o que não queremos que ellesnos façam», por isso «o caminho dos Céos éestreito.» O escravo é o «teu olho que teserve de escandalo.» é «o teu btaço direitoque te faz peCCé,Lr .' Pois bem. an'anca-os,diz o Mestre. os violentos são os que arre­batam o "eino dos Céos.

Respeita na possoa do teu escravo a ima­gem de teu Deus, não ultrages o direitoinviolavel de uma propriedade sagrada.

Em nome da justiça, que fulminou Achan,em nome da caridade, que prégou o Cru­cificado Redemptor dos captivos, não con­tinues a cobrir de ludibrio a Egreja enver­gonhada ele nos o Senhor Jesus Christo:­restitue a inalz'ettavel liberdade.a Selt ligoz".timo proprz"etario.